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Informe Agropecuário
Uma publicação da EPAMIG
v.27 n.235 nov./dez. 2006
Belo Horizonte-MG

Sumário
Editorial ........................................................................................................................... 3

Entrevista ......................................................................................................................... 4

Importância econômica, perspectivas e potencialidades do mercado para


pimenta
José Luis dos Santos Rufino e Daniel Camargo Salim Penteado ....................................... 7
Apresentação
O cultivo de pimentas, considerado até Espécies e variedades de pimenta
pouco tempo uma atividade secundária tem
Gisele Rodrigues Moreira, Fabiano Ricardo Brunele Caliman, Derly José Henriques da
sofrido grandes transformações e assumido
maior importância no País. Essas transformações Silva e Cláudia Silva da Costa Ribeiro ............................................................................. 16
visam atender às demandas internas e externas
do mercado consumidor. Produção de sementes de pimentas
Hoje, o agronegócio de pimentas está Warley Marcos Nascimento, Denise Cunha Fernandes dos Santos Dias e Raquel Alves
entre os melhores exemplos de integração entre de Freitas .......................................................................................................................... 30
todos os atores dessa cadeia produtiva. Pois,
grande número de produtores familiares, de
Clima, época de semeadura, produção de mudas, plantio e espaçamento
pequeno porte, faz conservas de pimentas e
comercializa diretamente em feiras livres, na cultura da pimenta
mercados de beira de estrada, pequenos es- Cleide Maria Ferreira Pinto, Mário Puiatti, Fabiano Ricardo Brunele Caliman, Gisele
tabelecimentos comerciais e atacadistas. Por Rodrigues Moreira e Robert Nunes Mattos ....................................................................... 40
outro lado, em geral, empresas de porte médio
comercializam conservas, molhos, geléias, con- Nutrição mineral e adubação para pimenta
servas ornamentais em supermercados, lojas de
Cleide Maria Ferreira Pinto, Paulo César de Lima, Luís Tarcísio Salgado e Fabiano
conveniência e de produtos importados e até
em lojas de decoração. Grandes empresas Ricardo Brunele Caliman .................................................................................................. 50
exportam a pimenta na forma desidratada,
páprica, pasta e conservas ornamentais. Irrigação da cultura da pimenta
Apesar de sua reconhecida importância Waldir Aparecido Marouelli e Henoque Ribeiro da Silva ................................................. 58
econômica e social, a cultura da pimenta é pouco
estudada no Brasil, em todas suas fases do
Manejo de plantas daninhas na cultura da pimenta
sistema de produção. A busca por melhor
Izabel Cristina dos Santos, Cleide Maria Ferreira Pinto e Francisco Affonso Ferreira ....... 68
qualidade, preços e custos tem exigido dos pro-
dutores maior eficiência técnica e econômica
na condução dos sistemas de produção. Pragas associadas à cultura da pimenta e estratégias de manejo
Este número do Informe Agropecuário Madelaine Venzon, Cláudia Helena Cysneiros Matos de Oliveira, Maria da Consolação
procura preencher importante lacuna na li- Rosado, Angelo Pallini Filho e Izabel Cristina dos Santos ................................................ 75
teratura brasileira. Trata-se não só de uma cole-
tânea de informações, destinada a selecionado
Principais doenças da cultura da pimenta
grupo de pesquisadores, mas também de um
manual de elevado nível tecnológico dirigido a Margarida Gorete Ferreira do Carmo, Francisco Murilo Zerbini Júnior e Luiz Antônio
agricultores, empresários, profissionais liberais Maffia ............................................................................................................................... 87
do setor agrícola, estudantes e toda a sociedade
que tem interesse no cultivo e nos produtos da Colheita e manejo pós-colheita da pimenta
planta de pimenta. Fernando Luiz Finger e Vicente Wagner Dias Casali ......................................................... 99

Cleide Maria Ferreira Pinto


Coeficientes técnicos, custos, rendimento e rentabilidade das pimentas
Derly José Henriques da Silva
Nirlene Junqueira Vilela e Keize Pereira Junqueira ......................................................... 104
ISSN 0100-3364

Informe Agropecuário Belo Horizonte v. 27 n. 235 p. 1-108 nov./dez. 2006

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© 1977 EPAMIG Informe Agropecuário é uma publicação da
ISSN 0100-3364
Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
INPI: 006505007
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Luiz Carlos Gomes Guerra EPAMIG.
Manoel Duarte Xavier
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Maria Lélia Rodriguez Simão
Artur Fernandes Gonçalves Filho
Júlia Salles Tavares Mendes Os nomes comerciais apresentados nesta revista são citados apenas
Cristina Barbosa Assis para conveniência do leitor, não havendo preferências, por parte da
Vânia Lacerda EPAMIG, por este ou aquele produto comercial. A citação de termos
técnicos seguiu a nomenclatura proposta pelos autores de cada artigo.
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E DIFUSÃO DE TECNOLOGIA
publicação da edição.
Cristina Barbosa Assis

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Cleide Maria Ferreira Pinto e Derly José Henriques da Silva
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NORMALIZAÇÃO
Fátima Rocha Gomes e Maria Lúcia de Melo Silveira
Informe Agropecuário. - v.3, n.25 - (jan. 1977) - . - Belo
PRODUÇÃO E ARTE
Horizonte: EPAMIG, 1977 - .
Diagramação/formatação: Maria Alice Vieira, Fabriciano Chaves v.: il.
Amaral, Letícia Martinez
Capa: Letícia Martinez Cont. de Informe Agropecuário: conjuntura e estatísti-
ca. - v.1, n.1 - (abr.1975).
Foto da capa: Anna Wolniak ISSN 0100-3364

PUBLICIDADE 1. Agropecuária - Periódico. 2. Agropecuária - Aspecto


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Governo do Estado de Minas Gerais


Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Sistema Estadual de Pesquisa Agropecuária - EPAMIG, UFLA, UFMG, UFV

A EPAMIG integra o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária, coordenado pela EMBRAPA

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Governo do Estado de Minas Gerais
Aécio Neves
Governador
Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Marco Antonio Rodrigues da Cunha
Futuro promissor para a cultura
da pimenta
Secretário

Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais


Conselho de Administração Desde os primórdios da civilização, a pimenta tem sido
Marco Antonio Rodrigues da Cunha
Baldonedo Arthur Napoleão utilizada para tempero, conservante de alimentos, planta
Silvio Crestana
Maria Lélia Rodriguez Simão ornamental e fins medicinais. Cerca de um quarto da população
Osmar Aleixo Rodrigues Filho
Décio Bruxel mundial consome pimentas nas formas fresca ou processada.
Sandra Gesteira Coelho
Adauto Ferreira Barcelos A maior concentração de cultivos de pimentas em todo o mundo
Willian Brandt
Joanito Campos Júnior está no Continente Asiático, tendo como principais países produtores
Helton Mattana Saturnino Índia, Coréia, Tailândia, China, Vietnã, Srilanka e Indonésia.
Conselho Fiscal
Carmo Robilota Zeitune No Brasil, a produção de pimentas vem crescendo muito
Heli de Oliveira Penido
José Clementino dos Santos nos últimos anos, com mercado estimado em mais de R$ 100
Evandro de Oliveira Neiva
Márcia Dias da Cruz milhões ao ano. Os cultivos concentram-se em regiões de clima
Celso Costa Moreira subtropical, como no Sul, ou de clima tropical, como no Norte e
Presidência
Baldonedo Arthur Napoleão Nordeste. As principais regiões produtoras de pimenta são a Sudeste
Diretoria de Operações Técnicas e a Centro-Oeste, tendo como maiores produtores os estados de
Manoel Duarte Xavier
Diretoria de Administração e Finanças Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Ceará e Rio Grande do Sul. Em
Luiz Carlos Gomes Guerra
Gabinete da Presidência 2005, o volume das exportações brasileiras de Capsicum atingiu
Álvaro Sevarolli Capute
9.222 toneladas, no valor de US$ 23.478,00, fazendo com que
Assessoria de Comunicação
Roseney Maria de Oliveira as pimentas se posicionassem como a segunda principal hortaliça
Assessoria de Desenvolvimento Organizacional
Ronara Dias Adorno exportada.
Assessoria de Informática
Renato Damasceno Netto A Centrais de Abastecimento de Minas Gerais S/A
Assessoria Jurídica (CeasaMinas), ao longo da última década, comercializou,
Paulo Otaviano Bernis
Assessoria de Planejamento e Coordenação anualmente, em média 200 mil kg de pimenta. Os meses de maior
José Roberto Enoque
Assessoria de Relações Institucionais oferta são novembro e dezembro, quando comercializam-se,
Artur Fernandes Gonçalves Filho
aproximadamente, 28 toneladas do produto. Esses dados mostram
Auditoria Interna
Carlos Roberto Ditadi que a pimenta tem grande importância econômica e social, ao
Departamento de Transferência e Difusão de Tecnologia
Cristina Barbosa Assis empregar significativo número de pessoas, principalmente na
Departamento de Pesquisa
Maria Lélia Rodriguez Simão colheita.
Departamento de Negócios Tecnológicos O mercado de pimentas no Brasil está sofrendo grandes
Artur Fernandes Gonçalves Filho
Departamento de Prospecção de Demandas modificações pela exploração de novas variedades e pelo
Júlia Salles Tavares Mendes
Departamento de Recursos Humanos desenvolvimento de produtos com grande valor agregado, a
Flávio Luiz Magela Peixoto
Departamento de Patrimônio e Administração Geral exemplo das conservas ornamentais, geléias exóticas e outras
Marlene do Couto Souza
Departamento de Obras e Transportes formas processadas. Nesse contexto, a pesquisa sobre pimentas
Luiz Fernando Drummond Alves
Departamento de Contabilidade e Finanças deve merecer maior atenção e ser incentivada com vistas a um
Celina Maria dos Santos
Instituto de Laticínios Cândido Tostes
futuro promissor para todos os envolvidos nessa cadeia produtiva.
Gérson Occhi Esta edição da revista Informe Agropecuário vem atender a
Instituto Técnico de Agropecuária e Cooperativismo
Marcello Garcia Campos esta expectativa, ao apresentar informações e novas tecnologias
Centro Tecnológico do Sul de Minas
Edson Marques da Silva sobre pimentas, que visam contribuir para o desenvolvimento dessa
Centro Tecnológico do Norte de Minas
Marco Antonio Viana Leite cultura no Brasil.
Centro Tecnológico da Zona da Mata
Juliana Cristina Vieccelli de Carvalho
Centro Tecnológico do Centro-Oeste Baldonedo Arthur Napoleão
Cláudio Egon Facion
Centro Tecnológico do Triângulo e Alto Paranaíba Presidente da EPAMIG
Roberto Kazuhiko Zito

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, nov./dez. 2006

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Pimenta tipo exportação

O produtor rural e empresário Dário Braga Alvim


possui longa experiência na atividade agropecuária, tendo
sido produtor de leite e trabalhado com diversas culturas, em
Guarani, Zona da Mata de Minas Gerais. Sempre buscando
diversificar suas atividades, criou uma empresa, em Belo
Horizonte, para comercializar produtos de sua propriedade,
como pimenta e fumo. A iniciativa teve sucesso, ocasionando
a abertura de novas lojas na Capital e na CeasaMinas.
O empreendimento funcionou até 1996, quando foi
dissolvida a sociedade familiar e deu-se seguimento à
industrialização da pimenta. Nesses 10 anos subseqüentes,
Dário Alvim dedicou-se à criação de gado de corte e à
empresa de industrialização de pimentas. Com orientação
da pesquisa, por meio de novas tecnologias, e com o apoio
do Departamento de Tecnologia de Alimentos da
Universidade Federal de Viçosa (UFV), Dário Alvim tem obtido
bons resultados.
Atualmente, os produtos industrializados de pimenta
estão sendo registrados nos Estados Unidos, na Food and
Drug Administration (FDA), o que tornará ainda mais fácil a
exportação para o resto do mundo.

IA - Desde quando o senhor cultiva toneladas de pimenta, cerca de 2 kg por mercados, atingindo consumidores
pimenta na região de Guarani e planta. diferenciados. A busca por produtos
como iniciou-se nesta atividade? diversificados, por parte dos consu-
IA - Qual a área plantada com pi- midores, tem impulsionado para essa
Dário Alvim - Comecei em 1965,
menta em sua propriedade? tendência.
com a experiência de plantio de dez pés
de pimenta. Percebi a grande procura Dário Alvim - Atualmente, em
por essa cultura e decidi investir nesta minha propriedade no município de IA - Quais as principais dificuldades
produção. Contudo, devido à falta de Guarani, mantenho uma área plantada encontradas no manejo dessa
experiência e de informações sobre o de, aproximadamente, 3 hectares de cultura, no que diz respeito a

plantio, a iniciativa foi abandonada. Em variedades de pimentas vindas da produção de mudas, adubação,

1970, com a orientação de outros Coréia e do México, que são altamente irrigação, controle de plantas

produtores, retomamos a atividade com produtivas. A intenção é diversificar e daninhas, de pragas e de doenças?

um plantio de 5 mil pés e, nesse melhorar a produtividade de pimentas Dário Alvim - O grande desafio é a
período, até 1985, cheguei a colher 35 e, assim, alcançar maiores e melhores colheita. O custo é alto e chega a ser
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 2 7 , n . 2 3 3 , j u l . / a g o . 2 0 0 6

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40% do preço bruto da pimenta. Outra IA - Quais os maiores entraves ao dutor tem que oferecer avalistas com
dificuldade é a divulgação das infor- desenvolvimento da pimenti- exigências de outorga uxória, o que
mações ao produtor. Não há orienta- cultura da Zona da Mata? torna a operação muitas vezes im-
ções técnicas disponíveis e as que possível.
Dário Alvim - A mão-de-obra para
existem dificilmente chegam aos pe-
a colheita é um fator preponderante.
quenos produtores, que enfrentam IA - Como tem sido a produtividade
Entretanto, há diversos entraves para
muitos problemas com as doenças da pimenta para o produtor e
contratação de pessoal, tais como,
causadas por insetos. para a região?
custos elevados e diversos contra-
É imprescindível a pesquisa para
tempos advindos dessa relação de Dário Alvim - Infelizmente, a pro-
produção de pimenta orgânica e o
trabalho. Acredito que a melhor solu- dutividade está muito aquém do que
acesso, por parte dos produtores, às
ção para isso seria a produção no sis- poderia ser. Os motivos são a falta de
orientações técnicas para produção
tema de economia familiar, com o apoio orientação técnica, que vai desde a aná-
dessa cultura, que tem tido grande acei-
da assistência técnica e a garantia de lise da terra, da formação das mudas,
tação e procura em todo o mundo e que
preços mínimos por parte do governo. dos riscos de viroses de sementes con-
garantirá um excelente mercado no
taminadas, irrigação malplanejada,
Brasil e no exterior.
IA - Para quais mercados destina-se a adubação química sem orientação, de-
produção de pimentas da Zona da fensivos desnecessários e até por não
IA - Na sua opinião, como a pesquisa
Mata mineira? existir nenhum defensivo com in-
pode melhorar esse quadro? E o
Dário Alvim - Em regra, destina-se dicação para pimenta no mercado
que precisa ser feito?
a Belo Horizonte. Mas sabe-se que o brasileiro. Esse conjunto de dificul-
Dário Alvim - Algumas pesquisas
mercado é amplo. Há informações de dades ocasiona uma produtividade
sobre pimenta já foram desenvolvidas
que 1/4 da população do mundo con- baixíssima.
sem muito sucesso. Esse insucesso
some pimenta. Na realidade, o que falta
deve-se à falta de recursos e ao fato de
é o apoio aos pequenos exportadores, IA - Com todos esses problemas, plantar
muitos desses resultados não chegarem
com redução da burocracia, o que fa- pimenta é um bom negócio?
ao destino certo. Um dado que con-
cilitaria as negociações. Dário Alvim - Mesmo com todos
substancia esta afirmação está em nos-
sa realidade: no mercado não existe esses problemas, plantar pimenta é um
IA - Que dificuldades o senhor tem bom negócio sim, desde que a ativida-
nenhum defensivo indicado para pi-
encontrado na comercialização de seja desenvolvida no sistema de
menta.
de seu produto? economia familiar. A procura pelo pro-
Deveria existir um convênio com a
Universidade Federal de Viçosa (UFV), Dário Alvim - O que eleva nossos duto é muito grande e o mercado é
instituição de pesquisa em nossa região, custos são as despesas com encargos crescente, principalmente para o pro-
ou EPAMIG, para se fazer pesquisa na sociais, impostos, juros altos. Como dutor que investir no processamento
área de entomologia, relacionada com pagar juros que chegam a 60% ao ano do produto. A lavoura precisa ser muito
a cultura da pimenta. Esse convênio com uma inflação de menos de 3%? bem administrada e conduzida de forma
deveria reunir a pesquisa e a exten- Porque os juros que estão disponíveis sustentável. Atualmente, colho, em
são rural, nesse caso envolvendo a no mercado são de 5%. Juros baixos só média 2 kg de pimenta-malagueta por
EMATER, e levar, dessa forma, os são encontrados em um período do ano, planta.
resultados ao pequeno produtor. entre março e maio. Além disso, o pro- Por Vânia Lacerda

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 2 7 , n . 2 3 3 , j u l . / a g o . 2 0 0 6
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6 - dpnt_sementes.p65 1 22/12/2006, 10:08
Cultivo da pimenta 7

Importância econômica, perspectivas e potencialidades do


mercado para pimenta
José Luis dos Santos Rufino 1
Daniel Camargo Salim Penteado 2

Resumo - Desde o início da civilização, a pimenta tem sido usada pelo homem como
condimento, planta ornamental e para fins medicinais. Esses usos têm evoluído ao
longo dos tempos. Hoje, o agronegócio de pimentas é um dos melhores exemplos de
integração entre agricultor e agroindústria. Além de consumidas in natura, as pimentas
podem ser processadas e utilizadas em diversas linhas de produtos na indústria de
alimentos, para consumo interno e exportação. As perspectivas da pimenta no País são
alentadoras. Produtos manufaturados como molhos, conservas e geléias de pimenta
estão abrindo mais perspectivas de mercado.

Palavras-chave: Capsicum. Agronegócio. Economia. Comércio. Comercialização. Preço.


Oferta.

INTRODUÇÃO das Américas já utilizavam a pimenta em cultivavam e colhiam pimentas. Em 1814,


sua alimentação, de forma contínua, antes o explorador Alexander Humboldt ano-
Os registros mais antigos do consumo
mesmo do descobrimento desse conti- tou que “as pimentas eram tão neces-
de pimenta (Capsicum spp.) datam de,
nente. A partir de então, os europeus ini- sariamente indispensáveis para os nativos,
aproximadamente, 9000 a.C. e foram
ciaram sua domesticação e as pimentas quanto o sal para os brancos.” Vale destacar
encontrados, quando das explorações
foram disseminadas em todo o mundo. que o plantio de pimenta por tribos in-
arqueológicas, em Tehuacán, México. Não
Os espanhóis e os portugueses foram os dígenas continua, até hoje, como entre os
é conhecido o padrão de uso das pimentas primeiros a ter contato com a pimenta índios Mundurucus, na Bacia do Rio Ta-
no Novo México, contudo, existem indí- Capsicum, disseminando-a para vários pajós.
cios de que, inicialmente, elas foram usadas lugares, onde adquiriu características e no- Do ano de 1500 aos dias atuais, as pi-
pelos nativos indígenas como medica- mes próprios. mentas passaram a ser consumidas por
mento, prática comum entre os Maias. Conta-se que Cristóvão Colombo, em povos de todas as origens, em quantidade
Outros sítios arqueológicos, onde tam- uma das suas viagens históricas para a crescente e em usos variados.
bém foi registrada a presença de pimenta, América, em 1493, foi o primeiro europeu a
são conhecidos no Peru, nas localidades ter contato com a pimenta Capsicum, iden- PRODUÇÃO DE PIMENTAS NO
de Ancon e Huaca Prieta. Relatos difusos tificando nessa cultura, fonte alternativa
MUNDO E NO BRASIL
do cultivo de pimentas pelos índios, entre para a pimenta-do-reino (Piper nigrum),
5200 e 3400 a.C., no Peru e na Bolívia, condimento favorito na Europa, naquela No Mundo, de toda a área cultivada
comprovam ser uma das plantas cultivadas época. com pimentas, aproximadamente 89% estão
mais antigas das Américas. A princípio os No Brasil, quando do seu descobri- no Continente Asiático, com as principais
indígenas americanos cultivavam a pimen- mento, o cultivo de pimentas era prática áreas de cultivo localizadas na Índia, Co-
ta selvagem ‘Piquin’ e a selecionaram, che- comum de tribos indígenas. Com a imensa réia, Tailândia, China, Vietnã, Srilanka e
gando a vários tipos hoje conhecidos. variabilidade de pimentas nativas, cer- Indonésia.
Ao certo, sabe-se que os índios nativos tamente pode-se supor que diversas tribos A segunda região mais importante no

1
Engo Agro, D.Sc., Pesq. EMBRAPA/EPAMIG-CTZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: jlsrufino@vicosa.ufv.br
2
Estudante Engenharia Agronômica, UFV, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: dcspenteado@yahoo.com.br

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.7-15, nov./dez. 2006

artigo1.p65 7 22/12/2006, 10:16


8 Cultivo da pimenta

cultivo de pimentas compreende os Estados MERCADO PARA PIMENTAS cializam com suas marcas, adquirindo as
Unidos e o México, com cerca de 7% do to- pimentas diretamente de produtores,
Há grandes perspectivas e potencia-
tal plantado com pimentas em todo o mun- fornecedores credenciados ou atacadistas.
lidades do mercado de pimentas pela
do. Do total da área cultivada com pimenta Na maioria dos mercados atacadistas
versatilidade de suas aplicações culinárias,
nesses países, aproximadamente, 50% vão brasileiros, nas cotações de preços para as
industriais, medicinais e ornamentais.
para o mercado in natura e os outros 50% pimentas, não se distinguem os tipos de
Apesar disso, as estatísticas mundiais de
para processamento industrial, como mo- pimenta. A comercialização dá-se na forma
área cultivada, produção, exportação e con-
lhos, picles e desidratados. de pimenta ou pimenta-vermelha ou ardida.
sumo para pimentas são escassas e, ge-
Finalmente, 4% da área cultivada está
ralmente, apresentam-se em conjunto com Mercados interno e externo
nos países da Europa, África e Oriente
pimentão, dificultando o entendimento das para formas processadas de
Médio.
perspectivas para esse mercado específico. pimenta
No Brasil, a produção de pimenta vem
crescendo muito nos últimos anos, com O mercado para as pimentas nas for-
Mercado interno para
cultivos em regiões de clima subtropical mas processadas é explorado por empresas,
pimentas in natura
como no Sul, ou de clima tropical como no desde familiares ou de pequeno porte até
O mercado brasileiro para pimentas in
Norte e Nordeste. O cultivo de pimenta no grandes empresas que processam produ-
natura é fortemente influenciado pelos tos à base de pimentas para exportação.
País é de grande importância, quer por suas
hábitos alimentares de cada região. No Sul, Existe grande número de pequenos pro-
características de rentabilidade, princi-
há baixo consumo de pimentas in natura, cessadores familiares ou de pequeno por-
palmente quando o produtor agrega valor
havendo preferência por molhos, con- te que fazem conservas de pimentas em
ao produto (conservas, por exemplo), quer
por sua importância social, por empregar servas e pimentas desidratadas. Nos de- garrafas de vidro e que comercializam
elevado número de mão-de-obra. mais Estados, são consumidas in natura diretamente para consumidores em feiras-
As principais regiões brasileiras pro- as pimentas ‘Cambuci’, também deno- livres, mercados de beira de estrada, pe-
dutoras de pimenta são Sudeste e Centro- minada ‘Godê’ ou ‘Chapéu-de-bispo’, doce quenos estabelecimentos comerciais e ata-
Oeste. Os principais Estados produtores do tipo ‘Americana’, a ‘Dedo-de-moça’, cadistas. As empresas de porte médio, em
são Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Ceará popularmente chamada pimenta-vermelha, geral, têm vários tipos de produtos, como
e Rio Grande do Sul. as pimentas ‘Malagueta’, ‘Bode’, ‘Cumari- conservas, molhos, geléias, conservas
Há grande variedade de tipos, nomes, vermelha’, ‘Cumari-amarela’ ou ‘Cumari-do- ornamentais, entre outros, que são comer-
tamanhos, cores, sabores e ardume. As pi- pará’, ‘De-cheiro’ e a ‘Biquinho’. No Nor- cializados em supermercados, mercearias
mentas ‘Jalapeño’ e ‘Cayenne’ são cul- deste brasileiro, predomina o consumo da especializadas, lojas de conveniência e de
tivadas, principalmente, em São Paulo, ‘Malagueta’ e ‘De-cheiro’ e na Região produtos importados, delikatessens e até
Minas Gerais e Goiás. A pimenta-cumari Norte, as pimentas mais apreciadas são a em lojas de decoração. As grandes em-
ou ‘Passarinho’ é comum na Região ‘Murupi’, ‘Cumari-do-pará’ e a ‘De-cheiro’. presas são especializadas no processa-
Sudeste. As pimentas-de-cheiro, as mais A comercialização das pimentas de- mento de determinados produtos, como
cultivadas, especialmente no Norte do País, pende do mercado de destino, o qual páprica e pasta de pimenta. A pimenta para
destacam-se pela grande variedade de determina sua forma de apresentação, a fabricação de páprica (pimenta-doce-
cores dos frutos, que vão de amarelo, quantidade e preço. Na forma in natura, as vermelha desidratada na forma de pó) é
amarelo-leitoso, amarelo-claro, amarelo- pimentas são comercializadas como as cultivada e processada por uma grande
forte, alaranjado, salmão, vermelho e até demais hortaliças, através das Centrais de empresa na região do Cerrado mineiro que
preto. Com menor produção, mas im- Abastecimento (Ceasas), que agrupam e exporta para a Europa grande parte de sua
portantes nessa espécie, existem as redistribuem o produto para o varejo ou produção. No Ceará, uma empresa cultiva
pimentas ‘Bode’, cultivada principalmente para os grandes consumidores, como a pimenta-tabasco para exportação na for-
na Região Centro-Oeste do Brasil, e a indústrias e restaurantes. Outras formas de ma de pasta, utilizada na fabricação do
‘Murupi’, cujos principais produtores são comercialização são as vendas para in- molho tabasco.
os estados do Amazonas e do Pará. A termediários, que compram a pimenta O mercado para as pimentas no Brasil
‘Malagueta’ é cultivada em todo o País, diretamente do produtor, vendem para está sofrendo grandes modificações pela
porém destacam-se as produções dos es- distribuidores e empacotadores, que em- exploração de novos tipos de pimentas e pelo
tados de Minas Gerais, da Bahia e do Ceará. balam com marca própria e revendem para desenvolvimento de produtos com grande
Neste último Estado, há grandes áreas com a rede de varejo. Algumas grandes redes valor agregado, a exemplo das conservas
cultivo da pimenta-tabasco, da espécie C. de supermercados têm suas próprias cen- ornamentais (colorido de pimentas), geléias
frutescens a mesma da ‘Malagueta’. trais de distribuição de hortaliças e comer- exóticas e outras formas processadas.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.7-15, nov./dez. 2006

artigo1.p65 8 22/12/2006, 10:16


Cultivo da pimenta 9

COMERCIALIZAÇÃO NAS 1.000 mL de capacidade, de acordo com a do pedúnculo e dos frutos por um período
PRINCIPAIS CENTRAIS DE demanda do cliente. maior, principalmente sob refrigeração.
ABASTECIMENTO Para as pimentas destinadas à indústria
de molhos e conservas, são retirados os Comercialização de pimenta
Formas de acondicionamento pedúnculos dos frutos na lavoura e arma- na CeasaMinas
para comercialização zenadas em recipientes plásticos como A Centrais de Abastecimento de Minas
Diferentes embalagens são usadas pa- bombonas ou polietileno tereftato (PETs), Gerais S/A (CeasaMinas) é uma empresa
ra a comercialização de pimentas no Brasil, contendo salmora (10% p/p) ou álcool. de economia mista, vinculada ao Ministério
de acordo com o tamanho e o tipo de fru- Esse processo reduz problemas de con- da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
to, região e demanda do mercado. Em geral, servação pós-colheita dos frutos de pimen- (MAPA). O entreposto em Contagem, Uni-
os frutos são acondicionados em sacos ta colhidos, mantidos in natura. dade Grande Belo Horizonte, é o mais di-
plásticos grandes com 30 kg, caixas No varejo, as pimentas são comercia- versificado do Brasil e ocupa o segundo
plásticas ou de madeira com 15 kg ou ou- lizadas de diferentes formas, sendo a mais lugar nacional em vendas de hortigranjeiros.
tro tipo de embalagem demandado pelo comum a granel. Os consumidores sele- Somando-se todas as unidades, são 703
mercado. Na Companhia de Entrepostos e cionam manualmente a qualidade e a quan- empresas instaladas e cerca de 12,6 mil pro-
Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), tidade a ser comprada. Nas feiras-livres e dutores cadastrados. Em média, aproxi-
em São Paulo, por exemplo, as pimentas mercados menores, a medida adotada é um madamente, 4 mil produtores rurais co-
com frutos maiores, como ‘Cambuci’, copo de vidro ou lata (250 a 300 mL), sendo mercializam mensalmente sua produção
‘Dedo-de-moça’ e a pimenta-doce do tipo possível mesclar diferentes tipos de pi- nessa central de abastecimento. O valor co-
‘Americana’ são comercializadas em caixas mentas por um mesmo preço. Em super- mercializado de hortigranjeiros, cereais e
plásticas ou de madeira do tipo “K”, con- mercados e sacolões, as pimentas também produtos industrializados alimentícios e não
tendo entre 12 e 15 kg; as pimentas com são comercializadas em sacos plásticos alimentícios chega a R$ 2,9 bilhões anuais.
frutos menores, como ‘Malagueta’ e perfurados de 50 g do produto, bandejas de A CeasaMinas, ao longo da última dé-
‘Cumari-do-pará’ também são acondi- isopor recobertas com filmes de policloreto cada, comercializou anualmente, em média,
cionadas em caixas de papelão (1-2 kg) e de vinila (PVC), contendo de 50 a 100 g, e 200 mil kg de pimenta. O ano de maior volume
sacos plásticos (1, 2, 5 ou 10 kg). Em todos caixinhas tipo PET de 250 mL de capacidade. comercializado foi 1996, quando foram
os mercados atacadistas, as pimentas As embalagens com filmes ou sacos negociados quase 320 mil kg desse produto.
também são comercializadas em quan- plásticos são consideradas como as melhores Por outro lado, o menor volume comercia-
tidades menores, utilizando-se como opções de venda, pois reduzem a perda de lizado, aproximadamente 127 mil kg de pi-
unidade copos de vidro ou latas de 250 a matéria fresca além de manter a coloração menta, ocorreu no ano de 2002 (Quadro 1).

QUADRO 1 - Quantidades (kg) mensais de pimentas in natura comercializadas na CeasaMinas, Unidade Grande BH, no período 1996 - 2005

Mês
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Total
Ano

1996 21.505 30.237 35.168 33.650 33.623 11.613 18.909 15.590 20.194 36.452 34.580 25.727 317.248

1997 15.981 23.748 19.489 30.255 14.131 9.840 7.840 6.240 8.015 21.075 47.050 35.257 238.921

1998 12.224 10.586 11.375 12.988 14.537 13.896 8.920 13.816 12.460 11.778 19.840 28.365 170.785

1999 17.860 12.825 23.207 16.880 14.701 11.265 12.615 13.210 17.422 15.260 26.080 36.375 217.700

2000 16.405 9.010 9.835 11.291 10.470 6.185 5.576 8.608 7.885 11.760 31.216 16.675 144.916

2001 7.920 6.909 15.895 15.575 24.123 16.135 13.215 12.920 16.215 18.229 30.939 17.005 195.080

2002 14.801 14.721 11.747 7.341 7.675 6.507 5.160 6.082 10.750 15.741 18.719 7.415 126.659

2003 24.590 13.984 9.888 21.032 14.447 12.381 13.345 8.188 1.895 1.638 3.703 22.202 147.293

2004 11.474 7.755 12.372 6.801 6.881 6.751 5.209 5.001 3.031 4.883 43.175 57.591 170.924

2005 27.140 21.345 17.927 7.044 21.290 28.908 11.390 6.703 7.537 18.460 33.719 30.288 231.751

Média 16.990 15.112 16.690 16.286 16.188 12.348 10.218 9.636 10.540 15.528 28.902 27.690 196.128

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.7-15, nov./dez. 2006

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10 Cultivo da pimenta

Observando-se a distribuição do vo-


lume comercializado ao longo do ano
(Gráfico 1), verifica-se oferta sazonal des-
se produto, sendo os volumes menores
comercializados durante os meses de
julho, agosto e setembro, os meses de
menor colheita em função de carac-
terísticas próprias do setor de produção.
Os meses de maior oferta são novembro e
dezembro, quando, em média, comer-
cializam-se 28 t. Nos demais meses do ano,
o volume comercializado situa-se em torno
de 16 mil kg.
No Quadro 2 observa-se, em valores
corrigidos, a magnitude dos preços mé-
dios mensais no mercado atacadista de Gráfico 1 - Quantidades médias mensais de pimentas in natura, comercializadas na
CeasaMinas, Unidade Grande BH, no período 1996 - 2005
Belo Horizonte durante os últimos 10 anos.
Em termos de médias anuais, o preço fi-
cou abaixo de R$ 1,00 apenas nos anos de do produto (Gráfico 2). Já os valores máxi- não obstante a variação dos indicadores,
1999, 2000 e 2002, sendo os menores mos ao longo do ano ocorrem, em média, observa-se que há tendência de decréscimo
valores da série. Ao contrário, os maiores durante os meses de maio e junho, quando dos preços praticados e das quantidades
preços ocorreram nos anos de 1996, 1997 tem início a temporada de entressafra para ofertadas nessa praça.
e 2004, quando as médias ficaram em torno algumas variedades mais comercializadas.
de R$ 1,60 por kg de pimenta. Para melhor visualização da evolução Comercialização de pimenta
Como resposta à sazonalidade de oferta simultânea das quantidades mensalmente na Ceagesp
mostrada anteriormente, a evolução dos ofertadas e dos preços médios mensais na A Ceagesp administra um dos maiores
preços médios ao longo do ano apresenta CeasaMinas, ao longo dos últimos 10 anos, centros atacadistas de alimentos do mun-
variação bastante acentuada, com uma mé- foi elaborado o Gráfico 3, com o índice de do. Por seus portões passam todos os dias
dia, em novembro, da ordem de R$ 0,70 por evolução desses parâmetros, tendo os cerca de 10 mil toneladas de frutas, ver-
quilo de pimenta. Em alguns anos, esse valor dados relativos a janeiro de 1996 assumido duras, legumes, pescados e flores, vindos
mínimo chegou a menos de R$ 0,50 por quilo valores iguais a 100. Ao longo do período, de 1.500 municípios brasileiros e de outros

QUADRO 2 - Preços médios (R$) corrigidos (IGP-DI maio 2006) de pimenta in natura na CeasaMinas, Unidade Grande BH, no período 1996 - 2005

Mês
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Média
Ano

1996 2,20 2,24 3,29 2,35 2,88 2,16 1,40 0,73 0,68 0,57 0,52 0,96 1,66

1997 1,97 1,57 1,84 2,69 3,37 1,89 1,39 1,20 0,82 0,75 0,51 0,78 1,57

1998 0,57 1,53 0,64 1,25 2,04 1,68 1,57 0,87 0,91 1,57 0,75 0,61 1,17

1999 2,15 0,51 0,73 0,63 0,82 1,44 1,50 0,95 0,88 0,55 0,44 0,38 0,91

2000 0,48 0,61 0,65 0,78 0,81 1,61 0,86 0,84 1,34 0,66 0,67 1,53 0,90

2001 0,87 2,13 1,13 0,78 1,18 1,20 2,66 0,61 0,65 1,10 0,65 0,61 1,13

2002 0,64 0,56 0,71 0,89 1,43 1,30 1,20 0,99 1,06 0,56 0,86 0,60 0,90

2003 0,53 0,72 1,00 0,53 0,51 1,86 0,68 1,57 1,37 4,62 0,72 0,41 1,21

2004 4,49 3,36 0,43 0,60 0,43 1,42 1,04 1,30 0,75 1,13 0,85 4,25 1,67

2005 1,15 1,02 0,53 2,01 1,58 0,52 1,14 1,43 1,52 0,56 0,80 0,73 1,08

Média 1,50 1,43 1,10 1,25 1,51 1,51 1,34 1,05 1,00 1,21 0,68 1,09 1,22

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Cultivo da pimenta 11

países. A movimentação de mercadorias


beira as 250 mil toneladas por mês e res-
ponde por quase 60% do abastecimento
de hortícolas da Grande São Paulo.
A Ceagesp comercializou, anualmente,
nos últimos oito anos, uma média de 330
mil kg de pimenta. Em 1999, ocorreu o menor
volume comercializado, aproximadamente
260 mil kg de pimenta, já no ano de 2001,
observa-se o maior volume comercializado,
quando foram negociadas mais de 370 mil
kg desse produto (Quadro 3).
No Gráfico 4, pode-se observar a dis-
tribuição do volume comercializado ao
Gráfico 2 - Média mensal dos preços médios corrigidos1 de pimenta in natura na longo do ano. Verifica-se oferta sazonal
CeasaMinas, Unidade Grande BH, no período 1996 - 2005 desse produto, sendo o período entre ju-
nho e outubro os meses de menores vo-
lumes comercializados, coincidindo com a
entressafra do produto. Os meses de maior
oferta são janeiro, fevereiro e março, cuja
média supera 33 mil kg comercializados.
Nos demais meses do ano, o volume comer-
cializado situa-se em torno de 26 mil kg.
No Quadro 4, observa-se, em valores
corrigidos, a magnitude dos preços médios
mensais ocorridos no mercado atacadista
paulista entre os anos de 1998 e 2005. Em
termos de médias anuais, o preço ficou
abaixo de R$ 1,45 apenas no ano de 2000.
Ao contrário, os maiores preços ocorreram
nos anos de 1998, 2004 e 2005, quando as
Gráfico 3 - Evolução dos índices de quantidades mensalmente ofertadas e dos preços médias ficaram acima de R$ 1,60 por kg de
médios mensais na CeasaMinas - jan. 1996 = 100 pimenta.

QUADRO 3 - Quantidades (kg) mensais de pimentas in natura comercializadas na Ceagesp, entreposto de São Paulo, no período 1998 - 2005

Mês
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Total
Ano

1998 33.632 24.219 24.546 20.463 19.039 15.022 20.059 24.910 19.836 17.022 18.483 24.233 261.464

1999 28.892 26.414 24.008 25.454 20.656 16.005 14.615 15.469 22.783 19.119 24.526 22.700 260.641

2000 37.566 39.606 42.212 27.917 29.002 19.526 26.091 25.243 27.510 27.428 31.603 25.878 359.582

2001 37.528 40.703 40.285 30.137 18.377 20.993 34.059 29.664 30.177 25.849 30.761 31.976 370.509

2002 38.307 34.008 38.306 32.745 32.529 19.457 24.489 23.204 22.444 28.407 34.149 28.678 356.723

2003 47.182 36.575 35.958 27.635 22.897 22.980 21.780 21.731 24.449 27.401 26.769 33.041 348.398

2004 39.339 41.954 37.753 32.794 25.447 23.101 25.134 17.615 15.585 16.292 22.710 23.626 321.350

2005 34.201 30.520 39.137 31.985 42.073 31.682 25.252 25.460 22.105 26.346 24.296 31.136 364.193

Média 37.081 34.250 35.276 28.641 26.253 21.096 23.935 22.912 23.111 23.483 26.662 27.659 330.358

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12 Cultivo da pimenta

ximadamente 125 mil kg de pimenta (Qua-


dro 5).
No Gráfico 7, observa-se a distribuição
do volume comercializado ao longo do ano
na Ceasa-BA. Verifica-se irregularidade na
oferta do produto, sendo o mês de fevereiro
com menores volumes comercializados. Os
meses de maior oferta são maio e dezembro,
quando comercializam-se, em média, 18 mil
kg de pimenta. Nos demais meses do ano,
o volume comercializado situa-se em torno
de 13 mil kg de pimenta.
No Quadro 6, observa-se a magnitude
Gráfico 4 - Quantidades médias mensais de pimentas in natura comercializadas na
dos preços médios mensais observados, em
Ceagesp, entreposto de São Paulo, no período 1998 - 2005
valores corrigidos, no mercado atacadista
de Salvador, desde 1999. Em termos de
médias anuais, o preço ficou abaixo de R$
A evolução dos preços médios ao longo parâmetros, o que indica haver tendência 5,00 apenas no ano de 2001. Já os maiores
do ano apresenta uma variação compatível de aumento dos preços praticados e das preços ocorreram no ano de 2004, cuja média
com a variação na oferta do produto, com quantidades ofertadas nessa praça. ficou acima de R$ 8,00 por kg de pimenta.
médias da ordem de R$ 1,30 por kg de Na evolução dos preços médios ao
pimenta, no período de maior oferta, e Comercialização de pimenta longo do ano observa-se variação bastante
valores máximos em torno de R$ 1,70 nos na Ceasa-BA acentuada, como resposta à sazonalidade
meses de agosto a outubro (Gráfico 5). Entre janeiro de 1999 e maio de 2006, de oferta mostrada anteriormente, com
No Gráfico 6, observa-se a evolução a Centrais de Abastecimento da Bahia média, nos meses de maio e novembro, de
simultânea entre as quantidades men- (Ceasa-BA) comercializou, aproximada- R$ 4,00 por kg de pimenta (Gráfico 8). Já os
salmente ofertadas e os preços médios mente, 172 mil kg de pimenta, em média, valores máximos ao longo do ano ocorrem,
mensais na Ceagesp, o índice de evolução por ano. O maior volume de comer- em média, durante os meses de julho,
desses parâmetros tem os primeiros dados cialização ocorreu no ano de 2001, quando agosto e setembro, quando tem início a
da série assumindo valores iguais a 100. foram negociados cerca de 224 mil kg desse entressafra de algumas variedades mais
Ao longo do período, observa-se que há produto. Contudo, o menor volume co- comercializadas.
tendência sutil de elevação para ambos os mercializado ocorreu em 2005, apro- No Gráfico 9, observa-se a evolução

QUADRO 4 - Preços médios (R$) corrigidos (IGP-DI maio 2006) de pimenta in natura na Ceagesp, entreposto de São Paulo, no período 1998 - 2005

Mês
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Média
Ano

1998 1,31 1,22 1,44 1,52 1,53 1,60 1,80 1,97 2,06 2,22 2,12 1,83 1,72

1999 1,80 1,65 1,51 1,48 1,44 1,57 1,50 1,61 1,72 1,60 1,42 1,50 1,57

2000 1,11 0,89 0,87 0,81 0,90 1,07 1,59 1,94 1,99 1,65 1,26 1,46 1,29

2001 1,49 1,18 1,32 1,51 1,88 2,10 1,51 1,33 1,49 1,33 1,29 1,22 1,47

2002 1,50 1,33 1,15 1,17 1,29 1,42 1,51 1,89 2,03 1,53 1,31 1,63 1,48

2003 1,45 1,17 1,25 1,44 1,72 1,78 2,17 1,75 1,46 1,58 1,50 1,59 1,57

2004 1,27 1,16 1,20 1,32 1,25 1,65 1,53 1,90 2,28 1,98 1,81 2,07 1,62

2005 1,94 1,81 1,61 1,31 1,53 1,37 1,54 1,69 1,81 1,61 1,61 1,60 1,62

Média 1,48 1,30 1,29 1,32 1,44 1,57 1,64 1,76 1,85 1,69 1,54 1,61 1,54

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Cultivo da pimenta 13

simultânea entre as quantidades men-


salmente ofertadas e os preços médios
mensais na Ceasa-BA. O índice de evo-
lução desses parâmetros tem os dados
relativos a janeiro de 1999, assumindo
valores iguais a 100. Ao longo do período,
percebe-se tendência de decréscimo das
quantidades ofertadas e elevação dos
preços praticados na região.

Comercialização de pimenta
na Ceasa-GO, Ceasa-RJ,
Ceasa-PR

Gráfico 5 - Média mensal dos preços médios corrigidos1 de pimenta in natura na Ceagesp, Nas Centrais de Abastecimento de
entreposto de São Paulo, no período 1998 - 2005 Goiás S/A (Ceasa-GO) de Goiânia, fazem-
se a discriminação de todos os tipos de
pimentas e as cotações separadamente,
talvez pela importância desse produto para
a região. Nesse mercado, as unidades para
a comercialização e cotação em 2005 (média
anual) foram para pimenta-de-cheiro com o
preço mais comum de R$4,00, máximo de
R$47,00 e mínimo de R$1,00 o quilo;
pimenta-bode R$ 1,00-R$ 3,00-R$ 0,80 a lata
com 500 g; pimenta-cumari R$ 3,00-R$ 4,00-
R$ 1,50 a lata com 500 g; pimenta-malagueta
R$ 3,00-R$ 7,00-R$ 2,00 a lata com 700 g;
pimenta-godê (‘Cambuci’) comercializada
a R$ 10,00-R$ 20,00-R$ 3,00 a caixa de 8 kg;
pimenta-dedo-de-moça R$1,00-R$ 14,00-R$
Gráfico 6 - Evolução dos índices de quantidades de pimenta in natura mensalmente 1,00 a lata com 400 g.
ofertadas e dos preços médios mensais na Ceagesp, entreposto de São Nas Centrais de Abastecimento do
Paulo - jan. 1996 = 100 Estado do Rio de Janeiro S/A (Ceasa-RJ)

QUADRO 5 - Quantidades (kg) mensais de pimentas in natura comercializadas na Ceasa-BA, Unidade Salvador, no período 1999 - 2006

Mês
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Total
Ano

1999 15.107 4.520 13.935 9.990 14.178 14.080 12.050 14.500 21.830 23.530 18.206 21.220 183.146

2000 24.318 11.840 11.530 14.093 12.773 7.204 15.210 14.285 15.606 17.875 11.690 21.695 178.119

2001 10.845 12.137 12.520 21.421 29.107 19.810 23.748 22.470 11.910 15.350 22.104 22.790 224.212

2002 13.485 12.840 11.115 15.354 20.753 12.252 18.276 16.025 18.449 21.001 12.426 11.490 183.466

2003 17.983 12.923 11.001 10.957 13.436 13.340 21.110 14.935 14.860 21.740 12.020 17.480 181.785

2004 11.165 10.100 19.770 18.421 25.200 9.980 7.810 11.340 10.110 9.120 17.120 24.310 174.446

2005 14.040 9.625 12.140 9.510 13.810 16.010 8.990 5.760 4.300 5.360 15.595 10.710 125.850

2006 14.630 15.285 9.145 3.900 8.675 51.635

Média 15.197 11.159 12.645 12.956 17.242 13.239 15.313 14.188 13.866 16.282 15.594 18.528 171.869

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.7-15, nov./dez. 2006

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14 Cultivo da pimenta

do Rio de Janeiro, os preços são cotados


para o produto pimenta, sem explicitar tipo
ou variedade. Nesses mercados, os preços
de janeiro a dezembro de 2005 variavam de
R$ 7,32 a R$ 9,61/kg. O preço mais baixo foi
em fevereiro (R$ 7,03) e mais alto em agosto
(R$ 25,42).
Nas Centrais de Abastecimento do
Paraná S/A (Ceasa-PR) de Curitiba, os pre-
ços também são cotados para o produto
pimenta, sem explicitar tipo ou variedade.
Nesses mercados, os preços de janeiro a
dezembro de 2005 para caixa de 10 a 13 kg
variaram de R$ 11,37 a R$ 9,17. O preço
Gráfico 7 - Quantidades médias mensais de pimentas in natura, comercializadas na mais baixo foi em abril, R$ 6,65, e mais alto
Ceasa-BA, Unidade Salvador, no período 1999 - 2006 em novembro, R$ 25,00.

QUADRO 6 - Preços médios (R$) corrigidos (IGP-DI maio 2006) de pimenta in natura na Ceasa-BA, Unidade Salvador, no período 1999 - 2006

Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Média

1999 4,81 6,68 4,55 4,80 4,61 4,98 6,65 5,46 5,02 5,77 3,78 3,30 5,03

2000 3,64 4,08 5,52 3,60 4,74 8,31 9,02 8,70 6,32 3,75 3,60 5,53 5,57

2001 5,40 3,68 7,51 6,95 2,88 4,01 2,95 3,85 5,44 4,25 3,35 8,24 4,88

2002 12,19 4,77 3,82 6,28 3,77 4,96 5,46 5,52 4,97 2,97 3,18 6,52 5,37

2003 10,55 13,80 10,14 5,63 3,50 4,51 3,84 4,91 5,11 2,99 3,45 4,29 6,06

2004 4,36 5,84 3,50 5,21 6,44 6,46 12,77 16,93 14,92 9,94 7,31 5,62 8,28

2005 6,28 8,20 5,20 4,73 5,51 5,49 9,40 11,65 10,22 6,86 5,13 9,44 7,34

2006 5,81 5,16 7,73 10,98 5,50 _ _ _ _ _ _ _ 7,04

Média 6,63 6,52 6,00 6,02 4,62 5,53 7,16 8,15 7,43 5,22 4,26 6,13 6,14

É quase impossível conhecer a rea-


lidade da comercialização das pimentas
por meio das informações disponíveis
nas centrais atacadistas, principalmente
considerando-se que grande parte da
venda é direta entre produtor e varejo e
isto não é computado nas estatísticas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os três maiores mercados CeasaMinas,
Ceagesp e Ceasa-BA formam magnitu-
des distintas com relação aos volumes de
pimenta comercializados, tendo compor-
Gráfico 8 - Média mensal dos preços médios corrigidos1 de pimenta in natura, na tamento médio e evolução de quantidade e
Ceasa-BA, Unidade Salvador, no período 1999 - 2006 preços bem distintos. A Ceagesp comer-
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artigo1.p65 14 22/12/2006, 10:16


Cultivo da pimenta 15

anual.html>. Acesso em: 10 set. 2006.


