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Doculnentos

ISSN 1517-3747
Novembro, 2004

Uso de Antimicrobianos na
Producão de Bovinos e
I

Desenvolvimento de
Resistência
República Federativa do Brasil

Luiz Inácio Lula da Silva


Presidente

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento


Roberto Rodrigues
Ministro

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

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Embrapa Gado de Corte


Kepler Euclides Filho
Chefe-Geral
ISSN 15 17- 3 747
Novembro, 2004
Emp,eu B"ui/oi,,, do PosQuislI Agropocu'rill
Centlo Nadolllll de PosqulSIJ de Gilda de Corto
!.1m;s IIJ,io dll Ag,iculrurll. PecuáriA f1 Abllstocimonro

Documentos

Uso de Antimicrobianos na
Producão

de Bovinos e
Desenvolvimento de
Resistência

Renato Andreotti
Maria Luiza Franceschi Nicodemo

Campo Grande, MS
2004
Exemplares desta publica ção podem ser adquiridos na:

Embrapa Gado de Corte


Rodovia BR 262 Km 4 , CEP 79002 -970 Campo Grande, MS
Cai xa Po stal 154
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Capa : Paulo Roberto Duarte Paes
Editora ção eletrônica : Ecila Carolina Nunes Zampieri Lima

I " edição
l ' impressão (2004) : 500 exemplares

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A reprodução não -autorizada desta publicação, no todo ou em
parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9 .610) .
CIP-Brasil. Catalogação-na -publicação.
Embrapa Gado de Corte.
Andreotti, Renato .
Uso de antimicrobianos na produção de bovinos e desenvolvi-
mento de resistência I Renato Andreotti , Maria Luiza Franceschi
Nicodemo . -- Campo Grande : Embrapa Gado de Corte , 2004.
50 p. ; 21 cm . -- (Documentos I Embrapa Gado de Corte, ISSN
1517-3747 ; 144)

ISBN 85-297 -0172-0

1. Bovino . 2 . Nutrição animal. 3. Antibiótico . 4 . Resistência a


produtos químicos . I. Nicodemo, Maria Luiza Franceschi . li .
Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS) . 111 . Título . IV . Série .
CDD 636 .08557 (21 . ed.)
<!> Embrapa 2004
Autores

Renato Andreotti
Médico-Veterinário, Ph .D., CRMV-MS N° 0510,
Embrapa Gado de Corte, Rodovia BR 262, Km 4, Caixa
Postal 154, 79002-970 Campo Grande , MS . Correio
eletrônico: andreott@cnpgc.embrapa.br

Maria Luiza Franceschi Nicodemo


Zootecnista, Ph .D., CRMV-MS NQ01 OO /Z, Embrapa
Gado de Corte, Rodovia BR 262, Km 4, Caixa Postal
154, 79002-970 Campo Grande, MS. Correio eletrôni-
co: luiza@cnpgc.embrapa.br
Sumário

Resumo ............................... ... .................................... 7


Abstract ..................................................................... 9
Introdução .................................................................. 9
Uso de antimicrobianos .............................................. 11
Antibióticos .............................................................. 12
Uso de antibióticos na produção agropecuária .............. 13
Antibióti cos na prevenção e controle de patologias ......... .............. 14
Antibióticos como promotores de crescimento ............................. 15
Resistência a antibióticos ........ . .................................. 16
Mecanismos de resist ência .................................................. .... 20
Transferência de resistência a antibióticos .................................. 23
Tran sferência de resistên c ia a glicopeptídios ..................................... 24
Modos de disseminação do grupo genético Van A ............................ 25
Seleção de resistência a avoparcina como promotor de crescimento . .. .. 25
Dissemi nação da resistência a estreptograminas por patógenos gram -
positivos . ...... .. . .. .... ..... ... ........ .. .. .. .......... .... ... ............................. 25
Resíduos de antibióticos .............................. ... ............ 27
Análise de risco no controle de resíduos de antimicrobianos em produ-
tos de origem animal ... ... ............... .. ........................................ 27
Gado de corte ... ........ ........ ...... .. .... ........ .. ........ ....... .... ... ........ 31
Gado de leite ............................... .... ..... ................................. 32
Sistemas de alimentação ............................................ 34
Nutnçao ... .. .... .. ... ... . .............. ... ... ...................................... ... 34
Probióticos e prebióticos ........................................................ . 35
Medidas de controle ................................................... 37
Biossegurança ... .... ......... ...... ........ ... .. ...... ...... .... .................... 39
Alternativas terapêuticas aos antibióticos - bacteriófagos ............ .. 40
Estratégias de manejo de abate na redução da contamina-
ção bacteriana de produtos cárneos ............................ 42
Pré-abate .... ....... ...... ... ........ ... ........................ ...................... 43
Processamento pós -abate ........................................................ 43
Considerações finais .................................................. 44
Referências bibliográficas ........................................... 45
Uso de Antimicrobianos na
Producão

de Bovinos e
Desenvolvimento de
Resistência
Renato Andreotti
Maria Luiza Franceschi Nicodemo

Resumo

A introdução de agentes antimicrobianos no uso terapêutico foi revolucionária no


combate às doen ças causadas por bactérias no meio do século passado. Na
alimentação animal, nos anos de1950, contribuiu para o aumento considerável
da produção animal. Atualmente, isto está em discussão por causa do desen vo l-
vimento de resi stência ba cteriana e do seu impacto no tratamento de doenças em
humanos. O uso de antibióticos na produção animal é considerado pela Organi-
zação Mundial de Saúde um risco crescente para a saúde humana. Este docu-
mento pretende contribuir para a discussão sobre o controle dos antimicrobianos
em bovinos de corte, levantando informações disponíveis na literatura internacio-
nal e as tendências das regulamentações , sem, contudo, ser exaustivo.

Termos para indexação: antibióticos, bovinos , nutrição animal, re sistê ncia


Antimicrobial use in Cattle
Production and the
Development of Resistance

Abstract

The introduction of antimicrabial agents in the therapeutic use was considered


revolutionary in the battle against diseases caused by bacteria in the middle of
the last century. Antibiotics administered in animal feed in the 1950s increased
praductivity of animal husbandry. Nowadays its use is in discussion based on
the development of bacterial resistance and its impact in the treatment of human
diseases. The Health World Organization considers antibiotics use in animal
husbandrya risk to public human health. This document contributes to the
discussion of the contraI of antimicrabials for animal husbandry, considering
information available and the tendencies of regulatory policies, without,
however, exhausting the subject.

Index ferms: animal nutrition, antibiotics, bovine, resistance

Introdução

A busca de produtividade é uma marca fundamental da economia de mercado


onde o indicador de competência consiste em oferecer produtos de qualidade
com preço adequado e alta rentabilidade . Com base nessas premissas a c adeia
produtiva de carne bovina vem ao longo do tempo , oferecendo novas
tecnologias. No entanto, a sociedade percebe que nessas novas tecnologias há
aspectos que necessitam de ajustes por parte do setor produtivo em alguns
momentos.
10 Uso de antimicrobiano s na produ ç ão de bovinos e de senvol v imento de resist ência

A introdução de agentes antimicrobianos no uso terapêutico foi revolucionária no


combate às doenças causadas por bactérias no meio do século passado. O seu
uso na alimentacão animal a partir de 1950 aumentou consideravelmente a
produção (Semjén, 2000). Atualmente, esses agentes estão em discussão por
causa do desenvolvimento de resistência e do impacto no tratamento de doenças
animais e em humanos.

Na última década, a maioria dos produtos primários de origem animal cresceu


negati v amente nas economias desenvolvidas , mas , nos países em desenvolvi-
mento , o crescimento foi positivo (70 % ) e muito expressivo para os suínos e as
aves, por causa da competitividade do sistema produtivo. O Brasil é hoje o maior
exportador de carne bovina do mundo, superando, em volume, Estados Unidos
e Austrália. O faturamento desse setor chegou a US$l ,20 bilhão, com um
incremento de 36 % em relação aos primeiros dez meses de ' 2002, já superando
em quase 10 % a receita total do ano. A conjuntura internacional abriu ao Brasil
um mercado de oportunidade, em função dos problemas sanitários enfrentados
pela União Européia (doença da vaca louca e febre aftosa), Argentina (febre
aftosa) e Uruguai (febre aftosa) nos anos de 2000 e 2001 (Rosa, 2003) e pela
seca prolongada na Austrália.

O consumo per capita de carne bovina no país, que hoje está próximo a 37 kg,
aumentou apenas 3%, e está estagnado desde 2000, Ao mesmo tempo, o
consumo per capita na União Européia, maior cliente brasileiro, está se recupe-
rando , e o Brasil ainda trabalha pela abertura de novos mercados, Daí a impor-
tância em se trabalhar pela valorização da carne brasileira no mercado internacio-
nal (Rosa, 2003).

O uso de antibióticos na produção animal é considerado pela Organização


Mundial de Saúde (Departamento de Doenças Emergentes e Outras Doenças
Notificáveis) um risco crescente para a saúde humana. Técnicos de órgãos
oficiais e associações de consumidores vêm trabalhando em prol da restrição
total ao uso de antibióticos como promotores de crescimento na Europa ,

Com interesse na conquista e consolidação de novos mercados, ajustes no


sistema de produção brasileiro podem ser necessários, entre os quais o uso de
promotores de crescimento que é um dos aspectos mais polêmicos, visando a
atender a esse mercado mais exigente. O desafio atual para a indústria de
produção animal é de implementar estratégias de segurança alimentar efetivas e
Uso de antimicrobianos na produção de bovinos e desenvolvimento de resistência 11

sustentáveis em todos os níveis da cadeia produtiva, que cruzem fronteiras


nacionais. Para alcançar um nível aceitável de confiança dos consumidores, é
necessário estabelecer programas de segurança alimentar que procedam a uma
análise de risco adequada em todos os níveis, da fazenda ao consumo (Ratcliff,
2003).

A produção certificada, com normas de produção animal bem definidas, deve ser
exercida de forma que as práticas correntes de produção animal sejam voltadas à
melhoria da qualidade dos produtos de origem animal. O uso responsável de
aditivos é um exemplo dessa prática que procura sa lvaguardar a credibilidade
dos consumidores no país e no exterior sobre a produção e tran sformação de
produtos de origem animal, atendendo todos os mercados indiscriminadamente.

Dentro desse contexto, este documento pretende contribuir para a discussão


sobre o controle do uso de antimicrobianos em bovinos, comentando sobre as
tendências das regulamentações para o uso de antibióticos na nutrição animal,
especialmente para bovinos, com enfoque no desenvolvimento de resistência a
antibióticos e suas conseqüências e nas alternativas de produção que permitam
minimizar a contaminação microbiana dos alimentos de origem animal.

Uso de antimicrobianos

O uso de antimicrobianos como medicação preventiva ou como aditivos em


agropecuária tem contribuído para o sucesso do agronegócio e, conseqüente-
mente, para o superávit da balança comercial brasileira. Será possível manter os
mesmos níveis de produção sem o uso de antibióticos como aditivos alimenta-
res I A restrição do uso de antimicrobianos pode resultar em um aumento do
aparecimento de doenças infecciosas nos rebanhos , e como conseqüência,
produtos de qualidade sanitária inferior.

Há divergências sobre o efeito geral no uso de antibióticos. Alguns consideram


que a restrição , realizada pela Suécia e Dinamarca , do uso de antimicrobianos
como aditivos em avicultura tenha ocasionado um aumento da utilização dos
antimicrobianos, na forma de medicação terapêutica para o tratamento de
processos infecciosos instalados, principalmente, no trato gastrintestinal - TGI -
das aves (Bogaard & Stobbering, 2000) . Stobbering & Bogaard (2000) mencio-
naram comparações de prevalência de resistência à amoxilina, oxitetraciclina,
trimetroprim e cloranfenicol em suínos da Suécia (onde antibióticos foram
12 Uso de antllnl ero bl an os na produ ç ão d e b ov in o s e d ese n v o lv lIll en to de rus lst -'n ela

banid os como promotor es do cresc im ento em 1986) e da Holand a, regi str and o
va lores m enores d e 2 4 0", a 6 0 00 n a Su éc ia.

Conc lu íram qu e essa m en or pr ev alênc ia ind icava qu e n ão hou ve aumento do u so


t erap êuti co desses co mpos t os após a pr oibi ção. Esses m es m os aut ores ac redi -
t am qu e ao se evi t ar o forn eci m ent o d e antibi ó ti cos co m o pr o m o t ores de cres c i-
m ent o, seria possível redu zir o uso de antib ió ti cos por anim ais n a Uni ão Euro -
péia em pelo m en os 30 °0, e em at é 50 °0 em algun s p aíses . El es t amb ém
co m entaram qu e a ex peri ênc ia sueca mo stro u se r poss íve l a pr odu çã o anim al
m oderna e lu c rativa co ex istir co m a proibi cão do u so de antibi ó ti cos co m o
promotores de crescimento .

