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Informe Agropecuário
Uma publicação da EPAMIG
v.31 n.258 set./out. 2010
Belo Horizonte-MG

Sumário

Editorial .......................................................................................................................... 3

Entrevista . ...................................................................................................................... 4

Características da produção de leite e do rebanho leiteiro do estado de Minas Gerais


Feliciano Nogueira de Oliveira, José Alberto de Ávila Pires e Cinthya Leite Madureira de
Oliveira .......................................................................................................................... 7

Potencial das pastagens tropicais para a produção de leite


Apresentação Edilane Aparecida da Silva, Domingos Sávio Queiroz, Adriano de Souza Guimarães,
José Reinaldo Mendes Ruas, Bruno Campos de Carvalho e Arismar de Castro Menezes ........ 18
Em 1998, foi lançado o Programa de Organi-
zação e Gestão da Pecuária Bovina da EPAMIG, Adaptação de animais mestiços em ambiente tropical
quando foram reorganizados os rebanhos das
Maria de Fátima Ávila Pires, Marcílio de Azevedo e Helton Mattana Saturnino ..................... 30
Fazendas Experimentais da Empresa. Posterior-
mente, a Seapa-MG expandiu esse Programa
Importância do rebanho F1 Holandês x Zebu para a pecuária de leite
para todo o Estado com a denominação Propec.
Maria Dulcinéia da Costa, José Reinaldo Mendes Ruas, Vicente Ribeiro Rocha Júnior,
A pecuária leiteira na EPAMIG tem como base
animais mestiços, conforme a realidade do pro- Fernanda Silva Santos Raidan, José Joaquim Ferreira e Edilane Aparecida da Silva .............. 40
dutor mineiro e brasileiro, e utiliza fêmeas F1
Holandês x Zebu, produto do primeiro cruza- Tecnologias de produção de fêmeas mestiças F1 Holandês x Zebu
mento entre a raça taurina, especializada na pro- Álan Maia Borges, José Reinaldo Mendes Ruas, Bruno Campos de Carvalho, Arismar de Castro
dução de leite, e animais zebuínos, que apresen- Menezes, Telma da Mata Martins e Edilane Aparecida da Silva .................................................. 52
tam rusticidade e adaptação ao ambiente tropical.
A essa estrutura deu-se o nome de Programa F1. Sistema de Produção de Leite com vacas F1 Holandês x Zebu
A partir do estabelecimento dos rebanhos, a José Reinaldo Mendes Ruas, Arismar de Castro Menezes, Bruno Campos de Carvalho,
EPAMIG consolidou uma grande base de pesqui- Domingos Sávio Queiroz, Edilane Aparecida da Silva e José Joaquim Ferreira . .................... 63
sa com os objetivos de compreender e de estudar
melhor as vacas mestiças leiteiras, a fim de gerar Alimentação do rebanho F1: fator de menor custo na produção de leite
e adaptar tecnologias próprias a esses animais. José Joaquim Ferreira, José Reinaldo Mendes Ruas, Bruno Campos de Carvalho, Edilane
Nos últimos dez anos, informações e tec-
Aparecida da Silva, Domingos Sávio Queiroz e Arismar de Castro Menezes ......................... 72
nologias foram geradas por meio de projetos de
pesquisa, os quais trouxeram respostas a muitas
Práticas de manejo para melhorar a eficiência produtiva de vacas mestiças F1
dúvidas dos produtores de leite. Por outro lado,
novos desafios surgiram e, consequentemente, Holandês x Zebu
novos projetos de pesquisas. Sandra Gesteira Coelho, Juliana Aparecida Mello Lima, Bruna Figueiredo Silper, Ana Paula
Assim, o Programa F1 também tornou-se fer- Saldanha Franzoni e Betânia Glória Campos .......................................................................... 81
ramenta de prospecção de demandas para o setor.
Este Informe Agropecuário consolida resul- Manejo reprodutivo de vacas mestiças F1 Holandês x Zebu
tados de pesquisa obtidos nos últimos dez anos, Bruno Campos de Carvalho, José Reinaldo Mendes Ruas, Álan Maia Borges, Fabiana Cristina
em rebanhos da EPAMIG e de instituições par- Varago, Arismar de Castro Menezes e José Joaquim Ferreira .............................................. 90
ceiras, e traz mais conhecimento e tecnologias
para serem aplicados por produtores de leite e Potencial do rebanho leiteiro para a produção de bovinos de corte
técnicos. Gustavo Almeida Mendes, Vicente Ribeiro Rocha Júnior, José Reinaldo Mendes Ruas, Marcos
Eduardo Pereira Gonçalves, Maria Dulcinéia da Costa, Luciana Albuquerque Caldeira ......... 101
José Reinaldo Mendes Ruas
Bruno Campos de Carvalho

ISSN 0100-3364

Informe Agropecuário Belo Horizonte v.31 n.258 p. 1-112 set./out. 2010

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© 1977 EPAMIG Informe Agropecuário é uma publicação da
ISSN 0100-3364 Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
INPI: 006505007 EPAMIG

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Cristiane Viana Guimarães Ladeira
Divisão de Produção Animal
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Divisão de Produção Vegetal

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Vânia Lacerda
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Vânia Lacerda
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Marlene A. Ribeiro Gomide, Rosely A. R. Battista Pereira e Informe Agropecuário. - v.3, n.25 - (jan. 1977) - . - Belo
Maria Cláudia Carvalho (estagiária) Horizonte: EPAMIG, 1977 - .
v.: il.
NORMALIZAÇÃO
Fátima Rocha Gomes e Maria Lúcia de Melo Silveira Cont. de Informe Agropecuário: conjuntura e estatísti-
PRODUÇÃO E ARTE ca. - v.1, n.1 - (abr.1975).
Diagramação/formatação: Maria Alice Vieira, Erasmo dos Reis ISSN 0100-3364
Pereira, Ângela Batista P. Carvalho e Fabriciano Chaves Amaral
1. Agropecuária - Periódico. 2. Agropecuária - Aspecto
Coordenação de Produção Gráfica Econômico. I. EPAMIG.
Fabriciano Chaves Amaral
CDD 630.5
Capa: Fabriciano Chaves Amaral

Foto da capa: Erasmo Pereira


Vacas da Fazenda Experimental de Santa Rita, EPAMIG Centro-
Oeste, Prudente de Morais O Informe Agropecuário é indexado na
Selo 35 anos Informe Agropecuário: Ângela Batista P. Carvalho AGROBASE, CAB INTERNATIONAL e AGRIS

Impressão:
Governo do Estado de Minas Gerais
Secretaria de Estado de Agricultura,
Pecuária e Abastecimento

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Governo do Estado de Minas Gerais
Antonio Augusto Junho Anastasia
Governador
Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Gilman Viana Rodrigues

Pesquisa valoriza rebanho bovino


Secretário

Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais


Conselho de Administração O Brasil é o sexto maior produtor mundial de leite, com uma
Gilman Viana Rodrigues
Baldonedo Arthur Napoleão
Sandra Gesteira Coelho produção de 27,5 bilhões de litros anuais, provenientes de cerca
Elifas Nunes de Alcântara
José Geraldo Eugênio de França
Adauto Ferreira Barcelos
Vicente José Gamarano de 21 milhões de vacas. O estado de Minas Gerais destaca-se
Joanito Campos Júnior
Osmar Aleixo Rodrigues Filho
Décio Bruxel
Helton Mattana Saturnino por possuir o maior rebanho bovino leiteiro, além de ser o maior
Conselho Fiscal produtor nacional, com 7,2 bilhões de litros/ano, o que totaliza,
Carmo Robilota Zeitune Evandro de Oliveira Neiva
Heli de Oliveira Penido Márcia Dias da Cruz aproximadamente, 30% do total da produção no País. Além disso,
José Clementino Santos Celso Costa Moreira
a pecuária leiteira tem importante função social e gera, no Estado,
Presidência
Baldonedo Arthur Napoleão 1,2 milhão de empregos.
Diretoria de Operações Técnicas Uma das principais características do rebanho bovino
Enilson Abrahão
Diretoria de Administração e Finanças brasileiro está em sua composição, com 74% de vacas mestiças
Luiz Carlos Gomes Guerra
e média de 1.276 kg de leite por lactação. Outros 6% são vacas
Gabinete da Presidência
Thaissa Goulart Bhering Viana especializadas, que produzem em média 4.500 kg de leite por
Assessoria de Comunicação
Roseney Maria de Oliveira
lactação, e 20% de vacas sem qualquer especialização, com
Assessoria de Desenvolvimento Organizacional produção média de 600 kg de leite por lactação.
Felipe Bruschi Giorni
Explorar de forma positiva esta característica pode
Assessoria de Informática
Silmar Vasconcelos elevar a produtividade e tornar a atividade mais eficiente. A
Assessoria Jurídica
Nuno Miguel Branco de Sá Viana Rebelo
implementação de sistemas de produção economicamente viáveis
Assessoria de Negócios Tecnológicos e sustentáveis para a exploração de bovinos de leite, nas diversas
Jairo Pereira da Silva Júnior
Assessoria de Planejamento e Coordenação
regiões do estado de Minas Gerais é uma realidade que precisa
Renato Damasceno Netto ser viabilizada. Nas condições edafoclimáticas brasileiras, o gado
Assessoria de Relações Institucionais
Marcílio Valadares mestiço F1 Holandês x Zebu (HZ) é uma alternativa adequada
Assessoria de Unidades do Interior para produzir de forma eficaz e econômica, pois em um só animal
Júlia Salles Tavares Mendes
Auditoria Interna são reunidas as boas características de duas ou mais raças, como
Márcio Luiz Mattos dos Santos
boa produção leiteira, rusticidade, capacidade de autorregulação
Departamento de Compras e Almoxarifado
Sebastião Alves do Nascimento Neto do calor corporal e alimentação a pasto.
Departamento de Contabilidade e Finanças
Thaissa Goulart Bhering Viana A EPAMIG, em consonância com as diretrizes do governo
Departamento de Engenharia de Minas e da Seapa-MG, executa pesquisas para bovinocultura
Luiz Fernando Drummond Alves
Departamento de Transferência Tecnológica de leite, por meio de um sistema que utiliza fêmeas F1 meio-
Juliana Carvalho Simões -sangue HZ, mantidas em regime de pasto, durante o verão, e
Departamento de Patrimônio e Serviços Gerais
Mary Aparecida Dias suplementadas em cocho com volumoso, durante o inverno. Esse
Departamento de Pesquisa sistema tem como finalidade a produção de leite a baixo custo e
Maria Lélia Rodriguez Simão
Departamento de Publicações crias de qualidade para a cadeia produtiva do leite e da carne. Os
Vânia Lúcia Alves Lacerda
resultados mostram aumento na média de produção de 3.546 kg
Departamento de Recursos Humanos
Flávio Luiz Magela Peixoto por vaca em lactação.
Departamento de Eventos Tecnológicos
Mairon Martins Mesquita Esta edição do Informe Agropecuário tem como objetivo
Departamento de Transportes levar esses resultados ao conhecimento de todos os segmentos
José Antônio de Oliveira
Instituto de Laticínios Cândido Tostes da pecuária bovina e, com isso, promover o crescimento e a
Luiz Carlos G. C. Júnior, Gérson Occhi e Nelson Luiz T. de Macedo
sustentabilidade da atividade leiteira, tradicional para o estado de
Instituto Técnico de Agropecuária e Cooperativismo
Luci Maria Lopes Lobato e Francisco Olavo Coutinho da Costa Minas Gerais.
U.R. EPAMIG Sul de Minas
Gladyston Rodrigues Carvalho e Ana Paula de M. Rios Resende
U.R. EPAMIG Norte de Minas Baldonedo Arthur Napoleão
Polyanna Mara de Oliveira e Josimar dos Santos Araújo Presidente da EPAMIG
U.R. EPAMIG Zona da Mata
Trazilbo José de Paula Júnior e Giovani Martins Gouveia
U.R. EPAMIG Centro-Oeste
Édio Luiz da Costa e Waldênia Almeida Lapa Diniz
U.R. EPAMIG Triângulo e Alto Paranaíba
José Mauro Valente Paes e Marina Lombardi Saraiva

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Novos horizontes para os produtores
de leite de Minas Gerais
O secretário de Estado de
Agricultura, Pecuária e Abasteci-
mento de Minas Gerais, Gilman
Viana Rodrigues, é produtor rural,
criador e selecionador de gado,
na região do Vale do Mucuri, MG,
e um entusiasta do sistema de uti-
lização de vacas F1 para produ-
ção de leite de forma sustentável.
Gilman tem vasta experiên-
cia com as questões sociais e eco-
nômicas vividas pelo homem do
campo, foi presidente da Federa-
ção da Agricultura e Pecuária do
Estado de Minas Gerais (Faemg)
e do Conselho Administrativo do
Serviço Nacional de Aprendiza-
gem Rural de Minas Gerais (Senar
Minas), por mais de uma década.
Foi também presidente da Comissão Nacional de Comércio Exterior da Confederação da Agricultura e Pecuária do
Brasil (CNA), da Câmara Temática de Negociações Agrícolas Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA) e do Conselho Deliberativo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de
Minas Gerais (Sebrae-MG).

IA - Qual a importância da pecuária tira leite até das pedras. Embora haja nificante. Por isso, é muito valioso para
de leite para o estado de Minas uma ironia nisso, vejo esta analogia Minas Gerais qualificar a pessoa e o
Gerais no que diz respeito aos como persistência. E isso tem muito produto do processo do leite.
aspectos econômicos e sociais? valor, quando se pensa na adesão do
produtor, na esperança que ele tem, IA - Qual a sua opinião sobre a uti-
Gilman Viana Rodrigues - O grande o que considero muito interessante. lização da vaca F1 Holandês x
valor da pecuária de leite em Minas é Outro dado importante é que Minas é o Zebu (HZ) e sua adequação à
a capilaridade, característica do com- maior produtor de leite do Brasil e está pecuária mineira?
ponente social que atinge os pequenos muito distante do segundo colocado. O
produtores, sem desprezar a participa- segundo maior produtor nacional pro- Gilman Viana Rodrigues - Estamos
ção e a expressão do grande produtor, duz menos que a metade do que Minas falando de um componente genético
do empresário, do portador de novas produz, ou seja, quase um terço de muito positivo que é a agregação da
tecnologias. Essa capilaridade também todo o leite produzido no Brasil é min- rusticidade da raça Zebuína, em cru-
atinge a parte econômica. Todos os eiro. Num país tão grande como o Bra- zamento com a raça Holandesa (euro-
municípios mineiros têm produção de sil, um Estado produzir praticamente a peia), de alta eficiência leiteira, para
leite. Diz-se popularmente, que Minas terça parte de um produto, é algo sig- viabilizar uma produção econômica.
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Não é que não se saiba produzir leite, dade do empresário de médio e grande Gilman Viana Rodrigues - A Seapa-
é preciso produzir leite de maneira que portes. Na hora em que a pesquisa faz MG está trabalhando com a EPAMIG.
o custo seja menor do que o seu preço a recomendação, está orientando a de- A EPAMIG é a cabeça da pesquisa e
de venda, sob pena de a atividade tor- cisão, está ajudando na gestão do negó- da inovação da agropecuária de Minas
nar-se inviável. A busca da EPAMIG cio leite. Gerais e integra a Seapa-MG. Não
em fazer pesquisa com o cruzamento há um tratamento compulsoriamente
de zebuínos com europeus, zebuínos hierárquico, o que existe é uma con-
com taurinos, portanto, é de muita im- vivência intelectual e técnica muito
portância e de muita competência. A A EPAMIG deve qualificada, em que o direito de cobrar é
EPAMIG deve persistir nesta linha de multilateral. E nós queremos resultados
pesquisa e não é nem mais persistên- persistir nesta linha e temos conseguido. É bom lembrar o
cia, é permanência, pois é fato com- estágio de qualidade no qual está che-
provado a eficiência desse sistema. de pesquisa e não é gando o Instituto de Laticínios Cândido
Um dado apreciável é a qualidade do Tostes, da EPAMIG Juiz de Fora, MG,
macho oriundo desse cruzamento para
nem mais persistência, numa renovação fantástica da parte físi-
o mercado de carne, pois a tradição do é permanência, pois ca, da parte de equipamentos e na quali-
gado leiteiro mal selecionado era ter ficação de pessoas. Aí entra um compo-
um macho desqualificado para o mer- é fato comprovado nente importante no efeito social. Não
cado de carne. E, com esse sistema, a basta só ensinar uma pessoa a fazer, é
EPAMIG pulou obstáculos e venceu as a eficiência desse preciso ensinar como fazer. A ação deve
exigências de mercado, oferecendo um ser crescente e, por isso, a pessoa deve
produto qualificado e que ajuda na re- sistema. enxergar em si o potencial para evoluir.
muneração do produtor.
IA - Qual a importância da integra-
IA - Este tipo de sistema com vacas ção das cadeias produtivas do
IA - Qual a importância da pesqui-
F1 HZ atende tanto a pequenos leite e da carne para o agrone-
sa com vacas F1 HZ para o
como a grandes pecuaristas? gócio mineiro?
desenvolvimento da pecuária
  Gilman Viana Rodrigues - Atende, leiteira em Minas Gerais? Gilman Viana Rodrigues - A integra-
mas o apelo maior é para o pequeno ção em cadeia produtiva é compulsória.
pecuarista. O grande pode adotar, se Gilman Viana Rodrigues - Na minha Se não tivermos integração, criamos
assim o quiser, mas, normalmente, este opinião, nada desenvolve sem pesqui- uma selva entre os segmentos da cadeia
segmento tem uma linha de trabalho sa. E a vaca F1 entra nesse rol. Tudo produtiva. O processo de integração
que não espera por esse tipo de resul- que o ser humano cria, imagina, só a passa por uma percepção de inteligên-
tado. Ele tem capacidade de investir, pesquisa aplica. O exercício da pes- cia operacional. Um dado interessante é
de viajar, de fazer experiências tec- quisa é o exercício da inteligência. que nas cadeias produtivas de base rural
nológicas, inclusive com semens dife- Não há nada que possa sustentar o há um componente muito perverso que
renciados. Por isso, a expectativa re- futuro do mundo que não passe pela é a imperfeição dos mercados. Normal-
side no pequeno produtor, para que ele porta da pesquisa. Se não conseguimos mente, tem-se uma quantidade imensa
aproveite com entusiasmo esse resulta- inovar para surpreender o mundo e as de fornecedores e uma quantidade re-
do. Para quantificar isso, vamos admitir pessoas, o mundo vai-se queixar pela duzida de compradores. Então os com-
que, para produtores de médio e grande nossa incompetência. E a EPAMIG pradores têm o poder de formar preço,
portes, a adoção desse sistema repre- tem mostrado competência em sua e os fornecedores não têm poder de se
sente um crescimento de 10% a 15% na pesquisa. articular para formar preço. Por isso,
eficiência do rebanho, enquanto para o é muito penoso para o setor produtivo
pequeno produtor o crescimento pode IA - Como a Secretaria de Estado essa condição de imperfeição do mer-
atingir até 70%. Isto tem um grande sig- de Agricultura, Pecuária e cado. É preciso, urgentemente, que este
nificado, que mistura os aspectos social Abastecimento (Seapa-MG) tem setor exercite a organização para de-
e econômico. A capacidade de escolher apoiado o desenvolvimento e a fender seus interesses dentro da cadeia,
os animais, por parte do pequeno pecu- adoção deste sistema no terri- nunca desprezando a importância da
arista, é muito menor do que a capaci- tório mineiro? existência dessa cadeia. Há uma pro-
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posta que trabalhamos há algum tempo, mercado externo brasileiro. Temos mui- IA - Quais as ações da Seapa-MG
e tenho recomendado que seja retomada tos impostos, juros altos e deficiência voltadas especificamente para
agora, que é a formação do Conselho da de infraestrutura e logística. Quando o o setor leiteiro de Minas Ge-
Pecuária Leiteira do Estado. Este Con- câmbio era confortável, ele anestesiava rais?
selho prevê a contratação de um serviço esses ônus. Você suportava pagar um
das universidades, para definir os parâ- frete mais caro, demorava mais para en-  Gilman Viana Rodrigues - O Projeto
metros que formam os preços dos di- tregar, mas tinha uma recompensa com Minas Leite é emblemático, pois está
versos segmentos da cadeia produtiva. o dólar. Agora não tem, a conta apertou. exatamente qualificando a gestão da
Dessa forma, quando houver mudança A pergunta é: qual o fator que pode con- produção de leite nas fazendas. Esta-
de um dos segmentos com um fator tribuir para a retomada das vendas? A mos já com 500 propriedades assistidas
comprovadamente constatado pela uni- resposta é a recomposição das compras não apenas no papel, mas nas fazendas.
versidade, a repercussão desse fator nos internas. O mercado precisa demandar, Estamos conversando com o produtor,
preços será diluída em todo segmento estar num estágio em que a demanda de indo todo mês às fazendas e colocando
da cadeia. Ou seja, quando o preço no leite supere a oferta. Aí você recupera o os dados desse produtor num software e
varejo aumentar, não importa se man- preço. Temos ainda um ponto negativo dando a resposta do que ele está fazendo.
teiga, se creme, se iogurte, com 50%, para pecuária leiteira brasileira que é a Esse Projeto expande-se e tem outros
70% ou 100% de leite, esse aumento vai convivência no mercado externo com dois agregados, que não são executados
pela Seapa-MG. Um deles é o Educam-
refletir no preço do leite em sua origem.
po, um Projeto criado pelo Sebrae-MG
Se baixar, igualmente. É muito impor-
durante a minha gestão como presidente
tante que uma cadeia sobreviva, na me- O custo Brasil é um do Conselho, e está muito difundido e
dida em que seus componentes aceitem
também é de gerenciamento da proprie-
que quando estiver bom para um, estará complicador para dade, com acompanhamento eletrônico.
bom para todos. E quando estiver ruim
para um, estará ruim para todos. Dessa qualquer produto no Outro, é o da Embrapa, chamado Balde
Cheio. Esses Projetos não são exe-
forma, você cria uma expectativa de
que, no período de baixa rentabilidade, mercado externo cutados pela Seapa-MG, mas são
plenamente apoiados por ela. No caso
haja solidariedade para esperar o retor-
no de uma melhor rentabilidade.
brasileiro. Temos do Minas Leite, mantemos um coorde-
nador, aqui da própria Seapa-MG, que
muitos impostos, viaja a todas as propriedades assistidas.
IA - Quais são as oportunidades Isso significa que esta Secretaria passou
no mercado externo para os juros altos e deficiência a ser percebida pelo produtor como um
produtos lácteos e o que Minas braço de estímulo à sua eficiência. E o
Gerais precisa para se tornar de infraestrutura e dado mais alvissareiro é que no meio do
um grande exportador? processo houve produtor que achou que
logística. estávamos muito exigentes. Hoje, não
Gilman Viana Rodrigues - Minas já é
conseguimos atender a grande quanti-
um grande exportador. Não está expor-
dade de produtores que querem partici-
tando agora, porque a crise financeira uma oferta de preços subsidiados pelos par desse Projeto. Chamo isso de efeito
2008/2009 degradou os preços interna- governos de países concorrentes. E isto demonstração, pois as pessoas que não
cionais. O leite em pó, que é o maior é uma máscara drástica na rentabilidade quiseram participar e viram seu vizinho
produto de venda da cadeia láctea, es- do produtor. Quando uma mercadoria tendo sucesso, passaram a reexaminar
tava a US$ 5.400 a tonelada no primei- brasileira está no mercado mundial e a sua posição. Isto tem uma vertente
ro semestre. Terminou o ano de 2008 a o concorrente baixa o preço com sub- positiva que é a de o projeto tornar-se
US$ 1.800 a tonelada, ou seja, um terço. sídio e não com eficiência, o mercado sustentável no campo. Não vai depender
E esse preço não viabilizou a exporta- brasileiro é obrigado a fazer o mesmo sempre da Seapa-MG, pois se as pessoas
ção, a partir do Brasil, com o nosso para não perder espaço, sem o amparo percebem que a vida delas pode mudar,
preço de compra. O que se constata é do subsídio. A perda é repassada ao se assim quiserem, vão caminhar com
que não depende de capacidade, mas produtor e estrangula a renda. Cria-se, as energias próprias e o conhecimento
sim de nuances do mercado. O dado dessa forma, uma fotografia não muito que nós lhes disponibilizamos.
complementar é que o custo Brasil é um nítida da nossa normalidade no merca-
complicador para qualquer produto no do externo. Por Vânia Lacerda

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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 7

Características da produção de leite e do rebanho leiteiro


do estado de Minas Gerais
Feliciano Nogueira de Oliveira 1
José Alberto de Ávila Pires 2
Cinthya Leite Madureira de Oliveira 3

Resumo - O Brasil ocupa o sexto lugar na produção mundial de leite com mais de
27 bilhões de litros anuais, e Minas Gerais, como principal produtor do País,
responde por, aproximadamente, 28% da produção nacional. O preço pago pela
indústria de lácteos aos produtores, com sua inerente sazonalidade, e a demanda
de produto pelo consumidor final são variáveis que afetam diretamente no
desempenho dos Sistemas de Produção, de forma que os produtores a cada dia
buscam alternativas que viabilizem a sua sustentabilidade sob todos os aspectos.
Minas Gerais, como Estado “síntese” do Brasil e que traz em sua história, em sua
cultura e em sua economia um vínculo muito estreito com a pecuária leiteira,
apresenta, em sua realidade rural, um expressivo contingente de agricultores
familiares que praticam esta atividade e uma grande diversidade de sistemas
produtivos, prevalecendo, no entanto, aqueles sustentados por animais mestiços
de grande variabilidade de composição racial e mantidos a pasto. Pautadas nessa
realidade é que pesquisas voltadas à obtenção de tecnologias de processo e de
produtos, que viabilizem sistemas de produção de baixo custo, sinalizam com
fortes argumentos financeiros para a alternativa do uso de fêmeas bovinas mestiças
Holandês x Zebu (HZ) na produção de leite, com ênfase a fêmeas F1 e, também,
3/4 HZ. Neste sentido, o governo de Minas Gerais, por intermédio da Secretaria
de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento e suas instituições vinculadas,
propõe Programas de incentivo, desenvolvimento e suporte ao segmento produtivo
do sistema agroindustrial do leite no Estado.

Palavras-chave: Gado leiteiro. Sistema de Produção. Composição racial. Pasto.

INTRODUÇÃO ocupação de mão de obra, de renda e de a abertura para o mercado internacional,


suprimento de alimento estratégico e de sem o necessário preparo do sistema, e
No conjunto das atividades agropecu-
árias praticadas no Brasil e, em particular, alto valor nutritivo para a população. a implantação do Plano Real de estabi-
em Minas Gerais, a atividade leiteira, A década de 1990, particularmen- lização econômica do País promoveram
seguramente, se estabelece como uma te em sua primeira metade, trouxe um impacto no setor lácteo brasileiro
das mais expressivas economicamente, mudanças marcantes para o sistema que, desde essa ocasião, orientaram o
pelo elevado potencial de produção e de agroindustrial do leite no Brasil e em sistema a um novo caminho de desafios,
agregação de valor ao seu produto. De seus respectivos Estados, conforme as conquistas e profissionalização.
forma complementar, assume destacada peculiaridades de cada um. O fim do ta- De acordo com dados do IBGE (2008),
função social como atividade geradora de belamento de preços pagos ao produtor, o Brasil produziu, em 2008, 5,3 bilhões de

1
Médico-Veterinário, M.Sc., Coord. Técn. EMATER-MG, CEP 30441-194 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: felicianooliveira@emater.mg.gov.br
2
Eng o Agr o , M.Sc., Coord. Técn. Bovinos EMATER-MG, CEP 30441-194 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: xapeco@emater.mg.gov.br
3
Médica-Veterinária, M.Sc., Coord. Técn. EMATER-MG, CEP 30441-194 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: cinthya@emater.mg.gov.br

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litros de leite a mais do que o produzido em O Quadro 1 apresenta o consumo per que, dessa forma estabelecido, motivaria
2003, com uma taxa anual de crescimento capita de leite fluido e de alguns derivados o produtor a concentrar sua produção no
particularmente expressiva registrada no pela população brasileira, no decorrer da período das chuvas, ocasião de menor
ano de 2008, influenciada pelos preços década atual. custo de produção.
praticados a partir de meados de 2007. Verifica-se que houve um crescimento Conforme apresentado no Quadro 2,
No contexto nacional, Minas Gerais porcentual de consumo para o total de nos últimos dez anos verifica-se maior
tem a liderança da produção leiteira, res- produtos consumidos da ordem de 17% concentração de preços mínimos nos meses
pondendo por, aproximadamente, 28% da entre os anos 2000 e 2008. de janeiro e fevereiro e de preços máximos
produção nacional. entre os meses de junho e setembro, tanto
O detalhamento desses valores, no en- Comportamento dos preços para Minas Gerais, quanto para o Brasil.
tanto, remete à realidade de uma pecuária de leite pagos ao produtor
Verifica-se também que, à exceção dos
de leite praticada em Minas Gerais de perfis Segundo dados apresentados por Go- valores máximos registrados em junho
diversificados, particularmente no que tan-
mes (2006), a sazonalidade da produção de 2005 e dos valores mínimo e máximo,
ge às características do segmento básico de
de leite, em Minas Gerais, reduziu-se em 2009, nos demais registros os preços
produção, mas que, necessariamente, pre-
nos últimos anos. Em 2005, a produção médios nominais pagos em Minas Gerais
cisa e pretende manter-se ativa, crescente e
média, no período de chuvas (verão), foi são superiores aos pagos no Brasil.
sustentável sob todos os aspectos.
de 194 L/dia, contra uma produção de Pode-se observar ainda que nesses dez
CONDICIONANTES DA 185 L/dia, no período da seca (inverno), anos, tanto em Minas Gerais quanto no
PRODUÇÃO DE LEITE NO conferindo uma sazonalidade de produ- Brasil, o ano de 2007 foi o que registrou os
BRASIL ção de 4,78%. maiores valores de preços médios nominais
Nos Sistemas de Produção de Leite pagos aos produtores de leite, com queda des-
Em um sistema agroindustrial, o seg-
predominantes no estado de Minas Ge- ses valores registrada nos dois anos seguintes.
mento básico da produção ou produção pri-
mária, via de regra, responde reativamente
rais, a base de alimentação do rebanho é o De forma complementar, o Gráfico 1
a condicionantes ligadas ao mercado, como pasto, sendo este um fator que em muito apresenta a série de preços médios pagos ao
o custo dos insumos, o preço pago pela in- contribui para a redução dos custos de produtor, deflacionados pelo IPCA, de 2006
dústria ao produto e a demanda de produto produção. Considerando esta condição, a a 2009, incluindo a média de preços pagos
pelo consumidor final. estabilização do preço do leite no decorrer de 2001 a 2009, e o comportamento desses
do ano dificilmente vai acontecer, uma vez preços nos quatro primeiros meses de 2010.
Consumo de leite e
derivados no Brasil
QUADRO 1 - Consumo per capita de lácteos no Brasil, no período 2000-2008 (kg/pessoa/ano)
O consumo de leite está diretamente
Leite em pó Leite em pó
relacionado com a renda per capita da Ano Leite fluido Queijo Manteiga Total
integral desnatado
população que, por sua vez, está vincu-
lada ao momento econômico vivido pelo 2000 72,3 2,6 0,5 2,2 0,6 78,2
País. Verifica-se que, à medida que cresce 2001 69,7 2,6 0,4 2,4 0,6 75,7
o PIB e melhora a distribuição de renda
do País, aumenta o consumo de leite e de 2002 68,3 2,7 0,4 2,4 0,7 74,5
seus derivados pela população. O Minis-
2003 68,1 2,5 0,4 2,4 0,6 74,0
tério da Saúde recomenda um consumo
de leite na forma fluida ou na forma de 2004 69,2 2,5 0,4 2,4 0,6 75,1
derivados lácteos, variando em função da
2005 70,8 2,6 0,4 2,4 0,6 76,8
idade dos consumidores. Para crianças até
dez anos, a indicação é de 400 mL/dia ou 2006 72,7 2,8 0,4 2,5 0,6 79,0
146 L/ano. Para jovens de 11 a 19 anos, o
2007 77,0 3,1 0,4 2,6 0,7 83,8
consumo deve ser maior, de 700 mL/dia
ou 256 L/ano, e, para os adultos acima de 2008
(1)
83,2 3,4 0,4 2,8 0,7 90,5
20 anos, a recomendação é de 600 mL/ FONTE: USDA - Departamento de Agricultura dos EUA.
dia ou 219 L/ano (ZOCCAL; GOMES; Elaboração: Embrapa Gado de leite (2008).
CARVALHO, 2004). (1)Previsão.

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QUADRO 2 - Série de preços médios nominais do leite C pagos ao produtor (R$/litro) em valores brutos em Minas Gerais e no Brasil, no
período 2000-2009
Minas Gerais/
Ano Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
Brasil
2000 Minas Gerais 0,2870 0,4060
Brasil 0,2745 0,3736
2001 Minas Gerais 0,3714 0,2654
Brasil 0,3549 0,2635
2002 Minas Gerais 0,2722 0,4353
Brasil 0,2701 0,4179
2003 Minas Gerais 0,4319 0,5109
Brasil 0,4226 0,4887
2004 Minas Gerais 0,4239 0,5752
Brasil 0,4121 0,5684
2005 Minas Gerais 0,5904 0,4477
Brasil 0,5930 0,4274
2006 Minas Gerais 0,4247 0,5135
Brasil 0,4179 0,5028
2007 Minas Gerais 0,5036 0,8267
Brasil 0,4981 0,8000
2008 Minas Gerais 0,7794 0,5917
Brasil 0,7633 0,5883
2009 Minas Gerais 0,5887 0,7705
Brasil
0,5969             0,7743        
FONTE: Universidade de São Paulo (2010).
NOTA: Valores em vermelho: preço mínimo registrado no ano. Valores em azul: preço máximo registrado no ano.

Indicadores financeiros da
0 , 94
2007 atividade em Minas Gerais
0 , 90 Na estratificação da produção diária
0,86 de leite pelos produtores que compuseram
2008
0 , 82 a amostra de entrevistados na pesquisa
2009
0 , 78 2010 realizada por Gomes (2006), em 2005
(Quadro 3), os indicadores financeiros
0 , 74
mostraram-se significativamente diferen-
R$/L

0 , 70
Média tes entre os estratos estabelecidos, o que
0 , 66 2001 a 2009 gera a necessidade, também, de análises
0 , 62 2006 segmentadas.
0 , 58 Considerando valores de 2005, enquan-
0 , 54 to a renda bruta anual e o custo total do
estrato de produção de até 50 L/dia eram de
0 , 50
R$ 8.319,68 e de R$ 11.484,22, respectiva-
0 , 46
mente, no estrato acima de 1.000 L/dia os
0 , 42
Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
valores respectivos eram de R$ 535.447,27
e R$ 479.531,74. Tais resultados remeteram
Gráfico 1 - Série de preços médios pagos ao produtor - deflacionada pelo IPCA à perda financeira de R$ 3.164,54, para o
FONTE: Boletim do Leite (2010). estrato de produção de até 50 L/dia, e de
NOTA: Média dos estados Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas ganhos de R$ 55.915,53, para o estrato de
Gerais, Goiana e Bahia. produção acima de 1.000 L/dia (Quadro 4).
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QUADRO 3 - Estratificação dos produtores entrevistados, por produção de leite (L/dia), em preços praticados no período. Já em 2007,
Minas Gerais - 2005 houve uma recuperação dessa taxa, sendo
o setor estimulado pela recuperação de
Estrato de produção Produtores entrevistados Produtores entrevistados
preços, influenciada pelo mercado inter-
(L/dia) (no) (%)
nacional. Minas Gerais adota perfil de
Até 50 440 44,0 desempenho semelhante ao do País, no
De 50 a 200 354 35,4 entanto com taxas anuais de crescimento
De 200 a 500 140 14,0 mais conservadoras.
De 500 a 1.000 40 4,0
Quanto à perspectiva de crescimento
da produção de leite no País, estudo apre-
Acima de 1.000 26 2,6
sentado por Ferro et al. (2007) sugere que
FONTE: Dados básicos: Gomes (2006).
o crescimento vigoroso da produção de
leite nos últimos 15 ou 20 anos tenha-se
QUADRO 4 - Resumo da renda bruta, custo total e lucro da atividade leiteira dos entrevistados, alicerçado na produção familiar. Há neces-
sendo estratos de produção de leite, em Minas Gerais - 2005 sidade, no entanto, que sejam estabelecidas
condições mais apropriadas e condizentes
Estrato de produção Renda Bruta Custo Total Lucro
com esse estrato de produção, para que os
(L/dia) (R$) (R$) (R$)
produtores nele inseridos tenham susten-
Até 50 8.319,68 11.484,22 -3.164,54 tabilidade e mantenham-se na atividade.
De 50 a 200 27.605,90 31.342,91 -3.737,01 Paralelamente, o Levantamento Top
De 200 a 500 73.343,73 73.814,28 -470,55 100 2010 (base 2009) (MILKPOINT,
De 500 a 1 000 164.140,21 153.608,05 10.542,16 2010) mostra que, em 2010, 69% dos pro-
Acima de 1 000 535.447,27 479.531,74 55.915,53 dutores participantes pretendem aumentar
Minas Gerais 44.233,95 45.099,22 -865,27 a produção, número praticamente igual
FONTE: Dados básicos: Gomes (2006). ao obtido no ano de 2009 (70%). Entre
os 100 maiores, 27% pretendem manter
a produção, número levemente superior
Conforme os dados apresentados no 4.291 milhões. Mantida a média das taxas ao obtido em 2009 (25%), ao passo que
Quadro 4, existem grandes diferenças entre anuais de crescimento dos últimos cinco 4% dos produtores pretendem diminuir
os estratos de produção e os produtores den- anos, tanto o Brasil quanto Minas Gerais a produção (5% em 2009). Da mesma
tro de um mesmo estrato, o que não permite poderão, em 2011, ter suas produções anu- forma que em 2009, somente um produtor
uma análise conclusiva do comportamento ais duplicadas, em relação a 1990. manifestou interesse em parar a produção.
dos indicadores financeiros de maneira ge- Verifica-se que, nos anos de 2003 a É interessante frisar, portanto, que, mesmo
ral. O referencial analítico deve ser diferen- 2007, houve queda na taxa de crescimen- diante de um cenário nacional e mundial
ciado para cada caso, uma vez que torna-se to anual da produção, tendo como razão caracterizado como de crise econômica,
de difícil compreensão a permanência de mais provável o comércio internacional como foi no ano de 2009, há um aceno por
produtores na atividade por tanto tempo, de lácteos, com elevação da importação parte do segmento produtivo de crescimen-
sendo esta financeiramente inviável. e redução das exportações, afetando os to da atividade.

Desempenho da produção QUADRO 5 - Produção de leite e taxa porcentual de crescimento anual da produção no Brasil
de leite no Brasil e em e em Minas Gerais, no período 2003-2008
Minas Gerais Brasil Minas Gerais

De acordo com dados do IBGE (2008), Ano Produção de leite Taxa de Produção de leite Taxa de
(mil litros) crescimento anual (mil litros) crescimento anual
apresentados no Quadro 5, o Brasil produ-
ziu 27,6 bilhões de litros de leite, no ano de 2003 22.253.863 6.319.895
2008, contra os 22,3 bilhões, em 2003, o 2004 23.474.694 5,49% 6.628.917 4,89%
que remete a uma taxa média de crescimen- 2005 24.620.859 4,88% 6.908.683 4,22%
to anual da ordem de, aproximadamente, 2006 25.398.219 3,16% 7.094.111 2,68%
4,38%. Apenas a título de referência, em 2007 26.137.266 2,91% 7.257.242 2,30%
1990 o Brasil produziu 14.848 milhões 2008 27.579.383 5,52% 7.657.305 5,51%
de litros de leite, cabendo a Minas Gerais FONTE: IBGE (2008).

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Diante das constatações, pode-se quantidade registrada em 2008 (MINAS leite em Minas Gerais, verificada nesse
inferir que a produção de leite tem sido GERAIS, 2010a). Em 2009, Minas Gerais período, é o aumento considerável da
uma atividade interessante para diferentes respondeu por 28,4% da exportação brasi- produção média (L/produtor). Em 1995,
perfis de produtores, por razões distintas e leira de produtos lácteos. a produção média dos produtores que par-
demanda ações também distintas por parte ticiparam da pesquisa era de 95,80 L/dia
de políticas públicas. Daí a necessidade de CARACTERIZAÇÃO DOS e, em 2005, era de 184,26 L, portanto um
considerar cenários, análises e perspectivas SISTEMAS PRODUTIVOS DE aumento correspondente a 92%.
que serão certamente diferenciados para a LEITE EM MINAS GERAIS
O IBGE (CENSO AGROPECUÁRIO,
atividade em função dos diferentes perfis Historicamente, Minas Gerais destaca- 2007) registra que em Minas Gerais a
de produtores que a praticam. se como o maior produtor de leite do País. bovinocultura é encontrada em 352.726
Segundo dados do IBGE trabalhados pela estabelecimentos rurais, conforme apre-
Desempenho econômico da
atividade em Minas Gerais Embrapa Gado de Leite (PRINCIPAIS sentado no Quadro 6, ou seja, 64% do total
INDICADORES LEITE E DERIVADOS, de 551.617 estabelecimentos existentes
Segundo dados apresentados por Barros, 2010), em 2008 o Estado produziu 7,6 no Estado. Quanto ao efetivo do rebanho
Fachinello e Silva (2010), em valores de bilhões de litros de leite, representando bovino do Estado, a agricultura familiar
2009, o PIB do agronegócio de Minas Ge- detinha, em 2006, 34% do rebanho, contra
27,8% da produção nacional. Observa-
rais foi de R$ 83,6 bilhões, representando
se, portanto, que, em termos porcentuais, 66% da agricultura não familiar.
11% de um total de R$ 758,43 bilhões do
Minas Gerais teve um decréscimo na par- A produção leiteira, no entanto, restringe
PIB do agronegócio nacional.
ticipação da produção nacional de 28,9%, a 223.073 dos estabelecimentos que praticam
O agronegócio da pecuária gerou
em 1990, para 27,8%, em 2008. Possui o a bovinocultura, sendo 167.153 destes carac-
R$ 38,7 bilhões, representando 46,3% do
maior rebanho de vacas ordenhadas, com terizados como de base familiar (Quadro 7).
agronegócio total do Estado. Desse total,
5.143.689 cabeças e uma produtividade ex- Dados apresentados no Quadro 7,
52,9% concentram-se no segmento básico
pressa em litros de leite/vaca/ano de 1.489, como o número de vacas ordenhadas e a
ou de produção primária, que represen-
ou seja, 16,6% superior à produtividade produtividade (produção/vaca ordenhada/
ta um montante de, aproximadamente,
R$ 20,5 bilhões (MINAS GERAIS, 2010b). brasileira, registrada no ano de 2008, em ano), divergem daqueles registrados para
Nesse segmento básico, a participação do 1.277 L/vaca. o ano de 2008. Tal divergência provavel-
produto leite é de 25,73%, o que equivale a No cenário da pecuária bovina brasi- mente pode ser decorrente, além do ano de
R$ 5,27 bilhões (BARROS; FACHINELLO; leira, Minas Gerais responde por 11,1% do referência, da metodologia diferenciada de
SILVA, 2010). Portanto, de acordo com os rebanho nacional. De acordo com o IBGE coleta e análise de dados.
dados, a atividade leiteira, em seu segmento (2010), o Brasil possuía, em 2008, um total Ainda, de acordo com os dados do
básico, responde por cerca de 6,3% do PIB 202,3 milhões de cabeças, sendo que destes, Quadro 7, 2,5 bilhões de litros de leite
do agronegócio de Minas Gerais. 22,4 milhões estavam em Minas Gerais. de vaca produzidos em Minas Gerais são
As exportações de produtos lácteos Nos resultados de pesquisa apresenta- provenientes da agricultura familiar, ou
pelo Estado apresentaram desempenho dos por Gomes (2006), entre 1995 e 2005, seja, embora este segmento de produtores
extraordinário entre os anos 2003 e 2008. em Minas Gerais, o rebanho médio perten- responda por 75% do número de estabe-
A quantidade exportada saiu de 7,3 mil cente aos produtores de leite entrevistados, lecimentos rurais, em relação à produção
toneladas, em 2003, para 65,9 mil tone- cresceu 34%, visto que passou de 72,47 do Estado, responde apenas por 44,8%
ladas em 2008, o que correspondeu a um cabeças, em 1995, para 97,08 cabeças em do volume produzido. Esse dado realça
acréscimo de 802,7% no período. Em 2005. Esse mesmo autor registra que uma a importância social da atividade como
termos econômicos, houve uma elevação das principais mudanças na produção de alternativa produtiva que, necessaria-
de 1.971,4% na receita, sendo o valor
exportado em 2003 de 12,6 milhões de
dólares, contra 216 milhões de dólares, QUADRO 6 - Estabelecimentos rurais e efetivo bovino em Minas Gerais - 2006
em 2008 (MINAS GERAIS, 2010a). Já o Estabelecimentos rurais Efetivo bovino
ano de 2009 registrou queda para o setor (no) (cabeças)
lácteo de Minas Gerais. A queda do valor Agricultura Agricultura Agricultura Agricultura
médio interrompeu a alta consecutiva Total Total
familiar não familiar familiar não familiar
verificada entre os anos de 2003 e 2008,
e a quantidade exportada ficou em 24,3 267.527 85.199 352.726 6.774.433 13.136.760 19.911.193
mil toneladas, ou seja, 63,1% inferior à FONTE: Censo Agropecuário (2007).

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12 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

mente, precisa ser considerada, tanto pela QUADRO 7 - Produção de leite de vaca nos estabelecimentos rurais em Minas Gerais - 2006
iniciativa privada, como pela administra- Perfil da produção e quantidade
ção pública, para o estabelecimento de Variável Agricultura Agricultura
políticas para o setor. Total
familiar não familiar
Paralelamente, numa iniciativa do
Número de estabelecimentos 167.153 55.920 223.073
MilkPoint 4 , desde 2001 é realizado,
Produção de leite (1.000 L) 2.518.836 3.108.140 5.626.976
nacionalmente, o levantamento dos 100
maiores produtores de leite do Brasil, Valor da produção (R$ 1.000) 1.104.870 1.428.011 2.532.881
com o propósito de conhecer o perfil desse Vacas ordenhadas / / 3.181.441
segmento produtivo do setor lácteo, além Leite cru beneficiado no estabelecimento (1.000 L) / / 320.402
de contribuir para suprir uma lacuna de in-
Produção/vaca ordenhada/ano (L) / / 1.769
formação existente no setor e para acompa-
nhar as alterações na chamada “geografia Produção por estabelecimento/ano (L) / / 25.225
do leite no País”. O critério adotado foi o FONTE: Censo Agropecuário (2007).
de volume de leite comercializado. Dos
100 maiores produtores classificados no QUADRO 8 - Áreas utilizadas pelos entrevistados, segundo estratos de produção - 2005
Levantamento Top 100/MilkPoint, edição
Estratos de Milho/ Outros usos
2010, realizado em todo o Brasil, 45 deles Cana-de-
produção Unidade Pastagem Capineira Sorgo para para gado Total
são de Minas Gerais. açúcar
(L/dia) silagem de leite
Esta situação demonstra a diversidade de
Até 50 ha 22,95 0,69 0,71 0,50 1,12 25,97
cenários, de sistemas de produção e de pers-
De 50 a 200 ha 49,41 1,28 1,19 1,71 2,80 56,39
pectivas para a atividade no Estado e no País.
De 200 a 500 ha 78,15 2,16 1,16 5,31 7,37 94,15
UTILIZAÇÃO DO PASTO De 500 a 1.000 ha 104,53 2,77 2,06 13,34 7,55 130,25
COMO BASE ALIMENTAR DO
Acima de 1.000 ha 218,60 8,77 3,23 28,84 1,46 260,90
REBANHO
Minas Gerais ha 48,40 1,40 1,07 2,85 2,85 56,57
A produção brasileira de leite tem carac-
FONTE: Gomes (2006).
terísticas de sazonalidade, visto que é maior
no verão e menor no inverno. Tal compor-
tamento reflete o sistema de produção à CARACTERIZAÇÃO RACIAL se que houve um crescimento substancial no
base de pasto, que predomina no País. Em DOS BOVINOS porcentual de reprodutores com predominân-
Minas Gerais, 43,08% da cobertura vegetal cia de sangue Holandês, que, à época, foi de
No que diz respeito à composição ra-
do Estado é de pastagens, o que em área 12,5%. Ainda assim e desde então, prevalece
cial dos rebanhos produtores de leite nas
o maior porcentual de reprodutores mestiços
corresponde a 25.348.603 ha. Desse total, diversas regiões do Estado (Quadro 9) e
Holandês x Zebu (HZ) ou com predominância
13.654.615 ha são de pastagens naturais nos estratos de produção estabelecidos pela de sangue das raças zebuínas.
e outros 11.694.188 ha são de pastagens pesquisa de campo (Quadro 10), conduzida Essa prevalência pode ser explicada
cultivadas (MINAS GERAIS, 2010b). por Gomes (2006), verifica-se que 30% por uma sinalização do próprio mercado
A pesquisa de campo, realizada por dos reprodutores presentes nos rebanhos e da complementaridade que este modelo
Gomes (2006), evidencia que, em Minas leiteiros de Minas Gerais apresentam pre- de produção estabelece com a pecuária de
Gerais, a pecuária de leite ocupava, à épo- dominância de sangue Holandês, enquanto corte. Gomes (2002) registra o caso de uma
ca, a maior área da propriedade, sendo a que outros 55% apresentam algum grau propriedade de 34 ha em Minas Gerais,
atividade mais importante na propriedade de mestiçagem com raças zebuínas ou onde, em razão da restrição da área da pro-
rural, segundo os produtores entrevistados. predominância dessas raças. É interessan- priedade, não há recria de novilhas. Todas
As áreas de pastagem, por sua vez, ocupa- te ressaltar que outros 15% não possuem as crias, machos e fêmeas, filhas de touro
vam majoritariamente as áreas utilizadas padrão racial definido. Guzerá são vendidas, após desmame, para
para a atividade leiteira, em todos os es- Comparado à pesquisa semelhante realiza- pecuaristas de gado de corte. Faz-se a subs-
tratos de produção (Quadro 8). da pelo Sebrae-MG e Faemg (1996), verifica- tituição das vacas descartadas pela compra

4
Para informações complementares consultar o site: milkpoint.com.br/top100

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 1 , n . 2 5 8 , p . 7 - 1 6 , s e t . / o u t . 2 0 1 0

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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 13

QUADRO 9 - Composição racial dos reprodutores dos entrevistados, segundo as mesorre- Registra-se que apenas a Zona da
giões - 2005 Mata apresentou um rebanho de vacas
Mestiço com predominância de sangue Holandês
Predominân- Predominân- Sem
Holandês x (Quadro 12).
Mesorregiões Unidade cia de sangue cia de sangue padrão Total
Zebu
Holandês Zebu definido Em pesquisa semelhante conduzida
(HZ)
pela Embrapa Gado de Leite e pela Emater-
Noroeste de Minas % 35,1 18,2 40,7 6,1 100
MG, em 88 propriedades leiteiras de base
Norte de Minas % 25,0 25,0 25,0 25,0 100 familiar do Norte de Minas e 22 do Vale
Jequitinhonha % 33,3 0,0 33,3 33,3 100 do Jequitinhonha, em 57 municípios das
Vale do Mucuri % 0,0 43,8 26,9 29,2 100
respectivas regiões, em 2004 (Quadro 13),
foi observado o predomínio de matrizes
Triângulo Mineiro/ % 28,0 42,4 14,9 14,7 100
azebuadas e com grau de sangue em torno
Alto Paranaíba
de meio-sangue HZ na maioria das pro-
Central Mineira % 33,6 28,5 26,4 11,5 100
priedades, nas duas regiões. Observou-se
Metropolitana de % 28,7 41,1 14,0 16,2 100 também maior diversidade racial no Norte
Belo Horizonte
de Minas, onde 31% das propriedades
Vale do Rio Doce % 22,2 10,7 55,1 12,0 100 dispõem de vacas 3/4 Holandês (COSTA
Oeste de Minas % 17,2 38,3 27,6 16,9 100 et al., 2007).
Sul/Sudoeste de Minas % 30,8 36,3 17,4 15,5 100
Quanto aos reprodutores, os touros da
raça Nelore são os mais usados, em, apro-
Campo das Vertentes % 26,7 42,5 13,2 17,6 100
ximadamente, um terço das propriedades,
Zona da Mata % 28,7 42,6 13,3 15,3 100 seguindo-se o uso de touros azebuados,
FONTE: Gomes (2006). típicos de rebanhos de corte. Touros de
raças zebuínas leiteiras, como o Gir, são
QUADRO 10 - Composição racial dos reprodutores dos entrevistados, segundo estratos de usados em 12% e 23% das propriedades das
produção - 2005 regiões Norte de Minas e Vale do Jequiti-
Estratos de Mestiço Predominância de Sem nhonha, respectivamente, enquanto touros
Predominância
produção Holandês x Zebu sangue Holandês padrão Total das raças leiteiras especializadas, como o
de sangue Zebu
(L/dia) (HZ) (HZ) definido Holandês preto e branco (HPB), apenas em
Até 50 28,3 26 24,82 20,88 100 6% das propriedades em ambas as regiões.
Segundo Marcatti Neto (2000 apud
De 50 a 200 31,61 31,96 24,36 12,07 100
AMARAL et al., 2004), sistemas com-
De 200 a 500 28,61 39,24 23,4 8,75 100 petitivos para a produção de leite, nas
De 500 a 1.000 25,43 34,69 39,88 0 100 regiões tropicais, devem estar embasados
Acima de 1.000 35,09 27,43 16,38 21,1 100 na produção de leite a pasto e com animais
adequados a condições ambientais preva-
Minas Gerais 32,54 29,92 22,5 15,04 100
lecentes nessas regiões.
FONTE: Gomes (2006).
Considerando os dados apresentados,
pode-se inferir que, em Minas Gerais, a
de novilhas de primeira cria na região. O ção de leite, visto que 42% eram mestiças combinação entre a vocação histórica e
dinheiro da venda de bezerros e bezerras HZ e 25% com predominância de sangue cultural dos produtores para a atividade,
é mais do que suficiente para a compra e Holandês. Apenas 8% das vacas são zebu- a disponibilidade de área para a prática da
reposição das novilhas que entrarão no ínas, e um total de 25% não possuem um atividade pecuária leiteira, a prevalência do
rebanho. A eliminação das categorias não padrão de raça definido (Quadro 11). Em uso de pastagens nos sistemas de produção,
produtivas do rebanho (animais com até relação à pesquisa realizada em 1995, hou- a caracterização racial predominante do re-
dois ou três anos de idade) reduz de forma ve aumento no grau de sangue Holandês banho leiteiro e o perfil dos produtores, em
significativa a competição pelo alimento das vacas, que então representavam 18,5% seus diversos estratos de produção, tudo
dentro da propriedade, otimizando as do total. Observa-se, dessa forma, que, no isso, associado a uma ação coordenada
condições para os animais em produção. Estado como um todo, após dez anos, entre entre a assistência técnica, a pesquisa, a
Também na pesquisa de 2005, foi veri- as pesquisas realizadas, verifica-se a preva- provisão de insumos e o mercado, possi-
ficada a predominância de vacas com raça lência dos sistemas produtivos que utilizam bilita a sustentabilidade desse importante
e grau de sangue apropriados para a produ- predominantemente animais mestiços HZ. componente do agronegócio mineiro.
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14 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

