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Sumário
Editorial .......................................................................................................................... 3
Entrevista . ...................................................................................................................... 4
Cristiane Viana Guimarães Ladeira Importância do Plano de Negócio para a empresa rural familiar
Alberto Marcatti Neto
Fabrício Molica de Mendonça .......................................................................................... 85
Izabel Cristina dos Santos
ISSN 0100-3364
CONSELHO DE DIFUSÃO DE TECNOLOGIA E PUBLICAÇÕES É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem
Baldonedo Arthur Napoleão autorização escrita do editor. Todos os direitos são reservados à
Enilson Abrahão
EPAMIG.
Maria Lélia Rodriguez Simão
Juliana Carvalho Simões
Mairon Martins Mesquita Os artigos assinados por pesquisadores não pertencentes ao quadro
Vânia Lacerda da EPAMIG são de inteira responsabilidade de seus autores.
Vânia Lacerda O prazo para divulgação de errata expira seis meses após a data de
Departamento de Publicações publicação da edição.
Mairon Martins Mesquita
Departamento de Transferência e Difusão de Tecnologia Assinatura anual: 6 exemplares
IA - A agricultura familiar, cada vez tes, sejam expressivas em função da renda a 62% da mão-de-obra absorvida pela ati-
mais, ganha espaço na imprensa e ou da área utilizada. vidade agropecuária estadual (1.896.924).
na sociedade. Quais características Em 96% dos estabelecimentos, os produ-
definem uma atividade agrícola como IA - A agricultura familiar é constituída, tores familiares são proprietários da terra.
familiar? basicamente, por pequenos e médios O Censo aponta que os empreendimentos
produtores rurais. Em qual dimensão familiares foram responsáveis por 84% da
Ronaldo de Lima - Do ponto de vista ela é importante para o agronegócio produção estadual de mandioca; 46% da
da política pública, a agricultura familiar mineiro? produção de milho; 44% de arroz; 32%
caracteriza-se pela atividade produtiva
desenvolvida pela família numa área de Ronaldo de Lima - Enquanto setor de café; 30% de feijão; 45% de leite; 34%
até quatro módulos fiscais, podendo, in- importante da agricultura, constituído por do plantel de bovinos; 31% de suínos e
clusive, contratar 50% de mão-de-obra, pequenos e médios agricultores familiares, 28% de aves.
proporcional à quantidade de membros representa a imensa maioria de produtores Os dados revelam a significativa par-
da família, ou seja, uma família de seis rurais no estado de Minas Gerais. E, de ticipação da agricultura familiar como
pessoas poderá contratar até três pessoas acordo com o Censo de 2006, do Insti- absorvedora de mão-de-obra, como fator
para auxiliar nos serviços da propriedade. tuto Brasileiro de Geografia e Estatística de fixação da população no campo e como
Agricultores e agricultoras familiares (IBGE), foram identificados 437.415 responsável pela segurança alimentar, na
compreendem meeiros, arrendatários, pos- estabelecimentos de agricultura familiar, medida em que o segmento tem peso desta-
seiros, pescadores artesanais, aquicultores, que correspondem a 79,3% do total sediado cado na produção de itens componentes da
assentados da reforma agrária, agricultores no Estado (551.617), ou seja, grande parte cesta básica consumidos pela população.
tradicionais, indígenas e quilombolas. O das propriedades rurais de Minas pertence Para os camponeses que trabalham e
módulo fiscal é uma unidade de medida, a grupos familiares. Apesar dessa quanti- vivem da atividade agrícola, tem um signi-
também expressa em hectare, fixada para dade, a agricultura familiar ocupa apenas ficado fundamental no seu modo de vida e
cada município, que leva em conta o tipo 27% da área total dos estabelecimentos na forma como se relaciona com a terra e o
de exploração predominante no município, agropecuários do Estado. ambiente a sua volta. Além da importância
a renda obtida com essa exploração e outras Por outro lado, a agricultura familiar econômica, a vida no campo é o espaço
existentes, que, embora não predominan- emprega 1.177.116 pessoas, o equivalente onde a família convive e se desenvolve.
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Palavras-chave: Gado mestiço. Gado F1 de leite. Gado de leite. Produção de leite. Sis-
tema de produção de leite. Pecuária familiar.
INTRODUÇÃO cuários do País, 4,4 milhões, ou seja, 84% familiares (18,37 ha) é muito inferior à dos
A agricultura familiar tem forte peso são propriedades familiares. Esse tipo de não familiares (309,18 ha). Os dados não
na cesta básica dos brasileiros, segundo exploração da terra foi responsável por são comparativos aos censos anteriores,
revela o Censo Agropecuário (2007). Dos 58% da produção nacional de leite. No porque foram apurados de acordo com a
5,2 milhões de estabelecimentos agrope- entanto, a área média dos estabelecimentos nova lei que define a agricultura familiar.
1
Médico-Veterinário, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG NM/Bolsista CNPq, CEP 39525-000 Nova Porteirinha-MG. Correio eletrônico:
jrmruas@epamig.br
2
Zootecnista, M.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG TP-FEST/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 135, CEP 38700-970 Patos de Minas-MG. Correio
eletrônico: adriano.guimaraes@epamig.br
3
Médico-Veterinário, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG CO-FEFX/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 12, CEP 35794-000 Felixlândia-MG. Correio
eletrônico: bccarvalho@epamig.br
4
Zootecnista, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG ZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: dqueiroz@epamig.br
5
Zootecnista, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG TP/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico:
edilane@epamiguberaba.com.br
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Pelo critério adotado pelo Instituto do caráter de subsistência ser a origem de custo (pela dispensa da contratação de
Brasileiro de Geografia e Estatística da diversificação da produção familiar, um gestor), quanto a aplicação de uma
(IBGE), um estabelecimento familiar atualmente é uma estratégia consciente de lógica que valorize o que existe na proprie-
caracteriza-se pela limitação de área de redução de riscos e incertezas (BUAINAIN dade, otimizando a utilização dos recursos
quatro módulos rurais - que podem variar et al., 2003). Associada à diversificação ali existentes (BUAINAIN et al., 2003).
entre 5 e 100 ha, de acordo com a região está a busca pela complementaridade das Há ainda os fatores ligados à atividade
do país - e pelo uso predominante da mão- atividades. leiteira, os quais trazem também algumas
-de-obra da família. Dos 80,25 milhões Em sistemas produtivos da agricultura características, tais como a utilização de
de hectares da agricultura familiar, 45% familiar, esta complementaridade é bas- terras marginais e pastos nativos, que maxi-
eram destinados a pastagens, 28% estavam tante recorrente, principalmente naqueles mizam os fatores de produção. Além disso,
ocupados com matas, florestas ou sistemas onde há produção animal envolvida, como toda essa lógica de produção que minimiza
agroflorestais e 22% com lavouras. é o caso da produção de leite, pois permite os custos e maximiza a utilização dos re-
Considerando o porcentual nacional uma redução dos custos de produção, em cursos disponíveis, permite aos produtores
do leite produzido por esse segmento de virtude do menor consumo de insumos familiares suportarem maiores variações
produtores, Souza e Waquil (2008) citam industriais e da menor dependência dos de preços, frequentes no mercado de leite
uma série de razões para essa expressiva insumos externos à propriedade. Isso reduz no Brasil, em relação aos produtores mais
produção, dentre estas o fato de não haver a possibilidade de comprometer a produção capitalizados e que utilizam sistemas inten-
praticamente barreiras à entrada; de ser um por falta de algum produto ou por causa da sivos de produção. Tendo em vista o que
produto muito utilizado tanto para consu- variação de preços desses insumos. Além foi apontado anteriormente, a agricultura
mo interno como para comercialização ou disso, pela escassez de recursos disponí- familiar apresenta características que lhe
processamento; por permitir obter uma ren- veis, os agricultores familiares tendem são próprias e estão relacionadas com a
da mensal; usar terras não-nobres e ainda a explorá-los de forma mais intensiva, forma de explorar e gerir os recursos da
utilizar de forma intensiva a mão-de-obra evitando, assim, desperdícios. Até hoje não propriedade. Essas características, se bem
familiar, dentre outros fatores. Contudo, as especializada e pouco intensiva em insu- trabalhadas, podem implicar em vantagens
transformações na cadeia produtiva do leite mos, a produção de leite tem-se mostrado econômicas para a agricultura familiar,
têm elevado a pressão para a especializa- competitiva em custos, quando comparada beneficiando sua inserção no mercado.
ção dos produtores de leite, colocando em à produção especializada e mais intensiva Segundo Portugal (2004), este seg-
risco a continuidade de muitos agricultores no Brasil (WILKINSON, 1997). mento tem um papel crucial na economia
familiares na atividade. Por outro lado, as barreiras na atividade das pequenas cidades – 4.928 municípios
leiteira são pequenas. O capital mínimo têm menos de 50 mil habitantes e, destes,
ASPECTOS SOCIAIS necessário para se iniciar nessa atividade mais de 4 mil têm menos de 20 mil ha-
E ECONÔMICOS DA é significativamente reduzido (uma vaca, bitantes. Os produtores e seus familiares
AGRICULTURA FAMILIAR mão-de-obra e alimentação). É comum a são responsáveis por inúmeros empregos
PRODUTORA DE LEITE
produção de leite ter início para o consumo no comércio e nos serviços prestados nas
Segundo Zoccal et al. (2004), a agri- próprio e somente o excesso ser comercia- pequenas cidades. A melhoria de renda do
cultura familiar não significa pobreza. É lizado. Assim, o baixo investimento neces- segmento de produção familiar, por meio
uma forma de produção em que o núcleo sário incentiva a entrada dos produtores na de sua maior inserção no mercado, tem
de decisões, gerência, trabalho e capital são atividade. A redução do custo operacional, impacto importante no interior do País e,
controlados pela família. É o sistema predo- associado à utilização do trabalhador por consequência, nas grandes metrópoles.
minante no mundo inteiro. Os produtores, que reside no meio rural, é também uma
em geral com baixo nível de escolaridade, questão que confere competitividade à BOVINOCULTURA DE
diversificam as atividades para aproveitar agricultura familiar, principalmente na LEITE EM AMBIENTE DA
AGRICULTURA FAMILIAR
as potencialidades da propriedade, ocu- produção de leite. Por ser a atividade lei-
par melhor a mão-de-obra disponível e teira bastante trabalhosa e, em geral, nas Portugal (2004) faz as seguintes con-
aumentar a renda. Por ser diversificada, a propriedades familiares ser desempenhada siderações sobre a bovinocultura de leite
agricultura familiar traz benefícios agros- pelos integrantes da própria família, não na agricultura familiar:
socioeconômicos e ambientais. incorre em gastos com mão-de-obra. Ha- A tecnologia disponível quando bem
Um dos principais trunfos da agricultu- veria ainda os ganhos advindos da gestão usada tem-se mostrado adequada e
ra familiar decorre da própria natureza da da propriedade ser realizada pelo próprio viável. Isto acontece porque há um
produção que é a diversificação. Apesar agricultor, o que permite tanto uma redução grande esforço da pesquisa voltado
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para o setor. A tecnologia é neutra e de leite de apenas 1.200 litros por lactação. Aliado a isso, esse tipo de animal não
não discrimina classes de produtores O rebanho utilizado na exploração leiteira requer instalações sofisticadas, podendo
quanto à área do estabelecimento. A em propriedades familiares não é diferente. utilizar instalações rústicas e/ou adapta-
maioria das tecnologias desenvolvi- Isto é reflexo, em parte, dos manejos ado- das, ambiente encontrado na quase tota-
das visa aumentar a produtividade tados, principalmente o nutricional. Por lidade das propriedades familiares. Outra
da terra e algumas, como máquinas e outro lado, parte dessa produção pode ser característica é que esse tipo de animal
equipamentos adaptados aos pequenos
atribuída à variabilidade genética preva- pode ser considerado como uma unidade
produtores, têm como objetivo eliminar
lente no rebanho nacional, em que se ob- produtora, adequando-se a sistemas que
a ociosidade da terra ou aumentar a
servam animais com prevalência de fração utilizem de uma a centenas de vacas, sem
produtividade do trabalho. O desafio
genética de holandês, criados em condições a necessidade de investimentos em infra-
maior da agricultura familiar é adaptar
inadequadas, animais com prevalência de estrutura e equipamentos. Neste contexto,
e organizar seu sistema de produção a
frações genéticas de raças zebuínas de a EPAMIG vem realizando pesquisas com
partir das tecnologias disponíveis.
No Sudeste e Sul é cada vez mais per-
corte, além de outras combinações não esse genótipo e a seguir serão apresentados
ceptível a transformação de pequenas desejáveis. Tal heterogeneidade do rebanho resultados que poderão ser utilizados pelos
comunidades rurais em unidades de tem como consequência a baixa produção agricultores em ambiente familiar.
processamento de frutas, hortaliças e la- citada. Assim, busca-se uma vaca mestiça
ticínios e da agricultura orgânica. Hoje, que equilibre tanto genes para a produção INDICAÇÕES DA PESQUISA
nas prateleiras dos supermercados de leite quanto genes para rusticidade e PARA O TIPO DE VACA A SER
UTILIZADA
podemos encontrar uma diversidade de adaptação às condições tropicais.
produtos oriundos dessas comunidades, Resultados de pesquisa, conduzidos A primeira opção dos produtores é pela
com marca própria e registro nos órgãos e disponibilizados por instituições como vaca F1 Girolanda (Fig. 1), que se baseia
oficiais de defesa sanitária. Em todos a EPAMIG, Embrapa Gado de Leite e na utilização, além da heterose a genética
esses casos a pesquisa agropecuária Universidades, têm demonstrado o po- aditiva, uma vez que as duas raças são
está presente, fornecendo novas varie- tencial produtivo das fêmeas meio-sangue selecionadas para a produção de leite, as-
dades e cultivares mais produtivos e HZ, sob diversos sistemas de manejo e sociada à rusticidade da raça Gir. Nas vacas
resistentes às doenças, disponibilizando variadas condições ambientais, quando provenientes do cruzamento dessas duas
novos processos de transformação do
comparadas a outros graus de sangue raças ocorre aumento da produção total e
produto agrícola, contribuindo para
sob as mesmas condições. Dentro de diária de leite da primeira à sexta lactação,
qualificação da mão-de-obra para o
determinados limites de produção, esses com produção em torno de 4 mil quilos
uso das novas tecnologias e discutindo
animais, sistematicamente, apresentam por lactação. Observa-se maior período
com os produtores quais as tecnologias,
performances excepcionais a custos com- de serviço no primeiro parto e redução nas
processos e serviços que a pesquisa
petitivos. Tal fato deve-se ao fenômeno outras ordens de partos, fazendo com que
agropecuária precisa desenvolver para
a agricultura familiar. genético denominado heterose (também a vaca fique com o período de serviço em
O aspecto desafiante é fazer tudo isto popularmente conhecido como choque de torno de 100 dias ao longo da sua vida, o
em uma velocidade compatível com o sangue). É o resultado do cruzamento de que representa fertilidade acima de 90%.
processo de transformação que ocorre duas raças originadas de duas subespécies O desempenho produtivo e reprodutivo
no Brasil e no mundo, caracterizado diferentes Bos taurus taurus (ex: Holan- desses animais pode ser explicado pela
por um mercado globalizado, aberto desa) x Bos taurus indicus (ex: Zebu), combinação de genes para produção de
e competitivo. De nada adianta uma obtendo-se o produto meio-sangue (F1), no leite e pela heterose, que é mais evidente
excelente solução quando o problema qual a heterose manifesta-se em seu grau para as características reprodutivas.
já não existe. A agricultura familiar máximo. Fertilidade elevada, longevidade, Outra consideração que deve ser feita
tem pressa. Atender à demanda des- bons níveis de produtividade, adaptação é com relação ao menor porte dos animais
sa importante parcela da população a ambientes com limitações como nas desse cruzamento. O temperamento des-
brasileira é um desafio gratificante e regiões tropicais, adaptação a manejos ses animais também é uma característica
fundamental para uma sociedade mais diferenciados, adaptação à ordenha me- desejável, pois observam-se animais mais
justa e harmoniosa. cânica, habilidade materna, resistência a dóceis, o que facilita o manejo em ambien-
A produção de leite no Brasil baseia-se ectoparasitas, entre outras características, te de criação de leite.
em vacas mestiças, que constituem cerca levam fêmeas F1 HZ à denominação vacas O melhoramento da raça Guzerá para
de 70% do rebanho, com produção média econômicas. características leiteiras permitiu sua difu-
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são, de forma que técnicos e produtores e também à maturidade, que é reflexo do manchas brancas e pretas, além de orelhas
intensificaram o uso de vacas dessa raça em peso dessa vaca. curtas. Essas vacas apresentam elevada
cruzamento com touros da raça Holandesa, Vacas 100% zebuínas com maior apti- eficiência reprodutiva, com intervalos de
produzindo a F1 denominada Guzolanda dão leiteira, cruzadas com touros da raça parto menores de 12 meses a partir do
(Fig. 2). Este cruzamento também associa Holandesa, geram fêmeas F1 Holandês x segundo parto, com fertilidade anual aci-
características de genética aditiva e hete- Zebu (Fig. 3). Apesar de esses animais não ma de 100%, o que reflete muito bem os
rose, uma vez que nas duas raças utilizadas apresentarem raça definida, os efeitos da efeitos da heterose nesses animais. Além
observa-se seleção para leite (genética heterose do cruzamento com o Holandês disso, observa-se bom potencial para a
aditiva), além de explorar a rusticidade proporcionam vacas de boa fertilidade e produção de leite, com lactações acima de
e adaptação da raça Guzerá (expressadas produtividade. As características produti- 2 mil quilos a partir do segundo parto e que
pela heterose). Vacas provenientes do vas e reprodutivas foram semelhantes às alcançam os 3 mil quilos na sexta ordem
cruzamento dessas duas raças apresentam das vacas F1 Holandês x Gir, o que pode de parto, que pode ser atribuído aos genes
produção em torno de 3 mil quilos de leite ter relação com a tradição do manejo desses para produção de leite oriundos da raça
por lactação com aumento da produção animais em ambiente de criação de gado Holandesa. Contudo, a aceitação dessas
total e diária da primeira à sexta lactação. de leite. vacas pelo mercado é restrita.
Observa-se maior período de serviço ao Quando se pensa na genética aditiva Uma importante característica obser-
primeiro parto e redução ao longo das não selecionada para a produção de leite, vada é o aumento da produtividade entre
outras ordens de partos, fazendo com que o cruzamento de vacas zebuínas de corte a primeira e a sexta cria, o que pode ser
a vaca fique com o período de serviço em com touros da raça Holandesa não é uti- atribuído à adaptação e à maturidade
torno de 90 dias ao longo da sua vida, o lizado. Entretanto, quando se consideram desses animais, que continuam crescendo
que representa fertilidade anual próxima a os efeitos de heterose, o cruzamento entre após o segundo parto, por causa do seu
100%. Este animal apresenta maior porte, uma raça selecionada para leite e outra maior porte. As características reprodu-
se comparado a F1 Holandês x Gir. Outro que confira rusticidade e adaptação re- tivas deste cruzamento são excepcionais
aspecto importante é que ainda não há sulta num tipo de animal que poderia ser e as produtivas são satisfatórias, princi-
tradição de manejar a vaca Guzolanda em recomendado. palmente quando comparadas à média
ambiente de criação de leite. Importante, As vacas F1 Holandês x Nelore, Nelo- nacional de produção de leite com vacas
também, é a grande diferença de produção randa (Fig. 4) apresentam características mestiças.
entre a primeira e a sexta lactação, que morfológicas que as distinguem das outras Para minimizar o efeito da raça de
pode ser atribuída à adaptação ao manejo F1, como uma pelagem composta por corte, no caso a Nelore, outra linha que
José Reinaldo Mendes Ruas
Figura 1 - Vaca F1 Holandês x Gir - Girolanda Figura 2 - Vaca F1 Holandês x Guzerá - Guzolanda
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pode ser explorada é a formação de ma- ou Guzerá x Nelore (Fig. 6). As fêmeas No uso de fêmeas oriundas dos cru-
trizes zebuínas para a produção de vacas obtidas desse cruzamento seriam utilizadas zamentos com base em raças de corte, é
F1 com base nessa raça. Ao considerar-se como matrizes para a produção de vacas F1 necessário estar atento ao seu amansamen-
que a raça Nelore compõe a maior parte do Holandês x Composto Zebu (Fig. 7 e 8). to e condicionamento à ordenha antes do
rebanho nacional, o seu cruzamento com Dados preliminares mostram que vacas F1, primeiro parto. Além disso, esses animais
touros zebuínos com seleção para leite, oriundas desse cruzamento, apresentam apresentarão maior peso adulto do que os
como da raça Gir ou Guzerá, produzirá produção superior às Nelorandas e inferior animais F1 Holandês x Gir. Isso implica na
um composto zebu – Gir x Nelore (Fig. 5) às Girolandas. recomendação de maiores pesos à primeira
José Reinaldo Mendes Ruas
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cobrição, como forma de garantir que esses raças Gir e Guzerá, os rebanhos F1 também Manejo das vacas no
animais tenham peso ao parto próximo são indicados para cruzamentos com esses pré-parto
àquele da idade adulta, o que, associado touros. Os animais provenientes desse As vacas gestantes, 30 dias antes do
ao amansamento e condicionamento à cruzamento são indicados para produtores parto previsto, devem ser levadas para o
ordenha, permitirá maiores produções de de leite de média produção, em sistemas piquete maternidade. No verão, devem
leite nas primeiras lactações. menos tecnificados. ser mantidas somente a pasto e com su-
Outra opção, caso o rebanho F1 Ho- plementação mineral. Durante a seca, nos
POTENCIAL DAS FÊMEAS landês x Zebu esteja localizado em regiões piquetes, devem receber suplementação
F1 HOLANDÊS X ZEBU em que o mercado não valoriza bem as volumosa. Os piquetes devem ser obser-
EM PRODUZIR CRIAS DE matrizes leiteiras, é o cruzamento das vacas
QUALIDADE vados diariamente para acompanhamento
F1 com touros zebuínos de raças de corte, dos partos. Vacas e bezerros devem ser
Uma ótima oportunidade de aumentar por exemplo, a Nelore. Esse cruzamento mantidos juntos nas primeiras 24 horas
a renda da fazenda leiteira é a venda de proporciona bezerros de qualidade para o após o parto, para que sejam garantidos o
animais, o que costuma ser feito por pro- mercado da carne. vínculo maternal e a ingestão do colostro.
dutores familiares. Entretanto, nem sempre A opção por determinado cruzamento
os animais produzidos apresentam a qua- é ditado pelo mercado onde o sistema está Condicionamento à
lidade demandada pelo mercado. Sendo inserido. ordenha
assim, é oportuno e, perfeitamente possível As novilhas F1 são criadas em separado
aproveitar melhor o potencial das vacas F1 ALGUMAS RECOMENDAÇÕES das vacas e sem alimentação no cocho.
Holandês x Zebu, relativo à produção de DE MANEJO PARA VACAS F1 Esse sistema de criação faz com que as va-
bezerros destinados à venda. Este genótipo HOLANDÊS X ZEBU
cas primíparas não tenham nenhum contato
é o que apresenta o maior potencial para Os manejos descritos a seguir são com o meio, ou seja, com a sala de ordenha.
este propósito, pois pode produzir o animal compatíveis com os sistemas de produ- Para facilitar o condicionamento, 30 dias
¾ Holandês x Zebu, que se destaca tanto ção de leite da maioria dos agricultores antes do parto essas novilhas são levadas
pela produção de leite, quanto pela adap- familiares e sua utilização promoverá para o curral de produção de leite. Em um
tação a manejo sem bezerro. aumento da eficiência do sistema, sem, primeiro momento, são introduzidas na
Com o advento do teste de progênie de contudo, onerá-lo, o que resultará em sala de ordenha, somente para passagem
touros zebuínos para produção de leite, nas maior rentabilidade. no corredor conhecido como fila indiana.
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Após essa etapa, procede-se a parada das lactação, cerca de 700 kg de leite a mais consiste em cortá-lo a mais ou menos 3 cm
novilhas na fila de ordenha, quando são do que aquelas ordenhadas uma única vez, do corpo e desinfetá-lo, imergindo-o em
feitas práticas de lavagem e de contato uma produção de leite 32,5% maior. um vidro de boca larga contendo solução
manual do úbere. Caso algum animal de iodo a 10%. É uma prática simples e
mostre comportamento mais bravio, joga- Secagem das vacas eficiente, que deve ser repetida por dois a
se água no corpo do animal. Como existe A secagem dos animais é feita com três dias. Em relação à ingestão do colostro,
grande variação individual entre animais, base na data prevista do parto subsequen- deve-se esforçar para que o colostro seja
o principal é que esses procedimentos te à lactação em curso. Nenhuma prática ingerido nas primeiras horas de vida do
sejam realizados com bastante calma e especial é feita no momento da secagem, bezerro. Isso faz com que os anticorpos
repetidos quantas vezes forem necessárias como a utilização de infusões antibióticas maternos, denominados imunoglobulinas,
para que, ao parto, essas vacas estejam intramamárias. sejam transferidos aos recém-nascidos, bem
condicionadas à ordenha, garantindo um como as vitaminas e minerais, que são im-
procedimento tranquilo. Como deve-se Manejo reprodutivo portantes para a nutrição dos bezerros, além
evitar o uso de peias no momento da orde- Na reprodução, pode ser utilizado sis- de estimular o funcionamento do aparelho
nha, o condicionamento para esse manejo tema de monta natural ou inseminação ar- digestivo e a formação da flora intestinal.
deve ser realizado. tificial. Na monta natural, as vacas deverão Vacinações devem ser realizadas no
ser mantidas com touros de comprovada período recomendado, ou seja, contra
Sistema de ordenha
fertilidade, que são colocados com as vacas febre aftosa (de acordo com a campanha),
Propriedades com produção de leite logo após o parto. No caso de inseminação carbúnculo sintomático (aos 30 e 60 dias
abaixo de 200 litros diários, e rebanho artificial, é importante que haja treina- e à desmama), brucelose (fêmeas de cinco
composto por vacas mestiças, realidade da mento e que esta prática seja feita dentro a oito meses de idade) e raiva (a partir dos
agricultura familiar, utilizam, na maioria de todas as normas, visto que o uso da três meses de idade).
das vezes, o sistema de ordenha manual. inseminação artificial de forma incipiente A vermifugação deve ser feita pelo me-
A opção por este sistema está relacionada pode levar a resultados desastrosos. Avalia- nos quatro vezes nos primeiros oito meses
com a capacidade de investimento, pro- ções ginecológicas deverão ser realizadas de vida, para que haja controle satisfatório
dução de leite e tipo de animal, uma vez mensalmente por profissional qualificado. da maioria dos vermes gastrointestinais e
que, sem comprovação científica, associam pulmonares. Limpeza, drenagem e rotação
ordenha mecânica às vacas especializadas Manejo de vacas secas de pastos, aliadas a uma boa alimentação,
e de alta produção. O sistema utilizado nas As vacas secas devem ser manejadas são condições que favorecem um controle
vacas F1 é de ordenha mecânica, tipo pas- em sistema de pastejo exclusivo durante mais efetivo das verminoses.
sagem ou fila indiana, com arraçoamento todo o período, recebendo apenas sal mi- A prática de combate aos ectoparasistas
na sala e presença do bezerro no momento neral à vontade. Trinta dias antes do parto deve ser realizada de acordo com a infesta-
da ordenha. A adaptação ao sistema de or- devem ser encaminhadas ao piquete mater- ção, com muito rigor, visto que os carra-
denha chega próximo aos 100% e de forma nidade, onde passam a receber tratamento patos são responsáveis pela transmissão da
eficiente. Assim, agricultores que queiram, diferenciado, como descrito anteriormente. tristeza parasitária dos bovinos (anaplas-
podem utilizar esta tecnologia, tendo so- Esse manejo alimentar visa garantir um mose e piroplasmose), que compromete
mente o cuidado de treinar a mão-de-obra bom escore corporal ao parto, evitando o o desenvolvimento e a sobrevivência dos
e fazer a adaptação das vacas. desgaste com a produção de leite. Cria-se, bezerros.
assim, condições ideais para nova gesta- A descorna pode ser realizada até os 15
Frequência de ordenhas ção, o que se traduz em bons níveis de dias de vida, por apresentar menor risco
diárias fertilidade, fundamental para obter bom e maior facilidade. A modalidade mais
A partir de rebanhos leiteiros consti- desempenho no sistema de produção. difundida entre os criadores é a utilização
tuídos de gado especializado, a prática de do ferro candente, que, além de prático, é
Manejo dos bezerros
duas ou mais ordenhas alcançou rebanhos bastante funcional e barato.
mestiços, inclusive muitos com baixa pro- Após o nascimento, os bezerros devem Do nascimento até os 60 dias de idade,
dução. Pode-se afirmar que a produção de permanecer com a mãe durante um período deve-se reservar um teto para amamen-
leite tem relação direta com a frequência mínimo de 24 horas, de preferência no tação completa (sucção direta). Após 60
das ordenhas. Vacas F1HZ ordenhadas piquete maternidade. Logo após o nasci- dias de idade até a desmama, nenhum teto
duas vezes ao dia produziram, durante a mento, realiza-se a cura do umbigo, que é reservado para os bezerros, que devem
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ser levados à vaca apenas para promover de leite do País, com mais qualidade, em BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
o estímulo à descida do leite, sendo ime- sistemas sustentáveis econômico, social e AMARAL, R. et al. Sistema de produção de
diatamente retirados e levados à outra re- ambiental. leite em pasto com vacas F1HZ. Belo Hori-
partição do curral, onde ficam à espera das Outro aspecto importante da produção zonte: EPAMIG, 2006. 32p. (EPAMIG. Bole-
mães. Após a ordenha, as vacas devem ser de leite com gado mestiço é a integração tim Técnico, 78).
encaminhadas ao encontro dos bezerros, entre a cadeia de carne e leite, com pro- CÓSER, A.C.; MARTINS, C.E.; DERESZ, F.
onde fazem a mamada do leite residual, dutos de qualidade. Ou seja, a vaca F1 é Capim elefante: formas de uso na alimenta-
por um período aproximado de 30 minu- capaz de produzir em ambiente de muitas ção animal. Juiz de Fora: Embrapa Gado de
tos. Esse tipo de manejo permite uma boa limitações, a preços competitivos, leite e Leite, 2000. 27p. (Embrapa Gado de Leite.
performance de desempenho dos bezerros Circular Técnica, 57).
bezerros de qualidade, contribuindo, assim,
até a desmama, com custos baixos na cria, para que a pecuária leiteira de agricultores FERREIRA, J.J. Alimentação de bovinos
quando são desmamados, em média, com familiares torne-se mais rentável. mestiços leiteiros. Informe Agropecuário.