Rat clift 120031 t ambém demon strou pr eocup açã o com o imp ac t o do b anim ent o
do s antibi ó ti cos como promotores de crescimento na produ çã o d e su ínos e ave s
n a Europ a. O autor ress altou qu e alguns produtores, ao lan ça rem mão de
aditivos nã o con v encionais Ic omo ac idos orgãni cos ; erv as e óleos essenciais;
manan-oligossac ar ídeo s) aliados a mudanç as estrat égic as no manejo e na
alimentaçã o dos animais, con se guiram manter ou até mesmo m elhorar o desem-
penho em relação ao obtido com promotores de crescimento.

Antibióticos

Desde a descoberta e introdução de agentes antimicrobianos na terapia , esses


têm sido considerados uma arma milagrosa no combate às doenças causadas por
bactérias ILevy, 19921. Principalmente por causa do uso dos antimicrobianos,
quase todas as doenças infecciosas, que t êm estado entre as causas mais
comuns de morte em humanos e animais por muito tempo , desapareceram ou,
pelo menos , mostraram um decréscimo na sua incidência por volta da metade do
século 20 ISemjén, 2000).

O uso de antibióticos tornou possível o contro le de doencas bacterianas na


medicina humana , produção animal e agricu ltura. Em geral , não somente pelo
seu grande efeito, mas pela sua segurança como conseqüência da sua seletiva
toxicidade que é direcionada principalmente contra bactérias invasoras, sem
causar alterações na fisiologia do hospedeiro ISemjén, 2000),

A maioria dos agentes antimicrobianos usados clinicamente pertence a seis


famílias principais: penicilinas, cefalosporinas, marcrolídios, aminoglicosfdeos,
U so d o an tlml ro blano s na pro du ção d o b ov inos e d ese nv o lvim e nto d e reS is t ênCia 13

t etr acic lin as e qllinolonas. Em alimen t ação anim al pert encem às classes : beta -
lac t ams, tetr acic lin as, marcrolfdios, am ino glicosídeos e Slllfon amid as (M cDerm oll
et aI. , 2002) . Estima-se qu e de um a dez milhõ es de t one ladas de antibióticos
for am utili za dos no s últim os 60 anos, ocasionando um a alteração sig nifi cativa
no ambi ent e mi crobiano (Skold, 2000).

o m eca nismo an timi crobiano dos an tibi ó ti cos pode se r ag rup ado em quatro
ca t egori as: inibição da parede ce lular; alt eração da permeabilidade da membrana
ou transporte ati vo da membrana ce lul ar; inibição da sín t ese de proteína (inibição
da tr adu ção e tr ansc rição do m at eri al genético) e inibi ção d a síntese do ác ido
nucléico .

Em ruminant es, de modo geral, os antibióticos qu e não atuam predominantem en-


t e sobre o rúm en reduzem as infecções bac teri anas int es tin ais, preservando a
integridade da mucosa int es tinal e permitindo melhor absorção do s nutrientes , o
que resulta em m elhor desempenho . O conceito de promotor de crescimento,
nes t e caso , se confunde com o uso profilático de antibióticos, prevenindo a
instalação de patóg enos (G ewehr & Lawisch , 2003).

Uso de antibióticos na produção


agropecuária

Houve uma intensificação muito acentuada da produção animal nas últimas


décadas, com unidades de produção mais adensadas, maiores e alcançando
elevadas taxas de desempenho. O aumento na pressão para produção resultou
em maior uso de antibióticos para manter melhorias do desempenho e saúde
(Hardy , 2002).

Logo depois da introdução de antibióticos no tratamento médico em 1940, eles


foram introduzidos em criações de aves e suínos, como promotores de cresci -
mento, Uma descoberta inesperada nos anos de 1950 revelou que antibióticos
administrados na alimentação animal em dose bem menor do que a dose terapêu-
tica aumentavam a produtividade da produção animal. Esse achado levou ao uso
de certos antibióticos como promotores de crescimento desde então (Witte,
2000),

Nos sistemas de produção agropecuária, os antimicrobianos são empregados


com três diferentes propósitos: a) tratamento de infecções bacterianas especffi-
14 Uso de anti mi c rob lanos na produ ção d e bov inos e dese nv o lvi m ent o de res ist ê nc ia

cas , b) prevenção de infecções bacterianas, e c) aditivo alimentar, como promo -


tor de crescimento .

Algumas das possív eis razões para explicar os efeitos de agentes


antimicrobia nos sobre o desempenho animal seriam tanto a redução dos efeito s
de doenças subclínicas sobre o c rescimento , como evitar que certas bactérias
sensíve is entrem em competição com o hospedeiro por nutrientes. Outra pos sibi -
lidade é de que promotores de c rescimento tenham um impacto positivo so br e o
sistema imune do hospedeiro, afetando hormõnios , citocinas e outros fatores
relacionados à resposta imune (McEwen & Fedorka-Cray , 2002). Assim , pode -se
pensar que exi ste um custo orgãnico ao se tolerar a ação dos patógenos em
desenvolvimento no meio interno do animal.

Antibióticos na prevenção e controle de patologias


Os agentes antimicrobianos são fornecidos aos bovinos , principalmente , para
controle de abcessos e prevenir ou tratar doenças respiratórias e relacionadas
com estresse de viagem com refle xos na conversão alimentar (McDermott et aI. ,
2002). Nos Estados Unidos, por exemplo , é rotina fornecer pelo menos um
agente antimicrobiano na água ou no alimento durante o confinamento (McEwen
& Fedorka-Cray, 2002).

Antibióticos são fornecidos a bovinos em terminação para o controle do absces -


so de fígado. A presença de abscessos pode reduzir o ganho de peso e o seu
controle , aumenta a eficiência alimentar em 10%. Além de controlar abscesso de
fígado, os antibióticos também evitam o crescimento de microorganismos
nocivos no trato gastrintestinal. Essa redução ocasiona menor competição por
nutrientes entre esses microorganismos e o hospedeiro. Antibióticos também
podem diminuir o timpanismo , mas existem ainda poucos dados a respeito
(Stock & Mader, 1998) .

Alguns dos efeitos dos antibióticos podem ser atribuídos ao estado mais
saudável das mucosas do trato digestivo quando em tratamento, auxiliando a
absorção de nutrientes e evitando a passagem de bactérias patogênicas (Sewell,
1998) .

Os níveis de antibióticos para uso contínuo na dieta variam de 35 mg a 100 mg/


cabeça/dia . Altos níveis, de 250 mg a 1 g/cabeça /dia, são utilizados em perío-
dos de três dias a quatro semanas. A magnitude da resposta a antibióticos é
Uso de antimi c ro bi anos na prod ução de b ov inos e dese nv o lvim ent o d e resis t ênc ia 15

variável. Geralmente , anim ais em est resse , como na desmama , transporte e ao


in íc io do confin am ento , são os mais beneficiado s. Beze rr os costu m am res pond er
m elh or que novilh os de so breano ao f orn ec im ento de anti bióticos (Sewe",
1998) . Ant ib ióti cos geralmente dão melhore s resultados quando fornecidos com
di et as com alt a proporçã o de volumosos (Kun kle & Sand , 1998) .

Como co ntr apo nto , deve ser co nsiderado que o s antibiót ic os pod em aumentar a
susce tibilid ade de animais à inf ecção pela supressão d a flora norm al, aumentan -
do a chanc e de patógeno s co loni zarem o loca l, e pela se leção de agentes
resis tentes . Embora não ex istam dado s compar áve is para animais , esti m a-s e que
de 3 % a 26 % das infecções por Salmonella resistente em seres humanos são
adquiridas por mecani smos de seleção assoc iado a tratamentos com antibióticos.
Esses agente s podem tamb ém prolongar a eliminação e aumentar a concentração
de pat ógenos resistentes nas fezes , o que seria um fator de aumento de risco
para os consumidores, ainda que ex istam relatos de redu çã o da carga de
patóg enos (McEwen & Fedorka-Cray , 2002) .

Antibióticos como promotores de crescimento


Promotores de crescimento são substâncias , naturais ou sintéticas, ou organis-
mos vivos , adicionados às ra ç ões animais com os objetivos de aumentar o
ganho de peso , melhorar a eficiência alimentar e reprodutiva , bem como diminuir
a mortalidade (Nicodemo, 2001). A ação dos antibióticos como promotores de
crescimento ainda não está completamente definida, mas muito já se conhece
sobre o mecanismo de ação de uma classe de antibióticos, os ionóforos (Gewehr
& Lawisch, 2003) . Uma revisão sobre a utilização de ionóforos para bovinos
pode ser encontrada em Nicodemo (2001).

Antibióticos ionóforos alteram as características da fermentação , resultando em


mudanças metabólicas favoráveis no rúmen (Nagaraja & Taylor, 1987) . Em
dietas com alto teor de grãos, ionóforos geralmente reduzem a ingestão de
alimento em cerca de 8 % a 10 % e melhoram a conversão alimentar, mantendo
ou aumentando o ganho de peso diário, sem afetar as características de carcaça
(Nicodemo, 2001).

As ações dos ionóforos sobre o desempenho parecem resultar de uma série de


efeitos sobre o metabolismo . Os ionóforos melhoram a eficiência do metabolismo
de energia alterando os tipos de ácidos graxos voláteis produzidos no rúmen
(aumento de propionato, redução de acetato e butirato) e diminuindo a energia
16 U so d e antiml c ro b ian os na pro du ção de bov in os e dese nvo lvim ent o d e res ist ê nc ia

perdida durante a fermentação do alimento. O melhor desempenho animal é


resultante de maior retenção de energia durante a fermenta ç ão ruminal ; os
ionóforos reduzem a degradação de proteína do alimento e podem diminuir a
síntese de proteína microbiana , aumentando a quantidade de proteína de origem
alimentar que chega ao intestino delgado (Nicodemo , 2001) .

Aditi v os alimentares antimicrobianos são utilizados como promotor es de c re sci -


mento e para melhoria da conversão alimentar. Monensina e lasolacida sã o
antibióticos usados extensivamente para melhorar a conversão alimentar.

O mecanismo pelo qual a monensina inibe a degradação da proteína não está


claro. Embora essa atividade tenha poucas implicações para bovinos em dietas
com alto teor de grão, os efeitos podem ser significativos em bovinos em
crescimento recebendo dieta à base de forrageiras, quando a proteína é
suplementada abaixo dos requisitos e ionóforos podem reduzir a incidência de
acidose (por meio de aumento no pH ruminal e inibição de bactérias produtoras
de ácido lácticol. timpanismo e coccidiose. A redução dessas patologias melhora
o desempenho animal.

A seletividade do ionóforo depende da permeabilidade do invólucro celular,


Bactérias gram-positivas e aquelas com estrutura de parede celular semelhante a
estas (cujo invólucro celular é composto apenas de parede celular) são mais
inibidas que as gram-negativas típicas (cujo invólucro celular é formado por
parede celular e membrana externa) por monensina e outros ionóforos parecidos.
As bactérias gram-positivas são as principais responsáveis pela formação de
ácido acético, butírico, fórmico e hidrogênio. As bactérias que produzem ácido
succínico ou fermentam ácido láctico são geralmente resistentes aos ionóforos
(Nicodemo, 2001).

Resistência a antibióticos

Após a introdução na década de 1940 em situações clínicas, os antibióticos têm


sido usados como agentes terapêuticos efetivos, mas o seu uso tem sido
freqüentemente limitado pelo aparecimento de patógenos resistentes aos antibió-
ticos (Trieu-Cout et aI., 1987) (Tabela 1), Resistência a antibióticos é vista
como um problema ecológico, que inclui a ecologia dos genes de resistência
também como a ecologia da resistência bacteriana (Salyers, 2002),
U so de antimi crobl ano s na produ çã o d e b o vi no s e d ese nvo lvim ent o d e res ist ên cia 17

Tabela 1. Coincidência temporal entre a descoberta/produ ção de antimicrobianos ,


início de uso clínico e ocorrência de resist ência.

