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GUIA DA
DISCIPLINA
2021
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
É chamado de mulato
Aquele que é misturado
Um dos pais é de cor negra
Sendo o outro branqueado
Mas a miscigenação
No início da nação
Foi um mal desnaturado.
Objetivo:
Analisar a dita “neutralidade” existente no curriculum escolar para que possamos
entender a urgência de valorizar as culturas afro-brasileiras e reconhecer o processo de
exclusão social histórica ao qual esse segmento populacional foi imposto desde sempre.
Introdução:
O curriculum escolar é erroneamente considerado um documento neutro, no qual tal
neutralidade impede a descriminação, a segregação e a exclusão. No entanto, vale a pena
nos questionarmos acerca de alguns aspectos para que possamos melhor ler nas
entrelinhas deste curriculum escolar:
• Quantas/os teóricas/os negras/os você estudou durante o tempo que passou na
escola?
• Sobre quantas personagens e personalidades históricas você aprendeu durante
o tempo que passou na escola?
• Quantas/os professoras/es negras/os você teve durante o tempo que passou na
escola?
É importante que façamos o recorte racial na análise da escola para que possamos
compreender os processos históricos de exclusões sociais aos quais este segmento
populacional foi submetido e, a partir dele, pensar nas diversas possibilidades que temos
para trazer esta temática ao debate.
O curriculum escolar tem uma dimensão política por estar inserido na sociedade e,
justamente por este fator, pode-se afirmar que o currículo é político.
A ausência das representatividades negras nos locais de poder é uma das formas
que servem para nos fazer pensar sobre qual sociedade brasileira aprendemos na escola,
quais Brasis realmente aprendemos no Brasil e os motivos que levam ao silenciamento e
inivisbilização de uma parte da sociedade, ao passo que a outra parte detém o controle dos
locais de poder.
Outro ponto que merece atenção especial é que negros das mais diversas etnias
foram sequestrados do continente africano, em centenas de tribos, e trazidos ao Brasil. Mas
quando abordamos a sua existência, temos a tendência de homogeneizá-los como se não
apenas todos eles fossem iguais, mas como se todas as culturas fossem iguais e falassem
a mesma língua. Ora, se nós não somos iguais entre nós mesmos, como podemos ensinar
aos nossos alunos que os negros escravos eram iguais entre si?
Cunha Jr. (1996) afirma que o movimento negro sempre buscou mecanismos de
resistência para que estivesse inserido nas discussões sociais, sobretudo na educação,
que passou a ocupar um papel relevante a partir da década de 1920 por meio de jornais
segmentados. Ainda assim, vale pensar em quantas pessoas tinham acesso ao jornal, à
escolarização e ao interesse na temática em 1920. Não obstante, mais
contemporaneamente passamos a ver a discussão sobre as representatividades e os locais
de fala, uma antiga reivindicação do movimento social negro.
A compreensão das formas por meio das quais a cultura negra, as questões de
gênero, a juventude, as lutas dos movimentos sociais e dos grupos populares são
marginalizadas, tratadas de maneira desconectada com a vida social mais ampla e
até mesmo discriminadas no cotidiano da escola e nos currículos pode ser
considerado um avanço e uma ruptura epistemológica no campo educacional.
(Gomes, 2012: 104)
O processo educacional
sempre foi e sempre será
dialético, movido por meio de
tensionamentos, convergências
e divergências. O estudo não
está parado em um determinado
tempo-espaço imutável; pelo
contrário, ele sofre alterações
constantes, frutos das próprias
mudanças sociais que vivemos.
Cabe à escola estar atenta para realizar este tão necessário mapeamento
e compreender a importância de valorizar cada vez mais o respeito às diferenças
para tornar-se, assim, um local de construção da cidadania, e não apenas um local
de escolarização.
Objetivo:
Explicitar a diferença conceitual entre raça e etnia, duas palavras que muitas vezes
são interpretadas como sinônimos quando, na verdade, existem diferenças específicas
entre eles. Enquanto “raça” identifica grupos pelos seus fenótipos (cor, traços faciais,
textura capilar, etc.), “etnia” os identifica por suas ligações culturais (religiosidade, língua
falada/escrita, nacionalidade).
