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AVALIAÇÃO E ANÁLISE DE PERDAS NA COLHEITA DA CULTURA DO ALGODÃO NA REGIÃO

SUDESTE DO ESTADO DE MATO GROSSO*∗

Alessandro Ferronato(1), Luiz Carlos Pereira(2), Luiz Duarte Silva Júnior(3), Elke Leite Bezerra(4), Ricardo
César Bassan(5), Dárcio Carvalho Borges(6). (1) Centro Universitário de Várzea Grande – UNIVAG, Av.
Dom Orlando Chaves, 2655, Cristo Rei, CEP 78118-000; (2) Centro Universitário de Várzea Grande –
UNIVAG, Av. Dom Orlando Chaves, 2655, Cristo Rei, CEP 78118-000; (3) Centro Universitário de
Várzea Grande – UNIVAG, Av. Dom Orlando Chaves, 2655, Cristo Rei, CEP 78118-000; (4) Centro
Universitário de Várzea Grande – UNIVAG, Av. Dom Orlando Chaves, 2655, Cristo Rei, CEP 78118-
000; (5) Centro Universitário de Várzea Grande – UNIVAG, Av. Dom Orlando Chaves, 2655, Cristo Rei,
CEP 78118-000; (6) Centro Universitário de Várzea Grande – UNIVAG, Av. Dom Orlando Chaves,
2655, Cristo Rei, CEP 78118-000

RESUMO

As perdas na cultura do algodão ocorrem em função dos mais variados problemas, entre os
quais destacam-se: ponto de maturação, condições de colheita, regulagens de máquinas, velocidade
de colheita, porte da planta, tipo de máquina, tipo de solo, variedade, fatores climáticos etc., sendo que
em condições normais as perdas ficam em torno de 6 a 8%. O objetivo deste trabalho foi realizar um
diagnóstico das perdas na colheita do algodoeiro cultivado na região sudeste do Estado de Mato
Grosso. Avaliou-se as perdas em sete municípios, em um total de 25 propriedades rurais tradicionais
na produção do algodão. Buscou-se avaliar o rendimento potencial coletando-se todo o algodão da
área amostral manualmente, e logo em seguida da passagem da colheitadeira procedeu-se à coleta
das perdas do algodão na planta e no chão. Os resultados obtidos foram: Rendimento Potencial
Máximo médio de 268,4 @/ha; Perda média na Planta de 5,56 @/ha; Perda média no Chão de 12,99
@/ha; Perda média Total de 18,5 @/ha; Perda média Percentual de 7,03%. Dentre as variedades de
algodoeiro estudadas, a que apresentou maior Perda Percentual foi a Delta Opal (9,3%), sendo que a
média dos cultivares ficou em 6,5%.

INTRODUÇÃO

As transformações ocorridas na agricultura foram profundas, principalmente com a cultura do


algodoeiro no País. Em pouco tempo passou de cultura familiar, com forte demanda de mão-de-obra,
para uma produção em grande escala com vultuosos investimentos de capital e alta tecnologia,
principalmente nos cerrados da Região Centro-Oeste.
É evidente a importância da adoção de princípios de qualidade em todas as fases do processo
produtivo, evidenciando não só o produto, mas também todas as operações agrícolas efetuadas.
A colheita é uma etapa muito importante do processo, e alguns detalhes podem influenciar de
maneira muito significativa no resultado final de um talhão específico ou até mesmo no futuro de uma
propriedade, provocando, em caso de negligência, prejuízos quantitativos e qualitativos no produto final
(Eleutério, 2001).

