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Leite e derivados:

qualidade e segurança
Com o objetivo de orientar todos os envolvidos na
cadeia produtiva do leite, a EPAMIG lança o livro
Qualidade microbiológica do leite cru, o qual traz
informações sobre composição do leite, bactérias
e sua importância, higienização na cadeia
produtiva e práticas agropecuárias para produção
de leite. A publicação reúne artigos de autores
de instituições de pesquisa e universidades de
Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, São Paulo,
Rio Grande do Norte e Paraíba, com importante
conteúdo interinstitucional sobre qualidade e
segurança do leite.
Prevenir contaminações deve ser responsabilidade
de todos os profissionais envolvidos nessa
atividade, desde a fonte de produção, o transporte,
a indústria, a comercialização até o consumidor.
Assim, torna-se fundamental conhecer a
microbiologia, as fontes de contaminação e os
principais microrganismos contaminantes do leite,
bem como os problemas decorrentes.

Assinatura e vendas avulsas


00276
R$ 15,00

publicacao@epamig.br
(31) 3489-5002
9 770100 336002
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Tecnologias para o Agronegócio

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Informe Agropecuário
Uma publicação da EPAMIG
v.34 n.276 set./out. 2013
Belo Horizonte-MG

Sumário

Editorial ......................................................................................................................... 3

Entrevista ....................................................................................................................... 4

Impacto de pragas introduzidas


Marcelo Barreto da Silva, Angelo Pallini, Madelaine Venzon e Trazilbo José de Paula Júnior .. 7

Apresentação Sistema de defesa vegetal no Brasil


As relações comerciais e os fluxos migra- Paulo Parizzi .......................................................................................................................... 14
tórios do homem têm contribuído historica-
mente para a introdução de pragas em novas
Micotoxinas e saúde pública
áreas de cultivo. Geralmente, os impactos de-
correntes dessas introduções são complexos e Carlos Augusto Mallmann, Paulo Dilkin, Liziane Rachel da Silva Wovst, Alexandre Gomes da
duradouros. Nesse contexto, além da preocu- Rocha e Camila Durlo Tamiosso ............................................................................................. 20
pação com a criação de barreiras à entrada de
novas pragas, ações ligadas à Defesa Agrope-
Importância da certificação na defesa vegetal e conquista de novos mercados
cuária podem garantir condições para que a
produção de alimentos no Brasil atinja nível Sára Maria Chalfoun e Vicente Luiz de Carvalho ..................................................................... 28
de sanidade que possibilite a exportação para
mercados consumidores internacionais. Vale a Comércio internacional e defesa vegetal
pena ressaltar que não só a qualidade sanitária Orlando Monteiro da Silva e Marcela Olegário Santos ...................................................... 38
é exigida pelo mercado, mas também a quali-
dade química e microbiológica. A produção
com qualidade é uma condição sem a qual o Regulamentação e uso de produtos à base de agentes biológicos para o controle de
País não conseguirá se consolidar no mercado doenças de plantas e pragas no Brasil
internacional de alimentos. Trazilbo José de Paula Júnior, Madelaine Venzon, Hudson Teixeira, Wagner Bettiol,
A introdução no Brasil de alguns patóge-
Marcelo Augusto Boechat Morandi, Francys Mara Ferreira Vilella e Maria Luiza Marcico
nos importantes, como o fungo Phakopsora
pachyrhizi (causador da ferrugem-da-soja) e, Publio de Castro ............................................................................................................. 50
ainda mais recentemente, da lagarta helico-
verpa (Helicoverpa armigera), tem trazido à Resistência de plantas daninhas em soja resistente ao glifosato
tona intensas discussões envolvendo a Defesa
Fernanda Satie Ikeda ...................................................................................................... 58
Vegetal. Apesar da importância para a susten-
tabilidade da produção de alimentos, o tema
Defesa Vegetal tem sido abordado sem a neces- Desafios fitossanitários para a produção de soja
sária profundidade e frequência, dificultando o Ana Cristina Pinto Juhász, Gilda Pizzolante de Pádua, Dulândula Silva Miguel Wruck, Luciany
engajamento de profissionais nessa atividade.
Favoreto e Neucimara Rodrigues Ribeiro .......................................................................... 66
Não obstante a ênfase no mercado inter-
nacional, várias medidas de segurança devem
ser tomadas no mercado interno entre os Esta- Resíduos de agrotóxicos e segurança alimentar
dos da federação. Neste cenário, Minas Gerais
tem-se destacado pela atuação na pesquisa e no Marcelo Barreto da Silva e Guilherme Luiz Guimarães ........................................................ 76
ensino, bem como na implementação de pro-
gramas de defesa. Vazio sanitário
Esta edição do Informe Agropecuário dis- Nataniel Diniz Nogueira ................................................................................................. 85
cute o funcionamento do sistema de Defesa
Vegetal no Brasil e apresenta detalhes sobre
estratégias para evitar a introdução de pragas,
bem como para produzir alimentos com boa
qualidade sanitária, química e microbiológica.
Trazilbo José de Paula Júnior
Marcelo Barreto da Silva
ISSN 0100-3364

Informe Agropecuário Belo Horizonte v.34 n.276 p. 1-96 set./out. 2013

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Informe Agropecuário é uma publicação da
© 1977 EPAMIG
Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
ISSN 0100-3364 EPAMIG
INPI: 006505007
É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem au-
torização escrita do editor. Todos os direitos são reservados à EPAMIG.
CONSELHO DE PUBLICAÇÕES
Marcelo Lana Franco Os artigos assinados por pesquisadores não pertencentes ao quadro
Mendherson de Souza Lima da EPAMIG são de inteira responsabilidade de seus autores.
Plínio César Soares Os nomes comerciais apresentados nesta revista são citados apenas
Trazilbo José de Paula Júnior para conveniência do leitor, não havendo preferências, por parte da
Marcelo Abreu Lanza EPAMIG, por este ou aquele produto comercial. A citação de termos
Vânia Lúcia Alves Lacerda técnicos seguiu a nomenclatura proposta pelos autores de cada artigo.
O prazo para divulgação de errata expira seis meses após a data de
COMISSÃO EDITORIAL DA REVISTA INFORME AGROPECUÁRIO publicação da edição.
Plínio César Soares
Diretoria de Operações Técnicas ERRATA
Complementação das referências do artigo (bibliografia consul-
Trazilbo José de Paula Júnior tada): MARTINS, F.A.D. et al. Produção Integrada de Trigo. Informe
Departamento de Pesquisa Agropecuário. Trigo tropical, Belo Horizonte, v.34, n.274, p.44-48,
Marcelo Abreu Lanza maio/jun. 2013.
Divisão de Planejamento e Gestão da Pesquisa
TIBOLA, C.S. et al. Produção integrada de trigo: qualidade e segrega-
Sanzio Mollica Vidigal ção. Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2007. 6p. (Embrapa Trigo. Circular
Chefia de Centro de Pesquisa Técnica Online, 24).
Vânia Lúcia Alves Lacerda
TIBOLA, C.S. et al. Produção integrada de trigo: safra 2007. Passo Fundo:
Departamento de Informação Tecnológica
Embrapa Trigo, 2008. 8p. (Embrapa Trigo. Circular Técnica Online, 26).
ZAMBOLIM, L. et al. (Org.). Produção integrada no Brasil: agropecuária
EDITORES TÉCNICOS sustentável, alimentos seguros. Brasília: MAPA, 2008/2009. 1008p.
Trazilbo José de Paula Júnior e Marcelo Barreto da Silva

Assinatura anual: 6 exemplares


PRODUÇÃO
Aquisição de exemplares
DEPARTAMENTO DE INFORMAÇÃO TECNOLÓGICA
Divisão de Gestão e Comercialização
EDITORA-CHEFE Av. José Cândido da Silveira, 1.647 - União
Vânia Lúcia Alves Lacerda CEP 31170-495 Belo Horizonte - MG
DIVISÃO DE PUBLICAÇÕES Telefax: (31) 3489-5002
Fabriciano Chaves Amaral www.informeagropecuario.com.br; www.epamig.br
E-mail: publicacao@epamig.br
REVISÃO LINGUÍSTICA E GRÁFICA
CNPJ (MF) 17.138.140/0001-23 - Insc. Est.: 062.150146.0047
Marlene A. Ribeiro Gomide e Rosely A. R. Battista Pereira

NORMALIZAÇÃO Informe Agropecuário. - v.3, n.25 - (jan. 1977) - . - Belo


Fátima Rocha Gomes e Maria Lúcia de Melo Silveira Horizonte: EPAMIG, 1977 - .
v.: il.
PRODUÇÃO E ARTE
Diagramação/formatação: Ângela Batista P. Carvalho, Fabriciano Bimestral
Chaves Amaral, Maria Alice Vieira, Jucélia Alves Silva (estagiária) Cont. de Informe Agropecuário: conjuntura e estatísti-
e Rosiane Izidoro dos Santos (estagiária) ca. - v.1, n.1 - (abr.1975).
ISSN 0100-3364
Coordenação de Produção Gráfica
Ângela Batista P. Carvalho 1. Agropecuária - Periódico. 2. Agropecuária - Aspecto
Econômico. I. EPAMIG.
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Décio Corrêa
Telefone: (31) 3489-5088 - e-mail: deciocorrea@epamig.br O Informe Agropecuário é indexado na
AGROBASE, CAB INTERNATIONAL e AGRIS
Capa: Ângela Batista P. Carvalho
Governo do Estado de Minas Gerais
Impressão: EGL Editores Gráficos Ltda. Secretaria de Estado de Agricultura,
Pecuária e Abastecimento

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Governo do Estado de Minas Gerais
Antonio Augusto Junho Anastasia
Governador
Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Elmiro Alves do Nascimento
Secretário

Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais


Defesa agropecuária:
Conselho de Administração
Elmiro Alves do Nascimento
Marcelo Lana Franco
Décio Bruxel
uma questão
estratégica
Adauto Ferreira Barcelos
Maurício Antônio Lopes Osmar Aleixo Rodrigues Filho
Vicente José Gamarano Elifas Nunes de Alcântara
Paulo Henrique Ferreira Fontoura
Conselho Fiscal
Evandro de Oliveira Neiva Rodrigo Ferreira Matias
Márcia Dias da Cruz Leide Nanci Teixeira
Alder da Silva Borges Tatiana Luzia Rodrigues de Almeida

Presidência A sanidade vegetal tem ganhado forte expressão nas


últimas décadas e influenciado na competitividade do agrone-
Marcelo Lana Franco
Vice-Presidência
Mendherson de Souza Lima gócio brasileiro diante das exigências de segurança alimentar,
especialmente de mercados internacionais. Problemas sanitários
Diretoria de Operações Técnicas
Plínio César Soares
Diretoria de Administração e Finanças causaram ao Brasil situações de desgaste econômico e social
Flávio Eustáquio Ássimos Maroni
Gabinete da Presidência por causa da imposição de barreiras sanitárias e de perdas de
Janaína Gomes da Silva
mercados provocadas pela inadequação de alguns produtos agrí-
Assessoria de Assuntos Executivos
Mairon Martins Mesquita colas. Também, por outro lado, provocaram perdas substanciais
Assessoria de Comunicação
Juliana Carvalho Alvim
a produtores e aos demais segmentos da cadeia produtiva, pela
Assessoria de Contratos e Convênios introdução de pragas exóticas que prejudicaram a produção de
Eliana Helena Maria Pires
Assessoria de Desenvolvimento Organizacional
citros, cacau, algodão, entre outras.
Felipe Bruschi Giorni
Assessoria de Informática
As sérias consequências desse desgaste podem ser medi-
Silmar Vasconcelos das pela magnitude do agronegócio brasileiro, que representa
Assessoria Jurídica
Valdir Mendes Rodrigues Filho 29% do produto interno bruto (PIB) do País. O Brasil é líder na
Assessoria de Relações Institucionais produção e exportação de açúcar, suco de laranja e café, o se-
Gerson Occhi
Assessoria de Unidades do Interior gundo produtor mundial e maior exportador do complexo soja
Júlia Salles Tavares Mendes
e o terceiro produtor mundial de frutas.
Auditoria Interna
Maria Sylvia de Souza Mayrink
Dessa forma, investir na defesa agropecuária é estratégico
Departamento de Compras e Almoxarifado
Rogério Rocha de Souza para o País, cuja economia está fortemente atrelada a esse setor,
Departamento de Contabilidade e Finanças
Carlos Frederico Aguilar Ferreira
notadamente verificado no superávit da balança comercial do
Departamento de Engenharia agronegócio de US$ 79,4 bilhões, em 2012. Assim, percebe-se
Antônio José André Caram
Departamento de Informação Tecnológica
que a defesa agropecuária é parte inerente da defesa da sus-
Vânia Lúcia Alves Lacerda tentabilidade econômica e social do Brasil.
Departamento de Logística
José Antônio de Oliveira A atuação dos governos federal e estadual de forma si-
nérgica na defesa agropecuária, com programas preventivos,
Departamento de Pesquisa
Trazilbo José de Paula Júnior
Departamento de Planejamento e Coordenação de certificação, de controle de resíduos de agrotóxicos e uso de
Renato Damasceno Netto
Departamento de Recursos Humanos produtos à base de agentes biológicos tem contribuído para o
atual sucesso do agronegócio brasileiro.
Flávio Luiz Magela Peixoto
Instituto de Laticínios Cândido Tostes
Vanessa Aglaê M. Teodoro e Nelson Luiz T. de Macedo
Ações de defesa agropecuária ampliam seu raio de ação,
Instituto Técnico de Agropecuária e Cooperativismo
Luci Maria Lopes Lobato e Francisco Olavo Coutinho da Costa utilizando, como principais ferramentas, a informação e o co-
EPAMIG Sul de Minas
Rogério Antônio Silva e Mauro Lúcio de Rezende
nhecimento que, nesta edição do Informe Agropecuário, visam
EPAMIG Norte de Minas uma agricultura cada vez mais forte e sustentável.
Polyanna Mara de Oliveira e Josimar dos Santos Araújo
EPAMIG Zona da Mata
Sanzio Mollica Vidigal e Giovani Martins Gouveia Marcelo Lana Franco
EPAMIG Centro-Oeste
Wânia dos Santos Neves e Waldênia Almeida Lapa Diniz
Presidente da EPAMIG
EPAMIG Triângulo e Alto Paranaíba
José Mauro Valente Paes e Marina Lombardi Saraiva

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Ciência, tecnologia e defesa agropecuária:
pilares do desenvolvimento
O diretor-geral do Instituto Mineiro de Agropecuária
(IMA), Altino Rodrigues Neto, é médico-veterinário, formado
pela Escola de Veterinária da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG). É pós-graduado em Negociação
Agrícola Internacional, pela Universidade de Negócios de
Administração (UNA), especialista em Sanidade Animal,
pela Escola de Veterinária da UFMG e em Defesa Sanitária
e Inspeção de Produtos de Origem Animal (França, 1993).
Foi presidente do Fórum Nacional dos Executores de
Sanidade Agropecuária (Fonesa) e atuou, também, no
IMA, nas funções de diretor-técnico e superintendente de
Produção Animal. Exerceu ainda os cargos de diretor de
Controle de Viroses da Superintendência de Saúde Animal
(Sani), da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (Seapa-MG), e de Assessor do Instituto
Estadual de Saúde Animal (Iesa-MG).

IA - O que é Defesa Agropecuária e ção, de classificação e de certificação fesa Animal, o IMA executa os seguin-
qual a importância do IMA para o da qualidade e da origem de produtos tes programas: Programa Nacional de
agronegócio mineiro? e subprodutos agropecuários e agroin- Erradicação e Prevenção da Febre Af-
Altino Rodrigues Neto - A Defesa dustriais. tosa (PNEFA); Programa Nacional de
Agropecuária é constituída de normas Controle da Raiva dos Herbívoros e ou-
IA - Quais os principais programas do tras Encefalopatias; Programa Nacional
e ações que integram sistemas públicos IMA nas áreas de Defesa Vegetal
e privados da preservação ou melhoria de Sanidade Avícola (PNSA); Progra-
e Animal?
da condição zoofitossanitária em todo o ma Nacional de Sanidade dos Caprinos
território nacional, garantindo, assim, a Altino Rodrigues Neto - Em Minas e Ovinos (PNSCO); Programa Nacional
sanidade animal e vegetal, a idoneidade Gerais, cabe ao IMA a execução de pro- de Sanidade dos Suídeos (PNSS); Pro-
dos insumos e dos serviços utilizados na gramas coordenados pelo Ministério grama Nacional de Controle e Erradi-
agropecuária, além da identidade, qua- da Agricultura, no âmbito de preservar cação da Brucelose e da Tuberculose
lidade e segurança higiênico-sanitária a sanidade na agricultura e na pecuá- Animal (PNCEBT); Programa Nacio-
dos alimentos e demais produtos agro- ria. As atividades incluem medidas de nal de Sanidade dos Equídeos (PNSE);
pecuários. O IMA, como instituição, vigilância e fiscalização aplicadas em e a fiscalização do uso de produtos ve-
tem por finalidade executar as políticas várias etapas do processo produtivo. Na terinários.
públicas de produção, educação, saúde, área de Defesa Vegetal, o IMA executa
IA - Quais são os programas de certifi-
defesa e fiscalização sanitária animal e programas voltados para o controle do
cação coordenados pelo IMA?
vegetal, além de certificar os produtos bicudo-do-algodoeiro (vazio sanitário
agropecuários no Estado, visando à pre- do algodão); controle da ferrugem-asi- Altino Rodrigues Neto - Os Programas
servação da saúde pública, do meio am- ática-da-soja (vazio sanitário da soja); estão inclusos no projeto maior Cer-
biente e o desenvolvimento do agrone- controle do cancro-cítrico; controle do tifica Minas. O IMA é um Organismo
gócio, sempre em consenso com as di- greening; controle do cancro-bacteria- Certificador de Produto (OCP) e um
retrizes fixadas pelos governos estadual no-da-videira; controle do nematoide Organismo de Avaliação da Conformi-
e federal. O IMA visa preservar a saúde na produção de mudas de café; controle dade (OAC), credenciado pelo Institu-
da população do Estado, planejando, do comércio e uso de agrotóxicos; con- to Nacional de Metrologia, Qualidade
coordenando, fiscalizando e executando trole do comércio de sementes e mudas e Tecnologia (Inmetro) sob o número
programas de defesa sanitária animal e e, finalmente, a certificação fitossanitá- 0068. São estes os Programas: Certifica
vegetal de educação sanitária, de inspe- ria de origem (CFO). Já na área de De- Minas Café, Cachaça Artesanal Alam-
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bique, Selo de Identificação de Confor- IA - Quais são os grandes desafios a cos, podem trazer algum risco para
midade para Cachaça, Certminas Orgâ- ser vencidos na área da Defesa a Defesa Agropecuária? O que tem
nico, Rastrear - Rastreabilidade Bovi- Agropecuária? sido planejado para reduzir os
na, Programa Algominas, Queijo Minas Altino Rodrigues Neto - Um sistema riscos à sanidade animal e vegetal
Artesanal, Queijos Artesanais, SAT - de defesa atuante e moderno pautado em durante esses eventos?
Sem Agrotóxico, Programa Alimentos medidas compatíveis com o risco e nível Altino Rodrigues Neto – Por meio
Seguros (PAS), Programa Nacional de adequado de proteção se faz necessário da Instrução Normativa no 12, de 28
Certificação de Propriedades Livre de perante rápida e intensa movimentação de março de 2013 do Ministério da
Brucelose e Tuberculose (PNCBT). de pessoas e do comércio. O volume e Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Um trabalho paralelo que o IMA realiza a diversidade global do comércio vêm (MAPA), os representantes legais das
para atender a uma exigência da Reso- contribuindo também para a chamada organizações, delegações e entidades
lução INPI no 075, de 28 de novembro bioglobalização de pragas, que é o des- indicadas pelas Federações Internacio-
de 2000, estabelece os procedimentos locamento de organismos de uma re- nais esportivas (FIFA e COI) deverão
para o Registro de Indicação Geográfi- gião para outra, inadvertida ou intencio- solicitar autorização prévia dos pro-
ca (IG). O IMA demarca as regiões ge- nalmente, o que pode levar a prejuízos dutos de origem animal e vegetal que
ográficas com características especiais incalculáveis. Além disso, existe o trân- serão importados. A solicitação deverá
como Indicação de Procedência (IP) e sito de animais e a necessidade de con- ser encaminhada à Secretaria de Defesa
Denominação de Origem (DO). trolar enfermidades que causem prejuí- Agropecuária (SDA), do MAPA, com
zos à saúde da população, dos animais e certificação detalhada do produto a ser
IA - Qual a importância dos trabalhos
prejudiquem economicamente o produ- importado. A autorização deve sair até
de certificação para a agropecuá-
tor rural. Os problemas citados nos le- 15 dias, a partir da data do recebimento
ria?
vam a refletir sobre os grandes desafios do pedido. A Instrução Normativa no 12
Altino Rodrigues Neto - Os mecanis- a ser vencidos no setor agropecuário. A só autoriza a importação dos alimentos
mos de certificação são ferramentas defesa agropecuária, a inovação, a ciên- para consumo durante os eventos
fundamentais de controle de qualidade cia e a tecnologia devem colocar o País esportivos. Produtos com finalidade
e segurança alimentar no gerenciamen- em situação favorável diante do comér- comercial estão expressamente proibi-
to do agronegócio, os quais oferecem cio internacional que, por sua vez, bus- dos. Foram criadas a Comissão Técnica
programas efetivos de controle, com ca alimentos sem riscos para a saúde Central, instalada na SDA, e Comissões
base em conceitos preventivos, em que humana e ambiental. Técnicas Locais, localizadas em cida-
todas as etapas de produção e prepara- des onde os eventos serão realizados,
ção do alimento estão sob controle, ini- IA - Como o produtor ou pecuarista em Estados considerados estratégicos
cia-se pelas matérias-primas, em nível pode interagir com os Programas pela Secretaria, as quais analisarão as
de campo, em seguida pelo processo, de Defesa Agropecuária para solicitações e serão responsáveis pela
ambiente, pessoas, estocagem e finaliza torná-los mais efetivos, trazendo articulação para atendimentos das de-
no sistema de distribuição e consumo. benefício para toda a cadeia pro- mandas dos setores públicos e privados.
A Gerência de Certificação do IMA, dutiva?
responsável pelo Programa Mineiro de IA - Como funciona o Programa de
Altino Rodrigues Neto - Discutindo e Educação Sanitária do IMA?
Incentivo à Certificação de Origem e apresentando projetos para a formula-
Qualidade de Produtos da Agropecuá- ção das políticas públicas de governo. Altino Rodrigues Neto - A partir da ne-
ria, constatou que a produção e a co- Além disso, acompanhar o desenvolvi- cessidade de harmonizar os programas,
mercialização de produtos agropecuá- mento do setor fazendo gestões com ór- projetos e ações de Educação Sanitária
rios vivem um momento importante gãos responsáveis pela implementação desenvolvidos principalmente pelos ór-
no cenário econômico brasileiro e, por de ações que afetem a produção; cola- gãos executores da Defesa Sanitária
extensão, reflete na economia do nos- borar na identificação das prioridades Agropecuária, o MAPA publicou a Ins-
so Estado. O público que se interessa a ser estabelecidas na formulação das trução Normativa no 28, de 15 de maio
por produtos certificados, no momento políticas públicas; orientar na realiza- de 2008, que cria o Programa Nacional
atual, é seleto, e geralmente pertencen- ção de programas de pesquisa, geração de Educação Sanitária em Defesa Agro-
te à população de renda mais alta, com e difusão de tecnologia para o setor; pecuária (Proesa), o qual o IMA cum-
grau de instrução mais elevado e prefe- ser parceiro do governo na confecção e pre integralmente sob a coordenação de
rência sofisticada. Entretanto, a sua po- execução das políticas públicas. sua Gerência de Educação Sanitária e
pularização é questão de tempo, sendo apoio à Agroindústria Familiar (GEA).
que o aumento da produção tornará seus IA - Os grandes eventos que o Brasil O público-alvo da Educação Sanitária é
preços acessíveis às demais camadas sediará nos próximos anos, como a amplo, bem abrangente, atinge produto-
das populações. Copa do Mundo e os Jogos Olímpi- res e trabalhadores rurais, agricultores
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familiares, lideranças, caminhoneiros, do IMA na esfera de agrotóxicos (am- marcas comerciais de agrotóxicos de
consumidores e escolares. Destaque é bientes, comércio, uso, armazenamen- culturas cabeças de chave para outras
dado ao projeto educativo Sanitarista to, transporte, educação sanitária). Tais culturas de menor atratividade econô-
Mirim e Juvenil que despontou no meio atividades têm como diretriz principal mica (agrotóxicos autorizados para o
escolar, principalmente rural, que per- assegurar que caso o produtor rural opte tomate − atualmente 432 marcas co-
mite a abordagem de assuntos que fa- por um modelo de exploração agrícola merciais existentes −; para o jiló, atu-
zem parte da realidade das comunida- que usufrua de agrotóxicos, o faça da almente, apenas cinco marcas), pois
des, proporcionando a formação de fu- forma mais racional possível, o que re- pelo fato de ser extremamente técnica e
turos dirigentes da sociedade. São prio- sultará em produtos mais saudáveis na complexa, e haver uma interface entre a
rizados assuntos ligados à agropecuária, mesa do consumidor mineiro. Além dis- pesquisa oficial, universidade e associa-
como controle de doenças animais, pra- so, o monitoramento de resíduos é uma ções de produtores acarretam em menor
gas de vegetais, inspeção de produtos ferramenta que permite um mapeamen- celeridade no processo, o que resulta
de origens animal e vegetal, meio am- to e subsidia a tomada de decisão em em pouquíssimos agrupamentos de cul-
biente, entre outros. Em dez anos, mais quais espécies agrícolas ou regiões de turas, mesmo aqueles com três anos da
de 90 mil estudantes e professores en- Minas devemos intensificar as ações de regulamentação.
volveram-se no processo, em mais de comando, controle e de Educação Sani- IA - Como o senhor avalia as políticas
120 municípios mineiros. A experiência tária. O Laboratório de Análise de Re- de vazio sanitário adotadas no
confirma a ideia de que as crianças in- síduos de Agrotóxicos do IMA é acre- Estado?
fluenciam seus pais, geralmente produ- ditado pelo Inmetro, fato que propicia
tores e trabalhadores rurais, com mu- uma notoriedade em âmbitos nacional Altino Rodrigues Neto - O vazio sa-
danças positivas de comportamento. e internacional. Realiza análises desde nitário pode ser entendido como uma
A habilitação sanitária de produtos de o ano 2001, e, atualmente, possui esco- parceria firmada entre o poder público
origem animal, provenientes de agricul- po para mais de 100 ingredientes ativos e a iniciativa privada, na qual as partes
tores familiares, também é um projeto de agrotóxicos em 14 diferentes espé- se comprometem a cumprir as cláusulas
pautado na Educação Sanitária que sur- cies agrícolas. O porcentual de amos- pactuadas. Isso se constata desde a ela-
ge como uma ferramenta fundamental tras, dentro do limite estabelecido pela boração da legislação sobre o assunto,
momento quando o setor produtivo tem
para alcançar a melhoria do status sa- legislação ou até mesmo com ausência
vez e voz, apresenta propostas e contri-
nitário dos produtos. Faz-se necessá- de agrotóxicos, no ano de 2012, foi de
bui para que as normas, quando publi-
rio incluir o processo de aprendizagem expressivos 85,5%.
cadas, alcancem o objetivo e a eficiên-
para atingir os vários públicos da cadeia
IA - Qual a melhor forma de solucionar cia a que se propõem. O vazio sanitário
produtiva e do Sistema de Defesa Agro-
questões relacionadas com o regis- é uma medida que tem por objetivo re-
pecuária, para que, inicialmente, 200
tro de agrotóxicos para as culturas tardar o aparecimento da praga na safra
agricultores familiares sejam cadastra-
de menor interesse econômico, seguinte. Sua prática contribui para di-
dos e trazidos para a formalidade na co-
como goiaba, abacaxi, pimentão e minuir as aplicações de agrotóxicos, re-
mercialização de seus produtos. Outra
quiabo? duzir a contaminação do meio ambien-
atividade são os cursos de Educação
Altino Rodrigues Neto - Essas cultu- te, garantir maior produtividade das la-
Sanitária, por meio dos quais já foram
ras de suporte fitossanitário insuficiente vouras e beneficiar diretamente os pro-
treinados mais de 1.500 servidores (en-
dutores que respeitam o vazio sanitário.
tre veterinários, agrônomos, técnicos (minor crops), geralmente frutas, legu-
mes e verduras, por serem consumidas Em Minas Gerais, existem períodos de
em agropecuária). Têm como objetivo
pela população sem preparo prévio, são vazio sanitário para as culturas da soja
capacitar servidores de Minas Gerais e
elencadas como de maior potencial de (90 dias), algodão (60 dias) e feijão (36
de outros Estados, com uma visão dos
risco e, por conseguinte, figuram nas 14 dias), que vai de 1o de julho a 20 de no-
principais recursos, métodos, técnicas,
espécies analisadas (abacaxi, alface, ba- vembro de cada ano, envolvendo essas
meios de comunicação e as diversas
nana, batata, cenoura, chuchu, goiaba, três culturas. Tem-se observado um im-
etapas de uma programação educativa
jiló, mamão, manga, morango, pepino, portante comprometimento por parte de
para o desenvolvimento da Educação
pimentão, tomate). Acredito que deva todos os segmentos envolvidos no pro-
Sanitária.
cesso. Essa constatação revela um com-
ser repensada a já existente Instrução
IA - De que forma o Programa de Moni- portamento maduro, principalmente por
Normativa Conjunta no 01/2010, ela-
toramento de Resíduos de Agrotó- borada por três órgãos federais MAPA, parte dos produtores rurais, que, de ma-
xico em Alimentos tem contribuído neira responsável, contribuem com sua
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
para a segurança alimentar? parcela em benefício da agricultura mi-
e dos Recursos Naturais Renováveis
neira e brasileira, e nos leva a fazer um
Altino Rodrigues Neto - O monitora- (Ibama) e Agência Nacional de Vigi-
balanço altamente positivo da medida
mento de resíduos de agrotóxicos em lância Sanitária (Anvisa). Tal instrução
no Estado.
alimentos constitui uma das atividades aborda justamente uma extrapolação de Por Vânia Lacerda

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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 7

Impacto de pragas introduzidas


Marcelo Barreto da Silva 1
Angelo Pallini 2
Madelaine Venzon 3
Trazilbo José de Paula Júnior 4

Resumo - A sustentabilidade do agronegócio brasileiro enfrenta muitos desafios, entre


os quais a defesa fitossanitária. A introdução de pragas em novas áreas é um fenômeno
que vem acompanhando o homem em suas relações comerciais e fluxos migratórios.
Os impactos decorrentes dessas introduções são complexos e duradouros e, em alguns
casos, podem provocar efeitos catastróficos. Além de perdas diretas na qualidade e na
quantidade da produção, devem ser considerados os impactos relacionados com o au-
mento do custo de produção e com o investimento em pesquisas no manejo das pragas
introduzidas. É necessário entender a importância de se estabelecer programas de vigi-
lância para evitar ou retardar a introdução de novas pragas.

Palavras-chave: Praga. Inseto. Manejo integrado. Quarentena. Fitopatógeno. Defesa


vegetal.

INTRODUÇÃO e fibras têxteis vegetais, frutas e derivados, a dispersão de pragas (qualquer espécie,
hortaliças, cereais e derivados e borracha raça ou biótipo de vegetais, animais ou
A expansão do agronegócio no Brasil
natural. O superávit da balança comercial agentes patogênicos, nocivos aos vegetais
deve ser acompanhada de medidas capa-
do agronegócio foi de US$ 79,4 bilhões, ou produtos vegetais, compreendendo inse-
zes de garantir produtos com qualidade
em 2012, considerado vital para a economia tos, ácaros, nematoides, fungos, bactérias,
superior diante das exigências internacio-
nacional (CONFEDERAÇÃO NACIONAL vírus e viroides) de expressão econômica e
nais. Por outro lado, essas medidas têm
DE AGRICULTURA, 2013). quarentenária no território nacional consti-
acirrado o comércio e criado diferentes
Entretanto, a manutenção e a promoção tuem preocupação constante de governos,
tipos de barreiras. da competitividade do agronegócio brasi- empresas e produtores. Somente no caso
O grande impulso que teve o agro- leiro enfrentam enormes desafios, muitos de insetos, as perdas anuais estimadas são
negócio brasileiro, a partir da década de dos quais de natureza técnica. Um desses da ordem de US$ 12 milhões, dos quais
1970, deu-se graças ao desenvolvimento desafios diz respeito à sanidade vegetal. US$ 1,6 milhão são por causa das pragas
científico e tecnológico e à capacitação em Problemas sanitários estão direta e indi- exóticas (OLIVEIRA et al., 2013). A
nível nacional na área das Ciências Agrá- retamente relacionados com as barreiras ferrugem-asiática da soja, a mosca-branca,
rias, o que gerou a chamada agricultura sanitárias que, diferentemente das barreiras o nematoide-do-cisto da soja e o bicudo-
tropical, base do crescimento expressivo tarifárias, levam anos para ser resolvidas. do-algodoeiro, entre outros, servem como
desse setor. Dessa forma, a contribuição Nos últimos anos, o Brasil viveu situações exemplos de pragas, cuja introdução e/ou
do agronegócio para o PIB brasileiro de desgaste econômico e social por causa dispersão causaram enormes prejuízos ao
passou a ser expressiva, com a partici- da imposição de barreiras sanitárias em agronegócio brasileiro.
pação de produtos do complexo de soja, seus produtos e de perdas de mercados Este artigo tem como objetivo de-
carnes, açúcar e álcool, madeira (papel, provocadas por problemas sanitários. A monstrar que o investimento em defesa
celulose e outros), café, tabaco, algodão introdução – entrada e estabelecimento – e fitossanitária é uma decisão estratégica

1
Engo Agro , D.Sc., Prof. Adj.UFES - CEUNES, CEP 29932-540 São Mateus-ES. Correio eletrônico: barretofito@uol.com.br
2
Engo Agro, Ph.D., Prof. Associado UFV - Depto. Entomologia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: pallini@ufv.br
3
Enga Agra, Ph.D., Pesq. EPAMIG Zona da Mata, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: venzon@epamig.ufv.br
4
Engo Agro, Ph.D., Pesq. EPAMIG Zona da Mata, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: trazilbo@epamig.br

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que não pode ficar de fora das políticas dos europeia de L. dispar, nos EUA, no período Lagarta Helicoverpa
governos, independentemente de questões de 1981 a 1996, chegaram a US$ 764 milhões
A lagarta Helicoverpa (Helicoverpa
partidárias ou preferências ideológicas. A (WALNER, 1996).
armigera) é uma praga recém-introduzida
defesa fitossanitária está completamente Por ser fácil sua disseminação e pelo fato
no Brasil. O primeiro ataque ocorreu na
ligada à defesa da sustentabilidade econô- de ainda não ter sido constatada no Brasil,
cultura da soja, em Goiás e na Bahia, e,
mica e social do País que tem na agricultura é considerada praga quarentenária de inte-
na cultura do algodoeiro, no Mato Grosso
uma de suas principais fontes de riquezas resse florestal no País (IEDE et al., 2007).
(CZEPAK et al., 2013). Trata-se de uma
e estabilidade.
Filoxera praga polífaga que causa sérios danos
econômicos em diversas regiões do mundo
PRAGAS DE IMPORTÂNCIA No início da década de 1850, a prin-
em diferentes culturas, como soja, algodão,
HISTÓRICA cipal fonte de renda da França (cerca de
tomate, entre outras. Seus danos são regis-
20%) e a principal atividade geradora de
O surgimento da entomologia agrícola trados na África, Oriente Médio, Europa,
e da fitopatologia como ciência veio a partir empregos (30% da mão de obra) estavam
Índia, Ásia, Austrália, Nova Zelândia e em
de demandas de problemas fitossanitários relacionadas com a viticultura. O consumo
várias ilhas do Pacífico (FITT, 1989). Em
que causaram impacto na agricultura, anual per capita de vinho na França, entre
1989, os danos causados em legumes na Ín-
especialmente no século 19. A maioria 1850 e 1880, girava em torno de 50 a 80 L.
dia foram de US$ 300 milhões, e, em várias
desses problemas foi decorrente de pragas A filoxera (Phylloxera vastatrix), que esta-
culturas, na Austrália, de US$ 25 milhões.
introduzidas que, encontrando condições va presente em vinhedos nos EUA, atacava
Na China, essa praga possui resistência à
de adaptação no novo ambiente, dizimaram as raízes das plantas. Posteriormente, a pra-
maioria dos inseticidas usados no controle
produções, provocaram fome e migração ga foi introduzida na Inglaterra, nos anos
de pragas da cultura do algodão (WU; GUO,
de 1850. Em 1863, videiras começaram a
de pessoas. Nessa época, pouco esforço 2005). Na África, também pela resistência
morrer inexplicavelmente nos vinhedos da
ainda era devotado às estratégias de qua- aos inseticidas, adotou-se o Manejo Integra-
França, na região de Bordeaux. Em pouco
rentena fitossanitária. A quarentena, até do de Pragas (MIP), com foco na resistência
mais de 30 anos, essa praga dizimou os
então, era um instrumento de prevenção genética (SILVIE et al., 2013).
vinhedos franceses e os de muitos outros
aplicado em epidemias humanas, inicial-
países da Europa (CAMPBELL, 2004). Requeima-da-batata
mente utilizado em cidades portuárias,
Após a introdução da filoxera, o
onde os navios tinham que permanecer A requeima-da-batata é causada pelo
sistema de produção de uva foi alterado,
por 40 dias, antes que os passageiros, com oomiceto Phytophthora infestans. No
não se podendo mais plantar videiras com
suspeita de trazer alguma doença, pudes- século 19, a batata era fundamental como
raízes naturais, as quais eram sensíveis à
sem desembarcar (GENSINI; YACOUB;
filoxera. Assim, as videiras passaram a ser parte de dieta alimentar da população eu-
CONTI, 2004). Algumas das principais
enxertadas em porta-enxertos resistentes à ropeia. Assim, a ocorrência da epidemia
pragas de importância histórica são rela- da requeima, na Europa, a partir de 1845,
praga, provenientes dos EUA. Especialistas
tadas a seguir.
afirmaram que os vinhos da França nunca foi extremamente destrutiva. No período
mais foram os mesmos após a introdução de de 1845 a 1847, os impactos foram do-
Mariposa-cigana
P. vastatrix. Por outro lado, produtores do cumentados com maior intensidade na
A mariposa-cigana (Lymantria dispar) Chile afirmam que uma das características Irlanda, fato que passou historicamente
é nativa da Europa e foi introduzida nos que garantem a qualidade de seus vinhos a ser conhecido como a Grande Fome
Estados Unidos em 1868, por um cientista é que as videiras chilenas são da espécie Irlandesa. Além da fome, o desabasteci-
francês, durante uma tentativa de produzir europeia (Vitis vinifera), plantadas em pé- mento causado pela destruição total dos
seda de insetos. É capaz de atacar várias franco, ou seja, sem a utilização de porta- plantios de batata promoveu a morte de
culturas de interesse econômico, como enxertos. Um dos avanços obtidos, após a dois milhões de pessoas e a migração de
carvalho, maçã e salgueiro, e é considera- experiência com os prejuízos causados por outro milhão. A população da Irlanda, que
da uma das pragas mais importantes para P. vastatrix, foi a elaboração de um tratado era de 8,3 milhões de habitantes, em 1846,
árvores produtoras de madeira nos EUA. multilateral, voltado para a proteção passou para 5,2 milhões, 30 anos depois
Em 1889, foi observado o primeiro surto fitossanitária, conhecido como Convenção (GREGORY, 1983).
de mariposa-cigana. Desde 1980, essa para Phylloxera. Esse documento foi A epidemia da requeima-da-batata foi
mariposa vem desfolhando, em média, uma assinado em 1881, em Berna (Suíça), e uma das forças promotoras do surgimento
área de 4.000 km2 por ano; em 1981, uma estabeleceu medidas regulatórias para da Fitopatologia como ciência, em decor-
área recorde de 52.200 km2 foi destruída. vinhedos de 12 países (OLIVEIRA et al., rência dos estudos realizados por Berkeley,
Estima-se que perdas provocadas pela raça 2004). em 1845, e, posteriormente, por De Bary,
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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 9

que provou a etiologia e identificou a dos EUA, o míldio causou perdas que va- viabilizar os plantios e levar à adoção de
espécie causadora da doença, em 1876. É riaram de 25% a 75% da produção, sendo estratégias rigorosas de controle.
importante destacar que a teoria da abio- essa doença considerada uma das mais
gênese havia sido descartada há pouco destrutivas para a viticultura americana. Tristeza-dos-citros
tempo, por volta de 1862, em decorrência O míldio foi introduzido na França, a A tristeza-dos-citros (Citrus tristeza
dos experimentos de Pasteur. partir dos EUA, em 1875. O material gené- virus) foi detectada pela primeira vez em
A elucidação do centro de origem de tico francês apresentou-se mais suscetível 1937, em plantios localizados na região de
P. infestans não é uma tarefa fácil, em à doença que o americano. Em 1882, a Taubaté, no Vale do Ribeira, estado de São
decorrência da falta de registros históricos doença já havia atingido todas as regiões Paulo. Várias plantas de citros apresenta-
e da ausência de pesquisadores na área, produtoras de vinho da França e dissemi- ram paralisação no crescimento, queda na
quando a doença atingiu seu clímax na his- nado para Itália e Alemanha. O míldio foi
produção e seca de galhos, o que culminava
tória da humanidade. Determinar também mais um dos fatores que contribuíram para
em morte das plantas. A doença era mais
a origem do patógeno na Europa é outra fragilizar a indústria de vinho da França,
intensa em plantas enxertadas com laranja
tarefa difícil (ANDRIVON, 1996; ABAD; no final do século 19.
azeda, que era prevalecente nos plantios
ABAD, 1997). Não há registros e evidên- Um dos resultados decorrentes da
da época, por se tratar de porta-enxerto
cias confiáveis que permitam esclarecer busca por métodos de controle do míldio
resistente à outra doença, a gomose. O
se a doença surgiu, pela primeira vez, no da videira foi o descobrimento de um
agente causador da tristeza-dos-citros foi
continente europeu ou nos EUA ou mesmo fungicida por Millardet. Na região de Bor-
definitivamente desvendado em 1946,
na região Andina, mais especificamente no deaux, na França, os agricultores tinham o
por Meneghini (1946). E quase todos os
Peru. Contudo, parece haver relação entre hábito de aplicar uma calda de sulfato de
pomares do estado de São Paulo foram
uma carga especial de batata oficialmente cobre e cal sobre as parreiras próximas à
dizimados. O controle foi obtido com a
importada por navio, pela Bélgica, entre estrada, com o objetivo de desestimular o
substituição do porta-enxerto de laranja
1843 e 1844, e o surgimento da epidemia furto de cachos de uva pelos transeuntes.
azeda pelo limão-cravo. Em decorrência de
em 1845 (BOURKE; LAMB, 1993). A Após observar os efeitos da calda sobre a
sua amplitude e dos danos causados, com a
Bélgica importava grande quantidade de doença, os estudos foram aprofundados,
chegando-se à formulação final conhecida morte de mais de 100 milhões de plantas, a
batata, com o objetivo de obter material
comercial sadio, tendo em vista que o como calda bordalesa, em homenagem à tristeza-dos-citros é considerada uma das
produto do país estava infestado por região onde foi desenvolvida. Os resul- principais doenças da citricultura mundial.
fungos do gênero Fusarium e por uma tados de Millardet foram publicados em O vírus da tristeza-dos-citros tem sua
virose. Os locais de origem do material 1885 (AINSWORTH, 1981), quando foi origem possivelmente na China. A doença
importado para a cidade de West Flanders, recomendado o uso da calda bordalesa já estava presente na África do Sul, desde
em julho de 1943, não foram identificados, para o controle do míldio-da-videira. Essa 1924, de onde parece ter-se disseminado
mas há fortes indícios de que, junto com calda também passou a ser indicada para para a América Central e depois para o Bra-
esse material, veio também o inóculo de o controle da requeima-da-batata e, até sil. A primeira grande devastação causada
P. infestans que deu origem à epidemia hoje, é utilizada no controle de diversas pela tristeza-dos-citros na América Latina
responsável pela Grande Fome Irlandesa. doenças de plantas em plantios conven- ocorreu em 1930, em Corrientes, Argentina,
cionais e orgânicos. com a destruição de 10 milhões de árvores,
Míldio-da-videira em 15 anos (BORDIGNON et al., 2003).
Após a introdução da filoxera nos par- PRAGAS QUE MARCARAM O
AGRONEGÓCIO BRASILEIRO Bicudo-do-algodoeiro
reirais da França, vários esforços foram
realizados com o objetivo de garantir a Assim como observado na Europa, O bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus
produção nacional de vinho e a renda dos no século 19, várias pragas introduzidas grandis) foi detectado em 1983, no estado
agricultores franceses. Uma das medidas no Brasil também adquiriram relevância de São Paulo. A introdução dessa praga
de controle adotadas foi a importação de na história da fitossanidade nacional, em gerou grande impacto na cadeia produtiva
porta-enxertos de videiras resistentes à decorrência dos impactos que causaram do algodão, ao afetar o valor das áreas pro-
filoxera. Os cientistas franceses já haviam nas regiões produtoras. Algumas dessas dutivas, causar o fechamento de usinas que
alertado sobre a possibilidade de introdu- pragas ainda são importantes para as cul- beneficiavam sementes e óleo e promover
ção do míldio-da-videira (causado pelo turas nas quais incidem e demandam uso o desemprego, especialmente nas Regiões
oomiceto Plasmopora viticola), a partir de de produtos fitossanitários e investimento Nordeste e Sudeste do Brasil. Tanto a in-
materiais trazidos dos EUA, onde o míldio em programas de melhoramento genético. trodução quanto a dispersão do bicudo no
já havia sido relatado em 1843. No norte Em determinadas condições, podem in- Brasil estão associadas a fatores humanos
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10 Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio

e não naturais. A primeira detecção ocorreu expressão econômica em culturas. Foi pri- registrado por algumas, como as relatadas
nas proximidades do Aeroporto Internacio- meiramente introduzido no Brasil em 1928, anteriormente, nem todas as pragas são
nal de Cumbica, com origem provável do e é reconhecido como vetor de viroses em capazes de causar danos catastróficos.
sudeste dos EUA (RAMALHO; MEDEI- feijão, soja e tomate. Sua disseminação por Mesmo que associadas a grandes impactos
ROS; LEMOS, 2000). diferentes regiões geográficas é atribuída na agricultura, com poucas exceções, as
ao transporte de material vegetal pelo ho- pragas têm sua importância relativa mi-
Vassoura-de-bruxa mem (BROWN; BIRD, 1992). Contudo, nimizada a partir do desenvolvimento de
Vassoura-de-bruxa (Moniliophtora sua importância cresceu com a introdução tecnologias que possibilitem seu convívio
perniciosa) é uma doença que teve do biótipo B, no início de 1990. Esse com a produção econômica.
um dos maiores impactos em regiões biótipo é mais nocivo à agricultura que Bergamin Filho e Kimati (1995) es-
produtoras do Brasil, não apenas pelos outros biótipos de B. tabaci, pois, além de tabelecem alguns conceitos de danos que
danos imediatos, mas pela extensão dos atuar como vetor de vírus, também causa devem ser considerados em discussões que
prejuízos, das dificuldades em desenvolver danos diretos às plantas decorrentes de sua envolvem este tema. O dano pode ser po-
medidas de controle e de implementá- alimentação (sucção de seiva e injeção de tencial, ou seja, aquele observado quando
las junto aos produtores. A doença foi substâncias tóxicas). Além disso, reduz nenhuma medida de controle é adotada,
identificada, inicialmente, em 1840, no o vigor das plantas, induz a anomalias pela disponibilização momentânea de
Suriname, e disseminou-se rapidamente fisiológicas e deposita grande quantidade métodos de controle ou simplesmente de-
pelo Continente. No Brasil, foi detectada de secreção açucarada, que prejudica os corrente da falta de conhecimento, por se
pela primeira vez na Região Norte, onde processos fisiológicos da planta e favorece tratar de uma praga inteiramente nova. O
permaneceu endêmica de 1898 até 1989, a ocorrência de fumagina (LOURENÇÃO; dano potencial pode decorrer de uma visão
quando foi introduzida no sul da Bahia, YUKI; ALVES, 1999). preditiva ou retrospectiva. Já o dano real é
uma das principais regiões produtoras Os prejuízos causados por essa praga, aquele que ocorreu ou ainda ocorre, pela
de cacau do Brasil. A produção brasileira no Brasil, já ultrapassam 1,5 bilhão de presença da praga na lavoura.
de cacau, do seu auge produtivo de 459 reais, considerando-se gastos relativos O dano é causado pela ação direta das
mil toneladas, em 1986, quando o Brasil à queda de produção e ao aumento nos pragas na lavoura, decorrente das alte-
era o segundo maior produtor mundial, custos de controle, além da disseminação rações nos mecanismos fisiológicos das
participando com 22% da produção de outras doenças. Diversas culturas como plantas sadias, da destruição das folhas, do
global do fruto, sofreu redução, em termos soja, quiabo, repolho, pimentão, jiló, abó- sistema radicular, do sistema de transporte
porcentuais de 51% em relação a 2009, bora, berinjela e pepino têm sofrido danos de fotoassimilados e água, da produção de
quando o País participou com 8% (SENA, econômicos que variam de 20% a 100% flor e de frutos, entre outros. Alguns danos
2011). O cacau participava com cerca de (OLIVEIRA et al., 2013). O tomate indus- não são causados pela ação direta das
36% do valor bruto da produção da região trial é uma das culturas que mais sofrem pragas na cultura, mas em decorrência da
produtora de Itabuna e Ilhéus, em 1985, com a mosca-branca, seja em decorrência alteração da qualidade dos produtos obti-
caindo para 7,5%, em 2001 (COSTA et dos danos diretos, seja pela disseminação dos em termos de aparência, qualidade de
al., 2009). A introdução da doença trouxe eficiente de viroses importantes. Os pro- fibras, durabilidade do produto e presença
impacto tanto sobre a produção nacional dutores de tomate industrial, mesmo com de toxinas, por exemplo.
quanto sobre o preço do produto pago no a adoção de medidas fitossanitárias, como O conceito de dano trouxe contri-
mercado internacional. Como o cacau era o vazio sanitário, têm sido muitas vezes buições relevantes para a melhoria dos
a principal fonte de renda da região Sul da obrigados a migrar os plantios de uma sistemas produtivos. A partir de estudos
Bahia, o comprometimento da produção região para outra, o que envolve a perda de de danos foi possível obter os respectivos
levou ao desemprego de mais de 300 mil recursos com mudanças na infraestrutura valores econômicos envolvidos e criar
pessoas, e o Brasil foi levado da condição industrial e causa migração de mão de obra instrumentos que pudessem orientar os
de exportador para importador do produto, e desemprego. agricultores quanto ao momento mais
para que pudesse manter seu parque adequado de intervir na lavoura.
industrial de chocolate. COMPOSIÇÃO DO DANO
No caso de pragas introduzidas, um
As pragas passam a ter importância, novo aspecto tem sido abordado e deve ser
Mosca-branca
quando, em decorrência de sua interação considerado, para que seja possível estimar
A mosca-branca (Bemisia tabaci) é com determinada cultura, reduzem a quali- a real importância de determinada praga
um inseto polífago, com uma gama de dade ou a quantidade do produto de interes- e evitar avaliações pouco técnicas sobre
plantas hospedeiras, que causa impacto de se econômico. Apesar do grande impacto o assunto. O sucesso na determinação do
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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 11

impacto causado por pragas introduzidas


será determinante no estabelecimento de 3.0
Custo total (perdas + controle)
políticas de governo que minimizem o Perdas na produção
2.5 Custo do controle
número de pragas introduzidas. Del Ponte e
Martins (2008), ao analisarem os impactos
2.0

US$ bilhões
decorrentes da introdução da ferrugem-
asiática da soja, chamaram a atenção para 1.5
o fato de, nos primeiros momentos, se
preocuparem com os danos decorrentes 1.0
da redução na produção das lavouras, pela
agressividade do patógeno introduzido. No 0.5
entanto, o dano tende a ser reduzido com o
passar do tempo, pelo desenvolvimento de 0
2001/2002 2002/2003 2003/2004 2005/2006 2006/2007 2007/2008
fungicidas e outras estratégias de controle.
Assim, no caso da ferrugem-asiática, Del Gráfico 1 - Progresso temporal do custo da ferrugem da soja no Brasil
Ponte e Martins (2008) demonstraram FONTE: Del Ponte e Martins (2008).
que o dano tendeu a reduzir e o custo de NOTA: Não houve previsão para a safra 2004/2005, em razão da estiagem severa.
controle a crescer (Gráfico 1). A lógica
desse pensamento é bem mais próxima da
de controle, treinamento de produtores, exemplo, os produtores de tomate
realidade, quando se considera o impacto
entre outros). passaram a pulverizar dois insetici-
de uma praga introduzida.
Para que seja possível entender a im- das simultaneamente. As doses dos
IMPACTO MAIS QUE portância de estabelecer programas de vigi- produtos aumentaram e o intervalo
ECONÔMICO lância, para evitar ou retardar a introdução de aplicação foi reduzido, havendo
de novas pragas, outros aspectos devem ser ampliação do número de pulveriza-
A ênfase do aspecto econômico causa-
considerados, como: ções de 10-12 para 20 (MICHEREFF
do pelas pragas introduzidas é uma forma
a) interação entre as pragas introduzidas FILHO; VILELA, 2000);
de valoração mais pragmática e que pode
e outras já existentes no País. Nesse
ser quantificada de forma numérica, o que c) impacto econômico de determinada
caso, há a possibilidade de que uma
facilita a tomada de decisão por parte dos praga pode levar à migração da pro-
nova praga possa criar condições
órgãos de defesa. Contudo, a avaliação dução de uma região mais favorável
para que outras, já presentes, atinjam
econômica, em seu aspecto mais detalhado, para outra menos favorável, o que,
novos patamares de importância
é extremamente complexa e raramente se muitas vezes, implica na mudança
econômica, como é o caso da lagarta-
consegue fazer uma quantificação precisa. de toda a infraestrutura do parque
minadora-dos-citros (Phyllocnistis
No Quadro 1, são apresentadas algumas industrial ligado à cultura. Esse
citrella) e da bactéria causadora
pragas introduzidas e alguns valores de fato foi observado com a mosca-
do cancro-cítrico (Xanthomonas
danos estimados. branca na cultura do tomate e com o
axonopodis pv. citri), que encontrou,
Os dados apresentados no Quadro 1 nematoide-das-galhas (Meloidogyne
nas galerias abertas pela lagarta,
expressam a ordem de grandeza e não uma mayaguensis), em regiões produtoras
condições favoráveis para infectar as
quantificação detalhada e acumulativa ao de goiaba do Nordeste (PEREIRA
folhas da planta (CÔNSOLI, 2000).
longo dos anos. Para a quantificação do
Vários insetos introduzidos são et al., 2009). As pragas afetam toda
impacto econômico de uma praga intro-
duzida é necessário que vários fatores também vetores eficientes de viroses, a produção e comercialização de in-
como a mosca-branca e diversas sumos, transporte, beneficiamento e
sejam contabilizados, além das perdas na
qualidade ou na quantidade da produção. espécies de cigarrinhas; comercialização da produção, assim
como o recolhimento de impostos;
Também devem ser considerados os gastos b) impacto econômico causado pelo
relacionados com o aumento do custo de aumento do número de novas mo- d) perda de mercados internacionais,
produção e com o investimento em pesqui- léculas de produtos fitossanitários novas exigências por parte dos
sas (programas de melhoramento, testes de utilizadas na pulverização das la- mercados importadores e aumento
produtos químicos, estudos epidemiológi- vouras. Com a introdução da traça- do custo de produção, para atender
cos, desenvolvimento de novas moléculas do-tomateiro (Tuta absoluta), por os países importadores.
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12 Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio

QUADRO 1 - Pragas introduzidas no Brasil e danos estimados


Praga Hospedeiro Ano de detecção Danos estimados
Fusarium oxysporum f. sp. cubense Banana 1930 50% a 100% da produção de banana-maçã
Citrus tristeza virus Citros 1937 R$ 15 bilhões
Sphaceloma perseae Abacate 1938 Depreciação e queda dos frutos
Mycosphaerella musicola Banana 1944 50% da produção
Xanthomonas axonopodis pv. citri Citros 1950 R$ 300 milhões
Fusarium subglutinans Abacaxi 1964 30% dos frutos e 20% das mudas
Papaya ringspot virus Mamão 1967-68 60% dos frutos e 20% do peso médio dos frutos
Aphelenchoides bessey Arroz 1969 10% a 46% da produção
Pseudomonas solonacearum (raça 2) Banana 1976 100% da produção
Hemileia vastatrix Café 1979 10% a 90% da produção
Papaya sticky disease virus Mamão 1987 20% das plantas
Moniliophtora perniciosa Cacau 1989 (BA) R$ 15,3 bilhões
Diaporthe phaseolorum Soja 1989 20% a 100% das plantas
Phakopsora pachyrhizi Soja 1990 R$ 8 bilhões
Bemisia tabaci Diversos 1990 R$ 20 bilhões
Heterodera glycines Soja 1992 R$ 250 milhões
Phyllocnistis citrella Citros 1996 Interação cancro cítrico
Mycosphaerella fijiensis Banana 1998 50% a 100% da produção
Candidatus liberibacter Citros 2004 R$ 50 milhões/ano
Puccinia kuehnii Cana-de-açúcar 2009 20% a 30% da produção
NOTA: Dados básicos: Bergamin Filho e Kimati (1995).

