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De volta ao bosque – um olhar sobre as plantas nativas de Moçambique

Book · January 2024

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1 author:

Carlitos Luís Sitoie


Universidade Save de Moçambique
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All content following this page was uploaded by Carlitos Luís Sitoie on 21 January 2024.

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ISBN 978-65-00-89304-5
COLEÇÃO FORMAÇÃO E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO

Marta Genú Soares


Direção da Coleção

Tiago Tendai Chingore


Direção Acadêmica

Organizador
Carlitos Luís Sitoie

DE VOLTA AO BOSQUE - UM OLHAR SOBRE AS PLANTAS


NATIVAS DE MOÇAMBIQUE

Brasil
2023
© Todos os direitos reservados ao Programa de Pós-Graduação em Educação da
Universidade do Estado do Pará. Este livro ou parte dele pode ser reproduzido por
qualquer meio, mantida a fonte de origem. A responsabilidade pelas opiniões expressas
nos capítulos é exclusivamente incumbida aos autores e as autoras assinantes.

Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)


Biblioteca do CCSE/UEPA, Belém - PA

De volta ao bosque – um olhar sobre as plantas nativas de Moçambique


[recurso eletrônico] / Carlitos Luís Sitoie organizador - Belém: CCSE/UEPA,
2023.
138 p.: il.
ISBN: 978-65-00-89304-5 (on line)
Coleção formação e produção de conhecimento

1. Plantas nativas-Moçambique. 2. Plantas medicinais-Moçambique-Uso


terapêutico. 4. Moçambique-Segurança alimentar. I. Sitoie, Carlitos
Luís (org.). II. Título.
CDD. 23º ed. 582.09679
Regina Coeli A. Ribeiro – CRB-2/739
Diretora da Coleção
Marta Genú Soares

Direção Acadêmica do Livro


Tiago Tendai Chingore

Organizador
Carlitos Luís Sitoie

Ilustração e Editoração
Marcia Cristina dos Santos Bandeira

Foto Capa: Albuquerque (2018)

Comitê Científico

Prof. Dr. Allyson Carvalho de Araújo (UFRN)


Prof.ª Dr.ª Eugenia Trigo Aza (Univigo/ES)
Prof.ª Dr.ª Ilma Pastana Ferreira (UEPA)
Prof.ª Ma. Ivana Lúcia Silva (IFRN)
Prof.ª Dr.ª Joelma C. P. Monteiro Alencar (UEPA)
Prof.ª Dr.ª Marta Genú Soares (UEPA)
Prof.ª Dr.ª Mirleide Chaar Bahia (UFPA)
Prof. Dr. Tiago Tendai Chingore (UniLicungo/MZ)
SUMÁRIO
PREFÁCIO ..................................................................................................................... 7

Gilton Mendes dos Santos

APRESENTAÇÃO DO LIVRO ..................................................................................... 10

Carlitos Luís Sitoie


FRUTEIRAS NATIVAS DO POVOADO DE HAQUI E PROMOÇÃO DE MERCADO
TURÍSTICO .................................................................................................................. 13

Carlitos Luís Sitoie

PLANTAS NATIVAS E VALORES CULTURAIS DE MASSINGA .............................. 29

Carlitos Luís Sitoie; Anastácia Armando Mucuho

PERCEPÇÃO DE ESTEREÓTIPOS AMBIENTAIS DOS MORADORES DO BAIRRO


21 DE ABRIL AUTARQUIA DE MASSINGA ACERCA DAS PLANTAS NATIVAS ... 47

Nunes Simão Ponda; Carlitos Luís Sitoie


DIAGNÓSTICO DAS CAUSAS DA EXTINÇÃO DE HYPHAENE CORIACEA (HANGA
OU NALA) NO BAIRRO PETANE 2 - PERIFERIA DA VILA DE INHASSORO (2010 -
2020)............................................................................................................................. 68

Hélio Geraldo Ubisse; Zacarias Alexandre Ombe

VALOR MEDICINAL DAS PLANTAS NATIVAS: ABRUS PRECATORIU, SENNA


PETERSIANA, PLANTA NEFICIAL E GONDAZORORO NA REGIÃO DE
MUXÚNGUE ................................................................................................................. 79

Mateus Jacob; Jhassem Antônio Silva de Siqueira

IMPORTÂNCIA ALIMENTAR DA MASSALA E MACUACUA NAS COMUNIDADES


DO DISTRITO DE MABOTE ............. Erro! Nenhum nome foi dado ao indicador.

Manuel Paulo Munduapenja; Sabil Damião Mandala

INVENTÁRIO DE RECURSOS FLORESTAIS DA LOCALIDADE DE BENGA,


DISTRITO DE MOATIZE, TETE................................................................................. 103

Faustina Francisco Dias; Tercia Grácio Cune; Carlitos Luís Sitoie

INVENTARIADO ADANSONIA DIGITATA E PERCEPÇÃO DO ABATE DO


EMBONDEIRO NO BAIRRO MPADUE ZONA DE EXPANSÃO: CIDADE DE TETE
.................................................................................................................................... 119

Erdimante Aguacheiro Rupia Vileiro; Carlitos Luís Sitoie

SOBRE OS AUTORES .............................................................................................. 136


À Coordenação do mestrado em Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
das comunidades (MADSC) da Universidade Save.
Nossos sinceros agradecimentos!
PREFÁCIO

Difusão e morte vegetais


Gilton Mendes dos Santos1

O que seria o mundo sem o trigo, cultivado inicialmente do Crescente


Fértil, ou sem o café, originário da Etiópia e propagado pelos árabes, ou sem a
cana-de-açúcar difundida pela Ásia? O que seria o Novo Mundo sem o arroz
negro (Oryza glaberrima) ou o asiático (Oryza sativa), e a Europa sem a batata
e o milho, ou a África sem a mandioca das Américas? Na sua obra, The
Columbian Exchenge (“O intercâmbio Colombiano”), Alfred Crosby (2003)
mostra a amplitude da movimentação de vegetais e animais entre o Velho
Mundo e os continentes colonizados. O impacto dessa difusão foi significativo
tanto para os sistemas alimentares quanto para o modus vivendi dos povos
colonizados, de modo que muitos já não reconhecem o que veio de fora e o
que é nativo, como bem demonstra Ralph Linton nessa passagem sobre
difusão cultural:
(...) Os Betsimisarak de Madagascar, que dificilmente poderiam
ter recebido o milho antes de 1600, tem um mito que dizem que
o Criador lhes deu o milho ao mesmo tempo em que deu o
arroz às tribos do Planalto da ilha. Quando alguém lhes sugeria
que talvez a introdução do milho fosse fenômeno bastante
recente eles resolviam a questão declarando simplesmente que
não poderia ser verdade, pois que sem o milho não seria
possível viver (Linton, 1976, p. 336).

Porém, o maior paradoxo desse fascinante movimento da diáspora


vegetal é que ele se deu em detrimento das espécies nativas, inaugurando um
processo, que já dura centena de anos, de erosão gradativa da biodiversidade.
Responsável pelo clássico sistema de plantation, sua versão mais atual são os
monocultivos em larga escala, sob o controle de empresas multinacionais.
Responsáveis também pela modificação e patenteamento das sementes. Ou
seja, o “intercâmbio colombiano” tem na sua gênese a natureza colonizadora,

1
Professor do Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e
coordenador do Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena (NEAI). (Bolsista Produtividade PQ FAPEAM
I – Edital 013/2022).
levando à asfixia os sistemas tradicionais autóctones. Esse movimento, ainda,
ganhou institucionalidade e vulto na esteira da Grande Narrativa sobre a
diferença hierárquica entre caçadores-coletores e povos agricultores, num
sentido progressista e linear. Ele foi o resultado de um longo e sistemático
investimento das instituições missionárias, das políticas de educação formal
baseada na ciência única e universal e nas formas econômicas edificadas
sobre a renda, a propriedade e a concentração de riqueza. Em outras palavras,
esse processo se sustentou numa narrativa evolucionista e progressista, que
perdura ainda hoje, postulando uma fase ingênua e caótica inaugurada por
grupos nômades e igualitários de caçadores-coletores, que foram se
complexificando à medida que se dedicavam ao trabalho agrícola, ampliando
assim a produção, o que levava inexoravelmente ao acúmulo e à concentração
do poder e, consequentemente às origens do Estado.
Atualmente sob duras críticas, essa narrativa falaciosa – como bem tem
demonstrado com abundância de exemplos mundo afora a recente obra O
despertar de tudo, da dupla David Graeber e David Wensgrow (2021),
floresceu como uma referência inquestionável às custas da negação e do
extermínio da diversidade, da negação do saber do outro, das tradições
epistêmicas ou das cosmotécnicas locais, para usar uma expressão do filósofo
chinês Yuk Hui (2020).
Vale destacar também que, mesmo as teorias sobre a domesticação,
com supremacia dos estudos de Genética, carregam esta linearidade
evolucionista, relegando as plantas silvestres ao status de inferioridade em
relação às plantas cultivadas. Esse fardo recaiu de modo pesado
principalmente sobre os modos de vida e as técnicas de grupos e povos
colonizados dos continentes tropicais como América e África, promovendo a
erosão e o apagamento de um sem-número de espécies nativas e dos
sistemas autóctones de conhecimento desenvolvidos sobre elas.
Pior de tudo é que as verdades construídas pelo colonizador levaram,
com o tempo, sua incorporação pelos próprios “colonizados”, de modo que sua
visão, via de regra, é a própria visão daqueles sobre as espécies nativas, seu
valor e sua importância.No entanto, estudos recentes em Ecologia, Arqueologia
e Antropologia têm revelado que a Amazônia (a exemplo de outros), tida como
um grande bioma natural é o resultado da ação humana positiva, responsável

8
por sua diversidade e exuberância, estando à maioria das espécies utilizadas,
fora do espectro da domesticação e do cultivo (Mendes dos Santos &
Henriques Soares, 2021).
Os textos trazidos nesta coletânea são nítidos exemplos desse
movimento, ao mesmo tempo de difusão e morte vegetais: de introduções e
orgulho sobre espécies exóticas, e de rebaixamento, de negação, de
preconceitos e extinção de espécies e práticas de conhecimentos locais. As
comunidades e experiências das províncias de Inhambane e Tete, em
Moçambique, são retratadas aqui, como uma imagem de sinédoque de todo
um fenômeno mundial do processo de colonização, iniciado há centenas de
anos, e potencializado pelos esquemas modernos de monocultivo e todo o seu
pacote econômico e político de controle sobre as espécies e a produção.
Retratos de uma história de positividade sobre as plantas exóticas e de
desconhecimentos sobre as espécies nativas, mas também de resquícios de
sua existência e do potencial de suas lembranças e possibilidades.
O fato de estes textos trazerem à tona essa realidade e poder contar
essas histórias já é uma contribuição inestimável para a reflexão acerca de
todo esse processo colonizador e também uma oportunidade para se enxergar
novos horizontes, em que as espécies nativas locais possam ganhar e, ao
mesmo tempo proporcionar, uma nova vida.

Referências
GRAEBER, David; WENSGROW, David. 2021. O despertar de tudo – uma
nova história da humanidade. Tradução Denise Bottmann e Cláudio
Marcondes. São Paulo: Companhia das Letras, 2021.

CROSBY, Alfred. The Columbian Exchange. Biological and Cultural


Consequences of 1492. London: Praeger, 2003.

MENDES DOS SANTOS, Gilton; SOARES, Guilherme Henriques. Amazônia


Indomável – relações fora do alcance da domesticação. Mundo Amazónico,
2021, Vol.12(1), pp. 281-300.

HUI, Yuk. Tecnodiversidad. Tradução Umberto do Amaral. São Paulo: Ubu,


2020.

LINTON, Ralph. O homem – uma introdução à antropologia. Tradução Lavínia


Vilela. São Paulo: Martins Fontes, 1976.

9
APRESENTAÇÃO DO LIVRO
Carlitos Luís Sitoie2

Apresento aos leitores a coletânea DE VOLTA AO BOSQUE - UM


OLHAR SOBRE AS PLANTAS NATIVAS DE MOÇAMBIQUE. Resultado de
estudos produzidos pelos Estudantes de Mestrado com minha orientação,
especialmente na província de Inhambane e de Tete, situadas na região Sul e
Centro de Moçambique. A coletânea tem como objetivo proporcionar aos
leitores, sob um viés das plantas/fruteiras nativas, um maior conhecimento
sobre a realidade que tem conduzido essas a invisibilidade e desprezo e sua
degradação ambiental, tendo como suas bases ancoradas ao processo
histórico de viés colonial. Portanto, os temas representam os desafios
relacionados com o processo de formação de pessoal qualificado para pensar
e atuar a partir de um saber cultural e localmente situado. Animados por uma
abordagem baseada na dinâmica socioambiental, os temas discutidos ensejam
aprendizagens que perpassam desde as reflexões acerca das plantas nativas
sua função/importância, percepção e estereótipos, transitando por caminhos
que pensam as plantas nativas como silvestres, do mato que não merecem
devida atenção em relação às exóticas vindas do Brasil e Ásia colonial, que
são agregadas maior valor. Pensando nisso, foi importante informar aos
leitores e leitoras os aspectos relacionados com as dinâmicas socioambientais
nas quais encontramos inspiração para reflectir acerca das plantas nativas.
A província de Inhambane e de Tete que representa o Sul-Centro, é
onde estão localizadas as unidades orgânicas da Universidade Save - UniSave
Extensão de Massinga e da Universidade Pungue - UniPungue, lugares onde
decorre o Mestrado em Ambiente e Desenvolvimento Sustentável das
Comunidades e o Mestrado em Gestão Ambiental, respectivamente, cursos
frequentados pelos autores dos textos que compõem este livro. A região Sul-
Centro de Moçambique, contempla uma vegetação que de acordo com
Muchango (1990), representa o Centro de Endemismo Zambeziano.
Constituído por uma diversidade de flora avaliada em cerca de 8.500 espécies
das quais 4.590 são endêmicas, com floresta aberta de miombo, de montanha,

2
Doutor em Ciências de Ambiente e Sustentabilidade.
galeria, aquática (mangal), savanas, mata indiferenciada entre outras que
representam a vegetação nativa das províncias de Sofala, Manica, Zambézia,
Tete, Inhambane, Gaza e Maputo. A flora vai desde hidrófila, mesófila, savanas
arbóreas, herbáceas e arbustivas, que geralmente é aproveitada pelas
comunidades locais para diversos serviços ecossistêmicos (provisão, suporte,
regulação e cultural). Portanto, as frutas nativas, participam de todos serviços
ambientais fornecendo bens ou produtos ambientais de uso e consumo
humano; manutenção da perenidade da vida na terra por meio da purificação
de ar, captura de gases voláteis, ciclo hidrológico, controle dos processos
críticos de erosão; participam nos benefícios de recreação, do turismo, da
identidade cultural, experiências espirituais e estéticas e no desenvolvimento
intelectual, entre outros. Quer dizer, são utilizados na construção de
infraestruturas, na alimentação, ornamentação, sombreamento, medicação das
enfermidades, lazer e turismo, e mais. Pode-se considerar o centro Endemismo
Zambeziano como sendo único que contempla quase todas as espécies
nativas que representam todo território nacional de Moçambique, quando
comparado com outros centros, visto que o elevado número de espécies
endêmicas se encontra disperso sobre quase todo o espectro taxonômico.
As plantas nativas estudadas são aquelas que, apesar da conversão da
vegetação nativa e exótica, encontram-se em processo de resiliência
ambiental, representando áreas de conservação e de preservação, onde é
possível praticar ecoturismo por concentrarem relactiva diversidade biológica e
desenvolver outras atividades de sustento familiar.
O livro apresenta os seguintes textos: Fruteiras nativas do povoado de
Haqui e promoção de mercado turístico de Carlitos Luís Sitoie, plantas nativas
e valores culturais de massinga de Carlitos Luís Sitoie e Anastância Armando
Mucuho, percepção de estereótipos ambientais dos moradores do bairro 21 de
abril autarquia de Massinga acerca das plantas nativas de Nunes Simão Ponda
e Carlitos Luís Sitoie, diagnóstico das causas da extinção de hyphaene
coriacea (hanga ou nala) no bairro petane 2 - periferia da vila de inhassoro
(2010 - 2020) de Hélio Geraldo Ubisse e Zacarias Alexandre Ombe, valor
medicinal das plantas nativas: abrus precatoriu, senna petersiana, planta
neficial e gondazororo na região de muxúngue, de Mateus Jacob e Jhassem
Antônio Silva de Siqueira, importância alimentar da massala e macuacua nas

11
comunidades do distrito de Mabote, de Manuel Paulo Munduapenja e Sabil
Damião Mandala, inventário de recursos florestais da localidade de benga,
distrito de Moatize, Tete, de Faustina Francisco Dias; Tercia Gracio Cune e
Carlitos Luís Sitoie, inventariado adansônia digitata e percepção do abate do
embondeiro no bairro Mpadue zona de expansão: cidade de Tete, de
Erdimante Aguacheiro Rupia Vileiro e Carlitos Luis Sitoie.

12
FRUTEIRAS NATIVAS DO POVOADO DE HAQUI E PROMOÇÃO DE
MERCADO TURÍSTICO
Carlitos Luís Sitoie3

Resumo

Em virtude do seu elevado teor em vitaminas e minerais, os frutos nativos


participam de formas indispensáveis na dieta alimentar, principalmente das
populações rurais que colectam das matas e florestas locais. Nos mercados da
vila municipal de Massinga, aparecem de forma tímida à venda alguns frutos
nativos. Este trabalho teve como objectivo analisar a contribuição dos frutos
nativos para a promoção da actividade turística no povoado de Haqui situado
sob a linha imaginária do trópico de capricórnio. A venda de frutos nativos pela
população deste povoado representa uma das maneiras de buscar a renda
familiar e contrapartida tem valorizado os frutos que de alguma forma são
considerados como do mato/silvestres, motivo de rejeição e desprezo por
muitas vezes pelos jovens que não aceitam consumir. A metodologia de estudo
baseou-se em entrevistas conjugadas com a observação directa. As
informações obtidas foram confrontadas com a revisão bibliográfica. O estudo
baseou-se na identificação e selecção das fruteiras “silvestres” domesticadas
nas machambas e bosques sagrados do povoado e que compõem a dieta e
renda familiar da população do povoado. Foi identificado um total de oito (8)
fruteiras nativas tais como lhala/Strychnos spinosa, cuacua/Strychnos
madagascarienses, vilua/Vangueria infausta, mambombo/Salacia kraussi,
ungua/Landolphia kirkii, nziva/Dialium schlechteri, kulho/Trichilia emetic e
nzole/Mimusops caffra. Mesmo fazendo parte da renda e dieta alimentar, estas
fruteiras são abatidas no acto de uso e ocupação da terra, convertendo a
cobertura do solo por meio de plantio de coqueiro, cajueiro, jambeiro,
mangueira, entre outras árvores exóticas geralmente trazidas da Ásia e das
Américas. A colecta e frutos representam umas das maneiras de garantir a
conservação e preservação de espécies vegetais nativas que estão em risco
de extinção.

Palavras-Chaves: Frutos nativos; Povoado de Haqui; Conservação e


Preservação; mercado turístico.

Abstract

Due to their high content in vitamins and minerals, native fruits are an
indispensable part of the diet, mainly of rural populations who collect from local
forests and forests. In the markets of the municipal town of Massinga, some
native fruits appear for sale. This work aimed to analyze the contribution of
native fruits to the promotion of tourist activity in the village of Haqui. The sale of
native fruits by the population in the market under the imaginary line of the
tropic of Capricorn in the village of Haqui represents one of the ways to value
the fruits that are somehow considered from the wild/wild, disclosing their role in

3
Professor Auxiliar afecto na Faculdade de Ciências Humanas e Letras da Universidade Save-
Moçambique. Coordenador do curso de Mestrado em Ambiente e Desenvolvimento Sustentável das
Comunidades.
income and diet. The study methodology was based on interviews combined
with direct observation. The information obtained was compared with the
literature review. The study was based on the identification and selection of
“wild” fruit trees domesticated in the fields and sacred forests of the village and
that make up the diet and family income of the population of the village. A total
of eight (8) native fruit trees were identified such as lhala/Strychnos spinosa,
macuacua/Strychnos madagascarienses, vilua/Vangueria infausta,
mambombo/Salacia kraussi, ungua/Landolphia kirkii, nziva/Dialium schlechteri,
kulho/trichilia emetic e nzole/mimusops caffra. Even though they are part of the
income and diet, these fruit trees are cut down in the act of land use and
occupation, converting the soil covers through the planting of coconut, cashew,
jambo, mango, among other exotic trees usually brought from Asia and the
Americas. Fruit collection represents one of the ways to guarantee the
conservation and preservation of native plant species that are at risk of
extinction.

Keywords: Native fruits; Haqui town; Conservation and Preservation; market


tourism.

Introdução
O povoado de Haqui não possui nenhuma floresta devido à conversão
da vegetação nativa em áreas de habitação e agricultura familiar. Existem
bosques que servem de sepultura ou cemitérios familiares. Estes bosques
representam a flora local com quantidade relativa de plantas nativas de grande
potencial socioeconómico. A redução da quantidade de espécies vegetais
nativas no povoado deve-se ao abate descontrolado e sua substituição pelas
exóticas. Perante esta situação, torna-se relevante estudarem-se as estratégias
de conservação e aproveitamento das fruteiras nativas para dinamizar o
turismo por meio de comercialização no mercado local.
Estão sendo estudadas e vendidas dentro e fora do país, mudas
enxertadas de shimuyo (Addnsonia digitata), nziva (Addnsonia digitata), bimbe
(Garcinia livingstonei), canhu (Sclerocarya birrea subsp. caffra), macuacua
(Strychnos innocua), malhala (Strychnos spinosa), kulho (Trichilia
roka/emetica), mavilwa (Vangueria infausta), etc. Estes frutos têm atraído a
atenção do mercado e da pesquisa devido a sua aplicação na dieta alimentar,
no potencial farmacológico e cosmético. Quer dizer, na zona rural a recolha e
consumo de frutos nativos constitui uma estratégia de obtenção de alimentos
durante o período sazonal crítico de fome.

14
O estudo visou identificar frutos nativos que servem de dieta alimentar,
renda e para promoção de actividade turística pelos moradores do povoado de
Haqui, divulgando as potencialidades destes frutos que têm sido
negligenciados e desvalorizados por serem considerados silvestres. Nesta
perspectiva, Santo-Antônio e Goulão (2015), afirmam que mesmo sabendo que
muitas delas apresentem amplas perspectivas de aproveitamento económico,
tanto a nível local como a nível nacional, poucas têm sido estudadas, sendo a
transferência do conhecimento técnico-científico atual e de oportunidades de
negócio em novas cadeias de valor bastante incipiente, e negligenciado em
programas de investigação e, do ponto de vista socioeconómico, são pouco
valorizados.
Os mesmos autores referem que não são divulgados estudos acerca de
processamento e conservação de fruteiras nativas para promoção de turismo
em Moçambique, havendo em pouca quantidade trabalhos da componente
nutricional, práticas de silvicultura e propagação. Paralelamente a isso, há um
notável optimismo quanto ao futuro da exploração e uso das fruteiras nativas
para diversas finalidades. Grande parte dos investigadores citam experiências
de sucesso noutros países, como é o caso do Brasil onde esta temática
apresenta estudos avançados. Alguns destes estudos referem-se ao nosso
país e acreditam que as fruteiras nativas de Moçambique podem ser
domesticadas, produzidas em larga escala e contribuírem para a economia
nacional e para o bem-estar social, em formas diversificadas, deixando o
estatuto actual de serem considerados apenas “frutos silvestres”. A negligência
acontece por não existirem políticas específicas e programas delineados que
visam à inclusão das fruteiras nativas, com certa prioridade, no sector agrário,
sendo excluídas em programas de extensão, ecologia, manejo florestal e
silvicultura. Apesar da inclusão de fruteiras nativas em programas tais como:
um líder comunitário uma floresta, programas de reflorestamento e
estabelecimento de florestas comunitárias, mesmo assim, ainda carece da
consciência colectiva para tornar realidade a domesticação e inclusão massiva
de frutos da floresta na dieta alimentar dos moçambicanos.
A tentativa de estudar, seleccionar melhores variedades de frutos da
floresta e sua divulgação para domesticação massiva está na fase embrionária,
com destaque aos trabalhos do Secretariado Técnico de Segurança Alimentar

15
e Nutricional (SETSAN) e do Centro de Investigação Florestal de Marracuene
que tem vindo a efectuar estudos e programas direccionados para os frutos no
geral, assim como estudos específicos de algumas fruteiras nativas como é o
caso da mavilua (Vangueria infausta) lhala (Strychnos spinosa) e kulho
(Trichilia emetic) na componente de propagação (enxertia, cultura de tecidos e
alporquia) e de selecção de espécies de melhor qualidade para diversas
finalidades. Existe um grupo de pessoas que se interessam em comprar e
consumir os frutos nativos, assim como os produtos derivados destes, sendo
que a produção actual não responde à demanda do mercado nacional.
Dentre as causas da fraca promoção das fruteiras nativas, Santo-
Antônio e Goulão (2015) referem-se à percepção por parte de alguns
governantes que pensam que domesticar e consumir os frutos nativos são
retornar-se aos tempos primitivos da comunidade de caçadores e recolectores.
Esta forma de pensar demonstra o fraco conhecimento acerca do potencial
alimentar, nutricional e económico das fruteiras nativas, que passam a servir
em tempos de estiagem para sanar as comunidades rurais da fome e da
desnutrição crónica e aguda na época da seca.
A situação de exclusão de fruteiras nativas é extensiva ao Plano
Integrado de Comercialização Agrícola (PICA) do Ministério da Indústria e
Comércio, que somente contempla a mafurra/trichilia emetic como a fruteira
nativa de comercialização em larga escala para extracção de óleo, a
massala/strychnos spinosa, mavilua/Vangueria infausta e a maçanica/zizuphus
mauritiana aproveitados para produção de jam (geléias) e licores
comercializados nos mercados em Inhambane e cidade de Maputo.
Apesar de seu valor comercial no mercado nacional e internacional, os
frutos nativos ainda são excluídos em grande medida no processo de
ornamentação, na medicina e na participação em grande medida na dieta
alimentar dos moçambicanos. Esta situação deve-se ao desconhecimento por
parte das autoridades locais do valor nutritivo, económico e social. Acabando
não incluindo estas fruteiras em projecto que possa garantir sua conservação,
preservação, propagação/difusão. Santo-Antônio e Goulião refere-se que existe
grande interesse de fruteiras nativas nacionais por parte de alguns parceiros de
investigação internacionais que investigam e divulgam resultados falsos,
inclusive manipulam os mercados e preço de fruteiras nativas.

16
Diversos estudos apontam que uma das maneiras de mitigar os
problemas referentes à exclusão de fruteiras nativas é investigar e divulgar
resultados de inventariação de fruteiras nativas onde são apresentados os
índices de valor nutritivos, económicos, medicinais, ornamentais e culturais
dessas fruteiras. Implementando projectos de domesticação e produção em
larga escala, ampliando cada vez mais a capacidade actual de processamento.
Identificando tipos e variedades de fruteiras mais relevantes para comunidades
locais, criando mecanismos para integrá-las nas estratégias de geração de
rendimentos. Incluindo a promoção de programas de formação de estudantes
de ensino médio e superior, e de técnicos, em diferentes áreas aplicáveis a
fruteiras nativas. Integrando as fruteiras nativas como estratégia de promoção
de segurança alimentar e nutricional para combater a fome, a desnutrição
aguda e crónica no país, principalmente nos povoados do semiárido assolado
pela seca. Isto significa produzir e disponibilizar no mercado local, a venda de
frutos e outros derivados das plantas nativas. Esta atitude para o caso
específico do povoado de Haqui pode facilitar o aumento da participação
efetiva da população local no processo de circularidade de produtos vendidos,
dinamizando no povoado a atratividade do produto turístico.
Aumentar a participação efectiva da população do povoado no processo
de circularidade de produtos vendidos, dinamizando no povoado a atratividade
do produto turístico, equivale à promoção de actividade turística
ecologicamente sustentável, economicamente viável, que busca manter e
promover a actividade turística no mesmo momento que se promove a
manutenção de ecossistemas locais. A promoção de ecossistemas locais surge
pela necessidade de recuperar as espécies vitimam de abate descontrolado
pelas populações locais, que as destrói por serem consideradas as fruteiras
nativas menos importantes que as exóticas.

