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inimigos naturais
TIPOS DE SELETIVIDADE
A determinação da seletividade dos pesticidas aos inimigos naturais envolve estudos
diversos, sempre visando compatibilizar o controle biológico e o químico, em uma dimensão não só
química, mas também ecológica de equilíbrio. A seletividade, de maneira geral, pode
Antonio C. dos Santos ct al.
ser fisiológica e/ou ecológica e ambas são complementares e de grande importância para
o equilíbrio do sistema agrícola. Estão envolvidos neste campo da ciência que estuda a
seletividade dos agroquímicos aos artrópodes benéficos, métodos experimentais toxicológicos
padronizados, de curto, médio e longo prazo, indicados para avaliar os diferentes tipos de seletividade.
Seletividade fisiológica
A seletividade fisiológica é inerente ao composto químico, e é relacionada à tolerân cia de
um inimigo natural quando o mesmo é submetido ao contato direto, aos resíduos, ou ingestão de um produto
específico.
Este tipo de seletividade deve-se as diferenças fisiológicas entre as espécies
envolvi das sejam pragas, predadores, parasitóides, patógenos ou polinizadores (ver capítulo 19) e
pode ser determinada por uma concentração de um produto resulte em bom controle da praga não
afetando os artrópodes benéficos. Esta seletividade é, por exemplo, o que ocorre com alguns inseticidas
fosforados quando há uma redução na penetração do tegumento, ou um aumento na degradação da
molécula tóxica pelo sistema enzimático do inseto benéfico.
Existem diferentes intensidades de seletividade, o que significa que os defensivos
agrícolas não são classificados apenas como seletivos ou nocivos. O grau de seletividade fisiológica de um
produto é normalmente expresso pela razão entre a dose letal média (DL) à praga e ao inimigo
natural ou pela relação entre dosagem recomendada para o controle da praga e a DL, ao inimigo
natural. Assim, se for traçada uma curva de mortalidade da praga e de un inimigo natural para
um determinado produto, a dose para obter a melhor seletividade pode ser definida como o ponto da curva
em que a diferença entre a mortalidade da praga e do inimigo natural é máxima.
Muitas vezes é difícil de se alcançar o nível de seletividade fisiológica ideal. Muitos dos
inseticidas utilizados agem no sistema nervoso central e existe uma similaridade muito grande no
processo de transmissão dos impulsos nervosos não somente entre as diferentes ordens de insetos
(envolvendo pragas e inimigos naturais), mas também entre outros filos animais, o que leva a
similaridade de resposta da praga e do inimigo natural a uma determi nada dose de um inseticida.
Entretanto, é possível ao menos aumentar o grau dessa seletividade fisiológica através, por
exemplo, da redução de doses, desde que seja feita de forma criteriosa, suportados por dados de
pesquisa que comprovem a manutenção de um aceitável nivel de controle da praga.
Em um sistema agrícola equilibrado, o resultado esperado de uma tática de
controle nunca deve ser 100% de mortalidade da praga, como era no passado o objetivo de muitos
agricultores, mas sim reduzir a população dessa praga para um nível abaixo daquele de dano
econômico. Ao contrário do que se possa pensar, 100% de controle de uma praga, pode até ser um
resultado insatisfatório de uma tática de controie, devido aos efeitos prejudiciais indiretos causados aos
inimigos naturais em conseqüência da indisponibilidade de presas ou hospedeiros, o que entre uma
série de efeitos colaterais, pode resultar na rápida ressurgência das pragas.
