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CORRELAÇÕES QUE ENVOLVEM A CURVATURA DE CAPÍTULO E

NÚMERO DE FOLHAS EM GIRASSOL

CORRELATION THAT INVOLVING HEAD CURVATURE AND NUMBER OF LEAVES IN


SUNFLOWER

Diogo Vanderlei Schwertner1, Tânia Cristina Mattioni1, Cristiano Fontaniva1, Taiane Pettenon
Bandeira1, Juliana Moraes de Oliveira1, Rogério Viera1, Diovani Antonow1, Dagmar Camacho
Garcia1, Valmir José de Quadros1, José Antonio Gonzalez da Silva1
1
Departamento de Estudos Agrários da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul (DEAg/UNIJUÍ). Rua do comércio 3000, Bairro Universitário, CEP: 98700-000 –
Ijuí, RS. Email: diogovanderlei.v@hotmail.com

Resumo
A curvatura de capítulo é um caráter que pode estar associado a perdas durante a
colheita mecanizada devido a exposição solar, ataque de pássaros e insetos, resultando em
redução da produtividade. Para facilidade no processo de seleção é importante o estudo de
caracteres correlacionados. O objetivo do trabalho foi estimar para as condições do sul do
Brasil as correlações fenotípicas, ambientais e genéticas do número de folhas e curvatura de
capítulo com outros caracteres de importância agronômica em girassol, de maneira a fornecer
informações que auxiliem os programas de melhoramento nos processos de seleção desta
espécie. O experimento foi conduzido no Instituto Regional de Desenvolvimento Rural
(IRDeR)/UNIJUÍ, localizado no município de Augusto Pestana-RS, durante o ano agrícola de
2008/2009. Foram avaliados 24 genótipos de girassol, em delineamento experimental blocos
casualizados com quatro repetições. O número de folhas na floração não apresentou
correlação significativa com os caracteres avaliados. A curvatura do capítulo apresentou
correlação negativa com os caracteres dias da floração a maturação e rendimento biológico.

Abstract
The head curvature is a trait that can be associated with losses during mechanized
harvest due to sun exposure, attack of birds and insects, resulting in productivity reduction. In
breeding program to facilitate of the selection is important the study traits correlated. The
objective of this study was to estimate the phenotypic genetic an environment correlation of the
leaves number and head curvature with other important agronomic traits in sunflower. A study
was conducted at the Instituto Regional de Desenvolvimento Rural (IRDeR/UNIJUÍ), Augusto
Pestana, Brasil. In this study were evaluating twenty-four sunflower genotypes in blocks
randomized design with four replication. The number of leaves on flowering not showed
significant correlation with the evaluated traits. The head curvature evidenced negative
correlation with the days from flowering to maturation and biological yield traits.

Introdução
Compreender as relações entre variáveis é de suma importância, visto que a obtenção
de ganhos genéticos e a definição dos melhores genótipos são, muitas vezes, dirigidas a um
conjunto de variáveis agronômicas. O conhecimento dessas relações permite que em uma
variável principal, de baixa herdabilidade e/ou dificuldades de aferição, seja praticada a seleção
com base em outra(s), permitindo ao melhorista ter progressos mais rápidos em relação ao uso
da seleção direta (FERREIRA et al., 2007).
Grande importância tem sido atribuída ao estudo de caracteres correlacionados
(CAEIRÃO et al., 2001; CRESTANI, 2008), pois possibilitam identificar modificações que
ocorrem em um determinado caráter em função da seleção praticada em outro. Além disso,
segundo Carvalho et al., (2001), pode permitir progressos mais rápidos e em menor espaço de
tempo do que a própria seleção direta do caráter desejado, principalmente quando se deseja
seleção simultânea de caracteres ou quando um caractere de interesse revelar baixa
herdabilidade, de difícil identificação e resposta para obtenção de ganho genético.
A correlação entre caracteres que pode ser diretamente medida é a fenotípica
(FALCONER, 1987). Ainda segundo o autor, a correlação genética é causada principalmente
pelo pleiotropismo (propriedade pela qual um gene condiciona mais de um caráter
simultaneamente) e genes ligados. A correlação fenotípica tem causas genéticas e de
ambiente, porém só a genética envolve uma associação de natureza herdável, podendo ser
utilizada e modo efetivo em programas de melhoramento (CRUZ E REGAZZI, 1997).
A curvatura do capítulo é um caráter de grande importância, pois está associado as
perdas durante a colheita mecanizada, exposição a radiação solar, ataque de pássaros e
insetos, que podem resultar em perdas severas de produtividade na fase de enchimento de
grãos e maturação. Portanto, a curvatura do capítulo não deve ser muito acentuada, mas deve
permitir adequada proteção contra o ataque de pássaros, facilitar a colheita e não expor a
inflorescência diretamente ao sol. Do ponto de vista agronômico, os capítulos de forma plana e
de menor espessura são os mais desejáveis, pois apresentam melhor distribuição dos tecidos
vasculares e melhor contato com os grãos, além de facilitar a perda de água após a maturação
fisiológica. Portanto, é essencial o conhecimento das relações deste caráter com os demais, de
maneira a selecionar genótipos que possuam curvatura de capítulo ajustadas as atuais
necessidades dos sistemas de produção.
O objetivo do trabalho foi estimar para as condições do sul do Brasil as correlações
fenotípicas, ambientais e genéticas do número de folhas e curvatura de capítulo com outros
caracteres de importância agronômica em girassol, visando fornecer informações que auxiliem
os programas de melhoramento nos processos de seleção desta espécie.