Caracterização geográfica da área de estudo e estado de arte


De acordo com Sitoie (2021), o povoado de Haqui está localizado na
localidade de Rovene, distrito de Massinga na província de Inhambane em
Moçambique. Ao sul delimita-se pelo povoado de Licunha, ao Norte por
Malova, a Leste pelo povoado de Chissindane e Oeste por Cangela, numa área
de aproximadamente quarenta quilómetros quadrados (40 km²) de extensão

17
territorial. A sede do povoado está situada na coordenada, vinte três graus,
vinte seis minutos, vinte dois segundos (23º26’22”S) Sul e trinta e cinco graus,
cinquenta e dois minutos, vinte e dois vírgula dois segundos (35º52’22,2” E)
Leste. No seu movimento aparente o sol retorna ao norte quando atinge sua
mobilidade máxima ao sul sobre a linha imaginária do Trópico de Capricórnio
(T.CAP), no instante que está incidindo seus raios numa declinação de
quarenta e seis graus e cinquenta e quatro minutos (46º54’) sobre o povoado
de Haqui.
A localização invulgar e estratégica do povoado de Haqui num lugar
atravessado pela linha imaginária do Trópico de Capricórnio impacta no
quotidiano das populações sob a forma de solstícios. Esse fenómeno
astronómicos é visualizado por meio da sobreposição das sombras de
objectos, das pessoas e das coisas. Os solstícios e equinócios são festejados
quatro vezes ao longo do ano, tendo como atração turística o momento de
observação da sobreposição de sombras.
A localização estratégica do povoado num lugar recheado de fruteiras
nativas que podem ser colhidas nos bosques locais representa uma excelente
oportunidade para abertura de um mercado de frutos nativos e dinamizar
turismo neste lugar atravessado pela linha imaginária do Trópico de
Capricórnio em Moçambique.
Dizer que o lugar é recheado de fruteiras nativas, equivale afirmar que o
povoado é constituído por cinco (5) bosques familiares, considerados pelos
residentes como sendo as florestas pertencentes às seguintes famílias: Rafael
Cossa, Horácio Wanela Ngulele, Matsimbe, Nhanombe e Guambe. Estes
bosques representam essenciais fontes de extrativismo vegetal onde se busca
remédios para curar enfermidades, as plantas para ornamentação de
residências e ruas, matéria prima para o fabrico de mobílias e de instrumentos
de trabalho, assim como o corte de lenha para cozinhar, as estacas e lacalacas
para construir residências. Servem também os bosques como lugares de
sepultura construindo os cemitérios familiares.
A agricultura familiar, pecuária e pesca artesanal, são consideradas
como sendo as principais actividadas que garantem o sustento. Fora dos
bosques, os frutos nativos podem ser colectados em pequenas proporções nas
machambas familiares. Dentre esses frutos destaca-se a massaleira (Strychnos

18
spinosa), vilua (Vangueria infausta), macuacua (Strychnos madagascarienses),
o tinembenembe (Cassia petersiana), mahungua (Landolphia kirkii), tindziva
(Addnsonia digitata) entre outras plantas nativas que completam a dieta
alimentar dos moradores do povoado, além de vender no mercado local.
A prática de agricultura familiar é baseada no corte das árvores e
arbustos, sem a mínima observância das medidas de conservação e
preservação das espécies nativas. Quer dizer, as plantas mais abatidas são as
nativas, por serem consideradas espécies indígenas e de menor valor
socioeconômico. As fruteiras exóticas não podem ser abatidas por serem
consideradas espécies de maior valor económico sócio culturais.
Abater/destroncar as plantas nativas significa assumir que seu papel delas na
dieta alimentar é menos importante que as frutas exóticas tais como cajueiro
(anacardium occidentale) traziada da América e de citrinos (citrus) trazidos da
Ásia.
Apesar da tamanha discriminação existem alguns moradores do
povoado que valorizam as fruteiras nativas, como nos revela a seguir que,

[…] eu não perco nenhuma colheita de mafura, de massala, de


tinziva, até procuro pelo mato, desço até na zona da praia para
procurar naquelas florestas dai na praia os frutos quando chega à
época da frutificação dos frutos do mato. Eu e minha família
comemos muito esses frutos apesar de que muitos desprezam. Eu e
os meus filhos descobrimos no ano passado que afinal até podemos
ganhar dinheiro vendendo os frutos do mato. Tem muita gente que
gosta, mas tem preguiça de ir ao mato tirar, ou por vergonha de ser
visto no mato a colher frutos como se fossem famintas. Mas essas
pessoas quando vêm os frutos por aqui ou na vila de Massinga
querem comer e aceitam comprar, aí, vendemos para essas
pessoas, […]. (M. J.C, 51 anos, Haqui, junho, 2021).

De acordo com M.J.C. (2021), ter vergonha de ser visto no mato a colher
frutos ou de comer um fruto silvestre na via publica simboliza ser baixo, inferior,
negro, cafre. Ser aquela pessoa que não tem valor na sociedade portuguesa
daquela época. Acontece que na cabeça do negro daquela época, ser negro
com valores de Portugal isso era mais importante do que ser visto e
considerado como moçambicano. O preconceito com as nossas plantas e
frutos começa aí mesmo, porque todos querem comer aquilo que o branco
mandava comer. Os brancos ensinavam que o que nasce das nossas florestas

19
não tinha sabor, era azedo, amargo, venenoso, se alguém comer ou tiver uma
planta de frutos silvestres em casa ou na sua machamba corria riscos de ser
azarado. Até hoje para alguns por aqui pensam que quem colhe e consome os
frutos da floresta é pobre, faminto, não é moderno é atrasado e nem reúne
condições para obter uma alimentação condigna. Apesar de existirem pessoas
que pensam assim até os dias actuais, existem também outras pessoas que
preservam hábitos e costumes que valorizam as plantas nativas incluindo frutos
como refere (J. F. M., 63 anos, Haqui, junho, 2021) na entrevista que:

[…] me lembro bem, a muito tempo quando eu era pequenino, aqui


assim era mato tudo isto, colhíamos nos momentos de chuva
cogumelos tais como malhimbe, finhane e calangane para comer.
Tinha aqui árvores de michaí onde pegavamos matamane, tinha
árvores de mitsondzo para pegar xidambela, mafusse para yi phassa
ya ma bonhane. Aqui não havia fome, era só pegar tudo no nosso
mato. Nem as cobras não nos faziam nada porque havia plantas para
repelir as cobras. Mas bastou muitas pessoas começar a frequentar
a escola de metodista de Cambine, outras dos padres da igreja
católica e mais tarde nas escolas do Presidente Samora Machel, os
desprezos contra as nossas árvores e tudo que delas vem iniciou eu
me lembro. A escola do tempo colonial e essas coisas de nos obrigar
a viver nas aldeias de Machele. Isso aconteceu porque nesse tempo
a Frelimo quando chegou aqui na nossa zona nessa época queria
acabar com o mato e mandar para longe das nossas casas as
cobras, hienas e os macacos. Assim matamos todas as nossas
árvores e esquecemos de vez as utilidades de cada vegetal local. Os
portugueses iniciaram, mas a frelimo veio aumentar a campanha de
nos ensinar a plantar coqueiros e cajueiros como plantas com mais
benefícios para família do que as do mato e que isso nos fazia ser
homens civilizados e da revolução socialista plantando nas nossas
casas e machambas colectivas, eu sei muito isso, outros podem até
dizer que é minha mentira porque muitos eram pequenos ou nem
tinham nascido […]".

Neste processo político, diversas espécies da fauna e flora local


desapareceram como resultado de acções antrópicas que converteu a
vegetação nativa em vantagem da exótica trazida do Brasil colónia e da Ásia.
Apesar desta problemática, prevalecem alguns bosques no povoado de Haqui,
donde é colectada a massala (strychnos spinosa), o canho (sclerocarya birrea),
mavilua (Vangueria infausta), mambimbe (garcinia livingstonei), macuacua
(strychnos innocua), o tinembenembe (cassia petersiana), mahungua
(landolphia kirkii), tinziva (addnsonia digitata), entre outros frutos da floresta.
Dentre essas fruteiras, a mafureira (trichilia emitc) é a única espécie nativa

20
bastante domesticada em padrões equiparáveis aos frutos exóticos no
povoado. A sua divulgação está associada ao decreto colonial que impunha a
obrigatoriedade de produção de oleaginosas pelos indígenas da província de
Inhambane, um negócio rendoso da época. Esta espécie nativa não foi
preservada tendo em conta o suporte ecológico comunitário, mas sim os
interesses coloniais.
Acerca do negócio rendoso de oleaginosa, Guilherme Ivens Ferraz
(1902) descreveu a Costa de Moçambique, desde Lourenço Marques até
Bazaruto, analisando as diferentes formas de agricultura, as espécies que já
eram cultivados pelos povos nativos desta região, assim como as culturas
agrícolas inseridas nos sistemas de produção local com a chegada dos povos
árabes, vindos do golfo pérsico, e dos portugueses. Igualmente, ressalta a
importância do comércio e sua rede de trocas, que trouxe uma extensa
variedade de produtos, que mais tarde, no final do século XIX, seriam
exportados em grandes quantidades. Ferraz (1902) escreve num momento
importante da história comercial de Moçambique, que iniciou em Julho de 1895,
quando foi feita a ligação de duas das linhas navais, criando o trânsito Transval
na África do Sul, que conduziu ao desenvolvimento da cidade através das rotas
comerciais. Estes manuscritos permitem deduzir que a mafura (trichilia emitic),
canho (Sclerocarya birrea), mavilua (Vangueria infausta), a massala/strychnos
spinosa, mambimbe (garcinia livingstonei), já eram domesticados na região sul,
inclusive em Massinga quando se iniciou a vaga de migrações árabe e
portuguesa, que com a sua chegada à região neglegenciaram e colocaram
estas espécies nativas no segundo plano em vantagem das exóticas, com
excepção da mafureira.
A partir de estudos desenvolvidos por Birgergard Lars-Erik (1993), Gerti
Hesseling (1995) e Muanamoha (1995), é possível aventar que as fruteiras
nativas sempre constituíram a base da dieta alimentar de diversos grupos
étnicos de Moçambique e de Haqui em especial, sendo responsáveis pela
distribuição e realocação dos habitantes nas distintas províncias, distritos e
povoados do país, sendo importante hoje incentivar as populações retornarem
as origens domesticando, colhendo e consumir os frutos nativos.
O Documento Trimestral da imprensa Nacional, publicado no ano de
1935, trata da influência dos árabes em Moçambique, que trouxeram

21
especiarias e outros vegetais como o coqueiro, que cobre toda a costa de
Inhambane, os citrinos, com destaque ao limão rugoso (Citrus x limon), a
laranja (Citrus sinensis) e as tangerinas (Citrus reticulata), que constituem
frutas preferidas dos moradores do povoado de Haqui. Isto aconteceu porque o
Estado colonial obrigava as populações de Inhambane e de Massinga em
particular a produzir e a consumir produtos tropicais vindos da Ásia e do Brasil
colonial. Esta situação acelerou e impulsionou a difusão e a propagação de
diversos vegetais asiáticos e brasileiros pelo território nacional, resultando,
posteriormente, numas relações do tipo afetivas pelo coqueiro, cajueiro,
citrinos, jambeiros, goiabeiras, e também pelas plantas de ornamentação de
residência, das vilas e outros espaços urbanos, vindos do exterior em prejuízo
às espécies nativas que passaram a ser preteridas pelos próprios nativos da
região. As fruteiras nativas foram e são geralmente excluídas do processo de
organização social, não existindo projetos para seu cultivo, sendo, inclusive,
destruídas no processo de uso e aproveitamento da terra. Apesar desta
constatação, existem projectos em números reduzidos elaborados por
pesquisadores moçambicanos e estrangeiros procurando divulgar a
importância de domesticar e consumir os frutos nativos. Esta promoção vem
incentivando mesmo que seja ainda de forma embrionária a abertura de
mercados interno e externo para vendas e compra de frutos nativos.

Material e método
Para a revisão literária foram consultados textos disponíveis na internet
acerca de fruteiras nativas e entrevistados sujeitos sociais do povoado de
Haqui. A pesquisa descritiva de abordagem quantitativa e qualitativa, na qual
se utilizou da colecta de respostas dos moradores do povoado de Haqui. A
proposta iniciou-se com a escolha do que pode promover a actividade turística
no lugar atravessado pela linha do trópico de capricórnio em Moçambique.
Optou-se por pesquisar aspectos relacionados com a possibilidade de colecta,
consumo e venda de frutos nativos do povoado: Massala, canhu, mambimbe,
tinziva, mavilua e mahungua, dando ênfase à sua promoção no mercado local.
Foi elaborado o roteiro de entrevistas com vista a perceber o grau de
valorização dos frutos nativos e a necessidade de produzir, colher e vender
esses frutos no mercado. Com base nos resultados uma socialização foi

22
realizada a fim de conciliar os moradores acerca da necessidade de invectivar
a venda de frutos nativos no lugar por onde passa a linha imaginária do trópico
de capricórnio em Moçambique.
O povoado de Haqui representa um lugar relevante para promoção
turística uma vez que está localizado na área onde foi colocado os marcos que
indicam a passagem simbólica da linha imaginária do trópico de capricórnio em
Moçambique. Neste lugar realiza-se o festival de contemplação da
sobreposição de sombras. Além disso, o lugar apresenta uma série de
bosques/florestas familiares/sagradas e machambas que produzem frutos
nativos.
Estudo exploratório acerca da promoção de frutos nativos foi realizado
através de visita ao povoado, para identificar os principais informantes. Foram
selecionados, moradores com idade superior a 18 anos. O Instrumento de
pesquisa consistiu de entrevista estruturada, em forma de questionário,
associada às questões de caracterização dos entrevistados. Este instrumento
foi baseado nos princípios da pesquisa em Percepção Ambiental apresentados
por Whyte (1978) e Tuan (1980), e as entrevistas eram voltadas para as
práticas recomendadas para a promoção do mercado de frutos nativos.
Para obter o perfil completo da relação dessa população com o consumo
de frutos nativos, numa amostra estratificada (Albuquerque et al., 2008)
entrevistou-se no mínimo uma pessoa de cada casa existente no povoado. As
citações vernaculares pelas comunidades foram adaptadas e classificadas para
a nomenclatura científica em nível de espécie para os frutos nativos, utilizando-
se bibliografias especializadas.
Os dados foram levantados de outubro a dezembro de 2021, com média
de uma visita semanal, sendo que, foram realizados retornos para novas
entrevistas nas casas que porventura não foram encontradas pessoas adultas
na primeira leva de entrevistas. As pessoas eram abordadas uma de cada vez,
os questionários respondidos individualmente, e as respostas anotadas pelo
pesquisador. Também foi útil para o estudo, o sistema de classificação de
Cronquist (1988) para identificar as espécies, e através de bibliografia
especializada e selecionaram-se quais eram as fruteiras nativas e exóticas
para comparação entre elas.

23
Os resultados das entrevistas realizadas permitiram compreender que os
frutos nativos são colectados, consumidos por vezes domesticados para
produzir diversos derivados para consumo alimentar dos moradores e vendidos
informalmente, como se pode ver no quadro seguinte.

Quadro 1. Fruteiras nativas existentes no povoado de Haqui citados


pelos sujeitos sociais

Nome em Família Valor nutricional Forma de Mercado


xitsua científica consumo de venda
Mbimbi Garcinia Fabrico de Nenhum
livingstonei bebidas
fermentadas
e doces,
derivados
para
sobremesas
Nembeneme Cassia Fabrico de Nenhum
petersiana bebidas
doces e
fermentadas
Calhuane Conopharyngia Bebidas Nenhum
elegans doces e
fermentadas,
ração para
aves
Nziva Addnsonia Consumo No trópico,
digitata para crianças CTT e na
e adultos em vila de
jeito de Massinga.
aperitivos.
Produção de
sumos e
outros de
derivados
para
sobremesas.
Canhu Sclerocarya Rico Bebidas Informal
caffra em proteína e gord doces e para
ura fermentadas, pessoas
consumo da particulares
fruta. , familiares
e amigos.
Mahlala Strychnos Polpa rica em Consumo da No trópico,
spinosa proteínas, fósforo, fruta, musse, CTT e na
magnésio, potássio, bebidas vila de
vitaminas B e C doces e Massinga.
fermentadas.
Ndokomela Adansonia Consumo da No trópico,
digitata fruta, musse, CTT e na
bebidas vila de

24
doces e Massinga.
fermentadas.
Kulho Trichilia Consumo da No trópico,
roka/emetica fruta, fabrico CTT e na
de óleo e vila de
bagaço de Massinga.
consumo
assim como
de óleo para
pele e
produção de
sabão.
Unrwa Landolphia kirkii Consumo da No trópico,
fruta, CTT e na
bebidas vila de
doces e Massinga.
fermentadas.
Mbombo Salacia kraussii Consumo da No trópico,
fruta, CTT e na
bebidas vila de
doces e Massinga.
fermentadas.
Mavilua Vangueria Carboidratos, Produção de No trópico,
infausta proteínas vitamina vinagre, CTT e na
C, minerais como bebida vila de
Potássio, sódio, alcoólica, Massinga.
magnésio, fósforo, sumo,
ferro e zinco aromatizante
, consumo da
fruta, jamo,
musse
Macuacua Nfuma lípidos
(46%), proteínas
(5%),
macronutrientes (K,
Na, Mg e Ca),
micronutrientes
(Cu, N, Zn, Mn e F)
e contém vitamina
A, alcalóides e
saponinas é anti-
colesterol e anti-
cancro.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2021.

As espécies nativas representam as plantas oriundas de um lugar, ou


seja, aquelas que crescem “[…] dentro dos seus limites naturais incluindo a sua
área potencial de dispersão (Cordeiro, 2017)”. Estas plantas tal como as outros
vegetais representam elementos fundamentais para obtenção de proteínas,
carbo-hidratos, vitaminas entre outros essenciais para uma vida saudável. Fora
da dieta alimentar, são também utilizados como remédios para curar

25
enfermidades. As raízes, o caule, as folhas, a ramagem e os frutos geralmente
são utilizados para tratamento de doenças. A seguir faz-se a caracterização de
algumas farturas nativas.
Nembenembe (senna petersiana), a parte mais usada são as raízes e os
frutos, a população não tem costume de plantar. Contudo esta é uma planta de
muito fácil propagação, através das suas sementes. Apesar de ser uma planta
que completa a dieta alimentar a população corta ou destrói de outra forma. Os
frutos nem a bebida não são vendidos nos mercados formais e informais locais.
Apesar de ter mencionado lugares onde devem ser vendidos os frutos nativos,
concluiu-se que são raras vezes que vendem e compram esses frutos, alem de
que os compradores são escassos. A venda é dificultada por diversos motivos
que vão desde a colheita na floresta que exige coragem para enfrentar as
cobras, o sistema de conservação para manter com bom sabor durante muitos
dias os frutos. Inclusive a dificuldade de convencer os compradores
preconceituosos para comprar frutos que para eles são do mato e sem nenhum
prestígio a agregar na sua autoestima.

Resultado e discussão
O consumo e venda de frutos nativos no povoado de Haqui deve ser
incentivado como instrumento para a promoção do turismo no local. O
consumo na forma bruta e produção de derivados alimentares devem ser
encorajados numa proporção que possibilite os moradores a criar uma
identidade do mercado local por meio de frutos nativos.
Os bosques/florestas sagrado-familiares, assim como as machambas
estão associados ao fornecimento de frutos nativos, o que vislumbra a
alternativa de preservar e conservar esses lugares. O consumo de frutos
nativos é costumeiro e precede a colonização, sendo fundamentada no
acúmulo de informações repassadas oralmente.
A percepção ambiental, definida como a tomada de consciência do
homem sobre o ambiente no qual ele está inserido, tem sido utilizada como
instrumento de gestão de recursos naturais, com vistas a melhorar a qualidade
de vida das pessoas. Além de que permite às pessoas entender as suas
relações com o meio em que estão inseridas e aproveitar as melhores
maneiras de explorar os recursos do entorno (Tuan, 1980). Explorar os

26
recursos do entorno significa potenciar as populações locais com instrumentos
técnicos e políticos que permitam entender que é necessário incluir nos planos
de suas actividades de sustento familiar a domesticação de frutos nativos,
como alternativa para mitigar a situação de conversão da vegetação nativa,
abrindo uma nova actividade local que é o mercado de frutos nativos.
Apesar do processo intenso de conversão da vegetação nativa e exótica,
iniciado pela administração colonial que decretou obrigatoriedade de produção
de coqueiros e cajueiros, o povoado Haqui, continua tendo algumas fruteiras
nativas, que totalizam cerca de onze (11) espécies de fruteiras nativas.
Calcula-se que pelo menos dez (10) não seja apenas utilizado na alimentação,
mas também servem para sombreamento, ornamentação de residências e para
fins medicinais, o que constitui a razão central para esta proposta de
domesticação, colecta de frutos na floresta e promoção das vendas no
mercado local, como uma das maneiras de incentivar o turismo na região
atravessada pelo trópico de capricórnio em Moçambique.
A alimentação na base de fruteiras nativas representa um aspecto
fundamental para manutenção da saúde física e mental, uma vez que uma
parte da população ainda completa a sua dieta alimentar, tratamento estético
corporal e para tratamento espiritual. O estudo foi de importância capital não só
para a população do povoado que é directamente beneficiada, mas também
para toda população da província e do distrito.

Considerações finais
A ausência de políticas de educação ambiental no sentido de incentivar
a domesticação, consumo e venda de frutos nativos no povoado de Haqui, tem
permitido o abate descontrolado destas espécies, proporcionando a conversão
da cobertura vegetal por plantas exóticas tais como coqueiro, cajueiro, citrinos,
jambolão, goiabeiras. As plantas exóticas possuem implicações ambientais
negativas por agregar a componente invasora.
Os frutos nativos são menos apreciados como resultado da herança
colonial que inculcou nas populações locais que estes nem são de valor
socioeconómico igual aos trazidos do exterior, por esse viés, francamente
participam do mercado de venda. A promoção da venda poderá abrir portas
para a demanda turística neste lugar.

27
Referências

ALBUQUERQUE, Ulysses P.; LUCENA, Reinaldo F.P. NETO, E.M.F.L. 2008.


Seleção e escolha dos participantes da pesquisa. In: ALBUQUERQUE, Ulysses
P.; LUCENA, Reinaldo P. CUNHA, Luis V.F.C. (orgs.) Métodos e técnicas na
pesquisa etnobotânica. 2ª edição. Recife: NUPEEA, 2008.

BIRGERGARD, Lars-Erik. Natural Resource Tenure. A review of Issues and


Experiences with Emphasis on Sub – Saharian. Africa, 1993.

HESSELING, Gerti. Legal institutional Incentives for Local Environment


Management. Países Baixos: African Studies Centre Leiden, 1995.

MUANAMOHA, Ramos C. Tendências Históricas da Distribuição Espacial da


População em Moçambique. (Dissertação de pós-graduação em Demografia).
Belo Horizonte: CEDEPLAR/FACE/UFMG, 1995.

WHYTE, Anne. La perception de L’environnement: lignes directrices


méthodologiques pour les études sur le terrain. Notes techniques du MAB 5.
Paris: UNESCO, 1978.

TUAN,Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio


ambiente. Tradução Lívia de Oliveira. São Paulo: Difel, 1980.

CORDEIRO, Bruna F. M. Biodiversidade e plantas invasoras (Dissertação de


Mestrado em Biodiversidade e Biotecnologia Vegetal, especialidade em
Biodiversigertidade) Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, 2017.

FERRAZ, Guilherme. Descrição da Costa de Moçambique de Lourenço


Marques ao Bazaruto. Memória apresentada. Congresso Nacional Colonial.
Lisboa: Typographia Universal, 1902.

SITOIE, Carlitos Luís. Desvendando a geografia inclusiva de espaços


marginalizados e conhecimentos escondidos a partir da percepção das
sombras no povoado de Haqui (Moçambique) e cidade de Macapá (Brasil).
Londres: Novas Edições Acadêmicas, 2020.

28
PLANTAS NATIVAS E VALORES CULTURAIS DE MASSINGA

Carlitos Luís Sitoie4


Anastância Armando Mucuho5

RESUMO
Diversos povos ivadiram a região que actualmente se chama Massinga, com
destaque aos: banto, zulos, baneanos e portugueses. Cada grupo invasor
trouxe e introduziu plantas, um modo de cultivo e sistemas de conhecimentos
especificos de domesticar as plantas. Este capítulo procura discutir a extinção
de fruteiras silvestres como resultado da perda de hábitos e costumes
referentes à domesticação de paisagens naturais pelos povos da etnia Ba tsua.
No distrito de Massinga, existe uma diversidade de espécies nativas, a
destacar, a massaleira, mafureira, maphilha, mabobo, madocomela, matite,
matchadjawa, macuacua, entre outras espécies vegetais natinas. O método
empregado para discussão consistiu na revisão bibliográfica conjugada com as
observações empíricas e entrevistas feitas aos sujeitos sociais. A principal
base teórica empregada foi baseada na topofilia de Yu Fu Tuan para pereceber
as acções e atitudes topofóbicas que dificultam a conservação e preservação
das plantas nativas de Massinga. Os resultados da discussão permitiram
compreender que vagas de imigrantes introduziram e domesticaram plantas
exóticas com apogeu ao sistema colonial português que decretou a
obrigatoriedade de cultivo de culturas consideradas de rendimento, permitindo
a desvinculação das populações de Massinga das plantas nativas, que
passaram a negligenciar seu manejo, gerando uma degradação ambiental das
mesmas. As plantas nativas são fonte de alimento, constituem a base das
práticas culturais/saberes, conhecimentos e de manutenção da vida. Quer
dizer, são repositórios de saberes milenares ancorados na culinária diversa,
ornamentação e medicina, assim como, na recuperação de áreas degradadas
e reposição da vegetação de parques e reservas nacionais, cotadas, matas e
florestas sagradas.

Palavras-chave: Plantas nativas, valores culturais e preservação de Massinga.

CONTEXTUALIZAÇÃO
Este capítulo procura reflectir a forma como as plantas nativas de
Moçambique e de Massinga em especial, foram relegadas ao segundo plano
em vantagem das espécies exóticas trazidas por vagas de migrantes vindos da

4
Professor Auxiliar afecto na Faculdade de Ciências Humanas e Letras da Universidade Save-
Moçambique. Coordenador do curso de Mestrado em Ambiente e Desenvolvimento Sustentável das
Comunidades.
5
Licenciada em Ensino de Agropecuária pela Universidade pedagógica; Mestranda do curso de
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável das Comunidades. nataxamucuhoo@yahoo.com.br
África Central e do Sul, Ásia, Américas e ilhas francesas. Antes da penetração
estrangeira os povos nativos de Massinga viviam e alimentavam-se de plantas
e frutos da floresta. Com a invasão banto, iniciou o processo de seleção,
domesticão de plantas, ao ponto de eleger a mafureira, massaleira, matite,
mahungua, macuacua, etc como alimentos. Essas espécies, com a chegada de
povos baneanos e portugueses, começaram a sofrer rejeição devido a
introdução pelos árabes da venda e compra de especiarias asiáticas. Mais
tarde, o governo colonial português decretou a obrigatoriedade de cultivos de
rendimentos, como foi o caso da cana-de-açúcar nas baixas de Ngomane,
Chilacua e Rio das Pedras. Outro processo de transferência de culturas
estrangeiras em Massinga foi por meio do plantio de coqueiros, cajueiros,
citrinos, café, entre outras culturas de produção agrícola no distrito.
De acordo com Silva (2004) e Falcão (2006) Moçambique é um
importante repositório de diversidade vegetal. Albergando cerca de 5.500
espécies de plantas, calcula-se que pelo menos oitocentas sejam utilizadas
para fins medicinais. Esta quantidade apresentada pelo autor corresponde às
plantas nativas que resistiram aos maus tratos, rejeição e destruição iniciada,
pela migração dos asiáticos árabes suaíle, intensificada pela chegada dos
portugueses através do seu sistema colonial. Por outro lado, há que referir que
das 4700 espécies que não são medicinais no país, correspondem às plantas
nativas de utilidade ornamentais, económicas e alimentares.
As plantas nativas alimentares abarcam as folhas, nozes, raízes, caules
e frutas. As fruteiras nativas podem ser domesticadas, produzidas em larga
escala e contribuírem para a economia nacional e para o bem-estar social,
abandonando o estatuto preconceituoso de serem considerados frutos
silvestres/mato.
Para o estudo escolheu-se as fruteiras da floresta, mesmo consciente de
que o preconceito em relação às espécies nativas abrange todas as espécies
herbaceas, arbustivas e arboreas que por si deviam desempanhar seu papel e
valor económico comercial, lenhosas, de construção e ornamentação de vilas e
cidades, mas que são neglegenciadas em vantagem das exóticas.
Durante a pesquisa não foram encontrados registros que versam sobre o
processo de selecção e domesticação de plantas nativas de Massinga. Mas a
partir de estudos coloniais de Gomes e Sousa (1949); Gomes e Barbosa (1955)

30
e Almeida (1959), sabe-se que o Distrito possui imenso potencial de fruteiras
nativas, sendo que, nas diversas vertentes, a maioria delas continua a ser
negligenciada nas pesquisas académicas assim como do ponto de vista
socioeconómico são desprezadas.
O desprezo fundamenta-se pela herança colonial que incutiu nos
moçambicanos que as plantas nativas eram menos nutritivas e com baixo valor
económico-social. Esse pressuposto teórico pode ser sustentado por falta de
políticas específicas e de programas delineados que visam a produção
obrigatória das fruteiras nativas com certa prioridade, no sector agrário do país
e no distrito em particular. Apenas aparecem programas não direccionados a
segurança alimentar baseada na exploração de vegetais da floresta como foi o
caso do programa “um líder comunitário, uma floresta”. Existe uma tendência
de programar o reflorestamento e estabelecimento de florestas comunitárias,
sem nunca recomendar as populações para plantar e domesticar as fruteiras
nativas que continuam descriminadas por ser consideradas como frutos do
mato. Em contrapartida, são promovidas actividades e acções de plantio e
valorização de espécies trazidas do estrangeiro, como é o caso dos projectos
direccionados a divulgação do plantio do cajueiro, citrinos, coqueiros,
abacateiros, entre outras espécies que não são oriundas de África,
Moçambique e Massinga.
As frutas das florestas locais agregam muito valor que precisa ser
divulgado, como sustentam os estudos feitos por pesquisadores brasileiros em
parceria com alguns moçambicanos. Esses estudos defendem que tal como as
frutas adquiridas nas matas e florestas fora de África e de Moçambique, como
é o caso do açaí, buriti, guaraná, etc, as frutas das florestas locais apresentam
um valor nutricional e medicinal muito forte, assim como representam uma
fonte potencial de produção de óleos alimentares e essenciais. Essas plantas
participam no processamento, combate das pragas, na adubação orgânica, nos
estudos de conservação da biodiversidade, silvicultura geral e manejo
comunitário. Aproveitando-se dos resultados dos estudos sobre as
potencialidades das plantas e fruteiras locais existe uma necessidade de
ensinar as populações de Massinga e do país em geral sobre esse valor que as
plantas nativas possuem, procurando agregar esse valor às diversas

31
demandas da vida local. A valorização deve ser feita por meio da inclusão de
espécies nativas como prioritárias para o cultivo na agricultura familiar.