QUADRO 11 - Composição racial das vacas dos entrevistados, segundo estratos de produ- AÇÃO GOVERNAMENTAL
ção - 2005 NA ASSISTÊNCIA TÉCNICA À
Estratos de Mestiço Predominância BOVINOCULTURA
Predominância Sem padrão
produção Holandês x Zebu de sangue Total
de sangue Zebu definido Em janeiro de 2003, o governo esta-
(L/dia) (HZ) Holandês
dual, por meio da Lei Delegada no 105
Até 50 42,49 15,44 10,02 32,05 100 (MINAS GERAIS, 2003), reformulou o
De 50 a 200 51,09 16,2 8,13 24,58 100 Conselho Estadual de Política Agrícola, o
qual abarca as Câmaras Técnicas das Ca-
De 200 a 500 43,26 28,1 12,76 15,88 100
deias Produtivas de maior expressividade
De 500 a 1.000 56,04 26,54 1,58 15,84 100 para o agronegócio mineiro. Dentre estas
Acima de 1.000 56,73 38,82 0 4,45 100 está a Câmara Técnica de Bovinocultura de
Minas Gerais 41,71 24,89 7,95 25,45 100 Leite, instalada em julho de 2003.
FONTE: Gomes (2006). Várias demandas e sugestões para o
setor são sistematizadas por esta Câmara
Técnica, por meio do Plano Setorial da
QUADRO 12 - Composição racial das vacas dos entrevistados, segundo as mesorregiões - 2005 Bovinocultura de Leite, com contribuições
Mestiço da Seapa-MG.
Predominân- Predominân- Sem
Holandês x
Mesorregiões Unidade cia sangue cia sangue padrão Total No final do ano de 2005, o governo
Zebu
Holandês Zebu definido estadual lançou o Programa Minas Leite,
(HZ)
Noroeste de Minas % 70,91 7,61 1,56 19,92 100 voltado a estimular e a fortalecer a Cadeia
Produtiva do Leite, nos seus diversos
Norte de Minas % 49,15 27,55 0,00 23,31 100
componentes. A partir dessa iniciativa,
Jequitinhonha % 53,55 6,39 2,98 37,07 100
foram estruturados e propostos Progra-
Vale do Mucuri % 56,46 0,00 0,00 43,54 100 mas voltados aos diversos segmentos da
Triângulo Mineiro/ % 34,89 22,78 20,98 21,35 100 Cadeia Produtiva, com as suas respectivas
Alto Paranaíba
especificidades.
Central Mineira % 63,55 7,40 7,77 21,28 100
Como ação do serviço estatal de assis-
Metropolitana de Belo % 34,96 16,92 14,98 33,15 100
tência técnica e extensão rural, é proposto
Horizonte
o Programa de Qualificação Gerencial e
Vale do Rio Doce % 75,66 8,45 0,35 15,54 100
Técnica dos Sistemas Produtivos de Pecuá-
Oeste de Minas % 38,73 25,09 4,97 31,21 100
ria Bovina do Estado de Minas Gerais, que,
Sul/Sudoeste de Minas % 29,81 34,10 18,79 17,30 100 entre os técnicos e produtores envolvidos,
Campo das Vertentes % 45,72 29,74 0,00 24,54 100 é conhecido simplesmente como “Minas
Zona da Mata % 22,39 56,20 0,00 21,41 100 Leite”. O Programa é coordenado pela
FONTE: Gomes (2006). Seapa-MG, em conjunto com a Emater-
MG, que é, também, a sua executora, por
meio da assistência técnica prestada pelos
QUADRO 13 - Composição racial de rebanhos leiteiros em propriedades de pecuária familiar
seus extensionistas aos produtores. É im-
nas regiões do Norte de Minas e do Vale do Jequitinhonha - 2004
portante destacar que a referência científica
Vaca Touro
que fundamenta as técnicas aplicadas na
Raça ou grupo genético Norte de Minas Jequitinhonha Norte de Minas Jequitinhonha
implementação e no acompanhamento do
% das propriedades
Programa em cada propriedade envolvida
Azebuada 48,3 57,1 30,9 23,5 advém, em grande proporção, de pesqui-
1/2 Holandês x Zebu (HZ) 69,0 38,1 8,6 11,8 sas conduzidas pela EPAMIG, em suas
3/4 Holandês x Zebu (HZ) 31,0 9,5 2,5 0,0 Fazendas Experimentais. Os resultados
Holandês preto e branco (HPB) 3,4 4,8 6,2 5,9 apurados são aplicados em seus próprios
Gir 5,7 4,8 12,3 23,5 sistemas de produção, o que torna as Fa-
Guzerá 2,3 0,0 3,7 11,8 zendas unidades de experimentação e de
Nelore 11,5 0,0 38,3 35,3 validação de tecnologia. Na continuidade
Outras raças 2,3 4,8 6,2 17,6 do processo, um trabalho interativo entre
FONTE: Costa et al. (2007). pesquisadores e extensionistas vem sendo
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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 15

feito nessas Fazendas, com o propósito de com resultados inferiores à necessidade ambientes de maior restrição produtiva,
que os extensionistas envolvidos conheçam nesse quesito. pode também ser inseminada ou coberta
e se apropriem das informações ali geradas Considerando as vacas como “fator de por touro terminador, produzir crias de
e as socializem entre os produtores por produção”, para o qual o produtor está mais qualidade e contribuir para a pecuária
meio da assistência técnica prestada. atento, a busca pela vaca de melhor desem- leiteira tornar-se mais rentável e, de forma
O Programa tem como objetivo pro- penho econômico tem sido uma constante. complementar, para a pecuária de corte
mover a melhoria da qualidade de vida Nessa linha, pesquisas como as conduzi- com a provisão de bezerros de boa perfor-
dos pecuaristas familiares e de suas fa- das por Lemos, Teodoro e Madalena (1992); mance para recria e engorda. Essa é uma
mílias, por meio da construção técnica, Lemos e Teodoro (1993); Madalena (1997); prática que, empiricamente e por obser-
da organização e da gestão da atividade Madalena, Madureira e Silvestre (1997) vações assistemáticas de comportamento
leiteira em seus sistemas de produção, e Marcatti Neto, Ruas e Amaral (2000) de mercado e de desempenho produtivo
propiciando sua integração nos sistemas orientam para a estruturação do mode- dos animais, muitos produtores, de forma
agroindustriais vinculados à atividade, com lo de organização e gestão da pecuária não estruturada, já adotam.
foco no incremento da renda proveniente bovina de Minas Gerais. Nesse modelo, Conforme o modelo de estratificação
dos produtos da bovinocultura - venda de denominado estratificação piramidal, fica piramidal proposto pela EPAMIG (Fig. 1),
leite e de animais. evidenciado o desempenho econômico a reposição das novilhas ou vacas F1 deve
Efetivamente iniciado, conforme a obtido pelas vacas F1 HZ nos rebanhos ser feita por fazendas especializadas na
metodologia proposta, em setembro de comerciais. A vaca F1, capaz de produ- produção de F1, o que ainda constitui um
2007, o Programa apresentava, em junho zir leite a preços mais competitivos em desafio ao modelo.
de 2010, 428 propriedades cadastradas que,
em média, registravam, por ocasião do ca-
dastramento no Programa, uma produção
Fornecedores Produção Indústria Comércio Consumo
diária de 140 L de leite, caracterizando,
portanto, a prioridade da ação estatal de
Insumos
assistência técnica para os sistemas pro- Máquinas
Equipamentos Processamento Distribuição Varejo
dutivos de base familiar. Modelo EPAMIG
Serviços de organização
Outros Programas de governo estão do rebanho
associados ao “Minas Leite”, como o Pro-
grama de Organização e Gestão da Pecuá-
ria Bovina de Minas Gerais (Propec-MG),
Rebanhos
concebido pela EPAMIG; o Programa de Touros Vacas

Melhoria da Qualidade Genética do Re-


banho Bovino do Estado de Minas Gerais Zebu Zebu

(Pró-Genética); o Programa de Integração Núcleo - Melhoramento e produção de zebu


Lavoura-Pecuária-Floresta e o Programa
de Melhoria da Qualidade do Leite.
Holandês Zebu

CONSIDERAÇÕES FINAIS Multiplicador - Produção de fêmeas F1

Como visto, em grande parte dos sis-


temas produtivos de pecuária leiteira do Terminador F1
estado de Minas Gerais predomina o mo-
delo estruturado basicamente com animais
Comercial - Produção de leite e bezerros
mestiços HZ mantidos a pasto. Um modelo de corte
tipicamente tropical e com inquestionável
Macho terminal Fêmea terminal Leite
potencial de sustentabilidade.
No entanto, aliado à falta de infor-
mações consistentes para uma avaliação Mercado
mais criteriosa de indicadores econômico-
financeiros, vários sistemas de produção Figura 1 - Modelo EPAMIG de organização do rebanho
de leite praticados no Estado persistem FONTE: Marcatti Neto et al. (2004).

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16 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

Cabe ainda ressaltar que a vaca F1 é Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha. forme Agropecuário. Carne bovina: eficiên-
ponto de partida para a diversificação e In.: TORRES, R. de A. (Ed.). Tecnologias cia produtiva e mercado, Belo Horizonte,
para o desenvolvimento da pecuária de v.21, n.205, p.64-69, jul./ago. 2000.
a ampliação de alternativas importantes
leite familiar do Norte de Minas e Vale do _______. et al. Organização e gestão da pe-
de composição racial para a produção Jequitinhonha. Juiz de Fora: Embrapa Gado cuária bovina da Empresa de Pesquisa Agro-
leiteira. Na perspectiva de ampliar essas de Leite, 2007. p.11-26. pecuária de Minas Gerais - EPAMIG. Infor-
alternativas de mestiçagem de fêmeas EMBRAPA GADO DE LEITE. Informações téc- me Agropecuário. Produção de leite com
bovinas para atendimento aos sistemas de nicas: estatísticas do leite. Juiz de Fora, [2008]. vacas mestiças, Belo Horizonte, v.25, n.221,
produção vigentes no Estado, o Propec- Disponível em: <http://www.cnpgl.embrapa. p.18-24. 2004.
MG, legitimado pela Seapa-MG, pela br/nova/informacoes/estatisticas/consumo/ MILKPOINT. Levantamento Top 100 2010: os
consumo.php>. Acesso em: 8 jun. 2010. 100 maiores produtores de leite do Brasil. São
Resolução no 614/2002, foi reformulado em
FERRO, A.B. et al. Contextualização da Paulo, 2010. Disponível em: <http://www.
2006, por meio da Resolução no 858/2006,
cadeia produtiva de leite no Brasil. In: milkpoint.com.br/top100/final/2010/>. Aces-
incluindo nos rebanhos multiplicadores e CARVALHO, M.P. de et al. (Ed.). Cenários so em: 9 jun. 2010.
comerciais propostos pelo modelo piramidal para o leite no Brasil 2020. Juiz de Fora: MINAS GERAIS. Lei Delegada no 105, de 29
da EPAMIG, além das fêmeas F1 HZ (meio- Embrapa Gado de Leite, 2007. p.21-72. de janeiro de 2003. Altera dispositivos da
sangue), as frações 3/4 HZ Europeu x Zebu GOMES, S.T. Diagnóstico da pecuária leitei- Lei no 11.231, de 22 de setembro de 1993;
e Zebu x Europeu, 5/8 Holandês e 3/8 Zebu ra do estado de Minas Gerais em 2005: re- da Lei no 11.405, de 28 de janeiro de 1994,
latório de pesquisa. Belo Horizonte: FAEMG, da Lei Delegada no 31, de 28 de agosto de
(Gir e Guzerá), com aptidão leiteira.
2006. 156p. 1985; extingue o Conselho de Informática
Pesquisas aplicadas e assistência técni- do Estado de Minas Gerais; o Conselho Su-
_______. Touro Zebu e a produção de leite.
ca direcionadas a transformar a realidade perior de Segurança Pública; o Conselho
Estado de Minas, Belo Horizonte, 4 mar.
ainda prevalecente e que considerem e Estadual da Pesca e da Agricultura, e dá
2002. Agropecuário, p.12-12.
outras providências. Minas Gerais, Belo
viabilizem o conceito de sustentabilidade IBGE. SIDRA. Banco de Dados Agregados. Horizonte, 30 jan. 2003. Disponível em:
dos sistemas de produção continuam a ser Rio de Janeiro, [2010]. Disponível em: <http://www.almg.gov.br>. Acesso em: 17
necessárias. De forma complementar, um <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/pecua/ ago. 2010.
processo educativo de profissionalização default.asp?t=2&z=t&o=23&u1=1&u3=
_______. Secretaria de Estado de Agricultu-
1&u4=1&u5=1&u6=1&u7=1&u2=1>.
do segmento básico de produção, por meio ra, Pecuária e Abastecimento. Panorama do
Acesso em: 4 jun. 2010.
da qualificação técnica e gerencial dos comércio exterior do agronegócio de Minas
_______. SIDRA. Banco de Dados Agrega- Gerais: 2010. Belo Horizonte, [2010a]. 92p.
produtores e de seus auxiliares, indepen-
dos. Produção de origem animal por tipo
dentemente do estrato de produção a que _______. Secretaria de Estado de Agricultura,
de produto. Rio de Janeiro, [2008]. Dispo-
Pecuária e Abastecimento. Perfil do agrone-
pertençam, é condição elementar para a nível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br/
gócio mineiro 2010. Belo Horizonte, 2010b.
consolidação qualificada de liderança do bda/tabela/listabl.asp?c=74&z=p&o=22>.
Disponível em: <http://www.agricultura.
Acesso em: 4 jun. 2010.
Estado na pecuária de leite nacional. mg.gov.br/files/perfil/perfil_minas.pdf>.
LEMOS, A.de M.; TEODORO, R.L. Utilização Acesso em: 9 jun. 2010.
de raças, cruzamentos e seleção em bovi-
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VADOS: boletim eletrônico mensal. Juiz de
AMARAL, R. et al. Sistemas de produção de CNPGL, 1993. 23p. (EMBRAPA-CNPGL. Do-
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rizonte, v.25, n.221, p.90-101, 2004.
Informe Agropecuário. Recursos genéticos jun. 2010.
BARROS, G.S.C.; FACHINELLO, A.L.; SILVA, animais para a produção de leite, Belo Hori-
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mento, 2009. Disponível em: <http://www. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. ESALQ.
dernos Técnicos da Escola de Veterinária da
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UFMG, Belo Horizonte, n.18, p.19-27, jan.
pib_mar_2010.pdf>. Acesso em: 4 jun. 2010. 2010. Disponível em: <http://www.cepea.
1997. Anais do Encontro de Produtores F1.
esalq.usp.br/leite/page.php?id_page=155>.
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_______; MADUREIRA, A.P.; SILVESTRE, Acesso em: 8 jun. 2010.
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br/leite/index.php>. Acesso em: 8 jun. 2010. L.A. O agronegócio do leite: análise e pers-
dernos Técnicos da Escola de Veterinária da
pectivas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
CENSO AGROPECUÁRIO 2006. Resultados UFMG, Belo Horizonte, n.18, p.41-52, jan.
ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 42.,
preliminares. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. 1997. Anais do Encontro de Produtores F1. 2004, Cuiabá. Anais... Dinâmicas setoriais e
COSTA, J.L. da et al. Características das MARCATTI NETO, A.; RUAS, J.R.M.; AMA- desenvolvimento regional. Cuiabá: SOBER,
propriedades leiteiras familiares das regiões RAL, R. Vaca de leite, bezerro de corte. In- 2004. 1 CD-ROM.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 1 , n . 2 5 8 , p . 7 - 1 6 , s e t . / o u t . 2 0 1 0

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18 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

Potencial das pastagens tropicais para a produção de leite


Edilane Aparecida da Silva 1
Domingos Sávio Queiroz 2
Adriano de Souza Guimarães 3
José Reinaldo Mendes Ruas 4
Bruno Campos de Carvalho 5
Arismar de Castro Menezes 6

Resumo - A implementação de sistemas de produção economicamente viáveis e susten-


táveis para a exploração de bovinos de leite, nas diversas regiões do estado de Minas
Gerais, é uma realidade que precisa ser viabilizada. Para as condições edafoclimáticas
brasileiras, o gado mestiço F1 Holandês x Zebu (HZ) é a alternativa viável para produzir
de forma eficaz e econômica. Em um só animal são reunidas as boas características de
duas ou mais raças, e o produto obtido apresenta boa produção leiteira, rusticidade,
capacidade de autorregulação do calor corporal, maior eficiência na utilização de dietas
de baixa energia e alimentos de menor qualidade e menor digestibilidade, permitindo,
assim, retorno positivo de produção. A produção animal que se baseia no uso intensivo
de pastagens é a mais econômica, pois é o próprio animal que realiza a colheita da for-
ragem produzida. Durante a época das águas, se a forragem for de boa qualidade e bem
manejada, ocorre redução significativa das suplementações, no entanto, durante a época
seca, período de menor crescimento da forragem, suplementações estratégicas tornam-
se necessárias. A mistura mineral adequada deve ser fornecida durante todo o ano. O
correto manejo das pastagens é fundamental para garantir a produtividade sustentável
do sistema de produção.

Palavras-chave: Gado mestiço. Gramíneas. Pastagem diferida. Suplementação. Sistema


Silvipastoril. Sistema de pastejo.

INTRODUÇÃO nas regiões tropicais (LEME et al., 2005). se realizar manejos sanitário, nutricional
A utilização do gado F1 (Bos taurus x e reprodutivo de forma eficiente. Normal-
O uso de raças bovinas leiteiras espe-
cializadas, selecionadas em regiões tempe- Bos indicus) é uma alternativa de explora- mente, animais com maior grau de sangue
radas, constitui um dos maiores entraves ção sustentável, que contribui substancial- zebuíno possuem maior eficiência de
na produtividade do rebanho em algumas mente para a produção de leite no estado utilização de volumosos, de adaptabilidade
regiões brasileiras, em consequência da de Minas Gerais. Para obter maior produ- às condições adversas e melhores índices
baixa adaptação desses genótipos às con- tividade e aprimoramento das técnicas de produtivos e reprodutivos em condições
dições de clima e de manejo prevalecentes produção sob condições tropicais, devem- tropicais, comparados a taurinos puros.

1
Zootecnista, D.Sc., Pesq. EPAMIG Triângulo e Alto Paranaíba/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio
eletrônico: edilane@epamig.br
2
Zootecnista, D.Sc., Pesq. EPAMIG Zona da Mata/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico:
dqueiroz@epamig.br
3
Zootecnista, M.Sc., Pesq. EPAMIG Triângulo e Alto Paranaíba - FEST/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 135, CEP 38700-000 Patos de Minas-
MG, Correio eletrônico: adriano.guimaraes@epamig.br
4
Médico-Veterinário, D.Sc., Pesq. EPAMIG Norte de Minas/Bolsista CNPq, Caixa Postal 12, CEP 39525-000 Nova Porteirinha-MG. Correio
eletrônico: jrmruas@epamig.br
5
Médico-Veterinário, D.Sc., Pesq. EPAMIG Centro-Oeste - FEFX/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 12, CEP 35794-000 Felixlândia-MG. Correio
eletrônico: bccarvalho@epamig.br
6
Eng o Agr o , Pesq. EPAMIG Centro-Oeste - FEFX, Caixa Postal 12, CEP 35794-000 Felixlândia-MG. Correio eletrônico: arismar@epamig.br

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De acordo com Ruas et al. (2005), a e diferenciadas para cada localidade. No em quase 50%, mesmo com os animais
eficiência da produção e da reprodução custo de produção de leite, o item que produzindo 20% menos leite.
depende de fatores do meio e do genótipo merece maior destaque é a alimentação, Segundo Ruas et al. (2009), há uma
do animal. As condições do meio, preva- pois é o mais dispendioso. Admite-se que tendência de produzir leite utilizando
lecentes na faixa tropical, não favorecem a a otimização dos recursos disponíveis na vacas mantidas em pastagens, visando à
expressão do potencial das raças especiali- propriedade, como as pastagens, traduz em diminuição dos custos de produção, em
zadas, e os zebuínos mais adaptados a esse reais benefícios econômicos ao produtor. razão, principalmente, do elevado preço
meio não têm o mesmo potencial produti- Atribui-se a esse fato, principalmente, a do concentrado e do volumoso, oferecido
vo. O produto do cruzamento de bovinos redução dos dispêndios com alimentos em cocho, durante a estação seca. Vale
de raças especializadas com zebuínos tem concentrados. A produção de leite a pasto ressaltar que, quando a criação é realizada
sido o caminho utilizado para produção torna o sistema mais competitivo, por cau- a pasto, esta exige maior área. Portanto, a
econômica de leite em ambiente tropical. sa dos baixos investimentos em instalações produtividade das áreas com pastagens tem
Matos (2002) citou que muita ênfase é para abrigos dos animais e maquinários, que ser elevada, caso contrário poderá ser
dada à genética e à elevação da produção combustível e equipamentos, quando com- inviabilizada nas regiões onde o custo de
por vaca, pois produtividade individual é parados com os sistemas de confinamento, oportunidade da terra é elevado.
considerada “chavão” de forte promoção além de ter menores custos de mão de obra Silva et al. (2008) avaliaram a análise
comercial. O objetivo principal deve ser e alimentação. econômica de suplementação (silagem de
o aumento do lucro obtido por vaca do Vilela et al. (1996) compararam a milho + concentrado) a pasto, utilizando
rebanho e não necessariamente o aumento viabilidade econômica da produção de vacas Holandesa e Jérsei (28 kg de leite/
da produção individual. leite a pasto, utilizando vacas holandesas dia) com níveis de suplementação de 20%;
O Sistema de Produção de Leite com em pastagem de coast-cross – 16,8% de 45%; 65% e 100% e respectivamente
gado mestiço é o predominante no Brasil, proteína bruta (PB) –, irrigada e adubada 60,79%; 63,34%; 65,49% e 68,54% de
o que confirma sua adaptação às condições com 350 kg de nitrogênio (N)/ha/ano e nutrientes digestíveis totais (NDT). Ob-
de clima, de solo e às condições socio- 280 kg de K2O/ha, suplementadas com servaram que, economicamente, o siste-
econômicas do País. O custo médio de 3 kg/dia de concentrado com 23,5% de PB, ma mais dependente da pastagem (20%
produção de leite, utilizando vacas F1, é em relação às vacas holandesas mantidas de suplementação) apresentou o melhor
maior que o do Zebu, porém menor que o em confinamento total, recebendo silagem resultado, podendo ser intensificado ou
do Holandês. A alimentação é o item que e concentrado. Os resultados permitiram desintensificado, dependendo da conjun-
mais onera o custo de produção de leite, concluir que a pastagem foi mais lucrativa tura econômica.
considerando que sua produção a pasto é o
sistema mais barato. A utilização de vacas
mestiças é uma alternativa viável, pois,
apesar das menores produções de leite,
estas são capazes de utilizar ao máximo
o potencial da pastagem em termos de
nutrientes.

PRODUÇÃO ANIMAL EM
PASTAGEM
No cenário mundial, o Brasil destaca-
se com efetivo potencial para a produção
animal em pastagens (Fig. 1), por sua
grande extensão territorial com áreas de
Adriano de Souza Guimarães

pastagens nativas e cultivadas. Além da


vantagem econômica, a utilização das pas-
tagens auxilia na preservação dos recursos
renováveis e permite a produção de leite
sob condições mais naturais.
Contudo, as diferenças de clima e dis-
ponibilidade de alimento em cada região Figura 1 - Pastagem de Brachiaria sp. no Cerrado - Fazenda Experimental de Felixlândia
do Brasil exigem tecnologias aplicáveis da EPAMIG Centro-Oeste, Felixlândia, MG

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Uso de forrageiras parte do ano. Tais fatores poderão influen- fermentação ruminal. Níveis menores que
tropicais ciar o consumo e, consequentemente, a 6% a 7% de PB não disponibilizam N sufi-
produção animal. Vale ressaltar que para ciente para a máxima atividade microbiana
O uso de forrageiras de elevada capa-
o bom funcionamento do rúmen, há uma do rúmen, especialmente das bactérias
cidade de produção de matéria seca (MS)
necessidade mínima de fibra na forragem, celulolíticas. A concentração ideal de N
e de boa qualidade nutricional é ponto
pois esta estimula a mastigação e a saliva- proporciona máxima produção microbiana
importante para o sucesso da atividade
ção. A saliva é o melhor tamponante do pH por unidade de substrato fermentado. O
leiteira. Dentre as forrageiras cultivadas no
ruminal. Valores de pH ruminal de 6,2 a 7,0 consumo voluntário é regulado por três me-
Brasil para produção de leite, destacam-se
são obtidos, quando ocorre predomínio de canismos: o fisiológico, em que a regulação
as espécies: Pennisetum purpureum cv.
forragens na dieta. Valores de pH inferiores é determinada pelo balanço nutricional;
Napier e Cameroon, Panicum maximum o físico, relacionado com a capacidade
a 6,0 podem prejudicar a digestibilidade
cv. Tanzânia e Mombaça; Cynodon sp. de distensão do rúmen; e o psicogênico,
da forragem. No entanto, o consumo de
cv. Estrela, Coast-Cross e Tifton-85
forragem com alto teor em fibra também que envolve o comportamento responsivo
(Fig. 2) e a Brachiaria brizantha cv. Ma- do animal a fatores inibidores ou estimu-
favorece o aumento da porcentagem de
randu e Xaráes. gordura do leite. ladores relacionados com o alimento ou
Dentro do ecossistema pastagem, a Normalmente, a disponibilidade de for- com o ambiente, sendo as variações do
inter-relação planta-animal é caracterizada ragem não está em equilíbrio com a neces- desempenho animal explicadas em cerca
por relações de causa-efeito, onde o dossel sidade do animal. A menor disponibilidade de 60% a 90%, pelas variações do consumo
forrageiro, caracterizado por diferentes de forragem no período seco é atribuída às (MERTENS, 1994).
estruturas, determina distinto desempenho baixas precipitações, pouca luminosidade, O consumo de MS ingerida por vaca
animal. Em razão disso, a utilização de for- dias mais curtos e baixas temperaturas que vai depender de muitas variáveis como
rageiras tropicais em sistemas de produção ocorrem no período de inverno. Na maioria condição corporal, produção de leite,
de leite a pasto pode apresentar algumas das regiões, aproximadamente 70% a 80% estádio de lactação, condições ambien-
limitações, como o rápido crescimento da produção de forragem concentra-se na tais, fatores sociais e de manejo, tipo e
vegetativo do capim na estação chuvosa, época das chuvas. qualidade dos ingredientes alimentares,
a insuficiente disponibilidade de MS na Dietas que se baseiam em gramíneas particularmente as forrageiras.
estação seca, a baixa digestibilidade e o tropicais tendem a limitar a quantidade Contudo, quando bem manejadas, as
alto teor de fibra das gramíneas na maior de N disponível no rúmen, prejudicando a pastagens apresentam bom valor nutritivo,
sendo a influência da espécie forrageira
pequena neste contexto. Queiroz et al.
(2005) avaliaram as gramíneas forrageiras
de capim-pojuca (Paspalum atratum),
capim-llanero (Brachiaria humidicola)
e capim-tangola (Brachiaria arrecta x
B.mutica) sob lotação contínua com vacas
mestiças de leite em solo de várzea, na
Zona da Mata de Minas Gerais. O capim-
-tangola apresentou valor alimentício su-
perior às outras duas gramíneas, com maior
teor de PB e menor teor de fibra na folha
(Quadro 1). A produção individual de leite
pelas vacas refletiu o melhor valor ali-
mentício do capim-tangola, cuja produção
Edilane Aparecida da Silva

média diária (10,27 kg/vaca) foi superior


à das vacas sob pastejo com capim-pojuca
(7,80 kg/vaca) e semelhante à com capim-
-humidícola (9,16 kg/vaca). Os piquetes de
capim-humidícola apresentavam grande
Figura 2 - Vacas Gir pastejando capim-tifton-85 - Fazenda Experimental Getúlio Vargas
presença de capim-tangola, que colonizava
(FEGT) da EPAMIG Triângulo e Alto Paranaíba, Uberaba, MG a área antes da formação do pasto, o que

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QUADRO 1 - Teores de proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN) da lâmina foliar seletivo, ingerindo partes mais nutritivas
e do colmo+bainha, produção média diária de leite por vaca, taxa de lotação das plantas. Provavelmente, esta dieta terá
animal e produção diária de leite por hectare em três gramíneas
maior quantidade de folhas, o que dimi-
Gramíneas forrageiras nuirá o tempo de ruminação e retenção no
Variável
Capim-pojuca Capim-llanero Capim-tangola rúmen, apesar de aumentar o tempo total de
PB lâmina foliar (%) 8,74 b 9,98 b 15,41 a pastejo. Portanto, os animais são capazes
de modificar o comportamento de pastejo,
PB colmo+bainha (%) 5,88 a 5,69 a 5,72 a
aumentando ou diminuindo o seu tempo e
FDN lâmina foliar (%) 74,51 a 76,69 a 70,56 b a taxa de bocados no pasto, em função da
FDN colmo+bainha (%) 76,50 b 79,50 a 77,10 a estrutura e do valor nutritivo da forragem.
Leite por vaca (kg/dia) 7,80 b 9,16 a 10,27 a Uma vaca em lactação necessita pastejar
cerca de 10 h para consumir o alimento
Taxa de lotação (UA/ha) 3,61 a 3,40 a 2,88 a
necessário para produzir 12 kg de leite.
Leite por área (kg/ha/dia) 26,2 a 29,5 a 27,7 a
FONTE: Dados básicos: Queiroz et al. (2005). Época de colheita
NOTA: Médias seguidas pela mesma letra nas linhas não diferem pelo teste SNK (P<0,05).
As forrageiras tropicais devem ser
colhidas em estádio mais novo de desenvol-
pode ter influenciado na produção indivi- R$0,11 e R$0,19 para o capim-tanzânia, vimento por causa do seu acentuado ritmo
dual de leite das vacas nesse tratamento. capim-tifton-85 e capim-elefante cv. Anão, de crescimento, o que permite manutenção
A lenta formação do capim-humidícola respectivamente. Ainda segundo esses da melhor relação folha/colmo, colmos
permitiu a invasão significativa de capim- autores, o maior custo do capim-tifton-85 pouco lignificados e, consequentemente,
-tangola nos piquetes. Entretanto, quando e do capim-elefante foi principalmente de- alta digestibilidade. A altura, a densidade,
se considerou a produção de leite por área, corrente do maior custo da muda e da mão as diferentes partes da planta, a composição
não houve diferença entre as gramíneas, de obra utilizada no plantio. Porém, esse botânica do pasto e o arranjo espacial tam-
com produção média de 27,8 kg/ha por dia. valor é grandemente influenciado pela per-
bém afetam o comportamento ingestivo dos
sistência da pastagem, quanto mais tempo
A maior capacidade de suporte do capim- animais, influenciando, portanto, a ingestão
-pojuca compensou a menor produção durar a pastagem, mais se consegue diluir os
e a digestão de plantas forrageiras. No
individual por vaca, permitindo produções custos e estes podem ser substancialmente
Quadro 2, observa-se a altura de pastejo de
estatisticamente semelhantes por área. Os reduzidos, se o produtor plantar um viveiro
entrada e saída dos animais em pastos ma-
para produção de suas próprias mudas.
autores concluíram que quaisquer dessas nejados no sistema de lotação rotacionada.
Bonaparte et al. (2007) avaliaram a
espécies podem ser utilizadas na forma- Para maximização da produção de leite
produção de leite de vacas Holandês x Zebu
ção de pastagens em áreas de várzea sob com base em pastagem, a qualidade desta
(HZ) em pastagem de Cynodon nlemfuensis
pastejo contínuo por vacas em lactação deve ser definida pelo intervalo de desfolha
Vanderyst cv. Estrela-Africana, Panicum
(QUEIROZ et al., 2005). ou período de descanso, isto é, o tempo
maximum Jacq. cv. Tanzânia e Brachiaria
Pastagem com gramíneas tropicais necessário para a forrageira recuperar suas
brizantha Staf. cv. Marandu, manejados
pode, potencialmente, suportar produções reservas orgânicas, permitindo a regenera-
em regime de lotação rotativa, com 30
diárias de leite de até 13,5 kg de leite/vaca/ ção da pastagem sem a interferência do ani-
dias de descanso e três dias de ocupação
dia, na estação chuvosa, sem suplementa- por piquete. As pastagens foram adubadas mal. Na maioria das forrageiras tropicais o
ção com concentrados (DERESZ, 2001). com 1.000 kg/ha/ano da fórmula 20:05:20. período de descanso não deve ultrapassar
Poli et al. (2002), trabalhando com As produções médias de leite não variaram 30 dias no período chuvoso, com algumas
vacas mantidas exclusivamente em pas- entre as forrageiras e foram de 14,3; 13,37 destas devendo ser manejadas com 24 dias,
tagem, observaram produções de 13,20; e 13,14 kg/vaca/dia para capim-estrela- no caso de capins do gênero Cynodon. A
14,45 e 14,17 kg/vaca/dia em pastagem -africana, capim-tanzânia e capim-maran- idade da forrageira tem efeito direto sobre
com capim-tanzânia, capim-tifton-85 e du, respectivamente. a relação colmo/folha, teor de PB e de fibra
capim-elefante cv. Anão, respectivamente. As características nutritivas, químicas, dessas plantas. À medida que a idade do
Em relação ao custo de produção, esses físicas e anatômicas das forrageiras podem capim aumenta, diminui a porcentagem de
autores observaram que, ao estimar que favorecer ou não o seu consumo pelos folhas e aumenta a de colmos na base da
a pastagem durasse em média sete anos, animais. Em determinadas condições, para MS. O teor de PB diminui e os teores de
o custo da pastagem por litro de leite compensar a baixa qualidade da forragem, fibras aumentam, tanto nas folhas quanto
produzido ficaria em torno de R$0,08, o animal apresenta um comportamento nos caules.
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QUADRO 2 - Altura de pasto para a entrada e saída dos animais sob pastejo rotativo dução de leite, portanto, a suplementação
Altura do pasto da dieta dos animais deve ser feita somente
Espécie ou variedade (cm) quando for conveniente do ponto de vista
Entrada dos animais Saída dos animais técnico e econômico. A suplementação
Pennisetum purpureum cv. Cameron 100 40 - 50 com concentrados que contenham proteína
Panicum maximum cv. Mombaça 90 30 - 50 degradável no rúmen aumenta a atividade
Panicum maximum cv. Tanzânia 70 25 - 50 das bactérias celulolíticas, a digestibilidade
Brachiaria brizantha cv. Marandu 25 10 - 15 da fibra em detergente neutro (FDN), a
Brachiaria brizantha cv. Xaraés 30 15 - 20 taxa de passagem e o consumo de forra-
Brachiaria decumbens cv. Basilisk 20 5 - 10 gem, proporcionando maiores ganhos de
Andropogon gayanus cv. Planaltina 50 27 - 34 produção.
Cynodon (A) 25-30 10 - 15 Em algumas condições, para maximi-
FONTE: Nascimento Júnior et al. (2010) e (A) Carvalho, Barbosa e McDowell (2005). zar a produção de leite em determinados
estádios de lactação ou para obter produ-
Manejo da pastagem em consequência da elevação concomitan- ções diárias de animais de elevado poten-
te da fração indisponível dos compostos cial leiteiro, pode ser necessário o aporte
As pastagens devem ser manejadas suplementar de proteína e energia, prin-
nitrogenados.
sempre próximas de sua capacidade de su-
Áreas de pastagens cultivadas com cipalmente com maturação da gramínea.
porte, ou seja, em uma taxa de lotação má-
espécies do gênero Brachiaria, no Brasil, Quanto melhor a qualidade da pas-
xima que irá permitir um nível determinado
são significativas e sua expansão, nos últi- tagem, menor a resposta de produção
de desempenho animal em um método de
mos 20 anos, representa em torno de 80% em leite para cada quilo de concentrado
pastejo especificado. Com relação à taxa
de toda a área de pastagens cultivadas no fornecido. A resposta da suplementação
de lotação, ou seja, número de animais por
País. Vale salientar que grande parte das com concentrado em pastagens tropicais
unidade de área, é importante salientar que,
propriedades leiteiras apresenta pastagem na época chuvosa varia de 0,5 a 1,0 kg de
ao aumentá-la, a produção por área cresce
com quantidade e qualidade limitantes leite para cada 1,0 kg de concentrado for-
e a produção por animal reduz e isto nem
ao potencial de produção de leite, pois a necido (DERESZ, 2001). De acordo com
sempre é desejável. A taxa de lotação deve
maioria das pastagens brasileiras encontra-
ser compatível com o rendimento de MS Costa et al. (2005), o aumento na partici-
se degradada, principalmente por falta de
da pastagem, que dependerá da espécie pação de concentrado na dieta pode causar
adubação adequada. A adubação nitroge-
forrageira e de práticas de manejo, como diminuição da relação acetato: propionato
nada aumenta a produção da forragem e
adubação, suplementação, irrigação e mé- e, consequentemente, redução no teor de
também a capacidade de suporte da pasta-
todo de lotação (contínua ou rotacionada). gordura do leite.
gem. A adubação da forrageira dependerá
A produção de forragem é função do O uso de concentrado, principalmente
do nível tecnológico da exploração à qual
meio, da temperatura e da radiação e é na época seca, pode ser necessário, pois a
será submetida.
limitada pela disponibilidade de fatores maioria das pastagens disponíveis nessa
Gomide et al. (2001), ao utilizarem va-
manejáveis, basicamente, nutrientes e época não mantém qualidade suficiente
cas mestiças em pastagem de B. decumbens
água. Na época chuvosa (outubro a março), para a produção de leite das vacas. Um dos
Stapf, adubada com 800 kg/ha de uma
se as gramíneas forem bem manejadas, é objetivos da suplementação de animais em
mistura de sulfato de amônio, superfosfato
possível obter produções adequadas de MS
simples e cloreto de potássio, na proporção pastejo é aumentar o consumo total de MS.
de boa qualidade. Ao contrário, na época
de 5:2:1, respectivamente, e 2,0 kg de con- Entretanto, quando suplementos energéti-
seca, ocorre acentuada queda na produção
centrado com 22% de PB e 75% de NDT, cos são fornecidos a animais em pastejo,
de MS dessas gramíneas.
em Viçosa, MG, no período de dezembro geralmente ocorre redução no consumo de
Gomes Júnior et al. (2001) avaliaram a
de 1995 a fevereiro de 1996, relataram pro- pasto, levando à resposta frequentemente
composição químico-bromatológica da B.
dução média de leite de 11,0 kg/vaca/dia. pequena, em consequência da substituição
decumbens sob pastejo, em Felixlândia,
MG. Observaram aumento da fração não direta do pasto pelo suplemento. Os efeitos
SUPLEMENTAÇÃO DE dos suplementos sobre o consumo de MS
degradável da parede celular e redução
ANIMAIS SOB PASTAGEM podem ser aditivos, quando o consumo de
dos carboidratos solúveis, à medida que
se avançou da estação chuvosa para a seca, Do ponto de vista nutricional, a suple- suplementos agrega-se ao consumo atual
implicando em maturação do capim-bra- mentação é uma prática bastante eficiente, do animal, ou substitutivos, quando o con-
quiária, o que diminui sua digestibilidade. porém aumenta os custos de produção. O sumo do suplemento diminui o consumo
Os teores de proteína também diminuíram fator custo exerce papel importante na pro- de forragem, sem melhorar o desempenho
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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 23

dos animais. O efeito substitutivo deve ser ser obtida em sistemas com fêmeas mais açúcares e lignina e baixo teor em proteína
sempre considerado, quando se pretende especializadas para produção de leite. estão entre as causas da baixa eficiência da
suplementar durante o período das águas. Ruas et al. (2005) observaram maiores cana-de-açúcar como alimento. Contudo,
Detmann et al. (2001) avaliaram os efei- ganhos de peso para fêmeas F1 suple- já existem variedades de cana-de-açúcar
tos da suplementação durante o período das mentadas com proteinado (0,920 kg/dia) com menor teor de FDN e lignina, as quais
águas sobre os consumos de MS total e de na época de verão, em relação a fêmeas permitem maior consumo pelo animal. O
forragem em novilhos mestiços, manejados somente em pasto (0,676 kg/dia). baixo teor de proteína pode ser corrigido
em pastagem de Brachiaria decumbens. Para reduzir os efeitos da escassez com ureia e sulfato de amônio.
Observaram que os consumos total e de de forragens no período crítico do ano, Vilela et al. (2003) avaliaram vacas
forragem foram reduzidos, em média, em algumas alternativas alimentares podem mestiças que receberam dietas completas
21,2% e 33,6%, respectivamente, pela ser utilizadas, tais como: cana-de-açúcar à base de cana-de-açúcar com suplementos
suplementação, mostrando a presença de e forragens conservadas. Pode-se utilizar, proteicos e energéticos. As dietas analisa-
efeito substitutivo do suplemento. ainda, a irrigação das pastagens. Contudo, das foram: cana e ureia (CAU); cana, ureia
Por outro lado, Lima et al. (2001), a suplementação alimentar a pasto deve e farelo de trigo (CFT); cana, ureia e farelo
ao avaliarem o consumo de vacas Gir e ser feita somente para complementar a de algodão (CFA); e cana, ureia e milho
mestiças com produção média de leite de qualidade e/ou a quantidade da forragem moído (CMM). Os autores observaram
6 kg/dia, em pastagem de capim-tanzânia, disponível para atingir as produções ani- consumo de MS superiores nas dietas CFA
observaram consumo de pasto da ordem de mais desejadas. (7,85 kg de MS/vaca/dia) e CFT (7,60 kg
11,01 e 9,55 kg de MS/vaca/dia, respecti- de MS/vaca/dia). A maior produção de
vamente para as vacas cruzadas e vacas Suplementação volumosa leite das vacas foi observada para CFT em
Gir. Ruas et al. (2000), trabalhando com A silagem de milho é uma das soluções relação à CAU, de 7,70 e 6,50 kg de leite/
vacas Nelore paridas, que receberam su- mais utilizadas como recurso forrageiro, vaca/dia, respectivamente.
plementação proteica a pasto, observaram por causa de sua excelente qualidade e De acordo com a literatura, verifica-se
valores de 9,87; 2,13 e 98,92, respectiva- alta produtividade, pela facilidade de que o consumo de cana-de-açúcar é menor
mente para consumo de MS em kg/dia, fermentação, pela palatabilidade e pelo do que o de outras forrageiras de melhor
em porcentagem de peso vivo e em g/kg seu conteúdo energético. Em razão do seu qualidade. Se a cana-de-açúcar for forne-
de peso metabólico, em que o suplemento alto custo, deve ser usada somente para cida para vacas em lactação com maiores
proteico estimulou o consumo, sem pro- animais de alta produção. Além disso, produções de leite haverá necessidade
mover efeito substitutivo. sua confecção e armazenamento exigem de suplementar esses animais com uma
A restrição alimentar decorrente dos máquinas e construções apropriadas, tor- quantidade maior de ração concentrada
períodos de seca imposta na fase de cria nando o custo de produção de leite mais para evitar perda de peso.
poderá refletir sobre o desempenho poste- elevado. Também deve-se atentar para o Costa et al. (2005) avaliaram a produ-
rior. No caso das fêmeas, o baixo desen- correto ponto de colheita, para as práticas ção e composição do leite e a variação do
volvimento pode comprometer a produção adequadas de enchimento e vedação do silo peso corporal de vacas lactantes alimen-
futura de leite e a reprodução. No caso dos para os processos de ensilagem em tempo tadas com dietas contendo diferentes pro-
machos para venda, pode-se ter um produto hábil, bem como para a criteriosa abertura porções de cana-de-açúcar, corrigidas com
de pior qualidade com desenvolvimento do e descarregamento do silo. 1% da mistura ureia+sulfato de amônio
esqueleto e dos músculos comprometidos, A cana-de-açúcar, por sua vez, apre- (9:1), nas proporções de 60%, 50% e 40%
idade elevada ao abate, sendo desvaloriza- senta alta produtividade, bem como e concentrado ou silagem de milho (60%),
dos no mercado. maior disponibilidade na época seca do utilizando vacas multíparas da raça Holan-
Segundo Ruas et al. (2005), novilhas F1 ano com uma digestibilidade em torno de desa, puras e mestiças, com potencial para
apresentam bom desenvolvimento na épo- 55% a 60%, apresentando menor custo de produção média de 6 mil quilos de leite por
ca de maior disponibilidade de pastagens, produção em relação à silagem de milho, lactação. Preconizaram que, para vacas
ou seja, na época do verão, quando manti- podendo ser utilizada em grande parte do leiteiras com produção média de 20 kg/
das somente a pasto ou quando submetidas território nacional. dia de leite, a utilização de cana-de-açúcar
à suplementação. Essa característica de ser O baixo consumo voluntário da cana- corrigida como volumoso exclusivo deve
criada a pasto com ou sem suplementações de-açúcar está associado à baixa degrada- ser na proporção de 40% na dieta total. Não
com concentrados fornecidos de forma ção de sua fibra no rúmen, o que provoca observaram diferenças (Quadro 3) entre
estratégica, poupando o uso de volumo- acúmulo de fibra não digerível neste a dieta com 60% de silagem de milho e
so no cocho, faz com que se tenha uma compartimento, limitando, assim, o con- aquela com 40% de cana-de-açúcar para
recria menos onerosa, condição difícil de sumo pelo enchimento. Os altos teores de produção de leite.
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QUADRO 3 - Produção de leite com dietas à base de silagem de milho e cana-de-açúcar variação das temperaturas mínimas durante
Dieta o ano, para verificar o potencial de resposta
Cana-de-açúcar + 1% de CV que se pode esperar com o uso da irrigação.
Item Silagem de ureia/sulfato de amônio (%)
milho Alem disso, a manipulação da adubação,
60% 50% 40%
principalmente nitrogenada, pode poten-
PL (kg/dia) 20,81 a 16,90 c 18,82 b 19,78 ab 8,55
cializar o efeito da irrigação no inverno.
PLC (kg/dia) 21,22 a 16,76 b 17,52 b 19,79 ab 14,74 Um dos métodos mais difundidos
Proteína (%) 3,65 a 3,63 a 3,70 a 3,73 a 5,88 atualmente para se fazer irrigação é a
Gordura (%) 3,61 a 3,45 a 3,25 a 3,47 a 16,04 aspersão em malha de baixa pressão, que
é um sistema em que as linhas principais,
Lactose (%) 4,07 a 4,12 a 4,22 a 4,16 a 7,28
secundárias e laterais são em quantidades
Extrato seco total (%) 12,51 a 12,14 a 12,22 a 12,29 a 5,95
suficientes para irrigar toda a área, com
FONTE: Costa et al. (2005).
aspersores de baixa pressão. A condução de
NOTA: Médias seguidas de letras iguais na mesma linha não diferem (P>0,05) pelo teste Tukey.
água da motobomba até os aspersores é efe-
PL - Produção de leite sem correção; PLC - Produção de leite com correção para 3,5%
de gordura; CV - Coeficiente de variação. tuada por meio das tubulações de diversos
tipos de materiais, tais como: aço zincado,
alumínio e principalmente PVC rígido. A
Segundo os autores, a menor produção palmente em função da irregularidade na irrigação é feita com funcionamento de um
de leite para as dietas com maior participa- precipitação pluviométrica. determinado número de aspersores por vez
ção de cana-de-açúcar foi explicada pelo Nas regiões de latitudes mais elevadas, (Fig. 3), de acordo com o turno de rega.
menor consumo de MS, o que resultou em como a Região Sul e parte das Regiões Apesar de as tubulações serem sufi-
menor consumo de nutrientes. Sudeste e Centro-Oeste, o principal fator
cientes para irrigar a área inteira ao mesmo
climático responsável pela estacionalidade
tempo, o sistema é dotado de tampões com
PASTAGENS IRRIGADAS de produção das forrageiras é a baixa tem-
rosca (Caps BR), com controle manual nos
Nas pastagens, a remoção parcial das peratura observada no inverno, que reduz
pontos de irrigação. A troca destes asperso-
limitações provocadas por temperatura, fortemente o crescimento das forrageiras
res é feita a cada 8, 12 ou 24 h, dependendo
radiação e chuvas pode ser feita pela intro- tropicais. Ainda assim, a irrigação de
da sua intensidade de aplicação, que pode
dução de insumos, tais como fertilizantes pastagens pode ser uma alternativa para
variar de 2,0 a 10,0 mm/h.
e irrigação, o que vai depender do clima prolongar a disponibilidade de pasto nos
As respostas das gramíneas são dife-
da região e da relação custo-benefício. O meses das interfaces de chuva/seca ou
renciadas em termos de produção e valor
uso da irrigação nas pastagens reduz ou antecipar nos meses de seca/chuva, parti-
nutritivo e em relação à quantidade de
elimina os efeitos da produção estacional cularmente em regiões com inverno mais
água recebida, isto porque tais respostas
de forragem. Entretanto o aumento da frio como é o caso da Região Sudeste do
estão associadas à espécie forrageira, à
produção de forragem na época seca com o Brasil. Isso reduz a demanda por alimentos
armazenados, o que é fundamental para adubação, ao local, ao tipo de solo e à
uso da irrigação não é consistente, uma vez
a diminuição dos custos de alimentação, estação do ano.
que o crescimento das plantas forrageiras
além de promover um descanso para a Em regiões com inverno pouco frio, a
também é determinado pela temperatura
completa recuperação do pasto no início irrigação em pastagens durante o período
e fotoperíodo, além da água e nutrientes.
da estação chuvosa. de estiagem, quando associada à adubação
Em virtude de suas dimensões conti-
nentais, o Brasil apresenta regiões muito Mas mesmo nas regiões de latitude mais nitrogenada pode aumentar a produção de
diferentes quanto aos efeitos dos fatores elevada ocorrem microrregiões de baixas forragem. No estado do Piauí, Rodrigues,
climáticos sobre a estacionalidade de pro- altitudes, em que as temperaturas mínimas Magalhães e Mattei (2004), ao trabalharem
dução de forragem e resposta à irrigação. durante o inverno são mais elevadas, o que com capim-tanzânia irrigado e adubado
Em cada região são observadas localidades permite o cultivo de forrageiras tropicais, com 300 kg de N/ha, encontraram produ-
com condições climáticas bem contrastan- se a deficiência hídrica for corrigida. As- tividades de MS que variavam de 4,09 t/ha
tes em função, principalmente, dos fatores sim, não se podem fazer generalizações a a 6,96 t/ha/corte, respectivamente aos 28
latitude e altitude. As regiões ao norte, respeito das limitações climáticas para o e 56 dias, com uma relação folha/colmo
próximas da linha do equador, apresentam crescimento das forrageiras apenas em fun- que variou de 1,24 a 1,08, aos 28 e 56 dias.
menores variações de temperatura durante ção da região. O mais correto é analisar os Queiroz et al. (2010) mostraram que a
o ano, e a estacionalidade ocorre princi- dados climáticos do local, principalmente a concentração da adubação nitrogenada no
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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 25

outono/inverno, na região de baixa altitude


(menor que 300 m) da Zona da Mata de
Minas Gerais, produziu efeitos na dispo-
nibilidade média de forragem dos capins
Xaraés e Tifton-85, ao longo do ano sob
irrigação (Quadro 4). A aplicação de 400 kg
de N/ha concentrados no período seco,
total ou parcialmente, provocou maior
acúmulo de lâminas foliares no período
seco do ano, invertendo a curva de pro-
dução normalmente obtida sem irrigação,

Edilane Aparecida da Silva


em que 80% da produção é concentrada
no período chuvoso. A disponibilidade
média de lâminas foliares por corte no
período chuvoso foi de 1.885 kg/ha contra
2.496 kg/ha obtidos na seca. A distribui-
ção da produção permite aplicar 100% da
dose na seca, no caso da adubação com Figura 3 - Irrigação realizada na Fazenda Experimental Getúlio Vargas (FEGT) da EPAMIG
200 kg/ha de N, e 67% da dose na seca, Triângulo e Alto Paranaíba, Uberaba, MG
com adubação de 400 kg/ha de N, quando
se busca maior equilíbrio na produção de
QUADRO 4 - Produção média de matéria seca (MS) de lâmina foliar dos capins Xaraés e
forragem ao longo do ano. Os autores con- Tifton-85, por corte, ao longo do ano, em função da dose e da estratégia de
cluíram que a concentração da adubação aplicação de N, utilizando irrigação no período seco
nitrogenada total ou parcial no período Dose anual de N (kg/ha)
seco permite a manutenção do pastejo nos 200 400
capins Xaraés e Tifton-85 sob irrigação, Meses de colheita
Dose de N (kg/ha) aplicada no período chuvoso
sem grandes alterações na capacidade de
67 0 133 0
suporte do pasto ao longo do ano.
Novembro 2.464 Aa 1.999 Ab 2.524 Aa 2.035 Bb
DIFERIMENTO DAS PASTAGENS Dezembro 1.945 Aa 1.860 Aa 2.065 Ba 2.379 Aa

Pastagem diferida consiste em reservar Janeiro 2.667 Ab 1.750 Ac 3.111 Aa 2.616 Ab


determinadas áreas de pasto e vedá-las à Fevereiro 2.296 Aa 1.788 Ab 2.570 Aa 1.722 Bb
entrada de animais no final da estação de Março 1.736 Bb 2.078 Aa 2.163 Ba 1.410 Cb
crescimento. Devem-se utilizar forrageiras Abril 1.560 Ba 1.163 Ba 1.601 Ba 1.146 Ca
que perdem lentamente o valor nutritivo ao
Dose de N (kg/ha) aplicada no período seco
longo do tempo, tais como as gramíneas dos
133 200 267 400
gêneros Brachiaria (capim-marandu) ou
do gênero Cynodon. Gramíneas do gênero Maio 2.007 Aa 1.850 Aa 2.129 Ba 2.463 Aa
Panicum e Pennisetum, quando vedadas por Junho 1.035 Ca 1.141 Ba 1.615 Ba 1.486 Ca
períodos longos, apresentam acúmulo de Agosto 1.663 Bb 2.016 Ab 2.753 Aa 2.529 Aa
colmos grossos e baixa relação folha/colmo. Setembro 2.260 Aa 2.501 Aa 2.401 Aa 3.014 Aa
O pasto diferido tem crescimento reduzido
Outubro 2.261 Ab 2.130 Ab 2.629 Aa 2.990 Aa
ou nulo, durante o período de utilização. FONTE: Dados básicos: Queiroz et al. (2010).
Quando submetido ao pastejo no período NOTA: Letras iguais, minúscula na linha e maiúscula na coluna não diferem pelo teste
seco, ocorre redução na sua disponibilidade, SNK (P<0,05).
sendo a maior redução na matéria ainda
verde, decorrente da seleção do animal, que
suplementação alimentar, tais como, sal dos, é necessário que haja sincronização
procura essas em relação às partes secas da
planta (BOMFIM et al., 2001). mineral enriquecido com ureia, mistura entre a degradação ruminal de carboidratos
Portanto, o uso do pasto diferido sem- mineral múltipla e concentrado energético- e proteína, tanto do suplemento alimentar
pre deve estar associado a algum tipo de proteico. Para alcançar melhores resulta- quanto do pasto.
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A vedação das pastagens deve ser feita em pastagens beneficiam os animais, pois Segundo Leme et al. (2005), o SSP
de forma escalonada. Vedam-se 40% da podem fornecer alimento, sombra, servir constitui um eficiente método para criação
área de pastagens no início de fevereiro, de abrigo, além de diminuir o impacto de de animais especializados para a produção
para consumo de maio a fins de julho, e chuvas e do vento e de, indiretamente, con- de leite, fornecendo um ambiente de con-
60% restantes no início de março, para servar e manter a fertilidade e produtivida- forto térmico. Ao estudar o comportamento
utilização de agosto a meados de outubro. de do solo. O Sistema Silvipastoril (SSP) de vacas mestiças HZ, em SSP, esses
A área de pastagem vedada em fevereiro permite realizar os princípios básicos de autores avaliaram o porcentual do tempo
deverá ser menor do que a vedada em mar- manejo sustentável, pois agrega renda à em que os animais se mantiveram em pé,
ço, uma vez que esta pastagem apresentará propriedade rural, com vários produtos comendo, ruminando ou em ócio, no verão
maior produção de forragem por ter sido obtidos como, por exemplo, madeira, fru- e no inverno, e o tempo em que as vacas se
vedada em período favorável ao cresci- tos, óleos, resinas, além da carne e do leite. mantiveram ao sol e à sombra constituída
mento (EUCLIDES; QUEIROZ, 2000). No entanto, o conforto térmico animal é o de árvores de médio e grande porte. Os
Ainda, segundo os autores, a aplicação em benefício mais marcante no SSP, por causa autores observaram que a procura dos ani-
cobertura de 50 kg/ha de N, na época da ve- da sombra natural proporcionada pelas ár- mais por ambientes sombreados, durante
dação, aumentará o acúmulo de forragem. vores. Em condições de estresse por calor, o verão, mostra a necessidade da provisão
Em pastagem diferida, é necessário os animais além de diminuírem a ingestão de sombra, para que possam viver mais
maior oferta de forragem, evitando, assim, de alimentos, permanecem mais quietos confortavelmente. Segundo os autores, a
menor desempenho do animal. Além de e com movimentação reduzida, passando pastagem de Brachiaria decumbens sob as
constituir reserva de forragem, a vedação as horas quentes do dia descansando e árvores manteve o aspecto vegetativo com
do pasto possibilita que as gramíneas em ruminando, para diminuir o calor gerado boa quantidade de folhas verdes ao longo
descanso possam florescer e produzir se- pelos movimentos. A sombra das árvores de todo o ano, tornando-se um atrativo para
mentes, contribuindo para a regeneração e reduz o efeito da radiação, promovendo que os animais permanecessem nesse local
sustentabilidade da pastagem. a redução na frequência respiratória dos pastejando. A Figura 4 mostra imagens
Bomfim et al. (2001) avaliaram animais obtidas no mesmo dia na Fazenda Experi-
animais e melhorando o desempenho e
alojados em uma pastagem de Brachiaria
reprodução animal. mental de Felixlândia (FEFX), da EPAMIG
decumbens Stapf. diferida sete meses
antes do período experimental, com área
total de 14,80 ha. A disponibilidade
média no início do experimento foi de
3.909 kg de MS/ha. A área foi pastejada
por 24 bovinos mestiços HZ, oriundos de
rebanhos de exploração leiteira, suplemen-
tados com níveis crescentes de concentrado
proteico-energético-mineral, sendo 0,6%;
0,9%; 1,2% e 1,5% do peso vivo dos
animais. A mistura experimental foi com-
posta de milho desintegrado com palha e
sabugo (78,31%), soja em grão (20,19%) e
suplemento mineral comercial. Os autores
concluíram que a engorda de novilhos HZ,
suplementados em pasto no período seco
do ano, é técnica e economicamente viável,
com melhor desempenho bioeconômico,
Fotos: Domingos Sávio Queiroz

quando a suplementação foi de 0,84% do


peso vivo da mistura.

