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A QUESTÃO AGRÁRIA E A AGRICULTURA FAMILIAR

EM MATO GROSSO

Tiago Lucas Gonçalves1

RESUMO
Este artigo busca analisar de forma detalhada os números que caracterizam a agricultura
familiar em Mato Grosso, estabelecendo conexões com os desafios estruturais presentes na zona
rural do estado. Com uma abordagem crítica, baseada em obras de renomados estudiosos e
pesquisadores, o estudo explora a complexa realidade agrária brasileira, destacando a
singularidade do contexto mato-grossense, que possui uma agricultura moderna e uma
agricultura familiar camponesa em crescimento. A análise revela que, apesar da predominância
das monoculturas de soja, milho e algodão, a agricultura familiar emerge como uma produtora
vital de alimentos, desempenhando um papel crucial na garantia da segurança alimentar. No
entanto, são apontados desafios urgentes, como a dificuldade de acesso ao crédito e as
complexidades enfrentadas na luta pela permanência na terra, reafirmando o ditado consagrado
no meio do campesinato brasileiro: “A luta pela terra e a luta na terra”. Mesmo sendo um direito
garantido pela Constituição, a reforma agrária permanece controversa, em constante conflito
com os alicerces da economia nacional. Foi constatado que apesar dos desafios propostos a
agricultura familiar em mato grosso segue pujante e traz dados significativos acerca de seus
trabalhos. Faz-se necessário uma compreensão mais profunda das interseções entre a agricultura
familiar e o panorama agrário brasileiro, buscando conciliar os imperativos do desenvolvimento
econômico com os princípios de inclusão social na perspectiva geográfica considerada.

Palavras-chaves: Questão Agraria, Agricultura familiar, Mato Grosso, Desafios estruturais

1 Graduando do Curso de Geografia pela Universidade Federal de Mato Grosso IGHD –


UFMT, tiago.goncalves@sou.ufmt.br
THE AGRARIAN QUESTION AND FAMILY AGRICULTURE
IN MATO GROSSO

RESUMEN

This article aims to analyze in detail the figures characterizing family farming in Mato
Grosso, establishing connections with the structural challenges present in the rural zone
of the state. With a critical approach based on the works of renowned scholars and
researchers, the study explores the complex agrarian reality of Brazil, highlighting the
singularity of Mato Grosso, which stands out as the epicenter of the largest number of
family farming settlements in Brazil and Latin America. The analysis reveals that,
despite the predominance of monocultures such as soy, corn, and cotton, family farming
emerges as a vital food producer, playing a crucial role in ensuring food security.
However, urgent challenges are pointed out, such as the difficulty of access to credit and
the complexities faced in the struggle for land tenure, reaffirming the well-established
saying in Brazilian peasant circles: 'The struggle for land is the struggle on the land.'
Even though agrarian reform is a right guaranteed by the Constitution, it remains
controversial, in constant conflict with the foundations of the national economy. This
article aims to examine these dynamics, contributing to a deeper understanding of the
intersections between family farming and the Brazilian agrarian landscape, seeking to
reconcile the imperatives of economic development with the principles of social
inclusion from the geographical perspective considered.

Keywords: Agrarian Matter, Family Agriculture, Mato Grosso, Structural Challenges

INTRODUÇÃO

De acordo com dados da EMPAER (2020), no estado de Mato Grosso, existem


50.155 famílias que residem em comunidades tradicionais. Adicionalmente, no painel
de assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA),
registra-se a presença de 82.424 famílias assentadas, distribuídas em 549 assentamentos,
ocupando uma extensão total de 6.023.370,76 hectares. Ao confrontar as estatísticas
oficiais do INCRA e do IBGE, essa análise pode ser conduzida utilizando os dados do
Censo Agropecuário de 2017. O objetivo é quantificar os estabelecimentos que fazem
parte dos assentamentos de reforma agrária e outros grupos sociais que integram a
agricultura familiar brasileira.