Fruteiras bandeira6 nativas de Massinga e desprezo pelas populações


Apesar de que a prática da agricultura familiar sempre foi caracterizada
pelo destroque das árvores, havia no seio dos autóctones do distrito de
Massinga uma consciência relativa à preservação das plantas originarias do
distrito, como refere Almeida que,

Em algumas zonas da faixa arenosa costeira é dificil definirmos


o tipo de vegetação que aí se encontra, pois a acção do Homem
é tão marcada, por meio das derrubas que tem sido obrigado a
fazer para poder agricultar a terra a custa da qual tem de viver,
que só restam as espécies com algum interesse para o indigena
(Almeida, 1959, p.49).

A consciência de preservar as plantas nativas, em especial as fruteiras,


foi se perdendo na medida em que o sistema colonial foi introduzindo
progressivamente as culturas consideradas por eles como de rendimento, que
foram retirando o prestígio das nativas. As plantas nativas são aquelas que
descendem de um povoado, comunidade ou ecossistema e crescem dentro
dos seus limites naturais incluindo a sua área potencial de dispersão. As
frutíferas florestais/nativas são as plantas que dão frutos no mato sem ser
domesticadas, mas que podem ser comestíveis ou não e com alto valor
nutricional, cultural e socioeconómico.
Os valores culturais podem ser entendidos como sendo o conjunto de
características que definem alguém, quanto suas ideias, crenças, costumes e
hábitos. O conceito de cultura envolve a ideia da soma das artes, crenças, leis,
moral e costumes de um povo ou nação. Trata-se de um elemento social
flexível e diverso que muda entre países e mesmo entre regiões de uma
mesma nação. Em geral, as pessoas relacionam o conceito de cultura com o
erudito e relegam o popular a segundo plano.

6
O termo surge da necessidade de evitar que as espécies estingam, escolhendo aquelas que chamem a
atenção do público e sirvir de exemplo nos projectos de conservação, essas é que serão chamadas de
espécies bandeiras.

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A relação da cultura erudita com as plantas, parte da constatação de que
as plantas trazidas pelos grupos invasores, considerados elites dominantes,
com grande poder financeiro, intelectual e hegemónicos, forçaram os povos
nativos de Moçambique a aderirem por meio de cultivo obrigatório as plantas
vindas da Ásia e das Américas tropicais.
Como parte desse movimento, as plantas exóticas foram introduzidas
em Massinga e Moçambique em geral, como forma de produção/reprodução da
cultura erudita supostamente superior, por serem culturas de rendimento e que
agregam valor nutricional. Esse pressuposto criou condições para que algumas
pessoas que faziam parte das elites esclarecidas africanas, asiáticas e
europeias, pudessem propagar a ideia de que as fruteiras vindas de fora
fossem mais importantes que as locais e que fossem bem apreciadas e mais
valorizadas. No entanto, essa visão influenciou bastante para desenvolvimento
do preconceito com as plantas nativas e reduzir o seu valor ou sua apreciação
pelas comunidades locais.
As plantas nativas existem em qualquer área geográfica do mundo e
foram aproveitadas pelos autóctones para sobrevivência, sendo usadas
inclusive no imaginário desses grupos populacionais constituindo sua
identidade. No caso específico, ao falar de espécies nativas, refere-se às
plantas que tenham sua origem nessa região e que fazem parte de uma certa
tradição original desde os primórdios.
De acordo com Almeida (1949), Massinga é constituído por dois
complexos vegetais, sendo o primeiro, aquele que abrange a zona litoral com
solos arenosos costeiros, que variam entre os solos pardos, cinzentos e
alaranjados, solos cinzentos das baixas alagadigas, solos vermelhos e laranja
das zonas onde a umidade do solo é maior. Esses solos ocorrem nos lugares
onde a queda pluviométrica anual varia entre 1.000 e 1.200 mm. A vegetação
tipica dessses lugares é diversificada que vai desde a mata aberta de
Brachystegia sp. com Sclerocarya caffra, Trichilia roka, Albizzia versicolor,
Albiszia adianthifolia, Garcinia ïivingstonei, Strychnos innocua, Strychnos
spinosa, Combretum gueinzii, Conopharyngia élegans, Chirrole (s) eltite(s),
termindlia sericea, Combretum gueinzii, Hyphaene, phoenix reclinata,
Helichrysum, Cordyla africana, Ficus spp., Clorophora excelsa, Sclerocarya
caffra, Rombenhone, mata de Brachystegia sp., ficus sp., Garcinia livingstonei,

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Albizzia versicolor, AiSizzia adianthifolia, Combretum sp., Strychnos spp.,
Conopharyngia elegans, Phoenix reclinata até a Hyphaene sp. Estas especies
desenvolvem-se na faixa litoral do distrito, nas planicies e na depressao, junto
de Rio das Pedras.
O segundo complexo, envolve o interior de Massinga, denominada por
Gomes e Sousa (1949); Gomes e Barbosa (1955) e Almeida (1959), como a
zona dos Urrongas. Nesta área geográfica a queda pluviométrica anual varia
entre 700 e. 1.000 mm, sendo do clima tropical seco ou semi árido do distrito.
Os solos tipicos são vermelhos, e pardo avermelhado, dos Urrongas. Esta
região é constituída pelas florestas semidecíduas de Adansonia digitata, Afzelia
quanzensis, Cordyla africana, Kigelia pinnata, Ficus sp., Tamarindus indica,
Balanites maugJiamii, Albizzia versicolor, Albizzia adianthifolia, Combretum sp.,
Strychnos spp., Chazua (s) e Noeve (s), com sub-bosque denso de arbustos e
trepadeiras, Matas savanóides de Piliostigma ihonihgi, Annona cryso, phila,
Vitexl doniana, Sclerocarya caffra, Albizzia verik sicolor, Acacia spp., Terminalia
sericea, com extracto grai minoso de Hyparrhenia sp., Mata aberta de
Brachystegia sp., Pterocarpus angolensis, Isoberlinia sp., Garcinia livingstonei,
Strychnos spp., Conopharyngia elegans.
No complexo I, desesnvolvem as fruteiras nativas na costa ou orla,
geralmente sobre as dunas e areias marítimas, junto da linha que separa o mar
e a terra, no limite do alcance da maré alta. As plantas que germinam nesses
lugares são aquelas que têm capacidade de adaptação à instabilidade das
areias e sua dinâmica, às amplitudes térmicas, ventos fortes, salinidade,
escassez de água e nutrientes. Junta-se a este grupo, as plantas do litoral que
germinam e crescem em solos arenosos.
É contraditório pensar que um dos países mais ricos em biodiversidade
do mundo consuma tão poucas frutas nativas. O impacto disso é a ameaça de
extinção de diversas espécies, que aos poucos, estão sendo esquecidas da
memória e desaparecendo do mapa.
No complexo II, no clima que caracteriza o semiárido de Massinga,
desenvolvem-se as espécies xerófilas resistentes à seca. Os dois complexos
estão repletos de uma diversidade de fruteiras nativas que na maioria já estão
em extinção ou mesmo constituem as espécies bandeiras (vide quadro 1).
Geralmente as espécies bandeiras são as vulneráveis a extinção e

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escolhidas/eleitas para sua preservação. Assim, o conceito de espécie
bandeira se sustenta em que, trazendo à população devida atenção à situação
de perigo de determinada espécie escolhida para a protecção, todo seu
ecossistema e demais espécies têm mais oportunidades de serem
preservadas. A malhala, macuacua, maphilwa, canhoeiro, mambobo, matite,
matchadjawa, tichindzo, etc, representam as espécies bandeira de Massinga. A
escolha deve-se à simpatia que a maioria das pessoas ainda sentem por elas,
apesar de faltar uma consciência colectiva para preservar estas espécies.

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Quadro 1. Fruteiras nativas de Massinga

Nome científico Nome em shitsua Ocorrência Observação


Addnsonia digitata Shimuyo Complexo II Árvores sisterna
Balanites Nulo Complexo II O miolo da
maughamii semente é
alimento em
tempos de seca
Cassia petersiana Nembenemba Complexo I e II Fabrico de
bebidas
Cocos nucifera Shîkhokhuane Complexo I Alimento da época
seca
Conopharyngia Calhuane Complexo I e II
elegans
Addnsonia digitata Nziva Complexo II Tempos de fome
Garcinia Bimbe Complexo I Bebidas
livingstonei
Momordica Tihaka ou N´kaka Complexo Ie II
balsamina
Sclerocarya caffra Canho Complexo II Fruto de amor
Strychnos innocua Mucuacua Complexo II Tempos de fome
Strychnos spinosa Mahlala Complexo I e II
Terminalia sericea Konole Complexo I
Trichilia Kuhlo Complexo I e II
roka/emetica
Telefaira pedata Cungo
Landolphia kirkii Ungwa
Salacia kraussii Mbombo
Vangueria infausta Mavílwa
Syzygium Tikuri, tigovani
cordatum
Adansonia digitata Mandocomela
Maungua
Fonte: Sitoie (2021).

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O quadro mostra algumas das frutas nativas do bioma local ameaçadas que
poderiam entrar para o cardápio das famílias do distrito, mas por negligência
colectiva estão a ficar para o esquecimento e estão a desaparecer. Uma das formas
de chamar atenção a todos seria a criação de projectos que possam mudar a
concepção cultural e agronômica. Começar por divulgar e cultivar nas machambas,
quintais e vias públicas, os frutos nativos, de forma a resgatar-se sabores e práticas
esquecidas.
Existem fruteiras nativas que desapareceram no distrito como é o caso da
ateira brava ou nzova, castanha-de-Inhambane ou cungo, tindzole, matite,
matchadjawa, inclusive leguminosas que eram a base alimentar da ancestralidade.
Sobre esta constatação pode se sustentar com base no Almeida quando diz que,

[…] a alimentação do indigena de Massinga consiste quase


exclusivamente em produtos vegetais, por isso só destronca as
árvores e ervas que não lhe faz interesse na sua dieta […]. Além
disso, a maior parte destes frutos são oferecidos pela natureza ao
indigena, mas outros, como as laranjas, tangerinas, papaias,
ananases e bananas, foram introduzidos pelos indianos e fazem hoje
o produto de pomares já estabelecidos pelo indigena […] (Almeida,
1959, p.60-61).

O mesmo autor, afirma que os indígenas de Massinga produziam bebidas


fermentadas e destiladas como é o caso de aguardentes na base dos frutos das
espécies Bimbe, canho, tinembenembe entre outros. Até hoje as fruteiras nativas de
Massinga desempenham um papel importante na nutrição, medicina tradicional
geralmente das populações rurais e representam um potencial elevado de
exploração económica. Promovendo oportunidades de emprego e melhoria da renda
familiar e da economia nacional, assumindo um papel de relevância sectorial e
social para o desenvolvimento. O incentivo do consumo de frutos nativos destaca-se
como uma estratégia atraente para combater a insegurança alimentar, nutricional e
medicinal permitindo às famílias ter responsabilidade sobre a sua dieta de uma
forma sustentável e culturalmente apropriada.
Ter responsabilidade sobre a sua dieta de uma forma sustentável e
culturalmente apropriada, significa assumir que a exploração de frutos nativos
contribui para reduzir a desnutrição aguda e crónica nas famílias do interior onde a
escassez alimentar é frequente devido ao insucesso agrícola. Além disso, esses
frutos permitem aumentar o rendimento disponível das famílias que pode ser usado

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na compra de outros bens, bem como, contribuir para as exportações para
alavancar a economia nacional, daí a necessidade de preservá-las.
Nas florestas e matas de Massinga continua a representar um repositório de
fruteiras nativas, embora muitas delas não representem amplas perspectivas de
aproveitamento económico, tanto a nível local como nacional. Poucas têm
participado nas campanhas e feiras de alimentos organizadas pelas entidades do
governo local e organizações não governamentais. Essa falta de participação nos
eventos de promoção das frutas nativas pelo distrito, está associada à falta de
estudos locais sobre a cadeia de valores desses frutos, negligenciando grande parte
da contribuição que elas desempenham na vida das comunidades, assim como
conhecimento indígena que advém do manejo dessas plantas.
Dentre as diversas fruteiras nativas de maior ocorrência no distrito destacam-
se as frutas apresentadas continuam sendo vítimas de derrube no processo de
cultivo agrícola ou quando se precisa limpar a área para construção de moradias. O
derrube é associado geralmente ao facto de que elas constituem o mato, aquilo que
é a própria selva e podem servir de esconderijo de cobras, mochos, escorpiões,
sendo as primeiras espécies a abater em todos os processos de ocupação e uso da
terra. Dificilmente participa da ecologia doméstica, para ornamentar os espaços
habitados, muito menos como prioridade na dieta alimentar dos massinguenses.
Como forma de fundamentar a necessidade de preservar as fruteiras nativas,
apresenta-se no quadro 1, as características, a informação nutricional, medicinal e
valor cultural de algumas fruteiras nativas de Massinga.

A Canh, a árvore do amor


Entre os massinguenses que habitam a região semi árida situada no interior
do distrito, na sua maioria se instalaram como desertores guerreiros de
Ngungunhane e detinham no passado habitos zulos, que consideram o canhoeiro
como a árvore do casamento, por acreditarem que essa árvore concede vigor e
fertilidade para aqueles que se casam debaixo de seus galhos. Ainda hoje, entre os
zulos as cerimônias de casamento tribais são realizadas à sua sombra. Os caroços
da fruta são colocados em um colar que tradicionalmente simboliza o amor. Esta
árvore produz frutos conhecidos em shitsua como macanhú, que fermentados
produzem uma bebida denominada ucanhi. Industrializada a bebida na África do Sul,
criou condições para a preservação do canhoeiro/planta, por meio da produção de

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um licor chamado amarula, que é vendido em vários países da África e do mundo. A
árvore é uma subespécie caffra pertencente à família anacardiaceae. Caracteriza-se
por apresentar um tronco de cor acinzentado e uma copa larga/frondosa de folhas
verdes, que pode atingir 10 metros de altura. A área geográfica de maior ocorrência
é a savana do interior de distrito em solos avermelhados, com destaque a região de
chicomo, liozuane, Nzilo e em solos avermelhados arenosos do litoral. A planta é
dioica, perene e suas flores são pequenas, de cor vermelha, emitidas no início da
primavera. Os frutos são ovóides com uma polpa suculenta, doce-acidulada e uma
semente, consumidos ao natural, frescos ou preparados em sucos, geleias e outros
derivados. A amêndoa é consumida ao natural, usada na produção de manteiga e
extracção de óleo para cuidar da pele e cabelo. O núcleo da semente é bem rico
em proteína e gordura, com um sabor de nozes que é aproveitado na produção de
derivados alimentares. As populações locais extraem óleo a partir do núcleo da
semente usado como protector antioxidante da pele. Pode ser usado para o fabrico
de combustível etanol. A casca da árvore serve para o tratamento e profilaxia
da malária e as folhas utilizadas para tratar indigestão.
Em torno dos frutos de canhú rolam diversas práticas, costumes e saberes
tradicionais que garantem o seu maneio sustentável ao nível das comunidades
locais principalmente nos locais do distrito que fazem fronteira com a província de
Gaza. Uma das práticas é que os frutos, a bebida e os remédios produzidos na base
de Sclerocarya birrea não podem ser vendidos. O seu consumo é restrito ao
ambiente familiar e ao círculo de amigos. Somente os produtos de artesanato são
comercializados. A árvore produz uma boa sombra e, acima de tudo, agrega valores
de um respeito incomum, por ser considerada árvore sagrada onde são realizadas
cerimónias tradicionais.
São também apreciadas por diversos animais, desde os insectos, aves,
antílopes, babuínos e elefantes, que após comerem os frutos, fermentam no
processo digestivo e deixam-nos embriagados. No caso dos elefantes, chegam em
manadas ou sozinhos e balançam as árvores para que os frutos caiam. Quando os
frutos caem no chão, inicia o processo de fermentação, fornecendo um sabor doce e
um conteúdo levemente alcoólico.
A distribuição das espécies através da Massinga e África em geral seguiu a
migração do povo banto, por ter sido um importante item da sua dieta desde a
antiguidade. Pela popularidade dos seus benefícios principalmente no semiárido de

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Gaza e Inhambane, tem sido bem explorada pelas populações que vivem nessas
zonas secas. Esta atitude tem mobilizado acções de sustentabilidade dessa espécie.
As evidências das acções e atitudes sustentáveis são notórias pela produção e
multiplicação por meio de mudas/viveiros encontradas na vila de Marracuene
província de Maputo e na cidade de Xai-Xai em Gaza. Além disso, tem sido
divulgada essa árvore em feiras, como sendo uma planta útil para dieta alimentar e
sombreamento familiar.

O Chimuy, a árvore-cisterna
O interior ou urronga como denomina Almeida (1959) é caracterizado pelo
clima tropical seco que coloca a região com as temperaturas elevadas e escassez
pluviométrica. Sendo assim, a alternativa encontrada pelas populações é abrir poços
para captar água de consumo e rega das machambas. Os poços geralmente são
fáceis de abrir em lugares de solos arenosos que se situam na faixa costeira. Esta
problemática leva as populações dos urrongas, na época das chuvas, abriram
buracos nos caules dos embondeiros para acumular a água das chuvas, que depois
de quedas pluviométricas fica armazenada para uso doméstico. A água conseguida
por este sistema serve para o abastecimento durante a época seca. As famílias que
não conseguem reservar água, durante a seca, mesmo com instalação de sistemas
de abastecimentos movidos a painéis solares, são obrigadas a deslocar-se
distâncias enormes à procura de água. É considerada árvore-cisterna devido à sua
capacidade de retenção de água.
Partindo de Almeida (1959) e Chadare (2010), é possível dizer que o
embondeiro é uma planta nativa/floresta que produz uma fruta denominada
malambe. Esta planta desenvolve-se em regiões de características climáticas áridas
e semiáridas que se desenvolvem também no distrito de Massinga, nos povoados
do interior.
A altura da árvore chega atingir 25 metros, com copa redonda, ramos
distribuídos ao longo do tronco ou que se limitam apenas ao topo. O tronco é
robusto podendo apresentar entre 10 e 28 metros de diâmetro. A casca é fibrosa,
castanha avermelhada, castanha acinzentada ou cinzenta arroxeada. Desta árvore
são explorados vários recursos, tais como as folhas, fruto, o caule e as raízes.
Segundo Chadare (2010), o fruto apresenta formato variável, podendo
apresentar-se numa forma ovóide e cilíndrica, contido numa cápsula resistente, o

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epicarpo que varia entre 7,5 -54 cm de comprimento e até 40 cm de diâmetro. No
interior, a polpa está dividida em pequenos aglomerados que contêm sementes e
filamentos vermelhos que dividem a polpa em segmentos. A parte comestível é
seca, ou seja, não tem sumo; desfaz-se na boca e apresenta um sabor adocicado e
ligeiramente ácido. As sementes de coloração castanho-escura ou preta
avermelhada apresentam-se em forma de rins envolvidos pela polpa seca e
farinhenta, que não abre na época da maturação, só abre quando quebra ou se cai
sobre uma superfície dura.
De acordo com Donkor et al. (2013), as sementes são utilizadas como
espessante de sopas ou torradas e consumidas de outras formas de acordo com os
hábitos culturais. Em alguns casos são assadas e utilizadas como substitutos de
café. As sementes são também fonte de óleo alimentar. As folhas frescas são
cortadas em pedaços e cozidas em molho como legumes para confecção de
refeições, uma vez que são ricas em proteínas e alguns minerais essenciais. A
polpa é usada como substituto do leite materno, devido ao teor de cálcio que
apresenta.
A polpa, rica em vitaminas B2, B3, aminoácidos, é excelente fonte de potássio
e magnésio, sais minerais, proteínas e fibras. É consumida em fresco e é usada na
preparação de doces e sumos caseiros. Os sumos caseiros à base de múcua são
preparados com água quente previamente fervida ou à temperatura ambiente, na
qual se junta múcua para dissolver. A polpa, com a ajuda de alguma agitação,
facilita também a separação de sementes.
Na medicina tradicional, o óleo extraído das sementes é usado como elixir
para aliviar dores nas gengivas. A polpa e as folhas são usadas pela comunidade no
controlo de colesterol, é antipirético, analgésico, antidiurético, anti-inflamatório na
alimentação e suplementação dos diabéticos, hipertensos e os que sofrem de
artrites, colesterol, anemias, disenteria, sarampo, e HIV-SIDA e tem outros
benefícios comprovados cientificamente.

A Mavílw, a árvore da fome


Para Mbukwa et al. (2007) e Mothapo et al. (2014) a mavílwa é uma fruteira
alimentar tradicional pouco conhecida, mas com maior potencial para melhorar a
nutrição, aumentar a segurança alimentar e promover o desenvolvimento rural.
Pertence à família rubiaceae, que cresce em solos semi áridos e em florestas

41
tropicais. Seu caule fornece madeira que pode ser utilizada como postes de cascas
e implementos. A sua frutificação ocorre entre os meses de janeiro e maio. Esta
planta serve como uma fonte de alimentos e remédios para comunidades rurais. Os
frutos são consumidos por pessoas e animais selvagens, que aproveitam seu
elevado valor nutricional, rico em carboidratos, proteínas vitamina C, e minerais
como o potássio, o sódio, o magnésio, o fósforo, o ferro e o zinco. Geralmente é
consumida pelas famílias do interior do distrito e constituem uma fonte de
alimentação no final das épocas da estação seca quando se verifica escassez de
reservas alimentares. Pode ser utilizada na produção de vinagre e bebida alcoólica
obtida através da sua destilação e fermentação. O sumo produzido pode também
ser utilizado como aromatizante.
Segundo Wet et al. (2010), Gakuya et al. (2013) e Maroyi, (2013), diferentes
partes da planta têm sido usadas tradicionalmente para o tratamento da malária,
chagas, ciclo menstrual, problemas uterinos e inchaços genitais entre outras
enfermidades. No Quénia a infusão dos frutos e raízes é usada tradicionalmente no
tratamento de vermes parasitas e anti-helmínticos. Na Tanzânia, no tratamento da
malária, feridas, problemas menstruais e uterinos e diarreias. No Zimbabwe, os
extractos aquosos das raízes são usados no tratamento de diarreias. E a infusão de
raízes ou cascas quando trituradas e misturadas com água quente ou fria e bebida
três vezes por dia, diminui a incidência da diarreia.

Malhala, a planta do futuro


Partindo de Sitrit et al. (2003), é possível afirmar que a malhala é um fruto
amarelo agridoce e sumarento, com muitas sementes de cor castanha. Nas
extremidades dos ramos, crescem em cachos flores branco-esverdeadas. Os frutos
no início são grandes e verdes e, quando amadurecem mudam para a cor amarela.
No interior do fruto, as sementes compactadas estão rodeadas por uma carnuda
pasta comestível. A árvore é de tamanho médio com inúmeras folhas, que cresce
em solos secos nas areias da mata costeira e bacias hidrográficas. As folhas
elípticas, ovadas ou circulares, com tonalidade verde-escura na parte superior da
folha e visivelmente pálida na parte inferior. As flores são pequenas e estão em
cachos na parte terminal dos ramos principais ou dos ramos laterais. A floração
ocorre em agosto e a frutificação no final do mês de outubro até o mês de janeiro,
dependendo do tipo de gênero desta família. Os frutos são largos, globosos,

42
esféricos, amarelos e amarelos acastanhados quando maduros, de casca dura e
lenhosa. O fruto é redondo, como uma laranja, cujo aroma e sabor são
extraordinariamente deliciosos. Com alto valor nutricional, benéfica para o ambiente
e fonte de rendimento. A polpa é rica em proteínas, em fósforo, magnésio, e
potássio, e tem também uma quantidade moderada de vitaminas B e C.
Os macacos, babuínos, porcos de mato, inhalas e os elefantes comem o fruto
com frequência e as folhas são uma fonte de alimento para os herbívoros, tais como
gazelas, cabritos, cudos, elefantes, entre outros. Pela forma como os macacos
preferem a malhala, foi integrado um texto em conteúdos programáticos da segunda
classe, exaltando a questão da preferência dos macacos por esta fruta. O fruto tem
um aroma delicado, de cravinho, provavelmente causado de eugenol, o óleo
essencial do cravo. Estudos ainda estão sendo feitos para desenvolver vários
produtos, como sumos e rolos de polpa seca. O fruto pode ser utilizado como uma
fonte suplementar de alimentos para a população rural em épocas de escassez e a
madeira é usada para carpintaria em geral.
As folhas também são usadas como um analgésico e no tratamento de
doenças venéreas, doenças do estômago e mordeduras de cobras, tratamento de
feridas, enquanto em Camarões as folhas secas são misturadas com alimentos para
tratamento do fígado. Os Zulus da África do Sul usam os frutos verdes como um
antídoto para picada de cobra (Isa et al., 2014). Reporta-se também na medicina
tradicional no sul do Benin, o uso das folhas, galhos e raízes, para tratamento de
dores de estômago, abdominais, cólicas, esterilidade, abscesso, doença do sono e
malária (Bero et al., 2009). E no Mali, as cascas de caules e raízes são usadas no
tratamento de diarreia (Sanogo, 2011). A parte interna do fruto é usada para o
tratamento das verrugas por esfregamento sobre a sua superfície (De Wet et al.,
2013). Extracto aquoso das raízes administrado oralmente, é usado tradicionalmente
para o tratamento de doenças venéreas, hérnia e contra venenos de mordidas de
cobras (Bruschi et al., 2011). O fruto misturado com mel, cura a tosse.
A malhala é também usada na produção de produtos de artesanato
decorativos como massalas ocas, coloridas, nas feiras e nas lojas de artesanato,
como as gochas, o instrumento idiofone, tipo chocalho de mão, feito com massalas e
sementes, eram utilizadas antigamente para “expulsar os espíritos maus das mentes
dos doentes.

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Com a polpa, faz-se sumo, compotas, papas quando misturadas com cereais
em algumas zonas com outros hábitos alimentares. É usada no preparo de uma
grande variedade de bebidas que, se deixadas a fermentar, são bem alcoólicas.
A madeira da massaleira é considerada sagrada por algumas comunidades,
devido a sua beleza e utilidade. Fazem dela bengalas e cajados. A casca seca do
fruto faz o som das marimbas, um instrumento tradicional africano que é hoje
património universal proclamado pela UNESCO. Por causa da sua multiplicidade de
usos esta espécie é considerada a planta do futuro e foi recentemente introduzida
em Israel como um potencial de nova cultura.

Macuácua a fruta dos povoados que sofrem de estiagem


Pertence à família loganiaceae e perene que ocorre com maior abundância
regiões secas de solos do distrito sendo nas planícies litorais e interior, inclusive nos
distritos de Panda, Mabote e Funhalouro. É uma planta com características similares
as de massala, mas com sabor diferente.
É usada como estacaria, no fabrico de caixas, arcos; algumas prováveis:
pequena obra de marcenaria e carpintaria que requeira flexibilidade, o fruto é
comestível, as amêndoas têm alto teor de óleo que contém um princípio amargo
sendo por isso, rejeitadas pelos nativos. Uma vez retirada a polpa, posta ao sol a
secar, retirados os caroços, é pilada para ser conservada em potes durante anos.
Com as amêndoas obtêm-se uma farinha chamada nfuma que é usada em tempos
de fome como o único alimento. Isto é, come-se um pouco de nfuma, bebe-se um
copo de água, e assim se pode aguentar um dia de trabalho na machamba. A
nfuma, tem uma boa percentagem de lípidos (46%), proteínas (5%), macronutrientes
(K, Na, Mg e Ca), micronutrientes (Cu, N, Zn, Mn e F) e contém vitamina A,
alcalóides e saponinas é anti-colesterol e anti-cancro.
Normalmente recomenda-se o não consumo das sementes de macuácua pois
estas podem dar problemas sérios devido a presença de alcalóide, a estricnina
venenosa e estimulante em pequenas doses, mas venenosa e mortal em altas
doses.
A macuácua tem um potencial nutricional e medicinal elevado que pode ser
explorado para a segurança alimentar durante o período de escassez. Isso acontece
nas regiões secas do distrito, onde é a base da alimentação de algumas famílias na
seca.

