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Reise ens oes Pea NSS tesa is oats? Sees eis S Say | ‘ fe eee: ee ye a a ree 76. PN aps pe on “f ha "0b; a bee Ct as fa ‘ A Editora Nobel tem como objetivo publicar obras com qualidade editorial ¢ grifica, consisténcia de informagdes, confiabilidade de tradugio, clareza de texto, c impressdo, acabamento e papel adequados, Para que vocé, nosso leitor, possa expressar suas sugesnies, duvidas, criticas ¢ eventuais reclamag6es, a Nobel mantém aberto um canal de comunicacdo, Entre em contato com: CENTRAL DE ATENDIMENTO AO CONSUMIDOR R. Pedroso Alvarenga, 1046 - 9° andar - 0453 1-004 - Sao Paulo. $P Fone: (11) 3706-1466 - Fax: (11) 37065-1462 wew.editoranobel.com.br E-mail: ednobel@editoranobel.com.br oe a = — E. Malavolta, F. Pimentel-Gomes e Jj. C. Alcarde Adubos e Adubacées Nova edicdo, revista, ampliada e atualizada do livro do mesmo nome de R. Pimentel-Gomes © 2000 E. Malavolta Direitos desta edicho reservados A AMPUB Comercial Lida. (Nobel é um selo editorial da AMPUB Comercial Lida.) Rua Pedroso Alvarenga, 1046 - 9 andar — 04531-004 — So Paulo - SP Fone: (11) 3706-1466 — Fax: (11) 3706-1462 www-editoranobel.com,.br E-mail; ednobel@editoranobel.com.br Coordenagde editorial: Clemente Raphael Mahl Assisténcia editorial; Marta L. Tasso Produgdo grafica: Mirian Cunha Cape: Douglas Canjani Foto: Carlos Goldgrub - Cafezal em floragio, Fazenda Jamaica - Ribeirio Claro - PR Composicdo: CompLaser Studio Grifico impressdo: Paym Grafica e Editora Ltda. Reimpressdo: 2006 Dados Internacionais de Catalogacdo na Publicado (CIP) (Cimara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Malavolta, E., 1926 Adubos ¢ adubagdes/E. Malavolta, F, Pimentel-Gomes ¢ J.C. Alcarde, — So Paulo: Nobel, 2002. ISBN $5-2)3-1074-9 1. Adubos 2. Fertilizantes 3. Quimica agricola |, Titulo. 99-0957 CDD-631.8 indices para catilogo sistemitico: |. Adubagdo : Agricultura 631.8 2. Adubos : Agricultura 631.8 E PROIBIDA A REPRODUCAQ ‘Nenhuma parte desta obra poderd ser reproduzida, copiada, transcrita ou mesmo fransmitida por meios cletrénicos ou gravagdes, sem a permissio, por cserito, do editor, Os infratores serio punidos pela Lei n° 9.610/98, Impresso no Brasil / Printed in Brazil Se ite em mg Sumario 1. As plantas 9 2. Os elementos e sua acao especifica ll 3. Osolo 16 4. Adubos organicos 29 5. Fertilizantes organicos 62 6, Corretivos da acidez dos solos 72 7. Fertilizantes ou adubos 75 8. 0 plano de adubacao 84 9. A pratica da adubacado 94 10. Adubacées 110 ll. Recuperagdo doscerrados_—CSCéidiD 12. O cerrado — hoje e amanha 190 Bibliografia 199 Prefacio O livro de meu pai Adubos e Adubacées foi publicado inicialmente pelo Ministério de Agricultura e depois pelas Edicées Melhoramentos. Posteriormente, reformulado e atualizado, integrou a Biblioteca Rural da Editora Nobel, entao chefiada pelo saudoso Claudio Milano. Em lingua- gem simples e pratica, com grande énfase na adubacao organica, no apro- veitamento do esterco e dos adubos verdes, ele teve sucessivas edicdes e reimpressées, Mas o progresso rapido da Ciéncia Agricola indica a ne- cessidade de uma atualizacéo radical, para incorporar novas técnicas, especialmente o uso generalizado da analise do solo para orientar as adu- bacoes. Para realizar essa tarefa, de que me incumbiu a Editora Nobel, busquei o auxilio de dois colegas, também Engenheiros Agrénomos, ambos com longa vivéncia no estudo dos adubos e das adubagdes: Euripedes Malavolta e José Carlos Alcarde. A tarefa era dificil, complica- da. Ao discuti-la, definimos, como regra inarredavel, que a nova edigao do livro, embora solidamente baseada na complexa bibliografia nacional e internacional do assunto, mantivesse o ideal de origem, de linguagem acessivel a um amplo universo de leitores mais interessados nos aspec- tos praticos. Se tivermos aleancado esse fim, se esta nova edicao do livro Adubos e Adubagées de meu pai for util aos lavradores, aos fazendeiros e aos brasileiros em geral, sera grande a satisfagdo dos autores. F, Pimentel-Gomes 1, As plantas A vegetacao natural varia muito de um para outro lugar e as vezes dentro de areas muito pequenas. Os fazendeiros, sitiantes e chacareiros sabem também que nem todos os solos, nem todos os climas se prestam a todas as culturas. Ademais, enquanto em alguns solos se obtém safras muito grandes, noutros as safras podem ser mediocres e, em terceiros tao pe- quenas que a lavoura deixa de ser lucrativa. No mesmo terreno, o volume das safras varia de ano para ano. A quantidade de agua existente no solo tem influéncia considera- vel, quase sempre decisiva, sobre o volume das safras. A agua é o fator primordial na vida das plantas. Dai, as vantagens da irrigagao, mesmo em trechos pequenos, pois a sua presenca permite dar ao solo a quanti- dade de agua exigida pelos vegetais, nos momentos mais propicios. A irrigacao, quando nao indispensavel, ¢, quase sempre, aconselhavel. Adotam-na, por conseguinte, em todos os paises de agricultura muito intensa, até mesmo nos de chuvas abundantes e bem distribuidas. O solo tem, também, acao decisiva na vida das plantas. Nele as raizes encontram apoio e substancias quimicas indispensaveis ao cresci- mento e frutificagao. Na igualdade de outros fatores, o volume das safras varia com a quantidade de nutrientes existentes no solo. As plantas sao formadas de compostos de oxigénio, hidrogénio, carbono, nitrogénio, fésforo, potassio, calcio, enxofre, magnésio, ferro, manganés, cobre, cloro, zinco e varios outros elementos. O hidrogénio e o oxigénio provém principalmente da agua, absorvida pelas raizes. O car- bono, fundamental para formacdo da matéria viva, vem do anidrido carbénico (CO,) do ar atmosférico. A agua, tendo em solucao os elementos nutritivos, entra nas plan- tas pelas raizes capilares, finissimas, que se encontram quase na extre- 9 midade das outras raizes, sobe pelo caule e atinge as folhas, O carbono entra nas folhas através de furozinhos nelas existentes — 0s estématos — mas nao entra puro e sim, combinado com o oxigénio, formando um com- posto que os quimicos denominam anidrido carbénico ou gas carbénico, A clorofila, que é a substancia verde das folhas, aproveitando a energia existente na luz solar, combina, quimicamente, 0 oxigénio com a agua e forma os carboidratos. Os carboidratos ficam, parcialmente, nas folhas - nas quantidades que se fizerem necessarias, porém, a maior parte se diri- ge para o caule eas raizes, onde outros elementos Ihes s4o adicionados, de modo a permitir a formacao de tudo o que se encontra nos vegetais. A producao de carboidratos que ultrapassa as necessidades da planta é ar- mazenada nas raizes, nos caules e nas folhas, donde é reti rada, oportuna- mente, para atender a producao de flores e sementes € a outras exigénci- as das plantas. Da enorme quantidade de agua que entra nas plantas, pelas raizes (um coqueiro, em média, absorve 40 litros por dia), apenas porcdes mini- mas sao utilizadas na formagio dos carboidratos. A agua ou seiva que circula nas plantas age como veiculo, no transporte das substancias nu- tritivas para as diversas partes do organismo vegetal. O excesso de agua passa, principalmente, através dos estématos das folhas, para o ar atmos- férico, sob a forma de vapor de agua. Quando ha agua suficiente nas plantas sadias, elas mantém a turgescéncia das folhas e dos tecidos novos, que ficam, assim, suficiente- mente rigidos. Quando a absorcao de agua pelas raizes nado compensa a perda que se esta verificando nas folhas, essas e outros tecidos perdema turgescéncia e murcham. Tal acontece se faltar agua no solo ou se as raizes sao cortadas ou afetadas por pragas e moléstias. A poda mais ou menos rigorosa das folhas tende a equilibrar a absoreao com a evapora- cao da agua. Defendendo-se da perda excessiva de agua, as plantas rea- gem automaticamente, ou fechando os estomas, ou deixando as folhas cairem, despindo-se, assim, a copa. E 0 que acontece com muitas arvo- res, chamadas tropdfilas ou caducifélias, que crescem em zonas nas quais ha longa estacao seca, anualmente, como na maior parte do Nordeste do Brasil. 