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FACULDADE DE CIÊNCIAS DE SAÚDE

CURSO DE LICENCIATURA EM NUTRIÇÃO

AVALIAÇÃO DO TEOR DA FIBRA DA LARANJA NACIONAL E IMPORTADA


COMERCIALIZADA NO MERCADO DE WARESTA, NAMPULA, 2022.

MAURÍCIO AFONSO JULIÃO

NAMPULA, MARÇO DE 2023


AVALIAÇÃO DO TEOR DA FIBRA DA LARANJA NACIONAL E IMPORTADA
COMERCIALIZADA NO MERCADO DE WARESTA, NAMPULA, 2022.

MAURICIO AFONSO JULIÃO

Monografia de conclusão de curso, apresentada na


Faculdade de Ciências de Saúde como requisito parcial
para obtenção do grau de licenciatura em Nutrição.
Orientador: Engo Isac Joaquim Presse, MSc.
Assinatura:___________________________________
Co-orientador: dr. Armindo Sábado Andate.
Assinatura:___________________________________

NAMPULA, MARÇO DE 2023


DECLARAÇÃO DO ORIENTADOR
Isac Joaquim Presse, de nacionalidade moçambicana, natural de Nacala Porto,
província de Nampula, estado civil casado, de 33 anos de idade, portador de B.I. no
030700515576A, profissão Investigador Estagiário e docente da Universidade Lúrio,
vem por este meio atestar que o trabalho de culminação do curso do estudante Maurício
Afonso Julião, portador de Bilhete de Identidade no.030100308660A, estudante número
20161004063, com o tema “Avaliação do teor da fibra da laranja nacional e importada
comercializada no mercado de waresta, cidade de Nampula, 2022”, encontra-se
estrutural e metodologicamente capaz de ser apresentado em provas públicas.

Nampula, 02 Março de 2023

O orientador
________________________________
(Isac Joaquim Presse)

III
DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Afonso Julião (em memória) e Berlinda António, pelos
ensinamentos e apoio incondicional em cada momento da minha vida, desde à
infância aos dias de hoje.
À minha esposa, Maria João Ferreira e aos meus filhos, pelo apoio, motivação
e acompanhamento e pela forma como compreenderam a minha ausência.
Aos meus irmãos e toda família que sempre deram-me suporte nos momentos
difíceis da minha formação académica.
Muito obrigado!

IV
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar agradecer à Deus, pela vida e saúde que me concede dia a
pois dia! Pois sem ele, nada seria possível. Por isso, direi eternamente, muito obrigado
senhor por tudo que tem feito e farás por mim.

Aos meus amigos especialmente Professor Doutor Luís Varandas e dr. Jeremias
Eugénio Amisse, por prestarem o apoio moral e material, necessário desde o meu
ingresso a universidade.

Agradeço ao meu orientador Eng. Isac Joaquim Presse, MSc., pela


disponibilidade e apoio incondicional desde o início até ao final deste trabalho.

Agradeço ao dr. Armindo Andate o meu Co-Orientador que sempre mostrou-se


disponível para me ajudar e tornar possível a realização do trabalho.

À todos docentes da Universidade Lúrio, faculdade de ciências de saúde, em


especial, docentes do Curso de Licenciatura em Nutrição, pelo conhecimento
compartilhado durante o meu percurso académico.

Aos meus amigos e colegas, Abílio dos Santos Alaína, Miguel Rui, Jardel Cossa,
Hélio Mucotiua e Sónia Calavete.

À todos os heróis anónimos que directa ou indirectamente contribuíram


significativamente para a materialização desta pesquisa, muito obrigado!

V
RESUMO
Introdução: A laranja é uma fruta cítrica produzida pela laranjeira que pertence ao género
Citrus e supostamente originária da Ásia. Sendo sua distribuição realizada pelas expedições
colonizadoras e comerciais da Europa, levando-a para os continentes Africano, Europeu e
Americano. Justificativa: A laranja é considerada uma boa fonte de fibra dietética, portanto,
torna-se imperativo avaliar a quantidade de fibra existente na laranja nacional e nas laranjas
importadas para o país. Tais conhecimentos permitirão vislumbrar as principais áreas de
intervenção, constituindo a base para delinear programas e estratégias que visem
consciencializar os moçambicanos a consumirem a laranja com mais conteúdo de fibra como
forma de aproveitar o máximo deste nutriente. Objectivo: Avaliar o teor de fibra das laranjas
comercializadas no mercado de Waresta em Nampula. Metodologias: o estudo foi realizado nos
meses de Julho a Agosto de 2022, no laboratório da CEIL da Universidade Lúrio. O tipo de
estudo usado foi o analítico, observacional e com uma abordagem quantitativa, foram usadas
100 laranjas como amostra inicial. Os dados foram analisados com o programa SPSS versão 25,
e os gráficos feitos a partir do Microssoft Excel 2016. Resultados: as laranjas nacionais
apresentam uma quantidade de fibra igual a 0,864 em relação as importadas que apresentam
0,546 de fibra. A análise bi-caudal encontrou uma diferença estatisticamente significativa por
meio do teste-t de Student, com intervalo de confiança de 95% e erro de 5%, onde o valor de t
foi igual a -3,916, o seu grau de liberdade igual a 12 e o valor de p = 0,002, um valor menor que
0,05. Conclusão: As laranjas nacionais, comparativamente as laranjas importadas, apresentam
um teor mais elevado de fibra total, isto é, solúvel e insolúvel, maior que as laranjas importadas.
Palavras-chave: Fibra dietética, laranja, fibra solúvel, fruta.

VI
ABSTRACT
Introduction: The orange is a citrus fruit produced by the orange tree that belongs to the Citrus
genus and supposedly originated in Asia. Being its distribution carried out by the colonizing and
commercial expeditions of Europe, taking it to the African, European and American continents.
Justification: The orange is considered a good source of dietary fiber, therefore, it is imperative
to evaluate the amount of fiber existing in the national orange and in the oranges imported into
the country. Such knowledge will make it possible to glimpse the main areas of intervention,
constituting the basis for outlining programs and strategies aimed at making Mozambicans
aware of consuming oranges with a higher fiber content as a way to make the most of this
nutrient. Objective: To evaluate the fiber content of oranges sold at the Waresta market in
Nampula. Methodologies: the study was carried out from July to August 2022, at the CEIL
laboratory at Universidade Lúrio. The type of study used was analytical, observational and with
a quantitative approach, 100 oranges were used as an initial sample. The data were analyzed
using the SPSS program version 25, and the graphs were made using Microsoft Excel 2016.
Results: domestic oranges have an amount of fiber equal to 0.864 compared to imported ones,
which have 0.546 fiber. Two-tailed analysis found a statistically significant difference using
Student's t-test, with a 95% confidence interval and 5% error, where the t value was equal to -
3.916, its degree of freedom equal to 12 and p-value = 0.002, a value less than 0.05.
Conclusion: National oranges, compared to imported oranges, have a higher total fiber content,
that is, soluble and insoluble fiber, greater than imported oranges.

Keywords: dietary fiber; orange; Evaluation, fruit.