*
Agradecimento ao FACUAL (Fundo de Apoio à Cultura do Algodão) pelo financiamento deste trabalho, bem como aos produtores que
contribuíram para que o mesmo pudesse ser realizado.
Alguns fatores são muito importantes e podem influenciar diretamente na qualidade da colheita,
como ponto de maturação, condições de colheita, regulagens de máquinas, velocidade de colheita,
porte da planta, tipo de máquina, tipo de solo, variedade e fatores climáticos (Oosterhuis,1999).
Condições de estresse térmico, hídrico ou de radiação solar, que ocorram principalmente na fase
reprodutiva da cultura, podem acarretar situações de desequilíbrio fisiológico na planta (Oosterhuis,
1999; Luz, Bezerra e Barreto, 1999; Beltrão e Souza, 2001), tornando-a mais vulnerável ao ataque de
pragas e doenças, que influenciam na qualidade dos frutos que por sua vez influenciam na qualidade
do capulho (Soares e Silva, 1999; Freire, Farias e Aguiar, 1999) de estar mais ou menos apto a ser
colhido pela colheitadeira.
As perdas na colheita devem ser monitoradas com o objetivo de detectar possíveis erros que
possam ocorrer durante o processo, e para que os mesmos possam ser corrigidos. Como exemplo de
perdas quantitativas pode-se citar: algodão que se encontra no chão, algodão que permanece no
algodoeiro após passagem da colhedora e perda de peso devido ao atraso na colheita. As perdas
qualitativas são: mistura de algodão com outras partes da planta, imaturidade das fibras (colheita
prematura), excesso de umidade, redução da resistência das fibras, variação no comprimento e na
coloração das fibras devido a diversos fatores, dentre eles o climático.
Este trabalho teve a finalidade de estudar a perda quantitativa na cultura do algodoeiro na
ocasião da colheita.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho foi realizado na região sudoeste do estado de Mato Grosso durante o mês
de junho de 2002, incluindo 7 municípios (Figura 1), sendo as amostragens realizadas em 25
propriedades rurais tradicionais produtoras de Algodão.
A amostragem consistiu no levantamento das perdas em lavouras algodoeiras que se dividiu em
duas etapas. A Primeira realizada anterior a colheita, consistiu na coleta de dados referentes à
estimativa do Rendimento Potencial Máximo (RPM). A segunda realizada durante e posterior a colheita
através da coleta de dados das estimativas de Perda no Chão (PC) e Perda na Planta (PP).
O esquema de amostragem consistiu em:
a) Coletas referentes à estimativa da RPM
Foi realizada coleta manual do algodão, em 5 metros de uma linha, totalizando, portanto uma
amostra com 4,5 m² (considerando o espaçamento de 0,90 m), anterior a colheita com a finalidade de
estimativa do Rendimento Potencial Máxima (RPM).
b) Coletas referentes à estimativa de PC
Foi realizada coleta manual do algodão caído na superfície do solo, em 5 metros de duas linhas,
imediatamente após a passagem da colhedora, totalizando uma área de amostragem de 9 m² para a
estimativa da Perda no Chão (PC).
c) Coletas referentes à estimativa de PP
Na mesma área onde se coletou a estimativa da PC foi realizada coleta manual do algodão que
persistiu na planta após a passagem da colhedora.
Destas três coletas foram feitas 4 repetições em cada propriedade. O material devidamente
identificado ao chegar ao laboratório passou por um processo de limpeza, foi pesado e amostrado para
determinação de umidade da amostra. No processo de limpeza separou-se capulhos mal formados
entre outras impurezas, não se constituindo do material considerado como perda da produção.
A umidade das amostras foi determinada por método gravimétrico, sendo que as amostras
retiradas para este fim, pesadas úmidas, e levadas à secagem em estufa de ar forçado, a 70ºC, até
peso constante. Os valores de umidade obtidos foram utilizados para corrigir o peso do material
coletado, padronizando-o para 13% de umidade em base úmida.
Corrigidos os valores das estimativas de RPM, PC e PP, efetuou-se o cálculo da Perda Total -
PT obtida pela soma simples das Perdas no chão (PC) e nas plantas (PP).
Foi também determinada a Perda Percentual - Pperc, relacionando a PT com os valores
estimados para o RPM.
Os dados foram analisados estatisticamente utilizando-se Análise de Variância (ANOVA) pelo
teste F de Snedcor, ao nível de 5% de probabilidade, para: 1) Comparação entre médias das
propriedades para as variáveis RPM, PP, PC, PT e Pperc; 2) Comparação entre médias dos municípios
para as variáveis RPM, PP, PC, PT e Pperc; 3) Comparação entre médias, das variedades para as
variáveis RPM, PP, PC, PT e Pperc. Os testes de médias foram feitos pelo teste de Tukey no nível de
5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Observou-se uma variação no RPM entre 147,8 @/ha e 394,9 @/ha, nas áreas amostradas,
sendo que a média geral foi de 268,4 @/ha de algodão em caroço.
Os resultados das Perdas Totais, por propriedade agrícola, variaram entre os valores de 12,1
@/ha a 36,6 @/ha, sendo que a perda média encontrada foi de 18,6 @/ha. Os dados de Pperc
variaram entre 4,1 e 13,7%, com média de 7,3%.
Avaliando-se os valores apresentados para Pperc, pode-se considerar que o desempenho médio
da colheita mecanizada de algodão na região Sudeste do Estado de Mato Grosso foi considerado bom
na safra estudada, visto que uma perda de 6% a 8% pode ser considerada aceitável (EMPAER-MT,
1999). O ideal seria que todas as propriedades apresentassem perdas em torno do valor mínimo
(4,1%), o que representaria um ganho de 8,6 @/ha de algodão por safra em relação à perda média
encontrada neste trabalho. Este ressalta a necessidade de investimentos na melhoria deste processo
dentro das propriedades, visto que a tecnologia utilizada permite a obtenção de resultados melhores
que os encontrados no campo, em termos médios.
Efetuou-se também a comparação da Perda Total por município, que estão apresentados na
Tabela 1. Desta, pode-se observar que a PT em arrobas de algodão em caroço por ha (@/ha) variou
entre os valores de 15,9 e 23,6, sendo a perda média encontrada de 16,8 @/ha. Com relação a Pperc
pode-se observar variação entre 5,4 e 9,4 % com média de 6,1%.
A hipótese de que o clima tenha afetado na perda de algodão na colheita não deve ser deixada
de lado, uma vez que, quando se comparou a PT da cultivar Ita 90, que foi a mais plantada em toda a
região de estudo, por município, onde se observou que houve diferenças significativas. Sendo estes
municípios localizados em regiões com diferenças de altitude, é de se esperar que de certa forma as
condições agroclimáticas tenham interferido nestes resultados, da mesma forma que não podemos
refutar outros aspectos como manejo, velocidade de colheita, etc.
Foram analisados os desempenhos das variedades com relação às perdas na colheita
mecanizada. Os valores de Pperc variaram entre 6,2 e 9,3%, sendo que a variedade Fabrika
apresentou as menores perdas, em média, e a variedade Delta Opal apresentou as maiores perdas,
em média. O valor médio de Pperc para as cultivares ficou em 6,5%.