PRAGAS CONSIDERADAS potencial de perdas que variam de 30% CONSIDERAÇÕES FINAIS


AMEAÇAS EM POTENCIAL NO a 40% (ALBUQUERQUE et al., 2005).
A introdução de pragas em novas áreas
BRASIL O Ministério da Agricultura, Pecuária e
é um fenômeno que vem acompanhando
As experiências do passado devem sub- Abastecimento (MAPA) tem monitorado
o homem em suas relações comerciais e
a doença que está na iminência de ser
sidiar as ações do presente, com o propósi- fluxos migratórios. Os impactos decor-
to de mitigar novas introduções de pragas introduzida no Brasil. rentes dessas introduções são complexos e
e de danos causados. O aumento do fluxo Recentemente o MAPA, por meio da duradouros. Em alguns casos específicos,
de mercadorias e de pessoas nos portos e Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA), quando ocorrem vários componentes favo-
aeroportos, bem como a grande extensão editou a Instrução Normativa no 12, de 18 ráveis, essas introduções podem provocar
de fronteiras secas que o Brasil tem com de abril de 2013 (BRASIL, 2013), com o efeitos catastróficos e levar à fome, à po-
os demais países da América do Sul, impõe objetivo de definir as medidas de defesa a breza e ao aumento de mortalidade.
desafios à defesa sanitária no País. serem adotadas, visando à prevenção, con- A real quantificação dos impactos das
A podridão-de-Moniliophthora do tenção, controle e erradicação, em função introduções de pragas é uma tarefa extrema-
cacaueiro (Moniliophthora roreri) é um da emergência fitossanitária declarada para mente complexa e não pode ser considerada
exemplo de doença que está presente nos Helicoverpa armigera, praga importante somente em seus aspectos temporais pontu-
países andinos, os quais têm a floresta para as culturas da soja, algodão e milho, ais. Em muitos casos, os efeitos perduram
amazônica como ambiente de continuidade entre outras. Várias medidas já foram to- por anos, especialmente em decorrência do
geográfica e ambiental com o Brasil. Essa madas com o objetivo de mitigar o impacto aumento dos custos de produção.
doença já está presente em plantios do dessa nova introdução, como a liberação Diante da importância do agronegócio
Equador, Colômbia e Peru e é considera- de produtos químicos e biológicos para o brasileiro, torna-se necessário construir po-
da como fator limitante à produção, com seu controle. líticas cada vez mais eficientes e eficazes de
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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 13

proteção do patrimônio agrícola produtivo e erradicação, em função da emergência mariposa cigana: análise de risco de
do País, especialmente em um mundo glo- fitossanitária declarada para a praga introdução de praga florestal potencialmente
Helicoverpa armigera. Diário Oficial [da] quarentenária no Brasil. Colombo: Embrapa
balizado em que o fluxo de informações, de
República Federativa do Brasil, Brasília, 22 Florestas, 2007. 9p. (Embrapa Florestas.
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fazendo com que a defesa agropecuária Disease, St. Paul, v.76, n.3, p.220-225, 1992. biótipo B no estado de São Paulo. Anais da
deixe gradativamente de ser uma atividade CAMPBELL, C. Phylloxera: how wine was
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14 Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio

Sistema de defesa vegetal no Brasil


Paulo Parizzi 1

Resumo - Com o crescente intercâmbio de materiais de multiplicação vegetal, são cria-


das as condições de vulnerabilidade para a introdução de novas pragas e para a disse-
minação das já existentes. O Método de Controle Legislativo baseia-se nos princípios da
exclusão (impedir a entrada de uma praga em área ainda não infestada) e da erradicação
(eliminar a praga e impedir seu estabelecimento). É aplicado por meio da regulamen-
tação da importação, exportação, comércio e trânsito interno de vegetais, partes de ve-
getais, produtos e subprodutos vegetais. Uma série de normas e de procedimentos está
prevista na Legislação Fitossanitária vigente e tem o objetivo de salvaguardar a agricul-
tura brasileira.

Palavras-chave: Introdução de pragas. Exclusão. Erradicação. Legislação fitossanitária.


Defesa agropecuária.

INTRODUÇÃO de cultivo implica na introdução de novas infestada) e da erradicação (eliminação da


espécies ou de novas cultivares, ainda não praga, impedindo o seu estabelecimento),
É notório que a cada dia cresce a de-
adaptadas ao ambiente. Também a obten- por meio da regulamentação da importa-
manda por produtos agrícolas, quer indus-
ção de melhores índices de produtividade ção, exportação, comércio e trânsito inter-
trializados, quer in natura. Essa crescente
promove a introdução de novas espécies, no de vegetais, partes de vegetais, produtos
demanda é consequência do crescimento
variedades e cultivares. É exatamente nesse e subprodutos vegetais. Economicamente,
populacional que o mundo está experi-
intercâmbio de materiais de multiplicação esse método seria o mais viável, pois, a
mentando. Atualmente, calcula-se que
vegetal que o homem cria as condições partir do momento em que uma praga se
existam mais de 500 milhões de pessoas
de vulnerabilidade para a introdução de estabelece em uma área, o seu controle
subalimentadas, com estimativas de au-
novas pragas e para a disseminação das torna-se difícil. A convivência com uma
mento para 600 a 650 milhões, até o final
já existentes. praga estabelecida em uma área exige di-
do século 21, em que pesem os grandes
Deve-se somar a essa problemática versos métodos de controle que, em geral,
avanços tecnológicos, conquistados pela
a globalização da economia, em que se são bastante onerosos para o agricultor e
pesquisa agropecuária.
pratica o comércio aberto e a cada dia danosos para a economia local, estadual
Para atender a esse aumento popu-
mais diversificado, intenso em volume e e nacional.
lacional, as estratégias governamentais
rápido no deslocamento entre países ou Daí surge a necessidade de existir
visam duplicar a produção de vegetais
continentes, com o previsível aumento da Normas e Procedimentos (Legislação
alimentícios, fibrosos e energéticos. Dois
possibilidade de disseminação de pragas Fitossanitária) que devem ser conhecidos
procedimentos poderiam ser adotados para
exóticas. Essas pragas introduzidas em em todos os seus aspectos, com o objetivo
alcançar este objetivo:
áreas indenes causaram e vêm causando de salvaguardar a agricultura brasileira.
a) melhorar os índices de produtivida-
grandes prejuízos à economia nacional.
de da agricultura;
Uma vez introduzidos, esses agentes pode- PAPEL DO MINISTÉRIO DA
b) ampliar as áreas cultivadas, abrindo rão ser disseminados para as mais diversas AGRICULTURA, PECUÁRIA E
novas fronteiras agrícolas. ABASTECIMENTO
regiões, seja pelo próprio homem, seja por
A implementação desordenada de qual- meio de outros agentes da natureza. O agronegócio brasileiro é constituído
quer dos casos resultaria no surgimento de O Método de Controle Legislativo apli- de 5 milhões de propriedades rurais, 60
outros problemas, notadamente o aumento ca-se aos princípios da exclusão (impedir mil agroindústrias e 300 mil estabeleci-
de pragas. De fato, a ampliação de áreas a entrada de uma praga em área ainda não mentos comerciais. O Brasil é líder na

1
Engo Agro, M.S., Fiscal Federal Agropecuário MAPA, Campus UFV, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: paulo.parizzi@agricultura.gov.br

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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 15

produção e exportação de açúcar, suco entes descentralizados do MAPA, organi- jar, normatizar, coordenar e supervisionar
de laranja e café, o 2o produtor mundial e zados na forma de sociedades de economia as atividades de defesa agropecuária em
maior exportador do complexo soja e o 3o mista, as Centrais de Abastecimento de todo o território nacional. É responsável
produtor mundial de frutas. Atualmente, o Minas Gerais S.A (CeasaMinas), a Compa- pela coordenação do Sistema Unificado de
agronegócio representa 29% do Produto nhia de Armazéns e Silos de Minas Gerais Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa),
Interno Bruto (PIB), 37% dos empregos e (Casemg) e a Companhia de Entrepostos e do Sistema Brasileiro de Inspeção de Pro-
38% das exportações. Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp). dutos de Origem Vegetal (SISBI-POV),
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Além disso, o MAPA coordena as ações e do Sistema Brasileiro de Inspeção de
Abastecimento (MAPA) é responsável pela políticas de 26 Câmaras Setoriais e seis Produtos de Origem Animal (SISBI-POA)
gestão das políticas públicas de estímulo Câmaras Temáticas relacionadas com di- do Sistema Brasileiro de Inspeção de Insu-
à agropecuária, pelo fomento do agrone- versos setores produtivos do agronegócio mos Agrícolas e do Sistema Brasileiro de
gócio e pela regulação e normatização de brasileiro. Inspeção de Insumos Pecuários.
serviços vinculados ao setor. No Brasil, O MAPA é organizado em Secretarias, No setor de produção animal, a secre-
o agronegócio contempla o pequeno, o responsáveis pelos diferentes setores do taria responde pelas ações de vigilância
médio e o grande produtor rural e reúne agronegócio nacional, a saber: Secretaria sanitária e combate a doenças veterinárias.
atividades de fornecimento de bens e ser- de Defesa Agropecuária (SDA); Secre- Inspeciona a industrialização de produtos
viços à agricultura, produção agropecuária, taria de Desenvolvimento Agropecuário de origem animal, a fabricação de medica-
processamento, transformação e distribui- e Cooperativismo (SDC); Secretaria de mentos veterinários e a comercialização de
ção de produtos de origem agropecuária até Política Agrícola (SPA); Secretaria de Pro- sêmen para inseminação artificial de ani-
o consumidor final. dução e Agroenergia (SPAE) e Secretaria mais domésticos. Fiscaliza e classifica os
Assim, o MAPA busca integrar, sob de Relações Internacionais do Agronegó- produtos, subprodutos e resíduos animais
sua gestão, aspectos mercadológicos, cio (SRI). de valor econômico.
tecnológicos, científicos, ambientais e Na produção vegetal, responde pela
organizacionais do setor produtivo e tam- Secretaria de Defesa vigilância fitossanitária, inspeciona e
Agropecuária
bém dos setores de abastecimento, arma- fiscaliza a produção de sementes, mudas,
zenagem e transporte de safras, além da A SDA é responsável pela execução das fertilizantes, corretivos, inoculantes, es-
gestão da política econômica e financeira ações de Estado, para prevenção, controle timulantes e biofertilizantes. Controla o
para o agronegócio. Com a integração do e erradicação de doenças animais e de registro, a classificação e a fiscalização
desenvolvimento sustentável e da com- pragas vegetais. Visa assegurar a origem, do comércio de bebidas e da produção de
petitividade, visa à garantia da segurança a conformidade e a segurança dos produtos uvas, vinhos e derivados. Inspeciona a uti-
alimentar da população brasileira e à de origem animal e vegetal, destinados à lização de agrotóxicos e seus componentes,
produção de excedentes para exportação, alimentação humana ou animal, e também além de fiscalizar e classificar os produtos,
fortalecendo o setor produtivo nacional e a idoneidade dos insumos em uso na agri- subprodutos e resíduos vegetais de valor
favorecendo a inserção do Brasil no mer- cultura e na pecuária. econômico.
cado internacional. Sua atuação é importante para a oferta Também é responsável por inspecio-
Para a consecução de seus objetivos, de alimentos seguros, evitando possíveis nar atividades que envolvam organismos
o MAPA conta com uma estrutura fixa de riscos à saúde do consumidor e práticas geneticamente modificados, o controle de
cinco secretarias, 27 superintendências desleais de comércio. A qualidade e a resíduos contaminantes e a fiscalização de
estaduais e suas respectivas unidades, uma segurança dos produtos de origem animal importação e exportação de animais, ve-
rede de seis laboratórios, além de duas e vegetal dependem do cumprimento de getais, produtos e insumos agropecuários
vinculadas, o Instituto Nacional de Me- Boas Práticas de Fabricação (BPF), da fis- nos portos, aeroportos e fronteiras do País.
teorologia (Inmet) e a Comissão Executiva calização oficial e da correta aplicação de Coordena ações de análise e diagnóstico
do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), normas e padrões técnicos estabelecidos. de pragas e doenças e expede certificados
que abrigam cerca de 11 mil servidores Para o cumprimento de sua missão, a SDA sanitários e fitossanitários para a exporta-
espalhados por todo o Brasil. dispõe de estruturas centrais de direção e ção de produtos agropecuários e insumos.
A Empresa Brasileira de Pesquisa normatização e também de projeções nos Dentro da SDA, o Departamento de
Agropecuária (Embrapa) e a Companhia Estados, para execução e coordenação das Sanidade Vegetal (DSV) é o órgão respon-
Nacional de Abastecimento (Conab) são ações de sua competência. sável pela elaboração da regulamentação
empresas públicas que atuam sob ingerên- A SDA também contribui para a formu- fitossanitária nacional, assim como pela
cia e coordenação do MAPA. Também são lação da política agrícola. Compete plane- fiscalização do seu cumprimento.
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16 Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio

Departamento de a) Legislação Básica; objetivo atualizar a Convenção,


Sanidade Vegetal b) Legislação Complementar. considerando as modernas práticas
o e tecnologias fitossanitárias, a fim de
O Decreto n 7.127, de 4 de março de
2010 (BRASIL, 2010) confere ao DSV Legislação Básica harmonizá-las com os novos concei-
tos introduzidos pela Organização
suas principais atribuições e competências: A Legislação Básica estabelece os prin-
Mundial do Comércio (OMC) sobre
I - elaborar as diretrizes de ação gover- cípios fundamentais que orientam toda a
a aplicação de Medidas Sanitárias e
namental para a sanidade vegetal, com conduta governamental na área da fitos-
Fitossanitárias (SPS). Esse trabalho
vistas a contribuir para a formulação da sanidade. Está constituída pelos seguintes
resultou no novo texto revisado e
política agrícola; instrumentos legais:
aprovado pela Conferência da FAO,
II - programar, coordenar e promover a a) O Suasa – Decreto no 5.741, de 30 de
em seu 29o período de sessões, em
execução das atividades de: março de 2006 (BRASIL, 2006a) –: novembro de 1997, que foi pro-
a) vigilância fitossanitária, inclusive a estabelece as regras destinadas aos mulgado pelo Brasil pelo Decreto
definição de requisitos fitossanitários participantes desse sistema e as no 5.759, de 17 de abril de 2006
a serem observados no trânsito de normas para a realização de contro- (BRASIL, 2006b). O Brasil, como
plantas, produtos e derivados de origem les oficiais destinados a verificar o signatário, compromete-se a adotar
vegetal e materiais de uso agrícola; cumprimento da legislação sanitária as medidas legislativas, técnicas e
b) prevenção e controle de pragas, em agropecuária e a qualidade dos pro- administrativas especificadas nessa
especial a definição de requisitos fitos- dutos e insumos agropecuários; Convenção e em acordos suplemen-
sanitários a serem observados na im- b) Regulamento de Defesa Sanitária tares propostos pela FAO, por inicia-
portação e exportação de agrotóxicos, Vegetal (RDSV) – Decreto no 24.114, tiva própria ou por recomendação de
de sementes e mudas e de produtos ve- de 12 de abril de 1934 (BRASIL, uma das partes contratantes;
getais destinados à alimentação animal; 1934) –: estabelece as Normas e os d) Acordos Sanitários e Fitossanitários
c) fiscalização do trânsito de vegetais, Procedimentos adotados pelo Brasil, Internacionais: com o advento da
partes de vegetais, seus produtos, para importação, exportação, comér- OMC e, particularmente, do Acordo
subprodutos e derivados, incluindo a cio e trânsito de vegetais, erradicação sobre Aplicação de Medidas Sani-
aplicação de requisitos fitossanitários e combate às pragas, desinfecção e tárias e Fitossanitárias, conhecido
a serem observados na importação e desinfestação de vegetais. O RDSV como Acordo SPS, vários países têm
exportação; e está em fase final de revisão e atu- implementado a celebração de Acor-
d) promoção de campanhas de educação alização. Visa adequar-se às novas dos com vistas a facilitar o comércio
e demais ações de defesa fitossanitária; regras e acordos internacionais; do agronegócio, principalmente
III - promover auditorias técnico-fiscal c) Convenção Internacional para aqueles que têm esse segmento
e operacional das atividades pertinentes Proteção dos Vegetais (CIPV): tem como importância estratégica em
de sua competência; como objetivo assegurar uma ação suas economias.
IV - formular proposta e participar de comum e permanente contra a intro- A base para esses acordos fundamenta-
negociações de acordos, tratados ou dução e a disseminação de pragas se no texto do Acordo SPS e nas decisões
convênios internacionais, concernentes dos vegetais, partes de vegetais e do Comitê SPS da OMC, por meio da
aos temas de defesa vegetal, em articu- produtos de origem vegetal, além discussão de temas como regionalização,
lação com as demais unidades organi- de promover as medidas para o seu equivalência, trato especial e diferenciado,
zacionais dos órgãos do Ministério; e combate. Foi aprovada pela Orga- notificação e transparência, além de ter
V - coordenar a elaboração, promover nização das Nações Unidas para uma participação importante na solução
a execução, o acompanhamento e a Alimentação e Agricultura – Food de controvérsias entre seus membros nos
avaliação dos programas e ações do and Agriculture Organization of the temas sanitários e fitossanitários.
Departamento. United Nations (FAO), no sexto pe- Nesse sentido, o Brasil vem implan-
ríodo de sessões realizado em 1951 tando protocolos bilaterais e birregionais
LEGISLAÇÃO FITOSSANITÁRIA e entrou em vigor em 3 de abril de que são alterados, ajustados ou extintos
BRASILEIRA
1952. A partir de então foram efetu- em função dos interesses das partes con-
A Legislação Fitossanitária brasileira adas inúmeras revisões, exaustivas tratantes. Como exemplos, mencionam-se
está dividida em dois grandes grupos e de amplo alcance, em seu texto as negociações e acordos com o Canadá,
normativos: inicial. Essas revisões tiveram por Estados Unidos da América, Chile, China,
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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 17

Argentina, entre outros, para a celebração gurando a saúde dos animais, a sanidade O comércio e o trânsito interestadual
de protocolos de equivalência e entre o dos vegetais e a inocuidade dos alimentos, de vegetais são normatizados por meio de
Mercosul e a União Europeia (UE) nas além de evitar danos ao meio ambiente, legislação complementar, que estabelece
áreas sanitárias e fitossanitárias. certificando a qualidade dos produtos e restrições e procedimentos sempre que
Os acordos bilaterais são relevantes dos insumos importados e exportados e ocorrer risco de disseminação de uma pra-
para a integração comercial. Salienta-se evitando prejuízos à economia brasileira e ga, de uma região para outra ainda indene.
que o Brasil tem cerca de 120 acordos bila- à saúde pública por meio da fiscalização do A fiscalização do trânsito interno é
terais na área sanitária e fitossanitária com trânsito internacional de animais, vegetais, realizada pelos órgãos estaduais de Defesa
45 países. Muitas vezes, a implementação produtos, subprodutos, derivados, insumos Agropecuária sob a delegação da SDA do
bilateral é mais rápida e traz resultados agropecuários e materiais para pesquisa MAPA. Está comumente associada a Pro-
para o comércio de forma mais célere, científica. gramas ou Campanhas fitossanitárias, sen-
além de facilitar possíveis entendimentos Para a construção e a manutenção do esta atividade extremamente importante
mais abrangentes em um futuro próximo. desse modelo serão necessários, além dos para evitar que uma praga seja disseminada
aspectos de infraestrutura, pré-requisitos para regiões indenes. Essa ação referente
Legislação Complementar fundamentais, como a normalização, a ao trânsito interno é também efetivada por
sistematização, a informatização e a atua- meio de barreiras fitossanitárias, fixas ou
A Legislação Complementar estabe-
móveis, em pontos estratégicos das rodo-
lece ou regulamenta as normas, procedi- lização dos procedimentos de rotina.
vias de ligação interestadual.
mentos e estrutura operativa da Defesa O Manual de Procedimentos Opera-
Na Legislação Complementar são
Sanitária Vegetal no País. É constituída cionais do Vigiagro – Instrução Normativa
contempladas inúmeras normas e proce-
por Atos, Editais, Portarias, Portarias no 36, de 10 de novembro de 2006 e suas
dimentos referentes ao trânsito interno.
Interinstitucionais, Portarias Interminis- alterações (BRASIL, 2006c) – tem por
teriais, Instruções, Instruções de Serviço, objetivo disciplinar, orientar e esclarecer os Órgãos estaduais de
Instruções Normativas e Resoluções, que princípios determinados pela legislação vi- Defesa Agropecuária
são atualizadas periodicamente de acordo gente, e padronizar as ações desenvolvidas
Assim como o Brasil possui sua Orga-
com as prioridades e conveniências da pelos Fiscais Federais Agropecuários, que
nização Nacional de Proteção Fitossanitá-
fitossanidade nacional. atuam no Vigiagro do Brasil, com vistas a
ria (ONPF), que é o DSV, ligado à SDA do
alcançar seu objetivo.
MAPA, os Estados também possuem suas
TRÂNSITO INTERNACIONAL O Vigiagro conta, no momento, com
Organizações Estaduais de Proteção Fitos-
110 Unidades de Vigilância localizadas sanitária. Em Minas Gerais, é a Gerência
A modernização institucional do MAPA nos Portos Organizados, Aeroportos Inter-
estabeleceu o Sistema de Vigilância Agro- de Defesa Sanitária Vegetal (GDV), do
nacionais, Postos de Fronteira e Aduanas Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA).
pecuária Internacional (Vigiagro), consti- Especiais. Os órgãos estaduais de defesa agrope-
tuído por uma Coordenação Geral, Serviço
cuária, vinculados às Secretarias Estaduais
de Vigilância Internacional Animal, Servi- TRÂNSITO INTERESTADUAL de Agricultura, têm por finalidade:
ço de Vigilância Internacional Vegetal, os DE VEGETAIS
a) planejar, coordenar, executar e fis-
Serviços/Seções de Gestão da Vigilância
No Regulamento de Defesa Sanitária calizar programas de produção, de
Agropecuária (Vigiagro/DT-UF), nas
Vegetal de 1934, modificado pelo Decreto- saúde e de defesa sanitária animal e
Superintendências e Serviços (SVAs) e
Lei no 5.478, de 12 de maio de 1943 (BRA- vegetal;
Unidades de Vigilância Agropecuária
SIL, 1943) consta: b) fiscalizar o comércio e o uso de
(Uvagro), nos portos, aeroportos, postos
Art. 20. É livre, em todo território na- insumos e produtos agropecuários,
de fronteira e aduanas especiais, criando
cional, o trânsito de plantas, partes de e os criatórios e abates de animais
canais de comunicação e informação que
vegetais ou produtos de origem vegetal. silvestres;
interligam todo o Sistema Vigiagro, esta-
belecendo uma nova sistemática gerencial c) exercer a inspeção vegetal e a de
Parágrafo único. O Ministério da Agri-
e hierárquica que permitirá elevar o padrão produtos de origem animal;
cultura, verificada a irrupção, no país,
do serviço e torná-lo modelo mundial de de pragas ou doenças reconhecidamente d) padronizar e classificar vegetais;
vigilância agropecuária internacional. nocivas às culturas, poderá, em qual- e) realizar promoções agropecuárias
O Vigiagro tem por objetivo prevenir quer tempo, mediante portaria, proibir, nos Estados, de acordo com as
o ingresso, a disseminação e o estabele- restringir ou estabelecer condições para diretrizes dos governos estaduais e
cimento de pragas e enfermidades, asse- o trânsito de que trata o presente artigo. federal.
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18 Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio

REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto no 24.114, de 12 de abril
de 1934. Aprova o Regulamento de Defesa
Sanitária Vegetal. Diário Oficial [da] Repú-
blica Federativa do Brasil, Rio de Janeiro,
28 maio 1934.

BRASIL. Decreto no 5.741, de 30 de março


de 2006. Regulamenta os arts. 27-A, 28-A

laranja
e 29-A da Lei no 8.171, de 17 de janeiro
de 1991, organiza o Sistema Unificado de

morango
Atenção à Sanidade Agropecuária, e dá ou-
tras providências. Diário Oficial [da] Repú-
blica Federativa do Brasil, Brasília, 31 mar.
2006a.

BRASIL. Decreto no 5.759, de 17 de abril


de 2006. Promulga o texto revisto da Con-
venção Internacional para a Proteção dos
Vegetais (CIVP), aprovado na 29a Conferên-
cia da Organização das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação – FAO, em 17 de

limão
novembro de 1997. Diário Oficial [da] Re-
pública Federativa do Brasil, Brasília, 18
abr. 2006b.

BRASIL. Decreto no 7.127, de 4 de março


de 2010. Aprova a Estrutura Regimental
e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em
Comissão e das Funções Gratificadas do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas-
manga
tecimento, e dá outras providências. Diário
Oficial [da] República Federativa do Bra-
sil, Brasília, 5 mar. 2010. Seção 1.

BRASIL. Decreto-Lei no 5.478, de 12 de maio


de 1943. Modifica o art. 20 e seus parágra-
fos, do Regulamento de Defesa Sanitária
Vegetal, baixado com o Decreto n. 24.114,
Mudas de
frutíferas
de 12 de abril de 1934. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Rio de Ja-
neiro, 14 maio 1943.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuá-


ria e Abastecimento. Instrução Normativa
no 36, de 10 de novembro de 2006. Aprova
o Manual de Procedimentos Operacionais
da Vigilância Agropecuária Internacional, a
ser utilizado pelos Fiscais Federais Agrope-
cuários na inspeção e fiscalização do trânsi-
to internacional de animais, vegetais, seus
produtos e subprodutos, derivados e partes, EPAMIG Norte de Minas
resíduos de valor econômico e insumos Rodovia MGT 122, Km 155 - Caixa Postal 12
agropecuários, nos Portos Organizados, Ae-
CEP 39525-000 - Nova Porteirinha - MG
roportos Internacionais, Postos de Fronteira
e Aduanas Especiais. Diário Oficial [da]
Telefax: (38) 3834-1760
República Federativa do Brasil, Brasília, 14 ctnm@epamig.br
nov. 2006.

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Doenças do cafeeiro
O cafeeiro pode ser atacado por várias
doenças infecciosas que ocasionam
muitos prejuízos ao cafeicultor. São
causadas por fungos, bactérias e vírus.
O diagnóstico correto das doenças e
das condições que determinam sua
ocorrência é fundamental para o sucesso
das medidas de controle ou prevenção
de tais problemas.
É imprescindível conhecer fatores
ambientais e de manejo, os quais
podem causar distúrbios fisiológicos
nos cafeeiros, e sintomas decorrentes
desses fatores, para evitar avaliações e
recomendações incorretas.
O Boletim Técnico Doenças do cafeeiro:
diagnose e controle tem como objetivo
disponibilizar, para técnicos e produtores,
informações práticas para um diagnóstico
correto e controle integrado das doenças.

Assinatura e vendas avulsas


publicacao@epamig.br
(31) 3489-5002

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Micotoxinas e saúde pública


Carlos Augusto Mallmann 1
Paulo Dilkin 2
Liziane Rachel da Silva Wovst 3
Alexandre Gomes da Rocha 4
Camila Durlo Tamiosso 5

Resumo - As micotoxinas são substâncias tóxicas resultantes do metabolismo de algu-


mas espécies de fungos filamentosos. São encontradas em ampla variedade de matérias-
primas e produtos destinados à alimentação humana e animal. Os riscos associados à
saúde pública têm sido evidenciados em diversos estudos. Em 2011, a Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabeleceu limites máximos para algumas micotoxinas
em matérias-primas e produtos utilizados na dieta humana. Os impactos relativos à pre-
sença das micotoxinas compreendem desde a produção agropecuária até os gastos com
a saúde pública, mas a dimensão dos valores é difícil de mensurar. Dentre as medidas
preventivas mais eficientes destacam-se aquelas voltadas a impedir a proliferação dos
fungos no início da cadeia produtiva.

Palavras-chave: Fungo. Micotoxina. Prevenção. Legislação.

INTRODUÇÃO dução de micotoxinas (BRYDEN, 1994). A contaminação de alimentos por


Atualmente, mais de 400 micotoxinas micotoxinas constitui um considerável
As micotoxinas são substâncias tóxi-
cas de baixo peso molecular produzidas são conhecidas, porém, de acordo com obstáculo à economia de muitos países,
Mallmann e Dilkin (2007), as de maior pois afeta o agronegócio, interferindo
pelo metabolismo secundário de fungos
filamentosos. Esses fungos crescem e relevância para a saúde pública podem ser ou até mesmo impedindo a exportação,
proliferam-se bem em diversos alimentos divididas em três grandes grupos: reduzindo a produção animal e agrícola
(milho, trigo, cevada, arroz, sorgo, frutas a) aflatoxinas, produzidas por fungos e, em alguns países, afetando também a
saúde humana (FLEUNG; DIAZ-LLANO;
secas, amendoim etc.), onde encontram do gênero Aspergillus (espécies A.
SMITH, 2006). Por isso, muitos países têm
um substrato altamente nutritivo para flavus e A. parasiticus);
o seu desenvolvimento. A produção de compreendido que a redução dos níveis de
b) fusariotoxinas, produzidas por
micotoxinas depende do tipo de fungo, da micotoxinas em alimentos é importante,
fungos do gênero Fusarium, repre- pois, além de conferir vantagens na co-
composição do substrato e das condições
sentadas pela zearalenona (ZEA), mercialização de seus produtos, reduz as
ambientais, como umidade e temperatura
tricotecenos, deoxinivalenol (DON)
adequadas (BENNETT; KLICH, 2003). despesas com a saúde pública. Em países
Práticas agrícolas inadequadas e condições e fumonisinas; onde não são regulamentados limites
de colheita, tratamento e armazenamento c) ocratoxinas (OTA), produzidas pelo máximos para micotoxinas em alimentos,
também são fatores que contribuem para fungo Aspergillus ochraceus e algu- ou os regulamentos definidos não são se-
o desenvolvimento fúngico e para a pro- mas espécies do gênero Penicillium. guidos rigidamente, o impacto econômico

Médico-Veterinário, Dr., Prof. Tit. UFSM - Depto. Medicina Veterinária Preventiva/Coord. Laboratório de Análises Micotoxicológicas,
1

CEP 97105-900 Santa Maria-RS. Correio eletrônico: mallmann@lamic.ufsm.br


Médico-Veterinário, D.Sc., Prof. Adj. UFSM - Depto. Medicina Veterinária Preventiva - Laboratório de Análises Micotoxicológicas,
2

CEP 97105-900 Santa Maria-RS. Correio eletrônico: dilkin@lamic.ufsm.br


3
Médica-Veterinária, Mestranda UFSM, CEP 97105-900 Santa Maria-RS. Correio eletrônico: liziane@lamic.ufsm.br
4
Zootecnista, Mestrando UFSM, CEP 97105-900 Santa Maria-RS. Correio eletrônico: alexgomesr@hotmail.com
5
Graduanda Medicina-Veterinária UFSM, CEP 97105-900 Santa Maria-RS. Correio eletrônico: tamiosso@lamic.ufsm.br

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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 21

decorrente da exposição às micotoxinas e Aspergillus flavus e A. parasiticus. As produtiva. Programas de conscientização


os maiores custos com a saúde pública são aflatoxinas de maior importância para a e de educação para produtores rurais e
extremamente elevados. saúde pública são AFB1, AFB2, AFG1 e indústrias de processamento de leite são
A exposição humana às micotoxinas AFG2. A AFB1 é a mais potente substân- fundamentais nesse contexto.
ocorre principalmente pelo consumo de cia hepatocarcinogênica natural conheci-
alimentos contaminados. Também pode Fumonisinas
da. Em 1993, com base em estudos com
ocorrer por inalação ou contato e absorção animais e evidências epidemiológicas, As micotoxinas pertencentes ao
pela pele, embora com menor frequência. a Agência Internacional de Pesquisas grupo das fumonisinas são metabólitos
As micotoxinas podem entrar na cadeia sobre o Câncer – International Agency dos fungos Fusarium proliferatum e F.
alimentar humana direta ou indiretamente. for Research on Cancer (IARC) avaliou verticillioides, os quais são contaminantes
Diretamente, por meio do consumo de cere- o potencial carcinogênico das aflatoxi- primários do milho, embora outros alimen-
ais, oleaginosas e derivados contaminados. nas, classificando-as como carcinógenos tos também possam ser afetados. Dentre
Os animais que se alimentam com rações humanos (Grupo 1). Estima-se que 35% as fumonisinas destacam-se as FB1, FB2
contaminadas podem excretar micotoxinas dos casos de câncer humano estejam di- e FB3, sendo a FB1, a mais tóxica e pre-
no leite, carne e ovos e, consequentemente, retamente relacionados com a dieta e com valente. As fumonisinas foram incluídas
constituir fonte de contaminação indireta a presença de aflatoxinas em alimentos. O no Grupo 2B da IARC, por serem consi-
para humanos (SIMPÓSIO..., 1999). fígado é o principal órgão afetado pelas deradas possíveis carcinógenos humanos
aflatoxinas e a AFB1 tem sido relacionada (WHO, 1993). O consumo de alimentos
PRINCIPAIS MICOTOXINAS E com a ocorrência de carcinoma hepático contaminados por fumonisinas tem sido
RISCOS À SAÚDE PÚBLICA
primário, em que atua sinergicamente com associado à elevada incidência de câncer
As micotoxinas são contaminantes de o vírus da hepatite B (HBV). esofágico em diversas partes da África,
significativa proporção de alimentos que As aflatoxinas ainda têm sido encon- América Central e Ásia (MARASAS,
constituem a dieta básica da população tradas em tecidos de crianças acometidas 2004). Por reduzir os níveis de folato em
mundial. Isso é especialmente importante, pelas síndromes de Kwashiorkor e Reye. A diversas linhagens celulares, o consumo de
considerando-se que essas substâncias síndrome de Kwarshiorkor caracteriza-se alimentos contaminados por fumonisinas
possuem comprovadas propriedades car- por uma forma de desnutrição energético- tem sido relacionado com defeitos no tubo
cinogênicas, teratogênicas, hemorrágicas proteica. Algumas características da doen- neural em bebês.
e imunossupressoras e atuam de forma de-
ça são conhecidas por estar entre os efeitos Em um estudo conduzido para deter-
letéria sobre o organismo humano. Níveis
patológicos causados pelas aflatoxinas em minar a contaminação de FB1 em amostras
elevados de micotoxinas na dieta podem
animais. A síndrome de Reye caracteriza-se de arroz e milho e suas correlações com a
levar a problemas agudos de saúde e até a
por encefalopatia e deterioração visceral, ocorrência de câncer de esôfago em uma
morte. No entanto, os efeitos tóxicos dessas
com infiltração de lipídeos em vísceras região de alto risco no nordeste do Irã,
substâncias sobre a saúde humana são nor-
como fígado e rins (ZAIN, 2011). pesquisadores encontraram níveis médios
malmente de curso crônico (WILD; HALL,
A biotransformação das AFB1 e AFB2 da toxina de 223.600 e 21.600 μg/kg, em
1996). A severidade desses efeitos depende
do tipo de micotoxina, tempo de exposição, em metabólitos hidroxilados dá origem às amostras de milho e arroz, respectivamen-
dose ingerida, idade, estado nutricional e AFM1 e AFM2, respectivamente, as quais te, o que correspondeu a 50% e 40,9% de
condições de saúde do indivíduo afetado. são encontradas no leite e derivados lácte- positividade das amostras. O nível de FB1
O diagnóstico de uma micotoxicose (ter- os. A AFM1 foi classificada no Grupo 2B foi, significativamente, maior em amostras
minologia utilizada para a doença causada como possível carcinógeno para humanos de arroz obtidas de regiões de alto risco
pela intoxicação por micotoxinas) é difícil, (WHO, 1993). Awasthi et al. (2012) detec- de câncer de esôfago (43.800 μg/kg), do
pois os sintomas não são específicos e taram a AFM1 em concentrações de 0,071 que aquelas obtidas de áreas de baixo
ainda devem ser consideradas as possíveis a 0,075 μg/kg em amostras de leite pasteu- risco para câncer de esôfago (8.930 μg/
interações com outros agentes infecciosos. rizado e não pasteurizado respectivamente. kg) (p=0,01). A proporção de amostras de
As micotoxinas de maior relevância para O tratamento térmico não teve impacto arroz contaminadas com FB1 também foi
a saúde pública estão descritas a seguir. nas concentrações da AFM1 no leite, pois significativamente maior em regiões de
essas toxinas são resistentes a altas tempe- alto risco (75,0%), do que em regiões de
Aflatoxinas raturas. Para garantir a qualidade do leite baixo risco (21,4%) de ocorrência de cân-
A principal classe de micotoxinas é e derivados, medidas preventivas devem cer de esôfago (p=0,02). Houve correlação
constituída por metabólitos dos fungos ser tomadas em cada estádio da cadeia positiva significante entre a contaminação
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por FB1 em arroz e o risco de ocorrência nivalenol (NIV) e as toxinas T-2 e HT-2 (LI et al., 2001). Segundo Gelderblom
de câncer no esôfago (ALIZADEH et al., são os representantes mais estudados. O (2002), a FB1 é capaz de interagir com a
2012). mecanismo de ação tóxica dos tricotecenos AFB1, elevando o potencial carcinogênico
baseia-se na inibição da síntese proteica desta.
Ocratoxina A e interferência com a síntese de DNA e
A ocratoxina A (OTA) é um metabólito RNA, atingindo especialmente células de IMPACTOS ECONÔMICOS DAS
MICOTOXINAS
tóxico produzido por fungos dos gêneros alta atividade metabólica e multiplicação
Aspergillus e Penicillium. É uma potente ativa (MALLMANN; DILKIN, 2007). A Considerações sobre o impacto eco-
nefrotoxina, além de ser neurotóxica, ingestão dessas toxinas está associada à nômico das micotoxinas incluem prin-
imunossupressiva, carcinogênica e tera- ocorrência de hemorragias no trato digesti- cipalmente maiores custos com saúde,
togênica. Ocorre em um grande número vo, vômitos e diarreia. DON é o tricoteceno diminuição da produtividade animal e
de cereais e grãos, incluindo milho, café, mais prevalente e comumente encontrado agrícola e a impossibilidade de exportação
feijão, amendoim e cacau. Os níveis de em alimentos, como cevada, milho e trigo dos produtos contaminados, devido aos
OTA nos alimentos estão intimamente (KUMAR; BASU; RAJENDRAN, 2008). limites impostos pelos países importado-
relacionados com as condições de produ- res. A contaminação por micotoxinas pode
Zearalenona reduzir os estoques de alimentos e, conse-
ção e conservação. Contudo, os teores da
toxina quantificados em alimentos nor- A zearalenona (ZEA) é uma micoto- quentemente, elevar o preço de produtos
malmente encontram-se abaixo daqueles xina estrogênica não esteroidal, e seus à base de cereais. Gastos adicionais ainda
efeitos tóxicos são comumente associados são relacionados com o desenvolvimento
permitidos pelas regulamentações. Práticas
a problemas reprodutivos em animais de de técnicas para detectar e quantificar mi-
agrotecnológicas de produção e estocagem
produção, principalmente em suínos. Em cotoxinas e em pesquisas para prevenir a
inadequadas dos alimentos ainda são os
contaminação.
pontos críticos para evitar os riscos tóxicos seres humanos, a ZEA tem sido relacionada
O impedimento da comercialização
resultantes da exposição humana a essa com a puberdade precoce em meninas e
de produtos destinados à alimentação hu-
toxina (ABREU et al., 2011). ao aumento dos órgãos reprodutores em
mana, por excederem os limites máximos
Estudos demonstram que a OTA au- meninos (ABID-ESSEFI et al., 2003). Por
tolerados (LMT) de micotoxinas, pode
menta a formação de tumores renais na me- não apresentar carcinogenicidade para os
direcioná-los para o mercado de alimen-
dula externa de rins em ratos. Danos diretos seres humanos, a ZEA foi classificada no
tação animal, que normalmente remunera
ao DNA e subsequente mutagenicidade Grupo 3 da IARC.
menos pelos produtos. O resultado pode ser
podem contribuir para esses processos. O a maior oferta de produtos que no Brasil
metabólito hidroquinona da OTA também COOCORRÊNCIA DAS
MICOTOXINAS usualmente não são destinados à alimen-
é mutagênico, especialmente na presença tação animal, tais como o trigo e a cevada.
de cisteína (AKMAN et al., 2012). Embora É importante ressaltar que as micotoxi-
as propriedades patogênicas da OTA em nas podem coocorrer em uma determinada LEGISLAÇÃO
seres humanos ainda sejam especulativas, matéria-prima ou produto final. Estudos
Os LMT de micotoxinas em certos
observa-se uma similaridade morfológica comprovam que tricotecenos, zearaleno-
tipos de alimentos são determinados pela
e funcional entre as lesões provocadas na, fumonisinas e ocratoxina A já foram
maioria dos países por meio de regulamen-
pela nefropatia suína induzida pela OTA e isoladas em alimentos contendo aflatoxi-
tações. No Brasil, a Agência Nacional de
a nefropatia endêmica em seres humanos. nas (MALLMANN; DILKIN, 2007). Em Vigilância Sanitária (Anvisa) regulamenta
Sendo assim, essa micotoxina tem sido geral, os efeitos dessas interações resultam a presença de micotoxinas em uma grande
apontada como agente causador da nefro- em combinações aditivas, sinérgicas e/ou variedade de alimentos, pela Resolução
patia endêmica (MAAROUFI et al., 1996), potencializadoras. Kumar, Basu e Rajen- RDC no 7, de 18 de fevereiro de 2011
doença que frequentemente é acompanha- dran (2008) admitem que pouco se conhece (ANVISA, 2011). Apesar da Resolução
da por câncer urotelial do trato superior. sobre os efeitos da exposição, quando ter entrado em vigor em 2011, até 2016
ocorre a contaminação simultânea com os LMT para algumas micotoxinas em
Tricotecenos
várias toxinas. Frequentemente, tem-se determinados alimentos ainda serão ajus-
Os tricotecenos constituem um grupo observado a coocorrência de fumonisinas tados e deverão entrar em vigência. Os
de metabólitos tóxicos quimicamente e aflatoxinas em milho, e ambas as toxinas LMT determinados pela Resolução RDC
semelhantes, entre os quais diacetoxis- têm sido relatadas em regiões com alta no 7, de 18/2/2011 estão apresentados nos
cirpenol (DAS), deoxinivalenol (DON), incidência de hepatocarcinoma celular Quadros 1 e 2.
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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 23

QUADRO 1 - Limites máximos tolerados (LMT) para micotoxinas1


LMT
Micotoxina Alimento
(mg/kg)
Aflatoxina M1 Leite fluido 0,5
Leite em pó 5,0
Queijos 2,5

Aflatoxinas B1, Cereais e produtos de cereais, exceto milho e derivados, incluindo cevada malteada 5,0
B2, G1 e G2 Feijão 5,0
Castanhas exceto castanha-do-Brasil, incluindo nozes, pistaches, avelãs e amêndoas 10,0
Frutas desidratadas e secas 10,0
Castanha-do-Brasil, com casca, para consumo direto 20,0
Castanha-do-Brasil, sem casca, para consumo direto 10,0
Castanha-do-Brasil, sem casca, para processamento posterior 15,0
Alimentos à base de cereais para alimentação infantil (lactentes e crianças de primeira infância) 1,0
Fórmulas infantis para lactentes e fórmulas infantis segmentadas para lactentes e crianças de primeira 1,0
infância
Amêndoas de cacau 10,0
Produtos de cacau e chocolate 5,0
Especiarias: Capsicum spp. (o fruto seco, inteiro ou triturado, incluindo pimentas, pimenta em pó, pimenta- 20,0
de-caiena e pimentão-doce); Piper spp. (o fruto, incluindo a pimenta branca e a pimenta preta), Myristica
fragrans (noz-moscada), Zingiber officinale (gengibre), Curcuma longa (cúrcuma); misturas de especiarias
que contenham uma ou mais das especiarias acima indicadas
Amendoim (com casca, descascado, cru ou tostado), pasta de amendoim ou manteiga de amendoim 20,0
Milho, milho em grão (inteiro, partido, amassado, moído), farinhas ou sêmolas de milho 20,0

Ocratoxina A Cereais e produtos de cereais, incluindo cevada malteada 10,0


Feijão 10,0
Café torrado (moído ou em grão) e café solúvel 10,0
Vinho e seus derivados 2,0
Suco de uva e polpa de uva 2,0
Especiarias: Capsicum spp. (o fruto seco, inteiro ou triturado, incluindo pimentas, pimenta em pó, pimenta- 30,0
de-caiena e pimentão-doce) Piper spp. (o fruto, incluindo a pimenta branca e a pimenta preta), Myristica
fragrans (noz-moscada), Zingiber officinale (gengibre), Curcuma longa (cúrcuma); misturas de especiarias
que contenham uma ou mais das especiarias acima indicadas
Alimentos à base de cereais para alimentação infantil (lactentes e crianças de primeira infância) 2,0
Produtos de cacau e chocolate 5,0
Amêndoa de cacau 10,0
Frutas secas e desidratadas 10,0

Deoxinivalenol Arroz beneficiado e derivados 750,0


(DON) Alimentos à base de cereais para alimentação infantil (lactentes e crianças de primeira infância) 200,0

Fumonisinas Milho de pipoca 2.000,0


(B1 + B2) Alimentos à base de milho para alimentação infantil (lactentes e crianças de primeira infância) 200,0

Zearalenona Alimentos à base de cereais para alimentação infantil (lactentes e crianças de primeira infância) 20,0

Patulina Suco de maçã e polpa de maçã 50,0


FONTE: Anvisa (2011).
(1)Em vigor desde 9 de março de 2011.

