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GU I A P R ÁT ICO PA R A A P RODUÇ ÃO DE

SEMENTES DE
HORTALIÇAs
HORTALIÇA s

VLADIMIR MOREIRA
& Comunidade-Luz Figueira
Vladimir Ricardo
da Rosa Moreira
Graduado pela Universidade da Região da Campanha
(U R C A M P ) desenvolveu pesquisas com o tema
“Desafios da produção de sementes de hortaliças em
associações de agricultores orgânicos e biodinâmi-
cos no sul de Minas Gerais” em sua dissertação
de Mestrado pela Universidade Federal de Lavras
(UFLA) em Lavras-MG, junto ao Departamento de
Administração e Economia (DAE), no Programa de
Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável e
Extensão (PPGDE)
Sua experiência profissional está consolidada como
pesquisador e consultor de importantes instituições
de sementes agroecológicas em todo o Brasil, como
a Bionatur, na qual contribuiu como coordenador
técnico por vários anos. Atualmente atua como
consultor do SENAR – SP nos programas de longa
duração de Olericultura Orgânica, Tomate Orgânico,
Batata Orgânica, Nutrição Biológica e Produção de
Sementes de Olerícolas, entre outros projetos em
vários estados brasileiros.
Atualmente também é consultor da ABD (Associação
Brasileira de Agricultura Biodinâmica) na área de
produção de sementes, melhoramento participativo,
olericultura orgânica e biodinâmica em grupos de
pequenos agricultores em vários estados brasileiros.
Com dezenas de artigos científicos publicados em
revistas especializadas em agricultura, seu trabalho se
destaca pela pesquisa e aplicação de conhecimen-
tos relacionados à agricultura orgânica, ressaltando
a importância de valorizar as sementes agroeco-
lógicas e suas particularidades, incentivando uma
agricultura responsável e em harmonia com os
reinos da natureza.
GU I A P R ÁT ICO PA R A A P RODUÇ ÃO DE

SEMENTES DE
HORTALIÇAs
HORTALIÇA s
Copyright © 2023 Irdin Editora

Texto de acordo com as novas regras ortográficas da língua portuguesa.

Projeto gráfico, capa, diagramação e revisão:


Equipe de voluntários da Associação Irdin Editora e da Comunidade-Luz Figueira

Tipologias utilizadas no projeto gráfico:


Capa: Adorn Story Serif e Bagatela
Miolo: famílias Minion Pro e Bagatela

Fotos e imagens:
Acervo particular dos autores

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Moreira, Vladimir
Guia prático para a produção de sementes de hortaliças / Vladimir Ricardo da Rosa Moreira,
Comunidade-Luz Figueira. – Carmo da Cachoeira : Irdin, 2023.

141 p. : il. color

Fotos e imagens: Acervo particular dos autores

ISBN: 978-65-88468-54-8

1. Agricultura. 2. Horticultura. 3. Sementes orgânicas - cultivo. I. Comunidade-Luz Figueira. II. Título.

CDD: 631.5

Direitos reservados
ASSOCIAÇÃO IRDIN EDITORA
Cx. Postal 2, Carmo da Cachoeira – MG, Brasil | CEP 37225-000
Tel.: (+55) 35 3225-2252 | (+55) 35 3225-2616
www.irdin.org.br

Esta edição foi impressa em outubro de 2023, na Artes Gráficas Formato Ltda.,
em sistema offset, papel offset 90g/m² (miolo) e papel cartão supremo 320g/m² (capa)

IMPRESSO NO BRASIL
GU I A P R ÁT ICO PA R A A P RODUÇ ÃO DE

SEMENTES DE
HORTALIÇAs
HORTALIÇA s
VLADIMIR MOREIRA
& Comunidade-Luz Figueira

2023
A todos os semeadores da Vida

Certo homem saiu para semear. Enquanto semeava, uma parte das sementes caiu à
beira do caminho e os pássaros vieram e as comeram. Outra parte caiu no meio de pedras,
onde havia pouca terra. Essas sementes brotaram depressa pois a terra não era funda, mas,
quando o sol apareceu, elas secaram, pois não tinham raízes. Outra parte das sementes caiu
no meio de espinhos, os quais cresceram e as sufocaram. Uma outra parte ainda caiu em terra
boa e deu frutos, produzindo trinta, sessenta e até mesmo cem vezes mais do que tinha sido
plantado. Quem pode ouvir, ouça.

Parábola do semeador
Dedicatórias & Agradecimentos

Dedico este trabalho a minha família, Fabiane Borges Ferreira, Pedro


Ferreira da Rosa Moreira, Esther da Rosa Moreira (in memoriam), Camillo de
Freitas Moreira (in memoriam), Luis Henrique da Rosa Moreira (in memoriam),
Fátima Thereza da Rosa Moreiar e Décio Olintho Leal Tavares. Vocês que muito
me incentivaram durante todo o meu trajeto, têm um lugar especial na minha
vida e no meu coração.
Dedico também, a todos os agricultores e agricultoras que enormemente
influenciaram na construção deste livro, principalmente aqueles ligados a agroeco-
logia e ao cuidado com a preservação das sementes como Patrimônio dos Povos a
Serviço da Humanidade.
Alguns profissionais ligados a agroecologia tiveram papel fundamental na
construção do dialogo e da troca de saberes e que me influenciaram decisivamente
a trilhar este caminho como Irajá Antunes, Altair Machado, Pedro Jovchelevich,
Nelson Jacomel e os colegas de faculdade e irmãos que a vida proporcionou,
Lafayette Xavier de Moraes Neto, Clovis Doille e Eitel Maica.
Um agradecimento especial para a Comunidade-Luz Figueira, que traz para
minha formação a importância das sementes no âmbito da espiritualidade e da
benevolência e que proporcionou a concretização deste livro.

Vladimir Moreira

Pelas Sementes lançadas através desta obra,


pelos Frutos que gerará,
pelo Serviço que brinda à humanidade
e pelo Legado que representa aos agricultores,

Agradecemos aos voluntários que tornaram possível a realização deste livro.

Comunidade-Luz Figueira
Nota da Editora ................................................................................................................................................... p. 11 Amontoa ou aterramento .................................................................................................................................. p. 77
Prefácio ............................................................................................................................................................... p. 13 Tutoramento ...................................................................................................................................................... p. 77
Introdução ........................................................................................................................................................... p. 14 Desbrota ............................................................................................................................................................. p. 78
Eliminação de frutos ......................................................................................................................................... p. 80
Capítulo i Limpeza das saias (Toalete) .............................................................................................................................. p. 80
aspectos importantes sobre a produção de sementes p. 17
Penteamento das cucurbitáceas ....................................................................................................................... p. 80
Zonas de produção de sementes de hortaliças ................................................................................................ p. 18 Capação (castração) .......................................................................................................................................... p. 81
A legislação brasileira de sementes .................................................................................................................. p. 19 Indução ao florescimento ................................................................................................................................. p. 81
Categorias de sementes de acordo com a legislação brasileira de sementes ................................................. p. 20 Roguing .............................................................................................................................................................. p. 82
Sementes orgânicas ............................................................................................................................................ p. 21 Polinização ......................................................................................................................................................... p. 82
Classificação das sementes ................................................................................................................................ p. 21
Capítulo vi
Colheita e beneficiamento de sementes de hortaliças p. 85
Capítulo ii
Planejamento da produção de sementes de hortaliças p. 25 Colheita de sementes de frutos carnosos ......................................................................................................... p. 87
Famílias botânicas e espécies de hortaliças .................................................................................................... p. 26 Colheita de sementes de frutos secos ............................................................................................................... p. 93
Condições climáticas e suas influências para a produção de sementes de hortaliças ................................ p. 27 Limpeza das sementes de frutos secos ............................................................................................................. p. 98
Método de reprodução das plantas .................................................................................................................. p. 35 Secagem das sementes .................................................................................................................................... p. 100

Isolamento de campos para produção de sementes de hortaliças ................................................................ p. 41


Capítulo vii
Rendimento de sementes de hortaliças .......................................................................................................... p. 44 Armazenagem das sementes p. 105
Época de plantio, espaçamentos e ciclo das espécies para produção de sementes ...................................... p. 47
Embalagens para armazenar sementes nas propriedades ........................................................................... p. 108
Definição e localização da área de produção de sementes ............................................................................ p. 47
Embalagens para sementes comerciais ......................................................................................................... p. 108
Capítulo iii Longevidade das sementes ............................................................................................................................. p. 108
Plantio de campos sementeiros p. 51 Tratamento de sementes de hortaliças .......................................................................................................... p. 109

Sistemas de plantio ........................................................................................................................................... p. 52 Teste de germinação de sementes .................................................................................................................. p. 111

Capítulo iv Capítulo viii


Vernalização artificial p. 57 Sistema agroecológico de produção de sementes de hortaliças p. 117

Vernalização da cenoura ................................................................................................................................... p. 58 Manejo ecológico de solos ............................................................................................................................... p. 118

Vernalização e plantio da cebola ...................................................................................................................... p. 63

Capítulo v CONCLUSÃO p. 131


Manejo e tratos culturais p. 69
Sobre a Comunidade-Luz Figueira ................................................................................................................. p. 133
Irrigação ............................................................................................................................................................ p. 70 Setor Plantios e Sementes na Comunidade-Luz Figueira ............................................................................. p. 135
Desbaste ............................................................................................................................................................. p. 72 Glossário ........................................................................................................................................................... p. 137
Controle de plantas espontâneas ..................................................................................................................... p. 73 Referências Bibliográficas ............................................................................................................................... p. 139
Área de plantios da Comunidade-Luz Figueira
Nota da editora

N
unca, na história da humanidade, observou-se um tempo em que refletir sobre a
relação da raça humana com a Natureza tornou-se imprescindível e urgente para
a sobrevivência saudável e segura de nossa espécie. Diante da demanda alimentar
do alto contingente de seres humanos no planeta, da atual forma de distribuição de re-
cursos e da manipulação genética dos alimentos, observamos que é fundamental refletir
sobre princípios e valores que nos ajudarão a encontrar soluções harmoniosas e inteli-
gentes para enfrentar, com segurança, os desafios alimentares que vivemos nestes tempos.
Com entusiasmo e esperança, apresentamos esta obra com a principal finalidade de
compartilhar, de forma simples, objetiva e prática, conceitos e técnicas sobre a produ-
ção de sementes de hortaliças, não apenas como um livro técnico e/ou de consulta, mas
principalmente como preciosa ferramenta de auxílio para a superação destes tempos de
emergência alimentar, um desolador panorama que infelizmente é uma realidade para
muitos seres humanos e animais; condição que se observarmos com profunda sincerida-
de pode bater à nossa porta a qualquer momento.
Acreditamos que ao disponibilizarmos uma obra como esta, oferecemos a todos a
oportunidade de refletir sobre o impacto de termos adotado - por tanto tempo! - um
padrão tecnológico para a produção de nossos alimentos. Desta forma, apresentamos
aqui alternativas seguras de produção de hortaliças que não utilizam a forma predatória
dos “recursos naturais” e tampouco modificam a Natureza de forma agressiva, mas que
buscam consolidar, como um padrão de produção agrícola sustentável, um modelo que
integre objetivos sociais, econômicos e ambientais de forma saudável e equilibrada para
nós e para a Natureza.
Portanto, este material foi elaborado com a aspiração de disponibilizar a você, caro
leitor, uma síntese de anos de pesquisa teórica e prática, para que os melhores resultados
possam ser obtidos por todos aqueles que, atentos e disponíveis, desejam comungar de
uma alimentação segura, saudável e respeitosa, em profunda fraternidade com os Reinos
da Natureza.
Boa leitura e semeadura!

Irdin Editora

13
Prefácio

A
s sementes utilizadas na agricultura tradicional- Com relevada importância na construção da metodo-
mente são cuidadas como entidades biológicas logia do livro está a dissertação de Mestrado Profissional
que, por perpetuarem-se de ciclo em ciclo, se trans- em Desenvolvimento Sustentável e Extensão denominada
formam em recursos naturais regenerativos sobre os quais Desafios da Produção de Sementes de Hortaliças em As-
muitos elos da cadeia da vida podem afirmar-se. Consti- sociações de Agricultores Orgânicos e Biodinâmicos no
tuem partes essenciais de ecossistemas sustentáveis, geram Sul de Minas Gerais, desenvolvida no Programa de Pós-
frutos que abastecem e alimentam necessidades locais, são -Graduação em Desenvolvimento Sustentável e Extensão
parte da herança comum da humanidade e comungam (PPGDE) da Universidade Federal de Lavras (MG), De-
dos valores étnicos e culturais de todos nós. Ao longo dos partamento de Administração e Economia (DAE).
séculos, as sementes foram selecionadas, cuidadas e pre- Portanto, este Guia Prático tem como finalidade ser
servadas por um incontável número de agricultores que, um emulador de ações que buscam interpretar e oferecer
como guardiões de um precioso tesouro, desenvolveram técnicas e conhecimentos que possam indicar uma pos-
métodos e conhecimentos tradicionais transmitidos e re- sibilidade de operar, com um sentido novo e renovado, a
gistrados durante amplos períodos históricos, resguardan- atividade da agricultura ecológica, sustentável, ambiental
do assim um importante legado de preservação da Natu- e social, resgatando práticas e princípios ancestrais, pro-
reza, refletindo o respeito do homem por sua fonte de vida movendo um impulso transformador no cultivo da terra.
e saúde. Apresentará noções e conceitos primordiais na produção
Apoiados nesses princípios e com a aspiração de con- de sementes de polinização aberta, sugerirá caminhos
tribuir para a preservação das sementes naturais, puras para experiências fecundas, fundamentado em uma pers-
e não modificadas geneticamente, escrevemos este livro pectiva crítica e coerente com os princípios formativos a
com a finalidade de auxiliar agricultores e extensionistas partir da práxis de anos de pesquisa na área.
rurais a realizar uma produção de sementes de hortaliças Nossa principal intenção é incentivar - não so-
organizada, segura, eficiente e com excelentes resultados. mente na teoria, mas, sobretudo, na prática - uma
O conteúdo apresentado é fruto de um primoroso profunda reflexão sobre a importância da produção
trabalho de pesquisa colaborativa durante vários anos, de sementes não modificadas geneticamente, conside-
conduzida por Vladimir Moreira que contou com o apoio rando que é um tema de grande destaque no âmbito da
da Rede Bionatur de Sementes agroecológicas e a Associa- agricultura de base ecológica e pode contribuir para
ção Brasileira de Agricultura Biodinâmica (ABD), entre que nossa humanidade aprenda, de forma inteligente e
outras entidades que são referências nacionais na produ- organizada, a superar as dificuldades emergentes que
ção de sementes. O conhecimento desenvolvido em tais vivemos em relação a nossa alimentação e aos nossos
pesquisas puderam ser colocados em prática na Comuni- meios de produzi-la.
dade-Luz Figueira, co-autora dessa obra. Desejamos uma boa leitura a todos!

Vladimir Moreira e Comunidade-Luz Figueira

15
Introdução

D
esde os primórdios da agricultura, por meio da
domesticação das plantas selvagens, as sementes
apresentam-se de suma importância para a huma-
nidade. Foi através do senso de observação das sementes
que sobravam do consumo de plantas nativas, as quais
eram jogadas ao solo e germinavam dando origem a plan-
tas idênticas às que haviam sido consumidas, que talvez
se tenha originado o processo de uma ainda incipiente
e primitiva forma de agricultura.
Ainda nessa época, a humanidade resolveu agrupar
as sementes das plantas em sementeiras e, através desse
artifício, começou a controlar o plantio, o manejo e a co-
lheita. Logo após esse processo inicial, passou a selecionar
as plantas que melhor atendessem às suas necessidades,
como as mais produtivas, as maiores e de menor poder
de desgrane, entre outras. Por meio de todas essas téc-
nicas, ainda que rudimentares, por volta de 12 mil anos
atrás a agricultura estava sendo descoberta pelo homem,
e isso mudaria totalmente o curso da história, assim como
a evolução do homem.
Desse fenômeno surgiram espécies importantes para
a alimentação humana: as hortaliças. A coevolução das
espécies de hortaliças com o homem é magnífica: entre
elas podemos citar a domesticação das Brassicas oleraceas,
pela qual um exemplar de uma couve selvagem originária
do Mediterrâneo deu origem à couve-de-folhas, à couve-
-brócolis, à couve-flor, couve-rábano e ao repolho. Poste-
riormente, essas espécies foram sendo manejadas e delas
foi desmembrada uma série de variedades, formando uma
diversidade muito grande de plantas de interesse agrícola.
E assim ocorreu com todas as espécies de hortaliças.
O conhecimento e a técnica em manejar as diver-
sas espécies e variedades de hortaliças são uma marca

16
histórica da agricultura; nesse contexto, a produção de se- dução de sementes de hortaliças, suas famílias botânicas
mentes apresenta importância enorme para a humidade. e espécies, bem como os mecanismos de florescimento e
Assim, a produção de sementes de hortaliças pode ser um polinização; isolamento de campos para produção de se-
fator de soberania e independência para os agricultores mentes; o rendimento de sementes de hortaliças por área
que, no entanto, devem estar cientes de algumas conside- cultivada; a definição do local de produção e época de
rações técnicas importantes tanto para a produção quanto plantio, espaçamentos e o ciclo das espécies. O Capítulo II
para o manejo adequado das sementes para tal fim. Foi pen- apresenta uma introdução ao plantio desse tipo de semen-
sando nisso que chegamos ao presente texto deste livro. tes e os sistemas a ele relacionados.
O projeto do livro surge a partir da confirmação pelo O Capítulo III indica como se dá o manejo e quais os
autor e o Setor Plantios e Sementes da Comunidade-Luz tratos culturais dessas sementes, com a abordagem de te-
Figueira da necessidade de plasmar toda informação, mas como a irrigação, o desbaste, o controle de plantas
observação e análise do diário de campo do agricultor em espontâneas, o tutoramento, a indução ao florescimento,
procura de técnicas e procedimentos ancestrais otimi- entre outros temas correlatos. O Capítulo IV discorre so-
zados, trazendo como legado o embasamento científico bre colheita, maturação fisiológica das sementes; colheita
e a constatação da eficiência destas práticas agrícolas. de frutos carnosos e de frutos secos, secagem das sementes
Apresentamos aqui a síntese dos conhecimentos mais e limpeza das sementes de frutos secos.
importantes ao pequeno agricultor, assim como a todas Para concluir a obra, nos Capítulos V, VI, VII e VIII
as pessoas interessadas em cultivar sementes, com o ob- o leitor aprofundará na arte da armazenagem das se-
jetivo principal de elucidar aspectos da produção de se- mentes; no tratamento, controle de insetos que ata-
mentes de hortaliças e deste modo ajudar os agriculto- cam as sementes; controle de doenças transmitidas
res no seu dia a dia quanto a possíveis gargalos que en- por sementes; teste de germinação, modo de reali-
contrem durante o cultivo com esse fim. O livro possui zar o teste de germinação e sistema agroecológico de
também o papel de resgatar a prática de produção de produção de sementes.
sementes de hortaliças, quebrando paradigmas relati- O livro se encerra com uma conclusão e síntese sobre
vos à possível incapacidade, em nosso mundo atual, da os temas abordados, breve apresentação da Comunidade-
realização dessa atividade por qualquer agricultor, seja -Luz Figueira e do Setor Plantios e Sementes. Um glos-
de pequeno e médio porte, ou mesmo por aqueles que sário e indicações bibliográficas são disponibilizados para
praticam agricultura de subsistência ou cultivam hortas quem quiser se aprofundar no tema desse livro, que foi
domésticas ou comunitárias. escrito visando à nossa reconexão com a natureza e ao es-
A obra está dividida em oito capítulos ou seções prin- tudo de meios para obtermos os melhores frutos da terra
cipais, que por sua vez têm suas próprias subdivisões ou em cooperação com os Reinos da Natureza, sem causar
subitens, para facilitar a compreensão de assuntos especí- danos ao planeta e aos seus bilhões de formas de vida que,
ficos. No Capítulo I, é abordado o planejamento da pro- como nós, tem a Terra como lar.

17
Capítulo I

“Que possamos acolher as sementes do futuro


e regá-las com a pura entrega ao mais Alto.”
Trigueirinho

19
Capítulo I

Aspectos importantes
sobre a produção de sementes

S
emente é todo material de reprodução vegetal de Na produção de hortaliças, o acesso às sementes de alta
qualquer gênero, espécie ou variedade provenien- qualidade fisiológica e sanitária é condição básica para
te de reprodução sexuada ou assexuada que tem a manutenção de sua sustentabilidade; sendo a semente es-
finalidade específica de semeadura; é estrutura extre- trutura vital que origina os demais processos produtivos,
mamente importante para a sobrevivência das plantas dela depende o sucesso do segmento.
no ambiente terrestre. As práticas da produção de sementes diferenciam-se
A semente é o óvulo desenvolvido e fecundado, ou daquelas da produção de hortaliças para alimentação, des-
seja, contém o embrião. Ela é formada basicamente por de a legislação, planejamento, plantio, manejo, colheita,
três partes: embrião, suprimento nutricional e revestimen- beneficiamento até a comercialização.
to protetor, e está pronta para germinar, ou não.
As sementes são as unidades de dispersão das plantas
para exercerem seu papel, que pode ocorrer pelo vento, Zonas de produção
água, organismos vivos, ou ainda em alguns casos pela
explosão do fruto.
de sementes de hortaliças

G
Numa visão holística, semente é o início, meio e fim da eorge (1989) defende que as principais zonas de
vida de uma planta, significando que uma nova forma de produção de sementes estão fundamentadas em fa-
vida renascerá a partir da última forma, garantindo assim tores climáticos que assegurem um meio relativamente
a perpetuação das espécies vegetais. satisfatório para obter sementes de plantas hortícolas.
A produção de sementes é uma atividade que vem No Brasil existe uma diferenciação muito grande de
sendo desenvolvida ao longo do tempo a partir do ambientes e solos, razão por que necessários um estudo
processo de domesticação das plantas pelo homem. e uma classificação que venham a orientar o zonea-
Com a modernização da agricultura, foram desenvol- mento e as melhores condições para a implantação de
vidas tecnologias de produção de sementes em lar- campos sementeiros. Hoje claramente existem algumas
ga escala, deixando de ser uma atividade exclusiva zonas que estão sendo usadas com segurança para a
dos agricultores. produção de sementes.

20 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


A zona de cultivo de espécies que necessitam de frio O Brasil é quase um continente, com diferentes biomas e
(vernalização) para completar seu ciclo está localizada da condições climáticas; portanto, ao iniciar um programa de pro-

Capítulo I - ASPECTOS DA PRODUÇÃO DE SEMENTES


metade sul de Santa Catarina até o sul do Rio Grande do dução de sementes, devem ser observados alguns fatores para o
Sul, com destaque para a metade sul deste estado. Outra sucesso da atividade, seja ela em pequena escala, ou uma pro-
região propícia para a produção de sementes localiza-se dução em larga escala. Destaca-se que existem exigências bem
na região do Semiárido, mais precisamente no Nordeste definidas na produção de sementes, que vão desde o conheci-
brasileiro e norte de Minas Gerais, sendo uma zona apta mento sobre a legislação brasileira, a adaptabilidade de deter-
à produção de sementes de cucurbitáceas, solanáceas, fei- minada espécie ao local, as técnicas utilizadas no manuseio das
jão-vagem, alface, coentro e quiabo. Ambas as zonas pro- plantas até a finalidade da produção – para uso próprio, ou para
dutoras de sementes de hortaliças dependem de fatores comercialização para uma empresa sementeira.
climáticos para o desenvolvimento da cadeia sementeira. A produção de sementes de hortaliças é um trabalho
criterioso que exige conhecimentos específicos relaciona-
A região Sul é uma região fria e onde ocorre unicamen-
dos a cada espécie e sua diversidade de variedades.
te o florescimento ao natural de determinadas espécies,
sem a necessidade de utilização de métodos mecânicos
(vernalização artificial) para as culturas da cebola, cenoura,
algumas variedades de beterraba e brássicas em geral.
A legislação brasileira de sementes
Na região do Nordeste, a zona de produção de sementes
se localizada próxima às áreas irrigadas pelo rio São Francisco, A tualmente, a produção, o comércio e outras atividades
relacionadas a sementes e mudas no Brasil são regidas
pela Lei nº 10.711, de 05 de agosto de 2003, que instituiu
apresentando a vantagem de ser uma região seca e de baixa
umidade relativa do ar, com a garantia da irrigação, princi- o Sistema Nacional de Sementes e Mudas, regulamentada
palmente para a produção de sementes de culturas que apre- pelo Decreto nº 5.153/04 do Ministério da Agricultura e
Pecuária (MAPA).
sentem frutos como é o caso das famílias das cucurbitáceas
e das solanáceas. Outras culturas que florescem com relativa Existem dúvidas por parte dos agricultores sobre a
facilidade neste ambiente são a alface e o coentro. O local em legislação brasileira no que se refere a quem tem am-
paro legal para produzir sementes e também quanto às
questão está entre os estados de Pernambuco, Bahia e o norte
sementes orgânicas. A seguir, pretende-se elucidar es-
de Minas Gerais. Entretanto, algumas empresas iniciaram a
sas dúvidas a partir da legislação aplicável e da defini-
produzir sementes em outros estados, entre eles o Piauí. ção elaborada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária
Na região do Semiárido, a ausência de variação cli- (MAPA) sobre sementes orgânicas.
matológica durante a fase final de desenvolvimento e Nos termos do art. 8º, §3º, da Lei nº 10.711/2003, estão
maturação das sementes favorece o cultivo de campos isentos de inscrição no Registro Nacional de Sementes e
sementeiros. Estas variações estão relacionadas princi- Mudas (RENASEM) os agricultores familiares, os assen-
palmente com um período de baixa umidade ou ausên- tados da reforma agrária e os indígenas que multipliquem
cia de chuvas em demasia após a polinização até a fase sementes ou mudas para distribuição, troca ou comercia-
de colheita. A ausência de umidade na fase final do ciclo lização entre si. Portanto, quem se enquadrar nesse grupo
favorece uma colheita com segurança nos meses de maio de pessoas, possui amplo direito de produzir, trocar e ven-
a novembro nessa região. der sementes, desde que seja com outros da mesma esfera.

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 21


Para aqueles autores que não se enquadram como fa- Para a produção de sementes realizada em unidades
miliares, assentados de reforma agrária ou indígenas, a de produção, deve-se utilizar materiais de maior quali-
Portaria MAPA nº 538, de 20 de dezembro de 2022, pre- dade genética possível, destacando-se ainda na lei de se-
vê no art. 170, sob o título “Da reserva de semente para mentes as várias categorias que são produzidas no Brasil.
uso próprio”, os critérios para que o usuário possa, a cada
safra, reservar parte de sua produção como “semente para
uso próprio”: Categorias de sementes
de acordo com a legislação
Art. 170 . O usuário poderá, a cada safra, reservar parte
de sua produção como semente para uso pró-
brasileira de sementes

O
prio, que deverá ser: s campos de produção de sementes devem ser
I - utilizada apenas em área de sua propriedade inscritos no Ministério da Agricultura e Pecuária
ou de que detenha a posse; (MAPA) para serem fiscalizados. Esses campos tam-
II - utilizada exclusivamente na safra seguinte à da bém precisam de um responsável técnico. As sementes
sua reserva; são divididas em várias categorias e posteriormente são
III - reservada em quantidade compatível com a colocadas à venda ou não.
área a ser semeada, consideradas a recomen-
dação de semeadura para a espécie ou cultivar Semente genética
e a tecnologia empregada; É aquela semente obtida a partir do melhoramento de
IV - transportada somente entre áreas de sua pro- plantas, sendo a que apresenta as melhores características
priedade ou de que detenha a posse e somente que foram incorporadas neste processo. É produzida por
com a autorização do órgão de fiscalização; empresas sementeiras e instituições de pesquisas. Geral-
V - reservada, beneficiada, embalada e armazena- mente é produzida em pequenos lotes.
da somente em área rural de sua propriedade
ou de que detenha a posse, ressalvados os casos Semente básica
previstos em normas específicas, consideradas
É aquela semente obtida da multiplicação de semente
as particularidades das espécies e condiciona-
genética para aumento de sua população, garantindo sua
dos a autorização do órgão de fiscalização; e
identidade genética e sua pureza varietal. É produzida
VI - proveniente de área declarada ao Ministério da por empresas sementeiras e instituições de pesquisas
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, quan-
do se tratar de cultivar protegida ou de cultivar
de domínio público.
Semente Certificada 1 (C1)
É a semente certificada de primeira geração, resultan-
te da reprodução da semente básica ou genética. Existem
Ou seja, para essa população de agricultores não está empresas regulamentadas para fazer tal certificação.
vedada a produção de sementes para uso próprio, des-
de que respeitadas as circunstâncias acima. O que não Semente Certificada 2 (C2)
é permitido a este grupo é a troca e venda de suas semen- Semente que é certificada de segunda geração, resultante da
tes produzidas. reprodução da semente básica ou genética ou de sementes C1.

