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Informe Agropecuário
Uma publicação da EPAMIG
v.31 n.254 jan./fev. 2010
Belo Horizonte-MG

Sumário

Editorial .......................................................................................................................... 3

Entrevista . ...................................................................................................................... 4

Manejo da fertilidade do agroecossistema e a sustentabilidade da agricultura familiar


Anastácia Fontanétti e Izabel Cristina dos Santos .............................................................. 7

Produção de alimentos básicos e segurança alimentar: mandioca


Tocio Sediyama, Paula Acácia Silva Ramos e Maria Aparecida Nogueira Sediyama .............. .14
Apresentação
É comum a associação do termo agricultura fa- Produção de feijão: segurança alimentar
miliar à pequena produção, à agricultura de baixa Rogério Faria Vieira, Trazilbo José de Paula Júnior e Hudson Teixeira .................................... 22
renda ou de subsistência. É fato que a necessidade
de produzir para suprir a própria família levou à di-
versificação da produção de alimentos nas peque- A cultura do arroz e a agricultura familiar
nas propriedades rurais. Mas o que antes era uma Vanda Maria de Oliveira Cornélio, Moizés de Souza Reis, Antônio Alves Soares, Plínio César
necessidade, hoje é o grande trunfo da agricultura Soares, Hugo Adelande de Mesquita, Rogério Antônio Silva, Júlio César de Souza, Vanessa
familiar, pois a diversificação é o que possibilita
diminuir perdas e minimizar riscos diante das in- Cristina Oliveira de Souza e Antônio Rodrigues Vieira . ........................................................ 28
certezas do mercado. A evolução da agricultura
familiar no Brasil, nas últimas décadas, colocou-a Importância do milho para a segurança alimentar local e regional
em posição estratégica, tanto para a segurança ali-
Izabel Cristina dos Santos, Anastácia Fontanétti e João Carlos Cardoso Galvão . .................. 36
mentar, quanto para a ocupação de mão-de-obra e
equilíbrio da economia, em nível local e regional.
Porém, em grande parte das propriedades fa- Hortaliças: diversificação de renda e alimentos para a agricultura familiar
miliares, a produtividade ainda é baixa, reflexo
Maria Aparecida Nogueira Sediyama, Sanzio Mollica Vidigal, Marlei Rosa dos Santos,
da dificuldade de acesso à tecnologia e ao crédi-
to rural, especialmente em comunidades isoladas Maria Regina de Miranda Souza e Izabel Cristina dos Santos ................................................. 46
geograficamente. Portanto, os principais entraves
para um trabalho mais abrangente são: a comer- Plantas condimentares: do uso doméstico à comercialização
cialização dos produtos, o isolamento geográfico e
a falta de recursos. Cleide Maria Ferreira Pinto, Cláudia Lúcia de Oliveira Pinto, Izabel Cristina dos Santos e
A pesquisa agropecuária e a extensão rural Andréia Fonseca Silva ...................................................................................................... 62
têm-se esforçado, ao somar conhecimento tecno-
lógico e sabedoria popular, na busca de soluções
sustentáveis para a agricultura familiar, tanto Seringueira: alternativa para geração de renda e recomposição da reserva legal
econômica, quanto ambientalmente. Muitas das Antônio de Pádua Alvarenga e Francisco de Paula Neto ..................................................... 72
tecnologias agropecuárias em uso podem ser apli-
cadas diretamente ou adaptadas às condições das
Insumos alternativos para o controle de pragas e doenças
pequenas propriedades. Pesquisas participativas
têm sido conduzidas e exemplos de sucesso podem Madelaine Venzon, Trazilbo José de Paula Júnior, Cleide Maria Ferreira Pinto, Rafael Macedo
ser encontrados em vários estados do País. de Oliveira e Ítalo Santos Bonomo .................................................................................... 77
Em Minas Gerais, a EPAMIG desenvolve
projetos de pesquisa participativa, cujos resulta-
dos compõem as tecnologias apresentadas nesta Produção e processamento de alimentos de origem vegetal na agricultura familiar:
edição da revista Informe Agropecuário e realiza boas práticas agrícolas e de fabricação
atividades de transferência de tecnologias em to-
Cláudia Lúcia de Oliveira Pinto, Cleide Maria Ferreira Pinto, Izabel Cristina dos Santos,
das as suas Unidades, beneficiando centenas de
agricultores familiares. Maria Regina de Miranda Souza e Sérgio Maurício Lopes Donzeles ...................................... 84

Izabel Cristina dos Santos Importância do plano de negócio para a agricultura familiar
Marinalva Woods Pedrosa
Fabrício Molica de Mendonça e Izabel Cristina dos Santos ................................................ 95

ISSN 0100-3364

Informe Agropecuário Belo Horizonte v.31 n.254 p. 1-104 jan./fev. 2010

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© 1977 EPAMIG Informe Agropecuário é uma publicação da
ISSN 0100-3364
Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
INPI: 006505007
EPAMIG

É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem


CONSELHO DE DIFUSÃO DE TECNOLOGIA E PUBLICAÇÕES
autorização escrita do editor. Todos os direitos são reservados à
Baldonedo Arthur Napoleão
EPAMIG.
Enilson Abrahão
Maria Lélia Rodriguez Simão
Juliana Carvalho Simões Os artigos assinados por pesquisadores não pertencentes ao quadro
Mairon Martins Mesquita da EPAMIG são de inteira responsabilidade de seus autores.
Vânia Lacerda

Os nomes comerciais apresentados nesta revista são citados apenas


COMITÊ EDITORIAL DA REVISTA INFORME AGROPECUÁRIO
para conveniência do leitor, não havendo preferências, por parte da
Enilson Abrahão
EPAMIG, por este ou aquele produto comercial. A citação de termos
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técnicos seguiu a nomenclatura proposta pelos autores de cada artigo.
Maria Lélia Rodriguez Simão
Departamento de Pesquisa
O prazo para divulgação de errata expira seis meses após a data de
Vânia Lacerda publicação da edição.
Departamento de Publicações

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Departamento de Transferência e Difusão de Tecnologia
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PRODUÇÃO Departamento de Transferência e Difusão de Tecnologia
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Av. José Cândido da Silveira, 1.647 - Cidade Nova
EDITOR
CEP 31170-000 Belo Horizonte - MG
Vânia Lacerda
Telefax: (31) 3489-5002
COORDENAÇÃO TÉCNICA
E-mail: publicacao@epamig.br - Site: www.epamig.br
Izabel Cristina dos Santos e Marinalva Woods Pedrosa
CNPJ (MF) 17.138.140/0001-23 - Insc. Est.: 062.150146.0047
REVISÃO LINGUÍSTICA E GRÁFICA
Marlene A. Ribeiro Gomide, Rosely A. R. Battista Pereira e
Michele Pereira dos Santos (estagiária)
Informe Agropecuário. - v.3, n.25 - (jan. 1977) - . - Belo
NORMALIZAÇÃO Horizonte: EPAMIG, 1977 - .
Fátima Rocha Gomes e Maria Lúcia de Melo Silveira v.: il.
PRODUÇÃO E ARTE
Cont. de Informe Agropecuário: conjuntura e estatísti-
Diagramação/formatação: Maria Alice Vieira, Erasmo dos Reis
ca. - v.1, n.1 - (abr.1975).
Pereira, Ângela Batista P. Carvalho, Letícia Martinez e Fabriciano
ISSN 0100-3364
Chaves Amaral
Coordenação de Produção Gráfica 1. Agropecuária - Periódico. 2. Agropecuária - Aspecto
Fabriciano Chaves Amaral Econômico. I. EPAMIG.
Capa: Fabriciano Chaves Amaral
CDD 630.5
Foto da capa: Arquivo EPAMIG

Selo 35 anos Informe Agropecuário: Ângela Batista P. Carvalho


O Informe Agropecuário é indexado na
Impressão AGROBASE, CAB INTERNATIONAL e AGRIS

Governo do Estado de Minas Gerais


Secretaria de Estado de Agricultura,
PUBLICIDADE
Décio Corrêa Pecuária e Abastecimento
Av. José Cândido da Silveira, 1.647 - Cidade Nova Sistema Estadual de Pesquisa Agropecuária
CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG EPAMIG, UFLA, UFMG, UFV
Telefone: (31) 3489-5088 - deciocorrea@epamig.br

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Governo do Estado de Minas Gerais
Aécio Neves
Governador
Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Gilman Viana Rodrigues

Agricultura familiar e
Secretário

Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais


Conselho de Administração
desenvolvimento regional
Gilman Viana Rodrigues Sandra Gesteira Coelho
Baldonedo Arthur Napoleão Elifas Nunes de Alcântara A agricultura familiar, atualmente, tem papel fundamental
Pedro Antônio Arraes Pereira Vicente José Gamarano
Adauto Ferreira Barcelos Joanito Campos Júnior
no equilíbrio da economia local e na manutenção da população
Osmar Aleixo Rodrigues Filho Helton Mattana Saturnino
Décio Bruxel no campo, por meio da produção de alimentos e geração de
Conselho Fiscal emprego e renda.
Carmo Robilota Zeitune Evandro de Oliveira Neiva
Heli de Oliveira Penido Márcia Dias da Cruz De acordo com o Censo Agropecuário de 2006, dos
José Clementino Santos Celso Costa Moreira
5,2 milhões de estabelecimentos rurais do Brasil, 84% eram
Presidência
Baldonedo Arthur Napoleão
propriedades familiares, que ocupavam 80,25 milhões de
Diretoria de Operações Técnicas hectares. Desses, 45% eram destinados a pastagens, 28% estavam
Enilson Abrahão ocupados com matas, florestas ou sistemas agroflorestais e 22%
Diretoria de Administração e Finanças
Luiz Carlos Gomes Guerra
com lavouras. Enquanto a área média dos estabelecimentos não
Gabinete da Presidência familiares é de 309,18 hectares, a dos estabelecimentos familiares
Thaissa Goulart Bhering Viana é de 18,37 hectares.
Assessoria de Comunicação
Roseney Maria de Oliveira Entre 1996 e 2006, década de expansão do setor
Assessoria de Desenvolvimento Organizacional agropecuário brasileiro, a participação da agricultura familiar na
Felipe Bruschi Giorni
produção agropecuária aumentou de 37,9% para 40%. Incluindo
Assessoria de Informática
Silmar Vasconcelos os membros da família e empregados temporários, esse setor
Assessoria Jurídica manteve ocupados 13 milhões de pessoas - 78% do total da mão-
Nuno Miguel Branco de Sá Viana Rebelo
Assessoria de Negócios Tecnológicos
de-obra no campo, em 2006, o que contribuiu substancialmente
Jairo Pereira da Silva Júnior para a redução do êxodo rural.
Assessoria de Planejamento e Coordenação
Renato Damasceno Netto Esses números revelam a maior intensidade de uso da terra
Assessoria de Relações Institucionais pela agricultura familiar, que, apesar de cultivar uma área menor com
Marcílio Valadares
lavouras do que a agricultura não familiar, é a principal fornecedora
Assessoria de Unidades do Interior
Júlia Salles Tavares Mendes de alimentos básicos para a população brasileira: 87% da mandioca,
Auditoria Interna 70% do feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz, 21% do
Carlos Roberto Ditadi
trigo e 16% da soja. Além disso, a agricultura familiar é a principal
Departamento de Compras e Almoxarifado
Sebastião Alves do Nascimento Neto fornecedora de hortaliças folhosas, frutas da época e produtos da
Departamento de Contabilidade e Finanças agroindústria familiar para os mercados locais e regionais.
Celina Maria dos Santos
Departamento de Engenharia Tal volume de produção é essencial para movimentar o
Luiz Fernando Drummond Alves
comércio de pequenos e médios municípios e ocupar mão-de-
Departamento de Estudos Econômicos e Prospecção
Juliana Carvalho Simões obra, o que aumenta a importância da agricultura familiar para a
Departamento de Patrimônio e Serviços Gerais segurança alimentar, além de fixar a população no interior e gerar
Mary Aparecida Dias
emprego e renda. Assim, o espaço rural brasileiro passa a ter a
Departamento de Pesquisa
Maria Lélia Rodriguez Simão agricultura familiar como elemento dinamizador de processos de
Departamento de Publicações desenvolvimento local e regional
Vânia Lúcia Alves Lacerda
Departamento de Recursos Humanos Esta edição do Informe Agropecuário reúne artigos
Flávio Luiz Magela Peixoto
sobre os principais produtos da agricultura familiar, com vistas
Departamento de Transferência e Difusão de Tecnologia
Mairon Martins Mesquita ao aprimoramento de técnicas e adequação de tecnologias
Departamento de Transportes para o setor, como o uso de práticas e insumos alternativos
José Antônio de Oliveira
aos convencionais, melhoria e manutenção da fertilidade do
Instituto de Laticínios Cândido Tostes
Fernando A. R. Magalhães, Gérson Occhi e Nelson Luiz T. de Macedo agroecossistema, que engloba todos os recursos da propriedade
Instituto Técnico de Agropecuária e Cooperativismo agrícola: água, luz, temperatura, ar e nutrientes, bem como a sua
Luci Maria Lopes Lobato e Francisco Olavo Coutinho da Costa
U.R. EPAMIG Sul de Minas organização no espaço e no tempo.
Gladyston Rodrigues Carvalho e Rodrigo Fráguas de Carvalho
U.R. EPAMIG Norte de Minas Baldonedo Arthur Napoleão
Polyanna Mara de Oliveira e Josimar dos Santos Araújo
Presidente da EPAMIG
U.R. EPAMIG Zona da Mata
Trazilbo José de Paula Júnior e João Bosco Caldas Campos
U.R. EPAMIG Centro-Oeste
Édio Luiz da Costa e Waldênia Almeida Lapa Diniz
U.R. EPAMIG Triângulo e Alto Paranaíba
José Mauro Valente Paes e Marina Lombardi Saraiva

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Desafios da Agricultura Familiar
Adoniram Sanches Peraci é engenheiro agrônomo pela
Universidade Federal do Paraná (UFPR), mestre em Políticas de
Desenvolvimento na Pobreza Rural, pelo Colégio Postgraduados
(México) e possui especialização em Estratégias de Desenvolvimento
Rural, pela Harvard Kennedy School, Massachusetts, EUA.

Foi técnico do Departamento de Estudos Socioeconômicos Rurais


(Deser), Curitiba, PR e autor de livros sobre políticas públicas, com
participação em diversos seminários. Adoniram Peraci é secretário
Nacional de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento
Agrário (SAF/MDA) e defende o cooperativismo e a utilização de
tecnologias apropriadas para a agricultura familiar, como ferramentas
para o desenvolvimento deste setor.

IA - Qual a importância da agricultura território, inclusive no meio rural, e estes para todas as populações pobres do meio
familiar para o Brasil? agricultores estão bem preparados para rural, como por exemplo, por meio do
ser guardiões da natureza, fazendo uma programa Territórios da Cidadania. No
Adoniram Peraci - Tradicional-
agricultura de alimentos limpa, percebe- meio rural ainda predomina a pobreza.
mente, conhecemos o maior papel da
se que é característico de países em Acima dessa pobreza, há uma classe
agricultura, que é o de gerar receita
desenvolvimento, que ainda preservam média rural, responsável por produzir
para o saldo da balança comercial, ex-
suas pequenas e médias propriedades. 87% da mandioca, 70% do feijão e 46%
portadora, forte economicamente. Nos
A questão do emprego também é do milho consumido no País. Para esse
últimos cinco, seis anos, vem ocorrendo
importante. A estabilização das pessoas setor temos dado uma importante atenção
alguns fenômenos mundiais em que são
colocadas novas responsabilidades à no campo, com qualidade, com políticas para compor a estratégia de segurança
agricultura. Abre-se uma grande “janela” públicas, com condições para produzir alimentar, em que o entrave maior é a
de oportunidades e de responsabilidades, por meio de programas como o Luz inserção no mercado. Seja nas coopera-
também, para a pequena e a média pro- para Todos, a Assistência Técnica, o tivas, na inserção nos mercados institu-
priedade. A primeira responsabilidade é Programa de Sementes e o Programa cionais, como da Alimentação Escolar,
com o tema Alimentos. O país que não Nacional de Fortalecimento da Agricul- seja nos comércios locais com qualidade,
tiver uma estratégia de apoio à sua pe- tura Familiar (Pronaf), faz com que estes marca, rótulo. Este é um segundo desafio.
quena e média agricultura, para manter agricultores tenham plenas condições de No geral, na agricultura como um
um fluxo de alimentos, terá problemas se manterem no campo. todo ainda persistem problemas de pro-
com os indicadores de inflação. Isso dutividade. Na caso do leite e do milho,
porque a população mundial cresce. E o IA - Quais os principais entraves ao por exemplo, há muito a ser feito em
país que não tiver estoque ou um fluxo desenvolvimento da agricultura relação a esta produtividade.
permanente de alimentos terá problemas familiar no Brasil? Além disso, há necessidade de uma
inflacionários. entrada maior da extensão rural. O Censo
O segundo tema é o do Meio Am- Adoniram Peraci - Os entraves já mostrou que os agricultores familiares
biente. Tanto a média como a pequena foram maiores. O Censo Agropecuário representam 4,4 milhões de estabeleci-
agricultura têm que manter sistemas de já havia apontado que 85% dos estabe- mentos rurais, porém somente 1,2 milhão
produção que não agridam tanto o meio lecimentos da agricultura são familiares de famílias recebem assistência técnica
ambiente. Estamos falando de água doce, e que estes agricultores precisam mais e extensão rural. A lei geral de Assistên-
biodiversidade, reserva legal, área de da presença do Estado e de políticas pú- cia Técnica e Extensão Rural (Ater), a
preservação permanente (APP). Quando blicas. O desafio tem sido o de acelerar retomada dos governadores do Norte e
se tem uma população bem distribuída no a chegada desse conjunto de políticas Nordeste na contratação de técnicos para
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atuarem na Ater, a reestruturação das familiar. O País investe R$ 3,3 bilhões gico (CNPq), fazendo editais específicos
empresas estaduais de extensão rural, para a compra de alimentos para as para as Oepas. Hoje, no País, contamos
o fortalecimento das organizações não- crianças nas escolas. A lei diz que, no com 18 Oepas. Assim, é possível desen-
governamentais e dos centros de pesqui- mínimo, 30% deve vir do setor da agri- volver ações mais focadas na agricultura
sa, tudo isso já é um bom caminho que cultura familiar, o que representa, hoje, familiar.
percorremos. Mas há um planejamento cerca de R$ 900 milhões. Nisso, o que O outro caminho é por meio da
a médio e a longo prazos que precisará se busca são os alimentos regionais, Embrapa, que recebe destaques finan-
ser cumprido. retirando um padrão único de consumo ceiros do MDA como, por exemplo,
que era basicamente de bolachas e sucos neste momento, em função do Programa
IA - Quais as principais ações da Secre- industrializados, valorizando a produção Mais Alimentos, em que se promove a
taria de Agricultura Familiar para local e característica da região, seja o aproximação com os extensionistas e até
o desenvolvimento da agricultura açaí no Norte, seja a castanha de caju, no mesmo com líderes de agricultores para
familiar no Brasil, considerando Nordeste, seja o pequi no Centro-Oeste, “tirar da prateleira” o que há de melhor
a diferença regional entre Norte/ por exemplo. das pesquisas voltadas para a agricultura
Nordeste e Sul/Sudeste do País? familiar e levar para o campo.
IA - Quais seriam os principais desafios Esse ponto de contato, esse link entre
Adoniram Peraci - O Brasil é da pesquisa para o fortalecimento pesquisa e extensão é um tema que tem
de fato plural, com uma agricultura da Agricultura Familiar no Brasil? aparecido nos últimos anos. E por que
complexa e bastante diversificada, e o
Adoniram Peraci - O primeiro só nos últimos anos? Porque antes disso,
governo federal, quando lança um con-
deles é uma maior aproximação com o não tínhamos uma política estável nacio-
junto de políticas, toma o cuidado para
sistema de extensão rural. Já estamos nal de extensão rural. Agora, temos uma
reconhecer esta diversidade. Quando
trabalhando nesse sentido com a Embra- lei geral de Ater, os recursos são estáveis
lançamos R$ 15 bilhões no Plano Safra
pa e algumas Organizações Estaduais de e, pouco a pouco, começamos a acelerar
da Agricultura Familiar (este montante
Pesquisa (Oepas) e o sistema das Em- este “sistema de conexão”.
era de apenas R$ 2,2 bilhões, em 2003),
temos o cuidado para que as linhas presas Estaduais de Assistência Técnica
e Extensão Rural (Emateres), para que IA - Algumas pequenas propriedades
de crédito dialoguem com o que é a
chegue ao campo todo o conjunto de rurais têm várias nascentes e,
complexidade da agricultura familiar,
pesquisas e conhecimentos acumulados. se a lei ambiental for aplicada
respeitando as características de cada
O segundo desafio é pensar em um corretamente, praticamente não
região. No regulamento geral do Pronaf
mecanismo de capilaridade ainda maior sobrará área para a atividade
não há discriminação a uma plantação
de acesso a conhecimento. O Brasil agrícola. O pagamento por ser-
de pupunha ou cupuaçu, no Norte, ou
tem instituições importantes como a viços ambientais (produção de
de café ou soja, no Centro-Sul. A taxa
EPAMIG, o Instituto Agronômico do água, por exemplo), poderia ser
de juros é a mesma.
Paraná (Iapar) e a própria Embrapa, uma alternativa para incentivar
O tema da Ater é trabalhado forte-
mas essa tecnologia produzida precisa a preservação de nascentes? Na
mente, desde 2004. Na relação que temos
chegar na “ponta”. Então, é preciso reformulação do código florestal,
com os Estados, por meio dos convênios
pensar em mecanismos. os agricultores familiares terão
e contratos da Ater, com entidades go-
O terceiro é dar continuidade ao tratamento diferenciado?
vernamentais e não-governamentais, é
sempre apontado o desenvolvimento das avanço de tecnologias apropriadas à Adoniram Peraci - Nesses primei-
economias regionais. Vem do Semiárido, agricultura familiar. Por exemplo, no ros meses de 2010, ainda não tivemos a
por exemplo, uma forte demanda de tec- Nordeste, variedades de milho e feijão aprovação do que seria o código florestal.
nologias de convivência com esta região. apropriadas para o Semiárido, adaptadas Existem várias propostas em discussão,
Outro tema é o dos Seguros. As ao ciclo curto de chuvas. há vários interesses nesse arranjo da
atividades financiadas, caso sofram pro- reserva legal e da APP. O importante
IA - Com relação à pesquisa/extensão,
blemas de clima ou preço, têm a garantia é fazermos uma leitura dessa crise am-
como e em que proporção têm
no contrato de crédito do agricultor. Isso biental como uma oportunidade. Sou
sido investidos recursos, visando
faz parte de uma visão regionalizada, já muito categórico em dizer que nenhum
o fortalecimento da agricultura
que o contrato é feito de acordo com o monocultivo, seja qual for o produto, irá
familiar?
perfil desse agricultor. viabilizar a agricultura familiar como
A lei da Alimentação Escolar tem Adoniram Peraci - O que temos uma estratégia a médio e a longo prazos.
buscado uma forte articulação da feito, nos últimos três anos, é trilhar dois Não é só a soja, para quem tem pouca
alimentação escolar, conduzida pelo caminhos: o primeiro, por meio de uma terra no Sul do País, ou só o café, no
Fundo Nacional de Desenvolvimento parceria com o Conselho Nacional de Centro-Sul, que irá viabilizar a agricul-
da Educação (FNDE) com a agricultura Desenvolvimento Científico e Tecnoló- tura. A agricultura familiar está em uma
IInnffoorrmmee AAggrrooppeeccuuáárriioo,, BBeelloo HHoorriizzoonnttee,, vv..2391,, nn..224554,, jjualn. /. a/ fgeov. 2 0 01 80

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perspectiva de diversificação. E isso projeto chegue bem-feito ao banco ou caprinocultura, ovinocultura, pesca e
tem muita relação com a questão de ver à cooperativa de crédito, evitando des- suinocultura.
o tema do código florestal como uma confiança do sistema financeiro de que o
oportunidade da agricultura familiar, das projeto de crédito não tenha capacidade IA - Com relação à produção de
entidades de representação dos agricul- de pagamento ou viabilidade econômica. matéria-prima para o biodiesel na
tores, os órgãos de pesquisa, de extensão Outra questão é a garantia de acesso agricultura familiar, existe algum
e nós, gestores, de trazermos para nós ao mercado. A lei da Alimentação Es- programa de proteção ao agri-
esta responsabilidade de uma agricultura colar ou o Programa de Aquisição de cultor em termos de garantia de
mais compromissada ambientalmente. Alimentos (PAA) são exemplos para os venda do produto? Na sua opinião,
Hoje, toda a sociedade, todos os setores agricultores que têm excedentes para seria viável o processamento da
têm que dar a sua contribuição para o ir em busca do mercado institucional. matéria-prima pelos próprios agri-
tema ambiental. Nesse escopo do mercado, têm as coope- cultores para uso na propriedade?
Esta questão da oportunidade vem rativas. Sabemos que Minas Gerais, por
Adoniram Peraci - O agricultor
para entender conceitos como de servi- exemplo, é um Estado rico em coopera-
familiar fornecedor de matéria-prima
ços ambientais, de produção de alimen- tivas, tem capital social muito bom, fun-
para produção de biodiesel no Brasil
tos. Entender que reserva legal não é APP cional e que, também, de certa maneira
é protegido no Programa Nacional de
e é possível ter manejo florestal, manejo tem recebido atenção do governo federal
Uso e Produção de Biodiesel (PNPB),
de frutíferas e gerar renda com estas ati- para ampliar as linhas de crédito para as
mediante a obrigação de elaboração de
vidades, seja qual for a regulamentação cooperativas (capital de giro, cota-parte).
contratos antes do plantio com empresas
a ser aprovada no código florestal. Há A ideia é reforçar estas instituições que
produtoras de biodiesel. Esses contratos,
várias iniciativas pelo País do agricultor são os vínculos com o mercado. que são analisados e aprovados pelo
“guardião das águas” de nascentes. Há
MDA, devem ser aprovados por entida-
vários projetos de lei no Congresso que IA - Para participar do PAA, que é
des representativas dos agricultores fa-
vão nesse caminho. uma das ações do Fome Zero, é
miliares e possuir cláusulas de segurança
Estamos nos antecipando. Nas regiões necessário armazenar adequada-
que não os prejudiquem.
em que há os Fundos Constitucionais – mente os produtos até o momento
O processamento de matéria-prima
Norte, Nordeste e Centro-Oeste – vai da venda. Existe algum plano de
para uso próprio tende a ser inviável,
entrar, ainda neste início de ano, uma financiamento de armazéns para
dependendo da escala de produção e de
medida provisória que regulamenta uma agricultores familiares ou para
seu uso final. O processamento pelos
linha de crédito do Pronaf com rebate grupos organizados como associa-
próprios agricultores familiares, para
acima de 50% para os agricultores que ções e cooperativas?
fornecimento de óleo ao mercado e até
fizeram um manejo adequado da reserva
Adoniram Peraci - Pelo PAA não. para consumo, precisaria de uma certa
legal e APPs, nas áreas de abrangência
Mas o agricultor familiar pode acessar escala de produção para ser atrativo eco-
desses fundos. O conceito ambiental está,
uma linha de crédito rural do Pronaf de nomicamente. O óleo vegetal produzido
pouco a pouco, sendo inserido na nossa
investimento, que pode ser individual ou e utilizado como combustível na proprie-
política agrícola.
coletivo, ou a linha Mais Alimentos, para dade, com certeza, seria inviabilizado
IA - Que estratégias têm sido adotadas a construção de um armazém. comparado ao preço do óleo diesel (seu
No caso da linha de investimento do substituto).
para inclusão das diversas cate-
Pronaf, dependendo da faixa em que se As esmagadoras de grãos da agricul-
gorias de agricultores familiares
encontra, este agricultor pode acessar tura familiar geralmente estão vinculadas
no Pronaf? a grupos de cooperativas e trabalham
até R$ 7 mil, com juros de 1% ao ano,
Adoniram Peraci - São estratégias chegando a limites de até R$ 36 mil, para com grandes volumes. O óleo e o farelo
que iniciam a minimização de riscos da os quais os juros são de 5% ao ano. são produzidos com escala e competiti-
operação de crédito no sistema financei- Já no caso do Mais Alimentos, o vidade e fornecidos aos cooperados ou
ro. Quando o governo cria um sistema de agricultor pode financiar projetos de até utilizados no mercado.
seguro de clima e de preço, é sinalizado R$ 100 mil, com prazo de pagamento de Entretanto, existem algumas situa-
para o sistema financeiro e sobretudo até dez anos, carência de até três anos e ções em que a produção de óleo para con-
para os bancos públicos, que esses riscos juros de 2% ao ano. É uma linha desti- sumo pode ser interessante e viável para
já estão por conta do governo federal. nada a produtores de açafrão, arroz, café, agricultores familiares. Um exemplo é
O tema da Extensão Rural é outra centeio, erva-mate, feijão, mandioca, a utilização para a geração de energia
estratégia de divulgação das políticas milho, sorgo e trigo; frutas, olerícolas, elétrica em comunidades isoladas prin-
públicas, mas, principalmente, de mon- mel e outros produtos apícolas e aves; cipalmente na Região Norte do Brasil.
tagem, de elaboração de projetos para e aos produtos da aquicultura, bovino-
o agricultor familiar. Isso para que este cultura de corte, bovinocultura de leite, Por Vânia Lacerda

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 1 , n . 2 5 4 , j a n . / f e v. 2 0 1 0

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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 7

Manejo da fertilidade do agroecossistema e a


sustentabilidade da agricultura familiar
Anastácia Fontanétti 1
Izabel Cristina dos Santos 2

Resumo - O fortalecimento da agricultura familiar depende não só da intensificação


das políticas públicas, mas também da fusão do saber popular e do conhecimento
tecnológico, e tem como objetivos maximizar o uso de recursos locais, produzir mais
alimentos com melhor qualidade e risco mínimo para o meio ambiente, permitindo a
inserção dos produtos da agricultura familiar em mercados competitivos. Para isso, é
necessário melhorar e manter a fertilidade do agroecossistema, que engloba todos os
recursos da propriedade agrícola: água, luz, temperatura, ar e nutrientes, bem como
sua organização no espaço e no tempo. O manejo da fertilidade em solos tropicais deve
priorizar a redução da erosão por meio da cobertura do solo e acúmulo de matéria or-
gânica (MO). Serão abordados manejos e usos dos solos eficientes para a manutenção
da MO nos solos tropicais.

Palavras-chave: Abordagem sistêmica. Cobertura do solo. Matéria orgânica. Aduba-


ção. Plantio direto. Sistema agroflorestal.

INTRODUÇÃO trovérsias ainda são recorrentes. É comum 4,4 milhões dos 5,2 milhões existentes –
a associação do termo agricultura familiar eram propriedades familiares, embora ocu-
O uso da expressão “agricultura fa-
à pequena produção, à agricultura de bai- passem área muito inferior à dos estabele-
miliar” surgiu no Brasil em meados da
xa renda ou de subsistência. Em última cimentos não familiares. A área média dos
década de 1990. Porém, sua afirmação
análise, aquilo que se pensa tipicamente estabelecimentos familiares é de 18,37 ha,
no cenário social e político brasileiro
de um pequeno produtor é de alguém que enquanto a dos outros estabelecimentos é
está relacionada com a legitimação que o
vive em condições muito precárias, com de 309,18 ha. Esses resultados não podem
Estado lhe emprestou ao criar, em 1996,
acesso nulo ou muito limitado ao sistema ser comparados aos dos censos anteriores,
o Programa Nacional de Fortalecimento de crédito, que utiliza técnicas tradicionais porque na apuração dos dados foi consi-
da Agricultura Familiar (Pronaf), com o e não consegue integrar-se aos mercados derada a nova lei que define a agricultura
intuito de prover crédito agrícola e apoio mais dinâmicos e competitivos. É fato que familiar. No critério adotado pelo Insti-
institucional às categorias de pequenos várias dessas características se repetem em tuto Brasileiro de Geografia e Estatística
produtores rurais. Estes vinham sendo milhares de unidades de produção agrícola (IBGE), o estabelecimento familiar tem
excluídos das políticas públicas, ao longo brasileiras. Entretanto, dizer que estas são como limite a área de quatro módulos
da década de 1980, e encontravam sérias as características essenciais da agricultura rurais, que, dependendo da região do País,
dificuldades de manterem-se na atividade familiar é desconhecer os traços mais pode variar de 5 a 100 ha e a mão-de-obra
(SCHNEIDER, 2003). importantes do desenvolvimento agrícola predominante é a familiar.
Apesar de a discussão sobre a agricul- brasileiro (ABRAMOVAY, 1997). Em 2006, dos 80,25 milhões de hecta-
tura familiar ter iniciado há mais de uma Os resultados do Censo Agropecuário res da atividade agropecuária familiar, 28%
década e estar ganhando maior validade (2006) revelaram que 84% dos estabe- estavam ocupados com matas, florestas
política, social e acadêmica, algumas con- lecimentos agropecuários do Brasil – ou sistemas agroflorestais, 22% estavam

1
Eng a Agr a, D. Sc., Prof a UFSCar, CEP 13565-905 São Carlos-SP. Correio eletrônico: anastacia@cca.ufscar.br
2
Eng a Agr a, D. Sc., Pesq. U.R. EPAMIG SM-FERN, CEP 36301-360 São João del-Rei-MG. Correio eletrônico: icsantos@epamig.br

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8 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

destinados às lavouras e 45% às pastagens. de todos os recursos da propriedade – água, promover a infiltração e o armazenamento
Nessa área, a agricultura familiar produzia luz, temperatura, ar e nutrientes minerais da água de chuva. E, quanto maior a expe-
a maior parte da alimentação básica dos (KHATOUNIAN, 2001), considerando riência e o conhecimento que o agricultor
brasileiros (CENSO AGROPECUÁRIO, o relevo e as características da atividade familiar tem dos recursos disponíveis em
2006). agropecuária a ser implantada. sua propriedade, mais fácil será o manejo
Na verdade, o fortalecimento do agro- Criou-se, então, o conceito de solo da fertilidade no agroecossistema e tam-
negócio nacional depende da valorização produtivo, que, além da fertilidade quími- bém a chance de manter a sua produtivida-
do potencial econômico da agropecuária ca, inclui também outras características de e lucratividade. Portanto, é importante
familiar, além do amplo reconhecimento da necessárias à obtenção e à manutenção conhecer a localização das fontes de água
sua contribuição para a segurança alimen- de boas safras. Solo produtivo é um solo e mantê-las protegidas contra o acesso de
tar local e regional e do seu papel social e fértil, ou seja, que contém os nutrientes animais; áreas de maior exposição a ventos
cultural. Para que isso aconteça, é neces- essenciais em quantidades adequadas e e sol; plantas nativas que favoreçam os
sária a intensificação das políticas públicas balanceadas para o normal crescimento e cultivos (como as leguminosas arbóreas
de incentivo a ações de inclusão social e desenvolvimento das plantas cultivadas; em cafezais, por exemplo). Outro aspecto
tecnológica, bem como a fusão do saber deve apresentar ainda boas condições muito importante é reconhecer os bene-
popular e do conhecimento tecnológico, físicas e biológicas; estar livre de elemen- fícios tanto da manutenção de áreas com
para maximizar o uso de recursos locais, tos tóxicos e encontrar-se em local com vegetação nativa, da rotação e da consor-
produzir em quantidade e com qualidade fatores climáticos favoráveis (LOPES; ciação de culturas como da diversificação
e, minimizar os riscos ao ambiente, permi- GUILHERME, 2007). da vegetação na propriedade como um
tindo a inserção dos produtos da agricul- Não se pode, contudo, ter uma visão todo, no manejo de pragas e doenças.
tura familiar nos mercados competitivos. simplificada do processo construtivo da
Nesse artigo serão abordados os aspectos fertilidade dos solos agrícolas e reduzi- ANÁLISE E ESTRUTURAÇÃO
tecnológicos do manejo da fertilidade em
lo à ciclagem dos nutrientes como nos DA PAISAGEM
ecossistemas naturais. Ao contrário, nos
agroecossistemas como forma de consoli- A topografia, as faces de exposição ao
agroecossistemas, boa parte dos nutrien-
dação da produção agrícola familiar e de sol em áreas declivosas, as temperaturas
tes presentes na biomassa é exportada na
sua manutenção ao longo do tempo. média, máxima e mínima durante o ano e
colheita. Portanto, além da ciclagem de
o regime de chuva são características que
ABORDAGEM SISTÊMICA NO nutrientes, é necessário o aporte destes,
para manter ou melhorar a fertilidade. não podem ser mudadas, mas, quando bem
MANEJO DA FERTILIDADE
Essa abordagem destaca a importân- conhecidas, podem ser utilizadas a favor da
A abordagem teórica do enfoque sis- cia do gerenciamento do sistema pelo produção agrícola. A propriedade agrícola
têmico ganhou popularidade ao longo da agricultor, que tem que decidir, em cada pode apresentar diferentes relevos e tipos
década de 1980 e partiu da hipótese de situação, quais as práticas mais conve- de solos. Seguindo o conceito de fertilidade
que os sistemas devem ser estudados no nientes à manutenção da fertilidade. As- do sistema, uma das prioridades é a análise
seu todo, e não apenas no fenômeno em si, sim, enquanto a fertilidade natural é obra da paisagem agrícola, que deve seguir
dando ênfase à inter-relação entre as partes da natureza, acumulada pelo ecossistema uma lógica de distribuição das culturas
e entre o sistema e o ambiente (PINHEIRO original, a fertilidade dos agroecossiste- e da infraestrutura necessária ao manejo
apud DAROLT, 2002). mas é uma criação humana, desgastada adequado.
A agricultura é complexa, envolve ou melhorada pelas mãos do agricultor A estratificação desses ambientes
diversos fatores que devem ser conside- (KHAUTOUNIAN, 2001). por meio de levantamentos de solos é de
rados não isoladamente, mas como peças O planejamento de qualquer atividade grande utilidade para o direcionamento e
da engrenagem de uma máquina, a qual, agrícola depende da aptidão das terras para a localização das atividades agropecuárias.
para realizar o trabalho, depende do bom tal atividade e da possibilidade técnica, fí- O planejamento sustentável da propriedade
funcionamento de todas as partes. Nesse sica e financeira de corrigir as deficiências considera a aptidão agrícola e a capacidade
contexto, entende-se que fertilidade não é que podem ser modificadas. Por exemplo, de uso das terras, visando reduzir riscos
sinônimo de química do solo, ou seja, os áreas castigadas por ventos fortes e frios financeiros e ambientais e aumentar a pro-
teores de nutrientes minerais e as relações podem ser protegidas por quebra-ventos; dutividade das culturas e a renda familiar.
desses entre si, não definem, por si só, a todos os cultivos devem ser feitos obe- As áreas com solos mais profundos e
fertilidade dos agroecossistemas. Como decendo as curvas de nível, que visam de boa fertilidade devem ser destinadas
manejo da fertilidade entende-se o manejo diminuir a velocidade das enxurradas e às culturas anuais, enquanto as áreas com
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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 9

solos jovens propensos ao processo erosivo Porém, os solos de ambientes tropicais mentados são mais propensos ao processo
devem ser preservadas e/ou utilizadas para são também os mais expostos à erosão, erosivo e, em consequência, ao menor
culturas perenes, que exigem pouca ou principalmente hídrica, que tem sido um acúmulo de MO no perfil. A manutenção
nenhuma movimentação do solo. A distri- dos principais fatores responsáveis pela da fertilidade em solos tropicais passa
buição da infraestrutura deve minimizar redução da MO nos solos e é apontada primeiramente pela sua proteção, o que
o gasto de energia com as atividades de pelos agricultores como uma das causas da requer a implementação de práticas agrí-
transporte e com a mão-de-obra. Por exem- baixa produtividade das culturas agrícolas. colas que aumentem a cobertura do solo
plo, a instalação de um estábulo ou granja O processo de degradação dos solos e, consequentemente, a MO. A adubação
de suínos ou aves deve ser planejada de no Brasil segue características históricas verde, a rotação de culturas, o sistema de
forma que facilite a deposição dos dejetos semelhantes em diversas regiões. Na Zona preparo mínimo, o Sistema Plantio Direto
em uma área de compostagem, pátio ou da Mata de Minas Gerais, por exemplo, a (SPD) na palha e os Sistemas Agroflores-
lagoa de estabilização. cobertura vegetal das florestas nativas foi tais são exemplos de manejos e usos dos
Outro aspecto importante na proprieda- inicialmente substituída pelas plantações solos eficientes para a manutenção da MO.
de agrícola é o condicionamento climático, de café, rompendo a ciclagem de nutrien-
que tem por objetivo reduzir a velocidade tes do ecossistema florestal. Em algumas ADUBAÇÃO VERDE
dos ventos excessivamente frios ou secos, décadas, a fertilidade do solo reduziu-se A adubação verde é uma importante
manter a umidade e promover sombrea- drasticamente, principalmente em virtude ferramenta no processo de recuperação de
mento no verão (KHAUTOUNIAN, 2001). da erosão, o que contribuiu ainda mais para áreas degradadas ou mesmo nos sistemas
As estruturas mais usuais são quebra-ventos o aumento do desmatamento, pela necessi- agrossilvipastoris que buscam a sustenta-
e cercas vivas, cuja posição ideal é aquela dade de novas áreas férteis. As lavouras de bilidade da atividade, pois proporciona, a
que atenda às necessidades microclimáticas médio e a longo prazos, melhoria nas ca-
milho, feijão e cana-de-açúcar substituíram
das culturas ou animais em criação. Essas racterísticas químicas, físicas e biológicas
as lavouras de café antigas e depauperadas
barreiras podem ser úteis também para difi- do solo. Em curto prazo constitui alterna-
(FRANCO et al., 2002). Esse modelo de
cultar a entrada de patógenos e insetos-pra- tiva viável de fornecimento de nutrientes
ocupação extrativista da agricultura foi
ga na área de cultivo. A escolha da espécie para culturas semeadas em sucessão. No
e ainda é agravado pela implantação de
a ser utilizada é muito importante, pois esta entanto, sabe-se que esses efeitos são
tecnologias de produção agropecuária
não pode ser hospedeira das mesmas pragas bastante variáveis, dependendo da espécie
inapropriadas para as condições locais
e doenças da cultura principal e, se possível, utilizada, do manejo dado à biomassa, da
(CARDOSO et al., 2001).
a barreira deve ser formada por várias es- época de plantio e corte do adubo verde,
O uso, o manejo e o tempo de utilização
pécies, preferencialmente fornecedoras de do tempo de permanência dos resíduos no
promovem alterações nas propriedades do
abrigo e alimento alternativo para inimigos solo, das condições locais e da interação
solo. Solos semelhantes, mas submetidos
naturais dos patógenos e insetos-praga da entre esses fatores (SANTOS, J. et al.,
a diferentes usos e manejos, podem apre-
cultura principal (VENZON; SUJII, 2009). 2007).
sentar níveis de degradação diferentes. A
Dentre as leguminosas encontram-se
IMPORTÂNCIA E MANEJO comparação entre as propriedades físicas
as espécies mais utilizadas na adubação
DA MATÉRIA ORGÂNICA EM e químicas de um solo sob mata natural,
verde, por fixarem o nitrogênio (N) atmos-
SOLOS TROPICAIS com outro ocupado durante 15 anos pelas
férico por meio de simbiose com bactérias
culturas da seringueira, laranja e pastagem,
Em solos de ambientes tropicais, a do gênero Rhyzobium e Bradyrhyzobium
matéria orgânica (MO) – resíduos vegetais demonstrou, de modo geral, que o uso agrí- nas raízes e também pela presença de um
em estádios variados de decomposição, cola diminuiu o teor de MO. Os atributos sistema radicular profundo e ramificado,
biomassa microbiana, raízes e húmus – tem físicos do solo ocupado com o seringal capaz de extrair nutrientes das camadas
grande importância na retenção de cátions, assemelharam-se ao da mata, ao passo que, mais profundas do solo. Porém, em regiões
complexação de elementos tóxicos e de nos solos com laranjal e pastagem ocor- com umidade e temperatura elevadas em
micronutrientes, estabilidade da estrutura, reu degradação física, evidenciada pelos boa parte do ano, ocorre uma rápida de-
infiltração e retenção de água, aeração, e maiores valores de densidade, resistência composição da biomassa depositada sobre
serve como fonte de carbono e energia à penetração, redução do espaço poroso o solo, o que tem aumentado a utilização
aos microrganismos heterotróficos, cons- e da estabilidade de agregados em água de gramíneas para adubação verde, uma
tituindo um componente fundamental do (PORTUGAL et al., 2008). vez que apresentam decomposição mais
potencial produtivo desses solos (BAYER; Solos descobertos, compactados su- lenta, por causa da maior relação carbono/
MIELNICZEK, 2008). perficialmente ou demasiadamente movi- nitrogênio (C/N) de sua biomassa.
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10 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

A produção de biomassa dos adubos das leguminosas, mas a maior quantidade veitamento dos nutrientes liberados pela
verdes é de grande importância, pois dela encontra-se na floração, sendo o momen- decomposição dos resíduos irá depender
depende a quantidade de MO a ser forne- to mais oportuno para o manejo, pois as do sincronismo entre a decomposição da
cida ao solo. Na literatura, de modo geral, folhas e os talos tenros, que constituem biomassa e a demanda da cultura ao longo
observa-se grande variação nos valores de as partes de mais fácil decomposição, são de seu ciclo (AMADO, MIELNICZUK;
produção de biomassa dos adubos verdes, imediatamente consumidos como substrato FERNANDES, 2000; DINIZ et al., 2007;
a qual pode ser influenciada por diversos pelos microrganismos, que começam a FERNANDEZ et al., 2007; SANTOS, I.C.
fatores como densidade da semeadura, formar amônio e nitratos utilizáveis pelas et al., 2007).
época de plantio e corte, visto que algumas plantas. Por isso, geralmente recomenda-se
espécies apresentam sensibilidade ao fo- que o corte ocorra no início da floração. SISTEMA PLANTIO DIRETO
toperíodo, e condições edafoclimáticas. A No entanto, em regiões que apresentam A sustentabilidade da agricultura nas
densidade de plantio tem grande influência umidade e temperatura elevadas na maior regiões tropicais depende das práticas
na produção de biomassa, principalmente parte do ano, a decomposição normalmente de conservação do solo e da água. Nesse
nas espécies de adubos verdes de porte é muito rápida, diminuindo o tempo de sentido, o SPD está entre as mais difundi-
ereto, estatura baixa a média e arquitetura permanência dos resíduos do adubo verde das e promissoras práticas da agricultura
cônica, o que não se verifica nas espécies sobre o solo, e, consequentemente o perío- conservacionista na atualidade, principal-
rasteiras. do de proteção, o que favoreceria processos mente pela menor movimentação do solo
O manejo dado à biomassa também de lixiviação dos nutrientes e erosão. De e pela manutenção da cobertura vegetal,
interfere na eficiência dos adubos verdes. acordo com Diniz et al. (2007), o tempo de que proporcionam melhorias dos atributos
A incorporação, por exemplo, tende a meia-vida do N presente na biomassa de químicos, físicos e biológicos do solo, com
acelerar a decomposição e, consequen- mucuna-preta foi de 24 dias e o da matéria reflexos positivos na recuperação e/ou
temente, a liberação de nutrientes, o que seca (MS) foi de 35 dias após a incorpora- manutenção da fertilidade e no aumento
propicia efeitos benéficos nas propriedades ção. Esses resultados sugerem que o N seja do potencial produtivo de diversas culturas
químicas do solo (FONTANÉTTI, 2008). liberado no solo ainda mais rápido do que a (MENDES et al., 2004).
Amado, Mielniczuk e Fernandes (2000) ao própria decomposição da biomassa, o que Após cinco anos de implantação do
estudarem a velocidade de decomposição pode acarretar, além de pouca proteção do SPD em um Argissolo degradado, Flores
de adubos verdes e liberação de N para solo, perdas de nutrientes. Nesse caso, uma et al. (2008) verificaram aumento no teor
a cultura do milho, verificaram que, sob opção seria o manejo tardio dos adubos de MO na camada superficial e elevação da
preparo convencional, a velocidade de verdes, estando a planta mais lignificada, estabilidade de agregados do solo para valo-
decomposição e a liberação de nutrientes o que tornaria a decomposição mais lenta, res próximos da mata nativa, confirmando
foram mais rápidas, quando comparadas aumentando o tempo de proteção do solo, a capacidade de o SPD recuperar o solo.
com o SPD. Esse fato pode ser atribuí- e proporcionando melhor aproveitamento A cobertura vegetal (viva ou morta)
do ao efeito dos sistemas de preparo na dos nutrientes pela cultura em sucessão. representa a essência do SPD. Primeira-
incorporação e fracionamento físico dos Esse manejo coincide com a afirmação de mente, porque ao interceptar as gotas de
resíduos, que permitiram maior contato Khatounian (2001) de que “modernamente chuva evita seu impacto direto sobre o
solo-resíduo, e ao incremento da aeração, no Brasil, o termo adubo verde tem sido solo, o que reduz tanto a desagregação das
fatores que, combinados, promovem uma utilizado numa acepção mais ampla, de partículas quanto a velocidade alcançada
maior atividade biológica. Porém, quando planta que se encaixa bem no sistema de pela enxurrada. Segundo, porque protege
os resíduos vegetais são incorporados, o culturas vigente, contribuindo para sua pro- o solo da radiação solar, o que reduz a
solo fica exposto e alguns efeitos benéficos teção e fertilidade”. Por isso, a realização variação térmica e a evaporação de água,
da adubação verde são perdidos, como o do manejo tardio dos adubos verdes deve diminuindo a exposição da microbiota às
controle da erosão e a redução das ampli- ser mais bem estudada para situações espe- variações de temperatura e umidade.
tudes diárias da variação térmica e hídrica cíficas, ou seja, considerando qual ou quais Um dos grandes desafios do SPD é
na camada superficial do solo. dos benefícios da adubação verde – forne- manter a palha cobrindo o solo, principal-
A época de corte dos adubos verdes é cimento de N, proteção do solo, controle de mente em regiões com elevada temperatura
outro fator que interfere na decomposição nematoides, etc. – são de maior interesse e precipitação, condições que aceleram
e liberação de nutrientes no solo. Nos pri- para a cultura que se pretende implantar a decomposição da palha. A rotação de
meiros meses do período vegetativo ocorre em determinada condição edafoclimática, culturas é a principal ferramenta para a
a mais alta porcentagem de N nos tecidos levando em consideração que o apro- manutenção da cobertura morta. Por isso,
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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 11

no SPD é primordial a elaboração de um Outra queixa dos agricultores é com de biomassa da aveia-preta semeada em
plano de rotação de culturas, que deve relação ao manejo das plantas daninhas sucessão (CORRÊA, 2009).
incluir espécies de famílias botânicas e/ e ao uso de herbicidas. A expansão do Atualmente, é possível encontrar
ou arquitetura de planta e sistema radicu- SPD contribuiu para o aumento do uso de equipamentos para plantio direto por
lar diferentes, o que propicia diferentes herbicidas à base de glyphosate, o que é tração animal, gerados e adaptados de
profundidades de exploração do solo e preocupante, pois o uso generalizado desse forma conjunta entre pesquisa, extensão,
diferentes manejos de plantas daninhas, principio ativo é prejudicial à microbiota agricultores e indústria. Para o manejo da
doenças e pragas. do solo e aos simbiontes radiculares, como palha, foram desenvolvidos o rolo-faca e a
Uma alternativa que tem sido utilizada algumas estirpes de Bradyrhizobium spp., grade de discos recortados; para melhoria
com sucesso para a formação da cobertura
responsáveis pela fixação biológica de N da fertilidade de solo, o distribuidor de
morta é o consórcio entre gramíneas e calcário e esterco; para auxílio no controle
atmosférico, e os fungos micorrízicos ar-
leguminosas (SANTOS, J. et al., 2007). das plantas daninhas, os pulverizadores
busculares (SANTOS et al., 2005; MALTY;
Enquanto as gramíneas apresentam alta re- de tração humana e animal; para quebra
SIQUEIRA; MOREIRA, 2006). A apli-
lação C/N, baixas taxas de decomposição e,
cação sucessiva de glyphosate também de camadas compactadas, o escarificador
por isso, maior permanência da palha sobre de tração animal; e, para plantio direto em
modifica a composição da comunidade de
o solo, as leguminosas apresentam baixa áreas de alta declividade, a matraca ma-
relação C/N e rápida taxa de decomposi- plantas daninhas, contribuindo para a pre-
nual direta, além da semeadora/adubadora
ção, o que possibilita que parte do N possa dominância de espécies tolerantes, de difí-
direta de tração animal (DAROLT, 2002).
ser liberado nas primeiras semanas após cil controle, como trapoeraba (Commelina
o manejo. No entanto, o aproveitamento benghalensis), corda-de-viola (Ipomoea
SISTEMAS AGROFLORESTAIS
desse nutriente pela cultura em sucessão grandifolia) e poaia (Richardia brasiliensis)
(SANTOS, 2001). Além disso, aumenta a O termo sistemas agroflorestais (SAFs)
dependerá do sincronismo entre a decom-
posição da palha e a demanda da cultura. dependência econômica dos agricultores refere-se, de modo simplificado, a um
Se a cultura em sucessão não absorver esse em relação às empresas químicas e a pos- conjunto de tecnologias e sistemas de
nutriente, grande parte pode ser perdida por sibilidade de contaminação das fontes de uso da terra em que espécies lenhosas
volatilização ou lixiviação. O consórcio água. Também está em desacordo com as perenes são cultivadas em uma mesma
de gramíneas com leguminosas, portanto, área em conjunto com culturas agrícolas
novas tendências do padrão mundial de
pode contribuir para uma liberação gradual e/ou animais, dentro de um arranjo espa-
consumo de alimentos mais saudáveis,
do N, impedindo sua imobilização inicial, cial e/ou sequência temporal (TAVARES;
com melhor qualidade, elevado valor nu-
geralmente observada quando se utiliza ANDRADE; COUTINHO, 2003).
tricional, e produzidos em sistemas menos
cobertura formada exclusivamente por Nos SAFs, normalmente, utiliza-se
agressivos ao ambiente.
gramínea, e favorecer o aproveitamento mais de um estrato, ou seja, os componen-
Principalmente na fase inicial do SPD,
desse nutriente pela cultura em sucessão, tes do sistema ocupam diferentes espaços
além de uma boa produção de palha pelas
além de permitir maior proteção do solo e alturas, minimizando a perda de solo.
plantas de cobertura, é necessário um bom
e controle das invasoras (SANTOS, J. et Nesses sistemas, as árvores têm importante
controle das plantas daninhas no final do
al., 2007). efeito na redução da erosão hídrica por
ciclo da cultura econômica, em especial
Entre os agricultores familiares, as promoverem a diminuição do impacto da
aquelas que se reproduzem por sementes, chuva, aumentarem a infiltração da água
principais dificuldades para a adoção desse
pois elas infestarão novamente a área, uma e manterem a cobertura do solo. Além
sistema abrangem:
vez que no SPD, as sementes mantêm-se disso, a utilização de componentes com
a) falta de recursos financeiros para
na superfície do solo (KLIEWER, 2004; diferentes hábitos de crescimento e estru-
aquisição de implementos e custeio;
FONTANÉTTI, 2008). tura de copa pode aumentar a eficiência
b) pouca informação técnica; Após quatro anos de implantação do no uso da água, por diminuir a velocidade
c) dificuldade no manejo da palhada; consórcio de milho com seis plantas de do vento e a demanda evaporativa no
d) dificuldade no controle de invasoras, feijão-de-porco (Canavalia ensiformes) sistema (CHIRWA apud NEVES et al.,
sobretudo, nos primeiros anos; por metro linear, semeadas na mesma 2007). A redução da evaporação em SAFs
e) aquisição de semeadoras/adubado- linha do milho, observou-se redução da é da ordem de 20% a 30%, fato esse muito
ras e demais implementos adaptados infestação das plantas daninhas de final importante em agroflorestas que envolvem
para pequenas propriedades, princi- do ciclo no SPD, sem a utilização de her- componentes sensíveis ao estresse hídrico.
palmente com preços acessíveis. bicidas, bem como aumento da produção Num sistema agroflorestal com cafeeiro,
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12 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

