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qualidade e segurança
Com o objetivo de orientar todos os envolvidos na
cadeia produtiva do leite, a EPAMIG lança o livro
Qualidade microbiológica do leite cru, o qual traz
informações sobre composição do leite, bactérias
e sua importância, higienização na cadeia
produtiva e práticas agropecuárias para produção
de leite. A publicação reúne artigos de autores
de instituições de pesquisa e universidades de
Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, São Paulo,
Rio Grande do Norte e Paraíba, com importante
conteúdo interinstitucional sobre qualidade e
segurança do leite.
Prevenir contaminações deve ser responsabilidade
de todos os profissionais envolvidos nessa
atividade, desde a fonte de produção, o transporte,
a indústria, a comercialização até o consumidor.
Assim, torna-se fundamental conhecer a
microbiologia, as fontes de contaminação e os
principais microrganismos contaminantes do leite,
bem como os problemas decorrentes.
publicacao@epamig.br
(31) 3489-5002
9 770100 336002
01003364
ISSN
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www.informeagropecuario.com.br
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Sumário
Editorial ......................................................................................................................... 3
Entrevista ....................................................................................................................... 4
IA - O que é Defesa Agropecuária e ção, de classificação e de certificação fesa Animal, o IMA executa os seguin-
qual a importância do IMA para o da qualidade e da origem de produtos tes programas: Programa Nacional de
agronegócio mineiro? e subprodutos agropecuários e agroin- Erradicação e Prevenção da Febre Af-
Altino Rodrigues Neto - A Defesa dustriais. tosa (PNEFA); Programa Nacional de
Agropecuária é constituída de normas Controle da Raiva dos Herbívoros e ou-
IA - Quais os principais programas do tras Encefalopatias; Programa Nacional
e ações que integram sistemas públicos IMA nas áreas de Defesa Vegetal
e privados da preservação ou melhoria de Sanidade Avícola (PNSA); Progra-
e Animal?
da condição zoofitossanitária em todo o ma Nacional de Sanidade dos Caprinos
território nacional, garantindo, assim, a Altino Rodrigues Neto - Em Minas e Ovinos (PNSCO); Programa Nacional
sanidade animal e vegetal, a idoneidade Gerais, cabe ao IMA a execução de pro- de Sanidade dos Suídeos (PNSS); Pro-
dos insumos e dos serviços utilizados na gramas coordenados pelo Ministério grama Nacional de Controle e Erradi-
agropecuária, além da identidade, qua- da Agricultura, no âmbito de preservar cação da Brucelose e da Tuberculose
lidade e segurança higiênico-sanitária a sanidade na agricultura e na pecuá- Animal (PNCEBT); Programa Nacio-
dos alimentos e demais produtos agro- ria. As atividades incluem medidas de nal de Sanidade dos Equídeos (PNSE);
pecuários. O IMA, como instituição, vigilância e fiscalização aplicadas em e a fiscalização do uso de produtos ve-
tem por finalidade executar as políticas várias etapas do processo produtivo. Na terinários.
públicas de produção, educação, saúde, área de Defesa Vegetal, o IMA executa
IA - Quais são os programas de certifi-
defesa e fiscalização sanitária animal e programas voltados para o controle do
cação coordenados pelo IMA?
vegetal, além de certificar os produtos bicudo-do-algodoeiro (vazio sanitário
agropecuários no Estado, visando à pre- do algodão); controle da ferrugem-asi- Altino Rodrigues Neto - Os Programas
servação da saúde pública, do meio am- ática-da-soja (vazio sanitário da soja); estão inclusos no projeto maior Cer-
biente e o desenvolvimento do agrone- controle do cancro-cítrico; controle do tifica Minas. O IMA é um Organismo
gócio, sempre em consenso com as di- greening; controle do cancro-bacteria- Certificador de Produto (OCP) e um
retrizes fixadas pelos governos estadual no-da-videira; controle do nematoide Organismo de Avaliação da Conformi-
e federal. O IMA visa preservar a saúde na produção de mudas de café; controle dade (OAC), credenciado pelo Institu-
da população do Estado, planejando, do comércio e uso de agrotóxicos; con- to Nacional de Metrologia, Qualidade
coordenando, fiscalizando e executando trole do comércio de sementes e mudas e Tecnologia (Inmetro) sob o número
programas de defesa sanitária animal e e, finalmente, a certificação fitossanitá- 0068. São estes os Programas: Certifica
vegetal de educação sanitária, de inspe- ria de origem (CFO). Já na área de De- Minas Café, Cachaça Artesanal Alam-
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INTRODUÇÃO e fibras têxteis vegetais, frutas e derivados, a dispersão de pragas (qualquer espécie,
hortaliças, cereais e derivados e borracha raça ou biótipo de vegetais, animais ou
A expansão do agronegócio no Brasil
natural. O superávit da balança comercial agentes patogênicos, nocivos aos vegetais
deve ser acompanhada de medidas capa-
do agronegócio foi de US$ 79,4 bilhões, ou produtos vegetais, compreendendo inse-
zes de garantir produtos com qualidade
em 2012, considerado vital para a economia tos, ácaros, nematoides, fungos, bactérias,
superior diante das exigências internacio-
nacional (CONFEDERAÇÃO NACIONAL vírus e viroides) de expressão econômica e
nais. Por outro lado, essas medidas têm
DE AGRICULTURA, 2013). quarentenária no território nacional consti-
acirrado o comércio e criado diferentes
Entretanto, a manutenção e a promoção tuem preocupação constante de governos,
tipos de barreiras. da competitividade do agronegócio brasi- empresas e produtores. Somente no caso
O grande impulso que teve o agro- leiro enfrentam enormes desafios, muitos de insetos, as perdas anuais estimadas são
negócio brasileiro, a partir da década de dos quais de natureza técnica. Um desses da ordem de US$ 12 milhões, dos quais
1970, deu-se graças ao desenvolvimento desafios diz respeito à sanidade vegetal. US$ 1,6 milhão são por causa das pragas
científico e tecnológico e à capacitação em Problemas sanitários estão direta e indi- exóticas (OLIVEIRA et al., 2013). A
nível nacional na área das Ciências Agrá- retamente relacionados com as barreiras ferrugem-asiática da soja, a mosca-branca,
rias, o que gerou a chamada agricultura sanitárias que, diferentemente das barreiras o nematoide-do-cisto da soja e o bicudo-
tropical, base do crescimento expressivo tarifárias, levam anos para ser resolvidas. do-algodoeiro, entre outros, servem como
desse setor. Dessa forma, a contribuição Nos últimos anos, o Brasil viveu situações exemplos de pragas, cuja introdução e/ou
do agronegócio para o PIB brasileiro de desgaste econômico e social por causa dispersão causaram enormes prejuízos ao
passou a ser expressiva, com a partici- da imposição de barreiras sanitárias em agronegócio brasileiro.
pação de produtos do complexo de soja, seus produtos e de perdas de mercados Este artigo tem como objetivo de-
carnes, açúcar e álcool, madeira (papel, provocadas por problemas sanitários. A monstrar que o investimento em defesa
celulose e outros), café, tabaco, algodão introdução – entrada e estabelecimento – e fitossanitária é uma decisão estratégica
1
Engo Agro , D.Sc., Prof. Adj.UFES - CEUNES, CEP 29932-540 São Mateus-ES. Correio eletrônico: barretofito@uol.com.br
2
Engo Agro, Ph.D., Prof. Associado UFV - Depto. Entomologia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: pallini@ufv.br
3
Enga Agra, Ph.D., Pesq. EPAMIG Zona da Mata, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: venzon@epamig.ufv.br
4
Engo Agro, Ph.D., Pesq. EPAMIG Zona da Mata, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: trazilbo@epamig.br
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que não pode ficar de fora das políticas dos europeia de L. dispar, nos EUA, no período Lagarta Helicoverpa
governos, independentemente de questões de 1981 a 1996, chegaram a US$ 764 milhões
A lagarta Helicoverpa (Helicoverpa
partidárias ou preferências ideológicas. A (WALNER, 1996).
armigera) é uma praga recém-introduzida
defesa fitossanitária está completamente Por ser fácil sua disseminação e pelo fato
no Brasil. O primeiro ataque ocorreu na
ligada à defesa da sustentabilidade econô- de ainda não ter sido constatada no Brasil,
cultura da soja, em Goiás e na Bahia, e,
mica e social do País que tem na agricultura é considerada praga quarentenária de inte-
na cultura do algodoeiro, no Mato Grosso
uma de suas principais fontes de riquezas resse florestal no País (IEDE et al., 2007).
(CZEPAK et al., 2013). Trata-se de uma
e estabilidade.
Filoxera praga polífaga que causa sérios danos
econômicos em diversas regiões do mundo
PRAGAS DE IMPORTÂNCIA No início da década de 1850, a prin-
em diferentes culturas, como soja, algodão,
HISTÓRICA cipal fonte de renda da França (cerca de
tomate, entre outras. Seus danos são regis-
20%) e a principal atividade geradora de
O surgimento da entomologia agrícola trados na África, Oriente Médio, Europa,
e da fitopatologia como ciência veio a partir empregos (30% da mão de obra) estavam
Índia, Ásia, Austrália, Nova Zelândia e em
de demandas de problemas fitossanitários relacionadas com a viticultura. O consumo
várias ilhas do Pacífico (FITT, 1989). Em
que causaram impacto na agricultura, anual per capita de vinho na França, entre
1989, os danos causados em legumes na Ín-
especialmente no século 19. A maioria 1850 e 1880, girava em torno de 50 a 80 L.
dia foram de US$ 300 milhões, e, em várias
desses problemas foi decorrente de pragas A filoxera (Phylloxera vastatrix), que esta-
culturas, na Austrália, de US$ 25 milhões.
introduzidas que, encontrando condições va presente em vinhedos nos EUA, atacava
Na China, essa praga possui resistência à
de adaptação no novo ambiente, dizimaram as raízes das plantas. Posteriormente, a pra-
maioria dos inseticidas usados no controle
produções, provocaram fome e migração ga foi introduzida na Inglaterra, nos anos
de pragas da cultura do algodão (WU; GUO,
de 1850. Em 1863, videiras começaram a
de pessoas. Nessa época, pouco esforço 2005). Na África, também pela resistência
morrer inexplicavelmente nos vinhedos da
ainda era devotado às estratégias de qua- aos inseticidas, adotou-se o Manejo Integra-
França, na região de Bordeaux. Em pouco
rentena fitossanitária. A quarentena, até do de Pragas (MIP), com foco na resistência
mais de 30 anos, essa praga dizimou os
então, era um instrumento de prevenção genética (SILVIE et al., 2013).
vinhedos franceses e os de muitos outros
aplicado em epidemias humanas, inicial-
países da Europa (CAMPBELL, 2004). Requeima-da-batata
mente utilizado em cidades portuárias,
Após a introdução da filoxera, o
onde os navios tinham que permanecer A requeima-da-batata é causada pelo
sistema de produção de uva foi alterado,
por 40 dias, antes que os passageiros, com oomiceto Phytophthora infestans. No
não se podendo mais plantar videiras com
suspeita de trazer alguma doença, pudes- século 19, a batata era fundamental como
raízes naturais, as quais eram sensíveis à
sem desembarcar (GENSINI; YACOUB;
filoxera. Assim, as videiras passaram a ser parte de dieta alimentar da população eu-
CONTI, 2004). Algumas das principais
enxertadas em porta-enxertos resistentes à ropeia. Assim, a ocorrência da epidemia
pragas de importância histórica são rela- da requeima, na Europa, a partir de 1845,
praga, provenientes dos EUA. Especialistas
tadas a seguir.
afirmaram que os vinhos da França nunca foi extremamente destrutiva. No período
mais foram os mesmos após a introdução de de 1845 a 1847, os impactos foram do-
Mariposa-cigana
P. vastatrix. Por outro lado, produtores do cumentados com maior intensidade na
A mariposa-cigana (Lymantria dispar) Chile afirmam que uma das características Irlanda, fato que passou historicamente
é nativa da Europa e foi introduzida nos que garantem a qualidade de seus vinhos a ser conhecido como a Grande Fome
Estados Unidos em 1868, por um cientista é que as videiras chilenas são da espécie Irlandesa. Além da fome, o desabasteci-
francês, durante uma tentativa de produzir europeia (Vitis vinifera), plantadas em pé- mento causado pela destruição total dos
seda de insetos. É capaz de atacar várias franco, ou seja, sem a utilização de porta- plantios de batata promoveu a morte de
culturas de interesse econômico, como enxertos. Um dos avanços obtidos, após a dois milhões de pessoas e a migração de
carvalho, maçã e salgueiro, e é considera- experiência com os prejuízos causados por outro milhão. A população da Irlanda, que
da uma das pragas mais importantes para P. vastatrix, foi a elaboração de um tratado era de 8,3 milhões de habitantes, em 1846,
árvores produtoras de madeira nos EUA. multilateral, voltado para a proteção passou para 5,2 milhões, 30 anos depois
Em 1889, foi observado o primeiro surto fitossanitária, conhecido como Convenção (GREGORY, 1983).
de mariposa-cigana. Desde 1980, essa para Phylloxera. Esse documento foi A epidemia da requeima-da-batata foi
mariposa vem desfolhando, em média, uma assinado em 1881, em Berna (Suíça), e uma das forças promotoras do surgimento
área de 4.000 km2 por ano; em 1981, uma estabeleceu medidas regulatórias para da Fitopatologia como ciência, em decor-
área recorde de 52.200 km2 foi destruída. vinhedos de 12 países (OLIVEIRA et al., rência dos estudos realizados por Berkeley,
Estima-se que perdas provocadas pela raça 2004). em 1845, e, posteriormente, por De Bary,
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que provou a etiologia e identificou a dos EUA, o míldio causou perdas que va- viabilizar os plantios e levar à adoção de
espécie causadora da doença, em 1876. É riaram de 25% a 75% da produção, sendo estratégias rigorosas de controle.
importante destacar que a teoria da abio- essa doença considerada uma das mais
gênese havia sido descartada há pouco destrutivas para a viticultura americana. Tristeza-dos-citros
tempo, por volta de 1862, em decorrência O míldio foi introduzido na França, a A tristeza-dos-citros (Citrus tristeza
dos experimentos de Pasteur. partir dos EUA, em 1875. O material gené- virus) foi detectada pela primeira vez em
A elucidação do centro de origem de tico francês apresentou-se mais suscetível 1937, em plantios localizados na região de
P. infestans não é uma tarefa fácil, em à doença que o americano. Em 1882, a Taubaté, no Vale do Ribeira, estado de São
decorrência da falta de registros históricos doença já havia atingido todas as regiões Paulo. Várias plantas de citros apresenta-
e da ausência de pesquisadores na área, produtoras de vinho da França e dissemi- ram paralisação no crescimento, queda na
quando a doença atingiu seu clímax na his- nado para Itália e Alemanha. O míldio foi
produção e seca de galhos, o que culminava
tória da humanidade. Determinar também mais um dos fatores que contribuíram para
em morte das plantas. A doença era mais
a origem do patógeno na Europa é outra fragilizar a indústria de vinho da França,
intensa em plantas enxertadas com laranja
tarefa difícil (ANDRIVON, 1996; ABAD; no final do século 19.
azeda, que era prevalecente nos plantios
ABAD, 1997). Não há registros e evidên- Um dos resultados decorrentes da
da época, por se tratar de porta-enxerto
cias confiáveis que permitam esclarecer busca por métodos de controle do míldio
resistente à outra doença, a gomose. O
se a doença surgiu, pela primeira vez, no da videira foi o descobrimento de um
agente causador da tristeza-dos-citros foi
continente europeu ou nos EUA ou mesmo fungicida por Millardet. Na região de Bor-
definitivamente desvendado em 1946,
na região Andina, mais especificamente no deaux, na França, os agricultores tinham o
por Meneghini (1946). E quase todos os
Peru. Contudo, parece haver relação entre hábito de aplicar uma calda de sulfato de
pomares do estado de São Paulo foram
uma carga especial de batata oficialmente cobre e cal sobre as parreiras próximas à
dizimados. O controle foi obtido com a
importada por navio, pela Bélgica, entre estrada, com o objetivo de desestimular o
substituição do porta-enxerto de laranja
1843 e 1844, e o surgimento da epidemia furto de cachos de uva pelos transeuntes.
azeda pelo limão-cravo. Em decorrência de
em 1845 (BOURKE; LAMB, 1993). A Após observar os efeitos da calda sobre a
sua amplitude e dos danos causados, com a
Bélgica importava grande quantidade de doença, os estudos foram aprofundados,
chegando-se à formulação final conhecida morte de mais de 100 milhões de plantas, a
batata, com o objetivo de obter material
comercial sadio, tendo em vista que o como calda bordalesa, em homenagem à tristeza-dos-citros é considerada uma das
produto do país estava infestado por região onde foi desenvolvida. Os resul- principais doenças da citricultura mundial.
fungos do gênero Fusarium e por uma tados de Millardet foram publicados em O vírus da tristeza-dos-citros tem sua
virose. Os locais de origem do material 1885 (AINSWORTH, 1981), quando foi origem possivelmente na China. A doença
importado para a cidade de West Flanders, recomendado o uso da calda bordalesa já estava presente na África do Sul, desde
em julho de 1943, não foram identificados, para o controle do míldio-da-videira. Essa 1924, de onde parece ter-se disseminado
mas há fortes indícios de que, junto com calda também passou a ser indicada para para a América Central e depois para o Bra-
esse material, veio também o inóculo de o controle da requeima-da-batata e, até sil. A primeira grande devastação causada
P. infestans que deu origem à epidemia hoje, é utilizada no controle de diversas pela tristeza-dos-citros na América Latina
responsável pela Grande Fome Irlandesa. doenças de plantas em plantios conven- ocorreu em 1930, em Corrientes, Argentina,
cionais e orgânicos. com a destruição de 10 milhões de árvores,
Míldio-da-videira em 15 anos (BORDIGNON et al., 2003).
Após a introdução da filoxera nos par- PRAGAS QUE MARCARAM O
AGRONEGÓCIO BRASILEIRO Bicudo-do-algodoeiro
reirais da França, vários esforços foram
realizados com o objetivo de garantir a Assim como observado na Europa, O bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus
produção nacional de vinho e a renda dos no século 19, várias pragas introduzidas grandis) foi detectado em 1983, no estado
agricultores franceses. Uma das medidas no Brasil também adquiriram relevância de São Paulo. A introdução dessa praga
de controle adotadas foi a importação de na história da fitossanidade nacional, em gerou grande impacto na cadeia produtiva
porta-enxertos de videiras resistentes à decorrência dos impactos que causaram do algodão, ao afetar o valor das áreas pro-
filoxera. Os cientistas franceses já haviam nas regiões produtoras. Algumas dessas dutivas, causar o fechamento de usinas que
alertado sobre a possibilidade de introdu- pragas ainda são importantes para as cul- beneficiavam sementes e óleo e promover
ção do míldio-da-videira (causado pelo turas nas quais incidem e demandam uso o desemprego, especialmente nas Regiões
oomiceto Plasmopora viticola), a partir de de produtos fitossanitários e investimento Nordeste e Sudeste do Brasil. Tanto a in-
materiais trazidos dos EUA, onde o míldio em programas de melhoramento genético. trodução quanto a dispersão do bicudo no
já havia sido relatado em 1843. No norte Em determinadas condições, podem in- Brasil estão associadas a fatores humanos
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e não naturais. A primeira detecção ocorreu expressão econômica em culturas. Foi pri- registrado por algumas, como as relatadas
nas proximidades do Aeroporto Internacio- meiramente introduzido no Brasil em 1928, anteriormente, nem todas as pragas são
nal de Cumbica, com origem provável do e é reconhecido como vetor de viroses em capazes de causar danos catastróficos.
sudeste dos EUA (RAMALHO; MEDEI- feijão, soja e tomate. Sua disseminação por Mesmo que associadas a grandes impactos
ROS; LEMOS, 2000). diferentes regiões geográficas é atribuída na agricultura, com poucas exceções, as
ao transporte de material vegetal pelo ho- pragas têm sua importância relativa mi-
Vassoura-de-bruxa mem (BROWN; BIRD, 1992). Contudo, nimizada a partir do desenvolvimento de
Vassoura-de-bruxa (Moniliophtora sua importância cresceu com a introdução tecnologias que possibilitem seu convívio
perniciosa) é uma doença que teve do biótipo B, no início de 1990. Esse com a produção econômica.
um dos maiores impactos em regiões biótipo é mais nocivo à agricultura que Bergamin Filho e Kimati (1995) es-
produtoras do Brasil, não apenas pelos outros biótipos de B. tabaci, pois, além de tabelecem alguns conceitos de danos que
danos imediatos, mas pela extensão dos atuar como vetor de vírus, também causa devem ser considerados em discussões que
prejuízos, das dificuldades em desenvolver danos diretos às plantas decorrentes de sua envolvem este tema. O dano pode ser po-
medidas de controle e de implementá- alimentação (sucção de seiva e injeção de tencial, ou seja, aquele observado quando
las junto aos produtores. A doença foi substâncias tóxicas). Além disso, reduz nenhuma medida de controle é adotada,
identificada, inicialmente, em 1840, no o vigor das plantas, induz a anomalias pela disponibilização momentânea de
Suriname, e disseminou-se rapidamente fisiológicas e deposita grande quantidade métodos de controle ou simplesmente de-
pelo Continente. No Brasil, foi detectada de secreção açucarada, que prejudica os corrente da falta de conhecimento, por se
pela primeira vez na Região Norte, onde processos fisiológicos da planta e favorece tratar de uma praga inteiramente nova. O
permaneceu endêmica de 1898 até 1989, a ocorrência de fumagina (LOURENÇÃO; dano potencial pode decorrer de uma visão
quando foi introduzida no sul da Bahia, YUKI; ALVES, 1999). preditiva ou retrospectiva. Já o dano real é
uma das principais regiões produtoras Os prejuízos causados por essa praga, aquele que ocorreu ou ainda ocorre, pela
de cacau do Brasil. A produção brasileira no Brasil, já ultrapassam 1,5 bilhão de presença da praga na lavoura.
de cacau, do seu auge produtivo de 459 reais, considerando-se gastos relativos O dano é causado pela ação direta das
mil toneladas, em 1986, quando o Brasil à queda de produção e ao aumento nos pragas na lavoura, decorrente das alte-
era o segundo maior produtor mundial, custos de controle, além da disseminação rações nos mecanismos fisiológicos das
participando com 22% da produção de outras doenças. Diversas culturas como plantas sadias, da destruição das folhas, do
global do fruto, sofreu redução, em termos soja, quiabo, repolho, pimentão, jiló, abó- sistema radicular, do sistema de transporte
porcentuais de 51% em relação a 2009, bora, berinjela e pepino têm sofrido danos de fotoassimilados e água, da produção de
quando o País participou com 8% (SENA, econômicos que variam de 20% a 100% flor e de frutos, entre outros. Alguns danos
2011). O cacau participava com cerca de (OLIVEIRA et al., 2013). O tomate indus- não são causados pela ação direta das
36% do valor bruto da produção da região trial é uma das culturas que mais sofrem pragas na cultura, mas em decorrência da
produtora de Itabuna e Ilhéus, em 1985, com a mosca-branca, seja em decorrência alteração da qualidade dos produtos obti-
caindo para 7,5%, em 2001 (COSTA et dos danos diretos, seja pela disseminação dos em termos de aparência, qualidade de
al., 2009). A introdução da doença trouxe eficiente de viroses importantes. Os pro- fibras, durabilidade do produto e presença
impacto tanto sobre a produção nacional dutores de tomate industrial, mesmo com de toxinas, por exemplo.
quanto sobre o preço do produto pago no a adoção de medidas fitossanitárias, como O conceito de dano trouxe contri-
mercado internacional. Como o cacau era o vazio sanitário, têm sido muitas vezes buições relevantes para a melhoria dos
a principal fonte de renda da região Sul da obrigados a migrar os plantios de uma sistemas produtivos. A partir de estudos
Bahia, o comprometimento da produção região para outra, o que envolve a perda de de danos foi possível obter os respectivos
levou ao desemprego de mais de 300 mil recursos com mudanças na infraestrutura valores econômicos envolvidos e criar
pessoas, e o Brasil foi levado da condição industrial e causa migração de mão de obra instrumentos que pudessem orientar os
de exportador para importador do produto, e desemprego. agricultores quanto ao momento mais
para que pudesse manter seu parque adequado de intervir na lavoura.
industrial de chocolate. COMPOSIÇÃO DO DANO
No caso de pragas introduzidas, um
As pragas passam a ter importância, novo aspecto tem sido abordado e deve ser
Mosca-branca
quando, em decorrência de sua interação considerado, para que seja possível estimar
A mosca-branca (Bemisia tabaci) é com determinada cultura, reduzem a quali- a real importância de determinada praga
um inseto polífago, com uma gama de dade ou a quantidade do produto de interes- e evitar avaliações pouco técnicas sobre
plantas hospedeiras, que causa impacto de se econômico. Apesar do grande impacto o assunto. O sucesso na determinação do
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US$ bilhões
decorrentes da introdução da ferrugem-
asiática da soja, chamaram a atenção para 1.5
o fato de, nos primeiros momentos, se
preocuparem com os danos decorrentes 1.0
da redução na produção das lavouras, pela
agressividade do patógeno introduzido. No 0.5
entanto, o dano tende a ser reduzido com o
passar do tempo, pelo desenvolvimento de 0
2001/2002 2002/2003 2003/2004 2005/2006 2006/2007 2007/2008
fungicidas e outras estratégias de controle.
Assim, no caso da ferrugem-asiática, Del Gráfico 1 - Progresso temporal do custo da ferrugem da soja no Brasil
Ponte e Martins (2008) demonstraram FONTE: Del Ponte e Martins (2008).
que o dano tendeu a reduzir e o custo de NOTA: Não houve previsão para a safra 2004/2005, em razão da estiagem severa.
controle a crescer (Gráfico 1). A lógica
desse pensamento é bem mais próxima da
de controle, treinamento de produtores, exemplo, os produtores de tomate
realidade, quando se considera o impacto
entre outros). passaram a pulverizar dois insetici-
de uma praga introduzida.
Para que seja possível entender a im- das simultaneamente. As doses dos
IMPACTO MAIS QUE portância de estabelecer programas de vigi- produtos aumentaram e o intervalo
ECONÔMICO lância, para evitar ou retardar a introdução de aplicação foi reduzido, havendo
de novas pragas, outros aspectos devem ser ampliação do número de pulveriza-
A ênfase do aspecto econômico causa-
considerados, como: ções de 10-12 para 20 (MICHEREFF
do pelas pragas introduzidas é uma forma
a) interação entre as pragas introduzidas FILHO; VILELA, 2000);
de valoração mais pragmática e que pode
e outras já existentes no País. Nesse
ser quantificada de forma numérica, o que c) impacto econômico de determinada
caso, há a possibilidade de que uma
facilita a tomada de decisão por parte dos praga pode levar à migração da pro-
nova praga possa criar condições
órgãos de defesa. Contudo, a avaliação dução de uma região mais favorável
para que outras, já presentes, atinjam
econômica, em seu aspecto mais detalhado, para outra menos favorável, o que,
novos patamares de importância
é extremamente complexa e raramente se muitas vezes, implica na mudança
econômica, como é o caso da lagarta-
consegue fazer uma quantificação precisa. de toda a infraestrutura do parque
minadora-dos-citros (Phyllocnistis
No Quadro 1, são apresentadas algumas industrial ligado à cultura. Esse
citrella) e da bactéria causadora
pragas introduzidas e alguns valores de fato foi observado com a mosca-
do cancro-cítrico (Xanthomonas
danos estimados. branca na cultura do tomate e com o
axonopodis pv. citri), que encontrou,
Os dados apresentados no Quadro 1 nematoide-das-galhas (Meloidogyne
nas galerias abertas pela lagarta,
expressam a ordem de grandeza e não uma mayaguensis), em regiões produtoras
condições favoráveis para infectar as
quantificação detalhada e acumulativa ao de goiaba do Nordeste (PEREIRA
folhas da planta (CÔNSOLI, 2000).
longo dos anos. Para a quantificação do
Vários insetos introduzidos são et al., 2009). As pragas afetam toda
impacto econômico de uma praga intro-
duzida é necessário que vários fatores também vetores eficientes de viroses, a produção e comercialização de in-
como a mosca-branca e diversas sumos, transporte, beneficiamento e
sejam contabilizados, além das perdas na
qualidade ou na quantidade da produção. espécies de cigarrinhas; comercialização da produção, assim
como o recolhimento de impostos;
Também devem ser considerados os gastos b) impacto econômico causado pelo
relacionados com o aumento do custo de aumento do número de novas mo- d) perda de mercados internacionais,
produção e com o investimento em pesqui- léculas de produtos fitossanitários novas exigências por parte dos
sas (programas de melhoramento, testes de utilizadas na pulverização das la- mercados importadores e aumento
produtos químicos, estudos epidemiológi- vouras. Com a introdução da traça- do custo de produção, para atender
cos, desenvolvimento de novas moléculas do-tomateiro (Tuta absoluta), por os países importadores.
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proteção do patrimônio agrícola produtivo e erradicação, em função da emergência mariposa cigana: análise de risco de
do País, especialmente em um mundo glo- fitossanitária declarada para a praga introdução de praga florestal potencialmente
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1
Engo Agro, M.S., Fiscal Federal Agropecuário MAPA, Campus UFV, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: paulo.parizzi@agricultura.gov.br
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produção e exportação de açúcar, suco entes descentralizados do MAPA, organi- jar, normatizar, coordenar e supervisionar
de laranja e café, o 2o produtor mundial e zados na forma de sociedades de economia as atividades de defesa agropecuária em
maior exportador do complexo soja e o 3o mista, as Centrais de Abastecimento de todo o território nacional. É responsável
produtor mundial de frutas. Atualmente, o Minas Gerais S.A (CeasaMinas), a Compa- pela coordenação do Sistema Unificado de
agronegócio representa 29% do Produto nhia de Armazéns e Silos de Minas Gerais Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa),
Interno Bruto (PIB), 37% dos empregos e (Casemg) e a Companhia de Entrepostos e do Sistema Brasileiro de Inspeção de Pro-
38% das exportações. Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp). dutos de Origem Vegetal (SISBI-POV),
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Além disso, o MAPA coordena as ações e do Sistema Brasileiro de Inspeção de
Abastecimento (MAPA) é responsável pela políticas de 26 Câmaras Setoriais e seis Produtos de Origem Animal (SISBI-POA)
gestão das políticas públicas de estímulo Câmaras Temáticas relacionadas com di- do Sistema Brasileiro de Inspeção de Insu-
à agropecuária, pelo fomento do agrone- versos setores produtivos do agronegócio mos Agrícolas e do Sistema Brasileiro de
gócio e pela regulação e normatização de brasileiro. Inspeção de Insumos Pecuários.
serviços vinculados ao setor. No Brasil, O MAPA é organizado em Secretarias, No setor de produção animal, a secre-
o agronegócio contempla o pequeno, o responsáveis pelos diferentes setores do taria responde pelas ações de vigilância
médio e o grande produtor rural e reúne agronegócio nacional, a saber: Secretaria sanitária e combate a doenças veterinárias.
atividades de fornecimento de bens e ser- de Defesa Agropecuária (SDA); Secre- Inspeciona a industrialização de produtos
viços à agricultura, produção agropecuária, taria de Desenvolvimento Agropecuário de origem animal, a fabricação de medica-
processamento, transformação e distribui- e Cooperativismo (SDC); Secretaria de mentos veterinários e a comercialização de
ção de produtos de origem agropecuária até Política Agrícola (SPA); Secretaria de Pro- sêmen para inseminação artificial de ani-
o consumidor final. dução e Agroenergia (SPAE) e Secretaria mais domésticos. Fiscaliza e classifica os
Assim, o MAPA busca integrar, sob de Relações Internacionais do Agronegó- produtos, subprodutos e resíduos animais
sua gestão, aspectos mercadológicos, cio (SRI). de valor econômico.
tecnológicos, científicos, ambientais e Na produção vegetal, responde pela
organizacionais do setor produtivo e tam- Secretaria de Defesa vigilância fitossanitária, inspeciona e
Agropecuária
bém dos setores de abastecimento, arma- fiscaliza a produção de sementes, mudas,
zenagem e transporte de safras, além da A SDA é responsável pela execução das fertilizantes, corretivos, inoculantes, es-
gestão da política econômica e financeira ações de Estado, para prevenção, controle timulantes e biofertilizantes. Controla o
para o agronegócio. Com a integração do e erradicação de doenças animais e de registro, a classificação e a fiscalização
desenvolvimento sustentável e da com- pragas vegetais. Visa assegurar a origem, do comércio de bebidas e da produção de
petitividade, visa à garantia da segurança a conformidade e a segurança dos produtos uvas, vinhos e derivados. Inspeciona a uti-
alimentar da população brasileira e à de origem animal e vegetal, destinados à lização de agrotóxicos e seus componentes,
produção de excedentes para exportação, alimentação humana ou animal, e também além de fiscalizar e classificar os produtos,
fortalecendo o setor produtivo nacional e a idoneidade dos insumos em uso na agri- subprodutos e resíduos vegetais de valor
favorecendo a inserção do Brasil no mer- cultura e na pecuária. econômico.
cado internacional. Sua atuação é importante para a oferta Também é responsável por inspecio-
Para a consecução de seus objetivos, de alimentos seguros, evitando possíveis nar atividades que envolvam organismos
o MAPA conta com uma estrutura fixa de riscos à saúde do consumidor e práticas geneticamente modificados, o controle de
cinco secretarias, 27 superintendências desleais de comércio. A qualidade e a resíduos contaminantes e a fiscalização de
estaduais e suas respectivas unidades, uma segurança dos produtos de origem animal importação e exportação de animais, ve-
rede de seis laboratórios, além de duas e vegetal dependem do cumprimento de getais, produtos e insumos agropecuários
vinculadas, o Instituto Nacional de Me- Boas Práticas de Fabricação (BPF), da fis- nos portos, aeroportos e fronteiras do País.
teorologia (Inmet) e a Comissão Executiva calização oficial e da correta aplicação de Coordena ações de análise e diagnóstico
do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), normas e padrões técnicos estabelecidos. de pragas e doenças e expede certificados
que abrigam cerca de 11 mil servidores Para o cumprimento de sua missão, a SDA sanitários e fitossanitários para a exporta-
espalhados por todo o Brasil. dispõe de estruturas centrais de direção e ção de produtos agropecuários e insumos.
