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PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO EM PROJETOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO
EM PROJETOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
PLANEJAMENTO
E AVALIAÇÃO
EM PROJETOS
DE EDUCAÇÃO
AMBIENTAL

Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-85-387-2978-5
Maria DE Lourdes Spazziani
Pedro G. Fernandes da Silva
9 788538 729785

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Maria de Lourdes Spazziani
Pedro G. Fernandes da Silva

Planejamento e Avaliação em
Projetos de Educação Ambiental

Edição revisada

IESDE Brasil S.A.


Curitiba
2012

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© 2006 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor
dos direitos autorais.

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

S726p

Spazziani, Maria de Lourdes.


Planejamento e avaliação em projetos de educação ambiental / Maria de Lourdes Spazziani,
Pedro G. Fernandes da Silva. - 1.ed., rev. e atual. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2012.
226p. : 28 cm

Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-2978-5

1. Educação ambiental. 2. Gestão ambiental. I. Fernandes-da-Silva, Pedro G. II. Título.

12-5026. CDD: 363.7


CDU: 504

16.07.12 31.07.12 037534

Capa: IESDE Brasil S.A.


Imagem da capa: Shutterstock

IESDE Brasil S.A.


Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200
Batel – Curitiba – PR
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Sumário
Impacto Ambiental I.............................................................................................................7
Ecologia e análise ambiental....................................................................................................................7
Histórico...................................................................................................................................................10
Áreas afetadas...........................................................................................................................................14
Desenvolvimento sustentável...................................................................................................................14

Impacto Ambiental II............................................................................................................19


Legislação geral e resoluções do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente)...............................19
Avaliação de Impacto Ambiental (AIA)...................................................................................................20
EIA/RIMA – elaboração...........................................................................................................................21

Manual de Licenciamento Ambiental........................................................................................29


Atividades relacionadas............................................................................................................................29
Esferas de exigência.................................................................................................................................34
Tipos de licença........................................................................................................................................35
Obtenção das licenças...............................................................................................................................36
Procedimentos da Feema..........................................................................................................................39
Recomendações........................................................................................................................................41
Prazos para licenciamento........................................................................................................................42
Funcionando.............................................................................................................................................42
Cancelamento...........................................................................................................................................43
Custos.......................................................................................................................................................43
Responsabilidades e penalidade...............................................................................................................43
Sanções.....................................................................................................................................................44

Estudos de caso I...................................................................................................................47


Abordagem sistêmica................................................................................................................................47
Sistemas agrícolas.....................................................................................................................................50

Estudos de caso II ................................................................................................................59


Localização...............................................................................................................................................60
Caracterização...........................................................................................................................................61
Histórico/problema...................................................................................................................................62
Infrações cometidas..................................................................................................................................63
Proposta de solução..................................................................................................................................63
Possíveis impactos....................................................................................................................................65

ISO 9000...............................................................................................................................67
O que é uma Norma?................................................................................................................................67
A ISO 9000...............................................................................................................................................68

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ISO 14000..............................................................................................................................77
O que é uma Norma?................................................................................................................................77
A ISO 14000.............................................................................................................................................77
Implementação..........................................................................................................................................82
Conclusão.................................................................................................................................................84

Agenda 21.............................................................................................................................85
Histórico...................................................................................................................................................85
Propostas...................................................................................................................................................85
Sistemas de integração ambiental.............................................................................................................86
Gerenciamento de riscos...........................................................................................................................90
Conclusão.................................................................................................................................................93

Avaliação de danos ambientais I...........................................................................................95


Saneamento ambiental e ecologia.............................................................................................................95
Controle ambiental da água......................................................................................................................101
Controle ambiental do ar..........................................................................................................................105
Conclusão.................................................................................................................................................110

Avaliação de danos ambientais II.........................................................................................111


Controle ambiental de resíduos................................................................................................................111
Definição...................................................................................................................................................112
Classificação.............................................................................................................................................112
Destinação.................................................................................................................................................114
Controle ambiental de áreas verdes..........................................................................................................123
Modificações ambientais..........................................................................................................................123
Conclusão.................................................................................................................................................123

Áreas degradadas..................................................................................................................125
Áreas urbanas degradadas.........................................................................................................................125
Recuperação..............................................................................................................................................128
Passivo ambiental.....................................................................................................................................130
Conclusão.................................................................................................................................................132

Planejamento de projetos em Educação Ambiental................................................................135


Conceituando planejamento, projeto e Educação Ambiental...................................................................135
Como planejar um projeto em Educação Ambiental................................................................................137

Planejamento estratégico......................................................................................................141
Estratégia, tática e operação em Planejamento Ambiental.......................................................................141
Metodologia de planejamento estratégico em Educação Ambiental........................................................142

Planejamento Participativo (PP)...........................................................................................149


Participação...............................................................................................................................................149

Planejamento de projetos de intervenção socioambiental......................................................159


Definindo intervenção socioambiental.....................................................................................................160

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Ambientalização institucional...............................................................................................167
Um conceito de ambientalização..............................................................................................................168
Ambientalização e princípios da responsabilidade social........................................................................168

Enraizamento da Educação Ambiental em diferentes contextos I........................................177


Projetos da esfera pública – contexto nacional.........................................................................................178
Política Estadual de Educação Ambiental ...............................................................................................180

Enraizamento da Educação Ambiental em diferentes contextos II.......................................185


Conferências, congressos e similares.......................................................................................................185
Redes de Educação Ambiental..................................................................................................................186

A formação de educadores ambientais I...............................................................................195


Histórico da Educação Ambiental no Brasil.............................................................................................195

A formação de educadores ambientais II..................................................................................205


O educador na estrutura coletiva: nova percepção do mundo..................................................................205
Perspectivas para educadores ambientais.................................................................................................207

Avaliação de projetos em Educação Ambiental I...................................................................209


Definição e implicações da avaliação.......................................................................................................211
Metodologia de avaliação.........................................................................................................................212

Avaliação de projetos em Educação Ambiental II............................................................................217


Desafios da avaliação................................................................................................................................217
A questão emancipatória...........................................................................................................................220
Organização comunitária..........................................................................................................................220

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Impacto Ambiental I
Pedro G. Fernandes da Silva*

Ecologia e análise ambiental

P
ara entendermos o que significa Impacto Ambiental (IA) podemos recorrer
a vários métodos: dicionário, literatura técnica e, até mesmo, ao senso
comum.
De acordo com o dicionário Aurélio (FERREIRA, 1986), impacto pode
significar “encontro de projétil com o alvo”, “colisão de dois ou vários corpos”,
“abalo moral” e, inclusive, “impressão muito forte”. Em qualquer dos significados,
o aspecto ambiental não é referido; quando muito, poderíamos imaginar que de-
terminado indivíduo (ou grupo de indivíduos) ficaria com uma “impressão muito
forte” ao ver alguma coisa diferente ocorrendo no ambiente.
Na literatura técnica, IA pode significar “mudança induzida pelo homem no
ambiente natural”. No entanto, ainda na literatura técnica, podemos encontrar al-
gumas pequenas diferenças. Por exemplo, Branco (1998) sugere que impactos am-
bientais podem ser causados pelo homem, mas também por fenômenos naturais.
Em relação ao senso comum, podemos imaginar que quando algo parece
não estar funcionando bem já pode ser considerado um IA, independente da ori-
gem e/ou causa.
Independente das definições acima, poderíamos inferir que, desde que algo
esteja em desacordo com uma aparente “harmonia ambiental”, já poderíamos cha-
mar de IA. Em nossa abordagem, utilizaremos a definição de IA como alguma
modificação danosa ao meio ambiente, no sentido de interromper um aparente
equilíbrio natural, independente de origem ou causa, por ser uma definição mais
abrangente.
Para uma adequada compreensão desse “equilíbrio natural”, devemos tentar
compreender como um ambiente natural funciona, ou seja, como funciona um
ecossistema. Utilizando a Teoria de Sistemas, utilizada por Odum (1988), temos
que um ecossistema pode ser definido como uma área qualquer (Sistema – S),
abastecida de matéria e/ou energia, a partir de um local (ou conjunto de locais)
denominado Ambiente de Entrada (AE); essa matéria e/ou energia é que irá sus-
tentar (manter vivos) todos os organismos presentes nesse sistema. Todos os orga- Doutor em Ciências, pela
Universidade de São Paulo
nismos presentes nesse S considerado utilizam a energia e/ou matéria, liberando (USP) – Ribeirão Preto.
energia (1.ª e 2.ª leis da Termodinâmica1) e/ou matéria.
A energia não é reaproveitada (1.ª e 2.ª leis da Termodinâmica), mas a 1 1.ª Lei da Termodinâ-
mica – num sistema
isolado a energia inter-
matéria pode ser (processos de reciclagem – na natureza são os ciclos bio- na permanece constante.
2.ª Lei da Termodinâmi-
geoquímicos). A matéria e/ou energia que deve sair desse S, por não poder ser ca – a entropia do Universo
aumenta numa transforma-
reaproveitada, irá para um local (ou conjunto de locais) denominado Ambiente ção espontânea e se mantém
constante numa situação de
de Saída (AS). equilíbrio.

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Impacto Ambiental I

Os conceitos observados anteriormente podem ser visualizados a seguir.

(ODUM, 1988. Adaptado.)


Ambiente de Entrada (AE) Ambiente de Saída (AS)
(Local de origem da matéria e/ (Local de destino da matéria
Sistema (S)
ou energia que entra no sistema e/ou energia que sai do sistema
considerado) considerado)

Aspecto gráfico da definição de ecossistema.

A ação conjunta do AE + S + AS, com suas relações (seres vivos entre si e


seres vivos com o AE, S e AS), possui características de equilíbrio, em função dos
seres vivos que compõem o S e das características presentes nos AE, S e AS. Um
exemplo desse tipo de equilíbrio pode ser considerado ao analisarmos os diversos
ecossistemas existentes no planeta Terra.
Consideremos a Floresta Amazônica: a floresta em si é o S que passamos
a analisar, independente de qual porção (ou tamanho) da floresta é analisada. O
AE da Floresta Amazônica é constituído pelo Sol (que fornece energia luminosa),
pela atmosfera (que fornece CO2, O2 e água) e pelas áreas ao redor, que fornecem
material (solo, por exemplo) e indivíduos de algumas populações que conseguem
entrar e se manter nesse S.
O AS da Floresta Amazônica é constituído pela atmosfera (que recebe CO2,
O2 e água) e pelas áreas ao redor, que recebem material (solo, por exemplo) e indi-
víduos de algumas populações que conseguem sair e se manter fora desse S.
Quando analisamos um S natural (que é um S que existe sem necessitar da
ação antrópica), a importância dos AE e AS é relativa, uma vez que boa parte da
matéria consegue ser reciclada dentro do próprio S; é o que se chama de circuito
de retroalimentação (ou reciclagem).

(ODUM, 1988. Adaptado.)

Z Y

ZX YX

Modelo sistêmico geral, com entradas (Z) e saídas (Y). O estado do sistema e o seu comportamento
ao longo do tempo dependem da interação da entrada externa Z com a entrada ZX do circuito inter-
no de retroalimentação. Também ocorre dependência da saída externa Y com a saída interna YX.

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Impacto Ambiental I

Assim, S naturais de grande porte necessitam de pouca coisa do AE (no


caso da Floresta Amazônica, praticamente só a luz do Sol) e liberam quase nada
para o AS (relativamente pouco solo é perdido na Amazônia). Os circuitos de
retroalimentação são realizados através de processos de reciclagem que, na natu-
reza, são denominados ciclos biogeoquímicos.
Esses circuitos são, quando em equilíbrio, tão eficientes que praticamente
todo o O2 produzido na fotossíntese da Floresta Amazônica é utilizado na respira-
ção pelos organismos presentes na própria floresta.
A situação de equilíbrio encontrada nos ecossistemas naturais pode ser rom-
pida de várias formas, por ações da própria natureza. É o caso do surgimento de
vulcões, terremotos, tsunamis (ondas gigantes), queimadas (espontâneas, por raios
ou falta de umidade por tempos longos) etc. Dependendo da magnitude do fenô-
meno natural o S natural pode se recompor em mais ou menos tempo, ou mesmo
não se recompor, como foi o caso da região de Pompeia, totalmente destruída pelo
vulcão Vesúvio.
Evidentemente, o equilíbrio encontrado em ecossistemas naturais também
pode ser rompido através da ação antrópica; como abordaremos mais adiante nes-
te capítulo. Um exemplo disso é a espuma nos rios causada por produtos não
biodegradáveis.
Wikipédia.

Wikipédia.

Tornado em Union City, Oklahoma – EUA. Vulcão Kanaga no Alaska.

Dentro do contexto de equilíbrio dos ecossistemas, observa-se que altera-


ções nesse “equilíbrio” podem gerar os consequentes “desequilíbrios”. A partir
da possibilidade de ocorrência desses desequilíbrios, ocasionados pela ativida-
de antrópica, procura-se estabelecer procedimentos para que tais desequilíbrios
não ocorram, ou possam ser mitigados (minimizados). A esse tipo de processo
damos o nome de análise ambiental que, em poucas palavras, pode ser defini-
da como: avaliação das modificações ambientais, presentes ou futuras, visando
evitá-las e/ou mitigá-las, através de bases metodológicas, ou seja, procurar, através
da experiência anterior, evitar e/ou minimizar eventuais efeitos deletérios que as
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Impacto Ambiental I

modificações ambientais possam ocasionar. Para isso, a atuação de diferentes áre-


as é absolutamente necessária, como a Biologia, a Engenharia Civil, a Arquite-
tura, a Agronomia, entre outras, além da área da Educação, particularmente a da
Educação Ambiental, que privilegia a prevenção da ocorrência de danos ambien-
tais por meio da explicação, prática e sociabilidade de conceitos de preservação
ambiental, entre outras formas de atuação.

Histórico
Desde o surgimento da Revolução Industrial, a humanidade experimenta
um contínuo crescimento de sua população. Em função desse crescimento, alia-se
uma crescente necessidade de bens de consumo, originada pelas facilidades pro-
venientes da Revolução Industrial. Os bens de consumo são originados a partir
do uso dos recursos naturais, como matérias-primas para qualquer processo de
fabricação.
Essa relação aumento da população uso de recursos naturais leva a uma
terceira componente, que é a “sobra” de resíduos, originada a partir dos processos
de fabricação e uso dos bens de consumo. Exemplificando: uma indústria gera
resíduos no processo de fabricação (refugo de material, esgoto etc.) e a população
produz resíduos a partir da utilização dos bens de consumo (aparelhos estraga-
dos, embalagens etc.). Esses resíduos não podem ficar dentro do sistema em que
vivem os seres humanos, sob pena de gerar problemas de saúde, contaminação
de água etc. A terceira componente pode, então, ser denominada de poluição, sob
os mais variados aspectos. As relações descritas acima compõem um triângulo,
como pode ser visto a seguir.
Deve-se notar que, em função da atividade humana, um
(BRAGA et al., 2002)

População
vértice do triângulo afeta o outro diretamente e ainda traz efeitos
sobre si próprio. Por exemplo, se a população usa demais os re-
cursos naturais, corre-se o risco de que os mesmos acabem e/ou
não tenham mais a mesma qualidade, de forma que a população
passe a sofrer a escassez de matéria-prima, deixando de usufruir
dos bens de consumo.
Recursos naturais Poluição
Essas relações não foram notadas durante muito tempo,
Relações entre população – recursos na- uma vez que se tinha a ideia errônea de que os recursos naturais
turais – poluição, onde um vértice afeta
diretamente o outro.
eram “infinitos”; evidentemente, com o crescimento populacional
essa ideia mudou.
O cerne da questão está em que o crescimento populacional não pode
ser infinito, qualquer que seja o sistema considerado. A questão de crescimento
populacional pode ser abordada usando-se o conceito de capacidade de supor-
te, emprestado da Ecologia que, resumidamente, diz: “uma população qual-
quer não pode crescer indefinidamente, sob pena de esgotamento dos recursos
naturais como abrigo, alimento, problemas de doenças, parasitismo, entre ou-
tros”.
Significa dizer que, na prática, todo e qualquer sistema tem um limite de
recursos, denominado capacidade de suporte, além do qual uma população passa
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Impacto Ambiental I

a experimentar um decréscimo na sua quantidade de indivíduos, ou seja, começa


a ocorrer a morte dos indivíduos dessa população em função da depleção dos
recursos naturais.
O conceito de capacidade de suporte pode ser mais bem evidenciado na fi-
gura a seguir, que mostra o comportamento de uma população ao longo do tempo.
Conforme aumenta o seu número de indivíduos, essa população se aproxima da
capacidade de suporte do sistema considerado. Ultrapassando esse limite, prin-
cipia o declínio populacional (mortes), até que essa população atinja níveis popu-
lacionais (número de indivíduos) que estejam abaixo da capacidade de suporte.
Pode (ou não) ocorrer uma estabilização do número de indivíduos, ou uma flutua-
ção, abaixo ou ao redor, respectivamente, da linha de capacidade de suporte.

(ODUM, 1988)
Capacidade de suporte Ultrapassou

Máxima
K
K1

Faixa de variação

Ótima
Tamanho

Tempo

Gráfico ilustrando o conceito de capacidade de supor-


te de uma população, mostrando a relação do tamanho
da população ao longo do tempo.

A gradativa mudança da ideia de que os recursos naturais não são infinitos


passou a ocorrer em função de diversos Impactos Ambientais, que podem ser
definidos como os efeitos ecológicos, econômicos e sociais que podem advir de
fenômenos naturais e/ou da implantação de atividades antrópicas.
A origem dos IA pode ser por causas naturais (­tsunamis, furacões, terremo-
tos, entre outros) e/ou por causa antrópicas (assorea­mento de mangues por ocu-
pações irregulares, assoreamento de rios, acidentes com navios petroleiros – caso
do Exxon Valdez, no Alasca – lixões, queimadas, entre outros). Uma diferença é
que o homem tem a capacidade de produzir os IA em maior quantidade, e por um
tempo mais longo (IA crônico) em função de algumas de suas atividades, o que é
raro para os IA de causas naturais.
Uma vez que as modificações antrópicas são mais frequentes, a preocupa-
ção ambiental passou a fazer parte das discussões entre membros da comunidade
científica, da comunidade jornalística e, por fim, atingiu a esfera política. A se-
guir, apresentamos os principais eventos de IA produzidos pela ação antrópica e
algumas das principais ações políticas decorrentes desses IA (DIAS, 2001).
1920 – O pau-brasil é considerado extinto.
1952 – Smog (junção das palavras em inglês smoke = fumaça e fog =
neblina, ou seja, uma “neblina de fumaça”) em Londres. Mais de mil
pessoas morrem. 11
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Impacto Ambiental I

1962 – Livro Primavera Silenciosa, de Rachel Carson, nos EUA,


sobre a poluição cumulativa causada por pesticidas. Algumas espécies
de aves colocavam seus ovos sem uma casca endurecida, devido à
ação cumulativa do inseticida DDT (diclorodifeniltricloretano), o que
acabava matando seus filhotes durante o período de incubação.
1968 – Fundação do Clube de Roma, um grupo financiado por um
milionário italiano para realizar estudos internacionais sobre a crise
ambiental prevista.
1969 – Aprovada a NEPA (National Environment Policy Act) nos EUA
(equivale à nossa Política Nacional de Meio Ambiente – PNMA).
Institui-se a execução da primeira Avaliação de Impacto Ambiental
(AIA), resultando em um documento denominado Environmental
Impact Statement (EIS), equivalente ao nosso Estudo de Impacto
Ambiental (EIA). Importante ressaltar que a execução do AIA passa
a ser de caráter interdisciplinar para projetos, planos e programas de
intervenção no meio ambiente, contando com a participação da so-
ciedade civil (pela primeira vez), por meio de audiências públicas.
1972 – O Clube de Roma publica o relatório “Limite do crescimento”.
Conferência de Estocolmo (ONU), na Suécia – primeira discussão
internacional sobre as questões políticas, sociais e econômicas, ge-
radoras de impacto ambiental, com perspectiva de produzir medidas
corretivas e de controle.
“Reintrodução” do pau-brasil.
Primeira Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) no Brasil: usinas
hidrelé­tricas (UHE) de Sobradinho e Tucuruí necessitam de EIA/
RIMA para serem ­produzidas. O interessante é que primeiro as usinas
começaram a ser construídas, e só depois da construção (na realidade,
perto da conclusão das obras), é que foi necessário produzir os devi-
dos EIA/RIMA.
1973 – Fundação da Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA),
sob direção do Prof. Dr. Paulo Nogueira-Neto – considerado por muitos
como o mentor do movimento ambientalista brasileiro.
1977 – Conferência em Tbilisi (Geórgia, antiga União Soviética); pro-
longamento da conferência de Estocolmo. Definição de conceitos, obje-
tivos, características e princípios para a Educação Ambiental (entendi-
mento do meio ambiente na sua totalidade). Os trabalhos objetivaram a
análise do Meio Ambiente tanto em seus aspectos “naturais” quanto nos
criados pela humanidade.
1980 – Promulgação da Lei 6.803, sobre zoneamento industrial, já pre-
vendo os primeiros EIA/RIMA para indústrias químicas e afins (polos
petroquímicos, cloroquímicos, carboquímicos e instalações nucleares).
1981 – Lei 6.938 é sancionada (lei sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente (PNMA), seus fins e mecanismos de formulação e aplicação).
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Impacto Ambiental I

E também a Lei 6.902, que dispõe sobre a criação de estações ecológicas,


áreas de proteção ambiental e dá outras providências.
1984 – Estabelecimento do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Cona-
ma).
Vazamento de gás metil-isocianato (altamente tóxico) na Índia, com
mais de duas mil mortes. Esse acidente é considerado o início do pe-
ríodo moderno da política ambiental, para que fatos como esse não
ocorram mais.
1986 – Aprovação da Resolução 001 do Conama, que estabelece respon-
sabilidades, critérios básicos e diretrizes gerais para uso e implementa-
ção da Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), como parte da PNMA,
estabelecendo a implantação dos estudos de impacto ambiental (EIA) e
Relatório de Impacto Ambiental (RIMA).
Acidente nuclear de Chernobyl, na União Soviética.
1987 – Divulgação do relatório Nosso Futuro Comum, da Comissão
Brundtland, fruto da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e De-
senvolvimento, criada em 1983, na Suécia. Definição formal (mesmo
tímida) de desenvolvimento sustentável.
A comissão Brudtland foi criada com o objetivo de reexaminar os
principais problemas do ambiente e do desenvolvimento, em termos
mundiais, de formular propostas realistas para solucioná-los e de as-
segurar um progresso sustentável, através do desenvolvimento, sem
comprometer os recursos para as futuras gerações. Na verdade, esse
objetivo acabou se transformando na “primeira” definição de desen-
volvimento sustentável.
Acidente nuclear com Césio 137, em Goiânia.
1988 – Nova Constituição Federal do Brasil, considerada, até hoje, a
mais avançada em questões ambientais.
1989 – Criação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recur-
sos Naturais Renováveis – Ibama (fusão dos extintos Instituto Brasilei-
ro de Desenvol­vi­mento Florestal (IBDF), Secretaria Especial do Meio
Ambiente (Sema), Superintendência para o Desenvolvimento da Pesca
(Sudepe) e Superintendência da Borracha (sudhevea) o gênero da serin-
gueira é hevea, na Amazônia).
Acidente do superpetroleiro Exxon Valdez, no Alasca; 42 mil tonela-
das de óleo cru vazam, e o prejuízo é da ordem de US$ 1 bilhão.
1990 – Conferência Mundial sobre o Clima, em Genebra. Promulgação
do Decreto 99.274, que regulamenta as Leis 6.902/81 e 6.938/81, além
de estabelecer o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama).
1992 – Conferência Rio/92 (Eco 92). Lançamento da Agenda 21 e defi-
nição formal de desenvolvimento sustentável. É corroborada a Conferên-
cia de Tbilisi.
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Impacto Ambiental I

A Agenda 21 é um conjunto de intenções entre os países, que devem


ser posteriormente discutidas em maiores detalhes, transformadas em
leis e realizadas as suas implantações para o “terceiro milênio” (sécu-
lo XXI).
1994 – Conferência sobre População e Desenvolvimento, no Cairo. Essa
conferência objetiva melhorar a qualidade de vida dos pobres, por meio
do controle populacional.
1997 – Conferência de Kyoto, sobre controle de emissão de poluentes
atmosféricos, causadores do efeito estufa (CO2, CH4, NOx – óxidos de
nitrogênio – entre outros). Há uma concordância teórica na necessidade
de redução desses gases, em aproximadamente 5% (relativos a 1999), até
2008/2012.
1998 – Assinatura da Lei 9.605, sobre os crimes ambientais.
1999 – Regulamentação da Lei 9.605, através do Decreto 3.179.
2001 – Ratificação do Protocolo de Kyoto, com exceção dos Estados
Unidos. Os Estados Unidos são responsáveis por cerca de 42% da emis-
são de gases que contribuem com o efeito estufa do planeta, principal-
mente o CO2, originado nas fábricas (queimam carvão e petróleo como
fonte de energia), nos veículos (utilizam petróleo como combustível), em
residências (utilizam carvão para aquecimento, durante o inverno rigo-
roso), entre outros. O principal motivo alegado para a não ratificação do
Protocolo de Kyoto é um provável desaquecimento da economia do país,
uma vez que as fábricas não teriam como se adequar a outras fontes de
energia, em um tempo tão curto.
2002 – Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, em
Johannesburgo, na África do Sul (Rio + 10), para efetiva implantação da
Agenda 21. Segundo vários autores, um fracasso.

Áreas afetadas
A ação antrópica, como já discutido, é capaz de alterar as características de
um sistema, provocando seu desequilíbrio. Esse desequilíbrio pode ser constatado
na utilização dos recursos naturais, que passa a ser prejudicada, seja pela falta ou
pela alteração na qualidade desses recursos.
Vários exemplos podem ser tomados, sendo que os principais são a perda
de solo fértil por processos de erosão, decorrentes de ocupação irregular de uma
dada área, contaminação de lençol freático, deposição inadequada de resíduos
sólidos, queimadas etc.

Desenvolvimento sustentável
Como já mencionado anteriormente, a primeira tentativa de definição do
que seja desenvolvimento sustentável ocorreu em 1987, através da Comissão
Brundtland. Formalmente, a definição: “Desenvolvimento sustentável é o que

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Impacto Ambiental I

satisfaz as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade de as gera-


ções futuras satisfazerem as suas” (UNESCO, 1999).
Antes de esse raciocínio ser atingido, a humanidade trabalhava com um
modelo de desenvolvimento que, para ser sustentado, deveria possuir os seguintes
pré-requisitos (BRAGA et al., 2002):
suprimento inesgotável de energia;
suprimento inesgotável de matéria;
capacidade infinita do meio ambiente reciclar a matéria e absorver os
resíduos.
Com relação à energia, o primeiro pré-requisito pode ser considerado cor-
reto, uma vez que a principal fonte de energia de todos os ecossistemas existentes
no planeta Terra é o Sol, uma estrela que, ao que tudo indica, ainda pode fornecer
energia luminosa pelos próximos 5 bilhões de anos (BRAGA et al., 2002).
Já para os dois outros pré-requisitos, sabe-se que a matéria é finita e sua
quantidade é conhecida, assim como se pode perceber que os diversos sistemas
sofrem profundas modificações com relação ao seu poder de absorver e reciclar
os tipos de resíduos liberados pelas diversas atividades humanas (BRAGA et al.,
2002).
Dessa forma, como já visto, um contínuo crescimento populacional humano,
associado também a uma contínua exploração dos recursos naturais, rompe com a
capacidade de um crescimento contínuo e vigoroso da população humana e de suas
necessidades. Se não houver uma mudança, os recursos fatalmente irão se esgotar
e/ou perder a sua qualidade de aproveitamento. Deve-se repensar esse modelo “per-
verso”, sob pena de colapso do planeta, com as inevitáveis consequências para a
população humana.
De acordo com uma nova forma de pensamento, o desenvolvimento susten-
tável só pode ser atingido a partir do momento em que utilizarmos de forma racio-
nal e objetiva os recursos naturais, bem como, de alguma maneira, seja possível
haver algum controle do crescimento populacional e as necessidades apresentadas
pelos seres humanos.
De uma maneira resumida, esse novo modelo de desenvolvimento sustentá-
vel deve seguir os seguintes pré-requisitos (BRAGA et al., 2002):
dependência de suprimento externo e contínuo de energia (Sol);
uso racional da energia e da matéria, com ênfase à conservação, em con-
traposição ao desperdício. Esse pré-requisito é particularmente impor-
tante quando se refere ao atual tipo de energia que desenvolve a humani-
dade, do tipo fóssil, ou seja, finita (petróleo e carvão, principalmente);
promoção da reciclagem e da reutilização dos materiais;
controle da poluição, gerando menos resíduos para serem absorvidos
pelo ambiente. Quando não for possível a geração de uma menor quanti-
dade de resíduos, deve haver a implantação de medidas tecnológicas de
controle e/ou atenuação desses resíduos;
controle do crescimento populacional em níveis aceitáveis, com perspec-
tivas de estabilização da população.

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De forma sucinta, um dos pilares do desenvolvimento sustentável é a prática


dos três “R”: reutilizar, reciclar e reduzir (o consumo). A prática dos três “R” deve
ser utilizada em toda a cadeia produtiva, desde a exploração dos recursos naturais,
passando pelas etapas de processamento e transporte, até o seu consumo final.
Esses aspectos podem ser visualizados na figura a seguir.
O sistema sustentável para os humanos

(BRAGA et al., 2002)


Energia

Processamento
Uso de recursos Modificação Transporte Consumo
Recursos
Recuperação
de recursos

Impacto minimizado pela restauração ambiental

Modelo de Desenvolvimento Sustentável.

Como pudemos perceber, as relações dentro de um ecossistema são intrin-


cadas e dependentes umas das outras. Uma alteração provocada em um deter-
minado local pode afetar outro, mesmo que não percebamos isso de uma forma
direta. Independente desse fato, podemos chamar a essas alterações de impactos
ambientais.
O uso dos recursos naturais deve ser feito com parcimônia, para evitarmos
uma degradação ambiental que, de alguma forma, poderá afetar as nossas ativi-
dades. Se alteramos significativamente o ambiente, eliminando alguns de seus
componentes, devemos atentar para, na medida do possível, recompor e/ou criar
metodologias que substituam esses componentes, como é o caso das usinas de
reciclagem.

Pesquisar em jornais e na internet sobre as formas de reciclagem existentes em indústrias,


bairros etc. Analise o envolvimento da sociedade com a prática da reciclagem e compare com a
prática exercida pelas empresas.

BRANCO, Samuel M. Energia e Meio Ambiente. São Paulo: Moderna, 1990.

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BRAGA, Benedito et al. Introdução à Engenharia Ambiental. São Paulo: Prentice Hall, 2002.
BRANCO, Samuel M. O Meio Ambiente em Debate. São Paulo: Moderna, 1998.
DIAS, Genebaldo F. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 2001.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1986.
LOPES, Sônia G. B. C. Bio. São Paulo: Saraiva, 1997. v. 3.
MAURO, Claudio A. (Coord.). Laudos Periciais em Depredações Ambientais. São Paulo: IGCE-
UNESP, 1997.
ODUM, Eugene P. Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988.
UNESCO. Educação para um Futuro Sustentável: uma visão transdisciplinar para ações compar-
tilhadas. Brasília: IBAMA, 1999.

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Impacto Ambiental II
Pedro G. Fernandes da Silva

Legislação geral e resoluções do Conama


(Conselho Nacional do Meio Ambiente)

A
legislação brasileira, incluindo a Constituição de 1988, é considerada uma das mais avançadas
do planeta no que se refere à esfera ambiental. É significativo o fato de que essa legislação não
“brotou”, pura e simplesmente, a partir do conhecimento e reconhecimento dos problemas
ambientais, sobretudo após a Revolução Industrial, que introduziu um novo fator na utilização dos
recursos naturais: a velocidade de uso desses recursos.
Desde antes da época do Império, as preocupações ambientais eram motivo de algum tipo de
legislação, como pode ser exemplificado pela Carta Régia do Brasil, de 1542, que estabelece normas
disciplinares para o corte de madeira e determina punições para os abusos cometidos. Outro exemplo,
já no Império, é a Carta de Lei, de outubro de 1827, que delega poderes aos juízes de paz das provín-
cias para a fiscalização das florestas.
De lá para cá muitas modificações de usos e costumes ocorreram, levando à nossa legislação
atual. De forma resumida, em uma sequência histórica (com as devidas atualizações), apresentamos
as principais leis e decretos que, atualmente, são válidos para a área ambiental em nosso país.
O início de tudo é por volta de 1934, na promulgação do Decreto 24.643, que institui o Có-
digo das Águas, posteriormente regulamentado pela Lei 9.433, de 1997.
Em 1965 institui-se a Lei 4.771, que determina o Código Florestal. Posteriormente, essa lei
é alterada pela Lei 7.803/78, e regulamentada pelo Decreto 3.179/99.
Ocorre um grande hiato em termos de proteção e legislação ambiental até que, na prática,
em 1980, por meio da Lei 6.803, é instituída a legislação para Zonas Estritamente Industriais
(ZEIs), o zoneamento industrial em áreas críticas de poluição, criando a necessidade legal de
estudos de zoneamento – início da avaliação de impacto ambiental.
Em 1981 foi sancionada a Lei 6.938, que estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente
(PNMA), onde o estudo de impacto ambiental (EIA) passa a figurar como um instrumento
legal. A Lei 6.938/81 foi regulamentada pelo Decreto 3.179/99.
Em 1986, o Conama baixa a Resolução 001, que estabelece definições, responsabilidades,
critérios básicos e diretrizes gerais para a aplicação da AIA, através da elaboração de EIA/
RIMA (estudo de impacto ambiental/relatório de impacto ambiental).
Em 1989 é criado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renová-
veis (Ibama), através da Lei 7.735, constituindo-se em um dos órgãos de fiscalização federal
mais atuantes.

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Em 1989 também são editadas as Leis 7.803 e 7.804, que alteram a Lei
4.771/65 e as leis referentes ao PNMA, Ibama, zoneamento e a criação
de Estações Ecológicas (EE) e Áreas de Preservação Ambiental (APAs),
respectivamente. Novas regras são criadas.
Em 1990, o Decreto 99.274 regulamenta a Lei 6.938/81 e estabelece o
Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), com função de geren-
ciar, fiscalizar e coordenar todas as ações na área ambiental.
A famosa Lei de Crime Ambiental (9.605) é sancionada em 1998, e regu-
lamentada pelo Decreto 3.179/99. Na prática, a Lei de Crime Ambiental
faz um grande cerco a toda e qualquer atividade que não esteja de acordo
com as resoluções do Conama e com as respectivas leis e decretos.
Em 2000 é editada a Lei 9.985, que institui o Sistema Nacional de Uni-
dades de Conservação (SNUC), regulamentada pelo Decreto 4.340/2002
e posteriormente alterada pela Lei 11.132/2005.

Avaliação de Impacto Ambiental (AIA)


É um instrumento da PNMA que objetiva a preservação, a melhoria e a
recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, por meio dos seguintes
princípios:
ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando
o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente
assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;
racionalização do uso do solo, subsolo, ar e água;
planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;
proteção dos ecossistemas, com preservação de áreas representativas;
controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;
incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso
racional e a proteção dos recursos ambientais;
acompanhamento do estado da qualidade ambiental;
recuperação de áreas degradadas;
proteção de áreas ameaçadas de degradação;
Educação Ambiental para todos os níveis de ensino, incluindo a educa-
ção da comunidade, capacitando-a para participação ativa na defesa do
meio ambiente.
Para a consecução desses princípios, a Lei 6.938/81 prevê a Avaliação de
Impacto Ambiental e uma série de outros instrumentos complementares e inter-
-relacionados, como, por exemplo:
o licenciamento e a revisão de atividades efetivas ou potencialmente polui-
doras, que exige a elaboração de EIA/RIMA e/ou outros documentos técni-
cos, os quais constituem instrumentos básicos de implementação da AIA;

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o zoneamento ambiental, o estabelecimento de padrões de qualidade


ambiental e a criação de unidades de conservação, que condicionam e
orientam a elaboração de EIA e de outros documentos técnicos necessá-
rios para o licenciamento ambiental;
os cadastros técnicos, os relatórios de qualidade ambiental, as penalida-
des disciplinares ou compensatórias, os incentivos à produção, à insta-
lação de equipamentos e à criação ou absorção de tecnologia, voltadas
para a melhoria da qualidade ambiental, que facilitam ou condicionam a
condução do processo de AIA em suas diferentes fases.
No entanto, existem divergências teóricas no papel da AIA, segundo a ma-
neira de interpretar e o período em que existem essas diversas interpretações.
Duas das principais divergências são:
a AIA deve ser abrangente, incluindo instrumentos como o EIA/RIMA;
a AIA deve ser mais específica, detendo-se em projetos específicos, ten-
tando abordar todas as eventuais possibilidades.
O quadro a seguir dá uma ideia dos períodos e das tendências das AIAs.

(WEITZENFELD apud PHILIPPI JÚNIOR; ROMÉRO; BRUNA, 2004)


Período Tendências e inovações
e fase

Revisão de projetos baseados em estudos econômicos e de engenharia (pré-


Antes de 1970
-EIA), com limitada consideração de consequências ambientais.

Introdução da AIA, enfocando principalmente a identificação, predição e


1970-1975
mitigação de efeitos biofísicos. Oportunidades para participação pública.

Avaliação ambiental multidimensional, incorporando avaliação dos impactos


1975-1980 sociais e análise de riscos. Participação pública forma parte integral. Maior
ênfase na justificativa e nas alternativas do projeto.

Esforços para ampliar o uso das AIAs de projetos em políticas de


1980-1985
planejamento. Desenvolvimento metodológico de ações de monitoramento.

Marcos científicos e institucionais da AIA começam a ser repensados sob


1985-1990 o paradigma da sustentabilidade. Ampliam-se preocupações com impactos
regionais e cumulativos.

Introduz-se a avaliação de impacto social na elaboração de políticas, planos e


1990-
programas.

EIA/RIMA – elaboração
O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) foi introduzido no sistema normativo
brasileiro via Lei 6.803/80, no seu artigo 10, §3.º, que tornou obrigatória a apre-

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sentação de “estudos especiais de alternativas e de avaliações de impacto” para a


localização de polos petroquímicos, cloroquímicos, carboquímicos e instalações
nucleares.
Posteriormente, a Resolução Conama 001/86 estabeleceu a exigência de
elaboração de EIA e respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) para o
licenciamento de diversas atividades modificadoras do meio ambiente, bem como
as diretrizes e atividades técnicas para a sua execução.
De acordo com essa resolução, o EIA/RIMA deve ser realizado por equipe
multidisciplinar habilitada, não dependente direta ou indiretamente do proponente
do projeto e deve ser responsável tecnicamente pelos resultados apresentados (art.
7.º). Os custos referentes à realização do EIA/RIMA correrão por conta do propo-
nente (art. 8.º).
O artigo 2.º define que o EIA/RIMA deve ser submetido à aprovação do
órgão estadual competente e, em caráter supletivo, do Ibama. A este cabe também
a aprovação do EIA/RIMA para o licenciamento de atividades modificadoras do
meio ambiente que, por lei, sejam de competência federal.
A diferença básica entre um EIA e um RIMA é a de que o primeiro con-
tém todas as informações técnicas necessárias para o projeto considerado, em
linguagem compatível com os profissionais especializados de cada área; o RIMA
contém as mesmas informações apresentadas no EIA, com a diferença de que nem
todos os detalhes são apresentados e a linguagem deve ser acessível para o público
em geral, a fim de que a discussão e posterior aprovação possam ser debatidas em
audiência pública.
Além da necessidade de um EIA/RIMA, qualquer empreendimento que
seja potencial modificador do meio ambiente deve possuir licença para funcionar.
Geralmente são analisadas três tipos de licenças: Licença Prévia (LP), Licença
de Instalação (LI) e Licença de Operação (LO). Para a obtenção da LO pode ser
exigido o EIA/RIMA.
A elaboração de um EIA/RIMA deve seguir os seguintes passos:
Preliminares – descrição do projeto – observações fornecidas pelo em-
preendedor, tais como local detalhado, configuração e concepção física,
métodos e cronograma de construção, procedimentos de funcionamento,
requerimentos de energia e água, vias de acesso, entre outros. Também
ocorrem informações contextuais, como a justificativa da escolha do pro-
jeto, benefícios econômicos, sociais e ambientais, alternativas tecnológi-
cas, entre outros;
Descrição do meio ambiente na área de influência do projeto – meio físi-
co (clima, ruído, qualidade do ar, geologia, recursos hídricos etc.), meio
biológico (ecossistemas terrestres, aquáticos, de transição etc.) e meio
antrópico (uso e ocupação do solo, dinâmica populacional, nível de vida,
estrutura produtiva etc.);
Elaboração de um Relatório Ambiental Preliminar (RAP) – exigência
específica para o estado de São Paulo, sendo adotado em alguns outros.
O RAP serve como “entrada” para a provável obtenção da LO.

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De maneira esquemática (BRAGA et al., 2002):

É suficiente para o
RAP TR EIA/RIMA
licenciamento?

sim
LP LI LO

TR = Termo de Referência (sumário do plano de elaboração do EIA/RIMA,


que pode ou não ser aprovado pelo órgão governamental envolvido: federal, esta-
dual ou municipal). Os itens de A, B e C anteriores devem, basicamente, compre-
ender o TR.
LP = Licença Prévia (pode ser concedida antes mesmo da aprovação final
do EIA/RIMA. Estabelece condições para o início das atividades, em função do
que já foi analisado no TR). Na prática, significa que o empreendedor já pode dar
início à documentação ordinária (registro de terras, tomada de preços etc.) para a
instalação do empreendimento.
LI = Licença de Instalação (o projeto já está aprovado para instalação, ainda
dependendo da análise das características de funcionamento). O EIA/RIMA já está
completo e analisado; falta a “parte prática”, a ser observada para a concessão da LO.
LO = Licença de Operação (o projeto, já instalado, tem o aval de funciona-
mento, sendo periodicamente fiscalizado).
Para a confecção do EIA/RIMA, os tipos de impactos ambientais possíveis
devem ser classificados. A seguir, temos duas tabelas: a primeira com algumas
classificações e a segunda com exemplos.

(PHILIPPI JUNIOR; ROMÉRO; BRUNA, 2004)


Classificação Tipo
- Benéficos ou prejudiciais
- Planejados ou acidentais
Em relação aos impactos
- Diretos ou indiretos
- Cumulativos ou simples

- Reversíveis ou irreversíveis
Em relação ao tempo de duração - Curto ou longo prazo
- Temporários ou contínuos

- Local
- Regional
Em relação à área de abrangência - Nacional
- Internacional
(regional ou global)

Em relação ao potencial de mitigação - Mitigáveis ou não mitigáveis


- Gravidade
Em relação a acidentes
- Probabilidades
Classificação de impactos potenciais e suas características.

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(PHILIPPI JÚNIOR; ROMÉRO; BRUNA, 2004)


Impactos diretos Impactos indiretos

Desmatamento
- Redução da fauna silvestre
Perda de biodiversidade
- Aumento de pragas

Aumento da temperatura - Modificação nos regimes de vento e chuvas

- Turbidez da água
- Diminuição da fotossíntese
Aumento da erosão
- Redução da ictiofauna
- Perda de renda
Exemplos de impactos diretos e indiretos.

É necessário que os impactos de todas as fases sejam descritos especifica-


mente para cada fase do empreendimento, ou seja, desde sua divulgação (para
cada fase do projeto, deve haver a publicação, em um jornal local e em um outro
de grande circulação), passando pela preparação do terreno até sua eventual de-
sativação.
Outros documentos técnicos necessários ao licenciamento ambiental podem
ser exigidos. Os principais são:
Plano de Controle Ambiental (PCA) – é exigido pela Resolução Conama
009/90 para concessão de LI de atividade de extração mineral de todas
as classes previstas no Decreto-lei 227/67. O PCA é uma exigência adi-
cional ao EIA/RIMA apresentado na fase anterior (LP).
O PCA tem sido exigido por alguns órgãos estaduais de meio ambiente tam-
bém para o licenciamento de outros tipos de atividades.
Relatório de Controle Ambiental (RCA) – o RCA é exigido pela Re-
solução Conama 010/90, na hipótese de dispensa do EIA/RIMA para
obtenção da LP de atividade de extração mineral da Classe II, prevista
no Decreto-lei 227/67. Deve ser elaborado de acordo com as diretrizes
estabelecidas pelo órgão ambiental competente.
O RCA tem sido exigido por alguns órgãos de meio ambiente também para
o licenciamento de outros tipos de atividade.
Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) – o PRAD tem
sido utilizado para a recomposição de áreas degradadas pela atividade
de mineração. É elaborado de acordo com as diretrizes fixadas pela NBR
13.030, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), e outras
normas pertinentes. Não há diretrizes para outros tipos de atividade.
As principais atividades que dependem de EIA/RIMA para licenciamento
são apresentadas na tabela a seguir. Não são listadas todas; cada órgão oficial
pode exigir um EIA/RIMA de acordo com a avaliação que fizer do projeto a ser
implantado, em relação à área de implantação desse projeto.

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Principais atividades que exigem


a elaboração de um EIA/RIMA
(BRAGA et al.,2002)

Depende da elaboração do EIA/Rima, a ser submetido à aprovação do


órgão estadual competente e da Secretaria do Meio Ambiente (SMA – órgão
federal), em caráter supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do
meio ambiente, tais como:
I. Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento

II. Ferrovias

III. Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos

IV. Aeroportos

Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de esgotos


V.
sanitários

VI. Linhas de transmissão de energia elétrica acima de 230kW

Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como barragem para
quaisquer fins hidrelétricos acima de 10MW, obras de saneamento ou de irrigação,
VII.
abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação, retificação de cursos de
água, abertura de barras e embocaduras, transposição de bacias, diques

VIII. Extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão)

IX. Extração de minério

X. Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou perigosos

Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primária, com
XI.
potência instalada acima de 10MW

Complexo e unidades industriais e agroindustriais (petroquímicos, siderúrgicos,


XII.
químicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo de recursos hidróbios)

XIII. Distritos industriais e Zonas Estritamente Industriais (ZEI)

Exploração econômica de madeira ou de lenha, em área acima de 100 hectares


XIV. ou menores, quando atingir áreas significativas em termos percentuais ou de
importância do ponto de vista ambiental

Projetos urbanísticos, acima de 100 hectares ou em áreas consideradas de relevante


XV. interesse ambinetal a critério da SMA e dos órgãos municipais e estaduais
competentes

Qualquer atividade que utilizar carvão vegetal, derivados ou produtos similares, em


XVI.
quantidade superior a dez toneladas por dia

Projetos agropecuários que contemplem áreas acima de 1000 hectares ou menores,


XVII. neste caso quando se tratar de áreas significativas em termos percentuais ou de
importância do ponto de vista ambiental, inclusive nas áreas de proteção ambiental.

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Para a elaboração final de um EIA/RIMA, que deve fazer parte da política


de AIA, podem ser usadas várias metodologias, a serem empregadas pela equipe
responsável:
método ad hoc – reuniões com participação de técnicos e cientistas es-
pecializados, onde podem ser analisados questionários previamente res-
pondidos por pessoas com interesse no problema. Vantagens: rapidez
na identificação dos impactos mais prováveis e da melhor alternativa,
mesmo com escassez de informações. Desvantagens: tendenciosidade na
coordenação e escolha dos participantes;
listagens de controle – evolução do método anterior. Especialistas (ad hoc
ou não) preparam listagens de fatores ambientais potencialmente afetá-
veis. Vantagens: simplicidade de aplicação, reduzida exigência quanto a
dados e informações. Desvantagens: não permitem projeções e previsões,
bem como identificação de impactos secundários ou indiretos;
redes de interação – cadeia de eventos causa-condição-efeito, permitin-
do, a partir de um impacto, retornar ao conjunto de operações que con-
tribuem para sua magnitude direta ou indiretamente. Vantagens: identifi-
cação rápida e segura das ações que contribuem para a magnitude de um
impacto, facilitando a previsão dos mecanismos de controle ambiental a
serem implementados para atuar preferencialmente sobre as causas po-
tenciais de sua deterioração. Desvantagens: só abrange os impactos ne-
gativos;
análise custo-benefício – computa os custos e benefícios do projeto e
seus impactos, calculando se os resultados são positivos, neutros ou ne-
gativos. Vantagens: simplicidade de aplicação, pela quantificação (geral-
mente monetária) dos valores a serem comparados. Desvantagens: como
quantificar fatores às vezes não mensuráveis? Exemplo: quanto vale uma
árvore que se mantém em pé?
A seleção de metodologia a ser empregada é tarefa específica de cada caso.
Como os ambientes não são nunca rigorosamente iguais (em termos biológicos,
físicos, químicos, sociais, econômicos, entre outros), cada caso deve ser analisado
em particular.