VII
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Gráfico de produção mundial de laranjas. ....................................................... 6
Gráfico 2: Ilustração de resultados de fibras em laranja Nacional. ................................ 27
Gráfico 3:Ilustração de resultados de fibras em laranjas Importada. ............................. 27

VIII
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Composição nutricional da laranja ................................................................... 5
Tabela 2: Classificação das fibras quanto a solubilidade ................................................. 9
Tabela 3. Tipos de fibras alimentares e principais fontes............................................... 10
Tabela 4: Composição dos concentrados de fibra dietética de laranja (matéria seca) ... 11
Tabela 5: Equipamentos usados no laboratório. ............................................................. 23
Tabela 6: Reagentes usados no estudo. .......................................................................... 23
Tabela 7: Estatísticas de grupo ....................................................................................... 28
Tabela 8: Resultados do teste de t de Student ................................................................ 28

IX
LISTA DE FIGURAS
Figura 2. Ilustração de partes da laranja. .......................................................................... 3

X
LISTA DE ABREVIATURAS
AC Antes de Cristo
AVC Acidente Vascular Cerebral
DAC Doença Arterial Coronária
DM Diabetes Melitos
FA Fibra Alimentar
FAO Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura
FCS Faculdade de Ciências de Saúde
FD Fibra Dietética
HTA Hipertensão Arterial
OMS Organização Mundial da Saúde
POF Pesquisa de Orçamento Familiar

XI
LISTA DE SÍMBOLOS
% Percentagem
= Igualdade
g Grama
H2O Água
H2SO2 Ácido Sulfúrico
NaOH Hidróxido de Sódio
Pa Peso da amostra
Wo Amostra bruta

XII
XIII
ÍNDICE

DECLARAÇÃO DO ORIENTADOR ........................................................................... III

DEDICATÓRIA ............................................................................................................. IV

AGRADECIMENTOS .....................................................................................................V

RESUMO ....................................................................................................................... VI

ABSTRACT .................................................................................................................. VII

LISTA DE GRÁFICOS ................................................................................................VIII

LISTA DE TABELAS ................................................................................................... IX

LISTA DE FIGURAS ......................................................................................................X

LISTA DE ABREVIATURAS....................................................................................... XI

LISTA DE SÍMBOLOS ................................................................................................ XII

1.INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 1

2.OBJECTIVOS ............................................................................................................. 19

2.1.Objectivo geral ...................................................................................................... 19

2.2.Objectivos específicos .......................................................................................... 19

3.HIPÓTESES ................................................................................................................ 19

4.METODOLOGIA ........................................................................................................ 20

4.1.Período e local de estudo ...................................................................................... 20

4.2.Tipo de estudo ....................................................................................................... 20

4.3. Universo e amostra .............................................................................................. 21

4.4.Critérios de elegibilidade ...................................................................................... 22

4.4.1.Critérios de inclusão ...................................................................................... 22

4.4.2.Critérios de exclusão ..................................................................................... 22

4.5.Definição de variaveis .......................................................................................... 22

4.6.Tratamento de dados ............................................................................................. 22

4.6.1.Material usado no laboratório ........................................................................ 23

4.6.2. Procedimentos .............................................................................................. 24


5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................................................... 26

5.1. Caracterização das laranjas nacionais e laranjas importadas ............................... 26

5.1.1.Laranjas nacionais ......................................................................................... 26

5.1.2.Laranjas importadas....................................................................................... 26

6.CONCLUSÃO ............................................................................................................. 30

6.1.LIMITAÇÕES DO ESTUDO ............................................................................... 30

7.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 31

APÊNDICES .................................................................................................................. 35

Apêndice A: ilustração de alguns passos dos procedimentos de determinação de fibra


.................................................................................................................................... 36

ANEXOS ........................................................................................................................ 38

Anexo I: Credencial de realização de estudo .............................................................. 39


1.INTRODUÇÃO

A laranja é uma fruta cítrica produzida pela laranjeira que pertence ao género Citrus e
supostamente originária da Ásia. Sendo sua distribuição realizada pelas expedições
colonizadoras e comerciais da Europa, levando-a para os continentes Africano, Europeu e
Americano, sendo hoje, encontrada em várias regiões no mundo, com condições climáticas
favoráveis até mesmo melhores, do que o seu lugar de origem, gerando mutações em
determinados lugares (1).

Nesta senda determinadas pesquisas afirmam que os cítricos teriam surgido no leste
asiático, onde a primeira descrição sobre os citrus aparece há 2000 a.C. na literatura chinesa,
o seu nome científico (Citrus sinensis) se dá justamente pela sua origem, dai que o seu registo
foi feito pelo imperador Ta Yu, no qual era uma memória de seus conhecimentos agrícolas de
seu tempo (1,2,3).

Sendo assim, a laranja, exigindo um clima subtropical, tornou-se uma das frutas mais
(3)
básicas de nossa dieta, tanto fresca quanto na forma de suco de laranja processado . Neste
caso as Laranjas ou suco de laranja podem ser comprados em quase todos mercados e nas
mercearias, devido ao comércio agrícola internacional (4).

Entretanto o aumento na sua produção, nos últimos anos, vem sendo estimado por
variados factores, como a produção industrial e o consumo de bebidas à base de frutas,
principalmente de laranja, portanto, dai que a praticidade oferecida por produtos
industrializados e a falta de tempo são razões importantes para que os consumidores sejam
atraídos por estas bebidas (5).

Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura


(FAO), em 2004, 140 países produziram frutas cítricas, no entanto, a maior parte da produção
é concentrado em determinadas áreas, a maioria das frutas cítricas é cultivada no Hemisfério
Norte, representando cerca de 70% da produção total de citros(6).

A laranja doce é composta por diversas vesículas de suco protegidas por uma película
de cera, o albedo (bagaço) e a casca. Sendo assim, os dados da FAO em 2009 é uma das frutas
mais cultivadas em todo o mundo (7).

Geralmente, as laranjas são ovais, amarelos ou alaranjados, possuindo uma casca


(8)
lenhosa espessa, a polpa é amarela ou marrom brilhante . No entanto, estudos anteriores

1
relataram maiores valores de fibra alimentar na casca de laranja e bagaço, e também níveis
mais altos de compostos fenólicos e capacidade antioxidante em comparação com a fruta (9).
Os frutos de laranja se constituem morfologicamente por três partes(10):
 A casca, denominado epicarpo ou flavedo, nesta parte estão presentes óleos essenciais
e carotenoides, como componentes principais;
 Mesocarpo ou albedo, aqui encontrados pectinas e hemiceluloses;
 Endocarpo, a parte comestível do fruto, formado principalmente por 9 a 13 segmentos
semelhantes a triângulos.
A casca da laranja é constituída por uma fina camada externa chamada flavedo e uma
espessa e fibrosa camada interna, chamada albedo como mostra a figura 2. Substâncias da cor
(6)
laranja chamadas carotenoides, contidas no flavedo, dão ao fruto a sua cor característica .O
albedo, branco e esponjoso, contém várias substâncias que não são utilizadas na fabricação do
suco, porém acabam sendo aproveitadas como subprodutos, a pectina e alguns
flavonoides(6,11).

A parte comestível do fruto conhecida como endocarpo, constituída por um núcleo


central fibroso, segmentos individuais, parede de segmentos e uma membrana externa e as
sementes também podem estar presentes dentro dos segmentos (11).

2
Figura 1. Ilustração de partes da laranja.

Fonte: Tretin, 2020 (11).


Além dos flavonoides, a pectina, uma fibra presente na casca da laranja, tem
propriedades hipocolesterolêmicas, a casca de laranja é utilizada na medicina chinesa na
forma de um medicamento fitoterápico chamado Danning Pian, que é composto por ruibarbo
(Polygonum Cuspidatum), casca de laranja verde seca e casca de laranja madura seca (12).

A laranja pode ser consumida fresca, na forma de suco natural, ou em preparações


como sucos, refrescos, ou ser adicionada em receitas de bolos, geleias e sobremesas, além
disso, sua casca também é rica em antioxidantes e melhora a digestão, podendo ser usada para
fazer chá ou na forma de raspas adicionadas á receitas (13).

Portanto, os subprodutos da extracção do suco de laranja têm potencial de uso como


fonte de fibra dietética (FD), o material é rico em pectina e, além disso, abundante e barato
(14)
.
Há um interesse crescente nas pectinas pelo seu potencial de reduzir os níveis de
colesterol no sangue, especificamente, diminuindo a fracção lipoproteína-colesterol de baixa
densidade sem alterar os níveis de colesterol lipoproteína de alta densidade e triglicerídeos
(14,15)
.