A Empresa Brasileira de Pesquisa normatização e também de projeções nos Dentro da SDA, o Departamento de
Agropecuária (Embrapa) e a Companhia Estados, para execução e coordenação das Sanidade Vegetal (DSV) é o órgão respon-
Nacional de Abastecimento (Conab) são ações de sua competência. sável pela elaboração da regulamentação
empresas públicas que atuam sob ingerên- A SDA também contribui para a formu- fitossanitária nacional, assim como pela
cia e coordenação do MAPA. Também são lação da política agrícola. Compete plane- fiscalização do seu cumprimento.
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Argentina, entre outros, para a celebração gurando a saúde dos animais, a sanidade O comércio e o trânsito interestadual
de protocolos de equivalência e entre o dos vegetais e a inocuidade dos alimentos, de vegetais são normatizados por meio de
Mercosul e a União Europeia (UE) nas além de evitar danos ao meio ambiente, legislação complementar, que estabelece
áreas sanitárias e fitossanitárias. certificando a qualidade dos produtos e restrições e procedimentos sempre que
Os acordos bilaterais são relevantes dos insumos importados e exportados e ocorrer risco de disseminação de uma pra-
para a integração comercial. Salienta-se evitando prejuízos à economia brasileira e ga, de uma região para outra ainda indene.
que o Brasil tem cerca de 120 acordos bila- à saúde pública por meio da fiscalização do A fiscalização do trânsito interno é
terais na área sanitária e fitossanitária com trânsito internacional de animais, vegetais, realizada pelos órgãos estaduais de Defesa
45 países. Muitas vezes, a implementação produtos, subprodutos, derivados, insumos Agropecuária sob a delegação da SDA do
bilateral é mais rápida e traz resultados agropecuários e materiais para pesquisa MAPA. Está comumente associada a Pro-
para o comércio de forma mais célere, científica. gramas ou Campanhas fitossanitárias, sen-
além de facilitar possíveis entendimentos Para a construção e a manutenção do esta atividade extremamente importante
mais abrangentes em um futuro próximo. desse modelo serão necessários, além dos para evitar que uma praga seja disseminada
aspectos de infraestrutura, pré-requisitos para regiões indenes. Essa ação referente
Legislação Complementar fundamentais, como a normalização, a ao trânsito interno é também efetivada por
sistematização, a informatização e a atua- meio de barreiras fitossanitárias, fixas ou
A Legislação Complementar estabe-
móveis, em pontos estratégicos das rodo-
lece ou regulamenta as normas, procedi- lização dos procedimentos de rotina.
vias de ligação interestadual.
mentos e estrutura operativa da Defesa O Manual de Procedimentos Opera-
Na Legislação Complementar são
Sanitária Vegetal no País. É constituída cionais do Vigiagro – Instrução Normativa
contempladas inúmeras normas e proce-
por Atos, Editais, Portarias, Portarias no 36, de 10 de novembro de 2006 e suas
dimentos referentes ao trânsito interno.
Interinstitucionais, Portarias Interminis- alterações (BRASIL, 2006c) – tem por
teriais, Instruções, Instruções de Serviço, objetivo disciplinar, orientar e esclarecer os Órgãos estaduais de
Instruções Normativas e Resoluções, que princípios determinados pela legislação vi- Defesa Agropecuária
são atualizadas periodicamente de acordo gente, e padronizar as ações desenvolvidas
Assim como o Brasil possui sua Orga-
com as prioridades e conveniências da pelos Fiscais Federais Agropecuários, que
nização Nacional de Proteção Fitossanitá-
fitossanidade nacional. atuam no Vigiagro do Brasil, com vistas a
ria (ONPF), que é o DSV, ligado à SDA do
alcançar seu objetivo.
MAPA, os Estados também possuem suas
TRÂNSITO INTERNACIONAL O Vigiagro conta, no momento, com
Organizações Estaduais de Proteção Fitos-
110 Unidades de Vigilância localizadas sanitária. Em Minas Gerais, é a Gerência
A modernização institucional do MAPA nos Portos Organizados, Aeroportos Inter-
estabeleceu o Sistema de Vigilância Agro- de Defesa Sanitária Vegetal (GDV), do
nacionais, Postos de Fronteira e Aduanas Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA).
pecuária Internacional (Vigiagro), consti- Especiais. Os órgãos estaduais de defesa agrope-
tuído por uma Coordenação Geral, Serviço
cuária, vinculados às Secretarias Estaduais
de Vigilância Internacional Animal, Servi- TRÂNSITO INTERESTADUAL de Agricultura, têm por finalidade:
ço de Vigilância Internacional Vegetal, os DE VEGETAIS
a) planejar, coordenar, executar e fis-
Serviços/Seções de Gestão da Vigilância
No Regulamento de Defesa Sanitária calizar programas de produção, de
Agropecuária (Vigiagro/DT-UF), nas
Vegetal de 1934, modificado pelo Decreto- saúde e de defesa sanitária animal e
Superintendências e Serviços (SVAs) e
Lei no 5.478, de 12 de maio de 1943 (BRA- vegetal;
Unidades de Vigilância Agropecuária
SIL, 1943) consta: b) fiscalizar o comércio e o uso de
(Uvagro), nos portos, aeroportos, postos
Art. 20. É livre, em todo território na- insumos e produtos agropecuários,
de fronteira e aduanas especiais, criando
cional, o trânsito de plantas, partes de e os criatórios e abates de animais
canais de comunicação e informação que
vegetais ou produtos de origem vegetal. silvestres;
interligam todo o Sistema Vigiagro, esta-
belecendo uma nova sistemática gerencial c) exercer a inspeção vegetal e a de
Parágrafo único. O Ministério da Agri-
e hierárquica que permitirá elevar o padrão produtos de origem animal;
cultura, verificada a irrupção, no país,
do serviço e torná-lo modelo mundial de de pragas ou doenças reconhecidamente d) padronizar e classificar vegetais;
vigilância agropecuária internacional. nocivas às culturas, poderá, em qual- e) realizar promoções agropecuárias
O Vigiagro tem por objetivo prevenir quer tempo, mediante portaria, proibir, nos Estados, de acordo com as
o ingresso, a disseminação e o estabele- restringir ou estabelecer condições para diretrizes dos governos estaduais e
cimento de pragas e enfermidades, asse- o trânsito de que trata o presente artigo. federal.
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Médico-Veterinário, Dr., Prof. Tit. UFSM - Depto. Medicina Veterinária Preventiva/Coord. Laboratório de Análises Micotoxicológicas,
1
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por FB1 em arroz e o risco de ocorrência nivalenol (NIV) e as toxinas T-2 e HT-2 (LI et al., 2001). Segundo Gelderblom
de câncer no esôfago (ALIZADEH et al., são os representantes mais estudados. O (2002), a FB1 é capaz de interagir com a
2012). mecanismo de ação tóxica dos tricotecenos AFB1, elevando o potencial carcinogênico
baseia-se na inibição da síntese proteica desta.
Ocratoxina A e interferência com a síntese de DNA e
A ocratoxina A (OTA) é um metabólito RNA, atingindo especialmente células de IMPACTOS ECONÔMICOS DAS
MICOTOXINAS
tóxico produzido por fungos dos gêneros alta atividade metabólica e multiplicação
Aspergillus e Penicillium. É uma potente ativa (MALLMANN; DILKIN, 2007). A Considerações sobre o impacto eco-
nefrotoxina, além de ser neurotóxica, ingestão dessas toxinas está associada à nômico das micotoxinas incluem prin-
imunossupressiva, carcinogênica e tera- ocorrência de hemorragias no trato digesti- cipalmente maiores custos com saúde,
togênica. Ocorre em um grande número vo, vômitos e diarreia. DON é o tricoteceno diminuição da produtividade animal e
de cereais e grãos, incluindo milho, café, mais prevalente e comumente encontrado agrícola e a impossibilidade de exportação
feijão, amendoim e cacau. Os níveis de em alimentos, como cevada, milho e trigo dos produtos contaminados, devido aos
OTA nos alimentos estão intimamente (KUMAR; BASU; RAJENDRAN, 2008). limites impostos pelos países importado-
relacionados com as condições de produ- res. A contaminação por micotoxinas pode
Zearalenona reduzir os estoques de alimentos e, conse-
ção e conservação. Contudo, os teores da
toxina quantificados em alimentos nor- A zearalenona (ZEA) é uma micoto- quentemente, elevar o preço de produtos
malmente encontram-se abaixo daqueles xina estrogênica não esteroidal, e seus à base de cereais. Gastos adicionais ainda
efeitos tóxicos são comumente associados são relacionados com o desenvolvimento
permitidos pelas regulamentações. Práticas
a problemas reprodutivos em animais de de técnicas para detectar e quantificar mi-
agrotecnológicas de produção e estocagem
produção, principalmente em suínos. Em cotoxinas e em pesquisas para prevenir a
inadequadas dos alimentos ainda são os
contaminação.
pontos críticos para evitar os riscos tóxicos seres humanos, a ZEA tem sido relacionada
O impedimento da comercialização
resultantes da exposição humana a essa com a puberdade precoce em meninas e
de produtos destinados à alimentação hu-
toxina (ABREU et al., 2011). ao aumento dos órgãos reprodutores em
mana, por excederem os limites máximos
Estudos demonstram que a OTA au- meninos (ABID-ESSEFI et al., 2003). Por
tolerados (LMT) de micotoxinas, pode
menta a formação de tumores renais na me- não apresentar carcinogenicidade para os
direcioná-los para o mercado de alimen-
dula externa de rins em ratos. Danos diretos seres humanos, a ZEA foi classificada no
tação animal, que normalmente remunera
ao DNA e subsequente mutagenicidade Grupo 3 da IARC.
menos pelos produtos. O resultado pode ser
podem contribuir para esses processos. O a maior oferta de produtos que no Brasil
metabólito hidroquinona da OTA também COOCORRÊNCIA DAS
MICOTOXINAS usualmente não são destinados à alimen-
é mutagênico, especialmente na presença tação animal, tais como o trigo e a cevada.
de cisteína (AKMAN et al., 2012). Embora É importante ressaltar que as micotoxi-
as propriedades patogênicas da OTA em nas podem coocorrer em uma determinada LEGISLAÇÃO
seres humanos ainda sejam especulativas, matéria-prima ou produto final. Estudos
Os LMT de micotoxinas em certos
observa-se uma similaridade morfológica comprovam que tricotecenos, zearaleno-
tipos de alimentos são determinados pela
e funcional entre as lesões provocadas na, fumonisinas e ocratoxina A já foram
maioria dos países por meio de regulamen-
pela nefropatia suína induzida pela OTA e isoladas em alimentos contendo aflatoxi-
tações. No Brasil, a Agência Nacional de
a nefropatia endêmica em seres humanos. nas (MALLMANN; DILKIN, 2007). Em Vigilância Sanitária (Anvisa) regulamenta
Sendo assim, essa micotoxina tem sido geral, os efeitos dessas interações resultam a presença de micotoxinas em uma grande
apontada como agente causador da nefro- em combinações aditivas, sinérgicas e/ou variedade de alimentos, pela Resolução
patia endêmica (MAAROUFI et al., 1996), potencializadoras. Kumar, Basu e Rajen- RDC no 7, de 18 de fevereiro de 2011
doença que frequentemente é acompanha- dran (2008) admitem que pouco se conhece (ANVISA, 2011). Apesar da Resolução
da por câncer urotelial do trato superior. sobre os efeitos da exposição, quando ter entrado em vigor em 2011, até 2016
ocorre a contaminação simultânea com os LMT para algumas micotoxinas em
Tricotecenos
várias toxinas. Frequentemente, tem-se determinados alimentos ainda serão ajus-
Os tricotecenos constituem um grupo observado a coocorrência de fumonisinas tados e deverão entrar em vigência. Os
de metabólitos tóxicos quimicamente e aflatoxinas em milho, e ambas as toxinas LMT determinados pela Resolução RDC
semelhantes, entre os quais diacetoxis- têm sido relatadas em regiões com alta no 7, de 18/2/2011 estão apresentados nos
cirpenol (DAS), deoxinivalenol (DON), incidência de hepatocarcinoma celular Quadros 1 e 2.
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Aflatoxinas B1, Cereais e produtos de cereais, exceto milho e derivados, incluindo cevada malteada 5,0
B2, G1 e G2 Feijão 5,0
Castanhas exceto castanha-do-Brasil, incluindo nozes, pistaches, avelãs e amêndoas 10,0
Frutas desidratadas e secas 10,0
Castanha-do-Brasil, com casca, para consumo direto 20,0
Castanha-do-Brasil, sem casca, para consumo direto 10,0
Castanha-do-Brasil, sem casca, para processamento posterior 15,0
Alimentos à base de cereais para alimentação infantil (lactentes e crianças de primeira infância) 1,0
Fórmulas infantis para lactentes e fórmulas infantis segmentadas para lactentes e crianças de primeira 1,0
infância
Amêndoas de cacau 10,0
Produtos de cacau e chocolate 5,0
Especiarias: Capsicum spp. (o fruto seco, inteiro ou triturado, incluindo pimentas, pimenta em pó, pimenta- 20,0
de-caiena e pimentão-doce); Piper spp. (o fruto, incluindo a pimenta branca e a pimenta preta), Myristica
fragrans (noz-moscada), Zingiber officinale (gengibre), Curcuma longa (cúrcuma); misturas de especiarias
que contenham uma ou mais das especiarias acima indicadas
Amendoim (com casca, descascado, cru ou tostado), pasta de amendoim ou manteiga de amendoim 20,0
Milho, milho em grão (inteiro, partido, amassado, moído), farinhas ou sêmolas de milho 20,0
Zearalenona Alimentos à base de cereais para alimentação infantil (lactentes e crianças de primeira infância) 20,0
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Fumonisinas (B1 + B2) Farinha de milho, creme de milho, fubá, flocos, canjica, canjiquinha 2.500,0
Zearalenona Farinha de trigo, massas, crackers e produtos de panificação, cereais e produtos de cereais 200,0
exceto trigo e incluindo cevada malteada
Arroz beneficiado e derivados 200,0
DADOS DO LABORATÓRIO média de OTA, obtidos pelo LAMIC, em indicando que, após o processamento para
DE ANÁLISES 2012. Como pode ser observado, as con- produção dos alimentos à base de milho,
MICOTOXICOLÓGICAS centrações médias de OTA não excederam como creme de milho, fubá, farinha de mi-
As análises realizadas no Labora- os LMT permitidos pela legislação. lho e outros, esses alimentos processados
tório de Análises Micotoxicológicas Como pode ser observado no Quadro 5, atenderão à legislação.
(LAMIC), da Universidade Federal de as maiores positividades para DON são Os LMT descritos na legislação para
Santa Maria (UFSM), em Santa Maria, referentes às amostras de cereais, entre as zearalenona abrangem, basicamente, os
RS, demonstram que a maioria dos pro- quais centeio (22 amostras), cevada (997 alimentos processados a partir de milho,
dutos avaliados apresenta contaminação amostras), trigo (837 amostras) e deriva- trigo e arroz, dos quais foram analisadas,
por micotoxinas (Quadro 3). Para as dos, como farinha de trigo (202 amostras) respectivamente, 1.116, 701 e 180 amos-
aflatoxinas, o leite apresentou 100% de e biscoito (47 amostras). A positividade
tras. Conforme demonstrado no Quadro 7,
positividade para a AFM1, porém, tanto do cacau é referente a um número total de
o alimento que apresentou a maior posi-
o leite em pó, como o fluido não ultra- quatro amostras. Com relação à contami-
tividade, para zearalenona, em 2012, foi
passaram os limites estabelecidos. No nação média, observou-se um teor de DON
o centeio: de 15 amostras, 60% foram
amendoim, a legislação estabelece LMT acima do limite permitido pela legislação,
positivas. O arroz teve a segunda maior
de 20 µg/kg, e a média analisada foi de nas amostras de farinha de trigo, mais
positividade, com 46% das amostras. En-
13,07 µg/kg, reforçada pela alta positivi- precisamente, o dobro do teor permitido.
tretanto, o valor médio de zearalenona das
dade (40%), o que demonstra o maior risco Conforme apresentado no Quadro 6,
amostras de 29,09 μg/kg foi bem abaixo
de contaminação desse produto. As amos- para a farinha de milho, foram analisadas
100 amostras, em 2012. Destas, 81 estavam daqueles citados na legislação para arroz
tras de castanha, milho e farinha de milho
beneficiado e derivados, arroz integral e
também apresentaram alta positividade. O contaminadas com fumonisinas. Entretan-
único produto analisado, que se encontra to, o valor médio da concentração das fu- farelo de arroz. O milho e o trigo tiveram
acima dos limites esperados, são as no- monisinas foi abaixo do máximo permitido positividades de 25% e 11%, com concen-
zes, as quais apresentaram 14,67 µg/kg, na legislação. O milho foi o alimento que trações médias de 29,86 e 7,81 μg/kg de
sendo o limite esperado de 10 µg/kg. teve o maior número de amostras analisa- zearalenona, respectivamente. Essas con-
Porém, apenas nove amostras foram ana- das, para detecção da contaminação por fu- centrações ficaram bem abaixo daquelas
lisadas no ano de 2012. monisinas, em um total de 2.280 amostras; descritas para produtos e subprodutos à
No Quadro 4, estão representados Destas, 72% foram positivas, com valor base de milho (300 μg/kg) e trigo integral
os dados de positividade e concentração médio de concentração de 972,25 μg/kg, (400 μg/kg).
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QUADRO 3 - Dados de positividade e concentração média de aflatoxinas nos alimentos - Laboratório de Análises Micotoxicológicas
(LAMIC), em 2012
Positividade mg/kg
Micotoxina Alimento
(%) (ppb)
Aflatoxina M1 Leite fluido 100 0,24
Leite em pó 100 0,42
QUADRO 4 - Dados de positividade e concentração média de ocratoxina A nos alimentos - Laboratório de Análises Micotoxicológicas
(LAMIC), em 2012
Positividade mg/kg
Micotoxina Alimento
(%) (ppb)
Ocratoxina A Cacau 9 0,21
Café 15 1,22
Centeio 33 0,67
Feijão 10 0,34
Milho 1 4,24
Trigo 1 0,02
QUADRO 5 - Dados de positividade e concentração média de deoxinivalenol (DON) nos alimentos - Laboratório de Análises Micotoxicoló-
gicas (LAMIC), em 2012
Positividade mg/kg
Micotoxina Alimento
(%) (ppb)
Deoxinivalenol (DON) Arroz 3 6,06
Aveia 21 65,90
Biscoito 53 131,47
Cacau 75 313,50
Centeio 82 309,64
Cevada 74 504,48
Farinha de milho 8 20,44
Farinha de trigo 80 1.527,48
Macarrão 13 37,06
Milho 8 55,47
Trigo 60 300,51
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QUADRO 6 - Dados de positividade e concentração média de fumonisinas nos alimentos - Laboratório de Análises Micotoxicológicas
(LAMIC), em 2012
Positividade mg/kg
Micotoxina Alimento
(%) (ppb)
Fumonisinas (B1 + B2) Aveia 6 8,88
Cacau 40 430,8
Farinha de milho 81 997,39
Milho 72 972,25
Pipoca 10 14,90
QUADRO 7 - Dados de positividade e concentração média de zearalenona nos alimentos - Laboratório de Análises Micotoxicológicas
(LAMIC), em 2012
Positividade mg/kg
Micotoxina Alimento
(%) (ppb)
Zearalenona Arroz 46 29,09
Aveia 3 2,67
Centeio 60 34,18
Cevada 23 33,59
Farinha de milho 5 4,00
Farinha de trigo 19 18,68
Milho 25 29,86
Trigo 11 7,81
PREVENÇÃO de colheita, condições de armazenamento, ser aplicados para reduzir o risco de desen-
processamento de alimentos e estratégias volvimento fúngico nos grãos de cereais
A análise de micotoxinas é essencial
de desintoxicação. e leguminosas antes do processamento e
para determinar os níveis de contaminação
Uma possível abordagem para a gestão consumo.
dos alimentos, realizar análise de riscos,
dos riscos associados à contaminação por Tentativas para mitigar os efeitos das
confirmar o diagnóstico de micotoxicoses
e estabelecer programas de controle e micotoxinas é a utilização de um sistema micotoxinas em animais estão, em grande
monitoramento de micotoxinas. A quantifi- integrado com base na Análise de Perigos parte, concentradas em técnicas que redu-
cação desses compostos pode ser realizada e Pontos Críticos de Controle (APPCC). zem a exposição às toxinas, especialmente
utilizando técnicas, como purificação por Um programa de APPCC deve envolver a aplicação de agentes de ligação ou
imunoafinidade, imunoensaios (WILD estratégias para prevenção, controle, sequestrantes. Essa abordagem também
et al., 1987), ou com o uso de métodos e Boas Práticas de Produção e controle de tem sido explorada na medicina humana
equipamentos sofisticados, como a croma- qualidade em todas as fases do processo (PHILLIPS; LEMKE; GRANT, 2008).
tografia líquida de alta eficiência (CLAE) produtivo, desde o campo até o consumidor A antiaflatoxina B1 conjugada, usada
ou cromatografia gasosa (GC), associadas final. O desenvolvimento de um programa como vacina para controlar a produção da
à detecção por fluorescência, ultravioleta de APPCC deve evoluir em conjunto com aflatoxina M1 excretada pelo leite, é uma
ou espectrometria de massas (SHEPHARD outras abordagens complementares para a potencial forma de controlar esse proble-
et al., 2011). produção agrícola, ou seja, as Boas Práticas ma. A antiaflatoxina B1 provou ser atóxica
Para que haja redução na ocorrência e Agrícolas (BPA), Boas Práticas de Fabrica- in vitro em células de hepatocarcinoma de
no impacto das micotoxinas, é necessário ção (BPF), de higiene e de armazenamento. humanos e foi usada para imunização de
o conhecimento integrado dos fatores Programas de treinamento nos proces- vacas, onde induziu um título duradouro
fisiológicos e ambientais que afetam a sos de colheita e regulagem de máquinas, de anticorpos IgG antiaflatoxina B1, que
biossíntese das toxinas, bem como da secagem dos grãos pós-colheita e sistemas foram capazes de reagir com aflatoxinas
biologia e ecologia dos fungos, métodos de transporte para reduzir as avarias podem B1, G1 e G2. Também foi capaz de im-
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pedir a secreção de aflatoxina M1 no leite mentos de consumo humano: revisión. Chemistry, New York, v.49, n.8, p.4122-
de vacas que receberam continuamente Nutrición Hospitalaria, Madrid, v.26, n.6, 4126, Aug. 2001.
p.1215-1226, 2011.
alimento contaminado com aflatoxina B1 MAAROUFI, K. et al. Human nephropathy
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Processos físicos de separação, seja ratoxin A and its hydroquinone metabolite views, London, v.15, n.3, p.223-237, 1996.
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pelo tamanho dos grãos com mesas de MALLMANN, C.A.; DILKIN, P. Micotoxinas
plasmid Ps189. Toxins, Basel, v.4, n.4,
classificação, seja pela densidade dos grãos p.267-280, 2012.
e micotoxicoses em suínos. Santa Maria:
com mesas gravimétricas, também podem Sociedade Vicente Pallotti, 2007. 238p.
ALIZADEH, A.M. et al. Fumonisin B1 con-
ser aplicados com grande eficiência. Em um tamination of cereals and risk of esophageal
MARASAS, W.F. et al. Fumonisins disrupt
trabalho não publicado feito no LAMIC, cancer in a high risk area in northeastern sphingolipid metabolism, folate transport,
uma amostra de milho antes de passar Iran. Asian Pacific Journal of Cancer Pre- and neural tube development in embryo
culture and in vivo: a potential risk factor
pela mesa gravimétrica continha 6 mg/kg vention, Bangkok, v.13, n.6, p.2625-2533,
2012. for human neural tube defects among popu-
de aflatoxinas, 430 mg/kg de fumonisinas,
lations consuming fumonisin contaminated
59 mg/kg de DON e 447 mg/kg de zeara- ANVISA. Resolução RDC no 7, de 18 de
maize. Journal of Nutrition, Rockville,
lenona. A amostra da fração que corres- fevereiro de 2011. Dispõe sobre os limites
v.134, n.4, p.711-716, Apr. 2004.
máximos tolerados (LMT) para micotoxinas
pondeu a 85% do material que entrava na PHILLIPS, T.D.; LEMKE, S.L.; GRANT, P.G.
em alimentos. Diário Oficial [da] Repúbli-
mesa e foi considerado como selecionado ca Federativa do Brasil, Brasília, 9 mar. Characterization of clay-based enterosor-
para uso continha 7 mg/kg de aflatoxinas, 2011. Seção 1, p.66. Disponível em: <http:// bents for the prevention of aflatoxicosis.
137 mg/kg de fumonisinas, 209 mg/kg de www.jusbrasil.com.br/diarios/25204244/ Advances in Experimental Medicine and
zearalenona e não foi detectado DON. A dou-secao-1-09-03-2011-pg-66>. Acesso Biology, New York, v.504, p.157-171, 2008.
amostra da fração que correspondeu a 15% em: 14 mar. 2013.
POLONELLI, L. et al. Vaccination of lactat-
do material que entrava na mesa e foi con- AWASTHI, V. et al. Contaminants in milk ing dairy cows for the prevention of afla-
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pois causam danos à saúde. Portanto, a FLEUNG, M.C.K.; DIAZ-LLANO, G.;
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1
Enga Agra, Dra., Pesq. EPAMIG Sul de Minas/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
chalfoun@epamig.ufla.br
Engo Agro, M.S., Pesq. EPAMIG Sul de Minas/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
2
vicentelc@epamig.ufla.br
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sujeita a nenhum tipo de controle no que Cita-se como exemplo de imposições redução do desperdício, menor custo total
diz respeito aos mecanismos de avaliação regulatórias o Normativo da Comunidade de produção e melhoria da eficiência dos
de conformidade empregados, aos tipos de Europeia CEE 178/2002, em seu art. 18, processos como benefícios indiretos.
requisitos utilizados para certificação ou à e a Lei Americana de Bioterrorismo de Uma revisão dos trabalhos relativos ao
forma de apresentação desses certificados 2002, os quais estabelecem, entre outros tema certificação evidencia que o processo
ou selos nos rótulos ou propagandas. itens, que a rastreabilidade deve ser as- é complexo e controverso, e envolve a
No comércio internacional, é mais segurada em todas as fases da produção, análise rigorosa de uma série de fatores,
fácil dimensionar o tamanho das barreiras transformação e distribuição dos gêneros entre estes a seleção da certificação mais
tarifárias impostas aos países exportadores. alimentícios, não só do produto final, mas adequada a depender de como o produtor
O mesmo não ocorre com as barreiras não também dos insumos utilizados em cada queira que seu produto seja apresentado
tarifárias, o que abre espaço para a colo- fase desse processo. A rastreabilidade é, no mercado, o custo das certificações,
cação de restrições ambientais, sociais, portanto, componente obrigatório de todos entre outros.
sanitárias e padrões de qualidade distintos. os sistemas agrícolas e agroindustriais que O conceito de defesa sanitária vegetal,
Identifica-se um novo padrão de concor- visam à obtenção de alimentos seguros por sua vez, vem sendo, ao longo dos anos,
rência no qual a obtenção de custos baixos para o consumo, além do atendimento constantemente aprimorado e realimentado
é necessária, mas deixa de ser condição de outros requisitos, tais como a gestão em consequência das inovações tecnológi-
suficiente. Nesse contexto, a certificação socioambiental. cas que cada vez mais buscam consonância
é vista como atividade importante, tendo Apesar de a certificação de produtos com o equilíbrio e a sustentabilidade tão
como objetivo principal proporcionar ao agrícolas ser um conceito cada vez mais exigida pelo mercado e pelos consumido-
comprador ou ao usuário do produto a discutido no ambiente do agronegócio res. Portanto, as certificações apresentam
garantia de conformidade às normas ou brasileiro contemporâneo, ainda exis- forte aderência com esse conceito.
especificações técnicas estabelecidas. tem muitas incertezas em relação ao Este artigo aborda o caso da certifica-
A fim de atender às demandas nacionais valor que agrega aos produtos e à sua ção aplicada à cafeicultura. É feita uma
e internacionais, melhorar a imagem dos contribuição para o desenvolvimento e a análise da oportunidade representada pela
produtos aos clientes e agregar valor ao aceitação da agricultura brasileira inter- abertura de novos mercados e da adaptação
produto ou serviço, surgem certificados ou nacionalmente. Theodoro (2002) afirma às alterações no perfil de consumo dos
selos de qualidade desenvolvidos por ini- que, para os pequenos produtores, os mercados tradicionais, observando-se as
ciativa do Estado e/ou do setor produtivo. efeitos das regulamentações dos grandes áreas de convergência com aspectos rela-
Muitos desses certificados incluem a segu- mercados importadores não podiam ser cionados com a defesa vegetal.
rança ou a inocuidade como requisito para mais danosos. Há produtores com mais
certificação (PERETTI; ARAÚJO, 2010). de uma certificação, para garantir acesso CERTIFICAÇÃO: O CASO DA
Assim, atributos de qualidade dos pro- a mercados com exigências distintas. CAFEICULTURA
dutos ligados à segurança alimentar, Boas Segundo esse autor, a certificação onera O café é um produto que apresenta
Práticas Agrícolas (BPA) e biotecnologia principalmente o produtor, já que as taxas historicamente, entre as commodities,
são temas presentes no setor agroindustrial, de admissão, inspeção para cadastramen- elevada volatilidade de preços, com ciclos
mobilizando decisões do setor privado to ou atualização e análises solicitadas designados como boom and bust (retração
e apresentando impactos imediatos no por quaisquer das partes ocorrerão por e expansão). Atualmente, existe um cenário
desenho de políticas públicas para o setor conta do produtor; com a ampliação de de uma relação bem ajustada entre a oferta
agrícola/agroindustrial (CONCEIÇÃO; oferta e uma possível diminuição do e a demanda e baixos estoques em nível
BARROS, 2005). preço final do produto, o produtor verá mundial. Pensava-se, inicialmente, que se
De acordo com Triantafyllou (2003), ainda mais restrita sua margem de lucro. tratava de um surto de volatilidade, mas
existem duas formas de certificação, uma As certificadoras nacionais também pre- essa situação já perdura por todo o ano
compulsória e outra voluntária. A certifica- cisam manter-se credenciadas nos órgãos de 2012 e início de 2013. Comparando-se
ção compulsória decorre de regulamenta- fiscalizadores dos diferentes países. os preços médios do café Arábica pagos
ções de cunho legal, por meio de leis, de- Tudo isso resulta em maiores custos ao produtor, em janeiro de 2012, de
cretos e outros. São aplicadas em produtos operacionais. Mas conforme observado R$474,00, com o preço de janeiro de 2013,
que têm elevado risco potencial de perigo. A por Saupe, Züge e Felix (2003) e Aguiar de R$330,00, verifica-se uma retração de
certificação voluntária é aquela decorrente Neto et al. (2011), a certificação não 30,4% (CONAB, 2013).