10 2.Qselementos /@ € sud acdao especifica Ja foi visto como agem na planta o carbono (C), o hidrogénio (H) e 0 oxigénio (O) que, juntos, formam 95% da sua matéria seca. Os restantes 5% constituem os minerais que as culturas retiram do solo ou, quando este nao pode fornecé-los suficientemente, do adubo. Esses minerais se dividem em dois grandes grupos, a saber: * Macronutrientes - Os elementos exigidos em maior proporeao, quilos por hectare; so eles 0 nitrogénio out azoto (N), 0 fésforo (P), o potassio (K), 0 calcio (Ca), 0 magnésio (Mg) e 0 enxofre (S): * Micronutrientes — Os elementos exigidos em menor quantidade, gra- mas por hectare, sao: o boro (B), 0 clora (Cl), 0 cobalto (Co), o cobre (Cu), o ferro (Fe), o manganés (Mn), 0 molibdénio (Mo), o niquel (Ni), 0 selénio (Se) € o zinco (Zn); algumas plantas nao vivem sem o sddio (Na). O nitrogénio faz parte dos aminoacidos, que, juntos, constitu em as proteinas, que ja foram definidas, por sua importancia, como a base fisica da vida. Algumas proteinas tém funcdo enzimatica, isto é, sdo responsaveis pelas mais variadas funcdes: desde a absorcao dos elementos minerais pelas raizes ou pelas proprias folhas, até a fotossintese ou a respiracao. A clorofila, o pigmento que da a cor verde aos vegetais, e algumas vitaminas, entre outros compostos, também contém N. Quando ha falta de nitrogénio no solo e o adubo nao o forne- ce, as plantas crescem e produzem menos, e suas folhas ficam cloréticas (amareladas). Se houver excesso de N no solo, a planta vegeta excessi- vamente e, se for frutifera, da menos frutos. Muita folha e pouca raiz leva a planta a transpirar demasiadamente, ficando mais sujeita a seca. Além disso a cultura se torna mais suscetivel ao ataque de pragas e moléstias. O fésforo (P) faz parte do trifosfato de adenosina (ATP), gerado na respiracao e na fotossintese: ¢ a moeda com que o vegetal paga todos os processos em que ha gasfo de energia, tais como a absorcao de mine- rais € a prépria sintese ou formacao de proteinas. Sem fosforo nao se pode falar em fotossintese e respiracao. As mensagens hereditarias que uma planta transmite para seus descendentes, numa semente ou numa gema, estdo escritas em composto muito complexo, o Acido desoxirribonucleico (DNA), que contém fésforo. O fésforo é importante na floragao e na frutificacao, além de ajudar no desenvolvimento do siste- ma radicular. Faltando P, as folhas adquirem coloracdo verde azulada e depois apresentam tonalidades roxas, seguindo-se, mais tarde, amarelecimento. Potassio (K) e nitrogénio costumam andar de maos dadas em muitas das suas fungdes: meia centena de enzimas somente funcionam se o K estiver presente. O elemento é necessario para a formacao dos acucares nas folhas e para seu transporte para outros érgdos como as raizes da mandioca, os tubérculos de batatinha, os colmos da cana-de- a¢ucar, os frutos do cafeeiro e da laranjeira. Plantas bem providas de K resistem mais a seca, ao frio, a pragas e moléstias. Seus produtos conser- vam-se melhor durante o armazenamento e o transporte. Havendo falta de K, as folhas mais velhas amarelecem e depois secam nas pontas ¢ nas margens. Os colmos dos cereais se tornam mais fracos e acamam. Os frutos sio menores e podem ficar chochos, como é 0 caso do café. O efeito prejudicial do excesso de N pode, As vezes, ser corrigido quando a cultura recebe K suficiente. Em outras palavras: as culturas devem rece- ber, do solo e dos adubos, N e K em proporcdes equilibradas. Por outro lado, 0 excesso de potassio pode provocar falta de magnésio e de calcio, cuja absorcao é dificultada. O calcio (Ca) faz parte da parede celular, cuja resisténcia a pene- tragao de bactérias e fungos é assim aumentada. Juntamente com o Pe necessario ao desenvolvimento e ao funcionamento das raizes (absorgao de agua e de minerais), e ao pegamento das floradas, A resposta da plan- ta a estimulos do meio em que vive tem 0 Ca como intermediario, Quan- do o Ca é deficiente, pode haver colapso do peciolo, murchamento das folhas mais novas e amarelecimento de suas margens. O magnésio (Mg) ocupa posicao central na molécula da clorofilae funciona como ativador de muitas enzimas. Serve como ponte entre o 12 ATP mencionado e compostos organicos, como agticares, que serao trans- formados por enzimas. Ajuda a absorcao do fésforo. Quando ocorre defi- ciéncia de magnésio, as folhas mais velhas ficam amarelas entre as nervuras e caem prematuramente, e a formagao das sementes é prejudi- cada, O enxofre (S$) entra na composi¢ao de todas as proteinas da plan- ta. Além disso faz parte de algumas vitaminas e de coenzimas (auxiliares das enzimas em suas fungdes) que atuam em muitos processos que vao desde a fotossintese até a fixacdo do nitrogénio nos nédulos das raizes das leguminosas, como 0 feijao e a soja, A vegetacao é mais escassa quando ha falta de S, e as folhas mais novas ficam amareladas; quando a deficién- cia é de nitrogénio, sao as mais velhas que o fazem. O boro (B) colabora com o calcio em muitas de suas funcdes, como o desenvolvimento e o funcionamento das raizes, a germinacdo do grao de pélen e o pegamento das floradas. Faltando boro, ha abortamento das floradas e ma granacao, e os frutos ficam menores. Os sintomas de deficiéncia de boro consistem ainda na morte das ge- mas terminais € no superbrotamento com folhas menores e deforma- das. O transporte de acucares das folhas para outros érgaos é desorga- nizado e aquelas chegam a engrossar e a apresentar nervuras suberificadas e salientes. Pode haver escurecimento interno do caule, peciolo, flores e frutos. Excesso de boro pode provocar amarelecimento malhado e queda das folhas. O cloro (Cl) é essencial para a fotossimtese. Além disso, aumenta 0 processo de absorgao dos elementos minerais, tanto pelas raizes quan- to pelas folhas. Havendo falta desse elemento, as folhas murcham e de- pois amarelecem. 0 cobalto (Co) é ativador de enzimas, que atuam na formag¢ao de parte da clorofila e de outros compostos. Faz parte da vitamina B12, es- sencial para a formacao de leghemoglobina dos nédulos das leguminosas, que participa do processo de fixacao do nitrogénio. O sintoma mais tipi- co da falta de Co é amarelecimento das folhas. As leguminosas, entao, produzem poucos nédulos, que funcionam mal. Havendo deficiéncia de cobre (Cu) as folhas se tornam, a princi- pio, maiores, palidas e flacidas, Depois, podem adquirir cor verde-azulada e manchas pardas irregulares perto das margens. © cobre colabora com enzimas respiratérias e fotossintéticas. Aumenta a resisténcia a doencas 4 13 e da maior vigor as plantas, o que indica uma relacdo com os horménios: ha menor queda das folhas, flores e frutos. Excesso de cobre restringe o desenvolvimento das raizes e causa amarelecimento & queda posterior das folhas. Caréncia de ferro (Fe) e clorose, durante muito tempo, foram qua- se sindnimos: quando o elemento nao est4 no solo ou no substrato para as mudas em forma aproveitavel, as folhas mais novas ficam amareladas, mostram 0 reticulado verde das nervuras sobre fundo amarelo. O Fe nao faz parte da clorofila, porém, é necessario para que ela se forme. Além disso, através da colaboragao que presta a muitas enzimas, o ferro parti- cipa dos processos mais diversos na vida da planta: fotossintese, respira- ¢a0, fixagao bioldgica do nitrogénio e sua assimilagao, desenvolvimento dos cloroplastos (as organelas em que se da a captura da luz para a fotossintese), desenvolvimento dos ribossomos (necessarios para a for- magao da proteina), Os solos brasileiros tém muito ferro — basta ver a sua cor avermelhada: por esse motivo, a caréncia de ferro nao é muito comum, a ndo ser quando se faz uma correcao inadequada de acidez, usando excesso de calcario e elevando muito o pH, 0 que torna o Fe nao disponivel. O manganés (Mn), mais abundante nos solos acidos, onde pode se tornar toxico, exerce muitas e importantes fungées na vida da plan- ta: faz parte de uma proteina, a manganina, e participa da decomposi- ¢ao da agua na fotossintese. Além disso, toma parte na formacao de clorofila, de algumas gorduras, da membrana dos cloroplastos, da sin- tese das proteinas e dos acidos nucléicos, e do controle hormonal. Fal- tando Mn, 0 que ocorre em solos com calagem excessiva, por exemplo, ou com muita mateéria organica, os sintomas iniciais sdo parecidos, com a deficiéncia de Fe. Em seguida, as nervuras ficam verdes, com