Introdução:
Muitas vezes vemos os termos “raça” e “etnia” sendo largamente utilizados, tanto em
pesquisas acadêmicas como em noticiários televisivos, ou até mesmo em postagens nas
redes sociais como, por exemplo, o Facebook e Instagram.
No entanto, se nos atentarmos ao seu uso, veremos que ambos são utilizados como
sinônimos, como se não houvesse distinção entre eles. Mas a verdade é que esta diferença
existe: cada conceito diz respeito a uma categoria social específica, e será sobre este ponto
que nos debruçaremos neste ensaio.
O conceito “raça” foi utilizado pela primeira vez em 1684, a partir da publicação “Nova
divisão da terra pelas diferentes espécies ou raças que a habitam”, de François Bernier.
Popularizou-se, inicialmente, a partir do uso nas Ciências Naturais, que precisavam de um
conceito para categorizar seus objetos de estudo: plantas, animais, etc. Bernier passa a
utilizar este conceito para realizar as suas análises sociais de grupos fisicamente
contrastados. Ou seja, remete-se à utilização francesa pela identificação germânica
(nobreza), em oposição aos gauleses, a plebe daquela época.
Não existe um modelo de “branquitude”, como também não existe um modelo “de
negritude”. Existem “branquitudes” e “negritudes”, e justamente por isso, trabalharemos os
grupos étnicos neste subcapítulo. Segundo Joel Rufino (2010), quanto à pluralidade étnica,
Sempre pertenci a uma corrente minoritária do movimento negro. [...] Sou de uma
corrente que defende que a contradição racial só pode tomar sentido no conjunto
das contradições brasileiras. Por exemplo, a questão das cotas. Sou a favor das
cotas, mas como uma estratégia de democratização da sociedade brasileira. [...] No
fundo, trata-se do seguinte, são duas concepções do negro. Uma do negro como
proletário, e outra do negro como etnia, ‘raça’, entre aspas, porque pouca gente usa
e trata o negro como raça. (p. 28)
Ou seja, dentro da categoria “raça” há uma grande quantidade de variáveis (ou, mais
corretamente falando, identidades) que criam inteligibilidade entre si e dão corpo ao
movimento negro. As demandas existentes no movimento negro brasileiro são diferentes
daquelas existentes nos movimentos europeus, estadunidenses, etc. Assim como as
próprias demandas existentes nos movimentos negros de Santos (SP) são diferentes
daquelas de outros Municípios e de outros Estados – ainda que possam existir demandas
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Disponível em: <https://goo.gl/5nFCoZ> Visualizado em 05/12/17
Vale ressaltar, ainda, que foram os movimentos sociais negros organizados que
conseguiram reivindicar uma política racial no Brasil para que houvesse o reconhecimento
do processo dificultoso imposto a eles em toda a nossa história, não apenas como forma
de retratação, mas também como forma de reconhecimento.
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Este fato será trabalhado mais especificamente na 1ª semana, a partir da narrativa de Diva
Guimarães, 77 anos, participante da Flip de 2017, onde falou sobre o racismo institucionalizado que sofreu
desde a sua formação escolar.
3. REPRESENTATIVIDADES IDENTITÁRIAS
Objetivo:
A partir de um apanhado histórico, a intenção é analisar a emergência das
representatividades identitárias e sociais, não apenas no contexto social, mas também no
escolar, para que possamos pensar em possibilidades para uma educação antirracista.
Introdução:
O contexto histórico nos remonta ao séc. XIX, onde as lutas sociais foram
organizadas a partir das questões de gênero e raça, reivindicando direitos que sempre
foram negados a estes dois grupos: da escolarização à profissionalização, e às questões
de saúde pública. Por serem historicamente estigmatizados, a ascensão social destes
grupos sempre foi mais difícil que a de grupos não marginalizados.
encontro com as suas necessidades – e a escola não sabia como lidar com tais demandas,
principalmente por ter o seu currículo escolar estruturado de forma eurocêntrica.
que outrora foram impossibilitados como, por exemplo, seus sujeitos nos livros escolares,
seus pares enquanto autores consagrados referenciados.