de práticas ou exigências do mercado, que oferece apenas desvantagens, possibilita Tal fato tem introduzido grande inse-
introduz confiabilidade ao produto. melhoria da gestão da propriedade, com gurança e incerteza à atividade, pois, na
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ausência de definições em médio e longo do café de acordo com sistemas sociais e cafés Kona ou Kilimanjaro). Os consumi-
prazos e diante de uma atividade sujeita a ambientais responsáveis. Alguns cafés pos- dores estão dispostos a pagar um prêmio
tantos fatores imponderáveis, os produtores suem duplas ou triplas certificações, o que para esses cafés por causa de suas carac-
têm reduzido os investimentos. Consequen- oferece aos consumidores a segurança de terísticas superiores. Muitas vezes, essas
temente, o desenvolvimento de produtores que múltiplas condições foram atingidas. duas dimensões sobrepõem-se para que
e empresas tem sido impedido. As certificações são classificadas quan- os consumidores possam exigir café de
Dessa forma, as instituições ligadas ao to ao tipo, em certificações de sistemas e qualidade especial que também satisfaça
setor têm orientado os produtores e estes, de produtos. A certificação de sistemas certos critérios sociais.
muitas vezes, têm optado em investir em não atesta a qualidade final do produto, O que existe em comum entre as cer-
áreas com retornos mais seguros. Entre mas sim que o processo de produção foi tificações voltadas às questões ambientais
essas áreas, ressalta-se a diferenciação, totalmente controlado para minimizar os e sociais, segundo Palmieri (2008), é a
visando à agregação de valor ao produto riscos e manter e/ou melhorar o nível de materialização da crítica ao sistema con-
final por meio da conquista de nichos qualidade do processo. Já a certificação de vencional na forma de critérios objetivos
de mercado com diferentes exigências produtos atesta a qualidade de determinado e formas de reconhecimento de mercado.
em relação ao produto tradicionalmente produto, via análises sensoriais ou labora- As principais diferenças estão na ênfase
ofertado (commodity). toriais, comprovando o atendimento das atribuída a cada sistema de certificação,
Nas últimas décadas, verificou-se o exigências e normas preestabelecidas na ora voltada às relações comerciais, ora à
surgimento de canais não tradicionais de certificação. Como exemplo, citam-se as forma de manejar a cultura agrícola, ora
marketing, produção e consumo, represen- certificações orgânica e fair trade; a da Asso- à preservação dos ecossistemas naturais.
tados pelos cafés gourmet, ou especiais, ciação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) O mercado dos cafés especiais nos paí-
orgânico, mercado justo (fair trade), som- é um exemplo da certificação de produtos ses importadores é estimado entre 8% a
breados ou bird-friendly (amigo dos pássa- (PEREIRA; BLISKA; GIOMO, 2007). 12% do total, com crescimento próximo
ros) e outros cafés certificados.Verifica-se Deve-se considerar, contudo, que o de 2% ao ano, o que mostra tratar-se
que, a exemplo de outros países produtores, atributo de qualidade final do produto, ainda de um nicho e que o ritmo de cres-
há um crescente esforço do setor cafeeiro embora não seja o foco em uma certificação cimento, relativo e absoluto, é menor do
na diferenciação do produto em relação ao do sistema produtivo, como a certificação que em períodos anteriores, de norma-
sistema tradicional de produção. Esse fato orgânica, deve ser preenchido, sob pena lidade. Em grande parte, isso se deve
tem representado, talvez, não uma solução, de invalidar o esforço da certificação. Da à forte substituição de café Arábica
já que os mercados que absorvem os cafés mesma forma, se um produto apresentar por café Robusta, observada em 2012,
especiais e diferenciados ainda são poucos elevada qualidade sensorial, porém ob- não só nos países importadores, como
em relação à capacidade produtiva brasi- servando-se algum problema originário de também nos produtores, motivada pelos
leira, mas uma alternativa para a colocação falha no processo produtivo, por exemplo diferenciais de preços entre essas es-
pécies. No Brasil, o segmento de cafés
de parte da produção em atendimento a o caso de contaminação por micotoxina,
diferenciados representou cerca de 20%
demandas específicas dos mercados. esse produto será desvalorizado.
da receita de exportação, portanto, cer-
No caso do sistema agroindustrial do A expansão dos cafés diferenciados
ca de 1,3 bilhão de dólares, mostrando
café, o que geralmente ocorre é a certifica- tem duas dimensões que frequentemente
um recuo em relação a 2011, quando
ção voluntária, com o intuito de transmitir se sobrepõem. A primeira, responsável
alcançou 24% da receita, por conta dos
ao comprador ou consumidor de café uma pelo aumento do consumo de cafés fair
problemas causados pelas chuvas de
imagem de confiança, além de diferir o trade, sombreados, ou bird-friendly é junho/julho. (BRAGA, 2013).
produto de seus concorrentes, aumentando, impulsionada por demandas sociais. Os
portanto, sua competitividade (PEREIRA; consumidores desejam garantir que os
BLISKA; GIOMO, 2007). produtores de café recebam preços mais CERTIFICAÇÃO ORGÂNICA
Segundo Fox (2007), procedimentos elevados (comércio justo) ou que sejam A certificação orgânica coloca-se como
de certificação e rotulagem são usados reduzidos os danos do cultivo do café uma das primeiras certificações adotadas
como meio de informar sobre as condições sobre o meio ambiente (cafés sombreados pelo setor cafeeiro com vistas à conquista
sociais ou ambientais envolvendo pro- ou bird-friendly). A segunda dimensão de um novo mercado e à consequente va-
dutos ou serviços. O selo de certificação relaciona-se com o gosto ou preferência. lorização do produto final.
é direcionado para o consumidor e visa Nesse caso, o aumento do consumo deriva Considera-se sistema orgânico de
proporcionar uma garantia de que o produ- de indicações geográficas de origem, bem produção agropecuária e industrial todo
tor recebeu um ágio (prêmio) pelo cultivo como cafés gourmet e especiais (como os aquele no qual se adotam tecnologias
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que otimizem o uso de recursos naturais sintéticos, inclusive na armazenagem, sen- diversidade de espécies vegetais dentro do
e socioeconômicos, respeitando a inte- do permitidos os diversos biofertilizantes cafezal, isolamento de áreas vizinhas que
gridade cultural e tendo por objetivo a líquidos, as caldas (sulfocálcica, viçosa e adotam manejo convencional etc. Estas
autossustentação no tempo e no espaço, bordalesa), os extratos de determinadas táticas visam aumentar o número de inimi-
a maximização dos benefícios sociais, a plantas e os agentes de biocontrole, de- gos naturais e, consequentemente, diminuir
minimização da dependência de energias vendo esses insumos também atender às a pressão de pragas e doenças (AKIBA;
não renováveis e a eliminação do emprego normas previstas para a sua utilização no CARMO; RIBEIRO, 1999). Entretanto,
de agrotóxicos e outros insumos artificiais sistema (PENTEADO,1999). algumas vezes, essas medidas não são
tóxicos, organismos geneticamente modi- As dificuldades de aplicação prática suficientes para impedir a ocorrência de
ficados (OGM)/transgênicos ou radiações dessa definição, considerando-se a necessi- problemas fitossanitários, principalmente
ionizantes em qualquer fase do processo de dade de internalização de várias mudanças em função de desequilíbrios temporários
produção, armazenamento e de consumo, e os problemas de sua vinculação à ideia naturais que acarretam estresse, do uso
e entre estes, privilegiando a preservação de desenvolvimento devem ser vistos como de cultivares suscetíveis e de fatores não
da saúde ambiental e humana, assegurando novos desafios para as culturas, destacada- controláveis que venham determinar o
a transparência em todos os estádios da mente a do café. Tal afirmativa baseia-se no aumento da incidência de pragas e de do-
produção e da transformação, conforme fato de que a fase de transição, denominada enças, tais como a cercosporiose (Fig. 1),
disposto na Instrução Normativa no 7, de período de conversão, é relativamente a broca-do-café e o bicho-mineiro, entre
17 de maio de 1999 (BRASIL, 1999), e longa, de 18 meses para culturas perenes. outras que contribuem para a queda da
o Projeto de Lei no 659-A de 1999, do Durante esse período, no qual o produto produtividade e qualidade do produto.
Ministério da Agricultura, Pecuária e ainda não é reconhecido como orgânico, Souza et al.(2006), em estudo que visa
Abastecimento (MAPA), o qual foi base pode-se observar uma acentuada queda o desenho e a análise da cadeia produtiva
para a Lei no 10.831, de 23 de dezembro de produtividade, não compensada pela de café orgânico, como subsídios para o
de 2003 (BRASIL, 2003). agregação de valor ao produto final, para aumento das exportações, verificaram que
Na certificação orgânica é verificada, a qual o produtor deve estar preparado. o primeiro elo da cadeia produtiva do café
por meio de auditorias, toda a origem e O período de conversão visa buscar o orgânico, relativo aos insumos, constitui
trajetória dos produtos agrícolas, desde a equilíbrio de cada ambiente por meio da um dos seus pontos fracos.
produção até a mesa do consumidor final. manutenção de áreas de matas, aumento da Dessa forma, a falta de acessibilidade
As auditorias no Brasil são realizadas por
certificadoras credenciadas pela Federação
Internacional de Movimentos de Agricul-
tura Orgânica – International Federation of
Organic Agriculture Movements (Ifoam).
A certificadora nacional que se destaca no
Brasil é o Instituto Biodinâmico (IBD),
haja vista seguir padrões específicos da
União Europeia (Regras CEE 2092/91),
Estados Unidos (Regras NOP) e Japão
(Regras JAS).
O Instituto Mineiro de Agropecuária
(IMA) foi credenciado pelo MAPA e
pelo Instituto Nacional de Metrologia,
Qualidade e Tecnologia (Inmetro) como
Vicente de Carvalho
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a insumos em quantidade e qualidade, refere-se aos custos da certificação, uma o aprendizado de novas competências, o
apesar de a produção ser nacional, acarreta vez que para garantir o atributo do café é que integra o conhecimento das exigências
elevação dos preços. Como alternativas para necessário que o mercado tenha confiança sociais, econômicas e ecológicas do comér-
atenuar o problema, citam-se: aumentar e/ na agência certificadora. Como existem cio justo, como investimento específico
ou manter a biodiversidade para o controle diferentes mercados consumidores, pode para obtenção da certificação. Resultam
de pragas e fungos; fazer compras conjuntas haver necessidade de buscar outras cer- em mudanças, em alguns aspectos ligados
de insumos e produção massiva de adubos tificadoras, o que eleva o custo de tran- à produção, ao transporte e à estocagem.
orgânicos; apoiar o desenvolvimento de pes- sação. Em segundo lugar, a cafeicultura Assim, com pequenos investimentos e boa
quisas com produtos naturais e indutores de orgânica possui baixas barreiras à entrada, remuneração pelo produto, a certificação
resistência a doenças e pragas, entre outros. de tal modo que outros produtores podem passou a ser alternativa viável para cafei-
Informações sobre os ágios (prêmios) ingressar no mercado, elevando a oferta cultores de economia familiar.
para o café orgânico variam largamente e obrigando os produtores a negociarem A certificação fair trade é adequada,
de acordo com a fonte, refletindo o fato seu produto ao preço de café commodity. sobretudo, a pequenos produtores e não
de ser indicadores de difícil determinação, É, portanto, essencial que os produtores exige destes grandes investimentos em
porque dependem da origem e da qualidade tenham acesso a informações mercadoló- modificações das estruturas das proprieda-
do café e da situação do mercado em um gicas, além de suporte e treinamento para des. Entretanto, exige mudanças de atitude,
dado momento, da reputação do produtor elaborar um plano viável de negócios. como aprendizados sobre trabalhos em
ou da organização a qual está associado, associação com outros produtores, treina-
ou, ainda, de uma certificação adicional CERTIFICAÇÃO FAIR TRADE mentos sobre leis e segurança no trabalho,
como a fair trade. OU COMÉRCIO JUSTO leis ambientais e planejamento da proprie-
De acordo com alguns autores, ágios O movimento fair trade ou comércio dade, mobilizando bastante tempo, porém
associados à boa qualidade podem ser mais justo tem-se postado como uma alternativa poucos recursos efetivos dos proprietários.
valiosos do que para a certificação. Byers ao modelo de trocas internacionais centra- Deve-se destacar a importância de um
e Liu (2008) confirmam que o ágio para do em forças de mercado. No fair trade, o ambiente de pesquisa, ensino e assistência
o café orgânico certificado está altamente elo consumidor admite pagar um prêmio técnica integral direcionado para agriculto-
correlacionado com a qualidade. Cafés e oferecer melhores condições comerciais res familiares, a fim de garantir o sucesso
orgânicos de baixa qualidade terão uma ao elo produtor, visando propiciar-lhe um dessa certificação.
valorização abaixo de seu equivalente padrão de vida mais adequado, desde que Embora a ênfase da certificação fair
produzido no sistema convencional. Dados os produtores cumpram um dado conjunto trade seja a justa remuneração e a con-
referentes aos ágios obtidos por produtos de normas relativas à produção e a alguns sequente melhoria da qualidade de vida
orgânicos obtidos no âmbito do estudo aspectos socioambientais. dos cafeicultores, são igualmente con-
incluem prêmios médios de 10% a 15%, O café foi o primeiro produto a receber templados os conceitos de adoção de boas
em 2002, 15% a 50% (2003), 39% (ou o selo fair trade, lançado em 1989, e, ainda, práticas fitossanitárias. Destacam-se os
108% para a certificação de comércio o mais conhecido produto com esse selo aspectos de uso adequado e racional dos
justo/café orgânico) (2003/2004), 30% entre os consumidores na Europa, América insumos, defensivos e fertilizantes, sua
(2004); US$ 0,28 e US$ 0,24 por libra peso do Norte e Japão. aplicação, visando preservar a saúde dos
(em 2005 e 2006, respectivamente), 30% e A certificação fair trade é destinada a trabalhadores e do meio ambiente, seu
40% (2005 e 2006, respectivamente), 15% pequenos produtores de café organizados armazenamento, manejo pré e pós-colheita
a 20% (2007); US$ 0,15 a 0,30 por libra em associações ou cooperativas. A ca- do café, com o objetivo de controlar pragas,
peso (2007), e 20% (2008). racterística principal é garantir um preço doenças e microrganismos causadores da
Várias fontes de indústrias concor- mínimo ao produtor, que cubra os custos de deterioração dos frutos.
dam que os ágios por cafés orgânicos produção e propicie melhorias na qualida- O café fair trade pode ser cultivado de
têm caído nos últimos anos. No entanto, de de vida, não ficando o produtor sujeito forma convencional ou orgânica. Quando
oportunidades continuam a existir para o às oscilações do mercado. Além disso, há o cultivo é convencional, há uma lista de
café orgânico com múltiplas certificações um prêmio que deve ser destinado a um agroquímicos que não podem ser aplicados,
(fair trade, por exemplo), ou orgânico com projeto social escolhido pelo grupo de visando maior segurança socioambiental.
excepcional qualidade. produtores, assim como estímulos a con- A certificação é conhecida por assegu-
Segundo Saes (2008), torna-se neces- tratos de longo prazo e ajudas na obtenção rar aos produtores um preço mínimo. Isso
sário observar ainda duas especificidades de crédito (FERRAN; GRUNERT, 2007). decorre do fato de que em 15 dos últimos
do segmento para os produtores. A primeira Bouroullec e Paulillo (2010) destacam 22 anos, quando o preço global do café
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Arábica caiu bem abaixo do mínimo fair café guatemaltecos e a torrefadora europeia qualitativos ao produto. De posse do
trade, foi proporcionado aos produtores um Ahold Coffee Company, para bonificar tor- histórico e da demarcação dos talhões,
preço suficiente para a cobertura dos custos refadores e marcas que respondessem ao é possível realizar o controle apenas em
necessários para manter uma produção crescimento da demanda por café a fim de áreas específicas.
sustentável. Atualmente, o preço mínimo é garantir a responsabilidade na produção. Devem também ser considerados os
de 140 centavos a libra peso e 110 centavos Os incentivos que a certificação UTZ capítulos do código que trata dos sistemas
a libra peso, respectivamente para os cafés proporciona para os consumidores ba- de gestão e autoinspeção, colheita,
Arábica e Robusta certificado fair trade, seiam-se na garantia de cumprimento de pós-colheita e armazenamento, com
ou o preço de mercado, se estiver acima, seu Código de Conduta, ou seja, o compro- destaque para as medidas preventivas
funcionando, portanto, como uma espécie misso de que o sistema de produção está de de contaminação por fungos toxigênicos
de hedge para as oscilações no mercado acordo com três padrões: trabalhista/social, (Fig. 2), especificamente produtores de
de commodities. Há ainda um prêmio adi- ambiental e de qualidade. É, portanto, uma ocratoxina A, que podem constituir barreira
cional de 20 centavos por libra peso para certificação que visa à produção respon- não tarifária para a exportação do café,
investimentos na comunidade, projetos sável de café; seus parâmetros incluem além de tratar-se de um problema de saúde
ambientais, de educação e cuidados com a
manutenção de registros, uso minimizado pública (CHALFOUN; PARIZZI, 2008).
saúde, melhorias nas propriedades, incluin-
e documentado de defensivos agrícolas, Um capítulo é especificamente dedicado à
proteção de direitos trabalhistas e acesso à questão dos defensivos agrícolas (escolha
do instalações de processamento, o que
assistência e à educação para os emprega- uso, armazenagem e aplicação).
gera aumento de qualidade e produtividade
dos e seus familiares (UTZ CERTIFIED, A política de preços para o café certi-
e, consequentemente, retorno financeiro.
2013). ficado UTZ é o reflexo do valor agregado
Há um prêmio extra de 30 centavos por
Na área relativa à defesa vegetal, é pela certificação, não um ágio preestabele-
libra peso por café certificado fair trade
importante ressaltar os tópicos desse códi- cido. O ágio tem como base o mecanismo
e orgânico (SAES, 2008; FAIRTRADE
go relacionados com a manutenção de re- de mercado, o que permite que este deter-
FOUNDATION, 2012).
gistros e a identificação da fazenda/talhão, mine o valor do café. O preço é negociado
UTZ CERTIFIED por meio do qual é possível acompanhar o caso a caso entre o comprador e o vendedor,
comportamento das pragas e doenças por sem interferência externa da organização.
A certificação UTZ Certified tornou- se talhões, realizando-se o manejo de forma No processo de venda, produtor e com-
conhecida no mundo cafeeiro como Utz diferenciada. Como exemplo, cita-se o prador combinam explicitamente o valor
Kapeh (café bom, na língua Maia) e alterou controle da broca-do-café, Hypothenemus que vai ser adicionado pela certificação.
seu nome, logomarca e layout, em 2007. hampei, (Ferrari, 1867), uma praga-chave Por meio de um anúncio de venda (UTZ
Foi fundada em 1997, por produtores de responsável por danos quantitativos e Certified web-based system), a UTZ é
A B
Figura 2 - Contaminação pelo fungo Aspergillus ochraceus
NOTA: A - Grãos de café contaminados pelo fungo; B - Colônia de A. ochraceus em meio de cultura.
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informada e atribui um número único ao fazendas e recebem por isso benefícios País (RAINFOREST ALLIANCE, 2005).
contrato. Esse número deve caminhar junto econômicos. O café com o selo RAC certifica, ao con-
com o produto ao longo de toda a cadeia A certificação Rainforest Alliance sumidor, a produção por meio de um ma-
produtiva. Por último, o comprador final surge como alternativa para grandes pro- nejo agrícola ambientalmente adequado,
pode conferir o número no lote de compra dutores, que já contam com infraestrutura socialmente benéfico e economicamente
com o número fornecido pela UTZ Cer- adequada e alta produtividade. Esses pro- viável, de acordo com as normas previstas.
tified; nesse instante estará completo o dutores, geralmente, têm acesso ao merca- O Organismo Certificador no Brasil é o
processo de rastreabilidade, de modo que do internacional e talvez tenham aderido Instituto de Manejo e Certificação Florestal
o comprador pode observar como, onde e à certificação por constatarem o ágio e a e Agrícola (Imaflora) e a certificação pode
por quem o café foi produzido, assim como pouca oferta do café nacional nesse mer- ocorrer de duas formas: certificação de ca-
ter acesso a vários outros fatores ligados cado. Além disso, têm como diferencial as deia de custódia e certificação de unidade
à qualidade que a rastreabilidade permite grandes áreas de preservação de matas em de produção agrícola. A primeira permite
conferir. suas propriedades. Merece destaque o fato rastrear a origem da matéria-prima e envol-
A certificação UTZ atinge médios de que, no caso de propriedades que não ve desde os processos iniciais de produção
e grandes produtores que possuem boa possuem Reserva Legal e área suficiente até os de venda. A segunda concentra-se
organização e visão de mercado e visa para isto, os produtores tenham a possi- apenas, como o próprio nome já diz, na
agregar valor sem alterações consideráveis bilidade de apresentar um planejamento unidade de produção agrícola, que pode
no manejo, mas sim por meio do reconhe- escrito para tê-las (compra de áreas na ser uma fazenda ou um sítio etc. Nessa
cimento de sua organização interna e suas mesma microbacia ou recomposição dentro
unidade, ainda pode ser solicitada uma
boas práticas de produção. da propriedade de acordo com o órgão am-
avaliação de diagnóstico, ou seja, uma
biental local, ou conforme a interpretação
avaliação sem fins de certificação, apenas
CERTIFICAÇÃO RAS - do Código Florestal Brasileiro sobre o tema
para o proprietário saber como sua unidade
RAINFOREST ALLIANCE Reservas Permanentes).
se encontra, caso queira certificá-la.
A Rede de Agricultura Sustentável
A certificação Rainforest Alliance, Observa-se que, no escopo da cer-
(RAS) adotou o selo Rainforest Alliance
conhecida no Brasil como Certificação tificação, vários itens são dedicados à
Certified (RAC), para identificar produtos
Socioambiental, teve sua origem em 1998, preservação ambiental, tratamento justo
e empreendimentos certificados com base
por meio de uma coalizão de Organizações e boas condições de trabalho, saúde e
na norma para a Agricultura Sustentável,
Não Governamentais de oito países (Bra- segurança ocupacional, manejo integrado
fruto de discussões internas, de consultas
sil, Honduras, Costa Rica, El Salvador, dos cultivos, manejo e conservação do
públicas e de outras normas. Essa Rede
Guatemala, Equador, Colômbia e Estados solo e manejo integrado dos resíduos. São
foi formada por entidades sem fins lucra-
Unidos). O objetivo dessa certificação é tivos de oito países da América Latina,
instrumentos relevantes considerados no
aliar conservação ambiental à produção em decorrência dos alarmantes impactos conceito de defesa sanitária vegetal. Dessa
de commodities agrícolas cultivadas nos socioambientais dos sistemas de produção forma, distingue-se da certificação orgâni-
países tropicais. Produtos como banana, agrícola predominantes. ca por permitir o uso limitado e controlado
cacau, flores, folhagens e frutas já têm sido O café sustentável pode ter impactos de agroquímicos e desta se aproxima pela
certificados, mas o café é o que possui a que vão muito além da propriedade em orientação em manter-se uma cobertura
maior área certificada, bem como o maior si. Destacam-se as contribuições para me- vegetal diversificada e árvores nativas,
crescimento. lhorias em paisagens e ecorregiões inteiras para promover um hábitat adequado para
Segundo Pereira, Bliska e Giomo de países produtores, com a criação de uma série de espécies, além de proteger e
(2007), a certificação socioambiental, por corredores e complementação de sistemas regenerar reservas naturais.
meio do selo Rainforest Alliance, tem uma nacionais de áreas protegidas. No entanto, Determinados problemas fitossanitá-
história recente no Brasil, já que a primeira é necessário que haja uma convergência rios do cafeeiro podem ser agravados no
fazenda de café foi certificada em 2003. entre mercados, planejamento, administra- sistema de sombreamento, destacadamente
Contudo, tem experimentado crescimento ção de propriedades e apoio técnico. a ferrugem (Fig. 3). No Brasil, o sombre-
efetivo nas áreas certificadas a cada ano. No Brasil, a certificação da RAS vem amento das lavouras não é exigido para
Essa certificação tem-se mostrado boa fer- crescendo em ritmo acelerado. Entre 2007 a certificação. Para a conservação dos
ramenta para aliar os ideais do desenvolvi- e 2008, houve o aumento de mais de 87% ecossistemas, exige-se que 30% da área
mento sustentável à produção agrícola, na no número de áreas certificadas cultivadas, da propriedade seja destinada à manuten-
medida em que os produtores incorporam destacando-se, nesse contexto, o café que ção da vegetação natural (RAINFOREST
as normas de certificação dentro das suas ocupa 85,6% do total da área certificada no ALLIANCE, 2005).
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PROGRAMAS DE CERTIFICAÇÃO
EM MINAS GERAIS
Os programas de certificação coorde-
nados pelo IMA são importantes para o
desenvolvimento da agricultura no estado
de Minas Gerais. Além de ser credenciado
pelo Inmetro como OAC, o IMA também é
credenciado como organismo certificador
de produto (OCP). Os programas de certi-
ficação incluem produtos agrícolas como
café, algodão e cachaça (Quadro 1).
A certificação das propriedades cafeei-
ras Certifica Minas − programa estrutura-
Sára Chalfoun
dor do governo do estado de Minas Gerais,
executado pelo IMA e pela Empresa de
A Assistência Técnica e Extensão Rural do
Estado de Minas Gerais (Emater-MG) − e
a certificação da região do Cerrado mineiro,
a primeira de caráter estadual e a segunda
de caráter regional, atestam a conformidade
das fazendas produtoras com as exigências
do comércio mundial, destacando a quali-
dade do café pela sua origem (Quadro 1).
O pioneirismo de Minas Gerais, quanto às
referidas certificações, justifica-se, uma
vez que o Estado é o maior produtor de
café do País, responsável por 51,4% da
safra nacional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Outras certificações utilizadas pelos
Sára Chalfoun
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exploratory study using means-end chains
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1
Engo Agro, Ph.D., Prof. UFV - Depto. Economia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: odasilva@ufv.br
2
Graduanda Ciências Econômicas, Bolsista BIC FAPEMIG/UFV, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: marcela.santos@ufv.br
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ricos para os países pobres, enquanto a ITO o corpo regulador da OMC. Os resultados O Órgão de Solução de Controvérsias
cuidaria da cooperação internacional em da Rodada Uruguai foram originalmente tornou-se um sistema de consultas entre os
termos de comércio internacional. assinados pelos 123 países membros países membros, caracterizado por prazos
A ITO foi concebida em uma reunião iniciais da OMC. No entanto, desde sua determinados. No caso de os países não
das Nações Unidas sobre comércio e criação, em 1995, 34 países aderiram ao chegarem a um acordo sobre suas disputas
emprego em Havana (1947-1948). Tinha acordo, aumentando o número de membros comerciais por meio das consultas mútuas,
como proposições o estímulo ao cres- da OMC para 157, em 2012. A estrutura podem recorrer à formação de um painel de
cimento econômico, a transferência de básica da OMC é mostrada no Quadro 1. especialistas que indicará o que deve ser
recursos para os países mais pobres, o A OMC integra tanto os princípios feito sobre as medidas questionadas. Uma
aumento no nível de emprego, a avaliação do GATT quanto os demais princípios vez que o relatório do painel esteja pronto,
das políticas comerciais e das restrições alcançados em seu âmbito como resultados este é submetido à aprovação pelo órgão
ao comércio internacional de produtos globais da Rodada Uruguai de negociações de solução de controvérsias. Para rejeitar
manufaturados e semimanufaturados, além multilaterais, tais como o Acordo Geral o relatório, torna-se necessário o consenso
da estabilização dos preços dos produtos sobre o Comércio de Serviços – General entre os países membros, o que implica na
primários nos mercados internacionais. Agreement on Trade in Services (GATS) virtual aprovação de todos os relatórios.
Mas a ITO nunca foi de fato estabelecida. e o Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Antes da OMC (painéis do GATT), os rela-
Era muito ambiciosa e idealista para se Propriedade Intelectual – Agreement on tórios eram aprovados somente se houvesse
tornar realidade, principalmente aos olhos Trade-Related Aspects of Intellectual consenso entre as partes envolvidas, o que
dos países desenvolvidos, já que, diferente Property Rights (TRIPS). dificultava as decisões.
Importante também na criação da OMC
das demais organizações, na ITO cada país Também integram o corpo regulador
foi o estímulo à adoção da transparência,
teria direito a um voto, independentemente da OMC, os acordos e anexos adicionais,
entendida como o grau no qual as práticas e
da sua importância econômica e comercial. destinados a determinados setores ou temas
políticas comerciais são difundidas entre os
Contudo, suas disposições em matéria de especiais e que incluem o Acordo sobre a
países membros. Os países devem notificar
política comercial entraram em vigor na Agricultura, o Acordo sobre Aplicação de
a Secretaria da OMC, suas legislações e suas
forma do Acordo Geral sobre Tarifas e Medidas Sanitárias e Fitossanitárias – Sa-
propostas de alterações com potencial para
Comércio, o General Agreement on Tariffs nitary and Phytosanitary Measures (SPS)
afetar o comércio, a qual encarregar-se-á de
and Trade (GATT). e o Acordo sobre Barreiras Técnicas ao
disseminar tais propostas para os demais
O GATT é um acordo sobre tarifas Comércio – Technical Barriers to Trade
membros, permitindo que estes apresentem
e comércio, discutido durante a criação (TBT). Portanto, ao se tornarem membros
comentários e questionamentos sobre as
da ITO, e que foi sucessivamente alte- da OMC, os países estariam concordando
medidas a serem adotadas.
rado como resultado de oito rodadas de em cumprir as normas e compromissos
A OMC tem sua sede em Genebra, na
negociação entre os países membros. A constantes em todos os acordos citados.
Suíça, onde administra e fiscaliza os acor-
última alteração foi feita em 1994, na Como compromisso de acesso aos dos comerciais multilaterais negociados
Rodada do Uruguai, quando passou a ser mercados, foram elaboradas listas extensas no âmbito do GATT. Além disso, promove
referido como “GATT revisto” ou, sim- e detalhadas das condições que determina- novas rodadas de negociações comerciais,
plesmente, “GATT 1994”. Reservou-se o dos produtos ou prestadores de serviços resolve as diferenças comerciais e super-
termo “GATT original” para o documento estrangeiros deveriam obedecer. No caso visiona as políticas comerciais nacionais.
assinado por 23 países, em 1947, o qual do GATT, consistiam em compromissos A autoridade máxima é a Conferência
tornou-se um acordo provisório, mas que relativos às tarifas aplicadas sobre bens Ministerial, composta por representantes
prevaleceu até a conclusão da Rodada do de maneira geral, e combinações de tari- de todos os países membros da OMC, que
Uruguai, quando foi criada a Organização fas e quotas, para determinados produtos se reúnem a cada dois anos, razão pela
Mundial de Comércio (OMC). agropecuários. Foram, também, fixados qual as tarefas diárias são de responsa-
A OMC foi criada por um acordo re- prazos para a eliminação dessas condições bilidade dos órgãos subsidiários, como o
sultante da última rodada de negociações de acordo com o grau de desenvolvimento Conselho Geral. Este Conselho se reúne
do GATT, para administrar e aplicar todos dos países membros. de três formas diferentes: como Conselho
os acordos que tinham sido assinados no Uma diferença essencial entre a OMC Geral, como Órgão de Exame das Políticas
âmbito do GATT. Portanto, todos os prin- e o sistema existente antes da sua criação é Comerciais e como Órgão de Solução de
cípios, direitos e obrigações aplicáveis à que a OMC estabeleceu um procedimento Controvérsias. Há também Conselhos,
regulamentação do comércio internacional, para a solução de controvérsias e disputas Grupos de Trabalho, Grupos de Negocia-
acordados no GATT, passaram a integrar comerciais, impostas sobre bases jurídicas. ção e Comitês.
