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PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

COORDENAÇÃO LOCAL DO PROGRAMA DE INICIAÇÃO


CIENTÍFICA

RELATÓRIO

Anexo IV do Edital
08/2021

MODALIDADE:

CNPq () UNIOESTE (x ) FUNDAÇÃO ARAUCÁRIA ( ) PICV ( )

RELATÓRIO: PARCIAL () FINAL ( x )

Bolsista: Kevin Haiduk de Souza

Orientador/e-mail: Flavio Gurgacz/ flavio.gurgacz@unioeste.br

Título da proposta:
Avaliação da qualidade de sementes de soja em função do ajuste no mecanismo
de trilha de colhedora autopropelida

Introdução
A soja é a cultura mais importante do agronegócio mundial, ela está atrelada
ao setor econômico, social e ambiental, influenciando a vida de milhões de pessoas,
trazendo alimento e matéria-prima. Na safra 2019/2020 movimentou 28,7 bilhões de
dólares, produzindo 337 milhões de toneladas do grão em uma área plantada de 122
milhões de hectares (EMBRAPA, 2020).
O mercado brasileiro tem o agronegócio como um dos setores mais
importantes, ele representa 23,4% do PIB (produto interno bruto) brasileiro. Dentro
deste segmento, a soja destaca-se como o maior contribuidor, contendo o maior
valor bruto de produção dentre todos, a soja com mais R$ 140 bilhões em 2019.
Com todos estes atributos não se pode ignorar a grande importância da cultura para
o país. Além do valor econômico, os aspectos sociais e tecnológicos também são
importantes, na geração de empregos, movimentação de população e
desenvolvimento de novas tecnologias (CNA, 2019).

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Segundo a World Wildlife Found (2014), projeções indicam um aumento de
515 milhões de toneladas até 2050, outras projeções indicam um aumento de 2,2%
ao ano até 2030. O consumo de soja na China duplicou na última década e passou
de 26.7 milhões de toneladas em 2000 para 55 milhões de toneladas em 2009, das
quais 41 milhões de toneladas foram importadas. A projeção para as importações
chinesas indica um aumento de 59% até 2021-2022.
A exportação de soja em grão foi de 83,6 milhões de toneladas, 33,2 bilhões
em 2018, ou seja, 72% do total produzido no Brasil (CONAB, 2019). Juntamente à
exportação tem-se a importância da qualidade dos grãos. Países diferentes
possuem exigências diferentes quanto as características de qualidade de grãos e
sementes, como, umidade, MEI (matéria estranha e impureza) e percentual de grãos
quebrados.
De acordo com Mafini (2016), a qualidade dos grãos e sementes está também
atrelada ao lucro da produção, o qual deve ser sempre otimizado. As Perdas, são o
pior cenário dentro de uma colheita, seja por presença de sementes verdes, muito
úmidas (acima de 18%), e ainda, sementes quebradas. Estes são originados dos
danos mecânicos das colheitas mecanizadas, devido aos sistemas da colhedora
(ruins, não regulados ou mal utilizados).
Quando os danos mecânicos atingem percentuais acima de 8%, reduzem o
vigor da semente e resultam em prejuízo ao produtor, que deixa de comercializar o
lote como semente, desvalorizando o seu produto (Costa & Mesquita, 2005).
Os sistemas de uma colhedora são constituídos por corte, alimentação, trilha,
separação e limpeza. Quando uma máquina realiza todas essas operações é
chamada de autopropelida. O sistema de corte fica contido na plataforma, que
possui os elementos: separadores, molinete, barra de corte e condutor helicoidal. A
alimentação leva o material cortado através de uma esteira transportadora até o
mecanismo de trilha (Balastreire, 1987).
Em um sistema de trilha radial, ele é composto pelo cilindro de barras e o
côncavo (figura 1).

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Figura 1 – Exemplificação de sistema de fluxo radial
Fonte: The Grain Harvesters (1978). Adaptado pelo autor (2020).

