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1. Introdução
Para iniciar nosso estudo sobre o Sociointeracionismo, é importante conhecer alguns aspectos da
vida de Vigotski, psicólogo russo que propôs novos rumos para a psicologia e provocou uma
mudança estrutural em tudo o que conhecíamos sobre o desenvolvimento humano e a
aprendizagem, impactando a forma através da qual a ciência compreendia o homem e sua
transformação decorrente da busca pelo conhecimento.
Vigotski nasceu na Bielorrússia em 1896 e sua juventude coincidiu com os primeiros anos da
revolução bolchevique, que deu origem à União Soviética, o primeiro país socialista do mundo.
Filho de uma família próspera e culta, formou-se em Direito e lecionou Literatura, Filosofia, além
de atuar na Pedagogia e na Psicologia tratando de temas como a deficiência física e mental.
Juntamente com dois outros jovens intelectuais soviéticos, Alexis Nikolaevich Leontiev
(1903/1979) e Alexander Romanovich Luria (1902/1977), propôs novos pressupostos para a
psicologia a partir da formulação da Teoria ou Psicologia histórico-cultural.
Vigotski faleceu vítima de tuberculose em 1934. Apesar de sua morte precoce, sua contribuição
acadêmica para a humanidade é fundamental. Produziu cerca de duzentos trabalhos científicos ao
longo de seus 37 anos, tratando de temas como deficiência e linguagem, neuropsicologia e planos
genéticos de desenvolvimento.
Todos nós somos influenciados pelo que lemos, pelo que estudamos, pelo que vivemos. Por isso, é
importante delimitarmos quais são as suas bases intelectuais, os tempos sociais e políticos aos
quais Vigotski se vincula, para melhor entendermos os seus estudos. Sendo assim, por causa do
2. O Sociointeracionismo
Crítico da psicologia tradicional, Vigotski se apropria do Materialismo histórico-dialético como
uma ferramenta de pensamento, a base para estabelecer um modelo científico para estudar e
explicar os fenômenos psíquicos. A partir daí se debruça em sua pesquisa para comprovar que o
mundo psíquico não nasce pronto com o sujeito, isto é, não é inato, mas também não é apenas
recebido por ele do meio ambiente como se fosse um pacote definido. Para algumas correntes da
pedagogia e da psicologia, assim como Piaget(1896-1980) e Wallon(1879-1972), Vigotski era
considerado interacionista por afirmar que, para haver desenvolvimento, é preciso interação entre
as coisas que estão dentro do sujeito e as que estão no ambiente.
Como dissemos anteriormente, Vigotski apreendeu os conceitos de Marx para propor uma nova
psicologia que levasse em conta as relações dialéticas, isto é, contraditórias que acontecem no
ambiente e de que forma elas determinam o desenvolvimento do sujeito que se apropria da cultura.
Vamos nos aprofundar um pouco mais para que você possa compreender como isso acontece.
Para Marx(1818-1883), o homem é um ser social e histórico, pois transforma a natureza a partir da
relação que estabelece com ela e com os outros sujeitos. Essa transformação acontece
principalmente através do trabalho. Por exemplo: quando o homem transforma uma árvore em
uma cadeira e passa a utilizar esse objeto com uma funcionalidade específica, para obter conforto e
poder sentar-se ao realizar certas tarefas. Para essa transformação, ele utiliza objetos construídos
por outros homens, como o serrote, o martelo, o prego e se apropria de conhecimentos que já foram
construídos e elaborados socialmente.
Quando transforma a árvore em cadeira, o homem muda a natureza do objeto e, ao mesmo tempo,
sofre mudanças em si mesmo. É um movimento que incorpora muitas forças de resistência, por
isso, dialéticas. Vigotski defende que o ser humano se desenvolve nesse ambiente social, construído
historicamente, ou seja, transformado pela ação do homem, que também sofre as consequências
dessa transformação dentro de um cenário de forças contraditórias.
Portanto, diferentemente de Piaget, Vigotski acredita que o desenvolvimento não ocorre a partir
apenas da prontidão das estruturas biológicas, mas acontece em decorrência da sua interação com a
sociedade e com o meio. Ele compreende que o homem é um ser biológico, mas não nasce homem.
