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CONSERVAÇÃO Ex Situ DE R E C U R S O S G E N É T I C O S DE

PLANTAS NA REGIÃO TROPICAL ÚMIDA.


1
J o ã o R o d r i g u e s de PAIVA

RESUMO — Nas duas últimas décadas, a Amazônia tornou-se foco de um processo de ocupação
acelerado e desordenado, criando sérias preocupações quanto ao futuro de seu vasto patrimônio
genético. A situação tende a se agravar à medida em que os métodos de conservação dos recursos
genéticos, que ora são utilizados na Amazônia para manter coleções de plantas em campo, revelam-
se inapropriados. Além de onerosos e limitados à espécies de reconhecido valor econômico.
Resultados de pesquisa evidenciam a importância de diversidade de espécies, densidade de plantas
e variabilidade genética, c o m o estratégias utilizadas pelas plantas para sobreviverem à
heterogeneidade do ambiente tropical. Tomando-se como referência essas características, propõe-
se discutir e apresentar um método de conservação ex situ de recursos genéticos de espécies
autóctones da Amazônia.

Palavras Chaves: Amazônia, Germoplasma, Conservação, Ecossistema Tropical.


Conservation "Ex Situ" of Plantas Genetic Resources. In the Tropical Rain Region.
ABSTRACT — In the last two decades the Amazon region has been submitted to acelerated
and disorganized development process that created serious worries about the future of its genetic
resources. The situation has a tendency to aggravate because, at this time, there is no available
ex situ conservation method for tropical species genetic resources. Some research works have
shown the importance of species diversity, plant density and genetic variability as strategies
utilized by the plants to survive in the heterogeneouness of the tropical ecossystems. This paper
to discuss and present an ex situ genetic resources conservation method for autochthonous spe-
cies in the Amazon region.
Key words: Tropical Ecossystems, Conservation, Genetic resources.

INTRODUÇÃO grandes projetos hidrelétricos, os pólos


minerais e de outras atividades, a
A preocupação com os floresta tropical densa vem sofrendo
ecossistemas naturais e porque um processo intenso de desmatamento
representam uma fonte imensurável de e fragmentação em grande escala. Em
recursos genéticos de produtos de valor alguns Estados essa taxa se aproxima
econômico. Grande parte desses da exponencial (FEARNSIDE, 1986).
recursos vem sendo destruídos antes do Segundo KAGEYAMA (1987), a
conhecimento de suas potencialidades. perda dos recursos genéticos não está
Nas duas últimas décadas, a limitada aos trópicos, mas o ritmo de
paisagem nativa de terra firme da desmatamento tem sido maior nas
bacia amazônica tem sido rápida e florestas de regiões tropicais e que,
radicalmente transformada por ações considerando a fragilidade desses
de seres humanos. Pela expansão das e c o s s i s t e m a , t a m b é m indica a
rodovias e as fronteiras agrícolas, os p r i o r i d a d e que d e v e ser dada à

Centro de Pesquisa Agrotlorestal da Amazônia Ocidental - CPAA/EMBRAPA, Caixa Postal


319, CEP 69.048-660, Manaus (AM).

ACTA AMAZÔNICA 24( 1/2):63-80. 1994.