22 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Semente Selecionada 1 (S1) A Instrução Normativa MAPA n° 38, de 2 de agosto
É a categoria de semente produzida a partir de de 2011, no Capítulo I, intitulado “DOS CONCEITOS”

Capítulo I - ASPECTOS DA PRODUÇÃO DE SEMENTES


sementes básicas, genéticas, C1 e C2, geralmente a dispõe no art. 2º, incisos II e X:
partir des ta última (C2). As vistorias de campo são
II - Campo de Produção de Sementes Orgâni-
realizadas por técnicos das empresas que preparam cas: área contínua de uma espécie ou cultivar
laudos desta categoria sobre o estado dos campos em monocultivo ou em consórcio, desde que
sementeiros, para serem enviados ao Ministério da as espécies ou cultivares sejam compatíveis
Agricultura e Pecuária. com as técnicas de produção de sementes; a
área deverá ser dividida em módulos ou gle-
bas para efeito de vistoria ou de fiscalização;
Semente S2 X - Semente orgânica: semente produzida em
É a categoria de semente geralmente comercializada pe- sistemas orgânicos de produção;
las empresas sementeiras no comércio agrícola; é produzida
a partir da semente S1 e apresenta as mesmas características Ainda sobre sementes orgânicas, no Capítulo III, intitulado
da S1 quanto a inscrições de campos e fiscalização. “DA PRODUÇÃO” estabelece:
À medida que a categoria avança da categoria ge-
nética para a S2, ocorre um decréscimo na qualidade Artigo 6°. Para serem considerados como orgânicos os
genética da semente e, em contrapartida, a quantida- materiais de propagação, na fase de campo,
de de sementes produzidas é maior. Entretanto, com deverão ter sido produzidos em conformidade
com o que está estabelecido na regulamentação
conhecimentos específicos sobre produção de semen-
da produção animal e vegetal orgânica.
tes de hortaliças, pode-se melhorar as sementes S2 que
Artigo 8°. No caso de o produtor de sementes e mu-
estão no mercado.
das orgânicas necessitar adquirir material de
Devido à baixa disponibilidade de sementes orgâni- propagação oriundo de sistemas de produ-
cas no mercado brasileiro, a produção destas pelos agri- ção convencional, ele terá que respeitar um
cultores pode ser uma alternativa para a sustentabilida- período de conversão que compreende uma
de do sistema orgânico, desde que alguns fatores sejam geração completa com manejo orgânico para
observados, como as condições climáticas de uma de- culturas anuais, e de dois períodos vegeta-
terminada região e também a aptidão dos agricultores tivos ou 12 meses (considerando o período
para tal finalidade. mais longo) para as culturas perenes, para
que a semente ou muda produzida possa ser
considerada orgânica.
Sementes orgânicas

A tualmente, no Brasil existem algumas empresas que Classificação das sementes


produzem sementes e comercializam seus materiais
para agricultores orgânicos. Entretanto, a demanda é
maior que a oferta tanto em quantidade como em diver-
sidade de espécies.
E xistem diferentes tipos de sementes no mercado
à disposição dos agricultores, sendo necessário
elucidar suas diferenças para que ocorra uma escolha

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 23


adequada, pois alguns materiais não são indica- mentes não apresentam impedimentos como a perda
dos para a produção de sementes em unidades do vigor híbrido que garante boa produção e unifor-
de produção, como os híbridos e os transgênicos, midade apenas em uma geração.
estes últimos proibidos pela legislação brasileira Apresentam plasticidade, ou seja, em condições
de orgânicos e também pela IFOAM (International adversas, como pouca quantidade de água, fertilidade,
Federation of Organic Agriculture Movements - salinidade e acidez do solo, podem apresentar melho-
Federação Internacional dos Movimentos de res resultados quando comparados com híbridos por
Agricultura Orgânica). exemplo, que são bem mais exigentes.

Variedade de polinização aberta Variedades melhoradas


São variedades obtidas por livre polinização entre São variedades que sofreram processo de melho-
indivíduos de mesma linhagem, gerando indivíduos he- ramento sistemático e científico de seleção e repro-
terogêneos, mas as sementes colhidas podem ser usadas dução. Estas variedades, a partir desse momento,
no próximo plantio. passam a ser denominadas “variedades”. Os selecio-
Normalmente, a polinização é efetuada por meca- nadores de vegetais, também chamados de “geneti-
nismos naturais (insetos, pássaros, vento ou outros) e cistas”, mudam as peculiaridades das plantas a fim
produz sementes com capacidade de se desenvolverem de obter as características pretendidas como produ-
semelhante à dos pais, podendo apresentar alguma va- tividade, homogeneidade, estabilidade, ciclo, resis-
riabilidade, mantendo-se consistentes durante várias ge- tência a doenças e pragas.
rações. Em se tratando de hortaliças, são chamadas de
“variedades OPs” (Open Pollination), termo que vem do
inglês e significa polinização aberta. Cultivares híbridas
São o produto resultante de um cruzamento en-
Variedades local, tradicional tre pai e mãe geneticamente diferentes, o qual busca
ou crioula aliar características positivas individuais como resis-
tência a determinada doença na linhagem da mãe e
Estas variedades foram selecionadas pelos agricultores produtividade na linhagem do pai. Para a hibridação
ao longo de muitas gerações, devido às suas características é necessária a formação de linhagens autofecundadas
específicas e, normalmente, estão bem adaptadas ao am- por vários ciclos (milho e tomate, em torno de 6 a 8
biente natural e cultural em que são cultivadas. São tam- ciclos), que depois são cruzadas no final do progra-
bém de polinização aberta. ma de hibridação, formando a F1 (Filial 1) a qual de-
Em razão de seu potencial produtivo aliado a outras verá ser cultivada uma única vez. Sementes colhidas
características de interesse agronômico, como resistên- de variedades híbridas perdem uma grande parte das
cia a estresses e a doenças, são importantes para traba- características implantadas como uniformidade, alta
lhos de melhoramento genético. produtividade e resistência.
Os materiais destes seguimentos são reproduzidos Cultivares híbridas necessitam de um bom pacote
pelos agricultores em suas propriedades, pois suas se- tecnológico de aporte.

24 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Cultivares transgênicas Exemplo:
São variedades geradas por meio da engenharia genética Milho BT é o milho transgênico,

Capítulo I - ASPECTOS DA PRODUÇÃO DE SEMENTES


baseada na transferência de genes de um indivíduo(s) para com genes do fungo Bacillus thuringiensis,
outro, transferindo características esperadas. Atua rom- que são tóxicos a determinadas lagartas.
pendo barreiras sexuais, podendo ocorrer transferências Este livro abordará as sementes de polinização aberta
entre espécies ou reinos diferentes. de hortaliças.

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 25


Capítulo II

“A evolução das espécies deve encontrar na Terra


um campo positivo em que as sementes do porvir possam
ser lançadas e acolhidas no puro amor.”
Trigueirinho

27
Capítulo II

Planejamento da produção
de sementes de hortaliças

Q ualquer atividade agrícola necessita, antes de sua


execução, a elaboração do planejamento, e a produ-
ção de sementes não é diferente. Para que ocor-
ra uma produção de sementes de qualidade e de acordo
Famílias botânicas
e espécies de hortaliças

com as necessidades dos agricultores, antes da instalação


dos campos de produção, deve ser realizado o PLANEJA-
MENTO das ações.
A s plantas, assim como os seres humanos, são divididas
em famílias. Dentro das famílias existem as espécies,
que acabam se subdividindo em dezenas de variedades.
O planejamento da produção de sementes visa prepa- Exemplo:
rar, organizar e estruturar os cultivos, desde sua implanta-
ção, até o beneficiamento e armazenagem das sementes, de FAMÍLIA – Brássica
forma a facilitar a execução das atividades durante todas ESPÉCIE – Brócolis
as estapas do processo ao longo do tempo.
VARIEDADE – Ramoso Santana
Para a execução do planejamento, é fundamental o es-
tudo de alguns fatores que influenciam diretamente a pro- Na produção de sementes de hortaliças, é importante
dução, entre eles destacam-se: conhecer as espécies e suas famílias, pois muitas varieda-
des, e até mesmo espécies, podem acasalar entre si e preju-
• identificação das famílias botânicas e suas espécies;
dicar a qualidade final das sementes, gerando indivíduos
atípicos (fora de tipo). Estando dentro de uma mesma fa-
• condições climáticas e suas influências para a produção
mília, todas as espécies são “parentes”, em maior ou menor
de sementes de hortaliças;
grau. Vale ressaltar que nem sempre ocorrem cruzamen-
• mecanismos de florescimento e polinização;
tos aleatórios entre parentes.
• isolamentos para produção de sementes;
O Quadro 1 apresenta as famílias botânicas e as espé-
• rendimento de sementes por área cultivada; cies de hortaliças de maior uso na agricultura.
• definição da área de produção de sementes;
Na produção de sementes, as famílias botânicas das
• época de plantio, espaçamentos e o ciclo das espécies. hortaliças são classificadas em hortaliças de frutos secos e
hortaliças de frutos carnosos.

28 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Quadro 1 Principais famílias e espécies de hortaliças

Capítulo II - PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO DE SEMENTES


Cultura Pedidos de convivência (PCV) dia

Aizoaceae Espinafre-da-Nova-Zelândia

Apiaceae Cenoura, salsão, erva-doce, mandioquinha-salsa, coentro, salsa

Asparagaceae Aspargo

Asteraceae Alface, chicória, alcachofra, almeirão

Brassicaceae Agrião, couve-brócolis, couve-de-bruxelas, couve-chinesa, couve-flor, couve-manteiga,


couve-rábano, mostarda, nabo, repolho e rúcula

Cucurbitaceae Melão, melancia, abóbora, moranga, abobrinha, pepino, chuchu, maxixe

Fabaceae Feijão-vagem, ervilha-torta, fava

Liliaceae Alho, alho-poró, cebola e cebolinha

Malvaceae Quiabo

Poaceae Milho-doce

Quenopodiaceae Beterraba, acelga, espinafre verdadeiro

Solanaceae Berinjela, jiló, pimenta, pimentão, tomate.

Hortaliças de frutos carnosos agrião, couve-brócolis, couve-de-bruxelas, couve-chi-


nesa, couve-flor, couve-manteiga, couve-rábano, mos-
São aquelas cujas sementes se encontram dentro de um
tarda, nabo, repolho e rúcula, feijão-vagem, ervilha-
fruto recobertas por polpa gelatinosa, muitas vezes aderida
-torta, fava, quiabo.
à semente. Alguns exemplos de hortaliças de fruto carno-
so: berinjela, jiló, pimenta, pimentão, tomate, melão, me-
lancia, abóbora, moranga, abobrinha, pepino, maxixe.
Condições climáticas
e suas influências para a produção
Hortaliças de frutos secos de sementes de hortaliças
São aquelas cujas sementes se encontram dentro
de um fruto seco, sendo que tais frutos não apresen-
tam polpa aderida à semente. Alguns exemplos de es-
pécies de frutos secos são: alho-poró, cebola e ceboli-
N a produção de sementes de hortaliças, devem-se levar em
conta as exigências climáticas individuais de cada espé-
cie principalmente com relação ao fotoperíodo e à tem-
nha, cenoura, salsão, erva-doce, mandioquinha-salsa, peratura. Para uma boa produção de sementes, o clima
coentro, salsa, alface, chicória, alcachofra, almeirão, pode influenciar decisivamente na locação dos campos de

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 29


produção de sementes e por isso devem-se observar al- nada região, seja para a produção de sementes de inverno
guns fatores durante o ciclo da cultura, sobretudo no que ou de verão – basta observar a melhor época com relação à
diz respeito ao estabelecimento inicial, florescimento e exigência de cada cultura para a germinação das sementes
colheita das espécies. de modo que a locação dos campos seja feita no momento
Para que uma cultura possa produzir sementes, ela certo. Este é um fator importante sobretudo para regiões
tem de passar da fase vegetativa para a reprodutiva, e al- temperadas e com períodos curtos de plantio de espécies de
gumas culturas apresentam necessidades diferenciadas. O verão, em especial para plantio de cucurbitáceas.
florescimento está ligado a aspectos relacionados à tem-
peratura e ao fotoperíodo. Outros dois aspectos que não
influenciam diretamente o florescimento, mas tornam-se Frio
importantes e muitas vezes limitantes para uma boa pro- Existem espécies de plantas que somente flores-
dução de sementes de hortaliças são o vento e a umidade. cem após um período de frio. As temperaturas para a
Deste modo, a seguir serão feitas algumas considera- indução ao florescimento encontram-se próximas de
ções sobre o fotoperíodo, a temperatura, a própria intera- 4 ºC a 7 °C por um determinado número de dias, de-
ções destes dois fatores, a umidade e o vento, e sua influên- pendendo de cada espécie.
cia na produção de sementes de hortaliças. As seguintes espécies servem como exemplos do
grau de exigência de frio, em ordem descrescente: beterraba,
repolho de inverno, cenoura de inverno, cenoura de verão
Temperatura e cebola, couve-flor e brócolis, entre outras. Portanto,
Algumas espécies de hortaliças só florescem após importa salientar que a beterraba, a cenoura de inverno e
receber uma determinada quantidade de horas de frio, o repolho de inverno de ciclo longo dificilmente florescem
outras florescem com temperatura amena, existindo ainda em condições climáticas brasileiras, devido a sua exigência
um grupo que irá florescer somente no calor. Deve-se to- de maior número de horas de baixas temperaturas.
mar cuidado com a temperatura para que os campos de O frio, conforme George (1989), pode ser rece-
produção de sementes de hortaliças não estejam sus- bido na semente em germinação como no caso do nabo
cetíveis a ações desastrosas, tais como cultivar espé- (Brassica rapa L.) e da mostarda branca (Sinapis alba L.),
cies de calor em épocas frias do ano, ou ainda, espécies e alguns estudos indicam que a beterraba também pode ser
de frio fora da época ideal. influenciada por este estímulo.
O Quadro 2 identifica as épocas ideais para a locação O estímulo ao frio em outras espécies ocorre quan-
dos campos de sementes de hortaliças em alguns locais da do as plantas atingem uma determinada altura ou um de-
região Sudeste. terminado número de folhas.
A temperatura influencia principalmente a germinação George (1989) refere-se ainda ao repolho, que
das sementes e o estabelecimento e desenvolvimento das apresenta uma graduação de tempo para florescer com
plântulas no campo. As espécies demandam temperaturas relação a baixas temperaturas recebidas durante a fase
mínimas, máximas e ótimas para a germinação. Em cada vegetativa. O ideal é que o repolho comece a receber o frio
espécie, as variedades podem apresentar diferenças mar- necessário quando as plantas se encontrem com a cabeça
cantes (Nascimento, 2005). Com essas informações, pode- formada (variedades de inverno). Heide (1970), citado por
-se, então, planejar a melhor época de plantio em determi- George (1989), conclui que são necessárias para o repolho

30 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Condições climáticas relativas à temperatura
Quadro 2

Capítulo II - PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO DE SEMENTES


que favorecem o florescimento de hortaliças
Muito Temperatura Produz sementes
Espécies Frio Calor Observações
frio amena no Sudeste
Apesar de preferir temperaturas altas para vegetar,
Abóboras - - X X Sim
o florescimento é beneficiado por temperaturas amenas
Alho-poró - X X - Sim -
Temperaturas acima de 23 °C favorecem o pendoamento
Alface - - X X Sim
e florescimento
Acelga X - - - Não Floresce ao natural no Rio Grande do Sul
Almeirão - - X X Sim -
Apesar de preferir temperaturas altas para vegetar,
Berinjela - - - X Sim o florescimento é beneficiado por temperaturas amenas
Beterraba X - - - Não Falta frio para a indução do florescimento no Brasil
Brócolis - X - - Sim Em regiões de altitude e de temperatura baixa
Locais quentes pelo método de vernalização
Cebola - X - - Sim
Utilizar cultivares de ciclo médio e curto
Cenoura de verão - X - - Sim Locais quentes pelo método de vernalização
Cenoura de inverno X - - - Sim Falta frio para a indução do florescimento no Brasil
Couve-flor - X - - Sim Em regiões de altitude
Couve-chinesa - X X - Sim -
Couve-manteiga - X - - Sim Em locais de altitude
Coentro - - X X Sim -
Ervilha - X X - Sim -
Feijão-vagem - - X X Sim -
Apesar de preferir temperaturas altas para vegetar,
Moranga - - - X Sim o florescimento é beneficiado por temperaturas amenas
Apesar de preferir temperaturas altas para vegetar,
Mogango - - - X Sim o florescimento é beneficiado por temperaturas amenas
Apesar de preferir temperaturas altas para vegetar,
Melão - - - X Sim o florescimento é beneficiado por temperaturas amenas
Apesar de preferir temperaturas altas para vegetar,
Melancia - - - X Sim o florescimento é beneficiado por temperaturas amenas
Quiabo - - - X Sim -
Rabanete - - X - Sim -
Rúcula - - X - Sim Em locais de altitude
Repolho de verão - X - - Sim -
Repolho de ciclo
X - - - Sim Falta frio para a indução do florescimento no Brasil
longo e médio
Salsa - X - - Sim -
Apesar de preferir temperaturas altas para vegetar,
Tomate - - X - Sim o florescimento é beneficiado por temperaturas amenas

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 31


florescer temperaturas de 5 ºC durante três a quatro se- o seu ciclo de produção, como o feijão-vagem, a ervilha
manas e, depois, doze semanas com temperatura de 12 ºC. torta, a ervilha em grão e o tomate. Apesar de vegetar em
Neste caso então a resposta ao estímulo do florescimento temperaturas mais altas, o florescimento do tomate, por
está relacionada à idade da planta com o incremento de frio. exemplo, é beneficiado por temperaturas mais amenas.
No Brasil é muito difícil que repolhos de inverno floresçam,
devido à falta de frio necessário à vernalização ao natural.
As culturas que possuem exigências de horas de
Atenção!
frio geralmente são cultivadas por empresas sementeiras Pode ocorrer o abortamento de flores por temperaturas
elevadas como no caso das ervilhas, onde a queda
no extremo sul do Brasil através de mecanismos naturais das flores ocorre com temperaturas acima de 28 °C.
(vernalização natural), destacando-se a cebola pelo método
No feijão-vagem e no tomate, o abortamento ocorre
semente-bulbo-semente e a cenoura, pelo método semente com temperaturas acima de 32 °C.
a semente. Em outros locais com clima quente, somente
Contudo, em temperaturas baixas em demasia,
ocorre o florescimento das plantas por meio de indução no cultivo da ervilha na fase de formação das sementes,
em câmaras frias (vernalização artificial) dos bulbos e provoca o seu chochamento. Abaixo de 12 °C o tomate
raízes, onde a temperatura e a umidade do ar devem ser tem crescimento reduzido, e abaixo de 10 °C
controladas; esse método é denominado “semente-bulbo- a produção de pólen é comprometida.
semente” para a cebola e “semente-raiz-semente” para a
cenoura. A diferença na cebola de um local frio para um
quente é a vernalização artificial dos bulbos neste último Calor
método. Após o estabelecimento inicial das plântulas,
As temperaturas elevadas favorecem o floresci-
nas culturas de inverno, o importante é a presença de
mento de algumas espécies, como no caso da alface, em
temperatura amena no início do seu ciclo, com queda
que acima de 23 °C ocorre a estimulação da formação das
gradual de temperatura, para que ocorra a vernalização.
hastes florais. O quiabo é uma planta altamente exigente:
Após a vernalização de espécies como cebola, cenoura,
para florescer a temperatura ideal é acima de 25 °C. As
beterraba e repolho entre outras, ocorre a passagem da
cucurbitáceas (abóbora, moranga, melancia, melão, pepi-
fase vegetativa para a fase reprodutiva.
no), as solanáceas (berinjela, pimentão, pimentas, jiló) e o
milho doce não precisam de temperaturas altas para atin-
Dica! E o que é vernalização? gir seu florescimento, apesar de estas serem necessárias
durante seu ciclo vegetativo.
É a armazenagem das raízes e bulbos (cabeças) da cebola No caso das espécies exigentes de calor, o aconselhável
na geladeira ou câmara fria por um certo número de dias, é uma temperatura amena para a germinação, com poste-
para a assimilação das temperaturas baixas em seu rior elevação até chegar ao ideal de cada cultura, pois tem-
ciclo biológico e sua capacidade de resposta.
peraturas muito elevadas podem ocasionar o abortamento
de floradas, que pode ocorrer em espécies como tomate,
berinjela e cucurbitáceas.
Temperatura amena
O Quadro 3 apresenta as condições relaciona-
Algumas espécies destinadas à produção de semen- das à temperatura que favorecem a germinação de
tes se adaptam melhor a temperaturas amenas em todo determinadas hortaliças.

32 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Temperaturas exigidas para a
Quadro 3 germinação de algumas hortaliças
Atenção!

Capítulo II - PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO DE SEMENTES


Espécie Mínima Máxima Ótima Pode ocorrer o abortamento de flores
por temperaturas elevadas,
Abóbora 16 ºC 38 ºC 20-30 ºC
por exemplo, em abóboras
Alface 2 ºC 29 ºC 20 ºC e morangas, por temperaturas
acima de 35 °C; e, abaixo de 16 °C,
Berinjela 16 ºC 35 ºC 20-30 ºC pode ocorrer a paralisação do
Beterraba 4 ºC 35 ºC 20-30 ºC crescimento da planta.
Cebola 2 ºC 35 ºC 20 ºC

Cenoura 4 ºC 35 ºC 20-30 ºC Fotoperíodo


O fotoperíodo é o número de horas
Couve-flor 4 ºC 38 ºC 20-30 ºC
de luz que as plantas necessitam para in-
Ervilha 4 ºC 29 ºC 20 ºC duzir o seu florescimento. Existem plantas
Feijão-vagem 16 ºC 35 ºC 20-30 ºC que florescem com dias longos e plantas
que florescem com dias curtos, havendo
Melancia 16 ºC 41 ºC 20-30 ºC
aquelas que são insensíveis ao fotoperí-
Melão 16 ºC 38 ºC 20-30 ºC odo e são chamadas de plantas de dias
Pepino 16 ºC 41 ºC 20-30 ºC neutros. A maioria das hortaliças não é
Milho-doce 10 ºC 41 ºC 20-30 ºC
regida pelo fotoperíodo, a não ser a be-
terraba e algumas variedades de alface
Pimentão/ Pimenta 16 ºC 35 ºC 20-30 ºC e cenoura. Entende-se por fotoperíodo
Quiabo 16 ºC 41 ºC 20-30 ºC crítico o valor em horas diárias de ilumi-
Repolho 4 ºC 38 ºC 20-30 ºC
nação capaz de provocar a floração, sen-
do as plantas classificadas em “plantas de
Tomate 10 ºC 35 ºC 20-30 ºC dias curtos (PDC), plantas de dias longos
(PDL) e plantas de dias neutros (PDN)”.
Fonte: Nascimento, Warllei. Produção de Sementes para a Agricultura Familiar,
Circular Técnica. Brasília, 2005
Plantas de dias curtos (PDC)
CII-Figura 1 Plantas de dias curtos (PDC) As espécies de plantas de dias
curtos - CII-Figura 1 -, florescem ape-
Plantas de
fotoperíodo
nas com um período ou etapa de luz
curto menor que um tempo crítico deter-
minado. No Brasil esse ponto crítico
Fotoperíodo
crítico
10 horas 12 horas 14 horas 16 horas 18 horas 20 horas geralmente ocorre no início da prima-
vera ou do outono. Como exemplo de
Plantas que receberam luz abaixo Plantas que receberam luz acima
15 horas
do valor crítico florescem. do valor crítico não florescem. plantas de dias curtos tem-se algumas
variedades de morango.

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 33


CII-Figura 2 Plantas de dias longos (PDC)
Plantas de dias longos (PDL)
Ao contrário das plantas de dias Plantas de
fotoperíodo
curtos, as espécies de plantas de dias longo
longos - CII-Figura 2 -, florescem
quando o período de luz é maior que Fotoperíodo
10 horas 12 horas 14 horas 16 horas 18 horas 20 horas
crítico
o período crítico e iniciam seu flores-
Plantas que receberam luz abaixo Plantas que receberam luz acima
cimento com a aproximação do verão. 15 horas
do valor crítico não florescem. do valor crítico florescem.
Como exemplo citam-se algumas espé-
cies de hortaliças que florescem na pri-
mavera - verão: espinafre, batata; alfa-
ce, chicória, almeirão, rúcula e rabanete.

Plantas de dias neutros (PDN)


Este grupo de plantas não pos-
sui uma exigência de horas de luz para
que atinja o seu florescimento, e sim
apenas uma etapa de desenvolvimento
de seu ciclo. Esse é o caso do tomate, da
fava e do milho doce.
Registre-se, como regra e dife-
rença básica, que as plantas de dias cur-
tos (PDC) florescem quando o compri- CII -Foto 1 - Flor de alface com excesso de umidade
mento do dia for menor ou igual ao seu
fotoperíodo crítico. As plantas de dias
longos (PDL) somente florescem quan-
do o comprimento do dia for maior ou
igual ao seu fotoperíodo crítico. Uma
consequência dessa definição é que PDL
conseguem florescer em luz contínua.
Para um melhor entendimento,
deve-se salientar que é o período de escu-
ro que induz a floração. Por exemplo, PDL
com período de luz crítico igual a 14 horas
de luz devem florescer em períodos diá-
rios de iluminação superiores a 16 horas
ou em períodos diários de escuro iguais ou
inferiores a 8 horas (Raven e Johnson, 1996). CII-Foto 2 - Produção de sementes de cenoura em estufa Friburgo-RJ

34 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Plantas que interagem com Deve-se tomar cuidado para não faltar água para os cul-

Capítulo II - PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO DE SEMENTES


o fotoperíodo e a temperatura tivos, especialmente na fase de florescimento das espécies
de frutos secos e de enchimento dos frutos das espécies de
Dentro deste grupo encontram-se espécies de
frutos carnosos. Para atenuar a possível falta de água é ne-
plantas que necessitam de uma interação de horas de tem-
cessário sempre prever o uso de irrigação complementando,
peratura e fotoperíodo ideal ou crítico. Como exemplo,
assim, a quantidade de água necessária. Entretanto, na fase de
pode-se citar o caso da beterraba (Beta vulgaris L.), uma
florescimento de hortaliças o excesso de precipitações e umi-
espécie exigente de dias longos e baixas temperaturas para
dade é prejudicial, causando baixa polinização, inviabilidade
florescer, requerendo um período acima de 12 horas de luz
do pólen, além de comprometer a qualidade sanitária e fisio-
diárias depois da vernalização, o que dificulta a produção
lógica das sementes pela entrada de doenças e diminuição da
de sementes no Brasil.
germinação e vigor - CII-Foto 1.
Na fase de florescimento deve ser suspensa a irrigação
Umidade por aspersão.
Para que se obtenham sementes de maior qualidade Em locais com incidência de alta umidade, durante a
para todas as espécies, é fundamental que o cultivo ocor- fase de florescimento até a colheita, o ideal é que algumas
ra em épocas mais secas, principalmente do florescimento espécies sejam cultivadas em locais protegidos, como es-
até a colheita das sementes. Apesar deste detalhe, não pode tufas com cobertura - CII-Foto 2.
faltar água no solo durante o ciclo da planta, sob pena de a
produção de sementes ficar comprometida.
No estabelecimento inicial das culturas é essencial ha- Vento
ver umidade suficiente para a germinação das sementes e o O vento pode influenciar positivamente, ou não, a pro-
desenvolvimento das plântulas. Caso não ocorra uma con- dução de sementes. Em locais de muito vento, há mais di-
dição de umidade inicial, deve-se lançar mão da irrigação ficuldade de polinização por parte dos agentes poliniza-
para sanar o déficit hídrico. A irrigação deve ser realizada dores (insetos como a abelha); além disso, essa condição
principalmente em zonas produtoras de sementes de cultu- climática proporciona maior acamamento entre as plan-
ras de verão, como é o caso das culturas das cucurbitáceas, tas e o aumento da evapotranspiração. É necessário ins-
solanáceas, quiabo e coentro quando conduzidas nas con- talar quebra-ventos para proteção das plantas que irão
dições do semiárido brasileiro ou no sul do Rio Grande do produzir sementes. O vento poliniza hortaliças, como o
Sul, não devendo faltar água na fase vegetativa das culturas milho-doce, a beterraba, o espinafre e até 20% a cebola;
e na fase de enchimento do fruto. neste caso, atua beneficamente. Outro fator benéfico do
Em se tratando de culturas de produção de sementes vento é o aumento da fotossíntese com um maior supri-
de inverno, que são conduzidas na sua maioria na região mento de CO2, que, por sua vez, é favorecido pela turbu-
Centro-Sul, muitas vezes as condições climáticas com lência causada pelo vento.
relação à umidade propiciam um bom estabelecimento As grandes variações climáticas nas zonas de pro-
inicial das culturas, principalmente nos estados do Rio dução de sementes podem prejudicar determinadas
Grande do Sul e Santa Catarina, mais precisamente para as espécies olerícolas. É necessário observar diferenças
culturas da cebola, cenoura (método semente a semente), de altitude, topografia, orientação dos ventos, proximi-
cebolinha, salsa, repolho, brócolis e couve-flor. dade da costa, para adotar, planificar e plasmar medi-

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 35


CII-Foto 3 - Quebra-ventos CII-Foto 4 - Quebra-ventos

das preventivas nos campos sementeiros, diante de al- uma capa de cera que envolve as folhas quando a planta não
guns fatores de interferência climáticos e geográficos. sofre a ação direta dos ventos.
Como medidas preventivas a serem tomadas pode-se George (1989) relata que a melhora do microclima au-
salientar, a locação e utilização de quebra-ventos, cortinas menta o desenvolvimento das flores, incrementa a atividade
e barreiras de proteção. dos insetos e intensifica o transporte de pólen nos cultivos
Segundo Gliessman (2000), apesar de nem sempre entomófilos, assim como diminui os danos mecânicos sobre
estar presente, o vento é um fator ambiental capaz de as flores com um resultado maior na fecundação.
causar impactos muito significativos sobre os agroecos- No Brasil o vento pode evaporar 750 mm de chuva
sistemas, podendo: durante o ano; isso nos leva a pensar que uma região com
suficientes precipitações torna-se inapta à agricultura
a) exercer uma força física sobre a própria planta; quando não forem tomadas medidas para a manutenção
b) transportar partículas e materiais – como sal, pólen, solo, da umidade no solo.
sementes, esporos de fungos – para dentro e para fora do
Conforme Primavesi (2006), as plantas absorvem água do
ecossistema; e
solo e acabam transpirando-a para o meio, e, quando o ar está
c) mesclar a atmosfera na vizinhança imediata das plantas repleto de água, elas cessam a sua respiração. Porém, quando
mudando assim sua composição, sua propriedade disper-
o vento leva a água transpirada, as plantas voltam a bombe-
sora de calor e seu efeito sobre a fisiologia das plantas.
ar água do subsolo para a superfície, iniciando novamente
a transpiração, retirando água da superfície e do subsolo.
Além destes fatores, os ventos fortes afetam, também, Algumas medidas preventivas devem ser tomadas nos
algumas culturas reduzindo a perda de umidade por trans- campos de produção de sementes, como a adoção de que-
piração e evaporação de água do solo. No caso da cebola, a bra-ventos e cortinas de proteção.
cultura sofre menos quando protegida, devido à formação de Ver CII-Foto 3 e CII-Foto 4, acima.