uma estreita faixa de tecido ao longo delas o que da a folha o aspecto de um reticulado grosso. Mais tarde a folha nova fica completamente amarela- da. Como no caso de qualquer deficiéncia, a producao cai, E 0 que vem ocorrendo ultimamente no café e na soja do cerrado. Recentemente verificou-se que 0 manganés aumenta a resisténcia da planta a doencas causadas por fungos. O molibdénio (Mo), juntamente com o niquel (Ni) e 0 selénio (Se) é dos elementos que aparecem no tecido vegetal em menor propor- cao; da ordem de 1 décimo de mg por kg de matéria seca. Mas nem por 4 isso deixa de ser essencial. Faz parte da enzima que ajuda na assimilacao do nitrogénio nitrico (NO,) absorvido pelas raizes ou pelas folhas, do mesmo modo que é indispensavel, junto com o Fe e o Co, para a fixagdo bioldgica do N. Além disso, participa da formagao do grao de polen, do metabolismo das proteinas e dos acidos nucléicos, da absorcao e trans- porte do ferro. Faltando Mo as folhas mais velhas apresentam manchas amarelas entre as nervuras, as vezes parecidas com as da ferrugem do café, encurvam-se e podem ter estrangulamento acentuado do limbo, como ocorre na couve-flor. O niquel (Ni), durante muito tempo considerado téxico, é hoje parte da lista dos essenciais: todos os animais, inclusive o homem, e todas as plantas possuem uma enzima chamada urease, particularmen- te ativa nas folhas. Tal enzima desdobra a uréia em aménia (NH,) e gas carbénico. A urease nao funciona sem niquel. O sintoma da falta de niquel, conhecido na soja, por exemplo, sao pontuagoes escuras entre as nervuras. O selénio (Se), tem uma histdria parecida com a do Ni. Foi duran- te muito tempo considerado téxico para as plantas, embora os animais dele necessitem. O seu papel esta ligado aos acidos nucléicos e a sintese de proteinas. A deficiéncia de Se por isso se manifesta como um amarelecimento das folhas mais velhas. 15 3, O solo O solo reveste a superficie do planeta, como a pele reveste 0 corpo dos animais. Falta em dreas pequenas e raras, apresentando-se, entao, a ro- cha desnuda. O solo originou-se da desintegracdo mais ou menos completa das rochas, a cujos fragmentos se juntaram outros de origem organica, pro- venientes da decomposicao de restos de plantas e animais. A sua espes- Sura varia muito. Geralmente é mais espesso nos vales, planicies ¢ planal- tos e mais fino nas montanhas e encostas, A parte vital do solo é, porém, constituida pelos trinta ou quarenta centimetros superficiais, a chamada terra aravel, onde se concentra a maior parte do humus e dos microrga- nismos em que o ar circula mais facilmente, ai permitindo vida mais in- tensa, mais condizente com as necessidades das plantas, O solo nao é, apenas, depdsito de substancias alimenticias e indis- pensavel ponto de fixacdo para a maior parte das plantas. Funciona quase como um organismo vivo. Para o Engenheiro Agrénomo, o solo vive, e vive intensamente, reagindo na presenca dos adubos e dos tratos cultu- rais, podendo melhorar as suas condicées em relacao as plantas. Eo solo uma espécie de laboratorio, no qual se preparam as substancias destina- das as plantas. E a cozinha dos vegetais... Os melhores agricultores sao, justamente, os que melhor sabem trabalhar com o solo, de modo a lhe aumentar a producao de substancias alimenticias, permitindo a existén- cia de lavouras mais belas, mais produtivas e mais lucrativas. Nas maos dos bons agricultores, o solo se torna cada vez mais fertil, mais capaz, portanto, de produzir safras vultosas e de compensar a inversao de capi- tais. Sob a ago dos maus agricultores, isto é, dos que nao sabem traté-lo, 0 solo, ao ser cultivado, perde grande parte de sua fertilidade, podendo joa quase completamente estéril. E preciso evitar isso de qualquer orma, Abaixo do solo, encontra-se o subsolo que, embora muito menos importante do que o solo, tem consideravel importancia, ndo podendo ser esquecido na organizacao de determinado plano agricola. No subsolo a vida é menos intensa, porque o ar e a Agua ai circulam com maior dificuldade; ha nele menos matéria organica, que pode, alias, faltar total ou quase totalmente; e o numero de microrganismos é ai mui- to pequeno. Mesmo assim, a importancia do subsolo é grande. As vezes, o subsolo corrige o solo, melhorando, portanto, as suas condigées; ou- tras vezes, prejudica-o, O subsolo argiloso ou limoso melhora as condi- ¢des do solo arenoso, Em compensacao, o subsolo impermeavel, picarrento, prejudica quase sempre o solo, principalmente se este for raso, quer seja arenoso, quer argiloso. Na natureza, 0 solo se encontra em equilibrio biolégico; conserva sua fertilidade ou a aumenta, embora muito vagarosamente. A perda de fertilidade do solo, em seu estado natural, é excecdo rarissima. O cultivo tende a reduzir a fertilidade do solo, por varios motivos: a) com a colheita sai uma parte consideravel de elementos fertilizantes que, em regra, nunca mais voltam, pois cada colheita representa a retirada de dezenas de quilogramas de nitrogénio, potassio, fésforo etc., por hectare, b) o emprego das maquinas agricolas ativa a decomposicdo do humus e a solubilizagao dos elementos fertilizantes que se perdem, em parte, levados pela agua das chuvas e das regas; as perdas dos elementos fertilizantes e do himus sao, assim, muito maiores nos terrenos cultivados do que nos abandonados; c) os solos cultivados estao muito mais sujeitos 4 erosio do que os nao cultivados. Dai a tendéncia que tém os solos recentemente desbravados para a redugao mais ou menos rapida da fertilidade, reducao muito perceptivel nos cafezais niio sombreados, cujas safras de 100 e mais sacas por hectare, caem, sucessivamente, a 80, 60, 50, 40, 20 & até quase zero. As adubacdes sistematicas conseguem manter e até mesmo aumentar a fertilidade dos solos. Examinemos os aspectos fisicos, quimicos e bioldgicos do solo, pois muito interessam aos fazendeiros, sitiantes e chacareiros, O solo é constituido por particulas de tamanho muito variado. As qualidades fisicas do solo dependem, em grande parte, do tamanho das particulas que o compdem. Distinguem-se, como mais importantes, a argila, o limo, a areia fina e a areia grossa. A classificacao depende do 17 diametro das particulas: argila, particulas com menos de 2 milésimos de milimetro de diametro; limo, entre 2 milésimos e 2 centésimos de mili- metro; areia fina, entre 2 centésimos de milimetro ¢ 2 milimetros; casca- tho, entre 2 milimetros e 20 milimetros; pedra, mais de 20 milimetros, Quando a argila predomina, os solos sio compactos, tenazes, ade- rentes, dificultando os trabalhos com maquinas agricolas e estorvando a penetracao das raizes. Detém eles, assim, grande quantidade de agua; dificultam a penetracgao, bem como a circulacéo da agua e do ar. Sao, geralmente, férteis. Prestam-se muito as culturas da cana-de-aguicar, do arroz, do café e a formagao de pastagens. Aargila é plastica, untuosa ao tato, imperceptivel entre os dedos, O limo é uma areia finissima cujas particulas sao imperceptiveis a vista desarmada. Os solos limosos sao os melhores que se conhecem. As maquinas agricolas trabalham-no facilmente, a agua e€ 0 ar os penetram e neles circulam também com facilidade. Prestam-se as culturas exigen- tes, em boas condicdes; as arvores frutiferas, as hortalicas ete. O limo é plastico, mas nao ¢ aderente; é farinhoso ao tato. Os solos arenosos, excessivamente soltos e permeaveis, tem mas qualidades quimicas. Sao, em regra, pobres. Devem ser destinados a plan- tacao de florestas. As arvores frutiferas tém neles desenvolvimento razo- avel, necessitando, porém, freqiientes adubagoes. As leguminosas cres- cem melhor nos solos arenosos do que os cereais. O humus - matéria organica decomposta - tem extraordinaria im- portancia; da coesdo aos solos arenosos e a diminui nos argilosos; facilita asolubilizacgdo dos elementos fertilizantes insoliveis; influi favoravelmente na vida dos microrganismos titeis as plantas. De modo geral, e até certo ponto, a fertilidade dos solos depende da quantidade de humus que con- tem. Convém que os solos encerrem, pelo menos, 5 a 10% de htimus. Sao considerados, entao, humiferos. Os humosos tém 10 a 20% e os turfosos mais de 20%. Os fracamente humiferos, entre 2 e 5%. Os solos devem conter