SISTEMA SILVIPASTORIL
A introdução do componente florestal
nos sistemas de produção de leite é de
suma importância para o desenvolvimento Figura 4 - Pastos de Brachiaria decumbens a céu aberto e em Sistema Silvipastoril (SSP),
sustentável. Árvores inseridas ou mantidas com seringueiras durante a época seca - Felixlândia, MG

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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 27

Centro-Oeste, durante o período seco, em


SSP com seringueira e B. decumbens.
No SSP ocorre maior ciclagem de
nutrientes, pois grande parte da biomassa
consumida pelos animais retorna ao solo
sob forma mais degradada de fezes e uri-
na. De acordo com Leme et al. (2005), no
verão, o SSP propicia um ambiente de con-
forto térmico para os animais, facilitando a
realização de atividades essenciais para a
maximização do desempenho em sistemas
de produção de leite a pasto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O sucesso da produção animal começa
com a escolha de animais adaptados às
condições tropicais e a baixo custo de pro-
dução. Portanto, sistemas de produção que
privilegiem pastagens de boa qualidade e
animais que se mostrem economicamente
viáveis nesse regime de criação, serão
bem-sucedidos. Sistemas de produção sus-
tentados em animais com maior capacidade
de adaptação ao ambiente tropical, mais
simples e adequados à realidade vigente,
têm condições de apresentar resultados
econômicos mais competitivos do que
outros de maior dimensão, apoiados em
modelos e estratégias que custam caro.
A flexibilidade é uma das principais ca-
racterísticas do gado mestiço. Produção
de bovinos em pastejo apresenta maior
viabilidade econômica, pois não requer
atividade agrícola para produção de volu-
mosos. O sistema de pastejo a ser utilizado
deve sempre levar em consideração a pro-
dutividade por animal e por área, desde que
se mantenha a produtividade da pastagem.
A produção de MS e a qualidade da
forragem podem ser garantidas desde que
a taxa de lotação, a pressão de pastejo e o
período de descanso sejam adequados para
cada condição de exploração. A alimenta-
ção concentrada deve ser sempre fornecida
de acordo com a produção individual, in-
dependente da época do ano, pois esta tem
reflexo direto no desempenho econômico
do sistema. O uso de SSP pode ser uma
alternativa viável para recuperar e desen-
volver pastagens de gramíneas em regiões
de pecuária de leite, de forma sustentável.
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30 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

Adaptação de animais mestiços em ambiente tropical


Maria de Fátima Ávila Pires 1
Marcílio de Azevedo 2
Helton Mattana Saturnino 3

Resumo - O Brasil apresenta 93% de seu território na faixa tropical do Planeta,


onde predominam altas temperaturas do ar, em virtude da grande incidência de
radiação solar. Nos sistemas de pastejo em condições tropicais, a temperatura
ambiente é a principal causa de estresse calórico. A utilização de animais mestiços
Holandês x Zebu (HZ) permite a conjugação da rusticidade do Zebu com a
produtividade do Holandês, com grande aptidão para a produção econômica de
leite nos trópicos. Para avaliar o impacto ambiental sobre o gado de leite, trabalha-
se com índices que combinam dois ou mais elementos climáticos. O Índice de
Temperatura e Umidade (ITU) é o mais comum para medir o conforto térmico
do animal. O aumento da temperatura retal (TR), assim como o da frequência
respiratória (FR) são usualmente indicadores do estresse calórico e foram os
parâmetros utilizados em trabalho realizado na Embrapa Gado de Leite, para
verificar a ação dos elementos climáticos sobre vacas mestiças com produção igual
ou acima de 3 mil quilos de leite/lactação. Características da pelagem ligadas à
adaptação dos bovinos foram também avaliadas. No verão, os valores do ITU, a
partir das 12 h, apresentaram-se acima do limite crítico para produção de leite e
reprodução de vacas de raças leiteiras, refletindo diretamente na TR e na FR, mais
altas nessa estação comparadas com os resultados obtidos no inverno. Vacas do
grupo genético 1/2 HZ demonstraram maior tolerância ao calor que as 7/8 HZ,
enquanto que as 3/4 HZ mantiveram-se em posição intermediária.

Palavras-chave: Bem-estar. Bovino de leite. Gado de leite. Gado mestiço. Estresse


calórico.

INTRODUÇÃO predominam temperaturas de ar elevadas, temperadas, ocorrendo lentas taxas de


em consequência da grande incidência de crescimento e baixos desempenhos produ-
A faixa de climas quentes da terra radiação solar. A temperatura média do tivo e reprodutivo. Entre as causas desse
localiza-se no cinturão que envolve ar situa-se, em geral, acima de 20 °C, e a menor rendimento incluem-se o baixo
o Planeta entre as latitudes 30° N-S, temperatura máxima apresenta-se acima valor nutritivo das pastagens, as doenças
estendendo-se além das regiões tropicais de 30 °C em grande parte do dia, muitas e parasitas e o estresse calórico.
(23° 45’ N-S), abrangendo, portanto, vezes atingindo 35 °C a 38 °C. Cerca de Tais considerações suscitam a seguinte
as regiões subtropicais. O Brasil possui 64% dos bovinos no mundo são criados pergunta: Qual o tipo de gado mais ade-
em torno de dois terços de seu território nessa região. Não obstante, a produtivi- quado, ou seja, com maior predisposição
situado na faixa tropical do Planeta, onde dade é menor do que aquela das regiões genética para uma dada região?

1
Médica-Veterinária, D.Sc. Ciência Animal, Pesq. Embrapa Gado de Leite, CEP 36038-330 Juiz de Fora-MG. Correio eletrônico:
fatinha@cnpgl.embrapa.br
2
Médico-Veterinário, D.Sc., Prof. Associado 1 UFRPE, Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n - Dois Irmãos, CEP 52171-900 Recife-PE. Correio
eletrônico: marcilio@dz.ufrpe.br
3
Médico-Veterinário, Ph.D.,Prof. Adj. UFMG - Escola de Veterinária, Caixa Postal 567, CEP 30123-970 Belo Horizonte-MG. Correio
eletrônico:helton@vet.ufmg.br

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A aptidão ecológica dos animais está representa uma variação da temperatura ÍNDICES DE CONFORTO
condicionada a dois fatores básicos: cli- ambiente (10 °C a 20 °C), na qual a tempe- TÉRMICO
mático e edáfico. O clima é de valor fun- ratura do corpo mantém-se constante, com O estresse calórico é um estado
damental e de atuação permanente sobre o mínimo de esforço do sistema termor- fisiológico causado pela combinação
os animais. Sua influência apresenta-se de regulador. O animal sente-se confortável de condições ambientais que elevam a
forma direta e indireta. A influência direta e obtém eficiência máxima de produção temperatura ambiente a níveis acima da
processa-se principalmente pela tempera- e reprodução. Em uma maior amplitude faixa termoneutra dos animais. Os quatro
tura e umidade relativa (UR) do ar e pela da temperatura ambiente (5 ºC a 25 ºC), principais elementos que atuam sobre a
radiação solar. A indireta, pela qualidade conhecida como zona termoneutra, os sensação térmica são a temperatura do ar, a
e quantidade de forragem indispensável à animais mantêm a homeotermia, por meio umidade, a radiação solar e a velocidade do
criação animal, e pelo favorecimento ou de trocas de calor com o ambiente, lan- ar. A exata combinação desses elementos
não de doenças infectocontagiosas e pa- çando mão dos mecanismos fisiológicos, causadores do estresse calórico é de difícil
rasitárias. Os fatores climáticos e edáficos comportamentais e metabólicos. Para isso percepção. Uma dada combinação pode ou
indicam, assim, as potencialidades do meio utilizam, principalmente, a vasodilatação não ser favorável, dependendo do animal
físico para a atividade pastoril. periférica e, consequentemente, o aumen- e das condições particulares nas quais este
O mapeamento de aptidão climática de to do fluxo sanguíneo para a superfície se encontra.
bovinos mostrou que as condições mais corporal, o que facilita a dissipação de Índices de conforto térmico têm sido
adequadas para o gado europeu corres- calor por meios não evaporativos, ou seja, utilizados para melhor avaliar o impacto
pondem à média mensal inferior a 20 °C por mecanismos fisiológicos de condu- ambiental sobre os animais. Geralmente,
e UR de 50% a 80% (NASCIMENTO et ção, convecção e radiação (SHEARER; os dois parâmetros ambientais considerados
al.,1975). BEEDE, 1990). na obtenção desse índice são a temperatura
Desse modo, torna-se importante Quando a temperatura ambiente excede e a UR do ar, obtidos nos termômetros
averiguar, na introdução de determinada a temperatura crítica superior, ou seja, aci- de bulbo seco e bulbo úmido, facilmente
raça, se o tipo de clima que lhe é ofereci- ma de 27 °C, para o gado europeu, e 35 °C, disponíveis nas estações meteorológicas.
do apresenta alguma semelhança com o para o indiano, o gradiente de temperatura O mais conhecido é o Índice de Tempera-
de sua origem. Caso os contrastes sejam entre o corpo do animal e o ambiente torna- tura e Umidade (ITU). Existem diferentes
muito acentuados, os animais poderão se pequeno, para que o resfriamento não equações para calcular o ITU, dentre estas
estar submetidos a um processo conhe- evaporativo seja efetivo. Nesses casos, o cita-se a proposta por McDowell e Jhonston
cido como estresse calórico, que pode animal tem que lançar mão de mecanis- (1971), considerada a mais simples:
comprometer o desempenho produtivo e, mos evaporativos para manter o balanço
consequentemente, econômico da ativi- térmico, e a evaporação via sudorese e/
ITU = 0,72 (TBS + TBU) + 40,6
dade leiteira. ou respiração torna-se a rota primária
de dissipação de calor, sendo que 80%
ZONA DE HOMEOTERMIA E do calor corporal é perdido desse modo em que:
MECANISMOS DE DISSIPAÇÃO (SHEARER; BEEDE, 1990). TBS = temperatura do bulbo seco;
DE CALOR TBU = temperatura do bulbo úmido.
Quando a temperatura ambiente supera
A produtividade ou mesmo a sobre- o valor máximo de conforto para o animal, Valores de ITU de 70 ou menos são
vivência do animal dependem principal- a UR do ar passa a ter importância funda- considerados confortáveis; de 75 a 78, es-
mente da manutenção da temperatura mental nos mecanismos de dissipação de tressantes; e maiores de 78, os animais são
corporal dentro de certos limites, que, para calor, porque, em condições de umidade incapazes de manter a temperatura corporal
os bovinos, oscila entre 38 °C e 39 °C. Este elevada, o ar úmido saturado inibe a eva- normal. O valor de ITU de 72 constitui o li-
processo denomina-se homeotermia, ou poração da água, por meio da pele e do mite acima do qual vacas leiteiras começam
seja, manutenção da temperatura corporal trato respiratório, e o ambiente torna-se a reduzir a produção de leite e o consumo
em níveis constantes, independentemente mais estressante para o animal. de alimentos (MCDOWELL; JHONSTON,
de variações da temperatura ambiente. A partir desses dados, constata-se que 1971). No entanto, DuPreez (2000) co-
Os bovinos, dependendo da raça e do a maior parte do Brasil apresenta frequen- menta que o estresse calórico afeta a taxa
nível de produção, possuem uma zona tér- temente temperaturas superiores a essas, de gestação bem antes do ITU alcançar o
mica, conhecida como zona de conforto, por várias horas do dia, em grande parte limiar que afeta a produção de leite, signi-
considerada ótima para seu desempenho. do ano, sujeitando, portanto, as vacas em ficando que o sistema reprodutivo é mais
Para as raças leiteiras, a zona de conforto lactação ao estresse calórico. suscetível às alterações ambientais. Do
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mesmo modo, trabalho recente realizado indústria leiteira no Sudoeste dos Estados aumentar a temperatura corporal acima
na Universidade do Arizona indica que Unidos, na América do Sul e em outras dos limites de 38 °C a 39 °C, considerados
vacas de alta produção de leite reduzem a partes do mundo. Assim, Pires et al. (2002) normais para os bovinos (STOBER, 1993).
produção quando o ITU aproxima-se de 68, observaram que em um sistema intensivo A FR é também comumente usada como
confirmando a maior suscetibilidade desses de produção de leite, ao utilizarem vacas parâmetro para medir o estresse calórico.
animais (BERNABUCCI et al., 2010). da raça Holandesa em confinamento tipo Em ambientes termoneutros, esta frequência
O termômetro de globo negro ou glo- free stall, a taxa de gestação das vacas oscila entre 24 e 36 mov./min (STOBER,
botermômetro fornece, em uma só medida, em lactação, no inverno, foi de 71,2%, 1993), e acima da temperatura crítica supe-
a indicação dos efeitos combinados de enquanto que no verão atingiu apenas rior (25 °C e 27 °C), esses valores podem
temperatura do ar, temperatura radiante e 45,7%, reduzindo em 25,5% a fertilidade estar várias vezes aumentados.
velocidade do vento. Sua leitura é expressa do rebanho. De acordo com Baccari Junior (2001),
em termos de Temperatura do Globo Negro Nas condições climáticas da Região os bovinos sob estresse térmico podem
(TGN) em graus Celsius. Em condições Sudeste do Brasil (AGUIAR et al., 1995; apresentar dois tipos de respiração, rápida
ambientais, nas quais os animais são expos- PIRES et al., 1998) e em outras partes do e superficial, que ocorre com o estresse
tos à radiação solar, o Índice de Temperatu- mundo (HEAD, 1995; BERNABUCCI et moderado, ou lenta e profunda, quando o
ra do Globo Negro e Umidade (ITGU) é o al., 2010), os bovinos estão frequentemente animal está submetido ao estresse severo.
indicador mais preciso de estresse calórico sujeitos ao estresse calórico, com todas Pode ainda ocorrer respiração bucal acom-
do que o ITU. as desvantagens já citadas. Condições panhada de sialorreia e, não raramente,
quentes e úmidas podem colocar em risco exposição da língua, sendo esse tipo de
EFEITOS DO ESTRESSE a indústria leiteira durante os meses mais respiração característico de extrema into-
CALÓRICO quentes do ano. Assim, recomenda-se lerância ao calor.
A primeira alteração perceptível em prestar atenção no rebanho, para identificar A temperatura ambiente é o elemento
consequência do estresse calórico é a do animais que: climático que mais influencia essas variá-
comportamento dos animais, que, em al- a) procuram por sombra (não abando- veis fisiológicas, vindo a seguir em ordem
guns casos, representa a única indicação nam a sombra para se alimentar ou de importância a radiação solar, a UR e a
de que o estresse está presente. No entan- beber água); movimentação do ar (BERNABUCCI et
to, dentre os distúrbios mais comumente al., 2010).
b) aumentam a ingestão de água;
observados podem-se citar a redução de
c) reduzem o consumo de alimentos; Temperatura retal e
consumo de alimentos e da taxa metabóli-
d) permanecem de pé ao invés de deitar; frequência respiratória
ca, o aumento da temperatura retal (TR), da
frequência respiratória (FR), do consumo e) aumentam a frequência respiratória; Alterações na TR e/ou FR têm sido os
de água e da sudorese e as alterações das f) aumentam a temperatura retal; dois parâmetros mais utilizados como me-
concentrações hormonais. Finalmente, g) aumentam a produção de suor; dida de conforto animal e adaptabilidade
esses mecanismos resultam em redução a ambientes adversos (HEMSWORTH et
h) apresentam salivação excessiva.
da produção de leite e baixas taxas de al.,1995). Sob estresse de calor, a evapo-
concepção. Atenção especial deve ser dispensada ração respiratória responde por 30% do
Um dos exemplos mais drásticos aos animais que apresentam esses sinais, total da termólise evaporativa nos bovinos,
do comprometimento da fisiologia pelo para evitar redução acentuada na produção correspondendo os restantes 70% à evapo-
estresse calórico é a reprodução. Vacas de leite e na fertilidade, gerando sérios ração cutânea (SILVA, 2000).
expostas ao calor reduzem a intensidade do prejuízos econômicos para o produtor. A FR alta pode ser uma maneira efi-
cio e a probabilidade de manter a gestação ciente de perder calor, por curtos períodos,
Efeito do estresse calórico
(HANSEN, 2007). Alterações na duração mas, caso mantida por várias horas, poderá
nas variáveis fisiológicas
do ciclo estral e do estro, aumento das resultar em sérios problemas para os ani-
anomalias espermáticas, da porcentagem A capacidade de o animal resistir aos mais. A respiração acelerada e contínua
de óvulos anormais e da incidência de rigores de altas temperaturas ambientes, pode interferir na ingestão de alimentos
morte embrionária são as manifestações associada à UR também alta, tem sido ava- e ruminação, adicionar calor endógeno a
mais comumente observadas, durante o liada fisiologicamente por alterações na TR partir da atividade muscular, desviar ener-
verão. Nestes casos, a taxa de concepção, e na FR. Exposição a temperaturas iguais ou gia que poderia estar sendo utilizada em
na maioria dos rebanhos, não ultrapassa a superiores a 27 °C, por várias horas, resul- outros processos metabólicos e reduzir a
30% (JOHNSON, 1987), o que represen- ta, frequentemente, em estoque excedente capacidade combinante do CO2 plasmático
ta um sério problema econômico para a de calor endógeno, que é suficiente para por causa da hiperventilação.
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A partir do conhecimento dessas QUADRO 1 - Médias da temperatura do bulbo seco (TBS), da temperatura do globo negro
inter-relações, a Embrapa Gado de Leite (TGN), da umidade relativa do ar (UR) e do Índice de Temperatura e Umidade
propôs-se a estudar o comportamento (ITU) obtidas durante o inverno e o verão, em três horários

adaptativo de vacas mestiças Holandês x Verão Inverno


Horário
Zebu (HZ) dos grupos genéticos 1/2 HZ,
TBS TGN UR ITU TBS TGN UR ITU
3/4 HZ e 7/8 HZ com produção igual ou
acima de 3 mil quilos de leite por lactação, 8h 21,8 29,2 84 63 14,6 20,9 88 65
em resposta a diferentes índices de tempe-
12 h 27,4 39,9 63 77 22,6 32,5 60 69
ratura e umidade. Para isso, os animais e o
ambiente foram monitorados nos períodos
16 h 28,6 36,7 55 78 24,0 30,4 48 71
da manhã e da tarde, durante dois verões
e dois invernos, no município de Coronel
Pacheco, MG.
Os resultados referentes aos dados QUADRO 2 - Valores médios de temperatura retal (°C) de vacas mestiças Holandês x Zebu (HZ)
climáticos obtidos durante o experimento nas estações de inverno e verão

(Quadro 1) indicam que, no inverno, ape- Grupo genético


nas a TGN mostrou o desconforto térmico
dos animais na parte da tarde, sem, no Estação 1/2 HZ 3/4 HZ 7/8 HZ
entanto, interferir nos seus desempenhos,
Inverno 38,45 aA ± 0,01 38,45 aB ± 0,01 38,46 aB ± 0,01
uma vez que o ITU permaneceu abaixo
de 72, valor considerado como o limite
Verão 38,53 bA ± 0,02 38,86 aA ± 0,02 39,06 aA ± 0,02
crítico para produção de leite. Os valores
da TBS mantiveram-se dentro da zona de NOTA: Letras diferentes, minúsculas nas linhas e maiúsculas nas colunas, indicam diferença
termoneutralidade (5 °C a 25 °C), para (P<0,05) pelo teste Tukey.
vacas da raça Holandesa.
No verão, tanto a temperatura do ar a
termorregulatória dos animais 1/2 HZ em Semelhante ao que ocorreu com a TR
partir das 12 h, quanto a TGN durante todo
relação aos demais grupos genéticos às no inverno, as médias de FR dos animais
o dia extrapolaram o limite superior da zona
condições climáticas estressantes do verão. mantiveram-se dentro da faixa de variação
termoneutra. Consequentemente, o ITU,
Ao analisar a resposta fisiológica da normal nessa estação (Quadro 3). Houve
a partir do meio-dia, manteve-se acima
TR dos três grupos genéticos, em cada uma elevação (P<0,05) na FR dos grupos
do limite crítico para produção de leite e
estação do ano, percebe-se que não houve genéticos 1/2 HZ, 3/4 HZ e 7/8 HZ do
reprodução de vacas leiteiras de raças euro-
diferença (P>0,05) entre estes no inverno, inverno para o verão, como era de se espe-
peias. Mishra et al. (1995) verificaram que
o que se explica pelas condições climáticas rar, em virtude das diferenças apreciáveis
a temperatura crítica, com base na FR, para
favoráveis nessa estação (Quadro 1), as nos parâmetros climáticos entre as duas
novilhas mestiças foi 30,5 °C. Este valor foi
observado, quando se computou a ampli- quais se mantiveram dentro da zona de estações. Os maiores aumentos foram
tude da TBS (21,0 a 34,0), indicando que, termoneutralidade para bovinos leiteiros, observados nos animais 3/4 HZ e 7/8 HZ,
provavelmente, os animais do experimento não exigindo dos animais esforço maior decorrentes da ativação do mecanismo
passaram períodos do dia sob temperaturas do seu mecanismo termorregulador, para termorregulador desses animais, com o
acima do valor crítico citado por Mishra et manter estável a sua temperatura corporal. objetivo de dissipar calor pelas vias respi-
al. (1995), para novilhas mestiças. A TR e Apesar do incremento de 0,41 °C na TR ratórias. O aumento na FR durante o verão
a FR (Quadro 2) correlacionaram-se posi- do inverno para o verão, no grupo genético possibilitou aos animais 1/2 HZ manter o
tivamente com o ITU e a TGN. 3/4 HZ, as vacas mantiveram a temperatura seu equilíbrio térmico, o que não aconteceu
Os dados apresentados no Quadro 2 corporal (38,86 °C) dentro dos limites da com os outros dois grupos genéticos, que
mostram que houve efeito (P<0,05) de normotermia (38 °C a 39 °C). apresentaram maiores elevações na TR
estações apenas para os grupos genéticos O valor médio de FR encontrado nesse entre as duas estações (Quadro 3). Os au-
3/4 HZ e 7/8 HZ. A diferença na TR entre estudo foi de 45 mov./min, superior à faixa mentos de 20 e 26 mov./min, apresentados
inverno e verão foi de 0,08 °C; 0,41 °C e de normalidade reportada por Stober (1993), pelos animais 3/4 HZ e 7/8 HZ, respecti-
0,60 °C, para os grupos genéticos 1/2 HZ, mas abaixo do limite de 60 mov./min, con- vamente, foram insuficientes para manter
3/4 HZ e 7/8 HZ, respectivamente. Esses siderados por Hahn (1999) como indicativo estável a TR dos animais desses grupos
resultados indicam uma maior habilidade de ausência de estresse. genéticos. Portanto, ficou evidenciada pe-
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los resultados apresentados no Quadro 3, e menores valores pela manhã (Quadro 4). relação à maior capacidade de termorregu-
a maior habilidade termorregulatória dos Do mesmo modo, a frequência respiratória lação das vacas meio-sangue é demonstrado
animais 1/2 HZ em relação à dos grupos foi sempre mais elevada à tarde, em ambas pela normotermia desses animais, no período
genéticos 3/4 HZ e 7/8 HZ, sob as condições as estações. da tarde, no verão (Quadro 4), enquanto que
climáticas adversas do verão. No inverno, a TR, pela manhã, mostrou as TR dos animais 3/4 HZ e 7/8 HZ ultra-
No verão, a FR dos animais 7/8 HZ foi a mesma distribuição entre os três grupos passaram o limite da normalidade. O valor
maior (P<0,05) do que a FR dos 3/4 HZ e genéticos. No entanto, à tarde, houve uma normal de TR encontrado na parte da manhã
1/2 HZ, as quais não diferiram (P>0,05) tendência de os animais meio-sangue para os animais dos grupos genéticos 3/4 e
entre si. Esses resultados demonstraram apresentarem TR mais baixa. Esta variável, 7/8 HZ significou que as vacas conseguiram
a maior sensibilidade do grupo genéti- assim como a FR, manteve-se, nesta esta- recuperar à noite seu equilíbrio térmico,
co 7/8 HZ em relação aos outros dois ção e para os três grupos genéticos, dentro dissipando o calor corporal armazenado
grupos genéticos. Frequências respira- da normalidade. durante o período da tarde. Com base na TR,
tórias elevadas têm como consequência As diferenças entre os valores da tempe- foram estimados valores críticos superiores
redução no consumo de alimentos e na ratura corporal obtidas pela manhã e à tarde, de ITU iguais a 80, 77 e 75 para os grupos
ruminação (SHEARER; BEEDE, 1990), no inverno, foram de 0,3 °C; 0,5 °C e 0,5 °C genéticos 1/2, 3/4 e 7/8 HZ,respectivamente
dentre outras. para os grupos genéticos 1/2 HZ, 3/4 HZ e (AZEVEDO et al.,2005).
Considerando que a TR dos animais 7/8 HZ, respectivamente, enquanto, no verão, Os maiores valores observados nessa
1/2 HZ foi menor (P<0,05) do que a dos estas diferenças foram de 0,6 °C, 1,0 °C e variável fisiológica entre os dois períodos,
animais 3/4 HZ, sem ter ocorrido diferen- 1,1 °C. Menores diferenças entre os períodos foram o reflexo da elevação na temperatura
do ar, ITU e TGN (Quadro 1). Os valores
ças na FR, pode-se inferir que os animais do dia indicam maior capacidade de termor-
desses elementos climáticos no período da
do grupo genético 1/2 HZ utilizam com regulação. Nesse caso, no verão, os animais
tarde ultrapassaram o limite crítico superior
mais eficiência outra via de dissipação de meio-sangue apresentaram superioridade
para vacas leiteiras (25 °C; 72 °C e 35 °C).
calor corporal sob as condições estres- termorregulatória, enquanto as vacas 3/4 HZ
No inverno e no período da manhã,
santes do verão, como a taxa de sudação. e 7/8 HZ demonstraram maior dificuldade em
durante o verão, não foram constatadas
O monitoramento dos animais mostrou manter a sua homeotermia em relação às va-
diferenças na FR dos três grupos ge-
o ritmo diurno da TR com um pico à tarde cas 1/2 HZ. Outro fator a ser considerado em
néticos, que mantiveram esta variável
abaixo de 60 mov./min, valor indicativo
QUADRO 3 - Valores médios de frequência respiratória (mov./min) de vacas leiteiras mestiças de ausência de estresse calórico. Já no
Holandês x Zebu (HZ) nas estações de inverno e verão período da tarde, no verão, apenas os
animais meio-sangue mantiveram a FR
Grupo genético
abaixo do limite citado.
Estação 1/2 HZ 3/4 HZ 7/8 HZ Esses resultados mostraram que no
inverno e período da manhã, no verão,
Inverno 34,28 aB ± 0,24 34,37 aB ± 0,24 36,29 aB ± 0,24
em virtude das condições climáticas mais
Verão 52,71 bA ± 0,48 54,32 bA ± 0,48 62,74 aA ± 0,48 favoráveis, os animais dos três grupos
genéticos não necessitaram ativar as vias
NOTA: Letras diferentes, minúsculas nas linhas e maiúsculas nas colunas, indicam diferença
respiratórias para perda de calor corporal,
(P<0,05) pelo teste Tukey.
acontecendo o contrário no período da
tarde dessa estação. Nesse período, os
QUADRO 4 - Médias da temperatura retal (TR) e frequência respiratória (FR), em três grupos animais 7/8 HZ demonstraram, mais uma
genéticos, tomados pela manhã e à tarde, durante o inverno e o verão vez, a maior necessidade dessa via de perda
TR FR de calor em relação aos outros grupos ge-
(ºC) (mov./min) néticos. Esse fato tem grande importância
Grupo
Inverno Verão Inverno Verão
prática ao revelar a grande sensibilidade
genético
dos animais 7/8 HZ ao ambiente de calor
Manhã Tarde Manhã Tarde Manhã Tarde Manhã Tarde
e, em consequência, determinar que, para
1/2 (Holandês x Zebu) 38,0 38,3 38,2 38,8 26 37 42 57 obter maior produtividade neste grupo
3/4 (Holandês x Zebu) 38,2 38,7 38,4 39,4 28 40 43 65 genético é fundamental adotar medidas de
proteção desses animais contra o estresse
7/8 (Holandês x Zebu) 38,2 38,7 38,6 39,7 27 41 49 78
calórico no referido período.
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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 35

Taxa de sudação QUADRO 5 - Valores médios de taxa de sudação (g/m2/h) de vacas leiteiras mestiças Holandês x
Zebu (HZ) e seus respectivos erros-padrão no inverno e verão
Em altas temperaturas ambiente, a
Grupo genético
evaporação é o principal mecanismo de Estação
perda de calor em bovinos. A dissipação 1/2 HZ 3/4 HZ 7/8 HZ Média
de calor por evaporação dá-se pelo trato
Inverno 197,5 ± 8,57 145,0 ± 5,88 140,4 ± 5,90 161,0 A ± 3,85
respiratório e na superfície cutânea. Esse
é um processo eficiente para eliminar
Verão 182,4 ± 7,22 149,6 ± 4,40 127,0 ± 4,28 153,0 A ± 3,00
calor do organismo, uma vez que 1g de
água evaporada a 20 °C libera 0,6 kcal de
Média 190,0 a ± 7,00 147,3 b ± 4,40 133,7 b ± 4,28 -
energia calorífica (MCDOWELL, 1972).
Em geral, animais que apresentam maior NOTA: Letras diferentes, minúsculas nas linhas e maiúsculas nas colunas, indicam diferença
capacidade de sudação utilizam menos a (P<0,05) pelo teste Tukey.
FR para dissipar calor.
A taxa de sudação depende da tempera-
em condições de campo, no verão, é uma e menos isolantes, e outra no outono, que
tura da pele, da UR do ar, da densidade, do
indicação da habilidade termorregulatória origina o pelame de inverno, com pelos
tamanho e da funcionalidade das glândulas
desses animais. mais compridos. A transferência térmica
sudoríparas, além da espessura do pelame
A taxa de sudação foi mais elevada no por meio da pelagem depende do número
(SILVA, 2000). Uma particularidade do
inverno do que no verão, mas não houve de fibras por unidade de área, do ângulo
gado zebu é que sua taxa de sudação au-
diferença (P>0,05) entre as estações. das fibras em relação à epiderme, do seu
menta exponencialmente com o aumento
Apesar disso, esses resultados são con- comprimento e diâmetro.
da temperatura corporal, enquanto no
trários àqueles reportados na literatura e Os pelos dos zebuínos, em geral, são
bovino europeu o aumento estabiliza-se
surpreendentes, uma vez que temperatura e curtos e grossos. Já os bovinos europeus
depois de uma elevação inicial (FINCH;
radiação solar elevadas como as registradas possuem pelos mais compridos e relativa-
BENNET; HOLMES, 1982). Os zebuínos
no verão são características ambientais que mente finos. É evidente que, mesmo mais
não expressam sua capacidade superior de
estimulam a taxa de sudação. Os diferentes curtos no verão do que no inverno, os pelos
sudação até que a temperatura atmosférica
manejos adotados com as vacas no inverno dos animais europeus nos ambientes tropi-
exceda 32 ºC ( ALLEN,1962).
e no verão e a maior UR do ar no verão po- cais ainda podem constituir séria barreira
A taxa de sudação é uma característica
dem ter contribuído para esses resultados. para dissipação do calor corporal.
que varia entre raças e indivíduos da mes-
A cor da pelagem é uma importante
ma raça, tornando-se mais intensa nas áreas
CARACTERÍSTICAS DO característica envolvida na termorregula-
em que a capa de pelame é menos espessa,
PELAME ção dos bovinos e qualquer consideração
pois esta impede a transferência térmica
por evaporação (SILVA, 2000). A superfície cutânea dos mamíferos, de tolerância desses animais ao calor, nos
Estudo realizado na Embrapa Gado constituída pela epiderme e seus anexos trópicos, deveria incluir este atributo, o
de Leite, que envolveu a avaliação das (pelos, lã, glândulas sudoríparas e sebá- qual não deve ser considerado isoladamen-
características adaptativas de três grupos ceas), representa a mais extensa linha de te, pois de igual importância é o tipo de
genéticos, mostrou diferença na taxa de contato entre o organismo e o ambiente pelame (FINCH; BENNETT; HOLMES,
sudação entre esses animais (Quadro 5). (SILVA, 2000). 1984). É geralmente aceito que animais
Animais 1/2 HZ apresentaram taxas de Grande parte do calor de um bovino de pelame escuro, portanto, com maior
sudação maiores (p<0,05) do que os 3/4 HZ elimina-se pela pele, que se encontra absorvidade à radiação térmica, são mais
e 7/8 HZ, os quais não diferiram entre si. A quase totalmente revestida de pelos e que sujeitos ao estresse de calor que aqueles de
maior taxa de sudação encontrada nos ani- representa um obstáculo a ser vencido na pelame claro. Por outro lado, pelames cla-
mais 1/2 HZ pode ter sido um fator decisivo dissipação do calor corporal. Assim, a ca- ros apresentam maior penetração da radia-
para que este grupo genético apresentasse mada de pelos tem grande efeito isolante ção solar que os escuros, principalmente se
menores variações de TR e FR do que os na prevenção da perda de calor do corpo do os pelos são eretos e o pelame pouco denso
7/8 HZ e 3/4 HZ (Quadros 2 e 3), em con- animal (CATTELL, 2000). A pelagem de (SILVA, 1998). Maia, Silva e Bertipaglia,
dições de calor, considerando que a sudação um bovino sofre influência do fotoperíodo, (2003) sugeriram que a seleção de vacas
responde por, aproximadamente, 85% do temperatura ambiente e nutrição do animal. predominantemente negras pode ser uma
calor corporal perdido por um bovino sob Os bovinos apresentam duas mudas de pe- boa escolha para aumentar a resistência do
temperaturas ambientais elevadas. A respos- lagem: uma na primavera, quando se forma gado holandês às condições do ambiente
ta dos bovinos, referente à taxa de sudação o pelame de verão, com pelos mais curtos tropical, principalmente à radiação solar,
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já que esses animais são criados a campo, QUADRO 6 - Valores médios de espessura da pelagem (mm) de vacas leiteiras mestiças
pelo fato de a epiderme sob esse tipo de Holandês x Zebu (HZ) no inverno e verão
malha ser altamente pigmentada. Esses Grupo genético
Estação
autores concluíram ainda que essa seleção 1/2 HZ 3/4 HZ 7/8 HZ
deve ser realizada para um pelame menos
denso, com pelos curtos e grossos, favore- Inverno 2,76 cA 3,60 aA 3,31 bA

cendo às perdas de calor sensível e latente. Verão 2,65 cA 2,86 bB 3,30 aA


Silva (1998) recomendou para criação NOTA: Letras diferentes, minúsculas nas linhas e maiúsculas nas colunas, indicam diferença
de gado holandês, em regime de pasto, que (P<0,05) pelo teste Tukey.
se dê preferência a animais predominante-
mente pretos, proporcionando-lhes sombra
suficiente no campo. Já para regime de QUADRO 7 - Valores médios de comprimento de pelagem (mm) de vacas leiteiras mestiças
estabulação, animais predominantemente Holandês x Zebu (HZ) no inverno e verão
brancos seriam mais vantajosos.Em qual- Grupo genético
quer situação a pelagem deve ser o menos Estação
espessa possível, com pelos curtos e bem 1/2 HZ 3/4 HZ 7/8 HZ
assentados. Inverno 8,36 cA 10,26 aA 9,58 bA

Espessura da capa do Verão 7,02 cB 7,62 bB 8,77 aB


pelame, densidade e NOTA: Letras diferentes, minúsculas nas linhas e maiúsculas nas colunas, indicam diferença
comprimento dos pelos (P<0,05) pelo teste Tukey.

No trabalho conduzido pela Embrapa


Gado de Leite, com animais meio-sangue QUADRO 8 - Valores médios de densidade de pelagem (no de pelos/cm2) da superfície corporal
HZ, 3/4 HZ e 7/8 HZ a média geral de de vacas leiteiras mestiças Holandês x Zebu (HZ) no inverno e verão
espessura da pelagem encontrada foi de
Grupo genético
3,20 mm, variando de 2,12 mm a 5,17 mm. Estação
Nos Quadros 6,7 e 8 são mostrados os 1/2 HZ 3/4 HZ 7/8 HZ Média
dados relativos às características da pela-
Inverno 885 929 937 917 A
gem, tais como espessura, comprimento e
densidade medidos em vacas mestiças de Verão 895 924 953 924 A
três grupos genéticos HZ.
Os dados do Quadro 6 mostram que Média 890 b 927 a 945 a -
houve redução na espessura da pelagem NOTA: Letras diferentes, minúsculas nas linhas e maiúsculas nas colunas, indicam diferença
entre o inverno e o verão nos três grupos (P<0,05) pelo teste Tukey.
genéticos estudados, ocorrendo diferença
(P<0,05) apenas nos animais 3/4 HZ. Os
animais 1/2 HZ apresentaram menor es- verão, a maior espessura da pelagem foi Esse comportamento é semelhante àquele
pessura da pelagem do que os outros dois obtida nos animais 7/8 HZ (3,30 mm) e que geralmente ocorre em bovinos euro-
grupos genéticos, tanto no inverno como a menor nos animais 1/2 HZ (2,65 mm), peus importados para regiões tropicais,
no verão (P<0,05), evidenciando que os com os 3/4 HZ (2,86 mm) situando-se os quais tendem a manter no verão sua
animais de maior proximidade genética em uma posição intermediária, sendo pelagem de inverno.
com o Zebu (1/2 HZ) possuem pelagem de estas diferenças significativas (P<0,05) A menor espessura da pelagem dos
espessura compatível com melhor desem- entre si. Os resultados da estação de verão animais 1/2 HZ no verão, em relação
penho fisiológico em climas quentes. Capa confirmam que a espessura da pelagem aos 7/8 HZ (P<0,05), provavelmente
de pelame muito espessa retém entre as aumenta à medida que a composição ge- contribuiu para as diferenças observadas
fibras uma camada de ar isolante, o que di- nética dos animais mestiços Holandês x na TR e FR (Quadros 2 e 3) e na taxa
ficulta a passagem do calor da superfície da Gir aproxima-se da raça europeia. de sudação (Quadro 5) entre esses dois
epiderme para o ambiente externo. Por ou- Pode-se concluir que, no verão, os grupos genéticos.
tro lado, um pelame mais espesso funciona animais 7/8 HZ apresentaram pelagem com Os três grupos genéticos estudados
como um bom termoisolante, pois o ar é um espessura menos adequada ao calor, pois apresentaram diferenças no comprimen-
mal condutor de calor (SILVA, 1998). No os valores foram similares entre estações. to dos pelos entre as estações do ano
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(Quadro 7), com pelos mais compridos no estratégico, incluindo modificação do AZEVEDO, M. et al. Estimativa de níveis de
inverno do que no verão, como era de se ambiente e da dieta, pode melhorar o críticos superiores do índice de temperatu-
esperar. A maior redução no comprimento ra e umidade para vacas leiteiras 1/2, 3/4
bem-estar e os desempenhos produtivos
e 7/8 Holandês-Zebu em lactação. Revista
dos pelos ocorreu nos animais do grupo e reprodutivos dos bovinos leiteiros, en-
Brasileira de Zootecnia, v.34, n.6, p.2000-
genético 3/4 HZ (2,64 mm) e a menor, nos tretanto, algumas vezes não eliminam os 2008, 2005.
animais 7/8 HZ (0,81 mm). Os três grupos efeitos negativos na composição do leite e
BACCARI JUNIOR, F. Manejo ambiental da
genéticos apresentaram comprimento na reprodução. Além disso, muitas dessas vaca leiteira em climas quentes. Londrina:
dos pelos diferente (P<0,05) entre si nas estratégias podem não ser sustentáveis por Universidade Estadual de Londrina, 2001.
duas estações do ano, com os menores razões técnicas ou econômicas, tornando- 142p.
valores ocorrendo nos animais 1/2 HZ, se, dessa maneira, inviáveis. BERNABUCCI, U. et al. Metabolic and
independentemente da estação, fato que, O efeito do estresse calórico no desem- hormonal acclimation to heat stress in do-
provavelmente, se deve à maior proximi- penho animal, provavelmente, vai-se tornar mesticated ruminants. Animal, v.4, n. 7,
dade genética desse grupo com o Zebu. Os p.1167-1183, May 2010.
muito mais importante no futuro, caso a
zebuínos possuem pelos mais curtos do que alta taxa de crescimento populacional nas CATTELL, M.B. Changes in feeding hei-
bovinos europeus em qualquer época do áreas tropicais e subtropicais seja mantida, fers to meet environmental challenges. In:
ano, embora também apresentem mudança TRI_STATE DAIRY NUTRITION CONFE-
e caso a previsão de aquecimento global
dos pelos entre estações. RENCE, 2000, Fort Wayne. Proceedings...
torne-se realidade. Somente o esforço Fort Wayne: Purdue State University, 2000.
Os resultados obtidos permitem con- conjunto de técnicos, pesquisadores e p.51-59.
cluir que no inverno, a pelagem mais produtores poderá reverter esse quadro, DUPREEZ, J.H. Parameters for the determi-
adequada (termoisolante) para esta esta- pelo conhecimento real da magnitude do nation and evaluation of heat stress in dairy
ção foi encontrada nos animais do grupo problema e da busca de alternativas viáveis cattle in South Africa. Onderstepoort Jour-
genético 3/4 HZ, enquanto que no verão nal of Veterinary Research, v.67, n.4, p.263-
e adaptadas a cada situação.
o 1/2 HZ apresentou pelagem mais curta, 271, Dec. 2000.
O cruzamento de animais zebuínos
que facilita a transferência da energia FINCH, V.A.; BENNETT, I.L.; HOLMES, C.R.
com animais da raça Holandesa é utiliza-
térmica da superfície da epiderme para o Coat colour in cattle: effect on thermal balan-
do como opção para unir a rusticidade do
ambiente externo. À semelhança do que ce, behaviour and growth, and relationship
Zebu com a produtividade do Holandês,
ocorreu com a espessura da pelagem, as with coat type. The Journal of Agricultural
visando à produção econômica de leite em
modificações no comprimento dos pelos Science, v.102, p.141-147, 1984.
condições tropicais e subtropicais.
também devem ter contribuído para as _______; _______; _______. Sweating res-
As vacas mestiças, por estarem mais
diferenças observadas na habilidade ter- ponse in cattle and its relation to rectal tem-
adaptadas ao ambiente tropical, confor-
morregulatória dos três grupos genéticos perature, tolerance of sun and metabolic
me resultados apresentados, podem ser rate. The Journal of Agricultural Science,
pesquisados.
altamente produtivas, se selecionadas e v.99, n.3, p.479-487, 1982.
A densidade da pelagem foi influencia-
manejadas adequadamente. GALBRAITH, H. Nutritional and hormonal
da (P<0,01) apenas pelo grupo genético
(Quadro 8). Os animais 3/4 HZ e 7/8 HZ regulation of hair follicle growth and deve-
REFERÊNCIAS lopment. Proceedings of the Nutrition So-
apresentaram maiores (P<0,05) valores
AGUIAR, I.S. et al. Produção de leite de va- ciety, v.57, p.195-205, 1998.
que os 1/2 HZ.
Entre estações, não houve diferença cas holandesas em função da temperatura do HAHN, G.L. Dynamic responses of cattle
ar e do índice de temperatura e umidade. In: to thermal heat loads. Journal of Animal
(P<0,05) na densidade da pelagem, evi-
CONGRESSO BRASILEIRO DE BIOMETE- Science, Champaign, v.77, p.10-20, 1999.
denciando que essa característica não é OROLOGIA, 1., 1995, Jaboticabal. Anais... Supplement 2.
associada a elementos do clima, uma vez Ribeirão Preto: Legis Summa, 1995. p.42-44.
que o número de folículos pilosos forma-se HANSEN, P.J. Exploitation of genetic and
ALLEN, T.E. Responses of Zebu, Jersey and physiological determinants of embryonic
na fase pré-natal e é mantido durante a vida Zebu x Jersey crossbred heifers to rising resistance to elevated temperature to im-
do animal sem nenhuma produção de novos temperature with particular reference to
prove embryonic survival in dairy cattle
folículos no animal adulto (GALBRAITH, sweating. Australian Journal of Agricultu-
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1998). ral Research, v.13, n.1, p.165-179, 1962.
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and body temperature in Zebu and Jersey
Vacas de leite necessitam de um con- CONGRESSO BRASILEIRO DE BIOMETE-
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forto fisiológico para expressarem sua OROLOGIA, 1., Jaboticabal, 1995. Anais...
Research, East Melbourne, v.14, n.4, p.580-
Ribeirão Preto: Legis Summa, 1995. p.26-68.
máxima capacidade de produção. Manejo 593, 1963.

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40 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

Importância do rebanho F1 Holandês x Zebu


para a pecuária de leite
Maria Dulcinéia da Costa 1
José Reinaldo Mendes Ruas 2
Vicente Ribeiro Rocha Júnior 3
Fernanda Silva Santos Raidan 4
José Joaquim Ferreira 5
Edilane Aparecida da Silva 6

Resumo - A importância do rebanho F1 Holandês x Zebu (HZ) reside no fato da


sua economicidade, de ser matriz de animais de reposição para os mais variados
sistemas de produção de leite, além de servir como porta de entrada para o avanço
genético advindo das raças melhoradas utilizadas nos cruzamentos. Além dessas
características, esse rebanho registra produção média de leite de 3 mil quilos por
lactação, o que representa mais do dobro da produção nacional.

Palavras-chave: Gado F1 de leite. Gado de leite. Gado mestiço. Cruzamento.


Heterose. Grau de sangue. Sistema de Produção de Leite. Desempenho produtivo.
Desempenho reprodutivo.