3
Dado que os concentrados de FD de laranja podem ser utilizados como ingrediente em
formulações de alimentos, é necessário avaliar os componentes e propriedades da FD da
laranja (14).
As frutas são reconhecidas como fontes de vitaminas, minerais e fibras, são alimentos
importantes da dieta. No entanto, nos últimos anos, maior atenção tem sido dada a estes
alimentos uma vez que evidências epidemiológicas têm demonstrado que o consumo regular
de vegetais está associado à redução da mortalidade e morbidade por algumas doenças
crónicas não transmissíveis (16).

O consumo da laranja facilita a função intestinal pelo facto do seu alto teor de fibras
solúveis, encontradas na polpa e no bagaço. Na parte branca do bagaço, encontra-se também a
pectina, que previne o câncer e ajuda a baixar o colesterol no organismo aliando-se a isso está
fruta não é só destacada pela esta componente mais também pelo seu teor vitamina C que
(17)
apenas em uma laranja consegue alcançar a dose diária recomendada (60 mg) .

Um número significativo de estudos tem demonstrado uma relação clínica entre a


redução dos níveis de doenças cardiovasculares e outras doenças, com o aumento do consumo
de frutas, e esse efeito tem sido atribuído aos seus altos níveis de compostos fenólicos e
propriedades antioxidantes e ingestão de fibras alimentares (9,15). A recomendação de ingestão
de fibra alimentar é > 25g por dia de fibra alimentar total, porém as populações da Europa e
dos Estados Unidos consomem apenas 30% desse valor (18,19).

4
Tabela 1. Composição nutricional da laranja

Fonte: Romero-lopez, Osorio-diaz, Bello-perez e Tovar, 2011 (15).

Actualmente, a produção mundial de citros é de aproximadamente 102 milhões


toneladas por ano, os maiores produtores de laranjas são o Brasil e os Estados Unidos, que
juntos representam cerca de 45% do total mundial, e destacam-se ainda nesse panorama
África do Sul, e Israel, com a produção de laranjas para o mercado in natura e tangerinas (14).

O maior produtor mundial de laranja é o Brasil, seguido da China, União Europeia,


Estados Unidos, México, Egipto e África do Sul. A produção mundial foi de 51,8 milhões de
toneladas na safra de 2018/2019, deste total, 21,2 milhões são destinados à industrialização da
mesma (14).

5
Gráfico 1: Gráfico de produção mundial de laranjas.

Fonte: Romero-lopez, Osorio-diaz, Bello-perez e Tovar, 2011 (15).

Também, Índia, México e China são produtores extensivos, e há alguns outros países,
como Espanha e Egipto, que produzem anualmente mais de dois milhões de toneladas, e Irã,
Itália e Indonésia, com um milhão de toneladas (9,18).

Em Moçambique, os maiores produtores de laranjas são: Maputo, Inhambane, Manica


e Zambézia, com 46% de laranjeiras, e outros citros como é o caso de 33% de limoeiros, 20%
de Tangerineira e 1% de Toranjeira onde as principais províncias produtoras são: Inhambane,
Zambézia e Nampula (20).

Em 1974, Trowell definiu fibra alimentar como “os remanescentes da parede celular
vegetal que não são hidrolisados pelas enzimas digestivas humanas, que inclui celuloses,
hemiceluloses, lenhina, gomas, celuloses modificadas, mucilagens, oligossacáridos, pectinas e
substâncias menores associadas, como ceras, cutina e suberina (21).

Fibra alimentar é definida como a parte não digerível do alimento de origem vegetal, a
qual resiste à digestão e absorção intestinal e sofre fermentação completa ou parcial no
intestino grosso, incluindo polissacarídeos, oligossacáridos, lignina, além de substâncias
inerentes às plantas. Portanto são classificadas em fibras solúveis e insolúveis, sendo que as
6
fibras solúveis se diluem em água formando géis viscosos, e incluem as pectinas, as gomas, a
mucilagens e polissacarídeos de armazenamento, entre as fibras insolúveis, estão a celulose,
as hemiceluloses e a lignina (22).

O conceito de fibra alimentar é complexo e tem vindo a evoluir ao longo do tempo.


Abrange, actualmente, uma vasta gama de compostos com efeitos diferentes para quem a
consome, sendo a base de ligação entre estes compostos o não serem digeríveis pelo
organismo humano (21).

A fibra alimentar vem sendo estudada não só pelo seu grande potencial em prevenir as
doenças crónicas não transmissíveis, mas também por suas propriedades na redução de
gorduras em formulações, estudos mostram que a fibra contida na casca de frutas, como a
laranja, tem um grande potencial na substituição de gordura na produção de alimentos, como
os derivados da carne, fornecendo um produto de textura mais suave, muito semelhante ao
convencional, reduzindo o teor de gordura e o valor energético. Também pode ser usada na
produção de pães isentos de gordura, com volume, sabor e textura aceitáveis, assim como
substituta de gordura na produção de sorvetes (23).

a) Suscetibilidade à degradação enzimática bacteriana

A fibra é à parte do alimento que lhe confere volume, ou seja, a que mais resiste a
acção dos sucos e enzimas digestivas, favorecendo, assim, os movimentos peristálticos do
intestino, devido ao aumento do volume da massa fecal pela retenção das fezes. As fibras
solúveis, parcialmente fermentescíveis no intestino grosso, são particularmente efectivas em
promover alterações benéficas na microflora intestinal (21).

Embora resistente às enzimas do trato intestinal, ao passarem pelo intestino as fibras


alimentares se expõem às enzimas produzidas por bactérias, as quais degradam
selectivamente muitas das fracções que integram as fibras. Este é o processo de digestão
denominado de fermentação, do qual resultam diversos produtos, entre eles: ácidos graxos de
cadeia curta, CO2, H2, metano e H2O. A extensão da fermentação depende da natureza das
bactérias, do tempo de trânsito ao longo do intestino grosso, da estrutura física e da
composição química das fibras (23).

Actualmente usa-se o termo fibra dietética como a soma da lignina e dos


polissacarídeos da dieta que não são digeridos pelas secreções digestivas humanas, diferindo

7
da fibra bruta que seria o resíduo orgânico dos alimentos após a eliminação da água e dos
lipídeos e hidrólise à quente com ácidos e álcalis diluídos (23).

O grau de digestão bacteriana varia consideravelmente entre os constituintes das fibras


alimentares. Pectinas, mucilagens, certas gomas e a maior parte da hemicelulose podem ser
quase completamente degradadas, a celulose é apenas parcialmente digerida (6-50%), a
lignina resiste à degradação bacteriana, sendo quase que totalmente recuperada nas fezes (21).

b) Capacidade de fixar e absorver água e outras substâncias

Acredita-se que as fibras exerçam suas funções através de sua capacidade de


hidratação e de aumentar o volume fecal e a velocidade de transito do bolo alimentar,
possuindo também capacidade de se complexar com outros constituintes da dieta, através de
vários mecanismos, podendo arrastá-los em maior quantidade na excreção fecal. Desta forma,
tanto nutriente essencial como substâncias tóxicas poderão ser excretadas em maior ou menor
quantidades, dependendo da qualidade e quantidade das fibras presente na dieta (21).

As pectinas e mucilagens, a hemicelulose tem maior capacidade de ligar água. A


lignina é relativamente apolar e muito menos higroscópico (não tem afinidade com H2O) do
que os demais componentes das fibras alimentares. As fibras da dieta têm a propriedade de
absorver ácidos biliares, colesterol e compostos tóxicos e mesmo bactérias. As fibras
alimentares agem como resina na troca de catião. Assim como pode ocorrer com outros
nutrientes, o excesso pode ser prejudicial, causando distúrbios intestinais e reduzindo
assimilação de minerais, como cálcio, magnésio, ferro, zinco e fósforo. Uma dieta com altos
teores de fibras podem gerar um desequilíbrio no teor de minerais do corpo, especialmente no
de pessoas desnutridas (24).

