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Ecology, Genetics and Conservation of the Critically Endangered Admirable Red-Belly Toad (Melanophryniscus admirabilis) View project
Diversity, Ecology and Conservation of Marine Tetrapods in the western South Atlantic Ocean View project
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De modo geral, répteis despertam pouco interesse popular A aplicação dos critérios empregados na elabora-
no que concerne à conservação das espécies. Este descaso ção da lista das espécies da fauna ameaçadas de extinção
se deve, em parte, à falta de informação, ao medo, ou à no Rio Grande do Sul (Marques et al. 2002) resultou no
antipatia que a maioria das pessoas tem em relação a al- enquadramento de 15% das espécies de répteis do Estado
guns desses animais, como lagartos, serpentes e cobras-de- em alguma categoria de ameaça. Quatro espécies de ser-
duas-cabeças (ou anfisbenas). Recentemente, porém, alguns pentes e uma de lagarto foram consideradas Em Perigo e
répteis vêm recebendo crescente atenção através de cam- nove espécies de serpentes e três de lagartos foram consi-
panhas destinadas especificamente à sua proteção, como é deradas Vulneráveis (Borges-Martins et al. 2002).
1
impossibilitaram um julgamento adequado de seu estado muitos exemplares coletados em diferentes regiões te-
de conservação atual. A lagartixa-listada (Cercosaura nham sido registrados como procedentes de um mesmo
ocellata petersi), por exemplo, foi registrada para o Rio local. A serpente Ditaxodon taeniatus, por exemplo, foi
Grande do Sul com base em dois exemplares coletados há registrada para o Rio Grande do Sul com base em dois
várias décadas no município de Santa Maria (Ruibal 1952). exemplares. Um é o holótipo da espécie e consta ter sido
Casos similares são os da lagartixa-azul (Stenocercus coletado em Porto Alegre no século XIX (Hensel 1868);
azureus), conhecida apenas de Quaraí e Tupanciretã (Lema o outro exemplar não tem localidade específica (Morato
& Fabián-Beurmann 1977, Lema 1994), de uma espécie 1995). Atualmente, porém, essa espécie tem sido encon-
de cobra-coral (Micrurus decoratus), citada para São trada apenas na região dos campos do segundo planalto
Leopoldo e para uma localidade não especificada do Esta- paranaense, onde é rara (Morato et al. 1995a). Da mes-
do (dois indivíduos; Lema & Azevedo 1969, Hoge & Ro- ma forma, há dois registros no Estado para a cabeça-
mano-Hoge 1979), de outra cobra-coral, Micrurus preta-de-cinco-listras (Elapomorphus quinquelineatus),
lemniscatus, registrada somente para Eugênio de Castro um sem localidade específica e outro para Canguçu, na
(um indivíduo; Di-Bernardo et al. 2001), da serpente região sul (Lema 1992, 1994). No entanto, essa espécie é
Apostolepis quirogai, registrada para Santo Ângelo (um própria da Mata Atlântica, ecossistema muito diferente
indivíduo; Lema & Cappellari 2001), de uma espécie de do existente na região em que foi supostamente regis-
muçurana (Clelia bicolor), indicada para Pelotas (um indi- trada no Estado. A cobra-coral-de-cintas-simples
víduo; Zaher 1996) e, por fim, do cágado-de-barbelas- (Micrurus corallinus) foi registrada para várias localida-
pintado (Phrynops geoffroanus), registrado para Severiano des do Rio Grande do Sul, mas sua ocorrência provavel-
de Almeida (um indivíduo; Lema & Ferreira 1990). mente está restrita às regiões de floresta atlântica. Acre-
Outras duas espécies, uma cobra-de-vidro (que, dita-se que os registros para o RS tenham sido feitos a
apesar do nome, é um lagarto) e uma cobra-de-duas- partir de exemplares obtidos junto a museus escolares,
cabeças (uma anfisbena), foram citadas para o Rio Grande cuja proveniência nem sempre é confiável. Essa espécie
do Sul sem indicação precisa das localidades onde os é muito comum no litoral catarinense, região que recebe
registros ocorreram. Isto impediu qualquer avaliação do grande número de veranistas gaúchos. Portanto, é possí-
estado de conservação dos hábitats que essas espécies vel que os exemplares depositados em escolas do Rio
ocupam e, em conseqüência, a inferência de possíveis Grande do Sul (e mesmo em coleções científicas) tenham
ameaças que as afetam, comprometendo a aplicação de sido coletados em Santa Catarina. Caso similar é o da
alguns dos critérios propostos. Nesta situação enquadra- serpente Chironius laevicollis, que foi registrada para o
ram-se a cobra-de-vidro-pequena (Ophiodes vertebralis), RS por Lema et al. (1984), com base em um exemplar
cuja série-tipo é composta por exemplares procedentes encontrado na coleção didática da Escola Estadual Olinda
do sul do Brasil e Uruguai (Borges-Martins 1998), e a Flores da Silva, de São Leopoldo. Esta espécie ocorre
cobra-de-duas-cabeças Leposternon microcephalum, da principalmente ao longo da floresta atlântica da costa
qual somente um exemplar é conhecido para o Estado sudeste do Brasil, desde Espírito Santo e Minas Gerais
(Gans 1971). até Santa Catarina (Dixon et al., 1993). A eventual con-
Há ainda o caso de outras quatro espécies de ser- firmação da ocorrência dessas quatro espécies no Estado
pentes registradas para o Rio Grande do Sul através de poderia ser suficiente para o seu enquadramento em al-
exemplares depositados em coleções científicas, mas cujos guma das categorias de ameaça.
