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Sinopse

Escrito em 1931, Admirável Mundo Novo foi publicado em 1932. A trama se

passa em uma Londres futurista, quando os anos são contados como DF -

Depois de Ford, já enunciando o quanto a linha de montagem é o centro desta

sociedade.

Nesta fábula futurista, a população é organizada por um sistema científico de

castas. Não há vontade livre, pois tudo é submetido a um condicionamento

maior. Para evitar revoltas com essa padronização da vida humana, os

habitantes dessa sociedade pasteurizada se submetem a tomar um

comprimido da felicidade, o Soma.

Durante o sono, há cursos ministrados sobre quais ideologias devem ser

seguidas pelas pessoas naquela sociedade, de forma a que nenhum

pensamento fuja do que é desejado pelas autoridades.

Estaria aí uma sociedade perfeita, ausente de problemas? Longe disso!Na

trama, Linda é uma jovem típica das castas altas e conhece um selvagem em

uma reserva, que é alegoria do mundo real. Eles são a representação do

antagonismo entre uma nova e uma velha sociedade, entre novos e velhos

padrões.

Este jovem é Bernard Marx, que se sente permanentemente insatisfeito com o

mundo onde vive, por ser fisicamente diferente dos integrantes de sua casta.

Na sociedade vivida por Linda, as pessoas são programadas para

desempenhar determinado papel social e gostar de sua função. Não há

questionamento, todos estão adaptados e seguem o padrão pré-estabelecido.


O que foi designado pelo Estado, detentor do bem-estar geral, é a regra a ser

seguida.

Bernardo Marx pertence aos selvagens do passado, que pode ser considerado

a época em que o livro foi escrito. Já Linda e seu filho, John, estão na

sociedade futurista, a qual Huxley critica como um futuro de excesso de

padronização científica do ser humano.

Huxley profetiza um mundo com um futuro bem diferente do que era pensado

em sua época. Se para muitos, o progresso e a ciência trariam apenas

benefícios à humanidade, para ele era preocupante a excessiva ordem nos

anos pós-Ford. Para Huxley, tal comportamento padronizado nada mais é do

que um pesadelo depois da Revolução Industrial.

Em seu Regresso ao Admirável Mundo Novo, escrito em 1957, ele relata que,

de fato, imaginava em um futuro distante que as profecias feitas na obra de

1931 poderiam acontecer. A excessiva ordem lhe assustava profundamente,

cada vez mais. O mesmo pode ser dito por cada um dos leitores deste livro

fundamental para a literatura contemporânea.

Processo Bokanovsky

É um dos principais instrumentos da estabilidade social ao qual parte da

população do livro é submetida. Produz seres humanos em série, com a

fecundação de 96 gêmeos por óvulo, o que causa a estabilidade social.

Por meio desse processo, todos os homens e mulheres são idênticos,

padronizados em grupos uniformes, já que foram constituídos em um mesmo

embrião.
Então, são manipulados e condicionados pelo Sistema Hipnopédico. Nele,

repetia-se dezenas de vezes mensagens durante o sono das pessoas, como

uma lição de casa a ser posta no inconsciente das pessoas.

Sem estabilidade social, não há civilização. E sem estabilidade social, não há

estabilidade individual no Admirável Mundo Novo.

A estabilidade individual deixa todos perfeitos e felizes, sem espaço para

guerras e desentendimentos. A sociedade, então, ficava organizada por este

sistema dito científico de castas, mas ao mesmo tempo a servidão é aceitável,

praticamente uma condição da qual ninguém é capaz de escapar.

As castas

No Admirável Mundo Novo, a sociedade é dividida em castas.

 Alfas: pertencem à casta alta,


vestem roupa cinza e não
passam pelo Processo
Bokanovsky;
 Betas: estes possuem
habilidades para realizações de
tarefas específicas, mas
também pertencem à casta alta
e não passam pelo Processo
Bokanovsky;
 Gamas, deltas e ípsilons
pertencem às castas baixas,
são a maior parte da população
da sociedade retratada na obra
e foram formados pelo
Processo Bokanovsky,
diferenciando-se pela cor das
roupas que vestem, sendo
verde, cáqui e preta,
respectivamente.