As fibras alimentares são classificadas em solúveis e insolúveis, as solúveis são


viscosas e facilmente fermentáveis no intestino grosso, podem atrasar o esvaziamento gástrico
e afectar a secreção e acção da insulina (22). Já as insolúveis possuem fermentação limitada no
intestino grosso e não são solúveis em água, o que leva ao aumento do volume do bolo fecal,
além de activar a liberação no intestino de harmónios envolvidos na regulação da ingestão de
alimento (25).

8
Tabela 2: Classificação das fibras quanto a solubilidade

Classificação Tipos Fontes Acções

Fibras Pectina, gomas, Frutas, verduras, • Atraso na absorção da


solúveis Mucilagem, cevada, leguminosas glicose;
beta glucagona, (feijão, lentilhas, grão
• Redução do esvaziamento
hemiceluloses de bico)
gástrico (maior saciedade);

• Diminuição dos níveis de


colesterol sanguíneo;

• Protecção contra o cancro


do intestino.

Fibras lignina, Verduras, farelo de • Aumento do bolo fecal;


insolúveis celulose, trigo, cereais integrais
• Estimulo do bom
hemicelulose
funcionamento intestinal
(maioria)
(aceleração do trânsito);

• Prevenção da obstipação
intestinal.

Fonte: Romero-lopez, Osorio-diaz, Bello-perez e Tovar, 2011 (15).

 Fibra Dietética e Fibra Funcional

Fibra dietética refere-se aos componentes vegetais intactos que não são digeridos pelas
enzimas gastrointestinais (GIs), enquanto a fibra funcional refere-se a carboidratos não
digeridos que foram extraídos ou produzidos a partir de vegetais (8). Portanto, Ambos os tipos
de fibras mostraram ter funções fisiológicas benéficas no trato GI e na redução do risco de
certas doenças (26).

As diversas fracções da fibra alimentar agrupam-se de acordo com seus componentes e


(9)
características determinando o tipo de fibra . Esses componentes são encontrados
principalmente em alimentos de origem vegetal, como cereais, leguminosas, hortaliças e
tubérculos (19).

9
Tabela 3. Tipos de fibras alimentares e principais fontes.

Tipo Grupo Componentes Fontes


Polissacáridos não Celulose Celulose (25% da Vegetais (parede
Amido fibra de grãos e celular das plantas),
frutas e 30% em farelos
vegetais e
oleaginosas)
Hemicelulose Arabinogalactanos, Aveia, cevada,
glicanos, vagem, abobrinha,
arabinoxilanos, maçã com casca,
glicuronoxilanos, abacaxi, grãos
xiloglicanos, integrais e
galactomananos oleaginosas
Goma e mucilagens Galactomananos, Extratos de
goma guar, goma sementes: alfarroba,
locusta, goma semente de locusta;
karaya, goma exsudatos de
tragacanto, plantas, algas,
alginatos, agar, psyllium
carragenanas e
psyllium
Pectinas Pectina Frutas, hortaliças,
batatas, açúcar de
beterraba
Oligossacarideos Frutonas Inulina e Chicória, cebola,
frutoligossacarídeos yacón, alho,
(FOS) banana, tupinambo
Carboidratos Amido resistente e Amido + produtos Leguminosas,
análogos maltodextrina da degradação de sementes, batata
resistentes amido não crua e cozida,
absorvidos no banana verde, grãos
intestino humano integrais,

10
saudável polidextrose
Lignina Lignina Ligada à Camada externa de
hemicelulose na grãos de cereais e
parede celular. aipo
Única fibra
estrutural não
polissacarídeo –
polímero de
fenilpropano
Substâncias Compostos Componentes Cereais integrais,
associadas aos fenólicos, proteína associados à fibra frutas, hortaliças
polissacarídeos de parede celular, alimentar que
não amido oxalatos, fitatos, confere ação
ceras, cutina, antioxidante a esta
suberina fracção
Fibras de origem Quitina, quitosana, Fungos, leveduras e Cogumelos,
não vegetal colágeno e invertebrados leveduras, casca de
condroitina camarão, frutos do
mar, invertebrados
Fonte: Sarmento, Bernaud, Rodrigues, 2013 (27).

Tabela 4: Composição dos concentrados de fibra dietética de laranja (% matéria seca)

Variedade Fibra Fibra Fibra


dietética insolúvel dietética solúvel dietética total
Umbigo 22,81, 1aa 12,61 2aa 35,4 1,4a

Salustiana 22,9 0,4a 12,6 1,2a


35,9 0,5ab
Valência 25,5 0,3b 13,0 0,2a
Fonte: Grigelmo-miguel, 2018(28).

11
A FD desempenha um papel importante na diminuição dos riscos de muitos distúrbios,
como constipação intestinal, diabetes, doenças cardiovasculares, diverticulose e obesidade (20).
Além disso, a FD pode reduzir a secreção de insulina por diminuir a taxa de absorção de
nutrientes após uma refeição, uma propriedade que está particularmente associada à fracção
solúvel da fibra, experimentalmente, a sensibilidade à insulina tende a aumentar e o peso
corporal diminui em dietas ricas em fibras (18,15).
Existe um consenso geral de que o consumo de fibra dietética fermentável melhora o
metabolismo cardiometabólico saudável, em parte promovendo micróbios mutualistas e
aumentando a produção de metabólitos benefícios no intestino distal, vários factores
provavelmente contribuem para essa variação, incluindo a genética do hospedeiro e a
microbiota intestinal diferenças (22).

A maioria das fracções (celulose, lignina, hemicelulose, pectinas, gomas e mucilagens)


(5)
de FD são os principais constituintes das paredes celulares das plantas . Embora alguns
autores recomendem o abandono dos termos fibra “solúvel” e “insolúvel”, os efeitos
fisiológicos desse componente indigerível dos alimentos estão sendo cada vez mais
reconhecidos (18).
 Pectinas
As pectinas são parte integrante da estrutura das paredes celulares dos vegetais.
Portanto estão presentes em maior quantidade em frutas e tecidos vegetais jovens apresentam-
se sob a forma de proto pectinas na fase inicial de desenvolvimento dos tecidos. Enquanto
proto pectinas contribuem para a adesão celular, rigidez estrutural de tecidos que compõem,
transporte e retenção de água e determinam em parte o tamanho dos poros das paredes
celulares, as pectinas também afectam o metabolismo da glicose ao diminuir a curva de
resposta à glicose, além das aplicações clínicas, a pectina é utilizada como aditivo alimentar
devido às suas propriedades específicas como agente gelificante (9).
É pertencente ao grupo dos polissacarídeos, a pectina tem por função a adesão entre as
células, contribuindo para o desenvolvimento da textura adequada de frutas e vegetais durante
a maturação. Portanto essa propriedade das pectinas garante que sejam geralmente utilizadas
por apresentarem a propriedade funcional de gelificar, permitindo a formação de géis como
geleias, gomas e produtos lácteos (18).

 Homopolissacarídeos

12
Os homopolissacarídeos contêm unidades repetidas da mesma molécula. Um exemplo
é a celulose, que não pode ser hidrolisada por enzimas de amilase. A celulose é o componente
orgânico mais abundante no mundo, constituindo 50% ou mais de todo o carbono na
vegetação. A longa molécula de celulose dobra-se sobre si mesma e é mantida em posição
pela ligação do hidrogênio, fornecendo, assim, às fibrilas de celulose grande força mecânica,
porém uma flexibilidade limitada. A celulose é encontrada em cenouras e muitos outros
vegetais. Outros homopolímeros conhecidos como betaglucanas (glicopiranose) ocorrem com
ramificação, o que os torna mais solúveis, como a aveia e a cevada (29).

 Heteropolissacarídeos

Os heteropolissacarídeos são produzidos pela modificação da estrutura básica da


celulose para formar compostos com diferentes solubilidades em água. A hemicelulose é um
polímero de glicose substituído por outros açúcares; diferentes moléculas de açúcar possuem
diferentes solubilidades em água. O açúcar predominante é utilizado para nomear a
hemicelulose (p. ex., xilana, galactana, manana, arabinose, galactose) (29).

