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MANUAL DO CURSO DE LICENCIATURA

EM
GESTÃO AMBIENTAL

MODULO DE FUNDAMENTOS DE ESTUDOS


AMBIENTAIS

2022
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais i
Ano

Direitos de autor (copyright)

Este manual é propriedade da Universidade Aberta ISCED(UnISCED), e contém reservados


todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total deste manual, sob
quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou
outros), sem permissão expressa de entidade editora (Universidade Aberta ISCED(UnISCED).

A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processos judiciais


em vigor na República de Moçambique.

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i
ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais ii

ii
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais iii
Ano

Visão geral 5
Benvindo ao Módulo de Fundamentos de estudos ambientais ......................................... 5
Objectivos do Módulo ...................................................................................................... 5
Quem deveria estudar este Módulo .................................................................................. 5
Como está estruturado este módulo .................................................................................. 6
Ícones de actividade .......................................................................................................... 7
Habilidades de estudo ....................................................................................................... 7
Precisa de apoio? ............................................................................................................ 10
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) ............................................................................... 10
Avaliação ........................................................................................................................ 11

TEMA – I: TIPOLOGIA E EVOLUÇÃO DE ESTUDOS E PROBLEMAS AMBIENTAIS 12


UNIDADE Temática 1.1. Conceito de ciencias ambientais e do ambiente .................... 12
Introdução ....................................................................................................................... 12
Sumário ........................................................................................................................... 19
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .............................................................................. 20
UNIDADE Temática 1.2 -Evolução de estudos ambientais ........................................... 21
Introudução ..................................................................................................................... 21
Sumário ........................................................................................................................... 27
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .............................................................................. 27
UNIDADE Temática 1.3- Evolução das relações ser humano e o ambiente.................. 28
Introudução ..................................................................................................................... 28
Sumário ........................................................................................................................... 43
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .............................................................................. 44
UNIDADE Temática 1.4- Conceito e características de problemas ambientais............. 45
Introudução ..................................................................................................................... 46
Sumário ........................................................................................................................... 48
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .............................................................................. 48
UNIDADE Temática 1.5- Alguns princípios ambientais ............................................... 50
Introdução ....................................................................................................................... 50
Sumário ........................................................................................................................... 52
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .............................................................................. 53
UNIDADE Temática 1.6- Relação das ciências ambientais com outras áreas
científicas ........................................................................................................................ 54
Introdução ....................................................................................................................... 54
Sumário ........................................................................................................................... 55

TEMA II- TEORIAS SOBRE MUDANÇAS AMBIENTAIS 56


UNIDADE Temática 2.1- Mudanças naturais: Mudanças de configurações de
continentes, Teoria de evolução estelar, Teoria de Milankovich , Actividades vulcânicas
Fenómenos El Niño e La Niña ........................................................................................ 56
Introdução ....................................................................................................................... 56
Sumário ........................................................................................................................... 61
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .............................................................................. 62

UNIDADE Temática 2.2- Mudanças antropogénicas :Teoria Ecomalthusiana, Hipótese


de Enzensberger e Marxismo ecológico ......................................................................... 62
iii
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais iv
Ano
Introdução ....................................................................................................................... 62
Sumário ........................................................................................................................... 67
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .............................................................................. 68

Tema 3- Principais tipos de problemas ambientais e desenvolvimento sustentável 68


UNIDADE Temática 3.1- Efeito de estufa ..................................................................... 68
Introdução ....................................................................................................................... 68
Sumário ........................................................................................................................... 79
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .............................................................................. 80
UNIDADE Temática 3.2- Camada de ozono: formação, destruição, Impactos e
possíveis soluções ........................................................................................................... 81
Introdução ....................................................................................................................... 81
Sumário ........................................................................................................................... 86
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .............................................................................. 86
UNIDADE Temática 3.3- Chuvas ácidas (causas, efeitos e possíveis medidas de
mitigação) ....................................................................................................................... 86
Introdução ....................................................................................................................... 87
Sumário ........................................................................................................................... 92
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .............................................................................. 93
UNIDADE Temática 3.4- Ilhas de calor (causas, efeitos e possíveis medidas de
mitigação) ....................................................................................................................... 94
Introdução ....................................................................................................................... 94
Sumário ........................................................................................................................... 98
UNIDADE Temática 3.5- Desenvolvimento sustentável (conceito, variáveis da
sustentabilidades, indicadores do desenvolvimento sustentável ..................................... 99
Introdução ....................................................................................................................... 99
Tabela- Princípios e indicadores de sustentabilidade ................................................... 131
Sumário ......................................................................................................................... 137
UNIDADE Temática 3.6- Gestão comunitária dos recursos naturais .......................... 139
Introdução ..................................................................................................................... 139
Sumário ......................................................................................................................... 142
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ............................................................................ 143

BIBLIOGRAFIA 144

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UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais 5
Ano

Visão geral

Benvindo ao Módulo de Fundamentos de estudos


ambientais

Objectivos do Módulo

Ao terminar o estudo deste módulo de Fundamentos de Estudos


Ambientais deverá ser capaz de:

✓ Contribuir para a formação de uma consciência de amor à


natureza aprofundando os conhecimentos sobre a
problemática da transformação e protecção da Natureza
em função do desenvolvimento;
✓ Identificar os principais problemas ambientais globais e
Objectivos compreender as suas causas e consequências;
Específicos ✓ Avaliar as consequências directamente relacionadas com
cada um dos problemas ambientais globais da actualidade;
✓ Analisar as possíveis soluções para a resolução, ou
mitigação, dos problemas que as comunidades enfrentam.

Quem deveria estudar este Módulo

Este Módulo, Fundamentos de Estudos Ambientais, foi concebido para


estudantes do 2º ano do curso de Licenciatura em Gestão Ambiental.
Contudo, poderá ocorrer, que haja leitores que queiram se actualizar e
consolidar seus conhecimentos nessa disciplina, esses serão bem-vindos,
não sendo necessário para tal se inscrever. Mas poderá adquirir o manual.

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ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais 6

Como está estruturado este módulo

Este módulo, Fundamentos de Estudos, para estudantes do 2º ano do curso


de Licenciatura em Gestão Ambiental, à semelhança dos restantes da
UnISCED, está estruturado como se segue:
Páginas introdutórias

Um índice completo.
Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo, resumindo
os aspectos-chave que você precisa conhecer para melhor
estudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção com
atenção antes de começar o seu estudo, como componente de
habilidades de estudos.
Conteúdo deste módulo

Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez
comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente
unidades, cada unidade temática se caracteriza por conter uma
introdução, objectivos, conteúdos.
No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são
incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só
depois é que aparecem os exercícios de avaliação.
Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: puros
exercícios teóricos/práticos e actividades práticas.
Outros recursos

A equipa dos académicos e pedagogos da UnISCED, pensando em


si, num cantinho, recóndito deste nosso vasto Moçambique e cheio
de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem,
apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu
módulo para você explorar. Para tal a UnISCED disponibiliza na
biblioteca do seu centro de recursos mais material de estudos
relacionado com o seu curso como: Livros e/ou módulos, CD, CD-
ROOM, DVD. Para além deste material físico ou electrónico
disponível na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma digital
moodle para alargar mais ainda aspossibilidades dos seus estudos.

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UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais 7
Ano

Auto-avaliação e Tarefas de avaliação

As Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no


final de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos
exercícios de auto-avaliação apresentam duas características:
primeiro apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo,
exercícios que mostram apenas respostas.
Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação
mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de
dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras.
Parte das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos de campo
a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de correcção
e subsequentemente nota. Também constará do exame do fim do
módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os exercícios de
avaliação é uma grande vantagem.
Comentários e sugestões

Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados


aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza didáctico-
Pedagógica, etc, sobre como deveriam ser ou estar apresentadas.
Pode ser que graças as suas observações que, em gozo de
confiança, classificamo-las de úteis, o próximo módulo venha a ser
melhorado.

Ícones de actividade

Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das
folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes partes do processo
de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma nova
actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc.

Habilidades de estudo

O principal objectivo deste campo é o de ensinar aprender a aprender.


Aprender aprende-se.

Durante a formação e desenvolvimento de competências, para facilitar a


aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará empenho,
dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons resultados apenas se
conseguem com estratégias
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ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais 8

eficientes e eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando


estudar. Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos que
caro estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos estudos,
procedendo como se segue:

1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de leitura.

2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).

3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação crítica


dos conteúdos (ESTUDAR).

4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua


aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão.

5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou as de


estudo de caso se existirem.

IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo,


respectivamente como, onde e quando...estudar, como foi referido no início
deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo reflicta sobre o
ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo melhor em
casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de manhã/de
tarde/fins-de-semana/ao longo da semana? Estudo melhor com
música/num sítio sossegado/num sítio barulhento!? Preciso de intervalo em
cada 30 minutos, em cada hora, etc.

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado durante
um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto da matéria em
profundidade e passar só ao seguinte quando achar que já domina bem o
anterior.

Privilegia-se saber bem (com profundidade), o pouco que puder ler e


estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é juntar o

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ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais 9

útil ao agradável: saber com profundidade todos conteúdos de cada tema,


no módulo.

Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por tempo


superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora intercalado por 10
(dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-se descanso à mudança de
actividades). Ou seja que durante o intervalo não se continuar a tratar dos
mesmos assuntos das actividades obrigatórias.

Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual obrigatório,


pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento da aprendizagem.
Por que o estudante acumula um elevado volume de trabalho, em termos
de estudos, em pouco tempo, criando interferência entre os conhecimentos,
perde sequência lógica, por fim ao perceber que estuda tanto mas não
aprende, cai em insegurança, depressão e desespero, por se achar
injustamente incapaz!

Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma avaliação.


Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda sistematicamente),
não estudar apenas para responder a questões de alguma avaliação, mas
sim estude para a vida, sobre tudo, estude pensando na sua utilidade como
futuro profissional, na área em que está a se formar.

Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que matérias
deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que resta, deve decidir
como o utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado ao
estudo e a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma


necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o curso: A
colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a matéria de
modo que seja mais fácil identificar as partes que está a estudar e pode
escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas, nomes, pode
também utilizar a margem para colocar comentários seus relacionados com
o que está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir à
compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura; Utilizar o

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ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
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dicionário sempre que surja um conceito cujo significado não conhece ou


não lhe é familiar;

Precisa de apoio?

Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o material
de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas como falta de
clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros ortográficos, falta de
clareza, fraca visibilidade, página trocada ou invertidas, etc.). Nestes casos,
contacte os serviços de atendimento e apoio ao estudante do seu Centro de
Recursos (CR), via telefone, sms, E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma
carta participando a preocupação.
Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes (Pedagógico e
Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua aprendizagem com
qualidade e sucesso. Dai a relevância da comunicação no Ensino a Distância
(EAD), onde o recurso as TIC se torna incontornável: entre estudantes,
estudante – Tutor, estudante – CR, etc.
As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem
a oportunidade de interagir fisicamente com staff do seu CR, com tutores ou
com parte da equipa central do ISCED indigetada para acompanhar as sua
sessões presenciais. Neste período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos
de natureza pedagógica e/ou administrativa.
O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30% do tempo
de estudos a distância, é muita importância, na medida em que permite lhe
situar, em termos do grau de aprendizagem com relação aos outros colegas.
Desta maneira ficará a saber se precisa de apoio ou precisa de apoiar aos
colegas. Desenvolver hábito de debater assuntos relacionados com os
conteúdos programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade
temática, no módulo.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)

O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e


auto−avaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues duas
semanas antes das sessões presenciais seguintes.
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de campo conta
e é decisiva para ser admitido ao exame final da disciplina/módulo.
Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os mesmos
devem ser dirigidos ao tutor/docente.

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ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
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Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os


mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do
autor.
O plágio 1 é uma violação do direito intelectual do (s) autor(es). Uma
transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do texto de um autor, sem o
citar é considerada plágio. A honestidade, humildade científica e o respeito
pelos direitos autoriais devem caracterizar a realização dos trabalhos e seu
autor (estudante da UnISCED).

Avaliação

Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância, estando


eles fisicamente separados e muito distantes do docente/turor!? Nós
dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma avaliação mais fiável e
consistente.
Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com um
mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os conteúdos do
seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial conta com um máximo
de 10%) do total de tempo do módulo. A avaliação do estudante consta
detalhada do regulamentada de avaliação.
Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e aprendizagem
no campo, pesam 25% e servem para a nota de frequência para ir aos
exames.
Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e
decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no mínimo 75%,
o que adicionado aos 25% da média de frequência, determinam a nota final
com a qual o estudante conclui a cadeira.
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira.
Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois) trabalhos e 1
(um) (exame).
Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados como
ferramentas de avaliação formativa.
Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em
consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de cientificidade, a
forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a identificação das
referências bibliográficas utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre
outros.

1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade
intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização.

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UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano12

Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de


Avaliação da UnISCED.

TEMA – I: TIPOLOGIA E EVOLUÇÃO DE ESTUDOS E PROBLEMAS AMBIENTAIS

UNIDADE Temática 1.1. Conceito de ciencias ambientais e


do ambiente

Introdução

A presente unidade temática define os conceitos de ciências ambientais e


do ambiente para além do histórico da evolução da definição do conceito
ambiente. Importa destacar que cada autor usa palavras específicas para
esclarecer a essência dos conceitos, sendo que alguns trazem mais detalhes
e outros apenas aspectos básicos. Entretanto, as definições que constam
nesta unidade são resultado de aglutinação de ideias de diferentes autores
que abordam a temática.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

▪ Definir os conceitos de ciências ambientais e do


ambiente

Objectivos ▪ Conhecer a evolução da definição do conceito ambiente


Específicos

Conceito de ciências ambientais

Ciências do ambiente são um ramo multidisciplinar de ciências que se


debruça nos problemas ambientais, no sentido da sua interpretação,

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UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
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compreensão actuação e modelização, através de uma abordagem


científica e integrada dos sistemas ambientais. Nas ciências ambientais
realizam-se pesquisas/indagações/investigações em prol dos fenómenos e
processos ambientais com a finalidade de garantir a sustentabilidade
ecológica, política, económica, social, etc. Importa referenciar que
ambiente deve ser estudado considerando o seu carácter complexo e
sistémico.

Conceito do ambiente e sua evolução

O ambiente, ao longo de diversas etapas, tem sido compreendido como o


"todo", o que rodeia ao ser humano, enfoque demasiadamente impreciso
e com o problema de excluir as pessoas.

Com o tempo avançou-se para uma concepção mais abrangente, tomando


o ambiente como o entorno natural e social, portanto, envolvendo os
comportamentos humanos. Desta concepção, passou-se a uma outra, com
maior ênfase nos processos de interação: o ambiente considerado como o
conjunto das relações reciprocas entre a sociedade e a natureza.

Uma das aproximações mais interessantes se não polêmicas é o conceito


de ambiente defendido por Vidart (1986), e por outros autores como Kassas
e Polunin (1989) e Pardo (1995), que defendem a teoria das esferas. Esta
visão coincide com o enfoque sistemico do meio ambiente.
A Biosfera é, de facto, um dos sistemas, no qual o ser humano encontra-se
inserido. Este grande sistema de partes funcionais e interdependentes
compreende uma delgada zona da Terra, na qual se incluem as camadas
baixas da atmosfera, os estratos superiores da litosfera e da hidrosfera, e
os seres vivos, incluindo a espécie humana, interagindo entre si e com o
entorno.

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UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
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Há 3.600 milhões de anos começou a evolução biológica na Terra. Desde os


primeiros tempos a vida favoreceu as condições para a própria vida,
conseguindo por exemplo transformar a primitiva atmosfera redutora em
oxidante. Baseando-se nestes dados e considerando a teoria de sistemas e
os cálculos termodinâmicos, a chamada "Hipótese Gaia" (Lovelock, 1979),
postula que a matéria vivente da Terra, o ar, o oceano e a superfície,
formam um sistema complexo que pode ser considerado como um
organismo individual, capaz de manter as condições que tornam a vida
possível no planeta.
A Sociosfera como um sistema artificial de instituições desenvolvidas pelo
ser humano para gestao das relações da comunidade com os outros
sistemas. Este sistema - instituições políticas, econômicas e culturais da
sociedade, tem evoluído ao longo ds tempos. Neste contexto, as relações
com outros sistemas, e em particular com a Biosfera, ocorrem através de
estruturas concretas. Algumas destas estruturas constituem a tecnosfera,
ou seja, o sistema criado pelo ser humano e submetido a seu controle.
Compreenderia os assentamentos humanos de aldeias e cidades, centros
industriais de energia, redes de transporte e comunicação, canais e vias
fluviais, explorações agrícolas, etc. A Biosfera em certas ocasiões faz sentir
seu domínio sobre a tecnosfera, através das chamadas catástrofes naturais,
cujos efeitos são devastadores para muitos assentamentos humanos. Cada
um dos três sistemas possui suas próprias leis de funcionamento e suas
próprias ciências: Biologia, Climatologia, Geologia, Ecologia, etc., (Biosfera);
Arquitetura, Engenharia, Metalurgia, etc., (Tecnosfer) ; Sociologia,
Economia, Política, Antropologia, etc., (Sociosfera).

De salilentar que nos três sistemas existem múltiplas inter-relações ou


relacoes reciprocas, mutuas, sendo a atual problemática ambiental uma
consequência do desajuste entre elas: a Sociosfera pressiona a Biosfera
com uma enorme população ávida de recursos, que depois de utilizados são

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UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano15

devolvidos sob forma de resíduos não assimiláveis, ameaçando-a; o mesmo


acontece com a Tecnosfera, intrinsicamente articulada com a Sociosfera.
Gradualmente vem sendo incorporado também a existência de um quarto
sistema, a Noosfera, ou esfera de conhecimentos e informações, que tem
adquirido identidade nos últimos anos com o desenvolvimento da chamada
sociedade da informação, constituindo o que alguns chamam de "terceira
revolução tecnológica"- a da informação e da comunicação - que tende a
aliviar as coerções da distância e do espaço. Esta esfera é tão importante
quanto intangível, o que a torna ainda mais interessante em razão da sua
complexidade, da sua capacidade mediadora e da sua configuração como
aquilo que se conhece por realidade virtual.
A idéia essencial desta teoria é de que a sobrevivência da Biosfera e da
própria espécie humana depende do grau de equilíbrio, entendido como
dinâmico e adaptável às circunstâncias vindouras - que o ser humano
consiga atingir nas relações entre as três ou quatro esferas

Considerando o carcter sistemico do ambiente os problemas ambientais


não podem ser reduzidos à própria expressão (efeitos) na Biosfera, como o
esgotamento dos recursos e a profunda alteração da litosfera, as mudanças
na atmosfera e as consequências do aquecimento do Planeta, a diminuição
da camada de ozônio, a degradação da cobertura vegetal ou a
contaminação, entre outros.
É importante reconhecer o meio ambiente como sistema, ou conjunto de
sistemas inter-relacionados, já que assim a interpretação dos problemas
ambientais pode passar da simplificação redutora e inútil à complexidade
mais adequada, à sua verdadeira essência. É impossível, neste sentido,
compreender e buscar soluções para a realidade do entorno, de qualquer
entorno, sem estudá-la, por um lado, como âmbito regido por um conjunto
de fatores concorrentes em um espaço e tempo dados e, por outro lado,
em relação a problemas e contextos mais amplos, com os quais está
relacionado.

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UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano16

Um sistema é um conjunto de elementos que, antes de tudo, estão em


interação, seja este sistema fechado ou aberto. A característica de um
sistema não implica tanto sua composição, mas seu nível de organização,
de informação, e o facto de que as interações que ocorrem entre seus
componentes originam elementos novos, diferentes daqueles existentes
antes da ocorrência da inter-relação.

Os sistemas, por exemplo os sistemas naturais, regulam-se através de


mecanismos de realimentação, de tal forma que os efeitos de suas acções
retornam e o informam, realimentando-o constantemente e permitindo
sua adaptação inovadora. Daí a necessidade de se adotar o enfoque
sistêmico, mas não somente como teoria da realidade, senão também da
acção.

Um sistema é um objecto susceptível de ser analisado ou dividido em


partes, porém sua identidade deriva da maneira com que se integram essas
partes. Em um sistema é impossível entender o todo sem as partes, nem as
partes sem o todo.

A teoria de sistemas trata de explicar o funcionamento e as características


dos sistemas, encontrando-se em permanente evolução. Precisamente, um
de seus postulados básicos é aquele que afirma que o comportamento de
um sistema deve-se mais à forma com que se organizam as interações em
seu seio, do que às características de suas partes isoladas. Este princípio
básico é de grande importância, pois permite explicar muitas das coisas que
ocorrem ao nosso redor.

Um Sistema pode ser uma célula (inclusive uma molécula) ou todo um


ecossistema, um tecido, um órgão, um indivíduo ou espécie

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UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano17

O conceito de sistema está, por outro lado, intimamente ligado ao de


complexidade, que tem a ver com os conceitos de classificação e precisão.
Quanto mais classificações ou magnitudes sejam necessárias para
descrever um sistema, e quanto maior a precisão ou número de classes de
cada magnitude, maior é a complexidade do sistema.
Assim, por exemplo, uma floresta é um sistema enormemente complexo,
em razão de todas as magnitudes que o definem, e das classes dentro de
cada magnitude (a magnitude "espécies" teria milhares de classes ou
possibilidades).

Da mesma maneira, um sistema complexo, como uma floresta natural,


possui a máxima "informação" (magnitudes, classificações), frente a um
sistema simples, como o de uma plantação monoespecífica de árvores para
produção de pasta de papel (por exemplo, de eucaliptos). Daí a importância
da biodiversidade e o capital genético acumulado pelos sistemas naturais,
frente aos artificiais.

Paralelamente a evolução do conceito de ambiente, evolui a própria


interpretação da problemática ambiental, que se faz mais rica e complexa.

De acordo Bifani (1997), nos últimos anos a problemática ambiental vem se


ampliando, fazendo-se mais rica e permeada de diferentes estratos sociais
e políticos. Simultaneamente, vai se tornando mais concreta, localizando-
se em um determinado espaço socioeconomico e com específicas
dimensões temporais. actualmente, a problemática ambiental pode se
apresentar desagregada em seus diferentes elementos e manifestações ou
como uma totalidade (sistema). Nos dois casos, essa manifestação ou
expressão da problemática tem identidade, é reconhecida e aceite no
contexto do cotidiano discurso político, economico e social, e não somente
ambiental ou ecologico.

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UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano18

A problematica ambiental tem dimensões globais que superam limites


geográficos, barreiras economicas e posições políticas e ideológicas, ainda
que a posição que os indivíduos e os países ocupam na sociedade, e os
níveis de desenvolvimento economico e social alcançado por cada país,
determinem uma percepção diferente da problemática e uma forma
distinta de hierarquizar os problemas ambientais.

Assim para os países industrializados e prósperos, a problemática ambiental


está inserida na questão geral da qualidade de vida tomada de maneira
esquemática, não se trata aqui de lutar para sobreviver ou satisfazer
necessidades essenciais, senão de criar novas necessidades. Nestes países,
não se está questionando de maneira profunda o modelo actual de
desenvolvimento, nem a sustentabilidade do mesmo.
Pelo contrário, para os países em desenvolvimento, em muitos dos quais as
necessidades básicas para a maioria da população estão longe de serem
satisfeitas e nos quais o número de pobres e subalimentados aumenta, o
problema fundamental reside no facto de como utilizar racionalmente os
recursos ambientais para superar a pobreza, permitir o crescimento
sustentado da economia e alcançar um desenvolvimento sustentável, sem
arriscar as capacidades do sistema natural, que finalmente constitui a base
sobre a qual assentam a sobrevivência e o desenvolvimento.

A diversidade cultural do planeta em geral e dos paises em particular actua


como factor de diferenciação a respeito das questões ambientais. Isto faz
com que junto a estas duas grandes situações, e inclusive dentro de cada
uma delas, coexista um número indefinido de situações diversas e
diferenciadas.

A humanidade caminha para um mundo cada vez mais unido em uma série
de princípios, porém cada vez mais diversificado. Em qualquer caso, ainda
se está longe de compreender o papel assumido pela diversidade no

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UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano19

planeta, tanto na natureza, como na cultura e na economia (Aparisi e


outros, 1993).

A diversidade biológica é determinada pelo legado informativo e adaptativo


das diferentes espécies, como uma aprendizagem desenvolvida durante
milhares e milhares de anos, e fechada em seu código genético, a
diversidade cultural responde, também, ao desenvolvimento de
determinadas formas de vida humana, baseada em uma aprendizagem
permanente em interação com o meio e com alguns conhecimentos
zelosamente conservados por cada cultura. Portanto as culturas não são
impostas tão facilmente, e as formas culturais dominadas persistem
transformadas nos interstícios sociais, na porosidade da textura social.
Pode-se observar também formas culturais em coexistência conflitiva,
porém produtiva (González, 1994).