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Considerações gerais
Das acções topofílicas notou-se que existem pessoas que consideram a
floresta como ecossistema amigo donde extraem diversas matérias-primas,
alimentos, medicamentos, plantas ornamentais, combustível lenhoso, oxigénio, o
profano e sagrado, por isso que desenvolvem atitudes de intimidade e amor em
relação à floresta. No posto de Chicomo a maioria da população vive e se alimenta
frequentemente de frutos das florestas e matas. Inclusive, realiza-se a cerimónia de
premissas de frutos silvestres em que a colheita e consumo de frutos colhidos na
floresta só são autorizados, depois de realizada a cerimónia tradicional de kuphalha
para receber a bênção dos defuntos e evitar perigos causados pelo conflito Homem-
Animal. Depois da cerimónia alguns frutos da floresta são vendidos nos mercados
da vila municipal de Massinga em bora em quantidades infimas com destaque para
a malhala, fuma, mandocomela, titchinzo, tinziva, mambombo, maungua.
As atitudes topofóbicas são caracterizadas por considerar os frutos nativos
como silvestre sem oportunidades para domesticação de o derrube prioritário
dessas espécies no acto de uso e aproveitamento da terra. Esta atitude está criando
a extinção de diversas espécies. Para preservação de algumas que ainda persistem,
as autoridades locais deveriam traçar políticas de repovoamento baseados na
inclusão das fruteiras nativas nos programas de desenvolvimento da produção
agrícola recomendando os agricultores familiares e empresariais a fomentar o
plantio de fruteiras nativas. Assim como, a integração nos programas de ensino
como tema transversal em todos os sistemas e classes de ensino.
Por outro lado, as instituições públicas e privadas responsáveis pela
agricultura familiar, devem desenvolver e promover viveiros em quantidade,
acompanhadas por informações que revelam as potencialidades dos frutos nativos,
que respondam às necessidades da população. Enquanto isso, os centros de
pesquisas e as universidades publicam vasta literatura sobre as diversas formas de
uso e aproveitamento das fruteiras nativas.
De facto, as fruteiras de Massinga têm muita importância e aplicabilidade
económica, social e cultural, que precisa ser estudada e divulgada de forma a
incentivar as populações a produzir e dar valor às plantas locais que as considera de
mato ou silvestre. Estas plantas têm garantido a segurança alimentar combatendo a
desnutrição aguda e crónica principalmente nos povoados do interior em épocas de

45
seca e escassez alimentar. Por isso incentivar maneio e cultivo intensivo seria uma
forma de combater a fome e a pobreza absoluta no distrito.

Referências

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WET, H.; NKWANYANA, M.N.; VAN VUURENB, S.F. Medicinal plants used for the
treatment of diarrhoea in northern Maputaland, KwaZulu-Natal Province, South
Africa. Journal of Ethnopharmacology, 2010, 130: 284 – 289.

46
PERCEPÇÃO DE ESTEREÓTIPOS AMBIENTAIS DOS MORADORES DO
BAIRRO 21 DE ABRIL AUTARQUIA DE MASSINGA ACERCA DAS PLANTAS
NATIVAS

Nunes Simão Ponda7


Carlitos Luís Sitoie8

Resumo

Este artigo objectivou compreender a percepção dos residentes do Bairro 21 de Abril


a respeito do valor das plantas nativas. Para tanto, foram aplicadas as técnicas de
recolha de dados com base em observação directa da flora predominante; entrevista
semiestruturada a 57 representantes de igual número de famílias selecionadas pela
técnica de bola de neve, para trazer preconceitos e estereótipos ligados ao uso de
plantas nativas. A análise de conteúdo permitiu o entendimento de depoimentos dos
sujeitos de pesquisa e a definição de critérios da escolha de plantas nativas a serem
integradas na vegetação da área de estudo. A percepção (preconceitos e
estereótipos) dos residentes encontrados no estudo resulta do desconhecimento ou
ignorância, equívoca conceitual e das noções do que é nativo e introduzido, bem
como de suas implicações ambientais. A mesma abordagem permitiu aferir
alegações acerca da falta de insumos e da impossibilidade de propagação,
desconfianças na qualidade dos seus frutos e nas potencialidades ornamentais, a
zoofobia em relação à fauna associada, às crenças no espiritualismo intrínseco
nelas e no incremento da criminalidade. Criteriosamente, foram propostas 10
espécies nativas arbóreas e 10 arbustivas a serem integradas.

Palavras-chave: Vegetação; Flora africana; Plantas nativas; Plantas exóticas.

Abstract

This article aimed to understand the perception of residents of Bairro 21 de Abril


regarding the value of native plants. For this purpose, data collection techniques
were applied based on direct observation of the predominant flora; semi-structured
interview with 57 representatives of an equal number of families selected by the
snowball technique, to bring out prejudices and stereotypes related to the use of
native plants. The content analysis allowed the understanding of testimonies of the
research subjects and the definition of criteria for choosing native plants to be
integrated into the vegetation of the study area. Residents' perceptions (prejudices
and stereotypes) found in the study result from lack of knowledge or ignorance,
conceptual misconceptions and notions of what is native and introduced, as well as
their environmental implications. The same approach allowed for claims about the
lack of inputs and the impossibility of propagation, distrust in the quality of its fruits

7
Mestrando em Ambiente e Desenvolvimento Sustentável das Comunidades, Universidade Save – Extensão de
Massinga; Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Eduardo Mondlane, Maputo – Moçambique
Email: nponda2@gmeil.com
8
Prof Associado afecto no Departamento de Ciências da Terra e Recursos Naturais da Universidade Save –
Moçambique. Atua na área de Antropologia Social, Geografia e História Cultural, Ciências Ambientais e
Turismo. carlitossitoie@yahoo.com.br
and ornamental potential, zoophobia in relation to associated fauna, beliefs in
intrinsic spiritualism in them and the increase in crime. Carefully, 10 native tree
species and 10 shrub species were proposed to be integrated.

Keywords: Vegetation; African flora; Native plants; Exotic plants.

Introdução
O processo de domesticação de plantas nativas é milenar, data desde a pré-
história, na época do homem primitivo, nómada que habitava cavernas e grutas,
quando se alimentava de nozes, tubérculos, folhas, frutos aproveitavam as sombras
para conforto térmico, para cura de enfermidades entre outros usos comprovados
pelos registos artísticos e arqueológicos. Acerca deste processo, Heiden, Barbieri e
Stumpf (2006) afirma que quando o homem primitivo descobriu, há cerca de 10 mil
anos, que alguns grãos coletados para sua alimentação poderiam ser enterrados
para produzir novas plantas iguais às que os originaram, mudou drasticamente sua
relação com a natureza, deixando de ser nómada, graças a agricultura e passando a
viver em aldeias que se desenvolveram em várias civilizações do mundo.
Dentre as diferentes civilizações da antiguidade, destacam-se babilônios,
egípcios e persas que foram os primeiros a cultivar plantas em jardins e campos
agrícolas, provavelmente, não apenas da necessidade de sobrevivência, mas
também, mesmo que inconscientemente, da necessidade de ter novamente a
natureza junto de si, que começava a se tornar afastada do cotidiano pelo
desenvolvimento das primeiras grandes cidades. Para fornecer sombra, eram
cultivadas árvores frutíferas e havia muitos condimentos e ervas que eram utilizados
no preparo de alimentos e para a extracção de perfumes.
As pestes e as constantes invasões dos povos bárbaros fizeram com que as
cidades se fechassem com muros. As plantas medicinais e os alimentos passaram
então a ser cultivados nos espaços livres no interior dessas verdadeiras fortificações
(ibidem). Nos monastérios e conventos, os jardins ficaram confinados em pequenos
e austeros espaços que continham hortaliças, frutas e espécies medicinais,
nascendo assim o costume do plantio de diversas espécies de plantas nos quintais
(Pilotto, 1997).
Com a remoção de barreiras para o alcance de outros continentes, as plantas
cultivadas foram levadas a outros locais pelos aborígenes. Em períodos pré-

48
colombianos, por exemplo, grãos de amarantus (Amaranthus hypochondriacus)
foram um dos alimentos básicos no Novo Mundo, e milhares de hectares foram
cultivados pelos Incas e Astecas (Delariva; Agostinho, 1999), expressando-se assim
a noção da dicotomia planta nativa/planta exótica.
O conceito plantas nativas, refere-se àquelas plantas cujo local onde se
encontram é de distribuição natural, ou seja, plantas que a natureza gerou e fez
evoluir em um determinado ambiente, em oposição às plantas exóticas que
correspondem às que ocorrem numa área fora de seu limite natural, historicamente
conhecido, como resultado de dispersão acidental ou intencional por actividades
humanas. O conceito refere-se à ocupação de espaços fora de seu ambiente
natural, independentemente de divisões políticas, de países ou de estados (Oliveira,
2010).
O fato de as plantas nativas serem naturalmente adaptadas às regiões onde
ocorrem é muito importante para o equilíbrio ambiental, pois existem complexas
relações dos demais seres vivos com elas, uma vez que são vitais para o
funcionamento dos ecossistemas onde estão inseridas (Wate, 2012).
É de extrema importância o conhecimento de cada espécie de planta usada
na área de arborização, além de avaliar seu desempenho nas condições
edafoclimáticas e físicas a que serão atribuídas. Na arborização urbana existem
inúmeras condições que uma árvore será submetida, e em virtude que sua espécie
não acarrete inconvenientes, devem ser levados em consideração, antes de sua
escolha os seguintes pontos: resistência de pragas e doenças, uma vez que é
desaconselhável o uso de produtos fitossanitários em vias públicas; velocidade de
desenvolvimento média rápida, para que a planta possa fugir da sanha de
predadores e também se recuperar de uma possível poda drástica; não deve ser
uma planta que produz frutos grandes; os troncos e ramos devem ser resistentes
para evitar a queda na via pública; as flores devem ser de preferência de tamanhos
pequenos, e nem exalam cheiros fortes, e nem servirem para vasos ornamentais; a
planta deve ser nativa, ou se exótica, deve ser adaptada ( Pacheco; Silva, 2019).
A recomendação de Pacheco e Silva (2019) é clara acerca das condições
edafoclimáticas e físicas a ser atribuídas no processo de arborização urbana,
mesmo assim em Moçambique prevalece o imperialismo vegetal baseado na ideia
de que todas as plantas nativas são menos importantes no processo de
ornamentação e ventilação de espaços públicos e que as frutas, folhas e nozes

49
delas carecem de valor nutritivo e sem sabor. Esta atitude é herdada da ideia
colonial de um lugar limpo para construção é aquele que carece de vegetação local,
sendo importante primeiro destrocar/desbravar limpar e queimar tudo para construir
e mais tarde comprar e trazer novas plantas denominadas exóticas por ser
estrangeiras para povoar o lugar habitado.
Esta é uma das razões que sustenta a teoria da falta de áreas de
preservação parcial e permanentes (matas e florestas locais com sua fauna) nas
vilas e cidades moçambicanas. Os vereadores da urbanização e seu elenco
geralmente são pessoas que pensam que uma área verde simboliza um lugar
(residência, praça/parque público) ornamentado/arborizado por meio de plantas
exóticas como é o caso das acácias, casuarinas, eucaliptos, rosas, orquídeas, etc.,
trazidas da Ásia e América tropical. Paralelamente à situação do déficit de
conhecimentos em relação ao papel das plantas nativas, regista-se o preconceito
contra a fauna local (abelhas, aves, insectos, macacos, antílopes) que foi repelida
das cidades e vilas moçambicanas. Diferentemente de Moçambique, os países
vizinhos como África do Sul, Botswana, Lesotho, Zâmbia, Zimbabwe, Suazilândia,
entre outros, compõem seus espaços verdes na base de plantas nativas das
florestas e matas locais.
Enquanto isso, as estruturas que devem planificar as áreas verdes como
jardins botânicos, parques e praças na base das plantas nativas, concentram-se
apenas na de recolha deficiente de resíduos sólidos e pavimentação/betonização9
de vias de acesso. Os espaços públicos e residências quando são ornamentadas
com recursos as plantas nativas, têm exercido um papel fundamental na
conservação da biodiversidade, servindo de locais para a preservação de
populações de espécies ameaçadas e simultaneamente representam ferramentas
para promover a educação e conscientização ambiental da população. Por meio
deles, é possível estimular um maior senso de conexão entre as pessoas e o
ambiente natural (Brandão et al., 2014). Esta função dos jardins, parques e praças
devia ser feita na base de fragmentos florestais remanescentes nas vilas e cidades,
as chamadas “florestas urbanas”. Essas florestas desempenham uma função
igualmente económica significativa na vida dos habitantes de vilas e cidades
9
Efeito de betonizar, de edificar ou cobrir com betão que é considerado pelos ambientalistas como um
dos factores que contribui para formação de ilhas de calor nas cidades, por isso considerado como acto nocivo
para o equilíbrio ecológico.

50
(Ribeiro, 2018), pode ser visualizada por venda e aproveitamento social e
económica de serviços ambientais diferenciados.
As florestas urbanas são lugares de ecoturismo porque constituem lugares de
frequentes visitas de pessoas. Os motivos pelos quais as pessoas frequentam esses
lugares são muito variáveis, desde o prazer de estar ao ar livre e aí desenvolver
actividades desportivas e caminhadas, apreciação estética paisagística e
curiosidade acerca das plantas e animais. Além disso, não é menos importante a
função das florestas urbanas na redução do consumo energético nas cidades, bem
como no processo de sequestro de carbono da atmosfera, o que tem sido
considerado uma possibilidade bastante efectiva para ajudar a combater o
aquecimento global.
Para o caso da vila municipal de Massinga, as plantas usadas nos quintais e
espaços públicos do bairro 21 de abril foram trazidas do Brasil e Índia Colonial e por
meio de políticas preconceituosas foram disseminadas em prejuízo das nativas.
Quer dizer, a administração colonial portuguesa interferiu em quase todos aspectos
da vida da população indígena local de modo a massificar preconceitos e
estereótipos contra as plantas nativas ao promover a destruição da vegetação local
e incentivar o cultivo das exóticas. Em paralelo, a obrigatoriedade levada a cabo
pela administração colonial na massificação de plantio de certas espécies de valor
económico (exemplo: cajueiro/Anacardium ocidentale, coqueiro/Cocos nucífera,
Citrinos/Citrus) foi causa principal da conversão da paisagem nativa e exótica da vila
municipal de Massinga.
Além das culturas alimentares que gradualmente foram chegando de forma
isolada por iniciativas individuais em Moçambique, a partir dos anos 20 foram sendo
estabelecidas pelas autoridades coloniais plantas de ornamentação de residência
que faziam lembrar os colonos a sua terra natal, enquanto isso promoviam ao
mesmo tempo as plantações de espécies exóticas com objectivo de protecção,
produção de materiais de construção, lenha, carvão e matéria-prima para industria.
No período colonial estimava-se cerca de 20000 hectares de plantações florestais
com espécies exóticas maioritariamente de Eucalyptussaligna, Eucalyptusgrandis,
Pinuspatula e Casuarina equisitifolia estabelecidas nas províncias de Manica,
Niassa, Zambezia, Maputo, Gaza e Inhambane (Micoa, 2003). Nesta década, foram
estabelecidas plantações na Namaacha, Marracuene, Matola, Mocuba e Ribáue
onde foram introduzidas mais de duzentas espécies florestais exóticas com o

51
objectivo de testar espécies e proveniências mais adequadas ao país. Além das
indicadas, outras espécies foram introduzidas, é caso da Araucária cookii,
Cupressus spp, Melaleuca leucadendrum, Grevillea robusta e as ornamentais: Sena
siamea, Delonix regia, Jacaranda mimosifolia, Spathodea campanulata e Tabebuia
rosea. Em 1932, foi introduzida em Marracuene e na Matola a espécie Tectona
grandis proveniente de Timor e em Anchilo/Nampula a Sterculia foetida e a
Terminalia cattapa. Foi ainda testada em Marracuene a espécie Pterocarpus
tinctorus proveniente de Angola. Após várias discussões contra a introdução
massiva de espécies exóticas no país, alegando-se fraca qualidade da madeira
destas, mas nunca nas suas implicações ambientais.
Na década 50 estabeleceram-se ensaios de espécies nativas como o
Pterocarpus angolensis (umbila), Afzelia quanzensis (chanfuta), Millettia stuhlmannii
(jambirre), Androstachys johnsonii (mecrusse), Clorophora excelsa (tule), Khaya
nyasica (umbaua) entre outras; tendo sido consideradas muito lentas no crescimento
e, por conseguinte impróprias, uma vez que o objectivo era de curto prazo, grande
parte dessas plantações encontra-se abandonada, constituindo uma preocupação
para as autoridades, no que se refere a sua longevidade, mas nunca no perigo que
elas representam para a vegetação nativa. As espécies exóticas são consideradas a
segunda causa mundial de perda de biodiversidade e com a crescente ameaça que
representa, pode, em breve, superar a destruição de habitats e tornar-se a principal
responsável pela degradação ambiental (Simberloff et al., 2013).
Quatro décadas após a independência os residentes do Bairro 21 de Abril,
vila autárquica de Massinga não consegue retornar ao costume tradicional de uso de
plantas, dando continuidade a marginalização das plantas nativas, influenciados por
preconceitos e estereótipos coloniais, resultando na progressiva alteração ou
mesmo destruição dos ecossistemas locais e adjacentes. Assim, o conhecimento
desta percepção ambiental (tanto colonial, como indígena) dos residentes deste
Bairro sobre as plantas nativas é determinante para qualquer acção que vise
reverter o cenário. É diante dessa constatação que se levanta a seguinte questão de
pesquisa: Que Percepção os residentes do Bairro 21 de Abril tem sobre o uso de
plantas nativas?
Este artigo descreve os preconceitos e estereótipos ligados ao uso de plantas
nativas; analisa as implicações ambientais resultantes dos preconceitos e
estereótipos identificados; e propõe espécies de plantas nativas a serem integradas

52
na vegetação do Bairro 21 de Abril. Deste modo, espera-se contribuir na valorização
por meio da conservação e preservação da vegetação nativa.

Percepção e educação ambiental


A percepção ambiental pode ser compreendida como o ato do ser humano
perceber, adquirir conhecimento sobre o ambiente à sua volta, expressando suas
opiniões e expectativas (Silva, 2018). Por outras palavras, pode ser compreendida
como um ato de o ser humano tomar consciência do meio onde ele está inserido,
aprendendo sobre o mesmo, expressando suas opiniões e expectativas, e com isso
aprenderá também a cuidar, proteger e respeitar. Para Rodrigues et al. (2012),
estudos realizados sobre a percepção dos moradores e frequentadores de áreas
urbanas arborizadas, devem servir para que a administração municipal atenda a
população por meio de políticas públicas, estabelecendo programas de educação
ambiental. De acordo com Del Rio (1991) apud Rodrigues et al. (2012), o termo
percepção ambiental inclui não apenas as percepções biofisiológicas, mas também
as imagens que formamos mentalmente sobre o mundo vivido, as nossas memórias,
as experiências, as predileções, interpretações, atitudes e expectativas.
O autor argumenta que a percepção é o primeiro passo no processo de
aprendizagem e dela dependem aspectos teóricos e aplicações práticas. Se a
percepção falha, os juízos e raciocínios chegarão a conclusões falsas e
equivocadas. Nesse contexto, a percepção deve englobar também os conceitos de
preconceitos e estereótipos, daí a razão de busca destas duas dimensões do saber
nesta pesquisa, cada uma com particularidades individuais, como podemos ver, o
preconceito diz respeito a estrutura geral de atitudes (porque ele mesmo é uma
atitude) e do seu componente emocional – e embora utilizamos a palavra
pejorativamente, há preconceitos positivos e preconceitos negativos. O preconceito
é um comportamento emocional/ afectivo, parcialmente automático e bastante
sensível à estrutura social.
O estereótipo, diferentemente é um componente cognitivo, ou seja, não é
necessariamente emocional, positivo ou negativo e fixa-se mais na generalização
sobre o grupo todo, neste caso seria do grupo das plantas nativas (e não sobre uma
característica específica, como é o caso do preconceito que incide neste caso em
indivíduo ou espécie de planta. Enquanto o, preconceito é uma atitude positiva ou

53
negativa sobre um grupo com base em suas características,), o estereótipo é o acto
de atribuir características idênticas a todos os membros de um grupo.
Apesar da especificidade de cada um dos conceitos (preconceito e
estereótipo), percebe-se que tem em comum o facto de que são construções
adquiridas onde os homens estão inseridos, podendo então ser moldadas as
atitudes com eles relacionadas. É aí onde entra a relevância do conceito de
educação ambiental, para o caso do presente artigo, com vista a trazer aquilo que é
considerado de ética e moral.
Fernandes (2015) refere que A Educação Ambiental surge dentro de um
contexto que se originou da utilização de um modo inadequado dos bens coletivos
da Terra; da necessidade de restabelecer formas adequadas de uso dos recursos
naturais.
Entende-se por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o
indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades,
atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de
uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade
(Fernandes, 2015).
Inevitavelmente a palavra sustentabilidade remete-nos ao conceito-mãe – o
de desenvolvimento sustentável. Uma expressão que foi usada pela primeira vez em
1983 pela Primeira Ministra da Noruega e Presidenta da Comissão Mundial sobre o
Meio Ambiente e Desenvolvimento, Gro Herlem Bruntland, quando esta, juntamente
com uma comissão, propôs que o desenvolvimento econômico fosse integrado à
questão ambiental, o que levou a criação do “Relatório Brundtland”; documento este
que se tornou referencial para a Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento em 1992 – Rio-92, onde o termo foi vastamente
utilizado em diversos documentos, dentre ele a Agenda 21 (Hammarströn; Cenci,
2016).
Inúmeros são os conceitos encontrados para a expressão desenvolvimento
sustentáveis, contudo todos chegam a uma mesma concepção, qual seja, de que
consiste em usar os recursos naturais respeitando o meio ambiente e os seres vivos
que integram o mesmo. Esta utilização responsável perpassa por um
desenvolvimento que reconhece os limites dos recursos naturais e concilia o
crescimento econômico à preservação da natureza. A sustentabilidade tem por

54
objetivo uma solidariedade é um compromisso com as futuras gerações
(Hammarströn; Cenci, 2016).
São escassos escritos que abordam a questão da percepção ambiental em
relação às plantas nativas em Moçambique, pelo que na presente discussão foi
explorada a literatura universal disponível na internet.

Metodologia
A Vila autárquica da Massinga localiza-se no Sul de Moçambique, na região
norte da província de Inhambane a 124 Km da Cidade com o mesmo nome, estando
compreendida entre os paralelos 22° 39' e 23° 31' latitude Sul e os meridianos 34°
54' e 35° 36' longitude Oeste Greenwich aproximadamente (Conselho Municipal de
Massinga, 2011).
O Bairro 21 de Abril é o mais urbanizado do Município com 9.12 hectares e
possui a maior densidade populacional com cerca de 252 hab/há e uma estimativa
populacional de 5997 (Conselho Municipal da Massinga, 2012). Os dados foram
coletados na parcela recortada desse bairro, ilustrada no mapa da figura 1. Possui
um clima tropical húmido e é influenciado pela corrente quente de canal de
Moçambique com precipitação média anual de 1200 mm. Possui a nascente de um
riacho chamado chicamba. Os solos são do tipo arenoso e possuem planícies com
altitude abaixo de 200 metros, recortadas por dunas (Atlas geográfico, Vol. 1)
O status quo vegetacional da Autarquia de Massinga é dominado pelo famoso
palmar de Inhambane, contudo nos últimos anos, por conta da urbanização, na área
de estudo reduziu consideravelmente a densidade de coqueiros, estando em
quantidade que não lhe confere o status de palmar. Em associação existem
maioritariamentárvores e arbustos exóticos como Mangueiras (Mangifera indica,
Jambeiros (Sygyvium jambo), Tangerineiras (Citrus reticulata), Acácia amarela
(Sena siamaea), Maracujá (Passiflora edulis), Espinhosa (Jatropha cumeata),
Bougainvillea spp, Euphorbia tirucali, só para citar algumas; e as poucas nativas
como Mafurreiras (Trichilia emetica), Tambeiras (Brachystegia speciformis),
Maphilwa (vangueria infausta). Porém, a partir da literatura, da observação de áreas
adjacentes e de depoimento de anciões, sabe-se que a vegetação nativa da área
de estudo é da floresta tropical do Miombo (composta de da espécie arbórea da
fabaceae Brachystegia speciformis – de nome miombo no norte do país e tambeira
no sul, e dos géneros interligados Julbernardia e ou Isobelina) com alguma mistura

55
de espécies arbóreas características das savanas do Mopane (dominada pela
fabaceae Colophospermum mopane, Trichilia emetica, Sclerocarya birrea,
Adansonia digitata e Albizia spp) e outras da flora costeira (ocasionalmente
simulando a formação de brenhas costeiras marcados pelo emaranhado de lianas
como a frutífera Landolphya kirkii, palmeiras Hyphaene coriacea e Phoenix reclinata
e da arbustiva Stricnos spinosa) (Atlas geográfico vol. 1; Micoa, 2003), estando
dispostas atualmente em pequenas agregações nas áreas adjacentes.

Figura 1. Delimitação da área de estudo (parte do Bairro 21 de Abril)

Fonte: Google Earth, 2023.

O artigo resulta de uma pesquisa exploratória, abordado de forma qualitativa


que utilizou como métodos o estudo de caso e em muitas situações a dedução
(Lakatos; Marconi,2007; Gil, 2008; Yin, 2010). Os resultados patentes neste artigo
foram alcançados graças as técnicas de entrevista semi-estruturada feita à 57
representantes de famílias residentes no local a mais de 20 anos. A selecção da
amostra foi com base na amostragem não probabilística pela técnica de Bola-de-
neve, onde cada família entrevistada ajudou na localização de outras famílias
residentes no bairro há muitos anos, até que percebeu-se que os dados se
mostraram similares (Vinuto, 2014); e Análise de conteúdo (Bardin, 2002) utilizando

56
artigos, sobre arborização urbana, percepção ambiental, problemática de espécies
exóticas, planos municipais e estratégias. Assim, foi possível analisar as implicações
ambientais dos preconceitos e estereótipos identificados através da triangulação dos
dados, bem como utilizar critérios para sugerir espécies a serem integradas. Os
critérios foram: apresentar um bom potencial para a fixação, recuperação e
conservação do solo, sobrevivência em dunas, resistentes ao ataque de pragas e
doenças e nem hospedeiras de vectores de pragas; não alelopáticas, facilidade de
propagação, espécies de pouca competição com infraestruturas, fornecer um ou
mais produtos (Pacheco; Silva, 2019; Stumpf et al., 2007; Wate, 2012). Devido à
vastidão de espécies nativas do local, convencionou-se propor 10 arbóreas e 10
arbustivas. Optou-se pela análise evolutiva dos resultados dos depoimentos (como
ajudar os sujeitos da pesquisa?), segundo Lefèvre e Lefèvre (2003), que abarca
também a descritiva (o que os sujeitos da pesquisa acham?) e a interpretativa (por
que assim acham?). Os dados categorizados foram interpretados com base no
pressuposto teórico, comparando os dados empíricos com padrões previstos (Yin,
2010; Bardin 2002).

Preconceitos e estereótipos dos residentes em relação as plantas nativas e


suas implicações ambientais
Os residentes do bairro 21 de abril têm dificuldades de separar as plantas
nativas das exóticas, incluindo muitas vezes plantas como cajueiros, mangueiras,
jambeiros, acácias amarelas e goiabeiras na categoria de plantas nativas. Isso
acontece porque se trata de plantas naturalizadas que encontraram desde que
nasceram conforme recorremos à informática, segundo o Sr. Fernando Mahocha
(comunicação pessoal, 2021, 4 agosto. Algumas variedades selvagens são tidas
como nativas, recebendo uma designação particular (exemplo: Manga-Shitswa), que
significa manga da tribo Shitswa (a tribo dos nativos de Massinga). Ademais, há
interlocutores que demonstraram o desconhecimento profundo da existência dessa
dicotomia (planta nativa x planta introduzida). Assim, era recorrente nas entrevistas,
alguém apresentar-se como “adepto” das plantas nativas e passar a exaltar as
introduzidas, ou vice e versa. É importante realçar que mesmo os que têm este
conhecimento, têm-no sem a noção científica do conceito planta exótica. Portanto,
para eles esta expressão está relacionada com a beleza ou exuberância de certas
plantas e não com a origem. A maior parte dos residentes que afirmou reconhecer a

57
importância das plantas nativas, referiu-se aos seus valores utilitários tangíveis
como os a provisão de frutos, sombra, lenha, madeira, medicamentos, ignorando os
benefícios de foro espiritual e pior ainda mostrando muito distanciados do valor
intrínseco dessas plantas. A ecologia profunda vem alertando sobre o valor dos
ecossistemas, nesse sentido os seus defensores afirmam que a vida humana e não
humana tem valores intrínsecos independentes do utilitarismo; os humanos não têm
o direito de reduzir a biodiversidade, excepto para satisfazer suas necessidades
vitais” (Diegues, 2001 apud Canalez, 2018).
Grande parte dos entrevistados justificou o não uso de plantas nativas nos
seus quintais devido às questões de acesso, uma vez que, segundo eles são
praticamente impossíveis obter mudas ou sementes de plantas nativas, aliado com
argumento segundo o qual mesmo adquirindo as mudas ou sementes, tais plantas
não iriam sobreviver numa vila. Estas respostas dadas por quase todos os sujeitos
de pesquisa parecem óbvias uma vez que não são encontradas no sistema nacional
de distribuição de insumos agrícolas, sementes de plantas nativas, contudo há
demonstrações através de ensaio que muitas espécies nativas são possíveis de
propagar com o recurso ao método de estacaria, sementeira directa e sem
necessidade de rega, fertilizantes inorgânicos e outras técnicas de produção de
vegetais nocivos ao ambiente. Um estudo desenvolvido por (Oliveira Junior 2020 et.
al.) no âmbito de um núcleo de pesquisa em plantas ornamentais, que pões
estudantes a fazerem ensaios práticos de propagação de plantas ornamentais
nativas demonstrou que elas não precisaram do uso de fertilizantes inorgânicos e
outro tipo de agrotóxicos uma vez que se tratava de seu ambiente natural e por
conseguinte cresciam naturalmente. Wate (2012) desenvolveu um estudo em
Maputo – Bairro costa do sol, que visava testar as potencialidades de protecção e
recuperação dos solos usando 6 espécies nativas (Albizia versicolor, Mimusops
caffra, Sclerocaria birrea, Syzygium cordatum, Annona senegalensis e Trichilia
emética) obteve resultados encorajadores sem o recurso aos agrotóxicos,
constituindo um passo para contrariar o paradigma de florestas artificiais baseadas
em eucaliptos e pinheiros.
Mais do que um preconceito dos cidadãos, a não ou fraca inclusão de
insumos de culturas agrícolas nativas pode ser interpretada como um preconceito
intrínseco das políticas públicas de países como Moçambique, embora reconheça-
se que haja um esforço nesse sentido no campo do maneio florestal, sobretudo nos

58
programas de reflorestamento que tende a integrar as espécies florestais nativas.
Esta preocupação constante na Estratégia de Reflorestamento (MA - DNTF, 2009)
pode ser estendida para as fruteiras nativas, através de Expedições para coleta de
germoplasma, pré-melhoramento e manejo, visando à exploração agronômica de
algumas plantas nativas que para além de trazer benefícios utilitários (alimento e
agronegócio), ajuda na conservação ex-situ de espécies ameaçadas de extinção
(Santos et. al., sd).
Outro argumento do não plantio de espécies exóticas prende-se com as
questões meramente estereotipadas, nomeadamente a do chamamento de cobras e
outros animais venenosos. O estereótipo neste caso não reside nesta crença, uma
vez que é justamente o que vai acontecer ao preservar ou devolver as
características vegetacionais nativas, reside sim na zoofobia que os residentes
exibem. No entanto é o que se pretende - restaurar esses ecossistemas de uma
forma estruturada e organizada, por forma a que seja reconhecido o espaço de cada
grupo de seres vivos evitando o conflito homem – animal. Isso pressupõe a criação
de capacidade, através de uma planificação e de criação de instituições municipais
que velam pela biodiversidade.
Ainda na senda da zoofobia, há munícipes que afirmaram detestarem as
mafurreiras por alegadamente atraírem morcegos pelo facto dos seus frutos serem
também seu alimento preferido. Acrescentam ainda o alegado risco de contrair raiva
a partir dos morcegos. Todavia, uma pesquisa de percepção ambiental desenvolvida
num município de Paraná, Brasil discute o preconceito que os seus sujeitos de
pesquisa (alunos do ensino secundário) têm a respeito dos morcegos. A pesquisa
concluiu que a partir dos morcegos, raramente uma pessoa contrai a raiva, febre
amarela, brucelose, shiguelose, borreliose, ou outra zoonose com a qual têm sido
associadas, uma vez que a probabilidade de contacto homem – morcego é
praticamente nula (Ranucci, l. et al., 2014). Pelo contrário, sabe-se que os morcegos
ocupam nichos ecológicos bastante diversificados e relevantes no ecossistema,
principalmente pela disponibilização do nitrogénio através do guano, como também
pelo facto de ser dispersora de sementes, polinizador e controlador de insectos,
podendo ser considerada uma espécie chave – uma espécie que ao ser excluído do
ecossistema em que faz parte pode causar o declínio em cascata de outras
populações do mesmo habitat a ponto de provocar extinções em cadeia (Ranucci, l.
et al., 2014).