conservação nessas regiões, onde áreas seringueira (Hevea spp). A partir de
protegidas são escassas e menos 1976, foram incrementadas pelo Centro
eficientemente cuidadas. Nacional de Pesquisa de Seringueira
As atividades de coleta e (CNPSe) (PAIVA, et ai, 1986). A coleta
conservação de recursos genéticos de de cacau (Jheobroma cacao), Castanha-
plantas, constituem-se em atividades de do-Brasil (Bertholletia excelsa), caiaué
pesquisa de alto custo e baixo retomo {Elaeis melanococca, posteriormente E.
econômico a curto prazo. Além disso, o oleifera), cupuaçu (Theobroma
desequilíbrio provocado pelo grandifiorum), guaraná (Paullinia
monocultivo, via de regra, compromete cupana), pupunha (Bactris gasipaes), entre
a conservação ex situ dessas plantas na outras, também foi feita, desde 1962, pelo
região tropical úmida. Instituto de Pesquisa e Experimentação
P r e t e n d e - s e , nesta r e v i s ã o , Agropecuária do Norte (IPEAN), órgão
apresentar e discutir uma proposta de que sucedeu ao IAN (ALBUQUERQUE
conservação de recursos genéticos de & LD30NATI, 1964).
espécies vegetais, na forma de A coleta de cacau também foi,
coleções de plantas mantidas a campo, logo a seguir, incrementada pela
a custos reduzidos. Para que o método Comissão Executiva do Plano da
funcione é necessário respeitar as Lavoura Cacaueira (CEPLAC), desde
características de cada espécie e 1965 (BARRIGA et ai, 1984).
manter o equilíbrio biológico com o A partir de 1975, as atividades de
ecossistema. coleta e conservação das espécies
citadas e de outras, principalmente de
REVISÃO DE LITERATURA frutíferas, prosseguiram e foram
Coleta de Germoplasma incrementadas pelo Instituto Nacional de
Pesquisa da Amazônia (INPA) e pelas
Autóctone
seguintes Unidades da EMBRAPA:
Na região Amazônica, habitat natu- Centro Nacional de Pesquisa
ral de inúmeras espécies vegetais de valor Seringueira e Dendê (CNPSD), Centro
econômico atual e potencial, extensas áreas de Pesquisa Agropecuária do Trópico
estão sendo desmatadas, principalmente Úmido (CPATU) e Unidade de
nos Estados de Acre e Rondônia, no sul Execução de Pesquisa de Âmbito
do Pará e norte de Mato Grosso. A Estadual (UEPAE-Manaus) (CLEM-
substituição gradativa da vegetação natu- ENT et αι., 1982).
ral condena ao desaparecimento inúmeras
populações locais de espécies de valor Conservação Ex Sita de
genético imensurável. Germoplasma
A coleta e a conservação de A conservação da variabilidade
germoplasma de espécies de plantas de genética existente em plantas na floresta
valor econômico na Amazônia foram tropical pode ser feita de duas
iniciadas pelo Instituto Agronômico do maneiras: conservação in situ e
Norte (IAN), desde 1945, com a conservação ex situ. Na conservação in
situ as espécies são deixadas em seus habi- suficiente conhecimento científico.
tats naturais, objetivando garantir proteção As espécies arbóreas possuem três
ao conjunto de genes das espécies e, características essenciais que devem ser
quando necessário, preservar seu consideradas no processo de conservação
ecossistema inteiro. das coleções: a) geralmente as coleções são
Nesse caso, para que a conservação grandes e ocupam áreas muito extensas,
seja eficiente, é necessário conhecimento dificultando a representatividade de cada
científico de biologia reprodutiva, ecologia, tipo por um certo número de indivíduos;
padrão de distribuição das espécies b) são de longo ciclo de vida, assegurando
envolvidas, além de conhecimento prévio permanência e estabilidade no tempo; c)
da existência de suficiente variabilidade são espécies selvagens,
genética nas populações das espécies predominantemente alógamas, que se
envolvidas e de sua forma de distribuição, estabilizam ocupando grandes áreas nos
comparada a outras populações naturais. habitats naturais e possuem um alto grau
A conservação ex situ refere-se à de heterozigose, além de numerosos
manutenção de genes ou complexos de ecótipos que apresentam grandes
genes em condições artificiais, fora do seu diferenças (BOUVAREL, 1970).
habitat natural. Este tipo de conservação O ambiente nos trópicos é
pode ser feito em coleções permanentes de extremamente favorável ao
pólen, sementes, culturas de tecidos e desenvolvimento de pragas e doenças que
coleções de plantas mantidas em campo. atacam as espécies, quando estão sendo
Em alguns programas de cultivadas em monocultivo,
melhoramento de espécies cultivadas, vêm principalmente, na região de ocorrência
se processando, gradativamente, a perda de natural da espécie.
variabilidade genética, devido princi- Os programas de melhoramento
palmente ao pouco interesse em conservar genético dessas espécies, objetivam,
material que não apresente características principalmente, resistência a doenças e
desejáveis, no atual estágio de aumento de produção. Para as culturas
desenvolvimento das técnicas de perenes o tempo de obtenção de uma nova
melhoramento inerente a cada espécie. cultivar é bastante longo, em contraste com
Material considerado de pouca importância as espécies de ciclo curto. Muitas vezes,
para os melhoristas hoje, poderá, no um novo cultivar obtido é inviabilizado em
entanto, ser de grande utilidade no futuro. um curto período de tempo, devido ao
Assim é que novas fontes de surgimento de uma nova raça do
resistência às doenças são procuradas na patògeno.
natureza, visando introduzir maior O a u m e n t o do nível de
variabilidade genética nos programas de c o n h e c i m e n t o dos e c o s s i s t e m a s
melhoramento. A complexidade dos naturais nos trópicos, obviamente terá
ecossistemas naturais das espécies arbóreas implicações d i r e t a s , tanto nos
nas florestas tropicais dificulta o processo processos de cultivos atualmente
de coleta e conservação, por falta de utilizados para as diferentes espécies,
corno nos programas de melhoramento inviabilizou sua permanência na região.
genético, no que se refere à maior
exploração da variabilidade existente Ecossistema Tropical
nas espécies e, para tanto, é necessário Existe um grande número de
que essa v a r i a b i l i d a d e esteja espécies arbóreas que ocorre nos trópicos.
disponível. A maioria das espécies estudadas é
A conservação da variabilidade conhecida taxonomicamente, mas pouco se
genética de espécies autóctones, feita sabe de sua ecologia, genética ou utilização
através de coleções mantidas a campo pelo homem.
nos d e n o m i n a d o s bancos de As árvores da floresta tropical úmida
germoplasma, vem sendo efetuada por são de vida longa, apresentam
várias Instituições de pesquisa da características demográficas únicas e
região (Tab. 1). Pelos dados existentes diversificados modos de reprodução. Além
na literatura e informações de disso, outros estudos têm revelado que se
p e s q u i s a d o r e s e n v o l v i d o s com o caracteriza por apresentar grande
problema, os resultados alcançados na diversidade de espécies, sistema
m a n u t e n ç ã o d e s s a s c o l e ç õ e s são predominante de polinização via animal;
questionáveis. distribuição geográfica das plantas do tipo

Tabela 1. Números de acessos de espécies vegetais autóctones coletadas e conservadas na região


Amazônica por instituições de pesquisa.
INSTITUIÇÕES Ν 2
FAMÍLIAS Ν 8
ESPÉCIES Ν 2
ACESSOS
CPATU 14 29 85
FCAP 10 14 34
INPA 17 36 462
CEPLAC 1 6 1065
UEPAE - M a n a u s 1 1 130
CNPSD 1 5 479
CNPSD 1 1 343
CPATU. - 75 1093
CLEMENT et al., (1982); PAIVA et al., (1986); S A N T O S et al., (1986); LIMA &
COSTA (1991).

Afora os problemas de natureza não agrupado; e ecossistema com grande


técnica que, muitas vezes, provocam heterogeneidade ambiental (B AWA, 1974;
solução de continuidade no sistema de BAWA & OPLER, 1975; HAMRICK,
conservação, os problemas de ordem 1983; KAGEYAMA, 1990). Essas
técnica são limitantes para certas culturas características são fundamentais para que
e de solução onerosa para muitas, devido o nível de variabilidade, contido dentro das
ao desequilíbrio biológico provocado pelo populações, tenha significado biológico
monocultivo. O constante ataque de pragas importante para o equilíbrio do
e doenças no BAG-Seringueira ecossistema (Tab. 2).
Tabela 2. Diferenças entre algumas características de espécies .arbóreas das florestas tropical
úmida e temperada.

