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Categoria 1: Trabalhos Científicos

ESTRUTURA DE POPULAÇÕES DE JAQUEIRAS, SUBSÍDIOS PARA MANEJO E


CONSERVAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA
1
Rodolfo Cesar Real de Abreu
2
Pablo J. F. Pena Rodrigues

RESUMO: O Parque Nacional da Tijuca é uma Unidade de Conservação inserida em região de


Mata Atlântica do Rio de Janeiro onde a espécie exótica Artocarpus heterophyllus Lamk. foi
historicamente introduzida. Atualmente, tal espécie apresenta densas sub-populações que
aparentemente, de forma gradativa, vêm suprimindo espécies nativas. Este trabalho avaliou a
estrutura das sub-populações de jaqueiras de alguns sítios. Para tal, foram marcadas 20 parcelas
permanentes pelos Sítios onde todos os indivíduos com DAP ≥ 5 cm foram marcados e
mensurados. As estruturas das sub-populações demostraram que A. heterophyllus pode ser
considerada uma invasora da Mata Atlântica. Os resultados também fornecem subsídios para o
manejo da espécie, indicando que as formas de manejo levem em consideração a área basal de
indivíduos e não a densidade dos mesmos.

Palavras-chaves: Mata Atlântica; Artocarpus heterophyllus, Jaqueira, Ecologia de populações,


Parque Nacional da Tijuca.

INTRODUÇÃO
Historicamente, o bioma Mata Atlântica possuía uma área original de 1,36 milhão de km2, o
que equivalia a aproximadamente 15% do território brasileiro (SOS Mata Atlântica 2005).
Atualmente, seus remanescentes, dispostos em fragmentos florestais, estão reduzidos a menos
de 7,6% de sua área original (Myers et al., 2000a; Morellato & Haddad, 2000). Apesar disto, este
bioma ainda possui um altíssimo índice de biodiversidade, sendo considerado como um
importante hotspot e está teoricamente dentre os ecossistemas mais vulneráveis (Myers et al.,
2000a), não apenas pelo risco de extinção, mas também pela invasão por espécies exóticas.
Em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente (Rio 92) foi
elaborado o texto da Convenção sobre Diversidade Biológica - CDB, que define como um dos itens
prioritários (8º artigo) o cuidado com espécies exóticas e os problemas que estas podem causar à
biodiversidade (o decreto legislativo nº 2 de 1994 aprova a CDB). Pois os problemas relacionados
as espécies exóticas atingem praticamente todos os países do mundo (Cronk & Fuller 1995,
Willianson 1996, Pimentel et al. 2001) e a redução da biodiversidade mundial está diretamente
relacionada com a destruição direta de habitats e com as invasões biológicas, respectivamente
(Simberloff 2003).

1 e 2 – Jardim Botânico do Rio de Janeiro – Programa Mata Atlântica - Rua Pacheco Leão, nº 915,
sala 210. CEP:22460-030
1 – abreurcr@jbrj.gov.br
2 – pablo@jbrj.gov.br
Artocarpus heterophyllus Lamarck (Moraceae) é uma espécie originária do Sudeste Asiático
possivelmente da Índia (Chaves 1967; Ferrão 1993). A introdução desta espécie no Brasil ocorreu
durante o período colonial onde para cumprir instruções Régias, os Vice-Reis da Índia deveriam
enviar periodicamente para África e Brasil, além da Metrópole, plantas de interesse para tentar
introduzi-las nas novas regiões (Ferrão 1993). Em 1682, na Bahia, já havia 11 jaqueiras cuja
procedência é desconhecida. Porém, o primeiro registro de envio para o Brasil data de janeiro de
1683 pela Nau Sam Francisco Xavier (Ferrão 1993). As recém-chegadas sementes e mudas eram
enviadas a jesuítas do Jardim D’Ajuda, um horto em Salvador que tinha por finalidade a
aclimatação de espécies exóticas e que depois de aclimatadas eram enviadas para outras regiões
do País (Dean 2002). Esta espécie se adaptou tão bem ao clima do Brasil que chegou a ser
classificada erroneamente como Artocarpus brasilienses (Chaves 1967).
Em 1803, o Rio de Janeiro já possuía exemplares aparentemente naturalizados (Carauta
1969). Todavia, acredita-se que a introdução em algumas regiões de baixada e meia-encostas do
que atualmente conhecemos como Parque Nacional da Tijuca teve início no ano de 1862 através
do reflorestamento realizado sob a administração de Manoel Gomes Archer, o major Archer, na
Floresta da Tijuca e de Tomás Nogueira da Gama, na então Floresta das Paineiras (Bandeira
1993). Tal reflorestamento deu origem ao mito de que a floresta da Tijuca foi replantada em sua
totalidade.

