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, 2009 233
ABSTRACT - (Floristic survey and dispersal syndromes in Araucaria Forest remnants of Parana state, Brazil). This study
presents a list of plants found in three areas of Araucaria Forest along with their dispersal syndromes. We sampled monthly
(August 2003 to December 2005) five transects with 5 km each, collecting samples of flowering and fruiting plants. We
identified 210 species, including 83 trees, 58 shrubs, 36 herbs, 23 vines, eight epiphytes and two parasites. Most species
were zoochorous (68.6%), followed by anemochorous (21.9%) and autochorous (6.7%) ones. Comparisons with other florist
surveys previously conducted in this forest type suggested that our study areas are poor, both when all species are taken into
account or when just trees are. The results are discussed based on the history of degradation of the study region and on the
abundance of bamboos in the understory.
Key words: Araucaria Forest, conservation, floristic diversity, phytogeography
RESUMO – (Levantamento florístico e síndromes de dispersão em remanescentes de Floresta Ombrófila Mista na região
centro-sul do estado do Paraná). O presente estudo apresenta a listagem das espécies vegetais de três áreas de Floresta com
Araucária e as suas respectivas síndromes de dispersão. Foram percorridos mensalmente (agosto/2003 a dezembro/2005)
cinco transectos com 5 km cada, ao longo dos quais foi coletado material fértil, resultando na identificação de 210 espécies:
83 árvores, 58 arbustos, 36 ervas, 23 trepadeiras, oito epífitas e duas parasitas. A maioria (68,6%) das espécies possui
dispersão zoocórica, seguidas pelas espécies anemocóricas (21,9%) e autocóricas (6,7%). Comparações florísticas com áreas
recobertas pela mesma formação florestal sugerem que os remanescentes estudados apresentam baixa riqueza específica,
tanto quando a comparação é realizada considerando todas as formas de vida como quando apenas as espécies arbóreas são
consideradas. Os resultados são discutidos à luz do histórico de exploração da região de estudo e da abundância de taquaras
no sub-bosque.
Palavras-chave: conservação, diversidade florística, fitogeografia, Floresta com Araucaria
1. Remasa Reflorestadora Ltda., Rodovia PR 170, Km 529, Caixa Postal 09, 84640-000 Bituruna, PR, Brasil
2. Embrapa Florestas, Laboratório de Ecologia, Caixa Postal 319, 83411-000 Colombo, PR, Brasil
3. Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciências Biológicas, Pós-Graduação em Botânica, Caixa Postal 19.031, 81531 Curitiba,
PR, Brasil
4. Museu Botânico Municipal de Curitiba, Caixa Postal 1142, 80210-390 Curitiba, PR, Brasil
5. Autor para correspondência: dieterliebsch@yahoo.com.br
a atividades agropecuárias (Maack 1981). Assim, montanhosa. Os solos nesta região apresentam textura
atualmente estima-se que no estado do Paraná restem argilosa e forte declividade (Maack 1981).
apenas 0,8% da FOM em bom estado de conservação, Essas áreas sofreram as primeiras alterações em
sendo a situação desse importante bioma crítica, já sua composição em meados da década de 50 do século
que seus remanescentes são pequenos ou médios e passado, com a retirada de espécies madeiráveis,
estão dispersos na paisagem (Castella & Britez 2004). notadamente araucária (A. angustifolia) e imbuia
Apesar disso, a pressão sobre ele continua por meio (Ocotea porosa). Logo após, grandes extensões
da extração ilegal de essências florestais e da sua florestais foram substituídas por plantios comerciais
substituição por outros usos da terra, como a pecuária de espécies exóticas, principalmente do gênero Pinus.
e as florestas plantadas (Castella & Britez 2004). Assim, atualmente, tem-se um mosaico complexo
Portanto, programas de conservação e restauração da de plantios florestais e florestas nativas em diversos
FOM se fazem necessários. No entanto, para que sua estádios sucessionais e em diferentes graus de
implementação seja viável, a diversidade biológica conservação, muitas vezes interligadas por corredores,
dos remanescentes da FOM precisa ser inventariada representados principalmente pelas florestas ciliares.
com urgência e em detalhe. Nesse sentido é importante Com isso, a definição dos limites e dos tamanhos dos
destacar que a maioria dos estudos florísticos hábitats florestais é dificultada e os transectos (vide
conduzidos nesse bioma contemplou apenas as árvores abaixo) refletem essa complexidade.
