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AVALIAÇÃO DE CARACTERES MORFOLÓGICOS E DE PARÂMETROS

FISIOLÓGICOS EM GIRASSOL

EVALUATION MORPHOLOGICAL AND PHYSIOLOGICAL PARAMETERS TRAITS IN


SUNFLOWER

Diogo Vanderlei Schwertner1, Cleverson Diego dos Santos1, Renam Wentz1, José Tiago Boff1,
Uelinton Noronha1, Adair José da Silva1, Sandra Beatriz Vicenci FernandesI Jorge Luis BertoI,
Dagmar Camacho Garcia1, José Antonio Gonzalez da Silva1

1
Departamento de Estudos Agrários da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul (DEAg/UNIJUÍ). Rua do comércio 3000, Bairro Universitário, CEP: 98700-000 –
Ijuí, RS. Email: diogovanderlei.v@hotmail.com

Resumo
O girassol é uma espécie de múltiplas opções de uso. A produtividade é determinada pela
ação conjunta de vários caracteres, com destaque para os componentes diretos da produção.
Estes caracteres tem influência também de caracteres indiretos e de parâmetros fisiológicos. O
objetivo do trabalho foi avaliar os caracteres indiretos do rendimento de grãos e dos indicadores de
desempenho fisiológico em girassol, no município de Augusto Pestana, RS. Um experimento foi
conduzido no Instituto Regional de Desenvolvimento Rural (IRDeR)/UNIJUÍ, localizado no
município de Augusto Pestana-RS, durante o ano agrícola de 2008/2009. Foram avaliados 24
genótipos de girassol, em delineamento experimental blocos casualizados com quatro repetições.
Os genótipos Paraíso 22, HLE 17, Sauce 1 e Paraíso 20 foram os mais produtivos. O incremento
no diâmetro total do capítulo nem sempre se traduz em aumento no rendimento de grãos, sendo o
índice de colheita um parâmetro importante em definir genótipos de girassol eficientes.

Abstract
The sunflower is a species that multiple options for use. The productivity is obtained by
several traits, with emphasis on the direct components of yield. This traits have influence with
indirect components and physiological parameters. The objective tis study was to evaluate
indirect components of yield, physiological and performance indicators in sunflower traits at
Augusto Pestana, RS. A study was conducted at the Instituto Regional de Desenvolvimento
Rural (IRDeR/UNIJUÍ), Augusto Pestana, Brasil. In this study were evaluating twenty-four
sunflower genotypes in blocks randomized design with four replication. The genotypes Paraiso
22, HLE 17, Sauce 1 and Paraiso 20 were more productive. The increase in total head diameter
not always increase the yield of graim and the harvest index is a important parameter to define
sunflower genotypes more efficient.

Introdução
O girassol (Helianthus annuus L.) é uma espécie que se adapta as mais diferentes
condições de cultivo, em função de sua baixa sensibilidade ao fotoperíodo. É uma planta rica
em proteínas, com aproveitamento como planta ornamental, medicinal, rotação de culturas,
adubação verde, apícola, semente para pássaros, forrageira na alimentação de animais, farelo,
óleo para alimentação humana e biodiesel.
O rendimento do girassol é função de diversas características agronômicas como o
diâmetro do capítulo, número de aquênios por capítulo, massa e teor de óleo nos aquênios
que, interagindo entre si e com o ambiente, possibilitam a expressão do potencial genético da
variedade utilizada (CARVALHO e PISSAIA, 2002). O rendimento de grãos é determinado
também pelos componentes indiretos da produção, como massa de grãos do capítulo, massa
do capítulo, diâmetro do capítulo e indicadores do desempenho fisiológico como rendimento
biológico, índice de colheita da planta e do capítulo.
O rendimento biológico representa o total de matéria seca produzida pela espécie,
indicando o total de CO2 assimilado. Já o índice de colheita, representa a eficiência com que os
fotoassimilados são convertidos em rendimento econômico, sendo parâmetro relacionado a
espécie. O objetivo do trabalho foi avaliar a expressão dos caracteres indiretos do rendimento
de grãos e dos indicadores de desempenho fisiológico em girassol, no município de Augusto
Pestana, RS.