59
Há um sentimento entre alguns entrevistados de que as matas ou bosques
dentro de uma vila equiparam-se ao lixo que deve ser imediatamente eliminado.
Embora nem sempre este preconceito foi exposto de forma directa, foi possível
durante os depoimentos dar conta da tendência da aceitação de florestas urbanas
com reservas, influenciada pela zoofobia já referida e do pensamento
antropocêntrico, de acordo com o qual aquelas plantas que não são boas para
sombra, que não dão frutos ou medicamentos, não servem para nada. É necessário
restaurar as afinidades que os cidadãos no passado longínquo tiveram com as
plantas nativas, pois nos tempos contemporâneos evidenciam-se mais pensamentos
negativos a respeito do que essas plantas representam para os humanos. Mais do
que passar o tempo praticando uma educação ambiental com base na
conscientização dos bens providos pelas plantas é hora de despertar o íntimo dos
residentes de vilas e cidades por forma a desenvolver uma afeição em relação a
elas. Há autores que atribuem sentimentos, e espíritos a outros elementos da
natureza que não seja o homem. Está patente na frase que se segue esta
personificação à natureza:
"É escuro e frio o mundo em que ficamos quando não abrimos os olhos
íntimos do espírito para a flama íntima da natureza" (Gustav Fechner em Nana, o
espírito das plantas, 1848, apud Lovatto et al.; 2011). Portanto, o resgate do valor
das plantas nativas no bairro 21 de abril, será o resultado do somatório da crença de
que as plantas também têm alma e espírito, das afeições pessoais com elas e dos
interesses utilitaristas. É importante a percepção da sensação de pertença do meio,
para que se desenvolva na consciência o instinto de conservação dos ambientes
naturais.
Além do já exposto em relação a suposta invalidez de florestas urbanas, há
também receio do recrudescimento da criminalidade, uma vez que seriam
esconderijos de criminosos. Analisando este sentimento, é necessário reconhecer
que realmente há criminalidade em muitas cidades moçambicana é também
exacerbada pelas condições deficientes que permitiriam a vigilância, contudo sabe-
se que este não é o factor principal da criminalidade, pelo que a planificação para a
criação dessas reservas florestais urbanas teria em conta a pobreza e o
desemprego que perfilam nos lugares cimeiros dos factores do banditismo. Assim
podem ser desenvolvidos projectos com a componente de responsabilidade social,
ocupando os jovens com actividades profissionalizantes, recreativas e artísticas.

60
A pergunta particular que quis explorar a falta de afinidade com as fruteiras
nativas desencadeou em respostas estereotipadas como: a fruta das fruteiras
nativas não têm vitaminas suficientes como as exóticas; a fruta das fruteiras nativas
não tem qualidade. Embora dadas pelo número reduzido de entrevistados, estas
respostas demonstram falta de conhecimento, pois para além de estarem
disponíveis informações científicas na média dos seus benefícios, há conhecimentos
populares para combater, por exemplo, a desnutrição nas crianças usando plantas
nativas. Relatos dos benefícios nutricionais de frutas como as da Adansonia digitata
(Imbondeiro), Strycnos spinosa (massala), S. madagascariensis (macuacua),
Tamarindus indica (Tamarindo), Vangueira infausta (Mafilwa), são comprovados por
testes laboratoriais e incluem os de maior preocupação para a actualidade devido as
suas potencialidades de combate às doenças actuais como a obesidade,
hipertensão arterial e diabetes, alguns dos quais com princípios activos
antioxidantes e afrodisíacos (Kivoloka, 2015; Canuto et al., 2010).
Os entrevistados que se referiram às vantagens dos frutos nativos como o
canhú (Sclerocarya birrea), Massala (Stricnos spinosa), Tinziva (Dialium schletcheri),
madocomela (Landolphia kirkii, tamarindus (Tamarindus indica), fizeram referência
às saudades do paladar, ignorando a essência dos benefícios da sua composição.
Por outro lado, os residentes com idades mais avançadas do bairro 21 de Abril
demonstram possuídos de saudades que envolvem sentimentos nostálgicos em
relação às fruteiras nativas, compreendidos como resultantes do longo período de
separação a que se encontram delas.
Relativamente a pergunta que quis saber da escolha de espécies exóticas ao
invés das nativas para a ornamentação dos quintais, houve respostas que faziam
referência a beleza das plantas exóticas, exaltando a paisagem proporcionada por
elas, todavia a persistência dos interlocutores nesta visão dominada pelos
preconceitos que levam à estigmatização de cada uma das espécies nativas, caiu
por terra quando o autor demonstrou a ausência do uma referência que pudesse
servir de comparação, isto é: os residentes continuam pensando que as plantas
exóticas são as únicas que criam um aspecto paisagístico agradável porque não
existem cidadão a ornamentar os seus quintais utilizando as nativas. A conduta ou
estilo de vida dos cidadãos no que se refere ao modo de estar na urbe é moldada
pelas autoridades através não só da oralidade, mas principalmente pelas acções ou
demonstrações como por exemplo do tipo de plantas que são usadas nos recintos

61
de instituições, praças e jardins públicos, reconhecendo-se que a academia deve
apoiar tais autoridades. Acontece que no bairro 21 de abril o que mais se vê em
instituições é a ornamentação baseada em orquídeas exóticas de cores vivas,
resultantes da arborização não muito bem planificada, deixada muitas vezes ao
critério da empresa de jardinagem contratada para o efeito.
A Educação ambiental no uso de plantas nativas é uma tarefa que deve
começar no ensino escolar e posteriormente na universidade, através da inclusão
nos conteúdos do ensino de botânica e outras ciências afins, trazendo aspectos da
vida cotidiana do estudante com os quais está acostumado. Com isso, ao ser
trabalhado elementos da vegetação local, ao qual o estudante está familiarizado,
estabelece-se um vínculo entre o mesmo e o que é ensinado e a aprendizagem é
construída de forma natural tornando-se expressiva.
Além das plantas de recintos, as dos jardins botânicos, praças e parques tem
justamente a função de educação ambiental aos cidadãos sobre qual a importância
de potenciar o uso da biodiversidade nativa para o seu bem-estar.
Parte dos residentes acredita que algumas plantas nativas presentes nos
quintais trazem azar na família. Destes, há aqueles que acreditam que o azar
consistia em uma maldição intermediada por alguém que deseja o mal a família – o
feiticeiro, e outra parte é dos que acham que a maldição está intrínseca na espécie,
bastando apenas ser gerada para que coexista com tal espírito maligno. São elas: a
massaniqueira (Ziziphyum mauritanus), Amendoeira (Prunus dulcii) e Acácia
amarela (Senna siamaea. Curiosamente o mito relativo a essa última deve ser
classificado como positivo, pois ele está muito ligado à competição das suas raízes
com os edifícios. Este mito refere que quando as raízes de uma acácia perfuraram a
parede de uma casa e sobressaem num dos compartimentos não tardará que o
chefe da família (o pai) possa morrer. Percebe-se que o propósito é sensibilizar os
outros a não plantarem acácias junto aos edifícios para evitar prejuízos económicos
e riscos de um possível desabamento. O mesmo mito em relação a Mafurreira,
existente em outras regiões do país, não foi relatado neste bairro.

Espécies de plantas nativas a serem integradas na vegetação do Bairro 21 de


Abril
É uma tarefa complexa escolher espécies prioritárias para integrar no
conjunto das plantas do Bairro 21 de Abril, dada a vastidão de espécies que foram

62
suprimidas da vegetação nativa. Contudo, com o suporte dos critérios de escolha
patentes na metodologia e conjugando-os com o conhecimento da vegetação
outrora predominante, pode-se trazer algumas espécies de reconhecido valor
ecológico e social, sem, no entanto, subestimar as não eleitas neste artigo.
Dispensando as árvores predominantes no Bairro 21 de Abril como a Trichilia
emética e Brachystegia speciformis, destacam-se: Albizia versicolor, Syzygym
cordatum, Tamarindus indica, Ficus sincomorus, Sclerocarya birrea, Cordila
africana, Kigelia africana, Stricnos madagascariensis e Afzelia quanzensis.
A Albizia versicolor é uma árvore da Família FABACEAE, comum nos
fragmentos florestais de miombo, ao longo do Distrito, que pode ser facilmente
propagada por estacas e rebentos de raiz, para além das próprias sementes.
Apresenta um aspecto atrativo devido a sua copa arredondada e flores vistosas que
tem sido confundida com as da acácia vermelha. É uma planta de significado
cultural muito grande para a população de Massinga devido ao seu valor medicinal,
e de fabrico de mobiliário, para além do seu valor ecológico (néctar para as abelhas
e alimento de elefantes, estabilizador de solos prevenindo a erosão e fixador de
nitrogénio). A albízia pode ser uma alternativa às acácias amarela e vermelha por
ser detentor de um sistema radicular menos agressivo (Bunderson at al., 1995).
Essas potencialidades de combate a erosão sem comprometer a longividade dos
edifícios da albízia são encontradas também em árvores como Syzygym cordatum,
Cordila africana, Stricnos madagascariensis, Sclerocarya birrea e Afzelia
quanzensis, todavia algumas árvores como Cordila africana, apesar de possuírem
um aspecto apreciável, são detestadas no período de maturação dos frutos que se
espalham no chão exalando um cheiro desagradável, contrariando as
recomendações de boas práticas de arborização urbana (Gonçalves et al., 2018).
Exige-se então criatividade no que diz respeito à distribuição das espécies em
função da modalidade de área verde adequada. Assim, em quintais podem ser
plantadas fruteiras como Sclerocaria birrea, uma árvore da família Anacardiaceae,
bonita decídua e de tamanho médio até 15 m de altura com uma copa frondosa
redonda e um tronco alto. Frutos comestíveis ricos em vitamina C, muito perfumados
e que servem para fazer doces, sumos e uma bebida alcoólica. O caroço do fruto é
constituído por 2 ou 3 amêndoas comestíveis que contêm um óleo rico em proteínas
e que arde como uma vela. É muito valorizada em muitas partes de África. Pode ser
propagada através dos ramos; Syzygym cordatum, da familia MYRTACEAE, de uso

63
múltiplo, as frutas frescas são ácidas, bastante procuradas por meninos, macacos e
insectos. A fruta às vezes é usada para o fabrico de bebida alcoólica.
Na África central a fruta e usada como remédio para tratar diarreias. Esta
também é usada para tratar tuberculose (Bunderson at al., 1995). Igualmente pode
ser plantada Tamarindus indica, da família fabaceae, Strycnos madagascariensis e
Mimusops caffra da Família Sapotaceae, conhecida principalmente por causa dos
seus frutos comestíveis e muito saborosos, procurados por crianças e em alguns
lugares são usados para fazer doces. A madeira é usada para construir barcos.
Usados para consolidar as dunas costeiras de areia (Bunderson at al., 1995).
Em jardins botânicos e reservas florestais, podem ser colocadas as plantas
que produzem frutos menos agradáveis, mas que possuem capacidade de
protecção dos solos através não só das suas raízes, mas também as suas copas
largas, como a Cordyla africana, kigelia africana e Ficus syncomorus, visando
proteger a nascente do Riacho Chicamba que está a ser tomada de assalto pelos
agricultores, conforme a preocupação do Plano quinquenal do município,
manifestada pelo Vereador para a área de urbanização (Comunicação pessoal,
2021). Nas vias de acesso da vila de Massinga é possível integrar espécies nativas
que não criam alguma perturbação aos automobilistas, nem aos peões,
nomeadamente a Albizia versicolor e a Afzzelia quanzensis, pois não produzem
flores nem frutos desagradáveis.
Para as plantas de habitus arbustivo e outros, podem ser integradas na
vegetação da vila: Strynos spinosa (Massala), Tabernamontana elegans
(kashwane), Sena petersiana (Nembenembe), Combretus sp, Hipomoea
imenocalidea (Batata africana) – a olhar sobretudo pelas suas potencialidades
medicinais e também ornamentais. Hyphaene coriácea, Phoenix reclinata e
Borassus aetiopus (arbóreo) olhando para a necessidade da valorização das
palmeiras nativas; e Landolphia kirkii (Madocomela) liana que pode ser usada
alternativamente as videiras e maracujá, de fruto muito atraente e delicioso.

Considerações Finais
A percepção (preconceitos e estereótipos) dos residentes do Bairro 21 de
Abril em relação às plantas nativas engloba a problemática do desconhecimento da
existência desta dicotomia; a utilização equivocada do conceito exótico; a inclusão
equivocada de algumas espécies e variedades exóticas naturalizadas na categoria

64
das nativas; alegações de falta de acesso de insumos e da impossibilidade de
propagação, , desconfianças na qualidade dos seus frutos e nas potencialidades
ornamentais, a zoofobia da fauna associada às plantas nativas, as crenças no
espiritualismo intrínseco nelas e no incremento da criminalidade que pode ser
promovida pelas matas nativas. As espécies nativas a serem integradas no Bairro
21 de Abril, devem ser escolhidas com base numa planificação integrada e olhando
para os pressupostos científicos de boas práticas de arborização urbana.

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67
DIAGNÓSTICO DAS CAUSAS DA EXTINÇÃO DE HYPHAENE CORIACEA
(HANGA OU NALA) NO BAIRRO PETANE 2 - PERIFERIA DA VILA DE
INHASSORO (2010 - 2020)

Hélio Geraldo Ubisse10


Zacarias Alexandre Ombe11

Resumo

O artigo tem como objectivo compreender as causas da extinção de Hyphaene


Coriacea (hanga) na periferia da Vila de Inhassoro - Bairro Petane 2, no período
ente 2010 a 2020. O método utilizado para dar conta da discussão consistiu em
análise de imagens de satélites no google earth, observação directa na área de
estudo e pesquisas bibliográficas. A principal base teórica empregada advém da
análise da paisagem. O emprego deste paradigma foi com o propósito de facilitar o
estudo e representação do caráter dinâmico de hanga, com auxílio de abordagem
geográfica e ecológica. Quer dizer, privilegiou-se no estudo da influência do homem
sobre a paisagem e a gestão do território, a importância do contexto espacial sobre
os processos ecológicos e a importância destas relações em termos de conservação
desta espécie. O resultado da pesquisa indicou como causa responsável pela
extinção dessa planta o corte para fabrico de objectos de artesanatos, fabrico de
bebidas e derrube par limpeza de áreas de construção de residências. Evidencia-se
também neste processo, a degradação ambiental.

Palavras-chave: Plantas nativas, Paisagem, Hyphaene Coriacea.

Abstract

The article aims to understand the causes of the extinction of Hyphaene Coriacea
(Hanga) in the village of Inhassoro – Petane 2, in the period between 2010 and 2020.
The method used to discussion consisted of analyzing satellite images in the goggle
earth, direct observation and bibliographic research. The main theoretical basis used
comes from the analysis of the landscape. The use of this paradigm was intended to
facilitate the study and representation of the dynamic character of the hanga, with the
help of a geographical and ecological approach. The study of man’s influence on the
landscape and the management of the territory was privileged, the importance of the
spatial context on the ecological processes and importance of these relationships in
conservation of this species. The result of the research indicated that the causes
responsible for the extinction of this plant were the cutting for the manufacture of
handcraft objects, the manufacture of beverages and the felling to clean areas for
residential construction. Environmental degradation is also evident in this process.

Keywords: Native Plants; Landscape; Hyphaene Coriacea.

10
Mestre em Ambiente e Desenvolvimento Sustentável das Comunidades.
11
Professor Associado e Director do Programa de Doutoramento em Geografia na Universidade Pedagogica de
Maputo.
Introdução
A ocupação do solo no ambiente urbano acarreta diversas mudanças nas
características físico-naturais dessas áreas, muitas vezes alterações trazem consigo
diferentes formas de degradação ambiental.
Conhecer as características físicas de um determinado espaço, as limitações
e as potencialidades, torna-se de grande valia para o estabelecimento de práticas
mais racionais de uso da terra e de um planeamento urbano mais condizente com
tais especificidades. Além disso, devem-se também reconhecer as causas de
degradação ambiental e os riscos ambientais decorrentes da destruição das plantas
nativas, dados importantes que permitem estabelecer medidas preventivas e/ ou
correctivas.
Em Inhassoro, na sua história urbanística, não existe praticamente nenhuma
praça arborizada ou áreas verdes que foram reservadas dentro e fora da vila. Nas
áreas periféricas o crescimento desordenado de construções de habitações, sem
arruamento, energia eléctrica e saneamento básico deficiente é o cenário que
caracteriza a expansão urbana.
A maior procura de novas áreas habitacionais impulsionada pelo crescimento
económico mantido principalmente pela exploração de Gás natural de Temane
(Multinacional Sasol) e com a chegada de empresas internacionais e novos
empreendimentos turísticos, vem ocasionando um acelerado processo de procura
de novos espaços para construção e consequentemente diminuição de áreas verdes
e extinção de plantas nativas e em particular a Hyphaene Coriacea na periferia da
Vila de Inhassoro.
A Hyphaene112 coriacea (hanga ou Nala13), uma palmeira de 3 a 7 m de
altura, folhas com cor geralmente cinzento-esverdeadas encontrava-se em matagais
de baixa altitude e matagais costeiros, geralmente formando extensões em
pradarias costeiras criando uma paisagem natural. As folhas são utilizadas para
fabrico de cestos, peneiras e outros utensílios domésticos. O caule é cortado e a
seiva colectada para preparar uma bebida tradicional denominada por utxema. As
remanescentes são visíveis no Sul do bairro Mococuene, Povoados de Vulanjane e
Mabime.

12
Nome Científico
13
Nomes populares e mais utilizados na Região Sul de Moçambique

69
Através de análise de imagens de satélites de Google Earth, observação
directa e pesquisas bibliográficas, o artigo procura compreender a extinção de
Hyphaene Coriacea na periferia da vila de Inhassoro – Bairro Petane -2 tendo como
acções específicas a identificação da importância desta planta para população local,
sua localização em função da dinâmica espacial, para além identificação das causas
que levam a sua extinção. A pesquisa foi sustentada com a base teórica de análise
de paisagem descrita (Christofoletti, 1999; Cavalcanti; Viadana, 2007).
O artigo mostra-se relevante na medida em que procura identificar a
importância desta planta na cultura e costumes da população local, evidentemente o
conhecimento do valor cultural das plantas permite o estabelecimento da relação
existente entre as plantas e seres humanos numa determinada sociedade.
Conhecida a relação entre as plantas e seres humanos numa determinada
comunidade possibilita a definição de estratégias de inclusão da comunidade no
processo de implementação de acções de gestão de recursos naturais comunitários.
Pretende-se ainda identificar as causas da extinção e seus impactos
ambientais dado que o entendimento das causas da sua extinção e os impactos
ambientais resultantes da eliminação dos bosques formados por essa planta
possibilita propor medidas a serem implementadas pelo governo local, assim como
acções comunitárias e privadas, buscando criar uma base de conscientização
ambiental, não só da preservação dessa planta, bem como dos recursos naturais,
solo, água, entre outros.

1. Enquadramento geográfico e breve caracterização da área de estudo

O Bairro Petane 2- localiza-se a Sudeste da Vila Sede de Inhassoro, distrito


do mesmo nome, província de Inhambane (Figura 1). Este se encontra ainda em
fase inicial de povoamento e com predominância de casas de material tradicional e
misto (chapas de zinco e caniço). Por se encontrar ainda na fase inicial de
povoamento e sem nenhum plano de pormenor para urbanização faz com que a sua
expansão seja desordenada e sem acompanhamento de infraestruturas básicas
como, vias de acesso, energia eléctrica, áreas verdes ou de laser entre outros.

70
Figura 1. Mapa do enquadramento geográfico do Bairro Petane 2

Fonte: Autores, 2023.

2. Apresentação dos resultados

2.1. Importância socioeconómica de Hyphaene coriacea (hanga) para


a comunidade local

Através de observações na área de estudo e no mercado local, constatou-se


a importância da planta chamada Hyphaene coriacea (hanga), que os seus
derivados são vendidos nos mercados locais, sendo utilizada ainda para produção
de bebida tradicional (Utxema). As diversas partes da árvore como folhas são
utilizadas para fazer chapéus, peneiras, cestos, bolsas, cadeiras, mesas, estantes.
Os frutos também são usados para o consumo. Assim, contribui significativamente
no aumento da renda familiar através da venda dos seus derivados (vide figuras, 1,
2 e 3).

71
Figura 2. Cestos, bolsas e objectos de ornamentação derivados de hanga

Fonte: Autores, 2023.

Figura 3: Exploração de hanga para produção de Utxema

Fonte: Autores, 2022.

72
Figura 3- Vendedor ambulante de certos derivados de planta de Hanga

Fonte: Autores, 2022.

3. Causas de extinção de A Hyphaene coriacea (hanga) na periferia da Vila


de Inhassoro

Segundo as constatações verificadas na imagem de satélite no Google Earth


(figura 4) apurou-se que em 2010 haviam áreas verdes, contendo uma enorme
quantidade de Hyphaene coriacea (hanga), porém actualmente, se depara com o
avanço considerável e desordenado de construções urbanas, áreas residenciais e
industriais ocasionando o derrube descontrolado das árvores, não observando a
preocupação com a preservação das plantas nativas, embora em alguns caso seja
visível a substituição de plantas nativas por exóticas de modo a garantir um padrão
urbano “plausível”.
Quanto a essa atitude, Salatino (2001) explica que é um fenómeno antigo,
pois, a crónica de valorização de tudo o que é civilizado e urbano, e de depreciação
pelo que é natural e selvagem remota tempo longínquo. O termo selvagem tem
actualmente uma conotação negativa carregado de preconceito é entendido como
indicador de comportamentos amorais ou opostos à boa ética civilizada.
Nessa ordem de ideia, percebe-se que as pessoas tendem “abandonar” as
plantas nativas em detrimento das exóticas na busca de uma vida moderna pois

73
quem mantém em sua residência essas plantas, considera-se não modernas no
mundo actual.
A migração da população das áreas rurais para cidade, provocada pela
procura de melhores condições de vida e o crescimento económico mantido
principalmente devido a exploração de Gás natural, turismo e com a chegada de
empresas internacionais e novos empreendimentos locais, vem ocasionando
também um acelerado processo ocupação do solo nas periferias da Vila de
Inhassoro sem acompanhamento de um plano de urbanização e consequentemente
o derrube de tudo quento é planta ou árvore nativa. Pode se notar na figura 4, que
há uma ocupação de terra sem acompanhamento de infra-estruturas básicas (vias
de acesso e energia eléctrica).

Figura 4- Situação ocupacional de bairros periféricos da vila de Inhassoro –


Bairro Petane 2

Fonte: Imagem de Google Earth captada pelos autores, 2022.

74
Figura 5- Expansão residencial no bairro Petane 2.

Fonte: Acervo dos Autores, 2022.

Figura 6- Bosque de Hyphaene coriacea (hanga) em áreas de expansão residencial,


bairro Pentane 2

Fonte: Acervo autores, 2022.

75
4. Influência da relação entre o homem e as plantas nos impactos ambientas
do Bairro Petane

Com base nas observações feitas na área de estudo, como ilustra a imagem
da figura 5, é evidente que ao longo do tempo a relação entre as plantas e os seres
humanos era muito notável. Uma relação de interdependência, embora não seja de
forma contínua ao longo do tempo, existem certos grupos sociais que valorizam as
plantas nativas para vedação de quintais e substituição de plantas nativas por
modernas nos seus jardins criando assim uma paisagem artificial. E há famílias que
ainda mantém certas espécies nativas bem cuidadas nos seus quintais sejam elas
comestíveis, medicinais ou não que proporcionam ao homem um espaço
ambientalmente agradável.
Actualmente, a inter-relação entre as plantas e os seres humanos tende a
diminuir devido ao domínio que o homem tem sobre as novas técnicas de
modificação do meio ambiente, um exemplo disso é substituição de certas plantas
utilizadas para vedação de quintais por murros de material convencional como
paredes de blocos de cimento.
Para Silva e Sammarco (2015), todos os organismos vivos se inter-
relacionam e interdependem. O que diferencia os seres humanos dos vegetais e
animais é sua racionalidade, ou seja, o ser humano é construído no tempo, pois vive
no passado e no futuro, como no presente, sendo capaz de produzir uma ordem
social. Ao longo do tempo, modifica o ambiente para satisfação de suas
necessidades cada vez maiores.
A modificação do espaço criada pelo homem sempre é caracterizada pela
alteração de alguns componentes do ambiente. Assim, destruindo bosques de
hanga para dar lugar a várias actividades, naturalmente estaria a criar um
desequilíbrio ecológico nessa área e consequentemente o desaparecimento de
certos animais (figura 6).
No que concerne à importância socioeconómica de Hyphaene Coriacea
(hanga) para a população local verificou-se que os seus derivados são vendidos nos
mercados locais, sendo utilizada para fazer bebida tradicional (Sura) o que permite o
melhoramento da renda familiar. As diversas partes da árvore como folhas são
utilizadas para fazer chapéus, peneiras, cestos, bolas, cadeiras, mesinhas, estantes.
Os frutos também são usados para o consumo.

76
As causas que levam a extinção de Hyphaene coriacea (hanga) no Bairro
Petane 2 estão associadas ao desmatamento descontrolado das árvores para dar
lugar à expansão urbana e sem nenhum plano para o efeito e não observando
qualquer tipo de preocupação com a preservação da espécie.
Quanto à influência da relação entre o homem e as plantas nos problemas
ambientais do bairro Petane 2, constatou-se que a inter-relação entre as plantas e
os seres humanos tende a diminuir ao longo de tempo devido ao domínio que o
homem tem sobre as novas técnicas de modificação do meio ambiente, um exemplo
disso é substituição de certas plantas utilizadas para vedação de quintais em murros
de paredes, a eliminação de árvores de grande porte para dar lugar a plantas
modernas e a destruição de grandes bosques de hanga que formam um
ecossistema, criando assim um desequilíbrio ecológico.

Considerações Finais
A pesquisa permitiu constatar, que para a realização de estudos de análise
da paisagem e impactos ambientais a si associados é necessário considerar os
elementos naturais, juntamente com as acções antrópicas provocadas de forma
integradora, pois, há défice de conhecimento sobre a importância das plantas
nativas, resultando na constante pressão, ultrapassando, em muitas áreas, os
parâmetros de autorregulação dos ecossistemas.
Assim, as acções antrópicas provocadas são consideradas as causas
principais de extinção das plantas nativas na área de estudo. Desta maneira,
estudos da paisagem e dos impactos torna-se uma importante ferramenta para a
implementação de medidas que possam minimizar o derrube de plantas nativas,
uma vez que esses estudos fornecem indicadores para a tomada de decisão, com
vista a prevenir a eliminação das potencialidades do meio ambiente físico.

Referências

CAVALCANTI, Agostinho; VIADANA, Adler G. Organização do Espaço e Análise da


Paisagem. Rio Claro: UNESP – IGCE, 2007.

CHRISTOFOLETTI, Antonio. A Modelagem de Sistemas Ambientais. São Paulo:


Blucher, 1999.

77
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2001, V.24, n.4, p.483-490, Dezembro.