Para Abramovay e Castro (2006), “uma proposta seria oferecer material didático e
pedagógico que realce a positividade da diversidade, ou seja, em que a diversidade étnico-
cultural esteja positivamente representada, desmistificando a ideia de igualdade e
questionando hierarquizações.” (p. 343). Continuam:
Para aqueles que estão longe dos grandes centros urbanos com os museus da
história negra e sítios arqueológicos da escravidão, há a possibilidade de fazer uma viagem
virtual por meio do Google Maps e do Google Street View, que são ferramentas virtuais que
aproximam os alunos de locais cujo acesso físico por eles seja difícil. Já para aqueles que
estão próximos destes locais, recomenda-se o desenvolvimento de um projeto específico e
conhecimento prévio do passeio para que seja possível criar uma ponte entre o
conhecimento de sala de aula e aquele do espaço museal.
Olhar para a sala de aula e ver que você está presente não apenas enquanto
corpo, mas também enquanto estudo, personagem, fato histórico, arte e
brincadeira faz com que os sujeitos se sintam pertencentes a alguma coisa,
pertences a uma história, pertencentes a um espaço-local-momento. Reconhecer
esta importância é saber que a partir dela será possível criar novas relações entre
discente-docente-conteúdo.
A importância central no processo de representatividade é fazer com que as
pessoas passem a reivindicar para si as suas histórias, estejam presentes no
cotidiano social, estejam presentes nos locais de poder e ocupando espaços seus,
que outrora lhes foram negados.
Reconhecer a dívida histórica que temos é uma atitude cidadã, cívica e moral, é
saber que mesmo após a libertação dos escravos, suas vidas eram precarizadas,
as escolas eram quase inexistentes e a ausência de mão-de-obra qualificada (mais
o agravante de uma sociedade fortemente racista na época) dificultava melhores
ganhos e, consequentemente, a ascensão social desta parcela da população. Para
tanto, pensar as relações étnico-raciais é reconhecer a História, valorizar o
presente e almejar pelo futuro.
Objetivo:
Subsidiar possibilidades de discussão sobre a importância das religiões de matriz
africana, sobretudo a umbanda e o candomblé por serem as mais conhecidas na História
do Brasil e dos afrodescendentes, tendo como objetivo principal a promoção e consolidação
de uma educação que respeite as diferenças e combata as discriminações, racismo e
intolerância no cotidiano escolar.
Introdução:
A emergência deste tema se dá não apenas a partir do disposto na Lei Federal
10.639/03 e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-
Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, mas também pelos
sistemáticos ataques que os centros religiosos de cultura afro-brasileira vêm sofrendo e
pelas perseguições que os alunos frequentadores de umbanda e candomblé vivenciam no
cotidiano escolar.
Ser negro no Brasil é, pois, com frequência, ser objeto de um olhar enviesado. A
chamada boa sociedade parece considerar que há um lugar predeterminado, lá em
baixo, para os negros e assim tranquilamente se comporta. Logo, tanto é incômodo
haver permanecido na base da pirâmide social quanto haver "subido na vida". (p. 4)
Para aquelas escolas que não têm a possibilidade de fomentar uma palestra, uma
visita a um terreiro ou qualquer coisa do gênero, recomenda-se a utilização do Skype para
que os alunos possam conversar com pessoas que frequentam a religião de matriz africana
e conhecer um pouco mais sobre esta rica diversidade. Obviamente, cada faixa etária
requer uma abordagem metodológica específica, mas todas as faixas etárias estão
preparadas para aprender o valor do respeito ao próximo. Afinal de contas, é para isso que
serve uma escola.