INTRODUÇÃO por apenas 6% de vacas especializadas, Holandês (mais que 7/8 HZ), 7,95% têm
que produzem em média 4.500 kg de leite/ predominância de sangue Zebu e 25,45%
O agronegócio, no Brasil, participa
lactação. A maior parte do rebanho, 74%, das vacas não apresentam padrão definido
com 32% do PIB e gera 35% das recei-
é composta de vacas mestiças, com produ- de grau de sangue (FAEMG, 2006). De
tas das exportações do País e 45% dos acordo com dados da Associação Brasileira
ção média de 1.100 kg/lactação, enquanto
empregos da economia. O setor leiteiro que os 20% restantes são de vacas sem de Criadores de Girolando, dos 11.425
ocupa o sexto lugar em valor bruto da qualquer especialização, com produção animais registrados, que encerraram a
produção agropecuária, produzindo mais média de 600 kg/lactação. Minas Gerais, lactação no período de 2005 a fevereiro de
de 27,5 bilhões de litros de leite por ano, Estado com a maior produção de leite, 2010, foram 6,4%; 4,0%; 33,1%; 20,6%;
provenientes da ordenha de mais de 21 produz 1.488,68 kg de leite/vaca/ano. Do e 35,9% para os graus de sangue 1/4, 3/8,
milhões de vacas (IBGE, 2010), com rebanho mineiro, 41,71% das vacas são 1/2, 5/8 e 3/4 Holandês, respectivamente.
média de 1.276 L/vaca/lactação. Segundo mestiças Holandês x Zebu (HZ), enquanto De acordo com Ruas et al. (2010), a
Vilela (2003), esse rebanho é composto que 24,89% têm predominância de sangue possível explicação para essa produti-

1
Médica-Veterinária, D.Sc., Profa UNIMONTES/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 91, CEP 39440-000 Janaúba-MG. Correio eletrônico:
dulcineia.costa@unimontes.br
2
Médico-Veterinário, D.Sc., Pesq. EPAMIG Norte de Minas/Bolsista CNPq, Caixa Postal 12, CEP 39525-000 Nova Porteirinha-MG. Correio
eletrônico: jrmruas@epamig.br
3
Médico-Veterinário, D.Sc., Prof. UNIMONTES/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 91, CEP 39440-000 Janaúba-MG. Correio eletrônico:
vicente.rocha@unimontes.br
4
Zootecnista, Mestranda Zootecnia UNIMONTES/Bolsista CAPES Caixa Postal 91, CEP 39440-000 Janaúba-MG. Correio eletrônico:
nandasantossilva@hotmail.com
5
Engo Agro, Ph.D., Pesq. Colaborador, Rua Felipe Vasconcelos, 180, CEP 35700-072 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: jucaferreira@epamig.br
6
Zootecnista, D.Sc., Pesq. EPAMIG Triângulo e Alto Paranaíba/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio
eletrônico: edilane@epamig.br

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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 41

vidade deve-se, em parte, aos manejos promover o melhoramento genético de eficientes nos mais diversos ambientes e
adotados, principalmente o nutricional. qualquer espécie. em condições de atender, com flexibilida-
Isto pelas dimensões do País, bem como Seleção é a tomada de decisão que en- de, às exigências do mercado consumidor.
pelas diferenças de clima prevalentes nas volve quais animais de uma geração tornar- Os índices de produção total podem au-
diversas regiões brasileiras, que determi- se-ão pais da próxima, e quantos filhos lhe mentar de 10% a 20% com os benefícios
nam a existência de diferentes sistemas de serão permitido deixar. Em outras palavras, dos cruzamentos entre raças Bos taurus, em
produção de leite. Assim, a composição entende-se por seleção a decisão de permitir ambientes favoráveis, e em 30% a 50% nos
do rebanho e sua produção refletem tal que os melhores indivíduos de uma geração cruzamentos entre Bos taurus e Bos indicus,
situação (RUAS et al., 2010). Além do sejam pais da geração subsequente. Acasala- em condições climáticas desfavoráveis
fator nutricional, parte dessa baixa pro- mento, por outro lado, é um termo amplo que (TEIXEIRA; ALBUQUERQUE, 2005).
dução atribui-se à variabilidade genética para animais domésticos, criados para fins Alguns requisitos são necessários para
prevalente no rebanho nacional, onde se comerciais, é importante quando resulta em um sistema ideal de cruzamentos, como:
observam animais com fração genética concepção, gestação e nascimento de filhos. permitir que as fêmeas de reposição sejam
de Holandês, criados em condições ina- Dessa forma, é um elemento complementar produzidas no próprio sistema; possibilitar
dequadas, animais com frações genéticas fundamental no processo de seleção. Quan- o uso de fêmeas mestiças para aproveitar a
de raças zebuínas de corte, além de outras do o acasalamento ocorre entre indivíduos maior habilidade materna; explorar efeti-
combinações não desejáveis. Assim, a pertencentes a raças ou espécies diferentes vamente a heterose para que se obtenham
pecuária de leite passou a ser extrema- denomina-se cruzamento. vantagens econômicas; possibilitar que
mente frágil, diante da ineficiente forma A seleção, de modo geral, tem o tanto machos quanto fêmeas sejam adapta-
de conduzir a atividade, da aplicação de objetivo de melhorar e/ou fixar alguma dos ao ambiente onde, com suas progênies,
tecnologias inadequadas para os níveis de característica de importância. Isso quer serão criados; não interferir com a seleção
produtividade esperados, da falta de con- dizer que tem por finalidade aumentar, na e utilizar as grandes diferenças entre raças.
trole dos custos de produção e da ausência população, a frequência de alelos favorá- De acordo com Ruas et al. (2010), o
de gerenciamento (PERES et al., 2007). veis. No entanto, é importante ressaltar que objetivo do uso de cruzamentos em gado
Esses fatores fazem com que a realidade a seleção, apesar de possibilitar a mudança de leite é a associação de características
brasileira da produção de leite revele esse da frequência gênica da população, aumen- de raças taurinas, como a Holandesa, que
contraste e mostre a importância do gado tando a frequência de alelos favoráveis, apresentam alta produção de leite, com a
mestiço para a produção de leite nacional não cria genes. resistência e a rusticidade de raças zebuínas,
e mineira (RUAS et al., 2010). Portanto, O cruzamento é uma forma de conse- gerando um animal mestiço mais adaptado à
faz-se necessário melhor padronização dos guir melhoria genética e incrementos de produção de leite em clima tropical do que
graus de sangue, por meio de cruzamentos produção e de produtividade. Contudo, isso as raças puras. Assim, busca-se uma vaca
que visem melhorar tanto a produção quan- não elimina a necessidade e, muito menos, mestiça que equilibre tanto genes para a pro-
to a produtividade do rebanho nacional e diminui a importância da seleção como dução de leite, quanto genes para rusticidade
mineiro, em especial. método de melhoramento genético a ser e adaptação às condições tropicais. Portanto,
realizado concomitantemente. Raças puras vacas F1 HZ tornam-se a opção ideal de
CRUZAMENTO HOLANDÊS X melhoradas são, na verdade, elementos cruzamento para a produção de leite. Isso
ZEBU PARA PRODUÇÃO é justificado pela heterose máxima, decor-
fundamentais ao sucesso de qualquer pro-
LEITEIRA
grama de melhoramento. A seleção, além rente do cruzamento de duas subespécies,
Fundamentalmente, a melhoria ge- de fundamental para a melhoria das raças taurus x indicus. A heterose expressa-se,
nética processa-se com base na escolha puras, tem de ser componente essencial em então, ao melhorar características de baixa
correta daqueles para os quais é dada a um programa de cruzamentos. Se melhores herdabilidade, como produção de leite,
possibilidade de participar do processo de genótipos são utilizados como pais, teori- reprodução e adaptação ao meio, que são
constituição da geração seguinte. Isso é camente esses genes são transmitidos aos manifestadas com maior intensidade nesse
válido tanto para a escolha dos indivíduos seus descendentes que, consequentemente, cruzamento (RUAS et al., 2010).
que deixarão filhos, quanto para a escolha também deverão ter genótipos melhores A base genética dos efeitos dos
de raças. No primeiro caso, refere-se à se- em comparação aos descendentes de pais cruzamentos pode ser dividida em dois
leção e é importante para melhoria de raças não selecionados. Espera-se, portanto, que componentes genéticos principais que são
puras ou para cruzamentos. Já a escolha da descendentes com genótipos superiores o aditivo e o não aditivo. O componente
raça orienta e sinaliza o sucesso dos cruza- apresentem fenótipos superiores. aditivo é resultante da média simples do
mentos. Assim, a seleção e o cruzamento A combinação de cruzamentos e a mérito das linhas ou raças parentais. Os
são as duas ferramentas disponíveis para seleção permitem a obtenção de animais efeitos aditivos são aqueles provenientes
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42 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

das raças puras expressas pelo indivíduo avaliações de desempenho de cruzamentos, sobre práticas alternativas são o lucro e a
cruzado, isto é, são os efeitos da ação particularmente quando a finalidade do rentabilidade, e é nestes que se deve focar
aditiva dos genes que as raças parentais exercício é a predição de desempenho de para fazer a comparação de genótipos. A
transmitem aos seus descendentes. É cada genótipos não testados, para decisões em geração de resultados econômicos, que vi-
gene constituinte do genótipo que vai pro- futuros programas de cruzamentos. sam indicadores de rentabilidade, pode ser
vocar um acréscimo no valor fenotípico do A incorporação de genes de diferentes de extrema importância para aqueles que
indivíduo, independentemente dos outros raças em um mesmo indivíduo promove atuam na pecuária de leite (PERES et al.,
genes presentes. ganhos por dominância e epistasia, mas 2007). Holanda Junior e Madalena (1998)
Já o componente não aditivo é atribuído provoca perdas por recombinação gêni- mostraram que produtores mineiros que
aos efeitos de dominância e epistasia que ca. Essas perdas podem provocar efeitos vendiam 550 L de leite/dia, com vacas mes-
vão resultar na heterose. O significado desfavoráveis. Quanto maior o número de tiças produzindo 9 L de leite/dia, tiveram
clássico da dominância é que o melhor raças e quando os cruzamentos se esten- melhor resultado econômico que produtores
gene de cada par, vindo um do pai e o outro derem por muitas gerações, maiores serão paulistas em fazendas que vendiam 1.800
da mãe, predomina em seu efeito sobre o as perdas. O contrário se observa quando L/dia, provenientes de vacas holandesas
desempenho. O efeito da dominância é se usa um dos pais de raça pura, como confinadas que produziam 19 L/dia.
maior, quando todos os loci são compos- nos cruzamentos rotacionais. No animal Por causa do acúmulo da heterose nas
tos por dois genes provenientes de raças mestiço, portanto, manifestam-se todas as várias características agregadas no lucro,
distintas, como no primeiro cruzamento formas de ação gênica, e o balanço líquido os animais F1 apresentam grande superio-
(F1). Em muitas investigações, essa hipó- entre os efeitos não aditivos e as perdas por ridade econômica nos sistemas de produ-
tese mostra-se satisfatória na explicação recombinação são normalmente estimados ção de leite predominantes nas regiões do
da superioridade observada em grupos de e interpretados como heterose. Brasil tropical, caracterizados pela baixa
indivíduos cruzados. Quando os pais de Sabe-se também que a heterose é má- utilização de insumos, pela ordenha com
um indivíduo pertencerem a duas raças xima na primeira geração do cruzamento e apojo do bezerro e pelo aproveitamento
diferentes, este carregará um variável nú- decresce 50% a cada geração subsequente. dos machos. Para esses sistemas, a repo-
mero de genes, amostrados das duas raças, Isto é, na geração F1 têm-se 100% de sição contínua com novilhas F1 constitui
em vez de apenas uma. Pressupõe-se que heterose, na F2 50% e, assim, sucessi- um método prático e simples que visa
isso favorecerá o indivíduo, dando-lhe vamente. Essa perda ocorre por causa da aproveitar plenamente a heterose. Para os
melhores condições para que se desenvol- recombinação dos genes, o que vai traduzir sistemas de produção em pastejo inten-
va bem, principalmente sob uma variação de forma prática na grande variação da sivo, relativamente recentes, a utilização
ou estresse ambiental. Por outro lado, ao expressão fenotípica da característica com de quantidades maiores de insumos e de
longo do processo de formação das raças, a produtos tendendo para um dos pais, ou produções mais altas pode ser possível em
seleção natural deve ter operado, de algum seja, Holandês (com maior produção) ou sistemas de cruzamento rotacional de duas
modo, sobre sistemas interativos de genes, Zebuíno (menor produção). Portanto, para gerações de Holandês, seguidas de uma de
como blocos, produzindo combinações manutenção da heterose máxima (melhor Zebu leiteiro ou rotação Holandês - Jérsei -
mais eficientes. produção), é necessária a utilização cons- Zebu leiteiro. Entretanto, é necessário
Já a epistasia envolve genes que não tante de fêmeas F1. pesquisas mais específicas para verificar
estão ligados e realizam tarefas diferentes. O desempenho econômico é a principal e documentar essas suposições. Em par-
Como os processos vitais são complexos, consideração para a escolha da raça ou do ticular, não se conhecem devidamente os
pode haver cooperação e coordenação entre cruzamento a explorar. Embora esse tenha efeitos de fatores genéticos e de manejo
tais genes. Quando animais mestiços são como base o desempenho zootécnico, a cor- (amansamento), sobre a duração da lac-
usados na reprodução, pode ser que alguns relação entre ambos nem sempre é perfeita. tação de vacas F1 HZ ordenhadas sem o
deles sejam obrigados a cooperarem com os Por exemplo, vacas provenientes de um cru- bezerro (MADALENA, 2004).
outros, cujas funções são diferentes. Assim, zamento podem produzir mais leite do que O cruzamento entre raças taurinas e
a quebra dessas associações epistáticas, as de outro cruzamento, mas a custo mais zebuínas pode ser uma das estratégias
favoráveis entre genes de origem parental, elevado. Assim, ao comparar alternativas para melhorar os índices produtivos. As
pode ser a principal causa do declínio no de- de cruzamentos, é necessário balancear de diversas combinações entre esses fatores
sempenho de características de crescimento maneira apropriada todas as características desencadeiam um grande número de
em gerações avançadas de cruzamentos Bos zootécnicas que determinam o lucro da possibilidades de sistemas de produção
taurus taurus x Bos taurus indicus. Logo, exploração (MADALENA, 1997). pecuária. Além disso, as raças bovinas
a epistasia torna-se um efeito genético Segundo Madalena (2004), os únicos existentes representam múltiplos biótipos,
importante, que não deve ser ignorado em parâmetros relevantes para tomar decisões o que permite a adequação dos animais
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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 43

aos ambientes onde serão criados, princi- consideradas leiteiras para a produção de Vacas provenientes do cruzamento en-
palmente em casos de cruzamentos entre F1 e, portanto, não sendo capaz de suprir tre as duas raças apresentam características
raças. Assim, é necessário identificar os a demanda dos rebanhos. Infere-se que produtivas e reprodutivas satisfatórias,
cruzamentos com maior heterose, que a qualidade do F1 seja a mesma, com o principalmente quando se compara a média
combinem características econômicas de- mesmo potencial genético para a produ- nacional desses índices em vacas mestiças.
sejáveis para determinados tipos de manejo ção de leite. Sendo assim, a escolha das O Quadro 1 apresenta características das
e regiões do País. raças materna e paterna para a produção vacas mestiças F1 Holandês x Gir, da pri-
Os animais da raça Holandesa são os de F1 deve basear-se em fatores como a meira à sexta ordens de parto. Observa-se
que apresentam maior potencial de pro- disponibilidade de animais, além das carac- maior período de serviço ao primeiro, que
dução, desde que tratados de forma que terísticas relacionadas com o desempenho se reduz ao segundo e ao terceiro parto, o
possam expressá-lo. O importante não é reprodutivo das duas subespécies. que permite intervalos de partos entre 12 e
apenas o potencial, mas saber qual o nível 13 meses. Essa elevada eficiência reprodu-
de produção que se justifica economica- FORMAÇÃO DE VACAS F1 tiva permite uma taxa de fertilidade acima
mente. Apesar de essa raça ser reconhe-
de 95% (porcentagem de vacas parindo a
cidamente a maior em termos de produ-
Cruzamentos a partir cada ano), a partir do terceiro parto. Com
tividade, é também muito mais exigente
de vacas zebuínas com relação à produção de leite, observa-se,
que o gado zebuíno em relação ao manejo
seleção para leite aumento na sua produção total e diária
e, principalmente, à nutrição. Assim, a
A utilização de fêmeas da raça Gir em da primeira à sexta lactações. O pico de
expectativa de aumento de produção nem
lactação segue comportamento semelhan-
sempre se confirma, uma vez que o animal cruzamentos com touros da raça Holandesa
é a primeira opção de técnicos e produtores te, aumentando com a ordem de lactação.
não tem a necessária demanda nutricional
e de manejo suprida para expressar todo para a produção de vacas F1, originando a O desempenho produtivo e reprodutivo
o seu potencial genético. A utilização tradicional vaca Girolanda. Esse pensamento desses animais pode ser explicado pela
do cruzamento no qual a raça materna é baseia-se na utilização, além da heterose, da combinação de genes para produção de
Holandesa e a paterna é Zebu pode vir a genética aditiva, uma vez que as duas raças leite e pela heterose, que é mais evidente
ser uma alternativa, já que é baixa a dispo- são selecionadas para a produção de leite, para as características reprodutivas.
nibilidade das matrizes das raças zebuínas associadas à rusticidade da Gir (Fig. 1). Outra consideração é com relação ao
menor porte dos animais desse cruzamento.
O temperamento desses animais também
é uma característica desejável, pois obser-
vam-se animais mais dóceis, o que facilita
o manejo em ambiente de criação de leite.
Arquivo EPAMIG-FEFX

A limitação desse cruzamento é a dis-


ponibilidade de matrizes da raça Gir para
Adauto Barcelos

a sua produção. Nos últimos anos, a raça


Gir vem sendo cada vez mais valorizada,
pelo progresso genético obtido após o
Touro Holandês Vacas Gir início do teste de progênie nessa raça.
Assim, atualmente, encontra-se pouca
disponibilidade de vacas da raça Gir para
a produção de animais mestiços F1, por
causa da preferência de acasalamento com
touros da própria raça. Isso representa um
Arquivo EPAMIG-FEFX

desafio para a produção de vacas F1 desse


genótipo.
Em algumas regiões tradicionais, a
criação da raça Guzerá vem sendo utiliza-
Vaca F1 Holandês x Gir da, para a produção de vacas F1. Contudo,
apenas recentemente iniciou-se, com essa
Figura 1 - Esquema de produção de fêmeas F1 Holandês x Gir (Girolandas) raça, o processo de seleção para caracte-
NOTA: FEFX - Fazenda Experimental de Felixlândia. rísticas leiteiras, por meio do programa
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44 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

Ovulações Múltiplas e Transferência de QUADRO 1 - Características produtivas e reprodutivas de vacas F1 Holandês x Gir
Embriões - Multiple Ovulantion and Em- Ordem de parto
bryo Transfer (MOET). O melhoramento Parâmetro
da raça Guzerá para características lei- Primeira Segunda Terceira Quarta Quinta Sexta

teiras permitiu sua difusão, de forma que Produção total (kg) 2.143 2.944 3.324 3.563 3.738 3.981
técnicos e produtores intensificaram o uso Média diária (kg) 7,4 10,4 11,6 13,0 13,9 14,4
de vacas dessa raça em cruzamento com
Pico de produção (kg) 12,2 15,7 17,8 19,3 19,7 20,7
touros da raça Holandesa, produzindo a F1
Período de serviço (dias) 162 105 99 90 92 94
denominada Guzolanda. Esse cruzamento
também associa características de genética Intervalo de parto (dias) 446 389 383 374 376 378
aditiva e heterose, uma vez que nas duas NOTA: Dados do rebanho da Fazenda Experimental de Felixlândia (FEFX), da EPAMIG
raças utilizadas observa-se seleção para Centro-Oeste, em Felixlândia, MG.

leite (genética aditiva), além de explorar


a rusticidade e adaptação da raça Guzerá
(expressadas pela heterose) (Fig. 2).
Vacas provenientes do cruzamento entre
as duas raças apresentam características

Arquivo EMATER-MG
produtivas e reprodutivas satisfatórias,

Adauto Barcelos
principalmente quando se compara a média
nacional desses índices em vacas mestiças.
O Quadro 2 apresenta essas características
das vacas mestiças F1 Holandês x Guze-
Touro Holandês Vacas Guzerá
rá, da primeira à sexta ordens de parto.
Observa-se aumento da fertilidade das
vacas Guzolandas após o primeiro parto,
onde se registrou período de serviço mais
longo. Entretanto, a partir do segundo parto,

Arquivo EPAMIG-FEFX
observa-se fertilidade próxima de 100%,
quer dizer, intervalos de parto de 12 meses.
De forma semelhante ao observado para a
Girolanda, a Guzolanda também apresenta
produção de leite crescente a partir da pri-
Vaca F1 Holandês x Guzerá
meira lactação (Quadro 2). O desempenho
produtivo e reprodutivo desses animais pode Figura 2 - Esquema de produção de fêmeas F1 Holandês x Guzerá (Guzolandas)
ser explicado pela combinação de genes NOTA: FEFX - Fazenda Experimental de Felixlândia.
para produção de leite e para reprodução,
principalmente pela heterose.
Esse animal apresenta maior porte, se QUADRO 2 - Características produtivas e reprodutivas de vacas F1 Holandês x Guzerá
comparado ao F1 Holandês x Gir. Outro
Ordem de parto
aspecto importante é que ainda não há tra- Parâmetro
dição de manejar a Guzolanda em ambiente Primeira Segunda Terceira Quarta Quinta Sexta
de criação de leite. Importante, também, é a Produção total (kg) 1.840 2.439 2.864 2.982 3.183 3.257
grande diferença de produção entre a primei-
Média diária (kg) 6,5 9,3 10,5 11,4 12,4 12,7
ra e a sexta lactação, a qual pode ser atribuída
Pico de produção (kg) 10,1 14,2 16,1 17,5 18,4 18,6
à adaptação ao manejo e à maturidade, que é
reflexo do maior peso dessa vaca. Período de serviço (dias) 139 81 88 74 75 78
Em regiões tradicionalmente produto- Intervalo de parto (dias) 423 365 372 358 359 362
ras de bezerros por pequenos fazendeiros, NOTA: Dados do rebanho da Fazenda Experimental de Felixlândia (FEFX), da EPAMIG
como o Vale do Jequitinhonha e o Norte Centro-Oeste, em Felixlândia, MG.

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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 45

de Minas, os próprios fazendeiros selecio-


naram vacas zebuínas com maior aptidão
leiteira, fazendo retenção dessas matrizes
para exploração em pequenas produções de

João Newton Pereira Lopes


leite. Essa seleção originou uma população
de vacas com 100% de genes zebuínos,

Adauto Barcelos
mas sem raça definida, com predominância
de genes das raças Gir e Indubrasil. Essa
base também é utilizada para produção de
F1, e seu uso é necessário, visto que a po- Touro Holandês Vacas Zebu leiteira
pulação de vacas Gir e Guzerá é reduzida e
muito valorizada para produção de animais
puros (Fig. 3).
Apesar de esses animais não apresenta-
rem raça definida, os efeitos da heterose do

Arquivo EPAMIG-FEFX
cruzamento com Holandês proporcionam
vacas de boa fertilidade e produtividade.
A eficiência reprodutiva das vacas F1 HZ
mostra intervalos de parto em torno de 13
meses, a partir da terceira ordem de parto
(Quadro 3). A produção de leite também é Vaca F1 Holandês x Zebu
satisfatória, com médias diárias de 11 kg
entre a primeira e a terceira lactação e Figura 3 - Esquema de produção de fêmeas F1 Holandês x Zebu (HZ)
maiores que 13 kg, a partir da quarta ordem NOTA: FEFX - Fazenda Experimental de Felixlândia.
de parto (Quadro 3).
O desempenho produtivo e reprodutivo
desses animais pode ser explicado pela QUADRO 3 - Características produtivas e reprodutivas de vacas F1 Holandês x Zebu
combinação de genes para produção de leite Ordem de parto
e heterose, sendo esta de maior importância Parâmetro
para a reprodução. As características produ- Primeira Segunda Terceira Quarta Quinta Sexta
tivas e reprodutivas foram semelhantes às
Produção total (kg) 2.443 3.167 3.191 3.454 3.756 3.894
das vacas F1 Holandês x Gir, o que pode
ter relação com a tradição do manejo desses Média diária (kg) 7,2 11,0 11,5 13,2 13,1 13,9
animais em ambiente de criação de leite.
Pico de produção (kg) 11,9 16,4 17,4 19,5 19,2 21,1
Entretanto, ao primeiro parto, observa-se
período de serviço muito longo. Tal fato Período de serviço (dias) 201 118 96 91 111 98
pode ser atribuído a um manejo deficiente
Intervalo de parto (dias) 485 402 380 375 395 382
desses animais, com reduzidos pesos à
cobrição e, consequentemente, ao primeiro NOTA: Dados do rebanho da Fazenda Experimental de Felixlândia (FEFX), da EPAMIG
parto, o que pode explicar a baixa eficiência Centro-Oeste, em Felixlândia, MG.

reprodutiva observada. As características


produtivas e reprodutivas desse cruzamento
Cruzamentos a partir para leite com animais de outra raça que
são satisfatórias, principalmente quando se
de vacas zebuínas com confira rusticidade e adaptação, o produto
compara a média nacional de produção de
seleção para corte poderá apresentar características satisfa-
leite com vacas mestiças.
Entre as outras raças zebuínas, animais O cruzamento de vacas zebuínas de tórias para produção de leite em ambiente
da raça Sindi e Indubrasil também são in- corte com touros da raça Holandesa não é adverso. Neste contexto, as vacas F1 Ho-
dicados para produção de F1. Contudo, seu utilizado. Entretanto, quando se conside- landês x Nelore, a Neloranda, poderiam
uso é restrito em razão do reduzido efetivo ram os efeitos de heterose, o cruzamento ser utilizadas. Estas apresentam caracte-
desse rebanho. entre animais de uma raça selecionada rísticas fenotípicas que as distinguem das
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46 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

outras F1, como pelagem composta por intervalos de parto menores de 12 meses, de parto, o que pode ser atribuído aos
manchas brancas e pretas, além de orelhas a partir do segundo parto, com fertilidade genes para produção de leite oriundos da
curtas (Fig. 4). Contudo, a aceitação das anual acima de 100% (Quadro 4). Além raça Holandesa (Quadro 4). Esses animais
vacas desse cruzamento pelo mercado é disso, observa-se bom potencial para a apresentam maior porte, quando compa-
restrita. produção de leite, com lactações acima de rados com as vacas F1 Holandês x Gir e
As vacas desse cruzamento apresen- 2 mil quilos a partir do segundo parto e que ainda não têm tradição de ser manejados
tam elevada eficiência reprodutiva, com alcançam os 3 mil quilos na sexta ordem em ambiente de criação de leite.
Uma importante característica obser-
vada é o aumento da produtividade entre
a primeira e a sexta cria, o que pode ser
atribuído à adaptação e à maturidade
desses animais, que continuam crescendo
após o segundo parto, por causa de seu

Arquivo EPAMIG-FEST
maior porte. As características reprodu-
Adauto Barcelos

tivas desse cruzamento são excepcionais


e as produtivas são satisfatórias, princi-
palmente quando comparadas à média
Touro Holandês Vacas Nelore nacional de produção de leite com vacas
mestiças.
Para minimizar o efeito da raça de corte,
no caso a Nelore, outra linha que pode ser
explorada é a formação de matrizes zebuínas
para a produção de vacas F1, com base nessa
Arquivo EPAMIG-FEFX

raça. Ao considerar-se que a raça Nelore


compõe a maior parte do rebanho nacional,
o seu cruzamento com touros zebuínos com
seleção para leite, como da raça Gir ou Gu-
Vaca F1 Holandês x Nelore zerá, produziria um composto Zebu - Gir x
Nelore (Fig. 5) ou Guzerá x Nelore (Fig. 6).
Figura 4 - Esquema de produção de fêmeas F1 Holandês x Nelore (Nelorandas) As fêmeas obtidas desse cruzamento seriam
NOTA: FEST - Fazenda Experimental de Sertãozinho; FEFX - Fazenda Experimental de utilizadas como matrizes para a produção
Felixlândia.
de vacas F1 Holandês x Composto Zebu.
Os dados produtivos desses compostos são
apresentados nos Quadros 5 e 6.
QUADRO 4 - Características produtivas e reprodutivas de vacas F1 Holandês x Nelore
No uso de fêmeas oriundas de cru-
Ordem de parto zamentos com base em raças de corte,
Parâmetro é necessário estar atento ao seu aman-
Primeira Segunda Terceira Quarta Quinta Sexta samento e condicionamento à ordenha
antes do primeiro parto. Além disso,
Produção total (kg) 1.348 2.002 2.439 2.577 2.676 3.014
esses animais apresentarão maior peso
adulto do que os F1 Holandês x Gir. Isso
Média diária (kg) 4,9 8,5 9,4 11,1 11,5 12,4
implica na recomendação de maiores
Pico de produção (kg) 8,8 12,6 14,1 16,2 17,4 18,5 pesos à primeira cobrição, como forma
de garantir que esses animais tenham
Período de serviço (dias) 127 64 65 53 50 63 peso ao parto próximo àquele da idade
adulta, o que, associado ao amansamento
Intervalo de parto (dias) 411 348 349 337 334 347 e condicionamento à ordenha, permitirá
NOTA: Dados do rebanho da Fazenda Experimental de Felixlândia (FEFX), da EPAMIG maiores produções de leite nas primeiras
Centro-Oeste, em Felixlândia, MG. lactações.
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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 47

CARACTERÍSTICAS
DESEJÁVEIS DE UM REBANHO
F1 HOLANDÊS X ZEBU
Segundo Madalena (2004), a vida

Arquivo EPAMIG-FEST
útil das F1 de Holandês x Guzerá do ex-

Adauto Barcelos
perimento da FAO/Embrapa na Região
Sudeste, em bom nível de manejo, foi de
8,4 anos, sustentando taxa de reposição
anual de 12%, quase três vezes menor que
Touro Gir Vacas Nelore
o relatado para o Holandês da região de
Castro, PR. Ainda, os preços para abate,
que refletem o peso e a condição corporal,
quando da venda, foram mais altos para as
vacas mais azebuadas. Já os preços para
vacas leiteiras, foram mais altos para as F1
e as 3/4 decrescendo acentuadamente para

Arquivo EPAMIG-FEST
as vacas mais holandesadas.
Adauto Barcelos

Facó et al. (2005) avaliaram o de-


sempenho reprodutivo de vários grupos
genéticos de mestiços Holandês x Gir.
Descobriram que, embora a diferença
Touro Holandês Fêmeas Composto Gir - Nelore
genética aditiva entre as raças não tenha
apresentado significância, houve tendên-
cia de elevação do intervalo de parto, à
medida que se elevou a participação dos
genes da raça Holandesa. Esses autores
Arquivo EPAMIG-FEST

concluíram que os resultados indicaram


que a utilização de cruzamentos para
produção de animais F1 constitui uma
importante alternativa para elevar tanto
a precocidade sexual quanto a fertilidade
Fêmeas F1 Holandês x Composto Gir - Nelore dos rebanhos leiteiros.
Já com relação à ordenha, Junqueira,
Figura 5 - Esquema de produção de fêmeas F1 Holandês x Gir - Nelore Madalena e Reis (2005) verificaram, em
NOTA: FEST - Fazenda Experimental de Sertãozinho. rebanho mestiço HZ, com e sem bezerro
ao pé, que, nos primeiros 60 dias de lacta-
ção, a ordenha com o estímulo do bezerro
QUADRO 5 - Desempenho produtivo e reprodutivo de primíparas F1 Holandês x Gir - Nelore foi mais econômica do que com a criação
artificial.
Característica produtiva Valores Característica reprodutiva Valores
Madalena et al. (1990) verificaram
Período médio de lactação 268 dias Idade ao primeiro parto 35,3 meses que o cruzamento F1 teve desempenho
Produção de leite na lactação 2.880 kg Peso ao primeiro parto 478,3 kg econômico superior aos demais graus de
sangue, diminuindo o lucro quando o grau
Produção média de leite 10,8 kg/dia Escore de condição corporal 4,26 de sangue afastou de 1/2, tanto para maior
(ECC) ao primeiro parto
quanto para menor fração de Holandês.
Produção de leite no pico de 16,3 kg/dia Intervalo de parto (primeiro cio) 73,4 dias Estudo recente revelou rentabilidade que
lactação variou de 20,2% a 37,6%, utilizando sis-
tema de produção de leite com rebanho
Dia do pico de lactação 37,5 dias Período de serviço 79,9 dias F1 produzindo cerca de 2.400 kg de leite/
NOTA: Dados de 20 vacas do rebanho da Fazenda Experimental de Felixlândia (FEFX), da vaca em lactação, em clima tropical típico
EPAMIG Centro-Oeste, Felixlândia, MG. (MORAES et al., 2004).
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48 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

Fêmeas F1 Holandês x
Zebu na expansão do
rebanho leiteiro

O problema gerado com a utilização


da vaca F1 é: o que usar nos cruzamentos

Arquivo EPAMIG-FEST
subsequentes? A escolha do reprodutor a

Adauto Barcelos
ser usado na vaca F1 dependeria então da
região. Em regiões frias, onde há mercado
para novilhas 3/4 Holandês, e nas regiões
mais quentes, para 3/4 Zebu leiteiro ou,
Touro Guzerá Vacas Nelore
ainda, independentemente da região, o
produtor poderá optar por utilizar um tou-
ro de corte e vender as crias de ambos os
sexos para abate. O importante é que vacas
F1 vão também possibilitar a formação
de outros graus de sangue, utilizados em

Arquivo EPAMIG-FEFX
rebanhos leiteiros, como 3/4, 5/8 HZ ou
Zebu x Holandês (ZH).
Adauto Barcelos

Dentre esses genótipos, o animal


3/4 HZ destaca-se, tanto pela sua produti-
vidade, como por sua adaptação a manejo
Touro Holandês Fêmeas Composto Guzerá - Nelore sem bezerro. Essas matrizes serão utiliza-
das, posteriormente, em cruzamento com
touros zebuinos leiteiros, para a formação
do 5/8 HZ. Entretanto, são os rebanhos
F1 HZ os grandes fornecedores desses
animais. Na Figura 7, é apresentado o
esquema de produção de mestiços leiteiros
Arquivo EPAMIG-FEFX

a partir de genótipos F1 Holandês x Gir. O


mesmo esquema pode ser feito, utilizando-
se de outras raças zebuínas selecionadas
para leite, por exemplo, animais da raça
Fêmeas 1/2 Holandês x Guzerá - Nelore Guzerá.
Com o advento do teste de progênie
de touros zebuínos para produção de leite,
Figura 6 - Esquema de produção de fêmeas F1 Holandês x Guzerá - Nelore nas raças Gir e Guzerá, os rebanhos F1
NOTA: FEST - Fazenda Experimental de Sertãozinho; FEFX - Fazenda Experimental de também são indicados para cruzamentos
Felixlândia. com esses touros. Os animais provenien-
tes desse cruzamento são indicados para
produtores de leite de média produção,
QUADRO 6 - Características produtivas de fêmeas F1 Holandês x Gir - Nelore
em sistemas menos tecnificados. Essas
Ordem de parto matrizes serão utilizadas, posteriormente,
Parâmetro em cruzamento com touros holandeses
Primeira Segunda Terceira Quarta Quinta Sexta
para a formação do 5/8 HZ. Na Figura 8,
Produção total (kg) 1.445 2.533 3.033 2.963 3.146 3.116 é apresentado o esquema de produção de
mestiços leiteiros a partir de genótipos
Média diária (kg) 5,4 9,4 10,2 10,3 11,3 12,2
F1 HZ.
Pico de produção (kg) 8,3 15,3 16,8 15,5 18,0 18,2 Além do cruzamento com touros ze-
NOTA: Dados do rebanho da Fazenda Experimental de Felixlândia (FEFX), da EPAMIG buínos e holandeses, fêmeas F1 podem
Centro-Oeste, em Felixlândia, MG. ser utilizadas para cruzamento com outras
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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 49

raças taurinas selecionadas para leite, por


exemplo, Jérsei, Suíça, entre outras. É

Arquivo EPAMIG-FEFX
preciso ficar atento para a fração de sangue

Adauto Barcelos
de raças europeias e heterogeneidades dos
animais, pois a administração de vários
graus de sangue no mesmo rebanho é
dificultada, uma vez que são animais com
Touro Holandês Vacas 1/2 Holandês x Gir
diferentes exigências, tanto nutricional
quanto ambiental.

Arquivo EPAMIG-FELP
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Adauto Barcelos
Resultados de pesquisa, conduzidos
e disponibilizados por instituições como
EPAMIG, Embrapa Gado de Leite e Es-
Touro Gir Fêmeas 3/4 Holandês x 1/4 Gir cola de Veterinária da UFMG, Unimontes
e UFV, têm demonstrado o potencial
Arquivo EPAMIG-FEST produtivo das fêmeas meio-sangue HZ,
sob diversos sistemas de manejo e va-
riadas condições ambientais, quando
comparadas a outros graus de sangue
sob as mesmas condições. Dentro de
determinados limites de produção, esses
Fêmeas 5/8 Gir x 3/8 Holandês animais, sistematicamente, apresentam
Figura 7 - Esquema de utilização de fêmeas F1 Holandês x Gir para formação de rebanhos leiteiros boas performances a custos competitivos.
NOTA: FEFX - Fazenda Experimental de Felixlândia; FELP - Fazenda Experimental de Características como fertilidade elevada,
Leopoldina; FEST - Fazenda Experimental de Sertãozinho.
longevidade, bons níveis de produtivida-
de, adaptação a ambientes com limitações
como nas regiões tropicais, adaptação
Arquivo EPAMIG-FEFX

a manejos diferenciados, adaptação à


ordenha mecânica, habilidade materna,
Adauto Barcelos

resistência a ectoparasitas, entre outras


características, dão às fêmeas F1 HZ a
denominação de vacas econômicas. Além
Touro Guzerá ou Gir Vacas 1/2 Holandês x Zebu
dessas características, essas vacas também
produzem crias de qualidade para orga-
nização da cadeia de leite _ cruzamento
Arquivo EPAMIG-FEST

alternado simples, Zebu - Holandês - Zebu


Adauto Barcelos

e Holandês - Zebu - Holandês.

AGRADECIMENTO
Touro Holandês Vacas 3/4 Zebu x 1/4 Holandês À Fapemig, pelo financiamento das
pesquisas que resultaram neste artigo.
Arquivo EPAMIG-FEFX

REFERÊNCIAS
FACÓ, O. et al. Idade ao primeiro parto e
intervalo de partos de cinco grupos genéti-
Fêmeas 5/8 Holandês x 3/8 Zebu cos Holandês x Gir no Brasil. Revista Bra-
sileira de Zootecnia, Viçosa, MG, v.34, n.6,
Figura 8 - Esquema de utilização de fêmeas F1 Holandês x Zebu (HZ) para formação
de rebanhos leiteiros p.1920-1926, 2005.
NOTA: FEFX - Fazenda Experimental de Felixlândia; FEST - Fazenda Experimental de Sertãozinho. FAEMG. Diagnóstico da pecuária leiteira

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50 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

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52 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

Tecnologias de produção de fêmeas mestiças


F1 Holandês x Zebu
Álan Maia Borges 1
José Reinaldo Mendes Ruas 2
Bruno Campos de Carvalho 3
Arismar de Castro Menezes 4
Telma da Mata Martins 5
Edilane Aparecida da Silva 6

Resumo - Vacas mestiças F1 Holandês x Zebu (HZ) têm demonstrado boa eficiência
produtiva e reprodutiva, o que permite alcançar o intervalo de partos de 12 meses, consi-
derado ideal. Isso viabiliza a produção de um bezerro de qualidade por ano e compensa
a menor produção de leite em relação às vacas especializadas. Dada a importância dos
sistemas de produção de leite brasileiros, são necessários mais estudos com vacas mesti-
ças, para se adequarem manejos específicos, diferentes das adaptações feitas a partir de
sistemas intensivos de produção e que, muitas vezes, tendem a penalizar esse tipo de ani-
mal, sem que antes se disponha de igual possibilidade de desafios quanto ao seu manejo
produtivo e reprodutivo. Se por um lado o genótipo F1 HZ é uma alternativa viável para
aumentar a produtividade da maioria dos rebanhos leiteiros, por outro, ainda existe um
ponto crítico que é a produção de número de fêmeas suficiente para atender às deman-
das de aquisição e reposição dos plantéis. Diversas são as formas de produção de fêmeas
F1 leiteiras, que podem ser realizadas, inclusive, em regiões tradicionalmente produto-
ras de gado de corte e até mesmo nas bacias leiteiras tradicionais. Dentre essas formas
destacam-se: a inseminação artificial com sêmen convencional ou sexado, monta natural,
superovulação e transferência de embriões tradicional ou pela fecundação in vitro.

Palavras-chave: Vacas mestiças F1. Gado mestiço. Inseminação artificial. Transferência


de embriões. Fecundação in vitro. Monta natural. Desempenho produtivo. Desempenho
reprodutivo.

INTRODUÇÃO da economia do País e, neste contexto, 2009). A pecuária leiteira tem importante
o estado de Minas Gerais destaca-se por função social e gera, no Estado, 1,2 milhão
O Brasil é o sexto maior produtor
possuir o maior rebanho bovino leiteiro, de empregos a partir de produtores de pe-
mundial de leite, tendo obtido 28.890 t além de ser o maior produtor nacional, queno porte (70% do total), caracterizados
de leite fluido, no ano de 2008, a partir com 7,2 bilhões de litros/ano, o que to- por produção diária abaixo de 100 L, o que
de um efetivo que ultrapassa 20 milhões taliza, aproximadamente, 30% do total demonstra a grande representatividade
de vacas. O leite é um importante pilar da produção no País (MINAS GERAIS, social da atividade.

1
Médico-Veterinário, D.Sc., Prof. Adj. UFMG - Escola de Veterinária/Bolsista CNPq, Caixa Postal 567, CEP 30123-970 Belo Horizonte-MG.
Correio eletrônico: alanmborges@ufmg.br
2
Médico-Veterinário, D.Sc., Pesq. EPAMIG Norte de Minas/Bolsista CNPq, Caixa Postal 12, CEP 39525-000 Nova Porteirinha-MG. Correio
eletrônico: jrmruas@epamig.br
3
Médico-Veterinário, D.Sc., Pesq. EPAMIG Centro-Oeste - FEFX/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 12, CEP 35794-000 Felixlândia-MG. Correio
eletrônico: bccarvalho@epamig.br
4
Eng o Agr o , Pesq. EPAMIG Centro-Oeste - FEFX, Caixa Postal 12, CEP 35794-000 Felixlândia-MG. Correio eletrônico: arismar@epamig.br
5
Médica-Veterinária, M.Sc., Doutoranda Ciência Animal UFMG - Escola de Veterinária, Caixa Postal 567, CEP 30123-970 Belo Horizonte-MG.
Correio eletrônico: telmavet03@hotmail.com
6
Zootecnista, D.Sc., Pesq. EPAMIG Triângulo e Alto Paranaíba/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio
eletrônico: edilane@epamig.br
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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 53

Predominantemente, o rebanho bovino atividade ovariana pós-parto – superiores duas a duas vezes e meia ou mais o valor
brasileiro é composto de 74% de vacas a 100 dias (GALINA; ARTHUR, 1990), da arroba de boi gordo (SILVESTRE;
mestiças, com produção média de 1.100 kg o que leva ao maior período de serviço e MADALENA; MADUREIRA, 1997),
de leite por lactação; 6% de vacas especia- ao longo intervalo de partos, considerado deve-se considerar que diversas das suas
lizadas, que produzem em média 4.500 kg superior a 446 dias (NAJERA, 1990 apud características propiciam a amortização
de leite por lactação e 20% de vacas sem ANDRADE, 1999). Para Ledic (1995) e do investimento inicial, ao longo de sua
qualquer especialização, com produção Penna e Peixoto (1998), as médias para maior permanência produtiva no plantel.
média de 600 kg de leite por lactação a idade ao primeiro parto e intervalo de Ainda, Lemos, Teodoro e Madalena (1996)
(VILELA, 2003), dados que não diferem partos, nas raças Gir e Guzerá, são de verificaram maior longevidade e tempo
do rebanho mineiro. Esse panorama de- 47 e 44,7 meses e de 497,2 e 451,1 dias, de manutenção de vacas F1 Holandês x
monstra a importância social e econômica respectivamente. Guzerá em relação a outros cruzamentos.
da exploração de vacas mestiças para o O prolongado período de anestro no Estes autores reportam manutenção no
País e para Minas Gerais. A utilização de pós-parto é a principal causa de perdas rebanho de mais de 60% das vacas, após os
fêmeas mestiças F1 (Bos taurus taurus x econômicas em plantéis de criação de raças 12 anos de idade (período do estudo), o que
Bos taurus indicus), para a produção lei- zebuínas leiteiras, que exploram regimes indica menores taxas de descarte e morte,
teira, é considerada uma alternativa viável extensivos ou semiextensivos de produção. além de seu elevado grau de aceitação
a ser explorada nos diversos sistemas de Por isso, na maioria das vezes, essas raças pelos produtores. Considerando as baixas
produção que buscam redução no custo, a ao invés de serem exploradas em todo taxas de descarte e de mortalidade e a
partir de animais mantidos em regime de seu potencial, ficam limitadas quanto ao longevidade das vacas F1, trabalha-se com
pastejo (RUAS et al., 2008). Em especial, número de produtos nascidos durante a taxa de reposição de 10% a 15% ao ano
por esses animais possuírem características vida reprodutiva da fêmea. Todavia, o (RUAS et al., 2008). Fêmeas F1 também
desejáveis, que lhes conferem rusticidade, baixo número de bezerros nascidos pode foram superiores aos outros cruzamentos
capacidade produtiva e adaptação ao am- ser minimizado pelo alto valor de mercado na maioria das características que afetam o
biente tropical e às limitações prevalentes conseguido com a venda de fêmeas puras custo e a receita, incluindo a mortalidade de
na maioria das fazendas, bem como por ou mestiças F1 Holandês x Zebu (HZ), bezerras, custo veterinário, mortalidade e
sua maior resistência e boa produtivi- utilizadas nos sistemas de produção de taxa de descarte, eficiência de conversão de
dade, o que não dispensa a necessidade
leite, além dos tourinhos puros para repro- novilhas, idade à puberdade e ao primeiro
de práticas adequadas de manejo e de
dução ou mestiços para o abate, os quais parto, custo da ordenha e preço obtido pelas
alimentação (FERREIRA et al., 1996).
apresentam maior crescimento ponderal e vacas de descarte (MADALENA, 1998).
A crescente utilização de animais mes-
eficiência na conversão de alimentos que Se por um lado o genótipo F1 HZ é uma
tiços nos sistemas de produção de carne e
os zebuínos puros (PAIVA et al., 1992). alternativa viável para aumentar a produti-
leite faz com que as raças-mãe de bases
Dada a crescente demanda por vacas vidade da maioria dos rebanhos leiteiros,
genéticas zebuínas, de maior habilidade
mestiças F1 HZ, torna-se necessária a por outro, ainda existe um ponto crítico
leiteira, apresentem-se com enorme poten-
busca por tecnologias que maximizem a que é a produção de número de fêmeas
cial de mercado. O Zebu é de extrema im-
portância para o Brasil, já que possibilitou
produção de fêmeas para reposição dos suficiente para atender às demandas de
rebanhos leiteiros. Este estudo tem por aquisição e reposição dos plantéis.
a expansão da pecuária em todo o território
objetivo descrever algumas possibilidades
nacional, colocando o País como detentor
para a produção de fêmeas mestiças F1. Utilização de inseminação
do maior plantel comercial, além de ser o artificial e monta natural
maior exportador de carne bovina do mun-
PRODUÇÃO DE FÊMEAS A forma para obter mestiças F1 é cru-
do. Também, neste contexto, os plantéis
MESTIÇAS F1 HOLANDÊS X ZEBU
zebuínos estão em franca expansão, princi- zar as raças puras que, na grande maioria
palmente pela grande valorização do Zebu, A utilização de fêmeas mestiças F1 HZ, dos rebanhos, é feita com o acasalamento
tanto no mercado interno quanto externo. para a produção leiteira, permite a obtenção de fêmeas zebuínas com touros da raça
Porém, ainda são restritos os rebanhos de de leite a baixo custo, já que o sistema Holandesa, ou mesmo pelo cruzamento
algumas dessas raças zebuínas. possibilita maximizar a utilização do efeito reverso de vacas holandesas com touros
Apesar desses aspectos promissores, o da heterose e da complementaridade das zebuínos leiteiros (Gir ou Guzerá, por
desempenho reprodutivo de vacas zebuínas raças (MADALENA, 1997; FERREIRA; exemplo). A escolha de determinada raça
de maior habilidade leiteira, tal como a raça LOPES; FERREIRA, 2001). zebuína para a produção de F1 é norteada
Gir, ainda deixa a desejar, principalmente Apesar do elevado custo de aquisição pela sua disponibilidade e pelo mercado
por causa do longo período para retorno à de fêmeas mestiças F1, normalmente de específico para animais cruzados, varian-
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54 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

do de acordo com a região do estado de por Ferreira, Lopes e Ferreira (2001): fatores relacionados com a fertilidade do
Minas Gerais. Normalmente, utilizam-se a) vacas zebuínas (Gir, Guzerá e touro e da vaca também devem ser consi-
a Gir, no Sul e Triângulo; Indubrasil, no Indubrasil) acasaladas com touros derados, embora não possam ser facilmente
Noroeste; Guzerá, na região Central, e holandeses ou europeus leiteiros; controlados.
no Norte as azebuadas sem raça definida Existem sistemas de produção de F1
b) vacas Nelore acasaladas com touros
ou “meia orelhas” (FERREIRA; LOPES; que utilizam inseminação artificial e que
holandeses ou europeus leiteiros;
FERREIRA, 2001). Para tanto, Madalena obtêm altas taxas de fertilidade. É impor-
c) vacas zebuínas Nelore x Gir ou Gu-
(1997) propõe um sistema de cruzamento tante ressaltar que muitos deles exploram
zerá x Nelore acasaladas com touros
estratificado, no qual fazendas de um es- vacas zebuínas puras ou mestiças de maior
holandeses ou europeus leiteiros;
trato criador especializam-se na produção seleção leiteira e, muitas vezes, de menor
de fêmeas de reposição, tal como acontece d) vacas taurinas holandesas acasa- fertilidade, quando comparadas com a
na avicultura e na suinocultura. Assim, o ladas com touros gir ou guzerá raça Nelore.
produtor deveria realizar um sistema de leiteiros. A primeira e a quarta são Ferreira, Lopes e Machado (1998),
reposição contínuo com novilhas F1, por as mais utilizadas em Minas Gerais; ao avaliarem um sistema de produção de
meio da aquisição de rebanhos especiali- a segunda e a terceira, usadas como novilhas mestiças F1 HZ por inseminação
zados na produção desse tipo de animal, alternativas para composição de artificial, em estação de monta de 80 dias,
ou produzi-las, caso possua matrizes puras. raça zebuína, são pouco utilizadas na região do Semiárido (precipitação anual
Silvestre, Madalena e Madureira (1997) no Brasil. de 759 mm), do estado da Bahia, utilizando
realizaram levantamento de dados com 42 Possivelmente, uma das limitações para animais Indubrasil ou seus mestiços (Indu-
mil vacas de 267 propriedades produtoras a expansão da atividade de produção de F1 brasil x Tabapuã e Indubrasil x Nelore),
de mestiças F1, no estado de Minas Ge- resida na implementação de um sistema verificaram fertilidade que variou de 62,0%
rais. A maioria das fazendas trabalha com eficiente de inseminação artificial, o qual a 76,0% (Quadro 1).
monta natural (27,7%) ou inseminação minimize as perdas de detecção de estros Da mesma forma, Fiuza (2001), em
artificial (55,4%), com sêmen proveniente e, portanto, maximize a taxa de gestação sistema de produção de fêmeas mestiças
de touros da raça Holandesa preta e branca do rebanho. A utilização da inseminação F1 HZ, com 1.030 vacas zebuínas, ao usar
(HPB) (81,8%). Quanto à base genética da apresenta como vantagens a possibilidade inseminação artificial, obteve fertilidade de
vaca, têm-se utilizado 61,9% de fêmeas de exames de gestação sistemáticos, o 81,6%, 1,7 doses de sêmen por concepção,
Gir/Giradas, 7,8% Guzerá/Guzeratadas; controle de doenças contagiosas e a redu- período de serviço de 5,2 meses, intervalo
25,8% Indubrasil/Indubrasiladas, 1,2% ção da endogamia. Alguns autores ainda de partos de 14,7 meses.
Nelore/Neloradas, e 3,3% de outras raças consideram a eliminação de custos e riscos
ou azebuadas (MADALENA; MADUREI- Utilização de sêmen
de manter o touro na propriedade (WEBB,
sexado
RA; SILVESTRE, 1997). O restante é de 2003). Estudos mais recentes encontraram
touros de outras raças europeias, com as menores custos/concepção, quando uti- A inseminação artificial com sêmen
mesmas bases genéticas das vacas (MA- lizada a monta natural. No entanto, pela convencional apresenta fertilidade média
DALENA; MADUREIRA; SILVESTRE, possibilidade de utilizar touros mais ade- de 60% a 75%. Destes, aproximadamente
1997), e cerca de 16,9% das propriedades quados, com fertilidade e mérito genético 50% serão fêmeas e 50% restantes serão
utilizam ambos os métodos de reprodução. comprovados, o produto da inseminação machos, que não possuem o mesmo valor
Vale ressaltar que, independentemente da apresenta melhor desempenho produtivo de mercado das fêmeas mestiças F1 HZ.
preferência, a produção de mestiços F1 HZ (HERRERA ALVAREZ, 2008; OVER- Por isso, nos últimos anos, vem ocorrendo
pode, até mesmo, ser feita utilizando a TON; SISCHO, 2005). Apesar disso, a incremento no porcentual de propriedades
estrutura de fazendas de produção de gado utilização da técnica pode ser limitante em que têm utilizado a inseminação artificial
de corte, disponibilizando fêmeas F1 para algumas localidades (HAMILTON, 1940; com sêmen sexado, com possibilidade de
o setor leiteiro e, até mesmo, nas bacias WEBB, 2003). aumentar a produção de fêmeas de repo-
leiteiras tradicionais. Também permite o O sucesso dos programas de insemi- sição, vislumbrando a venda de fêmeas
aproveitamento dos machos como subpro- nação artificial está relacionado com uma excedentes. O sêmen sexado está disponí-
dutos, para recria e engorda nas unidades série de fatores e, por ser uma técnica sob vel comercialmente no Brasil desde 2004
produtoras (MADALENA, 2001a). responsabilidade humana, está sujeito às (VIEIRA, 2008) e o preço da dose tem-se
Em diversas localidades têm-se bus- variações e influências que podem com- reduzido significativamente, possibilitando
cado outras alternativas de produção de prometer, de diversas formas, os índices sua utilização por um maior número de
animais mestiços F1, tais como as citadas de fertilidade (SILVA, 2009). No entanto, propriedades.
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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 55