O ambiente tem seu âmbito conceitual ampliado, adquirindo algumas


conotações e aspectos que, antes de tudo, vão conduzindo cada vez mais
para a sua compreensão, até atingir uma posição mais biocêntrica.
Ambiente é um sistema constituído por geodiversidade (diversidade de
rochas, diversidade de minerais, diversidade de solos, diversidade de
formas de relevo, diversidade climática, etc.) biodiversidade (diversidade
de animais de plantas, incluindo a diversidade ecológica, especifica e
genética) e a sociodiversidade (diversidade cultural, diversidade das formas
de produção, etc.), considerando as relações reciprocas/de
interdependência/mútuas.

Sumário

Nesta unidade temática foram abordados aspectos ligados aos conceitos de


ciências ambientais e do ambiente. o conceito ambiente observou uma
evolução ao longo dos tempos e que na actualidade quase todas as
definições envolvem d
19
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano20

Geodiversidade, biodiversidade e sociodiversidade para além de realçar as


relações reciprocas entre os diferentes elementos que o constituem.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Perguntas
1- Através de exemplos, demostre as relações reciprocas que se estabelecem
entre os diferentes elementos do ambiente
2- Através de exemplos demostre a evolução do conceito ambiente

Exemplos de respostas

1- Os diferentes elementos que constituem o meio ambiente


estabelecem relações reciprocas ou de interdependência entre si.
Exemplo: os processos meteorológicos são influenciados por
características geomorfologias como são os casos das chuvas
orográficas mas por sua vez, as formas geomorfologicas são
modificadas como resultado da actuação de processos
meteorológicos
2- A definição do conceito do ambiente foi evoluindo ao longo dos
temos, por exemplo, nos primórdios de estudos ambientais, os
cientista apenas faziam

20
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano21

referenciam dos aspectos abióticos e bióticos mas ao longo dos


tempos integrou-se a sociodiversidade para além de realçar a
riprocidade nos diferentes elementos que compõem o ambiente

UNIDADE Temática 1.2 -Evolução de estudos ambientais

Introudução

Os estudos relacionados ao ambiente foram evoluindo ao longo dos tempos


face a evolução dos problemas ambientais. Os diferentes paradigmas como
o positivismo, antropocentrismo, possibilismo, etc., sempre influenciaram
as interpretações ligadas ao meio ambiente. o presente capitulo, faz uma
abordagem sobre a evolução dos estudos ambientais, realçando os
principais acontecimentos que influenciaram a cada fase.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

• Descrever o processo de evolução de estudos ambientais


• Identificar as principais etapas do processo de evolução dos esudos
ambientais
Objectivos
Específicos

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UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano22

Evolução de estudos ambientais

A capacidade que os seres humanos têm de interferir na natureza para dela


retirar o seu sustento e sobrevivência, permitiu a exploração e consumo de
recursos por muito tempo sem que se pensasse em sua conservação.
Somente há poucas décadas, em decorrência de catástrofes ambientais,
dos índices alarmantes de poluição e da constatação de que os limites da
natureza estavam sendo superados é que se iniciou um movimento em
favor da utilização racional destes recursos.
Década de 1960
De acordo com Valle (2002), na segunda metade do século XX um grupo de
cientistas de renome do Massachusetts Institute of Tecnology (MIT),
elaborou um relatório polémico a partir de solicitação do Clube de Roma .
Utilizando-se de modelos matemáticos, preveniu dos riscos de um
crescimento económico contínuo baseado na exploração de recursos
naturais esgotáveis. Seu relatório Limits of Growth (Limites do
crescimento), publicado em 1972, foi um sinal de alerta que incluía
projecções, em grande parte não cumpridas, mas que teve o mérito de
conscientizar a sociedade dos limites da exploração do planeta.
Em temos gerais, suscitaram debates em torno de três (3) questões: a
poluição, o crescimento populacional e a tecnologia. Apesar de terem sido
muito criticados por apresentarem dados, argumentos e metodologias de
análises controversas, seus esforços foram reconhecidos como importantes
para que a reflexão e o debate sobre essas questões se generalizassem,
abrindo caminhos para mudanças nas atitudes sociais e políticas.
No mês de Abril de 1968, reuniram-se em Roma (Itália), pessoas de dez
países, entre cientistas, educadores, industriais e funcionários públicos de
diferentes instâncias de governo, objectivando discutir os dilemas atuais e
futuros do homem. Deste encontro nasceu o Clube de Roma com muita
propriedade, cujas finalidades eram promover o entendimento dos
componentes variados, mas interdependentes – económicos, políticos,
naturais e sociais – que formam
22
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano23

o sistema global; chamar a atenção dos que são responsáveis por decisões
de alto alcance, e do público do mundo inteiro, para aquele novo modo de
entender e, assim, promover novas iniciativas e planos de acção (DIAS,
2008).
Em 1962 foi publicado um Livro pela bióloga norte-americana Rachel
Carson (Silent Spring – Primavera Silenciosa), no qual alertava para o uso
indiscriminado de pesticidas, que, além de destruir insetos como se
pretendia, envenenavam os pássaros. A publicação de livro supra citado foi
um dos acontecimentos apontados como mais significativo para o impulso
da revolução ambiental, por ter gerado muita indignação, aumentado a
consciência pública quanto às implicações das actividades humanas sobre
o meio ambiente e seu custo social, e por ter gerado reacções por parte de
governos de vários países, visando regulamentar a produção e a utilização
de pesticidas e insecticidas químicos sintéticos. O livro não foi a primeira
advertência a respeito do impacto dos pesticidas sobre o meio ambiente,
pois desde a década de 1940 já haviam sido realizadas várias pesquisas,
cujos dados e conclusões eram divulgados em revistas científicas. Seu
grande diferencial foi ter explicado ao público, em linguagem acessível, os
mecanismos e efeitos adversos da contaminação ambiental, bem como os
riscos envolvidos (PHILIPPI Jr. et al., 2004).
Bases Científicas para Uso e Conservação Racionais dos recursos da Biosfera
ou, simplesmente, Conferência da Biosfera, pela Organização das Nações
Unidas (ONU), objetivando avaliar os problemas do meio ambiente global e
sugerir acções correctivas. Promoveu a discussão a respeito dos impactos
humanos sobre a biosfera, incluindo os efeitos.
Philippi Jr. et al., (2004) ainda afirmam que dos resultados mais
significativos foi a ênfase no carácter interrelacionado do meio ambiente.
Concluíram que a deterioração ambiental tinha como principais
responsáveis o crescimento populacional, a urbanização e a
industrialização, que ocorriam em ritmo acelerado. Reconheceu-se que os
problemas ambientais não respeitavam fronteiras regionais ou nacionais, o

23
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano24

que mostrava a necessidade da adopção de políticas ponderadas e


abrangentes para a gestão ambiental. Incentivaram, também, a realização
de outra conferência, para que fossem abordadas as dimensões políticas,
sociais e económicas da questão ambiental que haviam ficado de fora da
esfera de acção naquela oportunidade.
Durante esta década, gradativamente os relatórios publicados por
entidades científicas e de protecção à natureza passaram a ressaltar os
efeitos nocivos das actividades humanas, especialmente os decorrentes do
processo industrial. Contudo, a ênfase recaía sobre os resultados dos
avanços da ciência (responsáveis pela ruptura dos equilíbrios naturais) e
sobre a necessidade de acções técnicas (isoladas) para a correcção dos
problemas ambientais decorrentes. Nesse período, poucos cientistas
estavam envolvidos com uma militância política, pois tinham receio de que
um envolvimento desse porte pudesse gerar efeitos indesejáveis nas
pesquisas que desenvolviam em sua própria respeitabilidade.

Década de 1970: Por volta de 1970, a crise ambiental não mais passava
despercebida. Um movimento significativo havia surgido no cenário
mundial e a evolução dos estudos científicos comprovava cada vez mais a
existência de vários problemas ambientais que poderiam comprometer a
vida no planeta. Se a década de 1960 pode ser considerada como o período
de mobilização, a década de 1970 marcou a construção de uma nova fase
no mundo, em que a responsabilidade pela sustentabilidade disseminou-se
entre diversos atores sociais. Esse foi o período em que a educação
ambiental foi delineada e várias organizações ambientalistas e “partidos
verdes” foram formados pelo mundo. No entanto, mesmo diante dos
problemas económicos e energéticos mundiais, muitos empresários,
sindicatos, partidos políticos, entre outros, ainda consideravam o
movimento ambientalista um fenómeno de moda e de revolta idealista,
sustentado por uma elite de ricos “fora de propósito” (PHILIPPI Jr. et al.,
2004)

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UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano25

De acordo com Valle (2002), Época da regulamentação e do controle


ambiental; Em 1972, o Clube de Roma publicou o relatório “Limites do
Crescimento”, documento que condenava a busca do crescimento da
economia dos países a qualquer custo e a meta de torná-lo cada vez maior,
mais rico e poderoso, sem levar em consideração o custo ambiental desse
crescimento. A repercussão deste relatório, bem como as pressões
exercidas pelos movimentos ambientalistas que eclodiram em várias partes
do mundo, levaram a Organização das Nações Unidas (ONU), em 1972 (em
Estocolmo, Suécia), a realizar a I Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente Humano, reunindo representantes de cento e treze (113)
países.
Nesse evento, popularizou-se a frase da então primeira-ministra da Índia,
Indira Gandhi: “A pobreza é a maior das poluições”. Foi nesse contexto que
os países em desenvolvimento afirmaram que a solução para combater a
poluição não era brecar o desenvolvimento e sim orientá-lo para preservar
o meio ambiente e os recursos não renováveis.

Primeira conferência da ONU sobre as relações entre o homem e o meio


ambiente, marco para o surgimento de políticas de gestão ambiental.
Discutiram-se questões como a defesa e melhoria do meio ambiente para
as gerações presentes e futuras. Gerou a Declaração sobre o Ambiente
Humano e estabeleceu o Plano de Acção Mundial com o objectivo de
inspirar e orientar a humanidade para a preservação e melhoria do
ambiente humano. Nesta conferência, pela primeira vez, as questões
políticas, sociais e económicas geradoras de impactos ao meio ambiente
foram discutidas em um fórum intergovernamental, com a perspectiva de
suscitar medidas correctivas e de controlo.
Apesar de toda controvérsia ocorrida, o evento gerou saldos bastante
positivos: reconhecimento generalizado da profunda relação entre meio
ambiente e desenvolvimento; formulação de uma legislação internacional

25
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano26

concernente a algumas questões ambientais; emergência das organizações


não governamentais (ONGs), recomendação que fosse realizada uma
conferência internacional específica para se discutir a Educação Ambiental,
considerada como elemento fundamental para o combate à crise
ambiental, foram alguns de seus principais resultados.
1974 – Estabelecida a relação entre os compostos de clorofluorcarbonos3
(CFCs) e a destruição da camada de ozónio na estratosfera ;
1975 - Porém, somente neste ano em Belgrado (Iugoslávia), foi que
representantes de sessenta e cinco (65) países reuniram-se para formular
os princípios orientadores do Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA), que a partir de então, passou a existir formalmente.
Neste contexto, os países participantes da Conferência de Estocolmo,
afirmaram que a solução para combater a poluição não era brecar o
desenvolvimento e sim orientar o desenvolvimento para preservar o meio
ambiente e os recursos não-renováveis. Considerando a crise energética
causada pelo súbito aumento do preço do petróleo: racionalização do uso
de energia e busca de fontes energéticas renováveis, o conceito de
desenvolvimento sustentável começa a tomar forma.

1978 – Iniciativa alemã do primeiro selo ecológico “Blue Angel” (Anjo azul),
destinado a rotular produtos que se diferenciam por suas qualidades
ambientais.

Década de 1980: Com a chegada da década de 1980 e a entrada em vigor


de legislações específicas que controlavam a instalação de novas indústrias
e exigências para as emissões nas indústrias existentes, desenvolveram-se
empresas especializadas na elaboração de Estudos de Impacto Ambiental
(EIA) e de Relatório de Impacto Ambiental (RIMA)
Na Década de 90: Houve um grande impulso com relação à consciência
ambiental, na maioria dos países; Conferência das Nações Unidas sobre

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UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano27

Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92) realizado no Rio de Janeiro,


resultou na publicação de 5 documentos, entre eles a Agenda 21.

Sumário

A evolução de estudos ambientais é marcada pela evolução dos problemas


ambientais e pela realização de eventos como conferencias, tratados, etc.,
para além de publicações de artigos científicos e livros em prol do meio
ambiente, incluindo a criação de clubes de ambiente. Não obstante, o
processo da evolução dos estudos ambientais foi também marcada por
momentos de estagnação tanto em publicados quer em aderência de
membros em clubes ambientais

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Perguntas
1- Refira-se da importação da entrada em vigor nos anos 80 da legislação
sobre a realização de avaliação de impactos ambientais
2- Identifica um dos marcos de estudos ambientais na década de 60

Exemplos de respostas
1- A entrada em vigor da legislação sobre a necessidade de realização de estudos
de impactos ambientais em projectos de desenvolvimento revestia-se de
grande importância na medida em que a partir desta altura os complexos

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UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano28

industriais passavam a conhecer os seus potenciais impactos ambientais e


passava a ter um instrumento regulador das actividades, contendo medidas de
prevenção e de correcção de possíveis impactos ambientais.
2- Exemplo: na segunda metade do século XX um grupo de cientistas de renome
do Massachusetts Institute of Tecnology (MIT), elaborou um relatório polémico
a partir de solicitação do Clube de Roma . Utilizando-se de modelos
matemáticos, preveniu dos riscos de um crescimento económico contínuo
baseado na exploração de recursos naturais esgotáveis. Seu relatório Limits of
Growth (Limites do crescimento), publicado em 1972, foi um sinal de alerta que
incluía projecções, em grande parte não cumpridas, mas que teve o mérito de
conscientizar a sociedade dos limites da exploração do planeta.

UNIDADE Temática 1.3- Evolução das relações ser humano


e o ambiente

Introudução

Nesta unidade, apresentam-se reflexões para a compreensão das múltiplas


inter-relações e determinações com que os diversos estilos ou padrões de
desenvolvimento adoptados por parte de diferentes sociedades ao longo de
seus percursos históricos repercutem sobre as modalidades de apropriação
dos recursos naturais, sobre as relações entre os próprios homens, sobre a
produção do conhecimento técnico-científico e sobre as modalidades de
Educação e suas diferentes concepções pedagógicas. Busca-se explicitar as

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UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano29

situações complexas do mundo contemporâneo e a importância da educação


ambiental como alternativa para desenvolver uma maior adequação dos
fenômenos educativos a suas reais possibilidades de aplicação.

Uma sistematização reflexiva, realizada de forma crítica, de como se deu


essa interação Homem-Natureza-Educação requer uma análise histórica,
com destaque para a relevância do factor econômico no processo de
intervenção humana na natureza.
O processo econômico se traduz como uma característica humana peculiar e
como expoente dos processos históricos de apropriação e de transformação
do meio ambiente e de dominação entre os homens.

De modo geral, pode se afirmar que o homem primitivo não provocava


desequilíbrios apreciáveis sobre os processos metabólicos e reprodutivos,
que regulavam o sistema de suporte da vida na biosfera, posto que as
alterações provocadas se davam em uma escala que permitia a manutenção
dos limites de estabilidade dos ecossistemas. Exercendo ações sobre os
ecossistemas naturais como consumidor, o homem interagiu com a natureza
de modo passivo, submetendo-se a seus imperativos, modificando seu modo
de vida e sua sobrevivência limitada de acordo com os limites e dádivas da
natureza.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

▪ Descrever a evolução histórica das relações entre o meio ambiente


e o Homem

Objectivos ▪ Caracterizar e evolução socioeconómica do Homem como resultado


Específicos da interacção com a natureza

Evolução das relações ser humano e o ambiente

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UISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano30

Numa perspectiva histórica, o enorme "êxito" da espécie humana,


comparado com o de outros mamíferos, que se reflecte na distribuição
mundial, na relativa interdependência do ambiente e num certo grau de
bem-estar, deve-se ao elevado grau de desenvolvimento cultural. A cultura,
entendida como um sistema de conhecimentos, comportamentos e
práticas transmitidos de uns a outros, constitui um meio de adaptação dos
seres humanos, permitindo-lhes a comunicação e a permanente
modificação do entorno.
Tradicionalmente, nos diversos grupos culturais, existem mecanismos
reguladores que tendem a ajustar as relações do ser humano com seu
entorno ou corrigir o uso desestabilizador dos recursos naturais.
Entretanto, na situação actual, parece que houve a perda do controle sobre
tais mecanismos, de forma que a problemática ambiental provocada põe
em perigo a própria sobrevivência do homem como espécie, além da de
outros seres vivos e sistemas que o acompanham.
Durante a maior parte da pré-história, os seres humanos se adaptaram ao
meio através de estratégias de tipo biológico e de comportamento, sem
causar grandes modificações nos ecossistemas, com uma intensidade de
transformação equiparável a dos outros animais com os quais compartilha
a existência sobre o planeta. Esta situação de relação harmónica com o
meio ambiente se manteve ao longo de milhares de anos, nos quais
prevaleceu a caça e a colecta como actividades fundamentais dos grupos
humanos.
A relação da espécie humana com o ambiente, produto da percepção que
tem deste, tem sofrido uma evolução tão interessante quanto
relativamente pouco estudada, mas que deve ser comentada, por permitir
compreender com maior clareza tanto a nova dimensão da problemática
ambiental quanto os enfoques necessários para reorientar a relação do
homem com o mundo e consigo próprio.
A época pré-filosófica, por exemplo, concebe o ser humano a partir de um
contexto mítico, de enorme respeito e temor para com tudo que lhe rodeia,

30
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano31

e muito especialmente para com aquilo que lhe promove o sustento. Daí,
portanto, o enorme respeito dos primeiros homens para com a natureza,
respeito que foi mantido inclusive pelos povos da África até a chegada dos
europeus.
Inicialmente, o Homem era também considerado como elemento natural,
pois vivia de caça de animais fáceis de capturar e de recolecção de frutos,
raízes de plantas silvestres como qualquer outra espécie animal. Contudo,
começa a existir rompimento da igualdade do Homem e outros animais (no
contexto das relações com a natureza), a partir do momento em que o
Homem descobre o fogo, passando a usa-lo para fabricar e aperfeiçoar os
seus instrumentos de trabalho e confeccionar os alimentos. A descoberta
do fogo, passou a conferir ao Homem vantagens sobre os animais e plantas.
Foi com a descoberta do fogo que alguns indícios de alterações ou
modificações das características originais na natureza começaram a
registarem-se.
Com o aperfeiçoamento de instrumentos de caça, o Homem passou a caçar
animais de grande porte. Com o fogo passou a destruir grandes áreas de
florestas. Algumas espécies animais foram eliminadas, como e o caso do
mamute, bisonte, etc.
Um dos grandes marcos que o Homem manifestou na antiguidade como
interesse de preservar a natureza foi a domesticação das plantas e animais,
facto este que permitiu também a sua sedentarização.
Importa salientar que a domesticação de animais e plantas surge em
resposta a alguns problemas ambientais, mas por sua vez deu origem a
outros. Por exemplo: a domesticação de animais, implica a existência de
áreas de pastagens, dando lugar ao sobrepastoreiro cujas consequências
recaem não só na vegetação como também no equilíbrio ecológico dos
solos e das comunidades ecológicas.
O Homem, ao longo da sua historia foi desencadeando guerras como é o
caso das guerras de razia que obrigaram a movimentação constante de
povos vencidos do seu local de origem para trabalhar nas terras dos

31
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano32

vencedores na condição de escravos, influindo de certo modo na destruição


antropogénica do solo.
Contudo, antes da revolução agrícola e industrial, os problemas ambientais
que ocorriam eram quase insignificantes na medida em ainda permitiam a
auto regulação da natureza.
Mas com a revolução agrícola e industrial, caracterizada por grandes
inovações tecnológicas e pelo uso de novas fontes de energia, a produção
de poluentes aumentou vertiginosamente. As guerras, incluindo a fria
impulsionaram a descoberta e utilização de energia atómica.
Com a revolução industrial, a indústria assume o papel de centralidade
dinâmica e desde então a indústria potencializa sua relação espacial com o
meio ambiente, ganhou o poder de transformação que conhecemos
actualmente.
O problema ambiental não está relacionado em si com a indústria ou seu
papel central na modelagem das relações da economia com o espaço, mas
do padrão com que vem investida a tecnologia no âmbito da organização
da indústria e da relação desta com o meio ambiente.
A cada período da história económica, variam os padrões dos artefactos
mecânicos. Em geral, variam segundo o tipo histórico de indústria. São
conhecidas três formas históricas de indústria no tempo: o artesanato, a
manufatura e a fábrica.
O artesanato é a forma mais antiga de indústria. É uma indústria de
pequenas dimensões. Sua tecnologia resume-se a ferramentas simples e
dependente do uso da energia muscular do homem. Seu alcance de
transformação espacial e ambiental reduz-se a estas proporções de escala
técnica. A relação ambiental do tempo do artesanato tinha as dimensões
da natureza da economia e das relações técnicas que lhe são
correspondentes. Trata-se de uma economia autônoma e familiar, que não
transborda os limites territoriais do entorno rural a que pertence. A
tecnologia empregada só permite o uso de matérias-primas facilmente
dúcteis, as relacionadas ao mundo vivo das plantas e animais, do mundo

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UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano33

mineral quando muito a argila, para os fins da cerâmica, com algumas


incursões na metalurgia.
A manufactura é um artesanato de maiores proporções. Historicamente,
coexiste com os antigos artesanatos nas sociedades rurais da Antiguidade,
podendo às vezes ganhar a dimensão de uma actividade de alta
especialização económica de modo que sua tecnologia implica já numa
escala de organização mais avançada, consistindo de um verdadeiro
sistema de maquinismo. As ferramentas do artesanato são substituídas em
máquinas de estrutura mais complexa, ultrapassando de alguma forma seu
carácter de puros prolongamentos corporais e requerendo uma forma de
energia de forças maiores que a do músculo humano, em geral mobilizando
animais de maior poder de movimentação, a energia eólica e mesmo a
energia hidráulica.
A manufactura iniciou uma mudança nessa forma de relacionamentos,
trazendo o começo de uma forma de percepção e atitudes novas. As
relações espaciais transbordam progressivamente do entorno imediato
vivido, pondo os homens numa convivência com matérias-primas e
alimentos chegados de lugares cada vez mais distantes e desconhecidos,
alterando as anteriores referências e o sentido de identidade de mundo.
São as necessidades da manufactura e das trocas no mercado que
paulatinamente comandaram o quotidiano e a vida prática, alterando junto
com o espaço a noção também do tempo vivido, separando espaço e tempo
como dois mundos distintos.
A presença imperiosa do maquinismo no quotidiano da indústria, da
circulação entre os lugares e da vida na cidade em crescimento leva a uma
forma de percepção a atitudes que vai introduzindo na mente dos homens
uma imagem de natureza e de mundo cada vez mais parecida com a da
engrenagem das máquinas, cujo melhor exemplo é o relógio, que vai
dominando o seu meio e modo de vida. O utilitarismo do mercado,
impregnando a indústria e as actividades primárias do campo de sua
ideologia de vida prática, propicia o surgimento de uma concepção físico-

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UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano34

mecânica que organiza na uniformidade desse parâmetro o mundo do


homem do espaço terrestre ao espaço celeste, dele fazendo uma nova
filosofia e com isto uma nova forma de cultura.
Essa cultura utilitária se consolida com a revolução industrial e o advento
da moderna sociedade estruturada com base na organização industrial da
fábrica como um mundo da técnica, introduzindo a forma de percepção e
atitudes que domina a relação de mundo que temos hoje em nosso tempo.
A fábrica é a forma actual de indústria, nascida da revolução industrial.
Apoiada numa tecnologia de escala crescentemente mais elevada e na
centralidade de uma economia literalmente voltada para a demanda do
mercado e altamente consumidora de bens industriais que lhe conferem
uma escala de organização dos espaços de abrangência ilimitada, com
enorme impacto ambiental que a difere das formas históricas de indústria
pretéritas.
O paradigma único de tecnologia e forma de organização do espaço em
escala crescentemente mundial, é a origem mais exata dos problemas
ambientais que ao longo do tempo vão se acumulando e se manifestando
na mesma dimensão da escala, de espaço e de incidência.

O pensamento grego no Ocidente, origem da reflexão filosófica ocidental,


representou uma mudança revolucionária no raciocínio básico. Recorde-se,
neste sentido, a afirmação de Aristótele de que "as plantas foram criadas
por serem necessárias aos animais, e estes porque o ser humano deles
necessita".
No campo científico, a visão ocidental de mundo vigente na actualidade
surgiu há três séculos, sendo delineada por três filósofos: Bacon, Descartes
e Newton, que podem ser considerados, de certo modo, como pais do
paradigma mecanicista, definido mais adiante. Bacon, dentro da tradição
judaico-cristã, buscava o desenvolvimento de uma ciência que restaurasse
o papel do homem como dominador sobre os demais seres, restituindo-lhe
a soberania possuída antes da criação.