foi observada economia hídrica e balanço desses materiais em diferentes condições da erosão, a manutenção da umidade, a
hídrico positivo no início da estação seca pedoambientais. Os SAFs, por aumenta- redução da variação térmica e a produção
(NEVES et al., 2007). Porém, esses autores rem o teor de MO nos solos, geralmente de biomassa vegetal.
destacam que a manutenção do balanço apresentam aumento e ou manutenção do As espécies utilizadas como produtoras
hídrico positivo dependerá da exigência pH e, consequentemente, aumento nos de palha ou como adubo verde – por mais
hídrica dos componentes do sistema e da teores de cálcio (Ca) e magnésio (Mg), rústicas que sejam – assim como as culturas
duração da estação seca. e diminuição na saturação por alumínio econômicas, sofrem as consequências da
O efeito do manejo agroflorestal na (Al) (NEVES et al., 2007). Entretanto, acidez do solo, causada por elevados teores
manutenção da fertilidade do solo pode diferentemente das florestas nativas, nos de Al e manganês (Mn) e baixos teores
ser considerado como um fator direto do SAFs ocorre exportação de nutrientes nos de cátions básicos. Nessas condições as
controle da erosão e da manutenção da produtos colhidos, o que requer a reposi- plantas apresentam baixo crescimento fo-
serrapilheira. Estudos realizados com o ção desses nutrientes por adubações, para liar e radicular, tornando-se suscetíveis ao
mesmo tipo de solo e inclinação de ter- evitar o empobrecimento gradual do solo estresse hídrico. Não havendo acúmulo de
reno demonstraram que a perda média de (NEVES et al., 2007). Essa reposição pode biomassa vegetal, a atividade microbiana
solo em SAFs é de 217,3 kg/ha/ano, valor ser minimizada pelo manejo e o tempo de e a decomposição dos resíduos vegetais
muito inferior aos sistemas convencionais, estabelecimento do sistema agroflorestal. e animais são reduzidas e, consequente-
que apresentaram perda média de solo de A sistematização das informações so- mente, não há acúmulo de MO no solo. É
2.611,9 kg/ha/ano (FRANCO et al., 2002), bre os SAFs no Brasil ainda é incipiente, importante compreender que a correção
o que mostra o grande potencial dos siste- principalmente pela grande variação das da acidez é o início do processo de recu-
mas agroflorestais para a conservação do condições de solo e clima. No entanto,
peração da fertilidade do solo. Numa situ-
solo e, consequentemente, para garantir algumas generalizações podem ser feitas
ação de acidez inadequada, a maioria dos
maior sustentabilidade à agricultura fa- quanto à fertilidade, como por exemplo,
processos químicos e biológicos, torna-se
miliar. a utilização de leguminosas arbóreas, que
lento e/ou ineficiente.
A menor perda de solos nos SAFs têm-se mostrado eficientes quanto ao for-
Vale ressaltar que a necessidade de
deve-se também à melhoria das caracte- necimento dos nutrientes N e fósforo (P)
calagem não está relacionada somente com
rísticas físicas do solo proporcionadas por via deposição da folhagem, sendo indica-
o pH do solo, mas também com o poder
este sistema. Num estudo realizado no das para áreas degradadas.
tampão hidrogeniônico, que se relaciona
município de Araponga, MG, pertencente
diretamente com os teores de argila e MO
ao domínio Mata Atlântica, verificou-se IMPORTÂNCIA DA CORREÇÃO
DA ACIDEZ DO SOLO do solo. Solos argilosos necessitam de
que o sistema agroflorestal comparado ao
mais calcário para aumentar o pH, do que
convencional proporcionou melhorias nas A não realização da amostragem e aná-
os solos arenosos (SOUZA; MIRANDA;
qualidades físicas do solo, evidenciado lise química do solo ou a aplicação de doses
OLIVEIRA, 2007).
pela redução dos valores de argila dispersa abaixo das recomendadas ainda é um dos
em água, densidade do solo e resistência à principais fatores determinantes da baixa CONSIDERAÇÕES FINAIS
penetração; essas características proporcio- produtividade de muitas culturas no Brasil
nam maior infiltração e maior período de (SOUZA; MIRANDA; OLIVEIRA, 2007). A integração de ações gerenciais e
retenção da água das chuvas, aumentando o Em áreas destinadas à reforma agrária, a tecnológicas e a manutenção ou adequa-
intervalo de tempo para utilização da água situação ainda é mais drástica por se tra- ção de equipamentos e estruturas são
pelas plantas (AGUIAR, 2008). tar, em geral, de áreas abandonadas, com essenciais para o sucesso da agricultura
A decomposição da serrapilheira é um predomínio de pastagens, onde o nível de familiar. As tecnologias disponíveis para
dos principais mecanismos para a ciclagem degradação do solo é alto e, consequente- manutenção e/ou melhoria da fertilidade
de nutrientes em sistemas agroflorestais. mente, o pH baixo. do agroecossistema, especialmente aquelas
Sua formação depende da quantidade de Como mencionado anteriormente, o fundamentadas em práticas agroecoló-
resíduos orgânicos depositada pela parte acúmulo de MO no solo contribui para gicas, são importantes ferramentas para
aérea das plantas e da taxa de decomposi- manutenção e/ou aumento do pH e, con- a sustentabilidade da produção agrícola,
ção desses resíduos. Assim, é importante sequentemente, dos teores de Ca e Mg principalmente para a agricultura familiar,
conhecer a quantidade e a qualidade do disponíveis para as plantas. Porém, para pois visam à construção da fertilidade do
material que forma a serrapilheira, bem que a MO possa ser acumulada, são ne- sistema e à menor dependência de insumos
como a velocidade de decomposição cessárias, entre outras práticas, o controle externos.
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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 13

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14 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

Produção de alimentos básicos


e segurança alimentar: mandioca
Tocio Sediyama 1
Paula Acácia Silva Ramos 2
Maria Aparecida Nogueira Sediyama 3

Resumo - A mandioca ocupa lugar importante na segurança alimentar dos brasileiros


e dos povos que habitam as regiões tropicais, sendo um ótimo alimento tanto para
o homem quanto para os animais. No Brasil, é uma das principais culturas não só
em área colhida, mas também em valor de produção, além de ser a mais importante
para a segurança alimentar e para os agricultores familiares. Nas fases de produção
e processamento gera, aproximadamente, um milhão de empregos diretos, o que
evidencia sua contribuição econômica e social em relação ao agronegócio. As ramas e
as folhas da mandioca são excelentes materiais para alimentação animal em forma de
feno e silagem, pois são ricas em proteínas, vitaminas e minerais. As raízes também
podem ser armazenadas em lascas ou raspas, com 12% de umidade e, posteriormente,
adicionadas às rações. Na alimentação humana, a raiz é utilizada cozida ou assada
e dela são preparados a farinha e o polvilho, que garantem alimento e geração de
renda para a agricultura familiar por longo período. Nas Regiões Norte e Nordeste
do Brasil, as folhas da planta são consumidas na forma de maniçoba e farinha de
folha. Por apresentar características desejáveis para diferentes usos, tornou-se um dos
alimentos básicos na alimentação humana ao lado do arroz, feijão e milho. O uso de
variedades próprias a cada tipo de exploração, a seleção do material de propagação, a
época adequada de plantio e o consórcio, quando bem manejados, têm proporcionado
maiores rendimentos da cultura, sem aumentos significativos nos gastos com insumos.
O processamento mínimo das raízes aumenta o período de conservação pós-colheita e
o valor do produto, aumentando também os rendimentos financeiros do produtor de
mandioca.

Palavras-chave: Manihot esculenta. Trato cultural. Cultivar. Colheita. Consorciação de


cultura. Maniçoba. Farinha.

INTRODUÇÃO arroz, do feijão e do milho, especialmente Em Minas Gerais, o polvilho é utilizado


por apresentar características desejáveis no preparo do tradicional pão de queijo.
A mandioca (Manihot esculenta
para diferentes usos: a raiz em pedaços, A maniçoba, também conhecida como
Crantz) passou, ao longo de seu cultivo,
cozida ou frita, pode acompanhar diversas
por seleções naturais, resultando em varie- “feijoada paraense”, é um dos pratos de
carnes ou ser o ingrediente principal de
dades adaptadas às diversas condições de origem indígena, preparado com as folhas
sopas, pães, entre outros pratos da culiná-
clima e solo, inclusive resistência a pragas ria brasileira. O amido extraído da raiz é da mandioca, moídas e cozidas, acrescido
e doenças. Tornou-se um dos alimentos utilizado no preparo de vários produtos, de carne de porco, carne bovina e outros
básicos na alimentação humana ao lado do dependendo da tradição de cada região. ingredientes defumados e salgados.

1
Engo Agro, D.Sc., Prof. Associado II UFV- Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: t.sediyama@ufv.br
2
Enga Agra, Doutoranda UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: paula_agro_ramos@yahoo.com.br
3
Enga Agra, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG ZM/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: marians@epamig.ufv.br

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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 15

A raiz da mandioca é um alimento ener- população brasileira (Fig. 1). Apesar de de chuva está entre 1.000 e 1.500 mm bem
gético, barato, saudável e de fácil preparo. sua importância para a indústria, alimen- distribuídos, especialmente nos primeiros
O consumo médio de raízes de mandioca, tação humana e animal, a produtividade seis meses após o plantio. Entretanto, a
no Brasil, é cerca de 1 kg/pessoa/ano e, de média nacional de mandioca é de 13,6 t/ha, planta pode ser cultivada em áreas com
farinha de mandioca, 3,7 kg/pessoa/ano. valor muito inferior ao potencial produtivo precipitação em torno de 600 a 4.000 mm.
Em razão da facilidade de cultivo, ele- da cultura, que pode chegar a 60 t/ha, com No Brasil, o cultivo da mandioca é feito,
vada capacidade de uso da água e da grande o uso de tecnologias adequadas de cultivo, principalmente, em altitudes de até 1.000 m,
adaptação em solos de baixa fertilidade, a não se recomendam plantios em regiões mais
que possibilitam altos rendimentos.
produção de mandioca ocorre em todas as altas, pois a ocorrência de baixas temperatu-
ras comumente causa alongamento do ciclo
unidades da Federação, com grande con- EXIGÊNCIAS CLIMÁTICAS E
ÉPOCA DE PLANTIO e redução na produtividade.
centração nas Regiões Norte e Nordeste,
De modo geral, o plantio deve coincidir
e em alguns Estados como Paraná, São A mandioca desenvolve-se melhor com o início do período chuvoso, ou no
Paulo e Mato Grosso, que se destacam pelo em climas quentes e úmidos. A faixa período em que haja disponibilidade de
processamento industrial. O cultivo é feito, ideal de temperatura para o cultivo está umidade no solo, para garantir a brotação
tanto para mesa quanto para indústria. Na entre 25 ºC e 30 ºC, sendo que tempera- das manivas e o enraizamento. Atraso
indústria, os produtos da mandioca têm turas abaixo de 10 ºC e acima de 40 ºC na época de plantio acarreta diminuição
larga utilização na área farmacêutica, têx- limitam o seu crescimento. A planta é na produtividade de raízes por falta de
til, materiais biodegradáveis, produção de exigente em radiação solar, sua redução temperatura e de umidade no solo. A falta
papel e também em substituição ao trigo, provoca diminuição da fotossíntese, com de umidade, durante os primeiros meses
na indústria de alimentos. produção de poucas raízes tuberosas. após o plantio, causa perdas na brotação
O Brasil é o segundo maior produtor A planta da mandioca é extremamente e na produção, enquanto o excesso em
mundial de mandioca, com 26 milhões de eficiente na utilização de água. No início do solos mal drenados favorece a podridão
toneladas, em 2008. A agricultura fami- período seco, a área foliar reduz, bem como de raízes. Para o estado de Minas Gerais,
liar, mesmo tendo uma área menor com a transpiração. Os estômatos fecham-se recomenda-se o plantio de outubro a de-
lavouras (17,7 milhões de hectares), é a rapidamente com pequenas mudanças no zembro na região do Cerrado, e de junho
principal fornecedora de mandioca para a potencial hídrico da folha. O volume ideal a setembro na Zona da Mata.

Figura 1 - Participação, em porcentagem, da agricultura familiar na produção de alimentos


FONTE: Brasil (2009b).

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16 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

CULTIVARES apresentam boa adaptação às condições do a compactação dificulta o crescimento, e o


Cerrado mineiro. encharcamento favorece o apodrecimento
A mandioca é uma cultura originária do
A planta de mandioca possui uma subs- das raízes.
Brasil, onde existem mais de 5 mil varie-
tância denominada linamarina que, quando A cultura da mandioca apresenta gran-
dades conhecidas com estrutura genética
os tecidos são danificados, libera o HCN, de capacidade de adaptação a solos com
e adaptabilidade a diversos ambientes.
altamente tóxico. De acordo com o teor de pouca fertilidade, especialmente pelo fato
Grande parte desse material é oriundo
HCN encontrado em polpa de raiz fresca, de apresentar sistema radicular abundante e
de seleções efetuadas pelos produtores,
as variedades são classificadas em: profundo, explorar grande volume de solo,
sendo comum encontrar cultivares com
a) não venenosas: menos de 50 mg de ser planta de ciclo longo e não apresentar
características diferentes e que apresentam
HCN/kg; picos de demanda de nutrientes. Entre-
o mesmo nome e cultivares iguais com
tanto, responde a condições favoráveis
nomes diferentes. ����������������������
De acordo com a utili- b) pouco venenosas: de 50 a 80 mg de
de ambientes de cultivo, com melhores
zação, as cultivares podem ser classificadas HCN/kg;
produtividades. Também apresenta certa
em três grupos: para indústria, para mesa e c) venenosas: de 80 a 100 mg de tolerância a solos ácidos e altos níveis de
para forragem. Entre os grupos há variação HCN/kg; saturação por alumínio, porém é muito
de características como porcentagem de d) muito venenosas: acima de 100 mg suscetível à salinidade. A faixa ideal de
amido, teor de ácido cianídrico (HCN), de HCN/kg. pH situa-se entre 5 e 6. O rendimento é
facilidade de cozimento, sabor, qualidade
O teor de HCN de uma mesma varieda- bastante reduzido em solos salinos ou
da massa, entre outras. Assim, antes do
de pode-se modificar em função da idade com pH alto, em torno de 7,5. Apesar da
plantio, o produtor deve escolher a varieda-
da planta, condições ambientais, métodos tolerância da cultura à acidez do solo, a
de, em função da finalidade que será dada
de cultivo etc. calagem permite aumentar a disponibili-
ao produto colhido. dade de nutrientes para as plantas, além de
Não foi encontrada, até o momento,
Para uso na indústria, a preferência é fornecer cálcio (Ca) e magnésio (Mg). A
nenhuma característica morfológica da
pelas variedades denominadas “bravas” calagem deve ser feita com antecedência
planta associada ao teor de cianeto. Desse
(mais de 100 mg de HCN por quilo de mínima de 90 dias do plantio, usando-se
modo, embora, às vezes, agricultores
polpa de raiz fresca), em função de serem
afirmem que cultivares com pecíolo roxo, de preferência o calcário dolomítico e na
mais difundidas e apresentarem maior rus- quantidade máxima de 2 t/ha. A incorpo-
folhas verde-escuras e raiz com casca
ticidade e produtividade. Essas variedades ração do calcário deve ser feita na maior
externa clara apresentem toxidez elevada,
devem satisfazer aos seguintes requisitos: profundidade possível, pois possibilita às
tal fato pode não corresponder à realidade.
a) precocidade e alta produtividade; Os agricultores conseguem identificar as raízes absorventes explorar maior volume
b) elevado teor de amido; cultivares com as quais estão habituados, de solo, em termos de nutrientes e água.
entretanto, não conseguem diferenciar A adubação deve ser feita com base na
c) raízes cilíndricas ou cilindro-cônicas
cultivares mansas ou bravas. É importan- demanda da planta, disponibilidade atual
e com tamanho médio de 30 a 40 cm
te salientar que mesmo em uma cultivar ou potencial do nutriente no solo e eficiên-
de comprimento;
mansa, o teor de cianeto na parte aérea é cia de recuperação do fertilizante. Antes de
d) arquitetura de plantas que facilite os realizar o plantio, é indispensável realizar
tratos culturais; comumente elevado, não sendo indicadas
a análise do solo. Tem-se observado, em
quantidades elevadas da parte aérea de
e) fornecimento de adequada quan- condições de agricultura familiar, produ-
mandioca fresca aos animais, ou seja, o
tidade de hastes para os plantios tividade inferior a 15 t/ha, muito abaixo do
fornecimento deve ser feito na forma de
subsequentes; potencial produtivo da mandioca, que pode
feno e silagem.
f) resistência às pragas e doenças de chegar a 60 t/ha. Em trabalho realizado em
pequenas propriedades de treze municí-
maior incidência na região; SOLO, CALAGEM E
ADUBAÇÃO pios do Oeste da Bahia, verificou-se que
g) maior tempo de conservação pós-
apenas 10% dos produtores entrevistados
colheita. Na escolha da área de plantio, deve- faziam análise de solo, aplicavam calcário
As variedades mais indicadas devem se dar preferência a solos bem drenados, e adubavam a cultura. Dessa forma, um dos
apresentar produtividade média maior que profundos e com declividade de até 10%. motivos da baixa produtividade, pode ser o
25 t/ha e teor de amido superior a 30%. As Os solos ideais para o cultivo devem desequilíbrio nutricional da planta.
cultivares Engana Ladrão, Sonora, BGM apresentar textura média a arenosa, para Pesquisas demonstram que são ex-
52, Caapora, Mantiqueira, Riqueza, IAC facilitar a colheita. Solos argilosos em traídos, aproximadamente, 4,91 kg de
12- 829, IAC 14-18, IAC 7-127 e EAB 653 áreas de baixada devem ser evitados, pois nitrogênio; 1,08 kg de fósforo; 5,83 kg de
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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 17

potássio; 1,83 kg de cálcio e 0,79 kg de A aplicação de zinco (Zn) na quantidade de 2,0 cm. Quanto
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mais adversas as con-
magnésio por tonelada da planta inteira. de 20 kg de sulfato de zinco juntamente dições ambientais, na época de plantio,
Além da extração de nutrientes pela cul- com N, P e K tem dado respostas positivas mais importante observar o comprimento
tura, os solos cultivados com mandioca na produção de raízes, principalmente em da maniva, que está relacionado com as re-
estão sujeitos à degradação pelo processo solos de Cerrado. servas disponíveis para o desenvolvimento
erosivo, principalmente nos estádios ini- inicial das brotações.
ciais de desenvolvimento da planta. Por PREPARO DAS MANIVAS E Normalmente, a época de colheita das
isso, o sistema de preparo do solo e de PLANTIO raízes não coincide com a época de plantio,
plantio deve obedecer às boas práticas de sendo necessário armazenar adequada-
A mandioca é propagada por via vege-
conservação do solo e da água. mente as manivas, para que permaneçam
tativa, usando segmentos de caule deno-
A mandioca responde bem à aplicação em condições de ser usadas até a época de
minados manivas. Para preparação dessas
de adubos orgânicos (estercos, tortas, com- plantio, sem perdas de reservas, vigor das
manivas, devem ser utilizadas plantas com
postos, adubos verdes e outros), que devem brotações e, consequentemente, da pro-
idade entre 8 e 18 meses, com ramas ma-
ser usados, preferencialmente, como fonte dutividade. O método de armazenamento
duras e bem desenvolvidas, que forneçam
de nitrogênio (N). Esses adubos devem ser depende da região de plantio. Quando o
material de boa qualidade e alta reserva
previamente fermentados e estabilizados, problema principal é evitar rápida desi-
nutritiva, o que garante brotações e plantas
sendo aplicados com alguns dias de ante- dratação, o armazenamento de manivas
vigorosas, rápida cobertura do solo pela
cedência ao plantio. à sombra de árvores ou com cobertura de
Para reposição do N, a adubação reco- parte aérea da planta e, consequentemente,
palha, com a base enterrada cerca de 10 cm
mendada é de 40 kg de N/ha, tendo como maior produção de raízes.����������������
Manivas de qua-
no solo, tem dado bons resultados. Pode-
fonte a ureia ou sulfato de amônio, sendo a lidade regular ou ruim podem dar origem a
se optar também por destinar uma área da
resposta da planta influenciada pelo tipo de planta aparentemente normal, porém com
propriedade para a produção de ramas para
solo e pelo teor de matéria orgânica (MO). rendimento baixo a nulo, quando compa-
plantio, a qual, se possível, deverá receber
O N em doses adequadas favorece o cres- rado a uma planta proveniente de maniva tratos mais intensos, como adubações e
cimento e desenvolvimento da planta, mas de boa qualidade. limpezas mais constantes. Considera-se
em dose maior que a necessária, ocasiona Devem ser descartadas manivas com que o cultivo de um hectare de manivas,
crescimento exagerado da parte aérea, manchas causadas por fungos, com sinais após um ano, pode fornecer material sufi-
diminui a produção de raízes e o teor de de perfurações provocadas por brocas ou ciente para plantio de, aproximadamente,
amido, além de aumentar o teor de HCN. por outros insetos, com danos mecânicos 4,0 a 5,0 hectares.
A adubação nitrogenada em cobertura deve causados por fricção durante as operações O espaçamento utilizado para o cultivo
ser feita entre 30 e 60 dias após a brotação, de armazenamento e transporte. Sempre da mandioca varia em função da fertilidade
com o solo úmido, quando as raízes já estão que possível, dar preferência às manivas do solo, da variedade e do tipo de explora-
em condições de absorver o N aplicado do terço médio da planta, desprezando os ção. Em plantio solteiro, de fileiras simples,
(RIBEIRO et al., 1999). primeiros 15 cm da base e a parte terminal recomenda-se o espaçamento de 1,0 m entre
Apesar de o fósforo (P) ser exigido em da rama, que é fina, tenra e tem poucas as linhas e 0,5 a 0,6 m entre plantas na linha.
menor quantidade pela planta, em relação reservas, apresentando baixa sobrevivência Na produção de ramas para forragem (has-
ao potássio (K) e ao N, a adubação fosfa- em campo, principalmente em condições tes e folhas), pode ser usado o espaçamento
tada no sulco de plantio tem proporcionado ambientais desfavoráveis. de 0,8 m entre as linhas e de 0,4 a 0,5 m en-
aumento significativo na produção da man- O corte das manivas para plantio é tre plantas na linha. Em solos mais férteis,
dioca. Dependendo da quantidade aplicada, feito, normalmente, com facão, em ângulo a planta cresce mais e deve-se aumentar o
por causa da sua pequena mobilidade no reto, o que possibilita melhor formação espaçamento entre as linhas, para maior
solo, uma aplicação é aproveitada por dois das raízes. Deve-se segurar a rama de área de exploração por planta, enquanto
ou três cultivos seguidos. mandioca com a mão, dar um golpe com em áreas de menor fertilidade, a tendência
Embora o K seja retirado do solo em o facão e, em seguida, girar 180º, para é reduzir o espaçamento, proporcionando
quantidades maiores, o efeito desse ele- com outro golpe cortar a maniva. Não é maior população de plantas.
mento é menor que o do P e do N para a recomendável o uso de qualquer tipo de O plantio em solos não sujeitos a en-
produção da mandioca. No entanto, em apoio durante o corte para não danificar charcamento ou em terreno arenoso pode
cultivos sucessivos, o K pode ser decisivo as gemas das manivas. ser feito em sulcos, com aproximadamente
nos efeitos esperados da adubação. Pesqui- Recomenda-se plantar manivas com 10 cm de profundidade, construídos com
sas demonstram que a ausência de K reduz 20 cm de comprimento, com pelo menos sulcador tracionado por animal ou trator.
acentuadamente o teor de amido das raízes. cinco nós (gemas) e diâmetro aproximado As manivas devem ser dispostas horizon-
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18 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

talmente nos sulcos e, posteriormente, Rotação de culturas cobertura morta, consórcio e até mesmo o
cobertas com uma camada de terra. Este plantio da maniva nas posições vertical ou
A rotação de culturas, além de outras
procedimento favorece o desenvolvi- inclinada podem ser adotadas, com o obje-
vantagens, melhora a eficiência do controle
mento superficial das raízes, facilitando tivo de aumentar o poder de competição da
de doenças, pragas e plantas invasoras, bem
a colheita. mandioca com as plantas daninhas.
como da erosão. Não é recomendável repe-
Não é muito comum o uso de herbici-
Consórcio tir o plantio da mandioca na mesma área das na cultura da mandioca, mas o número
por mais de dois cultivos consecutivos, de agricultores que adotam essa prática
O cultivo consorciado de mandioca
principalmente em cultivo solteiro, quando tem aumentado nos últimos anos. Deve-se
é amplamente utilizado pelos pequenos o solo fica mais exposto aos efeitos do sol alertar para o uso de herbicidas registrados
produtores das regiões tropicais, pois e da chuva. A mandioca deve ser plantada para a cultura, conforme alguns exemplos
apresenta algumas vantagens em relação após outra cultura, como milho, algodão, registrados no Quadro 2.
ao monocultivo: promove melhor utiliza- arroz, girassol, soja ou leguminosas usadas
ção da terra, maior exploração de água e como adubo verde. Especialmente no caso PRAGAS E DOENÇAS
nutrientes, melhor utilização da força de da agricultura familiar, é importante que a A mandioca está sujeita a grande
trabalho; eficiência no controle de plantas cultura em rotação apresente rendimento número de pragas e doenças, capazes de
daninhas e disponibilidade de mais de uma de produto comercial. Neste caso, a rotação comprometer a qualidade e a produtividade
fonte de alimento na mesma área, aumen- de culturas pode ser feita como forma de final da cultura. Dentre as pragas destacam-
tando a segurança alimentar. diversificação da produção e aproveita- se o mandarová, ácaros, mosca-branca,
Em casos de consórcios com feijão, mento da adubação residual realizada na tripes, formigas, cochonilhas e percevejos-
feijão-caupi, arroz, milho ou outras plantas cultura anterior. de-renda.
anuais, pode-se adotar o espaçamento em Entre as principais doenças causado-
Manejo de plantas ras de danos citam-se: podridão-radicular
fileiras duplas que apresenta produtividade
daninhas (Phytophthora sp.), podridão-seca (Fusarium
de raízes maior que o plantio solteiro ou
sp.), bacteriose ou requeima-bacteriana-da-
consorciado em fileiras simples (Quadro 1). O rendimento da mandioca pode ser
mandioca (Xanthomonas campestres), supe-
Os espaçamentos em fileiras duplas aumentado substancialmente com o con-
ralongamento (Sphaceloma manihoticola) e
variam de 2,0 a 3,0 m entre fileiras duplas trole de plantas daninhas feito durante
antracnose (Colletotrichum gloesporioides).
os estádios iniciais do crescimento. Isso
de mandioca e 0,6 a 0,8 m x 0,6 m dentro O método de controle irá depender da
porque, mesmo em condições ótimas, a
das fileiras duplas. O consórcio pode ser praga ou doença infestante da área, entre-
folhagem da mandioca leva, aproxima- tanto algumas práticas preventivas devem
feito com plantio de duas a quatro linhas
damente, dois meses para cobrir a área ser adotadas, como, por exemplo, uso de
da outra cultura, dependendo da altura
e, em condições menos favoráveis, pode variedades resistentes, aquisição de ma-
que as plantas atingirão, para não causar demorar até quatro meses. Assim, a man- nivas sadias, utilização de solos com boa
o sombreamento da mandioca. Pode-se, dioca deve estar livre de plantas daninhas, drenagem, rotação de culturas com cereais,
assim, usar uma fileira de milho alternada principalmente, durante os primeiros 120 escolha de áreas sem histórico de doenças
com uma de feijão, ou só milho, ou só dias após o plantio. Práticas agronômicas ou pragas, colheita precoce entre outras.
feijão, ou só arroz, ou só amendoim entre simples, como melhor seleção do material No caso do controle do mandarová da
as fileiras duplas de mandioca. de plantio, aumento da densidade, uso de mandioca, uma das pragas mais severas, o

QUADRO 1 - Produtividade de mandioca em plantios de fileiras simples e duplas e de grãos de feijão, milho, caupi e de vagens secas de
amendoim em plantios consorciados
Fileiras duplas de madioca Raízes Grãos Fileiras simples de mandioca Raízes Grãos ou vagens
(2,0m x 0,6m x 0,6m) (t/ha) (t/ha) (1m x 1m) (t/ha) (t/ha)

Mandioca + Feijão 30,94 1,34 Mandioca + Feijão 14,83 0,33

Mandioca + Milho 28,80 3,01 Mandioca + Milho 15,18 1,55

Mandioca + Caupi 27,60 1,61 Mandioca + Caupi 14,67 0,68

Mandioca + Amendoim 29,44 1,33 Mandioca + Amendoim 16,84 0,66


FONTE: Mattos e Gomes (2000).

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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 19

QUADRO 2 - Herbicidas registrados para uso na cultura da mandioca


Dose
Nome técnico Nome comercial Indicação Classe toxicológica
(p.c./ha)
Clomazona Gamit 360 CS Pré-emergência 2,8 a 3,5 L III
Isoxaflutol Provence 750WG Pré-emergência 100 a 125 g III
Metribuzim Sencor 480 Pré-emergência 0,75 a 1,0 L IV
Ametrina+Clomazona Sinerge EC Pré e Pós-emergência 4 a 5 mL II
FONTE: Anvisa (2009) e Brasil (2009a).
NOTA: p.c. - Produto comercial.
II - Muito tóxico; III - Moderadamente tóxico; IV - Pouco tóxico.

controle biológico com inimigos naturais o arranquio da planta inteira. Para áreas O processamento deve ser realizado
ou com o Baculovirus erinnyis tem apre- maiores, primeiro faz-se a poda da parte com cautela, visto que as etapas de descas-
sentado excelentes resultados em campo. aérea a uma altura de 20 a 40 cm do solo, camento e de corte injuriam os tecidos e
As lagartas que apresentam sintomas de deixando somente parte da haste principal, os submetem a condições de estresse. Isso
contaminação por baculovírus ficam pre- a qual serve de apoio para o arranquio das leva ao aumento da respiração e produção
sas e penduradas nos pecíolos das folhas raízes. Em seguida as raízes são separadas de etileno, além de ocorrer reações de escu-
de mandioca e, se esmagadas, têm cheiro da planta-mãe e devem ser transportadas recimento, oxidação de lipídeos e aumento
de ovo podre. As lagartas contaminadas logo após, evitando passar mais de 12 horas na perda de água. Processos de redução
podem ser recolhidas nas áreas de culti- no campo. O processamento e o comércio de tamanho, tais como corte e fatiamen-
vo e armazenadas congeladas por vários do produto in natura devem ocorrer em to, favorecem em muito o crescimento
anos. Quando necessário, podem ser bem até 24 horas após a colheita, para evitar as microbiano. Com os cortes, a proteção da
esmagadas ou trituradas em liquidificador transformações enzimáticas e a ação de mi- casca deixa de existir, expondo o interior
e a suspensão obtida deve ser filtrada em crorganismos que ocorrem nas raízes, que dos tecidos, que passam a liberar “sucos”,
pano fino e depois misturada em água para comprometem a aparência para o comércio
que servirão de meio nutritivo para o de-
realizar novas puverizações. A aplicação de e a qualidade para o consumo humano.
senvolvimento da microflora.
12 a 22 lagartas por hectare proporciona O custo de produção de um hectare
excelente controle, desde que seja feita em de mandioca é de, aproximadamente, Deterioração
períodos menos quentes do dia. R$ 700,00. Considerando uma produti-
vidade média de 15 t/ha, ao preço médio As raízes tuberosas da mandioca são
vulneráveis a diversos estresses de natu-
COLHEITA de R$ 160,00 a tonelada, a receita bruta
reza física, principalmente aos danos me-
gira em torno de R$ 2.400,00, propor-
A melhor época de colheita é quando cânicos, causados pela colheita, transporte
cionando uma receita líquida em torno
as plantas apresentam-se total ou parcial- e armazenagem. Considerando a venda
de R$ 1.700,00.
mente desfolhadas, antes que se iniciem as de raízes de mandioca in natura, esse
novas brotações. Esse período depende da efeito pode ser fator limitante tanto para a
PÓS-COLHEITA
variedade e da finalidade do produto. De comercialização como para as formas de
modo geral, o ciclo varia de um a dois anos. processamento. Após a colheita, as raízes
No caso da mandioca de mesa, as Preparo mínimo sofrem dois processos de deterioração,
plantas são colhidas, normalmente, com O preparo mínimo ou processamento denominados primários (fisiológico) e
6 a 12 meses de ciclo, quando as raízes mínimo visa manter a qualidade inicial secundários (microbiológico).
tuberosas apresentam menos fibras e bom A deterioração fisiológica inicia-se em
das raízes por maior tempo, o que tem sido
crescimento e desenvolvimento. A produ- partes danificadas do tecido da raiz e os
grande desafio para a indústria alimentar.
tividade muda com as variedades utiliza- sintomas são: formação de estrias azula-
A tecnologia de processamento mínimo
das, o espaçamento e os tratos culturais das ou descoloração vascular ao longo do
empregados na cultura, sendo em média da mandioca apresenta-se como alterna- parênquima de armazenamento, indicando
de 15 a 25 t/ha. tiva para agregar valor e prolongar a vida comprometimento do xilema. Mesmo essa
A colheita das raízes da mandioca útil do produto, podendo ser realizada coloração não originando odor ou sabor
pode ser realizada manualmente ou com por agricultores familiares, em função da indesejável, a má aparência é suficiente
auxílio de instrumentos. Alguns produ- facilidade de execução e de custo inicial para afastar os consumidores, uma vez que,
tores, dependendo do tipo de solo, fazem relativamente baixo. após cozidas, as estrias nas raízes podem
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20 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

desaparecer ou se tornarem levemente enzimas oxidativas como da peroxidase- Norte e Nordeste. Caracteriza-se por ser
acinzentadas. Durante a deterioração fisio- guaiacol (ácido ascórbico, ácido cítrico) e alimento de alto valor energético (elevado
lógica, há rápida redução no teor de amido da catalase: (ácido acético). teor de amido) e conter alguns minerais
e da umidade. Dependendo da finalidade Outra técnica de conservação é o como K, Ca, P, sódio (Na) e ferro (Fe).
do produto, essa é uma característica in- congelamento, que é um método eficiente Atualmente, são produzidos diferentes ti-
desejável, pois leva à perda da qualidade. para armazenar raízes de mandioca, por pos de farinha, sendo as principais: farinha
Muitas vezes, é difícil distinguir entre controlar ambos os tipos de deterioração: d’água (fermentada), farinha seca (ralada)
os dois tipos de deterioração, entretanto, fisiológica e microbiológica. A temperatura e farinha mista. Esta última é o resultado
esse processo está relacionado com a quan- ideal para o armazenamento refrigerado de da mistura das duas primeiras. Cada um
tidade de água existente na raiz (mais de mandioca é 3°C. O armazenamento sob desses tipos é apresentado nas formas fina
60%), o que facilita a contaminação micro- refrigeração e o congelamento de raízes e grossa e classificada pela cor branca,
biológica. Na deterioração microbiológica cruas retardam a deterioração, enquanto amarela e intermediária.
ocorre entrada de bactérias ou fungos, que que o cozimento paralisa o processo ao A tecnologia de fabricação da farinha
intensificam as transformações e provocam inativar as enzimas. de mandioca é simples, mas exige alguns
a fermentação e apodrecimento da raiz, Tem-se ainda a possibilidade de usar cuidados no seu desenvolvimento. A sele-
induzindo ao cheiro de raiz fermentada a mandioca descascada, cozida a vapor e ção da matéria-prima adequada, a higiene
e posterior aparecimento de bolores, o embalada a vácuo, em processo industrial, e os cuidados durante todo o processo de
que reduz a qualidade e a quantidade do podendo ser armazenada à temperatura fabricação, embalagem e armazenamento
produto. O processamento, como o corte são fatores fundamentais para garantir
ambiente por vários meses.
e o fatiamento, pode também favorecer o um produto de qualidade. O rendimento
O tratamento pós-colheita agrega valor
crescimento microbiano.
ao produto, aumentando o retorno para os industrial de farinha de mandioca varia de
produtores, todavia deve ser escolhido de 25% a 30%, ou seja, uma tonelada de raízes
Conservação
acordo com o contexto socioeconômico frescas produz 250 a 300 kg de farinha.
Anteriormente, as raízes frescas eram da exploração, forma de utilização e de Atualmente, a demanda de amido de
comercializadas sem tratamento pós- comercialização. mandioca (fécula) tem crescido de forma
colheita e, portanto, tinham de chegar ao substancial, principalmente pelo setor
consumidor em curto espaço de tempo, USOS DA MANDIOCA industrial, a exemplo da utilização de
antes que a deterioração se tornasse visível. fécula na mistura de farinha de trigo para
A raiz da mandioca é utilizada dire-
Com a demanda pelo produto in natura, fabricação de pães, que visa reduzir as
tamente na alimentação humana, cozida,
o quadro modificou-se e já são utilizadas importações de trigo, gerando divisas para
frita ou assada, ou como matéria-prima
técnicas de conservação para reduzir a de- o País. O amido também é base da tapioca
para diversos produtos industrializados.
terioração e aumentar a vida pós-colheita, e do polvilho, com ampla aplicação na
Os produtos das raízes para alimentação
que compreendem: uso de diferentes culinária, como na fabricação de biscoitos e
humana são a farinha, a fécula, o beiju, o
locais de armazenamento, isolamento de
carimã, dentre outros. Esses produtos são beijus, e em diferentes produtos industriais.
microrganismos, exclusão do oxigênio
utilizados de diversas formas em bolos,
(raízes cobertas de parafina, embalagens pães, sopas, macarrão, etc. As raízes tam- CONSIDERAÇÕES FINAIS
a vácuo), uso de câmaras frias (atmosfera bém podem ser armazenadas em forma de
controlada e modificada com redução de O2 lascas ou raspas, com 12% de umidade,
A mandioca apresenta ampla adap-
e CO2), tratamento térmico (como o bran- tação climática, em especial nas regiões
para serem adicionadas nas rações dos
queamento), alteração do pH e tratamento tropicais. No Brasil, é amplamente culti-
animais. As folhas e ramas da planta - ricas
vada em todos os Estados da Federação.
com produtos químicos. O armazenamento em proteínas, vitaminas e minerais - são
a vácuo das raízes inteiras pode propiciar o transformadas em feno ou silagem para O consumo nacional da mandioca e de
crescimento de microrganismos anaeróbi- animais. Nas Regiões Norte e Nordeste seus subprodutos é muito acima da média
cos, aqueles que se desenvolvem na ausên- do Brasil, principalmente, as folhas da mundial, principalmente, tendo em vista
cia de oxigênio e que podem causar danos mandioca são consumidas na forma de a diversidade de formas como o produto
à saúde ou morte do consumidor. A escolha maniçoba e farinha da folha. é consumido.
de produtos químicos e de dosagens para No Brasil, mais de 90% da mandioca Apresenta certa tolerância a solos
o tratamento das raízes deve ser muito é consumida na forma de farinha, que pobres, resistência a pragas e doenças,
criteriosa, para não causar danos à saúde constitui um dos principais produtos que grande número de variedades cultivadas,
dos consumidores. Por exemplo, podem compõem a refeição diária da maioria dos facilidade de multiplicação e cultivo, além
ser utilizados os inibidores específicos das brasileiros, especialmente das Regiões da possibilidade de suas raízes poderem ser
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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 21

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22 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

Produção de feijão: segurança alimentar


Rogério Faria Vieira 1
Trazilbo José de Paula Júnior 2
Hudson Teixeira 3

Resumo - Apesar do crescimento da produção de feijão em áreas extensas, aquela


proveniente de pequenas propriedades ainda responde pela maior parte produzida em
Minas Gerais. A maximização do rendimento e a minimização dos custos de produção
são fatores importantes para aumentar o lucro dos pequenos produtores. O uso de tec-
nologia e o aproveitamento racional dos recursos naturais devem nortear as ações dos
agricultores. Serão abordados épocas de plantio, cultivares, espaçamento entre fileiras
e densidade de plantas, sistemas de cultivo, consórcio milho-feijão, adubação, irriga-
ção, controle de plantas daninhas, pragas e doenças, bem como informações práticas
mescladas a tecnologias provenientes de pesquisas, que visem aumentar a renda do
agricultor com o cultivo do feijão.

Palavras-chave: Phaseolus vulgaris. Agricultura familiar. Economia de água. Redução


de erosão.

INTRODUÇÃO do aumento da produtividade. Esta é resul- feijão-preto é produzido nas regiões mais
tado do emprego de tecnologias, como uso próximas do estado do Rio de Janeiro.
O feijão-comum (Phaseolus vulgaris
de irrigação, de controle fitossanitário, de
L.) é um dos itens essenciais da dieta ali-
adubações mais criteriosas, de cultivares ÉPOCAS DE PLANTIO
mentar da maioria das famílias brasileiras,
melhoradas.
independentemente de sua classe social ou
Minas Gerais é o segundo maior produ- Cultivo das “águas”
poder aquisitivo. Os grãos são fontes im-
tor de feijão no Brasil, com área de 406 mil
portantes de proteínas, carboidratos e ferro, hectares e produção de 575 mil toneladas A semeadura é feita no início do perí-
principalmente para as classes mais caren- (IBGE, 2009). A produtividade da cultura odo chuvoso (outubro ou novembro) e a
tes da população. O consumo nacional per nesse Estado é de 1.417 kg/ha (68% maior colheita no verão (janeiro ou fevereiro).
capita é de, aproximadamente, 17 kg/ano. que a média nacional). A produção de fei- Nesse cultivo, tem-se a vantagem de, nor-
Até a década de 1990, a maioria das jão tem importância social e econômica em malmente, não faltar água para as plantas.
lavouras com essa leguminosa era de Minas Gerais: a leguminosa é produzida Entretanto, há as seguintes desvantagens:
agricultores familiares. Mesmo com as em mais de 95% dos municípios. Desta- a) a maturação dos feijoeiros pode
mudanças significativas que ocorreram ca-se a região Noroeste, que é responsável coincidir com o período chuvoso e
a partir de então na cadeia produtiva do por, aproximadamente, 40% da produção.
comprometer a qualidade dos grãos;
feijão no Brasil, com extensos plantios em O feijão do tipo carioca é plantado em to-
áreas irrigadas, a maior parte da produção b) o calor no período de floração pode
das as regiões de Minas Gerais e responde
de feijão ainda tem origem em pequenas reduzir muito a produtividade;
por cerca de 80% do feijão produzido. A
propriedades. Nos últimos 20 anos, mesmo produção de feijões de outros tipos é feita, c) o excesso de chuvas pode ocasionar
com a redução da área de plantio em cerca geralmente, para atender preferências re- empoçamento de água em terrenos
de 30%, a produção brasileira de feijão gionais. Por exemplo, o feijão-vermelho mal drenados;
cresceu em mais de 33%, em decorrência é muito apreciado na Zona da Mata, e o d) o controle de plantas daninhas é difícil.

1
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2
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3
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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 23

Esta última pode ser minimizada com Cultivo de outono-inverno controle mais fácil que o mofo-branco e
o uso de herbicidas, porquanto a capina o mosaico-dourado – ocorre com mais
O cultivo de outono-inverno geral-
manual nessa época é pouco eficiente. frequência. O plantio de cultivares com
mente é praticado por pequenos e grandes
Uma boa opção de cultivo nas “águas” é ciclos de vida distintos (um deles precoce)
produtores que utilizam tecnologia. A se-
fazer o plantio escalonado, isto é, dividir reduz o risco de a colheita de todo o feijoal
meadura é feita de abril a junho e a colheita
o terreno em glebas menores e plantá-las a ser feita em período chuvoso.
é realizada entre julho e início de outubro.
intervalos de, por exemplo, 10 dias. Com
Nessa época, a irrigação é obrigatória. As
isso, reduzem-se os riscos de a floração e a CULTIVAR
vantagens desse cultivo são:
colheita de todo o feijoal coincidirem com
a) possibilita maior envolvimento do Para atingir alta produtividade e reduzir
altas temperaturas e períodos chuvosos.
empresário agrícola, pois exige o custo de produção, o uso de cultivar lan-
Nessa época, é preferível plantar áreas
investimento e alta tecnologia; çada pela pesquisa é imprescindível. Diver-
pequenas e usar tecnologia do que cultivar
b) o rendimento é elevado (geralmente sas cultivares de feijão são recomendadas
áreas extensas sem tecnologia. Os feijões-
de 2 a 3,5 t/ha); para Minas Gerais (Quadro 1). As do grupo
pretos de porte ereto são os mais adequados
carioca são as mais extensamente planta-
para essa época de cultivo, pois menos c) a colheita é feita em período seco,
das. Na escolha da cultivar deve-se levar
vagens têm contato com o solo molhado. com produção de grãos de ótima
em conta o tipo de grão preferido na região,
A adoção do Sistema Plantio Direto (SPD) qualidade;
a época de plantio, a expectativa de preço
nesse cultivo reduz problemas com erosão d) o feijão não concorre com outras
por ocasião da colheita e as características
do solo. culturas, como soja e arroz, planta-
de cada cultivar, especialmente no que se
das na primavera.
Cultivo “da seca” refere ao hábito de crescimento, ciclo de
Esse cultivo não é indicado para áreas vida e resistência a doenças.
O plantio geralmente é feito em feve-
de inverno rigoroso. Doenças como mofo-
reiro ou março e a colheita dá-se em maio branco, mosaico-dourado e murcha-de- ESPAÇAMENTOS NA
ou junho. É um período de cultivo muito Fusarium, no entanto, podem prejudicar LAVOURA
usado por agricultores que utilizam pouca muito o feijão nessa época.
tecnologia. As chuvas, nessa época, geral- Em geral, recomenda-se o espaça-
mente não são suficientes para obter altas Cultivo de inverno- mento entre fileiras de 40 a 50 cm, com
produtividades e o ataque de pragas é mais primavera 10 a 12 sementes por metro. Em áreas
intenso que no cultivo “das águas”. Esses com histórico de mofo-branco e quando
A semeadura do feijão geralmente é
riscos são menores, se o plantio for feito a semeadura é feita entre abril e junho,
feita no fim de julho ou início de agosto
no meio do milho em fase de maturação, o espaçamento entre fileiras de 50 cm,
e a colheita ocorre em fins de outubro ou
onde há maior disponibilidade de água com seis a oito sementes por metro, pode
novembro. Esse cultivo, em geral é feito
para os feijoeiros e maior proteção contra aumentar o rendimento da cultura, em
em regiões onde as temperaturas são baixas
o ataque da cigarrinha-verde (Empoasca relação ao recomendado para áreas sem a
nos meses de junho e julho. Com o uso da
kraemeri). O SPD é a melhor opção para doença. O ideal, nesse caso, é ter quatro a
irrigação, é possível obter elevados rendi-
o cultivo nessa época, porquanto, nesse mentos nessa época. A grande desvantagem seis plantas equidistantes por metro. Essa
sistema, a disponibilidade de água no solo desse cultivo, em relação ao de outono- medida visa ao aumento da circulação de
é maior que no sistema convencional com inverno, é a possibilidade de a maturação ar entre as plantas e à maior incidência
aração e gradagens. O uso de irrigação é das plantas coincidir com as chuvas no de sol nas plantas e no solo, condições
a maneira mais prática de eliminar o risco final de outubro ou início de novembro. Em que desfavorecem a doença. Nesse caso,
de baixa produtividade por falta de água. contrapartida, economiza-se irrigação, pois devem-se usar sementes com alta germi-
A colheita é feita em época praticamente as chuvas, especialmente em setembro e nação e vigor, e o controle de plantas da-
livre de chuvas, o que permite obter grãos outubro, são mais frequentes e intensas que ninhas deve ser bem-feito. Na prática, em
de ótima qualidade. Uma desvantagem nos meses de cultivo do outono-inverno. áreas sem mofo-branco, gastam-se de 50
desse cultivo é o maior problema com o Outra vantagem do cultivo de inverno- a 60 kg/ha de sementes das cultivares dos
mosaico-dourado em áreas de cultivo de primavera é que as perdas causadas pelo tipos comerciais preto, carioca e verme-
soja ou de algodão, principais plantas hos- mofo-branco e pelo mosaico-dourado são lho. No caso de feijões do tipo manteigão
pedeiras da mosca-branca, vetor do vírus geralmente menores do que no outono- (jalo, rajado, etc.), o gasto com sementes
que causa a doença. inverno. No entanto, a ferrugem – de é o dobro.
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QUADRO 1 - Características de algumas cultivares de feijão utilizadas em Minas Gerais

24
Reação a doenças
Massa
Grupo de 100 Tipo de Ciclo
Cultivar Porte Observações relevantes
comercial sementes planta (dias) Ferrugem Antracnose Mancha- Mosaico- Crestamento- Mofo-
(g) angular comum bacteriano branco

Ouro Negro Preto 24-26 III Prostrado 80-90 R R S S S S Alta capacidade de fixação
biológica de N; não
recomendada para o plantio
“das águas”

BRS Valente Preto 21-22 II Ereto 90-100 S MR MR R R S Boa opção para a época “das
águas”

Pérola Carioca 25-27 II/III Semiereto a 90-100 MR S MR R MR S Ampla adaptação; resistência


prostrado moderada à murcha-de-
Fusarium

BRSMG Talismã Carioca 24-25 III Prostrado 85-90 S MR MR R MR S Boa opção para a época “das
águas”

BRSMG Majestoso Carioca 26-28 II/III Semiereto 90 - R MR R - S Resistente às raças 55, 89,
95 e 453 de Colletotrichum
lindemuthianum; resistência
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moderada à murcha-de-
Fusarium

BRSMG Carioca 24-25 III Prostrado 83 - R MR R - S Resistente às raças 55, 89, 95

Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal


Madrepérola e 453 de C. lindemuthianum
e à murcha-de-Fusarium; grão
de fundo claro que demora a
escurecer
Ouro Vermelho Vermelho 24-26 II/III Semiprostrado 80-90 S - S S S S Muito consumida na Zona da
Mata de MG; melhor cotação
de preço no mercado regional;
no campo, tem-se mostrado
mais tolerante às doenças do
que cultivares tradicionais de
grão vermelho

Carnaval MG Manteigão 35-50 I Ereto 70 MR R MR - MR S Grãos bege com estrias


vermelhas; ciclo de vida
precoce

Jalo MG-65 Manteigão 30-48 III Semiereto a 75-80 MR - MR - - S Grãos creme; mais resistente à
prostrado cigarrinha-verde que a cultivar
Jalo EEP 558

NOTA: R - Resistente; S - Suscetível; MR - Medianamente resistente.