/ . .. I •
--~~~~~~~~. .
Penici lin a 1940 1943 1940
Estr eptomicina 1944 1947 1947 , 1956
Tetracic lin a 1948 1952 1956
Eritromicina 1952 1955 1956
Van comicina 1956 1972 1987
Ácido nalidi xic o 1960 1962 1966
Gentamicina 1963 1967 1970
Fluoroquinolonas 1978 1982 1985

Fonte: Sch wa rtz & Ch as lus·Dancla. 2001 .

A evolução da resist ência bacteriana aos antibióticos está relacionada com o


aumento do uso dessas drogas em hospitais e na produção animal. Adicional-
mente , é difícil afirmar a extensão em que isso ocorre e o impacto da transmissão
na atual disseminação da resistência em humanos IFedorka-Cray et aI. , 2002) .

As bactérias se adaptaram rapidamente aos antibióticos por meio do desenvolvi-


mento de resistência. É comum ocorrer resistência microbiana cruzada a várias
moléculas de cada grupo de antibióticos (Skold, 2000) . Já no final da década de
1960 foi detectada e analisada a resistência transferfvel em relação aos antibióti-
cos. Um grande reservatório de resist ência foi identificado em animais domésti-
cos , quando o plasmídio codificando a resistência à oxitetraciclina foi encontrado
em Sa/mone/la typhimurium, uma bactéria capaz de causar zoonose (Witte,
2000) .

As bactérias podem se tornar resistentes a medicamentos utilizados para o


tratamento humano , podendo levar a um aumento nas doenças e até mesmo à
morte . A utilização de antibióticos como promotores de crescimento em espécies
domésticas, em baixas dosagens (20 mg a 150 mg/kg alimento), leva ao
aparecimento, rapidamente , de linhagens resistentes a antibióticos na flora
intestinal, que também contém bactérias patogênicas como Sa/mone/la sp . Por
meio das fezes ou pelo consumo de produtos de origem animal (carne, leite,
18 Uso de an t imi c robian os na produ ção de bovino s e dese nv olvi m ent o de resis t ên cia

OVOS) , uma parte das bactérias dissemina-se e coloniza o trato gastrintestinal de


seres humanos (Aarestrup et aI. , 1998).

As estruturas de alguns promotores de crescimento, como avoparcina,


virginiamicina e avilamicina , são semelhantes às estruturas de antibióticos de
última geração desenvolvidos para uso humano , v ancomicina , pristinamicina e
ziracina , respectivamente . Bactérias resistentes a esses antibióticos foram
encontradas no trato gastrintestinal de aves e suínos . Um lev antamento da
resistênc ia de bactérias a agentes antimicrobianos feito na Dinamarca IA arestrup
et aI. , 1998) mostrou resistência adquirida por bactérias a todos os agentes
antimicrobianos utilizados como promotores de crescimento , com maior freqüên-
cia de resistência à avilamicina, avoparcina , bacitracina, flavomicina ,
espiramicina , tilosina e virginiamicina.

o uso de avoparcina como promotor de crescimento foi banido na Comun idade


Européia depois que a sua utilização como aditivo foi associada ao aparecimento
de Enterococcus resistente à vancomicina em animais domésticos . A grande
aceitacão de lasolacida e monensina na pecuária conduziu ao estudo de vários
outros agentes antimicrobianos como avoparcina , laidlomicina , Iysocellina,
narasina , salinomicina, thiopeptina e virginiamicina (Nagaraja & Taylor, 1987).

A relação entre o uso terapêutico de antimicrobianos e o inevitável desenvolvi-


mento de resistência é bem documentado (Linton, 1984). Estudos têm indicado
que a transmissão de resistência entre bactérias encontradas em nichos ecológi-
cos bastante distintos é possível. Práticas industriais de produção animal
comportam populações extremamente grandes de bactérias que se comunicam
geneticamente , propiciando que um evento genético raro se dissemine sob a
intensa pressão de selecão (Skold , 2000) .

A convivência de bactérias com agentes antimicrobianos acarreta a co-evolução


de bactérias adaptadas a esses agentes. Estudos realizados na Holanda mostra-
ram que a prevalência de resistência à tetraciclina em salmonelas isoladas do
homem ou de animais aumentou acentuadamente enquanto durou a permissão
para o uso de tetraciclina como promotor de crescimento, diminuindo após a
proibição. Na Inglaterra, após a proibição de tetraciclina como promotor de
crescimento, o percentual de Salmone/la typhimurium resistente, isolada de
bezerros, caiu de 60 % em 1970 para 8% em 1977, indicando que a supressão
do uso contribui para a redução da resistência (Bogaard & Stobbering, 2000).
Uso de antimi c robi anos na produ çã o d e bov in os e d ese n vo lv im ent o de resis t énc ia 19

Bac t éria s gram-nega tivas, em geral , permanecem suscetíveis à gentamicina, à


am ic ac ina e às polimi xina s. São tamb ém suscetíve is a ce falo spo rina s de 2 ' e 3"
geração, como ce furoxim a e ce fop erazon a. A maioria é resist ent e à
es tr eptomicina, neo micina , tetraciclina , amp ic ilina e amoxicilina (Erskine et aI.,
20021.

Bactérias gram -negativas do rúm en tornaram -se m ais resistentes ao ionóforo ,


m onensin a e tetrona sina co m o aumento da co ncentr acão desses produto s. O
aumento da resist ência cau sou aumento d a resis t ênc ia a outro ionóforo -
la solacida - e a um antibiótico - avoparcina (Newbold et aI., 19931 .

A se leção d e resist ência bacteriana no homem tem sido associada a res íduo s no s
alimentos d e orig em animai. causando o aumento do número de bactérias
resistentes colonizando o inte stino humano (Semjén , 20001. A maior parte da s
investigações sobre transf erência de re sistência de bact érias de animais para
bactérias do homem está relacionada com bac t érias gram-negativas causadoras
de infecções aliment ares, como Sa/monel/a sp., Campy/obacter sp. e Yersinia sp.

Os reservatórios primários de Sa/monel/a typhimurium são bezerros, mas


ovelhas , cabras , suínos, aves e cavalos também são envolvidos . Diversas
epidemias relacionaram-se a um determinado tipo de bacteriófago - fagotipos
(DT 29 em 1963, DT 204 em 1977 e DT 204 e DT 193 em 19801 , com um
determinado perfil de resistência a antibióticos . Tratamento efetuado nos animais
resultou no aumento da pressão seletiva, com a ocorrência de multirresistência
nas amostras. O fagotipo DT 104, por causa da sua resistência cromossomal
para , pelo menos , cinco antimicrobianos (ampicilina, cloranfenicol,
estreptomicina, sulfonamidas e tetraciclinal tem sido uma preocupação desde
1984. Dentre os veículos de transmissão de S. typhimurium para o homem,
estão o leite cru e derivados lácteos (Bogaard & Stobbering, 2000).

Em observações recentes foram detectados genes intactos relacionados com a


resistência de avoparcina em antibióticos preparados para uso como promotores
de crescimento, além de outros fragmentos de DNA da bactéria usada na
produção . Os genes de resistência à avoparcina são semelhantes aos genes de
resistência ao antibiótico vancomicina, a qual está aumentando atualmente
(Resistance ... , 2004).
20 Uso de antimi c robian os na produção de bovinos e desenvolvimento de res istê ncia

Em bactérias patogênicas como E. coli, Salmonella, Enterococcus ,


Staphylococcus , Campylobacter, têm sido observados fenótipos multirresistên cia
a antibióticos (McOermott et aI., 2002) .

Mecanismos de resistência
As bactérias podem desenvolver resistência de maneiras diferentes , mas princi-
palmente por mutação direta e aquisição de genes de resistência por meio de
conjugação.

A habilidade de adquirir resistência genética por transferência horizontal de genes


pode ocorrer em horas e é um grande motivo para preocupações , especialmente
quando a relação entre genes resistentes pode conferir resistência a mais de uma
classe de antibióticos (Hardy, 2002).

Em função da relevância dos estudos relacionados com o desenvolvimento de


resistência bacteriana, quatro grandes grupos de bactérias têm sido alvos
prioritários de considerações e de programas de monitoramento: Salmonella sp .,
E. coli, Campylobacter sp. e Enterococcus sp., em especial Enterococcus faecium
e Enterococcus faecalis (Palermo Neto & Titze , 2002).

Entre os elementos genéticos de transferência de resistência estão os plasmídios ,


transposons e integrons/cassetes gênicos. Esses três elementos são compostos
de fitas duplas de ONA, mas diferem em tamanho, propriedades e formas de
dispersão (Schwartz & Chaslus-Oancla, 2001; Hardy, 2002).

Plasmídios são uma classe importante de elementos genéticos móveis que


funcionam como cromossomos acessórios, que podem se replicar automatica-
mente. Eles carregam genes para a inativação de antibióticos, metabolismo de
produtos naturais e produção de toxinas . Os plasmídios diferem do cromossomo
bacteriano por serem dispensáveis, dependendo das circunstâncias. Alguns
plasmídios possibilitam às bactérias a transferência de material genético entre si
por meio de contato direto célula a célula, no processo de conjugação.

Os genes que conferem resistência a múltiplos antibióticos estão ligados juntos


nos plasmídios do fator de resistência. Os maiores desses plasmídios contêm
fator de transferência de resistência além dos genes de resistência, que codificam
enzimas para a in ativação de drogas específicas. Fatores de resistência associa-
dos com uma região de transferência de resistência podem ser transmitidos em
Uso de antimi c robiano s n a produ çã o d e bovino s e d esen vo lv im ento d e res ist ênc ia 21

culturas mistas mesmo entre diferentes espécies bacterianas. Assim, resistência


múltipla a drogas pode ser " infeccio sa".

Plasmídios de f ator de resistência pequenos não têm região de transferência de


resistência, e geralmente conferem resistência a um único antibiótico . Um fator
de resistência infeccioso se forma quando o gene de resistência , altamente
móvel , se une a plasmídios de transferência de resistência . Elementos genéticos
móveis que permitem a movimentação de genes entre lugares não homólogos no
DNA, como plasmídios de resistência , são chamados transposons. Em E. co/i,
por exemplo, podem ser encontrados os transposons Tn3, Tn5 e Tn257 1, que
conferem resistência à ampicilina, à canamicina, e a anticorpos múltiplos e
mercúrio, respectivamente (Stryer, 1995).

Cassetes gênicos - grupo de genes adjacentes - são pequenos elementos


móveis, apenas detectados em bactérias gram-negativas. Geralmente consistem
em um sítio de recombinação específico e de um único gene que é
freqüentemente um gene de resistência antimicrobiana. Cassetes gênicos não têm
mecanismos de replicação, nem de mecanismos de transposição. Em geral, estão
presentes em regiões específicas dos integrons, que geralmente representam
transposons intactos ou não, com duas regiões preservadas. Uma delas, a região
conservada 5', codifica a integrase responsável pela inserção específica de
cassetes gênicos e também hospeda o promotor para a expressão de genes do
cassete . A outra região conservada 3' pode representar outro gene de resistência
(Schwartz & Chaslus-Dancla, 2001).

A maioria dos casos de resistência está relacionada com genes que residem em
plasmídios ou em transposons e que, desta forma podem ser rapidamente
disseminados entre diferentes gêneros de bactérias. Com o desenvolvimento da
engenharia genética, nos anos de 1970, mostrou-se a possibilidade de genes
heterólogos poderem ser expressos em bactérias que são extremamente distantes
na sua base evolucionária. Genes originários de bactérias gram-positivas são
prontamente expressos em microorganismos gram-negativos, mostrando, assim
as possibilidades de poo/ de genes resistentes de bactéria gram-positiva migran-
do para bacilo gram-negativo.

A contaminação de alimentos de origem animal por bactérias resistentes e a


subseqüente veiculação destas, ou de genes de resistência destas bactérias para
aquelas presentes na microbiota humana, são uma possibilidade concreta. O
22 Uso de antimi c robia nos na produ çã o de bov ino s e dese nvolv im ento de res ist ên c ia

antimi crobiano presente na ração de animais pode , ao alcançar os intestinos


deles , inibir o crescimento ou destruir algumas bactérias como os Estreptococos
sp ., Es tafílococos sp . e os Enterococcus a eles sen sívei s, selecionando outras
naturalmente resi stentes. Estas , uma vez livres da competi ç ão, teriam melhores
condições para proliferação, e poderiam alcançar o ser humano por meio de um
alimento contaminado .

Em que nível o promotor de crescimento seleciona organismos resistentes no


bo vino? Qual a prevalência de Enterococcus resistentes na população humana?
Se eles estão transitoriamente no trato gastrintestinal , podem transferir resistên-
cia a outros organismos? Se podem , em que extensão? Enterococcus de bovinos
podem colonizar seres humanos? Se podem , causam doença? - esses
questionamentos foram considerados imprescindíveis para a avaliação do uso de
antibióticos na alimentação animal em relação ao risco potencial para as popula-
ções humanas. Algumas dessas perguntas já foram respondidas .