Soma

Na obra de Huxley, há uma droga que os personagens tomam para nunca

ficarem tristes. Ela tem como efeito causar felicidade e pode ser traçado um

paralelo interessante quanto à hipermedicalização de novos tempos, ou mesmo

o quanto nos apegamos a conceitos e comportamentos específicos para fugir

de nossos problemas.

Tal droga atende pelo nome de Soma. O Soma é uma ferramenta de controle

social em Admirável Mundo Novo.

Profecias

Muito se fala no quanto Huxley vislumbrou em sua obra uma série de

comportamentos e tendências que acabaram se tornando realidade, ou ao

menos, possuem semelhanças assustadoras com a obra distópica.

Para começar, a civilização excessivamente padronizada, repetindo uma série

de comportamentos, é o alerta do autor quanto ao que seria, para ele, um

futuro sombrio.

Ao notarmos pessoas vestindo roupas com um mesmo estilo, tentando se

enquadrar em grupos com o mesmo visual, por exemplo, podemos enxergar ali

algo que Huxley previa em seu livro.


Outra questão é a busca incessante por uma felicidade contínua, sem

momentos de tristeza ou fracassos, induzidos pelo Soma, tomado diariamente

como uma droga que os fazia esquecer os problemas. Esta harmonia social,

impossível de ser alcançada, é o que faz termos tantos gurus de uma felicidade

plena nunca alcançada, evidentemente posta de maneira caricatural e

aterrorizante na distopia.

A geração por um sistema que aliava controle genético a condicionamento

mental, o pleno domínio em prol desta harmonia na sociedade, a ausência de

questionamentos dúvidas e conflitos, a supressão de desejos e ansiedades por

meio químico para preservar a ordem também estão previstos para um futuro

sombrio, com a liberdade de escolhas sempre restrita.

E há, também, outras “profecias” em Admirável Mundo Novo, que não existiam

em sua época, mas foram visualizadas por Huxley em seu futuro sombrio.

Reprodução humana por meio de fertilização in


vitro

Na obra, só existem bebês gerados artificialmente. Afinal, o sexo serve apenas

para gerar prazer entre os habitantes. As crianças são geradas em um

laboratório de fecundação, o Centro de Incubação e Condicionamento. Lá,

óvulos e espermatozóides são tratados cuidadosamente de modo que a

fecundação aconteça com sucesso.

Vale lembrar que o livro foi escrito em 1931 e o primeiro bebê de proveta

nasceu em 1978.

Manipulação genética
A sociedade criada por Huxley fazia manipulações genéticas para que os

bebês nascessem com características determinadas de acordo com a casta à

qual pertenciam. Assim, a hereditariedade era selecionada a partir da escolha

de homens e mulheres padronizados.

Atualmente, é possível ler sobre muitos debates envolvendo a ética da

manipulação genética, já que a sua possibilidade vem se tornando uma

realidade com embriões humanos geneticamente modificados, com estudos

para que genes defeituosos sejam consertados e os bebês nasçam livres de

doenças.

Programação Neurolinguística

Na sociedade criada em Admirável Mundo Novo, há um treinamento para

condicionar os pensamentos dos habitantes, de acordo com suas castas.

Cada um tinha determinada maneira de agir. Com as evidentes diferenças

existentes, não há como não pensar na “profecia” de Huxley ao futuro

desenvolvimento da Programação Neurolinguística (ou PNL), cujos estudos

tiveram início na década de 1970 e segundo a qual existem padrões de

comportamento e linguagem usados pelas pessoas em situações específicas.

Cinemas 4D

O “cinema sensível” é mostrado na narrativa como fonte de lazer para os

personagens. Nele, os habitantes experimentam sensações reproduzidas nas

telas por meio dos próprios sentidos em uma experiência interativa, enquanto

assistem seus filmes.


Essa tecnologia recente pode facilmente ser comparada ao chamado cinema

4D, cada vez mais popularizado nas telonas mundo afora.