agua e ar atmosférico, para que a maior parte das plantas encontre favoraveis condigdes de vida. O humus ocor- re de maneira vigorosa para esse equilibrio, pois facilita a circulacao do ar e da agua; ele retém, por outro lado, consideravel quantidade de umi- dade, que é posta a disposicao das plantas. A calagem, coagulando a argi- la, também melhora as condigdes fisicas do solo, tornando-o mais perme- avel e facilitando a solubilizacao de uns tantos elementos fertilizantes. O nitrato de sodio tende a tornar o solo ainda mais imido e duro. O cloreto 18 de potassio torna o solo mais umido. Os adubos organicos e a calagem, as araduras e as gradagens bem-feitas sao os principais fatores que me- thoram as condicées fisicas do solo. As particulas que constituem o solo e que contém compostos de fosforo, ferro, potassio etc., sio decompostas pelos acidos que se encon- tram nas aguas do solo. Embora a decomposicao seja muito lenta, como se se tratasse de um enferrujamento, é suficiente para, nas condicées naturais, ir fornecendo as plantas sais minerais em solucao, de que se alimentam. Na lavoura, quando se querem producées maiores, algumas substancias podem nao ser dissolvidas em quantidade suficiente. O ex- cesso de potassio, nitrogénio e calcio nao corrige a falta de fésforo, por exemplo. A escassez de um sé elemento é capaz de produzir, as vezes, extraordinarias redugdes na colheita, redugdes que podem ultrapassar os 50 ou 70% do maximo economicamente possivel. Além da decomposi- ¢ao quimica, ha a decomposi¢ao bioldgica, isto é¢, feita pelos microrganis- mos que pululam, aos bilhées, nos bons solos. Os fertilizantes decompostos, quimica ou biologicamente, entram em solucao, para serem absorvidos pelas plantas, desde que estejam em determinadas formas quimicas, isto é, sob a forma de sais, que sao com- binagdes de elementos acidos e basicos. Ha, ainda, a considerar a reacao do solo, que pode ser acida, neutra ou alcalina. As solucdes acidas avermelham o papel de tornassol; as alca- linas, 0 azulam; as neutras conservam sua cor primitiva. Nas solugdes acidas, dominam naturalmente os acidos; nas alcalinas, os alcalis; e nas neutras, ha um equilibrio entre acidos e alcalis. Se a solucao é neutra, dizem os quimicos que sua reacdo é pH 7. Aumentando a alcalinidade, aumenta o pH até 14, quando atinge o maximo. Aumentando a acidez, diminui o pH, que chega a 0, quando a acidez é maxima. O pH 8 indica ligeira alcalinidade; o pH 6 indica ligeira acidez. As raizes, em meio muito acido ou muito alcalino, crescem mal. Apresentam-se, as vezes, enroladas, contraidas, como se quisessem fu- gir do meio, Ha assim, pelo menos, uma deformacao do sistema radicular, com repercussao desfavoravel sobre as plantas. Por outro lado, por meio de experimentos, no solo ou em solu- ces nutritivas, verifica-se que as plantas s6 absorvem as substancias nutritivas dentro de limites de pH relativamente estreitos. Felizmente, os limites da reacdo pH, dentro dos quais as plantas vivem, variam de umas para outras, o que traz consideraveis vantagens para os fazendei- ros, sitiantes e chacareiros. Algumas vezes, nao esquecam os que ama- 19 epSsoinDouU] aoc x o> = | wel tse | o UmZz2z o 2 : i bist Iriel | ejuDsog ajUDpsOg JonGey ajUONOR ayo }Og apunis) JOpnBeay epuDig) ajuolDg sonBay og ioynBay 1o(nbay innGay bog 208 10) robot og dninBey oUuROW i ; ~ Lat 85 aoooo00 noon kin Fo Ro F = o “nod 9 9 Qe é oe ejuDjs0g epU0jsog 1ninBey eyo Og jooned ‘(quepopie HyONHoINS) epesoyawolg OYUIDY ‘DSONjsD) DYe@WoNg (Zz) “(hyonBoos oso) soveyjequin OyjUIOY “ds Wn/BUALg (1) og ony Bog SIN syne pool sO (NBO sBINGay po0l4 epubis sonBay ayuoysDR og sDnBey JoinGey pool apuals oom 9014 OU oo 00g bog bog bog ouw Sly pIDIy poq any ops08uy Oui oily ipinbeay 1ojNGoy epuols FOINBay JONG 00g 00g 909 S1NW bded ponyogs06Hy) bog 50g 2014 DrouED DIouery. ojuouDg osouary OyuenDg ojueHOg Diousiy pjusuDg osq)/510 no oeuDg venbione pjueHOg pluaiiog olueieg pjuenog osouguy peN0g vil § go¢ ZOU 4 ZL SL pig oz é g1ie. Lope 1 et ai eri o1 & wet e/L Lor ve at P/E OZ wa oz we og Wa SL EO? zl Devt @/1O est et zt zi Z/1e el PED EL @Mpionboos (opjonBoiwD Oydyoong oneuuid BOW onfoior DIOpuy oyeluoID] oyolly punpucG-wydo> eanby RUDE ouur) oxejpsoqy oyenSuoyy Oa19¢ onanBossaq npuOnS) Gezesg 9sor IG ‘Bug o}ed OpoZUDBi_) sojuDld sono ep sojouebig - 1¢ DJEqDL 21 20 nham o solo, o fracasso parcial ou total de uma cultura, em determina- do solo, é¢ apenas uma questao de pH. Adaptado o pH a cultura, essa, entao, se desenvolvera bem. Demos, nas paginas anteriores (Tabela 3.1), as reagdes de pH étimas para algumas plantas. Os experimentos demonstram que alguns dos piores efeitos da acidez do solo séo causados pelo fato de pér em solucdo quantidades excessivas de manganés, ferro e aluminio. O excesso determina a toxidez. Aalcalinidade excessiva provoca escassez dos mesmos elementos, o que tambem prejudica as plantas. Parece que apenas quando a reagao é apro- ximadamente neutra os elementos citados sao postos em solucdo nas quantidades mais favoraveis 4 vida das plantas. As deficiéncias de ferro e manganés, devidas ao excesso de alcalinidade, sé se verificam quando a reacao fica acima de pH 8. Naturalmente as plantas que suportam pH muito baixo, portanto reacao acida muito forte, sio menos afetadas pelas grandes porcentagens de manganés, ferro, aluminio e cobre nas solu- gdes do solo. Cada planta vive favoravelmente em determinado pH, geralmente neutro ou ligeiramente acido ou ligeiramente alcalino. Alzumas, porém, suportam pH elevado ou muito baixo, Se a planta nao encontra, no solo, pH conveniente, morre ou se desenvolve mal, e, neste ultimo caso, pro- duz pouco. Algumas vezes, as mas colheitas resultam do fato de se en- contrarem as plantas em solucao de pH, para elas, inconveniente. Todos os demais cuidados que se possam dispensar — desde que nao se corrija o pH - resultam ineficientes. Os valores altos do pH corrigem-se com aplicagdes de materia or- ganica e de determinados adubos, como os nitrogenados amoniacais e a uréia, e o enxofre elementar (5S). Os solos de pH baixo tornar-se-do mais alcalinos, isto é, elevar-se-a © pH, pela aplicagao de calcario, e de determinados fertilizantes, como nitrato de potassio, nitrato de sddio, nitrato de calcio, Ao contrario, au- mentar-se-a a acidez, isto é, baixar-se-d o pH, com aplicacées de sais amoniacais, como sulfato € nitrato de aménio. Os potassicos nao alteram o pH, e nao provocam, assim, nem a alcalinidade nem a acidez dos solos. O processo classico de correcao de acidez é a calagem, que se faz, em geral, com aplicagdes de pedra calcaria moida. Para reduzir a acidez ce uma unidade — digamos de pH 6 a pH 7 - fazem-se necessarias, mais ou menos as seguintes quantidades de pedra 22 calcaria moida, por hectare: solos argilosos, 6 toneladas; solos arenosos, 3 toneladas; solos médios, 4,5 toneladas, O caleario deve ser dolomitico. No primeiro caso, desejando-se, poder-se-iam substituir as 6 toneladas de pedra calcdria moida por 3 toneladas e 300 quilos de cal virgem. Ha quem acredite ser o emprego de cal virgem preferivel ao da pedra calcaria nos solos argilosos; nos arenosos dever-se-ia preferir a pedra calcaria. Quando se usa a cal para neutralizar o solo e nado o calcario, for- mam-se torrées e a cal é mal aproveitada. Sendo caustica, magoa as raizes das plantas. Numa tonelada de cal ha maior quantidade de neutralizante que numa tonelada de caleario, mas ha perdas por lixiviagéo e por ma distribuicdo. O calcario é p6 seco, insoltivel; os outros formam agrega- dos. A cal virgem prejudica pela causticidade; 0 calcario nao, por ser inso- luvel, nao é lixiviado e nao magoa as plantas mesmo que em contato com suas raizes. Acal virgeme a extinta sao um pouco mais soliveis (menos que uma gram por litro de agua). Acal virgem tem maior teor de calcio, mas forma com o solo tor- rées que se envolvem de uma capa de solo e nao funcionam. A cal extinta nado cimenta tanto, mas nao se desfaz, dai ser mais indicado o caleario. Os corretivos e os adubos devem ser finamente subdivididos para agirem prontamente. Na opiniao do agrénomo José Setzer, o melhor meio de elevar a fertilidade dos solos acidos brasileiros, que sao quase todos, com excecao dos da regiao semi-arida, é tratd-los com calcario. E acrescenta: Eome thor meio porque é o mais barato. Quanto mais humoso e mais acido for o solo, tanta mais facilmente o calcdrio é absorvido, mas sdo precisos muitos anos de tratamento, Obtém-se, entretanto, no fim do tratamento, solo de grande fertilidade. Quanto maior o teor de agua no solo, maior a solubilizacao do calcario. Os agricultores, outrora raros, hoje muito numerosos, que aplica- ram o caleario moido, ficaram satisfeitos com os resultados desde o pri- meiro ano. Alguns disseram: Ja usei nas minhas terras varias formulas de adubacdo muito caras; ndo imaginava que houvesse uma formula tdo ba- rata e eficiente. A aplicacao do calcario dolomitico nao redunda, porém, na dispensa da adubacao. A aplicacao do calcario dolomitico moido, que é uma correcao do solo, torna indispensavel a adubacao completa, o que redundara num novo aumento de safra. 