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HERBIVORIA POR CAPRINOS NA
CAATINGA DA REGIÃO DE XINGÓ:
UMA ANÁLISE PRELIMINAR
Introdução
A herbivoria em ecossistemas terrestres pode ser elevada,
reduzindo o crescimento (Rosenthal & Kotanen 1994), a repro-
dução (Rosenthal & Kotanen 1994; Krupnick et al. 1999) e a
capacidade de competição das plantas (Coley 1983). Os danos
causados por herbívoros podem ser observados em todos os tipos
de tecido vegetal (Gallo et al. 1988) e, embora eles removam em
média cerca 10% da vegetação, durante erupções ou processos
sazonais de alguma população, a perda da folhagem pode chegar a
100% (Schowalter et al. 1986), influenciando a diversidade vegetal
e modificando a estrutura da comunidade clímax (Coley & Barone
1996).
Caprinos selvagens e domesticados têm sido reconhecidos
como grandes fontes de degradação da vegetação de ambientes
áridos de todo o mundo, incluindo a região Mediterrânea
(Perevolotsky et al. 1998, Carmel & Kadmon 1999), a África sub-
saárica (Oba 1998), o Chaparral Americano (Severson &
Debano 1991) e o Pedemonte Argentino (Grunwaldt et al. 1994).
Mais especificamente, a herbivoria por caprinos está associada à
redução do recrutamento, do crescimento e da distribuição
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Material e métodos
Área de estudo
O estudo foi realizado na região de Xingó (2.828,8 km2 -
09º36’ S, 37º50’ W), localizada entre os estados de Alagoas, Bahia
e Sergipe. Os solos predominantes na região são: litossolo,
cambissolo, podzólico eutrófico, bruno não cálcico e planossolo
(RADAMBRASIL 1983). O relevo da região de Xingó é formado,
em sua maior parte, por tabuleiros (i.e., depressão sertaneja de
baixa altitude), os quais se encontram bruscamente com o rio São
Francisco formando canyons escarpados. Na porção mais distante
do rio surgem pequenas elevações, as serras, constituindo, no
conjunto da paisagem, uma depressão pediplanada limitada por
relevos escarpados (RADAMBRASIL 1983). O clima na região de
Xingó é semi-árido quente, marcado pelas precipitações anuais
escassas, em torno de 500 a 700 mm, com 8-10 meses onde a
precipitação média é inferior a 60 mm (IBGE 1985). As tempe-
raturas médias anuais são em torno de 25 a 27°C nos meses mais
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quentes, caindo para menos de 21°C nos meses mais frios ao longo
do rio São Francisco (PLGBB 1988).
A savana estépica arborizada é composta por três estratos: o
herbáceo, o arbustivo e o arbóreo, que pode atingir até 8 m na
região de Xingó (observação pessoal de MT). Predominam no
estrato herbáceo, espécies de dicotiledôneas anuais e perenes
(Leguminosae, Malvaceae, Convolvulaceae, Labiatae). Referente
ao estrato arbustivo-arbóreo, Silva (2002) registrou 101 espécies de
árvores e arbustos (≥ 3 cm dap) na região de estudo. As famílias
com maior riqueza de árvores e arbustos na região são
Leguminosae, Euphorbiaceae, Cactaceae e Anacardiaceae
e os gêneros Caesalpinia, Aspidosperma, Mimosa, Jatropha
e Piptadenia estão entre aqueles com maior número de espécies
(para mais detalhes sobre a vegetação de Xingó ver Silva 2002 e o
Capítulo 7 deste volume). Em termos médios, a vegetação de
Caatinga produz 4.000 kg/ha/ano de fitomassa (Araújo-Filho
1989). Dependendo das condições de clima e solo, > 80% da
fitomassa pode ser oriunda de folhas de espécies lenhosas (Kirmse
1984). A Caatinga abriga pelo menos 1102 espécies de plantas
vasculares (Gamarra-Rojas & Sampaio 2002) em sua região de
ocorrência de cerca de 800.000 km2 (Tabarelli & Vicente 2002).
Caprinos na Caatinga
Os caprinos domésticos (Capra spp.) são ruminantes de
pequeno porte (< 1m de altura, 40-100 kg machos adultos) que
comem raízes, folhas, flores, frutos, sementes e cascas de árvores
(Medeiros et al. 1994). De acordo com Medeiros et al. (2000), os
caprinos têm diversas habilidades digestivas, como maior eficiência
digestiva na utilização de fibras e economia de água e nitrogênio,
as quais lhes conferem capacidade de sobreviver em regiões onde a
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Resultados
Os caprinocultores da região de Xingó têm rebanhos
pequenos, de 20 a 600 cabeças, os quais são criados em pequenas
propriedades, de três a 1500 hectares. Isso resulta numa densidade
de 0,77 ± 0,55 animais por hectare. No entanto, alguns dos
entrevistados, especialmente aqueles com rebanhos menores,
responderam que criam seus animais soltos, utilizando áreas
maiores que a das suas propriedades, mas comuns com outros
proprietários. Das 53 espécies de plantas listadas e apresentadas aos
proprietários de caprinos, somente Solanum paniculatum não foi
indicada como usada pelos animais (Tabela 2). As espécies
Ziziphus joazeiro, Opuntia palmadora e Sideroxylum obtusifolium
apresentaram o maior número de registros, sendo indicadas pelos
32 entrevistados (Tabela 2).
Não houve nenhum registro de uma única parte da planta
sendo utilizada pelos animais (Figura 1). Duas partes das plantas
foram citadas por 30% dos entrevistados, três e cinco partes por
20% e quatro partes por 10% (Figura 1). Tanto plântulas quanto
plantas adultas foram indicadas como utilizadas pelos caprinos.
Entre as plantas adultas, todas as partes foram citadas, desde folhas
novas, passando por folhas velhas, até flores e frutos. Trinta e nove
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Tabela 1. Espécies de plantas utilizadas nos questionários com os caprinocultores da região de Xingó, estados de Alagoas, Bahia e
Sergipe, com os tamanhos de suas flores ou inflorescências e os tipos e tamanhos de seus frutos.
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Porcentagem dos registros
30
25
20
15
10
5
0
1 2 3 4 5
Número de itens utilizados
Figura 1. Porcentagem de registros dos números de itens consumidos por planta por
caprinos na região de Xingó, estados de Alagoas, Bahia e Sergipe. Dados baseados em
entrevistas a 32 caprinocultores.
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Discussão
Os resultados deste estudo indicam que os caprinos são
importantes herbívoros para a vegetação de Caatinga, pois utilizam
partes da maioria das espécies de árvores e arbustos encontrados
na região como forragem. Os dados também sugerem que estes
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90
Porcentagem dos registros
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Folha nova Folha velha Flor Fruto Plântula
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Agradecimentos
Ao Programa Xingó (CHESF/CNPq) pelo apoio logístico
durante o trabalho de campo, aos colegas Alberto Magalhães,
Linete Cordeiro e Paulo Belchior pelas entrevistas aos proprietários
e ao CNPq pela bolsa de DCR (processo 300582/98-6) para I. Leal.
Referências Bibliográficas
ALBUQUERQUE, S. G. 1999. Caatinga vegetation dynamics under various grazing
intensities by steers in the semi-arid Northeast, Brazil. Journal of Range
Management 52: 241-248.
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Gil, P. R. 2002. Wilderness: earth’s last wild places. CEMEX, S.A., Cidade do
Mexico.
GRUNWALDT, E. G., A. R. PEDRANI & A. I. VICH. 1994. Goat grazing in the arid
piedmont of Argentina. Small Ruminant Research 13: 211-216.
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