Seguindo a lógica dos PCNs de 1997, e o próprio texto da Lei 10639, a temática
étnico-racial deveria ser abordada de forma transversal, ou seja, perpassando o
currículo escolar como um todo, não sendo de responsabilidade de uma única área
do conhecimento. (BAKKE, 2011: 158)
Há uma infinidade de livros recomendados pelos MEC, ancorados nos PCNs, que
abordam as questões étnico-raciais na escola, discorrendo não apenas sobre as
religiosidades, mas também sobre as abordagens metodológicas recomendadas para cada
nível de série. Munanga e Gomes (2006) discorrem em O negro no Brasil de hoje sobre
como a cultura brasileira é rica em virtude da influência das mais diversas culturas trazidas
pelas tribos africanas durante o período da escravidão.
Objetivo:
Partir do reconhecimento que a promulgação de uma lei não é o suficiente para que
todas as práticas racistas existentes no cotidiano escolar e social sejam eliminadas de um
dia para o outro, sendo necessário que a escola crie projetos específicos que mitiguem a
sua existência e cutive novas relações entre os sujeitos a partir do respeito às diferenças.
Introdução:
Uma das formas que podemos analisar para evitar a propagação de expressões
racistas no cotidiano escolar, da mesma maneira que devemos nos atentar a outras práticas
que envolvam formas diversas de racismo e as quais muitas vezes não percebemos,
legitimando involuntariamente esta prática, é a atenção aos conteúdos disciplinares. A
exemplo disso, cita-se a linguagem.
Afinal de contas, que nunca ouviu expressões como “aquele fulano é tão bonzinho
que tem alma branca”, crianças que pegam o lápis “cor de pele” se referindo ao bege e não
ao lápis preto, pessoas que vão à praia e ficam “da cor do pecado” por estarem escuras por
conta do sol, ou quando algo é muito bagunçado e parece um “samba do crioulo doido”,
“cabelo ruim”, “pé na cozinha”, “a coisa tá preta”, “inveja branca”, “vai lá com as tuas
negas/não sou tuas negas”, “denegrir” alguma pessoa ao falar mal dela, dentre outros.
Acredito que se fôssemos elencar as expressões racistas que usamos em nossos
cotidianos, ficaríamos até 2020 por conta de sua grande quantidade.
sentidos. Hoje, em tempos atuais, reconhece-se que as palavras têm sentidos para além
delas em si, que têm mensagens, reconhecimentos e intenções. A linguagem é intencional.
Usar “negro” associando àquilo que há de ruim, como foi citado anteriormente na
introdução, influencia negativamente a autoidentificação das pessoas negras como
“negras” em virtude dos racismos interiorizados no cotidiano social. A partir do momento
em que a escola cria projetos específicos que combatam as discriminações e elevem o
orgulho étnico-racial, a juventude passará a se empoderar ainda mais.
Por outro lado, a promoção de uma educação antirracista exige da parte dos
professores o compromisso individual/profissional de reconhecerem que estamos
todos inseridos numa estrutura social racista. Essa estrutura, contrapondo-se ao
“mito da democracia racial”, gera o racismo, o preconceito e a discriminação, bem
como muitas das desigualdades socioeconômicas na sociedade brasileira. (Leite;
Barduni Filho, 2013: 53)
Livros como Menina bonita do laço de fita, de Ana Maria Machado, trabalham
positivamente as diferenças étnico-raciais com o objetivo de que as crianças não apenas
reconheçam a pluralidade existente entre os sujeitos, mas também que as crianças negras
tenham orgulho de suas cores, combatendo quaisquer possibilidades de discriminação.
Uma narrativa quando bem estruturada, com ilustrações, contação de histórias com pausas
nas falas, explicações das ilustrações e participação das crianças ouvintes possibilita que
elas entrem na história e se sintam partícipes destas.
Clara Nunes, com Brasil mestiço santuário da fé, trouxe as mais diversas
manifestações culturais de resistência negra em uma única letra. Ela fala dos chicotes dos
senhores de escravos, da musicalidade oriunda do samba, do maculelê, dos atabaques, o
jongo e maracatu – uma ampla e enigmática quantidade numa única letra de música,
possibilitando que o professor trabalhe todas estas em sala de aula por meio de fotos e
vídeos, mostrando aos alunos toda essa riqueza existente num único povo e sua influência
em nosso cotidiano.