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UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano35

A reflexão de Descartes tem como base o humanismo renascentista, que


outorga ao indivíduo um papel central no cosmos. Ainda que alheio à
inspiração bíblica, Descartes compartilha sua ambição de alcançar uma
filosofia e um método que convertessem o ser humano em senhor da
Natureza.
Newton, por sua parte, realiza uma contribuição fundamental ao
pensamento mecanicista com suas descobertas no campo da física, como a
noção de gravitação universal e as leis de atracão e repulsão dos corpos
celestes.
O paradigma ou visão mecanicista de mundo é definido pela ideia de que o
mundo equivale a uma máquina composta de partes, unidas em uma
engrenagem mais ou menos complexa. Significa também que, para se
conhecer melhor o funcionamento da máquina, é conveniente fragmentá-
la em seus elementos constituintes, separando-os e isolando-os dos
demais. Implica, portanto, a ideia de que a fragmentação do conhecimento
e, com ela, a divisão da realidade em disciplinas ou campos de saber, é
essencial ao progresso.

As relações do ser humano com o meio ambiente ao longo da história têm


evoluído para uma visão de superioridade e domínio, alcançando sua
máxima expressão com o auge da ciência e da tecnologia nos últimos anos,
que consequentemente representam uma capacidade quase ilimitada de
intervenção sobre o ambiente. Chama-se esta posição, ou concepção a
respeito do meio ambiente, de antropocentrismo ou concepção
antropocêntrica, que representa também o papel atribuído pelo ser
humano a si mesmo, no centro do mundo.
Frente ao antropocentrismo, abre-se passagem para uma nova posição ou
concepção, chamada de biocentrismo ou concepção biocêntrica, na qual o
ser humano, longe de se considerar o centro do mundo, percebe-se como

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UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano36

indissociável de seu entorno, que compartilha com os demais seres vivos, e


aos quais se une por interesses comuns.
Complementando, pode-se afirmar que desta concepção biocêntrica deriva
um enfoque ético centrado na vida e na extensão a todos os seres vivos de
uma consideração moral, ao considerar o fato de que com eles se
compartilha o bem-estar no planeta.

Por outro lado, a partir de uma concepção biocêntrica, a reciprocidade


moral abrange todos os moradores (humanos ou não humanos) do planeta,
sendo este visto como unidade ambiental integradora. Portanto, o
desenvolvimento do pensamento global e integrador fica favorecido.

Entretanto, deve-se reconhecer que, pouco a pouco, algumas tendências


abrem passagem numa direção mais construtiva. Assim, quando se fala da
sustentabilidade ambiental, de algum modo, transcende o princípio de
reciprocidade para solidariedade diacrónica e sincrónica, ainda que
continue apenas fazendo referência à espécie humana.

O etnocentrismo ou enfoque etnocêntrico seria, por último, a consideração


(autoconsideração) de superioridade de determinados grupos ou culturas
com relação às demais, e que conduz a situações de dominação,
principalmente através da ciência e da tecnologia. Na realidade, o
etnocentrismo nada mais é do que uma forma de antropocentrismo mais
ou menos sutil, confrontado com o conceito (e valor) da diversidade
cultural.
Actualmente, a ideia de ser humano encontra-se enriquecida pelas
contribuições tanto da antropologia biológica quanto da psicológica. Para
os antropobiólogos, ou seja, para os que explicam o ser humano como ser
vivo, como Gehlen (1973) e outros, o ser humano é um animal inacabado,
porém com uma suficiente dotação física para que termine seu processo
em um binômio permanente de liberdade-necessidade. E esta indefinição

36
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano37

se realizaria em grande parte no exterior, a partir do meio ambiente social


e natural.
Outros autores entendem a cultura humana como um sistema informativo
orientado à previsão do meio ambiente, de forma que o êxito da espécie
humana deriva também da sua capacidade para obter modelos de mundo.
Para o professor Margalef (1981) a evolução cultural humana se parece
mais com a sucessão ecológica do que com a evolução de uma espécie, que
seria algo muito mais lento e profundo. Por isso, o resultado desta evolução
dependerá da minimização do intercâmbio de energia necessária para
manter o controle do futuro. Daí a incerteza causada pela excessiva
utilização dos recursos naturais.
Em qualquer caso, a perspectiva antropológica nos apresenta um ser
inacabado, porém com uma necessidade imperiosa e indissociável de
terminar de construir-se, de forma responsável e livre, em relação aos
demais e com seu meio e, inclusive, para muitos, com o transcendente.

RELAÇÕES HISTÓRICAS ENTRE SOCIEDADE, AMBIENTE E EDUCAÇÃO

RELAÇÃO HOMEM-
ESTAGIO-SOCIEDADE EDUCAÇÃO
AMBIENTE

1. Caracteriza-se Sociedade e Educação


pela submissão à Características:
Natureza. • Sociedade sem
1. Primeiro estágio:
Relações obedecem classes.
Colecta.
aos ritmos naturais. • Educação
O homem participa Funcional.
do fluxo energético. É espontânea;

37
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano38

2. O homem age • reflexiva;


como predador. • por presença;
Suas actividades • união entre
2. Segundo estágio:
não perturbam o teoria e
Actividades de caça e
equilíbrio prática.
pesca.
ecológico. Profundo Sujeitos da Educação -
respeito pela são todos os
Natureza. membros da
sociedade.
• Educação

3. Marca um privilégio do

grande progresso homem livre.

do domínio do • Separação

3. Terceiro estágio: homem sobre a entre teoria e

Pastoreio. Natureza. prática.

Imprime sensíveis Nem todos os

modificações à membros da

paisagem natural. sociedade são


sujeitos de igual
Educação.

4. Quarto estágio:
4. Controle do
Agricultura.
homem sobre a
4.1. Desde as civilizações
natureza.
Mesopotâmicas até a
• Criação de
Idade Média.
ecossistema
• Economia
s artificiais.
predominantement
Degradação
e agrária
dos
• Pré - capitalismo.

38
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano39

• Sistema filosófico e ecossistema


teológico serve de s naturais.
base ao sistema • O homem
social. esquece seu
• Sociedade dividida lugar na
em classes. natureza.
• Separação do • Crescente
trabalho manual e deterioraçã
intelectual. o dos
recursos
naturais
apesar disso
a velocidade
de
regeneração
equipara-se
à velocidade
do
consumo.

5. Quinto estágio: 5. Converte-se em


Surgimento da
• Avanço da relações de
Educação Pública.
indústria. dominação e
Pedagogia da
• Revolução extração.
Essência. Postula-se a
Industrial. Rupturas no ritmo
igualdade formal
• Época Moderna. dos processos
entre os homens.
• Surgimento do naturais.
Teoricamente todos
capitalismo. Velocidade de
os membros da
• Sociedade regeneração é
sociedade seriam
contratual. menor que a

39
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano40

velocidade do sujeitos de igual


consumo. Educação.

6. a) Reformula a Escola,
Aprofundamento não a Sociedade.
das relações de • Pedagogia da
dominação e existência
exploração. legitima as
6. Sexto estágio:
• Aumenta a desigualdades.
Urbanização.
velocidade • Deterioração
a) Consolidação do
de da Escola
capitalismo.
exploração. Pública.
• Há a divisão de
Os recursos Educação diferencial
custos mas não de
naturais são dos membros da
benefícios.
considerado sociedade por
• Obtenção de maior
s factores
lucro no menor
propriedade socioeconómicos.
tempo possível.
privada. b) Educação:
b) Imperialismo /
• A Natureza Processos de
Multinacionais.
começa a homogeneização
• Divisão
manifestar cultural, como
Internacional do
seus limites. necessidade de
Trabalho entre o
• Aceleração criação de novos
pensar e o fazer.
da mercados.
c) Divisão entre países
deterioraçã • Pedagogia
centrais e periféricos.
o. Primeiras Tecnicista
tentativas centrada na
de reversão. organização.
• Contradição • Sujeitos da
entre Educação são

40
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano41

factores os que se
ecológicos e integram ao
económicos sistema com
. eficácia.
Deterioração c) Países centrais:
ambiental dos • Educação:
países periféricos produção de
com vista a conhecimento
recuperação do s.
Meio Ambiente nos • Países
países centrais. periféricos:
Educação:
reprodução de
conhecimento
s.
Teoria da
desescolarização
Sujeitos da Educação
diferenciados de
acordo com suas
possibilidades de
acesso e adequação
ao sistema.

Tendências actuais

Aprofundamento Educação Ambiental


Tomada de consciência de
dos conflitos. como enfoque crítico
grandes grupos sociais,
Busca de soluções da Educação, tanto no
tanto nos países centrais
que conduzam ao nível formal como no
como nos periféricos em
restabelecimento não formal.

41
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano42

relação aos problemas das relações Tomada de


ambientais. harmónicas entre consciência quanto à
Busca dos novos estilos Homem e Natureza. necessidade de
regionais, locais e globais informação,
de desenvolvimento. organização e de
Distribuição dos pressão dos grupos
benefícios, não só dos sociais na exigência de
custos. seu direito a uma boa
qualidade de vida em
função da justiça
social.
Sujeitos da Educação
são todos os membros
da sociedade de
acordo com seus
interesses e
necessidades
livremente
estabelecidas em
igualdade de
condições.

42
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano43

Sumário

A última década do século XX ficou marcada pelo reordenamento


geopolítico do processo civilizacao da humanidade, pela queda do bloco
socialista, pelo surgimento de uma ordem mundial unipolarizada, fundada
nos princípios do neoliberalismo economico.
As posições do pós-modernismo, destacando a importância do
reconhecimento do valor das diferenças e da pluralidade cultural, são
factores novos que, aliados à emergência de novos actores sociais, têm
levado a questão ambiental para o âmbito dos Direitos Humanos, de modo a
quebrarem-se as sociedades fechadas e a concentração de poder, em defesa
de sociedades abertas, com um projecto social fundado nos princípios da
democracia participativa, da distribuição do poder, e da busca de novos
estilos de desenvolvimento ambientalmente sustentáveis, autogestionáveis e
mais humanos (Leff, 1994).

A sustentabilidade ambiental do sistema global é condição necessária, mas


não suficiente para a obtenção de um desenvolvimento sustentável do
sistema humano em toda sua complexidade. A incorporação da dimensão
social e cultural permite passar da sustentabilidade ecológica à
sustentabilidade ambiental, o que implica a incorporação de novos conceitos
temporais, técnicos e economicos-financeiros, ligados à intervenção humana
na Natureza.
A insustentabilidade do modelo econômico dominante fica explícita com a
problemática ambiental: a Resolução da ONU, em 1989, (quando decidiu-se
realizar a Conferência da Terra na cidade do Rio de Janeiro em 1992),
sustentava que "a maior causa da deterioração contínua do Meio Ambiente
Global é o insustentável modelo de produção e consumo, particularmente
nos países industrializados", enquanto "nos países em desenvolvimento, a
pobreza e a degradação ambiental estão estreitamente relacionados".

O conceito de segurança está sendo revisado e não pode ficar separado do


conceito de meio ambiente. As políticas deverão combinar a preservação dos

43
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano44

recursos naturais e a prevenção da guerra. Os problemas ambientais


constituem um potencial factor a longo prazo das tensões sociais, e não
somente um indicador de deficiências políticas e sociais, pois a crise
ambiental produz sobre os movimentos da população a recessão econômica
e o enfraquecimento dos Estados.

Os movimentos sociais ambientalistas em defesa do meio ambiente, das


identidades culturais, da qualidade de vida, da importância da recuperação e
do aperfeiçoamento das práticas produtivas tradicionais sustentáveis,
erguem-se como alternativas ante uma ordem econômica internacional
homogeneizadora de padrões tecnológicos e culturais e centralizadora de
poder, propondo novas modalidades para o desenvolvimento:
descentralizadas, variadas, adequadas às condições ecológicas, culturais e
históricas das diferentes regiões. Familiarizar-se e compreender este
conjunto de tendências é tarefa imprescindíveis aos docentes para que
possam efetivamente planificar suas actividades e preparar seus alunos para
que venham a actuar como agentes sociais transformadores.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Perguntas
- As comunidades de caçadores possuíam cultos religiosos, nos quais se percebia, com
facilidade, os fundamentos naturais.
a) Atraves de exemplos, fundamenta a afirmacao acima
2- A partir dos conteudos sobre as relacoes historicas entre sociedade, ambiente e
educação, preencha a tabela abaixo:
Etapas Caracteristicas das Educação
relações homem natureza
1ª etapa (coleta) Submissao do Homem aos Sociedade sem classes.
processos, fenomenos, Educação Funcional,
espontânea, reflexa, por

44
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano45

condicoes e recursos presença e união entre


naturais. teoria e a pratica.
Relações obedecem aos
ritmos naturais.
O homem participa do
fluxo energético.
2ª etapa (pesca e caça)

3ª etapa (pastporeiro)

4ª etapa (agricultura)

5ª etapa (industrializacao)

6ª etapa (urbanização)

UNIDADE Temática 1.4- Conceito e características de


problemas ambientais

45
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano46

Introudução

A presente unidade temática apresenta a definição de problemas


ambientais para além dos diferentes elementos que caracterizam os
problemas ambientais, destacando os aspectos ecológicos, económicos,
estéticos, culturais, históricos, sociais e políticos. A origem e evolução de
problemas ambientais deriva da influência de uma diversidade de factores.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

• Definir problemas ambientais


• Caracterizar os problemas ambientais

Objectivos
Específicos

Conceito e características de problemas ambientais

Problemas ambientais globais constituem uma situação não desejada


caracterizada por alterações, perda ou redução significativa das
características originais do meio ambiente, como resultado da influência
humana pela acção que exerce sobre ele. As alterações ou modificações do
meio ambiente, constituem problema porque resultam desequilíbrios na
natureza (desequilíbrio dos ecossistemas pela perda significativa de
espécies animais e vegetais, desequilíbrio nos solos, desequilíbrio na
atmosfera caracterizado pelas grandes perturbações atmosféricas, etc.),
ameaçando a vida no futuro

Características de problemas ambientais

46
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano47

Os problemas ambientais podem ser diferenciados em dois tipos,


interligados porém distintos: os problemas ambientais globais (exemplo:
efeito de estufa antropogénico que resulta no aquecimento global) e os
problemas ambientais regionais ou locais (esgotamento de recursos locais
como solos)
Os problemas ambientais de escala regional ou local podem resultar os de
escala global. Por exemplo, a devastação de florestas tropicais por
queimadas para a introdução de pastagens pode provocar desequilíbrios
nesse ecossistema natural: extinção de espécies animais e vegetais,
empobrecimento do solo, assoreamento dos rios, menor índice
pluviométrico, etc., mas a emissão de gás carbónico como resultado da
combustão das árvores vai colaborar para o aumento da concentração
desse gás na atmosfera, agravando o "efeito estufa". Assim, os impactos
localizados, ao se somarem, acabam tendo um efeito também em escala
global.
Os problemas ambientais são complexos e dinâmicos. Em princípio os
problemas ambientais não possuem soluções definitivas.
Na origem e procura de soluções dos problemas ambientais intervêm os
aspectos ecológicos, sociológicos, económicos, culturais, estéticos,
políticos, histórico-geográficos e científicos.
Aspectos ecológicos: envolvem influências da dinâmica de processos
naturais.
Aspectos económicos: financiamento, actividades económicas, população,
serviços, etc., que originam problemas ambientais mas simultaneamente
criam condições para soluções.
Aspectos sociológicos: sociodiversidade (grupos étnicos, classes sociais,
etc), complexidade, conflitualidade, dinamismo, etc. Derivam de
comportamentos de indivíduos e de grupos.
Aspectos estéticos: envolve modificações não desejadas da paisagem,
organização da paisagem.

47
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano48

Aspectos científicos: desafio da interpretação do problema quanto as suas


origens e consequências. Produção e divulgação científica. A consciência
sobre o meio ambiente e sua degradação, está ligada a produção científica.
Aspectos histórico-geográficos: vulnerabilidade de alguns espaços
geográficos, localização de problemas ambientais em espaços concretos e
com características específicas.
Aspectos culturais: estilos de vida que derivam da protecção à culturas
externas, complexidade do mosaico cultural, processos de uniformização
cultural, valores, atitudes etc.
Aspectos políticos: estratégias de implementação das soluções,
interpretações políticas quer sobre a origem, quer sobre soluções dos
problemas ambientais.

Sumário

A origem e evolução dos problemas ambientais e resultado da interacção


duma multiplicidade de factores (ecológicos, económicos, sociais, políticos,
etc) que pode favorecer ou não a sua ocorrência. Por exemplo, a falta de
recursos financeiros para financiar acções de prevenção e de correcção dos
impactos ambientais pode provocar a agudização dos problemas. As
características físico geográficas podem propiciar a ocorrência o não de
certos problemas ambientais.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Perguntas

48
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano49

1- A partir de exemplos, explica como e que uma acção local pode


provocar problemas ao nível local, regional e global simultaneamente
2- A partir de exemplos, Explica como e as características físico geográficas
podem influenciar na ocorrência de problemas ambientais

Exemplos de respostas
1- Por exemplo, a devastação de florestas tropicais por queimadas para a
introdução de pastagens pode provocar desequilíbrios nesse ecossistema
natural: extinção de espécies animais e vegetais, empobrecimento do solo,
assoreamento dos rios, menor índice pluviométrico, etc., mas a emissão de gás
carbónico como resultado da combustão das árvores vai colaborar para o
aumento da concentração desse gás na atmosfera, agravando o "efeito
estufa". Assim, os impactos localizados, ao se somarem, acabam tendo um
efeito também em escala global.

49
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano50

UNIDADE Temática 1.5- Alguns princípios ambientais

Introdução

O advento de um progresso tecnológico intenso nos tempos hodiernos,


iniciado na Revolução Industrial e intensificado durante o Século XX, fez-se
acompanhar de um gradual acréscimo da intervenção humana na natureza,
de forma a afetar cada vez mais o meio ambiente que nos rodeia. O
transporte eqüino foi substituído por veículos com motores à combustão,
emitentes de óxidos de carbono; a caça e pesca rudimentares passaram a
ser feitas desenfreadamente, buscando maior satisfação lucrativa coadune
com o mercado capitalista, levando espécies a extinção; florestas foram
arrasadas e rios poluídos, tudo decorrente da mesquinha busca humana por
auto-satisfação plena, fechando os olhos para o mal que paralelamente fez
a si mesmo.

Neste contexto preocupante, governantes e visionários passaram a


questionar a extensão dos malefícios decorrentes destas atividades,
criando os alicerces da proteção ambiental. Entretanto, orientações e
avisos, visando à disseminação informativa preconizadora comportamento
mais adequado dos cidadãos, não foram suficientes para frear a sede
lucrativa e ambiciosa do ser humano, necessitando de uma ação estatal
normativa e executiva para que se confira ao meio ambiente a proteção a
que ele faz jus, seja o natural, o artificial ou o cultural.

Desta forma, surgiu o Direito Ambiental, recurso competente para tutelar


o meio ambiente, em todas suas espécies, da agressão humana, tentando
fazer nossos descendentes disporem de condições análogas às que nos são
oferecidas, buscando um desenvolvimento sustentável. Como disciplina
autônoma que é, o Direito Ambiental rege-se por princípios próprios,
eficazes no combate à interferência lesiva humana na natureza,

50
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano51

constituindo eles a base das demais normas reguladoras deste ramos


jurídico, sendo estas seus sucedâneos.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

• Descrever os principios ambientais

Objectivos
Específicos

Alguns princípios ambientais

Prevenção ou Precaução
Significa desenvolvimento sem destruição. Prevenção e controlo da
poluição, erosão, Calamidades naturais, uso de matérias e energias
eficientes

Equivalência ou equilíbrio
Conhecido também como princípio do custo/benefício, é aquele pelo qual
devem ser pesadas todas as implicações de uma intervenção no meio
ambiente, buscando-se adoptar a solução que melhor concilie um
resultado globalmente positivo.

Participação
Importante afirmar que não se pode admitir segredos em questões
ambientais, pois afectam a vida de todos. Tudo deve ser feito,
principalmente, pelo Poder Público, com a maior transparência possível,
de modo a permitir a participação na discussão dos projectos e problemas
dos cidadãos de um modo geral.

Cooperação

51
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano52

Significa dizer que todos, tanto o Estado quanto a sociedade, devem


colaborar para a implementação da legislação ambiental, pois este não é
só papel do governo ou das autoridades, mas de cada um de todos nós. É
onde o Estado tem a obrigação de fiscalizar e punir, mas em contra partida
a sociedade tem a obrigação de auxiliar a fiscalização enfatizando a
obrigação de não poluir o meio ambiente

Poluidor-pagador
Num sentido impositivo o princípio significa o dever estatal de cobrar do
poluidor contribuições públicas em função de sua actividade
objectivamente poluidora de forma a fazê-lo arcar com o custo dos serviços
públicos gerais ou específicos necessários à preservação e recuperação
ambiental.

O princípio determina prioritariamente ao Poder público que gradue a


tributação de forma a incentivar actividades, processos produtivos ou
consumos ecologicamente correctos, e desencorajando o emprego de
tecnologias não sustentáveis.

Sumário

As normas constitucionais são dotadas de diferentes graus de eficácia e a


sua existência e aplicação obedecem a uma hierarquia no sistema
constitucional. Essa estrutura da Constituição se apóia justamente nos seus
princípios fundamentais, e nenhuma norma está autorizada a violar os
alicerces desse edifício jurídico, sob pena deste desmoronar. E mesmo os
diversos princípios guardam relação de subordinação entre si, onde os
princípios maiores ditam as diretrizes para os menores, harmonizando todo
o sistema jurídico-constitucional.

52
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano53

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Perguntas
1- Através de exemplos, explica como pode ser aplicado o princípio de
participação e de poluidor pagador.
2- A partir de exemplos explica as limitações da aplicação do princípio
poluidor pagador

53
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano54

UNIDADE Temática 1.6- Relação das ciências ambientais


com outras áreas científicas

Introdução

Qualquer área científica, para esclarecimento de fenómenos e processos


relativos a sua área de análise precisa de subsídios de outras áreas de saber
como indispensáveis para a compreensão dos processos. Nesta unidade
temática, são apresentados alguns exemplos de relações de
interdependência entre os estudos ambientais e outras áreas afins.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

▪ Estabeler alguns exemplos das relacoes entre ciencias ambientais


com outras areas afins

Objectivos
Específicos

Relação das ciências ambientais com outras áreas científicas

Relação biologia – estudos ambientais


O biólogo procura o ambientalista para saber as mudanças ambientais que
ocorrem no meio que poderão influenciar na evolução dos organismos
vivos, e por sua vez o ambientalista pode procurar o biólogo para saber dos
processos desencadeados pelos seres vivos e que de certa maneira pode

54
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano55

influência em mudanças do meio ambiente.

Relação Antropologia – estudos ambientais


Certos hábitos, costumes, crenças influência de certa maneira nas
mudanças significativas do meio ambiente. Importa salientar que existem
aspectos culturais positivos a incentivar e negativos a desencorajar.

Relação História – estudos ambientais


Um ambientalista procura um historiador para saber a história de um
determinado lugar, sua evolução com o tempo, etc. Considerando que a
história baseia-se no estudo do Homem no tempo, é importante esclarecer
que a evolução do Homem contribui de uma forma decisiva na modificação
do estado do meio ambiente, como é o caso da evolução tecnológica,
revolução industrial e agrícola que o ambiente tem sofrido problemas
devido a poluição provocada pelos mesmos através da emissão dos gases,
poeiras e produtos nocivos, prejudiciais ao meio ambiente natural.

Sumário

O esclarecimento de fenómenos ou processos de qualquer área científica


precisa de empréstimo de conhecimentos de outras áreas. Por exemplo,
para explicar melhor os impactos ambientais sobre os solos a partir duma
determinada actividade, primeiro precisa conhecer as propriedades físicas,
químicas e biológicas do solo e estas informações só pode recorrer a
pedologia.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Perguntas

55
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano56

1- Através de exemplos explica a relação de interdependência entre


estudos ambientais e a Geografia

TEMA II- TEORIAS SOBRE MUDANÇAS AMBIENTAIS

UNIDADE Temática 2.1- Mudanças naturais: Mudanças de


configurações de continentes, Teoria de evolução estelar,
Teoria de Milankovich , Actividades vulcânicas Fenómenos
El Niño e La Niña.

Introdução

A terra, desde a sua origem conheceu sucessivas alterações sob influência


duma diversidade de factores. Nesta unidade faz-se abordagem das teorias
explicativas das mudanças ambientais que ocorrem naturalmente, sem a
influência das acções antropogénicas. Destacam as mudanças
protagonizadas pela Mudanças de configurações de continentes, Teoria de
evolução estelar, Teoria de Milankovich, Actividades vulcânicas e
Fenómenos El Niño e La Niña.

