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Relações Étnico-Raciais
Portfólio
LUCAS KOWALESKI 15/10/21, 00:35 HS

Processos identificatórios e clínica


A bala perdida,
A partir do texto "Considerações psicanalíticas sobre Sempre acha
preconceito racial: um estudo de caso" e pensando um pouco da O corpo
clínica pensei numa dúvida que tenho. É possível como clínico, Negro.
homem e branco atender uma pessoa negra? Penso que sim.
O silêncio
O artigo traz os diferentes processos identificatórios que dois Branco,
estudantes negros de uma univerdade tem de acordo com a Sentado no sofá da sala
forma como a história de cada um é contada. Um teria sua Segue a etiqueta.
história contada de tal forma que ela estaria convergindo com
seu ideal de Eu, o outro teria como resultado da cultura em que Anestesiado
vive (brasileira) a sua história contada a partir da escravidão e do Na supremacia
negro como inferior. O texto conclui dizendo que "a construção Dos privilégios
discursiva da história sobre a cultura dos povos e nações se Aceita calado
configura como um elemento fundador da constituição dos A morte,
ideais no processo identificatório de cada sujeito." Genocida.

Nesse sentido, penso que ao passo que se compreende a história


de um sujeito, é possível fazer a escuta clínica. Todavia, acho que
eu estaria suscetível a todo momento estar me utilizando de
O capitalismo é branco?
uma escuta silenciadora, ou mesmo não conseguiria escutar o Essa foi uma pergunta que fiz dentro da sala de aula (ou dentro
sujeito em sua totalidade, em função de que não sofro o racismo da reunião do meet) pensando a lógica que opera por trás da
que ele sofre e não sinto na pele as coisas que ele sente. sociedade capitalista e sua relação com o racismo estrutural. Foi
Também, se tivesse um paciente indígena, o mesmo seria válido. um assunto debatido na aula de Relações Raciais e Constituição
psíquica.
Porém, se a autocrítica estiver sempre presente, penso que a
clínica pode ser possível nesses casos. Ao pensar o colonialismo como um projeto inacabado, pode-se
dizer que o capitalismo é quem define quem vai ser explorado e
quem sofre mais com essa exploração é a pessoa negra,
principalmente as mulheres.

Dentro dessa ideia, falamos sobre um ideal de Eu branco, o qual


o negro estaria imerso, sem saídas simbólicas e imaginarias e o
que lhe resta seria ser branco. Penso que o capitalismo é um
forte agente nesse sentido, pois ele constrói mundos os quais
são vendidos para as pessoas consumirem com o apoio do
marketing e da mídia e ele faz isso de tal forma que as pessoas
precisam deseja aquilo. Do contrário, estarão alienadas do
mundo do consumo, do consumo logo sou, o que produz certo
reconhecimento social.

Isso é catastrófico duplamente, pois dá ao consumo um lugar de


Deus (ou vende-se a ideia de tornar-se Deus a partir do
consumo), ao mesmo tempo em que silencia a grande
Poema
diversidade de vidas e modos de existir, de culturas, de
Escrevi um poema inspirado no debate de uma aula. O intuito experiências de vida, do modo de viver e de estar na vida,
seria criticar a parcialidade da branquitude. silenciando esses que não consomem o padrão social.

Cúmplice O corpo negro, além de não ter a devida representação pelo


capitalismo, é silenciado em sua diferença e potência em prol de branquitude é poder falar sobre questões raciais mas sabendo
uma norma branca. Além disso, o capital se alia a político e que o seu é o de alguém priveligiado e, então, criticar isso. O
produz uma necropolítica que dita quem deve morrer e quem branco deve cuidar pra não sustentar o seu lugar de privilégio,
deve se fazer viver. E o corpo negro é sempre atravessado pela atentamente pensando as suas posições sem silenciar a luta
lógica colonialista do homem branco como superior e o negro antiracista.
como inferior que ratifica essa política de morte.
Em uma aula, a profe Luciana deu o exemplo de um homem
branco que tensionou uma mediadora com um discurso
antiracista, mas que no fim ele agradeceu pelo elogio que
recebeu pela intervenção ao invés de dizer pra agradecerem as
gurias que estavam fazendo a apresentação. Nesse caso, ele
silencia as gurias negras enquanto apresentam seu próprio
trabalho e tira o protagonismo delas para ele, ratificando a lógica
colonial.

Nós temos a experiência de sermos brancos, então podemos


pensar essa lógica de branquitude. Se eu reconhecer o racismo
do colega, vou ter que reconhecer o meu também.