O teatro é outra manifestação artística que pode ser utilizada como forma de abordar
as discriminações raciais existentes na sociedade, bastando a/o docente responsável
buscar uma situação que tenha acontecido na escola ou na própria sociedade e encená-la,
criando uma performance artística. Lembramos que o black face (pessoas brancas pintando
os rostos de preto por ser uma prática racista que é criticada pelos movimentos identitários)
deve ser evitado.
Por fim, outra possibilidade é trazer vídeos do YouTube que explorem aquilo que não
seja possível executar na escola. Ou seja, se a escola tem um local (quadra, quintal, sala
de aula, corredor, etc.) para encenar uma peça, encene. Se tem local para um recital, recite.
Se tem local para uma música, cante.
Aproveite tudo o que for possível de executar na escola, recorra ao YouTube quando
não houver possibilidade ou, então, utilize a ferramenta como suporte à atividade prática
realizada em sala de aula. Nada melhor do que inserir os alunos em práticas educacionais
contemporâneas, diferentes e que fujam do ensino tradicional, colocando o aluno como
partícipe da construção do conhecimento.
Olhar para nós mesmos e reconhecer as formas como cometemos racismo, como
interiorizamos e naturalizamos tais práticas, é essencial para que sejamos críticos
conosco e, assim, para que sejamos também melhores sujeitos para com o outro.
Reconhecer a nossa limitação é essencial para a nossa melhoria pessoal e
profissional. Nós ganhamos com tais melhorias, nossos alunos ganham, a escola
ganha e todos ganham.
Mudar a linguagem é essencial para evitarmos discriminar sem perceber, analisar
criticamente nossas falas é uma forma ficarmos sempre atentos. Quando houver
dúvida, deveremos procurar um profissional, alguém de um movimento social,
uma ONG, etc. que seja capaz de sanar tal dúvida. Assumir nossos próprios limites
é extremamente necessário e positivo para que possamos evoluir.
Metodologias diferenciadas possibilitam que a escola seja mais dinâmica e
interessante, que os assuntos abordados sejam facilmente compreendidos e que
todos aprendam com outros olhares.
Objetivo:
Analisar as demandas contemporâneas dos movimentos sociais das negritudes a
partir da comparação com os anos 90, marcados pelos alisamentos de cabelo à base de
formol e cirurgias estéticas para afinamento de nariz (“igual ao da Barbie”), frente à atual
disseminação do uso de cabelos cacheados e crespos, turbantes, roupas e batons
multicoloridos. Novos tempos, novas perspectivas, novos olhares, novas demandas.
Introdução:
A internet nunca esteve tão permeada de discussões identitárias como temos visto
nestes últimos anos. Não obstante os motivos que influenciaram tais discussões como, por
exemplo, o Governo Federal assumindo as questões raciais enquanto uma agenda política,
o aumento do uso da internet no Brasil, as campanhas contra o assédio às mulheres no
mundo inteiro, a eleição da palavra “feminismo” como a “palavra do ano” de 2017 para o
dicionário Merriam-Webster's, dentre outros, não há como negar que tivemos uma grande
mudança nas perspectivas mundiais frente à temática nestes últimos anos.
Poucos são aqueles que não se depararam nas últimas semanas com as expressões
“respeite meu turbante”, “tombei”, “lacrei”, “empoderamento”, “fortalecimento”, “respeite as
manas, as minas e as monas”, etc. As mulheres afirmam que não voltarão mais para a
cozinha, os negros falam que não voltarão mais para as senzalas e os LGBTIQ afirmam
que não voltarão mais aos seus armários. Os tempos são outros. Hoje em dia, os
movimentos sociais identitários fortaleceram as diferenças, tensionaram aquilo que era
compreendido como o correto e passaram a reivindicar direitos que outrora eram
inexistentes.