 Gomas

As gomas são encontradas nas secreções e sementes de vegetais. As qualidades de


textura específicas das gomas e mucilagens são comercialmente úteis quando adicionadas aos
alimentos processados como os sorvetes (18).

 Frutanos

Os frutanos incluem fruto-oligossacarídeos (FOS), inulina, frutanos tipo inulina e


oligofrutose e são compostos de polímeros de frutose, frequentemente ligados a uma glicose
inicial. A inulina abrange um grupo variado de polímeros de frutose amplamente distribuídos
nos vegetais como um carboidrato de armazenamento. A oligofrutose é um subgrupo da
inulina com menos de 10 unidades de frutose. Todas são pouco digeridas no aparelho GI
superior e, dessa forma, fornecem apenas 1 kcal/g (30).

Os frutanos contém frutose; possuem um sabor doce, puro, e têm a metade da doçura
da sacarose. As principais fontes de frutanos incluem trigo, cebola, alho, banana e chicória;
outras fontes incluem tomate, cevada, centeio, aspargo e girassol-batateiro. A inulina e os
compostos são usados amplamente para melhorar o sabor e a doçura adicionada dos alimentos
de baixo teor calórico e a estabilidade e a aceitabilidade dos alimentos com teor de gordura

13
reduzido. Como não são absorvidos no intestino, os frutanos têm sido utilizados na
substituição do açúcar para pacientes diabéticos (29).

 Prebióticos

Os prebióticos são substâncias alimentares não digeríveis que estimulam


selectivamente o crescimento ou a actividade de bactérias presentes no cólon (probióticos)
que são benéficas para o hospedeiro. Vários prebióticos, incluindo a inulina, frutanos do tipo
inulina e FOS, estimulam o crescimento de bactérias intestinais, principalmente as
bifidobactérias. Os frutanos (sintetizados ou extraídos) têm propriedades prebióticas e são
considerados como fibras funcionais (30).

 Polissacarídeos algáceos

Os polissacarídeos algáceos (p. ex., a carragenana) são extraídos das algas marinhas e
utilizados como agentes espessantes e estabilizantes em fórmulas para bebês, sorvete, pudim
de leite e produtos de creme azedo. Os polissacarídeos algáceos são usados comercialmente,
pois formam géis fracos com as proteínas e estabilizam as misturas de alimentos, impedindo
que os ingredientes suspensos fiquem depositados no fundo do recipiente (29).

A carragenana danifica as culturas de células humanas e destrói as células


mioepiteliais mamárias dos seres humanos em concentrações tão baixas quanto 0,00014%.
Com o seu uso disseminado em alimentos comerciais e com a incerteza sobre a extensão da
sensibilidade humana, são necessárias mais investigações sobre a carragenana (31).

 Polidextrose e outros polióis

A polidextrose e outros polióis são polímeros sintéticos dos alcoóis açúcar utilizados
como substitutos do açúcar nos alimentos. Eles não são digeríveis, contribuem para o
aumento do volume fecal e podem ser fermentados no intestino delgado. Estes ainda não
foram classificados como fibras funcionais (32).

 Lignana

A lignana é uma fibra alimentar lenhosa encontrada nos caules e nas sementes de
frutas e vegetais e na camada de farelo dos cereais. Ela não é um carboidrato, mas é um
polímero composto de alcoóis e ácidos fenilpropílicos. Os grupos fenil contêm ligações
duplas conjugadas, que os tornam excelentes antioxidantes. A lignana da linhaça também

14
possui actividade de fitoestrogênio e pode imitar o estrogênio nos seus receptores nos órgãos
reprodutores e ossos (29).

Em um estudo feito por Vanessa Bezerra Borges de Sousa em 2018 no Brasil, referiu
que alimentação da criança constipada deve ser rica em frutas, principalmente aquela de efeito
laxante, como mamão, ameixa, laranja com bagaço, abacate, abacaxi, tangerina e melancia. A
banana e a maçã, como não possuem muito efeito sobre a função intestinal, podem ser
consumidas com aveia ou farelo (12).
O reaproveitamento do bagaço da laranja, que envolve a casca, o albedo, os caroços e
filamentos de membrana proporcionam benefícios devido à rica composição química desse
(9)
material, como a presença de pectina, fibras e carboidratos . Assim, se tratando
especificamente da casca de laranja, pode-se caracterizar que sua composição é 16,9% de
açúcares solúveis; 9,21% de celulose; 10,5% de hemicelulose; e 42,5% de pectina (18).
O interesse que existe hoje em dia na relação entre a ingestão de fibra alimentar e o
risco de contrair doenças deveu-se a dois médicos ingleses, Dr. Dennis Parsons Burkitt e Dr.
(21)
Hugh Carey Trowell . Estes desenvolveram estudos em África na década de 70, onde
descobriram que os nativos não conheciam as doenças gastrointestinais (prisão de ventre,
diverticulite, diverticulose) e outras doenças como cancro do colón, obesidade, doenças
cardiovasculares e diabetes, o que atribuíram ao facto de praticarem uma alimentação rica em
cereais integrais, frutas e hortícolas (21).

A disponibilidade de alimentos de alta qualidade com alto teor de fibra dietética (FD)
é de fundamental importância para obter mudanças na ingestão de fibra recomendada para
(14)
adultos nas sociedades ocidentais . A alta ingestão de fibra dietética é indicada no
tratamento e prevenção de muitas doenças, incluindo câncer de cólon, doença coronariana,
(12)
obesidade, diabetes e distúrbios gastrointestinal . As fontes usuais de FD em alimentos
enriquecidos com fibras são os cereais, mas o uso de frutas como fonte de FD poderia ser
mais adequado fisiologicamente e bastante viável (14,21).
As fibras alimentares estão entre os principais factores da alimentação na prevenção de
doenças crónicas, o consumo adequado de fibras na dieta usual parece reduzir o risco de
desenvolvimento de algumas doenças crónicas como: doença arterial coronariana (DAC),
acidente vascular cerebral (AVC), hipertensão arterial, diabetes melito (DM) e algumas
desordens gastrointestinais, além disso, o aumento na ingestão de fibras melhora os níveis dos
lipídeos séricos, reduz os níveis de pressão arterial, melhora o controle da glicemia em

15
pacientes com diabetes melito (DM), auxilia na redução do peso corporal, e ainda atuam na
melhora do sistema imunológico (27).
Embora associado com benefícios à saúde, o consumo de fibra alimentar apresenta-se
aquém dos valores recomendados, segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF, 2008-
2009), a disponibilidade de fibra alimentar nos domicílios brasileiros era de 12,3 g/dia, e a
recomendação de consumo da Organização Mundial da Saúde (OMS), adoptada pelo
Ministério da Saúde, é de no mínimo, 25,0 g/dia. Nos Estados Unidos, a ingestão diária de
fibra foi de 17,0 g nos adultos ≥19 anos, e os valores de ingestão adequada variavam de 21 a
38 g/dia nessa população (33).

Na Austrália, a média do consumo de fibra foi de 23,8 g/dia e somente 28,2% dos
adultos (≥19 anos) atingiram a recomendação diária de 30 g para homens e 25 g para
mulheres. Em adolescentes, a média de ingestão de fibra foi em torno de 20 g para
brasileiros11, europeus 6 e australianos 10, e em torno de 13 g em crianças/adolescentes
norte-americanos (19).

Um estudo desenvolvido no Brasil com 1.510 idosos mostrou 90,1% de inadequação


do consumo de fibras alimentares (25). Mesmo estes benefícios sendo amplamente conhecidos
e divulgados, a inadequação do consumo desse composto alimentar é prevalente em diversos
(25)
países . E outro estudo feito no mesmo país por Laura Ramos Baleotti em 2018, dados
colhidos pela pesquisa mostram que 80% das gestantes não ingeriram a quantidade
considerada ideal de, pelo menos, 28 g de fibras diárias no período analisado, assim, além das
mudanças fisiológicas no trato gastrointestinal da mulher durante a gravidez, pode-se associar
a baixa ingestão de fibras com a prevalência ou agravamento do sintoma de constipação (33).

