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Décio Karam∗
∗
Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas, MG, Brasil
Email: decio.karam@embrapa.br
Abstract— The weed presence has cause yield loss for all planted crops. This loss has been estimated in
13% of the grain world crop production. Brazil with dimension and climate conditions is since 2008 the world
main consumer of the pesticides. To reduce the use of pesticide it is necessary to integrate all weed control
methods. The knowledge of biology and ecology of the weeds is essential to manage these plants. In this paper
we will emphasize the biology, ecology and dynamic of the weed population using a spatial distribution maps
and phytosociology studies to demonstrate weed species relationship.
Resumo— A presença de plantas daninhas tem ocasionado reduções importantes na produtividade das cultu-
ras, sendo esta estimada ao redor de 13% na produção mundial de grãos. O Brasil, com suas dimensões territoriais
e condições climáticas, ocupa mundialmente desde 2008, o primeiro lugar no uso de agrotóxicos. Para que haja
uma redução no uso destes produtos torna-se de extrema importância a utilização da integração de métodos
de controle. O entendimento da biologia e ecologia das plantas daninhas baseado em estudos fitossociológicos
é fundamental para o manejo adequado destas plantas. Nesta trabalho iremos abordar a biologia, ecologia e a
dinâmica de populações de plantas daninhas através de mapas de distribuição espacial e estudos fitossociológicos
para demonstrar a relação entre espécies presentes em uma área.
3 Alelopatia 5 Fitossociologia
As plantas daninhas podem ter seu desenvolvi- O estudo fitossociológico faz referência a um con-
mento suprimido ou estimulado por meio de plan- junto de dados que caracteriza as proporções e
tas vivas ou de seus resı́duos, os quais liberam inter-relações de indivı́duos de uma ou mais es-
substâncias quı́micas no ambiente. O uso de ale- pécies ((Cardoso et al., 2002). Este estudo for-
loquı́micos obtidos a partir de plantas pode ser nece informações sobre a estrutura da comunidade
utilizado como herbicidas, uma vez que são pro- e as possı́veis afinidades entre espécies ou gru-
dutos naturais biodegradáveis e não persistem no pos de espécies através de dados quantitativos ou
solo como poluentes. A adição da parte aérea da qualitativos a respeito da estrutura da vegetação
leucena (Leucaena leucocephala (Lam.) De Wit) (Silva, 2002).
ao solo proporciona menor desenvolvimento das Os métodos fitossociológicos mais comumente
plantas daninhas, devido aos efeitos fı́sicos da co- empregados podem ser divididos em dois grupos:
bertura e alelopáticos, através da liberação para os métodos de parcelas ou com áreas e os métodos
o solo de substância com ação alelopática. Assim sem parcelas ou de distâncias. O método de par-
como a leucena, há efeito alelopático das culturas celas foi o primeiro método quantitativo aplicado
de aveia, sorgo, centeio, nabo-forrageiro e colza em florestas brasileiras (Martins, 1979). Em uma
capaz de reduzir a densidade de plantas daninhas. mata de araucária do primeiro planalto, inten-
Estudos realizados por apontaram uma grande va- samente explorada há algumas décadas, em Co-
riação na quantidade de sorgoleone obtida entre 50 lombo, PR foi empregado o método de parcelas
acessos de sorgo analisados, sendo que a maioria retangulares com área de 400 m2 e coletados to-
dos acessos (34; 68 %), apresentou produção entre dos os indivı́duos nelas encontrados para o estudo
1,0 e 2,0 mg.g-1 MFR, enquanto que para a menor fitossociológico. Na área de mata primária pro-
produção registrada estão seis acessos (12%) com fundamente explorada, apresentando indı́cios de
uma variação entre 0,5 e 1,0 mg.g-1 e apenas três mata secundária foram classificadas e identificadas
Figura 1: Fatores que afetam o grau de interferência entre plantas daninhas e culturas.
4,0
3,5
3,0
Sorgoleone
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50
Acesso
Figura 2: Quantidade de sorgoleone obtida em mg por g de massa fresca de raiz de 50 acessos de sorgo
analisados.
DORMENTES
MORTE DE SEMENTES
BANCO DE SEMENTES
103 espécies de um total de 145 espécies encontra- variáveis e que fornecia mais dados sobre as espé-
das (61 sem a determinação do nı́vel de espécie e cies e melhor condução dos trabalhos no campo.