CARACTERÍSTICA TROPICAL TEMPERADA

. Sistema de reprodução alógama alógama


. Diversidade grande pequena
. Densidade / ha menor maior
. Tipo d e flor herm afrodita unissexual
. Tipo d e polinização animal vento
. Dispersão de s e m e n t e s animal vento
. Distribuição especial agrupado dispersa
. Fluxo gènico menor maior
. Heterogenetdade maior menor
ambiental
. Sistema de desenvolvido rudimentar
autoincompatibilidade

A sucessão secundária é o relacionada com a quantidade de luz


mecanismo pelo qual as florestas requerida na fase de regeneração, onde
tropicais se auto-renovam, através da as sementes das espécies pioneiras -
cicatrização de locais pertubados conhecidas pela sua intolerância à
(GOMEZ-POMPA, 1971). A morte sombra - germinam a p e n a s sob
natural ou acidental de uma ou mais condições de alta temperatura e/ou
árvores resulta em uma abertura no luminosidade. Enquanto que as das
dossel da floresta, conhecida como espécies climaxes - também
clareira. As condições ambientais conhecidas como tolerantes à sombra
nestas clareiras são alteradas por - podem germinar e estabelecer suas
aumento da quantidade de luz, da plântulas nestas condições (Tab. 3).
p r e c i p i t a ç ã o p l u v i o m è t r i c a , da Segundo WHITMORE (1978), o
temperatura do ar e do solo e redução dossel de u m a floresta muda
da disponibilidade de nutrientes e da continuamente conforme as árvores
u m i d a d e relativa ( B A Z Z A Z & crescem, morrem e são substituídas,
PICKETT, 1980). num estado dinâmico das três fases do
Naturalmente, as clareiras são ciclo de desenvolvimento de uma
recolonizadas por plantas de diferentes floresta: a fase de clareira, a de
grupos e c o l ó g i c o s (classes de construção e a madura. Relata, ainda,
tolerância) de espécies arbóreas. que existe um mosaico dessas três
BUDOWSKI (1965) identifica quatro fases na floresta tropical. A floresta
grupos de e s p é c i e s : p i o n e i r a s , pioneira, por sua vez, é a r q u i t e -
s e c u n d á r i a s iniciais, secundárias turalmente homogênea; a floresta
tardias e c l i m a x e s . A principal secundária tem uma arquitetura mais
característica de cada grupo está diversificada, com flora e fauna mais
Tabela 3. Características de espécies arbóreas em diferentes estágios de sucessão.
CARACTERÍSTICA PIONEIRAS SECUNDÁRIAS CLÍMAX
INICIAIS TARDIAS
. Idade d a c o m u n i d a d e
2 - 5 5-15 20-50 > 100
(anos)
. Altura (m) 5 -8 12-20 20-30 30-45
. Número d e e s p é c i e s
1 -5 1 -10 30-60 > 10
arbóreas

. Tamanho de s e m e n t e s Menor Menor Menor Menor

. Crescimento Rápido Rápido Médio Lento


. Ciclo d e vida (anos) < 10 10-25 4 0 - 100 > 100
Tolerante
. Tolerância à s o m b r a Intolerante Intolerante Tolerante
(jovem)
pássaro,
. Dispersão d e Gravidade,
vento, idem Vento
sementes mamífero
morcego
. Viabilidade d a Longa
Idem Curta a média Curta
semente (latência )
Fonte: BUDOWSKI (1965)

ricas; a floresta clímax é a mais As populações de plantas


diversificada de todas. autógamas, geralmente, consistem de
As pesquisas com plantações mistas misturas de muitas linhagens homozigotas,
de espécies nativas vêm sendo conduzidas estreitamente aparentadas, às quais, embora
de longa data, porém a maioria não procura existindo lado a lado, permanecem mais ou
entender o papel das espécies quanto à sua menos independentes umas das outras.
função na floresta. Nesse caso, a sucessão Nas populações alógamas, todas
secundária parece ser um conceito que as plantas são altamente heterozigotas
permite melhor separar as espécies em e, quase sem exceção, a endogamia
grupos com características similares, forçada resulta numa deterioração
principalmente, quanto ao grau de geral do vigor e em outros efeitos
tolerância à sombra, em diferentes estádios adversos (ALLARD, 1971). Assim, o
de desenvolvimento das plantas, para seu tipo de sistema de cruzamento dentro
uso em plantios mistos. de uma espécie tem um efeito maior
sobre o padrão de variação que ocorre
Sistema Reprodutivo na espécie.
Do ponto de vista do A discussão central sobre os
melhoramento de plantas, as espécies sistemas reprodutivos das plantas
são classificadas, quanto ao tipo de tropicais tem sido a respeito do papel da
polinização, em dois grandes grupos: e n d o g a m i a e da h e t e r o g o z i d a d e ,
autógamas e alógamas. através da a u t o f e c u n d a ç ã o e da
polinização cruzada, respectivamente, na reprodutivos na floresta tropical (BAWA &
floresta e seus impactos sobre a especiação OPLER, 1975; FRANK1E et ai, 1976).
e a diferenciação das populações (BAKER, O conhecimento da biologia
1959; FEDOROV, 1966). Por isso, o reprodutiva das espécies tropicais,
objetivo de diversos estudos tem sido o de incluindo aspectos desde polinização e
determinar se muitas espécies da floresta dispersão de sementes até o
tropical são de autopolinização ou estabelecimento de novas plântulas,
polinização cruzada (Tab. 4). favorece o entendimento da distribuição da

Tabela 4. Biologia reprodutiva e formas de ocorrência de espécies arbóreas no Estado de São


Paulo.
DISPERSOR
POLINIZADOR FORMA DE ESTÁGIO
ESPÉCIES DAS
(VETOR) OCORRÊNCIA SUCESSÃO
SEMENTES
. Bracati n g a
(Mimosa Abelha ( P e q u e n a ) Gravidade Agrupada Pioneira
scabella)
. Guarantã
(Esenbeckia Mosca ( p e q u e n a ) Gravidade Agrupada Clímax
leiocarpa)
. Jatobá
(Hymenaea Morcego Mamífero Dispersa Clímax
stilbocarpa)
. Paineira
Secundária
(Chorisia Pássaro Vento Dispersa
tardia
speciosa)
Fontes: CATHARINO et al., (1982); CRESTANA et al., (1983): CRESTANA et al.
(1983/85).