180 kg de peso vivo. Esse manejo contribui Produção de leite com vacas mestiças. Belo
Horizonte, v.25, n.221, p.64-72, 2004.
ainda para a qualidade sanitária do úbere e AGRADECIMENTO
consequente reflexo na qualidade do leite, _______. et al. Sistema EPAMIG de alimen-
reduzindo significativamente a incidência À Fundação de Amparo à Pesquisa do tação de vacas mestiças leiteiras. Belo Hori-
Estado de Minas Gerais (Fapemig) e ao zonte: EPAMIG, 2007. 47p. (EPAMIG. Bole-
de mamite e não interferindo na produção
Conselho Nacional de Desenvolvimento tim Técnico, 83).
total de leite por lactação.
Científico e Tecnológico (CNPq), pelo INFORME AGROPECUÁRIO. Gir leiteiro.
Manejo geral do rebanho financiamento das pesquisas e pelas bolsas Belo Horizonte: EPAMIG, v.29, n.243, mar./
concedidas. abr. 2008.
O controle sanitário do rebanho de leite
_______. Produção de leite com vacas mes-
é semelhante ao de um rebanho de corte,
REFERÊNCIAS tiças. Belo Horizonte: EPAMIG, v.25, n.221,
ou seja, vacinação contra febre aftosa, 2004.
BUAINAIN, A.M.; ROMEIRO, A.R.; GUAN-
seguindo o calendário oficial, e vacinação
ZIROLI, C. Agricultura familiar e o novo _______. Recursos genéticos animais para a
anual contra raiva. As demais doenças
mundo rural. Sociologias, Porto Alegre, ano produção de leite. Belo Horizonte: EPAMIG,
devem ser monitoradas e, caso necessário, 5, n.10, p.312-347, jul./dez. 2003. v.16, n.177, 1992.
realizar vacinações de forma estratégica.
CENSO AGROPECUÁRIO 2006. Resultados LOPES, F.C.F. Consumo de forrageiras tro-
Anualmente, devem ser realizados exames
preliminares. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. picais por vacas em lactação sob pastejo
de tuberculose e brucelose. O controle de em sistemas intensivos de produção de
carrapatos e bernes é feito de acordo com PORTUGAL, A.D. O desafio da agricultura
leite. Cadernos Técnicos de Veterinária e
familiar. AgroAnalysis, Rio de Janeiro,
a infestação. Zootecnia, Belo Horizonte, v.57, p.67-117,
mar. 2004. Disponível em: <http://www.
2008.
embrapa.br/imprensa/artigos/2002/artigo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS 2004-12-07.2590963189>. Acesso em: jan. MOREIRA, H.A. Suplementação de con-
Atualmente, a competitividade do 2010. centrados para vacas leiteiras. 2.ed. Coro-
nel Pacheco: EMBRAPA-CNPGL, 1984. 14p.
sistema de produção de leite não envolve SOUZA, R.P.; WAQUIL, P.D. A viabilidade
(EMBRAPA-CNPGL. Circular técnica, 17).
somente produtividade, visto que sistemas da agricultura familiar produtora de leite: o
instalados na Oceania são os mais compe- caso do sistema COORLAC (RS). In: CON- NUSSIO, L.G.; SANTOS, M.C.; QUEIROZ,
titivos, apesar de ter produtividade inferior GRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA O.C.M. Cana-de-açúcar para a produção in-
DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E SO- tensiva de leite em pasto. Cadernos Técni-
aos sistemas intensivos. É necessário que
CIOLOGIA RURAL, 46., 2008, Rio Branco. cos de Veterinária e Zootecnia, Belo Hori-
haja uma matriz diferenciada que se adapte Anais... Rio Branco: SOBER, 2008. p.1-28. zonte, v.57, p.40-66, 2008.
ao sistema e que a exploração seja feita
WILKINSON, J. Mercosul e produção fami- _______. et al. Cana-de-açúcar
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como alimen-
à base de pastagens, produzindo leite de
liar: abordagens teóricas e estratégias alter- to para bovinos. In: SIMPÓSIO SOBRE MA-
qualidade e a baixo custo. Pesquisas, cujos nativas. Estudos Sociedade e Agricultura, NEJO ESTRATÉGICO DA PASTAGEM, 3.,
objetivos sejam de identificar animais e Rio de Janeiro, n.8, p.25-50 abr. 1997. 2006, Viçosa. Anais…Viçosa, MG: FUNARB,
tecnologias que atendam a esta nova rea- 2006. p.277-328.
ZOCCAL, R. Produção de leite na agricultu-
lidade, associada a uma assistência técnica
ra familiar. In: CONGRESSO DA SOCIEDA- PEREIRA, M.N. Potencial da cana-de-açúcar
treinada nestas metodologias, farão com DE BRASILEIRA DE ECONOMIA E SOCIO- para alto desempenho de bovinos. Leite in
que cada vez mais consolide a importân- LOGIA RURAL, 42., 2004, Cuiabá. Anais... Natura, Belo Horizonte, n.3, p.56-64, jun./
cia da agricultura familiar na produção Cuiabá: SOBER, 2004. p.1-12. jul. 2006.
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1
Zootecnista, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG ZM Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: dqueiroz@epamig.br
2
Zootecnista, M.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG TP-FEST/Bolsista FAPEMIG, Caixa postal 135, CEP 38700-000 Patos de Minas-MG. Correio ele-
trônico: adriano.guimarães@epamig.br
3
Zootecnista, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG TP/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 351, CEP 38001-970, Uberaba-MG. Correio eletrônico:
edilane@epamig.br
4
Médico-Veterinário, D.Sc. Pesq. U.R. EPAMIG NM/Bolsista CNPq, Caixa Postal 12, CEP 39525-000 Nova Porteirinha-MG. Correio eletrônico:
jrmruas@epamig.br
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estratos de produção (Quadro 1). Pequenos QUADRO 1 - Indicadores técnicos médios em 574 propriedades de diversos segmentos de
produtores apresentam baixa produção produção de leite em Minas Gerais no período 1995/1996 a 2001/2002
média por vaca em lactação e menor pro- Estrato de produção (L/dia)
Indicadores técnicos
dutividade por área, em relação aos estratos Até 50 De 51 a 250 Acima de 250
de maior produção. Não há diferença na
Vacas em lactação (L/dia) 6,45 a 10,50 b 14,05 c
lotação dos pastos, o que significa que,
Área de pastagem (ha) 8,90 a 29,64 b 81,28 c
embora os maiores produtores façam um
investimento muitas vezes maior que os Pastagem (L/ha/ano) 909 a 1.612 a 2.529 b
menores produtores, esses investimentos Lotação dos pastos (UA/ha) 1,38 a 1,35 a 1,31 a
ração concentrada é fornecida para as vacas produções suficientes para manter 7 a 10 Vacas de leite em pastagens têm sua
em produção, e o pequeno investimento vacas por hectare. Algumas considerações produção por área e por vaca dependen-
feito deve estar relacionado com as vacinas devem ser feitas a respeito da adubação te, respectivamente, da capacidade de
obrigatórias e com outros medicamentos, de pastos. O produto obtido da adubação suporte e do valor nutritivo do pasto. A
como carrapaticidas e bernicidas. é o pasto, que não é comercializável dire- capacidade de suporte é afetada princi-
Apesar disso, é fato notório que a ex- tamente. O produto comercial é leite e/ou palmente por fatores como clima, solo,
ploração pecuária bovina no Brasil vem carne. Produzir o pasto e não transformá-lo manejo e adaptação da espécie forragei-
apresentando alguma expansão do uso de em leite e/ou carne é prejuízo. Por isso, ra ao pastejo. A avaliação do potencial
pastagens intensivamente exploradas, que diferentemente de uma atividade agríco- de produção de leite em pastagens sob
permitem altas taxas de lotação. Esta é a la, a adubação de pastagens exige maior condições tropicais é farta em resulta-
filosofia aplicada pelo “Programa Balde acompanhamento administrativo. Como a dos de pesquisa (Quadro 2). Fica claro,
Cheio”, da Empresa Brasileira de Pesquisa resposta de gramíneas tropicais à adubação pelos dados apresentados no Quadro 2,
Agropecuária (Embrapa), direcionado aos é intensa e muito rápida, as decisões têm de que o potencial de produção de pastos
produtores familiares. A adubação nos ser tomadas também rapidamente. O pecu- tropicais sem suplementação concentrada
níveis recomendados constitui o maior arista familiar está preparado para exercer ou com pequeno fornecimento de ração fica
desafio em quebrar a resistência do criador essa função? As informações em trabalhos entre 8 e 12 kg de leite por vaca por dia.
na adoção da tecnologia. Tal resistência técnicos, sociais, gerenciais relacionados Usando a média obtida no Quadro 1 para
justifica-se pela falta de tradição do uso de com a agricultura familiar indicam que produtores de até 50 L/dia, verifica-se que
adubação em pastagens e de seu alto custo não. Os processos de gestão da propriedade há espaço para ampliar a produtividade da
em sistemas intensivos. familiar ainda estão longe de registrar cus- maioria dos produtores de leite familiares.
A eficiência das gramíneas tropicais tos, investimentos, rentabilidade, planeja- Em artigo que simula a aplicação
para produção de forragem é muito alta. mento, etc. Mesmo propriedades maiores, de diversas tecnologias para pequenos
Sob condições de adubação, durante o pe- onde os investimentos são mais elevados, produtores da Zona da Mata de Minas
ríodo quente e chuvoso do ano, são obtidas esses controles são frágeis. Gerais, Leite e Resende (2006) mostram
QUADRO 2 - Produção de leite de vacas mestiças europeu/zebu, mantidas em pasto de gramíneas tropicais puras ou consorciadas com
leguminosas, com ou sem concentrados, na época de chuvas
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que somente o aumento da produtividade ção e maior desenvolvimento do sistema em cocho à vontade com uma mistura de
de leite por vaca, de 7,9 para 10,12 L/dia, radicular da planta forrageira. Mesmo na 50% de silagem de milho + 50% de cana-
e a redução do intervalo entre partos, de ausência de adubação, um sistema radicular -de-açúcar picada + 250 g de concentrado
18 para 15 meses, mais que duplicaram a mais desenvolvido permite explorar maior nitromineral. Todas as vacas recebiam con-
renda do produtor (Quadro 3). área de solo e elevar o vigor das plantas centrado durante a ordenha, de acordo com
Esses resultados podem ser alcançados (Fig. 1). O pasto reservado pode ser usado a produção de leite, sendo 1 kg para cada
com pequenas modificações no sistema de no período de seca com classes animais 3 kg, a partir dos 5 kg de leite produzidos.
produção adotado pela maioria dos produ- menos exigentes (vacas secas, animais de O uso de animais mestiços e sua adap-
tores. Embora não se verifique vantagem recria, etc.) ou mesmo vacas de leite desde tação às condições do ambiente tropical
do pastejo com lotação rotacionada sobre que suplementadas. proporcionam a utilização de sistemas de
o pastejo com lotação contínua, nos resul- Os resultados de um ensaio conduzido produção de grande potencial de rentabi-
tados de pesquisa, o uso do pastejo rota- na Fazenda Experimental de Felixlândia lidade e ecologicamente mais desejáveis,
cionado permite melhor administração dos (FEFX), da Unidade Regional EPAMIG que os sistemas em confinamento. Nessas
recursos forrageiros. Isto porque o produtor Centro-Oeste (U.R. EPAMIG CO), com- condições, produtores cuja produção
não consegue o ajuste perfeito nas taxas provam isso (Quadro 4). Vacas mestiças F1 baseia-se no uso de pastagens, reconhe-
de lotação, de acordo com o crescimento holandês zebu suplementadas na seca em cidamente o mais barato alimento para os
do pasto, prática normalmente adotada pasto diferido de Brachiaria decumbens, ruminantes, apresentam maior capacidade
na pesquisa. Assim, em épocas de sobra com 1,25 kg/dia de ração contendo 33,4% de se manterem na atividade, que aqueles
de forragem, o produtor pode descansar de proteína bruta produziram a mesma dependentes de grandes investimentos na
alguns pastos, permitindo sua recupera- quantidade de leite que vacas suplementadas compra de alimentos concentrados.
QUADRO 3 - Dados médios reais de pesquisa com 55 produtores de leite da Zona da Mata de Minas Gerais e resultados da simulação com
aumento da produtividade decorrente da aplicação de algumas tecnologias
A B C
Figura 1 - Área de pasto da Zona da Mata de Minas Gerais em diferentes épocas
NOTA: A - Após a formação; B - Durante a seca após dois anos de uso; C - Após pousio durante o período chuvoso.
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QUADRO 4 - Produção diária de leite (L) em vacas suplementadas em pasto diferido de Brachiaria decumbens ou no cocho com silagem de
milho + cana-de-açúcar durante o período seco
INTEGRAÇÃO LAVOURA se pretende e no potencial que o mercado e à baixa fertilidade do solo devem ser
PECUÁRIA FLORESTA (ILPF) oferece na região. No caso das forrageiras, consideradas. Espécies que apresentam
Entre as propostas disponíveis para deve-se optar por espécies mais tolerantes sistema radicular profundo reduzem a
recuperação de pastagens degradadas, o ao sombreamento. As espécies do gênero competição por nutrientes minerais com
uso de sistemas silvipastoris (SSPs) pode Brachiaria e Panicum apresentam de- o pasto, além de reciclar os nutrientes das
ser uma alternativa viável, por causa do senvolvimento satisfatório sob sombra partes mais profundas para a superfície do
potencial desses sistemas para desenvolver moderada, mas apresentam forte redução solo. Outra característica desejável seria a
modelos sustentáveis de exploração pecu- da produção sob sombreamento intenso. regeneração rápida, quando danificada. A
ária. Os SSPs, modalidade dos sistemas Quanto às árvores, o ideal seria a produção de madeira, frutos, óleo, carvão
agroflorestais, intencionalmente integram utilização de espécies nativas ou bem ou outros produtos com alto potencial para
árvores ou arbustos, culturas forrageiras adaptadas às condições edafoclimáticas comercialização agrega valor econômico
e bovinos dentro de uma estrutura com da região, com crescimento inicial rápido ao sistema. Entre as espécies de legumino-
interações planejadas. A Integração La- e copa reduzida ou pouco densa, para sas nativas de Minas Gerais, destaca-se o
voura Pecuária (ILP) vem sendo avaliada diminuir o sombreamento do pasto, de angico-mirim, por apresentar crescimento
com a introdução do componente florestal preferência leguminosas arbóreas fixado- rápido e capacidade de reciclar nutrientes
na renovação do pasto. As propostas mais ras de nitrogênio. A adaptação à acidez para a pastagem. Outras espécies nativas
recentes incluem a introdução de fileiras
de eucalipto junto com a lavoura e o pasto
(Fig. 2). Após a colheita da lavoura, tem-se
o pasto formado e a espécie florestal em
crescimento. No caso da pecuária familiar,
o sistema tem forte apelo econômico, pois
a lavoura pode custear a recuperação do
pasto e as árvores representam uma opção
de renda futura, sem a perda de renda atual
com o uso do pasto. No caso da introdução
de espécies florestais, pode ser necessária
uma espera maior, para iniciar o pastejo, a
fim de assegurar que os animais não dani-
fiquem as árvores. Nesse caso, a proposta
atende à recomendação de fazer o pousio
de algumas áreas periodicamente. As op-
Domingos Sávio Queiroz
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padrão, sorgo (Sorghum spp.), milheto Cana-de-açúcar leiteiro, promove queda na produção de
(Pennisetum spp.), girassol (Helianthus leite e na condição corporal dos animais.
Tradicionalmente utilizada no Brasil
annuus), cana-de-açúcar (Sacharum A análise de resultados recentes obtidos
como opção forrageira em inúmeras fazen-
officinarum), capineiras como as do grupo em experimentos caracteriza o potencial
das de gado de leite, a cana-de-açúcar apre-
elefante (Pennisetum purpureum Schum), produtivo elevado das dietas que contêm
senta vantagens em relação às gramíneas
leguminosas forrageiras como guandu cana-de-açúcar como volumoso (NUSSIO,
tropicais, por dois pontos desejáveis: ele-
(Cajanus cajan (L) Hunth) ou leucena SANTOS; QUEIROZ, 2008). A suplemen-
vada produção por área e alto conteúdo de
(Leucaena leucocephala), raiz e parte tação com ração concentrada é essencial
açúcar no período de escassez de chuvas.
aérea da mandioca (Manihot esculenta para atender às exigências nutricionais de
Apesar do baixo teor de fibra da cana-
Crantz). Excedente de pastos de gêneros de-açúcar (37% a 56% aos 12 meses) em
animais que consomem cana-de-açúcar.
como Brachiaria spp., Panicum spp., Práticas que maximizem o consumo
relação aos capins (70% a 80%), a fibra da
Cynodon, dentre outros, também podem cana apresenta digestibilidade muito baixa são determinantes no uso da cana-de-
ser utilizados para a produção de silagem (cerca de 20%), se comparada ao milho e açúcar. Bom manejo de cocho, cultivares
de qualidade. ao capim-elefante (SILVA et al., 2007). de alta digestibilidade, colheita no ponto
O produtor deverá estar atento ao Apresenta baixo teor de proteína (1,5% a de maturação ideal, moagem fina (Fig. 3)
teor de MS da forragem no momento de 3,0% na MS) e de minerais, principalmente e instalações adequadas para alimentação
ensilar. Silagens com alto conteúdo de cálcio, fósforo e enxofre. No entanto, os te- são pontos de atuação para maximizar o
umidade normalmente apresentam perdas ores de proteína e minerais são facilmente consumo de novilhas e vacas alimentadas
de nutrientes por lixiviação (chorume) e corrigidos para a utilização da cana-de- com cana-de-açúcar (PEREIRA, 2006). O
fermentações indesejáveis, as quais re- açúcar em dietas de vacas especializadas despalhe da cana-de-açúcar no momento
sultam em baixa qualidade nutricional. O (CORRÊA et al., 2003). do corte ou antes da picagem também
processo de ensilagem dos capins tropicais A cana-de-açúcar permite diferentes contribui para aumentar o consumo pelos
normalmente requer pré-murchamento e/ níveis de desempenho animal, dependen- animais (Fig. 4).
ou uso de aditivos, como o fubá, objetivan- do da forma que for suplementada e/ou Recomendações que devem ser obser-
do reduzir o teor de umidade do material corrigida. Sua utilização na alimentação vadas ao fornecer cana-de-açúcar para os
colhido. O ideal é que a forragem a ser animal é de conhecimento entre os pro- bovinos:
ensilada contenha em torno de 30% de MS. dutores, e algumas das tecnologias para a) colher a cana-de-açúcar no ponto
Outro ponto importante diz respeito a correção das deficiências citadas estão ideal de maturação, quando é máxi-
ao tempo de abertura do silo. Silagens difundidas no meio rural, embora abaixo mo o valor nutritivo, caracterizado
abertas precocemente, em geral, resultam do necessário. A tecnologia de utilização pelo menor teor de fibra em deter-
em queda de consumo dos animais, por de cana-de-açúcar + ureia na alimentação gente neutro (FDN) e maior o teor
ocorrência de fermentações indesejadas e de ruminantes é bem difundida. Entretan- de sacarose;
alterações no seu pH. Na prática, respei- to, casos isolados de intoxicação animal b) durante a colheita, as folhas secas
tar um mínimo de 30 dias para silagens seguidos de morte ainda acontecem, mui- deverão ser retiradas, mantendo as
confeccionadas com milho ou sorgo, 40 tas vezes por negligência na aplicação das ponteiras;
dias para silagens de capins e 45 a 60 técnicas preconizadas. Quando se almejam c) a altura de corte deve ser o mais
dias de intervalo para silagens de cana- desempenhos produtivos elevados, além rente possível ao solo;
de-açúcar, após o fechamento do silo. O da ureia, fontes de proteína verdadeira d) armazenar a cana-de-açúcar em
uso de inoculantes e aditivos de silagem como farelos de soja e algodão, caroço de local ventilado, com sombra por,
permite a antecipação da abertura do silo. algodão, grãos de soja inteiros, farelo de no máximo, três dias, sendo o ideal
Nutricionalmente, não basta ter eficiência glúten de milho, etc., devem compor as die- dois dias;
somente durante o processo de confecção tas que contêm cana-de-açúcar (NUSSIO; e) somente triturar a cana-de-açúcar
da silagem, pois cuidados adicionais após SANTOS; QUEIROZ, 2008). no momento do seu fornecimento
a abertura do silo, como a retirada diária São comuns relatos de produtores que aos animais, pois a cana fermenta
de fatias de silagem de no mínimo 20 cm, não trabalham com a cultura da cana-de- muito rapidamente;
por toda a extensão do painel, são indis- açúcar para a alimentação animal, por falta f) o afiamento das facas e das contra-
pensáveis na minimização de perdas. Inde- de mão-de-obra para a colheita. Há também facas da picadeira deverá ser feito
pendentemente do tipo de silo escolhido, queixas de produtores mal-orientados a cada 4 horas de funcionamento,
todos esses cuidados devem ser seguidos os quais afirmam que a cana-de-açúcar, permitindo um corte da forragem
para obter qualidade. quando utilizada na alimentação do gado entre 3 e 8 mm;
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por dia);
j) não fornecer cana-de-açúcar +
ureia à vontade para animais não
adaptados, pois os bovinos devem
ser adaptados ao consumo de ureia.
A ureia deve ser misturada de forma
Figura 4 - Despalhe da cana-de-açúcar no campo na Fazenda Experimental de Acauã homogênea à cana-de-açúcar e fornecida
(FEAC), da Unidade Regional EPAMIG Norte de Minas (U.R. EPAMIG. NM), em diariamente sem interrupções. Deve ser
Leme do Prado, MG sempre utilizada associada a uma fonte de
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enxofre (ex.: sulfato de amônio). A mistura na cana picada, realizar o fornecimento mente levam em conta a altura ou o tempo
recomendada é de nove partes de ureia e preferencialmente à tarde, próximo ao de rebrota, em média 1,8 m ou 60 dias no
uma de sulfato de amônio, ou oito partes anoitecer, quando reduz a presença desses período de chuvas. Como esses critérios
de ureia e duas partes de sulfato de cálcio. insetos. A hidrólise da cana-de-açúcar são variáveis, dependendo da época e da
Para cada 100 kg de cana-de-açúcar picada, afugenta as abelhas. adubação, o ideal é usar um parâmetro
diluir a mistura de ureia + enxofre em 4 L fisiológico relativamente simples, o se-
de água. Distribuir uniformemente a mistu- Capins para corte camento das folhas mais baixas. Quando
ra diluída com regador. Caso o animal dei- As capineiras também são recursos as primeiras folhas da base da planta
forrageiros valiosos que o criador dispõe começam a secar, independentemente da
xe de consumir a mistura cana-de-açúcar +
para ofertar volumoso ao gado. Contudo, altura ou da idade da planta, a massa co-
ureia por dois dias consecutivos, reiniciar
para garantir alimento de boa qualidade lhida apresentará alto conteúdo de folhas
a adaptação. Os sintomas de intoxicação
na seca, precisam ser bem manejadas. O verdes, o que garantirá bom valor nutritivo
por ureia são: da forragem. Para garantir forragem de
a) agitação; capim-elefante destaca-se entre as forragei-
ras mais utilizadas, com a finalidade de corte boa qualidade durante todo o período, a
b) falta de coordenação; capineira deverá ser dividida em talhões.
e fornecimento verde no cocho, pela sua
c) salivação em excesso; Outra opção para o aproveitamento
alta produtividade e qualidade da forragem.
d) tremores musculares e da pele; da capineira, durante o período de cresci-
A idade em que a planta é colhida
e) micção e defecação frequentes; mento, é o seu armazenamento na forma
afeta o seu rendimento, bem como a sua
f) respiração acelerada; de silagem. Ensilado sozinho, o capim-
composição química (Quadro 5). Gramí-
g) timpanismo; -elefante não produz boa fermentação, em
neas jovens têm boa digestibilidade e seu
h) prostração; razão do alto teor de umidade da massa na
consumo pelos bovinos é alto. Plantas
i) asfixia e morte. condição ideal de colheita e do baixo teor
colhidas maduras, embora apresentem
Caso haja intoxicação por ureia, admi- maior produção de massa, têm baixo de carboidratos solúveis. Existem diversas
nistrar, por via oral, de 3 a 6 L de vinagre valor nutritivo. Normalmente, o corte da maneiras de superar esses problemas, como
por animal adulto, logo após o aparecimen- capineira é feito quando o capim apresenta promover a murcha do capim antes da ensi-
to dos primeiros sintomas. avançado estádio de desenvolvimento, lagem ou adicionar produtos como fenos e
Outra opção de utilização da cana-de- porte elevado, com altos teores de fibra palhadas, milho desintegrado com palha e
açúcar é a hidrolisação. Para hidrolisar a e lignificação da parede celular, o que sabugo, fubá, raspa de mandioca, melaço,
cana-de-açúcar, pulverizar 0,5 kg de cal proporciona baixa digestibilidade (Fig, 5). polpa de laranja, etc. Apesar de conhecidas
virgem micropulverizada (CaO), diluída Não são raras as propriedades rurais que há muito tempo, essas técnicas dificilmente
em 2 L de água, em 100 kg de cana-de- manejam capineiras com apenas um corte são adotadas pelos produtores em razão
-açúcar picada. Deixar em repouso por, durante todo o ano. do custo e das dificuldades operacionais.
no mínimo, 10 horas. O ideal é preparar Independentemente do planejamento
no dia anterior, para fornecer ao animal do agricultor, a capineira deve ser colhida Concentrados
no dia seguinte. A cal utilizada deve ser a sempre que atingir o ponto de corte. Os Os concentrados são alimentos que
microprocessada. Não utilizar a cal virgem critérios para definir este ponto normal- contêm baixos teores de umidade e fibra,
aplicada em construções, pois pode causar
problemas aos animais. A utilização de
QUADRO 5 - Produção (teor de proteína bruta) de capim-elefante de acordo com o intervalo
cana-de-açúcar hidrolisada não dispensa a de tempo decorrido entre o último corte e a data subsequente da colheita para
correção dos níveis de proteína e minerais uso da forragem
com ureia + sulfato de amônio. Data da colheita
A ensilagem da cana-de-açúcar é outra Data do último corte
opção. Não melhora sua qualidade e deve 18 de junho 16 de julho 14 de agosto 12 de setembro
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podendo ter altas concentrações de ener- zação de pastagens, a redução no consumo para correção da deficiência nutricional
gia, proteína ou ambas. No meio rural é de pasto pode diminuir a lucratividade do da cana-de-açúcar, com ganhos produti-
denominado ração. Sua alta densidade sistema produtivo. vos do ponto de vista técnico-econômico,
em nutrientes lhe confere preços mais O fornecimento de concentrado em têm sido disponibilizadas pela pesquisa
elevados comparados aos alimentos vo- quantidade fixa para todo o rebanho pode (FERREIRA et al., 2007). O produtor
lumosos, recomendando-se avaliações de prejudicar as vacas mais produtivas, em deverá conhecer a composição química
custo-benefício, que visam sua utilização consequência da deficiência de nutrien- do volumoso utilizado e os teores nutricio-
em programas alimentares para bovinos tes, com prejuízos na produção de leite nais da dieta total, para que possa corrigir
leiteiros manejados em pasto. Vacas lei- e excesso de alimento para vacas menos os nutrientes deficientes. Agindo assim,
teiras manejadas exclusivamente em pasto produtivas, o que aumenta os custos dos reduzem-se os efeitos da suplementação
com forrageiras tropicais normalmente não sistemas de produção. Assim, o forneci- empírica e defasada.
apresentam produções diárias de leite su- mento de concentrados deve basear-se em
periores de 10 a 13 kg (Quadro 2). Deresz resultados de controle leiteiro, pois permite AGRADECIMENTO
e Mozzer (1990) observaram respostas de identificar e privilegiar, por mérito, as
À Fundação de Amparo à Pesquisa do
vacas leiteiras manejadas em pastagem de vacas mais produtivas do rebanho. Tal me-
Estado de Minas Gerais (Fapemig) e ao
capim-elefante e baixo nível de suplemen- dida contribui para uma melhor eficiência
Conselho Nacional de Desenvolvimento
tação concentrada próximos a 2.500 kg de do sistema produtivo, com racionalização
Científico e Tecnlógico (CNPq), pelo fi-
leite por lactação. do uso de concentrados. A EPAMIG utiliza
nanciamento das pesquisas e pelas bolsas
A suplementação com alimentos con- em seus rebanhos um sistema próprio de
concedidas.
centrados para bovinos manejados em manejo alimentar com o objetivo de produ-
pasto pode contribuir para incrementos zir leite rentável em pasto com resultados
REFERÊNCIAS
produtivos, porém, há necessidade de ava- consistentes, que pode ser consultado em
liações quanto ao uso para vacas em lacta- Ferreira et al. (2007). ALVIM, M.J. et al. Produção de leite em pas-
tagens de capim-angola e de setária. Coro-
ção. A suplementação concentrada pode ter O uso de concentrados também está
nel Pacheco: EMBRAPA-CNPGL, 1995. 30p.
efeitos no consumo de pasto. De maneira relacionado com o seu custo e com a
(EMBRAPA-CNPGL. Circular Técnica, 37).
geral, a utilização de quantidades mode- quantidade utilizada. A margem líquida
BARCELLOS A. de O. et al. Sustentabilida-
radas de concentrados provoca depressão é crescente, à medida que reduz o preço
de da produção animal baseada em pasta-
no consumo de forragem. Esse fenômeno, do concentrado e aumenta a produção
gens consorciadas e no emprego de legu-
denominado efeito de substituição, é de leite. Dietas à base de cana-de-açúcar minosas exclusivas, na forma de banco de
proporcionalmente maior em níveis mais exigem maiores quantidades de concen- proteína, nos trópicos brasileiros. Revista
elevados de suplementação concentrada. trado em relação a sistemas que utilizam Brasileira de Zootenia, Viçosa, MG, v. 37,
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1
Farmacêutica Bioquímica, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG ZM/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico:
clucia@epamig.ufv.br
2
Enga Agr a , D.Sc., Pesq. EMBRAPA/U.R. EPAMIG ZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: cleide.pinto@epamig.ufv.br
3
Eng o Agr o , D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: slopes@epamig.br
4
Eng a Agr a , D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG ZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: mmiranda@epamig.ufv.br
5
Bacharel Ciência e Tecnologia de Laticínios, M.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG ZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrô-
nico: lima@vicosa.ufv.br
6
Médica-Veterinária, M.Sc., Pesq. EPAMIG-DPPE-DVPA, CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: cv.guimaraes@epamig.br
7
Engo Agro , D.Sc., Pesq./Prof. EPAMIG-ILCT, Caixa Postal 183, CEP 36045-560, Juiz de Fora-MG. Correio eletrônico: fernando.magalhaes@epamig.br
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Bactérias
Bacillus cereus, Clostridium, Campylobacter, Alimentos crus e processados: cereais, pei- Higiene precária em geral: proveniente de
Escherichia coli, Salmonella, Shigella, xes e frutos do mar, vegetais, alimentos crus animais como roedores e pássaros e de excre-
Staphylococcus e Vibrio. e desidratados de origem animal, incluindo mentos humanos.
produtos lácteos.