23 somente até o nı́vel de gênero), abrangendo 34 Os dados obtidos por meio de métodos quantitati-
famı́lias e 53 gêneros (Oliveira and Rotta, 1982). vos, cujos dados numéricos são significativos, são
Comparando quatro métodos de amostragem alcançados pela contagem das plantas em áreas
fitossociológica, Cottam e Curtis (1956) compro- determinadas, segundo critérios previamente esta-
varam a simplicidade de execução em campo dos belecidos, que permitam comparações com outros
quatro métodos estudados destacando entre eles o estudos. Esses estudos referem-se aos dados ana-
método de quadrantes como o de resultados menos lı́ticos (cobertura, sociabilidade, periodicidade ou
estacionalidade) e aos dados sintéticos (frequên- deste ı́ndice é superior a 0,5 ou 50% pode-se referir
cia, densidade, área basal e ı́ndice de valor de im- que existe elevada similaridade entre as comuni-
portância - parâmetros fitossociológicos). dades (Felfilia and Venturoli, 2000; Matteucci and
Colma, 1982). O ı́ndice de diversidade de Shannon
(H) calcula os valores do número total de indivı́-
5.1 Parâmetros Fitossociológicos
duos e espécies amostradas, número de indivı́duos
Dos parâmetros fitossociológicos, a abundância amostrados da i-ésima espécie associados ao lo-
(densidade e frequência relativa e absoluta) é que garitmo de base neperiana. Quanto maior for o
define a estrutura fitossociológica de uma comu- valor obtido, maior será a diversidade florı́stica da
nidade. A densidade pode ser descrita como: nú- população em estudo.
mero de indivı́duos de uma dada espécie em rela-
ção à unidade de área amostrada (densidade ab- 6 Distribuição Espacial
soluta) ou como a proporção entre o número de
indivı́duos de uma espécie em relação a todas as Nas áreas agrı́colas a distribuição espacial de tais
espécies amostradas, sendo estimada em porcen- espécies é heterogênea, com manchas de infesta-
tagem (densidade relativa) (Martins, 1993). ção, ou reboleiras, de composição especı́fica, den-
A frequência, valor que expressa o número sidades e estádios de crescimento variados (Clay
de ocorrências de uma dada espécie nas diversas et al., 1999; Lamb and Brown, 2001). Essas rebo-
parcelas ou pontos alocados em uma determinada leiras ocorrem em função de diversos fatores como
área (Pizatto, 1999), pode ser definida como ab- mecanismos de longevidade, emergência, dormên-
soluta (valor relacionada a presença ou ausência cia e dispersão de sementes, como também aqueles
das espécies em cada parcela expresso em porcen- relacionados ao sistema reprodutivo adotado, pro-
tagem) e a relativa de cada espécie que é obtida priedades do solo, sistema de manejo de plantas
pela divisão de sua frequência absoluta pela soma- daninhas entre outros; podendo em função destes
tória de todas as frequências absolutas das espé- fatores sofrer alterações significativas ao longo dos
cies amostradas. anos. Portanto, da mesma forma que os estudos
Quando se emprega o método de parcelas, a fitossociológicos, estudos relacionados à distribui-
dominância pode ser expressa tanto pela área ba- ção espacial e temporal das plantas daninhas são
sal transversal do tronco, como pela área de co- de fundamental importância no contexto agronô-
bertura da copa (ou seu diâmetro), ou ainda, pelo mico e ambiental, pois com os resultados pode-se
número de indivı́duos amostrados, sendo expressa possibilitar a combinação de técnicas de manejo
em porcentagem (Martins, 1993). Dominância ab- que visem reduzir as populações de plantas da-
soluta (DoA) é calculada a partir da somatória da ninhas em nı́veis que não ocasionem prejuı́zos à
área basal dos indivı́duos de cada espécie e a Do- cultura de interesse (Pitelli and Alves, 2001).
