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AVALIAÇÃO DOS COMPONENTES DE RENDIMENTO DE GENÓTIPOS DE MILHO

SUBMETIDOS ÀS CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS DE DOUTOR MAURÍCIO


CARDOSO, RS, SAFRA 2021/22

Autores: ANDREI MARCOS DE CARLI (decarliandreimarcos@gmail.com), GABRIEL MULDER


(gmulder155@gmail.com), MATHEUS GRECCHI (matheus.18grecchi@yahoo.com), MARCOS
CARAFFA (garrafa@setrem.com.br)

Orientadores:

Link: https://eventoscientificosapi.setrem.com.br/i/557789
AVALIAÇÃO DOS COMPONENTES DE RENDIMENTO DE GENÓTIPOS DE
MILHO SUBMETIDOS ÀS CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS DE DOUTOR
MAURÍCIO CARDOSO, RS, SAFRA 2021/22

RESUMO

O milho é considerado cereal de destaque econômico no cenário agrícola brasileiro, se


buscando constantemente híbridos melhorados que apresentem adaptabilidade às várias condições
edafoclimáticas do Brasil. O estudo objetivou avaliar o rendimento de grãos de nove linhagens de milho
convencional comparativamente a dois híbridos comerciais, um transgênico e outro convencional mais
um de polinização aberta. O ensaio foi estabelecido em 05/10/2021, com densidade de 68.000 plantas
m-2, conduzido por delineamento de blocos casualizados, com 3 repetições, em Doutor Maurício
Cardoso, RS, na safra 2021/22. A abordagem foi quantitativa, os procedimentos experimental e
estatístico, com os dados coletados por observação direta intensiva, observação, e analisados com
auxílio de médias, ANOVA, teste de Tukey e coeficiente de correlação de Pearson. O conjunto de
genótipos em estudo gerou interação significativa do RG com a AIE, MMG (ambas negativas), NGE e
PROLIFICIDADE (ambas positivas). Dos genótipos convencionais em estudo, dois (LTBZ 659330 e
LTBZ 659353) apresentaram RG maior que a melhor testemunha DKB 330 PRO 3 (2796 kg ha -1),
embora sem diferença significativa. A média das testemunhas foi superada por sete linhagens e pela
cultivar transgênica, demonstrando potencial dos materiais analisados, demandando teste em anos
com condições ambientais favoráveis à cultura.

Palavras-chave: Zea mays. Linhagens e cultivares. Rendimento de grãos.

1 INTRODUÇÃO

Considerada uma cultura estratégica da agricultura brasileira, o milho é


cultivado em todas as regiões do Brasil em rotação, sucessão e consórcio com
expectativa de produção entre 121,4 e 182,7 milhões de toneladas (GASQUES et al.,
2018). Isso faz com que o milho se destaque como a cultura que apresentou maior
incremento em rendimento nas últimas décadas.

Paralelo ao melhoramento genético clássico, a biotecnologia e a transgenia têm


se mostrado ferramentas complementares para o desenvolvimento de genótipos com
características específicas, como a tolerância a herbicidas e insetos-praga, e, liberada
no Brasil na safra de 2008/2009, a transgênia já ocupou em 2012 cerca de 73% da
área cultivada, evidenciando a importância de seu uso no desenvolvimento da
agricultura nacional (PARENTONI NETTO; MIRANDA; GARCIA, 2013).

A busca por híbridos adaptados e estáveis para cultivo em diferentes regiões e


épocas de semeadura é uma das principais dificuldades aos programas de
melhoramento genético de milho, principalmente quando considerada a alta
manipulação gênica necessária para incorporação dos diferentes eventos
tecnológicos existentes (STORCK et al. 2014).