A auto-incompatibilidade ocorre variabilidade genética nas populações


com bastante freqüência nas espécies naturais, o que é fundamental na orientação
tropicais. E um mecanismo que evita a de coletas de recursos genéticos,
autofecundação das plantas, favorecendo o principalmente no referente à definição do
cruzamento e a troca de genes entre plantas tamanho da amostra.
da mesma espécie. No entanto, as espécies
que possuem sistemas reprodutivos que Biologìa da Polinização
favorecem o cruzamento entre plantas, Devido ao calor, muitas espécies da
podem apresentar um certo grau de floresta tropical apresentam maior
endogamia, desde que o cruzamento seja proporção de florescimento noturno em
entre plantas com um ancestral comum. relação às espécies de clima temperado.
Assim, toma-se evidente que a variação de Nesse caso, os morcegos e as pequenas
fatores relacionados ao comportamento do vespas são muito importantes como
polinizador e sua seleção podem ser agentes polinizadores (BAKER et ai,
importantes na evolução dos sistemas
1983).
O período de tempo em que uma para outra dentro da mesma planta,
flor permanece viável para receber o com a conseqüente fertilização do
pólen varia muito entre as espécies. As óvulo, é chamada de geitonogamia
o r q u í d e a s epífitas, por e x e m p l o , (BAKER et al, 1983).
destacam-se pelo grande período em Em contrapartida, a autogamia,
que as flores permanecem frescas; em que consiste na trasferência de pólen
contraposição, as flores de algumas até o estigma da mesma flor, seguido
espécies de Passifloraceae da fertilização, pode ocorrer com ou
p e r m a n e c e m viáveis apenas por sem assistência do polinizador.
a l g u m a s horas após a abertura G e n e t i c a m e n t e , os efeitos da
(JANZEN, 1968). A antese ocorre em g e i t o n o g a m i a e a u t o g a m i a são
um determinado horário do dia ou da semelhantes, com exceção de algum
noite e é específica para cada espécie raro caso, onde diferentes partes da
em processo de florescimento. No copa de uma árvore podem diferir
geral, as flores permanecem viáveis geneticamente devido aos efeitos de
por um período de 24 horas. mutação somática (BAWA, 1974).
O grau de autofertilização e de Em espécies monóicas têm-se,
p o l i n i z a ç ã o cruzada em plantas separadamente, a formação dos gametas
visitadas por insetos d e p e n d e masculinos e femininos na mesma
consideravelmente da atividade dos planta. A polinização cruzada, por causa
polinizadores. disso, é obrigatória, porém existe
O exercício da polinização também a possibilidade de ocorrer a
executada por insetos é feito mediante geitonogamia.
uma recompensa, representada por Embora muitas espécies da
néctar e pólen. O inseto recebe o floresta tropical possuam mecanismos
pagamento da recompensa mediante a de auto-incompatibilidade, esses podem
pronta entrega do pólen de outra planta. não serem completos,possibilitando,
Por isso, o comportamento do portanto, a ocorrência de a u t o -
polinizador é influenciado pela variação fecundação ou polinização cruzada
temporal da recompensa. dentro da mesma planta (BAWA, 1974;
Para atrair os insetos polinizadores GAN et ai, 1977).
as plantas utilizam vários recursos: A porcentagem de autofecundação
coloração, forma e perfume das flores; ou cruzamento, que acontecem em
produção de néctar; além do próprio plantas na floresta tropical, pode variar
pólen. Normalmente, esses atrativos em função do clima e da
são utilizados pela planta em conjunto disponibilidade do polinizador, além
(BAKER, 1978). da dispersão das plantas, considerando
De um modo geral, ao chegarem uma espécie em particular dentro da
em uma determinada planta, os insetos faixa de vôo do polinizador. Portanto,
visitantes passam por muitas flores torna-se difícil medir a taxa de
antes de se dirigirem a outra planta. c r u z a m e n t o para muitas espécies
A tranferência de pólen de uma flor tropicais.
O período de tempo em que uma para outra dentro da mesma planta,
flor permanece viável para receber o com a conseqüente fertilização do
pólen varia muito entre as espécies. As óvulo, é chamada de geitonogamia
o r q u í d e a s epífitas, por e x e m p l o , (BAKER et ai, 1983).
destacam-se pelo grande período em Em contrapartida, a autogamia,
que as flores permanecem frescas; em que consiste na trasferência de pólen
contraposição, as flores de algumas até o estigma da mesma flor, seguido
espécies de Passifloraceae da fertilização, pode ocorrer com ou
p e r m a n e c e m viáveis apenas por sem assistência do polinizador.
a l g u m a s horas após a abertura G e n e t i c a m e n t e , os efeitos da
(JANZEN, 1968). A antese ocorre em g e i t o n o g a m i a e a u t o g a m i a são
um determinado horário do dia ou da semelhantes, com exceção de algum
noite e é específica para cada espécie raro caso, onde diferentes partes da
em processo de florescimento. No copa de uma árvore podem diferir
geral, as flores permanecem viáveis geneticamente devido aos efeitos de
por um período de 24 horas. mutação somática (BAWA, 1974).
O grau de autofertilização e de Em espécies monóicas têm-se,
polinização cruzada em plantas separadamente, a formação dos gametas
visitadas por insetos d e p e n d e masculinos e femininos na mesma
consideravelmente da atividade dos planta. A polinização cruzada, por causa
polinizadores. disso, é obrigatória, porém existe
O exercício da polinização também a possibilidade de ocorrer a
executada por insetos é feito mediante geitonogamia.
uma recompensa, representada por Embora muitas espécies da
néctar e pólen. O inseto recebe o floresta tropical possuam mecanismos
pagamento da recompensa mediante a de auto-incompatibilidade, esses podem
pronta entrega do pólen de outra planta. não serem completos,possibilitando,