Os estudos sobre a resistência à oxitetraciclina e estreptotricina em E. calí e


sobre resistência a glicopeptídeo e estreptogamina nos Enterococcus revelaram
que os reservatórios de genes resistentes na flora de diferentes ecossistemas
podem se comuni car. Como comensais no trato digestivo, ambas as espécies
t êm um papel significativo na aquisição e disseminação de genes resistentes,
como provavelmente o fazem outras bactérias desse ecossistema , como
Lactococcí. O papel desempenhado por E. faecíum como patógeno em pacientes
com comprometimento imunológico, o desenvolvimento de resistência nessas
espécies (especialmente a transferência de resistência a glicopeptídios , antibióti-
cos de último recurso) e a escassez de novos antibióticos reavivaram o debate
sobre o uso de antibióticos como promotores de crescimento e seu papel na
geração de resistência a antibióticos.

Um outro ponto que emergiu do estudo da resistência a antibióticos diz respeito


ao aumento da severidade de algumas doenças quando medicadas com um
determinado antibiótico; por exemplo, antibióticos inibidores de DNA aumenta-
ram a severidade da infecção de E. calí: 0157 em camundongos, enquanto o
uso de fosfomicina foi benéfico no controle dessa infecção (Skold, 2000).

O uso de antibióticos em animais pode contribuir para a selecão


. e disseminacão
.
de resistência entre populações de bactérias em animais , especialmente ao estar
Uso de antimicrobianos na produ ção de bovinos e desen vo lvimento de re sistência 23

associada a outras práticas comuns, como confinamentos e transporte de


animais portadores entre rebanhos ou regiões.

o fornecimento de antibióticos como promotores de crescimento expõe as


bact érias a concentrações subletais de drogas por períodos relativamente longos ,
podendo contribuir para a seleção e manutenção de populações re sistentes.
Microorganismos que toleram os efeitos das drogas sobrevivem e se multiplicam ,
excluindo as populações que não são resistentes e não podem sobreviver.
Algumas vezes a maioria dos animais de um rebanho recebe doses terap êuticas
de um agente, como medida profilática ou metafilática, prática que pode conduzir
ao desenvolvimento de resistência (McEwen & Fedorka-Crav, 2002).

Transferência de resistência a antibióticos


A resistência antimicrobiana emerge do uso de antimicrobianos em animais e a
subseqüente transferência de genes de resistên cia a bactérias entre animais e
entre produtos animais e o ambiente.

A resistência pode se manifestar em termos de indivíduo, grupos e rebanhos ou


em uma região . Existem três rotas possíveis para o desenvolvimento de resist ên-
cia a antibióticos: a) bactérias se tornam resistentes no animal e são transferidas
a humanos que consomem alimento contaminado por meio de manipulação e
preparo inadequados; b) a resistência microbiana a antibióticos se desenvolve na
população bacteriana animal, que pode não ser patogênica ao homem , mas pode
transferir essa resistência a bactérias humanas; e c) resíduos de antibióticos no
alimento dão oportunidade para bactérias humanas desenvolverem resistência
(Hardv, 2002).

Entre os fatores que determinam a seleção e disseminação da resistência, estão:


espécies animal. dose, duracão do tratamento, número de animais tratados,
práticas de manejo animal, transporte animal e potencial para disseminação
ambiental. Por exemplo , esterco de animais criados em condições intensivas é
espalhado em pastagens e capineiras, como fertilizantes (McEwen & Fedorka-
Crav, 2002).

Há muitas possibilidades de comunicação entre grandes reservatórios transferí-


veis de resistência a antibióticos, hospitais e produção animal. A principal rota
de transmissão aos seres humanos é via cadeia alimentar: de seres humanos para
animais domésticos, que tem origem nos hospitais, disseminando-se por meio
24 Uso de antimicrobianos na produ çã o de bovinos e de senvol v imento d e resi st ênc ia

das fezes e esgotos (Witte et aI., 2000), e disseminada com clones de linhagens
bacterianas ou por transferência horizontal entre diferentes linhagens.

Transferência de resistência a glicopeptídios


A resistência de Enterococcus aos antibióticos glicopeptídios é um motivo de
grande preocupação. Os glicopeptídios são utilizados como antibióticos de
reserva no tratamento de infecções causadas por Enterococcus resistentes à
ampicilina e por estafilococos com resistência múltipla a antibióticos. Esses
antibióticos também são indicados para pacientes alérgicos à penicilina . Relatos
de vários países europeus documentaram surtos de infecções por Enterococcus
resistentes à vancomicina, um glicopeptídio (Anadón & Martinez-Larranaga,
1999).

Witte et aI. (2000) apresentaram dados sobre a transferêncja de resistência a


glicopeptídios, que ilustram de maneira clara esse processo em bactérias,
mostrados a seguir. Dados sobre resistência a antimicrobianos usados em
medicina veterinária (tetraciclinas; macrolídios, lincosamidas e estreptograminas;
p-Iactams; aminoglicosídeos; sulfonamidas e trimetropina; fluoroquinolonas;
cloranfenicol e florfenicol) são encontrados em Schwartz & Chaslus-Dancla
(2001 ).

A base da resistência a glicopeptídios em Enterococci é fenotípica e


genotipicamente heterogênea, mas se baseia no mesmo princípio: clivagem do
terminal O-alanina dos grupos finais D-ala-D-ala do ácido muramínico como
precursor de parede celular por peptidases e substituição por ácido D-P -
hidroxílico por ação de uma ligase (Witte et aI., 2000).

Glicopeptídios não podem bloquear os correspondentes depsipeptídios como


fazem com ácido muramínico D-ala-D-ala. Os genes do mecanismo de resistên-
cia, ligase, peptidase e desidrogenase estão inativos na ausência do
glicopeptídio. Sua expressão é regulada por um processo com sensor ativado
pela perturbação da síntese de membrana celular por glicopeptídios (ou alguns
outros antibióticos com atividade na parede celular) e promove a defosforilação
de um regulador de resposta, que ativa a região promotora do operon de resis-
tência.
Uso de antim ic rob ianos na produção de bovinos e desenvolvimento de resistê ncia 25

Modos de disseminação do grupo genético Van A


o genótipo Van A , mais observado, media a resistência ao glicopeptídio de alto
nível , vancomicina, teicoplanina e avoparcina podendo induzir à expressão. No
caso dos genótipos Van B e Van O, apenas vancomicina pode induzir. O
grupamento de gene van A localiza-se nos transposons do tipo Tn 1546.
Geralmente esses transposons estão integrados a plasmídios de conjugação que
conferem conjugação entre Enterococci, mas também deste para outras bactérias
gram-positivas.

A disseminação do grupo genético Van A provavelmente dá-se pela integração


em diferentes plasmídios de conjugação e transferência freqüente entre diferentes
linhagens de bactérias. A ocorrência dos mesmos subtipos de resistência a
glicopeptídios de origem humana e animal indica a comunicação dos reservatóri-
os de resistência gênica .

Seleção de resistência a avoparcina como promotor de


crescimento
A avoparcina tem um papel importante na seleção para a emergência e difusão de
resistência a glicopeptídios na produção animal (Tabela 2). Há indicações da
disseminação da resistência a glicopeptídios por meio do consumo de produtos
cárneos.

Disseminação da resistência a estreptograminas por


patógenos gram-positivos
Estreptograminas são uma mistura de dois compostos químicos ni;ío relaciona-
dos, A e B, que agem sinergicamente in vivo contra patógenos gram-positivos,
como Estafilococcus, Streptococcus e Enterococcus. Quinupristina /dalfopristina
é uma combinação utilizada como antibiótico de último recurso em infecções
resistentes a glicopeptídios.

A resistência contra compostos B é bastante disseminada entre Enterococcus e é


mediada pelo grupo gênico ermB (por exemplo, no Tn917) que confere resistên-
cia a B- macrolrdios-lincosamide-estreptogramina.
N
(j)

Tabela 2. Substâncias antibacterianas usadas como aditivo s alimentares em pr odu ção anim al n a Euro pa .
cVl
o
Q.

Olaquinodi x Quino x alina Inibiçã o da síntese de DNA Sem redução? Outras quin oxa lin as Parad a em julho/1 999 '"
Q)
J

Bacitracina Polipeptídeos
Inibe defosfo rila ção de Mutação es pont á· Desco nh ec id a Parada em janeiro/ 3
i'i
de zinco ca rrea dor lipídi co (und ec a· nea, não c ara c teri - 1999 (3
prenilpirofo sfat o ) de pre· za d a ~
O>
J
_ _ _ _ _ _~ _ _ ~_ _ ._~ c ~ e.:....~.!f.;!! e c elul ar o
Vl

J
Fl avomicina Fosfoglico Inibi çã o da sínt ese d a Desco nh ec ido Desco nh eci do Em uso O>

1i el!Le...?...,._
_ _ _ _ _ _--, __
"p ~de celul ar 1J
(3
Q.
C
Monensina , lonóforos Desa greg açã o da m embr a- Desco nh ec ido D esc onh eci do Em uso -o

-- .
Q).
salinomicina na c itopl as m áti ca o
.~---------- Q.

Tilisina Macrolidio s Lig açã o à subunid ade M etil açã o de 23S Qu and o co nst it utivo; Parada em ja neiro/ '"
O"
t odo s m ac rolíd io s, 1999 o
ribos sô mi ca 50S inibi çã o d a RNAr na pos ição <
liga çã o de amino ac il -RNAt 2058 lin cosa mi d in as , S
o
Vl
e peptidil transf era se es tr ept og ramin a-B
'"
Q.
Virginia- Inibi çã o da mudan ça conf or-
Estrepto- O · hidro lase , O u t ras Parada em janeiro / '"
Vl
micina m ac io na I da protein aribo s-
gramina m eca ni smo de estrep t og ramin as 1999 '"J
som al 245, evitand o a port eiro? , o<
_ _ _ _ _ _ _ __ _ __ _! !t ensão da ~ e~ prot éica ;:-
ace til tra ns f er ase
3
M odifi caçã o de V anco mi ci na, t eico· Parada em ab nl /1997
'"J
Avoparcina Glicopeptídeos Inibição da transgli co liza ção Õ
prec urso r de pl anin a, d ap to · Q.

--_.... peptid ogli ca nas mi c in a, avo parci na


'"
Avilamicina Oligossaca - Inibiçã o da li g açã o de for- Nã o identifica do Eve rnin o mi c in as Em uso
_~_~--LÍcleJ)s _ _ ~ il..m e ti~,nina ao~ b~ o aind a
Fonte : Witte et aI. , 2000.
Uso d e antim icrob ia nos na pro du ção d e bov ino s e d ese nvo lv im ent o de res ist ên cia 27

A mi stur a de es tr ep t og ramina s A e B ultr apa ssa a res ist ência a co mpo sto s B,
m as é in at ivada na res ist ência a compo stos A. A res ist ência contra
es treptogramin a A em Enterococcus é m ediad a por acet iltr ansferase Sat A da
es tr ept og ramin a. O co mp osto A da est reptogr amina dalfopri stina é est ru tu ralm en -
t e relacion ado co m a estreptogr amina vi rginia mi cin a, que é usada co mo promotor
de cresc iment o.

SatA m edi a a resistência t anto à virginiamicina, como à quinupri stina /


dalfopristina . Recent emente se demon st rou a presença de novo gene
enterocócico , Sat G, qu e codifica uma aceti ltran sferase alternativa que confere
re sistência a compostos de estreptogramina A, e então, para quinupristina/
dalfopri st ina . Há indicações de que criatórios avícolas são reserv ató rios de Sat G
(Witte et aI. , 2000).

Resíduos de antibióticos

Análise de risco no controle de resíduos de


antimicrobianos em produtos de origem animal
A administração via oral de antibióticos é responsável por 20 % dos resíduos
presentes na carne e no leite (Gewehr & Lawisch , 2003) . Problemas potencial-
mente associados com resíduos de antibióticos são reações alérgicas, efeitos
tó xico s diretos e mudança nos padrões de resist ência de bactérias expostas a
antibióticos (Jacobson & Consumer, 2003). Subprodutos de origem animal
usados como alimentos apresentaram bactérias resistentes à amoxilina e
ampicilina (Hofacre et aI. , 2001) .