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Impacto Ambiental II

Leia o texto indicado abaixo (capítulo 17) e discuta os aspectos históricos e a aplicação da le-
gislação ambiental.
PEDRO, Antonio F. P.; FRANGETTO, Flávia W. Direito ambiental aplicado. In: PHILIPPI JÚ-
NIOR, Arlindo; ROMÉRO, Marcelo de A.; BRUNA, Gilda C. (Coord.). Curso de Gestão Ambiental.
São Paulo: Manole, 2004.

CUSTÓDIO, H. B. Legislação brasileira do estudo de impacto ambiental. In: TAUK, Sâmia M.


Análise Ambiental: uma visão multidisciplinar. São Paulo: UNESP, 1995.

ABSY, Miriam L. et al. Avaliação de Impacto Ambiental: agentes sociais, procedimentos e ferra-
mentas. Brasília: MMA/IBAMA, 1995.
BRAGA, Benedito et al. Introdução à Engenharia Ambiental. São Paulo: Prentice Hall, 2002.
CUNHA, Sandra B.; GUERRA, Antonio J. T. Avaliação e Perícia Ambiental. Rio de Janeiro: Ber-
trand Brasil, 2002.
DIAS, Genebaldo F. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 1992.
MMA/IBAMA. Portal de Legislação Ambiental. Disponível em: <www.redegoverno.gov.br>.
Acesso em: 10 jan. 2006.
PHILIPPI JÚNIOR, Arlindo; ROMÉRO, Marcelo de A.; BRUNA, Gilda C. (Coord.). Curso de Ges-
tão Ambiental. São Paulo: Manole, 2004.
WEITZENFELD, H. Manual básico sobre evaluación del impacto en el ambiente y la salud de ac-
ciones proyectadas. In: PHILIPPI JÚNIOR, Arlindo; ROMÉRO, Marcelo de A.; BRUNA, Gilda C.
(Coord.). Curso de Gestão Ambiental. São Paulo: Manole, 2004.

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28
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Manual de
Licenciamento Ambiental
Pedro G. Fernandes da Silva

O
Licenciamento Ambiental (LA) é o procedimento que o poder público, por meio de seus
órgãos ambientais (Conama, Ibama, SMA, entre outros), autoriza e acompanha a implan-
tação, funcionamento e ampliação de atividades que se utilizam dos recursos naturais e/
ou sejam capazes de, efetiva ou potencialmente, modificar severamente as condições ambientais e/ou
produzir fenômenos de poluição.
A exigência de LA passou a ser obrigatória a partir da Lei Federal 6.983/81, que exige a ela-
boração da AIA (Avaliação de Impacto Ambiental), por meio de seus múltiplos instrumentos (EIA/
RIMA, PCA, RCA, PRAD).

Atividades relacionadas
As principais atividades que necessitam de LA são listadas na Resolução Conama 237/97.
Podem haver atividades não relacionadas nessa resolução que, a critério do órgão ambiental compe-
tente, necessitem de licenciamento. As principais atividades estão apresentadas na relação abaixo.

Lista das principais atividades que necessitam de LA


(FEITOSA; LIMA; FAGUNDES, 2004)
Extração e tratamento de minerais:
pesquisa mineral com guia de utilização;
lavra a céu aberto, inclusive de aluvião, com ou sem beneficiamento;
lavra subterrânea com ou sem beneficiamento;
lavra garimpeira;
perfuração de poços e produção de petróleo e gás natural.
Indústria de produtos minerais não metálicos:
beneficiamento de minerais não metálicos, não associados à extração;
fabricação e elaboração de produtos minerais não metálicos, tais como produção de
material cerâmico, cimento, gesso, amianto e vidro, entre outros.

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Manual de Licenciamento Ambiental

Indústria metalúrgica:
fabricação de aço e de produtos siderúrgicos;
produção de fundidos de ferro e aço/forjados/arames/relaminados
com ou sem tratamento de superfície, inclusive galvanoplastia;
metalurgia dos metais não ferrosos, em formas primárias e secundá-
rias, inclusive ouro;
produção de laminados/ligas/artefatos de metais não ferrosos com ou
sem tratamento de superfície, inclusive galvanoplastia;
relaminação de metais não ferrosos, inclusive ligas;
produção de soldas e anodos;
metalurgia de metais preciosos;
metalurgia do pó, inclusive peças moldadas;
fabricação de estruturas metálicas com ou sem tratamento de superfí-
cie, inclusive galvanoplastia;
fabricação de artefatos de ferro/aço e de metais não ferrosos com ou
sem tratamento de superfície, inclusive galvanoplastia;
têmpera e cementação de aço, recozimento de arames, tratamento de
superfície.
Indústria mecânica:
fabricação de máquinas, aparelhos, peças, utensílios e acessórios com
e sem tratamento térmico e/ou de superfície.
Indústria de material elétrico, eletrônico e comunicações:
fabricação de pilhas, baterias e outros acumuladores;
fabricação de material elétrico, eletrônico e equipamentos para tele-
comunicação e informática;
fabricação de aparelhos elétricos e eletrodomésticos.
Indústria de material de transporte:
fabricação e montagem de veículos rodoviários e ferroviários, peças
e acessórios;
fabricação e montagem de aeronaves;
fabricação e reparo de embarcações e estruturas flutuantes.
Indústria de madeira:
serraria e desdobramento de madeira;
preservação de madeira;
fabricação de chapas, placas de madeira aglomerada, prensada e com-
pensada;
fabricação de estruturas de madeira e de móveis.

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Indústria de papel e celulose:


fabricação de celulose e pasta mecânica;
fabricação de papel e papelão;
fabricação de artefatos de papel, papelão, cartolina, cartão e fibra
prensada.
Indústria de borracha:
beneficiamento de borracha natural;
fabricação de câmara de ar e fabricação e recondicionamento de
pneumáticos;
fabricação de laminados e fios de borracha;
fabricação de espuma de borracha e de artefatos de espuma de borra-
cha, inclusive látex.
Indústria de couros e peles:
secagem e salga de couros e peles;
curtimento de outras preparações de couros e peles;
fabricação de artefatos diversos de couros e peles;
fabricação de cola animal.
Indústria química:
produção de substâncias e fabricação de produtos químicos;
fabricação de produtos derivados do processamento de petróleo, de
rochas betuminosas e da madeira;
fabricação de combustíveis não derivados de petróleo;
produção de óleos/gorduras/ceras vegetais-animais, óleos essenciais
vegetais e outros produtos da destilação da madeira;
fabricação de resinas e de fibras e fios arificiais e sintéticos e de bor-
racha e látex sintéticos;
fabricação de pólvora/explosivos/detonantes/munição de caça des-
porto, fósforo de segurança e artigos pirotécnicos;
recuperação e refino de solventes, óleos minerais, vegetais e animais;
fabricação de concentrados aromáticos naturais, artificiais e sintéticos;
fabricação de preparados para limpeza e polimento, desinfetantes, in-
seticidas, germicidas e fungicidas;
fabricação de tintas, esmaltes, lacas, vernizes, impermeabilizantes,
solventes e secantes;
fabricação de fertilizantes e agroquímicos;

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fabricação de produtos farmacêuticos e veterinários;


fabricação de sabões, detergentes e velas;
fabricação de perfumarias e cosméticos;
produção de álcool etílico, metanol e similares.
Indústria de produtos de matéria plástica:
fabricação de laminados plásticos;
fabricação de artefatos de material plástico.
Indústria têxtil, de vestuário, calçados e artefatos de tecidos:
beneficiamento de fibras têxteis, vegetais, de origem animal e sintéticos;
fabricação e acabamento de fios e tecidos;
tingimento, estamparia e outros acabamentos em peças do vestuário
e artigos diversos de tecidos;
fabricação de calçados e componentes para calçados.
Indústria de produtos alimentares e bebidas:
beneficiamento, moagem, torrefação e fabricação de produtos ali-
mentares;
matadouros, abatedouros, frigoríficos, charqueadas e derivados de
origem animal;
fabricação de conservas;
preparação de pescados e fabricação de conservas de pescados;
preparação, beneficiamento e industrialização de leite e derivados;
fabricação e refino de açúcar;
refino/preparação de óleo e gorduras vegetais;
produção de manteiga, cacau, gorduras de origem animal para ali-
mentação;
fabricação de fermentos e leveduras;
fabricação de rações balanceadas e de alimentos preparados para animais;
fabricação de vinhos e vinagre;
fabricação de cervejas, chopes e maltes;
fabricação de bebidas não alcoólicas, bem como envasilhamento e
gaseificação de águas minerais;
fabricação de bebidas alcoólicas.
Indústria de fumo:
fabricação de cigarros/charutos/cigarrilhas e outras atividades de be-
neficiamento do fumo.
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Indústrias diversas:
usinas de produção de concreto;
usinas de asfalto;
serviços de galvanoplastia.
Obras civis:
rodovias, ferrovias, hidrovias, metropolitanos;
barragens e diques;
canais para drenagem;
retificação de curso de água;
abertura de barras, embocaduras e canais;
transposição de bacias hidrográficas;
outras obras de engenharia.
Serviços de utilidade:
produção de energia termelétrica;
transmissão de energia elétrica;
estações de tratamento de água;
interceptores, emissários, estação elevatória e tratamento de esgoto
sanitário;
tratamento e destinação de resíduos industriais (líquidos e sólidos);
tratamento/disposição de resíduos especiais, tais como de agroquími-
cos e suas embalagens usadas e de serviço de saúde, entre outros;
tratamento e destinação de resíduos sólidos urbanos, inclusive aque-
les provenientes de fossas;
dragagem e derrocamentos em corpos d’água;
recuperação de áreas contaminadas ou degradadas.
Transporte, terminais e depósitos:
transporte de cargas perigosas;
transporte de dutos;
marinas, portos e aeroportos;
terminais de minério, petróleo e derivados e produtos químicos;
depósitos de produtos químicos e produtos perigosos.
Turismo:
complexos turísticos e de lazer, inclusive parques temáticos e
autódromos.

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Atividades diversas:
parcelamento do solo;
distrito e polo industrial.
Atividades agropecuárias:
projeto agrícola;
criação de animais;
projetos de assentamentos e de colonização.
Uso de recursos naturais:
silvicultura;
exploração econômica da madeira ou lenha e subprodutos florestais;
atividade de manejo de fauna exótica e criadouro de fauna silvestre;
utilização do patrimônio genético natural;
manejo de espécies exóticas e/ou geneticamente modificadas;
uso da diversidade biológica pela biotecnologia.

Esferas de exigência
A pergunta é óbvia, mas necessária: “se tenho que obter um LA, a quem devo
me dirigir?” Em primeiro lugar, a Resolução Conama 237/97 determina que o licen-
ciamento seja efetuado em uma única instância, ou seja, deve ser feito o pedido em
uma das esferas do poder público: federal, estadual ou municipal. Para saber a qual
esfera do poder público se dirigir, o procedimento genérico é o que segue.

Municipal
Na maioria dos casos, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA)
deve ser consultada. Deve-se verificar a legislação do município, principalmente
no que se refere às leis de zoneamento municipal. Isso se deve ao fato de que, na
prática, com raríssimas exceções, todo e qualquer empreendimento pertence a
algum município.

Estadual
Empreendimentos cujos impactos ambientais não ultrapassem os limites do es-
tado. São os Órgãos Estaduais do Meio Ambiente (Oema) que regulam e licenciam
essas atividades. Exemplos de Oemas: Fundação Estadual de Engenharia do Meio
Ambiente (Feema), para o estado do Rio de Janeiro; Companhia Estadual de Tecnolo-
gia e Saneamento Ambiental (Cetesb), para o estado de São Paulo, entre outros.

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Federal
Empreendimentos cujos impactos ambientais ultrapassem os limites do Es-
tado. É o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renová-
veis (Ibama) que regula o licenciamento. Exemplo de atividade que ultrapassa a
fronteira de Estados: Usina Hidrelétrica (UHE), como a de Itaipu.
Como já foi assinalado anteriormente, qualquer Licenciamento Ambiental
exige a manifestação do município e, na prática, o pedido de licenciamento passa
primeiro por uma consulta ao município; em uma próxima fase pode ser cadas-
trado em outra instância.

Tipos de licença
De forma geral, uma LA é o documento, com prazo de validade definido,
em que um órgão ambiental estabelecerá regras, condições, restrições e outras
medidas de controle ambiental a serem seguidas por um empreendimento. Entre
as principais formas de controle ambiental estão o potencial de geração de efluen-
tes, resíduos sólidos, emissões atmosféricas, entre outros. Uma vez que o em-
preendimento seja licenciado, o empreendedor assume as responsabilidades e
compromissos com a manutenção da qualidade ambiental da área em que o em-
preendimento está instalado.
Durante o processo de licenciamento, várias fases são observadas e, para
cada uma delas, deve haver um tipo particular de licença. São três os tipos de
licenças a serem observadas.

Licença Prévia (LP)


Primeira etapa do processo de licenciamento. Contempla a avaliação da
localização, concepção e requisitos básicos do empreendimento. É um estudo
baseado no zoneamento municipal, atestando a viabilidade ambiental do empre-
endimento, e funciona como um alicerce para todas as fases subsequentes do em-
preendimento.
Pode ser requerido o EIA/Rima e o relatório de controle ambiental (RCA).
O RCA pode substituir o EIA/Rima em alguns casos de baixo impacto ambiental,
segundo especificado na Resolução Conama 10/90.
Exemplo de atividades modificadoras do meio ambiente, sujeitas à elabora-
ção do EIA/RIMA, de acordo com a Resolução Conama 01/86:
estradas com duas (ou mais) faixas de rolamento;
ferrovias;
portos e terminais;

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aeroportos;
oleodutos, gasodutos, emissários de esgoto;
linhas de transmissão elétrica acima de 230kW;
barragens com potência acima de 10MW;
aterros sanitários;
exploração econômica de madeira ou lenha, em áreas acima de 100 hec-
tares ou menos, quando atinge áreas significativas do ponto de vista am-
biental;
projetos urbanísticos, acima de 100 hectares ou em áreas de relevante
interesse ambiental, a critério dos órgãos competentes.

Licença de Instalação (LI)


Definido o projeto e as medidas de proteção ambiental cabíveis, essa licença
autoriza o início da construção e instalação dos equipamentos do empreendimento.
Qualquer alteração nos projetos originais e/ou equipamentos, processos etc., deve-
rá ser novamente objeto de avaliação pelo órgão licenciador.

Licença de Operação (LO)


Autoriza o funcionamento do empreendimento. Requerida após o término
das obras e verificação da eficiência das medidas de controle ambiental, já estabe-
lecidas nas LP e LI.
No caso de um empreendimento já estar em funcionamento desde antes da
atual legislação (em particular após a promulgação da Lei 6.983/81), o empreen-
dedor deverá procurar o órgão licenciador. O órgão licenciador orientará o em-
preendedor a obter um licenciamento preventivo, no caso de o empreendimento
estar apto a funcionar, ou um licenciamento corretivo, se o empreendimento já
estiver funcionando; evidentemente, as LP e LI não são cabíveis. O licenciamento
preventivo ou o licenciamento corretivo são necessários nos casos em que devem
ser feitas adaptações que sejam equivalentes aos estudos obtidos nas fases de LP
e LI, para um empreendimento ainda a ser instalado. Nesses casos, normalmente
são definidos prazos de adequação para a implantação das medidas de controle
ambiental.

Obtenção das licenças


Os passos necessários para a obtenção das LP, LI e LO são apresentados a
seguir, usando-se o estado do Rio de Janeiro como exemplo.

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Tipo de licença
Depende da situação do empreendimento, conforme mostrado a seguir:

(FEITOSA; LIMA; FAGUNDES, 2004)


Empresa que tenha sido implantada Neste caso, para o licenciamento, de-
Não
antes do SLAP1 verão ser apresentados conjuntamente
ou já opera suas atividades documentos, estudos e projetos revistos
Empreendimento sem a licença. para as fases de LP e LI.
novo?

Sim LP LI LO

Operação plena da
Planejamento e concepção da Início da implantação das
atividade.
localização da empresa. instalações do empreen-
dimento ou ampliação das
unidades da empresa.

Esquema de situações em que se encontra o empreendimento e o tipo de licença a ser requerida.

Qual órgão?
Impactos que ultrapassam o estado – Ibama.
Impactos restritos ao estado – Fundação Estadual de Engenharia do Meio
Ambiente (Feema). É o que ocorre para a maioria dos casos no Brasil, e
não só para esse exemplo do estado do Rio de Janeiro.

“Burocracia”
Há uma série de documentos a serem preenchidos e encaminhados para
que o licenciamento ambiental possa ocorrer. Em linhas gerais, deve-se entrar em
contato (através dos escritórios ou pela internet) com o órgão ambiental corres-
pondente, fazendo-se a solicitação de requerimentos e cadastro da empresa.

Dados e documentos
Dependem do tamanho do empreendimento, tipo do empreendimento,
graus de risco da atividade a ser desenvolvida, entre outros. Também depende
de em qual fase do licenciamento o empreendimento se enquadra. Os principais
documentos são:
memorial descritivo da empresa;
formulário de requerimento;
CPF, RG, registro de conselho de classe etc., para representante legal,
profissionais responsáveis pelo projeto, entre outros; 1 SLAP – Sistema de
Licenciamento de Ati-
vidades Poluidoras, institu-
ído pelo Decreto Estadual
ata de eleição de diretoria ou contrato social registrado; 1.633/77.

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registro de propriedade ou outro equivalente;


certidão da prefeitura, atestando o correto enquadramento com a lei de
zoneamento municipal;
guia de recolhimento (GR).

Cadastro de atividade industrial


Contém dados como:
atividade;
endereço;
produto fabricado;
fontes de água (abastecimento);
efluentes gerados;
destino de resíduos;
processos industriais.
Esse cadastro é preenchido com dados que já foram analisados para elabo-
ração do EIA/RIMA ou RCA.

Abertura do processo/licença
Apresentação e conferência dos documentos, na Feema (caso do Rio de Ja-
neiro), ou no órgão ambiental correspondente. Já deve ter sido efetuado o paga-
mento da GR para que ocorra a abertura do processo.

Publicação e abertura do processo


Após a abertura do processo, deve-se providenciar a publicação da entrada
dos documentos em jornal de grande circulação e no Diário Oficial do Estado.
Após a publicação, fazer ofício (juntar cópias das publicações nos jornais) e pro-
tocolar junto à Feema (no caso do Rio de Janeiro) em um prazo de 30 dias.
Os passos anteriores são resumidos no esquema a seguir:
(FEITOSA; LIMA; FAGUNDES, 2004)

Identificar a Solicitar na Feema o Requerimento Formaliza-


Identificar o tipo de
quem cadastro de atividade de licença ção/abertura
licença a ser requerida
pedir a licença industrial de processo

Comprovante de pagamento de taxa referente ao custo do processo


Documentos solicitados
Cadastro industrial preenchido

Passos necessários para o requerimento de um licenciamento ambiental.

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Procedimentos da Feema
Análise dos documentos
Nessa fase, técnicos da Feema analisam os documentos apresentados, como
os projetos, estudos ambientais realizados pelo empreendedor, entre outros.

Vistoria técnica
O empreendimento recebe a visita dos técnicos da Feema. Segundo os dados
colhidos durante essa visita técnica, podem ser feitas outras exigências e eventuais
ajustes de parâmetros. O empreendimento é notificado nesses casos.
A tabela abaixo mostra os principais documentos e procedimentos que são
solicitados pela Feema.

(FEITOSA; LIMA; FAGUNDES, 2004)


Exigências O que é Importância Procedimentos
Determinará a
necessidade ou não de
Análise laboratorial um tratamento mais
Contratar um
que determina eficaz do efluente a
laboratório de análises
Análise de efluentes ou as condições e fim de adequá-lo aos
físico‑químicas
caracterização características dos padrões máximos
devidamente
de efluentes efluentes gerados nos estabelecidos para
credenciado pela
processos de produção o lançamento de
Feema.
da empresa. efluentes líquidos
industriais
(NT-202/RJ).

Trata os efluentes Após constatada


Sistema composto por industriais, a necessidade da
Estação de tratamento diversos dispositivos adequando-os aos implantação da ETE,
de efluentes que irão tratar os padrões estabelecidos contratar empresas
efluentes gerados. pela legislação especializadas no
ambiental. ramo.

Existem empresas
Também conhecido Evita a sobrecarga especializadas, mas
como fossa séptica, do sistema de você mesmo poderá
é um compartimento esgotamento comprar tanques em
que trata os esgotos de sanitário, tratando lojas de materiais
Tanque séptico
origem sanitária. adequadamente o de construção.
É uma exigência legal esgoto antes de ser Este deverá ser
determinada pela lançado dimensionado para
NT-215.R2. na rede pública. o número de pessoas
servidas.

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Exigências O que é Importância Procedimentos


A exigência da fossa
estará condicionada
ao destino final desse
esgoto. Se ele seguir
Documento emitido
para uma estação
pela Cedae atestando Dirigir-se à Cedae e
Certificado de de tratamento de
o destino do esgoto efetuar o requerimento
esgotamento sanitário esgotos domésticos,
sanitário gerado na desse certificado.
dependendo do volume
empresa.
gerado, não haverá
a necessidade da
implantação de fossa
séptica na empresa.

É um sistema de Entrar em contato


controle de resíduos Controla os com a Feema para
que, mediante uso de resíduos gerados, obtenção sobre
formulário próprio, desde sua origem os procedimentos
Manifesto de resíduos permite conhecer e até a destinação adotados para a
controlar a forma de final, evitando seu utilização dos
destinação dada pelo encaminhamento para formulários de
gerador, transportador locais inadequados. vinculação ao
e receptor de resíduos. manifesto.

Objetiva conhecer os
tipos e os destinos
É um sistema dados aos resíduos
A Feema
de controle e industriais, para a
orientará quanto
Inventário de resíduos cadastramento de elaboração em nível
aos procedimentos
resíduos industriais nacional de um plano
necessários.
perigosos. de gerenciamento de
resíduos industriais
perigosos.

Documento que
conterá uma série de
Identificados os
ações na operação
impactos causados Seguir a orientação
do projeto, com o
pela atividade, o da Feema que
objetivo de minimizar
Plano de controle PCA definirá as estabelecerá as
o impacto ambiental
ambiental – PCA medidas de controle diretrizes a serem
da atividade. Conterá
e minimização, utilizadas na
os projetos executivos
visando solucionar os elaboração do PCA.
de minimização dos
problemas detectados.
impactos ambientais
avaliados no RCA.

Exigências ambientais, solicitadas pela Feema.

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Parecer técnico
Após a análise dos documentos e do resultado da vistoria técnica, a diretoria
do órgão ambiental correspondente (neste caso, a Feema), emite a aprovação (ou
não) do licenciamento ambiental.

Licença
Uma vez aprovado, ocorre a emissão do LA. Nessa fase, para a formalização
do processo, os representantes do empreendimento recebem uma comunicação e
são convocados a comparecer ao órgão público.

Publicação
Após a formalização, deve haver a divulgação em jornal de grande circula-
ção e no Diário Oficial do Estado, comunicando o recebimento do LA.

Recomendações
Uma vez devidamente licenciado, o empreendimento deve manter o LA e,
para isso, algumas recomendações são feitas.

Restrições da licença
Dependendo do tipo de atividade a ser desenvolvida pelo empreendimento, se
não houver observância das restrições poderá haver o cancelamento da licença.

Prazo
Toda licença tem prazo de validade. A renovação da licença deve ser feita
120 dias antes de expirar (Resolução Conama 237/97). Para os casos de LP e LI
não há renovação.
Observe os prazos de validade para os diversos tipos de licenciamento na
tabela a seguir.
(FEITOSA; LIMA; FAGUNDES, 2004)

Licença Mínimo Máximo


O estabelecido pelo cronograma
LP Não superior a 5 anos
do projeto apresentado

De acordo com o cronograma de


LI Não superior a 6 anos
instalação da atividade

LO 4 anos 10 anos

Prazos de validade das licenças.

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O esquema a seguir apresenta um resumo dos passos para a obtenção do


licenciamento ambiental, levando-se em consideração o exemplo do estado do Rio
de Janeiro.

(FEITOSA; LIMA; FAGUNDES, 2004. Adaptado.)


Formalização/abertura do processo
Publicação pela
empresa
Análise de documentos

Empreendedor
Vistoria técnica Órgão ambiental
Documentos
Há alguma outra solicitação?

Não Sim

Encaminhamento do pare- Ex.: EIA/Rima,


cer técnico à presidência da RCA,
Feema análises etc.

Encaminhamento à Solicitação

2 atendida
 eca – Comissão Estadu-
C 2
al de Controle Ambien-
Ceca para emissão da
tal/RJ. licença

A empresa recebe a
licença solicitada e
publica o recebimento

Fluxograma do processo de licenciamento ambiental, para o estado do Rio de Janeiro.

Prazos para licenciamento


A partir do momento em que o empreendedor dá entrada (protocola) no pe-
dido de LA, o órgão ambiental competente tem até seis meses para se pronunciar,
em projetos que não exijam o EIA/RIMA. Para projetos que exijam o EIA/RIMA,
o órgão ambiental competente tem até 12 meses para seu pronunciamento. Esses
prazos são dados pela Resolução Conama 237/97 e valem para todo o Brasil.

Funcionando
O empreendimento é objeto de constante fiscalização, para que as exigência
sejam cumpridas. O artigo 6.º da Lei 6.938/81 indica que o órgão ambiental com-
petente tem poderes para executar a fiscalização e/ou acompanhamento a qualquer
momento.

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Cancelamento
Pode ocorrer, a qualquer momento, desde que sejam constatadas irregulari-
dades. Exemplos de irregularidades do empreendimento: documentos falsos, alte-
ração do processo industrial sem comunicação ao órgão ambiental, graves riscos
ambientais ou à saúde, entre outros.

Custos
Durante todo o processo de LA, o empreendedor deverá arcar com todos os
gastos decorrentes desse processo, segundo a Resolução Conama 001/86. Entre os
principais custos para o LA de um empreendimento podemos citar, usando como
exemplo o estado do Rio de Janeiro:
guia de recolhimento (GR), para protocolo do pedido de LA;
coleta de dados e informações, referentes ao empreendimento, para pos-
terior encaminhamento ao órgão ambiental competente;
EIA/RIMA (se for o caso), ou seja, havendo necessidade de elaboração
de EIA/RIMA, o empreendedor deverá ser responsável pela contratação
da equipe multidisciplinar sem que, no entanto, tenha qualquer poder
de coação sobre essa equipe (“equipe não dependente direta ou indire-
tamente do proponente do projeto e que será responsável tecnicamente
pelos resultados apresentados”, segundo o artigo 7.º, Resolução Conama
001/86);
medidas preventivas e/ou corretivas de impacto ambiental (se for o caso).
Significa que, havendo a constatação de impactos negativos, originados a
partir da ação do empreendimento, o empreendedor deverá arcar com as
despesas referentes às medidas a serem adotadas para a mitigação e/ou
correção desses impactos negativos;
publicações das licenças, isto é, toda a divulgação das etapas de licencia-
mento (publicação em jornais), prescritas na legislação, deverão ocorrer
por conta do empreendedor.

Responsabilidades e penalidade
Em caso de ocorrência de algum tipo de impacto ambiental, além dos cus-
tos com os quais o empreendedor deverá arcar (como mencionado anteriormen-
te), poderá caber também algum tipo de penalidade, com as suas consequentes
sanções.

43
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Os tipos de responsabilidades e penalidades, decorrentes de condutas lesi-


vas ao meio ambiente, são apresentados na a seguir:

(FEITOSA; LIMA; FAGUNDES, 2004)


Tipos de Característica Penalidade para o empresário
responsabilidade

Em caso de acidente a empresa será obrigada,


independentemente da existência de culpa, a
Objetiva Independe de culpa.
reparar os danos causados ao meio ambiente.
Aplica-se, preferencialmente, à esfera cível.

Depende de existência
de culpa ou dolo. A
culpa é caracterizada por Em caso de acidente, a apuração de culpa
Subjetiva imperícia, imprudência será necessária para a responsabilização
ou negligência. E o na esfera criminal.
dolo se caracteriza pela
intenção.

É a responsabilidade na qual o poluidor e


seus sucessores, bem como qualquer um
Será apurada a
que tenha contribuído para o dano, serão
responsabilidade
Solidária considerados responsáveis perante a lei. Nesse
de todos os agentes
caso, os responsáveis responderão, individual
envolvidos.
ou conjuntamente, pelo pagamento do total
da indenização devida.
Tipos de responsabilidades e penalidades, decorrentes de condutas lesivas ao ambiente.

Sanções
São dadas pelas Leis Federais 6.938/81 (Política Nacional de Meio Ambien-
te – PNMA) e 9.605/98 (Crimes Ambientais). As diferentes esferas de ação e as
sanções aplicáveis às pessoas físicas e jurídicas, em caso de danos ambientais, são
apresentadas a seguir: (FEITOSA; LIMA; FAGUNDES, 2004)

Sanções
(pessoas físicas) e à empresa

Esfera cível Reparação civil decorrente do dano causado, com


aos agentes corresponsáveis
Esferas de ação das sanções
impostas ao empresário e

(pessoa jurídica) em caso

Independe da indenizações à comunidade atingida.


de dano ambiental

existência de culpa Recuperação ambiental da área atingida pelo acidente.

Advertência.
Multa simples entre R$50,00 a R$50.000.000,00.
Esfera Multa diária.
administrativa Suspensão de venda e fabricação do produto.
Embargo de atividade.
Suspensão parcial ou total da atividade.

44
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(FEITOSA; LIMA; FAGUNDES, 2004)


Sanções

(pessoas físicas) e à empresa (pessoa jurídica)


empresário e aos agentes corresponsáveis Restritiva de direito.
Esferas de ação das sanções impostas ao
Cancelamento de licença.
Esfera Perda ou suspensão da participação em linhas de
administrativa financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito.
em caso de dano ambiental

Proibição de participação em licitações públicas por até 3


anos.

Penas privativas de liberdade (prisão ou reclusão) – para


pessoas físicas.
Penas restritivas de direito.
Esfera penal
Prestação de serviços à comunidade.
Aplicável quando
Interdição temporária de direitos.
comprovada a
Suspensão parcial ou total de atividade.
existência de culpa
Ressarcimento, à vítima ou à entidade pública com fim
ou dolo
social, de importância que varia de 1 a 360 salários
mínimos.
Recolhimento domiciliar.

Esferas de ação das sanções impostas ao crime ambiental.

O licenciamento ambiental é uma obrigação legal e constituído por várias


etapas, o que pode ser simplificado se um empreendimento busca trabalhar, desde
o início, em parceria com o órgão ambiental competente. As soluções devem ser
transparentes, respeitando o meio ambiente e conciliando o desenvolvimento da
atividade antrópica com o respeito ao meio ambiente.

Acesse o site do órgão ambiental de seu estado (ou de sua cidade) e compare as etapas relativas
ao Licenciamento Ambiental com as apresentadas nesse capítulo.

CUNHA, Sandra B.; GUERRA, Antonio J. T. Avaliação e Perícia Ambiental. Rio de Janeiro: Ber-
trand Brasil, 2002.

FEITOSA, Isabelle R.; LIMA, Luciana S.; FAGUNDES, Roberta L. Manual de Licenciamento Am-
biental: guia de procedimentos passo a passo. Rio de Janeiro: Firjan/Sebrae, 2004.

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Manual de Licenciamento Ambiental

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Estudos de caso I
Pedro G. Fernandes da Silva

P
ara todo e qualquer processo de modificação ambiental, existe um efeito no próprio ambiente
que, de certa forma, pode ser perceptível ou não. A forma de percepção, bem como o grau de
percepção, pode ser um indicador de que a modificação ambiental é de baixa, média ou alta
amplitude. Mais ainda, pode ser um indicador de que um determinado ambiente possa ter sofrido
modificações tais que ou não haverá qualquer alteração significativa (baixa amplitude), ou absorverá
essas modificações depois de um breve período de distúrbio (média amplitude), ou ocorrerão altera-
ções irreversíveis, de forma a modificar permanentemente esse ambiente (alta amplitude).
Para um entendimento mínimo de como um ambiente pode ser alterado, e suas eventuais con-
sequências, deve-se analisar como um determinado ambiente funciona quando não há qualquer mo-
dificação, ou seja, quando esse ambiente “funciona” de forma “normal”. Para isso, podemos utilizar a
teoria dos sistemas, aplicada à Ecologia.
De acordo com a teoria de sistemas, temos que um sistema pode ser definido como conjunto de
unidades inter-relacionadas. Essas unidades inter-relacionadas produzem um efeito de propriedades
emergentes, onde o todo (sistema) é maior que a mera soma das partes. Exemplo: hidrogênio (gás) +
oxigênio (gás) = H2O (água), com propriedades totalmente diferentes em relação aos gases que deram
origem à água.
Além de um sistema ser composto por muitas partes e ter a propriedade de retroalimentação
(aqui considerada como a capacidade de reciclagem, ou seja, de reaproveitamento da matéria), ele é
também sujeito a reações não programadas e a comportamentos que refletem cautela e sobreaviso
diante de riscos potenciais. Isso simplesmente quer dizer que não podemos ter certeza absoluta sobre
o tipo de resultado advindo de uma determinada modificação no sistema considerado. Na natureza,
diversos sistemas interagem entre si, em conjuntos ainda maiores, formando um ambiente. Assim, um
ambiente representa um sistema de ordem mais elevada, no qual o sistema que está sendo examinado
é uma parte, e modificações nos elementos do primeiro acarretarão mudanças diretas nos valores dos
elementos contidos no sistema sob exame.
Uma comparação interessante é com um jogo de quebra-cabeça: olhando-se apenas uma peça,
não é possível entender o todo.

Abordagem sistêmica
A partir da teoria de sistemas, podemos abordar as variações e funcionamento de um sistema.

Equilíbrio dentro de um sistema


Variáveis internas (seres vivos, por exemplo) de um sistema são ajustadas às condições externas
desse sistema considerado. Isso quer dizer que os seres vivos que compõem um sistema são alterados

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Estudos de caso I

e influenciados pelas condições externas a eles, ou seja, a qualidade e a quanti-


dade de matéria e energia que fluem pelo sistema. De acordo com a influência
desses fatores externos, pode haver, ou não, a adaptação dos organismos. É o que
poderíamos comparar como sendo um processo de seleção natural onde, de acor-
do com as modificações externas, alguns indivíduos são capazes de superar essas
variações e outros não. No entanto, a população da qual esses organismos fazem
parte é mantida, exercendo a sua função dentro do sistema.
Essas modificações devem ser consideradas no âmbito do fluxo de energia
que entra, para sustentar os organismos vivos dentro do sistema, bem como no
âmbito da matéria necessária para a manutenção desses seres vivos. Além disso, a
quantidade de energia e matéria que sai do sistema também exerce influência so-
bre os seres vivos do sistema. Exemplos: energia – sem um adequado suprimento
de energia solar os produtores morrem, levando a um colapso dos outros seres vi-
vos do sistema, por falta de alimento. Da mesma forma, se o sistema perde energia
em demasia, como no caso de um excesso de respiração (reação exotérmica), os
organismos vivos não conseguem se manter por não haver energia suficiente para
mantê-los.
A quantidade de matéria e/ou energia que entra e sai do sistema implica
processos de evolução física e biológica do sistema e dos organismos no seu inte-
rior, respectivamente, alterando as suas características.
A resistência às mudanças é tanto maior quanto mais complexo for um sis-
tema, e se as condições externas tornam-se imutáveis, ocorre um processo de
estabilidade dentro do sistema, isto é, o sistema e os organismos em seu interior
mantêm suas características.

Características de fluxo de um sistema


Através da descrição dos eventos externos a um sistema (qualidade e quanti-
dade de matéria e/ou energia que entra e sai), temos as características de frequên-
cia e magnitude de um evento, o que irá influenciar o sistema. Resumidamente:

Magnitude de um evento = intensidade


Modificações
dentro do sistema
Frequência de um evento = variabilidade

Exemplos: chuvas de fraca intensidade e grande frequência regulam o siste-


ma (chuvas normais em qualquer ambiente: Mata Atlântica, por exemplo); tempes-
tades de grande intensidade e baixa frequência desestruturam o sistema (queda de
árvores, destruição de encostas etc.).
As alternâncias (ou flutuações) entre frequência e magnitude determinam
as características do sistema, interferindo e/ou alterando os fluxos de energia e
ciclos da matéria.

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Estudos de caso I

Os eventos e suas características, a partir da análise sistêmica para um sis-


tema qualquer, estão resumidos no esquema abaixo, que indica a estrutura e a
dinâmica do ambiente, levando em consideração três principais fatores: os condi-
cionantes, relativos aos fatores de atmosfera, clima, litosfera e processos geológi-
cos associados; a ecodinâmica, relativa à interação entre os fatores condicionantes
(abióticos) e os fatores bióticos presentes dentro de um sistema; e os fatores da
dinâmica socioeconômica, relativa ao resultado da interação entre os fatores abió-
ticos e bióticos e os condicionantes, além de enfatizar a ação antrópica.
Vale a pena ressaltar que um fator é, ao mesmo tempo, independente e re-
lacionado com outros. Dito de outra forma, a biocenose (por exemplo) tem sua
própria dinâmica, mas ela não ocorre no vazio; é necessário que existam os fatores
condicionantes para que haja um substrato para que possa ocorrer. Por exemplo,
pode-se analisar as flutuações populacionais de uma determinada espécie (dinâ-
mica própria dessa espécie – biocenose – analisada), mas não se pode isolar essa
espécie do ambiente físico/químico em que ela existe, bem como a influência que
esse ambiente físico/químico exerce sobre essa mesma espécie.

(ABSY, 1997. Adaptado.)


Exploração
antrópica
Atmosfera Clima Homem
Processos
climáticos

Morfogênese Relevo
Temperatura

Escoamento
superficial
Precipitação

Superfície Vegetação Geossistemas


Biocinese
da terra e animais paisagens

Escoamento
subterrâneo

Infiltração Pedogênese Solo

Rocha e
Litosfera
estrutura
Processos
geológicos
Lençol subterrâneo

Organização sistêmica.

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Estudos de caso I

Sistemas agrícolas
Os sistemas agrícolas são um bom exemplo para demonstração de altera-
ções ocorridas em locais onde antes existiam sistemas naturais, com maior ca-
pacidade de equilíbrio. A comparação é relativamente simples: sistemas naturais
possuem maior biodiversidade, contribuindo para seu equilíbrio e resistência a
mudanças provocadas pelo ambiente externo; sistemas agrícolas são, tipicamente,
constituídos por monoculturas onde, obviamente, existe uma menor biodiversi-
dade e, consequentemente, estão mais sujeitos às mudanças provocadas pelo am-
biente externo.
Alterando um sistema complexo (uma floresta, por exemplo), substituin-
do por campos cultivados (plantação de cana-de-açúcar, por exemplo), o homem
altera o equilíbrio e as características locais.
A tabela abaixo mostra as alterações provocadas, em termos de energia,
ciclo hídrico e a produção líquida da comunidade.

(CUNHA; GUERRA, 2002.


Adaptado.)
Bosque Vegetação Campos
Parâmetros energéticos herbácea cultivados
Aproveitamento de energia (cal/cm 2/ano) 25 000 18 000 11 000

Precipitação (mm/ano) 750 680 680

Transpiração (mm/ano) 500 300 170

Produção líquida (cal/cm 2/ano) 640 520 440

Economia energética fotossintética e hídrica de alguns ecossistemas.

As imagens, apresentadas a seguir, indicam uma provável consequência do


desmatamento na região amazônica, decorrente de alterações no ciclo hidrológico.

Ciclo hidrológico

50% da chuva é alimen- 50% da água da chu-


tada pela evaporação da va na Amazônia vêm de
água acumulada na flores- massas de ar úmido que
ta, nos rios e pela transpi- se formam no Oceano
ração das plantas. Atlântico.

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Estudos de caso I

O efeito da destruição
Com o desmatamento diminui a quantidade de vapor de
água gerada pela floresta e, por consequência, as chu-
vas. O clima se torna mais quente e seco.

O rompimento do equilíbrio
Estima-se que o ciclo das chuvas da região entrará em
colapso se a Amazônia perder entre 40% e 60% de sua
cobertura vegetal. O fim da floresta será irreversível.

Provável consequência do desmatamento na região amazônica, provocada pelo


desflorestamento e a consequente alteração do ciclo hidrológico da região.

Os fatores apresentados anteriormente são influenciados por diversos tipos


de impactos, por exemplo:
destruição de componentes do sistema original;
impacto no ciclo da matéria, isto é, interrupção e/ou alteração nos proces-
sos de reciclagem da matéria, nos ecossistemas. Em particular, essas inter-
rupções e/ou alterações são decorrentes da diminuição da biodiversidade,
interrompendo e/ou alterando os processos das redes alimentares.
Como houve quebra do equilíbrio, um campo cultivado necessita ser man-
tido de forma artificial, a cargo do homem. Exemplos: adubação, curvas de nível,
inseticidas. Todos esses controles eram mantidos pela população original do siste-
ma. Por exemplo, a adubação do solo é mantida pela constante decomposição da
matéria orgânica, a erosão é evitada pela presença de vegetais perenes, as popula-
ções de “pragas” são mantidas sob controle pela ação de diversas outras espécies
que se alimentam dessas “pragas”, entre outros.
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Estudos de caso I

Pressão das atividades humanas


A atividade humana pressiona os ecossistemas e essas pressões são mensu-
radas por atributos convencionados. Por exemplo, os atributos da pressão agrícola
são determinados pela Comissão de Tipologia da Agricultura da União Geográfi-
ca Internacional, que utiliza o vetor de trabalho (pessoas empregadas por hectare)
e o vetor de força mecânica (HP de máquinas agrícolas por hectare de terra culti-
vada), entre outros.
As principais formas de pressão podem ser divididas em três tipos: Pressão
Industrial (PI), Pressão Agrícola (PA) e Pressão Urbana (PU). Evidentemente,
cada tipo de pressão é decorrente do tipo de ocupação que o homem faz do am-
biente – industrial, agrícola e urbana – sendo essa última o espaço que as cidades
ocupam (atual e potencial).
Para qualquer tipo de pressão, são convencionadas três classes: baixa, média
e alta, para a pressão exercida. Por exemplo, para a PU: de zero a 3,8 hab/km2,
pressão baixa; de 3,9 até 25,5 hab/km2, pressão média; e, acima desse valor, pres-
são alta.
Utilizando-se sistemas de matrizes de superposição (comparações entre
cartas de pressão e atividades exercidas), estabelece-se a distribuição de unidades
para as classes encontradas. Por exemplo, examine a tabela, apresentada a seguir.

(CUNHA; GUERRA, 2002)


Pressão Industrial (PI) Pressão Agrícola (PA) Pressão Urbana (PU)
Classe UPI Classe UPA Classe UPU
1 baixa 10 1 baixa 10 1 baixa 10
2 média 20 2 média 20 2 média 20
3 alta 40 3 alta 40 3 alta 40
Classes ordinais de valores por unidade de pressão (UP): industrial (UPI), agrícola (UPA) e urbana
(UPU).

Cada uma das atividades de pressão leva a uma situação de risco ambiental,
que são aspectos de potenciais modificações ambientais, decorrentes da atividade
humana.
Para serem aferidos os Riscos Ambientais (RA), considera-se a vulnera-
bilidade das áreas a serem atingidas, usando-se os critérios fitogeográficos e
zoogeográficos, levantados por especialistas. Obtém-se a seguinte classificação
(matriz de RA):
risco baixo – vulnerabilidade baixa e pressão baixa; vulnerabilidade bai-
xa e pressão média; vulnerabilidade média e pressão baixa;
risco médio – vulnerabilidade baixa e pressão alta; vulnerabilidade mé-
dia e pressão média; vulnerabilidade alta e pressão baixa;
risco alto – vulnerabilidade média e pressão alta; vulnerabilidade alta e
pressão média; vulnerabilidade alta e pressão alta.
De forma resumida, a classificação de RA pode ser como a apresentada nas
tabelas a seguir.
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Estudos de caso I

Visualização de risco baixo


Pressão
Baixa Média Alta
Baixa X X

Vulnerabilidade Média X

Alta

Visualização de risco médio


Pressão
Baixa Média Alta
Baixa X

Vulnerabilidade Média X

Alta X

Visualização de risco alto


Pressão
Baixa Média Alta
Baixa
Vulnerabilidade Média X

Alta X X

Apresentamos, na tabela a seguir, alguns exemplos de pressão agrícola


acompanhados das medidas mitigadoras, ou seja, formas adequadas de minimi-
zação da pressão agrícola considerada.

Poluição Carreamento sazonal de agroquímicos, Uso controlado de agroquímicos;


originada contaminando o solo, águas controle biológico de pragas; mudança
na atividade
superficiais e subterrâneas. para agricultura orgânica ou ecológica.
agrícola

Coordenação do uso da água por meio


Diminuição Aumento do consumo de água em do sistema de outorga dos direitos
das vazões projetos de irrigação, causando de uso; aumento da oferta por meio
fluviais pela conflitos com outros usos antrópicos e da regularização de rios; controle de
irrigação com o ambiente. perdas e adoção de tecnologias de
baixo consumo.

Degradação acelerada dos processos


Degradação físico, químico e biológico dos solos
Uso de técnicas de controle: manejo
do solo agrossilvopastoril; terraceamento.
em decorrência da ação humana.

Formas de pressão agrícola, suas características e medidas de mitigação.

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Estudos de caso I

A figura a seguir apresenta algumas consequências ocasionadas pela remo-


ção da cobertura de floresta tropical, ou seja, a eliminação da floresta para uso
agrícola (plantio ou pastagem). Repare que ocorrem tanto prejuízos ecológicos
(vegetação retardada, isto é, demora no seu crescimento) como prejuízos econô-
micos e sociais (com a perda de solo fértil ou arável, diminui a quantidade e qua-
lidade de produtos que podem ser cultivados na área).

(ABSY, 1997. Adaptado.)


Desmatamento

Menor
Solo crostado Sem sombra Queimadas
evapotranspiração

Lixiviação e Restolho
Enchentes Menos chuvas
erosão perdido

Perda de solo Perda de


Secas
arável micro-organismos

Prejuízos
sociais e
econômicos

Menor crescimento
das plantas

Vegetação
retardada

Consequências ocasionadas pela remoção da floresta tropical.

Indicadores de vulnerabilidade (principais)


Uma breve relação de indicadores de sensibilidade do solo, clima e atmos-
fera, águas, fauna e flora, a partir das ações antrópicas, é mostrada a seguir. Para
cada um dos itens apresentados há metodologia específica e padronizações, que
procuram refletir os aspectos considerados adequados para a manutenção desses
recursos. Quando a ação antrópica altera esses aspectos considerados adequados,
o sistema passa a reagir de maneira a retornar ao seu estado original (processo de
homeostase), desde que a ação seja interrompida. Há casos em que a magnitude
e/ou a frequência do evento não permite esse retorno ao seu estado original, de
forma que o sistema fica alterado permanentemente.
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Estudos de caso I

Solo:
espessura ou profundidade;
textura;
estrutura;
retenção hídrica e percolação (infiltração de água);
erodibilidade;
drenalidade.
Clima e atmosfera:
circulação atmosférica;
umidade;
substâncias poluidoras (NOx, COx, CH4 etc.);
temperatura.
Águas:
patógenos;
material orgânico (nitratos e fósforo, principalmente);
substâncias químicas (defensivos, metais pesados etc.).
Fauna e flora:
diversidade;
cadeias e redes alimentares;
tamanho populacional.

Planos de monitoramento
Não é necessariamente um sinônimo de levantamento das condições ou ca-
racterísticas ambientais. Monitoramento pode ser resumido ao uso de protocolos
predeterminados, visando à detecção de alterações ambientais que possam causar
efeito deletério sobre recursos econômicos, processos ecológicos, ou à própria
saúde humana. Os objetivos de programas de monitoramento devem ser cuidado-
samente definidos, já que a mera coleta de dados pode não ter qualquer aplicabi-
lidade real ou potencial.
Em resumo, monitorar implica estudar ambientes com a finalidade expressa
de detectar alterações que possam ser atribuídas a fontes poluidoras e alertar as
pessoas envolvidas em caso de potencial RA.
Geralmente são identificados processos poluidores em potencial, bem como
potenciais áreas a serem afetadas; em sequência, ocorre a elaboração de planos de
contingência, bem como a formação e o treinamento de pessoal apto a interrom-
per e/ou minimizar o impacto produzido.
A seguir, são apresentadas algumas variáveis que devem ser levadas em
consideração e alguns questionamentos sobre os potenciais processos poluidores.
A partir dessas variáveis e questionamentos, dependendo da área em que ocorrem,
são feitos os planos de contingenciamento.