dados de procedência são questionáveis. Para a maioria A fim de utilizar critérios objetivos e consisten-
delas, os registros são antigos, baseados em poucos exem- tes, seguiu-se aqui a proposta a ser adotada por Di-
plares, e as localidades citadas como sendo as de coleta Bernardo et al. (em preparação), de desconsiderar as es-
são distantes e possuem ecossistemas muito diferentes pécies cuja ocorrência no Rio Grande do Sul tenha sido
das regiões para as quais existem registros atuais confir- registrada com base apenas em informações de terceiros,
mados. Equívocos na indicação da procedência de exem- sem que os espécimes correspondentes tenham sido
plares eram muito freqüentes no passado, principalmen- coletados e depositados em coleções científicas. Nesta
te quando pesquisadores estrangeiros realizavam expe- situação encontram-se a sucuri-amarela (Eunectes
dições científicas por diferentes regiões da América do notaeus) e outras oito espécies de serpentes (Chironius
Sul, ou mesmo se estabeleciam nelas, coletando muitos flavolineatus, Liophis meridionalis, Liophis reginae,
Répteis
animais que eram posteriormente enviados aos museus Liophis typhlus, Lystrophis semicinctus, Rachidelus
de seus países de origem. Dessa maneira, é possível que brazili, Sibynomorphus mikanii e Siphlophis pulcher).
2
Cinco espécies de tartarugas marinhas ocorrem no no litoral sul, há uma população bem conservada (Lema
litoral do Rio Grande do Sul (Lema & Ferreira 1990, Lema 1994). No passado, essa espécie sofreu uma pressão de
1994). Como nos demais estados da Região Sul do Bra- caça relativamente intensa, que visava principalmente a
sil, o litoral do RS não apresenta áreas próprias para a utilização do seu couro, considerado de melhor qualida-
desova de tartarugas marinhas, mas é utilizado regular- de que o das demais espécies do gênero (Scott et al. 1990,
mente por algumas espécies como área de alimentação, Ross 1998). Atualmente, a caça diminuiu consideravel-
pelo menos em alguma etapa do seu desenvolvimento. mente em razão de vários fatores, como a diminuição da
Por esta razão, o litoral sul do Brasil foi recentemente densidade da espécie na natureza, o aumento da fiscali-
considerado uma área de extrema importância biológica zação, o aumento dos custos da caça ilegal e a preferên-
para a conservação das tartarugas marinhas (Fundação cia dos comerciantes por couros oriundos de abatedouros
BIO-RIO et al. 2002). A tartaruga-de-couro (Dermochelys legalizados (Ross 1998). Por outro lado, a destruição do
coriacea), a tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta) e a tar- hábitat aumentou sensivelmente nos últimos anos, sendo
taruga-verde (Chelonia mydas) são espécies registradas considerada atualmente a principal ameaça à espécie.
com freqüência no Rio Grande do Sul, enquanto a tarta- Contudo, o jacaré-do-papo-amarelo é tolerante em re-
ruga-de-pente (Eretmochelys imbricata) e a tartaruga- lação à qualidade do hábitat e sobrevive em ambientes
oliva (Lepidochelys olivacea) ocorrem apenas ocasional- moderadamente alterados, podendo ser observado em
mente (Nakashima et al. 2001). Pressões antrópicas so- áreas utilizadas para agricultura (MBM, obs. pes.) ou
bre as tartarugas marinhas têm sido detectadas na re- para a criação extensiva de gado (Scott et al. 1990,
gião, como por exemplo a captura acidental em redes de Verdade & Lavorenti 1990). Atualmente, está incluído
pesca costeira (Areco 1997, Ott et al. 1999) e em espinhéis na lista brasileira de espécies ameaçadas de extinção,
oceânicos (Barata et al. 1998), além da ingestão de plás- que se encontra em revisão, e já foi considerado amea-
ticos e outros detritos (Bugoni et al. 2001). Contudo, de- çado pela IUCN (Groombridge 1982, Thorbjarnarson
vido ao comportamento altamente migratório das tarta- 1992). Entretanto, a IUCN não relaciona o jacaré-do-
rugas marinhas, é difícil avaliar criteriosamente a mag- papo-amarelo como espécie ameaçada desde 1996 (IUCN
nitude dessas ameaças à sobrevivência das espécies em 1996, Hilton-Taylor 2000).
