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FERTILIDADE DO SOLO

IA-322 e IA-323
ERE - 2020-5
Pandemia COVID-19

FATORES QUE AFETAM O DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS: RECORTES


E. Zonta
Prof. Dr. UFRRJ
Fertilidade do Solos

TEXTO 1
Ref. FREIRE, Luiz Rodrigues ; Balieiro, F. de Carvalho ; Zonta, Everaldo ; ANJOS, Lúcia Helena
Cunha dos ; PEREIRA, Marcos Gervásio ; LIMA, Eduardo ; GUERRA, J. G. M. ; FERREIRA, M. B. C.
; LEAL, Marco Antônio de Almeida ; Campos, D.V.B. de ; Polidoro,José Carlos . Manual de
calagem e adubação do Estado do Rio de Janeiro. 1. ed. Rio de Janeiro: Embrapa, 2013. v. 1.
430p .

1. Produtividade vegetal e fertilidade do solo

Ao explorar uma propriedade rural, a intenção do produtor é o da obtenção


dos melhores rendimentos possíveis com os menores custos. Essa equação,
entretanto, não é tão simples de ser alcançada e a experiência demonstra que
não é rara a situação inversa, em que prejuízos contrariam as expectativas
iniciais. As variáveis envolvidas no processo produtivo são muitas e oscilam
desde àquelas de fácil compreensão até aquelas cuja complexidade exige
conhecimentos técnicos e científicos sólidos.
Para a adequada exploração de qualquer sistema de produção é
conveniente o exame dessas variáveis e o diagnóstico da situação específica
encontrada em uma área agrícola. Sem a pretensão de se esgotar o tema, em
razão do escopo do Manual de Adubação e Calagem para o Estado do Rio de
Janeiro, a seguir estão apresentados os fatores que mais afetam a produtividade
das culturas.
Produtividade é aqui definida como a expressão da produção vegetal em
quantidade por unidade de área e por unidade de tempo. Ao se comparar a
produtividade obtida com as potencialmente possíveis, o técnico poderá verificar
se as diferenças são marcantes e, assim, buscar identificar as razões das
mesmas.
Em qualquer situação, a produtividade obtida é a resultante da ação
integrada dos fatores que compõem cada agroecossistema: Planta, Solo, Clima
e Manejo. A interdependência desses fatores ilustra a importância de se
conhecer cada um desses fatores e os possíveis impactos de cada um sobre os
demais. Desta forma é imprescindível que práticas de conservação do solo
sejam adotadas em todos os sistemas de produção visando a proteção dos
recursos naturais e a manutenção da oferta de serviços e bens ambientais.
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Abaixo encontra-se uma breve descrição desses fatores que podem ser
manipulados (material genético vegetal, solo) ou não (clima) e que são
importantes de serem considerados na adequação do sistema de produção.

1.1 Planta

O fator que determina o máximo de produtividade a ser atingido


(produtividade potencial) pelas plantas cultivadas é o seu código genético; essa
produtividade máxima, entretanto, somente será alcançada quando todos os
demais fatores estiverem em condições ótimas. A fotossíntese, conjunto de
reações bioquímicas que permite a captação e transformação da energia
luminosa em energia química é o processo mais importante da Natureza e é a
garantia da vida em nosso planeta.
Para a realização da fotossíntese a planta utiliza seus cloroplastos, cuja
quantidade depende, além do código genético do veetal, do suprimento de
nutrientes essenciais para sua formação e funcionamento. A captação do gás
carbônico e assimilação de carbono pelas plantas a grosso modo é condicionada
pela arquitetura da planta, pela quantidade de folhas e distribuição na copa, a
sua anatomia e morfologia, ao fornecimento de água e nutrientes, e pelas
condições meteorológicas vigentes em um dado momento, dentre outros fatores
relevantes.
De qualquer forma, consideradas todas as variáveis envolvidas, é a planta
que define a produtividade máxima e o melhoramento vegetal, associado ou não
a técnicas de transgenia é a ferramenta tecnológica que deve ser utilizada para
a ampliação da meta a ser atingida.

