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Sumário
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Capítulo 1
Introdução
de modo muito mais eficiente que no passado. Para isto, foi necessária também a
ampliação da capacidade gerencial dos melhoristas.
O gerente é aquele profissional que toma decisões constantemente. Nesse
contexto, os melhoristas atuam como gerente, pois tomam inúmeras decisões no seu dia
a dia, tais como: quais populações ou linhagens utilizar para iniciar o trabalho; como
proceder as hibridações; qual o procedimento para condução das populações
segregantes; quantas progênies deverão ser avaliadas e inúmeras outras.
O que diferencia um bom gerente de outro é a capacidade de tomar as decisões
mais acertadas. Assim, quanto maior o conhecimento científico tanto maior deve ser a
habilidade gerencial do melhorista. Um conhecimento indispensável nesse contexto é a
genética quantitativa. Isto porque a genética quantitativa estuda os caracteres que
apresentam distribuição contínua. Isto é, não formam classes distintas. Como a maioria
dos caracteres que os melhoristas trabalham tem distribuição contínua, fica fácil
entender a importância desta área da genética na obtenção de novas cultivares.
Nesse contexto, essa publicação tem por finalidade melhorar a capacidade
gerencial dos melhoristas de plantas autógamas, por meio de informações de genética
quantitativa que estejam intimamente associadas ao seu trabalho. O que se deseja, em
última análise, é mostrar que a genética quantitativa pode auxiliar os melhoristas em
todas as suas atividades. Para isto, serão utilizados, predominantemente, exemplos que
foram acumulados no programa de melhoramento do feijoeiro na Universidade Federal
de Lavras, nos últimos quarenta anos.
povoados. Foi o período do melhoramento apenas como arte. Alguns dos nossos
antepassados utilizaram, sobretudo, acuidade visual e a sensibilidade para selecionar
alguns indivíduos para a reprodução e outros não.
Esse processo inicial foi demorado, contudo, muito eficaz. O que mais chama
atenção no processo de domesticação e, posteriormente, no melhoramento propriamente
dito, foi a obtenção de plantas, via seleção, adaptadas a ambientes completamente
diferentes do que elas se originaram. Na maioria das situações com desempenho muito
superior ao obtido no local de origem. Outro aspecto expressivo no melhoramento
foram as alterações, também via seleção, à que as plantas foram submetidas visando
atender às necessidades nutritivas e de manejo. Inúmeros exemplos poderiam ser
citados. No caso do feijão, por exemplo, é interessante o que ocorreu com o
denominado "pop-bean". Esse é um feijão da espécie Phaseolus vulgaris L. adaptado às
condições dos Andes. Nessa região devido às baixas temperaturas e à escassez de
combustível, o feijão tradicional dificilmente poderia ser consumido por exigir grande
quantidade de energia para o seu preparo. Foram selecionadas plantas, cujo tegumento
dos grãos estouram quando aquecidos por poucos minutos (pop-bean) e os grãos podem
ser consumidos como castanhas, sendo uma das fontes de proteínas dos habitantes
daquela região. Outro exemplo, que foi realizado para facilitar o manejo, ocorreu na
cultura da soja. As cultivares primitivas desta leguminosa eram completamente
decumbentes cobrindo todo o solo. Foram selecionadas plantas eretas, que deram
origem às cultivares atuais que, por serem bem eretas, facilitam o manejo da cultura em
praticamente todas as suas etapas.
Não existem muitos relatos com respeito à produtividade por área da plantas
recém domesticadas. Contudo, os resultados mais expressivos ocorreram a partir do
século XX, sobretudo após a segunda grande guerra mundial, por meio do
melhoramento genético associado à novas técnicas de manejo das culturas, em especial
o emprego de fertilizantes nitrogenados e posteriormente dos defensivos agrícolas. No
século XX o crescimento populacional foi enorme. A população do planeta passou de
pouco mais de um bilhão de habitantes em 1900 para mais de 6,9 bilhões no ano 2010.
Devido ao crescimento na produtividade por área, estamos conseguindo alimentar uma
população 2,17 vezes maior que a existente em 1961, com praticamente a mesma área
cultivada. Isto porque em 1961 eram cultivados 1,37 bilhões de hectares e em 2007 esse
número foi somente 13,1% acima, ou seja, 1,55 bilhões de hectares. Acrescenta-se que o
incremento na área cultivada ocorreu predominantemente na África, em que a
tecnologia agrícola ainda é baixa.
São inúmeros os trabalhos realizados visando à quantificação do progresso
genético nas principais espécies cultivadas (MILES; PANDEY, 2004; TRACY; GOLDMAN;
TIEFENTHALER, 2004). De modo geral, essas pesquisas mostram que houve expressivo
sucesso com o melhoramento genético em todas elas.
No Brasil a contribuição do melhoramento de plantas para a sociedade tem sido
marcante. Não devemos esquecer que devido à interação dos genótipos x ambientes, as
pesquisas visando obtenção de novas cultivares tiveram que ser todas realizadas aqui.