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Estudos de caso I

Variáveis físico-químicas e biológicas


Efeito de dose: pequena variação na concentração de contaminantes
com consequências sobre a qualidade biológica. Exemplo: adicionar
nitrato ao solo pode ser um adubo, dependendo das condições do solo;
uma quantidade excessiva de nitratos acaba por matar as plantas ao
invés de nutri-las.
Efeito de sinergia (combinação): substâncias inofensivas quando iso-
ladas, podem se combinar, produzindo poluentes. Exemplo: O2 sob
ação de raios ultravioletas separa-se; cada O sozinho pode se ligar a
uma outra molécula de O2, formando ozônio (O3), poluente em baixa
atmosfera.
Efeito de bioacumulação: organismos acumulam poluentes. Exemplo:
acúmulo de DDT, mercúrio etc., nas cadeias alimentares.

Questionamentos
Efeito de dano: consequências do impacto são específicas para o agen-
te causal?
Reversibilidade: qual a capacidade de retorno a um estado “origi-
nal”?
Amplitude taxonômica: o efeito do impacto é restrito a grupos taxo-
nômicos?
Tempo: resposta da variável (detecção) ao agente poluidor?
Confiabilidade: o efeito pode ser facilmente identificado?
A próxima figura procura mostrar como um processo de análise ambiental
relaciona as diversas componentes que podem ser alteradas por atividades an-
trópicas. Perceba que o processo começa com o estabelecimento de um aspecto
conceitual, que é a proposição que se pretende atingir, isto é, o objetivo a ser
atingido. É a maneira como se projetam, em uma determinada área, as poten-
cialidades, limitações e ações recomendadas para a adequada utilização dessa
área. Um exemplo dessa aplicação é o estabelecimento de um zoneamento am-
biental, indicando quais os usos adequados para a área em questão.
Repare que o “objetivo final” é a determinação da capacidade de suporte
da área, que é a determinação da sua capacidade de suportar alterações sem, no
entanto, perder a sua identidade (característica da região).

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Estudos de caso I

(ABSY, 1997. Adaptado.)


Bibliografia
Cartas
Estatísticas
Interpretação de imagens
CONCEITUAL
Controle de campo

Informações básicas Cartografia carta base Dados complementares

Biocenose:
Geoformas, pro- Propriedades físico- Parâmetros Fatores de
comunidades
Litoestruturas cessos morfoge- -químicas dos solos, termo-hídricos, organização do
vegetais e
néticos pedogênese regime hídrico espaço de uso
animais

Compartimentação Associações hidro- Formações


morfoestrutural morfopedológicas superficiais

Pressão
Estrutura geoambiental Ecodinâmica Vulnerabilidade antrópica

Sistemas
Qualidade ambiental
ambientais

Capacidade de suporte

Esquema de análise ambiental e suas múltiplas formas de interação dos processos que, potencialmente, podem
interferir em uma determinada área.

Faça uma pesquisa nos jornais e/ou revistas de sua localidade e de outras regiões do Brasil,
comparando condições climáticas ocorridas em áreas de agricultura extensiva, com as con-
dições climáticas de antes da ocorrência da agricultura extensiva nessas mesmas áreas. Se
houver dificuldade em encontrar os dados através de jornais e/ou revistas, acesse o site do
IBGE <www.ibge.gov.br>.

CUNHA, Sandra B; GUERRA, Antonio J. T. Capítulo 3. In: . Avaliação e Perícia Ambiental.


Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

ABSY, Mirian Laila (Coord.). Demanda de Instrumentos de Gestão Ambiental: zoneamento am-
biental. Disponível em: <www.ibama.gov.br/ambtec/documentos/Zoneamento.pdf>. Acesso em: 15
maio 2006.
MÜLLER-PLANTENBERG, Clarita; AB’SABER, Aziz Nacib (Org.). Previsão de Impactos: o es-
tudo de impacto ambiental no leste, oeste e sul. São Paulo: EDUSP, 1998.
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Estudos de caso I

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Estudos de caso II
Pedro G. Fernandes da Silva

O
s problemas ambientais, atualmente, estão fortemente ligados ao modelo de desenvolvimen-
to econômico da sociedade ocidental, referente principalmente ao consumo e descarte de
produtos. Apesar de esse fenômeno estar relacionado em escala quase mundial, os proble-
mas manifestam-se localmente, representando situações que atingem diretamente uma determinada
população local.
Embora a solução dos problemas ambientais não seja de exclusiva responsabilidade dos muni-
cípios, normalmente é nessa esfera do Poder Público que ocorrem as cobranças, principalmente pela
população local afetada. O Poder Público municipal tem a responsabilidade de, em parceria ou não
com governos estaduais, federais ou iniciativa privada, implantar infraestrutura e mecanismos que
contemplem a adequada conservação ambiental, tais como a coleta, transporte, tratamento e dispo-
sição dos resíduos sólidos, a coleta e tratamento dos efluentes domiciliares e industriais e o abasteci-
mento de água.
Apesar de importantes, a maioria dos municípios brasileiros não possui uma infraestrutura
completa para essa adequação ambiental, uma vez que não têm a questão ambiental como uma de
suas prioridades de planejamento de governo.
Um dos principais problemas encontrados nos municípios é com relação à adequada disposição
dos resíduos sólidos; a “tradição” brasileira é a prática dos “lixões” (ou vazadouros a céu aberto), que
nada mais são que locais quaisquer, sem nenhum tipo de seleção ou preparação do terreno, onde são
depositados todo e qualquer tipo de resíduo sólido.
Essa disposição irregular é capaz de provocar uma série de impactos ambientais, sendo que os
principais são:
degradação de recursos hídricos;
poluição e contaminação do aquífero e lençol freático, podendo ocasionar transmissão de
organismos patogênicos, além de elementos contaminantes;
redução da fauna e flora do solo e das águas superficiais;
permanência de produtos não biodegradáveis no ambiente;
eutrofização (acúmulo de nutrientes) do solo e das águas;
aumento de animais nocivos e/ou vetores de doenças humanas;
poluição atmosférica;
comprometimento dos aspectos estéticos.
A seguir abordaremos um problema de impacto ambiental urbano, onde a disposição de resí-
duos sólidos industriais (RSI) afeta a água de abastecimento de uma cidade. Focaremos o problema
(local, origem e causa), a legislação pertinente e aplicável, e suas potenciais soluções, com o objetivo
de fornecer uma visão de como pode ocorrer um impacto ambiental, sua avaliação e possíveis formas
de solução.

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Estudos de caso II

Para nossa avaliação selecionamos o município de Rio Claro (SP), na locali-


dade do bairro Cachoeirinha, no qual o problema se refere à disposição inadequa-
da de RSI no local denominado Granja Rosada.

Localização
O aterro Granja Rosada localiza-se cinco quilômetros ao norte do centro
urbano de Rio Claro, na área do distrito industrial do município, distante 300 me-
tros da estrada que liga Rio Claro a Ajapi, com altitudes entre 620 e 650 metros
(primeira figura).
Verifica-se a presença de duas nascentes localizadas, uma a oeste (Na, se-
gunda figura) e a outra na base do aterro (Nb, segunda figura), sendo que ambas
confluem para o córrego Mãe Preta, afluente do córrego Cachoeirinha, que desá-
gua no Ribeirão Claro, a montante (acima) da captação de água para uso domésti-
co pela população de Rio Claro (segunda figura).

(MAURO, 1997, p. 93. Adaptado.)


Estrad
a Rio
Claro
japi

– Ara
ras
lagoa
laro - A

ta
ãe Pre
eirinha
a Rio C

cór. M
Cacho
Estrad

Depósito de
fibras de vidro
lote
nto

ame
ame

Antiga
nto

EROSÃO
lote

cervejaria
Mãe Preta Águas Claras
(chácaras)
horta

s
pe
aro

o
sL
Cl

do
b.
Ri

irro
Ba
p/
tr.
Es
Escala 1:25.000
cidade

Rib. Claro
ade
cid

Localização da voçoroca (seta escura) utilizada para depósito de lixo indus-


trial – fibras de vidro.

60
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Estudos de caso II

(CETESB apud MAURO, 1997, p. 94. Adaptado.)


A

Aterro E
Granja Rosada
Muro de arrimo
D

Na
B Nb C
1

Cór. Mãe Preta

4 5
3

Na e Nb Nascentes 6

Ponto de coleta

Cór. Cachoeirinha

Esquema dos pontos de monitoramento (pontos de 1 a 6) das


águas superficiais no aterro industrial Granja Rosada, Rio Cla-
ro (SP). Pontos A, B, C, D e E configuram os limites do muro
de arrimo do aterro realizado. As setas indicam o sentido da
correnteza das nascentes e dos córregos.

Caracterização
No local considerado (Granja Rosada) existe uma voçoroca (erosão de gran-
de porte), desenvolvida em função da formação rochosa da região (Formação Rio
Claro – rochas inconsolidadas recentes e arenosas), além da presença de fortes e
médias declividades, associadas à presença de lençol freático de superfície.
A Formação Rio Claro possui grande parte de seus sedimentos com textura
arenosa e constitui um grande armazenador de água, sobretudo porque seu subs-
trato rochoso apresenta rochas impermeáveis, o que garante a retenção de água.
Grande parte da água que precipita nessa área, em forma de chuva, infiltra-se e
vai alimentar as nascentes e olhos d’água que, por sua vez, alimentam os canais
fluviais de superfície.
As nascentes situadas no fundo da voçoroca foram soterradas pelo lixo in-
dustrial, obrigando a água a verter no contato da formação superficial com os pró-
prios resíduos, uma vez que não foi adotado nenhum tipo de impermeabilização
prévia. A água que flui desse local, contaminada pelos resíduos, escoa na direção
do córrego Cachoeirinha que, por sua vez, alimenta o Ribeirão Claro, antes do
ponto de captação que abastece a área urbana de Rio Claro.

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Estudos de caso II

Histórico/problema
Segundo autoridades municipais e da empresa em questão, a voçoroca da
região nada mais era do que um grande “buraco”, que poderia ser entulhado para
recomposição da geomorfologia local. Esse processo iniciou-se por volta de 1990,
com nenhuma preocupação sobre os tipos de resíduos destinados ao local.
As nascentes situadas no fundo da voçoroca foram soterradas pelo resíduo
industrial. Isso implica que as águas, escoando através do contato com os resídu-
os, ficam contaminadas causando, potencialmente, problemas para a população
de Rio Claro, uma vez que a contaminação afeta a água a ser consumida pela
população.
As causas originárias da voçoroca não foram tratadas pela empresa, nem
pelo Poder Público; com o aterramento pelos resíduos industriais podem ser am-
pliados os processos erosivos, dificultando a recuperação da área.
Resíduos sólidos industriais (RSI) formados principalmente por fibras
de vidro, que contêm vários elementos tóxicos, incluindo o boro, foram des-
pejados nessa voçoroca. A presença de boro pode atacar o sistema digestivo,
cérebro e rins. Os próprios fragmentos de fibra de vidro também têm alto po-
der poluidor, atacando vias respiratórias e digestivas, se inalado ou ingerido,
respectivamente.
Segundo levantamentos feitos pela CETESB (1994), o teor de boro au-
mentou significativamente a partir do início da destinação dos RSI na voçoroca
Granja Rosada (gráfico abaixo). A aparente queda dos níveis de boro, nos meses
de agosto e setembro de 1993, pode estar relacionada com os baixos índices de
precipitação pluviométrica (chuvas) na região, o que diminuiria o índice de lixi-
viação do material do aterro, mascarando os índices de contaminação da água.
O gráfico abaixo representa a coleta realizada no ponto 2, ilustrado na imagem
anterior.

(CETESB apud MAURO, 1997, p. 97. Adaptado.)


90
80
70
60
boro (mg/l)

50
40 limite máximo
definido por lei
30
20
10
0,75
0 1 2 3 4 5 6 7 7 9 10 11 12 1 2 3 4 5 6 7 7 9
1992 1993 meses

Concentração de boro, no município de Rio Claro. A linha pontilhada indica a quantidade má-
xima de boro permitida por lei (Resolução Conama 020/86), e os números do eixo X indicam os
meses dos anos de 1992 e 1993 (em 1993 foram analisadas amostras até o mês de setembro).

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Estudos de caso II

Infrações cometidas
Desrespeito à preservação de nascentes, mata ciliar e declividade do ter-
reno, considerados como Áreas de Preservação Permanente (APP) às
Leis 4.771/65 e 7.803/89.
Poluição das águas, com reflexos na fauna e flora desses sistemas à Lei
221/67.
Inexistência de elaboração de EIA/RIMA, necessários para um local
de destinação de resíduos sólidos às Leis 6.803/80, 6.938/81, 7.804/89,
9.433/97, Decreto 99.274/90 e Resolução Conama 001/86.
Desrespeito à Resolução Conama 020/86, sobre classificação e qualidade
das águas, particularmente no que diz respeito aos tipos de substâncias
que podem chegar aos corpos hídricos.
Incorre na Lei de Crimes Ambientais (9.605/98).

Proposta de solução
Em um primeiro momento, deve-se atentar para a classificação dos resídu-
os sólidos (NBR 10.004 e Resolução Conama 005/93), particularmente no que diz
respeito aos resíduos de origem industrial. Dessa forma, temos:

Classificação de resíduos
Classe I (perigosos) – podem ser exemplificados por lodos de estações
de tratamento de esgotos (ETE), óleos, resinas e solventes, entre outros.
Na região são produzidos perto de 2,8 mil t/ano de resíduos classe I.
Classe II (não perigosos) – podem ser exemplificados por areias, escó-
rias de fundição, entre outros. Na região é estimada a produção de 125
mil t/ano de resíduos classe II.

Solução
Construção de aterros sanitários, como indicado pela Resolução Conama
001/86, para resíduos tóxicos e perigosos.

Metodologias
Para a criação de aterros sanitários, alguns aspectos devem ser respeitados.
Entre esses aspectos, podemos citar:
localização – levantamento de área adequada, compreendendo as se-
guintes etapas:

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Estudos de caso II

levantamentos preliminares;
levantamentos sobre o meio físico;
seleção de áreas prioritárias.
Para cada uma das etapas verifica-se:
otimização de atividades;
pesquisa legislativa;
efeitos ambientais;
uso e ocupação do solo;
tipos de solo, relevo etc.
Aspectos construtivos – são os aspectos relativos às construções civis,
para o abrigo de funcionários, controle e outras atividades relativas ao
funcionamento de um aterro:
drenagem e apedregulhamento dos acessos não pavimentados;
construção de escritório;
oficina de manutenção e almoxarifado;
obras para obtenção de utilidades básicas (água, luz, telefone etc.);
depósito de estocagem provisória (quando não é possível destinar de-
finitivamente os RSI), até a destinação final, em local adequado.
Valas – projetadas para destinação final, de acordo com o tipo de RSI:
Resíduos classe I – para resíduos dessa classe é sugerido, para esse
local de estudo, a criação de uma vala com as características apresen-
tadas abaixo.

Adaptado.)
(BRUNELLI apud MAURO, 1997, p. 116.

Célula típica para resíduos sólidos classe I.

Resíduos classe II: para resíduos dessa classe é sugerido, para esse local
de estudo, a criação de uma vala com as características apresentadas na
próxima imagem.

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Estudos de caso II

Adaptado.)
(BRUNELLI apud MAURO, 1997, p. 116.
Célula típica para resíduos sólidos classe II.

As dimensões de uma vala para resíduos classe I são menores que as valas
para resíduos classe II em função da periculosidade inerente aos resíduos clas-
se I. Repare que na primeira imagem (vala para resíduos classe I) existem duas
camadas de impermeabilização, a fim de evitar percolação e lixiviação da água
que possa estar contaminada. Isso impede que os elementos lixiviados, a partir
dos resíduos sólidos classe I depositados, alcancem um corpo hídrico, podendo
disseminar elementos patogênicos e/ou contaminantes.
Na segunda imagem, repare que existem duas camadas de areia no fundo da
vala, o que permite a infiltração de água. A diferença entre esse método e o da pri-
meira imagem é que os resíduos classe II (de origem industrial, ao menos) podem
sofrer processo de decomposição, não se constituindo em elementos resultantes
capazes de contaminação de corpos hídricos.

Possíveis impactos
Para cada uma das etapas a seguir é elaborado um EIA/RIMA, prevendo os
possíveis impactos e suas respectivas medidas de mitigação (diminuir ou evitar
o prejuízo ambiental). Em resumo, são os principais aspectos que devem ser con-
templados para o estabelecimento de valas (aterro sanitário):
emissões acidentais do percolado (líquido que sai da vala, contaminado
pelos resíduos). Em aterros sanitários urbanos, denomina-se chorume.
Em um processo adequado, o chorume é enviado para uma lagoa de tra-
tamento;
emissões de efluentes por meio de tratamento do percolado. Nada mais é
que o tratamento do percolado para que a água possa ser devolvida, em
condições satisfatórias, aos corpos hídricos;
emissões acidentais de resíduos durante o transporte. Treino de pessoal
(motoristas) e utilização de equipamento para coleta dos resíduos e lim-
peza do local do acidente. Noções de Educação Ambiental para o pessoal
envolvido em todas as etapas, inclusive na etapa de geração dos resíduos
sólidos;

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Estudos de caso II

implementação e operação do empreendimento como um todo. Deve


haver um planejamento de todas as operações envolvendo os resíduos
sólidos, desde o projeto da planta do local até a efetiva destinação final
dos resíduos e o encerramento das atividades do aterro;
condições de higiene, saúde e segurança para o desenvolvimento de to-
das as etapas de trabalho. Significa que deve haver um treinamento de
pessoal para o manuseio dos resíduos sólidos, bem como cuidados com
a segurança desse mesmo pessoal;
fornecimento de informações (palestras, cursos etc.) para a população
técnica e interessados em geral, visando à conscientização da problemá-
tica ambiental, eventuais riscos, formas de controle e fiscalização, entre
outros.

Procure obter informações junto à prefeitura de sua cidade sobre a existência ou não de local
apropriado para a disposição de resíduos sólidos. Discuta os resultados obtidos (mesmo que sejam
negativos) e compare com a legislação citada no texto.
Além disso, visite o site <www.cempre.org.br>, para informações sobre destinação e recicla-
gem de resíduos sólidos.

PHILIPPI JÚNIOR, Arlindo; ROMÉRO, Marcelo de A.; BRUNA, Gilda C. (Coord.). Capítulo 8. In:
. Curso de Gestão Ambiental. São Paulo: Manole, 2004.

MAURO, Cláudio A. (Coord.). Laudos Periciais em Depredações Ambientais. São Paulo: IGCE/
UNESP, 1997.
PHILIPPI JÚNIOR, Arlindo; ROMÉRO, Marcelo de A.; BRUNA, Gilda C. (Coord.) Curso de Ges-
tão Ambiental. São Paulo: Manole, 2004.

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ISO 9000
Pedro G. Fernandes da Silva

A
série de normas ISO 9000 é um conjunto de normas e diretrizes internacionais para Sistemas
de Gestão da Qualidade (SGQ). Desde sua primeira publicação, em 1987, ela tem obtido re-
putação mundial como a base para o estabelecimento desses sistemas (MELLO et al., 2002,
p. 15).
Sistema de gestão se refere a tudo que uma organização ou empreendimento faz para gerenciar
seus processos ou atividades. As normas de sistema de gestão fornecem à organização (ou empreen-
dimento) um modelo a seguir para preparar e operar seu sistema de gestão (MELLO et al., 2002, p.
15).
A série ISO 9000 pode ser aplicada em qualquer tipo de atividade, independente de sua nature-
za e qualificação. Ela objetiva um sistema de qualidade e eficiência.

O que é uma Norma?


É um documento ou conjunto de regras estabelecidas em consenso e aprovado por um organis-
mo reconhecido, para uso comum e recorrente em atividades (ou seus resultados), visando à obtenção
de um grau ótimo de ordenação em um dado contexto (JARDIM, 2001, p. 259).
Podem ser normas de uso obrigatório ou facultativo. Exemplos: especificação de produtos (em-
balagens devem vir realmente com um quilo do produto) – obrigatória. Já a adoção da Norma ISO
9000 é facultativa; um empreendimento pode se interessar pela adoção dessa norma como um dife-
rencial aos seus concorrentes e/ou como uma forma de otimizar seus processos.
Exemplos de organismos responsáveis pela elaboração de normas:
Internacional – ISO (International Standardization Organization – Organi­­zação Internacio-
nal de Normalização);
Nacional – ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).
Existe uma particularidade relacionada aos direitos autorais das normas, de forma que, para se
saber todo o procedimento e particularidades, as normas devem ser adquiridas; no Brasil, podem ser
adquiridas através da ABNT, em seu site <www.abnt.org.br> ou em seus escritórios regionais.
A maneira de implantação das normas mais utilizada é a contratação de consultores e/ou audito-
res credenciados para a instalação das normas, de forma a poupar tempo e maiores gastos em relação
a tentativas de implantação por “conta própria”. Além do mais, a implantação por “conta própria” não
garante a certificação pelos órgãos competentes.

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ISO 9000

A ISO 9000
Como a Norma ISO 9000 se refere ao SGQ, podemos começar tentando
entender o que seja “qualidade”. De maneira geral, podem existir várias defini-
ções para “qualidade”, apesar de todas terem um certo grau de subjetividade, isto
é, na realidade fica difícil saber estimar o que seja a “qualidade”, pois pode haver
noções diferentes para cada usuário e/ou empresa.
Qualidade baseada no produto: “O produto possui algo, que lhe acres-
centa valor, que os produtos similares não possuem” (ISRAELIAN et al.,
1996, p. 1). Ou seja, o produto apresenta, realmente, um diferencial de
qualidade em relação aos seus concorrentes. Seria algo como “tal produ-
to dura mais que o seu similar”.
Qualidade baseada na perfeição: “É fazer a coisa certa na primeira
vez” (ISRAELIAN et al., 1996, p. 1). Nesse caso, a vantagem da quali-
dade é percebida na empresa que fabrica o produto, uma vez que deixa de
gastar com novos testes e/ou adequações, até que o produto seja lançado
no mercado.
Qualidade baseada no valor: “O produto possui a maior relação custo-
-benefício” (ISRAELIAN et al., 1996, p. 1). Pelo que o produto oferece,
em relação ao que custa, existe uma relação positiva de custo-benefício.
Seria como você pagar um pouco mais caro por um determinado produ-
to, mas ele vai durar mais que um equivalente mais barato.
Qualidade baseada na manufatura: “É a conformidade às especifica-
ções e aos requisitos, além de não haver nenhum defeito” (ISRAELIAN et
al., 1996, p. 1). Essa definição também é mais sentida pela empresa, uma
vez que a empresa não recebe reclamações dos clientes, por exemplo.
Qualidade baseada no cliente: “É a adequação ao uso; é a conformida-
de às exigências do cliente” (ISRAELIAN et al., 1996, p. 1). O cliente
fica satisfeito, porque o produto atende exatamente ao que ele esperava
do mesmo.
Normalmente, são essas duas últimas formas de definição as mais utiliza-
das, uma vez que são baseadas nos clientes que, em última análise, fazem (ou não)
o sucesso de uma empresa.
As Normas ISO 9000 podem ser utilizadas por qualquer tipo de empresa,
seja ela grande ou pequena, de caráter industrial, prestadora de serviços ou mes-
mo uma entidade governamental.
Deve ser enfatizado, entretanto, que as Normas ISO série 9000 são normas
que dizem respeito apenas ao SGQ de uma empresa, e não às especificações dos
produtos fabricados pela empresa. Ou seja, o fato de um produto ser fabricado por
um processo certificado segundo as Normas ISO 9000 não significa que este terá
maior ou menor qualidade que outro similar. Significa apenas que todos os produ-
tos fabricados, segundo esse processo, apresentarão as mesmas características e o
mesmo padrão de qualidade.
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ISO 9000

As Normas ISO 9000 não conferem qualidade extra a um produto (ou servi-
ço), garantem apenas que o produto (ou serviço) apresentará sempre as mesmas
características.

Família ISO 9000


As normas da série ISO 9000:2000 são reunidas em quatro normas primárias:
ISO 9000 – Sistemas de Gestão da Qualidade – fundamentos e vocabu-
lário. É uma espécie de introdução ao que seja a Norma ISO 9000.
ISO 9001 – Sistemas de Gestão da Qualidade – requisitos. Essa norma
determina e estabelece quais são todos os procedimentos para que seja
atingida a certificação.
ISO 9004 – Sistemas de Gestão da Qualidade – diretrizes para melhoria
de desempenho. Uma vez que um empreendimento tenha obtido a certi-
ficação, esse mesmo empreendimento pode buscar melhorar ainda mais
o seu SGQ. Para isso, utiliza a Norma ISO 9004.
ISO 19011 – diretrizes para auditoria de Sistemas de Gestão da Qualida-
de e/ou Ambiental. Para a obtenção da certificação, e mesmo depois, no
acompanhamento permanente do SGQ do empreendimento, devem ser
feitas constantes auditorias. A Norma ISO 19011 estabelece os procedi-
mentos de auditoria, tanto para os usuários da Norma ISO 9000 quanto
para os usuários da Norma ISO 14000; por isso, essa norma tem uma
numeração diferente da família 9000.
Interessante salientar que as Normas ISO 9001, ISO 9002 e ISO 9003, da
edição de 1994, foram consolidadas em uma única norma, a ISO 9001:2000. A
nova Norma ISO 19011 consiste na revisão das Normas ISO 10011 e das Normas
ISO 14010, ISO 14011 e ISO 14012.

Histórico
No modo de produção anterior à Revolução Industrial, o artesão se ocupava
de todas as tarefas: desde a escolha e aquisição da matéria-prima até a fase de
acabamento e entrega do produto. O controle da qualidade, portanto, era exercido
pelo próprio artesão. As características do modelo artesanal eram a baixa produ-
ção e o alto padrão de qualidade para a época.
Com o advento da industrialização, surgiu o processo de multidivisão das
tarefas na confecção de um produto (Taylor criou o processo de especialização
do operário; mais tarde, Henry Ford aplicou esse conceito na instalação das pri-
meiras linhas de montagem). O controle da qualidade passou às mãos do mestre
industrial, que exercia a supervisão desses grupos. Com o aumento das escalas de
produção e do número de trabalhadores, o sistema tornou-se inviável, pois não era
possível um só mestre supervisionar todo o processo.
Com a Segunda Guerra Mundial, houve uma grande evolução tecnológica,
acompanhada por uma complexidade técnica de materiais, processos de fabricação
e produtos. Essa situação ameaçava inviabilizar a inspeção total da produção.
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ISO 9000

Surgiu então uma evolução do controle da qualidade: o controle estatísti-


co, baseado em inspeção por amostragem e gráficos de controle (timidamente
começava a despontar o conceito de prevenção de falhas). Entretanto, as ações
corretivas desencadeadas ainda eram de eficiência restrita. Essa ineficiência das
ações corretivas e a acirrada competição pelo mercado consumidor acabaram
contribuindo significativamente para que se adotasse um novo enfoque em ter-
mos de controle de qualidade, o Controle da Qualidade Total (CQT) – em inglês,
Total Quality Control (TQC), também conhecido por Total Quality Management
(TQM). Os japoneses destacaram-se particularmente nessa área, com conceitos
como o “just in time”.
O CQT é mais do que uma simples utilização de metodologias, técnicas, sis-
temas ou ferramentas. O CQT é uma filosofia organizacional, expressa através de
ações da gerência, de cima para baixo, que focalizam o processo de organização
como um todo e que buscam a vantagem competitiva a longo prazo, tendo como
armas estratégicas a qualidade, o respeito, a participação e a confiança de todos
os funcionários.
No contexto atual, a qualidade não se refere mais à qualidade de um produto
ou serviço em particular, mas à qualidade do processo como um todo, abrangendo
tudo o que ocorre na empresa.

Características da ISO 9000


Foi amplamente conduzida pelo mercado consumidor. Exemplo: um con-
sumidor quer comprar sempre um mesmo produto, com a mesma quali-
dade. Pode parecer estranho, mas já imaginou se as bombas fabricadas
na Inglaterra e nos Estados Unidos, durante a Segunda Guerra Mundial,
tivessem problemas na hora em que deveriam explodir?
Pode ser obtida para cada etapa da produção. Exemplo: certificação na
embalagem do produto (leite longa vida, por exemplo);
Essencial o controle sobre cada etapa; isso é feito através de documenta-
ção. Essa documentação deve ser organizada de tal forma que permita:
rápida localização;
revisão periódica;
atualização, quando necessário;
envio e recebimento de documentos corretos, para as pessoas certas, no
tempo certo.
Esse item se refere a um dos aspectos mais importantes na implantação da
Norma ISO 9000, uma vez que todos os processos devem ser controlados para que
se saiba onde houve uma falha.

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ISO 9000

A ISO recomenda que a série ISO 9000 seja projetada e implementada


no âmbito da instalação (fábrica ou qualquer outra empresa). A instala-
ção pode buscar a certificação nas normas da série ISO 9000 para toda
a organização (política da firma), para um grupo selecionado (parte da
fábrica ou empresa qualquer) ou somente para um de seus produtos e/ou
linha de serviço. Exemplos:
organização – desde a faxina, passando pelo restaurante, escritórios, alta
direção, toda a linha de produção etc.;
grupo selecionado – a parte da pintura de um produto é certificada (ga-
rantia antiferrugem em lataria de automóveis, por exemplo);
produto e/ou linha de serviço: em uma fábrica de sofás, apenas um mo-
delo é certificado, os outros não. Lembre-se: a implantação da ISO 9000
não garante, por si só, a qualidade. Portanto, os outros modelos de sofá
dessa fábrica fictícia podem até ter melhor qualidade do que o modelo
certificado.

Referências normativas principais


[...] meu problema básico com a ISO 9000 é a maneira como é utilizada e o que promete.
A ISO 9000 não é realmente Gestão da Qualidade; ela é a Garantia da Qualidade, e deve
ser utilizada dessa maneira. A Gestão da Qualidade é como dirigimos o automóvel; a
Garantia da Qualidade refere-se ao manual do proprietário do veículo e às instruções
de operação. Todos os “maus motoristas” têm o mesmo tipo de habilitação que os “bons
motoristas.” (CROSBY apud MEIRA; CERON, 2004, p. 16)

O que a citação acima procura refletir é que uma empresa, mesmo certifica-
da, não implica em alto padrão de qualidade; apenas tem uma padronização efeti-
va em sua linha de montagem, por exemplo. Repare na comparação: uma carteira
de motorista é um certificado de que determinados indivíduos têm licença para
dirigir, ou seja, de que estão “certificados”. No entanto, sabemos que há “maus” e
“bons” motoristas, portanto a certificação (carteira de motorista, nesse exemplo)
não é uma designação absoluta sobre a qualidade da “direção” das pessoas.
Outro fator importante é o de que a certificação não é equivalente a um
“manual do usuário”. A certificação apenas atende à padronização do empreen-
dimento.
A certificação pela ISO 9000 é baseada em uma análise dos processos, pas-
sando pelo processo de implantação de um SGQ. Tudo começa na “necessidade”
do cliente ou mercado (o empreendimento procura captar essas “necessidades” e
lança um produto ou serviço novo, ou modifica um já existente). Internamente, o
empreendimento procura avaliar os recursos necessários, as formas de produção
etc., libera o produto (ou serviço) e avalia a satisfação (“qualidade”) do cliente,
usando essa análise como um feedback para os seus processos. A seguir veremos,
esquematicamente, a abordagem do processo de implementação da ISO 9000.

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ISO 9000

(MEIRA; CERON, 2004, p. 24)


Melhoria contínua do sistema de
gestão da qualidade

Clientes Responsabilidade
da direção Clientes

Gestão de Medição, análise e


recursos melhoria

Requisitos entrada Realização saída Satisfação


Produto
do produto

atividades que agregam valor


Fluxo de informação
Modelo de um sistema de gestão da qualidade baseada em processo.

Requisitos gerais (Seção 4.1 da Norma ISO 9000)


Identificar processos necessários para o SGQ e sua aplicação.
Determinar sequências e interações desses processos.
Determinar critérios e métodos necessários.
Assegurar disponibilidade de recursos e informações, para apoio de ope-
ração e monitoramento.
Implementar ações necessárias para atingir resultados planejados e a me-
lhoria dos mesmos.

Requisitos de documentação (Seção 4.2 da Norma


ISO 9000)
Generalidades (Seção 4.2.1) – documentos relativos à política de quali-
dade, objetivos da qualidade, planejamento, operação etc. Esse item exi-
ge uma hierarquia de documentação, que veremos na imagem a seguir,
indicando que tipos de políticas de qualidade o empreendedor deseja e
documentando todo o processo, desde as decisões da alta direção até o
que acontece em todos os outros níveis do empreendimento. A documen-
tação facilita o acesso às diversas áreas do empreendimento, objetivando
avaliar, detectar ou corrigir quaisquer problemas que tenham surgido.

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ISO 9000

(MELLO et al., 2002, p. 73)


Política da qualidade Documentos de primeiro nível –
Objetivos da qualidade Nível estratégico
Manual da qualidade
Procedimentos documentados Documentos de segundo nível –
requeridos pela ISO 9001:2000 Nível tático
Documentos necessários para
Documentos de
planejamento, operação e controle de pro-
terceiro nível –
cessos (instruções operacionais, específicas,
Nível operacional
planilhas, planos de qualidade
Evidências com-
Registros da qualidade probatórias
Estrutura usual da documentação do Sistema de Gestão da Qualidade.

Manual de qualidade (Seção 4.2.2) – deve incluir a abrangência do sis-


tema de qualidade e os processos que serão cobertos por ele, tais como
projeto, produção etc., com a devida documentação, descrição e inte-
ração dessas atividades. Não é o manual que vai para o cliente; é um
manual de auditoria e controle interno.

Responsabilidade da direção (Seção 5 da Norma


ISO 9000)
Comprometimento da direção (Seção 5.1) e demais subitens – de
forma geral, essas seções devem refletir a preocupação e o compro-
metimento da alta direção da empresa, bem como as devidas distri-
buições de cargos, responsabilidades, planejamento e comunicação
da alta direção, em relação aos objetivos da empresa e o seu com-
prometimento com o sistema de qualidade. Por exemplo, deve ser
estabelecido um organograma claro e definido sobre quem faz o que e
qual a responsabilidade.
O ditado “é o olho do dono que engorda a boiada” é aplicável nesse caso,
com o fundamental acréscimo de que o “dono da boiada” (nesse caso, toda a alta
direção) também deve participar e dar o exemplo, acima de tudo.

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ISO 9000

Gestão de recursos (Seção 6 da Norma ISO 9000)


Provisão de recursos (Seção 6.1 e demais subitens) – é uma das maiores
prioridades da alta direção, dentro do SGQ. Os recursos podem ser de
natureza variada, como os recursos humanos (Seção 6.2) – treinamen-
to, consciência e competência do pessoal; infraestrutura – espaço físico,
equipamentos etc.; ambiente de trabalho – saúde ocupacional, interação
social etc.
Na seção 6 estão as principais atividades que podem ter relação com o meio
ambiente. Uma organização pode também possuir ou necessitar operacionalizar
procedimentos ou instruções de trabalho para determinadas atividades ambientais.
Por exemplo, o manuseio de material perigoso ou o monitoramento de efluentes.
Junto com a ISO 14000 são sugeridos, entre outros, os seguintes controles
operacionais:
adequação de material de compra (estruturas e equipamentos adequados
para o recebimento de cargas perigosas);
manuseio de matéria-prima de forma adequada (evitar vazamento, con-
taminação etc.);
procedimentos para produção e manutenção (evitar acidentes);
adequação de laboratórios (principalmente em termos de segurança bio-
lógica);
armazenagem adequada de produtos (evitar vazamento, contaminação
etc.);
transporte do produto (evitar acidentes);
aquisição, construção e/ou modificação da propriedade e/ou instalações
(adequação da propriedade e/ou instalações de acordo com a matéria-
-prima e produto).

Realização do produto
(Seção 7 e demais subitens da Norma ISO 9000)
Essa seção oferece as estruturas necessárias para as operações da organi-
zação atingirem um resultado esperado, reforçando a abordagem do processo, in-
cluindo os requisitos que vão desde o entendimento das necessidades e expecta-
tivas dos clientes, passando pelo projeto e desenvolvimento do produto, aquisição
de matérias-primas e serviços, produção e fornecimento de serviço, até o controle
dos dispositivos de medição e monitoramento (MELLO et al., 2002, p. 109).
A seção 7 é a única que contém cláusulas que a organização pode considerar
não aplicáveis para o tipo de produto que realiza ou o serviço que presta (MELLO
et al., 2002, p. 109). Por exemplo, uma escola não aplica toda a Seção 6.4, no que
se refere a materiais perigosos no seu ambiente de trabalho.

74
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ISO 9000

Leia e discuta o capítulo 2 do seguinte livro:


MELLO, Carlos H. P. de et al. ISO 9001:2000: sistema de gestão da qualidade para operações de
produção e serviços. São Paulo: Atlas, 2002.

ADAIR, Charlene B.; MURRAY, Bruce. Revolução Total dos Processos. São Paulo: Nobel, 1996.

ADAIR, Charlene B.; MURRAY, Bruce. Revolução Total dos Processos. São Paulo: Nobel, 1996.
CROSBY, Philip B. A utilidade da ISO 9000:2000 + 14000. In: MEIRA, Alexandre; CERON, Gian-
carlo. Guia Digital ISO 9000: abordagem completa, inovadora e didática. Curitiba: Domo, 2004.
ISRAELIAN, Eliane; et al. Normas ISO 9000: seminário. Disponível em: <http://allchemy.iq.usp.br/
pub/metabolizando/bd6c001z.doc>. Acesso em: 15 maio 2006.
JARDIM, Niza S. (Coord.). Lixo Municipal: manual de gerenciamento integrado. São Paulo: IPT/
CEMPRE, 2001.
MEIRA, Alexandre; CERON, Giancarlo. Guia Digital ISO 9000: abordagem completa, inovadora e
didática. Curitiba: Domo, 2004.
MELLO, Carlos H. P. de et al. ISO 9001:2000: sistema de gestão da qualidade para operações de
produção e serviços. São Paulo: Atlas, 2002.

75
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ISO 9000

76
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ISO 14000
Pedro G. Fernandes da Silva

A
ISO 14000 é uma forma abrangente e holística de administrar o meio ambiente que inclui
regulamentos, prevenção de poluição, conservação de recursos e proteção ambiental, como a
manutenção da camada de ozônio e o tratamento do aquecimento global (UPADHYAY apud
HARINGTON; KNIGHT, 2001, p. 21).
Desde a 1.ª Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, realizada em Estocol-
mo em 1972, o meio ambiente passou a ter um papel de preocupação mais destacado nas atividades
humanas, reconhecido pelos governos como indispensável o cuidado ambiental, sob pena de esgotar-
mos os recursos naturais.
Uma das formas encontradas para o adequado gerenciamento dos recursos naturais é a apli-
cação das Normas ISO 14000, que estabelecem um sistema de gerenciamento ambiental (SGA) para
todo e qualquer tipo de empreendimento.

O que é uma Norma?


É um documento ou conjunto de regras estabelecidos em consenso e aprovados por um organis-
mo reconhecido, para uso comum e repetitivo em atividades (ou seus resultados), visando à obtenção
de um grau ótimo de ordenação em um dado contexto (JARDIM et al., 2001, p. 259).
Podem ser normas de uso obrigatório ou facultativo. Exemplos: classificação de resíduos sólidos
(NBR 10004) – obrigatório; adoção da Norma ISO 14000 – facultativo.
Exemplos de organismos:
Internacional – ISO (International Standardization Organization – Organização Internacional
de Normalização);
Nacional – ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).
Existe uma particularidade relacionada aos direitos autorais das normas de forma que, para se
saber todo o procedimento e particularidades, as normas devem ser adquiridas. No Brasil, podem ser
adquiridas através da ABNT, em seu site <www.abnt.org.br> ou em seus escritórios regionais.
A maneira de implantação das normas mais utilizada é a contratação de consultores e/ou audito-
res, credenciados para a instalação das normas, de forma a poupar tempo e maiores gastos, em relação
a tentativas de implantação por “conta própria”. Além do mais, a implantação por “conta própria” não
garante a certificação pelos órgãos competentes.

A ISO 14000
É uma forma de administrar o meio ambiente, definindo elementos de um sistema de gestão
ambiental (SGA), auditoria de um SGA, avaliação de desempenho ambiental, rotulagem ambiental e
análise de ciclo de vida. Para exemplificar:
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ISO 14000

SGA – utilização de recursos ambientais, destinação de resíduos etc.;


auditoria – verificação, de forma independente, do andamento dos itens
propostos em um SGA;
totulagem ambiental – informações sobre origem, processamento, en-
tre outros, de um produto (madeira certificada, organismos transgênicos
etc.);
ciclo de vida – quanto tempo dura um determinado produto (principal-
mente embalagens), que tipo de elementos libera na sua degradação etc.
Cada um dos itens exemplificados acima é analisado com o objetivo de ava-
liação sobre o tipo de impacto ambiental que possa ser causado.

Família ISO 14000


A Norma ISO 14000 é composta por 19 documentos principais, listados na
tabela a seguir. Ela apresenta o número da norma e a sua atual situação (status),
que significa o estágio em que a norma se encontra. Uma vez que as Normas ISO
14000 estão sendo constantemente atualizadas e criadas, muitas delas encontram-
-se ainda em fase de discussão, como a ISO 14025, cujo status é o de documento
de trabalho. Quando uma norma já está em vigor, seu status é o de publicada;
quando falta apenas a aprovação final pela ISO, seu status é o de final de projeto;
quando está no estágio inicial de elaboração, seu status é de documento de estudo,
e quando está em estágio inicial de discussão, seu status é o de anteprojeto.
A coluna Título da tabela a seguir indica o assunto que a norma trata. O item
Guia 64 é um manual auxiliar que se propõe a sugerir novos aspectos ambientais
e produtos a serem incluídos em futuras normas.

(HARINGTON; KNIGHT, 2001, p. 32-33)


Número de Status Título
série ISO
Sistemas de Gestão Ambiental – Especificação e
14001 Publicada
diretrizes para uso.
Sistemas de Gestão Ambiental – Diretrizes gerais sobre
14004 Publicada
princípios, sistemas e técnicas de apoio.

14010 Publicada Diretrizes para autoria ambiental – Princípios gerais.

Diretrizes para autoria ambiental – Procedimentos de


14011 Publicada
autoria – Auditoria de sistemas de gestão ambiental.

Diretrizes para autoria ambiental –


14012 Publicada
critérios de qualificação para auditores.

14015 Anteprojeto Avaliação ambiental de locais e organizações.

Final de projeto Rótulos e atestados ambientais –


14020
Norma Internacional princípios gerais.

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ISO 14000

Número de Status Título


série ISO
Rótulos e atestados ambientais – queixas
autodeclaradas.
14021 Projeto Norma Internacional Termos e definições (antiga 14021).
Símbolos (antiga 14022).
Teste e verificação (antiga 14023).

Rotulagens e atestados ambientais – rotulagem


14024 Projeto Norma Internacional
ambiental tipo I.

Rotulagens e atestados ambientais – rotulagem


14025 Documento de trabalho
ambiental tipo III.

14031 Projeto Norma Internacional Avaliação de desempenho ambiental.

Avaliação de desempenho ambiental –


14032 Documento de estudo
estudos de caso.

14040 Publicada Análise de ciclo de vida – princípios e diretrizes.

Final de projeto Análise de ciclo de vida –


14041
Norma Internacional definição de escopo e análise do inventário.

14042 Anteprojeto Análise de ciclo de vida – avaliação de impacto.

14043 Anteprojeto Análise de ciclo de vida – interpretação.

Final de projeto
14050 Vocabulário de Gestão Ambiental.
Norma Internacional

Guia para a inclusão de aspectos ambientais em normas


Guia 64 Publicada
sobre produtos.

Guia para orientar organizações florestais no uso das


ISO 14061 Publicada
normas ISO 14001 e 14004.

A série ISO 14000.

Histórico
Fundamentalmente, a preocupação ambiental teve início na década de 1960,
culminando com a Conferência da ONU, realizada em Estocolmo, em 1972; os
resultados da Conferência de Estocolmo foram publicados em 1987, no relatório
denominado “Nosso futuro comum”, também conhecido por “Relatório Brund-
tland”, em virtude de a primeira-ministra da Noruega (Gro Harlem Brundtland)
ter sido a presidente da comissão. Esse relatório consagrou a expressão desenvol-
vimento sustentável, estabelecendo o papel primordial que as empresas devem ter
na gestão ambiental.

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ISO 14000

Em função da demanda de consumidores, leis de países etc., as empresas as-


cenderam a gestão ambiental a níveis hierárquicos mais altos, conforme o gráfico
dos seis passos, apresentado a seguir.
Em caráter histórico, os passos apresentados no gráfico indicam os níveis
de preocupação ambiental, adotado pelos diversos tipos de empreendimentos (por
exemplo, indústrias e empresas), de acordo com Harington e Knight (2001, p. 28):
baseada em artifícios – em resposta a uma questão ambiental, a orga-
nização encerra suas atividades e muda-se para outro local, onde não
haja controles ambientais; se houver, que sejam menos rigorosos. Se-
guramente, para esses tipos de organizações, a questão ambiental é um
prejuízo a ser evitado.
baseada em respostas – a organização responde aos incidentes e regu-
lamentações ambientais, geralmente por meio de ações reguladoras para
cada ocasião; paga as multas e espera que o incidente (ou algo parecido)
não ocorra novamente. A questão ambiental também é vista como um
foco de prejuízo.
baseado na conformidade – a organização tem um programa para iden-
tificar os requisitos reguladores ambientais; adota medidas que os satis-
façam e controla o risco e a responsabilidade de acordo com a lei local. O
ambiente também é visto como um custo, porém existe um planejamento
para arcar com esse custo, podendo ser considerado uma vantagem ou
desvantagem competitiva em relação às organizações competidoras.
gestão ambiental – a organização gerencia sistematicamente suas ques-
tões ambientais, integrando-as à administração. Identifica os aspectos
ambientais e os impactos de suas atividades, produtos e serviços, de-
senvolvendo políticas, objetivos e metas para administrá-los. Aloca os
recursos necessários para uma implementação eficaz, medindo e ava-
liando o desempenho, revendo e examinando suas atividades, com vistas
ao aperfeiçoamento. A gestão ambiental é tida como investimento, como
uma forma de reduzir o custo das operações e aumentar a receita. Sendo
uma organização transnacional, neste caso irá funcionar sempre com as
mesmas normas de desempenho, independente da jurisdição onde se en-
contram suas diversas filiais.
prevenção de poluição – tudo que a organização realiza é com vistas
à preocupação ambiental, reduzindo o potencial do impacto ambiental
na fonte desde a seleção da matéria-prima, levando em consideração as
consequências da colheita ou extração. Os processos são os mais eficien-
tes possíveis para reduzir o desperdício. Além disso, procura utilizar os
subprodutos como matéria-prima para outros produtos e processos e o
ambiente passa a ser uma fonte de renda e uma vantagem competitiva.
desenvolvimento sustentável – a organização considera o impacto so-
cial, ambiental e econômico de suas atividades, produtos e serviços. A
questão ambiental é vista como responsabilidade social, moral e ética. É
uma extensão do passo anterior, com a adição de intervenções na socie-
dade, com vistas à educação ambiental, para conscientização e preserva-
ção ambiental, focada como um bem comum.
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ISO 14000

Gráfico dos seis passos

(HARINGTON; KNIGHT, 2001,


p. 29)
Desenvolvimento sustentável
Prevenção de produção
Gestão ambiental
conformidade
Baseada em
Baseada em
respostas
artifícios
Baseada
em

Vantagens da ISO 14000


De uma maneira relativamente simples, há sempre a necessidade de “con-
vencimento” de um empreendedor com relação ao “custo ambiental”; apenas apre-
sentar dados teóricos sobre conservação nem sempre é eficiente. Os principais
pontos de vantagem da adoção da ISO 14000 (lembre-se que é uma norma facul-
tativa) podem ser, de acordo com Harington e Knight (2001, p. 35):
acesso ao mercado – pré-condição para realizar um negócio. Em de-
terminados mercados, uma empresa só negocia com outra se essa for
certificada. Exemplo: no Brasil, o comércio de móveis nobres, segundo
a legislação, só pode ser efetuado com madeireiras certificadas, para a
comprovação da origem da madeira;
incentivos reguladores – instituições internacionais veem com mais in-
teresse empresas que adotam um SGA. Esses incentivos podem vir na
forma de inspeções menos frequentes, atenuações de multas, menos rigor
na exigência de relatórios etc.;
redução de responsabilidade e risco – um SGA eficaz identifica e ad-
ministra mais eficazmente o risco e a responsabilidade ambiental. Impor-
tante para análise de competência, em caso de acidente;
acesso a seguros – seguradoras reconhecem a implementação de um
SGA eficiente, facilitando a aquisição do mesmo e podendo diminuir
seus custos;
acesso a capital de baixo custo – créditos com prazos mais longos, tem-
po de resposta mais rápido ao crédito, taxas iniciais de crédito mais bai-
xas etc.;
melhoria na eficiência do processo – abordagem sistemática para iden-
tificar os aspectos e impactos ambientais leva, em geral, a uma produção
mais eficiente;
melhoria na gestão global – abordagem sistemática também contribui
para outras questões-chave da empresa;
redução de custos/aumento de receita – maior sistematização diminui
os custos de produção, aumentando a receita e a lucratividade;
relações com os clientes – com a maior influência dos consumidores
sobre as questões ambientais, o produto da empresa tende a ser mais bem
aceito no mercado, sobrepujando concorrentes.
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ISO 14000

Implementação
Para a implementação da Norma ISO 14000 deve haver uma política am-
biental do empreendimento. É uma declaração da empresa a respeito de suas di-
retrizes de gestão ambiental, e a Norma ISO 14001 exige que a política inclua o
compromisso com o cumprimento dos requisitos legais aplicáveis.
Deve ser transparente, pública e oficial, comprometendo a empresa (ou em-
preendimento) à realização de seus objetivos e metas.
A ISO 14001 é baseada no Ciclo de Melhoria Contínua, ou PDCA – sigla,
em inglês, para Plan (planejar), Do (executar), Check (verificar) e Act (agir corre-
tivamente), representados a seguir.