Por isso, o comportamento do portanto, a ocorrência de a u t o -
polinizador é influenciado pela variação fecundação ou polinização cruzada
temporal da recompensa. dentro da mesma planta (BAWA, 1974;
Para atrair os insetos polinizadores GAS et aL, 1977).
as plantas utilizam vários recursos: A porcentagem de autofecundação
coloração, forma e perfume das flores; ou cruzamento, que acontecem em
produção de néctar; além do próprio plantas na floresta tropical, pode variar
pólen. Normalmente, esses atrativos em função do clima e da
são utilizados pela planta em conjunto disponibilidade do polinizador, além
(BAKER, 1978). da dispersão das plantas, considerando
De um modo geral, ao chegarem uma espécie em particular dentro da
em uma determinada planta, os insetos faixa de vôo do polinizador. Portanto,
visitantes passam por muitas flores torna-se difícil medir a taxa de
antes de se dirigirem a outra planta. c r u z a m e n t o para muitas espécies
A tranferência de pólen de uma flor tropicais.
Dispersão de Sementes ao estímulo para alcançar o objetivo. No
caso das sementes, a recompensa é "a
A diversidade de formas, cores, priori", durante o evento, fazendo com que
sabores e odores dos frutos tropicais a pressão de seleção seja menos
são e s t r a t é g i a s utilizadas pelas dependente entre a planta e o dispersor.
espécies para atrair os dispersores e, Embora a grande variedade de formas,
com isso, facilitar o fluxo de genes cores, consistências e sabores das frutas
entre plantas na população. tropicais sejam fatores determinantes para
A dispersão de sementes é uma uma certa redução do número de
parte essencial do processo dispersores, geralmente, não limitados a
reprodutivo. Está intimamente uma só espécie.
relacionada à distribuição espacial das
espécies no seu habitat natural e, de A d i s p e r s ã o pelo v e n t o ,
certa forma, tem implicação direta comparada aos outros mecanismos,
com a distribuição da variabilidade oferece a vantagem de a planta gastar
genética na floresta. No entanto, em menor quantidade de energia na
muitas espécies foi verificado que produção de sementes, por
ocorre seleção para caracteres que apresentarem c a r a c t e r í s t i c a s que
reduzem a dispersão. Como exemplo, facilitam a dispersão: geralmente são
no oeste africano, ocorre na espécie pequenas, leves e aladas. Conforme
Ceiba pentranda a seleção de plantas JANZEN (1980), as famílias lenhosas
com frutos que não se fendem quando tropicais parecem ter sofrido evolução
maduros, dificultando o processo de no sentido de suas sementes serem
germinação da semente e dispersas pelo vento.
estabelecimento de novas plantas A ecologia de dispersão tem
(BAKER, 1965). demonstrado ser uma importante
Os mecanismos de dispersão de ferramenta para análise de estrutura e
sementes na floresta tropical envolvem funcionamento das comunidades tropicais.
vento, água e animais. São denominados Por outro lado, a diversidade da floresta
dispersões abiòtica e biotica. O processo, tropical depende não só dos mecanismos
no todo, inclui o transporte da semente da de dispersão, mas também é fortemente
planta até o solo, no espaço compreendido influenciada pela comunidade de
fora da projeção da copa ou das raízes, até herbívoros (JANZEN, 1973).
o estabelecimento das novas plântulas. A composição floristica das áreas
Segundo JANZEN ( 1980), semente caída inundáveis é influenciada pelo regime de
embaixo da planta-mãe não é considerada inundações. A água dos rios é o meio de
como dispersa. transporte de sementes de um grande
A d i s p e r s ã o de s e m e n t e s , número de espécies de plantas, a qual,
conforme W H E E L W R I G H T & também, influencia nas condições de
ORIANS (1982), teria um padrão de crescimento de determinadas espécies e na
evolução um tanto diferente em relação evolução dos diferentes agrupamentos
à dispersão de pólen pelas plantas, devido botânicos.
A dispersão tem um grande diversidade tem origem em diversas
significado no controle e manutenção da hipóteses, propostas por inúmeros autores,
diversidade biotica, como um pré-requisito incluíndo-se: predação de sementes,
para a existência e a continuidade do mosaico de nutrientes, redes circulares,
sistema tropical. heterogeneidade temporal, entre outras
(PIANKA, 1983).
Diversidade de Espécies
A diversidade é resultante da
Nos ecossistemas tropicais, somatória de muitos fatores interagindo no
conforme vai diminuindo a latitude e ecossistema. Como conseqüência, os
aumentando o gradiente térmico-úmido, o indivíduos de uma espécie ficam isolados
número de espécies nas diversas entre outros de espécies diferentes,
comunidades vai aumentando até atingir havendo implicações na dinâmica da
um ponto máximo nas florestas tropicais floresta em termos de interação planta χ
úmidas (Tab. 5). No geral, essas florestas animal, os quais são independentes e bem
se caracterizam por apresentar um grande coadaptados, dando integração e
número de espécies por unidade de área, estabilidade ao ecossistema.
representadas por poucos indivíduos de Portanto, para que haja maior
cada espécie - comumente em tomo de 300 adaptação das espécies para sobreviver às
espécies arbóreas por hectare e, algumas condições reinantes nos ambientes
vezes, acima de 500 indivíduos por hect- tropicais, é necessário também haver
are, como na floresta amazônica diversificação entre indivíduos. ODUM
(KUBITZKI, 1985). (1975) ressaltou as vantagens da
Os ecossistemas tropicais, sem diversidade de espécies, com implicações
dúvida, apresentam maior diversidade de no valor da sobrevivência para a
espécies e maior complexidade nas inter- comunidade, o qual consiste de uma
relações entre indivíduos. A grande maior estabilidade.