Isso quer dizer que, além das características da espécie da qual ele faz parte e que o tornam homem,
o processo de humanização ocorre de acordo com as suas conquistas sociais.
Ao interagir com a natureza, com o ambiente, o homem tem acesso a instrumentos, como o
martelo, o prego e o serrote, que são os objetos ou instrumentos físicos utilizados para moldar a
madeira. Mas, há também os instrumentos simbólicos ou abstratos, que são as crenças, os costumes
e os valores de uma sociedade. Esses instrumentos físicos ou simbólicos são fundamentais para o
desenvolvimento do ser humano.
É importante considerarmos que as sociedades são diferentes entre si, possuem valores, crenças,
códigos e símbolos diferentes uns dos outros.
Imagine que você faça uma visita à uma tribo indígena no Amazonas e, depois, prolongue essa
viagem até chegar à China. Certamente, os valores, as crenças, os ritos, os códigos que encontrará
em uma sociedade indígena serão bem diferentes daqueles que perceberá numa sociedade oriental,
mesmo que essa sua viagem seja feita no decorrer do mesmo ano.
Da mesma maneira, uma criança nascida nos anos de 1940, no contexto da Guerra, por exemplo, é
diferente de uma criança que nasceu em 1980 no período de redemocratização do Brasil, por
exemplo. Assim, o Sociointeracionismo de Vigotski considera o contexto no qual a criança está
inserida para o seu desenvolvimento.
Com certeza, você já deve ter assistido a vídeos sobre os animais realizando coisas incríveis em seus
habitats como, por exemplo, um felino usando toda a sua agilidade e estratégia para caçar uma
zebra ou um gavião com sua visão e audição privilegiada, voar certeiro para fisgar sua presa que,
em vão, se move rapidamente.
A Filogênese diz respeito à história da espécie animal. Cada espécie comporta suas possibilidades e
limitações. A espécie humana, por exemplo, desenvolveu habilidades que outras espécies não
desenvolveram, como o fato de andarmos sobre os dois pés, termos os polegares opositores, que
Esse plano tem a ver com todas as transformações biológicas sequenciadas que um indivíduo de
uma espécie sofre, desde a sua concepção até se tornar um adulto.
A Ontogênese define a pertinência de um indivíduo a uma determinada espécie. Isso significa que
aqueles comportamentos que esses indivíduos vão adquirindo possuem uma sequência esperada,
isto é, em diferentes etapas, e demonstram seu desenvolvimento.
Diz respeito à história do desenvolvimento do ser, daquilo que o caracteriza enquanto membro
Índice
individual daquela espécie.
1. Introdução
2. O Sociointeracionismo
Quem não se lembra das aulas de Ciências nos anos iniciais do Ensino Fundamental, quando
aprendíamos sobreGenéticos
2.1. Planos a metamorfose
Dodos sapos? Ou das borboletas? O que a gente podia esperar de
Desenvolvimento
uma lagarta depois que entrava no casulo até poder voar com asas coloridas?
Podemos2.3. Pensamento,
pensar Linguagem Eacontecendo
que há transformações Memória nesses indivíduos nas várias etapas do seu
desenvolvimento, desde o seu período embrionário até o pós-embrionário, formando o seu ciclo de
vida. 2.4. A Mediação
Quando vemos uma lagarta, sabemos que, antes, era ovo de borboleta, que, depois, se fechará em
um invólucro durante um tempo e , após um tempo, sairá com um novo corpo. Essas fases pelas
3. Conclusão
quais ela passa demonstram seu desenvolvimento.
4. Referências
Ontogênese é a história do indivíduo da espécie, suas etapas de desenvolvimento comuns a todos
que pertencem à mesma espécie. Enquanto humanos, temos comportamentos esperados para a
espécie, em sequências parecidas, como, por exemplo, a sequência que passamos desde que
nascemos até chegarmos a andar autonomamente: nascer, engatinhar, sentar e andar.