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24 Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio

QUADRO 2 - Limites máximos tolerados (LMT) para micotoxinas1


LMT
Micotoxina Alimento
(mg/kg)
Deoxinivalenol (DON) Trigo integral, trigo para quibe, farinha de trigo integral, farelo de trigo, farelo de arroz, 2.000,0
grão de cevada
Farinha de trigo, massas, crackers, biscoitos de água e sal e produtos de panificação, 1.750,0
cereais e produtos de cereais exceto trigo, incluindo cevada malteada

Fumonisinas (B1 + B2) Farinha de milho, creme de milho, fubá, flocos, canjica, canjiquinha 2.500,0

Amido de milho e outros produtos à base de milho 2.000,0

Zearalenona Farinha de trigo, massas, crackers e produtos de panificação, cereais e produtos de cereais 200,0
exceto trigo e incluindo cevada malteada
Arroz beneficiado e derivados 200,0

Arroz integral 800,0

Farelo de arroz 1.000,0

Milho de pipoca, canjiquinha, canjica, produtos e subprodutos à base de milho 300,0

Trigo integral, farinha de trigo integral, farelo de trigo 400,0


FONTE: Anvisa (2011).
(1)Aplicação em janeiro de 2012.

DADOS DO LABORATÓRIO média de OTA, obtidos pelo LAMIC, em indicando que, após o processamento para
DE ANÁLISES 2012. Como pode ser observado, as con- produção dos alimentos à base de milho,
MICOTOXICOLÓGICAS centrações médias de OTA não excederam como creme de milho, fubá, farinha de mi-
As análises realizadas no Labora- os LMT permitidos pela legislação. lho e outros, esses alimentos processados
tório de Análises Micotoxicológicas Como pode ser observado no Quadro 5, atenderão à legislação.
(LAMIC), da Universidade Federal de as maiores positividades para DON são Os LMT descritos na legislação para
Santa Maria (UFSM), em Santa Maria, referentes às amostras de cereais, entre as zearalenona abrangem, basicamente, os
RS, demonstram que a maioria dos pro- quais centeio (22 amostras), cevada (997 alimentos processados a partir de milho,
dutos avaliados apresenta contaminação amostras), trigo (837 amostras) e deriva- trigo e arroz, dos quais foram analisadas,
por micotoxinas (Quadro 3). Para as dos, como farinha de trigo (202 amostras) respectivamente, 1.116, 701 e 180 amos-
aflatoxinas, o leite apresentou 100% de e biscoito (47 amostras). A positividade
tras. Conforme demonstrado no Quadro 7,
positividade para a AFM1, porém, tanto do cacau é referente a um número total de
o alimento que apresentou a maior posi-
o leite em pó, como o fluido não ultra- quatro amostras. Com relação à contami-
tividade, para zearalenona, em 2012, foi
passaram os limites estabelecidos. No nação média, observou-se um teor de DON
o centeio: de 15 amostras, 60% foram
amendoim, a legislação estabelece LMT acima do limite permitido pela legislação,
positivas. O arroz teve a segunda maior
de 20 µg/kg, e a média analisada foi de nas amostras de farinha de trigo, mais
positividade, com 46% das amostras. En-
13,07 µg/kg, reforçada pela alta positivi- precisamente, o dobro do teor permitido.
tretanto, o valor médio de zearalenona das
dade (40%), o que demonstra o maior risco Conforme apresentado no Quadro 6,
amostras de 29,09 μg/kg foi bem abaixo
de contaminação desse produto. As amos- para a farinha de milho, foram analisadas
100 amostras, em 2012. Destas, 81 estavam daqueles citados na legislação para arroz
tras de castanha, milho e farinha de milho
beneficiado e derivados, arroz integral e
também apresentaram alta positividade. O contaminadas com fumonisinas. Entretan-
único produto analisado, que se encontra to, o valor médio da concentração das fu- farelo de arroz. O milho e o trigo tiveram
acima dos limites esperados, são as no- monisinas foi abaixo do máximo permitido positividades de 25% e 11%, com concen-
zes, as quais apresentaram 14,67 µg/kg, na legislação. O milho foi o alimento que trações médias de 29,86 e 7,81 μg/kg de
sendo o limite esperado de 10 µg/kg. teve o maior número de amostras analisa- zearalenona, respectivamente. Essas con-
Porém, apenas nove amostras foram ana- das, para detecção da contaminação por fu- centrações ficaram bem abaixo daquelas
lisadas no ano de 2012. monisinas, em um total de 2.280 amostras; descritas para produtos e subprodutos à
No Quadro 4, estão representados Destas, 72% foram positivas, com valor base de milho (300 μg/kg) e trigo integral
os dados de positividade e concentração médio de concentração de 972,25 μg/kg, (400 μg/kg).
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QUADRO 3 - Dados de positividade e concentração média de aflatoxinas nos alimentos - Laboratório de Análises Micotoxicológicas
(LAMIC), em 2012
Positividade mg/kg
Micotoxina Alimento
(%) (ppb)
Aflatoxina M1 Leite fluido 100 0,24
Leite em pó 100 0,42

Aflatoxinas B1, B2, G1 e G2 Amêndoas 10 8,29


Amendoim 40 13,07
Arroz 3 0,06
Cacau 9 0,09
Café 2 0,02
Castanha 50 6,17
Farinha de milho 55 1,39
Farinha de trigo 2 0,05
Feijão 12 0,16
Malte 5 0,28
Milho 30 6,24
Nozes 33 14,67
Pimenta 17 0,43
Trigo 2 0,05
Uva passa 5 0,05

QUADRO 4 - Dados de positividade e concentração média de ocratoxina A nos alimentos - Laboratório de Análises Micotoxicológicas
(LAMIC), em 2012
Positividade mg/kg
Micotoxina Alimento
(%) (ppb)
Ocratoxina A Cacau 9 0,21
Café 15 1,22
Centeio 33 0,67
Feijão 10 0,34
Milho 1 4,24
Trigo 1 0,02

QUADRO 5 - Dados de positividade e concentração média de deoxinivalenol (DON) nos alimentos - Laboratório de Análises Micotoxicoló-
gicas (LAMIC), em 2012
Positividade mg/kg
Micotoxina Alimento
(%) (ppb)
Deoxinivalenol (DON) Arroz 3 6,06
Aveia 21 65,90
Biscoito 53 131,47
Cacau 75 313,50
Centeio 82 309,64
Cevada 74 504,48
Farinha de milho 8 20,44
Farinha de trigo 80 1.527,48
Macarrão 13 37,06
Milho 8 55,47
Trigo 60 300,51

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QUADRO 6 - Dados de positividade e concentração média de fumonisinas nos alimentos - Laboratório de Análises Micotoxicológicas
(LAMIC), em 2012
Positividade mg/kg
Micotoxina Alimento
(%) (ppb)
Fumonisinas (B1 + B2) Aveia 6 8,88
Cacau 40 430,8
Farinha de milho 81 997,39
Milho 72 972,25
Pipoca 10 14,90

QUADRO 7 - Dados de positividade e concentração média de zearalenona nos alimentos - Laboratório de Análises Micotoxicológicas
(LAMIC), em 2012
Positividade mg/kg
Micotoxina Alimento
(%) (ppb)
Zearalenona Arroz 46 29,09
Aveia 3 2,67
Centeio 60 34,18
Cevada 23 33,59
Farinha de milho 5 4,00
Farinha de trigo 19 18,68
Milho 25 29,86
Trigo 11 7,81

PREVENÇÃO de colheita, condições de armazenamento, ser aplicados para reduzir o risco de desen-
processamento de alimentos e estratégias volvimento fúngico nos grãos de cereais
A análise de micotoxinas é essencial
de desintoxicação. e leguminosas antes do processamento e
para determinar os níveis de contaminação
Uma possível abordagem para a gestão consumo.
dos alimentos, realizar análise de riscos,
dos riscos associados à contaminação por Tentativas para mitigar os efeitos das
confirmar o diagnóstico de micotoxicoses
e estabelecer programas de controle e micotoxinas é a utilização de um sistema micotoxinas em animais estão, em grande
monitoramento de micotoxinas. A quantifi- integrado com base na Análise de Perigos parte, concentradas em técnicas que redu-
cação desses compostos pode ser realizada e Pontos Críticos de Controle (APPCC). zem a exposição às toxinas, especialmente
utilizando técnicas, como purificação por Um programa de APPCC deve envolver a aplicação de agentes de ligação ou
imunoafinidade, imunoensaios (WILD estratégias para prevenção, controle, sequestrantes. Essa abordagem também
et al., 1987), ou com o uso de métodos e Boas Práticas de Produção e controle de tem sido explorada na medicina humana
equipamentos sofisticados, como a croma- qualidade em todas as fases do processo (PHILLIPS; LEMKE; GRANT, 2008).
tografia líquida de alta eficiência (CLAE) produtivo, desde o campo até o consumidor A antiaflatoxina B1 conjugada, usada
ou cromatografia gasosa (GC), associadas final. O desenvolvimento de um programa como vacina para controlar a produção da
à detecção por fluorescência, ultravioleta de APPCC deve evoluir em conjunto com aflatoxina M1 excretada pelo leite, é uma
ou espectrometria de massas (SHEPHARD outras abordagens complementares para a potencial forma de controlar esse proble-
et al., 2011). produção agrícola, ou seja, as Boas Práticas ma. A antiaflatoxina B1 provou ser atóxica
Para que haja redução na ocorrência e Agrícolas (BPA), Boas Práticas de Fabrica- in vitro em células de hepatocarcinoma de
no impacto das micotoxinas, é necessário ção (BPF), de higiene e de armazenamento. humanos e foi usada para imunização de
o conhecimento integrado dos fatores Programas de treinamento nos proces- vacas, onde induziu um título duradouro
fisiológicos e ambientais que afetam a sos de colheita e regulagem de máquinas, de anticorpos IgG antiaflatoxina B1, que
biossíntese das toxinas, bem como da secagem dos grãos pós-colheita e sistemas foram capazes de reagir com aflatoxinas
biologia e ecologia dos fungos, métodos de transporte para reduzir as avarias podem B1, G1 e G2. Também foi capaz de im-
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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 27

pedir a secreção de aflatoxina M1 no leite mentos de consumo humano: revisión. Chemistry, New York, v.49, n.8, p.4122-
de vacas que receberam continuamente Nutrición Hospitalaria, Madrid, v.26, n.6, 4126, Aug. 2001.
p.1215-1226, 2011.
alimento contaminado com aflatoxina B1 MAAROUFI, K. et al. Human nephropathy
(POLONELLI et al., 2011). AKMAN, S.A. et al. Mutagenicity of och- related to ochratoxin A in Tunisia. Toxin Re-
Processos físicos de separação, seja ratoxin A and its hydroquinone metabolite views, London, v.15, n.3, p.223-237, 1996.
in the SupF gene of the mutation reporter
pelo tamanho dos grãos com mesas de MALLMANN, C.A.; DILKIN, P. Micotoxinas
plasmid Ps189. Toxins, Basel, v.4, n.4,
classificação, seja pela densidade dos grãos p.267-280, 2012.
e micotoxicoses em suínos. Santa Maria:
com mesas gravimétricas, também podem Sociedade Vicente Pallotti, 2007. 238p.
ALIZADEH, A.M. et al. Fumonisin B1 con-
ser aplicados com grande eficiência. Em um tamination of cereals and risk of esophageal
MARASAS, W.F. et al. Fumonisins disrupt
trabalho não publicado feito no LAMIC, cancer in a high risk area in northeastern sphingolipid metabolism, folate transport,
uma amostra de milho antes de passar Iran. Asian Pacific Journal of Cancer Pre- and neural tube development in embryo
culture and in vivo: a potential risk factor
pela mesa gravimétrica continha 6 mg/kg vention, Bangkok, v.13, n.6, p.2625-2533,
2012. for human neural tube defects among popu-
de aflatoxinas, 430 mg/kg de fumonisinas,
lations consuming fumonisin contaminated
59 mg/kg de DON e 447 mg/kg de zeara- ANVISA. Resolução RDC no 7, de 18 de
maize. Journal of Nutrition, Rockville,
lenona. A amostra da fração que corres- fevereiro de 2011. Dispõe sobre os limites
v.134, n.4, p.711-716, Apr. 2004.
máximos tolerados (LMT) para micotoxinas
pondeu a 85% do material que entrava na PHILLIPS, T.D.; LEMKE, S.L.; GRANT, P.G.
em alimentos. Diário Oficial [da] Repúbli-
mesa e foi considerado como selecionado ca Federativa do Brasil, Brasília, 9 mar. Characterization of clay-based enterosor-
para uso continha 7 mg/kg de aflatoxinas, 2011. Seção 1, p.66. Disponível em: <http:// bents for the prevention of aflatoxicosis.
137 mg/kg de fumonisinas, 209 mg/kg de www.jusbrasil.com.br/diarios/25204244/ Advances in Experimental Medicine and
zearalenona e não foi detectado DON. A dou-secao-1-09-03-2011-pg-66>. Acesso Biology, New York, v.504, p.157-171, 2008.
amostra da fração que correspondeu a 15% em: 14 mar. 2013.
POLONELLI, L. et al. Vaccination of lactat-
do material que entrava na mesa e foi con- AWASTHI, V. et al. Contaminants in milk ing dairy cows for the prevention of afla-
siderado como rejeitado para uso continha and impact of heating: an assessment study. toxin B1 carry over in milk. PLoS One, v.6,
Indian Journal of Public Health, Calcutta, n.10, p.e26777, Oct. 2011.
2.092 mg/kg de fumonisinas, 396 mg/kg de
v.56, n.1, p.95-99, Jan./Mar. 2012.
DON, 1.800 mg/kg de zearalenona, e não SHEPHARD, G.S. et al. Developments in
BENNETT, J.W.; KLICH, M. Mycotoxins. mycotoxin analysis: an update for 2009-
foram detectadas aflatoxinas.
Clinical Microbiology Reviews, Washing- 2010. World Mycotoxin Journal, Wagenin-
ton, v.16, n.3, p.497-516, July 2003. gen, v.4, n.1, p.3-28, Feb. 2011.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
BRYDEN, W.L. The many guises of ergotism. SIMPÓSIO SOBRE MICOTOXINAS EM
Quando os alimentos apresentam ní- In: COLEGATE, S.M.; DORLING, P.R. (Ed.). GRÃOS, 1999, São Paulo. Anais… São Pau-
veis de contaminação acima dos limites Plant-associated toxins: agricultural, phy- lo: Fundação Cargill, 1999. 208p.
aceitáveis pela legislação, não devem tochemical and ecological aspects. Walling-
ford: CAB International, 1994. p.381-386. WILD, C.P.; HALL, A.J. Epidemiology of my-
ser utilizados na alimentação humana, cotoxin-related disease. In: HOWARD, D.H.;
pois causam danos à saúde. Portanto, a FLEUNG, M.C.K.; DIAZ-LLANO, G.;
MILLER, J.D. The mycota: a comprehensive
SMITH, T.K. Mycotoxins in pet food: a re-
prevenção do desenvolvimento fúngico e treatise on fungi as experimental systems
view on worldwide prevalence and preven-
da consequente presença das micotoxinas tative strategies. Journal of Agricultural
for basic and applied research - human and
em alimentos, ingredientes e matérias- animal relationships. Berlin: CAB Direct,
and Food Chemistry, New York, v.54, n.26,
primas é a melhor alternativa para evitar 1996. v.6, p.213-226.
p.9623-9635. Dec. 2006.
os riscos à saúde pública. Práticas agrícolas WILD, C.P. et al. Aflatoxin detected in hu-
GELDERBLOM, W.C.A. et al. Interaction of
e de armazenagem são pontos críticos do fumonisin B1 and aflatoxin B1 in a short- man breast milk by immunoassay. Interna-
term carcinogenesis model in rat liver. Toxi- tional Journal of Cancer, New York, v.40,
processo e merecem atenção elevada para
cology, Amsterdam, v.171, n.2/3, p.161-173, n.3, p.328-333, Sept. 1987.
evitar o desenvolvimento fúngico em grãos
Feb. 2002. WHO. International Agency for Research
de cereais e oleaginosas.
KUMAR, V.; BASU, M.S.; RAJENDRAN, T.P. on Cancer. Some naturally occurring sub-
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cology, v.192, n.2/3, p.237-248, Nov. 2003. man hepatocellular carcinoma in Guangxi, mans and animals. Journal of Saudi Chemi-
ABREU, A.R. et al. La ocratoxina A en ali- China. Journal of Agricultural and Food cal Society, v.15, n.2, p.129-144, Apr. 2011.

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Importância da certificação na defesa vegetal


e conquista de novos mercados
Sára Maria Chalfoun 1
Vicente Luiz de Carvalho 2

Resumo - O processo de certificação agrícola e agroindustrial, no Brasil, tem contribuído


muito na organização interna das propriedades, bem como apresentado consideráveis
melhorias socioambientais. Observa-se, ainda, que o escopo das certificações indica coe-
rência com o conceito de defesa sanitária vegetal, uma vez que está contido em todas as
normas de conduta das certificações, independentemente do fato de estas diferenciarem
entre si quanto à ênfase a determinados aspectos, como o social, o ambiental ou o de
qualidade. Dessa forma, as certificações apresentam-se como importantes ferramentas
no processo de agregação de valor às cadeias produtivas e na conquista de mercados.
Deve-se considerar que, enquanto a adesão ao movimento de diferenciação e certificação
dos produtos é um ato voluntário para os sistemas produtivos, as normas básicas que
garantem a produção de alimentos seguros para o consumo, como as de responsabilida-
de do Estado, são condições essenciais para a sustentabilidade das atividades agrícolas
e agroindustriais. Considerando-se, ainda, a visão de que a agricultura convencional
também deveria ser auditada e certificada, ressalta-se que a garantia da qualidade e da
aquisição de um alimento seguro são direitos do consumidor e um dever a ser cumprido
em toda a cadeia produtiva.

Palavras-chave: Certificações. Sustentabilidade. Competitividade. Agronegócio. Café.

INTRODUÇÃO a) hedonismo: qualidade sensorial – f) preocupações éticas e sociais: quali-


visual e gustativa; dade ética, condições sociais, morais,
Compatibilizar aumento da demanda b) nutrição e saúde: qualidade nu- desafios políticos da produção e do
internacional por alimentos com inúmeras tricional – teores de proteínas, consumo.
outras demandas, tais como mudanças no vitaminas etc.; O Estado, como mediador das relações
perfil dos consumidores (que exigem pro- c) qualidade sanitária: produtos isen- de consumo, atua no monitoramento da
dutos de alta qualidade e obtidos de acordo tos de resíduos de pesticidas, metais qualidade de produtos e serviços e intervém,
com rigorosos padrões de conservação dos pesados, microrganismos patogêni- por meio de regulamentos técnicos ou ações
recursos naturais explorados), direitos dos cos, níveis aceitáveis de nitrato etc.; fiscais, a fim de preservar a saúde pública.
trabalhadores e comunidades locais, tem d) qualidade holística: determinada pelo Além das ações implantadas pelo Esta-
exigido uma conexão entre consumidores método de análise global; do, o setor produtivo também desenvolve
cada vez mais conscientizados e produtores ações de regulação da qualidade, entre as
e) preocupações ambientais: qualida-
responsáveis. de ecológica com os impactos da quais a concessão de certificados de quali-
Segundo Fonseca (2009), os consumi- produção sobre o meio ambiente, dade aos produtos ou aos estabelecimentos.
dores reagrupam-se em diferentes expecta- poluições, problema dos organismos Esta ação merece destaque, uma vez que,
tivas, quanto à noção de qualidade: geneticamente modificados; fora do âmbito governamental, não está

1
Enga Agra, Dra., Pesq. EPAMIG Sul de Minas/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
chalfoun@epamig.ufla.br
Engo Agro, M.S., Pesq. EPAMIG Sul de Minas/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
2

vicentelc@epamig.ufla.br

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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 29

sujeita a nenhum tipo de controle no que Cita-se como exemplo de imposições redução do desperdício, menor custo total
diz respeito aos mecanismos de avaliação regulatórias o Normativo da Comunidade de produção e melhoria da eficiência dos
de conformidade empregados, aos tipos de Europeia CEE 178/2002, em seu art. 18, processos como benefícios indiretos.
requisitos utilizados para certificação ou à e a Lei Americana de Bioterrorismo de Uma revisão dos trabalhos relativos ao
forma de apresentação desses certificados 2002, os quais estabelecem, entre outros tema certificação evidencia que o processo
ou selos nos rótulos ou propagandas. itens, que a rastreabilidade deve ser as- é complexo e controverso, e envolve a
No comércio internacional, é mais segurada em todas as fases da produção, análise rigorosa de uma série de fatores,
fácil dimensionar o tamanho das barreiras transformação e distribuição dos gêneros entre estes a seleção da certificação mais
tarifárias impostas aos países exportadores. alimentícios, não só do produto final, mas adequada a depender de como o produtor
O mesmo não ocorre com as barreiras não também dos insumos utilizados em cada queira que seu produto seja apresentado
tarifárias, o que abre espaço para a colo- fase desse processo. A rastreabilidade é, no mercado, o custo das certificações,
cação de restrições ambientais, sociais, portanto, componente obrigatório de todos entre outros.
sanitárias e padrões de qualidade distintos. os sistemas agrícolas e agroindustriais que O conceito de defesa sanitária vegetal,
Identifica-se um novo padrão de concor- visam à obtenção de alimentos seguros por sua vez, vem sendo, ao longo dos anos,
rência no qual a obtenção de custos baixos para o consumo, além do atendimento constantemente aprimorado e realimentado
é necessária, mas deixa de ser condição de outros requisitos, tais como a gestão em consequência das inovações tecnológi-
suficiente. Nesse contexto, a certificação socioambiental. cas que cada vez mais buscam consonância
é vista como atividade importante, tendo Apesar de a certificação de produtos com o equilíbrio e a sustentabilidade tão
como objetivo principal proporcionar ao agrícolas ser um conceito cada vez mais exigida pelo mercado e pelos consumido-
comprador ou ao usuário do produto a discutido no ambiente do agronegócio res. Portanto, as certificações apresentam
garantia de conformidade às normas ou brasileiro contemporâneo, ainda exis- forte aderência com esse conceito.
especificações técnicas estabelecidas. tem muitas incertezas em relação ao Este artigo aborda o caso da certifica-
A fim de atender às demandas nacionais valor que agrega aos produtos e à sua ção aplicada à cafeicultura. É feita uma
e internacionais, melhorar a imagem dos contribuição para o desenvolvimento e a análise da oportunidade representada pela
produtos aos clientes e agregar valor ao aceitação da agricultura brasileira inter- abertura de novos mercados e da adaptação
produto ou serviço, surgem certificados ou nacionalmente. Theodoro (2002) afirma às alterações no perfil de consumo dos
selos de qualidade desenvolvidos por ini- que, para os pequenos produtores, os mercados tradicionais, observando-se as
ciativa do Estado e/ou do setor produtivo. efeitos das regulamentações dos grandes áreas de convergência com aspectos rela-
Muitos desses certificados incluem a segu- mercados importadores não podiam ser cionados com a defesa vegetal.
rança ou a inocuidade como requisito para mais danosos. Há produtores com mais
certificação (PERETTI; ARAÚJO, 2010). de uma certificação, para garantir acesso CERTIFICAÇÃO: O CASO DA
Assim, atributos de qualidade dos pro- a mercados com exigências distintas. CAFEICULTURA
dutos ligados à segurança alimentar, Boas Segundo esse autor, a certificação onera O café é um produto que apresenta
Práticas Agrícolas (BPA) e biotecnologia principalmente o produtor, já que as taxas historicamente, entre as commodities,
são temas presentes no setor agroindustrial, de admissão, inspeção para cadastramen- elevada volatilidade de preços, com ciclos
mobilizando decisões do setor privado to ou atualização e análises solicitadas designados como boom and bust (retração
e apresentando impactos imediatos no por quaisquer das partes ocorrerão por e expansão). Atualmente, existe um cenário
desenho de políticas públicas para o setor conta do produtor; com a ampliação de de uma relação bem ajustada entre a oferta
agrícola/agroindustrial (CONCEIÇÃO; oferta e uma possível diminuição do e a demanda e baixos estoques em nível
BARROS, 2005). preço final do produto, o produtor verá mundial. Pensava-se, inicialmente, que se
De acordo com Triantafyllou (2003), ainda mais restrita sua margem de lucro. tratava de um surto de volatilidade, mas
existem duas formas de certificação, uma As certificadoras nacionais também pre- essa situação já perdura por todo o ano
compulsória e outra voluntária. A certifica- cisam manter-se credenciadas nos órgãos de 2012 e início de 2013. Comparando-se
ção compulsória decorre de regulamenta- fiscalizadores dos diferentes países. os preços médios do café Arábica pagos
ções de cunho legal, por meio de leis, de- Tudo isso resulta em maiores custos ao produtor, em janeiro de 2012, de
cretos e outros. São aplicadas em produtos operacionais. Mas conforme observado R$474,00, com o preço de janeiro de 2013,
que têm elevado risco potencial de perigo. A por Saupe, Züge e Felix (2003) e Aguiar de R$330,00, verifica-se uma retração de
certificação voluntária é aquela decorrente Neto et al. (2011), a certificação não 30,4% (CONAB, 2013).
de práticas ou exigências do mercado, que oferece apenas desvantagens, possibilita Tal fato tem introduzido grande inse-
introduz confiabilidade ao produto. melhoria da gestão da propriedade, com gurança e incerteza à atividade, pois, na
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ausência de definições em médio e longo do café de acordo com sistemas sociais e cafés Kona ou Kilimanjaro). Os consumi-
prazos e diante de uma atividade sujeita a ambientais responsáveis. Alguns cafés pos- dores estão dispostos a pagar um prêmio
tantos fatores imponderáveis, os produtores suem duplas ou triplas certificações, o que para esses cafés por causa de suas carac-
têm reduzido os investimentos. Consequen- oferece aos consumidores a segurança de terísticas superiores. Muitas vezes, essas
temente, o desenvolvimento de produtores que múltiplas condições foram atingidas. duas dimensões sobrepõem-se para que
e empresas tem sido impedido. As certificações são classificadas quan- os consumidores possam exigir café de
Dessa forma, as instituições ligadas ao to ao tipo, em certificações de sistemas e qualidade especial que também satisfaça
setor têm orientado os produtores e estes, de produtos. A certificação de sistemas certos critérios sociais.
muitas vezes, têm optado em investir em não atesta a qualidade final do produto, O que existe em comum entre as cer-
áreas com retornos mais seguros. Entre mas sim que o processo de produção foi tificações voltadas às questões ambientais
essas áreas, ressalta-se a diferenciação, totalmente controlado para minimizar os e sociais, segundo Palmieri (2008), é a
visando à agregação de valor ao produto riscos e manter e/ou melhorar o nível de materialização da crítica ao sistema con-
final por meio da conquista de nichos qualidade do processo. Já a certificação de vencional na forma de critérios objetivos
de mercado com diferentes exigências produtos atesta a qualidade de determinado e formas de reconhecimento de mercado.
em relação ao produto tradicionalmente produto, via análises sensoriais ou labora- As principais diferenças estão na ênfase
ofertado (commodity). toriais, comprovando o atendimento das atribuída a cada sistema de certificação,
Nas últimas décadas, verificou-se o exigências e normas preestabelecidas na ora voltada às relações comerciais, ora à
surgimento de canais não tradicionais de certificação. Como exemplo, citam-se as forma de manejar a cultura agrícola, ora
marketing, produção e consumo, represen- certificações orgânica e fair trade; a da Asso- à preservação dos ecossistemas naturais.
tados pelos cafés gourmet, ou especiais, ciação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) O mercado dos cafés especiais nos paí-
orgânico, mercado justo (fair trade), som- é um exemplo da certificação de produtos ses importadores é estimado entre 8% a
breados ou bird-friendly (amigo dos pássa- (PEREIRA; BLISKA; GIOMO, 2007). 12% do total, com crescimento próximo
ros) e outros cafés certificados.Verifica-se Deve-se considerar, contudo, que o de 2% ao ano, o que mostra tratar-se
que, a exemplo de outros países produtores, atributo de qualidade final do produto, ainda de um nicho e que o ritmo de cres-
há um crescente esforço do setor cafeeiro embora não seja o foco em uma certificação cimento, relativo e absoluto, é menor do
na diferenciação do produto em relação ao do sistema produtivo, como a certificação que em períodos anteriores, de norma-
sistema tradicional de produção. Esse fato orgânica, deve ser preenchido, sob pena lidade. Em grande parte, isso se deve
tem representado, talvez, não uma solução, de invalidar o esforço da certificação. Da à forte substituição de café Arábica
já que os mercados que absorvem os cafés mesma forma, se um produto apresentar por café Robusta, observada em 2012,
especiais e diferenciados ainda são poucos elevada qualidade sensorial, porém ob- não só nos países importadores, como
em relação à capacidade produtiva brasi- servando-se algum problema originário de também nos produtores, motivada pelos
leira, mas uma alternativa para a colocação falha no processo produtivo, por exemplo diferenciais de preços entre essas es-
pécies. No Brasil, o segmento de cafés
de parte da produção em atendimento a o caso de contaminação por micotoxina,
diferenciados representou cerca de 20%
demandas específicas dos mercados. esse produto será desvalorizado.
da receita de exportação, portanto, cer-
No caso do sistema agroindustrial do A expansão dos cafés diferenciados
ca de 1,3 bilhão de dólares, mostrando
café, o que geralmente ocorre é a certifica- tem duas dimensões que frequentemente
um recuo em relação a 2011, quando
ção voluntária, com o intuito de transmitir se sobrepõem. A primeira, responsável
alcançou 24% da receita, por conta dos
ao comprador ou consumidor de café uma pelo aumento do consumo de cafés fair
problemas causados pelas chuvas de
imagem de confiança, além de diferir o trade, sombreados, ou bird-friendly é junho/julho. (BRAGA, 2013).
produto de seus concorrentes, aumentando, impulsionada por demandas sociais. Os
portanto, sua competitividade (PEREIRA; consumidores desejam garantir que os
BLISKA; GIOMO, 2007). produtores de café recebam preços mais CERTIFICAÇÃO ORGÂNICA
Segundo Fox (2007), procedimentos elevados (comércio justo) ou que sejam A certificação orgânica coloca-se como
de certificação e rotulagem são usados reduzidos os danos do cultivo do café uma das primeiras certificações adotadas
como meio de informar sobre as condições sobre o meio ambiente (cafés sombreados pelo setor cafeeiro com vistas à conquista
sociais ou ambientais envolvendo pro- ou bird-friendly). A segunda dimensão de um novo mercado e à consequente va-
dutos ou serviços. O selo de certificação relaciona-se com o gosto ou preferência. lorização do produto final.
é direcionado para o consumidor e visa Nesse caso, o aumento do consumo deriva Considera-se sistema orgânico de
proporcionar uma garantia de que o produ- de indicações geográficas de origem, bem produção agropecuária e industrial todo
tor recebeu um ágio (prêmio) pelo cultivo como cafés gourmet e especiais (como os aquele no qual se adotam tecnologias
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que otimizem o uso de recursos naturais sintéticos, inclusive na armazenagem, sen- diversidade de espécies vegetais dentro do
e socioeconômicos, respeitando a inte- do permitidos os diversos biofertilizantes cafezal, isolamento de áreas vizinhas que
gridade cultural e tendo por objetivo a líquidos, as caldas (sulfocálcica, viçosa e adotam manejo convencional etc. Estas
autossustentação no tempo e no espaço, bordalesa), os extratos de determinadas táticas visam aumentar o número de inimi-
a maximização dos benefícios sociais, a plantas e os agentes de biocontrole, de- gos naturais e, consequentemente, diminuir
minimização da dependência de energias vendo esses insumos também atender às a pressão de pragas e doenças (AKIBA;
não renováveis e a eliminação do emprego normas previstas para a sua utilização no CARMO; RIBEIRO, 1999). Entretanto,
de agrotóxicos e outros insumos artificiais sistema (PENTEADO,1999). algumas vezes, essas medidas não são
tóxicos, organismos geneticamente modi- As dificuldades de aplicação prática suficientes para impedir a ocorrência de
ficados (OGM)/transgênicos ou radiações dessa definição, considerando-se a necessi- problemas fitossanitários, principalmente
ionizantes em qualquer fase do processo de dade de internalização de várias mudanças em função de desequilíbrios temporários
produção, armazenamento e de consumo, e os problemas de sua vinculação à ideia naturais que acarretam estresse, do uso
e entre estes, privilegiando a preservação de desenvolvimento devem ser vistos como de cultivares suscetíveis e de fatores não
da saúde ambiental e humana, assegurando novos desafios para as culturas, destacada- controláveis que venham determinar o
a transparência em todos os estádios da mente a do café. Tal afirmativa baseia-se no aumento da incidência de pragas e de do-
produção e da transformação, conforme fato de que a fase de transição, denominada enças, tais como a cercosporiose (Fig. 1),
disposto na Instrução Normativa no 7, de período de conversão, é relativamente a broca-do-café e o bicho-mineiro, entre
17 de maio de 1999 (BRASIL, 1999), e longa, de 18 meses para culturas perenes. outras que contribuem para a queda da
o Projeto de Lei no 659-A de 1999, do Durante esse período, no qual o produto produtividade e qualidade do produto.
Ministério da Agricultura, Pecuária e ainda não é reconhecido como orgânico, Souza et al.(2006), em estudo que visa
Abastecimento (MAPA), o qual foi base pode-se observar uma acentuada queda o desenho e a análise da cadeia produtiva
para a Lei no 10.831, de 23 de dezembro de produtividade, não compensada pela de café orgânico, como subsídios para o
de 2003 (BRASIL, 2003). agregação de valor ao produto final, para aumento das exportações, verificaram que
Na certificação orgânica é verificada, a qual o produtor deve estar preparado. o primeiro elo da cadeia produtiva do café
por meio de auditorias, toda a origem e O período de conversão visa buscar o orgânico, relativo aos insumos, constitui
trajetória dos produtos agrícolas, desde a equilíbrio de cada ambiente por meio da um dos seus pontos fracos.
produção até a mesa do consumidor final. manutenção de áreas de matas, aumento da Dessa forma, a falta de acessibilidade
As auditorias no Brasil são realizadas por
certificadoras credenciadas pela Federação
Internacional de Movimentos de Agricul-
tura Orgânica – International Federation of
Organic Agriculture Movements (Ifoam).
A certificadora nacional que se destaca no
Brasil é o Instituto Biodinâmico (IBD),
haja vista seguir padrões específicos da
União Europeia (Regras CEE 2092/91),
Estados Unidos (Regras NOP) e Japão
(Regras JAS).
O Instituto Mineiro de Agropecuária
(IMA) foi credenciado pelo MAPA e
pelo Instituto Nacional de Metrologia,
Qualidade e Tecnologia (Inmetro) como
Vicente de Carvalho

Organismo de Avaliação da Conformidade


(OAC) Orgânica. É a primeira instituição
Paulo Gontijo

pública a ser reconhecida para essa ação


que passa a integrar o grupo de certifica-
A B
doras já regularizadas.
Figura 1- Doença do cafeeiro
Especificamente no que se refere ao
NOTA: A - Com elevada queda de folhas atribuída à incidência de doenças; B - Detalhe
controle fitossanitário, na certificação de folha com cercosporiose, doença comum em áreas em etapa de conversão
orgânica é vedado o uso de agrotóxicos para o sistema orgânico.

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a insumos em quantidade e qualidade, refere-se aos custos da certificação, uma o aprendizado de novas competências, o
apesar de a produção ser nacional, acarreta vez que para garantir o atributo do café é que integra o conhecimento das exigências
elevação dos preços. Como alternativas para necessário que o mercado tenha confiança sociais, econômicas e ecológicas do comér-
atenuar o problema, citam-se: aumentar e/ na agência certificadora. Como existem cio justo, como investimento específico
ou manter a biodiversidade para o controle diferentes mercados consumidores, pode para obtenção da certificação. Resultam
de pragas e fungos; fazer compras conjuntas haver necessidade de buscar outras cer- em mudanças, em alguns aspectos ligados
de insumos e produção massiva de adubos tificadoras, o que eleva o custo de tran- à produção, ao transporte e à estocagem.
orgânicos; apoiar o desenvolvimento de pes- sação. Em segundo lugar, a cafeicultura Assim, com pequenos investimentos e boa
quisas com produtos naturais e indutores de orgânica possui baixas barreiras à entrada, remuneração pelo produto, a certificação
resistência a doenças e pragas, entre outros. de tal modo que outros produtores podem passou a ser alternativa viável para cafei-
Informações sobre os ágios (prêmios) ingressar no mercado, elevando a oferta cultores de economia familiar.
para o café orgânico variam largamente e obrigando os produtores a negociarem A certificação fair trade é adequada,
de acordo com a fonte, refletindo o fato seu produto ao preço de café commodity. sobretudo, a pequenos produtores e não
de ser indicadores de difícil determinação, É, portanto, essencial que os produtores exige destes grandes investimentos em
porque dependem da origem e da qualidade tenham acesso a informações mercadoló- modificações das estruturas das proprieda-
do café e da situação do mercado em um gicas, além de suporte e treinamento para des. Entretanto, exige mudanças de atitude,
dado momento, da reputação do produtor elaborar um plano viável de negócios. como aprendizados sobre trabalhos em
ou da organização a qual está associado, associação com outros produtores, treina-
ou, ainda, de uma certificação adicional CERTIFICAÇÃO FAIR TRADE mentos sobre leis e segurança no trabalho,
como a fair trade. OU COMÉRCIO JUSTO leis ambientais e planejamento da proprie-
De acordo com alguns autores, ágios O movimento fair trade ou comércio dade, mobilizando bastante tempo, porém
associados à boa qualidade podem ser mais justo tem-se postado como uma alternativa poucos recursos efetivos dos proprietários.
valiosos do que para a certificação. Byers ao modelo de trocas internacionais centra- Deve-se destacar a importância de um
e Liu (2008) confirmam que o ágio para do em forças de mercado. No fair trade, o ambiente de pesquisa, ensino e assistência
o café orgânico certificado está altamente elo consumidor admite pagar um prêmio técnica integral direcionado para agriculto-
correlacionado com a qualidade. Cafés e oferecer melhores condições comerciais res familiares, a fim de garantir o sucesso
orgânicos de baixa qualidade terão uma ao elo produtor, visando propiciar-lhe um dessa certificação.
valorização abaixo de seu equivalente padrão de vida mais adequado, desde que Embora a ênfase da certificação fair
produzido no sistema convencional. Dados os produtores cumpram um dado conjunto trade seja a justa remuneração e a con-
referentes aos ágios obtidos por produtos de normas relativas à produção e a alguns sequente melhoria da qualidade de vida
orgânicos obtidos no âmbito do estudo aspectos socioambientais. dos cafeicultores, são igualmente con-
incluem prêmios médios de 10% a 15%, O café foi o primeiro produto a receber templados os conceitos de adoção de boas
em 2002, 15% a 50% (2003), 39% (ou o selo fair trade, lançado em 1989, e, ainda, práticas fitossanitárias. Destacam-se os
108% para a certificação de comércio o mais conhecido produto com esse selo aspectos de uso adequado e racional dos
justo/café orgânico) (2003/2004), 30% entre os consumidores na Europa, América insumos, defensivos e fertilizantes, sua
(2004); US$ 0,28 e US$ 0,24 por libra peso do Norte e Japão. aplicação, visando preservar a saúde dos
(em 2005 e 2006, respectivamente), 30% e A certificação fair trade é destinada a trabalhadores e do meio ambiente, seu
40% (2005 e 2006, respectivamente), 15% pequenos produtores de café organizados armazenamento, manejo pré e pós-colheita
a 20% (2007); US$ 0,15 a 0,30 por libra em associações ou cooperativas. A ca- do café, com o objetivo de controlar pragas,
peso (2007), e 20% (2008). racterística principal é garantir um preço doenças e microrganismos causadores da
Várias fontes de indústrias concor- mínimo ao produtor, que cubra os custos de deterioração dos frutos.
dam que os ágios por cafés orgânicos produção e propicie melhorias na qualida- O café fair trade pode ser cultivado de
têm caído nos últimos anos. No entanto, de de vida, não ficando o produtor sujeito forma convencional ou orgânica. Quando
oportunidades continuam a existir para o às oscilações do mercado. Além disso, há o cultivo é convencional, há uma lista de
café orgânico com múltiplas certificações um prêmio que deve ser destinado a um agroquímicos que não podem ser aplicados,
(fair trade, por exemplo), ou orgânico com projeto social escolhido pelo grupo de visando maior segurança socioambiental.
excepcional qualidade. produtores, assim como estímulos a con- A certificação é conhecida por assegu-
Segundo Saes (2008), torna-se neces- tratos de longo prazo e ajudas na obtenção rar aos produtores um preço mínimo. Isso
sário observar ainda duas especificidades de crédito (FERRAN; GRUNERT, 2007). decorre do fato de que em 15 dos últimos
do segmento para os produtores. A primeira Bouroullec e Paulillo (2010) destacam 22 anos, quando o preço global do café
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Arábica caiu bem abaixo do mínimo fair café guatemaltecos e a torrefadora europeia qualitativos ao produto. De posse do
trade, foi proporcionado aos produtores um Ahold Coffee Company, para bonificar tor- histórico e da demarcação dos talhões,
preço suficiente para a cobertura dos custos refadores e marcas que respondessem ao é possível realizar o controle apenas em
necessários para manter uma produção crescimento da demanda por café a fim de áreas específicas.
sustentável. Atualmente, o preço mínimo é garantir a responsabilidade na produção. Devem também ser considerados os
de 140 centavos a libra peso e 110 centavos Os incentivos que a certificação UTZ capítulos do código que trata dos sistemas
a libra peso, respectivamente para os cafés proporciona para os consumidores ba- de gestão e autoinspeção, colheita,
Arábica e Robusta certificado fair trade, seiam-se na garantia de cumprimento de pós-colheita e armazenamento, com
ou o preço de mercado, se estiver acima, seu Código de Conduta, ou seja, o compro- destaque para as medidas preventivas
funcionando, portanto, como uma espécie misso de que o sistema de produção está de de contaminação por fungos toxigênicos
de hedge para as oscilações no mercado acordo com três padrões: trabalhista/social, (Fig. 2), especificamente produtores de
de commodities. Há ainda um prêmio adi- ambiental e de qualidade. É, portanto, uma ocratoxina A, que podem constituir barreira
cional de 20 centavos por libra peso para certificação que visa à produção respon- não tarifária para a exportação do café,
investimentos na comunidade, projetos sável de café; seus parâmetros incluem além de tratar-se de um problema de saúde
ambientais, de educação e cuidados com a
manutenção de registros, uso minimizado pública (CHALFOUN; PARIZZI, 2008).
saúde, melhorias nas propriedades, incluin-
e documentado de defensivos agrícolas, Um capítulo é especificamente dedicado à
proteção de direitos trabalhistas e acesso à questão dos defensivos agrícolas (escolha
do instalações de processamento, o que
assistência e à educação para os emprega- uso, armazenagem e aplicação).
gera aumento de qualidade e produtividade
dos e seus familiares (UTZ CERTIFIED, A política de preços para o café certi-
e, consequentemente, retorno financeiro.
2013). ficado UTZ é o reflexo do valor agregado
Há um prêmio extra de 30 centavos por
Na área relativa à defesa vegetal, é pela certificação, não um ágio preestabele-
libra peso por café certificado fair trade
importante ressaltar os tópicos desse códi- cido. O ágio tem como base o mecanismo
e orgânico (SAES, 2008; FAIRTRADE
go relacionados com a manutenção de re- de mercado, o que permite que este deter-
FOUNDATION, 2012).
gistros e a identificação da fazenda/talhão, mine o valor do café. O preço é negociado
UTZ CERTIFIED por meio do qual é possível acompanhar o caso a caso entre o comprador e o vendedor,
comportamento das pragas e doenças por sem interferência externa da organização.
A certificação UTZ Certified tornou- se talhões, realizando-se o manejo de forma No processo de venda, produtor e com-
conhecida no mundo cafeeiro como Utz diferenciada. Como exemplo, cita-se o prador combinam explicitamente o valor
Kapeh (café bom, na língua Maia) e alterou controle da broca-do-café, Hypothenemus que vai ser adicionado pela certificação.
seu nome, logomarca e layout, em 2007. hampei, (Ferrari, 1867), uma praga-chave Por meio de um anúncio de venda (UTZ
Foi fundada em 1997, por produtores de responsável por danos quantitativos e Certified web-based system), a UTZ é

Fotos: Sára Chalfoun

A B
Figura 2 - Contaminação pelo fungo Aspergillus ochraceus
NOTA: A - Grãos de café contaminados pelo fungo; B - Colônia de A. ochraceus em meio de cultura.

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informada e atribui um número único ao fazendas e recebem por isso benefícios País (RAINFOREST ALLIANCE, 2005).
contrato. Esse número deve caminhar junto econômicos. O café com o selo RAC certifica, ao con-
com o produto ao longo de toda a cadeia A certificação Rainforest Alliance sumidor, a produção por meio de um ma-
produtiva. Por último, o comprador final surge como alternativa para grandes pro- nejo agrícola ambientalmente adequado,
pode conferir o número no lote de compra dutores, que já contam com infraestrutura socialmente benéfico e economicamente
com o número fornecido pela UTZ Cer- adequada e alta produtividade. Esses pro- viável, de acordo com as normas previstas.
tified; nesse instante estará completo o dutores, geralmente, têm acesso ao merca- O Organismo Certificador no Brasil é o
processo de rastreabilidade, de modo que do internacional e talvez tenham aderido Instituto de Manejo e Certificação Florestal
o comprador pode observar como, onde e à certificação por constatarem o ágio e a e Agrícola (Imaflora) e a certificação pode
por quem o café foi produzido, assim como pouca oferta do café nacional nesse mer- ocorrer de duas formas: certificação de ca-
ter acesso a vários outros fatores ligados cado. Além disso, têm como diferencial as deia de custódia e certificação de unidade
à qualidade que a rastreabilidade permite grandes áreas de preservação de matas em de produção agrícola. A primeira permite
conferir. suas propriedades. Merece destaque o fato rastrear a origem da matéria-prima e envol-
A certificação UTZ atinge médios de que, no caso de propriedades que não ve desde os processos iniciais de produção
e grandes produtores que possuem boa possuem Reserva Legal e área suficiente até os de venda. A segunda concentra-se
organização e visão de mercado e visa para isto, os produtores tenham a possi- apenas, como o próprio nome já diz, na
agregar valor sem alterações consideráveis bilidade de apresentar um planejamento unidade de produção agrícola, que pode
no manejo, mas sim por meio do reconhe- escrito para tê-las (compra de áreas na ser uma fazenda ou um sítio etc. Nessa
cimento de sua organização interna e suas mesma microbacia ou recomposição dentro
unidade, ainda pode ser solicitada uma
boas práticas de produção. da propriedade de acordo com o órgão am-
avaliação de diagnóstico, ou seja, uma
biental local, ou conforme a interpretação
avaliação sem fins de certificação, apenas
CERTIFICAÇÃO RAS - do Código Florestal Brasileiro sobre o tema
para o proprietário saber como sua unidade
RAINFOREST ALLIANCE Reservas Permanentes).
se encontra, caso queira certificá-la.
A Rede de Agricultura Sustentável
A certificação Rainforest Alliance, Observa-se que, no escopo da cer-
(RAS) adotou o selo Rainforest Alliance
conhecida no Brasil como Certificação tificação, vários itens são dedicados à
Certified (RAC), para identificar produtos
Socioambiental, teve sua origem em 1998, preservação ambiental, tratamento justo
e empreendimentos certificados com base
por meio de uma coalizão de Organizações e boas condições de trabalho, saúde e
na norma para a Agricultura Sustentável,
Não Governamentais de oito países (Bra- segurança ocupacional, manejo integrado
fruto de discussões internas, de consultas
sil, Honduras, Costa Rica, El Salvador, dos cultivos, manejo e conservação do
públicas e de outras normas. Essa Rede
Guatemala, Equador, Colômbia e Estados solo e manejo integrado dos resíduos. São
foi formada por entidades sem fins lucra-
Unidos). O objetivo dessa certificação é tivos de oito países da América Latina,
instrumentos relevantes considerados no
aliar conservação ambiental à produção em decorrência dos alarmantes impactos conceito de defesa sanitária vegetal. Dessa
de commodities agrícolas cultivadas nos socioambientais dos sistemas de produção forma, distingue-se da certificação orgâni-
países tropicais. Produtos como banana, agrícola predominantes. ca por permitir o uso limitado e controlado
cacau, flores, folhagens e frutas já têm sido O café sustentável pode ter impactos de agroquímicos e desta se aproxima pela
certificados, mas o café é o que possui a que vão muito além da propriedade em orientação em manter-se uma cobertura
maior área certificada, bem como o maior si. Destacam-se as contribuições para me- vegetal diversificada e árvores nativas,
crescimento. lhorias em paisagens e ecorregiões inteiras para promover um hábitat adequado para
Segundo Pereira, Bliska e Giomo de países produtores, com a criação de uma série de espécies, além de proteger e
(2007), a certificação socioambiental, por corredores e complementação de sistemas regenerar reservas naturais.
meio do selo Rainforest Alliance, tem uma nacionais de áreas protegidas. No entanto, Determinados problemas fitossanitá-
história recente no Brasil, já que a primeira é necessário que haja uma convergência rios do cafeeiro podem ser agravados no
fazenda de café foi certificada em 2003. entre mercados, planejamento, administra- sistema de sombreamento, destacadamente
Contudo, tem experimentado crescimento ção de propriedades e apoio técnico. a ferrugem (Fig. 3). No Brasil, o sombre-
efetivo nas áreas certificadas a cada ano. No Brasil, a certificação da RAS vem amento das lavouras não é exigido para
Essa certificação tem-se mostrado boa fer- crescendo em ritmo acelerado. Entre 2007 a certificação. Para a conservação dos
ramenta para aliar os ideais do desenvolvi- e 2008, houve o aumento de mais de 87% ecossistemas, exige-se que 30% da área
mento sustentável à produção agrícola, na no número de áreas certificadas cultivadas, da propriedade seja destinada à manuten-
medida em que os produtores incorporam destacando-se, nesse contexto, o café que ção da vegetação natural (RAINFOREST
as normas de certificação dentro das suas ocupa 85,6% do total da área certificada no ALLIANCE, 2005).
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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 35

PROGRAMAS DE CERTIFICAÇÃO
EM MINAS GERAIS
Os programas de certificação coorde-
nados pelo IMA são importantes para o
desenvolvimento da agricultura no estado
de Minas Gerais. Além de ser credenciado
pelo Inmetro como OAC, o IMA também é
credenciado como organismo certificador
de produto (OCP). Os programas de certi-
ficação incluem produtos agrícolas como
café, algodão e cachaça (Quadro 1).
A certificação das propriedades cafeei-
ras Certifica Minas − programa estrutura-

Sára Chalfoun
dor do governo do estado de Minas Gerais,
executado pelo IMA e pela Empresa de
A Assistência Técnica e Extensão Rural do
Estado de Minas Gerais (Emater-MG) − e
a certificação da região do Cerrado mineiro,
a primeira de caráter estadual e a segunda
de caráter regional, atestam a conformidade
das fazendas produtoras com as exigências
do comércio mundial, destacando a quali-
dade do café pela sua origem (Quadro 1).
O pioneirismo de Minas Gerais, quanto às
referidas certificações, justifica-se, uma
vez que o Estado é o maior produtor de
café do País, responsável por 51,4% da
safra nacional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Outras certificações utilizadas pelos
Sára Chalfoun

setores agrícola e agroindustrial têm como


objetivos comuns: melhorar a gestão do
B negócio por meio da organização das ca-
deias produtivas, melhorar os processos
adotados em cada etapa da produção e
agregar valor ao produto final. Entre essas
certificações, citam-se a Norma NBR ISO
14001 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DE NORMAS TÉCNICAS, 2004), cujo
foco é a gestão ambiental das empresas;
a Produção Integrada, aplicada a várias
culturas, entre estas as fruteiras – Produção
Integrada de Frutas (PIF) e o café – Produ-
Rodrigo Cunha

ção Integrada de Café (PIC), que preconiza


o uso de recursos naturais e mecanismos
C de regulação natural em substituição
Figura 3 - Agravamento de problemas fitossanitários decorrentes de sombreamento a fatores de produção, prejudiciais ao
NOTA: A - Café cultivado a pleno sol; B - Café sombreado; C - Detalhe da incidência ambiente, além da observação a critérios
de ferrugem. éticos e sociais; a BSCA, que visa elevar
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36 Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio

QUADRO 1 - Alguns Programas do Certifica Minas BOUROULLEC, M.D.M.; PAULILLO, L.F.