(Longhi 1980, Carvalho 1980, Oliveira & Rotta 1982, Metodologia - Para o levantamento florístico foram
Galvão et al. 1989, Roseira 1990, Negrelle & Silva utilizados cinco transectos com 5 km de extensão
1992, Koehler et al. 1998, Sanquetta et al. 2001), cada. Os transectos foram percorridos mensalmente,
sendo raros aqueles que abrangeram todas as formas de agosto de 2003 a dezembro de 2005, quando foram
de vida (Britez et al. 1995, Kozera et al. 2006). coletadas amostras de material fértil (flores e frutos)
Com esta perspectiva, o presente trabalho teve de várias formas de vida, incluindo árvores, arbustos,
como objetivo principal apresentar uma listagem das ervas, trepadeiras e epífitas, segundo classificação
espécies vegetais presentes em três áreas de Floresta de Vidal & Vidal (1984). Foram coletadas todas as
Ombrófila Mista, localizadas nos municípios de espécies que estavam férteis ao alcance do campo
Bituruna, General Carneiro e Palmas, no centro- de visão. No caso das pteridófitas foram coletadas
sul do estado do Paraná, além de investigar as suas apenas as espécies arborescentes. Todo material
síndromes de dispersão, para subsidiar programas de coletado foi herborizado e tombado no Herbário
conservação e recuperação dessa formação florestal, Fernando Cardoso da Silva (HFC) da Embrapa
que foi apontada pelo Ministério do Meio Ambiente Florestas, Colombo - PR.
(MMA 2000) como de extrema importância biológica Na Fazenda Lageado Grande (Município de
para a conservação da biodiversidade. Bituruna) foram instalados três transectos, chamados
de: Araucária, Reserva e Palmital. O transecto
Material e métodos denominado Santa Cruz foi estabelecido na fazenda
de mesmo nome (Município de Palmas) e o transecto
Áreas de estudos - O trabalho foi desenvolvido em Parque na área do extinto Parque Estadual das
duas áreas pertencentes à Remasa Reflorestadora Araucárias (Município de General Carneiro). Os
Ltda. e no extinto Parque Estadual das Araucárias, transectos apresentavam as seguintes características:
pertencente às Indústrias Pedro N. Pizzatto Ltda, Transecto Araucária - compreendia três fitofisionomias:
localizadas nos municípios de Bituruna, General um plantio de Pinus taeda com 30 anos, onde
Carneiro e Palmas (26º14-26º22’S e 51º34’–51º39’W) praticamente não havia ocorrência de espécies de
(figura 1). As três áreas, juntas, somam cerca de 3.000 sub-bosque; um plantio de araucária (Araucaria
ha de remanescentes de FOM com diferentes graus angustifolia), com 40 anos, cujo dossel era contínuo,
de perturbação e 3.500 ha de plantios de Pinus spp. formado pela própria araucária e por canela-guaicá
O clima, segundo Köppen, é o subtropical úmido (Ocotea puberula) e o sub-bosque, rico em espécies,
mesotérmico (Cfb) com média do mês mais quente era composto por indivíduos arbustivos, porém não
superior a 22 ºC e do mês mais frio inferior a 18 ºC, atingia 7 m de altura; uma floresta secundária em
sem estação seca, verão brando e geadas severas e estádio inicial de desenvolvimento que apresentava
freqüentes (Maack 1981). As altitudes variam entre pouca regeneração natural em conseqüência da
900 a 1.100 m e a topografia é fortemente ondulada a abundância da taquara (Merostachys sp.).