1.2 Solo
Dentre o conjunto de fatores que afetam a produtividade vegetal,
usualmente as características do solo são aquelas cujas alterações podem ser
consideradas rápidas. Na verdade, para atender as funções de sustentação da
planta e fornecimento de ar, água e nutrientes, as características físicas têm uma
importância fundamental e, infelizmente com frequência indesejada, não tem
recebido a atenção adequada.
É relativamente comum a utilização conjunta das expressões
produtividade e fertilidade do solo. Fertilidade corresponde à capacidade do solo
em fornecer nutrientes em quantidade e oportunidade compatíveis com a
necessidade do vegetal. Neste contexto, fertilidade faz parte do conjunto de
fatores que influenciam a produtividade e a sua correção não implica
necessariamente em aumentos da produção.
Ao afetar o desenvolvimento vegetal, a fertilidade pode alterar a
manifestação de atributos da planta, com destaque para o crescimento,
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expansão e aprofundamento do sistema radicular no solo. Há nutrientes como o
cálcio que interferem diretamente na multiplicação celular e, em solos deficientes
neste elemento, haverá restrição do desenvolvimento radicular, passível de
correção com a adequada aplicação de cálcio. Isto tem particular importância
para culturas sensíveis a solos ácidos ou com saturação elevada de alumínio,
para as quais se pode amenizar os efeitos do déficit hídrico no campo durante o
período seco do ano, com a aplicação melhor localizada de cálcio ou de outros
insumos capazes de permitir o transporte de Ca (e outros nutrientes) para
camadas subsuperficiais do solo, como é o caso do gesso agrícola.

1.3 Clima
Os componentes do fator clima – radiação solar, precipitação
pluviométrica, temperatura, umidade relativa do ar, ventos, composição do ar,
por exemplo– afetam direta e indiretamente o processo fotossintético e,
obviamente, o resultado do empreendimento rural. O conhecimento dessas
variáveis e seus efeitos sobre a planta é fundamental para definição de espécies,
cultivares e até manejos a serem adotados na propriedade.
As diferentes estações do ano e a expressão do clima nas diversas
regiões do Estado tornam imprescindível a caracterização climática para o
planejamento da exploração rural. Deve ser destacado que a caracterização
baseada em médias anuais pode não ser a ideal pois oscilações naturais entre
os anos deverão dar imagem distorcida da realidade, ainda mais em épocas de
alterações climáticas.

1.3.1 Efeitos da temperatura

Toda a planta tem uma temperatura mínima, abaixo da qual não


sobrevive; uma temperatura ótima, onde se crescimento é maior, e uma
temperatura máxima, que lhe causa a morte.
O efeito letal do frio nem sempre é provocado pelo congelamento da seiva
mas, muitas vezes, pela falta de água que provoca.
Por outro lado, as altas temperaturas não só provocam uma perda
excessiva de água como inativam enzimas indispensáveis para a manutenção
da vida.

1.3.2 Termoperiodismo

É a influência do frio no florescimento dos vegetais. A maioria das


plantas necessita atravessar um período frio, que desperta os seus botões
florais, para depois florescer.
O fato de se fazer passar a planta pelo período frio que provoca o seu
florescimento chama-se vernalização, que pode ser natural ou artificial.
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1.4 Manejo

A intervenção positiva do homem para a obtenção dos resultados


pretendidos com o processo produtivo, se dá por meio da adoção de técnicas
para compatibilizar o atendimento das necessidades do vegetal, às condições
edafoclimáticas. Dentre essas técnicas pode-se citar:a definição da época de
semeadura/plantio, o espaçamento a ser utilizado, o método de preparo do solo,
de irrigação, possibilidade ou exigência quanto a drenagem, controle
fitossanitário, profundidade de semeadura/plantio, aplicação de corretivos e
adubos, por exemplo. Nesta publicação será abordada apenas uma parcela das
mesmas, o que não implica em desconsiderar que é crucial a adoção de todas
as técnicas disponíveis.
Um aspecto importante se relaciona à aplicação correta das técnicas
preconizadas para a adequada exploração da cultura. Para ser citado apenas
um exemplo, o emprego correto da irrigação deve considerar, dentre outras
variáveis, a profundidade efetiva das raízes. Se a quantidade de água aplicada
exceder essa profundidade, ocorrerão perdas por lixiviação de nutrientes, cujas
consequências imediatas serão a perda da eficiência da adubação e aumento
do passível ambiental. É bastante provável que isto esteja ocorrendo em áreas
com exploração olerícola do Estado.