escala regional. Somem-se a isto a carência de informa- Em vista de sua área de ocupação atual no Esta-
ções históricas e recentes sobre as tendências do, da redução significativa da caça e de sua aparente
populacionais dessas espécies e a falta de estimativas de capacidade para resistir às principais alterações de
mortalidade associadas às diferentes artes de pesca. Ainda, hábitat, o jacaré-do-papo-amarelo não foi enquadrado
pouco se conhece sobre a composição populacional das como espécie regionalmente ameaçada. Sugere-se, con-
diferentes espécies no Atlântico sul, especialmente nas tudo, que sejam seguidas as ações prioritárias indicadas
áreas de alimentação do sul do Brasil. Considerou-se, pela IUCN para a espécie no Brasil (Ross 1998), que
assim, que avaliações em nível global são mais apropri- incluem a execução de monitoramentos para avaliação
adas para as tartarugas marinhas, motivo pelo qual elas detalhada do estado de conservação da espécie e a de-
3
VU
Calamodontophis paucidens (Amaral, 1935)
[
considerada rara, existindo apenas 12 exemplares deposi-
tados em coleções. Entre eles, nove procedem de um mes-
[
mo município do Rio Grande do Sul, Cachoeira do Sul
(Franco et al. 2001). O achado de indivíduos em áreas
[
[
#
# # [ acentuadamente alteradas pela ação antrópica e a captura
#
##
recente (posterior a 1990) de oito dos 12 exemplares co-
nhecidos dificultam ainda mais as interpretações sobre a
[ situação populacional da espécie.
[
Ameaças
Embora não tenham sido identificadas ameaças especí-
ficas, a espécie é considerada Vulnerável devido à restri-
ção de sua distribuição geográfica e sua raridade natu-
ral. Como C. paucidens parece tolerar alterações
antrópicas no hábitat, vivendo mesmo em jardins
Biologia
residenciais e no interior de monoculturas arbóreas, a
Todos os exemplares procedentes do Rio Grande do Sul
interação com humanos pode ser freqüente e resultar no
foram coletados em localidades situadas na Depressão
abate de exemplares.
Central, entre o Planalto Sul-Rio-Grandense (ou Serra
do Sudeste) e a borda sul do Planalto Meridional do Bra- Ações Recomendadas
sil (Franco et al. 2001). Essa região foi originalmente Desenvolver um programa de educação ambiental jun-
coberta por savanas e por florestas decíduas e to à comunidade rural e urbana de Cachoeira do Sul
semidecíduas (IBGE 1986). Como cinco indivíduos fo- município de onde provieram nove dos 12 exemplares
ram encontrados em jardins de casas ou em plantações conhecidos de C. paucidens para auxiliar no reco-
de nogueiras (Carya illinoensis), Franco et al. (2001) con- nhecimento da espécie e na compreensão da necessida-
sideraram os 12 registros existentes insuficientes para de de sua conservação.
caracterizar o hábitat da espécie. Por outro lado, o en-
Localizar populações adicionais da espécie.
contro desses exemplares parece indicar a capacidade
Investigar a biologia da espécie.
que a espécie tem de sobreviver em hábitats alterados.
Répteis
4
VU
Clelia plumbea (Wied-Neuwied, 1820)
Nome vulgar: Muçurana-de-barriga-branca
Ordem: Squamata
Família: Colubridae
Situação Mundial: Não ameaçada
Categoria de Ameaça no RS: Ameaçada Vulnerável (A3 B3 C+ D3 E+) Figura ????
[
Ameaças
[
[ A principal ameaça à muçurana-de-barriga-branca no Rio
Grande do Sul é a destruição e descaracterização dos re-
manescentes da floresta atlântica de planície. Pouco resta
desse ecossistema no Rio Grande do Sul e as áreas atual-
[
mente protegidas são pequenas.
[
Ações Recomendadas
Proteger de forma efetiva os remanescentes de flores-
ta atlântica do Estado, em particular aqueles ainda
existentes no litoral norte do Rio Grande do Sul.