A utilização de inseminação artificial QUADRO 1 - Taxas de fertilidade do programa de inseminação artificial de touro Holandês
com sêmen sexado da raça Holandesa, nas matrizes zebuínas para a produção de mestiças F1 leiteiras - Fazenda
Santa Maria, BA
em razão da redução do preço da dose,
Duração Gestação
tem sido de grande impacto na produção Ano Número de vacas
(dias) (%)
de fêmeas F1, o que pode reduzir os cus-
1987 1.258 - 76,4
tos de produção desse tipo de animal. A
disponibilidade de sêmen provado para 1988 1.202 - 75,5
leite, de touros Gir e Guzerá, permite o 1989 1.126 150 62,0
aproveitamento para o melhoramento do 1990 607 120 70,8
Zebu puro, futura mãe de F1, bem como
1991 621 135 72,0
para a produção direta dos F1, quando
1992 870 120 66,8
utilizado em programas de inseminação
artificial com fêmeas da raça Holandesa 1993 956 105 72,1
(FERREIRA; LOPES; FERREIRA, 2001). (1)
1994 1.029 90 69,9
Matos et al. (2010), ao estudarem a (1)
1995 1.245 75 68,2
produção de fêmeas mestiças HZ (vacas (1)
1996 1.090 75 71,4
Gir, Nelore, Nelore x Gir e novilhas Gu-
(1)
1997 846 87 77,9
zerá x Nelore), com a utilização de sêmen
sexado, verificaram taxas de gestação geral (1)
1998 908 86 72,7
de 31,8%, não sendo encontrado diferença Média 979 - 70,8
entre novilhas (36,9%) e vacas (28,3%). FONTE: Dados básicos: Ferreira, Lopes e Machado (1998).
Para as vacas a taxa de gestação entre as (1)Utilização de sêmen importado de touros Holandeses provados para tipo e leite
raças foi de 30,8% para a Gir, 31,6% para (EUA e Holanda).
a Nelore e 25,5% para mestiças Nelore x
Gir. Pelos resultados obtidos e pelo preço
QUADRO 2 - Taxas de gestação na inseminação artificial com sêmen sexado proveniente de
de venda da fêmea F1, pode-se utilizar
diferentes touros da raça Holandesa
dessa tecnologia para a produção de mes-
Taxa de gestação
tiças F1 HZ. Touro Número de inseminações
% (n)
Há indícios de que a fertilidade do
sêmen sexado também depende de sua A 60 30,0% (18/60) a
qualidade antes do processo de sexagem, B 61 36,1% (22/61) a
ou seja, a diferença na fertilidade entre
C 59 22,0% (13/59) a
touros além de sua resistência ao processo
FONTE: Dados básicos: Matos et al. (2010).
de congelamento. Entretanto, Matos et al.
NOTA: Valores porcentuais seguidos de letras iguais, não diferem (P>0,05) entre si pelo
(2010) não verificaram diferença na taxa teste exato de Fisher.
de gestação para o sêmen sexado de três
touros da raça Holandesa (Quadro 2).
Para os autores, deve-se evitar sempre que alta classe genética de 5% para peso aos 18
Produção de mestiças F1 possível a colocação de apenas um touro meses; 25% para leite por dia de intervalo
por monta natural por lote de vacas. Nas condições da região de partos, e 30% de leite produzido em três
Apesar de a inseminação artificial ser o Norte de Minas, deve-se usar a relação lactações (Quadro 3).
método de reprodução mais indicado, Reis touro:vaca de 1:18 a 1:22, em estação de O cruzamento reverso, ou seja, de
e Junqueira (1997) sugeriram ser também monta de 60 dias de duração. matrizes holandesas ou europeias com
possível o uso de reprodutores em monta Vaccaro (2001) avaliou a eficiência touros zebuínos leiteiros (Gir ou Guzerá),
natural, em estação de monta de curta produtiva de 41 touros Holandeses norte- vem sendo praticado e estudado no Brasil
duração, no Norte do estado de Minas americanos provados, de alto e baixo e em algumas regiões do estado de Minas
Gerais. Esses autores reportaram que a mérito genético para a produção de leite, Gerais (MADALENA, 2002), podendo ser
limitação, quanto à eficiência reprodutiva em monta natural com vacas Zebu, para uma alternativa comercial para venda de
das matrizes, está muito mais relacionada a produção de fêmeas mestiças de duplo produtos F1. A heterose nesse tipo de cru-
com o manejo nutricional inadequado, do propósito na Venezuela. Verificou-se di- zamento é semelhante à tradicional forma
que com problemas com os reprodutores. ferença a favor da progênie de touros de de produção de F1, no entanto, as diferen-
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QUADRO 3 - Comparação do comportamento produtivo da progênie F1 de duas classes de condições adversas em que são criados.
touros Holandeses americanos Os zebuínos ou as vacas mestiças F1
Classe de touros Diferença são normalmente submetidos a regimes
Variável
Baixa Alta (%) nutricionais e ambientais desafiadores,
por acreditar que são menos exigentes e
Número de touros 18 23 -
mais adaptados a qualquer tipo de manejo.
Habilidade Prevista de Transmissão (kg leite) 239 1.111 - Dessa forma esses animais, em várias fases
Progênie macho de sua vida, podem apresentar baixo de-
Peso (kg) aos 18 meses 203,68 214,50 5 sempenho produtivo e reprodutivo, quando
não manejados apropriadamente, segundo
Progênie fêmea
sua fisiologia e exigências nutricionais de
Leite (kg/dia de intervalo de partos) 3,2 4,0 25
lactação, tal como ocorre normalmente
Leite (kg/três lactações) 2.218,32 2.889,25 30 para raças europeias.
FONTE: Dados básicos: Vaccaro (2001). Ruas et al. (2007) demonstraram mé-
dia de produção total de leite na lactação
(3.455, 2.946, 3.438 e 2.486 kg), período
ças entre essas formas de cruzamento não F1, uma vez que, na maioria das vezes, os de serviço (76, 69, 63 e 53 dias) e o inter-
foram estudadas (MADALENA, 1997). rebanhos puros têm índices reprodutivos valo de partos (365, 358, 352 e 342 dias),
Foram relatadas produções de 3.156 kg de que não permitem sua própria reposição respectivamente, para vacas mestiças F1
leite em 305 dias para filhas F1 provenien- e produção de F1 com sustentabilidade Girolando, Guzolando, Indubrasilando e
tes desse cruzamento (VERNEQUE apud econômica. Nelorando, entre a terceira e a quarta or-
MADALENA, 1997). Também, por muitos anos, a raça Gir dem de parto, mostrando sua capacidade de
Contudo, deve-se ressaltar que a utili- foi submetida a uma grande pressão de produção de leite e eficiência reprodutiva.
zação de raças leiteiras de alta produção, seleção realizada, muitas vezes, pelo pró- Os cruzamentos mais estudados são os
como mãe de F1, está normalmente acom- prio produtor, o que a penalizou a ponto de touros Holandeses acasalados com ma-
panhada pela menor fertilidade das mães, de reduzir o número de animais puros trizes Gir ou Guzerá. Para Santiago (2002),
como verificado por Butler (1998). As dos plantéis nacionais. No princípio da diante da escassez e da indisponibilidade
“modernas” vacas leiteiras são resultantes seleção da raça, os cruzamentos foram de matrizes zebuínas com alta intensidade
da seleção genética para produzir cada vez direcionados para uma determinada carac- de seleção para a produção de leite, que
mais leite e, nas últimas décadas, o grande terização fenotípica (JOSAHKIAN, 2002). possam servir à produção de F1, além da
aumento da capacidade de produção tem A consanguinidade e a adoção de algumas dificuldade de reposição de um plantel
sido associado à redução da fertilidade das técnicas de manejo, seleção e descarte F1 com qualidade e segurança, devem-
vacas. A taxa de concepção em grandes com base no desempenho comparativo se buscar alternativas para a obtenção
rebanhos comerciais mantém-se entre com outros rebanhos de corte nacionais e de fêmeas mestiças F1. Para esse autor,
35% e 40% para vacas, quando comparada internacionais, levaram à elevada taxa de a pesquisa e a prática têm demonstrado
com 51% para primíparas e, normalmente, descarte e redução no número de matrizes, que, aparentemente, não existem grandes
superior a 65% em novilhas. Essas diferen- quando comparado com outros rebanhos diferenças no desempenho produtivo e
ças, dentro de um mesmo rebanho, indicam zebuínos, cuja seleção visou incrementos reprodutivo de matrizes F1 oriundas do
que a fertilidade reduz entre as diferentes tanto produtivos quanto reprodutivos. cruzamento Holandês com vacas de várias
ordens de parição até a maturidade das Porém, as mestiças F1 Holandês x Gir raças zebuínas (Gir, Guzerá, Nelore). Esta
vacas leiteiras (BUTLER, 2003). apresentam boa produção de leite, bom última, em maior número, poderia ser uma
Dentre os zebuínos, a raça Gir é a mais temperamento, tamanho mediano e boa alternativa para a produção de F1, com
utilizada nos cruzamentos para produção aceitação de mercado. poucas diferenças em relação às outras
de mestiços leiteiros. As restrições para Independentemente da preferência do raças tradicionalmente utilizadas, embora
raça pura Gir é a conformação do úbere mercado e de falsas impressões a respeito de possuam dificuldades relacionadas com
e a fertilidade, responsáveis pela redução determinada raça ou de determinado F1 HZ, temperamento, as quais podem estar mais
drástica que houve no número de animais a pesquisa deve buscar conhecimento mais ligadas ao manejo de criação do que às
dessa raça nos plantéis nacionais. Isto profundo sobre as particularidades fisioló- características genéticas das raças (SAN-
torna-se um problema para a formação gicas de cada uma delas, principalmente TIAGO, 2002). Porém, existe resistência
de rebanhos comerciais de produção de quando os animais estão submetidos às por parte dos produtores e compradores de
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F1, quanto a essa mestiça, considerada de O F1 Holandês x Nelore ou Gir - Nelore principalmente nos casos de fêmeas pri-
menor habilidade materna, com menor do- apresenta algumas características que míparas ou de melhor produção de leite,
cilidade e de ordenha difícil. Todavia, esses merecem considerações, tais como: peso com o intuito de adiantar o primeiro estro
relatos são informais, sem registros de lite- à idade adulta (média de 525 kg e algu- pós-parto, induzir a ovulação e reduzir o
ratura (FERREIRA; LOPES; FERREIRA, mas mais que 600 kg); discriminação por período de serviço em vacas Zebu ací-
2001). Contudo, dados de Martinez e San- parte do mercado quanto ao temperamento clicas amamentando, requerem manejos
tiago (1992) têm verificado produtividade arisco (muitas vezes relacionado com o alternativos da relação mãe-cria, adequada
acima de 3 mil quilos por lactação com manejo durante a recria, semelhante ao de nutrição dentro de cada categoria animal
mestiças F1 Holandês x Nelore. (FERREIRA; LOPES; MACHADO,
gado de corte) e rejeição por ser gado de
A partir da base genética materna Ne- 1998), além da necessidade de utilização
orelha curta; dificuldade de acabamento
lore poder-se-iam realizar cruzamentos de diversas terapias hormonais, dentre as
dos machos meio-sangue criados a pasto,
com touros Gir leiteiro ou Guzerá de maior quais diversos protocolos à base de implan-
só conseguido com peso acima de 18 ar-
valor genético para produção de leite, em tes de progesterona associados ao estradiol
robas (SANTIAGO, 2002).
monta natural ou inseminação artificial, (BORGES, 2001; BORGES et al., 2004).
formando compostos de Zebu leiteiro, Utilização de protocolos Apesar de serem considerados de
como o Gir - Nelore ou Guzerá - Nelore. O hormonais para viabilizar alto custo individual, esses protocolos
acasalamento de vacas Nelore com touros a inseminação artificial mostram-se viáveis, quando utilizados
Gir provados, em monta natural ou inse- estrategicamente em rebanhos cujo produto
A duração do anestro no pós-parto é
minação artificial, tem mostrado fertilidade final agrega um valor significativo às re-
de 84% a 92% de prenhez. A intenção é influenciada por diversos fatores inerentes ceitas da propriedade, tal como verificado
aproveitar o grande número de fêmeas aos zebuínos, bem como por variações nas fazendas de criação de Gir leiteiro puro
Nelore, incorporando genes produtivos nutricionais oriundas da estacionalidade ou nas que produzem os mestiços leiteiros.
da raça Gir leiteiro, cuja população ainda na produção forrageira e do efeito adverso Os protocolos hormonais, seguidos ou não
é pequena, e as características desejáveis da amamentação, que são os principais por inseminação artificial em tempo fixo,
do Nelore, ou seja, alta fertilidade, rusti- responsáveis pelo atraso no retorno ao estro também têm sido utilizados e devem ser
cidade, longevidade e sistema mamário de animais zebuínos. Outros fatores como avaliados criteriosamente quanto ao seu
bem conformado (SANTIAGO, 2008). a condição corporal ao parto, nutrição impacto na reprodução e nos custos de
Este mesmo autor tem demonstrado ferti- no pós-parto, amamentação, estação de produção da propriedade. Seus objetivos
lidade de 89% e 86%, 55% e 72% e 81% e parição e idade contribuem para a manu- são para induzir a ciclicidade de animais
83% para novilhas, primíparas e vacas de tenção dos menores índices de fertilidade, em anestro; implantar a inseminação ar-
segunda ordem de partos de Gir - Nelore normalmente encontrados na maioria das tificial em propriedades que não tenham
e Nelore, respectivamente. fazendas tradicionais que exploram siste- estrutura para seu uso de rotina; mão de
Fêmeas F1 Holandês x Gir - Nelore mas extensivos de criação. obra qualificada ou que haja restrições
produzem lactações de 2.700 a 3.500 kg Os zebuínos, principal base para a pro- como por exemplo, no horário de trabalho
de leite, com duração de 260 a 280 dias. dução de vacas mestiças F1, são normal- (CARVALHO; RUAS; FERREIRA, 2008).
E, produções maiores (> 4.500 kg) sur- Para maximizar a resposta ao trata-
mente submetidos a regimes nutricionais
gem, quando utilizam matrizes zebuínas mento hormonal, a um custo mais baixo,
e ambientais desafiadores, por acreditar
de todas as raças com maior seleção para necessita-se trabalhar com animais num
serem menos exigentes e mais adaptados
produção de leite. Touros Gir provados período pós-parto recente, visto que estes
a qualquer tipo de manejo. Dessa forma,
sobre vacas Holandesas de alta produção apresentam melhor condição corporal.
esses animais, durante o pós-parto, estão
também geram fêmeas F1 com lactações Estudo realizado com vacas da raça Gir
sujeitos à exacerbação do balanço ener-
acima de 4.500 kg (SANTIAGO, 2002). leiteiro mantidas a pasto, amamentando e
Apesar das poucas lactações aferidas até gético negativo e, com isso, mobilizam em anestro pós-parto, verificou que a uti-
o ano de 2008, verificou-se idade média a condição corporal em função das mo- lização de terapias hormonais no período
ao primeiro parto de 31,4 meses, produção dificações hormonais e metabólicas que pós-parto recente (35-40 dias pós-parto)
média na lactação de 3.129 kg de leite priorizam o estado fisiológico da lactação foi capaz de induzir o retorno à atividade
(1.688 kg a 4.234 kg) e duração da lactação (RUIZ-CÓRTES; OLIVEIRA-ANGEL, ovariana e à gestação, mesmo em animais
de 287 dias (201 a 318 dias). Esse sistema 1999) e apresentam atraso no retorno à de menor escore da condição corporal
poderá viabilizar uma venda mais acessível ciclicidade pós-parto. (BORGES, 2001).
a pequenos e médios produtores de leite Logo, fazendas de criação de Zebu Em um rebanho produtor de fêmeas
(SANTIAGO, 2008). puro ou de produção de mestiços F1 HZ, mestiças F1 HZ, Amaral (2009) estudou
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a utilização de protocolos hormonais com de ultrassonografia. Foram obtidas taxas comerciais, de diferentes raças zebuínas,
progesterona e estradiol num período pós- de gestação que variaram de 33% a 44%, o que contribui para a grande variação de
parto recente (30 a 60 dias) de vacas da raça concluindo-se que a avaliação da condição produção e temperamento dos animais.
Gir leiteiro em anestro. O autor verificou reprodutiva, a adoção de protocolos espe- Para esses autores, têm-se buscado alter-
100% de manifestação de estro, seguido cíficos para fêmeas ciclando ou em anestro nativas para a produção de animais F1
por 60% e 88% de ovulação e 16% e 52% e a inseminação dos animais detectados em núcleos, usando-se a transferência de
de gestação em animais que possuíam, no em estro podem reduzir, em até 30%, o embriões e a fecundação in vitro. Essas
dia do tratamento hormonal, folículo do- custo da inseminação artificial. Contudo, biotécnicas têm perspectivas importantes
minante com diâmetro menor ou maior que a utilização de hormônios em vacas de para o futuro e, ultimamente, com a redu-
10 mm, respectivamente. Para os animais baixo escore de condição corporal deve ser ção dos custos, sua utilização em maior
que não foram submetidos aos protocolos reavaliada, já que resulta em baixa taxa de escala tem sido possível.
hormonais, obteve 16% e 28% de animais gestação (4,2% a 18,8%) e eleva os custos Alves (2008) estudou a produção
ovulando e 0% e 16% de gestação, para de produção. de embriões mestiços F1 a partir da su-
vacas que possuíam folículos dominantes perovulação de novilhas Holandesas e Gir,
menores ou maiores que 10 mm, respec- Transferência de embriões em duas épocas do ano (seca e águas). O
e fecundação in vitro
tivamente. Esse resultado demonstra que número total de estruturas recuperadas das
a utilização estratégica de protocolos A transferência de embriões para pro- doadoras holandesas variou entre 1 e 49 na
hormonais, em vacas pré-selecionadas dução de F1 tem grande impacto, porque, seca e entre 0 e 23 nas águas, sendo a média
por ultrassonografia, segundo o diâmetro por aumentar a taxa reprodutiva das fême- de estruturas totais, viáveis e congeláveis,
folicular no dia da colocação do implante as, permite reduzir o número de matrizes de 20,1, 14,6 e 13,3 respectivamente, na
de progesterona, é um fator importante puras necessário para os cruzamentos. É época da seca e de 8,6; 7,1 e 6,6 na época
para o sucesso da terapia hormonal de claro que essas técnicas não serão aplicá- das águas. O número total de estruturas
vacas em anestro. veis nas fazendas comuns, mas sim naque- recuperadas das doadoras Gir variou entre
Silva (2009) estudou a adoção de te- las que produzem F1 com alta eficiência 0 e 10 na seca, e 0 e 19 nas águas, sendo a
rapias hormonais específicas para animais na inseminação artificial (MADALENA, média de estruturas totais, viáveis e conge-
ciclando ou em anestro, como forma de 2001b). Os avanços na eficiência dessa láveis obtidas de, respectivamente, 2,4; 1,6
viabilizar, estrategicamente (início e final biotecnologia, com redução dos custos e 1,4 na época da seca e de 7,7; 6,9 e 4,7 na
de estação de monta), a implementação da de produção da prenhez de F1 por trans- época das águas, sendo as duas primeiras
inseminação artificial em fazendas produ- ferência de embriões, poderão ter grande médias diferentes entre si.
toras de fêmeas mestiças F1 HZ de dife- impacto na utilização desse cruzamento, Num sistema de produção de leite com
rentes regiões do estado de Minas Gerais, pela redução nos custos de obtenção de vacas mestiças F1 HZ, pode-se agregar
que não adotavam essa biotécnica, visando fêmeas de reposição. maior valor ao sistema a partir da utilização
incrementar a eficiência reprodutiva. Veri- Para Madalena (2002), simulações de touros zebuínos, em monta natural, para
ficou incremento na fertilidade do rebanho, realizadas no Canadá indicam viabilidade a produção de fêmeas 3/4 vendidas como
agregando valor com a venda de produtos econômica da produção de F1 pela trans- vacas leiteiras, para serem criadas em
F1 HZ, após a adoção estratégica de pro- ferência de embriões, no caso de vacas regiões mais desafiadoras quanto a clima
tocolos hormonais com progesterona e Holandesas com touros Zebu (TEODORO; e nutrição; para o abate, como animal de
estrógeno em vacas e novilhas zebuínas em MADALENA; SMITH, 1996). Empresas corte, e para venda, como receptoras de
anestro que, normalmente, ficariam vazias comerciais têm obtido alta taxa de prenhez embrião de boa habilidade leiteira. Nesse
na estação de monta. Para tanto, esse autor (76%) na transferência de embriões a fres- sentido, Alves (2008) produziu e congelou
selecionou animais com características que co, ao utilizarem receptoras F1. os embriões mestiços citados, para novi-
viabilizam melhor capacidade de resposta Ainda existem algumas dificuldades lhas mestiças 3/4 Zebu, e obteve taxa de
ao protocolo e, portanto, reduziu os custos para a produção, em grande escala, de gestação de 41%.
dos tratamentos, atualmente adotados de animais F1 de padrão uniforme e de boa A partir do momento em que for possí-
forma massificada. Buscou animais com qualidade. Apesar da existência de grande vel obter um sistema eficiente para conge-
melhor escore de condição corporal, a número de rebanhos comerciais Zebu, lamento de embriões produzidos in vitro,
partir de 30 dias pós-parto, e também, sabe-se que, em geral, nos sistemas exten- associado à tecnologia do sêmen sexado
aqueles que apresentavam folículos de sivos de produção, as taxas de concepção poder-se-á, no futuro, vislumbrar a maior
maiores diâmetros (maior que 10 mm) de fêmeas Zebu não são altas. Além disso, redução no preço de uma receptora prenhe
e útero sem fluido, avaliados por meio esses animais são produzidos em rebanhos de embrião mestiço F1 HZ e, desse modo,
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aumentar a disponibilidade de animais para águas), quando mantidas somente a pasto para produção de leite. Gerar tecnologias
venda e assegurar a reposição das matrizes (654 g/dia de ganho de peso) ou quando que, associadas a um programa reprodutivo
leiteiras. submetidas à suplementação energética bem elaborado, são capazes de sofrer ajus-
O congelamento de embriões F1 HZ, (909 g/dia). Logo, pode-se recriar as fê- tes e adequações necessárias ao incremento
associado à utilização de hormônios para meas somente em pastejo com oferta de da eficiência produtiva e reprodutiva dos
sincronizar o estro e induzir a ovulação, sal mineralizado e, se necessário, promover rebanhos nacionais.
poderá facilitar a maior produção de mes- suplementação com proteinados, em fun-
tiços, independentemente da região onde o ção da necessidade de antecipar a idade à AGRADECIMENTO
sistema de produção esteja instalado. Essas cobrição (RUAS et al., 2008). Nesse tipo
tecnologias possibilitarão induzir o retorno de regime de recria, as fêmeas podem ser À Fapemig, pelo financiamento das
precoce à ciclicidade pós-parto, para que cobertas aos 736 dias (CARVALHO et pesquisas que resultaram neste artigo.
as vacas recebam embriões congelados. al., 2004a), aproximadamente 24 meses,
Dessa forma, não haverá comprometimen- quando estão com peso vivo médio de REFERÊNCIAS
to da eficiência reprodutiva do rebanho, 330 a 350 kg e chegam ao primeiro parto ALVES, B.R.C. Produção in vivo e transfe-
respeitando-se o período de serviço consi- aos 33,6 meses. Ao contrário, durante rência de embriões F1 em rebanhos leitei-
derado ideal, ou seja, de 80 dias. Também, a seca, suplementação com proteinado ros, utilizando-se o cruzamento recíproco
pode propiciar ganhos de peso médios de entre as raças Holandês e Gir, em duas
permite que vacas mestiças F1 sejam mães
épocas do ano. 2008. 110p. Dissertação
de F1 (receptoras de embriões), que, nor- 180 g/dia, em relação à manutenção do
(Mestrado em Reprodução Animal) – Escola
malmente, é o porcentual mais caro de um peso (4 g/dia) em animais não suplemen- de Veterinária, Universidade Federal de Mi-
sistema de transferência de embriões. tados (BRANDÃO et al., 2004). nas Gerais, Belo Horizonte, 2008.
Exemplificando, Carvalho et al. (2007), A recria a pasto, com ou sem suplemen- AMARAL, T.F. Influência do diâmetro do
ao trabalharem com tratamento hormonal tação de concentrados fornecidos de forma folículo dominante sobre as taxas de ovu-
de vacas mestiças HZ aos 30 dias pós- estratégica, poupa o uso de volumoso no lação e gestação de vacas da raça Gir em
parto, conseguiram 81,3% de estro e 88,5% cocho, o que possibilita a recria menos anestro pós-parto e submetidas a protoco-
de ovulação, sendo 71,9% de ovulação do onerosa, condição de difícil obtenção com lo hormonal com progesterona associada a
fêmeas bovinas mais especializadas para estradiol. 60p. 2009. Dissertação (Mestra-
total de animais tratados com implante de
do) – Escola de Veterinária, Universidade
progesterona associado ao estradiol. Bor- a produção de leite (RUAS, 2005). Nesse
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,
ges et al. (2008) trabalharam com vacas tipo de recria a pasto, com suplementação 2009.
mestiças em anestro, a partir de 30 dias apenas durante a seca, a melhor época para
ANDRADE, V.J. Manejo reprodutivo de fê-
pós-parto, com o objetivo de antecipar o a ocorrência de partos, sem comprometi- meas bovinas de corte. In: SIMPÓSIO DE
retorno à ciclicidade. Foram utilizadas 54 mento da produção de leite e da eficiência PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE, 1.,
vacas, com média de 41,4 ± 12,1 dias pós- reprodutiva subsequente, é o início da 1999, Viçosa, MG. Anais... Viçosa, MG:
parto, e observou-se taxa de ovulação de seca, uma vez que os animais passaram a UFV, 1999. p.85-135.
88,9% das vacas, o que demonstra a boa gestação durante a época das águas, quando BORGES, A.M. Influência de diferentes
resposta dos animais à terapia hormonal, a forrageira é de melhor qualidade. manejos e tratamentos hormonais na dinâ-
mica ovariana durante o ciclo estral e no
mesmo quando utilizada precocemente.
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HOLANDÊS X ZEBU
utilizado em cruzamentos para produção _______. et al. Desenvolvimento folicular
Pelo fato de a produção de fêmeas F1 de fêmeas mestiças F1. Em face do avanço no pós-parto de vacas da raça Gir tratadas
leiteiras ser realizada em diferentes regi- e de disponibilização de diversas tecnolo- com acetato de buserelina (GnRH) ou gona-
ões, inclusive nas de gado de corte, deve-se gias, é possível considerar que é capaz de dotrofina coriônica humana (hCG). Revista
Brasileira de Zootecnia, Viçosa, MG, v.33,
considerar que a cria e a recria das fêmeas, fazer a reposição do rebanho mestiço lei-
n.6, p.1396-1404, nov./dez. 2004.
até a concepção, também é possível ser teiro com vacas F1. Nos últimos dez anos,
_______. et al. Early induction of ovulation
realizada como gado de corte. foram realizadas diversas pesquisas com
in postpartum anestrous F1 Holstein x Zebu
Para Carvalho et al. (2004b), novi- relação à exploração de vacas mestiças F1,
crossbred dairy cows. Reproduction in Do-
lhas mestiças F1 HZ apresentam bom bem como de formas para aumentar a efici- mestic Animals, v.43, p.33, July 2008. 16th
desenvolvimento na época de maior ência reprodutiva de zebuínos usados como International Congress on Animal Repro-
disponibilidade de pastagens (época das base de cruzamentos com gado europeu duction, Budapest, Hungary.

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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 63

Sistema de Produção de Leite com vacas F1 Holandês x Zebu


José Reinaldo Mendes Ruas 1
Arismar de Castro Menezes 2
Bruno Campos de Carvalho 3
Domingos Sávio Queiroz 4
Edilane Aparecida da Silva 5
José Joaquim Ferreira 6

Resumo - Dentre os produtos do setor agropecuário, o leite destaca-se, pelo volume


produzido e pelo número de famílias envolvidas nessa atividade. Apesar dessa expres-
são, os níveis de produtividade ainda são baixos e, com isso, há necessidade de elevá-
los de forma sustentável e lucrativa. A EPAMIG mantém um Sistema de Produção de
Leite na Fazenda Experimental de Felixlândia (FEFX), no qual utilizam-se fêmeas F1
meio-sangue Holandês x Zebu (HZ), mantidas em regime de pasto durante o verão e
suplementadas em cocho com volumoso durante o inverno. A principal finalidade desse
Sistema é a produção de leite a baixo custo e de bezerros de qualidade para o segmento
recria e engorda na cadeia produtiva da carne e do leite. As pesquisas desenvolvidas
na FEFX já mostram resultados econômicos no aumento da produtividade, capazes de
dobrar a produção de leite por vaca, ou seja, nesse Sistema a média de produção é de
3.546 kg por vaca em lactação.

Palavras-chave: Bezerro mestiço. Manejo. Produção animal. Produção leiteira. Desem-


penho econômico.

INTRODUÇÃO aspectos a ser observados na busca de sis- não apenas pelos menores custos de produ-
temas capazes de proporcionar resultados ção, mas por valorizarem o meio ambiente.
O leite é produzido em todos os muni-
zootécnicos e financeiros desejados, dentro Sistemas alternativos de produção de
cípios mineiros e, na grande maioria, em
sistemas de produção com vacas mestiças. de uma visão de negócio na produção de leite a pasto e utilização de fêmeas F1
São vários os sistemas utilizados no Brasil, leite. Considerando variáveis como clima, meio-sangue Holandês x Zebu (HZ) apare-
desde os intensivos em tecnologia e inves- solo, cultura, capacidade de investimento cem como opção interessante na busca da
timento, com raças especializadas, até os e mesmo características econômicas do sustentabilidade zootécnica e econômica
mais simples, com baixo nível tecnológico País, Sistemas de Produção de Leite que da atividade.
e de investimento, utilizando animais não privilegiem a utilização de pastagens de Neste artigo descreve-se o Sistema de
especializados. boa qualidade e animais mais adaptados Produção de Leite a Pasto, com fêmeas
Independentemente do modelo ado- a condições ambientais com limitações, F1 HZ, da Fazenda Experimental de Fe-
tado, eficiências técnicas e econômicas como acontece na maioria das propriedades lixlândia (FEFX), pertencente à EPAMIG
são o objetivo principal. São muitos os brasileiras, mostram-se mais competitivos, Centro-Oeste.

1
Médico-Veterinário, D.Sc., Pesq. EPAMIG Norte de Minas/Bolsista CNPq, Caixa Postal 12, CEP 39525-000 Nova Porteirinha-MG. Correio
eletrônico: jrmruas@epamig.br
2
Eng o Agr o , Pesq. EPAMIG Centro-Oeste - FEFX, Caixa Postal 12, CEP 35794-000 Felixlândia-MG. Correio eletrônico: arismar@epamig.br
3
Médico-Veterinário, D.Sc., Pesq. EPAMIG Centro-Oeste - FEFX/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 12, CEP 35794-000 Felixlândia-MG. Correio
eletrônico: bccarvalho@epamig.br
4
Zootecnista, D.Sc., Pesq. EPAMIG Zona da Mata/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico:
dqueiroz@epamig.br
5
Zootecnista, D.Sc., Pesq. EPAMIG Triângulo e Alto Paranaíba/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio
eletrônico: edilane@epamig.br
6
Eng o Agr o , Ph.D., Pesq. Colaborador, Rua Felipe Vasconcelos, 180, CEP 35700-072 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: jucaferreira@epamig.br

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64 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

CARACTERIZAÇÃO DO ção suplementar realizada se necessário. de 15 KVA7, movido à tomada de força


SISTEMA DE PRODUÇÃO A silagem é feita no primeiro trimestre de trator, utilizado quando falta energia,
O Sistema de Produção de Leite a Pasto do ano, utilizando máquinas colhedoras e um aquecedor elétrico da água utilizada
é desenvolvido na FEFX, localizada no de forragens, e armazenada em silos de na lavagem dos equipamentos de ordenha
município de Felixlândia, Minas Gerais. superfície. Parte da cana-de-açúcar (2 ha) e estocagem de leite.
O clima na região é classificado, segundo é plantada em área irrigada, utilizando A ordenha é constituída de um fosso
o sistema de tubos enterrados e, como o com 12 m de comprimento, 2,0 m de lar-
Köppen, como tropical de savana, com
milho, a irrigação é feita se necessária, fato gura inferior, 1,85 m de largura superior,
duas estações bem distintas, inverno seco e
que aumenta substancialmente a produção 0,90 m de altura e declividade de 2% para
verão chuvoso. A precipitação média anual
da cultura. Após o corte da cana, realiza-se escoamento da água de lavagem. As pare-
é de 1.126 mm.
a adubação de reposição e, se necessário, des laterais do fosso são inclinadas e, com
O rebanho bovino é composto por 200
a capina química, utilizando herbicidas isso, a largura inferior é maior em 15 cm
fêmeas F1 HZ e envolve os cruzamentos:
seletivos. do que a largura superior. Essa inclinação
Holandês x Gir, Holandês x Guzerá, Ho-
O sistema é dotado de curral de madei- é para facilitar a aproximação do ordenha-
landês x Nelore, Holandês x Gir - Nelore e
ra, seringa, tronco de contenção e balança dor ao animal. A parede lateral do fosso
Holandês x Zebu. Esta última base materna
para pesagem de animal. Nessa estrutura, é projetada cerca de 12 cm em relação ao
é constituída de vacas indubrasiladas ou
piso externo da fila indiana. A fila indiana
giradas, ou seja, vacas sem uma raça defi- são realizadas todas as práticas de manejo
necessárias como evermifugação, des- é formada por duas laterais de cada lado,
nida, mas com 100% de sangue zebuíno.
corna, identificação, pesagens, exames sendo uma que protege o fosso, com cerca
Parte do rebanho foi adquirida de produ-
tores mineiros de fêmeas meio-sangue, em ginecológicos, inseminação artificial etc. de 1,40 m de altura, e a outra que compõe o
Contém, ainda, estrutura de cochos para corredor da fila de 0,90 m de altura. A lar-
diversas regiões do Estado, portanto, de
arraçoamento dos animais e bebedou- gura do corredor é 0,75 m e o comprimento
origens diferentes.
ros. Anexo ao curral, em construção de total é de 12 m (o mesmo comprimento do
As pastagens são formadas com
alvenaria, localiza-se o escritório, onde fosso). Assim, nesses corredores, que cons-
as gramíneas Brachiaria decumbens e
são realizados controles zootécnicos e tituem a fila, são colocadas seis vacas de
Brachiaria brizanta, e divididas em vários
armazenados medicamentos e vacinas. cada lado, ocupando 2,0 m cada uma. Entre
piquetes, por meio de cercas de arame
Utiliza-se computador para a escrituração a lateral e a cerca externa da sala de orde-
liso. Todos os piquetes são providos de
zootécnica por meio de programa especí- nha há outro corredor, que mede 1,40 m
cochos cobertos, para o fornecimento de
fico. Outra construção de alvenaria, anexa de largura, no qual o bezerro aproxima-se
mistura mineral, e de bebedouros servidos
ao curral, é a fábrica de ração, onde são da vaca para promover a descida do leite.
com água oriunda de poço artesiano e
elaboradas rações utilizadas no Sistema, Nas filas onde são contidas as vacas, exis-
represa distribuída por gravidade. Alguns
tem cochos individuais para arraçoamento
piquetes são servidos por água de represas contendo balança, misturador de ração
no momento da ordenha. A Figura 1 mostra
existentes na propriedade. Essa estrutura de modelo vertical, com capacidade para
a sala de ordenha.
é responsável pela alimentação volumosa 500 kg, moinho de martelo e peneira para
durante a estação das chuvas, época que triturar grãos.
MANEJO DOS ANIMAIS
todo rebanho é mantido em pastagens. A sala de ordenha é construída em
Para a estação da seca, época em que alvenaria e cercas de réguas de madeira,
com divisões para curral de espera, curral Manejo das vacas no pré-parto
as vacas em lactação são alimentadas com
volumoso no cocho, a FEFX dispõe de uma de saída e curral de bezerros anexos. O Trinta dias antes do parto, as vacas
estrutura de cochos de cimento cobertos sistema utilizado é do tipo fosso, com gestantes são levadas para piquetes mater-
com telhas de amianto e bebedouros. as vacas em fila indiana ou passagem. A nidade formados de Brachiaria brizantha
A produção de volumoso (silagem de ordenhadeira mecânica é composta por e Brachiaria decumbens. No verão, as
milho e cana-de-açúcar) é realizada em seis conjuntos de teteiras, acoplados ao vacas são mantidas somente a pasto com
áreas próprias, integrantes da área total do sistema de canalização de leite, o qual é suplementação mineral. Durante a seca,
sistema de produção que é de, aproxima- bombeado para o tanque de resfriamento nos piquetes, recebem suplementação
damente, 250 ha. O milho é plantado em com capacidade para 3 mil litros, insta- volumosa de silagem de milho e 800 g de
área irrigada por sistema de pivô central, lado em sala apropriada. Nesta mesma concentrado. Diariamente, esses animais
durante a estação das águas, com a irriga- sala está instalado um conjunto gerador são observados para acompanhamento dos

7
KVA: Quilovolt-ampère.

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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 65

Fotos: José Reinaldo Mendes Ruas


Figura 1 - Sala de ordenha do sistema de produção de leite da Fazenda Experimental de Felixlândia (FEFX) da EPAMIG Centro-Oeste

partos. Por ocasião do parto, realizam-se de ureia. A suplementação com concentra- da sala, momento em que os tetos das vacas
as anotações referentes à cria, como data, do é realizada de acordo com a produção são lavados com água corrente e secos com
sexo, cor e peso. Com relação à vaca, são de leite e o período de lactação. toalha úmida conservada em água com so-
feitas as anotações de peso, escore da con- A ração concentrada é fornecida no lução de hipoclorito de sódio. Em seguida,
dição corporal e observações sobre o tipo momento da ordenha, em cochos indivi- os conjuntos de ordenha são colocados e
de parto. Vacas e bezerros são mantidos duais localizados na passagem, dividida inicia-se a ordenha, que termina quando
juntos nas primeiras 24 horas após o parto, em duas refeições diárias, ou seja, dois cessa o fluxo de leite, visualizado por meio
para que se garantam a ingestão do colostro terços da ração na ordenha da manhã e do copo coletor. A cada 28 dias é feito o
e o vínculo maternal. um terço da ração na ordenha da tarde. A teste de California Mastistis Teste (CMT).
quantidade de ração concentrada forneci- Já o teste da caneca é feito somente para
Manejo nutricional das da é corrigida a cada 14 dias, a partir das as vacas que apresentam reação positiva
vacas no pós-parto
pesagens de leite realizadas, durante toda a ao CMT. A pesagem de leite é realizada a
Há uma grande correlação entre a lactação, para atender quaisquer mudanças cada 14 dias.
produção de leite e a nutrição animal. A nas exigências, com base na variação da Nos primeiros 21 dias, em uma das
vida produtiva e reprodutiva é altamente produção de leite. A individualização no ordenhas, manhã ou tarde, os bezerros são
influenciada pelas estratégias de nutrição fornecimento de ração concentrada é feita mantidos junto às vacas, amamentando-se
utilizadas. Assim, o atendimento às exi- pela identificação das vacas com cordas durante a ordenha. Isso é feito acoplando-
gências nutricionais das vacas deve ser coloridas, ou seja, cada cor corresponde se três teteiras do conjunto de ordenha e
preocupação constante na administração a uma determinada quantidade de ração a deixando uma teteira com tampão. Esse
da propriedade. Em sistemas de produção ser fornecida. De acordo com a produção manejo faz com que se tenha uma orde-
a pasto, deve-se estar sempre atento à de leite, a corda de cada vaca é mantida ou nha completa e tranquila, o que facilita o
quantidade e à qualidade das forrageiras trocada quando do controle leiteiro. condicionamento (Fig. 2).
disponibilizadas aos animais. Durante os Após o término da ordenha, as vacas
Manejo da ordenha
meses de verão, as vacas recebem volu- são soltas e colocadas na presença de seus
moso via pastagens. A alimentação com Vacas com produções diárias superior a bezerros, com os quais permanecerão por
concentrados é feita somente para as vacas 8 kg de leite são ordenhadas duas vezes ao 30 min, para mamar o leite residual (Fig. 2).
em lactação e fornecida de acordo com a dia, às 6 h e às 14 h, e aquelas com produção A mamada do leite residual é feita apenas
produção individual de leite. diária inferior a 8 kg e superior a 5 kg são na ordenha da tarde. Pela manhã, o bezerro
Nos meses de inverno, em currais de ordenhadas apenas uma vez ao dia. somente estimula a descida do leite, sendo
alimentação com cochos cobertos, depen- Após a entrada das vacas na sala de mantido separado da mãe.
dendo do período de lactação, o volumoso ordenha, os bezerros são conduzidos até as A higienização da sala de ordenha e
ofertado é silagem de milho ou cana-de- suas mães, para o apojo e estímulo para a dos equipamentos é feita diariamente, após
açúcar, corrigidos com concentrado à base descida do leite. Logo após, são retirados cada ordenha. Para a sala, fosso e demais
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66 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

Fotos: Felipe Zandonadi Brandão


Figura 2 - Bezerro até 21 dias de idade, amamentando-se no momento da ordenha, e bezerros amamentando-se de leite residual
após a ordenha

dependências é realizada lavagem com no seu corpo. Como existe grande varia- sistemas de alta produção, onde não se
água corrente, utilizando bomba de alta ção de comportamento entre os animais, utilizam bezerro ao pé e arraçoamento.
pressão. Para o equipamento de ordenha é importante que esses procedimentos
mecânica é realizada a lavagem em cir- sejam realizados com bastante calma e Desempenho produtivo
cuito fechado, após cada ordenha. Faz-se repetidos quantas vezes forem necessários. No Quadro 1, são apresentados os dados
o pré-enxágue com água, e lavagem com O principal objetivo é que essas vacas, de desempenho produtivo. Vacas F1 mos-
água quente e detergente alcalino clorado. ao parto, estejam bem condicionadas e, traram desempenho superior à média mi-
Uma vez a cada três dias é feita a lavagem com isso, tenham uma ordenha tranquila. neira. Considerando-se a média de 1.414 kg
complementar com detergente ácido. Para Como deve-se evitar o uso de peias no por lactação do rebanho mineiro, ao pri-
o tanque, faz-se a lavagem manual. Men- momento da ordenha, o condicionamento meiro parto, esse genótipo mostrou 50%
salmente as tubulações são desmontadas e para este manejo deve ser realizado. Ao a mais na produção, o dobro no segundo
procede-se uma lavagem geral. ser empregado esse sistema de ordenha, parto e 120% de acréscimo no terceiro
A cada seis meses é feita a manutenção
sua adaptação foi de 99,59%, de forma parto. Esse comportamento de aumento
da ordenhadeira e, se necessário, são subs-
eficiente, visto que foram obtidos valores da produção de leite continuou nas demais
tituídas as peças com desgastes.
de 8,72 vacas por unidade de teteira por ordens de parto alcançando a média de
Condicionamento à ordenha hora, valor esse próximo ao de dez vacas 3.669 kg na sétima ordem de parto, com
por unidade de teteira por hora, utilizado pico de 19,67 kg, e média diária de 13,8 kg
No sistema de produção, as novilhas para dimensionar salas de ordenhas em nessa mesma ordem de parto.
F1 são criadas separadas das vacas e sem
alimentação no cocho. Esse sistema de
criação faz com que as vacas primíparas QUADRO 1 - Desempenho produtivo de vacas F1 Holandês x Zebu (HZ) da Fazenda Experi-
não tenham nenhum contato com a sala de mental de Felixlândia (FEFX) da EPAMIG Centro-Oeste
ordenha. Para facilitar o condicionamen- Ordem de parto
to, 30 dias antes do parto essas novilhas Parâmetro
n Primeiro n Segundo n Terceiro
são levadas para o curral de produção
de leite. Em um primeiro momento, são Produção total da lactação (kg) 192 2.100 c 162 2.740 b 75 3.070 a
introduzidas na sala de ordenha, somente Duração da lactação (dias) 192 295 a 162 272 b 75 272 b
para passagem em fila indiana. Após essa
Produção média vaca (kg/dia) 192 7,07 c 162 10,02 b 75 11,20 a
etapa, procede a parada das vacas na fila
de ordenha, quando são feitas práticas de Pico da lactação (kg/dia) 211 11,68 a 161 15,09 b 75 16,86 b
higienização com água e contato manual Dia do pico na lactação 211 68,1 a 161 49,4 b 74 51,8 b
com o úbere. Caso algum animal mostre NOTA: Médias, na linha, seguidas de letras minúsculas diferentes, são diferentes (P<0,05)
comportamento mais bravio, joga-se água pelo teste SNK.

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Qualidade do leite produzir bezerros e bezerras terminais de encaminhadas ao piquete maternidade,


qualidade, para o segmento da produção onde passam a receber manejo nutricional
Quanto à qualidade, os valores obtidos
de carne no mercado regional. Para as diferenciado. Esse manejo alimentar visa
durante os anos de 2007 e 2008 mostraram
novilhas, utiliza-se de touro da raça Gir garantir um bom escore corporal ao parto,
leite com qualidade e dentro dos padrões
com intuito de obter bezerros menores ao evitando o desgaste com a produção de
exigidos pelo mercado comprador. Os
dados são apresentados no Quadro 2. Con- primeiro parto. No Quadro 3, é mostrado leite, criando, assim, condições ideais para
siderando que as indústrias compradoras o desempenho reprodutivo do rebanho. nova gestação, o que se traduz em bons ní-
de leite estão pagando por qualidade, os Observa-se que somente no primeiro parto veis de fertilidade, fundamental para obter
preços recebidos foram acrescidos em o período de serviço foi superior a 100 bom desempenho do sistema de produção.
10,93%, no ano de 2008. dias e nos demais inferior, isto assegura
uma taxa de fertilidade, em média, acima Manejo dos bezerros
Secagem das vacas de 90% ao ano e intervalos de partos em O manejo dos bezerros inicia-se com o
A secagem dos animais é feita com torno de 12 meses. manejo das vacas gestantes. A vitalidade
base na data prevista do parto, subsequente e o desenvolvimento dos bezerros depen-
Manejo de vacas secas
à lactação avaliada. Assim, a lactação é dem dos cuidados desde o pré-parto e nos
encerrada 90 dias antes do parto. Vacas As vacas secas são manejadas em primeiros dias de vida, sendo a higiene o
com produção inferior a 5 kg/dia e que sistema de pastejo exclusivo durante todo fator importante a ser considerado. Após o
estejam a mais de 90 dias do próximo o período, recebendo apenas sal mineral nascimento, os bezerros permanecem com
parto são soltas com suas crias até 90 dias à vontade. Trinta dias antes do parto são a mãe durante um período mínimo de 24 h,
pré-parto sem receber nenhum tipo de
suplementação. Esse manejo favorece o
QUADRO 2 - Qualidade do leite do rebanho F1 Holandês x Zebu (HZ) da Fazenda Experi-
desenvolvimento do bezerro, bem como
mental de Felixlândia (FEFX) da EPAMIG Centro-Oeste
a saúde da glândula mamária. Não é feita
nenhuma prática especial no momento da CBT CCS Gordura Proteína
Estação do ano
(UFC/mL) (no/mL) (%) (%)
secagem, como a utilização de infusões
antibióticas intramamárias. Seca (2007) 17.624 119.517 3,83 3,27

Seca (2008) 35.670 122.161 3,85 3,28


Manejo reprodutivo
Média no período 26.647 120.839 3,84 3,28
As vacas são mantidas com touros de
comprovada fertilidade, previamente sub- Chuvas (2007) 20.621 129.645 3,4 3,22

metidos à avaliação andrológica. Os touros Chuvas (2008) 23.139 161.754 3,43 3,19
são colocados com as vacas logo após o
Média do período 21.880 145.699 3,41 3,21
parto, sendo um touro em cada lote de
animais. O cio das vacas é observado duas Média geral 24.264 133.269 3,62 3,24
vezes ao dia, durante o trânsito dos ani- NOTA: Dados obtidos no boletim de análise fornecido pela indústria compradora.
mais entre os piquetes e a sala de ordenha. CBT - Contagem bacteriana total; UFC - Unidade Formadora de Colônia; CCS - Con-
tagem de célula somática.
Diagnósticos de gestação são realizados
45 dias após a cobrição. Essas avaliações
são realizadas mensalmente, ocasião em QUADRO 3 - Desempenho reprodutivo de vacas F1 Holandês x Zebu (HZ) da Fazenda
que vacas com mais de 100 dias de pós- Experimental de Felixlândia (FEFX) da EPAMIG Centro-Oeste
parto e sem registro de cobrição também Ordem de parto
são avaliadas. Parâmetro
n Primeiro n Segundo n Terceiro
Os touros são utilizados de forma con-
tínua na relação de 1:50. A opção pela raça Idade (meses) 221 33,82 194 48,77 126 59,53
do touro depende de uma série de fatores, Peso (kg) 197 449,47 b 179 487,86 a 118 495,79 a
sendo um deles, em especial, o mercado
regional, onde o sistema de produção está Período de serviço (dias) 202 165,94 a 187 94,51 b 106 89,74 b

inserido. O Sistema de Produção de Leite Intervalo de partos (meses) 194 14,89 a 126 12,36 b 43 12,35 b
da FEFX utiliza como touros terminadores NOTA: Médias, na linha, seguidas de letras minúsculas diferentes, são diferentes (P<0,05)
os das raças Nelore e Guzerá, objetivando pelo teste SNK.

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68 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

de preferência no piquete maternidade. são da tristeza parasitária (anaplasmose e encaminhadas ao encontro dos bezerros.
Logo após o nascimento, é feita a cura babesiose), a qual compromete o desen- Estes fazem a mamada do leite residual,
do umbigo, que consiste em cortá-lo mais volvimento e a sobrevivência dos bovinos. por um período aproximado de 30 min.
ou menos a 3 cm do corpo e desinfetá-lo, A descorna é realizada até as duas Após esse manejo, durante o período de
imergindo-o em um frasco de boca larga primeiras semanas de vida, por apresentar verão, os bezerros têm acesso a piquetes de
contendo solução de iodo a 10%. É uma menor risco e maior facilidade. Utiliza-se capim-estrela ou Brachiaria decumbens,
prática simples e eficiente, que deve ser o ferro candente, modalidade mais difun- recebendo apenas mistura mineral e, no
repetida por dois a três dias consecutivos. dida entre os criadores para a descorna em período da seca, suplementação volumosa
Com relação ao colostro, todo o esforço é bezerros, que, além de prática, é bastante com silagem de milho.
feito para que seja ingerido nas primeiras funcional e barata. Esse tipo de manejo permite uma boa
horas de vida do bezerro. Isso faz-se ne- Até os quinze dias de idade, os be- performance dos bezerros até a desmama,
cessário para que os anticorpos maternos, zerros são identificados com um número, com custos baixos, sendo desmamados,
denominados imunoglobulinas, sejam normalmente tatuado na orelha e, quando em média, com 180 kg de peso vivo. Esse
transferidos aos recém-nascidos. Outra apresentarem condições (7 a 12 meses de manejo contribui, ainda, para a qualidade
consideração a respeito do colostro e da idade), faz-se a marcação a fogo na perna, sanitária do úbere e, consequentemente,
necessidade da sua ingestão nos primeiros usando os mesmos números de identifica- reflete na qualidade do leite, reduzindo
dias de vida, refere-se a sua qualidade ção da orelha. O brinco tem sido utilizado, significativamente a incidência de ma-
nutricional, tão importante para o desen- porém a marca a fogo, por ser indelével mite, sem interferir na produção total de
volvimento dos bezerros, além de estimular e visível à maior distância, é a preferida. leite por lactação. Os bezerros e as bezer-
o funcionamento do aparelho digestivo e a Do nascimento até os 60 dias de ida- ras terminais são vendidos à desmama.
formação da flora intestinal. de, os bezerros têm, à sua disposição, um No Quadro 4, são mostrados dados sobre
teto para amamentação completa (sucção o desempenho de bezerros e bezerras
Vacinações contra febre aftosa (con-
direta). Após 60 dias até a desmama (em terminais.
forme calendário oficial), carbúnculo sin-
torno de nove meses), os bezerros têm Os bezerros e as bezerras terminais
tomático (aos 30 e 60 dias e à desmama),
acesso à sala de ordenha, momentanea- têm alcançado expressivo valor de venda.
brucelose (fêmeas de cinco a oito meses
mente, apenas para promover o estímulo Condicionada ao lucro proporcionado por
de idade) e raiva (a partir dos três meses de
à descida do leite, sendo imediatamente litro de leite vendido, a receita obtida com
idade) são realizadas.
retirados e levados à outra repartição do a sua comercialização é significativa. No
A evermifugação é feita pelo menos
curral, onde ficam à espera das mães. Após Quadro 5, são mostrados valores de co-
quatro vezes nos primeiros oito meses de
a ordenha, as vacas são retiradas da sala e mercialização.
vida, para que haja um controle satisfató-
rio da maioria dos vermes gastrointestinais
e pulmonares. O vermífugo utilizado é de QUADRO 4 - Desempenho de bezerros e bezerras terminais, filhos de vacas F1 Holandês x
amplo espectro e de comprovada qualida- Zebu (HZ) e de touros Nelore, Guzerá ou Gir, durante a fase de cria
de. A limpeza, a drenagem e a rotação de No de cab./ Idade CV Peso CV
Sexo No de lotes
pastos, aliadas a uma boa alimentação, são lote (meses) (%) (kg) (%)
condições que favorecem um controle mais
Macho 23 15 10,3 12,6 189,2 11,5
efetivo das verminoses.
No caso de diarreias, estas são controla- Fêmea 5 12 11,9 10,0 179,7 7,8
das usando-se principalmente a hidratação FONTE: EPAMIG Centro-Oeste - Fazenda Experimental de Felixlândia (FEFX) (2001 a 2004).
dos bezerros. Condições higiênico-sanitá- NOTA: CV - Coeficiente de variação.
rias precárias facilitam a ocorrência das
diarreias de origem infecciosa causadas, QUADRO 5 - Dados sobre a comercialização de bezerros e bezerras terminais produzidos por
geralmente, por diferentes agentes. Por vacas F1 Holandês x Zebu (HZ), acasaladas com touros zebuínos de corte ou leite
isso, sempre são praticadas limpezas dos
Preço da arroba Preço da arroba CV Valor de venda Equivalente a CV
ambientes onde permanecem os bezerros, Sexo
em dólar em real (%) (R$) litro de leite (%)
bem como rodízios entre os piquetes.
Macho 18,3 52,3 13,3 331,45 820,6 29,4
Os ectoparasitas são combatidos de
acordo com a infestação. Essa prática Fêmea 16,5 46,4 15,5 276,86 704,1 28,4
é feita com bastante rigor, visto que os FONTE: EPAMIG Centro-Oeste - Fazenda Experimental de Felixlândia (FEFX) (2001 a 2004).
carrapatos são responsáveis pela transmis- NOTA: CV - Coeficiente de variação.

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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 69

Manejo geral do rebanho Reposição de fêmeas F1 feito de acordo com a infestação. Para os
endoparasitos realizam-se duas desvermi-
O controle sanitário do rebanho é A reposição anual em sistemas de
nações por ano.
realizado seguindo as recomendações de produção de leite, com fêmeas F1 HZ,
um rebanho de corte, ou seja, vacinações é realizada por meio de aquisições de Controle zootécnico do
contra febre aftosa, conforme calendário fêmeas no mercado. Os recursos para tais rebanho
oficial e vacinação anual contra raiva. Com aquisições são provenientes das vendas dos
relação a outras doenças, os animais são A avaliação de desempenho do sistema
bezerros e das bezerras terminais e animais
monitorados e, caso necessário, realizam- de descarte. Considerando as baixas taxas de produção depende fundamentalmente
se as vacinações e/ou tratamentos neces- de descarte e mortalidade, a longevidade dos controles realizados. No caso especí-
sários. Anualmente, são feitos exames de das vacas F1, e visto que a literatura cita fico desse sistema, utiliza-se um software
tuberculose e de brucelose. que esse genótipo mantém-se produtivo denominado Simples. Como o próprio
O controle de carrapatos e bernes é fei- por mais de oito crias, usa-se no Sistema nome sugere, a característica desse pro-
to de acordo com a infestação individual. uma taxa de reposição anual de 10% a 15%. grama é a simplicidade, o que o faz uma
Quando detectados animais com infesta- Nesse Sistema de Produção de Leite ótima ferramenta de gestão. O sistema
ções significativas, estes são separados e os da FEFX, a reposição é feita integrando fornece relatórios de vacas a secar, vacas
ectoparasitos combatidos. Animais adultos novilhas F1 desmamadas ao plantel. A a parir, fêmeas aptas à cobrição, vacas
não são desverminados. recria dessas fêmeas é realizada somente para diagnóstico de gestação e vacas para
Como todo rebanho é criado a pasto, o a pasto e oferta de sal mineralizado. Se pesagem de leite.
sistema é dotado de divisões que facilitam necessário, promove-se suplementação Ao parto, são anotadas informações da
o manejo das pastagens. Não é seguido ne- com proteinados, o que não é prática roti- data, peso do bezerro, sexo e peso da vaca.
nhum sistema rígido de rodízio. O critério neira. A suplementação ocorre em função Na cobrição são anotadas informações so-
utilizado para efetuar a mudança de pasto é da necessidade de antecipar a idade à co- bre o dia, o touro e o tipo de acasalamento,
basicamente em função da disponibilidade brição. A recria em regime de pasto com se inseminação artificial ou monta natural.
de forragem, estimada visualmente. Todos suplementação estratégica é suficiente para Informações sobre controle leiteiro são
os funcionários envolvidos no manejo obter bom desenvolvimento da desmama feitas a cada 14 dias, data da secagem,
são alertados para informar a condição de até a idade da cobrição. No Quadro 6, es- diagnóstico de gestação e informações
cada pasto. tão os resultados de fêmeas F1 criadas em sobre venda e morte. Abastecido de todas
Os lotes de animais são manejados regime de pastagens com suplementação essas informações, o programa emite
separados, basicamente em função da ca- na época da seca. relatórios sobre desempenho produtivo e
tegoria e da produção. Durante o período Durante a recria são realizadas vaci- reprodutivo, fichas individuais atualizadas
de verão, quando os animais estão em nações contra febre aftosa, raiva e car- e relatórios de eventos como morte, venda,
pasto, as vacas que são ordenhadas duas búnculo, e o controle de ectoparasitos é relação de nascimento, cobrição.
vezes ao dia constituem um lote; aquelas
ordenhadas uma vez ao dia, um segundo
lote; e as vacas secas, um terceiro lote. Os QUADRO 6 - Desempenho de novilhas F1 Holandês x Zebu (HZ) recriadas em regime de
bezerros são também divididos em lotes pasto e submetidas a diferentes esquemas de suplementação
e obedecem normalmente as divisões dos
Tratamento Peso aos 547 dias Peso aos 639 dias Peso aos 736 dias
lotes das mães, subdivididos por idade.
Outras categorias, como novilhas de re-
Sem suplementação durante 255,8±57,1 c 297,5±38,3 c 342,6±36,2 a
posição, são mantidas em lote separado a recria
até o pré-parto. Durante a estação da seca,
quando há suplementação com volumoso Suplementação durante 289,4±74,7 b,c 319,5±26,3 b,c 370,5±26,4 a
no cocho, os animais são divididos em um verão
lotes, em função de dias após o parto e da
Suplementação durante 295,3±48,8 b 336,8±42,9 b 369,9±35,2 a
produção. uma seca
Reuniões com o pessoal envolvido
nas atividades da criação de bovinos são Suplementação durante 339,0±24,8 a 364,7±29,6 a 361,8±22,0 a
realizadas para que entendam, acreditem e uma seca e um verão
divulguem a necessidade e a importância NOTA: Médias, na mesma coluna, seguidas de letras diferentes, são diferentes (p<0,05),
dessas práticas. pelo teste SNK.