Selo Informações Governanças híbridas complementares aos
Café - gestão da SEAPA-MG. O IMA é responsável pelas contratos no comércio justo citrícola interna-
auditorias de conformidade e pelo sistema de controle cional. Gestão & Produção, São Carlos, v.17,
interno (certificações em grupo são realizadas por uma n.4, p.761-773, out./dez. 2010.
terceira parte autorizada pela SEAPA-MG). BRAGA, G. Um terço de café consumido no
mundo é produzido no Brasil. Entrevistador:
Café - Indicação Geográfica: trabalho paralelo que o Embrapa Café. Brasília: Consórcio Pesquisa
IMA realiza para atender a uma exigência da Resolução Café, 2013. Entrevista. Disponível em:
INPI no 075, de 28 de novembro de 2000 que estabelece <http://www.consorciopesquisacafe.
os procedimentos para o Registro de Indicações Geo- com.br/index.php?option=com_
gráficas. O IMA demarca as regiões geográficas com content&view=article&id=285:um-terco-
características especiais de produção agropecuária. do-cafe-consumido-no-mundo-e-produzido-
no-brasil-&catid=41:noticias&Itemid=395>.
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Acesso em: 12 fev. 2013.
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de 2003. Dispõe sobre a agricultura orgâ-
nica e dá outras providências. Diário Ofi-
cial [da] República Federativa do Brasil,
Orgânico - credenciado pelo MAPA e Inmetro. Brasília, 24 dez. 2003.
BRASIL. Ministério da Agricultura e do
Abastecimento. Instrução Normativa no 7, de
17 de maio de 1999. Estabelece as normas de
produção, tipificação, processamento, enva-
Cachaça - dois ambientes de certificação: protocolo se, distribuição, identificação e de certifica-
Inmetro - protocolo Mineiro.
ção da qualidade para os produtos orgânicos
de origem vegetal e animal. Diário Oficial
[da] República Federativa do Brasil, Brasí-
lia, 19 maio 1999. Seção 1, p.11.
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value chain. In: LIU, P. (Ed.). Value adding
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um mesmo produto, fazenda ou empresa, dades cafeeiras: estudo de caso na fazenda
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SA DOS CAFÉS DO BRASIL, 7., 2011, Ara- Disponível em: <http://www.conab.gov.br/
Alliance ou Fairtrade Foundation e Orgâni-
xá. Anais... Brasília: Embrapa Café, 2011. OladaCMS/uploads/arquivos/13_01_30_
ca, com a finalidade de atender a diferentes 09_26_42_cafe21a25012013/>. Acesso em:
CD- ROM.
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O principal ponto a ser considerado é AKIBA, F.; CARMO, M.G.F. do; RIBEIRO,
R. de L.D. As doenças infecciosas das la- CONCEIÇÃO, J.C.P.R. da; BARROS, A.L.M.
que não haja a perda de controle e nem a de. Certificação e rastreabilidade no agro-
vouras dentro de uma visão agroecológica.
banalização dessa ferramenta, com a entrada Ação Ambiental, Viçosa, MG, v.2, n.5, negócio: instrumentos cada vez mais ne-
de certificações de caráter ambíguo, o que p.30-33, 1999. cessários. Brasília: IPEA, 2005. 47p. (IPEA.
pode resultar na perda de confiabilidade Texto para Discussão, 1122).
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
desse valioso instrumento, para a produção TÉCNICAS. NBR ISSO 14001: sistemas da FAIRTRADE FOUNDATION. Fairtrade
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dutos agrícolas e agroindustriais. ções para uso. Rio de Janeiro, 2004. 2012. 25p.

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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 37

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exploratory study using means-end chains
PERETTI, A.P. de R.; ARAÚJO, W.M.C. SOUZA, C.N. de et al. Desenho e análise
analysis. Food Quality and Preference,
Abrangência do requisito segurança em cer- da cadeia produtiva de café orgânico como
Barking, v.18, n.2, p.218-229, 2007.
tificados de qualidade da cadeia produtiva subsídios para o aumento das exportações.
FONSECA, M.F. de A.C. Agricultura orgâ- de alimentos no Brasil. Gestão & Produção, Revista Jovens Pesquisadores, São Paulo,
nica: regulamentos técnicos para acesso São Carlos, v.17, n.1, p.35-49, 2010.
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Informe Agropecuário, Circulares técnicas,


Folderes, Cartilhas, Boletim Técnico e
Série Documentos

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Comércio internacional e defesa vegetal


Orlando Monteiro da Silva 1
Marcela Olegário Santos 2

Resumo - Além de ampliar os fluxos comerciais de bens, de serviços e de capitais, o


fenômeno da globalização tem feito com que a regulação sanitária e fitossanitária seja
definida, cada vez mais, em foros globais. Descreve-se o funcionamento das instituições
multilaterais de comércio com relação à defesa vegetal, mostrando o alcance e a natureza
das regras internacionais onde ocorrem os principais conflitos. Faz-se uma descrição do
funcionamento da Organização Mundial do Comércio (OMC), dos seus Acordos relacio-
nados com a defesa vegetal e das relações com outras instituições internacionais, como a
Convenção Internacional de Proteção de Plantas (IPPC). Mostra-se, também, a utilização
extensiva e crescente das notificações ao Acordo de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias
(SPS), que, muitas vezes, são utilizadas como barreiras ao comércio dos produtos agrí-
colas.
Palavras-chave: Comércio internacional. OMC. Medida sanitária. Medida fitossanitária.

INTRODUÇÃO cujas medidas de qualidade e de padrões vegetal, mostrando o alcance e a natureza


mínimos de segurança têm sido definidas das regras internacionais, onde ocorrem os
O fenômeno da globalização, caracte-
em foros globais. principais conflitos.
rizado por maior integração das nações,
Segundo Lucchese (2001), a regulação
principalmente em termos comerciais, SISTEMA MULTILATERAL
estatal nessas áreas é amplamente admitida
financeiros e tecnológicos, tem levado a DE COMÉRCIO
e incorporada ao cotidiano da vida social
uma expansão sem precedentes dos fluxos
em todos os países democráticos, pois
internacionais de bens, serviços e capi- O que é a Organização
cuida de eliminar ou diminuir os riscos aos
tais, e a um aumento da concorrência nos
quais a população se submete e, do ponto Mundial do Comércio?
mercados internacionais. Tal fenômeno de vista econômico, trata de superar falhas Após a Segunda Guerra Mundial, ain-
tem sido impulsionado pela redução das do mercado, ou seja, casos e situações em da na euforia da vitória, os países aliados
barreiras tarifárias e pelo desenvolvimento que as forças do mercado não são suficien- decidiram criar uma série de organismos
contínuo das tecnologias de transporte e de tes para garantir uma eficiente alocação cooperativos internacionais. A criação da
comunicação. de recursos e outros resultados desejados, Organização das Nações Unidas (ONU)
Com essa maior abertura comercial, como o acesso aos bens essenciais, à qua- surgiu da manifestação política daquele
muitas regras econômicas tendem a adqui- lidade, à segurança no consumo, ao meio espírito. O Fundo Monetário Internacional
rir, também, abrangência global. Percebe-se ambiente limpo, entre outros. (FMI), o Banco Mundial (World Bank) e a
que os governos passam a se envolver cada Dada a importância das questões sa- Organização Internacional do Comércio –
vez menos com os sistemas produtivos, e nitárias e fitossanitárias para a economia International Trade Organization (ITO)
direcionam-se cada vez mais para ativi- brasileira, em função da grande partici- foram três das principais organizações eco-
dades regulatórias, diante dos riscos e das pação do País no mercado internacional, nômicas criadas. O FMI cuidaria dos pro-
ameaças que também se globalizam de este artigo tem por objetivo descrever o blemas dos balanços de pagamento e das
forma acelerada. Esse é o caso, por exem- funcionamento das instituições multila- finanças internacionais, o Banco Mundial
plo, da regulação sanitária e fitossanitária, terais de comércio com relação à defesa seria o canal de ajuda financeira dos países

1
Engo Agro, Ph.D., Prof. UFV - Depto. Economia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: odasilva@ufv.br
2
Graduanda Ciências Econômicas, Bolsista BIC FAPEMIG/UFV, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: marcela.santos@ufv.br

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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 39

ricos para os países pobres, enquanto a ITO o corpo regulador da OMC. Os resultados O Órgão de Solução de Controvérsias
cuidaria da cooperação internacional em da Rodada Uruguai foram originalmente tornou-se um sistema de consultas entre os
termos de comércio internacional. assinados pelos 123 países membros países membros, caracterizado por prazos
A ITO foi concebida em uma reunião iniciais da OMC. No entanto, desde sua determinados. No caso de os países não
das Nações Unidas sobre comércio e criação, em 1995, 34 países aderiram ao chegarem a um acordo sobre suas disputas
emprego em Havana (1947-1948). Tinha acordo, aumentando o número de membros comerciais por meio das consultas mútuas,
como proposições o estímulo ao cres- da OMC para 157, em 2012. A estrutura podem recorrer à formação de um painel de
cimento econômico, a transferência de básica da OMC é mostrada no Quadro 1. especialistas que indicará o que deve ser
recursos para os países mais pobres, o A OMC integra tanto os princípios feito sobre as medidas questionadas. Uma
aumento no nível de emprego, a avaliação do GATT quanto os demais princípios vez que o relatório do painel esteja pronto,
das políticas comerciais e das restrições alcançados em seu âmbito como resultados este é submetido à aprovação pelo órgão
ao comércio internacional de produtos globais da Rodada Uruguai de negociações de solução de controvérsias. Para rejeitar
manufaturados e semimanufaturados, além multilaterais, tais como o Acordo Geral o relatório, torna-se necessário o consenso
da estabilização dos preços dos produtos sobre o Comércio de Serviços – General entre os países membros, o que implica na
primários nos mercados internacionais. Agreement on Trade in Services (GATS) virtual aprovação de todos os relatórios.
Mas a ITO nunca foi de fato estabelecida. e o Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Antes da OMC (painéis do GATT), os rela-
Era muito ambiciosa e idealista para se Propriedade Intelectual – Agreement on tórios eram aprovados somente se houvesse
tornar realidade, principalmente aos olhos Trade-Related Aspects of Intellectual consenso entre as partes envolvidas, o que
dos países desenvolvidos, já que, diferente Property Rights (TRIPS). dificultava as decisões.
Importante também na criação da OMC
das demais organizações, na ITO cada país Também integram o corpo regulador
foi o estímulo à adoção da transparência,
teria direito a um voto, independentemente da OMC, os acordos e anexos adicionais,
entendida como o grau no qual as práticas e
da sua importância econômica e comercial. destinados a determinados setores ou temas
políticas comerciais são difundidas entre os
Contudo, suas disposições em matéria de especiais e que incluem o Acordo sobre a
países membros. Os países devem notificar
política comercial entraram em vigor na Agricultura, o Acordo sobre Aplicação de
a Secretaria da OMC, suas legislações e suas
forma do Acordo Geral sobre Tarifas e Medidas Sanitárias e Fitossanitárias – Sa-
propostas de alterações com potencial para
Comércio, o General Agreement on Tariffs nitary and Phytosanitary Measures (SPS)
afetar o comércio, a qual encarregar-se-á de
and Trade (GATT). e o Acordo sobre Barreiras Técnicas ao
disseminar tais propostas para os demais
O GATT é um acordo sobre tarifas Comércio – Technical Barriers to Trade
membros, permitindo que estes apresentem
e comércio, discutido durante a criação (TBT). Portanto, ao se tornarem membros
comentários e questionamentos sobre as
da ITO, e que foi sucessivamente alte- da OMC, os países estariam concordando
medidas a serem adotadas.
rado como resultado de oito rodadas de em cumprir as normas e compromissos
A OMC tem sua sede em Genebra, na
negociação entre os países membros. A constantes em todos os acordos citados.
Suíça, onde administra e fiscaliza os acor-
última alteração foi feita em 1994, na Como compromisso de acesso aos dos comerciais multilaterais negociados
Rodada do Uruguai, quando passou a ser mercados, foram elaboradas listas extensas no âmbito do GATT. Além disso, promove
referido como “GATT revisto” ou, sim- e detalhadas das condições que determina- novas rodadas de negociações comerciais,
plesmente, “GATT 1994”. Reservou-se o dos produtos ou prestadores de serviços resolve as diferenças comerciais e super-
termo “GATT original” para o documento estrangeiros deveriam obedecer. No caso visiona as políticas comerciais nacionais.
assinado por 23 países, em 1947, o qual do GATT, consistiam em compromissos A autoridade máxima é a Conferência
tornou-se um acordo provisório, mas que relativos às tarifas aplicadas sobre bens Ministerial, composta por representantes
prevaleceu até a conclusão da Rodada do de maneira geral, e combinações de tari- de todos os países membros da OMC, que
Uruguai, quando foi criada a Organização fas e quotas, para determinados produtos se reúnem a cada dois anos, razão pela
Mundial de Comércio (OMC). agropecuários. Foram, também, fixados qual as tarefas diárias são de responsa-
A OMC foi criada por um acordo re- prazos para a eliminação dessas condições bilidade dos órgãos subsidiários, como o
sultante da última rodada de negociações de acordo com o grau de desenvolvimento Conselho Geral. Este Conselho se reúne
do GATT, para administrar e aplicar todos dos países membros. de três formas diferentes: como Conselho
os acordos que tinham sido assinados no Uma diferença essencial entre a OMC Geral, como Órgão de Exame das Políticas
âmbito do GATT. Portanto, todos os prin- e o sistema existente antes da sua criação é Comerciais e como Órgão de Solução de
cípios, direitos e obrigações aplicáveis à que a OMC estabeleceu um procedimento Controvérsias. Há também Conselhos,
regulamentação do comércio internacional, para a solução de controvérsias e disputas Grupos de Trabalho, Grupos de Negocia-
acordados no GATT, passaram a integrar comerciais, impostas sobre bases jurídicas. ção e Comitês.
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QUADRO 1 - Estrutura básica dos Acordos da Organização Mundial de Comércio (OMC)

Acordo pelo qual se estabelece a OMC


Acordo geral
Bens Serviços Propriedade Intelectual

Princípios básicos GATT GATS TRIPS


Acordos adicionais, anexos Outros acordos sobre bens e Anexos sobre serviços
seus anexos (SPS e TBT)
Compromisso de acesso aos mercados Lista de compromissos dos Lista de compromissos dos
países (cotas e tarifas) países (e extensão do acordo
CNMF)
Solução de diferenças Solução de controvérsias Solução de controvérsias Solução de controvérsias

Transparência Exame das políticas comerciais Exame das políticas comerciais Exame das políticas comerciais
FONTE: WTO (2011).
NOTA: GATT - General Agreement on Tariffs and Trade (Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio); GATS - General Agreement on Trade in
Services (Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços); TRIPS – Agreement on Trade-Related Aspects of Intelectual Property Rights
(Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual); SPS- Sanitary and Phytosanitary Measures (Acordo sobre Apli-
cação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias; TBT - Technical Barriers to Trade (Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio);
NMF - Cláusula da Nação Mais Favorecida.

A maioria das decisões é tomada por criminação, uma vez que qualquer ser congeladas e reduzidas subse-
consenso dos países membros, algumas membro pode-se beneficiar de quentemente;
questões podem ser submetidas à votação, condições comerciais estabelecidas f) Código Antidumping: este código
mas esta não tem sido a prática usual da por outro membro, incluindo em estabelece uma série de regras no
Organização. Isto implica, muitas vezes, acordos bilaterais. Ou seja, quando âmbito do GATT para combater prá-
em um longo e complicado processo de uma parte contratante dá uma con- ticas desleais de comércio, como as
negociação, já que se trata de chegar a um cessão comercial para outra, essa práticas do dumping e dos subsídios
acordo entre quase 160 países. O funciona- concessão deve ser estendida aos às exportações;
mento da OMC difere bastante daquele de demais países;
g) Salvaguarda: esta cláusula permite
outras organizações internacionais como, b) Princípio do Tratamento Nacional: aos Estados signatários, quando sua
por exemplo, do FMI ou do Banco Mun- os produtos importados em um de- economia ou situação comercial
dial. Na OMC, o poder não é delegado a terminado mercado não podem ser justificar a aplicação de restrições
uma equipe de gestão e a estrutura adminis- tratados de forma menos favorável à importação ou suspender as con-
trativa não tem qualquer influência sobre do que os produtos semelhantes de cessões tarifárias a outros países, se
as políticas comerciais nacionais. Quando origem nacional; os produtos forem importados em
se impõe algum tipo de disciplina sobre c) Tarifação: todas as medidas de quantidades ou em condições que
as políticas nacionais, é pelo resultado proteção das fronteiras devem ser causem ou ameacem causar graves
de um processo de negociação entre os transformadas em direitos aduanei- prejuízos aos produtores nacionais.
países membros; quando ocorrem algumas ros (tarifas);
sanções comerciais, estas são impostas d) Consolidação Tarifária: o compro- Agricultura, GATT e a
pelos países membros da OMC e não pela misso das partes contratantes em Rodada do Uruguai
Organização. respeitar os níveis tarifários nego- A utilização das normas do GATT e as
A OMC foi criada com o compromisso ciados (tarifas consolidadas) torna diversas rodadas de negociação multila-
de seus membros alcançarem um sistema previsíveis os termos nos quais as terais entre os países membros reduziram
multilateral de comércio mais aberto e, negociações se desenvolvem; em muito as restrições ao comércio de bens
ao mesmo tempo, mais regulado. Para e) Proibição de Restrições Quantita- manufaturados. Segundo a WTO (2013),
esse fim, o GATT baseia-se nos seguintes tivas (quotas): como um dos prin- durante os anos de 1960 e 1970, as redu-
princípios: cipais obstáculos ao comércio, as ções tarifárias contínuas contribuíram para
a) Cláusula da Nação Mais Favorecida cotas devem ser eliminadas. Aquelas um crescimento do comércio da ordem de
(NMF): é um princípio de não dis- existentes antes do Acordo deveriam 8% ao ano.
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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 41

Contudo, até 1986, a agricultura estava em valores aduaneiros (tarifas) fixos, com ações dos governos na adoção de normas
isenta de muitas disposições do sistema valores e datas determinadas de redução. ou controles.
multilateral de comércio. Esta exclusão Durante todo o processo de discussão O Acordo SPS não é definido por suas
teve sua origem nos anos de 1950, quan- do acordo sobre a agricultura, os Estados características, mas, sim, pelos objetivos
do os Estados Unidos conseguiram uma Unidos e a União Europeia (UE) con- que persegue. Segundo esse critério, as
renúncia na utilização de restrições quan- frontaram-se por interesses protecionistas normas sanitárias são aquelas destinadas
titativas às importações agrícolas, que foi específicos. Após oito anos de discussões, para proteger a saúde dos seres humanos e
estendida a todos os outros membros. o acordo foi assinado por todos os países, dos animais, e as normas fitossanitárias são
A Rodada do Uruguai, lançada em se- com críticas daqueles em desenvolvimen- relacionadas com as plantas e os vegetais.
tembro de 1986 com a Declaração de Punta to e de que tal acordo estava longe de Este conjunto de normas inclui a fauna
del Este, tinha 15 capítulos de negociação promover um comércio mais livre e justo. selvagem, a pesca, os bosques e as florestas
(SILVA, 2012). A diversidade dos temas Contudo, havia a expectativa de que o e exclui o ambiente em geral, o bem-estar
discutidos foi uma das principais inovações processo de negociações continuaria no fu- animal e os interesses dos consumidores.
da Rodada do Uruguai, em comparação turo, o que ficou conhecido como “agenda No conjunto, são medidas sanitárias e
com as rodadas de negociações anterio- inconclusiva”.
fitossanitárias aquelas destinadas a:
res, que tratavam quase exclusivamente Na realidade, houve um avanço sig-
a) proteger a saúde humana dos riscos
da proteção tarifária. Todos os países nificativo com a inclusão da agricultura
dos alimentos;
signatários da Declaração de Punta del nas normas da OMC. Os subsídios e as
Este concordaram sobre a necessidade de barreiras tarifárias foram reduzidos signifi- b) proteger a saúde humana de doenças
reintroduzir a agricultura nas disciplinas do cativamente após o acordo, além de este ter transmitidas por plantas e animais;
GATT, que, até aquela data, estava isenta sido complementado por outros Acordos c) proteger a saúde das plantas e dos
da aplicação dessa atividade. Os ministros que impõem condições não tarifárias ao animais de pragas e doenças;
declararam que havia uma necessidade comércio de alimentos, tais como o SPS d) proteger um país da entrada e disse-
urgente de melhorar a transparência do e o TBT. minação de pragas.
mercado agrícola mundial, corrigindo e
Para atingir alguns destes objetivos,
evitando qualquer forma de distorção co- ACORDO SOBRE APLICAÇÃO
DE MEDIDAS SANITÁRIAS E as seguintes medidas são adotadas pelo
mercial, assim como reduzir a incerteza e
FITOSSANITÁRIAS E ACORDO acordo:
a instabilidade existentes no mercado inter-
nacional. Concordaram que as negociações SOBRE BARREIRAS TÉCNICAS a) a imposição de determinados pro-
AO COMÉRCIO cessos de produção;
deveriam alcançar uma maior liberalização
do comércio agrícola e garantir que todas O objetivo do Acordo SPS foi estabe- b) a exigência da origem;
as medidas relativas ao acesso aos merca- lecer os critérios que deveriam nortear as c) a quarentena;
dos de importação e aos subsídios às ex- ações dos governos na adoção de normas d) os processos de inspeção e certifi-
portações fossem regidas pelo GATT, por sanitárias e fitossanitárias, evitando que cação;
meio de uma série de normas e disciplinas medidas para proteger a saúde das pessoas, e) os requisitos de amostragem e
reforçadas, com o estabelecimento de um dos animais e das plantas se tornassem análise;
sistema de comércio agrícola equitativo e barreiras desnecessárias ao comércio
f) a rotulagem relacionada com a saúde;
orientado para o mercado. (WTO, 2012a).
Ao entrar em vigor, em 1o de janeiro Antes da entrada em vigor do Acordo g) os limites máximos de resíduos;
de 1995, o Acordo sobre a Agricultura da SPS, em 1995, os governos podiam re- h) os aditivos permitidos.
OMC incluiu compromissos específicos correr ao Código de Normas aprovado na No que diz respeito aos Acordos da
de redução dos subsídios às exportações, Rodada de Tóquio (1973/1979), ou podiam OMC, a diferença entre uma medida sa-
dos subsídios internos e de melhoria de recorrer ao art. XX, alínea (b) do GATT, nitária e fitossanitária, que deveria fazer
acesso aos mercados, com tratamento para adotar medidas comerciais restritivas parte do Acordo SPS, e uma barreira téc-
especial e diferenciado para os países em para proteger a saúde e a vida. No entanto, nica ao comércio, que deveria fazer parte
desenvolvimento. os negociadores da Rodada do Uruguai do Acordo TBT, é, por vezes, confusa.
O elemento-chave de acesso aos mer- entenderam que o quadro legal definido Por exemplo, medidas relacionadas com
cados foi a tarifação ou a transformação por essas normas era impreciso e, portanto, as doenças não transmitidas por plantas e
de qualquer mecanismo de proteção nas insuficiente para estabelecer princípios animais são consideradas como barreiras
fronteiras (como quotas, por exemplo), de funcionamento claros, para orientar as técnicas ao comércio, enquanto as normas
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de rotulagem podem estar em ambas as os governos, o Acordo SPS admite uma ser uma restrição disfarçada ao comércio.
categorias, dependendo se sua finalidade exceção à necessidade prévia de avaliar os Para reduzir conflitos, o Acordo TBT,
é proteger a saúde ou simplesmente dar riscos antes de tomar decisões com efeitos da mesma forma que o Acordo SPS, tem
informações aos consumidores. comerciais: podem-se tomar medidas de o compromisso de harmonização inter-
Quando os países membros da OMC, precaução, que incluem a proibição das nacional das normas, dos padrões e dos
que possuem grandes diferenças de de- importações em casos de emergência. A procedimentos de avaliação de conformi-
senvolvimento econômico, de cultura e exigência é que essas medidas sejam tem- dade. Dada as vantagens indiscutíveis de
de preferências, não chegam a um acordo porárias e que, em um tempo razoável, os adotar um padrão único, o Acordo obriga
para harmonizar as suas normas internas, governos devem fornecer uma avaliação os países membros da OMC a utilizarem
o Acordo os estimula a adotar medidas que objetiva dos riscos. as normas internacionais, sempre que
possam atingir um nível equivalente de O Acordo TBT (WTO, 2012b) tem essas existirem, em suas próprias regula-
proteção ou a reconhecer que duas regras como antecedente um acordo assinado na mentações. O Acordo considera que, ao
diferentes podem ser usadas para atingir Rodada de Tóquio (1979), conhecido como adotar um padrão internacional, um país
os mesmos objetivos. Feito isso, o cum- Standards Code (Código de Padrões), que está cooperando para não criar barreiras
primento das normas no país de origem procurou regulamentar a utilização dessas desnecessárias ao comércio.
seria suficiente para permitir a entrada do barreiras. Dado o crescente número e a Como no caso das medidas sanitárias e
produto no mercado do país importador. complexidade de todos os tipos de normas fitossanitárias, a harmonização das normas
Uma das particularidades do Acor- técnicas dos países desenvolvidos e os cus- técnicas é muito complexa, pelas diferen-
do SPS é que os governos dos países tos dos países menos desenvolvidos para o ças de renda, características e necessidades
membros da OMC não estão obrigados a seu cumprimento, na Rodada do Uruguai diferentes dos países membros da OMC.
adotar as normas aprovadas pelas organi- foi considerado conveniente clarificar e Muitas vezes, a harmonização torna-se
zações internacionais de referência. Se os reforçar o Código, tornando-o um acordo uma tarefa longa e incerta. É por esta razão
países consideram que essas normas não de cumprimento obrigatório por todos os que o Acordo adota e insiste que os países
garantem um nível adequado de proteção países membros da OMC. adotem o princípio da equivalência. O
à saúde, podem definir suas próprias nor- O Acordo abrange um conjunto de princípio da equivalência é particularmente
mas, que poderão ser mais exigentes. A regulamentações (obrigatórias), normas importante no caso dos procedimentos da
única condição que se impõe é que haja (voluntárias) e procedimentos de avalia- avaliação de conformidade, em especial
uma avaliação científica dos riscos que ção de conformidade que afetam tanto para os exportadores que vendem produtos
as justifiquem. as características do produto (tamanho, para mercados diferentes. A possibilidade
A avaliação deve seguir um procedi- formato, design, rotulagem, embalagem), de uma única avaliação, aceita por todos,
mento sistemático, aprovado pelos órgãos quanto o processo produtivo, desde que simplifica o processo e facilita o comércio.
internacionais competentes, e obriga o este esteja diretamente relacionado com Por esta razão, o Acordo incentiva que os
país a disponibilizar todas as informações as características do produto. países negociem acordos de reconheci-
sobre os fatores considerados, os critérios As chamadas barreiras técnicas ao mento mútuo e que aceitem como válidas
utilizados e o nível de risco que considera comércio surgem do objetivo legítimo as análises feitas por outros países. Contu-
aceitável. Na avaliação do risco, podem da sociedade e dos governos de proteger do, para que isso ocorra, deve haver uma
ser considerados fatores econômicos, a saúde e a vida das pessoas, animais e grande confiança nos órgãos responsáveis
como dano potencial da perda de produção plantas, o meio ambiente e a informação por essas tarefas em cada país e, para isso,
ou vendas, causado em caso de dissemi- ao consumidor, e de reduzir os custos de é desejável que se cumpram as recomen-
nação de pragas ou doenças; os custos produção e de transação. dações das organizações internacionais.
de controle ou erradicação de pragas e Quando os países que desejam exportar Os dois Acordos colocam grande ênfa-
doenças e a relação do custo/benefício de são países em desenvolvimento, o cumpri- se na transparência como um meio de evitar
cada alternativa. mento das normas dos países importadores ou reduzir o impacto que algumas normas
Infelizmente, não é sempre que os pode ser extremamente caro, no plano possam ter sobre o comércio. Para tanto,
cientistas podem rapidamente apresentar econômico e tecnológico, pelas dificul- estabelecem um processo de notificações,
evidências de que a importação de um dades que têm de adaptar suas empresas que obriga os governos a tornar público o
produto representa uma ameaça. Nesses e processos aos elevados requerimentos mais rapidamente possível suas normas
casos, esperar por evidências científicas existentes nos mercados importadores. O sanitárias e fitossanitárias e explicar,
comprovadas para atuar, pode presumir problema do cumprimento das regulamen- quando solicitado por outros governos, as
que as medidas tomadas são inefica- tações torna-se ainda mais controverso, razões para a imposição de um requisito
zes. Como esse risco é inaceitável para quando há suspeita de que estas podem específico sobre a segurança alimentar
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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 43

ou a saúde animal e vegetal. Todos os As normas internacionais são, muitas O Codex Alimentarius é uma organiza-
países membros da OMC devem manter vezes, rígidas e difíceis de ser implemen- ção com base na ciência. Peritos indepen-
uma Central de Informações ou Ponto tadas. Mas a referência do Acordo SPS a dentes e especialistas em uma ampla gama
Focal para receber e responder a qualquer esses padrões não implica no estabeleci- de disciplinas têm contribuído para garantir
informação sobre medidas sanitárias e mento de níveis mínimos ou máximos. que as normas sugeridas pelo Codex supor-
fitossanitárias em vigor no país. No Brasil Um padrão nacional não viola o Acordo tem o mais rigoroso escrutínio científico. O
existem três: o Ministério da Agricultura, SPS simplesmente porque difere do padrão trabalho da Comissão do Codex Alimen-
Pecuária e Abastecimento (MAPA), para internacional. Na verdade, o Acordo SPS tarius, com a FAO e a OMS, tornou-se um
questões fitossanitárias; a Agência Nacio- permite expressamente aos governos a im- importante meio internacional para o inter-
nal de Vigilância Sanitária (Anvisa), para posição de restrições mais rigorosas do que câmbio de informações científicas sobre a
questões sanitárias; e o Instituto Nacional segurança dos alimentos. Os padrões do
as internacionais. No entanto, os governos,
de Metrologia, Qualidade e Tecnologia Codex também já provaram ser referência
cujas regras não se baseiam em padrões
(Inmetro), para questões técnicas. Além internacionais, devem justificar seus níveis
importante para o mecanismo de solução
disso, se um país membro propõe um novo de controvérsias da OMC.
mais elevados de exigência, para evitar
regulamento (ou modifica um já existen- Ao longo dos anos, o Codex desen-
disputas comerciais. Essa justificativa
te), diferente dos padrões internacionais e volveu mais de 200 normas que abrangem
deve basear-se na análise de evidências
que pode afetar o comércio, o país deve alimentos processados, semiprocessados
científicas, bem como na avaliação dos
notificar a Secretaria da OMC antes da sua ou não destinados à venda para o consu-
riscos relacionados. midor ou para o processamento interme-
aplicação, para que a OMC, por sua vez,
No caso de uma disputa comercial, a
possa notificar os outros países para possí- diário; mais de 40 códigos sobre higiene
maior dificuldade reside em determinar e de prática tecnológica; foram avaliados
veis comentários. Em casos de emergência,
se uma medida nacional foi adotada por mais de mil aditivos alimentares e 54 de
os governos podem agir rapidamente, mas
razões de insalubridade interna ou como medicamentos veterinários; mais de 3 mil
devem informar imediatamente aos demais
países membros, também, pela OMC. uma barreira ao comércio. A avaliação níveis máximos de resíduos de pesticidas
O Acordo SPS incentiva os governos de risco desempenha aqui um papel im- e especificadas mais de 30 diretrizes para
a harmonizar as medidas nacionais em portante. Contudo, a avaliação de riscos contaminantes (SILVA, 2012).
conformidade com as normas, orientações não é uma ciência totalmente desenvol- A IPPC é um tratado multilateral para
ou recomendações desenvolvidas, quer vida e seus métodos ainda estão longe de a cooperação internacional na área de
pelos membros da OMC, quer por outras ser universalmente reconhecidos. Além proteção de plantas. A Convenção prevê
organizações internacionais relevantes, disso, é previsível que, no futuro, muitas a aplicação de medidas, pelos governos,
especificamente: das avaliações versarão sobre aspectos da para proteger seus recursos vegetais contra
a) Codex Alimentarius - Comitê microbiologia e vão requerer dos peritos pragas nocivas (medidas fitossanitárias),
conjunto da Organização das Na- responsáveis pela solução das disputas que podem ser introduzidas por meio do
um conhecimento científico muito mais comércio internacional. A IPPC está dire-
ções Unidas para Alimentação e
amplo do que somente o conhecimento tamente ligada ao Diretor-Geral da FAO e
Agricultura – Food and Agriculture
é administrada por meio da Secretaria da
Organisation of the United Nations/ econômico-comercial.
IPPC, localizada no setor de Proteção de
Organização Mundial as Saúde – Além disso, o Acordo SPS prevê que,
Plantas da FAO. A IPPC foi adotada, pela
World Health Organisation (FAO)/ para harmonizar as medidas sanitárias
primeira vez, em 1951 e já foi alterada
(OMS) – para assuntos de segurança e fitossanitárias em uma base tão ampla
duas vezes, sendo a mais recente, em 1997.
alimentar; quanto possível, os países membros devem
A revisão da IPPC, acordada em 1997,
b) a Convenção Internacional de Prote- basear suas medidas sanitárias ou fitos-
e que entrou em vigor legal em 2 de ou-
ção de Plantas – International Plant sanitárias nas diretrizes, recomendações tubro de 2005 representa uma atualização
Protection Convention (IPPC), da e normas internacionais. O Acordo cita da Convenção para refletir conceitos fi-
FAO, para questões de saúde vegetal; o Codex Alimentarius, uma instituição tossanitários contemporâneos e o papel da
c) a Organização Mundial da Saúde conjunta da FAO e da OMS, como a orga- IPPC em relação aos acordos da Rodada
Animal – World Organisation for nização de definição de normas relevantes do Uruguai da OMC, particularmente o
Animal Health (OIE), antiga Orga- para a segurança alimentar, a OIE, como a Acordo SPS. O Acordo SPS identifica a
nização Internacional de Epizootias organização relevante para a saúde animal IPPC como a organização de referência no
(OIE), – para questões de saúde e a IPPC, como responsável pela normati- desenvolvimento de normas internacionais
animal. zação da saúde das plantas. para a saúde das plantas (medidas fitossa-
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nitárias). Os padrões da IPPC também têm e utilizados no comércio internacional ção do Standards and Trade Development
sido um ponto de referência importante (FAO, 2002). Facility (STDF) ou Normas e Mecanismos
para o mecanismo de solução de contro- Informações das três organizações são de Desenvolvimento do Comércio, que é
vérsias da OMC. ativamente solicitadas pelo Comitê SPS, uma parceria mundial que apoia os países
O trabalho da IPPC inclui normas quando de seus debates sobre os princípios em desenvolvimento na construção de sua
sobre análise de risco de pragas, requi- da equivalência. Solicita-se, sempre, a par- capacidade de implementar padrões sanitá-
sitos para o estabelecimento de zonas ticipação da IPPC e da OIE nas discussões rios e fitossanitários (SPS) internacionais,
endêmicas e outros que dão orientações a respeito do reconhecimento de áreas diretrizes e recomendações para melhorar
específicas sobre temas relacionados com livres de pragas ou de doenças. a saúde humana, animal e vegetal e a
o Acordo SPS. A Organização Mundial de O procedimento para monitorar a uti- capacidade para ganhar e manter o acesso
lização de normas internacionais, desen- aos mercados.
Saúde Animal (conhecida anteriormente
volvido pelo Comitê, conforme estipulado Embora o número de normas interna-
como Organização Internacional de Epi-
pelo art. 12.4 do Acordo SPS (WTO, 2004), cionais continue a aumentar, pouca infor-
zootias – OIE) é a organização mundial
também requer expressamente a participa- mação está disponível sobre a aplicação
reconhecida pelo acordo SPS, para ques-
ção do Codex, IPPC e OIE, no fornecimen- dessas normas pelos países membros. Há
tões de sanidade animal.
to de informações sobre questões que têm uma proposta do Comitê SPS de que os
sido identificadas pelos países membros e membros comuniquem todas as alterações
Relacionamento do
Comitê SPS com o Codex,
para manter o Comitê informado sobre os das exigências SPS, que representem ou
novos trabalhos na sua área de atuação. não desvios dos padrões internacionais.
IPPC e OIE
No contexto dos processos de solução A Secretaria do Acordo faria uma revisão
O objetivo primordial do Comitê SPS de controvérsias da OMC, o Codex, IPPC e dessas informações e as transmitiria para
da OMC é zelar pelo cumprimento do OIE também têm tido um papel específico, as organizações de normatização que co-
Acordo SPS e propiciar um foro perma- já que em todas as disputas que envolvem ordenariam os esforços para determinar o
nente de consultas e negociações entre o Acordo SPS, o painel de solução de nível de utilização dessas normas em nível
os membros (COZENDEY, 2010). Para controvérsias tem buscado nesses órgãos internacional.
tanto, cabe ao Comitê revisar e monitorar aconselhamento científico ou técnico. O
as notificações de medidas SPS adotadas Acordo SPS indica que os países membros EVOLUÇÃO NA EMISSÃO
pelos países, estimular a harmonização das da OMC podem optar por utilizar os pro- DAS NOTIFICAÇÕES AOS
legislações nacionais na matéria e facilitar cedimentos de resolução de disputas dos
ACORDOS SPS E TBT
consultas e negociações entre os países outros órgãos quanto a medidas relacio-
nadas com o Acordo SPS. A IPPC e a OIE O Gráfico 1 mostra a evolução do total
membros.
têm procedimentos formais de resolução de de notificações regulares dos Acordos SPS
A cooperação entre Comitê SPS, Co-
litígios entre seus membros sobre questões e TBT emitidas pelos países membros
dex, IPPC e OIE é multifacetado. Essas
relacionadas com as suas respectivas áreas da OMC, entre os anos de 1995 e 2012.
três organizações receberam o status de
de atuação. Nesse período, foram emitidas 26.913
observadoras regulares (permanentes) pelo
O Conselho Geral, em colaboração notificações, das quais 15.484 ao Acordo
Comitê, na sua primeira reunião de março
com as organizações internacionais de TBT e 11.429 ao Acordo SPS. Nota-se que
de 1995. À luz de seu reconhecimento ex-
normatização, tem procurado criar meca- o número de notificações TBT foi sempre
plícito no Acordo SPS, essas organizações maior do que o número de notificações
nismos financeiros e técnicos para auxiliar
são convidadas a falar sobre qualquer item SPS, com exceção dos anos de 2001 e
na participação dos países em desenvol-
da agenda, nas reuniões do Comitê SPS e
vimento, nas atividades de definição dos 2002. A tendência foi de crescimento na
não apenas em relação às suas atividades padrões e das necessidades de assistência emissão das notificações, em ambos os
de assistência técnica. Portanto, se as dis- técnica relacionadas com o Acordo SPS. casos, até os anos de 2009/2010. Entre as
cussões lidarem com alguma preocupação Na instalação da Conferência Ministerial causas desse crescimento da normatização
específica de comércio como, por exemplo, de Doha, em novembro de 2001, uma de- técnica, sanitária e fitossanitária estão o
embalagem de madeira, pode-se conceder claração conjunta emitida pelos diretores crescimento geral do comércio interna-
à IPPC a palavra para explicar o estado de da FAO, OIE, Banco Mundial, OMS e cional, o crescimento do número de países
implementação da Norma Internacional de OMC firmou o compromisso dessas orga- membros da OMC, os quais passaram
Medida Fitossanitária no 15, que estabelece nizações em coordenar suas atividades de a utilizar as normas da organização e o
diretrizes para a certificação fitossanitária capacitação no que diz respeito às medidas aprendizado na utilização e na adequação
de embalagens, suportes e material de sanitárias e fitossanitárias. Um resultado das suas exigências aos Acordos SPS e
acomodação confeccionados em madeira importante dessa coordenação foi a cria- TBT. Contudo, a partir de 2009/2010,
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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 45

2.000 emergência, a maior ocorrência se dá nos


1.800
países desenvolvidos.

1.600
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1.400
TBT
Enquanto as tarifas são utilizadas
1.200
SPS
principalmente com o objetivo de proteger
1.000
produtores e empregos, as medidas não
800 tarifárias, como as notificações aos Acordos
600 SPS e TBT, são regulatórias por natureza
400 e incluem padrões, testes e procedimentos
200
de certificação. Enquanto as tarifas são
transparentes, com efeitos previsíveis, as
0
medidas não tarifárias são opacas quanto
1997

2005

2012
1998

2001

2006

2009

2011
2000
1995
1996

2002

2008
2003
2004

2010
1999

2007
aos seus efeitos sobre o comércio. Tais me-
didas refletem as necessidades e as aspira-
Gráfico 1 - Evolução do número total de notificações aos Acordos SPS e TBT emitidas entre
ções das sociedades, as quais se modificam
1995 e 2012
FONTE: Dados básicos: Organização Mundial do Comércio (OMC).
constantemente. Deve-se, portanto, atentar
NOTA: SPS - Sanitary and Phytosanitary Measures (Acordo sobre Aplicação de Medidas para a importância crescente das medidas
Sanitárias e Fitossanitárias); TBT - Technical Barriers to Trade (Acordo sobre Barreiras sanitárias e técnicas, que exigem avaliação
Técnicas ao Comércio). e acompanhamento também constantes.
Por ser um dos mais importantes
participantes no mercado internacional
verifica-se uma queda que, nitidamente, Os objetivos declarados nas notifica- de produtos agrícolas, o Brasil tem sido
está relacionada com a queda do comércio ções SPS relacionados com os produtos afetado diretamente e com intensidade
internacional como um todo, a partir da vegetais estão apresentados no Quadro 3. pelos regulamentos e normas sanitárias, fi-
crise financeira internacional. É importante chamar a atenção para o fato tossanitárias e técnicas adotadas pelos seus
As notificações regulares têm por foco de que é comum aparecer em uma mesma parceiros comerciais. Buscando adaptar a
notificação mais de um objetivo, fazendo essas novas condições de mercado, o País
a divulgação das exigências dos países
no que diz respeito às suas importações,
com que os números mostrados no Qua- tem-se tornado, também, muito atuante
dro 3 sejam maiores que o número total na área, cuidando para que as condições
legislação e propostas normativas. Além
de notificações emitidas. A fitossanidade sanitárias e fitossanitárias internas sejam
disso, os países emitem também notifi-
aparece como objetivo principal, mas qua- cientificamente adequadas e atendam não
cações emergenciais, que, como o nome se sempre acompanhada dos objetivos de só aos padrões domésticos, mas também
sugere, entram em vigor imediatamente proteção da saúde humana ou do território. aos níveis das exigências internacionais.
após sua expedição pela OMC. Geral- Outras razões importantes para a emissão Para tanto, além de acompanhar o que
mente, as notificações emergenciais são das notificações têm sido a proteção contra acontece no mercado internacional, com
emitidas quando ocorrem surtos eminen- pestes, limites máximos de resíduos e pes- adequação da legislação e participação
tes de doenças ou pragas que colocam em ticidas, além das exigências de certificação frequente e ativa nas reuniões dos órgãos
risco a vida e a saúde humana, animal e e rotulagem. internacionais de defesa, o País precisa
vegetal. Somente ao Acordo SPS, entre De maneira geral, os principais países melhorar a capacidade nacional de acom-
1995 e 2012, foram emitidas 9.995 no- emissores de notificações são aqueles panhamento e avaliação sanitária e fitossa-
desenvolvidos, que se destacam como nitária, com investimentos na infraestrutura
tificações regulares e 1.434 notificações
grandes importadores e onde a preocupa- laboratorial e no treinamento e qualificação
emergenciais. Esses números aparecem no
ção com a saúde humana, animal e vegetal técnica contínuos. Somente assim, far-se-á
Quadro 2, que mostra as notificações SPS
é maior e, os países exportadores, que frente aos riscos inerentes a um país com
regulares (1.919) e emergenciais (185),
procuram se adequar às exigências do tamanha extensão territorial e fronteira
específicas para produtos vegetais, emiti- mercado. O Quadro 4 mostra que, no pri- seca, com inúmeros portos e aeroportos e
das naquele período. Novamente, é clara meiro caso, podem-se destacar os Estados com uma migração intensa e crescente, por
a tendência de crescimento na emissão das Unidos, UE, Canadá e Japão, enquanto que onde podem chegar e ser disseminadas pra-
notificações regulares e o grande número no segundo estão Peru, Brasil, Austrália gas e doenças capazes de trazer prejuízos
das notificações de emergência. e Argentina. No caso das notificações de incalculáveis à economia nacional.
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46 Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio

QUADRO 2 - Número de notificações regulares e emergenciais emitidas ao Acordo sobre SPS, total e específicas para produtos vegetais,
no período 1995-2012
Notificação SPS Notificação SPS (produto vegetal)
Ano
Regular Emergência Total Regular Emergência Total
1995 188 5 193 55 2 57
1996 202 29 231 26 9 35
1997 272 16 288 64 3 67
1998 277 23 300 52 4 56
1999 329 78 407 40 7 47
2000 349 55 404 28 10 38
2001 410 223 633 62 14 76
2002 524 97 621 90 17 107
2003 626 69 695 126 18 144
2004 503 121 624 75 7 82
2005 597 71 668 121 5 126
2006 812 101 913 139 10 149
2007 767 94 861 125 6 131
2008 788 106 894 200 10 210
2009 668 76 744 113 14 127
2010 981 83 1064 208 13 221
2011 915 107 1022 189 20 209
2012 787 80 867 206 16 222
Total 9995 1434 11429 1919 185 2104
FONTE: Dados básicos: Organização Mundial do Comércio (OMC).
NOTA: SPS - Sanitary and Phytosanitary Measures (Acordo sobre Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias).

QUADRO 3 - Objetivos declarados nas notificações emitidas ao Acordo SPS, no período 1995-2012
Objetivo Regular Emergencial Total
Fitossanidade 1429 137 1566
Pestes 558 104 662

Proteção da saúde humana 558 40 598

Proteção de território 292 46 338

Sementes 299 16 315

Regionalização 230 38 268

Pesticidas 159 2 161

Limites máximos de resíduos 146 1 147

Doenças de plantas 100 39 139

Certificação, controle e inspeção 111 8 119

Rotulagem 117 0 117

Mosca da fruta 83 12 95

Embalagem 86 1 87

FONTE: Dados básicos: Organização Mundial do Comércio (OMC).


NOTA: SPS - Sanitary and Phytosanitary Measures (Acordo sobre Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias).

