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Produção de Sementes de Arroz de Sequeiro no Norte de Tocantins

QUALIDADE DE SEMENTES DE ARROZ DE SEQUEIRO


UTILIZADO NA AGRICULTURA FAMILIAR
EM ARAGUATINS - TO

Márcio Rogério Pereira Leite 1


Géri Eduardo Meneghello ²
Andréa Bicca Noguez Martins 3
Raimundo Laerton Leite 4

O arroz (Oryza sativa L.), é consumido em todos os


continentes, tendo uma grande importância econômica e social,
pelo fato de ser uma das principais fontes de alimento e renda da
agricultura familiar. Constitui-se na principal cultura desenvolvida
pela agricultura familiar no extremo norte do Tocantins (SILVA et
al, 2004). Representa importante fonte nutritiva para grande parte
da população mundial, fornece a base para a segurança
alimentar, gera empregos e renda para os países produtores
(SOARES et al., 2010).
Esta cultura é uma das principais espécies cultivadas no
mundo, caracterizando-se por ser uma importante fonte de
calorias, proteínas, minerais e fibras (FEN et al., 2015). Além da
palha e casca (subproduto do beneficiamento), que podem ser
utilizados para a produção de energia e do farelo de arroz
largamente utilizado para a produção de ração animal (AKINBILE
et al., 2011), tanto para produtores extensivos e familiares.
O setor agropecuário familiar é lembrado por sua
importância na absorção de emprego e na produção de
alimentos, especialmente voltada para o autoconsumo, ou seja,
focaliza-se mais as funções de caráter social do que as
econômicas, tendo em vista sua incorporação tecnológica e
menor produtividade. Portanto, é necessário destacar que a
produção familiar, além de fator redutor do êxodo rural e fonte de
recursos para as famílias com baixa renda, também coopera
expressivamente para a geração de riqueza, considerando a

¹Eng. Agr., Mestre Profissional em C&T de Sementes, PPG em C&T de


Sementes, D.Ft./FAEM/UFPel.
²Eng. Agr., Dr. Professor do PPG em C&T de Sementes, D.Ft./FAEM/UFPel.
E-mail gmeneghello@gmail.com
³Eng. Agr., Doutoranda do PPG em C&T de Sementes, D.Ft./FAEM/UFPel.
4
Prof do Instituto Federal de Tocantins. Campus Araguatins. Araguatins/TO

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economia não só do setor agropecuário, mas do próprio país


(GUILHOTO et al, 2006).
A agricultura familiar diversifica o cultivo dos produtos,
visando aumentar a renda e aproveitar as oportunidades de
oferta ambiental e de mão-de-obra. Entretanto, o maior desafio é
adaptar e organizar seu sistema de produção a partir das
tecnologias disponíveis (PORTUGAL, 2002; BATALHA et al.,
2005), visando maximizar a produtividade das culturas.
Muitos agricultores utilizam todos os recursos fitotécnicos
disponíveis para a melhoria deste rendimento, como o controle
de plantas daninhas, a densidade de plantas adequada para a
consorciação e cultivares com baixo valor de semente (CRUZ et
al., 2006).
Uma característica desta agricultura é a utilização de parte
da colheita do ano, para a semeadura da próxima safra. A
produção de sementes para uso próprio com qualidade superior é
difícil, pois não dispõem de mão-de-obra, tecnologia e área
reservada para tal finalidade (SOBRAL et al., 2009).

Figura 1. Preparação de feixes para serem batidos e debulha


manual. Este sistema de colheita e debulha é tradicionalmente
utilizados por agricultores familiares do norte do Tocantins.