Garantir a preservação da mata do Faxinal (ou de
Itapeva), em Torres, através da implementação do P. E.
Biologia de Itapeva (em processo de criação pela SEMA), e dos
É uma serpente de grande porte. O maior exemplar conheci- remanescentes florestais da região da Lagoa do Morro
do é uma fêmea com mais de 250 cm de comprimento total do Forno, em Morrinhos do Sul/Dom Pedro de
(Zaher 1996). Possui dentes injetores de peçonha localizados Alcântara, através da criação de uma unidade de con-
5
VU
Dipsas incerta (Jan, 1863)
Situação Populacional
[
Não há informações sobre a situação populacional da
[ dormideira-das-árvores no Rio Grande do Sul. Contudo,
em decorrência da acentuada destruição e
#
[
descaracterização da Mata Atlântica no Estado, pode-se
#
# inferir que a espécie tenha sofrido um significativo declínio
[
[
[ populacional.
Ameaças
A principal ameaça para D. incerta é a destruição e
[
descaracterização do hábitat.
[
Ações Recomendadas
Proteger de forma efetiva os remanescentes dos
ecossistemas floresta com araucária, floresta atlânti-
ca e floresta estacional na área de ocorrência conhe-
cida e potencial da espécie.
Biologia Garantir a preservação da mata do Faxinal (ou de
Muitos aspectos da biologia e ecologia da dormideira- Itapeva), em Torres, através da implementação do P.
das-árvores são completamente ignorados, provavel- E. de Itapeva (em processo de criação pela SEMA), e
mente pela dificuldade que se têm de observar indiví- dos remanescentes florestais da região da Lagoa do
duos na natureza e, conseqüentemente, de se capturar Morro do Forno, em Morrinhos do Sul/Dom Pedro de
e depositar exemplares em coleções. Ao longo de sua Alcântara, através da criação de uma unidade de con-
área de ocorrência, ocupa os ecossistemas floresta servação.
atlântica, floresta com araucária e floresta estacional Conduzir campanhas informativas junto a proprietá-
(Porto & Carcerelli 1992, Morato 1995). No Rio Gran- rios rurais, conscientizando-os da importância das
de do Sul, há dados sobre um exemplar, que estava em regiões florestadas para a sobrevivência da espécie,
atividade durante a noite, no mês de novembro, des- o que pode contribuir também para a ampliação de
locando-se sobre a vegetação em floresta atlântica de sua hoje restrita área de ocorrência no Rio Grande do
planície (G. Vinciprova, verb.). Na ausência de dados Sul.
específicos, algumas inferências sobre a história na-
tural de D. incerta podem ser feitas a partir de dados Colaboradores
Répteis
conhecidos para outras espécies do gênero, que habi- Ronaldo Fernandes, Francisco L. Franco e Giovanni
tam os mesmos ecossistemas. Para D. petersi, Marques Vinciprova.
6
VU
Helicops carinicaudus (Wied-Neuwied, 1825)
[
Na coleção MCP estão depositados 21 indivíduos, que
foram coletados entre 1985 e 1997 na localidade Canto
[
dos Leffa (município de Dom Pedro de Alcântara). No
##
entanto, para o mesmo período e localidade, o número
[
[
[
de indivíduos coletados de uma espécie congênere e com
modo de vida similar, H. infrataeniatus, foi cerca de cinco
vezes maior.
[
Ameaças
[
7
VU
Hydrodynastes gigas (Duméril, Bibron & Duméril, 1854)
[ Ameaças
[ Embora não tenham sido identificadas ameaças específi-
cas, a espécie é considerada Vulnerável devido à sua distri-
# #
[
buição geográfica extremamente restrita e sua densidade
populacional aparentemente baixa no Rio Grande do Sul.
#
Por ser uma serpente grande, provavelmente é abatida com
[
[
# [
Ações Recomendadas
[ Avaliar a situação populacional da espécie na R. B. de
[ São Donato, unidade de conservação potencialmente
importante para a sua conservação no Estado.
Localizar e proteger outras áreas úmidas com ocorrên-
cia da boipevaçu, de modo a garantir a manutenção da
população local da espécie.