No cilindro existem cinco ou seis flanges sobre as quais são rebitadas as


barras, constituídas em aço com ranhuras, além disso, sua velocidade de rotação é
variável. No côncavo dispõem barras que permitem os grãos trilhados de passar
para as peneiras, sua abertura é regulável. A vagem é espremida através deste
conjunto forçando as sementes a separar-se (Balastreire, 1987).
A separação se faz na grelha formada pelas barras do côncavo, na grelha
sob o cilindro e no saca-palhas. Abaixo da separação encontra-se o mecanismo de
limpeza, que tira resíduos misturados com os grãos, o processo é realizado através
de peneiras vibratórias e um ventilador (Balastreire, 1987).
O sistema de trilha pode provocar quebra de pequenos fragmentos nos grãos
e que, muitas vezes, esses danos são imperceptíveis nos restos culturais, ou até em
medições de campo. A quebra de grãos representa de 1,7 a 14,5% das perdas
(Mesquita et al., 2002).
O cilindro de trilha pode ocasionar danos por excesso ou falta de rotação. A
folga no côncavo também resulta em perdas caso não for apropriada. Se o cilindro
estiver com rotação excessiva, aumenta a quebra de grãos e sobrecarrega as
peneiras com partículas pequenas. E se for insuficiente aumenta a quantidade de
grãos perdidos junto a palha pelo fato de não serem trilhados (Balastreire, 1987).

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Diante disso, a análise das condições dos grãos de soja de acordo com a
alteração dos mecanismos de trilha da colhedora é importante para otimizar o
funcionamento da colhedora e obter mais eficiência, aumentando a produtividade,
diminuindo as perdas, melhorando a qualidade das sementes, buscando o
desenvolvimento de novas tecnologias e incentivando o aperfeiçoamento das que já
existem.

Objetivos
Avaliar a qualidade de sementes de soja colhidas com uma colhedora
autopropelida de sistema radial em função da alteração de rotação do cilindro e
abertura do côncavo, através de análise de danos mecânicos em sementes colhidas.

Material E Métodos
O experimento foi realizado em uma propriedade agrícola localizada no
município de Cascavel–PR, utilizando a colhedora modelo TC5070 ano 2009 da
marca New Holland, equipada com sistema de trilha radial e um motor de 180cv.
O método que se configura este experimento consiste em avaliar parâmetros
que são fundamentais para a colher sementes com qualidade. Para isso, o processo
consiste em apanhar 20 amostras na colhedora fazendo-se diferentes regulagens de
cilindro e côncavo. E mais 4 amostras de testemunha, da qual foram arrancadas
plantas inteiras da lavoura.
Foram utilizadas variações de regulagens do sistema de trilha da máquina, no
caso, duas rotações do cilindro (720 e 820 rpm) e duas aberturas do côncavo
(posição 3 e 4 da alavanca), durante a colheita de sementes de soja. A colhedora foi
submetida velocidade de deslocamento padronizada de acordo com o desempenho
dos sistemas de trilha e separação, 4,5km/h.
A coleta das amostras foi realizada dentro do tanque graneleiro da colhedora,
antes da passagem das sementes pelo sistema de descarga. E para facilitar e
agilizar o processo, dispomos de uma ferramenta previamente fabricada (figura 2).

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Figura 2 – Amostrador

Foram coletadas as amostras de testemunha no campo, retirando plantas


inteiras do solo e colocando-as em Pacotes. Esta etapa foi realizada antes da
passagem da colhedora como referência da qualidade das sementes, para ter
controle sobre as condições reais das sementes, antes que fossem processadas
pelo maquinário (figura 3).

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Figura 3 – Amostragem de controle

Iniciou-se a coleta de dentro do maquinário. A Cada tratamento, foi aferido as


condições de umidade, temperatura e velocidade do vento. As 20 parcelas,
coletadas aproximadamente a cada 30 segundos sob as mesmas condições de
declividade (figura 4).

Figura 4 - Amostragem

O controle do experimento foi efetuado através de uma planilha de campo, na


qual as amostras foram organizadas por tratamento. As amostras foram enumeradas

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e levadas ao laboratório. Realizado então a debulha do material de controle
(testemunhas) manualmente (figura 5).