De acordo com, a Dietary Approaches to Stop Hypertension (conhecida como dieta


DASH), que, entre outros alimentos, prioriza o consumo de frutas e vegetais, alimentos ricos
em fibras, mostrou-se associada a uma redução dos níveis de pressão arterial em indivíduos
(27)
com DM tipo 2, quando comparados a pacientes com DM tipo 2 sem esse tipo de dieta .
Pesquisas têm evidenciado os efeitos benéficos das FA para prevenir e tratar a doença
diverticular do cólon, reduzir o risco de câncer e melhorar o controlo do diabetes mellitus (12).

Estudos mostram que dentre os diversos tipos de constipação intestinal, destaca-se a


do tipo funcional, sendo esta a mais comum, até mesmo no público infantil, tendo em vista
que a maioria das crianças apresentam constipação funcional, e ao que se indica, o referido

16
problema se inicia no desmame com a introdução de alimentos sólidos, com baixo teor de
fibras e ingestão hídrica insuficiente (12).

Especialmente entre os idosos, a ingestão adequada de fibras alimentares pode


melhorar o estado geral de saúde, levando em conta a maior carga de doenças crónicas não
transmissíveis, bem como a diminuição dos níveis de actividade física e a monotonia
alimentar, que aumentam a ocorrência de constipação intestinal (7).

Uma ingestão de fibras de pelo menos 30 g/dia, bem como a variedade de alimentos
fonte de fibras (frutas, verduras, grãos integrais e farelos), são factores relevantes para que os
benefícios descritos sejam alcançados. Portanto as recomendações actuais de ingestão de fibra
alimentar na dieta variam de acordo com a idade, o sexo e o consumo energético, sendo a
recomendação adequada em torno de 14 g de fibra para cada 1.000 kcal ingeridas (34).

Por outro lado, a FAO/OMS recomenda o consumo de pelo menos 25 g/dia de fibras
na dieta para adultos saudáveis.

Necessidades em diferentes idades

 1–3 anos, 19 g/d;


 4–8 anos, 25 g/d;
 9–13 anos -rapazes, 31 g/d;
 9–13 anos -raparigas, 26 g/d;
 14–18 anos -rapazes, 38 g/d;
 14–18 anos -raparigas, 26 g/d.

As frutas são reconhecidas como fontes de vitaminas, minerais e fibras, são alimentos
importantes da dieta. Nos últimos anos, maior atenção tem sido dada a estes alimentos uma
vez que evidências epidemiológicas têm demonstrado que o consumo regular de frutas está
associado à redução da mortalidade e morbidade por algumas doenças crónicas não
transmissíveis (34).

Presume-se que, a ingestão de fibras da dieta parece estar associada a uma redução
significativa dos níveis de glicose, pressão arterial e de lipídeos séricos. Adicionalmente, há
dados sobre redução de doenças crónicas, incluindo doenças cardiovasculares, diabetes
mellitus e neoplasia de cólon em indivíduos com maior ingestão de fibras (18).

17
Todavia eles desempenham uma função determinante, pois, através de sua ingestão,
pode promover uma melhora na imunidade, contribuir no combate ao envelhecimento
precoce, e auxiliar o intestino na retenção da água, facilitar o trânsito intestinal formação do
bolo fecal, propiciando uma prevenção contra constipação.

No entanto, que não existam estudos publicados que têm abordado temas relacionados
com a quantificação de fibras em laranjas. Supõe-se que a laranja seja uma das frutas mais
consumidas em Moçambique, sendo esta produzida a nível nacional e também importada dos
países vizinhos como a África do Sul.
A laranja é considerada uma boa fonte de fibra dietética, porém, face a esta suposição
e aliado à escassez de dados publicados acerca deste assunto, torna-se imperativo avaliar a
quantidade de fibra existente na laranja nacional e nas laranjas importadas para o país.
Em última instância, tais conhecimentos permitirão vislumbrar as principais áreas de
intervenção, constituindo a base para delinear programas e estratégias que visem
consciencializar os moçambicanos a consumirem a laranja com mais conteúdo de fibra como
forma de aproveitar o máximo este nutriente, a fibra.
Cabe destacar que a escolha da laranja como objecto deste estudo justifica-se pelo
facto de presumir-se que a laranja seja uma das frutas mais abundante e acessível em
Moçambique.
Assim, primeira motivação deste estudo perpassa o facto de que este assunto ainda é
um campo de estudo pouco explorado na literatura académica Moçambicana. A segunda
motivação do estudo é o interesse em conhecer o conteúdo de fibra existente na laranja, uma
das frutas muito consumidas em Moçambique.
E a terceira e última motivação é pelo facto de o consumo de produto nacional se
assemelha ao produto orgânico e que os valores nutricionais devem ser melhor que os
produtos importados com relação a temática em análise.
É neste contexto que, surge a seguinte pergunta de partida: qual é a laranja, nacional
ou importada, com mais teor de fibra alimentar?

18
2.OBJECTIVOS

2.1.Objectivo geral

 Avaliar o teor de fibra das laranjas comercializadas no mercado de Waresta em


Nampula.

2.2.Objectivos específicos

 Caracterizar as laranjas nacionais e importadas comercializadas no mercado Waresta,


Nampula.
 Quantificar o teor de fibra na laranja nacional e importada comercializadas no
mercado de Waresta em Nampula;
 Comparar o teor de fibra dietética da laranja nacional e importada comercializadas no
mercado de Waresta e os padrões aceitáveis.

3.HIPÓTESES

 H0: Os valores da fibra na laranja nacional são maiores em relação aos da fibra na
laranja importada.
 H1: Os valores da fibra na laranja nacional são menores em relação aos da fibra na
laranja importada.

19
4.METODOLOGIA

4.1.Período e local de estudo

O estudo foi realizado no período dos meses de Julho e Agosto de 2022, no


Laboratório de Qualidade e Segurança Alimentar da Unilúrio, do Centro de Estudos
Interdisciplinar-Lúrio (CEIL), cita no bairro de Marrere Expansão, nos Campus universitário
da Unilúrio, á 2,3km da estrada nacional número 1, cidade de Nampula. O referido laboratório
presta serviço de análise de alimento e água e tem como linhas de pesquisa: Nutrição e
Segurança Alimentar, saúde pública e bem-estar. No entanto, foram feitas as análises das
laranjas obtidas a partir do mercado grossista de Waresta, localizado no bairro de Natikire, a
1,4km da Estrada nacional Número 1, na cidade de Nampula.

4.2.Tipo de estudo

 Quanto aos procedimentos

Tratou-se de um estudo observacional, pois durante o percurso do estudo não houve


intervenção, apenas medição das variáveis.

No estudo observacional o investigador actua meramente como espectador de


fenómenos ou factos, sem, no entanto, realizar qualquer intervenção que possa interferir no
curso natural e/ou no desfecho dos mesmos, embora possa, neste meio tempo, realizar
medições, análises e outros procedimentos para colecta de dados (35,36).

 Quanto aos objectivos

Quanto aos objectivos, foi um estudo analítico, por se tratar de um estudo


observacional. Os estudos analíticos identificam factores determinantes para a ocorrência dos
fenómenos, portanto, para ciências naturais, é um método experimental e, para ciências
sociais, é um método observacional (37).

No entanto, estes estudos podem gerar ideias para estudos descritivos adicionais,
assim como novas hipóteses (38).

20
 Quanto a abordagem

Quanto à abordagem, baseou-se numa abordagem quantitativa, uma vez que os


resultados foram apresentados em números e apresentou-se comparações numéricas das
médias das fibras. Esta é uma abordagem ou método que emprega medidas padronizadas e
sistemáticas, reunindo respostas pré-determinadas, facilitando a comparação e a análise de
(39, 40)
medidas estatísticas de dados . Estes estudos traduzem em números as opiniões e
informações para que sejam classificadas e analisadas. Geralmente, utiliza técnicas estatísticas
(37)
.