23 Nas terras Acidas, o calcario intensifica a vida microbiana e a absor- ¢ao pelas plantas de todos os nutrientes quimicos, de modo que, apés alguns anos, a adic¢ao de matéria organica e de adubos minerais nao pode deixar de ser feita junto com a aplicacao de calcdrio. Quem usa calcario, deve abolir as queimadas, enterrando, com o arado, todos os restos de plantas, serapilheiras, restolhos etc. Deve fabricar composto (um ester- co artificial) e adubar, pelo menos com os adubos em forma bruta, barata € pouco soltivel. Antes esses do que nada. O caleario junto com a matéria organica da o humato de calcio. A abundancia deste composto é a explicacao da fertilidade famosa do tchernoziém do sul da Russia, que em muitos lugares produz otimamente sem adubagao, apdés diversos séculos de cultivo, apenas entremeado com anos de repouso. Assim como nao pode haver solo fértil sem boa drenagem, tampouco pode havé-lo sem razoavel teor de calcio. Como ja dissemos, se o solo precisa de 10 toneladas de calcio, nao é aconselhavel misturé-las, de uma 6 vez, a terra; seria capital imobiliza- do sem render juros. E preciso um prazo de 10 anos, a 1 tonelada-ano por hectare. Aconselha-se, na Europa, muita cautela na aplicacdo de cal viva. Deve ser espalhada em terreno seco, finamente pulverizada, muito antes do plantio, uniformemente distribuida por toda a drea a calar. Logo apds, passa-se a grade de discos, de modo a enterra-la a uns 3 a5 centimetros de profundidade. O caleario em pé deve ser distribuido uniformemente e bem pulverizado. E incorporado ao solo por meio de uma gradagem leve, como no caso anteriormente citado. E indispensavel a analise do solo para determinar a dose certa de calcario a usar. Ha no solo microrganismos — as bactérias ¢ os fungos — que de- compoem a materia organica, provendo, assim, as plantas de substancias alimenticias e que absorvem, direta ou indiretamente, o nitrogénio do ar atmosferico, enriquecendo-o com este elemento de primeira ordem. Os microrganismos que absorvem nitrogénio do ar atmosférico desempe- nham papel importantissimo na vida das plantas, Alguns o absorvem diretamente; outros se associam com as leguminosas — feijdes, favas, soja, amendoim, canafistulas, - criam-lhes quistos nas raizes e absorvem, as- sim, o nitrogénio, cedendo-o depois ao solo, fertilizando-o portanto. A maior parte das bactérias retira do solo e da materia organica, que decompoem, o nitrogénio de que necessitam para o seu proprio de- 24 senvolvimento. A aplicacdo do adubo organico, pobre de nitrogénio, pode, assim, enquanto se decompée, reduzir a quantidade de nitrogénio dispo- nivel as plantas, pois as bactérias se acham, entao, utilizando parte das reservas do solo em seu proprio desenvolvimento. As bactérias cederao, porém, o nitrogénio, depois de terminada a decomposicao. As bactérias que decompoéem a matéria organica e as que absor- vem nitrogénio do ar atmosférico, direta ou indiretamente, precisam de agua, de oxigénio e de uma reacao superior a pH 4,5. O trabalho das bactérias, utilissimo as plantas, cessa quando falta agua ou ar atmosféri- co ou quando a temperatura baixa muito. ; Quando o pH nao for muito baixo, ocorrem, muitas vezes, as micor- rizas, que se prendem as raizes das plantas e ajudam a absorcao de ele- mentos como o fésforo e o zinco. As minhocas favorecem muito a fertilidade do solo. Em regra, os solos ricos de minhocas sao mais férteis. . As minhocas sao sensiveis a acidez e ao calcio existente no solo. Se ha bastante calcio, as minhocas sao abundantes; onde o calcio escasseia e ha pH inferior a 4,5, o que representa muita acidez, as minhocas sao ; em totalmente. — pee minhocas na fertilidade do solo, influéncia, nao raro, de extrema importancia, foi, no século passado, constatada por Darwin, Thiel, Hensen e outros sabios e pesquisadores europeus. No segundo quartel do século XX, G. Sheffield Oliver, de Fort Worth, Texas, fez experimentos que, parece-nos, deveriam ser repetidos no Brasil. 0 assunto é tao importante que julgamos conveniente resumir os exper mentos de Oliver e a opiniao do Engenheiro Agrénomo Alberto Boerger, antigo diretor do Instituto Fitotécnico y Semillero Nacional La Estanzuela, Te miinhoca —escreve Boerger - é uma combinacdo maravilhosa de quimico e perfurador; é insaciavelmente voraz e se ocupa constante- mente em comer terra e devorar folhas. secas e outras substdncias orgdnicas em via de decomposicdo. Tudo 0 que traga se pulveriza numa espécie de moela semelhante @ da galinha, e 0 residuo excrementicio sai logo em forma de estrume de curral, que aduba o solo. Ademais, os furos feitos pelas lombrigas da terra aceleram a oxidacdo e a nitrificagao do solo ¢ servem de depositos que, se esten- dem até a profundidade de dois ou mais metros, retém a dgua da chuva e umedecem a solo. 25 A influéncia benéfica das minhocas na fertilidade do solo, documen- tada por Darwin e outros investigadores europeus no século pbassado ~—afirma Boeger adiante — estd relacionada com a vida edafoligica geral. As minhocas sao de grande importancia para a abundancia dos microbidticos. Os excrementos desses anelideos constituem para a fauna microbética um substrate muito Favorével a seu desenvalvi- mento exuberante, Empiricamente é bem conhecida a Sreqiiéncia das minhocas na terra vegetal formada com composto de residuos da vegetacdo amontoados e convenientemente tratados. A aplicacao ge- neralizada do processo na horticuitura e Jardinagem documenta a importdncia que desde tempos imemoriais se tem atribuido a essa he de adubo base Sua eficdcia consiste em sua riqueza de mus, emt cuja formacdo a vit i eee edafologica desempenha um papel Surge assim o enlace do solo com alguns métodos modernos de aduba- Go orgtinica que hao de merecer nossa atencda na exposicdo sobre os Jertilizantes, O excelente resultado obtido pelo método Indorena agri- cultura dos paises quentes se deve, bortanto, em grande parte, ao enriquecimento do solo com uma exuberante fauna edafolégica, Ante a breponderdncia da nutricdo mineral, conseqiiéncia do triunfo da doutrina de Liebig a respeito da preponderéncia dos adubos quimicos sobre o htimus, sustentada por Thaer ¢ sua escola, resulta compreen- sivel que as questdes relacionadas com a@ biologia do solo durante algum tempo passaram a posic¢ao de problemas de ordem secundaria, Presentemente, porém, observa-se uma intensificacdo crescente da Pesquisa bioldgica na Ciéncia do Soto, trabathos de cuja importdncia Para o futuro da producdo vegetal néo tenho a menor duvida, / Confirmando as conclusées de Boerger, ha os experimentos de Oliver, que resumimos, Oliver preparou canteiros, uns absolutamente sem minhocas; outros com muitas minhoeas, Semeou-os com hortalicas, Seman as depois, as plantas dos canteiros com minhocas eram muito mais vigorosas do que as dos canteiros sem minhocas. As primeiras tinham cerca do dupio da altura das segundas, Ademais, enquanto as segundas — as dos canteiros sem minhocas — eram atacadas por insetos, as plantas dos primeiros canteiros estavam isen tas de pragas, Outros experimentos confirmaram os resultados descritos. Animado, Oliver passou a criar minhocas em grande escala. Verifi- cou que era facilimo conseguir a reprodugao das minhoeas, bastando 26 quase que unicamente dar-lhes gorduras ¢ acucar, para 0 que juntava ao solo vagens de algaroba e agua de sabao. Adicionou