Na Índia
Em seu país de origem, esta espécie é típica de estágios sucessionais avançados e cresce
naturalmente no sub-bosque da floresta tropical úmida até 1300m de altitude. É tolerante a
sombra, porém necessita de um pouco de luz e espaço para seu desenvolvimento durante os
estágios iniciais de vida, germinando melhor em clareiras. No habitat original, seus frutos
amadurecem entre julho e agosto e o número de sementes varia em tamanho e massa (1,5 – 14
g), entretanto, as sementes viáveis variam de 4 a 14 g de massa. Roedores, macacos e porcos
selvagens atuam como dispersores (Khan 2004).

No Brasil
Historicamente introduzida, atualmente sua distribuição engloba praticamente todo
território Nacional. Por sua distribuição ruderal, pode ser observada colonizando áreas abertas e
áreas de mata, ambas associadas a ambientes antrópicos. No Rio de Janeiro, coloniza
densamente áreas de borda de Mata Atlântica sendo encontrada em algumas Unidades de
Conservação de Proteção Integral tais como Parque Nacional da Tijuca e Reservas Biológicas de
Poço das Antas, da União e do Tinguá (Rodrigues et al. 2001, 2002, Rodrigues 2004).
Este estudo teve como objetivo descrever a estrutura e populacional da espécie exótica A.
heterophyllus além de detectar se esta exótica é de fato uma invasora da Mata Atlântica.

Área de Estudo
Até meados do século XVII, a área do atual Parque Nacional da Tijuca permaneceu
praticamente inalterada. A partir daí teve início a ocupação agrícola, com plantações de cana de
açúcar no século XVII e café nos séculos XVIII e XIX. O sistema de plantation do café fazia com
que as encostas da cidade fossem desmatadas e esta cultura gradativamente passou a ocupar o
lugar da floresta nativa. Com isto, a água das chuvas tinha dificuldade em penetrar o solo,
reduzindo a vazão de rios, dando início a grande seca experimentada pela população carioca da
época (Chaves et al. 1967; Ferrão 1993; Dean 2002). Visando a mitigação deste problema, D.
Pedro II ordenou o restabelecimento das matas nas encostas dando início a um reflorestamento,
nas áreas desmatadas, utilizando espécies nativas e exóticas consorciadas, onde a popular
jaqueira foi introduzida na área do Parque (Dean 2002). Ressalta-se que tal reflorestamento não
ocorreu em toda a Floresta da Tijuca e a dispersão de espécies provenientes dos remanescentes
de mata nativa próximos as áreas reflorestadas, colaborou com o aumento da diversidade nos
fragmentos reflorestados (Atala et. al, 1966).
Antes da criação do Parque Nacional da Tijuca, foram criadas as Florestas da Tijuca e das
Paineiras (1861). O Parque tinha o nome de Parque Nacional do Rio de Janeiro (1961), o qual foi
alterado em 1967 para Parque Nacional da Tijuca, quando as áreas da Floresta da Tijuca, do
Morro da Carioca (Trapicheiro, Sumaré, Corcovado e Paineiras), da Pedra da Gávea e da Pedra
Bonita foram anexadas. O PARNA da Tijuca possui uma área de aproximadamente 4.000 ha. Está
localizado no centro da cidade do Rio de Janeiro, nas montanhas do Maciço da Tijuca. O clima do
Parque apresenta abundantes precipitações com ausência de período seco no inverno (IBAMA
2004).
Atualmente, o crescimento urbano desordenado, principalmente de favelas e de
condomínios, tem sido um dos principais problemas relativos a esta UC. Mesmo assim, esta UC
ainda é considerada uma das maiores florestas urbanas do mundo e em 1991 foi elevada à
categoria de Reserva da Biosfera (IBAMA 2005).