1.5 Fatores limitantes

Conforme apresentado acima, a produtividade vegetal é conseqüência da


ação integrada dos fatores descritos. A interpretação que se impõem é a de que
não há fator mais importante que os demais. Basta que um deles esteja em
desacordo com o que planta exige para que esta não atinja seu potencial
produtivo; isto implica em reconhecer que é fundamental a execução de
diagnóstico próprio para o planejamento da exploração vegetal. Caso se
verifique, por exemplo, que o fator que está limitando a produção reside na
irregularidade de fornecimento de água, não será a utilização de cultivares de
alta produtividade que alterará o resultado final.
Como não poderia deixar de ser, está nas mãos do técnico responsável a
definição da estratégia a ser adotada para cada cultivo e cada propriedade. Para
concluir com um lugar comum: cada caso é um caso e suas soluções são
peculiares à cada situação.
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TEXTO 2
Ref. Zonta, E; BRASIL, Felipe da Costa ; ROCHA, J. F. ; SANTOS, L. A. ; FERREIRA, L. M. ;
TAVARES, O. C. H. ; PIMENTEL, R. R. ; Rossiello, Roberto O.P. ; GOI, Silvia Regina . O sistema
radicular e suas interações com o ambiente edáfico. In: Manlio Silvestre Fernandes; Sonia
Regina de Souza; Leandro Azevedo Santos. (Org.). Nutrição Mineral de Plantas. 1ed.Viçosa:
SBCS, 2018, v. 1, p. 48-123.

1. Fatores que afetam a aquisição de nutrientes.

A aquisição de um nutriente pelas plantas depende da disponibilidade


deste na solução do solo e da capacidade de absorção do nutriente pela planta.
A disponibilidade é definida como a fração do nutriente que está acessível ao
vegetal e depende de inúmeros fatores edáfo-climáticos (temperatura, pH da
solução do solo, aeração, umidade, teor de matéria orgânica). Fatores
intrínsecos da planta como a potencialidade genética e as condições fisiológicas
da plantas, influenciam de modo decisivo a absorção e metabolização dos
nutrientes minerais. Há diferenças na capacidade e velocidade de absorção de
um determinado nutriente entre espécies e variedades. Certas espécies,
mediante excreções radiculares, podem alterar de modo específicoa rizosfera
afetando não só a disponibilidade de certos nutrientes como também a flora
microbiana, fator crítico no processo de degradação da matéria orgânica do solo.
Agentes quelantes (seqüestrantes), tais como nutrientes como o Fe; a
exsudação de ácidos orgênicos pode contribuir para solubilizar nutrientes.

A disponibilidade dos nutrientes é afetada pela seguintes característica do


solo:

▪ O pH afeta a disponibilidade de praticamente todos os nutrientes do


solo.
▪ A CTC do solo e da matéria orgânica que são um reservatório de
elementos absorvidos, podendo ser trocados com a solução do solo.
▪ Interações entre nutrientes. Várias são conhecidas e pode-se citar
uma clássica que é a do fósforo com o zinco, onde a alta
disponibilidade do primeiro, geralmente obtida com pesadas
adubações fosfatadas, pode reduzir a absorção de Zn pela planta.
▪ Relação C/N do material vegetal depositado no solo. Se for de alta
relação (maior que 20-30) o N ficará imobilizado nos
microorganismos. As leguminosas normalmente têm relação C/N
entre 12-15 de modo que mais N ficará disponível. Os
microorganismos, sempre retém parte dos nutrientes e se alguma
coisa causar morte excessiva deles pode ocorrer toxidez de
micronutrientes.
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▪ Fixação biológica de N que torna disponível o N da atmosfera para o
solo quando da morte dos microorganismos de vida livre ou
diretamente para os vegetais simbiontes.
▪ Micorrizas, que são associações entre raízes de plantas e fungos, que
aumentam a capacidade da planta de absorver nutrientes. As hifas
dos fungos micorrízicos exploram um grande volume de solo e ainda
têm capacidade de solubilizar alguns nutrientes, custando à planta
menos do que suas próprias raízes. Cerca de 80% das plantas
cultivadas são beneficiadas por esta associação.