Neles, há experiências imersivas e interativas do público, algo como uma

simulação do que se passa nas telonas, saltando para a realidade. Uma

evolução do cinema 3D.

Lembre-se que Admirável Mundo Novo beira os 90 anos de publicação.

Taxicóptero

Os personagens de Admirável Mundo Novo fazem viagens cotidianas por meio

de taxicópteros, um sistema muito semelhante a serviços como os prestados

pelos aplicativos de transporte individual e corrida compartilhada.

Psicotrópicos

Um dos pontos principais desta sociedade distópica é o uso do comprimido


Soma na condição de perpetuador da felicidade, deixando a população

permanentemente alegre e relaxada. Com o passar do tempo, as pessoas

passam a ter problemas para lidar com as emoções, como a tristeza e

angústia, que volta e meia nos afligem naturalmente.

Toda e qualquer semelhança com o uso de ansiolíticos e antidepressivos não é

mera coincidência. Desde os anos 1980, a popularização do Prozac, apelidado

na época como a “pílula da felicidade”, fez com que a população em geral

tivesse mais conhecimento e acesso aos chamados psicotrópicos, lidando com

as angústias com o auxílio de remédios.


Nos últimos anos, o acesso a outros medicamentos e a popularização dos

serviços de Psiquiatria fez com que mais pessoas tivessem conhecimento de

outras medicações, tais como o famoso Rivotril. Há quem veja nossa

sociedade como hipermedicada e incapaz de lidar com problemas de ordem

emocional.

Estaríamos próximos de um Admirável Mundo Novo ou já o ultrapassamos e

sequer percebemos?

Regresso ao Admirável Mundo Novo

Quase 30 anos depois do lançamento de Admirável Mundo Novo, Huxley

lançou Regresso ao Admirável Mundo Novo. Este é um trabalho de não ficção

com o intuito de tratar sobre o quão próximo da distopia o mundo havia

chegado.

Sua conclusão foi de que o mundo caminhava a passos largos para se tornar a

sociedade imaginada nos anos 1930, com uma velocidade maior que a

imaginada.

Dentre as causas estipuladas por Huxley, estão a superpopulação e os meios

de controle social. O autor propõe ações para impedir que as democracias se

convertessem no estado totalitário da obra. E finaliza sua carreira literária

publicando A Ilha, em que propõe uma utopia que vai de encontro ao seu livro

mais conhecido.

Notas finais
Antes de embarcar na leitura de Admirável Mundo Novo, o leitor deve estar

atento e preparado para se deparar com uma obra que pode ser tanto uma

visão pessimista do futuro quanto um espelho de nossa sociedade.

Aldous Huxley pode ter exagerado aqui e ali, mas não errou ao apontar na

padronização comportamental causada pela industrialização do mundo e dos

comportamentos como algo danoso às democracias.

Disfarçado de ordem, o totalitarismo retratado na obra faz classificações entre

seres humanos, divide-os em classes predeterminadas desde o nascimento e

não permite que haja diferenças, tão naturais em nossa espécie.

Huxley foi certeiro ao apontar a industrialização da felicidade por meio de

remédios como algo que nos paralisaria, como já acontece em tempos de

tantas angústias e dores, ainda que menos sofisticadas quanto as de sua obra-

prima.

Os que pensam em uma sociedade melhor devem usar Admirável Mundo

Novo como bibliografia obrigatória para entender em que aspectos governantes

mal-intencionados repetem padrões de comportamento nocivos à coletividade.

Por mais assustadora que pareça, a obra é uma alerta aos caminhos tomados

pela humanidade. E se há tanto tempo o seu autor disse temer pela velocidade

com a qual vamos nos assemelhando ao seu livro, passou da hora de mudar

comportamentos coletivos para um melhor convívio de nossa espécie.

Dica do 12’
Outra distopia que diz muito sobre os dias presentes e o controle da população

por meio de poderes autoritários é 1984, escrita por George Orwell. Vale a

pena ler este microbook também!

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