METODOLOGIA
A ESPÉCIE
O nome genérico e o epíteto têm origem grega: ártos – alimento e karpós – fruto. O
epíteto heterophyllus significa “diferentes folhas”, tais folhas são inteiras na árvore adulta, mas
recortadas nos indivíduos juvenis (Chaves 1967).
Considerada uma árvore de grande porte, atinge mais de 10 m de altura, seu tronco pode
ultrapassar 1 m de diâmetro. Possui folhas alternas, que amarelecem no próprio indivíduo, antes
de caírem. As flores masculinas e femininas são vistas em inflorescências distintas, saindo
diretamente do tronco. O fruto da jaqueira, um dos maiores que se conhece, é na realidade uma
infrutescência formada pelo agregado dos ovários de centenas de flores femininas, cada uma
delas contendo uma semente. Uma jaqueira bem desenvolvida chega a produzir até 100 frutos
por ano. E a variedade mais abundante no Rio de Janeiro (a jaca-dura) produz os maiores frutos,
alguns deles chegando a pesar mais de 30 quilos. Sua madeira é utilizada para construções navais
devido a sua capacidade de resistência em meio líquido e na Bahia fazem-se móveis com as
variedades de jaqueiras cultivadas (Chaves 1967).

Amostragem das Sub-populações de A. heterophyllus


No ano de 2001, em um estudo piloto com sub-populações de jaqueiras em algumas
Unidades de Conservação do Rio de Janeiro (Reserva Biológica União, Parque Nacional da Tijuca e
Reserva Biológica do Tinguá) determinaram-se o tamanho ideal das parcelas e as áreas
prioritárias para a realização de estudos.
Após este estudo, em 2004, optou-se pela marcação de parcelas permanentes no ParNa
Tijuca, distribuídas por 5 Sítios. O Sítio 1 (S1) foi composto por 6 parcelas, o Sítio 2 (S2) por duas
e os demais Sítios (S3, S4 e S5) por 4 parcelas.
Nos sítios, foram alocadas 20 parcelas circulares com 10 metros de raio (314m2 cada),
totalizando uma área amostral de 0,628 ha. Indivíduos com diâmetro a altura do peito (DAP) ≥ 5
cm, foram marcados e mensurados com fita diamétrica.
A densidade de jaqueiras e a área basal de todos os indivíduos foram calculadas.
Indivíduos com troncos múltiplos visivelmente interligados foram considerados um único
indivíduo. Para isto, cada tronco foi medido separadamente e posteriormente somaram-se suas
áreas basais, da área basal resultante, obteve-se um único diâmetro virtual. Também foi
observada a presença de estruturas reprodutivas ou vestígios destas.

Estruturas de Diâmetros
A partir dos DAPs amostrados, foram calculadas as áreas basais de todos os indivíduos.
One-Way ANOVAs seguidas de testes a posteriori tipo Tukey (HSD para Ns desiguais; p < 0,05)
foram utilizadas para verificar se os parâmetros analisados diferiam significativamente entre os
Sítios. Além disso, foram elaborados histogramas de freqüências para verificar o tipo de
distribuição por classes de diâmetro em cada Sítio. Tanto os histogramas quanto os tratamentos
estatísticos utilizados foram elaborados a partir do programa STATISTICA 6.0 .
Histogramas de freqüências foram elaborados para os sítios estudados onde as classes de
diâmetros adotadas foram estabelecidas arbitrariamente de acordo com critérios observados no
campo (e.g., presença de estruturas reprodutivas, tipo de casca do tronco), e objetivando futuras
comparações com outros estudos sobre populações de árvores e comunidades. Nas comparações
entre os sítios, tais histogramas foram elaborados com ênfase na porcentagem de indivíduos nas
diferentes classes, uma vez que os números de parcelas e de indivíduos diferiram entre os
mesmos.
Para tais comparações, a classe inicialmente utilizada englobou indivíduos com DAP
variando de 5 a 9,99 cm – CLASSE 1, os indivíduos desta classe caracterizaram-se por arvoretas
de pequeno e médio porte com copa pouco desenvolvida. A CLASSE 2 caracterizou-se por árvores
de pequeno e médio porte com DAP variando de 10 a 14,99 cm ainda com copa
proporcionalmente pouco desenvolvida. A CLASSE 3 reuniu indivíduos de 15 a 24,99 cm de DAP,
sendo composta por grandes árvores imaturas (não reprodutivas) com copa relativamente ampla.
Os indivíduos reprodutivos foram divididos nas classes 4 E 5. Os indivíduos da CLASSE 4 tiveram
o DAP variando de 25 a 44,99 cm, apresentaram tronco liso e copa ampla. A CLASSE 5 englobou
os indivíduos com diâmetro igual ou superior a 45 cm, apresentavam fendilhamentos na casca e
copa ampla.
Desta forma as 5 classes de tamanho (DAP em cm) estabelecidas foram:
(5 – 10] CLASSE 1,
(10 – 15] CLASSE 2,
(15 – 25] CLASSE 3,
(25 – 45] CLASSE 4,
≥ 45 CLASSE 5.

