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ANÁLISE DE PERDAS NA COLHEITA DE ARROZ IRRIGADO NA

REGIÃO SUL DO RIO GRANDE DO SUL

JULIANO MANKE1; CAIRO SCHULZ KLUG2; DIEGO SCHMECHEL3; GREGORY


CORREIA DA SILVA4; GUILHERME RAMOS HIRSCH5 ; HENRIQUE PEGLOW6; JOÃO
GABRIEL RUPPENTHAL7; KAREN RAQUEL PENING KLITZKE8; LEANDRO PIEPER
MOTA 9 ; MATHEUS CARVALHO10; MURILO RICKES11; THALIA STRELOV DOS
SANTOS12; WAGNER SCHMIESCKI DOS SANTOS13; CARLOS ANTÔNIO DA COSTA
TILLMANN14

PET Engenharia Agrícola - Universidade Federal de


Pelotas 1julianomankeap@gmail.com
14
ctillmann59@gmail.com

1. INTRODUÇÃO
O arroz é um dos principais cereais produzidos e consumidos no mundo, desta forma,
destaca-se pela produção, área cultivada e consumo (CONAB, 2015). Em 2018, mais de 8,4
milhões de toneladas foram produzidas em mais de 1 milhão de hectares no Rio Grande do
Sul, alcançando a produtividade de média de 7.563 kg ha-1 (IRGA, 2018).
A etapa da colheita é importante para o cultivo de arroz, devido aos custos
operacionais, por refletir na produção total e na qualidade do produto (SILVA, 2004). A
colheita é realizada com máquinas colhedoras que possuem complexos mecanismos e
inúmeras tecnologias empregadas, essenciais os para a colheita em larga escala (SOSBAI,
2012). Contudo, ocorrem perdas inevitáveis durante o processo de colheita mecanizada
causando prejuízos ao produtor. Por se tratar de uma atividade final dentro do processo de
produção de grãos, na qual o grão tem um alcança maior valor agregado, perdas precisam ser
evitadas ao máximo.
A colhedora de cereais é composta por diferentes mecanismos, os quais realizam a
alimentação, trilha, separação e limpeza de forma sincronizada. Para adequado funcionamento
das colhedoras é necessário efetuar algumas regulagens e controles, principalmente
velocidade da colhedora, altura plantaforma de corte, velocidade do molinete, velocidade do
alimentador, distancia entre o cilindro debulhador e o concavo, nas peneiras de limpeza e no
fluxo de ar, considerando sempre o tipo de grão e o seu teor de umidade.
No intuito de desenvolver pesquisas, um dos pilares de sustentação do Programa de
Educação Tutorial, o grupo ligado ao curso de Engenharia Agrícola da Universidade Federal
de Pelotas realiza pesquisas voltadas para determinação das perdas na colheita de grãos.
O objetivo do trabalho foi quantificar as perdas totais na colheita mecanizada do arroz
irrigado em áreas de lavouras da região sul do RS, mensurando as perdas identificadas nos
mecanismos de corte, trilha e limpeza da colhedora, promovendo assim continuidade nas
pesquisas relacionadas à colheita de arroz irrigado buscando parâmetros de redução das
perdas.