36 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Método de reprodução das plantas horários estão associados ao tipo de polinização empre-

Capítulo II - PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO DE SEMENTES


gado por cada uma delas. Geralmente nas hortaliças a

A
abertura das flores ocorre pela manhã estendendo-se até
s plantas se multiplicam por meio de reprodução as-
a meia tarde em alguns casos.
sexuada e sexuada. Na reprodução assexuada se uti-
lizam partes das próprias plantas, como bulbos, bulbilhos, A abertura das flores, nas hortaliças, é um momento
mudas, tubérculos, rizomas, entre outros. Já na forma se- de muito cuidado, pois acontece por um tempo muito
xuada ocorre a formação de flores que contêm os órgãos breve e, portanto, de máxima responsabilidade no que
masculinos e femininos, que se acasalam por meio da po- diz respeito ao futuro da produção de sementes. Em
linização. Após esse processo acontece a fecundação e a anos de muita chuva e alta umidade relativa do ar, a
formação das sementes. produtividade final cai enormemente, devido à baixa
polinização. A queda na produção de sementes ocor-
re principalmente em culturas de alógamas. Conforme
Florescimento de plantas olerícolas George (1999), um período de 6 horas de baixa umida-
de após a polinização condiciona uma melhora na pro-
O florescimento das plantas pode ser descrito como
dutividade final das sementes.
o transporte do grão de pólen até o estigma recepti-
vo. Esse transporte pode ser feito pela ação do vento As flores são os órgãos reprodutivos das plantas, cujo
– chamamos as flores que recebem esse pólen de “ane- objetivo é desenvolver as sementes, que darão início a uma
mófilas” – ou pela ação de insetos (flores entomófilas). nova geração de plantas. Quando os óvulos presentes nas
Como exemplo de flores anemófilas destacam-se as flo- flores são fecundados, ou seja, quando a eles se unem as cé-
res do milho, da beterraba e do espinafre. Como exem- lulas masculinas, substâncias químicas são liberadas para
plo de flores entomófilas citam-se as flores da cenoura, estimular o crescimento do fruto e das sementes. Como
coentro, repolho, abóbora, melancia, entre outras. No a polinização é uma etapa anterior à fecundação, sem a
caso da cebola, 20% do florescimento se dá pela ação do primeira não há a possibilidade da segunda e, tampouco,
do desenvolvimento de frutos e sementes. A polinização
vento e 80%, por insetos.
nada mais é que a transferência do pólen da estrutura re-
As flores são compostas de órgãos reprodutivos mas-
produtiva masculina de uma flor (estame) para a estrutura
culinos (androceu) e femininos (gineceu). Os órgãos flo-
reprodutiva feminina (o pistilo) da mesma flor em uma
rais masculinos são os estames (antera e filete) e o grão de
única planta ou de outras flores em plantas diferentes.
pólen. Os femininos são o carpelo (estigma e estilete) e o
ovário, onde estão contidos os óvulos. Como regra, a reprodução, isto é, a produção de se-
O florescimento inicia-se com a antese, que é a ativi- mentes férteis, resulta – portanto depende – da fecun-
dade de abertura das flores e ocorre quando seus órgãos dação, e a fecundação depende da polinização das flores.
sexuais encontram-se maduros. Com o amadurecimento Ainda como regra, a frutificação (desenvolvimento do
dos órgãos (masculinos e femininos), que pode se dar ovário da flor) depende, também, da fecundação dos óvu-
um de cada vez ou ambos ao mesmo tempo, o perianto los nele contidos.
se abre e começa o ciclo reprodutivo das flores. Inúme- Como já descrito, em algumas espécies, o floresci-
ras espécies de plantas executam a antese em horários mento pode ser induzido pela temperatura e, em outras,
mais ou menos fixos (algumas abrem suas flores à noite; pelo fotoperíodo. Há espécies que necessitam dos dois
outras, ao contato com os primeiros raios de sol), e estes estímulos, como é o caso da beterraba.

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 37


Além disso, existem outras substâncias que indu-
zem ao florescimento. Entre elas, pode-se citar as gi-
berelinas. Esse hormônio natural também promove o
florescimento de espécies que são induzidas a florescer
por dias longos ou que precisam de período de frio para
a indução das gemas reprodutivas (vernalização).
Nas plantas, em geral, ocorre uma divisão básica de
polinização. Essa divisão é representada por plantas autó-
gamas e plantas alógamas.

CII-Figura 4 - Diagrama esquemático da flor autógoma


Fonte: V. Barceló

Plantas autógamas
São aquelas que apresentam facilitam a autogamia, como no tomate, em que a polini-
órgãos reprodutivos mascu- zação é seguida da abertura da flor - CII-Figura 4 -, e os
li-nos femininos, possuindo estames formam um cone invertido, envolvendo o estigma
capacidade de se autofecun- e garantindo a autopolinização. No caso do tomate, deve-
dar. Essas flores são chama- -se tomar cuidado principalmente com o comprimento
das de hermafroditas ou flo- do estilo, pois algumas variedades antigas apresentam um
res perfeitas - CII-Figura 3. comprimento maior e podem ficar de fora, resultando
Nesta cate-goria de plantas, uma taxa de fecundação cruzada. As plantas autógamas
a polinização ocorre geral- são mais homogêneas e as gerações seguintes se parecem
CII-Figura 3 - Flor hermafrodita mente antes da abertura da muito com as gerações anteriores, não existindo uma
ou flor perfeita flor. As plantas autógamas, grande diversidade genética entre a população aparenta-
conforme a espécie e a variedade, apresentam, muitas da. Em longo prazo, a autogamia pode ser suicídio por-
vezes, uma taxa de fecundação cruzada - considera- que destrói a flexibilidade que é, teoricamente, necessária
-se o limite de até 5% para que uma cultura seja clas- para fazer face aos desafios das mudanças do ambiente
sificada como autógama. que ocorrem com o tempo.
Existem alguns mecanismos que facilitam a auto- Como as plantas apresentam elevada homozi-
fecundação das plantas. Entre eles encontra-se a cleisto- gose, pode-se selecionar e coletar sementes de poucas
gamia, que se verifica na alface – o estigma é polinizado plantas sem que haja perda de vigor. O ideal é que se se-
antes da abertura da flor, e, quando ela ocorre, a fecunda- lecionem e retirem sementes da máxima quantidade de
ção já se realizou. Em virtude deste mecanismo, há uma plantas, coletando o mesmo número de sementes por
grande dificuldade para a produção de híbridos de alfaces. plantas individuais. Uma planta de alface pode ter mais
Outro mecanismo é a casmogamia, que ocorre nos feijões de 4.000 sementes, as quais apresentam uma homoge-
de vagem: as anteras se abrem antes de sua extrusão, de neidade muito grande.
modo que suas anteras caídas e vazias perdem a função. Com relação a isolamentos, na produção de sementes
Por fim, ainda pode haver mecanismos estruturais que autógamas os cuidados devem ser mínimos; a preocupação

38 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


CII-Figura 5 Plantas monoicas
maior deverá ser com misturas mecâni-

Capítulo II - PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO DE SEMENTES


Possuem flores masculinas e femininas, separadas na mesma planta.
cas e de transporte do que com poliniza-
Planta monoica Flor feminina Flor masculina ção cruzada, principalmente quando os
campos de produção de sementes são
planejados com barreiras.

Plantas alógamas
Pode-se entender uma popu-
lação de plantas alógamas como “uma
comunidade reprodutiva composta de
organismos de fertilização cruzada, os
Os agentes polinizadores são os insetos e o vento. quais participam de um mesmo con-
junto de genes” (Dobzhansky, 1951,
apud Allard, 1960). As plantas alógamas
são aquelas cuja polinização é cruzada,
isto é, ocorre de uma planta para com
outras plantas.
As plantas alógamas apresentam
Exemplos: abóbora (insetos), milho-doce (vento). fecundação cruzada e necessitam de
uma grande quantidade de indivíduos
para que se tenha uma população está-
vel. Os fatores que favorecem a alogamia
CII-Figura 6 Protoginia e protandria são a monoicia - CII-Figura 5, dioicia,
Espécies de plantas que apresentam flores hermafroditas protoginia, protoandria, - CII-Figura 6,
da mesma forma que as autógamas, mas que não se autopolinizam autoincompatibilidade e a macho-este-
devido ao amadurecimento da parte masculina e feminina,
ou vice-versa, em períodos diferentes. rilidade. A monicia é a presença de flo-
res masculinas e femininas separadas
Protoginia é quando, Protandria acontece o inverso
o orgão reprodutor feminino o orgão reprodutor masculino em uma única planta; ocorre no milho
amadurece antes do masculino. amadurece antes do feminino. e garante uma taxa de 90% ou mais
de cruzamento. Também se manifesta
nas cucurbitáceas. A dioicia se relacio-
A B na com plantas que apresentam flores
masculinas em uma planta e femininas
em outra; está presente no espinafre e
aspargo. Também podem existir espé-
cies de fecundação cruzada com flores
hermafroditas e aí o que garante tal fato
é a protoandria e a protoginia.

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 39


A protoandria é o amadurecimento dos órgãos As espécies que representam esta categoria têm ris-
masculinos antes dos femininos havendo dificuldade de co médio de cruzamento entre variedades e espécies.
autofecundação; ocorre no repolho, couve-flor, brócolis, Variedades de quiabo devem ser plantadas dis-
cebola, cenoura e milho. A protoginia é o contrário: os ór- tantes umas das outras, assim como de berinjela, de for-
gãos femininos madurecem antes dos masculinos, como ma a prevenir cruzamentos acidentais. Em plantios de
acontece na mandioca. A autoincompatibilidade ocorre pimentas diversas próximas umas das outras, inclusive
na cebola, no brócolis e no repolho e a macho esterilida- variedades de pimentão, também há possibilidade de
de, na cebola. Resumindo, a maioria das plantas alógamas cruzamentos acidentais.
apresentam flores hermafroditas, como as autógamas, mas O Quadro 4 poderá dar uma melhor compre-
não apresentam sincronismo de amadurecimento dos ór- ensão das principais espécies alógamas, autógamas e
gãos masculinos e femininos, pois quando um está ma- intermediárias.
duro o outro não o está. Neste caso, os insetos e o vento Na produção de sementes de hortaliças, em razão
transportam o pólen maduro de uma flor até o estigma de da grande diversidade de espécies e variedades, o conheci-
outras flores de plantas diferentes. mento e a diferenciação de plantas autógamas e alógamas
As plantas alógamas são muito heterogêneas, e é fundamental, pois, dependendo do campo de produção
sua taxa de fecundação cruzada deve ser maior que 95%. a que serão destinadas, a escolha das culturas e variedades
Com relação a campos de produção de sementes, deve-se deve seguir um planejamento estratégico, a fim de que não
cuidar o isolamento, pois em muitos casos são necessárias ocorram cruzamentos indesejáveis. Deve-se tomar cuidado
grandes distâncias para que se mantenha a pureza varietal principalmente com as culturas das famílias das brássicas,
devido ao maior risco de cruzamentos acidentais entre apiáceas, liliáceas e cucurbitáceas, famílias de polinização
variedades de uma mesma espécie e, em alguns casos, até cruzada e que apresentam grande capacidade de cruzamen-
mesmo entre espécies diferentes. to entre variedades e, em alguns casos, entre espécies dife-
No processo de seleção de plantas alógamas, a co- rentes, como é o caso das Brassicas oleraceas e cucurbitáceas.
leta das sementes não deve ser feita em poucas plantas,
em razão da perda de vigor e por serem plantas com taxa
alta de heterose. Devem ser tiradas sementes de mais de Importância de insetos polinizadores
100 plantas, devendo-se colher sementes da maior quan- em campo de produção de sementes
tidade possível de plantas, e a mesma quantidade de se- A importância de agentes polinizadores em campos
mentes por planta. de produção de sementes está intimamente relaciona-
da às plantas alógamas, mas os insetos podem benefi-
Plantas autógamas com frequente alogamia ciar também plantas autógamas. Campos de produção
Trata-se de um grupo intermediário de plantas de sementes sem agentes polinizadores estão fadados
quanto à fecundação: as autógamas com frequente fe- ao fracasso. (v. Quadro 5).
cundação cruzada. A taxa de fecundação cruzada nesta Witter e Blochtein (2003), apud Bohart e Nye (1960),
categoria de plantas vai de 5% a menos de 95%, como na descrevem que na cenoura foram identificadas 334 espé-
fava, que apresenta 25% de fecundação cruzada. Algu- cies de insetos realizando visitas nas flores. Hawthorn et
mas variedades de pimentões e pimentas, além do quiabo, al. (1960) identificaram 267 espécies de insetos sobre as
apresentam-se nessa faixa. flores de cebola, ambos citados por George (1999).

40 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Identificação das espécies de hortaliças
Quadro 4 autógamas, autógamas com frequente

Capítulo II - PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO DE SEMENTES


alogamia e alógamas
Plantas autógamas
Plantas Autógamas Plantas alógamas
com frequente alogamia
ALFACE BERINJELA ABÓBORA
CHICÓRIA QUIABO ABOBRINHA DE TRONCO
ERVILHA PIMENTA ACELGA
FAVA PIMENTÃO BETERRABA
FEIJÃO-VAGEM BRÓCOLIS
TOMATE CEBOLA
CEBOLINHA
CENOURA
COENTRO
COUVE-CHINESA
COUVE-DE-FOLHAS
COUVE-FLOR
MELANCIA
MELÃO
MORANGA
MOSTARDA
RABANETE
REPOLHO
RÚCULA
SALSA

Alguns insetos são muito importantes para a polini- na polinização da cebola são Maurella caerulea e
zação, e algumas espécies, como a cebola, são polinizadas Bombus spp. Ambas as classes também polinizam outras
principalmente por duas classes de insetos: as classes hy- espécies como o repolho, brócolis, couve-flor, cenoura,
menoptera e díptera. As abelhas são os principais poli- coentro, entre outras. Nas cucurbitáceas as abelhas igual-
nizadores, em particular a espécie Apis mellifera. Ainda mente realizam uma boa polinização, que também é feita
com relação à cebola, durante o florescimento são ne- por coleópteros, como a Diabrotica spp.
cessárias pelo menos cinco a oito visitas de abelhas por Na berinjela, no período de floração, observa-se a vi-
dia (Benedek, 1997). Os principais dípteros que atuam sita das seguintes espécies de insetos: Trigona spinipes,

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 41


Espécies olerícolas e necessidade
Quadro 5 de atuação dos insetos para
sua polinização

B: São beneficiadas C: Somente produzem


A: Dependem de agentes em diversos graus pelos com a intervenção
polinizadores agentes polinizadores de agentes polinizadores

MILHO DOCE TOMATE ABÓBORA

ESPINAFRE BERINJELA MELÃO

MANDIOCA CHICÓRIA MELANCIA

ALFACE PEPINO

FEIJÃO-VAGEM MOGANGO

BETERRABA MORANGA

CEBOLA

CENOURA

COENTRO

REPOLHO

COUVES

RÚCULA

BRÓCOLIS

Exomalopsis spp., Bombus atratus, Pseudaugochloropsis flor do tomate é considerada completamente ou predomi-
graminea e Eulaema nigrita, em ordem crescente do nú- nantemente autopolinizada, mas alguns trabalhos – entre
mero de visitas. Alguns estudos com flores privadas da eles o de Rick (1950), na Califórnia – referem a ocorrên-
visita dessas espécies confirmam que apenas 22,64% pro- cia de diferentes níveis de polinização cruzada, quando na
duziram frutos. Em tratamento livre com a presença de presença de insetos vetores de pólen.
insetos a produção de frutos foi de 92,45%, e esses fru- O ideal é que, antes do florescimento, sejam adiciona-
tos apresentaram-se com maior tamanho e maior peso das de duas a quatro caixas de Apis mellifera ao hectare em
(Swinder et al. 1992), influenciando decisivamente a pro- campos de produção de sementes e sejam retiradas antes
dução de sementes, pois sem frutos não existem sementes. da colheita. A atividade das abelhas é facilitada por meio
O meio ambiente também influencia a polinização. de medidas preventivas de controle de microclima, como
Diversas variações podem acarretar mudanças no com- a utilização de cortinas protetoras ou quebra-ventos que
portamento do florescimento. Conforme George (1999), a atenuem ventos frios e fortes, principalmente em regiões

42 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


desprovidas de quebra-ventos naturais. Esse é o caso da cie passível de cruzamento e outra. O que não deve ocorrer

Capítulo II - PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO DE SEMENTES


região sul do Rio Grande do Sul, importante região produ- no isolamento no tempo é o florescimento momentâneo
tora de sementes de cebola, cenoura e brássicas. de diferentes variedades passíveis de cruzamento. O inter-
Algumas espécies cultivadas em manejo agroecológi- valo entre um plantio e outro deve ultrapassar os 30 dias.
co para a produção de sementes, quando comparadas com O isolamento no tempo, muitas vezes, é impossibilitado
as convencionais, têm demonstrado melhor desempenho em determinadas regiões produtoras de sementes, pois a
justamente pelo fator da polinização realizada pelos inse- época de plantio recomendada ou zoneada agroecologica-
tos. Isto pode ocorrer pelo efeito da baixa polinização de- mente ocorre por pouco tempo.
corrente do uso de pesticidas nos campos convencionais. Segundo Bateman (1946), o máximo de polinização
Os cultivos agroecológicos ainda apresentam uma cruzada depende da espécie ou da categoria da semente a
diferenciação na produção de sementes quando adicio- produzir. No Brasil a categoria é classificada em semente
nadas colmeias nas periferias dos campos, como no caso genética, semente básica, C1, C2, S1 e S2. Em campos de
do brócolis, que chega a produzir 28% mais sementes do produção de sementes, sempre deve ser buscado o míni-
que produziria em campos sem colmeias próximas aos mo de contaminação possível ou, de uma forma ideal, ne-
campos sementeiros. nhuma contaminação.
A maioria das espécies autógamas não necessita de
isolamento no tempo, principalmente a alface e o feijão-
Isolamento de campos para produção -vagem. Em espécies que são autógamas com frequente
de sementes de hortaliças alogamia, o ideal é que se realize o isolamento no tempo,

O
pois podem ocorrer cruzamentos acidentais entre algu-
isolamento é o termo técnico que marca fundamental- mas espécies das solanáceas, como pimentas e pimentões,
mente a segurança entre um cultivo de determinada e entre diferentes variedades de berinjelas e diferentes va-
espécie ou de uma variedade de outra(s) que possam vir riedades de quiabo.
ocasionar cruzamentos indesejáveis nos campos de produ-
ção de sementes. George (1999) sugere que um fator pri- As plantas alógamas ou de fecundação cruzada, devi-
mordial no transcurso da produção de sementes é assegu- do a sua maior variabilidade e heterose, apresentam uma
rar a redução da possibilidade de polinização cruzada entre maior probabilidade de resultados indesejados por pos-
parcelas ou campos de diferentes espécies compatíveis. síveis cruzamentos principalmente para variedades de
O que deve ser evitado é o florescimento concomitante tipo diferente, como ocorre nas cucurbitáceas, Brassicas
de plantas que sejam passíveis de cruzamento. Portanto, o oleraceas e também na cebola, que possui variedades com
maior cuidado deve ser tomado com plantas de fecunda- diferentes formatos, cor da casca e coloração interna.
ção cruzada ou alógamas, em detrimento de plantas que se
autopolinizam ou autógamas. Isolamento no espaço
O isolamento pode ser no espaço e no tempo. O isolamento no espaço, realizado em metros, consis-
te em plantar variedades diferentes de mesmas espécies,
passíveis de cruzamento, em uma distância segura entre
Isolamento no tempo um cultivo e outro. No entanto, é impossível assegurar
O isolamento no tempo é feito em dias e constitui a di- que as contaminações sejam efetivadas somente nas dis-
ferença nas datas de plantio entre uma variedade ou espé- tâncias apontadas pelas bibliografias, já que muitos isola-

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 43


Espécies olerícolas e as recomendações
Quadro 6 de isolamento no espaço e no tempo
Isolamento Isolamento
Espécie no espaço (metros) no tempo (dias)
Abóboras, abóbora-itália, 1.000 30
mogango e moranga
Berinjela 30 0
Ervilha 400 30
Cebola 1.000 30
Cenoura 1.000 30
Coentro 1.000 30
Ervilha grão e torta 50 0
Feijão-vagem 30 0
Melancia 1.000 30
Melão 1.000 30
Milho-verde 400 30
Pimentão 300 30
Quiabo 400 a 600 30
Rabanete 600 30
Repolho de verão, couve-flor,
brócolis, couve-de-folhas, 600 a 1.000 30
couve-rábano
Rúcula 600 30
Salsa 1.000 30

mentos recomendados para diversas espécies olerícolas variedades de mesmo grupo o isolamento é menor
ocorrem até a 2.500 m dependendo da classificação da do que o isolamento daquelas variedades de grupos
semente, e, hoje, sabe-se que a abelha – um dos insetos diferentes ou de espécies diferentes que podem oca-
que possui papel específico na polinização de hortaliças sionar cruzamentos, como ocorre entre as Brassicas
–, quando existe deficiência de flores e de néctar à sua oleraceas e Cucurbita.
disposição, chega a voar cerca de 3.000 m, sendo impor-
O isolamento entre diferentes Brassicas oleraceas
tante foco de contaminação em campos sementeiros.
(repolho, couve, brócolis, couve-flor, couve-rábano, etc.)
Também tem influência o tipo de flor a ser poli-
e entre Cucurbita pepo, Cucurbita maxima e Cucurbita
nizada, ou seja, flores anemófilas ou entomófogas, e,
esculentum deve ser de 1.000 m.
muitas vezes, deve-se respeitar características quanto à
coloração de flores, folhas, grãos, pelos, hábito de flo- O Quadro 6 apresenta as formas de isolamento no es-
rescimento e resistência vertical. Geralmente, para paço e no tempo de espécies de hortaliças.

44 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Identificação dos principais cruzamentos que ocorrem
Quadro 7 entre as espécies e variedades de hortaliças
Legendas: Têm potencial de cruzamentos: não podem ser plantadas próximas Não têm potencial de cruzamentos: podem ser plantadas próximas

Capítulo II - PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO DE SEMENTES


Couve-rábano

Feijão-vagem
Grão-de-bico
Cruzamentos

Couve-folha

Milho-doce
Abobrinha

Couve-flor
Cebolinha
Alho-poró

Erva-doce
Indesejados

Beterraba

Espinafre

Pimentão
Mostarda

Rabanete
Almeirão

Melancia

Mogango
Berinjela

Moranga
Cenoura
Abóbora

Chicória

Pimenta

Repolho
Lentilha
Aspargo

Brócolis

Coentro

Tomate
Quiabo
Ervilha

Maxixe

Pepino

Rúcula
Cebola
Acelga
Agrião
Alface

Melão

Salsa
Fava

Jiló
Abóbora
Abobrinha
Acelga
Agrião
Alface
Alho-poró
Almeirão
Aspargo
Berinjela
Beterraba
Brócolis
Cebola
Cebolinha
Cenoura
Chicória
Coentro
Couve-folha
Couve-rábano
Couve-flor
Erva-doce
Ervilha
Espinafre
Fava
Feijão-vagem
Grão-de-bico
Jiló
Maxixe
Lentilha
Melancia
Melão
Milho-doce
Mogango
Moranga
Mostarda
Pepino
Pimenta
Pimentão
Quiabo
Rabanete
Repolho
Rúcula
Salsa
Tomate
Atenção! B
Para Brassicas Oleráceas:

Evite plantar repolho, couve-flor, brócolis, couve-manteiga, A A


couve-rábano e couve-de-bruxelas próximas umas das outras,
quando for para produção de sementes, pois todas elas cruzam entre si.
Também devem ser evitados plantios próximos de variedades
da mesma espécie, como couve-flor variedade A
próximo à couve-flor variedade B. CII-Foto 5 - Cruzamento de couve-flor A
com brócolis B

Para Cucurbitas Muitas variedades e espécies podem acasalar-se pro-


porcionando cruzamentos indesejáveis, entretanto uma
Evite plantar morangas, abóboras de pescoço ou re-
grande maioria não apresenta problemas. Possíveis cru-
dondas, abobrinhas italianas e mogangos próximos uns
zamentos podem ser visualizados no Quadro 7.
dos outros, quando for para produção de sementes, por-
que todas essas espécies cruzam entre si - CII-Foto 6.
Também devem ser evitados plantios próximos de varie- Rendimento de sementes de hortaliças

O
dades da mesma espécie, como abobrinha tipo Itália (A)
rendimento é a expectativa de produção de sementes
próximo à abobrinha tipo Itália (B).
obtida por área plantada. Ele costuma ser variável
em função de fatores como:

• características climáticas da região;


• época correta de plantio para produção de sementes;

A B C • diferença entre variedades (peso e tamanho das sementes);


• manejo eficiente dos campos sementeiros;
• colheita e beneficiamento adequado.

CII-Foto 6 - Cruzamento entre abóbora A + moranga B = C No planejamento da área a ser cultivada para produ-
ção de sementes, é necessário saber os rendimentos mé-
dios das espécies por área, que podem ser 1m2,
Para Capsicuns 10 m2, 100 m2, 1.000 m2 ou 10.000 m2, e assim planejar o
Evite plantar pimentão próximo de pimentas. Também tamanho da área a ser usada para a produção de semen-
devem ser evitados plantios próximos de variedades da tes. No Quadro 8, a seguir, foi estabelecido o rendimento
mesma espécie, como pimentão A próximo ao pimentão B. médio para 100 m2 (10 m x 10 m de área).

46 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Rendimento médio e o número de sementes por
Quadro 8 grama das espécies olerícolas em 100 m2 de área

Capítulo II - PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO DE SEMENTES


Rendimento Gasto com sementes
Espécie médio Nº Sementes/g para plantio em 100 m2
( kg/100 m2 ) ( gramas )
Abóbora 2 5 60
Agrião 2 4.000-5.170 1,5
Acelga 10 55-60 150
Alface 4 800-890 3,5
Almeirão 10 700-940 15
Berinjela 1,5 230-250 1,5
Beterraba 10 55-60 150
Brócolis 6 315-500 2
Cebola 3 340 18
Cebola-bulbo 3 - 50
Cenoura 8 700-825 40
Chicória 2,5 600-940 3,5
Coentro 12 70-90 20
Couve-flor 4,5 350-500 2
Ervilha 25 3-4 60
Espinafre 8 90-100 100
Feijão-vagem rasteiro 15 4 500
Feijão-vagem trepador 15 4 250
Grão-de-bico 10 2-3 -
Lentilha 15 14-23 -
Melancia 2 5-11 60
Melão 4 35-45 90
Milho-doce 20 3 150-200
Pepino 2 35-40 35
Pimentão 2 150-165 4
Quiabo 15 19 50
Rabanete 18 350-500 150
Repolho 5 75-120 4
Rúcula 3 550 60
Tomate 1,5 300-405 15

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 47


Quadro 9 Cálculo de área para a produção de sementes

Exemplo:
Alface Alface
Considerando que a produção média de sementes de alface é 6 kg --------------- 100 m2
de 6 kg a cada 100 m2, deve-se multiplicar o peso de interesse 1 kg ---------------- X
(1 kg) por 100 e dividir pela produção média: X = 1 x 100/6 = 16,6 m2

Exemplo:
Brócolis Brócolis
Considerando que a produção média de sementes de brócolis 6 kg --------------- 100 m2
é de 6 kg a cada 100 m2, deve-se multiplicar o peso de interes-
se (1 kg) por 100 e dividir pela produção média:
1 kg ---------------- X
X = 1 x 100/6 = 16,6 m2

Exemplo:
Cenoura Cenoura
Considerando que a produção média de sementes de cenoura 8 kg --------------- 100 m2
é de 8 kg a cada 100 m2, deve-se multiplicar o peso de interes-
1 kg ---------------- X
se (1 kg) por 100 e dividir pela produção média:
X = 1 x 100/8 = 12,5 m2

Feijão-vagem Exemplo:
Feijão-vagem
Considerando que a produção média de sementes de feijão-va- 15 kg --------------- 100 m2
gem é de 15 kg a cada 100 m2, deve-se multiplicar o peso de
interesse (1 kg) por 100 e dividir pela produção média:
1 kg ---------------- X
X = 1 x 100/15 = 6,7 m2

Exemplo:
Ervilha Ervilha
Considerando que a produção média de sementes de ervilha 25 kg --------------- 100 m2
é de 25 kg a cada 100 m2, deve-se multiplicar o peso de inte-
1 kg ---------------- X
resse (1 kg) por 100 e dividir pela produção média:
X = 1 x 100/25 = 4 m2

O total da área para a produção de sementes destas cinco espécies é de 56,4 m².

48
Depois de conhecer o rendimento médio, é o mo- ção alimentícia. Já nas espécies de frutos carnosos, o

Capítulo II - PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO DE SEMENTES


mento de levantar o tamanho necessário da área para ciclo de produção assemelha-se muito nos dois méto-
a produção de sementes. Tomando-se como exemplo dos (produção de alimento e produção de sementes).
uma área para o cultivo de cinco espécies de hortaliças Em cultivos agroecológicos para produção de se-
(alface, brócolis, cenoura, feijão-vagem e ervilha) para mentes de hortaliças, recomendam-se espaçamentos
a produção de 1 kg de sementes de cada uma, realiza-se maiores nas entrelinhas, favorecendo melhor ventila-
o seguinte exercício: ção entre as plantas.
Multiplica-se o valor a ser desejado para cada es- O Quadro 10 , na próxima página, exemplifica as
pécie (1 kg) por 100 e divide-se pelo valor da pro- possíveis épocas de plantio das espécies de hortaliças
dução de sementes da tabela em 100 m2. O resulta- com seus respectivos espaçamentos e ciclos.
do final será a área em m2 para atingir a produção de
1 kg de sementes.
Ver Quadro 9 . Cálculo de área para a produção Definição e localização da área
de sementes. de produção de sementes

Época de plantio,
P ara organizar o final do planejamento, é necessário ob-
servar alguns fatores que atendam aos requisitos bási-
cos para produção de sementes de hortaliças.
espaçamentos e ciclo das espécies
para produção de sementes Escolha do local de plantio

P ara a produção de sementes, deve-se observar sempre Na escolha do local é aconselhável observar o seguinte:
as condições climáticas de cada região. O ideal é que
a produção ocorra nas épocas mais secas, evitando- • Devem ser selecionados locais de maior insolação
diária possível.
se assim o excesso de umidade, que pode causar
• O sentido do comprimento das linhas de plantio deve,
diversos problemas nas sementes, sanitários (doenças) preferivelmente, ser dimensionado no sentido Leste-Oeste.
e fisiológicos (baixa germinação e vigor). É de suma • Em áreas com declive acentuado, os campos de sementes
importância que espaçamentos maiores sejam adotados precisam ser locados no terço inferior, de frente para o norte.
e se diferenciem daqueles utilizados para o cultivo de • Em locais de ventos fortes, é importante instalar quebra-
hortaliças para fins estritamente alimentícios, sobretudo -ventos no sentido perpendicular ao vento
predominate, para evitar acamamento de plantas e também
para aquelas de frutos secos, já que para as de frutos prevenir danos causados por ventos frios provenientes do Sul
carnosos costuma-se utilizar os mesmos espaçamentos e dificuldades de polinização principalmente das abelhas.
adotados para produção comercial de alimentos. Esse
fator é muito importante, pois afeta o rendimento das
sementes e pode favorecer o ataque de insetos nocivos,
quando não são respeitadas as distâncias corretas.
Disponibilidade hídrica
Além disso, o ciclo de produção das plantas de fru- Deve haver disponibilidade de água para atendimento
tos secos no cultivo para produção de sementes é con- da necessidade de irrigação. O sistema de irrigação preci-
sideravelmente maior do que no cultivo para produ- sa ser planejado e instalado com antecedência ao plantio

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 49


para atender as necessidades das plantas já a partir da im- tios dos vizinhos, evitando-se riscos de possíveis cruza-
plantação do campo de sementes. mentos acidentais.
Após conhecer sobre o clima, florescimento, isolamen-
Isolamento externo to, época de plantio, espaçamentos, ciclo das culturas e o
É importante observar o isolamento com relação aos local ideal para variedade os campos de sementes, deve-se
cultivos do entorno da propriedade, procurando-se isolar elaborar a planilha de acompanhamento - Quadro 11 -,
no tempo ou no espaço a produção de sementes dos plan- levando em conta as espécies de seu interesse.