CEASA-PR. Estatísticas dos produtos
comercializados. Disponível em: <http://
www.pr.gov.br/ceasa/estatist.html> Acesso em: 12
set. 2006.
CEASA-RJ. Sistema de consulta de preços.
Disponível em: <http://www.ceasa.rj.gov.br/
consultas/consultas.htm>. Acesso em: 12 set. 2006.
CEASAMINAS. Oferta e preço médio de
produtos. Disponível em: <http://www.
ceasaminas.com.br/boloferta.asp>. Acesso em: 10
set. 2006.
EMBRAPA HORTALIÇAS. Capsicum: pimentas
e pimentões no Brasil. Disponível em: <http://
www.cnph.embrapa.br/capsicum/cultivo.htm>.
Gráfico 9 - Evolução dos índices de quantidades de pimenta in natura mensalmente Acesso em: 12 jul. 2006.
ofertadas e dos preços médios mensais, na Ceasa-BA, Unidade Salvador – GONÇALVES, E.M.D. Produção de pimenta em
jan. 1999 = 100 assentamentos rurais no município de Campo
Florido-MG. In: ENCONTRO DO AGRONEGÓCIO
PIMENTAS (CAPSICUM SPP.), 1.; MOSTRA
cializou volume médio anual de, aproxima- Assim, de acordo com as particu- NACIONAL DE PIMENTAS E PRODUTOS
damente, 330 t, enquanto que a comer- laridades de cada mercado em relação às DERIVADOS, 1., 2004, Brasília. Anais... Brasília:
cialização na CeasaMinas foi da ordem de preferências por determinado tipo de Embrapa Hortaliças, 2004. 1 CD-ROM.
196 t e a da Ceasa-BA em torno de 172 t. A pimenta, cabe aos produtores ficarem HENZ, G.P. Perspectivas e potencialidades do
evolução dos volumes comercializados atentos às distintas oportunidades ofe- mercado para pimentas. In: ENCONTRO DO
também guarda nítida diferença. Em São recidas pelos três mercados, já que pos- AGRONEGÓCIO PIMENTAS (CAPSICUM
Paulo, na última década, a quantidade suem características nitidamente di- SPP.), 1.; MOSTRA NACIONAL DE PIMENTAS
comercializada e o preço praticado têm ten- ferenciais em relação aos preços praticados E PRODUTOS DERIVADOS, 1., 2004, Brasí-
dência levemente crescente. Em Minas nos diversos períodos. No contexto apre- lia. Anais... Brasília: Embrapa Hortaliças, 2004.
Gerais, preço e quantidade são decrescen- sentado, vale destacar as oportunidades 1 CD-ROM.

tes e o decréscimo de quantidade mostra-se oferecidas pela Ceasa-BA, com preços NASCIMENTO, W.M. Mercado de sementes de
mais acentuado. Na Ceasa-BA, o preço é nitidamente mais remuneradores e o pimentas no Brasil. In: ENCONTRO DO
crescente enquanto o volume é decrescente. cuidado com o decréscimo do mercado de AGRONEGÓCIO PIMENTAS (CAPSICUM
Belo Horizonte. SPP.), 1.; MOSTRA NACIONAL DE PIMENTAS
Além das diferenças nas quantidades
E PRODUTOS DERIVADOS, 1., 2004, Brasí-
totais comercializadas, vale destacar que a
lia. Anais... Brasília: Embrapa Hortaliças, 2004.
distribuição desse volume ao longo do ano BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
1 CD-ROM.
guarda significativas diferenças entre os ABREU, F.R. Produção de pimenta tabasco em PIMENTA. Disponível em: <http://pt.wikipedia.
três mercados, com o conseqüente di- agricultura familiar no estado do Ceará. In: org/wiki/pimenta>. Acesso em: 15 jun. 2006.
ferencial no comportamento de preços. Ou ENCONTRO DO AGRONEGÓCIO PIMENTAS
PIERRO, A.C. Mercado mundial de sementes de
seja, os períodos de maiores ou menores (CAPSICUM SPP.), 1.; MOSTRA NACIONAL
Capsicum. In: ENCONTRO DO AGRONEGÓCIO
preços não ocorrem simultaneamente nas DE PIMENTAS E PRODUTOS DERIVADOS, 1.,
PIMENTAS (CAPSICUM SPP.), 1.; MOSTRA
três centrais de abastecimento. 2004, Brasília. Anais... Brasília: Embrapa
NACIONAL DE PIMENTAS E PRODUTOS
Vale destacar a elevação do preço pra- Hortaliças, 2004. 1 CD-ROM.
DERIVADOS, 1., 2004, Brasília. Anais... Brasília:
ticado no mercado de Salvador, quando CEAGESP. Cotações. Disponível em: <http:// Embrapa Hortaliças, 2004. 1 CD-ROM.
comparado com o dos dois outros mer- www.ceagesp.gov.br/economia>. Acesso em: 10
SCHNEID, L.F. Produção de pimenta tipo ca-
cados. Enquanto que em Salvador, o preço set. 2006.
labresa em Turuçu-RS. In: ENCONTRO DO
médio anual é da ordem de R$ 6,14, em CEASA-BA. Preços. Disponível em: <http:// AGRONEGÓCIO PIMENTAS (CAPSICUM
Belo Horizonte e São Paulo é de, res- www.ebal.ba.gov.br/CeasaNew/Consulta SPP.), 1.; MOSTRA NACIONAL DE
pectivamente, R$ 1,22 e R$ 1, 54, ou seja, Precos.htm>. Acesso em: 28 jun. 2006. PIMENTAS E PRODUTOS DERIVADOS, 1.,
apenas 20% do preço praticado na capital CEASA-GO. Cotação anual. Disponível em: 2004, Brasília. Anais... Brasília: Embrapa
baiana. <http://www.ceasa.goias.gov.br/cotacoes/ Hortaliças, 2004. 1 CD-ROM.

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artigo1.p65 15 22/12/2006, 10:16


16 Cultivo da pimenta

Espécies e variedades de pimenta


Gisele Rodrigues Moreira 1
Fabiano Ricardo Brunele Caliman 2
Derly José Henriques da Silva 3
Cláudia Silva da Costa Ribeiro 4

Resumo - Pimentas são importantes para a produção de condimentos alimentares em


função da cor, aroma e sabor dos frutos. A cor é determinada predominantemente por
carotenóides. As diferenças no ardor (sabor, pungência) dos frutos são atribuídas aos
alcalóides capsaicinóides. Tais alcalóides são produzidos na placenta e liberados quando
o fruto sofre qualquer dano físico, ao que se chama pungência do fruto. O gênero possui
35 espécies e o Brasil é o centro secundário da espécie domesticada C. chinense. As
espécies e grupos de cultivares de interesse comercial são: C. frutescens – ‘Malaguetas’
(‘Malagueta’, ‘Malaguetinha’, ‘Malaguetão’ e ‘Malagueta-amarela’) e ‘Tabasco’; C. chinense
– pimenta-de-cheiro, pimenta-bode, ‘Cumari-do-pará’, ‘Biquinho’, ‘Murupi’ e
‘Habanero’;C. annuum var. annuum – pimenta-doce, ‘Jalapeño’, ‘Cayenne’, ‘Serrano’ e
‘Cereja’; C. baccatum var. pendulum – ‘Dedo-de-moça’ e ‘Cambuci’; C. baccatum var.
baccatum e C. baccatum var. praetermissum – ‘Cumari’. O germoplasma de pimenta tem
sido conservado em bancos de germoplasma como o Banco de Germoplasma de
Hortaliças (BGH) da UFV, Centro Tecnológico da Zona da Mata (CTZM) da EPAMIG e
Embrapa Hortaliças. No melhoramento dessas espécies, os principais métodos utilizados
são: genealógico, Single Seed Descent (SSD), retrocruzamento, seleção recorrente e Inbred
Backcross Line System (IBLS).

Palavras-chave: Capsicum. Planta para condimento. Pungência. Melhoramento.

INTRODUÇÃO comercialização de frutos para consumo aves e também como condimento. No


As pimentas constituem importante in natura e conservas caseiras até a ex- desenvolvimento de cultivares de pimen-
segmento do setor de hortaliças, tanto para portação de páprica, pó de pimentão ou ta doce para páprica, a coloração dos fru-
a agricultura, quanto para a indústria pimenta doce madura vermelha. Os frutos tos maduros é a principal característica
alimentícia. São especiais para a produção de pimentas picantes podem ser desi- considerada. Quanto maior o teor de pig-
de condimentos, devido a características dratados e comercializados inteiros, em mentos vermelhos, mais intensa é a co-
como cor dos frutos e princípios ativos, flocos (calabresa) e em pó (páprica picante) loração do pó. A maioria dos pigmentos é
que lhes conferem aroma e sabor. Do ponto ou, ainda, em conservas e em molhos carotenóides e, em ordem de importância,
de vista social, o agronegócio da pimenta líquidos. têm-se: Capsantina, Capsorubina, β
tem importância, principalmente, em função A páprica é utilizada principalmente Caroteno, Zeantina e Criptoxantina, sendo
de requerer grande quantidade de mão-de- como corante natural na indústria de os dois primeiros vermelhos e os demais
obra, em especial durante a colheita. Além alimentos, em embutidos de carne, sopas amarelos (CASALI; STRINGUETA, 1984).
disso, o mercado de pimenta abrange a de preparo instantâneo, molhos, ração para Os teores desses pigmentos são influen-

1
Eng a Agr a, D.Sc., Prof a Adj. UFP - Dep to Informática, Rod. BR 135, km 3, CEP 64900-000 Bom Jesus-PI. Correio eletrônico:
grmoreira@yahoo.com.br
2
Engo Agro, Doutorando Fitotecnia UFV, CEP 36571-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: frcaliman@yahoo.com.br
3
Engo Agro, D.Sc., Prof. Adj. UFV - Depto Fitotecnia,CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: derly@ufv.br
4
Enga Agra, M.Sc., Pesq. Embrapa Hortaliças, CEP 70359-970 Brasília-DF. Correio eletrônico: claudia@embrapa.cnph.br

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Cultivo da pimenta 17

ciados por vários fatores como genético, ‘Jalapeño’ podem ser obtidas de empresas Bianchetti (1996), ao estudar a mor-
grau de amadurecimento dos frutos e produtoras de sementes. fologia e a ecologia das espécies silvestres
condições climáticas. brasileiras, obteve resultados distintos
As diferenças no ardor dos frutos são ESPÉCIES DE PIMENTA daqueles encontrados para as espécies
atribuídas aos alcalóides denominados Pimentas do gênero Capsicum pos- andinas. A maioria destas espécies andi-
capsaicinóides (ISHIKAWA et al., 1998), suem a seguinte classificação taxonômica: nas vegeta em ambientes abertos e secos,
especialmente a capsaicina e a diidro- apresenta frutos eretos, ovalados, ver-
capasaicina (ZEWDIE; BOSLAND, 2000; Divisão: Spermatophyta melhos, com sementes claras e dispersadas
BOSLAND, 1993). Tais alcalóides são Filo: Angiospermae por pássaros. Enquanto que a maioria das
produzidos na placenta e liberados quan- Classe: Dicotiledônea espécies brasileiras vegeta em ambientes
do o fruto sofre qualquer dano físico, con- Ramo: Malvales-Tubiflorae fechados e úmidos, tem frutos pendentes,
ferindo o que se chama pungência do fruto Ordem: Solanales (Personatae) globosos, verde-amarelados, sementes
(sabor ardido ou efeito picante), carac- Família: Solanaceae escuras e, provavelmente, não são disper-
terística exclusiva do gênero Capsicum. A Por muito tempo, o gênero Capsicum sadas por pássaros e sim por outro disper-
maioria das variedades produz frutos com foi motivo de confusões taxonômicas no sor (BIANCHETTI; CARVALHO, 2005).
o característico sabor pungente, enquanto que se refere à evolução da forma do fruto As diferentes espécies e variedades de
que as sem pungência são classificadas nas espécies cultivadas (MCLEOD et al., pimenta podem ser discriminadas por
como doces. 1979). O gênero Capsicum é composto por características morfológicas visualizadas
Existe grande variabilidade genética cerca de 35 táxons (espécies e suas va- nos frutos e, principalmente, nas flores.
entre as espécies do gênero Capsicum, riedades). Os táxons são classificados de No Brasil, as espécies mais cultivadas são:
observada principalmente nos frutos que acordo com o nível de domesticação. Dessa Capsicum frutescens, Capsicum chinense,
podem apresentar diferentes formatos, forma, o gênero é constituído por cinco Capsicum annuum e Capsicum baccatum.
coloração, tamanho e pungência. Há frutos táxons domesticados, cerca de dez semi-
de pimenta de várias colorações, desde domesticados e 20 silvestres (BIAN- VARIEDADES DE PIMENTA
vermelha (a mais comum), até preta, mas CHETTI; CARVALHO, 2005) (Quadro 1). A maioria das cultivares de pimentas
também ocorrem as cores amarela, creme e Segundo Nuez Viñals et al. (1996), as plantadas no Brasil é considerada varie-
alaranjada. As pimentas têm uso bastante espécies do gênero Capsicum tiveram dade botânica ou grupo varietal, com
variado. Algumas cultivares ou tipos origem no Continente Americano. Uma das características de frutos bem definidas
varietais são mais consumidas na forma de hipóteses sobre o surgimento e a evolução (RIBEIRO, 2004). As principais são:
saladas, cozidos ou recheados, outras, mais dessas espécies sugere que a maior parte
a) C. frutescens: ‘Malaguetas’ (‘Ma-
utilizadas como condimentos, em molhos do gênero originou-se no sul da Bolívia e, lagueta’, ‘Malaguetinha’, ‘Mala-
ou em conservas. As pimenteiras também então, migrou para os Andes e terras baixas guetão’ e ‘Malagueta-amarela’) e
estão sendo utilizadas como plantas or- da Amazônia, onde surgiram novas ‘Tabasco’;
namentais, em razão da folhagem variegada, espécies.
do porte anão e dos frutos com diferentes b) C. chinense: pimenta-de-cheiro,
O Brasil é o centro secundário de
pimenta-bode, ‘Cumari-do-pará’,
cores no processo de maturação. Além diversidade da espécie domesticada C.
‘Biquinho’, ‘Murupi’ e ‘Habanero’;
disso, também são atribuídas às pimentas chinense que tem a Bacia Amazônica como
algumas propriedades medicinais (GO- área de maior diversidade. As espécies c) C. annuum var. annuum: pimenta-
VINDARAJAN, 1991). Os capsaicinóides semidomesticadas e silvestres, por sua vez, doce, ‘Jalapeño’, ‘Cayenne’, ‘Ser-
estão sendo utilizados na composição de rano’ e ‘Cereja’;
restringem-se à região andina (Argentina-
medicamentos para aliviar dores mus- Venezuela, até a América Central) e à região d) C. baccatum var. pendulum: ‘Dedo-
culares, reumáticas, inflamações, quei- litorânea brasileira. O maior número de de-moça’ e ‘Cambuci’;
maduras, nevralgias, lumbago, torcicolo, espécies silvestres está no Brasil, espe- e) C. baccatum var. baccatum e C.
etc. (BIANCHETTI; CARVALHO, 2005). cialmente na Região Sudeste e nas regiões baccatum var. praetermissum:
A maioria das sementes das variedades de Mata Atlântica, principal centro de ‘Cumari’.
de pimenta é produzida pelos próprios diversidade delas (REIFSCHNEIDER, 2000).
agricultores ou extraída de frutos maduros Segundo Bianchetti (1996), o Rio de Janeiro ‘Malaguetas’
adquiridos em feiras e outros locais de é importante centro de diversidade do gê- A ‘Malagueta’ é plantada praticamente
comércio. As pimentas ‘Malagueta’, nero com grande número de espécies sil- em todo o Brasil e é a pimenta mais
‘Dedo-de-moça’, ‘Cambuci’, ‘Doce’ e vestres. cultivada na Zona da Mata mineira, cuja
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18 Cultivo da pimenta

QUADRO 1 - Distribuição das espécies do gênero Capsicum em diferentes categorias, de acordo produção é destinada tanto para o consumo
com o grau de domesticação
in natura, quanto para a fabricação de
Grau de domesticação Espécies molhos e de conservas. As plantas são
arbustivas, vigorosas com altura de 0,9 a
(1)
Domesticadas C. annuum var. annuum 1,2 m e bastante ramificadas, princi-
(1)
C. baccatum var. pendulum palmente quando o trato cultural de cortar
(1)
o ápice da planta é utilizado, eliminando,
C. chinense
assim, a dominância apical. Os frutos são,
(1)
C. frutescens
geralmente, filiformes com 1,5 a 3 cm de
C. pubescens comprimento e 0,4 a 0,5 de largura. São de
coloração verde, quando imaturos, pas-
Semidomesticadas (1)
C. annuum var. glabriusculum sando diretamente para a coloração ver-
(1)
C. baccatum var. baccatum melha, quando maduros. Geralmente,
(1)
existem dois a cinco frutos por inserção,
C. baccatum var. praetermissum
os quais são muito picantes. A colheita
C. chinense (forma silvestre) inicia-se aos 110-120 dias após a semea-
C. frutescens (forma silvestre) dura. Após esse período, os frutos come-
çam a perder água intensamente, exibindo
C. cardenasii
murchamento e até deformações (SOUZA;
C. eximium CASALI, 1984).
C. tovarii As pimentas ‘Malaguetinha’, ‘Mala-
C. chacoense guetão’ e ‘Malagueta-amarela’ são varia-
ções da ‘Malagueta’ (Fig. 1), quanto ao
C. galapagonense
tamanho e coloração dos frutos e asse-
melham-se quanto à pungência. A ‘Mala-
(1)
Silvestres C. buforum
guetinha’ possui frutos de tamanho re-
(1)
C. campylopodium duzido (1,5 cm de comprimento por 0,3 a
C. chacoense var. tomentosum 0,4 cm de largura), enquanto os frutos da
‘Malaguetão’ são maiores, com tamanho
C. ciliatum
que varia de 3 a 4 cm de comprimento a 0,8
C. coccineum a 10 cm de largura. Os frutos da ‘Malagueta-
C. cornutum amarela’ são amarelos, ao invés de ver-
melhos, quando maduros.
C. dimorphum
As pimentas ‘Malaguetas’ são utili-
(1)
C. dusenii zadas principalmente para consumo fresco,
no preparo de conservas e molhos.
(1)
Silvestres C. flexuosum

C. geminifolium 'Tabasco'

C. hookerianum
A pimenta-tabasco (Fig. 2) é a mais co-
nhecida nos Estados Unidos e tem sido
C. minuflorum
cultivada no estado do Ceará, para ex-
C. lanceotatum portação, na forma de pasta. Distingue-se
(1)
C. mirabile da ‘Malagueta’ pela coloração dos frutos
(1)
durante a maturação, passando de verde
C. parvifolium
para amarela ou alaranjada e só depois para
(1)
C. schottianum vermelha. Os frutos são picantes, com 2,5
C. scolnikianum a 5 cm de comprimento e 0,5 de largura.
(1)
C. villosum
Pimenta-de-cheiro
FONTE: Carvalho et al. (2003). As pimentas-de-cheiro pertencem à
(1)Espécies encontradas no Brasil. espécie C. chinense, considerada a mais

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Cultivo da pimenta 19

Os frutos da pimenta-de-cheiro (Fig. 3),


cultivada em maior escala nas Regiões
Centro-Oeste e Norte do País, são de for-
mato campanulado, com peso médio de
12 g, coloração verde, quando imaturos,
passando para laranja-pálida ou vermelha,
quando maduros. É muito apreciada pelos
consumidores por apresentar frutos com
aroma acentuado e doces ou pouco pi-
cantes, sendo utilizada como tempero em
arroz, saladas e, especialmente, no preparo
de peixes e frutos do mar. Quanto à pun-
gência, esta pode ser suave ou ausente,
porém, podem ser encontrados frutos com

Cleide Maria Ferreira Pinto


pungência alta (CARVALHO et al., 2003).

Pimenta-bode
A pimenta-bode é muito comum na
Região Centro-Oeste do País (REIFS-
CHNEIDER, 2000). Na culinária goiana é
Figura 1 - Pimenta-malagueta (Capsicum frutescens) usada como tempero no preparo de carnes,
arroz, feijão, pamonha salgada e até em
biscoitos de polvilho (CARVALHO et al.,
2003). Os frutos apresentam formatos
arredondados ou achatados, com cerca de
1 cm de comprimento e diâmetro, com
coloração amarela (Fig. 4) ou vermelha
(Fig. 5) e pungência elevada. Assim como
a pimenta-de-cheiro, a pimenta-bode
possui aroma característico. Os frutos ima-
turos são comercializados in natura, en-
quanto os maduros (amarelos ou ver-
melhos) são utilizados, principalmente, em
conservas de frutos inteiros (em vinagres
ou em azeite) e em molhos.
Cláudia Silva da Costa Ribeiro

‘Cumari-do-pará’
A ‘Cumari-do-pará’ (Fig. 6) possui
frutos de formato triangular, com 3 cm de
comprimento e 1 cm de largura, coloração
amarela, quando maduros, aromáticos e com
elevada pungência. É mais comum nos
Figura 2 - Pimenta-tabasco (Capsicum frutescens) estados do Pará e Amazonas, mas também
são cultivadas em Goiás e Minas Gerais e
consumidas, principalmente, na forma de
brasileira. Segundo Reifschneider (2000), a riabilidade no formato e no tamanho dos conservas.
área de maior diversidade dessa espécie frutos, que são de 1,5 a 4 cm de com-
está na Bacia Amazônica, havendo indício primento e 1 a 3 cm de largura, e na colo- ‘Biquinho’
de que tenha sido domesticada pelos índios ração, que pode ser amarelo-leitosa, ama- A pimenta-doce biquinho, também
da região. relo-forte, alaranjada, salmão, vermelha e conhecida pelo nome pimenta-de-bico,
Essas pimentas possuem grande va- preta. pertence à espécie Capsicum chinense e é
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20 Cultivo da pimenta

Cleide Maria Ferreira Pinto

Cleide Maria Ferreira Pinto


Figura 3 - Pimenta-de-cheiro (Capsicum chinense) Figura 4 - Pimenta-bode amarela (Capsicum chinense)

Cláudia Silva da Costa Ribeiro


Cleide Maria Ferreira Pinto

Figura 5 - Pimenta-bode vermelha (Capsicum chinense) Figura 6 - Pimenta cumari-do-pará (Capsicum chinense)

considerada um tipo varietal relativamente apresentar frutos doces, extremamente quando maduros, aromáticos e sem ardor,
novo. É cultivada principalmente na região saborosos e aromáticos. Possui frutos de embora existam cultivares picantes desta
do Triângulo Mineiro, no estado de Minas formato triangular com a ponta bem pimenta.
Gerais, sendo consumida mais na forma de pontiaguda, formando um biquinho
conservas. Esta pimenta ganhou, (Fig. 7), com 2,5 a 2,8 cm de comprimento e ‘Murupi’
rapidamente, expressão nacional por 1,5 cm de largura, de coloração vermelha, A pimenta-murupi é muito conhecida e
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.16-29, nov./dez. 2006

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Cultivo da pimenta 21

centes à espécie C. annuum. Deste grupo,


a pimenta ‘Jalapeño’ é a mais cultivada no
Brasil, especialmente nos estados de São
Paulo, Minas Gerais e Goiás. É considerada
uma das melhores pimentas para molhos,
devido à boa quantidade de polpa que
produz. Os frutos também são consumidos
in natura, em conservas (em vinagre ou
no azeite) e desidratados inteiros ou em pó
(condimentos). Os frutos geralmente
possuem formato cônico, com cerca de 5 a

Cláudia Silva da Costa Ribeiro


Cleide Maria Ferreira Pinto
8 cm de comprimento, 2,5 a 3 cm e peso
médio de 45 g. Apresentam parede espessa
e estrias suberizadas na epiderme (Fig. 10).
Quando imaturos, os frutos são verde-
claros ou verde-escuros, passando para
vermelho, quando maduros. Possui
Figura 7 - Pimenta-biquinho (Capsicum Figura 8 - Pimenta-murupi (Capsicum
pungência média e aroma acentuado. O
chinense) chinense)
ciclo médio é de 95 dias.

consumida na Região Norte do Brasil. É temente introduzida no Brasil. É conheci-


comumente comercializada em feiras, in da desde o Caribe até o Brasil, sendo con-
natura ou preparada artesanalmente, como siderada uma das pimentas mais picantes.
molho de pimenta, a partir do tucupi Os frutos são retangulares, com 2 a 4 cm de
(manupueira, extraída da mandioca) ou em comprimento e 2 a 6 cm de largura, verdes,
conservas à base de vinagre, óleo e soro quando imaturos, e tornam-se vermelhos,
de leite (CARVALHO et al., 2003). Os frutos laranjas (Fig. 9), amarelos, brancos ou até
são alongados com coloração verde, quan- mesmo de cor púrpura e marrom, quando
do imaturos, passando a amarelo-pálida maduros (CARVALHO et al., 2003). São
(Fig. 8), amarelo-intensa ou forte ou ver- preferencialmente consumidos in natura.
melha, quando maduros. São conhecidas,
ainda as variedades de pimentas ‘Murupi’,

Ceide Maria Ferreira Pinto


a ‘Murupizinho’, a ‘Murupi-comum’ e a
‘Murupi-grande’, que se diferenciam quan-
to ao tamanho, formato, cor e pungência. A
‘Murupizinho’ possui tamanho de 2 a 4 cm
de comprimento e apresenta aroma e pun-
Cleide Maria Ferreira Pinto

gência mais acentuados que as demais; a Figura 10 - Pimenta-jalapeño (Capsicum


‘Murupi-comum’ possui de 3,5 a 6 cm; e a annuum var. annuum)
‘Murupi-grande’ pode chegar a 9 cm de
comprimento. Outras cultivares de pimenta-jalapeño
são descritas no Quadro 2.
‘Habanero’
Figura 9 - Pimenta-habanero (Capsicum
A pimenta-habanero possui frutos ‘Cayenne’
chinense)
pendentes e em forma de lanterna, outros A pimenta-cayenne, também conhecida
são afilados na ponta. Os tipos caribenhos como pimenta-vermelha, é altamente
desta pimenta são achatados nas pontas e ‘Jalapeño’ picante e pode ser consumida in natura,
assemelham-se a um boné ou gorro. A A pimenta-jalapeño, junto com a mas geralmente, é utilizada na forma
‘Habanero’ é originária da península do Yu- ‘Cayenne’, ‘Serrano’ e ‘Cereja’, constitui desidratada ou em pó. O fruto, de coloração
catã, entre o México e Belize, e foi recen- um grupo de pimentas picantes perten- vermelha, quando maduro, geralmente
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1 22
QUADRO 2 - Características de cultivares de pimentas disponíveis no mercado brasileiro

2 de pimenta.p65
Início de Peso médio de
Ciclo colheita fruto/Tamanho Outras Empresa de
Cultivares (dias) (dias após Planta Cor do fruto Formato características
(diâmetro x sementes
semeadura) comprimento)

Tipo Malagueta
Malagueta _ 110-120 Vigorosa Verde /vermelho Alongado 0,6-0,8 x 3-4 cm Ardida Sakata

Malagueta _ 100-120 Vigorosa Verde/vermelho Filiforme 2-3 cm Picante e produtiva Horticeres

22
Malagueta _ 100-120 Arbustiva Verde/vermelho Alongado 0,6-0,7 g / 0,5 x 2,0 cm Muito picante Agristar/ Topseed

Malagueta _ 100 _ Verde/vermelho Piramidal 0,5-1,0 x 2-5 cm Picante Isla

Malagueta _ 110-120 _ Verde/vermelho Alongado 2,5 x 3,5 cm Muito picante Feltrin

Malaguetinha _ 90-100 _ Verde/vermelho Cilíndrico curto 0,4 x 0,5 cm Muito picante Feltrin

Tipo Dedo-de-Moça
Dedo-de-Moça _ 100-120 Arbustiva Verde/vermelho Cilíndrico 1 x 13 cm Saborosa e picante Agristar/ Topseed

Tipo Cambuci
Chapéu-de-Bispo _ 90 (verão) _ Verde-claro Achatado 4-6 x 3-5 cm Sabor bem adocicado Isla

Cambuci _ 110-130 Vigorosa Verde-claro Achatado 30-40 g / 6-7 x 5-7 cm Doce Sakata

Chapéu-de-Bispo _ 100-120 Arbustiva Verde/vermelho Achatado _ Levemente picante Agristar/ Topseed

Cambuci/ Chapéu-de-Bispo _ 100-110 _ Verde-claro Achatado 4 x 6 cm Doce Feltrin

Tipo Jalapeño (picante)


Jalapeño 95 _ Vigorosa Verde/vermelho Cônico 45 g / 3,5 x 9,0 cm Resistente a TMV Agristar/Topseed

Híbrido Mitla 70-85 _ Vigorosa Verde/vermelho Cônico 3-4 x 8-9 cm Alta Produtividade Seminis

Outros tipos

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Cayenne _ 110-120 _ Verde/vermelho Cilíndrico comprido 8 x12 cm Picante Feltrin

De Cayenne 90 (verão) _ Verde/vermelho _ 1,2 x 8-10 cm Picante Isla

Luna (Cumari-do-Pará) _ 100-150 _ Verde/amarelo Oblongo 2,0 x 1,5 cm Picante Feltrin

De Bico ( Biquinho) _ 80-130 _ Verde/vermelho Redondo 1,0 x 0,7 cm Doce Feltrin

Vulcão (Ornamental) _ 120-140 _ Verde/vermelho Cilíndrico curto 2,5 x 5,0 cm Picante Feltrin

Amarela Comprida _ 115-125 Arbustiva e ereta Amarela Cônico _ Sabor picante Agristar/Topseed

Pimenta para vaso _ _ Compacta Verde/vermelho Cônico 10 x 9 mm Muito picante Agristar/Topseed

Redonda para vaso _ _ Compacta Verde/vermelho Cônico 15 x 15 mm Picante Agristar/Topseed

NOTA: As informações contidas neste Quadro são provenientes de catálogos e sites das empresas de sementes Sakata, Horticeres, Agristar/Topseed, Isla, Feltrin e Seminis.
Cultivo da pimenta

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.16-29, nov./dez. 2006


(1)Em 2007, a Isla lançará três novas variedades de pimenta: a Pirâmide Ornamental, a Espaguetinho Ornamental e a Híbrida Grisu F1.
Cultivo da pimenta 23

apresenta a superfície muito enrugada


(Fig. 11). O formato pode ser alongado ou
em meia lua, cujo comprimento varia de 13
a 25 cm e a largura de 1,2 a 2,5 cm. É co-
mercializada na África, na Índia, no México,
no Japão e nos Estados Unidos.

‘Serrano’
A pimenta-serrano, também chamada

Cleide Maria Ferreira Pinto


pimenta-verde, é originária do México
(Fig. 12). É mais pungente que a ‘Jalapeño’.
Os frutos são alongados, possuem parede
fina a mediana, cerca de 5 a 10 cm de
comprimento e 1 cm de largura. Os frutos
imaturos variam de verde-claro a verde- Figura 11 - Pimenta-cayenne (Capsicum annuum var. annuum)
escuro e, quando maduros, podem apre-
sentar coloração vermelha. O consumo
dessa pimenta é quase exclusivo na for-
ma de fruto fresco e em estádios ima-
turos.

‘Cereja’
Os frutos da pimenta-cereja são pe-
quenos, redondos (Fig. 13) e levemente
achatados, de coloração verde, quando
imaturos, e vermelha, quando maduros.
Podem ou não ser pungentes, dependendo
da cultivar. São usados para a produção de

Cláudia Silva da Costa Ribeiro


picles e também consumidos frescos
em saladas. Assim como as pimentas
‘Cayenne’ e ‘Serrano’, a ‘Cereja’ é pouco
difundida no Brasil.

‘Dedo-de-moça’
A ‘Dedo-de-moça’ é uma das pimentas Figura 12 - Pimenta-serrano (Capsicum annuum var. annuum)
mais consumidas no Brasil, especialmente
nos estados de São Paulo, Rio Grande do
de molhos, e pimentas ‘Vermelha’ ou
Sul e Goiás. As plantas são arbustivas, com
‘Calabresa’, quando utilizadas desi-
cerca de 1 m de altura. Os frutos são
dratadas na forma de flocos com semen-
alongados, de coloração vermelha, quando
tes.
maduros, e medem cerca de 1-1,5 cm de
diâmetro e 8-10 cm de comprimento. A
‘Cambuci’
Cleide Maria Ferreira Pinto

pungência é suave (Fig. 14). Este tipo de


pimenta pode receber outros nomes, A pimenta-cambuci, também chamada
dependendo da região e dos diferentes ‘Chapéu-de-bispo’ ou ‘Chapéu-de-frade’,
usos, tais como ‘Chifre-de-veado’, por apresenta frutos em formato campanulado,
apresentar frutos de maior tamanho e, às de tamanho mediano e, geralmente com 4
vezes, de coloração vermelha mais inten- cm de comprimento e 7 cm de largura; a Figura 13 - Pimenta-cereja (Capsicum
sa, sendo muito utilizada para confecção coloração do fruto é verde ou verde-clara, annuum var. annuum)

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24 Cultivo da pimenta

Cleide Maria Ferreira Pinto

Cleide Maria Ferreira Pinto


Figura 14 - P i m e n t a - d e d o - d e - m o ç a
(Capsicum baccatum var.
pendulum)
Figura 15 - Pimenta-cambuci (Capsicum var. pendulum)

quando imaturo, e vermelha após a ma-


turação (Fig. 15). Os frutos são consi- mente Minas Gerais (Triângulo Mineiro) e
derados doces (ausência de pungência), também no Centro-Oeste.
porém podem ser encontrados no mercado Poucas companhias existentes no Brasil
cultivares levemente picantes (RIBEIRO, comercializam sementes de pimenta e aque-
2004). las que o fazem restringem-se a alguns ti-
pos específicos, como cultivares de pimen-
‘Cumari’
ta do tipo ‘Jalapeño’ (sementes importadas),
A ‘Cumari’, também conhecida como ‘Cambuci’ ou ‘Chapéu-de-frade’, ‘Mala-
‘Cumari-verdadeira’, pimenta-passarinho, gueta’, ‘Dedo-de-moça’ (Quadro 2).
‘Cumari-miúda’, ‘Comari’ ou ‘Pimentinha’,
possui frutos pequenos, eretos, de formato Pimenta-de-mesa
arredondado com cerca de 0,5 cm de Além das variedades citadas, a espécie
João Aguiar Nogueira Batista

diâmetro ou ovalado com 0,6 a 0,7 cm de C. annuum var. glabriusculum, conhecida


comprimento e 0,5 cm de diâmetro (Fig. 16). na Região Norte do Brasil como pimenta-
Possui aroma suave, pungência elevada e de-mesa, tem sido utilizada, principalmente,
é utilizada em conservas. como ornamental, em razão da folhagem
Geralmente, os frutos são comercia- variegada, do porte anão e dos frutos com
lizados verdes (imaturos), pois, quando diferentes cores no processo de maturação
maduros, por desprenderem-se facilmente Figura 16 - Pimenta-cumari (Capsicum (Fig. 17). Geralmente, as plantas apresentam
da planta, servem de alimento para pássaros baccatum var. baccatum e C.
uma flor por nó, de cor branca, violeta, roxa
baccatum var. praetermissum)
como o bem-te-vi, sabiá e sanhaço. A única ou branca com manchas violetas difusas e
diferença entre C. baccatum var. baccatum var. baccatum é encontrada na Bolívia, pedicelos eretos. Os frutos são pequenos,
e C. baccatum var. praetermissum está na enquanto C. baccatum var. praetermissum com formas ovaladas a cônicas, eretos,
coloração das flores. A primeira apresenta é exclusiva do Brasil. Porém, ambas são verdes ou roxos-escuros, quando imaturos,
flores brancas com manchas esverdeadas encontradas no Brasil, sendo a variedade e vermelhos, quando maduros.
nas bases, enquanto a segunda possui uma baccatum mais comum na Região Sul e a
faixa lilás-violeta na margem das pétalas. variedade praetermissum comumente Pimenta-doce
A maior variabilidade de C. baccatum encontrada na Região Sudeste, especial- A pimenta-doce, também conhecida

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Cultivo da pimenta 25

como pimenta-verde ou pimenta-americana,


assim como o pimentão, pertence à espécie
C. annuum. Este tipo de pimenta, por não
possuir pungência, tem boa aceitação entre
os consumidores que a utilizam no prepa-
ro de pratos da culinária brasileira, subs-
tituindo, muitas vezes, o pimentão-verde
tradicional (Fig. 18). Existem no mercado,
alguns híbridos de pimenta-doce tipo
americana, que são cultivadas princi-
palmente nos estados de São Paulo e Bahia
(Quadro 3).
A cultivar de pimenta-doce mais co-

Cláudia Silva da Costa Ribeiro


nhecida é a ‘Agronômico 11’, cujas plantas
são de fácil cultivo, vigorosas e têm elevada
produção. Os frutos são de formato
alongado (3,5 a 4,5 cm de diâmetro e 16 a
19 cm de comprimento), peso médio de 50 a
60 g e coloração verde-clara. Outra carac-
terística dessa cultivar é a resistência ao
Figura 17 - Pimenta-de-mesa (Capsicum annuum var. glabriusculum)
vírus PVY (Vírus Y da batata). A colheita
inicia-se aos 110-130 dias após a semeadura.

MELHORAMENTO DE PIMENTA
Para o sucesso de um programa de me-
lhoramento é de fundamental importância
que haja progresso genético. No entanto,
a obtenção de plantas superiores depende
da existência de variabilidade genética no
germoplasma analisado. As variações têm
que ser estáveis, independentemente dos
diferentes ambientes, onde a nova cultivar
for plantada e avaliada. A análise das
variações genéticas intra e interespecíficas
possibilita o conhecimento da organização
e estrutura das relações evolucionárias

Cláudia Silva da Costa Ribeiro


ocorrentes no gênero. Além disso, são de
grande importância em programas de
melhoramento a utilização de hibridações,
por fornecerem parâmetros para a
identificação de genitores que, quando
cruzados, aumentam as chances de
recuperação de genótipos superiores nas Figura 18 - Pimenta-doce (Capsicum annuum)
gerações segregantes.
O gênero possui ampla variabilida-
de genética, evidenciada pela grande (BGH), da Universidade Federal de Viçosa recursos, é de fundamental importância o
variedade de espécies. Parte desse ger- (UFV), do Centro Tecnológico da Zona da conhecimento e a organização dessa va-
moplasma tem sido conservado em bancos Mata (CTZM), da EPAMIG, e da Embrapa riabilidade genética existente.
de germoplasma, tais como as coleções do Hortaliças, dentre outros (Fig. 19). En- Os programas nacionais de melho-
Banco de Germoplasma de Hortaliças tretanto, para que haja maior uso desses ramento de pimentas são restritos em

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26 Cultivo da pimenta

QUADRO 3 - Características de cultivares e híbridos de 'Pimenta-doce' ou 'Pimenta-americana' disponíveis no mercado brasileiro


Início da Peso médio de
Híbridos/ Ciclo colheita fruto e Empresa de
Cultivares (dias) Planta Cor do fruto Formato Outras sementes
(dias após diâmetro x características
semeadura) comprimento

Híbrido Dirce R _ 110-130 Vigorosa Verde Alongado 110-130 g Resistente a Sakata


20-22 cm comp. PVY (estirpe
1-2) e ToMV

Híbrido Lipari _ _ _ Verde-escuro/ Alongado 130 g Resistente a Clause Tezier


vermelho 5 x 27 cm TMV

Híbrido Dínamo _ _ _ Verde Alongado _ Resistente Clause Tezier


a TMV e
PVY

Híbrido Pinóquio _ _ _ Verde-escuro/ Alongado 130 g Alta Sakama


vermelho produtividade

Híbrido Fushimi _ _ _ Verde- Alongado 6 cm Alto Sakama


Amanaga brilhante pegamento
seqüencial
dos frutos

Híbrido Housan _ _ Verde- Alongado _ Muito Sakama


Shishitou brilhante produtiva

Híbrido Foulki 100 Porte Verde-escuro- Cônico 180-200 g Resistente a Agristar/


médio brilhante TMV Topseed

Híbrido Thaís 110 _ Verde médio- Cônico-longo 5-6 x 20-23 cm _ Feltrin


vermelho

Doce Comprida 110-120 _ Verde-claro Cônico 45-55 g (12 x 4 cm) _ Feltrin

Agronômico 11 100-130 Vigorosa e Verde-claro Alongado 50-60 g e 3,5-4,5 x Resistente a Sakata


produtiva 16-19 cm comp. PVY

Amarela Alongada 100 _ Verde-claro/ Comprido 10-15 cm comp. Sabor Isla


amarelo adocicado

Doce Italiana 100-110 Vigorosa Verde/ Cônico 200 g Sabor suave Agristar/
vermelho 5 x 18 cm Topseed

NOTA:As informações contidas neste Quadro são provenientes de catálogos e sites das empresas de sementes Sakata, Clause Tezier, Sakama,
Agristar, Topseed, Feltrin e Isla.

função, principalmente, do pouco interes- se pelo plantio de um grande número de produção escassa de sementes por frutos,
se das companhias de sementes em co- tipos varietais. Devem ser consideradas, uma vez que estes normalmente são muito
mercializar sementes de pimenta. Além de também, a dificuldade de manusear as pequenos e, ainda, a ardência extrema dos
a área cultivada com pimenta, no Brasil ser, pequenas flores para a execução dos cru- frutos, dificultando a extração das se-
ainda, relativamente pequena, caracteriza- zamentos e multiplicação das sementes, a mentes.

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Cultivo da pimenta 27

Fotos: Arquivo EPAMIG

Figura 19 - Alguns acessos de pimenta do banco de germoplasma da EPAMIG-CTZM

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.16-29, nov./dez. 2006

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28 Cultivo da pimenta

São cultivados no Brasil diferentes tem-se concentrado principalmente na re- plementares, que resulta em indi-
tipos varietais pertencentes às quatro es- sistência múltipla a doenças como murcha- víduos híbridos.
pécies domesticadas de Capsicum e, pelo de-fitóftora (Phytophthora capsici), oídio
menos, três espécies semidomesticadas (Leveilula taurica), mancha-bacteriana CONSIDERAÇÕES FINAIS
(C. annuum var. glabriusculum, C. (Xanthomonas campestris pv. vesicato- O gênero Capsicum possui ampla
baccatum var. praetermissum e C. ria), murcha-bacteriana (Ralstonia variabilidade, quer seja dentre as espécies
baccatum var. baccatum). Para serem solanacearum), Potyvírus (PepYMV), com variedades cultivadas, quer seja entre
aceitos comercialmente, cada tipo de pi- Tospovirus (TSWV, GRSV, TCSV, CSNV) e, as espécies silvestres. Dessa forma, di-
menta deve manter as características de mais recentemente, Geminivírus. Como versas cultivares podem ser obtidas asso-
frutos do seu grupo. Dessa forma, para o resultado deste trabalho, foram liberadas ciando características comerciais das
desenvolvimento de novas cultivares, o linhagens que estão sendo utilizadas tanto cultivares com resistência a doenças e a
melhorista deve considerar o grupo de pi- no Brasil como no exterior, a exemplo da pragas das espécies silvestres. Por outro
mentas que está trabalhando e as exigên- linhagem CNPH 148, resistente à murcha- lado, o mercado de especiarias como pi-
cias e preferências do mercado. É um pro- de-fitóftora, e da linhagem CNPH 703, pa- mentas com ou sem ardor tem aumentado
cesso trabalhoso e que leva muito tempo. drão mundial de resistência estável e du- continuamente. Diversas variedades exis-
Algumas características, como pun- rável a Xanthomonas campestris pv. tem à disposição do consumidor, entre-
gência, são difíceis de ser manipuladas em vesicatoria (REIFSCHNEIDER, 2000). tanto muito deve ainda ser feito para que
função da sua grande instabilidade. Pro- Os principais métodos de melhoramento se possam satisfazer as tendências de
dutores rurais, processadores e consu- usados no desenvolvimento de cultivares mercado.
midores têm demandas muito específicas de pimenta são:
em termos de pungência esperada para a) método genealógico ou pedi- REFERÊNCIAS
diferentes tipos de pimentas e de produtos gree: baseia-se na seleção indivi- AGRISTAR. Topseed Garden. Pimenta.
à base de pimenta. Além disso, a produção dual de plantas superiores e cuja Disponível em: <http://www.agristar.com.br/
e concentração de capsaicinóides na pla- performance é avaliada por meio de garden/produtog.php>. Acesso em: set. 2006.
centa de frutos de pimenta varia tanto em testes de seus descendentes, as
função do genótipo quanto das condições progênies; AGRISTAR. Topseed Premium. Pimenta-doce
ambientais em que as plantas estão sendo híbrida. Disponível em: <http://www.agristar.
b) método descendente de uma única
cultivadas. com.br/premium/produto.htm>. Acesso em: set.
semente - Single Seed Descent
É crescente o interesse dos mercados 2006.
nacional e internacional por cultivares de (SSD): onde as gerações são avan-
çadas, tomando-se uma única se- BIANCHETTI, L. de B. Aspectos mor-
pimentas-doces para processamento
mente de cada indivíduo em cada fológicos, ecológicos e biogeográficos de dez
industrial, na forma de pó (páprica). No
geração, até chegar a um nível sa- táxons de Capsicum (Solanaceae) ocorrentes
desenvolvimento de cultivares de pimenta-
tisfatório de uniformidade; no Brasil. 174p. Tese (Mestrado em Botânica)
doce para páprica, a coloração dos frutos - Universidade de Brasília, Brasília.
maduros é a principal característica con- c) retrocruzamento: envolve o cruza-
siderada. Quanto maior o teor de pigmen- mento de uma cultivar selecionada _______; CARVALHO, S.I.C. Subsídios à coleta de
tos vermelhos, mais intensa é a coloração com um genitor que possua uma ou germoplasma de espécies de pimentas e pimentões
do pó. Os teores destes pigmentos são poucas características de grande do gênero Capsicum (Solanáceas). In: WALTER,
influenciados por vários fatores como interesse; B.M.T.; CAVALCANTI, T.B. Fundamentos para
genético, grau de amadurecimento dos a coleta de germoplasma vegetal: teoria e
d) seleção recorrente: consiste em re- prática. Brasília: Embrapa Recursos Genéticos e
frutos e condições climáticas. O caráter es- petidos ciclos de seleção e recom- Biotecnologia, 2005. p.355-385.
pessura de parede e o teor de sólidos so- binação de indivíduos superiores
lúveis nos frutos também devem ser levados selecionados; BOSLAND, P.W. Breeding for quality in
em conta no melhoramento de pimenta- Capsicum. Capsicum and Eggplant
doce para produção de páprica, pois e) método de retrocruzamento de
Newsletter, n.12, p.25-31, 1993.
influenciam diretamente no rendimento linhagens - Inbred Backcross Line
System (IBLS): é uma mistura dos CASALI, V.W.D.; STRINGHETA, P.C.
industrial e na redução do consumo de
métodos de retrocruzamento e SSD; Melhoramento de pimentão e pimenta para fins
energia necessário para a desidratação dos
industriais. Informe Agropecuário, Belo
frutos. f) hibridação: consiste no cruzamento
Horizonte, ano 10, n.113, p.23-24, maio 1984.
Há mais de duas décadas, o Programa de dois genitores, geneticamente
de Melhoramento da Embrapa Hortaliças distintos e com características com- CARVALHO, I.C.S.; BIANCHETTI, L.B.;

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.16-29, nov./dez. 2006

2 de pimenta.p65 28 21/12/2006, 16:22


Cultivo da pimenta 29

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30 Cultivo da pimenta

Produção de sementes de pimentas


Warley Marcos Nascimento1
Denise Cunha Fernandes dos Santos Dias2
Raquel Alves de Freitas3

Resumo - Para obtenção de uniformidade de emergência e vigor das plântulas, a


implantação de uma cultura demanda sementes de boa qualidade. No entanto, no caso
da pimenta, devido ao mercado limitado e a aspectos peculiares da produção de sementes,
existe, até então, um certo desinteresse por parte das empresas de sementes pelo
desenvolvimento de novas cultivares, pela produção e até mesmo pela comercialização
de sementes. De forma que muitos produtores utilizam sementes próprias e muitas
vezes essas são produzidas sem critérios na escolha da área de produção. Além disso, a
produção de sementes requer tratos culturais próprios do sistema, o ponto de colheita
dos frutos também interfere na qualidade das sementes, assim como, os processos de
extração, secagem, beneficiamento, tratamento, acondicionamento e armazenamento
das sementes.

Palavras-chave: Capsicum. Pimenta. Semente. Dormência. Mercado. Qualidade.

INTRODUÇÃO racterizando-se tipicamente como agri- gência e no vigor das plântulas e pode
cultura familiar. também interferir na produtividade fi-
As pimentas (Capsicum spp.) são
O cultivo de qualquer espécie de planta nal. Assim, a utilização de semente de alta
cultivadas em diferentes regiões do Brasil,
propagada sexualmente, incluindo as qualidade é fundamental para obtenção
seja de clima subtropical, como no Sul, se-
pimentas, deve começar com a utilização de hortas e/ou lavouras uniformes e pro-
ja de clima tropical, como no Norte e de sementes de boa qualidade. A semente dutivas.
Nordeste. O cultivo de pimentas, con- é, portanto, um insumo de grande re-
siderado até pouco tempo como uma levância no processo produtivo. MERCADO DE SEMENTES NO
atividade secundária, tem sofrido gran- Desde a fecundação do óvulo até o mo- BRASIL
des transformações e assumido grande mento da semeadura, a semente está sujeita
importância para o País. Essas trans- a uma série de condições adversas que São cinco as principais espécies bo-
formações visam atender às demandas determinam sua qualidade, refletindo po- tânicas cultivadas no Brasil: Capsicum
internas e externas do mercado consumi- sitiva ou negativamente na produtividade frutescens (‘Malagueta’, ‘Malaguetinha’,
dor. A agregação de valor ao produto, seja da cultura. A qualidade de um lote de se- ‘Malaguetão’ e ‘Tabasco’); Capsicum
na forma de molhos, conservas, geléias, mentes compreende uma série de caracte- baccatum (‘Dedo-de-moça’, ‘Chifre-de-
pimenta desidratada em pó (páprica), den- rísticas ou atributos que determinam o seu veado’, ‘Chapeu-de-frade’, ‘Cambuci’ e
tre outras, tem contribuído para amplia- valor para a semeadura. Esses atributos ‘Sertaõzinho’); Capsicum chinense
ção do setor. Além disso, apresenta-se referem-se à sua qualidade genética, física, (‘Bode’, ‘De-cheiro’ e ‘Murici’); Capsicum
ainda como um segmento de grande im- fisiológica e sanitária. A alta qualidade da praetermissum (‘Cumari’ e ‘Passarinho’) e
portância social, pois trata-se de uma cul- semente reflete-se diretamente na cultura, Capsicum annuum (pimenta-doce e pi-
tura que utiliza elevada mão-de-obra, ca- resultando em maior uniformidade na emer- menta-verde). As pimentas mais cultivadas

1
Engo Agro, Ph.D., Pesq. Embrapa Hortaliças, Caixa Postal 218, 70359-970 Brasília-DF. Correio eletrônico: wmn@cnph.embrapa.br
2
Enga Agra, D.Sc., Prof a UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: dcdias@ufv.br
3
Enga Agra, Pesq. Embrapa Hortaliças, Caixa Postal 218, CEP 70359-970 Brasília-DF. Correio eletrônico: raquel@cnph.embrapa.br

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Cultivo da pimenta 31

no País, como a ‘Malagueta’, ‘Bode’, ‘De- produzir sua própria semente, pois as mentes de pimentão e, assim, prova-
cheiro’, ‘Dedo-de-moça’ e ‘Cumari’ são, na pimentas não são protegidas pela Lei de velmente incluídas sementes de pimenta ou
verdade, nomes populares e consideradas Proteção de Cultivares (BRASIL, 2006) e, Capsicum.
variedades botânicas ou grupos varietais. teoricamente, o manejo e as características O mercado brasileiro de sementes de
E isso, às vezes confunde não só produ- de um campo de produção de sementes não pimenta é dividido entre empresas na-
tores, mas também técnicos da cadeia diferem muito daquele destinado à pro- cionais ou grandes grupos multinacio-
produtiva, o que torna um problema para a dução comercial de pimentas. Assim, nais, sendo a comercialização das sementes
produção, comercialização e fiscalização apesar de o Brasil ser o centro de origem e feita por distribuidores ou revendas para
das sementes. Cada região tem um nome diversidade do gênero Capsicum e um atendimento em todo o território nacional.
popular para cada tipo de pimenta, o que grande consumidor de pimentas nas dife- Atualmente, com a utilização cada vez mais
dificulta a identificação correta da cultivar. rentes culinárias regionais e também um freqüente da Internet, podem-se observar
Apenas como exemplo, a cultivar Chapéu- exportador, o mercado formal de sementes diferentes sites brasileiros que disponi-
de-bispo, Chapéu-de-frade ou Cambuci é de pimenta é bastante pequeno, mas com bilizam informações de cultivares e vendas
comercializada como pimenta por uma tendência de crescimento. Em 2003, o valor de sementes de pimenta.
empresa de sementes e, como pimentão, de comercialização de sementes de pimen- Com algumas exceções, o cultivo de
por outra. ta no Brasil foi de R$ 233.174,00, repre- pimentas nas diferentes regiões do País é
Existem poucas cultivares comerciais sentando apenas 0,1% do mercado de se- ainda feito por pequenos agricultores, em
desenvolvidas no Brasil por meio dos raros mentes de hortaliças. O preço pago por
programas de melhoramento genético, quilo de sementes em nível de produtor
como por exemplo, aquelas cultivares do tem variado entre R$ 40,00 (‘Cambuci’) a
Instituto Agronômico de Campinas (IAC). R$ 400,00 (‘De-cheiro’).
A Embrapa Hortaliças também vem de- Além da produção interna de sementes
senvolvendo cultivares de pimenta, tanto de pimentas que é realizada no País em
destinadas ao mercado in natura, como diferentes Estados (principalmente no RS,
para processamento. Por outro lado, ape- MG, GO e PE), (Fig. 1 e 2), o Brasil recorre à
nas para citar o grupo das ‘Malaguetas’, importação para atender à demanda interna.