Os sistemas de regulamentação são elaborados com o objetivo de assegurar que


resíduos de drogas e seus metabólitos nos produtos de origem animal não
excedam o limiar de perigo . A análise de risco é um processo científico compos-
to de vários procedimentos : avaliação de risco que compreende a identificação e
caracterização do perigo ; avaliação de exposição e caracterização do risco;
manejo de risco; e comunicação do risco. O procedimento padrão para avaliar a
segurança de contaminantes químicos no alimento para consumo humano na
União Européia é definido pela ingestão diária aceitável - IDA. O estabelecimento
da IDA, a partir da determinação do nível no qual não há efeito observável -
NOEL -, e a aplicação de um fator de segurança adequado são a base da
identificação e caracterização do perigo . O procedimento de IDA foi desenvolvido
considerando os efeitos determinados na toxicologia clássica e é aplicado aos
28 Us o d e antlmlcro bi anos na p rodução de bov in os e desenvolvim en to d e res is t ênc ia

res ul tados de es tudos de to xi dez pad ron iza dos em anim ais de labo rat ório . O
NOEL para o crit ério ma is sen síve l, no rma lm ent e nas mai s se nsív eis es péc ies d e
anima is experim ent ais , é o ponto de partida . A ID A é en tã o calcu lada pela
divisão desse valo r por um fato r de seg ura nça, ge ralme nt e 100, assumi ndo qu e
hum anos são dez vezes mais sensíve is qu e animais e que na popu lação humana
há um a v ariação de dez vezes na fa ixa de se nsibilidade . A ID A rep resent aria ,
então , o total de res íduos de droga , na fo rm a or iginal e seus m etabó litos , qu e
pod eria se r consumid a d iari am ente com seg ur ança durante a v ida (A nadó n &
Martin ez -Larr anaga , 199 9 ).

A IDA pod e tamb ém ser calcul ada usando dado s f arm aco lóg icos o u
m ic robio lógico s dos níveis d e ef eitos não-farma co lóg ic os o bserva do s. Entret an-
to , o impacto de bai xos níveis de antibióti cos na flor a gas trint estin al não foi
examinado diretament e nesses estudos de to xic ologia . Para sub st ância s com
ati vidade m ic rob iológica, o que se usa é o principal efeito mi crobiológico
ad verso , ad vindo dos resíduos de drogas antimicrobi anas em alimentos d e
origem animal atuando na flora bacteriana do trato gastrintestinal humano ,
especialmente no cólon (Anadón & Martinez-Larran aga , 1999) . Já a capacidade
que têm os antimicrobianos de induzir resistência bacteriana, atuando diretamen -
te nas bactérias indígenas do TGI humano , é avaliada por meio da determinaç ão
in vitro ou in vivo da concentração inibitória mínima - CIM - de um
antimicrobiano (Organization Internationale des Epizooties - OIE - , 2001).

A identificação do perfil de resíduos e seu declínio no animal tratado embasa a


definição dos limites máximos de resíduos - LMRs . A União Européia prevê o
estabelecimento de LMRs para todos os tecidos comestíveis (Anadón &
Martinez-Larranaga , 1999). Órgãos como fígado e rins removem as drogas
residua is e reduzem significativamente o conteúdo das mesmas na carne, sendo
esses os tecidos preferencialmente testados para resrduos ,

Entende-se por LMR de uma substância qurmica a quantidade dela que pode
estar presente em um quilo de alimento e que, se ingerida pelo ser humano
durante toda sua vida, não produza efeitos indesejáveis ou tóxicos (FAO,
1998). O máximo consumo d iário teórico - MCDT - também é calculado,
baseado na soma da ingestão média de cada produto e seu respectivo LMR
(Anadón & Martinez-Larranaga, 1999),

O Codex alímentarius, por meio de um grupo de especialistas que compõem o


U so de an tlfnl c ro bl anos na produ ç ão d e bov ino s e d ese n volvimento de reSist ênCia 29

Join t Expe rt Co mmiu ee on Food Adi cti ves - JE CFA - , indi ca qu al o grau
aceit áve l de resídu os de m edi ca m ento s de u so ve t erin ári o em alimentos de
ori ge m an im al IFAO , 1993 ). Tes t es são necessá ri os para em basa r as dec isões
do Co d ex alimenrarius, em especia l qu anto aos ad itiv os em rações 10rganiz ati on
Int erna ti onale des Epizooti es, 2001) .

o LMR es t abe lec id o para antibióticos se rve para proteger o con su midor . Por
exe mplo , as lactonas macrocíc li cas são um grupo de antibióticos larg amente
utilizados em medicina humana e anima l. Til osina é um antibiótico de sse grup o ,
ativo principalm ent e contra bact éri as gram -positi vas. Ut ili zada como agente
t erapêutico , reduz a incidência de abscesso de f ígado IAare strup et aI. , 1998 ;
Stock & M ader , 1998) . A ss im , par a prot eção do consumidor, em músculo
bovino o LMR da tilo sina é def inido em torno de 100 >Ig por kg I (Draisci et aI.,
200 1). Antibi óticos marcrolídios incluindo eritromicina e tilosina, são determina-
do s prin ci palment e por ensaios microbiológ icos, su fi cientes para as exigências
das autoridad es. Al ém desses ensaios , um método de ELISA está disponível para
reali zação de ava li ações de macrolídios em tecido animal (Draisci et aI., 2001).

Também o radioimunoensaio foi usado (Tanaka et aI., 1988) para monitorar


eritromicina A e seus derivados químicos ; esse método, embora rápido , sensível
e específico, requer o uso de materiais radioativos, nem sempre disponíveis ou
desejados . Outros métodos químicos baseados em cromatografia líquida ,
associados com fluorimetria - LC-FL - , chemiluminescência - LC-CL - ,
ultravioleta - LC-UV -, detecção eletroquímica - LC-ECD - e cromatografia
líquida e gasosa associada à espectrometria de massa, foram utilizados na
detecção de macrolídios em tecido animal. Entretanto , esses métodos requerem
instrumentação sofisticada e cara, aliadas à necessidade de técnicos qualificados _

Os LMRs são fixados tomando por base dados relevantes de toxicologia,


incluindo a informação sobre absorção , distribuição , metabolismo e excreção .
Informações são fornecidas sobre absorção, distribuição e excreção em animais
de laboratório e domésticos; fatores cinéticos que podem alterar a relação entre
resposta e dose; efeitos tóxicos agudos e crônicos; efeitos na reprodução e no
desenvolvimento; e genética e efeitos correlatos, incluindo efeitos
carcinogênicos . Como os animais domésticos recebem aditivos alimentares por
períodos de tempo às vezes longos, conhecimento de bioacumulação, toxidez
crônica, incluindo o risco de interações entre droga e aditivos alimentares e de
30 Uso de ant lml croblanos na prod ução de bov in os e dese nvo lvi m ent o el e res lst énc lJ

problemas associados co m resídu os sã o imp ort antes (Anad ó n & M artin ez -


Larra n aga , 1999).

Exist e um a t end ênc ia n a Uni ão Europ éia para o u so de antibi ó ti cos co m o


promotores de c re sci m ento qu e sejam pouco ou n ada abso rv id os pelo tr ato
gastrint estina l. Sab e-se , por exemp lo , que av il am icina e ardac ina são absor v id os
em alguma extens ão , enqu anto t il osi n a, esp iramic in a , olaqu in do x e ca rb adox são
bem absorvidos após a admini st ração o ral (Anadó n & M artin ez- Larr an aga,
1999).

Resíduo s de ionóforos po li és t eres em alim entos de o ri gem an im al pod em ca u sa r


efe itos adversos n a saúde hum an a, já que po ssu em p ote ntes propri ed ades
ca rdio vasc ulares , mas n ão ha v ia relato de intox icação em humanos assoc iad a
c om o co n sum o de ca rn e (Anadón & Matinez -Larr an aga , 1999). No caso d a
monen sin a, po r exemp lo , a excreção parece ser rápida , após su a ing estão, com
mínima acumu la ção nos t ec id os anim ais. M as ex iste a poss ibilid ade de que a
t axa de exc re ção m etabó li ca seja exce dida , e efe it os tó x icos da m one n sin a
su rjam em animai s re ce ben do d iet a co m m onens in a ou em se res hum ano s
co nsumind o tecidos desses anim ais . Os ionóforos pod em af etar os processo s d a
membrana ce lular de cé lulas eu ca ri ó ticas e de organe las intrace lul ares (como a
mitocôndria) , espec ialm ente os sistemas dependentes de gradient e elétrico ,
e xc itabilid ade ou regulação osmótic a. Aumentos na liberação de cateco lamin as e
na pero x idação de lip ídeos podem co ntribuir para o desequilíbrio ce lul ar ligado à
n ec rose mu scu lar observada na s into x icações. As cé lul as do intestino delgado
seria m o prováve l alv o inicial de ação do s ion óforos, que poderiam alterar a
abso rção de aminoácidos e acúcares (Bergen & Bates , 1984; Novilla , 1992).
N ão foram enco ntrado s dados a re speito da eliminação de ionóforo s no leite.

A co munica ção de ri sco significa tornar a informação disponível de forma


t ran spar ente, ex plicando a extensão do ris co e como é manejado , em uma
perspecti va amp la (Anadón & M artine z- Larranaga , 1999). Produtores,
con finad ores e m édicos-vete rin ários devem ter acesso a informações atua lizada s
sobre o t empo necessá rio antes do abate ou ordenha de animais qu e rece beram
ant ibi ót icos.

Uma da s m ed ida s de manejo de ri sco envolve a estipulação dos pr azos de


ca rênci a adequados. Est es são es tipulados a partir de dados de metabolismo e
farm acoci nética , assegurando que não restem resíduos tó x icos acima dos LMRs
Uso de anl lnll Crobl anos na produção el e bov inos e dese nvo lvlm enl o de reS lsl enCla 31

no s produto s d e ori ge m an im al. Para a det ermin acão d esse pr azo d e ca rênc ia são
co lhida s amo str as em um dete rmin ado num ero mínim o d e anim ais por ponto de
am ostrage m d efinid o de aco rd o co m a esp éc ie. a interva los d e t emp o d efinido s
em fun cão do tempo de eliminação d a drog a IAnadón & M artin ez- Larran aga .
1999).

Gado de corte
Em bovino s de co rt e c ri ados em sist ema e x t en siv o . o u so d e antibi óti c os é
rea li za do co m bai xo índi ce de co ntro le. Ocorre gera lm ente . a partir de problema s
co m beze rr os . di arréia s e pn eum oni as. ou m esmo co m animais qu e apr ese ntam
f ebr e ou lesões es pec ífi cas. A ss im . o co ntrol e da n ecess id ade do u so espec ífi co
e os po ssíveis m onitor am ento s co m rela ção à res istênc ia bacte ri an a aos produto s
u sa dos são rea li za do s em uma esca la menor.

T es t e de su scet ibilidade antimicrobian a par a isoladas d e Sa/monel/a associadas


ao co nfin ame nt o de bovino s reve lou que 2 1,7 % das amostra s f o ram re sis tent es
à t etra c ic lin a comparados com 11 ,2 % de isolados assoc iados com bo v in os n ão
co nfinad os (Be ac h et aI., 2002).

Carnes pro ve nient es de estoques comerciais são fontes pot enciai s de bactérias
res ist ent es a antibióticos. O uso indi sc rimin ado d e agentes antimicrobianos no s
rebanhos vem c ri ando um amp lo re servatório de Sa/monel/a ant ibi ótico -resisten -
te. Em uma amostragem feita em Washington , Estados Unid os, constatou-se que
20 % das carnes de bovino s, suínos e aves , comprad as em superm ercados,
estava m co ntamin adas co m Salmonel/a. Entr e as sa lmo n elas isoladas , foi
d etectada a cepa resistente à ceft ri axo n e e a ce pa Salmonel/a typhumurium
DTl 04 , relacionada com surto s de sa lmon elo se de origem alimenta r (Quirk ,
200 1 ).

A virginiamicina foi usada por décadas como um promotor de crescimento em


fazendas. Entre julho de 1998 e junho de 1999 , a fiscalização encontrou , em
quatro estados americanos, mais de 58 % de produtos de aves contaminados
com Enterococcus faecium resistente à quinupristina-dalfopristina. Bai xo níve l de
resistência foi encontrado em apenas três de 334 amostras de fezes humanas.
Na Europa foram encontradas amostras de E. faecium com alto níve l de resistên-
c ia em isolados humanos a part ir de contaminação alimentar (Quirk, 2001) .
32 Uso de antimicrobiano s na produ ção de bov inos e desenvo lviment o de resistência

Gado de leite
No gado leit eiro , antibi ót icos são u sados p ara tr atam ento prin c ip alm ente de
doencas de bezerros e de vacas adultas . As prin cipais do en ças de bezerro s que
n ecessitam a pr escrição de antibióticos são diarréias, pneumonias e tri steza
parasitária bo v in a. A últim a é uma doen ca ca u sada pr in c ip alm en t e pela assoc ia-
ção dos protozoários 8abesia spp . e da ri quétsia Anaplasma spp. , qu e pa rasitam
os eritró c itos dos anim ais. As espéc ies de an aplasm a são sensíve is às
tet racicl in as , que são usa das para o contro le da doen ça em assoc ia ção a age ntes
es pecíficos para a babesios e .