Assim, o milho, por ser um cereal cultivado de norte a sul do Brasil, é submetido
a uma grande diversidade de condições ambientais, que é percebida quando há
comportamento diferencial das cultivares nas diferentes condições ambientais a que
são submetidas. Diante da relevância desse fato, o presente trabalho de pesquisa
objetivou avaliar o rendimento de grãos de diferentes cultivares e linhagens de milho
submetidas às condições edafoclimáticas do município de Doutor Maurício Cardoso,
RS.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O milho é um produto primordial para a agricultura brasileira, cultivado em todas


as regiões do País, em mais de dois milhões de estabelecimentos agropecuários,
sendo que nas últimas décadas a cultura passou por transformações profundas,
destacando-se sua redução como cultura de subsistência de pequenos produtores e
o aumento do seu papel em uma agricultura comercial eficiente, com deslocamento
geográfico e temporal da produção (CONTINI et al., 2019).

A fenologia do milho, a exemplo de outras culturas importantes, vem


merecendo atenção e estudos continuados. Durante as últimas décadas do Século
XX, a escala fenológica descrita por Hanway (1963, 1966) foi a mais utilizada em todo
o mundo, constando de uma sequência de estádios numerados em ordem crescente,
da emergência das plântulas à maturação fisiológica dos grãos e sua clareza e
simplicidade a tornaram amplamente conhecida e adotada internacionalmente
(BERGAMASCHI; MATZENAUER, 2014).

Segundo Coelho, Resende e Santos (2015), o milho é uma cultura exigente


quando se trata de nitrogênio, demandando grandes quantidades, sendo necessária
aplicação no sulco de semeadura e também em cobertura para complementar a
quantidade exigida.

Observa-se o crescimento da produtividade de milho nas principais regiões


produtoras do Brasil desde a metade do século passado. Esse fato se deve a
utilização de sementes híbridas com maior potencial de rendimento, melhor uso de
fertilizantes e defensivos, melhoria das práticas de cultivo principalmente no que diz
respeito ao arranjo espacial (espaçamento e densidade), máquinas agrícolas mais
eficientes e adoção do sistema de semeadura direta na palha (CRUZ; PEREIRA
FILHO, 2008).

O melhoramento genético da cultura de milho vem sendo aprimorada por


enormes empresas e tem como objetivo, aumentar a produtividade, promovendo ao
produtor uma evolução ao seu sistema de produção (CRUZ et al., 2011).

3 METODOLOGIA

Para a realização do presente estudo foi utilizado o método de abordagem


quantitativo, utilizado para coletar dados referentes a rendimento de grãos (RG), altura
de plantas (AP), altura de inserção de espigas (AIE), massa de mil grãos (MMG) e
número de grãos por espiga (NGE). Como procedimento foram utilizados o método
experimental (tendo como tratamento controle os híbridos DKB 330 PRO 3 –
transgênico, e JMEN 3 M 51 – convencional, além do milho de polinização aberta BRS
Caimbé) e o estatístico, com técnica de coleta de dados por observação direta
intensiva, observação, e análise dos dados por ANOVA, teste de Tukey e coeficiente
de correlação de Pearson, ambos ao nível de 5% de significância.

A população estudada foi composta pelo conjunto de plantas de doze materiais


genéticos de milho (uma cultivar híbrida transgênica, DKB 330 PRO 3, uma cultivar
híbrida convencional, JMEN 3 M 51, um milho variedade, BRS Caimbé, e mais nove
genótipos convencionais, LTBZ 93105314, LTBZ 53149310, LTBZ 105314, LTBZ
659353, LTBZ 109353, LTBZ 659330, LTBZ 5314, LTBZ 9310 e LTBZ 9353),
semeados objetivando densidade final de 68.000 plantas ha-1, com espaçamento
entre linhas de 0,50 cm. Todas as parcelas contaram com a dimensão de 5 metros de
comprimento e 2 m de largura, estando distribuídas em blocos casualizados, com 3
repetições.

O experimento foi instalado no interior do município de Doutor Maurício


Cardoso, RS, na localidade de Lajeado Cafuru, no ano safra de 2021/22 na
propriedade do Sr. Valter Kretschmer. A semeadura ocorreu em 27/09/2021 e a
emergência plena se deu em 05/10/2022. A adubação de base objetivou expectativa
de produção de 9 t ha-1, sendo a análise de solo interpretada conforme os parâmetros
indicados pela CQFS-RS/SC. Para controle de Diabrotica speciosa foram efetuadas
três aplicações de Trichogramma pretiosum, e, devido ao estresse hídrico ocorrente
no período, foi necessária também uma aplicação de inseticida fipronil (Singular BR –
130 mL ha-1).