Ciclo de melhoria contínua no Sistema


de Gestão Ambiental ISO 14000

(ISO 14000. Adaptado.)


4.3. Planejamento

A P
4.3.1. Aspectos ambientais
4.3.2. Requisitos legais e outros
4.6. Análise crítica requisitos
4.3.3. Objetivos e metas
4.3.4. Programa(s) de gestão
ambiental
Política
ambiental
4.4. Implementação e operação
4.4.1. Estrutura e
4.5. Verificação e ação responsabilidade
corretiva 4.4.2. Treinamento,

C D
4.5.1. Monitoramento e medição conscientização
4.5.2. Não conformidade e ações e competência
corretivas e preventivas 4.4.3. Comunicação
4.5.3 Registros 4.4.4. Documentação
4.5.4 Auditoria do sistema 4.4.5. Controle de documentos
de gestão ambiental 4.4.6. Controle operacional
4.4.7. Preparação e atendimento
a emergências

Esse ciclo (PDCA) pode ser resumido da seguinte forma:


o planejamento deve incluir os aspectos ambientais a serem potencial-
mente afetados, a legislação ambiental da área do empreendimento, quais
os objetivos e metas de conservação ambiental que o ­empreendimento
busca alcançar, quais os programas que o empreendimento adota em
­termos de gestão ambiental.
Essa fase é o que poderíamos chamar de “primeira fase prática”, onde são
observados os aspectos ambientais, requisitos legais, objetivos a serem alcançados
e o(s) programa(s) de gestão ambiental.

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ISO 14000

Por exemplo, avaliam-se os aspectos ambientais de uso de matéria-prima,


energia, emissões atmosféricas, lançamentos em corpos hídricos, resíduos sóli-
dos, ruído, odor etc.
Vale a pena notar que aspectos ambientais não são a mesma coisa que im-
pactos ambientais: aspecto ambiental é uma interação com o ambiente; impacto
ambiental é o efeito dessa interação (pode ser positivo ou negativo).
Os requisitos legais compreendem a observância da legislação do local da
empresa e, em vários casos, a empresa vai além do que a legislação observa.
Um objetivo é um alvo ambiental de nível elevado; uma meta é um requi-
sito ambiental mensurável. Ambos devem estar ligados à política da empresa, no
que se refere ao SGA. Exemplo: um objetivo pode ser o de reduzir à metade, em
dois anos, o resíduo sólido produzido; as metas necessárias podem incluir me-
didas como negociar o desenvolvimento e uso de embalagens reutilizáveis com
fornecedores-chave em 12 meses, identificar compradores para 50% de sucata em
12 meses, entre outras.
O programa de gestão ambiental deve incluir:
atribuição de responsabilidades a cada função e nível relevante da orga-
nização, para o cumprimento dos objetivos e metas;
meios e prazos em que devem ser atingidos.
A implementação e a operação devem ser adequadamente estruturadas
(maquinário, infraestrutura etc.), com responsabilidades definidas e treinamento
adequado de pessoal, para aquisição e/ou desenvolvimento de conscientização e
competência.
Além do mais, deve haver eficiência na comunicação, documentação, con-
trole operacional e documental e preparação adequada para atendimento a emer-
gências (grupos especializados para cada potencial impacto ambiental que ocorra,
como vazamento, incêndio etc.). Se um empreendimento já for certificado pela
ISO 9000, essas etapas ficam sensivelmente facilitadas.
Os processos de verificação e ações corretivas são eficientemente conduzi-
dos se houver uma adequada monitoração, medição, registros (ou certificações,
como a ISO 9000), bem como uma abertura para auditorias internas e externas.
Todos esses processos funcionam como agentes reguladores para a adequada im-
plantação e acompanhamento da ISO 14000.
Como última etapa (porém sem haver uma “finalização”; o processo é sem-
pre contínuo), realiza-se uma análise crítica, verificando a adequação (ou não) das
normas e procedimentos implantados. Se houver necessidade, inicia-se o ciclo
desde o seu início (etapa de planejamento) novamente, modificando ou adaptando
os aspectos inadequados. Se há uma conformidade adequada, pode-se pensar em
processos de contínua melhoria.
A ISO 14001 normalmente deve vir acompanhada pela implementação da
ISO 14004, que oferece sugestões para a implantação do SGA.
Um resumo da ISO 14004 contempla:
objetivo e campo de aplicação;
referências normativas;
definições;
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ISO 14000

princípios e elementos de um SGA:


comprometimento e política;
planejamento;
implementação;
medição e avaliação;
análise crítica e melhoria.
Cada um dos itens anteriores é acompanhado de uma série de subitens, com
detalhes de exemplos e aplicações. Isto quer dizer que, para cada passo (etapa), há
uma regulamentação específica, que busca otimizar os processos de implantação,
certificação, auditoria etc., para a Norma ISO 14000.

Conclusão
A adoção e implementação da ISO 14000, mesmo sendo facultativa, é um
poderoso instrumento relacionado à conservação ambiental. É uma forma de
empreendimentos, dos mais variados tipos, utilizarem os recursos naturais de for-
ma racional, colaborando para o desenvolvimento sustentável e uma melhora da
qualidade ambiental, que se reflete na qualidade de vida de populações do planeta
inteiro. Ainda mais, pode agregar valor aos seus produtos, em um mercado consu-
midor cada vez mais preocupado com a questão ambiental.

Leia e discuta o seguinte texto:


PHILIPPI JÚNIOR, Arlindo; AGUIAR, Alexandre. Auditoria ambiental. In: PHILIPPI JÚNIOR, Ar-
lindo; ROMÉRO, Marcelo A.; BRUNA, Gilda C. (Coord.). Curso de Gestão Ambiental. São Paulo:
Manole, 2004.

ALMEIDA Josimar R.; MELLO, Claudia. S.; CAVALCANTI, Yara. Gestão Ambiental: planejamen-
to, avaliação, implantação, operação e verificação. Rio de Janeiro: Thex, 2000.

HARRINGTON, H. James.; KNIGHT, Alan. A Implementação da ISO 14000: como atualizar o


sistema de gestão ambiental com eficácia. São Paulo: Atlas, 2001.
JARDIM, Nilza S. (Coord.) Lixo Municipal: manual de gerenciamento integrado. São Paulo: IPT/
CEMPRE, 2001.
PHILIPPI JÚNIOR, Arlindo; AGUIAR, Alexandre. Auditoria ambiental. In: PHILIPPI JÚNIOR, Ar-
lindo; ROMÉRO, Marcelo A.; BRUNA, Gilda C. (Coord.). Curso de Gestão Ambiental. São Paulo:
Manole, 2004.
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Agenda 21
Pedro G. Fernandes da Silva

Histórico

A
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio
de Janeiro em 1992 (Eco 92 ou Rio 92), aprovou um documento, denominado Agenda 21, que
estabelecia um pacto pela mudança do padrão de desenvolvimento global para o século XXI.
A Agenda 21 consolidou a ideia de que o desenvolvimento e a conservação do meio ambiente
devem constituir um binômio indissolúvel, que promova a ruptura do antigo padrão de crescimen-
to econômico, tornando compatíveis duas grandes aspirações do final do século XX: o direito ao
desenvolvimento, sobretudo para os países que permanecem em patamares insatisfatórios de renda e
de riqueza, e o direito ao usufruto da vida em ambiente saudável pelas futuras gerações. Essa ruptura
é capaz de permitir a recondução da sociedade industrial rumo ao novo paradigma do desenvol-
vimento sustentável, que exige a reinterpretação do conceito de progresso, cuja avaliação deve ser
principalmente efetuada por indicadores de desenvolvimento humano e não apenas pelos índices que
constituem os atuais sistemas de contas nacionais, como, por exemplo, o produto interno bruto – PIB
(MMA, 2000).
A Agenda 21 é um amplo programa de ação, com a finalidade de dar efeito prático aos princí-
pios aprovados na Eco 92. Embora não tenha valor jurídico, como uma convenção, contém um roteiro
detalhado de ações concretas a serem adotadas até o século XXI pelos governos, instituições das
Nações Unidas, agências de desenvolvimento e setores independentes (BRAGA et al., 2002, p. 232).
Para exemplificar, entre vários outros aspectos, a Agenda 21 lançou um compromisso interna-
cional em que é definido o princípio de que os poluidores devem assumir os custos da degradação que
causam.

Propostas
Como a Agenda 21 lida com o conceito de desenvolvimento sustentável, algumas sugestões são
pertinentes a ela, principalmente no que se refere aos aspectos da agronomia brasileira, uma vez que
o Brasil é um dos países considerados, ainda, “em desenvolvimento” (ORTEGA, 2003, p. 1). Entre as
propostas da Agenda 21, com relação à agricultura brasileira, podemos destacar as seguintes:
discutir o desenvolvimento sustentável de forma sistêmica. Isso significa aplicar a Teoria
de Sistemas, voltada para a Ecologia, em atividades agrícolas, com o fim de disseminar a
percepção de recursos naturais finitos e a crescente necessidade de gerenciamento adequado
desses mesmos recursos;

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Agenda 21

discutir a variável tempo em relação à sustentabilidade, ou seja, passar


a agir com o raciocínio voltado para o longo prazo, ao invés de curto
prazo, visando apenas ao lucro;
estudar a capacidade de carga humana dos ecossistemas e, junto com
ela, a discussão sobre qualidade de vida sustentável. Esse aspecto remete
ao primeiro item e lembra que a humanidade deve ter um limite de cres-
cimento, sob pena de esgotar os recursos naturais, dada a natureza finita
desses mesmos recursos;
análise de fatores externos que afetam a agricultura brasileira e provocam
sua insustentabilidade. É o convite à análise de que um país nunca está
isolado e que depende de fatores externos: desde os fatores climáticos até
os fatores econômicos e sociais, como os subsídios governamentais para
a prática agrícola, podendo levar à bancarrota de um país, ou mesmo ao
esgotamento de seus recursos naturais, pelo excesso de exploração pro-
porcionada por esses mesmos subsídios;
discussão de marcos jurídicos do desenvolvimento sustentável. Nesse
caso, a adoção de uma política minimamente comum, para que os recur-
sos naturais sejam explorados de forma racional, como já sugerido nos
tópicos acima.

Sistemas de integração ambiental


Os problemas ambientais brasileiros decorrem, em grande parte, de graves
deficiências no processo de gestão que promove a utilização dos recursos natu-
rais. Essas deficiências referem-se, particularmente, à falta de definição de papéis
e de mecanismos de articulação entre os agentes sociais envolvidos no processo
(MMA, 1995, p. 16).
A seguir são apresentados alguns dos problemas ambientais brasileiros que
seriam passíveis de controle, mesmo que de forma parcial, utilizando-se conheci-
mento e tecnologia atualmente disponíveis, de acordo com o Ministéro do Meio
Ambiente (1995, p. 20).

Alguns dos principais


problemas ambientais brasileiros
(ROSS, 1992. Adaptado.)

Exemplos de formas de
Problema Características controle
Tratamento, reciclagem de
resíduos, mudanças para
1. Poluição urbana, industrial Contaminação contínua do ar,
tecnologias não poluentes,
e mineração. das águas e do solo.
restrição à implantação de
corredores de fauna etc.

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Agenda 21

Exemplos de formas de
Problema Características controle
Por exemplo, construção de
reservatórios que inundam
grandes áreas e/ou alteram Alterações tecnológicas e
2. Impactos ambientais as vazões líquidas e sólidas locacionais nos projetos,
de empreendimentos (sedimentos) dos cursos de recomposição da vegetação,
econômicos de grande água; desmatamentos, aterros e repovoamento de espécies,
porte. dragagens para implantação de implantação de corredores
rodovias, ferrovias e hidrovias; de fauna etc.
construção de polders para
controle de cheias.

Carreamento sazonal de Uso controlado de agroquímicos;


3. Poluição originada na agroquímicos, contaminando controle biológico de pragas,
atividade agrícola. o solo, águas superficiais e mudança para agricultura
subterrâneas. orgânica ou ecológica.

Coordenação do uso da água


Aumento do consumo de água através de sistema de outorga
em projetos de irrigação, dos direitos de uso; aumento da
4. Diminuição das vazões
causando conflitos com outros oferta através de regularização
fluviais pela irrigação.
usos antrópicos de rios, controle de perdas e
e com o ambiente. adoção de tecnologias de baixo
consumo.
Degradação acelerada dos
Uso de técnicas de controle:
5. Degradação processos físico, químico e
manejo agrossilvopastoril;
do solo. biológico dos solos,
terraceamento.
em decorrência da ação humana.

Caça e pesca predatórias,


6. Poluição originada no despejo de lixo, perturbação dos Controle e discriminação
turismo. ninhais e de outras áreas de de áreas para uso turístico.
reprodução da fauna silvestre.

Motivado, principalmente,
Controle da população e criação
7. Desmatamento. para a formação de pastagens
de áreas para desmatamento.
ou de áreas agrícolas.

Localização de
empreendimentos Controle e discriminação de
que afetam os hábitos da fauna, áreas de preservação, criação
8. Ameaças à fauna. muitas vezes desconhecidos, de corredores, proteção de áreas
além da predação por caça e de procriação, recomposição da
os problemas causados por flora.
desmatamentos.

Essa tabela apresenta, na primeira coluna, os principais problemas e


procura identificar as suas principais características. Várias dessas características
são também a causa do problema e, normalmente, são motivadas por questões
econômicas, como é o caso do desmatamento (problema 7).
87
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Agenda 21

Entretanto, outras fontes motivadoras dos problemas ambientais na agri-


cultura decorrem de falta de uma educação ambiental, como é o caso da poluição
originada pela atividade agrícola (problema 3). Nesse caso, o fator motivador do
problema é a inadequada orientação ambiental e econômica ao agricultor, uma
vez que a maior parte da perda de agroquímicos, por carreamento, deve-se à apli-
cação excessiva, com o inocente intuito de “quanto mais, melhor”.
A terceira coluna procura mostrar algumas formas de controle, dentre vá-
rias, para a solução dos problemas apresentados; de forma alguma a solução dos
problemas apresentados encontra-se esgotada pelo que se apresenta na tabela. O
que se pretende é apontar soluções que envolvam pouca tecnologia, associadas
com características ecológicas que propiciam condições de recuperação da área
afetada.
Além desses aspectos da agricultura, mencionados nos parágrafos anterio-
res, repare que até mesmo atividades consideradas “não poluentes”, como o turis-
mo, incorrem em modificações ambientais (problema 6).
Para o aspecto de integração ambiental, o desenvolvimento sustentável, o
desenvolvimento econômico e o desenvolvimento social são fatores indissociá-
veis, interagindo uns com os outros, mesmo tendo suas características próprias.
As possibilidades referenciais de posicionamento sobre o desenvolvimento susten-
tável incorporam, de maneira diversa, as várias formas de integração ambiental
e respectivas consequências, relacionadas com o posicionamento social (MMA,
1995, p. 21). Pode-se dizer que é o eterno exercício de pontos de vista diferentes
sobre um mesmo assunto, exercidos pelas esferas econômica e política.
A próxima tabela enfoca as principais correntes socioeconômicas e as res-
pectivas abordagens que cada uma delas faz em relação ao desenvolvimento sus-
tentável. Dessa forma, em resumo, temos:
a abordagem tecnocêntrica pressupõe que um aumento na tecnologia
seja capaz de substituir toda e qualquer carência ambiental que venha a
ocorrer. Essa visão leva a uma sustentabilidade frágil do meio ambiente,
ou seja, o meio ambiente pode vir a ser exaurido;
a abordagem antropocêntrica (ou tecnocentrismo verde) tem um posi-
cionamento socioeconômico menos radical em relação aos aspectos pu-
ramente tecnológicos, isto é, acredita que a tecnologia é capaz de suprir
muitas das eventuais carências ambientais, mas enxerga certos limites
que possam ocorrer devido à escassez de algum recurso natural (tecno-
centrismo verde). A sustentabilidade advinda dessa linha socioeconômica
é de característica ainda frágil, ou seja, o meio ambiente também pode
vir a ser exaurido;
a abordagem de comunalismo é adotada pela corrente favorável à Hi-
pótese Gaia, onde a vida e o ambiente terrestre fazem parte de um todo,
autorregulador e reparador, desde que funcione dentro de certos limites;
entre esses limites está o número de indivíduos que um determinado sis-

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tema pode comportar, o que implica a necessidade de um crescimento


zero para a população humana nos estágios atuais. Segundo essa corren-
te, se isso não acontecer, o meio ambiente fatalmente entrará em colapso;
de forma mais ou menos lógica, de acordo com essa corrente de pensa-
mento, a sustentabilidade ambiental tem um caráter forte, isto é, grande
possibilidade de manutenção do meio ambiente. Por esse motivo, essa
corrente também é classificada como ecocentrismo;
e, finalmente, a abordagem denominada ambientalismo radical, que traz
a percepção de que a humanidade já ultrapassou os limites aceitáveis
para a manutenção do meio ambiente e que vivemos em uma fase de
contínua degradação ambiental sem volta, se forem mantidos os níveis
atuais de consumo e desenvolvimento (“progresso” – nesse caso, exem-
plificam com os fenômenos da chuva ácida, do efeito estufa, do buraco
na camada de ozônio etc.). Defendem uma imediata e total queda nos
níveis de desenvolvimento econômico (“progresso”). Nesse caso, o grau
de sustentabilidade do meio ambiente é muito forte, ou seja, a possibi-
lidade de manutenção do meio ambiente é total; por esse motivo, essa
corrente socioeconômica também é denominada ecocentrismo.

Posicionamentos com respeito


ao desenvolvimento sustentável

(MMA, 1995, p. 22)


Tecnocentrismo Antropocentrismo Ecocentrismo Classes

Economia ambiental
Ambientalismo
Neoliberal. de mercado, Comunalismo.
radical.
tecnocentrismo “verde”.

Exploração dos Conservação


Proteção dos recuros Preservação
recursos ambientais, radical dos
ambientais orientada à dos recursos Rótulos “verdes”.
orientados ao recursos
gestão ambiental. ambientais.
desenvolvimento. ambientais.

Economias
ambientalista Economia
Economia
radical, de estado ambientalista
ambientalista, mercados
estacionário, extremamente
“verdes” orientados
regulada radical,
Economia anti- por instrumentos
por padrões fortemente Tipo de
ambientalista, livre econômicos (princípios
macroambientais regulamentada economia.
mercado. poluidor-pagador,
e suplementada para a
beneficiário-pagador,
pelos minimização do
leilão de permissões
instrumentos fluxo de matéria
etc.).
econômicos e energia.
anteriores.

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Tecnocentrismo Antropocentrismo Ecocentrismo Classes

Maximização do
desenvolvimento,
Maximização do Desenvolvimento
medido por Redução
desenvolvimento, econômico
contabilidade da escala Estratégias de
medido pelo produto e aumento
alternativa, onde o PNB econômica e da gerenciamento.
nacional bruto populacional
é ajustado para levar em população.
(PNB). zero.
conta fatores ambientais
e sociais.

Livre mercado, Substituição


conjuntamente possível, mas
com progresso sem aumento, Interpretação da
tecnológico, Substituição possível, da escala do Hipótese Gaia
assegura infinitas mas limitada; regra de desenvolvimento; como um agente
possibilidades de sustentabilidade: capital perspectiva personalizado,
Ideologia.
substituição capazes natural constante, com sistêmica: ao qual são
de mitigar toda certa alteração na escala relevância da devidas
escassez ou limites de desenvolvimento. saúde global do obrigações
ao incremento ecossistema; morais.
da escala de Hipótese Gaia e
desenvolvimento. suas implicações.

Tradicional: Interesses da
Bioética:
centrada nos coletividade
direitos morais
direitos e interesses Valorização do ambiente têm preferência
conferidos a
da sociedade em termos da utilidade sobre os dos
todas espécies
contemporânea; para o homem, mas indivíduos; Ética.
não humanas,
valorização do considerando equidades reconhece o
mesmo abióticas;
ambiente em termos intra e intergeracional. valor primário do
valor intrínseco
da sua utilidade para ambiente como
do ambiente.
o homem. suporte à vida.

Sustentabilidade Sustentabilidade Sustentabilidade


Sustentabilidade frágil. Sustentabilidade.
muito frágil. forte. muito forte.

Gerenciamento de riscos
Introdução e classificação
As diversas intervenções ambientais, na maioria dos casos, carecem de entendimen-
to completo, uma vez que ainda não se tem uma visão de total compreensão das relações
existentes entre os atores e relações presentes nos diversos ecossistemas do planeta.
No entanto, muitas vezes por força de acidentes (vazamento de óleo de petroleiros
e refinarias, incêndios, entre outros) e/ou atividades humanas sem controle (urbaniza-
ção em áreas de mananciais e encostas, plantio inadequado, provocando erosões etc.),
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podemos extrair algumas lições sobre como o meio ambiente se comporta frente a
essas perturbações. A sequência a essas perturbações e os processos decorrentes,
na perspectiva atual de preocupação com a gestão ambiental, é o aprendizado de
como quantificar, prevenir, remediar e/ou mitigar essas influências.
A definição de risco se refere à possibilidade de ocorrências indesejáveis e
causadoras de danos para a saúde, para os sistemas econômicos e para o meio am-
biente; o conceito de risco e a noção de incerteza estão intimamente relacionados
(AMARAL; SILVA, 2004, p. 792). Por exemplo, o risco de uma pessoa desen-
volver câncer ao longo de sua vida pode ser de 25%; se esse indivíduo realmente
desenvolve um câncer, não há mais sentido em se falar de risco, pois o evento já
é uma certeza. Assim, as estimativas de risco que são feitas, considerando-se a
incerteza, modificam-se à medida que o conhecimento a respeito do assunto é
aperfeiçoado (AMARAL; SILVA, 2004, p. 793).
Os riscos podem ser classificados de acordo com a natureza de seus agentes
(químicos, biológicos, físicos etc.), de sua fonte geradora (meios de transporte,
procedimentos médicos etc.) ou mesmo em relação ao sujeito do risco (riscos à
segurança, riscos ambientais, riscos financeiros, entre outros). Assim, o termo
risco denota a possibilidade de ocorrer um estado indesejável de realidade (efeitos
adversos), como resultado de eventos naturais ou de atividades humanas (AMA-
RAL; SILVA, 2004, p. 793).
Os seres humanos, portanto, podem realizar conexões causais entre ações
e seus efeitos, possibilitando que os efeitos indesejáveis possam ser evitados ou
mitigados se os eventos ou ações causais puderem ser previstos ou modificados
(AMARAL; SILVA, 2004, p. 794).
De uma forma geral, os riscos podem ser classificados em categorias (AMA-
RAL; SILVA, 2004, p. 795), conforme segue a seguir.
desprezível: nenhum dano ou danos não mensuráveis. Por exemplo, a
queda de um fio de alta tensão, em área rural: exceto pela falta de energia
elétrica decorrente no campo, esse acidente é desprezível, uma vez que
quedas de cabos e/ou torres não afetam casas nem população local;
marginal: danos irrelevantes ao meio biogeofísico e socioeconômico do
entorno. Por exemplo, um acidente com veículo transportando leite: o
derramamento causa modificações mínimas de caráter biológico e eco-
nômico;
crítico: possíveis danos ao meio em razão da liberação de substâncias
químicas tóxicas ou inflamáveis. Por exemplo, um acidente com cami-
nhão transportando produto químico (nafta, por exemplo) – o produto
possui valor alto e seu derrame afeta sensivelmente o ambiente; seus
efeitos podem perdurar por muitos anos no local, além de prejuízo sazo-
nal em processos de captação de água, por exemplo;
catastrófico: tal liberação causa morte ou lesões graves à população
exposta. Por exemplo, o acidente com o petroleiro Exxon Valdez, ocorri-
do no Alasca em 1989, que provocou a morte de 34 mil aves, 980 lontras

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e um número incalculável de peixes e outros animais aquáticos (DIAS,


2001, p. 47), sem mencionar os danos causados nas praias e atividades
pesqueiras da região. Para se ter uma ideia, foram derramadas 42 mil tone-
ladas de óleo cru, produzindo uma mancha de 250 quilômetros quadrados
e atingindo cerca de 1 700 quilômetros da costa (DIAS, 2001, p. 47).

Avaliação de riscos
Os riscos são avaliados em função de perspectivas técnicas capazes de an-
tecipar futuros e possíveis danos à saúde humana ou aos ecossistemas, avaliar os
eventos causadores desses danos em função do tempo e espaço e usar frequências
relativas (observadas ou modeladas) como um meio de especificar probabilidades
(AMARAL; SILVA, 2004, p. 795).
Exemplo: para uma indústria química, o ciclo comercial de um produto é
composto, basicamente, pelos seguintes estágios:
industrialização;
armazenamento;
transporte;
uso;
destinação final dos resíduos desse uso.
Devemos perceber que não é o produto químico perigoso em si que deve ser
objeto de preocupação, mas sim o seu manuseio.
As atividades preventivas já podem ser iniciadas no planejamento e projeto
da industrialização, associadas ao tipo e complexo da instalação (fábrica); esse
processo já ocorre durante a fase de licenciamento ambiental. De uma forma ge-
ral, todos os instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA – Lei
6.938/81) deverão ser observados (Resoluções Conama, Conselhos Estaduais e
Municipais do Meio Ambiente etc.).
Entre as diversas atividades que visam ao gerenciamento de riscos, está o
plano de ação e emergência (PAE), que considera, entre outros, os seguintes as-
pectos (AMARAL; SILVA, 2004, p. 798):
descrição das instalações envolvidas;
cenários acidentais a serem considerados;
áreas de abrangência geofísica;
estrutura organizacional do sistema de atendimento às emergências;
fluxograma de acionamento;
ações de resposta a situações emergenciais;
recursos humanos e materiais envolvidos;
recursos institucionais;
sistema de comunicação entre as partes envolvidas.
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Gerenciamento de riscos ambientais


Para o gerenciamento de riscos ambientais, deve-se associar a probabilidade
de ocorrência com a magnitude do dano de um certo evento indesejável, resultan-
do em três níveis possíveis (AMARAL; SILVA, 2004, p. 799):
negligenciáveis – probabilidades e magnitudes de pequena monta.
Exemplo: início de depósito de resíduos sólidos a céu aberto. No início é
negligenciável, mas deve ser corrigido o mais breve possível;
gerenciáveis – probabilidades e magnitudes controláveis, de maneira a
serem aceitas pela comunidade. Exemplo: rompimento de um gasoduto
em terminal petrolífero;
não toleráveis – probabilidades e magnitudes que, uma vez associadas,
não são aceitáveis e exigem ações que as minimizem. Exemplo: usinas
nucleares.
Para finalizar, deve-se enfatizar a problemática relacionada aos aspectos da
comunicação. Em função da sociedade considerada (valores éticos, morais, fis-
calizadores etc.), os processos de gerenciamento de riscos podem ser colocados
em cheque, dadas as relações de preconceito popular, ineficiência de fiscalização,
interpretação equivocada da legislação, entre outros. Exemplos podem ser citados,
como o preconceito popular contra usinas nucleares, ineficiência na fiscalização
da destinação de resíduos sólidos (lixões abastecidos pelo próprio poder muni-
cipal), interdição de obras de estações de tratamento de esgotos por promotores
equivocados, entre outros.

Conclusão
A gestão ambiental envolve uma série de fatores, desde o próprio ambiente
em si, passando pelos aspectos socioeconômicos e até mesmo políticos e filosófi-
cos. É uma tarefa árdua conciliar desenvolvimento sustentável e desenvolvimento
econômico e social, uma vez que os diversos atores procuram defender seus inte-
resses muitas vezes até de sobrevivência, o que os torna legítimos.
No entanto, parecemos caminhar para um mínimo de consenso em termos
de administração dos recursos naturais, apesar de estarmos ainda no início do que
parece ser uma longa jornada. No estágio atual, pelo menos podemos dizer que os
primeiros passos já foram dados, o que não deixa de ser um bom sinal.
Não bastasse a preocupação ambiental em si, ainda é necessária uma efi-
ciente fiscalização e normalização sobre as atividades exercidas nos diversos ra-
mos buscando, se não evitar totalmente, ao menos mitigar eventuais acidentes
ambientais e suas consequências.
Os dois processos (gestão ambiental e gerenciamento de risco) devem ser
indissociáveis pela sua própria natureza, bem como para uma adequada compre-
ensão de nossas atividades humanas e seus efeitos no meio ambiente.

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Agenda 21

Discuta o texto “Indústria sustentável no Brasil – Agenda 21: cenários e perspectivas”. Disponível
em: <www.cni.org.br/f-ps-ma.htm>. Acesso em: 17 maio 2006.

SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE. Agenda 21 em São Paulo 1992/2002. Dispo-


nível em: <www.ambiente.sp.gov.br/agenda21/ag21sprev/ag21sprev.htm>. Acesso em: 17 maio 2006.

AMARAL E SILVA, Carlos C. Gerenciamento de riscos ambientais. In: PHILIPPI JÚNIOR, Arlindo;
ROMÉRO, Marcelo A.; BRUNA, Gilda C. (Coord.). Curso de Gestão Ambiental. São Paulo: Mano-
le, 2004.
BRAGA, Benedito et al. Introdução à Engenharia Ambiental. São Paulo: Prentice Hall, 2002.
DIAS, Genebaldo F. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 2001.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Gerenciamento de Bacia Hidrográfica: aspectos conceitu-
ais e metodológicos. Brasília: MMA/IBAMA, 1995.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Cidades Sustentáveis: subsídios à elaboração da Agenda 21
brasileira. Brasília: MMA/IBAMA, 2000.
ORTEGA, Enrique (Org.). Engenharia Ecológica e Agricultura Sustentável: exemplos de uso da
metodologia energética-ecossistêmica. Disponível em: <www.unicamp.br/fea/ortega/livro/index.
htm>. Acesso em: 17 maio 2006.
ROSS, J. L. S. Procedimento Operacionais e Metodológicas para a Consecução do Plano de Con-
servação da Bacia do Alto Paraguai. Brasília: IBAMA, 1992.

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Avaliação de
danos ambientais I
Pedro G. Fernandes da Silva

Saneamento ambiental e ecologia

A
apropriação dos recursos naturais pelas diversas civilizações, feita de diferentes formas, trou-
xe resultados desiguais a essas mesmas civilizações. De forma geral, quando o uso dos re-
cursos ultrapassa a capacidade de renovação dos mesmos, uma dada civilização entra em
declínio. Além desse aspecto, existe a interação sanitária com os recursos ambientais, associada com
a qualidade e a quantidade de resíduos lançados. Por exemplo, uma modificação ambiental, para for-
necimento de energia, pode levar a um detrimento da saúde humana.
A saúde pública tem como uma de suas prováveis origens o processo de industrialização na
Inglaterra, uma vez que o meio insalubre de trabalho provocou o surgimento de problemas nessa área
(PHILIPPI JÚNIOR; SILVEIRA, 2004, p. 23). Além disso, a concentração de seres humanos nas
cidades também contribuiu para o surgimento de problemas nessa área. Um dos exemplos mais elo-
quentes foi a epidemia da peste negra (ou bubônica), ocorrida na Idade Média, na Europa, onde cerca
de um terço da população morreu em virtude da doença. Vale lembrar que a peste negra foi provocada
pelo bacilo de Yersin, parasita de pulgas que, por sua vez, parasitavam ratos; os ratos tornaram-se
abundantes nas cidades em função do acúmulo de lixo nas ruas e residências.
Com a “modernização” da civilização ocidental, outros problemas passaram a ser relacionados
com a saúde pública, como pode ser visto na tabela a seguir.
Exemplos de riscos na saúde ambiental por tipo de agente

(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE apud PHILIPPI


JÚNIOR; SILVEIRA, 2004, p. 29)
Físico Químico Biológico Psicossocial Mecânico
Animais domésticos,
Falta de reconhecimento Movimentos
Barulho (ruído) Solventes domiciliados e
pelo trabalho individual repetitivos
silvestres

Equipamento mal
Iluminação Ácidos Vírus Baixos salários
projetado

Metais (chumbo, cádmio, Bactérias, Levantamento de


Radiação Pressão para produzir
mercúrio) protozoários peso
Poeiras (asbestos, sílica,
Vibração Esporos/fungos Tarefas repetitivas
madeira)
Temperatura Pesticidas Insetos Estresse
Poluentes do ar
Eletricidade particulados, Parasitas
fertilizantes

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Avaliação de danos ambientais I

Recursos naturais
De uma maneira relativamente simples, os recursos utilizados pelo ser hu-
mano podem ser classificados de duas formas: os recursos que são renováveis e
aqueles que não são renováveis, conforme indicado na figura a seguir.

Classificação dos recursos naturais

(BRAGA et al., 2002, p. 5.


Adaptado.)
Recursos

Não renováveis Renováveis

Minerais não energéticos. Água


Minerais energéticos.
Fósforo, cálcio etc. Ar
Combustíveis fósseis,
urânio etc. Biomassa
Ventos

Como a própria nomenclatura indica, os recursos que não são renováveis,


sendo usados pelo homem, irão desaparecer ou deixar de existir em quantidades
apreciáveis para a exploração. Um excelente exemplo são os recursos não renová-
veis dos minerais energéticos, como o petróleo, usado largamente como fonte de
energia desde o início do século XX. Desde 1973 passamos por sucessivas crises
de abastecimento e, nos dias atuais, os especialistas já indicam com certeza de que
o produto irá diminuir consideravelmente; a discussão gira em torno de quanto
tempo levará para declinar a níveis economicamente inviáveis.
Quanto aos recursos renováveis, o próprio nome indica que podem ser reu-
tilizados de forma aparentemente indefinida. Esses recursos têm importância na
economia, na saúde e na manutenção de vida no planeta, como é o caso da água.
A discussão gira em torno da maneira e da forma como são utilizados esses recur-
sos. Como já foi dito, várias civilizações parecem ter desaparecido por causa do
uso inadequado dos recursos naturais, mesmo os renováveis.
Cabe ressaltar a importância do estudo de como esses recursos naturais são
renováveis, isto é, quais os processos que permitem a renovação desses recursos
e a taxa de renovação desses recursos. Para isso, é necessário que entendamos os
chamados ciclos biogeoquímicos.

Ciclos biogeoquímicos
Ciclo biogeoquímico pode ser entendido como o conjunto de processos bio-
lógicos, geológicos e químicos pelos quais passa a matéria, que tem a propriedade
de reciclagem. Dentre os recursos naturais renováveis, os principais estão indica-
dos a seguir:

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Avaliação de danos ambientais I

água – ciclo do tipo gasoso (rápido); seu principal reservatório é a


atmosfera. No entanto, ocorre em grande quantidade também na atmos-
fera, na litosfera e nos organismos vivos. A água é a única substância que
possui duas formas de ciclo: o ciclo curto e o ciclo longo. O primeiro
ocorre apenas por meio de fenômenos físico (evaporação – primeira fi-
gura), e o segundo passa pelos seres vivos (figura do ciclo longo da aula,
a seguir), demorando mais para ser completado. A importância da água é
dada, entre outros, pelos seguintes fatos:
é apenas na água que ocorrem as reações bioquímicas, necessárias
para a vida, como a respiração, por exemplo;
a água é excelente isolante térmico (calor específico igual a 1,0), aju-
dando a manter relativamente constante a temperatura corpórea;
o pH da água é neutro (pH = 7,0), o que facilita a ocorrência da maio-
ria das reações bioquímicas.
Um ser humano necessita, em média, de 2,5 litros diários de água, obtida
por meio da ingestão direta e por meio de alimentos; sem água, por um período
aproximado de quatro dias, nenhum ser humano sobrevive.

Ciclo curto da água

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Avaliação de danos ambientais I

Ciclo longo da água

Morte e
decomposição

Repare que à esquerda da figura também está representado o ciclo curto.

carbono – ciclo do tipo gasoso (rápido); seu principal reservatório é a


atmosfera, associado ao oxigênio (CO2). Na prática, o carbono não faz o
ciclo biogeoquímico na forma pura, uma vez que a forma pura do carbo-
no é a grafite ou o diamante.
A importância do carbono é a de fazer parte, como “esqueleto”, de todas
as moléculas orgânicas (por exemplo, a glicose: C6H12O6). O carbono também
está associado e presente nos combustíveis fósseis, como o petróleo e o carvão,
formados há milhões de anos por processos geológicos, quando ocorreu uma in-
terrupção nos processos de decomposição. O ciclo do carbono está representado
na figura a seguir.

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Avaliação de danos ambientais I

Ciclo do carbono
GÁS CARBÔNICO
na atmosfera

Assimilação pelas plantas


FOTOSSÍNTESE

RESPIRAÇÃO
RESPIRAÇÃO
dos vegetais
dos animais

Alimentos para
herbívoros

Morte dos animais


e seus resíduos

Morte
de plantas

SOLO DECOMPOSIÇÃO

Morte
dos animais

COMBUSTÍVEIS
FÓSSEIS

(carvão e petróleo) Restituição à atmosfera pela


queima

Note que os produtores (vegetais) são os únicos organismos capazes de reti-


rar o carbono da atmosfera.

outros ciclos gasosos – nitrogênio (N2), com participação de micro-


-organismos para sua fixação, e oxigênio (O2), com sua liberação através
dos produtores. Esses elementos são importantes como participantes de
moléculas orgânicas e agentes oxidantes de reações bioquímicas (partici-
pação em DNA, RNA, entre outros, e respiração, respectivamente, para
nitrogênio e oxigênio).
fosfatos – ciclo do tipo sedimentar (extremamente lento), tendo seu prin-
cipal reservatório nas rochas fosfatadas. A grande diferença, digna de
nota, entre ciclos do tipo gasoso e do tipo sedimentar é a de que esse
último tipo de ciclo é extremamente lento; na prática, é como se esse tipo
de ciclo não existisse, de tão lento que ele ocorre.

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Avaliação de danos ambientais I

Usando como exemplo o fósforo, que ocorre na forma de fosfato, temos que
a sua importância é na participação de moléculas orgânicas (DNA e RNA, por
exemplo, formando os grupamentos fosfatos dos nucleotídeos), entre outras fun-
ções. O ciclo do fósforo ocorre a partir de processos erosivos, é absorvido a partir
dos produtores, participa dos outros organismos vivos, é usado na agricultura e
boa parte do fósforo acaba sendo perdida para os sedimentos marinhos, voltando
a estar disponível apenas depois de novas formações de rochas, o que leva milhões
de anos. Acompanhe as figuras a seguir para distinguir as diferentes etapas e or-
ganismos pelos quais o fósforo passa.

Ciclo do fósforo (na forma de fosfato)


Protoplasma

(ODUM, 1988, p. 117)


Vegetais Animais
Bactérias
Excreção
Ossos,
ROCHAS DE FOSFATO dentes
Síntese de Depósitos de guano
protoplasma Depósitos de ossos fósseis
Bactérias
Apatita
fosfatizantes
vulcânica
Erosão
Aves e peixes
marinhos Fosfatos dissol-
vidos

Sedimentos ma-
Perdas para sedimentos rinhos rasos
profundos

Indicação dos organismos marinhos como um dos depósitos do elemento.


milhões de anos
Fosfato

erosão

alimentação
Produtores Consumidores

micro-organismos morte morte


fosfatizantes
processos geológicos
Decompositores (vulcanismo, terremoto,
movimento de placas
tectônicas etc.)
lixiviação

formação de
uso inadequado (adubação) sedimentos rochas
oceânicos

Ciclo do fósforo (na forma de fosfato), indicando sua passagem pelos organismos vivos e suas vias de retorno.

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Avaliação de danos ambientais I

Controle ambiental da água


Como visto anteriormente, a água é de enorme importância para a existên-
cia da vida, ao menos em nosso planeta. As diversas missões espaciais têm, entre
seus vários objetivos, um que é sempre o principal: existe água em outros plane-
tas, de forma que seja possível identificar alguma forma de vida?
Apesar de abundante em nosso planeta e aparentemente inesgotável, apenas
cerca de 0,3% de toda a água existente é utilizável. Para comparação, imagine o
seguinte: encha um recipiente com um litro de água; essa quantidade representa
toda a água de nosso planeta. Agora, pegue uma colher de café, e encha; essa pe-
quena quantidade representa toda a água doce utilizável de nosso planeta. Como
pode ser percebido, na verdade não existe tanta água assim.
As diversas atividades humanas estão alterando essa pequena quantidade de
água, tornando praticamente obrigatório um estudo e análise sobre as formas de
usos e conservação desse recurso.

Usos da água
Para que a água possa ser utilizada de forma adequada, é necessário que
identifiquemos os seus diversos usos e suas respectivas qualidades. Um resumo
ilustrativo dos usos da água está representado na figura a seguir:

Ilustração dos diversos usos da água, tais como: abastecimento doméstico, uso industrial, recreação, irriga-
ção, geração de energia, navegação etc. Para cada um desses usos, a água deve ter características próprias
e adequadas.

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Avaliação de danos ambientais I

Tratamento de água
Para que a água seja utilizada em algumas atividades, é necessário que
apresente qualidade compatível como, por exemplo, para o abastecimento do-
méstico. Nesse tipo de uso a água deve estar isenta de organismos patogênicos,
livre de elementos contaminantes (sólidos em suspensão) e que adicionem chei-
ro, gosto etc.
Existem locais em que a água é captada em condições praticamente pron-
tas para uso doméstico, como é o caso de águas captadas de aquíferos (exemplo:
o Aquífero Guarani, na região da cidade de Ribeirão Preto/SP, onde a água
possui um alto grau de pureza). Entretanto, é sempre conveniente que a água
passe por um tratamento, seja porque ficará armazenada por algum período em
reservatórios (caixas d’água) ou porque não possui qualidade adequada, desde a
sua captação (exemplo: água usada na cidade de São Paulo, captada do sistema
Guarapiranga).
Nesses casos utiliza-se uma Estação de Tratamento de Água (ETA) para
o tratamento. Usualmente, emprega-se a adição de cloro para eliminação de
organismos patogênicos, e outras substâncias (como o flúor) para adequar a qua-
lidade e/ou evitar problemas na população (o caso do flúor é significativo: vários
municípios – Franca/SP, por exemplo – adicionam flúor à água para diminuir a
incidência de cáries na população). Uma ETA está, simplificadamente, apresen-
tada na figura abaixo.

(BRAGA et al., 2002, p. 109)


Canaleta de distribuição
Decantador A

Corredor de comando Decantador B

Calha coletora para água


decantada
Decantador C

Misturador rápido
Escritório Agitadores
Casa de química Dosadores mecânicos
Medidor de vazão
Laboratório

Tanques de cal Chegada de Planta Pavimento Principal


água bruta

Calha coletora de água de


lavagem
Corredor de comando
Saída de água decantada
Canal de descarga
Poço de lodo
Galeria de canalizações
Decantadores
Filtros

Remoção de lodo
Camada filtrante Floculadores
Canal de água tratada

Esquema simplificado de uma Estação de Tratamento de Água (ETA).

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Avaliação de danos ambientais I

Tipos de poluição
A água é, tradicionalmente, a substância na qual todos os resíduos são dis-
solvidos. Em pequenas quantidades, ou não sendo elementos recalcitrantes (que
não são biodegradáveis), não são ocasionados problemas. Porém, com o constante
aumento da população humana, a quantidade de elementos, substâncias e outros
produtos que são levados para diluição aumenta consideravelmente. Nesses casos,
ocorre o fenômeno da poluição das águas. Para uma rápida definição sobre os
tipos de poluição das águas, temos:
poluição e contaminação:
poluição – alteração das características da água, produzindo impactos
estéticos, fisiológicos ou ecológicos. Exemplo: introdução de calor
excessivo. Não causa impacto na população humana, mas é capaz de
destruir as comunidades biológicas locais;
contaminação – transmissão de substâncias e/ou organismos nocivos
à saúde humana pela água (exemplo: presença de organismos patogê-
nicos). Nesse caso, as comunidades biológicas locais podem não ser
afetadas, mas afeta a população humana.
fontes – as fontes de poluição das águas podem ser classificadas como
pontuais e difusas. Pontual é a fonte que permanece em um único local, e
difusa é a poluição que ocorre por diversos locais, sendo, frequentemente,
impossível detectar o local exato de origem. Essa diferença é importante
para metodologias e procedimentos de diminuição e/ou impedimento de
que a poluição chegue a um corpo hídrico.
As formas de poluição, pontual e difusa, são indicadas na figura apresentada
a seguir.

Indicação de fontes pontuais e difusas de poluição de um corpo hídrico.

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Avaliação de danos ambientais I

Tratamento de efluentes
A chegada de matéria orgânica, em excesso, aos corpos hídricos, provoca
um fenômeno denominado eutrofização, que é a forma de poluição mais comum
nos corpos hídricos. Contrariando o senso comum, a poluição dos corpos hídricos
(eutrofização) é causada, principalmente, pelo esgoto urbano (efluente) e não por
produtos químicos liberados inadequadamente pelas indústrias.
Um corpo hídrico (um rio, por exemplo) tem a capacidade de eliminar, por si
só, o excesso de matéria orgânica; esse processo é denominado autodepuração.
Eutrofização – poluição por excesso de nutrientes, principalmente fos-
fatos e nitratos.
Autodepuração – capacidade de um corpo hídrico eliminar processos
de poluição. A autodepuração está ligada, necessariamente, ao fluxo do
corpo hídrico, isto é, quanto maior o fluxo (volume de água) de um corpo
hídrico, mais rapidamente ele realizará a autodepuração.
O fenômeno de eutrofização e autodepuração, com suas características
(quantidade de oxigênio, necessidade de oxigênio, Demanda Bioquímica de Oxi-
gênio – DBO) é apresentado resumidamente a seguir.

Esquema de processo de eutrofização e autodepuração de um corpo hídrico.

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Avaliação de danos ambientais I

Estação de tratamento de esgotos (ETE): em se tratando de fontes pon-


tuais de poluição hídrica, pode ser estabelecido tratamento para o que se
denomina efluente, principalmente em áreas urbanas.
Após alguns usos como, por exemplo, o uso doméstico, a água tem suas
características alteradas com a adição de substâncias orgânicas (esgoto domésti-
co = efluente). Nesses casos, a água necessita de tratamento, que é realizado nas
Estações de Tratamento de Esgotos (ETE) presentes em diversos municípios. In-
felizmente, no entanto, nem todos os municípios estão equipados com ETEs para
o adequado tratamento. Um esquema resumido de uma ETE está apresentado
abaixo.

Disposição esquemática de uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE).