Material e métodos
O experimento foi conduzido no Instituto Regional de Desenvolvimento Rural
(IRDeR)/UNIJUÍ, localizado no município de Augusto Pestana-RS, durante o ano agrícola de
2008/2009. Foram avaliados 24 genótipos de girassol, do Ensaio Final de Primeiro Ano da
Embrapa em delineamento experimental de blocos casualizados com quatro repetições. Os
genótipos foram semeados no mês de setembro em parcelas com 4 linhas de 6 m de
comprimento, espaçadas de 0,8 m entre-linhas e 0,3 m entre plantas. As avaliações foram
realizadas nas duas linhas centrais, excetuando-se os 0,5 m inicias.
Os caracteres analisados foram: 1. Dias da emergência a floração (DEF, em dias),
anotado quando 50% das plantas na parcela se encontravam no estágio fenológico R 4
(primeiras flores liguladas abertas) conforme Schneiter e Miller (1981); 2. Número de folhas na
floração (NFF, em nº), avaliado em três plantas por parcela quando 50% das plantas se
encontravam no estágio fenológico R4; 3. Dias da floração a maturação fisiológica (DFM, em
dias) sendo considerado para maturação fisiológica o estádio fenológico R 9 (fase de maturação
dos aquênios - brácteas estão entre amarelo e castanho); 4. Dias da emergência a maturação
fisiológica (DEM, em dias); 5. Estatura de plantas (EST, em cm), medida do solo até a inserção
do capítulo; 6. Curvatura do capítulo (CC, em °).
Foram coletadas aleatoriamente três plantas por parcela no momento da colheita,
cortadas rente a superfície do solo e encaminhados para laboratório para avaliação dos
componentes do rendimento e parâmetros fisiológicos, que foram: 7. Rendimento biológico
(RB, em kg ha-1); 8. Massa de capítulo (MC, em g capítulo) sendo o peso total do capítulo
(grãos+palha); 9. Diâmetro total do capítulo (DTC, em cm); 10. Número de grãos por capítulo
(NGC, em nº); 11. Índice de colheita da planta (ICP), pela relação entre rendimento de grãos
(RG) e o rendimento biológico (RB); 12. Índice de colheita do capítulo (ICC), pela relação entre
massa de grãos do capítulo (MGC) pela massa do capítulo (MC); 13. Massa de mil grãos
(MMG, em g), pela contagem de 200 grãos e correção para 1000 grãos; 14. Rendimento de
grãos (RG, em kg ha-1), pela colheita de 20 capítulos por parcela. Foram estimadas as
correlações fenotípicas (rP), genéticas (rG) e ambientais (rE) do NFF e CC com os demais
caracteres avaliados utilizando o programa computacional Genes (CRUZ, 2001).

Resultados e discussão
Na tabela 1, podemos verificar que os coeficientes de correlação fenotípica, genética,
de ambiente em geral apresentam valores negativos, porém, em sua maioria não significativos,
analisados pelo teste T a 5% de probabilidade de erro, indicando que grande parte dos
caracteres avaliados não estão diretamente correlacionados ao NFF e CC. Pode ser percebido
também que há uma elevada concordância na direção e magnitude entre r P e rG para os
caracteres avaliados. Além disso, os valores da rG são na maioria dos caracteres superiores em
relação as valores da r P e rE, o que é extremamente útil em programas de melhoramento de
forma a distinguir e quantificar a correlação genética herdável entre os caracteres estudados.
Tabela 1. Estimativas de correlação fenotípica, ambiental e genética para caracteres de importância
agronômica em girassol. DEAg/UNIJUÍ, 2009.
Correlação fenotípica
rP RG MMG NGC MC RB ICP ICC DTC DEF DFM DEM EST NFF
CC -0,02 0,02 -0,13 -0,28 -0,45 0,21 0,24 -0,13 0,02 -0,69* -0,42 -0,42 0,21
NFF -0,35 0,29 -0,30 -0,08 -0,04 -0,30 -0,18 0,09 0,05 -0,11 -0,03 0,30 1,00

Correlação ambiental
rE RG MMG NGC MC RB ICP ICC DTC DEF DFM DEM EST NFF
CC 0,08 0,20 -0,01 -0,03 -0,01 0,06 0,08 0,04 -0,04 -0,01 -0,06 -0,22 -0,25
NFF 0,01 -0,05 -0,12 -0,04 -0,02 0,07 -0,05 0,01 0,31 -0,23 -0,01 -0,26 1,00