2. METODOLOGIA

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O estudo foi realizado em parceria com o Instituto Sul-Rio-Grandense de Arroz
(IRGA), através de uma demanda de algumas propriedades atendidas pelo Instituto. Foram
analisadas as perdas, na plataforma e trilha, separação e limpeza, de uma colhedora CASE
2799 com sistema de trilha axial, com plataforma de tamanho 25 pés, no município de Arroio
Grande - RS. A variedade de arroz cultivada foi a Guri (INTA CL), a colhedora estava
operando com velocidade de deslocamento de 3 km/h, rotação do molinete de 24 rpm e 850
rpm no rotor de trilha, a velocidade do ventilador não foi informada.
Para a coleta de dados de perdas na plataforma foram utilizadas dez coletores, em
formato de calha constituído de material PVC, com área de 1125 cm² (15cmx75cm). As
calhas foram dispostas de modo perpendicular à plataforma de corte e ao longo dela, de modo
a representar a cobertura de toda a área longitudinal da plataforma. Em seguida, com auxilio
de balizas foi sinalizado o ponto de avanço máximo que o operador da colhedora poderia
atingir com a parte frontal da plataforma. Após atingir o ponto sinalizado, o operador ergueu a
plataforma e recuou com a colhedora, para que os pesquisadores retirassem as calhas, em
seguida a máquina continuou a colheita.
Para a determinação das perdas na trilha, separação e limpeza, as quais ocorrem nos
mecanismos internos da máquina, foram utilizados seis coletores metálicos quadrados em
formato de bandejas totalizando uma área de 625 cm², posicionados de modo que ocupassem
o espaço entre os rodados permitindo deslocamento da máquina sobre estes coletores.
Foram realizadas três repetições, separando e identificando as amostras da plataforma
e da trilha, separação e limpeza. Após a coleta, foram levadas para laboratório onde se
realizou a contagem do número de grãos de cada amostra e aferiu-se a massa das mesmas. Por
fim foram realizados os cálculos, relacionando-os proporcionalmente a área total.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Realizou-se manualmente a coleta e contagem dos grãos presentes tanto na plataforma
como no sistema de trilha, para que se pudesse estimar a quantidade de sacos perdidos por
hectare (tabela 1 e tabela 2), respectivamente.

Tabela 1: Processamento dos dados do mecanismo de corte.


Passada 1 Passada 2 Passada 3
Nº de grãos 444 295 374
Peso (g) 11,999 8,174 10,748

Tabela 2: Processamento dos dados da trilha.


Passada 1 Passada 2 Passada 3
Nº de grãos 930 1361 1268
Peso (g) 29,112 40,244 35,16

Baseado nestes dados obteve-se um peso médio de 10,31 e 34,84 gramas para as
amostras da plataforma de corte e do sistema de trilha, respectivamente. Conhecendo-se a
área útil das bandejas e das calhas determinaram-se as perdas de arroz (tabela 3).

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Tabela 3: Perdas totais nos mecanismos de corte e trilha.
Fonte de perdas Perda total
Plataforma Trilha Sc* ha-1 Kg ha-1
1,83 16,748 18,581 929,05
* sacos de 50 kg arroz em casca.

Após o processamento dos dados, pode obter-se uma perda média de grãos de arroz
correspondendo a 929,05 kg ha-1 (tabela 3), um valor muito elevado se comparado com os
adquiridos por Fonseca e Silva (1997), onde se atingiu uma perda média de 238 kg ha -1 para a
cultura de arroz.
Sabendo que a propriedade possui 630 hectares e que a produtividade média obtida na
lavoura foi de 188,68 sacos ha-1, as perdas atingiram 9,85%. Todavia, segundo o SENAR
(2015) estima-se para a colheita de grãos, que perdas em torno de 3 a 5% são aceitáveis.
O teor de água dos grãos é um fator a ser considerado na determinação da perda de
grão durante a colheita. Segundo Castro et al. (1999), a colheita de arroz deve ser realizada
quando os grãos possuírem teor de água entre 18% e 22%, desta forma o levantamento dos
dados foi realizados utilizando o teor de água de 19%, valor dentro dos limites toleráveis.
A degrana também é um fator a ser considerado, entretanto a cultura Guri INTA CL
apresenta, fisiologicamente, uma resistência à degrana moderada e ao acamamento resistente
(CERATTI).
A velocidade para a colheita do arroz irrigado recomendada é compreendida entre 1 e
3 Km/h (RUSSINI, MISSIO & FRANTZ, 2016), baseado nesta afirmação a velocidade da
colhedora utilizada no experimento foi considerada adequada, já que seu avanço ocorreu a 3
km/h.
O nível das perdas que foram observados, provavelmente ocorreram devido a falta de
regulagens e ajustes na máquina, onde observou-se valores baixos para a plataforma, porém,
as perdas no processo de trilha, separação e limpeza foram bastante elevadas. A provável
causa da elevada perda seja falta de regulagem da abertura entre o cilindro degranador e
côncavo da colhedora, assim, as perdas podem estar associadas também a regulagem do fluxo
de ar e abertura das peneiras.
Apesar de a velocidade estar dentro dos limites, ela pode influenciar no nível de
perdas, considerando uma elevada sobrecarga do sistema de trilha, aumentando assim a
necessidade de retrilha, sobrecarregando também as peneiras e o fluxo de ar não ter sido
suficientemente capaz de expulsar as impurezas.