RESULTADOS
Densidade e Área Basal
Os Sítios 1 e 2 exibiram elevada AB total, respectivamente 2,482 e 2,338 m2, enquanto os
demais sítios apresentaram AB total em torno de 1,9 m2 (tabela 1). Mesmo assim, a AB de
jaqueiras foi relativamente semelhante em todos os sítios, variando de 1,466 m2 em S4 até 1,812
m2 em S2. S1, apresentou a menor porcentagem do número de jaqueiras (71,7%), porém, exibiu
a 2ª maior porcentagem da AB de jaqueiras (82,9%). Nos Sítios 1, 2 e 5, a porcentagem do
número de jaqueiras foi superior a 82% e em S3 e S4 aproximadamente 72%. A densidade
(n.m-2) foi maior em S1 (0,104) e menor em S3 (0,0669), enquanto a AB.m-2 foi semelhante em
todos os Sítios amostrados, variando em torno de 0,005 jaqueiras.m-2. Nenhum dos parâmetros
analisados apresentou diferença significativa (p < 0,05 teste tipo Tukey para Ns desiguais) entre
os sítios estudados (tabela 1).
Os Sítios 1, 2 e 5 exibiram um número de imaturos semelhante, porém, analisando-se o
número de adultos, os Sítios 1 e 4 mostraram uma maior proximidade. Na porcentagem do
número de indivíduos, S4 destaca-se dos demais exibindo a porcentagem mais baixa de imaturos
e, conseqüentemente, a mais alta de adultos. A menor AB de imaturos foi encontrada em S3
(0,162 m2) e a maior em S2 (0,336 m2). Para os adultos, S5 exibiu a maior AB (1,534 m2) e S4,
com 1,273 m2, a menor. Nenhum dos parâmetros analisados diferiu significativamente (p < 0,05
teste tipo Tukey para Ns desiguais) entre os sítios (tabela 2).

Estruturas de diâmetros das sub-populações


Como padrão geral, nos Sítios estudados, os histogramas de freqüências (figuras 1 a 5)
exibiram distribuição em forma de “J” reverso nos quais a classe de indivíduos JUVENIS 1 foi a de
maior representatividade, variando de 28% dos indivíduos em S4 até 51% em S3, possivelmente
indicando uma regeneração das sub-populações (Figuras 1 a 5).