Esses dados contribuíram para uma visão quantitativa que corrobora a afirmação
de Silva & Sato (2010) sobre Mato Grosso ser um “mosaico cultural de identidades”.
O Estado abriga uma diversidade de grupos sociais, incluindo indígenas,
quilombolas, agricultores familiares convencionais, assentados de reforma agrária,
seringueiros, pescadores artesanais, ribeirinhos e retireiros. Essa heterogeneidade
caracteriza o cenário rural mato-grossense, que desempenha um papel significativo na
produção e abastecimento de alimentos.
Os dados do Censo Agropecuário de 2017 evidenciam que a maioria
significativa das pessoas responsáveis pelos estabelecimentos reside no mesmo local,
indicando que o estabelecimento não é apenas um local de trabalho, mas também o
espaço de moradia dessas pessoas.
A agricultura familiar de Mato Grosso, é responsável por uma parcela
substancial da produção de alimentos na região. A agricultura familiar fornece
alimentos básicos, como grãos, hortaliças, frutas e produtos lácteos, que contribuem
para a segurança alimentar de milhões de pessoas no mundo.

METODOLOGIA

Este trabalho adota uma perspectiva quantitativa e descritiva para abordar a


questão agrária na agricultura familiar em Mato Grosso. Os metodos e as técnicas de
pesquisa são focados em descrever as características de uma população ou fenômeno. A
metodologia envolve a coleta de dados de forma a representar e resumir as principais
características ou aspectos observados. O método descritivo utiliza técnicas estatísticas
para analisar e apresentar os dados de maneira objetiva, geralmente na forma de médias,
percentuais, gráficos, entre outros. A combinação dessas abordagens é essencial para
compreender as desigualdades sociais, relações de poder e conflitos no campo. A
análise dos números oficiais divulgados sobre a agricultura familiar em Mato Grosso
permite uma reflexão sobre a concentração de terras, pressões do agronegócio e a falta
de acesso a recursos pelos agricultores familiares.
Durante visitas in loco realizadas pelo curso de Geografia da Universidade
Federal de Mato Grosso (UFMT), foram realizados registros fotográficos significativos
acerca das produções agrícolas em assentamentos de agricultura familiar no estado
alguns assentamentos, difundidos pelo Movimento Sem Terra (MST).Visitas que
abrangeram comunidades que têm raízes na agricultura familiar camponesa, uma delas
de origem quilombola. Conforme Martinelli (1999), o método quantitativo emprega a
quantificação na coleta e no tratamento de dados e informações, enquanto o método
qualitativo, desprovido de instrumentação estatística, destaca aspectos mais subjetivos e
contextuais. Por essa questão o artigo proposto utiliza a abordagem multimétodos um
método que nos permite fornecer melhores possibilidades analíticas.
Na concepção de Gil (1999), a pesquisa descritiva tem como principal objetivo
descrever características de determinada população ou fenômeno, bem como estabelecer
relações entre as variáveis. Uma de suas características mais significativas está na
utilização de coleta de dados. o trabalho utilizou uma abordagem metodológica
descritiva, enfatizando a coleta e análise de dados para descrever as características da
agricultura familiar em Mato Grosso. A pesquisa baseou-se em dados estatísticos
oficiais sobre a agricultura familiar, analisados quantitativamente por meio de técnicas
estatísticas como médias e percentuais.
Além disso, durante visitas in loco a assentamentos de agricultura familiar, o
estudo empregou uma abordagem descritiva ao registrar, principalmente por meio de
registros fotográficos, as produções agrícolas. Esses registros proporcionaram uma
compreensão mais detalhada e visual da realidade vivenciada pelos agricultores
familiares na região, sem utilizar uma abordagem qualitativa. Assim, o método
descritivo foi a principal abordagem metodológica deste trabalho, buscando fornecer
uma análise objetiva das características e desafios enfrentados pelos agricultores
familiares em Mato Grosso.