4. CONCLUSÕES

As perdas totais estão bem acima dos níveis aceitáveis para arroz irrigado, o que se
deve, provavelmente a deficiente regulagem e operação da máquina, uma vez que todos
outros fatores que podem influenciar a colheita estavam dentro dos padrões aceitáveis. Há a
necessidade de acompanhamento do produtor de arroz, alertando-o e orientando-o para a
diminuição das perdas nas futuras safras.
A atividade desenvolvida pelo grupo do Programa de Educação Tutorial do curso de
Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Pelotas, apresenta papel importante no

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desenvolvimento de pesquisas em perdas na colheita de grãos, proporcionando aos alunos a
prática de iniciação cientifica e prestação de serviço a comunidade.

5. AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao programa de educação tutorial pelo fomento das bolsas.
Ao IRGA pela confiança depositada no trabalho do grupo PET-EA e aos produtores
por abrirem as porteiras para a academia realizar as pesquisas e proporcionar aos estudantes
do curso de Engenharia Agrícola a experienca de trabalhar junto ao trabalhadores do campo.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CASTRO, E. da M. de, VIEIRA, N.R. de A., RABELO, R.R., SILVA, S.A. da. 1999.
Qualidade de grãos em arroz. Embrapa Arroz e Feijão, Santo Antônio de Goiás, Brasil. 30
p. (Circular Técnica, 34).

CERATTI. Semestes Ceratti. Disponivel em: <http://sementesceratti.com.br/GURI-INTA-


CL-sementes.asp>. Acesso em: 27 março 2019.

CONAB. AROLDO ANTONIO DE OLIVEIRA NETO. (Org.). A cultura do


arroz. Brasília: Gepin, 2015. 180 p. Disponível em:
<file:///D:/Users/Win7/Downloads/2015_-_A_Cultura_do_Arroz%20(1).pdf>. Acesso em: 27
mar. 2019.

FONSECA, J. R.; SILVA, J. G. Perdas de grãos na colheita do arroz. 2. ed. Goiânia:


EMBRAPA, 1997. 26 p.

IRGA, Instituto Rio Grandense do Arroz. Boletim de resultados da lavoura de arroz safra
2017/18. Porto Alegre, 2018. 19 p. Disponível em: <http://irga.rs.gov.br/safras-2>. Acesso
em: 27 março 2019.

RUSSINI, A.; MISSIO, E.; FRANTZ, U. G. Cultivar, 2016. Disponivel em:


<https://www.grupocultivar.com.br/artigos/velocidade-certa>. Acesso em: 27 março 2019.

SENAR. Agricultura de Precisão na Colheita de Grãos: Módulo 2: Como funcionam as


colhedoras de grãos. Goiânia: IEA, 2015. 42 p.

SILVA, J. G. D. Cultivar, 2004. Disponivel em:


<https://www.grupocultivar.com.br/artigos/maquinas-no-arrozal>. Acesso em: 27 março
2019.

SOSBAI, SOCIEDADE SUL-BRASILEIRA DO ARROZ IRRIGADO. Arroz irrigado:


Recomendações técnicas da pesquisa para o sul do Brasil. Itajaí: 2012. p. 177.

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