SILVA, Keila; SAMMARCO, Yanina Maria. Relação Ser Humano e Natureza: Um


Desafio Ecológico e Filosófico. Revista Monografias Ambientais Santa Maria, São
Paulo, 2015, V. 14, n. 2, p. 01−12.

78
VALOR MEDICINAL DAS PLANTAS NATIVAS: ABRUS PRECATORIU, SENNA
PETERSIANA, PLANTA NEFICIAL E GONDAZORORO NA REGIÃO DE
MUXÚNGUE
Mateus Jacob14
Jhassem Antônio Silva de Siqueira15

RESUMO
Este artigo tem como objetivo compreender o contributo medicinal de Abrus
Precatoriu, Senna Petersiana, Planta Neficial e Gondazororo na região de
Muxúngue. O método empregado para dar conta da discussão consistiu numa
abordagem qualiquantitativa com o intuito de manter um contacto directo com o
ambiente e o objecto de pesquisa, recorrendo-se a procedimentos estatísticos,
apoiando-se na observação, juntamente com a entrevista como a técnica para se
obter resultados fiáveis. A principal base teórica empregada advém dos estudos da
área de sustentabilidade e desenvolvimento ambiental, especialmente das bases
conceituais em metodologia de investigação em ciências ambientais e da área de
plantas com valores medicinais, tendo como conceitos chave plantas nativas Abrus
Precatoriu, Senna Petersiana, Planta Neficial e Gondazororo. O principal resultado
que a discussão indicou aponta que as plantas nativas em estudo contribuem no
melhoramento do tratamento de diversas enfermidades, apesar de as comunidades
desta região não se empenharem na conservação as plantas nativas com valor
medicinal.

PALAVRAS-CHAVE: Plantas nativas, Abrus Precatoriu, Senna Petersiana, Planta


Neficial, Gondazororo, Muxúngue.

1. INTRODUÇÃO
A região de Muxúngue no Distrito de Chibabava na província de Sofala é
muito rica em plantas com valor medicinal, daí que esta pesquisa visa compreender
o contributo de Abrus Precatoriu, Senna Petersiana, Planta Neficial e Gondazororo
nesta região, tendo em conta o alto valor que estas plantas têm na cura de diversas
enfermidades que assolam a população de Muxúngue. Para o alcance deste
objectivo principal, a pesquisa apoiou-se numa primeira fase, em identificar algumas
plantas nativas com valor medicinal da região de Muxúngue; explicar os usos das
plantas de bandeiras desta região; explicar os procedimentos de conservação de
plantas nativas como Abrus Precatoriu, Senna Petersiana, Planta Neficial e

14
Mestre em Ambiente e Desenvolvimento Sustentável das Comunidades na Universidade Save-
Extensão de Massinga.
15
Doutor em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia pela Universidade Federal do
Amazonas.
Gondazororo na região de Muxúngue e, por fim, propor medidas que
permitam a sustentabilidade na utilização das plantas medicinais na região de
Muxúngue.
As plantas nativas desempenham um papel importante no enriquecimento
dos solos, combate a erosão, fonte de energia, produtos bioquímicos, medicinais e
farmacêuticos, pasto para os animais, área de cultivo e conservação da fauna,
alimentos e fibras, madeira, combustível lenhoso, recursos ornamentais e água, a
retenção do carbono sob a forma de dióxido de carbono (CO2) que é retido pelos
caules e raízes das árvores, e muito mais, razão pela qual este estudo é de grande
relevo olhando, principalmente, pela contribuição que as plantas nativas com valor
medicinal oferecem para a população de Muxúngue. Então a sustentabilidade da
flora não deve ser medida apenas em termos de quantidade de produtos obtidos em
determinado período, mas sim deve ser um processo continuo, (Andrade; Romeiro,
2009).
O estudo cingiu-se na abordagem qualiquantitativa, buscando obter
informações profundas em relação ao uso e aproveitamento das plantas nativas
medicinais através da observação directa auxiliada pela colecta de fotografias e
entrevistas aos praticantes e conhecedores da medicina tradicional nesta região
para obter dados relevantes sobre a pesquisa.
As espécies nativas como Abrus Precatoriu, Senna Petersiana, Planta Neficial
e Gondazororo, na região de Muxúngue, têm alto valor medicinal, pois curam muitas
enfermidades, entre elas as dores de conjuntivite, diarreias, aceleram o parto,
evitam o aborto espontâneo, impotência sexual masculina, não só, como também,
os frutos de algumas plantas são usados na destilação caseira de álcool etílico.
Em Muxúngue existem vários problemas relacionados com o uso e
aproveitamento destas plantas como: desflorestamento; uso desapropriado das
plantas medicinais; as queimadas descontroladas que empobrecem os solos não
permitindo o devido crescimento de algumas espécies; exploração ilegal da madeira;
corte das árvores para a produção do carvão vegetal; entre outros.
A pesquisa está constituída pela parte introdutória, o desenvolvimento onde
encontramos aspectos que abordam sobre Plantas nativas medicinais e sua
contribuição, Plantas nativas, Abrus Precatoriu, Senna Petersiana, Planta Neficial e
Gondazororo, e os resultados encontrados e por fim temos as considerações finais.

80
1.1. LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA
Muxúngue é um posto administrativo de Chibabava, localizado no distrito de
Chibabava na província de Sofala, localiza-se ao longo da estrada nacional número
1, na parte Sul do distrito de Chibabava e limita-se a Norte: Nhango; Sul: Zove; Este:
Chicuecue (Búzi) e Oeste: Nhaboa.

Figura 1: Mapa da localização geográfica de Muxúngue

Fonte: Autores (2022), com auxílio de ArcMap 10.3

2. PLANTAS NATIVAS MEDICINAIS E SEU CONTRIBUTO


Plantas nativas são aquelas que são naturais, ou seja, são próprias da região,
ou locais, onde se encontram (Louise, 2018). Plantas medicinais são aquelas que
contêm substâncias com propriedades terapêuticas, podendo ser utilizadas raízes,
folhas, caules, flores e cascas, mas pertencentes a uma determinada região, muitas
vezes são chamadas de ervas e de remédio do mato, indicando o uso popular das
mesmas, ou por outra são todas aquelas que possuem princípios activos que
ajudam no tratamento das doenças podendo até mesmo a sua cura.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), plantas nativas medicinais
são todas ou qualquer vegetal que possui, em um ou mais órgãos, substancias que
podem ser utilizadas com fins terapêuticos ou que sejam precursores de fármacos
semi sistémicos.
As observações populares sobre o uso e a eficácia de plantas medicinais
contribuem de forma relevante para a divulgação das virtudes terapêuticas dos
vegetais, prescritos com frequência pelos efeitos medicinais que produzem, apesar

81
de nem sempre terem os seus constituintes químicos conhecidos (Maciel et al.,
2002).
Apesar dos grandes avanços da medicina científica moderna, a medicina
tradicional ainda é a principal forma de tratamento de doenças para a maioria das
pessoas nos países em desenvolvimento; mesmo entre aqueles a quem a medicina
ocidental está disponível, o número de pessoas que utilizam a medicina alternativa
está a aumentar rapidamente em todo o mundo. O aumento do conhecimento sobre
os processos metabólicos e dos efeitos das plantas sobre a fisiologia humana
ampliou o campo de aplicação de plantas medicinais, mesmo porque muitos dos
princípios activos em plantas medicinais ainda não podem ser preparados
sinteticamente (Dey et al, 2012).
Cunningham (1993, p. 4), entende que “as plantas desempenham um papel
fundamental no bem-estar das diferentes comunidades, e a maioria da população
africana não apenas depende, mas, sobretudo confia no uso de remédios
tradicionais, bem como nos serviços prestados pelos praticantes de medicina
tradicional, cujo conhecimento sobre plantas e sua ecologia é inestimável”.

2.1. PLANTAS NATIVAS ABRUSPRECATORIU, SENNA PETERSIANA, PLANTA


NEFICIAL E GONDAZORORO NA REGIÃO DE MUXÚNGUE

2.1 Senna petersianana


Nome científico: Senna petersianana
Na região conhecida por Mutemberembe
Família: Caesalpiniaceae
2.1.1 Descrição botânica:
Um arbusto de pequeno ou médio porte, de até 12 m de altura. As folhas têm 4 a 10
pares de folíolos, verdes escuras na parte superior, verdes claras, glandulares e
densamente cobertas na parte inferior. As flores são amarelas, grandes, pouco
firmes, em pequenos ramos. Os frutos são longas vagens, castanhas escuras,
achatadas, com partições transversais entre as sementes. A floração ocorre entre
janeiro a junho e a frutificação entre maio a agosto.

82
2.1.2 Distribuição:
Esta planta é mais abundante em matagais e florestas arenosas, especialmente
em solos arenosos, nas bermas das estradas e ao longo de rios e riachos.

Figura 1: Planta nativa Senna petersianana

Fonte: Autores, 2020.

2.1.3 Parte da planta usada:


São usados os frutos, folhas e as raízes de S.petersiana.
2.1.4 Usos na região de Muxúngue:
Os frutos são comestíveis, mas hoje já não se têm hábito de os comer, mas
nesta região algumas pessoas consomem quando postos a secar.
2.1.5 Cultivo:
A população de Muxúngue não tem costume de plantar S. petersiana nos
seus quintais. Contudo é de fácil propagação através das sementes, e aparece
regularmente nas machambas abandonadas e em solos perturbados.
2.1.6 Conservação:
Não existem práticas tradicionais de protecção e conservação de
S.petersiana. De acordo com os entrevistados a planta é muito abundante na região.
2.1.7 Estatuto de conservação:
Não se encontra registada na Lista Vermelha de Plantas de Moçambique.
2.1.8 Comercialização:
As raízes e as folhas são vendidas nos mercados informais desta região.
2.1.9 Valor Medicinal:

83
As folhas são usadas para a cura de conjuntivite e as raízes são usadas para
os recém-nascidos em substituição de gripe whater.
2.2.Planta Neficial
Nome científico: Planta Neficial
Na região conhecida porMaharahasse ou Massunungure
Família: Capparaceae

Figura 2: Planta nativa Planta Neficial

Fonte: Autores, 2020.

2.2.1 Descrição botânica:


Um arbusto a árvore de pequeno ou médio porte e até grande porte, podendo
atingir até 25 m de altura. As folhas que têm são simples, verdes escuras na parte
superior. As flores são brancas, grandes, os frutos são pequenos, e têm uma
semente acastanhada.

2.2.2 Distribuição:
Ocorre em florestas densas e abertas do nosso país. Dissemina-se através
do vento, pássaros e outros animais que consomem as sementes dos frutos desta
planta.
2.2.3 Parte da planta usada:
São usados o caule e as raízes da Planta Neficial
2.2.4 Cultivo:

84
A população de Muxúngue não tem costume de plantar Planta Neficial. Ela
cresce sozinha na floresta.
2.2.5 Conservação:
Não existem práticas tradicionais de protecção e conservação da Planta
Neficial. De acordo com os entrevistados, a planta é muito abundante na região mas
com tendência de se extinguir.
2.2.6 Comercialização
As raízes são vendidas nos mercados informais desta região.
2.2.7 Valor Medicinal
Planta Neficial é muito utilizada na região de Muxúngue, a sua raiz é usada
para curar dores de estomago, diarreia, má disposição, hemorroide, usada para as
crianças que têm dificuldade em defecar, as suas folhas piladas são usadas para
curar enxaquecas.
A mesma raiz, desde os tempos passados e principalmente no tempo de
guerra, era usada para lavar roupa já que não havia sabão, uma vez que esta moída
e colocada num recipiente juntando com a água espuma como se fosse sabão.
2.3 Abrusprecatorius
Nome científico: Abrusprecatorius
Nome vulgar nessa região: Nditi Varoi (semente dos feiticeiros)
Família: Papilionaceae
2.3.1 Descrição botânica:
Uma trepadeira lenhosa, atinge os 5 m de altura. As folhas são pequenas,
oblongas com cerca de 16 a 34 folíolos.
As inflorescências são espessas e robustas com cerca de 2 a 7 cm de
comprimento as flores apresentam-se em fascículos densos. A vagem é oblonga,
com cerca de 2 a 5 cm de comprimento, com um bico em forma de gancho, com
rugas transversais. As sementes são ovóides, pequenas, vermelhas com uma
pequena área em preto.

85
Figura 3: Planta nativa Abrusprecatorius

Fonte: Autores, 2020.

2.3.2 Distribuição:
Esta planta tem uma distribuição bastante vasta, desde zonas costeiras a
regiões mais interiores, encontrando-se por quase toda a África Austral.
2.3.3 Parte da planta usada:
Usam-se as folhas, raízes e as sementes.
2.3.4 Usos na região de Muxúngue:
As raízes são usadas para tratar uma doença de lombrigas em recém-
nascidos designada localmente como Tsinhoca. Segundo os entrevistados as
sementes são engolidas (sem serem mastigadas) como forma de tratamento de
conjuntivite.

2.3.5 Outros usos conhecidos:


As sementes quando mastigadas ou partidas são extremamente tóxicas em
algum momento engolir apenas uma semente partida pode ser fatal. As folhas são
secas e trituradas em pó e de seguida aplicadas em feridas. As raízes são usadas
para tratar dores estomacais e para diversos outros fins. As sementes são também
usadas para fins ornamentais.
Em relação às sementes existe um mito de que quando postas aos olhos,
ver-se-á tudo o que acontece no mundo de feitiçaria, são comparadas com a ramela
de cão.
As sementes também são usadas para a prevenção de sarna, colocando-as
na cintura através de alguns nós numa linha.

86
2.3.6 Cultivo:
A população não tem costume de plantar A. precatorius. Contudo esta é
uma planta de muito fácil propagação, através das suas sementes.
2.3.7 Conservação:
Por ser uma planta com valores medicinais, a população tende a não cortá-
la ou destruí-la de outra forma.
2.3.8 Estatuto de conservação:
Não se encontra registada na Lista Vermelha de Plantas de Moçambique.
2.3.9 Comercialização:
As raízes e sementes são vendidas nos mercados informais desta região.
2.4 Gondazororo
Nome vulgar nessa região: Gondazororo ou Mutatarata
2.4.1 Descrição botânica:
Um arbusto lenhoso, atinge os 2 m de altura. As folhas são médias.
2.4.2 Distribuição:
Esta planta tem uma distribuição bastante vasta, havendo grandes
proporções na região Centro e Norte do país
2.4.3 Parte da planta usada:
Usam-se as raízes.
2.4.4 Usos na região de Muxúngue:
As raízes são usadas para tratar a situação de impotência sexual
principalmente pelos homens.
A raiz é cortada em pequenos pedaços que são postos a secar e, passando
um tempo, são pilados para se transformarem em pó que depois é empacotado para
a comercialização. O usuário deve pôr uma quantidade de uma colher de chá num
sumo, chá, ou mesmo na água e depois de agitar deve tomar. A recção depende de
cada organismo, mas quando tomado às 8 horas da manhã começa a actuar as 19
horas, podendo ficar activo até por 4 dias.

87
Figura 4: Planta nativa Gondazororo

Fonte: Autores, 2020.

2.4.5 Cultivo:
A população não tem costume de plantar Gonazororo. Contudo ela se
propaga na floresta com base nas sementes.
1.4.6 Comercialização:
As raízes são vendidas sob forma de pó ou inteiras nos mercados informais
praticamente de todo o país.

3. METODOLOGIA
Esta pesquisa é bibliográfica visto que foi desenvolvida com base nos
documentos escritos e não escritos em que para Marconi e Lakatos (2009, p. 297), é
a “fonte de colecta de dados restritos a documentos escritos ou não escritos,
constituindo o que se denomina de fontes primárias”. Estas são desenvolvidas com
base no material já elaborado, composto principalmente por livros e artigos
científicos. Este procedimento serviu para colher sustentos teóricos úteis e
necessários para o trabalho.
A pesquisa sob ponto de vista da sua natureza é básica uma vez que cria
novos conhecimentos em relação a plantas nativas com valor medicinal na região de
Muxúngue, e na visão de Prodanov e Freitas (2013, p. 51) “este tipo de pesquisa
objetiva gerar conhecimentos novos úteis para o avanço da ciência sem aplicação
prática prevista”.

88
Tendo em conta a forma de abordagem do problema, a pesquisa é mista.,
uma vez que ela é quantitativa e qualitativa ao mesmo tempo onde:

Pesquisa quantitativa é aquela em que tudo pode ser quantificável,


isto é, pode se traduzir em números os resultados obtidos em relação
as plantas nativas, usando recursos de técnicas estatísticas. Ao passo
que pesquisa qualitativa é aquela que tem o ambiente como fonte
directa dos dados isto é, o pesquisador irá se manter em contacto
directo com o ambiente e o objecto de estudo em questão, não só,
como também este tipo de pesquisa não utiliza os dados estatísticos
como o centro de processo de análise de um determinado problema
(Prodanov; Freitas, 2013, p.69).

O trabalho usou a observação participante ou directa, para obter informações


reais em relação as plantas nativas como Abrus Precatoriu, Senna Petersiana,
Planta Neficial e Gondazororona região de Muxungue, o pesquisador teve que viajar
para poder observar com precisão, então para Marconi e Lakatos (2009, p. 277), a
observação participante ou directa “consiste na utilização de sentidos na obtenção
de determinados aspectos da realidade”.
A entrevista foi dirigida para 15 pessoas das quais três (3) são líderes do 3º e
4º escalão locais, cinco (5) parteiras da medicina tradicional e sete (7) outras
pessoas, com objectivo de obter informações sobre o contributo das plantas nativas
onde para Moser e Kalton citados por Dias et al (2008, p. 69), a entrevista é “uma
conversa entre um entrevistador e um entrevistado que tem o objectivo de extrair
determinada informação do entrevistado”.
A selecção da amostra que participou da entrevista obedeceu ao critério
escolhido pelos próprios moradores, isto é, o líder comunitário mais conhecido por
Chinhenheta escolheu um grupo de mulheres e homens com idade compreendida
entre cinquenta (50) e oitenta (80) anos, considerados anciãos ou conhecedores da
medicina tradicional naquela região em que ao totalizando cerca de quinze (15)
pessoas.

4 RESULTADOS
Aqui apresenta-se os resultados da pesquisa em relação as plantas nativas
Abrus Precatoriu, Senna Petersiana, Planta Neficial e Gondazororo, na região de
Muxúngue, iniciando com a questão relacionada com o contributo das plantas

89
nativas medicinais e depois olhamos para o caso das existências ou não de políticas
de conservação das plantas nativas com valor medicinal.

4.1 Contributo das plantas nativas medicinais


Em relação ao contributo das plantas nativas, procuramos entender dos
nossos entrevistados o quão as plantas nativas são importantes para esta
comunidade e tivemos resultados como ilustra o gráfico abaixo.

Gráfico 1: O nível de contributo das plantas nativas

Fonte: Autores, 2020.

Olhando atentamente para o gráfico acima, notamos que 45.67% dos


nossos entrevistados responderam que as plantas nativas como Abrus Precatoriu,
Senna Petersiana, Planta Neficial e Gondazororo contribuem para a dinamização da
cura de diversas enfermidades na região de Muxúngue, melhorando, dessa forma, o
bem-estar da população daquela região, os outros mostraram se indiferentes talvez
por estarem mais familiarizados com a medicina convencional.

4.2 Políticas de Conservação de plantas nativas com valor medicinal


Na região de Muxúngue, como em outros locais, existem políticas que
regem a conservação das plantas (florestas), olhando este item, importa referir que
os nossos entrevistados deram o eu parecer como ilustra o gráfico abaixo.

90
Gráfico 2: Políticas de Conservação das plantas nativas

Fonte: Autores, 2020.

Em relação ao gráfico acima, notamos que 53.33% dos nossos


entrevistados afirmaram que nesta região não existem políticas claras de
manutenção ou conservação das plantas nativas, de facto é notório tendo em conta
o crescimento do abate ilegal das plantas para as construções; produção de carvão
vegetal; produção da madeira; práticas da medicina tradicional; obtenção da lenha
entre outros.

4.3 Medidas de Sustentabilidades das plantas Nativas

Gráfico 3: Sustentabilidade das plantas nativas

Fonte: Autores, 2020.

91
Olhando para o gráfico acima, notamos que 40% dos nossos entrevistados
afirmaram que têm optado pelo corte das plantas nativas com o intuito de surgirem
novas, 33.33% destes responderam que têm optado pelo plantio de novas árvores
com valor medicinal nos seus quintais e 26.67% afirmaram que têm vindo a
substituir as plantas não medicinais pelas medicinais nas suas machambas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No trabalho foi trazido alguns valores que as plantas nativas detêm para o
melhoramento da espécie humana, aliado a isso o ser humano deve procurar
salvaguardar, respeitar e procurar cuidar bem a flora pós ela é um bem necessário
para a vida de todos seres vivos.
As plantas nativas como Abrus Precatoriu, Senna Petersiana, Planta
Neficial e Gondazororo na região de Muxúngue desempenham um papel de grande
importância no tratamento de diversas enfermidades que afectam a população desta
região, contudo, 46.67% dos nossos entrevistados responderam que estas plantas
nativas contribuem grandemente no tratamento de diversas doenças, servindo assim
como medicamentos para os primeiros socorros uma vez que o hospital rural
encontra-se distante das diversas zonas desta região.
Nesta região, as plantas nativas com valor medicinal como Abrus Precatoriu,
Senna Petersiana, Planta Neficial e Gondazororo, devem ser usadas de forma
responsável permitindo que haja continuidade dessas espécies que contribuem na
cura de diversas enfermidades que assolam a população de Muxúngue.
Conhecendo a nobre contribuição que as plantas nativas têm para esta
comunidade e o valor que proporcionam para o governo local, então, 53.33% dos
nossos entrevistados referiram que nesta região não existem políticas claras para a
conservação das plantas nativas com valor medicinal uma vez que registra-se
aumento de derrube ilegal destas plantas pelos furtivos na procura de madeira,
combustível lenhoso, raízes silvestres e muito mais.
O trabalho serviu como estratégia de aprofundamento das medidas que
permitem a sustentabilidade na utilização das plantas medicinais, como a questão
de plantar todas as plantas com valor medicinal nas casas, garantir a continuidade
das plantas nativas, combater as queimadas descontroladas e o derrube ilegal das
plantas nativas entre outras medidas. Aliado a estas medidas importa referir que
várias são as dificuldades encarradas no campo uma vez que a amostra não se

92
abria para oferecer as informações necessária temendo represálias por parte dos
seus líderes locais, o distanciamento entre as residências que muitas das vezes
acabávamos percorrer 3 km para encontrar a casa seguinte, apesar disso a
pesquisa poderá contribuir para a valorização das plantas nativas com valor
medicinal nesta região.

Referências

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sistema econômico: rumo a uma 'Economia dos Ecossistemas'. Texto para
discussão. Campinas, SP: UNICAMP/IE, 2009, no. 159 (maio, 2009), p. 1-23.
Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12733/1662772. Acesso em: 18 jan.
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Paper, Unesdoc, n.1. Paris: Unesco. 1993. Disponível em:
https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000096708. Acesso: 18/01/2024.

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Amorphophallus paeoniifolius. Ayu. 2012 Jan; 33(1):27-32. doi: 10.4103/0974-
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PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar. Metodologia do Trabalho


Cientifico. 2ª Ed. Novo Hamburgo: Feevale, 2013.

93
IMPORTÂNCIA ALIMENTAR DA MASSALA E MACUACUA NAS COMUNIDADES
DO DISTRITO DE MABOTE
Manuel Paulo Munduapenja16
Sabil Damião Mandala17
RESUMO
O Distrito de Mabote que se localiza na Província de Inhambane, devido a
sua localização fitogeográfica acaba apresentando espécies vegetais próprias das
zonas inter-trópicais com múltipla utilidade. O artigo procura analisar a relação que o
homem tem com determinadas espécies vegetais concretamente Massala e
Macuacua no Distrito de Mabote no âmbito da resiliência das comunidades
carenciadas devido a influência de mudanças climáticas (fraca pluviosidade) .e
também aliado ao efeito continentalidade que leva com que a influência do canal de
Moçambique (alguma precipitação) não seja sentido. Previlegiou se a abordagem
qualitativa, procurando discutir a questão de uso e aproveitamento dos recursos
florestais aliando as entrevistas que foram feitas as populações deste distrito como
forma de ter elementos que possam sustentar a importância de algumas espécies
florestais para estas comunidades. O resultado mostra que a planta Massaleira ou
Macuacua desempenham um papel de destaque no dia-a-dia das populações de
Mabote e das entrevistas feitas inclui se para além do consumo das próprias frutas,
usa se para a produção de uma própria farinha (fuma) que é consumido bem como a
produção de tempero para caril.

INTRODUÇÃO
Moçambique é um repositório de diversidade vegetal com acima de 5.000
espécies de plantas, das quais pelo menos oitocentas plantas sejam utilizadas para
fins medicinais (Silva, 2004, apud Falcão 2006) Moçambique apresenta 70% é da
savana de Miombo, predominantemente decídua, com àrvores e arbustos deciduos
altos e mais densos do que em muitos outros lugares.
Segundo Muchangos (1999, p.80-81), esta localização na região florística
sudano-zambeziaca em conjugação com as condições climáticas condiciona o

16
Manuel Paulo Munduapenja, licenciado em Ensino de História e Geografia, pela
Universidade Pedagógica. Docente da disciplina de História e Geografia na escola
secundaria. Mestre em Ambiente e Desenvolvimento Sustentavel das Comunidades).
17
Doutorado em Geografia (Organizacao do Espaco).
desenvolvimento de infinitas variedades de associações vegetais hidrófilas,
mesófilas e xerófilas de floresta e de savanas arbóreas e arbustiva.
Assim, toda a zona sul é constituída por este tipo de vegetação. Esta
vegetação é mais visível onde as actividades humanas tiveram pouco impacto ou
onde a própria expansão humana não é tão verificada ou caracterizada por fraca
densidade populacional. Na zona sul, estas espécies florestais podem ser
encontradas nas regiões de da Namaacha, Boane, Moamba, Chibuto, Magude,
Massangena, Chigubo, Mabote Funhalouro, Massinga e Govuro.
Esta vegetação é influenciada pela precipitação, pelo clima que são
característicos das zonas tropicais bem como os solos. É verdade também que o
Distrito de Mabote sofre da influência da continentalidade uma vez que se encontra
a mais de 150 Km da costa, a influência do canal de Moçambique se faz sentir com
menor intensidade, caracterizando se assim por fraca pluviosidade, bem como a
influência oceânica contribui para uma certa uniformização do clima de toda a zona
litoral, onde a temperatura é da ordem de 24º C e a pluviosidade varia entre 800 e
1.400 milímetros. As regiões mais afastadas do litoral apresentam climas secos e
semiáridos devido ao facto de não beneficiar desta influência oceânica (Muchangos,
1999).
O Distrito de Mabote conta com 10.606 casas, 10.848 agregados familiares,
51.846 população total dos quais 23.298 homens e 28.548 mulheres (INE, 2017),
assim o presente artigo surge pela necessidade de interpretar a flora como um
recurso a estas populações em especial tendo em conta que, o clima semi-árido
condiciona em grande parte a diversidade florística e a que consegue resistir a
temperaturas acima dos 24ºC e de fraca precipitação (vegetação de savana e de
arbustos) como é que a população de Mabote a usa para o seu benefício.
Se tivermos em conta que, a população de Mabote tendo em conta o clima e
dai a vegetação existente, reconhecendo que as comunidades sempre desde os
primórdios da humanidade houve uma preocupação de se relacionar com a flora,
encontramos a Massaleira (Strychnos spinosa) e a Mucuacua que não foi possível
encontrar o seu nome cientifico, mas que são da mesma família que tem servido
como uma alternativa alimentar das populações.
O ser humano e a economia global, estão intimamente ligados aos recursos
florestais, estima se que mais de mil milhões de pessoas no mundo dependem dos
recursos florestais para a sua sobrevivência (ONU, 2014). Os recursos florestais na

95
área em estudo são constituídos pela paisagem de vegetação natural viva, que vai
sofrendo alterações paisagísticos em especial pela acção humana para a práctica
agrícola como queimadas e derrube de arvores bem como o processo de abate de
espécies de madeira de forma ilegal exercido por agentes externos do Distrito.
Entretanto associado a estas actividades temos a sivicultura, pastorícia.

1. ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO DO DISTRITO DE MABOTE

O Distrito de Mabote é uma região localizada na Província de Inhambane, na


região sul de Moçambique, e tem como limites Norte Distrito de Machaze (Província
de Manica), Noroeste, Sudoeste, Sul são os Distritos de Massangena, Chigubo e
Chigubo respectivamente (Provincia de Gaza), Nordeste Distrito de Govuro, Este
Distritos de Inhassoro, Vilanculo e Massinga e a Sul o Distrito de Funhalouro (todos
na Província de Inhambane).

