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UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS

Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais – FCBA


Pós-graduação em Entomologia e Conservação da Biodiversidade

Discente: Amanda Buzanari Barbosa


Docente: Eduardo Neves Costa

Relatório - Anabiose

Antibiose é um fenômeno biológico que ocorre quando atividades metabólicas de um


organismo inibem ou matam outro organismo. Esse mecanismo é empregado por vários
microrganismos, incluindo bactérias, fungos e actinomicetos, para defesa contra predadores,
patógenos, e também, na competição intra e interespecífica. A antibiose é mediada por metabólitos
secundários, que são pequenas moléculas produzidas por microrganismos que têm atividades
biológicas específicas. Esses metabólitos podem atuar diretamente no patógeno ou na praga inibindo
seu crescimento ou desenvolvimento, ou até mesmo indiretamente, ao alterar sua fisiologia ou
comportamento.
Na agricultura, o uso de antibióticos e fungicidas é muito comum, mas o uso indiscriminado
desses produtos fitossanitários têm levado ao desenvolvimento de resistência antibiótica de vários
microrganismos patogênicos. Essa resistência é preocupante, principalmente para a saúde pública.
Recentemente, tem-se aumentado o interesse no uso de produtos mais naturais, incluindo o uso desses
metabólitos secundários provenientes de microrganismos, como uma maneira mais sustentável de
controle e manejo de pragas agrícolas, ao invés de pesticidas e fungicidas.

Antibiose na agricultura
A antibiose é um dos principais mecanismos no controle biológico, que utiliza organismos
vivos para controlar o crescimento e desenvolvimento de outros organismos vivos, as pragas e
doenças. Os agentes de controle biológico podem ser micro ou macrorganismos, como predadores e
parasitoides, que atacam pragas e patógenos. Os agentes de controle biológico apresentam algumas
vantagens em relação aos pesticidas químicos, como:
- Capacidade de direcionar pragas e patógenos específicos;
- Baixo impacto no meio ambiente e na saúde humana e pública;
- Potencial para sustentabilidade a longo prazo.
Na agricultura, a antibiose é mais usada como método de controle biológico, especialmente em
lavouras orgânicas. Microrganismos como Bacillus thuringiensis (Bt), Streotomyces spp. e
Trichoderma spp. têm sido amplamente estudados como agentes de controle biológico contra uma
grande gama de pragas e patógenos. O Bacillus thuringiensis é uma bactéria do solo que produz
proteínas cristalizadas, que são tóxicas a algumas pragas, como lagartas e besouros. O Bt geralmente é
usado como pesticida biológico na agricultura, e tem se mostrado eficiente no controle de uma grande
variedade de pragas.
O Streptomyces spp. também é uma bactéria presente no solo, e que produz diversos
metabólitos secundários, incluindo antibióticos, antifúngicos e até inseticidas. Seus metabólitos já
mostraram bioatividade potente contra as pragas e patógenos de interesse agrícola. A bactéria
Streptomyces griseoviridis produz um composto antifúngico, a cicloheximida, que já tem sido
utilizada como biofungicida na agricultura. O fungo Trichoderma spp. apresenta a capacidade de
colonizar as raízes das plantas, e produzir uma ampla variedade de metabólitos secundários que têm
propriedades antifúngicas, antibacterianas e inseticidas. Algumas cepas de Trichoderma são usadas
como biofungicidas na agricultura para controlar patógenos do solo.
Microrganismos endofíticos, que são aqueles que vivem dentro dos tecidos das plantas sem
causar danos a elas também têm mostrado a capacidade de produção de metabólitos secundários que
podem proteger as plantas de ataques de pragas ou de doenças. O fungo endofítico do gênero
Fusarium produz metabólitos secundários que são tóxicos à patógenos das plantas, como o fungo do
mesmo gênero, o Fusarium oxysporum, que faz a planta murchar. Esses metabólitos podem inibir
tanto o crescimento, quanto o desenvolvimento de outros fungos, e em alguns casos até mata-los.

Desafios e limitações
Mesmo que a antibiose tenha se mostrado um agente de controle biológico efetivo, ela
apresenta algumas limitações e alguns desafios na implementação e manutenção. Um dos maiores
desafios é a identificação das cepas apropriadas ao uso e a otimização de sua produção e entrega. A
eficácia de agentes de controle biológico pode ser afetada por diversos fatores, como:
- Condições ambientais;
- Características das plantas hospedeiras;
- Interações com outros microrganismos.
Por isso, o desenvolvimento e uso de agentes de controle efetivos que apresentam a antibiose
requer a compreensão profunda da ecologia e biologia das plantas e dos microrganismos envolvidos.
Outro desafio associado é o possível desenvolvimento de resistência por parte da praga. Mesmo que
esse risco seja menor comparado aos pesticidas sintéticos, ainda é uma preocupação que precisa ser
direcionada ao realizar o manejo integrado com a combinação de várias técnicas.
Há de se pensar também, no custo da produção e aplicação de agentes de biocontrole, que pode
ser superior ao custo dos produtos fitossanitários típicos. Isso torna esses agentes menos atrativos aos
produtores, especialmente em países em desenvolvimento, como o Brasil. Entretanto, os benefícios a
longo prazo de tipo de manejo podem fazer a escala tender como favorável para os agentes de controle
biológico.
Tem-se então, a antibiose como um mecanismo de controle biológico de alto potencial para a
revolução do manejo de pragas e patógenos na agricultura. Com subsequentes inovações, estudo e
investimento, a antibiose pode se tornar um poderoso aliado na agricultura sustentável e em um
sistema agrícola mais resiliente.

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