Recomendações da época de plantio e espaçamento


Quadro 10 de plantio para hortaliças

Espécie Época de plantio Espaçamento entre Época de colheita Ciclo de Cultivo Observações
linhas e plantas (Dias)
Abóboras e morangas fevereiro-março 3a4mx3a4m fevereiro-março 150 Fevereiro a março
setembro-outubro julho-agosto em regiões quentes
Alface março-maio 1,0 m x 0,30 m setembro-outubro 150 -
Brócolis fevereiro-março 0,80 m x 0,60 m agosto-setembro 180 Locais de frio

Cenoura março-maio 1,20 m x 0,20 m outubro-novembro 210 Locais quentes pelo


método de vernalização
Locais quentes pelo
Cebola março-maio 1,20 m x 0,20 m outubro-novembro 210
método de vernalização
Coentro março-maio 0,80 m x 0,20 m agosto-setembro 150 -
Couve-flor fevereiro-março 0,80 m x 0,60 m agosto-setembro 180 Locais de frio
Ervilha grão abril-maio 0,60 m x 0,20 m setembro-outubro 150 -
Ervilha-torta abril-maio 1,20 m x 0,20 m setembro-outubro 150 -

Feijão-vagem rasteiro fevereiro-março- 0,60 m x 0,20 m junho-julho- 120 -


agosto início de dezembro
Feijão-vagem trepador fevereiro-março 1,20 m x 0,20 m junho-julho 120 -
Milho-verde março 1,0 m x 0,20 m setembro 180 -
Quiabo março 1,0 m x 0,50 m julho-agosto 150 -

Repolho de verão fevereiro-março 0,80 m x 0,60 m agosto-setembro- 180 Locais de frio


outubro
Rúcula maio-junho 0,80 m x 0,10 m outubro-novembro 150 -
Rabanete junho-julho 0,80 m x 0,10 m outubro-novembro 120 -
Salsa março-maio 1,0 m x 0,20 m outubro-novembro 210 -

50 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Quadro 11 Modelo de planilha
PLANILHA DE ACOMPANHAMENTO DAS ESPÉCIES SELECIONADAS
AGRICULTOR: PROPRIEDADE:

ENDEREÇO:

ASSOCIAÇÃO:
DEFINIÇÃO DATA
DE HORTALIÇAS 2 DATA DE FLORESCIMENTO DATA DE PRODUTIVIDADE PRODUTIVIDADE
ÁREA EM M
A SEREM PLANTIO (80% DAS PLANTAS COLHEITA ESPERADA (KG) COLHIDA (KG)
PLANTADAS: FLORESCIDAS)
1.

2.

3.

4.

5.

6.

7.

8.

9.

10.

51
Capítulo II - PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO DE SEMENTES
Capítulo III

“O amor que deve emergir entre os reinos deve estar embasado


numa ética superior em que o bem geral da evolução
de suas espécies seja o vórtice condutor dos processos.”
Trigueirinho

53
Capítulo III

Plantio de campos sementeiros

A
s etapas de plantio são os primeiros passos práti- Pode ser feito pela abertura de berços (covas) – mais
cos que proporcionarão o início da produção de indicados para cucurbitáceas, feijão-vagem e ervilhas –,
sementes. As operações que antecedem o plantio ou em sulcos.
são: a análise de solo, o preparo e correção do solo e a adu- Os berços são abertos em uma distância compatível
bação orgânica, podendo o campo ser instalado sobre o com o espaçamento de cada espécie, assim como a pro-
cultivo de adubação verde, ou não. fundidade de semeadura da semente.
Já os sulcos são abertos na distância específica de cada
espécie, a uma profundidade de 1cm a 3 cm, onde serão
Sistemas de plantio semeadas as sementes no sentido do comprimento da li-
nha de plantio.

A s formas de plantio usadas para a produção de


sementes são a semeadura direta no campo e a
produção de mudas.
Atenção!
Destaca-se que em espécies como alface, chicória,
almeirão, couve-chinesa, coentro, cenoura e outras
espécies de sementes miúdas, após a emergência,
Sistema de semeadura direta no campo deve-se realizar o raleio das plantas.
É o sistema de plantio realizado direto no campo de
produção de sementes, sem que ocorra a formação e o
transplante de mudas, podendo ser realizado de forma Sistema de produção de mudas
manual ou com semeadeiras de sementes miúdas. Esse sistema de plantio pode ser realizado no solo -
A profundidade de semeadura das sementes no plan- CIII-Foto 1 (p. 55), em sementeiras, ou em bandejas,
tio (Quadro 12) varia conforme a espécie a ser semeada. transplantando-se posteriormente a muda para o local
O método é simples e muito utilizado para espécies definitivo.
como feijão-vagem, ervilha, cucurbitáceas em geral, alfa- As mudas, por ocasião da retirada do canteiro, apre-
ce, chicória, almeirão, salsa, cebolinha, cenoura, coentro, sentam-se com a raiz nua (sem terra aderida) ou protegi-
rúcula, agrião, mostarda, couve chinesa entre outras. das (com terra aderida), quando semeadas em bandejas.

54 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Quadro 12 Profundidade ideal da semeadura para cada espécie olerícola

Profundidade ideal (em centímetros)


OLERÍCOLA

Capítulo III - PLANTIO DE CAMPOS SEMENTEIROS


0,5 0,75 1,25 1,75 2,25 3 5
CHICÓRIA X - - - - - -
ALFACE X - - - - - -
MOSTARDA X - - - - - -
CENOURA - X - - - - -
BERINJELA - X - - - - -
CEBOLA - X - - - - -
SALSA - X - - - - -
PIMENTÃO - X - - - - -
TOMATE - X - - - - -
NABO - X - - - - -
BETERRABA - - X - - - -
RABANETE - - X - - - -
ESPINAFRE - - X - - - -
ACELGA - - X - - - -
REPOLHO - - - X - - -
COUVE-FLOR - - - X - - -
MELÃO - - - - X - -
PEPINO - - - - - X -
QUIABO - - - - - X -
ABOBRINHA - - - - - X -
ABÓBORA - - - - - X -
MELANCIA - - - - - X -
FEIJÃO - - - - - - X
MILHO - - - - - - X
ERVILHA - - - - - - X

Alguns exemplos de espécies das quais podem ser pro- O transplantio é realizado quando a muda possui de
duzidas mudas são: alface, tomate, berinjela, pimentão, 4 a 6 folhas definitivas, tomando-se o cuidado com o es-
beterraba, acelga, repolho, brócolis, couve-flor, alho-poró, paçamento, que deve estar ajustado para a produção de
cebolinha, entre outras. sementes.

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 55


Passo a passo

Como fazer o
plantio em sulcos
Capítulo III - PLANTIO DE CAMPOS SEMENTEIROS

a
Abre-se um
sulco no solo no
espaçamento
ideal para
cada espécie.

b
Semeia-se
a semente
dentro
do sulco.

c
Cobre-se a semente
com solo ou,
de preferência,
com compostagem.

d
Após um período que varia
de 7 a 20 dias, dependendo
da época do ano e da espécie,
ocorre a germinação da semente
e emergência da plântula, e o
estabelecimento da cultura.

56 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Capítulo IV

“A humanidade deve despertar para as sementes de Bem


que estão depositadas em seu interior.
Disso dependem muitas etapas evolutivas.”
Trigueirinho

59
Capítulo IV

Vernalização artificial

A
vernalização é o processo que visa artificializar para a colheita das raízes, selecionando-se aquelas su-
condições climáticas relacionadas à temperatu- periores, com homogeneidade no comprimento, colo-
ra para que algumas espécies consigam flores- ração e diâmetro. As raízes com presença de ombro
cer através da utilização de frio e umidade controlada verde ou roxo devem ser eliminadas. Posteriormente
por certo período. ao período de vernalização das raízes, estas são plan-
O método funciona proporcionando temperaturas tadas novamente no solo e irão florescer e produzir
baixas durante determinado tempo para que ocorra a sementes, daí a explicação para o método se chamar
indução da floração de espécies exigentes desta condi- semente-raiz-semente.
ção climática. Dependendo da quantidade do material As técnicas utilizadas para a produção de raízes são
a ser vernalizado, pode ser realizado em uma câmara idênticas àquelas dedicadas exclusivamente à produção
fria ou geladeira. alimentícia, como o espaçamento de plantio, o manejo
Esse sistema é utilizado principalmente para o plan- e a colheita das raízes, que não pode passar de 100 dias.
tio da cenoura e da cebola em locais que não apresentam Alguns cuidados devem ser tomados, principalmente
frio suficiente para a indução ao florescimento dessas es- com a escolha das variedades, época de semeadura, colhei-
pécies. Os tubérculos da beterraba também podem ser ta e seleção das raízes e como realizar a vernalização.
vernalizados artificialmente, mas, devido à exigência da
espécie de dias longos e frios, ocorre o florescimento de
um número menor de plantas, o que dificulta o proces- Escolha das variedades
so no Brasil, sobretudo no Sudeste, Centro-Oeste e no É necessário sempre utilizar variedades de primavera-
Nordeste. Alguns estudos mostram que até pode ocor- -verão que estejam à disposição no mercado, dispensan-
rer a produção no Centro-Oeste, mas com índices muito do-se materiais de inverno e variedades híbridas.
baixos de florescimento (abaixo de 50%). As variedades de inverno têm mais necessidade de frio
que as variedades de verão, e mesmo com vernalização
Vernalização da cenoura muitas plantas não florescem.
O método relativo à cenoura é denominado de “se- As variedades híbridas acabam perdendo o vigor hí-
mente-raiz-semente”, ou seja, plantam-se sementes brido na segunda geração.

60 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Capítulo II - VERNALIZAÇÃO ARTIFICIAL
CIV-Foto 1 - Vernalização em geladeira

Época de semear É importante que a seleção das raí-


Para a produção de raízes, con- zes seja realizada criteriosamente, com
vém semear os canteiros no início de observância dos padrões característicos
dezembro, de forma a garantir que a da variedade escolhida.
primeira fase de cultivo não compro-
meta os demais ciclos pós-vernaliza- Vernalização
ção, coincidindo a desvernalização e Colocam-se as raízes na geladeira ou
plantio das raízes com as épocas mais CIV-Foto 2 - Raízes doentes câmara fria, mantendo-as por um perí-
frias do outono-inverno. odo de 42 dias a uma temperatura de
4 °C a 6 °C - CIV-Foto 1.
Época de colheita das raízes: Visto que podem ocorrer problemas como apo-
A colheita das raízes ocorre entre 90 e 100 dias drecimento CIV-Foto 2, ou brotação precoce das ra-
após o plantio; em meados de março, caso o plantio ízes, e o consequente descarte delas, é recomendado
ocorra em dezembro. Devem-se colher as raízes com sempre colocar um pouco mais de raízes (20%) para
o solo com baixa umidade, retirando-as de preferência vernalizar. Após o período de 45 dias, já no início de
limpas e secas, evitando-se a lavagem com água para maio, as raízes são retiradas da geladeira na tarde anterior
retirada de terra. ao dia de plantio (desvernalização).

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 61


Passo a passo

Seleção das raízes


a
Selecionam-se no mínimo 100 raízes,
observando-se o comprimento, o formato e a
tonalidade da coloração da variedade.
Importante também observar a sanidade
das raízes, descartando-se aquelas
que apresentarem sintomas
de doenças e ataques de pragas.

b
Devem-se descartar ainda raízes com
presença de ombro verde e ombro roxo.
Visando estimular novas brotações,
convém cortar as folhas na altura de 5 cm
a partir do colo da planta.

c
Após a seleção das raízes,
acomodam-se estas em sacos plásticos,
em número de 10 raízes por saco. Depois
leve-as à geladeira por 45 dias.

62 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Plantio das raízes
É necessário abrir um sulco em
solo já preparado, com profundida-
de igual ao comprimento das raízes.

Capítulo II - VERNALIZAÇÃO ARTIFICIAL


As raízes são colocadas na posição
vertical, no espaçamento ideal para a
produção de sementes, com o colo –
já apresentando as folhas novas bro-
tadas – rente à superfície do terreno.
Ao final do processo, cobrem-se com
terra as raízes de forma que as folhas
recém-brotadas fiquem sobre o solo
- CIV-Foto 3.

Irrigação
A irrigação deverá manter a umida-
de do solo, utilizando-se equipamento
adequado, que pode ser por aspersão
ou gotejamento.
Recomenda-se molhar uniforme-
mente o local para favorecer o pega-
mento das raízes ao solo.

CIV-Foto 3 - Plantio da raiz no campo


Roguing
Posteriormente ao manejo e ope-
rações empregados, as raízes emiti-
rão folhas novas (de maio a agosto)
e após um tempo entrarão na fase
de pendoamento (agosto), seguida de Atenção!
florescimento (setembro-outubro) e
Devem ser retiradas do campo sementeiro plantas doentes,
produção de sementes (dezembro-ja- com florescimento muito precoce ou muito tardio.
neiro), totalizando aproximadamen-
te 12 meses, do plantio da semente,
da colheita das raízes, vernalização,
plantio das raízes selecionadas até a
colheita das sementes.

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 63


Método da vernalização artificial para a produção
Quadro 13 de sementes de cenoura realizado em regiões
de temperatura elevada
Primeira fase - Fase vegetativa - Produção de raízes
Semeadura de sementes Colheita de raízes Seleção de raízes
• Acima de 100
• 18 cm a 22 cm
100 dias
dezembro-janeiro • Observar a cor
março-abril • Observar formato
• Ausência de ombro verde ou roxo

Segunda fase - Fase reprodutiva - Produção de sementes


Vernalização Plantio das raízes Florescimento Colheita
março-abril-maio
45 dias em câmara fria maio-junho setembro-outubro dezembro-janeiro
ou geladeira

Atenção!
Em locais onde o clima favorece o florescimento ao natural da cenoura, em regiões frias,
como nos estados do sul do Brasil, ou em regiões de altitude elevada - Quadro 13 -,
não é necessária a vernalização das raízes.
O plantio da semente será feito em sulcos, na forma
de semeadura direta, e posteriormente ocorrerá o florescimento e a produção de sementes.
Este método chama-se de “semente a semente” - Quadro 14. O plantio geralmente se realiza
entre abril e junho e a colheita das sementes, entre dezembro e janeiro.

Método natural para a produção de sementes


Quadro 14 de cenoura realizado em regiões frias
ou de elevada altitude
Método semente a semente
Plantio das sementes Florescimento Colheita das sementes
abril-junho setembro-outubro dezembro-janeiro

64 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Vernalização e plantio da cebola Época de semear para
a produção de bulbos
A produção de sementes de cebola leva dois anos (es-
pécie bianual). No primeiro ano, serão produzidos os A época de semear as sementes de cebola para produ-
ção de bulbo dá-se entre abril e junho, devendo a colheita

Capítulo II - VERNALIZAÇÃO ARTIFICIAL


bulbos (cabeças); no segundo ano, será feito o plantio dos
bulbos no campo para a produção de sementes. Este mé- ocorrer entre outubro e dezembro.
todo é chamado de semente-bulbo-semente. O plantio, a adubação, o manejo e colheita para a pro-
É muito importante levar em conta as condições cli- dução de bulbos para sementes são idênticos aos usados
máticas de uma determinada região para a escolha da va- para a produção destinada à alimentação.
riedade a ser cultivada para a produção dos bulbos; essa
decisão tem influência decisiva na fase seguinte que é a
produção de sementes.
Seleção dos bulbos e sementes
Alguns cuidados devem ser tomados, principalmente Após a colheita dos bulbos, é necessário selecioná-los
com a escolha das variedades, época de semeadura, colhei- de acordo com as características da variedade escolhida
ta e seleção dos bulbos e como realizar a vernalização. e em número mínimo de 100, sendo ideais aqueles que
apresentarem de 70 g a 80 g de peso e diâmetro de 5 cm
a 6 cm - CIV-Foto 4.
Escolha das variedades Convém observar o formato-padrão da variedade
Na região Sudeste, recomenda-se o cultivo de va- - CIV-Foto 5 -, a coloração externa da casca (catafilo
riedades de ciclo médio e curto, pois as de ciclo longo externo), a coloração dos catafilos internos, assim como
não formam bulbos comerciais nesse local. Já no sul do a sanidade dos bulbos, os quais não devem apresentar
país, é possível cultivar aquelas de ciclo curto, médio e sintomas de doenças e ataques de pragas. Bulbos que não
longo. No Nordeste indica-se o cultivo de materiais de apresentarem o padrão da variedade no formato e medi-
ciclo curto somente. das devem ser descartados.

CIV-Foto 4 - Seleção de bulbos de cebola

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 65


Armazenagem dos bulbos plantio. Permite-se, assim, uma adequada conservação
e florescimento dos bulbos. Os bulbos são plantados no
Logo depois de colhidos, os bulbos apresentam dormência,
campo para a segunda fase de produção de sementes, que
que inibe sua brotação e é quebrada naturalmente durante o
é a fase reprodutiva (Nascimento, 2005).
processo de armazenagem.
Pode haver problemas, como apodrecimento ou brota-
Os bulbos são acomodados, se possível, em sacos de rá-
ção precoce dos bulbos, durante a vernalização, ocorrendo
fia, que proporcionam uma ventilação homogênea, e pre-
o descarte dos materiais afetados. Portanto, deve-se sem-
cisam ficar em torno de quatro meses armazenados em
pre colocar um pouco mais de bulbos (20%) para vernali-
galpões ou estruturas sombreadas e ventiladas, dispostos em
zar e minimizar as perdas.
estrados ou paletes - CIV-Fotos 6.
No início de maio, preferencialmente, os bulbos são
Devem ser eliminados do local de armazenagem os
retirados da geladeira ou câmara fria, na tarde anterior ao
bulbos que brotarem precocemente ou apodrecerem dia de plantio - CIV-Foto 10.
- CIV-Foto 7.
Após a vernalização, deve-se realizar uma nova seleção,
eliminando-se bulbos murchos ou com sintomas de doenças.
Vernalização
Colocam-se os bulbos em sacos plásticos - CIV-Foto 8,
levando-os para a geladeira ou câmara fria no mês de Plantio dos bulbos no campo
março - CIV-Foto 9. No caso da cebola, o ideal é que se O plantio deve ser realizado com temperaturas baixas
utilize o binômio tempo-temperatura para vernalização, se possível. Abre-se um sulco em solo já preparado, com
e isso depende muito da variedade. Geralmente, o arma- profundidade de aproximadamente 8 cm, colocando-se
zenamento dos bulbos é feito a temperaturas mais baixas os bulbos dentro do sulco com as raízes que já brota-
(próximas de 2 ºC), por 60 a 90 dias, antes do plantio; após, ram para baixo, no espaçamento ideal para a produção
eleva-se a temperatura a 8 ºC, por 20 a 40 dias, antes do de sementes - CIV-Fotos 11. Vide também quadros p. 68.

CIV-Fotos 6 (à esquerda e à direita) - Armazenagem dos bulbos em sacos de ráfia


CIV- Foto 7 (central) - Bulbos apodrecidos, retirados da armazenagem

66 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Capítulo II - VERNALIZAÇÃO ARTIFICIAL
CIV-Foto 8 (acima esquerda) - Bulbos ensacados para vernalização

CIV-Foto 9 (ao lado) - Bulbos na câmara fria (vernalização)

CIV-Foto 10 (acima) - Bulbos retirados da geladeira


ou câmara fria (vernalização)

CIV-Fotos 11 - (abaixo)- Plantio dos Bulbos em vernalização e bulbos


plantados no campo.

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 67


Atenção!
Em locais onde o clima favorece o florescimento ao natural da cebola,
em regiões frias - Quadro 15, como nos estados do sul do Brasil,
ou em regiões de altitude elevada - Quadro 16, não é necessária a vernalização dos bulbos.
Ocorrerá o plantio após a quebra de dormência e uma armazenagem aproximada
de 4 meses em galpão arejado e sem insolação direta.
Após os bulbos serem plantados diretamente no solo, em sulcos,
distanciados no espaçamento ideal para a produção de sementes da cebola,
haverá a formação de folhas e a indução ao florescimento pelas temperaturas baixas
da região no inverno e, consequentemente, a produção de sementes.
Este método chama-se de “semente-bulbo–semente”.
O plantio é feito geralmente entre maio e junho,
e a colheita das sementes entre dezembro e janeiro

Método natural para a produção de sementes


Quadro 15 de cebola realizado em regiões frias
ou de elevada altitude

Primeira fase - Fase vegetativa - Produção de bulbos - Ano I

Semeadura Colheita de Seleção dos Período de


das sementes bulbos bulbos-mães armazenagem

Meados de abril-junho • Acima de 100


dependendo do ciclo novembro e dezembro Em torno de 120 dias
• Peso - 100g
da variedade

Segunda fase - Fase reprodutiva - Produção de sementes - Ano II

Plantios Quantidade Colheita de


Florescimento
de bulbos de bulbos sementes

maio-junho Pelo menos 100 setembro-outubro dezembro-janeiro

68 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Capítulo II - VERNALIZAÇÃO ARTIFICIAL
Método da vernalização artificial para a produção
Quadro 16 de sementes de cebola realizado em regiões
de temperatura elevada

Primeira fase - Fase vegetativa - Produção de bulbos - Ano I

Semeadura Colheita Seleção dos Período de


das sementes de bulbos bulbos-mães armazenagem
• Acima de 100
maio-junho novembro-dezembro Em torno de 120 dias
• Peso - 100g

Segunda fase - Fase reprodutiva - Produção de sementes - Ano II

Plantio de Quantidade
Vernalização Colheita sementes
bulbos de bulbos
março-abril
45-60 dias em câmara fria junho-julho Pelo menos 100 dezembro-janeiro
ou geladeira

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 69


Capítulo V

“Manter a pureza das espécies é mais do que um ato de sobrevivência.


É o reconhecimento de unidade dos puros padrões
entre todas as espécies de todos os reinos.”
Trigueirinho

71
Capítulo V

Manejo e tratos culturais

O
s campos de sementes necessitam de manejos ção. A irrigação mais indicada para a produção de semen-
e tratos adequados para seu desenvolvimento. tes é pelo sistema de gotejamento, principalmente na fase
Os tratos culturais são processos realizados de florescimento até a colheita, pois o excesso de umidade
após o plantio até a colheita, visando proporcionar às na fase final do ciclo compromete a qualidade fisiológica
plantas condições de desenvolvimento para a produ- e sanitária das sementes. É um sistema mais caro para ser
ção de sementes. A realização dessas operações de for- implantado; porém, utiliza menos água durante o ciclo de
ma eficiente possibilita o aumento da produtividade e produção de sementes, quando comparado aos sistemas
qualidade das sementes. de aspersão e inundação.
As informações aqui apresentadas descrevem eta-
pas importantes, como irrigação, desbaste, controle
Considerações sobre a irrigação
de plantas espontâneas, amontoa, tutoramento, des-
brota, eliminação de frutos, limpeza das saias, pen- em campos de sementes de hortaliças
teamento das cucurbitáceas, capação, indução ao O período mais recomendado para a irrigação é o
florescimento, roguing e polinização. Estas etapas, início da manhã quando utilizado gotejamento; já a as-
devidamente realizadas, contribuirão para o sucesso persão deve ser evitada nesse horário, pois as hortaliças
da qualidade das sementes. abrem as flores neste período do dia, o que poderá cau-
sar problemas de polinização, principalmente na famí-
lia das Cucurbitáceas.
Irrigação O Quadro 17 demonstra as fases críticas com relação à

A
irrigação por espécie.
irrigação depende da disponibilidade de água, re-
levo e estrutura da propriedade. Para a produção A frequência de irrigação depende do tipo de solo,
de sementes olerícolas, dependendo da espécie, são clima, necessidade da cultura, presença ou não de co-
necessários de 300 mm a 800 mm de água durante os bertura morta no solo, quantidade e constância de
estádios de cultivo. chuvas, características que podem ser determinadas
Os sistemas de irrigação mais utilizados são o de as- mediante visualização das plantas. Os sintomas de uma
persão, gotejamento e, em algumas regiões, o de inunda- planta com déficit hídrico variam conforme a cultura, mas

72 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Períodos críticos ao déficit
em geral o enrolamento, o murchamen- Quadro 17 de água no solo para hortaliças
to, as mudanças da tonalidade das cores
e da textura das folhas são os sintomas Olerícola Período crítico
de fácil visualização.

Capítulo V - MANEJO E TRATOS CULTURAIS


Abóboras Floração e desenvolvimento de fruto
Para verificar a umidade do solo, Alface Expansão da cabeça
utiliza-se o tensiômetro, aparelho que Berinjela Floração e desenvolvimento do fruto
mede a tensão da água no solo. Pode-se
também fazer um teste bastante simples Beterraba Durante os primeiros 60 dias

e prático que é a identificação da capa- Brócolis Formação da inflorescência


cidade de campo: pega-se uma porção Cebola (produção de bulbo) Bulbificação e desenvolvimento de bulbo
do solo e comprime-se na palma da
Cebola (produção de semente) Floração
mão; havendo escorrimento de água
entre os dedos, a umidade está excessi- Cenoura Durante os primeiros 40 dias
va, mas se a terra se modelar e formar Espinafre Todo o ciclo
a aparência de um croquete, sem escor- Couve-flor Formação da inflorescência
rer água entre os dedos, a umidade está
Ervilha Floração e enchimento da vagem
adequada (capacidade de campo). En-
tretanto, se ao apertar a terra ocorrer Feijão-vagem Floração e enchimento da vagem
o esboroamento sem a modelagem, o Grão-de-bico Floração e enchimento da vagem
solo está com déficit de água, necessi- Lentilha Floração e enchimento da vagem
tando de irrigação.
Melancia Desenvolvimento de fruto
Melão Floração e desenvolvimento de fruto
Identificação
Milho-doce Polinização e formação da espiga
dos estádios da cultura
Nabo Expansão da raiz
e a necessidade de água
Pepino Floração e frutificação
Para identificar o período crítico
Pimentão Floração e desenvolvimento de fruto
com relação ao déficit de água, é neces-
sário o conhecimento dos estádios de Pimentas Floração e desenvolvimento de fruto
cultivo da cultura. Quiabo Floração
Rabanete Todo o ciclo
• A • Estádio inicial
Compreende o período que vai Repolho Desenvolvimento da cabeça
do plantio até o estabelecimento inicial Tomate Floração e desenvolvimento de fruto
das plantas com duração de 1 a 3 sema-
nas. Na primeira semana pós-plantio, o Fonte: Marquelli, 2011.
ideal é que o teor de água no solo esteja O momento de interromper a irrigação nos camposde sementes
depende da categoria das plantas (autógamas ou alógamas).
próximo da capacidade de campo, que

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 73


vai de 0 a 15 cm. Para isso as irrigações devem ter a fre- Momento de interromper a irrigação
quência de 1 a 3 dias. Quando o sistema radicular da plan- em espécies de hortaliças de fruto seco
ta estiver mais desenvolvido, a frequência das irrigações
pode ser reduzida. Nestas espécies, devido à ocorrência de desuniformi-
dade de florescimento, a definição do ponto certo de in-
• B • Estádio vegetativo terromper a irrigação é mais difícil, mas sugere-se que a
É o período que vai do estabelecimento ini- irrigação por gotejamento seja suspensa de 10 a 20 dias
cial das plantas até o seu florescimento. Nesta fase, antes da última colheita. Em sistemas de irrigação por as-
as espécies olerícolas de fruto seco têm a sua maior persão, a irrigação deve ser interrompida de 20 a 30 dias
necessidade de água. antes da última colheita.