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Transparência Exame das políticas comerciais Exame das políticas comerciais Exame das políticas comerciais
FONTE: WTO (2011).
NOTA: GATT - General Agreement on Tariffs and Trade (Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio); GATS - General Agreement on Trade in
Services (Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços); TRIPS – Agreement on Trade-Related Aspects of Intelectual Property Rights
(Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual); SPS- Sanitary and Phytosanitary Measures (Acordo sobre Apli-
cação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias; TBT - Technical Barriers to Trade (Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio);
NMF - Cláusula da Nação Mais Favorecida.
A maioria das decisões é tomada por criminação, uma vez que qualquer ser congeladas e reduzidas subse-
consenso dos países membros, algumas membro pode-se beneficiar de quentemente;
questões podem ser submetidas à votação, condições comerciais estabelecidas f) Código Antidumping: este código
mas esta não tem sido a prática usual da por outro membro, incluindo em estabelece uma série de regras no
Organização. Isto implica, muitas vezes, acordos bilaterais. Ou seja, quando âmbito do GATT para combater prá-
em um longo e complicado processo de uma parte contratante dá uma con- ticas desleais de comércio, como as
negociação, já que se trata de chegar a um cessão comercial para outra, essa práticas do dumping e dos subsídios
acordo entre quase 160 países. O funciona- concessão deve ser estendida aos às exportações;
mento da OMC difere bastante daquele de demais países;
g) Salvaguarda: esta cláusula permite
outras organizações internacionais como, b) Princípio do Tratamento Nacional: aos Estados signatários, quando sua
por exemplo, do FMI ou do Banco Mun- os produtos importados em um de- economia ou situação comercial
dial. Na OMC, o poder não é delegado a terminado mercado não podem ser justificar a aplicação de restrições
uma equipe de gestão e a estrutura adminis- tratados de forma menos favorável à importação ou suspender as con-
trativa não tem qualquer influência sobre do que os produtos semelhantes de cessões tarifárias a outros países, se
as políticas comerciais nacionais. Quando origem nacional; os produtos forem importados em
se impõe algum tipo de disciplina sobre c) Tarifação: todas as medidas de quantidades ou em condições que
as políticas nacionais, é pelo resultado proteção das fronteiras devem ser causem ou ameacem causar graves
de um processo de negociação entre os transformadas em direitos aduanei- prejuízos aos produtores nacionais.
países membros; quando ocorrem algumas ros (tarifas);
sanções comerciais, estas são impostas d) Consolidação Tarifária: o compro- Agricultura, GATT e a
pelos países membros da OMC e não pela misso das partes contratantes em Rodada do Uruguai
Organização. respeitar os níveis tarifários nego- A utilização das normas do GATT e as
A OMC foi criada com o compromisso ciados (tarifas consolidadas) torna diversas rodadas de negociação multila-
de seus membros alcançarem um sistema previsíveis os termos nos quais as terais entre os países membros reduziram
multilateral de comércio mais aberto e, negociações se desenvolvem; em muito as restrições ao comércio de bens
ao mesmo tempo, mais regulado. Para e) Proibição de Restrições Quantita- manufaturados. Segundo a WTO (2013),
esse fim, o GATT baseia-se nos seguintes tivas (quotas): como um dos prin- durante os anos de 1960 e 1970, as redu-
princípios: cipais obstáculos ao comércio, as ções tarifárias contínuas contribuíram para
a) Cláusula da Nação Mais Favorecida cotas devem ser eliminadas. Aquelas um crescimento do comércio da ordem de
(NMF): é um princípio de não dis- existentes antes do Acordo deveriam 8% ao ano.
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Contudo, até 1986, a agricultura estava em valores aduaneiros (tarifas) fixos, com ações dos governos na adoção de normas
isenta de muitas disposições do sistema valores e datas determinadas de redução. ou controles.
multilateral de comércio. Esta exclusão Durante todo o processo de discussão O Acordo SPS não é definido por suas
teve sua origem nos anos de 1950, quan- do acordo sobre a agricultura, os Estados características, mas, sim, pelos objetivos
do os Estados Unidos conseguiram uma Unidos e a União Europeia (UE) con- que persegue. Segundo esse critério, as
renúncia na utilização de restrições quan- frontaram-se por interesses protecionistas normas sanitárias são aquelas destinadas
titativas às importações agrícolas, que foi específicos. Após oito anos de discussões, para proteger a saúde dos seres humanos e
estendida a todos os outros membros. o acordo foi assinado por todos os países, dos animais, e as normas fitossanitárias são
A Rodada do Uruguai, lançada em se- com críticas daqueles em desenvolvimen- relacionadas com as plantas e os vegetais.
tembro de 1986 com a Declaração de Punta to e de que tal acordo estava longe de Este conjunto de normas inclui a fauna
del Este, tinha 15 capítulos de negociação promover um comércio mais livre e justo. selvagem, a pesca, os bosques e as florestas
(SILVA, 2012). A diversidade dos temas Contudo, havia a expectativa de que o e exclui o ambiente em geral, o bem-estar
discutidos foi uma das principais inovações processo de negociações continuaria no fu- animal e os interesses dos consumidores.
da Rodada do Uruguai, em comparação turo, o que ficou conhecido como “agenda No conjunto, são medidas sanitárias e
com as rodadas de negociações anterio- inconclusiva”.
fitossanitárias aquelas destinadas a:
res, que tratavam quase exclusivamente Na realidade, houve um avanço sig-
a) proteger a saúde humana dos riscos
da proteção tarifária. Todos os países nificativo com a inclusão da agricultura
dos alimentos;
signatários da Declaração de Punta del nas normas da OMC. Os subsídios e as
Este concordaram sobre a necessidade de barreiras tarifárias foram reduzidos signifi- b) proteger a saúde humana de doenças
reintroduzir a agricultura nas disciplinas do cativamente após o acordo, além de este ter transmitidas por plantas e animais;
GATT, que, até aquela data, estava isenta sido complementado por outros Acordos c) proteger a saúde das plantas e dos
da aplicação dessa atividade. Os ministros que impõem condições não tarifárias ao animais de pragas e doenças;
declararam que havia uma necessidade comércio de alimentos, tais como o SPS d) proteger um país da entrada e disse-
urgente de melhorar a transparência do e o TBT. minação de pragas.
mercado agrícola mundial, corrigindo e
Para atingir alguns destes objetivos,
evitando qualquer forma de distorção co- ACORDO SOBRE APLICAÇÃO
DE MEDIDAS SANITÁRIAS E as seguintes medidas são adotadas pelo
mercial, assim como reduzir a incerteza e
FITOSSANITÁRIAS E ACORDO acordo:
a instabilidade existentes no mercado inter-
nacional. Concordaram que as negociações SOBRE BARREIRAS TÉCNICAS a) a imposição de determinados pro-
AO COMÉRCIO cessos de produção;
deveriam alcançar uma maior liberalização
do comércio agrícola e garantir que todas O objetivo do Acordo SPS foi estabe- b) a exigência da origem;
as medidas relativas ao acesso aos merca- lecer os critérios que deveriam nortear as c) a quarentena;
dos de importação e aos subsídios às ex- ações dos governos na adoção de normas d) os processos de inspeção e certifi-
portações fossem regidas pelo GATT, por sanitárias e fitossanitárias, evitando que cação;
meio de uma série de normas e disciplinas medidas para proteger a saúde das pessoas, e) os requisitos de amostragem e
reforçadas, com o estabelecimento de um dos animais e das plantas se tornassem análise;
sistema de comércio agrícola equitativo e barreiras desnecessárias ao comércio
f) a rotulagem relacionada com a saúde;
orientado para o mercado. (WTO, 2012a).
Ao entrar em vigor, em 1o de janeiro Antes da entrada em vigor do Acordo g) os limites máximos de resíduos;
de 1995, o Acordo sobre a Agricultura da SPS, em 1995, os governos podiam re- h) os aditivos permitidos.
OMC incluiu compromissos específicos correr ao Código de Normas aprovado na No que diz respeito aos Acordos da
de redução dos subsídios às exportações, Rodada de Tóquio (1973/1979), ou podiam OMC, a diferença entre uma medida sa-
dos subsídios internos e de melhoria de recorrer ao art. XX, alínea (b) do GATT, nitária e fitossanitária, que deveria fazer
acesso aos mercados, com tratamento para adotar medidas comerciais restritivas parte do Acordo SPS, e uma barreira téc-
especial e diferenciado para os países em para proteger a saúde e a vida. No entanto, nica ao comércio, que deveria fazer parte
desenvolvimento. os negociadores da Rodada do Uruguai do Acordo TBT, é, por vezes, confusa.
O elemento-chave de acesso aos mer- entenderam que o quadro legal definido Por exemplo, medidas relacionadas com
cados foi a tarifação ou a transformação por essas normas era impreciso e, portanto, as doenças não transmitidas por plantas e
de qualquer mecanismo de proteção nas insuficiente para estabelecer princípios animais são consideradas como barreiras
fronteiras (como quotas, por exemplo), de funcionamento claros, para orientar as técnicas ao comércio, enquanto as normas
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de rotulagem podem estar em ambas as os governos, o Acordo SPS admite uma ser uma restrição disfarçada ao comércio.
categorias, dependendo se sua finalidade exceção à necessidade prévia de avaliar os Para reduzir conflitos, o Acordo TBT,
é proteger a saúde ou simplesmente dar riscos antes de tomar decisões com efeitos da mesma forma que o Acordo SPS, tem
informações aos consumidores. comerciais: podem-se tomar medidas de o compromisso de harmonização inter-
Quando os países membros da OMC, precaução, que incluem a proibição das nacional das normas, dos padrões e dos
que possuem grandes diferenças de de- importações em casos de emergência. A procedimentos de avaliação de conformi-
senvolvimento econômico, de cultura e exigência é que essas medidas sejam tem- dade. Dada as vantagens indiscutíveis de
de preferências, não chegam a um acordo porárias e que, em um tempo razoável, os adotar um padrão único, o Acordo obriga
para harmonizar as suas normas internas, governos devem fornecer uma avaliação os países membros da OMC a utilizarem
o Acordo os estimula a adotar medidas que objetiva dos riscos. as normas internacionais, sempre que
possam atingir um nível equivalente de O Acordo TBT (WTO, 2012b) tem essas existirem, em suas próprias regula-
proteção ou a reconhecer que duas regras como antecedente um acordo assinado na mentações. O Acordo considera que, ao
diferentes podem ser usadas para atingir Rodada de Tóquio (1979), conhecido como adotar um padrão internacional, um país
os mesmos objetivos. Feito isso, o cum- Standards Code (Código de Padrões), que está cooperando para não criar barreiras
primento das normas no país de origem procurou regulamentar a utilização dessas desnecessárias ao comércio.
seria suficiente para permitir a entrada do barreiras. Dado o crescente número e a Como no caso das medidas sanitárias e
produto no mercado do país importador. complexidade de todos os tipos de normas fitossanitárias, a harmonização das normas
Uma das particularidades do Acor- técnicas dos países desenvolvidos e os cus- técnicas é muito complexa, pelas diferen-
do SPS é que os governos dos países tos dos países menos desenvolvidos para o ças de renda, características e necessidades
membros da OMC não estão obrigados a seu cumprimento, na Rodada do Uruguai diferentes dos países membros da OMC.
adotar as normas aprovadas pelas organi- foi considerado conveniente clarificar e Muitas vezes, a harmonização torna-se
zações internacionais de referência. Se os reforçar o Código, tornando-o um acordo uma tarefa longa e incerta. É por esta razão
países consideram que essas normas não de cumprimento obrigatório por todos os que o Acordo adota e insiste que os países
garantem um nível adequado de proteção países membros da OMC. adotem o princípio da equivalência. O
à saúde, podem definir suas próprias nor- O Acordo abrange um conjunto de princípio da equivalência é particularmente
mas, que poderão ser mais exigentes. A regulamentações (obrigatórias), normas importante no caso dos procedimentos da
única condição que se impõe é que haja (voluntárias) e procedimentos de avalia- avaliação de conformidade, em especial
uma avaliação científica dos riscos que ção de conformidade que afetam tanto para os exportadores que vendem produtos
as justifiquem. as características do produto (tamanho, para mercados diferentes. A possibilidade
A avaliação deve seguir um procedi- formato, design, rotulagem, embalagem), de uma única avaliação, aceita por todos,
mento sistemático, aprovado pelos órgãos quanto o processo produtivo, desde que simplifica o processo e facilita o comércio.
internacionais competentes, e obriga o este esteja diretamente relacionado com Por esta razão, o Acordo incentiva que os
país a disponibilizar todas as informações as características do produto. países negociem acordos de reconheci-
sobre os fatores considerados, os critérios As chamadas barreiras técnicas ao mento mútuo e que aceitem como válidas
utilizados e o nível de risco que considera comércio surgem do objetivo legítimo as análises feitas por outros países. Contu-
aceitável. Na avaliação do risco, podem da sociedade e dos governos de proteger do, para que isso ocorra, deve haver uma
ser considerados fatores econômicos, a saúde e a vida das pessoas, animais e grande confiança nos órgãos responsáveis
como dano potencial da perda de produção plantas, o meio ambiente e a informação por essas tarefas em cada país e, para isso,
ou vendas, causado em caso de dissemi- ao consumidor, e de reduzir os custos de é desejável que se cumpram as recomen-
nação de pragas ou doenças; os custos produção e de transação. dações das organizações internacionais.
de controle ou erradicação de pragas e Quando os países que desejam exportar Os dois Acordos colocam grande ênfa-
doenças e a relação do custo/benefício de são países em desenvolvimento, o cumpri- se na transparência como um meio de evitar
cada alternativa. mento das normas dos países importadores ou reduzir o impacto que algumas normas
Infelizmente, não é sempre que os pode ser extremamente caro, no plano possam ter sobre o comércio. Para tanto,
cientistas podem rapidamente apresentar econômico e tecnológico, pelas dificul- estabelecem um processo de notificações,
evidências de que a importação de um dades que têm de adaptar suas empresas que obriga os governos a tornar público o
produto representa uma ameaça. Nesses e processos aos elevados requerimentos mais rapidamente possível suas normas
casos, esperar por evidências científicas existentes nos mercados importadores. O sanitárias e fitossanitárias e explicar,
comprovadas para atuar, pode presumir problema do cumprimento das regulamen- quando solicitado por outros governos, as
que as medidas tomadas são inefica- tações torna-se ainda mais controverso, razões para a imposição de um requisito
zes. Como esse risco é inaceitável para quando há suspeita de que estas podem específico sobre a segurança alimentar
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ou a saúde animal e vegetal. Todos os As normas internacionais são, muitas O Codex Alimentarius é uma organiza-
países membros da OMC devem manter vezes, rígidas e difíceis de ser implemen- ção com base na ciência. Peritos indepen-
uma Central de Informações ou Ponto tadas. Mas a referência do Acordo SPS a dentes e especialistas em uma ampla gama
Focal para receber e responder a qualquer esses padrões não implica no estabeleci- de disciplinas têm contribuído para garantir
informação sobre medidas sanitárias e mento de níveis mínimos ou máximos. que as normas sugeridas pelo Codex supor-
fitossanitárias em vigor no país. No Brasil Um padrão nacional não viola o Acordo tem o mais rigoroso escrutínio científico. O
existem três: o Ministério da Agricultura, SPS simplesmente porque difere do padrão trabalho da Comissão do Codex Alimen-
Pecuária e Abastecimento (MAPA), para internacional. Na verdade, o Acordo SPS tarius, com a FAO e a OMS, tornou-se um
questões fitossanitárias; a Agência Nacio- permite expressamente aos governos a im- importante meio internacional para o inter-
nal de Vigilância Sanitária (Anvisa), para posição de restrições mais rigorosas do que câmbio de informações científicas sobre a
questões sanitárias; e o Instituto Nacional segurança dos alimentos. Os padrões do
as internacionais. No entanto, os governos,
de Metrologia, Qualidade e Tecnologia Codex também já provaram ser referência
cujas regras não se baseiam em padrões
(Inmetro), para questões técnicas. Além internacionais, devem justificar seus níveis
importante para o mecanismo de solução
disso, se um país membro propõe um novo de controvérsias da OMC.
mais elevados de exigência, para evitar
regulamento (ou modifica um já existen- Ao longo dos anos, o Codex desen-
disputas comerciais. Essa justificativa
te), diferente dos padrões internacionais e volveu mais de 200 normas que abrangem
deve basear-se na análise de evidências
que pode afetar o comércio, o país deve alimentos processados, semiprocessados
científicas, bem como na avaliação dos
notificar a Secretaria da OMC antes da sua ou não destinados à venda para o consu-
riscos relacionados. midor ou para o processamento interme-
aplicação, para que a OMC, por sua vez,
No caso de uma disputa comercial, a
possa notificar os outros países para possí- diário; mais de 40 códigos sobre higiene
maior dificuldade reside em determinar e de prática tecnológica; foram avaliados
veis comentários. Em casos de emergência,
se uma medida nacional foi adotada por mais de mil aditivos alimentares e 54 de
os governos podem agir rapidamente, mas
razões de insalubridade interna ou como medicamentos veterinários; mais de 3 mil
devem informar imediatamente aos demais
países membros, também, pela OMC. uma barreira ao comércio. A avaliação níveis máximos de resíduos de pesticidas
O Acordo SPS incentiva os governos de risco desempenha aqui um papel im- e especificadas mais de 30 diretrizes para
a harmonizar as medidas nacionais em portante. Contudo, a avaliação de riscos contaminantes (SILVA, 2012).
conformidade com as normas, orientações não é uma ciência totalmente desenvol- A IPPC é um tratado multilateral para
ou recomendações desenvolvidas, quer vida e seus métodos ainda estão longe de a cooperação internacional na área de
pelos membros da OMC, quer por outras ser universalmente reconhecidos. Além proteção de plantas. A Convenção prevê
organizações internacionais relevantes, disso, é previsível que, no futuro, muitas a aplicação de medidas, pelos governos,
especificamente: das avaliações versarão sobre aspectos da para proteger seus recursos vegetais contra
a) Codex Alimentarius - Comitê microbiologia e vão requerer dos peritos pragas nocivas (medidas fitossanitárias),
conjunto da Organização das Na- responsáveis pela solução das disputas que podem ser introduzidas por meio do
um conhecimento científico muito mais comércio internacional. A IPPC está dire-
ções Unidas para Alimentação e
amplo do que somente o conhecimento tamente ligada ao Diretor-Geral da FAO e
Agricultura – Food and Agriculture
é administrada por meio da Secretaria da
Organisation of the United Nations/ econômico-comercial.
IPPC, localizada no setor de Proteção de
Organização Mundial as Saúde – Além disso, o Acordo SPS prevê que,
Plantas da FAO. A IPPC foi adotada, pela
World Health Organisation (FAO)/ para harmonizar as medidas sanitárias
primeira vez, em 1951 e já foi alterada
(OMS) – para assuntos de segurança e fitossanitárias em uma base tão ampla
duas vezes, sendo a mais recente, em 1997.
alimentar; quanto possível, os países membros devem
A revisão da IPPC, acordada em 1997,
b) a Convenção Internacional de Prote- basear suas medidas sanitárias ou fitos-
e que entrou em vigor legal em 2 de ou-
ção de Plantas – International Plant sanitárias nas diretrizes, recomendações tubro de 2005 representa uma atualização
Protection Convention (IPPC), da e normas internacionais. O Acordo cita da Convenção para refletir conceitos fi-
FAO, para questões de saúde vegetal; o Codex Alimentarius, uma instituição tossanitários contemporâneos e o papel da
c) a Organização Mundial da Saúde conjunta da FAO e da OMS, como a orga- IPPC em relação aos acordos da Rodada
Animal – World Organisation for nização de definição de normas relevantes do Uruguai da OMC, particularmente o
Animal Health (OIE), antiga Orga- para a segurança alimentar, a OIE, como a Acordo SPS. O Acordo SPS identifica a
nização Internacional de Epizootias organização relevante para a saúde animal IPPC como a organização de referência no
(OIE), – para questões de saúde e a IPPC, como responsável pela normati- desenvolvimento de normas internacionais
animal. zação da saúde das plantas. para a saúde das plantas (medidas fitossa-
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nitárias). Os padrões da IPPC também têm e utilizados no comércio internacional ção do Standards and Trade Development
sido um ponto de referência importante (FAO, 2002). Facility (STDF) ou Normas e Mecanismos
para o mecanismo de solução de contro- Informações das três organizações são de Desenvolvimento do Comércio, que é
vérsias da OMC. ativamente solicitadas pelo Comitê SPS, uma parceria mundial que apoia os países
O trabalho da IPPC inclui normas quando de seus debates sobre os princípios em desenvolvimento na construção de sua
sobre análise de risco de pragas, requi- da equivalência. Solicita-se, sempre, a par- capacidade de implementar padrões sanitá-
sitos para o estabelecimento de zonas ticipação da IPPC e da OIE nas discussões rios e fitossanitários (SPS) internacionais,
endêmicas e outros que dão orientações a respeito do reconhecimento de áreas diretrizes e recomendações para melhorar
específicas sobre temas relacionados com livres de pragas ou de doenças. a saúde humana, animal e vegetal e a
o Acordo SPS. A Organização Mundial de O procedimento para monitorar a uti- capacidade para ganhar e manter o acesso
lização de normas internacionais, desen- aos mercados.
Saúde Animal (conhecida anteriormente
volvido pelo Comitê, conforme estipulado Embora o número de normas interna-
como Organização Internacional de Epi-
pelo art. 12.4 do Acordo SPS (WTO, 2004), cionais continue a aumentar, pouca infor-
zootias – OIE) é a organização mundial
também requer expressamente a participa- mação está disponível sobre a aplicação
reconhecida pelo acordo SPS, para ques-
ção do Codex, IPPC e OIE, no fornecimen- dessas normas pelos países membros. Há
tões de sanidade animal.
to de informações sobre questões que têm uma proposta do Comitê SPS de que os
sido identificadas pelos países membros e membros comuniquem todas as alterações
Relacionamento do
Comitê SPS com o Codex,
para manter o Comitê informado sobre os das exigências SPS, que representem ou
novos trabalhos na sua área de atuação. não desvios dos padrões internacionais.
IPPC e OIE
No contexto dos processos de solução A Secretaria do Acordo faria uma revisão
O objetivo primordial do Comitê SPS de controvérsias da OMC, o Codex, IPPC e dessas informações e as transmitiria para
da OMC é zelar pelo cumprimento do OIE também têm tido um papel específico, as organizações de normatização que co-
Acordo SPS e propiciar um foro perma- já que em todas as disputas que envolvem ordenariam os esforços para determinar o
nente de consultas e negociações entre o Acordo SPS, o painel de solução de nível de utilização dessas normas em nível
os membros (COZENDEY, 2010). Para controvérsias tem buscado nesses órgãos internacional.
tanto, cabe ao Comitê revisar e monitorar aconselhamento científico ou técnico. O
as notificações de medidas SPS adotadas Acordo SPS indica que os países membros EVOLUÇÃO NA EMISSÃO
pelos países, estimular a harmonização das da OMC podem optar por utilizar os pro- DAS NOTIFICAÇÕES AOS
legislações nacionais na matéria e facilitar cedimentos de resolução de disputas dos
ACORDOS SPS E TBT
consultas e negociações entre os países outros órgãos quanto a medidas relacio-
nadas com o Acordo SPS. A IPPC e a OIE O Gráfico 1 mostra a evolução do total
membros.
têm procedimentos formais de resolução de de notificações regulares dos Acordos SPS
A cooperação entre Comitê SPS, Co-
litígios entre seus membros sobre questões e TBT emitidas pelos países membros
dex, IPPC e OIE é multifacetado. Essas
relacionadas com as suas respectivas áreas da OMC, entre os anos de 1995 e 2012.
três organizações receberam o status de
de atuação. Nesse período, foram emitidas 26.913
observadoras regulares (permanentes) pelo
O Conselho Geral, em colaboração notificações, das quais 15.484 ao Acordo
Comitê, na sua primeira reunião de março
com as organizações internacionais de TBT e 11.429 ao Acordo SPS. Nota-se que
de 1995. À luz de seu reconhecimento ex-
normatização, tem procurado criar meca- o número de notificações TBT foi sempre
plícito no Acordo SPS, essas organizações maior do que o número de notificações
nismos financeiros e técnicos para auxiliar
são convidadas a falar sobre qualquer item SPS, com exceção dos anos de 2001 e
na participação dos países em desenvol-
da agenda, nas reuniões do Comitê SPS e
vimento, nas atividades de definição dos 2002. A tendência foi de crescimento na
não apenas em relação às suas atividades padrões e das necessidades de assistência emissão das notificações, em ambos os
de assistência técnica. Portanto, se as dis- técnica relacionadas com o Acordo SPS. casos, até os anos de 2009/2010. Entre as
cussões lidarem com alguma preocupação Na instalação da Conferência Ministerial causas desse crescimento da normatização
específica de comércio como, por exemplo, de Doha, em novembro de 2001, uma de- técnica, sanitária e fitossanitária estão o
embalagem de madeira, pode-se conceder claração conjunta emitida pelos diretores crescimento geral do comércio interna-
à IPPC a palavra para explicar o estado de da FAO, OIE, Banco Mundial, OMS e cional, o crescimento do número de países
implementação da Norma Internacional de OMC firmou o compromisso dessas orga- membros da OMC, os quais passaram
Medida Fitossanitária no 15, que estabelece nizações em coordenar suas atividades de a utilizar as normas da organização e o
diretrizes para a certificação fitossanitária capacitação no que diz respeito às medidas aprendizado na utilização e na adequação
de embalagens, suportes e material de sanitárias e fitossanitárias. Um resultado das suas exigências aos Acordos SPS e
acomodação confeccionados em madeira importante dessa coordenação foi a cria- TBT. Contudo, a partir de 2009/2010,
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1.600
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1.400
TBT
Enquanto as tarifas são utilizadas
1.200
SPS
principalmente com o objetivo de proteger
1.000
produtores e empregos, as medidas não
800 tarifárias, como as notificações aos Acordos
600 SPS e TBT, são regulatórias por natureza
400 e incluem padrões, testes e procedimentos
200
de certificação. Enquanto as tarifas são
transparentes, com efeitos previsíveis, as
0
medidas não tarifárias são opacas quanto
1997
2005
2012
1998
2001
2006
2009
2011
2000
1995
1996
2002
2008
2003
2004
2010
1999
2007
aos seus efeitos sobre o comércio. Tais me-
didas refletem as necessidades e as aspira-
Gráfico 1 - Evolução do número total de notificações aos Acordos SPS e TBT emitidas entre
ções das sociedades, as quais se modificam
1995 e 2012
FONTE: Dados básicos: Organização Mundial do Comércio (OMC).
constantemente. Deve-se, portanto, atentar
NOTA: SPS - Sanitary and Phytosanitary Measures (Acordo sobre Aplicação de Medidas para a importância crescente das medidas
Sanitárias e Fitossanitárias); TBT - Technical Barriers to Trade (Acordo sobre Barreiras sanitárias e técnicas, que exigem avaliação
Técnicas ao Comércio). e acompanhamento também constantes.
Por ser um dos mais importantes
participantes no mercado internacional
verifica-se uma queda que, nitidamente, Os objetivos declarados nas notifica- de produtos agrícolas, o Brasil tem sido
está relacionada com a queda do comércio ções SPS relacionados com os produtos afetado diretamente e com intensidade
internacional como um todo, a partir da vegetais estão apresentados no Quadro 3. pelos regulamentos e normas sanitárias, fi-
crise financeira internacional. É importante chamar a atenção para o fato tossanitárias e técnicas adotadas pelos seus
As notificações regulares têm por foco de que é comum aparecer em uma mesma parceiros comerciais. Buscando adaptar a
notificação mais de um objetivo, fazendo essas novas condições de mercado, o País
a divulgação das exigências dos países
no que diz respeito às suas importações,
com que os números mostrados no Qua- tem-se tornado, também, muito atuante
dro 3 sejam maiores que o número total na área, cuidando para que as condições
legislação e propostas normativas. Além
de notificações emitidas. A fitossanidade sanitárias e fitossanitárias internas sejam
disso, os países emitem também notifi-
aparece como objetivo principal, mas qua- cientificamente adequadas e atendam não
cações emergenciais, que, como o nome se sempre acompanhada dos objetivos de só aos padrões domésticos, mas também
sugere, entram em vigor imediatamente proteção da saúde humana ou do território. aos níveis das exigências internacionais.
após sua expedição pela OMC. Geral- Outras razões importantes para a emissão Para tanto, além de acompanhar o que
mente, as notificações emergenciais são das notificações têm sido a proteção contra acontece no mercado internacional, com
emitidas quando ocorrem surtos eminen- pestes, limites máximos de resíduos e pes- adequação da legislação e participação
tes de doenças ou pragas que colocam em ticidas, além das exigências de certificação frequente e ativa nas reuniões dos órgãos
risco a vida e a saúde humana, animal e e rotulagem. internacionais de defesa, o País precisa
vegetal. Somente ao Acordo SPS, entre De maneira geral, os principais países melhorar a capacidade nacional de acom-
1995 e 2012, foram emitidas 9.995 no- emissores de notificações são aqueles panhamento e avaliação sanitária e fitossa-
desenvolvidos, que se destacam como nitária, com investimentos na infraestrutura
tificações regulares e 1.434 notificações
grandes importadores e onde a preocupa- laboratorial e no treinamento e qualificação
emergenciais. Esses números aparecem no
ção com a saúde humana, animal e vegetal técnica contínuos. Somente assim, far-se-á
Quadro 2, que mostra as notificações SPS
é maior e, os países exportadores, que frente aos riscos inerentes a um país com
regulares (1.919) e emergenciais (185),
procuram se adequar às exigências do tamanha extensão territorial e fronteira
específicas para produtos vegetais, emiti- mercado. O Quadro 4 mostra que, no pri- seca, com inúmeros portos e aeroportos e
das naquele período. Novamente, é clara meiro caso, podem-se destacar os Estados com uma migração intensa e crescente, por
a tendência de crescimento na emissão das Unidos, UE, Canadá e Japão, enquanto que onde podem chegar e ser disseminadas pra-
notificações regulares e o grande número no segundo estão Peru, Brasil, Austrália gas e doenças capazes de trazer prejuízos
das notificações de emergência. e Argentina. No caso das notificações de incalculáveis à economia nacional.
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QUADRO 2 - Número de notificações regulares e emergenciais emitidas ao Acordo sobre SPS, total e específicas para produtos vegetais,
no período 1995-2012
Notificação SPS Notificação SPS (produto vegetal)
Ano
Regular Emergência Total Regular Emergência Total
1995 188 5 193 55 2 57
1996 202 29 231 26 9 35
1997 272 16 288 64 3 67
1998 277 23 300 52 4 56
1999 329 78 407 40 7 47
2000 349 55 404 28 10 38
2001 410 223 633 62 14 76
2002 524 97 621 90 17 107
2003 626 69 695 126 18 144
2004 503 121 624 75 7 82
2005 597 71 668 121 5 126
2006 812 101 913 139 10 149
2007 767 94 861 125 6 131
2008 788 106 894 200 10 210
2009 668 76 744 113 14 127
2010 981 83 1064 208 13 221
2011 915 107 1022 189 20 209
2012 787 80 867 206 16 222
Total 9995 1434 11429 1919 185 2104
FONTE: Dados básicos: Organização Mundial do Comércio (OMC).
NOTA: SPS - Sanitary and Phytosanitary Measures (Acordo sobre Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias).
