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A Microbiota do Solo: Aspectos Econômicos e Ambientais

O solo é o ambiente que contém a maior biodiversidade terrestre, apesar de


ainda se conhecer uma pequena porcentagem dos organismos que habitam nele.
Estima-se que menos de 10% das espécies microbianas já tenham sido identificadas
(MATTOS, 2015). Segundo George Brown, em sua participação no relatório “Estado
do Conhecimento da Biodiversidade do Solo”, publicado pela FAO (Food and
Agriculture Organization of the United Nations.) em 2020, cerca de 25% de toda
biodiversidade do planeta está abrigada no solo e 40% das espécies catalogadas
possuem algum nível de dependência com o solo. Dentre os organismos que compõe
a microbiota do solo, podemos destacar os vírus, bactérias e fungos. Estes são
classificados de acordo com sua função na atividade biológica do solo (VIEIRA et al,
2015).

Devido a sua natureza microscópica, os estudos a respeito da microbiota do


solo são limitados. No entanto, sabe-se que a presença desses microrganismos é
indispensável. Juntamente com os fatores clima, topografia, material parente e tempo,
esses microrganismos constituem um dos 5 fatores que influenciam na formação do
solo (MATTOS, 2015).

Diversas funções são atribuídas à comunidade microbiana presente no solo,


especialmente no manejo vegetal. A microbiota do solo realiza a ciclagem de
nutrientes -aumentando sua disponibilidade-, além de participar da nitrificação e a
fixação do N2 atmosférico (VIEIRA et al, 2015). Desta forma, pode se dizer que a
qualidade do solo é definida de acordo com os organismos que nela habitam, sendo
considerado um solo de qualidade aquele que é capaz de entregar produtividade à
plantas e animais, sem comprometer a qualidade da água e ar, promovendo a saúde
humana (DORAN & PARKIN, 1994).

Portanto, o rendimento agrícola tem dependência intrínseca com os


organismos do solo. Além de participarem dos ciclos biogeoquímicos, sendo os
principais reguladores da fertilidade do solo, ainda influenciam na saúde das plantas,
protegendo-as de fitopatógenos. Alguns microrganismos tem a capacidade de inibir
direta e indiretamente (estimulando o sistema de defesa das plantas) a permanência
de outros. Através de uma sinalização química, determinados microrganismos
induzem o sistema radicular das plantas a produzirem compostos, conhecidos como
exsudatos, que atraem ou inibem a proliferação de certos organismos (ZHOU et al,
2023). Esse mecanismo evolutivo garante vantagem àquele microrganismo sobre
espaço e nutrientes.

As bactérias, especialmente, são capazes competir de modo Inter e/ou


intraespecífico, por meio da produção de bacteriocinas e antibióticos (CHEPSERGON &
CHASER, 2023). Para isso, utilizam mecanismos de secreção, os quais produzem
proteínas efetoras capazes de se hospedar na célula vegetal e guiar a produção dos
exsudatos radiculares, assim como estimular o sistema de defesa natural da planta,
induzindo a imunidade da planta; à exemplo, tem-se o T6SS (CHEPSERGON &
CHASER, 2023).
Essa interrelação pode ser simbiótica ou não, a depender do tipo de
microrganismo do solo que está envolvido no processo. Quando o organismo é
patogênico para a planta, ele induzirá a produção de exsudatos que afastam os
benéficos, minando a imunidade do vegetal; da mesma forma, o contrário ocorre
(CHEPSERGON & CHASER, 2023).

A microbiota do solo possui muito potencial biotecnológico. Organismos


degradadores são aqueles capazes de degradar compostos químicos sintetizados pelo
homem (MATTOS, 2015), sendo grandes aliados na biorremediação de solos
contaminados por insumos agrícolas e agropecuários. Além de degradar os resíduos
já presentes no solo, a relação microbiana é capaz de reduzir drasticamente o uso de
fertilizantes químicos. A ciclagem da matéria orgânica realizada por microrganismos,
aumenta a disponibilidade de nutrientes para a planta de forma natural, especialmente
a de fósforo (MENDES & JÚNIOR, 2023).

A área da saúde também é beneficiada pelos organismos da rizosfera. Os


mesmos antibióticos que são secretados para inibir a permanência de microrganismos
competidores no solo, são utilizados no tratamento de doenças. Atualmente, 80% dos
antibióticos comerciais pertencem ao gênero Streptomyces, que habitam
majoritariamente o solo (EMBRAPA, 2018).

Dessa forma, é notável a importância dos microrganismos que colonizam a


rizosfera. Essa rica diversidade de organismos possui elevado potencial
biotecnológico, sendo capaz de elevar o vigor produtivo de culturas, reduzir o uso de
insumos químicos – tanto de fertilizantes quanto de pesticidas-, além de serem
largamente requisitados pela indústria farmacêutica. Sendo assim, a conservação e o
manejo adequado do solo são imprescindíveis para a conservação da microbiota. Com
isso, é possível reduzir os gastos e os danos ambientais advindos da agroindústria.
Bibliografia

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Compartilhar Citar https://doi.org/10.1016/j.mib.2023.102297. Disponível em:
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