DISCUSSÃO
O histórico do ParNa Tijuca explica, em parte, a introdução e a presença da espécie
Artocarpus heterophyllus em algumas áreas deste (Bandeira 1993; Dean 2002). Porém, a
monodominância em densidade e biomassa da jaqueira em alguns trechos da floresta (Cunha
2005), pode estar relacionada com diversos fatores, que convergem para o fato desta espécie ser
exótica à região.
Espécies exóticas, teoricamente, ao chegarem em uma nova região, encontram-se livres
de herbívoros e predadores reguladores de suas populações, presentes no ambiente nativo, ou
seja, escapam de seus inimigos naturais – hipótese do escape dos inimigos (Sax & Brown 2000;
Keane & Crawley 2002). Desta forma, recursos do vegetal que eram previamente alocados na
defesa contra herbivoria podem ser redirecionados para o crescimento e reprodução (Hänfling &
Kollman 2002), assim, é natural que exóticas cresçam mais e reproduzam-se melhor nos
ambientes invadidos (Jakobs et al. 2004). Além disso, freqüentemente as bioinvasões ocorrem a
partir de bordas florestais (Fensham & Cowie 1998; Stohlgren et al. 2002) e tal fato têm sido
observado, em ecossistemas brasileiros, em gramíneas no Cerrado (Klink 1996; Pivello et al.
1999; Rodrigues-da-Silva & Filgueiras 2003) e em palmeiras na Mata Atlântica (Dislich et al.
2002) e na Amazônia (Scariot 2001). Mesmo com a ocorrência de espécies exóticas no Brasil,
trabalhos com ênfase populacional em espécies arbóreas e espécies invasoras ainda são raros.
Além desses e outros fatores ambientais, fatores climáticos locais e regionais podem estar
favorecendo o estabelecimento e propagação de A. heterophyllus na Mata Atlântica. Neste
contexto, as estruturas de diâmetros, aliadas ao conhecimento da biologia da espécie, podem
fornecer valiosas informações sobre o processo sucessional experimentado pela população (White
1980). Diferentes classes de tamanho podem compor uma população estável, e a proporção entre
tais classes irá variar de acordo com os fatores abióticos e bióticos que seus indivíduos, ou seus
ancestrais, experimentaram historicamente (Sarukhán 1980; Hutchings 1986).
No habitat original, na Índia, A. heterophyllus é uma espécie de sub-bosque que ocorre em
florestas tropicais úmidas monodominantes, onde poucas espécies dominam os diferentes estratos
da mata. Neste ambiente, A. heterophyllus é classificada, em geral, como espécie rara (Ayyappan
& Parthasarathy, 1999; Chittibabu & Parthasarathy, 2000), e tolerante à sombra, com suas
sementes germinando melhor em clareiras do que em ambientes sombreados (Khan 2004). Além
disso, a espécie exibe dispersão baricórica e zoocórica direta ou indireta, distribuição espacial
agregada e apresenta um período de frutificação bem definido, abrindo seus frutos durante os
meses de julho-agosto (Khan 2004), onde suas sementes, com taxa de predação relativamente
alta, germinam ainda na estação chuvosa, durante o verão (maio-setembro) no qual ocorrem
85% da precipitação anual (Chittibabu & Parthasarathy 2000) e, sendo assim, suas plântulas
podem tolerar bem a estação seca (dezembro-fevereiro).
No PARNA Tijuca, observações de campo mostraram que a espécie não exibe sincronismo
em relação ao período de frutificação, isto é, indivíduos distintos, ainda que vizinhos, frutificam
em diferentes períodos do ano. Este fator, associado a alta produção de sementes dos indivíduos
(Carauta 1969), possivelmente explica a grande capacidade de expansão das populações
estudadas nas áreas de Mata Atlântica colonizadas.
Apesar da remoção de plantas e animais exóticos e do controle de predadores e parasitas
que ameaçam espécies raras estarem se tornando ferramentas essenciais para a manutenção da
biodiversidade (Wilcove & Chen, 1998). E embora o PNT, na qualidade de Unidade de
Conservação (UC) esteja destinado a preservar a flora e a fauna nativas. A erradicação das
exóticas inseridas no âmbito deste PARNA, somente deve ser feita após o conhecimento
populacional detalhado destas espécies e do habitat, para que não haja um comprometimento de
outras espécies da fauna ou flora que já podem estar associadas às exóticas (Cunha 2005) e até
mesmo para que as técnicas corretas de remoção sejam aplicadas.
Neste contexto, os resultados deste trabalho fornecem subsídios para o manejo da espécie
exótica A. heterophyllus no PARNA Tijuca, ao passo que demonstram que as proporções entre
número de indivíduos e área basal (tabela 1), e entre indivíduos imaturos e adultos (tabela 2) em
um mesmo Sítio, são distintas. Ou seja, ao considerarmos o manejo de determinada área todos
estes fatores devem ser levados em conta, pois devemos ser cautelosos quanto ao tamanho e a
qualidade dos indivíduos manejados.
O manejo das populações de Jaqueiras no PARNA Tijuca deve ser analisado
cuidadosamente, pois a erradicação total é extremamente difícil, e ainda pode causar problemas
ao solo e às espécies associadas. Além disso, somente a erradicação pode não ser suficiente para
que o ecossistema atingido recupere suas funções naturais, pois estes locais estariam sujeitos a
novas invasões e ao abandono pela fauna nativa, devido por exemplo a escassez de comida ou
abrigo (Zavaleta et al., 2001).
Por outro lado, um processo de revegetação inadequado poderá tornar o solo vulnerável à
erosão, e dificultar o futuro estabelecimento das espécies nativas (Enright, 2000). Um influxo
persistente de indivíduos exóticos pode tornar a erradicação apenas temporária e para evitar tal
fato é importante detectar a invasora ainda em baixas densidades (Myers et. al, 2000b). Neste
caso, é também conveniente incentivar programas de erradicação, desta e de outras espécies
exóticas, especialmente em Unidades de Conservação.
Em programas devem estar inseridos estudos sobre as populações e comunidades de locais
invadidos e/ou de locais próximos similares, onde as comunidades originais estejam preservadas.
Paralelamente, também é recomendada a produção e plantio de mudas de espécies nativas, o que
pode resultar em uma vegetação semelhante a original. Com isto, através da restauração
ecológica, processos e padrões naturais dos ecossistemas poderiam ser recuperados, assegurando
o sucesso da restauração e a sustentabilidade do ecossistema no longo prazo.

