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CONTROLE BIOLÓGICO
No contexto de controle biológico, doença é mais do que uma íntima interação do
patógeno com o hospedeiro, influenciada pelo ambiente. Doença, assim, é o resultado
de uma interação entre hospedeiro, patógenos e diversos não patógenos que também
habitam o sítio de infecção e que apresentam capacidade para limitar a atividade do
patógeno ou aumenta a resistência do hospedeiro, tendo o ambiente interagindo sobre
estes.
Inclui-se como controle biológico:
.Práticas culturais para criar um ambiente favorável aos antagonistas e à resistência
da planta hospedeira ou ambas;
.Melhoramento de plantas para aumentar a resistência ao patógeno ou adequar o
hospedeiro para as atividades antagônicas de microrganismos;
.Introdução em massa de antagonistas, linhagens não patogênicas ou outros
organismos ou agentes benéficos.

2. CONTROLE BIOLÓGICO DE PATÓGENOS HABITANTES DA


ESPERMOSFERA (SEMENTES)

O tratamento de sementes com microrganismos antagônicos (microbiolização de


sementes) pode proporcionar controle de patógenos veiculados pelo solo.
Os principais organismos utilizados para o tratamento de sementes são fungos
(Aspergillus spp., Chaetomium spp., Glicocadium spp. e Tricoderma spp.) e bactérias
(Agrobacterium radiobacter, Bacillus spp. e Pseudomonas spp).
São registrados e utilizados para tratamento de sementes: Agrobacterium radiobacter
para o controle da galha da coroa das rosáceas, causado por Agrobacterium tumefaciens,
Pseudomonas fluorescens, para o controle de Rhizoctonia e Pythium do algodoeiro e
Bacillus subtilis, para o controle de Rhizoctonia solani em amendoim.
No Brasil os principais trabalhos com microbiolização de sementes são os realizados
por Luz (1991), visando o controle, através de bactérias antagonistas, dos patógenos de
sementes do trigo Bipolaris sorokiniana, Stagonospora nodorum, Fusarium
graminicola, Drechslera tritici- repentis, Gaeumannomyces graminis f. sp. tritici,
Pyricularia oryzae e Xanthomonas campestris pv. undulosa. A aplicação dessas
bactérias nas sementes de trigo tem controlado os patógenos nas sementes, aumentando
a germinação em laboratório e o estande no campo, diminuindo a podridão das raízes e
aumentando o rendimento de grãos.

3. CONTROLE BIOLÓGICO DE PATÓGENOS DA PARTE AÉREA

Uma grande população de microrganismos epifíticos vive na superfície foliar e são


capazes de influenciar as espécies patogênicas no processo de infecção de folhas e
caules.
Existe um equilíbrio na população microbiana do filoplano (parte aérea da planta)
saprofítica e patogênica, que pode ser quebrada pela influencia humana.
A quebra do equilíbrio pode ser devida à poluição ou a aplicação de produtos
químicos (fungicidas, inseticidas, herbicidas, hormônios, acaricidas e fertilizantes).
Essas alterações podem interferir na ocorrência de doenças, pois haverá uma redução da
população microbiana saprofítica, surgindo a oportunidade de desenvolvimento de outro
patógeno que tinha inicialmente importância secundária.
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A maneira usual de controlar-se biológicamente um patógeno do filoplano é através


da introdução de antagonistas na folha. Para ser bem sucedido, o antagonista deve
preferencialmente, multiplicar-se e colonizar a superfície da planta.
Para cada patossistema existe um local mais apropriado para realizar a seleção de
antagonistas, e as chances de obtenção de microrganismos efetivamente antagônicos são
aumentadas fazendo-se isolamento no próprio ambiente onde os antagonistas serão
utilizados.
Ex: A lixa do coqueiro, causado pelo fungo Catacauma torrendiella e Coccostroma
palmicola é controlada pelo fungo Acremonium alternatum e Acremonium. persicinum,
hiperparasitas dos agentes causais da doença, e são isolados diretamente dos estromas
dos patógenos.

4. CONTROLE BIOLÓGICO DE PATÓGENOS VEICULADOS PELO SOLO

A ocorrência de doenças de plantas causadas por patógenos veiculados pelo solo


indica a existência de um desequilíbrio biológico no solo. O controle biológico pode ser
obtido através da manipulação do ambiente e da introdução de antagonistas, tanto no
solo quanto nos órgãos de propagação das plantas.