Tabela 5. Número de espécies arbóreas em diferentes ecossistemas naturais.


s
N DE
ECOSSISTEMA LOCAL FONTES
ESPÉCIES

Floresta d e con if e r a s Michigan (USA) 10 S P U R R & BARNE ( 1 9 8 2 )

Novo León
. Floresta d e patula 27 VELA( 1980)
(México)
. Cerrados Brasília (Brasil) 82 OAKI & S A N T O S (1982)
. Floresta Tropical Panamá 133 KNIGTH (1971 )
S ã o Paulo BAITELLO & AGUIAR
. Floresta Subtropical 189
(Brasil) (1982)
Amazonas
. Floresta Tropical 265 R O S O T et al., ( 1 9 8 2 )
(Brasil)
Amazonas
. Floresta Tropical 310 S C H U B A R T ( 1983 )
(Brasil)
Por outro lado, o ambiente tropical meio ambiente. A manutenção dessa
permite alta taxa de evolução, interação é condição necessária para haver
diversificação e especiação, devido à equilíbrio da espécie com o meio ambiente.
reprodução rápida e contínua e à intensiva O equilíbrio é manifestado pelas plantas
seleção natural. Por isso, deve haver uma que conseguem sobreviver, mesmo num
substancial contribuição à diversidade. ambiente favorável ao aparecimento de
Segundo BROWN (1987), as regiões de doenças. Isso ocorre porque a floresta tropi-
maior heterogeneidade no ambiente cal caracteriza-se por apresentar baixa
permitem uma acomodação de uma parte densidade de plantas de uma mesma
maior dessa diversidade potencial. espécie por hectare.
É evidente que a diversidade de KAGEYAMA et ai, (1992)
ambiente que existe na floresta tropical, de referem-se à riqueza do ecossistema tropi-
certa forma, determina a existência de cal como sendo devida a freqüência de
diversidade nas populações de plantas. espécies raras que ocorrem em baixa
Além do que as perturbações que ocorrem densidade, com menos de um indivíduo
no meio também provocam alterações por hectare. Levantam, ainda, hipóteses de
nessas populações, no sentido de atingir um que esse grupo de plantas tem um
novo equilíbrio. A manutenção do polinizador específico, sofre uma seleção
equilíbrio também depende da existência dependente da freqüência e tem um sistema
de complexas interações entre as plantas e de reprodução alternativo.
o meio.
O cultivo de espécies autóctones na
Densidade de Plantas região, via de regra, desrespeita as
Quando se estuda a densidade de características básicas que as mantém em
plantas de uma espécie em seu local de suas populações naturais. Essas
ocorrência natural é comum inferir-se que, características - alta diversidade e baixa
quanto mais baixa for essa relação, maior densidade - são responsáveis, em parte,
é o nível de problemas biológicos pela manutenção do equilíbrio biológico
relacionados com a espécie. Por exemplo, existente nas populações.
a relação existente para a seringueira O monocultivo, por exemplo,
(Hevea brasiliensis) em populações normalmente não atende a esses lequisitos
naturais é de 4-6 plantas por hectare. No e conduz à uniformidade, na expectativa do
entanto, a seringueira cultivada na região aumento da produtividade. Em qualquer
apresenta um condicionante biológico, ambiente, a uniformidade do material
relacionado à doença das folhas, causada genético expõe o plantio a riscos de perdas,
pelo fungo Microcyclus idei, que devido ao surgimento de novas pragas e/
inviabiliza seu cultivo na densidade ou doenças. Nas regiões tropicais, a
recomendada de 476 plantas/ha uniformidade inviabiliza a manutenção da
(espaçamento de 7m χ 3m). atividade agrícola, em decorrência de um
Para ocorrer o fluxo gènico, entre e processo biológico mais dinâmico. Por
dentro de populações naturais, é necessário isso, pode-se afirmar que "o progresso
que a espécie mantenha interação com o conduz à uniformidade e a uniformidade
conduz ao fracasso" (PATERNIANI, (FAEGRI & PIJL, 1976). Esses
1988). resultados são corroborados pelos
estudos de BAWA ( 1 9 7 4 ) , que
Variabilidade Genética
demonstrou haver predominância de
A d i v e r s i d a d e g e n é t i c a , ou alogamia nas florestas tropicais.
variabilidade devido a diferenças nos HAMRICK (1983) relaciona a
alelos, conforme relata KAGEYAMA efetividade da distância de vôo do
(1987), pode ocorrer em diferentes polinizador com a distribuição da
níveis: a) de espécies dentro de variação genética entre e dentro de
ecossistemas; b) de populações dentro populações de espécies a r b ó r e a s
de espécies e c) de indivíduos dentro polinizadas por animais, sugerindo
de p o p u l a ç õ e s de e s p é c i e s . Essa padrões de variação próximos aos das
caracterização também é necessária espécies autógamas para aquelas cujos
para a compreensão dos padrões de polinizadores são de vôos curtos; até
distribuição da variabilidade genética padrões similares aos das espécies
existente em populações naturais na alógamas, com dispersão de pólen pelo
floresta tropical. vento, para aquelas que têm
A distribuição da variabilidade polinizadores de vôos longos.
genética natural é influenciada por Do mesmo modo, KAGEYAMA
fatores como: a) modo de reprodução; & PATINO-VALERA (1985)
b) sistema de cruzamento; c) tamanho formularam a hipótese de que a
efetivo da população; d) distribuição distribuição espacial dos indivíduos de
geográfica; e) estágio na sucessão; e 0 uma espécie está interligada
fluxo gènico, expresso pela migração intimamente ao tipo de polinização e
ou emigração de pólen e semente em de d i s p e r s ã o de s e m e n t e s dessa
uma população (HAMRICK, 1983). espécie. Assim, existiria um con-
Normalmente, uma população para tinuum de gradação, desde espécies
sobreviver e persistir no tempo deve arbóreas com distribuição agrupada
encontrar-se adaptada ao solo e ao meio em associada a polinizadores e dispersores
que vive, como também ter condições de de vôos c u r t o s , até à q u e l a s com
adaptação às mudanças que podem ocorrer distribuição muito dispersa, associadas
em seu ambiente, características que são a polinizadores e dispersores de vôos
favorecidas por alguns dos meca-nismos longos. Nesse contexto, os padrões de
promotores de variabilidade, tais como fluxo gènico, através da dispersão de
mutação e recombinação (KAGEYAMA pólen e semente, parecem fortemente
& PATINO-VALERA, 1985). relacionados com os padrões de
A fecundação cruzada representa variação genética nas populações.
um fator altamente positivo, baseado A complexidade dos e c o s s i s -
na maior variabilidade genética temas naturais das espécies arbóreas
produzida pelos constantes nas florestas tropicais é indicativo de
intercâmbios e recombinação genética que os estudos sobre estimativas de
entre os indivíduos heterozigotos variação genética em populações
naturais, devem orientar-se para a Tomando-se como referência
quantificação da variação entre e algumas características que contribuem
dentro de populações. para manutenção do equilíbrio entre as
Esses conhecimentos são espécies e o meio ambiente, apresenta-se
adquiridos a partir de informações um método de conservação ex situ de
básicas sobre a biologia reprodutiva, recursos genéticos de plantas, que seja mais
forma e padrão de distribuição da apropriado a região tropical úmida e
espécie e das estimativas de variâncias reproduza o equilíbrio das populações
fenotípicas e genotípicas. naturais.
A hipótese é implantar e avaliar
MÉTODOS DE sistemas que combinem diversidade de
CONSERVAÇÃO Ex Situ espécies, densidade de plantas de uma
mesma espécie por hectare e variabilidade
Combinando diversidade, genética dentro das espécies, para viabilizai"
densidade e variabilidade a conservação de germoplasma na região
Amazônica na forma de coleções mantidas
O aproveitamento racional da a campo, com custos reduzidos e
variabilidade genética das espécies respeitando-se as características de cada
cultivadas na região tem sido modesto, espécie.
comparativamente ao seu potencial.
Todavia, à m e d i d a que novos Em linhas gerais, no modelo de
conhecimentos vêm sendo adquiridos conservação proposto avalia-se o
sobre a forma de o r g a n i z a ç ã o , comportamento de 12 espécies, sendo 5
m a n u t e n ç ã o e d i s t r i b u i ç ã o da florestais dominantes e 7 de fruteiras, por
variabilidade genética das espécies hectare. São utilizados 3 tipos de
tropicais, se fortalece a hipótese de espaçamentos: i) 4 espécies no espa-
que o cultivo de uma espécie em çamento 20m χ 5m; ii) 3 espécies em 10m
ambiente tropical tem que, χ lOm; e iii) 5 espécies em 50m χ 10m.
obrigatoriamente, permanecer em No arranjo espacial utilizado 6 espécies
equilíbrio com os fatores bióticos e ficam com densidade de 80 plantas/ha, 5
abióticos do e c o s s i s t e m a . C a s o com 20 plantas/ha e 1 (uma) com 64
contrário está fadado ao insucesso. plantas/ha, totalizando 644 plantas/ha.

