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RESENHA DO LIVRO “ADMIRÁVEL MUNDO NOVO”, DE

ALDOUS HUXLEY

Londrina
2017
RESENHA DO LIVRO “ADMIRÁVEL MUNDO NOVO”, DE
ALDOUS HUXLEY

Trabalho referente a matéria de Introdução à


história, do curso de Licenciatura em
História– Universidade Estadual de Londrina

Londrina
2017
SUMÁRIO

1 RESENHA DO LIVRO .............................................................................. 3

2 POSSÍVEIS TEMAS A SEREM ABORDADOS ........................................ 6

3 PROBLEMATIZAÇÃO .............................................................................. 7

4 CONCLUSÃO.............................................................................................9

5 LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO.......................................................10
1. RESENHA DO LIVRO:

Nesta resenha trabalharei o livro “Admirável Mundo Novo”, de Aldous


Huxley, utilizando sua 2ª edição pela Editora Globo, do ano de 2001. Huxley foi um
renomado escritor Inglês, um dos escritores mais conhecidos do século XX. Lançou sua
primeira obra em 1916 denomidada “The Burnning Wheel” e posteriormente teve diversas
publicações. Em 1932, com o título original “Brave New World”, foi lançada a primeira
edição do seu mais famoso livro, “Admirável Mundo Novo”. O contexto em que esta obra foi
escrita e veio ao público foi o período entre guerras (1918-1939), onde ocorreu a “quebra” da
bolsa de valores de Nova Iorque, em 1929, o que acarretou em uma profunda crise que afetou
diversos países do Mundo. Na Europa crescia o Fascismo fomentado pela ânsia da população
por melhorias em suas vidas. Nesta conjuntura a distopia “Admirável Mundo Novo” levanta
reflexões pertinentes aos seus leitores, neste dado período e também atualmente.
A obra se passa em um Estado baseado na ciência, onde tudo é programado
e regulado para a satisfação e felicidade da população serem mantidas. Os nascimentos já não
existem mais em sua forma natural. Os bebês são originários de laboratórios ( os D.I.C.) e tem
seu desenvolvimento embrionário inteiramente acompanhado por cientistas que os “moldam”
nos padrões da sociedade. Esta sociedade científica necessita de muita mão de obra para
funcionar em seu total potencial produtivo e isto é resolvido por meio do processo de
“Bokanovskyzação”, que consiste em conseguir o máximo de seres identicos de um mesmo
óvulo.
Após serem artificialmente concebidas as crianças ficam sob a tutela do
Estado, que os “programa” para viver dentro de um sistema de castas. Durante o sono essas
crianças são submetidas a sessões de hipnopedia, onde lhes repetem como se fossem mantras
as normas sociais vigentes. Isto resulta em uma cultura hegemônica onde todos são felizes
independente das circunstâncias. As diferenças entre as pessoas se dão a partir das castas, que
definiam os lugares e funçoes de cada um nesta sociedade distópica. É criada uma população
homogênea, livre de questionamentos e de seres que se colocam contra o sistema totalitario
que é retratado.
Quando adultos as privações seguem e toda a lógica de vida desta população
se baseia no consumo. São estimulados a consumir o máximo possível as coisas de maior
complexidade na produção e a descartabilidade destes produtos também é elevada a um nível
extremo. Os divertimentos simples são rechaçados e substituídos por jogos de complexa
aparelhagem e músicas sintéticas.
Praticamente tudo relacionado ao período anterior a esta organização social
é censurado. O período conhecido como “antes de Ford” é tratado pela população com
obscuridade e estranhamento. Tudo lhes foi ocultado durante sua programação logo, é natural
esta reação. A religião lhes foi cortada, as relações sociais se tornaram totalmente voláteis e
somente úteis para saciar as necessidades biológicas, o conhecimento sobre a história também
foi proibido e a literatura foi reduzida ao tecnicismo necessário para manter as fábricas
funcionando. “Ford” e os “Administradores Mundiais” os privaram de tudo isso, das
liberdades individuais em troca da felicidade ininterrupta, que em grande parte do tempo
advém do “soma”.
Viver em uma organização social totalmente construída e moldada não é
uma tarefa fácil. O que possibilita isto em “Admirável Mundo Novo” é uma droga chamada
soma. Esta droga leva seus usuários (toda a população) a níveis de prazer intensos e que nada
consegue bloquear. As pessoas buscam refúgio a qualquer problema de suas vidas no soma,
transformando seus dias em longos e contínuos períodos de felicidade atrelados ao máximo
nível de alienação.
Em algumas partes do Mundo as condições geográficas tornam a civilização
tecnológica pós Fordiana impossível de se concretizar. Em resposta a isso os
“Administradores Mundiais” criam reservas selvagens que abrigam e delimitam o território
dos não pertencentes ao Estado científico. Nestes locais o nascimento ainda se dá de forma
natural, as crenças são livremente cultuadas e os valores morais ainda são seguidos de forma
mais rígida.
Malpaís é o nome de uma destas reservas selagens e é para lá que o
personagem Bernard Marx leva Lenina para um encontro romântico (até o limite possível de
romantismo praticado em “Admirável Mundo Novo”). Bernard, um sujeito da alta casta, tinha
suas peculiaridades. Diferente dos demais Alfas ele se mostrava infeliz e questionador do
sistema em que estava inserido. Uma dose errada de álcool em seu “pseudo-sangue” teriam
lhe legado estas características. Descobrindo Malpaís ele se encontra com um John, um
selvagem curioso, este era filho de uma “civilizada”.
Em uma manobra inteligente digna de um Alfa-mais, Bernard consegue uma
autorização para levar John e sua mãe para Londres, o grande centro da civilização moderna.
John confessara coisas a Bernard que poderiam desestabilizar a organização do Estado
científico, e isso de certa forma lhe agrada. Ao chegar em Londres, Bernard expõe o que o
Selvagem tinha lhe confessado: John é fruto de uma viagem realizada por um grande diretor,
Tomakin, e Linda, que viria a ser mãe do Selvagem. Esta informação causa grande alvoroço
na sociedade de castas. A notícia da chegada de “selvagens” em Londres desperta curiosidade
e estranhamento na população, o que nos mostra a visão etnocêntrica presente nesta sociedade
distópica.
John se torna uma espécie de estrela tutelada por Bernard, Lenina e
Helmholtz (amigo de Bernard que como ele, apesar de sua casta alta não se sente realizado
nesta sociedade). Durante este período ele se apaixona por Lenina, mas suas diferenças
culturais fazem com que nada aconteça entre eles. Fato que posteriormente se torna um fardo
para John.
Linda, após tanto tempo vivendo entre os “não civilizados”, não conseguiu
se readaptar ao o estilo de vida moderno. Sérios problemas relacionados ao uso do soma e
outras causas a levam ao hospital em grave estado. Ao visitá-la, o Selvagem se descontrolou e
tirou a vida de sua própria mãe acidentalmente. Este ocorrido aumenta seu grau de
descontrole e o faz agir de forma totalmente contrária ao sistema. Bernard e Helmholtz
chegam para tentar acalmá-lo, mas as autoridades já estavam lá e encaminharam os três ao
Administrador.
Na sala do Administrador uma longa conversa se desenrola e John consegue
sanar duvidas relacionadas ao Mundo moderno. Certamente este não era o lugar certo para
John e seus amigos civilizados viverem. Bernard e Helmoholtz são condenados a viver em
uma ilha isolada da sociedade moderna, fato que parcialmente até lhes deixou felizes. John
também deixa Londres, extremamente inconformado com o modo de vida no Estado
cientifico. Seu destino é um farol isolado, onde prometeu a si mesmo se desvincular
totalmente da doentia sociedade “civilizada” que por algum tempo viveu.
2. POSSÍVEIS TEMAS A SEREM ABORDADOS:

 A divisão social hierarquica em castas;

 A proibição da leitura como forma de diverssão solitária;

 O consumo excessivo de bens materiais;

 A liberdade ilusória vivida pelos personagens;

 O consumo excessivo de drogas como fuga da realidade;

 A divisão do Mundo entre “civilizados” e “não civilizados”;

 A extinção da moral nos padrões que conhecemos hoje;


 A “perda” do sentido da vida em troca de felicidade ininterrupta;
 A proibição do estudo da história anterior a Ford;
 O condicionamento que os leva a aceitar tudo;
 A incessante busca por estabilidade social e individual a qualquer
custo;
 O processo de “produção” de seres humanos;
 A música sintética e cinema sensível produzidos para fornecer
sentimentos prontos a uma sociedade insensível;
 O fim das relações afetivas;
 A homogenização da cultura.
3 . PROBLEMATIZAÇÃO:

Para desenvolver a problematização escolhi como tema a anulação das


diversidades culturais em “Admirável Mundo Novo” e a imposição de uma unica cultura
hegemônica.
No livro a população vive em um meio social sem diversidades culturais,
pois isto poderia causar instabilidade social. Para tornar esta instabilidade quase nula as
culturas foram extintas e substituidas por uma cultura global pautada na não reflexão, na
felicidade ininterrupta e no consumo. Tendo conhecimento do poder de libertação que a
cultura tem, os “Administradores Mundiais” do livro fazem questão de manter esta cultura
que lhes deixa com a população totalmente em suas mãos, iludida com o consumo excessivo
de bens materiais e com a felicidade ininterrupta resultada do uso do soma. A cultura no
enredo, aliada a outros meios, é utilizada como um meio de controle das massas. Como
defendido pelo antropólogo Clifford Geertz, a cultura é um meio necessário para o ser
humano, sendo impossível de haver uma organização social sem padrões culturais vigentes.