Hortivale
existem registradas no Serviço Nacional de Apenas em 2002, o País importou cerca de
Proteção de Cultivares (SNPC) do Mi- 191 kg de sementes no valor de US$ 20.943.
nistério de Agricultura, Pecuária e Abas- É possível que esses valores sejam maio- Figura 1 - Produção de sementes de
tecimento (MAPA), cerca de 58 cultivares res, uma vez que de 2002 a 2003 foram pimenta-de-cheiro (Capsicum
provenientes de diferentes obtentores importadas grandes quantidades de se- chinense), em Petrolina, PE
nacionais ou estrangeiros. Diferentemente
do pimentão, a maioria das cultivares de
pimenta comercializadas no País é de po-
linização aberta. Dados recentes do mer-
cado de sementes já apresentam pequenas
quantidades de sementes híbridas sendo
comercializadas.
Devido ao mercado limitado e a as-
pectos peculiares da produção de sementes
de pimenta, como baixo rendimento,
dificuldade de extração, problemas re-
lacionados com qualidade fisiológica,
dentre outros, existe, até então, um certo
Warley Marcos Nascimento

desinteresse por parte das empresas de


sementes pelo desenvolvimento de novas
cultivares, pela produção e até mesmo pela
comercialização de sementes. Além disso,
o mercado de sementes de cultivares de
polinização aberta de pimenta pode ser
limitado, uma vez que os produtores podem Figura 2 - Produção de sementes de pimenta-amarela (Capsicum frutescens), em Orizona, GO

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32 Cultivo da pimenta

um sistema de agricultura familiar. Nesse taminação genética por insetos (micro- utilizados tratamentos específicos capazes
sistema, para a implantação dos campos himenópteros), que perfuram botões florais de promover a superação da dormência.
de pimenta, vários produtores têm utiliza- em busca de pólen e néctar. Sementes recém-colhidas de espécies
do sementes próprias, ou seja, obtidas na do gênero Capsicum, no qual se incluem o
própria lavoura, sem uso de tecnologias Germinação e dormência pimentão e as pimentas, podem apresentar
adequadas para sua produção. A utilização Sementes de diversas espécies são ca- dormência (LAKSHMANAN; BERKE,
de sementes provenientes de frutos adqui- pazes de germinar logo após a colheita, 1998; BOSLAND, 1999; NASCIMENTO et
ridos em mercados e feiras também tem sido basta, para isso, que sejam fornecidos al., 2006). Há diversos relatos evidencian-
verificada. Com isso, obtêm-se sementes requisitos básicos para a germinação, prin- do que a emergência das plântulas de pi-
de baixa qualidade. cipalmente suprimento adequado de umi- mentas é lenta e irregular mesmo sob con-
dade, temperatura e oxigênio. Para outras dições favoráveis (GERSON; HONMA,
ASPECTOS RELACIONADOS espécies, entretanto, a germinação é de- 1978; RANDLE; HONMA, 1981;
COM A PRODUÇÃO DE suniforme ou simplesmente não ocorre, EDWARDS; SUNDSTROM, 1987;
SEMENTES mesmo que as condições de ambiente LAKSHMANAN; BERKE, 1998). Para
sejam favoráveis (Fig. 3). Tais sementes são Randle e Honma (1981), ao avaliarem
Forma de polinização ditas dormentes, pois embora estejam sementes de 19 cultivares representantes
vivas e sob condições de ambiente que de quatro gêneros, foram necessários de
As pimentas apresentam flores per-
normalmente favorecem o processo de ger- 14 a 23 dias para obter 50% de emergên-
feitas (hermafroditas) e reproduzem-se
minação, não germinam por terem alguma cia das plântulas. Por sua vez, Belletti e
preferencialmente por autofecundação.
restrição interna impedindo o desen- Quagliotti (1989) relatam que é alta a por-
Entretanto, a quantidade de polinização
volvimento do embrião. Nessas sementes, centagem de sementes que não germinam
cruzada natural pode variar com a culti-
a germinação só ocorrerá quando tal até os 14 dias, após a semeadura, podendo
var, local, época, condições climáticas,
restrição for naturalmente superada, o ser necessário um período de até 45 dias
população de insetos, etc. (TANKSLEY,
que pode levar dias, meses ou anos, para que a maioria das sementes de um lote
1984; GEORGE, 1985). Estudos têm mos-
dependendo da espécie, ou então, se forem germine satisfatoriamente. Assim, em
trado que a polinização cruzada pode ocor-
rer em uma faixa de 2% a 90% (TANKSLEY,
1984; PICKERSGILL, 1997). Por exemplo,
as flores de algumas cultivares de pimentas
ardidas possuem um estilete mais comprido
e, assim, a possibilidade de autopolinização
é menor em detrimento de uma maior po-
linização cruzada. Odland e Porter (1941),
em um estudo com Capsicum frutescens,
verificaram taxa de cruzamento natural, de
9% a 38%, dependendo da cultivar testada.
Portanto, o isolamento e/ou a colocação
de barreiras naturais é importante durante
a produção de sementes de duas diferentes
cultivares de pimenta. Esse isolamento fun-
ciona como um mecanismo de controle da
qualidade genética das sementes. O iso-
lamento dos campos de produção de
sementes de diferentes cultivares deve
respeitar uma distância mínima de 300 m
Carlos Adonai Solano

para a classe certificada. Na produção de


sementes híbridas, apesar de a polinização
artificial ser realizada antes da abertura das
flores femininas maduras, recomenda-se
manter a separação física de campos de
outros genótipos, devido ao risco de con- Figura 3 - Desuniformidade de germinação de sementes de pimenta

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Cultivo da pimenta 33

algumas situações, o atraso na germinação velocidade de emergência em pimenta- dadeira ( Capsicum baccatum var.
e as reduções no estande final têm sido malagueta (C. frutescens L.), geralmente, praetermissum). Dosagens superiores de
atribuídos à ocorrência de dormência nas são menores do que em outros tipos de KNO3 (0,2% a 0,8%) também podem ser
sementes. No entanto, o período de pimenta (RIVAS et al., 1984; EDWARDS; utilizadas com sucesso para melhorar a ger-
duração dessa dormência é relativamente SUNDSTROM, 1987). minação dessa espécie (dados não pu-
curto, no máximo três meses, de modo que De modo geral, as sementes de pi- blicados). No entanto, Queiroz et al. (2001)
o intervalo de tempo compreendido entre a mentas têm um prolongado período de verificaram que essa solução não foi efi-
colheita das sementes e a semeadura é su- germinação, sendo cerca de 30oC a tem- ciente para a superação da dormência de
ficiente para que, por ocasião do plantio, peratura ótima recomendada para a germi- sementes de C. frutescens L., recomen-
não tenham mais dormência. Para se ter nação. Segundo Nascimento et al. (2006), a dando a imersão em hipoclorito de sódio a
garantia de uma emergência rápida e uni- temperatura mais adequada para a ger- 1%, por 15 minutos, ou a lavagem das
forme das plântulas, recomenda-se que, minação pode variar entre os diferentes sementes em água corrente por 2 horas,
após a colheita dos frutos, extração e seca- tipos de pimenta. As sementes da maioria para obter o potencial máximo de germi-
gem das sementes, estas sejam mantidas das espécies de Capsicum spp., desde que nação. O hipoclorito de sódio, além de
armazenadas, em condição de ambiente, por não estejam dormentes, germinam ade- promover uma desinfecção superficial das
um período de, pelo menos, seis semanas, quadamente sob temperatura constante na sementes, pode atuar aumentando a dis-
para que a dormência seja totalmente faixa de 25oC a 30oC. Contudo, temperaturas ponibilidade do oxigênio para o embrião
superada (RANDLE; HONMA, 1981). alternadas, na faixa de 15oC-30oC, por 8 e/ou reduzindo a concentração de com-
Portanto, o agricultor não precisa utili- horas e 16 horas, respectivamente, a cada postos inibidores presentes na semente.
zar, antes da semeadura, tratamentos para 24 horas, promovem a germinação de Segundo Zaidan e Barbedo (2004), a
a superação da dormência, desde que não sementes dormentes de C. baccatum, C. imersão em hipoclorito de sódio, nitrato
utilize sementes recém-extraídas do fruto. chinense, C. frutescens e C. pubescens de potássio ou água oxigenada é prática
Em geral, por ocasião do plantio, a dor- (GERSON; HONMA, 1978). Esses resul- comum nos laboratórios de análise de
mência já foi naturalmente superada com o tados indicam que o choque térmico tem- sementes para superar a dormência, acres-
armazenamento das sementes. se mostrado benéfico para a superação da centando que estes agentes químicos
É importante ressaltar, no entanto, que dormência das sementes de diversas es-
podem atuar em vários processos do me-
apesar dos relatos sobre a ocorrência de pécies de pimenta. Segundo Bosland
tabolismo das sementes, como nos pro-
dormência em sementes de pimenta (RAN- (1999), o melhor regime de temperatura para
cessos oxidativos, no ciclo das pentoses e
DLE; ROMA, 1981; EDWARDS; SUNDS- promover a germinação de sementes dor-
na respiração. Já a lavagem em água cor-
TROM, 1987), há também referências que mentes de pimentas é 30oC-15oC (16 h - 8 h),
mencionam sucesso no estabelecimento de rente tem sido recomendada para promover
durante 14 dias.
plântulas em casa de vegetação, quando a lixiviação de inibidores da germinação,
Lotes de sementes recém-colhidas en-
as sementes de determinadas cultivares são que, geralmente, são solúveis em água.
viados para análise em laboratório, muitas
extraídas de frutos completamente madu- Para a definição do método ideal na
vezes, necessitam de tratamentos especiais
ros e semeadas em seguida (BOSLAND, quebra da dormência, além de informações
para a superação da dormência, para obter
1999). Randle e Honma (1981) verificaram, na literatura especializada, algumas obser-
informações referentes ao real potencial de
em trabalho com diferentes cultivares germinação do lote. Assim, as Regras para vações podem fornecer importantes sub-
representantes dos gêneros C. annuum L., Análise de Sementes (RAS) (BRASIL, 1992) sídios para a escolha do tratamento a ser
C. frutescens L., C. chacoense Hunz. e C. recomendam, para a realização do teste de utilizado, tais como, características do
microcarpum Cav., que o genótipo e a idade germinação de sementes de várias espé- ambiente, onde a espécie ocorre natu-
do fruto influenciam na intensidade de dor- cies de pimentas, o uso de temperatura al- ralmente, sua região de origem, formas de
mência das sementes. Os autores afirmam ternada de 20oC-30oC e, para a superação dispersão, dentre outras.
que sementes extraídas de frutos super- da dormência, o emprego de luz e o ume- É importante ressaltar que os estudos
maduros germinam mais rapidamente, decimento do substrato com solução de referentes à dormência em sementes de
havendo aumento da intensidade de dor- KNO3 a 0,2%. Em recente estudo, Soares et pimentas ainda não são conclusivos. Não
mência com o decréscimo da idade do fruto. al. (2006) observaram que o umedecimento se pode deixar de considerar também que a
Vale ressaltar que há diferenças entre de substrato com KNO3 a 0,2% foi o tra- aplicação de tratamentos para a superação
os genótipos quanto à velocidade de tamento que proporcionou uma germinação da dormência em sementes de pimenta só
germinação e à intensidade de dormência mais rápida e pode ser utilizado para me- se faz necessária, quando há interesse na
nas sementes (LAKSHMANAN; BERKE, lhorar a germinação e/ou superar a dormên- avaliação do potencial máximo de ger-
1998). A porcentagem de germinação e a cia de sementes de pimenta-cumari ver- minação de sementes recém-colhidas, as
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34 Cultivo da pimenta

quais podem apresentar dormência. Uma (FARIA JÚNIOR, 2004; NASCIMENTO, solo recomendadas para a produção de
vez constatada a ocorrência de dormência, 2005). frutos. É desejável, portanto, buscar uma
as sementes deverão ser armazenadas por A qualidade da semente utilizada no época do ano com temperaturas e umidade
determinado período, geralmente de três a processo de produção é um dos principais relativas mais baixas. O clima seco e ameno,
quatro meses, para que o fenômeno seja fatores a ser considerado para a implan- além de minimizar o problema de incidên-
superado. Assim, a semeadura de se- tação do campo de produção. Assim, a cia de doenças, não prejudica a produção
mentes de pimenta recém-extraídas do fruto semeadura deve ser realizada com semen- e contribui para a obtenção de sementes
pode representar um risco para a obtenção tes de boa qualidade, levando-se em conta de alta qualidade, com menores riscos de
de estandes uniformes, contribuindo para os atributos de qualidade genética, física, perda de produção. Entretanto, tempe-
a elevação do gasto de sementes. fisiológica e sanitária. Mesmo assim, o raturas baixas na época da floração podem
Tratamentos de hidratação e desidra- tratamento químico é uma prática indis- reduzir a produção.
tação, conhecidos como condicionamento pensável nesse momento. Deve-se preferir A área destinada à produção de semen-
osmótico (priming) das sementes, também bandejas multicelulares, que contenham tes certificadas deve variar de um mínimo
melhoram a performance durante a ger- substrato comercial adequado para a pro- de 0,2 hectare a um máximo de 2 hectares,
minação. Essa técnica consiste em pré- dução de mudas. As bandejas mais uti- ser de fácil acesso, bem localizada, plana
embeber as sementes em água ou em uma lizadas ainda são as de poliestireno ex- ou suavemente inclinada, arejada, de pre-
solução osmótica por período e tempe- pandido (isopor), mas as plásticas de ferência não cultivada recentemente com
ratura determinados, de modo que restrinja polietileno vêm ganhando cada vez mais outras solanáceas. Deve apresentar solo
a quantidade de água absorvida. Assim, espaço no mercado. A profundidade da leve, profundo, bem drenado, rico em ma-
as sementes absorvem água até um nível semeadura deve ser de no máximo 1 cm. As téria orgânica e nutrientes e estar livre de
que permita a ativação de eventos meta- bandejas devem ser mantidas preferen- plantas daninhas, pragas e doenças li-
bólicos essenciais à germinação sem, cialmente em telados protegidos por telas mitantes para a cultura de pimenta.
contudo, emitir a raiz primária (KHAN, 1992; antiafídicas, evitando-se, assim, a entrada
NASCIMENTO, 1998). Sementes osmo- de insetos-vetores de viroses. Devem-se Instalação do campo de
condicionadas de pimenta germinam mais manter os telados livres de plantas da- produção de sementes
rápido, principalmente em condições ninhas, pois estas podem favorecer a pro- O preparo do solo deve ser bem-feito,
subótimas de temperatura (10oC-15 oC) liferação de patógenos e de insetos-vetores começando pelo enterramento profundo
(RIVAS et al., 1984). Sundstrom et al. (1987) de doenças. A irrigação deve ser realizada dos restos da cultura anterior. O espa-
observaram que o condicionamento osmó- com água de boa qualidade, evitando uti- çamento entre fileiras pode ser até 50%
tico acelerou a velocidade de germinação lizar água que escorra de lavouras conta- maior do que o comumente utilizado na
de sementes de Capsicum frutescens. minadas por doenças. São necessárias de produção de frutos, permitindo maior fa-
100 a 200 g de sementes, dependendo da cilidade na execução dos tratos culturais,
Produção de mudas e espécie, para suprir a necessidade de maior espaço para a observação das plantas
transplantio mudas para um hectare. durante as inspeções de campo (roguing)
A produção de mudas deve ser encara- É essencial a adoção de práticas de se- e alteração do microclima em favor da
da como uma etapa inicial do processo gurança fitossanitária, para evitar a con- cultura. Espaçamentos menores (abaixo de
produtivo e, atualmente, tem-se tornado taminação das mudas com patógenos e 0,5 m) podem favorecer a ocorrência e trans-
uma atividade de alta tecnologia. No sis- insetos. missão de pragas e doenças entre as
tema de produção de mudas, a emergência O transplantio das mudas para o local plantas, além de dificultar as inspeções no
das plântulas é maximizada, devido às definitivo deve ser realizado, quando as campo de produção de sementes.
melhores condições de germinação e fa- mudas apresentarem de seis a oito folhas
cilidade na realização dos tratos culturais (10 a 15 cm de altura), o que corresponde a Tratos culturais
no início do estabelecimento das plântulas. 30 a 45 dias para o pimentão e 50 a 60 dias O cultivo de pimentas destinadas à
Além disso, o transplantio das mudas para a maioria das pimentas (FINGER; produção de sementes segue as mesmas
permite a implantação de campos com alta SILVA, 2005). exigências e tratos culturais do cultivo de
uniformidade, além de reduzir os riscos do pimentas para comercialização. Semeadu-
período inicial do desenvolvimento da Escolha da área ra, obtenção de mudas, transplantio, adu-
cultura, garantindo o espaçamento e/ou A produção de sementes de pimentas bação, controle de pragas, doenças e de
estande mais adequado. Esse sistema de pode ser desenvolvida nas próprias regiões plantas espontâneas são práticas similares.
produção elimina a prática do desbaste e sob semelhantes condições de clima e A adubação deve-se basear na análise
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Cultivo da pimenta 35

de solo. É importante salientar que o esta- características da planta, flores, tamanho, biente. Inicia-se, então, um período de
do nutricional das plantas reflete-se na formato e coloração dos frutos, o que armazenamento no campo que pode
composição química das sementes em permitirá obter sementes de alta qualidade comprometer a qualidade da semente, já
desenvolvimento, e que os nutrientes ar- genética, fisiológica e sanitária (GEORGE, que ela fica exposta às intempéries, o que
mazenados na semente irão suprir os 1985). se agrava quando o final da maturação
elementos necessários para o estabe- coincide com períodos com alta incidência
lecimento da plântula, em seus estádios Colheita dos frutos de chuvas.
iniciais (CARVALHO; NAKAGAWA, As pimentas são plantas de crescimen- Em espécies onde o florescimento é
2000). to indeterminado com floração contínua, contínuo, como nas pimentas, a mesma
As pulverizações devem ser efetuadas apresentam, na época de colheita, frutos e, planta apresenta frutos em diferentes es-
sempre que necessárias, para manter as em conseqüência, sementes em diversos tádios de maturação, o que dificulta
plantas livres de pragas e doenças. Sabe- estádios de desenvolvimento e graus de determinar a época ideal para a colheita, vi-
se que importantes doenças que ocorrem maturidade fisiológica. A maturidade sando à obtenção de sementes de alta qua-
na cultura podem ser transmitidas pe- fisiológica da semente tem sido definida lidade (Fig. 4). Contudo, um período de
las sementes, como a antracnose como a ocasião em que cessa o fluxo de repouso ou armazenamento dos frutos após
(Colletotrichum spp.), a mancha- substâncias fotossintetizadas da planta a colheita, antes da extração das sementes,
bacteriana (Xanthomonas campestris para a semente, ou seja, quando o conteúdo permite que estas, ainda não totalmente
pv. vesicatoria) e o cancro bacteriano de matéria seca é máximo (CARVALHO; maduras, completem sua maturação, en-
(Clavibacter michiganensis subsp. NAKAGAWA, 2000). Esta característica é quanto as já maduras terão sua qualidade
michiganensis) (LOPES; ÁVILA, 2003). o melhor e mais seguro indicativo da preservada por manterem-se em equilíbrio
Para fins de extração de sementes, deve-se ocorrência da maturidade fisiológica. Em osmótico dentro do fruto, ou seja, com alto
evitar a colheita de frutos em plantas com geral, o ponto máximo de germinação e vigor grau de umidade. Dessa forma, o emprego
sintomas dessas doenças. ocorre, quando a semente atinge o máximo adequado dessa técnica pode permitir co-
O sistema de irrigação deve ser pre- conteúdo de matéria seca. Isso é verificado lheitas precoces, diminuindo o tempo de
ferencialmente por infiltração e/ou go- principalmente nas espécies cujas se- permanência no campo, a fim de evitar
tejamento. A aspersão deve ser evitada, mentes estão contidas em frutos carnosos, riscos com possíveis condições desfa-
reduzindo, assim, a incidência de doenças como é o caso das pimentas. Assim, o re- voráveis. Além disso, este procedimento
pelo contato direto da água com as folhas conhecimento prático da maturidade reduz o número de colheitas, colhendo-se
e frutos. fisiológica assume grande importância, simultaneamente frutos em diversos está-
Além dos tratos culturais normais, pois caracteriza o momento em que a dios de maturação, extraindo imediatamen-
algumas práticas específicas devem ser semente deixa de receber nutrientes da te as sementes dos frutos maduros e sub-
aplicadas à produção de sementes. O es- planta e passa a sofrer influência do am- metendo os demais a um período adequado
taqueamento das plantas evita o seu tom-
bamento e garante níveis mais elevados de
qualidade fitossanitária nas sementes. A
desbrota das primeiras ramas laterais
contribui para ventilar o colo das plantas e
permite economizar energia para a formação
das sementes.
Em se tratando de produção de se-
mentes, a prática de inspeção ou roguing,
torna-se obrigatória. Esta operação con-
siste na eliminação de plantas atípicas e
doentes da mesma espécie ou de outras
espécies silvestres e cultivadas, visando,
Warley Marcos Nascimento

portanto, à garantia da pureza genética e


sanitária das sementes. Assim, durante o
ciclo da cultura nos diversos estádios de
desenvolvimento (vegetativo, floresci-
mento e frutificação) são imprescindíveis
as inspeções de campo. Devem-se observar Figura 4 - Desuniformidade na maturação dos frutos de pimenta

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.30-39, nov./dez. 2006

3 de pimenta.p65 35 21/12/2006, 16:23


36 Cultivo da pimenta

de armazenamento. O armazenamento dos restos de polpa são lavados em água, para


frutos deve ocorrer em um ambiente arejado separação das sementes. Essa separação
e protegido dos raios solares. De acordo ocorre por diferença de densidade: as
com Pinto et al. (1999), o repouso dos frutos sementes boas, de maior densidade, se-
de pimentas por três dias é suficiente. dimentam no fundo do recipiente; ao passo
A idade e a coloração dos frutos têm que as chochas, pedaços de polpa e outros
sido os principais parâmetros empregados materiais mais leves flutuam e são fa-
para identificar em campo não só a ocorrên- cilmente removidos ao inclinar o recipiente.
cia da maturidade fisiológica das sementes, O procedimento deve ser repetido diver-
mas também o ponto ideal para a colheita. sas vezes até que os resíduos sejam com-
Para algumas cultivares, a colheita pode- pletamente eliminados. Essa etapa pode ser

Warley Marcos Nascimento


se iniciar, aproximadamente, aos 60 dias considerada em um pré-beneficamento das
após o florescimento ou quando mais de sementes.
80% dos frutos estiverem mudando de cor.
Essa alteração indica que foi atingido o Secagem das sementes
ponto de maturidade fisiológica das O processo de secagem exige cuidados
sementes, quando são observados níveis especiais, principalmente para as sementes
máximos de germinação e vigor e níveis Figura 5 - Extração de sementes de pimenta
por meio de moedor de carne extraídas por via úmida, pois, após a la-
mínimos de deterioração. É importante
vagem, as sementes atingem elevados
salientar que frutos imaturos, de coloração
graus de umidade (acima de 40%). De-
verde, geralmente produzem sementes com
além de uniformizar a maturação das pois de drenadas, as sementes devem ser
baixo vigor e poder germinativo ou até
sementes, facilita a trituração dos frutos colocadas em peneiras de nylon em finas
inférteis.
(PINTO et al., 1999). A escolha do método camadas para secar, à sombra, em am-
As principais características a serem
e da seqüência de operações para a extração biente ventilado, perdendo lentamente
selecionadas e mantidas na fase de colheita,
de sementes depende das características a umidade superficial para o ambiente
visando à qualidade total, são o tamanho,
do fruto, da finalidade da polpa e do volume (Fig. 6). Devem-se revolver as sementes
o formato característico dos frutos da
a ser extraído (SILVA, 2000). nessa fase inicial, para que sequem de mo-
cultivar, a ausência de defeitos e a boa
Após a extração, as sementes e os do uniforme. A temperatura não deve
condição fitossanitária.

Extração das sementes


A extração das sementes de pimenta
pode seguir dois métodos: extração a seco
e por via úmida. O primeiro processo pode
ser conduzido manualmente, sendo mais
indicado para obtenção de sementes em
pequena escala. Sementes extraídas ma-
nualmente podem apresentar coloração
indesejada, ou seja, mais escuras e man-
chadas (LOBO JÚNIOR et al., 2000). Para
extração de pimentas ardidas, como a
‘Malagueta’, recomenda-se um moedor de
carne, utilizando-se um disco com per-
furação adequada que permita a livre
passagem das sementes, sem lhes causar
danos (Fig. 5).
A extração por via úmida é feita meca-
nicamente e requer equipamentos para o
Hortivale

esmagamento dos frutos, sendo mais


utilizada em escala comercial (GEORGE,
1985). O repouso dos frutos após a colheita, Figuras 6 - Secagem natural de sementes de pimenta

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.30-39, nov./dez. 2006

3 de pimenta.p65 36 21/12/2006, 16:23


Cultivo da pimenta 37

ultrapassar os 30oC, sob pena de danifi- annuum e de Capsicum frutescens contém condições adequadas para preservar sua
car o sistema de membranas das célu- de 150 a 165 sementes (BRASIL, 1992). O qualidade até o momento do plantio. A
las embrionárias. Esse processo de pré- peso de 100 sementes variou de 0,15 g embalagem utilizada está entre os fato-
secagem lenta pode ser efetuado também (‘Cumari-do-pará’) a 0,68 g (‘Cambuci’) res que influenciam sua conservação no
em salas adequadas, equipadas com re- (SOARES et al., 2005). decorrer do armazenamento. O acondi-
sistências elétricas e ventiladores, ou cionamento das sementes em embalagens
ainda utilizando-se estufas elétricas com Tratamento das sementes adequadas contribui para a preservação da
ar forçado, reguladas à temperatura de O tratamento das sementes visa redu- qualidade original do lote, fazendo com que
30oC. Uma vez eliminada a umidade su- zir possíveis infecções e/ou infestações de este chegue perfeito ao destino e apresente
perficial, as sementes devem ser trans- microrganismos nas sementes, além de um bom desempenho na nova semeadura.
feridas para estufas elétricas reguladas a proteger a planta na fase inicial do estabe- Assim, a embalagem das sementes é
38oC, onde devem permanecer de 24 a 48 lecimento da cultura. Esse período é consi- importante não apenas para o transporte,
horas até atingir um grau de umidade pró- derado crítico, pois as plantas apresentam, armazenamento e comercialização, mas
ximo a 6%. nesta fase, sistema radicular e parte aérea também para a conservação da qualidade
reduzida, de forma que a incidência de mi- sob determinadas condições ambientais de
Beneficiamento das crorganismos pode causar danos consi- temperatura e umidade relativa do ar
sementes deráveis e redução no estande. (POPINIGIS, 1985). O tipo de embalagem
Conforme já mencionado, após a ex- O tratamento de sementes destinadas utilizada exercerá grande influência na
tração e lavagem das sementes, realiza-se ao comércio formal é realizado em tratado- preservação da qualidade da semente
uma limpeza no lote de sementes, eli- res mecânicos de fluxo contínuo, que durante o armazenamento.
minando quase a totalidade das impurezas. adicionam doses corretas de produto quí- As sementes de pimenta devem ser
Mesmo assim, os lotes podem apresentar mico às sementes de maneira automática, acondicionadas em embalagens herméti-
pequena quantidade de impurezas (restos permitindo uma cobertura uniforme da sua cas (latas ou sacos de papel aluminizado),
de placenta e de polpa) e sementes de superfície. A produtividade desses equi- atentando-se para o fato de que para esse
qualidade inferior (imaturas, chochas, de- pamentos é geralmente bem maior do que tipo de embalagem, o grau de umidade das
formadas, etc.), sendo necessário ope- o da betoneira ou tambor rotativo, cujo sementes deve estar próximo de 6%.
rações de limpeza para o aprimoramento do processo é intermitente, menos eficiente e O teor de água das sementes e a tem-
lote no que se refere à qualidade física e eficaz. O tratamento pode ser feito com peratura de armazenamento são os dois
fisiológica da semente. O beneficiamento produtos de amplo espectro de ação (por fatores físicos que mais afetam a qualida-
de sementes de pimenta pode ser efetuado exemplo: Thiram ou Captan), na dosagem de das sementes durante o armazenamento
em mesa de gravidade e/ou soprador de 2 a 3 g de produto comercial por quilo e, quando elevados, aceleram o processo
pneumático. de sementes. Além do tratamento químico, de deterioração das sementes. Sementes
as sementes podem receber tratamento armazenadas em ambiente com níveis
Rendimento de sementes físico, como a termoterapia. Grondeau e elevados de umidade relativa e/ou tem-
O rendimento de sementes é variável Samson (1994) sugerem como medida de peraturas altas ou oscilantes estão também
em função do clima, do solo, do manejo da controle da mancha-bacteriana (Xanthomonas mais predispostas à ação de micror-
cultura, da cultivar e se a espécie é do tipo campestris pv. vesicatoria) em pimentão, ganismos, como as espécies de fungos
pungente ou doce. Segundo George (1985), o tratamento das sementes com água quen- pertencentes aos gêneros Aspergillus e
os tipos pungentes geralmente alcançam te (52°C por 30 min). É importante ressaltar Penicillium, os quais também deterioram
maiores produtividades que os tipos do- que esse tipo de tratamento requer rigo- as sementes, reduzindo sua germinação e
ces. Materiais do tipo pungente produzem roso controle do binômino temperatura e vigor. No entanto, os fungos causadores
de 25 a 100 g de sementes por quilo de fru- tempo de exposição. Além disso, sementes de deterioração em sementes armazenadas
tos, enquanto que naqueles do tipo doce, tratadas por termoterapia apresentam maior podem-se associar às sementes ainda no
o rendimento é de 5 a 50 g de sementes taxa de deterioração durante o arma- campo (MACHADO, 2000). Quanto maior
por quilo de frutos. Segundo o autor a pro- zenamento em comparação às sementes o grau de umidade da semente armazenada,
dução satisfatória está entre 100 e 200 kg não tratadas (MACHADO, 2000). maior será o número de fatores adversos à
de sementes por hectare. Para pimentas do conservação da sua qualidade. O baixo
tipo ‘Jalapeño’, têm sido obtidas pro- Embalagem e grau de umidade das sementes é um dos
duções de 3 kg de sementes por 100 kg de armazenamento das fatores mais importantes na manutenção
frutos (LOBO JÚNIOR et al., 2000). sementes da germinação e vigor das sementes, uma
Cada grama de sementes de Capsicum A semente é um ser vivo que requer vez que quanto menor o grau de umidade,
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38 Cultivo da pimenta

menor será a atividade dos agentes de- as RAS ainda não tenham descrito testes um risco para a obtenção de estandes
terioradores. para detectar o vigor de sementes, essa uniformes, o que contribui para a elevação
Apesar de o teor de água da semente avaliação tornou-se rotina nas companhias de seus gastos.
ser considerado o fator mais importante, produtoras de sementes e tem evoluído à
uma vez que seu aumento eleva a ativida- medida que os testes disponíveis vêm sen- REFERÊNCIAS
de metabólica das sementes, a temperatu- do aperfeiçoados, permitindo a obtenção BELLETTI, P.; QUAGLIOTTI, L. Problems of
ra de armazenamento contribui signi- de resultados consistentes e reproduzíveis, seed production and storage of pepper. In: IN-
ficativamente, afetando a velocidade dos facilitando, assim, a tomada de decisões TERNATIONAL SYMPOSIUM OF INTE-
processos bioquímicos e interferindo in- durante o manejo dos lotes de sementes. GRATED MANAGEMENT PRATICES, 1988,
diretamente no teor de água das sementes. Esses testes são, portanto, componentes Tainan, Taiwan. Proceedings… Tomato and
Conseqüentemente, o período de via- essenciais de programas de controle de pepper production in the tropics. Taipei: Asian
bilidade da semente pode ser aumentado qualidade, tendo em vista evitar o manuseio Vegetable Research and Development Center,
não somente pela redução da umidade, mas e a comercialização de sementes de qua- 1989. p.28-41.
também pela redução da temperatura de lidade inadequada. Em pimentão, os testes BOSLAND, P.W.; VOTAVA, E.J. Peppers:
armazenamento. Este deve ser feito de de envelhecimento acelerado e dete- vegetable and spice capsicums. Wallingford: CAB
preferência em ambiente refrigerado, com rioração controlada são os mais indicados International, 1999. 204p. (CAB. Crop
temperatura próxima a 4oC, se as sementes para a classificação dos lotes de sementes Production Science in Horticulture, 12).
estiverem acondicionadas em embalagens em função dos níveis de vigor (PANO-
BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma
herméticas. Secas e resfriadas, as sementes BIANCO; MARCOS FILHO, 1998;
Agrária. Regras para análise de sementes.
reduzem a atividade metabólica, consomem TORRES; MINAMI, 2000). O teste de en-
Brasília, 1992. 365p.
menos energia pela respiração e mantêm velhecimento acelerado (com solução
sua viabilidade por períodos mais pro- salina), a 38oC e 41oC, por 72 horas, de- BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e
longados. monstrou eficiência para detectar níveis de Abastecimento. Serviço Nacional de Proteção de

qualidade fisiológica de sementes de pi- Cultivares. Disponível em: <http://www.


Avaliação da qualidade das menta-malagueta (TORRES, 2005). agricultura.gov.br>. Acesso em: 10 ago. 2006.
sementes
CARVALHO, N.M. de; NAKAGAWA, J.
A avaliação da qualidade das semen- CONSIDERAÇÕES FINAIS Sementes: ciência, tecnologia e produção. 4.
tes realizada em amostra representativa do A qualidade das sementes é um fator ed. Jaboticabal: FUNEP, 2000. 588p.
lote de sementes constitui um fator fun- de extrema importância para o processo
EDWARDS, R.S.; SUNDSTROM, F.J. After-
damental e de grande valia para os diversos produtivo. A utilização de sementes pró-
ripening and harvesting effects on tabasco pepper
segmentos que compõem o sistema de prias, ou seja, obtidas na própria lavoura, seed germination performance. HortScience,
produção de sementes. As sementes devem sem utilização de tecnologias adequadas Alexandria, v.22, n.3, p.473-475, 1987.
ser enviadas para laboratórios creden- para a produção, leva à obtenção de se-
ciados pelo MAPA para determinação da mentes com menor qualidade genética, FARIA JÚNIOR, P.A.J. Sistemas de produção de
sua qualidade. mudas hortícolas em ambiente protegido. In:
física, fisiológica e sanitária. É importante
As RAS (BRASIL, 1992) prescrevem ENCONTRO NACIONAL DO AGRONEGÓCIO
ressaltar que os estudos referentes à dor-
todos os procedimentos e informações para PIMENTAS (Capsicum spp.), 1.; MOSTRA
mência em sementes de pimentas ainda não
os diferentes testes e determinações da NACIONAL DE PIMENTAS E PRODUTOS
são conclusivos. Entretanto não se pode
DERIVADOS, 1., 2004, Brasília. Anais... Brasília:
qualidade das sementes, funcionando deixar de considerar que a aplicação de tra-
Embrapa Hortaliças, 2004. 1 CD-ROM.
como um guia para os laboratórios. As tamentos para a superação da dormência
análises de pureza física e da qualidade em sementes de pimenta só se faz ne- FINGER, F.L.; SILVA, D.J.H. Cultura do pimentão
fisiológica, esta última determinada pelo cessária, quando há interesse na avaliação e pimentas. In: FONTES, P.C.R. (Ed.).
teste de germinação, são essenciais e do potencial máximo de germinação de Olericultura: teoria e prática. Viçosa, MG: UFV,
exigidas pela fiscalização para a comer- sementes recém-colhidas, as quais podem 2005. p.429-437.
cialização das sementes. apresentar dormência. Uma vez constatada GEORGE, R.A.T. Vegetable seed production.
As RAS estabelecem procedimentos a ocorrência de dormência, as sementes New York: Longman, 1985. 318p.
para outros testes e determinações, como deverão ser armazenadas por determinado
GERSON, R.; HONMA, S. Emergence response
o grau de umidade das sementes e o teste período, geralmente de três a quatro meses,
of the pepper at low soil temperature. Euphytica,
de sanidade. Este último permite identifi- para que o fenômeno seja superado. Assim,
Dordrecht, v.27, n.1, p.151-156, Feb. 1978.
car e quantificar a incidência dos micror- a semeadura de sementes de pimenta
ganismos associados às sementes. Embora recém-extraídas do fruto pode representar GRONDEAU, C.; SAMSON, R. A review of

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.30-39, nov./dez. 2006

3 de pimenta.p65 38 21/12/2006, 16:23


Cultivo da pimenta 39

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Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.30-39, nov./dez. 2006

3 de pimenta.p65 39 21/12/2006, 16:23


40 Cultivo da pimenta

Clima, época de semeadura, produção de mudas, plantio e


espaçamento na cultura da pimenta
Cleide Maria Ferreira Pinto 1
Mário Puiatti 2
Fabiano Ricardo Brunele Caliman 3
Gisele Rodrigues Moreira 4
Robert Nunes Mattos 5

Resumo - No Brasil, as pimentas são cultivadas do Rio Grande do Sul até Roraima, sendo
Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Ceará e Rio Grande do Sul os principais produtores. O
clima exerce influência na germinação, no desenvolvimento e na frutificação das plantas
de pimenta. Trata-se de uma cultura de clima tropical sensível a baixas temperaturas e
intolerante a geadas e, por isso, deve ser cultivada nos meses quentes do ano. As
temperaturas médias mensais ideais situam-se entre 21oC e 30oC, sendo a média das
mínimas ideal de 18oC e das máximas, em torno de 35oC. A época de semeadura é
condicionada às peculiaridades climáticas locais. Em regiões serranas, a semeadura é feita
de agosto a fevereiro e, naquelas de baixa altitude, pode ser o ano todo. A semeadura é
realizada em bandejas de isopor de 128 células com substrato comercial, em ambiente
protegido. As mudas são transplantadas dos 50 a 60 dias após a semeadura, para a
maioria das espécies, em sulcos ou covas. Os espaçamentos são definidos de acordo com
a cultivar, o manejo cultural, a região de plantio ou o ciclo da cultura, sendo utilizados de
0,33 a 1,00 m entre plantas e de 0,80 a 1,50 m entre fileiras.

Palavras-chave: Capsicum. Cultivo. Trato cultural. Temperatura.

INTRODUÇÃO em São Paulo, Minas Gerais e Goiás. A cipalmente na Região Centro-Oeste do


pimenta-cumari ou pimenta-passarinho (C. Brasil e a ‘Murupi’, cujos principais
No Brasil, as pimentas estão difundidas baccatum var. praetermissum) é comum na produtores são os estados do Amazonas e
em todas as regiões, sendo as principais Região Sudeste. As pimentas-de-cheiro (C. do Pará. Na espécie C. frutescens, a prin-
produtoras as Regiões Sudeste e Centro- chinense), as mais cultivadas, espe- cipal pimenta é a ‘Malagueta’, sendo
Oeste. Os principais Estados produtores cialmente no Norte do País, destacam-se cultivada em todo o País, porém destacam-
são Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Ceará pela grande variedade de cores dos frutos se as produções dos estados de Minas
e Rio Grande do Sul. Há grande variedade que vai do amarelo, amarelo-leitoso, Gerais, da Bahia e do Ceará. Neste último,
de tipos, nomes, tamanhos, cores, sabores amarelo-claro, amarelo-forte, alaranjado, há grandes áreas com cultivo da pimenta-
e ardume (pungência, picância). As pi- salmão, vermelho e até preto. Com menor tabasco, também da espécie C. frutescens.
mentas ‘Jalapeño’ e ‘Cayenne’ (Capsicum produção, mas importantes nessa espécie, Os fatores do clima exercem grande
annuum) são cultivadas, principalmente, existem as pimentas-bode, cultivada prin- influência na germinação das sementes, no

1
Enga Agra, D.Sc., Pesq. EMBRAP/EPAMIG-CTZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: cleidemaria@vicosa.ufv.br
2
Engo Agro, Dr., Prof Adj. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: mpuiatti@ufv.br
3
Engo Agro, Doutorando Fitotecnia UFV, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: frcaliman@yahoo.com.br
4
Eng a Agr a, D.Sc., Prof a Adj. UFP - Dep to Informática, Rod. BR 135, km 3, CEP 64900-000 Bom Jesus-PI. Correio eletrônico:
grmoreira@hotmail.com
5
Engo Agro, Mestrando Fitotecnia UFV, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: rnmattos@gmail.com

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Cultivo da pimenta 41

desenvolvimento e na frutificação de tardias mais exigentes em calor que as pre- vimento e crescimento do fruto, contudo,
plantas de pimenta. Trata-se de uma cultu- coces (BOSWELL et al., 1964). No estádio quando o número de sementes aumenta
ra de clima tropical sensível a baixas tem- de mudas, a faixa de temperatura ideal é em um fruto, há efeito inibitório sobre a
peraturas e intolerante a geadas e, por isso, de 26oC a 30oC, com melhor crescimen- frutificação e o crescimento dos frutos pos-
deve ser cultivada nos meses de tem- to obtido em temperatura diurna de 27oC. teriores (MARCELIS; BAAN HOFMAN-
peraturas mais altas. A temperatura afeta a Em temperaturas mais baixas pode haver EIJER, 1997). Temperatura baixa durante o
qualidade dos frutos da pimenta, es- estiolamento e crescimento lento da plan- dia ou alta durante a noite favorece a
pecialmente o teor de açúcares e de vitami- ta. ocorrência de frutos partenocárpicos e
na C, bem como a intensidade das cores A faixa de temperatura diurna consi- esses, normalmente, apresentam defor-
vermelha e amarela, que são maiores em derada mais favorável para o cultivo das mações (BOSLAND ; VOTAVA, 2000).
temperaturas elevadas. Baixas tempera- pimentas é de 20oC a 30oC. Temperaturas Temperatura noturna superior a 24oC
turas podem afetar também a pungência abaixo de 15oC ou acima de 32ºC durante pode causar queda de flores em pimentas,
(ardume) dos frutos. longo período, causam redução da pro- possivelmente pela redução da viabilida-
dução (NUEZ VIÑALS et al.,1996; BERKE, de do pólen, visto que a temperatura do ar
EFEITO DA TEMPERATURA NA et al., 2005). Para o adequado desenvol- ótima para germinação do grão de pólen
GERMINAÇÃO DAS SEMENTES vimento das plantas, a temperatura diur- está entre 20oC - 25oC (BOSLAND; VO-
na ótima deve estar entre 23oC e 27oC e a TAVA, 2000). Observações em campo e
A germinação das sementes de pimen-
noturna entre 5oC e 9oC abaixo da tempe- ambiente controlado constataram que em
ta é dependente da espécie, cultivar, qua-
ratura média diurna (NUEZ VIÑALS et plantas de Capsicum annuum ocorre
lidade da semente, substrato utilizado e da
al.,1996; FINGER; SILVA, 2005). Tem- abortamento de botões florais, quando
temperatura. Sementes de algumas espécies
peraturas inferiores a 12oC retardam ou expostos a temperaturas diurnas maiores
de Capsicum recentemente colhidas po-
inibem o desenvolvimento da planta. que 34oC ou temperaturas noturnas maiores
dem exibir dormência, requerendo cerca de
seis semanas em temperatura ambiente, que 21oC por longo período (COCHRAN,
EFEITO DA TEMPERATURA NO 1936 apud ERICKSON; MARKHART,
após amadurecimento, para superá-la
FLORESCIMENTO, 2002; RYLSKI; SPILGELMAN, 1982).
(RANDLE; HOMNA, 1981). A alternância
FRUTIFICAÇÃO, PRODUÇÃO E Erickson e Markhart (2001), em ex-
de temperatura 30oC-15oC (16 h/8 h), por 14
NA QUALIDADE DE FRUTOS perimento com Capsicum annuum em con-
dias (RANDLE; HOMNA, 1981), ou tra-
tamentos com nitrato de potássio ou ácido Espécies de Capsicum são conside- dições controladas, com plantas expostas
giberélico (BOSLAND; VOTAVA, 2000) são radas de clima quente, todavia há pouca à temperatura constante de 33oC, com e sem
mais eficientes na quebra da dormência. informação sobre o efeito da temperatura aumento do déficit de pressão de vapor,
De maneira geral, temperaturas entre 20oC no florescimento, frutificação, produção e concluíram que a reduzida frutificação era
e 30oC favorecem a germinação, enquanto qualidade dos frutos de pimenta. Serão conseqüência da elevada temperatura e
temperaturas abaixo de 15oC ou acima de descritas, a seguir, algumas informações não do déficit de pressão de vapor. Pos-
35oC resultam em inibição da germinação. existentes para a cultura do pimentão teriormente, Erickson e Markhart (2002)
(Capsicum annuum), por pertencer ao concluíram que a temperatura elevada inibe
De acordo com Berke et al. (2005), as se-
mesmo gênero. Apesar de as pimentas o desenvolvimento do grão de pólen re-
mentes poderão germinar em 13 dias à tem-
englobarem várias espécies, informações sultando em grãos estéreis. Como con-
peratura de 20oC e, em 25 dias, a 15oC. Em
sobre a cultura do pimentão podem auxi- seqüência, a baixa viabilidade do grão de
baixa temperatura, o tratamento com osmo-
liar o produtor no manejo da cultura da pólen reduz o tamanho e o vingamento dos
condicionantes (seed priming) tem sido
pimenta. frutos.
eficiente para acelerar e melhorar a ger-
Alta temperatura pode causar signi- Para pimentão (C. annuum), tempe-
minação (BOSLAND; VOTAVA, 2000).
ficativa perda na produção de muitas es- raturas entre 21oC e 27oC proporcionam
pécies, devido à redução no número de maior produção de flores, porém pode
EFEITO DA TEMPERATURA NO
sementes e aumento da abscisão de flores haver maior porcentagem de queda des-
CRESCIMENTO E
(WHEELER et al., 2000). Apesar da exis- tas (RYSLKI; SPIGELMAN, 1982). Em
DESENVOLVIMENTO DAS
tência de frutos sem sementes e parte- temperaturas médias de 15oC a 20oC, as
PLANTAS
nocárpicos em Capsicum, normalmente flores apresentam pedicelos maiores, ca-
A pimenteira requer temperatura rela- poucos são os frutos que apresentam tal racterística associada ao maior pegamento
tivamente elevada durante o crescimento e diferenciação (BOSLAND; VOTAVA, 2000). ou vingamento do fruto (COCHRAN, 1932)
desenvolvimento, sendo as cultivares As sementes exercem efeito no desenvol- e, sob temperaturas baixas, de 10oC - 15oC,
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42 Cultivo da pimenta

há menor queda, porém com redução do sobre a temperatura ideal de armazena- EFEITO DO FOTOPERÍODO
número de flores emitidas. mento para cada tipo de pimenta cultivada
Pimentas, assim como os pimentões,
Comparadas ao pimentão, a maioria das no Brasil. Como recomendação geral, as
não apresentam fotoperiodismo, ou seja,
pimentas é mais tolerante a altas tem- pimentas devem ser armazenadas entre 7oC
não há efeito do fotoperíodo no flores-
peraturas, apresentando, nestas condições, e 10oC e umidade relativa do ar entre 90% e cimento e na frutificação dessas espécies
menor intensidade de queda de flores e 95%. Como esta condição de umidade do (BERKE et al., 2005). No entanto, Demers
maior vingamento de frutos (BOSWELL et ar é dificilmente obtida na maioria das et al. (1998) obtiveram, em plantas de
al., 1964). unidades comerciais de refrigeração ou em Capsicum annuum cultivadas em casa de
Após a floração, temperatura notur- refrigerador doméstico, poderá ocorrer a vegetação, maior crescimento das plantas
na de 20oC acelera o crescimento do fruto desidratação rápida dos frutos. Isso pode e produção de frutos, quando estenderam
de pimentão (RYLSKI, 1973; RYLSKI; ser minimizado pelo uso de filmes plásticos o fotoperíodo para 16 e 20 horas.
HALEVY, 1975; RYLSKI; SPIGELMAN, (FINGER; VIEIRA, 1997). O acondi-
1982); de modo geral, temperatura diurna cionamento de frutos de pimentas ‘De- EFEITO DA INTENSIDADE DE
de cerca de 21oC é mais apropriada para a cheiro’ e ‘Bode’ em sacos plásticos per- LUZ
frutificação (CASALI et. al., 1979). Em C. furados, mantidos a 23 oC - 25 o C ou
annuum, Couto (1960) observou que a embalados em filmes de policloreto de vini- A luz, presença ou ausência, parece não
temperatura noturna ideal para a frutifica- la (PVC) em temperaturas de 12oC - 15oC, ser fator limitante para germinação de
ção e produção variou em função da idade permitiu boa conservação por cinco e dez sementes de Capsicum (BOSLAND; VO-
da planta, sendo de 21oC aos 90 dias, de dias, respectivamente (CRUZ; MAKI- TAVA, 2000). Entretanto, Deli e Tiessen
16oC aos 105 dias, de 12oC aos 120 dias e de SHIMA, 2004). As pimentas ‘Murupi’, (1969) observaram que plantas de pimenta
9oC aos 150 dias após a semeadura. expostas a 8.608 lux produziram maior
‘Cumari-do-pará’, ‘Bode-vermelha’ e
Temperaturas muito elevadas, em es- número de flores que plantas expostas à
‘Bode-amarela’ foram conservadas duran-
pecial associadas à umidade relativa baixa, intensidade de 17.216 lux, em decorrência
te 22 dias a 8oC, acondicionadas em ban-
geralmente induzem à queda de flores e de do aumento de ramificação.
dejas de isopor envoltas com filme de PVC
frutos recém-formados. Quando o fruto es- Com relação à qualidade dos frutos,
(GRAVINA et al., 2004).
tá em fase avançada de desenvolvimen- redução de 50% da radiação solar promo-
Apesar de o armazenamento sob baixa
to, torna-se menos sensível a tais efeitos veu aumento da massa fresca do pedún-
temperatura ser indicado, há resposta di-
(THOMPSON; KELLY, 1957 apud NUEZ culo, pericarpo, placenta e sementes; toda-
ferencial entre as variedades de pimentas,
VIÑALS et al., 1996). via, a massa seca destes componentes e
sobretudo quanto à tolerância à injúria por
Temperaturas baixas inviabilizam a os conteúdos de capsaicina e de ácido as-
frio. Frutos armazenados às temperaturas
produção, provocam queda de flores e de córbico não foram influenciados pelos
de 5oC e 10oC em embalagens perfuradas
frutos (CROCHRAN, 1932) e, ainda, níveis de radiação solar. Portanto, quanto
de polietileno tereftato (PET), dos acessos
exercem influência negativa na pungência maiores a luminosidade e a temperatura e
BGH 1646, 4366, 6029 (C. baccatum), BGH
e na coloração dos frutos, fatores esses menor umidade, maior será a expressão da
4213 e 6371 (C. chinense) e das cultivares
responsáveis pela redução do valor co- pungência (CURRY et al., 1999).
Mirassol e New Mexican (C. annuum)
mercial, principalmente do produto des-
apresentaram, ainda dentro da câmara e em
tinado à industrialização. Pesquisas com- EFEITO DA UMIDADE RELATIVA
ambas as temperaturas, à exceção da BGH
provam que frutos de pimenteira cultivada
6029 e da ‘Mirassol’, pequenas manchas A combinação de umidade relativa bai-
na primavera-verão são mais pungentes
superficiais esbranquiçadas dispersas na xa com temperatura alta causa transpiração
que os de planta cultivada no outono-
superfície do pericarpo de fruto. Esses excessiva, o que pode levar ao déficit de
inverno (CURRY et al, 1999; ESTRADA
sintomas são típicos de injúria pelo frio e água na planta e promover queda de gemas
1999; KIRSCHBAUM-TITZE et al., 2002).
surgiram primeiro nos frutos do acesso e de flores e formação de frutos de tamanho
E frutos de plantas cultivadas em condições
BGH 4366 armazenados a 5oC, aos seis dias reduzido (CHILE, 1976). Se a umidade rela-
de temperaturas mais altas apresentam cor
após o início do armazenamento. À tem- tiva do ar for muito baixa, aliada à temperatu-
vermelha ou amarela mais intensa (CRUZ,
peratura de 10oC, os sintomas apareceram ra acima de 35oC e ventos secos, o vingamento
2004).
primeiro no acesso BGH 1646 aos 12 dias dos frutos de pimenta é bastante prejudica-
de armazenamento, enquanto que frutos do do (BOSWELL et al., 1964). Baer e Smeets
EFEITO DA TEMPERATURA NO
acesso BGH 6029 e da cultivar Mirassol (1978) relatam haver aumento do peso e do
ARMAZENAMENTO DOS
não apresentaram sintomas de injúria pelo brilho do fruto e redução do tempo entre a
FRUTOS
frio, mesmo após 30 dias de armazenamento polinização e a colheita sob condições de
São poucas as informações disponíveis (MARQUES et al., 2005). umidade relativa acima de 95%.
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Cultivo da pimenta 43