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I - Hábito de crescimento determinado; II e III - Hábito de crescimento indeterminado, com porte que varia de ereto a prostrado.
Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 25

SISTEMAS DE CULTIVO

Plantio convencional
(solo preparado com
equipamentos de disco)
O preparo do solo, além de exercer
controle inicial das plantas daninhas,
melhora a germinação, a emergência e o
estabelecimento de plântulas. Nesse sis-
tema, o solo desestruturado é levado com
facilidade pelas águas, durante chuvas ou
irrigações. Por isso, é imprescindível que
se minimizem esses efeitos com o plantio

Rogério Faria Vieira


em nível e com o uso de terraços em glebas
com declividade. A aração e a gradagem
devem ser realizadas em solo com teor
de água adequado para que este não fique
compactado (o que acontece em solo com
alto teor de água) ou pulverizado (solo Figura 1 - No Sistema Plantio Direto (SPD) há redução da erosão do solo nas épocas
chuvosas, aumento da disponibilidade de água no solo na “seca” e economia
muito seco). O seguinte critério prático de irrigação no “outono-inverno”
auxilia a tomada de decisão de quando es-
sas operações devem ser realizadas: o solo
deve apresentar teor de água que permita a) adquirir máquinas e implementos b) aumenta a proteção do solo contra
que uma amostra, comprimida pela mão, apropriados; erosão;
seja facilmente moldada, mas que logo se b) drenar e nivelar o solo, eliminar c) permite melhor controle de plantas
desfaça após cessada a pressão. as camadas adensadas, corrigir a daninhas;
acidez e elevar a fertilidade para a d) possibilita diversificação da fonte de
Sistema Plantio Direto (SPD)
faixa de média a alta; renda;
O SPD está fundamentado na seme- c) controlar plantas daninhas perenes. e) a antracnose (doença) e a cigarrinha-
adura em solo não revolvido ou com
Em geral, as produtividades obtidas verde (praga) são menos prejudi-
mobilização mínima, na manutenção de
em SPD são maiores que no sistema com ciais que no feijão solteiro.
palhada sobre o solo, no controle químico
aração e gradagens, especialmente quando
de plantas daninhas e na rotação de culturas As seguintes razões fazem do feijão
as chuvas são escassas e o feijoal não é
(Fig. 1). As vantagens desse sistema para uma cultura interessante para o consórcio:
irrigado. No longo prazo, este sistema é,
o solo são: a) tem ciclo curto e pouca competiti-
sem dúvida, o mais vantajoso. A Integração
a) proteção contra o impacto das gotas Lavoura Pecuária (ILP), com o cultivo de vidade;
d’água; forrageiras, especialmente de braquiárias, b) pode ser semeado em diferentes
b) redução do escorrimento superficial em consórcio com a cultura principal na épocas;
de água e da ação erosiva dos ven- safra de verão, tem tido boa aceitação pelos c) geralmente alcança bons preços.
tos; agricultores. Em seguida, o feijão pode ser
c) elevação do teor de matéria orgânica cultivado em SPD com a palhada de bra- Milho e feijão plantados
(MO) e da atividade biológica; quiária e os restos de cultura sobre o solo. juntos
d) redução da evaporação e da ampli- Em geral, o milho e o feijão são seme-
CONSÓRCIO MILHO-FEIJÃO
tude térmica. ados no início da estação chuvosa (cultivo
A desvantagem preocupante desse sis- Apesar de limitar o uso de algumas “das águas”). Nesse sistema, recomenda-
tema é a criação de um ambiente favorável tecnologias, o consórcio apresenta as se- se uma população de 40 mil pés de milho/
à ocorrência de lesmas. guintes vantagens: hectare, espaçados de 1,0 m entre fileiras,
Algumas medidas devem ser tomadas a) permite uso mais intensivo e eficien- com 120 a 240 mil feijoeiros/hectare. A
antes da execução do SPD: te da área e da mão-de-obra; leguminosa pode ser plantada na cova ou
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26 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

na fileira do milho com até 120 mil plan- disponíveis para as plantas e a necessidade mesmo quando se aplicam doses tão baixas
tas/hectare ou, em caso de preço alto do de corrigi-lo com calcário. As amostras são quanto 10 g/ha. A solução de molibdênio
feijão, dentro e entre as fileiras de milho retiradas na profundidade de 0 a 20 cm e pode ser misturada com herbicidas, inse-
(até 240 mil plantas/hectare). No primeiro devem representar bem a área. De posse ticidas, fungicidas. Em geral, na Zona da
caso, a adubação é feita visando tão-so- dos resultados, o agricultor deve procurar Mata, a aplicação do molibdênio substitui
mente o milho; no segundo, o feijão entre um agrônomo para obter as recomendações a adubação nitrogenada em cobertura, para
as fileiras do milho não deve ser adubado, de calagem e adubação. Geralmente, na obtenção de produtividades de até 3 mil
pois a produtividade de feijão alcançada adubação de plantio são distribuídos os quilos/hectare.
nesse sistema geralmente é baixa: de 200 nutrientes fósforo, potássio e nitrogênio,
a 600 kg/ha. A produtividade do milho este na dose entre 20 e 30 kg/ha. No cul- IRRIGAÇÃO
não é reduzida nesse consórcio ou, mais tivo “das águas” é preferível plantar áreas
A falta de água durante períodos crí-
comum, é reduzida entre 5% e 15%. pequenas, mas bem adubadas e cuidadas,
ticos do feijão (germinação/emergência,
que áreas extensas mal adubadas. No
Feijão semeado no meio floração e enchimento de grãos) reduz
cultivo “da seca”, recomenda-se adubar
do milho em final de menos o feijão solteiro, em relação ao a sua produtividade. O excesso de água
maturação cultivo do feijão solteiro “das águas”. Se, também é prejudicial: solo encharcado
na “seca”, o feijão for semeado no meio do por dois dias pode reduzir a produtividade
O plantio do feijão após a secagem
milho em maturação, a adubação pode ser em 50%. O consumo de água pelo feijoal
parcial ou total do milho, geralmente em
mais alta, pois a presença do milho garante é de, aproximadamente, 3,5 mm/dia entre
março, é um sistema vantajoso em relação
boa produtividade, mesmo que as chuvas a emergência e a floração; 6,0 mm/dia na
ao feijão solteiro “da seca”. Nesse caso, em
sejam escassas. O feijão irrigado deve ser floração; 5,0 mm/dia, durante a fase de
que o milho seco obstrui parcialmente a
sempre bem adubado. Outra recomendação enchimento de grãos. Após esta última
luz solar, a disponibilidade de água para os
importante: pulverizar a folhagem do feijão fase, quando as plantas começam a ama-
feijoeiros é maior que no solo coberto ape-
nas pelo feijão. A dobra do milho, prática com molibdênio, entre 20 e 30 dias após a relecer, a irrigação não é mais necessária.
empregada por agricultores para aumentar emergência das plantas, na dose de 80 g/ha No total, a cultura consome de 350 a 450
a luminosidade para o feijão, pode reduzir (aproximadamente 200 g/ha de molibdato mm de água. O intervalo entre irrigações
a produtividade deste, se as chuvas forem de sódio). É importante frisar que o feijão geralmente varia de 5 a 10 dias, dependen-
escassas. Em caso de chuvas regulares, no é favorecido pelo molibdênio (Fig. 2), do do tipo de solo, da idade da planta, da
entanto, a dobra do milho pode aumentar a
produtividade do feijão, pois a luz passa a
limitar mais o crescimento dos feijoeiros
que a água. Em caso de populações de
milho maiores que 40 mil/hectare, a do-
bra do milho deve ser feita, porque, nesse
caso, o sombreamento pode ser excessivo.
Diferentemente do sistema em que feijão
e milho crescem juntos, o feijão cultivado
na rua do milharal seco (com população de
plantas igual à usada para o feijão solteiro)
deve ser adubado, pois as produtividades
podem ser altas: 2 mil quilos/hectare ou
mais. A produtividade do milho não é
prejudicada pelo feijão “da seca”.
Rogério Faria Vieira

ADUBAÇÃO
O solo, geralmente, não tem todos os
nutrientes em quantidades adequadas para
suprir os feijoeiros. A análise do solo em Figura 2 - Feijoeiros adubados com nitrogênio na semeadura e pulverizados com molib-
laboratório indica os níveis de nutrientes dênio (direita) ou com água (esquerda) antes da floração

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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 27

temperatura, etc. Em áreas com histórico sate, para a dessecação da vegetação CONTROLE DE DOENÇAS
de mofo-branco, um intervalo maior entre em pré-plantio no Sistema Plantio
A medida mais eficaz para reduzir os
irrigações após o fechamento do vão entre Direto (SPD), com herbicida aplica-
prejuízos com doenças na lavoura é usar
as fileiras das plantas diminui o prejuízo do em pós-emergência, proporciona
cultivar recomendada pela pesquisa, cujas
causado pela doença. bom controle de invasoras, especial-
sementes foram obtidas de produtores
A irrigação deve ser planejada por mente em áreas com tiririca.
idôneos, com campos de produção regis-
pessoas com formação nessa área. Quando trados e inspecionados pelo Ministério
a irrigação é substituída pela molhação CONTROLE DE PRAGAS da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(feita sem conhecimento), os gastos por (MAPA), pois a maioria das doenças
Diversos insetos são considerados
hectare aumentam e a produtividade dimi- do feijoeiro é introduzida nas áreas de
pragas do feijoeiro. Destacam-se:
nui. Procure orientação para a aquisição, plantio pelas sementes. No caso do feijão
distribuição e montagem do equipamento a) vaquinhas: desfolhadoras;
irrigado, em que o potencial produtivo
na lavoura e para estimar o intervalo entre b) cigarrinha-verde: suga a seiva e da cultura é bem explorado, o uso de
irrigações e a duração de cada uma. injeta toxinas; fungicidas para o controle de doenças da
c) lagartas: existem as desfolhadoras parte aérea da planta pode elevar a produ-
CONTROLE DE PLANTAS e as que atacam o caule, na região tividade entre 200 e 600 kg/ha. No feijão
DANINHAS irrigado, em época fria e em glebas com
do colo ou logo abaixo dele;
O feijoeiro, planta de ciclo de vida histórico de mofo-branco, uma aplicação
d) mosca-branca: suga a seiva, libe-
curto, é muito sensível à competição exer- de fungicida (específico para o controle
ra toxinas e transmite o vírus do
cida pelas plantas daninhas por água, luz do mofo-branco) no início da floração,
mosaico-dourado;
seguida de outra aplicação 10 dias depois,
e nutrientes. O período crítico de controle
e) lagarta-das-vagens: penetra nas pode aumentar a produtividade entre 200
das plantas daninhas é entre 15 e 30 dias
vagens e consome os grãos; e 1.200 kg/ha.
após a emergência (DAE) das plântulas,
período em que a lavoura deve ser man- f) percevejos: sugam os grãos, depre-
tida no limpo. Caso contrário, pode haver ciando sua qualidade. REFERÊNCIA
redução da produtividade. Depois de 30 O controle de pragas deve ser efetuado IBGE. Levantamento sistemático da produ-
DAE, em razão do rápido crescimento dos com base nos princípios do Manejo Inte- ção agrícola. Rio de Janeiro, [2009]. Dispo-
feijoeiros, as ruas fecham-se e a própria grado de Pragas (MIP), em que o início nível em: <http://www.ibge.gov.br/home/
cultura controla as plantas daninhas. Os da aplicação de inseticida é feito quando estatistica/indicadores/agropecuaria/lspa/
métodos de controle a seguir podem ser defaulttab.shtm>. Acesso em: 28 out. 2009.
a infestação atinge certo nível:
combinados:
a) vaquinha: presença de pelo menos
a) preventivo: usar sementes e matéria BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
20 besouros em 2 m de fileira ou
orgânica isentas de propágulos de
30% de desfolha antes da floração IBGE. Indicadores agropecuários -
plantas daninhas, limpar máquinas
ou 15% após a floração; 2003/2006. Rio de Janeiro, [2006].
e equipamentos usados na lavoura; Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/
b) cigarrinha-verde: presença de pelo
b) cultural: fazer rotação de culturas, home/estatistica/economia/agropecuaria/
menos 40 ninfas em 2 m de fileira ou indicadoresagro_19962003/defaulttab.
usar espaçamento estreito entre
média de duas ninfas por folha em shtm>. Acesso em: 28 out. 2009.
fileiras, plantar feijão em consórcio
100 folhas examinadas por hectare; PAULA JÚNIOR, T.J. de et al. (Coord). In-
com milho;
c) mecânico: capinar manual ou me- c) mosca-branca: presença do inseto. formações técnicas para o cultivo do fei-
Aplicações de inseticidas até o joeiro-comum na região central-brasileira:
canicamente; 2007-2009. Viçosa, MG: EPAMIG - CTZM,
florescimento, especialmente em
d) químico: utilizar herbicidas, método 2008. 180 p. (EPAMIG. Documentos, 42).
regiões onde são cultivados soja e
mais adequado no caso do cultivo VIEIRA, C. Estudo monográfico do con-
algodão (hospedeiros alternativos);
das águas, quando as temperaturas sórcio milho-feijão no Brasil. Viçosa, MG:
são altas e as chuvas frequentes, o d) lagarta-das-vagens: pelo menos 20 UFV, 1999. 183p.
que favorece o crescimento do mato vagens atacadas em 2 m de fileira;
_________; PAULA JÚNIOR, T.J. de; BO-
e dificulta o seu controle. Nesse e) percevejos: pelo menos dois perce- RÉM, A. (Ed.). Feijão. 2.ed. Viçosa, MG:
caso, o uso combinado do glypho- vejos em 2 m de fileira. UFV, 2006. 600p.

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28 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

A cultura do arroz e a agricultura familiar


Vanda Maria de Oliveira Cornélio 1
Moizés de Souza Reis 2
Antônio Alves Soares 3
Plínio César Soares 4
Hugo Adelande de Mesquita 5
Rogério Antônio Silva 6
Júlio César de Souza 7
Vanessa Cristina Oliveira de Souza 8
Antônio Rodrigues Vieira 9

Resumo - O arroz se adapta a diferentes condições de solo e clima. É também um


alimento cultural, aceito em todas as classes sociais. Além de ser fonte primária de
energia, advinda de carboidratos complexos, o cereal contém também proteínas, fi-
bras e micronutrientes, sendo recomendado em todas as normas e guias alimentares.
Assim, o arroz é hoje apontado como a espécie de maior potencial de combate à fome
mundial. A área plantada em Minas Gerais vem decrescendo desde 1990, mas, apesar
desse declínio, praticamente em todas as regiões do Estado ainda se cultiva o arroz, o
que demonstra uma tradição, principalmente dos agricultores familiares, com a cultu-
ra. A rizicultura irrigada em áreas de várzeas no Estado, ocupada principalmente pela
agricultura familiar, foi drasticamente reduzida por causa dos vários problemas de
ordem ambiental enfrentados, e o arroz de terras altas não se tem mostrado rentável
como outras culturas. Portanto, Minas Gerais, apesar de sua tradição na produção de
arroz e de sua proximidade geográfica de grandes mercados consumidores (São Paulo
e Rio de Janeiro), deixou de ser um centro importante de abastecimento interno desse
cereal. Com os avanços tecnológicos atuais na orizicultura irrigada e de terras altas,
associados a programas governamentais, espera-se um novo impulso à produção de
arroz em Minas Gerais, com possibilidade de reversão de tendência de declínio dessa
cultura, podendo o Estado voltar a ser autossuficiente nesse cereal.

Palavras-chave: Arroz de terras altas. Arroz irrigado. Cultivo. Trato cultural.

1
Eng a Agr a, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG SM/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
vanda.cornelio@epamig.ufla.br
2
Eng o Agro, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG SM/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
moizes@epamig.ufla.br
3
Eng o Agro, D.Sc., Prof. UFLA - Dep to Agricultura, Caixa Postal 37, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: aasoares@ufla.br
4
Eng o Agro, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG ZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: plinio@epamig.ufv.br
5
Eng o Agro, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG SM/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
adelande@epamig.ufla.br
6
Eng o Agro, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG SM-EcoCentro/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
rogeriosilva@epamig.ufla.br
7
Eng o Agro, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG SM-EcoCentro/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
jcsouza@navinet.com.br
8
Cientista da Computação, M.Sc., Bolsista CBP&D-Café/U.R. EPAMIG SM, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG.Correio
eletrônico: vanessa@epamig.ufla.br
9
Eng o Agro, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG SM/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
arvieira@epamig.ufla.br
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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 29

INTRODUÇÃO co, na década de 1980, houve incentivo quais incluem-se as áreas de agricultura
governamental para o aproveitamento familiar. Assim, é indiscutível a importân-
O arroz, por ser uma cultura versátil,
racional das várzeas irrigadas no Brasil. cia da agricultura de pequeno porte para
que se adapta a diferentes condições de
Nesse contexto, foi criado o Programa de a produção de alimentos básicos e para a
solo e clima, é cultivado nos cinco conti-
Aproveitamento de Várzeas (Provárzeas) segurança alimentar local e regional, bem
nentes, sendo um dos cereais mais produ-
(LAMSTER, 1980), que tinha como meta como para a geração de empregos e renda
zidos e consumidos no mundo. Além de
a incorporação dessas áreas ao processo e fixação de mão-de-obra no campo.
ser um alimento cultural, aceito em todas
produtivo. A cultura do arroz irrigado
as classes sociais, o arroz é fonte primária
passou a apresentar elevados índices de RECOMENDAÇÕES TÉCNICAS
de energia, advinda de carboidratos com- NOS DIFERENTES SISTEMAS
produtividade, aproveitando a fertilidade
plexos, além de conter proteínas, fibras e DE CULTIVO
natural desses solos, aliada à tecnologia
micronutrientes, sendo recomendado em
preconizada de então. Desse modo, essas
todas as normas e guias alimentares. Diante Arroz de terras altas
áreas foram ocupadas principalmente por
de sua expressiva importância, fica fácil
pequenos produtores, que passaram a ser O arroz de terras altas, anteriormente
compreender porque esse cereal é aponta-
responsáveis pela produção de grande parte denominado arroz de sequeiro, sempre foi
do como a espécie de maior potencial de
do arroz irrigado no Brasil, fato que per- um sistema de plantio muito utilizado em
combate à fome mundial.
dura até os dias de hoje. Atualmente, essas Minas Gerais, pelos pequenos e grandes
O arroz é uma das principais fontes
áreas de várzeas são caracterizadas como agricultores, e responsável por boa parte
de carboidratos e é rico nos aminoácidos
áreas de preservação permanente (APPs), da alimentação da população, sobretudo,
metionina e cisteína, nos quais o feijão é
o que pode inviabilizar a produção de arroz a do meio rural. Esse sistema de cultivo é
pobre. Por outro lado, enquanto o arroz é
irrigado e de várzea úmida, ameaçando a
deficiente em lisina, o feijão é rico nesse dependente da quantidade e distribuição de
sobrevivência econômica das pequenas chuvas durante o ciclo da cultura, por isso,
aminoácido. Embora apresente apenas 7%
propriedades, geralmente de base familiar. o arroz de terras altas sempre foi conside-
de proteínas, é uma fonte importante em
razão do alto consumo per capita. Assim, rado uma cultura de risco e com grandes
SITUAÇÃO ATUAL DA oscilações na produção. Em virtude do alto
a ingestão de arroz com feijão forma um
PRODUÇÃO DE ARROZ risco, os produtores, em geral, utilizam
“casamento perfeito” e pode até mesmo
substituir a carne. O arroz possui, entre os No Brasil, a produção de arroz está baixa tecnologia e pequena quantidade de
cereais, proteínas de maior valor biológico, em torno de 12 milhões de toneladas, para fertilizantes, comprometendo ainda mais
ou seja, maior porcentagem de aminoáci- um consumo próximo de 13 milhões. A a produtividade. Mas, hoje, há novas tec-
dos essenciais. Em termos de eficiência alta demanda de arroz torna a cultura de nologias que podem atenuar esses riscos,
relativa de proteínas (ERP), o arroz é grande importância econômica e social com destaque para o bom preparo do solo,
semelhante à soja e tem coeficiente igual para o País. o tratamento de sementes com inseticidas
a 2,0, contra 1,2 do trigo e 1,0 do milho. O estado de Minas Gerais não produz e a adoção de novas cultivares. Apesar
O consumo médio de arroz no Brasil, hoje mais que 10% do arroz que conso- da drástica redução da área de plantio de
tendo por base o arroz em casca, é de 74 me. Na safra de 2009, produziu 126.600 arroz de terras altas no Estado, é possível
a 76 kg/hab./ano (EMBRAPA ARROZ E toneladas para um consumo de, aproxi- revitalizar esse tipo de cultivo, desde que
FEIJÃO, 2007). Esse cereal é consumido madamente, 1,3 milhão de toneladas. A se faça um trabalho contínuo de difusão
diariamente, em uma diversidade enorme agricultura familiar, segundo dados do de tecnologia moderna e mais adequada às
de formas de preparo e associado aos mais Censo Agropecuário (2006), representou diferentes situações de cada região.
diversos tipos de alimento, como carnes, 44% da produção do Estado. Em 2008
Calagem
ovos, leguminosas e hortaliças, enrique- (IBGE, 2008), esse cereal era cultivado em
cendo, assim, a qualidade nutricional da todas as regiões de Minas Gerais. O Labo- Uma questão que sempre se levanta é se
dieta. ratório de Geosolos da Unidade Regional a cultura do arroz de sequeiro necessita de
EPAMIG Sul de Minas utilizou esses dados calagem. A resposta que mais se ouve é que
CULTIVO DE ARROZ de produção e área plantada para realizar o assunto é controvertido, ou seja, alguns
E SUSTENTABILIDADE a espacialização por município, por meio trabalhos indicam que o arroz responde à
AMBIENTAL
do Sistema TerraView (INPE, 2006). Os calagem e outros não. O fato é que a planta
Embora o ecossistema de várzeas mapas obtidos (Fig. 1) revelam predomi- do arroz é altamente tolerante à acidez e
constituísse um sistema débil e de ris- nância de áreas com até 100 ha, entre as praticamente dispensa a sua correção.
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30 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

PRODUÇÃO DE ARROZ ÁREA PLANTADA COM ARROZ


MINAS GERAIS MINAS GERAIS
2008 2008

LEGENDA LEGENDA
em toneladas em hectares

Figura 1 - Produção e área plantada com arroz por município de Minas Gerais em 2008
Elaboração: Unidade Regional EPAMIG Sul de Minas - Geosolos.

Como a rotação de culturas é uma QUADRO 1 - Cultivares de arroz de terras altas recomendadas para Minas Gerais
prática desejável e favorável ao agroecos-
Ano de Ciclo Classe de Rendimento de (1)
Qualidade
sistema, recomenda-se realizar a correção Cultivares
lançamento vegetativo grãos grãos inteiros de grãos
da acidez, atendendo às necessidades da
cultura em rotação. Caiapó 1992 Médio Longo Alto Boa

Cultivares recomendadas BRS Primavera 2001 Precoce Longo-fino Alto Excelente

A relação das cultivares de arroz de BRSMG Curinga 2004 Médio Longo-fino Alto Boa
terras altas indicadas para plantio em Mi-
BRSMG Conai 2004 Superprecoce Longo-fino Alto Boa
nas Gerais encontra-se no Quadro 1. Cabe
salientar que todas as cultivares listadas BRSMG Caravera 2007 Precoce Longo-fino Alto Excelente
podem ser plantadas em todas as regiões
BRSMG Relâmpago 2007 Superprecoce Longo-fino Alto Excelente
fisiográficas do Estado, ou seja, possuem
NOTA: Alto - Rendimento de grãos inteiros no beneficiamento acima de 55%, desde que a
ampla adaptabilidade. Contudo, a utiliza-
colheita seja feita no momento adequado (umidade = 20%-22%).
ção de uma ou de outra vai depender da
(1) Refere-se à qualidade física, química e culinária dos grãos.
distribuição de chuvas da região onde será
efetuado o plantio. Por exemplo, nas regi-
ões de menor precipitação pluvial, deve-se gida por veranico no seu período crítico, a de porte alto e de elevada competitividade
dar preferência a cultivares superprecoces, outra certamente escapará, garantindo pelo com as plantas daninhas, reduzindo os
como forma de atenuar os riscos. Nas menos parte da produção. custos com essa operação.
regiões de melhor distribuição de chuvas, Para os produtores que efetuam o con-
Preparo do solo
o mais correto é plantar cultivares de dife- trole das plantas daninhas manualmente,
rentes ciclos para obter maior estabilidade a cultivar Caiapó, apesar de não ter grão O sistema radicular do arroz é fascicu-
de produção, pois se uma cultivar for atin- agulhinha, ainda é uma boa opção, pois é lado e bastante superficial, com 95% das
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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 31

raízes situadas nos primeiros 15 cm do solo Espaçamento e densidade outras culturas. Portanto, Minas Gerais,
e, de modo geral, não atingem eficiente- de plantio apesar de sua tradição na produção de
mente mais do que 1 m de profundidade. arroz e de sua proximidade geográfica
O plantio pode ser realizado em sulcos,
Isso torna o arroz de sequeiro uma cultura a grandes mercados consumidores (São
utilizando plantadora-adubadora (meca-
bastante vulnerável ao déficit hídrico no Paulo e Rio de Janeiro), deixou de ser um
nizada) ou em covas por meio de matraca
caso de ocorrência de longos períodos com centro importante de abastecimento interno
(manual). No plantio em linha, tem-se
pouca ou nenhuma chuva, denominados desse cereal.
recomendado o espaçamento de 0,30 a
veranicos. Assim, o preparo do solo é de Apesar dos entraves para a expansão
0,40 m entre fileiras, colocando-se 60 a
fundamental importância para o sucesso da cultura de arroz no Estado, pode estar
70 sementes por metro, dependendo da
da lavoura. surgindo um novo ciclo da cultura e uma
cultivar. Para cultivares precoces, que são
Nessa modalidade de cultivo, reco- oportunidade para a produção familiar,
menos perfilhadoras, utilizam-se menores
menda-se fazer uma aração profunda para
espaçamentos e/ou maiores densidades de nas diversas regiões fisiográficas, com
descompactar o solo. Essa prática promove as propostas dos programas sociais do
semeadura. Procedimento contrário é to-
um melhor desenvolvimento do sistema governo federal, como o “Fome Zero” e
mado, quando se usam cultivares mais tar-
radicular e aumenta a capacidade de arma- o “Mais Alimentos”. Além do possível
dias, que, em geral, são mais perfilhadoras.
zenamento de água pelo solo, reduzindo aumento do consumo, esses programas
Outro parâmetro a ser considerado é
inclusive os riscos de erosão. priorizam a produção de alimentos em
a fertilidade do solo. Em geral, nos so-
Pouco antes da semeadura, realiza-se pequenas propriedades nas próprias regi-
los pobres, onde o arroz perfilha pouco,
o preparo definitivo do solo, por meio de ões de consumo, como forma de ativar a
podem-se utilizar espaçamentos menores
uma gradagem suficiente para garantir um
e densidades maiores. Em áreas muito economia local.
bom destorroamento do solo. Aconselha-se
sujeitas a veranicos, menores populações Os atuais avanços tecnológicos na
esperar uma ou duas chuvas, a fim de con-
são desejáveis, uma vez que reduzem o orizicultura irrigada, associados ao uso
seguir um destorroamento mais perfeito.
consumo de água, diminuindo os riscos de de cultivares superiores, darão um novo
Cabe ressaltar que o arroz de terras
perda parcial ou total da lavoura. impulso à produção de arroz em Minas
altas é a única cultura de importância
No plantio por covas, recomenda-se o Gerais, com possibilidade de reversão de
econômica que não se adapta bem ao
Sistema Plantio Direto (SPD). Por isso, mesmo espaçamento entre fileiras e 0,20 m tendência de declínio dessa importante

recomenda-se o preparo do solo o mais dentro da fileira, colocando-se 10 a 12 cultura, podendo o Estado voltar a ser
sementes por cova. As considerações autossuficiente nesse cereal.
profundo possível.
feitas para espaçamento entre fileiras para
Cultivares recomendadas
Época de plantio o plantio em sulcos, também são válidas
para o plantio em covas. A profundidade As cultivares de arroz irrigado e de
Na cultura do arroz de sequeiro, o ri-
de plantio deve ser de 3 a 5 cm. várzea úmida recomendadas para o cul-
zicultor fica na dependência do volume e
No espaçamento e densidades reco- tivo em Minas Gerais para a agricultura
da distribuição anual das chuvas durante o
mendadas, gastam-se em torno de 40 a familiar e/ou empresarial são apresentadas
ciclo da planta. A estação chuvosa ocorre
normalmente de outubro a março, mas 50 kg de sementes por hectare, dependendo no Quadro 2.
podem ocorrer veranicos, que são mais da cultivar e do peso das sementes. É con-
Preparo do solo
frequentes nos meses de janeiro e fevereiro veniente, após a semeadura, efetuar uma
e podem provocar elevados prejuízos na leve compactação do solo para melhorar A aração deve ser realizada duas sema-
cultura, até a sua perda total. a germinação e emergência das plântulas. nas antes da semeadura ou do transplantio
A semeadura deve ser feita tão logo as das mudas. Seguem-se duas gradagens,
Arroz irrigado e de com o intervalo de uma semana, visando
chuvas iniciem-se, de preferência a partir
várzea úmida
da segunda quinzena de outubro até o final obter um destorroamento adequado.
de novembro para todas as cultivares, po- A área plantada com arroz em Minas O preparo da área deve ser feito de tal
dendo estender-se até a primeira quinzena Gerais vem decrescendo desde 1990. A maneira que, na época de semeadura ou
de dezembro para as precoces (ciclo de 105 rizicultura irrigada em áreas de várzeas no transplantio, o solo esteja limpo, os restos
a 120 dias). Deve-se esclarecer também Estado, por vários problemas enfrentados, culturais decompostos e a área nivelada,
que plantios mais cedo reduzem a inci- principalmente de ordem ambiental, foi evitando o acúmulo de água e a diminui-
dência de doenças, sobretudo, a brusone- drasticamente reduzida e o arroz de terras ção da germinação, no caso de plantio por
das-panículas. altas não se tem mostrado rentável como sementes.
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32 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

QUADRO 2 - Cultivares de arroz irrigado e de várzea úmida recomendadas para Minas Gerais

Tipo de Ano de Ciclo Rendimento de (1)


Qualidade de
Cultivares Classe de grãos
cultura lançamento vegetativo grãos inteiros grãos

Carisma V 1999 M Longo-fino Alto Excelente

BRSMG Curinga V 2004 M Longo-fino Alto Boa

BRS Ourominas I, V 2001 M Longo-fino Alto Excelente

BRSMG Seleta I, V 2004 M Longo-fino Alto Excelente

BRSMG Predileta I, V 2007 M Longo-fino Alto Excelente

Nota: I - Irrigado por inundação contínua; V - Várzea úmida; M - Ciclo médio; Alto - Rendimento de grãos inteiros no beneficiamento acima
de 55%.
(1) Refere-se à qualidade física, química e culinária dos grãos.

Para o arroz inundado, deve-se aplainar quando comparados com os provocados entre as linhas e a densidade de plantas
o terreno, para supressão da ondulação do nas lavouras de arroz de sequeiro, a me- na linha. Estes dois fatores governam, em
solo, o que resulta em uma série de van- nos que cheguem a prejudicar a prática grande parte, a competição por nutrientes,
tagens, tais como: maior uniformidade na de irrigação. Todavia é bom lembrar água, luz e CO2.
altura da lâmina d’água, maior facilidade que outras condições do meio ambiente,
de irrigação, maior uniformidade no cres- além de umidade do solo, influenciam na Plantio por semeadura
cimento e na maturação das plantas, maior produtividade do arroz, tais como: tem- a lanço em tabuleiros
facilidade na drenagem superficial antes da submersos
peratura e umidade do ar, luminosidade
colheita etc. Tal operação pode ser efetuada
e comprimento do dia. Gastam-se, geralmente, 120 a 150 kg
por meio da utilização de método simples
A época adequada de plantio do arroz de sementes/hectare, dependendo da cul-
ou mais sofisticado, este normalmente
irrigado varia de região para região e deve tivar empregada e do poder germinativo
mais caro. Como método simples e mais
ser considerado o período de início das da semente.
barato, pode-se utilizar um equipamento de
chuvas e a temperatura, não só na semeadu-
madeira conhecido por escala ou triângulo,
ra, mas também na época da floração, pois Plantio por semeadura
de tração animal ou mecânica.
Quando o plantio for realizado com nesse estádio baixas temperaturas causam em linhas
sementes pré-germinadas ou com mudas, excessiva esterilidade.
Recomenda-se distribuir de 300-400 se-
pode-se efetuar o preparo do solo com o Em Minas Gerais, deve-se plantar o
mentes viáveis/metro quadrado, o que cor-
tabuleiro inundado. Com água, não há risco arroz irrigado em várzeas preferencial-
responde, aproximadamente, a 90-120 kg
de o trator atolar. mente nos meses de outubro e novembro.
de sementes/hectare. Com base em resul-
Em regiões mais quentes do Estado, a
tados de pesquisa, sugere-se o emprego
Época de plantio semeadura pode estender-se até final de
dos espaçamentos entre as linhas de arroz,
O arroz é uma cultura bastante exigente dezembro, sem prejuízos à cultura.
conforme Quadro 3.
principalmente em água e temperatura. O Onde o plantio for efetuado por mudas,
plantio deve ocorrer em época que possibi- recomenda-se fazer a semeadura no vivei-
Plantio por mudas
lite à cultura condições climáticas favorá- ro, nos meses de setembro e outubro, e, o
veis, desde a emergência das plântulas ou transplante, quando as mudas estiverem As mudas devem estar com cerca de
pegamento das mudas até a colheita, sendo com 25-30 dias de idade. 25 a 30 dias por ocasião do transplantio.
estas de suma importância para obter bons Com base nas características das cultivares
rendimentos. Espaçamento e densidade recomendadas, sugere-se o emprego dos
Na cultura do arroz irrigado e de de plantio
espaçamentos descritos no Quadro 4 e
várzea úmida, as irregularidades plu- Entre os fatores que mais afetam a recomenda-se a colocação de quatro a seis
viométricas têm efeitos desprezíveis, produção de grãos estão o espaçamento mudas por cova.
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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 33

QUADRO 3 - Espaçamento entre as linhas de arroz em função da QUADRO 4 - Espaçamento entre e dentro das linhas de arroz em
cultivar utilizada e da fertilidade do solo função da cultivar utilizada e da fertilidade do solo

Cultivar Solos férteis Solos fracos Cultivar Solos férteis Solos fracos

Porte baixo/médio 30 cm 20 cm Porte baixo/médio 30 x 20 cm 20 x 20 cm

Porte alto 35-40 cm 30 cm Porte alto 35 x 30 cm 30 x 25 cm

Adubação do arroz Os métodos de controle de plantas in- Em terras altas merecem destaque os
vasoras podem ser preventivo, biológico, cupins subterrâneos e a lagarta-elasmo,
Antes da tomada da decisão final sobre
cultural, mecânico ou físico e químico que no mínimo podem causar, juntos,
a quantidade de fertilizantes a ser emprega-
(emprego de herbicida). Um programa cerca de 13% de redução na produção.
da, devem-se considerar algumas questões,
que emprega combinações de técnicas de Em ataques muito severos, os danos da
tais como a experiência do técnico que
controle é chamado controle integrado de lagarta-elasmo podem provocar até 100%
atua na região, o histórico da área a ser
plantas daninhas. O uso de mais de uma de perdas, sendo necessário o replantio.
trabalhada, a cultivar, a disponibilidade
técnica de controle é vantajoso, porque Prejuízos semelhantes podem ser causados
de capital do agricultor, o nível de produ-
um método isolado, raramente consegue pelos cupins subterrâneos no primeiro ano
tividade esperado e a relação entre custo
um controle efetivo de todas as plantas de cultivo, sobretudo em solos arenosos,
do fertilizante/valor do produto colhido.
daninhas presentes, durante todo o ciclo anteriormente ocupados por gramíneas.
As cultivares recomendadas, hoje, para
da cultura. O controle das pragas subterrâneas e
a agricultura familiar respondem acen-
da cigarrinha deve ser realizado preventi-
tuadamente à aplicação de fertilizantes. Pragas do arroz e seu vamente pelo tratamento das sementes, o
Para isso, o mais indicado é efetuá-la com controle
que resolve 60% dos problemas de pragas
base na análise de solo e na expectativa de do arroz. Podem-se utilizar produtos à
O arroz é muito vulnerável ao ataque
produtividade. Cultivares modernas e adu- de pragas, que variam de acordo com o base de carbofuram, tiodicarbe, fipronil,
bação correta são os principais promotores sistema de cultivo, principalmente aquelas imidaclopid e thiamethoxam. O produto a
de altas produtividades. de solo. Daí a importância de conhecê-las ser usado depende das pragas que ocorrem
bem, para evitar prejuízos. com maior frequência na área e deve ser
Plantas daninhas e seu
controle As pragas da parte aérea, geralmente, receitado por um agrônomo.
são as mesmas no cultivo em terras altas Em arroz irrigado, uma importante
O controle de plantas daninhas é prática e várzeas. Dentre elas, destacam-se as praga de solo é a bicheira-do-arroz. É re-
imprescindível, principalmente porque cigarrinhas-das-pastagens, que na fase presentada por três espécies principais de
essas plantas reduzem a produtividade do adulta migram das pastagens para as la- besourinhos, que causam danos às raízes
arroz. O período crítico de competição vouras de arroz, onde sugam o caule das por meio de suas larvas aquáticas, que se
das plantas daninhas com as plantas de plantas, causando danos consideráveis. alimentam dessas raízes. Esta praga não
arroz situa-se entre 15 e 45 dias após a Outra praga importante e voraz é o curu- ocorre em arroz de várzea úmida.
emergência da cultura, dependendo da querê-dos-capinzais (Mocis latifes), cujas
cultivar e do sistema de cultivo (terras lagartas podem desfolhar completamente Doenças do arroz e seu
altas ou irrigado). A lavoura deve ser controle
as plantas de arroz, quando ocorrem em
mantida no limpo durante esse período. grande número por planta, reduzindo a Nos diferentes sistemas de cultivo do
Cultivares de porte baixo e de folhas eretas produção de grãos. Para evitar prejuízos, arroz, surgem diversas doenças causadas
têm menor habilidade de competir com as o importante é inspecionar rotineiramente por fungos, das quais as mais importan-
plantas daninhas. Além das espécies da- a lavoura, procurando detectar a infestação tes são a brusone (Pyricularia grisea)
ninhas comuns a outras culturas, algumas no início, antes que cause prejuízos. Outro e a mancha-parda (Drechslera oryzae).
destacam-se pelo seu difícil controle no aspecto importante é procurar conhecer Com importância econômica secundária,
cultivo de arroz: arroz-vermelho, arroz- as pragas que ocorrem na cultura do arroz também ocorrem a escaldadura-da-folha,
preto, tiririca, capim-macho ou pelego na região. Em caso de dúvida, procurar a a mancha-das-bainhas e as manchas-de-
(Ischaemum rugosum), capim-carrapicho assistência técnica do município, para o re- glumas.
(Cenchrus echinatus) e capim-braquiária conhecimento da praga e decisão quanto ao A brusone é a mais importante doença
(Brachiaria decumbens). melhor método de controle a ser utilizado. do arroz. Nas folhas, afeta o crescimento e
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34 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

o desenvolvimento da planta, e, nas paní- início da emergência das panículas evitar a reabsorção de água em virtude da
culas, é responsável pela redução de peso (5% a 10%); nos casos de maior maior umidade relativa do ar noturno e do
e esterilidade parcial ou total dos grãos. incidência, realizar uma segunda orvalho. A duração do processo de seca-
As principais medidas de controle são: aplicação 10 a 15 dias após a pri- gem varia de 3 a 24 horas, dependendo da
meira. umidade inicial dos grãos e das condições
a) varietal: o uso de cultivares resis-
No caso da agricultura familiar, deve- climáticas.
tentes ou tolerantes pode evitar a
doença ou diminuir a sua severida- se dar preferência ao controle varietal e
REFERÊNCIAS
de. A BRSMG Curinga é a cultivar cultural e somente utilizar o químico em
mais resistente à brusone; áreas onde a incidência da doença é alta. CENSO AGROPECUÁRIO 2006. Resultados
A combinação das medidas de controle va- preliminares. Rio de Janeiro: IBGE, 2006.
b) cultural: consiste em alterar época,
espaçamento e densidade de plantio, rietal e cultural é importante, pois diminui EMBRAPA ARROZ E FEIJÃO. Origem e
o uso de produtos químicos. história do arroz. Santo Antônio do Goiás,
visando criar condição desfavorável
[2007]. Disponível em: <http://www.cnpaf.
ao desenvolvimento da doença.
Colheita, secagem e embrapa.br/arroz/historia.htm>. Acesso em:
Essas medidas não aumentam os armazenagem 5 set. 2007.
custos e podem ajudar muito no
A determinação do ponto ideal ou mo- IBGE. SIDRA. Banco de Dados Agrega-
controle das doenças. Dentre essas
mento adequado para efetuar a colheita é dos. Rio de Janeiro, 2008. Disponível em:
medidas, destacam-se: <http://www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso
de extrema importância para o arroz, uma
- plantio antecipado, se possível em: dez. 2009.
vez que a colheita precoce ou tardia implica
ainda no mês de outubro, assim INPE. TerraView 3.2.0. São José dos Cam-
em sérios prejuízos, por afetar diretamente
que iniciarem as chuvas, pos, 2009.
a qualidade do produto. A colheita deve ser
- uso de cultivares precoces, realizada, quando os grãos apresentarem LAMSTER, E.C. Programa Nacional de
- maior espaçamento e menor den- 20% a 22% de umidade e nunca exceder Aproveitamento Racional de Várzeas –
PROVÁRZEAS Nacional. Informe Agrope-
sidade de semeadura, os limites de 18% a 24% de umidade.
cuário. Várzeas: a melhor fronteira agríco-
- adubação nitrogenada equilibrada, Na prática, o ponto adequado de colheita
la, Belo Horizonte, ano 6, n.65, p.3-8, maio
pode ser percebido, quando cerca de 2/3
- rotação de culturas, 1980.
da panícula apresentam espiguetas com a
- evitar repetir a mesma cultivar LEPSCH, I.F. (Coord.) Manual para levan-
coloração típica da cultivar, ou quando os
por mais de duas a três vezes, na tamento utilitário do meio físico e classifi-
grãos ficam duros e resistem à penetração
mesma área; cação de terras no sistema de capacidade
da unha. de uso. 2. ed. rev. Campinas: Sociedade Bra-
c) químico: o tratamento de sementes Comumente os agricultores familiares sileira de Ciência do Solo, 1991. 175 p.
com fungicidas é importante na utilizam o sistema de secagem ao sol, o
MINAS GERAIS. Decreto no 33.944, de 18
prevenção de doenças, que podem qual não prejudica a qualidade dos grãos, de setembro de 1992. Regulamenta a Lei
ser transmitidas pelas sementes, quando realizado corretamente. Para tan- no 10.561, de 27 de dezembro de 1991, que
além de ser uma prática de fácil to, devem-se utilizar terreiros cimentados dispõe sobre a política florestal no estado de
execução e de custo relativamente ou forrados com lona de polietileno e Minas Gerais. Minas Gerais, Belo Horizon-
baixo. Em áreas de alta incidência distribuir o produto em camadas mais ou te, 19 set. 1992. Diário do Executivo, p.1.
da brusone, é recomendável ainda menos delgadas; quando o arroz estiver
efetuar o controle químico por meio úmido, a espessura da camada deverá ser BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
de pulverizações com produtos à de 4 a 5 cm e, à medida que a seca avan- INFORME AGROPECUÁRIO. Arroz: avan-
base de thiabendazol ou triazol + ça, os grãos deverão ser espalhados em ços tecnológicos. Belo Horizonte: EPAMIG,
estrobilurina, preferencialmente. camadas mais espessas (8 a 10 cm). Com 2004. 108p.
Nas áreas com histórico da doença, o arroz exposto ao sol, nessas camadas, a SANTOS, A.B.; STONE, L.F.; VIEIRA, N.R.
o controle deve ser preventivo, pois temperatura atinge 45 °C a 55 °C, o que de A. (Ed.). A cultura do arroz no Brasil.
após o surgimento dos sintomas, pode provocar o trincamento dos grãos. 2. ed. rev. e ampl. Santo Antonio de Goiás:
a eficácia do controle é reduzido Assim, é conveniente que as camadas Embrapa Arroz e Feijão, 2006. 118p.
acentuadamente. Aplicar a dose sejam reviradas com frequência e, ao anoi- SOARES, A.A. Cultura do arroz. 2. ed. La-
recomendada do produto no final do tecer, recomenda-se amontoar a massa do vras: UFLA: FAEPE, 2005. 130p. (UFLA.
estádio de emborrachamento ou no produto e cobri-la com lona plástica para Textos acadêmicos, 7).

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DIVULGAÇÃO
Iniciativas da Fetaemg garantem resultados
na organização da produção sustentável
A agricultura familiar é reconhecida atualmente como pro- dalí para outros Estados. Hoje temos muitos pedidos de pessoas
pulsora da economia de pequenos municípios do País, capaz de que fazem encomendas durante o ano por e-mail e por telefone”,
gerar alimentos, renda e emprego no campo. Conforme o Censo comemora.
Agropecuário, o segmento responde por 38% do valor bruto da O agricultor e diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais
produção agrícola nacional, apesar de ocupar apenas um quarto da (STR) de Divinópolis, Nilson Sérgio Pereira, participou da AgriMi-
área produtiva do País. Mas, o que realmente faz a grande diferença nas pela primeira vez no ano passado representando os associados do
nesse modelo de agricultura, é a produção com sustentabilidade, STR. “Conseguimos mostrar a tendência da região na agricultura.
pois são criados mecanismos para possibilitar a compatibilidade O município tem uma diversidade de produção para atender à dona
entre a produção e a preservação do meio ambiente. E a Federação de casa”. Nilson afirma ainda que a Feira é uma oportunidade de
dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais aprendizagem e de colher experiências para aplicá-las em suas
(Fetaemg) vem dando a sua contribuição nessa tarefa. atividades no campo.
Presente em todas as regiões do Estado, por meio de seus Os trabalhos de organização da produção desenvolvidos pela
Polos Regionais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STR) Fetaemg, com seus parceiros, estão possibilitando ainda que
agricultores e assentados da reforma agrária sejam beneficiados
filiados, a entidade representa cerca de 1,2 milhão de trabalhado-
em importantes programas governamentais. Divinópolis é um
res rurais. Além de suas ações que têm como objetivos a conquista
dos primeiros municípios do Estado a participar do Programa
de políticas públicas para jovens, mulheres e terceira idade, o
de Alimentação Escolar, instituído pela Lei Federal 11.947/2009
respeito e a valorização do assalariado rural e a reforma agrária.
que determina a compra, pelas Prefeituras, de, no mínimo, 30%
Na agricultura familiar, o foco das ações está no fortalecimento do
dos produtos da agricultura familiar para a merenda nas escolas
segmento. As iniciativas da Fetaemg nesse sentido ganharam força
municipais. O Sindicato já negociou com a Prefeitura a entrega,
em 2006, com a realização da 1a Feira de Agricultura Familiar de
de fevereiro a abril, de 52 toneladas de alimentos para a merenda
Minas Gerais, a AgriMinas. O evento que acontece todo o ano de 17 mil alunos da rede municipal. “Com os trabalhos de organi-
em Belo Horizonte já está em sua quinta edição e se transformou zação da produção muitas portas estão-se abrindo para os agricul-
num dos instrumentos que a entidade, com seus parceiros, utiliza tores e assentados. Esse é o caminho que estamos trilhando e os
para trabalhar a organização da produção no Estado, levando em resultados estão aí”, ressalta o presidente da Fetaemg, Vilson Luiz.
conta o respeito ao meio ambiente. O apoio ao cooperativismo e ao associativismo, à produção
O presidente da Fetaemg, Vilson Luiz da Silva, destaca que diversificada, aos sistemas de produção agroecológicos e à ga-
muito mais do que fazer bons negócios a AgriMinas transformou- rantia da execução de políticas públicas destinadas à agricultura
se numa oportunidade de qualificação dos agricultores e assentados familiar também são ações da Fetaemg que têm contribuído com a
da reforma agrária no Estado. “Quando o agricultor participa da organização da produção sustentável no Estado.
Feira não é simplesmente pelo fato de vender os seus produtos, Para o presidente, Vilson Luiz, existem outros instrumentos
mas também uma oportunidade para trocar experiências, partici- que têm contribuição significativa no processo de organização da
par de cursos, e principalmente de conhecer as preferências do produção e que merecem maiores investimentos públicos, como,
consumidor. Ele passa a ter uma outra visão de mercado e o que por exemplo, a pesquisa científica como forma de reduzir os riscos
precisa fazer para expandir suas vendas. O resultado é a organi- de produção e de adaptação aos recursos naturais. Ele cita ainda
zação da produção.” investimentos em tecnologia adaptáveis à agricultura familiar.
Desde a primeira edição da AgriMinas, em 2006, a agricultora “Estamos cumprindo a nossa parte. Sabemos onde precisamos
Maria da Conceição de Jesus Lara é presença marcante com seu investir mais para fortalecer a nossa agricultura familiar e fazer
café orgânico produzido em Piedade das Gerais, distante 120 com que ela produza de forma sustentável. O que precisamos é de
quilômetros de Belo Horizonte. A participação na AgriMinas apoio dos governos para implementar essas ações. É importante
abriu caminho para que a família apresentasse seu produto em três destacar ainda que os trabalhos de parceria têm sido fundamentais
feiras nacionais de agricultura familiar, em Brasília e no Rio de no nosso trabalho de fortalecimento da agricultura familiar. ”
Janeiro, expandindo os negócios.  “A AgriMinas nos possibilitou Maristela Moreira Félix
apresentar nosso café para o consumidor de Belo Horizonte e Jornalista/Fetaemg (MG 07443 JP)

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36 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

Importância do milho para a segurança


alimentar local e regional
Izabel Cristina dos Santos 1
Anastácia Fontanétti 2
João Carlos Cardoso Galvão 3

Resumo - Diante da grande importância do milho na segurança alimentar mundial,


pesquisas têm buscado, ao longo do tempo, garantir o aumento da produtividade des-
sa cultura. Grande avanço foi alcançado no âmbito da produção de larga escala, o
que não ocorreu com a agricultura familiar, principalmente pela falta de sistemas de
produção compatíveis com a realidade econômica da família rural e os recursos da
propriedade. Faltaram também estratégias adequadas para levar e/ou adequar a tec-
nologia aos pequenos agricultores e às comunidades familiares, que têm uma relação
diferente com a cultura do milho, mais voltada para o consumo na propriedade e os
comércios local e regional. Em Minas Gerais, além da importância econômica, o milho
tem grande valor social e cultural, pois é utilizado em vários pratos típicos da culinária
mineira. São apresentadas as etapas para o cultivo convencional do milho, bem como
os sistemas alternativos de cultivo, com foco em práticas agroecológicas.

Palavras-chave: Zea mays. Agricultura familiar. Sistema de cultivo. Trato cultural.


Colheita. Produção. Comercialização.

INTRODUÇÃO rápida, por causa de sua perecibilidade, o Ocupa o segundo lugar em área culti-
que caracteriza um forte comércio local e vada no País, perdendo apenas para a soja.
O milho é cultivado em todas as regiões
regional. Pequenos e médios agricultores Em 2008, o Brasil colheu uma área de
do Brasil, pois no meio rural é diretamente
que estejam próximos a grandes centros 14.443.337 ha de milho em grão, enquanto,
utilizado na alimentação de humanos e de
consumidores, como capitais e cidades em 2009, houve uma queda de 4,6% na
animais, além de fazer parte de receitas
litorâneas, têm no milho verde uma boa al- área colhida - 13.779.065 ha. A produção
tradicionais da culinária nacional. As total, em 2008, foi de 51.030.726 t e, em
espigas, ainda verdes, são consumidas ternativa de renda, pois além de proporcio-
2009, de 51.041.634 t (IBGE, 2009).
cozidas, assadas ou processadas na forma nar maior lucro, o retorno do investimento
Em Minas Gerais, o milho é cultivado
de suco de milho verde, sorvete, pamonha, é mais rápido, já que o ciclo do plantio à
em mais de 95% dos municípios. O Es-
mingau, bolos etc. Do grão seco moído colheita da espiga verde é menor.
tado produziu 6.631.000 t de milho grão,
(fubá) é preparado o angu, bolos, broas O milho em grão constitui matéria-
em 2008, e 6.451.000 t, em 2009, com
e biscoitos. O grão triturado é utilizado prima essencial nas cadeias produtivas de média de rendimento de 5.102 kg/ha na
para preparar a famosa canjiquinha e para carnes (suínos, aves e bovinos), de ovos, última safra, o maior da Região Sudeste
alimentar animais. de leite e seus derivados e de óleo vegetal (AGROLINK, 2009), enquanto o rendi-
O milho verde, normalmente, atinge e alimentos industrializados. Somente mento médio no País foi de 3.623 kg/ha.
preços de mercado maiores que o do milho as cadeias de produção de suínos e aves A baixa produtividade média nacional e
em grão, em especial nos meses de junho a consomem em torno de 70% da produção estadual deve-se, principalmente, aos bai-
setembro. A comercialização tem que ser nacional de milho em grão. xos rendimentos obtidos em áreas de alto

1
Eng a Agr a, D. Sc., Pesq. U.R. EPAMIG SM-FERN, CEP 36301-360 São João del-Rei-MG. Correio eletrônico: icsantos@epamig.br
2
Eng a Agr a, D. Sc., Prof a UFSCar, CEP 13565-905 São Carlos-SP. Correio eletrônico: anastacia@cca.ufscar.br
3
Eng o Agro, D. Sc., Prof. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: jgalvao@ufv.br

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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 37

risco climático e com manejo inadequado. Na agricultura familiar, o investi- madamente 50% desses produtores usam
Quanto maior a produtividade nessas áreas, mento financeiro é menor; predominam sementes melhoradas.
maior a segurança alimentar local e regio- lavouras menores de 10 ha, que geral- Este artigo descreve as etapas para o
nal e menor a dependência da compra de mente ocupam manchas de solo com boa plantio convencional do milho, bem como
grãos de outras regiões. alternativas para o sistema convencional,
fertilidade natural; o preparo do solo é
De acordo com o Censo Agropecuário algumas inclusive com base em práticas
realizado com tração mecânica ou animal,
(2006), 46% do milho produzido no Brasil agroecológicas.
com uma aração e duas gradagens; a den-
tem origem na agricultura familiar. Apesar
sidade e a população de plantas são bai- ESTÁDIOS DE
desses dados, há necessidade de desenvol-
ver tecnologias de produção mais acessí- xas e, geralmente, a quantidade de adubos DESENVOLVIMENTO DA
veis à agricultura familiar, principalmente químicos utilizada é menor que a exigida PLANTA DE MILHO
em relação ao custo de produção e menor pela cultura, principalmente pelos milhos O manejo a ser implementado durante
dependência de insumos externos, o que híbridos. O controle de plantas daninhas é o ciclo de cultivo do milho é definido com
depende de ampliar a assistência técnica e realizado com enxada ou tração animal e base nos estádios de desenvolvimento da
fomentar a pesquisa participativa. não há controle de insetos-pragas; aproxi- planta (Fig. 1), ou seja, de acordo com o

compromete a produção, fase crítica.

milho de planta inteira (acompanhar


doses recomendadas acima de 100 kg de K2O

Fase de colheita para milho verde,

Fase de colheita para silagem de


duas coberturas. Fase crítica do ataque da

(esperar grãos atingirem 25% a


16% de umidade para colher).
Avaliação de pragas desfolhantes como
largata-do-cartucho; realizar o controle,

A falta de chuvas no período


Sementes devem ser tratadas no caso

Grãos totalmente formados


grão com 80% de umidade.
Adubação com nitrogênio, no caso de
Adubação com potássio, no caso de
Adubação com nitrogênio (sulfato

linha do leite).
de amônio ou ureia).

largata-do-cartucho.
de pragas iniciais.

se necessário.