Controle ambiental do ar
Introdução
A composição da atmosfera é de, aproximadamente: nitrogênio (N2) =
78,11%, oxigênio (O2) = 20,95%, argônio (Ar) = 0,934%, gás carbônico (CO2) =
0,033%.
É dividida em camadas, como mostra a próxima figura, em função da tem-
peratura de cada uma dessas camadas. Para se ter uma ideia, a Estação Espacial
Orbital Internacional está situada a uma altitude de, aproximadamente, 380km.

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Avaliação de danos ambientais I

Perfil de temperatura da atmosfera. Repare a altitude do Everest (à direita, embaixo), a altitude em


que se encontra a maior concentração de ozônio (O3) e alguns tipos de nuvens. É na troposfera que
ocorrem os principais fenômenos atmosféricos.

Poluentes
Na atmosfera (principalmente na troposfera), ocorrem os fenômenos de po-
luição do ar. Esses poluentes são de diversos tipos como gases, partículas e outras
substâncias.
A seguir, apresentamos a classificação, os tipos e as principais formas de
poluição atmosférica.
Classificação:
Primários – lançados diretamente na atmosfera. Exemplo: óxidos de ni-
trogênio (NOx).
Secundários – formam-se na atmosfera por meio de reações que ocor-
rem devido à presença de certas substâncias químicas e determinadas
condições físicas. Exemplo: SO3 reage com vapor d’água (H2O), for-
mando ácido sulfúrico (H2SO4), acarretando a chuva ácida.
Tipos – os principais poluentes atmosféricos são:
COx (óxidos de carbono)
Dióxido de carbono (CO2) – também chamado de gás carbônico. Ori-
ginado da queima completa de matéria orgânica (combustíveis fósseis,
queimadas, entre outros). É importante em baixas quantidades; em ex-
cesso provoca o efeito estufa, uma vez que tem a propriedade de isolante
térmico.

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Avaliação de danos ambientais I

Monóxido de carbono (CO) – combustão incompleta de matéria orgâ-


nica (combustíveis fósseis, queimadas etc.). É tóxico, pois provoca a for-
mação de carboxiemoglobina, impedindo que a hemoglobina ligue-se ao
oxigênio, necessário à respiração. Dessa forma, o excesso de monóxido
de carbono pode provocar a morte por asfixia.
NOx (óxidos de nitrogênio) – por meio da queima de combustíveis fós-
seis, em motores a combustão. Irritação em vias aéreas e mucosas; dimi-
nuição da taxa de fotossíntese.
SOx (óxidos de enxofre) – queima de combustíveis fósseis, fenômenos
naturais (vulcanismo). Produz chuva ácida (SO3 + H2O = H2SO4 – áci-
do sulfúrico) irritação em vias aéreas e mucosas. Leva à deterioração de
monumentos e construções civis (pontes, fundações, entre outros).
Hidrocarbonetos – queima incompleta de combustíveis fósseis. Causa
irritação em vias aéreas e mucosas.
Material particulado – partículas em suspensão, originadas da queima
de combustíveis fósseis, queimadas, vulcanismo, grãos de pólen etc. Irri-
tação em vias aéreas e mucosas; diminuição da taxa de fotossíntese, por
deposição nas folhas.
A próxima tabela apresenta os principais gases emitidos pelo uso de com-
bustíveis fósseis e álcool, por veículos automotivos, na Grande São Paulo. Pode
parecer, em um primeiro momento, que o álcool seja o que menos polui; no en-
tanto, não está indicado na tabela abaixo a emissão de um poluente exclusivo de
álcool combustível, que é o aldeído, um tipo de álcool difícil de ser degradado e
que afeta o sistema nervoso humano.
Tabela 1 – Estimativas de emissão de poluentes na região metropolitana
de São Paulo, em 1996
(CETESB apud BRAGA et al.,
2002, p. 199. Adaptado.)

Veículos Poluentes (1000t/ano)


CO NOx SOx MP
Gasolina 952,1 50,9 7,7 3,8
Diesel 271,5 198,3 17,2 1,24
Álcool 266,0 19,0 –– ––
Indústria 38,6 14,0 16,3 25,9

MP = material particulado.

Formas de poluição:
efeito estufa – aquecimento global, por acúmulo de certos gases, prin-
cipalmente o CO2, provocado principalmente pela queima de combustí-
veis fósseis. Alteração de clima, com prováveis efeitos como: enchentes,
ciclones etc. A figura a seguir representa a forma de ocorrência do efeito
estufa;

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Avaliação de danos ambientais I

Camada de CO2

Luz
ão

a

elh
i
ad

er m
R
Atmosfera

rav
Inf
Terra

Esquema do efeito estufa. A radiação infra-


vermelha indicada na figura é outra forma da
energia térmica, que volta para a superfície do
planeta.

camada de ozônio – responsável pela “filtragem” da radiação ultravio-


leta (potencialmente cancerígena), é destruída por gases denominados
CFCs (clorofluorcarbonos), utilizados amplamente nas indústrias de apa-
relhos de ar condicionado e de refrigeração, de propelentes (aerossóis),
de equipamentos eletrônicos e de plásticos, entre outros;
chuva ácida – formada pela reação de compostos de enxofre (SOx, H2S,
entre outros) com água na atmosfera, formando ácido sulfúrico (H2SO4).
Acidificação de solos, corpos hídricos (principalmente lagos), provocan-
do perdas agrícolas e de biodiversidade. Também afeta construções civis
e monumentos, causando uma diminuição do tempo de vida útil e alte-
rando as características das obras de arte, respectivamente.

Diminuição da poluição
Se não há possibilidade de ausência de elementos poluentes na atmosfera,
algumas tecnologias podem ser empregadas para diminuir a quantidade de po-
luentes que chegam à atmosfera. Os dois tipos de poluição (partículas e gases), e
suas principais formas de atenuação, são:
partículas:
precipitador eletrostático – placas carregadas de eletricidade, que atraem
as partículas pequenas. Exemplo: usinas sucroalcooleiras;
filtros de manga – grandes cones de tecido especial, funcionando como
filtros, barrando partículas de qualquer tamanho. Exemplo: indústrias de
cimento;
separador ciclônico – o ar flui em grande velocidade e as partículas são
separadas por força centrífuga; usado para partículas de grande porte.
Exemplo: indústria metalúrgica;

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Avaliação de danos ambientais I

lavador de gás – o fluxo de ar carregado de partículas e/ou gases é bor-


bulhado em líquido. As partículas se agregam e são depositadas no fun-
do; eventuais gases podem formar compostos com o líquido, deixando
de ser eliminados na atmosfera. Usado para partículas médias e grandes,
além de SO2. Exemplo: indústria de fertilizantes.
Os quatro aparelhos para diminuição de poluição por partículas são apre-
sentados na figura a seguir.

(BRAGA et al., 2002, p. 196)


Sistemas de tratamento de efluentes gasosos e material particulado.

Gases:
absorção – o gás é misturado a uma substância, produzindo ele-
mentos inofensivos e/ou reaproveitáveis. Exemplo: SOx (produzido
em indústrias de fertilizantes) misturados com água, resultando em
H2SO4, que pode ser reaproveitado em processos industriais, far-
macêuticos etc;
combustão – simples queima do gás. Exemplo: queima do metano
(CH4), produzido em indústrias de fertilizantes;
adsorção – o gás é “capturado” por material apropriado, normalmente
carvão ativado, ficando aderido à superfície desse material. Exemplo:
catalisadores em escapamentos de automóveis.
Esse caso é o princípio de um costume antigo: um pedacinho de carvão,
colocado dentro de geladeiras pela vovó ou titia, para retirar o cheiro dos objetos
colocados no interior da mesma. Atualmente, as geladeiras já vêm de fábrica com
carvão ativado colocado no interior da porta ou no fundo (repare que, na porta, ou
atrás do refrigerador, há uma série de furinhos na parede; atrás desses furinhos
está o carvão ativado, que retira o cheiro dos objetos colocados no interior da
geladeira).

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Avaliação de danos ambientais I

Conclusão
A utilização dos recursos naturais deve ser avaliada com cuidado, para que
se evitem processos de uso inadequado, levando à sua exaustão. O cuidado com
os ciclos dos recursos renováveis deve receber severa atenção sob pena de, mesmo
não se exaurindo o recurso, ele passar a ter características indesejáveis para o uso
humano. Nesses casos, o respeito à preservação ambiental está diretamente ligado
aos processos de reciclagem dos recursos renováveis.
Entre os recursos renováveis, a água merece especial atenção, uma vez que
é elemento indispensável para a existência e manutenção da vida. A atmosfera
merece os mesmos cuidados, principalmente em grandes centros urbanos, onde a
emissão de gases e partículas é em maior quantidade.
Quando não há possibilidade de evitar a produção de agentes poluidores, a
tecnologia pode ajudar a diminuir a quantidade de elementos poluentes lançados
no ambiente.

Discuta o papel do CO2 na manutenção da vida na Terra e o seu papel enquanto agente principal do
efeito estufa.

DERÍSIO, José C. Introdução ao Controle de Poluição Ambiental. São Paulo: Signus, 2000.

AMABIS, José M.; MARTHO, Gilberto R. Curso Básico de Biologia. São Paulo: Moderna, 1985.
BRAGA, Benedito et al. Introdução à Engenharia Ambiental. São Paulo: Prentice Hall, 2002.
BRANCO, Samuel M. Água: origem, uso e preservação. São Paulo: Moderna, 1993.
BRANCO, Samuel M.; MURGEL, Eduardo. Poluição do Ar. São Paulo: Moderna, 1995.
ODUM, Eugene P. Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988.
PHILIPPI JÚNIOR, Arlindo; SILVEIRA, V. F. Saneamento ambiental e ecologia aplicada. In: PHI-
LIPPI JÚNIOR, Arlindo; ROMÉRO, Marcelo A.; BRUNA, Gilda C. (Coord.). Curso de Gestão Am-
biental. São Paulo: Manole, 2004.

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Avaliação de
danos ambientais II
Pedro G. Fernandes da Silva

Controle ambiental de resíduos

D
esde tempos remotos, a população humana vem crescendo constantemente, bem como vem
migrando das áreas rurais para as áreas urbanas. Associada a esse crescimento e migração,
existe também uma crescente utilização dos recursos naturais com consequente formação de
resíduos, formados tanto na fabricação de novos produtos como no descarte de resíduos que já cum-
priram sua função e/ou não possuem mais utilidade. O quadro atual pode ser resumido da seguinte
forma: áreas rurais são cada vez mais utilizadas para produção de alimentos (não confundir com
maior quantidade de indivíduos) e também há necessidade de áreas cada vez maiores para a dispo-
sição dos resíduos gerados pela população humana. Como pode ser percebido, o que denominamos
resíduo é o que comumente chamamos de lixo.
Para se ter uma ideia, a tabela a seguir mostra, grosso modo, como o aumento da população
humana aumenta a produção de resíduos sólidos.

(CETESB apud TENÓRIO; ESPI-


NOSA, 2004, p. 165)
População Produção de lixo
(milhares de habitantes) (kg/habitante/dia)

Até 100 0,4

100 a 200 0,5

200 a 500 0,6

Maior que 500 0,7

Valores de coeficiente per capita de produção de resíduos sólidos domiciliares, em função da


população urbana.

Em linhas gerais, uma cadeia alimentar é fechada, ou seja, a matéria passa de um nível trófico
a outro, sem perdas, em ambientes naturais. Aparentemente, o homem seria o único ser vivo capaz
de gerar resíduos, causados pelos padrões de consumo da sociedade atual. Apesar de simplista, esse
raciocínio mostra que o crescimento da população humana, associado com a capacidade de o homem
transformar, em larga escala, diversos tipos de materiais, tornando estáveis substâncias e produtos,
causa enorme desequilíbrio ambiental. Isso ocorre porque diversas substâncias e produtos, colocados
no meio ambiente pelo homem, não são reconhecidos e não têm capacidade de absorção por esse
meio ambiente; o resultado é que tendem a ficar acumulados, mesmo por longo prazo (TENÓRIO;
ESPINOSA, 2004, p. 156).
Por exemplo, na tabela a seguir, segue uma breve relação de alguns produtos com seu tempo de
decomposição (média). O tempo de decomposição é indicado em oceano, porque é o ambiente onde a
decomposição se processa de forma mais rápida.

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Avaliação de danos ambientais II

Resíduos Tempo de decomposição (em oceano)


Jornais 14 a 42 dias

Embalagens de papel 1 a 4 meses

Guardanapos de papel e frutas 3 meses

Pontas de cigarros 2 anos

Garrafas de plástico 100 anos (estimativa)

Garrafas e frascos de vidro 1 milhão de anos (estimativa)

Alguns resíduos produzidos pelo homem e seu tempo médio de decomposição, em água salgada.

Definição
Como apontado anteriormente, o que é denominado comumente como lixo,
tecnicamente é denominado de resíduo sólido. Para evitar qualquer tipo de confu-
são, a seguinte definição é adotada para o que seja resíduo sólido (NBR 10004):
Resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades da comunidade, de
origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição.
Consideram-se também resíduos sólidos os lodos provenientes de sistemas de tratamento
de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem
como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na
rede pública de esgotos ou corpo d’água, ou exijam para isso soluções técnicas e economi-
camente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível.

Classificação
A classificação dos resíduos sólidos, principalmente os industriais, requer
uma série de procedimentos e testes, descritos em normas específicas da Associa-
ção Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):
NBR 10004 – Resíduos sólidos: classificação.
NBR 10005 – Lixiviação de resíduos: procedimento.
NBR 10006 – Solubilização de resíduos: procedimento.
NBR 10007 – Amostragem de resíduos: procedimento.
De maneira relativamente simples, os resíduos sólidos podem ser classifica-
dos conforme origem e periculosidade, a seguir.

Origem
Doméstico – gerados pelas residências, incluindo resíduos de escritórios
e atividades de comércio. Exemplo: papéis, metais, plástico etc.
Hospitalares – também chamados de serviços de saúde, são os resíduos
originados em hospitais, ambulatórios, clínicas médicas e veterinárias,

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Avaliação de danos ambientais II

laboratórios de análises clínicas, consultórios de odontologia etc. Exem-


plo: seringas, agulhas, gaze, restos cirúrgicos, vidros de remédios (por
causa da contaminação pelas substâncias químicas que compõem os di-
versos tipos de remédios), entre outros.
Deve-se notar que todos os estabelecimentos de saúde também produzem
resíduos considerados do tipo domiciliar, em função das atividades correlatas a
esses estabelecimentos, como papéis de escritório, restos de alimentos, invólucros
gerais etc.
Industriais – gerados por atividade industrial, sendo dos mais variados
tipos. Exemplo: cinzas, lodos, óleos, metal, escórias, fibras etc.
Público – originados nos serviços de limpeza pública urbana, como var-
rição de vias públicas, limpeza de praias, galerias, córregos, podas de
árvores etc., além da limpeza de áreas de feiras livres, constituídas por
restos vegetais diversos, embalagens, entre outros.
Portos, aeroportos e terminais (rodoviários e ferroviários) – gerados
nos locais denominados, são constituídos de resíduos sépticos, capazes
de veicular doenças provenientes de outras cidades, estados e/ou países.
Exemplo: material de higiene, asseio pessoal, restos de alimentos etc.
Agrícola – originado de atividades agrícolas e pecuária. Exemplo: em-
balagens de adubos, defensivos agrícolas, ração, fezes animais etc.
Entulho – originado nas atividades da construção civil. Exemplo: geral-
mente um material inerte, passível de reaproveitamento, como demoli-
ções, restos de obras, solos de escavações e materiais afins (tijolos, areia,
ferragens etc.).
Para cada uma dessas origens de resíduos sólidos, de acordo com a legis-
lação municipal, estadual ou federal, existe um responsável pelo gerenciamento
(coleta e destinação) desses resíduos. A tabela a seguir mostra o quadro atual.
(JARDIM, 2001, p. 24. Adaptado.)

Origem dos resíduos Responsável


Domiciliar Prefeitura1

Hospitalar Gerador

Industrial Gerador

Público Prefeitura

Portos, aeroportos e terminais Gerador

Agrícola Gerador

Entulho Prefeitura1
De quem é a responsabilidade pelo gerenciamento de cada tipo de lixo.

1 Para a cidade de São


Paulo, a prefeitura é res-
ponsável por pequenas quan-
tidades (geralmente menos
de 50 quilos), e de acordo
com a legislação municipal
específica.

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Avaliação de danos ambientais II

Periculosidade
De acordo com a NBR 10004, os resíduos sólidos, principalmente os indus-
triais, podem ser classificados como:
Classe I (perigosos) – podem apresentar risco à saúde pública e/ou ao
meio ambiente, por causa de suas características de inflamabilidade, cor-
rosividade, toxicidade e patogenicidade. Essas características podem ser
consideradas para o resíduo em si ou por mistura com outros. Exemplo:
resíduos oleosos, substâncias sépticas, solventes, metais pesados (cromo,
mercúrio, cádmio etc.), dioxinas, entre outros.
Classe II (não inertes) – nesta classe estão incluídos os resíduos que, se
submetidos ao teste de solubilidade (NBR 10006), apresentam alterações
na qualidade da água, bem como apresentam potencial de combustibili-
dade. De forma genérica, podemos dizer que são os resíduos que reagem,
ou seja, não são inertes.
Tecnicamente, também são considerados nesta classe os resíduos que não se
enquadram nem na Classe I ou na Classe III. Exemplo: alumínio, ferro, material orgâ-
nico, papéis em geral (papel, papelão etc.), alguns tipos de borracha, entre outros.
Classe III (inertes) – são os resíduos que, se submetidos ao teste de solu-
bilidade (NBR 10006), não apresentam alterações na qualidade da água
e não são combustíveis, ou seja, são inertes. Exemplo: vidro, alguns tipos
de plástico etc.

Destinação
Embora o acondicionamento seja de responsabilidade do gerador, a admi-
nistração municipal deve exercer as funções de regulamentação, educação e fis-
calização, inclusive no caso dos estabelecimentos de saúde, visando assegurar
condições sanitárias e operacionais adequadas (JARDIM, 2001, p. 40). Isto quer
dizer que, independente do tipo de resíduo gerado ou de quem seja a respon-
sabilidade de coleta, o gerador dos resíduos sólidos é responsável por colocá-lo
em recipientes adequados para acondicionamento e posterior encaminhamento.
Em residências, é a adequação de sacos plásticos (ou outros elementos) para o
­recebimento dos resíduos.
Após o acondicionamento dos resíduos, os mesmos devem ser encaminhados
de maneira correta. Normalmente, só nos damos conta da necessidade de encami-
nhamento correto dos resíduos sólidos quando estes deixam de ser coletados.

Reclamação pela falta de coleta.


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Avaliação de danos ambientais II

O ideal é que uma certa separação dos resíduos já ocorra nos próprios locais
de origem e/ou incentivados pela municipalidade, através de locais denomina-
dos Postos de Entrega Voluntária (PEV), onde devem estar presentes recipientes
adequados para o acondicionamento e encaminhamento dos resíduos sólidos. A
disposição incorreta de resíduos pode gerar uma série de problemas, como a dis-
seminação de doenças por meio de animais vetores (moscas, ratos, baratas, entre
outros).
Nos PEVs, os recipientes devem ser de cores padronizadas, para indicar que
tipo de resíduo deve ser destinado em qual caçamba. Esse procedimento já facilita
a destinação final dos resíduos sólidos pela sua prévia separação. As cores básicas
são apresentadas na tabela abaixo, e alguns símbolos estão associados na figura.

(JARDIM, 2001, p. 133)


Cor da caçamba Material
Azul Papel

Amarela Metal

Verde Vidro

Vermelha Plástico

Cores de caçambas coletoras de resíduos sólidos e seus respectivos


resíduos a serem depositados.

Postos de Entrega Voluntária (PEV). Nesses PEVs, as cores das caçambas


identificam os tipos de resíduos a serem dispostos em cada uma delas –
veja texto para explicações.

Recipiente basculante.

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Tipos de cesto. Acondicionamento impróprio.

De maneira geral, os resíduos urbanos da coleta seletiva apresentam a se-


guinte composição média:

(JARDIM, 2001, p. 135)


Composição média da coleta seletiva.

Após o primeiro acondicionamento dos resíduos sólidos (nos locais de ori-


gem e/ou nos logradouros), os mesmos devem seguir para seus destinos finais.
Infelizmente, boa parte dos municípios brasileiros ainda adota a prática (ilegal,
segundo a Portaria 53/79, do Ministério do Interior) de destinação imprópria para
os resíduos sólidos, em locais comumente denominados de lixão; o nome técnico
é vazadouro a céu aberto.
(IBGE apud JARDIM, 2001, p. 7)

Destino geral do lixo.

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Disposição inadequada de resíduos sólidos.

Os principais problemas de um vazadouro a céu aberto são:


riscos de poluição do ar e de contaminação do solo, das águas superfi-
ciais e de lençóis freáticos;
riscos à saúde pública, pela proliferação de diversos tipos de doenças;
agravamento de problemas socioeconômicos pela ativa presença de “ga-
rimpeiros do lixo”;
poluição visual da região;
mau odor na região;
desvalorização imobiliária da região.
Para a destinação dos resíduos sólidos existem várias formas, e abordare-
mos esses métodos a seguir. No entanto, independente da forma de disposição
final dos resíduos sólidos, deve ocorrer uma etapa preliminar, principalmente para
municípios de médio e grande porte, que é uma estação de transbordo, onde o
material que chega passa por uma seleção prévia para sua posterior e correta des-
tinação. Essa estação de transbordo também pode ser chamada de estação de
triagem. Normalmente, uma estação de transbordo está associada a uma usina de
compostagem, mas isso não é um fator obrigatório.
Em municípios onde ocorra uma eficiente coleta seletiva de resíduos sólidos,
a estação de transbordo, mesmo não sendo obrigatória, pode vir a ser uma opção,
visando garantir a qualidade dos resíduos sólidos a serem dispostos.
As diferentes formas de destinação de resíduos sólidos também dependem
de licenciamento ambiental, que inclui as observações contidas nas Resoluções
Conama (especialmente a Resolução 001/86), além de Relatório Ambiental Preli-
minar (RAP) e Termo de Referência (TR), quando exigidos pelo município, estado
e/ou federação.

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Incineração
É uma das tecnologias térmicas existentes para o tratamento dos resídu-
os. Ocorre a queima dos resíduos em alta temperatura (normalmente acima dos
820°C – não confundir incineração com queima de resíduos, como pequenas fo-
gueiras, onde se joga o lixo para ser queimado. Nesse último caso – fogueiras – os
resíduos não são totalmente eliminados devido às baixas temperaturas, e ocorre a
formação de gases tóxicos, prejudiciais à saúde de quem está por perto. Exemplo:
ao se queimar uma garrafa PET, ou outro tipo de plástico, é liberado gás cianeto,
altamente venenoso).
As principais etapas da incineração podem ser vistas na figura.

Incinerador de lixo.

Os resíduos são reduzidos a seus constituintes minerais, gases e cinzas. A


incineração reduz em até 85% o peso e em 95% o volume dos resíduos, facilitando
sua disposição final.
De maneira simplificada, as vantagens de um incinerador são:
redução drástica do volume a ser descartado;
redução do impacto ambiental;
detoxificação;
recuperação de energia;
aproveitamento das cinzas (escória) para finalidades diversas.
E as desvantagens, de maneira simplificada, são:
custo elevado;
mão de obra qualificada;
problemas operacionais;

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Avaliação de danos ambientais II

emissões;
necessita de abastecimento contínuo de resíduos sólidos.
Quanto a esse último item, ele se compõe de uma das partes mais críticas do
processo de incineração, uma vez que deve ser estabelecido um rigoroso controle
das emissões, seja de material particulado, seja de gases.
Deve-se ressaltar que a incineração é particularmente recomendada (quan-
do não for exigida), para a destruição de resíduos sólidos de origem hospitalar, a
fim de eliminar potenciais agentes biológicos com capacidade patogênica.

Compostagem
É um processo de reciclagem da parte orgânica do resíduo sólido urbano,
através de decomposição aeróbia, podendo resultar em compostos humificados
que servem de condicionadores de solos e/ou adubos.
Há uma série de controvérsias sobre a adequação ou não do processo de
compostagem; alguns autores são fortemente favoráveis, enquanto outros são ex-
tremamente contrários.
As principais etapas e metodologias de uma usina de compostagem estão
representados na figura:

Usina de compostagem de lixo para cidades de até 60 mil habitantes.

Assim como a incineração, a compostagem apresenta suas vantagens e des-


vantagens. De maneira simplificada, as vantagens são:
valorização da parte orgânica dos resíduos;
aumento da vida útil do aterro sanitário;
condicionador físico de solo;
utilização como fertilizante ou adubo;
eliminação de patógenos.
E as desvantagens, de maneira simplificada, são:

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mais caro que o aterro sanitário, por tonelada do produto;


dificuldades para comercialização do produto;
eventual aumento do pH do solo;
eventual contaminação por resíduos;
eventual contaminação por metais pesados;
área relativamente grande (entretanto, pode ser usada indefinida­mente);
necessita de abastecimento contínuo de resíduos sólidos.

Aterro sanitário
Ainda é o processo mais utilizado no mundo, em função de sua simplicidade
e relativo baixo custo e segurança, desde que devidamente instalado. Além do
mais, é uma atividade necessária, uma vez que os outros processos de tratamento
de resíduos sólidos também geram outros resíduos que devem, então, ser encami-
nhados a um aterro.
Para a realização de um aterro sanitário, existe uma divisão entre os aterros
para resíduos sólidos urbanos e aterros para resíduos sólidos industriais, principal-
mente os que pertencem às Classes I e III. Dessa forma, a construção de aterros
sanitários é sujeita a uma série de regulamentações e normas; as principais são:
NBR 8418 – apresentação de projetos de aterros industriais de resíduos
industriais perigosos;
NBR 8419 – apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos
sólidos urbanos;
NBR 10157 – aterros de resíduos perigosos – critérios para projeto, cons-
trução e operação;
NBR 13896 – aterros de resíduos não perigosos – critérios para projeto,
construção e operação.
Basicamente, um aterro deve respeitar as seguintes características de
projeto:
vida útil maior que 10 anos;
distância menor que 10 quilômetros do centro a ser atendido;
áreas sem restrição de zoneamento ambiental;
vetor de crescimento mínimo para áreas urbanas;
densidade populacional baixa;
áreas de baixa valorização da terra;
distância maior que 200 metros de qualquer corpo hídrico.
As principais características de um aterro sanitário, incluindo as suas diver-
sas fases de funcionamento (preparação, execução e conclusão), estão representa-
das na figura:
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(IPT apud BRAGA et al., 2002, p. 149)


Representação de um aterro sanitário em várias fases.

Como as outras formas de disposição de resíduos sólidos, um aterro sani-


tário também apresenta vantagens e desvantagens. De maneira simplificada, as
vantagens são:
baixo custo, comparado com outros tratamentos;
evita proliferação de insetos e animais que transmitem doenças;
não estão sujeitos à interrupção (abastecimento contínuo de resíduos
sólidos).
E as desvantagens, de maneira simplificada, são:
perda de matéria-prima e da energia contida nos resíduos;
transporte de resíduos a longas distâncias;
desvalorização da região ao redor do aterro;
riscos de contaminação do lençol freático;
produção de chorume e gás metano (CH4);
necessidade de manutenção e vigília após o fechamento do aterro.

Reciclagem
É importante na medida em que se preservam os recursos minerais e ener-
géticos, fatores fundamentais para o desenvolvimento sustentável. A reciclagem
permite, também, o aumento da vida útil do aterro sanitário.
Entretanto, embora muitos não saibam, a reciclagem custa mais caro ao
município do que a simples disposição em aterros sanitários. Isso se deve à prática

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de coleta seletiva, necessária para eficientes processos de reciclagem. Além disso,


a reciclagem não resolve todos os problemas dos resíduos sólidos, pelo menos
atualmente, em função dos incipientes conhecimentos e técnicas de reciclagem de
vários produtos e/ou substâncias.
Essa limitação técnica pode levar a população a um estado de frustração,
quando não se consegue reciclar todos os produtos que essa mesma população
pensa serem recicláveis. Assim, programas de coleta seletiva e reciclagem tendem
a ter um ciclo de vida curto, o que é nocivo para o meio ambiente, ainda mais se
associados com a ainda baixa penetração de programas de reciclagem existentes
no Brasil – segundo o IBGE, enquanto nos Estados Unidos da América existem
cerca de 4 mil programas de coleta seletiva, no Brasil ainda não passamos dos 800
(IBGE, 2000).
Os principais materiais passíveis de reciclagem são:
papel – em seus vários tipos, com diversas exceções (papel vegetal, pa-
pel carbono, papel coberto com impermeáveis, papel sanitário usado, pa-
pel engordurado etc.);
plásticos – com uma certa dificuldade para separar os diversos tipos de
plásticos (por exemplo, o plástico de um copo é diferente de um saco
plástico), que não podem ser reciclados juntos;
vidro – nem todos os vidros são rigorosamente iguais, apesar de serem,
todos, potencialmente 100% recicláveis. Na prática isso não ocorre, por
questões econômicas. Tigelas, lâmpadas incandescentes e fluorescentes,
tubos de televisão, espelhos, entre outros, não são considerados reciclá-
veis;
metais – na prática, 100% dos metais são recicláveis, notadamente o
alumínio que, por si só, já traz um grande benefício ambiental, em função
da economia de energia que é proporcionada pela reciclagem.
Outros materiais:
entulho – na sua maioria são 100% recicláveis, na própria obra ou para
outras finalidades;
pneus – podem ser reutilizados em diversos processos, como comple-
mentação asfáltica, componentes de barreiras físicas (acostamentos de
estradas, quebra-mar, entre outros), parques infantis etc.;
pilhas/baterias – a maioria dos componentes de pilhas/baterias podem
ser reciclados; quando essa atividade não é possível (caso do mercúrio),
as pilhas/baterias devem ser dispostas em aterros industriais, especial-
mente projetados para esse fim.

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Controle ambiental de áreas verdes


Em função dos diversos tipos de poluentes gerados em áreas urbanas (gases,
resíduos sólidos etc.), a presença de vegetação adquire uma grande importância.
Basicamente, essa vegetação (árvores, arbustos etc.) tem a função de diminuir a
temperatura, fornecer oxigênio, aumentar a umidade atmosférica, entre outros fa-
tores, e também participa da composição visual, fornecendo elementos de maior
tranquilidade e beleza para o ser humano (mitigação da poluição visual).
No entanto, grande parte dessa vegetação (principalmente árvores) é plan-
tada de forma inadequada, seja pelo local do plantio, seja pela espécie escolhida.
Por exemplo, não se deve plantar árvores frutíferas em locais de vias públicas sob
pena de os frutos danificarem os carros e/ou causarem acidentes na sua queda.
Da mesma forma, nas calçadas, deve ser evitado o plantio de árvores cujas raízes
danifiquem o calçamento, tubulações etc., bem como árvores cujo porte possa
danificar a fiação existente.

Modificações ambientais
A tecnologia humana, associada a sistemas socioeconômicos atualmente
vigentes (ao menos no Ocidente), que privilegiam o consumismo e, consequente-
mente, o uso abusivo dos recursos naturais, provoca modificações profundas no
ambiente.
A recomposição pura e simples do ambiente, em uma tentativa de “volta às
origens”, é algo fantasioso; seria como se voltássemos ao “tempo das cavernas”.
O que deve ser feito é uma constante e ininterrupta educação ambiental, para que
os recursos não sejam despejados no meio ambiente e que os resíduos gerados
tenham uma destinação correta. É um processo político que deveria ser orientado
no sentido de diminuir o “consumismo”, baseando-se, num primeiro momento, na
política dos três Rs: reduzir, reaproveitar e reciclar.

Conclusão
A utilização cada vez maior de produtos industrializados, associada com o
crescente aumento populacional, além de políticas de consumismo, contribuem
para uma produção cada vez maior de resíduos sólidos, que devem ser convenien-
temente alocados. No entanto, esse problema esbarra em outro, que é a crescente
falta de espaço para a destinação dos resíduos sólidos. Cabe a cada um de nós,
associados a uma política de Educação Ambiental, poder público e organizações
não governamentais (ONGs), trabalharmos para a redução, reciclagem e reutiliza-
ção dos resíduos, para que os recursos naturais, bem como os espaços, não sejam
exauridos pela crescente produção dos resíduos sólidos.

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Avaliação de danos ambientais II

Discuta o sistema de coleta de resíduos de sua localidade e a destinação desses mesmos resíduos.

CALDERONI, Sabetai. Os Bilhões Perdidos no Lixo. São Paulo: Humanitas/FFLCH-USP, 1998.

BRAGA, Benedito et al. Introdução à Engenharia Ambiental. São Paulo: Prentice Hall, 2002.
IBGE. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico. Disponível em: <www.ibge.gov.br/home/estatisti-
ca/populacao/condicaodevida/pnsb/esgotamento_sanitario/defaultesgotamento.shtm>. Acesso em: 18
maio 2006.
JARDIM, Nilza S. (Coord.). Lixo Municipal: manual de gerenciamento integrado. São Paulo: IPT/
CEMPRE, 2001.
TENÓRIO, Jorge A. S.; ESPINOSA, Denise C. R. Controle ambiental de resíduos. In: PHILIPPI JÚ-
NIOR, Arlindo; ROMÉRO, Marcelo de A.; BRUNA, Gilda C. (Coord.). Curso de Gestão Ambiental.
São Paulo: Manole, 2004.

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Áreas degradadas
Pedro G. Fernandes da Silva

Áreas urbanas degradadas

O
constante crescimento da população humana faz com que novos espaços sejam ocupados,
principalmente o espaço denominado cidade ou área urbana. Para exemplificar, 18% do
território da Alemanha é ocupado por cidades, povoados, indústrias e sistemas rodoviários
e ferroviários. No Brasil, no caso da Grande São Paulo, a área urbanizada cresce a uma razão apro-
ximada de 2 mil hectares por ano (CAVALHEIRO, 1995, p. 114). A urbanização é um problema para
técnicos, administradores, planejadores, entre outros, e essa concentração humana (associada às ativi-
dades humanas decorrentes) provoca uma alteração no funcionamento do ambiente natural. Diversas
correntes já aceitam que soluções tecnológicas para problemas urbanos são extremamente onerosas
e que o mais lógico parece ser primeiro utilizar o que a natureza pode oferecer em relação à autor-
regeneração do ambiente (exemplo: controle de erosão em encostas), para então estudar as tecnologias
mais apropriadas e compatíveis com os problemas (CAVALHEIRO, 1995, p. 115).
Essa ocupação da área urbana é associada a uma mudança no ambiente local, ou paisagem; de
certo modo, pode-se considerar a paisagem urbana como uma paisagem alterada, derivada da natural,
porém com características próprias, a ponto de poder ser considerada como um sistema. Segundo
Monteiro (apud CAVALHEIRO, 1995, p. 115), é nessa paisagem alterada que se deve buscar, estudar,
analisar e prognosticar as degradações e impactos ambientais.

Principais alterações em paisagem urbana


Clima – pode-se falar em um “clima urbano” que, mesmo sendo regido pelas condições
mesoclimáticas, é diferenciado em microclimas em virtude da cobertura do solo e do balanço
térmico urbano (“ilha de calor”). Analise a figura para perceber que os poluentes não “saem”
da área urbana, em função das correntes de convecção, geradas pela “ilha de calor” da
mancha urbana.

O domo de poluição urbana.

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Áreas degradadas

Outras modificações meteorológicas podem ser percebidas pelo que é apre-


sentado na tabela a seguir, relativa às condições atmosféricas urbanas e de regiões
do entorno não urbanizado. Os dados são referentes a cidades europeias; no Brasil
ainda não há dados conclusivos e comparativos, sistematizados e à disposição
sobre esse tipo de problema.

(CAVALHEIRO, 1995, p. 118. Adaptado.)


Cidade, em relação a ambientes
Clima Característica naturais
Média anual 0,5 a 1,5°C mais alta
Temperatura Calmaria 2 a 6°C mais alta
Mínima inverno 1 a 2°C mais alta

Inverno 2% menor
Umidade relativa
Verão 8 a 10% menor

Média 20 a 30% menos


Vento
Calmaria 5 a 20 % mais

Gasosa 5 a 25% maior


Poluição
Partículas 10 vezes mais

Alterações ambientais climáticas em cidades, comparadas com o entorno não urbanizado.

O resultado de diversas modificações meteorológicas, em um ambiente ur-


bano, também provoca alterações na saúde humana, como pode ser observado na
tabela a seguir.

(MULLER apud
CAVALHEIRO, 1995, p. 119.
Adaptado.)
Causa mortis Habitantes (milhares)
(p/ 10 000 hab.) > 100 000 50 a 100 000 < 50 000 Zona rural
Pneumonia 47,90 39,22 35,75 31,55
Bronquite 61,56 53,82 48,77 36,94
Outras 11,19 9,71 10,60 9,66
Total 120,65 102,75 95,12 78,15

Doenças respiratórias em cidades de diversos tamanhos, na Inglaterra.

Relevo e solo – representam fatores ecofuncionais relevantes em qual-


quer ecossistema: suportam a cidade, influenciam o clima e os ciclos
hidrológicos, além de determinar a conformação urbana. A inutilização
da camada fértil do solo (topsoil) provoca pouco poder de recuperação
em áreas destinadas a ajardinamentos, paisagismo, por exemplo. A busca
por solo fértil para essas atividades provoca impactos indiretos em áreas
distantes, onde se busca esse “novo solo”.
O mau uso do solo também provoca problemas indiretos, como erosões em
encostas, com consequentes desabamentos e eventuais fatalidades.
Águas e ciclo hidrológico – em um enfoque ecológico, quanto mais va-
garoso for um curso d’água, melhor; isso se deve ao fato de haver tempo
para a produção de biomassa, que sustenta o ecossistema aquático. Dito
de outra forma, um ciclo hidrológico vagaroso permite sua adequada
absorção pelos vegetais, irrigando o solo e permitindo um constante
fluxo de água para os corpos hídricos, também permitindo a dessedenta-
ção dos animais.
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Áreas degradadas

Espera-se que ocorra o contrário nas cidades, ou seja, que um determinado


curso d’água seja rápido para que as águas cheguem com rapidez aos pontos ne-
cessários e que escoem também com velocidade, evitando acúmulos indesejáveis
(enchentes, doenças etc.). No entanto, como o poder de transporte das águas da
cidade é maior, geralmente provoca erosão intensa, levando para os corpos hí-
dricos material sólido (quanto maior a velocidade de escoamento da água, maior
a probabilidade de provocar erosão), o que provoca assoreamento desses mes-
mos corpos hídricos. Além desse fator, ocorre o carreamento dos mais variados
objetos (pneus, garrafas plásticas, sofás, entre outros), jogados nos corpos hídricos
pela população, o que leva a um potencial entupimento de canalizações. O resul-
tado será um favorecimento de inundações.
Frequentemente, as administrações municipais canalizam e/ou retificam os
cursos d’água, não se importando com o que acontece a montante (em direção
ao curso superior), e nem com o fato de estarem agravando o fenômeno da “ilha
de calor” (a presença de um curso d’água a céu aberto é também um regulador
de temperatura, pelo fornecimento de umidade e pelo fato de um corpo hídrico
absorver boa parte da radiação solar). É importante ressaltar mais uma vez que,
também nesses casos (canalização e/ou retificação), pode ocorrer bloqueio do ca-
nal pelos materiais trazidos pela corrente e que foram jogados pela população.
Entendemos como importante o seguinte fato: historicamente, as águas
sempre foram local de despejo dos dejetos humanos, e isso não é mais possível (ao
menos de uma forma direta). No entanto, o aspecto “psicológico” parece retido
na filosofia humana, no sentido de, uma vez que algo é jogado na água, ou “desa-
parece” ao fundo, ou a correnteza leva (“desaparece” da mesma forma). Assim,
psicologicamente falando, o indivíduo joga um objeto na água e, como não o vê
mais, se sente “livre”, “desobrigado” de alguma responsabilidade, uma vez que o
objeto “não está mais à vista”.
Vegetação e flora urbana – uma vegetação não apenas é influenciada
pelo ecossistema ao qual pertence, como também exerce influência sobre
o mesmo. Vários são os fatores de influência, como umidade e tempe-
ratura; além do mais, a vegetação pode influir na manutenção do solo,
diminuindo riscos de erosão.
Em área urbana, a vegetação tende a ser homogênea, com o plantio de vege-
tação exótica (que não pertence àquele ecossistema) influenciando na presença (ou
não) da fauna associada. Além disso, muitas espécies, principalmente de árvores,
são plantadas inadequadamente, interferindo em serviços como esgoto e eletrici-
dade. Nesses casos, as raízes dessas árvores podem estragar canos e/ou interferir
na fiação dos postes.
Na paisagem urbana, com a remoção da vegetação natural, deixam de exis-
tir os corredores ecológicos, dificultando e/ou impedindo a passagem de animais
de uma área a outra, necessária para a manutenção da diversidade biológica das
populações de animais.
Animais na cidade – em cidades, costuma ocorrer a diminuição da di-
versidade específica de algumas ordens (exemplo: na classe aves, ocorre
a ausência de alguns representantes da ordem piciformes, como o tu-
cano), diminuição da biodiversidade em geral e preferência de alguns
animais pela cidade (exemplo: representantes da ordem columbiforme
– pombas – têm preferência por ambientes urbanos).
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Áreas degradadas

Outras espécies são lembradas, ao nos referirmos às cidades: ratos e bara-


tas. A questão é que, em ambientes urbanos, esses animais encontram abrigo e
alimentação abundantes, o que provoca um aumento populacional, esperado em
termos biológicos. A esperada aversão a esses animais decorre do fato de habi-
tarem locais insalubres e, portanto, serem potenciais vetores de doenças para os
seres humanos.
No entanto, não podemos esquecer de que eles exercem um importante pa-
pel na cadeia alimentar, que é o de decompositores, colaborando também para a
desobstrução de diversas canalizações urbanas.

Recuperação
Em termos de legislação, a recuperação de áreas degradadas, rurais ou urba-
nas, é dada pelo Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD). O PRAD
é determinado pela NBR 13.030, que fixa as diretrizes para a elaboração e apre-
sentação de PRAD pelas atividades de mineração, segundo o artigo 1.º do Decreto
97.632/89, que regulamenta o artigo 2.º da Lei 6.938/81 e as Resoluções SMA
18/89 e 26/93.
Na verdade, o PRAD foi originalmente proposto para atividades de
“extração mineral”; no entanto, esse documento tem sido exigido por alguns
órgãos ambientais, uma vez constatados, pela fiscalização, efeitos negativos de
empreendimentos. Esse documento deve ser apresentado por ocasião do pedido
de licença prévia (LP), que contempla requisitos básicos a serem atendidos nas
fases de localização, instalação e operação de um empreendimento, observados
os planos municipais, estaduais ou federais de uso do solo.
Para cada tipo de agressão ambiental, pode existir alguma forma de miti-
gação, seja ela por meios “naturais” ou tecnológicos. Abordaremos brevemente
essas formas.
Clima – amenizar os impactos ambientais relativos ao clima envolve
metodologias “naturais” e tecnológicas. Entre as “naturais”, está um ade-
quado replantio de vegetação capaz de suportar as diferenças climáticas
inerentes ao meio urbano (calor, relativa falta de umidade, gases tóxicos
etc.), sem que haja prejuízo de construções e elementos urbanos (ca-
nalizações, fiação etc.). Preferencialmente, devem ser criados parques e
ruas arborizadas, permitindo a existência e o fluxo de diversos grupos de
animais, que podem usar essas áreas como corredores ecológicos.
Veículos e indústrias devem estar aparelhados com dispositivos capazes de
reduzir e/ou eliminar a emissão de poluentes atmosféricos.
A canalização de córregos e/ou rios deve ser evitada, bem como a grande
concentração de edifícios em uma única área, a fim de evitar e/ou diminuir o
impacto de ondas de calor sobre o ambiente urbano. Como a questão do tráfego
é sempre uma questão importante, e relacionada com a canalização de corpos
hídricos para um melhor escoamento desse tráfego, uma das melhores soluções
é o maciço investimento em transporte público de qualidade, sem gerar poluição
local, como trens e metrô.
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Relevo e solo – deve existir uma legislação de zoneamento e um efetivo


respeito a este, impedindo que moradias e/ou outros tipos de construções
sejam realizadas em encostas, áreas de mananciais etc. Isso reduziria os
riscos de desabamentos, mortes, prejuízos gerais e manteria a qualidade
e um fornecimento mínimo de água.
O poder público local deve alocar recursos e esforços políticos adequados
para a alteração e/ou minimização de riscos em áreas inadequadas. O uso de tec-
nologia, quando necessário, deve ser empregado, como por exemplo, uma obra
de engenharia social pode “consertar” uma situação que, antes, se encontrava em
total desacordo com as questões ambientais e sociais.
Águas e ciclo hidrológico – como dito nos itens anteriores, a manuten-
ção de uma cobertura vegetal, sem a canalização de corpos hídricos, e
uma adequada destinação de resíduos, colaboraria para diminuir o risco
de inundações e a poluição das águas. Esse processo é intimamente rela-
cionado com a Educação Ambiental da população urbana.
A divulgação de medidas de conservação da vegetação de mata ciliar, reci-
pientes adequados para uma destinação de resíduos sólidos, campanhas ambientais
para preservação de mananciais (evitando a ocupação clandestina dessas áreas)
estão, entre outras formas de Educação Ambiental, visando à adequada manuten-
ção do sistema urbano, sem deteriorar o ambiente natural em seu entorno.
Vegetação e flora urbana – um adequado planejamento paisagístico,
priorizando a diversidade de espécies vegetais nativas para os locais ade-
quados, contribui para a existência de fauna associada, bem como para
a manutenção da biodiversidade florística do local. Da mesma forma,
não haveria prejuízo para as instalações de infraestrutura urbana (rede de
esgoto, fiação etc.).
Algumas técnicas de revegetação podem ser utilizadas, na dependência do
local a ser recuperado, ou seja, uma área degradada. Por exemplo, em áreas de
mineração de bauxita (minério de alumínio), podem ser utilizadas as seguintes
técnicas (WILLIAMS, 1995, p. 301):
semeadura direta de sementes de espécies arbóreas e arbustivas nativas à
região e aplicadas manualmente a lanço;
plantio de mudas compradas ou cultivadas em viveiros próprios;
espalhamento manual na superfície, de tufos de serapilheira1 coletada em
mata nativa da região;
distribuição manual, na superfície do solo, de material vegetal de herbá-
ceas nativas (caules e sementes) coletado por roçadeira costal adaptada
com uma caixa para receber esse material.
No entanto, para a adequada revegetação, deve-se incluir tratos iniciais na 1 Serapilheira: camada
de folhas, galhos, orga-
área degradada; os principais são (WILLIAMS, 1995, p. 301): nismos mortos, dejetos, etc.
sobre o solo, comum em
bosques e florestas. É parte
remoldagem da topografia, empenhando-se para que o relevo retorne aos indispensável no processo
de reciclagem da matéria, em
contornos iniciais; sistemas naturais.

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Áreas degradadas

execução de obras de drenagem, com o intuito de controle dos efeitos da


erosão;
reposição do topsoil, caso o mesmo tenha sido removido antes da degra-
dação, e estocado em local adequado. É uma etapa considerada obriga-
tória, quando a degradação é executada propositadamente, como no caso
de atividade de extração mineral;
descompactação do solo (subsolagem), para facilitar a infiltração de água
e penetração das raízes das plantas;
Animais na cidade – evidentemente, não se pretende ter animais selva-
gens em áreas urbanas, principalmente se forem perigosos para a vida
humana, como serpentes ou alguns felinos (onça, por exemplo). No en-
tanto, pode ser possível a recuperação de algumas espécies no meio ur-
bano, principalmente de aves, dada a sua grande capacidade de disper-
são. Para isso, em áreas de revegetação, parques, entre outras, pode ser
privilegiado o plantio de árvores frutíferas e aquelas que possuam algum
tipo de atrativo para aves. Cabe notar que árvores frutíferas, seja pelo
seu porte (exemplo: abacateiro), seja pelo seu fruto (exemplo: jaqueira),
não devem ser plantadas em vias públicas, a fim de que não interfiram
nos serviços urbanos, como esgoto e eletricidade, nem no tráfego (frutos
grandes, como a jaca, podem causar severos acidentes no tráfego e danos
aos veículos que passam ou estacionam sob essas árvores).