Transecto Reserva - floresta secundária em estádio imbuias de grande porte; sub-bosque composto por
médio de regeneração, com indivíduos arbóreos que alta densidade de taquaras e xaxim.
atingiam 20 m de altura; ausência de araucária; no Análises - As espécies inventariadas nas áreas
sub-bosque predominava a taquara, formando densos de estudo foram agrupadas em três categorias de
agrupamentos, muitas vezes intransponíveis, que síndromes de dispersão, de acordo com Pijl (1972):
acabavam suprimindo a regeneração natural. zoocóricas, anemocóricas ou autocóricas. Seis espécies
Transecto Palmital - floresta em estádio médio de (três espécies de pteridófitas, duas gimnospermas e
regeneração, apresentava alguns indivíduos de Langsdorffia hypogaea) não tiveram a síndrome de
araucária com 15 m e densidade elevada de indivíduos dispersão definida.
jovens de imbuia (Ocotea porosa); sub-bosque As comparações florísticas entre os cincos
composto por muita taquara. Outra porção do transecto transectos e entre as diferentes áreas foi efetuada
era ocupada por plantios de P. taeda com 35 anos e utilizando o Índice de Similaridade de Jaccard,
cerca de 30 m de altura. associado a uma análise de agrupamentos (UPGMA),
Transecto Santa Cruz - compreendia duas fitofisionomias, para isso foi utilizado o programa BioDiversity
um plantio de Pinus elliottii com 23 anos, onde o estrato Professional. Para isso, foram utilizadas todas as
inferior era praticamente inexistente, e uma floresta em formas de vida, mas foram excluídas as espécies não
estádio inicial ocupada por taquaras. Porém, onde não determinadas em nível específico.
havia ocorrência de taquaras, era observada uma maior O enquadramento taxonômico das espécies de
riqueza de espécies, principalmente de indivíduos jovens, Angiospermas seguiu o Angiosperm Phylogeny
incluindo a araucária. Group (APG II 2003) e a consulta da grafia dos nomes
Transecto Parque - floresta em estádio inicial científicos para cada espécie foi realizada por meio de
de desenvolvimento, porém com alta densidade de consultas on line ao site do Missouri Botanical Garden
araucárias com até 30 m de altura, intercaladas com (http://www.tropicos.org).
Distribuição
Família Espécie Nº registro HFC FV SD
1 2 3 4 5
Acanthaceae Jacobinia pohliana (Nees) Benth. & Hook. f. 6643 AT AN X
Justicia carnea Lindl. 6555 AT AN X
Justicia rizinii Wassh. 6836 AT AN X
Justicia floribunda (C. Koch) Wassh. 6641 AT AN X
Adoxaceae Sambucus australis Cham. & Schledl. 6646 AB ZO X
Alstroemeriaceae Bomarea edulis (Tussac) Herb. 7098 ER AN X
Anacardiaceae Lithraea brasiliensis Marchand 6650/6872 AB ZO X X X
Schinus terebinthifolius Raddi 6755 AB ZO X X X X
Schinus polygamus (Cav.) Cabrera 6647/6632 AB ZO X X X
Annonaceae Rollinia emarginata Schltdl. 6843/6842 AB ZO X X
Apocynaceae Orthosia urceolata E. Fourn. 7125 ER AN X
Schistogyne mosenii (Malme) T. Mey. 6644 ER AN X
Aquifoliaceae Ilex dumosa Reissek 6800 AB ZO X X X
Ilex microdonta Reissek 6871 AB ZO X X
Ilex paraguariensis A. St.-Hil. DL 774 AB ZO X X X X X
Ilex theazans Mart. 6635/6894/ 6873 AB ZO X X X
Araceae Asterostigma lividum (Lodd.) Engl. 6636 ER AN X
Araucariaceae Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze NC AB ND X X X X X
Arecaceae Butia eriospatha (Mart. ex Drude) Becc. NC AB ZO X X X
Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman NC AB ZO X
Asteraceae Gochnatia polymorpha (Less.) Cabrera DL 890 AB AN X
Piptocarpha angustifolia Dusén ex Malme 7087 AB AN X X X X X
Piptocarpha axillaris (Less.) Baker 7092 AB AN X X X X X
Raulinoreitzia leptophlebia (B.L. Rob.) 6623 AB AN X
R.M. King & H. Rob.