96
2 APROVEITAMENTO DA MASSALA E DA MACUACUA NA DIETA
ALIMENTAR

A grande disponibilidade das massaleiras e macuacua no Distrito de Mabote


tendo em conta que estas espécies mostram se resistente a fraca precipitaçãolevou
a que as mesmas ganhassem um espaço na dieta alimentar nesta parcela do apís.
Massaleira
De nome cientifico Strychnos spinosa planta de porte arbóreo ou arbustivo, da
família das Loganiáceas, tem ramos espinhosos, flores de corola esverdeada e
frutos comestíveis (massala) de casca dura e polpa agridoce; maboqueiro. O
maboqueiro (Strychnos spinosa) é uma árvore autóctone das regiões tropicais e
subtropicais de África. Produz um fruto amarelo agridoce e sumarento, chamado
maboque, com inúmeras sementes de cor castanha. Nas extremidades dos ramos,
crescem em cachos flores brancas-esverdeadas. Os frutos tendem a aparecer
apenas depois de muita chuva. No inicio são grandes e verdes e, quando
amadurecem mudam para a cor amarela. No interior do fruto, as sementes
compactadas estão rodeadas por uma carnuda pasta comestível. Animais como os
babuínos, porcos-do-mato, inhalas e elefantes comem o fruto. Também as folhas
são uma fonte de alimento para os herbívoros tais como os bâmbis e cabritos-
africanos, cudos, impalas, xipenes ou punjas, inhalas e elefantes. Acredita-se que
vários tipos de insetos polinizam as flores. Também usa se a massala para a
produção de licores e uma das grandes produtoras de licores de massala foi a
fabriqueta do INGC na Vila de Mabote Sede. A massala tem os seguintes nomes
comuns e em outras línguas: Spiny Monkey-orange/Green Monkey Orange (Inglês),
foli ou Foley (guineense) Doringklapper (Africânder), Morapa (NS), Muramba (V),
umKwakwa (Suazilândia), Nsala (Tswana), Mutamba (Shona), maboqueiro
(português). No Distrito de Mabote, as comunidades aproveitam esta fruta para a
produção de licores, aguardente, jam bem como comer os frutos maduros de forma
natural. Esta é uma práctica já antiga nesta parcela do pais e isso leva aque
algumas matas se não há necessidades urgentes de utilização para outros fins
sejam protegidas, incluindo recorrer se a alguns mitos mas que a finalidade é a
protecção de algumas matas tais como “ali anda uma cobra grande e que não quer
ser incomadada e come crianças, ou a mesma é guardiã da mata porque
antigamente um influente foi enterrado aqui”.

97
Fotos 1: Massaleira com massala madura

Fonte: António Vilanculos -Técnico do SDEJT Mabote, 2020.

Macuacua
Além da massala tem a macuacua que é uma fruta muito semelhante a
massala da mesma família com as mesmas características físicas em muitos
aspectos, dos interlocutores ouvidos são unânimes em afirmar, arvores
estreitamente semelhante ou da mesma família, fruto estreitamente semelhante e a
única diferença perceptível é o sabor do fruto. Começa por se apresentar de cor
verde e ao amadurecer é amarelo e tem sementes no seu interior semelhantes as
da massala. Esta fruta as suas sementes depois de secadas por processos próprios
fabrica se uma farinha castanha conhecida como fuma em chitswa e munfu em ndau
mas também nos Distritos de Mabote pode se também a partir de secagem produzir
se temperos para o caril. Esta farinha (fuma) consome se como alimento e diz se
também que tem propriedades terapêuticas principalmente para os diabéticos e
obesos controlando a glicose no organismo. É muito consumida como um alimento
na zona sul do Moçambique em algumas zonas como nos distritos de Govuro,
Inhassoro, Mabote, esta fruta chega se mesmo a consumir não no intuito de
alimento, mas mais para o controle de açúcar no organismo como também segundo
a população do Distrito de Mabote diz se que esta farinha possui propriedades
afrodisiacas. Actualmente é comum encontrar a venda em vários mercados incluindo
nos mercados de Xipamanine na Cidade de Maputo, Mercado Central de Massinga
e vendida em qualquer esquina na Vila de Nova Mabone no Distrito de Govuro.

98
Foto nº 2: Fuma

Fonte: Acervo autores, 2020.

3. DESAFIOS PARA A CONSERVAÇÃO DA FLORA EM MOÇAMBIQUE


Em Moçambique a flora é caracterizada por possuir uma diversidade de
plantas muito procuradas para a cura de várias doenças, mitigação de outras bem
como o alívio de determinadas dores. Estes cuidados terapêuticos foram se
transmitindo de geração em geração até aos nossos dias, é muito comum encontrar
se nos mercados plantas, raízes, cascas de arvores a venda para a cura de
determinadas doenças. A procura de plantas nativas também esta muito ligado a
procura daquelas que de gerações em gerações tem servido como recurso a
tratamento de várias doenças bem como alívio de algumas dores é aqui onde ganha
importância a etnobotânica, e que nos últimos anos há uma tendência de
reconhecimento oficial mas também encontramos aqui plantas tais como a
Macuacua e Massala que são o centro da nossa análise neste artigo.
Etnobotânica ganha um novo ímpeto com a criação, pelo Governo, do
Conselho Científico Temático de Etnobotânica e do Centro de Investigação e
Desenvolvimento em Etnobotânica (CIDE) em 2009, com o objectivo de maximizar o
potencial desta área, mas também de proteger as espécies vegetais tais como a
massala e macuacua. Há um reconhecimento da Organização Mundial da Saúde
(OMS) em relação ao facto de que os países da região austral africana de fazerem
progressos no cultivo e conservação das plantas medicinais, onde 13 países
adoptaram políticas nacionais de conservação de plantas medicinais e as

99
orientações da OMS sobre as boas práticas agrícolas e de colheita, além de 17
países que estão a cultivar plantas medicinais, em diferentes graus.
Entretanto, apesar desses progressos, ainda há vários desafios a superar, incluindo
o relacionado com a destruição de plantas medicinais raras bem como estas
espécies que em muito contribuem para a diversificação da dieta alimentar de
muitas comunidades devido a degradação ambiental, queimadas descontroladas,
pastagem, más práticas agrícolas e o abate indiscriminado de árvores.
Além disso, muitos países da região ainda não possuem legislação
necessária para uma conservação sustentável das plantas desde as medicinais e
outras de grande valor nas comunidades que estão ameaçadas.
Para atenuar estes desafios e consolidar as conquistas já obtidas preservar
espécies como estas duas em análise, é preciso formular e implementar políticas
nacionais abrangentes para a conservação das plantas nativas bem como o seu
cultivo, incluindo o desenvolvimento de jardins botânicos, criação de base de dados
abrangentes sobre as plantas nativas existentes e a protecção das mesmas. As
plantas como massalas e macuacua se não se prestar atenção na conservação das
espécies vegetais estas serão eliminadas.

CONCLUSÃO
Moçambique localiza se na zona intertropical caracterizado por um clima
quente e húmido com uma estação quente e húmida acompanhado de chuvas e
outra estação seca e fresca. Este clima propicia a existência de uma gama de
espécies floristicas próprias destas características climáticas é verdade aliado
também aos tipos de solos. O homem tem como a flora em Moçambique
concretamente no Distrito de Mabote a sua base de sustento. É da flora onde
homem encontra frutas, raízes, tubérculos, folhas entre outras que servem para a
sua alimentação, mas não só. O homem recorre também a flora para encontrar as
plantas, raízes, caules, cascas de árvores que servem de antídotos, antibióticos ou
para a cura de várias doenças. Tendo em conta a importância da flora a convivência
esperava se que fosse de protecção e sustentabilidade, mas verifica se uma relação
variada, se por um lado é por convivência e protecção e por outro é verifica se uma
relação de competição e de destruição. O homem apesar de depender muito da flora
vezes sem conta as suas atitudes levam a destruição da própria flora quer através
de uso de técnicas agrícolas não sustentáveis como as queimadas, abates de

100
árvores sem nenhum critério de sustentabilidade, mas também movido por lucro fácil
e rápido recorre a exploração da madeira e muitas vezes sem respeitar os
momentos de veda, os diâmetros estabelecidos, os locais de protecção como
parques e reservas. Esta situação leva ao risco de desaparecimento de algumas
espécies importantes tanto sob o ponto de vista de protecção do solo contra agentes
externos como ventos, chuvas, erosão, bem como sob ponto de vista alimentar e
medicinal. Esta situação é agravada pelo fraco cumprimento da legislação por algum
modo aliado ao facto de haver também fragilidades humanas principalmente ao nível
dos fiscais.
Apesar deste comportamento humano, uma das grandes fontes da
sobrevivência do homem são as plantas, é de lá onde este respira um ar puro, são
as plantas que absorvem o dióxido de carbono prejudicial à saúde humana, muitas
plantas são alimentos para o homem bem como recorre a estas na obtenção de
forragens ou áreas de pastagens na criação de animais tanto de pequeno como de
grande porte. Moçambique localizando se na região intertropical é influenciado pelo
clima tropical que apresenta basicamente duas estações, uma quente e chuvosa e
outra estação seca e fresca é verdade que as zonas mais para o interior entretanto
apresentam um clima semi-árido devido a influência da continentalidade, o que
influência o crescimento de um tipo de vegetação que é a savana de miombo onde a
própria flora é quase homogénea caracterizada por uma diversidade de plantas
desde as pequenas como as ervas daninhas, plantas arbustivas e ate as de médio
porte onde se desenvolvem muitas espécies variadas de flora que formam uma
floresta e savanas arbóreas e arbustivas (Muchangos, 1999, p. 81)
Apesar de Moçambique ter uma diversidade de flora e que o homem muito
depende desta a sua relação com a mesma é caracterizada por várias
características a destacar boa convivência, de competição e de destruição. Boa
convivência quando o homem em um dado momento toma a consciência e em
muitos casos por ter acesso a informação segundo a qual o convívio sustentável
para além de garantir uma vida saudável hoje garante também que as futuras
gerações possam ter esperança de também ter uma vida de qualidade, assim surgir
a necessidade de proteger a flora e são vários os casos que podem ser dados como
exemplo desde a criação de parques, reservas, coutadas, jardins incluindo os jardins
botânticos a exemplo de um na Vila Municipal da Massinga a pesar de a sua
conservação deixar a desejar. A convivência de competição, esta caracteriza se

101
mais por uma questão de competição onde a flora disputa o meio de sobrevivência
com o homem e vice versa principalmente é visível na procura do precioso liquido a
agua onde o homem enquanto tem de defender esta vegetação para evitar o
processo de desertificação que pode agudizar a escassez da agua ao mesmo tempo
o próprio homem é obrigado, por exemplo, em alguns cursos da agua escolher que
tipo de flora a manter e a que distancia do curso de agua é o exemplo de eucaliptos
o homem abate estas perto dos leitos ou poços pelo facto destas servirem como
aquelas que possibilitam a manutenção da terra evitando o processo da erosão
fazendo com que a agua diminua a sua acção enquanto que o homem pode nesse
local precisar que a agua esteja mais próxima para o consumo.
Por fim, a convivência entre o homem e a flora é caracterizada por destruição
onde por um lado pode ser uma questão de fraca informação ou ignorância em que
o homem querendo praticar a agricultura recorre a técnica de queimadas e muitas
vezes sem um critério claro ecologicamente altamente nocivo e destrutivo para a
flora e que cria sequelas no solo enfraquecendo-o impossibilitando ou dificultando o
rejuvenascimento do mesmo, bloqueando ou criando dificuldades renascimento da
flora bem como a ambição em que motivado por dinheiro o homem abate espécies
incluindo protegidas para a extracção da madeira abrindo espaço para o processo
de erosão através da desertificação aliado ao facto de a acelerada expansão urbana
e muitas vezes sem um acompanhamento de um plano de urbanização não
respeitando as zonas verdes, os cursos de agua incluindo os subterrâneos.

REFERÊNCIAS
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, Atlas Geográfico. 2ª Edição, República Popular de
Moçambique, 1983.

MUCHANGOS, Aniceto dos. Moçambique, Paisagens e Regiões Naturais. Maputo:


Edição do Autor, Tipográfia Globo, 1999.

102
INVENTÁRIO DE RECURSOS FLORESTAIS DA LOCALIDADE DE BENGA,
DISTRITO DE MOATIZE, TETE

Faustina Francisco Dias18


Tercia Gracio Cune19
Carlitos Luís Sitoie20
Resumo
O objectivo do estudo foi o de inventariar espécies florestais presentes na
Localidade de Benga. Para o efeito, as amostras das espécies florestais na
Localidade de Benga foram colectadas em 4 parcelas de 0,5 hectares cada uma,
totalizando uma área amostral de 2 hectares com recurso à instrumentos como fita
métrica; foram aplicadas entrevistas de forma aleatória aos residentes da área de
estudo para a obtenção de informações sobre as espécies existentes na mesma e
calculados os parâmetros fotossociológicos. Foram identificadas 284 espécies
pertencentes a 15 famílias. Embora tenham sido encontradas muitas famílias,
constatou-se que as famílias Fabaceae, foram as mais representativas. As espécies
mais representativas na área de estudo foram Colophorspermum mopane, Zizyphus
mauritane, Acacia nigrescens Oliver, Adansonia digitata, Canembenembe. O hábito
das espécies que se destacou foi o arbóreo. As espécies inventariadas apresentam
várias pontecialidades como a medicinal, uso para a construção, produção de
carvão vegetal, consumo das suas frutas entre outras.

Palavras-chave: Levantamento de recursos, espécies florestais, família Fabaceae,


arbóreo.

1. Introdução
Os recursos florestais são sistemas biológicos dinâmicos e, é necessário
avaliar o seu crescimento, a fim de permitir a concepção de planos de gestão das
mesmas. O conhecimento e o entendimento da complexa dinâmica que envolve as
florestas podem ser compreendidos através de levantamento florístico, sendo que, a
identidade das espécies é o começo para a compreensão de todo o processo de um
ecossistema (Marangon; Soares; Feliciano, 2003 apud Garcia et al, 2011).
Levantamentos florísticos consistem em listar todas as espécies vegetais
existentes em uma determinada área, permitindo o reconhecimento da sua

18
Mestrado Gestão Ambiental na Universidade Púnguè – Tete, Licenciada em Ensino de Geografia
pela Universidade Pedagógica de Moçambique (diasfau@gmail.com).
19
Mestrado Gestão Ambiental na Universidade Púnguè – Tete, Licenciada em Engenharia Agrónoma
pela Universidade Eduardo Mondlane (terciagraciocune@gmail.com).
20
Doutor em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade, Mestre em Educação/Ensino de Geografia,
Licenciado em Ensino de História e Geografia pela Universidade Pedagógica, Professor na
Universidade Save - Massinga, Inhambane, Moçambique (carlitossitoie@yahoo.com.br).

103
vegetação, possibilitando a seleção dos locais de amostragens fitossociológicas
(Zipparro et al, 2005; Duarte, 2007 apud Garcia et al, 2011).
Os levantamentos dos recursos naturais florestais são importantes para o
conhecimento da biodiversidade de uma dada região. De acordo com Silva et al
(2007) apud Medeiros et al (2015), o levantamento florístico consiste em identificar e
catalogar espécies de plantas de uma determinada área com a finalidade de obter
um arquivo de nomes populares e científicos das espécies encontradas durante a
pesquisa in loco, proporcionando a elaboração de um recurso visual, informativo,
didático e pedagógico; de uma valia incalculável, com suporte para conhecer,
preservar e conservar a biodiversidade florística de cada região.
Moçambique é um país que possui uma vasta área de florestas tropicais
(Miombo, Mecrusse, Mopane) e outras formações lenhosas. Estas florestas têm
sofrido elevadas taxas de desmatamento pelo facto de ser o meio de subsistência
da população nativa entre outras razões deste modo, é necessário que se façam
inventários florestais frequentes a fim de conhecer as espécies florestais existentes
para melhor monitorá-las e explorá-las de forma susttntável.
A gestão das áreas florestais requer o conhecimento da qualidade e
quantidade de recursos florestais existentes em uma dada região, em termos de
diversidade de espécies e a sua respectiva distribuição espacial.
Foi nesse contexto que surgiu a presente pesquisa cujo objectivo foi de
inventariar espécies florestais presentes na Localidade de Benga, no Distrito de
Moatize, Província de Tete a fim de obter informações quantitativas e qualitativas
das espécies florestais existentes na área de estudo.

2. Materiais e métodos
A área de estudo abrange uma área de 2 hectares (ha), onde com recurso à
instrumentos como fita métrica, fichas de campo; foi possível fazer o levantamento
das espécies florestais da área de estudo. Ao todo foram demarcadas 4 parcelas de
0,5 hectares cada uma, totalizando uma área amostral de 2 hectares.
As colectas foram realizadas no período da manhã (06h00 às 08h00) e da
tarde (14h00 às 16h00), utilizando o método de observação directa. As espécies
observadas foram fotografadas in locu pelos autores durante o trabalho de campo e
identificadas com auxílio da literatura e dos residentes entrevistados. Também foi
realizada uma revisão bibliográfica em artigos científicos, livros e periódicos sobre a

104
família, classe, nome científico das espécies florestais encontradas na área de
estudo.
A partir da determinação das espécies, foi elaborada uma tabela preliminar
dos táxons encontrados. A tabela apresenta informações básicas como família da
espécie, nome científico, número total de espécies identificadas, nome nativo,
hábitos e usos principais. Foram aplicadas entrevistas de forma aleatória aos
residentes da Localidade de Benga para a obtenção de informações sobre as
espécies existentes na área de estudo.
Os dados colectados no campo foram analisados e em seguida, calculados
os parâmetros fitossociólogicos. Para estimar os parâmetros fitossociológicos
tomou-se em consideração a densidade, a frequência, a dominância e o índice de
valor de importância das espécies.
Segundo Martins (1991), a densidade é o número de índividuos de cada
espécie na composição da comunidade e a dominância expressa a proporção de
tamanho, de volume ou de coberta de cada espécie, em relação ao espaço ou
volume da fitocenose.
A frequência é definida como a probabilidade de se amostrar determinada
espécie numa unidade de amostragem (Kupper, 1994).
As estimativas foram calculadas tendo em conta as deduções matemáticas de
Eisenlohr (2015), conforme descrição a seguir:

● Densidade absoluta (DA): é o número de indivíduos (n) de uma determinada


espécie na área (ha): DA = n/área.
● Densidade relativa (DR): é a relação do número de indivíduos de uma
espécie (n) e o número total de indivíduos amostrados (N) DR = (n/N) x 100.
● Frequência absoluta (FA): relação entre o número de parcelas em que certa
espécie ocorre e o número total de parcelas amostradas: FA = (Pi / P) x 100;
onde, Pi é o n° de parcelas que a espécie ocorre e P é o n° total de parcelas
amostradas.
● Frequência relativa (FR): relação entre FA de certa espécie com a soma das
FAs de todas as espécies amostradas: FR = (FAi / ∑FA) x 100; onde, FAi é a
frequência absoluta de uma espécie e ∑𝐹𝐴 é o somatório das frequencias

absolutas de todas as espécies amostradas.

105
● Dominância absoluta (DoA): é a AB de uma espécie em uma área: DoA = AB
/ área (ha).
● Dominância relativa (DoR): é a relação entre a AB de uma espécie e a AB
total das espécies amostradas. DoR = (AB/ ∑AB) x 100.
● Índice de Valor de Importância (IVI): fornece uma ideia da densidade,
dispersão espacial e a dimensão alcançada por uma espécie, refletindo a
importância ecológica desta. IVI = DR + DoR + FR

3. Descrição da área de estudo


A Localidade de Benga localiza-se no Posto Administrativo de Moatize,
Distrito de Moatize, Província de Tete, na região central de Moçambique. A mesma
limita-se à Norte com a Localidade de Mpanzo de Capanga, à Sul com o Distrito de
Changara, à Este com o Posto Administrativo de Kambulatsitsi e à Oeste com a
Cidade de Tete (Figura 1).
Figura 1: Mapa de localização da área de estudo

Fonte: Autores, 2020.

Na Localidade de Benga predomina o clima tropical seco e vários


agrupamentos de solos destacando-se os seguintes: solos castanho-acinzentados,
castanho-avermelhados pouco profundos sobre rochas sedimentares como calcários
e os derivados de rochas basálticas, estes últimos, podendo ser avermelhados,
castanho-avermelhados ou pretos, são ainda de profundidade variável e
caracterizados por apresentarem boas capacidades de retenção de nutrientes e
água, ocorre ainda em pequenas manchas solos aluvionares, em particular nos
terraços dos rios Révubuè e Zambeze. A Localidade é atravessada por vários
cursos de água tais como rio Zambeze, rio Révubuè, rio Muarazi e rio Moatize.

106
4. Resultados e discussão
No levantamento florístico realizado durante o trabalho de campo, foram
registradas 284 espécies distribuídas em 15famílias, compreendendo todos tipos
biológicos, ou seja, indivíduos arbóreos, arbustivos e herbáceos (Tabela 1).

Tabela 1: Recursos florestais da Localidade de Benga


N˚ de
Família Nome científico Nome nativo Hábito Usos principais
colecta
Agavaceae Agave sisalana N’conge 4 Herbáceo Usado como fibra
Mangifera
Anacardiaceae Mimanga 8 Arbóreo Fruteira, árvore de sombra
indica L.
Adansonia Fruteira e medicinal; é usada
Mulambe 28 Arbóreo
digitata na produção de fibras
Bombacaceae
Sterculia
N’goza 5 Arbóreo Usado na produção de fibras
quinqueloba
Uso medicinal e o fruto é
Bignoniaceae --------------------- Nvumbo 3 Arbóreo pendurado nas casas para
evitar redemoinho
Cereus
Cactaceae N’conde 18 Arbustivo ------------------------------------
peruvianus
Madeira de primeira classe,
Combretum usada na construção,
Combretaceae Mulangani 11 Arbóreo
imberbe Wawra produção de carvão, canoa e
lenha
Caricaceae Carica papaya Mphapaia 6 Arbóreo Fruteira
Fornece uma esponja fibrosa
Cucurbitaceae Luffa cylindrica Gontsalinha 4 Herbáceo
muito útil na higiene pessoal
Madeira dura, usada na
Diospyros
Ebenaceae Ndodo 12 Arbóreo produção de lenha, na
quiloensis
construção
Produção de lenha, os frutos
Cordyla africana
Ntondo 10 Arbóreo são comestíveis e ricos em
Lour
vitamina C
Dichrostachys Produção de lenha, usado na
Mpangala 8 Arbóreo
cinérea construção e uso medicinal
Produção de lenha, carvão
Acacia nilótica Nsio 16 Arbóreo
vegetal, usado na construção
Fabaceae Produção de carvão, lenha,
usado na construção, as
Colophorspermu
Nstanha 38 Arbóreo folhas servemde forragem
m mopane
para gado e comida para
animais
Acacia Usado na construção de
Nzunga 28 Arbóreo
nigrescens Oliver currais, uso da lenha
Dichrostachys ------------ 4 Arbustivo Produção de lenha
Kirkia acuminata A madeira é usada na
Kirkiaceae Mutumbuí 5 Arbóreo
Oliv construção
Musaceae Musa Mafigo 8 Herbáceo Fruteira, produção de fibras
Ceratotheca As estacas são usadas na
Pedaliaceae Tchove 3 Arbóreo
sesamoides construção
Dactyloctenium Uswua -------- Herbáceo Utilizadas para forragem

107
Poaceae Echinochloa
Uswua -------- Herbáceo Utilizadas para forragem
colonum
Urochloa
Uswua -------- Herbáceo Utilizadas para forragem
mosambicensis
Fruteira, árvore de sombra,
Zizyphus
Rhamnaceae Nsau 30 Arbóreo usada como combustível
mauritane
lenhoso
Canembene
------------- ------------- 20 Arbustivo Combustível lenhoso
mbe
Cavalancala
-------------- ------------- 5 Herbáceo Uso medicinal
mba
-------------- -------------- Taulherere 10 Arbustivo Combustível lenhoso
Total 284
Fonte: Autores, 2020.

De acordo com os dados obtidos, as famílias mais representativas quanto ao


número de espécies florestais foram Fabaceae com 104 espécies, seguida de
Bombacaceae com 33, Rhamnaceae com 30, Cactaceae com 18, Ebenaceae com
12, Combetaceae com 11, Anacardiaceae e Musaceae com 8, Caricaceae com 6,
Kirkiaceae com 5, Agavaceae e Cucurbitaceae com 4, Bignoniaceae e Pedaliaceae
com 3 e outras com 35 (Gráfico 1).

Gráfico 1: Família e números de espécies florestais colectadas na Localidade


de Benga

Fonte: Autores, 2020.

108
Estas espécies estão presentes em todo mundo principalmente em ambientes
tropicais, especialmente em África e o resulatado acima em relação a sua maior
representatividade das espécies como Bombacaceae, Rhamnaceae, Cactaceae,
Ebenaceae, Combetaceae pode ser explicada pela capacidade destas se adapatar
em regiões muito quentes e secas como é o caso da Provincia de Tete.
Das 284 espécies identificadas e colectadas, 211 (74%) apresentam hábito
arbóreo, 52 (18%) espécies com hábito arbustivo e 21 (8%) espécies com hábito
herbáceo (Gráfico 2). Ao se distribuir as famílias das espécies entre os diversos
hábitos, nota-se que o arbóreo é o hábito com maior número representativo das
espécies da área de estudo, seguida pelo arbustivo e herbáceo.

Gráfico 2: Hábitos das espécies colectadas na Localidade de Benga

Fonte: Autores, 2020.

As espécies mais representativas na área de estudo foram Colophorspermum


mopane com 38 espécies, Zizyphus mauritanecom 30, Acacia nigrescens Oliver com
28, Adansonia digitata com 28, Canembenembe com 20, Cereus peruvianus com
18, Acacia nilotica com 16, Diospyros quiloensis com 12, Combretum imberbe
Wawra com 11, Cordyla africana Lour com 10 e Taulherere com 10.
A vegetação de Moatize é dominada pela presença da floresta de mopane, a
mais comum no seu território onde representa cerca de 50% da vegetação. As
florestas de mopane são matas dominadas pela espécie arbórea Colophospermum
mopane (Mitader, 2015).

109
4.1 Parâmetros Fitossociológicos
A fitossociologia, como ciência, é uma área muito ampla e complexa, pois
estuda o agrupamento das plantas bem como sua inter-relação e dependência aos
fatores bióticos em determinado ambiente (Braun-Blanquet, 1979). A vegetação não
varia somente com a composição florística, mas com a riqueza de espécies,
produtividade (estrutura) e grau de predominância de cada espécie (Austin; GREIG-
Smith, 1968). Contudo, para caracterizar o estágio de sucessão das comunidades,
utiliza-se, na análise, parâmetros fitossociológicos como: densidade, dominância,
freqüência, estrutura sociológica e valor de Importância.

Tabela 2: Parâmetros fitossociológicos das espécies da área de estudo


Á
Número
Espécie rea D D F F D D I
espécie
(ha) A R A R oA oR VI
1
Agave sisalana 4 2
2 100 3 6 1 5
5 1
Mangifera indica L. 8 2
4 30 13 3 7
1 1 2 4 2
Adansonia digitata 28 2
4 0 00 54 94
1
Sterculia quinqueloba 5 2
3 200 3 8 2 6
2
Nvumbo 3 2
2 100 5 5 1 7
2 2 1
Cereus peruvianus 18 2
9 600 58 67
Combretum imberbe 2 1 1
11 2
Wawra 6 400 57 43
1
Carica papaya 6 2
3 200 3 9 2 7
1
Luffa cylindrica 4 2
2 150 4 6 1 7
1 1 1
Diospyros quiloensis 12 2
6 450 49 42
2 1 1
Cordyla africana Lour 10 2
5 400 56 32
Dichrostachys 2 1 1
8 2
cinérea 4 300 53 31
2 2 1
Acacia nilotica 16 2
8 600 55 56
Colophorspermum 1 1 2 6 1 3
38 2
mopane 9 3 00 50 2 1
Acacia nigrescens 1 1 2 4 2
28 2
Oliver 4 0 00 54 94
2
Dichrostachys 4 2
2 100 5 6 1 8
1
Kirkia acuminata Oliv 5 2
3 250 4 8 2 7
Musa 8 2 4 3 5 1 1 3 7

110
0 3
Ceratotheca 2
3 2
sesamoides 2 100 5 5 1 7
1 1 2 4 1 2
30 2
Zizyphus mauritane 5 1 00 57 0 5
1 2 3 1
Canembenembe 20 2
0 700 51 69
2
Cavalancalamba 5 2
3 200 5 8 2 9
2 1 1
Taulherere 10 2
5 400 56 32
1 1 3 1 4 1 2
Total 284 2
42 00 850 00 46 00 73
Fonte: Autores, 2020.

Gráfico 3: Densidade absoluta e relativa das espécies

Fonte: Autores, 2020.

De acordo com os dados obtidos a partir do cálculo dos parâmetros


fitossociológicos, observa-se que as espécies que apresentaram maior densidade
absoluta e relativa das superficies na área de estudo foram Colophorsperm mopane
(Ntsanha) com 19 e 13, seguido de Zizyphus Mauritane (Nsau) com 15 e 11,
Adansonia digitata (Mulambe) e Acacia Nigrescens Oliver (Nzunga) ambos com 14 e
10, Canembembe com 10 e 7, Cereus peruvianus (N’conde) com 9 e 6, Acacia
nilotica (Nsio) com 8 e 6.
Gráfico 4: Frequência absoluta e relativa das espécies

111
Fonte: Autores, 2020.
Foram identificadas 284 espécies arbóreas, arbustivas e herbáceas na área
de estudo e, as mais frequentes foram Adansonia digitata (Mulambe), Nvumbo,
Cereus peruvianus (N”conde), Combretum imberbe wawra (Mulangani), Cordyla
africana lour (Ntondo), Dichrostachys cinerea (Mpangala), Acacia nilotica (Nsio),
Colophorsperm mopane (Nstanha), Acacia Nigrescens Oliver (Nzunga),
Dichrostachys, Ceratotheca sesamoides (Tchove), Zizyphus Mauritane (Nsau),
Canembenembe, Cavalancalamba, Taulherere ambas com 200 e 5.
Espécies como Agave, Nvumbo, luffa cylindrica, Dichrostachys cinerea,
Ceratotheca sesamoídes, Mangifera Indica L e Musa apresentaram baixo valor de
FA e DA. As espécies com baixos valores de densidade e frequência são
comumente denominadas raras. Estas espécies são raras apenas no conceito
numérico para uma determinada área num determinado momento, e não
necessariamente do ponto de vista biológico, visto que podem ocorrer em florestas
próximas a área de estudo.
Porém, foram estas espécies que determinaram a elevada diversidade deste
fragmento. Neste grupo, devem existir algumas espécies verdadeiramente raras,
considerando suas características biológicas, como aquelas de baixa densidade
local por motivos sucessionais, além daquelas que apresentam baixa densidade por
serem espécies de outras formações.