QUADRO 3 - Objetivos declarados nas notificações emitidas ao Acordo SPS, no período 1995-2012
Objetivo Regular Emergencial Total
Fitossanidade 1429 137 1566
Pestes 558 104 662
Mosca da fruta 83 12 95
Embalagem 86 1 87
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País
Regular
Notificação
Emergencial
MUDAS
Peru
Brasil
325
233
4
3
DE
Chile
Estados Unidos
190
143
1
19
OLIVEIRA
Nova Zelândia 128 10
Japão 90 1 Garantia de
México 70 12
procedência,
Austrália 55 8
Canadá 43 17 mudas
Argentina 57 0 padronizadas,
qualidade
Equador 55 0
China 50 3
FONTE: Dados básicos: Organização Mundial do Comércio (OMC). comprovada e
NOTA: SPS - Sanitary and Phytosanitary Measures (Acordo sobre Aplicação de Medidas
Sanitárias e Fitossanitárias). variedade
identificada
REFERÊNCIAS 20f. Apostila. Curso de Mestrado Profis-
sional em Defesa Sanitária Vegetal.
COZENDEY, C. M. A participação do Brasil
WTO. Agreement on Technical Barriers
no comitê de medidas sanitárias e fitossani-
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Disponível em: <http://www.wto.org/english/
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docs_e/legal_e/17-tbt.pdf>. Acesso em: 10
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Viçosa, MG: UFV, 2010. p.11-19. Tel: (35) 3662-1227
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LUCCHESE, G. Globalização e regulação
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2013.
Saúde Pública) – Escola Nacional de Saúde
WTO. Committee on Sanitary and Phytosa-
Pública, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Ja-
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neiro, 2001.
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SILVA, O.M. A agricultura no comércio harmonization. Geneva, 2004. 3p. (WTO.
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vegetal
O DSV vem implementando ações por meio de “Pro-
gramas de Controle” junto às entidades estaduais de Defesa
Agropecuária para as principais pragas que causam grandes
impactos econômicos. Como exemplo, instituiu-se o Pro-
grama Nacional de Controle da Ferrugem Asiática (IN No
2, de 29 de janeiro de 2007), no qual estabelece um calendá-
rio de semeadura de soja nas regiões produtoras, com um
A defesa sanitária vegetal é formada pelo conjunto de período de no mínimo 60 dias sem a presença de plantas
práticas destinadas a prevenir, controlar ou manejar pragas cultivadas ou voluntárias, denominado de vazio sanitário.
capazes de provocar danos econômicos às lavouras e seus Existem também outros Programas de Controle que esta-
produtos, especialmente nas culturas que detêm importân- belecem o vazio sanitário nas principais regiões produtoras
cia econômica e social para o país. Nesse sentido, seu objeti- como o vazio sanitário do algodão para evitar a ocorrência
vo é (1) proteger o território brasileiro de pragas exóticas de do bicudo; o vazio sanitário do feijão para diminuir a po-
importância econômica; (2) evitar ou retardar a dissemina- pulação de mosca-branca, responsável pela transmissão do
ção de pragas presentes de importância econômica dentro vírus do Mosaico Dourado.
do território nacional; (3) atender aos acordos internacio-
nais sobre a sanidade vegetal, garantindo as exportações de
produtos vegetais e a economia nacional; (4) manter a sani-
dade dos vegetais e suas partes no mercado interno. PROGRAMA INTEGRADO
Nas últimas safras, ataques severos de lagartas nas prin- A prospecção de genes importantes na interação plan-
cipais culturas da região do Cerrado têm sido relatados por ta inseto/patógeno tem o objetivo fundamental de auxiliar,
produtores, causando grandes prejuízos em diversas cultu- também, na elaboração dessas novas alternativas, tanto com
ras. O processo cumulativo de práticas de cultivo inadequa- a identificação de genes que tornam plantas resistentes ao
das tem propiciado o surgimento de pragas e doenças ante- ataque de pragas, quanto com a identificação de genes que
riormente reconhecidas apenas como secundárias, ou ainda estão associados à habilidade da praga em burlar as defesas
pragas restritas a uma ou outra cultura que passam a atacar, de seus hospedeiros.
indiscriminadamente, todas as demais culturas constituti- Nesse contexto, a Embrapa tem o importante papel de
vas do sistema agrícola. prestabilidade para a sociedade, buscando alternativas para
No âmbito da defesa sanitária vegetal, a Embrapa tem o tornar a agricultura brasileira competitiva e ecoeficiente, além
objetivo de desenvolver metodologias que permitam detec- de difundir tecnologias, processos, produtos e serviços.
tar, avaliar e mitigar riscos ambientais e biológicos, contes-
tar barreiras técnicas e subsidiar a formulação de políticas
públicas. Dentre as suas estratégias está a ampliação da de-
manda de PD&I para a diversificação de produtos e a agre-
gação de valor, viabilizados por parcerias público-privadas.
Como exemplo de ação emergencial para a agricultu-
ra brasileira, a Embrapa lançou, em abril de 2013, com o
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, pro-
posta de ações emergenciais para o manejo integrado de
Helicoverpa spp. em áreas agrícolas.
INTRODUÇÃO últimos anos, apesar de existirem ainda no caso do controle de doenças de plantas,
inúmeros entraves, especialmente relacio- o porcentual de uso de produtos biológicos
Há em todo o mundo uma demanda
crescente por produtos agrícolas livres de nados com a adequação da legislação para o é de, aproximadamente, 1%. Entretanto, a
resíduos de agrotóxicos e por uma agri- registro de produtos no Ministério da Agri- comercialização de produtos biológicos
cultura que cause menor impacto sobre os cultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). deve crescer nos próximos anos, especial-
recursos naturais. Nesse contexto, o uso de Segundo Bettiol (2011), apesar da mente em razão da pressão da sociedade
produtos à base de agentes biológicos para importância dos produtos biológicos, o por alimentos livres de agrotóxicos e das
o controle de pragas e de doenças de plantas mercado mundial ainda é bastante restrito, novas políticas públicas para a adoção
tem experimentado forte crescimento nos em comparação com os produtos químicos: ampla da agricultura de base ecológica.
1
Engo Agro, Ph.D., Pesq. EPAMIG Zona da Mata, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: trazilbo@epamig.br
2
Enga Agra, Ph.D., Pesq. EPAMIG Zona da Mata, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: madelaine@epamig.br
3
Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG Sul de Minas, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: hudsont@epamig.br
Engo Agro, D.Sc., Pesq. EMBRAPA Meio Ambiente, Caixa Postal 69, CEP 13820-000 Jaguariúna-SP. Correio eletrônico: bettiol@cnpma.embrapa.br
4
Engo Agro, D.Sc., Pesq. EMBRAPA Meio Ambiente, Caixa Postal 69, CEP 13820-000 Jaguariúna-SP. Correio eletrônico: mmorandi@cnpma.embrapa.br
5
6
Bióloga, D.Sc., CESIS - Soluções em Regulamentação e Registro de Produtos Ltda., SCLN 11 BL D sala 204, CEP 70754-540 Brasília-DF.
Correio eletrônico: francys@cesis.bio.br
Bióloga, M.Sc., CESIS - Soluções em Regulamentação e Registro de Produtos Ltda., SCLN 11 BL D sala 204, CEP 70754-540 Brasília-DF.
7
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Atualmente, vários produtos de contro- esse levantamento, no mercado mundial sclerotiorum, Sclerotium rolfsii, Botrytis
le à base de agentes biológicos são comer- estão disponíveis mais de 40 espécies de cinerea e Moniliophthora perniciosa (ex-
cializados sem avaliação oficial consistente antagonistas utilizados para o controle Crinipellis perniciosa) nas culturas de fei-
que ateste sua eficiência, conformidade e de doenças de plantas, sendo o gênero jão, soja, algodão, fumo, morango, tomate,
inocuidade, com base no que está estabele- Trichoderma responsável por quase metade cebola, alho, flores e plantas ornamentais
cido na legislação brasileira para produtos dos antagonistas comercializados, seguido e cacaueiro.
com o mesmo fim. Dessa forma, muitos de Bacillus, Paecilomyces, Pseudomonas
esforços têm sido feitos nos últimos anos, e Streptomyces (Gráfico 1). Como indi- Controle biológico de
especialmente por parte das instituições ca o Gráfico 2, dos produtos à base de pragas
de pesquisa, com apoio do MAPA, para Trichoderma, a espécie T. harzianum é a Diversos produtos biológicos são utili-
melhorar a qualidade dos produtos bioló- mais comercializada, sendo encontrada zados para o controle de artrópodes pragas.
gicos disponíveis no mercado, bem como em 38% dos produtos comerciais. Nos Dentre esses, destacam-se os produtos
os processos de fiscalização pelos órgãos produtos à base de Bacillus, a espécie B. formulados a partir de bactérias, fungos,
competentes. É fundamental que todo o subtilis representa 62% dos produtos co- vírus e nematoides e os agentes de controle
processo de produção, regulamentação e
mercializados. Para os produtos à base de biológico como os insetos parasitoides e
uso de produtos à base de agentes de bio-
Pseudomonas, as espécies P. fluorescens os ácaros e insetos predadores. A disponi-
controle seja bem estabelecido e conhecido
e P. chlororaphis representam metade bilidade de agentes biológicos indicados
pelos agricultores e técnicos envolvidos em
dos produtos comerciais. Em relação a para o controle de pragas e comercializa-
toda a escala de produção.
Paecilomyces, a espécie P. lilacinus é dos mundialmente é grande, chegando a
predominante. Há de se considerar, po- mais de 230 espécies de insetos e ácaros
AGENTES BIOLÓGICOS PARA
O CONTROLE DE DOENÇAS E rém, que muitos produtos biológicos não entomófagos (LENTEREN, 2012). No
PRAGAS NO BRASIL especificam qual espécie do antagonista é Brasil, existem diversos produtos biológi-
utilizada (BETTIOL et al., 2012). cos disponíveis no mercado; no entanto,
Alguns levantamentos de produtos
Em geral, esses produtos são reco- poucos possuem registro no MAPA. Para
biológicos comercializados no Brasil têm
mendados para o controle de Fusarium o parasitoide Cotesia flavipes, utilizado
sido feitos nos últimos anos. Paula Júnior
spp., Pythium spp., Rhizoctonia solani, no controle da broca da cana-de-açúcar,
et al. (2009), por exemplo, realizaram um
Macrophomina phaseolina, Sclerotinia há dez produtos comerciais registrados
levantamento dos produtos biológicos indi-
cados para o controle de doenças de plantas
e de pragas no Brasil, e apresentaram, para
cada produto, informações básicas, como
nome comercial, agente biológico, doen-
ças/patógenos e pragas visados, culturas
para as quais os produtos são indicados,
formulações disponíveis, métodos de apli-
cação e empresas produtoras. Entretanto,
o processo de registro de novos produtos
à base de agentes biológicos no MAPA é
bastante dinâmico, havendo frequentes en-
tradas e retiradas de produtos do mercado.
Atualmente, dezenas de produtos à base de
fungos e bactérias com alguma indicação
para o biocontrole, são comercializadas no
Brasil (BRASIL, 2013).
Controle biológico de
doenças
Bettiol et al. (2012) realizaram recen-
temente um levantamento de informações Gráfico 1 - Principais gêneros de antagonistas presentes em produtos biológicos comer-
técnicas de produtos recomendados para cializados mundialmente para o controle de fitopatógenos
o controle biológico de doenças. Segundo FONTE: Bettiol et al. (2012).
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no MAPA. Além desses, há registro ácaro-rajado (Tetranychus urticae) em thuringiensis, Baculovirus anticarsia,
para o parasitoide Trichogramma galloi diversas culturas. Entre os produtos for- Metarhizium anisopliae e Beauveria
para o controle de lepidópteros, assim mulados a partir de entomopatógenos, bassiana (Gráfico 3). Há registro de um ne-
como para o ácaro predador (Neoseiulus registrados no MAPA, estão diversos matoide, Steinernema puertoricense, para
californicus), utilizado no controle do produtos comerciais à base de Bacillus o controle de pragas que habitam o solo.
A B
C D
Gráfico 2 - Principais espécies antagonistas utilizadas para o controle de doenças de plantas presentes em produtos biológicos comer-
cializados mundialmente para o controle de fitopatógenos
FONTE: Bettiol et al. (2012).
NOTA: A - Trichoderma; B - Bacillus; C - Paecilomyces; D - Pseudomonas.
Gráfico 3 - Porcentagem de produtos formulados a partir de entomopatógenos e registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA) - abril, 2013
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na proteção de florestas, nativas ou comercializar o produto. Para a submissão os laboratórios quanto à competência na
implantadas, e de outros ecossistemas e da solicitação de Registro Federal, visando realização de testes laboratoriais dentro
também de ambientes urbanos, hídricos à comercialização do produto, é necessário do Sistema da Qualidade BPL. Os testes
e industriais, cuja finalidade seja alterar que sejam seguidas as instruções da Lei de eficiência e praticabilidade agronômi-
a composição da flora ou da fauna, a fim no 7.802, de 11/7/1989 (BRASIL, 1989), ca devem ser conduzidos em instituições
de preservá-las da ação danosa de seres do Decreto no 4.074, de 4 de janeiro de credenciadas pelo MAPA.
vivos considerados nocivos. 2002 (BRASIL, 2002) e de cada uma das Diferentemente dos agrotóxicos quími-
Aqui enquadram-se os agentes bioló- Portarias, Resoluções e Instruções Norma- cos convencionais, não há obrigatoriamen-
gicos de controle (parasitoides, predadores tivas Conjuntas vigentes, para cada tipo te, para os produtos biológicos/naturais,
e nematoides), os agentes microbiológicos de produto, inclusive aqueles aprovados a necessidade de pleitear o Registro dos
de controle (fungos, bactérias e vírus), para uso em agricultura orgânica. Para os Produtos Técnicos utilizados como base
os semioquímicos, outros bioquímicos, produtos que podem ser considerados de das formulações de pronto uso destinadas
extratos vegetais e minerais, utilizados na baixa toxicidade e periculosidade, existem à comercialização. Isso porque as normati-
agricultura com a finalidade de controlar normativas específicas, visando à avaliação vas específicas apresentam a possibilidade
organismos considerados nocivos. caso a caso. do registro direto dos produtos formulados
No Brasil, o MAPA, a Anvisa e o Ibama A avaliação dos agentes biológicos de sem a necessidade da apresentação do Cer-
são os órgãos federais responsáveis pela controle é realizada de forma totalmente tificado de Registro do Produto Técnico.
avaliação e registro de agrotóxicos e afins. diferenciada dos demais produtos. No Esta sinalização concedida pelo governo
Todas as solicitações de registro devem ser lugar dos testes requeridos para os outros foi um grande apoio ao setor de produtos
submetidas a cada um desses órgãos. produtos, são solicitadas informações a biológicos/naturais, principalmente se for
O Registro Especial Temporário (RET), respeito de parâmetros como caracteriza- considerado que o custo dos testes necessá-
como o próprio nome indica, é concedido ção biológica dos indivíduos, efeitos na rios para o registro do produto técnico pode
de forma temporária, com prazo de até três saúde humana e animal, comportamento chegar a R$ 5 milhões. Outra sinalização
anos, para que a empresa possa realizar ambiental, eficiência e praticabilidade e positiva do governo, que vem benefician-
os testes de laboratório (toxicológicos e também a respeito do controle de qualidade do a cadeia produtiva e, indiretamente, o
ecotoxicológicos) e de eficiência e prati- dos indivíduos produzidos em laboratório. consumidor final, é a via recentemente
cabilidade agronômica necessários e para Outro ponto importante a ressaltar é que criada do registro de produtos biológicos/
que os órgãos governamentais façam as o registro de um agente biológico não é naturais como insumos aprovados com
devidas análises, cada qual dentro de sua concedido por cultura, mas sim por alvo uso em agricultura orgânica. A via de
competência. Portanto, o RET é solicitado biológico. registro como “produto fitossanitário com
antes do início dos procedimentos de pes- Para submeter um produto microbio- uso aprovado para agricultura orgânica” é
quisa e experimentação, inclusive no caso lógico, semioquímico ou bioquímico ao uma abertura que o governo criou para dar
de importação de produtos. É importante Registro Federal, o interessado deverá mais celeridade aos processos de registro
ressaltar que o RET não habilita a empresa encaminhar testes específicos que demons- de produtos, desde que estes tenham em
a comercializar o produto. trem o perfil físico-químico, comportamen- sua composição apenas elementos per-
Atualmente, é possível solicitar o RET to toxicológico e ambiental, além de testes mitidos na legislação de orgânicos. Para
eletronicamente. O Sistema Eletrônico de genotoxicidade, a depender do caso. esse tipo de registro, os produtos que já
de Requerimento e Análise de Registro Como os produtos considerados de baixa tiverem sido publicados em normativas
Especial Temporário (Sisret) é utilizado toxicidade e periculosidade são analisados com as especificações de referência es-
de forma integrada pelo MAPA, Anvisa e caso a caso, deve-se estar atento às suas tão dispensados da necessidade de RET.
Ibama, possibilitando maior agilidade no características individuais para não reali- Após a obtenção do Certificado de
processo. Entretanto, esse procedimento zar testes desnecessários, aumentando os Registro Federal, a empresa deverá realizar
está disponível apenas para moléculas custos do registro. o cadastro do produto nos Estados onde
químicas convencionais, não compreen- Todos os testes laboratoriais devem deseja comercializá-lo. Em alguns Estados
dendo as solicitações de RET para produ- ser realizados de acordo com as normas esse procedimento é rápido e barato. Entre-
tos microbiológicos, macrobiológicos e do Sistema da Qualidade Boas Práticas de tanto, há Estados que exigem praticamente
semioquímicos. Laboratório (BPL), seguindo metodologias a montagem de um novo dossiê.
Uma vez gerados os dados necessários reconhecidas nacional e internacionalmen- Outro ponto a considerar, quando se
para a submissão do pleito, procede-se à te. No Brasil, o Instituto Nacional de Me- busca a legalização de produtos biológicos/
solicitação de Registro Federal do produto. trologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) naturais para comercialização, é o marco
Este, se concedido, habilitará a empresa a é a unidade de monitoramento que audita regulatório sobre Acesso ao Patrimônio
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Genético (BRASIL, 2001), que abarca os PADRONIZAÇÃO impede a análise adequada e a comparação
produtos biológicos por se tratar de uso e DAS METODOLOGIAS dos resultados. Além disso, a ausência
exploração da biodiversidade para fins de PARA AVALIAÇÃO DA de metodologias padronizadas dificulta a
pesquisa e comercialização. A Lei de Aces- CONFORMIDADE E realização dos testes e a emissão de laudos
so – Medida Provisória no 2.186-16, de QUALIDADE DE PRODUTOS exigidos para o registro nos órgãos deman-
BIOLÓGICOS NO BRASIL
23 de agosto de 2001 (BRASIL, 2001) –, dantes, ou seja, MAPA, Anvisa e Ibama.
como é comumente denominada, veio aten- Como mencionado anteriormente, em- Portanto, o desenvolvimento de me-
der à Convenção de Biodiversidade, que bora diversos produtos sejam amplamente todologias para a avaliação da qualidade
declara que os países membros têm direitos comercializados e utilizados na agricultura dos produtos biológicos comercializados
sobre seus recursos genéticos. A Convenção brasileira, poucos estão devidamente no País é de extrema importância e pode
de Biodiversidade também estabelece a registrados no MAPA e outros estão em contribuir promover a legalização de
necessidade de repartição de benefícios, ao processo de registro. Este fato dificulta a produtos e, assim, garantir sua qualidade
preconizar uma distribuição justa e equiva- fiscalização e propicia o surgimento de pro- e efetividade (TEIXEIRA et al., 2010).
lente para cada ator do processo, e consi- dutos com baixa qualidade no mercado, o Uma vez desenvolvidas e padronizadas,
derar todos os direitos sobre os recursos e que acaba gerando a perda de credibilidade essas metodologias podem ser utilizadas
tecnologias envolvidos, contribuindo, desse no controle biológico por parte dos agri- nos trabalhos de inspeção e fiscalização
modo, para a conservação da diversidade cultores (JENKINS; GRZYWACZ, 2000). pelos órgãos e laboratórios oficiais, o que,
biológica e para o uso sustentável de seus Além disso, a ausência de registro impede sem dúvida, irá repercutir na melhoria dos
componentes. Nessa Medida Provisória, que muitos produtos sejam utilizados em produtos biológicos nacionais.
patrimônio genético é definido como: sistemas certificados para exportação, o
que pode gerar barreiras não tarifárias Projeto Qualibio
[...] informação de origem genética,
contida em amostras do todo ou de ao desenvolvimento do agronegócio A crescente expansão da demanda pelo
parte de espécime vegetal, fúngico, brasileiro. No mercado interno, empresas uso de bioprodutos e o conhecimento de
microbiano ou animal, na forma de idôneas também são prejudicadas com a relatos frequentes de desempenho, aquém
moléculas e substâncias provenientes indefinição de metodologias oficiais para do razoável de alguns produtos usados no
do metabolismo destes seres vivos e análise, pois concorrem com produtos de controle fitossanitário, levaram à formação
de extratos obtidos destes organismos baixa qualidade e de custo menor. de uma rede de pesquisa liderada pela
vivos ou mortos, encontrados em condi- Nos Estados Unidos e na Europa, as Embrapa Meio Ambiente, e apoiada por
ções in situ, inclusive domesticados, ou especificações mínimas oficializadas para diversos laboratórios de diferentes institui-
mantidos em condições ex situ, desde os produtos biológicos já estão estabe- ções, incluindo Instituto Biológico (IB) do
que coletados in situ no território na- lecidas e regulamentadas (FAO, 2008; estado de São Paulo, EPAMIG, Embrapa
cional, na plataforma continental ou na ESTADOS UNIDOS, 2010). No Brasil, Arroz e Feijão, Universidade Federal de
zona econômica exclusiva. (BRASIL, tais especificações constam de uma lista Pelotas (UFPel) e Comissão Executiva
2001, art. 7, inciso I). de substâncias e práticas com uso aprova- para o Plano da Lavoura Cacaueira/
O órgão responsável por deliberar do para a agricultura orgânica, no anexo Centro de Pesquisas do Cacau (Ceplac/
sobre esta matéria e normatizar a questão VIII da Instrução Normativa no 64, de 18 Cepec). Essa rede de pesquisa funcionou
de acesso ao patrimônio genético e co- de dezembro de 2008 (BRASIL, 2008). na prática com o desenvolvimento de um
nhecimento tradicional é o Conselho de Em julho de 2009, o Decreto no 6.913, de projeto denominado: “Projeto Qualibio -
Gestão do Patrimônio Genético (CGEN), 23 de julho (BRASIL, 2009), adicionou Desenvolvimento de metodologia analítica
vinculado ao Ministério do Meio Ambiente alguns dispositivos ao Decreto no 4.074, e amostral para avaliação de conformidade
(MMA). de 4/1/2002 (BRASIL, 2002) e estabele- e da inocuidade de produtos comerciais
Apesar de complexo e, muitas vezes, ceu os procedimentos para o registro dos formulados à base de agentes microbianos
dispendioso, o Brasil possui um arcabouço produtos fitossanitários com uso aprovado de biocontrole”, financiado pelo Conselho
legal para a regulamentação da produção para a agricultura orgânica. Apesar dos Nacional de Desenvolvimento Científico
e do uso de produtos biológicos, o que avanços significativos na Legislação Fe- e Tecnológico (CNPq), em parceria com
garante ao setor produtivo regras claras e deral de Agrotóxicos, no Brasil, ainda não o MAPA. O principal objetivo da rede foi
igualitárias a todos e ao consumidor final há metodologias validadas para a análise estabelecer critérios, parâmetros e meto-
a certeza da disponibilidade de produtos de conformidade e controle de qualidade dologias para a avaliação da conformidade
seguros ao meio ambiente, à saúde hu- dos produtos. As informações contidas nos e da qualidade de produtos comerciais
mana e gerados sem uso exploratório da rótulos dos produtos comercializados são formulados à base de agentes microbianos
biodiversidade. parciais, confusas e contraditórias, o que de biocontrole. Mais especificamente, o
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projeto se propôs a selecionar e padronizar formulação pó de esporo e outra para as BETTIOL, W. et al. Produtos comerciais à
as metodologias de análises dos produtos demais formulações – pó molhável (PM), base de agentes de biocontrole de doen-
à base de agentes microbianos de biocon- suspensão concentrada (SC) e grânulos ças de plantas. Jaguariúna: Embrapa Meio
trole para fins de certificação, registro e dispersíveis em água (GRDA=WG). Ambiente, 2012. 155p. (Embrapa Meio Am-
biente, Documentos 88).
fiscalização desses insumos, bem como Além disso, foi desenvolvido o software
validar e publicar as propostas de méto- Calibra que registra e realiza os cálculos BRASIL. Decreto no 4.074, de 4 de janeiro
dos analíticos oficiais para avaliação da dos resultados obtidos. Esse software é de 2002. Regulamenta a Lei no 7.802, de
qualidade dos produtos à base de agentes 11 de julho de 1989, que dispõe sobre a
disponibilizado pela Embrapa Meio Am-
pesquisa, a experimentação, a produção, a
microbianos de biocontrole. Finalmente, biente9. Para avaliar a qualidade de pro-
embalagem e rotulagem, o transporte, o ar-
outro objetivo específico importante foi dutos à base de Bacillus foi desenvolvida
mazenamento, a comercialização, a propa-
treinar os atores envolvidos na cadeia. uma metodologia padrão de obtenção de ganda comercial, a utilização, a importação,
Os trabalhos envolveram levantamentos, unidades formadoras de colônias (UFCs) a exportação, o destino final dos resíduos
seleção, desenvolvimento e validação de e um programa para avaliar os resultados e embalagens, o registro, a classificação,
metodologias oficiais voltadas para esse gerados. Atualmente, a metodologia para o controle, a inspeção e a fiscalização de
importante segmento do agronegócio bra- a avaliação de contaminantes dos produtos agrotóxicos, seus componentes e afins e dá
sileiro, a fim de integrar não só aspectos biológicos está em processo de validação outras providências. Diário Oficial [da] Re-
mercadológicos, tecnológicos, científicos, pelas unidades executoras. pública Federativa do Brasil, Brasília, 8 de
organizacionais e ambientais, mas também jan. de 2002. Seção 1, p.1.
Foram realizados quatro treinamentos
de buscar atendimento às exigências dos relacionados com as metodologias com BRASIL. Decreto no 6.913, de 23 de julho
consumidores brasileiros e do mercado Trichoderma, três com Bacillus e três com de 2009. Acresce dispositivos ao Decreto
internacional. o software Calibra. As empresas produtoras no 4.074, de 4 de janeiro de 2002, que re-
Após a conclusão do Projeto Qualibio, gulamenta a Lei no 7.802, de 11 de julho
desses bioagentes estão utilizando as me-
observa-se que foram desenvolvidas e de 1989, que dispõe sobre a pesquisa, a ex-
todologias padronizadas para Trichoderma
perimentação, a produção, a embalagem e
validadas metodologias para avaliação da e Bacillus como rotina para monitorar a rotulagem, o transporte, o armazenamento,
qualidade dos principais produtos biológi- qualidade dos produtos e processos nas em- a comercialização, a propaganda comercial,
cos para o controle de doenças de plantas presas e durante a fase de comercialização. a utilização, a importação, a exportação, o
comercializados no Brasil, principalmen- O mesmo vem ocorrendo com os laborató- destino final dos resíduos e embalagens, o
te os produtos à base de Trichoderma, rios prestadores de serviços. Dessa forma, registro, a classificação, o controle, a ins-
Bacillus e Clonostachys, que são a base os objetivos do projeto foram alcançados e peção e a fiscalização de agrotóxicos, seus
para avaliar outros produtos contendo estão colaborando com o desenvolvimento componentes e afins. Diário Oficial [da]
bioagentes. Atenção especial foi dada do controle biológico no Brasil. Com base República Federativa do Brasil, Brasília, 24
ao treinamento de integrantes da cadeia, jul. 2009.
na análise dos resultados, fica clara a ne-
bem como a discussão com a sociedade cessidade do estabelecimento de padrões BRASIL. Lei no 6.938, de 31 de agosto de
sobre a situação do controle biológico e o mínimos para a avaliação da conformidade 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do
estímulo, para que as empresas registrem Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de
e da qualidade dos bioprodutos.
os seus produtos. Muitas considerações e formulação e aplicação, e dá outras provi-
resultados desse projeto estão disponíveis dências. Diário Oficial [da] República Fe-
AGRADECIMENTO derativa do Brasil, Brasília, 2 set. 1981.
na Embrapa Meio Ambiente8.
Foram desenvolvidas e validadas as À Fundação de Amparo à Pesquisa BRASIL. Lei no 7.802, de 11 de julho de
metodologias para a análise de produtos do Estado de Minas Gerais (Fapemig), à 1989. Dispõe sobre a pesquisa, a experi-
biológicos à base de Trichoderma, Bacillus Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado mentação, a produção, a embalagem e ro-
de São Paulo (Fapesp) e ao Conselho Na- tulagem, o transporte, o armazenamento, a
e Clonostachys nas formulações disponí-
cional de Desenvolvimento Científico e comercialização, a propaganda comercial,
veis no mercado brasileiro. Para os produ-
a utilização, a importação, a exportação, o
tos à base de Trichoderma e Clonostachys Tecnológico (CNPq).
destino final dos resíduos e embalagens, o
foram desenvolvidas metodologias para registro, a classificação, o controle, a ins-
avaliar o número de esporos, de unidades REFERÊNCIAS
peção e a fiscalização de agrotóxicos, seus
formadoras de colônias e a viabilidade BETTIOL, W. Biopesticide use and research componenetes e afins, e dá outras providên-
dos esporos. No caso de Trichoderma, in Brazil. Outlooks on Pest Management, cias. Diário Oficial [da] República Federa-
uma metodologia foi proposta para a v.22, n.6, p.280-284, Dec. 2011. tiva do Brasil, Brasília, 12 jul. 1989.
8, 9
Para consulta acessar: http://www.cnpma.embrapa.br
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BRASIL. Lei no 10.165, de 27 de dezembro Agrotóxicos Fitossanitários. Brasília, [2013]. JENKINS, N.E.; GRZYWACZ, D. Quali-
de 2000. Altera a Lei no 6.938, de 31 de Disponível em: <http://agrofit.agricultura. ty control of fungal and viral biocontrol
agosto de 1981, que dispõe sobre a Políti- gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_ agents: assurance of product performance.
ca Nacional do Meio Ambiente, seus fins e cons>. Acesso em: 22 mar. 2013. Biocontrol Science and Technology, v.10,
mecanismos de formulação e aplicação, e n. 6, p.753-777, Dec. 2000.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuá-
dá outras providências. Diário Oficial [da] ria e Abastecimento. Instrução Normativa LENTEREN, J.C. van. The state of commer-
República Federativa do Brasil, Brasília, 28 no 64, de 18 de dezembro 2008. Aprova o cial augmentative biological control: plenty
dez. 2000. Regulamento Técnico para os Sistemas of natural enemies, but a frustrating lack of
BRASIL. Medida Provisória no 2.186-16, de Orgânicos de Produção Animal e Vegetal. uptake. BioControl, v.57, n.1, p.1-20, Feb.
23 de agosto de 2001. Regulamenta o inciso Diário Oficial [da] República Federativa 2012.
II do §1o e o § 4o do art. 225 da Constituição, do Brasil, Brasília, 19 dez. 2008. Seção 1, PAULA JÚNIOR, T.J. de et al. Comercializa-
os arts. 1o, 8o, alínea “j”, 10, alínea “c”, 15 e p.21-26. ção de produtos biológicos para o controle
16, alíneas 3 e 4 da Convenção sobre Diver- ESTADOS UNIDOS. Environmental Pro- de doenças de plantas e pragas no Brasil. In-
sidade Biológica, dispõe sobre o acesso ao tection Agency. Regulating biopesticides. forme Agropecuário. Controle biológico de
patrimônio genético, a proteção e o acesso [S.l.], 2010. Disponível em: <http://www. pragas e plantas invasoras, Belo Horizonte,
ao conhecimento tradicional associado, a epa.gov/pesticides /biopesticides>. Acesso v.30, n.251, p.116-123, jul./ago. 2009.
repartição de benefícios e o acesso à tec- em: 25 mar. 2010. TEIXEIRA, H. et al. Conformidade e qua-
nologia e transferência de tecnologia para
FAO. Tecnologies and Pratices for Small lidade de produtos biológicos para o con-
sua conservação e utilização, e dá outras
Agricultural Producers. Registration in rest trole de doenças de plantas. In: VENZON,
providências. Diário Oficial [da] República
of world. Rome, [2008]. 138p. Disponível M.; PAULA JÚNIOR, T.J. de; PALLINI, A.