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70 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

Avaliação do desempenho doses de sêmen e material em- parto, de 268, e as de terceiro, de


econômico e financeiro do pregado na rotina da inseminação 312;
sistema de produção artificial. Apesar de não ser prática d) taxa de mortalidade de 7,57%, para
No Sistema de Produção de Leite com rotineira o uso da inseminação arti- bezerros até um ano de idade;
fêmeas F1 HZ, aqui proposto, são realiza- ficial, mantém-se o botijão de sêmen
e) produção média para as vacas de pri-
das anotações de todos os gastos com in- no Sistema;
meira lactação 1.990,16 kg de leite/
vestimentos e produção, para que se possa g) aluguel de máquinas agrícolas e lactação, as de segunda, 2.512,15 kg
emitir relatórios mensais e anuais para as transportes: são anotadas despesas e as de terceira 3.001,00 kg.
avaliações rotineiras de seu desempenho referentes ao transporte de silagem,
zootécnico e financeiro e, assim, subsidiar cana, fretes, roçadas etc.;
Foram considerados os seguintes itens
as adequações que se fizerem necessárias. na avaliação econômica: alimentação
h) manutenção geral: refere-se aos
As anotações são feitas mensalmente volumosa e concentrada, medicamentos,
gastos com fertilizantes, sementes,
por grupos de despesas. São considerados controle sanitário, inseminação artificial,
defensivos, material de ordenha,
os seguintes grupos: aluguel de máquinas agrícolas, transporte,
utensílios diversos, material de
a) produção de leite: é anotado dia- manutenção geral, mão de obra, custos
limpeza e higiene, utensílios para
riamente o volume entregue, bem operacionais fixos e custo alternativo. A
escritório, material para cantina,
como o número de vacas em lacta- rentabilidade no período foi de 37,64%.
vestuário e material de segurança,
ção. Ao final de cada mês é fechada Quando analisado por estação do ano, a
reparos de benfeitorias, de máqui-
a produção total com respectivo rentabilidade no inverno foi de 11,18% e
nas e equipamentos, combustível,
preço recebido; no verão de 62,91%. Para Moraes (2004),
lubrificantes e energia;
b) venda de animais: são anotadas as a venda de bezerros e bezerras com apti-
i) mão de obra: vaqueiros e outros dão para produção de carne representou
vendas, discriminando o dia e o
animal, com seu respectivo peso e
prestadores de serviço para o siste- parte significativa da receita da atividade,
ma de produção e serviço veteriná- atribuindo importante parcela de contri-
valor, bem como o motivo da venda;
rio; buição ao expressivo resultado econômico
c) alimentação volumosa: na época
j) impostos e taxa de administração: positivo obtido pelo sistema. Com relação
do verão, quando os animais estão
mantidos em pastagens, cada um é impostos pagos no mês e um por- aos custos operacionais totais, aqueles com
contabilizado como unidade animal, centual sobre receita bruta mensal alimentação representaram em torno de
atribuindo-se valor de aluguel de como taxa de administração; 50%, e os fixos corresponderam a cerca
pasto para cada unidade. Na época k) outros investimentos: nesse grupo de 10%, significando baixa necessidade
da seca, são anotadas diariamente as são anotadas despesas com investi- de investimentos em equipamentos e
quantidades dos diversos volumosos mentos fixos que serão depreciados, benfeitorias.
distribuídos nos cochos. Os animais quando da análise de custo. Com base nessa análise e no desempe-
não suplementados com volumoso nho técnico, definem-se as estratégias para
Os dados coletados são repassados para o ano seguinte. Esse procedimento possibi-
são contabilizados como unidade
especialista da área de economia, o qual faz lita detectar os pontos de estrangulamento
animal e atribuído o valor do aluguel
a análise anual do desempenho econômico e, com isso, melhorar o desempenho finan-
de pasto;
do Sistema de Produção de Leite. ceiro e técnico do Sistema, buscando-se,
d) alimentação concentrada: são ano-
Moraes (2004) analisou os dados de assim, maior rentabilidade.
tadas as quantidades totais gastas,
produção e custo do ano de 2003, da FEFX.
considerando somente as categorias
Nesse ano, o Sistema de Produção tinha as CONSIDERAÇÕES FINAIS
animais. Sal mineralizado e con-
seguintes características:
centrados proteicos também são Os resultados obtidos com o Sistema
anotados nesse grupo; a) rebanho composto por 220 vacas
de Produção de Leite com fêmeas F1 HZ
F1 HZ, 81% delas na primeira ou
e) controle sanitário e despesas com indicam a capacidade de os genótipos F1,
medicamentos: o gasto com antipa- segunda lactação;
compostos por 50% de Holandês e 50% de
rasitários e vacinas é considerado b) intervalo entre o primeiro e o segun- Zebu, adaptarem-se às condições de cria-
como controle sanitário e os demais do partos de 14,3 meses e entre o ção em regime de pastagens. De maneira
como medicamentos; segundo e o terceiro de 12,1 meses; geral, vacas F1 HZ mostraram-se altamente
f) inseminação artificial: são contabi- c) duração da lactação das vacas pri- eficientes nas características reprodutivas.
lizadas as despesas com nitrogênio, míparas de 286 dias, as de segundo Vacas F1 HZ mostraram potencial para
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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 71

produção de leite em condições tropicais, comercial é tão importante quanto os siasta e defensor do gado mestiço leiteiro.
ou seja, apresentaram produção de leite aspectos tecnológicos envolvidos. Assim, À Fapemig, pelo financiamento das
acima de 3 mil quilos, sem comprometer avaliações cuidadosas e permanentes são pesquisas que resultaram neste artigo.
a eficiência reprodutiva. Além disso, a pro- necessárias, quando se objetiva adequar
dução dessas vacas representa mais do que o sistema de produção até então adotado REFERÊNCIA
o dobro da média da produção mineira, que na propriedade para as correções de rumo MORAES, A.C.A. Estudo técnico e econô-
é em torno de 1.400 kg/lactação. Vacas F1 e renovação das estratégias gerenciais, mico de um sistema de produção de leite
HZ também foram capazes de produzir be- tendo sempre em vista a rentabilidade dos com gado F1 (Holandês – Zebu) na região
Central do estado de Minas Gerais. 2004.
zerros de qualidade, quando considerados o investimentos realizados.
59p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) –
ganho médio diário e o peso ao desmame, Escola de Veterinária, Universidade Federal
os quais podem contribuir para a susten- AGRADECIMENTO de Minas Gerais, Belo Horizonte.
tabilidade do Sistema de Produção de
Leite, pois a venda desses complementam A implantação desse Sistema de Pro-
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
a receita da propriedade. Assim, fêmeas F1 dução, com os expressivos resultados de
HZ mostraram-se eficientes para produzir pesquisa alcançados, deve-se ao trabalho e AMARAL, R. et al. Sistema de produção
de leite em pasto com vacas F1 HZ. Belo
leite e bezerros em sistemas de pastagens à dedicação de muitos pesquisadores, mas,
Horizonte: EPAMIG, 2006. 32p. (EPAMIG.
nas condições do Brasil Central. A organi- em especial ao Prof. Fernando Enrique Boletim Técnico, 78).
zação dos rebanhos, sustentada no modelo Madalena, por suas preciosas contribui-
__________. et al. Sistemas de produção de
de produção que a EPAMIG está adotan- ções à pesquisa com o Mestiço Leiteiro
leite utilizando vacas mestiças e produção
do, é estratégica, permite flexibilidade e Brasileiro e com a avaliação de cruzamento de fêmeas F1. Informe Agropecuário. Pro-
oferece vantagens econômicas. É de fácil em gado de leite no Brasil; ao Dr. José Joa- dução de leite com vacas mestiças, Belo Ho-
aplicabilidade e de administração simples. quim Ferreira, pela condução do Sistema rizonte, v.25, n.221, p.90-101,2004.
Diferenças estarão ligadas a fatores como de Produção de Leite com vacas mestiças MARCATTI NETO, A. et al. Bezerros termi-
a localização da propriedade, processos da Fazenda Experimental de Santa Rita nais de corte podem viabilizar sistemas de
gerenciais adotados, tamanho do rebanho, (FESR), da EPAMIG Centro-Oeste, por produção de leite. Informe Agropecuário.
Produção de leite com vacas mestiças, Belo
tipo e qualidade da mão de obra etc. Dessa mais de duas décadas, e pelas pesquisas
Horizonte, v.25, n.221, p.25-31, 2004.
forma, o acompanhamento zootécnico e com nutrição de vacas mestiças leiteiras;
RUAS, J.R.M. et al. Cria e recria de fêmeas
financeiro do Sistema de Produção são ao Dr. Lázaro Eustáquio Borges, pela
F1: Holandês x Zebu para produção de lei-
atividades inerentes a uma proposta ge- dedicação de seus 35 anos de pesquisa na te. Informe Agropecuário. Produção de lei-
rencial eficiente. Deve ser lembrado que o EPAMIG, conduzindo projetos e multipli- te com vacas mestiças, Belo Horizonte, v.21,
processo de gestão em qualquer atividade cando animais F1. Enfim, um grande entu- n.221, p.40-46, 2004.

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72 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

Alimentação do rebanho F1: fator de menor custo


na produção de leite
José Joaquim Ferreira 1
José Reinaldo Mendes Ruas 2
Bruno Campos de Carvalho 3
Edilane Aparecida da Silva 4
Domingos Sávio Queiroz 5
Arismar de Castro Menezes 6

Resumo - A implantação de Sistemas de Produção de Leite a Pasto, com intensificação


de produção de volumoso no inverno (escassez de forragem) e utilização mínima de
concentrado, constitui alternativa para a sustentabilidade na atividade de produção de
leite. Nesse Sistema, o uso de vacas F1 é uma opção que tem por vantagem a diversifi-
cação dos produtos finais: leite e bezerros de qualidade. Em regime de pasto tropical, o
menor valor nutritivo das gramíneas, aliado às condições adversas do clima (temperatu-
ras, umidade e radiação solar elevadas), e a maior incidência de ecto e endoparasitas são
mais compatíveis com vacas F1, em relação às vacas de raças europeias especializadas
em produção de leite. Para efeito de balanceamento da dieta de vacas mestiças, devem-
se considerar, no mínimo, três estádios de lactação: até 30 dias pós-parto, de 31 a 90 dias
e após 90 dias. Tais estádios têm por objetivo reduzir os efeitos negativos da nutrição na
reprodução e obter maior produtividade de leite no pico de produção e na lactação total.
São apresentadas recomendações de quantidades de ração concentrada a serem forneci-
das às vacas em lactação, de acordo com diferentes quantidades de volumoso e em dife-
rentes fases da lactação. O manejo do bezerro de vaca F1 é por aleitamento natural que,
pelo seu baixo custo, tem grande importância na receita bruta do Sistema de Produção
de Leite. Apresentam-se fórmulas de concentrados, que, misturadas à cana-de-açúcar e à
silagem de milho, resultaram em melhor desempenho dos bezerros 3/4 ZH, em relação
àqueles que receberam ureia e sulfato de amônio misturados à cana-de-açúcar.

Palavras-chave: Gado de leite. Produção leiteira. Nutrição animal. Suplemento alimentar.


Suplemento concentrado. Volumoso. Ureia.

INTRODUÇÃO judicado o produto. Em muitas delas o de fertilidade e topografia, para a produção

As sucessivas crises caracterizadas preço recebido pelo produtor é inferior aos bovina. Esses dois itens apontam para
pela ausência de uma política para o custos de produção de leite. Outro fator é a a implantação de Sistemas de Produção
agronegócio do leite no Brasil têm pre- recomendação de uso do solo, por motivos de Leite a Pasto, com intensificação de

Eng o Agr o , Ph.D., Pesq. Colaborador, Rua Felipe Vasconcelos, 180, CEP 35700-072 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: jucaferreira@epamig.br
1

2
Médico-Veterinário, D.Sc., Pesq. EPAMIG Norte de Minas/Bolsista CNPq, Caixa Postal 12, CEP 39525-000 Nova Porteirinha-MG. Correio
eletrônico: jrmruas@epamig.br
3
Médico-Veterinário, D.Sc., Pesq. EPAMIG Centro-Oeste - FEFX/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 12, CEP 35794-000 Felixlândia-MG. Correio
eletrônico: bccarvalho@epamig.br
4
Zootecnista, D.Sc., Pesq. EPAMIG Triângulo e Alto Paranaíba/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio
eletrônico: edilane@epamig.br
5
Zootecnista, D.Sc., Pesq. EPAMIG Zona da Mata/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico:
dqueiroz@epamig.br
6
Eng o Agr o , Pesq. EPAMIG Centro-Oeste - FEFX, Caixa Postal 12, CEP 35794-000 Felixlândia-MG. Correio eletrônico: arismar@epamig.br

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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 73

produção de volumoso no inverno, dada a CONSUMO DE ALIMENTOS COMO requerimentos das vacas de alta produti-
escassez de forragem, e utilização mínima LIMITANTE À PRODUTIVIDADE vidade de leite.
de concentrado. DE LEITE NOS TRÓPICOS
Alta produtividade de leite por vaca O manejo de vacas de alta produtivi- VACAS F1 COMO ALTERNATIVA
demanda grande densidade de nutrientes PARA PRODUÇÃO DE LEITE NOS
dade a pasto nos trópicos é dificultado por
TRÓPICOS
na dieta ingerida. Nos países europeus, causa dos fatores climáticos que conflitam
EUA, Canadá e outros com alta produtivi- com o desempenho das vacas. Tempera- A escolha de vacas F1 para produção
dade por vaca, é usada a silagem de milho turas, radiação solar e UR do ar elevados de leite e bezerros comerciais é uma opção
com a complementação de grãos, silagem interagem com a fisiologia e metabolismo que tem por vantagem a diversificação dos
de alfafa e fenos de alta digestibilidade. das vacas, o que resulta em menor consumo produtos finais, leite e bezerros de qualida-
Como esses volumosos são insuficientes de alimento. Este fato, associado à baixa de para venda. Com esses dois produtos,
para atender aos requerimentos de va- resistência a ecto e endoparasitas das vacas oscilações nos preços de leite podem ser
cas que apresentam elevada produção, de raças especializadas para produção de compensadas pela venda de bezerros ou
usam-se dietas ricas em concentrados e leite, aponta para a escolha de vacas mais vice-versa.
com suplementos à base de gorduras (alta compatíveis com esses fatores adversos. No Gráfico 1 é mostrado o comporta-
densidade energética). O custo é elevado, As gramíneas tropicais, com alta pro- mento da produção de leite e a estimativa
mas compensado pelos preços recebidos, dução por área, com exceção da fase inicial do consumo de MS, observado no rebanho
ancorados pelas políticas públicas daque- de crescimento, não têm valor nutritivo de vacas F1 da Fazenda Experimental de
les países. para garantir alta produtividade de leite. Felixlândia (FEFX), da EPAMIG Centro-
Vacas com alto potencial genético No Quadro 1, são apresentados os teores Oeste.
para a produção de leite necessitam de de proteína do pasto ingerido por vacas ao Observa-se no Gráfico 1 que o nível de
ambiente e alimentos adequados, para longo do ano. produção da vaca F1, ao longo da lactação,
obter um elevado consumo de matéria Os teores de proteína são mais altos no não é elevado como em vacas especiali-
seca (MS). Os requerimentos nutricionais início da estação chuvosa e decrescem, à zadas em produção de leite. No entanto,
medida que avança o estádio de maturação, a receita do produto leite é agregada à
das vacas dividem-se em mantença cor-
permanecendo baixo durante o período da receita da venda do bezerro, o que pode
poral, atividade física e produção de leite.
seca. Concomitantemente, com a queda do ser no total equivalente à receita de uma
A quantidade de nutrientes referentes à
teor de proteína, reduz-se o valor nutritivo, vaca especializada, que produz somente
mantença corporal é relacionada com o
em razão do aumento do teor de fibra e de leite, quando por este estiver sendo pago
peso vivo. A referente à atividade física
sua digestibilidade. Também são reduzidos um preço compensador.
relaciona-se à movimentação, importante
os teores de minerais. O manejo adequado No Gráfico 2, são apresentadas a
para animais em regime de pasto, submeti-
da pastagem diminui os efeitos adversos compatibilização de consumo e de diges-
dos aos elementos do clima: radiação solar,
da composição da gramínea no consumo, tibilidade de MS em vacas com diferentes
temperatura ambiente e umidade relativa
porém este é ainda baixo em relação aos níveis de produtividade de leite.
(UR) do ar. O menor consumo de MS por
vacas de menor peso vivo limita a produção
de leite. Dessa forma, vacas menores, com QUADRO 1 - Precipitação pluviométrica e teores de proteína bruta (PB) de pasto de diferentes
alto potencial produtivo, devem ter pouca gramíneas coletadas, via fístula esofagiana, em diferentes épocas do ano - EPAMIG
atividade e receber dietas de alto valor Centro-Oeste - Fazenda Experimental Santa Rita (FESR)
nutritivo, condições obtidas em manejo Mês
Pasto
confinado (free stall). Out./Dez. Jan./Mar. Abr./Maio Jul./Set.
Por outro lado, vacas maiores ingerem
Braquiaria decumbens 8,1 8,9 7,1 5,2
mais alimento, do qual parte dos nutrientes
atende aos requerimentos de mantença e Braquiaria ruziziensis 11,4 11,4 7,6 4,5

o restante é destinado à produção de leite. Capim-guiné 11,6 11,4 8,6 5,0


Se o nível de produtividade é alto, haverá
Capim-setária 11,8 13,3 10,5 7,9
nutrientes suficientes para atender a essa
Média 10,7 11,3 8,5 5,7
demanda, desde que a dieta tenha valor
nutritivo adequado e a demanda para ati- Precipitação (mm) 620 582 88 50
vidade física seja baixa. FONTE: Ferreira (2004).

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74 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

No Gráfico 2, observa-se que a alta


20 18 produtividade de leite é possível somen-
te com elevado consumo de MS de alta
Consumo de MS
20 digestibilidade. Conforme apresentado, o
16,8 kg (PIL) Produção de leite 18
cenário deve ter preços pagos pelo leite,
Consumo de MS amparados por uma política para esse

Consumo de MS (kg/vaca/dia)
15 16
16,8 kg (PIL) Produção de leite produto, pois os custos de produção são
kg de leite/vaca/dia

elevados com vacas de alta produtividade,

Consumo de MS (kg/vaca/dia)
15 16
normalmente mantidas em confinamento,
kg de leite/vaca/dia

10 com alimentação de alto custo. Já as vacas


10 F1, com produção média diária da lactação
total na faixa de 8 a 15 kg, com peso vivo
10
10
maior, mantidas a pasto, mesmo com um
5
consumo um pouco menor de MS de menor
valor nutritivo, estarão compatibilizadas
5 com o aporte de nutrientes para mantença
0 0
e produção. Mesmo com vacas F1, suple-
40 94 275 380 mentação de volumosos e concentrados são
Parto P.S. Sec Parto fornecidos, visando complementar déficits
0 0
40 94 275 380
durante as fases da lactação e as diferentes
DIAS fases de crescimento das gramíneas.
Parto P.S. Sec Parto
PIL - Pico de lactação; Sec - Secagem; P.S. - Período de serviço Além dos conflitos do clima, da baixa
DIAS resistência a ecto e endoparasitas, do me-
Gráfico 1 - Consumo
PIL - de
Picomatéria secaSec
de lactação; (MS)- Secagem;
e curva de lactação
P.S. dedevacas
- Período F1 na terceira
serviço nor valor nutritivo das gramíneas tropicais,
lactação por fase de lactação - EPAMIG Centro-Oeste - Fazenda Experimen- o baixo preço pago pelo leite no Brasil,
tal de Felixlândia (FEFX), 2006
com oscilações determinadas pela falta
de uma política que dê sustentabilidade
30
Peso vivo - 600 kg econômica para essa atividade, desestimula
4% de gordura
40 kg a entrada e a permanência de produtores
30
25 que queiram ter um retorno razoável ao
Peso vivo - 600 kg
4% de gordura seu investimento.
40 kg
Consumo de MS (kg/dia)

25
30 kg Com o cenário apresentado, na esco-
20
lha de um tipo racial que mais se adapte
às condições brasileiras, o cruzamento
Consumo de MS (kg/dia)

2030kgkg
20
15
de raças europeias especializadas em
produção de leite com as raças zebuínas,
1020
kgkg com baixa produtividade de leite, porém
15
10 tolerantes a fatores adversos do clima e a
10 kg ecto e endoparasitas, apresenta-se como
10 uma alternativa viável. Níveis diferentes
5
de manejo determinam a maior ou a menor
participação de raças especializadas nos
0
5 cruzamentos. Níveis mais altos de manejo
0 50 55 60 65 70 75 80 são compatíveis com maior grau de sangue
Digestibilidade da MS (%) da raça Holandesa.
0
0 50 55 60 65 70 75 80
PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO
Digestibilidade da MS (%)
DO REBANHO F1

Gráfico 2 - Consumo esperado em função da digestibilidade da matéria seca (MS) e A referência para fazer o balancea-
produção de leite mento da dieta para as vacas em lactação
FONTE: National Research Council (1988). são os requerimentos expressos nas tabelas
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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 75

de exigências nutricionais, o consumo De acordo com a evolução do valor nutriti- Tanto a silagem quanto a cana apresentam
esperado e a composição dos alimentos. vo do pasto, misturas proteinadas poderão deficiências em relação aos requerimentos
Como as vacas são mantidas a pasto, ser fornecidas aos animais não lactantes nutricionais dos bovinos. Por esse motivo,
é importante conhecer o quanto e o que é (Quadro 2). As vacas, conforme o estádio é necessário calcular os concentrados que
consumido durante todo o ano. A compo- de lactação, recebem níveis diferenciados supram os nutrientes deficientes, permitin-
sição é avaliada por meio de análises do de ração, como mostrado no Quadro 3. do melhor aproveitamento dos elementos
pasto consumido, como feito para a prote- disponíveis nos dois volumosos.
ína bruta (PB) e apresentado no Quadro 1. Período da seca
Os requerimentos nutricionais e o consumo Manejo da alimentação
de MS nas diferentes fases da lactação são O período da seca caracteriza-se por
Os alimentos podem ser oferecidos
fornecidos pelas tabelas e por resultados menor disponibilidade de pasto, com baixo aos animais de diferentes modos. Quando
de experimentos com vacas em lactação. valor nutritivo. Algumas categorias de bo- mantidos a pasto, no período das chuvas,
vinos podem ser mantidas com pastagem e normalmente é oferecido sal mineral, com
Período chuvoso suplementadas com sal mineral ou mistura o objetivo de suplementar os minerais para
No período chuvoso, na FEFX, todas proteinada (Quadro 2). As outras categorias atender aos requerimentos. No final do
as categorias de bovinos são mantidas nas poderão ser fornecidos volumosos, como período chuvoso, se necessário, misturas
pastagens recebendo sal mineral à vontade. a silagem de milho ou cana-de-açúcar. proteinadas são usadas.

QUADRO 2 - Cronograma anual de alimentação para vacas, novilhas gestantes e bezerros (as) durante a fase de cria e recria
Águas Seca
Categoria Tipo de alimento
Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov.
Vacas F1 HZ em lactação Pasto X X X X X X X X X X X X
Volumoso           V V V V V V V
Concentrado           (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1)
Ração C C C C C S S S S S S S
                           
Vacas F1 HZ após o 8o mês Pasto X X X X X X X X X X X X
de gestação Volumoso            V V V  V  V  V  V 
Concentrado           (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1)
 
                         
Novilhas F1 HZ após o 8o Pasto X X X X X X X X X X X X
mês de gestação Volumoso           V V V V V V V
Concentrado           (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1)
Ração           SN SN SN SN SN SN SN
                           
Novilhas e vacas secas Pasto X X X X X X X X X X X X
F1 HZ até o 8o mês de Proteinado           SN SN SN SN SN SN SN
gestação
                           
Bezerra (o) 3/4 ZH do Pasto X X X X X X X X X X X X
nascimento aos 56 dias de Volumoso           V V V V V V V
idade
                           
Machos e fêmeas 3/4 ZH Pasto X X X X X X X X X X X X
57 dias até a apartação Volumoso           V V V V V V V
                           
Machos e fêmeas 3/4 ZH Pasto X  X X X X X X X X X X X
da apartação até um ano Proteinado           SN SN SN SN SN SN SN
                           
Machos 3/4 ZH de um ano Pasto X X X X X X X X X X X X
de idade à venda Proteinado           SN SN SN SN SN SN SN
NOTA: HZ - Holandês x Zebu; NUC - Concentrado nitromineral ureia cana; NUS - Concentrado nitromineral ureia silagem; NPC - Concen-
trado nitroproteico cana; NPS - Concentrado nitroproteico silagem, SN - Se necessário.
(1) Os concentrados NUC, NUS, NPC e NPS devem ser usados de acordo com o volumoso utilizado.

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76 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

QUADRO 3 - Quantidade de ração concentrada a ser fornecida às diferentes categorias de animais e em diferentes épocas do ano

Ração C Ração S
Categoria animal/Época
Dez./Fev. Mar./Maio Jun./Nov.
Vacas após o parto até o 1o controle 3 kg/dia 3 kg/dia 3 kg/dia

Vaca em lactação até 30 dias pós-parto 1 kg para 3 kg de leite 1 kg para 3 kg de leite 1 kg para 3 kg de leite

Vaca em lactação 31 a 90 dias pós-parto 1 kg para 2,5 kg de leite 1 kg para 2,5 kg de leite ² 1 kg para 2,5 kg de leite
( )

acima de 8 kg de leite acima de 8 kg de leite acima de 0, 3, 5 ou 8 kg de


leite

Vaca em lactação após 90 dias pós-parto ¹ 1 kg para 3 kg de leite acima


( )
1 kg para 3 kg de leite ² 1 kg para 3 kg de leite acima
( )

e gestante de 8 a 10 kg de leite acima de 8 kg de leite de 0, 3, 5 ou 8 kg de leite

Novilha após o 8o mês de gestação - 0,5 kg novilha/dia 0,5 kg novilha/dia 0,5 kg novilha/dia
amansamento (sala de ordenha)
(1) 8 a 10: de acordo com a qualidade e disponibilidade de pasto. (2) Produtividade de leite (kg/vaca/dia) acima da qual é feita suplementação
com ração concentrada, de acordo com consumo diário de volumoso (kg/vaca/dia) corrigido com concentrado (nitromineral ou nitroproteico).

No período da seca, se há pastagens de (forma de sacarose), mas baixos teores de Na EPAMIG, foram formulados qua-
reserva, usam-se misturas proteinadas. Se proteína e minerais. A silagem de milho é tro concentrados, para uso em mistura
o pasto torna-se escasso, para evitar que ótima fonte de energia, mas é deficiente em à silagem de milho e à cana-de-açúcar
os animais percam peso, recomenda-se proteína e em alguns minerais em relação (Quadro 5).
suplementação com volumosos. aos requerimentos para mantença e produ- Para vacas em lactação, com grande
No período chuvoso, para as vacas ção de bovinos. O uso desses volumosos e variação individual nas produções diárias
em lactação e se mantidas em pastagem, outros, na alimentação dos bovinos, deve que ocorrem principalmente em vacas
normalmente é oferecido ração concen- incluir concentrados que supram suas prin- mestiças, o uso desses concentrados no
trada em cochos antes, durante ou após a cipais deficiências, para maior eficácia da volumoso facilita o cálculo da ração e a
ordenha. Se o pasto torna-se escasso ou é utilização dos nutrientes neles disponíveis. proposta de seu fornecimento para dife-
insuficiente para alimentar as vacas nesse No Quadro 4, são apresentados resul- rentes níveis de produtividade das vacas.
período, alguma complementação volumo- tados de suplementação de cana-de-açúcar No Quadro 2, é apresentado o cro-
e silagem de milho para bezerros em nograma de alimentação das diferentes
sa é fornecida, além da ração concentrada.
crescimento.
No período da seca, toda ou quase toda categorias do rebanho ao longo do ano.
No Quadro 4, observa-se que, ao for-
forragem consumida pela vaca é oferecida No Quadro 6, são apresentadas as fór-
necer minerais, concomitantemente com
em cochos, além da ração concentrada no mulas de rações concentradas que podem
ureia e sulfato de amônio em mistura com
período da ordenha. ser usadas para as diferentes categorias.
a cana, resultou em significativo ganho
Normalmente, praticam-se dois modos
de peso adicional aos bezerros, compa- Vacas em lactação
de fornecimento do volumoso e ração
rado ao fornecimento do sal mineral em
concentrada. Um é fornecer o volumoso Para calcular e oferecer uma dieta devi-
cochos. Também observa-se que, para a
à vontade ou em quantidades limitadas cana, que contém sacarose como fonte damente balanceada é importante conhecer
no cocho e a ração concentrada na sala de energia, a substituição de equivalente os aspectos fisiológicos e metabólicos das
de ordenha. Outro é fornecer o volumoso proteico da ureia por proteína de farelo de vacas em lactação. Para efeito de balance-
e a ração concentrada, como misturas soja, resultou em aumento do consumo e, amento da dieta de vacas mestiças, devem-
completas (ração concentrada misturada consequentemente, maior ganho de peso se considerar, no mínimo, três estádios de
ao volumoso). Um terceiro modo, que é e conversão alimentar. Portanto, se a dieta lactação: até 30 dias pós-parto, de 31 a 90
um misto dos dois primeiros, é oferecer a completa não é usada, esse modo misto dias e após 90 dias.
ração concentrada no período de ordenha de fornecimento de volumoso e concen- Normalmente, no início da lactação, o
e o volumoso misturado a um concentrado trados permite maior eficácia no uso dos consumo de alimentos é baixo e aumenta
que contenha principalmente os nutrientes nutrientes e, consequentemente, melhor gradativamente, e a produção de leite é
deficientes nos volumosos. A cana-de- desempenho dos animais (FERREIRA et crescente. O aporte de nutrientes da dieta
açúcar tem um bom conteúdo de energia al., 2008). consumida não é suficiente para o aten-
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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 77

QUADRO 4 - Ganho de peso, consumo de matéria seca (MS), proteína bruta (PB) e minerais por bezerros que receberam cana-de-açúcar e
silagem de milho suplementadas com ureia + sulfato de amônio e sal mineral no cocho, NITROMINERAL e NITROPROTEICO
EPAMIG cana e NITROMINERAL EPAMIG silagem de milho
NITROMINERAL NITROPROTEICO NITROMINERAL
Sal mineral
Item EPAMIG EPAMIG EPAMIG
(cocho)
(cana) (cana) (silagem de milho)
Bezerros (no) 11 12 12 11
Dias (n ) o
140 140 140 140
Idade (meses) 11,9 11,5 11,8 11,9
Peso vivo inicial (kg) 203,2 203,7 203,2 204,3
Peso vivo final (kg) 229,5 239,8 278,5 281,2
Ganho médio diário (kg)
(1)
0,188 a 0,258 b 0,538 c 0,406
Consumo (kg/cab./dia)
Matéria seca 3,29 3,30 4,81 4,87
Proteína bruta
(2)
0,37 0,37 0,52 0,52
Conversão (kg)
Matéria seca/Ganho médio diário
(3)
17,5 12,8 8,94 11,99
Proteína bruta/Ganho médio diário 1,97 1,43 0,97 1,28
Consumo de minerais (g/cab./dia)
Sal mineral
Via cocho 80 - -
Via concentrado - 43 52 54
Outros minerais 13 53 44 30
(4)
Total (T) 93 96 96 84
Conversão Total/Ganho médio diário
(5)
494 372 178 207
(1) Teste de médias: Student Newman Keuls (P< 0,05). (2) Proteína bruta ou equivalente proteico. (3) Quilo de alimento por quilo de peso
vivo ganho. (4) Consideram-se todos minerais fornecidos na dieta. (5) Gramas de sal mineral por quilo de peso vivo ganho.

QUADRO 5 - Fórmulas dos concentrados NITROMINERAL EPAMIG e NITROPROTEICO dimento adequado dos requerimentos
EPAMIG para balanceamento do volumoso de mantença e produção. Havendo saldo
NITROMINERAL EPAMIG NITROPROTEICO EPAMIG negativo entre o consumo e os requeri-
Silagem de Silagem de mentos de nutrientes, a vaca utiliza-se de
Ingrediente Cana Cana
milho milho suas reservas corporais, especialmente
NUS NUC NPS NPC gordura, para suprir aquelas necessidades.
Se esse balanço negativo acontecer por um
Farelo de soja - - 79,0 83,0
período mais prolongado, inclusive com
Ureia 55,0 55,0 6,0 5,2
perda significativa de peso, pode ocorrer
Calcário 9,0 - 2,6 1,2 problemas reprodutivos e metabólicos, o
Fosfato bicálcico 5,0 14,0 3,8 2,0 que não interessa ao desempenho animal
Sal mineral 20,0 20,0 6,4 6,4 e à eficiência do sistema de produção.
Por outro lado, não é interessante vacas
Sal comum 5,0 5,0 1,6 1,6
excessivamente gordas, especialmente por
Sulfato de amônio 6,0 6,0 0,6 0,6 ocasião do parto.
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 Para reduzir os efeitos negativos na
g/kg de volumoso 8,0 14,0 30,0 50,0 reprodução e obter maior produtividade
NOTA: NUS - Concentrado nitromineral ureia silagem; NUC - Concentrado nitromineral ureia de leite no pico de produção, no início da
cana; NPS - Concentrado nitroproteico silagem; NPC - Concentrado nitroproteico cana. lactação, é recomendável:
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78 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

QUADRO 6 - Fórmulas das rações concentradas para categorias do rebanho F1


Ração concentrada (1)
Proteinado colocado à vontade nos pastos
(fornecimento direto na sala de ordenha)
Ingredientes
Vacas lactação Bezerros apartados Novilhas > 1 ano
(%)
Ração C Ração S P1 P2
(verão - dez./maio) (seca - jun./nov.) (recria) (recria)
Milho 68,2 68,5 49,7 27,0
Farelo de soja 24,3 28,0 20,0 15,0
Flor de enxofre x x x 1,3
Farelo de trigo x x 10,0 x
Ureia 2,0 x 7,5 10,0
Calcário 1,6 1,2 1,0 x
Fosfato bicálcico 2,3 0,8 1,0 x
Sal mineral 1,0 x 5,0 X
Sal comum 0,2 0,5 5,0 30,0
Suplemento Mineral vitaminado
(2)
x 1,0 x 16,7
Sulfato de amônia 0,4 x 0,8 x
Total 100,0 100,0 100,0 100,0
FONTE: Ferreira et al. (2004).
(1) Fazer adaptação recomendada para alimentação de bovinos com ureia. Caso o consumo do proteinado ultrapasse o esperado, aumentar
a porcentagem de ureia a cada sete dias de 2,5 unidades porcentuais, diminuindo o correspondente em milho. (2) Suplemento mineral
contendo vitaminas A e D.

a) ter vacas com escore de condição A suplementação com concentrados pode nível de arraçoamento é mais elevado em
corporal (ECC) adequado ao parto ser significativamente reduzida, se a decorrência do menor consumo de ali-
(3,0 a 3,5), em uma escala de um a forragem for de boa qualidade e de valor mentos no período seguinte ao parto e à
cinco, sem estarem gordas; nutritivo elevado. demanda de melhor estado nutricional para
alcançar o pico de produção e a concepção.
b) fornecer forragens de alto valor No Quadro 3, são apresentadas as
No Quadro 7, apresentam-se as reco-
nutritivo; quantidades de ração concentrada a serem
mendações de limites de produtividades de
c) utilizar, se necessário, ingredientes fornecidas às vacas em lactação, de acordo
leite e, acima dos quais, é feita a suplemen-
de alta energia como os lipídios (ex: com diferentes quantidades de volumoso e tação com ração concentrada, em função
gorduras); em diferentes fases de lactação. do tipo e da quantidade de volumoso
d) manter porcentuais adequados de Conforme pode ser observado no Qua- corrigido e consumido por vacas após 30
fibras efetivas na dieta, sem excesso dro 3, nos primeiros 90 dias pós-parto, o dias do parto.
de carboidratos não estruturais (ex:
amido do milho, sorgo e outros);
QUADRO 7 - Limites de produtividades de leite acima dos quais é feita a suplementação com
e) ofertar dieta balanceada à vontade ração concentrada, em função do tipo e da quantidade de volumoso consumido
por vacas após 30 dias do parto
no cocho.
Cana com Silagem de milho com
Noventa dias pós-parto, ocasião em Consumo
NITROMINERAL NITROPROTEICO NITROMINERAL NITROPROTEICO
que já ocorreu o pico de produção, a vaca de
volumoso EPAMIG EPAMIG EPAMIG EPAMIG
ganha peso e fica novamente gestante. O
kg de leite/vaca/dia
valor nutritivo da dieta, por essa ocasião,
20 kg Acima de 0,0 Acima de 3,0 Acima de 3,0 Acima de 3,0
pode ser um pouco mais baixo (FERREI-
RA et al., 2004), já que os requerimentos 25 kg Acima de 3,0 Acima de 5,0 Acima de 5,0 Acima de 5,0
nutricionais das vacas agora são menores
30 kg Acima de 5,0 Acima de 8,0 Acima de 8,0 Acima de 8,0
e a capacidade de ingestão de MS é maior.
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80 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

Observa-se, no Quadro 7, que menor Após a colocação das vacas na fila necessitando da menor suplementação de
quantidade de ração concentrada é for- para a ordenha, os bezerros são liberados concentrados, para balancear suas dietas,
necida, quando o consumo de volumoso e iniciam as mamadas. Em seguida, três conforme requerimentos nutricionais.
for maior. tetas são preparadas e colocadas as teteiras, A utilização de concentrados em mis-
sendo uma vedada com um tampão. Esta tura à cana-de-açúcar e à silagem de milho
Novilhas teta é deixada para o bezerro, durante a permite maior eficiência nos nutrientes
A recria de novilhas é uma importante ordenha. Se a vaca for de alta produção, a da dieta. A ração concentrada fornecida
atividade dentro de um sistema de produ- mamada do bezerro poderá ser interrompi- às vacas é em função da quantidade de
ção e precisa ser conduzida de forma que da e a teteira acoplada à teta, para o término volumoso consumido e da fase de lactação.
se obtenha um crescimento adequado das da ordenha. O bezerro será mantido nesse A recria das novilhas é feita em regime
fêmeas, que permita a redução da idade ao manejo por 60 dias, período que pode ser de pasto, sendo seu peso no acasalamento
primeiro cio. A idade à puberdade é uma estendido, se não apresentar o desenvolvi- e o seu amansamento no período pré-parto
característica que depende diretamente da mento adequado para essa idade. Estando importantes para um desempenho produti-
nutrição. O tamanho do animal à puberda- com desenvolvimento adequado, o bezerro vo e reprodutivo.
de está relacionado com a genética, porém terá contato com a vaca para estimular a A cria dos bezerros é feita quase que,
a subnutrição retarda a idade em que a descida do leite e, em seguida, é separado. exclusivamente, à base de aleitamento
puberdade é atingida (JOUBERT, 1963). Posteriomente, mamará o leite residual natural e de pasto, constituindo a venda
A baixa taxa de crescimento de be- (rapa) pós-ordenha. Os lotes de vacas por desses animais um importante componente
zerras após a desmama está, geralmente, turno pós-ordenha são mantidos isolados, da receita das vacas F1.
associada a uma baixa disponibilidade de por algum tempo, com os respectivos
forragens durante a época seca do ano. O bezerros, antes de serem soltos com o AGRADECIMENTO
início da idade reprodutiva ocorre mais restante das vacas. Isto é feito por causa
À Fapemig, pelo financiamento das
precocemente em novilhas mais pesadas. da concorrência de outros bezerros pelo
pesquisas que resultaram neste artigo.
Assim, tanto a idade à puberdade quanto leite residual (rapa), destinado ao bezerro
o início da atividade reprodutiva têm uma da vaca. Nessa última fase no período da
REFERÊNCIAS
ligação direta com o nível nutricional das seca, se a disponibilidade de pasto for pou-
ca, deve-se suplementá-lo com volumoso FERREIRA, J.J. Alimentação de bovinos
novilhas, no período da recria (8 aos 18
(Quadro 5). mestiços leiteiros. Informe Agropecuário.
meses), após a desmama. Suplementações
Produção de leite com vacas mestiças, Belo
alimentares nesse período, para a recria em
Horizonte, v. 25, n.221, p.64-72, 2004.
regime de pasto, são estratégicas para uma CONSIDERAÇÕES FINAIS
boa performance das novilhas, deve-se, _______. et al. Efeito da suplementação mi-
Na ausência de uma política para a sus-
neral, forçada ou livre consumo e a subs-
entretanto, ficar sempre atento ao custo tentação da pecuária leiteira, com preços
tituição da ureia por farelo de soja no de-
(RUAS et al., 2004). Proposta de ante- pagos ao produtor sem compatibilização sempenho de bezerros mestiços consumo
cipar a idade ao primeiro parto deve ser com os custos de produção, alternativas e ganho de peso. In: REUNIÃO ANUAL DA
embasada em avaliação da relação custo/ que diversifiquem a produção (leite e be- SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTEC-
benefício. zerros) em regime de pasto (menor custo NIA, 45., 2008, Lavras. Anais... Lavras:
de alimentação) são economicamente Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2008.
Bezerros e bezerras 1 CD-ROM.
atraentes para os produtores de leite.
A cria de bezerros e bezerras é de Entre os tipos genéticos para produção JOUBERT, D.M. Puberty in female farm
grande importância para o sucesso eco- de leite nos trópicos, o primeiro cruzamen- animals. Animal Breeding Abstracts, v.31,
nômico tanto da produção de leite quanto to da raça Holandesa com raças zebuínas, p.295-306, 1963.
da comercialização de bezerros. As pri- chamadas F1, constitui uma alternativa NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Nutri-
meiras semanas de vida dos bezerros são para produção de leite e bezerros comer- ents requirement of dairy cattle. 6.ed. rev.
críticas, quanto ao seu desenvolvimento ciais em regime de pasto. Também são Washinton: Academic Press, 1988. 157p.
e sobrevivência. A ingestão adequada de mais resistentes a ecto e endoparasitas
RUAS, J. R.M. et al. Cria e recria de fêmeas
colostro, vacinações preventivas e manejo prevalentes nos trópicos. São animais F1: Holandês x Zebu para produção de lei-
adequado para o consumo de leite são tolerantes a temperaturas, UR do ar e ra- te. Informe Agropecuário. Produção de lei-
imprescindíveis para obtenção de bezerros diação solar mais elevadas, quanto ao seu te com vacas mestiças, Belo Horizonte, v.25,
sadios. efeito no consumo de forragem tropical, n. 221, p.40-46, 2004.

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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 81

Práticas de manejo para melhorar a eficiência produtiva de


vacas mestiças F1 Holandês x Zebu
Sandra Gesteira Coelho 1
Juliana Aparecida Mello Lima 2
Bruna Figueiredo Silper 2
Ana Paula Saldanha Franzoni 2
Betânia Glória Campos 3

Resumo - As vacas mestiças Holandês x Zebu (HZ) representam a maior parte das va-
cas ordenhadas no Brasil. Apesar da baixa produtividade média, esses animais são bem
adaptados ao clima, aos alimentos e às técnicas de manejo menos intensivas. Embora
o número de pesquisas com esses animais seja pequeno, trabalhos científicos gerados
nas Fazendas Experimentais da EPAMIG, Embrapa, Escola de Veterinária da UFMG e
fazendas particulares comprovam que melhoramento genético, nutrição e técnicas para
aumento de produtividade, como peso adequado ao parto, uso de rbST, aumento da
frequência de ordenha e adaptação das novilhas ao sistema de ordenha, são efetivos
para a produção de vacas mestiças. Áreas como definição de peso ideal ao primeiro par-
to, influência da frequência de ordenha e da presença do bezerro ainda necessitam de
pesquisas, não só para compreender o efeito sobre produção de leite, mas também sobre
reprodução, sanidade e desenvolvimento dos bezerros.

Palavras-chave: Frequência de ordenha. Melhoramento genético. Ocitocina exógena.


Ordenha com bezerro. Primípara. Somatotropina bovina.

INTRODUÇÃO de leite/lactação) e 6% de vacas de raças podem ser alteradas por programas de


especializadas (produção média, 4.500 kg melhoramento genético e medidas de
O Brasil é o sexto produtor mundial
de leite/lactação). manejo já utilizadas em raças especiali-
de leite e possui um dos maiores rebanhos
Esses números demonstram que o re- zadas para produção de leite, mas pouco
do mundo, sendo os sistemas de produção
banho nacional apresenta baixa produtivi- estudadas em rebanhos mestiços. É clara a
caracterizados pela diversidade na com-
dade, que pode ser explicada pelo pequeno necessidade de estudos para compreender
posição racial do rebanho e nas práticas potencial genético para produção de leite melhor o comportamento produtivo das
de manejo, que vão de modelos de confi- observado em alguns rebanhos. Outros vacas mestiças Holandês x Zebu (HZ), que
namento total, com gado puro, a extensi- fatores como adaptação à ordenha, peso deem aos produtores maior confiabilidade
vos com gado azebuado. Segundo Vilela e maturidade corporal ao parto, manejo e diversidade nos elementos que podem
(2003 apud GLÓRIA, 2008), o rebanho inadequado da alimentação, sanidade e ser adotados, visando maior rentabilidade
brasileiro é composto por 74% de vacas reprodução também contribuem para essa de seu negócio.
mestiças (produção média de 1.100 kg de reduzida eficiência produtiva. Embora a Dessa forma, este trabalho tem por
leite/lactação), 20% de vacas sem qualquer baixa produção de leite seja preocupante, objetivo demonstrar resultados de práticas
especialização (produção média de 600 kg suas causas não são de difícil solução e de manejo já testadas para aumentar a pro-

1
Médica-Veterinária, D.Sc., Prof a Associada UFMG - Escola de Veterinária, Caixa Postal 567, CEP 30123-970 Belo Horizonte-MG. Correio
eletrônico: sandra@vet.ufmg.br
2
Médica-Veterinária, Mestranda Zootecnia UFMG - Escola de Veterinária, Caixa Postal 567, CEP 30123-970 Belo Horizonte-MG. Correio
eletrônico: julianamello85@gmail.com; brunasilper@gmail; apsfranzoni@gmail.com
3
Médica-Veterinária, M.Sc., Doutoranda Zootecnia UFMG - Escola de Veterinária, Caixa Postal 567, CEP 30123-970 Belo Horizonte-MG.
Correio eletrônico: becavet@hotmail.com

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82 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

dução de leite em vacas mestiças F1 HZ, nos objetivos de seleção, estendendo-se Dados sobre peso à idade adulta nos
além de destacar outras já comprovadas o foco para a melhoria da eficiência da mestiços são inexistentes provavelmente
com gado holandês. produção e não apenas para o aumento em razão da variabilidade da raça zebuína
da produção ou da produtividade, tem utilizada nos cruzamentos com o Holandês.
MELHORAMENTO GENÉTICO demonstrado ser tendência internacional Na maioria dos sistemas, são utilizados
A taxa de melhoramento genético tem e deve ser assimilada pelos países onde valores semelhantes aos da raça Holan-
avançado linearmente ao longo dos anos, o melhoramento genético encontra-se em desa. No entanto, vacas mestiças F1 HZ
sendo notórios os resultados alcançados evolução (COSTA, 2009). têm peso e tamanho mais próximos aos de
em outros países. Os Estados Unidos, por Cabe ressaltar que o potencial para a vacas de raças europeias de porte médio.
exemplo, em 1945 apresentavam produ- melhoria genética de uma característica é Se admitirmos que os mestiços F1 são de
ções médias de leite de 2.023 kg/vaca/ano determinado principalmente pela herdabi- porte médio, e que o peso médio à idade
atingindo, em 1990 e 2007, respectiva- lidade. Esta corresponde à fração herdável adulta seja 575 kg no 6o e 7 o partos, então
mente 6.643 e 9.000 kg/vaca/ano (USDA, do caráter, que apresenta valores medianos as fêmeas deveriam ser inseminadas ou
2007). Esse sucesso foi, em grande parte, para produção de leite, o que significa cobertas com 345 kg e parir com 488 kg.
por causa da massificação dos programas que obter resultados com adoção de um O Quadro 1, que traz uma compilação
de avaliações genéticas, nos quais o nú- Programa de Melhoramento Genético de relatos sobre peso ao parto em fêmeas
mero de vacas que participam anualmente nem sempre é fácil e rápido (PEREIRA, F1 HZ, demonstra que o peso médio ao
supera a 2 milhões. 1998). Dessa forma, além do potencial primeiro parto é de 451 kg, sendo inferior
Melhorar o rebanho significa introduzir genético, é necessário atenção às condições aos 488 kg recomendados, caso os animais
ou modificar uma série de tecnologias ou de manejo e de alimentação do rebanho, tivessem peso à idade adulta de 575 kg.
processos que possibilitem mudar deter- pois, se estiverem inadequadas, o animal Segundo dados de Ruas et al. (2005),
minadas características, como resistência não será capaz de expressar todo o seu obtidos na Fazenda Experimental de Felix-
a parasitas, nutrição, adaptação ao clima potencial. Em resumo, para que o animal lândia (FEFX) da EPAMIG Centro-Oeste,
da região, morfologia e produção de leite, selecionado seja produtivo, este deverá ser as primíparas são menos eficientes, tanto
de acordo com os objetivos do criador. A bem manejado, para que as condições de em produção de leite quanto em retorno
produção de leite ocorre por mecanismos criação não interfiram de forma negativa à atividade reprodutiva. Parte desse de-
fisiológicos que podem ser influenciados na sua produtividade. sempenho inferior ao das multíparas seria
por fatores genéticos e ambientais. Do explicado pela entrada antecipada na fase
PRÁTICAS DE MANEJO reprodutiva, com peso inferior ao deseja-
ponto de vista genético, a produção de leite
sofre variações por causa das diferenças do, como discutido no parágrafo anterior.
genéticas entre raças e entre indivíduos da Peso ao parto e adaptação Como o animal de primeira cria precisa,
à ordenha além de produzir leite, completar seu de-
mesma raça (PEREIRA, 1998).
O objetivo do cruzamento entre A produção de leite de vacas mestiças é senvolvimento durante a primeira lactação,
animais da raça Holandesa e zebuínos influenciada por vários fatores, como gené- há prejuízo em relação ao potencial para
é obter melhoramento genético rápido, tica, nutrição, condição corporal ao parto, produção de leite.
aproveitando as diferenças potenciais de ordem de parto, presença do bezerro e até Os dados do Quadro 1 demonstram,
cada uma dessas raças, ou seja, exploran- mesmo adaptação ao sistema de ordenha. ainda, que vacas F1 com base materna
do as vantagens dos efeitos da heterose, Dentre estes fatores, o peso e a condição Guzerá são em média mais pesadas que as
que permitem a obtenção de indivíduos corporal ao parto são essenciais para as de base Gir ou Azebuada, sendo plausível
adaptados às condições de criação do vacas primíparas. Em razão de estarem admitir que o peso ideal à cobertura e ao
Brasil (PEREIRA, 1998). O desempenho em crescimento, estes animais apresentam primeiro parto seja diferente e maior que
produtivo dos animais F1 vai depender da exigência nutricional aumentada. o dos outros grupos genéticos de mestiças
qualidade genética dos progenitores (do Wattiaux (1996) estipula meta para as HZ.
touro e da vaca). Portanto, dentro do Pro- raças europeias de 60% e 85% do peso Freitas Junior et al. (2008) avaliaram
grama de Melhoramento Genético em um adulto à cobertura e ao primeiro parto, a produção de leite em vacas que pariram
rebanho F1 HZ é importante utilizar sem- respectivamente, para que a produção de com diferentes escores de condição cor-
pre touros provados tanto para produção leite e a eficiência reprodutiva possam poral (ECC). Esses autores observaram
de leite quanto para outras características ser maximizadas na primeira lactação, e maior produção de leite corrigido para
que se deseja melhorar. A incorporação de também para a redução de problemas ao 3,5% de gordura em vacas com ECC ao
características de importância econômica, primeiro parto. parto maior ou igual a 3,25 (P<0,05), em
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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 83