Fungos
Aspergillus flavus e outros. Nozes, cereais e grãos em geral, como Produtos estocados em ambiente com alta
amendoim e milho. umidade e temperatura.
Protozoários
Amoebae e Sporidia. Vegetais, frutas e leite cru. Áreas de produção e reservatórios de água
contaminados.
Helmintos
Grupos de parasitas internos, incluindo Vegetais e carnes cruas ou malcozidas e Água e solos contaminados em áreas de pro-
Ascaris, Fasciola, Opisthorchis, Taenia, peixes crus. dução.
Trichinella e Trichuris.
FONTE: Forsythe (2002).
Fatores (1)
Porcentual
Associados à contaminação
Manipuladores de alimentos 12
Alimentos processados contaminados não-enlatados 19
Alimentos crus contaminados 7
Contaminação cruzada 11
Limpeza inadequada dos equipamentos 7
Fontes duvidosas 5
Alimentos enlatados contaminados 2
(1)A porcentagem excede o total de 100, ao considerar que são muitos os fatores que normalmente contribuem para ocorrência de enfermi-
dades de origem alimentar.
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os muitos entraves na produção animal e de fundamental importância para o setor suas secretarias estaduais ou municipais e
as condições em que os produtos de origem alimentício nos últimos anos. Dentre essas Agência Nacional de Vigilância Sanitária
animal são processados e comercializados. legislações e normas estão incluídas as (Anvisa). O estabelecimento deve situar-se
É importante conscientizar os produtores BPA, Boas Práticas Agropecuárias e BPF em locais isentos de odores indesejáveis,
que fornecem leite a usinas de industria- (BRASIL, 1997ab), padrões sanitários de fumaça, pó ou outros contaminantes; não
lização, que fabricam produtos derivados alimentos (ANVISA, 2001), procedimen- estar exposto a inundações e ser devida-
do leite, e os funcionários da indústria tos padronizados de higiene operacional mente cercado e afastado do limite de vias
que beneficiam o produto, não só sobre as (BRASIL, 2003), Análises de Perigos e públicas. A edificação e as instalações de-
doenças e os riscos que oferecem à saúde Pontos Críticos de Controle (APPCC) vem ter o seu projeto aprovado, prevendo
humana, mas também sobre seus métodos (BRASIL, 1998). A Norma ISO 22000, o fluxo ordenado e sem cruzamentos em
de controle e erradicação. publicada pela International Organization todas as etapas do preparo de alimentos,
Diferenças culturais na preparação e for Standardization (ISO), em 2005, trata e facilitadas as operações de manutenção,
no uso do leite podem ser responsáveis
da certificação do sistema de gestão da limpeza e, quando for o caso, desinfecção.
pelo surgimento de doenças. Em muitas
segurança na produção de alimentos e O acesso às instalações deve ser controla-
culturas, manteigas e cremes de leite são
representa uma oportunidade para atingir do e independente, não comum a outros
produzidos com leite cru. No mundo todo,
a harmonização internacional dos padrões usos. Outras exigências são apresentadas
a prática do consumo de leite cru está
de segurança alimentar (ASSOCIAÇÃO no Quadro 3.
associada ao hábito e ao modo de vida da
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS,
população rural, o que aumenta as ocor- Instalações sanitárias e
2006).
rências de intoxicações e infecções, prin- vestiários
cipalmente em crianças, idosos e pessoas
BOAS PRÁTICAS DE Os estabelecimentos deverão dispor de
imunocomprometidas. As medidas preven-
FABRICAÇÃO (BPF) vestiários, sanitários e banheiros adequa-
tivas incluem estratégias de educação ao
As BPF são representadas por um con- dos, situados em locais corretos de acordo
consumidor e a eliminação de doença das
junto de procedimentos adotado na cadeia com o projeto, o que garante a eliminação
vacas leiteiras. O governo brasileiro, diante
produtiva de alimentos, para garantir a qua- higiênica das águas residuais. Os locais
dos dados de ocorrência de brucelose e
devem ser bem iluminados, ventilados,
tuberculose bovina, instituiu, em 2001, o lidade do produto final. São fundamentadas
sem comunicação direta com as áreas
Programa Nacional de Controle e Erradi- na obtenção de produtos livres de conta-
onde os alimentos são manipulados. De-
cação da Brucelose e Tuberculose Animal minações, prevenção de contaminação
vem dispor de pias com água fria ou fria e
(PNCEBT), com o objetivo de diminuir o cruzada e de condições que favoreçam a
quente, providas de elementos adequados
impacto negativo destas zoonoses na saúde multiplicação microbiana e/ou produção de
à lavagem e à secagem das mãos e meios
comunitária e de promover a competitivi- toxinas, o que permite a rastreabilidade do
higiênicos. Não é permitido o uso de
dade da pecuária nacional. processo e do produto acabado (BRASIL,
toalhas de pano. Toalhas de papel devem
Os cuidados higiênico-sanitários na ca- 1997ab). A implementação de BPF é uma ficar junto aos sanitários, bem como perto
deia produtiva são indispensáveis para ob- exigência dos órgãos fiscalizadores para a das áreas de manipulação dos alimentos,
tenção de produtos inócuos, de acordo com produção de alimentos e obtenção de pro- para que as mãos, após lavadas sejam
os padrões exigidos pela legislação. É ne- dutos de acordo com padrões de segurança secadas. As toalhas de papel deverão ser,
cessária a implementação de programas de alimentar, bem como para a orientação em quantidade suficiente, adaptadas em
qualidade na cadeia produtiva, a exemplo dos manipuladores envolvidos na cadeia porta-toalhas e com recipientes coletores.
das Boas Práticas Agrícolas (BPA), Boas
produtiva. As normas de BPF (BRASIL Devem ser colocados avisos indicando a
Práticas Agropecuárias e Boas Práticas
1997ab) são apresentadas a seguir. obrigatoriedade de lavar as mãos após o
de Fabricação (BPF), pré-requisitos para
uso de tais instalações.
a implementação de sistemas de garantia Edificação, instalações,
Nos casos em que substâncias contami-
de qualidade em toda a cadeia alimentar. equipamentos, móveis e
nantes sejam manipuladas ou quando o tipo
utensílios
de tarefa requerer desinfecção adicional à
LEGISLAÇÃO
Ao planejar as instalações de um es- lavagem, devem existir locais para a desin-
A elaboração de legislações e de nor- tabelecimento de produção de alimentos fecção das mãos. As instalações deverão
mas nacionais e internacionais fundamen- é necessária a orientação de profissional estar providas de tubulações sifonadas, que
tadas em procedimentos que permitem especializado e informações nos órgãos levem as águas residuais aos condutos de
a garantia de qualidade dos produtos foi fiscalizadores, nesse caso, o MAPA e escoamento.
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QUADRO 3 - Características e exigências de BPF quanto a edificação, instalações, equipamentos, móveis e utensílios
Item Exigência
Dimensionamento da edificação e das instalações Compatível com todas as operações.
Projeto Prevenção de contaminação cruzada: separação das áreas, setores de alvenaria ou outro ma-
terial aprovado por órgãos competentes, com definição de um fluxo de pessoas e alimentos.
Refeitórios, lavabos, vestuários e banheiros do pes- Proibição de acesso direto: separação completa dos locais de manipulação de alimento.
soal auxiliar e local de armazenamento do material
de limpeza
Insumos, matérias-primas e produtos acabados Estocagem sobre estrados e longe das paredes.
Piso, parede e teto Íntegros, conservados, livres de rachaduras, trincas, goteiras, vazamentos, infiltrações,
bolores, descascamentos, ausência de focos de contaminações: utilização de materiais
resistentes ao impacto, revestimento liso, impermeável e lavável.
Portas Mantidas ajustadas aos batentes e aquelas da área de preparo e armazenamento de alimentos
devem possuir fechamento automático, de material não absorvente, fácil limpeza, com
dobradiças vai-vem e sem maçanetas.
Aberturas externas das áreas de armazenamento e Uso de telas removíveis de malha milimétrica para impedir o acesso de vetores e pragas
preparo de alimentos, e sistema de exaustão urbanas.
Janelas e outras aberturas no ambiente Devem ser mantidas ajustadas aos batentes. Outras aberturas devem ser construídas para
evitar o acúmulo de sujidades. Aquelas que possuem comunicação com o exterior, devem
ser providas de proteção de telas antipragas, ser de fácil limpeza e possuir boa conservação.
Devem ser projetadas para que propiciem uma boa ventilação e impeçam o excesso de sol.
O peitoril não deve ser utilizado para depósito ou colocação de plantas e de outros objetos.
Paredes Construídas de alvenaria e revestidas de materiais impermeáveis, laváveis e de cores claras.
Devem ser lisas, sem frestas, de fácil limpeza e sanitização, e altura de até 2 m. Os ângulos
entre as paredes e os pisos e entre as paredes e o teto devem ser abaulados e sem frestas
de qualquer espécie, para facilitar a limpeza.
Pé direito e pisos Deve permitir a instalação adequada de equipamentos, com altura mínima de 3 m. Os
pisos devem ser de cor clara, de material resistente ao trânsito, impermeáveis, laváveis,
antiderrapantes, de fácil limpeza e sanitização, não devem possuir frestas. Sua inclinação
deve ser eficiente para o escoamento de líquidos em direção aos ralos. Os ralos, do tipo
sifão ou similar, devem ser lavados com frequência para evitar o acúmulo de gorduras e
a proliferação de pragas.
Tetos ou forros Construídos e/ou acabados para facilitar a limpeza, impedindo o acúmulo de sujeira, e que
minimize ao máximo a condensação e o crescimento de fungos. Deve possuir sistema de
vedação contra insetos e outras fontes de contaminação. A junção com a parede deve ser
arredondada. As dependências industriais deverão dispor de iluminação natural e/ou artifi-
cial, que possibilitem a realização das tarefas e não comprometam a higiene dos alimentos.
Fontes de luz artificial As fontes de luz devem ser suspensas inócuas, protegidas contra rompimentos. A ilumina-
ção não deve alterar as cores. As instalações elétricas deverão ser embutidas ou aparentes
e, neste caso, estarem protegidas por canos isolantes e apoiadas nas paredes e tetos, não
sendo permitida a presença de cabos pendurados nas áreas de manipulação.
Ventilação Suficiente para evitar o calor excessivo e a condensação de vapor. A corrente de ar nunca
deve fluir de uma área suja para uma área limpa. Aberturas como janelas, portas e outras,
que permitem a ventilação, deverão ser dotadas de dispositivos que protejam contra a
entrada de agentes contaminantes.
Escadas, monta-cargas e estruturas auxiliares, como Deverão estar localizadas e construídas de maneira que não causem contaminação.
plataformas, escadas de mão e rampas
Materiais que dificultem a limpeza e a desinfecção Evitar o uso de madeira, a menos que a tecnologia empregada torne imprescindível o seu
adequadas uso e não constitua uma fonte de contaminação.
Locais refrigerados Uniformidade da temperatura na conservação das matérias-primas dos produtos e durante
os processos industriais. Uso de termômetro de máxima e mínima ou de dispositivos de
registro da temperatura.
NOTA: BPF – Boas práticas de fabricação.
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patogênicos), indicadores de depósitos, in- devem ter conhecimento da importância da dadosamente lavadas entre uma e outra
crustações e corrosão (cobre, ferro, zinco, prevenção e controle de contaminações e manipulação de produtos nas diversas
cálcio, magnésio, cloretos, sulfatos, sílica, dos riscos a estas associados e possuírem fases do processo. Todos os equipamen-
bicarbonatos/ácido carbônico, oxigênio), capacitação em técnicas de limpeza e tos e utensílios que tenham entrado em
indicadores de poluição (amônia, nitrito, sanitização. contato com matérias-primas ou com
nitrato) e características microbiológicas. Os equipamentos e os utensílios devem material contaminado devem ser limpos
ser construídos com materiais que não e sanitizados cuidadosamente antes de
Limpeza e sanitização transmitam substâncias tóxicas, odores e ser utilizados em produtos acabados. As
Os prédios, equipamentos e utensílios sabores aos alimentos. Além disso, devem matérias-primas devem ser protegidas de
e as demais instalações do estabelecimen- possuir características não-absorventes, re- possíveis contaminações, por contato com
to, incluindo os condutos de escoamento sistência à corrosão e a repetidas operações lixos ou sujidades de origem animal, do-
das águas, deverão ser mantidos em bom de limpeza e sanitização. As superfícies méstica, industrial ou agrícola, que possam
estado de conservação e funcionamento. deverão ser lisas e isentas de imperfei- causar risco à saúde. Recomenda-se, como
As salas da área de produção deverão es- ções, incluindo fendas, amassaduras, medida preventiva de contaminações dos
tar permanentemente limpas, sem vapor, entre outras. O uso de madeira e de outros alimentos, não cultivar, produzir ou extrair
poeira, fumaça e acúmulos de água. Os materiais deve ser evitado. A natureza do alimentos ou criar animais destinados à
vestiários, sanitários e banheiros, as vias material empregado para construção e de- alimentação humana, em áreas onde a água
de acesso e os pátios também deverão estar senho dos equipamentos é tão importante usada nos diversos processos produtivos
permanentemente limpos. quanto o das instalações. O aço inoxidável seja de qualidade insatisfatória. Ao usar
As áreas de manipulação de alimentos, é o material mais empregado na fabricação substâncias tóxicas nos recipientes, estes
os equipamentos e utensílios deverão ser de equipamentos e utensílios. Esse mate- deverão ser descartados com o objetivo de
limpos e sanitizados com a frequência ne- rial, apesar de ser mais resistente, pode evitar possíveis contaminações nos alimen-
cessária e não deverão ser usadas substân- ser danificado pelo contato com soluções tos. As matérias-primas inadequadas para
cias odorizantes e/ou desodorizantes. Os de salmoura e soluções de higienização consumo humano devem ser separadas
produtos de limpeza e sanitização deverão em função da temperatura, concentração, durante os processos produtivos para pre-
ter seu uso aprovado por órgão competente velocidade de fluxo e pH (ANDRADE; venir a contaminação dos alimentos, água
e pelo setor de controle de qualidade da MACÊDO, 1996). e ambiente. Medidas de proteção contra a
empresa e devem ser guardados em local contaminação das matérias-primas e danos
adequado, fora das áreas de manipulação Prevenção de à saúde pública devem ser tomadas para
contaminações cruzadas
de alimentos. Devem-se dispor de recipien- evitar contaminações químicas, físicas ou
tes adequados, em número e capacidade, Contaminação é a presença não- microbiológicas ou por outras substâncias
necessários para depósitos de dejetos e/ou intencional de qualquer material estranho indesejáveis, além de medidas quanto à
materiais não-comestíveis. Os resíduos nos alimentos, de origem química, física prevenção de possíveis danos. Os meios
de detergentes e desinfetantes devem ser ou biológica, que os tornam inadequados para transportar as matérias-primas dos
eliminados mediante lavagem minuciosa, para consumo humano. Contaminação locais de produção ou armazenamento
com água potável, antes que as áreas e os cruzada é a transferência de substâncias devem ser adequados para a finalidade a
equipamentos voltem a ser utilizados para ou microrganismos prejudiciais à saúde que se destinam e construídos de materiais
a manipulação de alimentos. humana, de uma fonte contaminada para que permitam a limpeza, desinfecção e
Precauções adequadas, quanto à lim- um alimento não contaminado ou pronto a desinfestação fáceis e completas.
peza e à sanitização, devem ser tomadas, ser consumido. Exemplos podem ser ilus-
quando forem realizadas operações de trados como fatiamento de carnes prontas Controle integrado de
pragas e vetores
manutenção geral e/ou específica de equi- para o consumo com faca anteriormente
pamentos, utensílios ou qualquer elemento utilizada para cortar carnes cruas, circula- O Controle Integrado de Pragas (CIP)
que possa contaminar o alimento. Imedia- ção de pessoas que trabalham na recepção e vetores compreende o tratamento com
tamente após o término da jornada de traba- de leite em áreas de produtos processados. agentes químicos, biológicos ou físicos,
lho, ou quantas vezes forem necessárias, o Medidas eficazes devem ser tomadas com o objetivo de aperfeiçoar o controle
chão, os condutos de escoamento de água, para evitar contaminações nas etapas de pragas e minimizar os riscos de conta-
as estruturas de apoio e as paredes das áreas iniciais do preparo dos alimentos, por minações. Deve ser realizado apenas sob
de manipulação de alimentos deverão ser contato direto ou indireto, com o material a supervisão direta de pessoal que conheça
rigorosamente limpos. Os manipuladores contaminado. As mãos devem ser cui- os perigos potenciais que representam para
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a saúde. Uma forma ativa de contaminação dos recipientes, utilizados para o armazena- ou bandejas limpas, dispostos na ordem
dos alimentos é o seu contato com insetos mento, todos os equipamentos que tenham adequada para a rotação “primeiro que
ou roedores que atuam como vetores de entrado em contato com estes recipientes entra primeiro que sai” (Peps). Os produ-
diversas doenças. Os serviços de CIP são deverão ser limpos e desinfetados. A área tos ou ingredientes mais recentes devem
estabelecidos pela legislação brasileira de armazenamento de resíduos deverá ser ser colocados atrás ou embaixo daqueles
(BRASIL, 1997ab; ANVISA, 2002b). limpa e desinfetada. mais antigos para evitar a contaminação
O armazenamento dos produtos deve cruzada. Os produtos que possam vazar ou
ser feito em locais cujo controle garanta a Recepção de matérias-primas gotejar devem ser armazenados abaixo dos
proteção contra a contaminação e reduza ao As recomendações incluem a inspeção demais em recipientes limpos, tampados
mínimo as perdas da qualidade nutricional de todos os ingredientes, embalagens de e rotulados, se tiverem sido retirados dos
ou deteriorações. Os equipamentos e os produto, itens descartáveis, roupas lavadas, recipientes originais.
recipientes não devem constituir um risco estrados e documentos de entrada quanto a
Não armazenar
à saúde, devendo ser lavados e santizados. evidências de contaminação. Os requisitos
Além do conhecimento das pragas existen- aplicáveis à matéria-prima são: Embaixo de tubulações de esgoto,
tes, é essencial o conhecimento do local, a) não aceitar matéria-prima ou ingre- de água ou de refrigeração, onde exista
da região onde está localizada a empresa, diente que contenham parasitas, mi- condensação acumulada ou evidência de
layout e identificação de pontos críticos. O crorganismos ou substâncias tóxicas, vazamento. Em banheiros, vestiários, lo-
CIP minimiza o uso de inseticidas no am- decompostas ou estranhas, que não cais de refugo ou de recuperação ou salas
biente, com o emprego de barreiras físicas, possam ser reduzidas a concentra- de equipamentos mecânicos. Diretamente
visando menor exposição das pessoas e/ou ções aceitáveis, pelos procedimentos sobre o piso ou encostados nas paredes e
animais aos produtos. Os procedimentos normais de classificação e/ou prepa- em locais muito cheios.
devem contemplar as medidas preventivas ração ou elaboração; Armazenamento a seco
e corretivas destinadas a impedir a atração,
b) inspeção e classificação de matérias-
o abrigo, o acesso e/ou proliferação de ve- Os recipientes devem ser mantidos fe-
-primas ou ingredientes antes de
tores e pragas urbanas. No caso do controle chados até o momento do uso. Quando for
serem introduzidos na linha de fa-
químico, o estabelecimento deve apresentar usada apenas uma porção do conteúdo de
bricação/elaboração e, se necessário,
comprovante de realização do serviço forne- uma embalagem ou de um recipiente, o res-
deverão ser submetidos a controles
cido pela empresa especializada contratada. tante deve ser transferido para recipientes
laboratoriais. Na elaboração, deve-
As agroindústrias de alimentos apresentam plásticos ou metálicos limpos, sanitizados,
rão ser utilizadas somente matérias-
diversos locais propícios à proliferação de tampados e rotulados. Os produtos críticos
primas ou ingredientes limpos e em
insetos e roedores. Nessas áreas, o controle como os pós de base láctea, açúcar e pro-
boas condições. As matérias-primas
de pragas só pode ser realizado por profis- ou ingredientes armazenados nas
dutos aromatizantes, entre outros, devem
sionais treinados e legalizados. ser examinados com frequência quanto à
dependências do estabelecimento
presença de sinais de infestação por pra-
deverão ser mantidos em condições
Manejo de resíduos gas. Um espaço de pelo menos 45 cm deve
que evitem a sua deterioração, que
O estabelecimento deve dispor de re- ser deixado entre as pilhas de produtos e
sejam protegidos contra a contami-
cipientes identificados e íntegros, de fácil entre estas e as paredes. Os utensílios de
nação, a fim de reduzir as perdas ao
higienização e transporte, em número e ca- limpeza e os suprimentos de embalagem
mínimo. Deverá ser assegurada a
pacidade suficientes para conter os resíduos. rotatividade adequada dos estoques
e descartáveis devem ser armazenados
Os coletores utilizados para deposição dos bem fechados sob as mesmas condições
de matérias-primas e ingredientes.
resíduos das áreas de preparação e armaze- sanitárias que as matérias-primas. Os agen-
namento de alimentos devem ser dotados de Armazenamento de tes de limpeza e sanitizantes não devem
tampas acionadas sem contato manual. Os produtos e matérias-primas ser armazenados acima ou próximos dos
resíduos devem ser frequentemente coleta- ingredientes, suprimentos de embalagem,
dos e estocados em local fechado e isolado Itens secos, refrigerados e itens descartáveis e itens que entrem em
congelados
da área de preparação e armazenamento dos contato com os produtos. Os produtos
alimentos, a fim de evitar focos de contami- Devem ser mantidos em áreas limpas inseticidas e os outros materiais tóxicos
nação e atração de vetores e pragas urbanas. e organizadas, pelo menos com 15 cm devem ser armazenados trancados em
Imediatamente após a retirada dos resíduos acima do piso, sobre prateleiras, estrados uma área separada daquela usada para o
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armazenamento dos agentes de limpeza, e outros. O controle da temperatura é ou Serviço de Inspeção Federal (SIF). O
sanitizantes e dos produtos. importante para impedir o crescimento rótulo deve conter as seguintes informa-
das bactérias e produção de suas toxinas. ções: nome e marca do alimento, nome do
Armazenamento em
A área de armazenamento de alimentos fabricante ou produtor, número de registro
temperatura controlada
congelados deve ser seca, limpa e bem ven- no órgão competente, identificação dos
A temperatura do congelador deve ser tilada. O freezer deve estar funcionando na aditivos, ingredientes do produto, data de
verificada pelo menos duas vezes por dia. temperatura correta, a -18 oC, os alimentos fabricação, data de validade, carimbo de
Os itens congelados devem ser mantidos não devem ser armazenados acima da linha inspeção para produtos de origem animal e
a -17 °C ou menos, e os itens refrigerados de carga do freezer. Os prazos de validade seus derivados, peso e volume, temperatura
a +4,4 °C ou menos. devem ser frequentemente verificados. de armazenamento e condições de estoca-
Os alimentos descongelados não devem gem e informação nutricional.
Desinfecção das matérias-
-primas ser recongelados. Os alimentos devem ser
Documentação e registro
embalados corretamente.
Na sanitização da matéria-prima são
As agroindústrias devem dispor de
usados agentes com atividade antimicro- Embalagem Manual de BPF e a descrição dos Procedi-
biana, sendo que a legislação brasileira
As embalagens devem ser armazenadas mentos Operacionais Padronizados. Esses
recomenda o uso de substâncias cloradas.
em condições higiênico-sanitárias, em documentos devem estar acessíveis aos
Armazenamento e local destinado para este fim, sendo que o manipuladores envolvidos e disponíveis à
transporte do alimento material deve ser seguro e apropriado ao autoridade sanitária. Devem ser aprovados,
pronto para o consumo produto acabado. As condições previstas datados e assinados pelo responsável do
As matérias-primas e os produtos de armazenamento não devem permitir estabelecimento. Os registros devem ser
acabados deverão ser armazenados e que sejam transferidas para o produto final mantidos por período mínimo de um ano
transportados em condições que impeçam substâncias indesejáveis, que excedam os e em local de fácil acesso e disponível ao
a contaminação e/ou a multiplicação de limites aceitáveis pelo órgão competen- serviço de fiscalização.
microrganismos e protejam contra a alte- te. Conferir proteção apropriada contra
as contaminações. Não devem ter sido CONSIDERAÇÕES FINAIS
ração do produto e danos aos recipientes
ou embalagens. Durante o armazenamento, anteriormente utilizadas para nenhuma Os responsáveis pelo processamento de
deverá ser feita uma inspeção periódica outra finalidade que não seja o acondi- alimentos devem ter conhecimento sobre
dos produtos acabados, com o objetivo cionamento do produto acabado. Devem as BPF para avaliar e intervir nos possíveis
de liberar só alimentos aptos ao consumo ser inspecionadas imediatamente antes do riscos e assegurar uma vigilância e contro-
humano e cumprir as especificações aplicá- uso, para verificar sua segurança. Em casos les eficazes. Os aspectos de saúde pública e
veis aos produtos acabados. Os veículos de específicos, limpas e/ou desinfetadas e, econômicos devem ser considerados como
transporte próprios ou contratados deverão caso necessário, devem ser secas antes do prioritários prevendo-se a capacitação dos
estar autorizados pelo órgão competente. uso. Na área de envase e de embalagem, manipuladores, instruções específicas e
Os veículos de transporte deverão realizar devem permanecer apenas as embalagens detalhadas sobre procedimentos de BPF,
as operações de carga e descarga fora dos necessárias para uso imediato. O ato de estabelecimento de um plano de avalia-
locais de elaboração dos alimentos, evitan- embalar deve ser feito em condições que ção fundamentado em critérios visuais,
do, assim, a contaminação destes alimentos excluam as possibilidades de contaminação químicos e microbiológicos, critério para
e do ar pelos gases de combustão. Os veí- do produto. a eliminação ou tratamento de resíduos,
culos destinados ao transporte de alimentos manutenção das instalações, prédios e
Rotulagem e apresentação
refrigerados devem dispor de meios que terrenos e cálculo dos custos.
permitam verificar a umidade, quando Todos os alimentos adquiridos de Algumas das adequações apresentadas
necessário, e a temperatura, que deve ser fornecedores e expostos à venda devem não exigem investimentos dispendiosos e
mantida dentro dos níveis adequados. apresentar rotulagem completa e legível sim mudanças de hábitos e organização,
Os alimentos perecíveis, principal- (ANVISA, 2002a), o que possibilita iden- como por exemplo, aspectos de higiene
mente os de alto risco, que deterioram tificar a procedência e o registro do pro- pessoal, prevenção de contaminações,
facilmente, necessitam de maior atenção duto nos Serviços de Inspeção Municipal controle da qualidade da água, organização
como os produtos à base de leite, cremes (SIM), Serviço de Inspeção Estadual (SIE) dos ambientes, entre outros. Já a adequa-
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ção da infraestrutura demanda um maior Fabricação em Estabelecimentos Produto- de de adequação às boas práticas de pro-
investimento por parte dos produtores. res/Industrializadores de Alimentos. Diário dução e de comercialização. Revista do
Oficial [da] República Federativa do Bra- Instituto de Laticínios “Cândido Tostes”,
Nesse caso, os agricultores devem buscar
sil, Brasília, 6 nov. 2002b. Juiz de Fora, v.58, n.333, p.178-180, jul./
orientação nos órgãos competentes sobre
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS ago. 2003. Anais do XX Congresso Nacio-
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TÉCNICAS. NBR ISO 22000: sistemas de nal de Laticínios.
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INTRODUÇÃO lhão de famílias produtoras de leite, isto é, oneroso, burocrático e, no geral, não
mais de 80% dos produtores de leite são tem conformidade com o calendário
O Brasil possui sua base de Produto
considerados pequenos produtores, com agrícola;
Interno Bruto (PIB) alicerçada na agro-
baixa produtividade por animal, pouco c) a assistência técnica e a extensão
pecuária. Particularmente em relação à
uso de tecnologia e respondem por 20% rural estão necessitando de novos
pecuária leiteira, Fonseca e Santos (2007)
da produção total. instrumentos e recursos para am-
exemplificam sua importância pela produ-
Melhorias no campo são perceptíveis. pliar o atendimento aos pequenos
ção, em 2005, de cerca de 25 bilhões de
No entanto, alguns fatores continuam agricultores;
litros de leite, os quais geraram, confor-
afetando negativamente o seu desenvolvi- d) a tecnologia agropecuária gera-
me Martins (2007), uma renda bruta de,
mento, dentre os quais destacam-se: da não alcança e nem sempre é
aproximadamente, 12 bilhões de reais.
Caracterizadas pela heterogeneidade, há a) a própria política agrícola que compatível com as necessidades e
propriedades leiteiras com produção diária apresenta equívocos, quando da realidade do grande contingente de
inferior a 10 litros e outras que superam abordagem de fatores culturais, agricultores familiares;
60 mil litros. De acordo com Martins agroecológicos e socioeconômicos; e) a dificuldade de acesso à educação
(2007), no Brasil, existem cerca de 1 mi- b) o crédito rural é frequentemente por parte dos pequenos agricultores.