CONCLUSÕES
Os estudos ecológicos acerca das espécies exóticas alvo e do ecossistema em questão são
fundamentais para a escolha correta dos métodos de remoção e para o sucesso dos Programas de
Erradicação. A presença de espécies exóticas pode ser explicada pelo histórico local e a
dominância das mesmas por estudos populacionais. E o manejo da exótica invasora A.
heteroplhyllus, deve ser efetuado com cautela, levando-se em conta a fauna associada, o relevo
local e a recomposição da flora nativa nas áreas invadidas.

RECOMENDAÇÕES
Recomenda-se o manejo da espécie, especialmente em Unidades de Conservação,
densamente colonizadas.
AGRADECIMENTOS

À PETROBRÁS e À FUNDAÇÃO BOTÂNICA MARGARET MEE pelo apoio financeiro,


ao PROGRAMA MATA ATLÂNTICA do Jardim Botânico do Rio de Janeiro pelo apoio
logístico. AO IBAMA - PARNA Tijuca. Aos pesquisadores que colaboraram no trabalho e
campo e com sugestões.

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ANEXOS

Tabela 3.1. Sumário dos parâmetros analisados nos sítios estudados (média ± desvio padrão).
ABtotal = área basal de todos os indivíduos com DAP ≥ 5 cm; ABjaq = área basal ocupada pelos
indivíduos de A. heterophyllus com DAP ≥ 5 cm; % AB jaq = porcentagem da área basal de
jaqueiras; n total = número de indivíduos amostrados; n jaq = número de jaqueiras amostradas; %
n jaq = porcentagem do número de jaqueiras amostradas; d x 102 = densidade de jaqueiras
(indivíduos. m-2) x102 ; AB jaq/m2 (x 102) = área basal de jaqueiras por m2 x102 ; ; ANOVA =
valores de MS para One Way ANOVAs, df = 15, p < 0,05, teste tipo Tukey para Ns desiguais;
AB total AB jaq % % AB jaq/m2
Sítios (nº) (m2) (m2) ABjaq n total n jaq njaq 2
d (x10 ) (x 102)
1 (6) 2,482 ± 1,098 1,660 ± 0,915 66,9 37,5 ± 11,5 32,7 ± 14 87,2 10,40 ± 4,5 0,528 ± 0,291
2 (2) 2,338 ± 0,479 1,812 ± 0,445 77,5 37,5 ± 10,6 31 ± 14,1 82,7 9,88 ± 4,5 0,577 ± 0,141
3 (4) 1,965 ± 0,749 1,629 ± 1,037 82,9 29,3 ± 5,1 21 ± 7,4 71,7 6,69 ± 2,37 0,518 ± 0,330
4 (4) 1,919 ± 0,581 1,466 ± 0,789 76,4 33,3 ± 5,7 24 ± 9,4 72,1 7,65 ± 2,99 0,467 ± 0,251
5 (4) 1,970 ± 0,734 1,755 ± 0,658 89,1 36,3 ± 13,9 30 ± 13 82,6 9,55 ± 4,15 0,559 ± 0,209
ANOVA 0,70433 0,71875 102,28 141,16 14,315

