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Sami Michereff
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1. INTRODUÇÃO
a maior parte de seu ciclo de vida no solo; (2) infectam órgãos subterrâneos ou
caules das plantas; (3) têm capacidade de sobreviver no solo por um longo período na
ausência de seus hospedeiros; (4) possuem capacidade de competição saprofítica; e (5)
seus estágios de disseminação e sobrevivência são confinados ao solo, embora alguns
possam produzir esporos disseminados pelo ar ou água (Hillocks & Waller, 1997).
Os fungos constituem o maior grupo de patógenos do sistema radicular,
ocorrendo em todos os tipos de sistemas agrícolas e causando doenças nas principais
espécies cultivadas, com uma variada gama de sintomas. Muitos destes fungos
possuem elevada capacidade de competição saprofítica e podem sobreviver em
resíduos de plantas introduzidos no solo e na forma de estruturas de resistência,
permanecendo viáveis na ausência de plantas hospedeiras e em elevadas densidades
populacionais, mesmo após longos períodos de rotação de culturas. Esse conjunto
de características é uma das razões pelas quais fungos fitopatogênicos habitantes
do solo, uma vez introduzidos numa área de plantio, dificilmente sejam eliminados
(Wheeler & Rush, 2001).
Os oomicetos causadores de doenças do sistema radicular se restringem a
poucos gêneros, mas são altamente destrutivos. Apresentam como características
importantes a formação de esporângios, zoósporos biflagelados e esporos sexuais
imóveis, denominados oósporos, que são esporos de resistência capazes de
sobreviver no solo e em restos de cultura, em condições adversas. A capacidade
de locomoção dos zoósporos flagelos faz com que os oomicetos sejam adaptados a
ambientes com alta umidade (García-Jiménez et al., 2010).
As bactérias, embora sejam considerados os microrganismos mais numerosos
no solo e estejam associadas com doenças do sistema, poucas são patógenos
radiculares primários. Esses organismos penetram por ferimentos causados nas
raízes por nematóides, insetos, implementos agrícolas ou rachaduras naturais na
superfície da raiz. Embora somente poucos gêneros bacterianos causem doenças
radiculares, muitos desses gêneros possuem uma ampla gama de hospedeiros.
Os nematóides fitopatogênicos são parasitas que tipicamente se alimentam
de raízes, embora algumas espécies sejam capazes de migrar para a parte aérea da
planta e causar galhas ou lesões nas folhas e sementes. Os ferimentos provocados
durante a alimentação dos nematóides propiciam a penetração e o acesso de fungos,
de oomicetos e de bactérias aos tecidos radiculares intercelulares. Freqüentemente,
os danos dos nematóides às plantas são resultantes de sua habilidade parasítica em
interação com outros fitopatógenos, produzindo doenças do tipo “complexo” (Perry
& Moens, 2006; Castillo & Verdejo-Lucas, 2011).
O controle de doenças do sistema radicular é muito difícil, pois os patógenos
coevoluiram com as plantas por milhões de anos e estão adaptados ao ambiente
subterrâneo em associação com o hospedeiro (Bruehl, 1987). Além disso, devido
à infecção inicial e o desenvolvimento subseqüente das doenças ocorrerem na
maioria das vezes abaixo do nível do solo, patógenos do sistema radicular são
comparativamente inacessíveis à manipulação direta do homem e as doenças,
freqüentemente, não são notadas até que atinjam estádios bem avançados e as
opções de controle se tornem limitadas (Wheeler & Rush, 2001).
As doenças do sistema radicular são, geralmente, resultantes de um solo
desequilibrado. Na maioria das vezes, a origem desse desequilíbrio está nos
sistemas agrícolas adotados, que transformam os campos de cultivo em locais
de elevada simplificação ecológica, tornando-os mais sujeitos às perturbações
por alguns agentes, dentre os quais os fitopatógenos (Jenkins & Jain, 2010). As
consequências adversas de práticas equivocadas em sistemas agrícolas têm levado
a mudanças de postura em relação ao solo, que não é mais visto como um substrato
inerte, mas como um componente importante do equilíbrio ambiental, motivo pelo
qual há necessidade do aprofundamento dos estudos relacionados à ecologia e ao
manejo de patógenos do sistema radicular para a redução dos impactos ambientais
decorrentes do uso de práticas de controle com baixa sustentabilidade e que causam
desequilíbrios nos agroecossistemas (Michereff et al., 2005c).