Vernonanthura discolor (Spreng.) Less. 7095 AB AN X X X X X
Balanophoraceae Langsdorffia hypogaea Mart. 6634 PA ND X
Basellaceae Anredera cordifolia (Ten.) Steenis 6648 TR AN X
Begoniaceae Begonia catharinensis Brade 6611 ER AN X
Begonia sp. ER AN X
Berberidaceae Berberis laurina Billb. 6678/6763 AT ZO X
Bignoniaceae Arrabidaea selloi (Spreng.) Sandwith 6880 TR AN X
D. Liebsch et al.: Levantamento florístico e síndromes de dispersão em floresta do Paraná
8/20/09 11:59 AM
continuação
238
Distribuição
8/20/09 11:59 AM
continuação
8/20/09 11:59 AM
continuação
240
Distribuição
8/20/09 11:59 AM
continuação
8/20/09 11:59 AM
Tabela 2. Estudos florísticos conduzidos na Floresta Ombrófila Mista no sul do Brasil, indicando o número de famílias, gêneros e espécies inventariadas. alt = altitude; nº fam = número
242
de famílias; nº gên = número de gêneros; nº spp = número de espécies; nº spp comum = número de espécies em comum com a presente área. Formas de vida avaliadas: 1 = árvore; 2 =
8/20/09 11:59 AM
D. Liebsch et al.: Levantamento florístico e síndromes de dispersão em floresta do Paraná 243
Tabela 3. Quadro comparativo da riqueza nas diferentes formas de vida entre as três áreas de FOM no PR onde foram inventariadas
diversas formas de vida.
Table 3. Comparative picture of the richness in different life forms among three areas of Araucaria Forest in Parana State, Brazil, where
several life forms were inventoried.
Oliveira & Rotta 1982, Galvão et al. 1989). Porém, (2004), as famílias Solanaceae e Melastomataceae
como os inventários florísticos geralmente são parecem ser as famílias arbustivas mais importantes
resultado de amostragens em parcelas, utilizadas em em termos de riqueza na FOM.
levantamentos fitossociológicos (tabela 2), o número As espécies herbáceas foram representadas por
de espécies inventariadas geralmente é inferior a 70 37 espécies. Esse número é baixo, quando comparado
e limitado apenas ao estrato arbóreo (Longhi 1980, com outras áreas (tabela 3). Vale a pena destacar
Roseira 1990, Negrelle & Silva 1992, Sanquetta et al. que algumas famílias que comumente são bem
2001). Dois trabalhos (Galvão et al. 1989, Koehler et representadas (e.g. Poaceae, Asteraceae, etc), não
al. 1998), encontraram altos valores de riqueza (128 foram incluídas no presente estudo.