Não há como negar: afirmam que não aceitarão nenhum direito a menos e que as
suas lutas e suas pautas vieram para ficar. Estão nas ruas, nos bares, nas famílias e
também na escola. A instituição escolar é uma extensão de toda a estrutura social e
consequentemente tais assuntos estão presentes em salas de aula, bastando nós,
professoras e professores, estarmos preparados para lidar com estas demandas.
Cada vez mais vemos, nos grandes centros urbanos e subúrbios brasileiros, a
utilização do cabelo crespo por mulheres e homens, meninas e meninos. Ao ligarmos a
televisão, vemos propagandas de produtos de beleza para o cabelo crespo, discursos para
que assumam seus cachos e tenham orgulho de suas raízes – aqui, com direito ao duplo
sentido, de raiz capilar e étnica. O capital se apropriou das demandas e viu neste nicho
uma possibilidade de vender seus produtos, como já era de se esperar. Chaves (2008)
afirma que “sendo a mídia privilegiadamente considerada um ‘estado de opinião’, e
observando-se que é mínima, ou até mesmo nula, a presença dos negros nos meios de
comunicação no Brasil, nota-se que ainda vivemos o Mito da Democracia Racial” (p. 17)
Tendo o IBGE como base (54% da população brasileira é negra), devemos nos
perguntar:
• Quantos professores negros tivemos?
• Quantos teóricos negros estudamos?
• Quantos gerentes de banco, de empresas, presidentes e profissionais em cargos
de poder foram/são negros?
Olhar para a nossa classe exige que reconheçamos esta discrepância não só de
raça, como também de classe. Uma sala de aula de escola privada tem a mesma
quantidade de alunos negros que uma sala de aula de escola pública? O bairro periférico é
permeado pela mesma quantidade de negros do bairro da elite econômica local?
Ao negro são
associados o samba, o funk, o rap.
Às produções culturais que exigem
elevado grau de formação e
instrução como a literatura, a
pintura, as músicas clássicas, dentre
outros, logo são associadas ao
branco. É necessário reconhecer
como a sociedade e os espaços públicos e privados são racializados para que possamos
pensar em outras possibilidades na construção das relações sociais – a exemplo, disso
pode-se citar os “rolezinhos”, fenômeno ocorrido em 2014, onde jovens periféricos se
organizavam para realizar passeios aos shoppings center das cidades e eram impedidos
pelos seguranças de entrar nos estabelecimentos comerciais e, em muitas cidades, a
polícia local reforçava a vigilância.
Objetivo:
Partir do reconhecimento de que a população negra foi historicamente marginalizada
na sociedade brasileira desde o período escravocrata até os tempos atuais, e analisar as
consequências destas marginalizações em seus cotidianos sociais.
Introdução:
Será a partir do não-reconhecimento do negro enquanto sujeito de direitos que as
discriminações estarão ancoradas e, justamente por isso, a escola necessita pensar em
projetos educacionais que fomente a compreensão do valor do outro, das diferenças e das
especificidades em si. Este não reconhecimento não é atual e muito menos recente, origina-
se em toda a história brasileira quando o negro era tido como objeto de trabalho para a
Casa Grande.
Como já pudemos ver ao longo desta disciplina, a questão racial não é uma página
virada na democracia brasileira e devemos olhar para ela compreendendo todo o processo
de exclusão que foi imposto à marginalizada população negra. A escola tem um grande
papel nesta função e precisa reconhecer tais processos históricos para pensar em ações
afirmativas, projetos educacionais e possibilidades para empoderar a juventude negra com
o objetivo de fazê-los sentir orgulho (e conhecer!) de suas raízes e histórias.
Na ânsia de prevenir tensões raciais hipotéticas e de assegurar uma via eficaz para
a integração gradativa da “população de cor” fecharam-se todas as portas que
poderiam colocar o negro e o mulato na área dos benefícios diretos do processo de
democratização dos direitos e garantias sociais. Pois é patente a lógica desse
padrão histórico de justiça social. Em nome de uma igualdade perfeita no futuro,
acorrentava-se o “homem de cor” aos grilhões invisíveis do seu passado, a uma
condição sub-humana de existência e uma disfarçada servidão eterna (Fernandes,
2008: 309).