SEMEADURA para páprica na região de Brasilândia de foliar fotossinteticamente ativa. Mudas


No Brasil, as pimentas são cultivadas Minas, MG, ocorre de março a abril. Na pequenas, porém com tecidos firmes e bom
tanto em regiões de clima quente quanto Região Nordeste deve ser evitado o plantio volume de raízes ativas, certamente têm
de clima frio. A época de semeadura é na estação chuvosa, por dificultar o pre- capacidade de gerar plantas produtivas
condicionada às peculiaridades climáticas paro do solo, tratos culturais e o controle (FARIA JÚNIOR, 2004). Para que o
locais. Nas regiões serranas, com altitude fitossanitário. Em Petrolina, PE, as se- viveirista consiga produzir essas mu-
acima de 800 m e temperatura amena, a meaduras podem ser realizadas a partir de das, ele precisa de conhecimento e equi-
semeadura é feita nos meses de agosto a janeiro, mas a preferência é a partir de março pamentos adequados, além de aper-
fevereiro; entretanto, a época mais con- (CRUZ; MAKISHIMA, 2004). feiçoamento constante.
veniente é de setembro a novembro em A técnica de cultivo protegido (em casa Se a produção de mudas requer tantos
razão da exigência da espécie por tem- de vegetação) é utilizada em locais ou épo- cuidados, por que utilizar mudas e não
peraturas elevadas. Nas regiões que apre- cas, quando as condições climáticas, prin- a semeadura direta? Minami e Puchala
sentam inverno ameno, principalmen- cipalmente variações das temperaturas (2000) enumeram alguns motivos que
te aquelas de menor altitude (inferior a noturna e diurna, distribuição e intensidade justificam a utilização de mudas: produ-
400 m), a semeadura pode ser feita o ano das chuvas e ainda direção e velocidade ção mais precoce, uniformidade na pro-
todo. Recomenda-se a produção de mudas dos ventos, podem interferir no desen- dução, geralmente, o produto é de melhor
em estufa, sobretudo, nas regiões e/ou volvimento das plantas ou na qualidade qualidade e o custo elevado da semente.
dos produtos. Além disso, mudas bem produzidas são
épocas em que predominam baixas tem-
sadias e sem injúrias, bem formadas, isentas
peraturas.
PRODUÇÃO DE MUDAS de patógenos, pragas e de plantas dani-
Nas regiões produtoras de pimenta do
nhas.
Sul e do Sudeste do País, temperaturas A produção de mudas de hortaliças,
Um grama de semente de pimenta con-
elevadas, consideradas ideais, acontecem etapa inicial do processo produtivo, é uma
tém, aproximadamente, 220 unidades. Para
na primavera e verão, sendo os meses de atividade que requer tecnologia apropria-
o plantio de um hectare, são necessários
agosto a janeiro indicados para semeadura. da. A produção de mudas com qualidade,
cerca de 80 g de sementes, considerando a
No município de Turuçu, na região de para garantir plantas saudáveis e produ-
população de 15 mil plantas/ha, assumindo
Pelotas, RS, a semeadura de pimenta-dedo- tivas, implica na necessidade de especia-
90% de germinação, e que 90% das mudas
de-moça (pimenta-vermelha) é realizada no lização do viveirista, que deve executar essa
produzidas tenham boa qualidade.
mês de agosto. Nos municípios de Jales e atividade com profissionalismo. A pro-
Estrela do Oeste, São Paulo, a semeadura dução de mudas pelo próprio agricultor só Mudas em bandejas de
ocorre no início da primavera. Nessas se justifica em casos especiais e, mesmo poliestireno (isopor) ou
regiões, localidades com altitudes inferio- assim, o produtor deve contratar pro- bandejas plásticas de
res a 400 m e inverno ameno, o ciclo da fissionais especializados e adotar práticas polietileno injetado
cultura estende-se por todo o ano, sem rígidas de segurança fitossanitária, para Para produzir mudas de pimenta,
restrições de época de plantio. Nas regiões evitar contaminação das mudas com pa- recomenda-se a semeadura em bandejas de
produtoras de pimenta do estado de Mi- tógenos e insetos nocivos. isopor de 128 células, preenchidas com
nas Gerais com temperatura amena, a se- Existe, atualmente, tecnologia bastante substrato comercial, em que são dis-
meadura ocorre de agosto até fevereiro, diversificada a serviço do viveirista, que, tribuídas duas ou três sementes por célula
embora o período mais indicado seja de quando bem utilizada, resulta em mudas de para garantir que não haja célula ociosa.
setembro a novembro. alta qualidade. Algumas dessas técnicas, Todavia, caso as sementes sejam muito
No Centro-Oeste, não havendo res- no entanto, embora já consagradas fora do caras, recomenda-se colocar apenas uma
trição de temperatura, o cultivo das pi- Brasil, ainda encontram rejeição por parte por célula. As bandejas devem ser co-
mentas ‘De-cheiro’, ‘Bode-vermelha’, dos produtores. Um exemplo é a produção locadas em ambiente protegido, com co-
‘Bode-amarela’, ‘Cumari-do-pará’ e ‘Ma- de mudas de tomate em bandejas com 450 bertura de plástico e lateral telada, para
lagueta’ pode ser realizado o ano todo, com células (FARIA JÚNIOR, 2004). Muitos evitar a entrada de insetos, e ser mantidas
irrigação suplementar no período seco. produtores ainda acreditam que o volu- acima do solo (cerca de 80 cm de altura),
Normalmente, a semeadura é feita em me de substrato no torrão determina a suspensas em estrado de madeira ou de
novembro, mas pode estender-se até o final capacidade de pegamento da muda e o arame.
de janeiro. Em Catalão, GO, a semeadura de potencial produtivo da planta. Na verdade, Além de facilitar a realização das práticas
pimenta-jalapeño é feita em fevereiro/ não é o volume de torrão e sim o balanço culturais, as bandejas suspensas favo-
março. A semeadura direta de pimenta-doce adequado entre volume de raízes e área recem a poda do sistema radicular pelo ar
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(poda natural), que ocorre quando a raiz minação, as bandejas podem ser em- células, copo plástico de 150 mL e canteiro)
principal atinge o fundo das células e cessa pilhadas e cobertas com lona plástica preta nos substratos: húmus (H), substrato
o seu crescimento. A partir daí, ocorre e mantidas em abrigo. Quando colocadas comercial (SC) e mistura de três partes de
secamento natural que causa morte desta para germinar diretamente nas estufas, o substrato comercial e uma parte de vermi-
raiz principal, o que estimula a emissão de cuidado no manejo de água deve ser culita (M) (Fig. 1) e concluíram que, ini-
raízes secundárias, proporcionando equi- redobrado até a completa emergência das cialmente, as mudas produzidas em copo
líbrio entre a parte aérea e o sistema plantas. plástico, independente do substrato,
radicular. Além disso, o não desenvol- Pinto et al. (2004) avaliaram a produção apresentaram maior desenvolvimento. No
vimento das raízes abaixo da bandeja de mudas de pimenta-malagueta em di- entanto, 30 dias após o transplantio, as
facilita a retirada das mudas por ocasião ferentes recipientes (bandeja de 128 plantas produzidas em bandeja com
do transplante, evita injúrias às raízes novas
e surgimento de condições favoráveis à
infecção por fungos e bactérias do solo
(ANDRIOLO, 2000; MINAMI, 1995, PINTO
et al., 2004).
Apesar de as bandejas de isopor ainda
serem as mais utilizadas, as de plástico de H - Húmus
polietileno injetado, já utilizadas na pro- M - Mistura de três partes de
dução de mudas de tomate, têm boa substrato comercial e
aceitação no mercado, havendo tendência uma parte de vermiculita
cada vez maior de substituir o poliestireno SC - Substrato comercial

pelo polietileno injetado (FARIA JÚNIOR,


2004). Tais bandejas têm a vantagem de não
ser porosas, o que evita contaminações
químicas e biológicas. De material resis-
tente, as bandejas podem ser lavadas com
água em alta pressão e em menor volume,
com maior eficiência. Podem, inclusive, ser
desinfestadas com água quente, evitando
produtos químicos, como é feito atual-
mente. O índice de reposição de bandejas
cai para níveis próximos de 2% ao ano, ou
menos. Além disso, o material é reciclável,
diferentemente do poliestireno que, por ser
de difícil reciclagem, uma vez quebrado é A
queimado, causando graves prejuízos ao
ambiente.
Os modernos viveiros de mudas têm
procurado o maior índice possível de
automação dos serviços, utilizando se-
meadoras a vácuo, máquinas lavadoras de
Fotos: Cleide Maria Ferreira Pinto

bandejas e câmaras de germinação. O


ambiente é, normalmente, escuro (na fase
de germinação), com temperatura e umida-
de relativa do ar mantidas sob controle,
dentro de limites estabelecidos para a es-
pécie que se cultiva. Mantendo as bandejas
nesse ambiente controlado, o viveirista B
garante germinação máxima possível, aliada Figura 1 - Formação de mudas de pimenta – EPAMIG-CTZM, 2003
à grande homogeneidade na emergência NOTA: A - Métodos de formação de mudas de pimenta-malagueta; B - Detalhe do
das plântulas. Na falta da câmara de ger- sistema radicular das mudas formadas nos diferentes métodos.

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Cultivo da pimenta 45

substrato e as produzidas com húmus em cação deve ser aos dez dias após a ger- parte de esterco bovino curtido; o solo
copos apresentavam desenvolvimento minação; a segunda, dez dias após a pri- deve ser previamente corrigido com cal-
semelhante, sendo superiores às pro- meira, a terceira, dez dias após a segunda, cário, se necessário, após a análise química.
duzidas em bandejas com mistura de se necessário. Pode-se adubar com Ou- Distribuem-se duas ou três sementes por
substrato e vermiculita e às produzidas em ro Verde 3 H, ou equivalente, na dose de recipiente para evitar que estes sejam
canteiro. 3 g/L de água (REIFSCHNEIDER, 2000). perdidos por problemas de germinação das
Com relação ao controle de pragas e sementes. Os recipientes devem ser man-
Tratos culturais das mudas nas doenças, nos sistemas mais modernos de tidos em ambiente protegido para evitar a
bandejas produção de mudas, a pulverização dos entrada de insetos-praga e excesso de água
Quando as mudas apresentarem pelo defensivos é feita por meio das barras de chuva.
menos duas folhas definitivas, deve-se fazer móveis de irrigação. A barra, nesse caso,
o desbaste, com tesoura, eliminando-se as possui dois sistemas independentes, um Em copo plástico descartável
menos vigorosas, deixando-se apenas uma para irrigação e outro para pulverização. Outro tipo de recipiente que pode ser
plântula por célula. Evitar arrancar as Dosadoras acopladas às barras injetam o usado na produção de mudas de pimen-
mudas excedentes, o que pode abalar as defensivo no sistema, e a aplicação é fei- ta são copos de plásticos descartáveis de
raízes daquela que deve permanecer. ta sem o contato direto do aplicador. O 100 ou 200 mL. Devem ser feitos furos no
Durante a permanência das mudas nas sistema permite grande segurança para o fundo dos copos para drenagem do exces-
bandejas, devem ser feitos os tratos trabalhador, cobertura perfeita da área total
so de umidade. Assim como as bandejas,
culturais, em particular a irrigação e a adu- do viveiro e margem de erro mínima.
os copos devem ser preenchidos, pre-
bação de cobertura. A irrigação deve ser Além da aplicação de defensivos em
ferencialmente com substrato comercial.
uniforme, a pouca altura e com gotas peque- caráter preventivo é feita, também, a
Devem ser colocados em ambiente pro-
nas, preferencialmente por microaspersão prevenção no controle de entrada de pes-
tegido, para evitar a entrada de insetos-
ou nebulização. Deve-se manter o nível soas e de veículos na área do viveiro, por
praga e excesso de água de chuva e man-
adequado de umidade, realizando três ou meio do uso de rodolúvios e de pedilúvios
tidos sobre estrado de madeira ou de arame,
mais irrigações por dia, sobretudo, nas com soluções desinfestantes à base de
a fim de que as raízes não se exponham e
épocas mais quentes e/ou de baixa umida- amônia quaternária, produto rotineiramen-
não sejam danificadas por ocasião do
de relativa. O excesso de água deve ser te utilizado na desinfestação de sala de
transplantio.
evitado, pois lava os nutrientes do subs- ordenha. Recomenda-se também, em cul-
trato e pode favorecer o crescimento de tivo protegido, colocar caixa contendo cal
algas, musgos e o aparecimento de doen- Tratos culturais das mudas em
virgem para desinfestação dos calçados
ças. A falta de água provoca aumento da recipientes
(LOPES, 2004).
salinidade, endurecimento do substrato e, Algumas técnicas preventivas contra Nas mudas produzidas tanto em sacos
em casos severos, morte das plântulas. fungos de solo têm sido usadas com su- de papel ou de plástico quanto em copos
No caso de viveiros automatizados, cesso. É o caso da inoculação do substrato plásticos descartáveis, devem ser feitos os
utilizam-se barras móveis de irrigação, em com o fungo benéfico Trichoderma sp. tratos culturais, como irrigação, desbaste,
substituição aos tradicionais chuveiros ou Este microrganismo impede o desen- adubação de cobertura entre outros,
sistemas fixos de microaspersão. A barra volvimento de outros fungos patogênicos, conforme o recomendado para as mudas
móvel é um equipamento com tração entre os quais Rizoctonia spp. e diversos produzidas em bandeja.
própria, para aplicação de água, solução outros fungos causadores de tombamento
nutritiva e defensivo e corre em trilhos Mudas em sementeiras
(FARIA JÚNIOR, 2004). Segundo este
suspensos na estrutura da estufa ou em (canteiros)
autor, o uso do Trichoderma é, hoje,
corredor no solo, em velocidade variável obrigatório nos viveiros de fumo no sul do A produção de mudas em sementeira é
de acordo com a necessidade das mudas. Brasil. um dos métodos mais antigos e baratos,
Na adubação de cobertura das mudas, restando poucos agricultores que ainda
normalmente, utiliza-se adubo nitrogenado Mudas em recipiente produzem mudas nesse sistema. Porém,
(sulfato de amônio ou nitrocálcio) diluído além da maior exposição das mudas ao
na dose de 50 g por 10 L de água, fazendo- Saco de plástico ou de papel ataque de insetos e da incidência de doen-
se a rega sobre as mudas. Logo em seguida, A produção de mudas também pode ser ças, este método provoca maior estresse
devem-se lavar as folhas das mudas com feita em sacos de papel ou de plástico, com das mudas na ocasião do transplante, o
outra rega, usando água pura, para evitar a volume entre 150 e 250 cm3, preenchidos que pode prejudicar o desenvolvimento
queima (MINAMI, 1995). A primeira apli- com mistura de três partes de solo e uma inicial no campo.
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46 Cultivo da pimenta

Na produção de mudas em sementei- AQUISIÇÃO DE MUDAS Entretanto, mudas de bandejas são trans-
ras, utilizam-se canteiros, que devem ser PRONTAS EM VIVEIROS plantadas com menor tamanho, mais novas,
preparados com revolvimento do solo, COMERCIAIS pois sua permanência na bandeja por tem-
destorroamento e correção da fertilida- po prolongado pode promover a exaustão
Atualmente, é possível adquirir mu-
de, caso necessário, com base na análi- de nutrientes no substrato, além do es-
das ou contratar a produção delas a pro-
se química do solo. Em canteiros de 1,0 a tiolamento em razão da limitação de espaço
fissionais que se dedicam a esta atividade.
1,2 m de largura, de 0,20 a 0,25 m de altura e físico.
Esse sistema é recomendado para culti-
com comprimento que não dificulte o vo em áreas maiores e apresenta, como Em alguns casos, o transplante de mu-
manejo, são distribuídas as sementes, principais vantagens, rapidez na obten- das mais novas pode ser vantajoso. Mudas
uniformemente, em sulcos transversais ao ção das mudas e boa qualidade delas. O de pimenta-de-cheiro (C. chinense), trans-
canteiro. Esses sulcos devem ter de 1,5 a produtor pode fornecer ao viveirista suas plantadas com 35 a 42 dias após a se-
2,0 cm de abertura e 1,0 a 1,5 cm de pro- próprias sementes ou indicar a cultivar ou meadura, apresentaram crescimento mais
fundidade e distanciados 10 cm uns dos variedade que deseja plantar, ficando a rápido e maior produção que aquelas
outros. As sementes devem ser bem dis- compra das sementes a cargo do viveirista. transplantadas com 49 dias (NORMAN,
tribuídas no canteiro para evitar o desbaste Existem viveiros comerciais nos quais 1977).
em excesso e a formação de mudas estio- são empregados nível elevado de tecni- A retirada das mudas das bandejas e
ladas; para isso utilizam-se, em média, de 2 ficação, com semeadura de precisão, fer- dos copos plásticos é feita segurando a
a 3 g de sementes por metro quadrado de tirrigação e controle de incidência de irra- muda pelo colo e puxando-a para fora. Todo
canteiro. Após a distribuição, as sementes diância totalmente automatizados. o substrato deverá sair aderido às raízes.
devem ser cobertas com uma fina camada Quando produzidas em sacos plásticos ou
de solo. A colocação de uma cobertura com PLANTIO DAS MUDAS NO de papel, corta-se o plástico ou o papel e
saco de aniagem, palha, capim seco e LOCAL DEFINITIVO procede-se o plantio do torrão. As mudas
picado, sobre o canteiro evita que o impacto (TRANSPLANTE) formadas em sementeira devem ser trans-
das gotas da água de irrigação ou de chu- plantadas com o máximo de solo aderido
De 7 a 10 dias antes do transplante, às raízes.
va desenterrem ou cubram em demasia as
deve-se efetuar o endurecimento das mu- O plantio da pimenta pode ser feito
sementes, o que pode prejudicar a ger-
das. Esse processo consiste na redução tanto em covas como em sulcos; todavia,
minação e a emergência das plântulas.
gradativa da água aplicada e, se possível, o plantio em sulcos proporciona maior
Todavia, se resistente à passagem das plân-
no aumento da insolação até atingir ple- facilidade de aplicação e incorporação dos
tulas, essa cobertura deve ser retirada ao
na luz do sol. Esse procedimento tem o fertilizantes. Os sulcos de plantio feitos em
iniciar a emergência delas.
objetivo de adaptar melhor as mudas às nível também ajudam no controle da erosão
As mudas deverão ser protegidas do
condições do local de cultivo definitivo, do solo e auxiliam no caso de irrigação por
sol forte, por meio de cobertura com malhas
contudo não pode ser muito prolongado, sulco.
sombreadoras ou com folhas de palmeira
pois poderá dificultar a recuperação pos- Ao serem transplantadas, as mudas
ou de bananeira de modo que promova a
terior das plantas. A redução da irrigação
redução de cerca de 50% da radiação in- devem ser enterradas, no sulco, na mesma
eleva o teor de massa seca na planta, o que
cidente. Deve-se retirar esta cobertura de profundidade, em que se encontravam
favorece a retomada do desenvolvimento
forma gradativa, à medida que as mudas antes, em relação à superfície do solo.
após o estresse provocado pelo trans-
vão crescendo, para que essas adaptem- plante. A diminuição na turgescência
se a pleno sol. ESPAÇAMENTO
também facilita o manuseio das mudas e
reduz os danos mecânicos. Deve-se fazer Os espaçamentos dos sulcos de plantio
Tratos culturais das mudas nos uma irrigação imediatamente antes do ou das covas são definidos em função do
canteiros tipo de crescimento da planta de pimenta,
transplante, com as mudas ainda na ban-
Tratos culturais como irrigação, adu- deja e/ou logo após o transplante, com as região ou época de plantio e/ou ciclo da
bação de cobertura e outros devem ser mudas já no solo. cultura (Quadro 1). Em geral, menores
realizados, conforme recomendado para O ideal é que o transplante seja feito espaçamentos resultam em plantas com
produção de mudas em bandejas e re- quando as mudas apresentarem de seis a menor biomassa de folhas e de caule, to-
cipientes. Como as mudas não são pro- oito folhas definitivas, cerca de 10 a 15 cm davia essas são mais altas e resultam em
duzidas em ambiente protegido, o controle de altura, o que acontece, aproximada- maior produção de frutos, em número e
de pragas e doenças, normalmente, deve mente, de 50 a 60 dias após a semeadura, massa, por hectare, apesar da menor pro-
ser mais rígido. para a maioria das espécies de pimenta. dução por planta; a maior população com-
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.40-49, nov./dez. 2006

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Cultivo da pimenta 47

QUADRO 1 - Espaçamento, época de plantio e ciclo de cultivo dos principais tipos de pimentas em diferentes regiões do País

Tipo de Espaçamento População Época de Ciclo da


Região
pimenta (m x m) (no plantas/ha) semeadura cultura

São Paulo Dedo-de-moça 1,50 x 1,00 6.500 Dezembro a janeiro 12 meses


Goiás e DF De-cheiro, Bode 1,20 x 0,80 10.400 Novembro a janeiro 12 meses
Goiás e DF Cumari-do-pará 1,20 x 0,80 10.400 Novembro a janeiro 12 meses
Goiás e DF Malagueta 1,50 x 1,00 6.500 Novembro a janeiro 12 meses
Catalão-GO Jalapeño 1,00 x 0,33 30.000 Fevereiro a março 6 a 7 meses
Paraopeba – MG Malagueta 1,00 x 0,80 12.500 Dezembro 12 meses
Pelotas – RS Dedo-de-Moça 0,80 x 0,50 25.000 Agosto 8 meses
Ceará Tabasco 1,20 x 0,60 13.889 Agosto a março 8 meses

FONTE: Cruz (2004).

pensa a menor produção por planta, visto perene, com ciclo maior que 12 meses, e que plantas e entre fileiras (0,4 x 1,0 m; 0,6 x 1,0
que a largura e o tamanho de frutos não são há pimenteiras de altura e diâmetro de copa m; 0,4 x 1,2 m e 0,6 x 1,2 m) terem pro-
afetados, resultando em maior produção por diversos, o espaçamento tem de ser maior, porcionado maiores produtividades de
área (BOSLAND; VOTAVA, 2000). variando de 1,20 a 1,50 m entre fileiras e de frutos de pimenta-malagueta (13 t/ha),
Em regiões de inverno rigoroso, a 70 a 100 cm entre plantas. Espaçamentos espaçamentos maiores entre plantas (0,8 a
cultura é eliminada em meados de abril- muito estreitos conservam mais umidade 1,0 m) e maiores entre fileiras (1,2 m) pro-
maio com, aproximadamente, 150 dias de entre plantas e diminuem a incidência de porcionaram maior facilidade na condu-
ciclo de cultivo. O mesmo acontece com as pragas principalmente ácaros. Por outro ção da cultura e na colheita.
culturas de pimentas destinadas à indus- lado facilitam o ataque de doenças e Na Zona da Mata de Minas Gerais, são
trialização para páprica, quando o campo é dificultam os tratos culturais e a colheita. utilizados espaçamentos de 1,20 a 1,50 m
eliminado após duas a três colheitas. Em Pinto e Casali (1982) observaram que, entre fileiras e de 0,80 a 1,00 m entre plantas
regiões onde o ciclo da cultura pode ser apesar de menores espaçamentos entre no plantio de pimenta-malagueta (Fig. 2).
prolongado por até um ano, é necessá-
rio garantir espaço adequado para o
crescimento vegetativo da planta de pi-
menta.
A determinação da densidade óti-
ma (população) e o espaçamento mais
adequado devem ser funções das ca-
racterísticas de cada exploração, ou seja, da
variedade a ser plantada (variedades mais
vigorosas, de porte alto, requerem meno-
res densidades de plantio do que as de porte
baixo), sistema de irrigação, mecanização
etc. (NUEZ VIÑALS et al., 1996). Por exem-
Cleide Maria Ferreira Pinto

plo, Suso e Pardo (1993), trabalhando com


duas variedades de pimenta, em condições
homogêneas, chegaram a distintas densi-
dades ótimas, ou seja, de 250 mil plantas/ha
para a variedade Buketen e 125 mil para a
variedade Pico. Figura 2 - Pimenta-malagueta cultivada nos espaçamentos de 1,20 a 1,50 m entre
Considerando que a pimenteira pode fileiras e de 0,80 a 1,00 m entre plantas – EPAMIG-Fazenda Experimental do
ser conduzida como um arbusto semi- Vale do Piranga (FEVP), 2003

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4 de pimenta.p65 47 21/12/2006, 16:26


48 Cultivo da pimenta

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Cultivo da pimenta 49

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4 de pimenta.p65 49 28/12/2006, 08:58


50 Cultivo da pimenta

Nutrição mineral e adubação para pimenta


Cleide Maria Ferreira Pinto 1
Paulo César de Lima 2
Luís Tarcísio Salgado 3
Fabiano Ricardo Brunele Caliman 4

Resumo - A pimenta extrai do solo e exporta consideráveis quantidades de nutrientes em


suas partes comerciáveis, em razão de suas exigências peculiares e, principalmente, de
sua grande capacidade de produção. Há perdas de nutrientes minerais por erosão,
lixiviação, volatilização e interações de alguns elementos, por adsorção no solo, o que
faz com que alguns fertilizantes sejam aplicados em doses maiores do que as reais
exigências da pimenteira. É importante salientar que o solo para o cultivo de pimenta
necessita receber calcário, adubação orgânica, macronutrientes e micronutrientes. Como
são escassos os trabalhos de adubação da pimenteira do gênero Capsicum, com vistas a
relacionar produção com teores de nutrientes disponíveis no solo, o que tem ocorrido
são tentativas de integrar o conhecimento existente para culturas semelhantes, como a
do pimentão, com experiências de profissionais da área agrícola, com o objetivo de
aumentar a eficiência de utilização dos fertilizantes e da produtividade dessa hortaliça.

Palavras-chave: Capsicum. Nutriente mineral. Manejo do solo. Calagem.

INTRODUÇÃO A recomendação de calagem concentra- ASPECTOS DA NUTRIÇÃO


se na elevação dos níveis de saturação por MINERAL DE PLANTAS EM
A pimenteira do gênero Capsicum é bases com atenção especial aos teores de PIMENTEIRAS
cultivada no Brasil, desde o Rio Grande do magnésio do solo. A adubação orgânica nas
Sul até Roraima, por pequenos, médios e covas ou nos sulcos de plantio é muito Há associação entre a absorção de
grandes produtores individuais ou in- importante, sendo recomendada, 30 dias nutrientes e o desenvolvimento da plan-
tegrados às agroindústrias. As grandes antes do plantio, a aplicação de estercos ta. Muitas vezes, a fase de rápido desen-
empresas do ramo das pimentas possuem curtidos de bovino ou de aves, composto volvimento da cultura é acompanhada por
extensas áreas de cultivo, próprias ou em orgânico ou, ainda, torta de mamona grande aumento na absorção de nutrientes,
parcerias, e empregam número significativo fermentada. Na adubação mineral com que declina quando a taxa de crescimento
de pessoas, principalmente na colheita. nitrogênio (N), fósforo (P2O5) e potássio diminui. Marcussi et al. (2004) observaram
Apesar de sua reconhecida importân- (K2O), a recomendação é utilizar fertilizan- que o período de maior extração de nu-
cia econômica e social, a cultura da pimenta tes solúveis em sistemas convencionais de trientes em plantas de pimenta-doce ocor-
é pouco estudada no Brasil, especialmen- produção. Porém, para pimenta as adu- reu entre 120 e 140 dias após o transplantio
te, no que diz respeito à adubação. Por bações em cobertura com apenas nitrogênio (DAT), coincidindo com o maior acúmulo
serem culturas semelhantes, quase sempre e potássio são realizadas em maior número de biomassa seca. O maior acúmulo de
é sugerido que sejam aplicadas, em pimenta, de vezes do que normalmente é feito para magnésio (Mg) e de cálcio (Ca) ocorreu nas
as mesmas quantidades de nutrientes su- pimentão, em razão do maior período de folhas, enquanto, nitrogênio (N), potássio
geridas para pimentão. permanência da cultura. (K), enxofre (S) e o fósforo (P) foram mais

1
Enga Agra, D.Sc., Pesq. EMBRAPA/EPAMIG-CTZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: cleidemaria@vicosa.ufv.br
2
Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: plima@epamig.ufv.br
3
Engo Agro, M.Sc., Pesq. EMBRAPA/EPAMIG-CTZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: lsalgado@epamig.ufv.br
4
Engo Agro, Doutorando Fitotecnia UFV, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: frcaliman@yahoo.com.br

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.50-57, nov./dez. 2006

artigo5.p65 50 21/12/2006, 16:27


Cultivo da pimenta 51

acumulados nos frutos. Apenas 8% a 13% devido a sua baixa mobilidade no solo e las plantas podem constituir-se em obser-
da quantidade total dos macronutrien- elevada capacidade de adsorção pelos mi- vações importantes para o dignóstico do
tes acumulados aos 140 DAT foram nerais de argilas em solos altamente in- estado nutricional em condições de campo.
absorvidos até os 60 DAT. Dos 61 aos 100 temperizados. São poucas as referências sobre os
DAT, o potássio foi o macronutriente mais A falta de nutrientes minerais na fase sintomas de deficiência de nutrientes em
absorvido (60% do total acumulado no de maior demanda da planta induz às pimenteiras. Contudo, alguns desses
ciclo); P, Ca e S foram mais absorvidos no desordens fisiológicas e às alterações mor- sintomas manifestam-se de forma geral nas
final do ciclo. Os macronutrientes mais fológicas, que acabam apresentando culturas, conforme Figura 1, o que ajuda
absorvidos, em gramas por planta, foram: sintomas de deficiência em alguma parte nas avaliações de campo. É importante,
N (6,6) > K (6,4) > Ca (2,6) > Mg (1,3) > S da planta. Há técnicas e processos reco- todavia, que se considerem particu-
(1,1) > P (0,7). mendados para a avaliação do estado laridades das espécies e mesmo entre cul-
Em alguns estudos com pimentão foi nutricional das plantas. Essas técnicas, tivares de uma dada espécie, no que tange
observada uma relação entre crescimen- quando empregadas no momento certo, po- ao desenvolvimento e aos sintomas de
to e absorção de nutrientes (FERNANDES, dem ser úteis para corrigir desequilíbrios e deficiência mineral. No caso de pimenteiras,
1971; HAAG et al., 1970; MILLER et al., deficiências nutricionais antes que os alguns sintomas mais específicos
1979). O maior acúmulo de N, P, K, Ca e problemas sejam visualmente mani- ( F O N T E S ; M O N N E R AT, 1 9 8 4 ;
Mg, por grama de matéria seca de planta, festados. Por sua vez, os sintomas visuais BALAKRISHNAN, 1999) serão apre-
por dia, ocorreu nos estádios iniciais do ci- de deficiências minerais apresentados pe- sentados a seguir:
clo da planta até o aparecimento dos pri-
meiros frutos. A maior taxa absoluta de
absorção daqueles nutrientes, em kg/ha/dia,
ocorreu quando a maioria dos parâmetros
de crescimento também apresentava-se
nos seus máximos. Em condições de campo,
entretanto, foram observados que a partir Folhas velhas Folhas novas Folhas velhas e novas Gemas terminais
de 75 dias a absorção de nutrientes acen-
tuava-se (HAAG et al., 1970). Os elementos
mais absorvidos pelos frutos foram o K e o
N, seguidos de P, S, Ca e Mg. O N, P e K N, P, K, Mg, Mo S, Fe, Mn, Cu Zn Ca, B
acumularam-se na parte vegetativa e nos
frutos, enquanto somente 6% do Ca total
absorvido pela planta e 17% de Mg en-
contravam-se nos frutos. As extrações de Com Com
Nervuras Nervuras
boro, cobre, ferro, manganês e zinco por necrose necrose
verdes amarelas
nas bordas nas bordas
plantas cultivadas em areia irrigada com so-
lução nutritiva, foram 11,8; 44,3 e 12 g/ha,
respectivamente (OLIVEIRA et al., 1971).
Em condições de campo, por sua vez, va-
K, Mo N, P, Mg Fe, Mn Fe, Mn
lores de 27, 452, 114 e 99 g/ha são citados
para o cobre, ferro, manganês e zinco, res-
pectivamente (FERNANDES , 1971).
A demanda de nutrientes em cada etapa
do crescimento e do desenvolvimento de
Nervuras Nervuras
uma planta é informação essencial para verdes amarelas
aplicação eficiente dos fertilizantes. O
conhecimento prévio da demanda é essen-
cial no planejamento do parcelamento das Mg N
adubações, principalmente para elementos
móveis no solo e na planta, como o N e o
K. O fósforo, embora seja considerado Figura 1 - Fluxograma de identificação de sintomas de deficiência de nutrientes minerais
móvel na planta, é todo aplicado no plantio, FONTE: Reddy e Reddi (1997 apud KANT; KAFKAFI, 2006).

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a) nitrogênio (N): os sintomas ca- em relação às não deficientes. As enroladas, cloróticas na base e entre
racterísticos de deficiência de N são folhas do terço superior tornam-se as nervuras. Com o avanço da defi-
o amarelecimento uniforme das compactamente arranjadas no caule. ciência, as folhas tornam-se ne-
folhas, incluindo as nervuras, sendo Há aparecimento de clorose e de cróticas e caem, pois há necrose do
mais pronunciados nas folhas mais pontuações necróticas entre as pedúnculo. Pode haver queda total
velhas. Com a persistência da de- nervuras, iniciando-se na extre- das flores e, conseqüentemente,
ficiência, as plantas apresentam midade final das folhas medianas. não há frutificação. Há reduzida
crescimento reduzido, com folhas Com o avanço da deficiência, sur- formação de frutos pequenos e de
de tamanho reduzido e mais es- gem necroses nas bordas terminais coloração marrom na região estilar;
treitas. Pode também ocorrer ama- das folhas mais novas, expandindo- f) enxofre (S): as plantas com de-
relecimento das folhas mais novas, se até o pecíolo, ocasionando queda ficiência de S são mais baixas que
começando pela base, partindo da de folhas em solos arenosos ou com as normais (pouco maiores que as
nervura principal e expandindo-se baixa capacidade de troca catiônica deficientes em N). Ocorre amare-
para toda a folha com o passar do (CTC), o K liberado para a solução lecimento das folhas começando
tempo. Com o avanço da deficiência, do solo pode sofrer maiores perdas pela base, expandindo-se gra-
todas as folhas tornam-se ama- por lixiviação, o que causa de- dativamente para a extremidade final
reladas. Há redução da floração e ficiência nas plantas e, conseqüen- da folha. Com o avanço da de-
da frutificação. Plantas deficien- temente, senescência prematura de ficiência, todas as folhas tornam-se
tes apresentam também sistema folhas, falhas na pigmentação do amareladas e não há formação de
radicular pouco desenvolvido. Teo- fruto e maior sensibilidade da plan- frutos. O limbo foliar tem aspecto
res elevados de N podem provocar ta a estresse hídrico. Seu excesso ondulado, como se fosse um cres-
desenvolvimento excessivo da reduz a absorção de cálcio e magné- cimento desigual de nervuras e do
parte aérea da planta, chegando a sio, que tornam os frutos mais sen- tecido internerval. Os frutos forma-
induzir o aparecimento de po- síveis à necrose apical; dos apresentam coloração verde-
dridões apicais nos frutos, parti- d) magnésio (Mg): as plantas com clara;
cularmente nos períodos mais deficiência de Mg são de tamanho g) boro (Bo): as plantas com deficiência
quentes; reduzido em relação às normais. As de Bo são mais baixas que as não
b) fósforo (P): com a deficiência de P, folhas completamente desenvol- deficientes, compactas, devido à
as folhas podem ficar de tamanho vidas do terço superior apresentam- morte do ponto de crescimento. As
reduzido e de cor verde mais intenso se cloróticas e as mais novas com folhas velhas tornam-se curvadas
(verde-azuladas), com necroses enrolamento do limbo em torno da para dentro e as novas são de ta-
internervais na parte mediana de nervura principal, com a face adaxial manho reduzido, enrugadas na
folhas completamente desen- para dentro. Com o avanço da defi- base, translúcidas e aparentemente
volvidas. Também pode ocorrer ciência, pode haver necrose entre mais grossas. O caule e as folhas
bronzeamento das partes inferiores as nervuras e lesões corticosas, de tornam-se quebradiços. Pode haver
das plantas e redução do cres- cor palha, no limbo foliar, prin- abortamento total das flores e a não
cimento do sistema radicular. Há cipalmente próximo das nervuras formação de frutos. O sistema ra-
relatos de plantas mais baixas, com das folhas mais novas, as folhas dicular é severamente afetado, sen-
menor número de folhas em relação baixeiras tornam-se cloróticas e as do pouco desenvolvido, com ne-
às normais. Com o avanço da nervuras permanecem verdes. Os crose nas extremidades;
deficiência de P, aparecem inter- frutos apresentam-se reduzidos em h) zinco (Zn): as folhas do ápice da
rupções irregulares no limbo foliar, número e tamanho. O sistema ra- planta com deficiência de Zn per-
as bordas das folhas mais velhas dicular de plantas deficientes não manecem pequenas e mais estreitas
tornam-se cloróticas e ocorre queda se desenvolve normalmente; e os folíolos mostram leve desco-
acentuada de folhas. Há número e) cálcio (Ca): as plantas com de- loração entre as nervuras. Pode
reduzido de frutos em conseqüência ficiência de Ca são mais baixas, ocorrer redução no alongamento
de queda da maioria das flores; compactas e com pequeno núme- da parte aérea e formação de rosetas
c) potássio (K): os sintomas na ro de folhas. As folhas novas apre- de pequenas folhas nas extre-
deficiência de K são plantas mais sentam desenvolvimento reduzido, midades de ramos jovens;
baixas, com menor número de folhas tornando-se encarquilhadas e i) ferro (Fe): nas plantas com de-
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Cultivo da pimenta 53

ficiência de Fe ocorre amarele- QUADRO 1 - Dados interpretativos de teores foliares de nutrientes sugeridos para pimenteiras
(Capsicum annuum)
cimento das folhas mais novas à
semelhança da deficiência do S e N, Nível
entretanto, as nervuras do limbo Nutriente
foliar são mais verdes e as plantas
Baixo Suficiente Alto
apresentam altura e número de fo-
lhas maiores do que na deficiência Macronutrientes
desses nutrientes. Com o avanço da (dag/kg)
deficiência, todas as folhas tornam- N 3,0 - 3,49 3,5 - 5,0 > 5,0
se cloróticas. Os frutos formados são P 0,18 - 0,21 0,22 - 0,7 > 0,8
de cor amarelo-esbranquiçado.
K 3,0 - 3,49 3,5 - 4,5 > 4,5
A diagnose, em campo, de sintomas de
Ca 1,0 - 1,29 1,3 - 2,8 > 2,8
desequilíbrio nutricional, utilizando o mé-
todo visual, nem sempre é fácil e precisa. Mg 0,26 - 0,29 0,3 - 1,0 > 1,0
Em função de adubações, muitas vezes
desordenadas, pode ocorrer mais de um Micronutrientes
sintoma ao mesmo tempo, podendo ser de (mg/kg)

toxidez ou de deficiência, o que dificulta a B 23 - 24 25 - 75 > 75


avaliação. Outros processos diretos e in- Cu 4 - 5 6 - 25 > 25
diretos podem ser utilizados na avaliação
Fé 50 - 59 60 - 300 > 300
do estado nutricional das plantas. Entre os
diretos estão as análises foliar e da seiva. Mn 40 - 49 50 - 250 > 250

Os procedimentos indiretos são vários, Zn 18 - 19 20 - 200 > 200


sendo analisados sintomas que reflitam o
FONTE: Jones Júnior et al. (1991).
estado nutricional da planta, como deter-
NOTA: - Época de amostragem: no terço final do ciclo.
minadas características fitotécnicas, fisio-
- Número de folhas: 25 (coletar folhas de plantas alternadas, caminhando em zigue-zague
lógicas, enzimáticas, o teor de clorofila nas
no campo, dentro de áreas homogêneas).
folhas entre outras (FONTES, 2001).
- Localização e tipo de folha: parte superior da planta e folha completamente expandida.
Entre os diferentes métodos utilizados
no diagnóstico do estado nutricional das
plantas está a análise foliar. Entende-se por áreas indicadas para cultivo da pimenta são forma, deve-se evitar o plantio em áreas
análise foliar a determinação, em labo- as de meia-encosta, de pequena decli- anteriormente cultivadas com abóbora,
ratório, da composição mineral de amostras vidade. É importante que os solos sejam moranga e abobrinha, que também podem
de parte da planta coletada em determinado profundos, livres de cascalhos e matacões ser fontes de pragas e de doenças. O plan-
estádio de crescimento, utilizando-se téc- e que não se compactem com facilidade. tio em áreas próximas dessas culturas,
nicas padronizadas. A interpretação da Camadas impermeáveis no solo dificul- assim como o plantio por anos seguidos
análise foliar consiste na comparação dos tam a drenagem, o que prejudica o sistema no mesmo local também devem ser evi-
valores das concentrações dos nutrientes radicular da pimenta que é sensível à as- tados. Deve-se dar preferência à rotação
na amostra-problema, com os valores fixia. Considerando que a pimenta não de culturas com feijão, milho ou arroz de
padrões publicados em tabelas ou veri- cresce bem em solos muito pesados ou sequeiro em anos alternados.
ficados em plantas normais, decidindo se compactados, os mais indicados são aque- O bom preparo do solo facilita o enrai-
há ou não deficiência do elemento anali- les de textura média (argilo-arenoso), de- zamento e o pegamento das plantas. No
sado (FONTES, 2001). Referências sobre vendo-se evitar solo argiloso ou arenoso. preparo do solo deve-se demarcar, no terre-
teores de nutrientes em pimenteira podem Do ponto de vista fitossanitário, por no, curvas de nível espaçadas uma da outra
ser observadas no Quadro 1. ser uma cultura muito suscetível ao ata- de 20 a 30 m; realizar a aração sempre
que de pragas e doenças, não é aconse- paralelamente às curvas de nível; uma ou
ESCOLHA DA ÁREA E PREPARO lhável seu plantio em áreas que tenham si- duas gradagens para quebrar os torrões;
DO SOLO PARA O PLANTIO DA do cultivadas, no ano anterior, com tomate, abrir sulcos de plantio, espaçados de 1,20
PIMENTA batata, berinjela, jiló ou pimentão, que são a 1,50 m, com 20 cm de profundidade,
Em regiões de relevo acidentado, as da mesma família da pimenta. Da mesma também paralelos às curvas de nível, o que
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ajuda no controle da erosão. Se for utiliza- apresentam mais MgO na sua constituição de nitrogênio e potássio aumentarem, mo-
do o arado de tração animal para o sul- que os magnesianos e estes mais que os mentaneamente, a concentração salina da
camento, a terra retirada do sulco deverá calcíticos. solução do solo que pode ser danosa às
ser acumulada do lado de baixo do sulco. O calcário deve ser aplicado, em solo mudas recém-transplantadas. Além disso,
Práticas de preparo do solo como a úmido, cerca de 15 dias, antes do plantio, nitrogênio e potássio são passíveis de ser
subsolagem são recomendadas para o cul- uniformemente espalhado sobre a área a lixiviados ou arrastados da área por pre-
tivo de pimenta por Nuez Viñals et al. (1996). ser plantada, por meio de máquinas pró- cipitação intensa ou irrigação mal-exe-
Na subsolagem, se necessárias, são abertas prias ou manualmente, e incorporado com cutada. Os micronutrientes, no entanto, que
galerias de 50 a 70 cm de profundidade no arado e grade na camada de 15 a 20 cm. Pa- podem ser misturados aos adubos NPK,
solo com objetivo de romper as camadas ra doses superiores a 2 toneladas por são aplicados na totalidade no sulco de
compactadas, visando facilitar a drenagem hectare, recomenda-se aplicar 50% do total plantio, imediatamente antes do trans-
e evitar o encharcamento do solo. Esta de calcário antes da aração e 50% após a plantio das mudas.
operação deve ser realizada em solo seco, aração, antes da gradagem e, para doses Nas aplicações de cobertura, os adubos
antes do plantio. Após a subsolagem, nor- inferiores a 2 toneladas por hectare, todo o deverão ser distribuídos na projeção da
malmente é feita a aração e a gradagem do calcário deve ser aplicado antes da aração. copa das plantas. Quando possível, uma
solo. Na ocasião do transplantio das mu- Quanto mais fina for a granulometria e irrigação controlada solubiliza o fertilizante
das, abrem-se sulcos no solo, ou covas, maior o valor neutralizante do calcário, e promove uma leve incorporação, o que
que irão receber a adubação de plantio e as maior o poder relativo de neutralização total diminui as perdas.
mudas. (PRNT) e mais rápido serão os efeitos É comum constatar, principalmente na
quanto à correção da acidez. Zona da Mata mineira, que o produtor de
CALAGEM pimenta aplica certos nutrientes em excesso
ADUBAÇÃO ou utiliza adubações desequilibradas, o que
Em quase todo o território brasileiro,
O manejo adequado e preciso da adu- pode provocar perdas de adubos, bem
os solos são geralmente mais ácidos que a
bação para qualquer cultura beneficia o como ocasionar problemas ambientais.
faixa ideal para o desenvolvimento da
meio ambiente, por causar menores níveis Adicionalmente, são aplicados diversos
pimenteira, que exige pH entre 5,5 e 6,5. A
adubos foliares contendo nitrogênio o que
acidez elevada do solo pode causar uma de acidificação do solo, eutroficação das
tem causado grandes desequilíbrios nu-
série de problemas para a lavoura, tais águas, poluição do lençol freático e sa-
tricionais na cultura.
como: teores elevados de alumínio e/ou de linização das áreas (FONTES, 2001).
As necessidades de fertilizantes para a
manganês, o que reduz drasticamente a Em sistemas convencionais de pro-
cultura da pimenta devem ser calculadas
produção; deficiência de cálcio, magné- dução de pimenta, as fontes de adubos mais
com base nas características químicas do
sio, fósforo e de outros nutrientes in- solúveis são as preferidas, destacando-se:
solo, no tipo de irrigação utilizado e na
dispensáveis para o bom crescimento, uréia, sulfato de amônio, nitrocálcio,
produtividade esperada. Com relação a esta
desenvolvimento e produção das plantas. superfosfatos simples e triplo, mono e
última, devem-se levar em conta as quan-
É comum o descaso dos produtores de diamônio fosfato, cloreto de potássio e
tidades de nutrientes extraídas pela cultura.
pimenta no que diz respeito à calagem, da nitrato de potássio. A utilização do su-
Como tais quantidades extraídas são, na
mesma forma que não fazem a análise perfosfato simples e do sulfato de amônio
maioria das vezes, desconhecidas, dados
química do solo. Em contrapartida, nota-se fornece também o enxofre. O fornecimento de vários autores são utilizados como
o costume de aplicar pesadas adubações dos micronutrientes pode ser feito pela referência para a adição de nutrientes na
minerais em áreas excessivamente ácidas, utilização de fontes inorgânicas (óxidos e cultura. Em uma tonelada de fruto de
comprometendo o bom aproveitamento dos sulfatos de Cu e Zn, bórax, ácido bórico, pimentão foram estimadas as extrações
nutrientes fornecidos, o desenvolvimen- molibdato de sódio e amônio), dos quela- de: 4,0-9,0 kg de N; 1,0-2,5 kg de P2O5; 5,0-
to das plantas e onerando o custo de pro- tos orgânicos ou sintéticos principalmen- 17,0 kg de K2O; 0,7 a 4,5 kg de MgO e de 3,0
dução. te o ácido etilenodiaminotetraacético a 3,5 kg de CaO (BATAL; SMITTLE ,1981;
A recomendação de calagem, com base (EDTA) e de Fritted Trace Elements (FTE) LORENZ; MAYANARD, 1980; MAROTO,
na análise química do solo, deve ser feita (FONTES, 2005). Normalmente, os 1990; SIVIERO; GALLERANI, 1992;
por um agrônomo. Aplica-se calcário para fertilizantes são colocados no momento do SOMOS, 1984; ZAPATA et al., 1992 apud
elevar a saturação por bases a 70% - 80% e o transplante das mudas e são feitas apli- NUEZ VIÑALS et al., 1996). Tais quan-
teor mínimo de magnésio a 0,8 - 1,0 cmolc/dm3 cações complementares ao longo do ciclo tidades de nutrientes referem-se a um cul-
(CASALI; FONTES, 1999; FONTES; da cultura. O parcelamento é justificado tivo irrigado por infiltração. Na irrigação
RIBEIRO, 2004). Os calcários dolomíticos pela possibilidade de altas concetrações por gotejamento ou localizada, as doses
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Cultivo da pimenta 55