Tabela 3.2. Padrões dos sítios estudados (média ± desvio-padrão). Imaturos = indivíduos com
DAP variando de 5 a 24,99 cm; adultos = indivíduos com DAP a partir de 25 cm; n = número de
indivíduos; % n = porcentagem do número de indivíduos; AB = área basal; % AB = porcentagem
da área basal; ANOVA = valores de MS para One Way ANOVAs, df = 15, p < 0,05, teste tipo
Tukey para Ns desiguais;
Imaturos Adultos
Sítios (nº) n %n AB % AB n %n AB % AB
1 (6) 23,2 ± 9,88 70,95 0,282 ± 0,143 16,99 9,5 ± 5,55 29,05 1,378 ± 0,815 83,01
2 (2) 24,5 ± 13,4 79,03 0,336 ± 0,194 18,54 6,5 ± 0,7 20,97 1,476 ± 0,249 81,46
3 (4) 15,5 ± 6,8 72,94 0,162 ± 0,074 9,94 5,75 ±1,26 27,06 1,468 ±1,071 90,06
4 (4) 14,5 ± 5,3 61,05 0,194 ± 0,107 13,24 9,25 ± 5,12 38,95 1,273 ± 0,721 86,76
5 (4) 22 ± 10,8 73,33 0,215 ± 0,107 12,30 8 ± 2,58 26,67 1,534 ± 0,623 87,70
ANOVA 82,889 0,01498 17,167 0,63681
Sítio 1
51% 100

80

Porcentagem do número de indivíduos


41%
74; 38%

Número de indivíduos
31% 60

40; 20%
20% 40
34; 17%
31; 16%

10% 17; 9% 20

0%
0% 0
(5-10] (10-15] (15-25] (25-45] >45
DAP (cm)

Figura 1 - Distribuição de freqüências das classes de diâmetros à altura do peito (DAP) dos
indivíduos de A. heterophyllus no Sítio 1, composto por 6 parcelas no Parque Nacional da Tijuca -
RJ.

Sítio 2
56% 35

48% 30
Porcentagem do número de indivíduos

40% 25
23; 37% Número de indivíduos

32% 20

24% 15
13; 21% 13; 21%

16% 10
8; 13%

5; 8%
8% 5

0%
0% 0
(5-10] (10-15] (15-25] (25-45] >45
Horto

Figura 2 - Distribuição de freqüências das classes de diâmetros à altura do peito (DAP) dos
indivíduos de A. heterophyllus no Sítio 2, composto por 2 parcelas no Parque Nacional da Tijuca -
RJ.
Sítio 3

54% 43; 51% 45

Porcentagem do número de indivíduos


43% 36

Número de indivíduos
32% 27

21% 18

12; 14% 12; 14%


10; 12%
11% 7; 8% 9

0%
0% 0
(5-10] (10-15] (15-25] (25-45] >45
DAP (cm)

Figura 3 - Distribuição de freqüências das classes de diâmetros à altura do peito (DAP) dos
indivíduos de A. heterophyllus no Sítio 3, composto por 4 parcelas no Parque Nacional da Tijuca -
RJ.

Sítio 4
53% 50
Porcentagem do número de indivíduos

42% 40

Número de indivíduos

32% 30
27; 28%
25; 26%

21% 20
16; 17% 16; 17%

11; 12%
11% 10

0%
0% 0
(5-10] (10-15] (15-25] (25-45] >45

DAP (cm)

Figura 4 - Distribuição de freqüências das classes de diâmetros à altura do peito (DAP) dos
indivíduos de A. heterophyllus no Sítio 4, composto por 4 parcelas no Parque Nacional da Tijuca -
RJ.
Sítio 5

50% 60

53; 44%

Porcentagem do número de indivíduos


42%

45

Número de indivíduos
33%

25% 30
24; 20%

19; 16%
17%
13; 11% 15
11; 9%
8%

0%
0% 0
(5-10] (10-15] (15-25] (25-45] >45

DAP (cm)

Figura 5 - Distribuição de freqüências das classes de diâmetros à altura do peito (DAP) dos
indivíduos de A. heterophyllus no Sítio 5, composto por 4 parcelas no Parque Nacional da Tijuca -
RJ.

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