N a vaca ad ulta , os principai s uso s d e antibacterianos são pa ra tratam ento d e


m as tite , m etrit e, problema s d e casco e lavage ns ut erin as após o parto. O uso
profiláti co de antimicrobiano s no fin al do p eríodo de lactação é um co mponent e
im portante dos programa s de controle de mastite. O antibiót ico é aplicado por
v ia intr am amária no final do período de lacta ção, geralm ente dois meses antes do
parto , quando se interrompe o processo de ordenha e se ini c ia a in vo lu ção do
úbere. Ap esa r do amplo uso da antibiot icoterapia n a secagem da vaca leiteira,
por um período superior a 20 ano s, não há evidênc ia s de res istênci a associada
ao tratamento (Erskine et ai. , 2002).

Um tratamento que é ocasionalmente administrado em rebanhos leiteiro s no


Brasil , embora sujeito a contro vérsias, é a aplicação de isoniazida para tuberculo-
se bo vina. O tratamento é ap licado durante alguns meses, em todo o reba nho ou
some nte nos animais doentes (Brito, 2003).

Em diversos países , o número de bases disponíveis para o tratamento de vacas


leiteira s é limitado . Isso é particularmente enfatizado no tratamento de mastite,
por causa do ri sco de re síduos no leite e na carne de vacas descartadas . No
Brasil , antibióticos de todas as classes estão disponíveis, com exceção de
cloranfenicol, furazolidona e nitrofurazona . O uso destes três produtos é proibido
em preparações farmacêuticas de uso veterinário, em rações e como aditivo
alimentar para animais cujos produtos sejam destinados à alimentacão humana
(Brito, 2003).

Em bovinos leiteiros, a monensina pode ser usada somente na criação de


novilhas de reposiç ão . Os efeitos encontrados em trabalhos experimentais
controlados são aumento da produção em cerca de 5 %, redução no conteúdo de
gordura e propriedades anticetogênicas.
U so d e anti m ic ro b ianos n a p rod uçã o de b ov inos e d ese nvo lv im ent o de resist ên cia 33

Os prin c ip ais mic roo rga ni sm os pat og êni co s assoc iad o s a doença s t ransmitid as
pelo leite são: Sa /m on el/a spp. , Esch erichia co /i , produt o ra d e enterot o xin a
se m elh ant e à de Shigel/a - STE C - , Lis teria mon oc ytogen es, Campy/ob ac ter
i ejuni , Ye rsinia enteroco /itica, S taph y/ococc us aureus, Bacil/us cereus e es péc ies
d e Brucel/a .

A m aiori a do s cas os d e into xicaçã o alim ent ar por STEC IE. c oli 0157 :H7) es t á
relac ion ad a co m co nsumo de carne bov in a, m as tê m sido relat adas infecções
assoc iad as ao co nsumo de leite c ru , qu eijo prep arado c om leite cru e algun s
casos relac ion ado s co m o c on sumo d e leit e pas t euri za do , o qu e m ostr a a
po ss ibilid ad e d e co nt amin açã o pós- p as t euri zação IT eub er & Perr et en , 2 000) .

S taph y/ococcus aure us e es péc ies d e Staphy/o c occus c oagul ase negati v o
re sist ent es a antibiótico s foram isol ados d e diferente s tipos d e qu eijo s prepar a-
dos a partir d e leit e c ru e d e produto s prepar ad os d e ca rn e c rua . A s re sist ênc ias
m ais fr eqü ent es e ca ract eri zad as no nível molec ul ar for am par a c loranfenicol ,
t etr ac ic lin a, eritromi c in a e lin co mi c in a. O s genes de res ist ênc ia a c loranf enicol
f o ram loca liz ado s em S. x y/osus e S. caprae em pla smídio s de 3 , 8 a 4 , 3 kb ,
express ando c loranfeni col acetiltran sf era se. Tod as as amo stras res istent es à
t etra c ic lina apres entavam pla smídio s de 4,4 kb ex pre ss ando a proteína de eflu x o
de tetraciclina TetK IBrito , 2003).

Alguns Staphy/ococcus resistentes à eritromicina continham os genes de eflu xo


d e eritromicina - m sr - , localizados em plasmídio e no cromo ssomo. Os genes
de resi stência à lincomicina e clindamicina - linA - foram encontrados também
em pla smídio IWerckenthin et aI., 2001) .

No Brasil, a re sistência à penicilina v aria de 20 % a 100 % , mas a porcentagem


d e resi stência ao s outros antibióticos é mais bai x a. Os estafilococos coagulase
negativos são menos suscetívei s aos agentes antibacterianos !Brito, 2003).

Bactérias do gênero Enterococccus sp., principalmente as espécies E. faecalis e


E. faecium , podem aparecer como contaminantes de produtos lácteos. Em 15
amostras de queijo s, E. faecalis , E. faecium e E. durans apresentavam resistência
a um ou mais dos antibiótico s: penicilina, cefalotina, furadoin, fucidin ,
eritromicina, tetraciclina e cloranfenicol ITeuber & Perreten , 2000).

Em gado de leite, a mastite bovina é não somente respons ável pela maior parte
34 Uso de antimicrobianos na produ ção de bovinos e desenvolv im ento de res istênc ia

do uso de antib ióticos, como também a ca u sa m ais comum de apa rec im ento de
resíduos de antibi óti cos no lei t e. Mais de 135 espéc ies, sub espécies e so rotip os
de mi croo rgani sm os já foram isolados de infecções da glând ul a m am ári a bo v in a,
mas a maioria das infecções é ca u sada po r es péc ies de Staphylococcus,
Streptococcus, Corynebacterium e bactérias gram-negativas , princ ipalmente do
grupo dos co lif ormes IBrito , 20 03) .

Por ser um dos age nt es ma is freqüentement e iso lados, S. aureus tem sido obj eto
de numerosos estud os de res istên c ia a ant imi c rob iano s n os ú ltim os 20 an os.
Estudos de larga escala , real iza do s em diversos p aíses, mostram que a res istê n-
cia à penic ilin a está em torno de 60 % . Na A lem anh a, a res ist ên c ia à tetrac ic lina ,
ca n amicina, neomicina e su lfonamidas decresceu ent re 1992 e 1997 , se nd o
detect ada em m en os de 15 % dos iso lados em 1997. Ob se rvaçã o seme lh ante
quanto ao aumento de su scet ibilid ade foi feita para iso lados d a França, Bélg ica e
EU A. A aval iação da suscet ibilid ade de S. aureus de 11 países mo strou qu e a
pre va lên cia de amostras re sistentes a di ve rsos ant ib acteri anos, usados ro tin eira-
mente para tratamento da m ast it e, foi , em ge ral, bai xa, ind epend ente do país d e
origem IErskine et aI. , 2002).

No grupo dos est rep tococos, S. agalactiae é o ún ico patóge n o da m ast it e qu e


pode ser errad ica do dos rebanhos. A maioria da s amo stras é su scetíve l à
penicilina e a outros beta lactâm icos , mas é res ist ente aos am in og li cos íd eos
lestreptomicina, neom icin a e gent am ic in a). O grupo dos estrepto cocos do
ambiente , importante fo nte de infecção, apresenta maior resistênc ia aos
antib acterianos.

Sistemas de alimentação

Nutrição
A nutri ção é um a determinante da res posta imunológica e a má-nutriç ão é a
m aior ca usa de imunodefici ência no mundo. Má-nutrição ocorre quando a
qualidade da dieta, mas não necessariamente a quantidade, é in adequada para
atender aos req ui sito s nutricion ais . Proteínas, aminoácidos , ác id os graxos,
minerai s ou v itamina s podem estar em quantidades inad equadas, ou pode haver
desequilíbrios que reduzam a utilizacão de um nutriente IBrown, 1994).

A má-nutrição protéico -energética está associada com uma redução significativa


da imunidade celu lar, função fagocitária, sistema do complemento, concentra-
Uso de antlml cro bian os na prod u ção d e bov in os e d ese nvo lv im ento d e res ist ênc ia 35

ções d e imun og lobulina A e produção de c it oc in as. T ambém a supernutri ção


redu z a imunid ade (Chandr a, 199 7) .

A defic iênc ia de um único nutri ent e t ambém rbs ult a em alteraçã o d a resposta
imun ológ ica, observada m es mo em defi c iênc ias branda s. Influ ênc ias sign ifi ca ti -
vas d e zin co, selê ni o, cob re, vit amin as A, C, E e 86 e de ác id o f ó li co na res po s-
ta imune for am obse rvada s (Chandra , 1997).

A habilid ad e do s animai s lid arem com inf ecções pode ser influ enc iada pela
defi c iênc ia mineral , parti c ul arm ente pe lo s macroe lem entos Mg e P, e os
micro elem ento s Zn, Fe , Cu e Se . Defi c iênc ia s de Zn, Fe, Cu e Se res ult aram em
m enor resistência a doença s por m eio d e red ução na res posta imun e ou função
leucocitá ri a def eitu osa (Mill er, 1985) . O pape l do se lênio na ação bacteri c id a de
fagó c it os, por exe mplo, es tá assoc iad a co m fun ções o xid ativas important es para
a morte da bactêria fago c it ada (Miller , 1985) .

A integ ridade celul ar é fund am enta l para rece pção e res po sta a men sa gens
necessá ri as na coo rd enação da resposta imun e . A integridade ce lul ar é afet ada
pel a deficiência de age ntes antiox id antes (L ats haw, 1991). Agent es ox id antes
podem danificar tecidos se os antio x id antes estão defic ientes. Esses ox idantes
são produzido s durante o m etaboli smo e pod em aumentar sub st ancialm ente
durante o exe rcíc io , est resse, lesões aos tecidos , infecção e deto xicação de um a
gama de compostos.

Estresse pode preceder uma infeccão


. , d ec resc endo a co ncentracão
. de
ant ioxidantes necessá rio s mai s tard e para uma re spo sta imun e ativa.
Antio x idantes como vitamina E, betacaroteno, e microelemento s como se lên io ,
cobre , zinco e manganês em enz im as são muito imp ortantes na proteção dos
tecidos an imai s da destruição ox idativa . Essa proteçã o tamb ém re sulta em
melhora na respo sta imun e que reduz a in c id ência de mastite em vacas leiteira s e
a in c idência de do ença s infecc iosas em bovinos sob estresse ao c hegar ao
confinamento . A quantidade de nutrientes necess ária para a resposta imun e
parec e ser maior que a suge ri da em t abelas de ex igências (Nock els, 1996).

Probióticos e prebióticos
Vários supl em entos alimentares podem contribuir para o melhor desempenho dos
animais em crescimento e terminação. A população microbiana de bactérias
produtoras de ác ido lático no intestino depende do tipo d e anim al e do regime
36 Uso de anti mi c ro bianos na produ ção de bovino s e des envolv im ent o de resis t ênc ia

alim entar , co nsistindo de vá rio s gêneros e es péc ies. Lactobacilo s são bac t éria s
anaeróbicas facultativas , e podem utilizar a maioria do s carboidr atos como fonte
de energia; o principal produto final de fermentação é o ácido lático .

o uso de lactobacilo s tem -se dado , prin cipalmente , na alimentação de bezerro s


jovens. A sua utilização baseia-se no fato de que est resse e doenças alt eram o
equilíbrio de mi croorganismos no TGI e fa vo recem a prolifera çã o de patógeno s
(Nicodemo . 20011.

A infecção por Clostridium sp. é um exemp lo de doença s que reduz em a produti-


vidade e lucratividade. Acredita-se que probióticos poderiam reduzir o ri sco de
doença s intestinais , ou até mesmo de outras doenças. Edifícil deslocar os
patógenos , então a introdução de probióticos deve ser feita logo que a flora
normal inicia a colonização do TGI (Reid & Friendship, 20021.

o TGI é povoado por diversas populações de bactérias. As bactérias que causam


problemas digestivos geralmente precisam se alojar no ep itélio intestinal para
poderem produzir to xi nas e estarem prontas a se multiplicar em uma taxa mais
rápida que a ta xa com que são remo v ida s pelos movimentos peristálticos. Ao
aumentar o número de organismos favoráveis no intest in o, os efe itos adversos
das bactérias patogênicas podem ser minimizado s (Hardy, 2002 1.