(pendão + espiga com cabelos)

Controle de plantas daninhas


(maturação fisiológica)
Grãos farináceos
Pré-pendoamento

Florescimento

Grãos pastosos
Emergência

Grãos leitosos

Grãos duros
4 folhas

6 folhas

8 folhas
Plantio

Figura 1 - Estádios fenológicos e estratégias de manejo da cultura

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38 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

número de folhas completas, na fase ve- sificações incluem também cultivares de produção de milho-verde devem apresentar
getativa, e com a densidade dos grãos, na ciclo semiprecoce, médio e tardio. resistência ao acamamento e quebramento
fase reprodutiva. e pedúnculo da espiga firme. As espigas
ESCOLHA DA ÁREA devem ser uniformes, bem empalhadas,
EXIGÊNCIAS CLIMÁTICAS longas, cilíndricas, com sabugos claros e
O sol deve incidir sobre a área de cul-
Como a produtividade do milho depen- tivo o dia todo e esta área não deve estar finos. Os grãos devem ser uniformes, lon-
de diretamente das condições climáticas, sujeita a encharcamento, pois a umidade gos, amarelo-claros, do tipo dentado e com
a época mais indicada para o plantio é a excessiva constitui condição de estresse pericarpo fino. A preparação de cada prato
primavera-verão. Enquanto a média das para a cultura do milho. Se houver risco de típico – pamonha, curau, bolo, suco, sorve-
temperaturas mínimas estiver abaixo de encharcamento temporário utilizar cultivar te – requer determinado equilíbrio entre os
10 ºC deve-se evitar o plantio, pois há re- específica, como o Milho Saracura BR 154, teores de açúcar e de amido. Além disso,
dução da germinação e aumento do número tolerante ao encharcamento temporário os grãos devem apresentar resistência ou
de plantas anormais. A planta de milho do solo. tolerância às principais pragas e doenças
desenvolve-se em temperaturas diurnas Para o dimensionamento da área a ser da espiga, pois danos físicos e químicos,
entre 19 ºC e 44 ºC, mas a temperatura plantada com milho, o agricultor deve que alterem o sabor, depreciam o produto
ótima é 30 ºC. A produção é reduzida, considerar as necessidades de sua própria para venda. A permanência por vários
quando ocorrem temperaturas diurnas família e de seus animais de produção dias no ponto de colheita é outro atributo
acima de 32 ºC no estádio de 12 a 14 fo- e carga. A produção de excedente para importante, bem como boa conservação
lhas e o crescimento é reduzido, quando venda deve ser embasada na observação pós-colheita, ou seja, extenso período útil
as temperaturas diurnas ficam abaixo de da demanda do mercado local e regional, de consumo (PUC), que vai da colheita
19 ºC, resultando em espigas menores e, nos preços vigentes e nas expectativas de até o consumo, mantendo a palha verde,
consequentemente, menor produção por preços futuros. os grãos túrgidos e o sabor característico.
planta. O crescimento e o desenvolvimento A produção de excedente de milho grão
das plantas são maiores quanto maior for ESCOLHA DO TIPO DE MILHO para venda pode ser vantajosa em regiões
a diferença entre as temperaturas diurna E DA CULTIVAR próximas a polos de produção de frangos
e noturna. Se a temperatura noturna se O mercado de sementes disponibiliza e suínos. Porém, há o risco de o preço
mantiver elevada, a respiração da planta muitas cultivares de milho, para as diver- pago pelas empresas não ser compensa-
aumenta; o ciclo, a produção e a viabili- sas finalidades de cultivo: grãos, silagem, tório. Nesse caso, a agregação de valor
dade do pólen diminuem e há alteração na milho verde, milho-doce, milho-pipoca. A ao produto pode ser uma alternativa mais
composição proteica do grão. atenção do produtor rural ao mercado local interessante economicamente, pois, mesmo
A produtividade aumenta com o au- e regional o auxiliará na tomada de deci- nas pequenas cidades, tem aumentado a de-
mento da intensidade de luz. Portanto, alta são sobre qual tipo de milho plantar. Para manda por produtos da agricultura familiar.
população de plantas (autossombreamento) produtores de leite, a produção de silagem Assim, o fubá e a farinha de milho, tradi-
e dias nublados e chuvosos em sequência é estratégica em regiões com estação seca cionalmente produzidos nas propriedades
diminuem a incidência de luz na cultura e prolongada, mas se não for bem preparada familiares, podem-se transformar numa das
podem causar redução na produção. pode não ter a qualidade desejada para a fontes de renda. Alguns pontos turísticos
A exigência térmica, que é a soma nutrição dos animais. A produção de milho- têm a tradição de oferecer produtos à base
das unidades calóricas da emergência ao pipoca, milho-doce e minimilho (espiga de milho verde ou de fubá e também de-
florescimento, define o ciclo da cultivar. jovem ou baby corn) pode ser uma alter- mandam essas matérias-primas.
Cultivares de ciclo normal apresentam nativa interessante, quando a propriedade Os híbridos apresentam alto potencial
exigência térmica de 890 a 1.200 unidades familiar encontra-se próxima a indústrias produtivo, mas para isso é necessário o
calóricas (UC), o que promove o floresci- de processamento de alimentos. Nesse emprego de altas doses de fertilizantes
mento masculino em torno de 70 dias após caso, o plantio deve ser planejado de forma químicos, rigoroso controle de plantas
a emergência. Nas cultivares consideradas que a colheita coincida com a demanda e a daninhas, pragas e doenças e irrigação
precoces a exigência térmica varia de 831 a capacidade de processamento da indústria. suplementar. Os híbridos simples represen-
889 UC e o florescimento masculino ocorre Embora existam no mercado cultivares tam hoje 54,26% das opções do mercado de
em torno de 65 dias; nas cultivares consi- específicas para a produção de milho verde, sementes de milho e as cultivares precoces
deradas superprecoces a exigência térmica muitos agricultores comercializam espigas 72,58% das opções.
varia de 780 a 830 UC e o florescimento produzidas em lavouras destinadas à pro- As variedades de polinização aberta são
ocorre com menos de 60 dias. Outras clas- dução de grãos ou silagem. Cultivares para mais rústicas e permitem que o produtor
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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 39

produza sua própria semente, se houver a produtividade por meio da identificação do melhor controle de plantas daninhas
condições de produzir semente de boa dos riscos climáticos das diferentes regiões em função do fechamento mais rápido
qualidade e de armazená-la com seguran- de cada Estado e determina as melhores dos espaços entre plantas e diminuição
ça até o próximo plantio. Anualmente, o épocas de plantio, em função do índice de da entrada de luz, e da redução da erosão
Diário Oficial da União publica a lista das satisfação da necessidade de água (Insa). pela cobertura antecipada da superfície
cultivares de milho habilitadas para cultivo Ao fazer seu planejamento para o plantio, o do solo. Entretanto, a redução do espa-
em todos os Estados. agricultor deve verificar se sua propriedade çamento entre as linhas não é simples e
localiza-se em área agroclimática favo- deve ser bem analisada pelo agricultor
SEMENTES rável, ou seja, em município apto para o antes de ser adotada, pois a maioria das
As sementes são classificadas por tama- plantio de milho, visando minimizar riscos. cultivares ainda não foi testada nesse ma-
nho e comercializadas em sacos contendo Para o plantio na safrinha, os mesmos nejo e os implementos agrícolas, como as
20 kg ou 60 mil sementes. Na compra por cuidados devem ser observados. colheitadeiras, não estão adaptados para
peso, a escolha de sementes de menor ta- O cultivo do milho verde pode ser re- funcionar com entrelinhas menores. Além
manho pode levar à economia de até 44% alizado durante todo o ano se não houver disso, é necessário considerar os fatores
na quantidade de semente necessária para limitação de temperatura e de água. A edafoclimáticos e econômicos, uma vez
um hectare, principalmente para pequenos demanda do mercado consumidor é que que o aumento da população requer maior
produtores, que semeiam manualmente ou determina o tamanho da área a ser plantada quantidade de sementes e adubos e maior
com matracas. e a época. Geralmente, 80% das espigas de cuidado na escolha da cultivar, que deve
O número de sementes necessário para uma lavoura bem conduzida terão valor apresentar arquitetura foliar adequada, ou
plantar um hectare de milho depende tam- comercial, o que deve ser considerado para seja, folhas eretas e com menor ângulo de
bém da porcentagem de germinação do lote planejar o plantio escalonado, principal- inserção.
adquirido. Devem-se utilizar 10% a 20% a mente para mercados locais e regionais, Nos sistemas agroecológicos, a con-
mais de sementes para obter a população visando prolongar a oferta, mas sem perdas sorciação de culturas é desejável para
de plantas recomendada, principalmente, por excesso de produção. aumentar a diversidade de espécies na
em plantios mecanizados. Recomenda-se Em regiões sem limitações de tempera- área e otimizar o uso da terra. Em áreas
a aquisição de sementes certificadas pro- tura, a irrigação permite a condução de la- de risco climático, é uma alternativa para
duzidas por empresas idôneas. vouras de milho verde durante todo o ano, minimizar perdas e prejuízos. Em pequenas
Em áreas com histórico de presença de o que se justifica pelos preços alcançados propriedades, o consórcio do milho com o
doenças e pragas de solo, caso as sementes na época seca, que normalmente pagam os feijão é uma prática usual, que contribui
adquiridas não estejam tratadas, é necessá- custos da irrigação e aumentam os lucros para a segurança alimentar da família rural.
rio tratá-las com fungicidas e inseticidas. por unidade produzida. Quando o objetivo é melhorar a ferti-
lidade do agroecossistema, pode-se optar
ÉPOCAS DE PLANTIO ESPAÇAMENTO, POPULAÇÃO pela consorciação do milho com adubos
E TRATOS CULTURAIS verdes, o que não afeta significativamente a
No Brasil, a safra normal de milho,
produtividade da cultura, conforme consta
também denominada tradicional ou pri- No cultivo solteiro do milho, os espaça-
em várias pesquisas. O adubo verde pode
meira safra, ocorre entre fins de agosto até mentos mais comuns são 0,8 e 0,9 m entre
ser semeado na mesma linha do milho,
outubro/novembro, no Sudeste e Centro- as linhas de plantio, o que corresponde a
para facilitar a capina, ou entre as linhas
Oeste, enquanto no Nordeste o período uma população de 55 e 44 plantas/10 m
do milho. Nesse caso, o adubo verde
normal é no início do ano. lineares, respectivamente. Embora a popu-
pode contribuir para diminuir o número
Em Minas Gerais, nas regiões com lação de 55 mil seja a mais recomendada, a
de capinas, uma vez que ao cobrir o solo,
altitudes elevadas, o que determina a época variação pode ser de 45 mil a 70 mil plan-
dificulta a germinação de plantas daninhas
de plantio do milho é a temperatura. Nas tas/hectare, dependendo do tipo de cultivar,
dependentes de luz.
outras, o que define a época de plantio é ciclo, disponibilidade de água, nutrientes
basicamente a distribuição de chuvas, uma e radiação solar. Com maior densidade de
SISTEMAS DE CULTIVO
vez que durante seu ciclo, dependendo das plantas, verifica-se que a diminuição da
condições climáticas, a cultura consome distância entre as linhas, para até 0,5 m,
Convencional
de 500 a 800 mm de água. Anualmente, pode aumentar o rendimento de grãos, em
é publicado no Diário Oficial da União consequência da melhor distribuição das Neste sistema o solo é arado e gradeado
o Zoneamento Agroclimático, que visa plantas na área, do aumento da eficiência uma ou duas vezes, conforme a necessi-
reduzir as perdas de produção e aumentar na utilização de água, nutrientes e luz, dade. Embora contribua para o controle
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40 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

das plantas daninhas e deixe os torrões ou de difícil controle, deve-se realizar o milho para ser colhido na fase de espiga
menores, esse sistema expõe muito o solo controle seletivo, visando eliminá-las antes jovem (baby corn), ajustando-se ao sistema
ao processo erosivo e favorece a multipli- da implantação do sistema. Se houver ca- de sucessão de culturas do plantio direto.
cação de plantas daninhas de propagação mada compactada no subsolo é necessário Nas regiões onde o plantio da safrinha
vegetativa, pois são esparramadas na área rompê-la com subsolador, visando garantir é possível, especialmente do milho, a im-
de cultivo. Nesse sistema, com o tempo, boa drenagem e crescimento das raízes em plantação do SPD fica mais fácil, porque,
pode ser formada uma camada compac- profundidade. A análise química de amos- geralmente, o inverno seco e frio nessas
tada à altura da passagem da grade, que tra do solo indicará se há necessidade de regiões dificulta os cultivos de inverno,
desfavorece o armazenamento de água calagem e fosfatagem. A fertilidade do solo para formação de palhada.
e o aprofundamento de raízes. Pode ser deve ser elevada à faixa ideal para a cultura Não havendo safrinha, é necessário
usado trator ou implemento tracionado do milho. O terreno deve ser preparado cultivar plantas específicas para a formação
por animais. de acordo com as práticas de conservação de cobertura morta, como por exemplo,
Pequenos agricultores ainda utilizam o do solo e da água. Ou seja, sempre que a aveia-preta (Fig. 2). Mas, para garantir
plantio em covas, principalmente em áreas necessário fazer terraceamento, barreiras boa palhada, geralmente a irrigação é
de maior declividade. físicas para contenção ou caixas para coleta necessária.
da água da chuva etc. No sistema convencional, o desseca-
Plantio direto na palha
A rotação de culturas, indispensável no mento das plantas de cobertura é feito com
Esse sistema baseia-se no não-revolvi- SPD, nem sempre é possível de ser adotada herbicidas. No SPD orgânico, as plantas
mento do solo, na manutenção de cobertura com espécies comerciais. O milho, cultiva- de cobertura são roçadas abaixo do ponto
morta e no plantio em sulco estreito aberto do para a produção de grãos, com época de de crescimento e deixadas sobre o solo até
para deposição de fertilizantes e sementes. semeadura no início do período chuvoso, secar (Fig. 2).
A cobertura morta ideal deve proteger 70% de outubro a novembro, e com ciclo em Para implantação do SPD, é neces-
da superfície do solo e produzir o equi- torno de 150 a 180 dias, dependendo da sário o uso de implementos específicos,
valente a 6 t/ha de matéria seca (MS). Se cultivar, não se encontra apto para a co- adquiridos ou adaptados, de forma que a
a cultura antecessora não produziu palha lheita em tempo hábil ao plantio de uma plantadora abra um sulco sobre a cobertura
suficiente, é necessário incluir no sistema nova cultura comercial (OLIVEIRA et al., morta (palha), com largura e profundidade
de rotação plantas de cobertura do solo, 2003). Uma alternativa, principalmente adequadas para a adubação, bem como
ou seja, que promovam melhor cobertura para pequenos agricultores, é o cultivo de cobertura e contato da semente com o solo.
do solo e maior produção de palha para o
Sistema Plantio Direto (SPD).
O ideal é alternar culturas que pro-
duzam muita biomassa com alta relação
carbono/nitrogênio (C/N), como o milho,
e plantas cuja biomassa apresente baixa
relação C/N, como as leguminosas. O
crescimento do milho é favorecido pela
cobertura formada por leguminosas como
a mucuna-preta (Mucuna aterrima) e a
crotalária (Crotalaria spectabilis e C.
juncea), por causa da fixação de nitrogênio
e da redução da população dos nematoides-
das-galhas. A não-adoção da rotação de
culturas favorece a ocorrência e a proli-
feração de pragas e doenças, a seleção e a
perpetuação de plantas daninhas e a não-
Anastácia Fontanétti

reposição satisfatória da cobertura morta.


Mas, para que o sistema funcione ple-
namente antes da sua implantação, é neces-
sário verificar as condições atuais do solo e
prepará-lo para o plantio direto. Portanto, Figura 2 - Corte da aveia-preta com ceifadeira motorizada para implantação do Sistema
se na área há plantas daninhas perenes Plantio Direto (SPD)

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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 41

Esse sistema favorece a conservação


do solo, aumenta o teor de matéria orgâ-
nica (MO) ao longo do tempo e melhora
a capacidade de armazenamento de água.
O não-revolvimento do solo desfavorece
a germinação de sementes de plantas da-
ninhas, enquanto a palhada dificulta sua
emergência.

Cultivo consorciado
Em cultivos mais tecnificados, o milho
é cultivado solteiro, mas na agricultura
familiar é comum sua consorciação com
o feijão. Pesquisas apontam também a
possibilidade de consórcio do milho com
espécies para adubação verde, visando à
construção da fertilidade do sistema e a
diversificação da vegetação.
No consórcio de milho com feijão-de-
porco (Fig. 3), adubado apenas com fósforo
e potássio (sem nitrogênio), foram obtidas
32.802 espigas comerciais de milho verde/
hectare, com peso de 11,53 t com a palha,
enquanto na ausência de fósforo e potássio,
foram obtidas 25.428 espigas/hectare, com
peso de 10,29 t com a palha (SANTOS et
al., 2004). No mesmo experimento, esses
autores obtiveram 6,32 t de grãos de milho/
hectare na presença de feijão-de-porco,

Anastácia Fontanétti
fósforo e potássio e 6,2 t na ausência dos
fertilizantes químicos. Essas médias de
produção de espigas de milho verde e de
grãos ficaram próximas das médias obtidas
com esterco bovino e são muito superiores Figura 3 - Consórcio de milho com feijão-de-porco (Canavalia ensiformis)
às médias nacionais desses dois produtos.
As primeiras pesquisas sobre produção Assim, estudos sobre cultivo mínimo,
PRODUÇÃO DE MILHO
de milho orgânico citam o uso de esterco SPD, rotação de culturas e adubação verde
ORGÂNICO
ou de composto orgânico como fertilizante. em sistema orgânico contribuirão muito
À medida que aumenta a demanda por Mas, por definição, os cultivos orgânicos para a consolidação da produção orgânica
produtos orgânicos, aumenta a necessidade devem incluir todas as premissas dos siste- de miho e a sustentabilidade das cadeias
de produção de milho em sistema orgânico, mas agroecológicos, ou seja, revolvimento produtivas dependentes desse grão, para
uma vez que não há como produzir proteína mínimo do solo; práticas que favoreçam a gerar alimento orgânico.
animal sem a matéria-prima para rações, infiltração e o armazenamento da água da
produzida também em sistema orgânico. chuva, minimizando a erosão; manejo da Cultivar de milho para
Sistemas de cultivo orgânico de milho têm biomassa produzida nos cultivos de modo sistemas orgânicos de
produção
sido estudados e dois grandes desafios te- que proteja o solo da incidência direta do
rão que ser vencidos: o manejo das plantas sol e da chuva; policultivo, visando aumen- A seleção de populações mais adap-
daninhas e a manutenção e/ou melhoria da tar a biodiversidade e favorecer o controle tadas a sistemas orgânicos, ou seja, que
fertilidade do sistema. natural de pragas e doenças. apresentem maior tolerância às doenças
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42 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

e às pragas, que sejam mais eficientes na feita, quando as plantas estiverem com elemento. O enxofre deve ser aplicado na
absorção de nutrientes e tenham maior quatro a seis folhas completas. Em solos dose de 30 kg/ha, quando na adubação fo-
capacidade de competição com as plantas arenosos e quando a dose for superior a rem utilizados adubos concentrados pobres
daninhas, são aspectos que necessitam ser 100 kg/ha, é melhor parcelar a aduba- em enxofre, como a ureia, o supertriplo e
contemplados nos Programas de Melhora- ção nitrogenada em duas aplicações: a a formulação NPK 8-28-16. Outra opção
mento de Milho, para que sejam alcançadas primeira, quando o milho estiver com é utilizar o sulfato de amônio em, pelo
maiores produtividades (SOUZA, 1998). quatro folhas completamente expandidas; menos, uma das adubações de cobertura.
A necessidade de começar o estudo de a segunda, com oito folhas (Quadro 1). Se Em solos de Cerrado, não se recomenda o
sistemas de produção de milho orgânico optar pelo uso da ureia, o agricultor deve plantio de milho nos primeiros anos, mas
levou à utilização de cultivares comer- após dois cultivos de soja, no mínimo.
aplicar o adubo em solo úmido, em horas
ciais nos primeiros trabalhos de pesquisa. As recomendações de adubação para
mais frescas do dia ou após uma chuva, e
Santos et al. (2005) e Mendes et al. (2004) a produção de grãos e de silagem estão
incorporá-lo a 5 cm de profundidade. Em
avaliaram o comportamento de híbridos e apresentadas no Quadro 2.
áreas de SPD, recomenda-se aumentar a
variedades comerciais em sistema orgâni- O produtor de milho verde deve ficar
adubação nitrogenada em 30 kg/ha.
co de cultivo com base no fornecimento atento ao manejo da cultura, principalmente,
Em solos arenosos e quando a re- quanto à utilização da palhada para outras
de esterco de bovinos e verificaram que, comendação de adubação potássica for finalidades, como a alimentação animal. A
dentre os híbridos avaliados, AG 4051 e maior que 80 kg/ha de K 2O, deve-se retirada da palhada aumenta a extração do
D270 apresentaram os melhores desem-
aplicar metade no plantio e metade junto potássio e do fósforo, o que requer maiores
penhos, enquanto que entre as variedades
com a cobertura nitrogenada, no máximo doses desses elementos no próximo plantio.
destacaram-se AL 25 e UFVM 100.
até quando a planta apresentar seis folhas Nesse caso, deve-se elevar em torno de 40%
completas. Em solos deficientes em zin- a dose de fósforo e em cerca de 15% a dose
CALAGEM E ADUBAÇÃO
co, deve-se aplicar 1,0-2,0 kg/ha desse de potássio.
Para maior eficácia e economia, a
calagem e a adubação devem ser feitas
QUADRO 1 - Recomendação de adubação, em kg/ha, para a produção de milho verde, em
com base na análise química e, se possí-
função da disponibilidade de P e K
vel, física, de amostra do solo da área de
Doses para plantio Cobertura
plantio, retirada na camada de 0 a 20 cm Disponibilidade de P ou K
N P2O5 K2O N
de profundidade. Um técnico agrícola ou
um agrônomo deve fazer a interpretação Baixa 20 – 30 100 80 100 – 120
dos resultados e recomendar a adubação, Média 20 – 30 70 60 100 – 120
considerando a necessidade da planta de Boa 20 – 30 40 40 100 – 120
milho e a produtividade almejada, ou seja,
se o agricultor deseja obter alta produtivi-
dade terá que investir mais em adubação, QUADRO 2 - Recomendação de adubação, em kg/ha, para produção de grãos e silagem,
considerando todas as outras condições considerando três níveis de produtividade
adequadas ao cultivo do milho atendidas. Teor de P no solo Teor de K no solo
Produtividade N no N em
Se a necessidade de calagem for con- Baixo Médio Alto Baixo Médio Alto
(kg/ha) (1)
plantio cobertura
firmada, o calcário deve ser uniformemente Dose de P2O5 Dose de K2O
distribuído sobre o solo e incorporado de 0 Grãos
a 20 cm de profundidade, dois a três meses 4.000 a 6.000 10-20 80 60 30 50 40 20 60
antes do plantio. Para que as reações entre
6.000 a 8.000 10-20 100 80 50 70 60 40 100
o calcário e o solo ocorram, é preciso que
Acima de 8.000 10-20 120 100 70 90 80 60 140
haja umidade.
No sistema convencional a adubação Silagem

nitrogenada varia de 100 a 120 kg de N/ha. 30-40 10-20 80 60 30 100 80 40 80


Destes, 20 a 30 kg/ha devem ser aplicados 40-50 10-20 100 80 50 140 120 80 130
no plantio e o restante, em cobertura. Maior que 50 10-20 120 100 70 180 160 120 180
A adubação de cobertura com nitrogê- FONTE: Ribeiro, Guimarães e Álvares V. (1999).
nio (sulfato de amônio ou ureia) deve ser (1)Aplicado junto com fósforo e potássio.

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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 43

MANEJO DE PLANTAS qualidade da água utilizada para preparar a a lagarta-do-cartucho e das espigas, que
DANINHAS calda, pela velocidade do vento, pela tem- são as principais causas da perda de valor
peratura e umidade do ar, pelo tipo de solo comercial de espigas de milho verde. No
Há fases da cultura do milho em que a
e umidade na ocasião da aplicação e pela caso das lagartas-das-espigas, o controle
presença do mato é prejudicial ao desen-
ocorrência de chuva após a aplicação. Por biológico com o uso de inimigos naturais,
volvimento da planta. Dependendo da po-
apresentar alto custo e requerer treinamen- como Trichograma, por exemplo, tem pro-
pulação e das espécies de plantas daninhas
to especial de mão-de-obra para manuseio porcionado controle altamente satisfatório.
presentes, do período de competição e das
e aplicação, o controle químico é indicado As doenças podem surgir a partir da
condições climáticas, o rendimento pode
para lavouras tecnificadas, com potencial semeadura, em decorrência da presença
ser reduzido de 10% a 80%. A utilização
produtivo acima de 4 mil quilos/hectare. de patógenos de solo, como, por exem-
de sementes de boa qualidade, com alta
No preparo convencional do solo, o plo, Fusarium, que causa tombamento,
porcentagem de germinação e vigor, é es-
sencial para que o milho se estabeleça antes controle inicial de plantas daninhas é rea- reduzindo o número de plantas por área e,
das plantas daninhas com bom estande e lizado com grades pesadas e niveladoras e, por consequência, o número de espigas.
boa cobertura do solo. Além disso, algu- depois, com a aplicação de herbicidas em Mais uma vez o tratamento das sementes
mas práticas como a rotação de culturas pré-emergência da cultura e das plantas é indispensável, quando se tem histórico
e o SPD na palha também são benéficas daninhas (até três dias após semeadura). da presença de doenças na área. Durante o
nesse sentido. Diminuir o espaçamento Muitas vezes esse procedimento mantém ciclo da cultura, as doenças mais comuns
entre as plantas e concentrar a adubação a cultura no limpo até que o sombreamento são as ferrugens, as manchas (turcicum,
nitrogenada no início do ciclo da cultura promovido pela própria cultura exerça o faeosféria e cercóspora) e os carvões.
do milho pode acelerar seu crescimento, controle das plantas daninhas, evitando No final do ciclo podridões-do-colmo e
o que diminui a entrada de luz e, conse- o uso de herbicidas em pós-emergência. dos grãos podem provocar tombamento e
quentemente, a germinação das sementes No SPD, o controle de plantas daninhas grãos ardidos.
de plantas daninhas. é realizado por meio da dessecação da Na produção de milho verde, reco-
A principal época de controle do mato vegetação antes do plantio do milho. Aos mendam-se cultivares resistentes ou mais
é entre os 20 e 60 dias após a emergência 25-30 dias após a emergência do milho, tolerantes às principais doenças. Doenças
do milho, que corresponde ao intervalo faz-se a aplicação de herbicida em pós- sistêmicas, como os enfezamentos, po-
entre a 3a e a 14a folha. Nesse período, a emergência das plantas daninhas. dem inviabilizar o plantio nas épocas em
competição entre as plantas de milho e as que a população da cigarrinha-do-milho
plantas daninhas por água, luz e nutrientes MANEJO DE PRAGAS E (Dalbulus maydis) – inseto vetor do enfe-
DOENÇAS zamento – é alta. Especial atenção deve ser
é maior e pode comprometer irreversivel-
mente a produtividade. O manejo integrado, utilizando culti- dada às doenças e pragas que danificam as
O controle de plantas daninhas pode vares mais resistentes, rotação de culturas espigas, pois a presença de fungos e grãos
ser mecânico, utilizando enxada ou cul- e produtos químicos menos tóxicos é a danificados inviabiliza a comercialização.
tivador tracionado por animal ou trator, melhor maneira de controlar as pragas e
ou químico, por meio da aplicação de doenças indesejáveis. COLHEITA E
As pragas mais comuns na cultura do COMERCIALIZAÇÃO DO
herbicidas registrados para a cultura do
MILHO VERDE
milho. O herbicida deve ser escolhido em milho a partir da semeadura são: cupins,
função da época de aplicação (pré-plantio lagarta-elasmo, lagarta-rosca, patriotinha O ciclo cultural do milho verde varia
da cultura, pré ou pós-emergência das (vaquinha), pão-de-galinha, cigarrinhas de 80 a 90 dias após a emergência, de
plantas daninhas) e das espécies de plantas e percevejo-barriga. Nas áreas onde es- acordo com a época de plantio e a preco-
daninhas presentes na área de cultivo. Sua sas pragas são comuns o tratamento de cidade da cultivar. A partir da formação
recomendação deve ser feita por agrôno- sementes com inseticidas sistêmicos é o dos grãos, é importante fazer amostra-
mo, por meio do receituário agronômico. mais recomendável. gens para identificar o ponto de colheita
Quando o agricultor faz opção pelo Após a emergência do milho, são mais alcançado, quando os grãos encontram-se
controle químico, o monitoramento das comuns: cigarrinha-do-milho, tripes, pul- no estádio leitoso, apresentando de 70%
plantas daninhas na lavoura é fundamental, gão e lagarta-do-cartucho, entre outras. a 80% de umidade. Na prática, quando
pois a eficácia dos herbicidas depende da Se a infestação atingir o nível de dano o grão pressionado com a ponta da unha
eficiência de sua aplicação, da identificação econômico, a aplicação de inseticidas estourar, expondo o seu conteúdo líquido
das espécies presentes na área e de seu deve ser feita, com recomendação de um e leitoso, tem-se o ponto ideal de colheita.
estádio de desenvolvimento. A eficácia agrônomo. Deve-se realizar o monitora- Normalmente, a colheita do milho verde
dos herbicidas também é influenciada pela mento das lavouras, principalmente para estende-se por cinco a oito dias. As espi-
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44 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

gas são consideradas comerciais, quando COLHEITA DO MILHO GRÃO IBGE. Levantamento sistemático da produ-
apresentam diâmetro superior a 3 cm e 15 ção agrícola. Rio de Janeiro, [2009]. Dispo-
A maturação fisiológica do milho está nível em: <http://www.ibge.gov.br/home/
a 20 cm de comprimento. Espigas muito
associada à formação de uma camada estatistica/indicadores/agropecuaria/lspa/
compridas impedem a embalagem em
negra no local de inserção do grão no defaulttab.shtm>. Acesso em: 28 out. 2009.
bandejas de isopor.
sabugo. Mas, nesse estádio, a umidade MENDES, F.F. et al. Produção de espigas de
De modo geral, a colheita é realizada
dos grãos ainda é elevada, entre 30% e milho verde de quatro cultivares consorcia-
manualmente, ainda de madrugada, quando dos com mucuna anã e adubados com com-
33%. Por isso, mesmo maduro, o milho
a temperatura é amena e as palhas estão posto orgânico. In: SEMINÁRIO MINEIRO
fica no campo até que a umidade caia
frescas; o produto deve ser levado ao ponto DE AGRICULTURA FAMILIAR, AGROE-
para valores em torno de 25%, quando
de venda rapidamente, para reduzir a perda COLOGIA E DESENVOLVIMENTO RURAL
há estrutura artificial para secagem. Não SUSTENTÁVEL, 2004, Belo Horizonte. Re-
de qualidade dos grãos pós-colheita. O havendo condições de secagem artificial, sumos expandidos... Belo Horizonte: EPA-
sabor adocicado característico do produto as espigas devem permanecer na planta até MIG, 2004. Não publicado.
fresco deve-se à presença de açúcares atingirem 16% de umidade. Porém, após a OLIVEIRA, T.K. et al. Características agro-
livres nos grãos. As reações metabólicas maturidade fisiológica, a espiga fica expos- nômicas e produção de fitomassa de milho
ocorridas após a colheita, fazem com que a ta às intempéries e ao ataque de pragas e verde em monocultivo e consorciado com
maior parte dos açúcares livres seja conver- doenças, podendo ocorrer quebramento ou leguminosas. Ciência e Agrotecnologia. La-
tida em amido. Assim, quanto menor a con- vras, v.27, n.1, p.223-227, 2003.
acamamento de plantas e o apodrecimento
centração de amido, maior a palatabilidade do colmo. Excesso de chuva pode levar à RIBEIRO, A. C.; GUIMARÃES, P.T.G.; AL-
do produto. Porém, a proporção ideal entre VARES V., V.H. Recomendação para o uso
germinação dos grãos na espiga ou ao seu
açúcares e amido depende basicamente de corretivos e fertilizantes em Minas Ge-
apodrecimento. Se a população de plantas
rais: 5a aproximação. Viçosa, MG: Comissão
do tipo de preparação a que as espigas daninhas aumentar muito, a colheita é difi- de Fertilidade do Solo do Estado de Minas
se destinam. Para assar ou cozinhar, as cultada, aumentando as perdas. A colheita Gerais, 1999. 359p.
espigas devem ser colhidas mais novas, pode ser mecânica ou manual. Dependen- SANTOS, I.C. et al. Adubação verde como
com menor teor de amido no grão. Para o do do tamanho da área o aluguel de uma alternativa agroecológica para a produção
preparo de curau, pamonha, suco etc, as colheitadeira pode ser vantajoso, pois a sustentável de milho em unidades familia-
espigas devem ser colhidas em estádio de colheita manual é demorada e demanda res. In: SEMINÁRIO MINEIRO DE AGRI-
desenvolvimento mais avançado, quando muita mão-de-obra. Um homem colhe, CULTURA FAMILIAR, AGROECOLOGIA
os grãos apresentam maior teor de amido. E DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTEN-
normalmente, 550 kg de espigas por dia,
TÁVEL, 2004, Belo Horizonte. Resumos ex-
Outro fator importante na conservação o que corresponde a 300-350 kg de grãos. pandidos... Belo Horizonte: EPAMIG, 2004.
pós-colheita do milho verde é a perda de Quando a colheita for manual, o plantio Não publicado.
peso causada pela perda de água, que leva deve ser escalonado, para que a colheita
________. Comportamento de cultivares de
ao murchamento. A perda de peso máxima também possa ser escalonada. milho produzidos organicamente e correla-
admitida é de 7%. ções entre características das espigas colhi-
Nas Centrais de Abastecimento (Cea- AGRADECIMENTO das no estádio verde. Revista Brasileira de
sas) e sacolões, as espigas de milho verde Milho e Sorgo, Sete Lagoas, v.4, n.1, p.45-
À Fundação de Amparo à Pesquisa do 53, jan./abr. 2005.
empalhadas são comercializadas em sacos
Estado de Minas Gerais (Fapemig) pelo
de polietileno, contendo de 50 a 55 espigas, SOUZA, J.L. de. Agricultura orgânica: tec-
financiamento dos projetos e bolsas. nologia para a produção de alimentos saudá-
totalizando 25 kg. Espigas empalhadas per-
veis. Domingos Martins: Vitória: EMCAPA,
mitem maior período para comercialização
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________. et al. Dinâmica populacional leiro de Olericultura e 4o Simpósio Brasilei-
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SANTOS, R.H.S.; MENDONÇA, E. de S.
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MIRANDA, G.V.; GALVÃO, J.C.C.; SANTOS, Agricultura alternativa, Belo Horizonte,
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46 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

Hortaliças: diversificação de renda e alimentos


para a agricultura familiar
Maria Aparecida Nogueira Sediyama 1
Sanzio Mollica Vidigal 2
Marlei Rosa dos Santos 3
Maria Regina de Miranda Souza 4
Izabel Cristina dos Santos 5

Resumo - Nas pequenas propriedades de exploração familiar, a produção de hortali-


ças (olerícolas) é uma oportunidade para melhorar a renda, a diversidade de produtos
e a segurança alimentar, especialmente, no meio rural. Muitos horticultores ainda uti-
lizam técnicas inadequadas de cultivo, por isso há necessidade de mais treinamento
para aumentar o conhecimento e o uso de tecnologias, incentivar a produção progra-
mada e diversificada. O uso racional dos recursos naturais e dos insumos agrícolas
deve ser incentivado, o que poderá aumentar a eficiência da propriedade rural e gerar
maior competitividade, além de possibilitar a permanência da atividade com melhor
qualidade de vida. Assim, reuniram-se informações, com enfoque prático de interesse
dos olericultores, tais como: preparo de solo, produção de mudas, plantio, cultivo,
colheita e comercialização de hortaliças, possibilitando o aprendizado de técnicas pro-
dutivas, melhoria da qualidade e aumento da produtividade e comercialização dos
produtos, para melhor inserção no mercado.

Palavras-chave: Olericultura. Trato cultural. Produção. Muda. Propagação vegetativa.


Rotação de cultura. Comercialização. Segurança alimentar. Composto orgânico.

INTRODUÇÃO dos para a produção de hortaliças devem é muito recomendada por médicos, tanto
ser conduzidos sob condições higiênicas em regimes alimentares, como para com-
A produção de hortaliças representa
rigorosas, para minimizar os riscos po- posição do cardápio diário.
alternativa viável para melhoria da renda tenciais de contaminação do consumidor. Na produção de hortaliças em pequena
dos pequenos e médios produtores, espe- A condução de uma horta é uma ativi- escala comercial, cultivam-se normalmente
cialmente dentro do conceito de agricultura dade muito gratificante, pelos benefícios várias espécies, o que possibilita maior
familiar, em razão da grande demanda que traz às pessoas que a praticam, pela diversidade alimentar, com tecnologia de
por mão-de-obra. Do preparo de mudas à economia no orçamento doméstico e pelos baixo custo, visando complementação da
colheita das hortaliças, todas as operações produtos frescos e saudáveis para consumo renda familiar.
exigem cuidados especiais que costumam próprio, ricos em fibras, vitaminas e mi- Para ter sucesso nessa atividade, é
ser mais bem executados por mulheres e nerais. São alimentos naturais, na maioria necessário buscar conhecimentos a res-
crianças. Todos os procedimentos utiliza- das vezes consumidos crus, cuja ingestão peito das espécies a serem cultivadas, da

1
Enga Agra, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG ZM/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico:
marians@epamig.ufv.br
2
Engo Agro, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG ZM/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico:
sanziomv@epamig.ufv.br
3
Eng a Agr a, D.Sc., Prof. Adj. I UESPI, Campus de Uruçuí, CEP 64860-000 Uruçuí-PI. Correio eletrônico: marleirs@yahoo.com.br
4
Eng a Agr a, Doutoranda, Pesq. U.R. EPAMIG ZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: mmiranda@epamig.ufv.br
5
Eng a Agr a, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG SM-FERN, CEP 36301-360 São João del-Rei-MG. Correio eletrônico: icsantos@epamig.br

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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 47

necessidade do mercado, tanto em termos melão, milho verde, moranga híbri- germinação das sementes, sendo que cada
de variedade quanto de qualidade, e plane- da (abóbora japonesa), mogango, espécie tem sua temperatura ótima para a
jamento da atividade, para garantir a quan- moranguinho, pimenta, pimentão, germinação (Quadro 1).
tidade a ser comercializada e a frequência pepino, quiabo e tomate; Para algumas espécies típicas de clima
de fornecimento. d) hortaliça-legume: ervilha e feijão- frio, como alface, couve-flor, cenoura,
A produção de hortaliças permite rá- vagem; cebola e repolho, são encontradas no mer-
pido retorno do capital investido, utiliza cado cultivares de verão, que devem ser
e) hortaliça-raiz, tubérculo, bulbo e
áreas pequenas e até mesmo cultivos plantadas em condições de calor.
haste: batata-baroa, batata-doce,
consorciados com outras lavouras e, em Em cultivo de hortaliças no campo, o
beterraba, cará, cenoura, mandioca,
decorrência do grande número de espécies produtor encontra limitações para manter
nabo e rabanete, batata e inhame,
de importância econômica, há possibilida- a produção constante durante todo o ano,
alho e cebola, aspargo.
de de o produtor selecionar as que melhor mas, com o uso de tecnologias adequadas,
se adaptam à sua região. poderá obter boa produtividade em épocas
CLIMA NA PRODUÇÃO DAS
O cultivo consorciado caracteriza-se
HORTALIÇAS de entressafra. Uma tecnologia bastan-
pelo plantio de diversos tipos de alimentos te promissora é o cultivo em ambiente
numa mesma área. Essa forma de cultivo As hortaliças são culturas de explo-
protegido, com filme plástico aditivado
faz com que as unidades familiares tenham ração intensiva e de grande exigência
ou filme agrícola. O cultivo em ambiente
produção durante o ano inteiro, diminuindo quanto ao clima, solo, água e nutrientes.
protegido vem sendo largamente utilizado
assim, a falta da alimentação básica, princi- Os elementos do clima – temperatura,
para produção fora de época e em períodos
palmente entre crianças, assegurando-lhes luz e umidade relativa do ar – são, na
desfavoráveis à produção no campo, como,
uma alimentação mais saudável. maioria das vezes, os que exercem maior
por exemplo, no período chuvoso.
A produção de hortaliças na agri- influência sobre o ciclo, a sanidade e a pro-
As estruturas chamadas casa de vege-
cultura familiar não necessita de muitas dutividade da cultura. De modo geral, as
tação, estufa ou túnel são utilizadas para
ferramentas ou máquinas específicas, mas hortaliças encontram melhores condições
proteger as culturas das intempéries climá-
exige um acompanhamento diário e siste- de desenvolvimento e produção quando
ticas (chuva, calor excessivo, frio, geadas,
mático. Algumas técnicas de produção são o clima é ameno, com chuvas leves e
ventos fortes etc.). Proporcionam condi-
importantes para reduzir o uso de insumos pouco frequentes. Temperaturas elevadas
favorecem o florescimento e aceleram a ções ideais de clima, para que as plantas
externos, especialmente, os defensivos.
maturação, enquanto as baixas retardam a possam atingir seu máximo potencial ge-
germinação, o crescimento, a frutificação e nético, viabilizando altas produtividades.
CLASSIFICAÇÃO DAS
HORTALIÇAS a maturação. O excesso de chuvas provoca Em ambiente protegido (túnel ou estufa),
encharcamento do solo, lixiviação de nu- as condições naturais de luz, temperatura,
As hortaliças constituem um grande umidade do ar, ventilação, umidade e ferti-
trientes e erosão, favorece o aparecimento
grupo de plantas alimentícias, podendo ser lidade do solo são alteradas. Esta alteração
de doenças, além de prejudicar a colheita e
identificadas mais de 80 espécies em feiras é proposital e gerenciada pelo agricultor,
a qualidade do produto. A falta de água di-
e supermercados do País. As espécies mais
minui o crescimento, prejudica a qualidade que deve dominar e controlar todos esses
importantes são classificadas em grupos,
do produto e acelera a maturação. fatores para atingir o seu objetivo de pro-
conforme a parte da planta utilizada na
Cada espécie tem sua exigência cli- duzir fora de época. Tal domínio será fruto
alimentação:
mática. As hortaliças de folhas e raízes do conhecimento adquirido sobre como
a) hortaliça-folha: acelga, agrião, alfa- medir e monitorar esses fatores.
desenvolvem-se melhor em condições
ce, almeirão, alho-poró, cebolinha, O conhecimento de cultivo em campo
de temperatura amena, entre 15 ºC e
coentro, chicória, couve, couve-de- aberto é requisito básico, para que o hor-
23 ºC, enquanto as que produzem frutos
bruxelas, couve-chinesa, espinafre, ticultor aprenda a produzir na estufa. Se o
desenvolvem-se melhor em temperatu-
mostarda, repolho, rúcula, salsa e produtor decidir pela estufa ou pelo túnel
ras mais elevadas, entre 18 ºC e 25 ºC
salsão; e enfrentar todos os desafios, será recom-
(FILGUEIRA, 2008). Algumas suportam
b) hortaliça-flor: alcachofra, couve- temperaturas mais baixas, inclusive geadas pensado com boas colheitas de hortaliças-
brócolos e couve-flor; leves, como couve e repolho, enquanto frutos, como o tomate, por exemplo, que
c) hortaliça-fruto: abóbora, abobrinha, outras suportam temperaturas de 30 oC a pode ser colhido de setembro a fevereiro,
abóbora-menina-brasileira, berinje- 35 ºC, como o quiabo e a moranga híbrida. com menor uso de defensivos, ou colher
la, chuchu, jiló, maxixe, melancia, A temperatura influencia diretamente na abobrinhas italianas, pepinos, vagens e
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48 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

QUADRO 1 - Informações sobre o cultivo de hortaliças


Temperatura ideal
Dias para Espaçamento Gasto de semente No médio de pés Área útil Tipo de
Espécie/Variedade para germinação
germinação (cm) (g/ha) ou covas/ha (ha) plantio
(ºC)
Abóbora Butternut 25 8 a 10 200 x 150 900-960 3.334 10.000 Cova ou sulco
Abóbora tipo Seca 25 8 a 10 500 x 500 150-300 400 10.000 Cova ou sulco
Abóbora tipo 25 8 a 10 300 x 250 500-800 1.334 10.000 Cova ou sulco
Tetsukabuto
Abobrinha 25 8 a 10 100-150 x 50 5000-5700 13.334-20.000 10.000 Cova ou sulco
Abobrinha-menina 25 8 a 10 300 x 300 480-500 1.110 10.000 Cova ou sulco
Agrião 20 8 a 10 20 x 5 300 a 480 685.000 6.840 Canteiro
Alface 21 7 30-35 x 30-40 200-250 65.000-76.000 6.840 Canteiro
Berinjela 25 a 28 10 a 14 150 x 80 70-80 8.334 10.000 Cova ou sulco
Beterraba 22 15 20 x 10 15.000-16.000 342.000 6.840 Canteiro
Cebola 21 10 20 x 10 1.850-2.000 342.000 6.840 Canteiro
Cebolinha 21 10 20-30 x 20-30 400-500 114.000- 171.000 6.840 Canteiro
Cenoura 22 a 28 10 a 14 20-25 x 5-7 4.300-5.000 550.000 6.840 Canteiro
Chicória 20 a 25 14 30-35 x 30-35 400 57.000-76.000 6.840 Canteiro
Coentro 20 a 28 10 a 21 20-25 x 5-10 12.000-14.000 547.200 6.840 Canteiro
Couve 20 a 25 6 a 10 100-120 x 40 200 20.000-25.000 10.000 Cova ou sulco
Couve-brócolos 20 a 25 6 a 10 100 x 50 150-170 20.000 10.000 Cova ou sulco
(ramoso)
Couve-brócolos 20 a 25 6 a 10 70 x 40 300 35.000 10.000 Cova ou sulco
(cabeça única)
Couve-chinesa 20 a 25 6 a 10 70 x 30 250-300 48.000 10.000 Cova ou sulco
Couve-flor 20 a 25 6 a 10 80-90 x 40-50 200 a 260 25.000-32.000 10.000 Cova ou sulco
Ervilha-torta 20 a 25 6 a 10 100 x 40-60 15000 16.700-25.000 10.000 Cova ou sulco
Feijão-vagem 20 a 30 7 100 x 50-60 13.000-15.000 16.700-20.000 10.000 Cova ou sulco
Jiló 27 a 30 10 a 14 100-150 x 50-80 60 10.500-20.000 10.000 Cova ou sulco
Melancia 20 a 25 8 a 10 200 x 250-300 200-400 1.700-2.000 10.000 Cova ou sulco
Melão 24 a 26 8 a 10 200 x 30 900 16.700 10.000 Cova ou sulco
Pepino tipo Aodai 22 8 a 10 100-120 x 50-60 700 16.700 10.000 Cova ou sulco
Pepino tipo Caipira 25 8 a 10 120 x 50-60 600 13.900-16.700 10.000 Cova ou sulco
Pepino tipo Japonês 25 8 a 10 100-150 x 60-80 300 8.400 10.000 Cova ou sulco
(estufa)
Pimentão 25 a 30 10 a 14 100 x 40-70 300 20.000-25.000 10.000 Cova ou sulco
Pimentão amarelo 25 a 30 10 a 14 100 x 50 x 50 750 40.000 10.000 Cova ou sulco
(estufa)
Quiabo 25 a 28 10 a 14 100 x 40 4.000-6.000 25.000 10.000 Cova ou sulco
Rabanete 20 a 25 4a7 20-25 x 4-5 20000 684.000 6.840 Canteiro
Repolho 20 a 25 6 a 10 80 x 40 300 31.250 10.000 Cova ou sulco
Rúcula 20 a 25 6 a 10 20 x 5 3000 684.000 6.840 Canteiro
Salsa 20 a 25 20 a 28 30 x 10 900-1500 228.000 6.840 Canteiro
Tomate tipo Italiano, 25 a 28 9 a 14 120 x 70 50-80 11.905 10.000 Cova ou sulco
Caqui e Santa Cruz
Tomate tipo Cereja 25 a 28 9 a 14 120 x 50 50 16.700 10.000 Cova ou sulco
(estufa)
Tomate tipo Saladinha 25 a 28 9 a 14 120-140 x 80-100 70 8.500-10.500 10.000 Cova ou sulco

FONTE: Dados básicos: Hortec (2006) e Sakata (2009).

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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 49

pimentões por longos períodos, durante o importante conhecer a fertilidade do solo, o ESCOLHA DE ESPÉCIES E
inverno. As culturas folhosas podem ser teor de cálcio (Ca), magnésio (Mg) e a satu- VARIEDADES
cultivadas em pleno verão, possibilitando ração por bases (V). Havendo necessidade,
colheitas prolongadas de hortaliças escas- deve-se realizar a calagem aplicando-se Hortaliças de propagação
sas no mercado. 2/3 da dosagem de calcário recomendada sexuada
sobre o solo, antes da aração, e 1/3 após a A maioria das hortaliças é propagada
ESCOLHA DA ÁREA E aração, antes da gradagem. O revolvimento por via sexuada, ou seja, por meio de se-
PREPARO DO SOLO do solo, numa profundidade de 20 a 30 cm, mentes. Estas apresentam variedades ou
Uma horta comercial deve ser plane- é importante para incorporação do calcário cultivares e híbridos com características
jada para produzir o ano todo e atender às (RIBEIRO; GUIMARÃES; ALVAREZ próprias como forma, tamanho, cor, preco-
preferências do mercado consumidor. Para V., 1999). cidade, resistência a determinadas doenças
isso, é necessário planejar os intervalos de Para algumas espécies, é suficiente ou pragas e adaptação às condições de
tempo entre semeaduras, diversificação de revolver e destorroar a terra e, em seguida, clima. O uso de cultivares adaptadas ao
espécies e variedades. No planejamento da abrir as covas, adubar e plantar. O plantio plantio fora de época normal de cultivo
horta, há necessidade de considerar alguns em covas é utilizado para abóboras e da espécie possibilita a oferta, durante o
aspectos relevantes, como tamanho da área chuchu, por exemplo. No entanto, para a ano inteiro, de produtos como couve-flor,
agricultável, características do local, tipo maioria das hortaliças é necessária uma cenoura, beterraba, rabanete e repolho,
de solo e topografia. preparação especial do terreno com cons- principalmente em regiões onde não ocor-
O tamanho da área deve ser suficiente trução de canteiros (alface e cebola), sulcos rem geadas.
para atender às necessidades de produção, (pimentão e tomate) ou leiras (batata-doce A tendência das empresas que co-
seja comercial, escolar ou familiar. O local e mandioquinha-salsa). Em função do porte mercializam sementes é disponibilizar
deve ser de fácil acesso, próximo a uma da planta, hábito de crescimento e desen- sementes híbridas com alto potencial ge-
fonte de água de boa qualidade, para as ir- volvimento, as hortaliças diferem quanto nético de produção, maior uniformidade,
rigações, e apresentar boa exposição ao sol, ao sistema de plantio e espaçamento. Cada produtividade e, em muitos casos, maior
pois a sombra é prejudicial ao crescimento hortaliça deve ser plantada no espaçamento resistência a pragas e doenças, desde que
das plantas. Deve ser afastado de curral, correto para o bom desenvolvimento das as condições de clima e de cultivo sejam
chiqueiro/pocilga, mas de fácil acesso plantas. No Quadro 1, encontram-se infor- ideais. Algumas das principais espécies e
ao local de preparo de adubos orgânicos mações de cultivo para diversas espécies cultivares/híbridos de hortaliças propa-
e compostos, para uso na produção das de hortaliças. gadas por sementes, bem como a época
hortaliças. Nos últimos anos, têm sido pesquisadas ideal de plantio6, estão apresentadas no
O solo ideal para implantação de uma técnicas de plantio direto na palha e cultivo Quadro 2.
horta deve apresentar textura média (areno- mínimo para algumas hortaliças. É uma
argiloso ou argilo-arenoso), uma vez que forma de plantio que evita o revolvimento Hortaliças de propagação
mecânico do solo, aração e gradagem. vegetativa
solos argilosos ou “barrentos” são difíceis
de trabalhar. Por outro lado, terrenos muito Entretanto, antes de implantar o Sistema Um dos principais problemas para
arenosos são menos férteis e secam rapi- Plantio Direto (SPD) numa área, é reco- implantação de lavouras com espécies de
damente. Assim, o melhor solo é aquele mendável fazer a correção da acidez e a hortaliças de propagação vegetativa é a
de consistência média, boa drenagem e eliminação de camadas subsuperficiais falta de mudas de qualidade, especialmente
aeração, acidez fraca (pH = 5,5 a 6,5), boa compactadas, pelo uso de subsolador ou para plantios comerciais. As mudas são
fertilidade e bom teor de matéria orgânica escarificador. Depois disso, o preparo de obtidas de brotações laterais que surgem
(MO). A topografia da área deve ser plana a solo é localizado, restrito às linhas de nas plantas adultas ou ao redor delas ou
levemente inclinada, para facilitar o escoa- plantio (no método de semeadura direta) de pedaços de ramas, hastes, rebentos,
mento das águas e evitar o encharcamento ou aos sulcos de transplante (no método rizomas, tubérculos e bulbilhos. Diversas
do solo no período de chuvas. de transplante de mudas) sobre a cobertura espécies de hortaliças são multiplicadas
Três meses antes do plantio, deve-se morta formada pela cultura antecessora, por mudas como: alho, batata, batata-doce,
fazer amostragem representativa do solo chamada planta de cobertura (MADEIRA; batata-baroa, couve, cebolinha, espinafre,
da área para análises química e física. É RESENDE; SOUZA, 2009). inhame (ou taro) etc. Apresentam alta

6
Informações prestadas pelas empresas de produção e comercialização de sementes: Sakata, Agristar, Takii, Hortec, Nunhems, Seminis.