Os novos avanços no controle de pragas, principalmente com o desenvolvimento dos inseticidas
de hormônio juvenil, inibidores de crescimento e alguns inseticidas de origem biológica, e mais
recentemente a biotecnologia com as plantas inseticidas, vêm ampliando as possibilidades do uso da
seletividade fisiológica. Os inseticidas inibidores da síntese de quitina
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Seletividade de defensivos agrícolas aos inimigos naturais
e os aceleradores da ecdise, caracterizam-se por apresentarem baixa toxicidade a vertebrados e a muitos artrópodes
benéficos por sua ação essencialmente de ingestão, o que lhes confere um alto grau de seletividade em
relação a insetos e outros artrópodes que não ingerem a folhagem tratada. A utilização destes
produtos é viável em programas de manejo de pragas
Os biopesticidas são derivados de animais, plantas ou microrganismos como bactéri
as e fungos. Bacillus thuringiensis (Bi) é um dos biopesticidas mais utilizados no mundo e suas variedades
são patogênicas a um grande número de pragas, incluindo lepidópteros e dípteros. Quando Bt é
ingerido pelo inseto ocorre à solubilização do cristal de proteina no intestino e a formação de proteínas
chamadas delta endotoxinas que são tóxicas a um grande número de insetos. Outros exemplos são os
inseticidas derivados de um processo de fermen tação utilizando a bactéria Saccharopolyspora spinosa. Este
apresenta alta especificidade no controle de pragas em geral sendo bastante seletivo a predadores
em geral.
Ainda, um outro tipo de seletividade que sempre complementará a seletividade fisio
lógica e que também deve ser levada em consideração é a seletividade ecológica.
Seletividade ecológica
O emprego de agroquímicos de maneira ecologicamente seletiva que minimize a ex
posição dos inimigos naturais a esses e, ao mesmo tempo, controle os insetos-praga é deno minado de
seletividade ecológica. A seletividade ecológica ainda é subdividida de acordo com a forma pela qual a
exposição ao agroquímico é diferenciada entre pragas e artrópodes benéficos, podendo ser temporal ou espacial.
Um exemplo de seletividade ecológica espacial é o modo favorável e apropriado na
aplicação de um inseticida sistêmico no solo que circula na seiva da planta, atingindo apenas as pragas
sugadoras, preservando seus inimigos naturais que não entram em contato o pro duto químico.
Outro exemplo é a aplicação em áreas restritas, especialmente para pragas que atacam em
reboleiras e possuem pouca mobilidade, como os ácaros e as cochonilhas.
Na cultura da soja, outro importante exemplo é a aplicação de inseticidas na bordadura
junto com sal de cozinha para o controle de percevejos. Essa prática é eficiente porque os
percevejos no início da infestação se concentram na bordadura das lavouras e o sal de cozi nha atua como
um arrestante, fazendo com que o inseto prolongue sua alimentação e, conse quentemente o contato com o
produto. Essas técnicas permitem separar no espaço o insetici da e o artrópode benéfico, preservando esse último da
intoxicação que ocorreria se o mesmo entrasse em contato com o produto químico.
Um exemplo de seletividade ecológica temporal é não aplicar inseticidas no meio do dia,
evitando os horários em que os insetos polinizadores mais visitam as flores obtendo, desse modo, uma
separação no tempo entre a aplicação do produto químico e o período que o artrópode benéfico está
exposto a contaminação.
Essas práticas permitem que um produto químico, mesmo quando não seletivo fisio
logicamente, tenha uma seletividade ecológica, preservando os artrópodes benéficos da área e, consequentemente,
minimizando o impacto negativo do controle químico. A seletividade ecológica é possível graças às diferenças
de comportamento ou habitat entre as espécies, possibilitando que o produto entre mais em contato com
determinada espécie e não com outra. Ela baseia-se nas diferenças ecológicas existentes entre pragas,
inimigos naturais e
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Seletividade de defensivos agrícolas aos inimigos
naturais
FONTE
Tabela 2. Exemplos de acaricidas e fungicidas seletivos a inimigos naturais.
INGREDIENTE ATIVO INIMIGO NATURAL CLASSE
formas jovens adultos
Acaricidas óxido de fembutatina Ceraeochrysa cubana
Coccidophilus citricola
Fungicidas azoxistrobim
Orius insidiosus
benomil
Orius insidiosus
imibenconazole
Orius insidiosus
iprodione
Orius insidiosus
metalaxil + mancozebe
Orius insidiosus
triforine
Orius insidiosus
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