Conduzir campanhas informativas na área de ocorrên-
cia da boipevaçu, voltadas ao reconhecimento da espé-
Biologia cie e à divulgação da importância da conservação dos
É uma serpente de grande porte, que atinge até 250 cm de corpos dágua onde ela ocorre.
comprimento total (Strüssmann & Sazima 1990). Quando
Observações
ameaçada, pode achatar dorso-ventralmente a região do
Orejas-Miranda & García (1971) registraram a ocorrência
pescoço (Strüssmann 1992), intimidando predadores por
da boipevaçu no Uruguai com base em um espécime cole-
parecer maior ou por assumir repentinamente uma forma
tado em 1959, no Departamento de Florida; esse espécime
diferente (Greene 1988). A boipevaçu possui hábito semi-
teria sido depositado na Colección Herpetológica del Museo
aquático e se alimenta de anfíbios, peixes, outras serpen-
Nacional de Historia Natural de Montevideo, sob o núme-
tes, aves e roedores (Amaral 1978, Bels 1987, Strüssmann
ro 1457. Achaval-Elena (2001), entretanto, não citou H.
1992, Yanosky et al. 1996). Hábitos necrófagos também
gigas na Actualización sistemática y mapas de distribución
foram observados (Sazima & Strüssmann 1990). Sazima
de los reptiles del Uruguai, trabalho elaborado a partir
& Strüssmann (1990) registraram um interessante com-
da revisão das espécies atualmente depositadas nas prin-
portamento de caça, no qual a serpente esquadrinha o
cipais coleções científicas daquele país.
substrato com a cauda para provocar o salto de anfíbios
anuros, que são então visualmente percebidos e captura- Colaboradores
Répteis
dos. É diurna e ovípara (Yanosky et al. 1996). Cordeiro & Airton Batista Santos, Jan Karel Felix Mähler Jr., Marcos
Rubinstein (1986) registraram desovas de 14 e 18 ovos. Vinícius Querol e Moema Leitão de Araujo.
8
VU
Lystrophis histricus (Jan, 1863)
#
bamento). Estes dados históricos indicam que a nari-
guda-rajada, embora aparentemente sempre tenha sido
rara, teve suas populações reduzidas em toda a sua
[
área de ocorrência.
[
Ameaças
Provavelmente, a descaracterização do hábitat.
Ações Recomendadas
Localizar populações remanescentes nas áreas de ocor-
9
VU
Philodryas arnaldoi (Amaral, 1932)
Distribuição Geográfica 1995, Morato et al. 1995a). Embora não existam informa-
Ocorre na região oriental da floresta com araucária e na ções precisas, suas populações devem ter declinado ulti-
floresta atlântica do sul do Brasil, desde o sudeste do Paraná mamente, em virtude da intensa destruição das áreas
até o nordeste do Rio Grande do Sul (Morato 1995, mas
florestadas que habita. A espécie está incluída na Lista
veja item observações). No Estado, foi registrada em áreas
Vermelha de Animais Ameaçados de Extinção no Estado
densamente florestadas do leste do Planalto das Araucárias
do Paraná, devido à sua raridade natural e à destruição e
(Bento Gonçalves e São Francisco de Paula) e da encosta
atlântica (Itati). descaracterização das florestas com araucária naquele es-
tado (Morato et al. 1995a).
Ameaças
A principal ameaça para a espécie é a destruição e
descaracterização da floresta com araucária e da floresta
atlântica.
Ações Recomendadas
Proteger efetivamente os remanescentes dos
ecossistemas floresta com araucária e floresta atlân-
tica.
Implementar uma campanha de conscientização junto
a proprietários rurais, alertando sobre a importância
das regiões florestadas para a sobrevivência dessa e de
outras espécies ameaçadas.
Observações
Na coleção herpetológica do Instituto Butantan, São Pau-
Biologia lo, há um exemplar procedente do município de Franca
É um colubrídeo de porte médio. Os filhotes nascem com
(SP). R. A. Thomas (in litt.), pesquisador engajado na re-
pouco mais de 30 cm de comprimento total e atingem
visão do gênero Philodryas, sugere que este seja um re-
cerca de 133 cm quando adultos. Informações sobre his-
tória natural e ecologia são escassas, em parte devido à gistro errôneo, já que Franca está situada em região com
raridade da espécie. Morato et al. (1995a) sugeriram que, ecossistema diferente daquele normalmente ocupado pela
à semelhança das demais espécies do gênero, a parelheira- espécie. Neste caso, não haveria registro da ocorrência de
do-mato tem hábito semi-arborícola e se alimenta de pe- P. arnaldoi no Estado de São Paulo. Não obstante, a
quenos mamíferos, anfíbios e lagartos. Di-Bernardo (1998) parelheira-do-mato é citada como provavelmente
registrou uma fêmea procedente de São Francisco de Paula ameaçada na lista de espécies ameaçadas de extinção da-
que pôs 14 ovos no final de dezembro; os ovos foram
quele estado (São Paulo 1998).
incubados em laboratório e onze filhotes nasceram em
meados de março. Colaborador
Situação Populacional Francisco L. Franco, Glaucia M.F. Pontes, Júlio César de
Répteis
A parelheira-do-mato é uma espécie naturalmente rara Moura Leite, Renato Bérnils, Robert A. Thomas e Sérgio
em toda a sua área de ocorrência (Lema 1994, Morato Augusto Abrahão Morato.