e 85, respectivamente). Nesses trabalhos é observado As famílias de trepadeiras mais ricas foram
um grande esforço de campo, já que o trabalho de Solanaceae e Passifloraceae, com cinco espécies
Galvão et al. (1989), conduzido na Flona de Irati, cada, seguidas por Curcubitaceae, com quatro,
Município de Teixeira Soares-PR, compreendeu e Bignoniaceae, com três. Em outras formações
18.000 m2 de parcelas e o de Koehler et al. (1998), florestais, como a Floresta Estacional Semidecidual, o
40.000 m2. Esses valores demonstram que o esforço de número de espécies trepadeiras geralmente ultrapassa
coleta pode estar diretamente relacionado ao número 100 (Morellato & Leitão Filho 1998). Fatores como
de espécies. clima, altitude, solo e contexto geográfico, têm sido
No presente estudo, as famílias mais ricas foram relatados como importantes para explicar diferenças de
Solanaceae, com 39 espécies, Myrtaceae, com 15, e composição para as trepadeiras (Gentry 1988). Assim,
Melastomataceae, com 11. O gênero Solanum merece provavelmente as famílias de trepadeiras com espécies
destaque, pois apresentou 28 espécies. Dentre as anemocóricas (p.ex. Bignoniaceae e Sapindaceae)
espécies arbóreas, destacam-se as famílias Myrtaceae, apresentam maior riqueza em outras formações
com 15 espécies, Solanaceae, com seis, e Asteraceae, florestais porque o clima úmido e a ocorrência de
com cinco espécies. De fato, a família Myrtaceae vem geadas na FOM limitam a sua distribuição.
sendo citada por vários autores como uma das famílias As espécies epifíticas apresentaram a menor
mais ricas na FOM (Negrelle & Silva 1992, Dias et riqueza, com apenas oito espécies (3,8%), pertencentes
al. 1998, Koehler et al. 1998, Insernhagen 2001). às famílias Bromeliaceae (três espécies), Cactaceae
A alta riqueza de Solanaceae e Asteraceae pode ser (duas), e Gesneriaceae, Orchidaceae e Piperaceae
explicada pelo estádio sucessional das áreas (Castella (uma espécie cada). Embora o número de espécies
& Britez 2004, Liebsch & Acra 2004), pois a maioria epífitas (angiospérmicas) da FOM seja menor, quando
encontra-se em estádio inicial de sucessão. comparado com Floresta Ombrófila Densa (Klein
Dentre os arbustos destaca-se a família Solanaceae, 1980 Kersten & Silva 2002), a baixa riqueza observada
com 27 espécies, seguida por Melastomataceae, com na região de estudo, deve estar relacionada às grandes
10, e Verbenaceae, com seis. Segundo Liebsch & Acra extensões de florestas em estádio sucessional inicial,
onde a falta de indivíduos arbóreos com copas altas e as mais ricas. Isso pode ser reflexo da maior riqueza
frondosas limita a ocorrência de epífitas (Gonçalves dos remanescentes florestais estudados por eles.
& Waechter 2002). Porém, cabe salientar que na área estudada por Britez
As espécies parasitas foram representadas por et al. (1995), a família Asteraceae, com 43 espécies,
duas espécies (1%). A espécie Langsdorffia hypogaea incluiu arbustos e ervas, enquanto no presente trabalho
é classificada como parasita obrigatória, pois os apenas as árvores dessa família foram consideradas.
indivíduos, aclorofilados, vivem em raízes de árvores A família Rubiaceae é muito relacionada a ambientes
(Souza & Lorenzi 2005). A ocorrência desta espécie de sub-bosque (Carvalho et al. 2000, Liebsch & Acra
em levantamentos é muito rara, pois os indivíduos são 2004) e, portanto, a baixa riqueza dessa família na
visíveis apenas no período reprodutivo. Já Struthanthus nossa área pode ser resultado do desaparecimento
uraguensis é classificada como hemiparasita, pois tem de espécies em função do predomínio de taquaras no
capacidade de realizar fotossíntese e vive sobre a copa sub-bosque. O elevado número de solanáceas na nossa
das árvores hospedeiras (Arruda & Carvalho 2004). A área também deve ser reflexo do seu elevado grau de
distribuição dessa espécie parece ser bastante restrita, alteração, uma vez que essa família é caracterizada
pois outros levantamentos com epífitas já na região da por espécies pioneiras, comuns em áreas alteradas
FOM não citam essa espécie (Kersten & Silva 2002, (Liebsch & Acra 2004).