56
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano57

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

▪ Conhecer as bases teóricas sobre as mudanças ambientais

▪ Descrever teorias ou modelos científicos sobre as mudanças


Objectivos ambientais naturais
Específicos

Teorias sobre mudanças ambientais

Existe um grande embate quanto às causas das mudanças climáticas no


planeta, não se sabe se são por causas naturais decorrentes das mudanças
cíclicas do clima, que resfria e esquenta em diversas localidades, ou se são
provocadas pelos homens, as chamadas causas antropogênicas. Muitos
cientistas e meteorologistas, portanto, têm afirmado com veemência que a
maior influência do aumento das temperaturas no planeta é decorrente das
ações dos homens.

O fenômeno de mudança climática de origem natural é devido à variação


solar combinado a outros fatores naturais, como os vulcões. O último
aquecimento no planeta, cuja conclusão foi tirada após análise de
aproximadamente 30 pesquisas da época, ocorreu no período pré-
industrial, antes de 1950, e após este ano ocorreu um período de
resfriamento da terra. Por isso, alguns cientistas acham que este
aquecimento de hoje não passa de algo cíclico nas temperaturas do planeta
e que logo vai passar. Mas são muitas as consequências sentidas, em
diversas partes do planeta: o aumento dos eventos extremos climáticos,
como as tempestades tropicais, os furacões, as secas ou as ondas de calor,
são alguns indícios. Outros factores, observados pelos cientistas que
acreditam em causas antropogênicas, são o aumento do nível do mar e o
derretimento das calotas polares. E desde que começou a intensa emissão
de gases de efeito estufa na atmosfera, no período da Revolução Industrial,
foi observado que a temperatura do planeta aumentou 0,8°C.

57
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano58

Mudanças de configurações de continentes


O clima é um sistema complexo, regulado por múltiplas interacções entre a
atmosfera, o oceano, a hidrosfera, a criosfera e a biosfera. Tal sistema tem
sofrido, desde a constituição da atmosfera terrestre, alterações em
diferentes eras geológicas, visto que está em constante e permanente
transformação (dinamicidade), assim como os demais sistemas da natureza.

Em 1912 Alfred Lothar Wegener (1880-1930),publicou um trabalho


sugerindo que à cerca de 200 milhões de anos, todos os continentes
estariam reunidos em um só bloco chamado de Pangeia e cercado por um
imenso oceano chamado Panthalassa. Segundo essa teoria, com o passar
do tempo, foi ocorrendo uma transformação nesse padrão dos continentes,
até chegar ao que existe hoje ,e que continua se movimentando
lentamente. Nesse processo, como os continentes ocuparam posições
diferentes na superfície da terra, a distribuição das zonas climáticas e da
circulação oceânica eram diferentes das que conhecemos hoje.

Segundo a Teoria da Tectónica Global, a configuração dos continentes


alterou-se pelos constantes deslocamentos das placas litosféricas, desde a
época da Pangeia (200 milhões de anos atrás). Com base nisto, tais
movimentos implicam, necessariamente, uma mudança na circulação das
correntes atmosféricas - oceânicas e continentais -, interferindo,
directamente, nas características climáticas globais, pois são seus principais
sistemas reguladores.

Teoria de evolução estelar


As primeiras teorias da evolução estelar, sugerem que o sol teria sido mais
fraco nos primeiros bilhões de anos da história da Terra. Todavia, sabe-se
que o planeta não estava frio pois, possivelmente havia um forte Efeito
Estufa, que compensava reduzir a radiação solar.

58
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano59

Teoria de Milankovich
Os Ciclos de Milankovitch também estão em frequentes variações cíclicas
macro escala (fenómenos astronómicos) -, seja pela excentricidade da
órbita elíptica do movimento de translação do Planeta Terra; pela
obliquidade do eixo do mesmo; e pela precessão de sua rotação (STRAHLER;
2000), observadas na Figura 1. Essas influenciaram, ao longo das eras, e
influenciam na quantidade de energia recebida pelo Planeta, proveniente
do Sol, além de a primeira alterar as datas do afélio e periélio (ciclos de
21.00 anos).

A Teoria de Milankovitch está baseada nas variações cíclicas de 3 elementos


o que ocasiona variações na quantidade de energia solar que chega a Terra:
1) Precessão: mudanças na orientação do eixo rotacional da Terra. Estas
mudanças alteram as datas do periélio e do afélio e, portanto
aumentam o contraste sazonal em um Hemisfério e diminui em
outro. O período médio é de 23.000 anos;
2) Mudanças na obliquidade: mudança na inclinação do eixo da Terra.
Estas influenciam na magnitude da mudança sazonal, ou seja,
quando a inclinação é maior as estações são mais extremas (os
invernos são mais frios e os Verões mais quentes) e quando a
inclinação é menor as estações são mais suaves em ambos os
Hemisférios. Actualmente a inclinação é de 23,5o. O período médio
é de 41.000 anos, variando entre as inclinações de 21,5o e 24,5o.
Quando os Verões são mais frios, significa que há maior
permanência de neve e gelo nas altas latitudes o que contribui para
um feedback positivo, ou seja, mais neve, significa albedo maior e
portanto maior resfriamento;
3) Variações na excentricidade: a excentricidade está relacionada com
a órbita da Terra em relação ao Sol ser mais elíptica (alta
excentricidade) ou mais circular (baixa excentricidade).

59
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano60

Actualmente existe uma diferença de 3% entre a maior aproximação


(periélio) e o afélio. Esta diferença na distância significa 6% da
insolação entre Janeiro e Julho. Quando a órbita está mais elíptica a
diferença da insolação é da ordem de 20 a 30% entre Janeiro e Julho.
O período é de 90.000 a 100.000 anos.
Figura 1- Variações orbitais – precessão, obliquidade e excentricidade

Actividades vulcânicas
As actividades vulcânicas emitem, por meio das erupções, uma grande
quantidade de gases e cinzas à atmosfera, que afectam o equilíbrio
climático de todo um hemisfério, principalmente os processos de absorção,
transmissão e reflexão de energia solar. Desta forma, os vulcões são uns
dos elementos essenciais para os estudos das mudanças climáticas.

Fenômenos El Niño e La Niña


El Niño é o aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico Equatorial.
El Niño pode ser chamado também de episódio quente (em inglês: warm
episode) no Pacífico. Não é somente aquela corrente observada junto à
costa peruana, mas sim, é a

60
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano61

combinação entre o aquecimento anormal do Oceano Pacífico, conjugado


com o enfraquecimento dos ventos alísios (que sopram de leste para oeste)
na região equatorial. Com esse aquecimento do Oceano e com o
enfraquecimento dos ventos, começam a ser observadas mudanças na
circulação da atmosfera, e portanto fenômenos como secas e enchentes
são observados em várias partes do globo.

La Niña, como é o oposto, ou seja, é o resfriamento das águas do Oceano


Pacífico Equatorial, então os efeitos são exatamente opostos
O termo La Niña (“a menina”, em espanhol) surgiu pois o fenômeno se
caracteriza por ser oposto ao El Niño. Pode ser chamado também de
episódio frio, ou ainda El Viejo (“o velho”, em espanhol). Algumas pessoas
chamam o La Niña de anti-El Niño, porém como El Niño se refere ao menino
Jesus, anti-El Niño seria então o Diabo e portanto, esse termo é pouco
utilizado. O termo mais utilizado hoje é: La Niña.

Sumário

As mudanças naturais que a terra vem vivendo ao longo da sua existência


são resultado da dinâmica dos elementos que o compõem. Os movimentos
que a terra realiza, em particular o de translação, as actividades vulcânicas,
os fenómenos marítimos são os principais factores da dinâmica das
mudanças ambientais de ordem natural

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Perguntas

61
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano62

1- Explica como a que a deriva dos continentes constitui um factor de mudanças


ambientais no planeta terra
2- Qual e a influencia dos aerossóis no processo das mudanças climáticas

UNIDADE Temática 2.2- Mudanças antropogénicas :Teoria


Ecomalthusiana, Hipótese de Enzensberger e Marxismo
ecológico

Introdução

As mudanças ambientais que mais preocupam o Homem são as de ordem


antropogénica na medida em que tem provocado alterações ou mudanças
irreversíveis. Nesta unidade temática, apresentam-se algumas teorias
explicativas sobre as mudanças ambientais sob influência humana

62
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano63

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

▪ Descrever as teorias sobre as mudanças ambientais de ordem


antropogénica

Objectivos ▪ Explicar as causas das mudanças ambientais antropogenicas


Específicos

Teoria Ecomalthusiana
Na visão ecomalthusiana, a crise ambiental é concebida como um problema
de desajuste entre uma crescente população humana e os recursos
limitados da natureza. A abordagem da teoria populacional
neomalthusiana, estabelece uma relação directa entre crescimento
demográfico e pressão sobre recursos naturais, apontando para a urgência
de um controlo populacional através da formulação de políticas públicas.
Por exemplo, o Malthus concluiu que o ritmo de crescimento populacional
seria mais acelerado que o ritmo de crescimento da produção alimentar.
Previa ainda que um dia estariam esgotadas as possibilidades de aumento
de áreas cultivadas, pois todos os continentes estariam plenamente
ocupados pela agropecuária e a população do planeta continuaria
crescendo. A consequência seria a fome, a falta de alimentos para
abastecer as necessidades de consumo do planeta.
Hoje, sabe-se que suas previsões não se concretizaram, a população do
planeta não duplicou a cada 25 anos e a produção de alimentos cresceu no
mesmo ritmo do desenvolvimento tecnológico. Os erros dessa previsão
estão ligados principalmente as limitações da época para a colecta de
dados, já que Malthus tirou suas conclusões a partir da observação do
comportamento demográfico em uma região limitada. Não previu os
efeitos decorrentes da urbanização na evolução demográfica e do
progresso da evolução tecnológico.
A teoria neomalthusiana, no entanto, tem sido alvo de muitas críticas na
medida em que apresenta algumas limitações na explicação dos problemas

63
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano64

ambientais, pois demonstra ter uma visão muito simplista, envolvendo


poucas variáveis quando toca o problema dos efeitos do crescimento e
desenvolvimento económico sobre o meio ambiente. Os padrões de
produção e consumo no qual a teoria neomalthusiana se funda, não são por
ela discutidos apesar de serem demasiado agressivos ao meio ambiente. O
binómio população-recursos reduz-se a uma relação genérica,
unidimensional, desculturalizada, que oculta a complexidade das relações
mútuas entre processos demográficos e mudanças ambientais.
Nesta abordagem, por exemplo, a capacidade de carga de um determinado
ecossistema predeterminaria o número de pessoas que poderiam habitá-
lo, sem dar em conta que a capacidade de sustentação do território
depende tipos culturais de assentamentos e de produção, como
demonstram os estudos históricos e antropológicos sobre as antigas
civilizações. Desta maneira são desconhecidos os mecanismos internos de
adaptação e transformação da população sobre seu entorno, que
dependem das formas de uso de solo e de valorização dos recursos naturais
e que estabelecem como resultado a capacidade de sustentação de um
determinado ecossistema de produção.
Considerando que a origem dos problemas ambientais resulta do
crescimento descontrolado populacional, então, a proposta para solucionar
os problemas ambientais se reduziria simplesmente no controlo de
crescimento populacional ou redução dessas populações humanas.
Apesar de o crescimento populacional ser um factor importante na análise
dos problemas ambientais, não se pode descartar a relevância dos padrões
de produção e de consumo, para além dos aspectos sócio culturais das
populações.

Hipótese de Enzensberger
Sobre a crise ecológica, Enzensberger (1976), sustenta que antes de ter
uma explicação eminentemente natural, ela é resultado de um processo
social ligado intimamente ao modo de produção capitalista. O autor

64
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano65

defende a seguinte hipótese central, levantada pela ecologia: "As


sociedades industriais produzem contradições ecológicas que poderão
conduzi-las à sua ruína em um tempo previsível".
Essa hipótese, que pode ser vista também como um prognóstico, baseia-se
em um conjunto de factores sinérgicos:
✓ Aumento incontrolável da população mundial;
✓ Processos industriais que têm como base o uso de energias não
renováveis, que dependem do uso de matérias-primas também não
renováveis;
✓ O aumento da produtividade agrícola que tem levado a novos
desequilíbrios ecológicos;
✓ Contaminação do mundo: desequilíbrios e disfunções de todo tipo,
que resultam do intercâmbio entre a natureza e a sociedade
humana, como consequência involuntária do processo de
industrialização.
As crises que vivemos hoje não é apenas ambiental, mas também é social,
moral e económica. É uma resultante da irresponsabilidade da humanidade
perante si mesma, pela sua incapacidade de olhar o passado e de olhar-se
no presente, ficando cega para o que pode vir depois, como consequência
de seus actos, ou pela falta deles.

A crise ambiental é também uma crise de percepção que coloca em dúvida


todo o processo de civilização. A materialização de necessidades e desejos
não significou a felicidade pretendida para todos, mas sim um movimento
cada vez mais forte de exclusão e miséria de escala planetária, que se faz
sentir em uma parcela cada vez maior da população.

Marxismo ecológico
A teoria do Marx está relacionada com os enfoques tradicionais da
economia e a teoria política. Marx não abandona o “campo teórico”

65
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano66

argumentação tradicional da economia política para abrir um novo campo.


Permanecem os sinais do iluminismo racional e uma lógica que não leva em
conta os limites da natureza. O argumento principal é o seguinte: o Homem
constrói sua história ao transformar a sociedade, a natureza e a si mesmo,
mas não existem limites impostos pela natureza. Por conseguinte, a
natureza é concebida como um conjunto de recursos inesgotáveis que
podem ser utilizados. O Marx, apresenta a interpretação fundamental das
“leis de movimento” da acumulação capitalista como moldadas pelas
contradições sociais e não pelos limites impostos pela natureza.

Nas interpretações clássicas e, sobretudo, nas neoclássicas da relação


homem-natureza, a racionalidade individual na tomada de decisões com
relação aos recursos escassos é o ponto central, contrariamente ao que
ocorre com o pensamento malthusiano, no qual o excesso de demanda é a
categoria decisiva. Na teoria clássica e na neoclássica, a categoria de
escassez aparece como a peça central do raciocínio económico. O
“individualismo metodológico” nasceu, e com ele uma racionalidade que
separa em um primeiro momento recursos naturais de outras partes não
valiosas da natureza que não servem como fontes de valorização capitalista,
e que em um passo seguinte separa um recurso natural do outro. De outra
maneira, uma tomada de decisão racional não seria possível sob as
condições do individualismo metodológico.

Por fim, a totalidade holística da natureza ou sua respectiva integridade,


dissolvem-se em um conjunto de recursos naturais individuais e em um
resto que não pode ser valorizado ou validado. A natureza é, deste modo,
transformada de uma entidade ecológica em uma entidade económica;
mas além disto, a natureza permanece “externa” ao discurso económico
e à sua racionalidade.

66
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano67

A economia dos recursos devia fornecer regras sobre como lidar com
recursos naturais escassos sem prejudicar a natureza, por exemplo, sem
produzir excessos de demanda.
A concepção marxista de relação natureza-Homem, não se distancia das
outras teorias que contribuem para compreensão das contradições e a
dinâmica da relação social entre ser humano e natureza, quer dizer, da
relação entre a economia, a sociedade e o meio-ambiente. A principal razão
consiste em ver o ser humano trabalhador como alguém que transforma a
natureza e, portanto, está incluído em um metabolismo de natureza-
Homem que, por um lado, obedece às leis da natureza quase eternas e, por
outro, está regulado pela dinâmica da formação social capitalista.

Sumário

A problemática ambiental, encontra a sua fundamentação num conjunto de


actividades humanas e naturais que afectam, alteram ou colocam em
perigo a existência da vida, abrangendo todas as formas de actividades
económicas, formas culturais de relações com a natureza, a demografia, a
investigação e a ciência relacionada comos processos anteriores. A
expansão demográfica em proporção geométrica, leva por razões de
sobrevivência, a um crescente uso de recursos naturais e acompanhada
pelo processo de urbanização generalizada, amplia os consumos de energia
nas habitações e os derivados dos meios de transporte, tudo criando danos
e desequilíbrios ambientais. As pressões sobre o ambiente derivados da
evolução económica resumem-se nos seguintes: pressões ligadas à
extracção de recursos naturais, modificação do uso e aproveitamento do
solo em ordem de aumentar a rentabilidade, pressões ligadas à produção
de resíduos de substâncias e energia e os riscos tecnológicos. Estas pressões
sobre o ambiente alteram as condições do meio físico e social.

67
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano68

Portanto urge a necessidade de gestão sustentável dos recursos da


natureza. O desenvolvimento sustentável engloba aspectos da dimensão
económica e social, para além das noções da equidade entre os povos e
gerações, envolve noção de durabilidade e da política.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Perguntas
1- Através de exemplos, explica as limitações a teoria ecomalthusiana
2- Estabeleça semelhanças e particularidades nas três as teorias discutidas

Tema 3- Principais tipos de problemas ambientais e desenvolvimento


sustentável

UNIDADE Temática 3.1- Efeito de estufa

Introdução

O aquecimento global que se vive nos últimos tempos, e resultado da


intensificação do fenómeno efeito de estufa, particularmente sob
influência das actividades humanas. Nesta unidade temática, abordam-se
aspectos relativos ao fenómeno efeito de estufa, destacando o conceito, os
factores, impactos e as possíveis medidas de mitigação

68
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano69

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

▪ Definir o efeito de estufa

▪ Descrever os factores, processos, impactos e possíveis soluções em


Objectivos prol do efeito de estufa
Específicos

Efeito de estufa.

O efeito estufa é um fenómeno natural indispensável para manter a


superfície do planeta terra aquecida. Sem ele, a Terra seria muito fria, cerca
de -19ºC.
O efeito estufa consiste na retenção de calor irradiado pela superfície
terrestre (radiação infravermelha), pelas partículas sólidas e gases em
suspensão na atmosfera, garantindo a manutenção do equilíbrio térmico
do planeta e, portanto, o garante da sobrevivência de várias espécies
vegetais e animais. Sem o efeito de estufa, certamente que seria impossível
a vida na Terra ou, pelo menos, a vida como conhecemos hoje.
Dos gases se efeito de estufa destacam-se: dióxido de carbono (CO2),
metano(CH4), oxido nitroso (N2O), hidrofluorcarbonetos (HFCs),
perfluorcarbonetos (PFCs) e hexafluoreto de enxofre (SF6), sendo o mais
importante a ser combatido o CO2.

Tema Agent Factores Processos Resulta Impactos Possíveis


es dos de soluções
actuaçã
o de
process
os

69
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano70

Gases: Queima Emissão deAumen Risco de perdaO problema


Efeito dióxid de gases parato significativa daexige
Estufa o de combust atmosfera recorde biodiversidade mudanças
carbon íveis da em muitos
o, fósseis. Acumulaçã temper Redução da hábitos de
metan o de gasesatura produtividade consumo. Os
o, CFC, Queima na agrícola e pecuária cidadãos em
vapor de atmosfera Derreti com todo o
de vegetaçã mento consequências na mundo,
água, o Irradiação de segurança enquanto
etc. de calor geleiras alimentar eleitores,
Pecuária pela ou tem o poder
Partícu superfície fusão Inundações de de
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sólidas das desalojando seus
em Expansão/ montan milhares de governos a
suspen dispersão has e pessoas impor
são na dos gases das limites para
atmosf regiões Insuficiência de as emissões
era. Absorção polares água para e a adoptar
do calor consumo, fontes de
Saliniza agricultura e energia
Libertação ção das geração de renováveis
de calor terras energia.
pelos agricult • Substituiçã
gases uráveis Malária pode seo do uso de
propagar maisenergias
Elevaçã rápido num climamais sujas
o domais quente e(petróleo,
nível húmido e doenças carvão) por

70
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano71

dos respiratórias numenergias


oceano clima mais quentemais limpas
s e seco podem se(solar,
ameaça tornar mais eólica,
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próxim As chuvas podemas, biogás)
as ao se tornar mais
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de Verão podemeconomia de
Desertif prejudicar a ofertaenergia:
icação de alimentos, umaaparelhos
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Secas determinam oeficientes,
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O fluorescente
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o da altas significamincandescen
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cia de materiais,
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furacõe • Utilização
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71
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano72

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72
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano73

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73
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano74

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74
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano75

chuvas
mais
fortes e
curtas e
longas
secas.

Em Janeiro de 2005, entrou em vigor na União Européia o primeiro modelo


prático para a redução dos efeitos dos gases de efeito estufa e contra as
consequentes alterações climáticas associadas, seguindo as proposições do
Protocolo de Quioto, o qual sugere a implementação de um comércio de
cotas de emissão entre países.
Adoptado em 1997, o Protocolo de Quioto foi criado com intuito de ser uma
medida prática e eficaz para a redução da emissão de gases de efeito estufa,
como forma de evitar o aumento das drásticas mudanças climáticas que
vêm ocorrendo desde a metade do século passado. Ao abrigo do
documento, os países desenvolvidos que assinaram-no devem reduzir suas
emissões de gases de efeito estufa em 5,2% no período de 2008 a 2012 em
relação aos níveis de 1990.
Ao diferenciar os países desenvolvidos dos países em desenvolvimento, o
Protocolo reconhece que os países desenvolvidos são responsáveis pela
maior parte das emissões de gases com efeito estufa e que estes países têm
maior capacidade financeira e estrutural para arcar com os custos da
redução das emissões.
Para atingir os objectivos a que se propõem, foram estabelecidas medidas
políticas e económicas que tem o intuito de auxiliar os países desenvolvidos
a atingirem seus objectivos aos custos mais baixos possíveis. Conhecidos
como “Kyoto Mechanisms”, estes incluem:
• Comércio Internacional de Emissões: Permite que os países
desenvolvidos comprem ou vendam Cotas de emissão de outros

75
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano76

países. É importante destacar novamente, no entanto, que o


comércio neste caso é feito entre países, não entre empresas, como
propõe o modelo europeu.
• Mecanismo de desenvolvimento Limpo: permite aos países
desenvolvidos alcançarem seus objectivos investindo na
regeneração de áreas poluídas nos países em desenvolvimento,
bem como no desenvolvimento destes países seguindo o modelo de
um desenvolvimento sustentado.

Fundamentos do Sistema de Comércio de Cotas de Emissão


A base do sistema de negociação de emissão é prover a limitação da
quantidade máxima de “permissões” de emissões. Cada “permissão” dá a
empresa que a recebe o direito de emitir 1 tonelada de CO2 por ano. Caso
a empresa não utilize todas as suas “permissões”, poderá então negociá-las
no mercado, que será criado, para aquelas empresas que necessitem emitir
mais do que as “permissões” que lhe foram concedidas. Ao negociar cotas,
fica garantida a redução no nível global de emissões no continente, visto
que a Diretiva prevê logo de início a concessão de um número menor de
“permissões” que o total global do nível de poluição actual.

Alocação das “Permissões”


A distribuição dos certificados pode proceder de forma mista, mas, não
obstante, a parte principal deve ser distribuída gratuitamente para as
empresas participantes do Comércio. No período de 2005 a 2007, os
Estados-membros poderiam vender 5% do total das “permissões” e, a partir
de 2008, este número acresceu para 10% do total.

Monitoração, Controle e Penalidades


Os Estados-membros são responsáveis pela monitoração e controle do
cumprimento da diretiva pelas empresas participantes. As empresas devem
apresentar relatórios anuais de seus níveis de emissão e, caso sejam

76
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano77

encontradas violações ou caso a empresa não consiga cumprir sua meta,


serão impostas penalidades, entre as quais destacam-se multas, publicação
do nome da empresa numa “lista negra” e ainda a diminuição de cotas para
o periodo subsequente

Passos necessários para a implementação do Sistema de Comércio de


Emissões – Resumo
✓ Definição das empresas obrigadas a reduzir suas emissões.
✓ Deve ser estabelecido o nível total de emissão no país.
✓ Definição do nível total de emissão a que se deseja atingir no
período subsequente.
✓ Garantir a real existência de um comércio de emissões suficiente
para toda a economia de cada país.
✓ Garantir que seja implementado um sistema efectivo de
monitoramento bem como a aplicação de possíveis sanções.

Possíveis impactos (do modelo) param as empresas e para o meio-


ambiente.
Incentivo permanente para o desenvolvimento de inovações tecnológicas
As empresas ganham com a redução de suas emissões na medida que
podem negociar a parte de suas cotas que não utilizaram no período.
Portanto, é importante investir em novas formas de energia limpa, por
exemplo, sendo bom tanto para a empresa, quanto para o meio ambiente.

Número fixo de cotas de emissão por período


As novas empresas que desejem entram no mercado deverá comprar
“permissões” no mercado de emissões. Desta maneira, o nível óptimo
definido pelo governo de cada país no início do período não é afectado, ou
seja, os níveis de poluição não aumentarão drasticamente.

77
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano78

Redução global dos níveis de emissão de CO2


Mesmo sabendo que nem todas as empresas vão reduzir suas emissões, o
estabelecimento prévio da quantidade total de emissão de CO2 permitida
garante que o nível global de emissões seja reduzido.
O governo precisa definir correctamente a quantidade total de emissão por
período a fim de garantir uma efectiva redução nos níveis de poluição.
Ainda, é necessário possuir medidas severas e eficientes de controlo,
evitando “trapaças” de companhias que poluam mais que
Poderiam.