Os dados mais recentes da violência letal apontam para um quadro que não é
novidade, mas que merece ser enfatizado: apesar do avanço em indicadores
socioeconômicos e da melhoria das condições de vida da população entre 2005 e
2015, continuamos uma nação extremamente desigual, que não consegue garantir
a vida para parcelas significativas da população, em especial à população negra.
(IPEA, 2017: 33)
Objetivo:
Valorizar o Dia da Consciência Negra não apenas como uma data comemorativa de
feriado nacional, mas também como uma data de amplitude de suas reivindicações,
demandas e de uma agenda política muito específica que busque atender as suas
necessidades a partir da valorização de suas diferenças.
Introdução:
A inexistência de um tipo de negro frente à grande quantidade de negros, de suas
expressões culturais e de suas manifestações cotidianas faz com que a escola olhe para
seus alunos compreendendo esta inexistência única para um entendimento de uma
existência múltipla. Desde as de cabelo cacheado e crespo, às de cabelo alisado e raspado,
das que usam roupas coloridas às que usam roupas monocromáticas, fazer parte das
diferentes negritudes não significa seguir um determinado padrão imposto ou construído.
Não devemos enquadrar uma raça a uma determinada expressão cultural e, muito
menos, deslegitimar uma pessoa que busca se expressar à sua maneira. Cabe à escola a
valorização destas multiplicidades culturais com o objetivo de deixá-las mais coloridas,
multiétnicas e multiculturais. Reconhecer suas demandas é o ponto de partida para que a
escola possa ser um local de acolhimento, e não de violência; de visibilidade, e não de
silenciamento.
muito bem definida acerca da festa, contemplando as demandas desta parcela populacional
e fazendo de seu espaço um local onde mesas de debates sejam realizadas, festas étnicas
promovidas e, sobretudo, que tenha seus pares representando e protagonizando o evento.
Boa noite! Acompanho a página, sempre que posso. Nunca imaginei que enviaria um
relato, mas hoje aconteceu! Trabalho como caixa em uma boutique, onde vão varias
madames da sociedade. Hoje uma dessas clientes, cheia da grana, conversando com
uma vendedora, (eu escutando por um acaso), disse que precisava despachar a
empregada dela. O motivo: a outra empregada que trabalhou a anos com ela, que era
de confiança, quis voltar ao antigo emprego. Até ai vai né.... O absurdo começou
quando ela começou a "descrever" as qualidades da tal moça... lá vai: Ela faz massa
de macarrão caseira.... ela chega as 7:30 e sai as 18... ela cozinha muito bem.... ela
até da banho nos meus cachorros... e o pior que eu escutei na minha vida: " ela é
neguinha, daquelas com o beiço virado" mas trabalha super bem! Nossa! Eu já tinha
nojo daquela mulher, depois disso fiquei com mais! Fiquei imaginando aquela pobre
trabalhadora, tendo que dar banho nos cachorros daquela mulher... talvez porque seja
uma ingênua.. ou talvez faça isso só para agradar aquela sinhá, no intuito de manter
o ganha pão. Minha bisavó é índia, minha avó negra, e minha mãe mestiça.. minha
mãe já lavou. privada de madame. E ouvir todas aquelas palavras me doeram na
alma... na ferida... um sentimento de revolta, nojo, raiva e pena. fico me perguntando,
se existe o mínimo de amor ao próximo no coração dessas sinhás. hoje eu tive certeza
que não. fiquei muito triste por ver como tem ser humano tão primitivo. em fim... quis
desabafar com vocês meninas... um beijo no coração de todas
#EuEmpregadaDoméstica
A escola precisa compreender este dia para além das festividades que podem ser
realizadas – ainda que se reconheça a importância e necessidade delas – para criar uma
agenda específica de debates, construção de ideias e desconstrução de estereótipos e
discriminações.
acesso aos bens de consumo e produtos diversos, da educação escolar básica até a
aquisição de produtos como moradia, produtos de linha branca como geladeiras, etc.