Federativa do Brasil, Brasília, 24 ago. 2001.
em: <http://teca.fao.org /sites/default/files/ (Coord.). Controle alternativo de pragas e
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária tecnology_files/5RegWorld.pdf>. Acesso doenças na agricultura orgânica. Viçosa,
e Abastecimento. AGROFIT: Sistema de em: 19 ago. 2013. MG: EPAMIG, 2010. p.101-115.
Pinhão-manso:
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pragas, com o uso de genes de Bacillus ternacional Herbicides Resistance Action glifosato, tem-se verificado a semeadura de
thuringiensis (Bt) que levam à produção Committee – (HRAC-BR, 2013), foram cultivares de milho Bt com o gene RR na
de proteínas tóxicas a lagartas (HALTER, registrados, até o momento, 24 casos de sucessão à soja RR, aumentando ainda mais
2009). A inserção dos genes RR e Bt re- resistência no País. Entre os registros em a pressão de seleção de espécies tolerantes
sultou na segunda geração de transgênicos, áreas de soja não transgênica, os herbicidas e/ou resistentes ao glifosato. Com o uso
aqueles que associam duas características, que inibem a enzima ALS apresentaram contínuo de glifosato em soja RR, foram
sendo realizada primeiramente na cultura maior número de espécies com biótipos identificados biótipos resistentes ao glifo-
do milho. Na cultura da soja, o lançamento resistentes [Bidens pilosa L. (picão-preto), sato de Conyza canadensis (buva) (Fig. 1)
da cultivar Intacta RR2, com genes RR e Bt B. subalternans DC. (picão-preto), E. e Conyza bonariensis (buva), em 2005,
(em referência às cultivares RR anteriores), heterophylla L. (leiteiro) e Parthenium Conyza sumatrensis (buva) e Digitaria
no Brasil, está previsto para a próxima sa- hysterophorus L. (losna-branca)]. Além insularis (capim-amargoso), em 2008. Ca-
fra, caso ocorra sua aprovação no mercado disso, foram encontrados biótipos resis- sos de resistência com buva (C. canadensis
chinês, maior país consumidor de soja do tentes a herbicidas que inibem a enzima e C. bonariensis) já foram identificados
mundo. Recentemente, pesquisas vêm acetil coenzima A carboxilase (ACCase) nos estados do Paraná, Rio Grande do Sul,
sendo conduzidas para o desenvolvimento de Brachiaria plantaginea Hitchc. (papuã), Mato Grosso do Sul e São Paulo, enquanto
da terceira geração de transgênicos de soja Digitaria ciliaris (Retz.) Koeler (capim- que a resistência de C. sumatrensis foi
com resistência aos herbicidas glifosato e colchão) e Eleusine indica (L.) Gaertn. observada no Paraná. Já D. insularis tem
dicamba (mimetizador de auxinas), além (capim-pé-de-galinha), assim como bióti- apresentado resistência em vários locais
de soja com ômega 3 e também a ‘Vistive pos com resistência múltipla, ou seja, com do Paraná, Mato Grosso do Sul e no Para-
Gold’, que produz óleo com pouca gordura resistência a mais de um herbicida, com guai. Assim, acredita-se que o mecanismo
saturada, vislumbrando um futuro com o mecanismos de ação diferentes: picão- envolvido na resistência ao glifosato esteja
uso dessas tecnologias. preto (B. subalternans) (inibidores de ALS relacionado com a translocação reduzida
e inibidores do fotossistema II) e leiteiro do herbicida nas zonas meristemáticas das
RESISTÊNCIA DE PLANTAS (E. heterophylla) - inibidores de ALS e plantas ou pela alteração no sítio de ação
DANINHAS A HERBICIDAS protoporfirinogênio oxidase (PROTOX). do herbicida na planta.
No Brasil, desde a liberação oficial de Além dos biótipos resistentes, tem-se
A resistência a herbicidas pode ser
cultivares de soja RR, em 2005, houve um observado também a seleção de espécies
conceituada como:
aumento considerável na área semeada tolerantes ao glifosato nos cultivos comer-
A capacidade inerente e herdável de com essas cultivares na safra 2011/2012 ciais de soja RR. A tolerância, definida
alguns biótipos dentro de uma determi- (CÉLERES, 2013). Pode-se dizer que como baixa suscetibilidade característica
nada população, de sobreviver e se re- essa adoção em massa é resultante em de uma espécie, tem sido observada em
produzir após a exposição à dose de um grande parte da flexibilidade do glifosato relação ao glifosato, principalmente em
herbicida, que normalmente seria letal a ao controlar plantas daninhas em diversos espécies de folhas largas e em estádios
uma população normal (suscetível) da estádios de desenvolvimento. Além disso, mais avançados de desenvolvimento das
mesma espécie. (CHRISTOFFOLETI; acredita-se que várias áreas produtoras de espécies: Commelina benghalensis L.
LÓPEZ OVEJERO, 2008) soja com casos de resistência a herbicidas (trapoeraba), Spermacoce latifolia Aubl.
O termo biótipo pode ser conceituado com mecanismos de ação diferentes do (erva-quente), Chloris polydactyla Sw.
como: glifosato tenham sido beneficiadas com a (capim-de-rhodes), Richardia brasiliensis
entrada das cultivares de soja RR, o que Gomes (poaia-branca), Chamaesyce hirta
Grupo de indivíduos com carga gené-
possibilitou o uso de glifosato no manejo (L.) Millsp. (erva-de-santa-luzia), Tridax
tica semelhante, pouco diferenciada
desses biótipos resistentes durante o culti- procumbens L. (erva-de-touro), Ipomoea
daquela de indivíduos de outros grupos,
vo da soja e a chamada “limpeza” dessas spp. (corda-de-viola), Synedrellopsis
numa espécie. (KISSMANN, 2013).
áreas. grisebachii Hieron. & Kuntze (agriãozi-
No Brasil, o primeiro registro oficial Nas áreas de produção de soja RR, vem- nho), Alternanthera tenella Colla. (apaga-
de resistência à herbicida com mecanismo se observando o uso contínuo e exclusivo fogo), Sorghum halepense (L.) Pers.
de ação que inibe a enzima acetolactato do glifosato. Assim, além da dessecação em (capim-massambará), E. heterophylla (lei-
sintase (ALS) ocorreu em 1992, em plantas pré-semeadura da soja, efetua-se também a teiro) e espécies do gênero Conyza (buva).
de Euphorbia heterophylla L. (leiteiro). aplicação única ou com a segunda aplica- No caso de C. benghalensis, sabe-se que a
De acordo com a Associação Brasileira de ção do herbicida, denominada sequencial. tolerância ao glifosato deve-se à absorção
Ação à Resistência de Plantas Daninhas Recentemente, com a liberação das culti- diferencial e ao metabolismo do herbicida
aos Herbicidas – integrante do grupo in- vares de milho transgênico resistentes ao pela planta daninha (MONQUERO et al.,
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Francielle Dal’Maso
2008). A partir daí, tem-se, como conse-
quência, maior dificuldade no controle,
aumento do uso de herbicidas e do custo
de produção, com possíveis perdas na
produtividade (GAZZIERO et al., 2013).
Figura 1 - Lavoura de soja infestada com buva (Conyza spp.)
Tanto para o manejo da resistência como
para o manejo preventivo, preconiza-se a
2004), enquanto em Ipomoea grandifolia, a com a inibição da enzima ALS – parceria modificação constante nas práticas de ma-
tolerância deve-se à menor translocação do entre Empresa Brasileira de Pesquisa nejo adotadas, para reduzir a população de
herbicida pela planta daninha. No entanto, Agropecuária (Embrapa) e Basf – e o biótipos resistentes no primeiro caso e para
outros estudos devem ser realizados com 2,4-D, classificado como mimetizador de reduzir a pressão de seleção de biótipos
relação aos mecanismos de resistência ou auxinas (Dow AgroSciences). As cultivares resistentes no segundo (CHRISTOFFO-
tolerância das demais espécies. Deve-se STS de soja da Cooperativa Central de LETI; LÓPEZ OVEJERO, 2008).
lembrar que os biótipos suscetíveis de Pesquisa Agrícola (Coodetec), tolerantes
Manejo preventivo e
buva também não são controlados com a às sulfonilureias, grupo químico que tam-
cultural da resistência de
aplicação de glifosato, quando as plantas bém inibe a enzima ALS, já se encontram
plantas daninhas
apresentam mais de 15 cm, não se tratando, disponíveis no mercado, enquanto que
as cultivares resistentes ao glifosato e Entre as práticas recomendadas, inclui-
nesses casos, de resistência ao glifosato.
ao dicamba, também classificado como se, primeiramente, o emprego de medidas
MANEJO DE PLANTAS mimetizador de auxinas (parceria entre preventivas, como o uso de sementes não
DANINHAS RESISTENTES Monsanto e Basf), devem ser lançadas nos contaminadas com plantas daninhas e a
AO GLIFOSATO Estados Unidos na próxima safra. Assim, limpeza de implementos, em especial de
na escolha dessas novas cultivares, deve-se colheitadeiras (KISSMANN, 2013) trazi-
Ao longo dos últimos anos, após o lan- das de regiões com histórico de resistência
observar, no histórico da área, a ocorrência
çamento da soja RR, vem-se observando de casos anteriores de resistência aos her- para outras áreas e/ou regiões sem o pro-
uma tendência de várias empresas produ- bicidas inibidores de ALS, caso pretenda blema. Isso pode ser um meio de entrada
toras de agrotóxicos adquirirem empresas semear cultivares com resistência a esse de sementes de biótipos resistentes de
produtoras de sementes, bem como uma mecanismo de ação e a outros. espécies como a buva (Conyza spp.) e o
corrida para a obtenção da tecnologia RR e Vale ressaltar que os problemas com capim-amargoso (D. insularis).
do investimento em biotecnologia. Assim, tolerância e resistência, encontrados com O controle cultural é outro método que
diante das dificuldades encontradas no o uso frequente do glifosato, também são deve ser considerado. Pode ser obtido por
manejo de plantas daninhas com glifosato, esperados para as cultivares resistentes a meio do manejo adequado da cultura, para
vêm sendo também desenvolvidas cultiva- outros herbicidas, caso venham a ser uti- seu rápido estabelecimento, tornando-a
res de soja resistentes a outros herbicidas, lizadas, sem considerar outras formas de mais competitiva em relação às plantas da-
como as imidazolinonas, grupo químico manejo de plantas daninhas e o uso correto ninhas. Além disso, sabe-se que o sistema
cujo mecanismo de ação está relacionado de herbicidas. A conscientização sobre de preparo do solo também pode influen-
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ciar a comunidade de plantas daninhas. Manejo químico da próximo à data de semeadura. No entanto,
Assim, pode-se citar a adoção do sistema resistência de plantas na dessecação tem sido frequente o uso
de semeadura direta como benéfica para o daninhas da mistura em tanque de glifosato com
controle de trapoeraba (C. benghalensis), No manejo químico, tem-se como 2,4-D nas áreas infestadas com trapoe-
quando comparada aos sistemas de prepa- parte do manejo preventivo e do manejo raba (Commelina spp.) e corda-de-viola
ro convencional do solo, proporcionando da resistência, fazer a aplicação, conforme (Ipomoea spp.). Nesses casos, a aplicação
maiores taxas de redução anual do banco de as recomendações para o produto. Outro de glifosato com carfentrazone-ethyl é
sementes da espécie. Ao contrário, a buva aspecto importante seria o uso rotacio- uma alternativa. Outros herbicidas para o
(C. canadensis e C. bonariensis) geralmen- nado de herbicidas com mecanismos de manejo da resistência, passíveis de utili-
te ocorre em sistemas conservacionistas ação diferenciados. Essa rotação deve ser zação na dessecação em mistura com gli-
do solo, como na semeadura direta e no feita preferencialmente em conjunto com fosato, são chlorimuron-ethyl, diclosulam,
cultivo mínimo. a rotação de culturas (KISSMANN, 2013), imazethapyr e s-metolachlor. Em áreas
Pode-se citar também, como alterna- embora os dois tipos não sejam práticas com cobertura do solo pela infestação
tiva de manejo, o consórcio de milho muito adotadas. Nas áreas com soja RR, a maior do que 50%, recomendam-se duas
safrinha com forrageiras [Ex.: cultivares rotação de herbicidas com diferentes me- aplicações para que não ocorra redução
de Urochloa decumbens (sin. Brachiaria canismos de ação é difícil de ser seguida, de crescimento e de produtividade da soja
decumbens), U. brizantha (sin. B. principalmente, pela associação entre as (CONSTANTIN et al., 2009). A mistura
brizantha) e U. ruziziensis (B. ruziziensis)], cultivares de soja RR e o uso de glifosato. de glifosato + 2,4-D pode ser aplicada em
ou mesmo a formação de pastagem com Nesse caso, pode-se considerar a semea- dessecação antecipada, que consiste na
braquiárias em rotação com a soja. As dura de soja convencional, embora não aplicação de herbicidas sistêmicos, 15 a
pastagens proporcionam a supressão das apresente diferenças significativas de ciclo, 20 dias antes da aplicação sequencial de
plantas daninhas e a redução de seu banco tratos culturais ou períodos de convivência, herbicidas de contato (CONSTANTIN
de sementes (IKEDA et al., 2007), como pois deve utilizar obrigatoriamente outros et al., 2005). Tais herbicidas podem não
resultado da cobertura do solo pelas plantas herbicidas, sem incluir o glifosato. Por ter efeito residual como o paraquat, por
e da produção de compostos alelopáticos outro lado, o milho transgênico resistente exemplo, ou apresentar residual como o
pelas forrageiras. ao glifosato, apesar de ser outra cultura, flumioxazin. Outra opção que também
No sul do Brasil, pode-se semear tam- não poderia ser considerado na rotação de apresenta ação de contato e efeito residual
bém aveia-preta ou trigo na entressafra, herbicidas por empregar o mesmo herbi- é a mistura comercial de paraquat + diuron.
para auxiliar no controle de capim-amar- cida que a soja RR. Por causa da demora na dessecação com
goso e de buva (GAZZIERO et al., 2013). De acordo com a Associação Brasilei- duas aplicações, podem-se ter uma desse-
No caso da aveia, o controle das plantas ra dos Defensivos Genéricos (AENDA, cação mais rápida e o controle do primeiro
daninhas ocorre por meio da cobertura do 2013), a mistura em tanque, prática fluxo de infestação de plantas daninhas na
solo, além de ter sido observado também comumente realizada nas aplicações de cultura, com a aplicação da mistura de gli-
em alguns trabalhos científicos o efeito agrotóxicos, não tem necessidade de fosato com flumioxazin (JAREMTCHUK
alelopático proporcionado pela palhada de registro, sendo uma prática agrícola de et al., 2008).
aveia-preta (BORTOLUZZI; ELTZ, 2001). responsabilidade do produtor. No entanto, Um exemplo de dessecação antecipada
Conforme Sidnei D. Cavalieri2, o cultivo diante do grande número de combinações recomendada seria nas áreas com biótipos
de trigo antes da semeadura da soja pode e da impossibilidade de saber os efeitos de buva suscetíveis (com mais de 15 cm) ou
ser uma alternativa no controle de buva, de todas as combinações possíveis, ge- resistentes, onde se pode aplicar a mistura
pois possibilita a aplicação em pós-emer- ralmente não se aconselha ao técnico a de glifosato + 2,4-D, seguida da aplicação
gência de 2,4-D ou metsulfuron-methyl, os recomendação de misturas desconhecidas. sequencial da mistura comercial de para-
quais proporcionam o controle da espécie. Assim, geralmente aplicam-se misturas quat + diuron ou de amônio-glufosinato
Além disso, a semeadura mais tardia do em tanque de glifosato com herbicidas de (Fig. 2). Nesse caso, a primeira aplicação
trigo em relação ao milho propicia redução outros mecanismos de ação na dessecação também poderia ser realizada com a mis-
do intervalo de tempo entre a colheita da para a semeadura direta e para o manejo tura de glifosato com metsulfuron-methyl,
cultura de entressafra e a semeadura da da resistência. Se a infestação na área for observando-se o intervalo de 60 dias entre a
soja, favorecendo o controle de buva, por baixa, pode-se efetuar apenas uma desse- aplicação e a semeadura da soja (GAZZIE-
causa da cobertura do solo. cação no chamado sistema Aplique-Plante, RO, ADEGAS; VOLL, 2008). Entre outros
2
Pesquisador da Embrapa Hortaliças, Brasília-DF, que informou em 22 de fevereiro de 2013.
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A B
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A B
C D
E F
Figura 4 - Controle de biótipos resistentes de capim-amargoso (Digitaria insularis) – parcelas demonstrativas em dia de campo da
Coamo Agroindustrial Cooperativa/Embrapa
NOTA: A - Com glifosato e 2,4-D; B - com glifosato e 2,4-D com sequencial de paraquat + diuron; C - Com glifosato e clethodim;
D - Com glifosato e clethodim com sequencial de paraquat + diuron; E - Com glifosato, 2,4-D e clethodim; F - Com glifosato,
2,4-D e clethodim com sequencial de paraquat + diuron.
Parcelas da direita aplicadas, quando as plantas apresentavam de três a quatro perfilhos, 20 dias antes das parcelas à
esquerda. Testemunha sem aplicação de herbicida na parte posterior das placas.
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(DAE) da cultura, variando conforme as pressão de infestação em cultivos de verão CONSIDERAÇÕES FINAIS
espécies a ser controladas, o tamanho ou como os da soja.
Antes das cultivares de soja RR, fala-
estádio de desenvolvimento e o nível de Manejar as plantas daninhas na pré-
va-se apenas da dificuldade de obter novas
infestação da área (RODRIGUES; AL- colheita e/ou pós-colheita, também cha- moléculas e do longo período entre a des-
MEIDA, 2011). Em áreas com alto nível de mado manejo outonal, seria um modo coberta do composto químico e a produção
infestação deve-se fazer aplicação sequen- de impedir ou reduzir a produção de em escala comercial (CONCEIÇÃO,
cial para melhor controle, sendo a primeira sementes dessas espécies, sendo uma 2008). Atualmente, pode-se falar na
até 20 DAE e, a segunda, com um intervalo prática recomendada para o manejo de inviabilidade de utilizar cultivares com
de 15 a 20 dias após a primeira aplicação. buva (Conyza spp.) e capim-amargoso (D. resistência a herbicidas, caso as plantas
Com a ocorrência de espécies toleran- insularis) resistentes, que se desenvolvem daninhas adquiram também resistência
tes e resistentes ao glifosato, tem-se pre- na entressafra. As buvas produzem um a esses produtos. Levando-se em conta
conizado a mistura em tanque do glifosato elevado número de sementes (aquênios), a incidência, cada vez maior, de plan-
com herbicidas de mecanismo de ação sendo que C. bonariensis apresenta uma tas daninhas tolerantes e resistentes ao
diferentes na pós-emergência da soja RR. produção estimada de até 100 mil se- glifosato e a dificuldade no seu manejo,
Tais misturas podem levar ao antagonismo mentes por planta e C. canadensis de, deve-se considerar a possibilidade de ser
entre os produtos em mistura (a ação da aproximadamente, 200 mil sementes por semeadas cultivares convencionais de
mistura é inferior à soma das qualidades in- planta (KISSMANN; GROTH, 1999). soja, como forma de rotacionar herbici-
dividuais de cada formulação), sinergismo Além disso, tanto a buva, como o capim- das com diferentes mecanismos de ação.
(a ação da mistura é superior à soma das
amargoso, são espécies transportadas
qualidades individuais de cada formulação)
pelo vento por longas distâncias, por isso REFERÊNCIAS
ou mesmo apenas ao efeito aditivo (a ação
mantê-las na entressafra pode resultar na AENDA. Mistura ou não mistura? São
da mistura de produtos é a soma das qua- Paulo, [2013]. Disponível em: <http://www.
sua maior disseminação.
lidades individuais de cada formulação). aenda.org.br/index.php?option=com_
No caso das misturas com glifosato, têm Manejo de plantas RR content&view=article&id=61:mistura-ou-
sido observados antagonismos no controle voluntárias nao-mistura&catid=19&Itemid=116>.
de algumas espécies de plantas daninhas, Acesso em: 20 fev. 2013.
O controle da soja voluntária, ou po-
embora outras espécies possam ser mais ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE AÇÃO À
pularmente soja tiguera, é muitas vezes RESISTÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS
bem controladas. Esse efeito, em geral,
necessário após a colheita, para manter o AOS HERBICIDAS - HRAC-BR. Registros:
é mais observado quando se empregam
vazio sanitário. Tal controle pode ser reali- casos de resistência registrados. Paulínea,
dosagens menores de glifosato. Além
zado com a aplicação de paraquat+diuron, [2013]. Disponível em: <http://www.hrac-br.
disso, deve-se considerar que o efeito das com.br/registros.html>. Acesso em: 15 fev.
diquat, diquat+paraquat, assim como com
misturas com glifosato depende da espé- 2013.
cie e do estádio de desenvolvimento da atrazine+óleo, mesotrione+atrazine+óleo,
BORÉM, A. Variedades transgênicas e meio
planta daninha, da formulação de glifosato nicosulfuron+atrazine+óleo no cultivo
ambiente: segurança ambiental das varie-
utilizada, do herbicida em mistura e das de milho de entressafra (GAZZIERO;
dades comerciais. Biotecnologia Ciência &
dosagens dos herbicidas em mistura. Outro ADEGAS; VOLL, 2008). Fato recente Desenvolvimento, n. 34, p. 91-99, jan./jun.
fator a ser considerado é que a seletividade observado em diversas lavouras de soja 2005.
das misturas pode variar com a cultivar, no estado de Mato Grosso tem sido a ocor- BORTOLUZZI, E.C.; ELTZ, F.L.F. Manejo da
o estádio fenológico da soja e a dosagem rência de milho voluntário, proveniente da palha de aveia preta sobre as plantas dani-
dos herbicidas. colheita de milho Bt sem o gene RR, que nhas e rendimento de soja em semeadura
não tem sido controlado com a aplicação de direta. Ciência Rural, Santa Maria, v.31,
De acordo com Gazziero, Adegas e Voll
n.2, p.237-243, mar./abr. 2001.
(2007), o controle de plantas daninhas deve glifosato nas áreas de soja RR. Acredita-se
ser realizado durante o ano todo, pois tanto que, nesse caso, tenha ocorrido polinização CÉLERES. Relatório biotecnologia. Uber-
cruzada com cultivares de milho resistentes lândia, [2013]. 7p. Disponível em: <http://
o pousio na entressafra, como a falta de ma-
www.celeres.com.br/1/imprensa/2011/
nejo ou o controle inadequado nos cultivos ao glifosato ou mesmo que tenha ocorrido
RelBiotecBrasil_1103.pdf>. Acesso em: 18
de entressafra, comumente denominados mistura de sementes. A alternativa, nesse fev. 2013.
safrinha, possibilitam o desenvolvimento caso, tem sido a aplicação de herbicida que
CHRISTOFFOLETI, P.J.; LÓPEZ OVEJERO,
de plantas daninhas que vegetam durante o inibe a enzima ACCase, além da aplicação R.F. Resistência das plantas daninhas a
ano todo e sua produção de sementes. Com com glifosato, aumentando-se os custos herbicidas: definições, bases e situação no
isso, aumentam-se o banco de sementes e a de produção. Brasil e no mundo. In: CHRISTOFFOLETI,
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publicacao@epamig.br
(31) 3489-5002
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Resumo - A produtividade da soja vem aumentando ao longo dos anos e está associada
aos avanços tecnológicos, ao manejo da cultura e à eficiência dos produtores. Como as
demais culturas, a soja enfrenta problemas fitossanitários que podem comprometer a
produtividade, bem como a qualidade final do produto. Alguns desses problemas têm
causado perdas consideráveis ao Brasil e trazido, à tona, discussões que envolvem a defesa
vegetal. A ferrugem-asiática é uma das doenças que mais têm causado danos à cultura, nas
diversas regiões onde tem sido relatada. O mofo-branco, apesar de ser uma das doenças
mais antigas da cultura da soja, requer medidas integradas de controle. Com a intensifi-
cação da monocultura e a adoção de práticas inadequadas de manejo, a soja tem sofrido
perdas significativas causadas por nematoides. São cinco as espécies que causam danos
consideráveis. Um dos aspectos de grande relevância para a cultura é o uso de sementes
certificadas, o que, com outras tecnologias de manejo fitossanitário, contribui para garantir
a produção sustentável de soja.
Enga Agra, D.Sc., Pesq. EPAMIG Triângulo e Alto Paranaíba/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 311, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio ele-
1
trônico: ana.juhasz@epamig.br
Enga Agra, D.Sc., Pesq. EMBRAPA/EPAMIG Triângulo e Alto Paranaíba, Caixa Postal 311, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico:
2
gilda.padua@embrapa.br
3
Enga Agra, D.Sc., Pesq. EMBRAPA Agrossilvipastoril, Caixa Postal 343, CEP 78550-970 Sinop-MT. Correio eletrônico: dulandula.wruck@embrapa.br
4
Enga Agra, D.Sc., Pesq. EPAMIG Triângulo e Alto Paranaíba/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 311, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico:
luciany@epamig.br
5
Bióloga, D.Sc., Pesq. DONMARIO SEMENTES, CEP 86050-460 Londrina-PR. Correio eletrônico: nribeiro@donmario.com
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10% a 90% nas diversas regiões produtoras, lha precoce, o que compromete a formação, com uma lupa de 10x a 30x de aumento ou
onde foi relatada (SINCLAIR; HART- o enchimento de vagens e o peso final do em microscópio estereoscópico, a presença
MAN, 1999; YORINORI et al., 2005). A grão. Quanto mais cedo ocorrer a desfolha, de urédias. Outro método utilizado para
doença é favorecida por chuvas bem distri- menor será o tamanho do grão e, conse- visualizar a presença do fungo nas lesões,
buídas e longos períodos de molhamento. A quentemente, maior a perda na produção e vistas pela face inferior da folha, é coletar
temperatura ótima para a infecção varia de na qualidade do grão (YANG et al., 1991). folhas suspeitas de terem a ferrugem,
18 °C a 26,5 °C (EMBRAPA SOJA, 2011). Para visualizar as lesões, deve-se to- colocá-las em saco plástico antes que mur-
Os sintomas iniciais da doença são peque- mar uma folha com suspeita dos sintomas chem e mantê-las em incubação, em local
nas lesões foliares, de coloração castanha a iniciais da doença e observá-la através do fresco, por um período de 12 a 24 horas.
marrom- escura. Na face inferior da folha, limbo foliar pela face superior (adaxial), Caso a umidade do ambiente, no momento
podem- se observar urédias, que são estrutu- contra um fundo claro, por exemplo, o céu. da coleta, seja muito baixa, borrifar um
ras que produzem os esporos (uredósporos) Uma vez localizado o ponto escuro suspei- pouco de água sobre as folhas ou colocar
(Fig. 1) (EMBRAPA SOJA, 2011). Plantas to (1-2 mm de diâmetro), observá-lo na um pedaço de papel ou algodão umedecido
severamente infectadas apresentam desfo- face inferior (abaxial) da folha, e verificar, para mantê-las túrgidas. Não colocar folhas
com excesso de umidade no saco plástico.
Após o período de incubação, observar a
presença de urédias com o auxílio de lupa
(EMBRAPA SOJA, 2011).
A disseminação da ferrugem é feita
principalmente pela dispersão dos uredós-
poros pelo vento. A doença não é transmi-
tida por sementes.
Para reduzir o risco de danos à cultura,
as estratégias de manejo recomendadas no
Brasil para essa doença são (EMBRAPA
SOJA, 2011):
Dulândula S.M. Wruck
Silvânia Furlan
A B C
Figura 3 - Mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum)
NOTA: Figura 3A - Micélio em hastes de soja. Figura 3B - Escleródios em vagem de soja. Figura 3C - Apotécios na superfície do solo.
A B
Figura 4 - Nematoide-de-cisto
NOTA: A - Reboleira com plantas amareladas, em área infestada com o nematoide-de-cisto; B - Raízes de soja com várias fêmeas do
nematoide-de-cisto.
e possibilitar o crescimento da população se pode montar um esquema eficiente de aos nematoides-das-galhas, estão dispo-
de inimigos naturais, é importante incluir, rotação/sucessão de culturas. níveis no Brasil. Todas descendem de
na rotação/sucessão, espécies de adubos O método de controle mais eficiente, ba- uma única fonte de resistência, a cultivar
verdes resistentes. Como existe variação rato e de fácil assimilação pelos produtores, norte-americana Bragg. Como os níveis
dentro das espécies vegetais com relação é o uso de cultivares resistentes. Um sistema de resistência dessas cultivares não são
à capacidade de multiplicar as diferentes radicular mais agressivo é característico muito altos, em situações de populações
espécies de Meloidogyne, somente a partir dos genótipos de soja resistentes a nema- elevadas do nematoide, antes de semear
do conhecimento da reação de cultivares/ toides formadores de galhas. uma cultivar resistente, o agricultor deverá
híbridos em multiplicar a espécie de Atualmente, cerca de 80 cultivares de fazer rotação de cultura com uma espécie
Meloidogyne predominante na área é que soja, com níveis variados de resistência vegetal não hospedeira.
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A B
Figura 6 - Nematoide-das-lesões
NOTA: Figura 6A - Reboleira causada pelo nematoide-das-lesões. Figura 6B - Raízes de soja com lesões causadas por Pratylenchus
brachyurus.
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Além da soja e do algodoeiro, também de qualidade controlados no programa de que, para a adoção desse procedimento, é
podem ser parasitados o abacaxizeiro, o produção, originados por padrões de cam- necessário que o produtor tenha conheci-
feijoeiro, o maracujazeiro e outras culturas. po e de sementes, e pela inspeção de campo mento da necessidade de ajustes no sistema
Embora alguns híbridos de milho multipli- e de fiscalização do comércio. de trilha, visando reduzir os índices de
quem R. reniformis, em geral, a rotação O uso de semente de alta qualidade per- danos mecânicos latentes, e também dis-
com essa cultura contribui para reduzir a mite o acesso aos avanços genéticos, com ponibilizando uma estrutura de secadores,
população do nematoide no solo. as garantias de qualidade e de tecnologias para que o conteúdo de água da semente
As principais alternativas de controle de adaptação nas diversas regiões, asse- seja reduzido a níveis adequados, sem que
do nematoide são a rotação/sucessão de gurando maiores produtividades. Durante ocorram reduções no potencial fisiológico.
culturas e a utilização de cultivares resisten- o processo de produção de sementes, o Além disso, outra inovação tecnológi-
tes. Em geral, cultivares de soja resistentes produtor deve avaliar, além das condições ca, que vem sendo largamente utilizada, é
ao nematoide-de-cisto também apresentam climáticas da região, as cultivares a ser a dessecação em pré-colheita de campos
resistência ao nematoide-reniforme, com utilizadas, para que possam expressar todo de soja. Neste contexto, a dessecação, em
exceção daquelas descendentes da ‘PI o seu potencial de produção, sem que as se- pré-colheita de campos de sementes de
88788’. Como quase todas as cultivares mentes fiquem expostas às oscilações drás- soja convencional com glifosato, não é
de soja, resistentes ao nematoide-de-cisto, ticas de condições ambientais adversas. recomendada (EMBRAPA SOJA, 2011).
disponíveis no Brasil, são descendentes de Para obter sementes de alta qualidade Essa prática é recomendada apenas em
‘Peking’ e/ou da ‘PI 437654’, estas têm fisiológica e sanitária e evitar perdas após áreas de produção de grãos. No caso da
grande chance de ser resistentes ao nema- a maturidade fisiológica e pela ocorrência semente, o efeito prejudicial da dessecação
toide-reniforme. Pelo fato de o nematoide- de danos mecânicos durante a colheita, acarreta redução de sua qualidade, ao afetar
reniforme ser muito persistente no solo, muitos produtores têm utilizado a técnica o vigor e a germinação. Uma anormalidade
dependendo da densidade populacional, de antecipação da colheita. Esse procedi- específica no sistema radicular, caracteri-
existe a necessidade de, pelo menos, dois mento reduz a deterioração das semen- zada pelo encurtamento da raiz principal
cultivos com espécies não hospedeiras. tes, pois permite sua retirada do campo e atrofiamento das raízes secundárias, tem
com grau de umidade em torno de 18% sido relatada por diversos autores. Pádua
QUALIDADE DE SEMENTES (FRANÇA-NETO et al., 2007). É uma et al. (2012) constataram também o en-
DE SOJA alternativa viável para minimizar os efeitos curtamento e o afunilamento repentino do
A produção de sementes, a comerciali- das condições climáticas desfavoráveis que hipocótilo das plântulas de soja (Fig. 8).
zação e a proteção de cultivares são regu- podem ocorrer no campo, como as chuvas Durante as fases de maturação e co-
lamentadas por lei. A semente produzida na pré-colheita e os ataques de pragas e de lheita da semente de soja, a ocorrência de
no sistema de certificação possui a devida microrganismos. Ainda, segundo França- elevadas temperaturas e de umidade relati-
identificação, além de garantir parâmetros Neto et al. (2007), é importante ressaltar va pode propiciar aumento da infecção de
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sementes por fungos. A qualidade sanitária assim como a introdução do fungo fungo é transportado em longas distân-
das sementes está profundamente relacio- Diaporthe phaseolorum var. caulivora, cias por meio de sementes infectadas ou
nada com a qualidade fisiológica. Assim, a na safra 2005/2006 (KRZYZANOWSKI escleródios misturados a estas (quando
sanidade das lavouras pode ficar compro- et al., 2008). não há controle de sanidade) ou, ainda,
metida com o uso de sementes infectadas. Um problema sério, principalmen- em solo aderido a implementos agrícolas.