Para entendermos melhor a Sociogênese, podemos olhar, por exemplo, como as diferentes culturas
lidam com a adolescência. Apesar de ser biológico, cada sociedade trata esse fenômeno de modo
diferente. Em algumas culturas, a passagem da infância para a entrada na fase adulta é marcada
por rituais, como, por exemplo, andar sobre um braseiro ou cavalgar pelado em cima de um touro
bravo. Já imaginou?
Sujeitar-se a esses “testes de coragem” demonstra pertencimento, honra, coragem e tem um valor
simbólico importante para o desenvolvimento do adolescente.
Ser adolescente em culturas onde o sujeito que cresce tem o direito de se manifestar, de ser compreendido, de ser aceito
é muito diferente do que ser adolescente em culturas onde, para ser aceito no mundo dos adultos, precisa provar o seu
valor.
Essas culturas têm em comum indivíduos que deixam de ser crianças e amadurecem para assumir
outras responsabilidades na vida. Elas têm de diferente o modo com compreendem e possibilitam
viver as transformações dessa fase da vida. O modo como a cultura olha o adolescente, não a idade.
A Microgênese está relacionada a cada um dos fenômenos psicológicos que acontecem no intervalo
entre uma aprendizagem e outra. Isso quer dizer que há uma distância entre não saber alguma
coisa e passar a saber. Essa distância abarca um tempo e um acontecimento. A Microgênese se
preocupa em olhar para esse fenômeno com um foco específico, na tentativa de compreender a sua
história.
Um bom exemplo é uma criança que não sabe andar de bicicleta e aprende. Alguma coisa aconteceu
que fez com que ela desenvolvesse a habilidade de se equilibrar. Foi a ajuda de um pai segurando
por horas a traseira da bicicleta? Foi um amigo mais corajoso que incentivou a sua persistência? Foi
a sua própria força de vontade em querer passear com o novo brinquedo ou foi a necessidade de
ajudar no sustento da casa? Quanto tempo se passou? Quais os arranjos psicológicos foram
estimulados e feitos na sua mente que propiciaram esse aprendizado?
A experiências que cada um dos sujeitos vai armazenando durante a vida e os fatos que os
atravessam vão determinar o seu desenvolvimento. As pessoas não aprendem da mesma forma. Por
isso, a aprendizagem de cada um é um fenômeno singular, único, heterogêneo, que resulta das suas
diferentes vivências e interações. Portanto, o desenvolvimento não está vinculado a possibilidades
determinadas.
Primeiro, vamos olhar para o Nível de Desenvolvimento Real. Significa o conhecimento que já
foi construído e elaborado pelo sujeito. O que a criança consegue realizar, o que já sabe. É um nível
de autonomia, no qual não há dependência da interação para desenvolver-se, pois este nível
representa o que já está consolidado em seu comportamento e em sua mente, o que ela já aprendeu.
Outro nível é o Nível de Desenvolvimento Potencial. Significa o que a criança ou sujeito ainda
não sabe ou não desenvolveu ainda, mas está próximo de conhecer, de aprender. Uma das pistas
desse nível é observarmos o que a criança consegue fazer, mas precisa de ajuda de outro adulto ou
criança mais experiente.
Compreende um plano de desenvolvimento que está prestes a se consolidar. Por exemplo: quando
uma criança começa a experimentar andar de bicicleta sem as rodinhas auxiliares. No início, ela
ainda precisa de ajuda, mas você sabe que, em breve, alcançará o equilíbrio perfeito, a velocidade, a
sincronia entre pedalar e prestar atenção aos obstáculos e, finalmente, dominará esse desafio!
Nas funções elementares de desenvolvimento do pensamento, a criança não tem autonomia, ela
precisa ser levada, conduzida por outra pessoa que já sabe fazer ou já desenvolveu aquele
conhecimento ou habilidade.
Desenvolver e aprender significam uma transição das funções elementares para as funções
superiores, nas quais o sujeito deixa de depender do outro. É capaz de saber fazer sozinho, de
escolher como fazer, quando fazer, de que modo fazer.
Com certeza, esse é o nível mais potente para promover o desenvolvimento do sujeito. Ele
considera o espaço onde deve acontecer a intervenção, a ação pedagógica para impulsionar o
desenvolvimento.