Passivo ambiental
O passivo ambiental pode ser entendido como os danos causados ao meio
ambiente representando, assim, a obrigação e a responsabilidade social da empre-
sa, ou indivíduo, com os aspectos ambientais. Uma empresa (ou pessoa física) tem
passivo ambiental quando ela agride, por algum modo e/ou ação, o meio ambiente
e não dispõe de nenhum projeto para sua recuperação aprovado oficialmente ou
por sua própria decisão.
Normalmente, o surgimento dos passivos ambientais dá-se pelo uso de uma
área, lago, rio, mar ou uma série de espaços que compõem nosso meio ambiente,
inclusive o ar que respiramos, que de alguma forma está sendo prejudicada. Os
passivos ambientais ficaram amplamente conhecidos pela sua conotação mais ne-
gativa, ou seja, as empresas que o possuem agrediram significativamente o meio
ambiente e, dessa forma, são obrigados a pagar vultosas quantias a título de in-
denização de terceiros, de multas ao Estado e recuperação das áreas atingidas.
Como exemplo, podemos citar:
os gastos assumidos pela Exxon, no caso do acidente com o petroleiro
Valdez, no Alasca;
o caso da Petrobras na década de 1980, no qual a região de Cubatão, no
interior do estado de São Paulo, foi seriamente afetada pelo vazamento
de óleo, que culminou com a explosão de várias moradias;
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Áreas degradadas

além do caso anterior, em janeiro de 2000, o vazamento nas instalações


da Petrobras, que provocou o derramamento de milhares de litros de óleo
na Baía da Guanabara, causando a morte de várias espécies de aves e pei-
xes, além de afetar seriamente a vida das populações locais que viviam
da atividade pesqueira.
Tais situações exigiram enormes gastos dessas empresas e, o que é pior, gastos
imediatos, sem qualquer forma de planejamento, o que afeta drasticamente qualquer
programação de fluxo de disponibilidades, independentemente do porte da organi-
zação. Tão alto quanto os custos dos recursos físicos necessários para a reparação
dos danos provocados pelas referidas situações, ou até mais, são os gastos reque-
ridos para retratação da imagem da empresa e de seus produtos, principalmente
quando tais eventos são alvo da mídia e da atenção dos ambientalistas e ONGs.
Deve-se ressaltar que os passivos ambientais não têm origem apenas em
fatos de conotação tão negativa. Eles podem ser originários de atitudes ambiental-
mente responsáveis, como os decorrentes da manutenção do sistema de gerencia-
mento ambiental, os quais requerem pessoas (que recebem uma remuneração) para
a sua operacionalização, bem como a utilização de equipamentos especializados
para uma eventual intervenção mitigadora. Isso fica evidenciado em empresas que
certificam-se com a ISO 14000 onde, no entanto, sempre vale o ditado: “é melhor
prevenir do que remediar”. Custos de remediação são sempre mais elevados que
os da prevenção.
Uma vez detectado um passivo ambiental, quatro obrigações básicas devem
ser adotadas (KRAEMER, 2006, p. 2. Adaptado):
legais – quando a entidade tem uma obrigação presente legal como con-
sequência de um evento passado, que é o uso do meio ambiente (água,
solo, ar etc.) ou a geração de resíduos tóxicos. Essa obrigação legal surge
de um contrato, legislação ou outro instrumento de lei. Como exemplo,
uma empresa que, devido ao clima e solo propícios de certa região, tem
interesse em fazer uso de determinada área de um estado para o plantio
de florestas a serem usadas na indústria de celulose e madeira. A fim de
se instalar, a empresa assinou contrato com o estado e prefeituras das
cidades comprometendo-se a plantar mudas de plantas nativas da região,
em uma proporção de dois hectares para cada 10 hectares plantados de
florestas para exploração. Isso quer dizer que a cada oito hectares planta-
dos de florestas para exploração, a empresa cria uma obrigação legal de
acordo com os termos do contrato com o estado e com as prefeituras, que
deve ser a do plantio de dois hectares de vegetação nativa;
implícitas – é a que surge quando uma entidade, por meio de práticas do
passado, políticas divulgadas ou declarações feitas, cria uma expectativa
válida frente a terceiros e, por conta disso, assume um compromisso.
Exemplo: uma mineração próxima a uma cidade, que se vê frente a um
processo de associação de sua imagem com a redução da fauna da região,
decide ir a público anunciar que estará criando em parte de suas terras
um parque ecológico com as principais espécies da fauna local, mesmo
que ainda não tivesse estudos provando sua culpa. Nesse caso, o passivo
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Áreas degradadas

ambiental passou a existir no momento em que a empresa prontificou-se


a retificar um dano ambiental, mesmo que a existência do dano ainda não
estivesse comprovada;
construtivas – são aquelas que a empresa propõe-se a cumprir espontanea-
mente, excedendo as exigências legais. Pode ocorre quando a empresa
estiver preocupada com sua reputação na comunidade em geral, ou quan-
do está consciente de sua responsabilidade social e usa os meios para
proporcionar o bem-estar da comunidade;
justas – refletem a consciência de responsabilidade social; ou seja, a
empresa cumpre medidas de prevenção/remediação em razão de fatores
éticos e morais próprios. Exemplo: se existir um instrumento legal que
obrigue uma determinada empresa a restaurar uma área contaminada por
suas atividades, mas se tratando de fato relevante e se for de conheci-
mento público ou afetar interesses e direitos de terceiros, a empresa será
compelida a reparar o erro cometido.
O fator de passivo ambiental está se tornando tão importante, hoje em dia,
que instituições financeiras estão atentas também ao passivo ambiental das em-
presas: em países mais desenvolvidos, evita-se conceder empréstimos àquelas que
apresentam qualquer risco potencial ao meio ambiente, uma vez que isso poderá
gerar custos adicionais no capital da empresa, podendo vir a comprometer o fluxo
lucrativo da mesma.
As transações de negócios, hoje em dia, devem incluir a consideração de
fatores ambientais para avaliar o risco de transferência à luz de responsabilidades
ambientais. As leis complexas podem impor responsabilidades ambientais signi-
ficativas na aquisição de tal negócio. Dito de outra forma: um passivo ambiental
não é só de responsabilidade de quem o causou; se alguém (ou alguma instituição)
adquire uma propriedade (ou empresa) com um passivo ambiental, o adquirente
passa a ser responsável por esse passivo ambiental.
Como exemplo, podemos citar a Parmalat, do setor de alimentos, que adqui-
riu em 1998 não só a empresa Etti, como também um passivo ambiental avaliado
em cerca de US$2 milhões, provocados pela emissão irregular de resíduos nos
esgotos da cidade de Araçatuba, no interior do estado de São Paulo, pela empresa
Etti (e não pela Parmalat). Na época, estava sendo negociada com a prefeitura
local a transferência de responsabilidade pelo tratamento do esgoto, obviamente
mediante pagamento. Outro exemplo é o da Procter & Gamble, que comprou a
fábrica de sabão em pó Orniex e assumiu um problema de emissão de material
particulado (poeira) durante a produção de sabão em pó. O custo estimado para o
tratamento dos efeitos de tal emissão é de US$500 mil.

Conclusão
As diversas atividades humanas exercem profunda alteração nas áreas ocupa-
das, podendo provocar deterioração dessas mesmas áreas, com reflexos na própria
população humana. As diversas formas de alteração do solo, do clima, supressão
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Áreas degradadas

de flora e fauna etc., podem ser minimizadas através da Educação Ambiental e/


ou uso de tecnologias adequadas. Nos dias atuais, esses processos são cada vez
mais regulados pela legislação, chegando a interferir nos processos econômicos de
empresas, através do que se denomina passivo ambiental.

Verifique junto à sua comunidade se as árvores plantadas são de espécies nativas ou não; veri-
fique também se existem árvores danificando as calçadas, encanamentos e fiações.
Além disso, você pode levantar dados junto à prefeitura sobre áreas de risco de desabamento,
enchentes ou outro tipo de perigo.
Discuta esses aspectos com os colegas e procure encontrar soluções.

VARGAS, Heliana C. Gestão de áreas urbanas deterioradas. In: PHILIPPI JÚNIOR, Arlindo; ROMÉ-
RO, Marcelo de A.; BRUNA, Gilda C. (Coord.). Curso de Gestão Ambiental. São Paulo: Manole,
2004.

CAVALHEIRO, Felisberto. Urbanização e alterações ambientais. In: TAUK-TORNISIELO, Sâmia M.


Análise Ambiental: uma visão multidisciplinar. Rio Claro: UNESP, 1995.
FIGUEIREDO, Ricardo B. Engenharia Social: soluções para áreas de risco. São Paulo: Makron
Books, 1994.
KRAEMER, Maria Elisabeth P. Passivo Ambiental. Disponível em: <www.ecoterrabrasil.com.br/
home/index.php?pg=temas&cd=1243>. Acesso em: 19 maio 2006.
WILLIAMS, D. D. Semeadura direta na revegetação de áreas degradadas. In: TAUK-TORNISIELO,
Sâmia. M. et al. Análise Ambiental: estratégias e ações. Rio Claro: UNESP, 1995.

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Áreas degradadas

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Planejamento de projetos
em Educação Ambiental
Maria de Lourdes Spazziani

Conceituando planejamento,
projeto e Educação Ambiental Doutora em Psicologia

P
da Educação pela Unicamp.
ara falar em planejamento de projetos em Educação Ambiental, é necessário Mestre em Educação pela

pensar sobre os significados de planejamento, de projeto e de Educação Am-


UFRJ. Graduada em Ciências
Biológicas pela UnG.
biental, para que seja possível estabelecer as relações entre eles a partir de
experiências pessoais e profissionais. 1 O ato de planejar faz
parte da história do
ser humano, pois o desejo
de transformar sonhos em
realidade objetiva é uma
O planejamento preocupação marcante de
toda pessoa. Em nosso co-
tidiano, sempre estamos
O conceito de planejar remete a termos como planear, plano no ar, ato de enfrentando situações que
necessitam de planejamento,
projetar um trabalho, um serviço ou ação complexa. mas nem sempre as nossas
atividades diárias são deli-
Do ato de planejar1 advém o planejamento, que compreende o empreendi­ neadas em etapas concretas
da ação, uma vez que já per-
mento que se realiza por meio de determinação de objetivos e metas, coordenação tencem ao contexto de nossa

de meios e recursos e planificação de todo o processo. rotina. Entretanto, para a


realização de atividades que
não estão inseridas em nosso
É inerente ao conceito de planejamento2 a ideia de um processo que almeja cotidiano, usamos os proces-
sos racionais para alcançar o
modificar uma situação cultural estabelecida ou introduzir novos modos de lidar que desejamos. (GANDIN,
2001, p. 83).
em uma certa realidade ou contexto socioambiental.
Socioambiental é a expressão que vem sendo cada vez
mais usada e enfatiza a articulação entre as dimensões social O que entendemos
e ambiental e aponta para a impossibilidade de separação na por socioambiental?
abordagem entre ambas. Não existe social sem ambiental, nem
ambiental sem social, ambos se complementam e se interagem mutuamente.

O termo planejar, em sentido amplo, é um processo que “visa dar respostas


a um problema, estabelecendo fins e meios que apontem para sua superação, de
modo a atingir objetivos antes previstos, pensando e prevendo necessariamente
o futuro”, mas considerando as condições do presente, as experiências do pas-
sado, os aspectos contextuais e os pressupostos filosófico, cultural, econômico
e político de quem planeja e com quem se planeja. Planejar é uma atividade que
está dentro da educação, visto que esta tem como características básicas evitar 2 A palavra planejamento
também pode ser enten-
dida como o espaço de um
a improvisação, prever o futuro, estabelecer caminhos que possam nortear mais departamento, de uma em-
apropriadamente a execução da ação educativa e prever o acompanhamento e a presa ou um órgão da esfera
pública. Exemplos: setor de
avaliação da própria ação. Planejar e avaliar andam de mãos dadas (GANDIN, planejamento, Secretaria ou
Ministério do Planejamento,
2001, p. 63). entre outros.

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Planejamento de projetos em Educação Ambiental

Planejamento é o processo de busca de equilíbrio entre meios e fins, entre


recursos e objetivos, visando ao melhor funcionamento de empresas, institui-
ções, setores de trabalho, organizações, grupos e outras atividades humanas.
O ato de planejar é sempre processo de reflexão, de tomada de decisão sobre
a ação; processo de previsão de necessidades e racionalização de emprego de
meios (materiais) e recursos (humanos) disponíveis, visando a concretização de
objetivos, em prazos determinados e etapas definidas, a partir dos resultados
das avaliações (PADILHA, 2001, p. 30).

Importante não confundir planejamento com previsão, projeção, predição,


resolução de problemas ou plano.
A previsão corresponde ao esforço para verificar quais serão os eventos que
poderão ocorrer, com base no registro de uma série de probabilidades; ou melhor,
faz parte do planejamento, é uma de suas etapas, especialmente no que se refere
a custos ou prazos.
Ao nos referirmos à situação em que o futuro tende a ser igual ao passado
em sua estrutura básica, não estamos falando sobre o ato de planejar, pois planejar
não pode se limitar simplesmente em manter a estrutura atual de uma ação ou
simplesmente ampliá-la – é preciso desenvolver o ato da projeção.
Na predição encontramos situação correspondente a um futuro que tende a
ser diferente do passado, onde o grupo social não tem nenhum controle sobre seu
processo e desenvolvimento, ou seja, impede inclusive a possibilidade de poten-
cializar a ação do planejamento.
A resolução de problemas tende a ser orientada para corrigir certas descon-
tinuidades e desajustes de um processo já em execução.
E ainda, nesta reflexão, temos o plano como correspondente a um documento
formal que se constitui na consolidação das informações e atividades desenvolvidas
no processo de planejamento, como formalização escrita do planejamento, ainda
estática, mas que projeta a relação custo versus benefício.

O projeto
O projeto deve ser concebido como o plano para a realização de um ato,
desígnio ou intenção, e precisa ter uma redação provisória contendo todas as
etapas necessárias para a execução de algo.
Projeto é também um documento produto do planejamento, porque nele são
registradas as decisões mais concretas de propostas futuristas. Trata-se de uma
tendência natural e intencional do ser humano. Como o próprio nome indica, pro-
jetar é lançar para frente, dando sempre a ideia de mudança, de movimento. Pro-
jeto representa o laço entre o presente e o futuro, sendo ele a marca da passagem
do presente para o futuro.
Na opinião de Gadotti (apud VEIGA, 2001, p. 18), todo projeto supõe ruptu-
ra com o presente e promessas para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um
estado confortável para arriscar-se, atravessar um período de instabilidade e bus-
car uma estabilidade em função de promessa que cada projeto contém de estado
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Planejamento de projetos em Educação Ambiental

melhor do que o presente. Um projeto educativo pode ser tomado como promessa
frente a determinadas rupturas. As promessas tornam visíveis os campos de ação
possível, comprometendo seus atores e autores.

A Educação Ambiental
A Educação Ambiental acontece enquanto prática emancipatória, na me-
dida em que promove outras consciências na relação homem-homem e homem-
-natureza a partir dos conflitos existentes e transforma práticas consolidadas nos
contextos microssociais com ressonância nas macroestruturas, por meio de pro-
cessos formativos em todos os níveis de atuação dos sujeitos sociais escolares e
não escolares em todas as escalas sociais, com uso de recursos tradicionais de
educação, educação a distância e educação difusa.
A Educação Ambiental tem, em seus modos de realização, diretrizes que
dão a essência da sua especificidade, na medida em que promove:
a participação ativa de todos os sujeitos sociais envolvidos;
a contextualização socioambiental da modernidade;
a interdisciplinaridade nos modos de lidar com as questões emergenciais
do contexto socioambiental;
o pré-diagnóstico do contexto socioambiental focalizado (visitas, fotos,
documentos, notícias da imprensa, conversas informais etc.);
a busca das identidades e percepções dos sujeitos envolvidos no contex-
to (conversas, mapeamentos dos sujeitos locais articulados, entrevistas,
questionários, entre outros);
a formulação de objetivos prévios em função do diagnóstico e do estudo
das percepções da comunidade;
a concretização da estrutura organizacional (organização, funcionamen-
to do processo e formas de articulação com a comunidade).

Como planejar um projeto


em Educação Ambiental
O planejamento de projetos em Educação Ambiental envolve o processo
para qualificar e quantificar objetivos, metas, atividades, tempo, orçamento, re-
cursos materiais e pessoal para realizar uma ação educativa com propósitos de
transformação de consciências e práticas relativas ao espaço socioambiental.
Sua finalidade é criar um projeto que um grupo multidisciplinar, gestor do
processo, possa ter como parâmetro para acompanhar o desenvolvimento de ações
relacionadas à melhoria de aspectos relativos à promoção educacional na área do
meio ambiente.
Planejar um projeto em Educação Ambiental exige:
objetivos claros;
possibilidades de realização;
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Planejamento de projetos em Educação Ambiental

inventário das etapas e metas;


atividades por tempo, por equipamento e por equipe;
identificação dos recursos existentes e os necessários para cada atividade;
relação entre custos e benefícios;
resultados a serem obtidos;
tempo mínimo para a execução do projeto (determinar o trajeto ou meta
mais longa que recorta o projeto = caminho crítico – sombrear as tarefas
necessárias para esse caminho);
cronograma;
plano de gerência de riscos e de modificação do projeto em acordo com
as estimativas levantadas;
compromisso do grupo gestor, dos parceiros, dos apoiadores e dos inter-
venientes;
sustentabilidade do projeto, que inclui no planejamento a ideia de um
gerenciamento para acompanhar pari passu a execução e propor reelabo-
ração, sempre que necessário, do projeto, sendo revisado e reformatado
de acordo com o seu desenvolvimento;
avaliação constante do processo3.
As maiores dificuldades são a falta ou ausência de cultura
Quais as dificuldades em planejar nossas ações, a valorização do improviso e do “jei-
para o planejamento tinho brasileiro” para lidar com as adversidades, a qualificação
de projetos? de pessoal para pensar prospectivamente, poucas informações e
estudos disponíveis a respeito da situação socioambiental do ce-
nário brasileiro, e ainda a emergência de planejamento de projetos na área da edu-
cação, traduzidos nos Projetos Políticos-Pedagógicos (PPP), que toda instituição
ou grupo que pretende trabalhar na área educacional precisa elaborar e que inclui,
entre outros elementos, o currículo, a metodologia e a avaliação.
A prática de desenvolvimento do Projeto Político-Pedagógico ainda não faz
parte de nossa cultura, uma vez que estávamos acostumados a repetir o currículo
e procedimentos ditados pelos órgãos centrais, cabendo às equipes executoras o
envio dos relatórios do que foi realizado.

Características e princípios do planejamento


de projetos em Educação Ambiental
Características
As características de todo planejamento envolvem um modo de pensar. Um
salutar modo de pensar envolve indagações, questionamentos sobre o que fazer,
como, quando, quanto, por quem, para quem, por que, onde, para onde?
Em Planejamento de Projeto em Educação Ambiental (PPEA), caracterizar
3 O planejamento do pro-
jeto em Educação Am-
biental não deve ser feito
é um processo contínuo de pensamento sobre o futuro. E como todo processo edu-
cativo, o PPEA está voltado para a formação de pessoas, portanto está implícita
somente para elaborar as
ações, ele deve ser constan-
a permanência e a continuidade de pessoas e ações para atingir estados futuros
temente revisto e reformata- desejados, com propostas de transformação socioambiental.
do em acordo com o próprio
desenvolvimento.
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Planejamento de projetos em Educação Ambiental

O PPEA, como um movimento coletivo no qual deve se constituir, não pode


ser um ato de uma pessoa ou de uma instituição somente, mas deve envolver os ato-
res sociais diretamente relacionados aos propósitos do projeto, explicitar propostas
de ações viáveis para serem realizadas e avaliadas e ter um processo decisório per-
manente, em contraste com um contexto ambiental interdependente e mutável.
Tendo em vista que o ambiente socioambiental está em cons-
Planejamento de
tantes alterações, os processos decisórios para realização de ações
em Educação Ambiental têm que ser mantidos com perspectiva de projeto em Educação
médio e longo prazo, funcionando de forma não linear, marcado pe- Ambiental, um
las interações humanas e uma ação presente que tem implicações no movimento coletivo?
futuro.
No PPEA, o processo é mais importante que o produto. Trata-se de um pro-
cesso educacional que resulta em ações que gradativamente vão sendo incorpora-
das, modificando pessoas, consciências e práticas.
Projeto em EA

Coletivo das pessoas

Promove
transformações

Consciência das Ações e práticas Tecnologias e


pessoas institucionais conhecimentos

Melhoria
socioambiental

Princípios
Temos como de relevante consideração na caracterização de princípios gerais:
atingir objetivos máximos desejados;
estar na vanguarda do processo educativo;
envolver o maior número possível de pessoas, ações e instituições;
aprofundar as intervenções educacionais;
maximizar os recursos já disponíveis;
caracterizar o espaço territorial almejado.
E como princípios específicos no PPEA:
ser participativo;
ser coordenado;
ser integrado;
ser sustentável;
ser inclusivo.
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Planejamento de projetos em Educação Ambiental

Reunidos em pequenos grupos, tragam o resultado da reflexão sobre as questões a seguir.


Sabe-se que as características de todo planejamento envolvem um modo de pensar; um salutar
modo de pensar envolve indagações, questionamentos sobre o que fazer, como, quando, quanto, por
quem, para quem, por que, onde e para onde. Este é o momento para pensar o que há dentro de per-
guntas tão comuns e também tão importantes para nosso planejamento de vida:
Onde fica o lugar em que você vive?
De onde você vem?
Onde você mora?
Para onde você vai?
E agora convidamos a pensar sobre perguntas que não são exatamente iguais às perguntas que
em geral nós fazemos, como as acima, mas que dão um significado aos nossos diálogos:
O que é “aqui”?
O que é um “lugar”?
O que é o “lugar” onde se “nasce”?
O que é um “lugar” onde se “vive”?

“Nós não herdamos nossa terra de nossos antepassados. Nós apenas a tomamos emprestada aos
nossos filhos.” (Chefe de tribo indígena das Américas)

LUZZI, Daniel. Planejamento de Projetos de Educação Ambiental. Disponível em: <www.cidade.


usp.br/educar2003/?mod6/aula3b>. Acesso em: 20 maio 2006.

FERREIRA, Aurélio Buarque de H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Nova Fronteira: Rio
de Janeiro,1986.
GADOTTI, Moacir. Papel do Planejamento na Construção do Projeto Político-Pedagógico da
Escola. São Paulo: Instituto Paulo Freire, 1998.
GANDIN, Danilo. Posição do Planejamento Participativo entre as Ferramentas de Intervenção
na Realidade. Disponível em: <www.curriculosemfronteiras.org/vol1iss1articles/gandin.pdf>. Aces-
so em: 20 maio 2006.
OLIVEIRA, Djalma P. R. Planejamento Estratégico: conceitos, metodologia e práticas. São Paulo:
Atlas, 2002.
140
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Planejamento estratégico
Maria de Lourdes Spazziani

Estratégia, tática e operação


em Planejamento Ambiental

A
Educação Ambiental, discutida há poucas décadas no Brasil, vem assu-
mindo novas dimensões a cada ano, principalmente pela urgência de re-
versão do quadro de deterioração ambiental em que vivemos.
Ela tem se proposto a efetivar práticas de desenvolvimento sustentado e me-
lhor qualidade de vida para todos e aperfeiçoar sistemas de códigos que orientam
a nossa relação com o meio natural.
Trata-se de compreender e buscar novos padrões, construídos coletivamen-
te, de relação da sociedade com o meio natural.
Uma das formas de atuação tem sido envolver pessoas e instituições por
meio de ações planejadas e estrategicamente construídas, garantindo de forma
mais eficaz as mudanças necessárias para reverter a qualidade socioambiental do
mundo contemporâneo.
Fazer planejamento estratégico em educação e ges- Atuando estrategicamente
tão ambiental é olhar os conceitos de estratégia, de tática
de forma eficaz em
e de operação e aplicá-los no contexto do planejamento de
projetos em Educação Ambiental.
Educação Ambiental

Estratégia
Estratégia1 é o cálculo das relações de forças que se torna possível a partir
do momento em que um sujeito de querer e poder, num coletivo de pessoas ou
instituições, faz um recorte contextualizado de uma situação, buscando novas e
transformadoras ações.
A estratégia postula um lugar próprio, que se constitui na base de onde
podem surgir e gerir relações que se realizam em contextos exteriores aos seus
próprios contextos; estende-se além de seus atos e territórios; prevê ir além da
atuação no grupo ou no espaço físico; estabelece o lugar do poder e do querer, ou
seja, almeja potencializar as ações e forças do coletivo que representa. 1 O conceito de estratégia
remonta aos princípios
contidos em Arte da Guerra,
escrito aproximadamente no
Por meio da estratégia, é possível otimizar informações e conquistas do que século III a.C. e atribuído aos
ensinamentos de Sun Tzu.
potencialmente já existe, tanto em recursos materiais quanto humanos, incorpo- Considerado um general-filó-
sofo, ele lutou no período dos
rar no coletivo tudo o que for trazido ou produzido por indivíduos ou grupos no terríveis conflitos sociais e
culturais que abalou a China,
processo e ainda prever uma atuação que independe das variabilidades circuns- difundindo suas poderosas
tanciais. Ao agir com visão de futuro, permite expandir-se mesmo em situações mensagens de estratégia mi-
litar. Uma delas é que a meta
adversas. é a vitória sem luta.

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Planejamento estratégico

Tem visão territorial e possui discurso totalizante, articulando-se em dife-


rentes espaços físicos nos quais as forças se distribuem.

Tática
Na ação tática, empreende-se um processo desenvolvido na ausência de um
território próprio, um processo no campo do outro, ou seja, daquele que tem o
poder ou onde está o poder. Não possui meios/recursos próprios para se manter,
sendo dependente do território e dos recursos de outrem; atua em microespaços
ou territórios; não possui visão da totalidade das ações; movimenta-se em acordo
com as possibilidades ou oportunidades imprevistas e vive da criatividade e do
aproveitamento das oportunidades. É, portanto, uma ação que se adapta a mudan-
ças com facilidade.

Operação
A operação constitui-se nos procedimentos para executar uma ação e en-
volve a realização de metas e objetivos estrategicamente pensados, planejados e
projetados taticamente.
Pensar estrategicamente implica em organização (colocar ordem na desor-
dem), circunstância (desafiar com coragem o presente) e disposição (como força
para vencer os obstáculos). Esses são os três pilares básicos da estratégia, que não
se delega e se mantém no grupo gestor. Faz parte das grandes decisões assumidas
neste nível.
Tática e operação são decisões sobre o plano de ações para levar a cabo as
ideias (decisões estratégicas), que serão sempre ideias-objetivos.
Em síntese, o planejamento estratégico em projetos de Educação Ambiental
é decorrência do pensamento estratégico (estratégia), que contempla iniciativa
e determinação de um coletivo, com visão de futuro, para inferir no contexto
socioambiental por meio de ações táticas (tática) projetadas e minuciosamente
acompanhadas e avaliadas (operação).

Metodologia de planejamento
estratégico em Educação Ambiental
O início de um trabalho de planejamento estratégico compreende uma fase
de diagnóstico da compreensão dos conceitos que permeiam o grupo gestor co-
letivo. Além disso, deve ficar também evidente a importância da realização das
ações. Uma vez balizados os princípios e conceitos fundamentais das operações
pretendidas, é importante a fase de construção de cenários futuros e diagnósticos
estratégicos presentes no cenário atual.
O conceito atual é aplicado perante os cenários futuros, objetivando verifi-
car a necessidade de se promoverem ajustes nas competências que mantenham a
vantagem competitiva desejada.
142
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Planejamento estratégico

O plano estratégico em si consiste em objetivos e ações estruturados numa


base temporal para implementar estes ajustes. Além da estruturação estratégica
propriamente dita, a realização de um trabalho de planejamento estratégico pro-
duz outras consequências positivas, como:
alinhamento dos participantes da estratégia, tanto por suas opiniões durante
a fase de diagnóstico dos problemas quanto pela franqueza utilizada nas dis-
cussões da visão de cada um a respeito da situação socioambiental atual;
esforço coletivo em discutir as divergências existentes até a obtenção de
uma convergência de opinião, condição fundamental para a obtenção de
uma visão estratégica compartilhada pelo coletivo;
compreensão detalhada de como são estruturadas estrategicamente as
ações pretendidas, favorecendo a construção de um processo decisório
mais ­rápido e alinhado aos interesses do coletivo e das necessidades da
comunidade.

Metodologia aplicada ao Planejamento Estratégico (PE)


É importante a sensibilização da equipe que irá elaborar e implementar o
planejamento estratégico (PE), definindo necessidades, vantagens e o papel de
cada um, de forma a obter:
definição da missão do coletivo e objetivo geral do projeto. Por que exis-
timos? Quem somos? Qual a nossa função na sociedade?;
identificação dos fatores-chave para o sucesso. Ou seja, quais são os
principais fatores que podem influenciar o desempenho na realização do
projeto e dos quais depende o sucesso do PE;
diagnóstico estratégico socioambiental. Identificar a situação macrorre-
gional com dados estatísticos e qualitativos do território onde será desen-
volvida a ação. Vale ressaltar que estes dados não poderão ser “maquia-
dos”, “fabricados de última hora” ou “sonegados”, pois a partir dessa
coleta e posterior análise terá a base para as etapas seguintes;
diagnóstico do grupo gestor. É a avaliação real da posição do coletivo.
Nesta etapa deverão ser considerados os aspectos internos e externos
com dados consistentes e verdadeiros;
diagnóstico do coletivo, instituições públicas e privadas, associações e
pessoas da sociedade civil que farão parte interessada tanto no apoio quan-
to na execução das ações. Se for o caso, concorrentes, consumidores e
clientes e as variáveis que impactam ou poderão vir a impactar, a exemplo
da economia e da política, da legislação pertinente, ciência e tecnologia,
aspectos climáticos, cultura, demografia, ecologia, entre outras;
definição de objetivos. Nessa fase deverão ser listados os objetivos a
serem alcançados. Estes deverão ser qualitativos e quantificados, realís-
ticos e desafiadores quando se referirem em termos de participação, de
envolvimento da comunidade, de melhoria da qualidade ambiental e da
vida, dentro do período previsto do planejamento;
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Planejamento estratégico

elaboração das estratégias. Essa é a fase em que deverão ser consideradas


todas as etapas anteriores, caso contrário não haverá consonância. Visar
sempre proporcionar aos clientes mais valor que o oferecido pela concor-
rência;
planos de ação que implementem as estratégias através de instruções
claras estabelecendo-se o que, como, quando, quem será o responsável,
quanto custará e o cronograma a ser seguido;
controle frequente para conferir se as ações estão sendo executadas. Essa
é a fase em que são medidos os desempenhos, checados os orçamentos,
obtidas e analisadas as informações de cada responsável e apresentação
de medidas para correção de rumo, caso seja necessário.
A estruturação do processo de PE será eficiente, eficaz e efetiva se houver o
suporte necessário para a sua tomada de decisões.
Enfatizando: a agilidade frequente e contínua do grupo gestor, em sintonia
com as variáveis do seu ambiente, será a melhor forma de se minimizar a probabi-
lidade de que as mudanças se constituam em surpresa. A flexibilidade do processo
permitirá beneficiar-se de oportunidades, existentes ou futuras, e prevenir-se de
ameaças reais ou potenciais.

Diagnóstico ambiental
Diagnóstico estratégico ambiental
Constitui uma das etapas do planejamento ambiental, o qual permite apontar
um conjunto de dados, informações e características de um determinado local.
Também o resultado do levantamento e análise de elementos e variáveis
ambientais.
O diagnóstico estratégico ambiental pode possuir variáveis, conforme se
verifica a seguir.

Variáveis do diagnóstico ambiental


(ALVES, 2004, p. 12)

Pesquisas EIAs/ Relatórios Pesquisas


Tipos Didáticos
biotecnológicas RIMAs de UGRHIs acadêmicas

Bacia
Recortes Área costeira Mangue Floresta Lagoa
hidrográfica

Análise da Análise
Instrumentos Análise de Trabalhos de
Bases cartográficas qualidade da do
metodológicos perfil de solo campo
água clima

Órgãos de
Usinas
Iniciativas Universidade FEHIDRO Poder público fomento à
hidrelétricas
pesquisa

144
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Planejamento estratégico

E, ainda, o diagnóstico estratégico ambiental pode ser composto por duas


etapas principais, o estado geoecológico e a qualidade de vida, conforme se veri-
fica a seguir.

Etapas do diagnóstico estratégico ambiental

(ALVES, 2004, p. 14)


Diagnóstico ambiental

Estado ambiental

Estado geoecológico Qualidade de vida

Indicadores

Análise dos Análise das condições de vida da


processos ambientais população local

Diagnóstico ambiental e participação social


É na esfera local que deve ser enfatizado o processo do diagnóstico ambien- 2 O fenômeno do associa-
tivismo está relacionado
à capacidade da população
tal, pois é nessa escala que a população está mais próxima para a participação, de se mobilizar e, em um
transformação, reivindicação e resolução dos seus problemas. estágio mais avançado, de se
organizar no sentido da mi-
litância política. Sobre este
A participação social2 deve ocorrer em todos os níveis para a realização do aspecto, Demo (2001) sa-
lienta que a simples filiação
diagnóstico estratégico socioambiental, mas deve ser mais intensa na esfera do reflete uma forma que pode
município, pois este representa a esfera de poder mais próxima da população. ser vazia: muita gente filiada
jamais comparece, não milita
pelas causas da associação,
É no município que se concentram os problemas mais imediatos da popula- não se identifica ideologi-
camente com as posições
ção e que repercutem diretamente nas relações com o poder local. assumidas. Assim, a cidada-
nia assistida predomina de
Permitir o desenvolvimento local com sustentabilidade pode ser conceituado longe sobre a emancipada.
O que se pode notar é que
como um processo endógeno de mudança, que leva ao dinamismo econômico e existe uma adesão muito
grande em torno do associa-
à melhoria da qualidade de vida da população em pequenas unidades territoriais tivismo; contudo, a iniciativa
e agrupamentos humanos. Potencializa, por exemplo, a organização das associa- de adesão da mobilização se
esvai rapidamente sem haver
ções de bairros na busca do desenvolvimento local. um engajamento político, ou
simplesmente um engaja-
mento dentro do próprio gru-
O desenvolvimento local sustentável3 está baseado em três objetivos princi- po (DEMO, 2001, p. 5-8).
pais: a elevação da qualidade de vida e equidade social; a eficiência no crescimen-
to econômico; e a conservação ambiental. 3 Sustentável: adjetivo de
sustentar. Até bem pouco
tempo atrás falávamos e ou-
Envolver amplas parcelas da população no enfrentamento dos grupos mino- víamos a palavra que signi-
fica o oposto. A palavra “in-
ritários e poderosos que estão produzindo e mantendo esse quadro de degradação sustentável”. Uma situação,
um estado de coisas em nossa
socioambiental constitui-se em etapa do processo de conscientização e envolvi- vida que assim tornam-se
quando não podem ser mais
mento da população na luta por seus direitos fundamentais como cidadãos, que suportados, continuados,
ou mantidos. Com o cres-
inclui o direito à vida, à liberdade, à igualdade e ao meio ambiente sadio e equi- cimento da consciência de
librado. nossa corresponsabilidade
na orientação e condução de

Mobilização social significa o estágio mais avançado de participação popu- nossas próprias vidas – qua-
lidade de vida –, de nossos
mundos sociais – cidadania
lar, sendo este contínuo, coletivo e permanente. Ela é permeada pela participação ativa – e do meio ambiente –
de grupo voluntário, ou seja, ninguém é obrigado a participar de um projeto se educação e gestão ambiental
–, a palavra sustentável se
não possuir um objetivo intrínseco. Contudo, este pode ser incentivado de forma tornou essencial, enquanto
construção da sua prática na
convocatória na medida em que empodera seus atores para a mobilização. vida na Terra.

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Planejamento estratégico

A proposta de um modelo de comunicação para organizar, orientar e apoiar um


processo de mobilização deve estar baseada na capacidade do grupo de fornecer e
disponibilizar informações, de modo a compartilhar o acesso das ações efetivadas.
A mobilização ocorre quando um grupo de pessoas, uma comunidade ou
uma sociedade decide e age com um objetivo comum, buscando, cotidianamente,
os resultados desejados por todos. Por isso se diz que mobilizar é convocar von-
tades para atuar na busca de um propósito comum, sob uma interpretação e um
sentido também compartilhados.
Participar ou não de um processo de mobilização social é um ato de escolha.
Por isso se diz convocar, porque a participação é um ato de liberdade. As pessoas
são chamadas, mas participar ou não é uma decisão de cada uma. Essa decisão
depende essencialmente das pessoas se verem ou não como responsáveis e como
capazes de provocar e construir mudanças (TORO; WERNECK, 1997, p. 11).

Cenários ambientais
Os cenários ambientais4, consubstanciados na organização de cenários te-
máticos, têm como premissa a busca pela valorização dos recursos ambientais,
espelhados em diretrizes de desenvolvimento ambiental sustentável.
Neste trabalho, o cenário ambiental é compreendido segundo três projeções
para o futuro, variando conforme a intensificação dos impactos ambientais:
estágio avançado – cenário de degradação ambiental: apresenta-se um
cenário futuro precário, considerando que os processos atuantes continu-
4 “Cenário ambiental é
[...] a projeção de uma
situação futura para o meio
arão de maneira avançada, isto é, sem qualquer tipo de intervenção para
ambiente, tendo em vista a reverter ou minimizar o quadro de degradação ambiental. A previsão des-
solução de um problema ou
a melhora de uma condição
ses problemas dá-se frente ao uso e ocupação atual do local ou região que
presente indesejável ou in- têm ultrapassado a capacidade de suporte para o desenvolvimento das
satisfatória. Como a melhora
de uma condição ambiental potencialidades ambientais;
é um conceito que envolve
aspectos socioculturais com- estágio estabilizado – cenário de permanência de impactos ambientais:
plexos e cuja mudança vai na-
turalmente implicar em con- O cenário de impactos ambientais não progride, pois são apenas realiza-
sequências que envolverão
toda uma comunidade, ela das ações mitigadoras. Essas ações têm o objetivo de conter a evolução
é antes de tudo uma decisão
política. Assim sendo, é im-
dos impactos;
portante que na formulação
de cenários ambientais haja a estágio de recuperação – cenário de preservação e conservação ambien-
participação dos vários agen-
tes sociais envolvidos num
tal: aponta-se uma perspectiva otimista de que a situação ambiental reverta
projeto. Logo, esse método
de planejamento só é possí-
em três níveis: recuperação, preservação e conservação ambiental. Esse
vel dentro de uma sociedade cenário serve, ao mesmo tempo, para demonstrar um conjunto de propos-
democrática”. (FRANCO,
2001, p. 168). tas reais para recuperação das qualidades ambiental e de vida da região.

Na relação cultural homem-natureza, o “estar trabalhando” vale o que se faz, o que se cria e o
que se produz por meio de ações regidas por princípios de saber e por preceitos de exercícios de
trabalho.
Em pequenos grupos, refletir sobre a questão: quando é que eu estou participando?
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Planejamento estratégico

A Educação não muda o mundo.


A Educação muda as pessoas.
As pessoas mudam o mundo.
(Aqui é onde eu moro, aqui nós vivemos. Carlos Rodrigues Brandão)

A Guerra do Fogo. Filme de produção franco-canadense, dirigido por Jean-Jacques Annaud.


Nesse filme é possível observar o longo e complexo processo de socialização da natureza que foi e
segue carregado de importância para a espécie humana.
Ficha técnica: A Guerra do Fogo (La Guerre du Feu, 1981). Gênero: Aventura. Duração: 100
minutos. Origem: EUA. Estúdio: Twentieth Century Fox Film Corp. Direção: Jean-Jacques Annaud.
Roteiro: Gérard Brach. Produção: Véra Belmont, Jacques Dorfmann, Denis Héroux, John Kemeny.

ALVES, Adriana Olivia. Diagnóstico dos Impactos Ambientais Provocados pelo Processo de Ur-
banização na Microbacia do Córrego da Colônia Mineira – Presidente Prudente/SP. 2004. 128 f.
Dissertação (Mestrado em Geografia) – Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual
Paulista, Presidente Prudente, 2004.
CERTEAU, Michel. A Invenção do Cotidiano: artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 1999.
DEMO, Pedro. Cidadania Pequena: fragilidades e desafios do associativismo no Brasil. Campinas:
Autores Associados, 2001.
FRANCO, Maria de Assunção Ribeiro. Planejamento Ambiental: para a cidade sustentável. São
Paulo: Annablume/FAPESP/EDIFURB, 2001.
LEVY, Alberto R. Estratégia em Ação. São Paulo: Atlas, 1986.
OLIVEIRA, Djalma P. R. Planejamento Estratégico: conceitos, metodologia e práticas. São Paulo:
Atlas, 2002.
TORO, José B.; WERNECK, Nísia Maria D. Mobilização Social: um modo de construir a democra-
cia e a participação. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

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Planejamento estratégico

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Planejamento
Participativo (PP)
Maria de Lourdes Spazziani

Participação

D
e acordo com a etimologia da palavra, participação origina-se do latim participatio (pars + in
+ actio), que significa ter parte na ação. Para ter parte na ação é necessário ter acesso ao agir
e às decisões que orientam o agir. “Executar uma ação significa ter parte, ou seja, responsabi-
lidade sobre a ação. E só será sujeito da ação quem puder decidir sobre ela.” (BENICÁ, 1995, p. 14).
Assim, o termo participação traz como característica fundamental a proposição de atuação consciente
dos membros de uma unidade social (de um grupo, de uma equipe, de um coletivo), quando estes
reconhecem e assumem seu poder de exercer influência na dinâmica cultural da unidade social, a
partir da competência e vontade de compreender, decidir e agir em conjunto.

Construção coletiva
O ser humano necessita viver em comunidade e, nesse sentido, desenvolve um trabalho que
desperta os diferentes grupos para os seus problemas e para o desejo de encontrar a melhor forma de
resolvê-los, usando para isso os recursos que advêm de nossa humanização, ou seja, nossas competên-
cias e habilidades construídas culturalmente, tais como a percepção, a memória mediada, a abstração,
o pensamento lógico, o raciocínio dedutivo, a imaginação, entre tantas outras funções psíquicas.

Eu não sou você, você não é eu


Madalena Freire
Eu não sou você.
Você não é eu.
Mas sei muito de mim, vivendo com você.
E você, sabe muito de você, vivendo comigo?
Eu não sou você.
Você não é eu.
Mas encontrei comigo e me vi, enquanto olhava para você:
Na sua, minha insegurança;
Na sua, minha desconfiança;
Na sua, minha competição;
Na sua, minha birra infantil;
Na sua, minha firmeza;

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Planejamento Participativo (PP)

Na sua, minha impaciência;


Na sua, minha fragilidade doce.
E você, se encontrou e se viu enquanto olhava para mim?
Eu não sou você, você não é eu.
Mas somos um grupo enquanto somos capazes de, diferencialmente,
EU ser EU, vivendo com VOCÊ e VOCÊ ser VOCÊ, vivendo comigo.

O trabalho com o “outro”: o coletivo


Coletivo, no sentido de trabalhar em conjunto e de formação de grupo, re-
quer a compreensão dos processos grupais para desenvolver competências que
permitam realmente aprender com o outro e construir de forma participativa.
Programas de grupalização usam como estratégia o diálogo com o povo, le-
vando cada grupo a descobrir seu valor, suas possibilidades e dificuldades (limites)
e incentivando-o a assumir o trabalho dentro de uma perspectiva comunitária.
Para Pichon-Rivière (1991, p. 65-66),
[...] grupo é um conjunto restrito de pessoas ligadas entre si por constantes de espaços e
tempo, articuladas por sua mútua representação interna interatuando através de comple-
xos mecanismos de atribuição de papéis, que se propõe de forma explícita ou implícita
uma tarefa que constitui sua finalidade.

O que se diz explícito é justamente o observável, o concreto, mas abaixo


dele está o que é implícito. Este é constituído de medos básicos (diante de mudan-
ças, ora como alternativas transformadoras, ora como resistência à mudança).
Pichon-Rivière (1991) ainda diz que
[...] a resistência à mudança é consequência dos medos básicos que são o medo da perda
das estruturas existentes e o medo do ataque frente às novas situações, nas quais a pessoa
se sente insegura por falta de instrumentação.
Projeto de desenvolvimento local se fundamenta na construção
O grupo ou
coletiva de regras do jogo, em que os participantes se reconhecem para
o coletivo – por que além das divergências face aos interesses imediatos. As divergências
trabalhar assim? são importantes e devem ser colocadas no centro do processo possibi-
litando convergências que unam o grupo ao redor de um espaço, um
1 Orçamento participati-
vo: processo de democra-
tempo de trabalho comum. Um projeto que sobreviva à diversidade de interesses
cia direta, voluntária e uni- precisa ser construído com base em necessidades concretas em um território con-
versal, em que a população
pode discutir e decidir sobre creto que tem origem em uma história, uma identidade e formas de ação coletiva.
o orçamento e as políticas
públicas. O cidadão não só
Ou seja, configura-se como um projeto comum que, efetuado sobre um território,
encerrra sua participação no congrega uma comunidade cujas características e atores têm uma história comum,
ato de votar na escolha do
Poder Executivo e do parla- se conhecem, vivem em uma região que lhes permite conciliarem objetivos
mento, mas também decide
prioridade de gastos e con- comuns e avançar para além dos conflitos inerentes a qualquer contexto humano.
trola a gestão do governo.
Com a implantação do orça-
mento participativo, o poder
de decisão sobre os recursos
Exemplo de trabalho coletivo
públicos fica compartilhado
entre os poderes Executivo,
A partir das necessidades explícitas e implícitas, podem e devem surgir
Legislativo e a população. A
experiência mais antiga no
diversas propostas de trabalho coletivo, como orçamento participativo1, embe-
Brasil é da cidade de Porto lezamento do entorno de um espaço coletivo, entre outros. Considerando como
Alegre/RS. Fonte: <http://
portal.prefeitura.sp.gov.br>. exemplo o contexto de uma empresa, um trabalho de embelezamento pode iniciar
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Planejamento Participativo (PP)

dentro da empresa em seus canteiros e se expandir para as calçadas da empresa,


para as calçadas de escolas, centros de saúde e sociais, e outros pontos comunitá-
rios do local, onde podem acontecer outros movimentos coletivos como Agenda
212 da empresa, escola, comunidade, hortas comunitárias, coleta seletiva no bair-
ro para reciclagem3, cursos pré-profissionalizantes, bancos de sementes, viveiros,
organização de movimentos de bairros, como redes repletas de intencionalidade
socioambiental.
Com base na teoria política, há diversas formas de participação em contex-
tos de sociedades democráticas:
democracia representativa liberal – limitada a assegurar aos cidadãos a
participação no âmbito institucional das eleições, partidos e grupos de
pressão e resguardar os procedimentos de tomada de decisão dos gover-
nos eleitos frente à mobilização de massa e da ação direta de movimentos
populares, que é a “democracia de baixa intensidade” (Santos, 1999).
democracia participativa4 – fundamentada na experiência de Jayaprakash
Narayan, na década de 1970, na Índia, que promoveu a criação de gru- 2 Agenda 21: documento
assinado por mais de 170
países no Rio de Janeiro, em
1992, durante a Conferência
pos-movimento que trabalham nas bases das comunidades populares re- Mundial de Meio Ambiente
tomando a ideia base da democracia enquanto poder que emana do povo, – ECO 92, que serve de guia
para a elaboração de Agen-
onde estes grupos-movimentos das 21 com ações de governo
e de comunidades que procu-
[...] articulam a participação em termos de aumento do poder do povo através de ram o desenvolvimento sem
destruir o meio ambiente.
combates cotidianos pelos seus direitos, assim como através do aproveitamento dos Cidades, bairros, empresas,
seus esforços coletivos para desenvolver os recursos locais para proporcionar o bem- clubes e escolas também
podem fazer sua Agenda 21
-estar coletivo (SHETH apud SANTOS, 2002). local. Fonte: <www.educar.
sc.usp.br>.
Remetemos-nos à ideia de participação enquanto
A qual ideia
trabalho associado de pessoas analisando situações, deci-
dindo sobre seu encaminhamento e agindo sobre essas si- de participação 3 Quando pensamos em
reciclagem, a primeira
coisa que nos ocorre é sobre

tuações em conjunto, extrapolando a prática política local, nos remetemos? lixo. Mas não podemos per-
der de vista todos os “R” que
podemos praticar no dia a dia
o que nos remete a pensar em três níveis de participação: ordenadamente:
repensar nossos hábitos de
participação na base local – construção de capacidades e do poder das consumo;
recusar produtos que cau-
próprias populações no sentido de instituir direitos e autonomia para po- sem danos ao meio am-
bien­te ou à nossa saúde;
derem gerir seus próprios assuntos coletivamente; reduzir a geração de lixo;
reutilizar, sempre que
participação na base regional e nacional – lançamento de campanhas, possível;
reciclar, ou seja, transfor-
alianças e coligações sobre temas mais amplos, criação de redes de apoio mar em um novo produto.

mútuo e de solidariedade entre os movimentos;


participação na base global – interagir com movimentos e alianças transna-
4 “Trata-se aqui a demo-
cracia participativa como
uma política paralela de in-
tervenção social, que cria e
cionais para a promoção de políticas e movimentos democráticos. Trazer mantém novos espaços para
a tomada de decisões pelas
do meio envolvente próximo (social, econômico, cultural e ecológico) em populações nas matérias
que as populações vivem para dentro da esfera de ação e controle destas. que afetam diretamente suas
vidas. Como uma forma de
práxis, a democracia partici-
pativa é para a população um

A Pesquisa-ação-participante (PAP) processo político e social que


se destina a criar um novo
sistema de governo, múltiplo
Essa nova prática de produzir conhecimento, a Pesquisa-ação-participante e sobreposto, que funcione
através de uma participação
(PAP) é fruto da inquietação de muitos pesquisadores e demais profissionais sobre e de um controle mais direto
das populações envolvidas.”
os procedimentos tradicionais de pesquisa acadêmica que começaram a formular (SHETH, 2002, p. 128).