1
Médico-Veterinário, M.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG SM-FERN, CEP 36301-360 São João del-Rei-MG. Correio eletrônico: adautolemos@epamig.br
2
Engo Alimentos, Pesq. EPAMIG-ILCT, Caixa Postal 183, CEP 36045-560 Juiz de Fora-MG. Correio eletrônico: pedrohenrique@epamig.br
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Em relação aos três últimos fatores ci- rural considerava a família rural como uma culturais e ambientais do País. Este norte
tados, cabe analisar a estrutura de apoio ao unidade de trabalho. Posteriormente, com a está demandando uma nova postura insti-
pequeno agricultor, especialmente àquele Revolução Verde, o atendimento passou a tucional e um novo profissionalismo com
que se autodenomina “tirador de leite”. ser individualizado, priorizando médios e orientações estratégicas para suas ações,
Segundo Castro et al. (2005), vive-se grandes agricultores. Em 1970, foi criada a bem como o restabelecimento da articula-
hoje um momento de resgate da política de Empresa Brasileira de Assistência Técnica ção da extensão rural com as instituições de
Assistência Técnica e Extensão Rural para e Extensão Rural (Embrater), centralizando ensino e pesquisa (CASTRO et al., 2005).
o País, percebida recentemente como um as decisões em nível federal. No início da
processo educativo que propicia assistência década de 1980, no entanto, houve uma PAPEL DO EXTENSIONISTA
técnica, econômica e social às famílias redução de recursos que culminou com a NO BRASIL
rurais, com o objetivo de ajudá-las a ele- extinção da Embrater em 1990, colocan- Segundo Bernardo, Muniz e Moreira
var seu nível de vida ou mesmo difundir do os sistemas estaduais em desconforto (2007), ainda persiste o modelo clássico
conhecimentos por meio de processos financeiro, gerando modificações nas es- americano de extensão rural, em que o
educativos. Diferem, neste sentido, do truturas dessas empresas, como fusões das extensionista é a ponte entre a pesquisa e
paternalismo e do fomento da agropecu- entidades de pesquisa com as de assistência o produtor, o qual leva novas tecnologias
ária, quando há, somente, distribuição técnica e extensão rural (CASTRO et al., aos produtores e traz problemas perce-
gratuita de sementes, adubos, máquinas 2005). Tal fato, no entanto, não ocorreu bidos no campo para os pesquisadores.
ou qualquer outro insumo. A assistência em Minas Gerais, ficaram preservadas Segundo Rogers (1969 apud BERNARDO;
técnica de hoje está mais voltada para a a Empresa de Pesquisa Agropecuária de MUNIZ; MOREIRA, 2007), o comporta-
capacitação do produtor, para que este Minas Gerais (EPAMIG) e a Empresa de mento de camponeses em várias partes do
possa alavancar seu próprio empreendi- Assistência Técnica e Extensão Rural do mundo tem dez características em comum
mento. Para isso, o extensionista utiliza Estado de Minas Gerais (Emater-MG). (Quadro 1).
de diversos meios de comunicação, como Ainda, segundo Castro et al. (2005), um Em relação à falta de inovação, item
jornal, rádio, televisão, filme, retroprojetor, terceiro momento foi vivido pela extensão dois do Quadro 1, Rogers (1969 apud
datashow e métodos pedagógicos, como rural, quando as maiores ações deslocaram- BERNARDO; MUNIZ; MOREIRA,
visitas, reuniões, excursões, dias de cam- se para a área ambiental, agroecologia, um 2007) avalia que tal fato não é decorrente
po, entre outros. De fato são instrumentos caminho mais equitativo e mais apropriado do comportamento limitado do camponês
novos, mas conforme Castro et al. (2005) para a agricultura familiar. Segundo dados e, sim, da escassez de recursos financei-
afirmaram, a extensão rural clássica sempre da Associação Brasileira das Entidades Es- ros disponíveis; não adota determinada
deu prioridade à agricultura familiar, valo- taduais de Assistência Técnica e Extensão tecnologia, mesmo ciente dos ganhos que
rizando o contato direto dos extensionistas Rural (ASBRAER, 2003 apud CASTRO poderia obter. Essa atitude cria um conflito
com os produtores em suas propriedades et al., 2005), há, nas 27 unidades da Fe- e frustra muitos extensionistas que estimu-
ou comunidades rurais, estabelecendo, deração, 24.127 trabalhadores, dos quais lam a adoção de determinadas tecnologias,
assim, um diálogo que possibilite uma 14.500 atuam no campo, atendendo cerca que mesmo óbvias, quanto aos benefícios,
troca de conhecimentos entre os agentes de 93% dos municípios brasileiros, mas não são adotadas pelo produtor assistido.
de extensão e os agricultores. apenas 40% dos agricultores familiares do Essa relação de dualidade entre tecno-
País são alcançados. logias potencialmente benéficas a serem
HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA No momento, uma Política Nacional adotadas e dificuldade de adaptação e uso
TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL de Assistência Técnica e Extensão Rural motiva uma avaliação.
PÚBLICA NO BRASIL (Pnater), conduzida pelo Ministério do De-
Em 1948, foi fundada a Assistência senvolvimento Agrário (MDA), preconiza PROFISSIONALIZAÇÃO DA
novas metodologias para fortalecimento da BOVINOCULTURA DE LEITE E
Técnica e Extensão Rural (Ater) brasileira
PEQUENOS AGRICULTORES
e a Associação de Crédito e Assistência agricultura familiar. Em foco a inclusão
Rural de Minas Gerais (Acar), com o social da população rural brasileira mais A falta de profissionalização e o defi-
objetivo de, por meio da comunicação e pobre, os assentados da reforma agrária, os ciente gerenciamento da atividade, bem
tecnologia, proporcionar a transferência extrativistas, os ribeirinhos, os indígenas, como a pouca ou nenhuma utilização de
de novos conhecimentos às comunidades. os quilombolas, os pescadores artesanais, tecnologia, são vistos por Benedetti (2006)
Neste sentido, os extensionistas da Acar os seringueiros dentre outros, sempre como a causa principal da má situação
atuavam como educadores voltados à procurando o respeito à pluralidade e às vivida pelos “tiradores de leite”. Esclare-
empresa familiar. Até 1964, a extensão diversidades sociais, econômicas, étnicas, ce ainda que, embora a produção leiteira
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QUADRO 1 - Perfil e comportamento de camponeses em nível mundial de Saúde (OMS) é de uma UBS para cada
Característica Descrição 20 mil – o PSF ainda enfrenta muitos
problemas. Um deles, segundo Franco e
1 Mútua desconfiança nas relações interpessoais e falta de habilidade
de agir em grupo.
Merhy (200-), são as visitas domiciliares
compulsórias, que não deveriam ser feitas
2 Falta de inovação, sendo pouco inovadores evitando riscos e in- sem que houvesse uma indicação explícita
certezas.
para isto; sem nenhum indicativo do que
3 Fatalistas, com crença divina profunda. o médico ou o enfermeiro vão fazer em
4 Baixos níveis de aspiração em termos de vida, status social, educação determinado domicílio.
e ocupação. Outra dificuldade, apontada por Franco
5 Baixo nível de expectativa de gratificação a longo prazo.
e Merhy (200-), que merece destaque é
a figura do médico generalista. Segundo
6 Perspectiva de tempo limitada às condições naturais de plantio, esses autores, a presença do médico gene-
colheita.
ralista no Programa pode gerar constran-
7 Primam sobre a ação familiar, em função dos objetivos individuais. gimentos; ao longo do tempo esse médico
8 Relação de hostilidade e dependência em relação aos governos locais.
pode-se transformar em um “especialista
da generalidade”. Equipes de referência
9 Baixo grau de relação com outras experiências que não aquelas representam, portanto, uma necessidade.
vividas no seu meio social.
Certamente, o Programa alcançaria melho-
10 Baixa empatia. res resultados para a população.
FONTE: Dados básicos: Bernardo, Muniz e Moreira (2007). É possível que no PSF não estejam
sendo adotadas as melhores estratégias
e que, como no Programa de Extensão
seja fonte de renda, principalmente pelos cura de doenças no hospital. Agora o PSF é
Rural adotado no País, surjam equívocos.
custos baixos com a mão-de-obra e pela centrado na família, em seu ambiente físico
Também o extensionista é muitas vezes
participação ativa da família na atividade, e social, indo além de práticas curativas.
percebido como generalista. Por falta de
há dificuldades, entre as quais: por ser Os princípios mais importantes do sis-
pessoal, em particular de especialistas,
trabalho diário intensivo; por apresentar tema são mostrados no Quadro 2.
em segmentos distintos do agronegócio,
relações de conflito entre produtor e indús- A territorialização do PSF estabelece o extensionista se vê no dever de ajudar
tria; além da necessidade de investimentos para uma clientela de 1 mil a 6 mil famílias produtores de áreas diversas.
em instalações e maquinários. em determinado território, uma equipe Portanto, é possível inferir que o suces-
Portanto, Benedetti (2006) sugere que
composta por um médico, um enfermeiro, so alcançado no País, tanto pelo PSF como
o gerenciamento dos negócios de produ-
um auxiliar de enfermagem e cinco agen- pelos Programas de Assistência Rural,
ção e a transferência de tecnologia podem
tes comunitários de saúde. Embora haja credencia a utilização da estrutura existente
contribuir para a ocorrência do processo
no País cerca de uma Unidade Básica de para a implantação de outro processo que
de transformação do produtor rural. Além
Saúde (UBS) para cada 5.424 habitantes – permite também atuar de forma direta e
disso, afirma que esse compartilhamento de
a recomendação da Organização Mundial individual sem gerar nenhum vício.
tecnologia deve ser feito de forma pessoal,
e o resultado é o aumento de conhecimento,
mesmo em pequenas áreas. QUADRO 2 - Características do Programa de Saúde da Família (PSF)
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IDENTIFICAÇÃO DA NÃO-ADOÇÃO legislação e mercado. A avaliação relativa de qualidade e segurança dos alimentos,
DE TECNOLOGIAS PROPOSTAS ao uso de tecnologias, realizada in loco não possui uma estrutura de produção,
NA CADEIA LÁCTEA: UM ESTUDO nas propriedades rurais do município de captação, transporte e beneficiamento de
DE CASO Tiradentes, pode ser vista no Gráfico 1. leite e derivados com níveis tecnológicos
Este processo é consequência de inú- Verifica-se, também, que mais da metade satisfatórios. Muitos produtores de queijos
meras discussões e de situações vividas dos pequenos agricultores não utilizou e de outros produtos no município fazem
pela área de Difusão de Tecnologia de qualquer tecnologia aprendida. É possível uso de métodos pouco adequados de fa-
Leite e Derivados, do Instituto de Lati- que isto tenha ocorrido em consequência bricação.
cínios Cândido Tostes (ILCT), criado há de fatores supracitados, alguns dos quais Nesse sentido, é urgente a transferência
75 anos, constituindo uma das Unidades dizem respeito à falta de acompanhamento de técnicas que possam provocar melhorias
da EPAMIG. O ILCT atua na pesquisa técnico na região, à escassez de recursos tanto no processo produtivo quanto no
e transferência de tecnologia na área de financeiros ou à falta de orientação quanto beneficiamento de derivados, garantindo
Leite e Derivados, atendendo diretamente ao modo e à instituição aos quais podem a segurança alimentar dos consumidores
inúmeros agricultores, muitos dos quais recorrer para obter tais recursos, para cons- desses produtos dentro e fora da região.
comparecem ao Instituto em busca de truir melhores instalações, equipamentos A percepção da realidade em Tiradentes
reciclagem ou mesmo para obtenção de e insumos. indica a necessidade de buscar outras estra-
conhecimentos na área de processamento A implantação da Fazenda Experimen- tégias para a transferência de tecnologia.
de leite, em particular na produção de tal Risoleta Neves (FERN) da Unidade
Ações e resultados
queijos, doces e fermentados em escala Regional EPAMIG Sul de Minas (U.R.
mínima para um empreendimento. EPAMIG SM) possibilitou uma parceria Algumas ações que possam contribuir
Diferente dos demais cursos até então com a Universidade Federal de São João para o desenvolvimento rural sustentável
realizados, foi proposta, em 2005, uma del-Rei (UFSJ) e prefeituras dos municí- precisam ser incentivadas, tais como:
nova dinâmica que possibilitasse uma pios do Campo das Vertentes. Juntas, vão instalação de unidades de processamento
averiguação da adoção das tecnologias encontrar as estratégias que possibilitarão de derivados lácteos, doces, fruticultura,
adquiridas após dois anos de treinamento avanços no processo de transferência de olericultura, piscicultura, grãos para ali-
de agricultores nas áreas de queijo, fermen- tecnologias. mentação humana, grãos para alimentação
tados e técnicas de produção de leite mais Paradoxalmente, embora seja uma animal, oleaginosas, biocombustível,
apropriadas à realidade de suas condições, região turística com muitas pousadas, fre- produtos orgânicos, silvicultura, orga-
controle de qualidade de leite e derivados, quentadas por pessoas exigentes em termo nizações sociais como associativismo,
cooperativismo, preservação ambiental e
sustentabilidade econômica. A criação de
uma marca para o queijo artesanal típico da
região é apenas o primeiro passo.
Neste contexto, qualquer caminho tra-
çado precisa considerar a vocação artesanal
da região. Desse modo relacionam-se, a
seguir, os resultados mais esperados:
a) organização da cadeia produtiva do
queijo típico da região;
b) aperfeiçoamento do queijo artesanal
típico da região, via adoção de tec-
nologia;
c) produtos padronizados;
d) criação de marca - comercialização
conjunta de queijos em embalagens
que fortaleçam a marca;
e) motivação para a produção de outros
Gráfico 1 - Uso de tecnologias difundidas aos agricultores familiares que receberam
treinamento no Instituto de Laticínios Cândido Tostes (ILCT), da EPAMIG em produtos oriundos do leite com a
Tiradentes, MG marca da região.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para dar um passo à frente é preciso
entender por que tecnologias repassadas
não foram utilizadas. Novos caminhos e
novas estratégias relativos à transferência
de tecnologia são, certamente, necessários.
O produtor, particularmente o de dimensão
familiar, precisa aprender a conhecer o
mercado. Tecnologia de produção apenas,
não é suficiente; está faltando estratégia
de gestão.
REFERÊNCIAS
BENEDETTI, E. Reflexos da validação tec-
nológica em sistemas de produção de leite
de pequenos produtores. In: BERNARDO,
W.F.; MEREIRA, M.S. de P.; ESTEVÃO, P.
(Ed.). Tecnologias de produção de leite
a baixo custo para Minas Gerais. Juiz de
Fora: Embrapa Gado de Leite, 2006. cap.1,
p. 9-19.
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Resumo - A piscicultura intensiva pode ser uma alternativa na geração de renda para
a agricultura familiar. No caso do sistema de produção em fluxo contínuo de água,
o reduzido investimento inicial, quando comparado com o do sistema tradicional
de piscicultura em viveiros escavados, e a possibilidade de reutilização da água
permitem que pequenos agricultores, sujeitos a limitações de crédito ou com baixa
disponibilidade de água, possam praticar a atividade com sucesso. A facilidade de
tratamento da água efluente da piscicultura ou de sua utilização para produção
vegetal, por meio da hidroponia, fertirrigação ou produção de macrófitas aquáticas,
torna factível, nesse sistema, produzir peixes com a devida sustentabilidade ambiental
e econômica.
INTRODUÇÃO essas alternativas, encontra-se a piscicul- Nesse caso, necessita-se de água de boa
tura em fluxo contínuo de água. qualidade, com temperaturas acima de
A piscicultura convencional em vi-
O sistema de produção de peixes em 22 oC e volume suficiente para manter
veiros escavados, além dos problemas
fluxo contínuo de água (flow-through) é altas taxas de renovação nos tanques
inerentes ao elevado custo de implantação,
utilizado amplamente em países da Eu- (caixas d’água) de produção. A utilização
ao difícil manejo dos peixes e às baixas
ropa e da América do Norte. Em algumas de caixas d’água circulares, de fibra de
produtividades, tem sido questionada por
regiões montanhosas do Centro-Sul do vidro com pequenas adaptações, permite
provocar grande impacto ambiental. Entre Brasil (Fig. 1), os piscicultores valem-se implantar unidades produtivas com o
os problemas causados pela implantação de cursos d’água de boa qualidade e com menor custo-investimento entre todos os
e manutenção desses empreendimentos baixas temperaturas para a produção de sistemas de produção (Quadro 1). Além
aquícolas, destacam-se: alteração de trutas arco-íris. No caso desses salmoní- disso, esse sistema proporciona menor
brejos e várzeas, poluição causada pelos deos, necessita-se de cerca de 10 L/s de emprego de mão-de-obra por unidade
efluentes e excesso do uso de água para água, com alta concentração de oxigênio produzida, já que o manejo dos peixes é
enchimento dos viveiros (BOYD, 2003). dissolvido, para produzir uma tonelada bastante facilitado.
Assim, é importante que se viabilizem métrica de peixes, anualmente. Ainda necessitam-se de pesquisas para
tecnologias alternativas, com menor custo Esse sistema também pode ser utili- definir alguns fatores de produção, como os
de implantação, para a piscicultura. Entre zado para a produção de tilápias do Nilo. fluxos de circulação da água adequados a
1
Engo Agr o , M.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG CO, Caixa Postal 295, CEP 35701-970 Prudente de Morais-MG. Correio eletrônico: vicentegontijo@epamig.br
2
Bióloga, M.Sc., Pesq. EPAMIG-DPPE, CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: elomelinoc@epamig.br
3
Zootecnista, M.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG CO/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 295, CEP 35701-970 Prudente de Morais-MG. Correio eletrô-
nico: giovanni@epamig.br
4
Eng a Agr a , D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG CO, Caixa Postal 295, CEP 35701-970 Prudente de Morais-MG. Correio eletrônico: marinalva@epamig.br
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SISTEMA DE PRODUÇÃO EM
FLUXO CONTÍNUO DE ÁGUA
Sistema de produção em fluxo contínuo
de água é aquele em que a água flui per-
FUNCIONAMENTO DA
UNIDADE PRODUTIVA
Como o nome do sistema de produ-
ção diz, a água deve fluir continuamente
E
pelas caixas d’água, onde se encontram
as tilápias. Pequenas interrupções já são
A prejudiciais ao desempenho produtivo
D C dos peixes. Interrupções mais prolonga-
das podem provocar elevada mortalidade.
Por esse motivo, para que a água flua sem
interrupções, devem-se tomar os seguintes
Fluxo de água B F cuidados:
a) evitar que animais entrem no reser-
vatório de adução;
b) manter a superfície da água nas pro-
Figura 4 - Esquema de funcionamento de caixa d’água em fluxo contínuo ximidades da captação sem plantas
NOTA: A - Caixa d’água de fibra de vidro (2.000 Litros); B - Caixa coletora adaptada no aquáticas, que podem ser sugadas e
fundo (fibra de vidro); C - Sistema de saída de água (esvaziamento) PVC - 100 mm;
D - Sistema de abastecimento com registro (PVC - 2 polegadas); E - Nível de água entupir o cano da tomada de água
(regulada pela inclinação do tubo de saída; F - Conexões (joelhos e luvas) removíveis. para as caixas de produção;
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FLUXO DE PRODUÇÃO
15 m
Aguapé
1 Para maior eficiência na utilização da
unidade produtiva, a produção deve ser es-
calonada. Essa estratégia, além de facilitar
a comercialização dos peixes, possibilita a
40 m
100 mm
150 mm distribuição da renda do produtor ao longo
do ano. Sendo assim, deve-se, inicialmen-
8
2 te, definir o fluxo de produção (Quadro 2).
10 m 10 m Estocam-se 2 mil alevinos (0,5 g) numa
3m
Canaleta (40 cm) 4 das caixas d’água de 4 mil litros, que serve
16 m como berçário. Após 70 dias, esses alevi-
5 nos, já com 60 a 70 g de peso médio, são
3m
20 m
por mais 70 dias. Logo após essa transfe-
3
rência, outros 2 mil alevinos são estocados
no berçário. Após esse segundo período
10 m
6
de 70 dias, os peixes das caixas d’água
de crescimento já com cerca de 400 g
de peso médio são transferidos para as três
caixas de terminação, com 4 mil litros,
1 Reservatório de adução
onde permanecem por mais 70 dias, até
2 Caixa d’água de produção: a comercialização, quando devem atingir
B - Berçário, 4 mil litros
C - Crescimento, 2 mil litros 900 g de peso médio.
T - Terminação, 4 mil litros A partir de 210 dias, a produção
3 Área disponível para outras atividades: estabiliza-se. A cada período de 70 dias,
hidroponia, beneficiamento de peixes, aves caipiras, etc.
4 Bacia de decantação - (revestida de plástico) adquirem-se 2 mil alevinos com 0,5 g e
5
comercializam-se 1.800 (três lotes de 600)
Biofiltro - (com brita)
peixes com 900 g. Pode-se, então, estimar
6 Bacia de tratamento (fito e zooplancton)
a produção da unidade:
7 Bacia de tratamento (macrófitas aquáticas)
8 Bombeamento (7,5 cv) - 150mm a) 600 peixes por caixa x 900 g x 3
caixas = 1.620 kg, a cada período
Figura 5 - Piscicultura em fluxo contínuo para agricultura familiar de 70 dias;
b) 1.620 kg por período x 5 períodos
por ano = 8.100 kg de tilápias por
c) realizar manutenções periódicas no ca – pelo menos uma vez por semana – de
ano.
sistema de bombeamento. parte dessas plantas (50% a 60%). Desse
Outro aspecto a ser considerado é a modo, possibilita-se o crescimento normal
das plantas restantes e evita-se a morte, o AQUISIÇÃO DOS ALEVINOS
qualidade da água. Todo o sistema de tra-
tamento baseia-se na oxidação da amônia decaimento e a decomposição de plantas Os alevinos de tilápia devem ser adqui-
excretada pelos peixes e na retirada de mais velhas. ridos de empresas idôneas, que trabalham
nutrientes pelas plantas aquáticas. Essas É preciso retirar, diariamente, as com linhagens geneticamente melhoradas.
plantas têm altas taxas de crescimento es- partículas sólidas, compostas de fezes e De maneira geral, os produtores de alevi-
pecífico e, em pouco tempo, podem cobrir sobras de ração, que ficam acumuladas na nos de tilápia do Nilo realizam a coleta
toda a superfície das bacias de tratamento. caixa coletora e no cano de esvaziamento, dos ovos, ainda na boca das fêmeas, e
É importante que se faça a retirada periódi- localizados no fundo das caixas d’água. promovem a incubação artificial desses
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f) evitar, ao máximo, manipular os pei- m3 no final do ciclo produtivo (peixes com sárias (Fig. 6). Como a definição das quan-
xes (pegar com as mãos). Devem-se 814 g). Quanto ao segundo fator, deve-se tidades de ração a serem fornecidas aos
usar peneiras, escorredores de arroz considerar que a caixa d’água de 4 mil litros peixes baseia-se na biomassa presente, cal-
ou outros utensílios. A manipulação tem o diâmetro superior de 2,30 m, o que culada pela multiplicação do peso médio
pode retirar parcialmente o muco corresponde à área superficial de, aproxima- pelo número de peixes presentes nas caixas
que reveste as escamas, facilitando damente, 4 m2. Segundo Gontijo et al. (2008), d’água, realizam-se algumas biometrias
o ataque de fungos (saprolegnia) e a densidade recomendada é de 150 peixes/m2, durante o ciclo produtivo. Essas medições
bactérias oportunistas; ou seja, 600 peixes por caixa d’água na fase permitem verificar se o desenvolvimento
final ou terminação. Assim, estima-se a taxa dos peixes está correspondendo àquele pre-
g) após a transferência dos juvenis,
visto por meio das curvas de crescimento.
reduzir a quantidade de ração a ser de renovação da água nas caixas, necessária
Os peixes devem ser manipulados o
fornecida nesse dia e no dia seguin- para manter níveis adequados de amônia e de
mínimo possível. Recomenda-se sortear
te. O estresse reduz o apetite dos oxigênio, em 150% por hora, equivalentes a
uma caixa d’água de cada fase e, dentro
peixes; 6 mil litros por hora, para a caixa de 4 mil
de cada uma dessas caixas, retirar uma
litros. No Quadro 3, são apresentados os
h) é recomendável que a água usada amostra de 40 a 50 peixes. Sugere-se a
volumes de água necessários para cada fase
nos recipientes de transferência seja realização de três biometrias intermedi-
de produção. árias durante o ciclo produtivo: aos 35
salinizada por meio da adição de 3,0
p.p.t.5 de sal comum. Isso correspon- Biometria
dias, ainda no berçário; aos 70 dias, na
de a 3,0 kg de sal por mil litros de ocasião da transferência dos alevinos para
água; Apesar de causarem estresse aos as caixas de crescimento e, aos 140 dias,
peixes, biometrias periódicas são neces- por ocasião da transferência para as caixas
i) evitar repicagens intermediárias
para uniformização de lotes. Além
do estresse que provocam nos pei- QUADRO 3 - Fluxo total de água e fluxo relativo por unidade de biomassa para as diversas
xes, as repicagens são pouco efica- fases do cultivo de tilápias do Nilo
zes. Ao quebrar a hierarquia que se Biomassa Biomassa Fluxo total de Fluxo relativo
Fases
estabelece nos tanques, enseja-se inicial final água final
(n de peixes/caixa)
o
(kg) (kg) (L/h) (L/h.kg)
um novo processo de hierarquiza-
Berçário (2.000) 1,0 144,0 6.000 41,7
ção, em que há disputa dos peixes
Crescimento (600) 43,2 243,0 3.000 12,4
dominantes por espaço e por alimen-
Terminação (600) 243,0 570,0 6.000 10,5
to. Isso provocará estresse social,
que poderá durar até uma semana,
resultando em nova dispersão no
peso corporal dos indivíduos.
DENSIDADE DE ESTOCAGEM E
FLUXO DE ÁGUA
Ao se definir a densidade de estocagem
de tilápias nas caixas d’água, devem-se
levar em conta dois fatores: a qualidade
da água residente nas caixas e a área dis-
Elizabeth Lomelino Cardoso
5
p.p.t. - Parts per thousand.
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d’água de terminação. Ao final do ciclo Algumas indústrias têm produzido desempenho produtivo dos peixes, tanto
produtivo, aos 210 dias, deve-se realizar a rações para peixes com 28% e até 22% de em relação ao ganho em peso, quanto à
última biometria, para estimar a biomassa proteína bruta. Esses níveis de proteína conversão alimentar, quando se fornecem
a ser comercializada e observar o grau de são obtidos pela redução das quantidades rações com menos de 30% de proteína
uniformidade dos lotes comerciais, fator de fontes proteicas de origem animal, bruta. Assim, as recomendações mostradas
importante para o caso de venda para a que são substituídas por farelos vegetais: no Quadro 4 podem contribuir para elevar a
indústria. milho, trigo, arroz, etc. Nesses casos, há, rentabilidade das pisciculturas e para redu-
também, redução significativa da qualidade zir o impacto ambiental da atividade, pois
ALIMENTAÇÃO DOS PEIXES da proteína ingerida pelos peixes. Não só o maior retenção de N pelos peixes resulta
A alimentação dos peixes é, talvez, perfil de aminoácidos presentes, mas tam- em menor excreção de amônia.
a prática de manejo mais importante no bém a sequência de aminoácidos na cadeia
cultivo de tilápias ou de qualquer outra peptídica têm grande influência na digesti- AVALIAÇÃO DO
espécie de peixe, em fluxo contínuo. Nesse bilidade da proteína e, posteriormente, na DESEMPENHO PRODUTIVO
sistema de produção, a ração é praticamen- síntese proteica (miogênese), que ocorre DOS PEIXES
te a única fonte de nutrientes para os peixes nas fibras musculares dos peixes. Se todas as condições de cultivo esti-
e representa cerca de 70% do custo final O que se tem observado em experimen- verem adequadas, os peixes manifestarão
de produção. Assim, é importante forne- tos com tilápias em tanques-rede e em fluxo todo o seu potencial de crescimento. Cada
cer rações de boa qualidade, produzidas contínuo de água é a redução drástica do linhagem tem uma curva de crescimento
por empresas idôneas. As rações devem
apresentar elevada digestibilidade dos
QUADRO 4 - Níveis e frequência de arraçoamento para tilápias do Nilo cultivadas em sistema
nutrientes nela contidos, ter boa flutuabi-
de fluxo contínuo de água
lidade e ser estáveis na água, ou seja, não
Peso
absorverem água rapidamente, inchando, Duração do Tempo inicial e final Tipo de Ganulo- (1)
Quantidade
Frequência
Fases período acumulado dos peixes ração metria diária
perdendo nutrientes hidrossolúveis e se diária
(dias) (dias) (g) (% PB) (mm) (g)
desmanchando.
Inicial 5 5 0,5 a 1,0 45-55 pó 6 vezes 300
As rações devem ser fornecidas em
5 10 1,0 a 1,7 45-55 pó 6 vezes 400
quantidades que garantam a saciedade
5 15 1,7 a 2,5 45-55 pó 6 vezes 510
dos peixes, mas não deve haver sobras. 5 20 2,5 a 3,5 45-55 pó 6 vezes 650
Além do custo elevado, há prejuízo na 5 25 3,5 a 5,0 45-55 pó 6 vezes 770
qualidade da água, resultante de proces- 6 31 5,0 a 8,5 40-42 1a2 4 vezes 1.000
sos bioquímicos como fermentação e 6 37 8,5 a 13,0 40-42 1a2 4 vezes 1.440
putrefação. 6 43 13 a 19 40-42 1a2 4 vezes 1.950
6 49 19 a 27 40-42 1a2 4 vezes 2.660
Ao definir as quantidades de ração a
7 56 27 a 39 35-36 2a4 4 vezes 3.510
serem fornecidas diariamente aos peixes,
7 63 39 a 54 35-36 2a4 4 vezes 4.290
levou-se em conta que, embora os porcen- 7 70 54 a 72 35-36 2a4 4 vezes 5.940
tuais em relação à biomassa presente sejam
Crescimento 7 77 72 a 93 30-32 4a6 3 vezes 2.160
sempre decrescentes, a quantidade absoluta
7 84 93 a 117 30-32 4a6 3 vezes 2.510
a ser consumida por peixe é sempre cres- 7 91 117 a 143 30-32 4a6 3 vezes 2.810
cente. Qualquer deterioração da qualidade 7 98 143 a 172 30-32 4a6 3 vezes 3.180
da água ou queda de temperatura pode 7 105 172 a 205 30-32 4a6 3 vezes 3.610
alterar essa regra. 7 112 205 a 240 30-32 4a6 3 vezes 4.060
Recomenda-se a utilização de cinco 7 119 240 a 278 30-32 4a6 3 vezes 4.470
7 126 278 a 318 30-32 4a6 3 vezes 4.840
tipos de ração durante todo o ciclo pro-
7 133 318 a 360 30-32 4a6 3 vezes 5.150
dutivo (Quadro 4). Considerou-se, nessa
7 140 360 a 405 30-32 4a6 3 vezes 5.260
recomendação, o nível de proteína bruta da
ração, que, via de regra, está relacionado Terminação 14 154 405 a 500 30-32 6a8 3 vezes 6.080
14 168 500 a 603 30-32 6a8 3 vezes 6.690
com a qualidade da proteína, e com a gra-
14 182 603 a 718 30-32 6a8 3 vezes 7.600
nulometria das rações. Esse último fator é
14 196 718 a 840 30-32 6a8 3 vezes 8.190
muito importante. A tilápia do Nilo, espécie 14 210 840 a 961 30-32 6a8 3 vezes 8.300
filtradora, não consegue ingerir partículas (1)Fase inicial: quantidade de ração para 2 mil alevinos. Fases de crescimento e terminação:
muito grandes. quantidade de ração para 600 peixes.