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50 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

QUADRO 2 - Espécies e cultivares/híbridos de hortaliças propagadas por sementes e época ideal de plantio (continua)
Família botânica Época de plantio Cultivar
Aliaceae
Cebola Inverno Bella Vista, Bella Dura, Bella Catarina; BR 27, Optima F1, Perfecta F1, Andrômeda
F1, Aguarius F1, Sirius F1; Superex, Mercedes, Princesa, Luana, Taiko, Colina,
Don Victor, Matahari (roxa) e Luana (roxa); Boreal HT, Bola HT, Crioula Mercosul
HT, Petrolândia HT, Primavera HT
Ano todo IPA 10 e IPA 11

Cebolinha Ano todo Ano todo Nebuka; Todo Ano HT; Konatsu hossonegui

Apiaceae
Cenoura Inverno Coral II, Ferrari, Ferracini; Larissa; Sirkana, Romance, Nun 8806, Sugar Snax
(imperador), Upper Cut (imperador); Híbrida Nancy; Forto, Invicta
Verão Brasília RL, Nativa; Bruna F1, Amanda F1, Karine; Brazlandia HT, Híbrida
Marly; Juliana
Salsa Ano todo Chácara, Lisa Preferida; Lisa Comum, Graúda Portuguesa; Lisa HT, Graúda
Portuguesa HT
Coentro Verão Português HT, Verdão HT); Ano todo (Asteca, Santo, Verdão; Português Importado

Asteraceae (Compositae)
Alface lisa Inverno Elisa; Marcela HT
Verão Lídia
Ano todo Regina 500; Luara HT, Daniele HT, Karla HT

Alface-crespa Inverno Bruna HT


Verão Vanda, Vera, Verônica, Isabela; Brida HT
Ano todo Malice; Hortência HT

Alface-americana Inverno Rubette; Maisah; Laís HT; Legacy; Lucy Brown, Raider
Verão Amélia, Angelina, Tainá; Teresa; Evely HT; Kaiser
Ano todo Lady HT

Alface roxa Inverno Rubra


Ano todo Banchu Red Fire

Chicória Ano todo Mariana Gigante; Luciana; Francine HT

Brassicaceae
Couve comum Ano todo Cabocla; Manteiga da Geórgia; Hi-Crop

Couve-flor Inverno Julia, Maxima; Alpina F1, Nevada F1, Snow Mystique
Verão Sharon, Sarah, Cindy; Luna F1; Híbrida Veridiana; Verona

Couve-chinesa Ano todo Kinjítisu F1, Seijin F1; Kukai, Kigokoro

Brócolos cabeça única Inverno Avenger, Marathon


Verão Green Magic
Ano todo Taurus, Lion

Brócolos ramoso Inverno Ramoso Santana


Verão PP Verão; Piracicaba
Ano todo Hanapon, AF 950; Ramoso Brasília

Repolho verde Ano todo Shutoku, Mirai, Musashi; Bobcat, Fenix, Royal Vantage, Blue Vantage, Fuyutoyo;
Sekai F1, Titan F1; Avatar; Astrus Plus
Repolho roxo Ano todo Red Jewel; Ruby Queen; Kirei F1
Rabanete Verão N.19, Crunchy Royale, N.25
Ano todo Mercury F1, Zapp; Flex HT
Nabo Ano todo Pera de Colo Roxo; Natsu Minowase No3

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(conclusão)
Família botânica Época de plantio Cultivar
Agrião Ano todo AF 238, Folha Larga Melhorada, Gigante Redondo; Folha Larga HT
Rúcula Ano todo Cultivada, Folha Larga; Folha Larga HT, Cultivada HT
Chenopodiaceae
Beterraba Ano todo Kestrel, EWTT, Tall Top Early Wonder; Wonder 2000; All Green HT
Cucurbitaceae
Abóbora Butternut Verão Atlas, Atila, Barbara, Poliana
Ano todo Butternut HT
Abóbora tipo Seca Ano todo Menina Rajada; Abóbora Seca HT
Abóbora tipo Tetsukabuto Verão Tetsukabuto N.12, N.13, SK; Takayama F1
Ano todo Jabras; Tetsukabuto Takii
Abobrinha Verão Aline, Alicia, Novita, Novita Plus,Caserta CAC Melhorada; Anita F1
(Cucurbita pepo) Ano todo La Belle; Galícia
Abobrinha menina Verão Daiane, Sandy, Menina Brasileira
Ano todo Menina Brasileira HT
Melancia Verão Olímpia; Denver F1, Crimson Select HP; Crimson PTU
Ano todo Dolby, Audry, Fashion-3n, Boston-3n e Premiun-SSS; Phoenix, Smile
Melão Verão AF 682, Iracema, Jangada, Vereda; Goldex F1, SF 10/00 F1
Ano todo Voyager, Hybrix, Amaregal, Storil, esmeralda, Solarnet, Solarking, Magrite,
Magnate, Medelin, e Magistro
Pepino tipo Aodai Verão Runner
Ano todo Aladdin F1; Híbrido Sierra
Pepino tipo Caipira Verão Safira; Híbrido Cristal
Ano todo Ômega F1 e Concord F1; Zapata, Anacho e Ájax
Pepino tipo Japonês Verão Hokuho, Taisho, Nikkey, Yoshinari; Híbrido Twister
Ano todo Kouki F1, Natsuno Kagayaki F1; Hokushin, Tsuyataro
Fabaceae (Leguminosae)
Feijão-vagem Ano todo Bragança, Itatiba II; Lider; Vagem Brasília HT; Conquista HT
Ervilha-torta Inverno MK 10, MK 13, Torta TT; Torta de Flor roxa; Apiaí HT

Malvaceae
Quiabo Verão Santa Cruz 47, Colhe Bem
Ano todo Santa Cruz 47
Solanaceae
Tomate tipo Italiano Verão Andrea, Andrea Victory, Tyna, Giuliana
Ano todo Granadero F1; Pizzadoro; Júpiter
Tomate tipo Caqui Verão Lana, Lumi, Rebeca, Sheila, Yandara, Tyler, Tammy
Ano todo Rally F1; Oogata Fukuju, Grandeur
Tomate tipo Salada Ano todo Dominador F1, Giovanna F1, Serato F1, Tymaxx F1; Aliança; Avanty, Takii 92
Tomate tipo Cereja Verão Sweet Gold, Sweet Grape
Ano todo Coco, Lili, Pepe; Super Sun Cherry F1, Piccolo F1, Mascot F1; Tropical
Tomate tipo Santa Cruz Verão Carina TY, Debora Max, Debora PTO, Débora Victory
Ano todo Bravo F1, Santa Clara Miss Brasil; Kombat
Tomate tipo Saladinha Ano todo Nanda F1
Pimentão verde Ano todo Laser F1, Arcade F1; Etna; Mayara
Pimentão vermelho Verão Magali R, Dahra R, Dahra RX
Ano todo Atlantis F1
Pimentão amarelo Verão Amanda e Lucia R
Berinjela Ano todo Napoli, Napolitana; Híbrida Ciça HT
Jiló Ano todo Português, Morro Grande; Teresópolis Gigante

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52 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

importância econômica e social para as ou matrizes que tenham bom desenvolvi- O chegamento de terra nas plantas é impor-
regiões produtoras, pelo baixo custo de mento, boa produção e livres de doenças tante para evitar que as raízes fiquem ex-
produção, rusticidade de cultivo, alto po- e pragas. No caso da batata-doce (Fig. 1), postas. Esta operação é normalmente feita
tencial produtivo e valor alimentício, além as mudas devem ser vigorosas e sadias, durante a primeira e a segunda capinas, ou
de alcançar bons preços, especialmente, na originadas de plantios novos e isentas de seja, até o fechamento das entrelinhas. A
entressafra, fatores esses relevantes para broca, virose, mal-do-pé e nematoides. O cobertura morta entre as linhas também é
sua utilização, principalmente na agricul- ideal é usar ramas com oito a dez entrenós,
benéfica para essas culturas, por impedir ou
tura familiar. enterrando de três a quatro.
reduzir a emergência de plantas daninhas.
Cada uma tem sua exigência climática A propagação do taro é feita por
para produção. A batata-doce e o taro rizomas pequenos, com 60 a 80 g, origi- Hortaliças não-convencionais
exigem temperaturas mais elevadas e po- nados da colheita anterior, com início de
dem ser cultivados durante todo o ano em brotação, para melhor estabelecimento São hortaliças tradicionais, cujo con-
regiões de baixa altitude e clima quente; das plantas no campo. A propagação da sumo encontra-se, atualmente, restrito a
nas demais regiões o cultivo é realizado mandioquinha-salsa faz-se por meio de re- comunidades rurais ou regiões que as uti-
na primavera-verão. O cultivo comercial bentos ou filhotes, que são ramificações da lizam em pratos típicos da culinária local
da mandioquinha-salsa é indicado para planta. Os rebentos destacados da touceira ou regional. Pelo fato de serem mantidas
regiões com altitudes superiores a 600 m. devem ser mergulhados por 10 minutos em ou cultivadas em pequenas hortas, quin-
As melhores épocas de plantio variam de solução de hipoclorito de sódio ou água tais e em propriedades rurais, não estão
março a junho e de setembro a novembro, sanitária. Usar 1 litro de água sanitária para inseridas no contexto da produção e co-
evitando-se plantios nos meses de dezem- 9 litros de água. As mudas são preparadas mercialização, sendo chamadas hortaliças
bro a fevereiro, em virtude das altas pre- logo depois, fazendo-se um corte transver- não-convencionais. Para muitos brasileiros
cipitações e temperaturas, que favorecem sal ou em bisel na base. No ápice, deixar
que vivem em comunidades isoladas ou
perdas de plantas no campo. Também 1 a 2 cm de pecíolo. Para cicatrização dos
devem-se evitar plantios nos meses de de difícil acesso, essas hortaliças podem
cortes ou cura, aconselha-se deixar um a
julho e agosto, quando o florescimento representar importante fonte de energia,
dois dias à sombra, antes do plantio, ou
precoce das plantas é favorecido, com proteína e vitaminas. Esse fato é positivo
fazer um polvilhamento com cal hidratada.
perdas na produção de raízes. O plantio da batata-doce e da mandio- quanto ao menor risco de erosão genética,
No Brasil, existem muitas cultivares quinha-salsa é feito em canteiros, leiras mas a substituição de hábitos alimentares
de batata-doce com grande diversidade ou camalhões com 30 a 40 cm de altura. tradicionais por outros coloca essas espé-
genética entre elas, tanto em relação à parte Enquanto que o plantio do taro é feito em cies em risco de extinção, se não forem
aérea quanto à distribuição e coloração das sulcos. O espaçamento entre fileiras é de resgatadas e mantidas em bancos vivos de
raízes, teor de amido, de umidade e de ca- 0,8 a 1,0 m e entre plantas 0,3 a 0,4 m. germoplasma.
roteno. Cada mercado tem uma preferência
quanto à coloração da película e da polpa
das raízes. É comum encontrar cultivares
com nomes diferentes ou diferentes cul-
tivares com o mesmo nome, nas regiões
produtoras.
A mandioquinha-salsa, cultivada no
Brasil, restringe-se a poucos clones, com
características semelhantes e grande uni-
formidade genética, decorrente do reduzi-
do número de clones introduzidos no País:
Maria Aparecida Nogueira Sediyama

Amarelo comum, Amarelo de Carandaí e,


mais recentemente, o Amarelo de Senador
Amaral. O mesmo acontece com o taro,
por causa dos poucos trabalhos dedicados
ao melhoramento genético da espécie. As
principais cultivares comerciais de taro
são: Japonês e Chinês.
Para produção própria do material de
plantio, devem-se escolher plantas-mãe Figura 1 - Variedades de batata-doce de diferentes cores e formatos de raízes

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Recentemente, algumas instituições nos períodos em que há carência de outras algumas regiões há agricultores especiali-
de pesquisa empenharam-se no resgate, folhosas, com reflexos no aumento da zados nessa atividade. Inclusive, pode ser
multiplicação e manutenção das espécies demanda (SOUZA et al.,2009). Pesquisa mais econômico adquirir a muda pronta ao
não-convencionais, dada sua importância sobre técnicas de cultivo do ora-pro-nóbis invés de o produtor investir em material e
para a segurança alimentar local e regional está sendo conduzida na Unidade Regional mão-de-obra para a própria produção.
e possibilidade de maior inclusão na dieta EPAMIG Zona da Mata, em parceira com
da população. Dentre as partes das plantas a Universidade Federal de Viçosa (UFV). Produção de mudas em
Paralelamente, está sendo realizado, por sementeira
que são consumidas encontram-se folhas
(almeirão-de-árvore, azedinha, beldroega, meio de metodologias participativas, o A sementeira é um canteiro prepa-
bertalha, capiçoba, capuchinha, caruru, resgate do conhecimento dos agricultores rado especialmente para a produção de
chicória-do-pará, ora-pro-nóbis, peixinho, e de outras espécies de hortaliças não- mudas, que serão depois transplantadas
serralha); flores (vinagreira); frutos (maxi- convencionais de uso popular na Zona da para o local definitivo (canteiros, covas
xe, cará-moela, cubui ou maná) e raízes ou Mata mineira. A carência de informações ou sucos de plantio). Deve estar próxima
rizomas (ária, araruta, mangarito, jacatupé técnicas sobre o cultivo dessas hortaliças ao local de plantio e ser preparada com
e inhames indígenas). evidencia um nicho de mercado para sua revolvimento, destorroamento e adubação
Algumas dessas hortaliças já têm seus produção familiar, uma vez que, geralmen- com esterco curtido e peneirado e adubos
valores nutricional (Quadro 3), medicinal te, já são produzidas para consumo próprio. minerais. Se não foi feita calagem, usar
ou artesanal difundidos, o que aumenta Os resultados das pesquisas, quanto à qua- para cada metro quadrado de sementeira
sua procura no mercado brasileiro. Dentre lidade nutricional e às técnicas de cultivo, 100 g de cal hidratada, distribuída e incor-
elas estão açafrão, capuchinha, gengibre, certamente virão consolidar a inclusão das porada uniformemente, 30 dias antes da
jambu, yacon, ora-pro-nóbis, vinagreira, hortaliças não-convencionais na dieta dos semeadura. Sete dias após a aplicação da
bucha e cabaça. Mas ainda há necessidade brasileiros e nos sistemas produtivos da cal, distribuir e incorporar 5 L de esterco
agricultura familiar. de galinha bem curtido ou 10 a 15 L de
de maior conhecimento de suas técnicas
esterco de curral curtido ou composto or-
de cultivo para melhor desempenho co-
mercial. PRODUÇÃO DE MUDAS E gânico. Uma semana antes da semeadura,
Além do uso tradicional pelas popula- TRANSPLANTIO distribuir 100 g de adubo mineral 4-14-8,
por metro quadrado de sementeira. Após
ções rurais, o ora-pro-nóbis, particularmen- Dependendo da espécie, a semeadura
misturar bem os adubos com a terra, fazer
te, tem grande potencial de comercializa- pode ser feita diretamente no campo. A pro- o canteiro da sementeira com enxada e ni-
ção, em virtude do interesse da indústria dução de mudas com posterior transplante velar bem a superfície. A sementeira deve
alimentícia por esta planta, que contém alto para a lavoura é o método mais empregado ter 15 a 20 cm de altura, 1 m de largura e
teor de proteínas, lisina e mucilagem. Por para a maioria das hortaliças, e pode ser comprimento variável, de acordo com a
causa de sua rusticidade, a multiplicação e feita em sementeiras ou em bandejas, a área que se deseja plantar.
o cultivo são simples, principalmente pela céu aberto ou em ambientes protegidos. A distribuição de sementes deverá ser
alta resistência ao déficit hídrico, o que A produção de mudas é uma etapa tão uniforme e em sulcos distanciados 10 cm uns
ressalta seu valor como hortaliça folhosa importante do sistema produtivo, que em dos outros com profundidade de 1 a 2 cm.
A cobertura das sementes é feita com terra
ou esterco peneirado. As irrigações são
QUADRO 3 - Teores de umidade, proteína e fibras na matéria fresca e seca de hortaliças não
convencionais, expressos em g/100 g
realizadas uma a duas vezes ao dia com
Proteínas Fibras
regadores de crivo fino.
Matéria
Hortaliças Umidade Matéria Matéria Matéria Matéria
seca Produção de mudas em
seca fresca seca fresca
bandejas
Serralha 11,04 ab 89,30 ab 18,46 b 2,04 b 19,57 a 2,24 a
Ora-pro-nóbis 12,51 a 67,48 c 24,73 a 3,09 a 5,58 c 0,75 c
Existem no mercado três tipos de ban-
dejas para mudas de hortaliças: bandejas
Mostarda 11,56 ab 88,43 bc 23,03 a 2,66 a 20,42 a 2,35 a
de isopor, de cor branca; bandejas de
Taioba 10,16 b 89,66 a 17,92 b 1,86 b 14,29 b 1,45 b polietileno laminado de baixa densidade,
CV (%) 8,24 0,60 7,62 11,85 20,34 23,24 de cor preta e bandejas de plástico rígido.
As bandejas de isopor são mais utilizadas
FONTE: Silva et al. (2005).
NOTA: CV - Coeficiente de variação. e existem vários tipos, cuja classificação
Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si a 5% de varia de acordo com o número de células
probabilidade, pelo teste Tukey. e altura da bandeja. Cada tipo é mais
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54 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

apropriado para determinadas hortaliças, O substrato preparado deve passar por tação. As bandejas são mantidas em supor-
conforme exemplos: uma desinfecção por meio de solarização tes apropriados, de madeira ou alumínio,
a) 128 células: hortaliças que neces- ou pasteurização solar. A cobertura do a uma altura de 0,8 a 1,0 m do chão, o que
sitam ser transplantadas com mais substrato com plástico fino e transparente facilita a poda das raízes pelo ar e diminui
idade, como no período de inverno, e sua exposição à radiação solar plena, por a contaminação com pragas e doenças. O
pois mudas maiores resistem melhor três a quatro dias, elevarão a temperatura o produtor deve ficar atento aos sintomas de
às adversidades climáticas; suficiente para a eliminação de patógenos, deficiência nutricional. Se necessário, deve
b) 200 células: berinjela, beterraba, pragas e sementes de plantas daninhas. fazer adubação complementar.
couve-brócolos, couve-flor, couve- Posteriormente, o substrato é colocado As bandejas podem ser usadas várias
folha, pepino, pimentão, quiabo, nas bandejas de maneira que encha por vezes ao ano, mas, antes da reutilização,
repolho, tomate, melão, melancia; inteiro as células. Para melhor acomodá- deve-se fazer a lavagem e a desinfecção
c) 288 células: alface, cebola, ceboli- lo nas células e garantir certa compressão, com hipoclorito de sódio, emergindo as
nha, repolho e salsão. basta levantar um pouco a bandeja e bater bandejas por 15 minutos em solução feita
O substrato utilizado para preenchi- com o fundo na tábua da mesa. Assim, com 1 litro de água sanitária em 9 litros de
mento das bandejas é um material sólido, células vazias poderão ser preenchidas e água pura (0,25% de hipoclorito). Deixar
inerte, mineral ou orgânico, puro ou em o substrato não será perdido pelo furo de secar, antes de utilizar as bandejas.
mistura, que tenha boa fertilidade, aeração, drenagem da bandeja. O transplantio consiste na passagem
retenção de água, esterilidade biológica e A etapa seguinte é a semeadura, que das mudas da sementeira ou bandeja para
uniformidade, que proporciona condições requer muita precisão, pois as sementes o local definitivo, quando apresentarem de
favoráveis para o desenvolvimento do 10 a 15 cm de altura e duas a quatro folhas
de hortaliças são pequenas. Ao usar mais
sistema radicular, permitindo que a planta
de uma semente por célula, haverá neces- definitivas (Fig. 2). Não se recomenda a
se forme forte e sadia (BORNE, 1999).
sidade de fazer o desbaste, retirando as poda de folhas ou raízes antes do transplan-
Substratos prontos para o uso imediato nas
plantas mais fracas, deixando uma planta te, mas deve-se fazer a seleção das mudas
bandejas podem ser encontrados nas casas
por célula (Fig. 2). para assegurar bom desenvolvimento da
especializadas do ramo.
Caso o produtor prefira fazer seu A irrigação é, normalmente, feita com planta. A irrigação na sementeira ou nas
próprio substrato, poderá optar pelo uso microaspersor ou com regador de crivo bandejas pode facilitar a retirada das mu-
de uma parte de húmus de minhoca, uma fino, duas a três vezes ao dia com pouca das. Para melhor pegamento, recomenda-se
parte de terra arenosa e uma parte de ester- intensidade. Posteriormente, a irrigação é o transplantio nas horas mais frescas do
co bem curtido de animais (1:1:1). Outra reduzida para uma ou duas vezes ao dia, dia e/ou em dias chuvosos ou nublados.
formulação é constituída de uma parte de para melhor adaptação das mudas às con- As mudas devem ser enterradas na mesma
casca de arroz carbonizada e uma parte de dições de campo. A produção de mudas em profundidade em que se encontravam na
húmus de minhoca (1:1). bandejas é feita em estufa ou casa de vege- sementeira, sem cobrir a gema com terra.

Fotos: Maria Aparecida Nogueira Sediyama

Figura 2 - Produção de mudas de repolho e quiabo em bandejas de isopor, usando substrato produzido com húmus de minhoca e
transplantio no campo - Unidade Regional EPAMIG Zona da Mata - Viçosa, MG - 2008

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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 55

ROTAÇÃO DE CULTURAS tempo do que as grandes culturas, porque de maior demanda. Para isso, são feitas
a maioria delas apresenta ciclo curto e alta adubações de plantio e cobertura. A adu-
O plantio sucessivo de uma mesma
capacidade de produção. Portanto, a quali- bação de plantio é feita poucos dias antes
espécie ou família botânica (Quadro 2) na
dade e o volume de produção dependerão, do plantio e misturada com a terra dos can-
mesma área causa diminuição da produção
dentre outras condições, da disponibilidade teiros, sulcos ou covas. É a melhor época
e maior ataque de certas doenças e pragas.
de nutrientes para a cultura. para oferecer os cinco macronutrientes: P,
Isto acontece porque as plantas de uma
Os adubos minerais apresentam maior K, Ca, Mg e enxofre (S). A quantidade de
mesma família retiram do solo os mesmos
concentração dos nutrientes em forma mais N recomendada deve ser dividida em pelo
nutrientes e, em geral, são suscetíveis
facilmente absorvida pelas hortaliças. São menos três aplicações. Um terço é apli-
às mesmas pragas e doenças. Por isso, a
vendidos na forma de pó ou granulados, cado no plantio e o restante em adubação
rotação de culturas é importante para que- de cobertura, que é feita na superfície do
com um ou dois nutrientes, ou em fórmulas
brar o ciclo de vida de patógenos e pragas solo, distanciada 10 a 15 cm das plantas,
compostas. As fórmulas são conhecidas
presentes na cultura anterior. É também a cada 20 ou 30 dias após a germinação
pelas porcentagens do nitrogênio (N), fós-
uma oportunidade para o agricultor familiar ou transplante, com o solo úmido. Pode-
foro (P) e potássio (K). Assim, a fórmula
diversificar as espécies no sistema de rota- se também dissolver o adubo na água de
4-14-8 contém 4% de N, 14% de P2O5 e
ção de culturas, uma vez que as hortaliças, irrigação. Após a aplicação da água com
8% de K2O e é recomendada para o cultivo
dentro de seus grupos e famílias, têm ciclos adubo, deve-se fazer nova irrigação com
de hortaliças.
diferenciados, que permitem até quatro água limpa, para evitar a queima das fo-
Os adubos orgânicos servem, principal-
colheitas por ano, na mesma área. lhas. Normalmente, aplica-se o sulfato de
mente, para melhorar as condições físicas
Considerando que o tempo de formação amônio ou nitrato de cálcio na dosagem
do solo, o que facilita a absorção de água
das mudas de algumas espécies é maior que de 30 a 50 g ou 30 g de ureia por metro
e a conservação da umidade e garante
o ciclo de outras, no sistema de rotação de quadrado de canteiro.
melhor ambiente para o desenvolvimento
culturas uma área pode ser explorada com Nos Quadros 4 e 5, são apresentadas
das raízes. Em geral, quanto maior a quan-
uma espécie, enquanto as mudas da outra sugestões de adubação para hortaliças
tidade de adubo orgânico aplicado e quanto
ficam prontas. Por exemplo, enquanto a cultivadas em pequenos e grandes espa-
melhor sua incorporação, melhores serão
formação de mudas de cebola demora de 40 çamentos, respectivamente.
as características físicas do solo. Os adu-
a 50 dias, os ciclos da alface e do rabanete
bos orgânicos mais usados são estercos de
são de 50 e 40 dias, respectivamente.
animais e composto orgânico, que devem PREPARO DE COMPOSTO
ORGÂNICO
estar bem curtidos. Devem ser espalhados
NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO
sobre o solo e incorporados 15 dias antes A compostagem é o processo de trans-
As plantas necessitam dos nutrientes da semeadura ou transplante. formação de materiais orgânicos (qualquer
na época certa para seu desenvolvimento Para que os nutrientes sejam fornecidos tipo de resíduos de vegetais ou animais
normal e para que haja floração e/ou frutifi- em quantidade adequada, de acordo com disponíveis na propriedade agrícola) em
cação. As hortaliças absorvem maior quan- a análise do solo e a exigência da planta, adubos orgânicos. Este processo envolve
tidade de nutrientes em menor espaço de há necessidade de aplicá-los nas épocas transformações complexas de natureza

QUADRO 4 - Duas sugestões para adubação de plantio de hortaliças QUADRO 5 - Duas sugestões para adubação de plantio de hortaliças,
cultivadas em canteiros em solo de média fertilidade em espaçamentos grandes, em solo de média fertilidade
Quantidade por metro Quantidade por cova ou
Fertilizante quadrado, aplicada antes do Fertilizante metro linear de sulco,
plantio, em área total aplicada antes do plantio
Sugestão 1 Sugestão 1

Esterco de curral 15 a 20 L Esterco de curral 5 a 10 L

Superfosfato simples 150 a 200 g Superfosfato simples 200 a 250 g

Cloreto de potássio 20 a 40 g Cloreto de potássio 20 a 30 g

Sugestão 2 Sugestão 2
(1)
Esterco de curral 15 a 20 L (1)
Esterco de curral 5 a 10 L

Adubo formulado NPK (4-14-8) 200 a 250 g Adubo formulado NPK (4-14-8) 200 a 250 g
NOTA: O esterco de curral pode ser substituído por composto NOTA: O esterco de curral pode ser substituído por composto
orgânico em quantidade igual ou por esterco de galinha ou orgânico em quantidade igual ou por esterco de galinha ou
torta em 1/3 da quantidade. torta em 1/3 da quantidade.

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56 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

bioquímica, promovidas pelos microrga- De modo geral, a pilha deve apresentar Cobertura do solo
nismos que têm na MO in natura sua fonte cerca de 2,0 a 3,0 m de largura na base por
A cobertura do solo pode ser feita com
de energia, nutrientes minerais e carbono. 1,5 m de altura e comprimento variável, de
diferentes resíduos orgânicos ou plásticos.
A qualidade do composto orgânico está acordo com a disponibilidade do material. Traz reconhecidos benefícios aos sistemas
diretamente relacionada com a qualidade A umidade deve ser mantida entre 40% e de produção de hortaliças, especialmente,
da matéria-prima utilizada e a forma de 60%, situação em que não escorre água, na retenção de umidade, redução da tempe-
preparo da compostagem. Na prática, quando o material é apertado com a mão. ratura do solo, prevenção à erosão, controle
pode-se utilizar a proporção de quatro Para controlar a temperatura, umidade e de plantas daninhas e aporte de nutrientes,
partes de material rico em carbono (restos aeração, devem ser feitos revolvimentos quando se usam os resíduos orgânicos
vegetais) para uma parte de material pobre a cada 20 a 30 dias, formando uma nova (SMOLIKOWSKI; PUIG; ROOSE, 2001).
em carbono, mas rico em N. Dejetos de ani- pilha. Molhar durante o revolvimento e, se
mais, ricos em N e micronutrientes de fácil necessário, uma vez por semana (Fig. 3). Irrigações ou regas
decomposição, são agentes inoculantes, ou Aos 90 dias, aproximadamente, a tempera- As hortaliças só se desenvolvem bem,
seja, ricos em microrganismos, bactérias e tura no interior da meda iguala-se à tempe- quando mantido teor adequado de umidade
fungos decompositores. O uso de fosfato ratura do ambiente (KIEHL, 1985), o que no solo, pelas chuvas e pelas irrigações
de rocha na compostagem contribui para caracteriza que o material está curtido. O ou regas constantes. A frequência e a
a obtenção de compostos orgânicos com composto orgânico formado apresenta cor quantidade da água a aplicar dependem
maiores teores de P, Ca e zinco (Zn). escura, cheiro de terra e é friável, quando das condições do solo, clima e estádio de
O local para montagem das pilhas (ou apertado entre as mãos. desenvolvimento das plantas.
medas) de compostagem deve ser limpo, O produtor deve ter em mente que o Para hortaliças folhosas as irrigações
livre de plantas daninhas e ligeiramente são feitas diariamente, durante todo o ciclo,
benefício da MO no solo não está apenas
inclinado, para facilitar o escoamento de para obtenção de folhas tenras. Para as
no fornecimento de nutrientes para as plan-
águas de chuva, próximo à fonte de água,
tas, mas, principalmente, na modificação hortaliças frutos, à medida que as plantas
das matérias-primas e das lavouras onde crescem, as irrigações podem ser espaçadas
e melhoria de suas propriedades físicas e
o composto será usado. Deve ter área
biológicas. de três em três dias, até o final da colheita.
suficiente para a construção das pilhas e Para batata, batata-doce, cenoura, beterra-
espaço para seu revolvimento e circulação. ba, alho e cebola, não há necessidade de
TRATOS CULTURAIS
Na confecção das pilhas, usar camadas continuar a irrigação, quando já estiverem
alternadas de materiais vegetais disponí- Os tratos culturais são operações ne- em condições de ser colhidas.
veis conjugados com esterco animal. Cada cessárias para o bom desenvolvimento Deve-se molhar a terra de 20 a 25 cm,
camada deve ser molhada adequadamente das plantas, devendo ser executados na profundidade em que se encontra a maioria
sem escorrer. A última deve ser de material época certa e com os devidos cuidados. das raízes. O excesso de água provoca a
palhoso para evitar perdas de N (Fig. 3). Os principais tratos são descritos a seguir. erosão e o arrastamento dos nutrientes e

Maria Aparecida Nogueira Sediyama


Sanzio Mollica Vidigal

Figura 3 - Produção de composto orgânico em propriedade familiar, localizada na zona rural de Viçosa, MG

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adubos aplicados. A irrigação pode ser suporte, para evitar contato com o solo ao e) minadores de folhas e hastes: pe-
feita por aspersão ou por infiltração. Pelo crescer ou para se protegerem dos ventos quenas larvas de diversas espécies
sistema de aspersão, utilizam-se regadores, ou mesmo quando há excesso de produção, de insetos que formam galerias nas
mangueiras de irrigação junto às plantas, como é o caso da ervilha-torta, feijão-va- folhas e hastes;
aspersão convencional ou microaspersão. gem, pepino, tomate, pimentão e berinjela. f) pulgões: insetos muito pequenos de
A irrigação por infiltração é feita de cor esverdeada ou preta, com asas
modo que a água corra entre sulcos ou entre Desbrota
ou não. Vivem em colônias, prin-
as fileiras de plantas. Neste caso, o declive A desdobra consiste em eliminar os cipalmente nas folhas ou brotações
dos sulcos deve ser pequeno, 0,2% a 0,5% novas. Provocam o enrolamento
brotos que saem nas axilas das folhas ou
para facilitar o movimento da água sem das folhas e transmitem doenças
na haste de algumas espécies como: couve,
causar encharcamento ou erosão. A água provocadas por vírus;
berinjela, pimentão e tomate.
deve correr lentamente, permitindo boa in-
g) tripes: pequenos insetos quase in-
filtração e bom suprimento de água às raízes. Amontoa visíveis a olho nu, que vivem em
Capinas Nas culturas de batata e taro (inhame), colônias nas folhas novas ou nos
é necessário fazer a amontoa, isto é, chegar locais mais escondidos;
As capinas podem ser executadas
terra ao pé da planta, após certo grau de h) vaquinhas: pequenos besouros que
manualmente, com auxílio de enxada ou
desenvolvimento, para que os tubérculos comem as folhas. As cores são va-
sacho, visando manter a cultura sempre no
ou rizomas fiquem enterrados. riadas, alaranjadas ou verdes com
limpo. São consideradas plantas daninhas
manchas amareladas.
todas aquelas espécies diferentes da que
PRAGAS E DOENÇAS O controle de pragas pode ser feito pela
foi plantada. As plantas daninhas devem
ser retiradas o quanto antes, para não É comum, mesmo nas pequenas hortas, catação manual e eliminação de plantas ou
prejudicar a cultura, pois concorrem com o ataque de pragas e doenças que, se não de suas partes mais atacadas. Deve-se eli-
esta em água, luz e nutrientes ou podem forem controladas, prejudicam o cresci- minar toda e qualquer planta daninha que
ser portadoras ou hospedeiras de doenças e mento das plantas e a qualidade do produto. seja hospedeira de insetos-praga. Havendo
pragas. O controle dessas plantas pode ser As hortaliças devem ser observadas diaria- necessidade de usar inseticida, deve-se
feito também com herbicidas. No entanto, mente para verificar a presença de pragas buscar recomendação de técnico qualifi-
a aplicação de produtos químicos deve ser cado, para que a aplicação seja feita com
ou doenças, que são mais facilmente con-
feita sob orientação de um técnico da área. toda a segurança necessária, respeitando o
troladas no início do ataque. As principais
período de carência.
pragas das hortaliças são:
Raleamento de plantas As principais doenças em hortaliças
a) ácaros: são pragas quase invisíveis são causadas por:
O raleamento de plantas assegura o a olho nu, vivem em colônias no
número adequado de plantas por unidade a) fungos: provocam o aparecimento
lado inferior das folhas novas que
de área, para aumentar a produtividade e a de pintas ou pequenas manchas
apresentam descoloração; às vezes
qualidade de produtos, como no caso da ce- nas folhas, hastes ou frutos. Podem
pode-se notar a formação da teia;
noura. É feito nas hortaliças de semeadura causar secamento ou apodrecimento
b) lagarta-rosca: corta as hastes das das partes atacadas, murchamento e
direta, tanto nas covas como no canteiro,
eliminando-se plantinhas em excesso, dei- plantas novas, rente ao solo. As morte das plantas;
xando as mais vigorosas, com espaçamento lagartas são escuras, grandes, com 3 b) bactérias: causam manchas escuras,
adequado entre as plantas remanescentes. a 5 cm de comprimento e, durante o podridão, secamento das partes
dia, ficam escondidas na terra perto atacadas, murchamento e morte das
Desbaste de frutinho da planta cortada; plantas;
O desbaste de frutinho visa eliminar o c) lagartas-das-folhas: comem as fo- c) vírus: causa amarelecimento, en-
excesso de frutificação, permitindo melhor lhas. São de coloração esverdeada, crespamento, engruvinhamento
desenvolvimento e qualidade dos frutos podendo apresentar listas pretas no e deformação, o que prejudica o
remanescentes, como no caso do tomate dorso. Medem em geral de 3 a 5 cm crescimento das folhas e da planta;
tipo Salada, melão e melancia. de comprimento; d) nematoides: provocam a formação
d) lesmas e caramujos: atacam es- de nódulos nas raízes e amarele-
Estaqueamento e amarração
pecialmente as partes tenras das cimento e murchamento da parte
O estaqueamento e a amarração são hortaliças. Possuem aparelho bucal aérea, o que prejudica o desenvol-
feitos em hortaliças que necessitam de do tipo raspador; vimento das plantas.
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O controle das doenças é feito elimi- Algumas olerícolas, como a batata- vivem no meio rural. Haja vista que, no
nando-se as partes atacadas ou a planta doce, a cebola e o alho precisam de um Brasil, o consumo de frutas e hortaliças
toda, mantendo a cultura no limpo, aduban- período de “cura” antes de serem comer- é apenas um terço do recomendado pela
do e regando com critério. Muitas vezes a cializadas. São colocadas sobre o solo ou Organização Mundial da Saúde (OMS),
falta de crescimento, amarelecimento das esteira até que sequem, para depois serem que seria de 400 g/dia.
folhas, murchamento e morte das plantas guardadas em locais secos. No cultivo de hortaliças a campo, o
são consequências da falta de adubo. A Algumas hortaliças requerem uma produtor encontra limitações para man-
falta ou excesso de água, excesso de calor limpeza, que pode ser apenas a retirada ter a produção constante durante o ano,
ou frio, clima desfavorável para a espécie, das folhas velhas ou sujas, ou a lavagem mas com o uso de tecnologia adequada,
podem também ser responsáveis por esses para eliminar a terra aderida ao produto. podem-se obter boas produções em épocas
sintomas. Se a comercialização não for imediata o de entressafra. Uma tecnologia bastante
Sempre que possível, evitar o uso de produto deve ser armazenado em baixa promissora é o cultivo em ambiente prote-
produtos químicos ou pesticidas. A utili- temperatura, para impedir a deterioração. gido, com filme plástico ou filme agrícola,
zação de produtos naturais no controle de A classificação e a padronização são que vem sendo largamente utilizado para
pragas e doenças em hortaliças tem sido feitas para melhor valorização do produto, produção fora de época. A produção pro-
fonte de pesquisas nos últimos anos e os considerando-se o tamanho, a coloração e gramada e diversificada de hortaliças é
resultados são animadores. outros critérios específicos para cada hor-
uma alternativa que vai contribuir para a
taliça. Uma boa embalagem para a comer-
permanência do agricultor na zona rural,
COLHEITA E cialização protege o produto em todas as
para a geração de renda e emprego no cam-
COMERCIALIZAÇÃO etapas, do transporte ao armazenamento e
po, incluindo a mão-de-obra familiar. No
Cada hortaliça apresenta, em determi- exposição no mercado, mantendo sua qua-
sistema de produção de hortaliças, é muito
nada fase de seu crescimento, as melhores lidade original e sua higiene. A embalagem
importante o planejamento da atividade e
características de sabor, palatabilidade, também deve atrair o comprador e conter
o conhecimento do mercado.
aparência, qualidade e melhor conservação informações sobre a origem do produto.
O horticultor deve procurar alternativas
pós-colheita. É nessa ocasião que devem A comercialização é a etapa mais
mais favoráveis à venda de seu produto,
ser colhidas. complicada, quando se trata de produção
muito antes da implantação das culturas
O reconhecimento do ponto de colheita de hortaliças. O pequeno horticultor deve
e, mais ainda, na proximidade da colheita.
é feito pela idade da planta, desenvolvi- comercializar diretamente com o varejista
ou em feiras livres, eliminando intermedi- Algumas alternativas são:
mento das folhas, hastes, frutos, raízes
ários. Os supermercados têm contribuído a) cooperativas de produção ou outras
ou outras partes que serão consumidas,
muito na comercialização de hortaliças, organizações;
ou pelo amarelecimento e secamento das
folhas. exigindo dos fornecedores melhor qualida- b) venda diretamente a consumidores
De modo geral, as hortaliças folhosas e de e boa apresentação dos produtos. Alguns e instituições;
de hastes são colhidas quando estão tenras; realizam, inclusive, trabalho de supervisão c) venda nos estabelecimentos varejis-
as de flores, quando os botões estão fecha- nas plantações.
tas;
dos; as de frutos, quando as sementes não d) entrega aos atacadistas;
CONSIDERAÇÕES FINAIS
estão completamente formadas, e as raízes
e) fornecimento, sob contrato, para
e bulbos, quando estão completamente É inegável a forte vocação da agricul-
agroindústrias.
desenvolvidos. tura familiar para produzir alimentos e,
As hortaliças de folhas e de flores de- sobretudo, contribuir para a diversificação Uma forma importante de comerciali-
vem ser colhidas nos horários mais frescos da alimentação dos brasileiros. Além dos zação de produtos hortícolas da proprie-
do dia, de preferência, no início da manhã. benefícios para a saúde, a diversificação dade familiar é o Programa de Aquisição
Os equipamentos usados na colheita, trans- de cultivos é cada vez mais necessária de Alimentos (PAA), do governo federal.
porte e embalagem devem estar limpos e para a sustentabilidade econômica e am- O PAA tem influência significativa no
sanitizados, para evitar disseminação de biental dos sistemas agrícolas. A produção aumento da escala e no planejamento da
microrganismos nos produtos. de hortaliças pode contribuir muito para produção para uma oferta regular. Para
No campo, durante a colheita, os produ- uma alimentação diversificada, visto que participar do PAA, o agricultor familiar
tos devem ser manuseados cuidadosamente são mais de 80 espécies cultivadas. Uma deve estar enquadrado como beneficiário
para evitar danos mecânicos, e a exposição horta é imprescindível pelos seus inúmeros do Programa Nacional de Fortalecimento
ao sol deve ser a menor possível. benefícios, em especial para famílias que da Agricultura Familiar (Pronaf).
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Plantas condimentares: do uso doméstico à comercialização


Cleide Maria Ferreira Pinto 1
Cláudia Lúcia de Oliveira Pinto 2
Izabel Cristina dos Santos 3
Andréia Fonseca Silva 4

Resumo - As plantas condimentares, in natura ou processadas, são utilizadas há


milênios na culinária mundial. No Brasil, a influência dos colonizadores e imigrantes
dotou o País de uma diversidade de uso dos condimentos que, em cada região, pode ser
identificado um prato típico associado ao condimento utilizado. Além de imprimirem
cor, sabor e aroma aos alimentos, os condimentos contribuem para o equilíbrio da
dieta alimentar, pois são fontes de vitaminas, sais minerais e fibras. São abordados
aspectos nutricionais, medicinais e de cultivo de algumas das plantas condimentares
mais utilizadas na culinária do dia-a-dia do brasileiro, como pimenta, coentro, salsa,
cebolinha e orégano.

Palavras-chave: Hortaliças. Condimento. Pimenta. Capsicum. Coentro. Salsinha.


Cebolinha. Orégano. Agricultura familiar.

INTRODUÇÃO normalmente, são culturas demandadoras chegada dos navegadores portugueses e


de muita mão-de-obra. espanhóis a este continente, as pimentas
As plantas condimentares são ingre-
A aprovação da Política Nacional de nativas, pertencentes ao gênero Capsicum
dientes indispensáveis nas cozinhas mais
Plantas Medicinais e Fitoterápicos pelo
sofisticadas do mundo. Podem e devem ser (família Solanaceae), mereceram atenção
Decreto no 5.813, de 22/6/2006 (BRASIL, especial por ser mais picantes do que a
usadas no nosso dia-a-dia, transformando
2006a), e da Política Nacional de Práticas
pratos comuns em deliciosas iguarias. pimenta-do-reino (Piper spp. – família
Integrativas e Complementares, prevendo
Além de serem utilizadas na culinária Piperaceae).
o tratamento com Plantas Medicinais e
como temperos, as plantas condimentares No Brasil, na época do descobrimento,
Fitoterápicos no Sistema Único de Saúde
também possuem propriedades nutricio- o cultivo de pimentas era prática comum
(SUS), conforme disposto na Portaria
nais e medicinais. Algumas delas são uti- de tribos indígenas. Daquela época aos dias
no 971, de 3 de maio de 2006, do Ministério
lizadas na medicina tradicional e popular,
da Saúde, constitui um incentivo ao mer- atuais, as pimentas passaram a ser consu-
entrando na composição de medicamentos,
cado interno sem precedentes na história midas por povos de todas as origens, em
bem como de defensivos contra pragas e
do País (BRASIL, 2006b). quantidade crescente e em usos variados,
doenças de plantas. Muitas dessas plantas
são cultivadas em quintais e jardins, onde tanto na culinária, onde domina o comércio
PIMENTAS DO GÊNERO de especiarias picantes no mundo, quanto
estarão sempre disponíveis para uso diário.
CAPSICUM na medicina, nas indústrias de cosméticos,
Mas o seu cultivo em escala comercial
pode ser uma boa fonte de renda, principal- Dentre as muitas espécies de plantas para artesanatos, como planta ornamental
mente para os agricultores familiares, pois, encontradas nas Américas por ocasião da e arma de defesa.

1
Eng a Agr a , D.Sc., Pesq. EMBRAPA/U.R. EPAMIG ZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico:
cleide.pinto@epamig.ufv.br
2
Farmacêutica bioquímica, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG ZM/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrô-
nico: clucia@epamig.ufv.br
3
Enga Agra, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG SM-FERN, CEP 36301-360 São João del-Rei-MG. Correio eletrônico: icsantos@epamig.br
4
Bióloga, M.Sc., Pesq. EPAMIG-DPPE-Herbário PAMG, CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: andreiasilva@epamig.br

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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 63

O cultivo de pimentas ajusta-se muito tre os mais importantes pigmentos vegetais Frutos de pimentas são fontes impor-
bem aos modelos de agricultura familiar e pelo seu valor nutricional. A cor vermelha tantes de fibra alimentar (4 g/100 g a 16 g/
de integração pequeno agricultor-agroin- é atribuída aos carotenoides capsantina e 100 g), quantidade maior do que a do arroz
dústria. Sua importância socioeconômica capsorubina. Mais de 30 pigmentos dife- (2,22 g/100 g), da aveia (5,37 g/100 g) e da
é muito grande, por permitir a fixação de rentes foram identificados em frutos de pi- maçã (2,02 g/100 g). As fibras são essenciais
pequenos produtores rurais e suas famílias menta, cuja atividade antioxidante tem sido no processo de digestão; previnem proble-
no campo, a contratação sazonal de mão- intensivamente investigada nos últimos mas intestinais e reduzem o risco de desen-
de-obra durante o período de colheita e o anos. Em razão das altas quantidades de volvimento de câncer do intestino grosso.
estabelecimento de novas indústrias pro- carotenoides, as pimentas são intensamente Embora condimentos mais picantes,
cessadoras e, consequentemente, a geração usadas como corantes naturais, na forma como as pimentas, sejam popularmente
de novos empregos. de extratos concentrados (as oleorresinas) considerados agressivos ao trato gastroin-
e de pó (páprica ou colorau). testinal e a outras funções orgânicas, não
Importância nutricional
A vitamina C (ácido ascórbico), pre- há registros de alta incidência de úlceras e
e usos
sente em altas concentrações, em vários disfunções hepáticas entre consumidores
Os componentes químicos de valor tipos de pimentas, possui propriedades de pimentas de países como a Tailândia
nutricional das pimentas são os carboidra- antioxidantes. A ingestão recomendada e a Coreia, onde é tradicional o consumo
tos, lipídios, proteínas, vitaminas, fibras e de vitamina C para suprir as necessidades de pimentas com altos teores de capsai-
sais minerais (Quadro 1). Os componentes diárias de um indivíduo é de 60 mg ao cinoides.
químicos que determinam o seu uso como dia, quantidade que pode ser obtida com o A pimenta picante faz parte de re-
condimento, por conferir sabor específico, consumo de 100 g de pimentas suaves ou médios para artrite (pomadas à base de
cor e aroma, são: a capsaicina e seus análo- doces, a exemplo da biquinho que possui capsaicina), dores musculares (emplastro),
gos estruturais (capsaicinoides), os carote-
99 mg de vitamina C em 100 g (Quadro 1). má digestão, dor de cabeça e gastrite. A in-
noides, os polifenóis, vários componentes
E cerca de meia colher de sopa de pimenta dústria de cosméticos emprega-as na com-
voláteis (especialmente as pirazinas) e
vermelha desidratada em pó poderia suprir posição de xampus antiqueda de cabelo e
ácidos orgânicos.
a necessidade humana diária de vitamina anticaspas. Outros usos da pimenta são: pó
A principal característica dos frutos
A, que é de 600 μg. de pimenta picante adicionado a sementes,
de pimenta é a pungência (sabor picante,
Pimentas são ricas em tocoferóis, fonte para alimentação de aves e para prevenir
quente, ardido, ardente ou condimentado),
de vitamina E, que também possui pro- que esquilos alimentem-se destas; gel de
conferida pelos alcaloides denominados
priedades antioxidantes. O pó dos frutos pimenta nos fios de sutura veterinária, para
capsaicinoides, produzidos em glândulas
vermelhos e secos de pimentas contém ní- evitar que animais submetidos a cirurgias
que se localizam na placenta dos frutos,
veis de alfa-tocoferol quatro vezes maiores removam os pontos cirúrgicos com os den-
ou seja, a parte do fruto onde se inserem
as sementes. A capsaicina, além de ser o
do que os do tomate. A necessidade diária tes, e nos fios de telefone, para evitar que
de vitamina E de um indivíduo adulto é sejam roídos por cães, gatos e ratos; como
mais abundante dos capsaicinoides, é o
de 8 mg a 10 mg e pode ser suprida por estimulante sexual para galinhas e como
componente mais picante.
O nível de pungência, expresso por um fruto de pimenta-dedo-de-moça de corante na ração de aves (para obter ovos
uma escala de análise sensorial conhecida 100 g. O consumo de 100 g de pimenta com gemas coloridas e para colorir penas
como Unidades de Calor Scoville – Scovil- levemente picante ou doce pode fornecer de flamingos em zoológicos coreanos). A
le Heat Unites (SHU) - varia de zero para quantidades substânciais de potássio (7%), oleorresina de pimenta em aerosol ou em
pimentas doces, como a biquinho, até 960 magnésio (6%), ferro (3%), cálcio e fósforo espuma é usada pelas forças armadas e
mil SHU para a pimenta extremamente pi- (2%), quando comparadas às doses diárias polícias modernas na forma de sprays de
cante ‘DorsetNaga’. O nível de pungência recomendadas para consumo. As pimentas pimenta (pepper spray e pepper foam).
da pimenta-malagueta é de 164 mil SHU, contêm as pró-vitaminas alfa-caroteno, Apesar de apreciadas por boa parte
da pimenta-de-bode é de 53 mil SHU, da beta-caroteno, gama-caroteno e a beta- da população mundial, são pequenas as
dedo-de-moça é de 46 mil SHU, da murupi criptoxantina, que no fígado humano são quantidades consumidas de pimentas
é de 223 mil SHU e da cumari-do-pará é transformadas em vitamina A. Estudos Capsicum na dieta alimentar. No entanto,
de 210 mil SHU. indicam que maiores ingestões de caro- o aumento do consumo poderia contribuir
As cores, do amarelo-claro ao ver- tenos ou pró-vitamina A podem reduzir o para a alimentação humana como fontes
melho-intenso dos frutos de pimentas, risco de desenvolvimento de câncer e de importantes de vitaminas, fibras, sais mi-
originam-se de carotenoides, que estão en- cegueira noturna. nerais e antioxidantes.
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64 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

QUADRO 1 - Composição nutricional e outras características das principais pimentas brasileiras

Dedo-de-
Composição Biquinho De-cheiro Murupi Bode Cumari-do-pará Malagueta
moça

Proteína (g/100 g) 2,0 1,7 1,8 1,3 1,4 1,8 4,5


Lipídios (g/100 g) 1,6 1,4 1,4 1,0 1,4 1,6 5,9
Carboidratos (g/100 g) 5,7 4,6 10,8 1,8 7,2 5.8 8,5
Cinzas (g/100 g) 1,0 0,9 0,9 0,6 0,8 1,0 1,7
Fibra alimentar (g/100 g) 9,2 5,4 8,6 6,3 4,7 9,2 15,9
Umidade (g/100 g) 80,5 85,9 76,4 89,0 84,5 80,5 63,5
Valor calórico (kcal) 45,2 38,5 63,1 21,7 46,6 45,2 105,2
Minerais (mg/100g)
Sódio 2,7 1,9 0,8 1,0 0,5 31,5 45,7
Magnésio 37,8 26,6 42,0 15,3 27,8 34,8 65,2
Fósforo 40,6 24,6 62,5 29,3 43,4 57,8 108,3
Potássio 397,4 351,7 496,7 222,1 379,4 340,7 638,3
Cálcio 25,8 16,4 24,6 13,1 12,0 32,0 59,9
Manganês 0,2 0,1 0,2 0,1 0,1 0,3 0,4
Ferro 0,7 0,5 1,2 0,3 0,7 3,6 6,8
Cobre TR TR 0,1 Tr TR 0,2 0,4
Zinco 0,2 0,1 0,2 0,1 0,1 0,5 0,9
Vitamina C (mg/100g) 52,0 99,0 80,0 134,0 92,0 74,0 ND
Pungência (SHU) 46.000 0 94.000 223.000 53.0000 210.000 164.000
Acidez total (v/p) 5,0 3,8 5,1 3,6 4,0 5,0 4,0
Sólidos solúveis (Brix) 9,0 6,5 9,2 7,0 9,5 9,0 10,0
FONTE: Lutz e Freitas (2008).
NOTA: TR - Traço (< igual 0,5); ND - Não determinado.
Média de frutos frescos com um representante de cada tipo de pimenta da coleção de germoplasma da Embrapa Hortaliças.