grandes quantida- des de minhocas aos canteiros de hortalicas e as terras em torno das arvores dos pomares. Observou, como resultado, crescimentos mais ra- pidos, melhores arvores, flores e legumes e um alto grau de imunidade aos insetos € a outros agentes destruidores, Oliver publicou, em trés volumes, a sua obra Our Friend the Earthworm (Nossa Amiga a Minhoca), que tem ajudado centenas de agri- cultoves a devolver a fertilidade a solos esgotados ou estéreis, em que as minhocas haviam sido destruidas por excesso de adubos quimicos e de inseticidas. Oliver cruzou algumas das mil espécies de minhocas e criou tipos destinados a determinados fins. Criou uma espécie de minhocas gordas, suculentas, com vinte e cinco centimetros de comprimento, destinadas a galinhas, peixes e ras. De outra espécie, criada por ele, fabrica-se um oleo incolor e inodoro, empregado na Medicina. Para a fertilizagao do solo criou uma espécie cruzando a minhoca grande da Inglaterra coma pequena da California. A minhoca bota ovos em capsulas. Envolvendo as caépsulas em musgo umido, é possivel fazer pacotes de até um milhdo de capsulas e transporta-las. Um milhao de capsulas produzem 12 a 16 milhdes de mi- nhocas, que, noventa dias apés 0 nascimento, comecam a por. Oliver muito se orgulha com os resultados praticos obtidos na California por centenas de fazendeiros e sitiantes cujas terras estavam esgotadas. Com bilhdées de minhocas trabalhando pela restauracado do solo — escreve Boerger — este recobra constantemente sua fertilidade, que o cultivo tende a reduzir. Oliver demonstrou que Darwin tinha ra- zao quando disse: Sem a minhoca, que nada sabe dos beneficios que faz a humanidade, a agricultura que haje conhecemos seria muita dificil e até impossivel. Darwin notara que as minhocas cavam galerias, principalmente durante a noite, absorvendo a terra misturada com substdncias organi- cas, Defecam a terra humificada, fertilizada, na superficie do solo. Tapetam e obstruem suas galerias com folhas secas. Aumentam a espessura da terra vegetal e o seu teor de humus. Acreditava Darwin que anualmente passavam pelo corpo das minhocas 25.400 quilos de terra humificada, num hectare de solo mais ou menos fértil. Além disso, o solo é arejado, mobilizado, uniformemente adubado, sem que todo este esforco custe 27 dinheiro aos fazendeiros. Ademais, conforme Gueneaux, as minhocas desempenham importante fungao quimica. Experimentos mostraram que a passagem da matéria organica pelo tubo digestivo das minhocas apres- sa a nitrificagao dos produtos azotados, aumenta a solubilidade do acido fosforico e 0 teor de carbonato de calcio. De fato, as minhocas, além das glandulas digestivas, possuem, de cada lado do esfago, trés partes de glandulas calciferas, que secretam carbonato de cdlcio em abundancia, Em resumo, todos os solos apresentam determinado potencial de producao e todos sao suscetiveis de melhora. Quando o solo esta sob a floresta virgem, encontra-se equilibrado e , mais comumente, em lento enriquecimento. Os nutrientes sao retirados, pelas raizes, do subsolo e depositados sobre a superficie do terreno com as folhas que caem sobre ele. Forma-se, assim, himus, que é vital para o solo, Os microrganismos benéficos encontram favoraveis condigdes de desenvolvimento. A ero- sao do solo é nula ou quase nula. A agua e o ar circulam facilmente, O solo conserva-se ou melhora constantemente, Quando se desbrava o solo, o encontramos em boas condicGes fisi- co-quimicas, capaz, portanto, de grandes producdes. O desaparecimento da floresta, o trabalho das maquinas, 0 pisoteio dos animais quebram 0 antigo equilibrio, O himus diminui rapidamente. Os nutrientes sido reti- rados pelas colheitas ou arrastados pelas aguas que se infiltram ou desli- zam para os regatos e ribeirdes. A erosao vem, nao raro, destruir, entio, © proprio solo, com rapidez. As safras caem progressivamente. O solo entrou, assim, em fraca decadéncia e se perde, em anos, a fertilidade acumulada em milénios. Deter essa decadéncia, restaurar a antiga fertili- dade do solo, torna-lo sempre mais rico ¢ produtivo a proporedo que os anos se passam, € possivel, econdmico, e até relativamente facil, Para isto, basta seguir os principios agronémicos que se baseiam em sdlida experiéncia. De um modo geral nao ha maus solos: ha maus agricultores, Diz-se na Europa, e com certa razao, que a fertilidade do solo é 0 reflexo do seu proprietario; os bons agricultores dispéem de boas terras, porque sabem aumentar-lhes a fertilidade a propor¢ao que as cultivam; os maus agricultores tém mas terras, porque lhes destroem a fertilidade com o decorrer dos anos, por melhores que tenham sido no principio, Aadubagao dos solos ¢ fator indispensavel a manutencao da fertili- dade e & constante obtencao de safras grandes e em aumento. Estudé-la- emos nos capitulos seguintes, procurando reduzir a poucas paginas o que se costuma escrever em livros. 28 4, Adubos orgdanicos Aadubacao orgainica é¢ importante para a produtividade de muitos solos, (fo grande e tao variadas sao os seus papéis. A matéria organica decom- pde-se nos solos tropicais ou subtropicais e climas umidos com grande rapidez. A reducao excessiva do teor da matéria organica do solo prejudi- ca-0 fisica, quimica e biologicamente, redundando em diminuicao na pro- ducao. Nesses casos, em obediéncia a lei do minima, a adubacao organi- ca torna-se necessaria, pois a matéria organica baixa comeca a limitar as safras. Alguns adubos organicos sAo empregados em doses elevadas, to- neladas por hectare, ¢ séo pobres nos elementos nutritivos como o nitrogeénio, 0 fésforo e o potdssio. Valem principalmente pela matéria or- ganica que, incorporada ao solo, vai se decompor € formar o htimus. Outros, mais concentrados, comportam-se de modo mais semelhante ao dos adubos quimicos ou minerais, funcionando como fonte de nitrogénio, fosforo, potassio e outros elementos. Os adubos organicos, entretanto, nao valem apenas pelos nutrien- tes que contém, mas também por seus efeitos benéficos nos solos. A materia organica funciona como fonte de energia para microrganismos liteis, melhora a estrutura e 0 arejamento, a capacidade de armazenar umidade. Tem efeito regulador na temperatura do solo, Retarda a fixacao do fosforo e, aumentando a capacidade de troca catiénica (CTC), ajuda a segurar potassio, calcio, magnésio e outros nutrientes em formas dispo- niveis para as raizes, protegendo-as de lavagem ou lixiviacdo pela agua das chuvas ou de irrigacdo. Alguns produtos de decomposicao da maté- ria Organica tém efeito hormonal ou estimulante para o desenvolvimento das raizes. Pode acontecer, em solos com mas propriedades fisicas, que o efei- to favoravel dos adubos minerais, de aumentar a produgdo, dependa em 29 parte de sua associagao com os organicos, Isto nao quer dizer, entretan- to, que, se nao houver disponibilidade do adubo organico, o adubo quimi- co ou mineral nao deva ser usado. Convém lembrar que o adubo mineral aumenta a quantidade de restos de cultura e do proprio mato que, bem manejados, se convertem em adubo ou matéria organica no proprio local em que foram produzidos. Algumas substancias organicas sao relativamente pobres em nitrogénio ou azoto (N). Eo caso dos capins, da palha de cana e de cere- ais (sorgo, milho, aveia, milheto, e outros usados no plantio direto), por exemplo, O seu uso pode provocar deficiéncia temporaria de nitrogénio, visto que em tais materiais a relacdo entre o carbono (C) e€ o nitrogénio C/N, é muito alta, podendo chegar a 50 ou 100. Em conseqiiéncia, a pro- ducao pode cair, a menos que se suplemente com adubo nitrogenado mineral, E que os microrganismos, como os animais, necessitam de uma ragao balanceada na qual o C e o N entram em determinada proporgao. Nao encontrando no adubo organico o N na proporcao necessdria os mi- crorganismos retiram-no do solo, competindo com a cultura. Somente depois da morte dos microrganismos é que o nitrogénio por eles acumu- lado sera liberado e posto a disposic¢ao das plantas. A quantidade e a qualidade da matéria organica so determinadas principalmente pelas atividades dos microrganismos que, por sua vez, sdo influenciadas pela umidade, arejamento, pH e temperatura. A quanti- dade varia muito de um solo para outro. E