REFERENCIAL TEÓRICO

Explorando teorias propostas, é possível entender a questão agrária e as lutas de


classes na agricultura familiar mato-grossense. A análise busca evidenciar os desafios,
em meio a conflitos, dificuldades, violência e desrespeito às normas e condutas de
protocolos, além da questão socioambiental.
A invisibilidade socioeconômica e política da agricultura de base familiar foi
fruto de um longo processo de subjugação e, em muitos casos, de dependência da
grande agricultura de exportação. A grande propriedade, dominante em toda a história
brasileira, se impôs como modelo socialmente reconhecido. Como têm apontado alguns
trabalhos historiográficos, à margem ou associada à grande exploração de uso da terra,
sempre existiu uma grande diversidade de formas sociais e de trabalho “Esses
fundamentais agentes camponeses agricultores apareciam sob a designação de colonos,
arrendatários, parceiros, agregados, moradores e até sitiantes, termos que não podem ser
compreendidos sem a articulação com a grande produção em escala industrial”
(MOTTA e ZARTH, 2008, p. 9-10). Da mesma forma, ao lado de donatários e
sesmeiros, apareciam os foreiros, os posseiros, os intrusos ou invasores, os posseiros
criminosos. pode-se afirmar que a história de todas as sociedades é uma história da luta
de classes, à luz do marxismo e do materialismo histórico-dialético. Essa teoria pode
fornecer uma compreensão da história das lutas empreendidas pelo campesinato
brasileiro ao longo de sua trajetória. Essa é a temática abordada por Gilberto de Souza
Marques e Indira Rocha Marques (2015) em seu livro intitulado com o nome “Luta
camponesa e reforma agrária no Brasil”.
Quando examinamos estudos clássicos, deparamo-nos com obras que sugerem a
mudança do camponês para agricultor familiar como única solução para o campesinato.
Entre essas obras, destacam-se os escritos de Lênin (1899/1985) e (1918/1980), e
Kaustsky (1986), os quais apresentam elementos essenciais para compreender o
desenvolvimento da agricultura no contexto capitalista. Além disso, as obras de
Lamarche (1993,1998) e Abramovay (1992) defendem perspectivas semelhantes.
Apesar de Marx não ter tido como objetivo principal estudar o campesinato em sua
época, ao analisar a sociedade moderna, ele identificou três grandes classes: os
operários assalariados, os capitalistas e os latifundiários, baseados no regime capitalista
de produção (MARX, 1985, p. 99). O camponês, devido ao seu trabalho com mão de
obra familiar, adota uma lógica de produção diferente, não orientada pelo lucro, mas
sim pela produção para a subsistência, seguida pela venda do excedente no mercado.
Marx já havia classificado essa forma de produção camponesa como pré-capitalista,
visto que a produção de bens agrícolas para autossustento já existia na época feudal.
A partir dessa premissa, desenvolveu-se a ideia de que, para Marx, o
campesinato seria considerado uma sobrevivência ao modo de produção feudal, sendo,
portanto, secundário para o estudo em questão, sem desempenhar um papel relevante na
dinâmica do mundo capitalista.
A PRODUÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR MATO-GROSSENSE

A agricultura familiar no Brasil é responsável por 10% do Produto Interno Bruto


Nacional, movimenta riquezas da ordem de R$ 160 bilhões por ano, ocupa 80% da mão
de obra no meio rural e respondem pela produção de 25% do café, 31% do arroz, 67%
do feijão, 52% do leite, 49% do milho 58% dos suínos, 40% de aves e ovos e 84% da
mandioca. Segundo dados em Mato Grosso os índices de produtividade e da produção
gerada pelas cadeias produtivas exploradas em regime de economia familiar.
Elaboraram-se diagnósticos das cadeias produtivas como: do leite, da mandioca, da
piscicultura, os diagnósticos e as quantificações carecem de estudos atualizados acerca
da produtividade da agricultura familiar mato-grossense.