2. TIPOS DE DOENÇAS DO
SISTEMA RADICULAR
nas folhas, por meio da fotossíntese, são translocados através do floema. Por sua
vez, a água e os nutrientes minerais absorvidos pela raiz são distribuídos através do
xilema. O sistema radicular, além da função de sustentação e absorção de água e
nutrientes, libera substâncias denominadas exsudatos radiculares. Essas substâncias
liberadas são prontamente disponíveis como nutrientes para os microrganismos,
constituindo a principal razão para o elevado número e a intensa atividade dos
mesmos na rizosfera (Willadino et al., 2005; Gregory, 2006; Joshi et al., 2009).
O crescimento abundante de microrganismos é apenas um dos efeitos da
rizosfera, pois substâncias voláteis podem difundir-se no solo, a partir da raiz,
e atingir distâncias maiores do que os compostos solúveis em água. Um grande
número de compostos orgânicos, incluindo carboidratos, aminoácidos e ácidos
orgânicos é liberado pelo sistema radicular (Bertin et al., 2003; Bais et al., 2006;
Gregory, 2006; Marschner, 2012). Esses compostos podem ser separados em três
grandes grupos: (1) compostos de alto peso molecular (mucilagem e ectoenzimas);
(2) compostos de baixo peso molecular (exsudatos livres); e (3) lisatos. Em
contraste com os lisatos, que são provenientes de células e tecidos desprendidos da
raiz, os demais compostos orgânicos são liberados por células saudáveis, por meio
de processos que podem ser metabolicamente ativos (secreções) ou não (Marchner,
1995; Marschner, 2012). A quantidade e a qualidade dos exsudatos dependem da
espécie de planta, estádio de crescimento, cultivar e fatores ambientais. Exsudatos
radiculares de algumas espécies vegetais podem inibir potenciais patógenos de solo,
liberando aleloquímicos, enquanto outros promovem o crescimento de patógenos
(Bertin et al., 2003; Nelson, 2004; Bais et al., 2006; Broeckling et al., 2008; Li et
al., 2013).
Muitos fungos fitopatogênicos sobrevivem no solo em estado quiescente. Para
que as interações patógeno-raiz iniciem é necessário que esses propágulos recebam
estímulos primários para promover sua germinação por moléculas presentes em
exsudatos solúveis e voláteis, produzidos pela germinação das sementes e pelo
desenvolvimento das raízes (Nelson, 1990; Davet, 2004; Nelson, 2004). Um
exemplo bem conhecido desse processo ocorre com Stromatinia cepivora (Berk.)
Whetzel (sin. Sclerotium cepivorum Berk.), um fungo restrito ao gênero Allium que
causa a podridão branca do bulbo. O fungo pode permanecer por muitos anos no
solo na forma de pequenos esclerócios que germinam somente nas proximidades
das raízes de Allium ou algumas espécies relacionadas. Esse efeito ocorre somente
a pequenas distâncias, sugerindo que é causado por compostos voláteis. Vários
experimentos têm demonstrado, entretanto, que os exsudatos não têm ação direta
sobre S. cepivorum. Para que a germinação ocorra, é necessário que os compostos
sulfóxidos não-voltáteis (alkyl e alkenyl-cysteine) exsudados pelas raízes sejam
primeiro transformados por bactérias da rizosfera nos voláteis thiols e sulfidos
orgânicos. Esses vapores são difundidos ao esclerócio, inicialmente dormente devido
à fungistase, e induzem sua germinação, tornando possível a posterior infecção da
planta hospedeira. As raízes infectadas emitem mais sulfóxidos não-voláteis, que
sua elevada capacidade de competição saprofítica, que lhes permite viver a partir de
substratos vegetais indiferenciados na ausência do seu hospedeiro. O saprofitismo
é a sua forma habitual de existência, enquanto o parasitismo é um estado acidental,
favorecido por condições ambientais. Contudo, essa limitação, não os impede de
estarem largamente difundidos em todos os solos do globo, pois apresentam uma
ampla gama de hospedeiros, suas populações no solo são elevadas e produzem
grande quantidade de propágulos, que germinam rapidamente quando estimulados
pela difusão de nutrientes a partir de um potencial substrato. Os fungos e oomicetos
especializados se caracterizam por uma existência passageira no solo, em virtude
da sua íntima associação com o hospedeiro. A especialização para um hospedeiro
ou gama restrita de hospedeiros significa que a sua difusão nos solos é localizada
(Ferraz, 1990).