• C • Estádio reprodutivo Momento de interromper a irrigação


Compreende o período que vai do florescimen- de espécies de fruto carnoso
to até o início da maturação fisiológica das sementes.
Deve-se evitar o estresse hídrico (falta de água) nesta A irrigação deve ser suspensa 10 dias antes da última
fase, pois pode comprometer a formação das sementes colheita quando utilizado o sistema de gotejamento e 20
e sua qualidade. Entretanto, algumas espécies como a dias, quando utilizada a aspersão.
ervilha e a cenoura têm a produtividade de sementes No caso do tomate indústria, por não ser tutorado e
afetada com a umidade do solo próxima à capacidade por estar em contato com o solo, suspende-se a irrigação
de campo, devido ao crescimento excessivo das plan- com porcentagem de maturação dos frutos entre 5% e
tas e à incidência de doenças. Ambas demandam me- 10%, em casos de irrigação por aspersão, e entre 75% e
nos água, quando comparadas com outras espécies 85%, em irrigação por gotejamento.
de fruto seco. Deve-se direcionar a água para o sistema radicular das
plantas cultivadas, evitando-se que fique disponível para
• D • Estádio de maturação da semente as plantas espontâneas. Algumas medidas preventivas
Esse estádio compreende a fase entre o início para a manutenção de umidade no solo em cultivos de
da maturação fisiológica da semente e sua colheita. É sementes são: a locação de curvas de nível; a formação de
importante haver água disponível no solo em quanti- canais de infiltração; a construção de quebra-ventos; a adu-
dade suficiente até a maturação fisiológica das semen- bação verde do solo e a utilização de cobertura morta.
tes. Após a maturação fisiológica, deve ocorrer uma
diminuição gradual da disponibilidade de água no
solo até a colheita. Desbaste
O instante de interromper a irrigação depende
de cada espécie, da capacidade de retenção de água pelo
solo, da evaporação e do sistema de irrigação. Embora
as hortaliças exijam água durante seu cultivo, irriga-
É o ato de eliminar as plantas da mesma espécie, se-
meadas em excesso pelo método de semeadura
direta. Esta operação tem como objetivo a seleção de
ções próximas à última colheita podem ocasionar perdas plantas, proporcionando o espaçamento correto, a dis-
nos campos de semente, que podem ser produtivas, fisio- ponibilidade de água, luz e nutrientes por planta. É re-
lógicas e sanitárias. alizado logo após a emergência, podendo ser feito uma

74 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


ou mais vezes; na primeira vez, eliminam-se as plantas olerícolas. É crucial conhecer as espécies, evitando assim
em excesso. Os primeiros desbastes costumam ser me- seu estabelecimento, florescimento e produção de semen-
nos drásticos. Nos desbastes seguintes deverão ser eli- tes, que poderão contaminar os lotes de semente.
minadas plantas doentes, atacadas por insetos, plantas Algumas espécies dessas plantas são contaminantes

Capítulo V - MANEJO E TRATOS CULTURAIS


de menor porte, malformadas, preservando-se aquelas de lotes de sementes de hortaliças e, conforme normas
que apresentam as características padrão das varieda- e padrões estabelecidos, são proibidas pela legislação de
des. No caso da cenoura, geralmente são feitos dois des- estarem juntas. Elas recebem a classificação de "espécies
bastes; no da alface, quando em semeio direto, dois a nocivas e proibidas”, por representarem risco econômico
três desbastes. para a cultura.
No Quadro 19, estão discriminadas as espécies tole-
rantes e proibidas em campos de sementes de hortaliças.
Controle de plantas espontâneas

P lantas espontâneas são aquelas que nascem natural-


mente, podendo ser nativas ou não e surgir na fase
de pré e pós-plantio. Existe um banco de sementes de
Fatores que favorecem o desenvolvimento
de plantas espontâneas
plantas espontâneas que permanece sob o solo e, quan-
do ocorrem condições ideais de temperatura, umida- Os principais fatores que promovem o crescimento
de e luz, essas sementes germinam e emergem junto às das plantas espontâneas são: baixos estandes de plantas
plantas cultivadas. cultivadas, ataque de pragas e doenças, baixa fertilidade do
O controle de plantas espontâneas consiste em inibir, solo, encharcamento do solo e controle ineficiente.
abafar, cortar ou arrancar aquelas consideradas invaso- As plantas olerícolas para sementes são planta-
ras no local de plantio ou semeio da cultura de interesse, das com espaçamentos maiores do que os utilizados
durante seu desenvolvimento. É realizado para evitar a no plantio de olerícolas para alimentação, o que pode
competição por luz, água e nutrientes durante o período ocasionar maior incidência de plantas espontâneas
crítico de desenvolvimento, favorecendo a formação de devido à maior disponibilidade de luz, água, nutrien-
sementes vigorosas e de alto grau de pureza. tes e área de solo.
Em geral, tanto nas áreas de produção de sementes O plantio pelo método do semeio direto apresenta
como nas áreas de olerícolas para alimentação, as estra- desvantagem em razão da desigualdade de tempo para a
tégias para controle das plantas espontâneas são seme- germinação e emergência, além da maior quantidade de
lhantes. Existem fases em que pode ocorrer a convivên- sementes de plantas espontâneas que competirão dire-
cia entre as plantas espontâneas (PCV) e os campos de tamente com a cultura de interesse. Já no transplante de
sementes, assim como períodos críticos de interferência mudas, estas estarão com tamanho superior, sombreando
(PCI) e períodos de controle (PCT), que são estabeleci- e abafando as plantas espontâneas.
dos em dias após emergência. As adubações devem ser direcionadas nas linhas de
No Quadro 18, podemos observar as espécies e sua plantio das culturas de interesse, para que disponibili-
relação com as plantas espontâneas. zem melhores condições nutricionais, evitando assim
Há plantas espontâneas que são nocivas proibidas ou nutrir as plantas espontâneas, diminuindo seu poder de
nocivas toleradas em campos de produção de sementes de competição. Os adubos à base de esterco devem estar

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 75


Ocorrência de períodos de convivência (PCV),
períodos de controle (PCT), e períodos críticos
Quadro 18 de interferência (PCI) das plantas espontâneas
em diversas espécies de hortaliças.
Períodos de Períodos Críticos Período de Controle
Cultura Convivência de Interferência (PCT) dias
(PCV) dia (PCI) dias
Abóbora-cabotiá 29 29 a 66 66
Abóbora rasteira 14 14 a 42 42
Alface 14 14 a 28 28
Beterraba 14 14 a 28 28
Brócolis 3 3 a 28 28
Cebola por semeio direto 21 21 a 56 56
Cebola por transplantio 42 30 a 90 90
Cenoura 21 21 a 42 42
Couve-flor 42 - 14
Ervilha 40 40 a 60 60
Feijão-vagem 14 14 a 28 28
Grão-de-bico 35 35 ao 49 59
Lentilha 40 40 a 60 60
Milho 15 15 a 45 45
Melancia 9 9 a 13 13
Melão 28 28 a 42 42
Pimenta 14 14 a 42 42
Pepino 12 13 a 25 24
Pimentão por transplantio 42 42 a 63 63
Quiabo 21 21 a 49 49
Rabanete - - 21
Repolho 21 21 a 28 29
Tomate por semeio direto 21 21 a 97 97
Tomate por transplantio 26 26 a 46 46

Fonte: Pereira 2011. Dados em dias após a emergência, dentro de cada ciclo vegetativo
das hortaliças, cultivadas em diferentes regiões.

76 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Lista de espécies nocivas toleradas
Quadro 19 e nocivas proibidas que podem
contaminar lotes de sementes de hortaliças
Olerícola Período crítico
Atenção!

Capítulo V - MANEJO E TRATOS CULTURAIS


Caruru gigante
Caruru de espinho Pode haver no máximo
Macela fétida 5 a 10 unidades de espécies
toleradas em lotes
Erva-formigueira
de outras sementes.
Tiririca amarela
Tiririca do brejo, tiririca-falsa
Capim santo
NOCIVAS TOLERADAS
Capim arroz
Corda de viola, corriola
Cipó de veado
Erva pessegueira, erva de bicho
Nabiça
Língua de vaca
Maria pretinha
Capim massambará
Cuscuta
NOCIVAS PROIBIDAS
Tiririca verdadeira
Sorgo de alepo

bem compostados, para que não sejam fontes de disse- Controle cultural
minação de sementes de plantas espontâneas. O controle cultural ocorre por meio de uso de prá-
ticas como a adubação verde, a cobertura morta, a rotação
de cultura e a solarização.
Método de controle
A adubação verde tem o papel de suprimir o desen-
de plantas espontâneas volvimento de plantas espontâneas através do abafamento su-
Para fazer o controle de plantas espontâneas, importa perficial, especialmente pelo sombreado da superfície do so-
conhecer algumas características da espécie espontânea lo que dificulta a germinação das sementes destas plantas.
envolvida que poderá infestar o campo de sementes como: A maioria das espécies de adubos verdes são manejadas em
capacidade de enraizamento, profundidade do sistema ra- torno de 90 a 120 dias, período que coincide com a flora-
dicular, hábito de crescimento e tipo de reprodução. ção plena (80% das plantas florescidas). Essa técnica propi-
Os principais métodos de controle em campos de se- cia a liberação de substâncias que inibem a germinação de se-
mentes agroecológicas são o cultural e o mecânico. mentes e propágulos das plantas espontâneas (alelopatia).

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 77


Importante!
Deve-se evitar rotações de hortaliças que tenham
a mesma exigência de nutrientes (alimento)
e que tenham doenças e insetos.

CV-Figura 1 - Rotação de Culturas

A cobertura morta é o ato de deixar o solo coberto Controle mecânico


com material artificial (plástico) ou natural (resíduos ve- É um método de controle das plantas espontâ-
getais), com a finalidade de cobri-lo e protegê-lo. Essa téc- neas que utiliza equipamentos de tração mecânica ou
nica evita a germinação de sementes e o desenvolvimento animal. Os principais equipamentos são os cultivado-
de plantas espontâneas. res, sulcadores, enxada rotativa/encanteiradores e roça-
A rotação de culturas é uma técnica que visa prevenir deiras. A capina manual - CV-Foto 1 - e o arranquio
a infestação de plantas espontâneas na área de cultivo por manual das plantas espontâneas também fazem parte
meio da alternância organizada entre as culturas. Esta téc- do controle mecânico.
nica evita ou minimiza a formação de bancos de sementes Essa técnica diminui a competição pela eliminação
de plantas infestantes, dificulta a perpetuação das espécies das plantas espontâneas e promove a oxigenação radicular
espontâneas favorecidas pela monocultura, desfavorece
a seleção de plantas daninhas resistentes. Nas hortaliças
deve-se sempre alternar espécies de folhas, frutos e raízes
- CV-Figura 1 -, de modo que uma espécie ou membro
de uma família retorne ao local onde foi cultivada ante-
riormente após 3 cultivos.
A solarização é uma técnica utilizada para desinfes-
tação do solo contra sementes e propágulos de plantas
espontâneas. Consiste na cobertura do solo em pré-
-plantio com plástico transparente e com solo úmido
por período entre 8 e 10 semanas, durante épocas de
maior radiação solar.
A tiririca, que apresenta grande potencial de infesta-
ção, pode ser controlada por esta técnica. CV-Foto 1 – Capina manual campo de semente de jiló – Magé-RJ

78 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Atenção!
A cobertura verde deve ser mantida roçada e a linha de cultivo deve ser mantida

Capítulo V - MANEJO E TRATOS CULTURAIS


com cobertura morta. Vide CV-Foto 2 e CV-Foto 3.

CV-Foto 2 – Cobertura viva campo de semente de pimentão –Magé CV-Foto 3 -Cobertura morta campo de semente de alface-AAT

da cultura de interesse. Neste método pode ser necessário Normalmente é realizada duas a três vezes até a fase
complemento com capina manual na linha de plantio, jun- inicial de florescimento, principalmente nas culturas da
to às hortaliças. cebola e da cenoura, salsa, coentro entre outras. É impor-
tante cuidado durante a operação para não danificar as ra-
ízes e o caule das plantas. A amontoa ou aterramento pode
Amontoa ou aterramento ser feita após a adubação de cobertura.

A amontoa é o ato de puxar a terra da entrelinha para


a parte basal da planta (região entre caule e raiz),
formando leiras junto à base do caule. É uma operação
Tutoramento

que tem a finalidade de fixar a planta ao solo de forma a


evitar o acamamento, além de contribuir para a proteção
e formação de raízes adventícias e controle de plantas
O tutoramento tem a finalidade de conduzir o cresci-
mento da planta no sentido vertical. É uma técnica
que consiste na colocação de estacas de bambu, varas
espontâneas junto à linha de plantio. de madeira, fitilhos ou outro material junto ao caule das
Esta operação é necessária visto que várias espécies plantas, para escorá-las e orientar seu crescimento, man-
olerícolas – quando destinadas à produção de sementes tendo-as arejadas e eretas.
– apresentam um crescimento vertical acentuado na fase O manejo das plantas se dá por amarrações em fitilhos
de pendoamento e florescimento. Pode ser realizada com plásticos e barbante de artesanato, entre outros, onde ela
implementos ou manualmente, com enxadas. será posteriormente conduzida ou amarrada.

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 79


O processo de tutoramento tem como vantagens:

• evitar o contato direto dos frutos e vagens com o solo;


• evitar incidências de doenças;
• proporcionar maior aeração e insolação por
entre as plantas;
• facilitar a identificação do ponto de maturação
fisiológica;
• favorecer a colheita;
• evitar o acamamento de plantas e
• evitar o quebramento de plantas.

O Quadro 20 demonstra quais os tipos de tutores mais


indicados para algumas espécies de hortaliças. CV-Fotos 5a - Desbrota da berinjela CV-Fotos 5b - Desbrota da berinjela

Desbrota Os brotos do tomate podem ser


retirados com as mãos - CV-foto 4 -,
Atenção!não
anta

A desbrota consiste na eliminação dos brotos e brota- se tiverem comprimento de até 10 cm. O ponteiro da pl ado
deve se r el im in
Quando de tamanho superior, melhor
ções que surgem nas axilas de cada folha, reduzindo o en te no ato da
utilizar ferramentas apropriadas. acidentalm
mateiro.
número de ramos das plantas e, consequentemente, dimi- desbrota do to
nuindo a competição por nutrientes nos frutos. Esta ope- No caso da berinjela - CV- Fotos 5a,
ração facilita também a aeração, a insolação e o controle 5b e 5c -, jiló e pimentão - CV- Fotos
fitossanitário. Na produção de sementes, é realizada prin- 5d, 5e, e 5f (vide p.82) -, os brotos e
folhas que surgirem abaixo da primeira
cipalmente nas espécies da família solanáceas, entretanto, bifurcação (forquilha) são retirados.
nas variedades de tomate de crescimento determinado,
esta prática não é utilizada. É realizada quando os brotos
CV-Foto 4
ainda estão pequenos, manualmente ou com auxílio de Desbrota de to
mate
ferramenta apropriada e desinfetada.

Atenção!
Os brotos e folhas descartados
devem ser eliminados da área de produção,
prevenindo a incidência de doenças e pragas.
CV-Fotos 5c - Desbrota da berinjela

80 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Quadro 20 Tipos de Tutoramento Conforme a Cultura e a Fase Ideal de Tutoramento

Quando Vertical Vertical Espaldadeira Espaldadeira Meia


Cultura V Invertido
tutorar com bambu com fitilho entelaçada simples estaca

Capítulo V - MANEJO E TRATOS CULTURAIS


Alface Pendoamento - - - x x x [CV-Foto 9]
Berinjela Início do florescimento - - - - x x
Cebola Pendoamento - - - x [CV-Foto 7] x -
Cenoura Pendoamento - - - x x -
Ervilha-Torta Início do tombamento x x x - - -
Feijão-vagem Início do tombamento x x x - - -
Pimentão Início do florescimento - - - - x x
Pimenta Início do florescimento - - - - x x
Salsa Pendoamento - - - x x -
Tomate Início do tombamento x x [CV-Foto 6] x - x [CV-Foto 8] -

Atenção!
Na condução a meia
estaca devem-se
amarrar as plantas no
tutor com barbante
em oito (8).

CV-Foto 6 (acima) : Vertical com bambu


CV-Foto 7 (acima à direita): Espaldadeira entrelaçada
CV-Foto 8 (abaixo central): Espaldadeira simples
CV-Foto 9 (abaixo à direita): Meia estaca

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 81


Foto 5d - Desbrota do pimentão Foto 5e - Desbrota do pimentão CV-Foto 5f - Desbrota do pimentão

Eliminação de frutos utilizada nos cultivos de brássicas e asteráceas para produ-


ção de sementes.
Na alface, da fase de pendoamento em diante são rea-

É aconselhável retirar das plantas frutos malformados,


doentes e atacados por insetos.
No pimentão, quando conduzido em estufa, deve ser
lizadas em torno de quatro operações.

realizada a poda da primeira flor/fruto. Quando conduzi- Penteamento das cucurbitáceas


do no campo, não é necessária tal prática.
O penteamento é a condução das ramas das cucurbitá-
ceas no sentido do vento predominante. Esta técnica
tem a finalidade de favorecer os tratos culturais (capina,
Limpeza das saias (Toalete) pulverizações e colheita), uma vez que espécies desta fa-
mília apresentam gavilhas e folhas em abundância que

É a retirada das folhas basais (baixeiras) das plantas


quando estas ficam amareladas e velhas, sendo uma
forma de prevenção a focos de doenças. É realizada du-
cobrem toda a área cultivada, ficando pouco espaço para
trânsito e manejo.
A operação pode ser realizada até três vezes antes do
rante todo o ciclo da cultura e intensifica-se à medida que florescimento, evitando o desprendimento das raízes da
ocorre o pendoamento e florescimento. A técnica é muito planta no solo após esta fase.

82 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Capação (castração)

É a eliminação do ponteiro da planta, com a função de

Capítulo V - MANEJO E TRATOS CULTURAIS


limitar o crescimento em algumas variedades de toma-
tes de hábito de crescimento indeterminado e no brócolis
ramoso - Fotos 5.10[1] e 5.10[2]. Em tomates de variedades
de crescimento determinado não é realizada esta técnica.
Retira-se o broto central do brócolis ramoso quando
atingir 8 cm de comprimento, favorecendo a formação
de brotos laterais, aumentando assim o florescimento e a
produção de sementes em aproximadamente 30%.
Foto 10 - Corte em "X" no repolho

Indução ao florescimento

O repolho e a alface americana apresentam uma so-


breposição intensa das folhas, o que causa uma
compactação na formação da cabeça, tornando-se mui-
tas vezes um impedimento para a emissão das hastes
florais e ensejando a utilização de manejos ou técnicas
que rompam essa barreira.

Repolho
Faz-se no repolho o corte com uma faca afiada e esteri- Foto 11- Indução ao florescimento pós-corte
lizada em forma de “X” na parte superior da cabeça, a uma
profundidade de 5 cm - CV- Fotos 10 e 11.

Alface americana
Na alface americana a técnica consiste na abertura das
folhas manualmente, não deixando formar cabeça. Esse
procedimento deve ser realizado no mínimo 4 vezes du-
rante o ciclo da cultura. Outra forma é, durante a forma-
ção da cabeça, realizar um corte com uma faca afiada e
esterilizada em forma de “X” na parte superior da cabeça
a uma profundidade de 5 cm, com sucessivas aberturas
manuais - CV-Foto 12. Foto 12 - Corte em "X" na alface americana

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 83


Roguing siste em caminhar por entre as ruas do campo de semen-
tes, observando as características das plantas, e eliminar

O roguing é a eliminação das plantas que se apresentam aquelas que estão fora dos padrões - CV-Foto 14.
diferentes do padrão da variedade (atípicas), doentes,
Capítulo V - MANEJO E TRATOS CULTURAIS

atacadas por insetos ou com florescimento precoce. De- Polinização


vem permanecer no campo somente os melhores indiví-

É
duos para a produção de sementes. a transferência de grãos de pólen de uma flor para o
tubo polínico da mesma flor ou de outra flor. O trans-
Para realizar o roguing, é necessário conhecer porte do pólen é feito pela ação de insetos, animais, água
as características das variedades, como: e vento. Para que haja formação das sementes e frutos,
• porte da variedade; é necessário que os grãos de pólen fecundem os óvulos
• arquitetura (formato) da planta; existentes no aparelho reprodutor feminino da flor. Uma
• forma e coloração das folhas e frutos; técnica importante na produção de sementes olerícolas
é a introdução de colmeias na periferia dos campos se-
• ciclo da variedade. menteiros. São utilizadas de 3 a 4 caixas de abelhas por
hectare, colocadas no local, na fase florescimento. Em al-
Devem ser eliminados os primeiros 5% das plantas gumas espécies como a cebola, abóboras e melancia, essa
que florescerem, principalmente as alógamas. O pro- técnica pode aumentar até 33% a produção de sementes.
cedimento pode ser realizado durante todo o ciclo da Contudo, após o manejo e tratos culturais ocorrem as etapas
planta, sendo mais usual nas fases de pré-florescimento de colheita, beneficiamento e armazenamento das sementes
- CV-Foto 13, florescimento e formação de frutos. Con- olerícolas, os últimos processos da produção de sementes.

CV-Foto 13 - Alface da direita apresenta doença na fase de pré-florescimento CV-foto 14 – Planta removida no roguing por estar doente

84 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Capítulo VI

“Uma semente, um broto, uma planta. Surge a flor. Bela e radiante.


Em seu interior repousa o potencial criativo.”
Trigueirinho

87
Capítulo V

Colheita e beneficiamento
de sementes de hortaliças

A
colheita é o ato de coletar manualmente ou CVI-Figura 1 - Grau de maturidade fisiológica
da semente indicada para o momento da colheita
mecanicamente os frutos ou inflorescências
das hortaliças no campo, para a extração das
suas sementes sendo um instante crucial, com signi- Germinação
ficativa influência nas qualidades genéticas e fisioló- Peso seco
gicas das sementes. Vigor

Maturidade fisiológica
Máximo
UMIDADE
É o momento da retirada do campo dos materiais que
passaram pelo plantio, adubação e manejo; e constitui um

Menor potencial

Menor potencial
dos processos mais importantes da produção de sementes
de hortaliças. A gestão das operações que antecedem a
colheita, como a identificação do ponto de colheita de
cada espécie, a organização dos acessórios necessários
para a colheita e o ajuste de máquinas operacionais,
quando em escala maior, é fundamental para agilização Tempo
do processo, que deve ser feito com rapidez, entretanto, Maior potencial
sem afetar a qualidade das sementes. de armazenamento

Deve-se realizar a colheita em época mais próxima O momento de identificação da maturação fisio-
da maturação fisiológica da semente, quando ela lógica de espécies de frutos secos diferencia-se do das
apresenta seu maior potencial de germinação e vigor, espécies de frutos carnosos, sendo nestas últimas mais
mas, como inconveniente, uma grande quantidade de fácil de identificar.
água em seu interior. As sementes de frutos carnosos encontram-se dentro
A maturação fisiológica é o ponto em que a se- de um fruto recobertas pela polpa, muitas vezes aderida a
mente se encontra com maior conteúdo de reserva - elas. Exemplos: abóboras, melão, melancia, pepino, tomate,
CV-Figura 1 -, garantindo assim os processos vitais de berinjela, pimentão e jiló. Nesse caso, os frutos é que de-
sobrevivência. Após a maturação, ocorre um decréscimo mostrarão o momento que as sementes que estão no seu
normal dessas características. interior terão maturidade fisiológica.

88 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Já as sementes de frutos secos se encontram den- meio do florescimento ou da ANTESE (momento da

Capítulo VI - COLHEITA E BENEFICIAMENTO DE SEMENTES


tro de um fruto que não apresenta polpa aderida a elas. abertura das flores).
Exemplos: repolho, brócolis, couve-flor, cebola, cenoura,
alfaces e quiabo.
Colheitas precoces ou tardias de hortaliças preju- Colheita dos frutos do campo
dicam a qualidade das sementes e favorecem maiores A colheita pode ser manual ou mecanizada; esta úl-
perdas nos campos de sementes, o que exige senso de tima opção, realizada por máquinas e equipamentos es-
observação, praticidade e agilidade no processo da co- pecializados para tal fim, é mais utilizada em campos de
lheita independente da categoria das sementes. sementes de grandes áreas.
Os frutos são retirados do campo nas horas mais fres-
cas do dia e, se possível, em dias secos; neste momento
Colheita de sementes de frutos carnosos ocorre a seleção daqueles que estão visualmente saudáveis,
descartando-se os fora do padrão e oriundos de cruza-

N
mentos com outras variedades, danificados, malformados,
os frutos carnosos, o ponto de identificação da ma-
deteriorados e atacados por microrganismos.
turação fisiológica das sementes é facilitado porque
a avaliação é realizada pela observação de sinais visuais A colheita geralmente é realizada em uma única etapa,
e físicos, como troca da coloração externa dos frutos (de colhendo-se todos os frutos, dependendo da espécie. En-
verde para amarelo, vermelha, arroxeada ou outra cor ca- tretanto, o tomate necessita ser colhido de forma parcela-
racterística da variedade) e cicatrizes que neles aparecem. da, devido à maturação desuniforme dos frutos, observan-
Além disso, o tempo de florescimento destas espécies é do-se sempre os sinais do ponto de maturidade fisiológica
mais uniforme. das sementes no fruto.
Quando as sementes terminam seu es-
tádio de maturação dentro do fruto, pode
ser que ocorra viviparidade, que nada mais
é que a germinação da semente dentro do Atenção!
fruto. Portanto, esta é uma razão para que O local onde os frutos ficarão em repouso deve ser protegido,
não se atrase a colheita dos frutos. arejado, sombreado e ter temperaturas amenas.
O ideal é que os frutos que apresentarem a casca mais dura
Em algumas espécies de frutos carno- fiquem empilhados organizadamente, e os frutos de espécies
sos, as sementes em seu interior podem com a casca mais mole fiquem espalhados
atingir maturidade fisiológica mesmo antes sem o peso de uns sobre os outros.
da completa maturação dos frutos; em ou- Em ambos os casos, não devem ser amontoados.
tras, somente após a maturação dos frutos. O período de repouso é importante para que a umidade da semente
atinja valores menores, próximos do ideal, e também
O Quadro 21, (p. 90), destaca duas for- para que certas substâncias sejam assimiladas pela semente,
mas de identificação do ponto de matu- melhorando suas qualidades fisiológicas.
ração fisiológica das sementes em frutos Além disso, propicia às que não atingiram seu amadurecimento
carnosos: a análise visual da aparência dos completo que terminem a maturação ainda dentro do fruto.
frutos de acordo com cada espécie, e por

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 89


Os frutos são retirados das plantas manualmente O Quadro 22 indica o tempo de repouso em dias se-
como no caso do tomate, pimentão, pimenta, berinjela e pepi- gundo a espécie de fruto carnoso.
no, ou ainda com o auxílio de facas afiadas para culturas como Após o repouso e antes da extração das sementes, é im-
abóboras, melancia e melão. Durante o transporte do local da portante eliminar frutos danificados, deteriorados e ataca-
colheita até onde serão colocados os frutos para repouso, é ne- dos por doenças e insetos nocivos.
cessário ter cautela: eles devem ser acondicionados com cui-
dado para não ocorrerem batimentos, injúrias ou seu esma-
Retirada das sementes de frutos carnosos
gamento e, desta forma, a casca se mantenha sem ferimentos,
evitando-se que se torne porta de entrada de doenças. Consiste na retirada das sementes do interior do fru-
to. O processo pode ser manual ou mecânico.

Repouso dos frutos Extração mecânica
Após a colheita dos frutos do campo de sementes, estes A extração mecânica é realizada por máquinas es-
devem permanecer um período em repouso antes da reti- pecíficas; propicia a retirada das sementes de forma mais
rada das sementes do seu interior - CVI-Foto 10. rápida e com menor custo; no entanto, tem o inconvenien-
O período de repouso é importante para que a umidade te de causar mais danos mecânicos e de impossibilitar o
da semente atinja valores menores próximos do ideal e aproveitamento da polpa. É importante uma boa regula-
também para que certas substâncias sejam assimiladas gem e adequação dos equipamentos para minimizar pre-
pela semente, melhorando sua qualidade fisiológica. juízos à qualidade fisiológica das sementes. Este método é
Além disso, propicia que sementes que não atingiram o empregado para áreas com grande volume de frutos.
amadurecimento completo terminem sua maturação den- As máquinas utilizadas são estacionárias ou de
tro do fruto e que o esmagamento deste e a extração das tração, basicamente compostas por: a] uma moega com
sementes sejam facilitados devido à sua perda de água. alimentador, b] um sistema esmagador e c] uma peneira
rotativa perfurada adequadamente de acordo com a espé-
cie, de modo que através dos furos passem as sementes e
d) o extrator de eliminação de excesso de líquido.
Os frutos são colocados dentro da máquina extra-
tora e esmagados, podendo ser acrescentada água. Em se-
guida, as sementes são separadas na peneira rotativa e o lí-
quido é eliminado juntamente com a mucilagem, restando
apenas as sementes para serem recolhidas.
A mucilagem é uma goma que fica aderida às se-
mentes em algumas espécies - como a abóbora, moranga,
abobrinha Itália, melancia, melão, pepino, tomate, pimen-
tão e pimentas -, recobrindo-as, sendo importantíssima
sua remoção, pois este material quando aderido à semente
pode ser meio de cultura para microrganismos patogêni-
CVI-Foto 10 - Período de repouso dos frutos cos que podem afetar a germinação das sementes.

90 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS
Período de repouso
polpa do fruto. Para a retirada das sementes destas
Quadro 22 de frutos carnosos

Capítulo VI - COLHEITA E BENEFICIAMENTO DE SEMENTES


duas espécies, deve-se bater sobre o fruto com uma
em dias
madeira roliça facilitando que as sementes se soltem
ESPÉCIE Número de dias de repouso no seu interior. Em seguida, abrem-se os frutos com
uma faca e retiram-se as sementes com água corrente,
ABÓBORA E MORANGA 21
ou ainda com uma colher.
ABÓBORA ITALIANA 7
Podem-se ainda descascar os frutos e inseri-los
BERINJELA 14 em uma máquina de moer carne ou descascar, cortar e
MELÃO 7 colocar num liquidificador com água e bater a uma ve-
MELANCIA 20
locidade baixa. Nas espécies de pimenta, devem-se uti-
lizar luvas no manuseio para extração das sementes.
PEPINO 7
Neste método, é necessária a remoção da muci-
PIMENTA 7 lagem também, que pode ser realizada pela fermenta-
PIMENTÃO 7 ção das sementes, pelo uso de produtos alternativos ou
TOMATE 7
por meio mecânico.
A fermentação é indicada para tomate, melão e
pepino, em virtude da grande quantidade de mucilagem
que se encontra aderida às sementes. Para a fermenta-
No caso do tomate, a retirada da mucilagem di-
ção utilizam-se recipientes plásticos, vidros e louças
minui a disseminação da doença do cancro bacteriano
- CVI-Foto 11, (p. 92) -, evitando-se recipientes que
pela semente.
oxidem, como alumínio e ferro. As sementes são colo-
cadas com o suco do fruto nos recipientes para passar
pela fermentação entre 24 e 36 horas, em temperaturas
Extração manual de aproximadamente 22 °C. Deve-se realizar o revolvi-
Na retirada das sementes manualmente, o pro- mento das sementes e do suco duas vezes ao dia.
cesso é mais lento, de menor rendimento e de mais Na fase final da fermentação, aparecerá uma
alto custo; entretanto, as sementes apresentam me- levedura branca sobre as sementes fermentadas -
lhor qualidade devido aos poucos danos mecânicos, CVI-Foto 12, (p. 92). Após esse processo, elas são lava-
podendo-se também aproveitar a polpa. Consiste no das em água corrente e levadas para secagem.
corte, com auxílio de faca, ao longo do eixo princi- A utilização de produtos alternativos é indicada
pal dos frutos, seguido pela extração das sementes. para a retirada da mucilagem das sementes de abó-
Geralmente, nesta extração parte da polpa continua bora, abobrinha, moranga, mogango, berinjela, jiló e
aderida à semente. pimentão, por serem espécies que apresentam pouca
Podem-se utilizar equipamentos caseiros como mucilagem aderida à semente. Os produtos alterna-
moedores de carne para a extração de sementes de tivos utilizados podem ser o calcário, cal, farinha de
pimentas e pimentão, por exemplo. A extração das mandioca, entre outros; o ideal é que o produto pro-
sementes de berinjelas e jilós é um pouco mais com- porcione um processo abrasivo, facilitando a retirada
plicada, pois a semente encontra-se muito aderida à da mucilagem pelo atrito.