QUADRO 1 - Peso ao parto de vacas F1 Holandês x Zebu (HZ) Manejo de ordenha


Fonte Peso médio ao parto Ordem de parto Base genética materna A ordenha com presença do bezerro
Ruas et al. (2005) 445 1 Gir para o apojo é prática comum na maioria
das fazendas brasileiras. Segundo Orihuela
Ruas et al. (2005) 467 1 Guzerá
(1990), em rebanhos leiteiros com base
Ruas et al. (2005) 441 1 Azebuado
em raças zebuínas, há necessidade da pre-
Ruas et al. (2005) 478 2 Gir sença do bezerro para estimular a descida
Ruas et al. (2005) 508 2 Guzerá do leite.
Junqueira et al. (2004) estudaram os
Ruas et al. (2005) 491 2 Azebuado
efeitos de dois sistemas de aleitamento
Ruas et al. (2005) 486 3 Gir
sobre a produção de leite. Foram utilizadas
Ruas et al. (2005) 512 3 Guzerá 105 vacas F1 Holandês x Gir, sendo 93
Ruas et al. (2005) 489 3 Azebuado primíparas e 12 multíparas, distribuídas em
dois grupos: animais ordenhados sem be-
Ruas et al. (2007) 447 1 Gir
zerro (aleitamento artificial) e ordenhados
Ruas et al. (2007) 461 1 Guzerá
com bezerro até 60 dias de idade, os quais
Lima et al. (no prelo) 511 ≥2 Azebuado mamavam o leite de um teto após ambas as
ordenhas diárias, além do leite residual. Os
bezerros que mamavam durante as orde-
uma escala de condição corporal de 1 a 5. volumoso de pastagem para silagem de nhas foram mantidos separados por idade,
Esse mesmo grupo de animais apresentou milho. Assim, percebe-se que a produtivi- em piquetes coletivos, e, no momento da
maior perda de ECC no início da lactação dade do animal na primeira lactação está ordenha, eram trazidos ao estábulo para
(P<0,05), o que indica maior mobilização relacionada com sua condição corporal fazer o apojo e mamar. Os bezerros do alei-
de reservas com objetivo de direcionar ao parto, mas também com outros fatores tamento artificial foram criados em abrigos
nutrientes para a glândula mamária. Assim, como manejo e dieta. A adaptação à orde- individuais, do tipo casinha, recebendo 4 L
é importante garantir que o parto ocorra em nha é uma técnica de manejo importante de leite/dia, ração comercial e feno de
boa condição corporal, para que as perdas e pode trazer benefícios, como mostrado capim-tifton-85 à vontade. A produção
de peso seguidas ao parto, durante o balan- por Ruas et al. (2010). O momento do total de leite foi 21% maior nas vacas
ço energético negativo, não prejudiquem a primeiro parto é de grandes mudanças para ordenhadas com bezerros. Este grupo per-
reprodução. a primípara, que precisa se adaptar não só maneceu mais dias em lactação: 251 dias
Ruas et al. (2010) também relatam à ordenha, mas a novos lotes, instalações, contra 216 dias do grupo sem bezerro. O
maior produção em vacas mestiças com dietas e manejos. tempo de ordenha não foi diferente entre
maior peso ao parto. Esses autores obser- Os dados existentes na literatura sobre os grupos (Quadro 2).
varam que as vacas com peso ao primeiro desempenho produtivo e reprodutivo de Brandão et al. (2008) realizaram ex-
parto superior a 500 kg e condicionadas vacas mestiças F1 devem ser utilizados perimento semelhante ao de Junqueira et
ao sistema de ordenha apresentaram maior para reforçar a importância de não se des- al. (2004). Foram utilizadas 75 vacas pri-
produção total na lactação e maior pico cartarem animais de primeira cria por esses míparas e multíparas distribuídas em três
de produção em relação a vacas leves, parâmetros. A maior eficiência dessas vacas grupos (n=25). As vacas do grupo I foram
mansas ou não, e a vacas de mesmo peso F1, após a segunda cria, mostra o potencial ordenhadas sem a presença do bezerro e
não mansas. desses animais e também a necessidade receberam concentrado no momento da
Os efeitos da estação do ano e do volu- de manejo diferenciado para as novilhas limpeza de tetos e ordenha. As vacas do
moso fornecido sobre a produção de leite e primíparas. A garantia de peso ideal ao grupo II tiveram a presença dos bezerros
foram avaliados por Ruas et al. (2007), que primeiro parto, com condicionamento ao apenas para apojo, sendo este retirado da
observaram maior produção de leite em sistema de ordenha e manejo nutricional sala no momento da ordenha. As vacas do
primíparas que pariram na estação chuvosa durante a primeira lactação, que permita grupo III foram ordenhadas com a presen-
em relação à estação seca (P<0,05). Esses à primípara completar seu crescimento e ça constante do bezerro. Os bezerros do
autores acreditam que a menor produção produzir leite sem comprometer a função grupo I foram criados individualmente até
nos partos ocorridos na estação seca pode reprodutiva, são ferramentas importantes 90 dias de idade, receberam 4 L de leite/
ser consequência do estresse das primípa- para aumentar a eficiência de sistemas que dia e tinham acesso a concentrado e feno
ras por serem confinadas e da mudança de utilizam gado F1 HZ. à vontade. Para os bezerros dos grupos II
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84 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

e III, era deixado um teto sem ordenhar teste California Mastitis Test (CMT) a cada presença constante do bezerro durante a
até 90 dias, e, após a ordenha, mamavam 14 dias. Aos 206 dias de lactação, as vacas ordenha, sem afetar a produção total de
o leite residual por 30 min. Após os 90 ordenhadas na ausência do bezerro tiveram leite na lactação e a incidência de mastite
dias só tinham acesso ao leite residual. A maior (P<0,05) incidência de mastite sub- subclínica em vacas mestiças HZ, bem
produção de leite total e a média diária não clínica, quando comparadas às do manejo como o peso corporal dos bezerros no final
foram influenciadas (P>0,05) pela presen- de presença constante do bezerro (P<0,05). da lactação.
ça ou não do bezerro na sala de ordenha Ao mamar o leite residual, os bezerros eli-
Uso de ocitocina em
(Quadro 3), porém, a duração da lactação minam um dos fatores que contribuem para
ordenhas sem bezerro ao pé
foi menor (P<0,05) nas vacas ordenhadas o desenvolvimento de microrganismos na
sem a presença do bezerro, em comparação glândula mamária. De acordo com Brandão O processo normal da ejeção do leite
aos outros dois grupos (Quadro 3). et al. (2008), a presença momentânea do consiste na ativação do mecanismo neuro-
A ocorrência de mastite subclínica tam- bezerro, apenas para promover a ejeção do endócrino, que resulta na liberação de oci-
bém foi avaliada nesse estudo por meio do leite, pode ser utilizada em substituição à tocina na corrente sanguínea pela glândula
pituitária, em resposta a vários estímulos
táteis e/ou exteroceptivos (visão, olfato e/
QUADRO 2 - Tempo gasto (min/animal/dia) em diferentes fases dos sistemas de ordenha ou som dos bezerros e do local da ordenha).
com e sem bezerro A ocitocina liberada promove a contração
Com presença do bezerro Sem bezerro das células mioepiteliais que circundam
Fases de rotina da ordenha
(tempo médio em minutos) (tempo médio em minutos) os alvéolos, resultando na expulsão do
(1)
Prender e soltar o bezerro 2,1 - leite. Segundo Bruckmaier e Blum (1998),
Trazer o bezerro até a vaca 1,5 - entre os estímulos táteis para liberação da
ocitocina, a sucção de leite pelo bezerro
Contenção da vaca e do bezerro 3,0 2,6
é o estímulo mais potente, seguido das
Ordenha 12,1 12,1
ordenhas manual e mecânica.
(2,3)
Tempo total na sala de ordenha 16,5 14,6 Na tentativa de afastar os bezerros no
(1,4)
Tempo do aleitamento artificial - 4,3 momento da ordenha sem prejuízo à pro-
Tempo total 18,7 18,9 dução de leite, alguns produtores utilizam
FONTE: Dados básicos: Junqueira et al. (2004). a aplicação da ocitocina exógena durante
(1)Considerando 15 bezerros no grupo manejado. (2)Soma dos tempos de trazer o bezerro, as ordenhas. Os efeitos dessa prática sobre
contenção e ordenha. (3)Única diferença significativa entre tempos de acordo com os sis- a produção de leite foram estudados prin-
temas de aleitamento (P<0,05). (4)Incluído neste valor o tempo de lavagem de utensílios.
cipalmente em vacas da raça Holandesa,
destacando, até o momento, a ausência de
QUADRO 3 - Produção total de leite (kg) e produção média diária de leite (kg) durante a pesquisas com vacas F1 HZ, apesar de sua
lactação de vacas mestiças Holandês x Zebu (HZ) submetidas a diferentes utilização em grande escala em rebanhos
manejos das crias durante a ordenha mestiços.
Grupos Nostrand et al. (1991) relataram au-
GII GIII mento de 11,6% (849 kg) na produção de
Item GI
(presença do (presença Probabilidade CV
(ausência do leite em primíparas e vacas da raça Holan-
bezerro para constante do
bezerro) desa tratadas com 1 mL de ocitocina exóge-
apojo) bezerro)
Produção total de leite 2.298,8 2.313,9 2.644,1 0,2 29,3 na, imediatamente antes de cada ordenha,
(kg) em relação ao grupo controle. Outros,
como Mačuhová, Tančin e Bruckmaier
Produção média diária 8,8 7,8 8,7 NS 24,3
de leite (kg) (2004), não observaram efeitos positivos
sobre a produção de leite ao adotarem a
Dias em lactação 259,6 b 294,9 a 304,4 a 0,01 19,3 mesma metodologia também em vacas da
raça Holandesa.
Peso dos bezerros 118,9 b 144,4 a 142,2 a 0,05 - Vários mecanismos têm sido propostos
FONTE: Dados básicos: Brandão et al. (2008). para explicar o efeito da administração da
NOTA: Médias seguidas de letras distintas diferem pelo teste SNK (P<0,05). ocitocina exógena sobre a produção de
CV - Coeficiente de variação; NS - Não significativo. leite. Para Knight (1994), o efeito galac-
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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 85

topoético da ocitocina exógena seria em nutrientes usados para a síntese do leite É importante ressaltar que há dife-
consequência do aumento da eficiência (BAUMAN, 1992). renças evidentes quanto à fisiologia da
da remoção de leite. Já para Ballou et al. Os hormônios proteicos apresentam lactação entre animais holandeses e mes-
(1993), a ocitocina exógena pode afetar ação espécie-específica, ou seja, uma mo- tiços, podendo citar o momento do pico de
diretamente a produção ou manutenção de lécula de somatotropina bovina não apre- produção de leite, persistência e duração da
células epiteliais mamárias. senta ação biológica em outras espécies, lactação, entre outras.
É de suma importância ressaltar que, como por exemplo, a humana. Apesar do reduzido número de pesqui-
segundo Mačuhová, Tančin e Bruckmaier A somatotropina utilizada nos re- sas com animais mestiços, os resultados
(2004), o uso da ocitocina exógena em banhos leiteiros – rbST – é produzida a dos estudos comprovam o aumento de
longo prazo pode reduzir a ejeção do leite partir da técnica do DNA recombinante, produção associado à utilização de rbST
após a sua retirada espontânea. A redução que permite a duplicação de moléculas nesse grupamento genético. De acordo com
na remoção do leite, após o uso prolongado naturais de proteínas com alta precisão. A Bauman (1992), a resposta à utilização de
da ocitocina exógena, estaria associada à molécula e o mecanismo de ação do rbST rbST estaria mais associada às condições
menor contratilidade das células mioe- produzido sinteticamente são idênticos ideais de manejo que ao nível de produção
piteliais que circundam os alvéolos, por aos da molécula de somatotropina bovina em si. Há indícios na literatura de que as
intermédio da redução da sensibilidade de produzida pela hipófise. O rbST é uma vacas de menor produção responderiam
seus receptores. das principais biotecnologias difundidas e melhor ao rbST que as vacas de maior
Além disso, a utilização da ocitocina utilizadas em todo o mundo, em razão de produção (SULLIVAN et al., 1988)
exógena durante as ordenhas coloca o sua comprovada capacidade em aumentar Fontes et al. (1997), em estudo desenvol-
rebanho em risco sanitário, uma vez que a produção de leite, sem efeitos adversos vido no Brasil, em rebanho mestiço 1/2 HZ
a maior parte dos produtores faz uso con- à saúde animal e humana. e 3/4 HZ, com média de produção de 14 kg
tínuo da mesma agulha entre diferentes O rbST promove aumento na persistên- de leite, em sistema de dieta completa, com
animais do rebanho, aumentando a trans- cia da lactação e na produção de leite em acesso a pasto no período entre a última e
missão e a disseminação de doenças, como taxas significativas de 10% a 15%, além a primeira ordenha, observaram resposta
as causadas por vírus da leucose bovina, de aumentar a eficiência de produção em em aumento de produção de leite da ordem
entre outras. razão da diluição dos custos de mantença, de 22% com a utilização de rbST. Nesse
ou seja, maior volume de leite por quilo estudo também foram avaliadas variáveis
Efeito da somatotropina de alimento ingerido. Capper et al. (2008) como dosagem de hormônio utilizada, mo-
O hormônio do crescimento ou somato- constataram redução média das exigências mento de aplicação, bem como a resposta
tropina é um hormônio proteico produzido energética e proteica de mantença por uni- entre as composições genéticas estudadas.
naturalmente pelos organismos animal e dade de leite, da ordem de 11,8% e 7,5%, Diferente dos resultados em rebanhos pu-
humano e possui ação direta em vários respectivamente. ros, nos quais os estudos apontaram melhor
tecidos como fígado, músculos e tecido Inúmeras pesquisas foram realizadas resposta para a dosagem de 500 mg de
adiposo, envolvendo o metabolismo de para avaliar a resposta à utilização de rbST, rbST, não houve diferença na produção de
carboidratos, lipídeos, proteínas e mine- desde sua aprovação em 1994. No entanto, leite entre grupos de mestiços tratados com
rais, como também ação indireta mediada a grande maioria da literatura existente dosagens de 250 mg ou 500 mg de rbST.
pelo fator de crescimento semelhante à foi desenvolvida em rebanhos de origem Também não foram observadas diferenças
insulina (IGF-1). As alterações específicas europeia, bem como em situações de clima na resposta em produção entre animais
na glândula mamária incluem aumento na temperado. A partir desses trabalhos foi de- mestiços 1/2 e 3/4 nesse estudo.
capacidade da síntese de leite e aumento terminado um protocolo para utilização do Foi avaliada a resposta à utilização
produto, definido por alcançar melhor de- de rbST em dosagens de 250 e 500 mg,
da manutenção das células secretoras. Este
sempenho produtivo e econômico, e, dessa durante toda a lactação, iniciando aos 40
último efeito é o fator mais importante
forma, generalizado para rebanhos de dife- e aos 63 dias de lactação. Foram utiliza-
responsável pelo aumento da persistência
rentes composições genéticas e diferentes das 101 vacas F1 HZ (15 primíparas e 86
de lactação observado em vacas tratadas
multíparas), sendo os animais distribuídos
com somatotropina bovina recombinante – condições de manejo em todo o mundo.
em cinco grupos:
recombinant bovine somatotropin (rbST). O protocolo utilizado atualmente propõe
A somatotropina exerce controle home- dosagem de somatotropina de 500 mg a) grupo 1: 250 mg, iniciando o trata-
orrético no metabolismo animal, ou seja, de liberação lenta, aplicada a intervalos de mento aos 40 dias da lactação;
altera a distribuição dos nutrientes durante 14 dias, iniciados a partir da nona semana b) grupo 2: 250 mg, iniciando o trata-
a lactação, aumentando a proporção de de lactação. mento aos 63 dias da lactação;
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86 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

c) grupo 3: 500 mg, iniciando o trata- Quanto à ordem de parto, é possível fator a influenciar a magnitude da resposta
mento aos 40 dias da lactação; observar melhor incremento de produção em produção de leite, como pode ser visu-
d) grupo 4: 500 mg, iniciando o trata- de leite, quando considerada somente a alizado na Figura 1. Critérios que consti-
mento aos 63 dias da lactação; resposta de vacas multíparas (Quadro 4). tuem a qualidade do manejo de forma geral
Esse resultado é semelhante ao observado incluem programas de controle sanitário do
e) grupo 5: controle.
em animais puros e em animais mestiços rebanho, boas práticas de ordenha, boas
De acordo com os resultados (Quadro 4), (FONTES et al., 1997; DOHOO et al., condições ambientais e, especialmente,
é possível verificar mais uma vez a eficácia 2003). adequado manejo nutricional.
do rbST em promover respostas significa- Outros fatores sobre a variação na Bauman (1992) relata que fazendas
tivas em aumento de produção de leite em resposta em produção com utilização de com manejo ruim, onde os animais esta-
vacas F1 HZ, e que a utilização da dosagem rbST estariam relacionados com o manejo, vam estressados, subalimentados, e/ou
de 250 mg de rbST apresenta resposta em o status nutricional e a condição corporal doentes alcançaram resposta produtiva
incremento de produção semelhante ou do animal, além da variação individual. desconsiderável e, portanto, não houve
superior a 500 mg, desde que iniciada aos Atenção prioritária deve ser dispensada à vantagem econômica com a utilização
40 dias de lactação. qualidade do manejo, por ser o principal do rbST.
Os resultados do Quadro 4 chamam a
atenção para outras duas variáveis, além
da dose, capazes de influenciar o incre-
Manejo excelente
mento na produção de leite em resposta à
utilização de rbST. Essas variáveis são o
momento do início do tratamento – dias
em lactação (DEL) – e a ordem de lacta- Manejo bom
Resposta em produção

ção (primíparas e multíparas). Para obter


melhor resposta à utilização de 250 mg de
rbST em vacas F1 HZ, o tratamento deve
Manejo mediano
ser iniciado aos 40 dias de lactação (com
os animais em boa condição corporal),
mais cedo que o recomendado para reba-
nhos holandeses. Esse comportamento na Manejo ruim
resposta faz sentido, uma vez que animais 0
mestiços HZ apresentam o pico de lactação
mais cedo, sendo plausível admitir, dessa
forma, que esses animais saiam mais pre-
Dose de somatotropina
cocemente do balanço energético negativo,
Figura 1 - Esquematização do efeito da qualidade do manejo na resposta em produção
direcionando a partir daí os nutrientes
de leite de vacas tratadas com rbST
para reserva corporal em detrimento da FONTE: Dados básicos: Bauman (1992).
produção de leite. NOTA: rbST - Recombinant bovine somatotropin (somatotropina bovina recombinante).

QUADRO 4 - Média de produção de leite na lactação de vacas multíparas e primíparas F1 HZ, que receberam ou não aplicações de rbST
Produção média de Produção média
Incremento da Incremento da
Início da leite de primíparas e de leite apenas de
Grupo Dose produção produção
aplicação multíparas multíparas
(%) (%)
(kg) (kg)
1 250 40 17,2 a 17,8 17,9 a 19,3

2 250 63 15,2 c 4,1 15,9 c 6,0

3 500 40 15,6 c 6,8 16,1 c 7,3

4 500 63 16,5 ab 13,0 17,2 ab 14,7

5 - Controle 14,6 d - 15,0 d -


NOTA: Médias seguidas por letras distintas na mesma coluna diferem entre si pelo teste SNK (P<0,05).

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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 87

Frequência de ordenhas QUADRO 5 - Produção de leite de vacas Holandês x Zebu (HZ) submetidas a diferentes
manejos de ordenha
As mudanças na frequência de or-
Duração da lactação Produção de leite
denhas ao longo de toda lactação e seus Grupo experimental
(dias) (kg/lactação)
efeitos sobre a produção de leite foram
intensamente estudados em rebanhos Uma ordenha diária 288,7 2.151,7 b
compostos por animais da raça Holandesa,
principalmente durante os anos 80 e 90, Duas ordenhas diárias 286,5 2.851,6 a
sendo estabelecida, a partir de então, uma
Uma ou duas ordenhas diárias alternadas 276,4 2.672,0 a
correlação positiva entre produção de leite
a cada 14 dias
e frequência de ordenhas.
FONTE: Dados básicos: Ruas et al. (2006).
Apesar de incipientes as informações
NOTA: Médias seguidas de letras distintas na coluna diferem entre si (P<0,05).
relativas aos impactos sobre a eficiência
produtiva decorrente de uma ou mais or-
denhas extras, em rebanhos compostos de QUADRO 6 - Resumo de trabalhos publicados sobre os efeitos do aumento da frequência
vacas F1 HZ, Ruas et al. (2006) observa- de ordenhas (AFO) no início da lactação sobre produção de leite em vacas da
ram, sem prejuízo para a saúde do úbere, raça Holandesa

aumento de 24,5% (700 kg) na produção Produção


(3)
Esquemas
(1)
Duração
(2)
Probabilidade
total de leite, em vacas F1 HZ submeti- Fonte DEL de leite
de ordenhas do AFO (P)
(kg/d)
das a duas ordenhas diárias, em relação
àquelas submetidas a uma única ordenha Bar-Peled et al. (1995) 6X-3X 42 d 1-42 d 7,3 <0,01
(P<0,05). Além disso, esses autores rela- 42-126 d 5,1

taram para esse mesmo grupo de animais, Sander et al. (2000) 6X-3X 42 d 1-42 d 6,0 <0,05
capacidade de aumento da produção em 42-266 3,7
qualquer fase da lactação, quando os Hale et al. (2003) 4X-2X 21 d 1-21 d 6,8 <0,05
animais passaram a ser ordenhados duas 21-308 d 2,8
vezes ao dia (Quadro 5).
Fernandez (2004) 4X-2X 21 d 1-15 d 3,0 <0,05
O aumento da frequência de ordenhas,
1-270 d 1,5
tradicionalmente, tem sido empregado ao ns
longo de toda a lactação, tanto em animais Dahl et al. (2004) 6X-3X 21 d 1-21 d 8,0 <0,01
da raça Holandesa, quanto em mestiços 21-305 d 5,0

com variada composição genética. Como VanBaale et al. (2005) 6X-3X 21 d 1-63 d -2,3 ns
observado no Quadro 6, estudos recentes 63-308 d -0,6
sobre vacas holandesas relatam aumento Soberón et al. (2010) 4X-2X 21 d ~15 d 4,3 <0,01
na produção de leite em vacas ordenhadas 1-210 d 2,1
mais frequentemente nos primeiros dias
da lactação, com subsequente volta a duas FONTE: Dados básicos: Soberon et al. (2010).
ordenhas diárias, com a persistência desse NOTA: DEL - Dias em lactação; ns - não significativo.
(1)Número de ordenhas a que o grupo tratado foi exposto durante o período de aumento da
efeito após as vacas retornarem a menores
frequência de ordenhas, número de ordenhas a que o grupo controle foi exposto durante
números de ordenhas (SOBERON et al., todo experimento e a que o grupo tratado foi exposto após a conclusão do AFO. (2) Tempo
2010). Nesses casos, o manejo durante as em que se aplicou o aumento da frequência de ordenha. (3) Diferença média de produção
ordenhas geralmente é feito separando os entre vacas tratadas e controle (kg/d).
animais em início de lactação, de forma
que sejam os primeiros a entrarem na sala
menor frequência de ordenha, foi realizado diárias nos primeiros 21 dias da lactação,
de ordenha, retornando à sala no final, o
que resulta em intervalos desiguais entre em vacas da raça Holandesa. Contudo, e subsequente retorno a duas ordenhas até
ordenhas. Lima et al. (no prelo) relatam aumento o final da lactação (250 dias) (Gráfico 1).
A maioria dos estudos que avalia o efei- da produção de leite de 4 kg/d e 1,5 kg/d, Já no estudo em andamento na FEFX,
to do aumento da frequência de ordenhas respectivamente (P<0,01) em vacas mes- em Felixlândia, MG, com primíparas
no início da lactação, seguido do retorno à tiças F1 HZ, submetidas a quatro ordenhas F1 HZ amansadas e não amansadas, em
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88 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

deve considerar ainda aumento no custo


alimentar, custo operacional com hora/
ordenha, tamanho do rebanho e, princi-
25
palmente, o preço pago pelo leite, bem
Y = 17,78 + 1,56 (dias)
1/2
- 0,13 dias
como possíveis efeitos dessa prática sobre
20
2
r = 0,8258
a reprodução, composição e qualidade do
Produção de leite (kg)

leite, incidência de mastite, entre outras. O


15
resultado econômico, a despeito do maior
1/2
custo unitário do leite produzido com duas
10 Y = 12,60 + 2,09 (dias) - 0,15 dias
2
ordenhas diárias em vacas mestiças F1
r = 0,9234
HZ, foi positivo em comparação a uma
5 ordenha (RUAS et al., 2006). Lima et al.
(no prelo) relataram incremento de 33,5%
0 na margem bruta estimada com a venda do
0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 leite, quando vacas mestiças F1 HZ foram
Dias em lactação ordenhadas quatro vezes ao dia durante
as três primeiras semanas de lactação e,
4 ordenhas 2 ordenhas
após esse período, ordenhadas duas vezes
diariamente.
Gráfico 1 - Produção de leite estimada, durante a lactação de 250 dias, de vacas F1 HZ
ordenhadas duas ou quatro vezes nos primeiros 21 dias da lactação��������
, segui- CONSIDERAÇÕES FINAIS
das por duas ordenhas no período remanescente
FONTE: Dados básicos: Lima et al. (no prelo). Apesar de a maior parte das vacas em
rebanhos leiteiros no Brasil ser mestiça,
observa-se pequeno número de pesquisa-
que foi adotada a mesma metodologia celular, com possível redução nas taxas dores e pesquisas voltadas para sistemas
utilizada por Lima et al. (no prelo), foi de apoptose, sendo esta provavelmente de criação com gado mestiço, sendo clara
observado, durante as primeiras sete se- regulada por mecanismos locais sensíveis a necessidade de conhecimento dos pesos
manas da lactação, diferença no pico de ao aumento da frequência de ordenhas. ideais para concepção e parto, assim como
produção (P<0,05). O pico de produção O aumento da atividade celular também de técnicas de manejo e ordenha para esses
ocorreu na quarta semana da lactação em não pode ser descartado, já que Hillerton rebanhos, visando à maximização de sua
todos os grupos, sendo observados valo- et al. (1990) demonstraram elevação da eficiência produtiva.
res de 16,5; 16,5; 19,9 e 19,8 kg de leite, atividade das enzimas acetil CoA car- A utilização da ocitocina exógena
respectivamente, para os grupos: mansa boxylase (13,8%), ácido graxo sintetase durante as ordenhas coloca o rebanho
duas ordenhas, brava duas ordenhas, brava (11,1%), galatosil transferase (17,1%) e em risco sanitário e deve ser evitada para
quatro ordenhas e mansa quatro ordenhas. glicose-6-fosfato dehidrogenase (31,8%), impedir a transmissão e a disseminação
Observa-se aumento de 3,4 kg de leite/dia, consideradas enzimas-chave no processo de doenças.
no pico da lactação, para as primíparas de síntese do leite, em resposta ao aumento Assumindo que não há efeitos nega-
ordenhadas quatro vezes nos primeiros 21 da frequência de ordenhas. tivos sobre saúde animal, desempenho
dias da lactação, em relação às ordenhadas Vários grupos de pesquisa têm carac- reprodutivo ou produtivo da vaca em pos-
apenas duas vezes ao dia (P<0,05) (comu- terizado o ganho econômico obtido com teriores lactações, o aumento da frequência
nicação verbal)4. ordenhas frequentes em vacas da raça de ordenha apresenta-se como ferramenta
De acordo com Soberon et al. (2010), Holandesa. O retorno econômico advindo de manejo de fácil adoção e com grande
a maior produção de leite observada com da maior produção de leite é certamente potencial para incrementar a produção de
o aumento da frequência de ordenhas no importante, mas não é o único fator de- leite já na primeira lactação.
início da lactação e sua manutenção está terminante na decisão de aumentar ou Com o objetivo de aumentar a produ-
relacionada com o aumento da proliferação não o número de ordenhas. O produtor tividade e a lucratividade dos sistemas de

4
Informações obtidas de José Reinaldo Mendes Ruas, pesquisador da EPAMIG, em 2010.

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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 89

produção, o rbST apresenta-se como uma condição corporal ao parto sobre o desempe- aplicado à produção de leite. Belo Horizon-
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90 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

Manejo reprodutivo de vacas mestiças F1 Holandês x Zebu


Bruno Campos de Carvalho 1
José Reinaldo Mendes Ruas 2
Álan Maia Borges 3
Fabiana Cristina Varago 4
Arismar de Castro Menezes 5
José Joaquim Ferreira 6

Resumo - O aumento da produção de leite observado no País, nos últimos anos,


deve-se mais ao número de vacas em lactação, do que à produtividade em si, o
que reflete o baixo desempenho reprodutivo dos rebanhos. Estes são formados, em
sua maioria, por vacas mestiças, que apresentam elevada idade ao primeiro parto
e longo intervalo de partos. Durante a recria, diferentes estratégias nutricionais de
suplementação a pasto podem ser utilizadas, com o objetivo de reduzir a idade de
entrada em reprodução dessas novilhas. Fatores como peso e época de cobrição
também são importantes nos desempenhos produtivo e reprodutivo durante a
primeira lactação. Para que haja rápido retorno à atividade ovariana no pós-parto,
as vacas devem apresentar adequado escore da condição corporal (ECC) ao parto
e pequena variação dessa condição no início da lactação, sendo determinante o
manejo nutricional durante o período pré-parto e lactação. Fatores como base
genética, ordem e época do parto, peso ao parto e sistema de acasalamento influem
no retorno à atividade ovariana e na eficiência reprodutiva de vacas mestiças.
Incremento na eficiência reprodutiva do rebanho pode ser alcançado, se houver
acompanhamento das vacas durante a lactação, com monitoramento do ECC e
do manejo nutricional e identificação das fêmeas em anestro, responsáveis pelo
prolongamento do período de serviço do rebanho.

Palavras-chave: Gado de leite. Reprodução animal. Suplementação. F1 HZ.

INTRODUÇÃO 4,8 milhões de vacas ordenhadas, o que desempenho reprodutivo e a queda na


equivale a uma produtividade anual de qualidade genética dos animais são as
Minas Gerais é, atualmente, o maior 1.476 L/vaca (IBGE, 2006). A produção principais causas da baixa produtivida-
Estado produtor de leite no Brasil, com de leite vem crescendo nos últimos anos, de observada nos rebanhos brasileiros.
produção acima de 7 bilhões de litros por mais pelo aumento do rebanho do que Ainda, o baixo desempenho reprodutivo,
ano. Essa produção, entretanto, baseia-se pela produtividade das vacas ordenhadas. caracterizado por um intervalo de partos
em um rebanho de, aproximadamente, De acordo com Ferreira (2007), o baixo maior que 18 meses, é decorrente de

1
Médico-Veterinário, D.Sc., Pesq. EPAMIG Centro-Oeste - FEFX/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 12, CEP 35794-000 Felixlândia-MG.
Correio eletrônico: bccarvalho@epamig.br
2
Médico-Veterinário, D.Sc., Pesq. EPAMIG Norte de Minas/Bolsista CNPq, Caixa Postal 12, CEP 39525-000 Nova Porteirinha-MG.Correio
eletrônico: jrmruas@epamig.br
3
Médico-Veterinário, D.Sc., Prof. Adj. UFMG - Escola de Veterinária/Bolsista CNPq, Caixa Postal 567, CEP 30123-970 Belo Horizonte-MG.
Correio eletrônico: alanmborges@ufmg.br
4
Médica-Veterinária, D.Sc., Prof. Adj.FEAD - Faculdade de Veterinária, R. Cláudio Manoel, 1.162 - Savassi, CEP 30140-100 Belo Horizonte-
MG. Correio eletrônico: varagovet@hotmail.com
5
Engo Agro, Pesq. EPAMIG Centro-Oeste - FEFX, Caixa Postal 12, CEP 35794-000 Felixlândia-MG. Correio eletrônico: arismar@epamig.br
6
Engo Agro, Ph.D., Pesq. Colaborador, R. Felipe Vasconcelos, 180, CEP 35700-072 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: jucaferreira@epamig.br

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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 91

falhas no manejo geral, sanitário e nutri- de, que é a manifestação do primeiro cio, reduz-se o número de fêmeas em recria
cional do rebanho. determinada pela idade e peso do animal. no rebanho e os custos relativos a esta.
Esse longo intervalo de partos, obser- Esses fatores são interdependentes, ou Entretanto, vale ressaltar a longevidade
vado nos rebanhos mineiro e nacional, seja, é necessário um peso mínimo para a das vacas F1, que podem permanecer no
significa pequeno número de partos (taxa ocorrência do primeiro cio, mas também rebanho por dez ou mais lactações, o que
de natalidade baixa) e início de poucas ter maturidade fisiológica determinada torna pequena a taxa anual de reposição do
lactações a cada ano. As perdas econômi- pela idade. Em raças leiteiras, a puberdade rebanho, em torno de 15%.
cas decorrentes dessa situação são diretas, ocorre quando o animal atinge de 40% a A época da cobrição e, consequente-
ao considerar a menor produção de leite, 50% do peso adulto. O peso recomendado mente, do parto é outra variável de grande
decorrente da baixa porcentagem de va- à primeira cobrição é de 50% a 60% do importância em sistemas de recria de novi-
cas em lactação no rebanho e os custos peso adulto (HEAD, 1992). Teodoro et al. lhas a pasto. Quando a cobrição é realizada
de manutenção daquelas improdutivas. (1984) relataram a puberdade em novilhas durante o verão, boa parte da gestação das
Além disso, têm-se as perdas indiretas, que F1, aos 334 kg de peso vivo, na idade de novilhas transcorrerá durante o período
determinam baixa eficiência reprodutiva, 23,83 meses. Assim, de forma geral, tem- seco, com reduzido ganho de peso durante
principalmente em função da má nutrição, se a recomendação de respeitar um peso a gestação, por causa da menor qualidade
que afeta a produção média de leite das mínimo à cobrição de 350 kg. De acordo e disponibilidade das pastagens. Por outro
vacas em lactação, e da sanidade, que eleva com o manejo nutricional durante a recria, lado, quando a cobrição ocorre durante o
a ocorrência de doenças da reprodução, as as novilhas podem alcançar esse peso em período seco, o terço final da gestação coin-
quais determinarão maior número de ser- idades mais precoces ou tardias. cidirá com o verão, quando as pastagens
viços por concepção, perdas gestacionais Na recria de novilhas F1, exclusiva- são abundantes e de alta qualidade, com
e maior período de serviço nas vacas do mente em pastagens, avaliou-se o efeito da elevado ganho de peso e, consequentemen-
rebanho. suplementação durante o período seco ou te, maior peso ao parto. O peso ao parto é
A má nutrição é a maior causa de per- durante o verão sobre sua idade e peso à fator importante na duração do primeiro
das reprodutivas em rebanhos leiteiros. A período de serviço de primíparas, que apre-
cobrição. O uso de suplemento proteinado
elevada exigência nutricional das vacas
e energético durante a seca e o verão, res- sentam maior exigência nutricional durante
em lactação ocasiona concorrência entre
pectivamente, aumentou o ganho de peso a lactação, para completar seu crescimento
produção de leite e reprodução, do ponto
na recria e reduziu a idade à cobrição das (RUAS et al., 2007).
de vista metabólico. Quando as vacas não
novilhas F1, uma vez que se utilizou o peso O Gráfico 1 apresenta os resultados
são alimentadas adequadamente no pré e
mínimo de 350 kg, como critério de entrada da época de estação de monta e da classe
pós-parto, tanto o retorno à atividade ova-
em reprodução das novilhas (Quadro 1). de peso à cobrição sobre o peso ao parto,
riana quanto sua fertilidade no pós-parto
Dessa forma, o produtor deve avaliar, o ganho de peso durante a gestação e o
são afetados. Em vacas mestiças, a nutrição
caso a caso, se a antecipação da vida pro- primeiro período de serviço (primíparas).
torna-se mais importante, ao considerar a
dutiva da novilha, com aumento nos custos Observa-se que, independentemente da
variação na alimentação das vacas ao longo
de recria é viável economicamente. Ao classe de peso, as novilhas que emprenha-
do ano, ou seja, pastagens durante a estação
reduzir a idade ao primeiro parto, também ram durante a estação seca pariram mais
chuvosa e suplementação volumosa na
estação seca. Falhas no manejo nutricio-
nal nesses períodos e, principalmente, na QUADRO 1 - Idade (meses) e peso (kg) à cobrição e idade ao primeiro parto (meses) de novilhas
transição entre um período e outro retar- mestiças F1 Holandês x Zebu (HZ), de acordo com o manejo de suplementação
dam o início da vida produtiva da vaca, nas diferentes épocas do ano durante a recria em pastagens de Brachiaria sp.
com aumento da idade ao primeiro parto, Idade ao primeiro
Manejo Idade à cobrição Peso à cobrição
e dificuldade na concepção após o parto, parto

estendendo o intervalo de partos. Sem suplementação 26,1 ± 3,8 a 367,2 ± 29,5 a 35,4 ± 3,9 a

MANEJO REPRODUTIVO Um verão 24,7 ± 4,2 ab 369,6 ± 30,2 a 34,1 ± 4,2 ab


DE NOVILHAS E VACAS
Uma seca 23,1 ± 4,3 b 356,8 ± 28,6 a 32,3 ± 4,4 b
PRIMÍPARAS F1
A recria de novilhas F1 deve ter como Uma seca e um verão 22,2 ± 3,4 b 364,9 ± 41,6 a 31,6 ± 3,4 b
objetivo reduzir a idade ao primeiro parto, FONTE: Dados básicos: Ruas et al. (2004).
mas a baixo custo. O estabelecimento da NOTA:Médias, na mesma coluna, seguidas de letras distintas, diferem pelo teste SNK
função reprodutiva dá-se com a puberda- (P<0,05).

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92 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

600
507,3 a
473,2 a
500 443,4 a 433,6 b
406,6 b
378,5 b
400

300
197 b
200 159 b 168 b

105,6 a 115,4 a 115,3 a


97 a 106 a 97 a
100 42,3 b 47,3 b
28,7 a

0
Seca Águas Seca Águas Seca Águas

322 a 345 347 a 375 376 a 410

Peso ao parto Ganho de peso Período de serviço

Gráfico 1 - Peso ao parto, ganho de peso durante a gestação e período de serviço no primeiro parto de vacas mestiças F1 Holandês x
Zebu (HZ) de diferentes classes de peso, submetidas a estações de monta durante a estação seca ou das águas
FONTE: Dados básicos: Ruas et al. (2004) e Carvalho et al. (2004).
NOTA: Médias, para a mesma variável, dentro de cada classe de peso, seguidas de letras distintas, diferem (P<0,05) pelo teste SNK.

pesadas (P<0,05) do que aquelas da estação nutrição dos animais, que retomaram mais O ECC é uma classificação que indica
das águas (verão), consequência de um precocemente a atividade ovariana. o quanto a vaca está magra ou gorda, ge-
maior ganho de peso durante a gestação, ralmente numa escala de 1 a 5, pela qual
o que refletiu em menores períodos de EFICIÊNCIA REPRODUTIVA DE se avaliam suas reservas corporais. O
serviço (CARVALHO et al., 2004; RUAS VACAS F1 acompanhamento do ECC é a ferramenta
et al., 2004). mais importante no controle das efici-
Ao avaliar o efeito da época do ano A eficiência reprodutiva de vacas leitei- ências reprodutiva e produtiva de vacas
sobre o peso ao parto e período de serviço ras depende de adequada nutrição no pré leiteiras. A vaca passa por um período de
de primíparas F1 Holandês x Zebu (HZ), e pós-parto. No pós-parto, as exigências mobilização de reservas corporais, duran-
Ruas et al. (2007) observaram peso médio nutricionais de vacas leiteiras são elevadas te o início da lactação, e por um período de
ao parto de 475,19 ± 39,81 kg nas primí- e coincidem com um período de baixo con- deposição de reservas corporais, durante
paras paridas durante a estação seca, maior sumo de alimentos e elevada produção de os terços médio e final de lactação. Um
(P<0,05) que os 420,67 ± 37,80 kg daquelas leite, o que determina um período de balan- dos objetivos do manejo nutricional e re-
paridas durante a estação chuvosa. O perío- ço energético negativo durante o início da produtivo do rebanho é não permitir que
do de serviço foi menor nas vacas paridas na lactação, ou seja, a vaca gasta mais energia a vaca perca excessiva condição corporal
estação seca (mais pesadas), 132,02 ± 91,94 para a produção de leite do que é capaz no início da lactação, o que indica nutri-
dias, do que naquelas mais leves, paridas
de ingerir pelos alimentos. O resultado ção deficiente, e garantir que, durante a
na estação chuvosa, que foi 190,07 ± 77,27
desse balanço é a mobilização de reservas lactação e o período seco, a vaca acumule
dias. A diferença observada na duração do
corporais, principalmente de gordura, para reservas, para que chegue ao próximo
período de serviço reflete não só o maior
atender ao déficit energético. A duração e a parto em condição corporal adequada. Em
peso ao parto, como também um melhor
intensidade dessa mobilização de reservas vacas mestiças, recomenda-se condição
manejo pré-parto e uma melhor nutrição no
pós-parto, fatores de extrema importância corporais são fatores mais importantes, que corporal ao parto entre 3,5 e 4, e espera-se
na determinação da eficiência reprodutiva. determinam quanto tempo a vaca levará que estas vacas não percam mais de 0,5
As primíparas paridas durante a estação para retornar ao cio após o parto. Por isso, ponto de escore nos primeiros 90 dias de
seca passaram a gestação durante a estação o acompanhamento da variação ECC, lactação (CARVALHO, 2009).
chuvosa e o início da lactação coincidiu durante a lactação, é importante no ma- Em vacas mestiças, ao contrário do que
com o início da suplementação volumosa nejo reprodutivo e nutricional do rebanho ocorre em vacas de raças especializadas
no período seco, o que propiciou melhor (FERREIRA, 2007). para produção de leite, ocorre aumento da
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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 93

condição corporal durante o período seco ao parto foi maior ou igual a 3,25, e 83,3%, agir de forma positiva ou negativa e, em
pré-parto. Durante a estação chuvosa, Car- quando esta condição foi menor que 2,5. vacas em lactação, podem agir de forma
valho et al. (2009a) observaram aumento do Além da condição corporal ao parto, a conjunta ou não. Assim, não adianta um
ECC e do peso ao parto nas vacas mestiças variação da condição corporal no início da adequado manejo pré-parto, que assegure
F1 mantidas em pastagens de braquiária e lactação também interfere na reprodução, adequada condição corporal ao parto (efei-
suplementadas com 2 kg de concentrado no uma vez que reflete de forma indireta o to estático positivo), se a nutrição no início
pré-parto (Quadro 2). O ECC passou de uma balanço energético negativo (BEN). A da lactação for deficiente e determinar
média de 3,44, no início do pré-parto, para primeira ovulação acontece nos primeiros severo BEN (efeito dinâmico negativo).
3,93 ao parto nas vacas suplementadas, en- 30 dias pós-parto em vacas que perderam
Tampouco adianta uma excelente nutri-
quanto as vacas do grupo controle pariram menos de 0,5 unidade de ECC, enquanto
ção no início da lactação (efeito dinâmico
com ECC médio de 3,58. Durante a estação aquelas que perderam mais de uma unidade
positivo), se as vacas parirem com con-
seca, esses autores observaram ECC médio requereram período maior para a primeira
dição corporal deficiente (efeito estático
de 3,8 no início do pré-parto, quando as ovulação de, aproximadamente, 50 dias
(BUTLER, 2000). negativo) (DISKIN et al., 2003). As duas
vacas começaram a receber suplementação
A duração do anestro pós-parto é in- situações determinarão longo período para
volumosa com silagem de milho. Da mesma
fluenciada principalmente pela nutrição, a primeira ovulação no pós-parto. Assim,
forma que observado na estação chuvosa, a
que atua de forma estática e dinâmica. O a eficiência reprodutiva de vacas mestiças
suplementação com concentrado, na estação
efeito estático refere-se a uma ação de lon- depende de adequado ECC à secagem e ao
seca, aumentou o ECC ao parto, que foi, em
go prazo, evidenciada, por exemplo, pelo parto e adequados manejos nutricionais no
média, 4,39 nas vacas suplementadas com
ECC, que reflete o acúmulo de reservas pré-parto e durante a lactação.
2 kg de concentrado e de 4,17 naquelas su-
plementadas apenas com silagem de milho corporais. Por outro lado, o efeito dinâmico
Restabelecimento da
(Quadro 2). da nutrição diz respeito ao atendimento função reprodutiva
De acordo com Wiltbank et al. (2006), imediato das exigências nutricionais, como no pós-parto
a porcentagem de vacas da raça Holandesa durante o início da lactação, quando as va-
de alta produção, em anestro pós-parto, au- cas passam por um período de BEN. Tanto Após o parto, alguns eventos fisio-
mentou 8,3%, quando a condição corporal o efeito estático como o dinâmico podem lógicos são necessários para o restabe-
lecimento da função reprodutiva, sendo
o primeiro a involução uterina completa
QUADRO 2 - Peso (kg) e escore da condição corporal (ECC) no início do período pré-parto, que, em vacas mestiças F1 HZ pluríparas,
peso ao parto e ECC ao parto de vacas mestiças F1 Holandês x Zebu (HZ)
ocorre em torno dos 25 dias pós-parto
durante as estações chuvosa e seca, suplementadas ou não no pré-parto com
(CARVALHO, 2009). Além disso, é ne-
2 kg de concentrado
cessária a retomada da atividade ovariana
Variável Tratamento Estação chuvosa Estação seca luteal cíclica, que ocorre após o período
Peso no início do pré-parto(kg) Suplementação 558,76 ± 49,24 554,13 ± 60,85
variável de anestro pós-parto. Este é o
Controle 541,46 ± 45,66 545,46 ± 59,94
período em que não há ovulações, mas
observam-se, nos ovários, crescimento e
Média 553,40 ± 48,29 551,08 ± 59,84
regressão de diferente número de ondas
ECC no início do pré-parto Suplementação 3,47 ± 0,24 3,76 ± 0,37
foliculares. Essas ondas apresentam fo-
Controle 3,37 ± 0,21 3,76 ± 0,37 lículos dominantes, que atingem diâmetros
Média 3,44 ± 0,23 3,80 ± 0,34 cada vez maiores, até que ocorra a primeira
Peso ao parto (kg) Suplementação 541,21 ± 52,38 C 548,86 ± 56,08 ovulação. Em vacas mestiças, paridas du-
Controle 519,00 ± 46,60 D 529,38 ± 56,78 rante a estação chuvosa, a primeira ovulação
Média 541,21 ± 52,38 541,86 ± 56,08 ocorreu, em média, aos 51 dias pós-parto,
ECC ao parto Suplementação 3,93 ± 0,40 E 4,39 ± 0,36 E após a sucessão de cinco ondas de cresci-
Controle 3,58 ± 0,32 F 4,17 ± 0,29 F mento folicular, enquanto que durante a
Média 3,82 ± 0,40 4,32 ± 0,35 estação seca a primeira ovulação ocorreu
em média aos 44 dias pós-parto, após a
FONTE: Dados básicos: Carvalho et al. (2009a).
sucessão de quatro ondas de crescimento
NOTA: C,D - Médias na mesma coluna para a mesma variável, seguidas de letras distintas,
diferem entre si pelo teste SNK (P<0,05). E,F - Médias na mesma coluna para folicular (Quadro 3). Observam-se, entre
a mesma variável, seguidas de letras diferentes, diferem pelo teste de Wilcoxon as épocas do ano, diferenças na dinâmica
(P<0,05). de crescimento folicular. Os folículos
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94 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

dominantes da primeira e da segunda O Gráfico 2 representa o retorno à onda folicular, com o decorrer do pós-
ovulações pós-parto alcançam maiores atividade ovariana de uma vaca mestiça parto (CARVALHO, 2009). A primeira
diâmetros durante a estação seca. Es- F1 e mostra a sucessão de quatro ondas de ovulação ocorre, geralmente, após uma
ses achados novamente evidenciam a crescimento folicular até a primeira ovu- onda de rápido crescimento folicular, o
influência da nutrição sobre o desenvol- lação aos 36 dias pós-parto. Observa-se que pode refletir uma maior pulsatilidade
vimento folicular de uma vaca mestiça o aumento gradual do diâmetro máximo do LH, responsável pelo crescimento e
(CARVALHO, 2009). do folículo dominante e da duração da maturação final do folículo dominante e
que limita a ovulação no pós-parto (BU-
TLER, 2004). Após a primeira ovulação,
QUADRO 3 - Características reprodutivas relacionadas com a primeira e a segunda ovulações observa-se a ocorrência de um primeiro
pós-parto de vacas mestiças F1 Holandês x Zebu (HZ) com parição na estação intervalo interovulatório de 10,5 dias de
chuvosa ou na estação seca
duração, ou seja, o estabelecimento de
Característica Estação chuvosa Estação seca ciclo curto antes da próxima ovulação,
caracterizado por uma fase luteal curta
Primeira ovulação (dias) 51,56 ± 23,30 44,56 ± 17,69 (CARVALHO, 2009).
A ocorrência de ciclos curtos foi ob-
Número de ondas pré-ovulatórias 5,30 ± 2,88 4,33 ± 2,11
servada em 85,4% (35/41) das vacas que
Duração da 1a onda pré-ovulatória (dias) 8,98 ± 2,31 9,57 ± 1,59 ovularam nos primeiros 90 dias pós-parto.
Esses ciclos curtos caracterizam-se por
Diâmetro máximo do folículo ovulatório (cm) 1,62 ± 0,21 a 1,77 ± 0,26 b uma primeira ovulação sem a manifes-
tação aparente de cio, seguida por uma
Ondas do primeiro intervalo interovulatório (no) 1,17 ± 0,49 1,17 ± 0,38
segunda ovulação após 10,5 dias, carac-
Duração da 2a onda folicular pré-ovulatória (dias) 7,52 ± 1,53 7,94 ± 1,80 terizando o ciclo de curta duração. Na
segunda ovulação, também, observa-se a
Diâmetro máximo do segundo folículo ovulatório (cm) 1,59 ± 0,18 a 1,73 ± 0,16 b normalização da expressão do comporta-
FONTE: Carvalho (2009). mento de cio, e todas as vacas avaliadas
NOTA: Médias, na mesma linha seguidas de letras distintas diferem entre si pelo teste F manifestaram cio precedendo a segunda
(P<0,05). ovulação (CARVALHO, 2009).

Vaca 46
20,00
1a ovulação 2a ovulação
Diâmetro folicular (mm)

População folicular

15,00

10,00
25

5,00

0,00 0
3
5
7
9
11
13
15
17
19
21
23
25
27
29
31
33
35
37
39
41
43
45

Dias pós-parto
<6 6a9 >9
1o maior
1º maior 2o maior
2º maior 3o maior
3º maior 4o maior
4º maior

Gráfico 2 - Dinâmica de ondas de crescimento folicular no pós-parto até a primeira ovulação e durante o primeiro intervalo interovu-
latório da vaca 46
FONTE: Carvalho (2009).
NOTA: As linhas coloridas representam os quatro maiores folículos presentes nos ovários ordenados por tamanho. As linhas verdes
representam as ondas foliculares. As áreas em cinza representam a população de folículos ovarianos até 6 mm, de 6 a 9 mm
e acima de 9 mm de diâmetro.

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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 95

Foi observado anestro em 19,61% rentes em suas descendentes F1, como mino de seu crescimento corporal, como
(10/51) das vacas mestiças F1, após 90 tamanho corporal, potencial de produção mencionado. Assim, peso inadequado ao
dias de acompanhamento diário por ul- de leite e eficiência reprodutiva. Vacas com parto, associado a falhas no manejo geral
trassonografia dos ovários no pós-parto. A menor potencial para produção de leite dos animais, pode ter ocasionado os longos
ocorrência do anestro não foi relacionada podem apresentar maior fertilidade, pois, períodos de serviço observados no primei-
com fatores como peso ao parto, ECC ao do ponto de vista nutricional, é mais fácil ro parto (Quadro 4).
parto ou produção de leite no início da lac- atender suas demandas energéticas, o que O Gráfico 3 demonstra a relação entre
tação das vacas avaliadas (CARVALHO, acarretará em rápido retorno à atividade o peso ao parto e o período de serviço de
2009). De acordo com Wiltbank et al. ovariana pós-parto. Ao contrário, nas vacas vacas mestiças F1 HZ, das bases gené-
(2006), parece haver resposta individual em maior potencial de produção de leite, ticas Gir, Guzerá e Nelore, da primeira
no retorno à atividade ovariana, que pode com maior exigência nutricional, é mais à sexta ordens de parto. Observa-se, de
refletir variações de vaca para vaca no provável que o BEN, observado no início forma comum nas três bases genéticas, o
BEN e na ingestão de matéria seca (MS), da lactação, seja mais severo e de maior aumento do peso ao parto da primeira à
no início da lactação. duração, fazendo com que as vacas demo- quarta ordens de parto, quando este tende a
rem um pouco mais a retornar à atividade estabilizar-se, exceto para vacas F1 Holan-
FATORES QUE AFETAM A ovariana. Contudo, quando a nutrição não dês x Nelore, que continuam a apresentar
EFICIÊNCIA REPRODUTIVA é limitante, as vacas conseguem expressar aumento no peso até o sexto parto. Por
sua fertilidade, mesmo com maiores poten- outro lado, observa-se redução do período
Base genética e ordem de de serviço entre o primeiro e o terceiro
ciais para a produção de leite.
parto partos. Entretanto, chama a atenção, a di-
A ordem de parto, ao contrário da base
Vacas F1 podem ser produzidas a partir genética, afetou a fertilidade dos animais, ferença de peso entre as bases genéticas no
do cruzamento da raça Holandesa com dife- uma vez que se observou menor período sexto parto. Como o critério de entrada em
rentes raças ou cruzamentos zebuínos, com a de serviço nas vacas de maiores ordens reprodução foi o peso mínimo de 350 kg e
produção de uma fêmea HZ. A EPAMIG vem de parto (Quadro 4). A explicação para tal o manejo dos animais foi semelhante até
avaliando, nos últimos anos, o desempenho fato baseia-se em peculiaridades das vacas o parto, os pesos observados ao primeiro
produtivo e reprodutivo de vacas F1 a partir primíparas. O primeiro parto representa um parto foram semelhantes entre as bases ge-
de diferentes bases zebuínas, como a Gir, a período de transição, em que as novilhas, néticas. Contudo, o crescimento das vacas
Guzerá, a Nelore, o composto Zebu leiteiro além de iniciarem sua primeira lactação, após o primeiro parto diferiu entre as bases
e o cruzamento Gir x Nelore. No Quadro 4, são submetidas a grandes mudanças de genéticas, sendo maior nas de base Guzerá
constam os valores do período de serviço de manejo, e têm que se adaptar à ordenha, à e Nelore. Essa diferença de peso à idade
vacas F1 das bases genéticas Gir, Guzerá, nutrição e ao convívio com outras vacas do adulta, como demonstrado no Gráfico 3,
Zebu e Nelore, da primeira à quarta ordens rebanho em lactação. Essas mudanças, caso pode justificar o longo período de serviço
de parto. Observa-se que não houve efeito da não sejam bem conduzidas, causam es- evidenciado nas primíparas, bem como a
base genética sobre o período de serviço das tresse nos animais e afetam adversamente menor produção de leite observada para
vacas F1. Contudo, verificou-se influência seu desempenho produtivo e reprodutivo. as vacas de base Guzerá e Nelore, como
da ordem de parto, com redução do período relatado por Ruas et al. (2010).
Independentemente dessas características,
de serviço do primeiro para o quarto parto. as primíparas constituem uma categoria Época do parto
Embora a raça paterna seja a mesma, mais exigente do ponto de vista nutricional,
a Holandesa, as diferentes bases genéticas uma vez que, juntamente com a lactação, A época do parto é outro fator de grande
Zebuínas imprimem características dife- ainda necessitam de energia para o tér- importância na eficiência reprodutiva de

QUADRO 4 - Período de serviço (em dias) de vacas F1 de acordo com a base genética materna e a ordem de parto
F1 Holandês x Gir F1 Holandês x Guzerá F1 Holandês x Zebu F1 Holandês x Nelore Média
Ordem de parto
(n) (n) (n) (n) (n)
Primeira (n) 167,6 (143) 141,0 (45) 201,5 (31) 126,6 (19) 163,7 a (238)
Segunda (n) 100,0 (132) 82,5 (44) 118,0 (31) 63,6 (19) 96,0 b (226)
Terceira (n) 89,3 (93) 90,0 (38) 98,4 (29) 65,6 (19) 88,4 b (179)
Quarta (n) 76,6 (62) 69,2 (31) 63,4 (14) 53,1 (13) 70,6 c (120)
Média (n) 116,8 (430) 98,3 (158) 129,9 (105) 79,3 (70) 111,3 (763)
FONTE: Silva et al. (2010).
NOTA: Médias seguidas de letras minúsculas, distintas na mesma coluna, diferem (P<0,05) pelo teste SNK.