DIVISÃO ESPACIAL DO USO DE TERRAS NA AGRICULTURA


FAMILIAR EM MATO GROSSO

Figura 01. Principais atividades econômicas desenvolvidas pela agricultura familiar no Estado
de Mato Grosso Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados de Brasil (2017a).

Quanto à produção da agricultura familiar, observa-se na (Figura 01) que a


principal atividade econômica é a pecuária e criação de outros animais, presente em
82,19% dos estabelecimentos agropecuários de agricultura familiar. É importante
destacar o interesse dos agricultores familiares no Estado de Mato Grosso em aprimorar
sua produção. No entanto, o progresso desses agricultores é limitado e sujeito a desafios
significativos. Entre essas dificuldades encontram-se questões como a regularização
fundiária, acesso a crédito rural, implementação de práticas agrícolas, gestão de mão de
obra, manutenção de estradas, logística e suporte técnico. Há também incertezas
relacionadas à continuidade da produção, casos de sucesso sobre a continuidade da
produção podem ser encontrados em Mato Grosso como é o caso do Valdir um
agricultor da agricultura familiar em Mato Grosso produtor de abacaxi. Valdir iniciou
seu negócio com 25 mil mudas de abacaxi atualmente conta com uma produção de mais
de 100 mil abacaxizeiros aos valores recebidos na comercialização em mercados locais
e à participação em programas de políticas públicas, como o Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA),
permitiram a continuidade do negócio que hoje e gerida pelo núcleo familiar, esposa
filhos, e genro.
Essas visitas e estudos proporcionaram uma compreensão mais aprofundada da
realidade do espaço agrário brasileiro, oferecendo uma visão ampliada sobre as
problemáticas enfrentadas e vivenciadas pelos trabalhadores rurais. Essa abordagem
contribui significativamente para a apreciação e análise das complexidades presentes na
dinâmica da agricultura familiar, especialmente nos contextos específicos de
assentamentos e comunidades de origem quilombola. Registro como a plantação de
abacaxi do agricultor Valdir (Figura 01). também uma plantação de café com registro de
de 2540 sacas de café por safra anual (Figura 02)

Figura 01: Plantação de abacaxi no Figura 02: Figura 01: Plantação de


Assentamento Antônio Conselheiro, café no Assentamento Antônio
no município de Tangará da Serra, Conselheiro, no município de Tangará
MT. Foto por Tiago Lucas, setembro da Serra, MT. Foto por Tiago Lucas,
de 2023. setembro de 2023.

Em síntese, os números apresentados sobre a agricultura familiar em Mato Grosso


revelam tanto a relevância quanto os desafios enfrentados por esse setor crucial da
economia estadual. A concentração de agricultores familiares em determinados
municípios destaca a diversidade de práticas agrícolas e a importância de políticas
específicas para atender às necessidades variadas dessas comunidades. A presença
significativa de famílias em comunidades tradicionais e assentamentos de reforma
agrária reforça a necessidade de abordagens inclusivas e sustentáveis para garantir a
prosperidade dessas populações. O Estado, ao implementar o Plano Estadual da
Agricultura Familiar (PEAF MT), demonstra um compromisso com o desenvolvimento
sustentável, embora a efetivação desse plano em ações concretas seja vital para superar
os desafios identificados. O Plano Estadual da Agricultura Familiar (PEAF MT) é um
documento que define diretrizes e prioridades de atuação para o governo, a sociedade
civil e o setor privado, buscando o desenvolvimento sustentável da agricultura familiar
em Mato Grosso