de fertilizantes devem ser reduzidas à QUADRO 2 - Doses de N P2O5 e K2O (kg/ha) recomendadas na adubação de plantio da pimenteira
metade ou a um terço, em razão da menor no Distrito Federal, em São Paulo e Zona da Mata de Minas Gerais
perda por lavagem. Devem-se também (1)
Estado ou Região N Nível P2O5
reduzir as doses de fertilizantes caso se K2O
incorpore esterco no solo. Ressalta-se que (A)
Distrito Federal 150 Baixo 400 - 600 150 - 200
os conteúdos de nutrientes dos estercos
Médio 200 - 400 100 - 150
variam com o tipo de rebanho, alimentação
dos animais, forma de exploração e estado Bom 100 - 200 50 - 100
de fermentação do esterco. Muito Bom 50 _
Muitas vezes, a quantidade de adubo a
(B)
ser aplicada no plantio é determinada com São Paulo 40 Baixo 600 180
base em boletins publicados para alguns Médio 320 120
Estados ou regiões (Quadro 2). Como na
Bom 160 60
maioria desses boletins não existem re-
comendações para pimenta, utilizam-se (C)
Zona da Mata de 60 Baixo 300 240
estas para o pimentão. Apesar de as apro- Minas Gerais
ximações auxiliarem o produtor, quanto às Médio 240 180
quantidades e tipos de adubos a serem Bom 180 120
utilizados, este terá maiores chances de
acerto, ao fazer a análise química anual de FONTE: (A) EMATER-DF (1987), (B) Raij et al. (1996) (C) Pinto et al. (1999).
solo, dois a três meses antes do plantio (1)Nível de P e K de acordo com a análise do solo.
(FONTES; RIBEIRO, 2004). A quantidade
de fertilizantes indicada deverá ser dis-
tribuída uniformemente no sulco ou na cova 20-50 kg/ha de N e 20-50 kg/ha de K2O algum tempo após a sua aplicação. Por
de plantio. (FONTES; RIBEIRO, 2004). isso, recomenda-se a adubação nitro-
Nos latossolos da região do Distrito No estado de São Paulo, os fertilizantes genada e potássica de forma parcelada,
Federal, recomenda-se a adubação orgâ- são aplicados dez dias antes do transplan- para aumentar a sua eficiência. As adu-
nica com 30 t/ha de esterco de curral ou 10 te das mudas, no sulco de plantio, em quan- bações nitrogenadas devem ser feitas com
t/ha de esterco de galinha no sulco e na tidades conforme análise do solo e re- a terra úmida, aplicando-se de cada vez 60
adubação mineral adota-se a recomen- comendações do Quadro 2. Aplica-se de kg/ha de N, o que corresponde a 300 kg/ha
dação do Quadro 2, conforme a análise do 10 a 20 t/ha de esterco curtido de bovino de sulfato de amônio ou 140 kg/ha de uréia,
solo (EMATER-DF, 1987). Também são su- ou 1/4 dessas quantidades de esterco nas seguintes épocas:
geridos de 2 a 4 kg/ha de boro, 2 a 3 kg/ha curtido de galinha, 1 kg/ha de boro, 3 kg de a) no florescimento;
de zinco e 10 a 30 kg/ha de enxofre. A zinco e de 10 a 30 kg/ha de enxofre. Em
b) na maturação dos primeiros frutos;
adubação de plantio com N, P e K pode ser cobertura, recomenda-se aplicar de 80 a
c) aos 30 a 45 dias da maturação dos
feita misturando-se os adubos que contêm 120 kg/ha de N e de 80 a 120 kg/ha de K2O,
primeiros frutos;
cada um desses nutrientes ou adquirindo parcelando em quatro a seis vezes. As
o adubo formulado no comércio. Em co- quantidades menores ou maiores depen- d) aos 30 a 45 dias da terceira apli-
bertura, até a fase de florescimento, as derão da análise de solo, análise foliar, cação, podendo esta última ser
adubações são feitas com adubo nitro- cultivar, produtividade esperada e sistema suprimida, se as plantas apre-
genado e durante a frutificação com uma de cultivo (protegido ou campo aberto) sentarem bom desenvolvimento e
mistura de adubo nitrogenado com po- (RAIJ et al., 1996). ausência de amarelecimento das
tássico, em intervalos de 30-45 dias. No Na Zona da Mata mineira, sugerem-se folhas mais velhas.
caso das pimentas, em que a colheita pode aplicar 20 t/ha de esterco bovino curtido Aplicar 50 kg/ha de K2O, o que cor-
prolongar-se por mais de um ano, as ou 5 t/ha de esterco de galinha curtido no responde a 80 kg/ha de cloreto de potássio,
adubações de cobertura devem ser feitas sulco de plantio. Na adubação mineral com junto com a primeira adubação de ni-
até o final do ciclo com base em obser- NPK, utiliza-se a recomendação do Quadro 2 trogênio de cobertura. Os fertilizantes mais
vações no crescimento ou aparecimento de (PINTO et al., 1999). Certos nutrientes, utilizados são: sulfato de amônio ou uréia,
sintomas de deficiências nutricionais. como o potássio e principalmente o como fonte de nitrogênio, e cloreto de
Normalmente, utilizam-se, por aplicação, nitrogênio, estão sujeitos a perdas no solo potássio, como fonte de potássio. For-
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56 Cultivo da pimenta

mulações comerciais como 20-0-20 ou 20- Para potássio, a aplicação do dobro da tores, os produtores de pimenta do Ceará
0-15 também são utilizadas. dose proporcionou um decréscimo de estão utilizando doses de até 250 kg/ha de
Na Fazenda Experimental do Vale do 5,8% na produção de frutos em relação à N. Em pimentas-de-cheiro (C. chinense),
Piranga (FEVP) da EPAMIG, no município produção média de 14.255 kg/ha pro- Souza (1998), utilizou a dose de 335 kg/ha
de Oratórios, Zona da Mata mineira, foram porcionada pela menor dose desse nu- de N.
avaliadas em pimenta-malagueta duas triente. Assim, pode-se entender que a Outra adubação sugerida para pimen-
doses de N no plantio, mais cobertura cultura da pimenta foi mais responsiva à tão, de acordo com Casali e Fontes (1999),
(30+90 kg/ha) e (60+180 kg/ha), duas de aplicação de nitrogênio, seguida do fósfo- é a aplicação de uma primeira parcela dos
P2O5, apenas no plantio, 120 kg/ha e 240 ro e que a falta de resposta à elevação da fertilizantes com NPK no sulco, por ocasião
kg/ha, e duas doses de K2O no plantio mais dose de potássio, no aumento da produ- do transplantio das mudas. O restante dos
cobertura 60+25 kg/ha e 120+50 kg/ha nas ção, foi possivelmente, devido ao teor fertilizantes com nitrogênio e potássio é
densidades de 6.667 plantas/ha e de 10.417 de potássio no solo estar em nível bom aplicado em cobertura, a cada 15 dias após
plantas/ha (Fig. 2). A média das produções (131 mg/dm3). o transplantio. Assim, na adubação mineral
de frutos de pimenta dos tratamentos que O efeito de doses crescentes de N com NPK, utilizam-se 150 kg/ha de N; 50,
receberam a menor dose de N (30 kg/ha no (0; 75; 150; 225; 300; 375 e 450 kg/ha) 100, 240 e 300 kg/ha de P 2 O 5 para
plantio mais 90 kg/ha em cobertura), nas foi avaliado em pimenta cv. Tabasco disponibilidades muito boa, boa, média e
duas populações de plantas, foi de 12.873 McIlhenny (Capsicum frutescens L.), nas baixa de P no solo, respectivamente, e
kg/ha e a dos tratamentos que receberam o condições edafoclimáticas de Pentecoste, doses de zero, 80, 180 e 240 kg/ha de K2O,
dobro da dose desse nutriente foi de 15% CE. A dose de 450 kg/ha de N proporcio- para disponibilidade muito boa, boa, mé-
superior. Com relação ao fósforo, a pro- nou produtividade de 16,5 t/ha, porém dia e baixa de K no solo, respectivamente.
dução média dos tratamentos que rece- todas as doses de N apresentaram valores Esses autores recomendam aplicar 20% da
beram a menor dose de P2O5 foi de 13.385 positivos, evidenciando a viabilidade dose total de N no plantio, 10% na primeira
kg/ha e o dobro dessa dose proporcionou econômica do N na cultura da pimenta e na segunda cobertura, 15% na terceira e
acréscimo de 7% na produção de frutos. (CHAVES et al., 2006). Segundo esses au- quarta, 20% na quinta e 10% na sexta

Fotos: Cleide Maria Ferreira Pinto

Figura 2 - Adubação com NPK e duas densidades de plantio de pimenta-malagueta - EPAMIG - Fazenda Experimental do Vale do
Piranga (FEVP), 2003

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Cultivo da pimenta 57

cobertura. O fósforo deve ser aplicado na de vital importância para a harmonia e a HAAG, H.P.; HOMA, P.; KIMOTO T.
dose total recomendada no plantio. Para sustentação do sistema produtivo. Vale Nutrição mineral de hortaliça - V: absorção de
potássio, aplicam-se 20% da dose re- relembrar, nesse contexto, que aumentar a nutrientes pela cultura do pimentão. O Solo,
comendada no plantio; 10% na primeira, produtividade agrícola pelo uso racional Piracicaba: v.62, n.2, p.7-11, nov. 1970.
segunda e terceira cobertura, 15% na quar- de insumos significa evitar a necessidade JONES JUNIOR, J.B.; WOLF, B.; MILLS,
ta, 20% na quinta e 15% na sexta. de abertura de novas áreas. H.A. Plant analysis handbook. Athens,
As deficiências de zinco e de boro, caso Geórgia: Micro-Macro, 1991. 213p.
ocorram, podem ser corrigidas pela adu- REFERÊNCIAS
KANT, S.; KAFKAFI, U. Impact of mineral
bação foliar da pimenteira, sendo reco- BALAKRISNAN, K. Studies on nutrients deficiency strees. Disponível em: <http://
mendada aplicação de 300 g de sulfato de deficiency symptoms in chilli (Capsicum www. p l a n t s t r e s s . c o m / A r t i c l e s /
zinco para cada 100 L de água, caso a de- annum L.). Indian Journal of Physiology, v.4, min_deficiency_i/impact.htm>. Acesso em: jul.
ficiência seja de zinco, ou de 100 g de ácido n.3, p.229-231, 1999. 2006.
bórico para 100 L de água, se a deficiência CASALI, V.W.D.; FONTES, P.C.R. Pimentão. MARCUSSI, F.F.N.; VILLAS BÔAS, R.L.;
for de boro. Ocorrendo sintomas de de- In: RIBEIRO, A.C.; GUIMARÃES, P.T.G.; GODOY, L.J.G. de; GOTO, R. Macronutrient
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Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.50-57, nov./dez. 2006

artigo5.p65 57 21/12/2006, 16:27


58 Cultivo da pimenta

Irrigação da cultura da pimenta


Waldir Aparecido Marouelli 1
Henoque Ribeiro da Silva 2

Resumo - Muito embora apresente tolerância moderada à seca, irrigações oportunas são
decisivas para o sucesso da produção comercial da pimenteira. A planta é particularmente
sensível à falta de água durante a floração e frutificação. Já condições de excesso de água
favorecem as várias doenças de solo. As irrigações podem ser realizadas pelos sistemas
sulco, aspersão ou gotejamento, sendo a aspersão convencional o mais utilizado. Para o
manejo de água em tempo real, são apresentados valores de tensão-limite de água no
solo e de coeficientes de cultura para diferentes sistemas de irrigação. Para a produção
em pequena escala, é descrito um procedimento alternativo, que não requer cálculos
complicados e uso de equipamentos e permite estimar a freqüência entre irrigações e a
evapotranspiração da cultura durante cada estádio de desenvolvimento da pimenteira.
São abordados aspectos gerais sobre a aplicação de fertilizantes via água de irrigação.

Palavras-chave: Capsicum. Manejo de água. Sistema de irrigação. Evapotranspiração.


Fertirrigação.

INTRODUÇÃO ficiente, prejudicam a aeração e favore- de energia e de nutrientes, maior incidência


cem doenças de solo, como as causadas de doenças fúngicas e bacterianas, baixa
A produção de pimenta, no Brasil, pode
por Pythium spp., Phytophthora spp. e produtividade e baixa qualidade de frutos.
ser realizada sem o uso da irrigação em
regiões com chuvas regulares e abun- Rhizoctonia solani (NUEZ VIÑALS et al.,
1996; BOSLAND; VOTAVA, 1999; SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO
dantes. Já em locais com precipitação
escassa ou mal distribuída, como nas re- LOPES; HENZ, 2004). Assim, apesar de a Embora possam ser usados diferen-
giões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, a pimenteira poder ser cultivada em diferen- tes sistemas de irrigação (SMITH et al.,
irrigação é fundamental para a produção tes tipos de solos, aqueles com melhor 1998), a pimenteira no Brasil é irrigada
comercial. drenagem natural devem ser preferidos notadamente por aspersão, seguidos pelo
A deficiência de água, especialmente (SOMOS, 1984). sistema por sulco e, em muito menor escala,
durante a floração e a frutificação, reduz a Além do fornecimento de água no mo- por gotejamento.
produtividade e a qualidade de frutos. Não mento e na quantidade adequada, a forma de A seleção do sistema deve levar em
obstante, plantas submetidas a condições aplicação também é determinante para o consideração fatores como: custo inicial e
de déficit hídrico moderado produzem sucesso da cultura. Em geral, os sistemas por de manutenção do sistema, tipo de solo,
frutos mais pungentes, com maior teor de aspersão favorecem doenças da parte aérea, topografia, condições climáticas, ren-
sólidos solúveis e de matéria seca (SO- enquanto os sistemas superficiais, como por dimento da cultura, quantidade e qualidade
MOS, 1984; BOSLAND; VOTAVA, 1999; sulcos, favorecem doenças de solo. da água disponível, uso de mão-de-obra,
ESTRADA et al., 1999). Similarmente à fal- Entre os problemas freqüentemente de água e de energia, e incidência de pragas
ta de água, o excesso também pode compro- observados em campos de produção re- e de doenças. No Quadro 1, são apresen-
meter a produção. Irrigações em demasia, lacionados com a irrigação inadequada tadas características operacionais dos
especialmente em solos com drenagem de- destacam: baixa eficiência no uso de água, principais sistemas de irrigação.

1
Engo Agrícola, Ph.D., Pesq. Embrapa Hortaliças, Caixa Postal 218, CEP 70359-970 Brasília-DF. Correio eletrônico: waldir@cnph.embrapa.br
2
Engo Agro, Ph.D., Pesq. Embrapa Hortaliças, Caixa Postal 218, CEP 70359-970 Brasília-DF. Correio eletrônico: henoque@cnph.embrapa.br

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.58-67, nov./dez. 2006

artigo6.p65 58 22/12/2006, 10:18


Cultivo da pimenta 59

QUADRO 1 - Eficiência de irrigação, custo inicial de aquisição, gasto de energia e de mão-de-obra gação por sulco pode favorecer ainda a
para diferentes sistemas de irrigação disseminação de patógenos ao longo dos
(1)
(2) sulcos, caso a água de irrigação esteja con-
Eficiência Custo Energia Mão-de-obra
Sistema taminada.
(%) (R$/ha) (kWh/mm/ha) (h/ha/irrigação)

Sistema por gotejamento


Sulco 40 - 70 800 - 1.500 0,3 - 3,0 1,0 - 4,0
Alguns produtores de pimenta-
Convencional portátil 60 - 75 1.000 - 2.000 3,0 - 6,0 1,5 - 3,0
malagueta, no estado do Ceará, recente-
Convencional semiportátil 60 - 75 1.500 – 2.500 3,0 - 6,0 0,7 – 2,5 mente têm optado pelo uso do goteja-
Convencional fixo 70 - 85 3.000 - 5.000 3,0 - 6,0 0,2 - 0,5 mento. A principal vantagem do sistema
Autopropelido 60 - 70 2.000 - 3.000 6,0 - 9,0 0,5 - 1,0 consiste na aplicação da água de forma
localizada, na zona radicular, sem que essa
Pivô central 75 - 90 2.000 - 3.500 2,0 - 6,0 0,1 - 0,7
atinja as folhas e frutos, reduzindo a ocor-
Gotejamento 75 - 95 3.000 - 6.000 1,0 - 4,0 0,1 - 0,3
rência de doenças da parte aérea e as perdas
FONTE: Dados básicos: Marouelli e Silva (1998). por evaporação.
(1)A eficiência pode ser consideravelmente menor em sistemas com problemas de dimensionamento Por irrigar um menor volume de solo
e/ou de manutenção. (2)Para altura de recalque entre 5 e 50 m. Para estimar gasto com diesel que os sistemas por aspersão e sulco, ser
(L/mm/ha), dividir por 3,2.
um sistema fixo e minimizar a incidência de
doenças da parte aérea, no sistema por go-
tejamento as irrigações devem ser reali-
Sistema por aspersão aérea, pois além de lavar os agrotóxicos
zadas em regime de alta freqüência.
Os sistemas por aspersão mais utili- aplicados, proporciona condições de alta
A conservação de água e energia (20%-
zados na cultura de pimenta são os con- umidade no dossel, sobretudo quando as
40%) e a fertirrigação fazem do gotejamen-
vencionais: portátil, semiportátil e fixo. No regas são freqüentes (NUEZ VIÑALS et
to um sistema atrativo para a cultura de pi-
sistema portátil, a motobomba, as tu- al., 1996).
menta. Fertilizantes, a exemplo dos nitro-
bulações e os aspersores são deslocados
Sistema por superfície genados e potássicos, podem ser aplicados
manualmente dentro da área a ser irriga-
parceladamente via água de irrigação, de
da. O sistema apresenta custo relati- Dentre os sistemas por superfície, o
modo que atendam às necessidades da
vamente baixo, mas requer uso intensivo por sulco é o mais indicado, sendo uti-
cultura, minimizando perdas de nutrientes
de mão-de-obra para as mudanças dos lizado, sobretudo, por pequenos pro-
e maximizando a produtividade de frutos.
componentes. Já no sistema fixo os dutores. Uma das principais vantagens é o
As duas principais desvantagens do
componentes permanecem fixos, o que custo inicial baixo, muito menor que os
gotejamento são o alto custo e o risco de
reduz o uso de mão-de-obra, mas aumenta sistemas por aspersão e por gotejamen-
o preço do sistema. No semiportátil, os entupimento. O custo está diretamente
to. Outro benefício é o de molhar somente
aspersores e/ou linhas laterais são deslo- a superfície do solo, o que reduz problemas relacionado com o espaçamento entre-
cados manualmente, enquanto parte ou os de doenças da parte aérea. Como desvan- linhas de plantio, que determina maior ou
demais componentes permanecem fixos. tagem, o sistema não é indicado para solos menor gasto com as linhas de gotejamento.
Para a produção de pimenta em larga com alta permeabilidade, como os are- Assim, o sistema é mais indicado para as
escala, a exemplo da páprica, tem sido uti- nosos, terrenos com declive ou ondulação pimentas cultivadas com espaçamento
lizado o sistema de pivô central. Este sis- acentuada. Outros sistemas por superfície, entrelinhas acima de 100 cm, como a ‘Mala-
tema apresenta como vantagens o menor como o por faixas e inundação, mesmo que gueta’, e que apresentam alto retorno eco-
uso de mão-de-obra, a maior uniformidade temporária, não devem ser empregados, nômico.
na distribuição de água e o menor gasto de pois a pimenteira não tolera solos en- A presença de partículas sólidas e orgâ-
energia, relativo aos demais sistemas por charcados. nicas na água, assim como de carbonatos,
aspersão. Por não molhar a parte aérea das plan- ferro e bactérias, e a formação de pre-
A principal vantagem da aspersão, no tas, o sistema por sulco, a exemplo do cipitados insolúveis dentro da tubulação
sistema por sulco, é a possibilidade de ela gotejamento, pode beneficiar a proliferação são as principais causas de entupimento
ser utilizada nos mais diversos tipos de solo de ácaros e insetos, a exemplo de pulgões, de gotejadores. Esses problemas podem ser
e topografia, além de ter menor custo que o os quais são agentes transmissores de contornados, utilizando-se sistemas de
sistema por gotejamento. Favorece, to- viroses, além de oídio, que em alguns casos filtragens e realizando-se o tratamento
davia, maior incidência de doenças da parte pode causar sérios danos à cultura. A irri- químico da água.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.58-67, nov./dez. 2006

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60 Cultivo da pimenta

NECESSIDADE DE ÁGUA DA A formação de mudas pode ser em 128 células ou mais, devem ser preenchidas
CULTURA sementeira, em copinhos de papel ou em com substrato comercial ou com misturas
Como a maioria das hortaliças, a pi- bandejas. Em qualquer caso, irrigações le- preparadas na propriedade. As regas, de
menteira tem seu rendimento compro- ves e freqüentes, de forma que evite fal- preferência nas horas de temperaturas mais
metido tanto sob condições de deficiên- ta ou excesso de água, são decisivas para amenas, devem ser de uma a três vezes por
cia quanto ao excesso de água no solo obtenção de mudas de qualidade. A água dia. A quantidade de água por irrigação
(BOSLAND; VOTAVA, 1999). A ne- deve ser de boa qualidade, pois, quando deve ser suficiente para iniciar escorrimento
cessidade total de água da cultura é va- proveniente de fontes contaminadas, pode na parte inferior da bandeja. Devido ao
riável, pois além das condições climáticas, transmitir doenças às mudas. pequeno volume de substrato disponível
depende do tipo de pimenta e da duração A sementeira deve ser em terreno com para cada muda, o controle adequado da
do ciclo de desenvolvimento. Em termos boa drenagem natural, de preferência em irrigação é muito mais importante que no
gerais, varia de 500 a 800 mm, podendo solo de textura média, sem torrões, com boa sistema de produção de mudas em
ultrapassar os 1.000 mm para cultivares de fertilidade e bom teor de matéria orgânica. sementeira.
ciclo longo. A necessidade diária de água, Para melhorar a drenagem do solo, os can-
teiros devem ter em torno de 25 cm de altura, Estádio inicial
chamada evapotranspiração da cultura,
engloba a quantidade de água transpirada podendo ser mais altos durante o período O estádio inicial de estabelecimento da
pelas plantas mais a água evaporada do chuvoso. cultura, no caso de semeio direto no cam-
solo, variando de 3 a 10 mm/dia no pico de Antes da semeadura, os canteiros de- po, vai da semeadura até as plantas atin-
demanda da cultura. vem ser regados até o solo atingir umidade girem quatro a seis folhas definitivas. No
Similar a outras solanáceas, o ciclo entre 80% e 100% da água disponível na caso de mudas, a duração vai do trans-
fenológico da pimenteira não segue o mo- profundidade até 30 cm. Na primeira se- plante até o pleno pegamento, o que leva
delo clássico das hortaliças, em que é di- mana após a semeadura, as regas devem cerca de uma semana.
vidido em quatro estádios distintos com ser leves e freqüentes; em geral, duas vezes A deficiência de água pode prejudicar
relação às necessidades hídricas (inicial, por dia, uma pela manhã e outra à tarde. a germinação de sementes e o pegamento
vegetativo, frutificação e maturação), pois Sob condições de clima ameno e solo com de mudas e, dessa forma, comprometer o
nesta espécie os estádios de frutificação e alta capacidade de retenção de água, uma estande e a produtividade de frutos. Irri-
de maturação sobrepõem-se. Assim, exis- irrigação por dia deve ser suficiente. Com gações em excesso nesse estádio e nos
tem ao mesmo tempo plantas em pleno o crescimento das mudas, as regas devem subseqüentes favorecem uma maior inci-
florescimento, com frutos em desenvol- ser diárias ou em dias alternados, sempre dência de doenças.
vimento e com frutos maduros. Ademais, o no período da tarde, evitando-se excesso A primeira irrigação antes da semeadura
ciclo da pimenteira pode-se estender por ou falta de água. A freqüência de irrigação ou do transplante das mudas deve ser
períodos de até cinco ou mais meses, o que pode ser determinada no Quadro 2 em suficiente para elevar a umidade do solo
vai depender principalmente da sanidade função da textura do solo e da evapotrans- até a capacidade de campo nos primeiros
das plantas. A duração de cada estádio piração de referência (ETo3 ). Para minimi- 30 cm do solo. A lâmina de água a ser
depende da cultivar, das condições climá- zar os efeitos prejudiciais do impacto de aplicada depende da textura e da umidade
ticas e do sistema de cultivo. No caso do gotas ao solo, aconselha-se recobrir a su- inicial do solo, variando de 15 a 25 mm para
estabelecimento da cultura a partir de mu- perfície dos canteiros com uma fina camada solos de textura grossa até 30 a 50 mm para
das, ter-se-ia, antes do estádio inicial, um de palha. solos de textura fina.
quinto estádio, o de formação de mudas. No caso de sementeiras, as mudas de- Da semeadura direta no campo até a
vem ser retiradas com torrão, a fim de evitar emergência de plântulas, as irrigações
Estádio de formação de danos às raízes e possibilitar melhor pe- devem ser leves e freqüentes, procurando
mudas gamento. Para tanto, o canteiro deve ser manter a umidade da camada superficial do
Estende-se da semeadura até as mudas previamente irrigado para facilitar a retirada solo (0 a 15 cm) próxima à capacidade de
estarem prontas para o transplante, o que das mudas. campo. Nesse período, as regas devem ser
ocorre quando as plantas apresentam de A produção de mudas em bandejas a cada um a quatro dias, dependendo da
quatro a seis folhas (cerca de 10 cm de deve ser preferencialmente em ambiente textura do solo e das condições climáticas
altura). protegido. As bandejas, normalmente, com (Quadro 2). Em solos arenosos e sob con-

3
Evapotranspiração de um cultivo padrão (grama batatais). Usado para estimar o consumo de água de uma cultura específica por meio de
coeficientes tabelados.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.58-67, nov./dez. 2006

artigo6.p65 60 22/12/2006, 10:18


Cultivo da pimenta 61

QUADRO 2 - Turno de rega (dias) durante os estádios de formação de mudas em sementeira e inicial da cultura de pimenta, e número de dias, antes
da colheita, para se paralisar as irrigações em função da textura do solo e da evapotranspiração de referência (ETo), para irrigação por
aspersão e sulco

ETo < 5 mm/dia ETo > 5 mm/dia

Fases da cultura Textura Textura

Grossa Média Fina Grossa Média Fina

Formação de mudas em sementeira 1-2 x dia 1-2 1-2 2-3 x dia 1-2 x dia 1-2

Inicial: transplante de mudas e 1 2 3 2 x dia 1 2


semeadura até a emergência de plântulas

Inicial: após a emergência de plântulas 2 3 4 1 2 3

Paralisação das irrigações 3 7 10 2 5 7

FONTE: Marouelli et al. (2001).


(1)Considerar o menor turno de rega no período entre a semeadura e 5-10 dias após a emergência.

dições de alta temperatura e baixa umida- cidade de absorção de água e de nutrientes Irrigações excessivas em terrenos com
de relativa do ar, assim como antes da emer- pelas plantas. drenagem deficiente reduzem a aeração no
gência das plântulas, podem ser ne- Irrigações excessivas, tanto nesse solo e favorecem doenças de solo, o que
cessárias de uma a duas irrigações por dia. quanto nos estádios seguintes, favorecem compromete a produtividade de frutos.
No caso de mudas, as regas devem ser maior ocorrência de doenças, além de au- Irrigações freqüentes por aspersão devem
a cada um a três dias até o completo es- mentar a lixiviação de nutrientes, em es- ser evitadas em condições favoráveis à
tabelecimento delas; em solos arenosos pecial de nitrogênio na forma de nitrato. ocorrência de doenças da parte aérea.
podem ser necessárias mais de uma irri-
gação por dia (Quadro 2). Estádio de frutificação Estádio de maturação
Para gotejamento, as irrigações devem O estádio de frutificação vai da flo- O estádio de maturação vai do período
ser mais freqüentes que para aspersão e ração plena até o início da maturação de entre o início da maturação4 de frutos e a
sulco; como proposta, sugere-se um turno frutos. É comum, entre os diferentes tipos última colheita. É um estádio menos sen-
de rega em torno de 50% maior do que de pimentas, a ocorrência de um período sível à deficiência de água no solo. Irri-
aqueles apresentados no Quadro 2. em que há flores, frutos verdes e madu-
gações freqüentes, principalmente quando
ros, o que requer a realização de várias
realizadas por aspersão, favorecem maior
Estádio vegetativo colheitas. Nesse caso, o término do estádio
incidência de podridão de frutos.
de frutificação deve ser por ocasião do iní-
O estádio vegetativo compreende o Maior pungência em pimentas picantes,
cio da maturação das pimentas que serão
período entre o estabelecimento inicial das maior teor de sólidos solúveis em pimentas
colhidas na penúltima colheita.
plantas e o florescimento pleno. Limita- para molhos, maior teor de matéria seca e
O estádio de frutificação é o mais crítico à
ção drástica no desenvolvimento vege- melhor coloração em pimentas para páprica
deficiência de água, em especial durante a
tativo das plantas resultantes da ocorrência e maior concentração na maturação de
floração plena e o pegamento de frutos. A
de déficits hídricos durante a fase de rápido deficiência de água pode provocar a queda e frutos podem ser alcançadas pelas plantas
crescimento vegetativo tem efeito negativo o abortamento de flores e frutos, além de em condições de déficit moderado de água
na produção da pimenteira (BOSLAND; reduzir o tamanho de fruto maduro (NUEZ no solo. Isto é obtido irrigando-se mais es-
VOTAVA, 1999), mesmo que o suprimento VIÑALS et al., 1996; SMITH et al., 1998). paçadamente do que durante o estádio de
de água no estádio de frutificação seja Ademais, a falta de água durante o está- frutificação e antecipando a data da última
adequado. Não obstante, deficiência mo- dio inicial de frutificação pode restringir a irrigação. Adicionalmente, irrigações menos
derada de água favorece maior crescimen- translocação de cálcio e favorecer a ocor- freqüentes durante o estádio de maturação
to do sistema radicular das plantas, o que é rência de podridão apical (BOSLAND; possibilitam frutos mais vermelhos e maior
conveniente, haja vista o aumento da capa- VOTAVA, 1999). uniformidade de maturação (BOSLAND;

4
No caso de várias colheitas, considerar o início da maturação dos frutos a serem colhidos na penúltima colheita.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.58-67, nov./dez. 2006

artigo6.p65 61 22/12/2006, 10:18


62 Cultivo da pimenta

VOTAVA, 1999). No Quadro 2, é apresen- mento das propriedades físico-hídricas do dições climáticas históricas da região
tada uma sugestão de época de paralisação solo, das necessidades hídricas específi- (normais de temperatura e umidade relativa
das irrigações em função da textura do solo cas da cultura e/ou de fatores climáticos média do ar), da textura do solo e da pro-
e demanda evaporativa da atmosfera. usados na determinação da evapotrans- fundidade efetiva do sistema radicular da
piração (MAROUELLI et al., 1996). Esses cultura.
MANEJO DA ÁGUA DE métodos requerem o uso de equipamentos
Sistemas por aspersão e
IRRIGAÇÃO para o monitoramento do status de água sulco
O fornecimento de água às plantas no no solo 5 (tensiômetros, blocos de re-
momento e na quantidade correta envolve sistência elétrica etc.) e/ou para estimativa 1 o passo
parâmetros relacionados com a planta, o da evapotranspiração (tanque Classe A, Determinar, por meio do Quadro 3, a
solo e o clima. Existem vários métodos para termômetros, higrômetros, radiômetros evapotranspiração de referência (ETo), em
o controle da irrigação; todos com van- etc.), além de mão-de-obra qualificada. função de dados históricos mensais mé-
tagens e desvantagens. Embora o mur- A seguir é apresentado passo a passo dios de temperatura e umidade relativa do ar
chamento das folhas no início da tarde seja o método do turno de rega simplificado, disponíveis na região. Os dados podem ser
um sinal da necessidade de irrigação (BOS- um procedimento alternativo que não obtidos, muitas vezes, no Serviço de Ex-
LAND; VOTAVA, 1999), existem critérios requer cálculos complicados e o uso de tensão Rural disponível da região.
mais precisos para indicar quando irrigar. equipamentos. O método, descrito por
Métodos que permitem um controle ade- Marouelli et al. (2001), possibilita estimar 2 o passo
quado e em tempo real da irrigação, como valores de turno de rega e lâmina de irri- Determinar, por meio do Quadro 4, o
os do balanço de água no solo e da tensão- gação, para cada estádio de desenvolvi- coeficiente de cultura6 para cada estádio
limite matricial, baseiam-se no conheci- mento da cultura, em função das con- de desenvolvimento.

QUADRO 3 - Evapotranspiração de referência (ETo), em mm/dia, em função da temperatura e umidade relativa média do ar

Umidade relativa
(%)
Temperatura
(oC)
40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90

14 5,5 5,0 4,6 4,1 3,7 3,2 2,7 2,3 1,8 1,4 0,9

16 6,1 5,5 5,0 4,5 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0

18 6,7 6,1 5,5 5,0 4,4 3,9 3,3 2,8 2,2 1,7 1,1

20 7,3 6,7 6,1 5,5 4,9 4,3 3,6 3,0 2,4 1,8 1,2

22 8,0 7,3 6,6 6,0 5,3 4,6 4,0 3,3 2,7 2,0 1,3

24 8,6 7,9 7,2 6,5 5,8 5,0 4,3 3,6 2,9 2,2 1,4

26 9,4 8,6 7,8 7,0 6,2 5,5 4,7 3,9 3,1 2,3 1,6

28 10,1 9,3 8,4 7,6 6,7 5,9 5,1 4,2 3,4 2,5 1,7

30 10,9 10,0 9,1 8,2 7,3 6,4 5,4 4,5 3,6 2,7 1,8

32 11,7 10,7 9,7 8,8 7,8 6,8 5,8 4,9 3,9 2,9 1,9

34 12,5 11,5 10,4 9,4 8,4 7,3 6,3 5,2 4,2 3,1 2,1

FONTE: Marouelli et al. (2001).


NOTA: Valores de ETo nos intervalos de umidade relativa e temperatura do ar obtidos por interpolação linear

5
Status de água no solo diz respeito ao estado energético (tensão matricial) ou à fração de água no solo (porcentagem de umidade).
6
Kc é um coeficiente que incorpora as características da cultura, sendo utilizado para estimar a evapotranspiração da cultura durante um estádio
de desenvolvimento específico, a partir da evapotranspiração de referência.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.58-67, nov./dez. 2006

artigo6.p65 62 22/12/2006, 10:18


Cultivo da pimenta 63

3o passo QUADRO 4 - Coeficiente de cultivo (Kc) para sistemas de irrigação por aspersão, sulco e
gotejamento, e profundidade efetiva do sistema radicular (Z) nos diferentes estádios
Determinar a evapotranspiração da
de desenvolvimento da cultura de pimenta
pimenteira (ETc) para cada estádio da
cultura, pela seguinte expressão: Kc
Z
Estádio
ETc = Kc x ETo (cm)
Aspersão /Sulco Gotejamento

em que: Formação de mudas 1,10 _ 5-10


ETc = evapotranspiração da cultura, (1)
Inicial 0,85 0,65 5-10
mm/dia;
Vegetativo 0,60 0,50 15-25
Kc = coeficiente de cultura, adimen-
Frutificação 1,05 1,00 30-40
sional; (2)
Maturação 0,85 0,80 30-40
ETo = evapotranspiração de referência,
mm/dia. FONTE: Dados básicos: Doorenbos e Kassam (1986) e Nuez Viñals et al. (1996).
(1)No caso de semeadura direta no campo, usar Kc de 0,35 para aspersão/sulco e de 0,40 para
4 o passo gotejamento, da emergência de plântulas até o final do estádio inicial. (2)Para a produção de
Determinar, por meio do Quadro 4, a pimentas em que o teor de matéria seca e/ou de sólidos solúveis seja importante, como para
profundidade efetivada do sistema ra- páprica e molhos líquidos, reduzir o valor de Kc para 0,75, no caso de aspersão e sulco, e para 0,70,
dicular da cultura (Z), para cada estádio de no caso de gotejamento.
desenvolvimento.
Para fins de irrigação, não se considera Muitas vezes, o produtor dispõe da 8o passo
todo o perfil do solo explorado pelas raízes, classe textural do solo por ser uma in- Determinar a lâmina de água total
mas apenas a profundidade efetiva, onde formação requerida por alguns bancos, necessária em função da eficiência de
se encontra cerca de 80% do sistema ra- para o financiamento agrícola. Caso não irrigação do sistema e da necessidade de
dicular. Para uma rápida estimativa, re- disponível, a análise pode ser feita a preços lixiviação pela expressão:
comenda-se fazer uma avaliação visual do
acessíveis na maioria dos laboratórios
sistema radicular em uma trincheira aberta 100 x LRN
de análise de solo. LTN =
perpendicular à fileira de plantas. Ei x (1 - LR)
6 o passo
5 o passo em que:
Determinar o turno de rega (intervalo
Determinar a textura do solo. LTN = lâmina de água total necessária, mm;
entre irrigações consecutivas) para cada
Dentre os fatores que afetam a capa-
estádio da cultura, em função da evapo- Ei = eficiência de irrigação, % (Quadro 1);
cidade de armazenamento de água do solo
transpiração, textura do solo e profun- LR = fração de lixiviação requerida, decimal.
(textura, estrutura, tipo de argila, teor de
didade efetiva das raízes. Utilizar o Qua-
matéria orgânica etc.), a textura é o mais im- Em regiões semi-áridas, principalmente, o
portante. Para fins de uso deste método dro 2 para os estádios de formação de
solo pode conter altas taxas de sais solúveis e
simplificado, a caracterização do solo é feita mudas e inicial e o Quadro 5 para os demais
a água de irrigação pode ser salina e prejudi-
de acordo com a classe textural, como a seguir: estádios.
car a cultura pelo efeito dos íons presentes.
a) textura fina: franco-argilo-siltoso, 7o passo Sob tais condições, deve-se aplicar uma fra-
franco-argiloso, argila arenosa, ção adicional de água para lavar os sais e evitar
Determinar a lâmina de água real neces- que se acumulem no solo, que pode ser
argila siltosa, argila, muito argiloso;
sária por irrigação pela seguinte ex- computada por (AYERS; WESTCOT, 1989):
b) textura média: franco, franco-siltoso,
pressão:
franco-argilo-arenoso, silte (solos de
cerrado de textura fina devem ser con- CEa
LR =
siderados, para efeito dos cálculos de LRN = TR x ETc 15 - CEa
irrigação, como de textura média); em que:
c) textura grossa: areia, areia franca, em que: CEa = condutividade elétrica da água de
franco-arenoso. LRN = lâmina de água real necessária, mm. irrigação7 , dS/m.

7
Expressa, de forma indireta, a quantidade de sais dissolvida na água.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.58-67, nov./dez. 2006

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64 Cultivo da pimenta

QUADRO 5 - Turno de rega (dia) para a cultura de pimenta irrigada por aspersão ou sulco em função da evapotranspiração da cultura (ETc),
profundidade de raízes, textura do solo e estádio de desenvolvimento das plantas

Profundidade efetiva de raízes


(cm)

10 20 30 40
ETc
(mm/dia)
Textura Textura Textura Textura

Grossa Média Fina Grossa Média Fina Grossa Média Fina Grossa Média Fina

Estádios vegetativo e de maturação

1 3 7 10 _ _ _ _ _ _ _ _ _
2 2 3 5 3 7 10 5 11 15 7 14 20
3 1 2 3 2 5 7 4 7 10 5 10 13
4 1 2 3 2 4 5 3 5 8 4 7 10
5 1 1 2 1 3 4 2 4 6 3 6 8
6 2 x dia 1 2 1 2 3 2 4 5 2 5 7
7 2 x dia 1 1 1 2 3 2 3 4 2 4 6
8 _ _ _ 1 2 3 1 3 4 2 4 5
9 _ _ _ 1 2 2 1 2 3 2 3 4
10 _ _ _ 1 1 2 1 2 3 1 3 4
11 _ _ _ 2 x dia 1 2 1 2 3 1 3 3

Profundidade efetiva de raízes


(cm)

10 20 30 40
ETc
(mm/dia)
Textura Textura Textura Textura

Grossa Média Fina Grossa Média Fina Grossa Média Fina Grossa Média Fina

Estádio de frutificação

2 _ _ _ 3 5 8 4 8 12 5 11 16
3 _ _ _ 2 4 5 3 5 8 4 7 11
4 _ _ _ 1 3 4 2 4 6 3 5 8
5 _ _ _ 1 2 3 2 3 5 2 4 6
6 _ _ _ 1 2 3 1 3 4 2 4 5
7 _ _ _ 1 2 2 1 2 3 2 3 5
8 _ _ _ 1 1 2 1 2 3 1 3 4
9 _ _ _ 2 x dia 1 2 1 2 3 1 2 4
10 _ _ _ 2 x dia 1 2 1 2 2 1 2 3
11 _ _ _ 2 x dia 1 1 1 1 2 1 2 3
12 _ _ _ 2 x dia 1 1 1 1 2 1 2 3
13 _ _ _ 2 x dia 1 1 2 x dia 1 2 1 2 2
14 _ _ _ 2 x dia 1 1 2 x dia 1 2 1 2 2

FONTE: Dados básicos: Marouelli e Silva (2004).


NOTA: 2 x dia = 2 irrigações por dia.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.58-67, nov./dez. 2006

artigo6.p65 64 22/12/2006, 10:18


Cultivo da pimenta 65

Quando a água não apresenta pro- Sistema por gotejamento Outros métodos para o
blemas de salinidade (CEa < 0,7 dS/m) não manejo de irrigação
se faz necessário aplicar a fração de lixi- 1o ao 5 o passo
Para a produção de pimenta em larga
viação; portanto, usar LR = 0. Determinar a evapotranspiração de escala é aconselhável adotar um método
referência, o coeficiente de cultura, a eva- de manejo com melhor precisão do que o
9 o passo potranspiração da cultura, a profundidade apresentado anteriormente, como do ba-
Calcular o tempo de irrigação. efetivada do sistema radicular da cultura e lanço de água no solo ou da tensão-limite
Para aspersão convencional, o tempo a textura do solo, conforme recomendado matricial. Maiores informações sobre a
necessário para aplicar a quantidade de para sistemas por aspersão e sulco. utilização de tais métodos são apresentadas
água necessária é determinado por: em Marouelli et al. (1996).
6 o passo
A precisão do método do turno de rega
60 x LTN Determinar, por meio do Quadro 6, o
Ti = simplificado pode ser melhorada cal-
Ia turno de rega para cada estádio da cultura. culando-se a evapotranspiração da cultu-
em que: ra em tempo real (diariamente). Nesse ca-
7o e 8 o passos
Ti = tempo de irrigação, min; so, o valor de ETc deve ser igual à média da
Determinar a lâmina de água real e total evapotranspiração ocorrida no período
Ia = intensidade de aplicação de água do
necessária por irrigação, conforme re- entre duas irrigações consecutivas. Um
sistema, mm/h.
comendado para sistemas por aspersão e método simples para estimar a ETo é o
A intensidade de aplicação de água sulco. do tanque de evaporação Classe A
pelo sistema de irrigação varia com o (MAROUELLI et al., 1996). Como qualquer
diâmetro de bocais, pressão de serviço e 9o passo
outro método para estimativa da ETc, o
espaçamento entre aspersores, podendo Determinar o tempo necessário para tanque Classe A apresenta desvanta-
ser obtida de catálogos técnicos dos fa- cada irrigação pela seguinte expressão. gens e requer cuidados especiais. O método
bricantes de aspersores. Não dispondo FAO Penman-Monteith é o considerado
TR x ETc x Sl x Sg
dessas informações, a intensidade de apli- Ti = 6.000 x padrão para a estimativa diária de ETo em
Vg x Ei x (1 - LR)
cação pode ser obtida em testes de campo todo o mundo (ALLEN et al., 1998).
por: em que: Outro processo para realizar o manejo
1000 x Q Sl = espaçamento entre laterais, m; de irrigação é por meio do uso de sensores
Ia =
Ea x El para a medição direta ou indireta à tensão
Sg = espaçamento entre gotejadores, m;
matricial, ou seja, a “força” com que a água
em que: Vg = vazão do gotejador, L/h; é retida pela matriz do solo. Dessa forma,
3
Q = vazão do aspersor (m /h); Ei = eficiência de irrigação, %. pode-se determinar o momento exato de
Ea = espaçamento entre aspersores ao A eficiência de irrigação depende das irrigar e a quantidade de água a ser aplicada
longo da lateral (m); características do sistema, do solo e do por vez. Para a cultura de pimenta irrigada
El = espaçamento entre linhas laterais (m). por aspersão ou sulco, a tensão-limite
manejo de água, principalmente, devendo
recomendada varia entre 25 e 30 kPa,
No caso de pivô central, deve-se se- ser avaliada diretamente no campo. Em
durante o estádio de frutificação, e entre
lecionar a velocidade de deslocamento, em termos gerais, considerar Ei entre 80% e
50 e 60 kPa, durante os estádios vegetativo
porcentagem, que seja suficiente para que 85%, para solos arenosos, e entre 90% e
e de maturação. Para gotejamento, a tensão-
o sistema aplique uma lâmina igual ou 95%, para solos argilosos. Para sistemas
limite deve ser mantida entre 10 e 15 kPa,
com problemas de dimensionamento e/ou
ligeiramente superior a LTN, conforme sendo o menor valor para solos de textura
de entupimento, Ei pode atingir valores
tabela fornecida pelo fabricante do pivô ou arenosa (SOMOS, 1984; NUEZ VIÑALS et
inferiores a 50%, o que irá comprometer o
avaliada no campo. al., 1996; MAROUELLI; SILVA, 2004). O
rendimento da cultura.
Para irrigação por sulco, o tempo de sensor mais comumente utilizado para
Para irrigação por gotejamento da
irrigação deve ser igual ao tempo necessário medição direta da tensão matricial é o
pimenteira, LR pode ser estimado por
para a água atingir o final do sulco mais o tensiômetro.
(AYERS; WESTCOT, 1989; NUEZ VIÑALS
tempo suficiente para infiltrar a lâmina de Recentemente, foi desenvolvido pela
et al., 1996):
água requerida pelas plantas (LRN). O Embrapa Hortaliças um sensor de tensão
comprimento do sulco e a velocidade de denominado Irrigas (CALBO; SILVA,
infiltração são dependentes do tipo de solo, LR = 0,06 x CEa 2006), que apresenta custo reduzido, baixa
devendo ser avaliados em testes de campo. manutenção e é de fácil utilização. O sensor

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.58-67, nov./dez. 2006

artigo6.p65 65 22/12/2006, 10:18


66 Cultivo da pimenta

QUADRO 6 - Turno de rega (dia) para a cultura de pimenta irrigada por gotejamento em função da evapotranspiração da cultura (ETc), profundidade
de raízes e textura do solo
Profundidade efetiva de raízes
(cm)

10 20 30 40
ETc
(mm/dia)
Textura Textura Textura Textura

Grossa Média Fina Grossa Média Fina Grossa Média Fina Grossa Média Fina

1 1 2 2 2 3 5 _ _ _ _ _ _
2 2 x dia 1 1 1 2 2 1 2 4 2 3 5
3 3 x dia 2 x dia 1 2 x dia 1 1 1 2 2 1 2 3
4 3 x dia 2 x dia 2 x dia 2 x dia 1 1 1 1 2 1 2 2
5 4 x dia 2 x dia 2 x dia 2 x dia 2 x dia 1 2 x dia 1 1 1 1 2
6 5 x dia 3 x dia 2 x dia 3 x dia 2 x dia 1 2 x dia 1 1 1 1 2
7 _ _ _ 3 x dia 2 x dia 2 x dia 2 x dia 1 1 2 x dia 1 1
8 _ _ _ 3 x dia 2 x dia 2 x dia 3 x dia 2 x dia 1 2 x dia 1 1
9 _ _ _ 4 x dia 2 x dia 2 x dia 3 x dia 2 x dia 1 2 x dia 1 1
10 _ _ _ 4 x dia 3 x dia 2 x dia 3 x dia 2 x dia 2 x dia 2 x dia 1 1
11 _ _ _ 5 x dia 3 x dia 2 x dia 3 x dia 2 x dia 2 x dia 2 x dia 1 1
12 _ _ _ 5 x dia 3 x dia 2 x dia 3 x dia 2 x dia 2 x dia 3 x dia 2 x dia 1

FONTE: Dados básicos: Marouelli e Silva (2004).