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 91


Quadro 23 Ponto de identificação da maturação fisiológica de frutos secos

Capítulo VI - COLHEITA E BENEFICIAMENTO DE SEMENTES


Ponto de identificação
Cultura da maturação fisiológica
Registro fotográfico Legenda foto Ponto prático de colheita a partir da abertura
ou Espécie
da flor
Ponto de identificação da maturação fisiológica de frutos secos
Ponto de identificação
Cultura da maturação fisiológica
50% das sementes que estiverem Registro fotográfico Legenda foto Ponto prático de colheita a partir da abertura
maduras na inflorescência, ou Espécie
CVI-Foto 15 15 a 20 dias da flor
Alface que é quando ocorre a seca
Secas dos papos de alface após o florescimento
dos “papos” brancos.

A colheita deve ser realizada


50 dias
CVI-Foto 19 quando as sementes obtiverem
Ervilha Sementes secas 13% a 14% de umidade com
após o florescimento
• Síliquas com a coloração parda
máquina e 30% manual.
ou amarelada;
• Sementes ao serem apertadas
pelo polegar e indicador
CVI-Foto 16 não se separam em duas metades;
Brássicas Síliquas amareladas
-
• Sementes devem apresentar
a coloração marrom-escura.

Deve ser colhido com


CVI-Foto 20
Feijão- 90% das folhas
20% de umidade, que coincide 40 a 50 dias
-vagem amareladas com o amarelecimento das plantas após o florescimento
e início da secagem das folhas.

As sementes tornam-se pretas


CVI-Foto 17 e apresentam-se expostas em 30% 45 a 60 dias
Cebola 30% das sementes
das inflorescências. após o florescimento
à mostra

Devem-se colher os frutos quando


CVI-Foto 21 se encontrarem amarelados. 38 a 58
Quiabo Fruto com coloração
Deixa-se secar as sementes dentro após abertura da flor
amarela
dos frutos ao sol.

Umbela encontra-se na coloração


CVI-Foto 18 50 dias
Cenoura Umbela marrom-escura
marrom-escura, antes de sua
após o florescimento
secagem completa.

96 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 97
Cortam-se os frutos, retirando-se as sementes, co- CVI-Foto 11 -
Sementes de tomate
locando-as sobre uma mesa ou outra superfície plana. Pol- colhidas num
vilha-se o produto escolhido sobre as sementes e, para que prato de louça

a mucilagem seja eliminada, esfregam-se essas por entre


as mãos continuamente - CVI-Foto 13.
Na extração da mucilagem por meio mecânico,
utiliza-se uma máquina extratora de sementes dos fru-
tos, possibilitando separação e lavagem das sementes ao
mesmo tempo.
Após a extração, as sementes já estão aptas a
serem limpas.

Limpeza das sementes de frutos carnosos


CVI-Foto 12 -
O processo de lavagem das sementes deve ocorrer o Sementes de tomate -
mais rápido possível após sua extração e retirada da mu- final da fermentação
cilagem, sendo realizado pela passagem de água corrente
continuamente sobre elas. Após a lavagem, colocam-se as
sementes em baldes com água, por dois ou três minutos,
descartando as sementes que boiarem - CVI-Foto 14. As
sementes boiam devido à não formação do embrião no
seu interior.

CVI-foto 13 - Utilização de calcário para retirada de mucilagem CVI-Foto 14 - Descarte de sementes inviáveis

94 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


sa), vagens (ervilha, feijão vagem, quiabo) e síliquas (brássi-
Atenção!

Capítulo VI - COLHEITA E BENEFICIAMENTO DE SEMENTES


cas), a presença de sementes à mostra nas inflorescências
No caso do pimentão, as sementes que ficarem (cebola, cebolinha e alho-poró), seca dos papos (penugem
em suspensão na água apresentam germinação, branca da alface) e coloração das sementes (brássicas).
não sendo válida a regra para essa espécie. O Quadro 23 apresenta o ponto de identificação da
maturação fisiológica das sementes de fruto seco por
métodos visuais e o número de dias a partir da antese
Após a limpeza, as sementes de frutos carnosos vão (abertura da flor).
para a secagem. Esse processo será tratado mais a frente Após a identificação da maturidade fisiológica das se-
abordando tanto os métodos de secagem para sementes de mentes, as plantas estão prontas para serem retiradas do
frutos carnosos como para os secos. campo sementeiro, por colheita mecanizada ou manual.

Colheita de sementes de frutos secos Colheita mecanizada


É mais indicada para áreas grandes, com bom estande

A colheita das sementes de frutos secos pode ocorrer


manualmente, em áreas pequenas ou mecanizadas,
ou com auxílio de uma colheitadeira, quando em campos
de plantas, sem grande infestação de plantas espontâ-
neas. É um método ágil e rápido, mas necessita de uma
boa regulagem das máquinas, e as plantas precisam estar
de sementes maiores. bem secas. O excesso de água na semente na maturação
A colheita deste grupo de plantas deve ser realizada fisiológica é um empecilho prático para a colheita meca-
levando em conta o teor de água na semente, as condições nizada das sementes de frutos secos, devendo as plantas
climáticas e o método de colheita. permanecer no campo até que atinjam grau de umidade
As condições climáticas no momento da colheita de- que permita realizar a colheita.
vem ser de baixa umidade e temperatura amena. Caso a A máquina realiza o corte das plantas, tritura-as, faz
umidade esteja excessiva e por longo período após o pon- uma primeira separação bruta das sementes, eliminando
to de colheita, poderá ocorrer a germinação das sementes o excesso de resíduos, e armazena-as em seu tanque gra-
na própria inflorescência. neleiro. Posteriormente as sementes são descarregadas em
Nas espécies de frutos secos há maior dificuldade de uma carreta agrícola graneleira para, em seguida, ser leva-
identificação do ponto de maturação fisiológica das semen- das para o local de limpeza.
tes, já que não ficam evidentes sinais nos frutos. Isto se deve Neste sistema, ocorrem maiores danos mecânicos e
ao período de abertura das flores de plantas de frutos secos perdas de sementes por debulha natural, em virtude de as
que é relativamente longo, ocorrendo sucessivas florações, plantas e sementes apresentarem-se bem secas para que
em diversas inflorescências; consequentemente, um pro- não emperrem o sistema motriz da máquina. Em caso de
longado período de maturação do fruto e das sementes em chuvas próximas à colheita, pode ocorrer a germinação
uma única planta, que pode levar mais de 30 dias. com as sementes ainda na inflorescência, muito comum
A partir de alguns diagnósticos visuais podem ser obser- em cebola e cenoura. Outro fator negativo é que plantas
vados sinais de maturação fisiológica das sementes, tais como doentes ou sementes infectadas são colhidas junto com
a mudança da coloração das umbelas (cenoura, coentro e sal- sementes de boa qualidade.

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 95


Quadro 21 Ponto de identificação da maturação fisiológica de frutos carnosos

Capítulo VI - COLHEITA E BENEFICIAMENTO DE SEMENTES


Ponto de identificação
Ponto prático de observação da maturação fisiológica Ponto de identificação da maturação fisiológica de frutos carnosos
Espécie Registro fotográfico Legenda foto da maturação fisiológica a partir da abertura
da flor Ponto de identificação
Ponto prático de observação da maturação fisiológica
Espécie Registro fotográfico Legenda foto da maturação fisiológica a partir da abertura
da flor
Quando os frutos perdem o brilho
CVI-Foto 1 42 dias
Abóbora Maturação fisiológica
passando para um aspecto opaco
após a abertura da flor
e moranga da abóbora
e já com a coloração característica
da variedade.
CVI-Foto 6 57 dias
Frutos passam da coloração roxa
Berinjela Maturação fisiológica
sem brilho para amarela.
após a abertura da flor
da berinjela

CVI-Foto 2 50 dias
Abóbora Maturação fisiológica
Casca amarelada sem brilho
após a abertura da flor
italiana da abobrinha e com grande aumento do fruto.

CVI-Foto 7 Frutos apresentam um risco 55 a 60 dias


Pimentão Maturação fisiológica vermelho, amarelo ou laranja, após a abertura da flor
do pimentão dependendo da variedade

CVI-Foto 3
Frutos maduros amarelados 42 dias
Melão Maturação fisiológica
com a casca rendilhada. após abertura da flor
do melão

CVI-Foto 8 Frutos apresentam um risco


Maturação fisiológica vermelho, amarelo ou laranja,
50 a 55 dias
• Frutos apresentam-se com Pimenta das sementes dependendo da variedade
após a abertura da flor
1 2 3 4 encontram-se no sentido longitudinal
a barriga amarela. na pimenta 2
CVI-Foto 4 da coloração verde.
• Seca das gavinhas. 42 dias
Melancia Maturação fisiológica
• Som oco e profundo com após abertura da flor
da melancia
o bater do nó do dedo.
• Aparecem cicatrizes no fruto.

CVI-Foto 9 Frutos já passaram da coloração


45 dias
• Frutos passam do verde
Tomate Maturação fisiológica verde e estão no início
após a abertura da flor
do tomate do avermelhamento.
para o amarelo palha.
CVI-Foto 5 • Cortando-se os frutos 30 dias
Pepino Maturação fisiológica
longitudinalmente, observamos após a abertura da flor
do pepino
se as sementes separam-se
facilmente da placenta do fruto.

92 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 93
Colheita manual
A colheita manual é mais indicada para pequenas áreas
e deve ser realizada de preferência nas primeiras horas da
manhã, ainda com orvalho, para que não ocorra a queda
das sementes - CVI-Foto 22.
Em algumas espécies, como a cebola e a cenoura, são
necessárias três a quatro colheitas, que podem perdurar
por aproximadamente trinta dias para totalizar o final da
retirada das sementes do campo.
As plantas são cortadas a aproximadamente 5 cm
do solo, com auxílio de faca ou facão bem afiados,
sendo manuseadas cuidadosamente para reduzir as
perdas ao mínimo.
Após a retirada das plantas do campo, estas devem ser
empilhadas com as inflorescências no mesmo sentido, so-
bre lonas - CVI-Foto 23 e CVI-Foto 24 -, ou sob telados ou
coberturas de proteção - CVI-Foto 25 e CVI-Foto 26 -, ou
ainda em locais protegidos até sua secagem.

CVI-Foto 22 - Colheita manual CVI-Foto 23 - Secagem em lona,


inflorescência no mesmo sentido

98 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Capítulo VI - COLHEITA E BENEFICIAMENTO DE SEMENTES
CVI-Foto 24 - Secagem das sementes de cenoura em lona

CVI-Foto 25 - Secagem em local protegido, CVI-Foto 26 - Secagem de sementes penduradas sob cobertura de proteção
inflorescência no mesmo sentido

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 99


Limpeza das sementes de frutos secos

A extração das sementes de frutos secos das inflores-


cências não demanda tantos cuidados como no caso
dos frutos carnosos. As maneiras utilizadas para a retirada
das sementes das inflorescências maduras são: através de
trilhadeiras, no processo semimecanizado; manualmente,
ou com uso de máquinas específicas para beneficiamento
de sementes.

Limpeza semimecanizada
É realizada com o uso inicial de trilhadeiras e poste-
riormente com equipamentos manuais.
As sementes são separadas da palha com uso de má-
quinas próprias para este fim. A principal máquina utiliza- CVI-foto 27 - Abanação ao vento
da é a trilhadeira estacionária, que deve estar bem regula-
da, a uma velocidade entre 450 e 550 rpm. Neste processo, No caso de não haver vento, podem-se usar ventilado-
trilham-se vagens (feijão-vagem e ervilha), espigas (milho res controlando sua velocidade de acordo com as impure-
doce), síliquas (repolho, couve-flor, couve e brócolis, en- zas e tamanho das sementes.
tre outras) e umbelas (cebola, salsa, cenoura e coentro). O É possível utilizar também pequenos equipamentos
cuidado especial nesta etapa é com relação à ocorrência de caseiros, como sopradores construídos com cano de PVC,
danos ou perda das sementes. secador de cabelo e balde, que limpam as sementes das
impurezas principalmente de brássicas, ervilhas, feijão-
-vagem e coentro. E para a retirada das aristas (pequeno
Atenção! pelo que fica nas sementes) se faz necessário utilizar uma
máquina de descascar pimenta-do-reino, que acaba elimi-
Pode haver danos ou perda das sementes
com o uso de trilhadeiras.
nando-as sem afetar a semente.
Recomenda-se colocar lonas plásticas
em torno da máquina durante a operação, Limpeza manual
com a finalidade de coletar as sementes que caírem,
diminuindo-se as perdas. A separação das sementes da palha e restos vegetais é
realizada por meio da debulha com as mãos -
CVI-Foto 28 -, golpes nas plantas sobre lonas -CVI-Foto
A seguir, é feita a limpeza ao vento (aventação ou aba- 29A, CVI-Foto 29B e CVI-Foto 29C -, ou sacos previamen-
nação - CVI-Foto 27) em peneiras com numeração milime- te fechados com bambus, cambão ou pisoteio.
trada adequada; geralmente usam-se peneiras de fubá, arroz, Posteriormente, ocorre a limpeza ao vento (aventa-
feijão e café, para que ocorra a separação pela ação do vento e ção ou abanação) da mesma forma que é realizada com
pela diferença de tamanho das impurezas das sementes. uso de trilhadeiras.

100 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Limpeza com máquinas em Unidades panham costumam ser baseadas em diferenças físicas

Capítulo VI - COLHEITA E BENEFICIAMENTO DE SEMENTES


de Beneficiamento de Sementes (UBS) (tamanho, peso, forma, cor).
Todo beneficiamento de sementes obedece a uma
O beneficiamento em uma UBS é subdividido em ordem e, para padronizar os lotes de sementes, são uti-
pré-limpeza, limpeza e classificação das sementes. Se- lizadas máquina de pré-limpeza, máquina de ar e pe-
gundo Nascimento (2005), as separações que se efetu- neira, mesa dessimétrica (mesa de gravidade), espiral,
am entre a boa semente e as impurezas que a acom- soprador pneumático (lotes pequenos de sementes),

CVI-Foto 28 - Extração de semente de quiabo por meio de debulha

CVI-Foto 29A - Extração de semente de alface CVI-Foto 29B - Extração de semente de alface CVI-foto 29C - Extração de semente de brócolis
por batida por batida por batida

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 101


desaristador de sementes de cenoura, secadores elétricos,
máquinas de embalar, entre outras. Atenção!
A ordem de operações em uma UBS é primeiramen- Após a colheita e a pré-limpeza, deve ser feita a secagem
te a pré-limpeza, seguida da secagem, limpeza e clas- das sementes o mais rápido possível.
sificação das sementes. A função da pré-limpeza é pa-
dronizar o material que realmente será tomado como
semente. Isso quer dizer que, para a homogeneização de Secagem das sementes
lotes de sementes, deve ser feita uma criteriosa seleção

A
dentro do próprio lote, com uma padronização quanto s sementes das hortaliças são sementes ortodoxas e
ao tamanho, peso e forma, além da retirada de todo o podem ser secas a baixas umidades, tolerando inclu-
material inerte e outras sementes que não sejam as se- sive o ponto de congelamento. A secagem pode ser reali-
mentes de hortaliças. zada de duas maneiras, ao natural (por meio do sol) ou
Após a pré-limpeza, ocorre a secagem das sementes, artificialmente (por meio de secadores).
quando necessária, pois, muitas vezes, as sementes de Durante o processo de secagem, o excesso de água
hortaliças já vêm do campo com umidade baixa. Um do exterior e do interior das sementes é retirado pelo
cuidado, para quem opera a secagem, é ter em mente sol e vento, ou ainda por equipamentos com ambiente
que, quanto maior o teor de água de uma massa de se- controlado.
mentes, menor deve ser a temperatura inicial de seca- As sementes, após a colheita, geralmente apresentam
gem, podendo ser aumentada conforme ocorra a perda um teor de água incompatível com o manuseio e armaze-
de água da massa. namento seguro, necessitando, portanto, de secagem. Em
O próximo passo será a limpeza final; nesta etapa, regiões com climas mais secos, com baixa umidade relati-
procura-se homogeneizar as sementes por tamanho e va do ar e ausência de chuvas próximas à colheita, a neces-
observar as características de largura, espessura e peso, sidade de secagem é mínima, uma vez que as sementes são
que é a classificação das sementes. colhidas praticamente secas. As sementes das hortaliças
podem ser secas de maneira natural ou artificial.

Secagem das sementes ao natural


Atenção! A secagem ao natural das sementes de hortaliças é
A semente da cenoura tem pelos aderidos à sua superfície, realizada ao sol – neste tipo de secagem, evitam-se os
chamados “aristas”, nos quais se concentram as doenças
de folhas, como a alternaria, cercóspora, e a queima das
horários de mais calor (11h às 14h), em regiões muito
folhas por bactérias. Para a retirada dessas aristas, é quentes. Contudo, em dias com a incidência de ventos,
utilizado um desaristador de sementes. pode-se realizar a secagem ao sol durante o dia todo, pois
Quando em pequenas quantidades, pode-se utilizar
essa técnica não causa danos às sementes. Entretanto, é
a máquina de descascar pimenta-do-reino, onde se necessário o seu revolvimento várias vezes ao dia, já que
colocam as umbelas e as sementes; a máquina é acionada elas podem chegar à temperatura de 40 °C. À noite, as
manualmente e atua eliminando as aristas. sementes devem ser guardadas ou cobertas com lonas,
para que não absorvam água do sereno.

102 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Capítulo VI - COLHEITA E BENEFICIAMENTO DE SEMENTES
CVI-Foto 30 - Secagem de sementes de cenoura em lona branca CVI-Foto 31- Secagem de sementes de melancia em pano

A secagem direta ao sol não causa danos às sementes. Esta forma de peneira é erguida a uma altura de 0,5 m
Já a secagem à sombra pode ser altamente prejudicial, a 1 m, possibilitando que o ar passe por cima e por
pois as sementes demoram mais tempo para secarem e baixo das sementes.
podem deteriorar-se. É preferível secar sementes de frutos secos em lona
O método de secagem natural apresenta algumas plástica, e frutos carnosos, em panos. As lonas de colora-
vantagens, como maior agilidade, baixo custo e possibili- ção branca - CVI-Foto 30 -, azul ou amarela são mais
dade de manuseio de maiores volumes de sementes. Elas propícias, devendo-se evitar lonas de coloração preta, pois
devem ser secas em sacos de panos ou algodão, que per- esta absorve mais calor, podendo queimar as sementes.
mitam a troca gasosa, principalmente quando se tratar Na secagem com lona plástica, também pode ocorrer
de sementes úmidas; ou em lonas, quando se tratar de a condensação de água na semente, razão por que é neces-
sementes secas. Devem ser dispostas em finas camadas, sário constante revolvimento. Quando panos forem utili-
com constantes revolvimentos, em especial as pequenas zados, pode-se fazer uma armação quadrada com madeira
(cebola, alface, cenoura). e pregar nela um pano ou saco de ráfia - CVI-Foto 31.
Podem ser utilizadas superfícies cimentadas, telados A altura da estrutura deve ficar a 1 m do solo para que
plásticos, lonas ou panos. circule ar por baixo e por cima das sementes.
A secagem é realizada em leiras, formando-se cama- Para identificar se as sementes estão secas, alguns
das onduladas de 10 cm (semelhante ao processo de seca- métodos práticos são úteis como: a] se ao dobrar as se-
gem do café), que devem ser revolvidas a cada 30 minutos, mentes de cucurbitáceas entre os dedos elas quebrarem
principalmente as sementes que passaram pelo processo facilmente, estão “secas” e b] em sementes mais duras,
de lavagem, como as de frutos carnosos. finca-se a unha na superfície e, não permanecendo a
A secagem em telados plásticos acelera a secagem marca, é também sinal de que já estão secas.
natural, que é mais lenta. Utilizam-se telados entrela- Outro método de observação do teor de umidade
çados de plásticos ou arames formando uma peneira, é o seguinte: em um vidro colocam-se oito partes de
onde as sementes são espalhadas em forma ondulada. sal e uma parte de sementes e misturam-se os dois.

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 103


Tampa-se o vidro e espera-se 15 minutos; após, vira- pecífico de cada espécie e, posteriormente, realizam-se
Capítulo VI - COLHEITA E BENEFICIAMENTO DE SEMENTES

-se o vidro ao contrário. Caso o sal e as sementes caiam os testes de germinação e pureza, procurando verificar
no fundo do vidro, as sementes estão secas, mas se, ao as porcentagens - padrão de cada cultura.
contrário, o sal permanecer aderido às paredes late- Cuidados especiais devem ser tomados, como
rais do vidro, elas ainda estão úmidas, necessitando averiguar o teor de umidade da semente e a tempe-
de mais tempo de secagem. ratura do ar de secagem, não devendo esta última ul-
trapassar os 42 °C, para que não aqueça em excesso
as sementes, inviabilizando-as.
Secagem artificial das sementes A secagem artificial de sementes de espécies de fru-
A secagem artificial é geralmente realizada em uma to seco ocorre logo após a trilha e a pré-limpeza delas,
unidade de beneficiamento de semente (UBS), que é uma cuidando-se para que a temperatura de secagem não
estrutura apropriada para finalizar o processo de produ- exceda 42 °C. A secagem de sementes de espécies de
ção de sementes. É a exposição das sementes em um seca- frutos carnosos deve ser feita logo após a extração, fer-
dor elétrico que proporciona um ambiente artificial com mentação (dependendo da espécie) e lavagem. As semen-
fluxo de ar aquecido ou não. tes, ao saírem do processo de lavagem, estão com umidade
São realizados testes de teor de umidade da semen- acima de 45%. Deve-se iniciar a secagem a 32 °C. À me-
te, para verificar se será necessária a secagem artificial dida que se perceba a perda da umidade superficial das
nos lotes de sementes que chegam na UBS. Se houver de sementes, pode-se aumentar gradualmente a tempera-
4,5% a 9% de umidade, dependendo da espécie, não é tura de secagem, até atingir o limite máximo de 42 °C
necessário. Se tiver acima, deve-se baixar até o teor es- (Nascimento, 2005).

104 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Capítulo VII

“O amor puro e desinteressado pela evolução em geral abre as portas


para o serviço entre o reino humano e os reinos infra-humanos.”
Trigueirinho

107
Capítulo VII

Armazenagem das sementes

O
armazenamento é o processo realizado para pro-
porcionar condições adequadas de temperatura
e umidade às sementes, visando manter sua ger-
minação, vigor e sanidade, para que permaneçam viáveis UMIDADE
para plantio durante o maior tempo possível. RELATIVA
O processo de deterioração de uma semente é ir- DO AR
TEMPERATURA
reversível; não se consegue transformar uma semente
de baixa qualidade em uma semente de alta qualidade, a 45% deve estar no máximo
mesmo sob condições excepcionais, durante o proces- a 10 oC = 55,5
samento e o armazenamento. Portanto, os locais onde
elas serão embaladas e armazenadas devem passar por a 40% deve estar no máximo
um planejamento quanto à localização e às instalações a 15 oC = 55,5
a serem utilizadas. As instalações devem ter o mínimo
de umidade possível, assim como uma temperatura não a 35% deve estar no máximo
extrema. O ideal é que a soma das condições de umidade a 20 oC = 55,5
relativa e temperatura seja igual a 55,5 - CVII-Figura 1 -,
ou seja, uma umidade relativa do ar de 50% e uma CVII- Figura 1 - Teores de umidade x temperatura
temperatura de 5 ºC.
À medida que um teor sobe, o outro deve baixar. A No Quadro 24, observam-se os teores ideais de umi-
umidade relativa do ar e a temperatura são medidas por um dade segundo cada espécie de hortaliça.
aparelho denominado termo-higrômetro - CVII-Foto 1. Resultados de pesquisa com armazenamento indicam
Para um armazenamento seguro, a maior parte das que o tempo em que as sementes podem ser conservadas
hortaliças exige que suas sementes estejam com teor de sem um declínio significativo na germinação dobra para
umidade próximo de 5% a 7%. Sementes de ervilha e fei- cada ponto percentual (1%) reduzido no teor de umidade
jão-vagem ou de quiabo devem ser armazenadas com teor da semente e, também, para cada 5,5 ºC reduzidos na tem-
de umidade mais elevado, em torno de 9%. peratura do ambiente (Cardoso e Silva Filho, 2005).

108 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Teores ideais para armazenagem
Quadro 24 de sementes de hortaliças
Espécie Teor de umidade (%) Espécie Teor de umidade (%)

Capítulo VI I - ARMAZENAGEM DAS SEMENTES


Abóbora 5,5 – 6,0 Espinafre 7,5 – 8,0

Abobrinha 5,5 – 6,0 Feijão-vagem 6,5 – 7,0

Acelga 7,0 – 7,5 Jiló 5,5 – 6,0

Agrião 5,0 – 6,0 Melancia 6,0 – 6,5

Aipo 6,0 – 7,0 Melão 5,5 – 6,0

Alface 4,0 – 4,5 Milho-doce 7,0 – 8,0

Alho-poró 6,0 – 6,5 Moranga 5,5 – 6,0

Almeirão 4,0 – 5,5 Mostarda 4,5 – 5,0

Berinjela 5,5 – 6,0 Nabo 4,5 – 5,0

Brócolis 4,5 – 5,0 Pepino 6,0 – 7,0

Beterraba 7,5 – 8,0 Pimenta 4,6- 6,0

Cebola 5,0 – 6,5 Pimentão 4,5 – 6,0

Cebolinha 5,0 – 6,5 Quiabo 8,5 – 9,0

Cenoura 6,0 – 7,0 Rabanete 4,5 – 5,0

Chicória 4,0 – 5,5 Repolho 4,0 – 5,0


CVII- Foto 1 - Termo-higrômetro
Coentro 6,0 – 7,5 Rúcula 4,0 – 5,0

Couves 4,0 – 5,5 Salsa 6,0 – 6,5

Ervilha 7,0 – 8,0 Tomate 5,5 – 6,0

Fonte: Laboratório de sementes do CNPH

O início do processo de germinação de uma semente anteriormente, sobretudo do grau de umidade. A outra
ocorre pela temperatura e umidade favoráveis. Portanto, forma é em ambiente controlado em câmara fria, que é
se o local for úmido e com temperatura elevada, cria-se utilizado pelas empresas sementeiras.
um ambiente desfavorável para a conservação das semen- Como já mencionado, os vilões para a conserva-
tes – devem-se buscar locais secos e de baixa temperatura ção das sementes são o excesso de umidade e a tem-
para a sua melhor conservação. Essas condições podem peratura elevada: quanto mais seco o local onde as se-
ocorrer de duas maneiras. A primeira é em locais com cli- mentes se encontram, maiores serão a longevidade e a
ma adequado e favorável, possuindo a vantagem de terem vida útil destas. Isso depende muito da embalagem em
baixo custo, mas com a desvantagem de a vida da semen- que serão acondicionadas, pois, em embalagens que
te depender muito das condições que lhe foram impostas permitam contato delas com o meio externo, repleto

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 109


de umidade, e que realizem trocas gasosas com o ar Embalagens para sementes comerciais
atmosférico, ocorre o decréscimo da germinação e

A
da vida útil.
s empresas de sementes utilizam diversos tipos de
A vida de uma semente, portanto, está sujeita às ca-
embalagens, dependo de qual semente será embalada
racterísticas da embalagem e do armazenamento. É ne-
assim como seu grau de longevidade. Atualmente são uti-
cessário que a semente mantenha sua qualidade duran-
lizados três tipos de embalagens: as porosas, as que permi-
te um certo período para que ocorra, posteriormente,
tem a passagem de uma pequena quantidade de vapor de
sua germinação. Nos procedimentos de embalagem e
água e as resistentes à entrada de vapor de água.
armazenagem, as sementes só podem ter suas qualida-
As embalagens porosas permitem trocas de va-
des afetadas negativamente caso sejam malfeitos, pois
por d’água entre as sementes e o ar atmosférico; por
elas nunca ganharão qualidades a mais que aquelas ad-
exemplo: sacos de tela de algodão, de juta e de papel.
quiridas nos processos do pré-beneficiamento até a eta-
As embalagens resistentes à penetração do vapor d’água
pa final, de armazenagem.
permitem a passagem de limitadas quantidades de va-
por d’água; por exemplo: sacos de papel multifoliado,
Embalagens para armazenar polietileno e poliéster. E as embalagens à prova da pe-
netração de vapor d’água são recipientes laminados de
sementes nas propriedades alumínio e papel, laminados de alumínio e plásticos, la-
tas e papel celofane.