Tomando como base de que nos estudos quantitativos são usados, normalmente, testes
estatísticos, como o caso de teste t-student (41), neste caso, comparou-se as médias dos valores
das fibras das duas laranjas.

4.3. Universo e amostra

O universo deste estudo foram as laranjas comercializadas no mercado de Waresta, na


cidade de Nampula. No entanto, de forma cuidadosa, foram colectadas amostras
representativas das laranjas, amostra bruta, a serem analisadas, que consistiram em 100
laranjas, sendo que estas foram obtidas de diversos vendedores do mercado. Posteriormente,
foram transportadas de imediato e cuidadosamente, onde foram identificadas e armazenadas a
fim de preservar o valor nutritivo.

Em seguida foram seleccionadas as amostras de laboratório mediante a redução da


amostra bruta, onde se obteve 60 laranjas dos quais 30 laranjas nacionais e 30 laranjas
importadas. Para a realização deste processo de amostragem usou-se a amostragem não
probabilística intencional ou por tipicidade. Portanto, neste tipo de amostragem, o pesquisador
selecciona um subgrupo da população que, com base nas informações disponíveis, possa ser
considerado representativo de toda a população (42).

Posteriormente foram retiradas 10% para cada tipo de laranja, para aferir a
consistência dos resultados e foram subdivididas em diferentes repetições de amostras de
trabalho onde as laranjas eram constituídas por 3 unidades, assim como as laranjas importadas
eram constituídas por 3 unidades.

De seguida foram seleccionadas as amostras de análise (analito), onde as laranjas


foram cortadas ao meio, no sentido longitudinal e transversal, de modo a repartir em quatro

21
partes. Sendo que duas partes opostas foram descartadas e as outras juntadas, pesadas e
homogeinizadas em liquidificador para serem submetidas a análise.

4.4.Critérios de elegibilidade

4.4.1.Critérios de inclusão

 Todas as laranjas nacionais e internacionais comercializadas no mercado de Waresta,


no período de recolha de dados.

4.4.2.Critérios de exclusão

 Todas as laranjas que estiveram em estado de deterioração.

4.5.Definição de variaveis

Independentes:

 Tipo de laranjas;

 Tipo de fibra.

Dependentes:

 Fibra bruta.

4.6.Tratamento de dados

A análise de dados foi feita considerando sete repetições das experiências realizadas
para cada tipo de laranja. Portanto, usou-se o Microssoft Excel 2016 para organizar os dados e
construir os gráficos e tabelas. O Statistical Pack of Social Science (SPSS) versão 25.0 foi
usado para a análise dos dados obtidos durante a experiência, onde comparou-se as médias
dos valores de fibras das laranjas nacionais e importadas. Assim sendo, para a comparação
das médias usou-se o teste t de Student para amostras independentes, portanto, no mesmo
teste quando o teste de Levene apresentou um valor negativo, assumiu-se as variâncias iguais.

22
4.6.1.Material usado no laboratório

Tabela 5: Equipamentos usados no laboratório.

Equipamentos Função

Balança analítica Utilizado para pesar as amostras


laboratoriais.

Crisóis Porosos Utilizado para extracção da fibra no Dosser-


Fiber.

Dissecador Utilizado para baixar as altas temperaturas


das amostras.

Estufa Utilizado para retirada da água duma amostra

Mufla Utilizado para calcinar a matéria.

Proveta Usado para medir a água e outros analíticos.

Dosser-Fiber Usado para a determinação da fibra bruta.

Faca Utilizada para a preparação das amostras,


depois de serem seleccionadas.

Fonte: Autor, 2022.

Tabela 6: Reagentes usados no estudo.

Reagentes Fórmula Quantidade m (%) Concentração

Ácido sulfúrico H2SO4 150 ml 1,25% 0,128 mol/l

Hidróxido de sódio NaOH 150 ml 1,25% 0,72 N

Hidróxido de potássio KOH 150 ml 1,25% 0,223 mol/l

Fonte: autor 2022.

23
4.6.2. Procedimentos

Para a determinação do teor de fibra existente nas laranjas, baseou-se no método


químico-gravimétrico de determinação de fibra bruta que é de todos os métodos o mais
antigo, denominado por método Weende(44).

Este método gravimétrico consiste na digestão ácida da amostra com ácido sulfúrico
(H2SO4), o ácido é mantido em refluxo, durante 30 min e a 100ºC. Decorridos os 30 min a
amostra com ácido é filtrada a vácuo e o resíduo lavado com água a ferver. Ao resíduo de
filtração é adicionado hidróxido de sódio (NaOH) que é mantido em refluxo por mais 30 min
e a 100ºC, faz-se uma segunda filtração e o resíduo final é lavado, primeiro com ácido
sulfúrico a 100ºC e depois com água a 100ºC e por fim álcool. O resíduo final é seco, pesado
e por fim incinerado e determinada a cinza. A fibra bruta é determinada por subtracção da
massa da cinza à massa do resíduo final(44).

É importante referir que, no método de Weende, na determinação da Fibra Bruta (FB)


são utilizados ácido sulfúrico 98% e hidróxido de sódio 50% ambos diluídos para 1,25%. A
utilização do ácido e da base consiste em simular o processo de digestão, ao longo do trato
gastrointestinal dos animais ((45).

Portanto, neste estudo, todas as análises foram feitas por triplicados, depois foram
realizadas as médias de número de repetições. A seguir estão descritos os procedimentos
efectuados neste estudo, de acordo com o método gravimétrico denominado por Weende:

1. Pesou-se a amostra nos crisóis porosos e fez-se tara da balança tirando o peso do
recipiente;
2. Em seguida colocou-se a amostra de 1.5 gramas (g) nos crisóis porosos numa balança
analítica;
3. Foi colocado a amostra no aparelho Dosser-Fiber e depois foi assegurado que as
válvulas estavam bem seladas;
4. Mediu-se 150 ml de Hidróxido de Sódio em cada coluna;
5. Foi aberto o circuito de refrigeração e activou-se as resistências calefatoras, em
potência de 90%, esperou-se ferver e reduzir a potência para 30% e deixar ferver
durante o tempo de 1h, para uma hidrólise mais segura.
6. Lavou-se a amostra com água destilada, filtrou-se e repetiu-se o processo por três
vezes;

24
7. Repetiu-se o processo anterior 3 vezes, desta vez usando o Hidróxido de Potássio, no
lugar de Hidróxido de Sódio;
8. Foi retirado, a amostra, para estufa de radiação electromagnética com frequência de
3.000Ghz durante 1 hora com uma temperatura de 150oC;
9. A seguir foram levados num dessecador para baixar a temperatura para uma
temperatura de meio ambiente;
10. Em seguida foram pesadas as amostras na balança electrónica de modo que se
pudesse ver a diferença do peso antes de colocar na estufa e depois de ser colocado na
estufa;
11. Depois foram colocadas as amostras nos crisóis no forno de mufla a 500oC e
incineradas durante 3h.
12. Em seguida deixou-se esfriar em dessecador;
13. Pesou-se os crisóis com a balança de precisão;
14. Por fim, foram realizados cálculos, baseando-se nos resultados de 7 repetições onde,
cada repetição era feita em triplicata (três vezes) e posteriormente feita a média de
cada repetição.
15. Por fim foram feitos os cálculos das médias das 7 repetições realizadas em cada
variedade de laranja.

Cálculos usados para a determinação da amostra:

𝑊1−W2
Fibra bruta = 𝑊𝑂

Onde:
 Wo = Peso amostra inicial com crisóis porosos;
 W1 = Peso inicial da amostra sem crisóis;
 W2 = Peso final da amostra.