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b) consumo total de ração por peixe: indicadoras da qualidade da água. Nor- De maneira geral, peixes alimentados
1.300 a 1.700 g; malmente, determinados comportamentos com rações balanceadas retêm apenas
são indicativos de baixa qualidade da água, pequena parte dos nutrientes consumidos.
c) conversão alimentar acumulada: 1,4
como: redução no consumo de ração, Porcentagens de retenção que variam
a 1,6;
concentração dos peixes junto à entrada de 20% a 32% do N ingerido têm sido
d) rendimento industrial (% de filés): observadas em pisciculturas (SURESH;
de água ou respiração junto à tona (bo-
32% a 34%; LIN, 1992; RAFIÉE; SAAD, 2005). Ana-
quejamento) podem indicar deterioração
e) taxa de sobrevivência durante todo da qualidade da água. Níveis de amônia logamente, apenas 16% do P total ingerido
o ciclo: >90%. foram retidos por peixes cultivados em
acima de 0,15 mg/L ou concentrações de
sistema de circulação de água (RAFIÉE;
oxigênio dissolvido abaixo de 4 mg/L já
MONITORAMENTO DA SAAD, 2005). Pode-se considerar, então,
são prejudiciais ao desempenho dos peixes.
QUALIDADE DA ÁGUA que grande parte dos nutrientes ingeridos
Essas concentrações, embora distantes
é liberada no ambiente aquático, por meio
Embora seja prática pouco comum dos níveis letais, são críticas, pois podem
da ração não consumida e da excreta: fezes,
entre os piscicultores, o monitoramento da representar a diferença entre o sucesso e o
urina e difusão pelas brânquias. Fica claro,
qualidade da água é importante. Algumas fracasso do empreendimento. assim, que a intensificação da atividade,
variáveis de qualidade da água das caixas Outras variáveis podem ser medidas com maior aporte de nutrientes, contri-
são bastante influenciadas pelo cultivo de com menor frequência: fosfato, nitrito, bui para elevar severamente o impacto
peixes. Duas delas – as concentrações de alcalinidade, pH, etc. Em casos de suspeita ambiental.
amônia e de oxigênio dissolvido – podem de contaminações por metais pesados ou A preocupação com a deterioração
ter grande influência no desempenho pro- resíduos de agrotóxicos, as análises da qualitativa dos cursos d’água a jusante de
dutivo dos peixes. Por isso, é importante água devem ser realizadas com a máxima pisciculturas é crescente em vários países
a regulação do fluxo de água, que aduz às urgência, para que se evitem problemas (TACON; FOSTER, 2003). Medidas de con-
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ENFERMIDADES E CONTROLE
de patógenos no sistema. As formas mais térias, ecto e endoparasitas, fungos e vírus. tando a captura. Esse procedimento deve
comuns disso ocorrer são a introdução de Especialistas consideram que as doenças ser evitado, se os peixes forem vendidos
peixes doentes e o carreamento pela água. mais comuns encontradas nos cultivos vivos para indústria ou pesque e pague. É
O controle da procedência dos alevinos é brasileiros são: importante reduzir o estresse dos peixes,
de suma importância, assim como a água a) saprolegnia: é a doença mais durante a despesca e a transferência para
que entra no sistema deve ser monitorada comum. Ataca ovos por falta de as caixas de transporte, para que cheguem
periodicamente. higiene e limpeza das incubadoras. vivos e em bom estado físico ao destino.
Controlar o pessoal envolvido na rotina Os peixes podem ser transportados
Cresce também em feridas na pele
diária do criatório também é relevante. Al- vivos ou abatidos, dependendo do canal
e nas brânquias. Apresenta-se sob a
guns patógenos podem ser transferidos por de comercialização do piscicultor. Se a
forma de tufos de algodão;
meio de utensílios e apetrechos de pesca: venda for para pesque e pague ou indús-
redes, puçás e botas. O uso de desinfetantes b) lernaea: causa lesões generalizadas
tria, que necessita abater os peixes in loco,
é aconselhado para diminuir essa via de nos peixes. Provoca halos averme-
geralmente por choque térmico, os peixes
infecção. No entanto, esses desinfetantes lhados na superfície corporal, dando
deverão ser transportados vivos. Nesse
devem ser escolhidos cuidadosamente, condições para outros parasitas se
instalarem; caso, devem-se usar caixas de transporte
pois podem provocar intoxicações. A cada apropriadas, que tenham mecanismo de
troca de peixes (70 dias), as caixas d’água c) ichthyophthirius: conhecida também
oxigenação. A água usada no transporte
devem ser lavadas e desinfetadas. como doença do ponto branco; o
deve ser salinizada, com 3,0 kg de sal
O manejo inadequado é o grande parasita provoca irritação na pele
comum para 1 mil litros de água. A tem-
causador das intoxicações nos cultivos de e penetra no interior do organismo
peratura da água não deve estar acima de
peixes, especialmente aqueles sob o regime pelas brânquias. A disseminação
25 oC, podendo-se adicionar gelo, se for
de exploração intensiva como fluxo con- ocorre rapidamente, porque estes
preciso. A carga máxima recomendada é
tínuo. As rações estocadas sob condições parasitas multiplicam-se facilmente
de 350 kg de peixes para 1 mil litros de
inadequadas podem provocar intoxicações; e são levados pela água, sem que o
rações mofadas são fatais para determina- piscicultor perceba; volume. Para distâncias maiores, essa carga
das espécies. A ração deve ser conservada deve ser reduzida. O transporte de peixes
d) arculose: é chamada, também, de
em local limpo, seco, ventilado e longe de abatidos, processados ou não, destinados a
piolho do peixe (Argulus). O para-
pragas e animais. Nunca usar ração fora da peixarias, supermercados, restaurantes ou
sita localiza-se na pele, nas brân-
data de validade, úmida ou mofada. feiras, deve ser feito em caixas térmicas,
quias e nas nadadeiras, provocando
Vários tipos de doenças são respon- com a utilização de gelo. Normalmente,
lesões, necrose, úlcera e infecções
sáveis pela mortandade de peixes, o que recomenda-se adicionar gelo em partes
secundárias. A doença passa de um
ocasiona prejuízos financeiros ao pisci- peixe para outro.
iguais à quantidade de peixe.
cultor. Para reconhecer a presença de É importante que o produtor tenha em
peixes doentes no cultivo, alguns sinais são mente que o peixe deve chegar ao consu-
DESPESCA E TRANSPORTE
facilmente visíveis: peixes nadando lenta-
DOS PEIXES midor final sem qualquer alteração em sua
mente na superfície da água, isolados do qualidade, principalmente no que concerne
cardume, próximos da superfície da água, A despesca ou captura dos peixes pode ao sabor e ao odor. Afinal, a melhor espécie
tentando pular fora da água, presença de ser realizada de duas maneiras: parcial de peixe é o peixe fresco.
feridas, erosões nas nadadeiras, escamas ou total. Na despesca parcial, podem-se
arrepiadas, inchaços, coloração modifi- selecionar ou não os peixes a ser comer- COMERCIALIZAÇÃO DOS
cada, exoftalmia (olhos esbugalhados) e cializados. No primeiro caso, é importante
PEIXES
parasitas agarrados nas brânquias e pele. que os peixes rejeitados sejam colocados
Observar o comportamento dos ani- em recipientes auxiliares e, só depois de O peso dos peixes à comercialização
mais diariamente é muito importante terminada a despesca, devolvidos à caixa deve ser definido em função do mercado.
para o sucesso do empreendimento e, ao d’água de origem, evitando capturar os É importante que se estime o peso médio
suspeitar de doenças no criatório, entrar mesmos peixes várias vezes. Durante a final dos peixes para que, pelo menos,
em contato, imediatamente, com o técni- captura, pode-se reduzir o fluxo de água na 90% dos indivíduos tenham atingido o
co responsável pelo criatório ou com um caixa e baixar o nível até o ponto em que peso mínimo desejado. No caso de venda
médico veterinário. seja fácil capturar os peixes com o puçá. a pesque e pague, peixarias e feiras, onde
Diversos tipos de microrganismos No caso de despesca total de uma caixa, são aceitos peixes de menor porte, o peso
podem ocasionar doenças nos peixes: bac- esta pode ser totalmente esvaziada, facili- mínimo adequado pode ser de 500 g. Já se
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O sistema de fluxo contínuo pode ser prio segmento, passa a ser imprescindível efetiva elaboração de cada produto final,
modulado, o que dá ao agricultor familiar que o agricultor familiar busque outras respectivamente.
a oportunidade de trabalhar as diversas formas de comercialização do produto, A partir do Quadro 5, pode-se perceber
estratégias de negócio, com praticidade a fim de diversificar o seu mix e atender que, apesar de o filé apresentar um incre-
e versatilidade peculiares. Em virtude outros nichos de mercado consumidor. mento de 105% em relação ao peixe inteiro
da baixa capacidade de investimento do Essa estratégia de negócio permite a ob- fresco, seu ganho real é menor do que
agricultor ou da restrição de aporte de tenção de incremento real nas margens aquele obtido com o peixe eviscerado com
recursos oriundos de fontes de financia- de lucro, comparada à venda exclusiva de escama, já que este último apresenta custo
mento, pode-se iniciar a produção com um peixe inteiro fresco para frigoríficos e ou operacional comparativamente menor.
módulo, ampliando-a, posteriormente, com
intermediários. Essas considerações são válidas, prin-
o reinvestimento dos recursos gerados pela
O incremento real nas margens de cipalmente, quando se adota o uso de mão-
própria produção.
lucro é estimado por meio da avaliação -de-obra artesanal, pois em termos opera-
Desde o pequeno até o grande inves-
do incremento comum e as exigências cionais há significativa diferença entre as
tidor tem a liberdade de dimensionar e
(implicações) necessárias, em termos de práticas de evisceração (peixe eviscerado)
“montar” seu próprio sistema produtivo,
de acordo com as características da sua
investimentos de toda natureza, para a e a filetagem manual (filé). Entretanto, em
propriedade, das limitações de ordem
natural, financeira e de mão-de-obra, e em QUADRO 5 - Estratégias de comercialização de tilápia e suas implicações econômicas e
atendimento às demandas dos mercados operacionais, considerando mão-de-obra artesanal
consumidores da região. Preço de
Canal ou estratégia Margem líquida
Nesse sentido, a integração da pisci- venda Incremento(2) Implicações(3)
de comercialização (R$/kg de peixe)(1)
(R$/kg)
cultura com outras atividades agropas-
toris também constitui boa estratégia de Peixe inteiro fresco 4,00 1,40 - -
(PV)
negócio, por possibilitar diversificação e
melhor utilização dos recursos materiais, Peixe eviscerado com 6,00 2,56 83% Destinação de resíduos;
financeiros e naturais existentes na pro- escama (89% do PV) infraestrutura de pro-
cessamento; mão-de-
priedade. O agricultor precisa ter em mente
-obra; taxas; impostos e
que a água é um dos bens mais preciosos embalagem
do planeta, passível de valoração, e seu
Peixe eviscerado sem 7,00 2,30 64% Destinação de resíduos;
aproveitamento deve ser da forma mais escama (86% do PV) infraestrutura de proces-
racional e inteligente possível. samento; mão-de-obra;
Assim, os sistemas integrados (aqua- taxas; impostos; emba-
ponia, fertirrigação e produção de macró- lagem e desescamação
fitas), já em prática em diversos países do Peixe eviscerado sem 9,00 2,10 50% Destinação de resíduos;
cabeça e nadadeiras infraestrutura de proces-
mundo, têm como fundamento básico o
(porquinho) samento; mão-de-obra;
aproveitamento dos nutrientes existentes (56% do PV) taxas; impostos; embala-
na água efluente, por meio de diversos gem; descabeçamento e
métodos ou estratégias. Essas tecnologias retirada das nadadeiras
permitem economia significativa em face Filé com costela 10,00 1,90 36% Destinação de resíduos;
da substituição parcial de adubos químicos (50% do PV) infraestrutura de proces-
comerciais, que representam, em conjunto, samento; mão-de-obra;
taxas; impostos; emba-
grande parcela do custo de produção em
lagem e retirada dos filés
sistemas agrícolas não-integrados.
Filé (33% do PV) 18,00 2,87 105% Destinação de resíduos;
Atualmente, as formas mais comuns infraestrutura de proces-
de comercialização de tilápias são o peixe samento; mão-de-obra;
vivo, para indústrias e pesque e pague, e em taxas; impostos; emba-
filés, para restaurantes e supermercados. lagem e toalete dos filés
NOTA: PV - Peso vivo.
Em razão do alto ônus que o filé (produto
(1)Considerando-se custo de produção de R$ 2,60/kg de tilápia. (2)A partir da segunda
final embalado) representa em termos de estratégia, faz-se um comparativo de incremento porcentual de margem, com a primeira
custo de produção e processamento para estratégia de comercialização. (3)Aumento gradativo dos itens, em número e intensidade, à
toda e qualquer unidade produtiva e o pró- medida que se “corta” o peixe.
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tempos de consciência ambiental, mesmo Um produtor do grupo especializa-se juvenis por mês. Os dez agricultores, em
em grandes plantas processadoras automa- em juvenis (ou alevinões), enquanto os conjunto, necessitarão de 6 mil juvenis
tizadas a diversificação do mix proporciona demais limitam-se à fase de recria e ter- mensalmente.
significativa economia com os investimen- minação. O investimento, nesse caso, é Para atender a essa demanda, o agricul-
tos em processos de destinação de resíduos, fracionado e todo o grupo beneficia-se de tor que produzir os juvenis deverá estocar
a não ser que seja alto o valor agregado a maior eficiência na produção e de maior 8 mil alevinos mensalmente. Conside-
esse produto, por meio da elaboração de frequência de produção, podendo auferir rando mortalidade e descarte, estima-se
empanados e/ou similares. renda mensal com a atividade (Quadro 7). a produção mensal em 6 mil juvenis já
O pequeno e o médio piscicultor podem A título de exemplo, para se dimen- selecionados. Para atingir essa produção,
ainda beneficiar-se da comercialização sionarem as instalações, supõe-se um o agricultor precisará de oito caixas d’água
de alguns coprodutos e subprodutos re- grupo de 11 agricultores familiares. Um de 4 mil litros, divididas em dois setores de
sultantes do processamento (Quadro 6), deles irá adquirir alevinos de larviculturas quatro caixas cada. Como a fase de alevi-
como a carne da base da cabeça (corte comerciais e conduzirá somente a fase de nagem dura cerca de 60 dias, o agricultor
em linha), para elaboração de bolinhos ou alevinagem, produzindo juvenis a serem
estocará 8 mil alevinos por mês em cada
almôndegas, e as vísceras, que podem ser vendidos aos outros dez agricultores, que
setor, alternadamente, sendo 2 mil alevinos
utilizadas para complementação da dieta farão a terminação dos peixes.
por caixa.
de frangos caipiras, criados em sistema A fase de crescimento e terminação das
semi-intensivo. tilápias dura cerca de 150 dias. Inicia-se
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em sistemas produtivos organizados, com os juvenis com 60 g de peso médio e
como em cooperativas ou associações, é finda com os peixes atingindo 900 g, que A agricultura familiar tem recebido
possível trabalhar com produtos mais ela- é o peso médio comercial recomendado. muita atenção, ultimamente. Instituições de
borados, como artigos de couro de tilápia, Para ter produção mensal, cada agricultor pesquisa e fomento têm sido desafiadas a
sabão, farinhas, empanados, etc. Nesses necessitará de cinco caixas d’água de 4 mil desenvolver e a disponibilizar tecnologias
casos, os maiores volumes processados e litros (150/30 = 5). Isso corresponde a 600 adequadas a agricultores familiares que,
comercializados, obtidos pela produção
conjunta, viabilizam técnica e economica- QUADRO 6 - Diferentes formas de utilização de coprodutos e derivados de tilápia do Nilo e
mente a elaboração dos referidos produtos. respectivos rendimentos (peixe de 1 kg)
A viabilidade de um dado projeto não Produtos Rendimento
Aplicações
é ditada somente por índices financeiros, e derivados (g)
mas também pela análise criteriosa dos Filé Pratos diversos 330
recursos disponíveis e emprego de tecno- Pele Vestuário, gelatina, artigos 100
logia apropriada (viabilidade técnica), do Escamas Indústria cosmética 10
correto planejamento e gerenciamento das Cabeça Bolinhos de peixe, almôndegas, pirão 140
atividades (acompanhamento e monitora- Vísceras Silagem ácida, farinha, adubo, sabão, biodiesel 100
mento), da adoção de formas coletivas de Carcaça sem polpa Silagem, farinha multiuso (Ca e P), adubo 140
organização (associações e cooperativas) e Polpa + aparas Empanados, CMS, surimi, steaks, nuggets 120
de maior atenção ao mercado consumidor Barriguinha Aperitivo, óleo, sabão, biodiesel 30
e à imagem do produto (comercialização Paleta Aperitivo, porção de tira-gosto 30
e marketing).
Total 1.000
INTEGRAÇÃO OU
ASSOCIAÇÃO DE
QUADRO 7 - Balanço financeiro de agricultores envolvidos em associação de piscicultura
PISCICULTORES em fluxo contínuo.
Uma alternativa para que os agriculto- Índices econômicos Produtor de juvenis Terminadores
res familiares possam utilizar recursos do Investimento total R$ 17.000,00
(1)
R$ 12.000,00
(1)
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por sua vez, dispõem de limitados recursos LOSORDO, T.M.; MASSER, M.P.; RAKOCY, %20Tank%20Production%20Systems/
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Resumo - A criação de ovinos de corte para consumo ou para venda pode ser uma in-
teressante opção de renda na pecuária familiar. Como atividade complementar à explo-
ração de bovinos leiteiros ou a culturas, como mandioca, café e frutíferas, e envolvendo
mão-de-obra familiar, a ovinocultura torna-se economicamente viável mesmo com pe-
quenos rebanhos, o que não ocorre, quando a atividade é exclusiva. Ações de governo
têm favorecido a adoção da ovinocultura como complementação da renda na atividade
rural familiar, porém, aspectos culturais e inexistência de uma cadeia produtiva não
têm permitido um desenvolvimento mais acelerado desta atividade.
INTRODUÇÃO século passado, para somente ressurgirem No Norte de Minas, até início dos anos
no final da década de 1990. 2000, era comum caminhões passarem
A criação de ovinos no estado de Minas
Com pico de crescimento entre os anos comprando carneiros. Esses compradores
Gerais teve, desde o início do século 20,
2000 e 2005, a ovinocultura vem experi- recolhiam animais de várias propriedades
característica de atividade complementar
mentando um período de desenvolvimento para completar a carga, que era vendida
ou de criação de subsistência. Até meados
em Minas Gerais, com algumas criações especialmente em Brasília, onde a carne
do século passado, muitas fazendas, espe-
expressivas sendo implantadas. Pelo Censo invariavelmente atendia ao mercado
cialmente do Sul de Minas, utilizavam a lã
de 2006, comparado ao de 1995, o rebanho informal nas feiras das cidades satélites
dos carneiros para a confecção de agasa-
ovino cresceu 80% no Estado, enquanto (SEBRAE-MG; FAEMG; EMATER-MG,
lhos e cobertores, produzidos nas próprias
que os rebanhos de caprino e bubalino 2004). Com o surgimento dos criatórios
fazendas. A carne dos ovinos era produto
secundário, sem grande valor comercial. cresceram 26% e o de bovino, 4% (IBGE, de porte comercial, alguns frigoríficos de
No Norte do Estado, a criação de ovinos 2006). Propriedades com exploração ex- Goiás e de Minas passaram a fazer compras
tinha como objetivo apenas a utilização clusiva de ovinos são ainda uma exceção, na região, exigindo alguma organização
da carne, sendo que esses animais sempre entretanto, essas poucas propriedades têm por parte dos produtores, para a preparação
foram criados sem maiores cuidados, possibilitado a difusão de novas estratégias das cargas. Durante um curto período,
apenas aproveitando as pastagens dos de exploração da ovinocultura como ativi- houve movimentação e organização de
bovinos e, muitas vezes, acompanhando dade complementar. Isto ocorre porque as produtores liderados pela Associação de
cabras, alimentando-se de arbustos pelas propriedades que possuem grandes reba- Criadores de Caprinos e Ovinos do Norte
capoeiras. Embora as criações do Norte e nhos ovinos são as que mais necessitam de Minas (Accomontes), com apoio do
Nordeste mineiro fossem especialmente escoar seus produtos e, assim, acabam por Serviço de Apoio às Micro e Pequenas
destituídas de qualquer cuidado, essas se viabilizar também a venda dos produtos Empresas de Minas Gerais (Sebrae-MG)
mantêm até hoje, enquanto que as do Sul dos produtores familiares, em pequenos e da Companhia de Desenvolvimento dos
praticamente se extinguiram em meados do lotes de animais. Vales do São Francisco e do Parnaíba (Co-
1
Médico-Veterinário, D.Sc., Pesq. U. R. EPAMIG CO, Caixa Postal 295, CEP 35701-970 Prudente de Morais-MG. Correio eletrônico:
octaviorossi@epamig.br
2
Médico-Veterinário, Ph.D., Pesq. Embrapa Pecuária Sul, Caixa Postal 242, CEP 96401-970 Bagé-RS. Correio eletrônico: fcardoso@cppsul.embrapa.br
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devasf). Os esforços não se converteram pal ou exclusiva, é dependente de grande a taxa de desfrute, sem aumentar custos
em desenvolvimento de uma ovinocultura número de matrizes, um rebanho explorado na produção, os pequenos produtores
comercial na região, porém, houve expan- por mão-de-obra familiar e de forma com- poderiam obter renda extra com a venda
são do número de criatórios e de animais plementar a outras atividades é economi- de alguns animais para abate na própria
por criatório. camente viável, mesmo quando diminuto. região.
O aumento do número de criatórios e do Na pecuária familiar do Rio Grande do No Sul de Minas, os pequenos pro-
plantel total de Minas é fundamental no de- Sul, por exemplo, a ovinocultura, seja de dutores, que estão apostando na ovino-
senvolvimento da atividade no Estado, pois corte, de lã, seja mista, tem sempre papel cultura, têm encontrado algum apoio no
facilita a captação de animais para abate, mercado do estado de São Paulo, onde a
importante na complementação de renda,
incentivando a adaptação de frigoríficos e instalação recente de um frigorífico para
e esse modelo é bastante aplicável à rea-
permitindo a distribuição e o comércio da abate de ovinos vem movimentando a ati-
lidade mineira.
carne ovina com frequência regular. A regu- vidade. Nessa região, rebanhos com 100
Como a mão-de-obra e a alimentação
laridade na oferta, por sua vez, possibilita a ou 200 matrizes já encontram mercado
correspondem às maiores frações do
regularidade no consumo. Tal situação pode para seus cordeiros.
desembolso na ovinocultura (MORAIS,
ser observada nos estados do Nordeste do
Brasil e, mais claramente, no Rio Grande 2006), a exploração familiar, com apro-
ALIMENTAÇÃO DOS OVINOS
veitamento de subprodutos da agricultura,
do Sul. Nesse Estado, há pequenas criações NA PEQUENA PROPRIEDADE
de subsistência, assim como criatórios de permite o baixo custo da atividade, sem RURAL
médios e de grandes rebanhos, com mais comprometer necessariamente sua pro-
Dentre as forragens utilizadas para
de mil cabeças, quase sempre explorados dutividade. A criação de ovinos de corte
bovinos, somente a Brachiaria decumbens
em conjunto com a bovinocultura. São raras é simples, barata e eficiente, quando o
seria pouco adequada para ovinos, por
as explorações exclusivas, e o comércio é manejo e a alimentação dos animais estão
representar risco de intoxicação. Havendo
facilitado pela oferta de animais para abate, inseridos na produção diversificada, que
pastagem em quantidade suficiente, os
resultado da distribuição de criatórios por costuma caracterizar a agricultura fami-
ovinos podem aproveitá-la junto com os
todo o Estado. liar. A mão-de-obra feminina pode ser
bovinos, apenas tomando-se o cuidado de
A tradição da ovinocultura no Rio aproveitada com muita eficiência na lida
não deixá-los rebaixar demais a cobertura
Grande do Sul foi desenvolvida no tempo com os ovinos, especialmente porque esses
vegetal.
em que a lã tinha bom valor de mercado. animais são dóceis e requerem atenção e
Os ovinos são também excelentes
Os rebanhos, até a década de 1970, eram delicadeza em seu manejo diário.
grandes, uma vez que a escala de produção aproveitadores dos restos de cultura e
No Norte e Nordeste de Minas, aplica-
era fundamental para a rentabilidade da palhadas, bem como são úteis na limpeza
se melhor o modelo de comercialização
ovinocultura de lã. Embora se acreditas- de ruas de plantio, especialmente nas de
existente no Nordeste do Brasil. Pequenos frutíferas de porte mais alto. Muitas pro-
se no contrário, o tempo mostrou que o
produtores nordestinos comercializam priedades do Sul de Minas têm utilizado
mesmo ocorre na exploração de ovinos de
seus ovinos em pequenos lotes ou mesmo esses animais na limpeza das ruas de café,
corte, onde o volume de produção é crucial,
apenas um animal por vez, de acordo com havendo mesmo quem plante, nas ruas,
não só para a viabilidade da exploração
a necessidade. O rebanho funciona como forrageiras para esses animais. As ovelhas
dentro da propriedade, mas para a ativida-
uma reserva para auxiliar nas despesas fazem o “serviço de capina” e limpeza da
de como um todo, possibilitando ajustar a
logística de transporte, abate e distribuição. mensais. Enquanto não há organização saia do cafeeiro, além de contribuir para a
Dessa forma, os rebanhos para exploração de uma cadeia produtiva da ovinocultura adubação com seu esterco e urina (Fig. 1).
exclusiva teriam também que ser grandes, em Minas, os pequenos produtores do Nas áreas de frutíferas, como mangueira,
o que não condiz com a realidade atual, Norte e Nordeste do Estado terão dificul- coqueiro, goiabeira e pessegueiro, há van-
quando as propriedades rurais são cada vez dades com o mercado, caso aumentem tagens na consorciação com ovinos (GUI-
menores e mais caras. expressivamente seus rebanhos, e pouco MARÃES FILHO; SOARES, 2003). Nas
retorno financeiro, se investirem em seus pequenas propriedades, onde se beneficia
VIABILIDADE DA criatórios. Entretanto, é possível melhorar a mandioca, atividade bastante comum no
OVINOCULTURA DE sensivelmente os índices produtivos des- Norte de Minas, as ramas da planta, bem
PEQUENA ESCALA
sas explorações, apenas com a utilização como as raspas, após secagem adequada
Enquanto a ovinocultura comercial, adequada de restos de cultura e adoção de ao sol, servem como excelente alimento
tendo os ovinos como exploração princi- técnicas simples de manejo. Melhorando para os ovinos. Ovelhas também podem
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Juarez S. Batista
Cálculos bem mais otimistas dão conta de
400 kg de bovinos e de 3.840 kg ovinos em
quatro anos, na mesma área (NOGUEIRA
Figura 1 - Ovelhas criadas soltas na lavoura de café
FILHO, 2003).