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A seleção das sementes de arroz a serem utilizadas para a


semeadura da próxima safra, pelos agricultores do Norte de
Tocantins, leva em conta a seleção de uma fração do material
debulhado que fica sob a bancada e o restante que dispersa
mais distante da mesma, é utilizado para consumo como grão,
seja para subsistência ou para a venda. A hipótese utilizada
pelos agricultores é que as sementes que permanecem sob a
bancada são mais pesadas, logo, possuem mais qualidades do
que aquelas que no processo de debulha saltam para longe,
supostamente por serem mais leves.
A colheita se dá com o corte na parte mediana da planta
que é então empilhada nas entrelinhas e a debulha acontece
juntando feixes da parte da planta que é então batida contra uma
bancada erguida sobre uma lona. No entanto, a ocorrência de
condições ambientais adversas reduzem a absorção de
nutrientes, a produtividade (SANTOS et al, 2008); o número de
espiguetas granadas por panícula (CRUSCIOL et al., 2006) e
aumenta o número de espiguetas chochas por panícula
(RODRIGUES et al., 2004), o que pode ser considerado para
elucidar a hipótese dos agricultores.
Outro fator importante a ser levado em consideração na
produção de sementes de alta qualidade é o momento da
colheita. À partir da maturação fisiológica as sementes estão
praticamente armazenadas no campo, sujeita a condições que
geralmente são desfavoráveis, como alta umidade e temperatura,
ataque de microorganismos, insetos e pássaros (ZIMMER, 2012).
A colheita manual evita danos mecânicos e misturas varietais,
melhorando a qualidade física das sementes. Contudo, o início
da colheita deve ser realizado quando as sementes começarem a
debulhar com facilidade (PESKE et al., 2012), o que vai interferir
na melhoria das etapas subsequentes do beneficiamento.
Durante o beneficiamento das sementes, os materiais
indesejáveis são removidos a fim de facilitar a semeadura, a
secagem e o armazenamento. As sementes devem ser
armazenadas desde sua colheita até a época de semeadura na
temporada seguinte. Deve-se considerar as condições de
armazenamento fornecidas às sementes durante esta etapa
(PESKE et al., 2012), pois irão refletir na qualidade das sementes
para a próxima semeadura.

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A qualidade fisiológica das sementes de arroz de sequeiro


é atribuída a uma série de fatores durante a fase de maturação,
devido principalmente às condições ambientais reduzirem a
massa das sementes (CRUSCIOL et al. 2006, 2012;
RODRIGUES et al., 2004).
A utilização de sementes com alto potencial fisiológico é
um aspecto importante que deve ser considerado para o
aumento da produtividade e, por isso, o controle de qualidade de
sementes tende ser cada vez mais eficiente, incluindo testes que
avaliem rapidamente este aspecto permitindo a diferenciação
precisa entre lotes de sementes (FESSEL et al., 2010).
A avaliação do potencial fisiológico de sementes é o
principal componente de um programa de controle de qualidade,
visto que fornece informações para a identificação e solução de
problemas durante o processo produtivo, além de estimar a
performance das sementes em campo (MARTINS et al., 2014).
Os principais atributos de qualidade das sementes são
físicos, sanitários, genéticos e fisiológicos. Sendo interligados e
dependentes entre si, considerando o peso volumétrico da
semente, grau de umidade, o dano mecânico, presença de
patógenos e contaminações da mesma forma a genética de uma
cultivar, potencial de produtividade, resistência a pragas e
doenças, metabolismo da semente, potencial de germinação e
emergência. São fatores que causam aumento ou redução do
vigor e que favorecem ou comprometem seriamente a qualidade
das sementes (PESKE et al. 2012).
Para o adequado estabelecimento de uma lavoura, o vigor
das sementes permite a obtenção de um adequado estande de
plantas sob condições de campo, favoráveis e desfavoráveis
(TILLMANN e MENEZES, 2012). Sendo assim, este estudo
objetivou comparar a qualidade fisiológica, ao longo do
armazenamento, de dois tipos de sementes de arroz de sequeiro
separadas durante a debulha, pelos agricultores familiares de
Araguatins - TO.
Foram utilizadas sementes de arroz de sequeiro, cultivar
Agulhinha. Os tratamentos constituíram-se de sementes obtidas
sob a bancada de debulha denominada Semente Tipo 1 e
sementes que durante o processo de debulha saltaram para
longe da bancada (mais de um metro), chamadas de Semente
Tipo 2. Este material foi armazenamento em condições
ambientais em Araguatins – TO, por 190 dias após a colheita

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(DAC), sendo as avaliações realizadas a cada 30 dias.