Outra coisa, é que a gente não deve partir de uma experiência


comum, mas de uma compreensão de um comum. Onde tem
grupos pensando branquitude? É preciso ter grupos para pensar
a branquitude. As pessoas brancas precisam se reunir entre si
Etiqueta das Relações Raciais para falar da sua culpa, pra chorar junto, etc. Tem tudo isso e eu
sou um monstro. Não é assim. Tem tudo isso e nós devemos falar
Uma das coisas que mais me deixa desconfortável é o sobre isso para movimentar um pensamento antirracista.
anestesiamento em relação as desigualdades entre raças. A
cultura é estruturada de tal forma que o homem branco trata as
outras raças de maneira a encobrir o seu privilégio. Situações
em que famílias negras se encontram em vulnerabilidade em
função de todo processo histórico sofrido pela escravização e
pelo Estado racista que ainda prevalece nos dias de hoje, são
vistos como afronta por parte das pessoas brancas. "As pessoas
de cor agora tem direito a bolsa família, eu sempre tive que
traballhar". Frases como essa são a expressão da mentalidade
racista que está arraigado na sociedade e que dizem respeito a
essa etiqueta citada por Dzidzienyo (1971).

Isso perpassa pela noção de cidadania no brasil, que é uma


noção européia. A população negra, vive como que em um
Estado paralelo, pois as leis e direitos são brancos e não
contemplam nem se preocupam com a pessoa negra. E quando
Notas - Cultura indígena
acontece o reconhecimento da potência da vida negra,
geralmente está acoplado a um ganho financeiro ou político, Na aula do dia 14/10/2021, a convidada Regina Nunes, da etinia
dentro do sistema capitalista. Kaigang, apresentou em um formato oral bastante simples e de
fácil compreensão um pouco da cultura indígena e o que ela
Nesse sentido, seria fundamental reviver essa incômodo que entendia enquanto saúde. Da fala dela, me suscitou muitas
some em prol da normalização e buscar identificar nas falas, nas reflexões importantes. A partir do que ela foi trazendo pude
relações e criticar as situações que produzem o silenciamento pensar sobre o quão importante é escutar o outro respeitando a
da expressão da vida negra. sua diferença e "ouvir com as orelhas abertas" como comentou o
professor Damico. Ainda na questão do que é saúde, os pontos
que Regina falou como, por exemplo, abraçar uma árvore, se
deitar sobre a grama, sentir o cheiro da terra molhada, ouvir
vozes como um sinal de uma pessoa saudável e toda a presença
Lugar de fala do sagrada que vai dando sentido para a vida coletiva e em prol
do coletivo me fez querer participar dessa vida, que é a da
Essa é uma questão que sempre me fez recuar diante do assunto cultura indígena. Senti-me alienado numa busca branca e
do racismo. Eu pensava "não posso falar de racismo, porque não capitalista em prol da produtividade, do consumo e tentando
sou negro". Mas sentia que eu deveria me posicionar para não vencer o endividamento subjetivo. O pior é que ainda me sinto
corroborar com racismo. Então, a partir das aulas entendi melho preso a tal modo de vida, sem muitos horizontes. Pareceu-me
que o meu lugar de fala, é o de homem branco. O lugar de fala da que a forma que vivemos, self-empreendendo o tempo todo, é
algo que não produz saúde. Isso fica bem claro para mim, Compartilho, também, um documentário produzido por dois
quando Regina comenta de uma vez em que sua mãe lhe chamou amigos que dividi apartamento certa vez, em especial Paola
para sentar perto do fogo e ver sol para então, poder saber as Malmann, sobre a cultura dos Mbya Guarani, filmado na Tekoa
horas. A relação com o tempo é diferente, é em favor da vida, do Pindó Mirim. O doc se chama "Nhemonguetá", mas não tem
instante em que se vive e produz saúde, ainda mais, porque o aberto. Eu tenho o cd aqui, caso alguém queira posso ver de
fato de estar ali sentada sobre o fogo diz de uma vida em compartilhar.
comum, compartilhada com outros, mesmo que se sentasse só, o
sentido seria coletivo. https://www.papodecinema.com.br/filmes/nhemongueta/

Lembrei, também, de um texto do Lacan "O mito individual do Nesse link fala sobre.
Neurótico", em que ele comenta sobre o trabalho do xamã ser
parecido com o do analista. Ele apresenta a cena em que o xamã
narra as dores do parto até que a criança encontre o caminho
para fora do útero (e para isso, existem espíritos que atuam) e
acontece um ritual que preenche de sentido o nascimento da
criança. Faz tempo que li, não me recordo bem, mas seria uma
analogia com o trabalho do analista.

Pensei, como sempre penso das teorias, em geral as que se


excluem, que talvez não fosse totalmente jogado fora a
psicanálise e as outras psicologias para o caso indígena, mas que
seria necessário fazer o trabalho de descolonizar essas teorias,
assim como fez a Regina. Então, se poderia utilizar delas para o
que fosse cabível a realidade de seu povo.

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