Formas de consumo produto pode alterar o sabor da conserva. tas ‘Dedo-de-moça’ e ‘Malagueta’ para
a fabricação de molhos líquidos de cor
Hortaliças Molho vermelha e ‘Cumari-amarela-do-Pará’ para
Frutos do tipo doces (não-picantes) A fabricação do molho líquido é uma molhos amarelos. Em alguns molhos, são
são consumidos verdes (imaturos), em das principais formas de consumo de adicionados corantes vermelhos ou, ainda,
substituição ao pimentão. pimentas no mundo. Normalmente, indús- massa de tomate, que, além de intensificar
trias processadoras de pimenta de médio e a coloração vermelha, aumenta a visco-
Conservas sidade. O molho artesanal tradicional de
grande porte preferem pimenta do tipo Ja-
Podem ser feitas com um só tipo ou lapeño para fabricação de molhos de baixa pimenta é feito com pimentas picantes,
com uma mistura de frutos de várias cores, a média pungência. São frutos com polpa vinagre, sal e água, podendo ser acrescen-
dispostos em camadas, sendo denomina- carnuda, de coloração vermelha, com altos tado açúcar, alho e especiarias.
das conservas ornamentais ou blends. O conteúdos de sólidos solúveis em água,
Desidratada e dessecada
líquido conservante pode ser ácido acético que propiciam maior quantidade de polpa
(vinagre), cachaça ou álcool de cereais. e mais viscosidade, dispensando a adição A desidratação (secagem pelo calor
Nas indústrias, normalmente, usam-se de substâncias espessantes ao molho. produzido artificialmente sob condições
substâncias conservantes como o bissul- Para a obtenção de molhos mais picantes, de temperatura, umidade e corrente de ar
fito de sódio para evitar o amolecimento usam-se misturas com pimenta-malagueta. controlada) e a dessecação (secagem ao
e a descoloração dos frutos, entretanto, o Pequenos processadores preferem pimen- sol) são formas utilizadas na conservação
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de pimentas. A grande vantagem da desi- a estabilidade oxidativa dos lipídios, au- No Brasil, cultivam-se pimentas do
dratação é a transformação do produto da mentando a vida de prateleira dos óleos gênero Capsicum em, praticamente, todos
forma perecível para outra, estável, com e gorduras. Podem ser usadas com base os Estados. Há grande variedade de tipos,
características semelhantes ao produto oleosa ou encapsuladas com amido, goma nomes, tamanhos, cores, sabores e ardume.
natural, de alta qualidade e de acordo com arábica ou outros produtos, em produtos As pimentas ‘Cayenne’ (Fig. 1) e ‘Jala-
as exigências do consumidor. cárneos, snaks, molhos, etc. A atividade peño’ (Fig. 2) são cultivadas, principalmen-
antioxidante em alimentos gordurosos e te, em São Paulo, Minas Gerais e Goiás.
Calabresa
em óleo é uma grande preocupação da A pimenta-cumari ou pimenta-passarinho
A pimenta calabresa é um produto em indústria de alimentos, que tem buscado é comum na Região Sudeste. As pimentas
floco ou pó, obtido da desidratação de substituir antioxidantes sintéticos por ‘De-cheiro’ e ‘Murupi’ são mais cultivadas
pimentas ‘Dedo-de-moça’, muito usada produtos naturais. no Norte do País. A pimenta ‘De-bode’ é
pela indústria de alimentos, principalmente cultivada principalmente na Região Cen-
como condimento em embutidos, carnes Outros produtos tro-Oeste do Brasil. A ‘Malagueta’ é cul-
e linguiças. Os frutos de outras pimentas Outros produtos alimentícios disponí- tivada em todo o País, porém destacam-se
picantes também podem ser desidratados veis no mercado que têm em sua formula- as produções dos estados de Minas Gerais,
e comercializados em flocos com as se- ção pimentas Capsicum são molhos para da Bahia e do Ceará. Neste último Estado,
mentes. massas, carne, mortadelas, sardinha, atum, há grandes áreas com cultivo da pimenta
patês, maioneses, catchups, biscoitos, ba- ‘Tabasco’, da espécie Capsicum frutescens
Corantes naturais
las, chicletes e as geleias exóticas. L., a mesma da ‘Malagueta’.
Os carotenoides oxigenados (xan-
tofilas), principalmente capsantina e Época de plantio e Mercados e
capsorubina, que correspondem de 65% cultivares comercialização
a 80% da cor total dos frutos maduros, A pimenteira é uma cultura de clima
são pigmentos largamente usados como Mercados interno e externo
tropical sensível a baixas temperaturas e
corantes naturais em molhos, sopas em pó para pimentas in natura
intolerante a geadas e, por isso, deve ser
de preparo instantâneo e em embutidos de
cultivada nos meses mais quentes do ano. No Brasil, o mercado varejista para pi-
carne, principalmente salsicha e salame.
Nas regiões com altitude acima de 800 m, menta in natura é fortemente influenciado
Acrescentados em ração de aves, os co-
a semeadura é feita nos meses de agosto a pelos hábitos alimentares de cada região.
rantes acentuam a coloração das gemas e
fevereiro e nas regiões de altitude inferior Na Região Sudeste, em São Paulo, destaca-
avivam a plumagem de aves. O produto
a 400 m, a semeadura pode ser feita o ano se o consumo da pimenta-americana, e
mais conhecido e valorizado internacio-
todo, com a vantagem de poder produzir da pimenta-cambuci; em Minas Gerais a
nalmente feito com base nos corantes de
também no inverno, quando a cotação ‘Malagueta’ e, mais recentemente, a ‘Bi-
pimentas é a páprica, pimenta vermelha
atinge valor comercial maior. quinho’. No Sul, é baixo o consumo de pi-
(também denominada ‘Dedo-de-moça’),
desidratada, seca e processada na forma
de um pó fino e de cor vermelho intenso.
Os tipos de páprica diferem entre si pela
coloração (vermelho-escuro até alaranja-
do) e pela pungência ou ardume (páprica
doce, meio-doce e picante).

Oleorresinas
A oleorresina é obtida do pericarpo do
fruto da pimenta desidratado pela extração
Cleide Maria Ferreira Pinto

com solvente não aquoso (frequentemente


hexano) e contém o aroma e o sabor da
pimenta, de maneira concentrada, estéril e
estável durante o armazenamento. Oleorre-
sinas são empregadas para a padronização
da pungência, cor e sabor de produtos
industrializados e também para aumentar Figura 1 - Pimenta-cayenne

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mentas in natura, havendo preferência por No mercado Central, em Belo Horizonte, as pimenta in natura. Embalada em caixas de
molhos, conservas e pimentas desidratadas, pimentas ‘De-bode-vermelha’, ‘Biquinho’ papelão, esta pimenta é exportada para a
mas encontram-se pimenta-dedo-de-moça, (Fig. 4) e ‘Malagueta’ (Fig. 5) são comer- França, de onde é redistribuída para Espa-
pimenta-americana e pimenta-cambuci cializadas em copos de vidro (100 g). No nha, Portugal, Alemanha e Holanda.
in natura em supermercados. Na Região Distrito Federal, as pimentas ‘Malagueta’, No mercado atacadista, na forma in
Centro-Oeste, são consumidas in natura ‘Cumari-do-pará’, ‘De-cheiro’, ‘De-bode’, natura, as pimentas são comercializadas
as pimentas Malagueta, Cumari-do-pará, ‘Dedo-de-moça’ e uma mistura de pimentas, como as demais hortaliças, pelas Centrais
Dedo-de-moça, De-bode e De-cheiro denominada mista, são comercializadas a de Abastecimento (Ceasas), que agrupam
(Fig. 3). No Nordeste, predomina o con- granel, em copos ou saquinho de plástico, e redistribuem o produto para o varejo
sumo da ‘Malagueta’ e de vários tipos de e em bandejas de isopor de tamanho e ou para grandes consumidores, como
pimenta-de-cheiro e, na Região Norte, pesos diferentes (30 a 200 g), recobertas indústrias e restaurantes. Outras formas
as pimentas Murupi e Cumari-do-pará. com filme de policloreto de vinila (PVC). de comercialização são as vendas para
No varejo, é comum a comercialização No Brasil, ‘Scotch Bonnet’, pimenta intermediários, que compram a pimenta
de pimentas a granel; os consumidores produzida no oeste baiano, é um dos raros diretamente do produtor, vendem para dis-
selecionam a quantidade a ser comprada. exemplos conhecidos sobre exportação de tribuidores e empacotadores, que embalam

Cleide Maria Ferreira Pinto


Cleide Maria Ferreira Pinto

Figura 2 - Pimenta-jalapeño Figura 3 - Pimenta-de-cheiro


Cleide Maria Ferreira Pinto

Cleide Maria Ferreira Pinto

Figura 4 - Pimenta-biquinho Figura 5 - Pimenta-malagueta

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com marca própria e revendem para a rede região deve-se provavelmente à forma de b) pasta de tabasco: produzida pela em-
de varejo. Algumas grandes redes de su- comercialização e aos volumes do produto presa cearense Avaí Agropecuária;
permercados têm suas próprias centrais de não contabilizados nas Ceasas. A pimenta c) pimenta calabresa: consumida em
distribuição de hortaliças e comercializam ‘Malagueta’, por exemplo, embora larga- frigoríficos, indústrias alimentícias
com suas marcas, adquirindo as pimentas mente cultivada e consumida na região, e empresas de temperos;
diretamente de produtores, fornecedores não é mencionada diretamente nas cota- d) conservas ornamentais: exportadas
credenciados ou atacadistas. ções de preços das Ceasas de Fortaleza e para os Estados Unidos, Canadá,
Na maioria dos mercados atacadistas Salvador. Austrália e vários países da Europa.
brasileiros, inclusive de Minas Gerais, a Na Região Norte, nas Ceasa-PA em Be-
exemplo das Centrais de Abastecimento lém e Ceasa-AM, em Manaus, não foram
de Minas Gerais S/A (CeasaMinas), nas COENTRO
encontradas informações sistematizadas
cotações de preços, não se distinguem os sobre a comercialização de pimentas nos O coentro (Coriandrum sativum L.)
tipos de pimenta. A comercialização dá-se é uma hortaliça folhosa condimentar da
mercados atacadistas da região.
na forma de pimenta ou pimenta vermelha família Apiaceae, cultivada e consumida
ou ardida. Na Ceasa-GO faz-se a discri- Mercados interno e externo em quase todo o mundo, e largamente uti-
minação de todos os tipos de pimentas para pimentas processadas lizada no Brasil. O cultivo desta hortaliça
e cotações separadas para as pimentas torna-se ainda mais importante por ser,
‘De-bode’, ‘Cumari-do-pará’, ‘De-cheiro’ O mercado de pimentas processadas é
quase que exclusivamente, feito por grande
e ‘Malagueta’. No Distrito Federal, as co- explorado por empresas, desde familiares
número de pequenos agricultores, utili-
tações de preços mensais da Ceasa-DF são ou de pequeno porte até grandes empre-
zando mão-de-obra familiar, o que a torna
feitas somente para a pimenta ‘De-cheiro’, sas exportadoras. Em geral, as pimentas
uma cultura de grande importância social
embora também sejam comercializadas em processadas são comercializadas na forma
e econômica, principalmente, nas Regiões
menor quantidade, outros tipos de pimen- de conservas, molhos, doces (pimenta
Norte e Nordeste do Brasil. Pesquisas
tas, como ‘Malagueta’, ‘De-bode’, ‘Dedo- caramelizada), geleias, páprica, pasta e
têm demonstrado que a consorciação de
de-moça’, ‘Cambuci’ e ‘Cumari-do-pará’. conservas ornamentais.
coentro com outras hortaliças proporciona
Na Companhia de Entrepostos e Armazéns Existe um grande número de pequenos
maior índice da eficiência de uso da terra
Gerais de São Paulo (Ceagesp), as cotações processadores familiares ou de pequeno
e retorno econômico por área.
de preços são feitas para pimentas ‘Cam- porte que fazem conservas de pimenta em
É grande o volume de sementes de
buci’, ‘Americana’ e ‘Vermelha’ - todas garrafas de vidro com 150 mL, comercializa- coentro produzido no Brasil por diferentes
comercializadas em caixas de plástico ou das diretamente com os consumidores em empresas nos estados do Rio Grande do
de madeira do “tipo K” de 12 kg. A pimenta pequenos estabelecimentos comerciais, Sul, Minas Gerais, Pernambuco e Goiás;
vermelha (‘Dedo-de-moça’) também é feiras livres, mercados de beira de estrada no Centro-Oeste e em outras regiões brasi-
comercializada em caixas de papelão de 1 e, eventualmente, atacadistas. As empresas leiras, sementes de coentro são produzidas
a 5 kg e em bandejas de isopor de 100 g. de porte médio produzem molhos, conser- em áreas extensas sob pivô central.
Na Ceasa Campinas, SP, as cotações são vas, blends e geleias que são comercializa-
feitas também para a pimenta-americana dos em supermercados, delikatessens, lojas Valor nutricional e usos
comercializada em caixa de 11 kg, a ‘Dedo- de conveniência e de produtos importados O coentro é rico em vitaminas A, B1,
de-moça’ (caixa de 14 kg) e a ‘Cambuci’ e até em lojas de decoração. As grandes B2 e C (75 mg/100 g) e boa fonte de cál-
(caixa de 10 kg). empresas são especializadas no proces- cio (188 mg/100 g) e ferro (3 mg/100 g);
Na Região Sul, das Ceasas-PR, a de samento de determinados produtos como contém compostos fenólicos e carotenoi-
Curitiba faz a cotação de preço somente páprica e pasta de pimenta. des com ação antioxidante; as sementes
da pimenta-cambuci, comercializada em O mercado de pimentas processadas contêm de 0,5% a 1% de óleos essenciais.
caixas de 12 kg. Nas Ceasas-RS, a cotação para exportação é restrito a poucas empre- As folhas e sementes são utilizadas na
é para pimenta, sem especificar o tipo. sas e alguns dos produtos são: composição e decoração de diversos pratos
Na Região Nordeste, na Ceasa-CE em
a) páprica: tem grande aceitação no regionais, sendo sua presença obrigatória
Fortaleza, constatou-se cotação de preço
mercado da Europa, Estados Unidos na culinária das Regiões Norte e Nordeste.
somente para pimenta ‘De-cheiro’. Na
e países asiáticos. No Brasil, são Tem aroma e sabor bastante peculiar,
Ceasa-BA, em Salvador, os preços são
produzidos dois tipos de páprica: indicado especialmente no tempero de
cotados para pimenta, sem determinar o
picante, conhecido internacional- peixes, mas é usado ainda em molhos
tipo. A escassez de dados de mercado na
mente como chili, e doce; diversos, cereais e ensopados. Os frutos
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secos (erroneamente denominados de se- Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo, condimentares mais consumidas e mais
mentes) inteiros ou moídos são largamente enquanto o coentro verdão é recomenda- plantadas nas hortas domésticas, masca-
utilizados na indústria de condimentos, do para as Regiões Norte e Nordeste do rando os valores verdadeiros de consumo.
sendo o principal ingrediente do curry, Brasil. Também de boa adaptação a estas
tempero muito utilizado nas culinárias regiões é a cultivar Tabocas, com folhas Valor nutricional e usos
hindu e tailandesa. Industrialmente, o grandes e pouco recortadas de coloração A salsa é rica em vitaminas C e E,
coentro é usado em linguiças, salsichas e verde-intenso-brilhante. Outras cultivares beta-caroteno, tiamina, riboflavina, cálcio,
licores. Algumas variedades são utilizadas são: Supéria, Asteca, Santo, Palmeira e ferro, fósforo, potássio, proteínas, fibras e
para extração de óleos essenciais de alto Tapacurá. porcentagens elevadas de pró-vitamina A e
valor agregado, largamente empregados vitamina C. Na composição de substâncias
nas indústrias de flavorizantes, cosméticos, Mercado e comercialização aromáticas nas folhas, foram identificados
medicamentos e bebidas. O óleo essencial Além da comercialização das folhas, 45 constituintes, sendo alguns considera-
das sementes, de cor amarelada, é extraído que são vendidas em molhos em feiras dos únicos desta espécie. O flavonoide
por destilação e utilizado para aromatizar livres e supermercados, há também grande apigenina tem grande importância como
perfumes (produz uma essência semelhante volume de importação e produção nacional fonte de antioxidantes naturais: apenas
à da lavanda), chocolates, carnes e sopas de sementes de coentro. Em um hectare é 23 g de salsa podem contribuir com a
enlatadas, licores, gim e para mascarar possível colher 3.200 molhos de folhas, de média diária necessária.
odores na indústria farmacêutica. acordo com dados da Empresa Brasileira Da salsa, tudo se aproveita. O talo
O coentro possui propriedades medici- de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e possui muito sabor e pode ser utilizado em
nais e está entre as espécies carminativas do Instituto Agronômico de Pernambuco molhos e sopas. As folhas são utilizadas
que ajudam a combater diversas afecções (IPA), ou 1,2 tonelada de sementes. Culti- na composição de temperos para saladas,
das vias respiratórias e também regular o var coentro para produção de sementes é carnes e peixes e na forma de suco. Inteiras
funcionamento intestinal. Pode ser usado as folhas frescas ornamentam pratos, e
mais lucrativo do que vender a hortaliça
na preparação de infusões como analgési- picadas finamente acompanham saladas e
em molhos, segundo o gerente regional de
co, antiespasmódico, antigripal e diurético pratos quentes, principalmente caldos. A
Infraestrutura de Irrigação da Companhia
e ainda no combate à flatulência. Tem raiz é utilizada como diurético. Além disso,
de Desenvolvimento dos Vales do São
função antisséptica, antiácida, digestiva a salsa é considerada antianêmica, anties-
Francisco e do Paranaíba (Codevasf), pois
e sudorífera. Seu pó aplica-se em picadas corbútica, aperitiva, depurativa, diurética,
a utilização dessa semente em condimentos
de cobra e dores histéricas; é febrífugo e estimulante, sedativa e tônica.
tem despertado o interesse de empresas
afugenta os vermes intestinais. Seu chá tem
especializadas em comercializar temperos
efeito sedativo. Os óleos encontrados nas
folhas têm propriedades antimicrobianas
culinários. Época de plantio e
As sementes das variedades de coentro cultivares
contra espécies de Salmonella e Candida
estão disponíveis em latas de 25, 50, 100, 250,
albicans. Adapta-se melhor a temperaturas ame-
300, 400 e 500 g; em caixas de 1 e 2 kg; em
nas, sendo semeada no outono-inverno, e
Época de plantio e sacos plásticos de 500 g e de 5 kg; em baldes
até mesmo ao longo do ano em regiões
cultivares de 5 e 10 kg; e envelopes de 1, 3, 5 e 10 g.
altas. As cultivares de salsa são agrupadas,
A cultura adapta-se bem a regiões de de acordo com o tipo de folha, em lisas,
SALSA e SALSA-CRESPA
clima quente, podendo ser cultivada duran- crespas e muito crespas. As mais planta-
te todo o ano, embora haja diferenciação A salsa (Petroselinum sativum (Mill.) das são a ‘Crespa’, ‘Gigante Portuguesa’,
nos desempenhos das cultivares comer- Fuss), também conhecida como salsinha, ‘Graúda Portuguesa’, ‘Lisa Comum’ e
ciais, além da adaptabilidade diferenciada salsa-comum, salsa-crespa (Petroselinum ‘Lisa Preferida’.
dos genótipos. crispum Hoffm.), salsa-da-horta e salsa-de-
todo-ano, é consumida como condimento Mercado e comercialização
Duas variedades são mais cultivadas no
Brasil. O coentro português, de folhas com em todo o mundo. É uma das espécies de Após a colheita, as folhas são amarra-
coloração verde mais brilhante, e o Verdão, hortaliça que não atinge sua importância das em molhos, cujo peso varia de acordo
com folhas bem escuras. O coentro portu- pelo volume ou valor de comercialização, com o mercado, onde serão comerciali-
guês é mais recomendado para regiões de mas pela utilização comercial como condi- zados. Para o mercado in natura, a salsa
temperatura amena, sendo mais cultivado mento extremamente difundido. Na Região é comercializada junto com a cebolinha,
principalmente no Rio de Janeiro, São Sudeste brasileira, é uma das hortaliças formando o cheiro-verde. É difícil calcular
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com segurança os volumes comercializa- Época de plantio e teriano do orégano, em pequenas doses,
dos de salsa, em virtude da intensa co- cultivares inibe o crescimento de uma bactéria do
mercialização paralela, tanto no mercado gênero Staphylococcus, responsável por
Há poucas restrições para o plantio da
como no varejo. Em Minas Gerais, onde uma variedade de infecções e que se tem
cebolinha, que pode ser feito em qualquer
a salsa é consumida durante todo o ano, mostrado resistente a muitos antibióticos.
época do ano. A variedade Todo Ano, que
cerca de 98% do volume comercializado é A redução é similar à provocada por es-
apresenta folhas de coloração verde-clara,
produzido no próprio Estado, em pequenas treptomicina, penicilina e vacnomicina.
é a de cultivo mais tradicional, mas há
propriedades e chácaras periurbanas. O óleo essencial de orégano é efetivo
outras variedades como Cebolinha Verde
contra Salmonella enterica e Salmonella
CEBOLINHA Fina, Todo Ano Nebuka (Tiunegui), Todo enteritidis.
Ano Tokyo (Futonegui), De Tempero, Nira As folhas do orégano são consumidas
A cebolinha-comum (Allium fistulosum
e Sakama. frescas ou secas e conferem sabor e aroma
L.) e a cebolinha (Allium schoenoprasum
L.) são condimentos muito apreciados pela característicos aos pratos, principalmente
Mercado e comercialização
população. É comumente cultivada nas carnes, peixes, frango, molhos de tomate,
hortas domésticas e em pequenas proprie- Na comercialização para consumo ao queijo, cebola, vinagres, saladas, sopas e
dades rurais e periurbanas, tipicamente fa- natural, a cebolinha aparece só ou com massas, sendo o condimento característico
miliares. Tem sido cultivada em consórcio a salsa. A cebolinha tem sido cultivada da pizza.
com coentro, espinafre, rúcula e almeirão, também para o abastecimento de agroin-
dústrias de conserva. Época de plantio e
o que permite melhor aproveitamento da
cultivares
terra e de outros recursos disponíveis, re-
sultando em maior rendimento econômico. ORÉGANO Regiões de clima subtropical mais seco
com bastante luminosidade são as ade-
O gênero Origanum possui mais de
Valor nutricional e usos quadas para cultivo de orégano. Quando
205 espécies, destacando-se Origanum
A cebolinha contém boas doses de cultivado em locais mais quentes, ganha
majorana L. e Origanum vulgare L. (mais
enxofre, que é associado ao combate a do- aroma mais intenso, sabor mais picante e
popular no Brasil) como as mais importan-
enças cardiovasculares; alto teor de cálcio e perfume mais persistente.
tes. Essas duas espécies são bastante con-
fósforo, que ajudam na formação de ossos A espécie O. vulgare (orégano-selvagem)
fundidas, principalmente no Sul do Brasil,
e dentes, e niacina, que estimula o apeti- é a mais popular no Brasil, sendo cultivada
em que o orégano é denominado manjerona,
te, mantém a saúde da pele e promove o principalmente nas Regiões Sul e Sudeste
manjerona-silvestre ou selvagem. Apesar de
crescimento. Em comparação com a cebola do País, onde foi aclimatada há muito tem-
estas espécies pertencerem à mesma família,
(Allium cepa L.), que fornece quantidades po. As subespécies mais importantes são:
possuem características distintas, diferindo
ínfimas, a cebolinha fornece muito mais da Origanum vulgare ssp. Viride, Origanum
pelo tamanho da planta, pelas folhas, pelo
vitamina A (2.176 mcg/50 g), que protege vulgare ssp. Compactum, Origanum
aroma e pela cor das flores. vulgare ssp.Variegatum e Origanum
os olhos, e potássio (148 mg /50 g contra
72 g/50 g da cebola), nutriente que auxilia vulgare ssp. Aureum.
Valor nutricional e usos
o controle da hipertensão. A cebolinha O orégano-lavanda (Origanum dubium
contém 29 mg/50 g de vitamina C, que tem O orégano foi classificado como a plan- var. carvacrol, var. linalol) existe somente
ação antioxidante, e a cebola, 3 mg/50 g. A ta de mais alta atividade antioxidante, com em uma pequena região do sudeste da
cebola fornece 21 calorias e a cebolinha ape- potencial maior até que a vitamina E. Sua Turquia, enquanto o orégano-de-vaso
nas 15. Ácido fólico, que blinda o coração, propriedade antioxidante deve-se ao óleo (Origanum onites), também conhecido por
aparece mais na cebolinha - 50 mcg/50 g do essencial, composto principalmente dos pot marjoram, de importância ornamental,
que na cebola - 9 mcg/50 g. O magnésio, fenóis carvacrol, timol, terpeno e kampfe- é nativo da região oriental da Bacia do
mineral que facilita a absorção de outros rol. Outros compostos presentes no óleo de Mediterrâneo. Além dessas espécies são
nutrientes, está presente em 12 mg/50 g. orégano são ácidos fenólicos, flavonoides, conhecidas também Origanum dictamnus
Sua importância na nutrição reside no taninos, resinas e princípio amargo. e Origanum laevigatum.
fato de estar presente diariamente na mesa O óleo é usado na composição de aro-
matizantes de alimentos e perfumes. Possui Mercado e comercialização
dos brasileiros, tanto como condimento
como na decoração de vários pratos. Pi- efeito inibitório sobre diversas bactérias, O mercado brasileiro de orégano
cada finamente é salpicada sobre queijos, fungos e toxinas microbianas de alimentos. forma-se basicamente pela importação
ensopados e caldos. O carvacrol, o maior componente antibac- da matéria-prima. Empresas do setor de
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70 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

alimentos importam praticamente todo o BIZZO, H.R. et al. Processo de obtenção de HEREDIA ZÁRATE, N. A. et al. Produção e
orégano comercializado no País, sendo o oleorresina de pimenta (Capsicum spp.). renda bruta de cebolinha e de coentro em
produto seco embalado para o comércio Rio de Janeiro: Embrapa Agroindústria de cultivo solteiro e consorciado. Semina. Ciên-
Alimentos, 2004. 3p. (Embrapa Agroindús- cias Agrárias, Londrina, v.26, n.2, p.149-154,
em várias formas: embalagens plásticas,
tria de Alimentos Comunicado Técnico, abr./jun. 2005.
bandejas e ainda em embalagens de vidro
75). __________. et al. Produção e renda bruta de
ou plástico, práticas para o manuseio. A
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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 71

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72 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

Seringueira: alternativa para geração de renda e


recomposição da reserva legal
Antônio de Pádua Alvarenga 1
Francisco de Paula Neto 2

Resumo - O Brasil passou de maior produtor e exportador de borracha natural, no


início do século passado, para importador de 70% do que consome atualmente. O cul-
tivo comercial da seringueira, em pequenas propriedades rurais, pode contribuir para
reverter esse quadro, bem como contribuir para a mudança do panorama econômico
regional, pela excepcional capacidade de gerar renda e empregos, de fixar o homem
no campo e de movimentar um parque agroindustrial especializado. A possibilidade
de implantação do seringal em consorciação com outras culturas cria oportunidade de
geração de renda, enquanto não se inicia a produção de látex, e reduz o custo de im-
plantação. Com o avanço das técnicas de reprodução vegetativa, foram desenvolvidos
modernos clones da espécie, com bons potenciais produtivos, adaptáveis a diferentes
condições edafoclimáticas. Minas Gerais é o estado da Federação com maior potencial
para expansão dos seringais de cultivo e tem posição estratégica em relação aos centros
consumidores de borracha natural.

Palavras-chave: Hevea brasiliensis. Borracha natural. Agricultura familiar. Prática cul-


tural. Plantio.

INTRODUÇÃO capacidade produtiva de látex do maciço política de produção mais bem estruturada,
florestal, pode também ser usada para fins começando pelo maior investimento em
A seringueira é uma espécie florestal
madeireiros na fabricação de móveis, cai- pesquisa para a geração de conhecimento
nativa da Amazônia brasileira, que repre-
xotaria, utensílios de cozinha e calçados, necessário para garantir a competitividade
senta a principal fonte de borracha natural
produzida no mundo, sendo um produto na construção civil etc. e a sustentabilidade do setor. O incentivo
estratégico e insubstituível. Pode atingir No início do século passado, o Brasil ao cultivo da seringueira, necessariamente
até 40 m de altura, mas em condições de era o principal produtor mundial de bor- está relacionado com a capacidade de o
cultivo, alcança de 15 a 20 m. Dentre as racha natural e grande exportador. Hoje País atingir a autossuficiência na produção
seringueiras, a espécie Hevea brasiliensis produz apenas 100 mil toneladas anuais de borracha natural.
possui maior capacidade de produção de e depende da importação desse produto, Credita-se, somente ao estado de Minas
látex, do qual se extrai a borracha natural, pois a demanda anual aproximada é de Gerais, uma área apta para o cultivo próxi-
matéria-prima largamente utilizada na 400 mil toneladas. Apesar de a seringueira ma de 25 milhões de hectares. Além disso,
fabricação de pneumáticos e de um gran- ser de grande importância para o agrone- o Estado apresenta posição estratégica em
de número de manufaturados, tais como: gócio nacional, o Brasil importa cerca de relação aos principais centros consumi-
materiais médico-hospitalares, calçados, 70% de borracha natural dos países asi- dores de borracha natural no País. Assim,
material bélico e outros. Trata-se de uma áticos, para atender ao consumo interno. a heveicultura, desenvolvida sobre bases
cultura florestal versátil que, ao término da Certamente, o País ainda carece de uma sólidas, em poucos anos, pode modificar

1
Engo Agro, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG ZM/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico:
padua@epamig.ufv.br
2
Engo Florestal, Ph.D., Pesq. EPAMIG-DPPE, CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: fpneto@epamig.br

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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 73

o quadro agrícola do Estado, constituindo às áreas degradadas, promovendo sua ciais, para a proteção do solo e melhoria de
fonte de renda extra para os produtores estabilização e recuperação. suas propriedades físicas, e para a redução
familiares, além de fortalecer a economia O consumo de borracha natural tem do efeito estufa por meio do processo
mineira. crescido mais do que a capacidade de pro- de sequestro de carbono. A seringueira,
Em termos sociais, a cultura da serin- dução dos seringais existentes no mundo. portanto, pode ser considerada como uma
gueira é adequada aos pequenos e médios A demanda para 2020 é de cerca de 12,0 real opção ambiental, dada sua importância
agricultores, uma vez que o sistema de milhões de toneladas de borracha natural, social, econômica e ecológica.
produção permite a extração de látex o enquanto a produção estará na casa dos O amplo espaçamento da seringueira
ano inteiro, com sangrias a cada três, qua- 9,8 milhões de toneladas. Segundo analis- (20 a 24 m2 de área útil por planta) admite
tro, cinco ou até sete dias, gerando renda tas, as projeções de consumo da borracha a utilização de sistemas agroflorestais, que
e emprego e contribuindo para a fixação natural no Brasil, até o ano de 2030, podem têm como vantagem a redução do custo de
do homem no campo. Ao considerar que chegar a 1 milhão de toneladas. implantação do seringal, pois há geração
um homem é capaz de cuidar de 5 hectares Nos países asiáticos, maiores pro- de renda até que este comece a produção
de seringueira, o potencial de geração dutores de borracha natural do mundo, de látex. Para os agricultores familiares, o
de empregos no campo passaria dos 25 técnicos e especialistas sinalizam que a cultivo de arroz, feijão, milho, hortaliças,
mil atuais para 250 mil, necessários para tendência é não mais exportar a matéria- batata-doce, abacaxi e melancia, é impor-
atender à demanda interna de borracha prima. O foco desses países é agregar va- tante para a segurança alimentar da família
natural. lor ao produto básico, preferencialmente, e para a geração de renda. Mas culturas pe-
Atualmente, 80% da produção mun- exportando produtos manufaturados. O renes como cacau, guaraná, café, palmito,
dial de borracha natural encontra-se na faturamento do comércio de produtos pupunha, açaí e banana também podem ser
mão de pequenos produtores, com área de acabados de borracha natural é bastante utilizadas na consorciação.
até 4 hectares. Na Índia, com expressiva elevado, considerado superior, o que
produção mundial, 92% das propriedades resulta em maior desempenho do setor AGRICULTURA FAMILIAR
possuem área média de 0,5 hectare e a industrial especializado. A dificuldade para obtenção de crédito
maior produtividade média de borracha A despeito disso, dentre todas as na- rural e assistência técnica colocou a agri-
natural do mundo. A grande maioria ções produtoras do mundo, segundo téc- cultura familiar, por muito tempo, numa
das regiões do estado de Minas Gerais nicos e especialistas, o Brasil é o país que situação economicamente insustentável, o
caracteriza-se por pequenas e médias possui maior potencial produtivo e o único que provocou o abandono de milhares de
propriedades, que constituem a única capaz de suprir toda a demanda mundial pequenas propriedades rurais. Soma-se a
fonte de renda dos agricultores, calcada de látex da borracha natural. esses problemas o reduzido tamanho des-
na mão-de-obra familiar. Ressalta-se, sas áreas, levando à sua utilização acima
ainda, que o cultivo em áreas declivosas IMPORTÂNCIA AMBIENTAL da capacidade de suporte, tendo como
E SOCIAL
e as práticas inadequadas de uso do solo consequência a erosão e a degradação
nessas regiões têm ocasionado acentua- O cultivo da seringueira pode ser continuada. Por esse motivo, os investi-
dos e contínuos processos erosivos, com realizado tanto para fins de reposição mentos atuais devem estimular sistemas
nefastos prejuízos ambientais no setor florestal como para recomposição de de produção que visem à sustentabilidade
agrícola regional, o que atinge o setor reservas legais, por meio de projetos econômica e ambiental da propriedade
econômico e social. Este quadro tem como técnicos pertinentes, orientados por rural. Entretanto, faltam pesquisas cien-
consequências diretas o êxodo rural e a dispositivos legais próprios sobre as tíficas necessárias à certificação desses
criação de bolsões de pobreza, tanto no matérias. Nesse contexto, para sistemas dentro das propriedades, dirigi-
setor rural quanto no urbano. Dessa for- exemplificar, ressalta-se a Instrução das para o estudo das interações bióticas
ma, a heveicultura pode ser considerada Normativa no 1, de 5 de setembro de 1996 e abióticas existentes. Sabe-se que vários
uma alternativa viável para a diminuição (IBAMA, 1996), que estabelece normas problemas ambientais vêm da pobreza,
dos atuais problemas socioeconômicos e para a reposição florestal, prevista no Có- o que, muitas vezes, contribui para uma
ambientais, tanto por fixar o homem na digo Florestal Brasileiro – Lei no 4.771, de espiral descendente em que a pobreza
terra em razão do aumento de rendimento 15/9/1965 (BRASIL, 1965), sendo parte exacerba a degradação ambiental, e esta
da propriedade e larga ocupação da mão- do Plano Nacional de Florestas. Além exacerba a pobreza. Portanto, é necessário
de-obra familiar e local, como também disso, trata-se de uma cultura que poderá o desenvolvimento de um modelo capaz
por ser uma cultura altamente ajustada contribuir para a preservação de manan- de ser produtivo com respeito aos recursos
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naturais, de gerar emprego e renda, com de produção. Produz durante todo o ano, quais a seringueira é muito sensível, prin-
equidade social. com alta produtividade em até 11 meses cipalmente durante o primeiro ano de vida.
A defesa do modelo familiar como ca- do ano, sem manutenção intensiva ou Ventos fortes podem provocar a queda de
minho para a sustentabilidade, não se resu- especializada. Tal característica contribui árvores.
me simplesmente às questões conceituais, para reduzir a oferta sazonal de emprego, Outro procedimento que deve ser ob-
mas também em indicadores concretos. garantindo renda o ano todo, o que favo- servado na escolha da área é a garantia de
Considerando o universo de 11,6 milhões rece a fixação do homem no meio rural. escape das doenças. Os plantios devem
de proprietários, que possuem em média A produção de látex pode estender-se por ser realizados em regiões de estação seca
30 hectares de terra, o direcionamento de mais de 50 anos. definida, plantando clones que apresentam
pesquisas e a garantia de assistência téc- Uma família composta por cinco queda das folhas mais tardiamente e mais
nica poderiam transformar esse grupo no pessoas com capacidade de trabalho no escalonada, tendendo a perder comple-
eixo da agricultura sustentável no Brasil. seringal obteria o rendimento econômico tamente a folhagem em períodos mais
Por essas questões, é imprescindível que de, aproximadamente, R$ 2.500,00/mês secos e com o reenfolhamento durante o
sejam realizados estudos coordenados a preços atuais, explorando uma área de mesmo período, isto é, livres dos ataques
e concomitantes relacionados com os 5 hectares de seringal adulto. Esse valor endêmicos.
aspectos ambientais, socioeconômicos representa a receita líquida da atividade Atenção especial deve ser dada a áreas
e técnicos, para que as soluções e alter- já descontadas todas as despesas relativas cuja vegetação seja constituída de Brachiaria
nativas adotadas incorporem medidas de à exploração do látex. Atualmente, por sp. ou capim-colonião (Panicum maximum
redução dos impactos negativos sobre o causa da baixa oferta de látex, as empre- Jacq.), em função da difícil erradicação e
meio ambiente. Nos sistemas produtivos, sas consumidoras garantem a compra e da competição agressiva destas gramíneas
onde são introduzidas novas tecnologias, com a seringueira por água e nutrientes.
buscam o produto no local de produção.
tais impactos podem ser mitigados ou Assim, a implantação de seringais de cul- Preparo e limpeza da área
eliminados. tivo em pequenas e médias propriedades
Apesar das vantagens comparativas poderá contribuir para o fortalecimento As operações de preparo e limpeza da
oferecidas pela exploração da borracha na- da agricultura familiar, reduzindo o êxodo área dependem da cobertura vegetal, da
tural, o plantio da seringueira por pequenos rural e seus impactos. topografia do terreno e da intenção ou não
produtores ainda é incipiente. A razão do Nas regiões aptas, mas com restrição do plantio de culturas intercalares consor-
desinteresse dos agricultores pela atividade ciadas ao seringal. Áreas planas devem
hídrica, há grande viabilidade de implanta-
ser preparadas normalmente como para as
pode ser por falta de conhecimento sobre ção de seringais nos sistemas de agricultura
culturas anuais, isto é, aração e gradagem.
a cultura. familiar, como no caso do Perímetro Irri-
No caso de áreas declivosas, a limpeza é
Para um seringal com 2 mil a 4 mil gado do Jaíba, em Minas Gerais.
manual e realizada somente nas faixas de
árvores, é necessária a mão-de-obra de
plantio, após definição do espaçamento e
uma família de quatro pessoas para a san- INSTALAÇÃO DO SERINGAL
da marcação e abertura das covas.
gria, podendo ocupar mulheres e jovens,
De posse da análise de solo, o produtor
garantindo trabalho e sustento durante o Escolha e localização
deverá realizar a correção em função da
ano todo, com opção de renda semanal, da área
interpretação dos resultados da análise. A
quinzenal ou mensal. A primeira condição para a instalação recomendação deve ser criteriosa e com a
de um seringal com sucesso é que a área de assistência de um técnico da região.
EXPECTATIVAS DO PLANTIO
plantio esteja em região classificada como
A seringueira apresenta desenvolvi- preferencial para o cultivo da seringueira, Espaçamentos
mento satisfatório, quando implantada com indicando que as condições de clima e O espaçamento é definido pela densida-
o manejo adequado, mesmo em áreas de- solo são favoráveis e satisfatórias ao seu de e disposição do plantio. Nas áreas não
gradadas ou abandonadas e de relevo forte- crescimento e produção. Deve-se evitar tradicionais de plantio da seringueira, em
mente ondulado. Permite a manutenção da o plantio em baixadas e em solos com monocultivo, o espaçamento recomendado
vegetação natural entre as linhas e o plantio camada compactada, para garantir uma é de 8,0 m entre as linhas de plantio e de
direto nas covas, sem revolvimento da área, boa drenagem. 3,0 a 3,5 m entre plantas na linha, o que
evitando redução do estoque de carbono do Em regiões de áreas muito declivosas, resultará em 416 e 357 plantas/hectare,
solo, e também o consórcio com culturas o plantio deve ser localizado em posições respectivamente. Espaçamentos maiores
anuais e semiperenes, reduzindo os custos protegidas de ventos frios e geadas, aos têm proporcionado melhor desenvolvimen-
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to das plantas e, consequentemente, maior vida útil econômica. A implantação de um rente ao tronco até uma altura mínima de
produção de látex por árvore. No caso de seringal envolve uma série de medidas, 2,50 m de altura. Em clones mais susce-
consórcios programados, o plantio pode ser que devem ser cuidadosamente planejadas tíveis à quebra por vento, recomenda-se
realizado em renques ou fileiras duplas de e que são imprescindíveis para garantir o que a desbrota seja realizada até a altura
menor espaçamento e maior afastamento sucesso da atividade. de 2,20 a 2,40 m.
entre renques e/ou fileiras duplas. O plantio da muda no local definitivo
No caso de áreas de maior declive, após deve ser realizado preferencialmente no Capinas
a definição do espaçamento, a marcação início do período chuvoso, uma vez que a
As plantas invasoras podem inviabi-
das linhas deve ser realizada em curvas muda de seringueira tem sistema radicular
lizar uma exploração agrícola, quando
de nível. Às vezes, as linhas em nível pouco desenvolvido e necessita de um
apresentam espaçamento irregular com houver competição por luz, fertilizantes e
bom suprimento de água para o arranque
muitas linhas mortas, neste caso, deve-se água, estabelecendo, assim, uma limitação
no campo. A muda mais recomendada é
seguir o bom senso tentando não se afastar aquela preparada em sacolas de plástico, ao desenvolvimento das plantas.
mais de 70% do espaçamento programado principalmente quando não se pode contar Deve-se realizar o controle de plantas
ou não reduzi-lo mais de 30% (ou seja, no com a frequência das chuvas. invasoras, por meio de capinas manuais ou
máximo 12,0 m e no mínimo 5,0 m). Após As mudas devem ser cuidadosamente utilizando herbicidas específicos.
a marcação das linhas, capinar manualmen- selecionadas e transplantadas para o local
te as faixas, com 1,5 a 2,0 m de largura, de plantio com, pelo menos, um lança- REFERÊNCIAS
tendo as linhas de estacas no centro. Faz-se mento maduro. Deve-se evitar o destorro- BRASIL. Lei no 4.771, de 15 de setembro de
então a locação das covas, estaqueando- amento e o abalo das mudas por ocasião do 1965. Institui o novo Código Florestal. Di-
se a linha no espaçamento programado. transporte até a borda das covas, que de- ário Oficial [da] República Federativa do
Recomenda-se deixar a vegetação natural vem ser previamente abertas e adubadas. O Brasil, Brasília, 16 set. 1965.
para que formem faixas de proteção contra fundo da sacola deve ser retirado com uma IBAMA. Instrução Normativa no 1, de 5 de
a erosão nas entrelinhas. faca, cortando-se a parte da raiz que estiver setembro de 1996. [Da reposição florestal
enovelada. A muda deve ser colocada e obrigatória e do Plano Integrado Florestal].
Escolha do material para
plantio firmada no fundo da cova, direcionando Diário Oficial [da] República Federativa
a brotação no sentido do sol nascente ou do Brasil, Brasília, 6 set. 1996.
O clone (enxerto) nada mais é do que dos ventos predominantes, para evitar que-
a variedade da seringueira a ser plantada bras. Deve-se cortar lateralmente a sacola, BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
e deve ser escolhido pela uniformidade, retirando-a cuidadosamente. A cova deve
adaptação à região, capacidade produtiva ALVARENGA, A. de P. Seringueira: cultura
ser preenchida comprimindo a terra ao
estratégica para Brasil. Informe Agropecu-
e resistência a doenças. Todas as árvores de redor da muda, a fim de evitar a formação
ário. EPAMIG 35 anos de pesquisa, Belo
um clone possuem a mesma constituição de bolsas de ar que podem comprometer o
Horizonte, v.30, p.139-145, 2009. Edição
genética, responsável por sua uniformida- pegamento. Dependendo das condições do
especial.
de. É muito importante que haja diversifi- tempo, deve ser feita uma rega logo após
cação do material genético no plantio, ou o plantio e o “embaciamento” do terreno ________; CARMO C.A. F. de S. do. Serin-
gueira. Viçosa, MG: EPAMIG-CTZM, 2008.
seja, que diferentes clones sejam plantados em volta da muda, a fim de facilitar as
na mesma área. A tomada de decisão sobre 893p.
operações de regas.
quais clones plantar para formar o seringal No caso de perda de muda no campo, o ________. et al. Seringueira: aspectos econô-
é de grande responsabilidade, uma vez replantio deve ser realizado imediatamente micos sociais e perspectivas para o seu for-
que, se essa escolha não for acertada, o para não comprometer a uniformidade do talecimento, Viçosa, MG: EPAMIG-CTZM:
sucesso do seringal estará definitivamente seringal, utilizando-se mudas com a mesma Embrapa Solos, 2006. 180p.
comprometido. idade das que foram plantadas. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pe-
cuária e Abastecimento. Câmara Setorial
Plantio Formação da copa da Cadeia Produtiva da Borracha Natural.
É na fase jovem do seringal que se Consiste na eliminação das brotações Agenda de trabalho: situação atual e pers-
define o seu potencial produtivo. Uma que surgem na haste principal, bem como pectivas. Brasília, 2006. 48f.
planta com bom crescimento no primeiro no cavalo (porta-enxerto), tão logo apare- INFORME AGROPECUÁRIO. Seringueira:
ano determina a data de sangria inicial çam, a fim de evitar cicatrizes no tronco. As novas tecnologias de produção. Belo Hori-
e mantém-se com qualidade durante sua brotações devem ser retiradas cortando-as zonte: EPAMIG, v.28, n.237, mar./abr. 2007.

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Insumos alternativos para o controle de pragas e doenças


Madelaine Venzon 1
Trazilbo José de Paula Júnior 2
Cleide Maria Ferreira Pinto 3
Rafael Macedo de Oliveira 4
Ítalo Santos Bonomo 5

Resumo - O manejo de pragas e doenças, com a utilização de insumos alternativos, é


uma prática que traz benefícios econômicos, sociais e ambientais. Além da eficiência
no controle da praga ou doença-alvo, esses insumos devem ter baixa toxicidade ao
homem, não causar efeitos negativos sobre a fauna benéfica, não ser fitotóxicos e
devem ser obtidos ou preparados de maneira fácil. Sua recomendação deve-se basear
em resultados de pesquisas, para que sejam aplicados em concentrações e formulações
seguras e eficientes.

Palavras-chave: Calda fitoprotetora. Calda sulfocálcica. Calda bordalesa. Calda Viçosa.


Extrato de planta. Óleo. Biofertilizante.

INTRODUÇÃO que possuem, como baixa toxicidade, lidade de preparo e de aplicação e pelo fato
baixo impacto ambiental, produção com de ser aceita pela maioria das certificadoras
O uso de práticas e insumos alter-
materiais oriundos da propriedade, fácil de produtos orgânicos.
nativos aos convencionais nos sistemas
aquisição, custo reduzido e facilidade na Pesquisas realizadas na Unidade Re-
familiares de produção agrícola é de fun-
sua preparação e aplicação. gional EPAMIG Zona da Mata apontam
damental importância, considerando os
para a necessidade da utilização de con-
benefícios econômicos, sociais e ambien- centrações específicas para cada praga em
CALDA SULFOCÁLCICA
tais. A pesquisa científica tem contribuído diferentes culturas, levando-se em consi-
de forma significativa com a geração e/ A calda sulfocálcica é obtida pelo deração, além da eficiência no controle
ou validação de tecnologias que suportem tratamento térmico do enxofre e da cal da praga/doença-alvo, o impacto sobre
a substituição dos insumos externos por virgem. Possui propriedades inseticidas, organismos benéficos e a fitotoxicidade
insumos e práticas alternativas de base acaricidas e fungicidas. Tem sido utilizada (VENZON et al., 2008). A calda sulfo-
ecológica, para o manejo de pragas e tradicionalmente com sucesso em fruteiras cálcica tem sido utilizada muitas vezes
doenças. Neste artigo serão apresentados de clima temperado e em citros (GUERRA, em concentrações acima de 2% (29º a 32º
insumos alternativos aos convencionais, 1985; PENTEADO, 2000). No entanto, Baumé) (PENTEADO, 2000). No entanto,
cuja pesquisa tem demonstrado eficiência com o crescimento da produção orgânica essas concentrações podem apresentar
técnica e praticabilidade de uso pelos agri- de alimentos, a calda sulfocálcica teve seu efeito deletério sobre diversos inimigos
cultores. Além da eficiência, esses produtos uso intensificado em diversas culturas, naturais. É possível obter controle satisfa-
foram selecionados pelas características principalmente pelo baixo custo, pela faci- tório das populações de ácaros fitófagos,

1
Eng a Agr a, Ph.D., Pesq. U.R. EPAMIG ZM/ Bolsista CNPq, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa -MG. Correio eletrônico: venzon@epamig.ufv.br
2
Engo Agr o , Ph.D., Pesq. U.R. EPAMIG ZM/Bolsista CNPq, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: trazilbo@epamig.br
3
Eng a Agr a , D.Sc., Pesq. EMBRAPA/U.R. EPAMIG ZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico:
cleide.pinto@epamig.ufv.br
4
Graduando em Agronomia UFV, Bolsista FAPEMIG/U.R. EPAMIG ZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico:
rafael.dtna@yahoo.com.br
5
Engo Agr o , Bolsista Apoio Técnico CNPq, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: italo_bonomo@yahoo.com.br

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por exemplo, com a utilização de concen- empregada. É importante a realização de vez em 1882, para o controle do míldio-da-
trações mais baixas, minimizando efeitos testes iniciais, pulverizando a calda em videira (Plasmopara viticola) (GUERRA,
negativos sobre organismos benéficos. Em algumas plantas, para observação dos 1985). É resultado da mistura de uma solu-
cafeeiro, a aplicação da calda sulfocálcica possíveis sintomas de toxicidade, antes da ção de sulfato de cobre com uma suspensão
a 0,5% (31,5º Baumé) foi tão eficiente na pulverização na área total. de cal virgem. Além da ação fungicida e
redução populacional do ácaro-vermelho Para o preparo de 2 L de calda sulfocál- bactericida, a calda fortalece as folhagens
Oligonychus ilicis, quanto concentrações cica, são necessários 250 g de cal virgem, e fornece nutrientes importantes às plantas,
mais elevadas, de 1,0% e 1,5%. 500 g de enxofre e água (Fig. 1). Outras como cálcio, cobre e enxofre. Tem custo
O uso correto da calda sulfocálcica é recomendações importantes para o uso da baixo e não deixa resíduos tóxicos.
importante não somente para selecionar calda sulfocálcica podem ser obtidas em A calda bordalesa é utilizada em di-
doses que causem menor impacto sobre Penteado (2000) e Venzon et al. (2008). versas culturas, especialmente fruteiras e
organismos benéficos, mas também para
evitar problemas de fitotoxicidade. Algu- hortaliças. Em trabalhos conduzidos por
CALDA BORDALESA Diniz et al. (2006), foi verificada a efici-
mas plantas são sensíveis à calda sulfocál-
cica, como as cucurbitáceas. Para outras, A calda bordalesa é um fungicida tra- ência dessa calda no controle da requeima-
a toxicidade está relacionada com a dose dicional, tendo sido utilizada pela primeira do-tomateiro (Phytophthora infestans). Em

A B C D

Fotos: Madelaine Venzon

E F G
Figura 1 - Preparo de 2 L da calda sulfocálcica
NOTA: A - Colocar 1 L de água para aquecer em recipiente de ferro ou latão até atingir a temperatura de 45 oC; B - Acrescentar 500 g
de enxofre e mexer a mistura por 5-10 minutos; C - Acrescentar 600 mL de água e continuar mexendo até atingir 55 oC; D -
Adicionar lentamente 250 g de cal virgem. Deixar aquecer até atingir 95 oC para completar a mistura até o volume de 2 L;
E - Cozinhar a calda por uma hora e acrescentar constantemente água de modo que mantenha o volume em 2 L. Após esse
tempo, quando a calda estiver pronta, sua coloração ficará pardo-avermelhada; F - Depois que a calda esfriar, deve-se coá-la;
G - Medir a densidade da calda, que deve ter de 29o a 32o Baumé.