Figura 5 – Debulha do material de controle

O material foi acondicionado em sacos de papel e levado ao laboratório para


limpeza e separação das sementes.
Foram realizados três testes para obter-se parâmetros de qualidade das
sementes, o teste de danos mecânicos latentes, teste de germinação e vigor. As
avaliações dos danos mecânicos foram realizadas no Laboratório de Mecanização

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Agrícola (LAMA) da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), com o
auxílio do Kit medidor de sementes partidas de soja desenvolvido pela Embrapa.
As avaliações iniciaram-se depositando o conteúdo (sementes) sobre as
peneiras disponibilizadas pelo kit com orifícios de 4,5 mm e 4,0 mm x 22 mm, após
peneirados, foi realizada a pesagem das sementes retidas na bandeja de fundo
“bandinhas”. Em seguida, feito a pesagem de todo o restante tornando possível
determinar o percentual de dano mecânico de cada amostra.
As amostras foram encaminhadas para a equipe da Embrapa Soja em
Londrina-PR, onde foram feitos os testes de vigor e porcentagem de germinação, de
acordo com a RAS (Regra para Análise de Sementes) (2009).

A quantificação dos dados foi feita pelo delineamento experimental, em blocos


casualizados em esquema fatorial onde o fator principal foi rotação do cilindro ou
rotor (720 e 820 rpm) e o fator secundário a abertura (folga) entre o côncavo e as
barras de trilha do cilindro ou rotor (posição 3 e 4 da alavanca), resultando em 4
tratamentos com 5 repetições, totalizando 20 parcelas. Os dados foram submetidos
a análise de variância com nível de significância de 95%.

Resultados E Discussão
A partir dos dados obtidos no resumo da análise de variância apresentados na
Tabela 1, foi possível constatar que nos dados de danos mecânicos houve interação
entre os fatores rotação e abertura de côncavo.

Tabela 1 - Resumo da análise de variância para danos mecânicos


QM
Fonte variação GL Danos mecânicos

Rotação 1 2.436ns
Abertura côncavo 1 0.714ns
Rotação x Abertura 1 46.695*
erro 16 2.633
Média Geral 11,256 11,256
CV% = 14,42
*= significativo a 5% e ns = não significativo

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Os resultados para os testes de comparação de médias de percentual de
danos mecânicos para as rotações 720 rpm e 820 rpm em função das aberturas de
côncavo (posição P3 e P4 da máquina) encontram-se na tabela 2.
Os resultados mostram que houve diferença estatística significativa entre as
posições P3 e P4 para a rotação de 720 rpm, mas não aconteceu a mesma coisa
para a rotação de 820 rpm. Entretanto, olhando para aberturas, só houve influência
significativa da rotação na abertura P4, na qual houve um menor percentual de
quebra na rotação de 820 rpm, com 9,56% de sementes danificadas.
Numericamente é possível observar que as combinações de rotação e
abertura que geraram menos danos às sementes foram P3 com 720rpm e P4 com
820rpm, contudo, não é possível dizer que houve diferença estatística entre essas
combinações.

Tabela 2 - Teste de médias das porcentagens de danos mecânicos em função da rotação


do cilindro
____________________________________________________________
Abertura Rotação
720rpm 820rpm
P3 9,88Aa 12,24Aa
P4 13,32Ba 9,56Ab

Letras maiúsculas iguais na mesma coluna não diferem entre si. Letras minúsculas iguais na mesma
linha não diferem entre sí. Médias seguidas por letras distintas diferem entre si pelo teste de Tukey a
5% de probabilidade.

Segundo o trabalho Salzer et al (2018) foi verificado que a regulagem do


sistema de trilha da colhedora ocasiona diferentes percentuais de danos mecânicos
de acordo com cada regulagem. Ele observou que houve um menor índice de
quebra na rotação mais alta que ele testou (1150 rpm), com a menor abertura
(Posição 3 da alavanca), foram 4% de danos mecânicos. Enquanto no presente
trabalho, temos duas combinações que geraram praticamente o mesmo percentual
de quebra.

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Para os testes de vigor e germinação também foram realizadas análises de
variância, encontram-se nas tabelas 3 e 4. Podemos observar que para estes testes
não houve influência da rotação do rotor e abertura do côncavo nas variáveis.