DESAFIOS E PROBLEMAS ESTRUTURAIS DA AGRICULTURA FAMILIAR


NO ESTADO DE MATO GROSSO

Um desafio enfrentado pela agricultura familiar é o acesso aos mercados. A


maioria dos agricultores familiares encontra-se fora do circuito de produção e
comercialização devido à falta de competitividade, ocasionada pela produção em baixa
quantidade e qualidade, bem como pela oferta irregular de produtos no mercado.
Segundo dados do Censo Agropecuário 2017, apenas 58,42% dos estabelecimentos
rurais ligados à agricultura familiar em Mato Grosso obtêm renda superior com as
atividades realizadas na área em comparação com atividades externas ao
estabelecimento. Isso ressalta a importância dos mercados institucionais, como o
Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação
Escolar (PNAE), além da necessidade de políticas públicas diferenciadas formuladas e
implementadas pelos poderes públicos estadual e municipal, levando em consideração a
especificidade das práticas agrícolas, a realidade dos agricultores e suas famílias, e o
contexto em que estão inseridos. Vale destacar a criação, no Estado de Mato Grosso, do
Plano Estadual da Agricultura Familiar (PEAF) (SEAF, 2017). Este documento
estabelece diretrizes e prioridades de atuação para o governo, a sociedade civil e o setor
privado, visando o desenvolvimento sustentável da agricultura familiar na região. O
PEAF foi elaborado com base em propostas advindas de 20 documentos de referência,
resultantes de diversos eventos como conferências, oficinas e workshops, bem como de
estudos realizados entre 2012 e 2016. O plano delineia diretrizes estratégicas para a
agricultura familiar no estado, agrupadas em cinco eixos centrais: Produção Sustentável;
Agregação de Valor e Comercialização; Governança e Controle Social; Assistência
Técnica e Extensão Rural (ATER); e Regularização Ambiental e Fundiária. No entanto,
sua efetiva implementação em ações práticas com a agricultura familiar é necessária
para alterar o cenário identificado, especialmente no que se refere à Assistência Técnica
e Extensão Rural. Além desses aspectos, Albé (2002) constatou que a ausência de
assistência técnica na agricultura familiar dificulta a assimilação, compreensão e
aceitação de inovações, podendo representar um obstáculo à adoção de novas
tecnologias. De acordo com Gomes (2004), a orientação técnica alinhada às demandas
do agricultor é um passo essencial para alcançar a sustentabilidade nos âmbitos social,
econômico e ambiental. No entanto, a pesquisa realizada por Faria e Duenhas
(2019,p.138)sobre os avanços e desafios da Política Nacional de Assistência Técnica e
Extensão Rural para a Agricultura Familiar e Reforma Agrária (Pnater) revelou que
"poucos produtores no país recebem serviços de Ater" e que "muitos técnicos ainda
resistem em abandonar o antigo modelo de extensão rural." É notável que, em 83,70%
dos estabelecimentos vinculados a agricultores familiares, a obtenção de informações
ocorre por outras vias, além da assistência técnica. Nesse contexto, a televisão lidera,
com 73,15% dos estabelecimentos, seguida pelo rádio (45,22%) e internet (15,72%)
Reuniões técnicas e seminários são pouco frequentes, aparecendo em apenas 12,34%
dos estabelecimentos agropecuários. Essa baixa participação em eventos técnicos está
relacionada ao reduzido percentual de agricultores que recebem orientação, impactando
diretamente na produtividade da agricultura familiar. A falta de direcionamento técnico
pode ser um entrave para a adoção de novas tecnologias e contribuir para o êxodo rural,
devido à dificuldade em manter a produtividade nos estabelecimentos rurais e no
campo.
O acesso à energia elétrica é evidenciado pelo uso de equipamentos eletrônicos
em grande parte das propriedades. Segundo os dados do Censo Agropecuário 2017, em
Mato Grosso, 89,50% dos estabelecimentos têm energia elétrica (BRASIL, 2017a). Essa
realidade também foi observada por Silva et al. (2012), que constataram que a maioria
dos assentamentos na região de Cáceres-MT possui acesso à energia elétrica. No
entanto, é crucial ressaltar que, em 2017, 10,40% dos estabelecimentos de agricultores
familiares ainda não contavam com esse recurso, representando um desafio para o
Estado, que deve identificar as condições dessas propriedades e implementar políticas
públicas para solucionar essa questão. A falta de energia elétrica inviabiliza o acesso
dos agricultores a diversas tecnologias e informações veiculadas em meios eletrônicos,
essenciais para o desenvolvimento rural.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo teve como objetivo analisar detalhadamente a situação da
agricultura familiar em Mato Grosso, estabelecendo conexões com os desafios
estruturais enfrentados na zona rural do estado. Ao longo do trabalho, buscamos, de
maneira crítica, compreender a complexa realidade agrária brasileira, destacando a
singularidade do contexto mato-grossense, onde coexistem uma agricultura moderna e
uma agricultura familiar camponesa em crescimento.
A análise revelou que, apesar da predominância das monoculturas de soja, milho
e algodão, a agricultura familiar emerge como uma produtora vital de alimentos,
desempenhando um papel crucial na garantia da segurança alimentar. As visitas in loco
proporcionaram uma visão mais profunda da realidade da agricultura familiar
camponesa, evidenciando sua diversidade, com comunidades de origem quilombola e
produtores como Valdir, que alcançaram êxito na produção de abacaxi.
Os principais desafios identificados incluem o acesso limitado ao crédito, a
regularização fundiária, a assistência técnica deficiente e as dificuldades de
comercialização. A concentração de agricultores familiares em determinados municípios
destaca a necessidade de políticas públicas diferenciadas que considerem as
especificidades regionais e abordagens inclusivas e sustentáveis para garantir a
prosperidade dessas populações.
A criação do Plano Estadual da Agricultura Familiar (PEAF MT) é um passo
positivo, demonstrando o compromisso do estado com o desenvolvimento sustentável.
No entanto, sua efetiva implementação em ações concretas é vital para superar os
desafios identificados, especialmente no que se refere à assistência técnica e extensão
rural. Este estudo pode fornecer subsídios para futuras pesquisas que explorem os
fatores condicionantes para a sustentação produtiva, social e econômica da agricultura
familiar. Além disso, destaca a importância de estudos in loco para fornecer dados
empíricos que elucidem as reais dificuldades enfrentadas pelas famílias rurais. A análise
da distribuição de renda e práticas agrícolas ressalta a necessidade de ações estratégicas
dos poderes públicos para promover um ambiente propício ao fortalecimento da
agricultura familiar em Mato Grosso. Em síntese, este estudo contribui para uma
compreensão mais aprofundada das interseções entre a agricultura familiar e o
panorama agrário brasileiro, buscando conciliar os imperativos do desenvolvimento
econômico com os princípios de inclusão social na perspectiva geográfica considerada.
REFERÊNCIAS