NOTA: 2 x dia = 2 irrigações por dia.

não fornece leituras contínuas de tensão, mas Os principais dispositivos de injeção Para gotejamento sugere-se aplicar de
indica se a tensão está abaixo ou acima de seu de fertilizantes são os do tipo Venturi, 10% a 20% da recomendação total de nitro-
valor de referência. Atualmente, o sensor está tanque de diferencial de pressão e bombas gênio e de potássio em pré-plantio. Tal es-
disponível para as tensões de referência de injetoras (diafragma e pistão). Todos os tratégia tem por objetivo formar uma
10, 25 e 45 kPa. Sensores com diferentes va- dispositivos podem ser utilizados em reserva no solo suficiente para o desenvol-
lores de referência podem ser instalados lado sistemas por gotejamento, sendo a bomba vimento inicial das plantas. O restante é
a lado para melhor monitorar a tensão matricial. de pistão a melhor opção para pivô central. fornecido via fertirrigação, à medida que
O injetor do tipo Venturi é o mais utilizado as plantas se desenvolvem (Quadro 7). Para
FERTIRRIGAÇÃO em sistemas por gotejamento, devido prin- solos arenosos, as fertirrigações devem ser
Fertirrigação é o processo de aplica- cipalmente ao baixo custo. Para aspersão realizadas a cada um a três dias e, para solos
ção de fertilizantes via água de irrigação. O convencional, o tanque de diferencial de argilosos, pode-se adotar freqüência semanal.
processo é próprio para uso em sistemas pressão é um dos mais utilizados. Para aspersão, deve-se aplicar um terço
por aspersão tipo pivô central e, princi- Os nutrientes mais comumente apli- do nitrogênio em pré-plantio e parcelar o
palmente, por gotejamento. Pela facilidade cados por fertirrigação são os de maior restante via água de irrigação a cada duas
de aplicação, os fertilizantes podem ser mobilidade no solo, como o nitrogênio e o ou três semanas. As aplicações devem
injetados na tubulação de forma parcelada, potássio. A ocorrência de podridão apical começar aos 30 dias após o plantio e ir até
visando atender às necessidades das e a necessidade de pulverizações folia- o início da maturação. O potássio e o cálcio,
plantas. O parcelamento permite manter a res com cálcio podem ser eliminadas, apli- embora menos utilizados, também po-
fertilidade no solo próxima ao nível ótimo cando-se parte do cálcio via fertirrigação dem ser aplicados via água. A adoção da
requerido durante todo o ciclo da cultura, durante o florescimento e a frutificação. Os fertirrigação em sistema por aspersão é viá-
o que possibilita incrementos de pro- demais nutrientes, a exemplo do fósforo, vel desde que a uniformidade de distri-
dutividade e minimiza a lixiviação de nu- devem ser fornecidos, preferencialmente, buição de água do sistema seja superior a
trientes (BOSLAND; VOTAVA, 1999). como adubação básica no sulco de plantio. 65%.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.58-67, nov./dez. 2006

artigo6.p65 66 22/12/2006, 10:18


Cultivo da pimenta 67

QUADRO 7 - Dosagens relativas (%) de nitrogênio, potássio e cálcio para fornecimento por fertirrigação ao longo do ciclo da cultura de pimenta, em
relação ao total recomendado

Ciclo relativo da cultura


Textura (%)
Plantio 10-20 20-30 30-40 40-50 50-60 60-70 70-80 80-90 90-100

Nitrogênio/Potássio

Grossa 10 5 5 5 10 15 15 20 10 5

Fina 20 5 5 5 10 15 15 20 5 0

Cálcio

Todas 50 0 0 5 10 10 15 10 0 0

FONTE: Dados básicos: Nuez Viñals et al. (1996).

Os principais fertilizantes aplicados por utilização de sistemas com baixa eficiência, DOORENBOS, J.; KASSAM, A.H. Yield
fertirrigação são: uréia, cloreto de potássio, do manejo inadequado de irrigação ou até response to water. Rome: FAO, 1986. 193p.
(FAO. Irrigation and Drainage Paper, 33).
nitrato de cálcio, nitrato de potássio, sulfato mesmo pelo conceito errôneo de que água
de amônio, sulfato de potássio e cloreto de é um recurso abundante e inesgotável. Tal ESTRADA, B.; POMAR, F.; DÍAZ, J.; MERINO, F.;
BERNAL, M.A. Pungency level in fruits of the padrón
cálcio. O cálcio não deve ser aplicado em situação pode ser revertida por meio do
pepper with different water supply. Scientia
água contendo bicarbonato (acima de 400 simples uso de tecnologias e das informa-
Horticulturae, Amsterdam, n.81, p.385-396, 1999.
mg/L) ou ser injetado simultaneamente com ções disponibilizadas no presente artigo,
LOPES, C.A.; HENZ, G.P. Doenças e métodos de
fertilizantes à base de sulfatos ou fosfatos, muitas delas de fácil adoção pelos produtores. controle. In: COSTA, C.S.R. da; HENZ, G.P. (Ed.).
sob o risco de precipitar e causar o entu- De modo geral, as informações dis- Cultivo das pimentas. Brasília: Embrapa
pimento de gotejadores. Vários outros cui- poníveis na literatura sobre irrigação para Hortaliças, 2004. (Embrapa Hortaliças. Sistemas
dados, especialmente relacionados com a as diferentes variedades de pimentas, e até de Produção, 4). Versão eletrônica. Disponível
qualidade da água, devem ser tomados para mesmo espécies do gênero Capsicum, são em: <http://www.cnph.embrapa.br/sistprod/
escassas e incompletas. Estudos têm sido pimenta/doenças.htm>. Acesso em: 11 jul. 2006.
evitar problemas de entupimento em sis-
realizados, em todo o mundo, especialmente MAROUELLI, W.A.; SILVA, H.R. Pimenta: como,
temas por gotejamento.
para pimentão (Capsicum annuum var. quando e quanto irrigar. Cultivar: hortaliças e
frutas, Pelotas, v.4, n.24, p.10-13, 2004.
CONSIDERAÇÕES FINAIS annuum), razão de sua maior importância
econômica. Assim, ainda existem inúmeras _______; SILVA, W.L.C. Seleção de sistemas
O uso da irrigação é fator determinante de irrigação para hortaliças. Brasília:
questões a serem respondidas pela pesquisa
EMBRAPA-CNPH, 1998. 15p. (EMBRAPA-
na produção comercial da pimenteira em no que tange à irrigação da pimenteira. CNPH. Circular Técnica, 11).
regiões com precipitação escassa ou mal
_______; _______; SILVA, H.R. Irrigação por
distribuída. As plantas são particularmente REFERÊNCIAS aspersão em hortaliças: qualidade da água,
sensíveis à falta de água durante a floração ALLEN, R.G.; PEREIRA, L.S.; RAES, D.; SMITH, aspectos do sistema e método prático de manejo.
e a frutificação. Não obstante, água em M. Crop evapotranspiration: guidelines for Brasília: Embrapa Informação Tecnológica/
excesso, especialmente em solos com computing crop water requirements. Rome: FAO, Embrapa Hortaliças, 2001. 111p.
problema de drenagem, favorece várias 1998. 328p. (FAO. Irrigation and Drainage Papers, _______; _______; _______. Manejo da irrigação
56). em hortaliças. Brasília: EMBRAPA-SPI/
doenças de solo. Assim, as regas devem
ser realizadas, visando atender à demanda AYERS, R.S.; WESTCOT, D.W. Water quality EMBRAPA-CNPH, 1996. 72p.
for agriculture. Rome: FAO, 1989. 174p. (FAO. NUEZ VIÑALS, F.; GIL ORTEGA, R.; COSTA
hídrica das plantas, nunca em demasia ou
Irrigation and Drainage Paper, 29). GARCIA, J. El cultivo de pimientos, chiles y
carência.
BOSLAND, P.W.; VOTAVA, E. Peppers: ajies. Madrid: Mundi-Prensa,1996. 607p.
Analogamente ao verificado em toda a vegetable and spice capsicums. Wallingford: CAB, SMITH, R.; HARTZ, T.; AGUIAR, J.; MOLINAR,
agricultura irrigada no Brasil, a irrigação da 1999. 204p. R. Chile pepper production in California.
pimenteira é realizada de forma empírica e CALBO, A.G.; SILVA, W.L. de C. e. Gaseous Oakland: University of California, 1998. 4p.
ineficiente, em geral, com grande desper- irrigation control system: descriptions and physical (Vegetable Production Series. Publication, 7244).
dício de água e prejuízos à produtividade e tests for performance assessment. Bragantia, SOMOS, A. The paprika. Budapest: Akadémiai
à qualidade de frutos. Isto ocorre, devido à Campinas, v.65, n.3, p.501-510, 2006. Kiadó,1984. 302p.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.58-67, nov./dez. 2006

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68 Cultivo da pimenta

Manejo de plantas daninhas na cultura da pimenta


Izabel Cristina dos Santos 1
Cleide Maria Ferreira Pinto 2
Francisco Affonso Ferreira 3

Resumo - No ecossistema agrícola a planta de pimenta convive com a comunidade de


plantas daninhas formada pelo banco de sementes do solo. Este é sempre alterado por
diásporos produzidos na safra anterior e na entressafra, pela introdução de novas
espécies e, principalmente, pelo manejo dado à cultura. A estratégia de manejo da
comunidade de plantas daninhas deve incluir métodos que dificultem a germinação e
a emergência dessas plantas, que evitem a introdução de espécies-problema e que
reduzam o crescimento das espécies já estabelecidas, na tentativa de diminuir a
interferência imposta à cultura da pimenta.

Palavras-chave: Capsicum. Planta invasora. Manejo ecológico. Controle integrado.

INTRODUÇÃO Nos sistemas agroecológicos geral- crescimento de plantas daninhas presen-


mente são utilizadas combinações de mé- tes no solo, de modo que diminua a inter-
A agricultura moderna pressupõe a sus-
todos que causem impacto mínimo no ferência (ação conjunta da competição e
tentabilidade, a diversidade e o equilíbrio
sistema como um todo. Assim, devem-se da alelopatia) imposta pelas plantas da-
do agroecossistema. Neste contexto, é
buscar a convivência com as plantas da- ninhas à cultura. Na escolha dos métodos
desejável o manejo ecológico das plantas
ninhas e a valorização de suas caracte- há que se considerar a infra-estrutura e a
daninhas, visando não apenas o seu
rísticas favoráveis, dentro de um limiar de mão-de-obra disponíveis na propriedade.
controle, mas também a proteção do solo
dano econômico aceitável no contexto da Para isso, deve-se utilizar uma combina-
contra a incidência direta do sol e da chuva,
sustentabilidade do agroecossistema. ção de métodos de manejo, que podem ser
a reciclagem de nutrientes e o incremento
A interferência das plantas daninhas preventivos, culturais, mecânicos, quí-
da biodiversidade do sistema, contribuindo
reduz, em média, 20% a 30% da produção micos ou biológicos, e que interfiram no
indiretamente para o manejo ecológico de
agrícola (LORENZI, 2000). Os ciclos ve- ciclo de vida das plantas daninhas, al-
pragas e doenças das plantas cultivadas.
getativo e produtivo longos justificam a terando o balanço competitivo a favor da
Os sistemas de manejo de plantas da-
adoção de métodos de controle das plantas cultura. Normalmente, é realizado o controle
ninhas visam deixar o ambiente propício
daninhas para maior produção e qualidade mecânico ou manual das plantas daninhas,
ao desenvolvimento da pimenteira e menos
dos frutos. uma vez que não há registro de herbicidas
favorável à sobrevivência e à multiplicação
para a cultura da pimenta.
das plantas daninhas, por meio da utilização
MANEJO DE PLANTAS
isolada ou combinada de métodos de
DANINHAS MÉTODOS PREVENTIVOS
controle culturais, mecânicos, químicos ou
biológicos. Os métodos de controle A estratégia de manejo das plantas As premissas do manejo preventivo são
interferem no ciclo de vida da população daninhas na cultura da pimenta deve incluir evitar a introdução e o estabelecimento de
de plantas daninhas em áreas agrícolas e métodos que favoreçam o estabelecimento espécies-problema, a exemplo de Cyperus
alteram o balanço competitivo a favor da da pimenteira e que desfavoreçam a ger- rotundus, e impedir que as populações de
cultura. minação, a emergência dos diásporos e o plantas daninhas tenham suas densidades

1
Enga Agra, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: icsantos@epamig.ufv.br
2
Enga Agra, D.Sc., Pesq. EMBRAPA/EPAMIG-CTZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: cleidemaria@vicosa.ufv.br
3
Engo Agro, Pós-Doc, Prof. Tit. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: faffonso@ufv.br

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Cultivo da pimenta 69

aumentadas, drasticamente. Neste senti- túrbios do solo e ação alelopática (BUH- (PUTNAM, 1985; PUTNAM;
do, recomendam-se sementes de boa pro- LER et al., 1997). Se a área ficar simplesmen- TANG, 1986). Por meio dos alelo-
cedência, livres de propágulos de plantas te em pousio, espécies que são favorecidas químicos, organismos de uma
daninhas; limpeza de caminhões, máqui- pelas condições edafoclimáticas da en- espécie afetam o crescimento, o
nas e implementos agrícolas que tenham tressafra da pimenta poderão aumentar estado sanitário, o comportamento
sido utilizados em outras propriedades ou muito sua população, alterando a dinâmica ou a biologia da população de
em áreas com espécies daninhas-problema; da população de plantas daninhas. organismos de uma outra espécie.
certificação da origem de adubos orgâ- A utilização de cobertura morta pro-
Além disso, com a repetição dessa
nicos, especialmente esterco de animais; porciona efeitos físicos, químicos e bio-
prática, a decomposição da cobertura ve-
não usar material proveniente de áreas lógicos sobre as plantas daninhas (ALVES;
getal aumenta o teor de matéria orgânica
infestadas com tiririca ou de pastagens PITELLI, 2001):
do solo, o que contribui para melhoria de
onde tenha sido usado o herbicida Tordon a) efeito físico: a barreira física formada propriedades físicas, químicas e físico-
(2,4-D + picloram). Resíduo de picloram no pela cobertura morta dificulta a químicas do solo.
esterco pode afetar o desenvolvimento emergência das plantas daninhas, Pelo fato de a pimenteira apresentar
inicial de algumas hortaliças. porque aumenta o tempo para que ciclo longo e ser cultivada com espa-
A prática da adubação verde nos pe- tenha acesso à luz e inicie o pro- çamentos mais largos entrelinhas de
ríodos de entressafra também é uma impor- cesso germinativo, o que pode es- plantio, a consorciação com adubos ver-
tante ferramenta no manejo preventivo das gotar suas reservas, diminuindo sua des pode ser uma alternativa para o manejo
plantas daninhas, uma vez que as cober- chance de sobrevivência; além dis- de plantas daninhas, para a proteção do
turas verdes sombreiam o solo enquanto so, impede ou diminui a penetração solo nas entrelinhas e para o fornecimento
vivas e formam cobertura morta após o da luz solar, o que dificulta a ger- de nutrientes para a cultura. Se o adubo
corte. Além disso, contribuem para a minação de sementes fotoblásticas verde for manejado, logo no início do flo-
fertilização do solo e para a melhoria de positivas e das sementes que re- rescimento, pode fornecer nutrientes no
suas características físicas, físico-químicas querem determinado comprimento mesmo ciclo de cultivo, especialmente
e biológicas. de onda de luz. A cobertura morta nitrogênio, caso seja usada espécie com
Em sistemas de cultivo ecológico ou diminui as amplitudes diárias das boa capacidade de fixação biológica desse
orgânico, esses métodos devem ser pri- variações térmica e hídrica na su- elemento e de rápida decomposição. O
vilegiados por serem menos impactantes perfície do solo, o que reduz a ger- desenvolvimento da planta e a produ-
para o meio ambiente. minação das sementes de algumas tividade da pimenta-malagueta (Capsicum
espécies; frutescens), consorciada com espécies de
MÉTODOS CULTURAIS b) efeito biológico: a cobertura morta adubos verdes, foram avaliados por Santos
Os métodos culturais caracterizam-se proporciona ambiente favorável et al. (2004a). Foram comparados os adubos
pela eficiente ocupação do espaço agrícola para a proliferação de diversos or- verdes de ciclo anual crotalária (Crotalaria
pela cultura desfavorecendo o estabe- ganismos que podem utilizar as breviflora Roth), lab-lab (Dolichus lablab)
lecimento das plantas daninhas. Assim, estruturas de propagação das plan- e mucuna-anã (Stizolobium deeringianum
todas as práticas culturais que favoreçam tas daninhas como fonte de energia Bort.) e os de ciclo perene puerária (Pueraria
o rápido estabelecimento da cultura da e matéria, provocando sua de- phaseoloide Hoxb.) e calopogônio
pimenta, como bom preparo do solo, adu- terioração e perda de viabilidade; (Calopogonium mucunoides L.) e, ainda,
bação e espaçamento adequados, irrigação c) efeito químico: a lixiviação e a de- uma testemunha sem adubo verde (Fig. 1).
direcionada e utilização de mudas sadias e composição da cobertura morta Todos os tratamentos receberam a mes-
vigorosas, contribuem para o manejo das originam compostos químicos que ma adubação no plantio. A parcela tes-
plantas daninhas. são liberados no meio e podem temunha foi mantida no limpo por meio de
A rotação de culturas deve ser incluída exercer efeito alelopático sobre as capina com enxada e somente ela recebeu
no plano de manejo, para proporcionar plantas daninhas. Alelopatia tem adubação de cobertura, com 120 kg/ha de
mudanças no ambiente onde a lavoura é sido definida como qualquer efeito uréia, parcelada em quatro vezes. Os adu-
conduzida (ALVES; PITELLI, 2001), mo- prejudicial, direto ou indireto, de bos verdes de ciclo anual foram cortados
dificando a dinâmica do banco de semen- uma planta sobre outra pela pro- 110 dias após o transplante das mudas de
tes e, por conseqüência, da comunidade dução de compostos químicos, pimenta e semeados, novamente, 20 dias
de plantas daninhas, por proporcionar normalmente designados alelo- depois nas mesmas parcelas. Já os adubos
diferentes modelos de competição, dis- químicos, que são liberados no meio verdes de ciclo perene foram apenas mane-

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70 Cultivo da pimenta

cânico sobre as plantas daninhas perenes


é baixa (PEREIRA, 2004).

CAPINA
Este método ainda é amplamente uti-
lizado em pequenas propriedades. O pe-
ríodo crítico é de cerca de dois terços do
ciclo da cultura da pimenta, que é de 12
meses para a ‘Malagueta’ (C. frutescens) e
para as pimentas-de-cheiro (C. chinense)
e de oito meses, para a ‘Tabasco’ (C.
A frutescens) e para a ‘Dedo-de-moça’ (C.
baccatum var. pendulum) (CRUZ, 2004).
Para a pimenta-tabasco, no Ceará, são
utilizados, por hectare, 90 serviços com
capinas (CEARÁ, 2005).
A capina com enxada pode afetar o
sistema radicular das plantas de pimenta e

Fotos: Izabel Cristina dos Santos


favorecer a erosão do solo, devendo ser
realizada em dias mais secos para obter
melhor eficiência.

CEIFA
B Em culturas que requerem espaçamen-
Figura 1 - Adubos verdes na entrelinha da cultura da pimenta - EPAMIG - Fazenda tos largos entrelinhas de plantio, uma
Experimental do Vale do Piranga (FEVP), 2003
alternativa de manejo das plantas daninhas
NOTA: A - Calopogônio; B - Puerária. é a ceifa ou roçada, realizada com foice ou
com máquinas. A eficiência da ceifa de-
jados de forma que não venha a invadir as pequenas, com quatro a oito folhas defi- pende das espécies e do estádio de desen-
linhas de plantio da pimenta. Concluiu-se nitivas. Nesse estádio, as plantas daninhas volvimento das plantas daninhas na área
que puerária e calopogônio são pro- podem ser removidas facilmente sem causar e, ainda, da freqüência da ceifa (DURIGAN,
missores para uso em consórcio com a dano à cultura. A eficiência do controle me- 1984; DEUBER, 1992). Dentre os métodos
pimenta, por proporcionarem maior diâ-
metro da copa (Quadro 1) e maior produção QUADRO 1- Médias de altura da planta (ALP), diâmetro da copa paralelo (DCP) e diâmetro da copa
de frutos (Quadro 2), em relação aos demais transversal (DCT) à linha de plantio, de pimenta-malagueta consorciada com adubos
adubos verdes. Por serem perenes, pro- verdes, aos 68 e 208 dias após o transplante - EPAMIG - Fazenda Experimental do
Vale do Piranga (FEVP), 2004
porcionam cobertura do solo durante todo
o ciclo da pimenta, o que reduz ou elimina a ALP DCP DCT
(cm) (cm) (cm)
necessidade de capinas, protege o solo e Tratamento
dificulta a emergência e o estabelecimen- 68 (DAT) 208 (DAT) 68 (DAT) 208 (DAT) 68 (DAT) 208 (DAT)
to das plantas daninhas. Além disso, pro-
Testemunha 54,5 99 58,5 104 60,1 111
movem a reciclagem de nutrientes e aporte
de matéria orgânica. Sendo espécies forra- Puerária 53,5 96 60,5 102 59,6 109

geiras, suportam bem o pisoteio na ocasião Calopogônio 45,3 90 57,8 98 58,8 108
das colheitas. Crotalária 54,0 94 61,2 98 54,3 97
Lab-lab 49,1 81 49,5 80 47,5 87
MÉTODOS MECÂNICOS Mucuna 48,0 95 50,6 88 42,6 90
O cultivo mecânico é mais eficiente, Média 50,73 92,5 56,35 95,00 53,82 100,33
quando as plantas daninhas estão ainda NOTA: DAT - Dias após o transplante.

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Cultivo da pimenta 71

QUADRO 2 - Produção por colheita e produção acumulada (g/planta) de frutos de pimenta perimento, aspecto importante no siste-
malagueta, consorciada com adubos verdes - EPAMIG - Fazenda Experimental do ma orgânico de cultivo. Apesar de pre-
Vale do Piranga (FEVP), 2004
liminares, com base nos resultados deste
Dias após o transplante (DAT) experimento, estes autores recomendam no
Tratamento máximo, 25% de cobertura do solo com
Produção
148 169 190 215 230 239 acumulada
plantas daninhas.

Testemunha 71,29 84,28 46,28 237,77 208,93 112,00 760,55 CULTIVO COM IMPLEMENTOS
Puerária 47,53 100,63 64,62 171,61 126,97 97,00 608,36
No preparo do solo com implementos
Calopogônio 51,80 94,93 50,84 19,50 117,64 139,33 474,04 agrícolas, o controle de plantas daninhas
Crotalária 47,64 55,04 19,71 63,14 78,54 82,50 346,57 ocorre pela exposição do sistema radicular
Lab-Lab 37,01 22,98 9,18 30,77 51,03 91,00 241,97 das plantas ao sol e enterrio de estruturas
vegetativas e reprodutivas. Entretanto, este
Mucuna 52,08 35,72 10,84 42,09 49,46 64,83 255,02
método favorece a erosão do solo, fator
Média 51,22 65,59 33,58 94,15 105,43 97,78 447,75 importante no cultivo da pimenta, que é
realizado, preferencialmente, em áreas de
encostas. Posteriormente, plântulas de
mecânicos, a ceifa, provavelmente, seja o diversidade da vegetação, um dos pre- espécies daninhas anuais ou perenes,
que causa menor impacto ao ambiente, ceitos da agricultura orgânica. Santos et oriundas de sementes, podem ser con-
pois, além de não causar distúrbios na al. (2004b) avaliaram o desenvolvimento da troladas mecanicamente com cultivadores,
superfície do solo, proporciona a formação planta de pimenta em sistema orgânico de os quais, basicamente, rompem o contato
de camada de cobertura vegetal morta que cultivo, no qual realizou-se a ceifa periódica íntimo da plântula com o solo, provocando
protege o solo contra incidência direta do das plantas daninhas, que foram mantidas sua morte ou retardando seu crescimento
sol e da chuva. Durante a decomposição formando faixas de cobertura do solo nas inicial. Plântulas mais desenvolvidas, com
da cobertura vegetal, podem ser liberados entrelinhas de plantio nas seguintes por- maior acúmulo de reservas, podem so-
compostos (aleloquímicos), que exercem centagens: 0% (testemunha mantida no breviver ao impacto do cultivo e voltar a
efeito químico benéfico no controle de limpo), 25%, 50%, 75% e 100% de cobertura crescer. Desse modo, essa operação deve
algumas espécies daninhas. Além disso, da entrelinha (Fig. 2). Aos 68 dias após o ser realizada no momento certo, visando
Alves e Pitelli (2001) ressaltam que a transplante (DAT), não havia diferença garantir eficiência no controle (ALVES;
redução do distúrbio do solo, por si só, entre tratamentos quanto à altura de PITELLI, 2001).
proporciona redução temporária das plantas, ao diâmetro da copa no sentido da Espécies perenes que se propagam ve-
populações de plantas daninhas nos getativamente, como é o caso das trapoe-
linha de plantio e ao diâmetro da copa
agroecossistemas. rabas (Commelina spp.), requerem maior
transversal à linha de plantio. Mas aos 208
O simples fato de não movimentar o atenção, pois podem ser favorecidas pelo
DAT, as maiores médias para as carac-
solo com aradura e gradagem no seu cultivo mecânico. A eficácia do controle
terísticas citadas foram do tratamento
preparo, diminui a germinação de espé- mecânico dependerá, então, da quantida-
mantido com 0% de cobertura, seguido pelo
cies dependentes de luz para o processo de de reservas armazenadas nas plantas
germinativo como, por exemplo, Bidens tratamento mantido com 25% de cobertu-
ra. A produtividade obtida no tratamento daninhas no início das operações, das
pilosa, Galinsoga parviflora e Portulaca
0% de cobertura foi de 7.326 kg/ha de fruto, condições climáticas após o cultivo e da
oleracea (BLANCO; BLANCO, 1991) e,
enquanto a média geral de produtividade capacidade destrutiva do método e do
em três anos, reduz em até 94% as ma-
no experimento foi de 3.726 kg/ha. Apesar implemento utilizado. Por isso, a eficá-
nifestações epígeas de Cyperus rotundus,
da queda na produtividade, há que se con- cia do primeiro controle deve ser acom-
pois sem o uso de implementos para a
siderar na análise do resultado, a economia panhada, visando decidir qual estratégia
movimentação do solo não ocorre a divisão
de mão-de-obra com capina e os benefícios deve ser adotada a seguir, a qual se pode
dos tubérculos, a quebra da dormência e
da dominância apical (JAKELAITIS et al., proporcionados pelas plantas daninhas em basear em dois princípios:
2003). termos de cobertura do solo e de abrigo a) realização de sucessivos cultivos
O manejo das plantas daninhas por para inimigos naturais de pragas da pi- mecânicos em curtos intervalos de
meio da ceifa é especialmente interessante menta, uma vez que não foi utilizado tempo, o que força novas brotações,
em cultivos orgânicos, pois mantém a qualquer tipo de defensivo sintético no ex- exaurindo ao máximo as reservas da

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72 Cultivo da pimenta

A B

C D

Fotos: Izabel Cristina dos Santos


E F
Figura 2 - Faixas de cobertura do solo nas entrelinhas da cultura da pimenta em cultivo orgânico
NOTA: A - Vista geral do experimento; B - 0%; C - 25%; D - 50%; E - 75%; F - 100%.

planta, impedindo-a de voltar a nico podem ser tracionados por tratores para outras culturas, correndo o risco de
acumulá-las (ALVES; PITELLI, ou por animais, dependendo da con- intoxicar a planta e a si mesmo, além de
2001); veniência e da infra-estrutura disponível. contaminar o ambiente. Com o objetivo
b) retirada do material propagativo da de dar subsídio ao estudo de seletivida-
área por meio do arranquio manual CONTROLE QUÍMICO de de herbicidas à pimenta-malagueta,
das plantas-problema, o que só se Santos et al. (2004c) avaliaram 11 her-
Como não há registro de herbicidas para bicidas comerciais, em casa de vegetação
aplica em pequenas áreas. a pimenteira, muitos agricultores utilizam, (Fig. 3).
Os implementos para o controle mecâ- erroneamente, herbicidas recomendados Os herbicidas Trifluralin (Premerlin) na
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Cultivo da pimenta 73

Fotos: Izabel Cristina dos Santos

Figura 3 - Efeito de herbicidas em plantas de pimenta, 74 dias após aplicação (DAA) de Trifluralin, Metribuzin e Metolachlor em pré-
plantio e incorporado (PPI) e 44 DAA dos demais herbicidas – EPAMIG-CTZM, Viçosa-MG, 2003
NOTA: A – Testemunhas; B – Testemunha x Trifluralin PPI; C – Testemunha x Clethodim; D – Testemunha x Metribuzin PPI;
E – Testemunha x Metolachlor PPI; F – Testemunha x Fluazifop-p-butyl; G – Testemunha x Metsulfuron methyl; H – Testemunha
x Metribuzin (0,7 L/ha pós-emergência); I – Testemunha x Sethoxydim; J – Testemunha x Flazasulfuron; K – Testemunha x
Carfentrazone; L – Testemunha x Halosulfuron.

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74 Cultivo da pimenta

dose de 2,0 L/ha, e metolachlor (Dual), na ecológico de plantas daninhas. Informe controle de plantas daninhas: plantio direto
dose de 2,5 L/ha, foram seletivos, quando Agropecuário, Belo Horizonte, v.22, n.212, e convencional. 5.ed. Nova Odessa: Plantarum,
aplicados logo após o enchimento dos p.29-39, set./out. 2001. 2000. 339p.
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Bandeirantes: Fundação Faculdade de Agronomia
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ALVES, P.L. da C.A.; PITELLI, R.A. Manejo LORENZI, H. Manual de identificação e da Ciência das Plantas, São Paulo, v.10, 2004c.

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7.p65 74 28/12/2006, 08:47


Cultivo da pimenta 75

Pragas associadas à cultura da pimenta e


estratégias de manejo
Madelaine Venzon 1
Cláudia Helena Cysneiros Matos de Oliveira 2
Maria da Consolação Rosado 3
Angelo Pallini Filho 4
Izabel Cristina dos Santos 5

Resumo - A identificação dos principais insetos e ácaros passíveis de causarem dano


econômico à cultura da pimenta é a primeira etapa para o sucesso no manejo dessas
pragas. A utilização de medidas de controle preventivas deve ser considerada desde o
plantio e, quando necessário, deve ser utilizado o controle complementar das pragas.

Palavras-chave: Capsicum. Ácaro. Inseto. Variedade resistente. Produto alternativo.


Controle cultural. Controle químico. Controle biológico. Controle mecânico.

INTRODUÇÃO PRAGAS DA PIMENTA mite carregar a pupa da fêmea para que a


cópula seja garantida no momento da
A cultura da pimenta hospeda vários
Ácaros emergência. Devido ao seu tamanho di-
insetos e ácaros-fitófagos. No entanto,
poucos podem ser considerados pragas da O ácaro-branco, Polyphagotarsonemus minuto, a presença do ácaro-branco é fre-
cultura, quer seja pelo tipo de dano oca- latus (Banks) (Acari: Tarsonemidae), é uma qüentemente despercebida no campo,
sionado, quer seja pelos níveis popu- das principais pragas da pimenta e de sendo detectada somente quando a po-
lacionais reduzidos. Além dos fitófagos, no ocorrência freqüente na maioria das áreas pulação já atingiu nível de dano econômico,
agroecossistema da pimenta estão pre- produtoras de pimenta do Brasil. Ocorre danificando severamente às plantas.
sentes vários inimigos naturais que atuam nas regiões tropicais e subtropicais, tendo O ácaro-branco vive na face abaxial das
na regulação populacional desses or- sido registrado em um amplo espectro de folhas da região apical das plantas, as
ganismos. O sucesso do manejo de pragas hospedeiros, incluindo culturas de impor- quais se tornam curvadas para baixo,
da pimenta depende da correta identi- tância econômica como algodão, mamão, ressecadas e bronzeadas e podem cair pre-
ficação desses artrópodos e da associação feijão, tomate e pimentão, além da pimenta maturamente (Fig. 2). Além disso, pode
de estratégias de controle preventivas e (GERSON, 1992; SILVA et al., 1998; VIEIRA; causar deformidades e queda nas flores
complementares a serem utilizadas no caso CHIAVEGATO, 1998; COLIER et al., 2004). e frutos (SCHOONHOVEN et al., 1978;
de ocorrer aumento populacional das pra- As fêmeas de P. latus medem cerca de GERSON, 1992). O desenvolvimento de P.
gas. Neste artigo são abordadas as prin- 0,17 mm de comprimento por 0,11 mm de latus é favorecido pela combinação de
cipais características das pragas mais im- largura (Fig. 1). Os machos são menores, temperatura e umidade altas, associadas à
portantes da pimenta e as estratégias de medem cerca de 0,14 mm de comprimento, baixa luminosidade. Sua disseminação é
controle com resultados referendados pela por 0,08 mm de largura e possuem o quarto feita pelo vento, por estruturas vegetais
pesquisa. par de pernas avantajado, o que lhes per- infestadas e transportadas de uma área para

1
Enga Agra, Ph.D., Pesq. EPAMIG-CTZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: venzon@epamig.ufv.br
2
Bióloga, D.Sc., Pesq. UFRPE - Unidade Acadêmica de Serra Talhada, Fazenda Saco, s/n, CEP 56900-000 Serra Talhada-PE. Correio eletrônico:
ccyne@hotmail.com.br
3
Enga Agra, Mestranda, UFV - Depto Biologia Animal, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: mcrosado@insecta.ufv.br
4
Engo Agro, Ph.D., Prof. UFV - Depto Biologia Animal, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: pallini@mail.ufv.br
5
Enga Agra, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTZM, Caixa Postal, 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: icsantos@epamig.ufv.br

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.75-86, nov./dez. 2006

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76 Cultivo da pimenta

Tetranychus evansi Baker and Pritchard


(Acari: Tetranychidae). Fêmeas de T.
urticae apresentam o corpo ovalado e os
machos possuem a extremidade posterior
do corpo mais estreita. Os adultos medem
cerca de 0,3 mm de comprimento, possuem
coloração geral esverdeada e, nas fêmeas,
observa-se a presença de duas manchas
dorsais verde-escuras. Os adultos de T.
ludeni possuem coloração vermelha-
intensa; as fêmeas (0,45 mm de comprimento
por 0,23 de largura) são maiores que os

Cláudia Helena Cysneiros Matos de Oliveira


machos (0,26 mm de comprimento por
0,15 mm de largura). Fêmeas adultas de T.
evansi medem cerca de 0,5 mm de
comprimento, possuem o corpo ovalado,
de coloração laranja-avermelhada, com
duas manchas laterais escuras (Fig. 3). Os
machos são menores e de coloração ala-
ranjada.
Figura 1 - Ácaro-branco Polyphagotarsonemus latus

José Lino Neto

Figura 3 - Ácaro-vermelho Tetranychus


evansi
Madelaine Venzon

O ácaro-rajado e os ácaros-verme-
lhos vivem na página inferior das folhas,
Figura 2 - Planta de pimenta infestada pelo ácaro-branco onde tecem teias e depositam os seus ovos.
Temperaturas elevadas e baixo teor de umi-
outra, de forma natural pelo contato entre Outras espécies de ácaros que ocorrem dade favorecem o seu desenvolvimento.
a folhagem das plantas e ainda pela relação na cultura da pimenta, porém com im- Os danos causados por essas espécies são
forética com pulgões e com a mosca-branca portância secundária, são o ácaro-rajado semelhantes (FRANÇA et al., 1984): clorose
(HUGON, 1983; FAN; PETITT, 1998; Tetranychus urticae Koch e os ácaros- generalizada das folhas, sendo as nervuras
PALEVSKY et al., 2001). vermelhos Tetranychus ludeni Zacher e mantidas mais verdes; aparecimento de teia
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.75-86, nov./dez. 2006

artigo8.p65 76 22/12/2006, 10:20


Cultivo da pimenta 77

envolvendo uma ou mais folhas; queda


acentuada das folhas e morte das plantas,
em ataques severos.

Insetos

Pulgões
As principais espécies de pulgão, que
ataca as plantas de pimenta, são o pulgão-
verde, Myzus persicae Shulzer, o pulgão-
do-algodoeiro, Aphis gossypii Glover, e o
pulgão-das-solanáceas, Macrosiphum
euphorbiae (Thomas) (Homoptera:
Aphididae). A primeira espécie é polífaga,
cosmopolita e pode transmitir mais de 100
vírus em diversas culturas (BLACKMAN;

Madelaine Venzon
EASTOP, 1984). Os adultos de M. persicae
medem cerca de 2 mm, sendo a forma ápte-
ra de coloração geral verde-clara (Fig. 4) e
a forma alada de coloração verde, com ca-
beça, antena e tórax pretos. As ninfas são Figura 4 - Pulgão-verde Myzus persicae
de coloração verde a marrom-avermelhado.
O pulgão A. gossypii apresenta ampla
distribuição mundial e encontra-se asso- minado honey-dew, o qual deixa as folhas 1999). Ataca, além das solanáceas, algodão,
ciado a culturas de grande importância pegajosas e meladas. Nesse meio, há o amendoim, sorgo, cebola e diversas
econômica. É também uma espécie polífaga desenvolvimento de fungos, principal- plantas ornamentais (PALMER et al., 1989).
e capaz de transmitir mais de 50 vírus de mente do gênero Capnodium, que podem Possui coloração variável de marrom a
plantas (BLACKMAN; EASTOP, 1984). São recobrir folhas e ramos, conferindo-lhes um preto e mede cerca de 1,4 mm de compri-
insetos pequenos (1-2 mm), de coloração aspecto de fuligem escura, a fumagina. mento. As formas jovens possuem colo-
que varia do amarelo-claro ao verde-escuro. Essas plantas podem reduzir a produção, ração mais clara que a dos adultos.
O pulgão das solanáceas, M. euphorbiae, é devido à diminuição da taxa fotossintética. Os tripes são insetos raspadores-
o maior das três espécies que ocorrem na Além desses danos, os pulgões podem sugadores. Sugam a seiva das folhas, das
pimenta. Tem sido encontrado em 50 tipos transmitir o vírus do mosaico-do-pimentão. brotações e dos botões florais. Em con-
de plantas e é vetor de mais de 40 vírus. As plantas infectadas por esse vírus seqüência da sua alimentação, ocorre o
As formas ápteras medem cerca de 3,5 mm, apresentam redução no crescimento, folhas superbrotamento da planta, encarqui-
apresentam coloração verde-claro e pos- encrespadas com mosaico acentuado, lhamento das folhas e quedas das flores;
suem as pernas e os sifúnculos com as redução da qualidade dos frutos e prejuízos os frutos atacados ficam deformados, sem
extremidades escurecidas. As formas aladas na produção (FRANÇA et al., 1984). brilho e ásperos. Além desses danos di-
são maiores (cerca de 4 mm), de coloração retos, os tripes podem causar danos in-
verde-claro a verde-escuro, com antenas Tripes diretos através da transmissão do vírus do
ultrapassando o tamanho do corpo. As principais espécies de tripes asso- vira-cabeça-do-tomateiro. Os sintomas
As três espécies de pulgão atacam as ciadas à cultura da pimenta são Thrips mais comuns dessa virose são (FRANÇA
folhas e os ramos novos das plantas de palmi Karny e Frankliniella schultzei et al., 1984): mosaico amarelo, faixa verde
pimenta, sendo que A. gossypii ataca Trybom (Thysanoptera: Thripidae). O nas nervuras e anéis concêntricos nas fo-
também os botões florais e as flores. As tripes T. palmi ataca solanáceas, cucur- lhas, paralisação do crescimento e de-
folhas tornam-se enroladas, encarqui- bitáceas e plantas ornamentais. São insetos formação dos frutos. Os prejuízos variam
lhadas e os brotos ficam curvos e acha- de coloração amarelada a marrom-claro, de acordo com a época de ataque. Plantas
tados. Devido à sucção contínua de seiva, cujos adultos possuem asas franjadas e infectadas na sementeira ou logo após o
pode ocorrer o retardamento do cresci- medem cerca de 1 mm de comprimento. A transplantio têm a produção totalmente
mento da planta. A sucção contínua dos espécie F. schultzei é considerada uma das comprometida. Plantas infectadas tar-
pulgões pode provocar também a eli- espécies de tripes mais importantes em diamente têm sua produção quantitativa e
minação de um líquido açucarado deno- várias regiões do Brasil (NAGATA et al., qualitativa menos afetadas.
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78 Cultivo da pimenta

Mosca-branca
A mosca-branca, Bemisia tabaci
(Genn.) (Homoptera: Aleyrodidae), ataca
uma ampla diversidade de hospedeiros,
dentre estes incluem-se solanáceas, cu-
curbitáceas, brássicas, leguminosas, al-
godão, mandioca, alface e quiabo, além de
plantas ornamentais, daninhas e silvestres
(VILLAS BÔAS et al., 1997). São insetos
pequenos de 1 mm de comprimento, com
quatro asas membranosas recobertas com
pulverulência branca. Os ovos são co-
locados na página inferior das folhas e as
ninfas passam a sugar a seiva das folhas.
Os danos causados pela mosca-branca
podem ser diretos, devido à sucção de

Madelaine Venzon
seiva e ao favorecimento do aparecimento
da fumagina (semelhante aos pulgões), e
indiretos, devido à transmissão de viro-
ses.
Figura 5 - Frutos de pimenta danificados pela broca-do-fruto-da-pimenta Gnorimoschema
barsaniella e pela mosca Neosilba sp.
Broca-do-ponteiro e do fruto-
da-pimenta
Esta broca, Gnorimoschema barsaniella Mosca do pimentão Lagarta-rosca
(Lepidoptera: Gelechiidae), é uma das A mosca Neosilba sp. (Diptera: Lon- Os adultos de Agrotis ipsilon (Huf-
pragas mais importantes da pimenta. chaeidae) oviposita nos orifícios de saída nagel) (Lepidoptera: Noctuidae) são ma-
Ocorre na maioria das regiões produtoras das lagartas da broca-do-fruto-da-pimenta. riposas (35 mm de envergadura) de asas
e causa sérios prejuízos na produção. Os Os adultos são moscas de coloração preto- anteriores marrons com manchas pretas e
adultos são mariposas de cor cinza-escuro brilhante e medem cerca de 6 mm de com- posteriores semitransparentes. As lagartas
e cabeça marrom-claro, cujo comprimen- primento (Fig. 6). As larvas são brancas, podem atingir 45 mm de comprimento e
to pode alcançar até 6 mm. A postura é feita vermiformes e medem de 7 a 9 mm de com- possuem coloração pardo-acinzentada-
no interior dos botões florais ou ex- primento. Alimentam-se do interior dos escuro. Possuem hábito noturno, quando
tremidade das brotações e ponteiro, iso- frutos, o que favorece o apodrecimento cortam as plantas ao nível do solo. Durante
ladamente ou em grupos de dois e três ovos destes (Fig. 5). Os prejuízos são os mes- o dia ficam abrigadas no solo, próximas às
(FRANÇA et al., 1984). As lagartas são de plantas cortadas. O período mais prejudicial
mos causados pela broca-do-fruto-da-
coloração rosada e medem de 5 a 7 mm. às plantas de pimenta é logo após o trans-
pimenta.
Vivem no interior das hastes ou ponteiro e
plantio, quando as plantas estão em fase
no interior de flores e frutos. Nestes, ali-
de pegamento. No entanto, seus danos
mentam-se das sementes. Segundo França
podem também ser observados em plantas
et al. (1984), os frutos atacados pela praga
maiores, através do corte dos ponteiros
desprendem-se das plantas, tão logo é ini-
(FRANÇA et al., 1984). No caso de ataques
ciada a maturação e, em certos casos, há
iniciais intensos, pode haver necessidade
formação de uma camada bastante espessa
de replantio.
de frutos caídos sob a copa das plantas.
Os frutos danificados que conseguem
Outros insetos
manter-se na planta, mesmo os maduros,
ou aqueles que são colhidos enquanto co- Além dos insetos citados, outros po-
José Lino Neto

lonizados pelas lagartas, concorrem para a dem ocasionalmente causar danos à cultura
deterioração de lotes inteiros de frutos da pimenta. Ressalta-se, porém, que sua
colhidos e embalados, causando grandes importância é secundária e não é necessária
prejuízos (Fig. 5). Figura 6 - Mosca-do-pimentão Neosilba sp. a utilização de medidas de controle.
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Cultivo da pimenta 79

Algumas espécies de coleópteros po- ESTRATÉGIAS PARA O MANEJO Ceraeochrysa cubana (Hagen)
dem danificar as raízes e folhas da pimenta. DE PRAGAS DA PIMENTA (Neuroptera: Chrysopidae) e sirfídeos têm
Normalmente, os danos às raízes são de sido encontrados com freqüência em
pouca importância; já a desfolha pro- Controle biológico plantações de pimenta da Zona da Mata
vocada pela alimentação dos adultos pode O controle biológico natural das pragas de Minas Gerais, especialmente onde o
ser significativa, quando ocorrer em plan- da pimenta é realizado por diversas espécies uso de defensivos é reduzido ou ausente.
tas nas sementeiras ou nas recém-trans- de inimigos naturais. Os ácaros-predadores Algumas dessas espécies alimentam-se
plantadas para o campo (FRANÇA et al., da família Phytoseiidae são os principais também de ácaros e de tripes. Dentre os
1984). A vaquinha Diabrotica speciosa inimigos naturais dos ácaros-fitófagos parasitóides mais importantes associa-
(Germ.) (Coleoptera: Chrysomelidae) e o (MORAES, 2002). Na cultura da pimenta, dos aos pulgões, estão Aphidius colemani
burrinho Epicauta suturalis (Germ.) diversas espécies de ácaros-predadores Viereck e Lysiphlebus testaceipes
(Coleoptera: Meloidea) são as espécies são encontradas, sendo Amblyseius (Cresson) (Hymenoptera: Aphidiidae)
mais comuns que podem causar esse tipo herbicolus (Chant) (Acari: Phytoseiidae) (RODRIGUES; BUENO, 2001; SAMPAIO
de dano à pimenta. uma das mais abundantes na Zona da Mata et al., 2001).
Outros coleópteros com potencial de mineira (Fig. 7). Esse predador tem uma alta Para a manutenção e aumento dos
dano à cultura da pimenta são os bro- capacidade de consumo de P. latus em inimigos naturais no agroecossistema da
queadores de caule. As espécies mais co- plantas de Capsicum spp. De acordo com pimenta, são necessárias práticas que
muns são Agathomerus flavomaculatus Matos (2006), uma fêmea adulta de A. favoreçam o aumento de suas populações.
(Klug) (Coleoptera: Megalopodidae), herbicolus é capaz de predar em média 51,75 Essas práticas incluem a diversificação
Faustinus cubae (Boheman) e Heilipodus a 66,6 ovos e 34,2 a 40,5 adultos de P. latus da vegetação nos plantios, através da
destructor Olin. (Coleoptera: Curcu- por dia. utilização de espécies fornecedoras de
lionidae). Larvas dessas espécies vivem Várias espécies de insetos- alimento alternativo (ex. crotalária) (VEN-
dentro das raízes, caules e hastes da pi- entomófagos estão associadas aos pulgões ZON et al., 2006a); a manutenção de áreas
menta, abrem galerias em conseqüência da M. persicae, A. gossypii e M. euphorbiae. de vegetação natural próximas aos plan-
sua alimentação. As plantas atacadas ficam Os predadores Cycloneda sanguinea L. tios; a utilização criteriosa de defensivos,
amareladas, enfraquecidas e podem morrer. (Fig. 8), Eriopis connexa (Germar) os quais só devem ser utilizados como
Em ataques de A. flavomaculatus pode-se (Coleptera: Coccinellidae) (Fig. 9), estratégia complementar às outras práticas
observar o corte dos ramos. Chrysoperla externa (Hagen) (Fig. 10), de controle de pragas. Ressalta-se que, ao
Algumas espécies de moscas-
minadoras (Liriomyza spp.) podem,
ocasionalmente, causar danos à cultura da
pimenta. As larvas dessas moscas fazem
minas serpenteadas nas folhas, o que
provoca secamento e queda foliar. As
plantas e frutos atacados apresentam
regiões cloróticas.
Segundo França et al. (1984), algumas
espécies de percevejos como Acroleucus
coxalis Stal. (Hemiptera Lygaeidae), Phthia
picta ( D r u r y ) e C o r e c o r i s f u s c u s
(Thumberg) (Hemiptera, Coreidae),
Cláudia Helena Cysneiros Matos de Oliveira

Corythaica cyathicollis (Costa) e C.


monacha (Stal) (Hemiptera, Tingidae)
podem, eventualmente, causar danos à
pimenta. Esses são devidos à sucção dos
frutos e da planta pelas ninfas e adultos
dos percevejos. Além da depreciação,
devido à alimentação desses insetos, os
frutos danificados são mais facilmente
colonizados por fungos, levando-os ao
murchamento e apodrecimento. Figura 7 - Ácaro-predador Amblyseius herbicolus

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80 Cultivo da pimenta

se diversificar o plantio, devem ser


escolhidas plantas que não hospedem as
mesmas pragas da pimenta ou que não
ofereçam ambiente que favoreça o seu
desenvolvimento. Em experimento
realizado na Zona da Mata mineira, ve-
rificou-se que, dentre vários adubos verdes
testados para a diversificação dos plan-
tios de pimenta-malagueta, o calopogônio
(Calopogonium mucunoides) foi a única
espécie que proporcionou aumento na

Amanda Fialho
porcentagem de frutos danificados pela
broca-do-fruto-da-pimenta G. barsaniella
e pela mosca Neosilba sp. (Gráfico 1).

Figura 8 - Predador Cycloneda sanguinea Variedades resistentes


Trabalhos com pimenta, visando à re-
sistência de pragas, são escassos. No caso
específico de ácaros, as informações re-
sumem-se apenas a listas das espécies pos-
sivelmente resistentes a esses organismos,
sem relatar as possíveis causas dessa re-
sistência (ECHER et al., 2002; LIMA et al.,
2003). A arquitetura e características físicas
das folhas podem ser elementos asso-
ciados ao processo de resistência na pi-
menta. As plantas de Capsicum variam
consideravelmente quanto às caracte-
rísticas de suas folhas, havendo desde es-
Amanda Fialho

pécies com folhas glabras a espécies


cobertas por tricomas (Quadro 1 e Fig. 11).
A presença de domácias nas folhas tam-
bém é importante. Essas estruturas são
Figura 9 - Predador Eriopis connexa
representadas por tufos de pêlos loca-
lizados na junção das nervuras principal e
secundárias, na face abaxial das folhas.
Servem como local de oviposição para
ácaros-predadores e fungívoros, atuando
como refúgio contra seus inimigos naturais
e favorecendo a sobrevivência dos pre-
dadores (KARBAN et al., 1995; NORTON
et al., 2001; MATOS et al., 2004).
A resistência de determinadas espécies
de plantas ao ataque de ácaros pode estar
associada à presença e densidade de
tricomas e de domácias nas suas folhas.
Folhas de Capsicum totalmente lisas -
José Lino Neto

classe de pilosidade 1 (Quadro 1) propor-


cionaram uma redução na taxa de cres-
cimento populacional do ácaro-branco P.
Figura 10 - Larva-do-predador Chrysoperla externa latus, sendo observado o mesmo em folhas
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.75-86, nov./dez. 2006

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Cultivo da pimenta 81

totalmente pilosas - classe de pilosidade 5


(Quadro 1 e Fig. 11). As maiores taxas de
crescimento populacional desse áca-
ro foram observadas nas espécies de
Capsicum, com pilosidade intermediária -
classes de pilosidade 2 e 3 (Quadro 1 e
Fig. 11) (MATOS, 2006).