Para análise da AP, AIE e NGE foram analisadas 10 plantas sequenciais no


centro de uma das duas linhas centrais. Para aferição do RG foram colhidos 4 metros
das duas linhas centrais das parcelas, totalizando uma área útil de 4 m2. A prolificidade
foi aferida pela contagem do número de plantas e espigas da área útil e a MMG foi
originada de amostra retirada dos grãos colhidos pra análise do RG.

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O ensaio foi bastante prejudicado em virtude de forte estiagem, ocorrendo, no


período de sua condução, precipitação pluvial de parcos 330 mm, mal distribuídos,
uma vez que grande parte da mesma ocorreu na fase vegetativa, tendo escassez no
período reprodutivo, quando a cultura mais demanda de água.

Tabela 1 – Resultados dos caracteres avaliados para os genótipos nas condições


edafoclimáticas de Doutor Maurício Cardoso, RS, safra 2021/2022.

EP AIE MMG NGE Prolificidade RG


Genótipo (cm) (cm) (g) (un) (un) (kg ha-¹)
LTBZ 659330 1,88 bc 1,25 efg 204 de 614 a 1,00 a 3393 a
LTBZ 659353 1,81 cd 1,32 cde 214 d 527 ab 1,00 a 3333 a
DKB 330 PRO 3 (T) 2,06 a 1,20 g 144 g 390 cde 1,00 a 2796 ab
LTBZ 9310 1,68 de 1,28 def 205 de 502 abcd 0,91 abc 2762 ab
LTBZ 9353 1,85 bc 1,39 abc 218 d 548 ab 1,00 a 2703 ab
LTBZ 109353 1,69 de 1,23 fg 178 f 459 bcde 0,97 ab 2400 bc
LTBZ 105314 1,66 e 1,36 bcd 197 e 434 bcde 0,94 abc 2393 bc
LTBZ 5314 1,86 bc 1,36 abcd 255 bc 506 abc 0,91 abc 2305 bc
BRS Caimbé (T) 1,95 ab 1,42 ab 408 a 425 bcde 0,84 abc 2174 bc
LTBZ 53149310 1,77 cde 1,43 ab 244 c 449 bcde 0,86 abc 2171 bc
LTBZ 93105314 1,75 cde 1,42 ab 264 b 370 e 0,83 bc 2061 bc
JMEN 3M51 (T) 2,06 a 1,44 a 262 b 382 de 0,80 c 1783 c
Média 1,83 1,34 233 467 0,92 2.523
CV % 2,58 1,96 1,97 9,00 6,01 10,32
Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna não diferem estatisticamente pelo teste de
Tukey a 5%.
Nota: Estatura de Planta (EP), Altura Inserção de Espiga (AIE), Massa de Mil Grãos (MMG), Número
de Grãos por Espiga (NGE), Prolificidade, Rendimento de Grãos (RG).

O RG (média 2523 kg ha-1) teve destaque com o genótipo LTBZ 659330 (3393 kg
há-1), sem, no entanto, se diferenciar do resultado gerado por outros 4 genótipos
(incluindo aqui a testemunha DKB 330 PRO3). Quanto aos quesitos relacionados ao
acamamento, a EP (média 1,83 cm) teve o menor resultado no genótipo LTBZ 105314
(1,66 cm) sem diferir de outros 4 genótipos, e a AIE (média 1,34 cm) teve como
destaque a testemunha DKB 330 PRO3 (1,20 cm) sem diferença para com duas
linhagens. A melhor MMG (média 233 g) foi gerada pela testemunha BRS Caimbé
(408 g) e o maior NGE (média 467 grãos) foi apresentado pelo genótipo de melhor
RG, o LTBZ 659330 (614 grãos), sem diferir do resultado de outras 4 linhagens. Já, a
prolificidade foi bastante afetada pelas condições hídricas do período de condução do
ensaio, ficado a média em 0,92 espigas por planta.