Entre os fungos patogênicos especializados são reconhecidos dois grupos
de comportamento: (1) quanto à forma de infecção; e (2) quanto à forma de
sobrevivência. Um dos grupos é constituído pelos fungos que causam murchas
vasculares, como Fusarium oxysporum Schlecht, Verticillium albo-atrum Reinke
& Berth e V. dahliae Kleb. O outro grupo inclui todos os agentes patogênicos
especializados responsáveis por podridões radiculares em inúmeras espécies
herbáceas e lenhosas, como Gaeumannomyces graminis (Sacc.) Arx & D. Olivier,
A. mellea e Fomes annosus (Fr.) Cooke, responsáveis por podridão radicular em
gramíneas e podridões de espécies de folhosas e resinosas, respectivamente. Os
fungos que causam murchas realizam todo o processo de patogênese, depois da
penetração nos tecidos, no interior dos feixes vasculares, livres, portanto, da ação
da microbiota do solo. Com a morte da planta, o fungo sobrevive saprofiticamente
nos tecidos infectados, enquanto outros microrganismos mais competitivos não
colonizam os tecidos. Após a completa degradação dos tecidos, ocorre a liberação
dos propágulos de resistência para o solo, onde permanecem como unidades
infecciosas por vários anos. Para fungos e oomicetos que causam podridões, o modo
de infecção caracteriza-se por um desenvolvimento ectotrófico do fungo ao longo
das raízes, que, em seguida, são infectadas por meio de hifas que se desenvolvem a
partir de micélio epifítico. Diferente do que acontece com os patógenos causadores
de murchas, todo o processo de patogênese se dá em contato direto com os fatores
ambientais predominantes no solo, de modo que, o sucesso da infecção depende
de condições do solo de natureza biótica e abiótica favoráveis. Depois da morte do
hospedeiro, o fungo sobrevive saprofiticamente nos seus tecidos durante um tempo
que varia conforme a natureza da planta. A manutenção de raízes infectadas no
solo constitui focos de infecção permanente desses patógenos, que, de outro modo,
não seriam capazes de se perpetuarem por prolongados períodos de tempo (Ferraz,
1990).
As chances de infecção de plantas por patógenos do sistema radicular
relacionam-se à quantidade de inóculo disponível. Esta relação é mais importante
para patógenos do sistema radicular que para os da parte aérea, em vista da baixa
FIGURA 3 - Curva
idealizada da relação
entre densidade do
inóculo e intensidade
de doenças do sistema
radicular (adaptado de
Baker, 1978).
informações podem ser usadas para prever o potencial da doença no campo antes
do plantio, como também para avaliar opções de manejo, tais como variedades
resistentes, rotação de culturas, controle biológico e controle químico (Paulitz,
2000).
Outro aspecto importante é a sobrevivência do inóculo. Quanto tempo o
inóculo sobrevive na presença ou na ausência do hospedeiro? Benson (1994) discutiu
as curvas idealizadas de sobrevivência de inóculo de fitopatógenos habitantes do
solo com uma fase de sobrevivência inicial, fase de morte logarítmica e uma fase
de sobrevivência residual (Figura 4). Durante a fase de sobrevivência inicial, o
inoculo pode: (1) incrementar saprofiticamente em restos de plantas hospedeiras,
ou comensalmente na rizosfera de plantas não-hospedeiras (Figura 4, curva C);
(2) persistir num nível de população inicial (Figura 4, curva B); ou (3) entrar em
uma fase de morte logarítmica (Figura 4, curva A). O inóculo na curva A entra na
fase de morte logarítmica imediatamente após a disseminação e incorporação no
solo. Esse padrão é típico de inoculo natural com propágulos constituído de células
simples e inoculo produzido artificialmente adicionado ao solo. A curva B ilustra
um exemplo de inóculo multicelular como esclerócios, em que várias células podem
morrer antes do esclerócio perder a viabilidade, por isso ocorre uma fase lag inicial
antes da fase de morte logarítmica. A curva C representa o inoculo que aumenta
saprofiticamente nos restos culturais por um período de tempo, como ocorre com R.
solani, antes de entrar numa fase de morte logarítmica. Embora três curvas distintas
de sobrevivência possam ser descritas, o mesmo patógeno pode exibir qualquer das
três fases, dependendo da situação nutricional e/ou dos fatores físicos e ambientais
existentes (Benson, 1994).