Do ponto de vista econômico, é preciso
ser utilizadas nas entrelinhas dos plantios nove meses, a contar da prenhez alertar para o fato de que, pela tradição da
de eucalipto e de seringueira, logo a partir da vaca, criação e do consumo, o comércio de bo-
do segundo ano de plantio, proporcionando - intervalo entre as produções se- vinos e de seus produtos é bem mais fácil,
um melhor aproveitamento dessas áreas e guintes - 13 meses, de forma que os cálculos apresentados
permitindo a produção de alimento ou a - em seis anos, cerca de 40 arrobas devem ser levados em conta apenas para
geração de renda, quando as árvores ainda de animal vivo produzidas ou 20 as pequenas explorações familiares, com o
não permitem qualquer tipo de exploração, arrobas de carcaça (rendimento objetivo de gerar alimento para consumo
mas já adquiriram porte e resistência su- de 50%). próprio ou para a comercialização de pe-
ficientes para a introdução desses animais Para a obtenção do desempenho quenos excedentes.
na área plantada. mencionado foram considerados os A criação de ovinos tem ainda, diante
índices, 90% de fertilidade, intervalo da criação de bovinos, a vantagem de
PRODUTIVIDADE DOS de partos de 13 meses, 5% de mortali- diluir os riscos, pois a morte por acidente
OVINOS dade de bezerros e 0% de mortalidade ou doença de um ovino tem muito menos
Comparados aos bovinos, os ovinos são de adultos; impacto econômico para o produtor, que a
mais eficientes na produção de carne por b) seis ovelhas - produtos por ano, apro- morte de um bovino. O abate de um ovino
área de pastagem, além de proporcionarem ximadamente, 8,0: é muito mais adequado às necessidades
produtos em menor espaço de tempo e a - tempo para os cordeiros passarem de consumo e às possibilidades de bene-
intervalos mais curtos. Considerando-se pela cria, recria e engorda - oito ficiamento e/ou armazenamento da carne
a possibilidade de criar seis ovelhas no meses, na pequena propriedade rural, que o de
mesmo espaço e com o mesmo volume - primeiro abate após 13 meses a um bovino.
de alimentos de uma vaca, pode-se fazer a contar da prenhez das ovelhas,
seguinte comparação: - intervalo entre as produções sub- CARNE OVINA PARA VENDA
OU CONSUMO
a) uma vaca - produtos por ano, apro- sequentes: nove meses,
ximadamente, 0,8: - em seis anos, cerca de 96 arrobas A carne ovina tem características de
- tempo para o bezerro passar pela de animal vivo produzidas ou 57,6 sabor, maciez e acúmulo de gordura que
cria, recria e engorda - três anos, arrobas de carcaça (rendimento variam de forma muito acentuada do
- primeiro abate após três anos e de 40%). animal jovem para o mais velho. Animais
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abatidos com até um ano de idade têm LEITE DE OVELHA embora tenha sabor bem característico, é
carne rosada, macia, suculenta e, conforme muito mais difundido, mas também sofre
A criação de vacas para produção
a dieta, com pouca gordura. Até o final dos restrições, sendo mais reconhecido como
de leite é uma atividade amplamente di-
anos 90 havia o costume de abater animais remédio que como alimento. Dessa forma,
fundida nas pequenas propriedades, seja
velhos, às vezes muito gordos e outras é ainda impensável dispensar a criação de
exclusiva, seja complementar. Por outro
vezes até caquéticos, especialmente nas vacas em favor da de ovelhas na exploração
lado, a produção de leite de ovelha, tanto
pequenas criações, o que conferiu à carne rural familiar, enquanto um de seus obje-
para o consumo in natura quanto para a
ovina fama de ser dura e de sabor forte. tivos for o consumo e a produção de leite
preparação de derivados, é totalmente
Com o maior acesso da classe média às e seus derivados. É válido, no entanto, um
desconhecida dos produtores rurais de
viagens internacionais e a oportunidade de esforço para difundir o consumo do leite
Minas Gerais. Fato estranho, uma vez
contato com outras culturas, a carne de cor- de ovelha na pequena propriedade, pois
que a exploração de ovelhas para leite
deiro, ovino jovem com menos de um ano, as ovelhas comuns (sem raça definida), da
é tradicional nos países que ajudaram a
ganhou destaque na culinária brasileira, raça Santa Inês ou de raças especializadas
forjar a cultura brasileira, notadamente em
sendo hoje considerada sinônimo de classe para corte e seus cruzamentos, podem
e sofisticação nos eventos gastronômicos. Portugal (MORAIS, 2008).
ter boa capacidade de produção de leite
Muitos pequenos produtores tradicionais O consumo do leite de ovelha e seus de-
(FERREIRA, 2009) e, normalmente, os
estão atentos a essas mudanças e procuram rivados, bem como da carne ovina, poderia
cordeiros são desmamados, quando estes
saber o que é necessário para colocar seus ser, para famílias dos pequenos agricultores
animais ainda são lactantes. É comum
produtos no mercado. e pecuaristas, um importante adjuvante
acontecer, na exploração para corte, casos
Se for considerada a maior capacidade naquilo que define a segurança alimen-
de mamite em ovelhas boas produtoras,
de produção dos ovinos comparada à dos tar: acesso das pessoas aos alimentos em
após a desmama ou a morte precoce de
bovinos, a sua alimentação mais barata, quantidade e qualidade suficientes para
seus cordeiros. Para evitar esse problema,
quando comparada à dos suínos, e o preço seu bem-estar e saúde. O leite de ovelha
muitos produtores fazem a ordenha de
de sua carne ante a essas outras duas, as tem uma composição muito rica do ponto
esgota até conseguir a secagem dessas
vantagens de criar ovinos em pequena de vista nutricional e bastante eficaz no
ovelhas, jogando o leite fora ou fornecendo
escala, na pecuária familiar, são muito evi- processamento de produtos lácteos, como
a outros animais, como cães e porcos. Esta
denciadas. Com a carne ovina valorizada, se pode observar no Quadro 1.
prática significa o desperdício de uma rica
coloca-se uma importante opção para o O leite de ovelha é mais rico também
fonte de nutrientes, especialmente para
pequeno produtor, que pode consumir a em vitaminas e minerais. Fatores culturais,
crianças e idosos.
carne na propriedade, mas pode também, no entanto, tornam difícil a aceitação, pelos
com vantagem, vendê-la e comprar maior agricultores e suas famílias, do leite de INVESTIMENTOS OFICIAIS NA
quantidade de outra carne mais barata, ovelha como alimento, embora não haja, OVINOCULTURA FAMILIAR
como a bovina ou a suína, atendendo me- a rigor, nenhuma diferença de sabor entre Ao longo dos últimos dez anos foram
lhor aos seus hábitos alimentares. leite de ovelha e de vaca. O leite de cabra, vários os investimentos governamentais
na ovinocultura mineira, sempre direcio-
nados para as regiões Norte e Nordeste do
QUADRO 1 - Composição do leite de ovelha e de vaca
Estado. Esta preferência acontece pelas
Constituinte Vaca Ovelha
semelhanças entre essas regiões do Estado
Sólidos totais (%) 10,5-14,3 17,4-18,9
e o Nordeste brasileiro, onde a ovinocultu-
Gordura (%) 2,8-4,8 6,0-7,5
ra é tradicional. O Banco do Nordeste do
Energia (kcal/L) 700 1.050
Brasil (BNB) investe constantemente em
Proteína total (%) 3,29 5,98
ações de Pesquisa & Desenvolvimento,
Proteínas do soro (%) 0,3-0,8 0,9-1,1
delimitadas às regiões Norte e Nordeste
Caseína (%) 2,5-3,6 4,3-4,6
do Estado.
Lactose (%) 4,2-5,0 4,3-4,8
O governo do estado de Minas Gerais,
Cálcio (mg/L) 119 193
por meio do Instituto de Desenvolvimen-
FONTE: Dados básicos: Ferreira (2009).
to do Norte e Nordeste de Minas Gerais
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(Idene) em conjunto com o Ministério da les produtores individuais que assumiram REFERÊNCIAS
Integração Nacional, implantou, em 2006, os rebanhos, levaram o Projeto adiante
FERREIRA, M.I.C. Produção e composição
um projeto batizado de “Ovinos Gerais”. com bons resultados na produção, mas as do leite de ovelhas Santa Inês e biometria
Foram treinados técnicos e produtores de dificuldades para comercialização ainda de seus cordeiros. 2009. 80p. Tese (Douto-
quinze comunidades de pequenos produ- persistem. Um primeiro lote de cordeiros rado) - Escola de Veterinária, Universidade
tores rurais organizados, da região Norte de comunidades beneficiadas pelo Projeto Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
do Estado, para atuarem na ovinocultura. foi comercializado na Cooperativa Mineira
GUIMARÃES FILHO, C.; SOARES, J.G.G.
Disponibilizaram-se, para cada comuni- dos Produtores de Cordeiro (Procordeiro),
Fruti-ovinocultura: limitações e possibi-
dade, 150 matrizes e três reprodutores, no final de 2007. Entretanto, a distância
lidades da consorciação de fruteiras com
além de tela própria para cercamento dos criatórios do Norte de Minas ao frigo- ovinos. In: SIMPÓSIO MINEIRO DE OVI-
de 50 hectares de pastagens, sementes rífico situado em Sete Lagoas, único com NOCULTURA, 3., 2003, Lavras. Anais...
de forrageiras, mourões, material para licença para abate de ovinos em atividade Cadeia produtiva: ovinocultura. Lavras:
construção de aprisco, sal mineral para no Estado, inviabiliza o transporte de pe- UFLA, 2003. p. 107-120.
um ano, desintegrador de forragens, ro- quenos lotes.
çadeira e enfardadeira manual de feno. IBGE. Censo Agropecuário 2006: confronto
Novos investimentos governamentais
dos resultados dos dados estruturais dos
Avaliações realizadas no final de 2008 na ovinocultura familiar do Norte de
Censos Agropecuários Minas Gerais -
constataram a baixa adesão de boa parte Minas, dentro de programas de desenvol- 1970/2006. Rio de Janeiro, [2006].
dos associados, sendo que em algumas vimento sustentável do bioma Caatinga, Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/
comunidades o rebanho, que deveria ser estão em estudo. Experiências anteriores home/estatistica/economia/agropecuaria/
de exploração coletiva, havia passado
apontam para a necessidade de priorizar censoagro/2006/defaulttab_censoagro.
para as mãos de apenas um produtor, por
a solução dos problemas ligados à comer- shtm>. Acesso em: 10 fev. 2010.
desinteresse dos demais. Em algumas
cialização.
comunidades, o material destinado aos MORAIS, O.R. Melhoramento genético dos
ovinos vinha sendo usado para cercar ovinos no Brasil. In: PEREIRA, J.C.C. Me-
CONSIDERAÇÕES FINAIS
lhoramento genético aplicado à produção
galinheiros, para construção de varandas
A ovinocultura pode ser bastante in- animal. Belo Horizonte: FEPMVZ, 2008.
nas casas de moradia ou para a lida com
teressante, quando complementar outras
o gado bovino. A perda de grande número _______. Valores econômicos de caracte-
atividades agrícolas, pecuárias e silvíco-
de animais foi atribuída a ataques de cães, rísticas de produção de ovinos Santa Inês.
onças, às doenças, aos rigores das secas, las. Por ser um animal de fácil manejo, a 2006. 55f. Tese (Doutorado em Ciência Ani-
ao abandono dos rebanhos e à necessidade ovelha de corte pode ser uma boa opção de mal) - Escola de Veterinária, Universidade
da mão-de-obra disponível para atividades complemento para a bovinocultura leiteira Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
mais importantes. de exploração familiar.
NOGUEIRA FILHO, A. Ações de fomento
Há algumas razões para essa situação. Embora haja exemplos de sucesso da
do Banco do Nordeste e potencialidades
Ao deixarem as ovelhas largadas à sua pró- ovinocultura como atividade exclusiva, na
da caprino-ovinocultura. In: SIMPÓSIO
pria sorte, como fazem na maior parte das grande maioria dos casos, especialmente
INTERNACIONAL SOBRE CAPRINOS E
vezes com os bovinos, os produtores não em Minas Gerais, esse tipo de exploração OVINOS DE CORTE, 2.; SIMPÓSIO INTER-
puderam acompanhar o potencial produti- seria infrutífero, pela desorganização da NACIONAL SOBRE O AGRONEGÓCIO DA
vo desses animais, ao contrário, viram seus cadeia produtiva. O mercado, no entanto, CAPRINOCULTURA LEITEIRA, 1., 2003,
rebanhos serem dizimados. Por outro lado, é francamente comprador de carne ovina João Pessoa. Anais... João Pessoa: EMEPA,
se os bovinos são capazes de sobreviver e de boa qualidade. 2003. p. 43-55.
deixar alguma produção praticamente sem Com a evolução dos plantéis e do
SEBRAE-MG; FAEMG; EMATER-MG. Aná-
a interferência do homem, não seriam esses número de criatórios no Estado, aliadas à
lise da ovinocaprinocultura do Norte e
animais mais eficientes e mais interessan- difusão de técnicas mais eficazes de pro- Nordeste de Minas Gerais. Belo Horizonte,
tes para esse tipo de exploração? dução econômica de ovinos, há a tendência 2004. 127 p. Disponível em: <http://www.
O quadro de insucesso, no entanto, não de a ovinocultura tornar-se uma atividade bioinfo.cpqrr.fiocruz.br/files/RGMG2006/
foi geral no programa “Ovinos Gerais”. com melhores possibilidades de geração ovinocaprinocultura.pdf>. Acesso em: 9
Algumas comunidades, assim como aque- de renda para a pecuária familiar. fev. 2010.
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INTRODUÇÃO Entre 1930 e 1940, a valorização da tir do qual surgiu o sistema totalmente
beleza das aves levou à criação de frangos confinado, utilizado até os dias atuais. De
No ano 5000 a.C., já se utilizavam as
e galinhas em função do seu tamanho, lá para cá, houve um grande incremento
aves para sacrifícios e oferendas. O ano de
das cores das penas e da formação de tecnológico no processo de produção de
1350 a.C. foi considerado o do princípio
cristas e barbelas - período denominado ovos e carne, tanto no que diz respeito ao
da domesticação das aves pelo homem. No
“romantismo”. De 1940 a 1960, diante da manejo sanitário quanto ao melhoramento
Brasil, a criação de aves teve início entre
escassez de alimentos provocada pela 2a genético, o qual proporcionou a produção
1500 e 1550, quando os colonizadores Guerra Mundial, a criação de aves teve seu de linhagens mais eficientes. Porém, os
trouxeram algumas aves da Europa. O foco direcionado para a produção de carne sistemas de produção industrial são em
método de criação era bastante rudimentar, e de ovos (aptidão mista). Além disso, a grande parte dependentes do uso de pro-
o que originou a denominação criação cai- sociedade da época passou a valorizar motores de crescimento, rejeitados por
pira. Já naquela época os ovos e a carne de mais a natureza, e as aves passaram a consumidores que valorizam produtos
aves eram percebidos como uma rica fonte ser criadas com livre acesso a áreas de mais saudáveis, obtidos em sistemas mais
de proteína para a alimentação humana. pastagens (SILVA; NAKANO, 2001; próximos das condições naturais. Por isso,
Há relatos na literatura de que, entre HELLMEISTER FILHO, 2002). é crescente o aumento da demanda por
1900 e 1930, a avicultura passou por um A fase compreendida entre 1960 e carne e por ovo caipira.
período chamado “colonial”, onde as aves 1970 passou a ser conhecida como o Na Europa, a criação de ave caipira
eram criadas totalmente soltas, sem contro- período de “especialização das raças” é também difundida e encontra-se em
le de produção. (HELLMEISTER FILHO, 2002), a par- expansão, abrangendo mais de 20% do
1
Médica-Veterinária, M. Sc., Prof a Avicultura EPAMIG-ITAC, Caixa Postal 43, CEP 35650-000 Pitangui-MG. Correio eletrônico: anajulia@epamig.br
2
Zootecnista, Produtora Rural, Rua Paulo Freitas,197- A ,CEP 36301-004 São João del-Rei-MG. Correio eletrônico: vivianeresendecxc@yahoo.com.br
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SISTEMAS DE PRODUÇÃO
Galpão
O galpão é mais utilizado no sistema
semi-intensivo. Deve ser instalado em lo-
cais secos, ligeiramente inclinados e com
disponibilidade de água de boa qualidade.
A construção deve ser no sentido leste-
oeste, com atenção para ventos dominantes
no local, especialmente no inverno, pois
o movimento de ar no interior do galpão
é fundamental para manter o ambiente
saudável (Fig. 3).
Bebedouro
No comércio existem vários tipos e
pelas aves e devem participar da alimen- a não-observância dos cuidados com a Para que a produção de aves caipira
tação destas por sua diversidade e riqueza higiene e sanidade. Os pintinhos, com um seja viável, o uso de forragem como ali-
em componentes nutricionais, principal- dia de vida, produzidos na propriedade ou mentação alternativa é imprescindível.
mente quanto aos carboidratos solúveis, adquiridos de incubatórios, necessitam de Para a formação de pastos várias espécies
ácidos graxos, aminoácidos, vitaminas e cuidados para desenvolvimento saudável forrageiras podem ser utilizadas: quicuio,
minerais. As frutas podem rotineiramente e aumento da produtividade da criação. tifton, grama estrela africana e estilosantes
fazer parte da dieta das aves, quando estas Devem ser criados em pinteiros pelo menos Campo Grande são bons exemplos. O con-
são alojadas em pomares, em pastagens até quatro semanas de idade (Fig. 7). No sórcio de dois ou mais tipos de forrageiras
sombreadas com espécies frutíferas ou pelo pinteiro, receberão mais atenção quanto a é também uma boa alternativa.
seu fornecimento no piquete de criação
fornecimento de água, aquecimento, ração Como cerca de 70% dos custos de
de melhor qualidade, vacinas e medica- produção de aves e ovos são creditados à
(SALES, 2005).
mentos, além disso, estarão afastados das alimentação, o uso de alimentos alternati-
Para as galinhas poedeiras, que têm
aves adultas que podem transmitir alguma vos, produzidos dentro do próprio estabe-
maior necessidade de cálcio, devem-se
doença. Assim, a mortalidade diminuirá e o lecimento agrícola, é uma saída para que
manter os comedouros supridos com calcá-
desempenho melhorará substancialmente. esse tipo de atividade prospere.
rio calcítico ou farinha de ossos calcinada. Uma área de 1 m2 é suficiente para 40 Resíduos de atividade agrícola encai-
O Quadro 1 apresenta o desempenho de a 50 pintinhos. Os pinteiros podem ser xam-se perfeitamente neste propósito. A
aves criadas em sistema semi-intensivo. É construídos no próprio local ou comprados parte aérea da mandioca de mesa (cultivar
importante ressaltar que não são aves cai- no comércio (criadeiras teladas). mansa), por exemplo, é rica em proteína.
pira e sim aves mestiça, mas, os números
É possível também utilizar suas raízes,
podem ser utilizados como referência pelos MANEJO DAS AVES ADULTAS
cascas e os subprodutos da fabricação de
produtores de aves caipira.
No sistema de semiconfinamento, as farinha e fécula.
aves devem ser recolhidas ao galpão no É comum o uso de restos de culturas,
MANEJO DOS PINTINHOS
período da tarde (às 17 horas) e soltas às 10 como da batata-doce, da batata-baroa, da
A alta mortalidade de pintinhos na horas da manhã. Comedouros com farinha abóbora, de frutos como mamão, banana,
criação caipira está relacionada com o de ossos calcinada também poderão estar goiaba e outras hortaliças. Aliás, todo o
manejo, a alimentação inadequada e com disponíveis para as aves. material proveniente da horta pode ser
77 2.055 210 826 6.202 3,933 3,018 94,5 Figura 7 - Pinteiro com comedouros e bebedouros
84 2.255 200 840 7.042 4,200 3,123 94,0 infantis e pintinhos de corte (Label Rouge)
e de linhagem poedeira (Caipira Negra)
91 2,445 190 847 7.889 4,458 3,227 93,5 com três dias de idade, limitados pelo cír-
FONTE: Gessulli (1999 apud FIGUEIREDO et al., 2001). culo de proteção
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utilizado, pois a ave caipira aproveita tanto a carne quanto a gema adquirem uma nicos e de uma profilaxia adequada.
melhor resíduos e subprodutos do que a tonalidade amarelo-forte, cor associada à O sistema de produção de aves de
ave industrial. Esses alimentos podem ser origem da ave caipira. linhagens caipira recomenda a criação
oferecidos inteiros ou triturados, depen- Os ajustes nutricionais necessários à solta e baixa densidade populacional.
dendo da quantidade e das condições de decorrentes do uso de produtos localmen- Condições menos estressantes que, pro-
armazenagem. te disponíveis devem ser feitos de modo vavelmente, promovem maior resistência.
É certo que a necessidade de fibras por que atendam às exigências das aves, sem Contudo, é preciso atenção a doenças
parte das aves é baixa, quando comparada contudo provocar aumento do custo de carenciais, inclusive o canibalismo que,
com as necessidades de outros animais. produção. geralmente, é consequência de deficiências
Logo, o consumo de vegetais é pequeno, e A opção de fazer as rações na pro- nutricionais, combinadas com desconforto
uma alimentação balanceada complemen- priedade proporciona redução de custos e térmico. Também é preciso estar atento a
tar é necessária para manter boa saúde e garante a ausência de hormônios e/ou de outras doenças como a coccidiose que,
bons índices produtivos. outras substâncias que, geralmente, fazem geralmente, surge em época de chuva e
A alimentação vegetal pode suprir de parte das rações comerciais. em galpões com muita umidade. Quando
25% a 30% das exigências nutricionais presente, a coccidiose é responsável por
das aves. SANIDADE, HIGIENE E grandes perdas de aves e, via de conse-
PROFILAXIA
A ingestão de capins, leguminosas e quência, de perdas econômicas.
outras fontes vegetais fornece vitaminas e Uma elevada mortalidade que às vezes No Quadro 2, encontram-se relaciona-
minerais às aves, conferindo-lhes resistên- ocorre em plantéis avícolas está geralmente das algumas doenças que acometem aves
cia às doenças e valorizando seus produtos; relacionada com a falta de cuidados higiê- caipira. Para as doenças de marek e bouba
QUADRO 2 - Algumas doenças que acometem aves caipira, seus agentes transmissores, prevenção, sintomas e controle
Aplicação de vacinas
Nome Transmissor Sintomas Controle
Dose Idade Modo
Bouba aviária Vírus 1a 1 a 5 dias Punção na membrana Nódulos escuros são for- Isolamento das aves doen-
(também conhecida da asa ou colocar uma mados na pele e em volta tes; retirada dos nódulos,
como varíola aviária) 2a 35 dias gota de vacina em um dos olhos, bico, crista e o que pode causar sangra-
poro, a partir da retira- barbelas. A ave apresenta mento; uso de antibióticos.
da de uma pena. dificuldade para respirar.
Bronquite infecciosa Vírus 1a 4 dias Adicionar na água do Tosse e dificuldade na Uso de antibióticos; boa
2a 4 semanas bebedouro. respiração; pulmões são alimentação e água de qua-
danificados por lesões e lidade; as aves enfermas
3a 4 meses apresentam catarro. devem ser colocadas em
4a
Após o pico outro ambiente.
de produção
Coriza infecciosa Bactéria 1a 35 a 40 dias Subcutânea no dorso Secreções nos olhos e orifí- Uso de antibióticos; isola-
2a 80 a 90 dias do pescoço. cios nasais; risco de ceguei- mento do plantel infectado
ra; inchaço da cabeça. e desinfecção do galinheiro.
Marek (também Vírus Única Ao nascer Subcutânea no dorso Tumores nos nervos, rins, Isolamento das galinhas
conhecida como do pescoço. baço, fígado e sob a pele; com sintomas.
paralisia das aves) pode ocorrer diarreia; apa-
rência de aves ofegantes.
Newcastle Vírus 1a 3 a 10 dias Ocular (no canto dos Presença de catarro; perda Desinfecção do galinheiro
2a
21 a 30 dias olhos) ou na água. de equilíbrio; andar em e separação das aves en-
círculos; pescoço torto; fermas.
3a
45 a 60 dias diarreia esverdeada; risco
4a 180 dias de morte.
Demais Anualmente
Gumboro Vírus 1a 7 a 10 dias Na água. Tristeza, anorexia, diarreia, Isolamento das aves doen-
desidratação , palidez acen- tes, desinfecção dos equi-
tuada, bolsa aumentada e pamentos.
de aspecto hemorrágico.
FONTE: Silva (2009).
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aviária, a vacinação é feita no incubatório. Délcio Resende, ocupa área total de 1 ha, ção às aves comerciais, sua carne é
Para a bouba, é necessário aplicar uma dividido em seis piquetes de 1.500 m², onde mais suculenta, tem menos gordura
segunda dose. Para as demais doenças, o as aves passam a maior parte do tempo. e um sabor semelhante ao da carne
produtor deve ficar atento ao calendário Em cada piquete foi construído um galpão de faisão e/ou de perdiz. As fêmeas
de vacinação, o qual é flexível, mas deve com capacidade para alojar 500 frangos produzem cerca de 180 ovos (casca
ser cumprido durante o período de criação dos 30 aos 90 dias de idade. Os galpões são marrom) por ano;
das aves. utilizados para o alojamento das aves nos b) Máster Griss: o frango caipira fran-
dias chuvosos, período noturno e proteção cês exótico é uma ave de grande
DESCRIÇÃO DE UM SISTEMA contra eventuais predadores. Possui tam- porte, com canelas compridas adap-
DE PRODUÇÃO DE AVES bém três pinteiros de 18 m² com 60 m² de tadas ao campo. A pele do bico e das
CAIPIRA
área de piquete cada um, o que possibilita patas é resistente, tem pigmentação
Délcio Resende, produtor rural no alojar 500 pintos até os 30 dias de idade. amarela, e a plumagem apresenta
município de Coronel Xavier Chaves, na uma mescla irregular nas cores bran-
região Campo das Vertentes, explica que Linhagens
ca, preta e marrom. Pelo seu grande
resolveu criar galinhas caipira incentivado A principal estratégia para obtenção de porte, é mais apropriado para corte;
por amigos e familiares, com a finalidade uma boa produção de aves caipira é a uti- c) Pesadão Vermelho: este frango cai-
de ter uma produção de carne e de ovos de lização de linhagens melhoradas, oriundas pira francês é vermelho-claro, apre-
boa qualidade: de galinhas caipira adaptadas ao sistema senta grande porte, peito avantajado
No mercado regional não havia uma semi-intensivo. e excelente rendimento após abate.
boa oferta desses produtos. As terras das Na granja “Caipirão do Parque”, as A cor branca aparece nas penas do
quais eu poderia dispor ofereciam boas principais linhagens de aves utilizadas são: rabo e também na extremidade das
condições de topografia, fertilidade e a) Caipira Pescoço Pelado - Label penas do corpo. O bico e as patas são
acesso fácil, além de uma ótima localiza- Rouge (Fig. 8 e 9): é uma ave rústi- amarelos e o pescoço emplumado;
ção em relação aos principais mercados ca, que se adapta a qualquer região d) Caipira Negra: ave de médio porte
consumidores (informação verbal)3.
do Brasil. É excelente tanto para a (Fig. 8 e 9) para criação em sistema
A granja “Caipirão do Parque”, esta- produção de ovos, quanto para a semi-intensivo, destinada à produ-
belecida na propriedade do produtor rural produção de carne. Em compara- ção de ovos. Possui penas pretas e
3
Relato do produtor rural Délcio Resende, em 2010.
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brilhantes, com plumas avermelha- de uma porta aberta ou de cortina substituídos por comedouros adultos e os
das na cabeça e pescoço. O bico e as aberta; bebedouros infantis por bebedouros auto-
patas também são negros. Na idade d) pintinhos uniformemente dispostos máticos. Nessa ocasião, oferta de couve
adulta, cada ave consome cerca de em círculo, comendo, bebendo, in natura é uma boa medida. Em geral, a
120 g de ração/dia e produz 280 dormindo e em silêncio, indica aceitação por parte dos pintinhos é boa. A
ovos por ano. Os ovos são graúdos conforto, ou seja, temperatura ideal cama é revolvida todos os dias para evitar
e de casca vermelha. e uniforme. a proliferação de potenciais agentes cau-
sadores de doenças, bem como o excesso
Manejo dos pintinhos Hidratação de umidade.
Será descrito o manejo dos pintinhos, Para garantir uma boa hidratação dos Manejo das aves adultas
na granja “Caipirão do Parque”, Coronel pintinhos, os bebedouros são distribuídos
As aves adultas são alimentadas com
Xavier Chaves, MG. uniformemente pelo pinteiro. No primeiro
ração e com massa verde picada três vezes
dia de vida, a hidratação é feita com uma
Temperatura solução que contenha 1 kg de açúcar e
ao dia. A água é fornecida em bebedouros
automáticos.
Os pintinhos de um dia são alojados na 100 g de sal, dissolvidos em 25 L de água
Para os frangos de corte, a ração
metade de um pinteiro, devidamente desin- fresca, que é ofertada duas horas antes do
fornecida dos 30 aos 60 dias é do tipo
fetado e esterilizado e com cortinas. O piso fornecimento da ração. Os bebedouros são
crescimento 1; dos 60 aos 85 dias é do tipo
de terra batida é forrado com serragem: lavados duas vezes por dia, visando manter
crescimento 2. Dos 85 aos 90 dias, a ração
5 cm no verão e 8 a 10 cm no inverno. Nos a água limpa e fresca.
fornecida é do tipo engorda.
primeiros 15 dias, são utilizadas lâmpadas As galinhas poedeiras recebem o mes-
Alimentação
para manter os pintinhos aquecidos e, nos mo tipo de ração que os frangos de corte
dias mais frios, utiliza-se também uma Durante os primeiros 30 dias é forneci- até os 90 dias. Continuam com a do tipo
campânula elétrica ou a gás. Como na da ração do “tipo inicial”. Nas primeiras 12 crescimento 2 até os 120 dias, quando
primeira semana os pintinhos são muito horas, a ração é distribuída acompanhando começam a ingerir a ração de pré-postura.
sensíveis a baixas temperaturas, é utilizado o círculo, e sobre um forro de papelão. No A ração de postura é fornecida assim que
um termômetro para monitoramento da dia seguinte, intercalados com os bebedou- se inicia a produção de ovos. É necessário
temperatura, visando manter o ambiente ros, são colocados comedouros infantis na o fornecimento de calcário à vontade, pre-
o mais confortável possível, evitando proporção de um para cada 100 pintinhos. ferencialmente na forma de pedrisco para
mortalidade. A temperatura ideal é de 32 ºC A cada 7 a 10 dias, deve-se regular a altura suprir a necessidade de cálcio.
na primeira semana, 29 ºC na segunda e, dos comedouros, acompanhando o cresci- As aves passam o dia soltas no pique-
em torno de 26 ºC, na terceira. Daí em mento das aves. te. É importante que os piquetes tenham
diante, manter a temperatura ambiente, é árvores para o melhor conforto térmico
Vacinação
suficiente. das aves, que, nas horas mais quentes
Observar o comportamento dos pinti- No 7o dia, é administrada a vacina con- do dia, procuram por sombra (Fig. 10).
nhos é uma maneira eficaz de verificar se tra a doença newcastle; no 9o dia, a vacina Cada piquete deve ser dividido em quatro
estão adequadamente aquecidos: contra gumboro, e, aos 30 dias, quando os piquetes menores, para se fazer a rotação
pintinhos são transferidos para o galpão de ocupação.
a) pintinhos amontoados embaixo da
definitivo, onde permanecerão por cerca de
campânula, piando e disputando Manejo das poedeiras
60 dias, é aplicada a vacina contra bouba
espaço, é sinal de temperatura baixa
aviária. Como sempre há possibilidade de A fase de produção das poedeiras
(frio);
contato com fezes dos outros lotes durante começa a partir da 18a semana de idade,
b) pintinhos dispostos nas laterais e o pastejo, cinco dias antes da transferência quando as barbelas e a crista apresen-
encostados no canto, afastados da para o galpão definitivo é feita a vermi- tam crescimento acelerado e ficam mais
campânula, é sinal de calor em fugação de todo o lote, misturando-se o avermelhadas. O pico de produção ocorre
excesso; vermífugo na ração. entre a 27a e 29a semanas, dependendo
c) pintinhos agrupados de um só lado da linhagem escolhida. Após o pico de
do círculo e próximos da campânula, Conforto térmico
produção, o porcentual de postura diminui
piando muito e disputando espaço, Após completarem 15 dias de idade, gradativamente até a 72a semana de idade,
é sinal de deficiência de calor e/ou os pintinhos são liberados para a área total quando se dá o início da mudança de penas
corrente de ar, geralmente, vinda do pinteiro. Os comedouros infantis são e as aves param de botar por mais ou menos
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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III Cibele Rural Consumo e Cibele Rural Consumo e Cibele Rural Consumo e
renda extra renda extra renda extra
VII Freco Urbana Consumo e Sr. Ari Urbana NI Magaiver Urbana Renda
renda extra extra
Daniela Donato
Figura 1 - Alojamento individual construído, em grande parte, com Figura 2 - Alojamento simples construído para a produção comu-
material encontrado na propriedade nitária de coelhos
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zados temas sobre o manejo alimentar, a re- nente foram anotados nas fichas. Para iden- a comercialização ser de responsabilidade
produção e os cuidados gerais necessários tificação posterior desses animais, optou-se das famílias, uma viagem a Tiradentes,
para a condução da criação, além de noções por uma marcação temporária (utilizando com esse propósito, foi efetuada com a
sobre agregação de valor. Neste período, caneta de retroprojetor), fazendo-se um nú- participação da equipe de coordenação e
os animais foram pesados individualmente, mero ou um número e uma letra em ambas do proprietário do grupo III. Nessa ocasião,
utilizando-se uma balança eletrônica. Para as orelhas, reforçadas semanalmente. Esta foi explicado aos donos de restaurantes
a fase do nascimento à desmama, optou-se prática, além de simples e barata, obrigava da cidade a importância do Programa e
por pesagem total da ninhada. O acom- o contato contínuo do proprietário com os a participação das empresas de pesquisa
panhamento dos reprodutores (machos animais. envolvidas.
e fêmeas) incluiu a pesagem individual, Da mesma forma, na fase de recria e Os participantes foram unânimes em
o monitoramento do estado sanitário e o engorda realizada em baia coletiva (Fig. 4), dizer que o ingresso ao Programa estava
os animais foram pesados individualmente,
fornecimento de alimento e de água. atrelado ao interesse no aumento da
o que permitiu o cálculo do ganho de peso
As coberturas das fêmeas foram contro- renda da família e ao consumo da carne.
diário, da mortalidade e da idade ao abate
ladas pelas famílias, anotando-se na ficha Dentre as famílias associadas, apenas
efetuado quando os animais estavam entre
de controle do animal: a data da cobertura, uma não possuía experiência na criação
2,0 e 2,5 kg.
o macho utilizado, a data da colocação do de coelhos.