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experimento realizado para o controle da Capucho (2005), em condições de média e com 50 L de água, dissolver 500 g de cal
cercosporiose (Cercospora capsici) na cul- baixa incidência de ferrugem, o tratamento virgem (88% de CaO) até formar o “leite
tura da pimenta malagueta, em condições com calda Viçosa proporcionou controle da de cal”. Finalmente, despejar o conteúdo
topográficas distintas da região da Zona da doença semelhante ao obtido com a aplicação do primeiro recipiente sobre o “leite de
Mata mineira, foi verificado que tanto na de fungicida. cal”; misturar bem até a coloração tornar-
encosta, como na baixada, o maior controle Essa calda tem sido utilizada em outras se azul-celeste. Se a solução estiver muito
da doença foi obtido nas plantas pulveri- culturas, além do cafeeiro. Seu uso tem esbranquiçada, é sinal de cal em excesso e
zadas com a calda bordalesa (1,5%), em sido comum em algumas olerícolas. No pH muito alto; se a solução estiver muito
comparação com outros produtos testados, tomateiro, é eficiente para o controle da esverdeada, é sinal de que há excesso de
inclusive com um fungicida convencional pinta-preta (PAUL et al., 2004), requeima sulfato de cobre e o pH está muito baixo.
(SILVA et al., 2009). A calda foi eficiente e mancha-de-estenfílio (ZAMBOLIM Os recipientes para o preparo devem ser de
também no controle de oídio em pimenta et al., 1990). Na cultura da pimenta, tem plástico ou similar, nunca de cobre, alumí-
malagueta em cultivo protegido. sido utilizada para o controle da mancha- nio ou ferro. A calda deve ser aplicada no
Apesar de a calda bordalesa ser uti- de-cercóspora. É recomendado também o mesmo dia em que for preparada.
lizada em diversas culturas, pode causar seu uso para o controle da antracnose em
problemas de fitotoxidez, como em algu- cucurbitáceas, mancha-de-cercóspora em BIOFERTILIZANTES
mas solanáceas e rosáceas. A aplicação de beterraba, míldios e manchas foliares em
Os biofertilizantes ou fertilizantes
concentrações reduzidas pode minimizar abobrinha, alface, alho, cebola, chicória, cou-
orgânicos são produzidos a partir do
o problema para algumas culturas. Na ve e cucurbitáceas e podridão-de-sclerotínia
aproveitamento de resíduos vegetais e/
videira, por exemplo, Peruch e Bruna em alface e chicória (FERNANDES; LEITE;
ou animais existentes na propriedade.
(2008) verificaram que a calda bordalesa MOREIRA, 2008).
Em geral, são produzidos pela digestão
aplicada na concentração de 0,8% causou Alguns produtores têm utilizado a calda
anaeróbia ou aeróbia de diversos materiais
sintomas de fitotoxidez. No entanto, quan- Viçosa com o intuito de controlar pragas, no
orgânicos, entre estes estercos, farelos de
do aplicada na concentração de 0,4% não entanto, resultados de diversas pesquisas em
arroz e trigo, farinha de trigo e de ossos,
causou toxicidade à videira e controlou campo revelaram que o produto não atuou
fubá, rapadura e vísceras de peixes. Seu
eficientemente o míldio. Além da espécie eficientemente na redução da população de
uso tem sido difundido principalmente
de planta, a fitotoxicidade do produto varia algumas pragas de hortaliças e de cafeeiro
como adubação complementar e também
de acordo com a fase de desenvolvimento (VENZON et al., 2008; MICHEREFF et
visando ao controle de doenças e pragas.
da cultura e as condições climáticas locais. al., 2008). Um aspecto positivo verificado
Diversas técnicas para a produção de
É recomendado que o produtor faça um em experimentos conduzidos em labo-
ratório, na Unidade Regional EPAMIG biofertilizantes realizadas pela digestão
teste em poucas plantas, podendo aplicar anaeróbia ou aeróbia de material orgâni-
Zona da Mata, é que a calda Viçosa não
em toda a área depois de observado o seu co de origem animal e vegetal em meio
tem efeito deletério sobre a população
efeito. Informações detalhadas sobre o líquido, suplementado ou não por micro-
de dois importantes ácaros predadores
preparo da calda e cuidados na aplicação nutrientes e outros aditivos, são descritas
(Amblyseius herbicolus e Phytoseiulus
podem ser encontrados em Guerra (1985), por Bettiol, Ghini e Morandi (2005). Mais
macropilis) associados a ácaros fitófagos
Penteado (2000) e Fernandes, Leite e recentemente, diversos agricultores vêm
em hortaliças. Portanto, quando utilizada
Moreira (2008). utilizando um fermentador com controle de
para o manejo de doenças em hortaliças,
o produto não afetará negativamente esses aeração para a produção de biofertilizante,
CALDA VIÇOSA
agentes de controle biológico natural de que é realizada em 24 horas. Diferentes
A calda Viçosa é composta da mistura ácaros fitófagos. receitas e formas de preparo de bioferti-
de sulfato de cobre, óxido de cálcio e mi- Para preparo de 100 L da calda Vi- lizantes são hoje disponíveis e utilizadas
cronutrientes (CRUZ FILHO; CHAVES, çosa (CRUZ FILHO; CHAVES, 1985; pelos produtores, como o biofertilizante
1985). É utilizada como fungicida e adubo PENTEADO, 2000), são necessários simples, produzido apenas a partir de
foliar. Efeitos benéficos do tratamento com 500 g de sulfato de cobre (25% de Cu), esterco de curral fresco, o Supermagro e
calda Viçosa no controle da ferrugem e 300 g de sulfato de zinco (21,9% de Zn), o Agrobio, produzidos a partir de esterco,
cercosporiose do cafeeiro e no aumento 200 g de sulfato de magnésio (16% 17% de resíduos orgânicos e sais.
de produtividade da cultura são relatados MgO), 400 g de sulfato de potássio (50% de O efeito dos biofertilizantes sobre o
por Zambolim, Rodrigues e Capucho K2O) e 100 g de ácido bórico (17,5% de B), controle das doenças pode ser tanto pela
(2005) e Carvalho, Cunha e Chalfoun os quais devem ser dissolvidos em 50 L de presença de metabólitos produzidos por
(2005). Segundo Zambolim, Rodrigues e água. Posteriormente, em outro recipiente, microrganismos presentes no produto,
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80 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

como pela ação direta desses organismos suem também ação acaricida, fungicida e Para o manejo de doenças, muitos agri-
sobre o patógeno e o hospedeiro. Além nematicida. cultores utilizam extratos de pimenta do
disso, existe a ação direta ou indireta dos A eficiência dos produtos à base de nim reino, pimenta, alho, samambaia, plantas
nutrientes presentes no biofertilizante no controle de pragas, assim como a seleti- cítricas, eucalipto, Bougainvillea, raízes
sobre os patógenos. Com
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relação ao efei- vidade a inimigos naturais, está relacionada de mandioca, manjericão, capim-limão,
to sobre o controle de pragas, os relatos com a espécie de artrópode, a dose e a arruda, alecrim, alfavaca-cravo, cânfora,
científicos sobre a eficiência inseticida ou formulação empregada (VENZON et al., carqueja, capim-limão, citronela, cúrcu-
acaricida, causada pela ação direta ou in- 2008a). É importante também considerar ma, gengibre e outras plantas (SCHWAN-
direta, indicam resultados variados, desde o modo de ação mais lento dos produtos à ESTRADA; STANGARLIN; CRUZ,
efeitos negativos sobre a população de base de nim em relação aos produtos con- 2000; BETTIOL; GHINI; MORANDI,
pragas à ausência de efeitos (MEDEIROS; vencionais, sendo, portanto, necessário um 2005; SILVA et al., 2005). Da mesma for-
WANDERLEY; WANDERLEY, 2003). tempo maior para verificar a ação tóxica ma que acontece para o controle de pragas,
Portanto, há de se considerar o sistema no desses produtos sobre as pragas e doenças. são necessárias pesquisas mais detalhadas
qual o produto será empregado. Os extratos podem ser preparados com que permitam recomendações mais apro-
Segundo Bettiol, Ghini e Morandi a trituração, em água, das sementes ou fru- priadas do uso desses produtos. Os extratos
(2005), as principais vantagens dessa tos frescos. O mesmo procedimento pode de plantas apresentam também especial
ser usado para folhas frescas ou secas, no potencial no tratamento de doenças em
técnica são o custo e a disponibilidade do
entanto, a concentração de azadiractina no pós-colheita de frutos, em decorrência
produto. O baixo custo é basicamente o
extrato obtido será inferior. Informações de problemas apresentados pelo controle
relacionado com o preparo do material pelo
próprio agricultor. Como existem relatos
detalhadas podem ser encontradas em convencional, como a perda da eficiência
Martinez (2002). O produtor que tiver dos produtos disponíveis no mercado, o
da eficiência de biofertilizantes produzidos
dificuldade de obter as sementes tem a surgimento de resistência, principalmente
com diferentes fontes de matéria orgânica,
alternativa de adquirir no mercado esse aos fungicidas sistêmicos, e a preocupação
o agricultor não depende da compra desse
produto industrializado. É importante sa- com a saúde humana (SILVA et al., 2005).
material, mas apenas do aproveitamento
lientar que ao utilizar produtos à base de As mostardas e outras plantas da famí-
daquelas disponíveis na propriedade. Estes
nim devem ser verificadas a concentração lia Brassicaceae, tais como canola, repolho,
autores salientam, contudo, que, como se
de azadiractina e a pureza do produto, nabo, brócolis etc., produzem substâncias
trata de uma técnica que vem sendo ex-
devendo-se adquirir os subprodutos do nim chamadas glucosinolatos, as quais, por
pandida, há necessidade de realização de
de fabricantes idôneos para ter sucesso na meio de ação enzimática, transformam-se
estudos para a determinação dos impactos
utilização. em isotiocianatos (substâncias muito efi-
ao ambiente e à saúde pública. Para mi-
Além do nim, extratos de várias plantas cientes como biocidas naturais), bem como
nimizar possíveis problemas, sugere-se
acessíveis ao produtor têm sido pesquisa- em nitrilas, tiocianatos e enxofre elementar
o uso de matéria orgânica livre de metais
dos para o controle de pragas (MOREIRA (OLIVEIRA; DHINGRA, 2008). Segundo
pesados e de agentes nocivos à saúde pú-
et al., 2006). Outras meliáceas também estes autores, a principal aplicação dos
blica. Em relação aos agentes patogênicos
possuem características promissoras no resultados obtidos com as pesquisas, com
ao homem e aos animais, a compostagem
controle de pragas, como a Melia azedarach
dos materiais orgânicos é suficiente para a as substâncias produzidas pelas brássicas,
(cinamono ou santa-bárbara) e a Trichilia
sua higienização. Portanto, recomenda-se é o tratamento de substrato para a produção
pallida (catiguá) (TORRECILLAS;
o uso de estercos e resíduos após a com- de mudas, visando à erradicação de patóge-
VENDRAMIM, 2001). Extratos de alho,
postagem. nos, em substituição ao brometo de metila.
de pimenta, de mentrasto, de fumo, entre
Alguns agricultores na Paraíba têm
outros, têm sido utilizados em preparações
EXTRATOS VEGETAIS utilizado taninos obtidos de acácia-negra
caseiras com o intuito de controlar pragas.
no controle da fusariose do abacaxizeiro,
Várias espécies vegetais possuem No entanto, são escassos os resultados de
existindo inclusive produtos comerciais
ação inseticida e fungicida e o extrato de pesquisa que comprovam a eficiência no
disponíveis no mercado (BETTIOL;
algumas dessas plantas tem sido usado controle de pragas e a inocuidade desses
GHINI; MORANDI, 2005). Os extratos de
de modo eficiente no manejo de pragas e produtos ao homem. O extrato de fumo,
acácia-negra são prontamente dissolvidos
doenças. O nim (Azadirachta indica­) é uma por exemplo, tem ação contra artrópodes
em água e aplicados sobre as plantas.
meliácea que possui em suas sementes, e sugadores, no entanto, sua toxina, a nico-
em menor quantidade na casca e nas folhas, tina é extremamente tóxica a mamíferos,
ÓLEOS
a azadiractina, composto responsável pelos além de ser fitotóxica para algumas plantas
efeitos tóxicos aos insetos (MARTINEZ, ornamentais, como a roseira (MOREIRA Os óleos vegetais e minerais podem ser
2002). Os produtos derivados do nim pos- et al., 2006). utilizados isoladamente, para o controle
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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 81

de insetos e fungos, ou como adjuvantes ou controle direto do patógeno por insetos sugadores, especialmente em uso
adicionados às caldas para favorecer o conter diversos sais e aminoácidos; doméstico. Relatos científicos comprovam
espalhamento e a absorção, reduzindo a c) estímulo ao controle biológico na- a eficiência dessas soluções no controle
degradação do ingrediente ativo e a tensão tural, por meio da formação de um desses insetos. De acordo com Imenes et
superficial (MENDONÇA; RAETANO; filme microbiano na superfície da al. (2002), as soluções de detergente a 5%
MENDOÇA, 2007.). folhagem; e 10% e de sabão de pedra a 3% mostra-
Resultados de pesquisas comprovam
d) alteração das características físicas, ram eficiência superior a 80% no controle
a eficiência de óleos vegetais e minerais de cochonilha Protopulvinaria pyriformis
químicas e biológicas da superfície
no controle de cochonilhas. O óleo de em cheflera, sendo equivalente ao controle
foliar.
laranja a 0,6% foi efetivo para o controle proporcionado pelo inseticida sistêmico e
da cochonilha Dactylopius opuntiae, que Esses autores recomendam a pulveriza-
superior ao do óleo emulsionável a 1%.
ataca palma gigante, além de não afetar, ção do leite diluído em água nas concentra-
negativamente, os inimigos naturais dessa ções de 5% a 10%, uma vez por semana.
URINA DE VACA
praga (LOPES et al., 2009). No controle da A concentração de 10% deve ser utilizada,
cochonilha escama-farinha Unaspis citri, quando a infestação de oídio for alta. O A urina de vaca tem sido recomendada
Guirado et al. (2003) verificaram efeito leite deve ser utilizado preventivamente e pela Empresa de Pesquisa Agropecuária do
sinergístico da mistura de óleo mineral toda a planta deve ser pulverizada. Apesar Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio),
(1%) com óleo de nim (1%), quando dos estudos terem sido realizados com as para a nutrição e o controle de diversas
comparado com aplicações desses produtos culturas de pepino, abobrinha, alface e doenças fúngicas no cultivo de frutas,
feitas isoladamente. quiabo, diversos agricultores vêm utili- legumes, hortaliças e também plantas orna-
Os óleos essenciais de diversas plantas zando o leite com sucesso para o controle mentais (BETTIOL; GHINI; MORANDI,
possuem grande potencial para o controle de oídio em viveiros de Eucalyptus, em 2005). Estes autores salientam que, após a
de pragas de grãos armazenados, como os pimentão e outras hortaliças, em roseira e coleta, a urina deve descansar por três dias
óleos de eucalipto, alecrim e palmarosa, outras plantas ornamentais, aplicado sema- em frasco fechado, estando pronta para o
no controle do caruncho, Callosobruchus nalmente (BETTIOL; GHINI; MORANDI uso após esse período. O material deve ser
maculatus (BRITO; OLIVEIRA; BORTOLI, 2005). Segundo esses autores, dependendo diluído em água imediatamente antes do
2006; PEREIRA et al., 2008). das condições de cada cultura, ambiente e uso. As dosagens variam de 1% a 2,5%.
Resultados promissores no manejo de severidade, a concentração utilizada pelos Em culturas como quiabo, jiló e berinjela,
doenças têm sido relatados, como a redu- agricultores tem variado de 5% a 20%. a recomendação é de uma aplicação a
ção da severidade da ferrugem em plantas 1% a cada 15 dias. No caso do abacaxi,
de soja cultivadas em casa de vegetação, SAIS recomenda-se a pulverização mensal da
com a utilização de óleos essenciais de urina a 1% durante os primeiros quatro
Os produtos bicarbonato de sódio e
tomilho, eucalipto citriodora e citronela meses. Depois, aumenta-se a quantidade de
de potássio são efetivos no controle de
(MEDICE et al., 2007). O óleo de soja, urina para 2,5%, continuando a aplicação
oídio de diversas culturas. O bicarbonato
quando utilizado isoladamente ou mistu-
de sódio (2%) foi eficiente para o controle mensal. O procedimento deve ser suspenso
rado a fungicidas convencionais, foi eficaz
do oídio em mamoeiro (TATAGIBA et al., dois meses antes da indução da floração,
no controle da antracnose em manga, além
2002). O potencial do bicarbonato de sódio retornando a partir do avermelhamento
de aumentar o seu tempo de prateleira
para controle da pinta-preta do tomateiro e do fruto. Vale lembrar que a urina de vaca
(JUNQUEIRA et al., 2004).
da mancha-zonada do pepino foi relatado apresenta índice salino elevado que pode
por Ramirez-Otarola, Moretto e Churata - causar fitotoxidade no caso de uso em altas
LEITE CRU
Masca (1999). Bettiol, Ghini e Morandi concentrações.
O leite cru tem sido utilizado no con- (2005) salientam que esses produtos não
trole de oídio em várias culturas. Segundo apresentam problemas de contaminação, CONSIDERACÕES FINAIS
Bettiol, Ghini e Morandi (2005), entre as têm baixo custo e, como são utilizados Diversos insumos alternativos têm sido
várias formas de ação do leite no controle como alimento, possuem poucas restrições utilizados pelos produtores familiares para
de oídio destacam-se: de uso. o controle de pragas e doenças. É necessá-
a) propriedade germicida do lei- rio, no entanto, que o produtor tenha acesso
te fresco (efeito direto contra SABÃO
a informações técnicas relacionadas com a
Sphaerotheca fuliginea); Soluções à base de sabão têm sido uti- eficiência e a inocuidade desses produtos
b) indução da resistência das plantas lizadas com frequência para o controle de para o seu uso correto.
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82 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

Com o crescimento da produção or- Belo Horizonte, v.26, p.86-101, 2005. Edi- nologia, Lavras, v.31, n.1, p. 83-90, jan./fev.
gânica, as pesquisas com a utilização de ção especial. 2007.
insumos alternativos para o controle de CRUZ FILHO, J.; CHAVES, G.M. Calda Vi- MENDONÇA, C.G. de; RAETANO, C.G.;
pragas e doenças têm sido grandemente çosa no controle da ferrugem do cafeeiro. MENDONÇA, C.G. de. Tensão superficial
Viçosa, MG: UFV, 1985. 22 p. (UFV. Informe estática de soluções aquosas com óleos mi-
impulsionadas. Os resultados obtidos por
Ténico, 51). nerais e vegetais utilizados na agricultura.
inúmeros pesquisadores têm comprovado
DINIZ, L.P. et al. Avaliação de produtos al- Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v.27,
as propriedades inseticidas e fungicidas
ternativos para controle da requeima do to- p.16-23, jan. 2007. Número especial.
de vários produtos, o que tem permitido mateiro. Fitopatologia Brasileira, Brasília,
MICHEREFF-FILHO, M. et al. Effect of some
recomendações seguras de utilização. v.31, n.2, p.171-179, mar./abr. 2006.
biorational insecticides on Spodoptera
Além disso, insumos alternativos para o FERNANDES, M.do C. de A.; LEITE, E.C.B; eridania in organic cabbage. Pest Manage-
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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 83

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84 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

Produção e processamento de alimentos de origem


vegetal na agricultura familiar:
boas práticas agrícolas e de fabricação
Cláudia Lúcia de Oliveira Pinto 1
Cleide Maria Ferreira Pinto 2
Izabel Cristina dos Santos 3
Maria Regina de Miranda Souza 4
Sérgio Maurício Lopes Donzeles 5

Resumo - Grande parte dos alimentos, como hortaliças, frutas e café, consumidos no
Brasil e em Minas Gerais, é produzida em propriedades familiares, sendo que uma
parte é comercializada para consumo in natura e outra processada em agroindústrias
de pequeno, médio e grande portes. Exemplo disso são produtos como conservas,
molhos e geleias de pimenta Capsicum, picles à base de hortaliças, hortaliças
minimamente processadas, geleias, compotas, doces e licores de frutas e café torrado
destinado a cafeterias. Observa-se, no caso de hortaliças folhosas, que há necessidade
de implementar práticas de controle higiênico-sanitário e parasitário na cadeia
produtiva, considerando que fração considerável desses alimentos é disponibilizada
ao consumidor em desacordo com os padrões de qualidade. Os fatores que afetam a
qualidade dos produtos devem ser controlados desde a produção primária até a venda
ao consumidor final, seguindo-se as boas práticas agrícolas (BPA), as boas práticas de
fabricação (BPF) e de comercialização, que são pré-requisitos para a implementação
de sistemas de garantia de qualidade. Assim, produtores rurais, processadores e
comerciantes de alimentos têm a responsabilidades de garantir que o produto seja
disponibilizado ao consumidor de acordo com os padrões de qualidade exigidos pela
legislação e, portanto, de acordo com os requisitos de segurança alimentar.

Palavras-chave: Hortaliça. Fruta. Qualidade. Higiene. Contaminação. Agrotóxico.


Embalagem. Armazenamento. Transporte.

INTRODUÇÃO vírus, parasitas intestinais e protozoários; vidro, metal ou madeira. Em consequência

Os principais problemas associados à contaminações de natureza química como da falta de controle dessas contaminações,
qualidade de alimentos incluem a presença resíduos de agrotóxicos, micotoxinas e doenças de origem alimentar constituem um
de contaminações de natureza biológica, metais pesados e contaminações de nature- dos principais problemas de saúde pública
como bactérias patogênicas e suas toxinas, za física, representadas por fragmentos de no mundo, mesmo em países desenvolvidos.

1
Farmacêutica bioquímica, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG ZM/Bolsista FEPEMIG, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio ele-
trônico: clucia@epamig.ufv.br
2
Eng aAgr a , D.Sc., Pesq. EMBRAPA/U.R. EPAMIG ZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: cleide.pinto@epamig.ufv.br
3
Eng a Agr a , D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG SM-FERN, CEP 36301-360 São João del-Rei-MG. Correio eletrônico: icsantos@epamig.br
4
Eng a Agr a , Doutoranda, Pesq. U.R. EPAMIG ZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: mmiranda@epamig.ufv.br
5
Eng o , Agr o , D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG ZM/Bolsista FAPEMIG Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: slopes@ufv.br

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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 85

As contaminações dos produtos de produção de toxinas, permitindo a rastrea- Água


origem vegetal podem ocorrer em toda a bilidade do processo e do produto acabado
No campo, a água é usada para irri-
cadeia produtiva, do campo de cultivo à (BRASIL, 1997ab). A implementação
gação e para aplicação de fertilizantes
comercialização. Dentre as principais cau- dessas práticas constitui uma exigência
(fertirrigação) e de agrotóxicos. Também
sas das contaminações alimentares estão: dos órgãos fiscalizadores.
é usada, após a colheita, para lavagem do
a) falta de adequação e ou precariedade produto, das mãos dos manipuladores e das
FONTES DE CONTAMINAÇÕES
das instalações de produção, trans- instalações. Em qualquer desses processos,
DE ALIMENTOS DE ORIGEM
porte e comercialização; VEGETAL é imprescindível analisar periodicamente
a qualidade da água utilizada, pois pode
b) higienização inadequada das insta-
Os produtores devem ter conhecimen- conter contaminantes de natureza:
lações, equipamentos e utensílios;
to do histórico de utilização da área de
c) hábitos higiênicos e saúde dos ma- a) física: excesso de argila que entope
produção e das áreas vizinhas, de forma
nipuladores; os bicos dos pulverizadores;
que identifiquem as potenciais fontes de
d) qualidade insatisfatória da água; contaminação. b) química: metais pesados como mer-
cúrio, chumbo e cádmio; nitrato e
e) falta de controle de pragas e vetores
de doenças; Ambiente de produção resíduos de agrotóxicos;
c) biológica: bactérias patogênicas,
f) contaminações cruzadas e ineficiên- Deve-se atentar para a presença de fos-
parasitos intestinais e vírus associa-
cia do controle na cadeia produtiva. sas negras, representadas por cavidades
dos à ocorrência de doenças como
Portanto, profissionais responsáveis abertas sem proteção ou isolamento do
infecções e intoxicações, disenteria
pela produção/industrialização de ali- solo ou ainda dos lençóis subterrâneos ou
amebiana, giardíase, verminoses,
mentos devem atuar de forma preventiva, de esgoto doméstico próximo à fonte de
febre tifoide e cólera.
com o objetivo de alcançar os padrões de captação de água de irrigação. A presença
Os produtos agrícolas, em especial as
qualidade. de contaminantes de natureza biológica,
hortaliças folhosas que são consumidas
A elaboração de legislações e de nor- de resíduos de agrotóxicos ou metais
cruas, devem merecer atenção especial
mas nacionais e internacionais fundamen- pesados e rejeitos hospitalares no solo
dos produtores e consumidores, pelo maior
tadas em procedimentos que permitem ou na água de irrigação deve ser avaliada
risco de causarem doenças.
a garantia de qualidade dos produtos foi e controlada.
O tratamento da água tem os principais
de fundamental importância para o setor
objetivos: inativação de microrganismos
alimentício nos últimos anos. Dentre es- Solo
patogênicos e deterioradores e impurezas,
sas legislações e normas estão incluídas
Na produção de vegetais, o solo deve remoção da cor, turbidez, odor e sabor,
as boas práticas agrícolas (BPA), boas
ser previamente analisado quanto à pre- além de redução da corrosividade, dureza,
práticas agropecuárias, boas práticas de
sença de contaminantes físicos, químicos ferro e manganês. A eficiência do cloro,
fabricação (BPF), padrões sanitários de
e microbiológicos. Devem-se evitar solos como agente de desinfecção, depende de
alimentos, procedimentos padronizados de
usados como despejo de lixo comum ou sua concentração e da qualidade da água
higiene operacional, Análises de Perigos
hospitalar, de produtos tóxicos ou como utilizada. Quando o volume de água re-
e Pontos Críticos de Controle (APPCC).
aterro sanitário. O lixo é uma fonte de ma- siduária é grande, outros tratamentos são
A Norma ISO 22000 (ABNT, 2005) trata
téria orgânica (MO) e pode carrear material recomendados. As lagoas de estabilização,
da certificação do sistema de gestão da
de origem fecal e outros compostos quími- por exemplo, apresentam alta eficiência,
segurança na produção de alimentos e
cos prejudiciais ao ambiente e ao homem. baixo custo e fácil operação e manutenção.
representa uma oportunidade para atingir
O cultivo de vegetais em solos sujeitos Algumas medidas preventivas, devem
a harmonização internacional dos padrões
à inundação deve ser evitado, considerando ser utilizadas para minimizar a contamina-
de segurança alimentar.
ção dos produtos pela água de irrigação e
As BPA e BPF são representadas por que as águas provenientes de inundações
de fontes, na propriedade rural:
um conjunto de procedimentos adotados constituem fontes potenciais de microrga-
na cadeia produtiva de alimentos para nismos patogênicos e de contaminantes a) avaliar a qualidade da água e realizar
garantir a qualidade do produto final. São químicos. Solos com histórico de aplicação o seu tratamento;
fundamentadas na obtenção de produtos indiscriminada de agroquímicos, próximos b) não permitir o acesso de animais
livres de contaminações, prevenção de a águas poluídas e aqueles onde animais e de pessoas não autorizadas nas
contaminação cruzada e de condições que circulam nas proximidades das áreas de proximidades da fonte de água e do
favoreçam a multiplicação microbiana e/ou cultivo não devem ser usados. local de armazenamento de esterco;
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86 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

c) observar se as fontes de água estão Portanto, recomenda-se controlar o de manipulação ou armazenamento. Para
sendo compartilhadas com pas- acesso de animais; manter as áreas livres moscas, mosquitos e aranhas, telar portas
tagens, criações intensivas ou de de lixo e de plantas daninhas; não acumular e janelas; eliminar vãos entre telhado
produção de leite; entulhos como restos de vegetação, equipa- e alvenaria; antecâmara com porta tipo
d) armazenar composto orgânico não mentos obsoletos, para que não sirvam de abre e fecha (porta dupla). Para pombos e
tratado distante dos locais do campo abrigo para insetos, ratos e outros animais. aves, vedar acesso a forros; utilizar telas
de cultivo; ou redes; utilizar fios de nylon, elementos
Pragas e doenças pontiagudos ou visgo de repelência para
e) manter os tanques de armazena-
Nas áreas de cultivo, embalagem e ar- evitar acesso; instalar portas e portões tipo
mento de água em bom estado de
mazenamento, as pragas mais comuns são: vai-e-vem e telas nas janelas.
conservação e limpeza.
formigas, baratas, moscas, roedores e aves Para pragas de grãos armazenados,
A água residuária do café contém MO e
em geral. Os insetos e roedores são muito recomenda-se instalar um sistema de ae-
matéria inorgânica, que podem ser aprovei-
frequentes nos locais de manipulação de ração ou exaustão. Para roedores, utilizar
tadas na fertirrigação de lavouras de café,
alimentos. Os roedores, além de causa- capas metálicas nas alvenarias e portas;
alface, aveia, feijão e milho, aumentando
rem grandes perdas dos produtos frescos, cones ou discos metálicos em cordas, dutos
a fertilidade dos solos e suprindo parte da e pilastras ou postes; telas removíveis em
demanda de nutrientes pelas plantas. A podem ainda contaminar os produtos com
parasitas que, em consequência, provocam aberturas de aeração ou exaustão; paredes
dose de água residuária a ser aplicada não lisas; reforçar ralos e telhados; eliminar
pode ser pré-definida, considerando que doenças ao homem. As fezes e urinas dos
roedores podem disseminar patógenos as rotas em entradas de condutores de ele-
os teores de nutrientes nela contidos são tricidade ou vãos de adutores de qualquer
microbianos, fontes potenciais de conta-
muito variáveis e podem queimar as plan- natureza; manter ralos e tampas firme-
minação dos produtos frescos.
tas. Portanto, sugere-se a análise química mente encaixados (sem aberturas maiores
Os procedimentos de BPA recomen-
da água residuária para recomendação do que 5 cm); não permitir objetos e árvores
dam que animais e pragas sejam mantidos
volume a ser aplicado por área em função encostados em muros ou paredes.
sob controle durante a produção agrícola,
do conteúdo de nutrientes, bem como o
armazenamento e embalagem, e que o
monitoramento do acúmulo desses elemen- Insumos utilizados na
controle seja realizado com procedimen- produção
tos no solo e nas plantas. Cuidado especial
tos benéficos aos produtos e ao homem.
deve ser tomado, quando a água de irriga-
Visando o controle de pragas e de doen-
ção é aspergida diretamente sobre as partes Sementes
ças no campo, além do uso de sementes
comestíveis dos vegetais, principalmente
certificadas e da opção por variedades Sementes ou outros tipos de material
de hortaliças folhosas, ou se a irrigação é
resistentes, devem-se seguir os requisitos propagativo podem constituir fonte de
feita próxima à colheita. Quanto maior o
essenciais para uma boa produção, como contaminação da área de produção com
tempo entre a última irrigação e a colheita,
adubação correta, espaçamento adequado doenças e pragas, que exigirão a aplicação
menor é a probabilidade de os patógenos de agrotóxicos, aumentando a possibili-
entre plantas etc.
disseminados pela água sobreviverem e
Num programa eficiente de controle, dade de contaminação dos alimentos com
contaminarem os consumidores.
é importante identificar e quantificar as esses produtos. Portanto, devem-se utilizar
pragas e doenças e utilizar medidas cor- no plantio sementes e mudas certificadas,
Animais de trabalho e
retivas e preventivas. Existem algumas preferencialmente de variedades com
de criação
recomendações para medidas de restrição tolerância e/ou resistência às principais
A presença de animais domésticos e e acesso de pragas nos locais de manipu- pragas e doenças.
silvestres em áreas de cultivo constitui lação dos alimentos. Para barata-de-esgoto
fonte de contaminação, pois aves, pássaros, Fertilizantes orgânicos e
(Periplaneta americana), utilizar telas nos
répteis e outros podem carrear microganis- inorgânicos
ralos dos pisos; tela metálica nos ralos
mos para as plantas, o que compromete a de pias e tanques; telas nas janelas; rodo Os fertilizantes orgânicos podem ser
qualidade dos produtos agrícolas. Além de borracha na parte inferior de portas. produzidos a partir de esterco animal,
disso, os excrementos de animais podem Para baratinha-alemã (Blatta germanica), restos de vegetais provenientes da colhei-
difundir bactérias patogênicas como manter os alimentos guardados em reci- ta, por outros restos orgânicos e despejos
Salmonella, Staphylococcus e Streptococcus. pientes hermeticamente fechados; eliminar humanos. Alguns riscos são associados
Os pássaros selvagens, répteis e anfíbios armazenamento em caixas de papelão; ao esterco animal, quando usado como
são fontes potenciais de Salmonella. eliminar frestas e aberturas no ambiente fertilizante sem tratamento prévio, pelo
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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 87

fato de poder veicular microrganismos pa- agrotóxicos em suas embalagens originais, contribui para o uso de produtos não regis-
togênicos como Salmonella, Enterococcus, rotuladas e com instruções de aplicação; trados. A viabilização e a normatização do
estirpes patogênicas de Escherichia coli usar equipamento de proteção individual registro de agrotóxicos para esse grupo de
etc. Portanto, é recomendada a compos- (EPI) e possuir treinamento para aplicação hortaliças são fatores imprescindíveis para
tagem e, se necessário, esse tratamento dos produtos. O preparo e a aplicação de a produção segura desses alimentos, o que
pode ser complementado com tratamento agrotóxicos devem ser feitos distante de beneficiará os agricultores, as agroindús-
de pasteurização, secagem ao calor, di- cursos d´água. trias e os consumidores.
gestão anaeróbica ou estabilização com Os agrotóxicos devem ser armazenados
substâncias alcalinas. Como boas práticas em local adequado e arejado, fora do alcan- Saúde e higiene dos
de tratamento do esterco, recomenda-se: trabalhadores e instalações
ce de animais domésticos e de crianças.
sanitárias
a) armazenamento em áreas afastadas As embalagens devem ser lavadas longe
das áreas de produção e com piso de de cursos d´água, sendo preconizada a A saúde e o asseio pessoal dos pro-
cimento, para que não haja contami- tríplice lavagem, de acordo com o tipo de dutores envolvidos diretamente com a
nação de águas subterrâneas; embalagem. As embalagens vazias devem produção de vegetais, principalmente de
b) as pilhas de esterco devem estar ser encaminhadas aos centros regionais de hortaliças e frutas, devem ser monitora-
sempre cobertas ou armazenadas recolhimento ou aos revendedores para o dos com frequência. Trabalhadores que
em locais cobertos. seu devido tratamento, conforme a legis- apresentam problemas gastrointestinais,
A aplicação do esterco antes do plantio lação vigente. feridas e outras doenças devem ser afas-
e/ou antes da floração e o prolongamento Uma das maiores preocupações dos tados, temporariamente, das atividades de
do tempo entre a aplicação do esterco e a consumidores de frutas e hortaliças fres- manipulação dos alimentos vegetais para
colheita são BPA que têm como objetivo cas é a contaminação com resíduos de prevenir a contaminação de alimentos.
reduzir a população de patógenos. A utili- agrotóxicos, que é um problema de saúde Cortes ou machucados superficiais devem
zação de esterco fresco não é recomendável pública, noticiado com destaque nos meios ser protegidos com ataduras à prova de
na produção de hortaliças consumidas de comunicação. Resíduos de agrotóxicos água.
cruas. têm sido constatados, com frequência, As instalações sanitárias devem estar
Os fertilizantes inorgânicos podem em alface, morango, pimentão, tomate, próximas dos campos de produção, com
representar um perigo químico para a entre outras hortaliças, em concentrações banheiros providos com fonte de água
produção de alimentos, principalmente não permitidas pela legislação vigente. A limpa, sabão, toalhas descartáveis e so-
pelo uso indiscriminado da classe dos cena do consumidor verificando o odor lução sanitizante. Devem ser projetadas
nitrogenados. Desse modo, recomenda-se do tomate no supermercado ilustra bem de forma que permitam a retirada peri-
que os fertilizantes inorgânicos só devam essa preocupação. Apesar de a aplicação ódica de dejetos sem contaminar o meio
ser aplicados quando a análise do solo de dosagens excessivas ser considerada a ambiente; possibilitem a higiene pessoal
indicar a necessidade de adubação. Além principal causa da detecção de resíduos de dos trabalhadores e sejam mantidas em
disso, deve ser assegurado, por meio de agrotóxicos nos alimentos, a utilização de boas condições de funcionamento e lim-
análises, que esses fertilizantes não estejam produtos não registrados no MAPA para a peza. Os trabalhadores que manipulam
contaminados por metais pesados. cultura é o principal problema, de acordo hortaliças frescas e frutas devem lavar as
com o Sistema de Informação de Resíduos mãos periodicamente, cortar as unhas, os
Agrotóxicos de Agrotóxicos em Horticultura (Sirah). cabelos e não usar barba. A lavagem das
Os produtores de vegetais só devem Nos diferentes segmentos da cadeia mãos é uma das medidas básicas e deve
utilizar agrotóxicos registrados pelo produtiva de hortaliças, há grande preo- ser realizada antes de iniciar o trabalho,
Ministério da Agricultura, Pecuária e cupação com o número reduzido ou com sempre após ir ao banheiro, tossir, fumar
Abastecimento (MAPA), observando-se a inexistência de agrotóxicos registrados ou comer, depois do descanso, de mexer
as dosagens recomendadas e os períodos para as minor crops, oficialmente designa- no solo, de manipular equipamentos su-
de carência. O produtor deve conhecer o das de culturas com suporte fitossanitário jos, materiais descartáveis, fertilizantes,
histórico da aplicação de agrotóxicos na insuficiente, a exemplo da cultura da pi- agrotóxicos, produtos químicos e material
área e, para isso, deve realizar o registro menta Capsicum (malagueta e as demais de limpeza.
constante dos produtos utilizados; prevenir do gênero). Os fabricantes de agrotóxicos Os trabalhadores rurais devem adotar
a contaminação dos mananciais e do solos alegam que o registro de produtos para medidas de segurança para manipulação
adjacentes à área de produção; regular os essas culturas junto aos órgãos governa- de agrotóxicos no controle de pragas e
bicos dos aplicadores e, após a aplicação, mentais é um processo caro e sem garantia doenças. Devem observar sinais de riscos
lavá-los para eliminar resíduos; manter os de retorno dos investimentos, situação que de intoxicações. No campo, os trabalha-
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dores devem ter conhecimento dos riscos das de forma que minimizem a ocorrência ência dos procedimentos de higienização,
dos produtos usados, de como usar os de danos mecânicos e evitem o acesso devem-se empregar produtos com registro
equipamentos para evitar derramamento de animais. Vegetais impróprios ao con- na Agência Nacional de Vigilância Sani-
e exposições prejudiciais, não transportar sumo humano, principalmente hortaliças tária (Anvisa), seguindo rigorosamente as
alimentos, comer, fumar ou beber. Devem e frutas, devem ser retirados antes do instruções do fabricante quanto à concen-
usar os EPIs, o que reduz ou elimina a transporte para a casa de embalagem. A tração, temperatura e tempo de contato,
possibilidade de riscos de intoxicações por higiene e o controle da temperatura em além da ação mecânica representada por
contato direto com os produtos químicos. locais de armazenagem são fatores críticos escovação ou circulação.
para minimizar a contaminação e manter As normas aplicáveis ao ambiente de
Equipamentos associados a segurança e a qualidade dos produtos manuseio das frutas e hortaliças após a
com o cultivo e a colheita agrícolas. As caixas de produtos devem colheita incluem: bloqueio do acesso de
Todas as sujidades aderidas ao produto ser colocadas sobre paletes para evitar o animais domésticos e outras pragas, afasta-
após a colheita devem ser removidas. Os contato direto com o piso. Para que haja mento adequado de áreas de armazenamen-
equipamentos e contentores utilizados nas uma ventilação adequada e facilidade de to de esterco e de outros resíduos tóxicos.
etapas da cadeia produtiva de hortaliças e limpeza e inspeção para a verificação de O local de recepção das hortaliças deve ser
frutas, principalmente, devem ser limpos e roedores e insetos, entre os paletes e as isolado da área de tratamento pós-colheita
sanitizados, empregando-se procedimentos paredes deve haver uma distância mínima e embalagem, de forma que impeça a
corretos, e devem apresentar bom estado de 20 cm e, entre os paletes e o piso, 10 cm. circulação de pessoas e de materiais entre
de conservação. Os produtos colhidos de- Para armazenagem de hortaliças frescas, essas áreas e consequentes contaminações
vem ser protegidos de danos mecânicos, deve haver um preciso controle de regis- cruzadas. As áreas adjacentes à casa de
e, principalmente, para hortaliças e frutas, tro de temperatura e de umidade, a fim de embalagem devem ser mantidas em boas
o seu acondicionamento em caixas não retardar o crescimento microbiano. Pare- condições de limpeza e conservação. O
deve exceder a capacidade permitida. Os des, pisos e tetos devem ser sistemática e piso da casa de embalagem deve ser lavado
contentores para lixo, subprodutos, partes periodicamente limpos com o objetivo de após cada jornada de trabalho. O material
não-comestíveis ou substâncias perigosas evitar o acúmulo de sujeira. de embalagem deve ser armazenado em
devem ser identificados. local limpo, seco e arejado, sem contato
Limpeza, sanitização e direto com o piso.
MANUSEIO PÓS-COLHEITA tratamento pós-colheita
Na etapa de embalagem, deve-se pre-
O bom estado de conservação dos venir a contaminação da água usada nos
Prevenção de contaminação equipamentos é um fator a ser conside- tratamentos pós-colheita. Para a lavagem
cruzada e enxague, deve-se usar água com con-
rado para a eficiência dos procedimentos
Durante a produção, colheita e proce- de limpeza e sanitização. A limpeza e a centração de cloro entre 150 e 500 mg/L,
dimento pós-colheita, deve ser evitada a sanitização eficientes dos equipamentos e com pH entre 6,0 e 7,0. A temperatura da
ocorrência de contaminação cruzada, ou das instalações de manuseio, seleção, clas- água do tanque deve ser mantida entre 4 e
seja, contaminação decorrente do contato sificação e embalagem de produtos vege- 5 ºC. O resfriamento rápido dos produtos
de um produto sadio com uma superfície, tais, principalmente de frutas e hortaliças, que possuem alta atividade metabólica
utensílio ou produtos contaminados. Para são pré-requisitos para a sua qualidade e após a colheita, como pimenta, brócolis,
a sua prevenção, é necessário não expor devem ser realizadas imediatamente antes couve-flor, milho verde e tomate, permite
os contentores ao contato com solo, fezes do contato com esses produtos. prolongar a vida de prateleira, inibir o cres-
de animais, esterco ou outros tipos de A etapa de limpeza é realizada com cimento de microrganismos patogênicos
sujidades na área de produção, separar os água e detergentes e tem como objetivo e reduzir a perda de água. Em média, a
vegetais deteriorados, impróprios para o remover sujidades e parte considerável cada 10 ºC de aumento de temperatura de
consumo humano, e não transportar agro- dos microrganismos, enquanto a etapa de armazenamento de um produto, a taxa de
tóxicos, esterco, lixo e outros produtos nos sanitização é realizada após a limpeza com deterioração aumenta de duas a três vezes.
contentores dos vegetais. o objetivo de reduzir a população micro- Os principais métodos de resfriamento
biana das superfícies e dos ambientes a rápido usados comercialmente incluem ar
Transporte para a números considerados seguros. Diversos frio, ar frio forçado, hidrorresfriamento,
casa de embalagem e sanitizantes podem ser usados, incluindo resfriamento com gelo e a vácuo. Vegetais
armazenamento
produtos à base de amônia quaternária, insensíveis à injúria por frio, que é o caso
As instalações para o armazenamento de cloro, de iodo, de ácido peracético e de cenoura, repolho e alcachofra, podem
dos vegetais colhidos devem ser construí- de peróxido de hidrogênio. Para a efici- ser armazenados a temperaturas inferiores
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a 10 ºC. Aqueles sensíveis a injúrias devem e) na unidade transportadora de ve- devem ser afastados temporariamente das
ser armazenados entre 10 ºC e 13 ºC, caso getais, não deve ser permitido o atividades que exigem o contato direto com
do tomate, quiabo, melancia e pepino. transporte de animais ou substâncias os alimentos.
Outros fatores a ser controlados incluem químicas.
a umidade relativa e a atmosfera gasosa, As unidades devem ser lavadas e CONTAMINAÇÃO DURANTE A
ou seja, controle das concentrações de COMERCIALIZAÇÃO
descontaminadas, com detergentes e sani-
oxigênio, dióxido de carbono e de etileno. tizantes próprios para esse fim, seguindo Da descarga dos produtos no ponto
A higiene e o controle da temperatura procedimentos previamente descritos. de comercialização até sua utilização no
em locais de armazenamento são fatores O transporte sob as condições ideais preparo de alimentos, existem várias pos-
críticos para controlar a contaminação e de temperatura e umidade relativa (UR) sibilidades de contaminação e diminuição
manter a qualidade dos produtos vegetais. prolonga o tempo de vida de prateleira e da qualidade, citadas a seguir:
As caixas de produtos devem ser coloca- mantém as características intrínsecas de a) higiene pessoal (carregadores,
das sobre paletes para evitar seu contato qualidade física e sensorial, principalmente abastecedores de gôndolas, próprio
direto com o piso, com distância mínima de hortaliças e frutas. O monitoramento de consumidor/comprador);
de 20 cm entre os paletes e as paredes e qualquer alimento durante o transporte e
de 10 cm entre os paletes e o piso. Essa b) temperatura do ambiente no local de
distribuição requer um controle específico,
distância permite a ventilação adequada e armazenamento e nas gôndolas;
que evidencie direta ou indiretamente a
facilita a limpeza e a inspeção da presença inocuidade desse alimento. Os parâmetros c) tipo de embalagem utilizada, posi-
de roedores e insetos. Os locais de arma- monitorados contribuem para determinar os ção e tempo de exposição na gôn-
zenamento dos produtos vegetais devem dola;
riscos de crescimento de microrganismos
ter um rigoroso controle de registro de em uma determinada faixa, por exemplo, d) cuidado no transporte de produto do
temperatura e de umidade, a fim de evitar o crescimento de fungos em ambientes ponto de venda ao ponto de consu-
ou retardar o crescimento microbiano. Pa- com atividade de água entre 0,75 e 1,00; mo.
redes, pisos e tetos devem ser higienizados multiplicação bacteriana entre 5 oC a 60 oC;
periodicamente. sobrevivência de Clostridium botulinum em RASTREABILIDADE
pH superior a 4,5; germinação de esporos A documentação confere credibilidade
TRANSPORTE termófilos entre 40 oC e 50 oC. ao produtor e facilita a condução de um
A limpeza e desinfecção das unidades No Brasil, um aspecto importante a ser programa de segurança alimentar. Portanto,
transportadoras são procedimentos que considerado no transporte de alimentos é o os produtores devem manter anotações
devem ser realizados com análise de espe- roubo de carga de produtos alimentícios. A atualizadas sobre as práticas de produção,
cialista no assunto. A unidade transporta- segurança do consumidor final é colocada colheita e distribuição de seus produtos.
dora, principalmente de hortaliças e frutas em risco, uma vez que não se tem conhe- Esses dados devem ser mantidos por perí-
frescas deve ser higienizada após cada cimento se a manipulação da carga foi odos superiores ao da comercialização ou
transporte de carga de produtos alimen- adequada. Os manipuladores envolvidos da vida de prateleira de seus produtos. Os
tícios, obedecendo os seguintes critérios: no carregamento e descarregamento de principais pontos a ser anotados incluem
alimentos, durante as etapas de transporte o local de produção, área de plantio, épo-
a) as sujidades visíveis e outras par-
e redistribuição, devem ser treinados com ca de plantio, informações referentes aos
tículas de alimentos devem ser
relação a BPF. O simples procedimento insumos usados, como os adubos mineral
removidas;
de lavagem das mãos deve ser praticado ou orgânico, agrotóxicos aplicados e in-
b) as unidades de transporte não devem
por todos que entram em contato com a formações sobre doses, nível de toxidez
conter resíduos de água acumula-
carga transportada. A prevenção da con- e número de aplicações, tipo de irrigação
dos;
taminação cruzada na cadeia produtiva e informações sobre a qualidade da água,
c) as câmaras de transporte devem é responsabilidade dos manipuladores. controle de pragas e data da colheita.
possibilitar o fechamento com lacre Aqueles portadores de doenças infecciosas No caso de o próprio produtor realizar
do acesso à carga, para prevenir podem aumentar o risco de ocorrência de a embalagem de seus produtos, todas
contaminação ambiental; contaminação cruzada. Patógenos como as informações referentes às práticas de
d) o sistema de refrigeração deve Salmonella e algumas espécies de Shigella manuseio pós-colheita também devem ser
ser mantido em bom estado de (vírus da hepatite A) são altamente infec- anotadas. Os lotes devem ser identificados,
conservação com dispositivo para ciosos em doses baixas. Portanto, manipu- preferencialmente com códigos de barra. A
monitoramento da temperatura; ladores com quadro de doenças infecciosas sistematização dessas informações permite
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que o produtor vislumbre a possibilidade fetantes à base de cloro, compostos de operações de corte, lavagem e embalagem
de adoção de sistemas de controle preven- amônia quaternária, ácidos orgânicos, são feitas manualmente, o que aumenta
tivo da qualidade, a exemplo do sistema como ácido cítrico e ácido láctico, entre o risco de contaminações dos produtos.
de APPCC e do sistema de Produção outros. O cloro, em suas várias formas, O manuseio excessivo, acompanhado
Integrada de Hortaliças. Essas práticas especialmente na de sais de hipoclorito, é das condições de aeração, de embala-
possibilitam a abertura de mercados para um dos sanitizantes empregados com mais gem e de armazenamento possibilitam a
as frutas e hortaliças brasileiras. A adoção sucesso nas indústrias de alimentos. multiplicação microbiana. Por isso, são
das práticas de rastreabilidade tem impac- necessários cuidados nos procedimentos
to positivo sobre o cliente, por indicar a HORTALIÇAS MINIMAMENTE de limpeza e de sanitização do ambiente,
preocupação da empresa com o bem-estar PROCESSADAS equipamentos e utensílios que entram em
do consumidor. No mercado de produtos hortícolas contato com os alimentos, desde a colheita
frescos (in natura), o segmento que mais até o processamento e consumo. Entre
HORTALIÇAS E FORMAS cresce é o produto lavado, descascado, os organismos patogênicos em produtos
DE CONSUMO minimamente processados, destacam-se
cortado ou fatiado, embalado cru e arma-
À semelhança de outros vegetais, a zenado sob refrigeração, conhecido como Escheria coli 0157-H7, Salmonella sp.,
falta ou deficiência de higienização, em minimamente processado. Esse processo Yersinia enterocolítica, Staphylococus
quaisquer das etapas da cadeia produtiva tem como objetivo fornecer um produto aureus, Bacillus cereus.
das hortaliças, pode levar à ocorrência de com características semelhantes às do
doenças de origem alimentar, principal- produto fresco, sem perder suas qualida- HORTALIÇAS PROCESSADAS
mente em crianças, idosos e pessoas com des nutricionais e com vida de prateleira As hortaliças na sua forma in natura
sistema imunológico comprometido em suficiente para sua distribuição até o con- são perecíveis e, de modo geral, têm vida
função de uso de medicamentos. sumo, por meio da utilização de apenas de prateleira muito curta. As principais
As saladas com hortaliças cruas po- processamentos brandos para assegurar causas de deterioração das hortaliças são
dem conter contaminações de natureza sua qualidade. O processamento mínimo reações de origem microbiana, química e/
biológica, incluindo bactérias patogênicas de alimentos tem como vantagens agregar ou enzimática.
como Salmonella e bactérias do grupo dos valor ao produto, eliminar intermediários, As hortaliças podem ser processadas,
coliformes, consideradas indicadoras das obter preços constantes ao longo do ano mais comumente, na forma de conservas
condições de higiene durante o cultivo, sem depender de cotações sazonais, dar boa e de molhos (forma mais comum de con-
processamento, embalagem e transporte apresentação ao produto, reduzir espaço sumo de pimenta Capsicum). Conserva é
das hortaliças. A presença de coliformes de armazenamento, melhorar a higiene, o produto preparado com as partes comes-
de origem fecal em alface tem sido inten- diminuir o desperdício e economizar água tíveis das hortaliças, como definido nos
samente relatada, o que demonstra a falta e tempo. Para o consumidor, os vegetais padrões de identidade e qualidade esta-
de cuidados higiênicos na cadeia produtiva. minimamente processados apresentam-se belecidos pela Anvisa. Pode ser envasada
Contaminações em couve minimamente vantajosos por ser usados sem lavagem crua, reidratada ou pré-cozida, imersa ou
processada por bactérias do grupo colifor- ou qualquer método de cocção posterior, não em líquido de cobertura apropriado,
mes podem atingir valor quatro vezes supe- agregando, dessa forma, conveniência, submetida a processamento tecnológico
rior à concentração máxima permitida pela praticidade e comodidade para quem busca adequado antes ou depois de fechada her-
Anvisa. Tomate, morango e pimentão são uma alimentação natural. meticamente nos recipientes utilizados, a
as hortaliças mais incriminadas em surtos Tradicionalmente, os produtos frescos fim de evitar sua alteração.
de toxinfecção alimentar no mundo, em ge- não eram alvo de muita preocupação por Molho artesanal de pimentas é feito
ral associadas a patógenos de significância parte de órgãos regulamentadores, pois com pimentas picantes, vinagre (ácido
em saúde pública como Escherichia coli, eram considerados seguros, já que eram acético), sal e água, podendo ser acres-
Salmonella sp., Listeria monocytogenes, lavados e rapidamente consumidos no centado açúcar, alho e especiarias. Esses
Shigella sp., agentes causadores da hepatite próprio local de preparo. Atualmente, com ingredientes são batidos no liquidificador
A e parasitas. a tendência do consumo das hortaliças ou processador e depois passam por uma
A lavagem das hortaliças com água minimamente processadas, a preocupação etapa de refogamento. Em geral, o ácido
de boa qualidade é prática obrigatória e a com riscos de natureza microbiológica é acético (vinagre) e o sal, além do pro-
adição de agentes desinfetantes aumenta acentuada, pois esses alimentos são exce- cessamento térmico (cozimento), já são
a eficácia da lavagem. Entre as soluções lentes meios de crescimento para micror- suficientes para a conservação do produto.
antimicrobianas estão as soluções desin- ganismos deteriorantes e patogênicos. As O ácido acético, além de diminuir o pH do
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produto, permite a obtenção de um molho alcançada. A inativação dos esporos de resulta do cozimento da polpa da
mais viscoso, quando feito apenas à base de bactérias apenas é alcançada com emprego fruta com açúcar até alcançar uma
pimenta e sal. Nas conservas mais comuns de temperaturas superiores a 100 oC, em consistência tal, que, ao esfriar, se
de pimenta, usa-se solução de ácido acético autoclave. Entretanto, há determinados gelatinize até o ponto de corte;
(vinagre) e sal, mas podem ser utilizado alimentos, de baixa acidez, que não podem c) polpada: é um doce em massa,
álcool de cereal e cachaça. ser esterilizados a temperaturas acima de cremoso, comumente denominado
No preparo caseiro das conservas, um 100 oC, sem apresentarem alterações que os doce de colher;
perigo em potencial é a contaminação do tornem impróprios para comercialização.
d) compota: é um produto obtido de
produto com o microrganismo causador Incluídos nessa categoria estão a alcacho-
frutas inteiras ou em pedaços, co-
do botulismo, que é uma grave doença fra, a couve-de-bruxelas, a cebola, o chu-
zidas em xarope de água e açúcar,
neurológica, causada pela ingestão de uma chu, o milho, o palmito e a pimenta. Dessa
envasadas em vidros e depois sub-
neurotoxina produzida por Clostridium forma, esses produtos são acidificados a
metidas a tratamento térmico;
botulinum, encontrado no solo. A toxina pH 4,5 ou inferior, por adição de ácido
produzida é um dos venenos biológicos apropriado e, assim, podem ser submetidos e) geleia de fruta: é o produto obtido
mais potentes até então conhecidos. Atua a um tratamento térmico menos severo. pela cocção de frutas inteiras ou em
em, aproximadamente, 12 a 24 h, com O processamento de alimentos de baixa pedaços, polpa ou suco de frutas
alterações no sistema nervoso; a morte acidez é uma atividade que envolve maior com açúcar e água e concentrado até
pode ocorrer em três a seis dias, caso não risco de contaminações, considerando a obter uma consistência gelatinosa. A
sejam tomados procedimentos médicos possibilidade do desenvolvimento dos combinação adequada entre a pecti-
apropriados. Por isso, o controle de lim- esporos de Clostridium botulinum. Por na e o ácido das frutas e o açúcar a
peza de utensílios que venham do campo exemplo, a pimenta possui pH próximo ser acrescentado define a qualidade
sujos de terra para a área de recepção deve de 6,0, situando-se, portanto, na categoria da geleia;
ser rigoroso. Também deve-se evitar que de alimentos de baixa acidez. Em geral, o f) licor: é uma bebida alcoólica que se
trabalhadores de campo entrem nas salas de tratamento térmico indicado para alimentos caracteriza pela elevada proporção
recepção e manipulação com roupas sujas de baixa acidez é a esterilização, em tem- de açúcar misturado com álcool e
de terra. Os alimentos mais suscetíveis à peratura a 100 oC. No caso específico da com alguns princípios aromáticos,
contaminação com Clostridium botulinum pimenta, esse tipo de tratamento provoca extraídos de frutas, principalmente.
são conservas vegetais, como picles e ali- alterações indesejáveis. Assim, a conserva- Por não conterem aditivos químicos, os
mentos fermentados como legumes e hor- ção apropriada desse produto é realizada doces artesanais exigem cuidados redobra-
taliças enlatadas. Essa bactéria pode resistir a partir de sua acidificação seguida de dos na sua fabricação, para evitar contami-
à fervura, ao cozimento no fogo e a vapor, tratamento térmico brando. nações nocivas à saúde dos consumidores
por até 5 horas e crescer em alimentos en- e assegurar maior vida de prateleira dos
vasados com privação de ar, a exemplo dos PROCESSAMENTO DE FRUTAS produtos. Desse modo, os procedimentos
alimentos enlatados, conservas caseiras de BPF devem ser seguidos.
A fabricação de produtos artesanais
feitas de forma inadequada; alimentos de
de frutas constitui uma forma de apro-
baixa acidez e alto teor proteico.
veitamento da matéria-prima existente na CAFÉ TORRADO
Um dos parâmetros mais importantes
propriedade, principalmente frutas regio- PARA CAFETERIA OU
no estabelecimento da vida de prateleira
nais, com agregação de valor à produção e CONSUMO DOMÉSTICO
de um alimento é a temperatura, fator im-
aumento da renda da família. Além disso,
portante tanto na etapa de processamento Os grãos devem ser obtidos segundo
outros benefícios são obtidos como a re-
como na estocagem do produto. A maioria os procedimentos de BPA para os vegetais
dução de perdas e possibilidade de atender
dos processos de preparação e conservação processados, embalados, armazenados,
a mercados mais distantes. As formas de
de alimentos conta com a aplicação ou a transportados e conservados em condições
processamento de frutas são:
remoção do calor. A aplicação de calor é que não produzam, desenvolvam e/ou
importante para a inativação de patógenos a) curtimento: tem a finalidade de agreguem substâncias físicas, químicas ou
e microrganismos deteriorantes, para a remover o amargor proveniente da biológicas, que coloquem em risco a saúde
desnaturação de enzimas e para o amole- matéria-prima. É utilizado em frutas do consumidor.
cimento de tecidos. cítricas e figo, entre outras; Dentre as ameaças à qualidade dos
Alimentos com pH acima de 4,5 ne- b) doce em barra: também denominado cafés torrados e moídos estão as micoto-
cessitam de tratamento térmico severo doce em massa, doce em pasta ou xinas, em especial, a ocratoxina A (OTA),
para que a esterilização comercial seja doce de corte, é um produto que produzida por fungos filamentosos dos
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gêneros Aspergillus e Penicillium, as devem estar isentos de gastroenterites preservação da saúde dos consumidores
quais, frequentemente, contaminam grãos agudas ou crônicas (diarreia ou disente- e produtores de hortaliças-folhosas, à
e cereais. Em café cru e solúvel, foram ria), sintomas de infecções pulmonares medida que possam ser implantadas nas
constatadas concentrações superiores a ou faringites; devem estar devidamente outras unidades estaduais.
10 mg/kg dessa micotoxina, o que não foi barbeados, com cabelos presos/cobertos,
constatado no café torrado. unhas limpas, aparadas e sem esmalte ou REFERÊNCIAS
Mesmo que o grão de café chegue às base. Os uniformes e calçados devem estar ABNT. NBR ISO 22000: Sistemas de gestão
indústrias livre da ocratoxina, pode ocorrer limpos e em bom estado de conservação. da segurança de alimentos – requisitos para
a recontaminação microbiana após a torre- Os funcionários das áreas de manipulação qualquer organização da cadeia produtiva
fação, em decorrência da não adoção dos devem estar isentos de adornos (pulseiras, de alimentos. Rio de Janeiro, 2005.
procedimentos de BPF. anéis, cordões, brincos, alianças, relógios, ANVISA. Resolução RDC no 12, de 2 de
Até o ano 2000, a Portaria no 451/97 etc.) e não utilizar perfumes, sabonetes janeiro de 2001. Aprova o Regulamento
(BRASIL, 1997c), estabelecia um limite perfumados, laquê ou outros produtos que Técnico sobre padrões microbiológicos de
máximo para fungos filamentosos e leve- tenham odor; não tossir ou espirrar sobre alimentos. Diário Oficial [da] República
duras no café torrado de 5 x 103 UFC6 por Federativa do Brasil, Brasília, 10 jan. 2001.
os alimentos, equipamentos e instalações;
Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/
grama do produto, mas, a partir de 2001, não levar a mão à boca, nariz, orelhas e e-legis/>. Acesso em: 20 nov. 2009.
essa Portaria foi revogada pela Resolu- não cuspir no ambiente de trabalho. Os
ção RDC no 12, de 2 de janeiro de 2001 BRASIL. Ministério da Agricultura e Abas-
funcionários devem lavar e higienizar os
tecimento. Portaria no 368, de 4 de setembro
(ANVISA, 2001). Essa nova resolução antebraços e as mãos antes de entrarem na de 1997. Aprova o Regulamento Técnico so-
estabeleceu padrões apenas para coli- área de manipulação de alimentos/ bebidas; bre as condições Higiênico-Sanitárias e de
formes a 45 oC/g no café torrado, tendo não se alimentar, mascar chicletes, palitos, Boas Práticas de Fabricação para Estabeleci-
como objetivo compatibilizar a legislação balas, etc., na área de manipulação de ali- mentos Elaboradores/Industrializadores de
nacional com os regulamentos em relação mentos/bebidas; devem retirar o avental Alimentos. Diário Oficial [da] República
aos critérios e padrões microbiológicos para utilizar o sanitário. Federativa do Brasil, Brasília, 8 set. 1997a.
adotados para alimentos no âmbito do Mer- Seção 1, p. 19697.
cosul. Portanto, essa resolução eliminou CONSIDERAÇÕES FINAIS _______. Ministério da Saúde. Portaria
o limite anteriormente estabelecido para no 326, de 30 de julho de 1997. Aprova o
fungos filamentosos e leveduras nesse pro- A obtenção de alimentos de origem Regulamento Técnico: sobre “Condições
duto, o que gerou preocupação dentre os vegetal de alto padrão de qualidade e a Higiênico-Sanitárias e de Boas Práticas de
microbiologistas, por permitir negligência prevenção das doenças causadas pela Fabricação para Estabelecimentos Produ-