ALBÉ, M. Q. Alguns indicadores de sustentabilidade para os pequenos e médios


produtores rurais no município de Jaquirana. Revista Liberato, vol.3 n.3 1-14 2012
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MOTTA, L. S.; ZARTH, P. T. A. Formas de resistência camponesa: visibilidade e
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MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. Tradução de Álvaro Pina.
São Paulo: Boitempo Editorial, 2005.
MARTINELLI, M. L. Pesquisa Qualitativa: um instigante desafio. São Paulo: Veras
Editora. 1999.
AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha instituição de ensino, a


Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT),
e em especial ao corpo docente do Instituto de
Geografia, História e Documentação (IGHD).
Manifesto minha gratidão ao Prof. Dr. Diogo
Marcelo Delben Ferreira de Lima, pelas
orientações na confecção do trabalho. Estendo
meus sinceros agradecimentos à Jornalista e
Mestranda do PPGCOM-UFMT, Nara Assis Dos
Santos, pelo apoio moral e amigo dedicados à
realização deste trabalho a USP Universidade
de São Paulo pelo espaço concedido. Agradeço
também a todos que acompanharam
integralmente e dedicaram seu tempo à
leitura, proporcionando uma compreensão
mais profunda sobre a realidade agrária do
Estado de Mato Grosso e do Brasil.

Av. Fernando Corrêa da Costa, nº 2367

Bairro Boa Esperança - Cuiabá - MTCEP: 78060-900(65) 3615-8000

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