Produtos alternativos
Extratos de plantas com potencial
inseticida têm sido utilizados em sistemas
de produção onde não é permitido o uso
de agrotóxicos, como na produção or-
gânica. Uma das espécies de planta mais
pesquisada para o controle de pragas é a
Meliaceae Azadirachta indica A. Juss,
Gráfico 1 - Porcentagem total de frutos de pimenta-malagueta danificados pela broca- conhecida como nim. A azadirachitina,
do-fruto-da-pimenta (Gnorimoscherma barsaniella) e pela mosca Neosilba encontrada principalmente nas sementes e
sp. em plantio diversificado com adubos verdes e em parcelas adubadas em menor quantidade na casca e nas fo-
com N mineral lhas do nim, é o principal composto res-
FONTE: Dados básicos: Venzon et al. (2004b). ponsável pelos efeitos tóxicos aos insetos

QUADRO 1 - Características das folhas de Capsicum spp. quanto à presença de tricomas e domácias

Características da folha Classificação

Tricomas
Nome Nome Domácias
(densidade/5 cm2) Total de tricomas
científico comum
(densidade/5 cm2) Classes de
(limbo+nervura+ tricomas Caracterização geral
Densidade/ No de pêlos/ domácias)
Limbo Nervura
15cm2 domácia

(1)
C. baccatum Dedo-de-moça 0B 0D 0C 0E 0D 1 Folha totalmente glabra, sem domácias
nem tricomas no limbo ou nervuras.

(1)
C. frutescens Malagueta 0B 0,5 D 5,16 B 8,22 D 8,72 D 2 Folha glabra com domácias apresentando
tricomas esparsos sem formar uma
cavidade definida.

(2)
C. chinense Bode 0,28 B 45,83 C 5,36 B 26,68 C 73,61 C 3 Folha glabra com domácias definidas
formando cavidades parcialmente
recobertas por tricomas.

(1)
C. annuum Chapéu-de-bispo 1,65 B 179,05 B 5,4 B 31,00 B 211,70 B 4 Folha glabra apresentando tricomas
apenas ao longo da nervura central;
domácias definidas formando cavidades
fechadas, obstruídas por tricomas.

(2)
C. praetermissum Cumari 604,45 A 235,85 A 8,15 A 59,88 A 900,18 A 5 Folha coberta por tricomas, tanto no limbo
como ao longo das nervuras principal e
secundárias; domácias formando cavidades
fechadas, obstruídas por tricomas.

FONTE: Matos (2006).


NOTA: Médias seguidas de letra maiúscula na coluna não diferem a 5% de probabilidade pelo teste Tukey.
(1)Genótipos comerciais. (2)Genótipos provenientes do banco de germoplasma da EPAMIG-CTZM, Viçosa-MG.

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82 Cultivo da pimenta

Fotos: Cláudia Helena Cysneiros Matos de Oliveira


C

Figura 11- Aspecto das folhas de pimenta quanto às caracte-


rísticas morfológicas

NOTA: A - Capsicum baccatum; B - Capsicum frutescens;


C - Capsicum chinense; D - Capsicum annuum;
E - Capsicum praetermissum
E

(SCHUMUTTERER, 1990; MORDUE; deterrência alimentar, interrupção do cres- (SCHUMUTTERER, 1990; MORDUE;
NISBET; 2000). Os efeitos da azadirachiti- cimento, interferência na metamorfose, es- NISBET, 2000; MARTINEZ; EMDEN,
na sobre os insetos incluem repelência, terilidade e anormalidades anatômicas 2001). Além disso, os produtos derivados

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.75-86, nov./dez. 2006

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Cultivo da pimenta 83

do nim têm as vantagens de ser prati-


camente não tóxicos ao homem e rapi-
damente degradados no solo e nas plantas
(ISMAN, 2006).
O extrato de semente de nim
(NeemAzalTM T/S que contém 10 g/L de
azadirachitina) teve efeito inseticida so-
bre o pulgão M. persicae, quando pul-
verizado em plantas de pimenta. Em
experimento de laboratório, foi verifica-
da alta mortalidade de adultos e ninfas do
pulgão em plantas previamente pul-
verizadas com 0,5% e 1% do extrato (VEN-
ZON et al., 2004a). O extrato aquoso de
sementes de nim causou alta mortalida-
de de ninfas de A. gossypii e reduziu a
sobrevivência e a fecundidade dos adul- Gráfico 2 - Taxa instantânea de crescimento populacional de Polyphagotarsonemus latus
tos do pulgão (SANTOS et al., 2004). Além em plantas de pimenta tratadas com diferentes concentrações do extrato de
desses efeitos letais e subletais, é possí- semente de nim (NeemAzal)
vel também que haja redução significativa
na transmissão de viroses por pulgões,
quando as plantas são tratadas com pro- descascadas e prensadas obtém-se 0,5 L ser adicionados 12,5 kg de cal virgem. Após
dutos à base de azadirachitina, como de- de óleo inseticida, com 0,1 % de aza- o início da fervura, mexer durante uma hora
monstrado pelos trabalhos de Heuvel et al. dirachitina. e sempre completar com água fria até o nível
(1998) e Nisbet et al. (1996). Outras plantas da família Meliaceae de 100 L. Quando a coloração da calda
Para o ácaro-branco P. latus, doses também possuem atividade inseticida. tornar-se pardo-avermelhada retirar do
crescentes do extrato de semente de nim Souza e Vendramim (2001) verificaram que fogo e deixar esfriar. Finalmente, deve-se
(NeemAzalTM T/S) provocaram redução da os extratos dos frutos e das folhas de ci- coar em pano de algodão, diluir e aplicar. O
taxa instantânea de crescimento po- namomo Melia azedarach e dos ramos de uso de concentrações muito altas da calda
pulacional, sendo que valores negativos Trichilia pallida tiveram ação inseticida deve ser evitado, devido aos problemas de
foram obtidos, quando a concentração do sobre ovos e ninfas da mosca-branca B. fitotoxicidade e ao efeito adverso sobre os
produto foi acima de 0,13 g de azadirachiti- tabaci. ácaros-predadores (VENZON et al., 2005).
na por litro, o que significa que a população Além dos extratos de plantas, outros A calda viçosa, uma mistura de sulfato
está-se extinguindo (Gráfico 2) (ROSADO produtos alternativos que podem ser uti- de cobre, cal e micronutrientes, mostrou
et al., 2004). A azadirachitina tem sido lizados para o controle de pragas e doenças eficiência na redução populacional de P.
relatada também como eficiente no controle são as caldas fitoprotetoras. A calda sul- latus, tanto no laboratório, como no campo,
de ácaros tetraniquídeos, como o ácaro- focálcica a 0,3% foi eficiente em reduzir, em quando pulverizada sobre plantas de pi-
rajado T. urticae (MAKUNDI; KASHEN- laboratório, a população de P. latus em menta-malagueta (VENZON et al., 2006b).
GE, 2002). plantas de pimenta (VENZON et al., 2006b). Essa calda é recomendada para pimenta no
Existem no mercado nacional, vários As propriedades acaricidas e inseticidas controle de doenças como a cercosporiose,
produtos à base de nim. O extrato de da calda sulfocálcica são resultantes da além de ter ação complementar na nutrição
semente de nim pode também ser produzido reação dos compostos da calda aplicada da planta. Segundo Penteado (2000), o
de forma simples e a baixo custo. Segundo sobre a planta com a água e o gás carbô- processo de preparação de 100 L da calda
Martinez (2002), o processo de preparação nico, resultando em gás sulfídrico e enxofre viçosa consiste nos seguintes passos:
do extrato de nim consiste em triturar 30 a coloidal. Segundo Penteado (2000), para o dissolver 500 g de sulfato de cobre (25%
40 g de sementes secas de nim em um litro preparo de 100 L da calda, devem-se de Cu), 300 g de sulfato de zinco (21,9% de
de água. Posteriormente, a mistura deve misturar 25 kg de enxofre ventilado com Zn), 200 g de sulfato de magnésio (16-17%
descansar durante 12 h. O líquido obtido é água quente até adquirir consistência de MgO), 400 g de sulfato de potássio (50%
filtrado e está pronto para uso. O óleo pastosa. Posteriormente, adicionam-se à de K2O) e 100 g de ácido bórico (17,5% de
emulsionável é retirado das sementes, que pasta de enxofre, 80 L de água e aquece-se B) em 50 L de água. Em outro recipiente,
têm 40% de óleo. De cada 4 kg de sementes a mistura até cerca de 50oC, quando devem com 50 L de água, dissolver 500 g de cal
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84 Cultivo da pimenta

virgem (88% de CaO) até formar o “leite de se fazer a sementeira em local limpo e utili- mão-de-obra de aplicação, do valor do
cal”; despejar o conteúdo do primeiro zar cobertura de casca de arroz, a qual tem produto agrícola no mercado) não seja
recipiente sobre o “leite de cal”. Misturar efeito repelente. Uma medida eficiente para superior ao dano causado pela praga.
bem até a coloração tornar-se azul-celeste. reduzir as populações da broca-do-fruto- Existem poucos produtos registrados no
Embora não existam resultados cien- da-pimenta e da mosca-do-pimentão é a Ministério da Agricultura, Pecuária e
tíficos sobre o efeito dos produtos alter- catação e destruição dos frutos encon- Abastecimento (MAPA), para o controle
nativos citados para outras pragas da trados debaixo das plantas. de pragas da pimenta (Quadro 2). Esses
pimenta, além dos ácaros e pulgões, é pos- Para impedir ou retardar a entrada de devem ser utilizados, considerando-se as
sível que esses produtos sejam eficientes adultos da mosca-branca e de insetos- doses recomendadas, os períodos de ca-
também para o controle de outros insetos vetores de viroses na cultura da pimenta, rência e as demais informações contidas
e ácaros. Além da eficiência para o grupo podem ser utilizadas barreiras vivas. nos rótulos dos produtos. Os defensivos
de pragas relatado, os produtos alter- Segundo Villas Bôas (2005), as barreiras devem ser armazenados em lugar adequado
nativos possuem custo reduzido, são de devem ser perpendiculares à direção e durante a aplicação dos produtos é indis-
fácil obtenção pelos produtores, de baixa predominante do vento e, quando possí- pensável o uso de equipamentos de pro-
toxicidade ao homem e ao meio ambiente. vel, rodear a lavoura. Podem ser utiliza- teção individual (EPI). O produtor deve
No entanto, dependendo da dosagem e das plantas como sorgo forrageiro, milho e fazer uso dos agrotóxicos apenas com a
formulação, alguns desses produtos po- cana-de-açúcar. devida receita expedida por um engenheiro
dem apresentar fitotoxicidade e afetar agrônomo.
negativamente algumas espécies de ini- Controle químico
migos naturais. Assim, recomenda-se o uso Inseticidas e acaricidas devem ser uti- CONSIDERAÇÕES FINAIS
criterioso dos produtos alternativos dentro lizados somente quando a população de A cultura da pimenta tem crescido em
das especificações técnicas para cada pragas atingir níveis capazes de ocasionar importância econômica no estado de Minas
espécie de pragas e em época de ocorrência dano econômico. A simples presença da Gerais e no Brasil. Com isso, as áreas de
de populações crescentes delas, evitando- praga ou do seu dano na planta não deter- cultivos têm aumentado e áreas de plantio
se o uso desses produtos preventivamente. mina que se aplique agrotóxico. Para se contínuos têm-se avolumado dando ori-
aplicar um agrotóxico, deve-se proceder an- gem a monoculturas em algumas regiões.
Controle cultural e mecânico
tes à amostragem das pragas no campo e Como em toda monocultura, a natureza da
A rotação de culturas, a erradicação de comparar a população encontrada com a área de exploração é simplificada, devido à
plantas que sejam hospedeiras das mesmas densidade populacional que causaria dano eliminação da diversidade de outras plantas
pragas da pimenta em área próxima ao econômico. Deve-se fazer aplicação antes e com isso ocorre diminuição de inimigos
plantio e a destruição de restos culturais da praga atingir o nível de dano econômico. naturais e aumento de pragas especialistas
são medidas importantes que contribuem O agricultor deve estar ciente que um certo na cultura. Isso é o que vem acontecendo
para a redução populacional de diversas dano em algumas poucas plantas não em áreas onde se explora continuamente a
pragas da pimenta, especialmente os in- significa dano econômico. O dano eco- cultura da pimenta. Neste trabalho foram
setos-vetores de viroses. Para auxiliar o nômico é aquele no qual o custo da ope- relatadas espécies de insetos e ácaros que
controle de pulgões e tripes, recomenda- ração de controle (custo do agrotóxico, da já causam considerável dano em algumas

QUADRO 2 - Inseticidas e acaricidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para o controle de pragas da pimenta - 2006

Carência Classe
Nome técnico Nome comercial Indicação Dose
(dias) toxicológica

Carbaryl Sevin 480 SC Lagarta-rosca, tripes, 225 mL/100 L de água 3 II


vaquinhas e percevejos

Enxofre Thiovit Sandoz Ácaro-branco e 200 g/100 L de água Sem restrições IV


ácaro-vermelho

Pirimicarb Pi-rimor 500 PM Pulgões 100 g/100 L de água 3 II

NOTA: I - Extremamente tóxico; II - Altamente tóxico; III - Medianamente tóxico; IV - Pouco tóxico.

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artigo8.p65 84 22/12/2006, 10:20


Cultivo da pimenta 85

regiões. Algumas espécies já desenvol- the world’s crops: an identification guide. agrumes aux Antilles. Fruits: fruits d’outre-mer,
veram resistências a agrotóxicos comu- Chichester: J. Wiley, 1984, 466p. Paris, v.38, n.9, p.635-646, sept. 1983.
mente utilizados na região. COLLIER, K.F.S.; LIMA, J.O.G. de; ISMAN, M.B. Botanical insecticides, deterrents,
O produtor, para ter uma cultura lu- ALBUQUERQUE, G.S. Predacious mites in and repellents in modern agriculture and an
crativa, precisa saber manejar o agroecos- papaya (Carica papaya L.) orchards: in search of increasingly regulated world. Annual Review of
sistema explorado e tentar aumentar a a biological control agent of phytophagous mite Entomology, Palo Alto, v. 51, p. 45-66, Jan.
pests. Neotropical Entomology, Londrina, v.33, 2006.
diversidade de plantas e da entomofauna.
n.6, p.799-803, Nov./Dec. 2004
Para isso, é imperativo conhecer o ciclo KARBAN, R.; ENGLISH-LOEB, G.; WALKER,
ECHER, M.M.; FERNANDES, M.C.A.; M.A.; THALER, J. Abundance of phytoseiid mites
biológico dos potenciais artrópodos que
RIBEIRO, R.L.D.; PERACCHI, A.L. Avaliação on Vitis species: effects of leaf hairs, domatia,
ocorrem na localidade e manejar o meio de
de genótipos de Capsicum para resistência ao prey abundance and plant phylogeny.
maneira que permita a sustentabilidade do ácaro branco. Horticultura Brasileira, Brasília, Experimental and Applied Acarology,
sistema, que é garantida com medidas que v.20, n.2, p.217-221, jun. 2002. Amsterdam, v.19, n.4, p.189-197, Apr. 1995.
foram aqui apresentadas como o controle
FAN, Y.; PETITT, F.L. Dispersal of the broad LIMA, M.L. da P.; MELO FILHO, P. de A.; CAFÉ
biológico, uso de variedades resistentes, mite, Polyphagotarsonemus latus (Acari: FILHO, A.C. Colonização por ácaros em
uso de práticas culturais e mecânicas e uso Tarsonemidae) on Bemisia argentifolii genótipos de pimentas e pimentões em cultivo
de produtos alternativos no controle das (Homoptera: Aleyrodidae). Experimental and protegido. Ciência Rural, Santa Maria, v.33,
pragas listadas. Essas medidas todas Applied Acarology, Amsterdam, v.22, n.7, n.6. p.1157-1159, nov./dez. 2003.
devem ser priorizadas antes de lançar mão p.411-415, July 1998.
MARTINEZ, S.S. (Ed.). O Nim - Azadirachta
do uso dos agrotóxicos. FRANÇA, F.H.; BARBOSA, S.; ÁVILA, A.C. indica: natureza, usos múltiplos, produção.
Portanto, o agricultor tem como con- Pragas do pimentão e da pimenta: características Londrina: IAPAR, 2002. 142p.
viver com as pragas sem deixá-las atingir o e métodos de controle. Informe Agropecuário,
_______; EMDEN, H.F. van. Growth disruption,
nível de dano econômico. Mas, para isso, Belo Horizonte, ano 10, n.113, p.61-67, maio
abnormalities, and mortality of Spodoptera
1984.
ele deve planejar a exploração de sua la- littoralis (Boisduval) (Lepidoptera: Noctuidae)
voura com o preparo do solo para plantio. GERSON, U. Biology and control of the broad caused by azadirachtin. Neotropical
É nessa hora que se deve escolher qual a mite, Polyphagotarsonemus latus (Banks) (Acari: Entomology, Londrina, v.30, n.1, p.113-124,
Tarsonemidae). Experimental and Applied Mar. 2001.
melhor variedade para ser usada na pro-
Acarology, Amsterdam, v.13, n.2, p.163-178,
priedade, os cuidados no preparo das MAKUNDI, R.H.; KASHENGE, S. Com-
Feb. 1992.
mudas isentas de infestação e conta- parative efficacy of neem, Azadirachta indica,
HEUVEL, J.F.J.M. van den; HOGENHOUT, S.A.; extract formulations and the synthetic
minação por agentes patogênicos e os
VERBEEK, M.; WILK, F. van der. Azadirachta acaricide, Amitraz (Mitac), against the two
demais tratos culturais que advirão com o
indica metabolites interfere with the host- spotted spider mites, Tetranychus urticae
desenvolvimento da cultura. Planejando e endosymbiont relationship and inhibit the (Acari: Tetranychidae), on tomatoes,
conhecendo o agroecossistema, o produtor transmission of potato leafroll virus by Myzus Lycopersicum esculentum. Zeitschrift für
terá em suas mãos o manejo adequado das persicae. Entomologia Experimentalis et Pflanzenkrankheiten und Pflanzen-
pragas. Applicata, Belgium, v.86, n.3, p.253-260, schutz, v.109, n.1, p.57-63, 2002.
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Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.75-86, nov./dez. 2006

artigo8.p65 85 22/12/2006, 10:20


86 Cultivo da pimenta

ácaro branco Polyphagotarsonemus latus Aphidiidae) on Schizaphis graminum (Rond.) and extrato de semente de nim sobre o pulgão Myzus
(Banks, 1904) (Acari: Tarsonemidae). 2006. Aphis gossypii Glover (Hem.: Aphididae). persicae (Hemiptera: Aphididae) em pimenta.
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predador Iphiseiodes zuluagai Denmark & Muma instantânea de crescimento populacional de V. da S.; EUZÉBIO, D.E.; PALLINI, A. Potencial
(Acari: Phytoseiidae)? Neotropical Ento- Polyphagotarsonemus latus em plantas de de defensivos alternativos para o controle do
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Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.75-86, nov./dez. 2006

artigo8.p65 86 22/12/2006, 10:20


Cultivo da pimenta 87

Principais doenças da cultura da pimenta


Margarida Gorete Ferreira do Carmo 1
Francisco Murilo Zerbini Júnior 2
Luiz Antônio Maffia 3

Resumo - Entre as várias doenças relatadas na cultura da pimenta no Brasil, destacam-se


a antracnose, a murcha-de-fitóftora, o oídio, a mancha-bacteriana e as viroses causadas
por PVY e PepYMV, o TMV, o CMV e tospovírus. Para a maioria dessas doenças, há
poucas informações na literatura. As disponíveis baseiam-se em conhecimentos relatados
para a cultura do pimentão, como ocorrência, importância e epidemiologia de doenças.
O número reduzido de pesquisas aplicadas, como caracterização de cultivares quanto à
resistência às principais doenças ou desenvolvimento de cultivares resistentes, também
dificulta definir as recomendações mais específicas. Medidas como o uso de sementes e
mudas sadias, redução da densidade de plantio, plantio em períodos mais secos, em
áreas bem drenadas e com solos leves, diversificação e rotação com espécies não
hospedeiras, adubação equilibrada e eliminação de espécies invasoras, podem auxiliar
no controle da maioria das doenças da cultura de pimenta.

Palavras-chave: Capsicum. Doença. Antracnose. Requeima. Oídio. Mancha-bacteriana.


Murcha-bacteriana. Vírus. Etiologia. Epidemiologia. Controle.

INTRODUÇÃO natural de plantas de pimenta por mais de causada por Colletotrichum


vinte espécies de vírus, sendo os mais im- gloeosporiodes (Penz) Sacc, apesar de
São escassas as informações sobre a
portantes no Brasil, o PVY e PepYMV, o haver relatos de antracnose em frutos de
ocorrência e a importância econômica de
TMV, o CMV e os tospovírus. pimenta, pimentão e jiló, causada por C.
doenças nas espécies de pimenta, no Brasil.
Serão discutidos neste artigo aspectos acutatum (TOZZE JUNIOR et al., 2004).
Na maioria das vezes, as informações
relacionados com as doenças da cultura da Colletotrichum gloeosporiodes é relatado
baseiam-se em conhecimentos disponí-
pimenta no Brasil, paralelamente à cultura como patogênico a diferentes espécies de
veis para a cultura do pimentão. Da mesma
do pimentão. Considerando que as doenças importância agronômica. Em solaná-
forma, são raros os artigos publicados que
de etiologia fúngica e bacteriana têm pe- ceas, ocorre em tomate, (Lycopersicon
abordam aspectos relativos da etiologia, da
culiaridades, as medidas de controle serão esculentum Mill.), jiló (Solanum gilo
epidemiologia e do controle de doenças
apresentadas individualmente. Para as viro- Raddi), berinjela (S. melongena L.) e em C.
em pimentas, o que sugere ser esse um cam-
ses, que têm vários aspectos etiológicos e annuum, C. frutescens e C. chinense, mas
po vasto para pesquisas, dada a crescente
epidemiológicos em comum, serão apre- pode ocorrer especialização em relação à
importância do cultivo dessa solanácea no
sentadas medidas de manejo em conjunto. espécie hospedeira (FERNANDES, 1997).
Brasil.
Há várias doenças relatadas na cultu- O patógeno infecta, principalmen-
ra. Entre as de etiologia fúngica destacam- DOENÇAS CAUSADAS POR te, frutos, mas pode infectar folhas e tam-
se a antracnose, a murcha ou requeima e o FUNGOS bém estar associado à ocorrência de tom-
oídio. Entre as de etiologia bacteriana des- bamento de mudas. Porém, a importância
tacam-se a mancha e a murcha-bacteriana. Antracnose do fungo é reconhecida quase que exclu-
Entre as viroses, há relatos de infecção A antracnose das solanáceas é sivamente pelas lesões que provoca em

1
Enga Agra, Dra, Profa Adj. UFRRJ - Depto Fitotecnia, CEP 36890-000 Seropédica-RJ. Correio eletrônico: gorete@ufrrj.br
2
Engo Agro, Ph.D., Prof. Associado UFV - Depto Fitopatologia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: zerbini@ufv.br
3
Engo Agro, Ph.D., Prof. Tit. UFV - Depto Fitopatologia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: lamaffia@ufv.br

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.87-98, nov./dez. 2006

artigo9.p65 87 22/12/2006, 10:24


88 Cultivo da pimenta

frutos, no campo ou em pós-colheita


(LOPES; HENZ, 2004). Essas lesões são
freqüentemente observadas em frutos
maduros. São de coloração escura, formato
circular, deprimidas e de diâmetro variável
(Fig. 1). Sob condições de alta umidade,
ocorre intensa produção de conídios que
resultam na formação de uma massa de
coloração rósea no centro das lesões.
O patógeno pode ser transmitido por
sementes infectadas e ser facilmente dis-
perso pelos respingos de água de chuva
ou irrigação por aspersão. Em geral, a se-

Carlos Alberto Lopes


veridade da doença é maior nos cultivos
de verão.
O controle da doença pode ser oti-
mizado, utilizando-se práticas simples como
uso de sementes e mudas sadias, redução Figura 1 - Fruto de pimenta-dedo-de-moça com lesão necrótica causada por antracnose
da densidade de plantio, por facilitar o
arejamento da cultura, uso de irrigação
localizada, plantio em períodos mais secos, outras espécies de hortaliças como: quiabo patógeno causa o apodrecimento da região
destruição de restos culturais, diversi- (Abelmoschus esculentus L.), cebola cortical do colo e das raízes, o que resulta
ficação e rotação com espécies não hos- (Allium cepa L), couve-flor (Brassica em murcha e morte rápida das plantas
pedeiras e aplicação de fungicida à base oleracea var. botrytis L.), melancia (BERKE et al., 2005) (Fig. 2). As raízes
de cobre. O uso de resistência genética, (Citrullus lunatus Thunb.), melão necrosadas desprendem-se facilmente das
apesar de ser sempre uma prática reco- (Cucumis melo L.), pepino (C. sativus L.), plantas e no colo podem ocorrer lesões de
mendável, fica restrita pela não dispo-
moranga (Cucurbita maxima Dene), cor marrom-escuro, com presença fre-
nibilidade de cultivares comerciais
abóbora (C. moschata), abobrinha-italiana qüente de massa cotonosa formada pelo
resistentes. Esta característica, porém, está
(C. pepo), ervilha (Pisum sativum L.), feijão- micélio branco e esporângios do patógeno.
presente em genótipos das diferentes
de-vagem (Phaseolus lunatus L.), rabanete Os sintomas também podem ocorrer na
espécies hospedeiras. Pereira (2005) ava-
(Raphanus sativus L.), cenoura (Daucus parte aérea, especialmente durante o pe-
liou 90 acessos de C. annuum, 30 de C.
carota L.), tomate ( Lycopersicon ríodo chuvoso. Nas hastes, os sintomas
baccatum, 16 de C. chinense e um de C.
esculentum Mill.), berinjela (Solanum assemelham-se àqueles que ocorrem na
frutescens, quanto à reação a quatro iso-
melongena L.) (ERWIN; RIBEIRO, 1996) e região do colo e há amarelecimento, bem
lados de Colletotrichum sp., obtidos de
jiló (Solanum gilo Raddi) (CARVALHO et como queda e seca das folhas. Quando as
frutos e folhas de pimentão e pimenta.
al., 2005). infecções ocorrem nas folhas, formam-se,
Foram identificados acessos de C. annuum,
As plantas de pimenta são suscetíveis inicialmente, lesões sem contorno definido
de C. baccatum e dois de C. chinense como
a P. capsici em qualquer estádio de de- e de aspecto encharcado, que evoluem para
resistentes.
senvolvimento. Os órgãos mais freqüen- a cor marrom e culminam com a desfolha.
Requeima ou murcha-de- temente infectados são as raízes e a região Nos frutos, inicialmente, as lesões têm
fitóftora do colo, apesar de o patógeno poder in- aspecto encharcado, de cor verde-escuro
A murcha, requeima ou podridão-de- fectar qualquer parte da planta, especial- e há apodrecimento e mumificação deles.
colo-da-raiz de pimenta é causada por mente quando predominam condições de Sob condições úmidas, pode-se observar
Phytophthora capsici Leonian que ambiente favoráveis. a presença de mofo cotonoso, formado por
pertence ao filo Oomycota, cujos membros Em condições de viveiro, o patógeno micélio e esporângios do patógeno.
são mais relacionados taxonomicamente pode causar morte das sementes e redu- Em viveiro, as infecções podem-se
com algas que com fungos verdadeiros zir a porcentagem de emergência ou iniciar a partir de inóculo primário presente
(RISTAINO; GUMPERTZ, 2000). Além das necrose das raízes ou do colo e requeima no substrato, nas bandejas ou mesmo na
pimentas e do pimentão, o patógeno tem das folhas, o que resulta em tombamento superfície de bancadas. Esta última ocorre
vários outros hospedeiros, incluindo das mudas. Em condições de campo, o quando as bandejas estiverem diretamente
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Cultivo da pimenta 89

recido por condições de ambiente em que


predominam temperaturas de 22oC a 29oC e
alta umidade (MATSUOKA et al., 1996).
Chuvas ou irrigações por período pro-
longado, especialmente em solos pesados,
favorecem o desenvolvimento da doença,
pois ocorre saturação de água no solo, o
que favorece o desenvolvimento, dis-
persão e sobrevivência do patógeno. Ade-
mais, diferentes fatores e práticas culturais
que provocam injúrias, como ventos e
chuvas fortes, ataque de insetos e práticas
culturais adotadas desde o transplante,

Carlos Alberto Lopes


cultivo e colheita, podem contribuir para
aumentar a suscetibilidade das plantas e
a severidade da doença (ADORADA et al.,
2000). Os ferimentos aumentam a pre-
Figura 2 - Planta de pimenta com murcha acentuada provocada por Phytophthora capsici disposição da planta por favorecer a atra-
ção quimiostática e encistamento de zoós-
poros, que, posteriormente, germinam e
penetram diretamente por ação enzimática
sobre as bancadas. No campo, a doença durante os tratos culturais. Ao final do ci-
e degradação da parede celular (COFFEY;
pode iniciar-se a partir de mudas infectadas clo da cultura ocorre a sobrevivência do
WILSON, 1983). Plantios adensados e
e/ou de inóculo presente em restos culturais patógeno nos restos culturais rema-
cobertura do colo da planta podem também
de plantas infectadas ou de estruturas de nescentes ou na forma de oósporos, que
favorecer o desenvolvimento da doença.
sobrevivência (oósporos) presentes no se formam, quando estão presentes strains
O controle da requeima em pimentas
solo, remanescentes de cultivos anteriores compatíveis (A1 e A2). O patógeno pode
deve ser feito com base em uma série de
ou introduzidos por máquinas e imple- também sobreviver em restos culturais
medidas preventivas, como:
mentos, durante o preparo do solo. infectados desde que exista a presença de
A infecção das raízes e da parte basal umidade (ERWIN; RIBEIRO, 1996). Quando a) evitar plantio em solos com his-
tórico de ocorrência da doença;
do colo ocorre pelo seu contato direto com os restos culturais de Capsicum annuum
estruturas do patógeno presentes no solo. são incorporados ao solo, a viabilidade do b) plantar, preferivelmente, em áreas
As infecções na parte aérea iniciam-se a micélio, esporângios e zoósporos de P. bem drenadas e com solos leves e
partir de zoósporos presentes na superfí- capsici é de no máximo 75 dias, enquanto com boa aeração;
cie do solo e dispersos por respingos de que a dos oósporos é de 210 a 240 dias c) plantar em canteiros mais elevados,
água de chuva ou de irrigação. A pene- (ANSANI; MATSUOKA, 1983), mas há para evitar o acúmulo de umidade
tração de P. capsici ocorre através de relatos de sobrevivência do patógeno por em áreas de baixada, especialmente
aberturas naturais ou de ferimentos. A períodos de três a cinco anos (MONTEIRO em períodos chuvosos;
colonização dos tecidos dá-se pelo de- et al.,2000). A fase sexuada do ciclo do d) utilizar mudas sadias;
senvolvimento de hifas nos espaços inter patógeno no solo, quando são formados
e) adotar maiores espaçamentos, para
e intracelular e leva ao aparecimento de os oósporos, é a principal fonte de inóculo
facilitar o arejamento da cultura;
sintomas e de sinais (micélio e esporângios) primário para a ocorrência de epidemias,
f) irrigar por gotejamento, quando
após cinco a oito dias do início do processo seja pela germinação direta deste, seja pe-
possível;
de infecção. la formação de esporângios e zoósporos.
A liberação e a germinação dos zoós- Ao longo do ciclo da cultura, segue a g) manejar corretamente a adubação,
poros são favorecidas por temperaturas formação de esporângios e a liberação de evitando excessos, especialmente
entre 20 oC a 24oC e a germinação dos zoósporos em ciclos repetidos que são de nitrogênio;
esporângios pode ocorrer entre 10oC a 24oC. responsáveis pelos ciclos secundários da h) efetuar rotação de culturas com
A dispersão dos propágulos pode-se dar fase assexuada da doença (RISTAINO; gramíneas ou outra espécie não
pelo escoamento da água no solo, por GUMPERTZ, 2000). hospedeira por períodos superiores
respingos ou pelo revolvimento do solo O desenvolvimento da doença é favo- a três anos;

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90 Cultivo da pimenta

i) não realizar a cobertura da região Capsicum spp. como L. taurica, a fase pulcherrima), quiabo (Abelmochus
do colo da planta com cobertura teleomórfica somente foi encontrada em esculentum), berinjela (Solanum
morta ou solo. alcachofra (Cynara scolymus L.), erva-de- melongena), pepino (Cucumis sativus), ji-
santa-maria (Chenopodium ambrosioides ló (S. gilo), além das invasoras, erva-de-
Embora não existam relatos de cul-
L.), tomateiro (Lycopersicon esculentum santa-maria (Chenopodium ambrosoide) e
tivares comerciais de pimenta resistentes a
Mill.) e Onobrychis viciifolia Scop, não joá-de-capote (Nicandra physaloides).
P. capsici, esta possibilidade precisa ser
tendo sido ainda relatada em pimentão ou A doença é inicialmente percebida pe-
considerada nos programas de melho-
em outra planta de espécies de Capsicum. la ocorrência de sinais na face inferior das
ramento. Ribeiro et al. (1997) relatam a
Apesar de o relato de oídio em espécies folhas mais velhas, caracterizados pela
existência de resistência em genótipos de
de Capsicum ser recente no Brasil, sua presença de micélio, conídios e conidió-
Capsicum na fase juvenil e Ribeiro et al.
ocorrência, atualmente, é generalizada em foros, que formam uma massa cinza-claro,
(2002) avaliaram 387 genótipos de espé-
cultivos de pimentão, principalmente em seguido do aparecimento nesses pontos
cies de Capsicum e identificaram fontes de
ambiente protegido (CAFÉ FILHO et al., de lesões cloróticas na face superior
resistência a P. capsici somente dentro de
2001). Entretanto, não há informações (Fig. 3). Com o desenvolvimento da
C. annuum e em um acesso silvestre de C.
precisas sobre a importância da doença em doença, as lesões coalescem e começam a
parviflorum. Os autores ressaltam a im-
cultivos de pimenta. O patógeno tem mais surgir pontos necróticos. Podem aparecer,
portância da busca de novas fontes de
de 750 hospedeiros incluídos em cerca de também, sinais na face superior das folhas.
resistência, seja para o melhoramento de
60 famílias, inclusive em solanáceas, Em plantas jovens de Capsicum, não ocorre
pimentão, seja para o de pimentas. A sola-
particularmente espécies de Lycopersicon infecção, e sintomas mais severos são
rização do solo é outra medida citada co-
e Capsicum (WEHT, 2001). Há relatos de observados em plantas adultas, em fase de
mo auxiliar no controle da doença, espe-
L. taurica em diferentes espécies de frutificação (CAFÉ FILHO et al., 2001;
cialmente em ambiente protegido. Marque
Capsicum, como C. annuum, C . baccatum, SOUZA; CAFÉ FILHO, 2003).
et al. (2002) relatam a eficiência da sola-
C. chinensis e C. frutescens, mas a maioria A doença, em geral, inicia-se no campo,
rização do solo com plástico transparente
das informações disponíveis refere-se à a partir de inóculo (conídios) oriundo das
de 75 µm, em ambiente protegido, no
doença em pimentão (C. annuum) (CAFÉ diferentes espécies hospedeiras. Os
controle de P. capsici. O controle químico
FILHO et al., 2001). Segundo esses auto- conídios são facilmente dispersos pelo
tem eficiência variável, em vista das
res, um isolado de C. annuum, coletado na vento, especialmente em condições secas,
dificuldades em estabelecer o momento de
região de Brasília, foi patogênico a di- e a doença é favorecida por condições de
aplicação (MONTEIRO et al., 2000).
ferentes espécies: alcachofra (Cynara ambiente, em que predominam umidade
Matheron e Porchas (2002) apontam para a
scolymus), bico-de-papagaio (Euphorbia relativa de 50% -70% e temperatura de 20oC
viabilidade do uso de produtos indutores
de resistência, especialmente em cultivares
com resistência parcial. Alternativa que
deve ser investigada, especialmente por ser
uma cultura que pode ter ciclo longo, é a
enxertia em porta-enxertos resistentes,
viável tecnicamente, segundo Santos e
Goto (2004), para o cultivo de pimentão.

Oídio
O oídio é uma doença importante em
plantas do gênero Capsicum, especial-
mente em cultivos protegidos. A ocorrência
da doença em plantas de Capsicum foi
relatada no Brasil por Boiteux et al. (1994) e
associada a Leveillula taurica (Lév.) G.
Carlos Alberto Lopes

Arnaud (=Oidiopsis taurica (Arn) Salmon),


sendo muitas vezes referida como oídio das
solanáceas. Porém, segundo Café Filho et
al. (2001), apesar de a maioria dos autores
referir-se ao agente causal do oídio em Figura 3 - Manchas cloróticas em folhas de pimenta provocadas por oídio

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Cultivo da pimenta 91

a 25oC (WEHT, 2001) e com irrigação por


métodos que não promovam o molhamento
foliar, como o gotejamento ou sulco.
O controle do oídio deve-se basear em
medidas preventivas, como: evitar o plan-
tio escalonado das espécies suscetíveis;
efetuar rotação e diversificação de culturas
com plantas não hospedeiras, plantar em
períodos menos favoráveis e efetuar adu-
bação equilibrada. Após aparecimento de
sintomas, podem-se adotar medidas como
a aplicação de fungicidas, incluindo aque-

Carlos Alberto Lopes


les à base de enxofre. Produtos alternativos
como fosfato monopotássico e bicarbonato
de cálcio e de sódio também são relatados
como eficientes no controle da doença,
desde que não usados em excesso pois
Figura 4 - Tombamento – muda com a base apodrecida pelo ataque de fungos de solo
podem causar sintomas de fitotoxidez
(CAFÉ FILHO et al., 2001). A irrigação por
aspersão também pode ser usada como e Colletotrichum spp. Normalmente, a pimentas é causada por Xanthomonas
estratégia complementar no controle da ocorrência do tombamento está associada axonopodis pv. vesicatoria (Doidge) Dye
doença, por promover a lavagem e remoção ao uso de sementes de baixa qualidade (JONES et al., 1998) (=Xanthomonas
das estruturas superficiais do patógeno. sanitária, uso de substratos, bandejas ou campestris pv. vesicatoria). Como esta
Não há relatos de cultivares de pimenta bancadas infestadas e é favorecida por fitobactéria teve sua taxonomia revista
resistentes e sabe-se que a maioria do ger- condições em que predominam excesso de nos últimos anos, fica difícil estabelecer
moplasma do gênero Capsicum é moderada umidade, sombreamento e alta temperatura. sua gama de hospedeiras. Sabe-se que há
a altamente suscetível a L. taurica. Porém, A mancha-de-cercospora, causada por raças que infectam tomate e pimentão e,
há vários genótipos imunes, alta ou mo- Cercospora capsici Heald & Wolf, é mais outras, apenas o tomate ou o pimentão,
deradamente resistentes, principalmente freqüentemente observada no campo, classificadas como X. vesicatoria e X.
entre os de C. baccatum, C. frutescens e C. principalmente nas folhas, onde ocorrem axonopodis pv. vesicatoria, respectiva-
chinensis (CAFÉ FILHO et al., 2001; lesões circulares concêntricas e de bordas mente (JONES et al., 1998). Entre as
SOUZA; CAFÉ FILHO, 2003). Para Paz Lima escuras, e nas hastes e pedúnculos, onde
espécies de Capsicum, C. annuum e C
et al. (2004) e Blat et al. (2005b) também se formam lesões mais alongadas. Os
frutescens são consideradas como
citam que as melhores fontes de resistên- conídios são facilmente dispersos por
hospedeiras (JONES et al., 1998).
cia a L. taurica foram identificadas nas respingos de água de chuva ou irrigação e
Os sintomas são mais visíveis em
espécies de C. chinense, C. frutescens e C. pelo vento. O desenvolvimento da doença
plantas adultas e nas folhas mais ve-
baccatum e que a herança e os mecanismos é favorecido por temperaturas moderadas,
18oC a 25oC, e umidade relativa acima de lhas. As lesões têm formato irregular, de
dessa reação nessas espécies são desco-
90%. Ao final do ciclo da cultura, o pa- cor verde-escuro e aspecto encharcado
nhecidos. Segundo Blat et al. (2005a) C.
tógeno pode sobreviver nos restos cul- (Fig. 5). Sob condições favoráveis, as le-
chinense é considerada uma das mais
resistentes ao oídio dentro do gênero turais. O controle da doença deve envolver sões coalescem e formam manchas gran-
Capsicum. medidas preventivas como o uso de mudas des e com aspecto “melado” nas folhas.
sadias, rotação de culturas, eliminação de As folhas doentes amarelecem e caem e
Outras doenças fúngicas restos culturais, irrigação por gotejamento ocorre desfolha de baixo para cima na
Além das doenças já referidas, outras e pulverização com fungicidas. planta. Nos frutos, ocorrem manchas si-
também podem causar perdas em cultivos milares a verrugas, inicialmente esbranqui-
de pimenta como tombamentos, cercos- DOENÇAS CAUSADAS POR çadas e depois com os centros escurecidos
poriose e a murcha-de-esclerócio. BACTÉRIAS (LOPES; HENZ, 2004).
O tombamento em mudas de pimenta A doença pode iniciar-se no viveiro, a
(Fig. 4) pode ser causado por Rhizoctonia Mancha-bacteriana partir de sementes infectadas, e no campo,
solani, Phytophthora spp., Pythium spp. A mancha ou pústula bacteriana em a partir de inóculo oriundo de mudas
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92 Cultivo da pimenta

iniciam com o levantamento do histórico


da área e da origem da água a ser usada na
irrigação, a restrição à movimentação de
máquinas e implementos que possam
transportar solo contaminado, arranquio e
queima de plantas infectadas, além de evi-
tar o cultivo em solos pesados ou en-
charcados, principalmente nos períodos
mais quentes do ano. Não há cultivares
resistentes no mercado e o controle químico
não é viável.

Talo-oco

Carlos Alberto Lopes


O talo-oco ou podridão-mole é causa-
da por Erwinia spp. Normalmente, a
doença é mais severa no verão, em con-
dições de alta umidade. Pode incidir na
Figura 5 - Folhas de pimenta com mancha-bacteriana, apresentando lesões encharcadas haste (onde há apodrecimento da medula e
seca) e nos frutos (onde ocorre podridão-
mole) (Fig. 6). Como a bactéria penetra por
ferimentos, deve-se evitar ferir as plantas e
infectadas, de culturas próximas, restos produtos de acordo com a região e a época
os frutos (em pré ou pós-colheita). Outras
culturais ou outro hospedeiro. A bactéria do ano (CARMO et al., 2001).
medidas de controle recomendadas são:
é facilmente dispersa pelos respingos de Outras medidas importantes de con-
evitar excesso de umidade para a planta,
água de chuva ou irrigação por aspersão, trole são o uso de sementes e mudas sa-
principalmente no verão; efetuar adubação
especialmente quando acompanhados por dias, destruição de restos culturais e rota-
balanceada e armazenar os frutos em con-
rajadas de vento (CARMO et al., 1996). A ção com gramíneas. Evitar o cultivo em
dições de baixa umidade (LOPES; HENZ,
penetração ocorre através de aberturas períodos chuvosos e a irrigação por as-
2004).
naturais, como estômatos, hidatódios e persão é, também, essencial no controle da
lenticelas ou por ferimentos causados pelo doença. A resistência genética pode vir a
DOENÇAS CAUSADAS POR
vento, chuvas ou insetos (KIMURA, 1984). ser uma medida importante, principalmente
VÍRUS
Em períodos chuvosos, as infecções são em vista dos custos, risco potencial de
mais abundantes e as lesões desenvolvem- resíduos químicos nos frutos e da re- A pimenta é infectada naturalmente por
se mais rapidamente em número e tamanho, sistência da bactéria aos pesticidas uti- mais de 20 espécies de vírus, incluindo o
o que leva à desfolha intensa e precoce da lizados (COSTA et al., 2002). Não há tobamovírus Tobacco mosaic virus (TMV),
planta (CARMO et al.,1996). cultivares comerciais resistentes, mas os tospovírus Tomato spotted wilt virus
A mancha-bacteriana é de difícil con- fontes de resistência foram relatadas em (TSWV), Groundnut ringspot virus (GRSV)
trole no campo, principalmente em vista da plantas de C. annuum, C. chacoense, C. e Tomato chlorotic spot virus (TCSV), o
baixa eficiência dos antibióticos e da pre- pubescens (COSTA et al., 2002) e C. cucumovírus Cucumber mosaic virus
dominância de estirpes resistentes a sulfa- chinense (SOUZA; MALUF, 2000, 2003). (CMV) e seis vírus do gênero Potyvirus:
to de estreptomicina e a produtos à base Potato virus Y (PVY), Tobacco etch virus
de cobre (AGUIAR, 1997; CARMO et al., Murcha-bacteriana (TEV), Pepper mottle virus (PepMoV),
2001; MCMANUS et al., 2002). Por exemplo, A murcha-bacteriana, causada por Pepper veinal mottle virus (PVMV), Chili
em pimentão, normalmente recomenda-se Ralstonia solanacearum, ocorre com maior veinal mottle virus (ChiVMV) e Pepper
a aplicação de fungicidas cúpricos ou cu- freqüência em regiões quentes e úmidas. yellow mosaic virus (PepYMV) (BRIOSO,
prorgânicos que, em geral, não diferem A bactéria sobrevive no solo por vários 1996; CARANTA et al., 1997; DOGIMONT
entre si (MARCO; STALL, 1983), exceto anos e tem uma vasta gama de hospedeiros, et al., 1996; INOUE-NAGATA et al., 2002).
quando da ocorrência de estirpes resis- incluindo várias outras espécies de so- No Brasil, os vírus de importância eco-
tentes ao cobre (AGUIAR et al., 2003). Po- lanáceas. Para seu controle deve-se adotar nômica são o PVY e PepYMV, o TMV, o
rém, ocorre variação na eficiência desses uma série de medidas preventivas, que CMV e os tospovírus. Os sintomas indu-

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Cultivo da pimenta 93

Truta et al. (2004) caracterizaram 20


isolados de potyvírus obtidos de plantas
de pimenta e pimentão nos estados de
Minas Gerais (17 isolados), Rio de Janeiro
(1 isolado), São Paulo (1 isolado) e Espírito
Santo (1 isolado). Os isolados foram clas-
sificados como PVY com base em proprie-
dades biológicas e sorológicas. Entretanto,
segundo o seqüenciamento da região co-
dificadora da proteína capsidial, seis iso-
lados foram identificados como PepYMV.
Segundo os resultados, o PepYMV está
disseminado nos campos de produção de

Carlos Alberto Lopes


Minas Gerais e é possível que o potyvírus
predominante em pimenta possa ser,
atualmente, o PepYMV.
Os sintomas causados nas plantas pelo
Figura 6 - Frutos de pimenta-bode apodrecidos pelo ataque da podridão-mole PVY e PepYMV são idênticos e incluem
NOTA: A doença iniciou-se com ferimentos provocados por larvas de insetos encrespamento das folhas, desenvolvi-
mento de mosaico com tonalidade verde-
amarelada, redução geral do tamanho da
zidos por esses vírus são semelhantes e nômico. A resistência ao PVY introduzi- planta e dos frutos e deformação dos fru-
incluem mosaico e distorção foliar. Os tos- da nas cultivares da série Agronômico foi tos (Fig. 7). A intensidade dos sintomas
povírus podem causar nos frutos manchas bastante eficiente, pois impediu a disse- depende da cultivar ou do híbrido planta-
em forma de anel. Essas manchas são mais minação das estirpes do vírus, então pre- do, da estirpe do vírus e das condições
evidentes em frutos maiores, como os de sentes no Brasil. ambientais (principalmente temperatura).
pimentão, e mais difíceis de ser observadas Até pouco tempo, o PVY era único po- O PVY e o PepYMV são transmitidos
em frutos de pimenta. Assim, identificar o tyvírus relatado em espécies de Capsicum por diversas espécies de afídeos (pulgões),
vírus no campo é difícil e, na maioria das no Brasil (BRIOSO, 1996). Em 2002, relatou- por enxertia e por meio de ferimentos ou
vezes, impossível. A identificação por meio se a ocorrência de uma nova espécie de instrumentos de corte. Não há relatos de
de testes de laboratório é essencial para a potyvírus em pimentão. Anteriormente transmissão desses vírus por meio de se-
recomendação de medidas adequadas de considerada uma estirpe severa do PVY mentes. A principal forma de dissemina-
controle. Diversos laboratórios em insti- (PVYM), essa nova espécie foi denominada ção da doença é por meio do inseto-vetor
tuições públicas e particulares em Minas Pepper yellow mosaic virus (PepYMV) (pulgão), o qual, ao alimentar-se por alguns
Gerais fazem a diagnose, inclusive a Clínica (INOUE-NAGATA et al., 2002). Como o segundos em uma planta infectada, torna-
de Doenças de Plantas do Departamento PepYMV infecta cultivares e híbridos de se capaz de transmitir os vírus a plantas
de Fitopatologia da Universidade Federal pimentão resistentes ao PVY, tornou-se a sadias. Assim, a presença do pulgão e de
de Viçosa (UFV). espécie de potyvírus predominante no plantas infectadas em um campo de pro-
pimentão no Brasil (CUNHA et al., 2004; dução favorece a disseminação da doença
PVY/PepYMV TRUTA et al., 2004). Em pimenta, não há dentro do próprio campo e entre campos,
No Brasil, o PVY foi relatado pela pri- cultivares com genes de resistência ao PVY pois o pulgão pode voar até os campos
meira vez em pimentão, em 1950, já cau- e é possível que ambos os vírus ocorram vizinhos ou ser transportado pelo vento a
sando sérios prejuízos. Embora não haja com a mesma prevalência. Deve-se ressal- longas distâncias.
relatos específicos para a cultura da pi- tar que o PVY e o PepYMV causam sin-
menta, segundo observações de campo, a tomas idênticos em pimenta e são rela- Tospovírus (TSWV, GRSV e
incidência do PVY nessa cultura também é cionados sorologicamente (TRUTA et al., TCSV)
alta. Em vista das perdas causadas pela 2004), embora possam ser diferenciados por As três espécies de tospovírus que
virose em pimentão, Nagai (1968) iniciou alguns testes sorológicos, como DAS- infectam pimenta e pimentão no Brasil
um programa de melhoramento, visando ELISA (CUNHA et al., 2004). Testes mo- causam sintomas virtualmente idênticos,
incorporar genes de resistência ao PVY, o leculares são a forma mais segura de di- bem como muito semelhantes aos indu-
que originou a série de cultivares Agro- ferenciar os dois vírus. zidos pelos potyvírus PepYMV e PVY:
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94 Cultivo da pimenta

valência de determinada espécie de vírus


em uma região ou cultura normalmente está
relacionada com a espécie predominante
de tripes (GROVES et al., 2001; POZZER et
al., 1996).