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96 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

600 200 O Gráfico 4 demonstra o período de


180
serviço de vacas mestiças F1 de acordo
162

Período de serviço (dias)


506 510 512 160
com a época do parto. Vacas que pariram
493
Peso ao parto (kg)

500 476 nos meses de fevereiro/março/abril apre-


140
444 sentaram menor período de serviço, o que
105 120
99 94 é explicado pelo bom manejo pré-parto,
90 92
100
400 durante os meses de maior qualidade e
80
disponibilidade das pastagens. Por outro
60
lado, vacas paridas nos meses de agosto/
300 40
1 2 3 4 5 6 setembro/outubro apresentaram o maior
Ordem de parto - vacas F1 Holandês x Gir período de serviço. Apesar do bom manejo
pré-parto que ocorre nesse período, quando
600 200 as vacas são suplementadas com volumoso,
540 180 o início da lactação coincide com o início

Período de serviço (dias)


530 533
505 514 160
139 do período chuvoso, quando se interrompe
Peso ao parto (kg)

500
140 a suplementação com volumoso e as vacas
466 120 passam a ser alimentadas com pastagens.
88 100 No início do período chuvoso, entretanto,
400 81 78
74 75
80 as pastagens estão em início de brotação e
60 possuem baixo teor de MS, o que limita o
300 40 consumo da vaca. Essa variação no consu-
1 2 3 4 5 6 mo pode provocar o BEN, determinando
Ordem de parto - vacas F1 Holandês x Guzerá maior período de retorno à atividade ova-
600 200 riana e, consequentemente, maior período
571
180
de serviço.
Período de serviço (dias)
Peso ao parto (kg)

524 526 532 As vacas paridas nos meses de maio/


160
500 497 junho/julho apresentam períodos de servi-
127 140
ço intermediários (Gráfico 3). Nesse caso,
120
a época do parto coincide com o início da
400 461 100
suplementação volumosa e o pré-parto
64 65 63 80 ocorre no final do período chuvoso ou no
53 50 60 início da suplementação volumosa. Nos
300 40 meses de novembro/dezembro/janeiro, o
1 2 3 4 5 6
Ordem de parto - vacas F1 Holandês x Nelore parto coincide com o período de maior
qualidade e disponibilidade das pastagens,
Gráfico 3 - Relação entre peso ao parto (kg) e período de serviço (dias) em vacas mes- o que garante adequada nutrição no início
tiças F1 Holandês x Zebu (HZ) das bases genéticas Gir, Guzerá e Nelore, da
primeira à sexta ordens de parto da lactação (SILVA et al., 2010).
FONTE: EPAMIG Centro-Oeste - Fazenda Experimental de Felixlândia (FEFX).
MANEJO REPRODUTIVO DE
VACAS MESTIÇAS F1
vacas F1. Isto porque o sistema de produ- MS e ricas em proteínas e carboidratos
ção baseia-se no uso de pastagens durante solúveis. Com o decorrer desse período, O manejo reprodutivo de vacas mesti-
o período das águas (verão) e mudança de forma geral, observa-se aumento do ças F1 baseia-se no planejamento alimen-
de alimentação ao longo do ano, com su- teor de MS e carboidratos estruturais _ tar ao longo do ano, com programação
plementação volumosa durante o período fibra em detergente neutro (FDN) e fibra do manejo das pastagens e produção de
seco. A alimentação de vacas leiteiras com em detergente ácido (FDA) _, redução nos volumosos para o período seco, além da
pastagens apresenta limitações, quando teores de proteína e carboidratos solúveis suplementação com concentrado, de acor-
se considera sua variação de qualidade e redução do valor nutritivo da forrageira do com a produção de leite. Esse manejo
e disponibilidade ao longo do ciclo pro- (FERREIRA, 2004). Acrescente-se a isso o nutricional é a base do manejo reprodutivo
dutivo. No início do período chuvoso, uso variado de forrageiras, com diferentes e previne as variações no desempenho
observam-se pastagens com baixo teor de valores nutricionais. reprodutivo entre as épocas do ano.
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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 97

Manejo de primíparas
160
Primíparas devem receber atenção 137,4 a
140

Período de serviço (dias)


124,1 b
diferenciada dentro do rebanho. Sempre
120
que possível, devem ser manejadas como 101,5 b 96,5 c
100
um lote à parte das vacas pluríparas, como
forma de minimizar o estresse de mudança 80

de ambiente e grupo social, que ocorre no 60


início da lactação. Com base nos dados de 40
ganho de peso durante a gestação, de acor- 20
do com a época da cobrição (Gráfico 1),
0
e de peso ao parto nas diferentes ordens de
Maio/Jun./Jul. Ago./Set./Out. Nov./Dez./Jan. Fev./Mar./Abr.
parto (Gráfico 3), propõem-se diferentes
pesos à cobrição de novilhas F1 das ba- Época do ano

ses genéticas Gir, Guzerá e Nelore, para Gráfico 4 - Período de serviço de vacas mestiças F1 Holandês x Zebu (HZ) de acordo
garantir que tenham pelo menos 90% do com a época do ano
peso adulto ao primeiro parto (Quadro 5). FONTE: Dados básicos: Silva et al. (2010).
Essas recomendações baseiam-se na recria
das novilhas exclusivamente a pasto, após
QUADRO 5 - Projeção de peso à cobrição e ao primeiro parto de novilhas F1 recriadas em
a cobrição, até sua entrada na maternidade,
pasto, de acordo com a porcentagem do peso adulto de vacas F1 das bases
30 dias antes do parto previsto. genéticas Gir, Guzerá e Nelore, de acordo com a época de cobrição

Sistema de acasalamento Peso ao 1o Peso à cobrição


(1)
Peso à cobrição
(1)
Base genética Peso adulto
parto (seca) (águas)
O sistema de acasalamento é outra
variável de grande importância em reba- Gir 512 90% 461 349 421
nhos leiteiros. A monta natural (a campo
Guzerá 533 90% 480 368 440
ou controlada) e a inseminação artificial
são os métodos mais recomendados para o Nelore 571 90% 514 402 474
acasalamento de vacas leiteiras. A despeito
do melhoramento genético promovido pela (1)Ganho de peso diário durante a gestação de 393 g/dia e de 140 g/dia, respectivamente,
para cobrições realizadas durante a estação seca (maio a outubro) e estação das águas (no-
inseminação artificial, sua adoção requer
vembro a abril).
estrutura mínima de instalações e equipa-
mentos, além de funcionário capacitado
para a realização de todas as suas etapas, das vacas. Em rebanhos leiteiros, a insemi- Oeste, onde se procede observação de cio
principalmente a observação e detecção nação é uma dentre as várias atividades do nas condições descritas, cerca de 30% das
de cio. A eficiência do processo depende inseminador. É comum que a detecção de gestações do rebanho foram decorrentes de
da correta detecção do início do cio, para cio em rebanhos leiteiros não seja sistemá- montas não observadas.
que a inseminação artificial ocorra em tica, não respeitando o período mínimo de O uso de touros em monta natural
momento adequado. Falhas na detecção de
observação de 30 min por lote no início da também apresenta limitações, como risco
cio reduzem a fertilidade da inseminação,
manhã e final da tarde. O que se observa em de acidentes no manejo, possibilidade de
decorrentes também de falhas no horário
muitos casos é essa detecção de cio durante disseminação de doenças venéreas em
em que esta é feita, e ainda reduzem a taxa
o trânsito das vacas entre os pastos ou pista rebanhos com problemas sanitários, custo
de serviço, ou seja, inseminam-se poucas
de alimentação e a sala de ordenha, e durante de manutenção, além de menor ganho
vacas em relação àquelas disponíveis
dentro de um período (CARVALHO et sua permanência em ordenha. Isso implica genético dos animais, com reduzido me-
al., 2009b). a detecção do cio em ambiente inadequado, lhoramento de características de interesse
Falhas na detecção de cio em rebanhos por causa do tipo de piso, e, geralmente, por zootécnico. Entretanto, deve-se ressaltar
leiteiros decorrem de limitação de mão de tempo inferior ao que seria adequado (CAR- o objetivo de cada propriedade, princi-
obra. Ao contrário do que ocorre em rebanhos VALHO et al., 2009b). Em vacas mestiças palmente quando se trabalha com gado
de corte, onde o inseminador tem como fun- em monta natural, na Fazenda Experimental F1 e pretende-se manter o mesmo grau de
ção principal a detecção de cio e inseminação de Felixlândia (FEFX) da EPAMIG Centro- sangue no rebanho. Nesses casos, muitas
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98 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

vezes opta-se pelo cruzamento terminal, quanto ao fornecimento de energia, plasmáticas de hormônios e metabólitos
sendo o uso de touros a mais econômica. proteína e minerais, principalmente o responsáveis pelo desenvolvimento folicu-
Mesmo em rebanhos de raças especializadas fósforo. Em rebanhos mestiços, em que lar normal, como descrito anteriormente,
em produção de leite, com alta prevalência o arraçoamento é feito na sala de orde- e que não são aumentados simplesmente
de falhas de concepção, tem-se considerado nha, de forma individual, uma maneira pelo uso de hormônios para indução da
a monta natural mais econômica, mesmo fácil de melhorar a nutrição das vacas ovulação.
quando se leva em conta seu menor pro- em anestro é aumentar a quantidade
gresso genético em relação à inseminação fornecida de concentrado, acima daquela CONSIDERAÇÕES FINAIS
artificial (CARVALHO et al., 2010). necessária para atender à produção de
Elevada eficiência reprodutiva é
leite. Ou seja, pode-se fornecer 1 kg a
Identificação de vacas em fundamental para o sucesso da pecuária
mais de concentrado para as vacas em
anestro leiteira, o que garante rápido retorno das
anestro. Em rebanhos que trabalham
vacas ao início da lactação, quando são
Em rebanhos de vacas mestiças com o arraçoamento dos animais em lotes,
mais eficientes e produtivas. Em vacas
bom manejo nutricional, espera-se que recomenda-se a alocação das vacas em
mestiças, curtos períodos de serviços e
pelo menos 80% das vacas retornem ao anestro em lote de maior produção de
intervalos de partos compensam sua menor
cio nos primeiros 90 dias pós-parto. Não leite (CARVALHO et al., 2008). Assim,
produtividade, ao proporcionarem maior
sendo o retorno ao cio limitante, o período o maior aporte nutricional melhora o
porcentagem de vacas em lactação no reba-
de serviço vai variar com a taxa de con- perfil metabólico da vaca, com aumento
nho, maior produção diária de leite e maior
cepção à inseminação ou à monta natural, das concentrações de hormônios e me-
número de crias desmamadas para recria
de forma que o sistema de acasalamento tabólitos como glicose, insulina e fator
ou comercialização. Para tanto, é funda-
adotado em cada rebanho garanta alta de crescimento semelhante à insulina
mental um adequado manejo nutricional
fertilidade. Nessas condições, as vacas (IGF-I), que no ovário estimulam o cres-
do rebanho, com sistema de acasalamento
atrasadas passam a ser o alvo do manejo cimento folicular e a ovulação (DISKIN
eficiente e acompanhamento da situação
reprodutivo, como responsáveis pelo et al., 2003).
reprodutiva das vacas em lactação, com
prolongamento do período de serviço. Após a correção do manejo nutricional,
a identificação das vacas em anestro, para
Consideram-se vacas atrasadas aquelas outra opção para o tratamento das vacas
que se corrijam falhas no manejo geral e
não cobertas ou observadas em cio após em anestro é o uso de protocolos hormo-
nutricional e adotem-se medidas adequadas
120 dias pós-parto, ou por ainda estarem nais para indução da ovulação. Em vacas
para antecipar o retorno desses animais à
em anestro pós-parto ou não terem sido mestiças F1 HZ em anestro, instituiu-se
reprodução.
observadas em cio, em rebanhos nos quais um protocolo hormonal com inserção de
se utiliza a inseminação artificial. dispositivo intravaginal de progesterona AGRADECIMENTO
As vacas atrasadas devem ser identifi- no dia zero (D0) e aplicação de 1 mg de
benzoato de estradiol por via intramus- À Fapemig, pelo financiamento das
cadas e submetidas a mudanças de manejo
cular. Sete dias depois (D7), retirou-se o pesquisas que resultaram neste artigo.
ou terapia hormonal, para que restabele-
çam a atividade ovariana. Para tanto, é dispositivo e aplicou-se 0,5 mg de cipio-
REFERÊNCIAS
necessário o acompanhamento do rebanho nato de estradiol por via intramuscular. O
por médico-veterinário, que deve fazer cio foi observado e as vacas inseminadas BUTLER, W.R. Efeito do balanço energético
avaliação ginecológica regular das vacas 12 horas após o seu início. Observou- negativo na fertilidade de vacas leiteiras. In:
se 88,46% (26/32) de cio, com 81,25% CURSO NOVOS ENFOQUES NA PRODU-
atrasadas. É necessário avaliar também
ÇÃO DE BOVINOS, 8., 2004, Uberlândia.
o ECC da vaca, a sua produção de leite e (26/32) de ovulação. A taxa de prenhez
Anais... Uberlândia: Conapec Jr.; Botucatu:
o seu manejo nutricional. Essa avaliação foi 35,48% (11/32) (CARVALHO et al.,
UNESP, 2004. p.39-50
conjunta permite identificar as causas de 2007). Esses resultados mostram a viabili-
________. Nutritional interactions with re-
atraso no retorno à atividade ovariana, dade do uso de protocolos hormonais para
productive performance in dairy cattle.
quais sejam má nutrição, falhas na detecção antecipar o retorno à atividade ovariana
Animal Reproduction Science, v. 60, 61,
de cio ou doenças da reprodução. em vacas mestiças em lactação. Resulta- p. 449-457, July 2000.
Nutrição insuficiente é causa fre- dos satisfatórios com o uso de protocolos
CARVALHO, B. C. Parâmetros reproduti-
quente de anestro em vacas leiteiras e hormonais só serão obtidos quando as vos, metabólitos e produção de leite de va-
a correção do manejo nutricional é uma vacas estiverem em boa condição corporal cas mestiças Holandês x Zebu submetidas
ação indispensável (FERREIRA, 2007). e adequado manejo nutricional, uma vez a dois manejos pré-parto. 2009. 193f. Tese
O manejo nutricional deve ser avaliado que esses fatores afetam as concentrações (Doutorado em Ciência Animal) – Escola de

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100 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 101

Potencial do rebanho leiteiro para a produção de


bovinos de corte
Gustavo Almeida Mendes 1
Vicente Ribeiro Rocha Júnior 2
José Reinaldo Mendes Ruas 3
Marcos Eduardo Pereira Gonçalves 1
Maria Dulcinéia da Costa 4
Luciana Albuquerque Caldeira 5

Resumo - Grande parte da produção brasileira de leite provém de rebanhos mestiços


formados a partir do cruzamento de bovinos leiteiros europeus com bovinos zebuínos,
originando animais adaptados ao clima tropical e capazes de fornecer leite e carne den-
tro de um manejo adequado de criação, denominado Sistema de Produção de Duplo
Propósito, no qual o processo de produção de leite é bastante conhecido e difundido
entre os produtores rurais. Porém, para a viabilização desse Sistema e melhor remune-
ração do produtor, é fundamental que se conheça e se aplique o processo de produção
de carne, utilizando crias dessas vacas mestiças leiteiras, para obtenção de animais para
corte. A pasto, animais mestiços com maior grau de sangue Holandês (3/4 HZ), desti-
nados ao abate, apresentam certas limitações para um bom desempenho de ganho de
peso, com boas características de carcaça. Porém, a utilização de cruzamentos que levem
à produção de bovinos terminais (3/4 ZH) apresenta-se como excelente alternativa para
obter animais adaptados ao clima tropical e com bom desenvolvimento para produção
de carne, sendo imprescindível para complementar a renda em sistemas que utilizam
vacas mestiças para produção de leite.

Palavras-chave: Gado mestiço. Sistema de Produção de Duplo Propósito. Cruzamento


terminal. Cruzamento animal.

INTRODUÇÃO O estado de Minas Gerais é o maior Holandês x Zebu (HZ), com produtivi-
produtor de leite do Brasil e contribui com dade média de 1.489 kg de leite por ano
A produção brasileira de leite vem
registrando uma média de crescimento cerca de 30% da produção nacional. Mais (PRINCIPAIS INDICADORES LEITE
da ordem de 3% ao ano. O Brasil é mun- de 70% dos produtores mineiros são de pe- E DERIVADOS, 2010). Esse tipo de ani-
dialmente o sexto maior produtor de leite, queno porte, com produção média abaixo mal apresenta maior adaptação ao clima
alcançando em 2009 um total de 28.795 t dos 100 L de leite/dia (MINAS GERAIS, tropical, quando comparados aos animais
de leite produzido com menor custo, em 2009). O rebanho mineiro é composto Holandeses puros, que nesse ambiente não
razão de grande parte de sua produção ser de 5.143.700 vacas ordenhadas, sendo conseguem expressar todo o seu potencial
basicamente a pasto. grande a participação de fêmeas mestiças de produção, tornando-se, muitas vezes,

Zootecnista, Mestrando Zootecnia UNIMONTES/Bolsista CAPES/FAPEMIG, Caixa Postal 91, CEP 39440-000 Janaúba-MG. Correio eletrô-
1

nico: gamzootecnia@hotmail.com; marcosegpereira@yahoo.com.br


2
Médico-Veterinário, D.Sc., Prof. UNIMONTES/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 91, CEP 39440-000 Janaúba-MG. Correio eletrônico:
vicente.rocha@unimontes.br
3
Médico-Veterinário, D.Sc., Pesq. EPAMIG Norte de Minas/Bolsista CNPq, CEP 39525-000 Nova Porteirinha-MG. Correio eletrônico:
jrmruas@epamig.br
Médica-Veterinária, D.Sc., Prof a UNIMONTES/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 91, CEP 39440-000 Janaúba-MG. Correio eletrônico:
4

dulcineia.costa@unimontes.br
5
Zootecnista, M.Sc., Prof a UNIMONTES/Bolsista FAPEMIG, CEP 39440-000 Janaúba-MG. Correio eletrônico: luciana.caldeira@unimontes.br

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inviável sua utilização em grande parte dos na qual o produtor busca diversificar seu da exploração da atividade resulta em
sistemas de produção de leite encontrados sistema de produção pela venda do leite das melhor desempenho econômico.
no Estado. Além dos fatores relacionados vacas meio-sangue, concomitantemente à Estudo em 32 fazendas, com pro-
com a maior rusticidade do gado mestiço, é venda de animais destinados ao abate. gramas de assistência técnica em Araxá,
de suma importância ressaltar a capacidade Estratégias como essas podem ser Viçosa e Governador Valadares, revela
de conseguir, por meio de cruzamento entre extremamente viáveis do ponto de vista que para cada 1% de maior especialização
a raça Holandesa e Zebu, uma atividade econômico, quando se observam os preços da fazenda na produção de leite (receita
leiteira sustentável e, ainda, obter animais do leite e da carne correntes no mercado. com leite/receita total), a rentabilidade do
com potencial para abate, gerando uma Todavia, muitos produtores ainda pecam capital investido era reduzido em 0,163%
importante fonte de renda aos criadores no planejamento mais adequado ao seu (HOLANDA JÚNIOR; GOMES,1999).
desse tipo de gado. sistema de produção, dificultando, assim, Segundo a Embrapa Gado de Leite
No entanto, existe uma grande va- a otimização da produção de leite junto (2008), o País perde 360 mil toneladas
riação do nível tecnológico dos sistemas com a obtenção de animais de qualidade de carne/ano por não aproveitar o bezerro
produtivos, que engloba desde controle para o abate. macho, proveniente da atividade leiteira,
dos índices zootécnicos e alimentação Assim, este artigo tem como objetivo para a produção de carne. Em trabalho re-
adequada até a utilização de técnicas de demonstrar as potencialidades do rebanho alizado na Fazenda Experimental de Felix-
melhoramento genético como maneira de leiteiro com vacas mestiças para produção lândia (FEFX) da EPAMIG Centro-Oeste,
alcançar as metas desejadas, de forma que de bovinos destinados ao rebanho de corte. verificou-se a influência da atividade de
os rebanhos, mesmo sendo geralmente cria de bezerros sobre a rentabilidade de
mestiços, apresentem uma considerável VIABILIDADE ECONÔMICA DOS um sistema de produção de leite com gado
heterogeneidade entre si, com diferentes SISTEMAS MISTOS DE PRODUÇÃO mestiço F1 e concluiu-se que, quando não
sistemas de criação e manejo e diferentes DE LEITE E CARNE realizada a cria de bezerros, a rentabilidade
proporções do grau de sangue taurino e No Brasil, os sistemas mistos de pro- desse sistema de produção caiu de 39,07%
zebuíno em sua composição genética, onde dução de leite e carne não apresentam para 24,02%, o que evidencia sua impor-
é possível verificar a presença de animais grande proporção para a obtenção de carne, tância na composição da receita dessa
com frações genéticas que variam desde quando comparados aos sistemas mistos de atividade (COELHO et al., 2004).
7/8 HZ até 7/8 Zebu x Holandês (ZH). diversos países europeus. Por outro lado, Holman (1998) relatou que os Sistemas
A discrepância dos níveis tecnológicos significativa parte do leite produzido no de Produção de Duplo Propósito com gado
adotados, assim como do cruzamento uti- País provém de fazendas mistas, de for- mestiço, nas regiões de baixa altitude da
lizado, está diretamente relacionado com ma que o Sistema de Produção de Duplo Venezuela, com clima quente e úmido,
os objetivos almejados pelo produtor e é Propósito ocupa lugar de destaque na apresentaram margem líquida semelhante
fortemente influenciado pelas constantes produção brasileira de leite (BARBOSA; aos Sistemas com Gado Puro na serra,
oscilações dos preços do leite e da carne, BUENO, 2000). porém os últimos utilizavam investimentos
que direcionam o produtor a tomar esta ou Nas fazendas leiteiras de Minas Gerais, 3,8 vezes maiores.
aquela medida com a finalidade de obter parte importante da receita da atividade de- Segundo Barbosa e Bueno (2000),
maior renda em sua atividade. Assim, corre da venda de animais para corte. Este uma vantagem dos Sistemas de Produção
quando se encontram animais com maior valor varia amplamente entre as diversas de Duplo Propósito é a flexibilidade para
proporção de sangue Holandês (5/8 HZ e regiões do Estado. Na região Central esta regular a produção de leite ou de carne,
3/4 HZ), fica evidente a prioridade absoluta receita é proporcionalmente inferior, já na segundo flutuações dos preços relativos de
de produzir leite com consequente detri- região do Norte de Minas Gerais a renda ambos os produtos. Em momentos em que
mento da qualidade de animais destinados obtida com a venda de animais para corte o preço do leite é desfavorável, os produ-
ao abate, visto que estes serão inferiores na tem papel fundamental na complementa- tores diminuem a produção, reduzindo o
rusticidade e terão maior dificuldade no ção da renda dos produtores, visto que o concentrado, ordenhando o rebanho uma
ganho de peso a pasto, além de serem me- gado leiteiro presente nesta região é me- vez por dia, deixando mais leite para os be-
nos valorizados no mercado de cárneos por nos especializado para produção de leite zerros ou, ainda, soltando-os com as vacas.
questões relacionadas com a composição (SEBRAE-MG; FAEMG, 1996). A produção de leite com vacas F1,
das carcaças. No entanto, quando se têm Segundo Holanda Júnior e Gomes oriundas do primeiro cruzamento entre
vacas meio-sangue HZ, que cruzam com (1998), existe uma alta correlação entre bovinos da raça Holandesa com bovi-
touros de raça Zebuína, o resultado é be- a margem líquida da atividade leiteira e a nos Zebu, é uma prática adotada por
zerro com potencial para um melhor ganho renda oriunda da venda de animais, indi- um crescente número de produtores em
de peso e maior valor comercial, condição cando que o menor grau de especialização várias regiões do Brasil (MADALENA;
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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 103

HOLANDA JÚNIOR, 1998). Segundo ros influencia no seu desenvolvimento. de aptidão para corte apresentassem maior
Barbosa e Bueno (2000), esse esquema Bezerros com maior predominância de rendimento de carcaça.
de reposição contínua de fêmeas F1 HZ sangue europeu, quando criados na mesma Segundo Naves (1998), a aptidão para
pode melhorar a utilização dos sistemas condição de bezerros com menor fração de leite ou para carne, da raça taurina na pro-
mistos de produção de leite e carne no País, sangue europeu, têm seu desenvolvimento dução de animais F1 Bos taurus taurus x
mediante perspectivas de exploração para prejudicado. Zebu afeta o ganho de peso e a qualidade
corte dos machos F1 e 3/4 HZ produzidos. Diferenças de adaptação conferem da carcaça dos produtos, em comparação
vantagens a um ou a outro genótipo, de- com os animais Zebu puros.
ADAPTABILIDADE DOS pendendo das condições onde este deverá Os animais cruzados ganharam mais
ANIMAIS MESTIÇOS se desempenhar, gerando o fenômeno peso que os zebuínos puros, sendo o Ho-
que os melhoristas chamam de interação landês uma das raças de maior ganho. A
Segundo Freitas (1995), as raças Zebu-
genótipo x ambiente. O grau de sangue conversão alimentar dos F1 de Holandês
ínas adaptam-se às condições ambientais
influencia o desempenho dos mestiços x Pardo Suíço foi um pouco melhor que a
adversas, em especial à exposição a perío-
de forma diferente em várias condições. do Zebu, porém pior que a de vários cru-
dos de baixa disponibilidade de alimentos.
Num experimento conduzido em Cuba, zamentos de Zebu com raças Bos taurus
Esta situação beneficia animais de baixa
foram comparados os ganhos de peso taurus de corte. O rendimento da carcaça
exigência de mantença, sobretudo aqueles
de 190 machos inteiros, de quatro graus foi menor nos animais F1 filhos de raças
de baixo metabolismo basal, com órgãos
de sangue HZ, em confinamento, dos taurinas de leite que nos Zebus, que, de for-
e vísceras proporcionalmente menores, e
seis aos 15 meses, com capim-pangola, ma geral, foi menor que nos filhos de raças
menos ativos.
suplementados até os dois anos de idade. de corte. A cobertura de gordura foi menor,
Paulino et al. (1999) ratificam esses
As diferenças entre os graus de sangue e o porcentual de músculo, geralmente, foi
resultados ao verificar maiores teores de
maior nos cruzamentos que no Zebu, como
gordura corporal em zebuínos em relação foram menores em confinamento, onde 5/8,
verificado no Quadro 1.
a mestiços leiteiros, em decorrência da se- 3/4 HZ e Holandês puro ganharam mais do
Estudos que apontem possíveis dife-
leção natural, que leva alguns ruminantes a que 1/4 HZ. Já a pasto, este último genótipo
renças para características de carcaça entre
armazenarem, nos períodos de abundância teve desempenho superior aos outros três,
grupos genéticos de bovinos assumem
e de melhor qualidade dos pastos, reserva sendo que o ganho de peso diminuía com
relevância, quando se busca a implemen-
corporal para manutenção nas épocas de o aumento do sangue Holandês (LÓPEZ;
tação de sistemas eficientes de produção.
escassez alimentar, apresentando maior PLANAS; RUIZ, 1982).
Cruzamentos entre Bos taurus taurus e Bos
probabilidade de sobrevivência que ani- taurus indicus têm-se mostrado vantajosos,
mais menos adaptados. DESEMPENHO, RENDIMENTO E
CARACTERÍSTICAS DE CARCAÇAS porque otimizam o uso de efeitos não
Pereira et al. (2010) realizaram ex- aditivos (heterose) e efeitos aditivos (com-
DE BOVINOS MESTIÇOS
perimento na Fazenda Experimental de plementariedade de raças), principalmente
Sertãozinho (FEST) da EPAMIG Triângulo A carcaça é o principal produto na ex- quanto aos aspectos relacionados com a
e Alto Paranaíba, em Patos de Minas e na ploração de bovinos de corte. A estimativa carcaça (BAKER et al., 1989).
FEFX, com o objetivo de avaliar a influ- do seu rendimento e dos cortes primários é Galvão et al. (1991), ao trabalharem
ência de diferentes ambientes de criação importante para complementar a avaliação com mestiços de raças europeias com
no desenvolvimento de bezerros filhos do desempenho animal durante seu desen- Nelore, encontraram melhores rendimen-
de vacas F1 Holandês x Gir e vacas F1 volvimento (OLIVEIRA, 1999). tos de carcaça para os animais cruzados,
Holandês x Nelore com touro Zebu. Veri- Razook et al. (1986) compararam cru- em relação aos Nelore. Esses autores, no
ficaram que a eficiência de ganho de peso zamentos de seis raças de pai com vacas entanto, mostraram resultados que com-
dos bezerros é fortemente influenciada pelo Nelore. Após 18 meses, 42 machos de cada provaram que o cruzamento da raça Nelore
local de criação, onde tanto os bezerros cruzamento foram terminados a pasto ou com raças taurinas leiteiras tende a reduzir
filhos das vacas F1 Holandês x Gir, quanto em confinamento. Foi observado que os fi- o rendimento de carcaça dos animais.
os filhos das vacas F1 Holandês x Nelore lhos de pai de raças com aptidão para corte Castillo Estrada (1996), ao trabalhar com
ganharam mais peso na FEFX comparados apresentaram maiores pesos vivos e de car- diversos mestiços, confirmou essa ten-
aos bezerros da FEST. Esse fato pode estar caça e melhor conversão alimentar que os dência, uma vez que os mestiços leiteiros
relacionado com a disponibilidade e a qua- Nelores puros. Os cruzamentos com raças apresentaram menores rendimentos e os
lidade dos alimentos ofertados aos bezerros leiteiras apresentaram alto ganho de peso mestiços de corte tenderam a apresentar
na FEFX. Esses autores observaram que em ambos os sistemas de engorda, embora maiores rendimentos, quando comparados
a composição genética de bezerros leitei- o Nelore puro e os cruzamentos com raças a animais Nelore.
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104 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

QUADRO 1 - Diferença porcentual do desempenho de cruzamentos F1 Europeu x Zebu de várias raças, com o Zebu puro para machos em
confinamento1
Pardo Marchigiana Santa
Variáveis Holandês Simental Limusin Canchim Angus Normando Caracu
Suíço ou Chianina Gertrudis

Ganho de peso
(2)
36,6 25,8 12,9 25,6 52,4 11,1 24,3 34,8 16,0 6,2

Conversão alimentar
(2)
-2,6 -2,3 4,1 -8,2 -8,9 -4,7 -3,0 -10,4 -5,8 2,3

Rendimento de carcaça
(3)
-0,3 -0,7 1,0 2,1 1,0 -2,0 -0,5 -1,1

Gordura subcutânea
(2)
-29,8 -40,4 -33,3 -22,2 -34,4 -27,7 -34,0

Tecido muscular (% da carcaça)


(3)
1,3 0,0 2,1 3,6
FONTE: Naves (1998).
(1)Para cada experimento, foram calculadas as diferenças porcentuais com o Zebu e depois calculada a média. (2)100[(F1 (i) – Zebu)/Zebu].
(3)100(F1 (i) – Zebu).

Resultados experimentais, de modo sura de gordura em bovinos castrados pesos de órgãos em bovinos de origem
geral, têm mostrado maiores rendimentos dos grupos genéticos Nelore, Holandês e leiteira. Estes tamanhos têm sido associa-
de carcaça para grupos genéticos originá- mestiços HZ. dos a maiores exigências nutricionais de
rios de raças de corte, quando comparados Animais oriundos de raças de corte mantença desses animais.
àqueles originários de raças leiteiras ou tendem a apresentar maior deposição peri- Na maioria das características ligadas
seus mestiços (CASTILLO ESTRA- férica de tecido adiposo, enquanto animais ao tamanho de órgãos e vísceras, observou-
DA,1996). Jorge (1993) observou maiores provenientes de seleção leiteira buscam se uma escala crescente no tamanho relati-
rendimentos de carcaça em animais Nelore, depositar gordura interna (FERNANDES vo destes componentes corporais, em que
quando comparados com mestiços de ap- et al., 2004). Signoretti et al. (1999b) os animais Nelore (originários de seleção
tidão leiteira. Segundo Fernandes (2004), afirmaram que a raça teve mais influência tipicamente de corte) apresentaram os
animais Nelore apresentam rendimentos sobre a composição corporal que o nível menores tamanhos relativos, seguidos dos
superiores aos grupos genéticos cruzados, nutricional. Diferenças entre os locais de animais 1/2 Caracu x 1/2 Zebu (de origem
que não diferem entre si. Esses resultados depósito adiposo em vários grupos gené- em uma raça de dupla aptidão) e, finalmen-
comprovam a tendência de que animais ticos foram relatadas por vários autores te, dos animais 1/2 Holandês x 1/2 Zebu
de origem leiteira apresentam menores (PERON et al., 1993; VÉRAS et al., 2001; com os maiores tamanhos relativos. Este
rendimentos de carcaça. Também na OWENS et al., 1995; SIGNORETTI et comportamento é coerente com os efeitos
categoria recria, observa-se este mesmo al., 1999a). observados em animais submetidos à sele-
comportamento. Os pesos da cabeça, do couro e do ção leiteira, que tende a privilegiar animais
Berg e Walters (1983) demonstraram trato gastrintestinal também são caracte- com maior desenvolvimento de órgãos
que carcaças de bovinos de raças leiteiras rísticas importantes, responsáveis pelas e vísceras, graças à maior capacidade de
especializadas oferecem maior proporção variações observadas no rendimento de ingestão de alimentos e à maior atividade
de ossos, quando comparadas a carcaças carcaça entre diferentes grupos genéticos metabólica desses animais (FERNANDES
de outros grupos raciais. (OLIVEIRA, 1999). Segundo Weston et al., 2004).
Jorge (1993) observou maior porcen- (1982), o maior rendimento nos zebuínos Jorge et al. (1999) também destacam
tagem de gordura e menor de músculo em pode estar associado aos baixos pesos de a tendência de animais mestiços de raças
animais zebuínos inteiros, comparados aos conteúdo gastrintestinal e vísceras. Peron leiteiras apresentarem massa de órgãos
mestiços. Por outro lado, Peron (1991) não et al. (1993) destacaram a importância dos internos proporcionalmente maior que de
verificou diferença entre animais Nelore, depósitos cavitários e viscerais de tecido animais tipicamente de corte.
F1 Nelore x Chianina, F1 Nelore x Holan- adiposo, afirmando que a distribuição do Grupos genéticos provenientes de raças
dês, F1 Gir x Holandês e 3/4 Holandês x tecido adiposo no corpo animal é função com aptidão leiteira mostraram tamanhos
Gir, quanto às proporções de músculo, da raça e do estado fisiológico e nutricional relativos de órgãos 9% maior, bem como
tecido adiposo e ossos. do animal. maior participação da gordura interna no
Lorenzoni (1984) e Gonçalves (1988) Oliveira (1999) também relatou que total de tecido adiposo corporal (FER-
relataram não haver diferenças na espes- diversos autores têm encontrado maiores NANDES et al., 2004).
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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 105

POTENCIALIDADES E Segundo Moraes (2004), os machos ofertado aos bezerros, até a desmama, foi
LIMITAÇÕES DE BOVINOS nascidos no rebanho leiteiro nacional, em a pastagem durante o verão e/ou silagem
PROVENIENTES DO REBANHO sua grande maioria, são sacrificados ao durante a época da seca, demonstrando que
LEITEIRO PARA PRODUÇÃO nascer ou criados sob condições precárias, esse tipo de animal apresenta bom desem-
DE BOVINOS DE CORTE
apresentando altos índices de morbidade penho para ganho de peso nos Sistemas
O caminho da pecuária de mercado e mortalidade, e os que sobrevivem são de Produção de Duplo Propósito (RUAS
passa, obrigatoriamente, por sistemas de abatidos tardiamente, por volta dos quatro et al., 2007).
produção que privilegiem pastagens de anos de idade. O bezerro terminal tem alcançado
boa qualidade e animais que se mostrem No entanto, em Sistemas de Produção expressivo valor de venda. Condicionado
economicamente viáveis neste regime de de Duplo Propósito é de suma impor- ao lucro proporcionado por litro de leite
criação. Sistemas de produção sustentados tância a agregação de valor dos animais vendido, a receita obtida com a comerciali-
em animais com maior capacidade de adap- destinados ao abate, sendo muitas vezes zação de um bezerro terminal é expressiva.
tação ao ambiente tropical, mais simples e necessário lançar mão de estratégias que No Quadro 3, são mostrados valores de
adequados à realidade vigente, têm condi- visem à obtenção de melhores animais para comercialização de bezerros e bezerras
ções de apresentar resultados econômicos a produção de carne como os cruzamentos terminais (RUAS et al., 2007).
mais competitivos do que outros de maior terminais, que consistem em acasalar vacas Segundo Moraes (2004), a venda de be-
dimensão, apoiados em modelos e estra- leiteiras F1 HZ com touros Zebus puros, zerros ou bezerras com aptidão para produ-
tégias que custam caro. A flexibilidade é gerando animais 3/4 ZH que apresentam ção de carne representa parte significativa
uma das principais características do gado rusticidade e aptidão para gado de corte. da receita da atividade, Sistema de Produ-
mestiço. Sua adequação tanto à produção No Quadro 2 são mostrados dados do de- ção de Duplo Propósito, sendo atribuída a
de leite, quanto à produção de animais de sempenho de bezerros e bezerras terminais. esta grande parcela de contribuição pelo
corte, permite ao produtor ajustar-se com Nesse sistema, ������������������������
bezerros e bezerras ter- expressivo resultado econômico positivo
facilidade às mudanças do mercado e minais receberam, como alimento, o leite obtido pelo sistema.
explica, em parte, ser esse o sistema mais produzido por um teto (sucção direta no Em trabalho realizado por Oliveira
praticado no País (MORAES, 2004). teto), até 80-90 dias de idade e após este (1999), avaliou-se o ganho de peso de
Teoricamente, quanto maior o grau período apenas o leite residual, ao final bovinos mestiços HZ, com peso inicial
de sangue Holandês, maior a produção
da ordenha. O único alimento volumoso de 230 kg, mantidos em pastagens de
de leite/vaca, visto que a raça Holandesa
tem maior especialização leiteira do que a
Zebuína. Porém, quanto mais holandesado QUADRO 2 - Desempenho de bezerros e bezerras terminais, filhos de vacas F1 HZ e de touros
Nelore ou Guzerá ou Gir, durante a fase de cria
o rebanho, mais exigente em trato, mais
suscetível a carrapato, mais sensível ao No de No de Idade CV Peso CV
Sexo
lotes cab./ lote (meses) (%) (kg) (%)
calor, e os animais têm dificuldade em subir
morros muito altos para pastar. Consequen- Macho 23 15 10,3 12,6 189,2 11,5
temente, a partir do grau de sangue 3/4 HZ, Fêmea 5 12 11,9 10,0 179,7 7,8
os animais apresentam certa limitação para
Fêmea 7 20 23,7 16,4 346,7 11,3
ser criados e recriados em sistemas pastoris
FONTE: Ruas et al. (2007).
em clima tropical, dificultando a otimiza-
NOTA: CV - Coeficiente de variação.
ção do potencial leiteiro dessas vacas e o
aproveitamento dos machos para abate.
QUADRO 3 - Dados sobre a comercialização de bezerros e bezerras terminais produzidos por
Estes terão baixo desempenho para ganho
vacas F1 Holandês x Zebu (HZ), acasalados com touros zebuínos de corte ou leite
de peso, além de características de carcaça
Preço da Preço da Valor de Equivalente
indesejáveis pelo mercado, que desvaloriza Sexo arroba em arroba em
CV
venda a litro de
CV
esse tipo de animal. (%) (%)
dólar reais (R$) leite
Torres e Jardim (1975) afirmam que os Macho 18,3 52,3 13,3 331,45 820,6 29,4
mestiços leiteiros, quando comparados às
Fêmea 16,5 46,4 15,5 276,86 704,1 28,4
raças específicas de corte, são menos pesa-
dos, apresentam conformação inferior, são Fêmea 17,3 48,4 17,5 553,19 1.168,3 17,1
animais mais estreitos, menos musculosos FONTE: Ruas et al. (2007).
e com pouco arqueamento de costelas. NOTA: CV - Coeficiente de variação.

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Brachiaria brizantha cv. Marandu, subme- avaliados bezerros filhos de vacas F1 HZ, Em experimento ocorrido na FEFX
tidos a três estratégias de suplementação no das bases maternas Gir e Nelore. avaliou-se o desenvolvimento de bezerros
período das águas e da seca. Os tratamentos Para verificar o efeito da base paterna, 3/4 ZH filhos de vacas F1 HZ, submetidas
consistiram da suplementação diária, em sobre o desenvolvimento dos animais, a diferentes períodos de ordenha e alimen-
dias alternados e de segunda à sexta-feira. foram avaliados bezerros filhos de va- tadas com diferentes volumosos. As vacas
Não houve diferença no ganho de peso cas F1 HZ, provenientes do cruzamento F1 HZ, mães dos bezerros, foram distribu-
dos animais, sendo obtidos valores médios destas com touros das raças Gir, Nelore ídas aleatoriamente em três tratamentos:
de 0,76; 0,71 e 0,74 kg/dia, no período e Holandês. a) Tratamento 1 : pastagens, mais
das águas, e de 0,57; 0,51 e 0,54 kg/dia, O ganho de peso foi ajustado como se 1,250 kg de proteinado por dia e
no período da seca, concluindo-se que a todos os bezerros tivessem a mesma idade ordenhadas até o final da lactação;
redução na frequência de suplementação à desmama. Observa-se, nos Quadros 5 e b) Tratamento 2 : pastagens, mais
pode representar uma opção para o pro- 6, que o peso médio ajustado ao desmame 1,250 kg de proteinado por dia e or-
dutor, visando à redução dos custos do variou em função da raça materna e pater- denhadas até o 200o dia de lactação;
fornecimento da alimentação, pois permite na, em que os bezerros filhos de vacas F1 c) Tratamento 3: volumoso em cocho
maior racionalização da mão de obra na Holandês x Nelore foram mais pesados e ordenhadas até o final da lactação.
propriedade e não afeta o desempenho dos que os filhos de vacas da base materna Gir. Os bezerros foram criados em pique-
animais mestiços. Filhos de touro da raça Holandesa foram tes, e sua alimentação foi constituída de
Em trabalho realizado por Amaral et mais leves que filhos dos touros das raças pastagens no verão e silagem de milho na
al. (2006) na FEFX, no município de Fe- zebuínas. Animais com maior predomi- época seca, além do fornecimento de leite
lixlândia, foram avaliados os parâmetros nância de sangue europeu apresentam até os 90 dias de idade. Os bezerros do
relativos ao desempenho de bezerros e menor desenvolvimento que bezerros com Tratamento 2, após 200 dias de idade, per-
bezerras, produtos de vacas leiteiras F1 predominância de sangue zebuíno, quando maneceram com suas mães. No Quadro 7,
HZ e de touros Nelore ou Guzerá, durante criados no mesmo ambiente (SOARES et verifica-se o desempenho desses animais
o período de cria, em que todos tiveram
al., 2010a). mestiços nos diferentes tratamentos.
acesso direto ao leite de um teto até 102
dias de idade e, apenas ao leite residual, dos
103 aos 294 dias, após cada ordenha. Esses QUADRO 4 - Dados de desempenho de bezerros terminais de corte, produtos de vacas leiteiras
animais foram divididos em dois grupos, F1 HZ e de touros Nelore ou Guzerá, suplementados (T1) e não suplementados
(T2), durante a fase de cria, estendida até os 342 dias
aleatoriamente. O Tratamento 1 recebeu
suplementação constituída de ração de Tratamento
Características avaliadas
diferentes formulações, em quantidades T1 T2
ajustadas a cada uma das fases do período Fase 1
de cria. O Tratamento 2 não recebeu ne- Do nascimento aos 102 dias
nhum tipo de suplementação. Observou-se Peso médio ao nascimento (kg) 34,23 33,98
que, enquanto os bezerros tiveram acesso
Ganho médio diário (kg) 0,400 0,372
ao leite (até 294 dias de idade), não houve
Ganho médio total (kg) 40,89 38,23
efeito significativo da suplementação sobre
o ganho de peso dos animais, como pode Peso médio aos 102 dias (kg) 75,12 71,61

ser verificado no Quadro 4. Fase 2


Concluiu-se que o valor da fração extra Dos 103 aos 181 dias
de peso, ganhado pelos animais suplemen- Ganho médio diário (kg) 0,505 0,368
tados, não foi suficiente para cobrir os Ganho médio total (kg) 39,53 29,51
custos com a suplementação (AMARAL
Peso médio aos 181 dias (kg) 114,74 101,12
et al., 2006).
Fase 3
Outro trabalho realizado na FEST, no
Dos 181 aos 294 dias
município de Patos de Minas, objetivou
avaliar o efeito da base materna e paterna Ganho médio diário (kg) 0,563 0,536
nos pesos à desmama, de bezerros pro- Ganho médio total (kg) 63,50 60,12
venientes de um rebanho leiteiro. Para Peso médio aos 294 dias (kg) 180,56 164,61
verificar o efeito da base materna, foram FONTE: Dados básicos: Amaral et al. (2006).

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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 107

QUADRO 5 - Peso ajustado à média de idade ao desmame (kg) de bezerro e/ou bezerra, bezerros mais leves, comparados aos
filhos de touros Zebus, de acordo com o grupo genético da mãe das vacas das demais ordens. A época do
Grupo genético da mãe n Fêmea n Macho n Média ano em que ocorreu a desmama também
1/2 Holandês x Gir 87 138,49 87 139,74 174 139,12 b influenciou o peso médio ajustado, como
verificado no Quadro 8.
1/2 Holandês x Nelore 52 158,69 50 157,34 102 158,03 a
A ordem de parto influiu no GPD dos
Total/Média 139 146,05 137 146,17 276 146,11 bezerros, com menor ganho observado
FONTE: Soares et al. (2010a). nos filhos das vacas de primeira ordem. A
NOTA: Médias seguidas de letras minúsculas, distintas na mesma coluna diferem pelo teste
época do ano em que ocorreu a desmama
F (P<0,05).
também influenciou o GPD, sendo que os
bezerros que desmamaram entre fevereiro
QUADRO 6 - Peso ajustado à média de idade ao desmame (kg) de bezerro e/ou bezerra, de e abril ganharam mais peso do que os que
acordo com a raça do pai desmamaram nos meses de agosto, setem-
Raça do pai n Fêmea n Macho n Média bro e outubro de acordo com o Quadro 9.
Gir 37 152,57 41 146,99 78 149,64 a Em trabalho que avaliou o ganho de
peso de bezerros machos de origem lei-
Nelore 62 150,94 57 155,15 119 152,96 a
teira com grau de sangue que variava de
Holandês 40 132,43 39 132,17 79 132,30 b 5/8 a 7/8 de Bos taurus, comparados com
Total/Média 139 146,05 137 146,17 276 146,11 bezerros de corte 1/4 Chianina x Nelore,
FONTE: Soares et al. (2010a). em pastagens iguais após a desmama,
NOTA: Médias seguidas de letras minúsculas distintas na mesma coluna diferem pelo teste sendo os primeiros desmamados com ida-
SNK (P<0,05). de média de 9,6 meses, contra 6,9 meses
dos bezerros de corte, verificou-se que a
QUADRO 7 - Peso dos bezerros ajustados para o final do período da avaliação total (PAT), diferença do peso inicial, de 34 kg a mais
ganho de peso total (GPT) e ganho médio diário (GMD) durante o período total para os bezerros de corte, caiu para 13 kg
de avaliação, de acordo com os tratamentos (T1, T2, T3) ao final do experimento, concluindo que
PAT (kg) GPT(kg) GMDT(kg) os machos do rebanho leiteiro constituem
Tratamento n
Média Desvio Média Desvio Média Desvio importante alternativa para a produção de
carne, quando mantidos sob condições
T1 10 137,66 b 11,75 98,76 14,22 0,42 ab 0,69
de manejo que permitem ganhos de peso
T2 10 160,53 a 28,64 119,13 27,70 0,49 a 0,98 pós-desmama da ordem dos 500 g/dia
T3 10 139,43 b 17,76 99,54 14,35 0,40 b 0,42 (MADALENA, 1992).
FONTE: Ruas et al. (2007). Em outro trabalho realizado na FEFX,
NOTA: Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna diferem (P<0,05), pelo teste foram confinadas novilhas 3/4 ZH com
de SNK. dietas com níveis de 0%, 30%, 70% e
100% de substituição da silagem de sorgo
por silagem de capim Brachiaria brizantha
Pode-se verificar que o desenvolvi- se deseja incrementar ganhos de peso nos
mento das crias até os 200 dias de lactação bezerros 3/4 ZH, com vistas à obtenção cv. Marandu, com o objetivo de verificar o
não foi afetado pelo manejo alimentar de um produto de melhor qualidade para potencial desse tipo de animal para ganho
imposto às mães. A permanência constante a produção de carne (RUAS et al., 2007). de peso total (GPT), ganho médio diário
dos bezerros com suas mães, após os 200 Em trabalho realizado por Soares et (GMD) e as características de carcaça. O
dias de lactação (T2), proporcionou maior al. (2010b), na FEFX, avaliou-se o efeito GPT e o GMD foram menores à medida
ganho de peso e, com isso, maior peso à da época do ano e ordem de parto sobre o que se aumentavam os níveis de silagem de
desmama. O manejo de ordenha somente peso à desmama e ganho de peso diário capim Brachiaria brizantha cv. Marandu.
até os 200 dias de lactação em Sistemas (GPD), de bezerros mestiços filhos de va- Já as características de carcaça não apre-
de Produção de Duplo Propósito, com cas meio-sangue HZ, criados em Sistema sentaram diferenças significativas entre os
vacas F1 HZ cruzadas com touro Zebu, de Produção de Leite. Vacas de primeira tratamentos, como pode ser observado no
torna-se uma alternativa viável, quando e segunda ordens de parto desmamaram Quadro 10 (MENDES et al., 2010).
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108 Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite

QUADRO 8 - Peso ajustado para a média de idade ao desmame (kg) de bezerros e bezerras de acordo com o mês de ocorrência do desmame
e da ordem de parto das mães

Ordem de parto n Maio/Jun./Jul. n Ago./Set./Out. n Nov./Dez./Jan. n Fev./Mar./Abr. n Média

1o 16 174,00 65 158,83 40 163,55 42 169,69 163 166,52 b


2 o
33 176,76 46 159,85 53 170,19 59 178,49 191 171,32 b
3 o
26 175,65 46 168,13 49 174,02 61 196,74 182 178,58 a
4 o
24 176,29 33 174,12 32 189,41 45 186,04 134 181,47 a
Total/Média 99 176,19 AB 190 164,45 C 174 174,25 207 183,63 A 670 174,25
FONTE: Soares et al. (2010b).
NOTA: Médias seguidas de letras minúsculas, distintas na mesma coluna, diferem (P<0,05) pelo teste SNK. Médias seguidas de letras
maiúsculas, distintas na mesma linha, diferem (P<0,05) pelo teste SNK.

QUADRO 9 - Ganho de peso diário (GPD) do nascimento ao desmame (kg) de bezerros e bezerras de acordo com o mês de ocorrência do
desmame e da ordem de parto das mães

Ordem de parto n Maio/Jun./Jul. n Ago./Set./Out. n Nov./Dez./Jan. n Fev./Mar./Abr. n Média

1o 16 0,508 65 0,439 40 0,453 42 0,485 163 0,471 b


2o
33 0,507 46 0,442 53 0,472 59 0,505 191 0,482 ab
3o
26 0,495 46 0,467 49 0,482 61 0,568 182 0,503 a
4o 24 0,487 33 0,486 32 0,534 45 0,531 134 0,509 a
Total/Média 99 0,500 AB 190 0,459 C 174 0,485 207 0,522 A 670 0,490
FONTE: Soares et al. (2010b).
NOTA: Médias seguidas de letras minúsculas distintas, na mesma coluna, diferem (P<0,05) pelo teste SNK. Médias seguidas de letras mai-
úsculas distintas, na mesma linha, diferem (P<0,05) pelo teste SNK.

QUADRO 10 - Ganho de peso total (GPT), ganho médio diário (GMD), peso vivo final com jejum (PVFCJ), peso de carcaça quente (PCQ),
peso de carcaça fria (PCF), porcentagem de dianteiro, porcentagem de ponta de agulha, porcentagem de traseiro, quebra
no resfriamento, rendimento de carcaça quente (RCQ), rendimento de carcaça fria (RCF), índice de compacidade e área de
olho de lombo (AOL) de novilhas 3/4 Zebu x Holandês (ZH) alimentadas com dietas com níveis crescentes de silagem de
Brachiaria brizantha cv. Marandu em substituição à silagem de sorgo
Tratamentos/ CV
0% 30% 70% 100% Equação de regressão
Variável (%)
GPT (kg) 106,0000 103,8000 89,6000 81,0000 (1)
Ŷ = 108,3241 – 0,2645X 13,15
GMD (kg) 1,2620 1,2340 1,0680 0,9640 (2)
Ŷ = 1,2891 – 0,0031X 13,08
PVFCJ (kg) 452,1600 449,9500 435,6200 427,6700 Ŷ = 441,35 12,62
PCQ (kg) 226,9200 225,5300 215,3700 210,0300 Ŷ = 219,4625 14,66
PCF (kg) 224,7980 222,5840 211,2700 206,5900 Ŷ = 216,3105 15,13
Dianteiro (%) 39,8340 39,5180 39,7560 39,7740 Ŷ = 39,7205 2,70
Ponta de agulha (%) 12,3920 12,3960 11,8140 11,2580 Ŷ = 11,9650 8,60
Traseiro (%) 47,7760 48,0780 48,8240 48,9600 Ŷ = 48,4095 2,45
Quebra no resfriamento (%) 1,0940 1,2740 1,9400 1,7280 Ŷ =1,5090 72,20
RCQ (%) 50,0060 50,0580 49,4000 48,9980 Ŷ = 49,6155 31,16
RCF (%) 49,486 49,412 48,428 48,166 Ŷ = 48,8730 3,43
Compacidade (kg/cm) 1,7460 1,7160 1,6400 1,6200 Ŷ = 1,6805 11,53
AOL (cm2) 56,2000 63,4000 64,3340 55,4000 Ŷ = 59,8335 14,78
FONTE: Mendes et al. (2010).
NOTA: CV - Coeficiente de variação.
(1)R2 = 95,79 (P < 0,01). (2)R2 = 95,99 (P < 0,01).

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Vacas F1 Holandês x Zebu: produção eficiente de leite 109

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Champaing, v.67, n.5, p.1218-1229, May nia, Viçosa, MG, v.20, n.5, p.502-512, set./
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INSTRUÇÕES AOS AUTORES


INTRODUÇÃO PRAZOS E ENTREGA DOS ARTIGOS
O Informe Agropecuário é uma publicação seriada, periódica, Os colaboradores técnicos da revista Informe Agropecuário devem
bimestral, de caráter técnico-científico e tem como objetivo principal observar os prazos estipulados formalmente para a entrega dos
difundir tecnologias geradas ou adaptadas pela EPAMIG, seus parceiros trabalhos, bem como priorizar o atendimento às dúvidas surgidas ao
e outras instituições para o desenvolvimento do agronegócio de Minas longo da produção da revista, levantadas pelo coordenador técnico,
Gerais. Trata-se de um importante veículo de orientação e informação pela Revisão e pela Normalização. A não-observância a essas normas
para todos os segmentos do agronegócio, bem como de todas as ins- trará as seguintes implicações:
tituições de pesquisa agropecuária, universidades, escolas federais e/ a) os colaboradores convidados pela Empresa terão seus trabalhos
ou estaduais de ensino agropecuário, produtores rurais, empresários excluídos da edição;
e demais interessados. É peça importante para difusão de tecnologia, b) os colaboradores da Empresa poderão ter seus trabalhos excluídos
devendo, portanto, ser organizada para atender às necessidades de ou substituídos, a critério do respectivo coordenador técnico.
informação de seu público, respeitando sua linha editorial e a priori- O coordenador técnico deverá entregar ao Departamento de
dade de divulgação de temas resultantes de projetos e programas de Publicações (DPPU) da EPAMIG os originais dos artigos em CD-ROM ou
pesquisa realizados pela EPAMIG e seus parceiros. pela Internet, já revisados tecnicamente, 120 dias antes da data prevista
A produção do Informe Agropecuário segue uma pauta e um para circular a revista. Não serão aceitos artigos entregues fora desse
cronograma previamente estabelecidos pelo Conselho de Difusão de prazo ou após o início da revisão lingüística e normalização da revista.
Tecnologia e Publicações da EPAMIG, conforme demanda do setor O prazo para divulgação de errata expira seis meses após a data
agropecuário e em atendimento às diretrizes do Governo. Cada edi- de publicação da edição.
ção versa sobre um tema específico de importância econômica para
Minas Gerais. ESTRUTURAÇÃO DOS ARTIGOS
Do ponto de vista de execução, cada edição do Informe Agropecuário Os artigos devem obedecer a seguinte seqüência:
terá um coordenador técnico, responsável pelo conteúdo da publicação, a) título: deve ser claro, conciso e indicar a idéia central, podendo
pela seleção dos autores dos artigos e pela preparação da pauta. ser acrescido de subtítulo. Devem-se evitar abreviaturas, parên-
teses e fórmulas que dificultem a sua compreensão;
APRESENTAÇÃO DOS ARTIGOS ORIGINAIS b) nome do(s) autor(es): deve constar por extenso, com nume-
ração sobrescrita para indicar, no rodapé, sua formação e títulos
Os artigos devem ser enviados em CD-ROM ou pela Internet, no
acadêmicos, profissão, instituição a que pertence e endereço.
programa Word, fonte Arial, corpo 12, espaço 1,5 linha, parágrafo
Exemplo: Engo Agro, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG SM, Caixa
automático, justificado, em páginas formato A4 (21,0 x 29,7cm).
Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
Os quadros devem ser feitos também em Word, utilizando apenas
ctsm@epamig.br;
o recurso de tabulação. Não se deve utilizar a tecla Enter para forma-
c) resumo: deve constituir-se em um texto conciso (de 100 a 250
tar o quadro, bem como valer-se de “toques” para alinhar elementos
palavras), com dados relevantes sobre a metodologia, resulta-
gráficos de um quadro.
dos principais e conclusões;
Os gráficos devem ser feitos em Excel e ter, no máximo, 15,5 cm
d) palavras-chave: devem constar logo após o resumo. Não
de largura (em página A4). Para tanto, pode-se usar, no mínimo, corpo
devem ser utilizadas palavras já contidas no título;
5 para composição dos dados, títulos e legendas.
e) texto: deve ser dividido basicamente em: Introdução, Desenvol-
As fotografias a serem aplicadas nas publicações devem ser re-
vimento e Considerações finais. A Introdução deve ser breve e
centes, de boa qualidade e conter autoria. Podem ser enviadas em
enfocar o objetivo do artigo;
papel fotográfico (9 x 12 cm ou maior), cromo (slide) ou digitalizadas.
f) agradecimento: elemento opcional;
As foto-grafias digitalizadas devem ter resolução mínima de 300 DPIs
no formato mínimo de 15 x 10 cm e ser enviadas em CD-ROM ou g) referências: devem ser padronizadas de acordo com o
“Manual para Publicação de Artigos, Resumos Expandidos e
ZIP disk, prefe-rencialmente em arquivos de extensão TIFF ou JPG.
Circulares Técnicas” da EPAMIG, que apresenta adaptação das
Não serão aceitas fotografias já escaneadas, incluídas no texto, em
normas da ABNT.
Word. Enviar os arquivos digitalizados, separadamente, nas extensões
já mencionadas (TIFF ou JPG, com resolução de 300DPIs). Com relação às citações de autores e ilustrações dentro do texto,
Os desenhos devem ser feitos em nanquim, em papel vegetal, ou também deve ser consultado o Manual para Publicações da EPAMIG.
em computador no Corel Draw. Neste último caso, enviar em CD-ROM NOTA: Estas instruções, na íntegra, encontram-se no “Manual para
ou pela Internet. Os arquivos devem ter as seguintes extensões: TIFF, Publicação de Artigos , Resumos Expandidos e Circulares Téc-
EPS, CDR ou JPG. Os desenhos não devem ser copiados ou tirados de nicas” da EPAMIG. Para consultá-lo, acessar: www.epamig.br,
Home Page, pois a resolução para impressão é baixa. entrando em Publicações ou Biblioteca/Normalização.

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