4.1. MANIPULAÇÃO DO AMBIENTE

A manipulação do ambiente do solo procura prevenir o aumento e a formação de


inóculo do patógeno, desalojar os patógenos dos resíduos das culturas, destruir os
propágulos dos patógenos e estimular a população de microrganismos benéficos e/ou
antagônicos.
As interações microbianas em alguns solos podem naturalmente prevenir o
estabelecimento de patógenos ou inibir suas atividades patogênicas, esses solos são
conhecidos como supressivos, o oposto de solo conducivo.
Solo supressivo é aquele que apresenta inospitalidade a alguns fitopatógenos (a
doença no caso é suprimida não significando necessariamente que ocorreu a eliminação
do patógeno).
O controle biológico raramente erradica os patógenos, o controle depende da
manipulação e do equilíbrio biológico existente no solo.
Para o controle biológico há necessidade de intensificar as atividades dos
antagonistas desejáveis que estão presentes no solo.
A intensificação pode ser obtida:
.Utilizando-se a rotação de culturas;
.Acréscimo de substratos orgânicos que estimulem os antagonistas;
.Alteração do pH do solo a um nível favorável aos antagonistas e desfavorável aos
patógenos;
.Escolha da época de semeadura que seja mais favorável ao desenvolvimento do
hospedeiro e dos antagonistas que dos patógenos;
.Métodos de cultivo que melhorem a estrutura do solo;
.Utilização de irrigação que assegure o desenvolvimento do hospedeiro e favoreça os
antagonistas.
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4.2. INTRODUÇÃO DE ANTAGONISTA NO SOLO

Para que os antagonistas sejam eficientes no desalojamento dos patógenos, um


período de tempo é necessário, para que as estruturas dos patógenos possam ser
parasitadas ou predadas pelos antagonistas ou inviabilizadas pela liberação de
metabólitos produzidos pelos antagonistas.

4.3. MICROBIOLIZAÇÃO DE ORGÃOS DE PROPAGAÇÃO

O tratamento de sementes, mudas ou órgãos de propagação com antagonistas pode


promover a proteção durante a germinação, emergência, emissão de raízes e brotos.
Há na literatura vários exemplos de tratamento de sementes e órgãos de propagação
que conferiram sucesso no controle de patógenos como exemplo o tratamento de
sementes de trigo com Pseudomonas fluorescentes (estas da bactéria são chamadas de
fluorescentes devido as colônias que são cultivadas em meio de King’s B produzirem
pigmento chamado fluorescina - verde fluorescente, quando observadas em luz
ultravioleta), reduziram a intensidade do mal do pé do trigo e aumentaram o rendimento
de grãos. O fungo Trichoderma também bastante utilizado para controle biológico
oferece vantagens devido ao aumento de competição na colonização da espermosfera.
As sementes tratadas em pré ou pós-emêrgencia ficam protegidas por um período
suficiente para que as plântulas escapem do ataque de patógenos não especializados (ou
seja aqueles que causam damping-off ou apodrecimento das raízes, mas não são
patógenos específicos causadores de doenças de um determinado hospedeiro). O maior
sucesso de controle biológico através de microbiolização de órgão de propagação é o
controle da galha da coroa (causa sintomas de hipertrofia e hiperplasia em raízes e
galhos de rosáceas) causada pela bactéria Agrobacterium tumefaciens através da
bactéria do mesmo gênero, porém outra espécie Agrobacterium radiobacter estirpe
K84.

5 CONTROLE BIOLÓGICO DE DOENÇAS DE PÓS-COLHEITA

O controle biológico de patógenos que ocorrem em pós-colheita pode ser realizado


durante o ciclo da cultura ou após a colheita.
O controle ainda no campo tem como objetivo evitar a penetração dos patógenos nos
tecidos dos frutos e hortaliças e o seu posterior desenvolvimento durante o
armazenamento.
O controle pós-colheita tem dois objetivos:
1o .Evitar que os patógenos latentes nos tecidos causem podridões
2o. Impedir novas infecções.

5.1. FATORES QUE INDICAM SER O CONTROLE BIOLÓGICO EM PÓS-


COLHEITA É VIÁVEL E POSSÍVEL DE EXPLORAÇÃO

Uma das grandes dificuldades na utilização de antagonistas para o controle de


doenças é a impossibilidade de controle das condições ambientais. São inúmeros os
exemplos de antagonistas bem sucedidos em laboratório e condições controladas que
fracassaram quando submetidos ao ambiente natural, com baixa umidade e presença de
raios ultravioleta. E, como os produtos armazenados normalmente estão sob condições
controladas de temperatura e umidade relativa há três fatores que indicam ser o controle
biológico em pós-colheita viável e possível de exploração:
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a. Controle das condições ambientais que evitam que os microrganismos morram


durante o armazenamento.
b. Limitação da superfície de aplicação dos antagonistas o que economiza a quantidade
a ser aplicada.
c. Ser economicamente praticável sob condições de armazenamento devido aos dois
aspectos citados.

Exs:
TRONSMO & DENNIS (1983) Obtiveram redução de podridão causada por Botrytis
cinerea em pré e pós-colheita de morango com pulverizações de Trichoderma a partir
do primeiro estádio floral, em intervalos de 14 dias

WILSON & PUSEY (1984) verificaram que houve um significativo controle de


podridão parda causada por Monilinia fructicola em frutos de pêssego, nectarina,
damasco e ameixa tratados com Bacillus subtilis. (Wilson, C. L. & Pusey, P. L.
Potential for biological control of postharvest plant disease.

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