10
VU
Pseudoboa haasi (Boettger, 1905)
Ameaças
A principal ameaça no Rio Grande do Sul é a destruição e
[
# #
[
[ descaracterização dos remanescentes de floresta atlântica. A
[
floresta atlântica de planície do litoral norte do Estado en-
contra-se quase completamente destruída e descaracterizada,
e as áreas oficialmente protegidas são pequenas.
[
[ Ações Recomendadas
Proteger de forma efetiva os remanescentes da flo-
resta atlântica na região de ocorrência da espécie.
Implementar o P. E. de Itapeva, em Torres (atualmente
em processo de criação pela SEMA), e garantir a preser-
vação dos remanescentes florestais da região da Lagoa
Biologia do Morro do Forno, em Morrinhos do Sul/Dom Pedro
de Alcântara, através da criação de uma unidade de
11
EN
Siphlophis longicaudatus (Andersson, 1907)
Ações Recomendadas
[
Proteger efetivamente os remanescentes de floresta
# atlântica do litoral norte do Estado.
[
[
Implementar o P. E. de Itapeva, em Torres (atualmente
[
12
EN
Tropidodryas striaticeps (Cope, 1870)
[
[
do Sul, em virtude da extensiva destruição de seu
[
#
hábitat.
Ameaças
[
13
EN
Uromacerina ricardinii (Peracca, 1897)
[ Ameaças
A principal ameaça é a destruição e descaracterização
[
Ações Recomendadas
Proteger efetivamente os remanescentes de floresta
atlântica do litoral norte do Estado.
Implementar o P. E. de Itapeva, em Torres (atualmen-
te em processo de criação pela SEMA), e garantir a
Biologia
preservação dos remanescentes florestais da região
Possui características morfológicas próprias das serpen-
tes de hábito arborícola, como o corpo extremamente da Lagoa do Morro do Forno, em Morrinhos do Sul/
delgado e a cauda proporcionalmente longa. Segundo Dom Pedro de Alcântara, através da criação de uma
Amaral (1978), atinge cerca de 120 cm de comprimen- unidade de conservação.
to total. Apresenta atividade diurna e se alimenta de Implementar uma campanha de conscientização junto
anfíbios anuros (Marques 1998, 2000) e lagartos (Amaral a proprietários rurais, alertando sobre a importância
1978). É ovípara. Morato & Bérnils (1989) registraram da preservação e ampliação das áreas florestadas para
Répteis
uma desova constituída por três ovos, e Marques (1998), a sobrevivência dessa e de outras espécies ameaçadas
uma fêmea contendo seis ovos nos ovidutos. do nordeste do Estado.
14
VU
Bothrops cotiara (Gomes, 1913)
15
Observações registro de Lema (1994) para a Serra do Sudeste também
Lema (1994) afirmou que a cotiara ainda parece ser bastante carece de documentação: o autor fez referência a um exem-
freqüente no noroeste do Rio Grande do Sul, referindo-se plar visto no serpentário do Instituto Butantan, de São Pau-
especificamente ao P. E. do Turvo (T. Lema, verb.; ver tam- lo, que seria proveniente daquela região.
bém Lema 1994). Não há exemplares daquela região deposi-
tados em coleções e a espécie não foi detectada em inventá- Colaboradores
rios recentes da fauna de répteis daquele parque (MBM). O Markus Monzel, Noeli Zanella e Thales de Lema.
EN
Bothrops jararacussu (Lacerda, 1884)
[
substrato de atividade, modo reprodutivo vivíparo, com
número de embriões variando de 13 a 37, e dieta compos-
ta por anfíbios, lagartos e mamíferos (marsupiais e roedo-
res). Indivíduos juvenis possuem a ponta da cauda com
coloração amarelada ou marrom-clara, a qual é movi-
mentada e usada como isca para atrair presas ectotérmicas
(de sangue frio) comedoras de insetos, como anfíbios
Biologia anuros (Sazima 1991). À medida que os indivíduos cres-
É uma espécie terrícola de grande porte, que atinge até cem, a ponta da cauda vai escurecendo, adquirindo colo-
220 cm de comprimento total (Campbell & Lamar 1989). ração semelhante à do restante do corpo. A mudança
É a maior serpente peçonhenta do Rio Grande do Sul e ontogenética (de acordo com a idade) na coloração da
uma das maiores de toda a região neotropical. Seu com- cauda de serpentes é geralmente associada a uma varia-
Répteis
portamento defensivo inclui botes e injeção de peçonha. ção ontogenética na dieta (Greene & Campbell 1972,
Assim como as demais serpentes do gênero Bothrops, apre- Heatwole & Davison 1976).