Borgo & Silva 2003). O gênero Struthanthus tem Desta forma, era esperada maior riqueza para a
ampla distribuição nas regiões tropicais e as espécies área de estudo, considerando o potencial de algumas
desse gênero apresentam preferência por árvores com famílias (p. ex., Rubiaceae, Lauraceae, Fabaceae
cascas fissuradas ou fendidas (Arruda & Carvalho etc.). De fato, em um trecho de aproximadamente 1
2004). Como já salientado, a grande maioria das áreas km do transecto da Araucária, sob um plantio de A.
de estudo se encontra em estádio sucessional inicial, angustifolia com cerca de 10 ha, mas sem taquaras
diminuindo drasticamente potenciais hospedeiros. no sub-bosque, foram registradas 90 espécies, o que
Assim, as diferenças do presente estudo para representa 82,6% de todas as espécies encontradas
aqueles conduzidos anteriormente na FOM não dizem nesse transecto e 42,9% das espécies encontradas
respeito apenas ao número de formas de vida, espécies, nos cinco transectos distribuídos por três fazendas.
gêneros e famílias registradas, mas também à riqueza Portanto, é o grau de alteração da maior parte das
de algumas famílias. Enquanto na maioria das áreas áreas amostradas que imprimiu um resultado pouco
previamente estudadas (tabela 1) as famílias mais expressivo em termos de diversidade florística.
importantes eram Myrtaceae, Lauraceae, Asteraceae, Similaridade entre os transectos - Em relação à
Aquifoliaceae, Flacourtiaceae, Sapindaceae e composição florística total (todas as formas de
Anacardiaceae, no presente estudo as famílias mais vida), os transectos se mostraram relativamente
ricas, em ordem decrescente, foram Solanaceae, similares, variando entre 35% e 50% de espécies em
Myrtaceae e Melastomataceae. Solanaceae, com comum (figura 2). O transecto que apresentou menor
39 espécies registradas, havia sido anteriormente similaridade em relação aos demais foi o transecto do
reportada entre as famílias mais ricas da FOM na Palmital. Essa área é utilizada para criação de gado,
cidade de Curitiba (Roseira 1990), em São Mateus o que acaba eliminando indivíduos regenerantes e
do Sul (Britez et al. 1995) e em Irati (Galvão et al. indivíduos de sub-bosque, conforme já apontado por
1989). Myrtaceae (n = 15), como dito anteriormente, Castella & Britez (2004). O segundo transecto com
é freqüentemente citada como uma das famílias mais menor similaridade florística em relação aos demais
ricas dessa formação florestal (Negrelle & Silva 1992, foi o transecto da Araucária, já que este possui a
Dias et al. 1998, Koehler et al. 1998, Insernhagen maior riqueza florística da área de estudo. Conforme
2001), enquanto Melastomataceae (n = 11) não havia comentado acima, além de contemplar uma área de
sido previamente reportada entre as famílias mais ricas floresta secundária em estádio inicial e plantios de
em espécies da FOM. pinus, este transecto abriga um plantio de araucária,
É interessante notar que mesmo o trabalho hoje com 40 anos de idade, sem a presença de taquaras
de Britez et al. (1995), que considerou todas as no sub-bosque, de tal forma que ele é rico em espécies,
formas de vida (enquanto que nossas áreas as ervas muitas das quais não encontradas em áreas ocupadas
foram incluídas parcialmente), encontrou resultados pela taquara. Formando um agrupamento central estão
diferentes dos nossos, com as famílias Asteraceae, os transectos da Santa Cruz, Reserva e Parque. Esses
Myrtaceae, Rubiaceae, Solanaceae e Lauraceae como três transectos têm em comum o histórico de uso, pois
100
80
60
% de espécies
40
20
0
árvores arbustos trepadeiras epífitas ervas
Figura 3. Síndromes de dispersão (em porcentagem) em quatro formas de vida encontradas em fragmentos de Floresta Ombrófila Mista
na região centro-sul do Estado do Paraná.
Figure 3. Dispersal syndromes (in percentage) of four different live forms of plant species found in fragments of Araucaria Forest in the
mid-southern Parana state, Brazil.
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