Tabela 2- Matriz de correlação de Pearson englobando todas as cultivares nas


condições edafoclimáticas de Doutor Maurício Cardoso, RS, safra 2021/2022.

EP AIE NGE PROLIF. MMG RG


(cm) (cm) (un) (un) (g) (kg ha-1)
EP (cm) 1 0,103 -0,202 -0,121 0,201 -0,078
AIE (cm) 1 -0,315 -0,655* 0,680* -0,598*
NGE (un) 1 0,576* -0,181 0,720*
PROLIF. (un) 1 -0,567* 0,777*
MMG (g) 1 -0,428*
RG (kg) 1
Correlações significativas * a 5% de probabilidade de erro conforme a tabela de coeficiente de
correlação de Pearson. r=0,334.
Conforme se observa na tabela 2, o conjunto de genótipos em estudo gerou
interação significativa do RG com a AIE, MMG (ambas negativas), NGE e
PROLIFICIDADE (ambas positivas).

Outras correlações significativas no ensaio ocorreram na relação da


PROLIFICIDADE com a AIE e MMG, ambas negativas, e na relação da AIE com a
MMG, essa uma correlação positiva.

5 CONCLUSÃO

Do conjunto de nove genótipos de milho híbrido convencional em estudo, dois


(LTBZ 659330 e LTBZ 659353) apresentaram RG maior que a melhor testemunha
DKB 330 PRO 3 (2796 kg ha-1), embora sem diferença significativa. Já, em relação à
média das testemunhas (2251 kg ha-1), a mesma foi superada por sete linhagens e
pela cultivar DKB 330 PRO 3, fato que demonstra potencial dos materiais analisados,
devendo, no entanto, os mesmos ser testados em anos com condições ambientais
favoráveis à cultura, a fim de se ter informação mais sólida a esse respeito.

6 REFERÊNCIAS

BERGAMASCHI, Homero; MATZENAUER, Ronado. 2014. O milho e o clima. Porto


Alegre: EMATER/RS-ASCAR.
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2015. Fertilidade de solos e adubação. In: PEREIRA FILHO, Israel Alexandre. (Ed.).
Cultivo do milho. Sistemas de Produção. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo.

CONTINI, Elisio; MOTA, Mierson Martins; MARRA, Renner; BORGHI, Emerson;


MIRANDA, Rubens Augusto de; SILVA, Alexandre Ferreira da; SILVA, Dagma
Dionísia da; MACHADO, Jane Rodrigues de Assis; COTA, Luciano Viana; COSTA,
Rodrigo Verás da; MENDES, Simone Martins Mendes. 2019. Milho: caracterização e
desafios tecnológicos. Série Desafios do Agronegócio Brasileiro. Sete Lagoas:
Embrapa Milho e Sorgo..

CRUZ, José Carlos; PEREIRA FILHO, Israel Alexandre; GARCIA, João Carlos;
DUARTE, Jason de Oliveira. 2008. Cultivo do milho: cultivares. Sistema de
Produção, 4 ed. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo.

CRUZ, José Carlos; PEREIRA FILHO, Israel Alexandre; PIMENTEL, Marco Aurélio ;
COELHO, Antônio Marcos; KARAM, Décio; CRUZ, Ivan; GARCIA, João Carlos;
MOREIRA, José Aloísio Alves; OLIVEIRA, Maurílio de; GONTIJO NETO, Miguel;
ALBUQUERQUE, Paulo Emílio de; VIANA, Paulo Afondo; MENDES, Simone Martins;
COSTA, Rodrigo Veras; ALVARENGA, Ramon Costa; MATRANGOLO, Walter José
Rodrigues. 2011. Produção de milho na agricultura familiar. Circular Técnica 159.
Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo.

GASQUES, José Garcia; SOUZA, Geraldo da Silva; BASTOS, Eliana Teles. 2018.
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PARENTONI NETTO; Sidney Netto; MIRANDA, Rubens Augusto de; GARCIA, João
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STORCK Lindolfo; CARGNELUTTI FILHO, Alberto; GUADAGNIN, José Paulo. 2014.


Análise conjunta de ensaios de cultivares de milho por classes de interação
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