16
Situação Populacional cultivo. Atualmente, o P. E. do Turvo é o único grande
Não existem informações precisas sobre a situação populacional remanescente desse ecossistema no Rio Grande do Sul,
da jararacuçu no Rio Grande do Sul, mas a espécie parece ser onde parece estar confinada a única população conhecida
relativamente abundante no P. E. do Turvo, como constatado da espécie no Estado.
em inventários recentes (MBM) e através de depoimentos de
Ações Recomendadas
pesquisadores e funcionários que trabalham naquela unidade
Localizar populações residuais da espécie fora da área
de conservação. Paradoxalmente, o P. E. do Turvo parece ser o
do P. E. do Turvo.
único local onde a espécie é encontrada no Estado. Provavel-
Proteger efetivamente os últimos remanescentes de flo-
mente a jararacuçu possuía distribuição mais ampla no passa-
resta estacional do noroeste do Estado.
do, supondo-se que a intensa destruição da floresta estacional
Implementar programas de educação ambiental no no-
no noroeste do Rio Grande do Sul tenha ocasionado grande
roeste do Estado, com o objetivo de conscientizar a po-
declínio de sua população original.
pulação rural sobre a importância das regiões florestadas
Ameaças para a sobrevivência da jararacuçu. Esta medida tam-
A principal ameaça para a jararacuçu no Rio Grande do bém pode contribuir para a ampliação de sua hoje res-
Sul é a substituição da floresta estacional por áreas de trita área de ocorrência no Rio Grande do Sul.
EN
Anisolepis undulatus (Wiegmann, 1834)
Distribuição Geográfica
Ocorre no extremo sul do Brasil (sul do Rio Grande do
Sul), centro e sul do Uruguai e em Punta Lara, na Provín- [
Biologia [
17
Situação Populacional tos. Essa é a região onde a ocorrência da espécie é mais
É uma espécie rara e recentemente não tem sido encontrada provável, já que dela procedem todos os exemplares do
em algumas localidades onde foi registrada no passado, como RS com procedência conhecida (Etheridge & Williams
Punta Lara, na Argentina (Gallardo 1977, Etheridge & 1991). Não há unidades de conservação federais ou esta-
Williams 1991). No Uruguai, Achaval & Olmos (1997) clas- duais nessa parte do Estado.
sificaram a espécie como ameaçada em razão da destruição
de seu hábitat. É provável que as populações do Estado Ações Recomendadas
também tenham sofrido uma considerável redução em con- Garantir a proteção dos remanescentes de floresta
seqüência da acentuada destruição do hábitat, particular- estacional e matas de galeria das regiões sudeste e sul do
mente na região de São Lourenço do Sul. Estado, inclusive através da criação de unidades de con-
servação em áreas ainda florestadas da Serra do Sudeste.
Ameaças Implementar programas de conservação e educação
No Rio Grande do Sul, a principal ameaça é a destruição e ambiental voltados à preservação e recuperação dos
descaracterização dos hábitats florestais das regiões su- ecossistemas florestais do sudeste e sul do Rio Grande
deste e sul, particularmente a sudoeste da Lagoa dos Pa- do Sul.
VU
Urostrophus vautieri Duméril & Bibron, 1837
Distribuição Geográfica
Ocorre no leste do Brasil, desde Minas Gerais ao Rio Grande
do Sul, onde vive associado ao bioma Mata Atlântica [
#
[
Biologia
É um lagarto de pequeno porte, que atinge cerca de 15
[
18
destruição generalizada dos diferentes ecossistemas flo- Ações Recomendadas
restais do bioma Mata Atlântica. Proteger de forma efetiva os remanescentes dos
ecossistemas floresta com araucária e floresta atlân-
Ameaças tica.
A principal ameaça é a destruição e descaracterização dos Implementar campanhas de educação ambiental junto
ecossistemas florestais do bioma Mata Atlântica, hoje re- à população rural, visando conscientizar sobre a im-
duzidos a apenas 3,8% de sua cobertura original no Esta- portância das áreas florestais para a sobrevivência des-
do (Capobianco 2001). sa e de outras espécie ameaçadas de extinção.
VU
Cnemidophorus vacariensis Feltrim & Lema, 2000
Distribuição Geográfica ras da manhã e final da tarde (Feltrim & Lema 2000),
Foi registrado apenas na região dos Campos de Cima da indica que a espécie apresenta hábitos diurnos.