Material e métodos
O experimento foi conduzido no Instituto Regional de Desenvolvimento Rural
(IRDeR)/UNIJUÍ, localizado no município de Augusto Pestana-RS, durante o ano agrícola de
2008/2009. Foram avaliados 24 genótipos de girassol, do Ensaio Final de Primeiro Ano da
Embrapa em delineamento experimental blocos casualizados com quatro repetições. Os
genótipos foram semeados no mês de setembro em parcelas com 4 linhas de 6 m de
comprimento, espaçadas de 0,8 m entre-linhas e 0,3 m entre plantas. As avaliações foram
realizadas nas duas linhas centrais, excetuando-se os 0,5 m inicias.
Foram coletadas aleatoriamente três plantas por parcela no momento da colheita,
cortadas rente a superfície do solo e encaminhados para laboratório para avaliação dos
componentes indiretos do rendimento e parâmetros fisiológicos, que foram: 1. Rendimento
biológico por planta (RBP, em g pl -1), ou seja, o peso total de uma planta de girassol
(palha+grãos); 2. Rendimento biológico (RB, em kg ha -1), pela conversão do RBP para área de
um hectare; 3. Massa de capítulo (MC, em g capítulo) sendo o peso total do capítulo
(grãos+palha); 4. Diâmetro total do capítulo (DTC, em cm); 5. Diâmetro infértil do capítulo (DIC,
em cm), que corresponde a parte central dos capítulos que não apresenta grãos ou de grãos
irregulares; 6. Massa de grãos do capítulo (MGC, em g); 7. Índice de colheita da planta (ICP),
pela relação entre rendimento de grãos (RG) e o rendimento biológico (RB); 8. Índice de
colheita do capítulo (ICC), pela relação entre massa de grãos do capítulo (MGC) pela massa do
capítulo (MC); 9. Rendimento de grãos (RG, em kg ha -1), pela colheita de 20 capítulos por
parcela. Os dados obtidos foram submetidos a análise de variância e teste de comparação de
médias pelo teste de Scott & Knott (1974) utilizando o programa computacional Genes (CRUZ,
2001).

Resultados e discussão
Na tabela 1, se percebe que todos os caracteres testados que determinam a expressão
de componentes indiretos do rendimento de grãos e parâmetros fisiológicos, evidenciaram
diferença estatística entre os genótipos avaliados.

Tabela 1. Resumo da análise de variância em caracteres de importância agronômica em


girassol. DEAg/UNIJUÍ, 2009.

QUADRADO MÉDIO
Fonte de GL RG RBP RB MC MGC ICP ICC DTC DIC
(RG/ (RGP/
Variação (kg ha-1) (g) (kg ha -1) (g) (g) RB) MC) (cm) (cm)
Bloco 3 137784 3353,8 1053446 586,65 312,57 0,0214 0,0026 6,20 0,34
1548029
Genótipo 23 478954* 3778,4* * 796,5* 335,7* 0,4748* 0,014* 3,45* 1,42*
0,38
Erro 69 48980 1071,2 393978,8 271,06 152,36 0,0091 0,0045 1,56 0
Total 95
Média 1648 186,75 3901,79 87,18 50,42 0,44 0,58 13,50 3,38
Máximo 2485 346,99 6581,74 156,98 96,41 0,69 0,83 17,17 5,33
Mínimo 622 109,39 2278,89 46,89 26,07 0,13 0,38 10,00 1,00
CV % 13,42 17,52 16,08 18,88 24,48 21,56 11,7 9,24 18,3
4
* Significativo a 5% de probabilidade de erro; RG= Rendimento de grãos; RBP= Rendimento
biológico por planta; RB= Rendimento biológico; MC= Massa de capítulo; MGC= Massa de
grãos do capítulo; ICP= Índice de colheita por planta; ICC= Índice de colheita por capítulo;
DTC= Diâmetro total do capítulo; DIC= Diâmetro infértil do capítulo.