Lactobacilos criam um ambiente desfavorável aos patógenos , como


Staphylococcus aureus , Salmone/la sp . e Escherichia coli enteropatogênica.
Várias teorias foram desenvolvidas para tentar explicar o modo de ação dos
la ctobac ilo s, incluindo a redução do pH pela produção de ác ido lático e peróxido
de hidrogênio, produção de bacteriocinas por lactobacilo s e estreptococos,
inibição da atividade de enterotoxinas e adesão à parede do trato intestinal,
evitando co loni zação por patógenos. Lactobaci/lus sp . pode também produzir
amilase, auxiliando na digestão do alimento (Nicodemo , 2001).

A reduç ão da concentração de patógenos no trato gastrintestinal pode ser em


parte à sina lização celular, em que Lactobaci/lus " desliga" fatores de virulência de
patógenos ou sinaliza para a produção de muco pelo hospedeiro, bloqueando a
patogenicidade (Reid & Friendship, 2002).

Os resultados da suplementação de probióticos são inconsistentes. Sugere-se


que para que os lactobacilos sejam eficazes, alguns critérios devem ser atendi-
Uso de ant imi c rob ianos na pr od uçã o de bov in os e dese nvo lvim ent o el e res istência 37

do s: O anim al supl em entado deve es t ar sob es tr esse - ass im , anim ais m antid os
em co ndições sa nit ári as muit o bo as t êm m enor pr o babilid ade de respond er á
supl em ent ação co m Lac tobaciflus ; as bac t érias deve m se r ca pazes d e alcança r e
co loni za r o tr at o int es tin al (r es ist ência ao ác id ú c lo rídri co, ác id os bili ares,
li soz im a, feno l e líquid o rumin al) ; a bac t éri a d eve apr ese nt ar alt a t axa d e produ -
ção de ác id os; d eve h aver prese nça d e núm ero su f ic ien te d e bac t éria s viáve is, e
as bac t éri as deve m ser rapid am ent e ativ adas e aprese nt ar alta t axa d e cre sc im en-
t o (Ni cod em o, 2 001) .

M esmo a supl em ent açã o d o extr ato c om Lactobaciflus não v iáve is ta mbém pod e
se r benéfi ca . Nas prim eir as sem ana s d e supl em ent açã o é qu e o efeito de
Lac tobaciflus é m ais significa ti vo e a supl em ent ação com es t e redu z con sistent e-
m ente a in c id ênc ia de di arr éia no s bezerro s (Ni c od em o , 2001) .

A apli c açã o de probi ótico s à di et a hum ana é ba st ante grand e, e há c re scente


evid ênci a de qu e alguma s linhag ens t êm um ef eito ben éfico sobre o hospedeiro ,
aind a qu e t emporário . Ap arentemente a flor a intes tinal norm al de algun s indi v ídu -
os é muito es t áv el, e linh agens ex ógena s n ão se integram inteiramente . Com a
parada da suplementa ção , probiótico s são elimin ados em pou c as sem anas.
Atribu i-se a algumas linhag ens o estímulo d a resposta imunológi ca, ma s esse
aspecto precisa ainda de muito s estudo s até qu e se d escreva como poderia se
d ar a modulaç ão (Reid & Friendship , 2002) .

Foram id entificados nutri entes que estimulam preferencialmente o c rescimento de


Lactobacifli. São ele s: inulina, o li gofrutose, ácido ascórbico, butirato,
proantocianidinas e algun s extratos vegetais, como alho e tomilho (Hardy,
2002; Reid & Friendship, 2002).

Medidas de controle

o prin cipa l fator de risco para o aumento da resistência é o aumento do uso de


agentes antim icrob ianos. Como as bactérias da flora humana fecal são considera-
das importante reservatório de genes de resistência para patógeno s humanos ,
propôs-se colocar como meta nos programas de saúde pública a obtenção de um
baixo nível de linhagens resistentes nos seres humanos , da mesma maneira que
se buscam alcançar pressão sangüínea normal e baixos níveis de co lestero l.
Como atualm ente estão sendo encontrados o rg anismos multi-resistentes de difícil
controle com os antibióticos disponíveis, cada possível fonte de resistência deve
38 Uso de ant im icrobi anos na produ ção de bov inos e dese nvo lvi m ent o de res ist ênc ia

ser co ntrolada. A ss im , baixo níve l d e res istênc ia na f lora in t es t inal de anim ais
ut iliza dos na alim ent ação hum ana passa a ser co n sid erado um a ca rac t erísti ca d e
se guranca desejáve l e uma m arca d e qu alid ade em produto s anim ais.

Esse o bjeti vo só pod e ser al canç ado co m a redu çã o d o uso de ant ibi óti co s para
anima is. A ex igênc ia d e antib iót icos na terap ia veter in ári a e na prev ençã o d e
infecções bac t erian as em anim ais pode ser minimi zad a pela m elhori a nas t éc nicas
de m anejo uti liza da s, err adi cação de doe nças, uso ot im iza do das va c in as
di sponíveis e desenv olvim ento de novas v ac in as. Se ant ibi óti cos for em necessá -
ri os , d eve ser prio ri za do o u so d e m o léc ul as d e pequ eno es pec tro. A s m ed id as
qu e co nt ri bu em para a sa úd e do rebanho inc luem qua rent enas , vac in ações e
tr ata m ent o de en do e ec t opar asitos , se leç ão genéti ca para ru st ic id ade e uso d e
ant i-sé pti cos e prob iót icos. A redu ção d o ris co de inf ecções co m impa cto nas
infec cõ es sec undárias, dim inui a nec ess idade d e t erap ia com an tib iót ic o
(M c Ew en & Fedorka-Cra y, 200 2 ).

Na Esc andin áv ia , há relatos de po ucos efe ito s nega ti v os da ret irada de ant ibióti -
co s co m o promoto res de cre sc imento , ao m es mo tem po em que se ob se rvou
redu ção significa ti va na resi st ênc ia bact eri ana . Nos Estado s Un ido s, es tima -s e
qu e 60 % do s bo v ino s de cort e receb am diet as med ica d as com an ti mic rob ianos.
Ainda ass im , es pera -se que os produtore s qu e adotam boa s pr áti c as de ma nejo
não sejam afetados sign if icat iv am ente pe la retirada desses agentes do siste m a de
produç ão, em parte po rque promo t o res de crescim ento ant imic rob ianos não são
part ic ul armente ef etivos a não ser qu e os anim ais es t ejam so b est resse em
co nd ições san itári as precá ri as (M c Ewe n & Fed orka- Cr ay, 2002 ).

A bordagens para min imizar o desen vo lvim ento de resis t ênc ia a antibióti c os
in c lu em prog ram as de vig il ância, uso de reco m enda ções co nse rva do ras e
campan has ed ucati va s. Recomenda-se o estabe lecim ento de um prog ram a
nac io nal de monitoram ento de resist ênc ia a antibióti co s para bac t éri as de orig em
anim al.

Esses prog ram as - dota dos de proc ed im entos padroniza do s d e c olh eit a, cultura
de iso lados e m et odolog ias para os t estes - pod em au xili ar na aqu isição sist em á-
ti ca d e dados desc riti v os do uso de antibiótico s, ext en sã o e t end ênci as t empo-
rais d e suscet ibilidade a antibi óti co s d as es pécies e sorotip os de bac t érias
esco lhidas como indi ca doras, a id entifi caçã o de resi st ênc ias em seres hum anos e
anim ais quando surg em , prom ovendo o uso crit erio so de antibióticos e id entifi-
Uso d e an timi c ro bi ano s na p ro du çã o d e bov in os e d ese nv o lv im ent o d e resis t ênc ia 39

cando áreas ond e há nec ess id ad e d e deta lh am ento . O acompa nh am ento do


desenvo lvim ent o de res ist ênc ia em bac t érias co m en sali st as é import ant e, porqu e
essas bactéri as pod em se rv ir d e rese rvat órios el e d eterm in ante s de resist ênc ia e
po rqu e sã o ma is com un s qu e as pat ó genas (M c Ewe n & Fedo rka -Cray, 2002) .

A preve nção d e co nt am in açã o po r ant ibi ó t ico se va le tamb ém da vigi lânc ia de


co ntam inantes no s produt os anima is, in c luindo a t ax a de det ecçã o d e res íd uos e
a pr o porção de v alores superi o res ao s n ív eis perm iti d o s, como f oi com ent ado
ant eriorm ent e. Dive rsas prátic as qu e c ontribu em para a red uçã o dos res íduos
podem ser impl ement ad as no proc ess am ento do prod uto - lav agem , cong ela-
m ento , cozime nto -; esses proced ime nto s pod em redu zir tam bém o efe ito das
d rog as (J ac ob so n & Con sum er, 2003 ).

A o agrup ar um grande número de an im ais, a di ssem in açã o d e bactéria s res isten-


t es é f ac ilit ada . M elhori a no co ntrole de doe nças an im ais e prog ram as de exc lu-
sã o d e doen ç as sã o conh ec idos po r práticas de biosseg uran ç a (Mc Ew en &
Fedorka -Cray , 2002 ). Ao se seg uirem as recome ndações consta ntes do co rreto
m anejo sa nitário , red uzem -se os ri scos de d oença s, além d e garant ir a
comp et itiv idad e da at iv idade; f ac il ita m -se, ainda , o rastreame nto e a cert if icação ,
co ntri buin do pa ra assegu rar a sa úde d o co nsu mido r fin al e a do pessoa l env o lv i-
do co m o m anejo do s anim ais (Eu c lid es Filh o et aI. , 2002 ).

O c on heci m ento do comporta m ento ani ma l aumenta a produt iv id ade, f ac ilita o


ma nejo, red uz o estr esse, aum enta a seg urança do t rabalh ado r e o bem -est ar
anim al. Bovin os qu ando es t ão ag it ado s ou exc itad os pod em ca usar lesões
g raves a si m esm os ou a qu em os manipu la. Estudo s m os tr aram qu e o estr esse
es t á assoc iado a qu ed as n as t axas d e co ncepção , redu çã o n a res pos t a imun e e
na fu nção rumin al (Grand in , 200 3 ).

Biossegurança
M ostro u- se c omo, para redu zir o des envo lv imento de res istência, algun s países
res tring iram o uso de ag entes antimicrob iano s em alim entos. O Bras il d efine as
norma s de inspeção e fi sca lizaç ão d e produtos d es tinad os à alim entação anim al
na Lei n° 6 . 198, de 2 6 de dezembro d e 1974 e se u sub se qü ente Dec reto n°
76 .98 6, de 6 de jan eiro de 1976.

Du as port ari as mini st eri ais regu lam entam o u so d os antimic robi anos, qu e sã o: a
Portaria n° 193, de 12 d e m aio d e 1998, qu e tr at a da proibi çã o do uso de
40 Uso de antimi crobianos na produ ção d e bovin os e dese nvolvimento de res ist ên c ia

cloranfenico l, peni cilin as, t etraciclinas e sulfonamidas sist êmicas (em sub st ituição
à Portaria n° 159) , e a Portari a n° 448, de 10 de setembro de 1998, proíbe o
uso , fabri cação e importação de cloranfenico l, furazolidona e nitrofurazo na como
aditivos em ra ções animais .

Avoparcina está proibida po r tempo ind eterminado, pela Portaria n° 8 18 -SVS /


MS , de 16 de outubro de 1998 . Ainda é permitido o uso de av il amici na,
bacitracin a de zinco , sulfato de tilosina e virginiamic in a co mo promotores de
crescimento (Nicodemo , 2001).

Na União Européia , o uso d e promotores de crescimento populares, como


virgini amicina e bacitracina de zin co foi proibido, de maneira que, além de
ionóforos coccidiostáticos, só dois promotores de crescimento cont inu aram
li cenc iados para uso na alim entação anima l: av il am icin a e flavomicina. Entretan-
to, a Uni ão Européia já co nfirmou a proibição do uso de todos os antibiót icos
como promotores de crescimento, in cluindo ion ófo ro s cocc idiostát icos até o final
de 2005 (Ratcliff, 2003) .