2. características das plantas, bem como as condições fisiológicas que


afetam a aquisição de nutrientes (resumidamente)

▪ CTC das raízes, que sendo elevada, como nas leguminosas, induzirá
uma maior atração por cátions divalentes para o espaço livre de
Donnan, que precede a membrana plasmática.
▪ Morfologia e taxas de crescimento do sistema radicular.
▪ A demanda de nutrientes pela planta, ou seja, a sua exigência
quantitativa para a biossíntese de macromoléculas e manutenção do
metabolismo, é um fator importante para o controle quantitativo e
qualitativo da absorção de nutrientes. Assim as taxas de absorção de
nutrientes minerais podem variar de acordo com a fase de
desenvolvimento de uma planta ou entre espécies em função de taxas
de crescimento diferenciadas.
▪ O suprimento e a disponibilidade de carboidratos nos tecido do
sistema radicular influenciam a capacidade de absorção de nutrientes
pelas raízes. Tanto a absorção quanto a metabolização dos nutrientes
minerais são processos dependentes de energia. Portanto, os fatores
que afetam a fotossíntese também influenciam a absorção de
nutrientes pelas plantas.

3. Características do solo que afetam intensamente a atividade do sistema


radicular

• A aeração do solo que depende da porosidade e da quantidade de água


presente, afeta a vida microbiana e a atividade do sistema radicular. Na
falta de O2 as raízes não respiram comprometendo o metabolismo e, no
tocante à nutrição de plantas a própria absorção dos elementos fica
comprometida. Ainda na falta de O2, bactérias aeróbias facultativas
podem respirar o nitrato e o sulfato transformando-os em óxidos gasosos
que são perdidos para a atmosfera, tais como N2O, NO, SO2. Esta é uma
das razões para não se adubar arroz irrigado com nitrato e sim com
amônio. A outra é que o nitrato pode ser negativamente carregado, é
menos absorvido, sendo lixiviado para as coleções de água onde causa
diversos desequilíbrios como a eutroficação (enriquecimento de
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nutrientes de corpos de água por ação do homem, resultando no
crescimento exagerado de vegetais aquáticos. Um bom exemplo disto é
o lago em frente ao Instituto de Agronomia da Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro – quando tinha aguapé).

4. Mais sobre fatores que afetam a produtividade

As características físicas dos solos e ambientais, além da própria espécie


também condicionam o crescimento vegetal, ao fazer variar a quantidade e a
capacidade de retenção de água, a solubilidade dos elementos minerais, as
transformações minerais e bioquímicas, a lixiviação dos nutrientes, a
disponibilidade de energia, a capacidade e uso dos fatores de crescimento, entre
outros.
Assim, os principais fatores que afetam o crescimento, desenvolvimento
e a composição química das plantas podem ser agrupados em duas amplas
categorias, além dos efeitos climáticos:

4.1 Fatores edáficos

Além da disponibilidade de nutrientes e de elementos tóxicos (Al+3, por


exemplo), as propriedades físicas do solo, a topografia e os organismos do solo,
afetam o desenvolvimento das plantas de forma distinta e diferencial.
A infiltração e a capacidade de armazenamento de água estão
intimamente relacionadas com a porosidade do solo e as raízes das plantas. A
dinâmica destas propriedades pode sofrer modificações na sua porção
superficial com o passar do tempo, através de práticas de manejo como aração,
tratos culturais, calagem, adubação, incorporação de matéria orgânica, dentre
outras. A distribuição vertical das características radiculares dos vegetais
também pode ser alterada em função da variação de textura nos horizontes
superficiais e subsuperficiais do solo (Zonta et al, 2006).
Em solos argilosos as árvores muitas vezes formam raízes “dispersantes”
concentradas no horizonte superficial, podendo, muitas vezes, o sistema
radicular ficar limitado às zonas de coveamento de plantio (figura abaixo).
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Raízes dispersantes - efeito de coveamento na distribuição radicular da Acerola. A linha


pontilhada representa o espaço tridimensional da cova de plantio. Fotografia de Felipe da Costa
Brasil (2002), in Zonta et al (2018).

4.2 Espécie

Devido à inconstância natural dos fatores ambientais, as plantas viram-se


obrigadas a desenvolver mecanismos adaptativos que lhes permitissem resistir
melhor a condições adversas. Algumas plantas modificaram-se estruturalmente
de forma a armazenar substâncias inorgânicas (os cactos armazenam água) e
orgânicas (as batatas armazenam amido). Outras estabelecem relações bióticas
com microrganismos que existem abundantemente no solo. Estas relações
podem ser relações de prejuízo (parasitismo, predação) ou de benefício mútuo
(simbióticas e mutualísticas).

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