Q uando for o caso de os agricultores armazenarem se-


mentes em suas propriedades, podem ser utilizados
diversos tipos de embalagens, como garrafas plásticas, Longevidade das sementes
bombona plástica e vidros, entre outros. Observe-se que
os plásticos fazem troca gasosa com o meio e podem ab-
sorver mais umidade - CVII-Fotos 2A, 2B e 2C.
No Quadro 25, encontram-se alguns exemplos de em-
A s sementes apresentam um tempo de duração que
está ligado a fatores genéticos de cada espécie.
Sua qualidade inicial e as condições do ambiente de
balagens para armazenar sementes de hortaliças. armazenamento influenciam negativamente a longe-

CVII-Foto 2A - Armazenamento CVII-Foto 2B - Armazenamento CVII-Foto 2C - Armazenamento


em embalagem de PVC em embalagem de vidro em embalagem a vácuo

110 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Umidade das sementes de várias hortaliças em
Quadro 25 diferentes tipos de embalagens acondicionadas
e armazenadas por 30 dias em condições de ambiente.
Umidade [ % ]

Capítulo VI I - ARMAZENAGEM DAS SEMENTES


Espécie
Inicial Vidro PVC PET Lata Alumínio Plástico Pano Papel
Abóbora 4,6 5,1 5,3 5,6 5,5 5,8 6,5 8,6 8,6
Alface 3,9 2,8 2,6 3,3 3,7 3,8 4,4 6,0 6,3
Beterraba 5,4 5,3 5,4 5,5 6,6 5,7 7,8 9,5 9,3
Cebola 5,2 5,6 5,6 7,7 6,4 6,4 7,0 9,5 9,6
Cenoura 5,7 5,3 5,5 5,9 6,3 6,1 6,9 8,7 8,9
Ervilha 7,6 8,1 8,2 8,4 8,6 9,4 9,0 11,9 12,2
Milho-doce 6,8 7,8 7,7 7,8 8,1 8,5 9,2 11,2 11,1
Quiabo 7,0 8,5 8,5 8,5 9,8 8,8 9,2 11,3 11,5
Repolho 4,3 7,1 7,5 8,1 7,2 8,0 8,3 13,2 11,0
Tomate 4,1 5,3 6,8 4,5 5,4 5,9 6,7 8,4 9,4

Fonte: Nascimento Freitas e Croda (2008; dados não publicados)

vidade quando em Tratamento de sementes de hortaliças


condições adver-

A
sas. Os locais mais
s sementes de hortaliças podem ser atacadas
apropriados para
tanto por doenças como por insetos e pragas.
conservar semen-
Alguns cuidados devem ser tomados com relação a
tes são câmara fria,
possíveis infestações.
geladeira - CVII-
-Foto 3 -, ou cons-
truções adaptadas Controle de insetos que atacam sementes
com desumidifica- Os principais ataques de insetos nas sementes ocor-
dor, ar-condicionado rem na fase de armazenamento e são causados por be-
e termo-higrôme- sourinho, caruncho, gorgulho e traças.
tro para controle de
umidade e tem- Todos eles causam danos consideráveis às se-
CVII- Foto 3 - Armazenagem em geladeira
peratura. Quando mentes, comprometendo sua vida, longevidade e o
não for possível armazenar nessas condições, as semen- estande de plantas após o plantio. Os níveis de da-
tes devem ser armazenadas em local fresco, seco e com nos podem ser primários (principais) e secundários
pouca luminosidade. (de menor intensidade).
No Quadro 26, (p. 110), pode-se observar a longevidade No Quadro 27, (p. 111), é possível observar os princi-
em anos de determinadas espécies. pais danos causados por pragas de armazenamento.

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 111


Métodos de controle de insetos Longevidade em anos
e pragas de sementes armazenadas Quadro 26 relativa a determinadas
espécies de hortaliças
As principais medidas de controle de pragas de ar-
mazenamento devem ser feitas através do uso de pro- ESPÉCIE Longevidade [ anos ]
dutos alternativos e de baixa toxicidade. Alguns óleos ABÓBORA 10
de plantas têm sido utilizados com boas respostas no ALFACE 20
controle desses insetos. BERINJELA 20
Os eucaliptos citriodora, globolus e staigeriana apre-
BETERRABA 30
sentam em suas folhas a substância citronelol, que pos-
sui ação repelente contra carunchos e gorgulhos. A citro- CEBOLA 22
nela tem essa mesma substância. As folhas dos eucaliptos CENOURA 31
podem ser usadas colocando-as ainda verdes dentro de ERVILHA 31
recipientes onde ficarão as sementes. Uso indicado para
MELÃO 30
sementes de ervilha e de feijão-vagem.
PEPINO 30
As sementes de neem são indicadas para controle
do caruncho pintado; elas devem ser trituradas até vi- PIMENTA 28

rarem um pó, que posteriormente será pulverizado sobre REPOLHO 19


as sementes. As folhas de alfavaca também são ótimas TOMATE 33
para controle de insetos que atacam sementes. Elas de-
vem ser secas e depois trituradas até formarem pó, o qual Adaptada de Harrington (1972)
por Nascimento Freitas e Croda (2008)
deve ser pulverizado sobre as sementes. Para o controle
do gorgulho, o óleo de folha de canela é ótimo; recomen-
da-se o uso de 5 ml por quilo de sementes. O óleo de
Além da persistência nas sementes, as doenças apre-
folha de louro pode ser usado na proporção de 2,5 ml
sentam danos aos cultivos subsequentes, que podem
para cada quilo de sementes ou 5%, quando utilizado
chegar, em algumas espécies, a 100% de incidência.
o pó da folha (50 g de folha de louro em pó para cada
No Quadro 29, (p. 113), encontram-se as doenças que são
quilo de sementes).
transmitidas por sementes e seu nível de dano.
Alguns tratamentos sanitários alternativos podem
Controle de doenças transmitidas
ser utilizados para prevenção de doenças (Brito, 2012),
por sementes sendo que extratos de alho, fumo e pimenta atuam con-
As sementes são importantes veículos de transmis- trolando uma porcentagem grande de doenças; entre
são e disseminação de muitas doenças, que se instalam elas podemos destacar: a mancha de Cladosporium, o
sobre as sementes e depois se dispersam no campo de tombamento, a mancha de alternaria, o mofo de Curvu-
produção, realizando ataques generalizados. laria e o mofo preto.
Essas doenças são altamente persistentes, afetando Pode-se também realizar tratamento à base de água quen-
as sementes por um longo período conforme se vê te por um tempo (termoterapia) para o controle de doenças
do Quadro 28 , (p. 112). transmitidas pelas sementes conforme o Quadro 30, (p. 114).

112 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Quadro 27 Principais danos causados por pragas de armazenamento

Capítulo VI I - ARMAZENAGEM DAS SEMENTES


Espécie Dano primário Dano secundário Ação
• Ataca as sementes quebradas, partidas
Besourinho - X
ou rachadas.

• Penetra profundamente nas sementes


e faz a postura no seu interior;
• Diminui o peso das sementes;
Caruncho X -
• Porta de entrada para doenças;
• Reduz a qualidade física e fisiológica
das sementes.

• Penetra profundamente nas sementes


e faz a postura no seu interior;
• Diminui o peso das sementes;
Gorgulho X -
• Porta de entrada para doenças;
• Reduz a qualidade física e fisiológica
das sementes.

• Na sua fase larval, penetra nas sementes


e alimenta-se delas;
Traça indiana X X • Destrói as sementes;
• Ataca as sementes quebradas, partidas
ou rachadas.
• Na sua fase larval, penetra nas sementes
Traça dos cereais X - dos cereais e alimenta-se delas;
• Destrói as sementes.

Traça - X • Faz uma teia sobre a massa de sementes.

Teste de germinação de sementes Como realizar o teste


de germinação de sementes:

A pós todos os trabalhos realizados de plantio, manejo,


colheita, beneficiamento, tratamento e armazenagem
das sementes, é necessário, antes do plantio da próxima
a] reserve 100 sementes do local de armazenagem
(garrafas, vidros etc.);
b] reserve 4 folhas de papel-toalha de aproximada-
safra, observar a germinação das sementes que ficaram
mente 25 cm;
muitas vezes um ano armazenadas.
Se em boas condições, as sementes vão manter um c] coloque as folhas umas sobre as outras deixando
bom percentual de germinação. Caso contrário, a germi- abaixo sempre em torno de 5 cm uma da outra,
nação decairá drasticamente em algumas espécies, como o que irá fazer que os papéis-toalhas juntos te-
cebola, alho-poró, coentro, quiabo e outras. nham em torno de 45 cm;

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 113


Tempo de sobrevivência de alguns patógenos
Quadro 28 em sementes olerícolas armazenadas

Longevidade
Patógeno Nome comum da doença Hospedeiro máxima do
patógeno [anos]

Alternaria brassicicola Queima das folhas Brássicas 8

Ascochyta pisi Mancha de Ascochyca Ervilha 7

Cercospora beticola Queima das folhas Beterraba 2

Colletotrichum dematium Antracnose ou olho de rã Pimentão 8


Curtobacterium flaccunfaciens Murcha-de-curtobacterium Feijão 15
pv. flacunnfaciens
Pseudomonas savastanoi pv. phaseolicola Crestamento bacteriano aureolado Feijão 15

Pseudomonas syringae pv. lachrymans Mancha angular Pepino 2

Pseudomonas syringae pv. tomato Pinta bacteriana Tomate 20

Phoma betae Mancha de phoma Beterraba 13

Sclerotinia sclerotiorum Podridão de esclerotinia Diversos 7

Septoria apiicola Septoriose Aipo 3

Xanthomonas axonopodis pv. phaseoli Crestamento bacteriano Feijão 15

Xanthomonas vesicatoria Mancha bacteriana Pimentão 10

Fonte: Adaptados pelos autores de Pereira et al. (2015) e Machado e Souza (2009)

d] umedeça os papéis-toalhas com água sem g] repita esse processo até atingir 10 partes de se-
encharcá-los; mentes enroladas, sendo que o formato será de
e] coloque as sementes em fileiras de 10 unida- um rocambole no final;
des, uma ao lado da outra, na parte de cima das h] amarre o rocambole de sementes com um
folhas umedecidas de papel-toalha, e enrole a elástico de amarrar dinheiro e o coloque den-
primeira parte; tro de um plástico, deixando a uma tempera-
f] faça novamente a mesma coisa na parte abai- tura entre 20 °C a 25 °C por um período de
-xo do papel-toalha enrolado, formando uma 7 a 10 dias, tomando o cuidado de umedecer
segunda parte; algumas vezes o papel-toalha.

114 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Nível de danos causados pelas principais
Quadro 29 doenças transmitidas por sementes
de hortaliças no Brasil

Capítulo VI I - ARMAZENAGEM DAS SEMENTES


Nível de dano*
Hortaliça Doença Organismo [%]

Alface Vírus do mosaico da alface Bactéria 100

Beterraba Queima das folhas por Cercospora Fungo 45

Cenoura Queima das folhas da cenoura Fungo e bactéria 100

Coentro Queima das folhas da cenoura Fungo e bactéria 100

Feijão-vagem Antracnose ou olho de rã Fungo 100

Melancia Mancha aquosa do melão Bactéria 100

Melancia Podridão amarga Bactéria 60

Pepino Mancha angular Bactéria 100

Pimentão Antracnose ou olho de rã Fungo 50

Salsão Septoriose Fungo 70

Tomate Cancro bacteriano Bactéria 60

Tomate e pimenta Mancha bacteriana Vírus 300

Tomate Murcha de fusarium Fungo 100

Tomate Pinta bacteriana Bactéria 25

[*] Dano máximo


Fonte: Adaptado pelos autores de Zambolim, Lopes e Reis (2011) e Lopes et al. (2005)

i] posteriormente a esse período, retire as semen- h2] Caso 75 das 100 sementes germinarem, a taxa de
tes do papel-toalha e conte as que germinaram. germinação será de 75%, então será necessário
h1] caso 50 das 100 sementes germinarem, a taxa de aumentar um pouco a quantidade de sementes a
germinação será de 50%, então, será necessário serem usadas no plantio.
duplicar a quantidade de sementes a serem usa- Exemplo: utilizar em torno de 5 sementes de er-
das no plantio. vilha por berço em vez de 3.
Exemplo: utilizar 6 sementes de ervilha por ber-
ço em vez de 3.

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 115


Capítulo VI I - ARMAZENAGEM DAS SEMENTES

Principais doenças transmitidas pelas


Quadro 30 sementes e o método da solarização

Culturas Patógenos Tipos Temperatura Tempo

Abóbora Fusarium solani Água quente 55 °C 15 min.

Alternaria brassicae Água quente 50 °C 18-20 min.

Brássicas Alternaria brassicicola Água quente 50 °C 18-20 min.

Xanthomonas campestris pv. campestris Água quente 50 °C 30 min.

Alternaria radicina Água quente 50 - 52 °C 20 min.


Cenoura
Xanthomonas hortorum pv. carotae Água quente 50 - 52 °C 10-20 min.

Pimentão Xanthomonas campestris pv. vesicatoria Água quente 52 °C 30 min.

Repolho Xanthomonas campestris pv. campestris Água quente 50 °C 30 min.

Colletotrichum sp. Água quente 50 °C 20 min.

Alternaria sp. Água quente 50 °C 20 min.

Xanthomonas vesicatoria Água quente 50 °C 20 min.

Tomate Clavibacter michiganensis subsp. michiganensis Água quente 53 °C 60 min.

Pseudomonas syringae pv. tomato Água quente 52 °C 60 min.

Pectobacterium carotovorum Água quente 50 °C 21 min.

Cladosporium sp. Água quente 55 °C 30 min.

116 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Capítulo VIII

“Manter a pureza das espécies é mais do que um ato de sobrevivência.


É o reconhecimento da unidade dos puros padrões
entre todas as espécies de todos os reinos.”
Trigueirinho

119
Capítulo VIII

Sistema agroecológico de produção


de sementes de hortaliças

A
agricultura, de um modo geral, deve ser trabalhada suas características, onde solos tropicais são trabalhados
de acordo com alguns aspectos sustentáveis relati- de forma idêntica as dos solos de clima temperado, com
vos à dinâmica ecológica dos territórios em que se exposição ao sol e à chuva e cultivados sem cobertura. O
insere. Para tanto, o manejo ecológico do solo por meio de mau manejo de solos está relacionado principalmente aos
práticas como adubação orgânica, adubação verde, cober- excessos de aração e gradagem que acabam pulverizando
tura morta (mulching), rotação de culturas e plantio em e compactando a camada agriculturável.
arranjos de consórcio são estratégias importantes para a O manejo de solos de uma determinada região deve
produção de sementes de hortaliças agroecológicas. Sis- ser o primórdio do planejamento na atividade de produ-
temas agrícolas eficientes que incluam tais práticas ten- ção de sementes, pois muitas vezes as limitações não estão
dem a minimizar impactos negativos causados por fatores relacionadas a fatores climáticos, e sim a impedimentos
bióticos e abióticos em campos sementeiros, entre eles a químicos, físicos e biológicos que acabam destruindo so-
presença de doenças e insetos nocivos, desequilíbrio nu- los com ótima capacidade produtiva.
tricional nas plantas e perda de água para o ambiente.

Algumas considerações
Manejo ecológico de solos sobre solos para hortaliças
As culturas de hortaliças para semente, assim como

E ntre os recursos naturais de nosso planeta, os solos


são de grande importância, sobretudo porque a maior
parte dos nossos alimentos, direta ou indiretamente, pro-
culturas comerciais, exigem pH na faixa de 6,0 a 6,5. Por-
tanto, solos com acidez, como os latossolos e alissolos,
necessitam de correções até atingir a faixa ideal de pH. Os
vém dos campos de cultivo e pastagens neles implantadas latossolos são os solos em maior abundância no Brasil.
(Lepsch, 2002). Sempre que não forem atendidas as condições de pH,
Os solos tropicais e subtropicais necessitam ser mane- convém realizar a correção de solos, que pode ser feita com
jados cuidadosamente e segundo suas aptidões, classe, to- corretivos, entre eles o calcário nas suas mais diferentes com-
pografia e também o clima do local. O manejo equivocado posições. A correção com calcário deve ser precedida de cui-
é causado na maioria dos casos pelo desconhecimento das dados, não devendo ocorrer aplicações com doses elevadas.

120 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Nas condições do Brasil — que possui na maior par- e a utilização de fontes de adubos nitrogenados em co-
te do seu território clima tropical e subtropical, ou seja, bertura provocam um desequilíbrio na planta tornando-

Capítulo VIII - SITEMA AGROECOLÓGICO DE SEMENTES


possui temperaturas em determinadas épocas do ano ex- -a suscetível a ataques de doenças e insetos (Chaboussou,
tremamente elevadas e com alta atividade biológica no 1969). Plantas mal nutridas formam proteólise, enquanto
interior do solo —, o manejo a ser utilizado é o de res- as bem nutridas formam proteossíntese. Quando a planta
friar o solo, através de práticas como a cobertura morta, consegue sintetizar e formar a proteína através do desdo-
cobertura viva, adubação verde, plantio direto e cultivo bramento dos aminoácidos, dificilmente será atacada por
mínimo. Também é necessário utilizar práticas com- doenças e insetos, pois se encontra bem nutrida. Mas, ao
plementares, como curvas de nível e faixas de retenção, contrário, quando ela não consegue formar a proteína e
plantio em nível, canais de infiltração, policultivos e agri- acaba deixando aminoácidos livres e açúcares de baixa
cultura de consórcios. qualidade em sua seiva, ocorre um desequilíbrio no seu
interior, favorecendo seu enfraquecimento e tornando-a
suscetível a ataques de doenças e insetos nocivos. A teoria
Nutrição das espécies hortícolas da trofobiose constitui elemento crucial para uma revisão
para sementes bibliográfica necessária sobre a produção de sementes.
Segundo Gliessman (2000), um agroecossistema é Na produção de sementes de hortaliças, o ciclo de vida
um local de produção agrícola que deve ser analisado das plantas é maior, quando comparado com a produção
como um todo, incluindo seus conjuntos complexos para consumo. Alguns cuidados devem ser tomados com
de insumos e produção e as interconexões entre as a adubação dos campos de sementes.
partes que o compõem. As hortaliças respondem muito bem à utilização de
Conforme Aita (2006), durante o processo bioquí- micronutrientes na sua nutrição, como no caso do boro
mico da fotossíntese, as plantas fixam CO2 atmosférico (B), que supre as necessidades das Asteráceas (alface, al-
ao mesmo tempo em que absorvem nutrientes do solo meirão e chicória) e das brássicas (brócolis, couve-flor,
para a síntese de compostos orgânicos. Assim, os resí- rúcula, rabanete, nabo, repolho e couve), as quais exigem
duos culturais que permanecem no solo, após as colhei- também molibdênio (Mo). Outros micronutrientes im-
tas das culturas comerciais, ou manejo da cobertura de portantes são o cobre (Cu), para a cenoura e o espinafre, e
solo, apresentam nos compostos orgânicos os nutrien- o ferro (Fe) e o manganês (Mg), para o pepino, beterraba
tes absorvidos, com destaque para o nitrogênio (N), o e tomateiro. Entretanto, deve-se buscar o equilíbrio entre
Fósforo (P), e o Enxofre (S). macro e micronutrientes totais, fazendo com que as plan-
Em cultivos agroecológicos, deve-se levar em conta a tas absorvam apenas a quantidade que lhes é necessária, e
teoria da trofobiose, segundo a qual plantas bem nutridas de acordo com as suas exigências.
têm mais resistência a doenças e a insetos considerados O zinco é muito importante e é responsável pela for-
nocivos. Por consequência, se as plantas estiverem com mação e maturação da semente. A deficiência de zinco ge-
uma nutrição equilibrada, ocorrerá maior produção e se- ralmente ocorre por causa de elevada adubação fosfatada
mentes com melhor qualidade. (acima de 150 kg de P2O5/ha) e em solos com elevado teor
A teoria da trofobiose pode explicar e servir de bali- de matéria orgânica (Barbosa; Dynia e Fageira, 1994).
zador para a compreensão do processo de nutrição das Os elementos minerais exercem diferentes funções nas
plantas. A utilização massiva de adubos à base de NPK, plantas, e a falta ou o excesso de um ou mais podem causar

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 121


Relação de alguns nutrientes na formação da semente
Quadro 31 e possíveis funções e causas de deficiências nas plantas

Nutriente Função e causa

Nitrogênio • Deficiência causa baixo conteúdo de proteína nas sementes.

• Responsável pelo pegamento das flores e enchimento de fruto


Potássio
• Deficiência ocasiona sementes e frutos enrugados.

Fósforo • Vital para formação de sementes.

• Indispensável para a germinação do grão de pólen e crescimento do tubo polínico;


Cálcio
• Deficiência causa sementes escuras e redução na produção de sementes.

• Desempenha função de polinização;


Boro • Favorece o pegamento da florada no florescimento;
• Atua no desenvolvimento das sementes.

Cobre • Influi na uniformidade da florada e da frutificação.

Manganês • Acelera a germinação das sementes.

Fonte: Adaptado pelo autor de Unifértil (2012); Potafhós (1996).

desequilíbrios que afetam as sementes. O equilíbrio nutri- Destaca-se que os diferentes pós de rochas e produtos
cional é importante, ressaltando-se que alguns nutrientes à base de silicato de potássio e fósforo podem apresentar
estão mais diretamente relacionados com o processo repro- diferentes solubilidades.
dutivo e a formação das sementes conforme o Quadro 31. O composto orgânico e biofertilizantes foliares produ-
zidos nas propriedades são duas opções de adubação que
Adubação orgânica proporcionam a ciclagem interna de nutrientes.
É possível utilizar várias fontes para adubação de cam- O composto orgânico atua nas propriedades químicas,
pos de sementes de hortaliças, destacando-se o uso de físicas e biológicas do solo. Conforme Moreira e Capeles-
composto orgânico, bokashis, húmus, pós de rocha silica- so (2006), o princípio básico da produção de compostos
tados à base de fósforo e potássio, termofosfatos, torta de orgânicos está na transformação dos restos orgânicos por
mamona, farinha de osso e outros. Para fertilizações folia- microrganismos. A forma de decomposição aeróbica é fa-
res, podem-se utilizar diversas formulações de biofertili- cilitada por agentes que utilizam oxigênio para a sua res-
zantes e outros produtos. O ideal é que se utilizem mate- piração – a decomposição anaeróbica é menos usada por
riais aptos a promover a ciclagem interna dos nutrientes, causa do desprendimento de gases e nutrientes como o ni-
ou seja, que possam ser gerados ou produzidos e reapro- trogênio e o enxofre. O produto final resultante de alguns
veitados nas propriedades. desses microrganismos é a matéria orgânica humificada.
Algumas fontes que podem ser utilizadas para aduba- Analisando dados de Burg e Mayer (1999), observa-se
ção orgânica encontram-se no Quadro 32. que um animal vacum de 500 kg de peso vivo é capaz de

122 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Fontes de adubos orgânicos que podem ser usados para adubação
Quadro 32 em campos sementeiros de hortaliças

Capítulo VIII - SITEMA AGROECOLÓGICO DE SEMENTES


NUTRIENTES [ % ]
FONTE
Nitrogênio Fósforo Potássio Cálcio Magnésio Enxofre
Composto 0,9 1,9 2,1 6 0,6 0,50

Húmus de minhoca 1,5 1,3 1,7 1,4 0,5 -

Torta de mamona 5,5 0,6 0,6 - - -

Bokashi nitrogenado (farelo de trigo + torta de 5,5 0,6 0,6 - - -


mamona + microrganismos eficientes)

Farinha de osso calcinada - 20 a 30 - 30 - 1

Termofosfato - 16 a 18 - - - -

Fosfato natural - 5 - - - -

Pó de rocha silicatado potássico - - 8 a 12 - - -

Sulfato de potássio - - 50-52 - - 17

Sulfato duplo de potássio e magnésio - - 22 - 11 22

Cinza de madeira - 3,7 7 32,5 7,2 4,4

gerar de 40 kg a 45 kg de esterco e urina por dia, totalizan- Como fonte de aplicação via folha, tem-se os bioferti-
do em torno de 13 t a 15 t por ano de esterco, que podem lizantes. Ao decompor-se a palavra biofertilizante, cons-
ser aproveitadas na forma de composto ou húmus. tata-se que “bio” é um prefixo grego que significa vida, e
As adubações de plantio com composto orgânico va- “fertilizante” pode remeter a fertilizar ou fertilidade. Ao
riam de 10 t a 30 t de composto por hectare, dependendo juntar os dois, se obtém como resultado a “fertilização
naturalmente da fertilidade do solo. Elas são parceladas por meio da vida”. Diz-se “fertilidade da vida” por cau-
em duas aplicações, uma no plantio e a outra próxima do sa da ação de fermentação promovida pelos microrga-
florescimento, podendo-se utilizar formas complementa- nismos depositados e formados no seu preparo. Esses
res, quando a análise de solo indicar alguma deficiência de microrganismos atuam formando fitormônios — subs-
um determinado elemento. tâncias químicas que atuam sobre a divisão, elongação
As adubações de cobertura podem ser realizadas com e diferenciação celular. Além de fitormônios, o produto
diferentes formulações orgânicas, lembrando sempre final é repleto de vitaminas e sais minerais (macro e mi-
que as hortaliças são exigentes em potássio em primeiro cronutrientes). Os biofertilizantes possuem, na sua cons-
lugar, seguido por nitrogênio, cálcio, magnésio e fósforo. tituição, álcoois e fenóis importantes para as plantas. Ge-
Os micronutrientes boro e zinco são muito importantes ralmente eles são aplicados nos campos de produção de
para estas plantas. sementes com certa periodicidade e de forma preventiva.

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 123


Análise de biofertilizantes realizada pela Estação da Fepagro
Quadro 33 (Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Sul),
Secretaria da Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul. São Gabriel – RS, 1999.

Macronutrientes Micronutrientes
N P K Ca Mg S B Zn Cu Mn Fe Mo Na C M.O. Umidade Carbono/Nitrogênio pH
--------------------%--------------------- ------------- Mg/l ------------- µg/l Mg/l ------------%------------ Relação C/N Valor
0,98 0,73 4,38 9 2,01 0,37 48,9 88,6 19,3 1216 807 nd nd 25,2 42,3 97,2 25,17 6,5

Observações: Os resultados estão expressos com base no peso seco; nd = Não determinado; µg/l = Microgramas por litro;
Mg = Megagrama [1 Mg = 1 tonelada ]; Mg/l = p.p.m. [Parte Por Milhão];
P2O5 = P x 2.29; K2O = K x 1.20 e M.O. = Matéria Orgânica.

Elementos químicos: P2O5 = Pentóxido de fósforo; K2O = Óxido de potássio; N = Nitrogênio; P = Fósforo; K= Potássio; Mg = Magnésio;
Ca = Cálcio; S = Enxofre; B = Bóro; Zn = Zinco; Cu = Cobre; Mn = Manganês; Fe = Ferro; Mo = Molibdênio; Na = Sódio e C = Carbono.

pH = Corresponde ao potencial hidrogeniônico de uma solução. Ele é determinado pela concentração de íons de hidrogênio [ H+ ]
e serve para medir o grau de acidez, neutralidade ou alcalinidade de determinada solução.

Em biofertilizantes caseiros, encontramos os elemen- rescimento (frutos secos) ou enchimento dos frutos
tos descritos a seguir no Quadro 33. (frutos carnosos).
As formas de aplicação e a periodicidade dos adubos As adubações orgânicas e o processo da adubação ver-
orgânicos mudam um pouco em relação a espécies de fru- de devem ser planejados conjuntamente, o que favorece
tos carnosos e secos. processos químicos, físicos e biológicos do solo.
Para as hortaliças de frutos carnosos, as recomenda-
ções de adubações se assemelham muito às recomenda- Adubação verde e cobertura de solo
ções para o cultivo comercial. Algumas práticas podem Uma forma de ciclagem de nutrientes e manutenção
aumentar o número de frutos e de sementes, como a in- da matéria orgânica para o solo diz respeito à utilização
trodução de colmeias em campos de cucurbitáceas, que da adubação verde antes da locação dos campos de pro-
proporciona aumento de cerca de 33% de produtividade. dução de sementes.
Assim, é necessário um incremento na adubação para me- Calegari et al. (1992) destaca que, para a produção
lhor formação e enchimento das sementes. agrícola ser autossustentável, é necessária uma reformu-
As espécies de hortaliças de frutos secos apresen- lação e/ou reorientação dos sistemas produtivos à luz das
tam ciclo mais longo, quando comparadas à produção características agroclimáticas predominantes em cada
de olerícolas para alimentação, sendo necessária uma realidade, visando à otimização dos ciclos biogeoquími-
atenção maior com adubações de cobertura. Geral- cos. A presença da matéria orgânica no solo, nos vários
mente são realizadas duas adubações de cobertura; a estágios de decomposição, a atividade e a natureza de mi-
primeira com aproximadamente 45 dias após a emer- crorganismos, associadas à ação de sistemas radiculares de
gência ou transplante, e a segunda na fase de pré-flo- plantas são altamente variáveis tendo em vista o enorme

124 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


número possível de fontes de matéria orgânica, a variação adubação verde tiver uma relação C/N baixa, irá ocorrer
de microrganismos e os tipos de sistemas radiculares. Tal a decomposição dos restos culturais muito rapidamente,

Capítulo VIII - SITEMA AGROECOLÓGICO DE SEMENTES


fato impõe à estrutura do solo grande dinamicidade para deixando o solo descoberto. Esta característica de rápida
os vários ambientes agrícolas e, para um mesmo ambiente, decomposição ocorre nas Fabáceas, diferentemente do
uma grande dinamicidade no tempo (Carter, 1988; Kay, que acontece com os resíduos deixados pelas Poaceae, que
1990, Perfect et al., 1990; Reinert et al., 1990; Angers, 1992). demoram mais tempo para se decompor. Portanto, o ideal
Para que ocorra a recuperação da matéria orgânica e é uma associação de Poaceae, Fabáceas e outras espécies
a regeneração dos solos, alguns fatores são determinan- como o girassol e o nabo forrageiro.
tes, como clima, tipo de solo, manejo e quantidade dos Aita (2006) considerava quatro vantagens principais
resíduos vegetais adicionados e topografia, entre outros. na utilização de consórcios na adubação verde e cobertura
A adubação verde é uma importante fonte de matéria or- de solos, que são:
gânica, sendo também responsável pela manutenção da
umidade no solo. • Maior rendimento de massa seca em relação ao cultivo
Algumas vantagens da prática da adubação verde são: isolado de cada espécie. (Osman & Osman,1982).
a recuperação da fertilidade do solo, que proporciona au- • Quando o consórcio for de Fabáceas e Poaceae, as pri-
mento do teor de matéria orgânica; a melhora na capa- meiras irão exaurir o solo em N estimulando a fixação
cidade de troca de cátions; a disponibilidade de macro e biológica N2 pelas leguminosas (Postage, 1982).
micro nutrientes; a formação e estabilização de agregados; • A água e os nutrientes do solo podem ser mais eficien-
a melhoria da infiltração de água e diminuição da perda temente utilizados devido à exploração de diferentes
d’água; a melhora na aeração do solo; a diminuição diu- volumes de solos por diferentes sistemas radiculares
turna da amplitude fazendo com que a adubação verde di- (Trenbath, 1974).
minua o impacto das variações de temperatura; e, no caso • A presença de Poaceae (gramíneas) no consórcio contri-
das Fabáceas, incorporação ao solo do nutriente nitrogê- bui para a manutenção de resíduos culturais sobre o solo
nio efetuada por meio da fixação biológica e controle de por mais tempo, em função da menor taxa de decompo-
determinados nematoides. sição de seus resíduos culturais (Da Ros,1983).
Dois pontos cruciais da adubação verde são a rápida
cobertura de solos e seu posterior resfriamento, fator tão As principais espécies de adubos verdes da família das
importante em solos tropicais. Outra função estratégica Poaceae são o milho, milheto, sorgo, aveia e o azevém. Já
da adubação verde é o fornecimento e incorporação de ni- as espécies da família das Fabaceae são, o tremoço, ervi-
trogênio ao solo – que permite a economia nesse nutriente lhaca, trevos, cornichão, crotalária, feijão de porco, fei-
– além da característica supressora de algumas espécies. jão guandu, feijão miúdo (feijão-caupi, feijão de corda),
Como exemplo de arranjo de adubação verde e cober- entre outras.
tura do solo, cita-se o uso de consórcios entre as famílias O ideal é que espécies de adubação verde fixadoras de
das Fabáceas e das Poaceae, que podem ser implantados nitrogênio como as Fabaceae sejam sempre consorciadas
tanto no inverno como verão, apenas plantando as es- com plantas que tenham lignina e celulose, como é o caso
pécies de acordo com a sua época. Os consórcios entre das espécies da família Poaceae, as quais são ricas neste
adubos verdes tendem a dar maior equilíbrio na relação material, sendo que suas raízes possuem até 80% de ligni-
C/N (carbono/nitrogênio), pois, se determinada planta de na. As ligninas é que dão origem aos húmus, pois os ácidos

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 125


Produção de matéria seca (MS) e acúmulo de C, N, P e K pelas
Quadro 34 principais plantas de cobertura de solo no outono/inverno
e em oito condições edafoclimáticas. AITA et al. (2000).