Não existia sob condições tropicais nenhum programa de geração de novas linhagens
que pudesse suprir o mercado brasileiro. Além do mais, os problemas ambientais nas
condições tropicais, tornam o desafio de obter novas cultivares muito difícil.
Embora houvesse alguns programas de melhoramento em alguns estados
brasileiros antes de 1970, eles realmente se intensificaram a partir desta data com a
criação dos primeiros programas de pós-graduação e da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (EMBRAPA). Os primeiros resultados foram, como já mencionado,
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Tabela 1.1: Produtividade das principais culturas agrícolas no Brasil no período de 1974
a 2004 com o ganho percentual anual. Adaptado de Ramalho & Vencovsky (2006).
Tomando como referência o Brasil, um país que tem no agronegócio mais de 30% de
sua renda, esses desafios ficam evidentes pelas seguintes razões:
Tabela 1.2: Produção atual e demanda futura mundial por alimentos e fibras (em
milhões de toneladas).
Depreende-se que a demanda para o trabalho dos melhoristas será enorme nos
próximos anos, especialmente no Brasil. O que preocupa é que o número de melhoristas
em todo o mundo está reduzindo (KNIGHT, 2002; LEE; DUDLEY, 2006). Isto ocorre
porque, com o advento das técnicas biotecnológicas, poucos jovens querem se dedicar
ao melhoramento convencional. O problema é agravado porque os programas de
melhoramento das Universidades, pelas facilidades de financiamento das pesquisas,
substituem os melhoristas por especialistas em técnicas biotecnológicas. Infelizmente
não dispomos de dados a respeito do número efetivo de melhoristas trabalhando no
Brasil. É certo, contudo, que é bem inferior ao desejado. A demanda de profissionais
qualificados nessa área é crescente, especificamente pelo setor privado.
Há atualmente consenso que a era do melhoramento por meio do fenótipo é
insubstituível. Não é uma ciência em extinção como alguns imaginavam. Para vencer
todos os desafios colocados será necessário que a seleção fenotípica seja ainda mais
eficiente que no passado. Para isto, todo o conhecimento, não só de genética mendeliana
como das áreas biotecnológicas serão necessários.
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Capítulo 2
que conseguem recomendar uma cultivar que seja efetivamente adotada por milhares de
agricultores, melhorando sua produtividade e reduzindo o emprego de insumos. Como
consequência toda a sociedade que consome aquele produto é beneficiada. Muitos
melhoristas não persistem. A qualquer insucesso ou surgimento de uma nova ferramenta
paralisam o que estão fazendo e migram para novas áreas, atraídos muitas vezes, pela
maior facilidade de obtenção de recursos. Há no outro extremo o melhorista contumaz.
Aquele que realiza seu trabalho sempre do mesmo modo, acreditando que só o que ele
faz é eficiente. Persistência não se aprende. É uma aptidão herdada, mas pode ser
aperfeiçoada, sobretudo quando se está gostando do que faz. É difícil avaliar o que é
realmente o melhorista persistente no sentido de não perder o foco da sua linha de
pesquisa, porém é preciso estar atento às mudanças que possam auxiliá-lo a alcançar
seus objetivos.
Para que eles possam ser bons melhoristas integralmente, e não apenas
"doutores" em algumas ferramentas que auxiliam os melhoristas, é necessário que
dediquem parte considerável de seu tempo no estudo de disciplinas envolvidas com o
manejo das culturas. Sem isso não terão persistência no melhoramento, pois a maioria
das ferramentas são úteis por algum tempo e depois são substituídas, mas o processo de
obtenção de cultivares, que se constitui o cerne do melhoramento, as avaliações em
condições de campo, não serão substituídas nunca e dependem, como já enfatizado, de
um amplo conhecimento da cultura em questão.
materiais. O bom gerente é aquele capaz de manusear esses recursos de modo mais
eficiente possível.
Na maioria dos programas de melhoramento os recursos são escassos. É nessa
situação que se identifica o bom administrador. É comum, por exemplo, haver
deficiência de pessoal de apoio nas atividades de campo. A deficiência não é apenas no
número, mas também na falta de motivação, sobretudo devido aos baixos salários. O
melhorista tem que utilizar todas as suas habilidades gerenciais para motivar o pessoal
de apoio, de modo que eles se sintam co-responsáveis pelos resultados que serão
obtidos.
Existem ainda inúmeras atividades gerenciais associadas ao melhoramento
propriamente dito, que exigem decisões constantes, tais como: Qual população, cultivar
ou linhagem utilizar para iniciar o trabalho? Como proceder as hibridações? Qual
método de melhoramento utilizar? Quantas progênies deverão ser avaliadas? Quando
iniciar a seleção? Que alternativas utilizar para melhorar a eficiência do processo
seletivo? Entre inúmeras outras.
A capacidade gerencial pode e deve ser treinada continuamente. Essa publicação
tem por objetivo fornecer conhecimento e auxiliar os melhoristas na tomada de
decisões. Contudo é o trabalho do dia-a-dia que irá aguçar suas habilidades gerenciais.
Ser empreendedor