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CONTROLE GENÉTICO

O emprego da resistência genética no controle de doenças vegetais representa um dos mais


significativos avanços tecnológicos da agricultura.
O uso de variedades resistentes é o método de controle preferido pelos agricultores
simplesmente por ser mais barato e de mais fácil utilização.
O controle de determinadas doenças dá-se quase exclusivamente por meio da resistência,
tais como as ferrugens e carvões dos cereais e da cana-de-açúcar, as murchas vasculares e as
viroses da maioria das culturas.

1. ETAPAS BÁSICAS QUE DEVEM SER CONSIDERADAS EM QUALQUER


PROGRAMA DE OBTENÇÃO E UTILIZAÇÃO DE CULTIVARES RESISTENTES

1. O fitomelhorista deve primeiro identificar fontes de resistência, ou seja, identificar


germoplasma que possua os genes de resistência;
2. Incorporação destes genes em cultivares comercial por métodos de melhoramento;
3. Após a obtenção de um cultivar resistente, deve-se traçar a melhor estratégia para que a
resistência seja durável, face à natureza dinâmica das populações patogênicas.

2. CLASSIFICAÇÃO DA RESISTÊNCIA

2.1. CLASSIFICAÇÃO GENÉTICA

Esta classificação baseia-se no número de genes envolvidos:


Resistência monogênica - Um ou poucos genes conferem a resistência.
Resistência poligênica - Vários genes conferem a resistência.
A resistência monogênica também é conhecida por resistência qualitativa, devido ao fato da
distribuição entre plantas suscetíveis e resistentes ser de fácil visualização. É chamada resistência
do “tudo ou nada”, onde a planta ou esta livre da doença ou completamente tomada por ela.
A resistência poligênica também é conhecida por resistência quantitativa, devido ao fato
da característica métrica, havendo variação contínua de graus de resistência, indo desde quase
suscetível até extrema resistência.

2.2. CLASSIFICAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA

Esta classificação baseia-se na efetividade contra raças do patógeno:


Segundo VANDERPLANK, existem resistências que são efetivas contra algumas raças
do patógeno e resistência que são contra todas as raças. No primeiro caso temos as resistências
ditas VERTICAIS (também chamadas de resistência de raças específicas) e no segundo caso
temos as resistências HORIZONTAIS (ou raça inespecífica).

2.2.a. IDENTIFICAÇÃO DE RESISTÊNCIA HORIZONTAL E VERTICAL

Quando uma série de diferentes isolados de um patógeno é inoculada em uma série de


diferentes cultivares de um hospedeiro podemos ou não ter uma interação diferencial
significativa. (análise estatística).
Na ausência de interação significativa, qualquer cultivar pode ser usado para obter um
“ranking” (gradiente) dos isolados.
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Exemplo:

CULTIVARES**
ISOLDADOS**
CULTIVARES X ISOLADOS ns .

Isolados Cultivares
1 2 3 Média
α 3 4 5 4C
β 2 3 4 3B Resistencia horizontal
γ 1 2 3 2A
Média 2a 3b 4c

Para qualquer isolado que se escolha, o isolado  sempre será o mais patogênico, não
importando a existência de diferenças significativa de níveis de resistência entre cultivares.
Para qualquer isolado, também, que se escolha, o “ranking” dos cultivares não se altera
quanto à ordem da resistência (o cultivar a é o que tem maior resistência horizontal).
Por definição diz-se que a resistência do hospedeiro é do tipo horizontal e que os isolados
diferem quanto à agressividade
Onde há interação diferencial o “ranking” de isolados é diferente para cada cultivar e vice
versa.
Exemplo:

CULTIVARES**
ISOLDADOS**
CULTIVARES X ISOLADOS *

Isolados Cultivares
1 2 3
α 5bB 1aA 1aA
β 1aA 5bB 1aA Resistência vertical
γ 1aA 1aA 5bB

O isolado  é o mais patogênico no caso de se utilizar o cultivar a como hospedeiro, ao


passo que o isolado  é o mais patogênico quando se considera o cultivar b.
Neste caso diz-se que a resistência é do tipo vertical e o patógeno difere quanto à virulência.
A presença de interação diferencial indica que há especialização do patógeno a nível
intraespecífico do hospedeiro e neste caso os isolados são classificados em raças de acordo com
seus espectros de virulência frente a uma série de hospedeiros.
O fato de um cultivar apresentar resistência horizontal não significa que ele não tenha
resistência vertical e vice-versa.
Também não implica que a resistência vertical é do tipo monogênica, enquanto que a
resistência horizontal é do tipo poligênica, embora exista inúmeros exemplos onde esta
correlação é verdadeira.
Ex: A resistência em sorgo a Periconia circinata (L. Mangin) Sacc. & D.Sacc é monogênica
e horizontal.
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3. DURABILIDADE DA RESISTÊNCIA