Serra, nos municípios de Vacaria (Feltrim & Lema 2000) e
Bom Jesus. Situação Populacional
A espécie foi descrita recentemente e não existem informa-
ções sobre sua situação populacional. Além dos dez exem-
plares listados na descrição original, coletados em Vacaria
[
[
(Feltrim & Lema 2000), três outros foram capturados poste-
#
#
riormente em Bom Jesus. Os afloramentos rochosos especí-
[
ficos onde os 13 exemplares conhecidos foram coletados
são extremamente restritos, tendo poucas centenas de metros
quadrados, e estão em meio a campos de criação de gado;
[
[
[
19
VU
Liolaemus occipitalis Boulenger, 1885
#
# eram freqüentemente avistados nas dunas frontais à praia
#
[
[
##
de Imbé e no solo arenoso contíguo aos molhes do rio
[
#
##
# Tramandaí. Não há registros recentes da lagartixa-da-praia
#
nesses locais. No Rio de Janeiro, uma espécie semelhante,
[
#
# Liolaemus lutzae, cujos hábitats e modo de vida são simi-
[
# lares aos de L. occipitalis, também está ameaçada de
#
extinção em virtude da ocupação humana e
descaracterização dos ambientes de duna, tendo sido ex-
#
tinta em algumas praias; naquele Estado, L. lutzae é con-
siderada uma importante espécie bioindicadora das con-
dições dos hábitats de dunas (Rocha 1992).
Biologia Ameaças
É um lagarto de pequeno porte, que atinge cerca de 12 cm A principal ameaça à espécie no Rio Grande do Sul é a
de comprimento total. O comprimento rostro-cloacal mé- destruição e descaracterização das dunas costeiras, em de-
dio é de 6,2 cm para machos e 5,3 cm para fêmeas (Verrastro corrência do processo de urbanização da região litorânea
& Bujes 1998). Possui hábito terrícola e ocorre exclusiva- do Estado. Embora o litoral sul do Rio Grande do Sul seja
mente em ambientes arenosos, apresentando coloração ainda relativamente pouco impactado, abrigando grandes
críptica em relação à areia. Pode enterrar-se superficial- populações da espécie, o panorama no litoral norte é o
mente no solo arenoso ou escavar tocas de 20 a 30 cm de oposto: grande parte das populações foram reduzidas ou
profundidade (Bujes & Verrastro 1998, Verrastro & Bujes até mesmo desapareceram. A única unidade de conserva-
1998). Sua atividade é exclusivamente diurna e determina- ção existente (H. F. do Litoral Norte) tem área irrisória e é
Répteis
da pela temperatura do substrato (Verrastro & Bujes 1998). pouco efetiva para a manutenção da população local, além
A dieta é basicamente insetívora (Verrastro & Krause 1999). de sofrer forte impacto dos núcleos humanos adjacentes.
20
Nos últimos anos, a atividade imobiliária tem se expandi- Tramandaí e Cidreira, e a região de Itapeva, ao sul de
do em direção ao sul e irá, seguramente, ameaçar também Torres.
as populações de L. occipitalis daquela região do Estado. Implementar programas de educação ambiental nas áre-
as costeiras onde ainda há dunas com a presença de
Ações Recomendadas
Liolaemus, com o objetivo de estimular a preservação
Criar unidades de conservação que protejam o ambien-
desse ambiente.
te de dunas costeiras, em especial nas poucas áreas ainda
não urbanizadas no litoral norte do Estado, sendo Colaboradores
indicadas como prioritárias o Passo das Cabras, entre Laura Verrastro e Luís Felipe Schmidt de Aguiar.
Agradecimentos
Contribuíram com informações: Airton Batista Santos, Júlio César Moura Leite, Laura Verrastro, Luís Felipe
Alejandro Giraudo, Ana Lúcia da Costa Prudente, Axel Schmidt de Aguiar, Marcus Vinícius Querol, Maria Tere-
Kwet, Carl Gans, David Gower, Edson L. Salomão, Eliseu za Queiroz Melo, Markus Monzel, Moema Leitão de Ara-
Dias, Francisco Luís Franco, Glaucia Maria Funk Pon- újo, Noeli Zanella, Renato Silveira Bérnils, Robert A.
tes, Hussam Zaher, James R. Dixon, John Measey, José Thomas, Ronaldo Fernandes, Sérgio Augusto Abrahão
Duarte de Barros Filho, José Francisco Pezzi da Silva, Morato, Sônia Terezinha Zanini Cechin e Thales de Lema.
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Répteis
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