Restrições ao crescimento da Economia e geração de distorções


competitivas
Se por um lado as empresas entrantes não gerarão aumentos drásticos nos
níveis de poluição, o facto de não ganharem “permissões” pode ser uma
barreira de entrada no mercado, afectando o crescimento da economia.
Incentivo aos países para auto beneficiar suas empresas
Na medida que os países são responsáveis pela alocação das “permissões”
em suas empresas, estes podem vir a beneficiá-las entregando-lhes cotas
maiores que estas precisam por período. Desta forma, as empresas não
precisariam arcar com os custos de redução das emissões ou de compra de
“permissões” no mercado.
Incerteza quanto a alocação de “permissões” nos períodos subsequentes
A Diretiva não define claramente como será a alocação subsequente de
“permissões”. Desta maneira, é incerto dizer se a projecto terá
continuidade e se sua implementação será eficiente e validada.

Não há dúvidas de que a criação e implementação de um sistema de


Comércio de Cotas de Emissão é válida como tentativa de minimizar as
consequências das alterações climáticas no globo terrestre. Além disso, a
iniciativa é um óptimo termómetro em referência às proposições
do Protocolo de Quito.

78
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano79

No entanto, algumas perguntas seguem sem resposta quanto a eficiência e


real capacidade de redução dos níveis de emissão deste sistema, além de
quanto maléfico este sistema será para a economia. Como será a alocação
inicial de “permissões” (considerando que não há valores históricos
disponíveis em muitos países)? Quem ganhará e quem sairá perdendo? E
os países como a
Alemanha, que já reduziram suas emissões em relação a 1990, receberão
menos cotas? Será que a redução da poluição compensará os possíveis
retrocessos na economia? O que acontecerá com as cotas das firmas que
fecharem durante o primeiro período de aplicação do sistema? Serão
redistribuídas? Como será o tratamento às empresas multinacionais?
Poderão estas transferir suas cotas entre
suas fábricas nos diferentes países gratuitamente? Será que abandonarão
países gerando desemprego e outros malefícios para as economias pelo
facto de não poderem mais produzir a quantidade que podiam
anteriormente? Etc.

Sumário

O efeito de estufa é um fenómeno natural e indispensável para a vida na


terra. No entanto, o seu incremento sob influências das actividades
humanas torna-se preocupante na medida em os níveis de aquecimento
aumentam progressivamente, influenciando a alteração de muitos outros
fenómenos naturais como são os casos das chuvas, ventos, etc.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

79
UnISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
Ano80

Perguntas
Figura. 1- Mapa. Possíveis consequências do incremento do efeito de estufa no mundo.

Fonte: MORRISON, Karen e BOTTARO, Jean; Atllas- Teachers resource book; 2001

1- Observa com atenção o mapa acima e responda as questões abaixo:


1.1- Identifica as regiões do mundo susceptíveis ou que estão em risco de sofrer inundações devido
o aumento do nível das águas do mar.
1.2- Refira-se ao factor associado a susceptibilidade à inundações devido ao aumento do nível das
aguas do mar, das regiões mencionas na questão anterior.
1.3- Aponta algumas implicações de cada uma das consequências apresentadas no mapa acima.

80
ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
81

UNIDADE Temática 3.2- Camada de ozono: formação,


destruição, Impactos e possíveis soluções

Introdução

A camada de ozono desempenha uma função muito importante para a vida


na terra na medida em que se ocupa na retenção dos raios ultravioletas,
que se alcançassem a biosfera seria fatal. No entanto, as acções humanas
vêm colocando a prova a existência da camada de ozono devido a emissão
excessiva dos gases inimigos do ozono. Nesta unidade temática
apresentam-se conteúdos sobre factores da formação e destruição da
camada de ozono, os impactos da destruição da camada de ozono e
possíveis soluções.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

• Descrever os factores de formação e destruição da camada de


ozono
• Explicar as consequências da destruição da camada de ozono
Objectivos
Específicos

Camada de ozono: formação, destruição, Impactos e possíveis soluções

Formação da camada de ozono

81
ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
82

O ozono forma-se por acções de radicações espetro-solares na banda de


1760-1925 Angston de Ruy Shuman, sobre o oxigénio molecular. Ocorre o
processo denominado fotólise, onde as moléculas de oxigénio são
quebradas dando origem a átomos de oxigénio, que por sua vez se
combinam com outras moléculas de oxigénio para formar ozono. Como o
processo é contínuo, o ozono acumula-se e forma um estrato ou camada.

O ozono ocorre na estratosfera e a maior concentração verifica-se entre 20


a 50 km de altitude.
O ozono é raro em altitudes acima de 50 km porque o oxigénio torna-se tão
difuso, muito dele já dissociado em átomos que não permite a colisão entre
as moléculas de oxigénio, enquanto em altitudes abaixo de 10 km, a
formação é quase nula porque o ozono e oxigénio situado acima desse nível
absorvem a maior parte da radiação ultravioleta necessária para activar as
moléculas de oxigénio no processo.

Principais responsáveis da destruição da camada de ozono

• Hidrocarbonetos totalmente clorofluorados (CFC) e, em menor


escala, hidrocarbonetos parcialmente clorofluorados (HCFC)
provenientes da refrigeração, produção de espumas expandidas,
aerossóis e solventes;
• Brometo de metilo proveniente da fumigação dos solos na
agricultura e da queima da biomassa
Realça-se que estes compostos são muito estáveis, pelo que um só átomo
de cloro ou bromo pode vir a destruir milhares de moléculas de ozono antes
de ser removido da estratosfera.

Destruição da camada de ozono

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ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
83

A quantidade de ozono presente na estratosfera é mantida num equilíbrio


dinâmico, por processos naturais, através dos quais é continuamente
formado e destruído. Mas este equilíbrio natural de produção
e destruição do ozono estratosférico tem vindo a ser perturbado devido,
essencialmente, às emissões antropogénicas de compostos halogenados,
tais como os clorofluorocarbonos (CFCs). Existem também fontes naturais
que contribuem para a destruição da camada de ozono. Os vulcões são uma
das principais fontes naturais de poluição da atmosfera. A força das
erupções vulcânicas é tão intensa que faz com que grandes quantidades de
gases sejam transportadas até à estratosfera. As partículas finas e os
aerossóis de ácido sulfúrico contidos nestes gases também podem
desencadear função catalítica e consequentemente, a decomposição do
ozono.

O ozono, é destruído na banda de 2900 Angston de Harthey. As moléculas


de clorofluorcarbono, ou Freon, passam intactas pela troposfera e atingem
a estratosfera, onde os raios ultravioletas do sol aparecem em maior
quantidade e intensidade, quebrando as partículas dos CFCs. Com o
quebramento das partículas dos CFCs, liberta-se o átomo de cloro. Os
átomos de cloro tem a capacidade de romper moléculas de ozónio (O3),
formando monóxido de cloro (ClO) e oxigénio (O2). O processo é contínuo.

Impactos da destruição da camada de ozono

A camada de ozono é fundamental para assegurar a vida na Terra, uma vez


que tem a capacidade de absorver grande parte da radiação ultravioleta,
que pode provocar efeitos nocivos nos seres vivos.
De entre esses efeitos destaca-se:
✓ A possibilidade de ocorrerem alterações do ADN (principais
responsáveis pelo aparecimento de cancro de pele);
✓ Alterações do sistema imunitário (com aparecimento de doenças
infecciosas);
83
ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
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✓ Alterações da visão (com o aparecimento de cataratas);


✓ Atraso nas estações do ano;
✓ Ruptura nas cadeias alimentares;
✓ Contribui também para o aumento da temperatura e
consequentemente ao degelo dos calotes polares;
✓ Danos nas colheitas;
✓ Nos ecossistemas aquáticos, a intensificação das radiações
ultravioleta coloca problemas inquietantes, pois interfere no
crescimento, na fotossíntese e na reprodução do plâncton.
✓ Inibe a fotossíntese, produzindo lesões nas folhas;
✓ Nos animais, provoca irritação e ressecamento das mucosas do
aparelho respiratório, além de envelhecimento precoce.
✓ A radiação ultravioleta afecta, igualmente, os ciclos bio
geoquímicos, como o ciclo do carbono, do azoto e o ciclo dos
nutrientes minerais, entre outros, lesando globalmente toda a
biosfera do planeta, etc.

Buraco de ozono acentuado na Antártida

O buraco de ozono acentuado na Antártida, associa-se às alterações dos


padrões de circulação atmosférica e à questão da temperatura.
Durante o Inverno o intenso arrefecimento radiactivo na noite Antártica
conduz a temperaturas na estratosfera, da ordem de -85º C ou inferiores;
nestas condições, o pouco vapor de água presente na estratosfera forma
nuvem de cristais de gelo, as PSC (Polar Stratospheric Clouds). A formação
de cristais de gelo é crucial na destruição de ozono, pois na superfície dos
referidos cristais fixam-se compostos de cloro inertes, convertem-se em
formas activas, capazes de o destruir sob a acção da radiação UV.
Por outro lado, a destruição do ozono dá-se enquanto a atmosfera sobre
a Antártica está isolada da circulação atmosférica global pelo vórtice
circumpolar, formando um gigantesco reactor de onde os agentes
reactivos não podem sair. Ou
84
ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
85

seja, Durante a noite do grande Inverno polar o Sol não atinge o Pólo Sul.
Desenvolve-se uma massa de ar rotativa, um conjunto de fortes ventos
polares chamado «vórtice polar», que aprisiona o ar, provocando a
mistura do ozono com os CFCs e outras substâncias.
Em Novembro, o vórtice circumpolar enfraquece e permite que ar mais
quente, rico em ozono, proveniente de latitudes mais baixas invada a
estratosfera; as nuvens de cristais de gelo, vaporizam e a concentração de
ozono regressa aos valores normais.

Algumas medidas para minimizar a destruição da camada de ozono

✓ Tentar usar produtos com a etiqueta “amigo do ozono”;



e certificar-se que estes não emitem CFC´s para a atmosfera;

Sumário

O ozono desempenha uma função muito importante para a biosfera na


medida em que faz a retenção dos raios ultravioletas. O ozono forma-se e
destoe-se naturalmente, numa situação de equilíbrio dinâmico. Entretanto,
a emissão massiva de gases inimigos do ozono faz com que os níveis de
destruição sejam superiores aos de formação, provocando o chamado
buraco de ozono, com consequências nefastas para a vida na terra.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Perguntas
1- Explica como é que o buraco de ozono é mais acentuado na região da
Antártida
2- Refira-se as consequências ecológicas da destruição da camada de
ozono

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ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
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UNIDADE Temática 3.3- Chuvas ácidas (causas, efeitos e


possíveis medidas de mitigação)

Introdução

As chuvas ácidas constituem um fenómeno de regiões altamente


industrializadas e podem provocar avultados danos ambientais. Nesta
unidade temática são descritas as causas e consequências das chuvas ácidas
para além das possíveis medidas que podem ser desenvolvidas de modo a
prevenir a ocorrência de chuvas ácidas.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

• Descrever os factores da ocorrência das chuvas ácidas


• Identificar os impactos das chuvas ácidas

Objectivos • Explicar as medidas de mitigação das chuvas ácidas

Específicos

Chuvas ácidas (factores, impactos e possíveis soluções).

A denominação de chuva ácida é utilizada para qualquer chuva que possua


um valor de pH inferior a 4,5.
Esta acidez da chuva é causada pela solubilização de alguns gases presentes
na atmosfera terrestre cuja hidrólise seja ácida. Entre estes destacam-se os

86
ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
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gases contendo enxofre proveniente das impurezas da queima dos


combustíveis fósseis.
Pode também dizer-se que as chuvas "normais" são ligeiramente ácidas,
pois apresentam um valor de pH próximo de 5,6. Essa acidez natural é
causada pela dissociação do dióxido de carbono em água, formando um
ácido fraco, conhecido como ácido carbónico, de acordo com a reacção
química que se apresenta abaixo:
CO2 (g) + H2O (l) ---› H2CO3 (aq)
Embora existam processos naturais que contribuem para a acidificação da
precipitação, com destaque para os gases lançados na atmosfera pelos
vulcões e os gerados pelos processos biológicos que ocorrem nos solos,
pântanos e oceanos, as fontes antrópicas, isto é resultantes da acção
humana, são claramente dominantes.

A prova dessa predominância foi obtida pela determinação da diferença


entre a acidez da precipitação nas zonas industrializadas e em partes
remotas do globo, pela comparação da acidez actual com o registo deixado
pela captura da precipitação no gelo dos glaciares ao longo de milhões de
anos e pelo registo deixado nos fundos de lagos e oceanos pela deposição
de restos orgânicos indiciadores das condições de acidez prevalecentes.
A análise das camadas de gelo depositadas em glaciares e nas calotas
polares mostram uma rápida diminuição do pH da precipitação a partir do
início da Revolução Industrial, passando em média de 5,6 para 4,5 ou
mesmo 4,0 nalgumas regiões, mostrando um forte acidificação.
Igual conclusão é retirada da análise da prevalência de espécies de
diatomáceas em camadas de sedimento recolhidos do fundo de lagos,
confirmando a correlação entre a industrialização e a diminuição do pH da
precipitação.
A acção humana no nosso planeta é assim a grande responsável por este
fenómeno. As principais fontes humanas desses gases são as indústrias, as
centrais termoeléctricas e os veículos de transporte. Estes gases podem ser

87
ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
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transportados durante muito tempo, percorrendo milhares de quilómetros


na atmosfera antes de reagirem com partículas de água, originando ácidos
que mais tarde se precipitam.
A precipitação ácida ocorre quando a concentração de dióxido de enxofre
(SO2) e óxidos de azoto (NO, NO2, N2O5) é suficiente para reagir com as
gotas de água suspensas no ar (as nuvens).
Tipicamente, a chuva ácida possui um pH à volta de 4,5, podendo
transformar a superfície do mármore em gesso.

A chuva ácida industrial é um problema substancial na China, na Europa


Ocidental, na Rússia e em áreas sob a influência de correntes de ar
provenientes desses países. Os poluentes resultam essencialmente da
queima de carvão com enxofre na sua composição, utilizado para gerar
calor e electricidade. Mas nem sempre as áreas onde são libertados os
poluentes, como as áreas industriais, sofrem as consequências dessas
chuvas, justamente porque a constante movimentação das massas de ar
transporta esses poluentes para zonas distantes. Por esta razão, a chuva
ácida é, também considerada uma forma de poluição transfronteiriça, já
que as regiões que não poluem podem ser severamente prejudicadas pela
sua precipitação.

Formação de chuvas ácidas


Os dois principais compostos que estão na origem deste problema
ambiental dão origem a processos diferentes de formação de ácidos:
1- O Enxofre

O enxofre é uma impureza frequente nos combustíveis fósseis,


principalmente no carvão mineral e no petróleo, que ao serem queimados
também promovem a combustão desse composto, de acordo com as
seguintes reacções químicas:
S (s) + O2 (g) ---› SO2 (g)
2 SO2 (g) + O2 (g) ---› 2 SO3 (g)
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ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
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O enxofre e os óxidos de enxofre podem também ser lançados na atmosfera


pelos vulcões.
Os óxidos ácidos formados reagem com a água para formar ácido sulfúrico
(H2SO4), de acordo com a equação:
SO3 (g) + H2O (l) ---› H2SO4 (aq)
Ou pode também ocorrer a reação seguinte, formando-se ácido sulfuroso
(H2SO3):
SO2 (g) + H2O (l) ---› H2SO3 (aq)
O Azoto

O azoto (N2) é um gás abundante na composição da atmosfera e muito


pouco reactivo. Para reagir com o oxigénio do ar precisa de grande
quantidade de energia, como a que se liberta numa descarga eléctrica ou
no funcionamento de um motor de combustão. Estes motores são
actualmente os maiores responsáveis pela reacção de oxidação do azoto.
Os óxidos, ao reagir com água, formam ácido nitroso (HNO2) e ácido nítrico
(HNO3), de acordo com as seguintes reacções químicas:
Na câmara de combustão dos motores, ocorre a seguinte reacção
química:
N2 (g) + O2 (g) ---› 2 NO (g)
O monóxido de azoto (NO) formado, na presença do oxigénio do ar,
produz dióxido de azoto:
2 NO (g) + O2 (g) ---› 2 NO2 (g)
Por sua vez, o dióxido de azoto formado, na presença da água
(proveniente da chuva), forma ácidos de acordo com a equação:
2 NO2 (g) + H2O (l) ---› HNO3 (aq) + HNO2 (aq)

Impactos ambientais das chuvas acidas


Há uma forte relação entre baixos níveis de pH e a perda de populações de
peixes em lagos. Com um pH abaixo de 4,5, praticamente nenhum peixe
sobrevive, enquanto níveis iguais ou superiores a 6 promovem populações
saudáveis.
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ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
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O baixo pH também faz circular metais pesados como o alumínio nos lagos.
O alumínio faz com que alguns peixes produzam muco em excesso, na zona
das guelras, prejudicando assim a sua respiração. O crescimento do
fitoplâncton é inibido pelos grandes níveis de acidez e os animais que se
alimentam dele são dessa forma prejudicados.

As árvores são prejudicadas pelas chuvas ácidas de vários modos. A


superfície cerosa das suas folhas é rompida e os nutrientes perdem-se,
tornando as árvores mais susceptíveis ao gelo, a fungos e a insectos. O
crescimento das raízes torna-se mais lento e, em consequência disso,
menos nutrientes são transportados. Os iões tóxicos acumulam-se no solo
e os minerais valiosos para estas espécies são dispersados ou (no caso dos
fosfatos) tornam-se próximos à argila.
Os iões tóxicos libertados devido às chuvas ácidas constituem a maior
ameaça aos seres humanos. O cobre mobilizado foi implicado nas
epidemias de diarreia em crianças jovens e acredita-se que existem ligações
entre o abastecimento de água contaminado com alumínio e a ocorrência
de casos da doença de Alzheimer.

A chuva ácida liberta metais tóxicos que estavam no solo. Esses metais
podem contaminar os rios e serem inadvertidamente utilizados pelo
homem causando sérios problemas de saúde
A chuva ácida também ajuda a corroer alguns dos materiais utilizados nas
construções, danificando algumas estruturas, como as barragens, as
turbinas de geração de energia, etc.

Lagos - Os lagos podem ser os mais prejudicados com o efeito das chuvas
ácidas, pois podem ficar totalmente acidificados perdendo toda a sua vida.

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ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
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Desflorestação - A chuva ácida provoca clareiras, matando algumas árvores


de cada vez. Podemos imaginar uma floresta, que vai sendo
progressivamente dizimada, podendo eventualmente ser até destruída.

Agricultura - A chuva ácida afecta as plantações quase da mesma forma que


as florestas, no entanto a destruição é mais rápida, uma vez que as plantas
são todas do mesmo tamanho e assim, igualmente atingidas pelas chuvas
ácidas.

Possíveis soluções
De uma forma resumida, poderemos apontar algumas soluções que, a
serem adoptadas contribuirão decisivamente para a diminuição das chuvas
acidas:
✓ Incentivar a utilização dos transportes colectivos, como forma de
diminuir o número de veículos que circulam nas estradas.
✓ Utilizar metros (subterrâneos ou de superfície) em substituição à
frota de autocarros a diesel, ou então promover a sua substituição
por frotas não poluentes (com recurso a motores eléctricos, por
exemplo).
✓ Incentivar a descentralização industrial.
✓ Dessulfurar os combustíveis com alto teor de enxofre antes da sua
distribuição e consumo.
✓ Dessulfurar os gases de combustão nas indústrias antes do seu
lançamento na atmosfera.
✓ Subsidiar a utilização de combustíveis limpos (gás natural, energia
eléctrica de origem hidráulica, energia solar e energia eólica) em
fontes de poluição tipicamente urbanas como hospitais, lavandarias
e restaurantes.
✓ Utilizar combustíveis limpos em veículos, indústrias e caldeiras.

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ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
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Sumário

As chuvas ácidas são resultado de actividades antrópicas que resultam na


emissão de substâncias (enxofre e nitrogénio) e na atmosfera reagem com
a água, formando ácidos muito perigosos para a vida e outros processos
que ocorrem na terra. A mitigação dos impactos das chuvas ácidas, passa
necessariamente pela mudança de materiais que provocam a emissão de
enxofre e outros elementos associados.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Perguntas

1- Através de um exemplo, explica como é que as chuvas ácidas podem contribuir no


rendimento agrícola.
2- Entre um rio e um lago, onde e que os efeitos das chuvas acidas podem ser mais
severas. Justifica a sua resposta.

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UNIDADE Temática 3.4- Ilhas de calor (causas, efeitos e


possíveis medidas de mitigação)

Introdução

As ilhas de calor, constituem efeito de estufa localizado que normalmente


ocorrem em regiões altamente industrializadas. Nesta unidade temática
são abordados os factores relacionados com a ocorrência de ilhas de calor,
os efeitos e as possíveis soluções.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

▪ Explicar os factores da ocorrência de ilhas de calor

▪ Descrever os efeitos das ilhas de calor


Objectivos
▪ Identificar medidas de mitigação de ilhas de calor
Específicos
Ilhas de calor (factores, impactos e possíveis soluções).
Os grandes centros urbanos vêm se transformando em “ilhas de calor”,
contribuindo significativamente para o aquecimento global. “Ilhas de calor”
é a designação dada à distribuição espacial e temporal da temperatura

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ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
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sobre as cidades que apresentam um efeito, como uma espécie de ilha


quente localizada.
As ilhas de calor surgem da simples presença de edificações e das alterações
de paisagens feitas pelo homem nas cidades. A superfície urbana apresenta
especificidades em relação à capacidade térmica e a densidade dos
materiais utilizados na sua construção: asfalto, concreto, telhas, vidros.
Esses materiais, que constituem as superfícies urbanas, tais como: ruas,
prédios, telhados, estacionamentos, etc. caracterizam-se pela grande
capacidade de reflexão e emissão de radiação térmica, diferenciadas em
relação às áreas rurais e paisagens naturais. Dificultam a impermeabilização
da superfície e provocam alterações do albedo.
O modelo geométrico definido pelas construções de casas, prédios e ruas
das cidades, denominado “Cânion Urbano”, corresponde à cavidade de ar
acima das ruas, limitado lateralmente pelas paredes das edificações. A
parte superior da cavidade é aberta para o céu permitindo apenas a entrada
e saída limitada da radiação solar durante o dia e a saída da radiação
infravermelha ao longo do dia.

Causas das ilhas de calor


Causas que explicam a formação das ilhas de calor nas grandes cidades:
Poluição do ar: o efeito de interacção e a poluição atmosférica, constituída
de partículas e de diferentes gases, como os gases do efeito estufa,
provocam alterações locais no balanço de energia e radiação contribuindo
para a formação das ilhas de calor.
Fontes antrópicas de calor: emissões antrópicas de calor, a humidade
associada à queima de combustíveis fósseis, o funcionamento dos
aparelhos de ar condicionados. As fontes antrópicas , aumentam a
quantidade de gás carbónico e, em consequência, aumentam também a
temperatura dos centros urbanos.
Mudanças no balanço da radiação: a retenção da radiação solar,
decorrentes do efeito da geometria do “Cânion urbano”, agravada pela

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ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
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elevação dos prédios e redução na largura das ruas, alterando o albedo


urbano, aumentando a absorção dos raios infravermelhos, elevando a
temperatura média nas grandes cidades.
Redução das áreas verdes: diminuição do efeito da evapotranspiração pela
impermeabilização das superfícies urbanas e redução das áreas verdes nas
cidades. A redução das áreas cobertas por vegetação, diminui a extensão
das superfícies de evaporação dos lagos e rios e a evaporação dos parques,
bosques, jardins e bulevares. Assim como outras actividades humanas,
também alteram os microclimas urbanos contribuindo para o aumento do
desconforto ambiental nas grandes cidades.

Albedo de uma superfície


A radiação solar, ao incidir sobre qualquer corpo, vai, em maior ou menor
quantidade, sofrer uma mudança de direcção, sendo reenviada para o
espaço por reflexão.
A fracção de energia reflectida por uma superfície em relação ao total de
energia nela incidente (expresso em percentagem) designa-se por albedo.
As superfícies de cor clara, como a neve, têm um albedo elevado,
reflectindo quase a totalidade da energia solar nelas incidente, logo não
aquecem muito.
As superfícies de cor escura têm uma albedo muito fraco, o que se traduz
numa grande absorção de radiação solar e num consequente aquecimento.
As florestas têm um albedo fraco, na medida em que são corpos
relativamente escuros e de superfície desigual.

Por outro lado, quanto maior a inclinação dos raios solares maior é o albedo.
O albedo é definido como o índice de reflexão dos raios solares. Quanto
maior a reflexão, menor será o calor acumulado. Ao atingirem a superfície,
os raios solares encontram diferentes materiais como o gelo ou o asfalto, o
gelo é muito claro e por isso reflecte a maior parte da energia solar (albedo
de 50 a 70% e absorve 50 a 30%), a cidade é muito mais escura e reflecte

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ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
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apenas de 14 a 18% (absorve 86 a 82% da energia solar).