Diversos fungos, como Colletotrichum te na região dos Cerrados, tem sido a Portanto, é de extrema importância o uso
truncatum (antracnose), Phomopsis disseminação de S. sclerotiorum, fungo de sementes certificadas em detrimento de
spp. (seca-da-haste e seca-da-vagem) e causador do mofo-branco (Fig. 10). O sementes de produção própria ou sementes
Fusarium spp. (seca-da-vagem), ao infec-
tarem as sementes (Fig. 9), contribuem
para a redução do vigor e da germinação
destas (HENNING, 2005). a
No Brasil, já foram identificadas, apro-
ximadamente, 40 doenças da soja causadas
por fungos, bactérias, nematoides e vírus n n
(EMBRAPA SOJA, 2011). A maioria
dos patógenos é transmitida externa e/ou
internamente, por meio das sementes. As
perdas de produção por doenças são esti-
madas em cerca de 15% a 20% ao ano, mas
algumas doenças podem ocasionar perdas
de quase 100%.
É importante ressaltar, ainda, que a
A B C
Figura 9 - Sementes de soja infectadas
NOTA: A - Colletotrichum truncatum; B - Phomopsis sp.; C - Fusarium semitectum.
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INTRODUÇÃO do consumo. Esta tendência foi constatada, animais. Entre os fungos produtores de
inicialmente, com o movimento dos con- toxinas estão os pertencentes aos gêneros
Entender a importância do monito-
sumidores europeus à procura de frutas e Aspergillus, Penicillium e Fusarium. A
ramento de resíduos de agrotóxicos nos
hortaliças sem resíduos de produtos fitos- seguir estão resumidas as principais con-
alimentos e sua relação com a segurança
sanitários, e com a organização do setor taminações de origem biológica presentes
alimentar é essencial para fundamentar
varejista, que criou normas para garantir a nos alimentos (BALBANI; BUTUGAN,
políticas públicas que garantam a produção
qualidade dos alimentos comercializados, 2001):
de alimentos com qualidade. O Brasil é um
o que é conhecido como sistema de boas a) bactérias:
grande produtor de commodities agrícolas.
Mesmo dentro desse mercado, é necessário
práticas globais. Atualmente, essa ten- - produtoras de toxinas pré-for-
dência está presente nos grandes centros madas: Clostridium botulinum,
garantir a isenção de resíduos químicos
consumidores brasileiros. Staphylococcus aureus, Bacillus
e microbiológicos para a participação de
cereus,
forma sustentável e crescente no mercado
CONTAMINAÇÃO DOS - produtoras de toxinas na luz intes-
de alimentos, nos âmbitos nacional e in-
ALIMENTOS tinal: Vibrio spp., Escherichia coli
ternacional. A ampliação de mercados e a produtora de toxina shiga, E. coli
colocação de produtos alimentícios, onde A contaminação dos alimentos pode- enterotoxigênica, Campylobacter
os retornos financeiros são mais garanti- se dar por microrganismos, especialmente spp.,
dos e sólidos, podem ser alcançadas com bactérias, como Clostridium botulinum, - invasoras do epitélio intestinal:
melhorias na qualidade dos produtos. A Bacillus cereus, Listeria monocytogenes, Salmonella spp.; Yersinia spp.,
mudança de hábitos e a procura por ali- Staphylococcus aureus, Escherichia coli Shigella spp., E. coli enteroinvasi-
mentos seguros têm influenciado as cadeias e Salmonella spp. dentre outros.Também va, Listeria monocytogenes,
produtivas a estruturarem-se para atender a pode ocorrer por substâncias químicas as- - outras: Aeromonas spp., Plesiomonas
estas demandas. Normalmente, o aumento sociadas a microrganismos, com destaque shigelloides, E. coli enteropatogê-
da renda e da escolaridade do consumidor para as micotoxinas, que são metabólitos nica;
é acompanhado pela busca por qualidade secundários produzidos por fungos e que b) fungos: Aspergillus flavus, A.
dos produtos alimentícios e pela elevação apresentam toxicidade ao homem e aos parasiticus;
1
Engo Agro, D.Sc., Prof. Adj. UFES - CEUNES, CEP 29932-540 São Mateus-ES. Correio eletrônico: barretofito@uol.com.br
2
Engo Agro, Gerente Técnico e de Regulamentação Federal ANDEF, CEP 01443-010 São Paulo-SP. Correio eletrônico: guilherme@andef.com.br
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c) vírus: vírus da hepatite A, vírus da ainda não é feita a avaliação de risco, mas regulatórios (NASREDDINE; PARENT-
hepatite B, rotavírus, adenovírus sim do perigo. MASSIN, 2002).
(entérico), parvovírus; O perigo de intoxicação por um produto Durante cinco anos, de 1987 a 1991,
d) protozoários: Cryptosporidium é determinado por estudos toxicológicos e foram coletadas e avaliadas nos EUA
p a r v u m , G i a rd i a l a m b l i a , definido como a capacidade de um agente mais de 88 mil amostras de alimentos em
Entamoeba histolytica, Isospora causar algum efeito adverso à saúde huma- supermercados. Nas amostras coletadas,
belli, Dientamoeba fragilis, na ou ao ambiente. Por outro lado, o risco, menos de 1% apresentou níveis de resíduos
Blastocystis hominis; que é função do perigo, é definido como ilegais, ou seja, em quantidade acima da
e) parasitas: Taenia solium, Taenia a probabilidade de ocorrência de efeito tolerância permitida ou com presença de
saginata, Hymenolepis nana, adverso à saúde humana (WAL; PASCAL, produtos não registrados para a cultura. A
Ascaris spp., Trichuris spp., 2000). Uma vez conhecido o risco, devem partir de 1991, foi criado o programa de
Trichinella spiralis;
ser elaboradas políticas para o manejo e monitoramento de resíduo de pesticidas
f) toxinas : tetrodotoxina, micotoxi- a comunicação à sociedade, garantindo, nos EUA, conhecido como Pesticide Data
nas, aflatoxinas. assim, a segurança dos alimentos. Program (PDP). Os resultados são publi-
Outra forma de contaminação de ali- O risco de contaminação por agrotó- cados anualmente e podem ser obtidos em
mentos é decorrente do uso inadequado xicos é problema, em especial, durante USDA (2013b). Resultados encontrados
de produtos fitossanitários (agrotóxicos) o preparo da calda e a aplicação dos pro- no ano de 2011 mostraram que 82,3% das
no controle de doenças, pragas e plantas dutos. Nesta fase, o aplicador tem grande amostras avaliadas procederam de frutas
daninhas nas lavouras. Em 1954, a Agên- exposição aos produtos em concentração e vegetais frescos e processados. Também
cia de Proteção Ambiental dos Estados elevada e por um período prolongado. foram incluídas amostras em água (6,6%),
Unidos – United States Environmental É possível identificar os fatores de risco leite (5,8%), ovos (2,9%) e soja (2,4%). No
Protection Agency (EPA) desenvolveu que precisam ser observados, para que item frutas e legumes frescos e processados
procedimentos para a determinação de se tomem medidas de mitigação. Soares, foram considerados: comida para bebê
valores máximos de resíduos de pesticidas Almeida e Moro (2003) identificaram (feijão-verde, peras, batatas-doces), beter-
que podem estar presentes em alimentos alguns fatores de risco no campo, como a raba, repolho, melão, couve-flor, tomate,
frescos, para garantir a segurança dos própria aplicação dos agrotóxicos, a não pimenta, pimentão, alface, cogumelos,
alimentos consumidos pela população. utilização de equipamentos de proteção cebola, suco de laranja, mamão, ameixas,
Foram padronizados vários mecanismos individual (EPI) e a aplicação de produtos ervilhas, espinafre congelado, pimentão-
de coleta de dados e investigação, com organofosforados. Em outro trabalho, So- doce, tangerina e abóbora. Dos produtos
o propósito de quantificar riscos para a ares, Freitas e Coutinho (2005) chamam amostrados, 72,7% provieram de produ-
saúde humana decorrentes dos resíduos a atenção para outros componentes que ção interna no País, 22,8% de produtos
dos produtos utilizados nas lavouras. incrementam o risco, como escolaridade importados, 3,8% tiveram origem mista e
A ponderação entre benefícios e riscos do dos aplicadores, destinação de embalagens 0,7% eram de origem desconhecida. Entre
uso dos pesticidas passou a ser condição vazias e o tipo de pulverizador utilizado. os procedimentos de preparo das amostras
necessária para permitir o uso de determi- O uso adequado de EPIs poderia reduzir a ser avaliadas, foi feita a lavagem do
nado produto. O regulamento inicial foi o risco de intoxicação do aplicador em material fresco, durante 15 a 20 segundos,
alterado em 1958, quando os benefícios mais de cinco vezes (SOARES; FREITAS; com água corrente, sem o uso de qualquer
passariam a não ser mais considerados, COUTINHO, 2005). Estes dados chamam produto químico ou sabão. Isto é feito
caso fosse detectada a possibilidade de um a atenção para a necessidade de o aplicador considerando que o consumidor deve lavar
pesticida causar câncer em animais ou no de produtos fitossanitários ser devidamente o produto antes de comer. De acordo com
próprio homem. Para garantir a segurança qualificado e orientado. A adoção das boas os dados apresentados no relatório anual de
dos pesticidas registrados, foi exigida uma práticas é uma condição necessária tanto 2011 (USDA, 2013a), excluindo as análises
série de testes em laboratórios, como estu- para o campo quanto para a indústria e feitas em água, foram detectados resíduos
dos de toxicidade aguda oral e dérmica em outros setores produtivos. acima do limite em 0,27% das amostras
ratos, estudos de irritação em olhos e pele, (32 amostras em 11.849). Destas, 25 foram
toxicidade crônica (longa duração), efeito MONITORAMENTO DE obtidas de material importado (78%) e sete,
carcinogênico e teratogênico, entre outros. RESÍDUOS DE AGROTÓXICOS de produção doméstica (22%). Material
EM ALIMENTOS
Diferentemente dos Estados Unidos e ou- irregular, ou seja, sem índice de tolerância
tros países, no Brasil, apesar de haver um O monitoramento de pesticidas asso- estabelecido, correspondeu a 3,4% do total
decreto nesse sentido – Decreto no 4.074, ciados à dieta alimentar dos consumido- (399 amostras). Destas amostras, 280 fo-
de 4 de janeiro de 2002 (BRASIL, 2002) –, res é parte vital na criação de processos ram obtidas de material importado (70%),
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115 de produção nacional (29%) e quatro lução RDC no 216, de 15/12/2002, art 1o, possíveis. As amostras serão coletadas no
eram de origem desconhecida (1%). item IX (ANVISA, 2006). campo experimental, devidamente contro-
Os dados citados evidenciam a preo- Uma nova resolução da Anvisa – RDC lado e descrito em todas as suas etapas de
o
cupação das autoridades americanas com n 4, de 18 de janeiro de 2012 (ANVISA, condução, seguindo os princípios de BPA.
a qualidade dos gêneros alimentícios im- 2012) – procurou estabelecer recomen- É determinada na legislação, conforme
portados. Informações como essas podem dações metodológicas de avaliação de o produto comercializado da cultura em
ser a base para a criação de barreira a resíduos em harmonia com o Codex estudo, qual parte da planta será coletada
alimentos importados, caso não atendam Alimentarius da Organização das Nações e em que fase de maturação (verde ou ma-
às exigências de qualidade previamente Unidas para Alimentação e Agricultura – dura), podendo ser folha, fruta, tubérculo,
determinadas. Semelhante política é Food and Agriculture Organization of the raiz, rizoma, caule, bulbo, inflorescência,
adotada em países da Europa (JUHLER United Nations (FAO), bem como da Or- vagens e outros. Também são previamente
et al., 1999; NASREDDINE; PARENT- ganização Mundial de Saúde (OMS), para definidos o processo de amostragem e o
MASSIN, 2002) e no Japão (AKIYAMA; alimentação segura. tamanho da amostra na forma de peso ou
YOSHIOKA; TSUJI, 2002). Para o cálculo do LMR é necessária a unidades. Dois indicadores são monitora-
condução de, pelo menos, quatro ensaios de dos nos testes realizados e padronizados:
ESTUDOS DE RESÍDUOS campo em quatro locais distintos e repre-
o limite de detecção (LOD), que é a menor
sentativos de cada cultivo, na mesma safra
A Agência Nacional de Vigilância Sani- concentração de um analito em uma ma-
ou em safras consecutivas nos mesmos
tária (Anvisa) tem aprimorado as exigên- triz, onde uma identificação positiva e não
locais no campo, de forma padronizada,
cias de estudo de resíduos em alimentos quantitativa pode ser alcançada, usando-se
seguindo os princípios das Boas Práticas
com o objetivo de garantir o acesso da um método analítico validado; e o limite
Agrícolas (BPA), conforme normatização
população a alimentos seguros, no que de quantificação (LOQ), definido como a
da Anvisa. Estes estudos somente poderão
se refere a agrotóxicos e afins. A partir da menor concentração de um analito em uma
ser realizados por entidades, em conformi-
Resolução RDC no 216, de 15 de dezembro matriz, que pode ser quantificada e alcan-
dade com os princípios de BPA, por meio
de 2006 (ANVISA, 2006), estabeleceu-se çada usando-se um método analítico vali-
de órgãos oficiais de certificação, reconhe-
que os estudos devem seguir critérios rigo- dado. Existem várias metodologias para a
cidos pela Organização para a Cooperação
rosos, considerando a eficácia agronômica e Desenvolvimento Econômico (OCDE). padronização do LOD e do LOQ, com o
do produto. Dois indicadores fundamentais Na fase de campo, pelo menos dois desses objetivo de garantir a reprodutibilidade dos
devem ser estabelecidos experimentalmen- ensaios serão utilizados para a obtenção da resultados. Os critérios de validação são de
te: o limite máximo de resíduos (LMR) e curva de dissipação, que verificará a elimi- acordo com a área específica (biológica,
o intervalo de segurança (IS). nação dos resíduos de agrotóxicos e afins farmacêutica ou química), enfatizando a
Legalmente, define-se como resíduo do alimento, ao longo de determinado pe- exatidão, a precisão e os limites de detec-
toda substância ou mistura de substâncias ríodo. Para gerar a curva de dissipação dos ção e quantificação (BRITO et al., 2003).
remanescentes ou existentes nos alimentos resíduos, é necessário o número mínimo de Esses dois limites devem ser definidos de
ou no meio ambiente, decorrentes do uso três pontos e deve ser incluído o intervalo forma que possam conter o resíduo do pro-
ou não de agrotóxicos ou afins, inclusive de segurança pretendido pelo fabricante. duto fitossanitário utilizado no ensaio, cujo
qualquer derivado específico, tais como Complementando o experimento de LMR será determinado posteriormente.
produtos de conversão e de degradação, campo, é prevista a fase de laboratório, Considerando que “Y” representa o
metabólitos, produtos de reação e impure- quando serão garantidas todas as condições resíduo a ser detectado nas amostras dos
zas, considerados toxicológica e ambien- de preservação das amostras coletadas no ensaios de campo, a relação entre LOD e
talmente importantes – Decreto no 4.074, campo e a padronização dos processos ana- LOQ e Y deve ser expressa, como descrito
de 4/1/2002, art. 1o, item XLIV (BRASIL, líticos, dentro dos critérios mais rigorosos no Quadro 1.
2002). O LMR é definido como a quanti-
dade máxima de resíduo de agrotóxico ou
QUADRO 1 - Forma de reportar o resíduo monitorado em ensaio de campo para estudo de
afim, oficialmente aceita no alimento, em dissipação de agrotóxicos
decorrência da aplicação adequada em uma
Valor do resíduo Y Forma de reportar
fase específica, desde sua produção até o
Y < LOD < LOQ
consumo, expressa em partes (em peso) do
agrotóxico, afim ou seus resíduos por mi- LOD < Y < LOQ < LOQ
lhão de partes do alimento (em peso) (ppm Y > LOQ Y
ou mg/kg) – Decreto no 4.074, de 4/1/2002, FONTE: Anvisa (2012).
art. 1o, item XXII (BRASIL, 2002) e Reso- NOTA: LOD - Limite de detecção; LOQ - Limite de quantificação.
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ESTUDOS TOXICOLÓGICOS aguda, DL50 dérmica aguda, irritabilidade Os estudos especiais são estudos de te-
dérmica, irritabilidade ocular, sensibilidade ratogênese, mutagênese, de metabolismo e
Nos estudos de toxicologia alimentar,
dérmica e CL50 inalatória. Com base nos outros que podem ser solicitados adicional-
são considerados dois aspectos (WAL;
estudos toxicológicos agudos, os produtos mente, dependendo do produto em análise.
PASCAL, 2000): os associados aos
fitossanitários são agrupados em classes É importante ressaltar que de acordo com
contaminantes que estão naturalmente
toxicológicas que variam de extremamente o Decreto no 4.074, de 4/1/2002, art. 31
presentes nos alimentos e os que estão tóxico (identificado com tarja vermelha na (BRASIL, 2002), fica proibido o registro
intencionalmente presentes nos alimentos, embalagem) a pouco tóxico (identificado de qualquer agrotóxico, seus componentes
como conservantes, drogas veterinárias e com tarja verde) (Quadro 2). e afins, que apresentarem efeito teratogê-
pesticidas. Em decorrência disso, é ne- Os estudos subcrônicos e crônicos nico, mutagênico ou que provoquem dis-
cessário que qualquer defensivo agrícola são conduzidos em períodos que variam túrbios hormonais na espécie humana ou
(não genérico) seja submetido a uma série de 28 dias a dois anos. São realizados em animal, mediante comprovação científica.
de estudos toxicológicos para o produto animais de laboratório em instituições Os estudos “dose-respostas” são rea-
técnico e para cada formulação. Os estudos credenciadas. Desses estudos, além das lizados para caracterizar a relação entre
requeridos para o produto técnico dividem- análises toxicológicas de diversos parâme- a ingestão de determinada quantidade de
se basicamente em: tros, extraem-se alguns índices, dentre os uma substância e a manifestação de efeitos
a) estudos agudos; quais é possível destacar, o nível sem efeito adversos à saúde. Nesse sentido, a ingestão
b) estudos subcrônicos e crônicos; toxicológico observado − no-observed- diária aceitável (IDA) é amplamente utili-
effect-level (NOEL), e o nível sem efeito zada para indicar o nível de segurança de
c) estudos especiais.
toxicológico adverso observado − no- uma substância ingerida. O valor da IDA é
Os estudos agudos são aqueles em que observed-adverse-effect-level (NOAEL). calculado com base no menor NOAEL en-
os efeitos tóxicos são produzidos por uma Para estabelecer o NOEL são necessárias contrado experimentalmente e dividido por
única exposição ou exposições múltiplas a doses múltiplas da substância, uma popula- um fator de segurança de 100 vezes. O valor
determinada substância por diferentes vias, ção ampla e informações complementares de segurança final considera a variabilidade
considerando um período curto de respos- para garantir que a ausência de resposta de resposta interespecífica (fator multiplica
ta, normalmente inferior a um dia. Nessa não é um mero fenômeno estatístico por dez) (o que se justifica pelo fato de os
classe, seis testes são solicitados: DL50 oral (SILBERGELD, 1998). testes serem feitos em animais de outras
III - medianamente tóxico De 200 a De 50 a De 400 a De100 a De 2 a 20 Não pode apresentar opa- Irritação moderada de
2000 500 4000 1000 cidade de córnea. Irritação três a cinco, segundo mé-
irreversível em 72 horas todo universal de “Draize
e Cols”
IV - pouco tóxico > 2000 > 500 > 4000 > 1000 > 20 Não pode apresentar opa- Irritação leve
cidade de córnea. Irritação
leve reversível em 24 horas
FONTE: Daldin e Santiago (2003).
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60
dentro de uma curva dose-resposta, é re-
Resposta
Ser humano
presentado no Gráfico 1. A IDA expressa
sensível
a quantidade de determinada substância 40
b) os resíduos remanescentes na cul- QUADRO 4 - Consumo alimentar médio per capita anual em relação ao total consumido por
tura estão sempre no nível máximo sexo no Brasil, no período 2008-2009
permitido; Consumo alimentar médio per capita
c) toda a população brasileira ingere Alimento (g/dia)
QUADRO 6 - Porcentagem de amostras que apresentaram resultados insatisfatórios quanto à presença de resíduos de agrotóxico entre os
anos de 2002/2010
Ano
Cultura
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Alface 8,6 6,7 14,0 46,5 28,7 40,0 19,8 38,4 54,2
Banana 6,5 2,2 3,6 3,7 - 4,3 1,0 3,5 -
Batata 22,2 8,7 1,8 0 0 1,4 2,0 1,2 0
Cenoura 0 0 19,5 11,3 - 9,9 30,4 24,8 49,6
Laranja 1,4 0 4,9 4,7 0 6,0 14,9 10,3 12,2
Mamão 19,5 37,6 2,5 0 - 17,2 17,3 38,8 30,4
Maçã 4,0 3,7 5,0 3,1 5,3 2,9 3,9 5,3 8,9
Morango 46,0 54,6 39,1 - 37,8 43,6 36,1 50,8 63,4
Tomate 26,1 0 7,3 4,4 2,0 44,7 18,3 32,6 16,3
Abacaxi - - - - - - 9,5 44,1 32,8
Arroz - - - - - - 4,4 27,2 7,4
Cebola - - - - - - 2,9 16,3 3,1
Feijão - - - - - - 2,9 44,2 6,5
Manga - - - - - - 1,0 8,1 4,0
Pimentão - - - - - - 64,3 80,0 91,8
Repolho - - - - - - 8,8 20,5 6,3
Uva - - - - - - 32,7 56,4 -
Beterraba - - - - - - - 32,0 32,6
Couve - - - - - - - 44,2 31,9
Pepino - - - - - - - 54,8 57,4
FONTE: Anvisa (2008, 2009, 2010).
É importante salientar que os dados do limite de detecção do produto é de 0,01 ppm superior aos 0,27% observado nos Estados
Quadro 6 expressam irregularidades nos e o limite máximo de resíduo é de 2 ppm, Unidos (USDA, 2013a). Com base no Qua-
resíduos e não, necessariamente, risco de ou seja, 200 vezes maior do que é possível dro 8, fica evidenciado que a maior causa
contaminação para a população. Entende-se detectar. Assim como nesse caso, resultado de inconformidade nos resíduos monitora-
que as irregularidades definidas pela Anvisa semelhante pode ser observado para carbaril dos no Brasil está no uso de produtos não
são de duas naturezas. A primeira tem rela- e cipermetrina. autorizados, o que representa, em média,
ção com a legalidade, ou seja, o resíduo de A segunda causa de irregularidade no 27% das amostras e, aproximadamente,
um produto é detectado, por exemplo, em resíduo é decorrente do fato de a quan- 85% das amostras de pimentão, cultura
um fruto, proveniente de uma cultura para tidade de produto observada no material na qual foi observado o maior número de
a qual o produto não está registrado ou seu colhido ser maior do que o limite estabe- amostras insatisfatórias.
uso não está autorizado. A simples detecção lecido para aquela cultura. No relatório do Culturas como pimentão, pepino,
do resíduo de um produto não registrado PARA (ANVISA, 2010) é apresentado um couve, alface, morango, mamão e outras
para a cultura, de acordo com a capacidade quadro que discrimina as duas fontes de hortaliças e fruteiras são conhecidas no
do método analítico empregado – limite de inconformidade (Quadro 8). A partir deste Brasil como minor crops ou culturas com
detecção (LD), torna aquela amostra irre- Quadro, é possível entender a composição menor suporte fitossanitário. Essas culturas
gular. Contudo, é importante destacar que o das amostras consideradas insatisfatórias. são marginais em termos de mercado de
valor do LD é, normalmente, muito menor As irregularidades decorrentes da detecção produtos fitossanitários, o que, segundo as
que o LMR autorizado para determinado de resíduo acima do LMR foi de 1,7%, indústrias de produtos fitossanitários, não
produto. Como exemplo, é possível ver no o que é valor inferior ao observado na justifica o investimento necessário para
Quadro 7, o caso da procimidona, em que o Alemanha, com 2,7% (RANA, 2013) e atender às exigências necessárias ao regis-
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QUADRO 7 - Valores de limites de detecção (LD), limites de quantificação (LQ), quantidade tro de produtos para esse grupo de culturas.
mínima de resíduo observada (Mín), quantidade máxima de resíduo observada Em fevereiro de 2010, foi lançada a Ins-
(Máx), para amostras de pimentão coletadas pelo Programa de Monitoramento
trução Normativa Conjunta no 1 (BRASIL;
de Resíduo da Anvisa, no ano de 2010, e limite máximo de resíduo (LMR)
IBAMA; ANVISA, 2010), envolvendo o
estabelecido para outras culturas
MAPA, a Anvisa e o Instituto Brasileiro do
Produto LD LQ Mín. Máx. LMR Cultura Fonte Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Carbaril 0,010 0,020 <LQ 0,09 0,10 Tomate Anvisa Renováveis (Ibama). O objetivo dessa Ins-
Carbendazim 0,010 0,020 <LQ 2,74 0,20 Tomate Anvisa trução Normativa foi criar condições legais
que viabilizassem o registro de produtos
Procimidona 0,010 0,030 <LQ 0,05 2,0 Tomate Anvisa
para atender às demandas das minor crops
Carbofurano 0,010 0,020 <LQ <LQ 0,10 Tomate Anvisa e regularizar a criação do LMR para essas
Ciproconazol 0,200 0,400 <LQ <LQ 0,40 Maçã Anvisa culturas. Foram criados então cinco grupos
Fenarimol 0,005 0,010 <LQ 0,09 0,05 Pepino Anvisa
de culturas: frutas com casca não comes-
tível, frutas com casca comestível, raízes,
Metamidofós 0,010 0,030 <LQ 0,62 0,01 Batata Anvisa
tubérculos e bulbos, hortaliças folhosas e
Cipermetrina 0,020 0,040 <LQ 0,40 0,10 Tomate Anvisa hortaliças não folhosas. Para cada grupo
NOTA: Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. foram escolhidas culturas representativas
que servirão de base para a extrapolação
provisória de LMRs para as culturas de
QUADRO 8 - Tipos de inconformidade observada em amostras de alimentos monitoradas pelo
Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) - 2010
suporte fitossanitário insuficiente. Essa Ins-
trução Normativa foi um passo na solução
NA
(1) (2)
>LMR >LMR e NA
Cultura Total dos problemas, mas, até o momento, não
(%) (%) (%)
foram alcançados os resultados esperados.
Abacaxi 16,4 8,2 8,2 32,8
o problema de resíduos persiste. Finalmen- 11 de julho de 1989, que dispõe sobre a des in the European Union: Should we wor-
te, seriam tomadas medidas legislativas e pesquisa, a experimentação, a produção, a ry? Toxicology Letters, v.127, n.1/3, p.29-
embalagem e rotulagem, o transporte, o ar- 41, Feb. 2002.
educativas que garantissem a minimização
mazenamento, a comercialização, a propa-
e a correção dos problemas remanescentes RANA, S. German MRL violation flat in
ganda comercial, a utilização, a importação,
dentro de um programa de certificação da a exportação, o destino final dos resíduos 2011. Agrow, London, n. 658, p.11, 2013.
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Vazio sanitário
Nataniel Diniz Nogueira 1
Engo Agro, Gerente Defesa Sanitária Vegetal IMA, CEP 31630-901 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: nataniel@ima.mg.gov.br
1
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Ferrugem-asiática da soja
A ferrugem-asiática da soja, causada
pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, é con-
siderada praga importante da cultura de soja
(Glicyne max), pois provoca grandes prejuí-
zos econômicos ao reduzir a produtividade.
Os primeiros sintomas da doença mani-
festam-se nas folhas, com o aparecimento de
Rodrigo Rocha
pontos escuros minúsculos. Posteriormente
a essas lesões, ocorre a desfolha da planta, o
que impossibilita a completa formação dos
Figura 1 - Fiscal do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) em trabalho de fiscalização
grãos e, consequentemente, reduz a produ-
de cumprimento do vazio sanitário
tividade. O desenvolvimento da doença é
extremamente rápido, pois o patógeno disse-
mina-se com facilidade pelo vento. Fatores
ambientais, como clima e temperatura, são
importantes componentes para determinar a
intensidade da doença na lavoura.
A ferrugem-asiática foi observada
pela primeira vez no Japão, em 1902. No
Brasil, foi constatada durante a safra de
2000/2001, no oeste do Paraná. Em 2004,
foi relatada em Patrocínio, município lo-
calizado na região do Alto Paranaíba, em
Minas Gerais, importante região produtora
da cultura no Estado.
Até dezembro de 2012, tinham sido
registrados 103 casos da doença no Estado.
Entretanto, a cada ano tem-se observado a
diminuição das ocorrências, especialmente
pela conscientização dos produtores na
implementação de medidas eficientes de con-
trole e pela vigilância sanitária que o poder
público mineiro tem exercido, ao fiscalizar
as propriedades rurais para o cumprimento Figura 2 - Exemplo de material impresso utilizado pelo Instituto Mineiro de Agropecuá-
do vazio sanitário. Ressalta-se também a ria (IMA) em campanhas educativas referentes ao vazio sanitário da soja em
maciça campanha educativa com material Minas Gerais
impresso (Fig. 2), que é veiculado nos meios FONTE: IMA (2012).
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de comunicação, visando alertar toda a co- cada unidade da Federação devem criar d) realizar ações de educação sanitária;
munidade produtora sobre a importância da os Comitês Estaduais de Controle da e) promover a capacitação e atualiza-
não existência de plantas vivas de soja du- Ferrugem-Asiática da Soja. ção permanente dos produtores e
rante o período de 90 dias de vazio sanitário. Ao Departamento de Sanidade Vegetal técnicos, para o monitoramento da
(DSV) do MAPA compete: praga;
Fundamentação legal
a) coordenar o PNCFS; f) participar do Comitê Estadual de
A Instrução Normativa no 2, de 29 de Controle da Ferrugem-Asiática da
b) elaborar e revisar o manual operati-
janeiro de 2007 do Ministério da Agricul- Soja;
vo do PNCFS;
tura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)
c) coordenar a elaboração e a divul- g) coordenar os Grupos Regionais;
(BRASIL, 2007), fundamentada no Decreto
no 5.741, de 30 de março de 2006 (BRASIL, gação de material educativo para h) dar prioridade ao cadastramento de
2006) e no Decreto no 24.114, de 12 de abril a promoção de ações uniformes no agrotóxicos e afins destinados ao
de 1934 (BRASIL, 1934), são os instrumen- território nacional; controle da praga;
tos legais que embasam o estabelecimento d) manter atualizado o cadastro nacio- i) publicar suas normas de acordo com
do vazio sanitário como medida de controle nal de técnicos treinados e capacita- o manual do PNCFS, definindo o
da ferrugem-asiática no Brasil. dos para a identificação e orientação sistema de fiscalização e as penali-
Essa Instrução Normativa instituiu o das medidas de controle da praga; dades.