25
5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.1. Caracterização das laranjas nacionais e laranjas importadas

5.1.1.Laranjas nacionais

De acordo com a observação feita pelo autor, após a colecta das amostras, as laranjas
nacionais vendidas no mercado do Waresta são oriundas de vários distritos da província de
Nampula, Niassa, Zambézia e Manica. De acordo com as características apresentadas nestas
laranjas, são classificadas como laranja branca ou comum, do grupo das Valencia Delta
Seedless46.

As laranjas nacionais apresentam um tamanho pequeno, forma redonda e com


sementes. Casca fina e cor de laranja, polpa cor de laranja, com elevado teor de sumo, com
menor teor de açúcar e de acidez. Adequado para indústria, com boas condições para
conservação e transporte.

5.1.2.Laranjas importadas

Observadas as laranjas importadas e vendidas no mercado de Waresta constatou-se


que estas apresentam um tamanho grande, esférico a oval, de casca ligeiramente rugosa,
umbigo grande a médio, por vezes saliente. Casca de espessura média, cor de laranja escuro,
polpa de cor profunda, com textura firme, moderadamente suculenta, com sabor muito
agradável e sem sementes.
De acordo com um estudo sobre variedades e porta-enxertos de citrinos, realizado por
Tomás, em 2016, no Alargave, as características das laranjas importadas, apresentadas neste
estudo, são classificadas como sendo do grupo Washington Navel (de umbigo). Esta
variedade, durante muito tempo foi a mais representativa e importante variedade do grupo
Navel. Parece ser algo instável dado que tem originado mutações e têm vindo a perder
importância para suas próprias mutações, por serem comercialmente mais atractivas, sendo
que a sua a maturação é de meia estacão46.

5.2.Quantidades das fibras encontradas nas laranjas analisadas

Os gráficos 2 e 3 mostram resultados encontrados na realização da experiência com


laranjas nacionais e importadas, respectivamente, nos quais foram feitas 7 repetições para
cada amostra, como se pode observar a seguir:

26
1,20 1,09 1,09

1,00 0,90 0,86


0,84
0,74 0,75
0,80
RESULTADOS

0,65

0,60

0,40

0,20

0,00
1 2 3 4 5 6 7 Med
NÚMERO DE REPETIÇÕES

Gráfico 2: Ilustração de resultados de fibras em laranja Nacional.

0,70
0,68
0,70 0,66

0,60 0,56
0,50
0,50 0,45
0,40
RESULTADOS

0,40

0,30

0,20

0,10

0,00
1 3 4 5 6 7 Med
NÚMERO DE REPETIÇÕES

Gráfico 3:Ilustração de resultados de fibras em laranjas Importadas.

27
5.3.Comparação das médias usando teste de amostras independentes

Pode se observar na tabela 5 que, as laranjas nacionais apresentam, em média maior


quantidade de fibras (média = 0,86 e Desvio Padrão = 0,065) em relação as fibras das laranjas
importadas (média = 0,56 e Desvio Padrão = 0,047).

Pode se confirmar tais resultados na tabela 6, ao se comparar os valores médios das


fibras nas laranjas nacionais e importadas, foi possível encontrar, na análise bi-caudal,
diferença estatisticamente significativa por meio do teste-t de Student, com intervalo de
confiança de 95% e erro de 5%, onde o valor de t foi igual a -3,916, o seu grau de liberdade
igual a 12 e o valor de p = 0,002, um valor menor que 0,05, confirmando que existe uma
diferença estatisticamente significativa entre as duas amostras. Portanto, os valores de t, Grau
de Liberdade e p foram escolhidos pelo facto do valor de Significância do teste de Levene ser
maior que 0,05.

Tabela 7: Estatísticas de grupo

Tipo de No de Media das Desvio Padrão


laranjas repetições fibras

Importada 7 0,56 0,047


Nacional 7 0,86 0, 065

Tabela 8: Resultados do teste de t de Student

Fibras Teste de Levene para Teste-t para igualdade de médias


igualdade de variância
Nível de significância T Grau de Nível de
liberdade significância
ou valor de
p
Variâncias iguais 0,471 -3,916 12 0,002
assumidas
Variâncias iguais não -3,916 10,935 0,002
assumidas

28
Um estudo feito por Ramirez e Hubscher em Minas Gerais, em 2016, onde foram
analisadas uma amostra de 15 laranjas de Minas Gerais e 15 laranjas importadas de países
vizinhos, Argentina e Bolívia, concluiu que as laranjas locais apresentavam uma quantidade
elevada de fibras. Os resultados do estudo apresentavam diferenças estatisticamente
significativa, através do teste-t de Student, a partir do intervalo de confiança de 95% e erro de
5%, onde o valor de t foi igual a -1,5156, Grau de Liberdade (GL) = 12 e o valor de p = 0,012.

No entanto, apesar dos resultados do tal estudo mostrar que a laranja de Minas Gerais
apresentou elevada quantidade de fibras em relação as laranjas de importadas para essa
cidade, a média das fibras das laranjas analisadas do estudo foi de 0,66 g, mostrando assim
resultados diferentes aos apresentados neste estudo (47).

Num outro estudo feito em 2014, por Mineiro, em Lisboa, onde avaliou-se a
quantidade de fibra Alimentar em diversos alimentos, através do método aplicado para
determinação de fibra alimentar bruta, o método químico-gravimétrico. Através dos
resultados obtidos verificaram que os teores de fibra nas laranjas eram baixos, comparando
com as laranjas produzidas em Moçambique. Para os bagaços da fruta os resultados em
matéria seca por 100 g de bagaço de fibra bruta foram de ±0,3 g (44).

29
6.CONCLUSÃO

Com base nos resultados obtidos neste estudo, pode-se concluir que, o mercado de
Waresta comercializa laranjas provenientes de vários cantos da província de Nampula e
também laranjas importadas de países vizinhos. As laranjas nacionais apresentam um
tamanho pequeno, forma redonda e com sementes. As laranjas importadas apresentam um
tamanho grande, esférico a oval, de casca ligeiramente rugosa. Umbigo grande a médio, por
vezes saliente. Casca de espessura média, cor de laranja escuro. Polpa de cor profunda, com
textura firme, moderadamente suculenta, com sabor muito agradável. Sem sementes.
Pode-se concluir, também que, as laranjas nacionais, comparativamente as laranjas
importadas, apresentam um teor mais elevado de fibra total, isto é, solúvel e insolúvel, maior
que as laranjas importadas. Pode se observar nos resultados deste estudo que a diferença da
fibra total entre a laranja nacional e a importada é de 0,318. Portanto esta diferença é
considerada estatisticamente significativa ao fazer-se a comparação das médias, pois o valor
do teste de t de Student deu -3,916 e o valor de p= 0,002.

Pressupõe-se que, as laranjas importadas apresentam baixo teor de fibras porque elas
são transgénicas, isto é, são modificadas tem um ciclo de produção reduzido, ao passo que as
laranjas nacionais não são transgénicas (modificadas geneticamente), e apresentam um ciclo
de produção muito longo e natural.

Com base nessa pesquisa, afirma-se que o consumo das laranjas junto com o albedo
que é rico em fibras e pepctina, podem ajudar na prevenção das doenças gastrointestinais
(prisão de ventre, diverticulite, diverticulose) e outras doenças como cancro do cólon,
obesidade, doenças cardiovasculares e diabetes.

6.1. LIMITAÇÕES DO ESTUDO

 Escassezes de estudos publicados em Moçambique que, abordam em torno do tema


referente a avaliação do teor de fibras em laranjas nacionais dificultaram na realização
do deste estudo;
 A sazonalidade das laranjas nacionais desempenhou uma limitante na materialização
deste estudo.

30
7.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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34
APÊNDICES

35
Apêndice A: ilustração de alguns passos dos procedimentos de determinação de fibra

1º Passo preparação e passagem da amostra

2º Passo Introdução da amostra no aparelho Dosser-Fiber

36
3º passo introdução do Hidróxido de Sódio

4º Passo introdução da amostra no dissecador

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ANEXOS

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Anexo I: Credencial de realização de estudo

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