por parte das empresas processadoras em ingestão de alimentos de origem vegetal tores/Industrializadores de Alimentos”.
contaminados depende da adoção das BPA Diário Oficial [da] República Federativa
função da falta de cobrança de uma análise
do Brasil, Poder Executivo, Brasília, 1 ago.
ou controle pela Anvisa, podendo represen- e BPF, pré-requisitos para a implementa-
1997b. Disponível em: <http://anvisa.gov.
tar um retrocesso na busca e manutenção ção do sistema de garantia de qualidade
br/e-legis>. Acesso em: 20 nov. 2009.
da qualidade do café brasileiro. e APPCC, o que auxilia a inserção dos
_______. Portaria no 451, de 19 de setembro
Na cafeteria, também é imprescindí- agricultores familiares em mercados mais
de 1997. Aprova o Regulamento Técnico
vel seguir os procedimentos de BPF. O exigentes e, consequentemente, a susten-
Princípios Gerais para o Estabelecimen-
café moído, remanescente no moinho do tabilidade do setor. to de Critérios e Padrões Microbiológicos
dia anterior, deve ser eliminado; deve-se Trabalhos de pesquisas e análises para Alimentos e seus Anexos I, II E III.
realizar a limpeza diária do conjunto do laboratoriais realizadas no Laboratório Diário Oficial [da] República Federativa
moinho e do conjunto da máquina; reali- Central de Saúde Pública do Distrito Fe- do Brasil, Poder Executivo, Brasília, 22
zar manutenção da pressão, temperatura e deral (LACEN-DF), órgão da Secretaria set. 1997c. Disponível em: <http://www.
de Estado de Saúde do Distrito Federal e anvisa.gov.br/e-legis>. Acesso em: 20 nov.
limpeza das peneiras. Os funcionários que
2009.
mantêm contato com os produtos devem participante da Rede Nacional de Labo-
apresentar rigorosa higiene pessoal e fazer ratórios Públicos de Saúde, organizados
exames médicos exigidos pela lei nacional; pela Coordenação Geral dos Laborató- BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
os que preparam café não devem apresentar rios (CGLAB), fornecem orientações ANVISA. Resolução RDC no 259, de 20 de
feridas, lesões ou cortes nas mãos e braços; relevantes e de interesse público para a setembro de 2002. Aprova o Regulamen-

6
Unidade formadora de colônia.

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to Técnico sobre rotulagem de alimentos procedimentos e responsabilidades relati- PINTO, C.L. de O. et al. Análise de condições
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SCHMIDT, C.A.P. et al. �����������������
Avaliação da qua-
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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 95

Importância do plano de negócio para a


agricultura familiar
Fabrício Molica de Mendonça 1
Izabel Cristina dos Santos 2

Resumo - O plano de negócio representa uma oportunidade para que o agricultor


familiar analise todas as facetas do seu negócio. A estrutura desse plano é composta
do resumo executivo, missão do negócio, descrição do empreendimento, comerciali-
zação, plano de marketing e plano financeiro. Envolve todas as variáveis que podem
representar os desafios e as oportunidades de sucesso do negócio, tais como: mercado;
produtos/serviços; fontes de captação de recursos; formas de aplicação de recursos;
receitas; custos variáveis e fixos. A interação dessas variáveis resulta no fluxo de caixa
relevante, em que são registradas todas as entradas e saídas. A aplicação de métodos
determinísticos mostra a viabilidade do negócio. O plano é considerado, ao mesmo
tempo, instrumento de planejamento do futuro, instrumento de controle e de captação
de recursos no mercado.

Palavras-chave: Administração. Plano operacional. Plano financeiro. Propriedade rural.

INTRODUÇÃO manejo sustentável da biodiversida- gerência sobre a forma de produção.


de e de produção de biomassa. Nesse contexto, o plano de negócio
Os dados estatísticos mostram que
Porém, o pouco poder de barganha assume importância significativa na agri-
85,5% dos estabelecimentos rurais, no Bra-
da agricultura familiar diante dos outros cultura familiar, como instrumento de
sil, são propriedades de agricultura familiar.
modelos de agricultura, a precariedade da planejamento e controle, pois:
Estas ocupam 30,5% da área agricultável e
infraestrutura de produção e comerciali- a) responde as questões fundamentais
são responsáveis por 37,9% do valor bruto
da produção (VPB) da agropecuária nacio- zação e a falta de financiamento adequado de qualquer negócio que são: o quê,
têm levado à saída de agricultores para a quando, como, para quem e onde
nal (CENSO AGROPECUÁRIO, 2006).
cidade e à permanência dos remanescentes produzir;
O caráter multifuncional dessa agricultura
em situação de pobreza (SOARES, 2001). b) capta a diversidade de produção rea-
traz diversas vantagens ao País, uma vez
O fortalecimento dessa agricultura, portan- lizada na propriedade, que incluem o
que vai além de sua função de segurança
to, precisa ser considerado como estratégia cultivo de vários vegetais e a criação
alimentar, ou seja, é provedora de alimen-
de desenvolvimento local e regional do de animais;
tos, com as seguintes funções:
País, o que pode ser conseguido por meio c) permite o desenvolvimento de
a) econômica, que proporciona aumen- de variáveis que envolvam maior poder planos por cultura específica e por
to do VPB; de barganha com fornecedores e distri- propriedade, abordando as diversas
b) social, por meio do aumento do buidores; maior cooperação com outros culturas e suas interações na pro-
emprego e distribuição de renda; produtores para auferir redução de custos priedade;
c) ambiental, em que a diversidade de e melhoria na qualidade do produto diante d) analisa a cultura e/ou a propriedade
produção leva à adoção de práticas da concorrência; maior poder de convenci- em seus aspectos mercadológico,
de conservação de solos e águas, de mento em agências financiadoras, e melhor financeiro e operacional;

1
Adm. Empresas, Dr. Engenharia Produção, Prof. Adj. UFSJ - Dep to Ciências Administrativas e Contábeis, CEP 36301-160 São João del-Rei-
MG. Correio eletrônico: fabriciomolica@yahoo.com.br
2
Enga Agra, D.Sc. Pesq. U.R. EPAMIG SM-FERN, CEP 36301-360 São João del-Rei-MG. Correio eletrônico: icsantos@epamig.br

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e) serve como instrumento de ava- d) aquisição de novas máquinas e equi- clientes, fornecedores e concorrentes.
liação de desempenho do negócio, pamentos, adequados para o plantio Por exemplo, se a opção do negócio for
possibilitando ajustes e correções direto na palha; pelo plantio do feijão no período da seca
necessárias. e) descarte de resíduos da produção, (plantio em fevereiro e março e colheita
Como a prática do plano de negócio como no caso da suinocultura, em maio e junho), o plano fornecerá rapi-
tem sido pouco difundida na agricultura visando adequação à legislação damente informações, tais como:
familiar, este artigo tem por finalidade ambiental; a) se o mercado for a Zona da Mata
mostrar a importância do plano de negócio f) situação atual de um negócio, para mineira, o potencial maior de venda
como instrumento de planejamento capaz estabelecer controle ou desenvolver é de feijão-vermelho, enquanto que
de auxiliar o produtor familiar no gerencia- estratégias de mudança de rumo, na divisa com o estado do Rio de
mento do dia-a-dia do seu negócio, contri- como o produtor de rãs, que deseja Janeiro é de feijão-preto;
buindo para o aumento do lucro, da riqueza desenvolver estratégias mercado- b) o período de seca reduz a suscetibi-
e da sustentação de sua propriedade. lógicas para aumentar vendas e lidade de doenças como ferrugem,
solidificar uma marca no mercado. mancha-angular, mosaico-comum,
PLANO DE NEGÓCIO DENTRO crestamento-bacteriano e mofo-
DA PEQUENA PROPRIEDADE Por se tratar de uma ferramenta de
planejamento que envolve pessoas, concor- branco, por isso, a previsão de
RURAL
rência e mercado em constante mutação, gastos com defensivos agrícolas é
O plano de negócio é um instrumento o plano de negócio deve ser atualizado menor, com exceção do mosaico-
básico de planejamento operacional que sempre que necessário, ou seja, mudanças dourado;
subsidia o processo da tomada de decisão, no ambiente econômico, tecnológico ou c) o período de seca é mais propício ao
relacionado com a implantação de um
interno à empresa devem estar refletidas ataque de pragas, devendo o plantio
empreendimento, a avaliação do desem- ser conjugado com milho para mini-
no plano (ROSA, 2009).
penho e a correção de rumo e ajuste nos mizar possíveis perdas;
Por meio dessa ferramenta, é possível
negócios. Trata-se de um documento que
planejar e decidir sobre o futuro do negócio d) o Sistema Plantio Direto (SPD) é o
descreve os objetivos de um negócio e os
familiar, avaliar sua situação em relação à mais indicado;
passos necessários para que esses objetivos
concorrência, aos clientes e ao mercado, e) para garantir boa produtividade, tem
sejam alcançados, diminuindo os riscos
identificando riscos e criando alternativas que investir em irrigação;
e as incertezas (ROSA, 2009). Contém
para a minimização de seus efeitos sobre
também informações gerenciais, plano so- f) a variedade ‘Ouro Vermelho’ é uma
a empresa rural. Por isso, segundo Siegel
cioambiental e plano econômico-financeiro boa opção por possuir maior resis-
et al. (1993), serve de instrumento a três
(BANCO DA AMAZÔNIA, 2006?). tência a doenças dentro do grupo de
funções: planejamento, controle e captação
Para que possa cumprir suas múltiplas sementes vermelhas;
de recursos.
finalidades, o plano deve ser avaliado com g) o tempo de produção varia de 80 a
base em premissas objetivas e realistas Instrumento de 90 dias.
(ROSA, 2009), podendo ser usado para planejamento
A partir dessas informações, o gestor
traçar e avaliar questões como:
No plano de negócio, são desenvolvi- deve buscar respostas para outras questões,
a) abertura de um negócio, como, por das ideias a respeito de como o negócio tais como:
exemplo, decidir se irá ou não abrir será conduzido, examinando a empresa sob a) a relevância do negócio;
um restaurante com comida típica os aspectos mercadológico, financeiro e
mineira em uma região de turismo; b) o tamanho do mercado consumidor
operacional (SIEGEL et al., 1993). O plano
e o volume da produção;
b) expansão de um negócio, como inclui o desenvolvimento da gerência, o
aumentar a área de plantio de feijão- c) o tamanho do mercado concorrente
levantamento de capital, a produção e a
vermelho para atender a um nicho e a quantidade que o conjunto desses
comercialização de produtos, a manuten-
de mercado, em um determinado concorrentes está disposto a ofertar
ção de margens aceitáveis de lucro e o trato
no mercado;
período; com as influências externas.
c) aquisição de um bem imóvel, como, Na pequena propriedade rural, o gestor d) a diferença do produto em relação
por exemplo, avaliar a compra de deverá planejar detalhadamente todas as aos concorrentes e formas alterna-
um terreno para atividade agrícola etapas da implementação ou manutenção tivas de agregar valor;
ou para plantio de rosas para comer- do seu negócio, buscando respostas para e) formas alternativas de redução de
cialização; as questões relacionadas com o mercado, custos na adoção do sistema de
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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 97

plantio, no manejo da lavoura e na identificados desvios entre o previsto e o Dessa forma, um plano de negócios
colheita; real desempenho da empresa, poderão ser deverá ser montado para que todas as in-
f) o confronto entre custos e probabili- adotadas medidas de correção, para que formações sejam disponibilizadas ao leitor
dade de receitas que está relacionada as metas e os resultados propostos sejam de modo objetivo e conciso e dentro de
com o preço de mercado do feijão- alcançados (SALIM et al., 2005). formulários exigidos. Deverá também ser
vermelho; A exemplo do feijão-vermelho, desti- composto por várias seções que relacionem
nado para a Zona da Mata mineira, supõe- e permitam um entendimento global do
g) as fontes de obtenção de recursos
se que, neste ano, haja um aumento na negócio.
para manter a lavoura durante 80 a
produção desse tipo de feijão e que, como
90 dias e o custo dessas fontes.
consequência, o preço previsto, de R$ 1,20 ELABORAÇÃO DE UM PLANO
Infelizmente, o pequeno proprietário o quilo, caia para R$ 0,80 logo após a co- DE NEGÓCIO
tem muita dificuldade em planejar e, na lheita. Essa queda significativa no preço Há diversas publicações que sugerem
maioria das vezes, não dedica muito tem- de venda poderá trazer prejuízos, caso o modelos de um plano de negócio. Alguns
po para essa etapa. Muitas vezes acaba produtor não tome logo iniciativa de alterar desses modelos são mais complexos e
perdendo boas oportunidades de mercado, o plano de negócio, adaptando-o à situação outros são mais simples. Neste trabalho, a
produzindo sempre aquilo que todos os real e buscando alternativas à venda para estrutura proposta foi adaptada dos estudos
concorrentes produzem, sujeitando-se às o comprador previsto. Dependendo das de Pavani, Deutscher e López (1997) em
flutuações do preço em virtude de excessos condições das instalações da propriedade, virtude da simplicidade e praticidade apre-
ou escassez no mercado. Por exemplo, o produto pode ser armazenado por um sentada. Desse modo, a estrutura do plano
quando o preço da soja é mais elevado, tempo até que os preços se restabeleçam de negócio será dividida em: resumo exe-
há uma redução na produção do feijão, ou o produtor poderá tentar vender o feijão cutivo; missão; descrição do empreendi-
principalmente pelos grandes produtores, diretamente para restaurantes e hotéis, mento; mercado e comercialização; plano
por serem produtos que concorrem pela comprovando sua superioridade por meio de marketing e vendas e plano financeiro.
mesma área de plantio. Isso faz com que de entrega de amostras para degustação
o preço do feijão suba. O produtor familiar nesses estabelecimentos. O produtor pode Resumo executivo
mais atento aproveita para produzir feijão também direcionar a distribuição do pro- O resumo executivo é uma versão con-
e aumentar o seu ganho com a venda do duto para outra região, onde a produção densada do plano de negócio que tem por
produto. tenha sido menor. No caso de produtos finalidade apresentar, de forma sucinta, a
Dessa forma, percebe-se que o plano perecíveis, como frutas, há a possibilida- essência do plano (SIEGEL et al., 1993),
de negócio é compreendido como função de de agregar valor ao produto por meio a fim de que cada leitor identifique o que
inicial do processo de gestão de negócio, da fabricação de doces e compotas que espera do plano de negócio. Por exemplo,
ou seja, é a base da organização, para que o suportam maior tempo de armazenamento. um cliente deverá identificar o produto/
pequeno proprietário atinja seus objetivos. serviço e benefícios que este irá lhe trazer.
Instrumento de captação
Se for um investidor/financiador, deverá
Instrumento de controle e de recursos
avaliação demonstrar a viabilidade do negócio e as
O plano de negócios tem sido o docu- expectativas de retorno de investimento. Se
O plano de negócio permite o acompa- mento mais utilizado por instituições finan- for um parceiro, deverá focar a importância
nhamento do desempenho do negócio ao ceiras para liberação de linhas de crédito. desse parceiro para a empresa e como ele
longo do tempo. Isso faz com que sejam Além de demonstrar sua viabilidade econô- se encaixa no negócio. Se for destinado ao
corrigidas ou adequadas as estratégias mica e financeira, o plano deve apresentar público interno, é importante que todos sai-
desenvolvidas anteriormente. O acompa- indicadores de mercado e de capacidade bam o papel que irão cumprir na empresa.
nhamento do plano permite avaliar quais interna da empresa. Esses fatores mostram Dessa forma, o resumo executivo deve
estratégias foram eficazes e quais foram a capacidade de a empresa alavancar resul- gerar interesse imediato do leitor. O tom
ineficazes em sua implementação, e aju- tados no futuro (ROSA, 2009). deve ser empresarial e transmitir uma sen-
da a identificar se os objetivos e ações Imagine que a propriedade que preten- sação de entusiasmo e importância. Esse
propostos no plano foram executados. As de fornecer feijão-vermelho para atacadis- interesse pode ser despertado pelo con-
projeções financeiras apresentadas no pla- tas na Zona da Mata mineira esbarre em ceito, pela taxa de retorno ou mesmo pelo
no servirão de parâmetro para avaliar se o problemas de falta de equipamentos para estilo de exposição das ideias (PAVANI;
orçamento previsto está sendo executado, irrigação. Por meio do plano de negócio, DEUTSCHER; LÓPEZ, 1997). Por isso,
se o preço de vendas previsto é o que está é possível conseguir uma fonte de finan- deve cobrir as áreas funcionais relevantes,
sendo praticado no mercado. Caso sejam ciamento com taxa de juros mais atrativa. transmitindo as ideias básicas e destaques
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de cada uma (BANCO DA AMAZÔNIA, Missão comprador e de insumos; disponibi-


2006?). lidade de mão-de-obra; infraestru-
A missão representa o modo como a
Em se tratando de resumo, deverá ser tura local, com acesso a transporte,
empresa se projeta na visão de mundo e
a última parte a ser escrita, uma vez que energia elétrica, água etc.;
qual o papel que se vê exercendo enquan-
envolve o fornecimento de destaques do d) as conjunturas regionais, nacionais
to empresa e empresário. Por exemplo, o
plano, seção por seção. Este pode focalizar e internacionais que irão influenciar
produtor de feijão-vermelho do período
todas ou quase todas as áreas funcionais, nas expectativas de comercializa-
de seca pode ter como missão abastecer os
incluindo perfil do produto, o plano de ção (BANCO DA AMAZÔNIA,
principais atacadistas de feijão-vermelho
marketing e comercialização, o plano 2006?). Por exemplo, o aumento do
da Zona da Mata mineira, com um produto
operacional e o plano financeiro. Pode ser
de boa qualidade, a fim de tornar-se um preço da soja, substituto do feijão
escrito em um único parágrafo ou pode na produção, pode fazer com que
fornecedor potencial desse produto.
ser feito em mais parágrafos, contendo grande parte dos produtores plante
algumas tabelas e resumos. Tudo depende Descrição geral do soja no lugar do feijão. Assim, pode
da intenção do plano (SALIM et al., 2005). empreendimento ocorrer falta do feijão no mercado
Por exemplo, um resumo executivo, vol- e, consequentemente, o aumento do
Nessa seção, o plano de negócio deve
tado para a captação de recursos para o seu preço e uma boa oportunidade
apresentar um breve histórico da pro-
plantio de feijão-vermelho, poderá ter as de negócio para o agricultor fami-
priedade rural e de suas atividades como
seguintes informações: liar;
empresa, mostrando uma evolução histó-
Este plano de negócio tem por finali-
rica de crescimento; localização; dados e) a análise do setor, a fim de identificar
dade apresentar um estudo de viabilidade
dos proprietários ou sócios; definição de as forças, oportunidades, fraquezas
econômica do plantio de seca e comer-
responsabilidades no negócio proposto; e ameaças apresentadas pelo mé-
cialização de feijão-vermelho variedade
estrutura legal da propriedade; principais todo SWOT (ROSA, 2009). Nesta
‘Ouro Vermelho’. Em virtude de o período
produtos comercializados; estrutura de pes- análise são identificados fatores
ser propício ao ataque de pragas, o plantio
soal; tipos de parcerias; plano operacional que diferenciam o produto/serviço;
será conjugado com a plantação de milho.
detalhado, contendo formas de manejo, ad- pontos fracos e fortes; deficiências
Produzir feijão nessa época do ano é um
ministração, produção e comercialização. atuais de mercado; necessidades de
bom negócio, uma vez que, por meio de
No caso do plantio de feijão-vermelho, consumo; capacidade do produto
uma pesquisa de mercado, verificou-se
poderá ser descrita a experiência do agri- de suportar crises; disponibilidade
que os produtores potenciais de feijão
cultor com essa cultura e ser apresentada a dos insumos; efeitos da evolução
estão reduzindo a oferta do produto, em
explicação de como a ideia surgiu. tecnológica; potencial de lucro e
virtude do aumento do preço da soja. A
crescimento (DOLABELA, 1999).
falta do produto no mercado pode levar a Mercado e comercialização
um aumento do preço do feijão em, aproxi- Cabe ressaltar que a análise do setor en-
Em relação ao mercado e à comercia- volve aspectos demográficos, econômicos,
madamente, 30%. Os cálculos financeiros
lização do produto, o plano de negócio legais, políticos, tecnológicos e culturais.
mostram que, com esse aumento previsto
deve apresentar resultados de estudos Para obter essas informações, é necessário
do preço do feijão, a taxa interna de retorno
relacionados com:
(TIR), de 19%, poderá aumentar para 22%. consultar as estatísticas do Instituto Brasi-
A simulação em um cenário pessimista, a) as condições da procura do produto, leiro de Geografia e Estatística (IBGE), que
com uma queda no preço de feijão em 10%, mostrando que o mercado é carente fornecerá dados sobre características gerais
provocará queda de 1% na TIR. Ainda do produto que se pretende oferecer. da população, sexo, grau de escolaridade,
assim, o negócio é lucrativo, visto que a No caso do feijão-vermelho, pode- distribuição geográfica, profissão, renda,
taxa mínima de atratividade é em torno de se escrever sobre a falta do produto etc.; jornais e revistas especializadas e in-
12% ao ano. A produção será destinada a no mercado e sobre qualidade desse formações cedidas pela internet em relação
indústrias processadoras e distribuidoras da produto, requerida pelos consumi- à inflação, taxas de juros, renda per capita,
Zona da Mata mineira, onde se concentra dores; projeções de crescimento da economia, etc.
o maior mercado consumidor do produto. b) o volume que se deve produzir, o
Para a realização do plantio, busca-se faturamento, os custos, as despesas e Plano de marketing e
a viabilidade econômico-financeira vendas
um financiamento de R$ 20.000,00 para
aquisição de insumos, defensivos, remu- do negócio; A palavra marketing muitas vezes é
neração de mão-de-obra, beneficiamento c) os fatores de localização do negócio, confundida com propaganda e publicidade.
e ensacamento. tais como proximidade de mercado Na verdade, propaganda e publicidade é
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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 99

apenas uma ferramenta mercadológica. telemarketing. Para que se faça a escolha previsto do negócio. Esse plano deve ser
Segundo Kotler e Armstrong (2008), do canal mais adequado, deve-se levar em o resultado e o reflexo de todo o plano de
marketing significa trabalhar com merca- consideração que o produto certo, no lugar negócios. Nesta seção, o empreendedor vai
dos para realizar trocas potenciais, com a certo e na hora certa aumentará as chances calcular quais os recursos necessários para
finalidade de satisfazer as necessidades e de sucesso nas vendas. iniciar o negócio (investimento inicial) e
os desejos do consumidor. As estratégias de promoção deverão qual a projeção de receitas, custos e despe-
O plano de marketing e vendas busca responder às seguintes questões: Como sas operacionais. Deve apresentar, ainda,
informar como os produtos/serviços serão fazer com que o cliente saiba da existência uma análise da viabilidade do negócio,
colocados no mercado. O detalhamento do produto? Como despertar no cliente incluindo taxas de retorno previstas.
desse plano envolve: a definição de quem o interesse pelo produto oferecido pela O investimento inicial é composto ba-
são os consumidores; a análise de onde se empresa? As formas de promoção mais sicamente das despesas pré-operacionais
encontram os concorrentes; a formação do utilizadas são propaganda (jornais, revis- (efetuadas antes de o negócio entrar em
preço; o tipo de promoção ou propaganda tas, televisão, rádios locais, distribuição funcionamento e estão relacionadas com
adotada; as decisões sobre onde serão de panfletos, outdoors), relações públicas os gastos na elaboração de projetos,
vendidos os produtos e a maneira como (notícias favoráveis em jornais; organi- layout, programas etc.); investimentos
o produto será transportado e distribuído. zação de eventos, patrocínios, palestras, fixos (gastos com aquisição de máquinas
Por isso, envolve os 4 “pes”: o produto concursos, atividades comunitárias), e equipamentos, obras e reformas, móveis
em si, o preço, o ponto de distribuição e promoção de vendas (cupons de descon- e utensílios, veículos, equipamentos de
a promoção. tos, descontos pós-compras, pacotes de informática e, até mesmo, com aquisição
O produto deverá ser apresentado com preços promocionais, prêmios, sorteios, de imóveis) e capital de giro (envolve os
uma descrição detalhada, relacionando
concursos, recompensas por preferência, prazos de recebimento, estocagem e paga-
características físicas, logomarca, embala-
degustações, garantias do produto), venda mento da empresa). O Quadro 1 mostra um
gem e diferenciação em relação ao produto
pessoal, merchandising e mala direta. exemplo de cálculo do investimento inicial.
dos concorrentes.
De acordo com Dolabela (1999), o Cabe ressaltar que o capital de giro
A formação dos preços deve levar em
plano de marketing é elaborado a partir de inicial envolve os gastos operacionais
consideração o custo de produção, a mar-
uma pesquisa de mercado e deve identificar para iniciar as atividades da empresa e
gem de lucro almejado, o preço praticado
as oportunidades de negócio mais pro- colocá-la em funcionamento. São gastos
pela concorrência e os prazos que os clien-
missoras para a empresa e esboçar como que, posteriormente, serão cobertos pelas
tes precisam para efetuar o pagamento,
penetrar em mercados identificados, como receitas, mas, no início, terão que ser
uma vez que a determinação do preço afeta
conquistá-los e manter posições. É um suportados pelo empresário. Referem-se
a posição da empresa no que diz respeito ao
instrumento de comunicação que combina ao aluguel, salários e encargos, compra
seu faturamento e rentabilidade, bem como
todos os elementos do composto mercado- de matéria-prima inicial (sementes, adu-
sua participação no mercado.
lógico em um plano de ação coordenado. bos, defensivos), honorários de contador,
A distribuição envolve todas as ativi-
Neste plano, o empreendedor ordenará de material de limpeza e expediente, energia
dades relacionadas com a transferência
maneira lógica ideias, fatos e conclusões. elétrica, telefone, água etc. É importante
do produto até o consumidor. Nesta etapa,
serão respondidas perguntas como: Qual é Cabe ressaltar que o plano de marketing que esses dados sejam criteriosamente
o mercado? Qual o nicho de mercado em e vendas deve estar dentro da realidade calculados, para que se tenha uma proje-
que a empresa vai atuar? Onde pode ser do negócio. Por exemplo, o plantador de ção mais próxima possível da realidade,
encontrado o consumidor? Como o produto feijão-vermelho pode concentrar todos os uma vez que as receitas somente serão
vai chegar até ele? A empresa irá usar canal seus esforços mercadológicos na venda aferidas depois de determinado tempo.
de distribuição já existente ou deverá criar pessoal e na comprovação da superiori- Por exemplo, se um negócio leva dez dias
um? A escolha do canal de distribuição dade do seu produto em relação ao do seu para receber a matéria-prima, outros quinze
dependerá da natureza do produto, das ca- concorrente. para que o produto esteja pronto, quinze
racterísticas do mercado, de concorrentes e para vendê-lo e trinta dias para receber as
Plano financeiro vendas efetuadas, então, é necessário que
intermediários e da política da empresa. A
empresa poderá optar por usar sua própria De acordo com Siegel et al. (1993), a seja projetado um volume de capital de giro
força de vendas e localizar-se perto do finalidade da seção financeira de um plano para manter a empresa em funcionamento
nicho de mercado a ser atingido, poderá de negócios é formular um conjunto de por setenta dias. O cálculo do capital de
usar distribuidores, fazer uso da internet projeções abrangentes e dignas de cré- giro necessário pode ser obtido em Motta
e do comércio eletrônico ou serviços de dito, refletindo o desempenho financeiro e Calôba (2002).
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Após o cálculo do investimento inicial, mensalmente. O Quadro 2 é um exemplo fixos são aqueles que não estão associados
é necessário fazer a projeção de vendas. para o cálculo dessa receita líquida anual. diretamente com a variação no volume de
Essa projeção deve ser feita levando em Após o levantamento da receita de produção, tais como aluguel, mão-de-obra
consideração o volume de produção, o vendas, é necessário o levantamento dos operacional e encargos, depreciação etc.
preço unitário, as deduções da receita bruta custos e despesas variáveis e fixos. Os (Quadro 4).
(impostos) e a apuração mensal e anual custos e despesas variáveis estão associa- Após o levantamento das receitas,
da receita líquida, para todos os períodos dos ao volume de produção e vendas, tais impostos, custos e despesas, torna-se
considerados em análise de investimen- como: custo com sementes, defensivos, necessário apurar o lucro do negócio, por
tos. Para um plantio de feijão, deverá adubos, horas de trator, combustíveis e
meio do levantamento da demonstração do
ser apresentado em um único período ou lubrificantes, etc. (Quadro 3). Os custos
resultado do exercício, conforme mostra o
Quadro 5.
QUADRO 1 - Levantamento do investimento inicial de um negócio Concluída a projeção de receitas, des-
Descrição Valor pesas e lucros para todos os períodos do
1 Gastos pré-operacionais projeto, é fundamental que se elabore um
Elaboração de projetos fluxo de caixa com a previsão de entradas
Elaboração do layout e saídas de recursos por determinado pe-
Publicidade e propaganda ríodo. Neste fluxo é representado o inves-
Com informações timento inicial (contendo o investimento
Com registros em ativos fixos e em capital de giro), com
2 Investimentos fixos sinal negativo, uma vez que representa a
Máquinas (detalhar) saída de recurso para investir no negócio; o
Equipamentos (detalhar) saldo inicial de caixa; as entradas e saídas
Veículos de caixa, a depreciação e o fluxo líquido
Móveis e utensílios (detalhar) de caixa, conforme mostra o Quadro 6.
3 Investimento em capital de giro Cabe ressaltar que, para um único plantio
Total de investimentos em capital de giro de feijão-vermelho, pode-se obter apenas
Total do investimento inicial uma única entrada de caixa.

QUADRO 2 - Levantamento da receita líquida de vendas para um período


Deduções Receitas líquidas Receitas líquidas
Unidade Volume da Preço Receita bruta
Produto nas receitas de vendas de vendas
de medida produção unitário de vendas
(impostos) (mensal) (anual)

Total

QUADRO 3 - Levantamento dos custos e despesas variáveis para um período determinado


Levantamento custos e despesas variáveis do Período 1

Itens Quantidade Preço unitário Total mensal Total anual


Combustíveis e lubrificantes
Adubação
Alimentação
Reposição
Reserva técnica
Custo variável total
Volume de produção
Custo variável por unidade de medida

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Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal 101

QUADRO 4 - Levantamento dos custos e despesas fixos para um período determinado Para concluir o plano financeiro, deverá
Levantamento dos custos e despesas operacionais fixos do período 1 ser apresentada uma análise da viabilidade
do negócio, de modo que se possa decidir
Itens Valor mensal Valor anual
pela aceitação ou rejeição do projeto. Os
Mão-de-obra operacional e encargos
critérios determinísticos mais usados são:
Retirada do empresário
o Valor Presente Líquido (VPL) e a TIR.
Imposto Territorial Rural (ITR)
Para aprofundar no assunto recomenda-se
Depreciação Casaroto Filho e Kopittke (2008).
Manutenção de instalações e máquinas
Outros CONSIDERAÇÕES FINAIS
Publicidade Este estudo teve por finalidade mostrar
Transporte a importância do plano de negócio como
Total instrumento de planejamento, capaz de
auxiliar o pequeno produtor no geren-
ciamento do dia-a-dia do seu negócio,
QUADRO 5 - Levantamento da demonstração do resultado do exercício do período contribuindo para o aumento da riqueza
Total Total de sua propriedade.
Itens Produto 1 Produto 2
mensal anual
Apesar de ser pouco difundido no meio
Receita bruta de vendas
rural, o plano de negócio representa uma
(-) Impostos oportunidade para que o gestor dessas
(=) Receita líquida de vendas propriedades rurais possa pensar e analisar
(-) Custos e despesas variáveis todas as facetas do seu negócio. O plano
envolve todas as variáveis que podem
(=) Margem de contribuição total
representar os desafios e oportunidades
(-) Custos e despesas fixos
de sucesso. Dentre elas, destacam-se: o
(=) Resultado mercado; os produtos/serviços; as fontes
de captação de recursos; as formas de
aplicação de recursos; as receitas; os custos
QUADRO 6 - Planilha de cálculo para o levantamento do fluxo de caixa para análise do
plano de negócio
variáveis e fixos.
No plano de negócio, essas variáveis
Fluxo de caixa Ano 0 Ano 1 Ano 2 … Ano n
acabam se interagindo por meio da cons-
Receita de vendas trução de um fluxo de caixa relevante,
(-) Impostos sobre vendas onde são registradas todas as entradas e
(=) Receita líquida vendas saídas de caixa. A partir da aplicação de
(-) Custo produto vendido métodos determinísticos de avaliação de
(-) Custo fixo
investimentos, é possível tomar decisão
em relação à adoção ou não de um negócio.
(-) Despesas operacionais
Além de ser uma ferramenta de pla-
(=) Entrada de caixa operacional
nejamento do futuro, o plano de negócio
(+) Entrada de caixa não operacional serve para avaliar a situação do negócio
Valor residual em relação à concorrência, aos clientes e
Capital de giro ao mercado, identificando e minimizando
(=) Entrada de caixa total riscos. Além disso, serve para confrontar
(+) Investimento inicial resultados almejados (planejados) com os
incorridos, permitindo correções ao longo
Ativos fixos
da vida do projeto. Por isso, acaba se tor-
Capital de giro
nando, também, um instrumento de contro-
(=) Fluxo caixa relevante
le e de captação de recursos no mercado.
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REFERÊNCIAS Análise de investimentos. São Paulo: Atlas, Plano de negócios: planejando o sucesso
2008. de seu empreendimento. Rio de Janeiro:
BANCO DA AMAZÔNIA. Gerência de Crédi- Lexikon, 1997.
to de Fomento. Roteiro de plano de negócios CENSO AGROPECUÁRIO 2006. Resultados
para implantação e/ou ampliação de ativi- preliminares. Rio de Janeiro: IBGE, 2006. ROSA, C.A. Como elaborar um plano de
negócio. Brasília: SEBRAE, 2009. 120p.
dades de pecuária/agricultura/floresta/aqui- DOLABELA, F. O segredo de Luísa. São Pau-
cultura e pesca (médios e grandes produto- lo: Cultura, 1999. 312p. SALIM, C.S. et al. Construindo planos de
res para projetos abaixo de R$ 1.000.000,00). negócios. Rio de Janeiro: Campus, 2005.
Belém, [2006?]. Disponível em: <http://www. KOTLER, P.; ARMSTRONG, G. Fundamen-
tos de marketing. São Paulo: Pearson, 2008. SOARES, A.C. A multifuncionalidade da
basa.com.br/bancoamazonia2/includes/ agricultura familiar. Proposta, Rio de Janei-
produtserv/financiamento/arquivos/ MOTTA, R.; CALÔBA, G.M. Análise de in- ro, n.87, p.40-49, dez. 2000/fev. 2001.
RoteiroPlanoNegócios_MedioeGrande.pdf>. vestimentos: tomada de decisão em projetos
SIEGEL, E.S. et al. Guia da Ernst & Young
Acesso em: 5 dez. 2009. industriais. São Paulo: Atlas, 2002.
para desenvolver o seu plano de negócios.
CASAROTTO FILHO, N.; KOPITTKE, B. H. PAVANI, C.; DEUTSCHER J.A.; LÓPEZ, S.M. Rio de Janeiro: Record, 1993. 221p.

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O Informe Agropecuário
completa 35 anos
Este é o selo comemorativo dos 35 anos
da revista Informe Agropecuário, um
veículo de difusão da tecnologia gerada
pela pesquisa agropecuária. A confia-
bilidade alcançada pela revista Infor-
me Agropecuário nesses 35 anos está
diretamente ligada à pesquisa, base
de todas as inovações no setor agrope-
cuário, que tem nesta publicação um
meio de transformação, renovação e
aprimoramento das práticas agrícolas.
As informações disponibilizadas no
Informe Agropecuário atendem às de-
mandas dos mais diversos segmentos
do agronegócio, contribuindo para o
desenvolvimento econômico e social
do estado de Minas Gerais.

A necessidade de difundir de forma ampla e


oficial os resultados alcançados pela pesquisa
da EPAMIG motivou a criação da revista Infor-
me Agropecuário. O trabalho da pesquisa, a
aplicação de tecnologias próprias para o Estado
e a colaboração de instituições de pesquisa e
universidades garantiram ao Informe Agrope-
cuário uma posição de destaque, como publi-
cação única no gênero.

Conjuntura e Estatística, número 1, volume 1, foi lançada em


1975 e apresentava informes econômicos sobre a evolução
do setor agropecuário e estatísticas agrícolas.

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104 Tecnologias para a agricultura familiar: produção vegetal

INSTRUÇÕES AOS AUTORES


INTRODUÇÃO PRAZOS E ENTREGA DOS ARTIGOS
O Informe Agropecuário é uma publicação seriada, periódica, Os colaboradores técnicos da revista Informe Agropecuário devem
bimestral, de caráter técnico-científico e tem como objetivo principal observar os prazos estipulados formalmente para a entrega dos
difundir tecnologias geradas ou adaptadas pela EPAMIG, seus parceiros trabalhos, bem como priorizar o atendimento às dúvidas surgidas ao
e outras instituições para o desenvolvimento do agronegócio de Minas longo da produção da revista, levantadas pelo coordenador técnico,
Gerais. Trata-se de um importante veículo de orientação e informação pela Revisão e pela Normalização. A não-observância a essas normas
para todos os segmentos do agronegócio, bem como de todas as ins- trará as seguintes implicações:
tituições de pesquisa agropecuária, universidades, escolas federais e/ a) os colaboradores convidados pela Empresa terão seus trabalhos
ou estaduais de ensino agropecuário, produtores rurais, empresários excluídos da edição;
e demais interessados. É peça importante para difusão de tecnologia, b) os colaboradores da Empresa poderão ter seus trabalhos excluídos
devendo, portanto, ser organizada para atender às necessidades de ou substituídos, a critério do respectivo coordenador técnico.
informação de seu público, respeitando sua linha editorial e a priori- O coordenador técnico deverá entregar ao Departamento de
dade de divulgação de temas resultantes de projetos e programas de Publicações (DPPU) da EPAMIG os originais dos artigos em CD-ROM ou
pesquisa realizados pela EPAMIG e seus parceiros. pela Internet, já revisados tecnicamente, 120 dias antes da data prevista
A produção do Informe Agropecuário segue uma pauta e um para circular a revista. Não serão aceitos artigos entregues fora desse
cronograma previamente estabelecidos pelo Conselho de Difusão de prazo ou após o início da revisão lingüística e normalização da revista.
Tecnologia e Publicações da EPAMIG, conforme demanda do setor O prazo para divulgação de errata expira seis meses após a data
agropecuário e em atendimento às diretrizes do Governo. Cada edi- de publicação da edição.
ção versa sobre um tema específico de importância econômica para
Minas Gerais. ESTRUTURAÇÃO DOS ARTIGOS
Do ponto de vista de execução, cada edição do Informe Agropecuário Os artigos devem obedecer a seguinte seqüência:
terá um coordenador técnico, responsável pelo conteúdo da publicação, a) título: deve ser claro, conciso e indicar a idéia central, podendo
pela seleção dos autores dos artigos e pela preparação da pauta. ser acrescido de subtítulo. Devem-se evitar abreviaturas, parên-
teses e fórmulas que dificultem a sua compreensão;
APRESENTAÇÃO DOS ARTIGOS ORIGINAIS b) nome do(s) autor(es): deve constar por extenso, com nume-
ração sobrescrita para indicar, no rodapé, sua formação e títulos
Os artigos devem ser enviados em CD-ROM ou pela Internet, no
acadêmicos, profissão, instituição a que pertence e endereço.
programa Word, fonte Arial, corpo 12, espaço 1,5 linha, parágrafo
Exemplo: Engo Agro, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG SM, Caixa
automático, justificado, em páginas formato A4 (21,0 x 29,7cm).
Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
Os quadros devem ser feitos também em Word, utilizando apenas
ctsm@epamig.br;
o recurso de tabulação. Não se deve utilizar a tecla Enter para forma-
c) resumo: deve constituir-se em um texto conciso (de 100 a 250
tar o quadro, bem como valer-se de “toques” para alinhar elementos
palavras), com dados relevantes sobre a metodologia, resulta-
gráficos de um quadro.
dos principais e conclusões;
Os gráficos devem ser feitos em Excel e ter, no máximo, 15,5 cm
d) palavras-chave: devem constar logo após o resumo. Não
de largura (em página A4). Para tanto, pode-se usar, no mínimo, corpo
devem ser utilizadas palavras já contidas no título;
5 para composição dos dados, títulos e legendas.
e) texto: deve ser dividido basicamente em: Introdução, Desenvol-
As fotografias a serem aplicadas nas publicações devem ser re-
vimento e Considerações finais. A Introdução deve ser breve e
centes, de boa qualidade e conter autoria. Podem ser enviadas em
enfocar o objetivo do artigo;
papel fotográfico (9 x 12 cm ou maior), cromo (slide) ou digitalizadas.
f) agradecimento: elemento opcional;
As foto-grafias digitalizadas devem ter resolução mínima de 300 DPIs
no formato mínimo de 15 x 10 cm e ser enviadas em CD-ROM ou g) referências: devem ser padronizadas de acordo com o
“Manual para Publicação de Artigos, Resumos Expandidos e
ZIP disk, prefe-rencialmente em arquivos de extensão TIFF ou JPG.
Circulares Técnicas” da EPAMIG, que apresenta adaptação das
Não serão aceitas fotografias já escaneadas, incluídas no texto, em
normas da ABNT.
Word. Enviar os arquivos digitalizados, separadamente, nas extensões
já mencionadas (TIFF ou JPG, com resolução de 300DPIs). Com relação às citações de autores e ilustrações dentro do texto,
Os desenhos devem ser feitos em nanquim, em papel vegetal, ou também deve ser consultado o Manual para Publicações da EPAMIG.
em computador no Corel Draw. Neste último caso, enviar em CD-ROM NOTA: Estas instruções, na íntegra, encontram-se no “Manual para
ou pela Internet. Os arquivos devem ter as seguintes extensões: TIFF, Publicação de Artigos , Resumos Expandidos e Circulares Téc-
EPS, CDR ou JPG. Os desenhos não devem ser copiados ou tirados de nicas” da EPAMIG. Para consultá-lo, acessar: www.epamig.br,
Home Page, pois a resolução para impressão é baixa. entrando em Publicações ou Biblioteca/Normalização.

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