Uma pergunta a ser respondida em relação a doenças do sistema radicular é
como o patógeno dissemina no tempo e no espaço? Muito poucos estudos espaço-
temporais têm sido realizados com patógenos do sistema radicular. Ao contrário de
patógenos foliares, patógenos do sistema radicular disseminam lentamente ao longo
do tempo, de modo que são necessários muitos anos para ver a disseminação espacial
da doença. A representação típica da propagação ao longo do tempo tem sido a curva
de progresso da doença, em que a quantidade de doença é representada graficamente
como uma função do tempo. Isso geralmente produz uma curva monomolecular
para doenças radiculares monocíclicas ou uma curva sigmoidal quando ocorre
infecção secundária. Estas curvas têm sido modeladas com fatores do patógeno e do
hospedeiro, incluindo a dinâmica de produção do inóculo, a taxa de contato entre o
inóculo e as raízes, a densidade radicular e o crescimento radicular (Gilligan, 1994).
Variações nas curvas podem ser constatadas em função das particularidades de cada
patógeno envolvido. Como exemplo, na análise do efeito da densidade de inóculo
inicial sobre a propagação temporal do fungo Gaeumannomyces graminis var.
tritici Walker, agente do mal-do-pé do trigo, altas densidades de inóculo produziram
uma curva monotônica de progresso da doença, mas baixas densidades de inóculo
produziram uma curva que foi inicialmente monotônica com um platô, e depois
aumentou sigmoidalmente para uma assíntota. Esta curva de dupla fase foi atribuída
às infecções primárias e secundárias, declínio do inóculo e crescimento da planta
hospedeira (Bailey & Gilligan, 1999) (Figura 5).
FIGURA 5 - Curvas
de progresso do
mal-do pé do trigo
para baixas (círculos
abertos) e altas
(círculos fechados)
densidades de inoculo
de Gaeumannomyces
graminis var. tritici
em experimento sob
condição controlada
(adaptado de Bailey
& Gilligan, 1999).
y = y0 exp r.t
a) Controle cultural
dos produtores de zoósporos, que são favorecidos por solos úmidos. Durante
o encharcamento do solo, desenvolvem-se os microrganismos anaeróbicos e a
produção de ácidos e gases tóxicos que vão atuar nos microrganismos fitopatogênicos
(Reis et al., 2005). A inundação tem sido empregada em pequenas áreas cultivadas,
viveiros e casas-de-vegetação, tendo seu potencial restrito às situações em que estão
disponíveis equipamentos para irrigação e as condições geográficas são favoráveis,
pois as grandes extensões de área e a topografia do terreno podem limitar esse
procedimento como prática de controle de doenças.
O manejo do pH do solo pode interferir no desenvolvimento de doenças
do sistema radicular, sendo mais freqüente o emprego de calcários dolomíticos e
calcíticos para a correção em solos ácidos, e do gesso agrícola em solos alcalinos.
No entanto, com poucas exceções, os limites de pH favoráveis ao melhor
desenvolvimento das plantas são os mesmos para a atividade de patógenos e
desenvolvimento de doenças radiculares (Zambolim et al., 2005).
O manejo de doenças pela nutrição equilibrada de plantas deveria receber
maior atenção pela pesquisa. A fertilização adequada do solo é um componente
essencial no manejo de patógenos radiculares, pois o estado nutricional da planta
pode favorecer ou limitar o processo de infecção e de colonização por patógenos
radiculares, determinando a resistência ou suscetibilidade à doença, bem como
a virulência e a habilidade do patógeno sobreviver. A imobilização de nutrientes
necessários à síntese de barreiras físico-químicas ou à redução da concentração
dos elementos ao redor dos sítios de infecção pode tornar a planta suscetível à
doença. Por outro lado, a resistência pode ser devida à ausência de nutrientes
essenciais para a atividade patogênica (Zambolim et al., 2005). No contexto de
uma agricultura sustentável, podem-se utilizar adubos de diferentes origens, como
rochas de fosfato, compostos orgânicos, esterco de animais, tortas de materiais
diversos, entre outros, os quais devem ser melhor avaliados quando ao potencial no
controle de doenças.
A incorporação de matéria orgânica no solo tem efeito marcante na dinâmica
populacional dos microrganismos. A qualidade e quantidade de material orgânico
acrescentado ao solo determinarão o aumento da densidade de uma, ou de várias
espécies de microrganismo selecionada(s) por este substrato. Caso a espécie
beneficiada seja antagônica de um fitopatógeno, os danos provocados pelo patógeno
nos hospedeiros poderão ser minimizados (Reis et al., 2005). A adição de matéria
orgânica ao solo tem sido realizada pelo uso de esterco de curral, cama de aviário,
esterco de suíno estabilizado, adubação verde, bagaço de cana-de-açúcar, casca de
arroz, pó de concha de ostra, uréia, superfosfato de cálcio, cinza mineral, composto
de resíduos vegetais ou de esgoto municipal (Summer, 1994).