Não dirigido por padões culturais – sistemas organizados de símbolos


singnificantes – o comportamento do homem seria virtualmente
ingovernável, um simples caos de atos sem sentido e de explosões
emocionais, e sua experiência não teria praticamente qualquer forma.
A cultura, a totalidade acumulada de tais padrões, não é apenas um
ornamento da existência humana, mas condição essencial para ela – a
principal base de sua especificidade. ( GUEERTZ, 1989, p. 33)

Sem culturas não existe uma sociedade estável e ao mesmo tempo, como
teorizado por Bauman em “Ensaios sobre o conceito de cultura”, a cultura é um meio natural
contrario a alienação. Para manter o controle social por meio da criação de uma única cultura
global baseada nos pilares anteriormete ditos se explica na união entre estes dois autores. A
cultura como mecanismo de controle neste caso se da a partir da manipulação desta unica
cultura, existente, mas imutável e cristalizada.
O antropólogo brasileiro Roque Laraia na segunda parte da sua obra
“Cultura, um conceito antropológico”, trata do dinamismo cultural. Para ele, as culturas estão
em constante modificação e nunca estáticas. Estas modificações se dão a partir da
“capacidade de questionar os seus próprios hábitos e modificá-los” e também das relações
entre povos culturalmente diferentes. Para anular esta capacidade de modificação e manter a
ordem vigente os “administradores mundiais” e “diretores” de “Admirável Mundo Novo”
aboliram as diversidades culturais para não abrir espaço para qualquer tipo de interação e, se
utilizando do consumo excessivo do soma e diversos outros meios, alienam a população
deixando-a inerte a qualquer imposição do Estado.
Podemos relacionar esta cultura hegemônica retratada no livro com a atual
conjuntura global. Traços de uma cultura idealizada como modelo de desenvolimento se
espalham para todo mundo por meio da globalização. Padrões estéticos, de comportamento,
hábitos alimentares e toda uma cultura pautada no consumo circulam entre as mídias e redes
sociais e são incorporadas por diversas sociedades. Costumes desenvolvidos durante décadas
são dissolvidos e substituidos por novos padrões atualizados para a sociedade capitalista, a
sociedade do consumo.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS:

“Admirável Mundo Novo” não é considerado um clássico da literatura


distópica ao acaso. Huxley retrata com maestria uma sociedade doente, culturalmente
dizimada pelo consumismo e utilização de drogas como fuga da realidade. Os pontos
levantados pelo autor são atuais e após a leitura nos cabe refletir sobre nossa própria
realidade, até que ponto somos realmente livres?
4. LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO:

- GEERTZ, Cliford. O Impacto do Conceito de Cultura sobre o Conceito de Homem. In:


GEERTZ, Cliford. A interpretação das Culturas. 1ª Ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008. p. 29-
39

- LARAIA, Roque. Como Opera a Cultura. In: LARAIA, Roque. Cultura, um conceito
antropológico. 14ª Ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001. p. 94-102.

- BONA, Juliano. BONA, Camila Thaisa Alves. A Cultura como Mecanismo de Controle: um
Estudo sobre a Homogeneização Cultural no Espaço Escolar. Cadernos de educação,
tecnologia e sociedade, Blumenau, v. 9, n. 3, p. 423-430, 2016.

- BAUMAN, Zygmunt. Ensaio sobre o Conceito de Cultura. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Zahar,
2012.

- BRITTOS, C. Valério. GASTALDO, Édison. Mídia, Poder e Controle Social. Alceu, Rio de
Janeiro, v. 7, n. 13, p. 121-133, jul./dez. 2006.

- COSTA, Rogério. Sociedade de Controle. São Paulo Perspect, São Paulo, v. 18, n. 1,
Jan./Mar. 2004.

- CARVALHO, José Jorge de. Imperialismo Cultural hoje: uma Questão Silenciada. Revista

USP, São Paulo, v. 32, p. 66-89, Dez./Fev. 1996/1997.

- BRANT, Leonardo. O Poder da Cultura. 1ª Ed. São Paulo: Editora Peirópolis, 2009.

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