M.S. C N P K C/N
ESPÉCIE
Mg/ha -1
--------------------------------Kg/ha ------------------------------
-1
Relação
LEGUMINOSAS
Chícharo 3,77 1.583 107 12,8 114 14,8
Ervilhaca Comum 3,82 1,604 93 12,0 77 17,2
Tremoço Azul 4,74 1,991 112 13,0 148 17,8
Ervilha Forrageira 4,02 1,688 97 15,0 72 17,4
NÃO LEGUMINOSAS
Aveia Preta 4,98 2,092 61 11,3 86 34,3
Nabo Forrageiro 4,01 1,684 91 14,3 83 18,5
Gorga 4,27 1,793 62 -- -- 28,9
Pousio 1,25 525 25 5,9 48 21

Observações: Mg = Megagrama [ 1Mg = 1 tonelada ]; M.S. = Matéria seca; C = Carbono; N = Nitrogênio; P = Fósforo e K= Potássio.

poliurônicos são os produtos intermediários da decompo- do-se realizar um planejamento das culturas de adubação
sição, formando substâncias húmicas, favorecendo a for- verde e de sua adaptabilidade aos diversos locais onde
mação de cálcio e fósforo, proporcionando húmus de boa são produzidas sementes de hortaliças, pois algumas es-
qualidade (Primavesi, 1988). pécies utilizadas no Sul do Brasil não se adaptam no Su-
O fato de certas Fabaceae serem más hospedeiras de deste e no Nordeste, e vice-versa. Outro fator essencial é
nematoides formadores de galhas e serem de fácil pro- utilizar as espécies de acordo com a época de cultivo, ou
dução de sementes contribui para a difusão de seu uso seja, inverno e verão.
em sistemas agroecológicos de produção. A ação sobre
os nematoides pode ser caracterizada sob dois aspectos: Adubação verde de inverno
primeiro, pela ação direta na inadequada hospedagem de Nas regiões Sul e Sudeste, tem-se destacado a uti-
algumas espécies e, segundo, pelo maior equilíbrio micro- lização da aveia preta, consorciada com o nabo forragei-
biológico que as espécies utilizadas conferem ao solo por ro, tremoço ou ervilhaca para adubação verde de inverno,
ocasião da distribuição da fitomassa. visando, no verão, espécies de calor como cucurbitáceas,
Na escolha das espécies, é importante optar por aque- solanáceas e o quiabo. No inverno, o consórcio de aduba-
las que apresentarem alta produção de biomassa, deven- ção verde é colocado a campo e, na primavera, ocorre a in-

126 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Produção de matéria seca (MS) e acúmulo de C, N, P e K pelas
Quadro 35 principais leguminosas de verão. Resultados obtidos

Capítulo VIII - SITEMA AGROECOLÓGICO DE SEMENTES


em diferentes condições edafoclimáticas. AITA et al. (2000).

M.S. C N P K C/N
ESPÉCIE
Mg/ha 1
-------------------------------Kg/ha -------------------------------
-1
Relação
Crotalária-júncea 10.52 4,418 189 13,5 130,0 23,4
Feijão de Porco 5,13 2,155 144 12,0 157,3 15,0
Guandu anão 4,50 1,890 103 10,6 73,3 18,3
Crotalária-spectabilis 6,26 2,629 147 11,0 105,4 17,9
Mucuna-cinza 7,25 3,045 179 13,6 90,3 17,0
Mucuna-preta 7,06 2,965 161 13,8 102,7 18,4

Observações: Mg = Megagrama [ 1Mg = 1 tonelada ]; M.S. = Matéria seca; C = Carbono; N = Nitrogênio; P = Fósforo e K= Potássio.

corporação da massa à superfície do solo. Posteriormente, as sementes de adubação verde possuem um custo de
ocorre o preparo e adubação dos berços (as chamadas co- aquisição elevado.
vas), ou linhas, seguidas do plantio direto dos campos de As adubações verdes de verão, quando compa-
produção de sementes de espécies de verão. radas com as de inverno, possuem mais matéria seca e
A aveia preta também tem sido usada como co- mais capacidade de incorporar Nitrogênio, por serem
bertura nas culturas da cebola e da cenoura. O plantio da originárias de regiões tropicais, com solos altamente
aveia preta é realizado no mês de março em regiões mais intemperizados, apresentando maior quantidade de fi-
frias e, nos meses de maio e junho, trinta dias antes da lo- tomassa, mesmo em solos ácidos e de baixa fertilidade
cação dos campos de sementes, ocorre a incorporação da natural (AITA,2006).
massa da adubação verde de aveia preta. Na Quadro 35, podem-se observar resultados
Alguns estudos de Aita (2000) sobre resíduos dei- obtidos sobre a produção de massa seca e acumúlo de
xados pela adubação verde de inverno podem ser obser- C, N, P e K em diferentes condições edafoclimáticas.
vados no Quadro 34.
Outras plantas que podem ser utilizadas como
cobertura dizem respeito à cultura do sorgo e do gi-
rassol, principalmente para regiões do Nordeste do
Adubação verde de verão Brasil, isto por serem culturas de fotossíntese C4,
Deve-se levar em conta na adubação verde de com maior resistência à salinização e à seca (Prima-
verão o ecossistema local, procurando-se utilizar plan- vesi, 2002); ambos podem ser consorciados com fei-
tas de crescimento rápido para uma cobertura do solo jão miúdo, comumente chamado de feijão de corda
eficiente e também culturas que fechem o ciclo, pois nessa região.

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 127


Aporte de nitrogênio realizado
por espécie da família das fabaceae
Quadro 36 por meio da fixação biológica
do nitrogênio

PLANTA Kg de N2

ERVILHACA LISA 90

GUANDU 90

TREMOÇO 128

ERVILHA 148

MUCUNA PRETA 157

CROTALÁRIA-JÚNCEA 159

FEIJÃO DE PORCO 190

TREVO BRANCO 268

LEUCENA 600

Fonte: Monegat, (1991).

Fixação Biológica A relação de ajuda mútua que ocorre entre as bac-


Depois da fotossíntese, a fixação biológica do Nitro- térias do gênero Rhizobium e Bradyrhizobium com
gênio (FBN), que consiste na redução do N2 atmosférico plantas da família das Fabáceas é denominada de sim-
em duas moléculas de amônia, constitui o segundo proces- biose, permitindo uma economia na aquisição de insu-
so biológico mais importante da Terra (Silwa et al., 1998). mos nitrogenados. De fato, o que ocorre são trocas en-
Segundo Feldens (1989), a descoberta do fe- tre ambas, pelas quais as plantas fornecem fotossintatos
nômeno da simbiose ocorreu em 1888, quando se e açúcares para as bactérias e, em contrapartida, essas,
constataram os processos microbiológicos de fixação através da enzima nitrogenase, convertem N2 em NH3
simbiótica do Nitrogênio. Como resultado da relação nos nódulos formados nas raízes das plantas, levando o
mutualística entre leguminosas e bactérias do gênero N fixado até a parte aérea das plantas.
Rhizobium, o nitrogênio da atmosfera é disponibiliza- No Quadro 36, apresenta-se a quantidade de ni-
do para todos os membros bióticos do sistema (Glies- trogênio disponibilizado por meio da fixação biológica
sman 2000). Segundo a FAO (1985), o ar possui 80% por diferentes espécies da família das Fabaceae.
de Nitrogênio correspondendo a cerca de 6.400 kg de A prática no uso de sistema de rotação de cultu-
nitrogênio livres na atmosfera à espera de uma sim- ras empregando Fabaceae traz, além dos benefícios cita-
biose (Moreira et al, 2006). dos, incremento na produtividade e economia de adu-

128 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


bo nitrogenado na cultura que a sucede, no esquema de As espécies precisam ter um sistema radicular que funcione
sucessão ou de rotação. como um subsolador. Quem desempenha muito bem essa

Capítulo VIII - SITEMA AGROECOLÓGICO DE SEMENTES


função são as gramíneas, como a aveia preta e o centeio. O
Rotação de culturas nabo forrageiro e algumas Fabaceae, como o feijão guandu,
também atuam descompactando o solo.
A rotação de culturas é uma prática tão importante Num sistema de rotação de culturas, é necessário tam-
para a agricultura que, no Império Romano, era técnica bém planejar a fixação biológica do nitrogênio.
obrigatória. No Império Teuto, sob o domínio do impera-
dor Carlos Magno, o agricultor que não usasse no mínimo A rotação de culturas age preventivamente no que
três culturas era severamente punido. Segundo Feldens diz respeito a ataques de doenças, insetos e infestações de
(1989), trata-se de uma prática pela qual se alternam, em plantas não desejadas, pois cada espécie possui seus pró-
uma mesma gleba, diferentes culturas, obedecendo a uma prios insetos, doenças e plantas infestantes, cujos ciclos
sequência racionalmente planejada. são quebrados à medida que ocorre a troca de famílias e
A rotação de culturas é um sistema no qual espécies espécies de lugar, de forma ordenada e planejada.
diferentes são cultivadas em sucessões repetidas, numa se- Na produção de sementes de hortaliças, deve-se utili-
quência definida, na mesma área (Page, 1972). A rotação de zar a prática de rotação de culturas associada à adubação
culturas não é um “trocar culturas” de maneira arbitrária, verde e ao cultivo mínimo. O ideal é que cada unidade de
mas deve ser um restabelecimento do equilíbrio biológico, produção tenha a campo de três a quatro culturas para
debilitado ou destruído pela monocultura (Primavesi, 1988). sementes; se possível, que as culturas sejam de famílias di-
Na rotação de culturas, os principais fatores a se- ferentes por safra (inverno e verão), ou planejar que a pro-
rem observados são: dução de sementes seja rotacionada com outras culturas
de uso na propriedade.
A rotação cultural na produção de sementes pode inte-
• Promover a manutenção equilibrada da fertilidade
ragir também com cultivos de grãos, como milho, girassol,
do solo e uma eficiente exploração agrícola.
sorgo e soja, no verão, e trigo, aveia, centeio e pastagens da
• Sempre incluir uma Fabaceae no sistema para
estação (inverno e verão). Por meio de um planejamen-
aporte de nitrogênio.
to antecipado, é possível desenhar diversos arranjos entre
• Incluir espécies agrícolas com diferentes sistemas espécies e famílias. O ideal, na produção de sementes de
radiculares.
hortaliças, é deixar de três a quatro cultivos de uma gle-
• Evitar plantio de espécies agrícolas com semelhante ba de terra sem o plantio de uma mesma hortaliça, ou de
suscetibilidade a pragas e doenças. membros da mesma família.
• Alternar culturas suscetíveis às invasoras com
George (1989) define, ainda, a rotação de culturas como
culturas supressoras.
uma necessidade na produção de sementes para minimizar a
persistência de material vegetal ou de sementes em estado le-
Conforme Reiert e Reicher (2006), no manejo da rotação tárgico procedentes de cultivos anteriores, que possivelmente
de culturas, deve-se dar importância a culturas que tenham cruzem ou produzam mesclas com cultivos planificados. Este
grande abundância de raízes e possam atenuar fatores físi- fator é evidenciado nas culturas que apresentam uma gran-
cos decorrentes de um manejo não adequado, o qual pode de população de plantas e que possuem sementes deiscentes,
causar impedimentos físicos, como a compactação do solo. como alface, cebola, cenoura, coentro e brássicas em geral.
Consórcios em campos O uso de consórcios apresenta algumas vantagens como:
de sementes de hortaliças
• menor incidência de ataques de insetos nocivos;
No manejo da produção de sementes orgânicas, • maior controle da vegetação espontânea que pode ser
é permitido o uso de sistemas consorciados e policul- contaminante dos lotes de sementes de hortaliças;
tivos, conforme a Instrução Normativa MAPA n°38, • menor uso de irrigação, pois mantém o solo com maior
de 2 de agosto de 2011, Capítulo I “DOS CONCEI- umidade;
TOS”, art. 2º, inciso II: • possibilidade de a cultura intercalar ser comercializada
ou servir como alimento;
“II - Campo de Produção de Sementes Orgânicas: área • fixação biológica, quando consorciada com plantas da
contínua de uma espécie ou cultivar em monoculti- família das Fabaceae, por exemplo, o tremoço e feijão de
vo ou em consórcio, desde que as espécies ou cultiva- porco, entre outras;
res sejam compatíveis com as técnicas de produção • uso de espécies de adubos verdes, entre elas a aveia preta
de sementes; a área deverá ser dividida em módulos e o nabo forrageiro, que servem de cobertura morta após
ou glebas para efeito de vistoria ou de fiscalização;” serem manejadas.

Como o ciclo na produção de sementes é bem mais


longo em algumas espécies, assim como o espaçamento é
maior, o uso de plantas nas entrelinhas torna-se uma alter- Atenção!
nativa rentável e que favorece alguns manejos. No consórcio com olerícolas para comercialização,
cultivar na entrelinha espécies de ciclo curto, como rúcula,
rabanete, alface, cebolinha, entre outras.

Dica!
Quando o consórcio for realizado
com adubos verdes como aveia preta,
que aceita rebrote, o manejo deve ser
realizado por meio de roçadas sobre
as plantas que estão nas entrelinhas.
As plantas devem ser totalmente
acamadas na fase de florescimento -
CVIII-Foto 1 e CVIII-Foto 2.

CVIII-Foto 2 –
CVIII-Foto 1 – Acamamento tremoço
Tremoço acamado florescido em campo
campo de alface-AAT de alface-AAT

130 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Atenção!

Capítulo VIII - SITEMA AGROECOLÓGICO DE SEMENTES


Evitar consórcios com plantas de mesma família e outras que possam competir
por espaço, nutriente e luz. Alguns consórcios possíveis:
• Alface (produção de semente) e tremoço - • Tomate (produção de semente) e cebolinha.
CVIII-Fotos 1 e 2 (box ao lado). • Berinjela (produção de semente) e feijão de 60 dias -
• Ervilha torta (produção de semente) e alface - CVIII-Foto 5.
CVIII-Foto 3. • Cenoura (produção de semente) e rúcula.
• Alface (produção de semente) e nabo forrageiro - • Cenoura (produção de semente) e coentro.
CVIII- Foto 4. • Shinguesai (produção de semente) e salsa.
• Ervilha torta (produção de semente) e nabo forrageiro • Coentro (produção de semente) e rúcula ou rabanete,
• Ervilha torta (produção de semente) e aveia preta. brócolis (produção de semente) e coentro.

CVIII-Foto 4 – Campo de alface consorciado com nabo forrageiro – AAT

CVIII- Foto 3 – Campo de ervilha consorciado com alface CVIII-Foto 5 – Campo de berinjela consorciado com feijão de 60 dias

GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS 131


Comunidade-Luz Figueira, Labirinto
Conclusão

A
lgumas questões foram levantadas neste estu- domesticação e criação das diversas espécies de plantas
do, em diversos capítulos referentes à produção cultivadas passou pelas mãos dos indígenas, povos na-
de sementes de hortaliças, que vão desde os as- tivos e agricultores.
pectos importantes das sementes, passando pelo pla- Ao produzirem suas sementes, os agricultores que se
nejamento e instalação de campos sementeiros e seus fundamentaram na pesquisa participativa apresentam im-
manejos, detalhamento da colheita, beneficiamento, portante papel na preservação das bases dos recursos na-
armazenagem, tratamento de sementes até o manejo turais e das tradições, sendo as sementes um importante
agroecológico de cultivo. elo entre os valores culturais enraizados nas famílias que
Tais questões formam um conjunto de implicações trabalham a agroecologia como uma forma de agricultura
que podem afetar positivamente a produção e preserva- sustentável para várias gerações.
ção de sementes de polinização aberta. Para que dúvidas Hoje, perante a legislação brasileira de sementes,
sejam elucidadas, reflexões devem ser realizadas e, para os agricultores familiares, assentados da reforma agrá-
isso, pode-se pensar sobre o que a semente representa ria, quilombolas e indígenas estão amparados e podem
para os agricultores de uma forma geral, e para a agricul- produzir, trocar e vender sementes e, na perspectiva da
tura orgânica. O que é realmente um produto orgânico e conservação da agrobiodiversidade e da agroecologia, é
quais são os princípios que o regem? fundamental que esse direito seja assegurado e mantido.
Inicialmente, ouso dizer que, para que um produto seja E não só isso, mas o interessante é que todos os agricul-
realmente orgânico, é necessário que o cultivo seja realiza- tores tenham esse mesmo direito.
do a partir do plantio de sementes orgânicas, biodinâmi- Deve-se destacar a importância de fomentar iniciati-
cas, naturais, biológicas, etc. Esta visão vai além da obriga- vas por parte de entidades públicas como, universidades
toriedade de atender a uma legislação ou certificação, indo e instituições de pesquisa que desenvolvem investigações
permear o cerne da agroecologia que preza por fatores que baseadas no melhoramento participativo com o intuito de
ligam a produção de sementes a questões sociais, culturais, aproximar-se da sociedade e de suas necessidades. Uma
gastronômicas, religiosas e humanas, não estando ampa- grande ação poderia ser pensada e estruturada a partir
rada somente na visão reducionista da produtividade a da institucionalização de trabalhos de pesquisa com foco
qualquer custo. no melhoramento participativo, ligando a universidade a
Sementes convencionais estão adaptadas aos pacotes grupos de agricultores. Dentro dessa lógica, jovens pes-
tecnológicos que lhe dão suporte, que são os biocidas e quisadores poderiam atuar na cadeia das hortaliças e sua
adubos químicos cuja finalidade é proporcionar altos ren- produção de sementes, pois existe um campo enorme para
dimentos, sem que se pesem consequências ambientais e desenvolver pesquisas nessa área, principalmente com ên-
sociais. Estas sementes, quando manejadas em sistemas fase na agricultura de base ecológica.
orgânicos que trabalham com profundas relações e inte- O livro não tem intenção de ser uma referência na pro-
rações dinâmicas, acabam não tendo as mesmas respostas. dução de sementes, mas sim um espaço de pesquisa em
Do ponto de vista da soberania, a produção de se- que agricultores, estudantes e profissionais da área agríco-
mentes torna-se uma ferramenta de libertação para os la interessados no tema possam sanar suas dúvidas sobre a
agricultores e de autossuficiência, desempenhando im- maneira como produzir sementes de hortaliças.
portantes papéis nas esferas culturais, políticas, sociais Semente é vida, semente é luz, semente é espírito, se-
e, por que não dizer, técnicas, já que todo o processo de mente é renascimento e preservação da natureza.

133
Área da Comunidade-Luz Figueira
A
C omunidade-Luz Figueira, filiada à Fraternidade mento integral em cada ser que se abre à experiência de
- Federação Humanitária (FFHI), é uma associa- viver uma experiência humana mais ampla.
ção civil que, além de ser um centro espiritual, é A Comunidade-Luz mantém o desenvolvimento per-
uma escola viva em que seus integrantes são incentivados manente de práticas autossustentáveis em diversas áre-
a experimentar o amor fraterno e a completa doação de as, como o cultivo e a multiplicação de sementes puras
si. Não constitui sociedade, seita ou instituição, e todos os (não manipuladas geneticamente de forma artificial),
que a ela se agregam são convidados a participar volunta- um sistema de abastecimento de água não prejudicial
riamente da vida grupal e comunitária, a descobrir e ex- ao meio ambiente local, a reciclagem/produção de ma-
pressar um novo padrão de conduta interno e externo, teriais ecológicos para uso diário e a manutenção de hor-
com a aspiração de servir à humanidade e aos Reinos da tas para consumo comum. Em suas atividades de serviço,
Natureza de forma simples, abnegada e amorosa. dispensa um cuidado atencioso aos animais e às árvores
Fundada em 1987 pelo escritor e filósofo espiritua- e também atua na segurança ambiental preventiva atra-
lista José Trigueirinho Netto, localizada na zona rural vés de uma brigada de incêndio formada por membros
de Carmo da Cachoeira, sul de Minas Gerais, Brasil, Fi- da Comunidade-Luz.
gueira oferece um ambiente propício para que as pessoas Em Figueira, todos são incentivados a buscar a cura
possam crescer interiormente e desenvolver aptidões que em um nível profundo, que vai além da eliminação das
as ajudem a ser agentes da paz e do bem comum. Sem desarmonias físicas, emocionais e mentais. Com base
qualquer finalidade lucrativa, suas atividades são realiza- nesse princípio, a alimentação é vegetariana, conscien-
das por voluntários e mantidas por doações espontâneas. te, saudável e sustentável, visando o bem de seus inte-
grantes, sejam eles humanos ou animais, e o cuidado
Comunidade-Luz: a expressão de uma nova vida e preservação da Terra. A base do regime alimentar
O espírito fraterno, a experiência da vida grupal, o ser- são grãos, sementes, cereais, frutas, legumes e verduras
viço aos Reinos da Natureza e as práticas autossustentá- cultivados de forma orgânica na própria Comunidade-
veis são expressões do dia a dia da Comunidade-Luz, que -Luz. Os alimentos são preparados de forma colabora-
proporcionam um permanente campo de aprendizado ao tiva, assim como os pães, o leite vegetal e o tofu, elabo-
estimular, através da simplicidade, a busca do desenvolvi- rados com a soja, a farinha de trigo e o fubá orgânicos

135
Área de plantios da Comunidade-Luz Figueira

136 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


cultivados nas fazendas da Figueira pelo Setor Plantios O Setor Plantios e Sementes tem como principal
e Sementes. proposta valorizar as sementes não modificadas geneti-
Em espaço rodeado por áreas de preservação am- camente de forma artificial; para isso, dedica-se ao de-
biental cuidadosamente protegidas, buscamos ampliar a senvolvimento de práticas ecologicamente corretas de
cobertura vegetal por meio do manejo florestal susten- manejo do solo, das plantas, das águas e dos sistemas.
tável, que inclui o emprego de técnicas de agricultura Assim, no dia a dia busca reconhecer as dádivas que
regenerativa associadas a projetos de reflorestamento. existem em uma pequena semente, doadas em amor pela
Mãe Natureza.
Todas essas expressões de serviço aos Reinos da
Natureza e à população local de nossa cidade tam- E, como forma de respeitar e retribuir a magnífica ge-
bém acontecem em parceria com a Casa Luz da Coli- nerosidade da Natureza com todos nós, o Setor de Plan-
na, uma associação filantrópica e beneficente também tios e Sementes das Comunidades-Luz trabalha com foco
localizada em Carmo da Cachoeira, Minas Gerais, na regeneração do solo, na prática de reflorestamento e na
Brasil e filiada à FFHI. implantação de sistemas agroflorestais sucessionais, bem
como na vivência de consórcios entre as plantas e na rota-
Saiba mais: ção renovadora das culturas.
Por meio de um banco de sementes que, ao longo
de 25 anos, resgata, recupera e introduz novas varie-
dades para a manutenção da biodiversidade no plane-
ta, proporciona alimentos vivos e saudáveis a toda
a Comunidade-Luz, que compartilha uma parte de sua
produção de alimentos e sementes com famílias neces-
sitadas de nossa cidade através da Rede de Serviço em
parceria com a Casa Luz da Colina.

Setor Plantios e Sementes Para compartilhar dos conhecimentos de agricul-


tura sustentável e regenerativa, o Setor Plantios e
na Comunidade-Luz Figueira Sementes acolhe voluntários e visitantes e promove
cursos gratuitos sobre o tema.

O propósito de viver a autossustentabilidade é uma


meta sincera e prática, que nutre a esperança de
uma vida plena com a possibilidade de abrir caminhos Participe:
para novos meios de vida, em constante integração e
sintonia com os Reinos da Natureza. Assim, as planta-
ções realizadas em Figueira são com sementes tradi-
cionais e orgânicas e promovem uma ampla interação
entre centenas de pessoas - residentes, colaboradores
e hóspedes visitantes - que procuram fazer a sua parte
para o equilíbrio alimentar e espiritual do planeta.

137
Área de plantios da Comunidade-Luz Figueira

138 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


Glossário

ACAMAMENTO: o acamamento constitui-se na queda OMBRO VERDE E OMBRO ROXO: coloração verde ou
ou no arqueamento das plantas em virtude da flexão da roxa causada pela luz do sol que incide diretamente na
haste ou má ancoragem propiciada pelas raízes, o que pro- raiz (por exemplo, nas cenouras). O pigmento verde na
voca aumento do autossombreamento das folhas e maior parte superior da raiz é a clorofila. Chuvas torrenciais que
proximidade das vagens ao solo. ocorrem durante a estação de cultivo podem retirar o solo
que cobre as raízes, expondo-as ao sol. A maneira de evitar
ATÍPICO: que se afasta do normal, do característico; a formação do ombro verde ou roxo é manter os ombros
anômalo, incomum, raro. das raízes protegidos da luz solar, ou seja, mantê-las co-
CONDENSAÇÃO: passagem do estado de vapor ao esta- bertas com solo.
do líquido; liquefação. PATÓGENOS: organismos que provocam doenças. Ge-
DESGRANAR: retirar e/ou separar os grãos. ralmente são bactérias, vírus ou fungos, bem como orga-
nismos associados ao grupo dos insetos ou ácaros.
DOMESTICAÇÃO: a domesticação de plantas é o proces-
so pelo qual a seleção feita pela natureza e/ou pelos ho- “PAPOS” BRANCOS: plumagem que protege as cápsulas
mens das características genéticas de um indivíduo e suas das sementes de alface.
condições de adaptação ambiental resulta em mudanças
PENDOAMENTO: o pendoamento é um processo
nas populações, tornando-as mais úteis ao plantio e me-
natural de certas hortaliças, como a alface, para com-
lhor adaptadas à intervenção humana.
pletar seu ciclo de vida, marcando a transição da fase
FISIOLÓGICO: relativo às funções orgânicas e às ativida- vegetativa para a fase reprodutiva, quando a planta so-
des vitais nos seres vivos, tais como crescimento, nutrição fre transformações na sua morfologia e metabolismo e
e respiração. emite seu botão floral.

GAVINHAS: presentes nas plantas trepadeiras, são es- PERFILHAR: gerar rebentos. Ex.: as plantas perfilharam
truturas simples ou bifurcadas na extremidade, com a na primavera...
função de agarrar ramos, galhos, folhas, ou qualquer outro
RENDILHADO: recortado com delicadeza. Trabalho que
objeto que sirva de apoio para a planta em crescimento.
lembra rendas.
INFLORESCÊNCIA: conjunto de flores ou qualquer sis-
SANITÁRIO: relativo à conservação da saúde e higiene.
tema de ramificação que termine em flores, e se caracteri-
ze pela presença da haste. SÍLIQUA: [Botânica] fruto seco, alongado, cujos grãos
aderem alternadamente a duas suturas longitudinais e
LEIRAS: amontoado de terra em linha. Elevação de terra
opostas.
entre dois sulcos.
OLERÍCOLA DE HORTA: Hortaliças. Abrangem as cul- SULCO: rego estreito e comprido, mais ou menos pro-
turas folhosas, raízes, bulbos, tubérculos e alguns frutos fundo.
como o melão e a melancia. TRILHAGEM MECÂNICA: processo mecânico; meio
mecânico. Uso de maquinário próprio para um de-
terminado fim.
UMBELA: conjunto de flores com formato de guarda-
-chuva que parte, de forma homogênea, do eixo central.

139
Área de plantios da Comunidade-Luz Figueira

140 GUIA PRÁTICO PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS


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A serviço da ampliação da consciência, a Irdin
Editora tem por objetivo divulgar obras de
natureza filosófico-espiritual que auxiliam a
humanidade a encontrar soluções para os
desafios cada vez mais complexos nesta época
de constantes transformações globais.

Em suas publicações destacam-se a obra de José


Trigueirinho Netto - fundador da Editora e
da Comunidade-Luz Figueira -, as mensagens
transmitidas pelos Mensageiros Divinos aos
videntes da Ordem Graça Misericórdia e
obras dos instrutores Madre Maria Shimani de
Montserrat e Frei Luciano.

A Editora também se dedica a promover obras


cujo conhecimento instiga profunda reflexão
sobre a vida interior, a relação do ser humano
com os reinos da natureza, com o cosmos, além
de obras para o público infantil.

O legado da instrução compartilhado pela


Editora está disponível em seu site, onde os livros
e áudios podem ser baixados gratuitamente.

A Editora não tem fins lucrativos e é mantida


pelo serviço de colaboradores voluntários.

Saiba mais:
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O Guia
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Prático
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