Um curso sobre “Curtimento Caseiro
ninho, a data do parto, o número de coelhos Entretanto, seis famílias desistiram do
da Pele de Coelho” foi promovido pela
nascidos (vivos e mortos). Na época, foi Programa, enquanto este foi implantado, e
equipe de coordenação do programa, na
recomendado que as coberturas fossem foram substituídas por novos associados. A
sede da Emater-MG, quando foram abor-
assistidas, evitando-se deixar as fêmeas dados, além da técnica, aspectos do manejo alta rotatividade das famílias prejudicou a
com o macho por um período superior alimentar ligados à reprodução, diagnosti- análise dos dados. O principal argumento
a 20 minutos. Dessa maneira, o criador cado como principal problema enfrentado da desistência foi a falta de resultados
teria certeza da realização da cobertura, pelas famílias na ocasião. Junto ao tema reprodutivos positivos. A pesagem sema-
além de evitar o cansaço desnecessário do “Agregação de valor” foram sugeridos os nal foi útil na verificação de problemas
macho e o risco de briga, comuns quando preços de venda da carcaça, de animal vivo, nutricionais envolvidos nesse baixo índice
a fêmea permanece muito tempo na gaiola de animais recém-desmamados e da pele reprodutivo. No geral, todos os animais
do reprodutor. curtida. Para estimular o consumo e ensinar mostraram perda de peso inicial. O fato de
O desmame foi realizado quando cada algumas alternativas de preparo da carne os animais terem recebido dieta comercial
filhote atingiu 500 g de peso vivo. Nesta de coelho, três carcaças, fornecidas pela peletizada antes de serem entregues às
ocasião, as mortes, o número de animais criadora do grupo VI, foram defumadas e famílias, pode ter contribuído para essa
desmamados e qualquer observação perti- degustadas pelos participantes. Apesar de perda de peso. Contudo, as fêmeas que
Daniela Donato
Daniela Donato
Figura 3 - Galpão simples construído para dar boa proteção aos Figura 4 - Recria e engorda de coelhos realizadas em baia co-
coelhos contra o frio letiva
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apresentaram bom desempenho reprodu- A média da taxa de concepção (TC) oferecidas à vontade. Nesse caso, por
tivo foram também aquelas que ganharam observada nesse sistema extensivo, foi decisão do proprietário, um período mais
peso, 14 semanas após serem entregues superior a 78% registrados em sistemas longo foi permitido antes que a fêmea
pelo Programa. Os animais que estiveram semi-intensivos (MELLO; SILVA, 1989). fosse novamente coberta pelo macho.
sob os cuidados das famílias que desis- Entretanto, o valor mais alto da TC (93%) O baixo valor da TC (57%), para os grupos
tiram do Programa foram aqueles que foi observado nas fêmeas do grupo VI, as III, IV, V, VIII e IX, pode ter ocorrido por
demonstraram perda contínua de peso, quais conseguiram recuperar o peso vivo mudanças no manejo alimentar. No início
após o período de adaptação. Sem recupe- dentro das 14 semanas após o período de do Programa, os animais receberam uma
ração do peso apresentaram dificuldades adaptação. Nesse grupo, o manejo nu- mistura caseira feita para suínos, sendo
reprodutivas. tricional adotado incluiu o uso de ração substituída posteriormente por uma ração
Os índices zootécnicos alcançados peletizada para as fêmeas lactantes, além comercial peletizada. Capim-elefante (na-
pelos sete grupos de animais estão apre- de sobras de vegetais, frutas e forrageiras. pier) foi oferecido em todas as ocasiões.
sentados no Quadro 2. Os resultados Esta dieta provavelmente contribuiu para Apesar desse baixo valor da TC, o IEP
dos três grupos restantes (II, VII e X) diminuir o intervalo entre partos (IEP) (59 foi aceitável (67 dias). O número médio
foram excluídos das análises de dados dias). A TC também foi superior (85%) de animais nascidos vivos (NV) foi maior
por terem iniciado muito tardiamente em para as fêmeas do grupo I, quando com- no grupo VI (6,6), quando comparado aos
relação aos demais. Os dados de cinco parada ao valor encontrado na literatura outros (5,87), e superior ao valor de 5,96
grupos (III, IV, V, VIII e IX), apesar de para sistema semi-intensivo (70%). Esse relatado por Lukefahr e Cheeke (1991).
pertencerem a famílias diferentes, foram valor superior pode, provavelmente, ter Animais lactantes do grupo VI ganha-
analisados em conjunto, por estarem alo- sido consequência do uso de uma mistura ram 17,16 g/dia, enquanto os do grupo
jados na mesma instalação e recebendo caseira de farelo de trigo e fubá, além da I ganharam 14,75 e, os demais, 5,93 g.
o mesmo manejo. utilização de sobras de vegetais e frutas Durante esta fase, o leite é a única fonte de
QUADRO 2 - Desempenhos produtivos e reprodutivos dos grupos de coelhos pertencentes às famílias associadas ao Projeto
III, IV, V,
57.45 67 26.75 5 2.71 3 2.51 37.4 52 (1)
NE
VIII e IX
Média 78.67 70.33 13.32 5.87 0.80 3.63 0.78 37.62 46.00 7.94
GPMD
Mortalidade do
TC (g) Idade ao abate
Grupo IEP (dias) DP desmame ao abate DP
(%) (dias)
(%)
Nascimento Desmame
DP DP
ao desmame ao abate
III, IV, V,
57.45 67 26.75 5.93 2.86 9.42 4.11 66.67 144 NE
(1)
VIII e IX
Média 78.67 70.33 13.32 12.61 5.91 14.96 5.92 36.84 137.50 9.19
NOTA: TC - Taxa de concepção; IEP - Intervalo entre partos; DP - Desvio Padrão ; GPMD - Ganho de peso médio diário.
(1) Não avaliado, apenas um dado. (2) Não avaliado.
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alimento para os láparos, pois a ingestão de Ganho de peso satisfatório do nasci- com mais habilidades e gosto pela produ-
alimento sólido é muito limitada. Entretan- mento ao desmame nos grupos I (15 g/dia) ção conquistaram melhores resultados e
to, a produção de leite pode ser afetada por e VI (17 g/dia) resultou positivamente em sentiram-se motivados a continuar com
vários fatores. Considerando que todos os idades mais baixas ao desmame (49 e 37 a atividade. Contudo, os resultados, a
animais adquiridos para o Programa eram dias, respectivamente), comparados aos despeito de ficarem aquém do esperado,
da mesma origem e, assim, apresentavam demais grupos. Os animais do grupo VI indicam viabilidade da criação de coelhos
pequena variabilidade genética, é possível mantiveram a tendência de maior GPMD em ambiente de agricultura familiar, tanto
concluir que o manejo alimentar adotado também na fase do desmame ao abate para produção de carne para consumo
no grupo VI surtiu efeitos positivos na (21,2 g/dia), permitindo um abate mais próprio, quanto para venda de excedentes.
produção de leite pela matriz, refletindo no cedo (131 dias), que aqueles do grupo Mesmo com as dificuldades percebidas, a
ganho de peso diário da ninhada. Lukefahr III (144 dias). Entretanto, a idade média criação familiar de coelhos representou,
et al. (2000) também relataram que 77% ao abate em países em desenvolvimento para os produtores, fonte de alimento,
dos produtores africanos, assistidos pelo foi próxima aos 120 dias (LUKEFARH; oportunidade de ocupação e renda.
Projeto Internacional Heifer, apresenta- CHEEKE, 1991), e o GPMD de 22,0 g
ram problemas no manejo alimentar dos (RASTOGI, 1988) e 14,9 g (BERCHICHE; REFERÊNCIAS
animais, resultando em reduzidas taxas de LEBAS; LAKADI, 1988). Esses autores BERCHICHE, M.; LEBAS, F.; LAKADI, D.
fertilidade e altas taxas de mortalidade dos forneceram aos coelhos dietas caseiras à Utilization of home made diets: effects on
láparos. Esses autores observaram queda base de forragem. growth performance and slaughter yield of
na produção de leite em fêmeas lactantes Após o desmame, animais do grupo Algerian local rabbits. In: WORLD RABBIT
que não estavam recebendo água à vontade, VI foram criados juntos, alojados em um CONGRESS, 6., 1996, Tolouse, France.
podendo esse fato estar associado às altas Proceedings … [Paris: WRSA, 1996]. v. 3,
galpão com piso de cimento. Isto permitiu
taxas de mortalidade registradas. A des- p. 309-313.
um gasto menor com instalações, princi-
peito da alta taxa de ganho de peso médio palmente com gaiolas galvanizadas, mas COSTA, B.A.L. P. Caracterização sócio-
diário (GPMD) do nascimento à desmama econômico e cultural de agricultores fa-
a adoção desse manejo muitas vezes au-
(17,16 g/dia), resultando em animais mais miliares participantes do projeto: Apro-
menta o risco de incidência de coccidiose
veitamento da Pele e do Couro de Coelho
desenvolvidos e mais fortes, a taxa de e, consequentemente, da mortalidade de no Artesanato Mineiro. 2005. 47f. Relatório
mortalidade próxima a 32%, no grupo VI, animais nesta fase. Contudo, a taxa de de Projeto Supervisionado - trabalho de con-
foi considerada alta para esta fase. Rasto- mortalidade do desmame ao abate desse clusão de curso (Graduação em Zootecnia) –
gi (1988) relatou taxa de mortalidade de grupo foi significantemente menor (7%), Universidade Federal de Lavras, Lavras, 2005.
22,7% do nascimento ao desmame, quando quando comparada com o grupo III (III, LUKEFAHR, S.D. Un manual para ins-
ofereceu para fêmeas em lactação dieta
IV, V, VIII e IX) (67%), os quais usaram tructores de proyectos de desarrollo para
peletizada com 16% de proteína bruta (PB) la producción de carne de conejo. Mon-
gaiolas de arame.
própria para suínos, complementada com tecillo, México: Colegio de Postgraduados,
várias espécies de capins. Taxas de morta- 1992. 133p. Heifer Project International.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
lidade também foram altas para os grupos I
_________; CHEEKE, P.R. Rabbit project de-
e III (III, IV, V, VIII e IX) – 44% e 37%, A criação de coelhos não provocou
velopment strategies in subsistence farming
respectivamente. Contudo, a mortalidade entusiasmo em todas as famílias selecio-
systems. World Animal Review, Rome,
para o grupo I poderia ter sido ainda mais nadas. Situação absolutamente normal. n.68, p.60-70, 1991.
elevada, caso não tivesse sido administrado Alguns não se sentiram à vontade criando
__________ et al. Present status of the hei-
um sucedâneo lácteo, pois algumas fêmeas coelhos, outros não se sentiram recom-
fer project international-cameroon rabbit
não produziram quantidade suficiente de pensados como esperavam e foram subs- program: back to the future. World Rabbit
leite para a ninhada. tituídos. Para alcançar melhores índices Science, v.8, n.2, p.75-83, 2000.
A média de animais desmamados produtivos, os coelhos exigem nutrição
MELLO, H. V. de; SILVA, J.F. da. A criação
observada neste Projeto (3,63) foi menor de melhor qualidade do que a ofertada, de coelhos. 2. ed. São Paulo: Globo, 1989.
que aquela relatada na África (5,87), principalmente quando criados presos, 214 p.
Ásia (5,77) e América Latina (5,29) já que nesta situação não têm a opção de
RASTOGI, R. K. Performance data from
(LUKEFAHR; CHEEKE, 1991). Mesmo conseguir algum alimento na natureza.
a rabbitry in Trinidad (West Indies). In:
o número de láparos desmamados por Com uma boa alimentação, tanto os ín- WORLD RABBIT CONGRESS, 4., 1988,
ninhada no grupo VI (4,5) ficou aquém dices produtivos quanto os reprodutivos Budapest, Hungary. Proceedings … [Paris,
ao relatado na literatura. seriam certamente melhores. Os criadores WRSA, 1988]. v. 3, p. 256-263.
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INTRODUÇÃO num efetivo de 2,46 milhões de matrizes para a profissional, entre os anos 70 e 90.
(ASSOCIAÇÃO..., 2006). Somam-se, também, as crises relacionadas
No Brasil, a suinocultura passou por
A suinocultura nacional sofreu influên- não só com a produtividade, mas basica-
diversas fases. A atividade iniciou-se de
cia positiva e negativa de várias naturezas. mente com as restrições de mercado, e as
maneira extrativista, evoluindo para siste-
Podem-se destacar como positivas a intro- crises relacionadas com o surgimento de
mas semiconfinados em meados da década
dução da inseminação artificial na década outras doenças como, por exemplo, a cir-
de 1920, após o surgimento da indústria de
de 1960, a redução da idade de desmame covirose suína. Porém, mesmo com tantos
banha no sul do País. No início da década de 56 dias para 21 dias e a produção de ani- desafios, a atividade expandiu-se significa-
de 1970, com a transformação da indústria mais híbridos e melhorados geneticamente tivamente nas últimas décadas, colocando
de banha para indústria de carnes e deriva- para produção de carne em detrimento da o Brasil em destaque na produção mundial.
dos, a suinocultura brasileira deu um salto produção de gordura. Mas não se pode A suinocultura, no entanto, reserva
qualitativo, deixando de ser uma atividade esquecer das influências negativas, tais peculiaridades que merecem ser estudadas
incipiente para se tornar uma atividade de como: os desafios sanitários com a rinite e avaliadas com critério, visando sua sus-
grandes projetos e de grande importância atrófica e a pneumonia enzoótica nas déca- tentabilidade ou até mesmo um aumento de
na cadeia produtiva nacional. Assim, o País das de 1970 e 1980, a peste suína africana sua capacidade produtiva. O modelo pro-
se posicionou entre os quatro maiores pro- na decáda de 1980, a gripe suína no ano dutivo de granjas é muito heterogêneo no
dutores mundiais de carne suína, com um de 2009, bem como a transferência ou a Brasil, existindo desde aquelas que visam
abate em torno de 36,5 milhões de suínos divisão da atividade estritamente familiar exclusivamente o sustento familiar, até os
1
Eng o Agr o , D.S. Zootecnia, Prof. Tit. UFV - Depto. Zootecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: alosofe@ufv.br
2
Zootecnista, D.Sc., Pesq. EPAMIG ZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: fcosilva@epamig.ufv.br
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grandes projetos de produção com milhares d) corte e desinfecção do umbigo; No contexto deste artigo serão tratadas
de matrizes em um único local ou sítio de e) corte ou desgaste dos dentes; questões pertinentes à produção de suínos
produção. Contrariamente ao modelo de de forma autossustentável em escala fami-
f) corte da cauda;
produção da avicultura (que também teve liar e que também pode ser uma alternativa
excepcional expansão nos últimos anos, g) fornecimento de ferro dextrano para o problema desses dejetos.
levando o País a líder mundial na pro- injetável para prevenção de anemia
dução), a suinocultura permite processos ferropriva; ALTERNATIVAS DE
diversificados de produção como: h) castração; PRODUÇÃO PARA
AGRICULTURA FAMILIAR
a) granjas de ciclo completo de produ- i) fornecimento de calor e de ração de
ção; boa qualidade.
Produção de suínos
b) granjas com produção em sítios O desmame dos leitões em mais de em lotes ou de forma
separados; 95% das granjas tem sido realizado aos escalonada
c) granjas com produção em sistemas 21 dias de idade, porém tem-se observado
A suinocultura, como qualquer outra
semiconfinados; uma tendência de mudança desta idade
atividade agropecuária, exige fluxo cons-
para 28 dias. Após o desmame, os leitões
d) granjas com produção em sistemas tante de produção. A formação de lotes
são transferidos para as creches, onde
de criação ao ar livre, etc. de produção é um requisito básico para
permanecem até alcançar peso médio de
Esta diversidade de sistemas de pro- manutenção controlada de receitas. O
25 kg.
dução, com múltiplas possibilidades de princípio básico na formação de lotes está
As fases de crescimento e terminação
adaptação (sítios de preparação de leitoas, na definição de um tamanho padrão, que
(25 aos 110 kg) podem ser realizadas
sítios de preparação de primíparas e partos garanta fluxo de produção estável, tanto
dentro da mesma granja, sítio completo na cria quanto na recria e terminação de
segregados, autorreposição de plantel,
ou em outra propriedade em sistema de leitões. Por se tratar de uma atividade ex-
compra de leitoas desmamadas ou animais
condomínios. Também, tem-se constata- tremamente dinâmica, as granjas, que no
de recria, além da diversidade nos moldes
do, em função do rendimento industrial, passado foram referenciadas por tamanho,
construtivos), faz da suinocultura uma
uma tendência de abate de animais com consideradas grandes, não possuíam mais
atividade não só complexa e de grandes
até 130 kg. do que 240 matrizes, sendo que, atualmen-
variabilidades, mas também de grandes
Entretanto, o crescimento embasado te, dentro de uma ótica industrial, essas
desafios para a sua franca expansão.
nesse sistema de produção tem sido alvo granjas são consideradas pequenas.
A suinocultura brasileira tem passado
de preocupação, principalmente no que se Por isso, para granjas com até 300 ma-
por mudanças complexas no que se refere
refere a questões ambientais, pois quando trizes, tem sido recomendado o manejo em
a sistemas, tipo e escala de produção,
esses sistemas de produção são mal pro- lotes múltiplos de sete dias (a cada 7, 14, 21
predominando a produção vertical em
jetados ou malconduzidos podem gerar ou 28 dias) ou a cada dez dias (decenais). O
grande escala.
grandes quantidades de resíduos. A falta manejo em lotes aqui denominado refere-
Assim, a produção de suínos tem sido
de um manejo adequado desses resíduos se à escala de produção que é determinada
realizada predominantemente via sistema
tem instigado os suinocultores a lançá-los pela idade dos leitões ao desmame. As
confinado, em que as matrizes de gestação
em corpos hídricos ou aplicá-los como fer- escalas de produção de 14 e 21 dias têm
são mantidas, por 35 dias (até a confirma-
tilizantes agrícolas de forma inadequada, sido pouco usadas por demandarem idades
ção da gestação), em celas de alojamento
poluindo águas superficiais e subterrâneas. de desmame de 42 dias, mas ainda existem
individual, podendo ser transferidas ou não
O manejo correto dos dejetos tem sido algumas poucas granjas com estas escalas
para baias de alojamento coletivo, onde
um dos maiores desafios que os suinocul- de produção. Quanto menor a granja, maior
permanecem até, aproximadamente, 100
tores e ambientalistas têm enfrentado nos deve ser a escala de produção. Dessa for-
dias de gestação. Após esse período são
últimos anos, em razão dos problemas de ma, granjas com o máximo de 30 matrizes
transferidas para as salas de maternidade
poluição das águas, dos custos de armaze- devem adotar a escala mensal de produção,
onde permanecem alojadas até o desmame
namento, das formas de tratamentos e do e, para essa escala, são necessários sempre
(14 a 28 dias pós-parto).
aproveitamento desses dejetos como adubo números múltiplos de cinco grupos de
Os leitões são submetidos aos manejos
orgânico na agricultura. Várias têm sido as matrizes desmamadas com, pelo menos,
de rotina, que são:
alternativas apresentadas para a redução da 28 dias de idade. Nas granjas com mais
a) acompanhamento durante o parto;
produção de dejetos e de suas substâncias de 100 matrizes deve-se adotar uma es-
b) enxugamento e limpeza dos leitões; poluidoras, bem como de seus manejos cala semanal de produção com a idade de
c) auxilio à primeira mamada; adequados na suinocultura. desmame múltipla de sete, podendo ser o
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Gregório Murilo
da adaptação dos manejos reprodutivos e
dos momentos de realização das atividades
rotineiras, até alterações com adaptações na
construção. Além das alterações de desenho Figura 1 - No Sistema Intensivo de Suínos Criados ao Ar Livre (Siscal), os animais ficam
de granja, a adoção de sistemas em lotes de- soltos em piquetes com cobertura vegetal
cenais ou maiores que duas semanas pode
exigir o ingresso de leitoas de reposição
nas fases de reprodução, na maternidade a) matrizes gestantes, secas e varrões
com idades diferentes ou pode-se lançar
e na creche (Fig. 2). Há também a possi- (Fig. 4 e 5);
mão da opção de suprimento com animais
bilidade de criação dos animais nas fases b) matrizes lactantes e leitões em alei-
já gestantes (BRANDT; LIMA, 2005).
de crescimento e terminação em sistema tamento;
Para novos sistemas de produção ou
de semiconfinamento. No interior dos
locais de início da atividade, obrigatoria- c) varões;
piquetes são colocadas cabanas móveis
mente a logística de produção deve focar d) leitoas de reposição;
com estruturas de madeira cobertas com
principalmente as questões econômicas e
chapas galvanizadas do tipo iglu ou até e) leitões em creche.
ambientais. No caso da agricultura fami- mesmo abrigos rústicos com cobertura de
liar, deve-se levar em conta que a atividade São confinados apenas os animais que
palha (Fig. 3). Além dessas estruturas de estão nas fases de crescimento e termi-
será uma a mais dentro do sistema produ- proteção dos animais, há a necessidade
tivo da propriedade e que, portanto, será nação.
de fornecimento de áreas de sombra para
mais uma agregadora de renda ao trabalho A área dos piquetes deve ser definida
prevenir contra queimaduras de pele. A
da família. Por isso, nesses casos o rebanho pela taxa de lotação, topografia do terreno,
água e o alimento devem ser fornecidos
deve ter um menor número de matrizes clima, vegetação e tamanho dos grupos ou
em locais apropriados (de alvenaria), para
com o sistema organizado em lotes de lotes. Assim, na prática, têm sido recomen-
evitar desperdícios e mal aproveitamento
produção e de preferência com organização dados de 500 a 900 m2/matriz, principal-
dos alimentos, bem como doenças.
cooperativa entre várias famílias. mente em função da cobertura vegetal e das
Normalmente, os animais permanecem
neste sistema até atingir de 25 a 30 kg de condições climáticas da região.
Produção de suínos ao Para cobertura vegetal, tem sido re-
peso corporal e, após, são vendidos para
ar livre comendado o capim-quicuio, pensacola,
terminadores (podendo ser criados dentro
No Sistema Intensivo de Suínos Cria- do próprio sistema). Como os animais são pangola e tifton 85 (LEITE, 1996) e,
dos ao Ar Livre (Siscal) (Fig. 1), também mantidos em piquetes, livres e em menores se possível, com algumas leguminosas.
denominado plein air, os suínos são quantidades, a água de limpeza e os trata- Campos nativos e algumas espécies de
mantidos em piquetes cobertos com vege- mentos de dejetos são dispensáveis. forrageiras adaptadas podem e devem ser
tação, cercados com fios ou telas de arame No Siscal, os suínos são alojados em pi- utilizadas, visto que o objetivo principal
eletrificados com corrente alternada em quetes específicos de acordo com a função da cobertura vegetal é proteger o solo e
dois ou três fios até uma altura de 60 cm, do animal dentro do sistema de produção: proporcionar o bem-estar animal.
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Figura 4 - Matrizes gestantes soltas em piquetes com boa cober- Figura 5 - No Siscal, o varrão também pode ser mantido solto
tura vegetal e abrigo de alvenaria em piquetes
NOTA: SISCAL - Sistema Intensivo de Suínos Criados ao Ar Livre.
Os animais devem ser introduzidos nos Sistema Confinado (Siscon), verificou que das matrizes e dos leitões. É importante
piquetes após a cobertura vegetal estar am- o número de leitões desmamados por parto agregar a essas informações, que o Siscal
plamente estabelecida, sendo recomendada e o peso médio dos leitões ao desmame oferece melhores condições de conforto
a ocupação rotativa. com 28 dias foram maiores no Siscal do aos animais.
Este sistema de produção tem-se mos- que no Siscon. Este pesquisador atribui os Os dados que constam no Quadro 1
trado amplamente viável no Brasil. Dalla melhores resultados do Siscal às melhores evidenciam que, no Siscal, os resultados
Costa (1994), ao comparar o Siscal com o condições ambientais e de alojamento econômicos são melhores, por causa dos
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menores custos fixos e variáveis, além de ximadamente, 8 mil dólares, ou seja, cerca do custo das instalações de crescimento
melhores índices técnicos como maior nú- de R$ 14.700,00 e mais um investimento e terminação em alvenaria e em área de
mero de leitões desmamados/porca/ano e inicial de cerca de R$ 10 mil em animais. piquetes para os animais nestas fases. Por-
maior peso médio dos leitões à desmama. É Estes dados, atualizados (Quadro 1) foram tanto, o custo do investimento será menor
interessante observar que, neste estudo, as obtidos por Dalla Costa (1994). tanto em instalação quanto em área.
condições do meio ambiente, as condições Além desses investimentos há também Em síntese, pode-se inferir que o Siscal
sanitárias e de alojamento proporcionaram a demanda de, aproximadamente, 112 tone- constitui alternativa para os criadores que
melhores produções, uma vez que não hou- ladas de ração por ano e uma área de 8 mil queiram ingressar na atividade da suinocul-
ve diferença no material genético utilizado metros quadrados em sistema de produção tura familiar ou para os que desejam inte-
e na qualidade da alimentação. de leitões e 16 mil metros quadrados em grar e diversificar sua propriedade. Além
Comparando diferenças genéticas e sistema de ciclo completo para instalação disso, o Siscal pode oferecer facilidades
ambientais, vale lembrar que a China, dos animais. aos criadores, em função do baixo custo
maior produtora mundial de carne suína, O Siscal com esta base, se bem ma- de implantação e manutenção, do número
investe mais na diversificação genética e nejado, pode proporcionar a agregação reduzido de edificações, da simplicidade de
bem-estar dos animais do que na especia- de, aproximadamente, R$ 1.700,00 por implantação do sistema, da mobilidade das
lização genética em sistemas de confina- mês na renda familiar, considerando uma instalações, do bom desempenho técnico
mento, como ocorre no Brasil. Segundo rentabilidade média de 20% sobre a pro- e, sobretudo, por promover condições de
Cerri (1999), mais de 80% da suinocultura dução e o preço atualmente praticado em conforto e bem-estar aos animais.
chinesa é desenvolvida em pequenas gran- Minas Gerais (R$ 2,70/kg de suíno vivo).
jas de origem familiar, com média de dez O sistema permite produzir 30 terminados Suinocultura orgânica
matrizes por propriedade. O segredo do por mês com 106 kg cada um deles aos O produto orgânico tem valores agre-
sucesso dos chineses pode estar relacio- 160 dias de idade (memória de cálculo: gados que permitem a sua comercialização
nado com a criação em sistema familiar e 106x30x2,70 = R$ 8.586,00). com maior margem de lucro, visto que, ge-
com o número de raças nativas de suínos O Siscal poderá ter maior rentabilidade ralmente, é demandado por consumidores
utilizado nos sistemas de produção, pois (40% do total da produção), se a tarefa com maior poder de compra. No Brasil,
são usadas mais de 40 raças. for dividida entre famílias agregadas em existe uma demanda não atendida nos
A implantação do Siscal, como mais sistema cooperativo para compartilhar grandes centros urbanos por carne orgânica
uma atividade no processo de produção em responsabilidades. Nesses casos, a família de suínos, e no País existe apenas um re-
escala familiar, demanda poucos investi- responsável pela produção de leitões co- banho preparado para receber certificação
mentos. Como exemplo, pode-se citar um mercializará por mês em torno de 30 leitões de orgânico pelo Ministério da Agricul-
sistema com 16 matrizes e um reprodutor com 25 kg cada, ao preço de R$ 150,00, tura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
em escala de produção decenal com 30 com a agregação mensal de R$ 1.800,00. A suinocultura orgânica pode-se tornar
terminados por mês, que demanda um in- Dessa forma, serão necessárias apenas 31 uma realidade no Brasil, a partir da criação
vestimento inicial em instalações de, apro- toneladas de ração por ano e ficarão livres de suínos em pequena escala, via agricul-
tura familiar.
QUADRO 1 - Indicadores econômicos para Sistema Intensivo de Suínos Criados ao Ar O conceito de suinocultura orgânica
Livre (Siscal) e Sistema Confinado (Siscon) com 16 matrizes em escala envolve a origem do animal, o tipo de
de produção decenal alimento usado, o uso de fitoterápicos, o
Siscal Siscon Siscal não-uso de quimioterápicos e o bem-estar
Itens
(1995) (1995) (2010) animal. Implica, ainda, na possibilidade de
Custos fixos médios/kg de porco produzido (em dólares) 0,12 0,33 0,15 uso de tecnologias adequadas e modernas,
Custo variável médio/kg de porco produzido 0,96 1,32 1,17 tais como, inseminação artificial e animais
híbridos, com alto potencial genético cria-
Custo total médio/kg de porco produzido 1,08 1,64 1,32
dos para tal finalidade (exemplo: animas de
Custo total das instalações 4.990,83 11.160,15 7.935,33 C40 da linha A, produzida e comercializa-
Custo por matriz alojada 311,93 697,51 499,08 da pela Topics do Brasil ou até mesmo com
Número de partos/porca por ano 2,24 2,31 2,31
C50 produzida e animais de raças chinesas
e Wessex na Holanda).