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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 47

QUADRO 4 - Principais países emissores de notificações SPS relacionadas com os produtos


vegetais, no período 1995-2012

País
Regular
Notificação

Emergencial
MUDAS
Peru

Brasil
325

233
4

3
DE
Chile

Estados Unidos
190

143
1

19
OLIVEIRA
Nova Zelândia 128 10

União Europeia (UE) 114 16

Japão 90 1 Garantia de
México 70 12
procedência,
Austrália 55 8

Canadá 43 17 mudas
Argentina 57 0 padronizadas,
qualidade
Equador 55 0

China 50 3
FONTE: Dados básicos: Organização Mundial do Comércio (OMC). comprovada e
NOTA: SPS - Sanitary and Phytosanitary Measures (Acordo sobre Aplicação de Medidas
Sanitárias e Fitossanitárias). variedade
identificada
REFERÊNCIAS 20f. Apostila. Curso de Mestrado Profis-
sional em Defesa Sanitária Vegetal.
COZENDEY, C. M. A participação do Brasil
WTO. Agreement on Technical Barriers
no comitê de medidas sanitárias e fitossani-
to Trade. Geneva, [2012b]. p.117-137. Pedidos e informações:
tárias da OMC. In: SILVA, O.M. (Ed.). Notifi- EPAMIG
Disponível em: <http://www.wto.org/english/
cações aos Acordos de Barreiras Técnicas Fazenda Experimental de Maria da Fé
docs_e/legal_e/17-tbt.pdf>. Acesso em: 10
(TBT) e Sanitárias (SPS) da OMC: transpa- CEP: 37517-000 - Maria da Fé - MG
dez. 2012.
rência comercial ou barreiras não-tarifárias? e-mail: femf@epamig.br
WTO. Agreement on the Application of Sa-
Viçosa, MG: UFV, 2010. p.11-19. Tel: (35) 3662-1227
nitary and Phytosanitary Measures. Gene-
FAO. Norma Internacional de Medida va, [2012a]. p.69-83. Disponível em: <http://
Fitossanitária no 15, de março de 2002. www.wto.org/english/docs_e/legal_e/17-tbt.
Certificação fitossanitária de embalagens e pdf>. Acesso em: 10 dez. 2012.
suportes de madeira. Brasília: MAPA, [2002]. WTO. The GATT years: from Havana to
Disponível em: <http://www.expurex.com. Marrakesh. Geneva, [2013]. Disponível em:
br/OFFLINE/Documentos/Instrucao%20 <http://www.wto.org/english/thewto_e/
Normativa/Novo%20dez2008/Norma_ whatis_e/tif_e/fact4_ e.htm>. Acesso em: 8
Internacional_de_Medida_Fitosanitaria_15. jan. 2013.
pdf>. Acesso em: 10 dez. 2012. WTO. Understanding the WTO. Geneva,
2011. 112p. Disponível em: <http://www.
LUCCHESE, G. Globalização e regulação
wto.org/english/thewto_e/whatis_e/tif_e/
sanitária: os rumos da vigilância sanitária
understanding_e.pdf>. Acesso em: jan.
no Brasil. 2001. 245f. Tese (Doutorado em
2013.
Saúde Pública) – Escola Nacional de Saúde
WTO. Committee on Sanitary and Phytosa-
Pública, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Ja-
nitary Measures. Revision of the procedure
neiro, 2001.
to monitor the processs of international
SILVA, O.M. A agricultura no comércio harmonization. Geneva, 2004. 3p. (WTO.
internacional. Viçosa, MG: UFV, 2012. G/SPS/11.Rev.1).

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A ciência em favor
DIVULGAÇÃO

Qualquer programa de manejo integrado de pragas é


composto por quatro componentes: a pesquisa, a extensão
da defesa sanitária rural, a indústria e os usuários.

vegetal
O DSV vem implementando ações por meio de “Pro-
gramas de Controle” junto às entidades estaduais de Defesa
Agropecuária para as principais pragas que causam grandes
impactos econômicos. Como exemplo, instituiu-se o Pro-
grama Nacional de Controle da Ferrugem Asiática (IN No
2, de 29 de janeiro de 2007), no qual estabelece um calendá-
rio de semeadura de soja nas regiões produtoras, com um
A defesa sanitária vegetal é formada pelo conjunto de período de no mínimo 60 dias sem a presença de plantas
práticas destinadas a prevenir, controlar ou manejar pragas cultivadas ou voluntárias, denominado de vazio sanitário.
capazes de provocar danos econômicos às lavouras e seus Existem também outros Programas de Controle que esta-
produtos, especialmente nas culturas que detêm importân- belecem o vazio sanitário nas principais regiões produtoras
cia econômica e social para o país. Nesse sentido, seu objeti- como o vazio sanitário do algodão para evitar a ocorrência
vo é (1) proteger o território brasileiro de pragas exóticas de do bicudo; o vazio sanitário do feijão para diminuir a po-
importância econômica; (2) evitar ou retardar a dissemina- pulação de mosca-branca, responsável pela transmissão do
ção de pragas presentes de importância econômica dentro vírus do Mosaico Dourado.
do território nacional; (3) atender aos acordos internacio-
nais sobre a sanidade vegetal, garantindo as exportações de
produtos vegetais e a economia nacional; (4) manter a sani-
dade dos vegetais e suas partes no mercado interno. PROGRAMA INTEGRADO

BASE PARA TÉCNICAS DE RESULTADOS


ESTRATÉGIAS DE DEFESA FITOSSANITÁRIA DECISÕES DE MANEJO
MANEJO Alimento mais
O Brasil tem alcançado recordes de produção de grãos Controle Seguro
nas últimas safras, podendo tornar-se o maior produtor Mortalidade Químico
Valor
mundial. Conforme a Companhia Nacional de Abasteci- Natural
Controle Agregado
mento (Conab), na safra 2012/2013 a produção brasileira Taxonomia
Biológico
Equilíbrio
de grãos foi de 186,8 milhões de toneladas, um aumento Técnicas Ambiental
de 12 % em relação à safra 2011/2012, com possibilidade Culturais
Amostragem Menor Custo
de crescer ainda mais na safra 2013/2014, alcançando 196,6 de Produção
Feromônios
milhões de toneladas. Entretanto, alguns autores acreditam Níveis de
que esse cenário de expectativa crescente de produção agrí- Controle
Variedades
cola poderá não se concretizar em decorrência dos proble- Resistentes
mas fitossanitários que os produtores brasileiros vêm en- Transformação
frentando. Genética

Como forma de reduzir os efeitos negativos das pragas


na agricultura, têm-se adotado algumas medidas de contro- A Agência Goiana de Defesa Agropecuária instituiu o
le, como criação de barreiras fitossanitárias, vazio sanitário Programa de Prevenção e Controle de Pragas em Tomate
e Manejo Integrado de Pragas (MIP). prevendo a calendarização de plantio (IN 006/2011) para o
O MIP baseia-se na exploração do controle natural, dos transplantio de mudas de tomate para cultivos destinados a
níveis de tolerância das plantas aos danos causados pelas indústria e em alguns municípios produtores de tomate de
pragas, no monitoramento das populações para tomadas de mesa. A medida visa propiciar a ausência de plantas de to-
decisão e na biologia e ecologia da cultura e de suas pragas. mate nos meses de novembro a janeiro, período de grande
Nesse contexto, é importante o uso de diferentes métodos incidência da mosca-branca vetor do geminivírus nas prin-
de controle, como uso de plantas resistentes, controle cultu- cipais áreas de cultivo do estado.
ral, controle biológico e controle químico, como forma de Dessa forma, o produtor precisará alinhar a época de
interferir no ciclo de vida da praga, mantendo a população semeadura ao período de vazio sanitário, harmonizando es-
abaixo do limiar de dano econômico (LDE), com consequ- ses tempos para evitar grandes perdas de produtividade nos
ências favoráveis dos pontos de vista econômico, ecológico cultivos, reduzir o custo de produção devido ao menor nú-
e sociológico. mero de aplicações de defensivos agrícolas e diminuir signi-

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DIVULGAÇÃO
ficativamente o inóculo ou a população de insetos na área. produtividade, resistência a doenças e ao ataque de pragas
Essa medida não prejudica o abastecimento de sementes e e com qualidades de sabor e durabilidade para atender aos
grãos/frutos no mercado, pelo contrário, disciplina o pro- consumidores mais exigentes do Brasil e do mundo.
dutor a contribuir para a sustentabilidade da agricultura.
Com isso, produtores agrícolas têm disponíveis hoje
cultivares de banana resistente à Sigatoka amarela e ao mal-
CONTRIBUIÇÃO DA EMBRAPA PARA DSV -do-Panamá, de tomate com resistência ao geminivírus, de
uva com resistência ao míldio, de maracujá silvestre com
A Embrapa tem como missão viabilizar soluções de pes- resistência a doenças fúngicas do maracujazeiro e alta pro-
quisa, desenvolvimento e inovação para a sustentabilidade dutividade, de arroz com resistência ao brusone de espiga,
da agricultura, em benefício da sociedade brasileira. Dessa de alho de alta qualidade e sem necessidade de vernaliza-
maneira, é notável o seu papel por meio dos Programas de ção, de pêssego com maior qualidade para o consumidor
Melhoramento Genético Vegetal, o qual preconiza o desen- e de alta durabilidade, de cupuaçu com resistência à vas-
volvimento de cultivares resistentes ou tolerantes às princi- soura-de-bruxa, de sorgo de alto rendimento para produ-
pais pragas agrícolas. ção de etanol, de dendê com resistência ao amarelecimento
Cada vez mais, torna-se importante a antecipação dos fatal do dendezeiro, de trigo com flexibilidade para maior
eventos e, para isso, a adequação de uma genética de cul- adubação nitrogenada e de milheto resistente a nematoides
tivar projetada para novas pragas potenciais é essencial na (Meloidogyne spp. e Pratylenchus). E em breve contarão com
composição do manejo integrado, reduzindo os danos eco- cultivares de feijão com resistência ao vírus do mosaico
nômicos nas lavouras brasileiras. dourado do feijoeiro e à mancha angular.

Nas últimas safras, ataques severos de lagartas nas prin- A prospecção de genes importantes na interação plan-
cipais culturas da região do Cerrado têm sido relatados por ta inseto/patógeno tem o objetivo fundamental de auxiliar,
produtores, causando grandes prejuízos em diversas cultu- também, na elaboração dessas novas alternativas, tanto com
ras. O processo cumulativo de práticas de cultivo inadequa- a identificação de genes que tornam plantas resistentes ao
das tem propiciado o surgimento de pragas e doenças ante- ataque de pragas, quanto com a identificação de genes que
riormente reconhecidas apenas como secundárias, ou ainda estão associados à habilidade da praga em burlar as defesas
pragas restritas a uma ou outra cultura que passam a atacar, de seus hospedeiros.
indiscriminadamente, todas as demais culturas constituti- Nesse contexto, a Embrapa tem o importante papel de
vas do sistema agrícola. prestabilidade para a sociedade, buscando alternativas para
No âmbito da defesa sanitária vegetal, a Embrapa tem o tornar a agricultura brasileira competitiva e ecoeficiente, além
objetivo de desenvolver metodologias que permitam detec- de difundir tecnologias, processos, produtos e serviços.
tar, avaliar e mitigar riscos ambientais e biológicos, contes-
tar barreiras técnicas e subsidiar a formulação de políticas
públicas. Dentre as suas estratégias está a ampliação da de-
manda de PD&I para a diversificação de produtos e a agre-
gação de valor, viabilizados por parcerias público-privadas.
Como exemplo de ação emergencial para a agricultu-
ra brasileira, a Embrapa lançou, em abril de 2013, com o
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, pro-
posta de ações emergenciais para o manejo integrado de
Helicoverpa spp. em áreas agrícolas.

GENÉTICA PREVENTIVA PARA OS DESAFIOS DO


PRODUTOR
Como resultado do seu intenso trabalho de melhora-
mento genético vegetal desenvolvido ao longo dos últimos
40 anos, a Embrapa disponibiliza hoje no mercado - ou irá
colocar em breve - sementes, mudas ou propágulos de cul-
tivares de interesse do agronegócio com qualidades diferen- Frederico Ozanan Machado Durães - Engenheiro Agrônomo, PhD e
ciadas, de forma a atender tanto à agricultura no mercado Gerente-Geral da Embrapa Produtos e Mercado
de commodities, quanto aos agricultores familiares e que Telefone: (61) 3448-4522
participam de nichos de mercado. São cultivares que reú- E-mail: frederico.duraes@embrapa.br

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50 Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio

Regulamentação e uso de produtos à base de agentes


biológicos para o controle de doenças de plantas
e pragas no Brasil
Trazilbo José de Paula Júnior 1
Madelaine Venzon 2
Hudson Teixeira 3
Wagner Bettiol 4
Marcelo Augusto Boechat Morandi 5
Francys Mara Ferreira Vilella 6
Maria Luiza Marcico Publio de Castro 7

Resumo - O uso de produtos à base de agentes biológicos para o controle de pragas e


doenças de plantas tem experimentado forte crescimento nos últimos anos no Brasil.
Esse fato tem contribuído para avanços significativos na legislação brasileira em relação
a esses produtos. Há, atualmente, uma série de diretrizes governamentais que orientam
todos os passos necessários para a regulamentação da produção e do uso de produtos
biológicos, o que garante ao setor produtivo regras claras e ao consumidor final a certeza
da disponibilidade de produtos seguros ao meio ambiente, à saúde humana e gerados
sem uso exploratório da biodiversidade. Salienta-se, ainda, a importância da padroniza-
ção de metodologias a ser utilizadas nas etapas de controle de qualidade e fiscalização, o
que irá repercutir na melhoria dos produtos biológicos brasileiros.

Palavras-chave: Antagonistas. Biocontrole. Controle alternativo. Controle biológico.


Produto biológico.

INTRODUÇÃO últimos anos, apesar de existirem ainda no caso do controle de doenças de plantas,
inúmeros entraves, especialmente relacio- o porcentual de uso de produtos biológicos
Há em todo o mundo uma demanda
crescente por produtos agrícolas livres de nados com a adequação da legislação para o é de, aproximadamente, 1%. Entretanto, a
resíduos de agrotóxicos e por uma agri- registro de produtos no Ministério da Agri- comercialização de produtos biológicos
cultura que cause menor impacto sobre os cultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). deve crescer nos próximos anos, especial-
recursos naturais. Nesse contexto, o uso de Segundo Bettiol (2011), apesar da mente em razão da pressão da sociedade
produtos à base de agentes biológicos para importância dos produtos biológicos, o por alimentos livres de agrotóxicos e das
o controle de pragas e de doenças de plantas mercado mundial ainda é bastante restrito, novas políticas públicas para a adoção
tem experimentado forte crescimento nos em comparação com os produtos químicos: ampla da agricultura de base ecológica.

1
Engo Agro, Ph.D., Pesq. EPAMIG Zona da Mata, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: trazilbo@epamig.br
2
Enga Agra, Ph.D., Pesq. EPAMIG Zona da Mata, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: madelaine@epamig.br
3
Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG Sul de Minas, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: hudsont@epamig.br
Engo Agro, D.Sc., Pesq. EMBRAPA Meio Ambiente, Caixa Postal 69, CEP 13820-000 Jaguariúna-SP. Correio eletrônico: bettiol@cnpma.embrapa.br
4

Engo Agro, D.Sc., Pesq. EMBRAPA Meio Ambiente, Caixa Postal 69, CEP 13820-000 Jaguariúna-SP. Correio eletrônico: mmorandi@cnpma.embrapa.br
5

6
Bióloga, D.Sc., CESIS - Soluções em Regulamentação e Registro de Produtos Ltda., SCLN 11 BL D sala 204, CEP 70754-540 Brasília-DF.
Correio eletrônico: francys@cesis.bio.br
Bióloga, M.Sc., CESIS - Soluções em Regulamentação e Registro de Produtos Ltda., SCLN 11 BL D sala 204, CEP 70754-540 Brasília-DF.
7

Correio eletrônico: marialuiza@cesis.bio.br

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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 51

Atualmente, vários produtos de contro- esse levantamento, no mercado mundial sclerotiorum, Sclerotium rolfsii, Botrytis
le à base de agentes biológicos são comer- estão disponíveis mais de 40 espécies de cinerea e Moniliophthora perniciosa (ex-
cializados sem avaliação oficial consistente antagonistas utilizados para o controle Crinipellis perniciosa) nas culturas de fei-
que ateste sua eficiência, conformidade e de doenças de plantas, sendo o gênero jão, soja, algodão, fumo, morango, tomate,
inocuidade, com base no que está estabele- Trichoderma responsável por quase metade cebola, alho, flores e plantas ornamentais
cido na legislação brasileira para produtos dos antagonistas comercializados, seguido e cacaueiro.
com o mesmo fim. Dessa forma, muitos de Bacillus, Paecilomyces, Pseudomonas
esforços têm sido feitos nos últimos anos, e Streptomyces (Gráfico 1). Como indi- Controle biológico de
especialmente por parte das instituições ca o Gráfico 2, dos produtos à base de pragas
de pesquisa, com apoio do MAPA, para Trichoderma, a espécie T. harzianum é a Diversos produtos biológicos são utili-
melhorar a qualidade dos produtos bioló- mais comercializada, sendo encontrada zados para o controle de artrópodes pragas.
gicos disponíveis no mercado, bem como em 38% dos produtos comerciais. Nos Dentre esses, destacam-se os produtos
os processos de fiscalização pelos órgãos produtos à base de Bacillus, a espécie B. formulados a partir de bactérias, fungos,
competentes. É fundamental que todo o subtilis representa 62% dos produtos co- vírus e nematoides e os agentes de controle
processo de produção, regulamentação e
mercializados. Para os produtos à base de biológico como os insetos parasitoides e
uso de produtos à base de agentes de bio-
Pseudomonas, as espécies P. fluorescens os ácaros e insetos predadores. A disponi-
controle seja bem estabelecido e conhecido
e P. chlororaphis representam metade bilidade de agentes biológicos indicados
pelos agricultores e técnicos envolvidos em
dos produtos comerciais. Em relação a para o controle de pragas e comercializa-
toda a escala de produção.
Paecilomyces, a espécie P. lilacinus é dos mundialmente é grande, chegando a
predominante. Há de se considerar, po- mais de 230 espécies de insetos e ácaros
AGENTES BIOLÓGICOS PARA
O CONTROLE DE DOENÇAS E rém, que muitos produtos biológicos não entomófagos (LENTEREN, 2012). No
PRAGAS NO BRASIL especificam qual espécie do antagonista é Brasil, existem diversos produtos biológi-
utilizada (BETTIOL et al., 2012). cos disponíveis no mercado; no entanto,
Alguns levantamentos de produtos
Em geral, esses produtos são reco- poucos possuem registro no MAPA. Para
biológicos comercializados no Brasil têm
mendados para o controle de Fusarium o parasitoide Cotesia flavipes, utilizado
sido feitos nos últimos anos. Paula Júnior
spp., Pythium spp., Rhizoctonia solani, no controle da broca da cana-de-açúcar,
et al. (2009), por exemplo, realizaram um
Macrophomina phaseolina, Sclerotinia há dez produtos comerciais registrados
levantamento dos produtos biológicos indi-
cados para o controle de doenças de plantas
e de pragas no Brasil, e apresentaram, para
cada produto, informações básicas, como
nome comercial, agente biológico, doen-
ças/patógenos e pragas visados, culturas
para as quais os produtos são indicados,
formulações disponíveis, métodos de apli-
cação e empresas produtoras. Entretanto,
o processo de registro de novos produtos
à base de agentes biológicos no MAPA é
bastante dinâmico, havendo frequentes en-
tradas e retiradas de produtos do mercado.
Atualmente, dezenas de produtos à base de
fungos e bactérias com alguma indicação
para o biocontrole, são comercializadas no
Brasil (BRASIL, 2013).

Controle biológico de
doenças
Bettiol et al. (2012) realizaram recen-
temente um levantamento de informações Gráfico 1 - Principais gêneros de antagonistas presentes em produtos biológicos comer-
técnicas de produtos recomendados para cializados mundialmente para o controle de fitopatógenos
o controle biológico de doenças. Segundo FONTE: Bettiol et al. (2012).

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52 Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio

no MAPA. Além desses, há registro ácaro-rajado (Tetranychus urticae) em thuringiensis, Baculovirus anticarsia,
para o parasitoide Trichogramma galloi diversas culturas. Entre os produtos for- Metarhizium anisopliae e Beauveria
para o controle de lepidópteros, assim mulados a partir de entomopatógenos, bassiana (Gráfico 3). Há registro de um ne-
como para o ácaro predador (Neoseiulus registrados no MAPA, estão diversos matoide, Steinernema puertoricense, para
californicus), utilizado no controle do produtos comerciais à base de Bacillus o controle de pragas que habitam o solo.

A B

C D
Gráfico 2 - Principais espécies antagonistas utilizadas para o controle de doenças de plantas presentes em produtos biológicos comer-
cializados mundialmente para o controle de fitopatógenos
FONTE: Bettiol et al. (2012).
NOTA: A - Trichoderma; B - Bacillus; C - Paecilomyces; D - Pseudomonas.

Gráfico 3 - Porcentagem de produtos formulados a partir de entomopatógenos e registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA) - abril, 2013

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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 53

REGULAMENTAÇÃO DE dutora e o correto enquadramento do pro- utilizadoras de recursos ambientais, dentre


PRODUTOS BIOLÓGICOS duto. Dessa forma, o primeiro passo a ser estas a produção, o transporte e a comer-
Considerando que o uso de produtos seguido deve ser o da constituição legal da cialização de agrotóxicos e afins.
biológicos é uma ferramenta inovadora no empresa, que inclui a observância das re- Superados os trâmites legais de estabe-
cenário atual do agronegócio brasileiro, é gras de adequação da atividade em relação lecimento da empresa, parte-se para o re-
fundamental atender às exigências do mar- ao licenciamento ambiental. O licencia- gistro do produto. Para tal, o empreendedor
co regulatório (conjunto de leis, decretos e mento ambiental é um dos instrumentos de deve enquadrar corretamente o produto, a
normativas que regulam o funcionamento execução da Lei no 6.938, de 31 de agosto fim de seguir a regulamentação pertinente.
de determinado setor), no que se refere de 1981 (BRASIL, 1981), que dispõe sobre Os produtos biológicos podem ser consi-
à regulamentação da produção e do uso a Política Nacional do Meio Ambiente derados Saneantes/Domissanitários, Ino-
desses produtos. É por meio desse conjunto (PNMA). Tem por objetivo a preservação, culantes/Biofertilizantes ou Agrotóxicos.
de diretrizes que se tem um ambiente de a melhoria e a recuperação da qualidade do Um produto se encaixa na categoria Sa-
conciliação entre os interesses do setor ambiente, visando assegurar condições ao neante/Domissanitário, quando se destina
produtivo e as expectativas do mercado desenvolvimento socioeconômico, aos in- à utilização em ambientes domiciliares,
consumidor. O Brasil possui uma das teresses da segurança nacional e à proteção coletivos ou públicos ou no tratamento
mais avançadas legislações para o registro da dignidade da vida humana. Atendendo a da água (em ambientes domiciliares). Os
de produtos voltados para a agricultura estes objetivos, foi criado o Conselho Na- Domissanitários da categoria desinfestan-
e ambientes urbanos. Entretanto, outros cional do Meio Ambiente (Conama), que tes são os inseticidas para uso doméstico,
aspectos da legislação devem ser obser- tem também como função estabelecer as para uso por empresas especializadas e
vados pelos empreendedores que buscam diretrizes para o licenciamento ambiental. jardinagem amadora. Um mesmo produ-
a legalização de suas atividades, como o O licenciamento pode ser de competência to, por exemplo, um inseticida, pode ser
licenciamento ambiental, a utilização do federal, estadual ou municipal/distrital, registrado tanto como Domissanitário, se
patrimônio genético e o acesso ao conhe- dependendo da localidade e da atividade for destinado à aplicação em ambientes
cimento tradicional para fins de pesquisa do empreendimento. A Lei no 6.938, de urbanos, quanto como Agrotóxico, caso
e comercialização. 31/8/1981 (BRASIL, 1981) é clara, quando seja destinado à aplicação em ambientes
Apesar de esforços recentes, a buro- menciona que “a construção, instalação, agrícolas, sendo observadas legislações
cracia que envolve as análises e os docu- ampliação e funcionamento de estabe- diferentes em cada uma das finalidades. O
mentos necessários para a regulamentação lecimentos e atividades utilizadoras de registro de produtos na categoria Saneante/
de produtos biológicos ainda é grande, recursos ambientais, considerados efetiva Domissanitário é obtido na Agência Nacio-
inclusive em razão da falta de pessoal ou potencialmente poluidores, bem como nal de Vigilância Sanitária (Anvisa).
qualificado nas instâncias públicas e pri- os capazes, sob qualquer forma, de causar Os produtos da categoria Inoculantes/
vadas. Há uma crescente sinalização do degradação ambiental, dependerão de Biofertilizantes são aqueles que contêm,
governo para tornar ágeis os processos para prévio licenciamento por órgão estadual em sua composição, microrganismos com
o registro desses produtos. A possibilidade competente”. atuação favorável ao crescimento de plan-
de registro de produtos com uso aprovado Outro instrumento de execução da tas, como por exemplo, Bradyrhizobium
em agricultura orgânica é uma destas de- PNMA é o Cadastro Técnico Federal de sp. e Rhizobium sp. Quem disciplina esta
monstrações de esforço governamental em Atividade e Instrumentos de Defesa Am- categoria de registro é o MAPA e as Su-
atender com agilidade aos anseios da socie- biental. A Lei no 10.165, de 27 de dezem- perintendências Estaduais de Agricultura.
dade por uma agricultura mais sustentável. bro de 2000 (BRASIL, 2000) disciplina o Devem ainda ser registrados os estabele-
O registro de um produto é fundamental Cadastro Técnico Federal (CTF), institui a cimentos que produzam, comercializam,
para tornar legal sua comercialização no Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental exportam ou importam produtos dessa
País. Independentemente se fabricados (TCFA), cujo fato gerador é o exercício re- categoria.
no Brasil ou importados, os produtos gular do poder de polícia conferido ao Ins- A Lei no 7.802, de 11 de julho de 1989 -
biológicos precisam ser registrados. Para tituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Agrotóxicos e afins (BRASIL, 1989), de-
a população e o meio ambiente, o registro Recursos Naturais Renováveis (Ibama), fine um produto da categoria Agrotóxicos
é garantia de segurança, e, para o consu- para controle e fiscalização das atividades como:
midor, garantia de padrões de qualidade e potencialmente poluidoras e utilizadoras [...] produtos e os agentes de processos
eficiência. de recursos naturais. Essa taxa deve ser físicos, químicos ou biológicos, desti-
Entretanto, antes mesmo de discutir paga a cada trimestre, enquanto a empresa nados ao uso nos setores de produção,
o registro do produto em si, há que se estiver ativa e inscrita no CTF, e categoriza no armazenamento e beneficiamento
considerar a regularização da empresa pro- as atividades potencialmente poluidoras e de produtos agrícolas, nas pastagens,

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na proteção de florestas, nativas ou comercializar o produto. Para a submissão os laboratórios quanto à competência na
implantadas, e de outros ecossistemas e da solicitação de Registro Federal, visando realização de testes laboratoriais dentro
também de ambientes urbanos, hídricos à comercialização do produto, é necessário do Sistema da Qualidade BPL. Os testes
e industriais, cuja finalidade seja alterar que sejam seguidas as instruções da Lei de eficiência e praticabilidade agronômi-
a composição da flora ou da fauna, a fim no 7.802, de 11/7/1989 (BRASIL, 1989), ca devem ser conduzidos em instituições
de preservá-las da ação danosa de seres do Decreto no 4.074, de 4 de janeiro de credenciadas pelo MAPA.
vivos considerados nocivos. 2002 (BRASIL, 2002) e de cada uma das Diferentemente dos agrotóxicos quími-
Aqui enquadram-se os agentes bioló- Portarias, Resoluções e Instruções Norma- cos convencionais, não há obrigatoriamen-
gicos de controle (parasitoides, predadores tivas Conjuntas vigentes, para cada tipo te, para os produtos biológicos/naturais,
e nematoides), os agentes microbiológicos de produto, inclusive aqueles aprovados a necessidade de pleitear o Registro dos
de controle (fungos, bactérias e vírus), para uso em agricultura orgânica. Para os Produtos Técnicos utilizados como base
os semioquímicos, outros bioquímicos, produtos que podem ser considerados de das formulações de pronto uso destinadas
extratos vegetais e minerais, utilizados na baixa toxicidade e periculosidade, existem à comercialização. Isso porque as normati-
agricultura com a finalidade de controlar normativas específicas, visando à avaliação vas específicas apresentam a possibilidade
organismos considerados nocivos. caso a caso. do registro direto dos produtos formulados
No Brasil, o MAPA, a Anvisa e o Ibama A avaliação dos agentes biológicos de sem a necessidade da apresentação do Cer-
são os órgãos federais responsáveis pela controle é realizada de forma totalmente tificado de Registro do Produto Técnico.
avaliação e registro de agrotóxicos e afins. diferenciada dos demais produtos. No Esta sinalização concedida pelo governo
Todas as solicitações de registro devem ser lugar dos testes requeridos para os outros foi um grande apoio ao setor de produtos
submetidas a cada um desses órgãos. produtos, são solicitadas informações a biológicos/naturais, principalmente se for
O Registro Especial Temporário (RET), respeito de parâmetros como caracteriza- considerado que o custo dos testes necessá-
como o próprio nome indica, é concedido ção biológica dos indivíduos, efeitos na rios para o registro do produto técnico pode
de forma temporária, com prazo de até três saúde humana e animal, comportamento chegar a R$ 5 milhões. Outra sinalização
anos, para que a empresa possa realizar ambiental, eficiência e praticabilidade e positiva do governo, que vem benefician-
os testes de laboratório (toxicológicos e também a respeito do controle de qualidade do a cadeia produtiva e, indiretamente, o
ecotoxicológicos) e de eficiência e prati- dos indivíduos produzidos em laboratório. consumidor final, é a via recentemente
cabilidade agronômica necessários e para Outro ponto importante a ressaltar é que criada do registro de produtos biológicos/
que os órgãos governamentais façam as o registro de um agente biológico não é naturais como insumos aprovados com
devidas análises, cada qual dentro de sua concedido por cultura, mas sim por alvo uso em agricultura orgânica. A via de
competência. Portanto, o RET é solicitado biológico. registro como “produto fitossanitário com
antes do início dos procedimentos de pes- Para submeter um produto microbio- uso aprovado para agricultura orgânica” é
quisa e experimentação, inclusive no caso lógico, semioquímico ou bioquímico ao uma abertura que o governo criou para dar
de importação de produtos. É importante Registro Federal, o interessado deverá mais celeridade aos processos de registro
ressaltar que o RET não habilita a empresa encaminhar testes específicos que demons- de produtos, desde que estes tenham em
a comercializar o produto. trem o perfil físico-químico, comportamen- sua composição apenas elementos per-
Atualmente, é possível solicitar o RET to toxicológico e ambiental, além de testes mitidos na legislação de orgânicos. Para
eletronicamente. O Sistema Eletrônico de genotoxicidade, a depender do caso. esse tipo de registro, os produtos que já
de Requerimento e Análise de Registro Como os produtos considerados de baixa tiverem sido publicados em normativas
Especial Temporário (Sisret) é utilizado toxicidade e periculosidade são analisados com as especificações de referência es-
de forma integrada pelo MAPA, Anvisa e caso a caso, deve-se estar atento às suas tão dispensados da necessidade de RET.
Ibama, possibilitando maior agilidade no características individuais para não reali- Após a obtenção do Certificado de
processo. Entretanto, esse procedimento zar testes desnecessários, aumentando os Registro Federal, a empresa deverá realizar
está disponível apenas para moléculas custos do registro. o cadastro do produto nos Estados onde
químicas convencionais, não compreen- Todos os testes laboratoriais devem deseja comercializá-lo. Em alguns Estados
dendo as solicitações de RET para produ- ser realizados de acordo com as normas esse procedimento é rápido e barato. Entre-
tos microbiológicos, macrobiológicos e do Sistema da Qualidade Boas Práticas de tanto, há Estados que exigem praticamente
semioquímicos. Laboratório (BPL), seguindo metodologias a montagem de um novo dossiê.
Uma vez gerados os dados necessários reconhecidas nacional e internacionalmen- Outro ponto a considerar, quando se
para a submissão do pleito, procede-se à te. No Brasil, o Instituto Nacional de Me- busca a legalização de produtos biológicos/
solicitação de Registro Federal do produto. trologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) naturais para comercialização, é o marco
Este, se concedido, habilitará a empresa a é a unidade de monitoramento que audita regulatório sobre Acesso ao Patrimônio
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Genético (BRASIL, 2001), que abarca os PADRONIZAÇÃO impede a análise adequada e a comparação
produtos biológicos por se tratar de uso e DAS METODOLOGIAS dos resultados. Além disso, a ausência
exploração da biodiversidade para fins de PARA AVALIAÇÃO DA de metodologias padronizadas dificulta a
pesquisa e comercialização. A Lei de Aces- CONFORMIDADE E realização dos testes e a emissão de laudos
so – Medida Provisória no 2.186-16, de QUALIDADE DE PRODUTOS exigidos para o registro nos órgãos deman-
BIOLÓGICOS NO BRASIL
23 de agosto de 2001 (BRASIL, 2001) –, dantes, ou seja, MAPA, Anvisa e Ibama.
como é comumente denominada, veio aten- Como mencionado anteriormente, em- Portanto, o desenvolvimento de me-
der à Convenção de Biodiversidade, que bora diversos produtos sejam amplamente todologias para a avaliação da qualidade
declara que os países membros têm direitos comercializados e utilizados na agricultura dos produtos biológicos comercializados
sobre seus recursos genéticos. A Convenção brasileira, poucos estão devidamente no País é de extrema importância e pode
de Biodiversidade também estabelece a registrados no MAPA e outros estão em contribuir promover a legalização de
necessidade de repartição de benefícios, ao processo de registro. Este fato dificulta a produtos e, assim, garantir sua qualidade
preconizar uma distribuição justa e equiva- fiscalização e propicia o surgimento de pro- e efetividade (TEIXEIRA et al., 2010).
lente para cada ator do processo, e consi- dutos com baixa qualidade no mercado, o Uma vez desenvolvidas e padronizadas,
derar todos os direitos sobre os recursos e que acaba gerando a perda de credibilidade essas metodologias podem ser utilizadas
tecnologias envolvidos, contribuindo, desse no controle biológico por parte dos agri- nos trabalhos de inspeção e fiscalização
modo, para a conservação da diversidade cultores (JENKINS; GRZYWACZ, 2000). pelos órgãos e laboratórios oficiais, o que,
biológica e para o uso sustentável de seus Além disso, a ausência de registro impede sem dúvida, irá repercutir na melhoria dos
componentes. Nessa Medida Provisória, que muitos produtos sejam utilizados em produtos biológicos nacionais.
patrimônio genético é definido como: sistemas certificados para exportação, o
que pode gerar barreiras não tarifárias Projeto Qualibio
[...] informação de origem genética,
contida em amostras do todo ou de ao desenvolvimento do agronegócio A crescente expansão da demanda pelo
parte de espécime vegetal, fúngico, brasileiro. No mercado interno, empresas uso de bioprodutos e o conhecimento de
microbiano ou animal, na forma de idôneas também são prejudicadas com a relatos frequentes de desempenho, aquém
moléculas e substâncias provenientes indefinição de metodologias oficiais para do razoável de alguns produtos usados no
do metabolismo destes seres vivos e análise, pois concorrem com produtos de controle fitossanitário, levaram à formação
de extratos obtidos destes organismos baixa qualidade e de custo menor. de uma rede de pesquisa liderada pela
vivos ou mortos, encontrados em condi- Nos Estados Unidos e na Europa, as Embrapa Meio Ambiente, e apoiada por
ções in situ, inclusive domesticados, ou especificações mínimas oficializadas para diversos laboratórios de diferentes institui-
mantidos em condições ex situ, desde os produtos biológicos já estão estabe- ções, incluindo Instituto Biológico (IB) do
que coletados in situ no território na- lecidas e regulamentadas (FAO, 2008; estado de São Paulo, EPAMIG, Embrapa
cional, na plataforma continental ou na ESTADOS UNIDOS, 2010). No Brasil, Arroz e Feijão, Universidade Federal de
zona econômica exclusiva. (BRASIL, tais especificações constam de uma lista Pelotas (UFPel) e Comissão Executiva
2001, art. 7, inciso I). de substâncias e práticas com uso aprova- para o Plano da Lavoura Cacaueira/
O órgão responsável por deliberar do para a agricultura orgânica, no anexo Centro de Pesquisas do Cacau (Ceplac/
sobre esta matéria e normatizar a questão VIII da Instrução Normativa no 64, de 18 Cepec). Essa rede de pesquisa funcionou
de acesso ao patrimônio genético e co- de dezembro de 2008 (BRASIL, 2008). na prática com o desenvolvimento de um
nhecimento tradicional é o Conselho de Em julho de 2009, o Decreto no 6.913, de projeto denominado: “Projeto Qualibio -
Gestão do Patrimônio Genético (CGEN), 23 de julho (BRASIL, 2009), adicionou Desenvolvimento de metodologia analítica
vinculado ao Ministério do Meio Ambiente alguns dispositivos ao Decreto no 4.074, e amostral para avaliação de conformidade
(MMA). de 4/1/2002 (BRASIL, 2002) e estabele- e da inocuidade de produtos comerciais
Apesar de complexo e, muitas vezes, ceu os procedimentos para o registro dos formulados à base de agentes microbianos
dispendioso, o Brasil possui um arcabouço produtos fitossanitários com uso aprovado de biocontrole”, financiado pelo Conselho
legal para a regulamentação da produção para a agricultura orgânica. Apesar dos Nacional de Desenvolvimento Científico
e do uso de produtos biológicos, o que avanços significativos na Legislação Fe- e Tecnológico (CNPq), em parceria com
garante ao setor produtivo regras claras e deral de Agrotóxicos, no Brasil, ainda não o MAPA. O principal objetivo da rede foi
igualitárias a todos e ao consumidor final há metodologias validadas para a análise estabelecer critérios, parâmetros e meto-
a certeza da disponibilidade de produtos de conformidade e controle de qualidade dologias para a avaliação da conformidade
seguros ao meio ambiente, à saúde hu- dos produtos. As informações contidas nos e da qualidade de produtos comerciais
mana e gerados sem uso exploratório da rótulos dos produtos comercializados são formulados à base de agentes microbianos
biodiversidade. parciais, confusas e contraditórias, o que de biocontrole. Mais especificamente, o
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projeto se propôs a selecionar e padronizar formulação pó de esporo e outra para as BETTIOL, W. et al. Produtos comerciais à
as metodologias de análises dos produtos demais formulações – pó molhável (PM), base de agentes de biocontrole de doen-
à base de agentes microbianos de biocon- suspensão concentrada (SC) e grânulos ças de plantas. Jaguariúna: Embrapa Meio
trole para fins de certificação, registro e dispersíveis em água (GRDA=WG). Ambiente, 2012. 155p. (Embrapa Meio Am-
biente, Documentos 88).
fiscalização desses insumos, bem como Além disso, foi desenvolvido o software
validar e publicar as propostas de méto- Calibra que registra e realiza os cálculos BRASIL. Decreto no 4.074, de 4 de janeiro
dos analíticos oficiais para avaliação da dos resultados obtidos. Esse software é de 2002. Regulamenta a Lei no 7.802, de
qualidade dos produtos à base de agentes 11 de julho de 1989, que dispõe sobre a
disponibilizado pela Embrapa Meio Am-
pesquisa, a experimentação, a produção, a
microbianos de biocontrole. Finalmente, biente9. Para avaliar a qualidade de pro-
embalagem e rotulagem, o transporte, o ar-
outro objetivo específico importante foi dutos à base de Bacillus foi desenvolvida
mazenamento, a comercialização, a propa-
treinar os atores envolvidos na cadeia. uma metodologia padrão de obtenção de ganda comercial, a utilização, a importação,
Os trabalhos envolveram levantamentos, unidades formadoras de colônias (UFCs) a exportação, o destino final dos resíduos
seleção, desenvolvimento e validação de e um programa para avaliar os resultados e embalagens, o registro, a classificação,
metodologias oficiais voltadas para esse gerados. Atualmente, a metodologia para o controle, a inspeção e a fiscalização de
importante segmento do agronegócio bra- a avaliação de contaminantes dos produtos agrotóxicos, seus componentes e afins e dá
sileiro, a fim de integrar não só aspectos biológicos está em processo de validação outras providências. Diário Oficial [da] Re-
mercadológicos, tecnológicos, científicos, pelas unidades executoras. pública Federativa do Brasil, Brasília, 8 de
organizacionais e ambientais, mas também jan. de 2002. Seção 1, p.1.
Foram realizados quatro treinamentos
de buscar atendimento às exigências dos relacionados com as metodologias com BRASIL. Decreto no 6.913, de 23 de julho
consumidores brasileiros e do mercado Trichoderma, três com Bacillus e três com de 2009. Acresce dispositivos ao Decreto
internacional. o software Calibra. As empresas produtoras no 4.074, de 4 de janeiro de 2002, que re-
Após a conclusão do Projeto Qualibio, gulamenta a Lei no 7.802, de 11 de julho
desses bioagentes estão utilizando as me-
observa-se que foram desenvolvidas e de 1989, que dispõe sobre a pesquisa, a ex-
todologias padronizadas para Trichoderma
perimentação, a produção, a embalagem e
validadas metodologias para avaliação da e Bacillus como rotina para monitorar a rotulagem, o transporte, o armazenamento,
qualidade dos principais produtos biológi- qualidade dos produtos e processos nas em- a comercialização, a propaganda comercial,
cos para o controle de doenças de plantas presas e durante a fase de comercialização. a utilização, a importação, a exportação, o
comercializados no Brasil, principalmen- O mesmo vem ocorrendo com os laborató- destino final dos resíduos e embalagens, o
te os produtos à base de Trichoderma, rios prestadores de serviços. Dessa forma, registro, a classificação, o controle, a ins-
Bacillus e Clonostachys, que são a base os objetivos do projeto foram alcançados e peção e a fiscalização de agrotóxicos, seus
para avaliar outros produtos contendo estão colaborando com o desenvolvimento componentes e afins. Diário Oficial [da]
bioagentes. Atenção especial foi dada do controle biológico no Brasil. Com base República Federativa do Brasil, Brasília, 24
ao treinamento de integrantes da cadeia, jul. 2009.
na análise dos resultados, fica clara a ne-
bem como a discussão com a sociedade cessidade do estabelecimento de padrões BRASIL. Lei no 6.938, de 31 de agosto de
sobre a situação do controle biológico e o mínimos para a avaliação da conformidade 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do
estímulo, para que as empresas registrem Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de
e da qualidade dos bioprodutos.
os seus produtos. Muitas considerações e formulação e aplicação, e dá outras provi-
resultados desse projeto estão disponíveis dências. Diário Oficial [da] República Fe-
AGRADECIMENTO derativa do Brasil, Brasília, 2 set. 1981.
na Embrapa Meio Ambiente8.
Foram desenvolvidas e validadas as À Fundação de Amparo à Pesquisa BRASIL. Lei no 7.802, de 11 de julho de
metodologias para a análise de produtos do Estado de Minas Gerais (Fapemig), à 1989. Dispõe sobre a pesquisa, a experi-
biológicos à base de Trichoderma, Bacillus Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado mentação, a produção, a embalagem e ro-
de São Paulo (Fapesp) e ao Conselho Na- tulagem, o transporte, o armazenamento, a
e Clonostachys nas formulações disponí-
cional de Desenvolvimento Científico e comercialização, a propaganda comercial,
veis no mercado brasileiro. Para os produ-
a utilização, a importação, a exportação, o
tos à base de Trichoderma e Clonostachys Tecnológico (CNPq).
destino final dos resíduos e embalagens, o
foram desenvolvidas metodologias para registro, a classificação, o controle, a ins-
avaliar o número de esporos, de unidades REFERÊNCIAS
peção e a fiscalização de agrotóxicos, seus
formadoras de colônias e a viabilidade BETTIOL, W. Biopesticide use and research componenetes e afins, e dá outras providên-
dos esporos. No caso de Trichoderma, in Brazil. Outlooks on Pest Management, cias. Diário Oficial [da] República Federa-
uma metodologia foi proposta para a v.22, n.6, p.280-284, Dec. 2011. tiva do Brasil, Brasília, 12 jul. 1989.

8, 9
Para consulta acessar: http://www.cnpma.embrapa.br

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BRASIL. Lei no 10.165, de 27 de dezembro Agrotóxicos Fitossanitários. Brasília, [2013]. JENKINS, N.E.; GRZYWACZ, D. Quali-
de 2000. Altera a Lei no 6.938, de 31 de Disponível em: <http://agrofit.agricultura. ty control of fungal and viral biocontrol
agosto de 1981, que dispõe sobre a Políti- gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_ agents: assurance of product performance.
ca Nacional do Meio Ambiente, seus fins e cons>. Acesso em: 22 mar. 2013. Biocontrol Science and Technology, v.10,
mecanismos de formulação e aplicação, e n. 6, p.753-777, Dec. 2000.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuá-
dá outras providências. Diário Oficial [da] ria e Abastecimento. Instrução Normativa LENTEREN, J.C. van. The state of commer-
República Federativa do Brasil, Brasília, 28 no 64, de 18 de dezembro 2008. Aprova o cial augmentative biological control: plenty
dez. 2000. Regulamento Técnico para os Sistemas of natural enemies, but a frustrating lack of
BRASIL. Medida Provisória no 2.186-16, de Orgânicos de Produção Animal e Vegetal. uptake. BioControl, v.57, n.1, p.1-20, Feb.
23 de agosto de 2001. Regulamenta o inciso Diário Oficial [da] República Federativa 2012.
II do §1o e o § 4o do art. 225 da Constituição, do Brasil, Brasília, 19 dez. 2008. Seção 1, PAULA JÚNIOR, T.J. de et al. Comercializa-
os arts. 1o, 8o, alínea “j”, 10, alínea “c”, 15 e p.21-26. ção de produtos biológicos para o controle
16, alíneas 3 e 4 da Convenção sobre Diver- ESTADOS UNIDOS. Environmental Pro- de doenças de plantas e pragas no Brasil. In-
sidade Biológica, dispõe sobre o acesso ao tection Agency. Regulating biopesticides. forme Agropecuário. Controle biológico de
patrimônio genético, a proteção e o acesso [S.l.], 2010. Disponível em: <http://www. pragas e plantas invasoras, Belo Horizonte,
ao conhecimento tradicional associado, a epa.gov/pesticides /biopesticides>. Acesso v.30, n.251, p.116-123, jul./ago. 2009.
repartição de benefícios e o acesso à tec- em: 25 mar. 2010. TEIXEIRA, H. et al. Conformidade e qua-
nologia e transferência de tecnologia para
FAO. Tecnologies and Pratices for Small lidade de produtos biológicos para o con-
sua conservação e utilização, e dá outras
Agricultural Producers. Registration in rest trole de doenças de plantas. In: VENZON,
providências. Diário Oficial [da] República
of world. Rome, [2008]. 138p. Disponível M.; PAULA JÚNIOR, T.J. de; PALLINI, A.
Federativa do Brasil, Brasília, 24 ago. 2001.
em: <http://teca.fao.org /sites/default/files/ (Coord.). Controle alternativo de pragas e
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária tecnology_files/5RegWorld.pdf>. Acesso doenças na agricultura orgânica. Viçosa,
e Abastecimento. AGROFIT: Sistema de em: 19 ago. 2013. MG: EPAMIG, 2010. p.101-115.

Pinhão-manso:
potencial e utilizações
O livro Pinhão-manso é o resultado de várias
décadas de pesquisa sobre a cultura, com
vistas ao conhecimento de seu potencial e
de suas utilizações. São abordados aspectos
como melhoramento genético, sistemas
de propagação, qualidade fisiológica de
sementes, doenças e pragas, colheita e
pós-colheita, extração do óleo e demais
produtos.

Mais informações:
publicacao@epamig.br
Tel. (31) 3489-5002

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Resistência de plantas daninhas em soja


resistente ao glifosato
Fernanda Satie Ikeda 1

Resumo - A resistência de plantas daninhas a herbicidas em lavouras de soja convencio-


nais vem sendo observada também em lavouras resistentes ao glifosato, em decorrência
do uso contínuo desse herbicida. São tratadas questões relacionadas com a resistência de
plantas daninhas ao glifosato, assim como o manejo preventivo, cultural e químico des-
sas espécies resistentes ou tolerantes. No manejo químico, são abordadas a dessecação, a
mistura em tanque na dessecação e na aplicação em pós-emergência, o manejo outonal e
de plantas Roundup Ready (RR) voluntárias.

Palavras-chave: Buva. Capim-amargoso. Dessecação. Mistura em tanque. Plantas RR


voluntárias. Tolerância.