De acordo com Marta Kohl, pesquisadora da USP, o Nível de desenvolvimento real caracteriza o
desenvolvimento mental retrospectivamente e a ZDP, prospectivamente.
A ZDP parte do que já se sabe, do que já está pronto, do ponto de vista de desenvolvimento e vai em
direção ao que precisa e pode ser alcançado. Numa perspectiva de prospecção: o que a criança ou
sujeito poderá fazer se tiver uma ajuda intencional e específica nesse estágio em que ela se
encontra?
Se ela já reconhece e diferencia letras e números, qual é o próximo passo? Se ela já identifica o seu
nome, como poderá ler os outros nomes de colegas da sala?
É o desafio de olhar para o que está em processo para acontecer. Podemos pensar em uma semente:
ela ainda não é árvore, mas possui todos os atributos e potencial para se tornar uma planta. Regar a
semente e adubar a terra são intervenções que o agricultor faz para promover a mudança do seu
estado real (semente) para seu estado potencial (planta).
Não é possível medir a ZDP de um sujeito. Não existem fórmulas ou cálculos que determinam em
que lugar do desenvolvimento essa ou aquela criança se encontra. Mas, é muito importante
compreender o conceito para entender o desenvolvimento. É a parte do desenvolvimento que
permite a intervenção.
Dessa forma, a ação pedagógica deve se concentrar em planejar atividades que privilegiem ações
colaborativas entre os colegas de classe ou entre crianças em níveis de desenvolvimento diferentes.
Planejar atividades de assistência, nas quais alguém que tenha uma estrutura cognitiva mais
elaborada possa ensinar para a criança, em que o adulto possa interagir auxiliando-a a sair do nível
em que “quase sabe” para o “conseguir fazer sozinho”.
“[...] a melhor definição para linguagem nos termos compreendidos por Vigotski é língua,
pois não se trata de uma linguagem como a dança, a música. Trata-se do fato de que [...]
linguagem são signos construídos culturalmente. A linguagem desenvolve a capacidade de
representação inserida em uma cultura. [...] A linguagem é o principal lugar onde acontece
representação simbólica”.
A língua de uma sociedade é um sistema organizado que possui regras e é compartilhado por todos
os que fazem parte daquela cultura. A organização da língua portuguesa, por exemplo, é diferente
da organização do inglês. Mas, quando chamamos um objeto pelo seu nome, na nossa cultura,
sabemos o que ele significa, com todos os atributos que o compõem.
Vamos pensar: quando alguém diz cadeira, você logo imagina o objeto cadeira, independente se é
de madeira, de ferro, de plástico. Você sabe que é um objeto utilizado para sentar, mas que,
eventualmente, pode servir para outras coisas, como sustentar uma pilha de livros. Ao ouvir a
palavra “cadeira”, você compreende que não está falando de uma tv, ou de uma geladeira, ela tem
características próprias que a tornam cadeira. O pensamento, então, aplica todas essas
características que compõem o objeto (cadeira) a todos os demais objetos que também são cadeiras.
Complicou? Explico: ao aprender o conceito de cadeira através do uso social desse objeto,
pensamento e linguagem se unem para classificar, distinguir e rotular esse objeto, de modo que
esse conceito passe a ser generalizado, ou seja, você sabe tudo o que pode ser chamado de cadeira,
independente do material com o qual ela é feita, do modelo, do lugar onde ela esteja. Dessa forma,
atribuímos significado à palavra “cadeira”.
A linguagem não nasce pronta com o homem. Ela é construída a partir da sua interação com a
cultura. Atribuir significado a uma palavra é um conceito, uma generalização, um fenômeno do
pensamento (VYGOTSKY, 1993).
Quando você vai ao supermercado e vê uma fruta diferente que nunca experimentou, você sente o
cheiro, observa a sua cor, sente a densidade, o tamanho, o sabor e associa todo esse conjunto de
informações, de estímulos, ao nome da fruta: pitaia, por exemplo.
É através da linguagem que vamos compreendendo tudo o que significa esses conceitos e fazendo
generalizações, que nos permitem, por exemplo, usar a palavra carnaval em outra circunstância,
como:
O significado atribuído a uma palavra é o resultado de atividades mentais, imagens, ideias, sons,
sentidos, funcionalidade, utilidade, contexto e aplicabilidade, portanto, uma definição conceitual
do pensamento interpretado pela fala. Esse significado é dialético e sofre constantes mudanças,
pois é atravessado pela complexidade dos sentidos que damos à palavra.