O Brasil é um país que ainda tem um grande abismo entre as classes sociais, entre
aquelas que moram nos bairros de luxo e aquelas que moram nas periferias, um
marcador social é visível a olha nu: o racial. Reconhecer este marcador é saber
que o processo histórico marginalizou uma parcela social muito específica em
nossa sociedade contemporânea e uma série de medidas precisam ser tomadas
com o objetivo de mitigar tais problemas sociais.
Ainda que haja um interesse em maquiar os racismos existentes no Brasil e criar
a sensação de uma democracia racial a partir de uma cordialidade, estudos
comprovam exatamente o oposto àquilo que o senso comum costuma afirmar: o
Brasil é um país racista que exclui os negros dos processos de ascensão social da
mesma maneira que privilegia os brancos. Tal reconhecimento não é negativo ao
país, muito pelo contrário. Reconhecer tais questões é viabilizar a criação de
outras possiblidades para com a sociedade.
Trazer à tona este debate permitirá que nossos alunos compreendam com
exatidão, e sem um véu encobrindo a realidade, todas as questões existentes em
seu país, em seu estado e em seu município para que então a escola possa pensar
em possibilidades do debate da temática sem falsos moralismos e sem fugir
daquilo que é exigido pelos documentos oficiais educacionais brasileiros.
Fonte: https://www.instagram.com/kobrastreetart
Objetivo:
Neste último ensaio será mostrado todo o referencial legal do Ministério da Educação
para a abordagem das temáticas referentes às questões étnico-raciais. Este capítulo foi
selecionado para encerrar a disciplina por ser mais teórico-legal e, portanto, servir como
referencial teórico-legal para subsidiar futuros docentes em relação à temática.
Introdução:
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais
e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana3 foi o documento oficial,
lançado em 2004, pelo Governo Federal, com o objetivo de normatizar a temática a ser
abordada obrigatoriamente no ensino básico brasileiro. Friso, mais uma vez, a
obrigatoriedade em abordar a temática na Educação Básica. Isto significa, portanto, que a
abordagem não é facultativa.
3
Recomenda-se leitura na íntegra das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações
Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro -Brasileira e Africana:
http://www.uel.br/projetos/leafro/pages/arquivos/DCN -s%20-%20Educacao%20das%20Relacoes%20Etnico -
Raciais.pdf
É importante salientar que tais políticas têm como meta o direito dos negros se
reconhecerem na cultura nacional, expressarem visões de mundo próprias,
manifestarem com autonomia, individual e coletiva, seus pensamentos. [...] Estas
condições materiais das escolas e de formação de professores são indispensáveis
para uma educação de qualidade, para todos, assim como o é o reconhecimento e
valorização da história, cultura e identidade dos descendentes de africanos. (Brasil,
2004: 11)
outra continuou às suas margens e periferias. Para tanto, ao pensar e publicar tais
Diretrizes, um amplo e denso estudo foi proposto por especialistas das áreas educacionais
do MEC e das mais diversas Universidades brasileiras.
Para tanto, com as históricas reivindicações dos movimentos sociais negros perante
a ausência de suas Histórias, uma série de estudos e debates públicos ocorrera durante o
início do Governo de Luís Inácio Lula da Silva até a sua promulgação, em 2004, atendendo
a esta parcela populacional. Vale lembrar ainda que, ainda que mais da metade da
população brasileira seja negra, o poder ainda se concentra nas mãos dos brancos. Por
exemplo, profissões que exigem alto grau de instrução como professor, médico, juiz,
dentista, dentre outras, são formadas majoritariamente por brancos – fato esse que vem
mudando desde a adoção das cotas raciais nas universidades públicas, favorecendo e
possibilitando que pessoas negras ascendam ao ensino superior.