Constituindo-se portanto em um ensaio bifatorial, sendo duas
formas de obtenção de sementes (Sementes tipo 1 e tipo 2)
combinando-se com épocas de avaliação (40, 70, 100, 130, 160
e 190 dias após a colheita), totalizando 12 tratamentos
experimentais, com quatro repetições.
As sementes foram produzidas na safra 2013/2014, sob
sistema de plantio convencional com duas gradagens com
intervalo de aproximadamente 30 dias e consequentemente o
emprego de semeadora manual (Matraca) com espaçamento de
0,5x0,5m, sem calagem, adubação e controles com defensivo
agrícolas. A colheita foi realizada cortando se a parte mediana da
planta que após o corte foi empilhada nas entrelinhas da cultura
para posteriormente ser juntada e levada para debulha, que por
sua vez foram divididos em feixes menores para serem
debulhados. Para este procedimento foi armada em campo uma
estrutura constituída de uma bancada de madeira, onde, sob a
mesma foi forrado uma lona plástica que serviu para aparar o
arroz debulhado ao ser batido contra a bancada.
As amostras para os testes foram retiradas mensalmente,
sendo assim alguns cuidados foram tomados, tais como:
agitação do saco para homogeneizar a massa de sementes;
como o saco era maior que 40 cm, houve o cuidado de dividi-lo
em partes iguais e dos mesmos retiradas sub amostras em
diferentes profundidades para formar uma só, segundo as
Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 2009).
O teste de germinação (G) foi realizado em quatro
amostras de quatro sub amostras de 50 sementes, dispostas
para germinar em rolos formados por três folhas de papel
germitest, umedecidas com água destilada na quantidade 2,5
vezes a massa seca do papel seco. Os rolos foram transferidos
para germinador regulado a 25 ºC, onde permaneceram até a
realização das avaliações realizadas aos 5 e 14 dias. Os
resultados foram expressos em porcentagem de plântulas
normais, conforme as Regras para Análise de Sementes
(BRASIL, 2009).
A primeira contagem de germinação (PCG) foi conduzida
conjuntamente ao teste de germinação, aos 5 dias após a
semeadura, conforme as Regras para Análise de Sementes. Os
resultados foram expressos em porcentagem de plântulas
normais.

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Na emergência (E) em campo e laboratório, utilizaram-se


400 sementes por tratamento, distribuídas em quatro amostras
de 100 sementes semeadas em bandejas de polietileno,
distribuídas com 20 sementes por linha. A primeira contagem se
deu sempre no 6° dia após a semeadura e com contagens diárias
para que fossem determinados: Índice de velocidade de
emergência - IVE e a contagem final no 14° dia contendo como
substrato areia.
A temperatura da sala onde foi realizado o teste era
climatizada por ar condicionado de 9000 BTU fixado em 25°C. No
campo, a condução ocorreu em dois canteiros ao céu aberto com
2 x 1 x 0,20 m contendo 400 sementes também constituído e 4
repetições durante seis épocas.
Cada canteiro correspondeu a um tratamento, composto
de 4 linhas semeadas com 100 sementes, sendo que, a primeira
contagem se deu no dia que ocorreu a emergência da primeira
plântula, seguido de contagens diárias para as determinações
adicionais. A avaliação foi realizada até o vigésimo primeiro dia
após a semeadura e os resultados expressos em porcentagem
de plântulas.
O índice de velocidade de emergência (IVE) em campo e
laboratório foi obtido à partir de contagens diárias das plântulas
emergidas. As contagens foram realizadas até a obtenção do
número constante de plântulas emergidas. O IVE foi calculado de
acordo com Vieira e Carvalho (1994). A massa de 1000
sementes (M1000), foi determinada com oito repetições de 100
sementes (BRASIL, 2009).
Os dados foram expressos em percentagem foram
previamente transformados em arcsen (raiz(x√100)). Para os
demais, considerou-se os dados originais, que foram submetidos
a análise de variância. Havendo efeito significativo para a
interação entre os fatores, realizaram-se os respectivos
desdobramentos, sendo as médias do fator qualitativo Tipo de
Semente, comparadas pelo teste de Tukey em nível de
probabilidade de 5%. Para o fator quantitativo, Tempo de
Armazenamento, realizou-se regressão polinomial. Nos casos em
que não houve significância da interação avaliaram-se apenas os
efeitos principais utilizando o procedimento anteriormente
descrito.
Sementes de arroz de sequeiro obtidas sob a bancada de
debulha (Tipo 1), não apresentaram porcentagem de emergência