Correlação genética
rG RG MMG NGC MC RB ICP ICC DTC DEF DFM DEM EST NFF
CC -0,04 -0,02 -0,17 -0,39 -0,58* 0,24 0,31 -0,22 0,03 -0,91* -0,48 -0,46 0,37
NFF -0,44 0,39 -0,38 -0,10 -0,05 -0,41 -0,23 0,14 0,01 -0,07 -0,04 0,40 1,00
* significativo a 5% pelo teste t. r P= Correlação fenotípica; r E; Correlação ambiental; rG=
Correlação genética; RG= Rendimento de grãos (kg ha -1); MMG= Massa de mil grãos (g);
NGC= Número de grãos por capítulo (Nº); MC= Massa de capítulo (g); RB= Rendimento
biológico (kg ha-1); ICP= Índice de colheita por planta (RG/RB); ICC= Índice de colheita por
capítulo (MGC/MC); DTC= Diâmetro total do capítulo (cm); DEF= Dias da emergência a
floração (dias); DFM= Dias da floração a maturação (dias); DEM= Dias da emergência a
maturação (dias); EST= Estatura (cm); NFF= Número de folhas na floração; CC= Curvatura do
capítulo (°).

O caráter NFF não apresentou correlação significativa (r P, rE e rG) com os demais


caracteres avaliados, contudo sendo a maioria das associações observadas negativas NFF x
RG (rP= -0,35, rG= -0,44); NGC x NFF (rP=-0,30, rE=-0,12 e rG=-0,38). Para a associação entre
NFF x DEF e NFF x DFM a correlação ambiental apresentou valores superiores a genética ou
fenotípica.
O caráter CC (curvatura do capítulo) apresentou correlação negativa significativa com
DFM (rP=-0,69*; rG=-0,91*). Portanto, a seleção para plantas de maior CC potencialmente ira
resultar em plantas com um menor ciclo entre a floração e a maturação, estando este genótipo
por um menor período de tempo a campo, exposto as injurias causadas por pássaros e insetos,
que causam a debulha de grãos do capítulo, resultando em perdas de produtividade.
O CC apresentou correlação negativa significativa genética com o caráter RB
(rendimento biológico, total de matéria seca produzida ou CO 2 assimilado), (rP= -0,45, rE=-0,01
e rG= -0,58*), indicando que plantas com maior CC tendem a produzir menos matéria seca total.
Isso porém, não se traduz necessariamente em menores produtividades, visto a elevada
eficiência fisiológica do girassol em direcionar a matéria seca produzida para os componentes
do rendimento. Em ambas correlações (CC X DFM e CC X RB), identificamos que os valores
da rG são superiores aos valores da rP e rE, o que é extremamente útil em programas de
melhoramento de forma a distinguir e quantificar a correlação genética herdável entre os
caracteres estudados.
A correlação não significativa entre CC e MMG, indica maior valor para a correlação de
ambiente, em relação a fenotípica ou genética, indicando que num programa de melhoramento
levando em consideração essa associação a seleção indireta deve ser realizada em ambientes
uniforme (SILVA et al., 2004).

Conclusões
O número de folhas na floração não apresentou correlação significativa com os
caracteres avaliados. A curvatura do capítulo apresentou correlação negativa e significativa
com os caracteres dias da floração a maturação e rendimento biológico. Os valores da
correlação genética foram superiores a fenotípica e ambiental, sendo útil para quantificar a
variação genética herdável entre os caracteres estudados.

Referências
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Ciência Rural, Santa Maria, v.31, n.32 p.231-236, 2001.
CARVALHO, F.I.F. et al. Estimativas e implicações da herdabilidade como estratégia de
seleção. Pelotas: Editora da UFPel, 2001. 99p.
CRESTANI, M. Genótipos de aveia branca (Avena sativa L.) submetidos a diferentes
protocolos e doses de alumínio em cultivo hidropônico. 2008. 107f. Dissertação
(Mestrado em Ciências (Fitomelhoramento) – Curso de Pós-Graduação em Agronomia,
Universidade Federal de Pelotas.
CRUZ, C. D. Programa GENES: Aplicativo computacional em genética e estatística.
Viçosa: UFV, 2001. 648 p.
CRUZ, C.D.; REGAZZI, A.J. Métodos biométricos aplicados ao melhoramento genético.
Viçosa: UFV. Imprensa Universitária, 1997. 390 p.
de produção em cana-de-açúcar. Bragantia, Campinas, v. 66, n. 4, p. 527-533, 2007.
FALCONER, D.S. Introdução à genética quantitativa. Viçosa: UFV, Imprensa Universitária,
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FERREIRA, F.M.; BARROS, W.S.; SILVA, F.L.; BARBOSA, M.H.P.; CRUZ, C.D.; BASTOS, I.T.
Relações fenotípicas e genotípicas entre componentes de produção em cana-de-açúcar.
Bragantia, Campinas, v.66, n.4, p.527-533, 2007.

SCHNEITER, A. A. e MILLER, J. F. Description of sunflower growth stages. Crop sciencie. v.


21, p. 901-903, 1981.
SILVA, José Antonio Gonzalez da, et al. Identificação de caracteres associados à estatura de
planta e tolerância ao alumínio em trigos duplo-haplóides sob cultivo hidropônico. Revista
brasileira de Agrociência, v. 10, n. 4, p. 419-425, out-dez, 2004.

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