Além disso, com base nos valores mínimos e máximos de cada variável, observou-se
uma amplitude considerável de sua expressão, o que permite levantar a hipótese da
variabilidade genética nos caracteres testados para essa espécie. Cabe ressaltar a forte
amplitude obtida no caráter rendimento de grãos, que variou desde 622 a 2485 kg ha -1, com
média de aproximadamente 1648 kg ha-1. Isso indica a existência de cultivares elite de grande
possibilidade de produção nesta região de cultivo. Ressalta-se que os valores dos coeficientes
de variação evidenciaram reduzida magnitude, indicando adequada precisão no
desenvolvimento e condução do experimento e das inferências formuladas.
No caráter RG (Tabela 2) destaque foi conferido aos genótipos Paraiso 22, HLE 17,
Sauce 1 e Paraiso 20 que expressaram valores médios em torno de 2000 kg ha -1 para a
produção de grãos (a), superando os genótipos padrões de comportamento inferior (b). No
carácter DTC apenas dois genótipos mostraram comportamento superior (a), que foram
Paraiso 22 e V70003. Vários autores têm mostrado que o acréscimo no DTC tende a
incrementar a produção pelo aumento do número de grãos por capítulo, nem sempre
observado, principalmente quando não se considera a eficiência de partição de fotoassimilados
direcionados aos componentes de produção, como analisado pelos expressivos valores médios
no genótipo V70003 para todos os caracteres diretos de rendimento e DTC, porém, com
valores reduzidos no RG. Fato justificado pelo baixo desempenho fisiológico, visualizado pelo
ICP, da relação RG/RB, que indicou neste genótipo menor quantidade de matéria seca total
convertida em rendimento de grãos.

Tabela 2. Teste de comparação de médias para caracteres de interesse agronômico em girassol.


DEAg/UNIJUÍ, 2009.

RG RBP RB MC MGC ICP ICC DTC DIC


(RG/ (RGP/
Genótipos (kg.ha-1) (g) (kg ha-1) (g) (g) RB) MC) (cm) (cm)
125 79,06 16,25 2,25
PARAISO 22 2295ª 274a 5747ª ª a 0,40b 0,63a a b
57,22 13,12 2,25
HLE 17 2140ª 158c 3800b 84b b 0,56ª 0,67a b b
58,08 13,08 3,66
SAUCE 1 2105ª 186c 3891b 87b b 0,56ª 0,66a b a
13,70 2,83
PARAISO 20 1928ª 180c 3770b 85b 48,81c 0,52ª 0,57a b b
55,32 13,70 3,54
AROMO 10 1853b 174c 3629b 87b b 0,51ª 0,63a b a
12,83 3,17
HLE 14 1849b 162c 3387b 78b 47,47c 0,54ª 0,60a b b
55,32 13,03 2,75
M734(T) 1806b 180c 3751b 85b b 0,48ª 0,63a b b
13,20 4,54
HELIO 358(T) 1766b 157c 3272b 84b 50,91c 0,55ª 0,61a b a
23,06 3,71
EXP 1452 CL 1764b 178c 3712b 81b 46,00c 0,49ª 0,56a b a
12,92 3,83
V 50070 1747b 179c 3745b 85b 49,69c 0,47ª 0,58a b a
2,87
ALBISOL 20 CL 1730b 170c 6546b 59b 38,63c 0,50ª 0,66a 11,87b b
55,88 14,21 3,08
HLT 5014 1705b 180c 3759b 94b b 0,46ª 0,59a b b
12,88 4,00
AGROBEL 960(T) 1671b 143c 2993b 75b 43,90c 0,56ª 0,58a b a
13,79 3,12
EMBRAPA 01 1592b 170c 3543b 81b 46,03c 0,46ª 0,56a b b
55,77 13,58 3,71
HLE 16 1592b 179c 3747b 85b b 0,45ª 0,65a b a
13,54 3,17
HLT 5009 1563b 167c 3486b 83b 46,68c 0,45ª 0,56a b b
12,68 3,00
V 20041 1557b 217b 4270b 79b 41,88c 0,37b 0,52b b b
13,20 3,75
HLT 5013 1541b 154c 3225b 84b 48,11c 0,50ª 0,59a b a
13,31 3,41
ALBISOL 2 1492b 207b 4315b 84b 42,08c 0,35b 0,50b b a
13,46 3,79
EXP 1450 HO 1492b 223b 4649ª 93b 46,55c 0,34b 0,49b b a
12,83 4,00
SRM 840 1470b 186c 3880b 82b 39,97c 0,39b 0,48b b a
13,87 3,79
PARAISO 33 1233c 198c 4142b 87b 51,84c 0,31b 0,57a b a
129 66,59 15,75 4,16
V 70003 914d 254a 5295ª ª a 0,18c 0,51b a a
14,25 2,62
NTO 3.0 739d 195c 4077b 84b 39,22c 0,19c 0,46b b b
* médias seguidas de mesma letra não diferem significativamente entre si, em nível de 5% de
probabilidade de erro pelo teste de Scott e Knott; (T)= Testemunha; RG= Rendimento de
grãos; RBP= Rendimento biológico por planta; RB= Rendimento biológico; MC= Massa do
capítulo; MGC= Massa de grãos do capítulo; ICP= Índice de colheita da planta; ICC= Índice de
colheita do capítulo; DTC= Diâmetro total do capítulo; DIC= Diâmetro infértil do capítulo.