Associado a necessidade Na falta de informações sobre o


imediata de incrementar a coleta de comportamento das espécies nas
recursos genéticos em populações de populações naturais, admite-se que
espécies autóctones, sob risco de algumas delas suportam diferentes níveis
erosão genética, primeiramente é de sombreamento, apesar de cultivadas na
necessário viabilizar a conservação ex região a "pleno sol". Presume-se que a
situ para evitar perdas indiscriminadas sobrevivência às condições do modelo
de variabilidade genética, existente nas serão das espécies cujas características
coleções de plantas mantidas em estejam nele representadas.
campo. Desse modo, foram coletadas
sementes das seguintes especies: enriquecimento do sub-bosque com
seringueira (Hevea spp) - rodovia AM - especies de valor economico, atual ou
010, Manaus (AM); caroba ou para-para potencial, que comprovadamente sejam
(Jacanda copaia) - reserva Ducke, Manaus tolerantes a sombra. O enriquecimento
(AM); breu sucuruba (Trattinickia pode tambem ser feito com especies anuais
buserifolia) - Belterra (PA); cuiarana de de propagacao vegetativa, com alto risco
caroco (Buchenovia huber) - Belterra (PA); de erosao genetica ou mesmo em processo
sumauma (Ceiba pentrandra) - CPAA de extin?ao, que perfeitamente sobrevivem
(AM); cupuacu (Theobroma grandiflorum) nessas condicoes, como por exemplo, o
- colecao do CPAA, Manaus (AM); cacau aria (Caiathea allouia).
(Theobroma cacao) - feira livre - Manaus Esta previsto avalia^oes anuais de
(AM); beriba (Roliinia mucosa) - feira livre caracteres morfologicos em todas as
- Manaus (AM); sorva (Couma spp) - plantas, com o objetivo de medir a
banco de germoplasma do INPA, Manaus sobrevivencia, adaptacao e capacidade da
(AM); pupunha (Bactris gasipaes) - banco especie em deixar descendentes. Sera feito
de germoplasma do INPA, Manaus (AM); tambem o registro da ocorrencia e
acaf (Euterpe spp) - feira livre, Belem (PA) intensidade de ataque de pragas e doencas.
e arredores do CPAA, Manaus (AM); e A viabilidade tecnica e economica
camu-camu (Myrciaria paraensis) - banco do metodo de conservacao sera feita,
de germoplasma do LNPA, Manaus (AM). preliminarmente, apos 5 anos da
A posicao que cada especie ocupa no implantacao. O sucesso dependera da
modelo idealizado, constitui uma tentativa ocorrencia e viabilidade da floracao e
de representar o nfvel de tolerancia a frutifica^ao das especies. A avaliacao
sombra que as plantas suportariam em definitiva sera feita apos os 10 anos.
condicoes naturais. Admite-se que o Justifica-se a necessidade de efetuar
sucesso do modelo, como um metodo de essa avalia^ao preliminar, pela urgenciaem
conservacao ex situ de recursos geneticos retomar as coletas de germoplasma de
na regiao, esta inteiramente relacionada a especies autoctones sob risco de erosao
representacao das caracteristicas basicas genetica. Esta pesquisa constitue a primeira
das especies responsaveis pela manutencao etapa de um programa mais abrangente
do equilibrio biologico. sobre coleta e conservacao de
germoplasma de especies autoctones de
Por isso, esta previsto a aplicacao de
valor economico, atual e potencial, cuja a
todos os tratos culturais inerentes a cada
conserva^ao seja feita na forma de
especie, visando oferecer as melhores
cole?6es de plantas mantidas a campo.
condicoes de crescimento para as plantas.
Apos tres anos de implantado o modelo,
Manuten^ao de Colecoes em
esses tratos culturais serao suspensos,
Areas de Produtores
objetivando o restabelecimento da flora e
da fauna locais.
A discussao do metodo de
Outra altemativa de recomposicao da conserva^ao proposto culminou na
flora do extrato inferior e fazer o forrnulacao de nova hipotese de pesquisa,
em que considera a viabilidade de testar a preferência.
conservação da variabilidade genética de A quantidade de variabilidade
espécies de reconhecido valor econômico, genética mantida em pequenas
em áreas de pequenos produtores. propriedades distribuídas em determinado
A hipótese é sustentada no fato de município, quando juntas, pode representar
que os pequenos produtores da região, uma soma considerável de variação. A
normalmente mantém pequenos plantios conservação de recursos genéticos
ao redor de suas casas constituído por uma utilizando-se desse procedimento, teria
miscelânea de espécies. A distribuição na como vantagens a garantia de
área é feita aleatoriamente, com sustentabilidade dos quintais em relação ao
predominância de espécies que produzem meio ambiente, atividade de custos mais
produtos comestíveis, principalmente reduzido do que mantido sob outras
fruteiras. Esses plantios são comumente formas, acesso a informação do
denominados de "quintais" e, praticamente, comportamento preliminar do material
o único trato cultural que recebem é de conservado e acesso fácil na obtenção de
redução da concorrência com ervas amostras de sementes. Para tanto, são
daninhas. necessários o controle sobre a identificação
e distribuição do material, desde a coleta
A introdução de variabilidade em até o plantio definitivo.
pequenos plantios domésticos talvez não
seja atraente do ponto de vista do produtor, Esse método precisa ser testado,
pois isso pode determinar menor inicialmente, para as espécies coletadas
produtividade. Todavia, a conservação da pelos órgãos de pesquisa e mantidas em
variabilidade genética de espécies, as quais banco de germoplasma. A experiência tem
são de interesse dos pequenos produtores, demonstrado que a conservação da
pode ser viabilizada. Basta que se tome, variabilidade genética das espécies, em
como unidade amostrai, as comunidades forma de coleções mantidas em campo, na
desses produtores e que a distribuição dos região tropical, além de ser um método
materais de plantio seja orientada para que bastante oneroso, provoca o desequilíbrio
cada produtor receba somente parte dessa do meio ambiente e, normal mente, com