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diferente das sementes que foram obtidas durante o processo de


debulha que saltaram mais de um metro da bancada (Tipo 2) em
todas as épocas de armazenamento (Tabela 1). A similar
emergência das plântulas nos tratamentos Tipo 1 e Tipo 2 pode
ser atribuída às condições ambientais similares durante o período
de desenvolvimento das sementes, fato que não afetou a
deposição de reservas.
A manutenção do poder germinativo e do vigor das
sementes é uma das principais preocupações dos produtores
familiares, sendo atribuída a colheita, ao beneficiamento e ao
armazenamento os principais fatores que podem comprometer a
qualidade das sementes e a semeadura na próxima safra
(QUEIROGA et al., 2011). Resultados similares foram
observados por Barros (2007), para sementes de arroz
armazenadas em três diferentes embalagens.

Tabela 1 - Emergência em campo de plântulas de arroz de


sequeiro Tipo 1 e 2 ao longo do tempo de armazenamento das
sementes, Pelotas, UFPel, 2015
Dias após a colheita
40 70 100 130 160 190
Tipo 1 89 88 90 98 94 98
Tipo 2 94 92 89 99 90 98
CV (%) 5,5

A emergência das plântulas não foi alterada ao longo do


tempo de armazenamento no tratamento Tipo 2 (Figura 2). No
entanto, o Tipo 1 apresentou tendência linear de aumento da
emergência, com elevado coeficiente de determinação,
apresentando ponto de máxima aos 190 dias após a colheita
(DAC).
Os menores valores de emergência aos 40 DAC podem
estar relacionados a dormência pós-colheita que as sementes de
arroz apresentam (FONSECA et al., 2007), sendo a intensidade
da dormência dependente do genótipo, das condições ambientais
durante a maturação e do armazenamento das sementes
(MENEZES et al., 2013). Resultados similares foram encontrados
por Pereira et al. (2012), ao avaliarem a emergência de arroz

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após o beneficiamento das sementes, como observado no Tipo


2.

Figura 2 - Emergência em campo de plântulas de arroz de


sequeiro Tipo 1 e 2 ao longo do tempo de armazenamento das
sementes.
Sendo Tipo 1 ( ) e 2 ( ).

O índice de velocidade de emergência não apresentou


diferenças em sementes do Tipo 1 e 2 em todas as épocas de
armazenamento avaliadas (Tabela 2). O índice de velocidade de
emergência permite deduzir que sementes submetidas a
diferentes processos podem apresentar número de plântulas
emergidas por dia diferentes comparativamente àqueles sob
outras formas de beneficiamento. Além disso, demonstram que a
expressão do vigor de sementes beneficiadas é favorecida,
possivelmente, por avaliar as sementes que apresentam maior
deposição de reservas (ZIMMER, 2012).
Foi possível ajustar o índice de velocidade de emergência
à tendência quadrática, atingindo o mínimo aos 139 e 124 DAC
para o Tipo 1 e 2, respectivamente (Figura 3). Houve redução do
índice de velocidade de emergência com o aumento do tempo de
armazenamento, sendo maior no tratamento Tipo 1
comparativamente ao 2.

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Produção de Sementes de Arroz de Sequeiro no Norte de Tocantins

Tabela 2 - Índice de velocidade emergência em campo de


plântulas de arroz de sequeiro Tipo 1 e 2 ao longo do tempo de
armazenamento das sementes. Pelotas, UFPel, 2015
Dias após a colheita
40 70 100 130 160 190
Tipo 1 16,81 10,87 10,71 14,10 8,47 13,36
Tipo 2 17,54 10,31 9,44 13,82 6,84 13,11
CV (%) 8,6

O vigor das sementes é fundamental para a obtenção de


plantas com elevadas taxas de crescimento inicial, refletindo no
rendimento final (KOLCHINSKI et al., 2006). No entanto, alguns
fatores como o retardamento da colheita, as condições
ambientais, ataque de pragas, secagem, beneficiamento e o
armazenamento podem causar danos irrecuperáveis a qualidade
fisiológica das sementes (SANTOS e BIAVA, 2004).