A densidade de plantio pode exercer um efeito sobre o mesoclima no dossel
das plantas, principalmente sobre a duração do molhamento dos sítios de infecção
que ocorre nos cultivos mais adensados (Palti, 1981).
A irrigação pode influir positiva ou negativamente as doenças do sistema
b) Controle genético
c) Controle biológico
d) Controle físico
menos drásticas nas comunidades do solo. Até a utilização de microondas tem sido
testada na desinfestação de solos (Ghini & Bettiol, 2005).
Apesar de ter sido desenvolvido há mais de um século, o uso de vapor para a
desinfestação de solo está restrito a pequenas áreas devido ao custo dos equipamentos
necessários para sua aplicação. Dessa forma, o vapor tem sido praticado em estufas,
canteiros para produção de mudas ou campos de culturas altamente rendosas. O
solo é coberto por uma lona plástica e o vapor a 80-100ºC, produzido por uma
caldeira, é injetado, promovendo o controle de patógenos, plantas daninhas e
pragas, por meio da elevação da temperatura do solo. A vantagem do uso de vapor
consiste no fato de não se tratar de um método químico, com ausência de resíduos.
No entanto, as altas temperaturas muitas vezes aumentam o teor de manganês a
níveis fitotóxicos, bem como criam um vácuo biológico com redução da diversidade
e abundância de microrganismos, aumentando as chances de colonização de plantas
por fitopatógenos que eventualmente cheguem neste substrato ou venham com o
material de propagação (Ghini & Bettiol, 2005).
A técnica da solarização consiste na utilização da energia solar para a
desinfestação do solo, por meio da cobertura com um filme plástico transparente,
antes do plantio. A solarização pode ser utilizada, tanto em condições de campo,
quanto em extensas áreas, como em cultivo protegido, e deve ser realizada
preferencialmente durante o período de maior incidência de radiação solar. Após
a cobertura do solo, as camadas superficiais apresentam temperaturas superiores
às do solo descoberto, sendo que o aquecimento é menor quanto maior for a
profundidade. A inativação térmica de diversos patógenos apresenta, de modo geral,
uma relação inversa entre tempo de exposição e temperatura, de forma que quanto
menor a temperatura, um tempo maior de exposição é necessário para inativar as
estruturas e vice-versa (Viana & Souza, 1997). Por esse motivo, o filme plástico
deve ser mantido por um período de tempo suficiente para que haja a inativação das
estruturas localizadas nas camadas mais profundas do solo.
Outra aplicação prática do calor é a termoterapia. Seu sucesso reside no fato
de que o patógeno é eliminado por tratamentos em determinadas relações tempo-
temperatura que produzem poucos efeitos deletérios no material vegetal. Nesse
caso, quanto maior for a diferença entre a sensibilidade térmica do hospedeiro e
do patógeno, maiores serão as chances de sucesso da termoterapia. Vários fatores
podem afetar a sensibilidade térmica, como o teor de umidade do material vegetal;
a dormência; a idade e o vigor, especialmente das sementes; a condição das
camadas externas do material a ser tratado; as condições de temperatura durante
o desenvolvimento da planta; o tamanho do material e a suscetibilidade varietal
(Baker, 1962). Assim, devido ao efeito de diversas variáveis, a relação tempo-
temperatura não pode ser reduzida a uma fórmula geral aplicável a todos os casos.
O mecanismo de ação da temperatura, tanto no controle de patógenos quanto na
injúria do hospedeiro é complexo, sendo que um ou vários fatores podem estar
envolvidos, como desnaturação de proteínas, liberação de lipídeos, destruição de
*Estratégias de manejo: 1. Evasão do inóculo; 2. Exclusão do inóculo; 3. Redução da densidade de inóculo; 4. Redução da taxa de infecção
primária e secundária; 5. Redução da sobrevivência do inóculo; 6. Redução do estresse da planta; 7. Aumento da resistência da planta ao patógeno;
8. Manutenção das condições físicas, químicas ou biológicas do solo desfavoráveis para um ou mais estádios do ciclo de vida do patógeno.
SANIDADE DE RAÍZES
Manejo integrado de doenças do sistema radicular: bases científicas, estratégias e práticas
SANIDADE DE RAÍZES
cont.
Manejo integrado de doenças do sistema radicular: bases científicas, estratégias e práticas
cont.
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Manejo integrado de doenças do sistema radicular: bases científicas, estratégias e práticas
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cont.
K.C. Correia et al.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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