INTRODUÇÃO 2011/2012 (CONAB, 2012). Estima-se meristemas, necrose e morte em alguns


que 21,4 milhões de hectares ou 85,3% dias ou semanas.
Diante da importância da sustentabi-
da área foram cultivados com cultivares Inicialmente, quando lançado, em
lidade na produção de alimentos, temas
resistentes ao glifosato, na safra 2011/2012 1974, o glifosato foi recomendado para o
relacionados com a defesa vegetal têm sido
abordados geralmente sem a necessária (CÉLERES, 2013). controle de plantas perenes, em seguida
profundidade e frequência. Um desses O glifosato é um herbicida não sele- para aplicações dirigidas, isto é, aplicações
temas diz respeito à resistência de plantas tivo, de amplo espectro, aplicado em direcionadas para as plantas daninhas, e, na
daninhas a herbicidas, problema que vem pós-emergência para controlar espécies década de 1980, para o controle de plan-
sendo agravado com o uso frequente do de plantas daninhas anuais e perenes, de tas daninhas anuais e uso em semeadura
glifosato, em cultivares de soja resistentes folhas largas ou estreitas. Esse herbicida direta. Com a união dos conhecimentos
a esse herbicida. age inibindo a enzima 5-enol-piruvil- sobre engenharia genética e do modo de
Neste artigo será abordada, especifica- shiquimato-3-fosfato sintase (EPSPs), na ação do glifosato, isolou-se um gene da
mente, a questão da resistência de plantas rota de síntese dos aminoácidos aromáticos bactéria do solo Agrobacterium spp., para
daninhas em lavouras de soja resistentes essenciais tanto para o crescimento quanto inserção em plantas de soja. Esse gene,
ao glifosato. No âmbito de discussões que para a sobrevivência das plantas: fenilala- também conhecido como cp4-epsps, con-
envolvem a defesa vegetal, salienta-se que nina, tirosina e triptofano, precursores de fere às plantas resistência à aplicação em
várias medidas de segurança são necessá- outros produtos, como lignina, alcaloides, pós-emergência do glifosato, por causa
rias para garantir a produção de alimentos flavonoides e ácidos benzoicos. A enzima da modificação que proporciona na en-
com qualidade e sustentabilidade. EPSPs apresenta elevado nível de conser- zima EPSPs (BORÉM, 2005). Com isso,
vação, o que proporciona ao glifosato a obteve-se a soja transgênica resistente ao
CULTURA DA SOJA E O capacidade de controlar praticamente todos glifosato ou soja Roundup Ready (RR),
GLIFOSATO os tipos de plantas, variando apenas a dosa- com lançamento no mercado americano
A soja [Glycine max (L.) Merr.] é uma gem, o que o torna bastante útil no manejo em 1996 (HALTER, 2009).
das culturas agrícolas mais importantes do de áreas com comunidade diversificada de No final dos anos 90, o glifosato foi
Brasil, com área cultivada de, aproximada- plantas daninhas (VELINI et al., 2009). registrado para canola, algodão, milho e
mente, 25 milhões de hectares e produção Os sintomas resultantes de sua aplicação soja resistentes ao herbicida. Nessa época,
de 68,8 milhões de toneladas, na safra nas plantas incluem amarelecimento dos iniciaram-se os estudos com resistência a

1
Enga Agra, D.Sc., Pesq. EMBRAPA Agrossilvipastoril, Caixa Postal 343, CEP 78550-970 Sinop-MT. Correio eletrônico: fernanda.ikeda@embrapa.br

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pragas, com o uso de genes de Bacillus ternacional Herbicides Resistance Action glifosato, tem-se verificado a semeadura de
thuringiensis (Bt) que levam à produção Committee – (HRAC-BR, 2013), foram cultivares de milho Bt com o gene RR na
de proteínas tóxicas a lagartas (HALTER, registrados, até o momento, 24 casos de sucessão à soja RR, aumentando ainda mais
2009). A inserção dos genes RR e Bt re- resistência no País. Entre os registros em a pressão de seleção de espécies tolerantes
sultou na segunda geração de transgênicos, áreas de soja não transgênica, os herbicidas e/ou resistentes ao glifosato. Com o uso
aqueles que associam duas características, que inibem a enzima ALS apresentaram contínuo de glifosato em soja RR, foram
sendo realizada primeiramente na cultura maior número de espécies com biótipos identificados biótipos resistentes ao glifo-
do milho. Na cultura da soja, o lançamento resistentes [Bidens pilosa L. (picão-preto), sato de Conyza canadensis (buva) (Fig. 1)
da cultivar Intacta RR2, com genes RR e Bt B. subalternans DC. (picão-preto), E. e Conyza bonariensis (buva), em 2005,
(em referência às cultivares RR anteriores), heterophylla L. (leiteiro) e Parthenium Conyza sumatrensis (buva) e Digitaria
no Brasil, está previsto para a próxima sa- hysterophorus L. (losna-branca)]. Além insularis (capim-amargoso), em 2008. Ca-
fra, caso ocorra sua aprovação no mercado disso, foram encontrados biótipos resis- sos de resistência com buva (C. canadensis
chinês, maior país consumidor de soja do tentes a herbicidas que inibem a enzima e C. bonariensis) já foram identificados
mundo. Recentemente, pesquisas vêm acetil coenzima A carboxilase (ACCase) nos estados do Paraná, Rio Grande do Sul,
sendo conduzidas para o desenvolvimento de Brachiaria plantaginea Hitchc. (papuã), Mato Grosso do Sul e São Paulo, enquanto
da terceira geração de transgênicos de soja Digitaria ciliaris (Retz.) Koeler (capim- que a resistência de C. sumatrensis foi
com resistência aos herbicidas glifosato e colchão) e Eleusine indica (L.) Gaertn. observada no Paraná. Já D. insularis tem
dicamba (mimetizador de auxinas), além (capim-pé-de-galinha), assim como bióti- apresentado resistência em vários locais
de soja com ômega 3 e também a ‘Vistive pos com resistência múltipla, ou seja, com do Paraná, Mato Grosso do Sul e no Para-
Gold’, que produz óleo com pouca gordura resistência a mais de um herbicida, com guai. Assim, acredita-se que o mecanismo
saturada, vislumbrando um futuro com o mecanismos de ação diferentes: picão- envolvido na resistência ao glifosato esteja
uso dessas tecnologias. preto (B. subalternans) (inibidores de ALS relacionado com a translocação reduzida
e inibidores do fotossistema II) e leiteiro do herbicida nas zonas meristemáticas das
RESISTÊNCIA DE PLANTAS (E. heterophylla) - inibidores de ALS e plantas ou pela alteração no sítio de ação
DANINHAS A HERBICIDAS protoporfirinogênio oxidase (PROTOX). do herbicida na planta.
No Brasil, desde a liberação oficial de Além dos biótipos resistentes, tem-se
A resistência a herbicidas pode ser
cultivares de soja RR, em 2005, houve um observado também a seleção de espécies
conceituada como:
aumento considerável na área semeada tolerantes ao glifosato nos cultivos comer-
A capacidade inerente e herdável de com essas cultivares na safra 2011/2012 ciais de soja RR. A tolerância, definida
alguns biótipos dentro de uma determi- (CÉLERES, 2013). Pode-se dizer que como baixa suscetibilidade característica
nada população, de sobreviver e se re- essa adoção em massa é resultante em de uma espécie, tem sido observada em
produzir após a exposição à dose de um grande parte da flexibilidade do glifosato relação ao glifosato, principalmente em
herbicida, que normalmente seria letal a ao controlar plantas daninhas em diversos espécies de folhas largas e em estádios
uma população normal (suscetível) da estádios de desenvolvimento. Além disso, mais avançados de desenvolvimento das
mesma espécie. (CHRISTOFFOLETI; acredita-se que várias áreas produtoras de espécies: Commelina benghalensis L.
LÓPEZ OVEJERO, 2008) soja com casos de resistência a herbicidas (trapoeraba), Spermacoce latifolia Aubl.
O termo biótipo pode ser conceituado com mecanismos de ação diferentes do (erva-quente), Chloris polydactyla Sw.
como: glifosato tenham sido beneficiadas com a (capim-de-rhodes), Richardia brasiliensis
entrada das cultivares de soja RR, o que Gomes (poaia-branca), Chamaesyce hirta
Grupo de indivíduos com carga gené-
possibilitou o uso de glifosato no manejo (L.) Millsp. (erva-de-santa-luzia), Tridax
tica semelhante, pouco diferenciada
desses biótipos resistentes durante o culti- procumbens L. (erva-de-touro), Ipomoea
daquela de indivíduos de outros grupos,
vo da soja e a chamada “limpeza” dessas spp. (corda-de-viola), Synedrellopsis
numa espécie. (KISSMANN, 2013).
áreas. grisebachii Hieron. & Kuntze (agriãozi-
No Brasil, o primeiro registro oficial Nas áreas de produção de soja RR, vem- nho), Alternanthera tenella Colla. (apaga-
de resistência à herbicida com mecanismo se observando o uso contínuo e exclusivo fogo), Sorghum halepense (L.) Pers.
de ação que inibe a enzima acetolactato do glifosato. Assim, além da dessecação em (capim-massambará), E. heterophylla (lei-
sintase (ALS) ocorreu em 1992, em plantas pré-semeadura da soja, efetua-se também a teiro) e espécies do gênero Conyza (buva).
de Euphorbia heterophylla L. (leiteiro). aplicação única ou com a segunda aplica- No caso de C. benghalensis, sabe-se que a
De acordo com a Associação Brasileira de ção do herbicida, denominada sequencial. tolerância ao glifosato deve-se à absorção
Ação à Resistência de Plantas Daninhas Recentemente, com a liberação das culti- diferencial e ao metabolismo do herbicida
aos Herbicidas – integrante do grupo in- vares de milho transgênico resistentes ao pela planta daninha (MONQUERO et al.,
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os problemas causados pela resistência


e as formas de evitá-la são consideradas
primordiais, assim como a chamada pró-
atividade do produtor ou técnico respon-
sável em manejar as plantas daninhas de
forma preventiva, ou seja, manejando as
áreas para evitar ou retardar o surgimento
da resistência.
A resistência geralmente passa a ser
percebida na área, quando se atinge a fre-
quência crítica de 30% de plantas resisten-
tes, ocorrendo normalmente em reboleiras
que aumentam de tamanho com a aplicação
repetitiva do herbicida até dominar a área
(CHRISTOFFOLETI; LÓPEZ OVEJERO,

Francielle Dal’Maso
2008). A partir daí, tem-se, como conse-
quência, maior dificuldade no controle,
aumento do uso de herbicidas e do custo
de produção, com possíveis perdas na
produtividade (GAZZIERO et al., 2013).
Figura 1 - Lavoura de soja infestada com buva (Conyza spp.)
Tanto para o manejo da resistência como
para o manejo preventivo, preconiza-se a
2004), enquanto em Ipomoea grandifolia, a com a inibição da enzima ALS – parceria modificação constante nas práticas de ma-
tolerância deve-se à menor translocação do entre Empresa Brasileira de Pesquisa nejo adotadas, para reduzir a população de
herbicida pela planta daninha. No entanto, Agropecuária (Embrapa) e Basf – e o biótipos resistentes no primeiro caso e para
outros estudos devem ser realizados com 2,4-D, classificado como mimetizador de reduzir a pressão de seleção de biótipos
relação aos mecanismos de resistência ou auxinas (Dow AgroSciences). As cultivares resistentes no segundo (CHRISTOFFO-
tolerância das demais espécies. Deve-se STS de soja da Cooperativa Central de LETI; LÓPEZ OVEJERO, 2008).
lembrar que os biótipos suscetíveis de Pesquisa Agrícola (Coodetec), tolerantes
Manejo preventivo e
buva também não são controlados com a às sulfonilureias, grupo químico que tam-
cultural da resistência de
aplicação de glifosato, quando as plantas bém inibe a enzima ALS, já se encontram
plantas daninhas
apresentam mais de 15 cm, não se tratando, disponíveis no mercado, enquanto que
as cultivares resistentes ao glifosato e Entre as práticas recomendadas, inclui-
nesses casos, de resistência ao glifosato.
ao dicamba, também classificado como se, primeiramente, o emprego de medidas
MANEJO DE PLANTAS mimetizador de auxinas (parceria entre preventivas, como o uso de sementes não
DANINHAS RESISTENTES Monsanto e Basf), devem ser lançadas nos contaminadas com plantas daninhas e a
AO GLIFOSATO Estados Unidos na próxima safra. Assim, limpeza de implementos, em especial de
na escolha dessas novas cultivares, deve-se colheitadeiras (KISSMANN, 2013) trazi-
Ao longo dos últimos anos, após o lan- das de regiões com histórico de resistência
observar, no histórico da área, a ocorrência
çamento da soja RR, vem-se observando de casos anteriores de resistência aos her- para outras áreas e/ou regiões sem o pro-
uma tendência de várias empresas produ- bicidas inibidores de ALS, caso pretenda blema. Isso pode ser um meio de entrada
toras de agrotóxicos adquirirem empresas semear cultivares com resistência a esse de sementes de biótipos resistentes de
produtoras de sementes, bem como uma mecanismo de ação e a outros. espécies como a buva (Conyza spp.) e o
corrida para a obtenção da tecnologia RR e Vale ressaltar que os problemas com capim-amargoso (D. insularis).
do investimento em biotecnologia. Assim, tolerância e resistência, encontrados com O controle cultural é outro método que
diante das dificuldades encontradas no o uso frequente do glifosato, também são deve ser considerado. Pode ser obtido por
manejo de plantas daninhas com glifosato, esperados para as cultivares resistentes a meio do manejo adequado da cultura, para
vêm sendo também desenvolvidas cultiva- outros herbicidas, caso venham a ser uti- seu rápido estabelecimento, tornando-a
res de soja resistentes a outros herbicidas, lizadas, sem considerar outras formas de mais competitiva em relação às plantas da-
como as imidazolinonas, grupo químico manejo de plantas daninhas e o uso correto ninhas. Além disso, sabe-se que o sistema
cujo mecanismo de ação está relacionado de herbicidas. A conscientização sobre de preparo do solo também pode influen-
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ciar a comunidade de plantas daninhas. Manejo químico da próximo à data de semeadura. No entanto,
Assim, pode-se citar a adoção do sistema resistência de plantas na dessecação tem sido frequente o uso
de semeadura direta como benéfica para o daninhas da mistura em tanque de glifosato com
controle de trapoeraba (C. benghalensis), No manejo químico, tem-se como 2,4-D nas áreas infestadas com trapoe-
quando comparada aos sistemas de prepa- parte do manejo preventivo e do manejo raba (Commelina spp.) e corda-de-viola
ro convencional do solo, proporcionando da resistência, fazer a aplicação, conforme (Ipomoea spp.). Nesses casos, a aplicação
maiores taxas de redução anual do banco de as recomendações para o produto. Outro de glifosato com carfentrazone-ethyl é
sementes da espécie. Ao contrário, a buva aspecto importante seria o uso rotacio- uma alternativa. Outros herbicidas para o
(C. canadensis e C. bonariensis) geralmen- nado de herbicidas com mecanismos de manejo da resistência, passíveis de utili-
te ocorre em sistemas conservacionistas ação diferenciados. Essa rotação deve ser zação na dessecação em mistura com gli-
do solo, como na semeadura direta e no feita preferencialmente em conjunto com fosato, são chlorimuron-ethyl, diclosulam,
cultivo mínimo. a rotação de culturas (KISSMANN, 2013), imazethapyr e s-metolachlor. Em áreas
Pode-se citar também, como alterna- embora os dois tipos não sejam práticas com cobertura do solo pela infestação
tiva de manejo, o consórcio de milho muito adotadas. Nas áreas com soja RR, a maior do que 50%, recomendam-se duas
safrinha com forrageiras [Ex.: cultivares rotação de herbicidas com diferentes me- aplicações para que não ocorra redução
de Urochloa decumbens (sin. Brachiaria canismos de ação é difícil de ser seguida, de crescimento e de produtividade da soja
decumbens), U. brizantha (sin. B. principalmente, pela associação entre as (CONSTANTIN et al., 2009). A mistura
brizantha) e U. ruziziensis (B. ruziziensis)], cultivares de soja RR e o uso de glifosato. de glifosato + 2,4-D pode ser aplicada em
ou mesmo a formação de pastagem com Nesse caso, pode-se considerar a semea- dessecação antecipada, que consiste na
braquiárias em rotação com a soja. As dura de soja convencional, embora não aplicação de herbicidas sistêmicos, 15 a
pastagens proporcionam a supressão das apresente diferenças significativas de ciclo, 20 dias antes da aplicação sequencial de
plantas daninhas e a redução de seu banco tratos culturais ou períodos de convivência, herbicidas de contato (CONSTANTIN
de sementes (IKEDA et al., 2007), como pois deve utilizar obrigatoriamente outros et al., 2005). Tais herbicidas podem não
resultado da cobertura do solo pelas plantas herbicidas, sem incluir o glifosato. Por ter efeito residual como o paraquat, por
e da produção de compostos alelopáticos outro lado, o milho transgênico resistente exemplo, ou apresentar residual como o
pelas forrageiras. ao glifosato, apesar de ser outra cultura, flumioxazin. Outra opção que também
No sul do Brasil, pode-se semear tam- não poderia ser considerado na rotação de apresenta ação de contato e efeito residual
bém aveia-preta ou trigo na entressafra, herbicidas por empregar o mesmo herbi- é a mistura comercial de paraquat + diuron.
para auxiliar no controle de capim-amar- cida que a soja RR. Por causa da demora na dessecação com
goso e de buva (GAZZIERO et al., 2013). De acordo com a Associação Brasilei- duas aplicações, podem-se ter uma desse-
No caso da aveia, o controle das plantas ra dos Defensivos Genéricos (AENDA, cação mais rápida e o controle do primeiro
daninhas ocorre por meio da cobertura do 2013), a mistura em tanque, prática fluxo de infestação de plantas daninhas na
solo, além de ter sido observado também comumente realizada nas aplicações de cultura, com a aplicação da mistura de gli-
em alguns trabalhos científicos o efeito agrotóxicos, não tem necessidade de fosato com flumioxazin (JAREMTCHUK
alelopático proporcionado pela palhada de registro, sendo uma prática agrícola de et al., 2008).
aveia-preta (BORTOLUZZI; ELTZ, 2001). responsabilidade do produtor. No entanto, Um exemplo de dessecação antecipada
Conforme Sidnei D. Cavalieri2, o cultivo diante do grande número de combinações recomendada seria nas áreas com biótipos
de trigo antes da semeadura da soja pode e da impossibilidade de saber os efeitos de buva suscetíveis (com mais de 15 cm) ou
ser uma alternativa no controle de buva, de todas as combinações possíveis, ge- resistentes, onde se pode aplicar a mistura
pois possibilita a aplicação em pós-emer- ralmente não se aconselha ao técnico a de glifosato + 2,4-D, seguida da aplicação
gência de 2,4-D ou metsulfuron-methyl, os recomendação de misturas desconhecidas. sequencial da mistura comercial de para-
quais proporcionam o controle da espécie. Assim, geralmente aplicam-se misturas quat + diuron ou de amônio-glufosinato
Além disso, a semeadura mais tardia do em tanque de glifosato com herbicidas de (Fig. 2). Nesse caso, a primeira aplicação
trigo em relação ao milho propicia redução outros mecanismos de ação na dessecação também poderia ser realizada com a mis-
do intervalo de tempo entre a colheita da para a semeadura direta e para o manejo tura de glifosato com metsulfuron-methyl,
cultura de entressafra e a semeadura da da resistência. Se a infestação na área for observando-se o intervalo de 60 dias entre a
soja, favorecendo o controle de buva, por baixa, pode-se efetuar apenas uma desse- aplicação e a semeadura da soja (GAZZIE-
causa da cobertura do solo. cação no chamado sistema Aplique-Plante, RO, ADEGAS; VOLL, 2008). Entre outros

2
Pesquisador da Embrapa Hortaliças, Brasília-DF, que informou em 22 de fevereiro de 2013.

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A B

Fotos: Francielle Dal’Maso


C D
Figura 2 - Dessecação de biótipos resistentes de buva (Conyza spp.) em estádio reprodutivo – parcelas demonstrativas em dia de campo
da Coamo Agroindustrial Cooperativa/Embrapa
NOTA: A - Com glifosato + 2,4-D; B - Com glifosato + 2,4-D com sequencial de paraquat + diuron; C - Com glifosato + 2,4-D com
sequencial de amônio-glufosinato; D - Testemunha sem aplicação de herbicida.

herbicidas para o controle de biótipos resis-


tentes e suscetíveis dessas espécies tem-se
divulgado o uso do herbicida saflufenacil,
inibidor da PROTOX, em aplicação única
ou sequencial em mistura em tanque com
o glifosato (Fig. 3).
Na dessecação de capim-amargoso
(D. insularis), plantas com três a quatro
perfilhos são mais bem controladas do que
plantas entouceiradas (Fig. 4). A aplicação
nas dosagens recomendadas em plantas
entouceiradas proporciona rebrotas das
plantas, necessitando de dosagens de 50%
Francielle Dal’Maso

a 80% superiores, chegando muitas vezes


ao dobro da dose, seguida de aplicação
sequencial (GAZZIERO et al., 2013).
O controle em pós-emergência da soja
RR com o glifosato é recomendado entre o Figura 3 - Controle de buva (Conyza spp.) em estádio reprodutivo com o herbicida
período de 20 a 45 dias após a emergência saflufenacil

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A B

C D

Fotos: Francielle Dal’Maso

E F
Figura 4 - Controle de biótipos resistentes de capim-amargoso (Digitaria insularis) – parcelas demonstrativas em dia de campo da
Coamo Agroindustrial Cooperativa/Embrapa
NOTA: A - Com glifosato e 2,4-D; B - com glifosato e 2,4-D com sequencial de paraquat + diuron; C - Com glifosato e clethodim;
D - Com glifosato e clethodim com sequencial de paraquat + diuron; E - Com glifosato, 2,4-D e clethodim; F - Com glifosato,
2,4-D e clethodim com sequencial de paraquat + diuron.
Parcelas da direita aplicadas, quando as plantas apresentavam de três a quatro perfilhos, 20 dias antes das parcelas à
esquerda. Testemunha sem aplicação de herbicida na parte posterior das placas.

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(DAE) da cultura, variando conforme as pressão de infestação em cultivos de verão CONSIDERAÇÕES FINAIS
espécies a ser controladas, o tamanho ou como os da soja.
Antes das cultivares de soja RR, fala-
estádio de desenvolvimento e o nível de Manejar as plantas daninhas na pré-
va-se apenas da dificuldade de obter novas
infestação da área (RODRIGUES; AL- colheita e/ou pós-colheita, também cha- moléculas e do longo período entre a des-
MEIDA, 2011). Em áreas com alto nível de mado manejo outonal, seria um modo coberta do composto químico e a produção
infestação deve-se fazer aplicação sequen- de impedir ou reduzir a produção de em escala comercial (CONCEIÇÃO,
cial para melhor controle, sendo a primeira sementes dessas espécies, sendo uma 2008). Atualmente, pode-se falar na
até 20 DAE e, a segunda, com um intervalo prática recomendada para o manejo de inviabilidade de utilizar cultivares com
de 15 a 20 dias após a primeira aplicação. buva (Conyza spp.) e capim-amargoso (D. resistência a herbicidas, caso as plantas
Com a ocorrência de espécies toleran- insularis) resistentes, que se desenvolvem daninhas adquiram também resistência
tes e resistentes ao glifosato, tem-se pre- na entressafra. As buvas produzem um a esses produtos. Levando-se em conta
conizado a mistura em tanque do glifosato elevado número de sementes (aquênios), a incidência, cada vez maior, de plan-
com herbicidas de mecanismo de ação sendo que C. bonariensis apresenta uma tas daninhas tolerantes e resistentes ao
diferentes na pós-emergência da soja RR. produção estimada de até 100 mil se- glifosato e a dificuldade no seu manejo,
Tais misturas podem levar ao antagonismo mentes por planta e C. canadensis de, deve-se considerar a possibilidade de ser
entre os produtos em mistura (a ação da aproximadamente, 200 mil sementes por semeadas cultivares convencionais de
mistura é inferior à soma das qualidades in- planta (KISSMANN; GROTH, 1999). soja, como forma de rotacionar herbici-
dividuais de cada formulação), sinergismo Além disso, tanto a buva, como o capim- das com diferentes mecanismos de ação.
(a ação da mistura é superior à soma das
amargoso, são espécies transportadas
qualidades individuais de cada formulação)
pelo vento por longas distâncias, por isso REFERÊNCIAS
ou mesmo apenas ao efeito aditivo (a ação
mantê-las na entressafra pode resultar na AENDA. Mistura ou não mistura? São
da mistura de produtos é a soma das qua- Paulo, [2013]. Disponível em: <http://www.
sua maior disseminação.
lidades individuais de cada formulação). aenda.org.br/index.php?option=com_
No caso das misturas com glifosato, têm Manejo de plantas RR content&view=article&id=61:mistura-ou-
sido observados antagonismos no controle voluntárias nao-mistura&catid=19&Itemid=116>.
de algumas espécies de plantas daninhas, Acesso em: 20 fev. 2013.
O controle da soja voluntária, ou po-
embora outras espécies possam ser mais ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE AÇÃO À
pularmente soja tiguera, é muitas vezes RESISTÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS
bem controladas. Esse efeito, em geral,
necessário após a colheita, para manter o AOS HERBICIDAS - HRAC-BR. Registros:
é mais observado quando se empregam
vazio sanitário. Tal controle pode ser reali- casos de resistência registrados. Paulínea,
dosagens menores de glifosato. Além
zado com a aplicação de paraquat+diuron, [2013]. Disponível em: <http://www.hrac-br.
disso, deve-se considerar que o efeito das com.br/registros.html>. Acesso em: 15 fev.
diquat, diquat+paraquat, assim como com
misturas com glifosato depende da espé- 2013.
cie e do estádio de desenvolvimento da atrazine+óleo, mesotrione+atrazine+óleo,
BORÉM, A. Variedades transgênicas e meio
planta daninha, da formulação de glifosato nicosulfuron+atrazine+óleo no cultivo
ambiente: segurança ambiental das varie-
utilizada, do herbicida em mistura e das de milho de entressafra (GAZZIERO;
dades comerciais. Biotecnologia Ciência &
dosagens dos herbicidas em mistura. Outro ADEGAS; VOLL, 2008). Fato recente Desenvolvimento, n. 34, p. 91-99, jan./jun.
fator a ser considerado é que a seletividade observado em diversas lavouras de soja 2005.
das misturas pode variar com a cultivar, no estado de Mato Grosso tem sido a ocor- BORTOLUZZI, E.C.; ELTZ, F.L.F. Manejo da
o estádio fenológico da soja e a dosagem rência de milho voluntário, proveniente da palha de aveia preta sobre as plantas dani-
dos herbicidas. colheita de milho Bt sem o gene RR, que nhas e rendimento de soja em semeadura
não tem sido controlado com a aplicação de direta. Ciência Rural, Santa Maria, v.31,
De acordo com Gazziero, Adegas e Voll
n.2, p.237-243, mar./abr. 2001.
(2007), o controle de plantas daninhas deve glifosato nas áreas de soja RR. Acredita-se
ser realizado durante o ano todo, pois tanto que, nesse caso, tenha ocorrido polinização CÉLERES. Relatório biotecnologia. Uber-
cruzada com cultivares de milho resistentes lândia, [2013]. 7p. Disponível em: <http://
o pousio na entressafra, como a falta de ma-
www.celeres.com.br/1/imprensa/2011/
nejo ou o controle inadequado nos cultivos ao glifosato ou mesmo que tenha ocorrido
RelBiotecBrasil_1103.pdf>. Acesso em: 18
de entressafra, comumente denominados mistura de sementes. A alternativa, nesse fev. 2013.
safrinha, possibilitam o desenvolvimento caso, tem sido a aplicação de herbicida que
CHRISTOFFOLETI, P.J.; LÓPEZ OVEJERO,
de plantas daninhas que vegetam durante o inibe a enzima ACCase, além da aplicação R.F. Resistência das plantas daninhas a
ano todo e sua produção de sementes. Com com glifosato, aumentando-se os custos herbicidas: definições, bases e situação no
isso, aumentam-se o banco de sementes e a de produção. Brasil e no mundo. In: CHRISTOFFOLETI,

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de plantas daninhas no desenvolvimento e mas de manejo sobre a velocidade de des- VELINI, E.D. et al. Modo de ação do glypho-
na produtividade da soja. Bragantia, Cam- secação, infestação inicial de plantas dani- sate. In: VELINI, E.D. (Ed.). Glyphosate. Bo-
pinas, v.68, n.1, p.125-135, 2009. nhas e desenvolvimento e produtividade da tucatu: FEPAF, 2009. p.113-134.

Oliveira no Brasil: tecnologias de produção


O livro Oliveira no Brasil: tecnologias de produção aborda temas
que vão desde a distribuição da oliveira na América Latina,
história de sua introdução em Minas Gerais, considerações
sobre mercado consumidor, botânica, anatomia, aplicações
de técnicas modernas de biotecnologia e marcadores
moleculares, variedades mais plantadas nos países produtores,
registro e proteção de cultivares, pragas, doenças, poda,
adubação, até o preparo de azeitonas para mesa, extração de
azeite de oliva, índices de qualidade e legislação pertinente,
e ainda vantagens do azeite de oliva para a saúde humana.

publicacao@epamig.br
(31) 3489-5002

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66 Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio

Desafios fitossanitários para a produção de soja


Ana Cristina Pinto Juhász 1
Gilda Pizzolante de Pádua 2
Dulândula Silva Miguel Wruck 3
Luciany Favoreto 4
Neucimara Rodrigues Ribeiro 5

Resumo - A produtividade da soja vem aumentando ao longo dos anos e está associada
aos avanços tecnológicos, ao manejo da cultura e à eficiência dos produtores. Como as
demais culturas, a soja enfrenta problemas fitossanitários que podem comprometer a
produtividade, bem como a qualidade final do produto. Alguns desses problemas têm
causado perdas consideráveis ao Brasil e trazido, à tona, discussões que envolvem a defesa
vegetal. A ferrugem-asiática é uma das doenças que mais têm causado danos à cultura, nas
diversas regiões onde tem sido relatada. O mofo-branco, apesar de ser uma das doenças
mais antigas da cultura da soja, requer medidas integradas de controle. Com a intensifi-
cação da monocultura e a adoção de práticas inadequadas de manejo, a soja tem sofrido
perdas significativas causadas por nematoides. São cinco as espécies que causam danos
consideráveis. Um dos aspectos de grande relevância para a cultura é o uso de sementes
certificadas, o que, com outras tecnologias de manejo fitossanitário, contribui para garantir
a produção sustentável de soja.

Palavras-chave: Glycine max. Ferrugem-asiática. Mofo-branco. Nematoide. Semente.

INTRODUÇÃO na alimentação humana encontra-se em internacional, várias medidas de segurança


franco crescimento. devem ser implementadas nas próprias
A soja (Glycine max) é a cultura agrícola
Como as demais culturas, a soja en- regiões produtoras. Nesse cenário, o estado
brasileira que mais cresceu nas últimas três
décadas. Corresponde a 49% da área plan- frenta diversos problemas fitossanitários de Minas Gerais tem-se destacado pela
que podem comprometer a produtividade, atuação na pesquisa e na implementação
tada em grãos no País (BRASIL, 2013b),
bem como a qualidade final do produto. de programas de defesa.
chegando a 25 milhões de hectares planta-
dos, com produtividade de 66,4 milhões de Atualmente, podem-se destacar como pro-
POTENCIAIS DOENÇAS
blemas mais comuns, a ferrugem-asiática,
toneladas, na safra 2011/2012 (CONAB, DA SOJA
2012). O aumento da produtividade está o mofo-branco, os nematoides e a quali-
associado aos avanços tecnológicos, ao dade fisiológica e sanitária das sementes Ferrugem-asiática
manejo e à eficiência dos produtores. O produzidas. Algumas dessas doenças têm A ferrugem-asiática da soja, causada
grão é a principal fonte de proteína vege- causado perdas consideráveis no Brasil e pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, é uma
tal, componente essencial na fabricação trazido, à tona, discussões que envolvem a das doenças mais severas que incidem na
de ração animal. Além disso, seu uso defesa vegetal. Além da ênfase no mercado cultura da soja, com danos que variam de

Enga Agra, D.Sc., Pesq. EPAMIG Triângulo e Alto Paranaíba/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 311, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio ele-
1

trônico: ana.juhasz@epamig.br
Enga Agra, D.Sc., Pesq. EMBRAPA/EPAMIG Triângulo e Alto Paranaíba, Caixa Postal 311, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico:
2

gilda.padua@embrapa.br
3
Enga Agra, D.Sc., Pesq. EMBRAPA Agrossilvipastoril, Caixa Postal 343, CEP 78550-970 Sinop-MT. Correio eletrônico: dulandula.wruck@embrapa.br
4
Enga Agra, D.Sc., Pesq. EPAMIG Triângulo e Alto Paranaíba/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 311, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico:
luciany@epamig.br
5
Bióloga, D.Sc., Pesq. DONMARIO SEMENTES, CEP 86050-460 Londrina-PR. Correio eletrônico: nribeiro@donmario.com

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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 67

10% a 90% nas diversas regiões produtoras, lha precoce, o que compromete a formação, com uma lupa de 10x a 30x de aumento ou
onde foi relatada (SINCLAIR; HART- o enchimento de vagens e o peso final do em microscópio estereoscópico, a presença
MAN, 1999; YORINORI et al., 2005). A grão. Quanto mais cedo ocorrer a desfolha, de urédias. Outro método utilizado para
doença é favorecida por chuvas bem distri- menor será o tamanho do grão e, conse- visualizar a presença do fungo nas lesões,
buídas e longos períodos de molhamento. A quentemente, maior a perda na produção e vistas pela face inferior da folha, é coletar
temperatura ótima para a infecção varia de na qualidade do grão (YANG et al., 1991). folhas suspeitas de terem a ferrugem,
18 °C a 26,5 °C (EMBRAPA SOJA, 2011). Para visualizar as lesões, deve-se to- colocá-las em saco plástico antes que mur-
Os sintomas iniciais da doença são peque- mar uma folha com suspeita dos sintomas chem e mantê-las em incubação, em local
nas lesões foliares, de coloração castanha a iniciais da doença e observá-la através do fresco, por um período de 12 a 24 horas.
marrom- escura. Na face inferior da folha, limbo foliar pela face superior (adaxial), Caso a umidade do ambiente, no momento
podem- se observar urédias, que são estrutu- contra um fundo claro, por exemplo, o céu. da coleta, seja muito baixa, borrifar um
ras que produzem os esporos (uredósporos) Uma vez localizado o ponto escuro suspei- pouco de água sobre as folhas ou colocar
(Fig. 1) (EMBRAPA SOJA, 2011). Plantas to (1-2 mm de diâmetro), observá-lo na um pedaço de papel ou algodão umedecido
severamente infectadas apresentam desfo- face inferior (abaxial) da folha, e verificar, para mantê-las túrgidas. Não colocar folhas
com excesso de umidade no saco plástico.
Após o período de incubação, observar a
presença de urédias com o auxílio de lupa
(EMBRAPA SOJA, 2011).
A disseminação da ferrugem é feita
principalmente pela dispersão dos uredós-
poros pelo vento. A doença não é transmi-
tida por sementes.
Para reduzir o risco de danos à cultura,
as estratégias de manejo recomendadas no
Brasil para essa doença são (EMBRAPA
SOJA, 2011):
Dulândula S.M. Wruck

a) respeitar o período do vazio sanitário


(Fig. 2);
b) utilizar cultivares de ciclo precoce
e semeaduras no início da época re-
A
comendada, para que a cultura fique
menos tempo exposta ao patógeno;
c) eliminar plantas voluntárias de soja
e o cultivo na entressafra, respeitan-
do a época do vazio sanitário, de 60
a 90 dias, com o objetivo de reduzir
a quantidade de inóculo nos cultivos
da safra de verão, pois o fungo é um
parasita obrigatório e só sobrevive
em hospedeiros vivos;
d) monitorar a lavoura desde o início
do desenvolvimento da cultura;
e) utilizar fungicidas registrados no
José Tadashi Yorinori

Ministério da Agricultura, Pecuária


e Abastecimento (MAPA), preven-
tivamente ou assim que aparecerem
B os sintomas;
Figura 1 - Urédias de ferrugem-asiática f) utilizar cultivares resistentes, quan-
NOTA: A - Urédias na parte inferior da folha; B - Visualização por lupa. do disponíveis.
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68 Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio

vagens. Alta umidade relativa e temperatu-


ESTADO JUNHO JULHO AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO
15 1 31 15 15 15
ras amenas favorecem o desenvolvimento
do fungo. Escleródios caídos no solo, com
Tocantins
alta umidade e temperatura entre 10 ºC e
Maranhão 21 ºC, germinam e desenvolvem apoté-
Bahia cios na superfície do solo (Fig. 3C). Os
apotécios produzem ascósporos que são
Goiás
liberados no ar e são responsáveis pela
Mato Groso infecção das plantas. A transmissão por
Mato Groso semente pode ocorrer tanto por meio de
do Sul
Distrito Federal micélio dormente (interno), quanto por
escleródios misturados às sementes. Uma
São Paulo
vez introduzido em uma área, o patógeno
Minas Gerais é de difícil erradicação, por causa de sua
Paraná ampla gama de hospedeiros e longa sobrevi-
vência dos escleródios no solo (EMBRAPA
Figura 2 - Período do vazio sanitário, discriminado por Estados, no Brasil
SOJA, 2011).
Como medidas de controle, para evitar
Atualmente, cerca de 90 fungicidas possui mais de 600 espécies hospedeiras, a introdução do patógeno na área, recomen-
possuem registro no MAPA para o con- como mentruz (Lepidium virginiculum), dam-se sementes sadias, limpeza de todos
trole da ferrugem-asiática. Contudo, em leiteiro (Euphorbia heterophylla), algodo- os implementos e colhedoras que vierem
decorrência da menor eficiência observada eiro (Gossypium spp.), feijoeiro (Phaseolus de áreas contaminadas, e tratamento das
com os fungicidas triazóis, desde a safra vulgaris), girassol (Helianthus annus), sementes com fungicida sistêmico adicio-
2007/2008, indica-se a utilização de mistu- entre outros. Porém, as gramíneas não nado ao de contato, registrados no MAPA
ras comerciais de triazóis com estrobiluri- são hospedeiras (BIANCHINI; MARIN- (EMBRAPA SOJA, 2011). Para eliminar
nas para o controle da ferrugem (GODOY GONI; CARNEIRO, 2005; LEITE, 2005; os escleródios, é necessário que a semente
et al., 2012). Para mais informações sobre HENNING, 2012). Estima-se que, na safra seja beneficiada; a sequência de benefi-
os produtos comerciais registrados para o de 2007/2008, na região de Uberaba, a ciamento, desde que bem-feita, garante a
controle da ferrugem da soja, consultar o doença ocasionou perdas em torno de 10% eliminação dos escleródios. Porém, esta
Agrofit – Sistema de Agrotóxicos Fitossa- no rendimento. medida, normalmente, não ocorre com as
nitários do MAPA (BRASIL, 2013a). Os primeiros sintomas são manchas sementes piratas. As consequências para
Por causa da importância dessa doen- aquosas que evoluem para coloração quem utiliza esse tipo de semente podem
ça, foi criado o Consórcio Antiferrugem, castanho-clara e logo desenvolvem abun- ser desastrosas.
que é uma ação público-privada para o dante formação de micélio branco e denso Uma vez introduzido o patógeno na
combate à ferrugem-asiática da soja. Por (Fig. 3A). As infecções iniciam-se com propriedade, recomendam-se: rotação/
meio desse Consórcio, o produtor obtém frequência a partir das inflorescências, sucessão de soja com espécies não hospe-
informações atualizadas sobre a doença, axilas das folhas e ramos laterais. Ocasio- deiras, principalmente gramíneas, como
mapa da dispersão, informativos de risco, nalmente, nas folhas, são observados sin- milho, sorgo, entre outras (EMBRAPA
laboratórios credenciados etc. (EMBRAPA tomas de murcha e seca. Em poucos dias, SOJA, 2011); evitar plantios adensados,
SOJA, 2013). são formados os escleródios, estruturas uso de cultivares com porte e dossel que
de resistência do fungo constituídas por proporcionem menor acamamento e maior
Mofo-branco
uma massa negra e rígida de micélio. Os aeração (HENNING et al., 2010); e co-
O mofo-branco ou podridão-branca escleródios variam de tamanho, e podem bertura do solo com braquiária, visando à
da haste, causado pelo fungo Sclerotinia ser formados tanto na superfície como no formação de barreira física à geminação
sclerotiorum, é uma das doenças mais interior das hastes e das vagens infectadas dos escleródios (FURLAN, 2012).
antigas da cultura da soja, que ocorrem (Fig. 3B) (EMBRAPA SOJA, 2011). Em relação ao controle químico do
em diversas regiões produtoras, e está-se A fase mais vulnerável da planta ao mofo-branco, recomenda-se a utilização
expandindo para as regiões altas do Cerra- ataque do patógeno vai do estádio da de fungicidas registrados no MAPA,
do (EMBRAPA SOJA, 2011). O patógeno floração plena ao início da formação das para a cultura da soja. Existem diversos
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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio
Fotos A e B: Dulândula S. M. Wruck 69

Silvânia Furlan
A B C
Figura 3 - Mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum)
NOTA: Figura 3A - Micélio em hastes de soja. Figura 3B - Escleródios em vagem de soja. Figura 3C - Apotécios na superfície do solo.

trabalhos que mostram a eficiência do Nematoide-de-cisto Nematoide-das-galhas


controle biológico, utilizando-se espécies
O nematoide-de-cisto foi detectado Os primeiros registros de danos em
do fungo Trichoderma. Apesar de existir
pela primeira vez, no Brasil, na safra soja pelos nematoides-das-galhas no Bra-
no mercado produtos comerciais à base de 1991/1992. É de fácil disseminação e, sil coincidem com a introdução da cultura
Trichoderma, essa tecnologia de controle atualmente, está presente em cerca de 150 no País. O gênero Meloidogyne com-
precisa de ajustes para aumentar a frequên- municípios de dez Estados brasileiros. preende um grande número de espécies.
cia de sucesso. No Brasil, já foram encontradas 11 Entretanto, M. incognita e M. javanica
raças de H. glycines, assim distribuídas: são as que mais limitam a produção de
NEMATOIDES NA CULTURA MG (3, 4, 6 e 10), MT (1, 2, 3, 4, 4+, 5, 6, 9, soja no Brasil. M. javanica tem ocorrên-
DA SOJA 10, 14 e 14+), MS (1,3, 4, 5, 6, 9, 10 e 14), cia generalizada (Fig. 5), enquanto M.
Mais de 100 espécies de nematoides, GO (3, 4, 5, 6, 9, 10 e 14), SP (3), PR (3), incognita predomina em áreas cultivadas
envolvendo cerca de 50 gêneros, foram RS (3, 5, e 6), BA (1, 3 e 14), TO (1) e MA anteriormente com café ou algodão.
associadas a cultivos de soja em todo o (5, 6 e 9) (EMBRAPA SOJA, 2011). Em
Para o controle dos nematoides-das-
mundo. No Brasil, as espécies que cau- razão da maior predominância das raças 1
galhas podem ser utilizadas, de modo
e 3, as cultivares com resistência a essas ra-
sam os maiores danos são Meloidogyne integrado, várias estratégias. Entretanto, as
ças estão-se tornando suscetíveis, uma vez
javanica, M. incognita, Heterodera glycines, mais eficientes são a rotação/sucessão com
que está ocorrendo elevado porcentual das
Pratylenchus brachyurus e Rotylenchulus culturas não hospedeiras e a utilização de
raças 6, 9 e 14, no estado do Mato Grosso.
reniformis (FERRAZ, 2001). cultivares resistentes.
Na lavoura, os sintomas ocorrem ini-
A expansão da cultura da soja para A rotação de culturas deve ser bem pla-
cialmente em reboleiras e podem evoluir
novas fronteiras agrícolas, a intensificação nejada, uma vez que a maioria das espécies
para a área total. São evidenciados por
da monocultura e a adoção de práticas cultivadas pode ser atacada. Quase todas
clorose, diminuição na quantidade de va-
inadequadas de manejo têm aumentado
gens e, em alguns casos, redução do porte as plantas daninhas também possibilitam
os níveis de danos causados por nematoi- da planta (Fig. 4). a reprodução e a sobrevivência desses
des, nos últimos anos. Há pouco tempo, Em áreas onde o nematoide-de-cisto nematoides. Assim, deve ser realizado o
a principal preocupação do sojicultor era já foi identificado, o produtor deve con- controle sistemático dessas plantas nas
com relação ao nematoide-de-cisto (H. viver com esta praga, uma vez que sua reboleiras. A escolha da rotação adequada
glycines). Hoje, a situação é diferente, erradicação é praticamente impossível. deve-se basear, também, na viabilidade
uma vez que o nematoide-das-lesões (P. Algumas medidas ajudam a minimizar as técnica e econômica da cultura na região,
brachyurus) está amplamente disseminado perdas, destacando-se a rotação/sucessão sendo bastante variável de um local para
e tem causado perdas econômicas, agrava- de culturas com plantas não hospedeiras e outro. Para recuperação da matéria orgâni-
das pela dificuldade de manejo. o uso de cultivares resistentes. ca (MO) e da atividade microbiana do solo
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70 Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio

Arquivo: Fundação Mato Grosso


Jaime Maia dos Santos

A B
Figura 4 - Nematoide-de-cisto
NOTA: A - Reboleira com plantas amareladas, em área infestada com o nematoide-de-cisto; B - Raízes de soja com várias fêmeas do
nematoide-de-cisto.

Fotos: Jaime Maia dos Santos


A B
Figura 5 - Nematoide-das-galhas
NOTA: A - Reboleira com plantas amareladas, em área infestada pelo nematoide-das-galhas; B - Galhas em raízes de soja.

e possibilitar o crescimento da população se pode montar um esquema eficiente de aos nematoides-das-galhas, estão dispo-
de inimigos naturais, é importante incluir, rotação/sucessão de culturas. níveis no Brasil. Todas descendem de
na rotação/sucessão, espécies de adubos O método de controle mais eficiente, ba- uma única fonte de resistência, a cultivar
verdes resistentes. Como existe variação rato e de fácil assimilação pelos produtores, norte-americana Bragg. Como os níveis
dentro das espécies vegetais com relação é o uso de cultivares resistentes. Um sistema de resistência dessas cultivares não são
à capacidade de multiplicar as diferentes radicular mais agressivo é característico muito altos, em situações de populações
espécies de Meloidogyne, somente a partir dos genótipos de soja resistentes a nema- elevadas do nematoide, antes de semear
do conhecimento da reação de cultivares/ toides formadores de galhas. uma cultivar resistente, o agricultor deverá
híbridos em multiplicar a espécie de Atualmente, cerca de 80 cultivares de fazer rotação de cultura com uma espécie
Meloidogyne predominante na área é que soja, com níveis variados de resistência vegetal não hospedeira.
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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 71

Nematoide-das-lesões da coalescência das muitas lesões causadas Nematoide-reniforme


internamente pelo nematoide, com redução
Nos últimos anos, os nematoides-das- Apesar de o algodão ser a cultura
no sistema radicular da planta (Fig. 6B). mais afetada pelo nematoide-reniforme
lesões (P. brachyurus) têm causado danos
A escolha de estratégias de manejo
elevados e crescentes, além de perdas (R. reniformis), podem ocorrer danos à
para redução de populações e danos de
econômicas extremamente preocupantes, cultura da soja, dependendo da cultivar
P. brachyurus é bastante complicado. O e da população do nematoide no solo.
em diversas culturas e em várias regiões
do Brasil, especialmente no Cerrado e nas manejo, para que seja bem-sucedido, de- Em comparação às espécies anteriores, o
culturas de soja, feijão, milho, algodão verá integrar diversas estratégias e táticas, reconhecimento do nematoide-reniforme
e pastagens. De certo modo, isso já era envolvendo: rotação/sucessão de culturas é muito difícil. Os sintomas no campo são
esperado, pois o nematoide foi muito e uso de cultivares e genótipos resistentes. confundidos com problemas de solo, tais
O comportamento das cultivares brasilei- como compactação, encharcamento ou
beneficiado por mudanças no sistema de
ras de soja nas áreas infestadas com P. baixa fertilidade. Lavouras de soja culti-
produção, como a adoção do plantio direto
e a incorporação de áreas com pastagens brachyurus não tem indicado a existência vadas em solos infestados caracterizam-se
de materiais resistentes ou tolerantes. pela expressiva desuniformidade, com
degradadas e/ou com teores muito elevados
extensa área de plantas subdesenvolvidas
de areia (<20% de argila). Todavia, avaliações, em casa de vegetação,
(Fig. 7A). Não há formação de galhas, o
Nos Estados Unidos, foram verificadas mostraram que as principais cultivares
sistema radicular apresenta-se mais pobre
reduções de até 30% na produção de soja, recomendadas nas áreas centrais do Brasil
e, em alguns pontos da raiz, é possível
em condições experimentais no campo. No diferem bastante com relação à capacidade
observar uma camada de terra aderida às
Brasil, há relatos frequentes de reduções de multiplicar o nematoide. As cultivares
massas de ovos do nematoide, produzidas
de 30% a 50% (REVISTA PLANTIO com fonte de resistência são as mais indica-
externamente (Fig. 7B).
DIRETO, 2007). das para a semeadura em áreas infestadas. Essa espécie não se desenvolve bem
Os sintomas aparecem em reboleiras Debiasi et al. (2012/2013) indicam que as em solos arenosos e prefere solos médio-
nas quais os níveis populacionais do crotalárias (Crotalaria ochroleuca e C. argilosos (25% a 35% de argila) ou mesmo
nematoide são elevados e o porte das spectabilis), solteiras ou associadas ao mi- argilosos (>35% de argila) ou ainda aqueles
plantas é menor que o normal (Fig. 6A). lheto (ADR 300) foram as melhores opções com muito silte. Portanto, dificilmente
É possível observar nas raízes de soja a de entressafra para reduzir a população do ocorrerá em áreas infestadas pelos nema-
presença de áreas necrosadas resultantes nematoide. toides-de-cisto ou nematoides-das-galhas.

Fotos: Valdir Pereira Dias

A B
Figura 6 - Nematoide-das-lesões
NOTA: Figura 6A - Reboleira causada pelo nematoide-das-lesões. Figura 6B - Raízes de soja com lesões causadas por Pratylenchus
brachyurus.

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72 Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio

Fotos: Guilherme Asmus


A B
Figura 7 - Nematoide-reniforme
NOTA: Figura 7A - Reboleira causada pelo nematoide-reniforme. Figura 7B - Raízes com várias massas de ovos do nematoide-reniforme.