minância relativa (DoR) corresponde à participa- Diversos métodos geoestatı́sticos podem ser
ção, em percentagem, de cada espécie em relação empregados no monitoramento de plantas dani-
à área basal total (Corino, 2006). nhas em uma determinada área, dentre eles a
Com a finalidade de dar um valor para as espé- amostragem em grade, “grid”. Tal técnica con-
cies dentro da comunidade vegetal a que pertence, siste na divisão da área agrı́cola em quadrı́culas ou
o Índice de Valor de Importância (IVI) é determi- pequenas células formando uma grade predetermi-
nado por meio da soma dos valores relativos de nada com pontos georreferenciados onde são feitas
densidade, dominância e freqüência. Somando- amostragens sistemáticas sobre a comunidade in-
se os valores relativos de densidade e dominân- festante, que geram desta maneira uma amostra
cia tem-se o Índice de Valor de Cobertura (IVC), que represente aquela sub-área. Estas informa-
que é utilizado para expressar a importância das ções coletadas em cada sub-área são convertidas
diferentes espécies na biocenose florestal (Salles em um mapa de infestação (Lutmann, 1999; Shi-
and Schiavini, 2007). Em estudos fitossociológico, ratsushi, 2001; Shiratsuchi et al., 2005).
(Jesus et al., 2008) caracterizou uma comunidade
de plantas daninhas em sistema de plantio direto
6.1 Mapas de distribuição
(Figura 4).
O ı́ndice de similaridade de Sorence (Sorense, Em diversos estudos têm sido observado que mui-
1972) é um ı́ndice qualitativo que expressa a por- tas espécies de plantas daninhas estão agrega-
centagem de espécies comuns a duas ou mais áreas das em “reboleiras” de variadas densidades. Em
em relação ao número total de espécies. Este mapeamento da distribuição espacial de plantas
ı́ndice baseia-se na presença e ausência de espé- daninhas em um sistema de integração lavoura-
cies, não envolvendo a quantidade de indivı́duos pecuária envolvendo as culturas do milho e da soja
em cada uma destas. As espécies comuns entre com o capim Tanzânia (Panicum maximum Jacq)
duas amostras quando comparadas, recebem um foi observada a agregação em reboleiras de Cype-
peso maior do que aquelas espécies que são ex- rus rotundus e Brachiaria plantaginea presentes
clusivas a uma ou outra amostra. Quando o valor nos dois cultivos avaliados (Gama et al., 2008).
Figura 4: Apresentação do IVI (ı́ndice de Valor de Importância) das espécies mais representativas nos
anos de 2005 e 2007. (s H: parcela sem herbicida; c H: parcela com herbicida)
Figura 5: Distribuição espacial da densidade de Brachiaria plantaginea em parcelas tratadas (A) ou não
(B) com nicosulfuron associado com atrazine.
Figura 7: Densidade de Bidens pilosa, Amaranthus spp, Euphorbia heterophylla e Sida spp presentes na
cultura do milho após a aplicação de herbicidas encontradas no norte do Estado do Rio Grande do Sul -
Brasil. Sete Lagoas, 2011.
frequência destas espécies no ambiente e a habili- Gama, J., Karam, D., Jesus, L. L. and Oliveira,
dade competitiva destas e das populações nas cul- N. F. (2008). Caracterização fitossociolo-
turas. Estas informações aliadas a geração de co- gia de uma área de cerrado em regenera-
nhecimento utilizando ferramentas como os estu- ção, XXVI Congresso Brasileiro da Ciência
dos fitossociológicos e a confecção de mapas geore- das Plantas Daninhas e XVIII Congresso de
fernciados proporcionam um melhor entendimento La Associación Latinoamericana de Malezas,
da dinâmica de populações contribuindo para o Ouro Preto, MG.
planejamento e tomadas de decisões sobre o ma-
nejo integrado de plantas daninhas na propriedade Jesus, L. L., Karam, D., Gama, J. and Oliveira,
agrı́cola.. Nesse contexto, ressalta-se que a correta N. F. (2008). Caracterização fitossociolo-
identificação e caracterização das espécies dani- gia de uma área de cerrado em regenera-
nhas presentes nas áreas agrı́colas apresentam-se ção, XXVI Congresso Brasileiro da Ciência
como chaves do sucesso do manejo integrado a ser das Plantas Daninhas e XVIII Congresso de
utilizado pelos produtores. La Associación Latinoamericana de Malezas,
Ouro Preto, MG.