Alternativas terapêuticas aos antibióticos -


bacteriófagos
o uso de bacteriófagos no controle de infecções é prática corrente em alguns
países do leste eu rop eu. Bacteriófagos são víru s que lançam mão do maquinário
celular das bactéria s e as matam. São conhecidos desde 1896, mas as terapias
utilizando bacteriófagos foram deixadas de lado em favor da utilização de
antibióticos. Entretanto , o aumento da resist ência a antibióticos tem alimentado o
crescente interesse nos vírus.

Bacteriófagos sã o facilmente reprodutíveis e ocorrem em milhões de formas


diferentes, sendo encontrados de maneira abundante onde quer que existam
bact éria s. Bacteriófagos aderem às superfícies externas das bactérias e injetam
nelas seu DNA . Com sua maquinaria celular controlada pelo bacteriófago, as
bac téria s têm que seguir as instruções do DNA estranho e fazem proteínas do
bacteriófago, e mais DNA. Eles se auto-estruturam em novos bacteriófagos, que
irrompem para fora das bactérias, que são destruídas nesse processo .

Embora tenha existido muito entusiasmo com as possibilidades de uso de


bacteriófagos, o controle de qualidade dos produtos comercializados era muito
precário, comprometendo sua eficácia. Entre as vantagens do uso de
U so d e ilnl lm i c r ob l ~no s na p rodu ç ão de I ovino s e cle senvo lv IITle n lO cl e rc slq ên Cla 41

bac teri ó f agos es t á su a espec ifi c id ad e: as en zimas de su a ca ud a fi bro sa (ade sin as)
só int eragem co m rece pto res m olec ul ares es p éc ie es pec ífi cos n a sup erfíc ie d a
b ac t éri a. Por isso , bac t eri ó f ago s não ca u sa m d an o às b ac t éri as no rm ais do tr ato
gas trinl es tin al, que pod em ser aniquil ad as p or antibióti cos.

Enqu anto a co nce ntracão de antibi ó ti cos dec lin a a partir do mom ento de su a
admini str ação, bac t eri ó f agos f azem o opos to, mul t iplica ndo-se rap id amente.
Embor a algu n s autores cons id erem qu e b ac t eri ó f agos são auto li mit antes, isto é,
são elimin ado s qu ando as b ac t éri as-a lvo d esa p arecem (M acG rego r, 2003 ),
o utr os afirm am qu e os b ac teri ó f agos pod em so br ev iv er, aux ili ando a m anter o
h os p edeiro em boa s co ndi ções sa nit ári as (R and erso n , 2003). Bac t eri ó f agos n ão
d ese nca deiam alergi as, provo ca m pou cos ef eit os co laterais, sã o b arato s e fáceis
d e se produz ir .

Entre os pr o bl em as p ara su a m ais larga utili zação, es t á a ex igüid ade de tr abalho s


c ientífi cos, por se r es ta um a no va linh a de p esqui sa n o oc id ent e. Como
bact eri ó f agos são muito especí fi co s, algum tempo ocor re ent re a d et ermin ação
do orga ni smo inf ec t ante e a produ ção de bacteri ó fago s p ara u so t erapêutico, o
qu e pode co mprom et er o tr at ame nto em c aso s g raves . Nesse caso, uma opção
se ri a utili za r um a co mb in ação de bacteriófagos direc ionados cont ra os provávei s
age ntes infec tante s. Enquanto as b ac t éri as podem de senvolver res ist ênc ia a
antibi ót icos, n ão é prov áve l qu e is so oco rr a em relação aos bacteri ó fago s, que
podem sofrer muta ção e lut ar contra a res ist ên c ia bacteriana .

Alternativ amente, a utilização de combinaçõ es d e bacteriófago s poderia conto r-


nar o probl ema de resist ência . Entretanto, algun s bact erióf ag o s t êm uma relação
de sin erg ia com bact éria s, podendo carregar par a o DNA do ho sp edeiro, genes
que aumentam a v irul ência, por exemp lo, pel a produç ão de toxin as . Quando
mai s de um a espéc ie de víru s infecta um a bactéri a, eles podem trocar genes , e
h averi a ri sco d e que genes n ão desejáv eis fo ssem di sse minado s. Daí a necess i-
dade de m ais pe squi sa e da produção d e formulações t erap êuti cas com
bacteriófagos bem caracte ri zados (M acGrego r, 2003) .

Escherichia co/i O 157:H7 é uma das principai s res pon sáve is por envenenamento
alim enta r em algumas regiões. Três quartos do s casos podem se r relac ion ados
co m os animai s dom és ticos, que ho spedam a bactéri a sem ficarem doentes. A
ca rn e pode se r contam inada durante o abate, sendo as fezes também uma via d e
infecção. Pesquisadores encon tra ram em carne iro s um bacteriófago (CEV 1) capaz
42 Uso de antlm lc robi anos na produção de bovinos e des envolvimento de res istê nc ia

de matar 16 das 18 linhagen s de E. coli tó x icas testadas , ao me smo tempo em


que matava apenas oito de 73 linh agens n ão -tóxicas de E. co li. Em um pequeno
teste co m carnei ros , o bacteriófago reduz iu o número de bactéria s tóxicas em
99 °(, em dois dias .

o tratamento de rebanhos com bacteriófagos poderia permitir o contro le de


bact érias envo lvidas em zoonoses sem que fosse necessária a admin istração de
preparados com esses organ ismos para se res hum anos, contornando problemas
de reg ulamentação de produtos para u so médico , desde que se prove que
bacteriófagos não prejudicam as bactérias da f lora humana normal IRanderson,
2003). Uma boa rev isão sob re o histórico , o uso terap êutico e os desafios
envo lve ndo o uso de bacterió f agos pode ser enco ntr ada em Sulakvelidze et aI.
12001 ).

Estratégias de manejo de abate na


reducão da contaminacão
bactériana de produtos cárneos

Tr ês abo rd agens são muito usadas no manejo de ri scos: boas práticas de


produção ; sistemas de manejo de qualidade ; e aná li se de pe rig o e po nto crít ico
de cont rol e. Boas práticas de produção co n sistem em um cód ig o de práticas que
det alh a as tar efas a serem cumpridas e os obj eti vos que devem ser alcançados.
Sistemas de manejo de qualidade tendem a ser direcionados p ara os objetivos
das empresas que os operam . Esses sistemas in c luem o sistem a de qualid ade
tot al e de controle de qua lidade, e partem da premissa d e que se o traba lh o
segue as re comendações de operação, os riscos de segurança alim entar são
red uzidos. A t erce ira abordagem, análise de perigo e ponto crítico de controle, é
um sistema de co ntro le de proc esso que tem por objetivo ev itar problemas de
segurança alimentar, ba sea do em uma ava lia ção de ri sco pró -ativa. Buscam -se
id entificar os pontos do proce sso de produção onde probl emas de segurança
alimentar pod em ocorrer e os avalia c riticamente. Os pontos onde a falta de
contr ole pod e resultar em mudanças inaceitáve is na qualidade do produto são o s
pontos críticos de contro le. O co ntrole ou elimin ação da contam in ação na fonte é
geralmente efetivo na redução ou eliminação de problemas de contaminação
po steriores e reduzem a disseminação do contaminante na cade ia de produção
IRatc liff , 2003).
Uso d e antimi c robian os na produ ç ão d e bo v in o s e d esenvo lv im ento d e resist ênc ia 43

Pré-abate
A lgumas pr áti cas d e man ejo podem au x ili ar na redu ção da ca rga de bacté ri as na
ca rcaça. São elas: reduç ão na quantidad e d e m arcas tag no co uro na fa se
anteri or ao abate; limpeza dos coc hos de alim ent ação e d e bebedouro s co m
freqü ênc ia, de m odo a red uzir a co ntamin ação f eca l; armazenam ento do alimento
v isa ndo à redu ção d a co nt amin ação co m fe zes pe lo s anim ais; bo as pr áti cas de
man ejo d e dejet os; uso d e es terco compostado preferencialmente ao esterco
bruto em jardin s e c ultura s; e acesso à ág u a de beb id a c lorada e filtrad a, es pec i-
alm ent e pa ra tr abalhadore s rur ais e sua s f am íli as (Donk ersgoed, 2000 ).

Processamento pós-abate
o co uro e as vísce ras d e bovino s qu e entram no m atado uro sã o fontes potenci-
ais d e co ntami nação da ca rcaça c om bactérias patogênicas. Em cond ições
norm ais, a conta min ação via v ísce ras é ev itad a pela remoção do s co mp onent es
v iscerais int actos. Se a evisceraçã o é feita co rretamente, os co nteúdo s v iscerais
não co ntribu em muito para a contamin ação geral da ca rcaça .

E muito m ais difícil restringir a contaminação d e outra font e importante, o couro.


Durante a vida do animal, o couro se c ontamin a com um grande número de
microorg anismos derivados de uma variedade de fonte s, como f ezes, solo, ág ua
e vegeta çã o, incluindo patógeno s import antes, como E. cal; 0157:H7 e
Salmone//a sp .

A transferência da contamina ção d a superfície do couro para a carcaça é inev itá-


vel pela natureza do processo de remoção do couro. A contaminação pode
ocorrer por meio do contato direto entre o couro e a carcaça, ou por transferência
indireta, por m eio das mãos, roupas , ferramentas dos traba lhadores e equ ipamen -
to s do abatedouro, que foram contaminados anteriormente pelo couro (McEvoy
et aI., 2000) . Esses autores mostraram que a melhoria nas práticas de higiene
pode reduzir a contam inação da carcaça.

Ao se evitar o abate de animais excessivamente sujos, e com o uso de luvas


limpas, facas e equipamentos estéreis pelos encarregados d a remo ção do couro,
há redução na contagem geral de bactérias da carcaça.

o ú ltimo elo da cadeia é a manipu lação e o armazenamento do alimento pelo


consumidor, que deve ser educado quanto aos procedimentos básicos de higiene
ou pode pôr grande parte do trabalho prévio a perder (Ratc liff, 2003).
44 Uso de ant imi crobianos na p rod uç ão de bovi nos e d es en vo lv ime nt o d e resis t ênc ia

Considerações finais

Estr at égi as par a redu zir ou minimizar a emergê nc ia e di sse m in ação de res ist ên c ia
an t imic robi an a na agric ultura e m edic in a t êm se t orn ado um a pri orid ade em
esca la intern ac ion al.

o aum ento d a in c id ênc ia d e res ist ên c ia b ac t eri an a aos an t imi crobi an os por
ba cté ri as pato gê nicas te m sêri as impli cações no tr ata m ento e pr evenção de
doen cas infecc iosas em anim ais e n o h om em . Embora muitas inform ações
est ejam d isponíveis, algun s aspec t os eco lóg icos no desenvo lv ime n to e di ssemi -
n ação da res ist ênc ia bac t er iana aind a sã o d esc onh ec id os.

A di ssemina çã o da resis t ênci a bac t eri an a ao s antimi crobi ano s é o result ad o d e


num ero sas e co mplexas interações entre antimicr o bi anos, mi croorg ani smo s e o
seu ambie nte no ent orn o . Um cl aro entendimento d essa s int eraç ões é fund am en -
t ai p ara ava lia çã o do s fator es de ri sc o .

Program as de m onitoramento bem d esenhado s são fundam entais para o sucess o


da obte nção de dados co m alta qu alid ade e sub sídi os p ara o desen vo lv im ento de
políti cas públi cas adequ ad as e efi c ient es .

A redu çã o do u so d e antibióti cos , o u so de moléculas de aç ão de espectro


estreito e altern ativa s de control e de d oen ças bacteriana s contribuem para a
diminui ção do ri sc o d o aparec imento de re sist ência ao s antimi crobi anos .

A tran sf erênci a de bac t éria res istente n ão est á restrit a a uma área em particular . O
merca do de produtos c árneo s e a di sse minaçã o de bactéria s com genes de
re sistência transferív eis alcançam um c aráter mundial. Assim , a prevenção ou
diss emina ção de resist ência a antibióticos a partir de bactéria s da flora intestinal
anim al por meio da c arne , leite e seus subprodutos requer uma regulamentação
mundial.

Este te xto não pretende esgotar o assunto, apenas contribuir para a discussão
sobre o control e dos antimicrobianos em bovinos, levantando informações
di sponíve is na literatura internacional e as tendências das regulamentações para
esse tópi co, par a anali sar o uso de antibióticos na nutrição animal com enfoque
em bo v inos de c orte . Dessa forma, contribuir na construção de ações que
permitam minimizar a transferên c ia da resist ência microbiana , a contaminação
mi crobiana do s alimentos de origem anima l e os riscos para a saúde humana.
Uso de antimicrobianos na produ ção de bovin os e dese nvolvimento de res istên cia 45

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