Figura 3 - Índice de velocidade emergência a campo em


plântulas de arroz de sequeiro Tipo 1 e 2 ao longo do tempo de
armazenamento das sementes.
Sendo Tipo 1 ( ) e 2 ( ).

A emergência de plântulas em laboratório não apresentou


diferenças entre os tratamentos Tipo 1 e 2, a exceção daquelas
dos 40, 100 e 130 dias após a colheita, onde o Tipo 2 que atingiu

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maior emergência de plântulas, comparativamente ao Tipo 1


(Tabela 3). A uniformidade de emergência de plântulas, segundo
Marcos Filho et al. (2009), é importante atributo para o rápido
estabelecimento do estande de plantas e representa etapa
essencial para a obtenção de alta produtividade das culturas.
A qualidade fisiológica de sementes de arroz é dependente
de vários fatores como o estádio de maturação, danos, pós-
colheita e durante o armazenamento (SMIDERLE e DIAS, 2011),
indicando assim que os tratamentos (Tipo 1 e 2) e o
armazenamento das sementes não afetaram drasticamente a
emergência de plântulas. Conforme observado por Saravia et al.
(2007) em sementes de arroz.

Tabela 3 - Emergência em laboratório de plântulas de arroz de


sequeiro Tipo 1 e 2 ao longo do tempo de armazenamento das
sementes, Pelotas, UFPel, 2015
Dias após a colheita
40 70 100 130 160 190
1
Tipo 1 75B 68A 75B 68B 97A 86A
Tipo 2 85A 85A 85A 85A 98A 95A
CV (%) 8,6
1
Valores com a mesma letra na coluna não diferem
significativamente entre si pelo teste de Tukey (p ≤ 5%).

O aumento do tempo de armazenamento incrementou


significativamente a emergência de plântulas (Figura 4). O
tratamento Tipo 2 apresentou maior emergência de plântulas ao
longo do tempo de armazenamento das sementes, em
comparação ao Tipo 1. Os menores valores de emergência
apresentados por plântulas do Tipo 1 permitem evidenciar que
houve maior tempo necessário para a reorganização do aparato
estrutural e metabólico envolvido nos processos de hidrólise e
biossíntese de compostos destinados à retomada do crescimento
do embrião, conforme evidencia Zimmer (2012).
Estes resultados do Tipo 2, podem ser em decorrência das
condições de armazenamento e da superação da dormência
(VIEIRA et al., 2002), ocasionando manutenção ou neste caso
aumentando a emergência de plântulas.

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Figura 4 - Emergência em laboratório de plântulas de arroz de


sequeiro Tipo 1 e 2 ao longo do tempo de armazenamento das
sementes.
Sendo Tipo 1 ( ) e 2 ( ).

Não houve diferença entre os valores do índice de


velocidade de emergência ao comparar os tratamentos com o
tempo de armazenamento das sementes (Tabela 4). Além disso,
o vigor das sementes pode ser atribuído ao maior conteúdo de
compostos de reserva em relação àquelas de menor vigor
(HENNING et al., 2010). Estes resultados podem estar
relacionados à maturação das sementes no momento da colheita
(SMIDERLE e DIAS, 2011) ocasionando redução de qualidade
no armazenamento (SMIDERLE et al., 2008). Estando de acordo
com Queiroga et al. (2011) ao relatarem que a colheita de
sementes de arroz é realizada quando as panículas atingem 2/3
com sementes maduras, com umidade entre 20 e 24%. O que
influencia a viabilidade e o vigor das sementes de arroz para fins
de semeadura.

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Produção Técnico - Científica em Sementes-Volume I

Tabela 4- Índice de velocidade emergência em laboratório de


plântulas de arroz de sequeiro Tipo 1 e 2 ao longo do tempo de
armazenamento das sementes. Pelotas, UFPel, 2015
Dias após a colheita
40 70 100 130 160 190
Tipo 1 14,60 13,04 14,79 16,38 13,30 12,32
Tipo 2 14,45 13,50 14,97 15,64 13,74 13,62
CV (%) 6,8