TMV
O TMV ou vírus do mosaico do fumo
infecta naturalmente diversas espécies
de Capsicum. Os sintomas podem ser
bastante severos, dependendo da estirpe
do vírus e da cultivar do hospedeiro, porém
assemelham-se àqueles induzidos pelos
outros vírus que infectam a pimenta:
mosaico, distorção foliar e de frutos, re-
dução de crescimento. Estirpes severas do
vírus podem causar necrose de nervuras,
o que é raro.
Ao contrário dos demais vírus que
infectam a pimenta, o TMV não tem inseto-
vetor. A transmissão desse vírus ocorre
quando uma planta infectada, ferramentas,
máquinas e/ou mãos contaminadas pelo
vírus entram em contato com uma plan-
ta sadia. Apesar da ausência de vetor, a
Fotos: Francisco Murilo Zerbini Júnior

transmissão do TMV pelos meios citados


é altamente eficiente e sua importância não
deve ser subestimada. Provavelmente, a
ausência de relatos de incidência de TMV
em plantios de pimenta deva-se mais à
carência de trabalhos com vírus, de modo
geral, nessa cultura, que à realidade do
Figura 7 - Sintomas de mosaico e distorção foliar causados pelo Pepper yellow mosaic campo. Em outras culturas, como o toma-
virus (PepYMV), em plantas de pimenta (Capsicum frutescens) teiro, a incidência de TMV pode ser alta,
embora os sintomas sejam freqüentemente
atribuídos a outros vírus. Deve-se ressaltar,
que, em tomateiro, o TMV pode ser trans-
mosaico, distorção foliar e de frutos e re- desses vírus também seja elevada nessa mitido pelas sementes, que constituem a
dução de crescimento. A distinção entre cultura. principal fonte de inóculo primário na cul-
as três espécies de tospovírus é possível Os tospovírus são transmitidos na- tura. Não há relatos de transmissão desse
apenas por meio de DAS-ELISA ou análises turalmente por diversas espécies de tri- vírus pelas sementes de pimenta.
moleculares (ÁVILA et al., 1993). Em frutos pes, destacando-se Frankliniella
de pimentão, os tospovírus podem causar ooccidentalis. A transmissão ocorre de CMV
manchas em forma de anel, o que é difícil forma circulativa-propagativa e há re- Normalmente, a importância econômica
de ser observado em frutos de pimenta. A plicação do vírus no vetor (WIJKAMP et do mosaico causado pelo CMV é secun-
incidência de tospovírus em plantios de al., 1993). Para haver aquisição e trans- dária. Segundo relatos no estado de São
pimentão é alta no Brasil, normalmente in- missão do vírus pelo vetor, é preciso que o Paulo, há possibilidade de epidemias em
ferior apenas à incidência de potyvírus inseto alimente-se continuamente por pimentão (FRANGIONI et al., 2002). O CMV
(ÁVILA et al., 1996; LIMA et al., 2000). várias horas nas plantas. A eficiência de está distribuído mundialmente, infecta
Embora não existam dados específicos para transmissão de tospovírus depende das mais de 1.000 espécies de plantas e tem
a pimenta, é razoável supor que a incidência espécies do inseto-vetor. Assim, a pre- numerosas estirpes que induzem diferentes
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tipos de sintomas (PALUKAITIS; GAR- mottle virus (ToCMoV) podem infectar aberto e próximas a cultivos estabelecidos
CIA-ARENAL, 2003). Em pimenta, os plantas de pimenta e pimentão, quando são infectadas precocemente e perdas
sintomas variam de mosqueado a afila- inoculadas artificialmente (AMBRO- severas na produção ocorrerão. Plantas
mento e deformação de frutos. ZEVICIUS et al., 2002; FERNANDES et al., invasoras com sintomas típicos (mosaico,
A temperatura afeta a intensidade dos 2006). amarelecimento ou distorção foliar),
sintomas de CMV, os quais são mais A incidência de begomovírus em to- presentes na área de cultivo ou em cultivos
severos em invernos rigorosos e mais fra- mateiro no Brasil, relatada pela primeira vez próximos, podem servir como fonte de
cos ou mesmo ausentes em verões quentes. por Matyis et al. (1975 apud RIBEIRO et inóculo e devem ser eliminadas. O controle
A umidade relativa e a precipitação também al., 2003), aumentou vertiginosamente a de pulgões com inseticidas é pouco efi-
correlacionam-se positivamente à in- partir do início da década de 90. Esse ciente no caso das viroses causadas por
tensidade da doença. O CMV é transmitido aumento foi diretamente relacionado com potyvírus (PVY, PepYMV) e pelo CMV, pois
por mais de 75 espécies de afídeos (PALI- a introdução do biótipo B de B. tabaci, o a aquisição e a transmissão desses vírus
KAITIS et al., 1992). O vírus pode ser qual, ao contrário do biótipo A (único pelo inseto ocorrem rapidamente, antes que
transmitido em taxas variáveis por semen- presente no Brasil até 1990), coloniza o o inseticida possa agir. Por outro lado, o
tes de 19 espécies vegetais, inclusive de tomateiro com grande eficiência (LOU- controle químico de tripes e mosca-branca
plantas invasoras (PALUKAITIS et al., RENÇÃO; NAGAI, 1994). Desde 1994, oito pode reduzir eficientemente a incidência de
1992), porém não há relatos da transmissão novas espécies de begomovírus foram tospovírus e begomovírus, respectiva-
por sementes de pimenta. Com a trans- descritas ao infectar o tomateiro no Brasil mente, pois a aquisição e a transmissão do
missão via semente de plantas invasoras, (RIBEIRO et al., 2003). Ainda não se vírus pelo vetor dura algumas horas.
há uma fonte de inóculo constante nos verificou em pimentão e pimenta o grande Outras medidas de controle recomendadas
campos de plantio, a partir do qual o vírus aumento na incidência e na severidade incluem o monitoramento da cultura,
é disseminado pelos afídeos vetores. Esses como o observado em tomateiro. É possível quanto à presença de plantas com sintomas
dois fatores, associados às condições que o biótipo B de B. tabaci presente no de mosaico e a imediata eliminação destas.
climáticas, podem ocasionar epidemias se- Brasil não seja adaptado à colonização de A transmissão do TMV pode ser drasti-
veras esporádicas do CMV e perdas con- plantas de pimenta. Entretanto, o fato de camente reduzida pela desinfestação cons-
sideráveis. as espécies de begomovírus, atualmente tante das ferramentas utilizadas para tratos
encontradas em tomateiro, poderem infec- culturais em solução diluída de detergente.
Begomovírus tar plantas de pimenta é preocupante, pois Como as mãos dos trabalhadores podem
A infecção por begomovírus em pi- mudanças ambientais ou na estrutura transmitir esse vírus, devem ser constante-
mentão foi relatada em 2001 (LIMA et al., populacional do vetor podem proporcionar mente lavadas com água e sabão, princi-
2001), em Pernambuco, e recentemente no condições para aumento da incidência de palmente no caso de fumantes, pois
estado de São Paulo (NOZAKI et al., 2005) begomovírus na cultura da pimenta. freqüentemente o fumo de rolo está
e no Distrito Federal, em plantas de pimenta infestado pelo TMV. Recomenda-se sem-
(Capsicum baccatum) (BEZERRA- Manejo das viroses da pre a cooperação e a troca de informações
AGASIE et al., 2006). Os sintomas incluem pimenta entre os produtores de uma região, para
mosaico, amarelecimento e distorção foliar O manejo das viroses que afetam a cul- um monitoramento mais eficiente da pre-
e de frutos. Embora freqüentemente se- tura da pimenta deve sempre levar em sença de viroses na região e adoção em
veros, os sintomas são semelhantes àque- consideração o histórico da área e da cultura conjunto das medidas de controle já apre-
les causados pelo PepYMV e por isolados instalada, ou seja, relatos da ocorrência de sentadas.
severos de TMV ou CMV e, portanto, difí- viroses na área de cultivo e presença de
ceis de ser distinguidos no campo. insetos-vetores (pulgões, tripes e mosca- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os begomovírus são vírus transmitidos branca). Sempre que possível, o produtor Como as informações sobre a ocor-
por mosca-branca (Bemisia tabaci). Há deve plantar cultivares tolerantes ou rência, importância e epidemiologia de
mais de 130 espécies de begomovírus des- resistentes (caso existam), plantar em áreas doenças de pimenta são escassas no Brasil,
critas e diversas infectam pimentão e livres da doença e que não sejam favo- as recomendações de controle muitas
pimenta (STANLEY et al., 2005). No Brasil, ráveis à ocorrência dos insetos-vetores e vezes são genéricas ou embasadas em in-
a única espécie já detectada em pimenta é prestar atenção especial à produção de formações registradas para a cultura de
o Tomato severe rugose virus (ToSRV) (BE- mudas, para que cheguem sadias ao campo. pimentão. Para recomendações mais es-
ZERRA-AGASIE et al., 2006). Entretanto, Devem-se produzir mudas em telados à pecíficas, depara-se, ainda, com o reduzido
outras espécies, como o Tomato rugose prova de insetos, de preferência distantes número de trabalhos de pesquisa aplicada,
mosaic virus (ToRMV) e o Tomato chlorotic da área de cultivo. Mudas produzidas a céu como a caracterização de cultivares quanto
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96 Cultivo da pimenta

à resistência às principais doenças ou o L.), resistentes ao cobre e perspectivas de de acessos de pimentão e pimentas ao oídio
desenvolvimento de cultivares resistentes. seu controle com formulações cúpricas e (Oidiopsis taurica). Horticultura Brasileira,
É bom frisar que, nas diferentes espécies cuprorgânicas. 1997. 171f. Tese (Mestrado em Brasília, v.23, n.1, p.72-75, jan./mar. 2005b.
de pimenta, há vários relatos de fontes de Fitotecnia) – Universidade Federal Rural do Rio
BOITEUX, L.S.; SANTOS, J.R.M.; LOPES, C.A.
de Janeiro, Seropédica.
resistência a doenças importantes, como a First record of powdery mildew of sweet-pepper
antracnose, a murcha-de-fitóftora, o oídio _______; KIMURA, O.; CASTILHO, A.M.C.; Capsicum annuum incited by Leveillula taurica
e a mancha-bacteriana. CASTILHO, K. S.C.; RIBEIRO, R. L.D.; AKIBA, in Brazil. Fitopatologia Brasileira, Brasília,
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cúpricas e cuprorgânicas na severidade da mancha- trabalhos apresentados no 27 o Congresso
a seleção do local de plantio, o uso de se-
bacteriana e na população residente de Brasileiro de Fitopatologia.
mentes sadias e de mudas de boa qualidade
Xanthomonas campestris pv. vesicatoria em BRIOSO, P.S.T. Doenças causadas por vírus em
fisiológica e sanitária, produzidas em am-
pimentão. Horticultura Brasileira, Brasília, pimentão. Informe Agropecuário, Belo
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de Phytophthora capsici no solo. Fitopatologia broad-spectrum quantitative trait loci. Molecular
vasoras podem auxiliar no controle da Brasileira, Brasília, v.8, n.2, p.269-276, jun. Plant-Microbe Interactions, v.10, n.7, p.872-
maioria das doenças. O controle químico 1983. 878, 1997.
pode ser eficiente para a antracnose e o oídio,
ÁVILA, A.C. de; HAAN, P. de; KORMELINK, CARMO, M.G.F.; KIMURA, O.; MAFFIA, L.A.;
enquanto que para a murcha-de-fitóftora e
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mancha-bacteriana tem resultados variáveis. PETERS, D. Classification of tospoviruses based bacteriana do pimentão, causada por
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somar medidas específicas como o controle Journal of General Virology, v.74, p.153-159, condições de viveiro. Fitopatologia Brasileira,
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mosca-branca, a assepsia de mãos e fer- _______; LIMA, M.F.; RESENDE, R. de O.;
ramentas usadas nos tratos culturais com _______; MACAGNAN, D.; CARVALHO, A. de
POZZER, L.; FERRAZ, E.; MARANHÃO,
O. de. Progresso da mancha-bacteriana do
detergentes e eliminação de plantas in- E.A.A.; CANDEIA, J.A.; COSTA, N.D.
pimentão a partir de diferentes níveis iniciais de
fectadas, para o controle de viroses, ou o Identificação de Tospovirus em hortaliças no
inóculo e do emprego ou não do controle com
uso de enxertias em cavalos resistentes, Submédio São Francisco utilizando DAS-ELISA e
oxicloreto de cobre. Horticultura Brasileira,
para o controle da murcha-de-fitóftora. Dot-ELISA. Fitopatologia Brasileira, Brasília,
Brasília, v.19, n.3, p.342-347, nov. 2001.
Aspecto muito importante no controle de v.21, n.4, p.503-508, dez. 1996.
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artigo9.p65 98 22/12/2006, 10:24


Cultivo da pimenta 99

Colheita e manejo pós-colheita da pimenta


Fernando Luiz Finger 1
Vicente Wagner Dias Casali 2

Resumo - As pimentas são frutos altamente perecíveis, devido à elevada suscetibilidade


aos estresses pós-colheita de naturezas biótica e abiótica. Os frutos apresentam
comportamento não-climatérico da respiração e completa ausência da produção
autocatalítica de etileno durante o amadurecimento. A resposta dos frutos em acelerar
a degradação de clorofila, na presença de etileno exógeno, é extremamente variável
entre as espécies cultivadas de C. annuum, C. frutescens, C. chinense e C. baccatum e
dependente da variedade e não da espécie botânica. Em frutos de C. chinense há correlação
positiva entre o aumento da relação superfície/volume e a taxa de perda de água e do
murchamento das pimentas. Por serem de origem tropical e subtropical, as pimentas
desenvolvem sintomas de injúria, quando armazenadas a 5oC, devendo ser mantidas
em temperaturas próximas a 10oC para evitar danos aos frutos.

Palavras-chave: Capsicum. Maturação. Etileno. Perda de água. Armazenamento.


Temperatura.

INTRODUÇÃO As perdas dos frutos frescos durante a jo, neste trabalho são abordados os fato-
cadeia de comercialização são de natureza res endógenos de natureza fisiológica,
As pimentas C. annuum, C. frutescens,
cumulativa e resultam da incidência de um gênica e do ambiente que afetam o ama-
C. chinense, C. baccatum e C. pubescens
ou mais dos seguintes fatores de dete- durecimento e a conservação pós-colheita
são espécies domesticadas com valor co-
rioração: das pimentas.
mercial e de consumo in natura e também
a) perda física do produto por danos
para produção de páprica e outros produtos
mecânicos, doenças ou insetos; FISIOLOGIA DO
desidratados ou usados como compotas
b) perda de água pelo processo trans- AMADURECIMENTO
na forma de molhos ou de frutos inteiros.
Porém, como todo fruto carnoso fresco, as piratório; As fases de desenvolvimento dos fru-
pimentas sendo organismos vivos, na pós- c) perdas por extremos de temperatu- tos são caracterizadas por alterações, tan-
colheita são afetados por agentes diversos ra – congelamento ou estresse por to na estrutura como na fisiologia e na
de natureza fisiológica endógena e do am- altas temperaturas; bioquímica das células que culminam com
biente (abióticos ou bióticos) durante a d) redução da energia armazenada a maturação, o amadurecimento e final-
comercialização, transporte e o armaze- (carboidratos) pelo processo res- mente a senescência. O amadurecimento
namento. No entanto, mesmo tendo grande piratório; constitui a fase final da maturação e esta
importância econômica no Brasil e no fase é caracterizada pelo amolecimento da
e) perda da qualidade pela degrada-
mundo, a maioria dos aspectos relacio- polpa, alterações na cor da casca e polpa,
ção de vitamina C e capsaicinas;
nados com a fisiologia pós-colheita dos desenvolvimento do aroma e do sabor dos
frutos, como o padrão de amadurecimento, f) desenvolvimento de distúrbios fi-
frutos. Em frutos da pimenta C. chinense
qualidade e fatores que afetam a con- siológicos – injúria por frio.
cv. Habanero foram identificados 102 dife-
servação, é ainda pouco conhecido. Considerando as dificuldades de mane- rentes compostos voláteis responsáveis

1
Engo Agro, Pós-Doc, Prof. Adj. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: ffinger@ufv.br
2
Engo Agro, Ph.D., Prof. Tit. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: vwcasali@ufv.br

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.99-103, nov./dez. 2006

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100 Cultivo da pimenta

pelo aroma dos frutos verde-maduros e te o amadurecimento, quando os frutos GRIERSON, 2002). A passagem do sistema-
maduros, com predominância de diferentes foram colhidos no estádio verde-maduro, 1 ao sistema-2 de produção de etileno pelos
tipos de álcoois, aldeídos e cetonas que porém não foi possível detectar produção frutos climatéricos decorre do aumento da
conferem aroma distinto para cada estádio de etileno após 18 horas de acúmulo em expressão das enzimas-chave da rota de
de amadurecimento (PINO et al., 2006). frascos selados acondicionados a 20oC biossíntese de etileno, a sintase do ACC e
Quanto ao comportamento da res- (Gráfico 1). O pico climatérico da respiração a oxidase do ACC, estimulada pelo próprio
piração durante o amadurecimento, os fru- ocorreu estando os frutos com 50% da etileno (FINGER; VIEIRA, 2002). No estudo
tos carnosos são classificados em clima- superfície vermelha. Porém, para a maio- realizado com 16 acessos e cultivares de
téricos e não-climatéricos, tendo respostas ria dos frutos com comportamento tipi- pimenta das espécies C. annuum, C.
distintas à ação do hormônio etileno, com camente climatérico, como o tomate, o pico chinense, C. baccatum e C. frutescens,
profundas conseqüências sobre a con- de produção de CO2 é coincidente com as observou-se que a aplicação de 1.000 mg/L
servação e a qualidade de frutos maduros. fases iniciais da degradação da clorofila e de ethephon em frutos verdes-maduros
O manuseio adequado dos frutos na pós- acúmulo de pigmentos carotenóides não estimulou a respiração climatérica ou a
colheita fundamenta-se no conhecimento (MOURA et al., 2004). Embora tenha ocor- produção autocatalítica de etileno em ne-
dos mecanismos de controle da respiração rido aumento da respiração durante o nhuma das espécies avaliadas (PEREIRA,
e do amadurecimento, uma vez que a con- amadurecimento, similar à respiração cli- 2004). Nos frutos em que houve aumento
servação pós-colheita é inversamente pro- matérica, nos frutos colhidos verde- da respiração ou da produção de etileno,
porcional à taxa respiratória e de produção maduros desta pimenta, não houve pro- estas ocorreram em frutos completamen-
de etileno. Em pimentas, no entanto, há dução autocatalítica de etileno, a qual te maduros e senescentes. Resultados
poucos estudos sobre o comportamento sempre acompanha o incremento da semelhantes foram encontrados por Tian
respiratório e de produção de etileno du- respiração dos frutos tipicamente clima- et al. (2004) que observaram elevação da
rante o amadurecimento dos frutos. téricos. A produção autocatalítica de etileno respiração mitocondrial de pimentão-verde,
Gross et al. (1986), ao avaliarem as resulta do aumento na produção de 1-ácido quando tratado com 100 mL/L de etileno,
transformações bioquímicas de pimentas carboxílico-1-aminociclopropano (ACC) e porém, a concentração interna de CO2 do
(C. annuum cv. Chooraehong), verificaram de etileno pela ativação do sistema-2 de fruto diminuiu, quando o tratamento com
a presença de respiração climatérica duran- produção do hormônio (ALEXANDER; etileno foi retirado. Isso indicou, portan-
to, que o incremento da respiração foi de-
pendente da presença de etileno exógeno.
Em outro estudo Barrera et al. (2005) obser-
varam que frutos de pimentas das espécies
C. annuum e C. frutescens do banco de
germoplasma da Amazônia – Instituto
Amazônico de Pesquisa Científica (SINCHI)
da Colômbia – tiveram padrão não-climatérico
da respiração durante o amadurecimento, e
a produção de etileno permaneceu sempre
abaixo de 0,01 mL/L. Dessa forma, o com-
portamento da respiração no amadure-
cimento, a ausência do sistema-2 de produ-
ção de etileno e as respostas dos frutos de
pimentas à aplicação de etileno exógeno são
típicos de frutos não-climatéricos, à se-
melhança do pimentão.
Pereira (2004) avaliou o efeito do ethe-
phon sobre o amadurecimento de pimentas
das espécies C. annuum, C. chinense, C.
baccatum e C. frutescens e observou que
somente em alguns genótipos houve ace-
Gráfico 1 - Respiração e produção de etileno em frutos da pimenta Capsicum annuum leração da degradação de clorofila e síntese
cv. Chooraehong colhidos no estádio verde-maduro e armazenados a 20oC de pigmentos carotenóides, antecipando
FONTE: Gross et al. (1986). o aparecimento da cor vermelha, laranja ou
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Cultivo da pimenta 101

amarela dos frutos maduros (Quadro 1). A riedade e não à espécie a botânica. Além Durante a fase de crescimento do fruto
indução da degradação da clorofila pelo disso, Pereira (2004) observou que não hou- das pimentas há acúmulo de capsaicina e
ethephon provavelmente não está asso- ve influência do ethephon sobre o acúmulo dihidrocapsaicina, os dois principais
ciada à espécie ou à cor final dos frutos, de carotenóides nos frutos maduros das alcalóides produzidos pelos frutos, porém,
visto que houve aceleração da degradação pimentas. o conteúdo decresce com o amadure-
em três genótipos das espécies C. annuum Em frutos carnosos classificados como cimento do fruto na planta (CONTRERAS-
(cv. Mirassol), C. baccatum (BGH 6029) e não-climatéricos, o etileno não participa na PADILLA; YAHIA, 1998). Estes autores
C. frutescens (BGH 4179), com significati- indução do amadurecimento deles, embora observaram que a queda no conteúdo das
va redução do número de dias até atingir a em algumas espécies a aplicação exógena capsaicinas teve correlação com o aumento
cor madura final do fruto maduro, res- de etileno possa estimular o acúmulo de da atividade da peroxidase.
pectivamente vermelho, amarelo e vermelho pigmentos carotenóides (GIOVANNONI, O incremento da atividade da pero-
(Quadro 1). Ambos os acessos de C. 2001). xidase provavelmente está relacionado com
a competição por intermediários da rota dos
chinense foram insensíveis ao etileno, e a Capsaicinas formam a classe de subs-
fenilpropanóides, necessários na síntese
cultivar Mirassol foi a mais sensível à ação tâncias responsáveis pela pungência dos
de capsaicinóides e de compostos fe-
do etileno, com antecipação de 45% no nú- frutos. Estes compostos são sintetizados
nólicos componentes da parede celular dos
mero de dias até o amadurecimento em rela- por glândulas secretoras localizadas na
frutos (BERNAL et al., 1995).
ção aos frutos não tratados. Estes resul- região placentária dos frutos, e a quan-
tados evidenciam que a maior ou menor tidade acumulada nos frutos é distinta
PERDA PÓS-COLHEITA DE
responsividade do fruto de pimenta ao entre variedades da mesma espécie e entre
ÁGUA
etileno provavelmente está associada à va- espécies de pimenta (BOSLAND, 1992).
A colheita interrompe o suprimento de
água do órgão vegetal e, assim, a perda de
QUADRO 1 - Influência do ethephon sobre o amadurecimento de pimentas armazenadas a 25oC água subseqüente por transpiração de-
termina, em grande parte, as perdas de
Dias para o fruto maduro ordem quantitativa e qualitativa dos pro-
Espécie Cor do fruto maduro dutos hortícolas. O murchamento e en-
(1)
Controle Ethephon rugamento da superfície dos frutos de
pimenta são os sintomas iniciais da exces-
C. annuum siva perda de água. Além disso, a excessiva
Mirassol Vermelho 21,5 a 11,8 b perda de água por transpiração pode indu-
New Mexican Vermelho 20,3 a 17,7a zir rápida deterioração via aumento da taxa
de algumas reações de origem predo-
minantemente catabólica, como a degra-
C. chinense dação de clorofila estimulada pelo etileno.
BGH 1716 Laranja 7,8 a 7,3 a A perda de massa fresca total pós-
BGH 1723 Vermelho 14,8 a 18,8 a colheita dos produtos hortícolas é re-
sultado do somatório da perda de água pela
transpiração e da perda de matéria seca,
C. baccatum devida à atividade respiratória. Com base
BGH 4366 Vermelho 13,0 a 9,0 a nas taxas respiratórias dos produtos fru-
BGH 6029 Amarelo 5,3 a 3,5 b
tos, em geral, a perda de massa pela res-
piração situa-se entre 3% e 5% da perda
total de massa na pós-colheita (BEN-
C. frutescens YEHOSHUA, 1987). Portanto, a in-
BGH 4179 Vermelho 12,8 a 8,0 b tensidade da transpiração ocorrida após a
colheita determina, em grande parte, a taxa
BGH 4708 Vermelho 16,3 a 17,5 a
de perda de massa dos produtos hortícolas
FONTE: Pereira (2004). frescos.
NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na linha, em cada acesso, não diferem entre si pelo A cutícula consiste na camada cerosa
teste-t a 5% de probabilidade. que recobre a superfície das células epi-
(1)Frutos verdes-maduros imersos em 1.000 mg/L de ethephon por 30 minutos. dérmicas dos frutos carnosos. As ceras são
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102 Cultivo da pimenta

formadas por distintos lipídios este- QUADRO 2 - Relação superfície/volume, perda de massa fresca de acessos e dias para murcha
rificados, dificultando a penetração de aparente em frutos de Capsicum chinense armazenados à temperatura de 22oC e
patógenos e a passagem de vapor de água. umidade relativa de 60%
A estrutura química das ceras prova-
Relação
velmente é mais importante que a respecti- Acesso Perda de massa Ponto de murcha
superfície/volume
va espessura no controle da difusão do (%/dia) (dias)
(cm2/cm3)
vapor de água através da cutícula. Lownds
et al. (1994) observaram que houve até 60% BGH 6371 1,17 0,90 8
de variação na perda de massa fresca entre BGH 4213 2,78 1,73 5
nove cultivares de pimentão, quando os
BGH 1716 3,38 2,63 5
frutos foram armazenados em temperatura
e umidade semelhantes. Essa variação im- BGH 1723 5,27 3,25 3
plica na existência de graus de permea- FONTE: Cabral (2006).
bilidade das cutículas ao vapor de água
entre as cultivares estudadas.
As trocas gasosas entre o fruto car- incapacidade de amadurecer completa- temperaturas causadoras da injúria. Em
noso e o ambiente são influenciadas pela mente e aumento da incidência de doenças pimentas, no entanto, não há estudos sobre
razão entre a área e o volume do fruto, ou (PAULL, 1994). O desenvolvimento da a avaliação da sensibilidade dos frutos ao
seja, a superfície específica. Logo, a perda injúria por frio decorre do armazenamento frio nas espécies cultivadas; em geral, os
de vapor de água por transpiração será dos frutos em condições de frio abaixo de trabalhos têm sido realizados com pi-
mais elevada nos produtos com maior re- determinada temperatura considerada mentão. Porém, em estudo recente (MAR-
lação superfície/volume (cm2/cm3). Admi- crítica, porém acima de 0oC e inferior a 12oC. QUES et al., 2005) foram testados sete
tindo que a forma do fruto seja constante, Na maioria dos frutos suscetíveis ao acessos de C. baccatum (BGH 1646, 4366,
a superfície específica aumenta com a re- distúrbio fisiológico, a temperatura mais 6029) C. chinense (BGH 4213 e 6371) e C.
dução do volume, logo as pimentas me- efetiva em causar injúria por frio situa-se annuum (cvs. Mirassol e New Mexican)
nores são mais suscetíveis à desidratação próxima a 5oC (WILLS et al., 1998). Entre as quanto à sensibilidade dos frutos à baixa
desde que sejam colhidas. Em frutos de C. principais respostas metabólicas dos frutos temperatura. Marques et al. (2005) arma-
chinense houve correlação positiva entre tropicais e subtropicais ao frio estão as zenaram frutos maduros recém-colhidos à
superfície/volume e a taxa de perda de reações que direcionam ao avanço do co- temperatura de 5oC e 10oC em embalagens
massa fresca durante o armazenamento perfuradas de polietileno tereftato (PET)
lapso celular.
(Quadro 2). Frutos com elevada relação
Segundo Shewfelt (1993), as principais para evitar a desidratação excessiva dos
superfície/volume tiveram menor vida de
respostas metabólicas dos frutos tropicais frutos. Exceto por dois acessos, um de C.
prateleira, devido à maior transpiração. O
e subtropicais ao frio estão as reações que chinense (BGH 6029) e outro de C. annuum
aumento da relação superfície/volume de
direcionam ao avanço do colapso celular, (cv. Mirassol), houve indução de sintomas
1,17 para 5,27 elevou a taxa de perda de
como: de injúria por frio a 5oC e a 10oC, com maior
massa de 0,90%/dia, para 3,25%/dia, an-
a) extravasamento de solutos; intensidade de sintomas, ainda dentro da
tecipando a murcha aparente dos frutos em
câmara, para a temperatura de 5oC. Nesses
5 dias (Quadro 2). b) aumento da respiração;
frutos, os sintomas manifestaram-se, sob a
c) acúmulo de toxinas; forma de pequenas manchas superficiais
TEMPERATURA DE d) desbalanço metabólico; esbranquiçadas dispersas na superfície do
ARMAZENAMENTO
e) perda da compartimentalização ce- pericarpo. Os primeiros sintomas surgiram
Entre os diversos fatores endógenos lular; nos frutos armazenados a 5oC no acesso
que afetam o potencial de armazenamento C. baccatum (BGH 4366), aos seis dias após
f) perda da integridade das membra-
das pimentas, a sensibilidade ao desen- o início do armazenamento, porém a tem-
nas;
volvimento de injúria por frio pode ser peratura de 10oC, os sintomas apareceram
considerada como o distúrbio de nature- g) aumento na produção de etileno;
primeiramente aos 12 dias de armaze-
za fisiológica mais importante no arma- h) redução no suprimento de energia; namento no acesso BGH 1646 da mesma
zenamento de frutos carnosos de origem i) decréscimo da atividade oxidativa espécie. Os frutos do acesso BGH 6029 (C.
tropical e subtropical. Os sintomas de das mitocôndrias. baccatum) e a cultivar Mirassol (C.
injúria nesta classe de frutos são em geral Os sintomas visíveis da ocorrência da annuum) foram resistentes ao aparecimento
caracterizados pelo aparecimento de de- injúria por frio manifestam-se geralmente de injúria por frio mesmo após um mês de
pressões e/ou escurecimento da casca, só após os frutos terem sido expostos a armazenamento. Como recomendação geral,
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artigo10.p65 102 22/12/2006, 10:28


Cultivo da pimenta 103

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artigo10.p65 103 22/12/2006, 10:28


104 Cultivo da pimenta

Coeficientes técnicos, custos, rendimento e


rentabilidade das pimentas
Nirlene Junqueira Vilela 1
Keize Pereira Junqueira 2

Resumo - As pimentas Capsicum spp. representam importantes fontes de geração de


emprego e renda na agricultura, principalmente para os pequenos produtores. Foram
levantados os coeficientes técnicos e custos de produção das pimentas ‘Jalapeño’, na
região de Ouvidor (GO), ‘Tabascos’, em Crato (CE), ‘Dedo-de-moça’, em Turuçu (RS),
‘Malagueta’, em Carmópolis (MG) e Piracanjuba (GO). Os sistemas de produção
considerados são conduzidos por pequenos produtores e têm como principais
características o emprego intensivo de mão-de-obra. Com exceção da pimenta-jalapeño
(industrial), a mão-de-obra é o componente que apresenta maior peso no total do custo
de produção. Em geral, os processos produtivos são desenvolvidos com especificações
técnicas simples e os custos de produção são baixos, quando comparados com os de
outras hortaliças. Apesar disso, todos os sistemas de produção são eficientes do ponto
de vista econômico. Portanto, a cultura das pimentas Capsicum spp. representa alternativa
rentável e deve ser recomendada para a agricultura familiar.

Palavras-chave: Capsicum. Aspectos econômicos. Custo de produção. Coeficiente técnico.

INTRODUÇÃO empregada, incluindo o material genéti- CUSTOS DE PRODUÇÃO DE


As pimentas Capsicum spp. são im- co, a qualidade da semente, as técnicas de PIMENTA
portantes produtos do agronegócio, tanto irrigação e o manejo da cultura. Adi- As pimentas consideradas neste tra-
em nível de mercado doméstico, como cionalmente, os preços dos insumos e dos balho foram ‘Tabasco’, ‘Malagueta’,
internacional. No ambiente de compe- produtos são determinantes da renta- ‘Dedo-de-moça’ ou ‘Pimentas-vermelhas’
titividade, a busca de melhor qualidade, bilidade. A melhor combinação dos fatores (denominação regional) e ‘Jalapeño’, que
preços e custos tem exigido dos produtores de produção resulta na exploração racional são as mais valorizadas pelo agronegócio.
maior eficiência técnica e econômica na que pode determinar a elevação da pro- Os coeficientes técnicos foram le-
condução dos sistemas de produção. Nes- dutividade, cujos efeitos incidem dire- vantados por pesquisadores e extensio-
se contexto, o conhecimento dos coefi- tamente na diluição dos custos totais de nistas diretamente nas áreas de produção
cientes técnicos, dos custos de produção produção. de Piracanjuba-GO (‘Malagueta’); Car-
e da rentabilidade das culturas é cada vez Tendo em vista a elevada importância mópolis-MG (‘Malagueta’); Turuçu-RS
mais importante no processo de tomada de socioeconômica da cultura das pimentas (‘Dedo-de-moça’); Ouvidor-GO (‘Ja-
decisão dos agentes do agronegócio. Capsicum spp. como geradoras de em- lapeño’); Crato-CE (‘Tabasco’).
O desempenho produtivo e a renta- prego e renda, principalmente para os pe- Os custos de produção foram de-
bilidade de qualquer cultura dependem de quenos produtores, nesta seção são apre- terminados com base nas informações dos
uma série de fatores. Além das condições sentados os coeficientes técnicos e as preços de mercado obtidos nos esta-
climáticas e da fertilidade natural do solo, é estimativas dos custos de produção e de belecimentos comerciais das respectivas
de fundamental importância a tecnologia rentabilidade dos cultivos de pimentas. regiões na ocasião da pesquisa. Com base

1
Economista Rural, M.Sc., Pesq. Embrapa Hortaliças, Caixa Postal 218, CEP 70359-970 Brasília-DF. Correio eletrônico: nirlene@cnph.embrapa.br
2
Enga Agra, Mestranda UFLA, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: keize@ufla.br

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Cultivo da pimenta 105

nos coeficientes técnicos levantados, uti- ‘Tabasco’ e ‘Jalapeño’ foram levantados em vasam e destinam o produto final em maior
lizou-se a análise econômica pelo método 2001 e podem ser verificados no Quadro 1. parte (80%) ao mercado internacional.
de orçamentação parcial (MOP). O MOP é Observa-se que esses custos de produção As pimentas-jalapeño, também co-
um modelo estático de análise econômica por hectare, ambos operacionalizados por nhecidas popularmente como pimentas
comumente utilizado em estudos de perfil pequenos produtores, são relativamente industriais, em geral, são utilizadas como
que fornece como resultados os indica- baixos, quando comparados aos de outras matéria-prima para a produção de páprica e
dores econômicos básicos de determinada hortaliças. corantes. Os sistemas de produção dessas
exploração, em um período específico. Em No sistema de produção de pimenta- pimentas são mecanizados e apresentam
geral, é aplicado para detectar os diferen- tabasco, o item que mais onerou os custos os insumos como o grupo de maior peso
ciais entre culturas ou sistemas de produ- de produção foi o insumo (66,11%). No gru- sobre os custos de produção (41,2%).
ção (PERRIN et al.,1985; SCOLARI et al., po dos insumos, os adubos químicos par- Dentro desse grupo, os componentes que
1985; SNODGRASS; WALLACE, 1993; ticiparam com maior peso nos custos mais oneram os custos de produção são
LAIARD; GLAISTER, 1996; EMBRAPA, (33,4%), seguidos pelas sementes (20%), os adubos químicos (19,3%) e as mudas
2002; ANDREWS; REGANOLD, 2004). que em geral são importadas. Nesse sistema, (12%) que são adquiridas de outros
a margem recebida pelos produtores sobre produtores mais especializados na pro-
Custos de produção das as vendas é de, aproximadamente, 42% e a dução deste fator. No grupo de serviços
pimentas ‘Tabasco’ e taxa de retorno é de 72%. destaca-se a participação das máquinas
‘Jalapeño’
A produção da ‘Tabasco’ é contratada (22%) nos custos totais. Dado o preço
Os custos de produção de pimentas pelas empresas processadoras que en- recebido pela matéria-prima, a margem dos

QUADRO 1 - Coeficientes técnicos e custos de produção de pimentas 'Tabasco' em Crato (CE) e 'Jalapeño' em Ouvidor (GO), 2001

'Tabasco' 'Jalapeño'
Especificação Unidade
Quantidade Total % Quantidade Total %
(R$) (R$)
Insumos
Sementes kg 1 768,00 19,99 0 0,00 0,00
Mudas mil 0 0,00 0,00 32,25 483,75 12,18
Corretivos de solo t 0 0,00 0,00 2 34,00 0,86
Adubos orgânicos t 2 400,00 10,41 0 0,00 0,00
Adubos químicos t 1,8 1.282,00 33,37 1,9 764,90 19,26
Herbicidas L 0 0,00 0,00 0 0,00 0,00
Inseticidas kg ou L 2 40,00 1,04 12,5 187,00 4,71
Fungicidas kg ou L 2 40,00 1,04 10,5 161,60 4,07
Espalhante adesivo L 2 10,00 0,26 2 6,00 0,15
Subtotal 1 2.540,00 66,11 1.637,25 41,22
Serviços
Mão-de-obra d/H 153 918,00 23,89 26,5 265,00 6,67
Máquinas h/m 4 100,00 2,60 62,5 867,25 21,83
Subtotal 2 1.018,00 26,50 1.132,25 28,51
Outros custos
Baldes e caixas ud 8 44,00 1,15 1500 975,00 24,55
Energia para irrigação KW 1200 240,00 6,25 0 0,00 0,00
Juros de custeio (8,75%aa.) 0 0,00 0,00 192,26 4,84
Transporte (carregamento) t 0 0,00 0,00 30 35,10 0,88
Subtotal 3 284,00 7,39 1.202,36 30,27
Custo variável total = 3.842,00 100,00 3.971,86 100,00
(subtotais 1+2+3)

NOTA: Levantamento de coeficientes técnicos realizados pelo Engo Agro José Selvar da Emater (CE).
d/H - Dia/homem; h/m - Hora/máquina.

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produtores sobre as vendas é de 42% e a QUADRO 2 - Custos de produção de pimenta-dedo-de-moça na região de Turuçu (RS), 2002
taxa de retorno apropriada pelos produto- Total Participação
Especificação Unidade Quantidade
res é de 72%. Ou seja, para cada unidade (R$) (%)
monetária aplicada nos processos pro-
dutivos o produtor recebe 1,74 de ren- Insumos
tabilidade. Sementes e mudas mil 15 180,00 4,72
Corretivos do solo t 0,7 84,00 2,20
Custos de produção de
pimentas dedo-de-moça Adubos orgânicos t 8 480,00 12,57
Adubos químicos t 0,465 452,25 11,85
O levantamento referente aos sistemas
Herbicidas L 0,3 4,20 0,11
de produção de pimenta-dedo-de-moça,
Inseticidas kg ou L 1,26 57,60 1,51
popularmente denominada pimentas-
Fungicidas kg ou L 1,8 88,20 2,31
vermelhas, foi realizado em 2002, na região
de Turuçu (RS). A cultura das pimentas- Subtotal 1 1.346,25 35,27
vermelhas representa a principal fonte de Serviços
renda dos pequenos produtores dessa Mão-de-obra d/H 110 1.650,00 43,22
região. Os sistemas de produção de Máquinas h/M 17,9 671,25 17,58
pimentas-vermelhas são conduzidos de Subtotal 2 2.321,25 60,81
maneira simples, sem muitas especifica- Outros custos
ções técnicas, que configuram o baixo nível Baldes e sacos (embalagem) 150,00 3,93
tecnológico empregado, como pode ser Óleo diesel para irrigação 0,00 0,00
observado no Quadro 2. Observa-se que na Subtotal 3 150,00 3,93
produção da pimenta-dedo-de-moça, os Total= (subtotais 1+2+3) 3.817,50 100,00
custos variáveis de produção são rela-
NOTA: Levantamento de coeficientes técnicos realizado pelo Engo Agro Lauro Schneid da
tivamente baixos, não chegando a R$ 4.000,00.
Emater -RS e André Machetti, estagiário do Curso de Agronomia da Universidade Federal
A mão-de-obra é o item que mais onera os de Santa Maria (UFSM), RS.
custos de produção (60,8%). O principal Trabalho realizado com recursos do Projeto de Apoio ao Desenvolvimento de Tecnologia
aproveitamento dessa espécie consiste na Agropecuária para o Brasil (Prodetab).
forma de pimenta moída, denominada d/H - Dia/homem; h/m - Hora/máquina.
“Calabresa”. Os próprios produtores fazem o
processamento que consiste na moagem das destacando-se os adubos químicos como o de produção considerado, a mão-de-obra foi
pimentas secas que, depois de embaladas em item mais caro desse grupo (Quadro 3). o fator produtivo mais intensivamente utilizado.
sacos, são comercializadas nos mercados As sementes utilizadas na produção de Este item representou o maior peso sobre os
interno e externo. mudas são colhidas nos próprios pimentais custos variáveis da produção, ou seja, 74,1%
destinados à produção comercial. Os no primeiro ano e 85,3% no segundo ano de
Custos de produção por produtores preparam o produto de acordo exploração do pimental. Em Minas Gerais,
hectare de pimenta- com as recomendações das indústrias, que estima-se que cada hectare cultivado de
malagueta em Goiás adquirem a pimenta diretamente das pimenta-malagueta gere de quatro a cinco
As pimentas-malaguetas, embora lavouras, na forma de contratação informal postos de trabalho apenas durante o processo
amplamente utilizadas pelas indústrias de preços e quantidades. Dado o preço produtivo. Além disso, os produtores
farmacêuticas para fins medicinais, no pago pelas indústrias, os produtores aumentam a quantidade de mão-de-obra na
Brasil o seu aproveitamento comercial mais apropriam a margem líquida de 45% sobre colheita, que é a fase da cultura que absorve
comum é na forma de molhos e conservas. as vendas no primeiro ano e de 55% no maior quantidade de serviços temporários.
Os pimentais de Goiás, em geral, são segundo ano de exploração dos pimentais. No total dos custos operacionais da
explorados por um período de dois anos. produção, os insumos participam com 21,4%
Tanto no primeiro como segundo ano, são Custos de produção de no primeiro ano e 15% no segundo ano de
empregadas tecnologias simples e os pimenta-malagueta em
exploração do pimental. Neste grupo, foram
sistemas são intensivos em mão-de-obra. Minas Gerais
os adubos químicos que mais pesaram sobre
Assim, este último é o item que mais onera Em meados do ano de 2003, foram os custos de produção total (8,2%).
os custos de produção no segundo ano de estimados os custos de produção por No segundo ano, o produtor tende a
exploração dos pimentais (53,1%). No primeiro hectare de pimenta-malagueta na região de renovar o pimental utilizando somente
ano, o grupo de insumos representa maior Carmópolis (MG). pequenas quantidades de adubos quími-
peso na composição dos custos (47,2%), Observa-se, pelo Quadro 4, que no sistema cos (12,2%) de inseticidas (1,07%) e fun-
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Cultivo da pimenta 107

QUADRO 3 - Custos de produção de pimenta-malagueta em Piracanjuba (GO), 2002

Especificação Unidade Quantidade Total do 1o ano (1)


% Quantidade Total do 2o ano (1)
%
(R$) (R$)

Insumos
Mudas mil 13,00 260,00 6,53 0,00 0,00 0,00
Corretivos do solo t 1,00 59,00 1,48 0,00 0,00 0,00
Adubos orgânicos t 20,00 300,00 7,53 0,00 0,00 0,00
Adubos químicos t 1,50 674,72 16,95 13,00 29,72 1,54
Herbicidas L 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Inseticidas kg ou L 21,00 365,20 9,17 20,50 365,20 18,90
Fungicidas kg ou L 7,00 218,80 5,50 7,00 218,80 11,33
Subtotal 1 1.877,72 47,16 613,72 31,77
Serviços
Mão-de-obra d/H 92,00 1.104,00 27,73 78,00 1.026,00 53,11
Máquinas h/M 16,00 640,00 16,07 0,00
Subtotal 2 1.744,00 43,80 1.026,00 53,11
Outros
Baldes e sacos 210,03 5,27 209,10 10,82
Óleo diesel 183,00 150,03 3,77 100,00 83,00 4,30
Subtotal 3 360,06 9,04 292,10 15,12
Total = (subtotais 1+2+3) 3.981,78 100,00 1.931,82 100,00

NOTA: Trabalho realizado com recursos do Projeto de Apoio ao Desenvolvimento de Tecnologia Agropecuária para o Brasil (Prodetab).
d/H - Dia/homem; h/m - Hora/máquina.
(1)Refere-se à participação percentual de cada item no total dos custos.

QUADRO 4 - Custos de produção por hectare de pimenta-malagueta na região de Carmópolis (MG), 2003

Total do 1o ano Participação Total do 2o ano Participação


Especificação Unidade Quantidade Quantidade
(R$) (%) (R$) (%)

Insumos
Sementes kg 0,20 140,00 1,70
Corretivos do solo t 2,00 40,00 0,49
Adubos orgânicos t 20,00 400,00 4,87
Adubos químicos t 1,53 670,00 8,16 1,02 490,00 12,20
Brometo de metila Lata 10,00 75,00 0,91 0,00
Inseticidas kg ou L 46,00 335,00 4,08 3,00 43,00 1,07
Fungicidas kg ou L 10,00 85,00 1,03 8,00 48,00 1,20
Espalhante adesivo L 2,00 10,00 0,12 2,00 10,00 0,25
Subtotal 1 1.755,00 21,37 591,00 14,72

Serviços
Mão-de-obra d/h 761,00 6.088,00 74,13 428,00 3.424,00 85,28
Máquinas h/m 5,00 100,00 1,22 0,00
Subtotal 2 6.188,00 75,34 3.424,00 85,28

Outros 0,00 0,00


Óleo diesel L 300,00 270,00 3,29 0,00
Subtotal 3 270,00 3,29 0,00
Total = (subtotais 1+2+3) 8.213,00 100,00 4.015,00 100,00
NOTA: Custos de produção levantados pelo Engo Agro José Salvador Resende da EMATER-MG.
Trabalho realizado em parceria com a EMATER-MG.
d/H - Dia/homem; h/m - Hora máquina.

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108 Cultivo da pimenta

gicidas (1,2%). Assim, nesse período os RENTABILIDADE DA CULTURA Observa-se pelo ponto de equilíbrio da
custos caem em, aproximadamente, 50%. Os indicadores básicos gerados pelas produção comercial que, em todos os
Entretanto, a participação da mão-de-obra análises econômicas confirmam que todos sistemas, a produtividade apresentou sig-
continua intensiva (85,3%). Nesse sis- os sistemas são eficientes do ponto de nificativa capacidade de diluir os custos
tema, verifica-se que o retorno ao produ- vista técnico-econômico (Quadro 5). A variáveis da produção.
tor, no segundo ano, é de quase 90% rentabilidade das pimentas em todos os
(Quadro 4). É importante ressaltar que os sistemas foi maior do que 1, indicando que CONSIDERAÇÕES FINAIS
produtores dessa região colocam no para cada unidade monetária (UM) aloca- Os sistemas de produção predomi-
mercado o produto envazado ou a granel da na cultura, os produtores obtiveram nantes, apesar de empregarem tecnologias
preparado. Considerando o preço re- retornos que variaram de 1,72 (no caso da simples, são todos eficientes do ponto de
cebido pelo produtor por quilo do produto ‘Tabasco’) a 2,24 (considerando a ‘Mala- vista técnico-econômico. Entretanto, a
a granel, verifica-se que, nessa região, a gueta’, no segundo ano, em Goiás). utilização de materiais genéticos mais
exploração da pimenta-malagueta é lu- No caso da ‘Malagueta’, no segundo potentes associados à inovação da base
crativa para os produtores. A margem so- ano, ocorre a exploração final do pimental. técnica dos produtores pode tornar os sis-
bre as vendas foi, em média, mais de 46% Assim, o produtor faz aplicações mínimas temas de produção ainda mais lucrativos.
e a taxa de retorno foi 86%, no primeiro de insumos e o fator mais intensivo é a mão- Observa-se que a exploração comer-
ano e, no segundo ano, em razão do pi- de-obra para colheita e acondicionamento. cial das pimentas Capsicum spp. gera em-
mental exigir menos gastos com tratos Dessa forma, os custos tornam-se menores pregos e renda em todos os segmentos da
culturais, a taxa de retorno foi maior (90%) e são diluídos pela produtividade obtida, cadeia produtiva, tanto a montante como a
(Quadro 4). proporcionando margens de lucro razoáveis. jusante da produção.

QUADRO 5 - Eficiência técnico-econômica dos sistemas de produção de Capsicum spp.

'Malagueta' (GO) 'Malagueta' (MG)


'Dedo-
Indicador de-moça' 'Tabasco' 'Jalapeño'
1o ano 2o ano 1o ano 2o ano

Produtividade de pimenta fresca (kg/ha) 10.000 10.000 30.000 4.000 2.400 6000 3000
Custos variáveis totais (R$) 3.817 3.842 3.972 3.982 1.932 8.213 4015
Conversão matéria-prima/Produto (kg/1kg) 8 _ _ _ _
Produvidade do produto processado (kg) 1.250 _ _ _ _
Custo unitário do produto processado (R$/kg) 3,05 _ _ _ _
Custo unitário de pimenta fresca _ 0,38 0,13 1,00 0,80 1,37 1,34
Preço recebido (pimenta seca) 5,50 0,66 0,23 1,80 1,80 2,54 2,54
Renda bruta (R$) 6.875 6.600 6.900 7.200 4.320 15.240 7.620
Renda líquida (R$) 3.057 2.758 2.928 3.218 2.388 7.027 3.605,
Margem de lucro (%) 44,47 41,79 42,44 44,70 55,28 46,11 47,31
Rentabilidade (UM) 1,80 1,72 1,74 1,81 2,24 1,86 1,90
Ponto de equilíbrio (kg) 694 5.821 17.269 2.212 1.073 3.233 1.581
Taxa de retorno (%) 80,09 71,79 73,72 80,82 123,62 85,56 89,79

Na forma processada ou in natura, as networking to evaluate the sustainability of datos agronômicos: un manual metodológico de
pimentas Capsicum spp. são produtos que horticultural production systems. Acta evaluación económica. México: CIMMYT, 1985.
Horticulturae, Hague, n.638, p. 359-368, 2004. 56p. (CYMMYT. Folheto de Información, 27).
agregam valor e detêm amplas opor-
EMBRAPA. Critérios para o levantamento SCOLARI, D.D.G.; SOUZA, M.C. de; COSTA,
tunidades de mercado. Portanto, devem ser de Sistemas de produção na Embrapa. M.E.F. da. Programa de análise econômica
recomendadas para agricultura familiar como Brasília: EMBRAPA - SGE, 2002. 17p. através de orçamentação parcial (ANECOR).
alternativa rentável para diversificação da LAIARD, R.; GLAISTER, S. Cost–benefit Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1985. 43p.
produção. analysis. New York: Cambridge, 1996. 486p. (EMBRAPA-CPAC. Documentos, 13).
PERRIN, R. K.; WIKELMANN, D. L.; SNODGRASS, M.M.; WALLACE, L.T. Agriculture
REFERÊNCIAS MOSCARDI, E. R.; ANDERSON, J. R. economics and resources management. New
ANDREWS, P. K.; REGANOLD, J. P. Research Formulación de recomendaciones a partir de Jersey: Prentice Hall, 1993. 521p.

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