Número de leitões desmamados aos 28 dias/por parto 9,20 8,80 10,50
A alimentação dos animais deve conter
Peso do leitão ao desmame 10,50 8,80 11,00 pelo menos 60% de grãos e/ou de outros
FONTE: Dados básicos: Dalla Costa (1994). produtos orgânicos (cana-de-açúcar e mi-
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lho inorgânico germinado). Além disso, Criação de suínos em Contudo, esse sistema requer alguns
não se podem usar produtos ou subpro- cama sobreposta cuidados, quando da construção das edifi-
dutos de origem animal nas dietas, leite O Sistema de Produção de Suínos em cações, tais como:
integral ou desnatado em pó (resíduo) e Cama Sobreposta, também conhecido por a) maior altura do pé-direito e maior
plasma sanguíneo na primeira fase de deep bedding, foi desenvolvido para ser ventilação;
criação dos leitões. Estes dois produtos um sistema alternativo aos convencionais b) maior disponibilidade de água;
constituem alternativas aos antibióticos. de produção. Caracteriza-se por apresentar
A cana-de-açúcar, produzida de forma c) disponibilidade de material de boa
menor custo de implantação, maior faci-
orgânica, deve ser usada para porcas em qualidade para a cama, como mara-
lidade no tratamento dos dejetos, menor
gestação, como forma de reduzir a quanti- valha, casca de arroz, palha ou feno;
poder de poluição e proporcionar maior
dade de milho nas dietas. conforto e bem-estar aos animais. d) animais oriundos de um plantel de
Deve-se usar, continuamente, uma No sistema de criação em cama so- matrizes com bom status sanitário.
combinação de fitoterápicos fornecidos breposta, os animais são mantidos em Existe um modelo de sistema de
de forma controlada para os animais em edificações com piso de cimento (ou até produção em cama sobreposta em baixa
todas as fases. Os fitoterápicos usados são: mesmo de chão batido), por cima do qual escala com 25 terminados a cada dez dias
a) alecrim como antifúngico; são colocadas camadas de maravalha, e criação de animais apenas nas fases de
palha, casca de arroz ou casca de café. crescimento e terminação, concebido para
b) bálsamo ou babosa como cicatrizan-
Os dejetos passam por um processo de
tes e anti-inflamatórios; a agricultura familiar e implantação em
compostagem durante o período em que
c) boldo como digestivo e protetor pequenas propriedades (DALLA COSTA
o animal é mantido sobre a cama. Este
hepático; et al., 2006). As edificações para esse mo-
sistema visa reduzir os investimentos em
delo são construídas com o uso de madeira
d) mastruz como vermífugo; edificações, minimizar a poluição e valori-
rústica, que é de baixo custo, e a cama é
e) terramicina vegetal como antibióti- zar o composto final como adubo orgânico.
colocada sobre o piso de chão batido. O
co natural; Neste sistema de produção de suínos, o
manejo e o tratamento dos dejetos ocorrem modelo proposto possibilita a redução
f) couve como laxativo;
dentro das edificações. Essa prática resulta significativa dos custos de implantação,
g) melissa e cidreira como calmantes; em um resíduo final, cuja concentração de dos riscos de poluição ambiental e dos pro-
h) carqueja como diurético; nutrientes foi significativamente maior, blemas com os odores, quando comparado
i) talo ou a folha da bananeira como quando comparada à do dejeto obtido no com o sistema convencional, e viabiliza a
antidiarreicos; sistema convencional. Veja composição produção de um adubo orgânico de boa
no Quadro 2. qualidade e de fácil manuseio.
j) alho incorporado à dieta como pro-
Chiucchetta e Oliveira (2002) conside- A manutenção desse sistema requer a
motor de crescimento e antibiótico
raram que o composto gerado no sistema formação de um consórcio entre produto-
natural;
de produção em cama sobreposta, por sua res de leitões e terminadores. Isto pode ser
k) Cambarazinho como antipneumôni- maior concentração de nutrientes, possui incentivado para a agricultura familiar a
co e antigripal. viabilidade econômica como fertilizante, partir do associativismo entre os produtores
Para viabilizar um projeto de suinocul- quando transportado até uma distância de leitões em sistemas de criação orgânica
tura orgânica com conceitos de bem-estar de 7 km, enquanto que o dejeto na forma de suínos ou ao Siscal, apresentado an-
animal, deve-se adotar o Siscal, conforme líquida, produzido nas granjas com animais teriormente, e outros terminadores. Para
apresentado anteriormente, para a agricul- confinados, só é viável a uma distância cada dez famílias produtoras de leitões são
tura familiar. Pode-se montar uma estrutura máxima de 2 km. necessárias mais quatro terminadoras.
cooperativa entre 15 famílias, sendo uma
com o rebanho de matrizes contendo 32
QUADRO 2 - Composição de dejeto de suínos em função do sistema de produção
avós, outra com dez produtoras de leitões
Nutriente
e quatro terminadoras. Um projeto estabe- Matéria seca (MS) (kg/t)
Sistema de produção Tipo de dejeto
lecido dessa forma pode ser implantado em (%)
N P205 K2O
uma área compreendida num raio de 7 km,
Convencional Dejetos líquidos 1,6 2,2 0,6 0,9
para viabilizar o uso dos dejetos na produ-
ção do milho, da cana e dos fitoterápicos Cama sobreposta Cama de maravalha 43,4 8,7 7,2 11,7
necessários para a suinocultura orgânica. FONTE: Dados básicos: Oliveira, Menes e Nunes (2001).
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Os terminadores com um investimento em caráter familiar, que historicamente DALLA COSTA, O.A. Índices técnicos e
de cerca de R$ 8 mil, em dez galpões de se formou em torno dessa atividade, pode econômicos de sistemas de criação de suí-
madeira e com a necessidade de 178 to- nos ao ar livre e confinado. 1994. 88f. Tese
voltar a ser o pilar de sustentação do setor
(Mestrado em Zootecnia) – Universidade
neladas de ração por ano, podem ter uma suinícola no Brasil. Como exemplo de
Federal de Viçosa, Viçosa, MG, 1994.
lucratividade de R$ 2.900,00 por mês, se o políticas voltadas para isso, pode-se citar
lucro for de apenas 13,5% sobre a produ- _______. et al. Sistema Alternativo de Cria-
o Programa de Estímulo à Produção de
ção de Suínos em Cama Sobreposta para
ção. Memória de cálculo: 106x75x2,70 = Carne Suína de Qualidade, denominado
Agricultura Familiar. Concórdia: Embrapa
R$ 21.465,00. “Projeto de criação de suínos saudáveis: Suínos e Aves, 2006. 7p. (Embrapa Suínos e
uma alternativa para a agricultura fami- Aves. Comunicado Técnico, 419).
CONSIDERAÇÕES FINAIS liar”, coordenado pelo Instituto Biológico,
CHIUCCHETTA, O.; OLIVEIRA, P.A.V. Va-
Vários fatores têm alterado o perfil da da Secretaria de Agricultura do Estado de riação cambial e sua influencia na utiliza-
atividade suinícola no Brasil, sendo que a São Paulo. ção agronômica dos dejetos suínos sólidos
escala de produção e a pressão ambiental como fertilizantes. In: CONGRESSO LATI-
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INTRODUÇÃO GUANZIROLI, 2003), por outro, acabam No entanto, essas alternativas de pro-
dificultando o desenho de um plano capaz dução e renda, seja em consequência da
O Plano de Negócio é um instrumento
de explicitar os conhecimentos do proprie- complementaridade ou apenas da diversifi-
básico de planejamento operacional que
tário. Como consequência, muitos negó- cação, acabam confundindo o proprietário
subsidia o processo de tomada de decisão
cios surgem apenas com base em intuições, em relação ao foco do seu negócio. Isso
em relação a um empreendimento, a uma
sem estrutura e sem visão de futuro. faz com que se perca muito tempo em
avaliação do desempenho e a uma correção
Em sistemas produtivos da agricultura atividades operacionais, voltadas para dar
de rumo e ajuste nos negócios. Por meio
familiar que envolvem a produção de ani- uma solução imediata a um determinado
desta ferramenta, é possível planejar e
decidir o futuro do negócio, avaliar sua mais, a diversificação e a complementari- problema que surge, do que no desenvol-
situação em relação à concorrência, aos dade são bastante comuns (WILKINSON, vimento de estratégias de negócio e de
clientes e ao mercado, identificando riscos 1997). Por exemplo, os resíduos da produ- parcerias para tornar os processos mais
e criando alternativas para a minimização ção de hortaliças podem ser utilizados para eficientes e as atividades rentáveis dentro
de seus efeitos sobre a empresa (BANCO complementar a alimentação de galinhas da propriedade.
DA AMAZÔNIA, 2006?). caipira e coelhos. Das galinhas, pode-se Ao optar pela produção de leite, o
A diversidade e a complementaridade vender ovos e carne. Dos coelhos, além da proprietário rural já sabe onde adquirir o
das atividades de uma propriedade rural carne, pode-se vender o couro. O esterco gado e para quem vender o leite; da mesma
familiar dificultam a utilização do Plano dos animais, depois de curtido, pode ser forma, o produtor de coelho já sabe onde
de Negócio pelos proprietários. Se por um vendido ou utilizado para adubação das adquirir as matrizes e para quem vender a
lado a diversificação e a complementarida- áreas cultivadas. A manutenção de uma carne e o couro, e o produtor de ovos caipi-
de são alternativas para a melhor ocupação boa área de pastagem pode contribuir ra já sabe onde comprar as matrizes e para
dos recursos produtivos da propriedade, para a diminuição dos custos com ração, quem vender os ovos. No entanto, apenas
aumento de renda, redução dos riscos e os bezerros machos podem ser criados e essas informações não são suficientes para
e incertezas (BUAINAIN; ROMEIRO; engordados para venda de garrotes. garantir, ao proprietário rural, um negócio
1
Adm. Empresas, Dr. Engenharia Produção, Prof. Adj. UFSJ - Depto. Ciências Administrativas e Contábeis, CEP 36301-160 São João del-Rei-
MG. Correio eletrônico: fabriciomolica@yahoo.com.br
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consistente. Há outras oportunidades de O plano deve ser avaliado com base o negócio será conduzido (SIEGEL et al.,
negócio, associadas ao negócio principal, em premissas objetivas e realistas (ROSA, 1993), examinando a propriedade rural
que devem ser planejadas, para que o 2009): sob os aspectos mercadológico, financeiro
empresário rural não perca dinheiro com e operacional, além de abordar questões
a) a abertura de um negócio: como
tratamento de resíduos, com descartes de relacionadas com mercado, clientes, for-
no caso de optar pela produção de
animais e com perda de oportunidades de necedores e concorrentes.
coelhos para atender à demanda de
mercado. Por exemplo, um produtor de Por exemplo, se a opção do negócio
restaurantes em uma região turísti-
leite tem que optar em vender todos os for pela produção de leite, o plano deverá
ca;
bezerros machos, ou então, trabalhar na fornecer informações a respeito do melhor
produção de garrotes. Um produtor de b) a expansão de um negócio: como, tipo de gado para leite na região; o tipo de
carne de coelho pode optar por vender o por exemplo, para aumentar a pro- pastagem apropriada; o manejo das pasta-
coelho vivo ou a produção de carne e couro dução de ovos caipira para atender gens; o manejo do rebanho, etc. Se a opção
curtido. Com relação à galinha caipira, o a um nicho de mercado, em um for para produção de carne de coelho, será
negócio pode envolver a venda da ave viva, determinado tempo; necessário analisar as espécies; o tempo e o
da ave abatida (inteira ou em pedaços) e c) o arrendamento de um terreno e o volume de produção; o manejo confinado,
de ovos, ou a produção de pintinhos para investimento em pastagens: para etc. Se a opção for para produção de ovos
abastecer os criadores. No caso do abate ampliar a produção de leite; caipira, será necessário escolher a raça de
das aves na propriedade rural, algumas d) a aquisição de mobiliário e utensí- galinha mais adequada para produzir ovos
vísceras e o esterco podem ser utilizados na lios de cozinha: para implantação de com boa aceitação no mercado; o tipo
produção de adubo orgânico, que pode ser um restaurante de comida típica; de alimentação apropriado; os cuidados
vendido ou utilizado nas áreas cultivadas. e) o descarte de resíduos da produção, necessários, etc.
O Plano de Negócio é, portanto, uma como no caso da suinocultura: para A partir dessas informações, o gestor
importante ferramenta para subsidiar a adequação à legislação ambiental; deverá buscar respostas para outras ques-
tomada de decisão em atividades da agro- tões, tais como:
f) a situação atual de um negócio: para
pecuária, especialmente nas propriedades
estabelecer controle ou desenvolver a) relevância desse negócio associada
familiares.
estratégias de mudança de rumo, ao tamanho do mercado e à capaci-
Este artigo tem por finalidade mos-
como no caso do produtor de carne dade de produção;
trar, aos produtores rurais familiares da
produção animal, a importância do Plano de coelho que deseja desenvolver b) tamanho do mercado concorrente;
de Negócio como instrumento diário de estratégias mercadológicas para c) diferença do produto em relação aos
gestão, capaz de contribuir para o aumento introduzir o produto no mercado. concorrentes e formas alternativas
do lucro e da riqueza da propriedade en- Um Plano de Negócio deve ser mon- de agregar valor e obter um ganho
volvida na criação de animais. tado de maneira que todas as informações extra;
sejam disponibilizadas ao interessado, de d) custo de produção e formas alterna-
PLANO DE NEGÓCIO NA forma objetiva, concisa e dentro de for- tivas de redução desse custo, seja
EMPRESA RURAL FAMILIAR mulários exigidos, uma vez que, segundo por meio da produção de insumos
O Plano de Negócio é um documento Siegel et al. (1993), serve a três propósitos: seja por meio do manejo;
que descreve os objetivos de um negócio instrumento de planejamento, instrumento e) confronto entre custo e receita, re-
e os passos necessários para que esses de controle e instrumento de captação de lacionado com o preço de mercado
objetivos sejam alcançados, diminuindo recursos. dos produtos;
os riscos e as incertezas (ROSA, 2009).
Deve conter informações gerenciais, Plano de Negócio f) fontes de obtenção de recursos e
como instrumento de seus custos para investimentos e
plano socioambiental e plano econômico-
planejamento na empresa para capital de giro.
financeiro (BANCO DA AMAZÔNIA,
rural familiar
2006?). Trata-se de um instrumento de pla-
Plano de Negócio como
nejamento operacional capaz de subsidiar o O Plano de Negócio é compreendido
instrumento de controle e
processo de tomada de decisão que envolve como função inicial do processo de gestão
avaliação das atividades
todas as etapas de um negócio, ou seja, a de negócio, ou seja, é a base da organiza-
implantação, a avaliação do desempenho, ção para que o proprietário da empresa O Plano de Negócio permite que o
a correção de rumo e os ajustes desse ne- rural familiar atinja seus objetivos. São desempenho da atividade seja mais bem
gócio (MENDONÇA, 2010). desenvolvidas ideias a respeito de como avaliado ao longo do tempo. O acompanha-
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mento do Plano também ajuda a identificar ELABORAÇÃO DE UM PLANO sensação de entusiasmo e importância.
se os objetivos e as ações propostos foram DE NEGÓCIO Por isso, deve cobrir as áreas funcionais
executados. As projeções financeiras apre- O Plano de Negócio é composto por
relevantes, transmitindo as ideias básicas
sentadas no Plano servirão de parâmetro e destaques de cada uma (BANCO DA
várias seções que se relacionam e permitem
para avaliar se o orçamento previsto está AMAZÔNIA, 2006?).
um entendimento global do negócio. Para
sendo executado. Caso sejam identificados isso, há diversas publicações que sugerem
Em se tratando de resumo, deverá ser a
desvios entre o desempenho previsto e última parte a ser escrita, uma vez que en-
modelos, alguns mais complexos, outros
o real, poderão ser adotadas medidas de volve o fornecimento de destaques do Pla-
mais simples. A adoção de um modelo
correção para que os resultados sejam no, seção por seção. Pode focalizar todas
depende do nível de detalhamento exigido
alcançados (SALIM et al., 2005). ou quase todas as áreas funcionais, incluin-
pelo negócio. Por exemplo, a produção de
Para exemplificar, imagine que o preço do perfil do produto, plano de marketing e
leite para venda requer um modelo mais
do leite caia significativamente em um comercialização, plano operacional e plano
simples, enquanto a criação de coelhos
financeiro. Pode ser escrito em um único
determinado período. Essa queda poderá confinados para produção de carne e couro,
ou mais parágrafos, contendo inclusive
trazer prejuízo para os produtores rurais, a produção de ovos caipira ou o descarte
algumas tabelas. Tudo depende da intenção
caso o Plano de Negócio não seja readap- de galinhas após período útil de postura
do Plano (SALIM et al., 2005). Por exem-
tado. O produtor, nesse caso, pode fazer podem ser feitos por modelos mais comple-
plo, um resumo executivo, voltado para
alterações, a fim de transformar o leite xos. Neste trabalho, a estrutura proposta foi
o congelamento e distribuição de galinha
em algum outro produto de maior valor adaptada dos estudos de Pavani, Deutscher
caipira, pode conter informações como: a
agregado, como doces caseiros e queijos, e López (1997), em virtude da simplicidade
empresa familiar e rural Kadiru produz e
até que os preços se restabeleçam. e da praticidade apresentadas. A estrutura
distribui ovos caipira para o mercado local.
do Plano de Negócio será dividida em:
Atualmente, enfrenta problemas relacio-
Plano de Negócio como
a) resumo executivo; nados com o descarte de galinhas que já
instrumento de captação
b) missão; encerraram a postura. Por isso, esse Plano
de recursos
c) descrição do empreendimento; de Negócio tem por finalidade apresentar
O Plano de Negócio tem sido o do- um estudo de viabilidade econômica de
d) mercado e comercialização;
cumento mais utilizado por instituições implantação de um abatedouro de aves,
financeiras para liberação de linhas de e) plano de marketing e vendas; incluindo congelamento e distribuição.
crédito. Além de demonstrar sua viabili- f) plano financeiro. A região conta com 150 restaurantes de
dade econômica e financeira, o Plano deve comida mineira, espalhados em cinco
Resumo executivo municípios que compram galinhas para a
apresentar indicadores de mercado e a
capacidade interna de a empresa alavancar O resumo executivo é uma versão produção de canjas e sopas. Por meio de
resultados no futuro (ROSA, 2009). condensada do Plano de Negócio. Se uma pesquisa de mercado, concluiu-se que
Imagine que o produtor de ovos cai- for apresentado para um cliente, deverá há potencial para venda de 800 galinhas
pira queira aproveitar a oportunidade de mostrar o produto/serviço e os benefícios congeladas por mês. Os produtos caipiras
que este plano irá trazer. Se for para um congelados têm conquistado cada vez mais
negócio de uma região e resolva descartar
investidor/financiador, deverá demonstrar espaço e estão longe de ser supridos, uma
suas galinhas nesse mercado. Para isso,
a viabilidade do negócio e as expectativas vez que a oferta é reduzida.
precisará de equipamentos para formali-
de retorno de investimento. Se for para um Para obtenção desse produto, é necessá-
zar o processo de abate e estocagem. Por
parceiro, deverá focar sua importância para rio adquirir máquinas e equipamentos para
meio do Plano de Negócio, é possível que
a empresa e como se encaixa no negócio. abate, limpeza, embalagem e congelamen-
se consiga uma fonte de financiamento
Se for destinado ao público interno, é im- to, bem como contratação de mão-de-obra
com taxa de juros mais atrativa. O mes- portante que todos saibam o papel que irão especializada.
mo ocorre com um produtor de coelho cumprir na empresa. A distribuição será feita por meio de
que queira introduzir o seu produto em Dessa forma, o resumo executivo deve transporte próprio. Espera-se vender 400 kg
um determinado mercado, onde não há gerar interesse imediato do interessado, de galinha/mês, ao preço de R$10,00/kg.
tradição no consumo desse tipo de carne. que pode ser despertado pelo conceito, O retorno de investimento acontecerá em
Esse produtor poderá também recorrer às pela taxa de retorno ou mesmo pelo um ano e meio e a taxa interna de retorno
fontes de financiamento para investir em estilo de exposição das ideias (PAVANI; é de 30%, acima da taxa mínima de atrati-
gastos com marketing, que incentivará o DEUTSCHER; LÓPEZ, 1997). O tom vidade (TMA), que hoje está em torno de
consumo do produto. deve ser empresarial e transmitir uma 14%, considerando um universo de cinco
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anos. Os sócios já possuem 40% do capital Mercado e comercialização galinha caipira e de coelho pelos
necessário para investimento em ativos restaurantes de comidas típicas re-
Em relação ao mercado e à comercia-
não circulantes e ativos circulantes, sendo, gionais ou pratos exóticos. Na safra,
lização do produto, o Plano de Negócio
portanto, a obtenção de financiamento de o aumento da produção de leite pode
deve apresentar resultados de estudos
longo prazo de 60% do investimento ini- fazer com que caia o preço do pro-
relacionados com:
cial necessário, para pagamento durante duto in natura. Os produtores, neste
cinco anos. a) a demanda do produto, enfatizando caso, podem partir para a produção
a não satisfação da capacidade de de queijo e de manteiga, levando à
Missão absorção do mercado, seja em rela- redução da quantidade de leite in
ção à falta do produto, como no caso natura no mercado.
A missão representa o modo como a da carne de coelho, seja em relação e) análise do mercado de modo que
empresa se projeta na visão de futuro e qual à qualidade do produto, como no identifique as forças, oportunidades,
o papel, enquanto empresa e empresário, negócio da galinha caipira; fraquezas e ameaças (ROSA, 2009).
se vê exercendo. Por exemplo, a empresa
b) o tamanho e a capacidade de Nesta análise, são identificados fato-
familiar rural Kadiru tem como missão:
produção, associados à função da res que diferenciam o produto/servi-
produzir e fornecer galinha caipira con-
essencialidade do produto e de sua ço como a embalagem do leite ou o
gelada para restaurantes de comida típica
demanda potencial. Dentro desse tipo mais aceito de corte de carnes;
regional. O público-alvo é constituído de pontos fracos e fortes; deficiências
tamanho, deve-se dimensionar o
turistas que apreciam a carne de galinha atuais de mercado; necessidades
volume ótimo a ser produzido de
caipira, que é mais consistente, mais escura de consumo; tendências de moda;
modo que se possa dimensionar as
e de sabor característico. possíveis alterações no ambiente
receitas, as despesas e a viabilidade
do projeto. Para isso, faz-se neces- macroeconômico; sazonalidade do
Descrição geral do negócio; capacidade de o produtor
sário: caracterizar o produto quanto
empreendimento superar crises; grau de disponibilida-
à sua utilização, seus substitutos e
Nessa seção, o Plano de Negócio deve complementares; identificar consu- de dos insumos; índice de lucrativi-
midores potenciais do produto em dade; mudanças no setor; efeitos da
conter um breve histórico da propriedade
rural e de suas atividades como empresa, função da localização geográfica, evolução tecnológica; potencial de
nível de renda e setor produtivo; lucro e crescimento (DOLABELA,
mostrando sua evolução, localização, da-
dos dos proprietários ou sócios, definição identificar potenciais compradores; 1999).
de responsabilidades no negócio proposto, identificar concorrentes e a faixa de A análise do mercado envolve aspec-
estrutura legal da propriedade, principais mercado que se encontra suprida, tos demográficos, econômicos, legais, po-
produtos comercializados, quadro de re- considerar a evolução dos custos de líticos, tecnológicos e culturais. Para obter
cursos humanos, tipos de parcerias, plano produção e preço de comercializa- essas informações é necessário consultar
operacional detalhado, contendo formas ção do produto ao longo do tempo estatísticas fornecidas pelo Instituto Bra-
de manejo, administração, produção e (MENDONÇA; SANTOS, 2010); sileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
comercialização. c) fatores de localização do negócio, que fornecerão dados sobre características
No caso da expansão de um negócio, tais como proximidade dos forne- gerais da população, sexo, grau de escola-
como no exemplo da empresa familiar cedores de insumos e dos compra- ridade, distribuição geográfica, profissão,
Kadiru, é importante salientar a situação dores do produto; disponibilidade de renda, etc.; jornais e revistas especializa-
atual da empresa – produtora de ovo mão-de-obra; infraestrutura local; das; informações cedidas pela internet em
caipira – e como a ampliação do negócio transporte; energia elétrica; água; relação à inflação, taxas de juros, renda
influenciará a expansão da empresa e da comunicação etc.; per capita, projeções de crescimento da
rentabilidade. d) conjunturas regionais, nacionais e economia, etc. Se o produtor tem dúvidas,
Caso seja um negócio novo, como por internacionais que irão influenciar deve procurar um profissional capacitado
exemplo a produção de coelhos, poderá ser nas expectativas de comercializa- para auxiliá-lo.
apresentado um resumo de como surgiu a ção (BANCO DA AMAZÔNIA,
ideia do negócio. Se houver experiência Plano de marketing e
2006?). Uma política econômica
vendas
anterior com o animal em questão ou com que favorece o turismo interno,
outros pequenos animais deve também por exemplo, pode refletir positiva- Segundo Kotler e Armstrong (2008), o
ser relatada. mente no aumento do consumo de marketing significa trabalhar com merca-
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dos para realizar trocas potenciais com a fazer com que o cliente saiba da existência Negócio tem por finalidade formular um
finalidade de satisfazer as necessidades e do produto? Como despertar no cliente conjunto de projeções abrangentes e dig-
os desejos do consumidor. o interesse pelo produto oferecido pela nas de crédito, refletindo o desempenho
O plano de marketing e vendas deve empresa? As formas de promoção mais financeiro previsto do negócio. Esse deve
fornecer informações detalhadas que utilizadas são: propaganda (jornais, revis- ser o resultado e o reflexo de todo o Plano
envolvam a definição do mercado e do tas, televisão, rádios locais, distribuição de Negócios. Nesta seção, o empreendedor
produto; a análise da concorrência; a ado- de panfletos, outdoors), relações públicas vai calcular quais os recursos necessários
ção de estratégias de preço; a definição (notícias favoráveis em jornais; organi- à implementação do projeto (investimento
de estratégias de promoção, publicidade e zação de eventos, patrocínios, palestras, inicial) e qual a projeção de receitas, custos
propaganda; as decisões sobre os principais concursos, atividades comunitárias), e despesas operacionais. Deve apresentar
canais de distribuição e a maneira como o promoção de vendas (cupons de descon- ainda uma análise da viabilidade do negó-
produto será transportado e distribuído. Por tos, descontos pós-compras, pacotes de cio, incluindo taxas de retorno previstas
isso, envolve praticamente os quatro “p” – preços promocionais, prêmios, sorteios, (SIEGEL et al., 1993).
produto em si, preço, ponto de distribuição, concursos, recompensas por preferência, O investimento inicial está relaciona-
promoção. degustações, garantias do produto, venda do com a implementação do projeto e é
O produto deverá ser apresentado com pessoal, merchandising e mala direta.
composto basicamente das despesas pré-
uma descrição detalhada, relacionando De acordo com Dolabela (1999), o
características físicas e funcionais, lo- operacionais, efetuadas antes do negócio
plano de marketing é elaborado a partir
gomarca, embalagem e diferenciação da entrar em funcionamento (gastos com
de uma pesquisa de mercado e deve iden-
concorrência. elaboração de projetos, layout, programas
tificar as oportunidades de negócio mais
A formação dos preços deve levar em etc.); investimentos fixos (gastos com aqui-
promissoras para a empresa, esboçar como
consideração o preço praticado pelo mer- sição de máquinas e equipamentos, obras
penetrar em mercados identificados, como
cado, os prazos requeridos pelos clientes e reformas, móveis e utensílios, veículos,
conquistá-los e como manter posições.
para pagar pelo produto, e os custos de equipamentos de informática e aquisição
É um instrumento de comunicação que
produção, uma vez que a determinação combina todos os elementos do composto de imóveis); e capital de giro (envolve os
do preço afeta a posição da empresa no mercadológico em um plano de ação co- prazos de recebimento, estocagem e paga-
que diz respeito ao seu faturamento e ordenado. Neste plano, o empreendedor mento da empresa). O Quadro 1 mostra um
rentabilidade. ordenará de maneira lógica ideias, fatos exemplo de cálculo do investimento inicial.
A distribuição envolve todas as ativi- e conclusões. Cabe ressaltar que o capital de giro
dades relacionadas com a transferência
Cabe ressaltar que o plano de marketing inicial envolve os gastos operacionais para
do produto até o consumidor. Nesta etapa, iniciar as atividades da empresa e colocá-la
e vendas deve estar dentro da realidade
serão respondidas perguntas como: Qual em funcionamento. São gastos que, pos-
do negócio. Por exemplo, o negócio de
é o mercado? Qual o nicho de mercado teriormente, serão cobertos pelas receitas,
frangos caipira congelados e de produção
em que a empresa vai atuar? Onde pode mas, no início, terão que ser suportados
de carne de coelho pode adotar a estraté-
ser encontrado o consumidor? Como o pelo empresário. Referem-se a aluguel, sa-
gia de vendas diretas e distribuição com
produto vai chegar até ele? A empresa
transporte próprio; usar de outdoors; rádios lários, encargos, compra de matéria-prima
irá usar canal de distribuição já existente
locais como veículos de propaganda; patro- inicial, honorários de contador, material
ou deverá criar um? A escolha do canal
cinar eventos como estratégia de relações de limpeza e expediente, energia elétrica,
de distribuição dependerá da natureza do
públicas; usar descontos pós-compras e telefone, água, etc. É importante que estes
produto, das características do mercado, de
descontos por volume como estratégias dados sejam criteriosamente calculados,
concorrentes e intermediários e da política
promocionais; usar de venda pessoal como para que se tenha uma projeção mais pró-
da empresa. Se estiver localizada próximo
estratégia de fidelização de restaurantes e, xima possível da realidade, uma vez que
ao nicho de mercado a ser atingido, poderá
até mesmo, para obtenção de um feedback. as receitas somente serão aferidas depois
usar a própria força de vendas, por meio
Já o produtor de leite pode concentrar de determinado tempo. Por exemplo, se
de distribuidores, comércio eletrônico e
todos os seus esforços na venda direta ao um negócio leva dez dias para receber a
serviços de telemarketing. Para que se faça
consumidor ou para cooperativas e na com- matéria-prima, outros quinze para que o
a escolha do canal mais adequado, deve-se
provação da superioridade do seu produto produto esteja pronto, dez para vendê-lo e
levar em consideração que o produto certo,
no lugar certo e na hora certa aumentará as em relação ao seu concorrente. trinta dias para receber, a projeção deverá
chances de sucesso nas vendas. ser suficiente para manter a empresa em
Plano financeiro
As estratégias de promoção deverão funcionamento por, aproximadamente,
responder às seguintes questões: como A seção financeira de um Plano de setenta dias. O cálculo do valor do capital
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