O índice de velocidade de emergência apresentou


tendência à redução com o aumento do tempo de
armazenamento das sementes, resultando nos pontos de
máxima de 111 e 100 DAC para os tratamentos Tipo 1 e 2,
respectivamente (Figura 5). Resultados mais severos impostos
pelo tempo de armazenamento sobre este atributo foram
observados no Tipo 1.
A germinação das sementes aos 40 DAC, no início do
período de armazenamento, não apresentou diferenças
significativas entre os tratamentos. Entretanto, aos 190 DAC, a
germinação das sementes do Tipo 2 foram maiores do que as do
Tipo 1 (Tabela 5). Assim, a diferenças entre os tratamentos e os
ano de avaliação podem estar relacionados a qualidade das
sementes produzidas e aos tratos culturais bem executados, que
proporcionam sementes de melhor qualidade fisiológica (SILVA
et al., 2010b).
A primeira contagem de germinação evidenciou que o
vigor das sementes dos Tipos 1 e 2 é variável, sendo dependente
do armazenamento das sementes entre os anos (Tabela 5),
conforme também observado com a germinação. Sementes do
Tipo 2 apresentaram maior primeira contagem de germinação
aos 190 DAC comparativamente ao 1. Desse modo, a avaliação
da primeira contagem de germinação, possibilita determinar o
vigor de sementes das mais variadas espécies (VANZOLINI et
al., 2007).

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Produção de Sementes de Arroz de Sequeiro no Norte de Tocantins

Figura 5 - Índice de velocidade emergência em laboratório de


plântulas de arroz de sequeiro Tipo 1 e 2 ao longo do tempo de
armazenamento das sementes.
Sendo Tipo 1 ( ) e 2 ( ).

A massa de mil sementes foi afetada significativamente


pelos tratamentos em 2014, observa-se que o Tipo 2 alocou
maior quantidade de reservas nas sementes comparativamente
ao 1 (Tabela 5). Entretanto, a massa de mil sementes não foi
afetada significativamente entre os tratamentos aos 190 DAC.
Resultados similares foram obtidos por Smiderle e Dias (2011),
para a massa de 100 sementes de arroz, obtendo valor máximo
de 2,64 g.

Tabela 5 - Germinação (G), primeira contagem da germinação


(PCG) e massa 1000 sementes de arroz de sequeiro do Tipo 1 e
2 ao longo do tempo de armazenamento das sementes. Pelotas,
UFPel, 2015
40 DAC 190 DAC
PCG PCG
G (%) M1000 G (%) M1000
(%) (%)
1
Tipo 1 89A 60A 26,54B 77B 72B 26,40A
Tipo 2 87A 61A 27,04A 88A 85A 25,95A
CV (%) 3,92 17,13 1,01 4,52 6,20 2,75
1
Valores com a mesma letra na coluna não diferem
significativamente entre si pelo teste de Tukey (p ≤ 5%).

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Produção Técnico - Científica em Sementes-Volume I

De maneira geral, os tratamentos Tipo 1 e 2 não


apresentaram redução da qualidade fisiológica de sementes e no
desempenho de plântulas de arroz de sequeiro ao longo do
tempo de armazenamento das sementes. No entanto, a redução
do índice de velocidade de emergência (Figuras 2 e 4) podem
estar associadas a hidrólise de substâncias de reserva, bem
como a reorganização do sistema de membranas celulares,
afetando a produção de energia química (MALONE et al., 2007).
Aliada a formas de armazenamento e ao tipo de embalagem
utilizada (SILVA et al., 2010a).
O maior vigor das sementes apresentado no tratamento
Tipo 2 (Tabela 3) e (Figuras 3 e 4) relacionam-se com os maiores
valores da massa de mil sementes aos 40 DAC e com a maior
germinação e primeira contagem aos 190 DAC,
comparativamente ao 1. Esta variação entre os tratamentos
podem ser decorrência do estádio de maturação que influencia a
viabilidade e o vigor das sementes de arroz (SMIDERLE e DIAS,
2011). Aliado, a massa das sementes pode influenciar
positivamente a emergência de arroz (SMIDERLE et al., 1997), o
qual tem sido observado para outras espécies (SMITH et al.,
1973).
Sementes de arroz de sequeiro do tipo 1 e tipo 2 são
similares quanto ao desempenho fisiológico, não sendo
influenciados pelas condições de debulha.

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