Consequentemente a cidade é muito mais quente que as superfícies
brancas. Por sua vez, as florestas reflectem de 3 a 10% e a água reflecte de
2 a 4%.

Efeitos das ilhas de calor


São fenómenos microclimáticos favoráveis ao aumento da temperatura em
uma área que pode chegar até 10 graus de diferença em relação as áreas
no entorno
Contribui para o aumento da precipitação convectiva, das tempestades
associadas a nuvens do tipo cúmulos-nimbos , sobre a área urbana e ao
arrastamento desse sistema.
Agravam as ondas de calor, provocando o aumento da mortalidade de
idosos e doentes, com redução da capacidade termorreguladora corpórea.

Medidas de mitigação das ilhas de calor


Evitar a impermeabilização solo urbano: reduzir as áreas pavimentadas,
para permitir o aumento do processo de evaporação e
evapotranspiração urbana, que contribui também para diminuir a
incidência de enchentes e deslizamentos de terra.

Aumento das áreas verdes na cidade: a vegetação diminui os índices de


calor e ajuda na manutenção da humidade do ar, bem como a absorção dos
gases, como o dióxido de carbono, emitidos pela queima dos combustíveis
fósseis nos veículos e chaminés das indústrias.

Evitar a construção de prédios muito altos e muito próximos uns dos outros,
os quais aumentam o grau do “Cânion urbano”, contribuindo para o
deslocamento do ar quente para outras áreas da região.
Proibir o uso de aparelhos de ar condicionados, a fim de diminuir a elevação
média da temperatura.

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Diminuir a circulação de veículos automotores movidos a combustíveis


fósseis, cuja queima contribui para o aumento da poluição e do efeito
estufa, cada vez maior na camada atmosférica, que impede a dissipação do
calor no período nocturno.
Substituir o uso de concreto nas grandes edificações por outros materiais
que absorvam o calor durante o dia, reduzindo a temperatura no interior
da cidade.
Filtrar a emissão dos gases poluentes, gerados pela poluição das fábricas,
que atacam a camada de ozónio nas partes mais baixa da atmosfera. Estes,
oxidam-se e, com a humidade da chuva, transformam-se em ácidos que, ao
se precipitarem, atacam o solo, a água e as plantas.

Substituir as calçadas concretizadas por calçadas sextavadas ou de


montagem, pois proporcionam uma melhor absorção da água das chuvas,
irrigando o solo logo abaixo das calçadas.

Uso obrigatório de catalisadores nos veículos automotores e motocicletas,


para diminuir a emissão de gases que aumentam o efeito estufa.

Cuidar dos rios e lagos existentes na cidade, pois estes contribuem para a
diminuição da poluição, com a evapotranspiração.

Sumário

As ilhas de calor são típicos dos centros urbanos pelas suas características
que favorecem a ocorrência do fenómeno. Caracterizam-se pelo
aquecimento relativamente elevado em relação as regiões adjacentes,
como resultado da interacção duma diversidade de factores com destaque
a concentração das fontes de emissão de gases com maior poder de
retenção de calor, reduzidos espaços verdes, asfaltos e a influencia dos
edifícios na circulação do ar.

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Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Perguntas
1- Explica a função dos espaços verdes na mitigação dos efeitos de ilhas de
calor
2-Explica as causas da ocorrência de ilhas de calor nos centros urbanos

UNIDADE Temática 3.5- Desenvolvimento sustentável


(conceito, variáveis da sustentabilidades, indicadores do
desenvolvimento sustentável

Introdução

O desenvolvimento sustentável é uma utopia orientadora dos processos de


desenvolvimento. Nesta unidade temática são apresentadas as linhas
orientadoras do desenvolvimento, destacando as diferentes variáveis de
desenvolvimento, indicadores de desenvolvimento, as características de
desenvolvimento sustentável para além das estratégias de implementação.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

▪ Descrever as variáveis de sustentabilidade

▪ Identificar os indicadores sociais, económicos e ambientais do


Objectivos desenvolvimento sustentável
Específicos

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▪ Descrever as características e estratégias de desenvolvimento


sustentável

Desenvolvimento sustentável (conceito, variáveis da sustentabilidades,


indicadores do desenvolvimento sustentável e eventos em prol do
desenvolvimento sustentável
O desenvolvimento sustentável trata de revitalizar o crescimento
económico, reorientando-o de maneira que as questões ambientais sejam
incluídas nos cálculos económicos.
O desenvolvimento sustentável é um tipo de desenvolvimento orientado a
garantir a satisfação das necessidades fundamentais da população e a
elevar a sua qualidade de vida, por meio do maneio racional dos recursos
naturais, propiciando sua conservação, sua recuperação, sua melhoria e
usos adequados, por intermédio de processos participativos e de esforços
locais e regionais, de tal maneira que tanto esta geração quanto as futuras
tenham a possibilidade de usufrui-los com equilíbrio físico e psicológico,
sobre bases éticas e de equidade, garantindo-se a vida em todas as suas
manifestações e a sobrevivência da espécie humana.
O desenvolvimento sustentável pode ser analisado como um conceito
(metaconceito) inacabado e aberto, um modo de linguagem nova na
relação humana com a biosfera e seus processos.
De acordo Herrero (1992), o conceito (metaconceito) de desenvolvimento
sustentável apresenta quatro vantagens:
Baseia-se em um acordo geral quanto à definição de toda uma série de
problemas inter-relacionados e em torno do contexto no qual é preciso
buscar soluções.
Trata-se de um conceito de aplicabilidade universal.
Significa uma unificação de interesses tradicionalmente contrários.

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ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
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Abre um espaço de reconciliação entre economia e ecologia, reforçando a


estratégia de crescimento económico sobre a base de transformações em
sua estrutura.

Variáveis da sustentabilidade
Sustentabilidade ecológica
Base física do processo de crescimento e tem como objectivo a conservação
e o uso racional do estoque de recursos naturais incorporados às
actividades produtivas
Sustentabilidade ambiental
Capacidade de suporte dos ecossistemas associados de absorver ou se
recuperar das agressões derivadas da acção humana (acção antrópica),
implicando um equilíbrio entre as taxas de emissão e/ou produção de
resíduos e as taxas de absorção e/ou regeneração da base natural de
recursos
Sustentabilidade demográfica
Os limites da capacidade de suporte de determinado território e de sua
base de recursos e implica cotejar os cenários ou as tendências de
crescimento económico com as taxas demográficas, sua composição etária
e os contingentes de população economicamente activa esperados

Sustentabilidade cultural
Necessidade de manter a diversidade de culturas, valores e práticas
existentes no planeta, no país e/ou numa região e que integram ao longo
do tempo as identidades dos povos
Sustentabilidade social
Objectiva promover a melhoria da qualidade de vida e a reduzir os níveis de
exclusão social por meio de políticas de justiça redistributiva
Sustentabilidade política
Relacionada à construção da cidadania plena dos indivíduos por meio do
fortalecimento dos mecanismos democráticos de formulação e de

100
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implementação das políticas públicas em escala global, diz respeito ainda


ao governo e à governabilidade nas escalas local, nacional e global
Sustentabilidade institucional
Necessidade de criar e fortalecer engenharias institucionais e/ou
instituições cujo desenho e aparato já levem em conta critérios de
sustentabilidade
Indicadores de desenvolvimento sustentável
Económicos
✓ Crescimento
✓ Equidade
✓ Eficiência

Sociais
✓ Participação
✓ Equidade
✓ Organização
✓ Identidade cultural
✓ Desenvolvimento institucional
✓ Educação
Ambientais
✓ Protecção
✓ Restauração
✓ Conservação
✓ Auto-regulação
✓ Biodiversidade
✓ Emissões globais

Características do desenvolvimento sustentável

O desenvolvimento sustentável pode ser analisado como um conceito


(metaconceito) inacabado e aberto, um modo de linguagem nova na
relação humana com a biosfera
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e seus processos, assinalando um horizonte no qual se situa uma cidadania


mais preocupada e conscientizada, governos comprometidos e
pesquisadores que tratam de recuperar o sentido da ciência.
De acordo Herrero (1992), o conceito (metaconceito) de desenvolvimento
sustentável apresenta as seguintes vantagens : Baseia-se em um acordo
geral quanto à definição de toda uma série de problemas inter-relacionados
e em torno do contexto no qual há que buscar soluções; Trata-se de um
conceito de aplicabilidade universal; Significa uma unificação de interesses
tradicionalmente contrários; Abre uma fenda de reconciliação entre
economia e ecologia, reforçando a estratégia de crescimento econômico
sobre a base de transformações em sua estrutura.
Com efeito, ao se considerar que os fatores de produção são os recursos
naturais, a mão-de-obra e o capital, o uso de menos recursos naturais
torna-se possível empregando-se uma maior quantidade dos outros dois
factores.

Por sua vez, Daly, citado por Rivas (1997), afirma que para que uma
sociedade seja fisicamente sustentável, seus insumos globais, materiais e
energéticos devem cumprir três condições: que suas taxas de utilização de
recursos não renováveis não excedam as suas taxas de regeneração; que
tampouco excedam a taxa com a qual os substitutivos renováveis se
recuperam, e que suas taxas de emissão de agentes contaminantes estejam
de acordo com a capacidade de assimilação do meio ambiente.

A teoria de sistemas, segundo Meadows e Randers (1992), explica que uma


sociedade sustentável é aquela que põe em funcionamento os mecanismos
de informação, sociais e institucionais, para manter sob controle os
aspectos positivos de retroalimentação ou acção corretiva de seus
processos, que geram o crescimento exponencial da população e o capital.

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Caso o sistema economico funcionasse como um sistema fechado e isolado,


não promoveria o intercâmbio de matéria e energia com o exterior, e
tampouco seria afectado pelos processos sociais de mudança, isto é,
precisaria de "meio ambiente". Porém a realidade mostra que isto não é
assim e que o sistema econômico funciona com uma dinâmica de sistema
aberto. Logo, a análise econômica vem introduzindo considerações de tipo
histórico, social e institucional, porém não tem se aprofundado nos
princípios energéticos, ecológicos e ambientais, de vital importância para a
economia.
Trata-se pois de um conceito dinâmico, no qual o sistema econômico e o
ecossistema complementam-se. Trata-se de uma estratégia planetária, na
qual todos os grupos sociais e todas as nações se acham comprometidas.

Do ponto de vista político, é que o conceito de desenvolvimento deve


incluir valores como a liberdade ideológica e política, para o qual o sistema
político e social devem prover os mecanismos e canais adequados. Isto leva
à necessidade de instituições democráticas que sejam coerentes com o
passado histórico de cada nação e com o sistema de valores de sua
população. Esses valores requerem mecanismos e instituições que
permitam a livre expressão de cada membro da comunidade e sua
participação nos processos de tomada de decisões. Mediante a participação
efetiva é que o processo de desenvolvimento pode ser orientado para os
objetivos dos valores da sociedade. Esse objectivo é um componente
indispensável do desenvolvimento, conceito que não se pode restringir à
satisfação das necessidades biológicas de sobrevivência ou materiais,
criadas pelo sistema socioeconômico.

Na perspectiva ética, o conceito de desenvolvimento deve respeitar valores


de justiça social e de eqiidade economica, impedir a discriminação social,
política, religiosa ou economica, de todo tipo, e garantir a segurança
individual e coletiva, assim como o respeito aos direitos humanos.

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É indiscutível que a pobreza, as situações de sub-consumo, a falta de


emprego ou as desigualdades de acesso ao mesmo e aos meios produtivos,
incluindo, de forma particular, a falta de acesso ao conhecimento científico
e tecnológico, não são somente incompatíveis com o conceito de
desenvolvimento, mas os maiores obstáculos para a sua consecução. Suas
existências são causas de desajustes sociais, de conflitos políticos e
econômicos, e convidam à violência dos direitos humanos básicos: o direito
a sobreviver decentemente. Conduzem a situações de domínio e opressão,
à subordinação de indivíduos e grupos sociais com a conseqüente perda de
liberdade.

O desenvolvimento como meta e tarefa, isto é, como projecto, deve


garantir que os mecanismos, estruturas e processos que permitem a
satisfação de necessidades inerentes ao indivíduo e à sociedade sejam
preservados e desenvolvidos definitivamente, para um maior bem-estar da
sociedade presente e futura.

Cada visão de sustentabilidade abre um campo de opções políticas e


estratégicas. Assim, o discurso convencional sobre desenvolvimento
sustentável estabelece a necessidade de se incorporar os custos
ambientais, isto é, os custos que qualquer ação exerce sobre o meio
ambiente (impactos, contaminação, resíduos, restauração) aos processos
de tomada de decisões. O cálculo e a incorporação destes custos,
entretanto, são assumidos como coisas triviais, que não estão pré-
estabelecidos e que nem sempre são traduzíveis a preços de mercado, já
que implicam processos ecológicos, valores culturais e interesses sociais,
muitas vezes divergentes.
A idéia de se construir uma "racionalidade produtiva alternativa" é
novamente cobrada, na qual o ambiente não seja avaliado como um custo,
mas como um potencial produtivo. Porém, para esta concepção de

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sustentabilidade, o potencial ambiental resultante em cada caso dependerá


de diferentes estratégias possíveis de maneio dos recursos naturais, que
dependem consequentemente das particulares condições ecológicas,
econômicas, culturais e políticas de cada Estado e de cada município (Leff,
1996).
Para Rivas (1997), ante os preocupantes sinais de crescimento
insustentável da sociedade, as respostas possíveis são três:
✓ Uma primeira resposta mais ou menos convencional: disfarçar,
negar ou confundir; isto se consegue escondendo e exportando os
resíduos, controlando preços, transladando os custos ao meio
ambiente, buscando novos recursos, etc.
✓ Uma segunda resposta consiste em aliviar a pressão do planeta
mediante artifícios de tipo tecnológico (tecnosfera), porém sem
abordar as causas profundas que subjazem sob os problemas
(sociosfera); trata-se de uma posição ambientalista de caráter
reformista, que apesar de ser necessária nunca pode ser definitiva.
✓ A terceira resposta é aquela que segue na direção do replanear as
coisas a partir de uma análise profunda das causas e da mudança
das estruturas; é evidente que esta posição tem um sentido moral
mais profundo, razão pela qual seja também a mais sustentável.
A sustentabilidade obedece linhas bem definidas, a saber:
✓ Valores sociais como a eficiência, justiça e eqüidade.
✓ Regeneração dos valores políticos (e da prática política).
✓ Suficiência material e segurança para todos.
✓ Estabilidade populacional em seu mais amplo sentido.
✓ Trabalho como forma de realização e dignidade pessoal.
✓ Economia como um meio e não como um fim.
✓ Sistemas de energia eficientes e renováveis.
✓ Sistemas de materiais cíclicos e eficientes.
✓ Agricultura regenerativa de solos.

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✓ Acordo social sobre certos impactos que a Natureza não pode


assumir.
✓ Preservação da diversidade biológica e cultural.
✓ Estruturas políticas que permitam um equilíbrio entre o curto e
o longo prazo.
✓ Resolução dialogada dos conflitos.
As linhas anteriores podem também ser interpretadas sob três condições
para que o desenvolvimento sustentável seja uma alternativa viável:
progresso científico, tecnologia social e nova estrutura de tomada de
decisões. O progresso científico segue sendo necessário em distintas
frentes, como o da investigação na busca de métodos mais eficientes no
uso da energia ou dos materiais. A tecnologia social, em forma de
instrumentos mais adequados para o estudo das sociedades, suas
dinâmicas e estruturas, são imprescindíveis para que se possa sair do círculo
vicioso do comportamento humano como espécie, tanto ao nível individual,
como ao dos estados-nações. Uma nova estrutura na tomada de decisões
pode favorecer a integração dos factores socioeconomicos e ambientais na
definição das políticas a serem seguidas e nos esquemas de planeamento e
gestão.

Paradigmas e estrategias de desenvolvimento

Segundo Gómez Orea (1997), nos países economicamente mais


desenvolvidos, o conceito de integração ambiental nas actividades
economicas substitui a percepção do meio ambiente como obstáculo ao
desenvolvimento, sendo considerado, por outro lado, como um grande
fundo de emprego e de renda, capaz de absorver os activos originados pela
agricultura e pela indústria.

O emprego se converte não somente em fornecimento de renda, mas


também como instrumento de
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inserção na sociedade. A idéia, segundo o autor, é aplicável aos setores


clássicos da economia, a saber:
O meio rural: Diante da crise agrícola mais ou menos generalizada na
Europa, o meio rural percebe um raio de esperança na crise ambiental, pois
esta pode muito bem trazer como conseqeência o reconhecimento das
funções cumpridas pelo campo nos centros de actividade economica e no
conjunto da sociedade na medida em que os centros de atividade industrial
são produtores finais de contaminação, o campo é o sumidouro final dos
poluentes atmosféricos e um filtro para os resíduos. Os centros de
actividade industrial estão submetidos ao princípio de "quem contamina
paga", aos habitantes rurais pode ser aplicado esse mesmo princípio, no
sentido positivo: "o que conserva cobra". O campo dispõe de recursos
ambientais crescentemente demandados pela sociedade, alguns tão
intangíveis quanto a paisagem, porém suscetíveis de gerar actividades
economicas e de actuar como veículos de transferência de rendas urbanas
para o meio rural.
O setor industrial: No setor industrial as exigências ambientais actuam
como um elemento indesejável porém dinamizador para a revisão dos
processos produtivos, que devem ser adaptados a uma norma de acordo
com tais exigências. Tudo isto significa um esforço em Investigação e
Desenvolvimento que tem, pelo menos, três efeitos a médio prazo: A
diminuição dos resíduos industriais; A melhoria da eficiência produtiva em
termos de matéria-prima e energia; A geração de uma nova indústria de
equipamentos ambientais e tecnologias corretivas.
O sector de serviços: No setor de serviços o meio ambiente constitui um
importantíssimo campo de actividades, abrangendo a pesquisa,
capacitação, formação, consultoria e engenharia ambiental, seguros e as
instituições financeiras.

Na perspectiva da economia produtiva e do emprego, o meio ambiente é


um fator de localização de actividades economicas de vanguarda, que

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buscam climas agradáveis, ambientes limpos, entornos ordenados, etc., e


que desprezam os lugares desprestigiados em virtude da degradação
ambiental.

Uma bela paisagem, que nada mais é do que a manifestação externa do


ambiente supostamente sadio, é indissociável de uma correta ordenação
do território. Ao contrário, um ambiente degradado evidencia uma
negligência na gestão do desenvolvimento e da ordem territorial.

A visão renovadora

Para Leff (1996), vários sucessos inesperados chamaram a atenção mundial


nos últimos anos: a queda do socialismo, a competição dos mercados
internacionais, os tratados de livre comércio, as mudanças constitucionais
referentes à liberação do campo, a participação da sociedade civil na
política, o reconhecimento dos direitos dos povos indígenas e o
agravamento dos conflitos interétnicos e da pobreza no mundo. Neste
contexto, acentuam-se e globalizam-se os problemas de degradação do
ambiente, que exigem uma nova condição ao processo de desenvolvimento
tendo em conta a sustentabilidade.

A questão ambiental abre assim uma nova perspectiva para as políticas de


desenvolvimento, indo além dos problemas estruturais e conjunturais
relativos à boa saúde da economia. Portanto, se o ambiente for concebido
como uma nova dimensão dos processos de desenvolvimento, esta
dimensão não pode ficar circunscrita a um novo sector da economia, por
atravessar com seu caráter trans-setorial todas as esferas da administração
pública e do planeamento do desenvolvimento.

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Por tudo isto vincula-se a questão ambiental à economia e à democracia,


no seguinte sentido:
✓ A necessidade de um desenvolvimento alternativo não se detém no
livre jogo dos partidos políticos e na alternância destes partidos no
poder, evitando assim que um partido hegemônico e um poder
totalitário dirijam os destinos da sociedade. Este objectivo político
não romperia necessariamente o círculo fechado do poder
economico dominante como via única para entender e empreender
os processos de produção e distribuição de riquezas.
✓ O que se estabelece é a necessidade de que a tomada de decisões
seja mais consensual e participativa, é a necessidade de se examinar
o núcleo de racionalidade e os mecanismos internos da economia,
dos quais depende a possibilidade de internalizar em seus
paradigmas e instrumentos as condições de sustentabilidade
ecológica e os princípios de justiça social.
As opções econômicas não somente oscilam entre um modelo
protecionista, constrangido pelas ineficácias da burocracia estatal, e um
modelo neoliberal, baseado no espírito empresarial e nas vantagens
comparativas da economia ante o mercado mundial. A transição para a
democracia, do mesmo modo, não implica tão-somente a ocorrência de
eleições livres e transparentes e a possibilidade da alternância que rompa
o monopólio do poder de um partido, mas que incorpore o propósito de
votar por formas participativas de governo e por um projecto economico
que atenda às carências básicas da população, com base no
aproveitamento racional dos recursos.

Crise ambiental versus questão ambiental e ambientalismo

A crise ambiental surgiu como uma consciência crítica sobre os limites de


crescimento econômico, como uma manifestação da crise da racionalidade
economica imperante. Através desta situação emerge a necessidade de
construção de um novo
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paradigma (padrão) produtivo, capaz de preservar os recursos e


desenvolver as forças produtivas da Natureza para aliviar a pobreza e
melhorar as condições de vida da sociedade em seu conjunto, sobre
princípios de uma gestão participativa dos recursos e novas bases
produtivas que apontem para uma concepção alternativa do
desenvolvimento dos povos.

O ambientalismo propõe condições de um desenvolvimento


fundamentalmente endógeno, ecologicamente sustentável, socialmente
equitativo, regionalmente equilibrado e economicamente sustentável.
O ambientalismo objectiva aum processo social de construção de uma
racionalidade ambiental, que implica toda uma série de mudanças, que
atingem desde os valores da Natureza e do consumo até as transformações
institucionais e no campo do conhecimento.
Estes princípios ambientais abrem a possibilidade de se edificar uma
economia descentralizada, de mobilizar um desenvolvimento orientado a
fortalecer as capacidades produtivas de cada região e de cada localidade,
visando alcançar a auto-suficiência alimentar e satisfazer as necessidades
básicas da população mas também de fomentar o desenvolvimento integral
do ser humano e de combater os efeitos da segregação e da exclusão das
minorias em benefício das maiorias, fortalecendo o desenvolvimento de
cada comunidade a partir de suas diferenças culturais e suas condições
ecológicas.
O ambientalismo não fornece apenas uma dimensão a mais à racionalidade
economica unidimensional e homogeneizantemente dominante,
apontando para a necessidade de internalizar no sistema economico os
princípios de sustentabilidade ecológica, de equidade social e de
diversidade cultural, buscando a construção de uma alternativa
racionalidade produtiva que permita outra concepção de desenvolvimento
mais sistemica e integradora (Leff, 1996).

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ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
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Os mecanismos de equilíbrio econOmico e as leis de mercado infuem


ngativamente nas condições ecológicas e sociais de sustentabilidade e de
toda a produção, alertando o papel normativo e regulador do Estado, tendo
o Direito como instrumento, assim como a gestão participativa da
sociedade nas políticas ambientais de um país e nas suas políticas
macroeconomicas.

As políticas de ajuste estrutural, sob as quais se tem procurado revitalizar


as economias nacionais, têm acentuado as desigualdades entre países em
desenvolvimento e ricos, a iniquidade social ao nível interno, os déficits
comerciais e a vulnerabilidade ante a economia mundial, assim como os
índices de pobreza e de degradação ambiental.
A questão ambiental é eminentemente política, além de sistêmica, emerge
no campo dos conflitos sociais nos quais se definem concepções diferentes,
abertas a diversos sentidos e opções para suas respectivas
implementações. Não basta, pois, acrescentar o propósito de
sustentabilidade ao crescimento econômico, sendo necessário construir
conceitos que venham a fundir estratégias e práticas alternativas de
desenvolvimento.

A inquietação pela deterioração ambiental que se manifestou ao final da


década de setenta levou implícita uma violenta crítica ao dominante
conceito de desenvolvimento, no qual prevaleciam aspectos economicos,
em particular a idéia de crescimento. Nesta perspectiva, o
crescimento/desenvolvimento era negativo, havia adquirido um caráter de
cancer e a sobrevivência da espécie humana e do planeta exigia que os
crescimentos explosivos, tanto da população como da economia, deveriam
ser controlados ou mesmo terminar.

Adotou-se assim a expressão crescimento zero (malthusianismo). O


malthusianismo afirma que a população aumenta numa progressão

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geométrica, ao passo que os recursos disponíveis à sobrevivência seguem


uma progressão aritmética. Portanto, visto desta forma, a população vai
aumentando até ultrapassar o limite de sobrevivência, fenomeno que
somente pode ser contido pelo próprio ser humano, atraves de politicas
especificas. Para o malthusianismo, a possibilidade de aumento sustentável
da população encontra um limite no caráter finito dos recursos disponíveis.