pequena, 1 a2 por cento nos solos arenosos e chega a 50% ou mais nos turfosos. Concentra-se, como regra, na superficie, conferindo-lhe cor mais escura. E antiga a frase: O Jnimus torna leves os solos pesados e torna pesados os solos leves. Isto quer dizer que a matéria organica humificada, ou seja, aquela que nao tem mais as caracteristicas de restos vegetais e animais que lhe deram origem, torna mais permeaveis os terrenos argilosos e menos soltos os arenosos. Embora a matéria organica tenha todos esses papéis nas proprie- dades fisicas, quimicas e biolégicas do solo, e embora seja fonte de nutri- entes libertados no processo de mineralizacao, nitrogénio, enxofre, boro principalmente, as plantas ao comem matéria organica. Nao se alimen- tam de humus como se pensava um século e meio atras. Em 1840 0 sabio alemao Justus von Liebig, cognominado 0 Pai da Quimica Agricola, der- 30 rubou a teoria de alimentagao das plantas pelo himus, substituindo-a pela teoria de alimentacao mineral - sem a qual este livro nao teria sentido. Entretanto a matéria organica serve como alimento para microrganis- mos titeis que vive no solo, E o caso das bactérias que fixam o nitrogénio do ar na zona das raizes (rizosfera) transformando-o em compostos, que mais tarde liberam-no a disposicao da cultura. O mesmo acontece com fungos (cogumelos) que se associam as raizes de muitas plantas — de ca- pins a culturas perenes como 0 cafeeiro, citros, eucalipto e muitas outras ~ formando uma verdadeira cabeleira fina ¢ abundante que ajuda no pro- cesso de absorcao de nutrientes do solo, principalmente de fosforo, co- bre e zinco, cedendo-os depois a planta. Quando um solo de mata é posto sob cultivo ha decomposi¢ao rela- tivamente rapida e perda de sua matéria organica original. As primeiras safras, gracas aos elementos liberados pela mineralizacao, so relativa- mente grandes. Declinam em seguida quando nao se recorre ao uso dos adubos minerais. Isto nao ocorre, entretanto, quando se usa o chamado plantio direto ou plantio na palha - a cultura é plantada sem remover os restos da cultura anterior e, por isso, em vez de diminuir, aumenta o teor de matéria organica. No caso do cacaueiro, a queda natural e constante das folhas que sao substituidas por outras, constitui uma fonte de maté- ria organica cujo teor no solo aumenta, em vez de diminuir. Paulo Vageler, um grande cientista que trabalhou durante anos no famoso Instituto Agronémico de Campinas, verificou que, depois de 22 anos, uma terra roxa cultivada com © cafeeiro perdera 44% do himus original, 49% do nitrogénio, 37% do P, 83% do K e 80% do calcio, na profun- didade de 1,20m. As perdas foram devidas 4 agao combinada de erosao, lixiviacdio (caso de nitrogénio e potassio) e extragao pela cultura no pro- cesso de formagao de colheita. Pode-se terminar estas observagdes citando E, Malavolta: Em resumo, a matéria orgdnica do solo funciona como reserva de nutrientes e melhoradora das suas propriedades fisicas, quimicas € biolégicas. No primeiro papel nao hd divida de que ela pode ser subs- titufda, muitas vezes com vantagem, pelos minerais. Entretanto seus efeitos indiretos nas culturas ndo podem ser reproduzidos por nenhium produto da indistria de adubos, A colheita pode, assim, ficar limita- da pela falta de matéria orgdnica, principalmente pelos efeitos des- 31 favordveis na estrutura do terreno. E. a que foi constatado — entre outros — por Jones e Embleton em solos da California; depois de trinta anos de ensaio com adubos minerais juntos ou ndo com matéria or- ganica — na forma de esterco de curral, que serd estudado a seguir - as laranjeiras que haviam recebido apenas os primeiros comecaram a morrer por falta de dgua: o solo ficou tao compacta, o seu teor em matéria orgdnica reduziu-se tanto que a dgua aplicada superficial- mente nao podia chegar até a zona das raizes. Perigo semelhante correm os nossos cafeicultores que deixaram completamente de lada a adubagao organica de suas plantacdes. As observacées feitas em ou- tros paises tornam licito pensar que ser apenas uma questdo de tem- po 0 aparecimento dos efeitos desastrosos dessa omissdo. Os dados de Freire e Verdade mostram que, de fato, a utilizacdo das terras com cafezais pode baixar o tear de matéria orgdnica do solo. Observe-se, porém, que essa tendéncia é evitada com 0 uso correto dos adubos minerais que produzirao mais restos de cultura e mais “mato”, ambos fontes de matéria orgdnica. Esterco de curral O esterco de curral, também chamado estrume de curral, é 0 mais tradi- cional dos adubos organicos. E usado em paises de agricultura mais evo- luida e mais produtiva como também nas regides menos desenvolvidas e em desenvolvimento. Nas primeiras, quando se faz a engorda em confinamento, a produgao de esterco é tao grande que as vezes fica dificil absorvé-lo na adubacdo das culturas. Composi¢ao quimica: A composicao quimica dos estrumes varia com: a) a espécie animal; b) o regime; c) a natureza das camas empregadas. Os estrumes de ovinos, caprinos e eqilinos sao mais concentrados, mais pobres em umidade do que os dos bovinos e suinos, Em 100 quilos de excrementos sdlidos de cavalo, hd 75 quilos e 700 gramas de agua; 440 gramas de nitrogénio; 350 gramas de P.O, 150 gramas de KO; 140 32 gramas de CaO. Em 100 quilos de excrementos sélidos de carneiro en- contram-se: 65 quilos e 700 gramas de agua; 550 gramas de N; 310 gra- mas de P,O, 150 gramas de K,O e 460 gramas de CaO. Em 100 quilos de excrementos sélidos de vaca leiteira ha, sempre em média, 80 quilos € 350 gramas de agua; 360 gramas de N; 50 gramas de P,O, e 250 gramas de K,0. Em 100 quiles de urina de cavalo, ha, em média: 90 quilos e 100 gramas de agua, 1 quilo e 950 gramas de N, 1 quilo e 500 gramas de potassa, 450 gramas de CaO e tragos de fésforo. Em 100 quilos de urina de carneiro, ha, em média: 87 quilos e 200 gramas de potassa, 160 gra- mas de CaO e 10 gramas de P,O,. Em 100 quilos de urina de vaca em lactacdo ha cerca de 93 quilos e 480 gramas de agua, 780 gramas de N, 570 gramas de potassa e tracos de P,O.. Os estrumes dos animais adultos, gordos, descansados, sao mais ricos do que os dos animais novos, magros e trabalhados. Animais bem alimentados, em igualdade de condicdes, produzem estrumes mais ri- cos em fertilizantes do que os mal alimentados. As leguminosas - alfafa, ord, amendoim, soja, feijées diversos, canafistula, camunzé, algarobeira, jacaré, tortas oleaginosas etc. - fornecem esterco mais rico em nitrogénio e fosforo do que as gramineas, como palhas de milho, arroz, aveia, centeio, adlai e os diversos capins. As plantas tuberosas, como a batatinha, batata-doce, mandioca, aipim, tupinambor ete., enriquecem o esterco em potassa, A composic¢ao dos estercos varia também com a composicao das camas. Utilizam-se, no preparo de camas, materiais diversos, como palha de cereais, capins, restos de colheita, serragem de madeira, turfa, terra vegetal etc. As camas absorvem as urinas, misturam-se com as fezes e sao levacdas as estrumeiras, onde se decompéem, contribuindo para a formacao do estrume de curral. As camas mais absorventes tém mais valor fertilizante que as pouco absorventes. Influi, também, a composi- ¢ao quimica do proprio material da cama. Quantidade de estrume de curral: Nao é facil calcular a quanti- dade de estrume de que se pode dispor durante o ano, pois varia com a espécie, aidade, o regime etc. Os calculos seguintes fornecem, no entan- to, dados interessantes, capazes de dar boa orientagao. 