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Planejamento Participativo (PP)

o que se denominaria, posteriormente, “educação popular” e questionaram as for-


mas de “produzir saber” e de “educar”, reivindicando a contribuição e a criati-
O que seria a vidade dos diversos setores populares na produção do saber e na transmissão do
PAP? mesmo.
Conforme Moema Viezzer (2005, p. 281), algumas questões de fundo neces-
sitam ser discutidas quando é proposto esse tipo de pesquisa nos contextos de base
popular, como a pesquisa-ação-participante5. Ou seja, qual a real possibilidade da
pesquisa participante ser
[...] uma armadilha de imposição ao povo de uma lógica de conhecimentos que é familiar
aos pesquisadores, por ser parte do nosso “território simbólico de classe”, ao invés de ser
um instrumento a seu serviço, a partir de seu próprio modo de pensar?

Assim, essa autora retoma as ideias de Carlos Rodrigues Brandão quando


este diz que
[...] a questão fundamental não é a participação de setores populares em atividades de
produção científica de conhecimento social; é a determinação de como aqueles que podem
produzir cientificamente tal conhecimento colocam o seu trabalho participando de proje-
tos de efetivo interesse político das classes populares, para que a participação não seja um
ardil, mas um serviço. (BRANDÃO apud VIEZZER, 2005, p. 282)

Para Michel Thiollent (1999, p. 86), a “pesquisa-ação” é frequentemente


questionada sobre sua real contribuição em termos de produção de novos conhe-
cimentos. Por outro lado, ele destaca que nem todas as pesquisas ditas e consa-
gradas com abordagens científicas têm atendido a esta prerrogativa de construir
novos enfoques teóricos, mesmo em se tratando de comunidade científica.

A PAP na Educação Ambiental


Segundo Viezzer (2005, p. 283), foi no contexto da ECO 926 que os
conceitos e práticas de Educação Popular começaram a dialogar com a Educação
Ambiental. Algumas produções significativas são demonstrativas deste processo.
Uma delas é o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis
5 O conceito da PAP foi
assim sintetizado por
Orlando Fals Borda (1983):
e Responsabilidade Global, produzido participativamente durante um ano e
“Trata-se de uma metodolo- aprovado durante a Jornada Internacional de Educação Ambiental, integrante do
gia dentro de um processo
vivencial, um processo que Fórum de ONGs e Movimentos Sociais, com educadoras e educadores do mundo
inclui simultaneamente edu-
cação de adultos, pesquisa
inteiro presentes na Rio 92.
científica e ação social ou
política, e no qual se consi- A partir de 1990, inúmeras universidades começaram a absorver e aceitar os
deram como fontes de conhe-
cimento a análise crítica, o conceitos, categorias e práticas de PAP, incluindo-a no universo acadêmico como
diagnóstico de situações e a
prática cotidiana”.
possível forma de produção do conhecimento.
O ProNEA/MMA (Programa Nacional de Educação Ambiental-Ministé-
6 Conferência Mundial de
Meio Ambiente – ECO
92, realizada em 1992, no
rio do Meio Ambiente)7 dá um salto qualitativo em relação ao conceito e à prática
Rio de Janeiro, onde mais de da metodologia PAP no contexto da formação de educadores e educadoras am-
170 países se reuniram para
debater e eleger diretrizes bientais: estudo, coleta e análise de dados, prática de aprendizagem e ensino, tor-
para ações de governo e de
comunidades que procuram nam-se componentes da PAP conduzida inicialmente por um coletivo facilitador
o desenvolvimento sem des-
truir o meio ambiente. (PAP1), coletivos formadores (PAP2) de novos coletivos que se ampliam (PAP3,
PAP4), cada qual com dinâmicas diferentes de acordo com as metas a serem atin-
7 <Site: www.mma.gov.br>. gidas e o grau de envolvimento das educadoras e educadores envolvidos.

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Planejamento Participativo (PP)

Novos desafios no contexto da Educação Ambiental


A aprendizagem transformadora através da ação ambientalista nos Uma proposta
remete à revisão dos princípios e valores que podem assegurar um futuro centrada em ações
sustentável, como propõe a Carta da Terra. Os ambientalistas, incluídos transformadoras
os educadores e educadoras ambientais, perceberam que a situação atual
em que se encontra o planeta Terra deve-se à nossa alienação em relação
aos demais integrantes da natureza, às outras formas de vida com as quais
partilhamos o mundo.
A pesquisa-ação-participante nos remete à perspectiva de promover outras
e novas compreensões transformadoras em relação à construção do conhecimento
entre seres humanos. É um diálogo que se orienta ao contexto socioambiental, na
busca de estratégias de identidade social nas redes de poder local/regional e de
conhecimento em lugares que não fazem parte da vitrine do poder dominante.
Por vezes temos a impressão de haver achado novas formas de cocriar conhecimento. Mas
como imaginamos isso acontecendo entre nós – seres humanos – cocriando conhecimento
com outras formas de vida, outras espécies, árvores, rochas, rios e mares? Como estes
“outros” que compõem a comunidade de vida podem ser pesquisadores participantes?
Como dar visibilidade ao duplo aspecto da natureza, por um lado como “lócus” de pro-
dução de novo conhecimento e ao mesmo tempo participante privilegiada na criação de
novas formas de conhecimento onde as demais espécies com as quais partilhamos este
planeta podem ser parceiras menos silenciosas? (HALL apud VIEZZER, 2005, p. 286)

Métodos e instrumentos promotores da participação


Se a nossa utopia é a utopia ecológica e democrática, temos que compre-
ender a importância política da participação8. Demo (2001) inicia suas reflexões
sobre participação como conquista afirmando que o eixo político da política social
centra-se no fenômeno da participação: é por meio dela que promoção se torna
autopromoção, projeto próprio, forma de cogestão e autogestão, e possibilidade de
autossustentação. Trata-se de um processo histórico infindável, que faz da partici-
pação um processo de conquista de si mesma. Não existe participação suficiente
ou acabada. Não existe como dádiva ou como espaço preexistente. Existe somente
na medida de sua própria conquista (DEMO, 2001, p. 12-13).
Se a participação é uma conquista, significa que é um processo de desenvol-
vimento emancipatório comunitário em permanente construção.
Bordenave (1985, p. 32) dá ênfase na ideia de que participar é decidir, isto é,
intervir ativamente nas decisões para planejar, executar e avaliar ações – em nosso
caso, ações educativas ambientais. Ter então que tomar decisões é uma conquista,
e tomar decisões coletivas é uma conquista emancipatória coletiva, por considerar
esse aspecto essencial para essa metodologia de produção de conhecimentos em
Educação Ambiental.
Fomos buscar nos estudos sobre processo grupal o desenvolvimento da psi-
cossociologia como contribuição teórica. A primeira implicação desses estudos 8 Participar vem do latim
participare, que significa
nas reflexões empreendidas é a defesa radical da abordagem científica interdis- “tomar parte”. Participação
é, portanto, uma ação coleti-
ciplinar, valorizada pelos dois principais teóricos estudados. Temos também a va que sugere tomar decisões
coletivas.

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Planejamento Participativo (PP)

importância da compreensão da reunião dos indivíduos em grupos, pressuposto


da Pesquisa-ação-participativa como um processo a ser construído.
Nessa construção, é de fundamental importância a relação dos grupos com
a sociedade global a partir da consideração da dinâmica própria do grupo. Nessa
relação com a sociedade podemos identificar como ponto de partida das investi-
gações as situações sociais concretas a serem modificadas por formas coletivas de
enfrentamento das dificuldades socialmente determinadas.
Pode-se dizer que na Pesquisa-ação-participante em Educação Ambiental o
ponto de partida das investigações devem ser situações sociais concretas a serem
modificadas coletivamente.
Isso significa dizer que a Pesquisa-ação-participante em Educa-
O significado da ção Ambiental buscará sempre modificar, e até transformar, as con-
Pesquisa-ação-parti- dições socioambientais da qual se ocupa. Trata-se de um processo de
cipante em Educação investigação articulado metodologicamente de intervenção social. A
Ambiental. investigação social não pode ser realizada a partir da separação entre
o “investigador” e o “objeto” a ser estudado.
Temos aqui uma síntese dos princípios da pesquisa-ação, inclusive em sua
dimensão participativa. A pesquisa social somente tem sentido para a transforma-
ção de uma situação concreta. E para compreender essa situação, coletiva e real,
para compreendê-la e transformá-la, é indispensável que o pesquisador se torne
parte do universo pesquisado, participante das transformações a serem realizadas.
Para transformar é preciso conhecer, e somente tem sentido conhecer para trans-
formar. Esse novo paradigma metodológico da ciência também é um paradigma
que se refere à organização da sociedade.
Para que a transformação tenha significado na produção dos conhecimentos
sobre os processos educativos ambientais, é imprescindível a participação direta
do pesquisador no processo grupal, pois as transformações somente terão sentido
e significado se forem definidas pelas necessidades do próprio grupo, sujeito de
pesquisas. Dessa forma, temos como de fundamental importância a vivência de
duplos papéis, tanto para os inicialmente pesquisadores quanto para os inicial-
mente colaboradores: todos serão parceiros de pesquisa, “pesquisadores acadêmi-
cos” e “pesquisadores comunitários”.

Diagnóstico participativo
Ao se fazer o diagnóstico participativo sobre uma comunidade, o que se
está buscando é a geração de informações e conhecimentos necessários para a
identificação dos problemas e necessidades enfrentadas pelo grupo comunitário.
Num momento inicial, “o diagnóstico participativo é um processo contínuo que
gera um conhecimento que se enriquece na medida em que a realidade se trans-
forma” (GUTIÉRREZ, 1993, p. 31). Em um segundo momento, o diagnóstico par-
ticipativo objetivará as prioridades, bem como identificará os recursos (humanos
e financeiros) para sua consecução, formulando quais os objetivos das ações. O
terceiro passo é quando envolvemos os beneficiários no processo de pesquisa, pro-
porcionando a objetivação de necessidades sentidas, bem como de necessidades
reais não sentidas. O próximo passo é determinar como cada um dos problemas
será abordado.
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Planejamento Participativo (PP)

Para agir sobre uma realidade é preciso conhecê-la e, para que isso ocorra,
é preciso que nós a estudemos ao mesmo tempo em que deve ser dado ao grupo
estudado a oportunidade de conhecer suas percepções, seus valores, suas cren-
ças, bem como seus temores e aspirações para o futuro. Desta maneira, a própria
comunidade, organizadamente, poderá levantar os dados necessários para conhe-
cer sua realidade. Quando envolvemos os beneficiários no processo de pesquisa,
estamos proporcionando a objetivação de necessidades sentidas, bem como de
necessidades reais não sentidas, o que podemos identificar claramente no relato da
experiência em Tacaratu-PE pelo Programa Universidade Solidária/Xingó e Uni-
versidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Foram utilizadas a metodolo-
gia do diagnóstico participativo e organização social pelo trabalho desenvolvido
por artesãos de Caraibeiras/Tacaratu-PE.
Os conteúdos da pesquisa-ação-participante podem incluir a comunidade de
uma forma global, a estrutura socioeconômica, os componentes da cultura vivida,
os grupos organizados e as associações, as relações formais e informais entre
membros da comunidade, seus problemas, entre outros aspectos importantes para
essa comunidade.
Não há uma forma única de fazer diagnóstico participativo. Os instrumen-
tos de observação ou coleta de dados podem ser os mais variados.

Utilização do diagnóstico participativo e organização


social dos artesãos do distrito de Caraibeiras/Tacaratu-PE
(BEZERRA; SANTOS; SILVA, 2006)

Para conhecimento global da comunidade de Tacaratu-PE analisamos os dados populacionais


do IBGE de 1996. Este documento permitiu um conhecimento prévio da localidade a ser visitada e
já conferiu subsídios para proposta de intervenção. No caso de Tacaratu, em um primeiro momento
poderíamos pensar que o êxodo rural aumentou, determinando problemas como o inchaço da zona
urbana e levando ao desemprego ou subemprego e, neste caso, contribuindo para a dependência do
Poder Público para a geração de renda. Entretanto, o que constatamos foi um decréscimo (4,26%)
da população total do município, o que nos leva a crer que está havendo um fluxo migratório para
outras regiões do país, em busca de melhoria da qualidade de vida. Isso torna urgentes ações
na área social para reverter o quadro. Quando indagamos o secretário de turismo do município
(Paulo Félix) sobre o fato, o mesmo discordou e “acha que isso não acontece, sendo um engano
do IBGE”. Daí que as atividades desenvolvidas na zona urbana de Tacaratu foram, em termos de
ocupação e qualificação de mão de obra, para estimular a geração de renda e, na zona rural do mu-
nicípio, ações para geração de renda ou para organização comunitária. Antes de nos deslocarmos
para o município, a fim de fazer a viagem precursora, aplicamos um questionário, com perguntas
abertas e fechadas, que denominamos de instrumento de coleta de dados para caracterização do
perfil municipal, a fim de conhecermos as condições socioeconômicas do município, e tivemos

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a ocasião de confirmar nossa hipótese de que o poder municipal é a grande fonte de emprego da
população, onerando os gastos do município com a folha de pagamento, o que inviabiliza obras
na área social e, ainda, se expõe ao risco quanto à lei de responsabilidade fiscal. Este documento
também nos mostrou que havia destaque para indústria como fonte geradora de renda na zona
rural do município. Analisando a resposta, verificamos tratar-se de atividade de tecelagem e que
ficava situada no distrito de Caribeiras. Quando da viagem precursora ao município, pudemos ter
uma ideia da forma de trabalho, de produção e de sua organização comunitária.
Uma outra forma para obtenção de dados sobre a população foi a realização da viagem pre-
cursora ao município. Esta é uma metodologia comumente empregada pelo Unisol, na qual o
professor-coordenador viaja ao município em que a equipe vai atuar, a fim de conhecer a realidade
local. Antes de viajarmos, agendamos o período da viagem e marcamos reuniões com as autorida-
des locais. Solicitamos que fossem convidados todos os líderes e representantes da comunidade.
Durante a realização da viagem precursora é importante que procuremos captar o que, às vezes, as
autoridades procuram “guardar para si”. Assim é que, em Caraibeiras, o sistema de produção por
meio da terceirização e utilização da mão de obra doméstica. Também é um distrito de imensos
contrastes, onde há tecelões com teares manuais, na maioria velhos, para tecer as peças (redes,
bolsas, mantas, tapetes etc.). E há os empresários locais, proprietários de armazéns de linha e de
muitos teares elétricos (em média, 30 em cada armazém), os quais são suficientes para tecerem
grande número de forro das redes, bolsas, tapetes, mantas, cortinas, terceirizando o trabalho na
hora de fazer o “acabamento” das peças. Verificamos que o trabalho infantil, embora proibido
por lei, ainda era utilizado em uma pequena escala da população (“é melhor ele trabalhando em
casa do que na rua” – este é o pensamento mais comum). Tentamos contactar as lideranças dos
artesãos, mas havia um receio, pois o distrito já fora alvo de denúncias veiculadas, inclusive pela
imprensa nacional sobre o trabalho infantil. Quando do retorno à nossa universidade, continua-
mos mantendo contato com a comunidade, a fim de estabelecer a metodologia de trabalho a ser
implementada e discutir a programação das atividades. Estas foram traçadas em linhas gerais e
foram realinhadas, quando chegamos ao município, pois devemos consultar a comunidade sobre
qual sua disponibilidade para participar das atividades. Durante a execução do programa Unisol/
Xingó, tivemos a oportunidade de fazer uma pesquisa informal com os tecelões locais, e o resul-
tado é o que segue: quem realiza o trabalho de acabamento das peças são os moradores do distrito
de Caraibeiras, os quais trabalham em suas casas, usando toda a mão de obra familiar, às vezes
até a infantil, para dar conta da produção, porém recebendo uma remuneração muito baixa por
isto. O valor pago varia de acordo com a peça produzida: um punho de rede vale R$0,06 e uma
varanda de rede vale R$1,00 ou R$2,00, de acordo com a complexidade da peça, isto é, de acor-
do com o número de nós que são dados, sendo esta peça a que agrega maior valor monetário ao
produto. O cordão que prende a rede ao punho é confeccionado em longos caminhos (100 m), por
isto este é denominado de “caminho de furquia”. O metro deste cordão é comercializado a R$0,10.
A produção diária é de seis rolos de cordão. Para a confecção do “cadil” paga-se R$0,20. Alguns
tecelões comercializam as redes que eles confeccionam. Estas custam, aproximadamente, R$6,00.
Quando são de melhor qualidade, são comercializadas fora do distrito ou a turistas eventuais e
podem valer até R$15,00. Outras pessoas “amarram tapetes” e ganham R$0,15 por peça. No geral,
as condições de trabalho são extremamente prejudiciais à saúde, pois o barulho dos teares é ensur-
decedor e poucos funcionários usam equipamentos de proteção individual, ou porque “incomoda”
ou porque não os têm. O nível de conscientização e autoestima dessas pessoas é baixo. Segundo
estas pessoas, “é melhor engolir do que vomitar” – ou seja, é melhor ganhar pouco do que nada

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ganhar, pois quando não vendem na feira local, voltam “pra casa de mãos abanando sem ter o
que comer. Às vezes, eles nos pagam em linha. E quem come linha? E a venda não aceita linha
como dinheiro”. Diante do que verificamos, sentimos a imensa necessidade de desenvolver um
trabalho participativo com os tecelões, para acordá-los daquela situação de marasmo e fatalismo
(as coisas são assim porque Deus quer). Segundo Gutiérrez (1993, p. 30), a prática ensina que as
necessidades são de dois tipos: aquelas sentidas pelo grupo comunitário, que podem corresponder
a problemas reais e não reais, e aquelas necessidades não sentidas, mas reais”.

Em grupo, discuta qual o significado de trabalho coletivo, elaborando uma representação gráfi-
ca (tabela, desenho ou apresentação em texto).

No Planejamento Participativo estamos trabalhando no desenvolvimento de grupos e ações


coletivas em que cada sujeito, com sua subjetividade, possa contribuir objetivamente na reconstrução
dos espaços na empresa, na escola ou na comunidade, ou seja, no contexto em que está inserido.
Reflita sobre um trabalho com base na participação coletiva do qual você participa ou conhece.

Neste texto, a autora faz um convite à reflexão sobre uma nova prática de produzir conhecimento.
VIEZZER, Moema L. Pesquisa-ação-participante (PAP). In: FERRARO JÚNIOR, Luiz A.
(Org.). Encontros e Caminhos: formação de educadores ambientais e coletivos educadores. Disponí-
vel em: <www.ufmt.br/gpea/pub/encontros.pdf>. Acesso em: 22 maio 2006.

BENICÁ, Elli. As origens do planejamento participativo no Brasil. Revista Educação – AEC, Bra-
sília, n. 96, jul./set. 1995.
BEZERRA, Rozelia; SANTOS, Helder S.; SILVA, Neilza D. Utilização do Diagnóstico Participati-
vo e Organização Social dos Artesãos do Distrito de Caraibeiras/Tacaratu-PE: relato de experi-
ência do Programa Universidade Solidária/Xingó e UFRPE-2000. Disponível em: <www.itoi.ufrj.br/
sempe/t4-p37.htm>. Acesso em: 22 maio 2006.
BORDENAVE, Juan E. Díaz. O que É Participação. São Paulo: Brasiliense, 1985.

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Planejamento Participativo (PP)

GUTIÉRREZ, Francisco. Educação comunitária e desenvolvimento sociopolítico. In: GADOTTI,


Moacir; GUTIÉRREZ, Francisco. Educação Comunitária e Economia Popular. São Paulo: Cortez,
1993.
PICHON-RIVIÈRE, Enrique. O Processo Grupal. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
SANTOS, Boaventura de Souza. Reinventing Democracy. Coimbra: Oficina do CES, 1999.
SHETH, D. L. Micromovimentos da Índia: para uma nova política de democracia participativa. In:
SANTOS, Boaventura de Souza. Democratizar a Democracia: os caminhos da democracia partici-
pativa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
TOZONI-REIS, Marília F. de Campos; TOZONI-REIS, José R. Conhecer, Transformar e Educar:
fundamentos psicossociais para a pesquisa-ação-participativa em educação ambiental. Disponível em:
< http://siaiweb03.univali.br/geea22/arquivos/tozoni_reis_%20jose.pdf>. Acesso em: 22 maio 2006.
VIEZZER, Moema L. Pesquisa-ação-participante (PAP). In: FERRARO JÚNIOR, Luiz A. (Org.).
Encontros e Caminhos: formação de educadores ambientais e coletivos educadores. Disponível em:
<www.ufmt.br/gpea/pub/encontros.pdf>. Acesso em: 22 maio 2006.

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Planejamento de projetos de
intervenção socioambiental
Maria de Lourdes Spazziani

E
m nosso país, as demandas socioambientais locais, em coerência com o processo econômico-
-político e com o processo de ocupação dos espaços geográficos, apresentam-se com necessida-
des bastante específicas e diferenciadas, solicitando a intervenção por pessoal especializado e
preparado para lidar com os aspectos peculiares de cada região.
A situação socioambiental brasileira atual é resultado da história da degradação ambiental. Ao
“comemorarmos” os 500 anos de descoberta do país, devemos, na verdade, refletir qual o significado
desse período que, numa análise mais minuciosa, revela muito mais a dominação e a exploração da
nossa cultura, do nosso povo e de nossa natureza “natural” do que o encontro do Velho Mundo com
o Novo Mundo.
O que temos é um país jovem com todos os vícios e defeitos do Velho Mundo, com o agravante
de que grande parte da nossa população não usufrui dos avanços sociais conquistados, nesse período,
por grande parte da população dos países do Primeiro Mundo.
Desse modo, a Educação Ambiental tem sido considerada um espaço ou uma área que, ao le-
var em conta essas críticas aos modos de utilização do conhecimento, em especial o científico, para
exploração do ambiente natural e as suas consequências sobre a vida humana, deve ser reconhecida
como um dos instrumentos importantes para promover mudanças nos modos dominantes do pensa-
mento contemporâneo. Nesse sentido, deve incorporar as críticas dirigidas ao pensamento científico
moderno, tais como:
postular a posse de um conhecimento verdadeiro, real e objetivo com validade universal;
postular uma concepção mecanicista, formalista e analítica da natureza;
postular a especialização, a fragmentação do conhecimento para sua transmissão pelo ensino;
postular a supremacia da razão e do intelecto sobre todos os demais aspectos da experiência
e das capacidades humanas;
postular a hegemonia do método experimental e dedutivo.
O posicionamento crítico frente às características do Qual posicionamento adotado
pensamento da modernidade tem sido constituído como um pela Educação e Gestão Ambiental
fundamento adotado pela Educação Ambiental. se constitui num fundamento?
A Educação Ambiental, através de sua especificidade, ou seja, de sua preocupação com a situação geral (mundial)
e particular (regional, local), atende e retoma as finalidades amplas da educação. Devemos relembrar que integram
essa especificidade o atendimento de fatores que interferem nos problemas ambientais, sob aspectos econômicos,
sociais, políticos e ecológicos; a aquisição de conhecimento, de valores, de atitude, de compromisso e de habili-
dade necessários para a proteção e melhoria do meio ambiente; a criação de novos padrões de conduta orientados
para a conservação do meio ambiente e melhoria da qualidade de vida. (SPAZZIANI; CASTRO, 1998)

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Planejamento de projetos de intervenção socioambiental

Essa concepção de Educação Ambiental é resultado da consciência ecológi-


ca que foi se construindo a partir dos desastres ambientais registrados em todo o
planeta, em grande parte provocados pela utilização de tecnologias desenvolvidas
pelo avanço do conhecimento científico e pelo conhecimento de formas de pre-
venção, recuperação e conservação das condições ambientais atuais, e também
favorecidas, em grande parte, pela ciência. A consciência ecológica se impõe tanto
mais quando há a participação ativa da população na resolução dos problemas
locais. O movimento intitulado “ambientalismo” estrutura-se nas décadas de 60 e
70 através da conscientização de certos grupos da sociedade sobre a degradação
dos ambientes naturais e da utilização predatória dos recursos ainda existentes.
Vários grupos organizam-se no sentido de promover a divulgação dos abusos pra-
ticados ao meio natural e, consequentemente, à vida do planeta em todas as suas
manifestações, afetando especialmente as condições da vida humana, o que está
especialmente tratado por Sorrentino (1995, p. 52).
A especialização de profissionais para atuar na área ambiental, em especial
com o objetivo de preparar educadores e gestores ambientais, prevê a necessidade
da participação efetiva desses profissionais, no sentido de que possam, a partir
de suas vivências, atuar na prática da pesquisa, da investigação, da reflexão e da
intervenção, constituindo-se em educadores e gestores que não apenas aplicam o
saber produzido em outras instâncias acadêmicas, mas em pesquisadores-inter-
ventores, pois apresentam uma ação-transformação.
Essa ação-transformação tem embasado as propostas de Educação Ambien-
tal em que o projeto de intervenção é um ponto bastante centralizador de conver-
gência de todo o processo.

Definindo intervenção socioambiental


Como projetos de intervenção nos espaços sociais, a natureza da interven-
ção socioambiental está relacionada à pretensão de se trabalhar e interagir com
aspectos da realidade. Portanto, há a necessidade de se considerar os conheci-
mentos que circulam por áreas distintas e que devem ser integrados através de
uma abordagem dialética entre teorias e práticas sociais presentes nos contextos
específicos.
O agente promotor e idealizador do projeto de intervenção deve estar pre-
ocupado com transformações da situação enfocada, e não apenas com a sua in-
terpretação ou diagnóstico, que na verdade constituem etapas do projeto de inter-
venção.
Formas tradicionais contempladas nos projetos de investigação e de produ-
ção de conhecimento, tais como análises de contextos amplos, estudos quantita-
tivos ou análises documentais, são consideradas insuficientes para responder as
necessidades teóricas e práticas dos contextos culturais atuais.

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Planejamento de projetos de intervenção socioambiental

A emergência do novo paradigma, apontado por Boaventura de Souza San-


tos (1995, p. 93), condiciona a promoção de estratégias de intervenção social que
têm sido amplamente desenvolvidas e utilizadas pela comunidade científica, em
especial das Ciências Humanas ou Sociais, como resposta à resolução dos proble-
mas sociais emergentes.
Essas análises aqui referenciadas “aspiram à produção de um conhecimento
novo, derivado da interação entre análise de problemas sociais, estratégias para
enfrentá-los, suas aplicações e acompanhamentos de desempenho” (TASSARA,
1996, p. 56).
Os projetos de intervenção sobre o sistema social caracterizam-se principal-
mente, segundo Tassara (1996), por conter uma análise da problemática de reali-
dade e utilizar estratégias participativas no seu planejamento. A participação deve
envolver o compartilhamento de decisões entre os sujeitos envolvidos no projeto,
que perpassa a escolha do problema, os critérios, as propostas de enfrentamento
e as soluções de ação.
O projeto de intervenção socioambiental se caracteriza Quais especificidades
como uma intervenção na área social e destaca outras espe- precisam ser consideradas
cificidades que precisam ser consideradas na sua elaboração,
na elaboração de um
ou seja, precisa conter estratégias que priorizam a formação
das pessoas envolvidas; centrar-se em situações históricas e
projeto de intervenção
sociais percebidas como problemáticas; compreender as pro- socioambiental?
blemáticas e seus desdobramentos a partir da perspectiva dos
implicados no processo; reelaborar discursivamente as contingências da situação e
estabelecer as inter-relações entre as mesmas (ELLIOTT, 1988, p. 164).
O projeto de intervenção educacional precisa estar fundamentado no co-
nhecimento prático-empírico presente no mundo do homem comum ou ordiná-
rio, como apontava Certeau (1999, p. 47). Ele propõe certos princípios de atua-
ção que preveem autenticidade e compromisso do promotor e idealizador com a
problemática e seus atores: antidogmatismo, que significa restituição sistemática
demonstrando a situação de forma realística e dinâmica; sistemas de comunica-
ção eficientes e diferenciados em acordo com as necessidades locais e regionais,
prevalecendo as dinâmicas dialógicas; autoinvestigação, controle e popularização
técnica; feedback para outros interventores; articulação do conhecimento concre-
to com as teorias e explicações sobre as questões envolvidas; utilização crítica do
conhecimento científico e técnico.
A constatação de que a solução de problemas ecológico-ambientais não está
apenas na intervenção técnica, mas que envolve mudanças de comportamento dos
indivíduos, tem estimulado a utilização de projetos de intervenção educacional na
área ambiental, com maior intensidade nos últimos anos.

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Planejamento de projetos de intervenção socioambiental

As dimensões do projeto
de intervenção socioambiental
O projeto de intervenção socioambiental deve estar referenciado em quatro
dimensões: a educacional, a solução de problemas, a sustentabilidade e a produção
de conhecimentos e saberes.
A dimensão educacional, a partir de estudos na área do desenvolvimento
humano que apontam para a importância das relações sociais na forma-
ção da subjetividade, envolve uma nova perspectiva para o entendimento
do processo de aprendizado.
O ato de aprender ultrapassa as ações de memorização, a compreensão de
que ensinar é repassar conteúdos e conhecimentos técnicos, pois envolve uma
postura de que o conhecimento deve ser construído na inter-relação com o con-
texto concreto de aplicação.
Nesse sentido, o processo ensino-aprendizagem significa trabalhar os as-
pectos cognitivos, emocionais e sociais dos atores (educadores, educandos e co-
munidade) envolvidos. A formação dos sujeitos envolve um processo global e
complexo, que não é só prepará-lo para domínios de competências intelectuais,
mas também para atuar e intervir com desenvoltura no real. A participação em
um projeto prevê uma prática educativa integrada às práticas sociais, e o conhe-
cimento, ao ser construído na interface com a realidade, revigora os conceitos
teóricos, consagrando-os ou transformando-os. O mais importante é que o sujeito
do conhecimento deve ser conceituado como um participante ativo e interativo,
que vai contribuir com a sua história pessoal de vida, seus olhares, suas interpre-
tações para que o fenômeno ou os temas problematizados ganhem significações
no espaço social.
A dimensão da solução de problemas direciona para que no projeto haja
intencionalidade da resolução de uma situação real e significativa para a
comunidade diretamente interessada ou envolvida. A realização de diag-
nósticos prévios deve ser prevista na escolha ou direcionamento da ques-
tão a ser priorizada. Essa, portanto, é que vai determinar o conteúdo a ser
enfocado. Deve ter uma abordagem que considere os aspectos técnicos,
políticos e culturais da questão problematizada, devendo ser tratados de
modo abrangente e flexível e de acordo com o conhecimento prévio e a
experiência cultural dos envolvidos. É um espaço de geração de ideias,
criação, aproximação dos sujeitos com o meio, proporcionando o envol-
vimento e a participação dos diferentes setores da sociedade.
A dimensão de sustentabilidade caracteriza-se por imprimir ao projeto de
intervenção educacional na área ambiental certos aspectos que perpas-
sam desde a questão clássica da sustentabilidade econômica até as áreas
ambientais e sociais.
Na questão econômica, pode ser vislumbrada a perspectiva de que o proje-
to deve prover mecanismos, a curto ou médio prazo, para seu autofinanciamen-
to. No aspecto ambiental está contida a ideia de que o projeto atenda aos princí-
pios da conservação, recuperação e melhoria dos ambientes onde se desenvolve.

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Planejamento de projetos de intervenção socioambiental

A sustentabilidade social significa o projeto ser assumido pelo grupo social ao


qual está direcionado, que dará a continuidade e os desdobramentos necessários
para ser incorporado culturalmente pela comunidade. Deve promover a melho-
ria das suas condições sociais e o incremento da participação política. Em sín-
tese, pode-se recorrer às cinco dimensões de sustentabilidade enunciadas por
Sachs (1993, p. 21) como referência para os projetos de intervenção educacional
na área ambiental.
A dimensão de produção de conhecimentos, priorizada nos projetos de
pesquisa, é um aspecto decorrente e em constante diálogo com as outras
três dimensões, no caso do projeto de intervenção educacional.
Já há certo senso entre os pesquisadores das áreas sociais que mesmo as
pesquisas teóricas devem ser movidas, também, pelo interesse da transformação
da realidade, pois não há conhecimento neutro, desinteressado. Dessa forma, uma
nova prática necessária para a resolução de problemas socioambientais numa de-
terminada comunidade constitui o interesse para um novo conhecimento. Por isso,
nos projetos de intervenção educacional, a produção de novos conhecimentos deve
estar respondendo, ampliando ou transformando as práticas sociais e vice-versa.
A ação voltada à transformação social deve estar promovendo a produção de
conhecimentos para os participantes e para a comunicação junto a terceiros.

Procedimentos e etapas
da construção do projeto socioambiental
Sendo o objetivo central nos projetos de intervenção socioambiental a po-
tência de ação e o aprendizado de pessoas e de grupos sociais, o diagnóstico e a
solução de problemas ultrapassam a simples intervenção técnica. Há a necessi-
dade de um trabalho que envolva a participação da comunidade com estratégias
que identifiquem o problema e visualizem o projeto como um elemento de plane-
jamento que, ao longo do processo, vai sendo incrementado, ou seja, o processo
de intervenção voltado à solução do problema vai modificando os conhecimentos
que temos do próprio problema e das alternativas de solução, que vai possibilitar
o replanejar fundamentado nas experiências e conhecimentos que os participantes
vão adquirindo.
1 A especificação do lugar
mapeado deve reunir
registros, memórias de reuni-
Mapeamento ões, encontros e percepções,
fotos, recortes de jornais,
Configura-se, geralmente, numa exploração ampla do espaço ou lugar que revistas, gravações, entre
outros documentos e percep-
se pretende desenvolver o projeto. Essa etapa contribui para a seleção e defini- ções do lugar.

ção do problema; para a especificação1 do lugar onde será realizado o estudo e o


estabelecimento de contatos para a entrada em campo, bem como balizar todo o
2 Diagnóstico participati-
vo: conhecer o cenário
constitui um passo importan-
te no processo de interven-
processo. ção. É preciso saber ouvir as
pessoas, criar condições de
participação na identificação
Diagnóstico participativo 2
de quais são as questões a se-
rem trabalhadas e colaborar
para descobrir a melhor for-
Vai possibilitar o conhecimento de perto, colocar uma lente de aumento na ma de encaminhar problemas
dinâmica das relações e interações que constituem o seu dia a dia, apreendendo prioritários.

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Planejamento de projetos de intervenção socioambiental

as forças que a impulsionam ou que a retêm, identificando as estruturas de poder


e os modos de organização, analisando a dinâmica do ambiente e destacando o
papel e a atuação de cada sujeito nesse complexo interacional. Essa etapa pode
ser realizada por meio do olhar distraído ou coletivo, de entrevistas e conversas
individuais e coletivas; e de documentos ou fontes secundárias.

Intervenção
É a etapa em que se esboça a intervenção que se pretende utilizar e as for-
mas de sua realização. É importante destacar que, na elaboração da intervenção
propriamente dita, o educador e gestor ambiental deve prever inúmeros desafios
na implementação do projeto, tais como: tolerar ambiguidades; ser capaz de traba-
lhar sob sua própria responsabilidade; inspirar confiança no grupo; se preocupar
em ser aceito; ser autodisciplinado; buscar trabalhar em parcerias, fortalecendo as
redes sociais, estreitando laços e compromissos entre diferentes setores da socie-
dade, consolidando os necessários processos de transformação socioambiental.

Resultados esperados
Devem ser expressos os resultados esperados em acordo com os objetivos
propostos inicialmente no projeto. É uma projeção do que se pretende obter ao
realizar tal projeto, que não impede que no decorrer do trabalho de campo ocorra
uma revisão ou retomada do problema ou objetivo do projeto. Devem ser previstas
inclusive transformações que serão aceitas pelo educador.

Avaliação/Feedback
O entendimento de que o projeto é uma ação socioambiental intencional a
ser realizada em contexto tal como uma empresa, uma escola, uma comunidade,
fica implícito no decorrer do processo, e para tanto há a necessidade de frequentes
avaliações. Essas devem oferecer uma retroalimentação ao processo, inferindo
mudanças no seu desenvolvimento.

Em pequenos grupos, fazer um registro gráfico em uma grande folha de papel da área que está
sendo utilizada para a atividade presencial neste momento, para que possa ser feita uma discussão co-
letiva sobre sua melhor gestão – conservação e utilização, resultando em um registro final e coletivo
das questões comunitárias mais significativas a serem trabalhadas.

Registrar permanentemente as ações durante o processo é uma ação tão importante quanto as
demais, pois ajuda a manter a história viva do mesmo, fazendo com que todos enxerguem o processo
na sua extensão e a própria trajetória individual, alimentando todo o processo de intervenção.

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O registro, avaliação e comunicação de resultados contribuem para o esforço do trabalho em-


preendido no processo de intervenção socioambiental, fortalecendo-o e permitindo ampliá-lo. São
momentos especiais que ficam marcados e alimentam o desejo de consolidar novas etapas.

Neste livro, os autores mostram formas de buscar uma vivência intensa e prazerosa de cada
momento desenvolvido em atividades repletas de intencionalidade socioambiental.
DOURADO, Paulo; MILET, Maria Eugênia. Manual de Criatividades. Salvador: EGBA, 1998.

CERTEAU, Michel de. A Invenção do Cotidiano: artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 1999.
DOURADO, Paulo; MILET, Maria Eugênia. Manual de Criatividades. Salvador: EGBA, 1998.
ELLIOTT, John. Recolocando a pesquisa-ação em seu lugar original e próprio. In: GERALDI, Co-
rinta M. G.; FIORENTINI, Dario; PEREIRA, Elisabete M. de A. (Org.). Cartografias do Trabalho
Docente. Campinas: Mercado de Letras/Associação de Leitura do Brasil, 1998.
FERREIRA, Aurélio Buarque de H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1986.
JAPIASSÚ, Hilton. O Mito da Neutralidade Científica. Rio de Janeiro: Imago, 1975.
SACHS, I. Estratégias de Transição para o Século XXI: desenvolvimento e meio ambiente. São
Paulo: Stúdio Nobel Fundação para o desenvolvimento administrativo, 1993.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela Mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. São
Paulo: Cortez, 1995.
SORRENTINO, Marcos. Educação Ambiental e Universidade: um estudo de caso. São Paulo, 1995.
Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo.
SPAZZIANI, Maria L.; CASTRO, Ronaldo. Piaget e Vygotsky: uma contribuição para a educação
ambiental. In: NOAL, Fernando; REIGOTA, Marcos; BARCELOS, Valdo H. L. (Org.). Tendências
da Educação Ambiental no Brasil. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 1998.
TASSARA, Eda Terezinha O. Intervenção Social e Conhecimento Científico: questões de método
na pesquisa social contemporânea. In: SIMPÓSIO DE PESQUISA E INTERCÂMBIO CIENTÍFICO
DA ANPEPP, 6. 1996, Teresópolis.

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Ambientalização institucional
Maria de Lourdes Spazziani

O Martim-pescador do Rio Xerém


(LOPES, 2006)
O nosso Martim vivia
nas barrancas do Xerém.
Pescava o dia inteirinho,
a cuidar de sua cria,
que o esperava lá no ninho.
Eram tempos de fartura,
com peixes de qualidade.
Ele acordava com o dia...
Quando o sol ganhava altura,
um cesto bom ele enchia.
De certa feita, porém,
após fazer uns mergulhos,
Martim notou algo estranho
nas correntes do Xerém.
“– Que água turva que apanho!...”
Mergulhava e nada via...
Nem mesmo sombra de peixe!...
Tudo era escuro demais!
Foi assim, dia após dia...
“– Peixe que é bom, nunca mais!”
O rio bem poluído!...
A mortandade dos peixes!
Martim ficou bem tristonho...
Tudo estaria perdido?
Chegara ao fim um bom sonho?
Eram peixões e peixinhos
descendo o rio, boiando...
E Martim falou com brio:
“ – Que vale o choro?!... Sozinho,
não mudo a água do rio!...”
Seguindo o rio, a montante,
Martim-pescador descobre
a razão de seu sofrer:
uma usina, a todo instante,
faz descargas a valer.

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Ambientalização institucional

Dela saem poluentes


que tombam num ribeirão...
E conclui, com desconforto:
“– Contaminam afluentes...
O Xerém tem peixe morto!”
Ante um crime tão patente,
decide ir à usina.
Mostra o samburá vazio,
ao falar com o presidente:
“– Não há mais peixe no rio!...”.
Adeus à poluição!
A usina instalou os filtros.
E Martim, com seu menino,
volta a pescar de montão
num Xerém bem cristalino!

Um conceito de ambientalização
O relacionamento da humanidade com a natureza, que teve início com um
mínimo de interferência nos ecossistemas, tem hoje culminado numa forte pres-
são exercida sobre os recursos naturais. Atualmente, são comuns a contaminação
dos cursos de água, a poluição atmosférica, a devastação das florestas, a caça in-
discriminada e a redução ou mesmo destruição dos habitats faunísticos1, além de
muitas outras formas de agressão ao ecossistema2 e ao meio ambiente.
Dentro deste contexto, é clara a necessidade de mudar o comportamento do
homem em relação à natureza, no sentido de promover não só desenvolvimento
sustentável, mas a construção de sociedades sustentáveis.
O desenvolvimento sustentável é um processo que assegura uma
O que é gestão responsável dos recursos do planeta de forma a preservar os
desenvolvimento interesses das gerações futuras e, ao mesmo tempo, atender às necessi-
sustentável? dades das gerações atuais.
Assim, “ambientalização” traz a ideia de que as ações humanas, em qual-
quer prática social desenvolvida por pessoas e instituições, devem considerar as
1 Cada espécie vive em
um espaço geográfico,
um lugar característico,
consequências ao ambiente natural e construído, ou seja, avaliar o impacto am-
com fatores que condicio- biental e minimizar os efeitos negativos que possam sofrer como consequência
nam um ecossistema, o seu
habitat, onde pode conviver dos empreendimentos econômicos, sociais, políticos, de entretenimento, entre
com outras espécies (http://
pt.wikipedia.org/wiki/Ha-
tantos outros.
bitat).

2 Ecossistema (do grego


oykos, casa) designa o
conjunto formado por todos
os organismos vivos que
habitam numa determinada
Ambientalização e princípios
área, pelas condições am-
bientais dessa área e pelas
relações entre as diversas
da responsabilidade social
populações e entre estas e
o meio (http://pt.wikipedia.
O engajamento ambiental do setor produtivo deu-se em 1976, com o movi-
org/wiki/Ecossistema). mento surgido nos EUA sob a crise da confiança nos negócios americanos. Suas
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Ambientalização institucional

concepções básicas foram construídas na Conferência de Estocolmo, em 1972, e


teve como marco histórico a Conferência das Nações Unidas para o Meio Am-
biente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, em 1992, também conhecida como
ECO 92 (SILVA; MARTINS; BODMER, 2006, p. 1).
As políticas ambientais foram desenvolvidas pelas corporações transnacio-
nais como resposta às críticas que vinham recebendo. A percepção do público
sobre as externalidades negativas da economia e a formulação da legislação am-
biental a partir de problemas ambientais são duas razões-chave para entender por
que o meio ambiente se tornou importante tema das corporações, resultando na
necessidade das companhias em se adequar às preocupações ambientalistas para
serem percebidas como “verdes”. Autores como Elkington (apud SILVA; MAR-
TINS; BODMER, 2006, p. 1) tratam das interações entre meio ambiente, socieda-
de e economia como zonas de atrito que produzem oportunidades e desafios para
as organizações.
Para os autores acima citados, essa nova forma de gestão institucional tem
sido denominada cidadania corporativa ou responsabilidade social corporativa,
porque relaciona a instituição com a sociedade civil e o Estado para contribuir
para o desenvolvimento da sociedade por meio de ações destinadas a suprimir ou
atenuar suas principais carências (SILVA; MARTINS; BODMER, 2006, p. 1).
A responsabilidade social corporativa representa o compromisso contínuo
da instituição com seu comportamento ético e com o desenvolvimento econômi-
co, promovendo ao mesmo tempo a melhoria da qualidade de vida de sua força de
trabalho e de suas famílias, da comunidade local e da sociedade como um todo.
Segundo Ethos (apud SILVA; MARTINS; BODMER, 2006, p. 2) a primeira de-
finição, cidadania corporativa, aproxima-se da filantropia, porque trata de ação
social externa da empresa, com foco na comunidade, enquanto que responsabi-
lidade social corporativa foca a missão da instituição e incorpora as demandas
sociais do seu entorno local-global.
Para Silva, Martins e Bodmer (2006, p. 2), há ineficácia do Estado em as-
sumir o seu papel quando a sociedade civil organizada (o chamado “terceiro se-
tor”) identifica e reformula graves problemas. Isto tem levado muitas instituições
ao estabelecimento de importantes estratégias, assumindo responsabilidades que
não faziam parte de suas preocupações, implantando ações e programas sociais
que têm prestado um serviço relevante para determinados grupos e programas
ambientais, evitando a degradação ambiental e a extinção de recursos naturais.
Praticamente todas as principais corporações mundiais já internalizaram progra-
mas com enfoque ambiental, seja como forma de racionalização da produção ou
sob pressão do mercado mundial.
Segundo Neto e Froes (2001, p. 41), no Brasil o processo de engajamento da
sociedade começou em 1981, com a criação do Instituto Brasileiro de Análises So-
ciais e Econômicas (Ibase), que foi responsável pelo fortalecimento da sociedade
civil, desenvolvimento da sociedade cidadã e difusão de valores de democracia e
justiça. Era centrado na ação voluntária de indivíduos dedicados a causas públicas
e na organização da sociedade civil e procurava democratizar a informação sobre
economia, política e situação social do Brasil para grupos populares.
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Ambientalização institucional

A partir dos anos 90, mudanças sociais e econômicas, como a abertura da


economia, a privatização das empresas estatais, crises políticas e econômicas e o
fortalecimento da sociedade civil deram início ao processo de fortalecimento da
participação de ONGs (organizações não governamentais) e empresas privadas
como os novos agentes sociais da era da globalização, que seriam os responsáveis
por propiciar os equipamentos sociais que o Estado não teve como distribuir de
acordo com políticas de bem-estar social.
Aspectos ambientais das instituições
O comportamento que as instituições passam a expressar, a partir da incor-
poração das premissas socioambientais advindas dos protocolos e documentos
elaborados nas conferências sobre meio ambiente e desenvolvimento humano, in-
cluem:
inserção geográfica – envolvimento nas esferas e contextos que atuam
no planejamento e desenvolvimento das cidades e/ou regiões, na distri-
buição espacial da população e das atividades econômicas do município
e do território sob sua área de influência, de modo a evitar e corrigir as
distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio
ambiente;
inserção social – parceira e corresponsabilidade pelo desenvolvimento
local, regional e social pois, conforme a Constituição Brasileira, “a pro-
priedade atenderá a sua função social” onde incidirem interesses da cole-
tividade e do meio ambiente sobre a propriedade/empresa;
inserção política – diálogo com grupos de interesse. Processo em que a
comunidade direta ou indiretamente envolvida é ouvida e as informações
são compartilhadas, a ponto de se construir um relacionamento necessá-
rio para evitar futuros conflitos;
inserção administrativa – gestão democrática por meio da participação
da população e de associações representativas dos vários segmentos da
comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos,
programas e projetos de desenvolvimento urbano;
inserção econômica – produção de bens e serviços que tragam qualidade
de vida, respeito à capacidade de sustentação da Terra e redução de im-
pactos ambientais e consumo de recursos;
inserção ambiental – adoção de padrões de produção, de consumo de
bens e serviços e de expansão urbana compatíveis com os limites da sus-
tentabilidade ambiental, social e econômica do município e do território
sob sua área de influência. E, ainda, compatibilização entre produção e
meio ambiente, respeitando os limites de capacidade ambiental.
A ideia da ambientalização institucional, segundo Silva, Martins e Bodmer,
(2006, p. 6), em meio às orientações da Constituição Federal e dos movimentos
ambientalistas, embute objetivos de sustentabilidade econômica, social e ambien-
tal. Tanto as reflexões a respeito do desenvolvimento das cidades quanto a respeito

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da atuação das diferentes instituições do setor de serviços ou setores produtivos


inserem-se na tentativa de equilibrar as necessidades humanas e naturais que po-
dem levar a um contrato natural, isto é, ampliando o contrato social que inaugura
a vida moderna ao incorporar o pacto entre História (ou sociedade) e Natureza,
como aponta Serres (1991, p. 24).
Assim temos que
[...] os instrumentos jurídicos, referentes aos aspectos ambientais das instituições, já foram
desenvolvidos e, progressivamente, a sociedade, através dos empresários e do terceiro
setor, vem se posicionado ativamente no trato das questões sociais e ambientais. O desafio
atual é mudar o modelo de produção urbana que se realiza na exploração dos recursos
ambientais com benefícios financeiros, quase que exclusivos, não se atentando aos graves
problemas de habitação, infraestrutura e serviços e saturando sistemas de transporte e
poluição ambiental, entre outros. Essa situação tem sido alertada desde a publicação, em
1972, do relatório Limites para o crescimento, porque não há recursos ambientais suficien-
tes para manter o mesmo padrão capitalista de qualidade de vida a todas as formas de vida
atuais, tendo como referência o consumo individual intenso e sem responsabilidade social
de uma parte dos humanos. (SILVA; MARTINS; BODMER, 2006, p. 8)

Processo de caracterização da ambientalização


No Brasil, desde 1988, com a atual Constituição, as questões social e am-
biental estão vinculadas, uma vez que a Constituição contempla em diversos ca-
pítulos o instituto função social da propriedade. Em 2001, o Estatuto da Cidade
regulamentou diversos institutos jurídicos necessários à boa gestão urbana à luz
desse instituto constitucional e de sustentabilidade.
Notadamente, a adoção do instrumento legal não significa necessariamente
a sua aplicação, mas, sem dúvida alguma, a regulamentação do Estatuto da Cida-
de é um importante ponto de partida para a discussão e revisão dos atuais padrões
de crescimento e expansão urbana, ou seja, a função social da cidade.
A reflexão sobre as especificidades do Estatuto da Cidade para atender ao
princípio constitucional da função social da propriedade enfoca as mesmas ques-
tões abordadas pela responsabilidade social empresarial, que são a sustentabilida-
de econômica, social e ambiental.
As instituições de serviços ou de produção e a cidade são igualmente unida-
des produtivas, porém cada uma com objetivos diferentes de lucro e com escalas
de abrangência distintas. Enquanto as instituições atendem a objetivos específicos
de sua área de atuação e materializam-se individualmente no espaço urbano a
partir de uma lógica ou política local que maximize suas ações, a cidade tem o
dever de atender a sociedade e se caracteriza pelo conjunto de unidades produtivas
e de reprodução social materializados no espaço, porém a partir de uma lógica
distributiva, com diminuição das desigualdades socioespaciais. A sociedade atri-
bui responsabilidades às instituições de serviço e do setor produtivo e seria im-
pensável que a urbana não incorporasse esses mesmos valores. O que se percebe
é que as principais estratégias corporativas que agregam valor assemelham-se a
diretrizes do Estatuto da Cidade, discutidas desde os anos 60.