112
Gráfico 4: Dominância absoluta e relativa das espécies

Fonte: Autores, 2020.

No que se refere a dominância absoluta a relativa, destacaram-se como


dominantes na área de estudo as espécies Colaphorspermum mopane (Nstanha),
Zizyphus mauritane (Nsau), Adansonia digitata (Mulambe), Acacia nigrescens Oliver
(Nzunga), Canembenembe, Cereus perruvianus (N’conde), Acacia nilotica (Nsio),
Diospyros quiloensis (Mpangala), Combretum imberbe wawra (Mulangani), Cordyla
africana lour (Ntondo), Taulherere essencialmente. Essas espécies assumem
posição de importância das fitofisionomias, apresentando maiores valores de índice
de valor de importância como ilustra o Gráfico 5.
A dominância destas espécies se dá principalmente devido ao grande número
de indivíduos presentes no fragmento, o que também explica a elevação do valor de
importância (VI) destas espécies em especial.

113
Gráfico 5: Índice de valor de importância das espécies

Fonte: Autores, 2020.

4.2. Registro fotográfico dos recursos florestais da Localidade de Benga


Figuras 2, 3 e 4: Colophorspermum mopane, Zizyphus mauritane, Adansonia digitata

114
Fonte: Autores, 2020.

Figuras 5, 6 e 7: Acacia nigrescens Oliver, Canembenembe, Cereus


peruvianu

115
Fonte: Autores, 2020.

Figuras 8, 9 e 10: Acacia nilotica, Diospyros quiloensis, Combretum imberbe


Wawra

Fonte: Sitoie e Falcão, 2012.

116
Figuras 11, 12 e 13:Cordyla africana Lour, Taulherere, Agave sisalana

Fonte: Autores, 2020.

117
Figuras 14, 15 e 16: Sterculia quinqueloba, Kirkia acuminata Oliv,
Dichrostachys

Fonte: Autores, 2020.

Foram identificados diversos usos para as espécies arbóreas, arbustivas e


herbáceas encontradas na área de estudo dentre os quais: alimentação, uso
medicinal, uso como material de construção, produção de carvão vegetal, uso como
combustível lenhoso entre outros.
De modo geral, observou-se que as diferentes fitofisionomias estão sujeitas a
exploração indiscriminada de suas matas, tanto para fins agrícolas, bem como para
uso da madeira e/ou estaca para construção, produção de lenha e carvão vegetal.
Nota-se inclusive que a fragmentação da cobertura vegetal, resultante de
intervenções antrópicas, permite uma maior passagem de luz e estimula o
crescimento de espécies da família Poaceae, aumentando a vulnerabilidade da flora

118
às queimadas. Para Muchangos (1999), a distribuição dos seres vivos depende
ainda da actividade da sociedade humana que contribui para o seu enriquecimento
ou seu empobrecimento ou para a sua total destuição.

5. Conclusão
Depois de realização do trabalho de campo (registo fotográfico), análise e
interpretação dos dados obtidos, conclui-se que existe uma conscidência nos
parâmetros fitossociológicos das espécies encontradas na Localidade de Benga,
sendo na abundância, frequência, dominância e indice de valor de importância.

6. Referências
AUSTIN, M. P.; GREIG-SMITH, P. The application of quantitative methods to
vegetation survey. Journal of ecology, v.56, n.3, p.827-844, 1968.

BRAUN-BLANQUET, Josias. Fitosociologia: base para el estudio de las


comunidades vegetales. 3. ed. Madrid: H. Blume, 1979.

EISENLOHR, Pedro. Vegetação: Bases fitossociológicas e transmissão da


informação. Mato Grosso: Docplayer, 2015. Disponível em:
https://docplayer.com.br/55707228-Vegetacao-bases-fitossociologicas-e-
transmissao-da-informacao-prof-pedro-eisenlohr.html#google_vignette. Acesso:
18/01/2024.

GARCIA, Leticia Mônica et al. Levantamento florístico e fitossociológico de um


remanescente de mata ciliar na região norte do estado do Paraná, Brasil. Anais [...]
Electrônico, VII EPCC, Editora CESUMAR, 2011.

KUPPER, A. Recuperação vegetal com espécies nativas: Silvicultura. São Paulo,


v.15, n.58, p.38-41, 1994.

MARTINS, Fernando R. Estrutura de uma floresta mesófila. Campinas: UNICAMP,


1991.

MEDEIROS, Ana Paula Ribeiro et al. Inventário florístico de espécies arbóreas e


arbustivas do horto de plantas medicinais da embrapa amazônia oriental.
Repositório Alice. Brasil: Embrapa, 2015.

MUCHANGOS, Aniceto dos. Moçambique, Paisagens e Regiões Naturais. Maputo:


Edição do Autor, Tipográfia Globo, 1999.

MITADER. Perfil ambiental distrital de Moatize. Avaliação ambiental estratégica,


plano multissectorial, plano especial de ordenamento territorial do Vale do Zambeze
e modelo digital de suporte a decisões, pp. 22-23, 2015.

119
INVENTARIADO ADANSONIA DIGITATA E PERCEPÇÃO DO ABATE DO
EMBONDEIRO NO BAIRRO MPADUE ZONA DE EXPANSÃO: CIDADE DE TETE

Erdimante Aguacheiro Rupia Vileiro21


Carlitos Luis Sitoie22

RESUMO
Verifica-se no bairro Mpadue na zona de expansão a destruição das arvores do
embondeiro, conhecido cientificamente por Adansonia digitata, através da
construção de habitações, o embondeiro é considerado uma arvores endémica e
deve ser proctegida por todos nós em relação a sua função que desempenha no
meio ecossistémico. O rápido crescimento demográfico que se verifica ultimamente
na cidade de Tete, acelerou de forma demasiada o crescimento urbano, sobretudo o
bairro Mpadue, assiste-se a o bate do embondeiro de modo a dar espaço as
construção de diversas infraestruras e reservas de tereno sobretudo muitas arvores
são derrubados pelos repetivos donos. Fez-se o inventariado da Adansonia digitata
e também aplicou-se guião de entrevista no total de 34 moradores.os resultados
mostra-nos que altura maxima do embondeiro foi de 25 m e a altura mínima foi de
12 m, no que se a mediana mostra-nos que acima da metade dos embondeiros
possuem 18.5 m e enquanto a média dos embondeiros foi de 18 m, com uma
variabilidade de 8.5 m e conclui-se que abate do embondeiro pelos moradores é
motivado pelo factor de urbanização.

Palavras-chave: levantamento Adansonia digitata, Pressão demografico,


destruição, Mpadue Tete.

INTRODUÇÃO
A Adansônia digitata é popularmente conhecida como imbondeiro,
embondeiro ou baobá, este último mais comum em Moçambique principalmente nas
províncias de Inhambane, Tete e cabo Delgado.
Adansonia digitata L, continente africano é reconhecido por possuir uma
abundante flora nativa e endógena, constituída por plantas ricas em compostos
bioativos, e cujo potencial agronómico e comercial ainda é pouco valorizado pela

21
Mestrado em Gestão Ambiental pela Universidade Púnguè, Graduado em Ensino de Biologia e Química pela
Universidade Pedagógica de Moçambique, Consultor independente (erdimanterupia1@gmail.com).
22
Doutor em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade, Mestre em Educação/Ensino de Geografia, Licenciado
em Ensino de História e Geografia pela Universidade Pedagógica, Professor na Universidade Save - Massinga,
Inhambane, Moçambique (carlitossitoie@yahoo.com.br).
sociedade ocidental, por desconhecimento das suas propriedades físico-químicas e
farmacológicas (Passos, 2016).
No continente Africano verifica-se o seu uso na alimentação, onde folhas,
flores, frutos e sementes, assim como as raízes tenras da planta jovem, são
utilizadas como ingredientes comuns em tradicionais pratos em áreas rurais e
urbanas (Kamatou et al, 2011).
O baobá, espécie nativa das Savanas Africanas, caracteriza-se por suas
potencialidades de uso e valor econômico. Esta árvore é importante para os
habitantes de África, nomeadamente nos períodos de seca, pois oferecem proteção
e providenciam comida, água e material medicinal. O fruto baobab de Adansonia
digitata divide-se em casca, polpa, sementes.
O Imbondeiro é uma árvore que chega a alcançar alturas de 5 a 25m
(excepcionalmente 30m), e até 7m de diâmetro do tronco (excepcionalmente 11m).
Destaca-se pela capacidade de armazenamento de água dentro do tronco, que pode
alcançar até 120.000 litros. Estudo teve como objectivo de efectuar o inventariado
da Adansonia digitata e perceber aos moradores sobre o motivo do abate da arvore
do embondeiro no bairro Mpadue Cidade de Tete.

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO


O bairro Mpadue localização na estrada nacional no7 e faz limites com os
bairros Samora Machel, Mafilipa, Rio Zambeze e Benga no distrito de Moatize.

Fonte: Google Earth (2020)

121
MATERIAL E MÉTODO
O estudo foi realizado no bairro Mpadue na qual fez-se o inventariado da
Adansonia digitata, e observou-se vários embondeiros abatidos no local e outros em
via de risco, trata-se de um estudo exploratório.

Tabela: O material utlizado no estudo

Material Utilidade
o aperelho de
Laser Stanley Medição de altura do
embondeiro

GPS Garmin XS Coordenadas


Geográficas

Fita métrica Medição do


diâmetro do embondeiro

Fonte: Autores, 2020.

PROCEDIMENTO
Foi aplicado um guião de inquerido aos moradores do bairro Mpadue na zona
de expansão, de modo a se obter a real motivo do abate excessivo das arvores do
embondeiro, no total foram 46 indivíduos inqueridos, e fez-se o inventariado da
Adansonia digitata fazer o inventariado dos embondeiros existentes que foram no
total de 34 Embondeiros. Aplicou se estatística descrita, através do software SPSS
versão 26, construiu-se tabelas dinâmicas e cruzadas onde as variáveis foram
Abate e Percepção e sem seguida fez-se tabulação da média da altura e diâmetro
através o diagrama de cuva (Boxplot).

122
Tabela: Inventariado da Adansonia digitata no bairro Mpadue

Embondeir Nome cientifico ADiametro E S Elevação


o e ltuta
respective
Ponto
E.1 Adansoniadigitata 2 12m 033o352 16o 156 m
5m 96’’ 12269’’
E.2 Adansonidigitata 1 10 m 033o352 16o122 153 m
8m 99’’ 70’’
E.3 1 10.7 033o 16o 151m
9m m 35710’’ 13198’’
E.4 Adansoniadigitata 1 8.5m 033o 16o138 160 m
8m 35921’’ 06’’
E.5 Adansoniadigitata 2 9m 033o 16o137 156 m
0m 35939’’ 51’’

E.6 Adansoniadigitata 2 7.5m 033o 16o138 160m


0m 35780’’ 05’’
E.7 Adansoniadigitata 2 7.8m 033o 16o138 160 m
1m 35767’’ 04’’
E.8 Adansoniadigitata 2 8m 033o 160 161 m
0 35758’’ 13807’’
E.9 Adansoniadigitata 2 10.7 033o357 16o137 1641m
0m m 74’’ 37’’
E.10 Adansoniadigitata 2 9m 033o357 16o 164 m
0m 37’’ 13656’’
E.11 Adansoniadigitata 1 8m 033o356 16o132 165 m
9m 52’’ 98’’
E.12 Adansoniadigitata 2 9m 033o 16o135 164 m
0m 35689’’ 72’’
E.13 Adansoniadigitata 2 10.5 033o353 16o130 177 m
1m m 87’’ 56’’
E.14 Adansoniadigitata 2 11.1 033o353 16o122 170 m
0m m 10’’ 14’’
E.15 2 12 .2 033o 160122 168 m
0m m 35337’’ 85’’
E.16 Adansoniadigitata 7.5 033o353 16o130 177 m
m 87’’ 57’’
E.17 2 12.6 033o354 16o133 164 m
0m m 21’’ 62’’
E.18 Adansoniadigitata 2 7.8m 033o354 16o132 166 m
2m 65’’ 76’’
E.19 1 8m 033o357 16o138 165 m
7m 27’’ 00’’
E.20 Adansoniadigitata 1 7m 033o358 16o140 181 m
6m 02’’ 96’’
E.21 1 4.5m 033o359 16o141 182 m
5m 15’’ 16’’
E.22 Adansoniadigitata 1 9.3 033o358 16o141 181 m
6m m 91’’ 43’’
E.23 1 5.2 033o359 16o141 184 m
4m m 52’’ 24’’
E.24 Adansoniadigitata 1 5.1 033o359 16o140 181 m
3m m 99’’ 99’’
E.25 1 4m 033o359 16o140 182 m
2m 88’’ 84’’

123
E.26 Adansoniadigitata 1 10.2 033o360 16o140 172 m
6m m 93’’ 33’’
E.27 1 7m 033o360 16o139 170 m
4m 88’’ 84’’
E.28 Adansoniadigitata 1 8m 033o357 16o136 170 m
6m 58’’ 31’’
E.29 1 10.4 033o355 16o133 161 m
5m m 04’’ 43’’
E.30 Adansoniadigitata 1 10.9 033o354 16o133 165 m
7m m 78’’ 50’’
E.31 1 9m 033o353 16o133 169 m
3m 17’’ 43’’
E.32 Adansoniadigitata 1 10 m 033o350 16o131 180 m
8m 58 83’’
E.33 1 8m 033o351 16o125 167 m
6m 51’’ 20’’
E.34 Adansoniadigitata 1 9.7 033o 16o123 165 m
8m m 35138’’ 08’’
Fonte: autores, 2020.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram inqueridos 46 indivíduos e cada grupo de indivíduos tiveram vários


motivos que leva ao abate do embondeiro, portando, vale salientar que os mesmos
elucidam que raiz do embondeiro é longo e o seu diâmetro é espaçoso e
consequentemente provoca rachas ou fissuras nas paredes das residências e
quanto a Percepção da utilidade do embondeiro eles comungam que têm o
conhecimento da utilidade do embondeiro a partir da extração das fibras do caule
para produção de cordas.
Segundo a Tabela -1 mostra-nos o resultado em forma de tabelas dinâmicas,
com base no inquerido realizado no bairro Mpadue zona de Expansão da Cidade de
Tete, foram inqueridos 46 indivíduos que correspondem a 100% e de seguida fez-se
a tabulação cruzada entre as duas variáveis abate e Percepção.
Referente a coluna (1). verificou-se que um (1) individuo abateu o
embondeiro por causa da raiz que provoca racha nas residências e quanto a
percepção da utilidade do mesmo ele afirma que tem o conhecimento do caule que
a partir dela extrai-se fibras para produção de cordas.
Referente a coluna (2). Constatou-se que 14 indivíduos abateram as arvores
do Embondeiro por motivo do parcelamento do terreno e 5 desses indivíduos têm o
conhecimento de uso e aproveitamento das folhas e o fruto para fins alimentares
(Produção de sumos, bebidas iogurte e quiabo) e possuem o conhecimento da

124
extração da fibra no caule para a produção de cordas e os mesmos não tem
conhecimento sobre a produção de bebidas alcoólica- vulgarmente conhecido por
Pombe e uso medicinal. E os restantes 9 indivíduos possuem conhecimento do
caule principalmente na extração da fibra e do uso na alimentação, mas não
possuem conhecimento sobre a produção de bebidas alcoólica- vulgarmente
conhecido por Pombe e uso medicinal.
Referente a coluna (3). Constatou-se que 9 indivíduos abateram as arvores
do Embondeiro por motivo do aproveitamento do espaço físico e eles não têm o
conhecimento da utilidade do caule na extração de fibras, mas quanto a Percepção
os cinco (5) indivíduos possuem o conhecimento sobre a produção de bebidas
alcoólica conhecida vulgarmente conhecido pelo nome de Pombe e Três (3)
indivíduos possuem o conhecimento no uso medicinal principalmente as fibras são
aplicados no banho de recém nascidos e um (1) indivíduos possuem conhecimento
uso das folhas e o fruto para alimentação (iogurte e quiabo).
Referente a coluna (4). Constatou-se que 17 indivíduos abateram a arvore
do embondeiro por motivo de construção de residência e Murro de vedação, mas,
porém, uma (1) tem conhecimento da produção de bebidas alcoólica, três (3)
indivíduos tem o conhecimento do caule extrai-se fibras, nove (9) indivíduos tem o
conhecimento de uso medicinal no que refere ao banho ao recém-nascido e quatro
(4) indivíduos possuem o conhecimento no uso da alimentação (iogurte e quiabo).
Referente a coluna (5). Em fim notou-se que os no total de cinco (5)
indivíduos que responderam o inquérito adversam que abateram arvores do
embondeiro por questão de precaução contra o risco de queda, onde todos não
possuem a Percepção do uso medicinal e também do fruto na produção de bebida
alcoólica vulgarmente conhecido pelo nome de pombe, mas três (3) indivíduos têm a
Percepção do caule do embondeiro extrai-se a fibra utlizado na produção de cordas
para o uso diverso e os dois (2) indivíduos têm a percepção de uso na alimentação
principalmente das folhas faz-se o quiabo e do fruto produz o sumo e iogurte.Vide a
tabela-1

125
Fonte: Autores (2020).

A fibra interna da casca do embondeiro é extensamente usada para fazer


cordas, cestos armadilhas, linhas de pesca (Sidibe; Williams, 2002). A Concha do
fruto é usada para o fabrico de panelas e copos uaados na alimentação (DOVIE at
al, 2001).
O oleo extraido das sementes é para aliviar dores de dentes, misturado com o
mel e a polpa é usada contra a tosse, devido ao elevado teor de vitamina C e as
frutas reram usados pelo marinheiro arabes para prevenir o escorbuto (Sidibe;
Williams, 2002 citado por Tomás, 2008).
No Zimbabwe a raiz é usado no banho de bebes para amaciar a pele e tratar
infecções da pele.
Segundo Tomás (2008), afirma que varios estudos mostraram que os extratos
da fruta, semente e folhas são usados para combater as baterias como:
Esscherichia coli, Mycobaterium e Penicilliun e a casca, polpa de fruta e semente
parecem conter antidoto contra o Veneno.
Adansonia digitata é utilizado em medicina tradicional é bem conhecida,
várias partes da planta (folhas, casca, sementes) são 23 usadas como panacéia, ou

126
seja, para tratar quase todas as doenças; usos documentados específicos incluem o
tratamento da malária, tuberculose, febre, infeções microbianas, diarreia, anemia, e
dor de dentes (Duarte, 2021).
Segundo analise estatística efectuada foram ao total de 34 arvores de
Embondeiros inventariados no bairro Mpadue na zona expansão na cidade de Tete,
e os dados omissos na tabela abaixo ilustra-nos que foi a mesma base de dados
com duas variáveis de abate e Percepção.
Segundo o número de inqueridos (N=46) naquele bairro foram no total de 46
indivíduos, portanto foi por este motivo que a variável Diâmetro e Altura reconhece
o mesmo tamanho da amostra colhida, por tanto essas variáveis omissas
reconhece 12 observações como omisso ou dados não lançados, isto, é segundo a
tabela 1 ilustra-nos que temos 46 indivíduos inqueridos enquanto que a tabela 2
mostra-nos que temos 34 Embondeiro colhidos; pois é por isso que a tabela 2
mostra-nos 12 Observações não lançados.
Após análise descritiva efectuda através do SPSS estatística versão 26,
obteve-se sobre as medidas de tendência central para o efeito da descrição das
variáveis da tabela-2 indica-nos que dos 34 Embondeiro inventariados, teve-se
como variável Diâmetro e em metros (m), obteve-se como o embondeiro menor de
4 m e o Embondeiro com maior diâmetro foi de 12 m3.
No que se refere ao segundo parâmetro mediano mostra-nos que acima da
metade dos embondeiros colhidos possuem 8.75m3 e enquanto que a média dos
embondeiros foi de 8.50 m3, com uma variabilidade de 4m3 em relação a media para
cada observação ou por outra a sua dispersão por cada Embondeiro em relação a
media são aproximadamente iguais á 4.1metros.
No que concerne a altura obteve-se que o embondeiro com altura máxima foi
de 25 m e a altura mínima foi de 12 m, no que se refere ao segundo parâmetro
mediana mostra-nos que acima da metade dos embondeiros coletados possuem
18.5 m e enquanto a média dos embondeiros foi de 18 m, com uma variabilidade de
8.485 m. vide a tabela -2.
AQUINO, et al (2028), acreditam que os factores indirectos que contribuem
para o desflorestamento e degradação florestal em Moçambique incluem a
insegurança sobre a posse da terra, o planeamento inadequado do uso da terra e a
pressão demográfica.

127
Como ilustra o diagrama de cuva (Boxplot) referente a altura do embondeiro
mostra-nos que acima da metade dos embondeiros colectados têm maior de 18.5 m
e também esta acima da media. E altura máxima é de 25 m e atura mínima
12m.vide o diagrama -1 Boxplot.
De acordo Rolletta e Ferreira (2019), afirmam que o embondeiro pode atingir
uma altura de 20 metros. O tronco, muito poroso, acumula grandes quantidades de
água, que lhe permitem resistir a períodos de grande seca e viver 500 anos.

128
Como ilustra o diagrama de cuva (Boxplot) referente a Diâmetro do
embondeiro mostra-nos que acima da metade dos embondeiros colhidos têm maior
de 8.5 m3 e também esta acima da média. E quanto ao diâmetro máximo foi de
12,2m3 e o menor diâmetro foi de 4m3. Vide o diagrama -2 boxplot.

O Imbondeiro possui um tronco muito espesso na base, chegando a atingir


nove metros de diâmetro. O seu tronco é peculiar: vai se estreitando em forma de
cone e evidenciando grandes protuberâncias. Esse colosso vegetal pode atingir
trinta metros de altura e possui a capacidade de armazenar, em seu caule gigante,
até 120.000 litros de água. Por tal razão é denominada "árvore garrafa"
(Vainsencher, 2010). Segundo Passos (2016), afirma que Adansonia digitata possui
tronco robusto, podendo apresentar entre 10 e 28 metros de diâmetro.

CONCLUSÕES
Após os resultados obtidos conclui-se que apesar da Percepção dos
moradores do bairro Mpadue, sobre a utilidade da arvore do embondeiro, no que
concerne importancia que a mesma desempenha na natureza, nada lhes impede de
realizar o sonho de erguer as suas residências, independentemente do sacrifício há
fazer, a solução será o abate. A pressão demográfica que regista na cidade de Tete
fará com que os embondeiros sejam destruídos na totalidade. O levantamento dos

129
embondeiros efectuado na area de estudo obteve-se altura maxima da arvore do foi
de 25 m e a altura mínima foi de 12 m, no que se refere ao segundo a mediana
mostra-nos que acima da metade dos embondeiros coletados possuem 18.5 m e
enquanto a média dos embondeiros foi de 18 m. Com base neste ponto verificou
que se careceu do estudo prévio, não se fez o inventariado florístico das espécies
das arvores existentes de modo a se identificar as potencialidades e fragilidade da
zona, no plano de urbanização, isto, é cada individuo que obteve a sua parcela do
terreno independentemente de existir arvores a solução é o abate. Importa-nos
referir com excessivo abate do embondeiros na zona do Mpadue muitas residências
serão construídas sem preservar algumas árvores e contribuira negativamente na
perda do patrimomio histórico de Moçambique. O abate do embondeiro no bairro
Mpadue é motivado pelo factor de urbanização.

Figura 1: Panorama passagistico na área de urbanização no Bairro Mpadue


zona de expansão

Fonte: Autores, 2020.

130
Figura 2: Ilustra o embondeiro abatido de modo a permitir a construção de
Residência

Fonte: autores (2020).

Figura 3: Ilustra o Embondeiro em risco de ser abatido para permir a


construçao de residência

Fonte: autores, 2020.

Figura 4: Ilustra o Embondeiro abatido e queimado de modo que não possa


Brotar (eliminação da arvore nativa e introdução de uma Planta exótica a Palmeira)

131
Fonte: autores, 2020.

Figura 5: Ilustra a medição do Diametro do Embondeiro

Fonte: autores (2020)

132
Figura 6: Ilustra o Embondeiro como paragem e sombra

Fonte: autores, 2020.

Figura 7: Ilustra o Embondeiro como Super Mercado

Fonte: autores, 2020.

Figura 8: Ilustra o Embondeiro como Posto Policial

Fonte: autores, 2020.

133
Figura 9: Ilustra o Momento de coleta dos pontos das coordenadas
geograficas através do GPS da Marca Garmin eTrex20)

Fonte: Autores, 2020.

Figura 10: Ilustra o Momento em que o Jovem faz a demostração de como é


feita a extração de fibra no caule do Embondeiro para uso de corda

Fonte: Autores, 2020.

134
REFERÊNCIAS

DUARTE, Sidónio. Revisão bibliográfica sobre plantas medicinais utilizadas em


África; Estudo fitoquímico de Adansonia digitata L. & Acacia melanoxylon. R. Br.
Licenciado em Ensino de Química com habilitações em Biologia. Lisboa:
Universidade NOVA de Lisboa, 2021.

KAMATOU, G. P. P. VERMAAK, I.; VIJOEN, A. M. An updated review of Adansonia


digitata: A commercially importante African tree. South African Journal of Botany,
South África, v. 77, p. 908-919, 2011.

PASSOS, Fábio. Valorização de frutos de Adansonia digitata L.: polpa e sementes.


Dissertação do 2º Ciclo de Estudos Conducente ao Grau de Mestre em Controlo da
Qualidade Especialidade Água e Alimentos. Universidade de Porto. 2016.

ROLLETTA, Paola; FERREIRA, Artur. Embondeiros de Africa. 2019.

SIDIBE, M.; WILLIAMS, J. T. Baobab. Adansonia digitata. Southampton, UK:


International Centre for Underutilised Crops, 2002.

TOMÁS, Natacha. Determinação da Concentração ideal e do tempo ideal para a


escarificação química da semente de Adansonia digitata (imbondeiro). (Trabalho de
conclusão de curso). Maputo: Universidade Eduardo Mondlane, 2008.

VAINSENCHER, Semira Adler. Baobá. Pesquisa Escolar On-Line, Fundação


Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: http://www.fundaj.gov.br.

135
SOBRE OS AUTORES

Carlitos Luis Sitoie.

Doutor em Ciências de Ambiente e Sustentabilidade. Pós-Doutorando em


Antropologia Social. Mestre em Educação/Ensino de Geografia. Graduado em
História e Geografia, Professor Auxiliar afecto na Faculdade de Ciências Naturais e
Exactas da Universidade Save – Moçambique). Coordenador do Curso de Mestrado
em Ambiente e Desenvolvimento Sustentável das Comunidades (MDSC).

Anastância Armando Mucuho.

Graduada em Ensino de Agropecuária com Habilitações em extensão Rural, pela


Universidade Pedagógica. Docente da disciplina de Agropecuaria na escola
secundaria Maria da luz Guebuza de Mupaculane. Mestranda em Ambiente e
Desenvolvimento Sustentavel das Comunidades).

Erdimante Aguacheiro Rupia Vileiro.

Mestre Em Gestão Ambiental, pela Universidade Púnguè. Graduado em Ensino de


Biologia e Quimica, pela Universidade Pedagógica de Moçambique. Consultor
independente.

Faustina Francisco Dias.

Mestre em Gestão Ambiental pela Universidade Púnguè. Graduado em Geografia


pela Universidade Pedagógica de Moçambique. Docente de Geografia Agrária e
Industrial no Instituto de Educação à Distância – Universidade Católica de
Moçambique. Docente da disciplina de Geografia de alunos com Necessidades
Educativas Especiais de carácter Visual no Centro de Recursos de Educação
Inclusiva de Tete).

136
Hélio Geraldo Ubisse.

Mestre em Ambiente e Desenvolvimento Sustentável das Comunidades na


Universidade Save-Extensão de Massinga; Técnico de Demografia no Instituto
Nacional de Estatística- Delegação de Inhambane.

Jhassem Antônio Siva de Sequeira.

Doutor em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia pela Universidade


Federal do Amazonas (2018), engenheiro florestal pela Universidade Federal do
Amazonas (2001), mestre em Biotecnologia e recursos naturais da Amazônia pela
Universidade do Estado do Amazonas (2005).

Mateus Jacob.

Mestre em Ambiente e Desenvolvimento Sustentável das Comunidades na


Universidade Save- Extensão de Massinga.

Tércia Gracio Cune.

Mestre em Gestão Ambiental pela Universidade Púnguè. Licenciada em Engenharia


Agrónomica pela UEM – FAEF. Procuremente na empresa Minas de Benga – Tete.

Sabil Damião Mandala.

Doutorado em Geografia (Organizacao do Espaco) 2013 – 2016 Universidade


Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Mestrado em Geomática e Avaliação dos
Recursos Naturais - Università degli Studi di Firenze. Graduação em Ensino de
História e Geografia 1997 – 2002 Universidade Pedagógica - Moçambique. ÁREAS
DE ATUAÇÃO. Atua na área de Ciências Exatas e da Terra / Área: Geociências /
Subárea: Geofísica/Especialidade: Sensoriamento Remoto. Professor da
Universidade Pedagogica de Maputo.

137
Zacarias Alexandre Ombe.

Professor Associado e Director do Programa de Doutoramento em Geografia na


Universidade Pedagogica de Maputo. Tem pesquisado e publicado na area de
geografia da saude e ciencias ambientais.

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