variabilidade. algumas exceções, não tem alcançado o
sucesso desejável.
A probabilidade do pequeno
produtor em manter no seu quintal, CONCLUSÕES
germoplasma de espécies perenes de valor
alimentício, principalmente de fruteiras No esquema tradicional de
regionais, é inversamente proporcional a conservação de recursos genéticos de
quantidade devariabilidade genética plantas na região, o qual inclui coleta,
existente na amostra. Naturalmente, o conservação, avaliação, caracterização
produtor eliminará as plantas que não e utilização, normalmente, tem sido
fornecem algum tipo de fruto, àquelas que e x e c u t a d o com certa eficiência
apresentem características desfavoráveis ao somente a fase de coleta. A avaliação
plantio, ou àquelas que não sejam de sua e c a r a c t e r i z a ç ã o é prejudicada à
medida que aumente a ocorrência de para que se faça uma abordagem mais
pragas e doenças, devido não dispor- crítica do problema. Como não dispõe-
se de metodologias de conservação se de metodologias de conservação
que m i n i m i z e m esses efeitos. adequadas às condições tropicais, a
C o n s e q u e n t e m e n t e , a fase de pesquisa tem que rapidamente buscar
utilização da variabilidade coletada é, respostas a esses questionamentos, sob
quase que totalmente, prejudicada por risco de perdas irreparáveis.
esses motivos e pela baixa demanda Atualmente, os mais interessados
dos programas regionais de em coletar variabilidade genética de
melhoramento. espécies autóctones são os grupos
A c o n s t a t a ç ã o do pouco estrangeiros, por conta das demandas
conhecimento existente sobre o nível dos seus programas de melhoramento
de v a r i a b i l i d a d e genética em genético. Provavelmente, na
populações naturais de plantas, revela conservação de germoplasma efetuada
uma grande falta de preocupação com fora da região estes problemas são
os ecossistemas tropicais, considerando minimizados.
o seu potencial agrícola e florestal. Os estudos de avaliação dos
As possibilidades de perdas padrões de distribuição da variabilidade
significantes de variabilidade genética, muito contribuirão para o discernimento,
causadas pela atividade humana, do que e de como conservar, evitando
principalmente devido à destruição de com isso manter grandes coleções de
habitats naturais de populações de plantas, representando pouca
plantas, destaca a importância das variabilidade. Ou mesmo, realizar
pesquisas e dos p r o c e d i m e n t o s grandes coletas de germoplasma, a
adotados na prática de conservação custos elevados para, logo a seguir,
dos recursos genéticos no ecossistema ocorrer a destruição das coleções em
tropical. campo, causada pelos condicionantes
A falta de metodologias adequadas biológicos.
de conservação, serve de justificativa para A medida em que forem obtidas
não incrementar a coleta de germoplasma informações consistentes sobre o nível
na região, auxiliada pela baixa demanda e a distribuição da variabilidade genética
por nova variabilidade genética dos nas populações naturais, tornar-se-á
programas regionais de melhoramento. A necessário conhecer também às relações
perda de variabilidade de populações de desses parâmetros com a adaptação e
espécies autóctones, devido a ação sobrevivência das espécies.
antròpica, sai menos dispendiosa do que Os programas de melhoramento
aquelas que, naturalmente, ocorre nos genético de espécies tropicais serão
bancos de germoplasmas instalados na fortalecidos, com os conhecimentos das
região, em conseqüência do desequilíbrio estratégias utilizadas pelas espécies para
biológico provocado pelo método de manterem-se em equilíbrio com o meio
conservação. ambiente, podendo sugerir mudanças nos
É importante destacar esses pontos atuais sistemas de cultivo. Além disso, a
manutenção de banco de genes facilitará a Kapok trees: a probable West African prod-
incorporação de características superiores uct In: D. Brokensha. (ed.). Ecology and
economic development in tivpical Africa.
nas novas cultivares obtidas.
Institute of International Studies, Berkeley,
O incentivo à pesquisa sobre University of California, p. 185-216.
métodos de conservação ex situ de espécies BAKER, H.G. 1978. Chemical aspects of the pol-
tropicais, sem dúvida, constitui-se em outro lination biology of woody plants in the trop-
caminho que facilitará o desenvolvimento ics. In: BP. Tomlinson & M.H. Zimermann
de alternativas para manter coleções de (eds.). Tropical trees its living systems, Cam-
bridge, p.57-82.
plantas em campo, além de contribuir para
BAKER, H.G.; BAWA, K.S.; FRANKIE, G.W.;
aumentar o conhecimento científico
OPLER, P.A. 1983. Reproductive biology of
desse ecossistema. plants in tropical forests. In: F.B. Golley (ed.).
A experiência tem demonstrado que Tiopical rain forest ecosystems. Amsterdan,
para ter êxito, o método de conservação p. 183-214.

ex situ na região tem que ser BA1TELLO, J.B.; AGUIAR, O.T. 1982. Flora
sustentável em relação ao meio arbórea da serra da Cantareira (São Paulo).
Silvicultura em São Paulo, 16A( I ):582-590.
ambiente e apresentar baixo custo
BARRIGA, J.R; MACHADO, PER.; ALMEIDA,
operacional. Em princípio, essa
C.M.V.C.; ALMEIDA, C.F.G. 1984.
metodologia pode prejudicar a fase de Preservação e utilização dos recursos
avaliação ou c a r a c t e r i z a ç ã o dos genéticos de cacau na Amazônia brasileira.
acessos. É mais sensato hoje pensar Ilhéus, Comissão Executiva do Plano da
em conservar a variabilidade antes que Lavoura Cacaueira. 38p. (Comunicado
Técnico Especial, no. 5).
desapareça e, futuramente, avaliar o
BAWA, K.S. 1974. Breeding systems of tree spe-
potencial de espécies previamente
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identificadas c o m o de valor lution, 28:85-92.
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Aceito para publicação em 17.08.1994

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