Os anos sessenta e setenta foram épocas de uma severa crítica ao


desenvolvimento entendido como crescimento economico, visto por alguns
como causa primeira da deterioração ambiental (Conferência de Estocolmo
1972 e o conceito de eco-desenvolvimento). Porém, a década dos oitenta
presenciou a paralisação e o retrocesso do bem-estar de uma grande parte
da Humanidade. A falta de crescimento economico impediu o
desenvolvimento e se traduziu em maior pobreza, causando uma maior
pressão sobre o sistema natural.
Em meados da década de 80 promoveu-se o conceito de desenvolvimento
em escala humana. Este desenvolvimento tem como bases a "satisfação das
fundamentais necessidades humanas, a geração de níveis de crescimento
de auto-dependência e a articulação orgânica dos seres humanos com a
Natureza e com a tecnologia, dos processos globais com os
comportamentos locais, do pessoal com o social, do planeamento com a
autonomia, e da sociedade civil com o Estado".

Junto à este conceito trabalhou-se o de pobreza, passando da noção


clássica e estritamente econômica (que se refere à situação de quem se
encontra sob determinado nível de vida) a uma noção ampla que contempla
a ausência de satisfação de necessidades humanas fundamentais: pobreza
de subsistência (por alimentação e abrigo insuficientes); de proteção (por
sistemas de saúde ineficientes, por violência, carreira armamentista, etc.);
de afeto (devido ao autoritarismo, à opressão, às relações de exploração do
ambiente natural, etc.); de entendimento (pela baixa qualidade da

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ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
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educação); de participação (pela marginalização e discriminação das


mulheres, das crianças, e das minorias); de identidade (pela imposição de
valores estranhos a culturas locais e nacionais, pela emigração forçada, pelo
exílio político, etc.); e assim sucessivamente.

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, PNUD, incorporou


o conceito de desenvolvimento humano, definido como o processo de
ampliação da gama de opções das pessoas, proporcionando-lhes maiores
oportunidades de educação, atenção médica, emprego, abrangendo o
espectro total de opções humanas, desde seu entorno físico em boas
condições, até liberdades econômicas e políticas. O índice de
desenvolvimento humano (IDH), combina indicadores de esperança de
vida, educação e emprego. O PNUD sugeriu um índice de liberdade humana
e de liberdade política (ILH) para avaliar a situação em matéria de direitos
humanos, índice posteriormente abolido por desacordo de alguns países.
A problemática do desenvolvimento tem sido geralmente considerada de
tipo econômico e político, e a tarefa de superá-la, portanto, tem sido
responsabilidade de economistas e políticos. Considera-se a
industrialização como o meio através do qual é possível alcançar níveis
superiores de desenvolvimento ou, em outros termos, aceita-se
comumente que as sociedades desenvolvidas são aquelas que
experimentaram mudanças estruturais que as levaram de uma economia
predominantemente agrária a outra, na qual as actividades dinamicas e
dominantes são as indústrias de transformação e os serviços. Portanto,
desde finais da década de sessenta enfatiza-se a dimensão social do
desenvolvimento e fala-se de desenvolvimento economico e social.
Sustentabilidade e recursos naturais

Os recursos realmente considerados quando da aplicação do conceito de


sustentabilidade são aqueles que, sendo renováveis, podem se esgotar se
explorados a um ritmo superior
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ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
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ao de renovação. O uso sustentado está regido por leis da Ecologia, e


quando estes recursos são explorados a um ritmo excessivo ou sofrem
perturbações que impeçam suas renovações e passam a se converter em
recursos não renováveis.

Os recursos não renováveis, em quantidades finitas, sejam utilizados como


matéria-prima ou como fonte de energia, suscitam problemas relacionados
ao próprio esgotamento, à eliminação direta de comunidades e
ecossistemas, à perda de riquezas culturais no processo de extração, e aos
efeitos indiretos da exploração, como a contaminação produzida nos
trabalhos de transporte e transformação do produto base em produto útil.
Em qualquer caso, a sustentabilidade não é aplicável a estes recursos.

Ao se combinar os aspectos teóricos da sustentabilidade ecológica às


conclusões da Conferência do Rio de Janeiro, em 1992, é possível fazer uma
síntese dos principais problemas apresentados pela gestão sustentável em
nível mundial. Porém, em todo caso, o problema de fundo não é outro que
a capacidade de carga da biosfera, em relação ao aumento da população,
tanto em número como em taxa de consumo per capita.
O cálculo dos limites de pressão suportáveis pelo planeta é um problema
da Ecologia, difícil de resolver, que envolve o caráter sociológico,
econômico, político, cultural, ético e até religioso da questão. Com efeito,
enquanto o controle do crescimento das populações animais e vegetais é
feito por mecanismos puramente biológicos, na população humana actual
estes mecanismos actuam somente em casos extremos, tendo sido
substituídos por mecanismos socioculturais.

Os problemas mais estritamente ecológicos da sustentabilidade seriam


para alguns representados pelo desflorestamento e pelas conseqeentes

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ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
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secas, erosão e desertificação, pelo perigo de degradação dos ecossistemas


mais frágeis e pela diminuição da diversidade biológica.
Aparentemente, todo mundo está de acordo com o facto de que o actual
modelo economico não pode ser mantido de forma indefinida, sendo
necessário projetar um novo modelo que não esteja baseado
exclusivamente na expansão e crescimento economicos, respeitando-se as
margens de tolerância do sistema planetário.
Cria-se assim ao conceito de desenvolvimento sustentável, sendo a
Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento a instituição
que consolidou seu uso e significado, como sendo a "capacidade de atender
necessidades atuais sem comprometer as das gerações futuras",
explicitando seu conteúdo e colocando em conexão com políticas
socioeconômicas de caráter internacional, cristalizadas nos debates e
acordos da Conferência do Rio, em 1992.

O desenvolvimento sustentavel constitui um tipo de desenvolvimento


orientado a garantir a satisfação das necessidades fundamentais da
população e de elevar sua qualidade de vida, através do maneio racional
dos recursos naturais, propiciando sua conservação, recuperação,
melhoramento e uso adequados, por meio de processos participativos e de
esforços locais e regionais, de maneira tal que tanto esta geração como as
futuras, tenham a possibilidade de desfrutá-las, com equilíbrio físico e
psicológico, sobre bases éticas e de equidade, garantindo a vida em todas
suas manifestações e a sobrevivência da espécie humana.

O desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade não sao propriamente


conceitos, mas metaconceitos, isto é, conceitos que conseqüentemente
geram todo um campo de reflexão e de conhecimento sobre si mesmos (por
isso estão em permanente evolução), cujas principais características
refletem-se no aparente consenso provocado em todo mundo.

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O ambiente como potencial produtivo e os desafios do desenvolvimento


sustentavel

✓ Conhecer alguns aspectos da relação entre sustentabilidade


economica e sustentabilidade ambiental.
✓ Descrever criticamente as limitações e ameaças à nova concepção
de desenvolvimento
✓ Definir alguns critérios que sirvam de referência e orientação para
os processos ligados ao desenvolvimento sustentável, baseados nos
diferentes aspectos conceituais

A vertente neoliberal do desenvolvimento sustentável associa as


possibilidades do equilíbrio ecológico aos mecanismos de mercado, apesar
dos processos ambientais resistirem a ser traduzidos e reduzidos a valores
economicos. Desta forma, a sustentabilidade econmica tende a valorizar os
recursos naturais e os serviços ambientais gerados em forma de recursos,
assim como os factores de estabilidade e bem-estar a curto prazo, tornando
insignificantes os processos ecológicos, que requerem longo prazo. Muitos
valores ambientais e serviços ecológicos são desconhecidos em razão da
complexidade dos processos de ordem natural e social que os determinam.
Por exemplo: Qual seria o valor atual da biodiversidade, cujos potenciais
produtivos são ainda desconhecidos em grande parte? Como estabelecer o
valor dos direitos das etnias sobre seus recursos (biodiversiade e outros),
frente aos interesses dos consórcios internacionais? Qual é o custo de um
risco nuclear ante seu benefício econômico a curto prazo?

Sustentabilidade economica e ambiental

o planeamento e a gestão do desenvolvimento sustentável impõem a


necessidade de se valorizar os processos ecológicos dos quais dependem os
serviços ambientais e a dotação sustentável dos recursos naturais, mas
também de processos globais
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como o equilíbrio climático e a preservação da biodiversidade que se


apresentam como macrorrecursos sustentadores da economia e de
qualquer recurso em particular.

Não é possível avaliar os processos ecológicos em termos de valores actuais


de mercado, como tampouco é fácil associar-lhes um "preço-sombra" que
vise garantir o não esgotamento dos recursos não renováveis enquanto são
desenvolvidas novas tecnologias para suas respectivas explorações
economicas, ou que a utilização destes recursos seja substituída por novos
processos baseados no aproveitamento sustentável.

A mesma dificuldade se estabelece quando se trata de definir o conceito de


sustentabilidade como equidade transgeracional, que significa fazer
extensíveis nossos desejos e aspirações às gerações futuras.
Em suma, se estabelece a dificuldade de avaliar os custos sociais
transgeracionais, como a contaminação nuclear ou o aquecimento global,
num tempo em que são minimizados os anseios dos povos e das classes
sem voz nem poder político, numa tentativa de cerceá-los quanto à
expressão de suas demandas ambientais.
Não se trata apenas de questionar a relevancia do crescimento economico
frente a outros objectivos sociais, mas de ver em que sentido as políticas
sociais e ambientais poderiam normalizar e orientar o comportamento
econômico para uma maior eqüidade e sustentabilidade. Abre-se,
portanto, uma discussão das alternativas da economia ou a possibilidade
de se ver em que medida uma política que faça descansar no princípio de
equidade distributiva a solução das necessidades básicas e da
sustentabilidade ambiental geraria uma economia diferente (alternativa).
As propostas ganham sentido para fundamentar um desenvolvimento
sustentável baseado no potencial ecológico de cada região, na
descentralização economica, no ordenamento ecológico das actividades
produtivas, assim como no fortalecimento das capacidades de gestão
participativa e de autogestão
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ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
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da sociedade, apontando assim para um projeto de democracia produtiva.


Assim, sob um novo enfoque de cooperação do desenvolvimento, é preciso
priorizar a atenção das populações indígenas que habitam áreas com
problemas de deterioração ambiental e outros, procurando fazer com que
tais populações sejam protagonistas de seus próprios desenvolvimentos
etnocentrados. Porém, tendo presente também a todo momento que o
apoio exterior não supre nunca a autogestão participativa, que deve ser
reforçada.

É evidente que há um certo grau de confrontação entre racionalidade


econômica e racionalidade ambiental, ainda que se tenha estendido a idéia
de que o ambiente deva ser visto como uma oportunidade para a
rentabilidade econômica mesmo existindo um campo para a rentabilidade
de processos de reciclagem de resíduos e para as tecnologias limpas,
sobretudo no Ocidente.
A civilização moderna foi construída sobre os princípios de uma
racionalidade econômica, de maneira que uma crise da economia global,
sem dúvida acarretaria conseqüências tão graves como a depressão dos
anos trinta ou uma catástrofe ambiental. Por isso, a transição para a
sustentabilidade deverá ser um processo paulatino, implicando a
necessidade de incorporar as condições ecológicas de sustentabilidade à
ordem economica mundial, mediante normas que representem um fator
de segurança ambiental.

Por tudo isto será necessário cumprir os protocolos e convenções


internacionais, assim como uma série de normas específicas para regular
tanto a localização das atividades produtivas, como as tecnologias de
produção e a disposição dos resíduos. Estas normas deverão ser
complementadas com novos indicadores de sustentabilidade que
integrem os custos ambientais às contas nacionais. Porém, há que
reconhecer que grandes problemas como o desmatamento, a erosão de

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solos e outros, são conseqüência dessa racionalidade econômica, assim


como a pobreza, o desemprego e a marginalização social, que estão
associados a esses processos de degradação ambiental.
Assim, por exemplo, reincorporar ao cultivo milhões de hectares pouco
atrativos para os capitais privados significa a possibilidade de fortalecer
economias autogestionárias e auto-suficientes, com um manejo
sustentável e integrável dos recursos (projetos de ecologia produtiva).
Significa, o facto da diversidade geomorfológica, geográfica e ecológica,
cultural, social ou política, delimitar novas unidades ambientais de
produção, o que conduz a uma revitalização produtiva agrícola e ao
estabelecimento de um novo equilíbrio campo-cidade.
O anteriormente exposto suscita diversos desafios à economia para que
possa incorporar em seus paradigmas e em seus instrumentos as condições
ecológicas e sociais de sustentabilidade e equidade. Isto sugere, por sua
vez, um desafio maior: traduzir este objectivo geral nas políticas
macroeconomicas e microeconomicas, assim como na construção de um
novo paradigma de produção sustentável para as economias rurais, e a
possível e necessária articulação destas políticas e processos.
Em situações onde é claramente impossível definir preço pela incerteza dos
possíveis impactos e dos custos da irreversibilidade de certos processos
ecológicos, será necessário aplicar padrões mínimos de segurança,
baseados num melhor conhecimento científico disponível.
Em suma, o movimento ambiental deve ultrapassar seu caráter paliativo,
representado pelo controle das relações da sociedade com o meio
ambiente e pela reação subseqüente, passando à construção de uma nova
racionalidade social, de um paradigma produtivo alternativo, capaz de
incorporar o potencial ecológico, tecnológico e cultural de diferentes
unidades ambientais de produção.

Urge a necessidade de normalizar e orientar o comportamento economico


para uma maior equuidade e sustentabilidade, com normas que ajudem a

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internalizar o fator de segurança ambiental, que regulem a localização das


actividades produtivas, as tecnologias de produção, a geração e tratamento
de resíduos.
Portanto, há necessidade de não somente incidir em políticas
macroeconomicas para internalizar os custos ecológicos, mas também de
que o Estado cumpra sua função na regulação e normatividade dos
processos produtivos e de que a cidadania participe na vigilância e na
gestão dos recursos naturais.

Diante do imperativo da recuperação econômica, a preservação do


ambiente tem deixado de ser um apêndice das políticas de
desenvolvimento para se converter numa prioridade de segunda ordem.
Desta forma, grandes setores da economia, como a agricultura, a pecuária,
a silvicultura, o setor energético, os serviços de obras públicas e o turismo,
não vêm incorporando suficientemente normas e critérios de
sustentabilidade.
O ambiente é uma necessidade cultural e social e, portanto, um bem
jurídico cuja proteção é geralmente atribuída aos poderes públicos,
conforme estabelecido pelas Constituições Nacionais.

Por outro lado, o ambiente deve ser considerado como um direito humano
fundamental. Entretanto, para que os direitos humanos sejam objecto de
proteção como realidade jurídica, é preciso que se cumpram duas
condições:
✓ Que o Direito interno dos Estados reconheçam estes direitos;
✓ Que o exercício destes direitos seja garantido juridicamente.
O problema pode ocorrer quando faltam instrumentos jurídicos concretos
para que os cidadãos possam fazer valer seus direitos a um meio ambiente
sadio, situação esta que decorre da falta de consistência dos textos
internacionais. Somente de modo indireto são mencionados em alguns,
como na Carta Social Européia, vinculada à proteção da saúde.

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o Estado deve desempenhar um programa cada vez mais activo na política


ambiental do país:
✓ Primeiramente, em seu papel de regulador da economia,
incorporando critérios de avaliação ambiental nos instrumentos de
cálculo econômico.
✓ Em segundo lugar, aplicando normas ambientais que dificilmente
poderiam ser internalizadas pelas empresas e atores econômicos,
mas que representam uma defesa dos bens e serviços ambientais
comuns e de qualidade global do ambiente.
✓ Ao mesmo tempo, o Estado deverá avançar no estabelecimento de
procedimentos para a defesa dos direitos ambientais das
comunidades e dos cidadãos, em situações que agora não são
contempladas pelos direitos regulares da ordem jurídica
estabelecida, nem pelos direitos humanos, que ainda não
incorporam os direitos ambientais individuais e coletivos.
O Estado deverá apoiar uma política de desenvolvimento rural sustentável:
✓ Fundamentada em seu potencial ecológico e em um processo de
descentralização econômica.
✓ Fortalecendo as capacidades de autogestão das próprias
comunidades.
✓ Incentivando e apoiando projetos de recuperação ecológica e
manejo integrado dos recursos, a partir de valores culturais e de
necessidades sentidas.
✓ Fortalecendo o desenvolvimento de mercados regionais com os
excedentes das economias autogerenciadas de cada localidade.
✓ Melhorando suas práticas tradicionais com conhecimentos
científicos e tecnológicos modernos.

Estes pressupostos implicam que as políticas ambientais devem contemplar


claramente o desenvolvimento de uma capacidade científica e tecnológica
próprias, não somente para a seleção e adaptação de tecnologias exógenas,

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mas para a geração de técnicas e tecnologias endógenas, capazes de


melhorar as capacidades produtivas dos próprios produtores rurais e de
aproveitar as potencialidades produtivas dos recursos ecossistêmicos do
território.
Não se trata de normatizar através de uma moral político-democrática o
comportamento da economia. Trata-se dos anseios da sociedade de
participar das decisões relacionadas às suas condições de existência, à
sobrevivência e à qualidade de vida, e até mesmo do destino do país; trata-
se de pôr em prática o princípio de gestão participativa dos recursos
naturais, dos direitos de autogestão da Natureza. Em outras palavras, trata-
se de expandir os termos da democracia política eleitoral, da democracia
representativa, para concebê-la como um democracia direta. Em última
instância, trata-se de um projeto de construção social, de um paradigma
econômico alternativo.

O antigo vocábulo "desenvolvimento" culminou numa extensa migração de


significados, migração esta que havia se iniciado dois séculos antes,
partindo do campo da biologia (desenvolvimento de um ser vivo) e
atravessando os mundos da história social (desenvolvimento social), da
economia política (desenvolvimento das forças produtivas), do urbanismo
(desenvolvimento urbano), da política econômica (desenvolvimento
econômico), e outros. Isto para alcançar finalmente um status superior ou
de síntese, com um significado muito preciso: o desenvolvimento da
humanidade concebido como um incremento contínuo da produção
mediante a substituição das formas produtivas tradicionais por outras com
maior conteúdo científico e técnico, acompanhado das transformações
sociais e culturais imprescindíveis para realizar essa substituição e para
assegurar o usufruto social dos benefícios que ela oferece.
O termo desenvolvimento adquire assim uma série de conotações e
atributos que adiante resultarão indissociáveis: por um lado, é um processo
necessário, através do caminho
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único e linear; por outro, está baseado na dependência ao abandonar as


formas tradicionais de subsistência, cada indivíduo e cada comunidade
perde autonomia econômica e aceita novas formas de dependência, em
troca de uma maior capacidade de produção e de um maior bem-estar
material.
A partir desse momento, o desenvolvimento passa a ser o objectivo
principal da política de todos os países do mundo, até ao ponto em que se
possa falar da Era do Desenvolvimento para esta etapa da história. Tanto a
versão capitalista do desenvolvimento (via mercado) como seu correlato
socialista (via planeamento) serviram como padrões ideológicos no
enfrentamento dos dois núcleos de poder antagonistas quando da guerra
fria. Com relação aos países em desenvolvimento, de pronto foram
articuladas, a partir dos dois blocos, políticas de ajuda a esses países, que
se traduziram em mecanismos de interconexão e de subordinação de
frações crescentes da economia e dos recursos mundiais a serviço da
manutenção dos modelos de vida e dos poderosos complexos militares dos
países industrializados.
Após várias décadas de aplicação, com resultados tão contraditórios que
obrigaram a uma revisão da ênfase posta nos diversos aspectos do
desenvolvimento e à junção de novos adjetivos (global, social, humano,
integral, endógeno, local...), o mito do desenvolvimento entrou em
profunda crise na década de setenta.
Além de crises e revisões, a Era do Desenvolvimento gerou, em qualquer
caso, uma ampliação das desigualdades entre os povos do mundo e levou
este mundo a uma generalizada crise ecológica, destruindo as bases locais
de sustentação de numerosos povos e culturas e desencadeando um
conjunto de problemas globais de grande alcance. Desigualdade e crise
ecológica são as duas principais expressões desta malfadada concepção de
desenvolvimento.
O chamado desenvolvimento provocou a concentração da metade da
população mundial em metrópoles e grandes cidades insustentáveis, em

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um regime de total dependência de vitais suprimentos externos que nem


os fundos de recursos naturais nem o sistema econômico global são capazes
de garantir. O processo de urbanização da população segue com força,
alimentado pela destruição das culturas locais, pela multiplicação dos
conflitos bélicos e pelo desamparo crescente em que vão caindo as
coletividades campesinas.
A manutenção deste tipo de desenvolvimento desembocou
inevitavelmente na globalização da economia, processo que já vem
provocando traumáticas operações de substituição de atividades
produtivas em todo o mundo, e o consequente estabelecimento de grandes
zonas de hiperexploração do trabalho.

Uma idéia vai tomando corpo a partir destes setores críticos, sendo
apresentada como o lógico ponto de chegada do pensamento global: ante
a tendência inexorável da globalização da economia e das conseqüências
globais de numerosos problemas ambientais, faz-se necessária a paulatina
construção de um sistema de regulação de âmbito mundial, capaz de
ordenar o cenário global e o comportamento dos diversos atores que dele
participam. O aparecimento de uma forma mundial de governo começa a
se projetar deste modo no horizonte como uma conseqüência inevitável do
processo de globalização.
As formas tradicionais de resolução autonoma ou local das necessidades
humanas, de modo geral, estão razoavelmente adaptadas às necessidades
do entorno: em seus seculares processos de consolidação e
aperfeiçoamento são obrigadas a isso se querem realmente ser eficientes e
perdurarem a longo prazo. Porém, a globalização da economia força a
especialização das atividades econômicas em cada lugar, em função das
exigências dos mercados mundiais e não das condições naturais de cada
espaço de produção. Pouco importa se as atividades impostas em uma
região esgotam os locais recursos naturais, desde que o benefício obtido,

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mesmo com o definitivo declínio da base de recursos, seja suficiente para


justificar essa produção nesse momento e nesse lugar. Evidentemente, um
processo dessa classe, estendido a mais e mais regiões mundiais, não é
sustentável a médio e longo prazo.
O processo de globalização, por exemplo, é altamente dependente do
sector de transportes e estimula fortemente o crescimento desta
actividade, que se encontra entre as mais destrutivas sob o ponto de vista
ambiental global. A dependência energética do setor de transportes em
relação aos combustíveis fósseis é muito elevada, tornando-se absoluta no
que se refere ao transporte à longa distância em escala mundial. A
influência do setor de transportes sobre o efeito estufa e sobre a mudança
climática é muito preocupante, havendo uma crescente evidência quanto à
necessidade de freá-la.