Programa Nacional de Controle da Ferru- e) realizar auditorias, visando con- À iniciativa privada compete:
gem-Asiática da Soja (PNCFS) que tem firmar a implementação das ações a) manter atualizado o seu cadastro de
por finalidade o fortalecimento do sistema previstas no PNCFS; propriedade no Grupo Regional de
de produção agrícola da soja. O PNCFS Controle da Ferrugem-Asiática da
f) apoiar as unidades da Federação na
tem caráter nacional e é composto pelas Soja ou Órgão Estadual de Defesa
execução das atividades do PNCFS.
entidades relacionadas a seguir: Agropecuária;
Ao Departamento de Fiscalização de
a) Secretaria de Defesa Agropecuária/ b) apoiar ações de educação fitossani-
Insumos Agrícolas (DFIA) do MAPA
MAPA; tária, dirigidas aos produtores rurais
compete dar prioridade aos registros de in-
b) Secretaria de Política Agrícola/ e técnicos;
sumos agrícolas que apresentem inovações
MAPA; tecnológicas no controle da praga. c) participar do Comitê Estadual do
c) Superintendências Federais de Agri- Às Superintendências Federais de Controle da Ferrugem-Asiática da
cultura/MAPA; Agricultura (SFA) do MAPA compete: Soja e do Grupo Regional de con-
d) Secretarias de Agricultura Estaduais a) participar de ações de conscien- trole da praga;
ou seus Órgãos de Defesa Agrope- tização, divulgação e capacitação d) adotar ações de controle da praga,
cuária; técnica; conforme a orientação do Grupo
e) Instituições de informações meteo- b) coordenar o Comitê Estadual de Regional ou Órgão Estadual de
rológicas públicas e privadas; Controle da Ferrugem-Asiática da Defesa Agropecuária.
c) participar do Comitê Estadual do tecimento de Minas Gerais (Seapa-MG) Diretor-Geral do IMA e nomina as
Controle da Ferrugem-Asiática da publicou a Resolução no 882 (MINAS instituições que o compõem, com a
Soja e dos Grupos Regionais de GERAIS, 2007) estabelecendo o vazio participação de dois representantes
controle da praga. sanitário da soja em Minas Gerais em (titular e suplente), conforme des-
Ao Comitê Estadual de Controle da dois períodos, para atender às deman- crito a seguir:
Ferrugem-Asiática da Soja compete: das regionais dos produtores, mas logo - IMA,
percebeu-se que o controle ficava compro-
a) identificar as demandas estaduais e - Superintendência Federal de Agri-
metido. Por isso, em comum acordo com
propor diretrizes para o PNCFS; cultura, em Minas Gerais,
o setor produtivo, a Seapa-MG publicou,
b) elaborar, sempre que necessárias, - Emater-MG,
em 6 de junho do mesmo ano, novo ato
recomendações para os Grupos
normativo ̶ Resolução no 884 (MINAS - EPAMIG,
Regionais;
GERAIS, 2007) ̶ alterando a Resolução - Federação da Agricultura do Esta-
c) definir a política de localização no 882, de 26/4/2007 (MINAS GERAIS, do de Minas Gerais,
dos laboratórios de diagnose e das 2007) e estabelecendo o período de 1 de - Organização das Cooperativas do
estações meteorológicas, bem como julho a 30 de setembro de cada ano para
Estado de Minas Gerais,
a organização dos Grupos Regionais todo o Estado.
- Câmara Técnica de Grãos do Con-
de Controle da Ferrugem-Asiática O ato normativo estadual, além de
da Soja; selho Estadual de Política Agrícola,
estabelecer o período do vazio sanitário
d) implantar a política estadual dos em Minas Gerais, prevê ainda outras pro- - Câmara Técnica de Defesa Agro-
treinamentos dos técnicos de campo vidências: pecuária do Conselho Estadual de
e de laboratório; Política Agrícola,
a) define vazio sanitário como o pe-
e) atualizar, no DSV do MAPA, o ca- ríodo de ausência total de plantas - Cooperativas Agrícolas do Noro-
dastro dos técnicos capacitados para vivas de soja, excluindo-se as áreas este Mineiro,
realizar os trabalhos no controle da de pesquisa científica e de produção - Cooperativas do Triângulo Minei-
ferrugem-asiática no Estado. de semente genética, devidamente ro e Alto Paranaíba,
As Secretarias de Agricultura Esta- monitorada e controlada; - Associação dos Produtores de
duais ou os Órgãos de Defesa Agrope- b) imputa responsabilidade ao produtor Sementes de Minas Gerais,
cuária em cada unidade da Federação para, durante o período de vigência - Associação Nacional de Defesa
deverão estabelecer, após ouvir o setor do vazio sanitário, erradicar, às suas Vegetal,
produtivo e a pesquisa, ato normativo expensas, todas as plantas de soja
- Associação Nacional dos Distri-
com definição do calendário de plantio existentes na propriedade;
para a soja, por um período de pelo me- buidores de Insumos Agrícolas,
c) determina que a erradicação das
nos 60 dias sem a cultura e as plantas - Universidade Federal de Lavras,
plantas consista em sua destruição
voluntárias no campo, com base no art. por meio do uso de medidas quími- - Universidade Federal de Viçosa,
36, do Decreto no 24.114, de 12/4/1934 cas ou mecânicas; - Universidade Federal de Uber-
(BRASIL, 1934). lândia.
d) estabelece competência ao IMA para
Além do previsto no parágrafo anterior,
fiscalizar o cumprimento das medi- O IMA, ao considerar a importância
as Secretarias de Agricultura Estaduais ou
das preconizadas na Resolução; socioeconômica da cultura da soja para
os Órgãos de Defesa Agropecuária poderão
determinar, dentro de critérios técnicos, as e) estabelece competência à Empresa Minas Gerais, os prejuízos causados
exceções ao calendário de plantio. de Assistência Técnica e Extensão pela ferrugem-asiática e as legislações
Tendo por base a legislação federal Rural do Estado de Minas Gerais federal e estadual, especialmente a Lei
citada, bem como as orientações pro- (Emater-MG) e à EPAMIG para no 15.697, de 25 de julho de 2005 ̶ Lei
cedentes do MAPA, o estado de Minas programarem ações voltadas para Estadual de Defesa Sanitária Vegetal
Gerais baixou as normas estaduais com- a conscientização e divulgação do (MINAS GERAIS, 2005), ̶ baixou a
plementares para dar suporte ao PNCFS, vazio sanitário para o controle da Portaria no 854, de 19 de junho de 2007
a fim de contribuir com a produção de ferrugem-asiática da soja; (IMA, 2007), que estabelece os proce-
soja no Estado. f) determina que o Comitê Estadual dimentos para o vazio sanitário da soja
Em 26 de abril de 2007, a Secretaria de para o Controle da Ferrugem- no estado de Minas Gerais. Essa Portaria
Estado de Agricultura, Pecuária e Abas- Asiática da Soja seja presidido pelo determina que:
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a) todo sojicultor (proprietário, ar- previstas no art. 11 da Lei no 15.697, e aumentado o número de fiscalizações,
rendatário ou ocupante a qualquer de 25/7/2005 (MINAS GERAIS, com o objetivo de visitar um maior núme-
título das propriedades produtoras) 2005), às sanções civil e penal ca- ro de propriedades para um controle mais
deverá cadastrar no IMA, a cada bíveis. eficiente da praga. Tem-se observado um
safra, as áreas plantadas, com, no importante comprometimento por parte
mínimo, um ponto georreferenciado Fiscalização do vazio de todos os segmentos envolvidos no
da propriedade, até 30 dias após o sanitário da soja em Minas processo. O poder público tem realizado
término do plantio; Gerais as fiscalizações e os produtores rurais vêm
b) é obrigatório o cumprimento do O IMA visita e fiscaliza as proprie- cumprindo de maneira exemplar o papel
vazio sanitário para a cultura da soja dades, verifica o cumprimento do vazio de adesão ao vazio sanitário. Assim, o
em Minas Gerais no período de 1o sanitário por parte dos produtores de soja número de infrações tem diminuído sig-
de julho a 30 de setembro de cada e emite um Termo de Fiscalização. Caso nificativamente, de maneira inversamente
ano; sejam constatadas na lavoura plantas vi- proporcional ao número de fiscalizações
c) o IMA poderá autorizar a semeadura vas de soja, o produtor é notificado para (Gráfico 1). O trabalho educativo, com
e a manutenção de plantas vivas de realizar a erradicação no prazo de dez intensa divulgação nos meios de comuni-
soja, quando solicitado pelo inte- dias. Findo esse prazo, o fiscal do IMA cação e distribuição de cartazes e folhetos
ressado, por meio de requerimento retorna à propriedade; caso ainda encontre têm sido aspectos relevantes na obtenção
e mediante assinatura de Termo de plantas vivas de soja, fica caracterizado desses resultados altamente positivos.
Compromisso e Responsabilidade, que o produtor não atendeu à notifica- No período de 2004 a 2012, foram
nas seguintes situações: plantio des- ção. Nesse caso, é lavrado o Auto de relatados, em Minas Gerais, 103 casos de
tinado à pesquisa científica e plantio Infração que dará origem a um processo ferrugem-asiática da soja, em 30 municí-
destinado à produção de semente administrativo, cujo resultado pode ser pios diferentes (Gráfico 2), com destaque
genética; a aplicação de multa no valor de 1.500 para Uberaba (36 casos), seguido de
d) para obter a autorização, o interessa- Unidades Fiscais do Estado de Minas Uberlândia (14), Araguari (9) e Patrocínio
do deverá apresentar requerimento Gerais (Ufemgs). Esse valor é corrigido (5) (Gráfico 3). Ao longo desse período,
ao IMA, com o Plano de Trabalho anualmente. Em 2013, o valor da Ufemg tem-se verificado redução da ocorrência
Simplificado, até 30 de março de foi estabelecido em R$2,5016. Assim, o da ferrugem-asiática em Minas Gerais,
cada ano, contendo as seguintes valor atual da multa é R$3.752,40. sendo relatado apenas dois casos em 2012.
informações; Desde que foi estabelecido o vazio Assim, pode-se dizer que os resultados
- do requerente: nome, endereço; sanitário da soja, em 2007, o IMA tem da implementação do vazio sanitário da
área(s) indicada(s) para o desen- fiscalizado regularmente as propriedades soja em Minas Gerais são muito positivos.
volvimento da atividade, com
dados georreferenciados,
- do técnico responsável: nome; en- 3.000
dereço; variedade e/ou linhagem
a ser cultivada; detalhamento dos 2.500
processos de controle fitossanitário
2.000
da ferrugem-asiática;
e) o Plano de Trabalho Simplificado 1.500
f) o descumprimento do disposto na
Gráfico 1 - Fiscalizações, notificações e autos de infração realizados pelo Instituto Minei-
Portaria sujeitará os infratores, ro de Agropecuária (IMA), em Minas Gerais, de 2007 a 2012, referentes ao
além de multa e demais sanções vazio sanitário da soja
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Ressalta-se que o controle da doença ga- VAZIO SANITÁRIO DO maiores áreas de plantio do Estado. A pro-
rante a qualidade do produto e mantém ALGODÃO dução de algodão é atividade importante
a competitividade da soja do Estado. Minas Gerais é um importante produtor da economia, uma vez que gera emprego e
Produtores e técnicos devem estar sempre de algodão. Em 2012, a produção foi de agrega valor à renda do produtor, além de
atentos e comunicar qualquer ocorrência 108,8 mil toneladas de pluma, cultivadas contribuir para sua permanência no meio
da praga, além de seguir as recomenda- em uma área de 29,6 mil hectares distri- rural. A produção familiar concentra-se na
ções de controle e fazer o monitoramento buídos nas regiões Noroeste, Triângulo, região Norte de Minas, região tradicional
permanente das lavouras. Norte e Alto Paranaíba, consideradas as desse cultivo, enquanto que nas demais re-
giões do Estado estão localizados projetos
empresariais.
O vazio sanitário é uma medida que
40 tem por objetivo retardar o surgimento do
35 bicudo-do-algodoeiro na safra seguinte.
Sua prática contribui para diminuir as
30 aplicações de agrotóxicos e reduzir a con-
25 taminação do meio ambiente, o que, por
consequência, garante maior produtividade
20 das lavouras e beneficia diretamente os
15 produtores de algodão. A medida leva em
conta a importância socioeconômica da
10 cultura do algodão em Minas Gerais e os
5 prejuízos que o bicudo-do-algodoeiro pode
causar à economia, já que a manutenção
0 de áreas permanentes e contínuas com o
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
cultivo de algodão mantém o inseto ativo.
Municípios de ocorrência por ano Quantidade de focos
O vazio sanitário do algodão em Minas
Gráfico 2 - Registros de ocorrência da ferrugem-asiática da soja, em Minas Gerais, no Gerais consiste na eliminação de todas as
período 2004-2012 plantas de algodão e na proibição do seu
FONTE: Embrapa Soja (2013). cultivo no período entre 20 de setembro e
40
35
30
25
20
15
10
5
0
Monte Alegre de Minas
Uberaba
Rio Paranaíba
Nova Ponte
Uberlândia
Prata
Tupaciguara
Ibiaí
São Gotardo
Guarda-Mor
Iraí de Minas
Campo Florido
Unaí
Veríssimo
Delta
Romaria
Presidente Olegário
Serra do Salitre
Perdizes
Conceição das Alagoas
Patrocínio
Santa Juliana
Sete Lagoas
Araguari
Prados
Conquista
Indianópolis
Campos Altos
Planura
Capinópolis
Gráfico 3 - Registros de ocorrência por município da ferrugem-asiática da soja em Minas Gerais, no período 2004-2012
FONTE: Embrapa Soja (2013).
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20 de novembro de cada ano, para evitar tações de algodão. O bicudo foi constatado As seguintes estratégias são recomen-
a reprodução e a disseminação do bicudo- pela primeira vez no Brasil, em fevereiro dadas para o controle dessa praga:
do-algodoeiro durante a entressafra. Isso de 1983, em São Paulo, e em maio de a) utilizar inseticidas;
significa que, por 60 dias, as propriedades 1986, no Sul de Minas Gerais, fora das b) catar botões e maçãs novos que
rurais mineiras não poderão ter plantas zonas algodoeiras do Estado. Em agosto caem no solo (para matar as larvas
vivas de algodão. O controle consiste na de 1990, foi constatado em Uberaba e em e pupas do inseto que se encontram
erradicação de todas as plantas vivas rema- outros municípios do Triângulo Mineiro e, dentro dessas estruturas do algo-
nescentes da última safra ou que tenham em 1993, no Norte de Minas. dão);
brotado voluntariamente na área da pro- O bicudo é um pequeno besouro de
c) usar armadilha (para eliminar os pri-
priedade, bem como dos restos culturais. coloração cinza ou castanha e seu compri-
meiros insetos que saem dos locais
Para erradicar as plantas vivas, o produtor mento médio é de 7 mm. Possui mandíbulas
de refúgio);
de algodão pode usar produtos químicos afiadas (“bico”) utilizadas para alimenta-
d) destruir os restos de cultura e de
recomendados e autorizados ou, então, ção, quando perfuram folhas novas, botões
soqueiras do algodão imediatamente
outros meios. O importante é que nenhuma florais e maçãs novas dos algodoeiros. A
após a colheita;
planta viva de algodão seja encontrada na fêmea faz a postura depositando os ovos
propriedade. Como no caso do vazio sani- no interior do botão floral da planta, onde e) fazer a rotação de cultura;
tário da soja, as áreas de pesquisa científica as larvas se desenvolvem e destroem todo f) estabelecer o vazio sanitário.
e de produção de sementes genéticas, desde o seu interior. Sua disseminação ocorre por O vazio sanitário é uma estratégia de
que autorizadas, controladas e monitoradas meio do voo, vento, restos vegetais, má- controle bastante eficiente, porque elimina
pelo IMA, ficam isentas da medida. quinas e implementos contaminados. Após a fonte de reprodução da praga e diminui
Os produtores que não cumprem o vazio o ciclo da cultura, os adultos migram para sua incidência na próxima safra. Ademais,
sanitário do algodão cometem infração e es- áreas próximas e protegem-se sob os restos é uma prática considerada de baixo custo
tão sujeitos à abertura de processo adminis- de vegetais secos. Nesses locais, entram em e solidária, pois envolve a participação do
trativo e ao pagamento de multas. Compete diapausa, mecanismo que permite ao inseto conjunto de produtores de algodão.
ao IMA fiscalizar as propriedades e aplicar passar de uma safra de algodão para outra O IMA (Fig. 3) tem exigido o cum-
as medidas corretivas aos produtores que sem se alimentar. primento do vazio sanitário do algodão,
não cumprirem o período do vazio sanitário.
Cabe ao produtor de algodão comunicar
ao IMA a ocorrência da praga e cumprir
O Bicudo do Algodoeiro é uma O Bicudo do Algodoeiro é uma
importante pragaas daorientações
agricultu- recomendadas durante as O Bicudo dopraga
importante Algodoeiro é uma
da agricultu-
fiscalizações. Além disso, deve fazer o
ra, que causa grandes prejuízos importante
ra, que causa
ra, que
praga da agricultu-
grandes
causa grandes
prejuízos
prejuízos
nas plantações de algodão. Foi nas plantações de algodão. Foi
constatada no cadastro
Brasil em 1983da área plantada a cada safra, 60 nas plantações de algodão. Foi
constatada no Brasil em 1983
constatada no Brasil em 1983
e em Minas Gerais em 1986, no
Sul do Estado. dias após o plantio, indo até o escritório do
e em Minas Gerais em 1986, no
e em Minas Gerais em 1986, no
Sul do Estado.
Sul do Estado.
IMA no município onde a propriedade está
registrada e preencher o documento Ficha
de Inscrição da Unidade de Produção.
O vazio sanitário do algodão, pelas
características dessa cultura, bem como o
Foto: Carlos Rudiney
Foto: Carlos Rudiney
BICUDO BIC
to Mineiro de Agropecuária (IMA),
to Mineiro de Agropecuária (IMA), to Mineiro de Agropecuária (IMA),
as áreas plantadas em até 60 dias
doemalgodoeiro como lavoura continuada, as áreas plantadas em até 60 dias
DO
as áreas plantadas até 60 dias após o término do plantio e cum- Dúvidas e informações:
DO
após o término do plantio e cum- Dúvidas e informações: após
prir oovazio
término do plantio
sanitário, e cum-
no período Dúvidas e informações:
tem nouma
prir o vazio sanitário, períododificuldade própria para seu prir
de 20o de
vazio sanitário,
setembro no novem-
a 20 de período Site: www.ima.mg.gov.br
ALGOD
Site: www.ima.mg.gov.br E-mail:Site: www.ima.mg.gov.br
ima@ima.mg.gov.br
de 20 de setembro a 20 de novem- de
bro20dede setembro
ano. Asa propriedades
20 de novem-
ALGO
cumprimento efetivo. E-mail: ima@ima.mg.gov.br cada
ALGODOEIRO
Telefone:
E-mail:(31) 3915 8715
ima@ima.mg.gov.br
bro de cada ano. As propriedades Telefone: (31) 3915 8715 são de
bro fiscalizadas
cada ano. pelo
Aspróprio IMA.
propriedades Gerência de Defesa Sanitária
Telefone: Vegetal
(31) 3915 8715- IMA
são fiscalizadas pelo próprio IMA. Gerência de Defesa Sanitária Vegetal - IMA são fiscalizadas pelo próprio IMA. Gerência de Defesa Sanitária Vegetal - IMA
Bicudo-do-algodoeiro
Figura 3 - Exemplo de material impresso utilizado pelo Instituto Mineiro de Agropecuária
O bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus (IMA) em campanhas educativas referentes ao vazio sanitário do algodão em
grandis) é uma das pragas mais importan- Minas Gerais
tes por causar grandes prejuízos nas plan- FONTE: IMA (2012).
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período de 60 dias, quando não pode haver f) aprovar os relatórios semestrais e i) avaliar os resultados alcançados
planta viva de algodão em território minei- anuais; pelo PNCB e sugerir à Comissão
ro. Com essa medida, é possível retardar g) promover ampla divulgação das Nacional medidas corretivas;
a entrada da praga na lavoura e reduzir o finalidades do PNCB. j) sugerir à Comissão Nacional medi-
número de aplicações de inseticidas.
Cada Grupo Técnico de Trabalho, das a ser aplicadas, na hipótese do
a) entende-se por vazio sanitário o deverá fazer a eliminação dos restos h) o descumprimento do disposto na
período de ausência total de plantas de cultura ou soqueira de algodão no Portaria sujeitará os infratores,
vivas de algodão, excluindo-se as prazo de 15 dias após a colheita; além de multa e demais sanções
áreas de pesquisa científica e de c) quando ocorrer prolongamento do previstas no art. 11 da Lei no 15.697,
produção de semente genética, de- ciclo da cultura que cause o atraso de 25/7/2005 (MINAS GERAIS,
vidamente monitorada e controlada; na colheita, com possibilidade de 2005), que dispõe sobre defesa sa-
b) é de responsabilidade do produtor, entrar no período do vazio sanitário, nitária vegetal no Estado, às sanções
durante o período de vigência do a Associação Mineira dos Produto- civil e penal cabíveis.
vazio sanitário, erradicar, às suas res de Algodão (Amipa) fará laudo
expensas, todas as plantas de algo- da lavoura e comunicará a ocorrên- Fiscalização do vazio
dão existentes em sua propriedade; cia ao IMA; sanitário do algodão em
Minas Gerais
c) a erradicação das plantas consiste na d) as propriedades incluídas no pará-
sua destruição por meio do uso de grafo anterior serão monitoradas Fiscais do IMA visitam e fiscalizam
medidas químicas ou mecânicas; pela Amipa e fiscalizadas pelo IMA as propriedades rurais, verificam o cum-
d) compete ao IMA fiscalizar o cum- até a colheita e arranquio de soquei- primento do vazio sanitário por parte dos
primento das medidas preconizadas ra, ficando, nesse período, isentas de produtores de algodão e emitem um Termo
sanções; de Fiscalização. Caso encontre plantas vi-
nessa Resolução;
e) o IMA poderá autorizar a semeadura vas de algodão, o produtor é notificado para
e) compete à Emater-MG e à EPAMIG
e a manutenção de plantas vivas de realizar a erradicação no prazo de dez dias.
implementar ações voltadas para
algodão, quando solicitado pelo in- Findo o prazo estipulado, os fiscais retor-
a conscientização e divulgação do
teressado por meio de requerimento nam à propriedade e, caso ainda encontre
vazio sanitário, para a prevenção e
e mediante assinatura de Termo de plantas vivas de algodão, fica caracterizado
o controle do bicudo-do-algodoeiro.
Compromisso e Responsabilidade, que o produtor não atendeu à notificação.
O IMA, ao considerar a importância
nas seguintes situações: plantio des- Nesse caso, é lavrado o Auto de Infração
socioeconômica da cultura do algodão que dará origem a um processo administra-
tinado à pesquisa científica e plantio
para Minas Gerais, os prejuízos causados tivo, cujo resultado pode ser a aplicação de
destinado à produção de semente
pelo bicudo-do-algodoeiro e que a manu-
genética; multa no valor de 1.500 Ufemg.
tenção de áreas permanentes e contínuas Desde o primeiro ano de vigência
com o cultivo do algodão mantém o inseto f) para execução das atividades cita-
do vazio sanitário do algodão em Minas
ativo e, ao considerar, ainda, a Instrução das, o interessado deverá apresentar
Gerais, os produtores têm relatado difi-
Normativa no 44, de 29/7/2008 (BRASIL, o requerimento ao IMA, com o
culdades no cumprimento no início do
2008), a Resolução no 1.021, de 30/9/2009 “Plano de Trabalho Simplificado”,
período, em virtude de atrasos na colheita.
(MINAS GERAIS, 2009), e a Lei no 15.697, até 30 de abril de cada ano, contendo
as seguintes informações: Nesses casos, a Amipa tem feito um laudo
de 25/7/2005 (MINAS GERAIS, 2005), da lavoura e comunicado a ocorrência ao
baixou a Portaria no 1.019, de 13 de ou- - do requerente: nome, endereço,
IMA. As propriedades assim caracterizadas
tubro de 2009 (IMA, 2009). Essa Portaria área(s) indicada(s) para o desen-
são monitoradas pela Amipa e fiscalizadas
estabelece procedimentos para o vazio volvimento da atividade, com
pelo IMA até a colheita e o arranquio da
sanitário do algodão no estado de Minas dados georreferenciados,
soqueira, ficando, nesse período, isentas de
Gerais e determina que: - do técnico responsável: nome, sanções. Esse procedimento está previsto
a) todo produtor de algodão (proprie- endereço, variedade e/ou linha- na Portaria no 1.019, de 13/10/2009 (IMA,
tário, arrendatário ou ocupante a gem a ser cultivada, 2009), tem acontecido anualmente e sido
qualquer título das propriedades - o detalhamento dos processos de uma das razões que justificaram a mudança
produtoras) deverá cadastrar no controle fitossanitário do bicudo- do período inicial para o mês de setembro.
IMA, a cada safra, as áreas planta- do-algodoeiro ou de contenção da O IMA exige e fiscaliza o cumprimento
das, com, no mínimo, um ponto ge- disseminação de A. grandis; do vazio sanitário do algodão. Há exceção
orreferenciado da propriedade, até g) o Plano de Trabalho Simplificado apenas para as áreas de pesquisa científica,
60 dias após o término do plantio; será encaminhado ao IMA junto as quais, para manter plantas vivas, devem
b) o produtor, proprietário, arrendatá- com a justificativa fundamentada, ter autorização, conforme estabelece a
rio ou ocupante a qualquer título das os quais serão submetidos à análise legislação. A empresa interessada faz a
propriedades produtoras de algodão até 30 de maio de cada ano; solicitação e o IMA analisa o Plano de
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Trabalho e emite a autorização. No período tário do algodão, em Minas Gerais, mostra- REFERÊNCIAS
de três anos de vigência da medida, foram se positivo, o que garante boa produção e BRASIL. Decreto no 24.114, de 12 de abril
emitidas seis autorizações para as empresas produtividade da cultura, além de manter de 1934. Aprova o Regulamento de Defesa
darem continuidade em suas pesquisas a competitividade do Estado, no que se Sanitária Vegetal. Diário Oficial [da] Repú-
científicas relacionadas com a produção refere à produção de algodão. blica Federativa do Brasil, Rio de Janeiro,
de sementes de algodão. A divulgação do vazio sanitário do 28 maio 1934.
Produtores e técnicos devem estar algodão nos meios de comunicação, bem BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecu-
sempre atentos e comunicar qualquer como a distribuição de cartazes e folhetos, ária e Abastecimento. Decreto no 5.741, de
ocorrência da praga, assim como fazer o são aspectos relevantes na obtenção dos 30 de março de 2006. Regulamenta os arts.
resultados altamente positivos. Ressalta- 27-A, 28-A e 29-A da Lei no 8.171, de 17 de
controle recomendado e o monitoramento
janeiro de 1991, organiza o Sistema Unifica-
permanente das lavouras. se que a vigilância deve ser permanente,
do de Atenção à Sanidade Agropecuária, e
A relação entre as notificações emitidas na busca pelo envolvimento e compro-
dá outras providências. Diário Oficial [da]
e os termos de fiscalização é pequena, metimento de todos os segmentos e na República Federativa do Brasil, Brasília, 31
considerando-se que, das 250 fiscalizações, ampliação de ações educativas. mar. 2006.
apenas 22 propriedades foram notificadas a BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuá-
fazer a erradicação das plantas encontradas CONSIDERAÇÕES FINAIS ria e Abastecimento. Instrução Normativa
e não foi emitido nenhum Auto de Infração O vazio sanitário é uma estratégia no 2, de 29 de janeiro de 2007. Institui, o
(Gráfico 4). eficiente e uma medida consciente de Programa Nacional de Controle da Ferrugem
Desde que foi estabelecido o vazio Asiática da Soja (PNCFS) no Departamento
controle de pragas na agricultura. É uma
de Sanidade Vegetal (DSV), junto à Coorde-
sanitário do algodão em Minas Gerais, forma de manejo e controle que envolve
nação-Geral de Proteção de Plantas (CGPP).
tem sido experimentado um importante a participação e o compromisso de todos Diário Oficial [da] República Federativa do
comprometimento por parte dos segmentos os elos da cadeia produtiva. Além disso, Brasil, Brasília, 30 jan. 2007. Seção 1.
envolvidos no processo, principalmente é uma parceria que envolve cooperação e BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuá-
com relação à adequação das normas. O solidariedade. Ao ser praticado nos moldes ria e Abastecimento. Instrução Normativa
Poder Público tem exercido sua função, em que foi concebido, o vazio sanitário no 44, de 29 de julho de 2008. Institui o Pro-
enquanto os produtores rurais vêm cum- contribui para a sustentabilidade da agri- grama Nacional de Controle do Bicudo do
prindo o seu papel de aderirem ao vazio cultura, promove o desenvolvimento e gera Algodoeiro – PNCB, no Ministério da Agri-
sanitário. Assim, o balanço do vazio sani- riquezas para o País. cultura, Pecuária e Abastecimento, visando
à prevenção e ao controle dói bicudo Antho-
nomus grandis em cultivos de algodão nas
Unidades da Federação. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília, 30
250 jul. 2008. Seção 1.
EMBRAPA SOJA. Consórcio Antiferrugem.
200 [Londrina, 2013]. Disponível em: <http://
www.consorcioantiferrugem.net>. Acesso
em: abr. 2013.
150
IMA. Bicudo do algodoeiro. [Belo Horizon-
te, 2012 ]. Folder.
100
IMA. Ferrugem asiática da soja. [Belo Hori-
zonte, 2012 ]. Folder.
50
IMA. Portaria no 854, de 19 de junho de
2007. Estabelece procedimentos para o va-
0 zio sanitário da soja no estado de Minas Ge-
2010 2011 2012 Total rais. Minas Gerais, Belo Horizonte, 20 jun.
2007.
No de fiscalizações No de notificações IMA. Portaria no 1.019, de 13 de outubro de
2009. Estabelece procedimentos para o va-
Gráfico 4 - Fiscalizações e notificações realizadas pelo Instituto Mineiro de Agropecuária zio sanitário do algodão no estado de Minas
(IMA), em Minas Gerais, de 2010 a 2012, referentes ao vazio sanitário do Gerais. Minas Gerais, Belo Horizonte, 14
algodão out. 2009.
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MINAS GERAIS. Lei no 15.697, de 25 de ju- Minas Gerais, Belo Horizonte, 27 abr. 2007. 2009. Estabelece o vazio sanitário para o
lho de 2005. Dispõe sobre a defesa sanitária MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de controle do bicudo do algodoeiro. Minas
vegetal no Estado. Minas Gerais, Belo Ho- Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Gerais, Belo Horizonte, 1 out. 2009.
rizonte, 26 jul. 2005. Diário do Executivo, Resolução no 884, de 6 de junho de 2007. MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de
p.4. Altera a Resolução no 882 de 26 de abril de Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Re-
MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de 2007. Minas Gerais, Belo Horizonte, 7 jun. solução no 1.108, de 13 de abril de 2011. Al-
Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Reso- 2007. tera a Resolução no 1.021, de 30 de setembro
lução no 882, de 26 de abril de 2007. Estabe- MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de de 2009, que estabelece vazio sanitário para
lece vazio sanitário para o controle da ferru- Agricultura, Pecuária e Abastecimento. o controle do bicudo do algodoeiro. Minas
gem asiática da soja e da outras providências. Resolução no 1.021, de 30 de setembro de Gerais, Belo Horizonte, 14 abr. 2011.
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