Os sinônimos, antônimos, verbos, artigos, sinais e símbolos vão compondo o nosso vocabulário e
ampliando as formas do sujeito pensar, ampliando o seu campo simbólico. Sendo assim, a aquisição
da linguagem pelo homem altera significativamente o seu funcionamento psicológico.
Para (1987), é no significado da palavra que a fala e o pensamento se unem em pensamento verbal.
Para ele, o pensamento e a linguagem iniciam-se pela fala social, passando pela fala egocêntrica,
atingindo a fala interior, que é pensamento reflexivo.
Para Vigotski, a memória é uma função primária e, a partir dela, originam-se as outras atividades
psíquicas. Sua teoria defende que a passagem da memória involuntária para a voluntária acontece
quando o sujeito se apropria da cultura, resultante dos processos históricos pelos quais a
humanidade atravessou e a forma pela qual desenvolveu ferramentas materiais e psicológicas para
transformar a natureza.
Durante essa transformação, o homem lança mão do que o constitui enquanto indivíduo: seus
sentidos, extintos, ideias, experiências, linguagem e gestos construídos coletivamente, acumulados
pelas gerações e transmitidos uns para os outros, que fazem parte daquela sociedade.
“Sem memória, não existe história. Nesse sentido, a memória representa a capacidade
humana de registrar, conservar e transmitir, para os demais indivíduos, tudo aquilo que já
foi anteriormente construído pelo conjunto dos homens, em suas produções materiais e
intelectuais, nos diferentes estágios de evolução da humanidade”.
A memória involuntária que percebemos nos bebês tem como finalidade inicial a sobrevivência. Os
instintos que manifestam evocam impulsos que estimulam as funções psíquicas superiores e se
tornarão aprendizagem. Dessa forma, podemos dizer que desenvolver a memória voluntária ou as
operações mnêmicas de ordem superior são a superação das funções biológicas em favor das mais
complexas, sendo, portanto, resultado da humanização dialética do homem que, ao modificar a
natureza, se modifica.
Isso significa que, mediados pela cultura, esses três instrumentos juntos - memória, linguagem e
cultura - levam o sujeito a níveis de elaboração psicológica cada vez mais complexos, que superam
as condições biológicas do sujeito e evoluem das primeiras sensações e manifestações que temos,
quando bebês, para um nível de abstração, generalização, racionalização e significação cada vez
mais simbólicos.
A criança inicia essa significação através da fala e dos gestos, assim como o homem primitivo, e
necessita ser inserida em atividades que permitam a superação dos significados atribuídos pela
experimentação, para o pensamento por conceitos, através da mediação do conhecimento
sistematizado.
2.4. A Mediação
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:
c
2.4. A Mediação
A mediação é um importante postulado de Vigotski, talvez, o mais estudado, por estar ligado
diretamente à forma com a qual ele relaciona desenvolvimento e aprendizagem. A aprendizagem é
que define o desenvolvimento.
Como já dissemos anteriormente, a relação do homem com o mundo é mediada por instrumentos e
signos. A mediação pode acontecer de forma simbólica ou concreta.
Vamos pensar melhor nisso: imagine que você resolveu trocar todo o tecido do seu sofá por um
outro mais bonito e resistente. Para realizar o trabalho, você precisará utilizar algumas
ferramentas, como uma tesoura, martelo e grampeador. Esses instrumentos possibilitam tornar
concreta a ação que você planejou.
A mediação de natureza semiótica ou simbólica acontece, por exemplo, quando você enxerga na
embalagem do grampeador um símbolo que indica perigo para as crianças. Ou quando enxerga
uma placa que indica a direção a ser tomada no trânsito.
O quadro de Magrite (1929) provoca o sentido do observador para a inscrição em francês, que quer dizer: Isto não é um
cachimbo. Então, o que estamos a ver não é um cachimbo, mas a representação de um cachimbo.