Critérios orientadores de um novo desenvolvimento

O que se propõe é uma síntese dos mais importantes aspectos do novo


conceito de desenvolvimento, agrupados em forma de critérios para a ação,
que são os seguintes:
✓ Um desenvolvimento que, de entrada, vá além da consideração da
Biosfera como âmbito final de nossas atuações, pondo ênfase nas
questões sociais e econômicas.
✓ Um desenvolvimento que leve em conta a dimensão global das
questões ambientais, que supere limites geográficos, barreiras
econômicas e posições políticas e ideológicas.
✓ Um desenvolvimento que contemple o meio ambiente como um
direito humano fundamental, reconhecido pelos poderes públicos e
garantido juridicamente.
✓ Um desenvolvimento que trate de inverter a tendência de se
considerar a globalização econômica e o consumo como valores em

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si mesmos, mudando para a adoção de estilos de vida mais


sensíveis.
✓ Um desenvolvimento que vincule a questão ambiental à economia,
e sobretudo à democracia, visando a obtenção de um processo de
tomada de decisões mais consensual e participativo, que rompa o
círculo fechado do poder econômico como única via de
interpretação dos processos de produção e de distribuição de
riqueza.
✓ Um desenvolvimento que contribua para a construção de um novo
paradigma produtivo, capaz de preservar os recursos, de reduzir os
índices de pobreza e de melhorar as condições de vida da sociedade
em seu conjunto, sobre princípios de gestão participativa.
✓ Um desenvolvimento que inspire uma série de mudanças no âmbito
institucional e no campo dos conhecimentos, que conduzam a
edificação de uma economia descentralizada.
✓ Um desenvolvimento ambientalista que aponta para a necessidade
de internalizar os princípios de sustentabilidade ecológica, de
eqüidade social e de diversidade cultural no sistema econômico,
visando a construção de uma racionalidade produtiva alternativa.
✓ Um desenvolvimento que revise permanentemente o conceito de
sustentabilidade, a partir de uma consideração ligada às condições
econômicas, ecológicas, políticas e culturais de cada localidade,
assim como aos interesses dos diversos grupos sociais.
✓ Um desenvolvimento que se oriente para a construção de uma
racionalidade produtiva alternativa, na qual o ambiente não seja
avaliado como um custo, mas como um potencial produtivo,
dependente das diferentes estratégias de manejo dos recursos
naturais.
✓ Um desenvolvimento baseado na dispersão e não na concentração,
fortalecendo economias autogestionárias e auto-suficientes,

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baseadas na diversidade, e na delimitação de unidades ambientais


de produção.
✓ Um desenvolvimento que leve em conta a diversidade do saber
local, já que uma primeira mudança significativa está se produzindo
com respeito ao saber ecológico local e aos costumes tradicionais
de gestão dos recursos naturais, que durante muito tempo foram
percebidos como obstáculos ao desenvolvimento. De fato, o saber
ecológico e os costumes tradicionais indígenas de gestão dos
recursos naturais apresentam soluções baseadas não somente em
generalidades de experimentação e observação, mas enraizadas em
sistemas locais de valores e significados. É importante, portanto,
traduzir esse reconhecimento em projetos viáveis e modificar as
políticas e os instrumentos para que reforcem as dimensões
culturais das relações entre o meio ambiente e o desenvolvimento.
Contudo, essa convergência não é generalizada. Há áreas nas quais
a ciência moderna pode se contrapor a práticas e crenças
tradicionais. Neste caso, deve-se encontrar maneiras de resolver
tais conflitos. Também está claro que qualquer enfoque que aborde
apenas os intercâmbios biofísicos entre as sociedades e o meio
ambiente será incompleto. A noção de sustentabilidade implica
repensar o modo pelo qual a própria Natureza é concebida, e
conseqüentemente, quais os valores culturais que condicionam as
relações de uma determinada sociedade para com a Natureza.
✓ Um desenvolvimento que leve em consideração as dimensões
culturais do crescimento demográfico: afirma-se com freqüência
que o crescimento demográfico exponencial está vinculado à
degradação ambiental, porém este crescimento precisa ser
analisado na perspectiva de um conceito mais amplo, que é a
dinâmica populacional. Este conceito envolve os movimentos e
assentamentos "qualitativos" das populações, isto é, aqueles que
têm a ver com as causas e não somente com o produto do acaso

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reprodutivo, como pretendem os que apenas falam de crescimento


demográfico. Por esta razão, há que se promover uma compreensão
mais profunda das interações entre a população e o consumo de
recursos, nos quais intervêm a tecnologia, a cultura e os valores.
✓ Um desenvolvimento que preste uma atenção especial ao
fenômeno das sociedades e das culturas, pois embora a urbanização
e a modernização tenham aberto novas oportunidades para muitos,
também ocasionaram novos prejuízos ao meio ambiente e aos
padrões tradicionais de relação entre as sociedades e seu entorno
físico. No mesmo sentido, a apropriação dos recursos naturais para
sustentar as necessidades industriais e urbanas afeta o meio
ambiente; os efeitos das aglomerações urbanas criam novos
desafios com relação ao tratamento das águas, dos resíduos, à
descontaminação do ar, etc. Indubitavelmente, o futuro exige um
grau de mudança no estilo consumista da vida urbana para que
estes desafios possam ser superados. Ao mesmo tempo, o entorno
urbano está repleto de tensões criativas e dinâmicas que surgem da
densidade demográfica e da proximidade espacial. De fato muitas
das importantes obras do patrimônio cultural da Humanidade estão
situadas em grandes cidades do mundo. O fenômeno das
sociedades e das culturas, também se manifesta na criatividade
cultural da vida cotidiana, na variedade, diversidade e
heterogeneidade das instituições, nas pautas de interação e de
atividades destinadas a satisfazer os interesses das minorias, nos
sentidos compartilhados e na expressão da chamada "cultura
popular".
✓ Um desenvolvimento que atenda à equidade entre as gerações, já
que a sustentabilidade também implica num comportamento
responsável a respeito das gerações futuras, apesar destas não
terem voto nem poderem exercer pressões diretas sobre aqueles
que elaboram hoje as políticas.

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✓ Um desenvolvimento que pratique uma nova ética global. A


cooperação entre os diferentes povos com interesses e culturas
distintos será facilitada se todos puderem ser vinculados e
motivados por compromissos compartilhados. Portanto, é
imperativo definir um núcleo de princípios e valores éticos comuns.
Não é difícil reconhecer que a busca de uma ética global implica
considerar sob vários prismas a cultura e os aspectos culturais. Em
primeiro lugar, tal empreendimento é, em si mesmo, uma atividade
eminentemente cultural que inclui questionamentos como: Quem
somos? Como nos relacionamos uns com os outros e com a
humanidade em seu conjunto? Qual é nosso objetivo? Estas
perguntas constituem o fundamento do que significa cultura. E
mais, toda intenção de formular uma ética global deve se inspirar
nos recursos culturais, na inteligência dos povos, nas suas
experiências emocionais, nas suas memórias históricas e nas suas
orientações espirituais.
✓ Um desenvolvimento de valores compartilhados: Como o futuro
humano está cada vez mais modelado pela interdependência dos
povos do mundo, é essencial fomentar a boa convivência cultural.
Essa cooperação entre povos com interesses muito distintos
somente pode florescer se todos compartilharem certos princípios.
Assim, a Comissão Mundial de Cultura e Desenvolvimento sugere que o
núcleo desta nova ética seja formado por cinco pilares seguintes:
✓ Direitos humanos e responsabilidades.
✓ Democracia e elementos da sociedade civil.
✓ Proteção das minorias.
✓ Vontade de resolver pacificamente conflitos e de negociar com
eqüidade.
✓ Eqüidade intra e de intergestão.

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ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
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É responsabilidade de todos os governos tornarem efetivos estes princípios;


porém, a aplicação de uma ética global exige a participação de outros
setores, entre eles a sociedade civil global.
Pelo exposto anteriormente e para fechar o comentário sobre estes
princípios, a Comissão propõe um programa de investigação que leve em
consideração a até agora quase sempre ignorada integração entre cultura,
desenvolvimento e formas de organização política. A questão central do
processo de desenvolvimento parte desta reflexão: quais políticas
promovem um desenvolvimento humano sustentável e quais contribuem
para o florescimento das diferentes culturas?
Esta pergunta não pode ser respondida sem uma série de indicadores
culturais inteligentemente concebidos. Também deve-se transpor ao
âmbito cultural as técnicas utilizadas para avaliar os possíveis efeitos dos
programas e projetos de desenvolvimento sobre o meio ambiente e a
sociedade. Será feita posteriormente uma reflexão sobre esta importante
questão. Porém, é interessante definir antes o que os recentes estudos
assinalam como possíveis princípios e indicadores de sustentabilidade.

Princípios e indicadores de sustentabilidade

A utilização de alguns princípios básicos de referência que incluam as


diferentes dimensões de sustentabilidade pode ser um bom ponto de
partida para a construção de estratégias e de ações culturalmente válidas.
Na proposta abaixo apresentada, com base nos estudos de Bermejo e
Nebreda (1997), mostra-se princípios de referência, distribuídos em doze
áreas temáticas, e junto a elas as variáveis e os indicadores propostos,
baseados nas diversas iniciativas existentes em nível mundial. O
interessante do esquema é que pode servir como base para uma
diversidade de entorno e situações:

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Tabela- Princípios e indicadores de sustentabilidade

PRINCÍPIO INDICADORES

Energia (consumo e produção


Recursos Naturais. segundo fontes renováveis e não
Os recursos naturais devem ser renováveis por setores).
utilizados de maneira eficiente, sem Consumo e reservas de água
superar o ritmo de renovação dos (consumo por setores, eficiência e
recursos renováveis e substituindo reutilização de reservas.
progressivamente os não Consumo de materiais (matérias
renováveis. primas não renováveis; redução,
reutilização e reciclagem).

Contaminação e resíduos. Resíduos e carga tóxica (produção,


O funcionamento do município não emissão de resíduos tóxicos,
deve por em perigo a saúde das tratamento).
pessoas nem superar a capacidade Contaminação da água (índice de
de carga do meio ambiente. Devem qualidade).
ser minimizados os níveis de Poluição atmosférica local
contaminação e a quantidade de (emissão e imissão, NOx, SO2,...).
resíduos. Poluição sonora (níveis de ruído).

Usos do território (solo urbano,


Usos do território e biodiversidade.
infra-estrutura industrial, florestal
A biodiversidade deve ser
e agrário, áreas protegidas e
valorizada e protegida. O
recuperadas).
desenvolvimento urbano não pode
Diversidade biológica
ser realizada às custas da natureza e
(bioindicadores sobre a saúde e
de usos sustentáveis do território,
biodiversidade dos ecossistemas
ao se considerar o solo como um
locais; espécies em perigo,
recurso finito.
proteção.

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Dependência exterior (consumode


Economia. produto: local, selo ecológico).
A economia deve ser diversificada e Vulnerabilidade econômica
diminuída a vulnerabilidade de uma (diversificação e concentração da
sociedade, a dependência do ocupação).
exterior. Sempre que possível, as Actividades econômicas
necessidades devem ser satisfeitas sustentáveis (empresa e empregos
com recursos locais. As atividade em atividades de economia social
econômicas devem ser e ecológica).
potencializadas buscando a Instrumentos para a
rentabilidade social e o equilíbrio sustentabilidade (eco-auditorias
ecológico (terceiro setor). sociais, reforma fiscal
ecológica,...).

Trabalho. Trabalho, interrupção e


Todas as pessoas devem ter acesso precariedade de trabalho (número
a um trabalho remunerado, com um de horas de trabalho necessárias
salário justo e uma contratação para satisfazer as necessidades
estável. O trabalho não básicas, % de desempregados e
remunerado deve ser reconhecido com ocupação precária, ações
de forma que exista uma separação respostas).
eqüitativa do trabalho social e do Divisão do trabalho social e tempo
tempo livre. livre (uso do tempo por sexos).

Bens e serviços básicos Saúde (esperança de vida e


Todas as pessoas devem ter acesso enfermidades).
aos bens e serviços básicos (saúde, Habitação (relação entre renda e
habitação, educação e bens preço de habitação, por grupos de
básicos). renda).

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Educação e cultura (níveis


educativos, diversidade cultural e
linguística).

Segurança.
Segurança (evolução da
As pessoas devem viver sem medo
insegurança percebida, violência
da violência ou da perseguição por
doméstica e social, orientação
razões ideológicas, de gênero, de
sexual).
orientação sexual ou étnica

Equidade. Pobreza e exclusão (índice e


A eqüidade nas formas de vida da bolsões de pobreza, programas de
cidadania deve ser ampliada, luta contra a exclusão social).
eliminando a pobreza, a exclusão e Desigualdades e discriminação
a discriminação e reduzindo as (distribuição de renda,
desigualdades socioeconômicas. discriminação).

Transporte (quilometros
Serviços sociais e acessibilidade. percorridos e número de pessoas,
Todas as pessoas devem desfrutar segundo meio de transporte
de fácil acesso a instrumentos utilizado, combustível
sociais, bens e serviços básicos, ao consumido).
mesmo tempo em que se protege o Serviços básicos acessíveis (tempo
meio ambiente. e distância de acesso a pé aos
serviços básicos).

Vida em comunidade (grau de


Vida em comunidade e qualidade
identificação com o lugar no qual
de vida.
se vive).
O entorno e a comunidade onde se
Qualidade de vida (percepção
vive são valorizados pela população,
sobre a qualidade de vida
dando-se uma valorização subjetiva
desfrutada).

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ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
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positiva da qualidade de vida


existente.

Participação cidadã (nas eleições,


Participação. instrumentos de democratização
Todos os setores da comunidade direta, co-decisão e gestão
têm possibilidade de participar dos compartilhada de serviços sociais;
processos de tomada de decisões mobilizações; associacionismo:
que afetam suas vidas. taxa de filiação, diversidade,
tipologia...).

Problemas ecológicos globais


Sustentabilidade global
(emissões de gases estufa e de
O desenvolvimento sustentável em
gases destruidores da camada de
escala local não pode ser realizado à
ozônio).
custa de impacto em outros lugares
Co-responsabilidade para o
e povos do planeta, nem das
desenvolvimento (selo ecológico e
possibilidades das gerações futuras
espaço ambiental; atividades
para satisfazer suas necessidades e
lesivas para outros povos:
desfrutar de um ambiente saudável
exportação de armamento; ações
e diverso. O estabelecimento de
de cooperação ao
uma aliança global com outros
desenvolvimento; irmanação,
povos deve ser fomentada para
renda per-capita, coletivos de
preservar os sistemas naturais
solidariedade internacional e
comuns da Terra, para eliminar a
campanhas de educação e
pobreza.
denúncia,...)

Fonte: Bermejo y Nebreda, (1998:15-16)

A interdependência é um fenômeno que condiciona o acontecer das


nações. Os equilíbrios do poder político, o fazer cultural, o comércio

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ISCED CURSO: LIENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Módulo: Fundamentos de estudos Ambientais
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internacional, os avanços tecnológicos, os fenômenos sociais, os impactos


ecológicos, são todos elos desse encadeamento ineludível.
Caso as múltiplas vinculações que caracterizam a interdependência estejam
presentes em algum campo, é em tudo que concerne ao desenvolvimento
e ao meio ambiente. Por isso, no presente não há lugar para conceber o
desenvolvimento sustentável como um processo autárquico,
principalmente quando se sabe que a base dos recursos naturais e das
tecnologias para suas explorações, fundamento da gestão econômica, não
estão distribuídos geograficamente de uma forma eqüitativa, o que obriga
a negociar permanentemente sua utilização. A esse respeito, recorde-se
que a maior parte dos recursos naturais empregados no mundo encontra-
se nos países em desenvolvimento.
Reduzir a questão ambiental ao âmbito da Natureza, inclusive ao âmbito da
biosfera, já não é nem suficiente nem útil; pode ser inclusive catastrófico. A
razão é bem simples: os problemas e desordens da Natureza e da Biosfera,
como um todo, são efeitos, desajustes mais profundos, que se situam no
tecido das relações humanas, de suas pautas de consumo, de seus critérios
de gestão, de suas ânsias de poder... conseqüentemente, estas questões
respondem a uma determinada visão de mundo, a determinados valores.
O meio ambiente e seus problemas somente podem ser abordados a partir
do âmbito da cultura, que a todos envolve e condiciona. Desgraçadamente,
ainda abordada em demasia pelo planejamento racional, mas que pouco a
pouco vai assumindo novos enfoques mais integradores.
O último informe do World Watch Institute afirma que os 200 Estados-
Nações do mundo dividiram a Terra entre si, de uma maneira que pouco
tem a ver com a geografia ou com a anatomia da economia mundial. Não
obstante, os recursos naturais, os poluentes, o comércio e o investimento
circulam de modo crescente através de fronteiras arbitrárias; as dimensões
internacionais da crise ambiental se ampliam sem cessar. A crise exige, pois,
uma resposta igualmente internacional. Os tratados e as instituições do
governo econômico internacional, como o Banco Mundial - BM - e a

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Organização Mundial do Comércio - OMC -, deverão prestar uma maior


atenção às repercussões de seus atos sobre o meio ambiente para que se
possa proteger os oceanos, os mares e muitos rios, assim como a
biodiversidade, os hábitats naturais e a atmosfera.
A problemática ambiental está reclamando grandes doses de imaginação,
necessárias para o desenvolvimento de um novo paradigma cultural, no
qual encontrem sustentação os novos conceitos econômicos e de
desenvolvimento, e do qual se derivem as necessárias mutações da ordem
imperante em escala mundial. Sob este novo paradigma - o da
complexidade - pode-se falar também de uma nova ciência e de uma nova
ética.
É preciso recuperar e manter um processo de tensão dialética entre o
pensamento e a ação, processo este que está debilitado em uma parte do
mundo pela necessidade de sobrevivência e em outra pelo naufrágio das
vontades individuais nas águas do consumo desenvolvimentista e
desenfreado.

Sumário

O planeamento e gestão do desenvolvimento sustentável estabelece a


necessidade de se valorizar os processos ecológicos dos quais dependem os
serviços ambientais e a dotação sustentável dos recursos naturais, porém

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também de processos globais como o equilíbrio climático e a preservação


da biodiversidade.

O ambiente é uma necessidade cultural e social e, portanto, um bem


jurídico cuja proteção é geralmente atribuída aos poderes públicos pela
Constituição. Não existe uma fórmula mágica que reequilibre as relações da
economia com a Natureza, ou que reconcilie a Humanidade em torno de
um mesmo projecto vital. O desenvolvimento sustentável é, com todas suas
interpretações e expressões, uma direção possível, e até recomendável,
porém, como tudo que é humano, não está isento de riscos, nem de atalhos
tentadores. Deve-se pois estar muito atento ao processo, tanto quanto ao
hipotético destino, à meta final.

As ações requeridas para encontrar uma saída viável e eqüitativa para a


Humanidade devem ir além da retórica, implicando uma cooperação
comprometida, mais que a simples ajuda, e solidariedade em busca do
benefício comum.

O desenvolvimento sustentável trata de revitalizar o crescimento


económico, reorientando-o de maneira que as questões ambientais sejam
incluídas nos cálculos económicos.

O desenvolvimento sustentável é um tipo de desenvolvimento orientado a


garantir a satisfação das necessidades fundamentais da população e a
elevar a sua qualidade de vida, por meio do maneio racional dos recursos
naturais, propiciando sua conservação, sua recuperação, sua melhoria e
usos adequados, por intermédio de processos participativos e de esforços
locais e regionais, de tal maneira que tanto esta geração quanto as futuras
tenham a possibilidade de usufrui-los com equilíbrio físico e psicológico,
sobre bases éticas e de equidade, garantindo-se a vida em todas as suas
manifestações e a sobrevivência da espécie humana.

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Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Perguntas

1- Através de exemplos explica como e que pode ser garantida a participação


2- O desenvolvimento sustentável envolve a solidariedade diacrónica e sincrónica.
Explica a essência deste conceitos a partir de exemplos
3- Através de exemplos, explica o que e sustentabilidade económica, ecológica, social,
política e cultural.

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UNIDADE Temática 3.6- Gestão comunitária dos recursos


naturais

Introdução

O processo de gestão comunitária de recursos naturais exige o


conhecimento das diferentes formas de participação. Nesta unidade
temática e analisada o processo de gestão comunitária de recursos naturais
sob ponto de vista de teorias e da legislação.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

▪ Conhecer os niveis de participacao nos processos de gestao


comunitaria de recursos naturais

Objectivos ▪ Explicar a essencia da gestao comunitaria dos recursos naturais


Específicos

Gestão comunitária dos recursos naturais

A gestão de recursos naturais, conforme vem definido em documentos


oficiais, pressupõe a administração de recursos como os florestais,
faunísticos, hídricos, minerais e outros, um processo que inclui o seu
controlo e uso em conformidade com a legislação, assegurando a
participação efectiva das instituições, comunidades locais e diferentes
organizações.
A legislação moçambicana define a comunidade local como sendo
"agrupamento de famílias e indivíduos, vivendo numa circunscrição
territorial de nível de localidade ou inferior, que visa a salvaguarda de
interesses comuns através da protecção de áreas habitacionais, áreas

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agrícolas, sejam cultivadas ou em pousio, florestas, sítios de importância


cultural, pastagens, fontes de água, áreas de caça e de expansão."

A solução para os problemas ambientais identificados é complexa passando


por processo de reconhecimento de mecanismos de tomada de decisão no
campo sobre os quais assenta o exercício do poder ao nível das
comunidades rurais.
A declaração do rio de Janeiro sobre meio ambiente e desenvolvimento de
1992, consagra no princípio 10 que a melhor maneira de tratar questões
ambientais é assegurar a participação, no nível apropriado, de todos
cidadãos interessados. No nível nacional, cada individuo deve ter acesso
adequado as informações relativas ao meio ambiente que disponham as
autoridades publicas, inclusive informações sobre materiais e actividades
perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar
em processos de tomada decisões. Os estados devem facilitar e estimular a
consciencialização e a participação pública, colocando a informação a
disposição de todos. Deve ser propiciado acesso efectivo aos mecanismos
judiciais e administrativos, inclusive no que diz respeito a compensação
reparação de danos ambientais.
A política nacional do ambiente (moçambicana), realça o papel da
comunidade na gestão ambiental, sustentando que a sustentabilidade da
gestão dos recursos naturais só poderá ser eficaz através duma directa e
activa participação das comunidades, valorizando e utilizando as suas
tradições e experiencias. Assim sendo o governo criara um clima propício
através de conhecimento de padrões de usos de recursos, formas de gestão
tradicionais e hábitos de vida das comunidades. Paralelamente procurará
encorajar e reforçar a capacidade das comunidades em conhecer e aplicar
princípios e regras de gestão dos recursos naturais que orientam a
sociedade em geral dando-lhes competências e instrumentos que facilitam
o estreitamento da cooperação com estruturas formais e informais.

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A participação comunitária na tomada de decisões deve obedecer às


realidades locais com as quais as pessoas se identificam. A solução do
problema dá-se pela participação e pelo comprometimento. Todavia, para
ser efectiva, faz-se necessário o envolvimento de pessoas que tenham
conhecimento e competência.

Para LAGAN e NEL (2000:195) a participação ocorre pelo menos em cinco


níveis principais a saber: Acção prescritiva: as pessoas seguem todos os
procedimentos e executam as tarefas conforme são mandadas. Em
associações muito autoritárias, mesmo o executivo dispõe de muita pouca
liberdade de acção.
Participação na actividade: as pessoas participam influenciando na forma
como o trabalho é feito. Elas decidem a respeito das técnicas a serem
usadas e da sequência de suas acções. Este é o primeiro nível em que
podemos buscar uma participação real e significativa.
Participação na função: as pessoas participam ao determinar o que elas ou
suas equipes irão realizar. A participação nesse nível requer um amplo
conhecimento a respeito das operações da sua organização. Para tomar
decisões sábias, as pessoas envolvidas precisam ter informações globais
sobre todos os aspectos do seu trabalho.
Participação no contexto: as pessoas participam ultrapassando as
barreiras da sua própria função na equipe para influenciar os processos e
as estruturas em torno delas. Seguindo critérios próprios, as pessoas vão
além do seu nível de autoridade imediata para solucionar problemas
existentes junto à clientela.
Participação na visão: as pessoas participam idealizando e influenciando os
conceitos mais fundamentais que guiam a sua organização. As actividades
nesse nível ajudam a determinar valores, as metas, as estratégias e outras
estruturas que determinam o que a associação é e será. Os indivíduos e as
equipes trabalham juntos para determinar a direcção dos caminhos da
organização e ajudam a determinar os valores, os princípios e a missão da

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associação.
As actividades dos níveis 1, 2 e 3, portanto, tratam de questões práticas,
enquanto as actividades dos níveis 4 e 5 tratam de questões de poder. A
administração participativa é formada de contribuição de três argumentos
que não são mutuamente exclusivos.

Sumário

A gestão de recursos naturais, conforme vem definido em documentos


oficiais, pressupõe a administração de recursos como os florestais,
faunísticos, hídricos, minerais e outros, um processo que inclui o seu
controlo e uso em conformidade com a legislação, assegurando a
participação efectiva das instituições, comunidades locais e diferentes
organizações.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Perguntas
1- Através de exemplos, estabeleça diferenças entre diferentes níveis de
participação
2- Faca uma análise critica sobre a legislação moçambicana no que tange
as politicas preconizadas para a gestão comunitária dos recursos
naturais

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BIBLIOGRAFIA
1- BERKHOUT, F , Leach Melissa e Scoones I. Negotiating Environmental
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3- CAVACO, Maria Helena. Educação ambiental para o desenvolvimento:
testemunhos e noticias. Lisboa, Escolar Editora, 1992.
4- CHEREWA, Dionísio, ARMANDO, Atílio e OMBE, Zacarias. Perfil ambiental
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5- CORSON, Walter, H. Manual global de ecologia: O que você pode fazer a
respeito da crise do meio ambiente. S. Paulo, Editora Augustus, 1993.
6- KRISHNAMURTI. Natureza e Meio Ambiente. Lisboa, Edições 70, 1992.
7- MUCHANGOS, Aniceto dos. Moçambique, Paisagens e Regiões Naturais.
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8- NEVES, Mª Conceição M. Conhecer o ambiente- Biologia 8º ano. 2ª Edição.
Plátano Editora, Lisboa, 1991.
9- NHANTUMBO, Isila e outros, Implementação de REDD+ no corredor da
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10- NOVA, Elisa Vila. Educar para o ambiente-Projectos para a área-escola.
Lisboa, Textos Editora, 1994.
11- OLIVEIRA, Luis Filipe. Educação Ambiental- Guia prático para
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Lisboa, Texto Editora, 1998.

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12- Ombe, Zacarias Alexandre e FUNGULANE, Alberto; alguns aspectos da


conservacao da natureza em Mocambique; editor escolar; Mocambique;
S/D
13- OPPENHEIMER, Jocheu e RAPOSO, Isabel. A pobreza em Maputo. Lisboa,
Ministério de Trabalho e Solidariedade/Departamento de Cooperação,
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14- SEITZ, J. Questões globais uma introdução, Perspectivas Ecológicas,
Instituto Piaget, Lisboa, 1995.
15- SURVEY, A. Environment and Geography, International Programme on
Global Environmental Change, IGU, 1998.

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