CONCLUSÕES

Nas condições do presente estudo, pode-se concluir que:


1) Apenas 32% das propriedades agrícolas estudadas apresentaram Pperc acima de 8%, 36%
abaixo de 6% e 32% ficaram em torno de 6-8% de perdas, valores estes considerados aceitáveis;
2) Das seis cultivares encontrados na região de estudo, 33,3% apresentaram Pperc acima de
8%, e as demais ficaram dentro da faixa de 6-8% de perdas;
3) Dentre os municípios, 28,6% apresentaram Pperc acima de 8%, sendo que a maior Pperc
ocorreu no município de Itiquira.

Com relação às conclusões, propõe-se:

1) Estudos agroclimáticos que investiguem a ação dos elementos do clima em relação às perdas
na colheita do algodão;
2) Estudos que relacionem altura de plantas com nutrição de plantas e velocidade de
colheita; 3) Estudos que relacionem a ação de alguns agentes fitopatogênicos e
entomopatogênicos na planta do algodoeiro com a má formação dos capulhos, tornando-os
inaptos à colheita mecanizada;
4) Estudos comparativos de cultivares que apresentam diferentes perdas na colheita em
diferentes condições edafoclimáticas, buscando melhores adequações tecnológicas ao produtor.

Primavera do Leste
Campo Verde

Dom Aquino

Rondonópolis
Pedra Preta
Alto Garças

Itiquira

FIGURA 1. Mapa dos municípios amostrados na região Sudeste do Estado de Mato Grosso.
Tabela 1. Dados referentes a perdas e produtividade na colheita do algodão por Município da região
Sudeste do Estado de Mato Grosso.

Município Perda Total (@/ha) Produtividade Estimada (@/ha) Perda(%)


Alto Garças 16,9 312,3 5,4
Campo Verde 18,1 291,0 6,2
Dom Aquino 18,8 259,9 7,2
Itiquira 23,5 250,7 9,4
Pedra Preta 23,6 330,6 7,1
Primavera do Leste 15,9 204,8 8,2
Rondonópolis 17,3 285,9 5,5
Média Geral 16,8 241,9 6,1

REFERÊNCIAS BIBLIGRÁFICAS

BELTRÃO, N.E. de M.; SOUZA, J.G. de. Fisiologia e ecofisiologia do algodoeiro. In: EMBRAPA
AGROPECUÁRIA OESTE. Algodão: tecnologia de produção. Dourados: Embrapa Agropecuária
Oeste, 2001. 296p.

ELEUTÉRIO, J.R. Colheita mecânica: avaliação de perdas e otimização. In: CONGRESSO


BRASILEIRO DE ALGODÃO, 3., 2001, Campo Grande. p. 11-14

EMPAER-MT. Diretrizes técnicas - algodão: região cerrados. Cuiabá, 1999. 48p.

FREIRE, E. C.; FARIAS, F. J. C.; AGUIAR, P. H. Perdas estimadas da produção de algodão devido a
pragas e doenças no Centro-Oeste - safra 1998/99. CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 2.,
1999, Ribeirão Preto. O algodão no século XX, perspectivas para o século XXI – Anais... Campina
Grande: EMBRAPA-CNPA/Instituto Biológico, 1999. 719p. p.1-3.

LUZ, M.J. da S. e; BEZERRA, J.R.C.; BARRETO, A.N. Efeito do estresse hídrico do solo sobre a
fenologia e a eficiência do uso de água no algodoeiro. Campina Grande: EMBRAPA-CNPA, 1999.
5p. (EMBRAPA-CNPA. Comunicado Técnico, 102).
OOSTERHUIS, D. M. Growth and development of a cotton plant. In: CIA, E.; FREIRE, E.C.; SANTOS,
W.J. dos. Cultura do algodoeiro. Piracicaba: POTAFOS, 1999. 286p.

SOARES, J.J.; SILVA, E.Q. da. Efeito do ataque de Alabama argillacea no desenvolvimento
vegetativo e sua relação com a fenologia do algodoeiro. Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1999.
7p. (Embrapa-CNPA. Comunicado Técnico, 100).

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