33 Estrume em quilos Estrume em metros cabicos D6 1 por ano ano Bols de engorda 25.300 42.8 (600 quilos) Vaca estabulada 11.400 19.3 {400 quilos) Cavalo 10.200 17.3 (500 quilos) Bol de trabalho 9.400 15.9 (500 quilos) Porco 1,100 18 (100 quilos) Carneiro 650 1 (40 quilos) Fonte: Malavolta & Romero (1975). A quantidade de fezes cresce com o regime seco — quando os ani- mais bebem muita agua = e diminui = quando os animais bebem pouca agua. As urinas diminuem com 0 regime seco (forragens secas) e au- mentam com o regime umido (forragens verdes). Muntz e Girard obtiveram os seguintes dados com uma vaca leitei- ra, por dia: Tabela 4.2 Regime Fezes Urinas Total Seco 22,0 kg 6.2ka 26,2 kg Umido 19.0 kg 40.0 kg 59.0 kg Fonte; Malavolta & Romero (1978). Ha quem calcule a quantidade de excrementos em 7 quilos didrios por 100 quilos de peso vivo, Assim, uma vaca de 500 quilos produzira, diariamente, 35 quilos de excrementos, ou 12.775 quilos por ano. Conforme Girardin, os animais, por ano, fornecem estrume que se pode avaliar em 35 vezes o préprio peso. 34 Estrumeira: Chama-se estrumeira ou esterqueira o lugar em que se deposita o esterco fresco, para que sofra uma fermentacao que o trans- forme em esterco curtido ou manteiga negra. Aestrumeira nao deve faltar nas fazendas, pois constitui elemento quase indispensavel 4 adubacdo. Daremos, rapidamente, dois tipos de estrumeira. O primeiro tipo consiste num piso cimentado ou apedregulhado, com frinchas tomadas a cimento, cerca de dois a trés metros de compri- mento — conforme a quantidade de estrume disponivel — por 1 metro ou 1,20 de largura. O piso devera ser inclinado, ligeiramente, para um dos lados, no sentido de comprimento. Da extremidade sai um canalete ci- mentado, que termina num tanque subterraneo, também cimentado. E o tanque ou poco de chorume. Figura 4.| - Estrumeira para 50 bovinos Longitudinalmente, de cada lado do piso, ha uma parede cimenta- da, com cerca de 2 metros de altura. Nas paredes, em lugares correspon- dentes, ha quatro vincos, em que se podem fixar tabuas dispostas verti- calmente, uma em cada extremidade; as outras duas, em lugares tais que dividam a extensao interna em trés areas de tamanhos idénticos. Nos lugares umidos, de chuvas bem distribuidas durante o ano in- teiro, nao ha necessidade de cobrir a esterqueira. A coberta é indispensa- vel nas regides sujeitas a longas estiadas. 35 Acrescentamos trés plantas fornecidas pelo Ministério de Agricul- ura, para outros tipos de estrumeira. i, oe -——#= "a -= if 1 iy : 2 1 1 1 i : | t ma ! ‘ i { tl ' t tot : I a ! 1 : : . : ! ‘ i 24 i ' oe . i i Mapes occ et Daas ‘ 1 oe ! . : OUTRO TIPODE . Escala Ts 125 1 ESTRUMEIRA \ t : fe Ge i ! ‘\ a : i 4.2 - Estrumeira para 28 animais apaot> pi rf Foe : Figura 4.3 - Outro tipo de estrumeira 36 37 Figura 4.4 - Estrumeira com tanque de chorume (Adapta¢do de uma planta do agrénomo Jesus Aguirre Andes) Quando nao se pode construir uma estrumeira, como as indicadas, um piso apedregulhado, com as juntas tomadas a cimento e com uma coberta de telha, sapé ou palha de palmeira, satisfaz inteiramente se dis- puser de tanque de chorume. Preparo do esterco: As fezes sao recolhidas, diariamente, de mis- tura com as camas empapadas de urina, e dispostas nas estrumeiras em camadas regulares, bem comprimidas. Comprime-se com um malho ou por meio do pisoteio. No primeiro tipo de estrumeira, os excrementos sao dispostos num dos compartimentos da estrumeira, compartimento que se forma pondo tabuas nos vincos das paredes. As urinas descem do estabulo para o tanque de chorume. Rega-se, diariamente, o monte de estrume em decomposicao, com o chorume, O excesso de chorume em decomposicao, gracas a inclina- ¢ao do piso, volta ao tanque. Com a fermentacao, a temperatura eleva-se rapidamente, podendo atingir 70 graus. Convém, entao, regar o monte de estrume. 38 E de todo indispensdvel evitar a entrada de ar no monte de estru- me em decomposicao. Resultado da fermentacao: O monte de estrume diminui, lenta- mente, de volume, a propor¢ao que se processa a fermentagao. Toda a massa vai tomando um aspecto uniforme, apresentando-se ao fim como uma substancia negra, untosa, facil de cortar por meio de pas, com chei- ro caracteristico. Este é o bom estrume, o estrume bem curtido, a man- teiga negra, que tanto contribui para melhorar as condigdes fisicas do solo e aumentar-lhe, consideravelmente, a fertilidade. Quando se comprimem bem o estrume e a cama, regam-se com suficiéncia e ndo se permite, assim, a entrada de ar no interior do monte de fermentacdo, nao se perde o nitrogénio existente nos excrementos; € isto é importantissimo, No preparo do estrume, se adicionam ao monte, vez por outra, pe- quenas quantidades de super fosfato simples (25 kg/tonelada). A composigaéo quimica: A composicéo quimica do estrume de curral varia bastante. Como orientacdo, aparecem as médias para os es- trumes bem curtidos: Tabela 4.3 Estrume N (%) P.O, (%) K,O (%) Touro 0.62 0.26 0.72 Vaco 6,40 0.20 0.44 Cavalo 0.54 0.23 0.54 Porco 0.45 O19 0.40 Carneiro 0,83 0.23 0.67 Chorume 0.20 0.08 0.50 Fonte: Malavolta & Romero (1975). Na pratica, pode-se calcular, para os estrumes bem curtidos, 0,5% de N, 0,2% de P,O,e 0,5% de KO. Uma tonelada de estrume contém, portanto, cerca de 5 quilos de N, 2 quilos de P,O, e dois quilos de K,O. Aconselha-se, 4s vezes, 0 revigoramento do poder fertilizante do estrume de curral. Para isto, poder-se-ia misturar, numa tonelada de es- trume, 27 quilos de sulfato de aménio, 24 quilos de superfosfato e 10 39 quilos de cloreto de potassio. O revigoramento do estrume de curral & extraordinariamente benéfico, Convém pé-lo sempre em. pratica, pois, além do mais, contribui consideravelmente para o aumento da quantida- de de humus existente no solo, Vantagens do esterco de curral: A maior vantagem do esterco de curral é que ele aumenta a quantidade de hiimus do solo. Calcula-se que 30 mil quilos de estrume de curral se transformarao em 8 mil quilos de humus. Se o estrume de curral estiver revigorado, ter-se-ao talvez, 16 mil quilos de humus, O himus aumenta a capacidade que 0 solo tem de absorver agua, retendo-a para as estiadas, quando é posta a disposic¢ao das plantas. E capaz de absorver agua na proporeao de 16 vezes o seu préprio peso; melhora as condicées fisicas do solo, tornando os solos argilosos mais permeaveis e aumentando a capacidade dos arenosos;: enriquece o solo de elementos fertilizantes; desenvolve a vida microbiana e facilita a dissolucao dos elementos que se encontram em estado insohi- vel, portanto, nao aproveitaveis pelas plantas. Os estrumes mal curtidos levam ao solo sementes de plantas di- versas, que podem ser inuteis ou mesmo prejudiciais. Este fato deve ser tomado em considera¢do quando se leva o estrume diretamente ao cam- po, sem passar pela estrumeira. Assim se resumem as vantagens do estrume de curral: O grande valor do estrume de curral é que adiciona htimus ao solo e aumenta sua capacidade de absorcdo de dgua. A agua é 0 principal fator de crescimento das plantas. E além: O estrume de curral leva calor ao solo pela decomposicdo da matéria orgdnica; acrescenta umidade (cerca de 80% de seu peso é dgua) - e ajuda a reter @ umi- dade, mantém ar no solo, especialmente quando se trata de estrume pastoso, fornece alimento, O estrume de curral é muita duradouro; o seu efeito prolonga-se por varios anos. Parte do N estd sob a forma de compostos que se decompdem muito lentamente; parte do N, porém, é brontamente assimilado sob a forma de compostos de aménio. A potassa também é prontamente assimilavel. O acido fosférico, encontrado no excremento sdélido de animais, é menos assimilavel. A quantidade presente é cerca de metade da quantidade dos outros consti- tuintes, Assim, verifica-se que o estrume de curral tem tudo que é essen- cial a fertilidade, que em sua aco vagarosa supre alimentos as plantas gradual e constantemente. A unica desvantagem deve se ao fato de levar ao solo grande quantidade de sementes de ervas daninhas. 40 iowa Figura 4.5 - Planta de estrumeira e tanque de chorume, (Adaptacao de uma planta do agrénamo Jesus Aguirre Andes) Como se aplica esterco de curral: 0 estrume de curral deve ser adicionado a todas as terras, dadas as suas extraordinaria vantagens. Deve ser, porém, considerado principalmente grande fornecedor de humus. Nos solos calcarios e arenosos, nos quais a decomposi¢ao da mateé- ria organica é muito rapida, convém empregar 20 a 30 toneladas, por hec- tare, de dois em dois ou de trés em trés anos. Nos solos argilosos, em que a decomposigao é mais lenta, convém usar um tanto palhoso e de trés em trés ou de quatro em quatro anos. O estrume de curral é levado ao campo em carrocas ou caminhées e distribuido em montes, no terreno a adubar, de sete em sete metros. Operarios espalham com pas 0 estrume da melhor forma possivel. Passa- se, imediatamente, uma grade de discos ou um arado de aiveca para in- corporar o estrume ao solo. 41

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