Além da soja e do algodoeiro, também de qualidade controlados no programa de que, para a adoção desse procedimento, é
podem ser parasitados o abacaxizeiro, o produção, originados por padrões de cam- necessário que o produtor tenha conheci-
feijoeiro, o maracujazeiro e outras culturas. po e de sementes, e pela inspeção de campo mento da necessidade de ajustes no sistema
Embora alguns híbridos de milho multipli- e de fiscalização do comércio. de trilha, visando reduzir os índices de
quem R. reniformis, em geral, a rotação O uso de semente de alta qualidade per- danos mecânicos latentes, e também dis-
com essa cultura contribui para reduzir a mite o acesso aos avanços genéticos, com ponibilizando uma estrutura de secadores,
população do nematoide no solo. as garantias de qualidade e de tecnologias para que o conteúdo de água da semente
As principais alternativas de controle de adaptação nas diversas regiões, asse- seja reduzido a níveis adequados, sem que
do nematoide são a rotação/sucessão de gurando maiores produtividades. Durante ocorram reduções no potencial fisiológico.
culturas e a utilização de cultivares resisten- o processo de produção de sementes, o Além disso, outra inovação tecnológi-
tes. Em geral, cultivares de soja resistentes produtor deve avaliar, além das condições ca, que vem sendo largamente utilizada, é
ao nematoide-de-cisto também apresentam climáticas da região, as cultivares a ser a dessecação em pré-colheita de campos
resistência ao nematoide-reniforme, com utilizadas, para que possam expressar todo de soja. Neste contexto, a dessecação, em
exceção daquelas descendentes da ‘PI o seu potencial de produção, sem que as se- pré-colheita de campos de sementes de
88788’. Como quase todas as cultivares mentes fiquem expostas às oscilações drás- soja convencional com glifosato, não é
de soja, resistentes ao nematoide-de-cisto, ticas de condições ambientais adversas. recomendada (EMBRAPA SOJA, 2011).
disponíveis no Brasil, são descendentes de Para obter sementes de alta qualidade Essa prática é recomendada apenas em
‘Peking’ e/ou da ‘PI 437654’, estas têm fisiológica e sanitária e evitar perdas após áreas de produção de grãos. No caso da
grande chance de ser resistentes ao nema- a maturidade fisiológica e pela ocorrência semente, o efeito prejudicial da dessecação
toide-reniforme. Pelo fato de o nematoide- de danos mecânicos durante a colheita, acarreta redução de sua qualidade, ao afetar
reniforme ser muito persistente no solo, muitos produtores têm utilizado a técnica o vigor e a germinação. Uma anormalidade
dependendo da densidade populacional, de antecipação da colheita. Esse procedi- específica no sistema radicular, caracteri-
existe a necessidade de, pelo menos, dois mento reduz a deterioração das semen- zada pelo encurtamento da raiz principal
cultivos com espécies não hospedeiras. tes, pois permite sua retirada do campo e atrofiamento das raízes secundárias, tem
com grau de umidade em torno de 18% sido relatada por diversos autores. Pádua
QUALIDADE DE SEMENTES (FRANÇA-NETO et al., 2007). É uma et al. (2012) constataram também o en-
DE SOJA alternativa viável para minimizar os efeitos curtamento e o afunilamento repentino do
A produção de sementes, a comerciali- das condições climáticas desfavoráveis que hipocótilo das plântulas de soja (Fig. 8).
zação e a proteção de cultivares são regu- podem ocorrer no campo, como as chuvas Durante as fases de maturação e co-
lamentadas por lei. A semente produzida na pré-colheita e os ataques de pragas e de lheita da semente de soja, a ocorrência de
no sistema de certificação possui a devida microrganismos. Ainda, segundo França- elevadas temperaturas e de umidade relati-
identificação, além de garantir parâmetros Neto et al. (2007), é importante ressaltar va pode propiciar aumento da infecção de
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sementes por fungos. A qualidade sanitária assim como a introdução do fungo fungo é transportado em longas distân-
das sementes está profundamente relacio- Diaporthe phaseolorum var. caulivora, cias por meio de sementes infectadas ou
nada com a qualidade fisiológica. Assim, a na safra 2005/2006 (KRZYZANOWSKI escleródios misturados a estas (quando
sanidade das lavouras pode ficar compro- et al., 2008). não há controle de sanidade) ou, ainda,
metida com o uso de sementes infectadas. Um problema sério, principalmen- em solo aderido a implementos agrícolas.
Diversos fungos, como Colletotrichum te na região dos Cerrados, tem sido a Portanto, é de extrema importância o uso
truncatum (antracnose), Phomopsis disseminação de S. sclerotiorum, fungo de sementes certificadas em detrimento de
spp. (seca-da-haste e seca-da-vagem) e causador do mofo-branco (Fig. 10). O sementes de produção própria ou sementes
Fusarium spp. (seca-da-vagem), ao infec-
tarem as sementes (Fig. 9), contribuem
para a redução do vigor e da germinação
destas (HENNING, 2005). a
No Brasil, já foram identificadas, apro-
ximadamente, 40 doenças da soja causadas
por fungos, bactérias, nematoides e vírus n n
(EMBRAPA SOJA, 2011). A maioria
dos patógenos é transmitida externa e/ou
internamente, por meio das sementes. As
perdas de produção por doenças são esti-
madas em cerca de 15% a 20% ao ano, mas
algumas doenças podem ocasionar perdas
de quase 100%.
É importante ressaltar, ainda, que a

Fotos: G.P. Pádua


semente pode ser o veículo de disseminação
e introdução de patógenos em áreas livres b b
de doenças. Como exemplos, têm sido
relatadas as reintroduções de doenças A B
Figura 8 - Plântulas de soja provenientes de sementes em pré-embebição com solução
já erradicadas no Brasil, por causa da
do herbicida glifosato
utilização de sementes “piratas” vindas
NOTA: A - n: plântulas normais (resistentes) e b: plântulas anormais menores; B - Inten-
do exterior, como o cancro-da-haste, a sidade da anormalidade, a: plântulas anormais maiores e b: plântulas anormais
mancha-olho-de-rã, a pústula-bacteriana, menores.

Fotos: J.B. França-Neto

A B C
Figura 9 - Sementes de soja infectadas
NOTA: A - Colletotrichum truncatum; B - Phomopsis sp.; C - Fusarium semitectum.

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74 Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio

Fotos: A.A. Henning


A B
Figura 10 - Mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum)
NOTA: A - Produção de escleródios em caules de plantas de soja; B - Sementes de soja misturadas com escleródios.

“piratas”. É fundamental que sejam pro- REFERÊNCIAS www.consorcioantiferrugem.net>. Acesso


venientes de lavouras sadias, que sejam em: 15 fev. 2013.
BIANCHINI, A.; MARINGONI, A.C.; CAR-
beneficiadas adequadamente e tratadas NEIRO, S.M.T.P.G. Doenças do feijoeiro. In: EMBRAPA SOJA. Tecnologias de produção
com fungicidas recomendados. De acordo KIMATI, H. et al. (Ed.). Manual de fitopa- de soja - região Central do Brasil 2012 e
com Henning et al. (2005), as sementes tologia. 4.ed. São Paulo: Agronômica Ceres, 2013. Londrina, 2011. 261p. (Embrapa Soja.
próprias e as “piratas”, geralmente, não 2005. v.2, 663p. Sistemas de Produção, 15).
são beneficiadas de maneira correta, uma BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecu- FERRAZ, L.C.C.B. As meloidogynoses da
vez que o separador espiral é fundamental ária e Abastecimento. AGROFIT: Sistema soja: passado, presente e futuro. In: SILVA,
para eliminar os escleródios do lote de de Agrotóxicos e Fitossanitários. Brasília, J.F.V. (Org.). Relações parasito-hospedeiro
sementes. Assim, acredita-se que as áreas [2013a]. Disponível em: <http://agrofit. nas meloidogynoses da soja. Londrina: Em-
agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_ brapa Soja: Sociedade Brasileira de Nema-
de soja com ocorrência de mofo-branco
agrofit_cons>. Acesso em: 15 fev. 2013. tologia, 2001. p.15-38.
estejam sendo ampliadas em razão do uso
indiscriminado de sementes infectadas, que BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuá- FRANÇA-NETO, J. de B. et al. Tecnologia
ria e Abastecimento. Soja. Brasília, [2013b]. para produção de semente de soja de alta
não passaram por um rigoroso sistema de
qualidade: série sementes. Londrina: Em-
controle de qualidade. Disponível em: <http://www.agricultura.
brapa Soja, 2007. 12p. (Embrapa Soja. Cir-
Em um ambiente cada vez mais compe- gov.br/vegetal/culturas/soja>. Acesso em:
cular Técnica, 40).
15 fev. 2013.
titivo, a importância do uso de sementes de
FURLAN, S.H. Controle do mofo branco
soja certificadas e produzidas por empresas CONAB. Acompanhamento da safra brasi-
em feijoeiro. In: ENCONTRO INTERNA-
idôneas fica evidente, ao considerar os leira – grãos: safra 2011/2012 – décimo se-
CIONAL DE MOFO BRANCO, 2012, Ponta
parâmetros intrínsecos de qualidade desta gundo levantamento, setembro/2012. Brasí-
Grossa. Anais... Globalizando o problema,
lia, 2012. 30p.
semente, como a pureza física e varietal, fundamentando soluções. Ponta Grossa:
o vigor e a sanidade. Faz-se necessária a DEBIASI, H. et al. Bônus e ônus. Cultivar. UEPG, 2012. p.28-31.
adoção de tecnologias adequadas e de um Grandes culturas, Pelotas, v.14, n.163, p.18-
GODOY, C.V. et al. Eficiência de fungici-
sistema de controle de qualidade eficaz, o 20, dez. 2012/jan.2013.
das para o controle da ferrugem-asiática
que resultará em ganhos de produtividade EMBRAPA SOJA. Consórcio Antiferrugem. da soja, Phakopsora pachyrhizi, na sa-
e de competitividade. [Londrina, 2013]. Disponível em: <http:// fra 2011/12: resultados sumarizados dos

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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 75

ensaios cooperativos. Londrina: Embrapa


Soja, 2012. 8p. (Embrapa Soja. Circular
Técnica 93).

HENNING, A.A. Patologia e tratamento de


Veja no próximo
sementes: noções gerais. 2.ed. Londrina:
Embrapa Soja, 2005. 52p. (Embrapa Soja.
Documentos, 264).
HENNING, A.A. Visão histórica, progres-
sos e perspectivas no manejo e controle do
mofo-branco. In: ENCONTRO INTERNA-
CIONAL DE MOFO BRANCO, 2012, Ponta
Grossa. Anais... Globalizando o problema,
fundamentando soluções. Ponta Grossa:
UEPG, 2012. p.16-17.
HENNING, A.A. et al. Manual de identifi-
cação de doenças da soja. Londrina: Em-
brapa Soja. 2005. 72p. (Embrapa Soja. Do-
Conservação de alimentos
cumentos, 256).
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HENNING, A.A. et al. Soja: manejo de doen-
ças. Curitiba: SENAR-PR, 2010. 76p. (Col.
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KRZYZANOWSKI, F.C. et al. A semente
de soja como tecnologia e base para altas
produtividades: série sementes. Londrina: Cana-de-açúcar como forrageira para
Embrapa Soja, 2008. 8p. (Embrapa Soja. bovinos
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ças causadas por Sclerotinia sclerotiorum
em girassol e soja. Londrina: Embrapa Soja,
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2005. 3p. (Embrapa Soja. Circular Técnica,
76).
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Brasileira de Sementes, Londrina, v.34, n.4, cana-de-açúcar
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REVISTA PLANTIO DIRETO. Passo Fundo: Variedades de cana-de-açúcar para a
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pachyrhizi. Phytopathology, St. Paul, v.81, (31) 3489-5002 - publicacao@epamig.br
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76 Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio

Resíduos de agrotóxicos e segurança alimentar


Marcelo Barreto da Silva 1
Guilherme Luiz Guimarães 2

Resumo - Os resíduos de agrotóxicos são monitorados como parte da política de segu-


rança alimentar do Brasil. Essa prática é geralmente realizada em países desenvolvidos,
fundamentada em parâmetros internacionais em harmonia com o Codex Alimentarius,
da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura – Food and Agricul-
ture Organization of the United Nations (FAO). O Programa de Análise de Resíduos de
Agrotóxicos em Alimentos (PARA) foi criado em 2011, pela Agência Nacional de Vigi-
lância Sanitária (Anvisa). Entender o significado do limite máximo de resíduo (LMR) e a
importância do seu monitoramento é fundamental para que sejam criados mecanismos
de melhoria da qualidade dos alimentos. Uma das medidas que precisam avançar para
a consolidação do Programa é viabilizar o registro de produtos para as culturas com
menor suporte fitossanitário.

Palavras-chave: Limite máximo de resíduo. Toxicologia. Agrotóxico.

INTRODUÇÃO do consumo. Esta tendência foi constatada, animais. Entre os fungos produtores de
inicialmente, com o movimento dos con- toxinas estão os pertencentes aos gêneros
Entender a importância do monito-
sumidores europeus à procura de frutas e Aspergillus, Penicillium e Fusarium. A
ramento de resíduos de agrotóxicos nos
hortaliças sem resíduos de produtos fitos- seguir estão resumidas as principais con-
alimentos e sua relação com a segurança
sanitários, e com a organização do setor taminações de origem biológica presentes
alimentar é essencial para fundamentar
varejista, que criou normas para garantir a nos alimentos (BALBANI; BUTUGAN,
políticas públicas que garantam a produção
qualidade dos alimentos comercializados, 2001):
de alimentos com qualidade. O Brasil é um
o que é conhecido como sistema de boas a) bactérias:
grande produtor de commodities agrícolas.
Mesmo dentro desse mercado, é necessário
práticas globais. Atualmente, essa ten- - produtoras de toxinas pré-for-
dência está presente nos grandes centros madas: Clostridium botulinum,
garantir a isenção de resíduos químicos
consumidores brasileiros. Staphylococcus aureus, Bacillus
e microbiológicos para a participação de
cereus,
forma sustentável e crescente no mercado
CONTAMINAÇÃO DOS - produtoras de toxinas na luz intes-
de alimentos, nos âmbitos nacional e in-
ALIMENTOS tinal: Vibrio spp., Escherichia coli
ternacional. A ampliação de mercados e a produtora de toxina shiga, E. coli
colocação de produtos alimentícios, onde A contaminação dos alimentos pode- enterotoxigênica, Campylobacter
os retornos financeiros são mais garanti- se dar por microrganismos, especialmente spp.,
dos e sólidos, podem ser alcançadas com bactérias, como Clostridium botulinum, - invasoras do epitélio intestinal:
melhorias na qualidade dos produtos. A Bacillus cereus, Listeria monocytogenes, Salmonella spp.; Yersinia spp.,
mudança de hábitos e a procura por ali- Staphylococcus aureus, Escherichia coli Shigella spp., E. coli enteroinvasi-
mentos seguros têm influenciado as cadeias e Salmonella spp. dentre outros.Também va, Listeria monocytogenes,
produtivas a estruturarem-se para atender a pode ocorrer por substâncias químicas as- - outras: Aeromonas spp., Plesiomonas
estas demandas. Normalmente, o aumento sociadas a microrganismos, com destaque shigelloides, E. coli enteropatogê-
da renda e da escolaridade do consumidor para as micotoxinas, que são metabólitos nica;
é acompanhado pela busca por qualidade secundários produzidos por fungos e que b) fungos: Aspergillus flavus, A.
dos produtos alimentícios e pela elevação apresentam toxicidade ao homem e aos parasiticus;

1
Engo Agro, D.Sc., Prof. Adj. UFES - CEUNES, CEP 29932-540 São Mateus-ES. Correio eletrônico: barretofito@uol.com.br
2
Engo Agro, Gerente Técnico e de Regulamentação Federal ANDEF, CEP 01443-010 São Paulo-SP. Correio eletrônico: guilherme@andef.com.br

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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 77

c) vírus: vírus da hepatite A, vírus da ainda não é feita a avaliação de risco, mas regulatórios (NASREDDINE; PARENT-
hepatite B, rotavírus, adenovírus sim do perigo. MASSIN, 2002).
(entérico), parvovírus; O perigo de intoxicação por um produto Durante cinco anos, de 1987 a 1991,
d) protozoários: Cryptosporidium é determinado por estudos toxicológicos e foram coletadas e avaliadas nos EUA
p a r v u m , G i a rd i a l a m b l i a , definido como a capacidade de um agente mais de 88 mil amostras de alimentos em
Entamoeba histolytica, Isospora causar algum efeito adverso à saúde huma- supermercados. Nas amostras coletadas,
belli, Dientamoeba fragilis, na ou ao ambiente. Por outro lado, o risco, menos de 1% apresentou níveis de resíduos
Blastocystis hominis; que é função do perigo, é definido como ilegais, ou seja, em quantidade acima da
e) parasitas: Taenia solium, Taenia a probabilidade de ocorrência de efeito tolerância permitida ou com presença de
saginata, Hymenolepis nana, adverso à saúde humana (WAL; PASCAL, produtos não registrados para a cultura. A
Ascaris spp., Trichuris spp., 2000). Uma vez conhecido o risco, devem partir de 1991, foi criado o programa de
Trichinella spiralis;
ser elaboradas políticas para o manejo e monitoramento de resíduo de pesticidas
f) toxinas : tetrodotoxina, micotoxi- a comunicação à sociedade, garantindo, nos EUA, conhecido como Pesticide Data
nas, aflatoxinas. assim, a segurança dos alimentos. Program (PDP). Os resultados são publi-
Outra forma de contaminação de ali- O risco de contaminação por agrotó- cados anualmente e podem ser obtidos em
mentos é decorrente do uso inadequado xicos é problema, em especial, durante USDA (2013b). Resultados encontrados
de produtos fitossanitários (agrotóxicos) o preparo da calda e a aplicação dos pro- no ano de 2011 mostraram que 82,3% das
no controle de doenças, pragas e plantas dutos. Nesta fase, o aplicador tem grande amostras avaliadas procederam de frutas
daninhas nas lavouras. Em 1954, a Agên- exposição aos produtos em concentração e vegetais frescos e processados. Também
cia de Proteção Ambiental dos Estados elevada e por um período prolongado. foram incluídas amostras em água (6,6%),
Unidos – United States Environmental É possível identificar os fatores de risco leite (5,8%), ovos (2,9%) e soja (2,4%). No
Protection Agency (EPA) desenvolveu que precisam ser observados, para que item frutas e legumes frescos e processados
procedimentos para a determinação de se tomem medidas de mitigação. Soares, foram considerados: comida para bebê
valores máximos de resíduos de pesticidas Almeida e Moro (2003) identificaram (feijão-verde, peras, batatas-doces), beter-
que podem estar presentes em alimentos alguns fatores de risco no campo, como a raba, repolho, melão, couve-flor, tomate,
frescos, para garantir a segurança dos própria aplicação dos agrotóxicos, a não pimenta, pimentão, alface, cogumelos,
alimentos consumidos pela população. utilização de equipamentos de proteção cebola, suco de laranja, mamão, ameixas,
Foram padronizados vários mecanismos individual (EPI) e a aplicação de produtos ervilhas, espinafre congelado, pimentão-
de coleta de dados e investigação, com organofosforados. Em outro trabalho, So- doce, tangerina e abóbora. Dos produtos
o propósito de quantificar riscos para a ares, Freitas e Coutinho (2005) chamam amostrados, 72,7% provieram de produ-
saúde humana decorrentes dos resíduos a atenção para outros componentes que ção interna no País, 22,8% de produtos
dos produtos utilizados nas lavouras. incrementam o risco, como escolaridade importados, 3,8% tiveram origem mista e
A ponderação entre benefícios e riscos do dos aplicadores, destinação de embalagens 0,7% eram de origem desconhecida. Entre
uso dos pesticidas passou a ser condição vazias e o tipo de pulverizador utilizado. os procedimentos de preparo das amostras
necessária para permitir o uso de determi- O uso adequado de EPIs poderia reduzir a ser avaliadas, foi feita a lavagem do
nado produto. O regulamento inicial foi o risco de intoxicação do aplicador em material fresco, durante 15 a 20 segundos,
alterado em 1958, quando os benefícios mais de cinco vezes (SOARES; FREITAS; com água corrente, sem o uso de qualquer
passariam a não ser mais considerados, COUTINHO, 2005). Estes dados chamam produto químico ou sabão. Isto é feito
caso fosse detectada a possibilidade de um a atenção para a necessidade de o aplicador considerando que o consumidor deve lavar
pesticida causar câncer em animais ou no de produtos fitossanitários ser devidamente o produto antes de comer. De acordo com
próprio homem. Para garantir a segurança qualificado e orientado. A adoção das boas os dados apresentados no relatório anual de
dos pesticidas registrados, foi exigida uma práticas é uma condição necessária tanto 2011 (USDA, 2013a), excluindo as análises
série de testes em laboratórios, como estu- para o campo quanto para a indústria e feitas em água, foram detectados resíduos
dos de toxicidade aguda oral e dérmica em outros setores produtivos. acima do limite em 0,27% das amostras
ratos, estudos de irritação em olhos e pele, (32 amostras em 11.849). Destas, 25 foram
toxicidade crônica (longa duração), efeito MONITORAMENTO DE obtidas de material importado (78%) e sete,
carcinogênico e teratogênico, entre outros. RESÍDUOS DE AGROTÓXICOS de produção doméstica (22%). Material
EM ALIMENTOS
Diferentemente dos Estados Unidos e ou- irregular, ou seja, sem índice de tolerância
tros países, no Brasil, apesar de haver um O monitoramento de pesticidas asso- estabelecido, correspondeu a 3,4% do total
decreto nesse sentido – Decreto no 4.074, ciados à dieta alimentar dos consumido- (399 amostras). Destas amostras, 280 fo-
de 4 de janeiro de 2002 (BRASIL, 2002) –, res é parte vital na criação de processos ram obtidas de material importado (70%),
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78 Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio

115 de produção nacional (29%) e quatro lução RDC no 216, de 15/12/2002, art 1o, possíveis. As amostras serão coletadas no
eram de origem desconhecida (1%). item IX (ANVISA, 2006). campo experimental, devidamente contro-
Os dados citados evidenciam a preo- Uma nova resolução da Anvisa – RDC lado e descrito em todas as suas etapas de
o
cupação das autoridades americanas com n 4, de 18 de janeiro de 2012 (ANVISA, condução, seguindo os princípios de BPA.
a qualidade dos gêneros alimentícios im- 2012) – procurou estabelecer recomen- É determinada na legislação, conforme
portados. Informações como essas podem dações metodológicas de avaliação de o produto comercializado da cultura em
ser a base para a criação de barreira a resíduos em harmonia com o Codex estudo, qual parte da planta será coletada
alimentos importados, caso não atendam Alimentarius da Organização das Nações e em que fase de maturação (verde ou ma-
às exigências de qualidade previamente Unidas para Alimentação e Agricultura – dura), podendo ser folha, fruta, tubérculo,
determinadas. Semelhante política é Food and Agriculture Organization of the raiz, rizoma, caule, bulbo, inflorescência,
adotada em países da Europa (JUHLER United Nations (FAO), bem como da Or- vagens e outros. Também são previamente
et al., 1999; NASREDDINE; PARENT- ganização Mundial de Saúde (OMS), para definidos o processo de amostragem e o
MASSIN, 2002) e no Japão (AKIYAMA; alimentação segura. tamanho da amostra na forma de peso ou
YOSHIOKA; TSUJI, 2002). Para o cálculo do LMR é necessária a unidades. Dois indicadores são monitora-
condução de, pelo menos, quatro ensaios de dos nos testes realizados e padronizados:
ESTUDOS DE RESÍDUOS campo em quatro locais distintos e repre-
o limite de detecção (LOD), que é a menor
sentativos de cada cultivo, na mesma safra
A Agência Nacional de Vigilância Sani- concentração de um analito em uma ma-
ou em safras consecutivas nos mesmos
tária (Anvisa) tem aprimorado as exigên- triz, onde uma identificação positiva e não
locais no campo, de forma padronizada,
cias de estudo de resíduos em alimentos quantitativa pode ser alcançada, usando-se
seguindo os princípios das Boas Práticas
com o objetivo de garantir o acesso da um método analítico validado; e o limite
Agrícolas (BPA), conforme normatização
população a alimentos seguros, no que de quantificação (LOQ), definido como a
da Anvisa. Estes estudos somente poderão
se refere a agrotóxicos e afins. A partir da menor concentração de um analito em uma
ser realizados por entidades, em conformi-
Resolução RDC no 216, de 15 de dezembro matriz, que pode ser quantificada e alcan-
dade com os princípios de BPA, por meio
de 2006 (ANVISA, 2006), estabeleceu-se çada usando-se um método analítico vali-
de órgãos oficiais de certificação, reconhe-
que os estudos devem seguir critérios rigo- dado. Existem várias metodologias para a
cidos pela Organização para a Cooperação
rosos, considerando a eficácia agronômica e Desenvolvimento Econômico (OCDE). padronização do LOD e do LOQ, com o
do produto. Dois indicadores fundamentais Na fase de campo, pelo menos dois desses objetivo de garantir a reprodutibilidade dos
devem ser estabelecidos experimentalmen- ensaios serão utilizados para a obtenção da resultados. Os critérios de validação são de
te: o limite máximo de resíduos (LMR) e curva de dissipação, que verificará a elimi- acordo com a área específica (biológica,
o intervalo de segurança (IS). nação dos resíduos de agrotóxicos e afins farmacêutica ou química), enfatizando a
Legalmente, define-se como resíduo do alimento, ao longo de determinado pe- exatidão, a precisão e os limites de detec-
toda substância ou mistura de substâncias ríodo. Para gerar a curva de dissipação dos ção e quantificação (BRITO et al., 2003).
remanescentes ou existentes nos alimentos resíduos, é necessário o número mínimo de Esses dois limites devem ser definidos de
ou no meio ambiente, decorrentes do uso três pontos e deve ser incluído o intervalo forma que possam conter o resíduo do pro-
ou não de agrotóxicos ou afins, inclusive de segurança pretendido pelo fabricante. duto fitossanitário utilizado no ensaio, cujo
qualquer derivado específico, tais como Complementando o experimento de LMR será determinado posteriormente.
produtos de conversão e de degradação, campo, é prevista a fase de laboratório, Considerando que “Y” representa o
metabólitos, produtos de reação e impure- quando serão garantidas todas as condições resíduo a ser detectado nas amostras dos
zas, considerados toxicológica e ambien- de preservação das amostras coletadas no ensaios de campo, a relação entre LOD e
talmente importantes – Decreto no 4.074, campo e a padronização dos processos ana- LOQ e Y deve ser expressa, como descrito
de 4/1/2002, art. 1o, item XLIV (BRASIL, líticos, dentro dos critérios mais rigorosos no Quadro 1.
2002). O LMR é definido como a quanti-
dade máxima de resíduo de agrotóxico ou
QUADRO 1 - Forma de reportar o resíduo monitorado em ensaio de campo para estudo de
afim, oficialmente aceita no alimento, em dissipação de agrotóxicos
decorrência da aplicação adequada em uma
Valor do resíduo Y Forma de reportar
fase específica, desde sua produção até o
Y < LOD < LOQ
consumo, expressa em partes (em peso) do
agrotóxico, afim ou seus resíduos por mi- LOD < Y < LOQ < LOQ
lhão de partes do alimento (em peso) (ppm Y > LOQ Y
ou mg/kg) – Decreto no 4.074, de 4/1/2002, FONTE: Anvisa (2012).
art. 1o, item XXII (BRASIL, 2002) e Reso- NOTA: LOD - Limite de detecção; LOQ - Limite de quantificação.

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ESTUDOS TOXICOLÓGICOS aguda, DL50 dérmica aguda, irritabilidade Os estudos especiais são estudos de te-
dérmica, irritabilidade ocular, sensibilidade ratogênese, mutagênese, de metabolismo e
Nos estudos de toxicologia alimentar,
dérmica e CL50 inalatória. Com base nos outros que podem ser solicitados adicional-
são considerados dois aspectos (WAL;
estudos toxicológicos agudos, os produtos mente, dependendo do produto em análise.
PASCAL, 2000): os associados aos
fitossanitários são agrupados em classes É importante ressaltar que de acordo com
contaminantes que estão naturalmente
toxicológicas que variam de extremamente o Decreto no 4.074, de 4/1/2002, art. 31
presentes nos alimentos e os que estão tóxico (identificado com tarja vermelha na (BRASIL, 2002), fica proibido o registro
intencionalmente presentes nos alimentos, embalagem) a pouco tóxico (identificado de qualquer agrotóxico, seus componentes
como conservantes, drogas veterinárias e com tarja verde) (Quadro 2). e afins, que apresentarem efeito teratogê-
pesticidas. Em decorrência disso, é ne- Os estudos subcrônicos e crônicos nico, mutagênico ou que provoquem dis-
cessário que qualquer defensivo agrícola são conduzidos em períodos que variam túrbios hormonais na espécie humana ou
(não genérico) seja submetido a uma série de 28 dias a dois anos. São realizados em animal, mediante comprovação científica.
de estudos toxicológicos para o produto animais de laboratório em instituições Os estudos “dose-respostas” são rea-
técnico e para cada formulação. Os estudos credenciadas. Desses estudos, além das lizados para caracterizar a relação entre
requeridos para o produto técnico dividem- análises toxicológicas de diversos parâme- a ingestão de determinada quantidade de
se basicamente em: tros, extraem-se alguns índices, dentre os uma substância e a manifestação de efeitos
a) estudos agudos; quais é possível destacar, o nível sem efeito adversos à saúde. Nesse sentido, a ingestão
b) estudos subcrônicos e crônicos; toxicológico observado − no-observed- diária aceitável (IDA) é amplamente utili-
effect-level (NOEL), e o nível sem efeito zada para indicar o nível de segurança de
c) estudos especiais.
toxicológico adverso observado − no- uma substância ingerida. O valor da IDA é
Os estudos agudos são aqueles em que observed-adverse-effect-level (NOAEL). calculado com base no menor NOAEL en-
os efeitos tóxicos são produzidos por uma Para estabelecer o NOEL são necessárias contrado experimentalmente e dividido por
única exposição ou exposições múltiplas a doses múltiplas da substância, uma popula- um fator de segurança de 100 vezes. O valor
determinada substância por diferentes vias, ção ampla e informações complementares de segurança final considera a variabilidade
considerando um período curto de respos- para garantir que a ausência de resposta de resposta interespecífica (fator multiplica
ta, normalmente inferior a um dia. Nessa não é um mero fenômeno estatístico por dez) (o que se justifica pelo fato de os
classe, seis testes são solicitados: DL50 oral (SILBERGELD, 1998). testes serem feitos em animais de outras

QUADRO 2 - Classificação toxicológica com base na toxicidade aguda da formulação


DL50 oral DL50 dérmica
(mg/kg) (mg/kg)
CL50 Lesões
Classe Lesões dérmicas
Formulação Formulação (mg/kg) oculares
Líquida Sólida Líquida Sólida

I - extremamente tóxico ≤ 20 ≤5 ≤ 40 ≤ 10 ≤ 0,2 Opacidade de córnea rever- Ulceração ou corrosão na


sível ou não dentro de sete pele de animais
dias ou irritação persistente
nas mucosas oculares

II - altamente tóxico De 20 a De 5 a 50 De 40 a De 10 a De 0,2 a 2 Não pode apresentar opa- Irritação severa


200 400 100 cidade de córnea. Irritação
reversível em sete dias

III - medianamente tóxico De 200 a De 50 a De 400 a De100 a De 2 a 20 Não pode apresentar opa- Irritação moderada de
2000 500 4000 1000 cidade de córnea. Irritação três a cinco, segundo mé-
irreversível em 72 horas todo universal de “Draize
e Cols”

IV - pouco tóxico > 2000 > 500 > 4000 > 1000 > 20 Não pode apresentar opa- Irritação leve
cidade de córnea. Irritação
leve reversível em 24 horas
FONTE: Daldin e Santiago (2003).

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espécies que não os seres humanos) e a va-


Efeito tóxico
riabilidade intraespecífica (fator multiplica 100
por dez) (considera-se que, dentro de uma
Espécies
mesma espécie, os indivíduos variam quan- 80 Ser humano testadas
to à sensibilidade à determinada droga). A (média)
relação entre efeito tóxico, IDA e NOAEL,

---
60
dentro de uma curva dose-resposta, é re-

Resposta
Ser humano
presentado no Gráfico 1. A IDA expressa
sensível
a quantidade de determinada substância 40

que pode ser ingerida diariamente durante IDA


NOAEL
toda a vida, sem apresentar risco à saúde, 20 10 10
com base em informações toxicológicas
disponíveis na época da avaliação. 0
A fórmula expressa para o cálculo da 0,01 0,1 1 10 100 1000
IDA é: IDA = NOAEL / (FS1 x FS2), em Dose
que FS1 é o fator de segurança interespe- Gráfico 1 - Representação esquemática da relação entre dose de efeito tóxico a animais,
cífico e FS2 é o fator de segurança intra- NOAEL e IDA, considerando um fator de segurança de 100 vezes
NOTA: NOAEL - No-observed-adverse-effect-level (nível sem efeito toxicológico adverso
específico. A IDA é expressa em mg/kg de observado); IDA - Ingestão diária aceitável.
peso corporal/dia.
Os estudos toxicológicos seguem me-
QUADRO 3 - Toxicidade determinada pela DL50 de diferentes drogas que compõem medica-
todologia padrão aceita internacionalmente
mentos, produtos domissanitários, agrotóxicos, alimentos e outros
e são aplicados não somente para produtos
fitossanitários, mas em produtos alimen- Substância Referência
Toxicidade
(DL50)
tícios, domissanitários, medicamentos,
conservantes, alimentos, cosméticos e ou- Abamectina Oral em ratos 10,6 a 11,3 mg/kg; causa irritação moderada
nos olhos e na pele
tras drogas. Exemplos de dose letal (DL50),
Ácido acético Oral em ratos 3.310 mg/kg
determinada para diferentes produtos, são
apresentados no Quadro 3. A investigação Ácido acetilsalicílico Oral em ratos 200 mg/kg; apresenta má-formação fetal em ratos
da toxicidade de um produto faz alusão à Atenolol Oral em camundongos 2.000 mg/kg
afirmação do médico suíço conhecido como
Cloreto de sódio Oral em ratos 7.000 mg/kg
Paracelso: “a diferença entre o medica-
Cocaína Oral em ratos 95,1 mg/kg
mento e o veneno é uma questão da dose
administrada”. D-Aletrina Oral em ratos maior que 2.000 mg/kg; classe toxicológica III
Dissulfoton Oral em ratos 100 mg/kg
LIMITE MÁXIMO DE RESÍDUO Glyfosato Oral e ratos 1.581 mg/kg

A determinação do LMR é um im- Ivemectina Oral em camundongos 11,6 mg/kg


portante indicador para preservar a saúde Nicotina Oral em ratos 50 mg/kg
pública (NASREDDINE; PARENT- Permetrina Oral em ratos 1.240 mg/kg
MASSIN, 2002). Expressa a quantidade
máxima de resíduo de agrotóxico ou afim
oficialmente aceita no alimento, em de- Agricultura, Pecuária e Abastecimento o consumo de alimentos por pessoas de de-
corrência da aplicação adequada em uma (MAPA), ao mesmo tempo em que são de- terminado país ou região. No Brasil, essas
fase específica, desde sua produção até o terminados os ISs ou período de carência, pesquisas são feitas pelo Instituto Brasilei-
consumo, expressa em partes (em peso) do que são os intervalos entre a última aplica- ro de Geografia e Estatística (IBGE, 2011)
agrotóxico, afim ou de seus resíduos, por ção e a colheita ou consumo do alimento in e são expressos conforme o Quadro 4.
milhão de partes de alimento (em peso) natura (STÜTZER; GUIMARÃES, 2003). Para o LMR são feitas algumas con-
(ppm ou mg/kg) – Resolução RDC no 4, Uma informação necessária para o siderações como critério de segurança
de 18 de janeiro de 2012 (ANVISA, 2012). cálculo do LMR é a determinação do fator (STÜTZER; GUIMARÃES, 2003):
O LMR é determinado pelo Ministério da alimentar (FA), obtido a partir de estudos a) toda a cultura foi tratada com o pro-
Saúde, em conjunto com o Ministério da oficiais de hábitos alimentares para estimar duto fitossanitário estudado;
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b) os resíduos remanescentes na cul- QUADRO 4 - Consumo alimentar médio per capita anual em relação ao total consumido por
tura estão sempre no nível máximo sexo no Brasil, no período 2008-2009
permitido; Consumo alimentar médio per capita
c) toda a população brasileira ingere Alimento (g/dia)

diariamente a quantidade máxima Total Masculino Feminino


do alimento determinado. Arroz 160,3 189,9 132,7
A equação para o cálculo do LMR é Arroz integral 8,1 9,3 7,0
feita a partir da consideração de que a IDA
Feijão 182,9 223,1 145,4
multiplicada pelo peso corporal deve ser
um número menor que o LMR multipli- Alface 3,6 3,3 3,9
cado pelo FA, ou seja: IDA < LMR x FA o Couve 3,8 3,6 4,1
que implica que LMR = IDA/FA. Como o
Repolho 1,0 0,9 1,0
LMR depende do fator de correção, para
um mesmo produto químico seu valor varia Tomate 6,5 7,3 5,8
de acordo com a cultura em estudo, o que Batata-inglesa 14,7 15,4 14,0
pode ser exemplificado com o inseticida à
Banana 18,6 18,3 18,8
base de carbaril, do grupo químico metil-
carbamato de naftila, classe toxicológica Mamão 6,4 4,7 7,9
II (Quadro 5). Uva 1,2 1,3 1,1
FONTE: IBGE (2011).
ANÁLISE DE RESÍDUO
NO BRASIL
QUADRO 5 - Limite máximo de resíduo (LMR) e intervalo de segurança (IS) para o carbaril
A Anvisa criou em 2001 o Programa
em diferentes culturas
de Análise de Resíduos de Agrotóxicos
LMR
em Alimentos (PARA), que possibilitou o Cultura IS
(mg/kg)
monitoramento contínuo e regular do nível
Abacaxi 0,5 7 dias
de contaminação por produtos fitossanitá-
Abóbora 0,1 3 dias
rios em alimentos frescos. Esse programa
foi viabilizado a partir da parceria com 25 Algodão 0,05 15 dias
estados da Federação e o Distrito Federal. Alho 0,2 14 dias
Inicialmente, o Programa monitorou nove
Banana 0,2 14 dias
produtos, sendo ampliado para 17 a partir
de 2008; em 2009, foram monitorados 20 Batata 0,1 30 dias
alimentos. Cebola 0,1 14 dias
O método de coleta é semelhante ao
Couve-flor 0,02 14 dias
adotado nos Estados Unidos e em alguns
países da Europa. Segue-se um plano de Feijão 0,5 3 dias
amostragem preestabelecido, de acordo Maçã 2,0 3 dias
com a metodologia determinada no manual
Tomate 0,1 3 dias
do Codex Alimentarius (FAO, 2009). O
FONTE: Anvisa (2006).
procedimento de amostragem visa garantir
a representação do alimento tal como este
chega às mãos do consumidor final. O Anvisa (Quadro 6), o que permite o fácil mos dos obtidos internacionalmente. Esses
Programa não tem a função punitiva, mas acesso pela população. números indicam a necessidade de melho-
a de levantar dados que possam orientar a Os dados apresentados no Quadro 6 são rias na forma de produção de alimentos
elaboração de políticas voltadas para a ado- preocupantes e demandam a atenção de toda com foco na segurança alimentar, sabendo
ção de BPA, garantindo, assim, a produção a cadeia produtiva de alimentos no Brasil, que esse problema não se restringe ao Bra-
de alimentos seguros. Os resultados obtidos bem como das autoridades, para que esses sil e nem aos países em desenvolvimento
nos exames são divulgados na internet pela índices possam ser mantidos mais próxi- (STOPELLI; MAGALHÃES, 2005).
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QUADRO 6 - Porcentagem de amostras que apresentaram resultados insatisfatórios quanto à presença de resíduos de agrotóxico entre os
anos de 2002/2010
Ano
Cultura
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Alface 8,6 6,7 14,0 46,5 28,7 40,0 19,8 38,4 54,2
Banana 6,5 2,2 3,6 3,7 - 4,3 1,0 3,5 -
Batata 22,2 8,7 1,8 0 0 1,4 2,0 1,2 0
Cenoura 0 0 19,5 11,3 - 9,9 30,4 24,8 49,6
Laranja 1,4 0 4,9 4,7 0 6,0 14,9 10,3 12,2
Mamão 19,5 37,6 2,5 0 - 17,2 17,3 38,8 30,4
Maçã 4,0 3,7 5,0 3,1 5,3 2,9 3,9 5,3 8,9
Morango 46,0 54,6 39,1 - 37,8 43,6 36,1 50,8 63,4
Tomate 26,1 0 7,3 4,4 2,0 44,7 18,3 32,6 16,3
Abacaxi - - - - - - 9,5 44,1 32,8
Arroz - - - - - - 4,4 27,2 7,4
Cebola - - - - - - 2,9 16,3 3,1
Feijão - - - - - - 2,9 44,2 6,5
Manga - - - - - - 1,0 8,1 4,0
Pimentão - - - - - - 64,3 80,0 91,8
Repolho - - - - - - 8,8 20,5 6,3
Uva - - - - - - 32,7 56,4 -
Beterraba - - - - - - - 32,0 32,6
Couve - - - - - - - 44,2 31,9
Pepino - - - - - - - 54,8 57,4
FONTE: Anvisa (2008, 2009, 2010).

É importante salientar que os dados do limite de detecção do produto é de 0,01 ppm superior aos 0,27% observado nos Estados
Quadro 6 expressam irregularidades nos e o limite máximo de resíduo é de 2 ppm, Unidos (USDA, 2013a). Com base no Qua-
resíduos e não, necessariamente, risco de ou seja, 200 vezes maior do que é possível dro 8, fica evidenciado que a maior causa
contaminação para a população. Entende-se detectar. Assim como nesse caso, resultado de inconformidade nos resíduos monitora-
que as irregularidades definidas pela Anvisa semelhante pode ser observado para carbaril dos no Brasil está no uso de produtos não
são de duas naturezas. A primeira tem rela- e cipermetrina. autorizados, o que representa, em média,
ção com a legalidade, ou seja, o resíduo de A segunda causa de irregularidade no 27% das amostras e, aproximadamente,
um produto é detectado, por exemplo, em resíduo é decorrente do fato de a quan- 85% das amostras de pimentão, cultura
um fruto, proveniente de uma cultura para tidade de produto observada no material na qual foi observado o maior número de
a qual o produto não está registrado ou seu colhido ser maior do que o limite estabe- amostras insatisfatórias.
uso não está autorizado. A simples detecção lecido para aquela cultura. No relatório do Culturas como pimentão, pepino,
do resíduo de um produto não registrado PARA (ANVISA, 2010) é apresentado um couve, alface, morango, mamão e outras
para a cultura, de acordo com a capacidade quadro que discrimina as duas fontes de hortaliças e fruteiras são conhecidas no
do método analítico empregado – limite de inconformidade (Quadro 8). A partir deste Brasil como minor crops ou culturas com
detecção (LD), torna aquela amostra irre- Quadro, é possível entender a composição menor suporte fitossanitário. Essas culturas
gular. Contudo, é importante destacar que o das amostras consideradas insatisfatórias. são marginais em termos de mercado de
valor do LD é, normalmente, muito menor As irregularidades decorrentes da detecção produtos fitossanitários, o que, segundo as
que o LMR autorizado para determinado de resíduo acima do LMR foi de 1,7%, indústrias de produtos fitossanitários, não
produto. Como exemplo, é possível ver no o que é valor inferior ao observado na justifica o investimento necessário para
Quadro 7, o caso da procimidona, em que o Alemanha, com 2,7% (RANA, 2013) e atender às exigências necessárias ao regis-
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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 83

QUADRO 7 - Valores de limites de detecção (LD), limites de quantificação (LQ), quantidade tro de produtos para esse grupo de culturas.
mínima de resíduo observada (Mín), quantidade máxima de resíduo observada Em fevereiro de 2010, foi lançada a Ins-
(Máx), para amostras de pimentão coletadas pelo Programa de Monitoramento
trução Normativa Conjunta no 1 (BRASIL;
de Resíduo da Anvisa, no ano de 2010, e limite máximo de resíduo (LMR)
IBAMA; ANVISA, 2010), envolvendo o
estabelecido para outras culturas
MAPA, a Anvisa e o Instituto Brasileiro do
Produto LD LQ Mín. Máx. LMR Cultura Fonte Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Carbaril 0,010 0,020 <LQ 0,09 0,10 Tomate Anvisa Renováveis (Ibama). O objetivo dessa Ins-
Carbendazim 0,010 0,020 <LQ 2,74 0,20 Tomate Anvisa trução Normativa foi criar condições legais
que viabilizassem o registro de produtos
Procimidona 0,010 0,030 <LQ 0,05 2,0 Tomate Anvisa
para atender às demandas das minor crops
Carbofurano 0,010 0,020 <LQ <LQ 0,10 Tomate Anvisa e regularizar a criação do LMR para essas
Ciproconazol 0,200 0,400 <LQ <LQ 0,40 Maçã Anvisa culturas. Foram criados então cinco grupos
Fenarimol 0,005 0,010 <LQ 0,09 0,05 Pepino Anvisa
de culturas: frutas com casca não comes-
tível, frutas com casca comestível, raízes,
Metamidofós 0,010 0,030 <LQ 0,62 0,01 Batata Anvisa
tubérculos e bulbos, hortaliças folhosas e
Cipermetrina 0,020 0,040 <LQ 0,40 0,10 Tomate Anvisa hortaliças não folhosas. Para cada grupo
NOTA: Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. foram escolhidas culturas representativas
que servirão de base para a extrapolação
provisória de LMRs para as culturas de
QUADRO 8 - Tipos de inconformidade observada em amostras de alimentos monitoradas pelo
Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) - 2010
suporte fitossanitário insuficiente. Essa Ins-
trução Normativa foi um passo na solução
NA
(1) (2)
>LMR >LMR e NA
Cultura Total dos problemas, mas, até o momento, não
(%) (%) (%)
foram alcançados os resultados esperados.
Abacaxi 16,4 8,2 8,2 32,8

Alface 51,9 0 2,3 54,2


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Arroz 7,4 0 0 7,4
O Brasil tem estabelecido procedi-
Batata 0 0 0 0 mentos que visam garantir a qualidade da
Beterraba 30,6 1,4 0,7 32,6 produção agrícola, a partir de uma política
Cebola 3,1 0 0 3,1 de segurança alimentar e de inserção inter-
nacional dos seus produtos.
Cenoura 48,9 0 0,7 49,6
Após 12 anos de criação do PARA,
Couve 24,3 2,8 4,9 31,9
pela Anvisa, criou-se um histórico de
Feijão 5,2 1,3 0 6,5 dados e identificaram-se problemas a ser
Laranja 10,1 2,0 0 12,2 solucionados, para que os resultados obti-
Maçã 5,5 3,4 0 8,9
dos possam efetivamente contribuir para
a consolidação da política de segurança
Mamão 21,6 6,8 2,0 30,4
alimentar no que se refere aos resíduos
Manga 4,0 0 0 4,0 de agrotóxicos em alimentos. O primeiro
Morango 51,8 2,7 8,9 63,4 passo seria evoluir politicamente para
Pepino 55,9 1,5 0 57,4 viabilizar o registro de produtos para as
culturas de menor suporte fitossanitário
Pimentão 84,9 0 6,8 91,8
para que, em seguida, sejam definidos os
Repolho 6,3 0 0 6,3 LMR para essas culturas, o que reduziria
Tomate 14,2 0,7 1,4 16,3 significativamente o número das inconfor-
Média 24,6 1,7 2,0 28,3 midades observadas.
NOTA: NA - Não autorizado (produto não registrado ou uso não autorizado para a cultura); Uma vez definidos os LMRs para as
LMR - Limite máximo de resíduo. culturas e implementado o sistema de ras-
(1)Presença de resíduo de produto não autorizado para a cultura. (2)Resíduo de produtos treabilidade da produção, seria possível re-
autorizados para a cultura, porém em níveis acima do LMR. definir em quais regiões e em quais culturas
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84 Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio

o problema de resíduos persiste. Finalmen- 11 de julho de 1989, que dispõe sobre a des in the European Union: Should we wor-
te, seriam tomadas medidas legislativas e pesquisa, a experimentação, a produção, a ry? Toxicology Letters, v.127, n.1/3, p.29-
embalagem e rotulagem, o transporte, o ar- 41, Feb. 2002.
educativas que garantissem a minimização
mazenamento, a comercialização, a propa-
e a correção dos problemas remanescentes RANA, S. German MRL violation flat in
ganda comercial, a utilização, a importação,
dentro de um programa de certificação da a exportação, o destino final dos resíduos 2011. Agrow, London, n. 658, p.11, 2013.
produção agrícola brasileira. e embalagens, o registro, a classificação, SILBERGELD, E.K. Toxicologia. In: STELL-
o controle, a inspeção e a fiscalização de
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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 85

Vazio sanitário
Nataniel Diniz Nogueira 1

Resumo - O vazio sanitário é uma estratégia eficiente de controle de pragas. No período


em que a medida é implementada, é proibida a presença de plantas vivas de determi-
nada cultura na propriedade rural. Na ausência de hospedeiros, as pragas têm a sua
disseminação reduzida, assim como o ataque às plantas e, por consequência, os prejuízos
aos agricultores. Em Minas Gerais, o vazio sanitário tem sido utilizado para o controle
da ferrugem-asiática da soja e do bicudo-do-algodoeiro. Compete ao Instituto Mineiro de
Agropecuária (IMA), como órgão estadual de defesa sanitária, fiscalizar as propriedades
e aplicar as medidas corretivas aos produtores que não cumprirem o período de vazio
sanitário. Os resultados da implementação do vazio sanitário em Minas Gerais têm sido
muito positivos, com redução efetiva dos prejuízos causados pela ferrugem-asiática da
soja e do bicudo-do-algodoeiro.
Palavras-chave: Soja. Algodão. Ferrugem-asiática da soja. Bicudo-do-algodoeiro. Con-
trole de pragas.

INTRODUÇÃO se comprometem a cumprir as cláusulas O vazio sanitário da soja consiste na


pactuadas. Isso se constata durante a ela- eliminação de todas as plantas vivas de soja,
O vazio sanitário é uma medida impor-
boração da legislação, momento em que o voluntárias ou não, e na proibição do seu
tante de controle de pragas em determinado
setor produtivo tem vez e voz ao apresentar cultivo no período entre 1o de julho a 30 de
período do ano, logo após a colheita. Nesse
propostas e contribuir para que as normas, setembro, para evitar que o fungo causador
período, é proibida a presença de plantas
quando publicadas, alcancem o objetivo e da ferrugem-asiática se multiplique durante
vivas de determinada cultura, uma vez que,
a eficiência a que se propõem. o final da entressafra. Isso significa que, por
na ausência de seus hospedeiros, as pragas
reduzem sua disseminação, fenômeno na- 90 dias, as propriedades rurais mineiras não
VAZIO SANITÁRIO DA SOJA poderão ter plantas vivas de soja.
tural que contribui eficazmente para que
no próximo plantio o ataque seja menos Minas Gerais é o 6o maior produtor de Para erradicar as plantas, o sojicultor
severo e os prejuízos minimizados. Como soja no Brasil, com área de 1.020.771 ha e pode usar produtos químicos recomenda-
resultado da medida, espera-se também a produção de 3.053.220 t do grão. As áreas dos e autorizados ou, ainda, outros meios.
redução da aplicação de produtos quími- de plantio estão localizadas nas regiões O importante é que nenhuma planta viva
cos para o controle das pragas, o que gera do Triângulo, Alto Paranaíba, Noroeste, de soja seja encontrada na propriedade.
economia para o produtor rural que passa a Centro-Sul e Norte de Minas, com desta- Estão isentas dessa obrigação as áreas des-
praticar uma agricultura mais sustentável, que para os municípios de Uberaba, Unaí, tinadas à pesquisa científica e produção de
com menor agressão ao meio ambiente. Paracatu, Buritis e Uberlândia, considera- sementes genéticas, desde que autorizadas,
Em Minas Gerais, existem dois perío- dos, em 2012, os maiores produtores mi- controladas e monitoradas pelo Instituto
dos de vazio sanitário. O primeiro diz res- neiros. Além de gerar emprego, a produção Mineiro de Agropecuária (IMA).
peito à cultura da soja e tem como objetivo de soja é uma atividade que agrega valor Os produtores que não aderirem ao va-
controlar a ferrugem-asiática. O segundo à renda do produtor e contribui para sua zio sanitário cometerão infração e estarão
refere-se à cultura do algodão e tem como permanência no meio rural. A importância sujeitos ao pagamento de multa mediante
objetivo controlar o bicudo-do-algodoeiro. dessa cultura para o estado de Minas Gerais abertura de processo administrativo.
O vazio sanitário revela-se como uma justifica a implantação do vazio sanitário Compete ao IMA, como órgão estadual de
parceria firmada entre o poder público para o controle da ferrugem-asiática da defesa sanitária, fiscalizar as propriedades
e a iniciativa privada, na qual as partes soja. (Fig. 1) e aplicar as medidas corretivas aos

Engo Agro, Gerente Defesa Sanitária Vegetal IMA, CEP 31630-901 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: nataniel@ima.mg.gov.br
1

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produtores que não cumprirem o período


de vazio sanitário. Cabe aos produtores
de soja comunicar ao escritório do IMA a
ocorrência da doença e cumprir as orienta-
ções recomendadas durante as fiscalizações.
Além de cumprir o vazio sanitário, todo
produtor de soja deve fazer o cadastro da
área plantada a cada safra, 30 dias após o
plantio, indo até o escritório do IMA, onde
sua propriedade está registrada e preencher
o documento “Ficha de Inscrição da Uni-
dade de Produção”.