O índice de colheita da planta (ICP) é o quociente entre o rendimento econômico


(grãos) e o rendimento biológico (grão+palha) e representa a eficiência com que os
fotoassimilados são convertidos em rendimento econômico, parâmetro relacionado a espécie. A
faixa adequada para o ICP em girassol segundo Merrien (1992) está entre 0,25 a 0,35,
contudo, pelos dados da tabela 2, a maioria dos genótipos avaliados apresentou ICP superior a
0,35. Já para o ICC, valores entre 0,46 e 0,67 foram observados, indicando maior eficiência
fisiológica no capítulo. Ainda, os genótipos que apresentaram os níveis de produtividade mais
elevados apresentaram destaque na eficiência fisiológica, com comportamento superior para
estes caracteres.
O caráter DIC, que representa os aquênios inférteis da porção central do capítulo,
evidencia de modo geral uma expressão similar entre os genótipos, com apenas duas classes
formadas. É importante destacar que a expressão dessa variável além do efeito de ambiente
também têm relações genéticas de expressão e de interação, aliado que, a tendência de
acumulação de fotoassimilados no direcionamento da fotossíntese para os grãos ocorre das
extremidades para o centro. Portanto, é comum ocorrer falhas no enchimento, ou mesmo
ausência de aquênios no centro do capítulo do girassol. Isto é atribuído pela maior demanda de
fotoassimilados dos aquênios oriundos das primeiras flores polinizadas nas extremidades do
capítulo (CASTRO e FARIAS, 2005).
Para os caracteres MC e MGC as cultivares de distinto desempenho no RG como
Paraiso 22 e V70003 mostraram os maiores valores médios nestas duas variáveis, o que
levanta a hipótese que não são caracteres fortemente ligados a produção final nestes
genótipos, indicando que outros fatores também são importantes em definir a produção final, ou
pelo efeito cumulativo conjunto de cada variável.
O RB representa a produção total de matéria seca de um genótipo, importante em
girassol para proporcionar ciclagem de nutrientes, cobertura do solo, com melhoria das
propriedades químicas, físicas e biológicas, inclusive aumento do teor de matéria orgânica.
Variações entre 2993 e 6546 kg ha -1 de matéria seca foram identificadas entre os genótipos. O
girassol se constitui como uma cultura que melhora a fertilidade do solo por apresentar uma
elevada capacidade de ciclagem de nutrientes absorvidos em profundidade e uma reduzida
taxa de exportação de nutrientes. Em uma produção de 2500 kg ha -1 pode restituir ao solo
aproximadamente 50 kg de nitrogênio, 25 kg de fósforo e 225 kg de potássio, além de sete
toneladas de matéria seca, produzindo em torno de 1000 litros de óleo e 500 kg de torta com
36% de proteína (CAVASIN JR, 2001).

Conclusões
Os genótipos Paraíso 22, HLE 17, Sauce 1 e Paraíso 20 foram os mais produtivos. O
incremento no diâmetro total do capítulo nem sempre se traduz em aumento no rendimento de
grãos, sendo o índice de colheita um parâmetro importante em definir maiores níveis de
produtividade em girassol.

Referências
CARVALHO, D. B. de; PISSAIA, A. Cobertura nitrogenada em girassol sob plantio direto na
palha: I - rendimento de grãos e seus componentes, índice de colheita e teor de óleo.
Scientia Agraria, v. 3, n. 1-2, p. 41-45, 2002.
CASTRO, C.; FARIAS, J. R. B. Ecofisiologia do girassol. In: LEITE, R. M. V. B. C.; BRIGHENTI,
A. M.; CASTRO, C. (Ed.). Girassol no Brasil. Londrina: Embrapa Soja, 2005. p. 163-218.
CAVASIN JR, Carlos Paulo. A cultura do girassol. Guaíba: Agropecuária, 2001, 69 p.
CRUZ, C. D. Programa GENES: Aplicativo computacional em genética e estatística.
Viçosa: UFV, 2001. 648 p.
MERRIEN, A. Physiologie du tornesol. Paris: CETION, 1992. 66 p.
SCOTT, A. J.; KNOTT, M. A. A cluster analyses method for grouping means in the analysis of
variance. Biometrics, Washington, v. 30, p. 507-512, 1974.

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