Tabela 3 - Resumo da análise de variância para vigor


QM
Fonte variação GL Vigor

Rotação 1 9,80ns
Abertura côncavo 1 28,80ns
Rotação x Abertura 1 3,20ns
erro 16 9,27
Média Geral 87,3
CV% = 3,49

*= significativo a 5% e ns = não significativo

Tabela 4 - Resumo da análise de variância para germinação


QM
Fonte variação GL Germinação

Rotação 1 0.8ns
Abertura côncavo 1 0,00E+000ns
Rotação x Abertura 1 0,00E+000ns
erro 16 6,37
Média Geral 90,60
CV% = 2,79

*= significativo a 5% e ns = não significativo

Mesmo que não houve diferença estatística entre a as regulagens na


germinação e vigor, os valores médios totais estão dentro dos limites aceitáveis para
a cultura da soja, pois a exigência mínima é de 80% de germinação e 80% de vigor
(BRASIL, 2013). Entretanto, não são valores desejáveis para um boa produção de

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sementes. Isso mostra a necessidade de um bom ajuste da colhedora, não somente
em um mecanismo isolado, mas sim em todos os processos executados pelas
máquinas de colheita.

Conclusões
A alteração das regulagens entre abertura de côncavo e rotação do cilindro
não influenciou na germinação e no vigor das sementes. E a regulagem que resultou
no menor percentual de sementes quebradas foram as combinações de 720 rpm
com abertura P3, e 820 rpm com abertura P4.

Referências

Balastreire, L.A. (1987). Máquinas agrícolas. São Paulo: Manole.

BRASIL. (2009). Regras para Análise de Sementes. Brasília. Secretaria de Defesa


Agropecuária.

CNA. Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (2019). Panorama do


agronegócio. https://www.cnabrasil.org.br/cna/panorama-do-agro. Acesso em 04 de
março de 2021.

CONAB. Companhia Nacional de Abastecimento (2019). Acompanhamento de safra


brasileira de grãos, v7 – Safra 2019/20, n6 - sexto levantamento.
https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/graos/boletim-da-safra-de-graos. Acesso
em 04 de março de 2021.

Costa, N.P.; Mesquita, C.M.; França Neto, J.P.; Maurina, A.C.; Krzyzanowsk, F.C.;
Oliveira, M.C.N.; Henning, A.A. (2005). Validação do zoneamento ecológico do
estado do Paraná para a produção de sementes de soja. Revista Brasileira de
Sementes, Brasília, v. 27, p.37-44.

EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (2020). Soja Em Números


(Safra 2019/2020). <http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/handle/doc/460350>
Acesso em 12 de março de 2021.

Mafini H. (2016). Danos mecânicos em sementes de soja causados por diferentes


mecanismos de colheita. Trabalho de conclusão de curso, Universidade Regional do
Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

Mesquita, C. M. et al. Perfil da colheita mecânica de soja no Brasil: safra 1998/1999.


(2002). https://www.bdpa.cnptia.embrapa.br/consulta/busca?
b=pc&id=459489&biblioteca=vazio&busca=autoria:%22A.%22&qFacets=autoria:
%22A.%22&sort=&paginacao=t&paginaAtual=5850. Acesso em 05 de março de
2021.

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Salzer, L. Frank, C.J. Segatto, G.R. Schneiders, M. Tatsch, M. Schwinn, F.A. Ernsen,
J.C. Schneider, R. (2018). Análise dos danos mecânicos gerados pela utilização da
colheita mecanizada nas sementes de soja. https://maissoja.com.br/danos-
mecanicos-em-sementes-de-soja-na-colheita-mecanizada/. Acesso em 25 de agosto
de 2021.

WWF. (World Wildlife Found) (2014). The growth of Soy: Impacts and Solutions.
https://www.wwf.org.br/informacoes/bliblioteca/agricultura_e_meio_ambiente/?
uNewsID=38422. Acesso em 04 de março de 2021.

PARECER DO ORIENTADOR QUANTO AO DESEMPENHO DO BOLSISTA NO


PROJETO.
( ) favorável ( ) desfavorável

O discente tem desenvolvido as atividades conforme o proposto no cronograma de


atividades. Tem mostrado excelente desempenho nas atividades.

Data: 30/03/2021
Assinaturas

Bolsista Orientador
Kevin Haiduk de Souza Flavio Gurgacz

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