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Controle de pragas X Manejo de desequilíbrios

Como lidar com os organismos indesejados em cultivos

Marina Clasen Baumann – marinaclasen21@gmail.com

Mudança sobre a ideia de praga


A agroecologia tem como obje:vo mais do que trocar agrotóxicos por produtos "naturais", busca redesenhar os sistemas de
plan:o, o:mizando as relações benéficas entre cada componente.
Mesmo os seres indesejados já faziam parte do sistema antes dele virar uma plantação. Ervas daninhas, lagartas, formigas,
nematoides, pulgões, fungos e bactérias sempre es:veram presentes naquele ambiente e são parte importante dele,
influenciando uma série de relações fundamentais para a manutenção do equilíbrio do ecossistema em questão. O conceito de
praga é subje5vo. Se houver um bom entendimento de sua biologia e do porquê e quando ela ataca a plantação, é possível
encará-la como aliada, agentes-de-fiscalização-do-sistema, ao indicar situações de desequilíbrio. Em um sistema equilibrado, os
patógenos convivem com as culturas sem prejudicá-las. O problema é quando sua população aumenta demais, de maneira
desequilibrada. Nessa situação anormal, em que alguma condição favoreceu os patógenos (como mudanças climá:cas,
deficiências do solo ou fer:lização excessiva), as culturas adoecem. Ou seja, a doença é o resultado de um desequilíbrio anterior
ao patógeno.

Situação ideal: redesenho do sistema, evitando o controle de pragas


Quando surgem doenças ou danos causados por insetos na plantação, fala-se imediatamente em métodos de controle. O mais
inteligente a se fazer, entretanto, seria desconsiderar os insetos como pragas e encontrar uma maneira que elimine a
necessidade de medidas de controle. O uso de herbicidas, pes:cidas, bactericidas e fungicidas, dificilmente provoca uma ação
isolada no organismo alvo. Gera efeitos adversos a uma série de insetos benéficos ao sistema, fungos e bactérias importantes ao
equilíbrio do solo, etc; já que as células de animais, plantas e microorganismos são, basicamente, muito semelhantes.

Como evitar as situações de desequilíbrio que propiciam o aparecimento das


"pragas" e agentes causadores de doenças
- Recuperar e conservar o solo para produzir plantas saudáveis, a5vando suas defesas naturais contra doenças: através do
incremento constante de matéria orgânica no solo (esterco, compostagem, torta de filtro), cobertura vegetal viva ou morta
(proteção do solo), prá:ca da adubação verde (cul:vos de cobertura com leguminosas que fixam nitrogênio, por exemplo),
prá:cas em que não há aração (plan:o direto, por exemplo), contenção da lixiviação, escorren:a e erosão.

- Restaurar a biodiversidade vegetal para aumentar a eficiência do controle biológico de pragas: optar por cul:vos
diversificados (policulturas) em consórcios; adotar diferentes espécies de plantas cul:vadas ou espontâneas com funções
complementares (resistência de plantas a insetos, culturas armadilhas e refúgios de inimigos naturais); conservar fragmentos de
floresta e matas ciliares; adotar cul:vos de cobertura, que regulam plantas invasoras. Assim o controle natural é restaurado e as
pragas são man:das em equilíbrio com os cul:vos. Além disso, há uma melhor ciclagem de nutrientes, conservação do solo e
menor dependência de insumos externos.

- Pra:car a rotação de culturas (ou plan:o alternado) na mesma área, para o equilíbrio ecológico. Um ciclo de 3 anos já ajuda a
preservar os solos e a diminuir a incidência de doenças nas plantações.

- Tratar a agricultura como um ecossistema (Agroecossistema): o redesenho da propriedade agrícola promoverá sua
complexidade, a:vando suas funções ecológicas que regularão naturalmente as populações de pragas.

Fotos do workshop em Agricultura sintrópica ministrado por Ernst Götsch em Casimiro de Abreu (maio de 2017)

Referências bibliográficas
ALTIERI, Miguel; NICHOLS, Clara; SILVA; Evandro. O papel da biodiversidade no manejo de pragas. Ribeirão Preto: Holos, 2003.
ANDRADE, Dayana; GÖTSCH, Ernst; PASINI, Felipe. Sintropia: Universo de Conceitos. AGENDA GÖTSCH. Disponível em: <hkp://
agendagotsch.com/pt/syntropy >. Acesso em: 10 de junho de 2017.
FUKUOKA, Masanobu. A revolução de uma palha - Uma introdução à agricultura selvagem. Editora: Via Op:ma. 2001.

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