Ferrugem-asiática da soja
A ferrugem-asiática da soja, causada
pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, é con-
siderada praga importante da cultura de soja
(Glicyne max), pois provoca grandes prejuí-
zos econômicos ao reduzir a produtividade.
Os primeiros sintomas da doença mani-
festam-se nas folhas, com o aparecimento de

Rodrigo Rocha
pontos escuros minúsculos. Posteriormente
a essas lesões, ocorre a desfolha da planta, o
que impossibilita a completa formação dos
Figura 1 - Fiscal do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) em trabalho de fiscalização
grãos e, consequentemente, reduz a produ-
de cumprimento do vazio sanitário
tividade. O desenvolvimento da doença é
extremamente rápido, pois o patógeno disse-
mina-se com facilidade pelo vento. Fatores
ambientais, como clima e temperatura, são
importantes componentes para determinar a
intensidade da doença na lavoura.
A ferrugem-asiática foi observada
pela primeira vez no Japão, em 1902. No
Brasil, foi constatada durante a safra de
2000/2001, no oeste do Paraná. Em 2004,
foi relatada em Patrocínio, município lo-
calizado na região do Alto Paranaíba, em
Minas Gerais, importante região produtora
da cultura no Estado.
Até dezembro de 2012, tinham sido
registrados 103 casos da doença no Estado.
Entretanto, a cada ano tem-se observado a
diminuição das ocorrências, especialmente
pela conscientização dos produtores na
implementação de medidas eficientes de con-
trole e pela vigilância sanitária que o poder
público mineiro tem exercido, ao fiscalizar
as propriedades rurais para o cumprimento Figura 2 - Exemplo de material impresso utilizado pelo Instituto Mineiro de Agropecuá-
do vazio sanitário. Ressalta-se também a ria (IMA) em campanhas educativas referentes ao vazio sanitário da soja em
maciça campanha educativa com material Minas Gerais
impresso (Fig. 2), que é veiculado nos meios FONTE: IMA (2012).

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de comunicação, visando alertar toda a co- cada unidade da Federação devem criar d) realizar ações de educação sanitária;
munidade produtora sobre a importância da os Comitês Estaduais de Controle da e) promover a capacitação e atualiza-
não existência de plantas vivas de soja du- Ferrugem-Asiática da Soja. ção permanente dos produtores e
rante o período de 90 dias de vazio sanitário. Ao Departamento de Sanidade Vegetal técnicos, para o monitoramento da
(DSV) do MAPA compete: praga;
Fundamentação legal
a) coordenar o PNCFS; f) participar do Comitê Estadual de
A Instrução Normativa no 2, de 29 de Controle da Ferrugem-Asiática da
b) elaborar e revisar o manual operati-
janeiro de 2007 do Ministério da Agricul- Soja;
vo do PNCFS;
tura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)
c) coordenar a elaboração e a divul- g) coordenar os Grupos Regionais;
(BRASIL, 2007), fundamentada no Decreto
no 5.741, de 30 de março de 2006 (BRASIL, gação de material educativo para h) dar prioridade ao cadastramento de
2006) e no Decreto no 24.114, de 12 de abril a promoção de ações uniformes no agrotóxicos e afins destinados ao
de 1934 (BRASIL, 1934), são os instrumen- território nacional; controle da praga;
tos legais que embasam o estabelecimento d) manter atualizado o cadastro nacio- i) publicar suas normas de acordo com
do vazio sanitário como medida de controle nal de técnicos treinados e capacita- o manual do PNCFS, definindo o
da ferrugem-asiática no Brasil. dos para a identificação e orientação sistema de fiscalização e as penali-
Essa Instrução Normativa instituiu o das medidas de controle da praga; dades.
Programa Nacional de Controle da Ferru- e) realizar auditorias, visando con- À iniciativa privada compete:
gem-Asiática da Soja (PNCFS) que tem firmar a implementação das ações a) manter atualizado o seu cadastro de
por finalidade o fortalecimento do sistema previstas no PNCFS; propriedade no Grupo Regional de
de produção agrícola da soja. O PNCFS Controle da Ferrugem-Asiática da
f) apoiar as unidades da Federação na
tem caráter nacional e é composto pelas Soja ou Órgão Estadual de Defesa
execução das atividades do PNCFS.
entidades relacionadas a seguir: Agropecuária;
Ao Departamento de Fiscalização de
a) Secretaria de Defesa Agropecuária/ b) apoiar ações de educação fitossani-
Insumos Agrícolas (DFIA) do MAPA
MAPA; tária, dirigidas aos produtores rurais
compete dar prioridade aos registros de in-
b) Secretaria de Política Agrícola/ e técnicos;
sumos agrícolas que apresentem inovações
MAPA; tecnológicas no controle da praga. c) participar do Comitê Estadual do
c) Superintendências Federais de Agri- Às Superintendências Federais de Controle da Ferrugem-Asiática da
cultura/MAPA; Agricultura (SFA) do MAPA compete: Soja e do Grupo Regional de con-
d) Secretarias de Agricultura Estaduais a) participar de ações de conscien- trole da praga;
ou seus Órgãos de Defesa Agrope- tização, divulgação e capacitação d) adotar ações de controle da praga,
cuária; técnica; conforme a orientação do Grupo
e) Instituições de informações meteo- b) coordenar o Comitê Estadual de Regional ou Órgão Estadual de
rológicas públicas e privadas; Controle da Ferrugem-Asiática da Defesa Agropecuária.

f) Iniciativa privada (organizações de Soja; Aos Órgãos de Pesquisa e Ensino


produtores rurais; organizações dos compete gerar, desenvolver e difundir tec-
c) acompanhar e realizar auditorias
produtores de insumos agrícolas e nologias e capacitar técnicos para o manejo
e supervisões, visando à imple-
do sistema de distribuição de insu- integrado da ferrugem-asiática, visando
mentação e consecução das ações
mos agrícolas); subsidiar as ações do PNCFS.
previstas no PNCFS.
Aos Órgãos de Assistência Técnica e
g) Instituições de pesquisa públicas e Às Secretarias de Agricultura Estaduais Extensão Rural compete:
privadas; ou aos Órgãos de Defesa Agropecuária
a) organizar treinamentos para técnicos
h) Universidades; compete:
e produtores em manejo fitossani-
i) Conselhos e Federações de classes a) gerenciar o sistema de monitora- tário, com ênfase na prevenção e
profissionais; mento da praga; controle da praga;
j) Órgãos de assistência técnica e de b) legislar complementarmente sobre b) participar dos programas de manejo
extensão rural. o assunto, adequando a legislação integrado de pragas nas áreas de
As Secretarias de Agricultura Estaduais estadual com a federal; produção, a fim de recomendar as
ou os Órgãos de Defesa Agropecuária de c) executar ações de fiscalização; medidas fitossanitárias necessárias;
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c) participar do Comitê Estadual do tecimento de Minas Gerais (Seapa-MG) Diretor-Geral do IMA e nomina as
Controle da Ferrugem-Asiática da publicou a Resolução no 882 (MINAS instituições que o compõem, com a
Soja e dos Grupos Regionais de GERAIS, 2007) estabelecendo o vazio participação de dois representantes
controle da praga. sanitário da soja em Minas Gerais em (titular e suplente), conforme des-
Ao Comitê Estadual de Controle da dois períodos, para atender às deman- crito a seguir:
Ferrugem-Asiática da Soja compete: das regionais dos produtores, mas logo - IMA,
percebeu-se que o controle ficava compro-
a) identificar as demandas estaduais e - Superintendência Federal de Agri-
metido. Por isso, em comum acordo com
propor diretrizes para o PNCFS; cultura, em Minas Gerais,
o setor produtivo, a Seapa-MG publicou,
b) elaborar, sempre que necessárias, - Emater-MG,
em 6 de junho do mesmo ano, novo ato
recomendações para os Grupos
normativo ̶ Resolução no 884 (MINAS - EPAMIG,
Regionais;
GERAIS, 2007) ̶ alterando a Resolução - Federação da Agricultura do Esta-
c) definir a política de localização no 882, de 26/4/2007 (MINAS GERAIS, do de Minas Gerais,
dos laboratórios de diagnose e das 2007) e estabelecendo o período de 1 de - Organização das Cooperativas do
estações meteorológicas, bem como julho a 30 de setembro de cada ano para
Estado de Minas Gerais,
a organização dos Grupos Regionais todo o Estado.
- Câmara Técnica de Grãos do Con-
de Controle da Ferrugem-Asiática O ato normativo estadual, além de
da Soja; selho Estadual de Política Agrícola,
estabelecer o período do vazio sanitário
d) implantar a política estadual dos em Minas Gerais, prevê ainda outras pro- - Câmara Técnica de Defesa Agro-
treinamentos dos técnicos de campo vidências: pecuária do Conselho Estadual de
e de laboratório; Política Agrícola,
a) define vazio sanitário como o pe-
e) atualizar, no DSV do MAPA, o ca- ríodo de ausência total de plantas - Cooperativas Agrícolas do Noro-
dastro dos técnicos capacitados para vivas de soja, excluindo-se as áreas este Mineiro,
realizar os trabalhos no controle da de pesquisa científica e de produção - Cooperativas do Triângulo Minei-
ferrugem-asiática no Estado. de semente genética, devidamente ro e Alto Paranaíba,
As Secretarias de Agricultura Esta- monitorada e controlada; - Associação dos Produtores de
duais ou os Órgãos de Defesa Agrope- b) imputa responsabilidade ao produtor Sementes de Minas Gerais,
cuária em cada unidade da Federação para, durante o período de vigência - Associação Nacional de Defesa
deverão estabelecer, após ouvir o setor do vazio sanitário, erradicar, às suas Vegetal,
produtivo e a pesquisa, ato normativo expensas, todas as plantas de soja
- Associação Nacional dos Distri-
com definição do calendário de plantio existentes na propriedade;
para a soja, por um período de pelo me- buidores de Insumos Agrícolas,
c) determina que a erradicação das
nos 60 dias sem a cultura e as plantas - Universidade Federal de Lavras,
plantas consista em sua destruição
voluntárias no campo, com base no art. por meio do uso de medidas quími- - Universidade Federal de Viçosa,
36, do Decreto no 24.114, de 12/4/1934 cas ou mecânicas; - Universidade Federal de Uber-
(BRASIL, 1934). lândia.
d) estabelece competência ao IMA para
Além do previsto no parágrafo anterior,
fiscalizar o cumprimento das medi- O IMA, ao considerar a importância
as Secretarias de Agricultura Estaduais ou
das preconizadas na Resolução; socioeconômica da cultura da soja para
os Órgãos de Defesa Agropecuária poderão
determinar, dentro de critérios técnicos, as e) estabelece competência à Empresa Minas Gerais, os prejuízos causados
exceções ao calendário de plantio. de Assistência Técnica e Extensão pela ferrugem-asiática e as legislações
Tendo por base a legislação federal Rural do Estado de Minas Gerais federal e estadual, especialmente a Lei
citada, bem como as orientações pro- (Emater-MG) e à EPAMIG para no 15.697, de 25 de julho de 2005 ̶ Lei
cedentes do MAPA, o estado de Minas programarem ações voltadas para Estadual de Defesa Sanitária Vegetal
Gerais baixou as normas estaduais com- a conscientização e divulgação do (MINAS GERAIS, 2005), ̶ baixou a
plementares para dar suporte ao PNCFS, vazio sanitário para o controle da Portaria no 854, de 19 de junho de 2007
a fim de contribuir com a produção de ferrugem-asiática da soja; (IMA, 2007), que estabelece os proce-
soja no Estado. f) determina que o Comitê Estadual dimentos para o vazio sanitário da soja
Em 26 de abril de 2007, a Secretaria de para o Controle da Ferrugem- no estado de Minas Gerais. Essa Portaria
Estado de Agricultura, Pecuária e Abas- Asiática da Soja seja presidido pelo determina que:
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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 89

a) todo sojicultor (proprietário, ar- previstas no art. 11 da Lei no 15.697, e aumentado o número de fiscalizações,
rendatário ou ocupante a qualquer de 25/7/2005 (MINAS GERAIS, com o objetivo de visitar um maior núme-
título das propriedades produtoras) 2005), às sanções civil e penal ca- ro de propriedades para um controle mais
deverá cadastrar no IMA, a cada bíveis. eficiente da praga. Tem-se observado um
safra, as áreas plantadas, com, no importante comprometimento por parte
mínimo, um ponto georreferenciado Fiscalização do vazio de todos os segmentos envolvidos no
da propriedade, até 30 dias após o sanitário da soja em Minas processo. O poder público tem realizado
término do plantio; Gerais as fiscalizações e os produtores rurais vêm
b) é obrigatório o cumprimento do O IMA visita e fiscaliza as proprie- cumprindo de maneira exemplar o papel
vazio sanitário para a cultura da soja dades, verifica o cumprimento do vazio de adesão ao vazio sanitário. Assim, o
em Minas Gerais no período de 1o sanitário por parte dos produtores de soja número de infrações tem diminuído sig-
de julho a 30 de setembro de cada e emite um Termo de Fiscalização. Caso nificativamente, de maneira inversamente
ano; sejam constatadas na lavoura plantas vi- proporcional ao número de fiscalizações
c) o IMA poderá autorizar a semeadura vas de soja, o produtor é notificado para (Gráfico 1). O trabalho educativo, com
e a manutenção de plantas vivas de realizar a erradicação no prazo de dez intensa divulgação nos meios de comuni-
soja, quando solicitado pelo inte- dias. Findo esse prazo, o fiscal do IMA cação e distribuição de cartazes e folhetos
ressado, por meio de requerimento retorna à propriedade; caso ainda encontre têm sido aspectos relevantes na obtenção
e mediante assinatura de Termo de plantas vivas de soja, fica caracterizado desses resultados altamente positivos.
Compromisso e Responsabilidade, que o produtor não atendeu à notifica- No período de 2004 a 2012, foram
nas seguintes situações: plantio des- ção. Nesse caso, é lavrado o Auto de relatados, em Minas Gerais, 103 casos de
tinado à pesquisa científica e plantio Infração que dará origem a um processo ferrugem-asiática da soja, em 30 municí-
destinado à produção de semente administrativo, cujo resultado pode ser pios diferentes (Gráfico 2), com destaque
genética; a aplicação de multa no valor de 1.500 para Uberaba (36 casos), seguido de
d) para obter a autorização, o interessa- Unidades Fiscais do Estado de Minas Uberlândia (14), Araguari (9) e Patrocínio
do deverá apresentar requerimento Gerais (Ufemgs). Esse valor é corrigido (5) (Gráfico 3). Ao longo desse período,
ao IMA, com o Plano de Trabalho anualmente. Em 2013, o valor da Ufemg tem-se verificado redução da ocorrência
Simplificado, até 30 de março de foi estabelecido em R$2,5016. Assim, o da ferrugem-asiática em Minas Gerais,
cada ano, contendo as seguintes valor atual da multa é R$3.752,40. sendo relatado apenas dois casos em 2012.
informações; Desde que foi estabelecido o vazio Assim, pode-se dizer que os resultados
- do requerente: nome, endereço; sanitário da soja, em 2007, o IMA tem da implementação do vazio sanitário da
área(s) indicada(s) para o desen- fiscalizado regularmente as propriedades soja em Minas Gerais são muito positivos.
volvimento da atividade, com
dados georreferenciados,
- do técnico responsável: nome; en- 3.000
dereço; variedade e/ou linhagem
a ser cultivada; detalhamento dos 2.500
processos de controle fitossanitário
2.000
da ferrugem-asiática;
e) o Plano de Trabalho Simplificado 1.500

será encaminhado ao IMA, com 1.000


justificativa fundamentada, os
quais serão submetidos à análise e 500
recomendação do Comitê Estadual
0
para Controle da Ferrugem-Asiáti- 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Total
ca da Soja, até 30 de abril de cada
ano; No de fiscalizações No de notificações No de autos de infração

f) o descumprimento do disposto na
Gráfico 1 - Fiscalizações, notificações e autos de infração realizados pelo Instituto Minei-
Portaria sujeitará os infratores, ro de Agropecuária (IMA), em Minas Gerais, de 2007 a 2012, referentes ao
além de multa e demais sanções vazio sanitário da soja

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90 Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio

Ressalta-se que o controle da doença ga- VAZIO SANITÁRIO DO maiores áreas de plantio do Estado. A pro-
rante a qualidade do produto e mantém ALGODÃO dução de algodão é atividade importante
a competitividade da soja do Estado. Minas Gerais é um importante produtor da economia, uma vez que gera emprego e
Produtores e técnicos devem estar sempre de algodão. Em 2012, a produção foi de agrega valor à renda do produtor, além de
atentos e comunicar qualquer ocorrência 108,8 mil toneladas de pluma, cultivadas contribuir para sua permanência no meio
da praga, além de seguir as recomenda- em uma área de 29,6 mil hectares distri- rural. A produção familiar concentra-se na
ções de controle e fazer o monitoramento buídos nas regiões Noroeste, Triângulo, região Norte de Minas, região tradicional
permanente das lavouras. Norte e Alto Paranaíba, consideradas as desse cultivo, enquanto que nas demais re-
giões do Estado estão localizados projetos
empresariais.
O vazio sanitário é uma medida que
40 tem por objetivo retardar o surgimento do
35 bicudo-do-algodoeiro na safra seguinte.
Sua prática contribui para diminuir as
30 aplicações de agrotóxicos e reduzir a con-
25 taminação do meio ambiente, o que, por
consequência, garante maior produtividade
20 das lavouras e beneficia diretamente os
15 produtores de algodão. A medida leva em
conta a importância socioeconômica da
10 cultura do algodão em Minas Gerais e os
5 prejuízos que o bicudo-do-algodoeiro pode
causar à economia, já que a manutenção
0 de áreas permanentes e contínuas com o
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
cultivo de algodão mantém o inseto ativo.
Municípios de ocorrência por ano Quantidade de focos
O vazio sanitário do algodão em Minas
Gráfico 2 - Registros de ocorrência da ferrugem-asiática da soja, em Minas Gerais, no Gerais consiste na eliminação de todas as
período 2004-2012 plantas de algodão e na proibição do seu
FONTE: Embrapa Soja (2013). cultivo no período entre 20 de setembro e

40
35
30
25
20
15
10
5
0
Monte Alegre de Minas

Uberaba
Rio Paranaíba
Nova Ponte

Uberlândia
Prata

Tupaciguara
Ibiaí

São Gotardo
Guarda-Mor

Iraí de Minas
Campo Florido

Unaí
Veríssimo
Delta

Romaria
Presidente Olegário

Serra do Salitre
Perdizes
Conceição das Alagoas

Patrocínio

Santa Juliana

Sete Lagoas
Araguari

Prados
Conquista

Indianópolis
Campos Altos

Planura
Capinópolis

Gráfico 3 - Registros de ocorrência por município da ferrugem-asiática da soja em Minas Gerais, no período 2004-2012
FONTE: Embrapa Soja (2013).

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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 91

20 de novembro de cada ano, para evitar tações de algodão. O bicudo foi constatado As seguintes estratégias são recomen-
a reprodução e a disseminação do bicudo- pela primeira vez no Brasil, em fevereiro dadas para o controle dessa praga:
do-algodoeiro durante a entressafra. Isso de 1983, em São Paulo, e em maio de a) utilizar inseticidas;
significa que, por 60 dias, as propriedades 1986, no Sul de Minas Gerais, fora das b) catar botões e maçãs novos que
rurais mineiras não poderão ter plantas zonas algodoeiras do Estado. Em agosto caem no solo (para matar as larvas
vivas de algodão. O controle consiste na de 1990, foi constatado em Uberaba e em e pupas do inseto que se encontram
erradicação de todas as plantas vivas rema- outros municípios do Triângulo Mineiro e, dentro dessas estruturas do algo-
nescentes da última safra ou que tenham em 1993, no Norte de Minas. dão);
brotado voluntariamente na área da pro- O bicudo é um pequeno besouro de
c) usar armadilha (para eliminar os pri-
priedade, bem como dos restos culturais. coloração cinza ou castanha e seu compri-
meiros insetos que saem dos locais
Para erradicar as plantas vivas, o produtor mento médio é de 7 mm. Possui mandíbulas
de refúgio);
de algodão pode usar produtos químicos afiadas (“bico”) utilizadas para alimenta-
d) destruir os restos de cultura e de
recomendados e autorizados ou, então, ção, quando perfuram folhas novas, botões
soqueiras do algodão imediatamente
outros meios. O importante é que nenhuma florais e maçãs novas dos algodoeiros. A
após a colheita;
planta viva de algodão seja encontrada na fêmea faz a postura depositando os ovos
propriedade. Como no caso do vazio sani- no interior do botão floral da planta, onde e) fazer a rotação de cultura;
tário da soja, as áreas de pesquisa científica as larvas se desenvolvem e destroem todo f) estabelecer o vazio sanitário.
e de produção de sementes genéticas, desde o seu interior. Sua disseminação ocorre por O vazio sanitário é uma estratégia de
que autorizadas, controladas e monitoradas meio do voo, vento, restos vegetais, má- controle bastante eficiente, porque elimina
pelo IMA, ficam isentas da medida. quinas e implementos contaminados. Após a fonte de reprodução da praga e diminui
Os produtores que não cumprem o vazio o ciclo da cultura, os adultos migram para sua incidência na próxima safra. Ademais,
sanitário do algodão cometem infração e es- áreas próximas e protegem-se sob os restos é uma prática considerada de baixo custo
tão sujeitos à abertura de processo adminis- de vegetais secos. Nesses locais, entram em e solidária, pois envolve a participação do
trativo e ao pagamento de multas. Compete diapausa, mecanismo que permite ao inseto conjunto de produtores de algodão.
ao IMA fiscalizar as propriedades e aplicar passar de uma safra de algodão para outra O IMA (Fig. 3) tem exigido o cum-
as medidas corretivas aos produtores que sem se alimentar. primento do vazio sanitário do algodão,
não cumprirem o período do vazio sanitário.
Cabe ao produtor de algodão comunicar
ao IMA a ocorrência da praga e cumprir
O Bicudo do Algodoeiro é uma O Bicudo do Algodoeiro é uma
importante pragaas daorientações
agricultu- recomendadas durante as O Bicudo dopraga
importante Algodoeiro é uma
da agricultu-
fiscalizações. Além disso, deve fazer o
ra, que causa grandes prejuízos importante
ra, que causa
ra, que
praga da agricultu-
grandes
causa grandes
prejuízos
prejuízos
nas plantações de algodão. Foi nas plantações de algodão. Foi
constatada no cadastro
Brasil em 1983da área plantada a cada safra, 60 nas plantações de algodão. Foi
constatada no Brasil em 1983
constatada no Brasil em 1983
e em Minas Gerais em 1986, no
Sul do Estado. dias após o plantio, indo até o escritório do
e em Minas Gerais em 1986, no
e em Minas Gerais em 1986, no
Sul do Estado.
Sul do Estado.
IMA no município onde a propriedade está
registrada e preencher o documento Ficha
de Inscrição da Unidade de Produção.
O vazio sanitário do algodão, pelas
características dessa cultura, bem como o
Foto: Carlos Rudiney
Foto: Carlos Rudiney

Foto: Carlos Rudiney

comportamento cultural, principalmente de


pequenos agricultores do Norte de Minas,
Em Minas Gerais, todo produtor de
Em Minas Gerais, todo produtor de
Em Minas Gerais, todo produtor de
algodão deve cadastrar no Institu-
os quais costumam aproveitar a soqueira
BICU
algodão deve cadastrar no Institu- algodão deve cadastrar no Institu-

BICUDO BIC
to Mineiro de Agropecuária (IMA),
to Mineiro de Agropecuária (IMA), to Mineiro de Agropecuária (IMA),
as áreas plantadas em até 60 dias
doemalgodoeiro como lavoura continuada, as áreas plantadas em até 60 dias

DO
as áreas plantadas até 60 dias após o término do plantio e cum- Dúvidas e informações:

DO
após o término do plantio e cum- Dúvidas e informações: após
prir oovazio
término do plantio
sanitário, e cum-
no período Dúvidas e informações:
tem nouma
prir o vazio sanitário, períododificuldade própria para seu prir
de 20o de
vazio sanitário,
setembro no novem-
a 20 de período Site: www.ima.mg.gov.br

ALGOD
Site: www.ima.mg.gov.br E-mail:Site: www.ima.mg.gov.br
ima@ima.mg.gov.br
de 20 de setembro a 20 de novem- de
bro20dede setembro
ano. Asa propriedades
20 de novem-

ALGO
cumprimento efetivo. E-mail: ima@ima.mg.gov.br cada

ALGODOEIRO
Telefone:
E-mail:(31) 3915 8715
ima@ima.mg.gov.br
bro de cada ano. As propriedades Telefone: (31) 3915 8715 são de
bro fiscalizadas
cada ano. pelo
Aspróprio IMA.
propriedades Gerência de Defesa Sanitária
Telefone: Vegetal
(31) 3915 8715- IMA

são fiscalizadas pelo próprio IMA. Gerência de Defesa Sanitária Vegetal - IMA são fiscalizadas pelo próprio IMA. Gerência de Defesa Sanitária Vegetal - IMA

Bicudo-do-algodoeiro
Figura 3 - Exemplo de material impresso utilizado pelo Instituto Mineiro de Agropecuária
O bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus (IMA) em campanhas educativas referentes ao vazio sanitário do algodão em
grandis) é uma das pragas mais importan- Minas Gerais
tes por causar grandes prejuízos nas plan- FONTE: IMA (2012).

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período de 60 dias, quando não pode haver f) aprovar os relatórios semestrais e i) avaliar os resultados alcançados
planta viva de algodão em território minei- anuais; pelo PNCB e sugerir à Comissão
ro. Com essa medida, é possível retardar g) promover ampla divulgação das Nacional medidas corretivas;
a entrada da praga na lavoura e reduzir o finalidades do PNCB. j) sugerir à Comissão Nacional medi-
número de aplicações de inseticidas.
Cada Grupo Técnico de Trabalho, das a ser aplicadas, na hipótese do

Fundamentação legal constituído nas unidades da Federação, é não cumprimento da programação


composto da seguinte maneira: aprovada;
A Instrução Normativa n o 44, de k) promover reuniões, encontros, trei-
a) SFA do MAPA;
29 de julho de 2008 (BRASIL, 2008), namentos e palestras, divulgando as
fundamentada no Decreto no 5.741, de b) Órgão Estadual de Defesa Agrope-
finalidades do PNCB e seus resulta-
30/3/2006 (BRASIL, 2006) e no Decreto cuária;
dos na esfera estadual.
no 24.114, de 12/4/1934 (BRASIL, 1934), c) Empresa Estadual de Pesquisa Agro-
A Instrução Normativa n o 44, de
são os instrumentos legais que embasam pecuária;
29/7/2008 (BRASIL, 2008) estabelece
o estabelecimento do vazio sanitário d) Empresa Estadual de Assistência
ainda que as Secretarias de Agricultura
como medida de controle do bicudo-do- Técnica e Extensão Rural;
Estaduais ou os Órgãos de Defesa Agro-
algodoeiro no Brasil.
e) Fundo de Apoio à Cultura do Algo- pecuária em cada unidade da Federação
Essa Instrução Normativa instituiu o
dão; deverão estabelecer, ao ouvir o setor
Programa Nacional de Controle do Bicudo-
do-Algodoeiro (PNCB), o qual tem por f) Associação dos Produtores de Algo- produtivo e a pesquisa, ato normativo
finalidade prevenir e controlar a praga em dão; definindo calendário de plantio para o
cultivos de algodão no País, bem como g) Órgão privado de pesquisa do algo- algodão, com um período de pelo menos
fortalecer o sistema de produção agrícola do dão. 60 dias sem a cultura e plantas voluntárias
algodão. Constituiu, também, uma Comis- no campo, e poderão determinar, dentro
O coordenador e o secretário-executivo
de critérios técnicos, as exceções ao ca-
são Nacional com a seguinte composição: do Grupo Técnico de Trabalho integram a
lendário de plantio.
a) DSV do MAPA; Comissão Nacional, respectivamente como
Tendo por base a legislação federal
b) representante de Grupo Técnico de titular e suplente.
citada, bem como as orientações proceden-
Trabalho da esfera estadual; Os Grupos Técnicos de Trabalho têm
tes do MAPA, o estado de Minas Gerais
por incumbências:
c) Associação Brasileira dos Produto- baixou as normas estaduais complemen-
a) identificar as demandas estaduais e
res de Algodão (Abrapa); tares para dar suporte ao PNCB, a fim de
propor diretrizes para o PNCB;
d) Centro Nacional de Pesquisa do contribuir com a produção de algodão no
Algodão (Embrapa Algodão). b) acompanhar e gerenciar a execução Estado. Em 30 de setembro de 2009, a
Essa Comissão tem a incumbência de: das atividades do Programa em sua Seapa-MG publicou a Resolução no 1.021
área de atuação; (MINAS GERAIS, 2009), estabelecendo
a) propor as diretrizes das políticas téc-
nicas, administrativas e de pesquisa c) elaborar a programação anual de o vazio sanitário do algodão em Minas
a ser seguidas pelo PNCB; trabalho, na esfera estadual, a ser Gerais, no período de 20 de agosto a 20 de
consolidada pela Comissão Nacional; outubro de cada ano. Contudo, em razão
b) elaborar o Manual Operativo do
d) elaborar, semestralmente, relatórios das dificuldades encontradas pelos pro-
PNCB;
técnicos de execução; dutores para cumprirem o vazio sanitário
c) propor medidas de ordem adminis- nesse período, foram realizadas reuniões
trativa e financeira, necessárias ao e) promover reuniões, sempre que
nas quais, em comum acordo com o setor
desenvolvimento das atividades do necessário para dinamizar ações do
produtivo, a Seapa-MG publicou em 13
Programa; Programa no Estado;
de abril de 2011, novo ato normativo –
d) avaliar a programação anual de tra- f) cumprir as decisões emanadas da
Resolução no 1.108 (MINAS GERAIS,
balho elaborada na esfera estadual Comissão Nacional;
2011) – alterando a Resolução anterior
pelos Grupos Técnicos de Trabalho g) participar das reuniões da Comissão e estabelecendo o novo período do vazio
e consolidar a programação nacio- Nacional; sanitário do algodão para 20 de setembro
nal; h) apresentar o desenvolvimento das a 20 de novembro de cada ano.
e) avaliar os relatórios técnicos de atividades do PNCB em sua área de O ato normativo estadual, além de es-
execução do Programa, elaborados atuação, por ocasião das reuniões da tabelecer o período do vazio sanitário em
pelos Grupos Técnicos de Trabalho; Comissão Nacional; Minas Gerais, define que:
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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 93

a) entende-se por vazio sanitário o deverá fazer a eliminação dos restos h) o descumprimento do disposto na
período de ausência total de plantas de cultura ou soqueira de algodão no Portaria sujeitará os infratores,
vivas de algodão, excluindo-se as prazo de 15 dias após a colheita; além de multa e demais sanções
áreas de pesquisa científica e de c) quando ocorrer prolongamento do previstas no art. 11 da Lei no 15.697,
produção de semente genética, de- ciclo da cultura que cause o atraso de 25/7/2005 (MINAS GERAIS,
vidamente monitorada e controlada; na colheita, com possibilidade de 2005), que dispõe sobre defesa sa-
b) é de responsabilidade do produtor, entrar no período do vazio sanitário, nitária vegetal no Estado, às sanções
durante o período de vigência do a Associação Mineira dos Produto- civil e penal cabíveis.
vazio sanitário, erradicar, às suas res de Algodão (Amipa) fará laudo
expensas, todas as plantas de algo- da lavoura e comunicará a ocorrên- Fiscalização do vazio
dão existentes em sua propriedade; cia ao IMA; sanitário do algodão em
Minas Gerais
c) a erradicação das plantas consiste na d) as propriedades incluídas no pará-
sua destruição por meio do uso de grafo anterior serão monitoradas Fiscais do IMA visitam e fiscalizam
medidas químicas ou mecânicas; pela Amipa e fiscalizadas pelo IMA as propriedades rurais, verificam o cum-
d) compete ao IMA fiscalizar o cum- até a colheita e arranquio de soquei- primento do vazio sanitário por parte dos
primento das medidas preconizadas ra, ficando, nesse período, isentas de produtores de algodão e emitem um Termo
sanções; de Fiscalização. Caso encontre plantas vi-
nessa Resolução;
e) o IMA poderá autorizar a semeadura vas de algodão, o produtor é notificado para
e) compete à Emater-MG e à EPAMIG
e a manutenção de plantas vivas de realizar a erradicação no prazo de dez dias.
implementar ações voltadas para
algodão, quando solicitado pelo in- Findo o prazo estipulado, os fiscais retor-
a conscientização e divulgação do
teressado por meio de requerimento nam à propriedade e, caso ainda encontre
vazio sanitário, para a prevenção e
e mediante assinatura de Termo de plantas vivas de algodão, fica caracterizado
o controle do bicudo-do-algodoeiro.
Compromisso e Responsabilidade, que o produtor não atendeu à notificação.
O IMA, ao considerar a importância
nas seguintes situações: plantio des- Nesse caso, é lavrado o Auto de Infração
socioeconômica da cultura do algodão que dará origem a um processo administra-
tinado à pesquisa científica e plantio
para Minas Gerais, os prejuízos causados tivo, cujo resultado pode ser a aplicação de
destinado à produção de semente
pelo bicudo-do-algodoeiro e que a manu-
genética; multa no valor de 1.500 Ufemg.
tenção de áreas permanentes e contínuas Desde o primeiro ano de vigência
com o cultivo do algodão mantém o inseto f) para execução das atividades cita-
do vazio sanitário do algodão em Minas
ativo e, ao considerar, ainda, a Instrução das, o interessado deverá apresentar
Gerais, os produtores têm relatado difi-
Normativa no 44, de 29/7/2008 (BRASIL, o requerimento ao IMA, com o
culdades no cumprimento no início do
2008), a Resolução no 1.021, de 30/9/2009 “Plano de Trabalho Simplificado”,
período, em virtude de atrasos na colheita.
(MINAS GERAIS, 2009), e a Lei no 15.697, até 30 de abril de cada ano, contendo
as seguintes informações: Nesses casos, a Amipa tem feito um laudo
de 25/7/2005 (MINAS GERAIS, 2005), da lavoura e comunicado a ocorrência ao
baixou a Portaria no 1.019, de 13 de ou- - do requerente: nome, endereço,
IMA. As propriedades assim caracterizadas
tubro de 2009 (IMA, 2009). Essa Portaria área(s) indicada(s) para o desen-
são monitoradas pela Amipa e fiscalizadas
estabelece procedimentos para o vazio volvimento da atividade, com
pelo IMA até a colheita e o arranquio da
sanitário do algodão no estado de Minas dados georreferenciados,
soqueira, ficando, nesse período, isentas de
Gerais e determina que: - do técnico responsável: nome, sanções. Esse procedimento está previsto
a) todo produtor de algodão (proprie- endereço, variedade e/ou linha- na Portaria no 1.019, de 13/10/2009 (IMA,
tário, arrendatário ou ocupante a gem a ser cultivada, 2009), tem acontecido anualmente e sido
qualquer título das propriedades - o detalhamento dos processos de uma das razões que justificaram a mudança
produtoras) deverá cadastrar no controle fitossanitário do bicudo- do período inicial para o mês de setembro.
IMA, a cada safra, as áreas planta- do-algodoeiro ou de contenção da O IMA exige e fiscaliza o cumprimento
das, com, no mínimo, um ponto ge- disseminação de A. grandis; do vazio sanitário do algodão. Há exceção
orreferenciado da propriedade, até g) o Plano de Trabalho Simplificado apenas para as áreas de pesquisa científica,
60 dias após o término do plantio; será encaminhado ao IMA junto as quais, para manter plantas vivas, devem
b) o produtor, proprietário, arrendatá- com a justificativa fundamentada, ter autorização, conforme estabelece a
rio ou ocupante a qualquer título das os quais serão submetidos à análise legislação. A empresa interessada faz a
propriedades produtoras de algodão até 30 de maio de cada ano; solicitação e o IMA analisa o Plano de
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94 Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio

Trabalho e emite a autorização. No período tário do algodão, em Minas Gerais, mostra- REFERÊNCIAS
de três anos de vigência da medida, foram se positivo, o que garante boa produção e BRASIL. Decreto no 24.114, de 12 de abril
emitidas seis autorizações para as empresas produtividade da cultura, além de manter de 1934. Aprova o Regulamento de Defesa
darem continuidade em suas pesquisas a competitividade do Estado, no que se Sanitária Vegetal. Diário Oficial [da] Repú-
científicas relacionadas com a produção refere à produção de algodão. blica Federativa do Brasil, Rio de Janeiro,
de sementes de algodão. A divulgação do vazio sanitário do 28 maio 1934.
Produtores e técnicos devem estar algodão nos meios de comunicação, bem BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecu-
sempre atentos e comunicar qualquer como a distribuição de cartazes e folhetos, ária e Abastecimento. Decreto no 5.741, de
ocorrência da praga, assim como fazer o são aspectos relevantes na obtenção dos 30 de março de 2006. Regulamenta os arts.
resultados altamente positivos. Ressalta- 27-A, 28-A e 29-A da Lei no 8.171, de 17 de
controle recomendado e o monitoramento
janeiro de 1991, organiza o Sistema Unifica-
permanente das lavouras. se que a vigilância deve ser permanente,
do de Atenção à Sanidade Agropecuária, e
A relação entre as notificações emitidas na busca pelo envolvimento e compro-
dá outras providências. Diário Oficial [da]
e os termos de fiscalização é pequena, metimento de todos os segmentos e na República Federativa do Brasil, Brasília, 31
considerando-se que, das 250 fiscalizações, ampliação de ações educativas. mar. 2006.
apenas 22 propriedades foram notificadas a BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuá-
fazer a erradicação das plantas encontradas CONSIDERAÇÕES FINAIS ria e Abastecimento. Instrução Normativa
e não foi emitido nenhum Auto de Infração O vazio sanitário é uma estratégia no 2, de 29 de janeiro de 2007. Institui, o
(Gráfico 4). eficiente e uma medida consciente de Programa Nacional de Controle da Ferrugem
Desde que foi estabelecido o vazio Asiática da Soja (PNCFS) no Departamento
controle de pragas na agricultura. É uma
de Sanidade Vegetal (DSV), junto à Coorde-
sanitário do algodão em Minas Gerais, forma de manejo e controle que envolve
nação-Geral de Proteção de Plantas (CGPP).
tem sido experimentado um importante a participação e o compromisso de todos Diário Oficial [da] República Federativa do
comprometimento por parte dos segmentos os elos da cadeia produtiva. Além disso, Brasil, Brasília, 30 jan. 2007. Seção 1.
envolvidos no processo, principalmente é uma parceria que envolve cooperação e BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuá-
com relação à adequação das normas. O solidariedade. Ao ser praticado nos moldes ria e Abastecimento. Instrução Normativa
Poder Público tem exercido sua função, em que foi concebido, o vazio sanitário no 44, de 29 de julho de 2008. Institui o Pro-
enquanto os produtores rurais vêm cum- contribui para a sustentabilidade da agri- grama Nacional de Controle do Bicudo do
prindo o seu papel de aderirem ao vazio cultura, promove o desenvolvimento e gera Algodoeiro – PNCB, no Ministério da Agri-
sanitário. Assim, o balanço do vazio sani- riquezas para o País. cultura, Pecuária e Abastecimento, visando
à prevenção e ao controle dói bicudo Antho-
nomus grandis em cultivos de algodão nas
Unidades da Federação. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília, 30
250 jul. 2008. Seção 1.
EMBRAPA SOJA. Consórcio Antiferrugem.
200 [Londrina, 2013]. Disponível em: <http://
www.consorcioantiferrugem.net>. Acesso
em: abr. 2013.
150
IMA. Bicudo do algodoeiro. [Belo Horizon-
te, 2012 ]. Folder.
100
IMA. Ferrugem asiática da soja. [Belo Hori-
zonte, 2012 ]. Folder.
50
IMA. Portaria no 854, de 19 de junho de
2007. Estabelece procedimentos para o va-
0 zio sanitário da soja no estado de Minas Ge-
2010 2011 2012 Total rais. Minas Gerais, Belo Horizonte, 20 jun.
2007.
No de fiscalizações No de notificações IMA. Portaria no 1.019, de 13 de outubro de
2009. Estabelece procedimentos para o va-
Gráfico 4 - Fiscalizações e notificações realizadas pelo Instituto Mineiro de Agropecuária zio sanitário do algodão no estado de Minas
(IMA), em Minas Gerais, de 2010 a 2012, referentes ao vazio sanitário do Gerais. Minas Gerais, Belo Horizonte, 14
algodão out. 2009.

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Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio 95

MINAS GERAIS. Lei no 15.697, de 25 de ju- Minas Gerais, Belo Horizonte, 27 abr. 2007. 2009. Estabelece o vazio sanitário para o
lho de 2005. Dispõe sobre a defesa sanitária MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de controle do bicudo do algodoeiro. Minas
vegetal no Estado. Minas Gerais, Belo Ho- Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Gerais, Belo Horizonte, 1 out. 2009.
rizonte, 26 jul. 2005. Diário do Executivo, Resolução no 884, de 6 de junho de 2007. MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de
p.4. Altera a Resolução no 882 de 26 de abril de Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Re-
MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de 2007. Minas Gerais, Belo Horizonte, 7 jun. solução no 1.108, de 13 de abril de 2011. Al-
Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Reso- 2007. tera a Resolução no 1.021, de 30 de setembro
lução no 882, de 26 de abril de 2007. Estabe- MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de de 2009, que estabelece vazio sanitário para
lece vazio sanitário para o controle da ferru- Agricultura, Pecuária e Abastecimento. o controle do bicudo do algodoeiro. Minas
gem asiática da soja e da outras providências. Resolução no 1.021, de 30 de setembro de Gerais, Belo Horizonte, 14 abr. 2011.

Maçã em regiões de inverno ameno


A maçã é uma das frutas
frescas de clima temperado mais
comercializada no Brasil e no mundo.
Estudos para melhoramento
genético possibilitaram que novas
cultivares, com menor exigência em
frio, fossem desenvolvidas, o que
permitiu a expansão dessa cultura a
novas áreas de cultivo, além do Sul do
Brasil.
O Boletim Técnico Aspectos
técnicos da cultura da macieira
em regiões de inverno ameno traz
recomendações importantes para
quem deseja cultivar esta fruteira com
produtividade e qualidade.

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I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 4 , n . 2 7 6 , p . 8 5 - 9 5 , s e t . / o u t . 2 0 1 3

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96 Defesa vegetal e sustentabilidade do agronegócio

INSTRUÇÕES AOS AUTORES


INTRODUÇÃO PRAZOS E ENTREGA DOS ARTIGOS
O Informe Agropecuário é uma publicação seriada, periódica, Os colaboradores técnicos da revista Informe Agropecuário devem
bimestral, de caráter técnico-científico e tem como objetivo principal observar os prazos estipulados formalmente para a entrega dos
difundir tecnologias geradas ou adaptadas pela EPAMIG, seus parceiros trabalhos, bem como priorizar o atendimento às dúvidas surgidas ao
e outras instituições para o desenvolvimento do agronegócio de Minas longo da produção da revista, levantadas pelo Editor técnico, pela
Gerais. Trata-se de um importante veículo de orientação e informação Revisão e pela Normalização. A não observação a essas normas trará
para todos os segmentos do agronegócio, bem como de todas as as seguintes implicações:
instituições de pesquisa agropecuária, universidades, escolas federais a) os colaboradores convidados pela Empresa terão seus trabalhos
e/ou estaduais de ensino agropecuário, produtores rurais, técnicos, excluídos da edição;
extensionistas, empresários e demais interessados. É peça importante b) os colaboradores da Empresa poderão ter seus trabalhos excluídos
para difusão de tecnologia, devendo, portanto, ser organizada para ou substituídos, a critério do respectivo Editor técnico.
atender às necessidades de informação de seu público, respeitando O Editor técnico deverá entregar ao Departamento de Publica-
sua linha editorial e a prioridade de divulgação de temas resultantes ções (DPPU), da EPAMIG, os originais dos artigos em CD-ROM ou
de projetos e programas de pesquisa realizados pela EPAMIG e seus por e-mail, já revisados tecnicamente (com o apoio dos consultores
parceiros. técnico-científicos), 120 dias antes da data prevista para circular a
A produção do Informe Agropecuário segue uma pauta e um cro- revista. Não serão aceitos artigos entregues fora desse prazo ou após
nograma previamente estabelecidos pelo Conselho de Publicações da o início da revisão linguística e normalização da revista.
EPAMIG e pela Comissão Editorial da Revista, conforme demanda do O prazo para divulgação de errata expira seis meses após a data
setor agropecuário e em atendimento às diretrizes do Governo. Cada de publicação da edição.
edição versa sobre um tema específico de importância econômica
para Minas Gerais. ESTRUTURAÇÃO DOS ARTIGOS
Do ponto de vista de execução, cada edição do Informe Agropecuário
Os artigos devem obedecer à seguinte sequência:
terá de um a três Editores técnicos, responsáveis pelo conteúdo da publi-
a) título: deve ser claro, conciso e indicar a ideia central, podendo
cação, pela seleção dos autores dos artigos e pela preparação da pauta.
ser acrescido de subtítulo. Devem-se evitar abreviaturas, parên-
teses e fórmulas que dificultem a sua compreensão;
APRESENTAÇÃO DOS ARTIGOS ORIGINAIS
b) nome do(s) autor(es): deve constar por extenso, com nume-
Os artigos devem ser enviados em CD-ROM ou por e-mail, no ração sobrescrita para indicar, no rodapé, sua formação e títulos
programa Microsoft Word, fonte Arial, corpo 12, espaço 1,5 linha, acadêmicos, profissão, instituição a que pertence e endereço.
parágrafo automático, justificado, em páginas formato A4 (21,0 x Exemplo: Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG Sul de Minas, Caixa
29,7cm). Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
Os quadros devem ser feitos também em Word, utilizando apenas ctsm@epamig.br;
o recurso de tabulação. Não se deve utilizar a tecla Enter para forma- c) resumo: deve ser constituído de texto conciso (de 100 a 250
tar o quadro, bem como valer-se de “toques” para alinhar elementos palavras), com dados relevantes sobre a metodologia, resulta-
gráficos de um quadro. dos principais e conclusões;
Os gráficos devem ser feitos em Excel e ter, no máximo, 15,5 cm d) palavras-chave: devem constar logo após o resumo. Não
de largura (em página A4). Para tanto, pode-se usar, no mínimo, corpo devem ser utilizadas palavras já contidas no título;
6 para composição dos dados, títulos e legendas. e) texto: deve ser dividido basicamente em: Introdução, Desenvol-
As fotografias a serem aplicadas nas publicações devem ser re- vimento e Considerações finais. A Introdução deve ser breve e
centes, de boa qualidade e conter autoria. Podem ser enviados, prefe- enfocar o objetivo do artigo;
rencialmente, os arquivos originais da câmera digital (para fotografar
f) agradecimento: elemento opcional;
utilizar a resolução máxima). As fotos antigas devem ser enviadas em
g) referências: devem ser padronizadas de acordo com o “Ma-
papel fotográfico (9 x 12 cm ou maior), cromo (slide) ou digitalizadas.
nual para Publicações da EPAMIG”, que apresenta adaptação
As fotografias digitalizadas devem ter resolução mínima de 300 DPIs
das normas da ABNT.
no formato mínimo de 15 x 10 cm na extensão JPG.
Não serão aceitas fotografias já escaneadas, incluídas no texto, em Com relação às citações de autores e ilustrações dentro do texto,
Word. Enviar os arquivos digitalizados, separadamente, na extensão também deve ser consultado o Manual para Publicações da EPAMIG.
já mencionada (JPG, com resolução de 300 DPIs). NOTA: Estas instruções, na íntegra, encontram-se no “Manual
Os desenhos feitos no computador devem ser enviados na sua para Publicações da EPAMIG”. Para consultá-lo, acessar:
extensão original, acompanhados de uma cópia em PDF, e os desenhos www.epamig.br, entrando em Artigos Técnicos ou Biblioteca/
feitos em nanquim ou papel vegetal devem ser digitalizados em JPG. Normalização.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 4 , n . 2 7 6 , s e t . / o u t . 2 0 1 3

IA276.indb 96 12/11/2013 14:30:05


Tecnologias para o Agronegócio

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Leite e derivados:
qualidade e segurança
Com o objetivo de orientar todos os envolvidos na
cadeia produtiva do leite, a EPAMIG lança o livro
Qualidade microbiológica do leite cru, o qual traz
informações sobre composição do leite, bactérias
e sua importância, higienização na cadeia
produtiva e práticas agropecuárias para produção
de leite. A publicação reúne artigos de autores
de instituições de pesquisa e universidades de
Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, São Paulo,
Rio Grande do Norte e Paraíba, com importante
conteúdo interinstitucional sobre qualidade e
segurança do leite.
Prevenir contaminações deve ser responsabilidade
de todos os profissionais envolvidos nessa
atividade, desde a fonte de produção, o transporte,
a indústria, a comercialização até o consumidor.
Assim, torna-se fundamental conhecer a
microbiologia, as fontes de contaminação e os
principais microrganismos contaminantes do leite,
bem como os problemas decorrentes.

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