A palavra é um importante signo, assim como a imagem. Tanto os signos quanto os símbolos são
internalizados por cada sujeito e funcionam como mediadores simbólicos dentro do sistema
psicológico. Somente o homem tem essa capacidade de representação mental.
Quer dizer que só o homem consegue pensar em objetos se representá-los em sua mente a partir de
uma palavra ou de um símbolo.
A mediação atua na ZDP do sujeito e provoca novas acomodações em seu desenvolvimento. Esse
desenvolvimento acontece em espiral. A mediação provoca um desequilíbrio entre o que o sujeito
sabe e o que ele precisa saber. Assim, quando assimila o aprendizado, há uma acomodação. Como o
homem está em constante desenvolvimento, o movimento de espiral se explica como constante
movimento de desequilibração, assimilação e acomodação.
Vamos pensar em um cientista que estuda um vírus ou bactéria. A partir dos seus experimentos
com um certo tipo de substância, ele faz algumas conclusões sobre o comportamento daquele vírus.
Então, houve uma equilibração no seu aprendizado. Por enquanto, esse conhecimento está
assimilado e acomodado. Mas, se um outro cientista faz uma descoberta diferente usando a mesma
substância e o mesmo vírus, haverá uma desequilibração no conhecimento e no aprendizado do
primeiro cientista. A mediação de um artigo científico, neste caso, provocará novos experimentos,
que irão gerar um novo aprendizado, uma nova assimilação e acomodação. Um movimento em
espiral, sempre crescente.
A mediação pode ser pela própria ação, quando, por exemplo, um bebê coloca a colher na tomada.
Toda vez que ele associar a colher à tomada, terá consciência da consequência. A ação é mediada
pela experiência anterior. Mas, a criança também pode ser proibida pela mãe de experimentar a
combinação colher e tomada. Nesse caso, a mediação acontece através de uma informação, da
experiência do outro – um processo histórico. O mediador é alguém ou algo que auxilia o processo
de desenvolvimento.
O brincar também se constitui como uma importante mediação para os menores. Através do jogo
simbólico, do faz-de-conta, a criança se apropria das regras, do comportamento e do
funcionamento do mundo adulto. Na brincadeira, a criança transita pelo mundo imaginário e, por
isso, atualmente, é um componente curricular da Educação Infantil.
3. Conclusão
Para Vigotski, o homem não nasce humano. Sua Teoria apresenta um novo olhar sobre a forma de
pensar a criança e seu desenvolvimento.
Para Piaget, o desenvolvimento é endógeno, ou seja, acontece de dentro para fora, quando o sujeito
está em determinado estágio. Já para Vigotski, o desenvolvimento acontece de fora para dentro, da
cultura para o sujeito, através da mediação.
O adulto estabelece a ZDP e, a partir desse momento, tem oportunidade de ensinar. A escola é um
lugar especificamente pensado para ensinar o saber historicamente construído pelo homem. O
desenvolvimento e a aprendizagem em uma sociedade que não possui escolas é são diferentes de
uma onde a escola tem esse papel delegado pela cultura.
Novas traduções têm chamado a ZDP de zona de desenvolvimento iminente, pois está próximo de
acontecer.
De acordo com a professora Edna Martins (UNIFESP), muitos grupos de pesquisa no Brasil
discordam sobre classificar a Psicologia histórico-cultural como sociointeracionista ou
socioconstrutivista. Segundo a professora, essa ideia surgiu na tentativa de aproximar Vigotski de
Piaget e incluí-lo como construtivista.
Devido a problemas de tradução do russo para o português, os primeiros livros de Vigotski, como
Pensamento e Linguagem e Formação Social da Mente, apresentam problemas conceituais.
BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes T. Psicologias: uma
introdução ao estudo de psicologia. 14. ed. São Paulo, SP: Saraiva, 2011 e edições anteriores.
368 p. (28 ex)
VYGOTSKY, L.S. Pensamento e palavra. In: Pensamento e linguagem. São Paulo, Martins
Fontes, 1993.
YouTube. (2018). Instituto Claro. Pensadores na Educação: Vygotsky. (Entrevista com Edna
Martins, UNIFESP) Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=BS8o_B5M9Zs.