A resistência vertical quando monogênica é possível de ser vencida dentro da capacidade


microevolutiva do patógeno, isto significa que este tipo de resistência é passageira, pois este
patógeno poderá sofrer variações genéticas (mutações), que lhe darão capacidade de infectar esta
planta, com este tipo de resistência, regida por um ou poucos pares de genes. Isto é dito como
sendo o surgimento de uma raça que consegue infectar aquela planta anteriormente resistente. Na
agricultura é possível ver isto acontecendo com frequência, e dizemos que aquela cultivar
“perdeu a resistência”, mas na verdade o gene de resistência ainda continua na planta, mas foi
vencido pelo patógeno, depois de certo tempo de cultivo desta mesma variedade.
Por quê?
A resistência vertical quando regida por um ou poucos pares de genes, irá conferir uma
resistência efetiva (total) contra uma determinada raça do patógeno.
Ex: A cultivar “A” tem o gene de resistência (R1), que confere resistência às raças do
patógeno que não tem capacidade de infectar a cultivar com o gene (R1). Porém, já sabemos que
os patógenos tem variabilidade genética, logo aparecerá, portanto, um patógeno pertencente à
raça (R1), que irá infectar a cultivar com o gene de resistência (R1).

3.a HIPÓTESE GENE-PARA-GENE (FLOR, 1942)

Para cada gene de resistência no hospedeiro existe um gene complementar de virulência no


patógeno.

A resistência horizontal esta além da capacidade microevolutiva do patógeno em ser


vencida.
Por quê?
A resistência horizontal quando é governada por vários genes com ação aditiva, conferindo
uma resistência que pode ser desde pouca até total, conforme o número de genes envolvidos e
com igual efetividade a qualquer raça do patógeno.

4. EFEITO NA EPIDEMIA

A resistência vertical por ser efetiva apenas contra algumas raças do patógeno, age no
sentido de reduzir a quantidade efetiva de inóculo inicial, fazendo com que o início da epidemia
seja atrasado.

A resistência horizontal é efetiva contra todas as raças, porém apenas diminui o número de
esporos produzidos por lesão, o tamanho das lesões, aumenta o seu período latente (período de
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incubação, ou seja, quanto o patógeno demora em desenvolver-se e provocar os sintomas).
Todos os seus efeitos são parciais e quantitativos.
Os efeitos da resistência somados produzem uma redução na taxa de desenvolvimento da
doença.

Efeito da resistência horizontal sobre o desenvolvimento de epidemias: Resistência


horizontal do cultivar C.

Efeito da resistência horizontal (RH) e da resistência vertical (RV), separadas e combinadas.

1.O cultivar a tem pequena RH e nenhuma RV.


2. O cultivar B tem a mesma RH que a e mais RV
3. O cultivar C não possui RV, mas tem mais RH do que a e B.
4. O cultivar D combina RV com a RH de C.

5. ESTRATÉGIAS DE USO DA RESISTÊNCIA VERTICAL MONOGÊNICA

Baseado na seleção direcional (seleção dos patógenos em direção à virulência) e seleção


estabilizadora (reversão ao estado original quando da remoção do evento perturbador) pode-se
utilizar estratégias que garantam a durabilidade da resistência vertical.

5.a. PIRAMIDAMENTO DE GENES

Esta estratégia baseie-se na incorporação de vários genes de resistência vertical, em um


único cultivar. O sucesso depende da premissa de que a probabilidade do aparecimento de uma
super raça, contendo todos os genes de virulência necessários para atacar esta combinação de
genes de resistência, é muito baixa. Esta estratégia não confere o efeito da resistência horizontal,
onde não há quebra da resistência, pois na resistência horizontal o efeito dos genes é aditivo e
neste caso eles agem independentemente um dos outros conferindo cada qual a resistência a uma
determinada raça do patógeno.
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5.b. ROTAÇÃO DE GENES

O princípio da rotação de genes é o mesmo da rotação de culturas. O objetivo é o de reduzir


a pressão de seleção direcional, reduzindo a pressão para o aparecimento de novas raças.

5.c. MULTILINHAS

As multilinhas são misturas de linhagens agronomicamente semelhantes (ou quase


idênticas), mas que diferem entre si por possuírem cada qual, um diferente gene de resistência
vertical.
As multilinhas são o oposto da pirâmide de genes pois nesta, os genes são concentrados em
um único indivíduo.

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