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Diagnóstico da ambientalização
Essa etapa envolve a caracterização da organização ou instituição, depen-
dendo da sua missão e dos objetivos a serem alcançados.
Estratégias genéricas, comuns a todas as organizações que fazem parte do
mesmo setor econômico, podem subsidiar a definição das estratégias específicas
(decisões de nível estratégico) e que, em seu conjunto, tornam cada instituição sin-
gular. As estratégias genéricas agregam-se às estratégias específicas, que formam
o processo decisório da organização. Essas estratégias específicas dependem do
estilo de gestão do principal líder ou grupo gestor da organização e das crenças,
valores e cultura vigentes no âmbito da organização.
O processo decisório compõe-se das decisões necessárias à operacionaliza-
ção das atividades empresariais (cadeia de agregação de valores/cadeia produtiva
da organização).
As decisões estratégicas estabelecem as regras de decisão para a camada
de decisões operacionais que, por sua vez, retroalimentam a camada decisória de
nível superior (estratégica) com dados dos eventos ocorridos em seu nível opera-
cional.
Assim, para implementar estratégias ambientais e sociais, é feita uma abor-
dagem global dos elementos do modelo de gestão proposto, tais como:
fazer diagnóstico geral da organização;
subsidiar o processo e planejamento estratégico;
criar métricas e indicadores para monitoramento das decisões estratégi-
cas e operacionais;
estabelecer um processo de medição de desempenho e avaliação das
ações propostas (objetivos fins);
auxiliar na formulação de planejamento dos recursos de tecnologias da
informação a serem implementados, a exemplo do plano diretor de infor-
mática;
criar referencial para implementação de um sistema de avaliação de de-
sempenho e de mérito, para fins de remuneração estratégica do pessoal
da organização.

Projeto de ambientalização da instituição


As ações de intervenção em um projeto de ambientalização da instituição
vão se estabelecer em diversos contextos:
conceitual – concepções, valores, atitudes e práticas individuais e coleti-
vas que gerem uma ação transformadora no meio sociocultural e natural;
pedagógico – possibilitar mudanças e aberturas para dialogar com as dife-
renças de ideias e posições filosóficas/metafísicas/epistemológicas numa
permanente postura de reflexão crítica sobre os processos de formação;

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contextualização local-global-local – promoção de novas relações intra e


interinstitucionais e o contexto externo;
construção de um ambiente de trabalho diversificado – possibilitar a
emergência das diferenças e idiossincrasias e garantir a participação efe-
tiva dos sujeitos tanto no campo intelectual quanto emocional;
formação contínua – fornecer suporte integral (material, estrutural, pe-
dagógico, psicológico) para a formação de habilidades, construção de
conhecimentos e produção de diferentes formas de expressão (arte, reli-
gião, filosofia, política);
reflexão crítica: articular espaços para a expressão das ideias dos sujeitos
envolvidos na instituição para garantir a sua efetiva participação e envol-
vimento nos objetivos da organização;
promoção de cenários alternativos – reflexão e compromisso com a cons-
trução de novas visões de ciência, sociedade, tecnologia e ambiente na pers-
pectiva de uma participação responsável com as gerações atuais e futuras.

Desenvolvimento econômico versus


desenvolvimento socioambiental
(PINHEIRO, 2003)

Como vimos, a antiga ideia de que existe uma barreira intransponível entre o chamado pro-
gresso econômico e o desenvolvimento socioambiental não mais se sustenta. Aliás, as evidentes
distorções de natureza socioambiental, principalmente as causadas pelas atividades produtivas
geradoras de poluição, têm exigido uma mudança de postura por parte de governos e empresários,
em nível mundial. Por isso, é cada vez mais inaceitável a concepção segundo a qual as medidas
voltadas para a conservação ambiental e para a inclusão social devam se subordinar às atividades
econômicas. Mas ainda são grandes as dificuldades para se adotar efetivamente os fundamentos
do desenvolvimento sustentável, mesmo com a crescente difusão do conhecimento sobre as van-
tagens que ele proporciona.
E a empresa, em face de sua importância nas relações mercadológicas, é também um ele-
mento fundamental nas políticas de preservação ambiental e de promoção social. Especialmente
no que se refere às organizações do setor industrial, que utilizam com mais intensidade recursos
naturais e energéticos, além de ocuparem um papel destacado na oferta de trabalho.
A noção de cidadania corporativa, como observamos, trata do conjunto de relações que deve
ser mantido, e incentivado, entre as empresas mercantis e a sociedade.
Em suma, uma corporação cidadã é aquela que procura assegurar sua existência no mercado
em que atua, com base no respeito ao direito das pessoas e das organizações a uma vida ecologica-
mente saudável e socialmente justa, o que certamente resulta em boa reputação para sua marca e seus
produtos. Tornar-se uma corporação cidadã, provavelmente, será a meta principal das organizações
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Ambientalização institucional

neste início do século XXI. E, como se analisou, é de suma importância a responsabilidade da em-
presa mercantil quanto ao aspecto socioambiental, uma vez que a organização empresarial continua a
ocupar um lugar privilegiado no sistema capitalista, mesmo em face das mudanças nele ocorridas.
O modelo de gestão socioambiental, idealizado por Takeshy Tachizawa e aqui sintetizado,
a exemplo de outros modelos de gestão ambiental e de responsabilidade social, é uma ferramenta
que visa possibilitar à empresa que o adota um desempenho condizente com a nova visão de estra-
tégia corporativa comprometida com a preservação da natureza e com a inclusão social. Nele es-
tão presentes ideias e recomendações práticas para que as organizações mercantis desenvolvam ou
aperfeiçoem estratégias que tenham como objetivo conseguir ou manter a condição de, ao mesmo
tempo, ser um empreendimento economicamente lucrativo, socialmente justo e ecologicamente
sustentável. Enfim, a implementação de um modelo de gestão ambiental pode ser um fator signifi-
cativo para que as empresas consigam vencer o desafio da sustentabilidade socioambiental.
Evidentemente, vale enfatizar, nenhum modelo de gestão traz em si soluções milagrosas para
os problemas empresariais. Contudo, a adoção de um modelo estratégico que busque contrabalançar,
equitativamente, as dimensões econômica, ambiental e social, pode ser considerada um passo decisi-
vo para que as empresas enfrentem, com sucesso, os desafios deste início de milênio. Compreender a
questão socioambiental e buscar estratégias para enfrentá-la parece-nos, portanto, improrrogável.

Cidadania corporativa
(PINHEIRO, 2003)

A cidadania corporativa, segundo Malcolm McIntosh e outros (2001), diz respeito ao re-
lacionamento entre empresas e sociedade, incluindo-se aí tanto a comunidade local, na qual a
empresa está inserida, quanto a comunidade mundial que abrange todas as empresas, por meio
de seus produtos, sua cadeia de suprimentos, sua rede de revendedores e sua publicidade. Esses
autores buscam adaptar o conceito histórico de cidadania, compreendendo os direitos e responsa-
bilidades individuais ao conceito de empresa, por considerar que esta, mesmo sendo constituída
de várias pessoas, age como indivíduo.
Malcolm McIntosh e outros assinalam que, histórica e culturalmente, as sociedades ociden-
tais tendem a identificar mais direitos corporativos do que responsabilidades. Mas acreditam que
esta situação está mudando, surgindo a figura da empresa cidadã.
Evidentemente, muitos aspectos deste novo modelo empresarial são complexos, a exemplo
dos dilemas referentes ao envolvimento corporativo em questões de direitos humanos, em alguns
países em desenvolvimento.
Independente dessa constatação, é evidente a preocupação sobre como as empresas obtêm
e sustentam seus lucros. Em outras palavras, a concepção da ideia de cidadania corporativa leva
em conta a dimensão ética, sem desconsiderar a dimensão prática com a qual se vinculam as ati-
vidades de negócios.
Um aspecto relevante da ideia de cidadania corporativa consiste na importância que é con-
ferida por seus defensores ao papel dos interessados (stakeholders), com os quais a empresa deve
manter estreitos relacionamentos, para alcançar melhoria no desempenho. Entendem que o enga-
jamento dos interessados em diálogos e consultas pode ser uma forma eficaz de encontrar cami-
nhos para a sobrevivência numa sociedade tradicionalmente fragmentada e injusta na distribuição
da riqueza.

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Ambientalização institucional

E, não custa sublinhar, que um dos dramáticos desafios que a maioria das corporações
mercantis enfrenta, neste início de terceiro milênio, é o de aumentar a produção para atender às
crescentes demandas do mercado globalizado e, simultaneamente, atender às determinações da
regulação e princípios da sustentabilidade socioambiental.
Portanto, conhecer e adotar novos modelos de gestão ecológica e ambiental pode ser muito
valioso para as corporações mercantis que desejam desenvolver estratégias competitivas que man-
tenham a harmonia entre os fatores econômico, social e ambiental.

Eu, você, tu, ele, nós... quem conhece um, dois, mais rios Xerém?
Em pequenos grupos, elejam uma situação do próprio cotidiano do grupo, que envolva a relação
homem, ambiente natural e ambiente construído como foi enfatizado no texto “O Martin-pescador do
Rio Xerém”, e apontem o posicionamento do grupo diante do fato.

Consulte o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da Universidade Federal de São Car-


los e identifique os diferentes aspectos necessários para implementar a ambientalização institucional.
Acesse o site: <www.ufscar.br>.

DEMAJOROVIC, Jacques. Sociedade de Risco e Responsabilidade Socioambiental: perspectivas


para a educação corporativa. São Paulo: Senac, 2003.
FREITAS, D.; OLIVEIRA, H. T. Diagnóstico dos aspectos ambientais na organização administrativa
e acadêmica da Universidade Federal de São Carlos (São Carlos, Brasil). In: ARBAT, E.
GELI, A. M. Ambientalización Curricular de los Estudios Superiores. 1. Aspectos ambientales de
las Universidades. Girona: Universitat de Girona-Red ACES. Diversitas n. 32, p. 89-108, 2002.
HAWKEN, Paul; LOVINS, Amory; LOVINS, L. Hunter. Capitalismo Natural: criando a próxima
revolução industrial. São Paulo: Cultrix, 2000.
JACOBI, Pedro. Apresentação. In: DEMAJOROVIC, Jacques. Sociedade de Risco e Responsabili-
dade Socioambiental: perspectivas para a educação corporativa. São Paulo: Senac, 2003.
LOPES, Wagner Marques. O Martim-Pescador do Rio Xerém. Disponível em: <www.ambientebra-
sil.com.br/composer.php3?base=./educação/index.php3&conteudo=./>. Acesso em: 10 jun. 2006.
PINHEIRO, José Moura. Cidadania corporativa: um modelo de gestão socioambiental. Conjuntura
e Planejamento, Salvador, n. 115, p. 29-33, dez. 2003.
SILVA, Simone; MARTINS, Jorge; BODMER, Milena. Responsabilidade Socioambiental para
Empreendimentos Urbanos. Disponível em: <www.soltec.poli.ufrj.br/pdf/Artigo09.pdf>. Acesso
em: 23 jan. 2006.
175
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Ambientalização institucional

176
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Enraizamento da
Educação Ambiental
em diferentes contextos I
Maria de Lourdes Spazziani

A
Educação Ambiental surge como fruto da negação sobre as relações e interdependências dos
seres com o meio, construídas pelo pensamento científico, religioso, filosófico e senso comum
do Ocidente. Essa negação é condição básica para o fortalecimento das ações e propostas que
emergem no desenvolvimento da modernidade.
A Educação Ambiental ganha conteúdo com a Primeira Conferência Intergovernamental so-
bre Educação Ambiental, realizada em Tbilisi, na antiga URSS, em 1977. Inicialmente foi compre-
endida como um ramo da Educação que dissemina conhecimentos sobre o ambiente para a preser-
vação e utilização sustentável dos seus recursos. No entanto, com base alicerçada nos parâmetros
de sobrevivência e continuidade da espécie humana, a Educação Ambiental circula e se alarga por
diferentes fontes do conhecimento humano (SPAZZIANI; SARDINHA, 2006).
Há um movimento constante e avassalador sobre o ambiente natural para estabelecimento dos
modos de vida que marcam a nossa cultura. Embora não uniforme e não linear, os diferentes modos
de ocupação política ou econômica são realizados pela dominação sobre outros seres humanos e sobre
as demais espécies e elementos da natureza.
No início da década de 1960, os problemas ambientais já mostravam a irracionalidade do mo-
delo econômico, mas ainda não se falava em Educação Ambiental. Somente em 1965, quando ocorre
a Conferência de Educação da Universidade de Keele, na Inglaterra, surge a expressão Educação
Ambiental. Na Carta de Belgrado (1975) à Educação Ambiental é destinada a missão de investigar
as raízes e decorrências das ações humanas nos ambientes naturais e construídos, a fim de promover
novas percepções, conhecimentos e habilidades para atuarem nas diferentes áreas disciplinares. Cabe
destacar que à Educação Ambiental foi proposta a necessidade de reconhecer o valor do saber prévio
dos sujeitos envolvidos.
Assim, temos que a área da Educação Ambiental vem se consolidando com a necessidade de
ampliar-se e enraizar-se nos diferentes contextos, institucionais ou não.

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Enraizamento da Educação Ambiental em diferentes contextos I

A fábula da ecologia e do tracajá


(PIZZATTO, 2006)
Navegando em uma remota região de um país que sonhava crescer, a Ecologia sentia o drama
de viver a destruição de imensas florestas tropicais, pela fúria do fogo e a incapacidade humana.
Seguindo há vários dias entre rios, paranás e igarapés, a fauna e flora local, somando-se à tran-
quilidade de águas negras e límpidas, como a própria expressão da vida natural, a Ecologia tinha
certeza que suas verdades seriam inquestionáveis pela simples razão de existirem.
Ao parar no fim de mais um dia, em um tranquilo braço de rio, brilhando ainda sob a última
luz do sol poente, a Ecologia resolveu ir até uma pequena casa que se avistava ao longe, a primeira
vista em muitos dias.
Desembarcando, observou as paredes de toros encostados, cobertos pela palha característica
da região, e chegou próxima ao jovem morador, que preparava sua primeira refeição do dia, após o
árduo trabalho entre seringueiras e castanheiras.
Observando melhor a panela de barro do jantar, viu que o jovem preparava um tracajá, tartaru-
ga típica do local e que se encontrava em perigo de extinção pelo seu abate indiscriminado.
Indignada, mas sábia, a Ecologia perguntou ao jovem:
– Você sabe o que está comendo?
– Sim, um tracajá.
Tentando encontrar um melhor caminho para resolver a questão, a Ecologia falou:
– Olhe, o tracajá é um animal protegido, inclusive o governo gasta muito dinheiro para criar e
conservar a espécie. Além disso, a lei determina que você pode ser preso por crime.
Mas, pela lógica de que o processo deve evoluir, completou:
– Não vou lhe prender. Prefiro que você seja educado e entenda que se você comer este tracajá
no futuro, seus filhos não vão mais ver tracajás nos rios.
E o jovem, confuso, respondeu:
– Mas, eu não entendo, se eu não comer o tracajá eu não vou ter filhos!
Moral
Para implantar uma consciência conservacionista que possui um caráter desenvolvido, em
uma região que no mínimo é socialmente e economicamente carente, torna-se necessário primeiro
superar a distância entre essas realidades. O homem com fome não pode pensar no amanhã.

Projetos da esfera pública – contexto nacional


As esferas dos governos federais, estaduais e municipais, por meio dos setores da Educação e do
Meio Ambiente são os que têm sistematicamente promovido a inserção da Educação Ambiental nos
diversos espaços sociais do território nacional brasileiro.
Essas ações tem consistido em:
promover o enraizamento da EA em todo o país e setores da sociedade;
contribuir para a potencialização dos distintos atores do campo da Educação Ambiental;
promover a articulação entre os diferentes setores governamentais com os movimentos so-
ciais organizados, tais como: as Comissões Interinstitucionais de Educação Ambiental (CIE-
As), as Redes de Educação Ambiental, as organizações não governamentais (ONGs), as
empresas públicas e privadas de serviços e do setor produtivo, entre outros parceiros nos
estados e municípios.
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Enraizamento da Educação Ambiental em diferentes contextos I

Órgão gestor na esfera federal


O Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental é composto
pela Diretoria de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente (DEA/
MMA) e pela Coordenação Geral de Educação Ambiental do Ministério da Edu-
cação (COEA/MEC). É o órgão responsável pela gestão da Política Nacional de
Educação Ambiental (PNEA).
No Primeiro Encontro Governamental Nacional sobre Políticas Públicas de
Educação Ambiental, realizado na cidade de Goiânia de 13 a 15 de abril de 2004,
o Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental propôs novas ações
para o processo de incentivo e enraizamento da Educação Ambiental nos 27 esta-
dos brasileiros.
Essas proposições têm como objetivos articular, fortalecer e enraizar a Edu-
cação Ambiental para um Brasil de todos e prevê o agendamento de uma série de
reuniões em todas as unidades federativas do país e Distrito Federal. Essas ações
primeiras pretendem estabelecer diálogos com os educadores para o enraizamento
da Educação Ambiental no Brasil.
É importante destacar a implementação da PNEA1, estabelecida pela Lei
9795/99 (que está reproduzida no texto complementar, ao final desta aula), no
âmbito do governo federal.
Para a promoção de diálogo entre os educadores ambientais de cada estado
e a construção da autonomia regional, o Órgão Gestor da Política Nacional de
Educação Ambiental tem disponibilizado e aperfeiçoado a Sala Virtual, abrigado
no Sistema Brasileiro de Informação sobre Educação Ambiental (Sibea)2. Esta sala
pode ser um instrumento e pode auxiliar no processo de consolidação das Redes
de Educação Ambiental.

Programa Nacional
de Educação Ambiental (ProNEA)
O Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental elabora em
2003 o Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA). 
Sintonizado com o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sus- 1 A Lei 9.795/99 estabelece
os princípios e os objeti-
tentáveis e Responsabilidade Global, esse documento apresenta um panorama vos da Educação Ambiental,
regulamenta e formaliza a
histórico da Educação Ambiental no país, as diretrizes ministeriais, os princípios sua inclusão em todos os ní-
veis de ensino, permeando
orientadores, os objetivos, os públicos e as linhas de ação do ProNEA. todas as disciplinas e em to-
dos os setores da sociedade.
Visando a proporcionar a oportunidade de participação dos educadores am-
bientais na formulação dos rumos do ProNEA, foi criada uma estratégia de plane- 2 Sistema integrador das
informações de Educação
Ambiental em todo o país,
jamento incremental, permitindo revisitá-lo com frequência. uma das ferramentas utiliza-
das pelo Órgão Gestor da Po-
Nesse sentido, a DEA/MMA e a COEA/MEC propuseram aos educadores lítica Nacional de Educação
Ambiental, desenvolvido em
ambientais participar do processo de discussão do ProNEA, visando ao seu apri- parceria entre governo e so-
ciedade, para estimular a am-
moramento coletivo por intermédio do documento Consulta Pública do ProNEA, pliação e o aprofundamento
realizada durante os meses de agosto e setembro de 2004 em todas as unidades da Educação Ambiental em
todos os municípios e setores
federativas do país. do país.

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Enraizamento da Educação Ambiental em diferentes contextos I

Política Estadual de Educação Ambiental


Na esfera estadual, as CIEAs são compostas por instituições dos estados e
municípios para atuar em ações e implementações da política estadual de Edu-
cação Ambiental, e implementadas em vários estados. A exemplo do Governo
Federal, com a criação de Órgão Gestor constituído pelos Ministérios de Educa-
ção e Meio Ambiente, as CIEAs também são constituídas como espaço de ações
conjuntas e complementares em Educação Ambiental.
Com a constituição das Comissões Interinstitucionais Estaduais de Educa-
ção Ambiental propõe-se discutir modos de gestão democrática para orientar as
atividades e os vínculos institucionais relacionados às secretarias de Educação e/
ou Meio Ambiente, ou ainda aos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente (Con-
sema) e/ou Conselhos de Educação (Consed). Como consequência da proposta de
criação das CIEAs, surgem expectativas relacionadas à elaboração e execução de
políticas e programas estaduais de Educação Ambiental.

Decreto 4.281, de 25 de junho de 2002


(BRASIL, 2006)
Regulamenta a Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, que institui a Política Nacional de Educação
Ambiental, e dá outras providências.
Artigo 2.º – Fica criado o Órgão Gestor, nos termos do artigo 14 da Lei 9.795, de 27 de abril de
1999, responsável pela coordenação da Política Nacional de Educação Ambiental, que será dirigido
pelos Ministros de Estado do Meio Ambiente e da Educação.
§1.º – Aos dirigentes caberá indicar seus respectivos representantes responsáveis pelas questões de
Educação Ambiental em cada Ministério.
§2.º – As Secretarias Executivas dos Ministérios do Meio Ambiente e da Educação proverão o suporte
técnico e administrativo necessários ao desempenho das atribuições do Órgão Gestor.
§3.º – Cabe aos dirigentes a decisão, direção e coordenação das atividades do Órgão Gestor, consul-
tando, quando necessário, o Comitê Assessor, na forma do artigo 4.º deste Decreto.
Artigo 3.º – Compete ao Órgão Gestor:
I – avaliar e intermediar, se for o caso, programas e projetos da área de Educação Ambiental,
inclusive supervisionando a recepção e emprego dos recursos públicos e privados aplicados em
atividades dessa área;
II – observar as deliberações do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) e do Conselho
Nacional de Educação (CNE);
III – apoiar o processo de implementação e avaliação da Política Nacional de Educação Ambiental
em todos os níveis, delegando competências quando necessário;
IV – sistematizar e divulgar as diretrizes nacionais definidas, garantindo o processo participativo;

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Enraizamento da Educação Ambiental em diferentes contextos I

V – estimular e promover parcerias entre instituições públicas e privadas, com ou sem fins
lucrativos, objetivando o desenvolvimento de práticas educativas voltadas à sensibilização da cole-
tividade sobre questões ambientais;
VI – promover o levantamento de programas e projetos desenvolvidos na área de Educação
Ambiental e o intercâmbio de informações;
VII – indicar critérios e metodologias qualitativas e quantitativas para a avaliação de progra-
mas e projetos de Educação Ambiental;
VIII – estimular o desenvolvimento de instrumentos e metodologias visando ao acompanha-
mento e avaliação de projetos de Educação Ambiental;
IX – levantar, sistematizar e divulgar as fontes de financiamento disponíveis no país e no ex-
terior para a realização de programas e projetos de Educação Ambiental;
X – definir critérios considerando, inclusive, indicadores de sustentabilidade, para o apoio
institucional e alocação de recursos a projetos da área não formal;
XI – assegurar que sejam contemplados como objetivos do acompanhamento e avaliação das
iniciativas em Educação Ambiental:
a) a orientação e consolidação de projetos;
b) o incentivo e multiplicação dos projetos bem-sucedidos;
c) a compatibilização com os objetivos da Política Nacional de Educação Ambiental.
Artigo 4.º – Fica criado o Comitê Assessor com o objetivo de assessorar o Órgão Gestor, inte-
grado por um representante dos seguintes órgãos, entidades ou setores:
I – setor educacional-ambiental, indicado pelas Comissões Estaduais Interinstitucionais de
Educação Ambiental;
II – setor produtivo patronal, indicado pelas Confederações Nacionais da Indústria, do Comér-
cio e da Agricultura, garantida a alternância;
III – setor produtivo laboral, indicado pelas Centrais Sindicais, garantida a alternância;
IV – Organizações não governamentais que desenvolvam ações em Educação Ambiental, in-
dicado pela Associação Brasileira de Organizações não governamentais (Abong);
V – Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB);
VI – municípios, indicados pela Associação Nacional dos Municípios e Meio Ambiente (Anam-
ma);
VII – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC);
VIII – Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), indicado pela Câmara Técnica de
Educação Ambiental, excluindo-se os já representados neste Comitê;
IX – Conselho Nacional de Educação (CNE);
X – União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime);
XI – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama);
XII – da Associação Brasileira de Imprensa (ABI);
XIII – da Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Estado de Meio Ambiente
(Abema).
§1.º – A participação dos representantes no Comitê Assessor não enseja qualquer tipo de remu-
neração, sendo considerada serviço de relevante interesse público.
§2.º – O Órgão Gestor poderá solicitar assessoria de órgãos, instituições e pessoas de notório
saber, na área de sua competência, em assuntos que necessitem de conhecimento específico.

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Enraizamento da Educação Ambiental em diferentes contextos I

A consulta pública do ProNEA


(MMA, 2006)
Em sintonia com as diretrizes da descentralização institucional, da participação e do controle
social, o Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental realizará a consulta pública do
ProNEA preferencialmente junto à esfera pública da Educação Ambiental no âmbito estadual.
Para isso, contará com as Comissões Interinstitucionais Estaduais de Educação Ambiental
(CIEAs), com as Redes de Educação Ambiental, e com o Comitê Assessor do Órgão Gestor da
Política Nacional de Educação Ambiental para promover a convocação de todos interessados em
discutir os rumos da Educação Ambiental no país.
As CIEAs são espaços colegiados instituídos pelo poder público estadual que se configuram
como a esfera pública da Educação Ambiental no âmbito estadual, e devem constituir-se como um
amplo e democrático fórum de interlocução e articulação institucional. São destinadas a constituir-
-se numa instância de coordenação das atividades de Educação Ambiental no âmbito do Estado,
e são compostas por representantes de instituições governamentais e não governamentais, das es-
feras federal, estaduais e municipais, do setor ambiental e educacional, do setor empresarial e dos
trabalhadores, podendo incluir ainda um grupo de trabalho composto por representantes das Co-
missões Organizadoras da Conferência Infanto-juvenil pelo Meio Ambiente e do Conselho Jovem.
Elas devem se pautar pela Política e pelo Programa Nacional de Educação Ambiental, para elaborar
em seu respectivo estado a Política e o Programa Estadual de Educação Ambiental, de forma de-
mocrática e participativa.
No contexto da iniciativa do “Enraizamento da Educação Ambiental no Brasil”, onde o Ór-
gão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental se articula aos esforços para a construção
ou fortalecimento da esfera pública do planejamento e gestão da Educação Ambiental no âmbito
estadual, a realização da consulta pública do ProNEA, em parceria preferencial com as CIEAs, se
constitui em uma oportunidade estratégica de se potencializar a atuação desse colegiado em fun-
ção da desejável reflexão acerca da formulação e execução das políticas e programas estaduais de
Educação Ambiental, articulada e integrada ao programa nacional.
Enquanto espaços institucionais que representam a esfera pública estadual relativa às ativi-
dades em Educação Ambiental, as CIEAs poderão ganhar ampla visibilidade entre os educadores
ambientais que, por intermédio da realização da consulta pública do ProNEA, terão a oportunidade
de entrar em contato, conhecer e interagir com as instâncias de articulação e interlocução acerca da
gestão e planejamento da Educação Ambiental no estado, tendo suas ações, membros e instituições
mais bem divulgados.
Nos estados que ainda não possuem CIEAs ou comissões pró-CIEAs, a articulação para a
consulta nacional poderá ser efetuada por intermédio das Redes de Educação Ambiental ou outra
instância organizada, com o apoio da DEA/MMA e COEA/MEC, estruturando um comitê organi-
zador responsável pela condução dos trabalhos.

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Enraizamento da Educação Ambiental em diferentes contextos I

Individualmente ou em pequenos grupos, fazer levantamento junto às Secretarias e Órgãos


Municipais das cidades onde residem sobre propostas relativas a políticas e programas municipais
relacionados à Educação Ambiental.

Consulta ao Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA). Documento em Consulta


Nacional, Brasília-2003. Disponível no site: <www.mma.gov.br/port/sdi/ea/pronea_consulta/index_
data/palco.htm>.
Veja a apresentação sobre o Enraizamento da Educação Ambiental no Brasil que está disponível
no site: <www.fboms.org.br/doc/APRESENTACAO_ENRAIZAMENTO160604.pps#1>.

BRASIL. Decreto 4.281, de 25 de junho de 2002. Regulamenta a Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, que
institui a Política Nacional de Educação Ambiental, e dá outras providências. Disponível em: <www.
planetaverde.org/modules/legisla/index.php?id=106>. Acesso em: 12 jun. 2006.
MMA. A Consulta Pública do ProNEA. Disponível em: <www.mma.gov.br/port/sdi/ea/pronea_con-
sulta/index_data/palco.htm>. Acesso em: 12 jun. 2006.
PIZZATTO, Luciano. A Fábula de Ecologia e do Tracajá. Disponível em: <www.ambientebra-
sil.com.br/composer.php3?base=./educacao/index.php3&conteudo=./educacao/textos/fabula.html>.
Acesso em: 15 jun. 2006.

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Enraizamento da Educação Ambiental em diferentes contextos I

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Enraizamento da
Educação Ambiental em
diferentes contextos II
Maria de Lourdes Spazziani

Conferências, congressos e similares


Significativa ação para o enraizamento da Educação Ambiental no cenário
brasileiro tem sido a realização de eventos de abrangência local, regional, nacional
e internacional, em todo o território brasileiro.
Podemos indicar o Primeiro Seminário Nacional sobre Universidade e Meio
Ambiente, em 1986, como um dos eventos que pretendem envolver toda a co-
munidade acadêmica brasileira em torno da questão ambiental. Mas o Primeiro
Encontro Nacional sobre Educação Ambiental no Ensino Formal, promovido pelo
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Iba-
ma) e pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), realizado na
cidade de Recife, acontece em 1989.
Assim, é possível dizer que na década de 1990 expande-se uma série de
eventos que assume a Educação Ambiental como tema central.
Paralelo à Conferência Intergovernamental Rio-92 acontece, sob a coorde-
nação do Ministério da Educação (MEC), a produção da Carta Brasileira para a
Educação Ambiental (que está reproduzida no texto complementar do final desta
aula). Esse documento destaca a Educação Ambiental como uma das ferramentas
fundamentais para que as questões ambientais sejam colocadas no centro de toda
e qualquer área de atuação e de conhecimento nas sociedades atuais. Aponta, ain-
da, a necessidade do envolvimento efetivo dos setores governamentais em todas as
esferas (federal, estadual e municipal) a fim de atender à legislação brasileira, que
prevê o desenvolvimento da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino.
Recentemente, é importante destacar a realização dos Fóruns de Educação
Ambiental, que, no ano de 2004, em sua quinta edição, publica o Compromisso
de Goiânia1. Nesse evento acontece o 1.º Encontro Governamental Nacional sobre
Políticas Públicas de Educação Ambiental, que discute as diretrizes necessárias
para o planejamento e desenvolvimento de ações democráticas e articuladas em
Educação Ambiental. Nesse encontro, representantes de inúmeras secretarias de 1 O Compromisso de Goi-
ânia. Fonte: <www.mec.
educação e de meio ambiente assumem uma série de proposições comuns para gov.br/se/educacaoambien-
tal/pdf/compromisso1.pdf>.
implementar essas ações em seus estados e regiões.

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Enraizamento da Educação Ambiental em diferentes contextos II

Os movimentos sociais
Os diferentes movimentos que representam a sociedade civil atual têm se
envolvido e participado ativamente das propostas que tratam da Educação Am-
biental. Ou seja, a sociedade civil organizada tem se mobilizado nos diferentes
espaços de atuação da Educação Ambiental, seja escolar ou não escolar.
A elaboração do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentá-
veis e Responsabilidade Global pode ser considerada a expressão da participação
dos movimentos sociais representativos da sociedade planetária.
Esse documento tem se constituído na referência para o trabalho de Educa-
ção Ambiental nos programas e ações dos educadores nos diversos países. Esta-
belecido em 1992, no Fórum Global durante a realização da Rio-92, explicita o
compromisso da sociedade civil para a construção de um modelo mais humano
e harmônico de desenvolvimento, em que se reconhecem os direitos humanos da
terceira geração, a perspectiva de gênero, o direito e a importância das diferenças
e o direito à vida, baseados em uma ética biocêntrica e no amor.
Esse documento é objeto de discussão em todos os movimentos sociais que
atuam em Educação Ambiental, e a sua reformulação é prevista com vistas a
integrar os novos horizontes dos cenários atuais. Essa discussão ocorreu, no ano
de 2006, no V Congresso Ibero-americano de Educação Ambiental, na cidade de
Joinville, Santa Catarina.

Redes de Educação Ambiental


Uma rede é um padrão organizacional que prima pela flexibilidade e pelo
dinamismo de sua estrutura; pela democracia e descentralização na tomada de
decisão; pelo alto grau de autonomia de seus membros; pela horizontalidade das
relações entre os seus elementos. Portanto, há um potencial muito grande de a rede
ser utilizada como forma ou estrutura de organização capaz de reunir pessoas e
instituições em torno de objetivos comuns, com a descentralização do poder, dife-
rentemente dos tipos tradicionais de organização social.
Leia o artigo de Cássio Martinho sobre as Redes de Educação Ambiental:

Redes e desenvolvimento local


(MARTINHO, 2006)

O Brasil, muito recentemente, tem descoberto a potencialidade da rede


como forma ou estrutura de organização capaz de reunir pessoas e instituições
em torno de objetivos comuns. A rede é um padrão organizacional que prima
pela flexibilidade e pelo dinamismo de sua estrutura; pela democracia e des-
centralização na tomada de decisão; pelo alto grau de autonomia de seus mem-
bros; pela horizontalidade das relações entre os seus elementos. Ao contrário
dos tipos tradicionais de organização social (cujo organograma é sempre uma

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Enraizamento da Educação Ambiental em diferentes contextos II

variação da forma da pirâmide), nos quais o poder está sempre concentrado em


apenas um ou em alguns poucos pontos, a rede opera por meio de um processo
de radical desconcentração de poder. “A morfologia da rede [...] é uma fonte de
drástica reorganização das relações de poder”, afirma Manuel Castells.
A situação do poder na rede talvez seja o seu principal caráter distin-
tivo em relação aos demais modelos de organização. A rede é um conjunto
dinâmico de elementos por definição já empoderados e que mantêm entre si
relações isonômicas. Todos partilham o mesmo grau de poder e é isso o que
confere natureza de rede à rede. Ou seja, só existe rede com o poder diluído.
Esse conceito (da diluição do poder, das responsabilidades ou das operações
estratégicas) está na origem da Arpanet, a rede criada pelo Departamento de
Defesa dos Estados Unidos para impedir a destruição do sistema de comuni-
cação do país em caso de conflito nuclear e que resultou na internet tal como
hoje a conhecemos. O princípio era o de distribuir numa miríade de pontos a
capacidade de ação do sistema de maneira a manter perene ou ampliar essa
capacidade de ação.
A compreensão desse aspecto torna mais clara a ideia do que vem a ser um
padrão horizontal de organização e ajuda a separar aquilo que é rede daquilo
que mais não é do que pirâmide disfarçada. Muito do que hoje chamamos de
rede (como as cadeias de lojas, unidades fabris, emissoras de TV) não passa
de sistemas hierárquicos verticais de base estendida, uma vez que há um con-
trole central de onde emanam as regras a que os demais elementos devem se
sujeitar. A autonomia dos nós desse tipo de “rede” é restrita aos limites estabe-
lecidos pelo controle central. Se é verdade que a capilaridade e a extensividade
dessa arquitetura organizacional aumenta a capacidade de ação da estrutura,
é também certo que, isolado o comando central, o “cérebro” do sistema, tal
capacidade esvai-se de um só golpe. Tal estrutura pode ser tentacular, mas não
é rede. Onde há concentração de poder não há rede.
O binômio desconcentração de poder/rede tem implicações diretas no de-
bate sobre desenvolvimento local integrado e sustentável, uma vez que não se
acredita que um processo de desenvolvimento possa ser sustentável no longo
prazo se não houver horizontalidade no processo e empoderamento dos atores
responsáveis por conduzi-lo. A ideia do empoderamento é a base do conceito
de capital social. Este pressupõe a capacidade dos atores de agenciar processos
de autonomia individual e coletiva e de estabelecer articulações de natureza
política. Certamente, de nada adianta – para fins de desenvolvimento humano
e social, de caráter includente e emancipatório – se essa capacidade estiver
concentrada nas mãos de um só agente. Para ser includente e emancipatório,
um processo de desenvolvimento necessita disseminar a capacidade de fazer
política, quer dizer, precisa democratizar a política e o poder. É preciso, assim,
ampliar a base dos agentes decisores, multiplicar o número de agentes capazes
de poder e manter essa base em ritmo contínuo de expansão.
Por isso, programas de indução ao desenvolvimento, de orientação verti-
cal, que se mantêm pela imposição de regras e condutas de cima para baixo,
estão fadados ao fracasso. A horizontalidade é uma espécie de exigência de

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Enraizamento da Educação Ambiental em diferentes contextos II

um sistema com alto grau de empoderamento dos atores e é, também, o resul-


tado necessário de um sistema desse tipo. As redes é que dão conta de articular
– e de organizar, com métodos e metas – atores sociais autônomos, diferentes
e empoderados, que não admitem subordinação (o fundamento da estrutura
hierárquica vertical), mas tão somente cooperação e coordenação. Por outro
lado, se se quiser promover a coordenação das ações desses diferentes atores
sociais, e potencializar sua capacidade de intervenção, será preciso, então, fa-
zer deles uma rede.
As redes parecem tornar-se, assim, o padrão organizacional mais compa-
tível com as necessidades dos processos de desenvolvimento emancipatórios e
includentes. Porém, é importante reiterar uma diferença fundamental entre a
estrutura tentacular (já mencionada) e a rede. A rede não é apenas uma com-
posição formal, um jeito de dispor os elementos de maneira horizontal num
plano, como se fosse bastante (como pensa certa tecnocracia do planejamento)
“diagramar” um sistema para fazê-lo funcionar. Podemos estar dispostos em
rede, sem operar em rede. A crença contemporânea de que a sociedade já se
estrutura em rede parece ser vítima de uma espécie de “ilusão morfológica”.
O fato, especialmente com a ubiquidade dos aparatos tecnológicos de comuni-
cação e informação, de estarmos “conectados” uns aos outros não é garantia
de uma operação em rede, de uma cooperação policoordenada. O limite da
morfologia é a política.
O que faz da arquitetura de rede uma rede é seu modo de funciona-
mento. No caso que nos importa aqui: um modo de operar que contemple,
pressuponha e atualize a autonomia dos membros da rede; que faça da hori-
zontalidade, da descentralização, do empoderamento e da democracia uma
ética de operação.
Redes são uma forma de organização que implica um conteúdo de natu-
reza emancipatória, e não outro. Redes são a tradução, na forma de desenho
organizacional, de uma política de emancipação. Não pode haver distinção
entre os fins dessa política e os meios de empreendê-la.

Segundo Martinho (2006), a relação de poder e hierarquia em estruturas


que se colocam em rede apresentam diferencial quando comparada às estruturas
e organização das instituições sociais existentes. Na rede, são esperadas relações
dinâmicas dos sujeitos envolvidos, e que já se percebam empoderados e desen-
volvam entre si relações na horizontalidade. Dessa forma, pensar em estrutura de
rede é sublimar a ideia de poder por todos os membros nela integrados.
O conceito “empoderado”, que vem de empoderamento, propõe o envol-
vimento e distribuição da tomada de decisões e controle por todo o grupo que
assim torna-se corresponsável pela transformação ou não, ao longo do processo de
desenvolvimento, das propostas de ação da rede. Ora, com a simples participação
(que pode ser confundida com aquiescência) essa alteração só pode ser “espera-
da”; já o empoderamento pressupõe uma participação crítica e ativa que não pode,
de forma alguma, ser confundida com a simples “presença” ao longo do processo
de decisão, vai além da participação – muitas vezes medida na simples presença
em assembleias.
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Assim, empoderar envolve a emancipação individual, mas principalmente a


ampliação da consciência coletiva e das inter-relações na conjuntura social e po-
lítica. Promover ações participativas e democráticas pode e deve possibilitar aos
indivíduos e à coletividade o estabelecimento da relação entre o local e o global,
ampliando a visão do contexto de pertencimento do indivíduo para além de seus
contextos próximos e imediatos, articulando-os a noções mais amplas, ao nível
macro, e a uma possível ação (Disponível em: <www.eicos.psycho.ufrj.br>):
O conceito vai além das noções de democracia, direitos humanos e participação para in-
cluir a possibilidade de compreensão a respeito da realidade do seu meio (social, político,
econômico, ecológico e cultural), refletindo sobre os fatores que dão forma ao seu meio
ambiente bem como à tomada de iniciativas no sentido de melhorar sua própria situação.

A ideia que temos de rede, como grupo de lojas e emissoras de televisão, ou


mesmo de escolas, é a que redes são grupos de instituições que mantêm relações
de hierarquia vertical em cada unidade e entre elas. Ou seja, possuem base es-
tendida na horizontalidade, em termos de distribuição regional, mas um controle
centralizado, que produz e determina a estrutura de funcionamento e as normas
que devem ser seguidas pelas bases. É óbvio que esse tipo de estrutura, com sua
capilaridade e extensividade, aumenta a capacidade de ação da instituição. En-
tretanto, se o centro de decisões fica, por algum motivo, isolado das bases, cada
unidade fica sem comando.
A relação entre “desconcentração de poder e rede”, que vem sendo proposta
para as ações de grupos em Educação Ambiental, tem amparo nas ideias e prin-
cípios dos documentos como o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades
Sustentáveis, a Agenda 21 e a Carta da Terra. A base para o desenvolvimento
local, integrado e sustentável a longo prazo, necessita da horizontalidade no pro-
cesso e empoderamento dos atores responsáveis por conduzi-lo.
O empoderamento de todas as pessoas é fundamental para a construção do
capital social; pressupõe a capacidade dos atores para administrar processos de
autonomia individual e coletiva e promover articulações de natureza política. O
desenvolvimento humano e social, de caráter includente e emancipatório, é o foco
da ideia de rede defendida para a Educação Ambiental. A inclusão e emancipação
requerem processos de capacitação política, quer dizer, precisa democratizar as
formas de fazer política e gerir o poder. A ampliação da base dos atores que par-
ticipam das decisões passa pela multiplicação e formação de pessoas capazes de
atuar para manter uma base ampliada e em movimento de expansão.
É necessário destacar, então, a diferença essencial entre as redes formais
que possuem estrutura com hierarquia vertical de base estendida e a proposta de
rede que apresentamos.
O que faz as redes serem efetivas é seu modo de funcionamento, com autonomia de seus
membros, em que exista a horizontalidade, a descentralização, empoderamento e demo-
cracia como princípios éticos. Isso faz com que a arquitetura deste tipo de organização
tenha uma natureza política emancipatória, em que os fins e os meios de empreendê-la
estão intimamente ligados, não havendo distinção entre os dois. (DEBONI, s.d.)

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O papel desempenhado pelas Redes de Educação Ambiental na circu-

2 Site da entidade: <www.rebea.


org.br>.
lação da informação e no subsídio à participação nas decisões relativas ao
planejamento e gestão da Educação Ambiental em sua esfera de atuação tem
significativa importância para seu enraizamento da Educação Ambiental em
3 O Instituto Ecoar para a Cidada-
nia é uma associação sem fins lu-
crativos, criada em 1992 por um gru- todo o território nacional.
po de ambientalistas, pesquisadores
e profissionais, que tem como missão
contribuir para a construção de so-
ciedades sustentáveis. Para tanto,
Cultura de Redes e Educação Ambiental
desenvolve programas de Educação
Ambiental, cidadania, conservação Há no Brasil uma ampla variedade de redes, que articulam pessoas e
e recuperação de recursos naturais,
aliando ação local e global e estimu-
instituições das mais diversas áreas de atuação e apresentam objetivos bastan-
lando a formação de uma consciên-
cia cidadã e planetária.
te distintos entre si. Merece destaque uma rede de âmbito nacional que atua
justamente na temática ambiental. Trata-se da Rede Brasileira de Educação
4 A missão do WWF Brasil é
contribuir para que a socieda- Ambiental (Rebea)2, uma rede autônoma e independente, que possui rumos
de brasileira conserve a natureza,
harmonizando a atividade humana
próprios e estabelece relações e interface com diversas outras instituições
com a preservação da biodiversida- públicas e privadas.
de e com o uso racional dos recursos
naturais, para o benefício dos cida-
dãos de hoje e das futuras gerações. O evento Cultura de Redes e Educação Ambiental, realizado em maio
Atuando no País desde 1971, o WWF
Brasil é uma organização não gover-
de 2002 na sede do Instituto Ecoar3, em São Paulo, foi originado em reunião
namental brasileira que integra a da facilitação nacional da Rebea. Nesse evento, ficaram evidentes as possi-
maior rede mundial de conservação
da natureza. bilidades e potencialidades da promoção de novas redes em Educação Am-
biental de contribuírem para o cenário de atuação da própria Rebea. Assim,
5 A RITS é uma organização pri-
vada, autônoma e sem finalidade
lucrativa fundada em 1997 com a
decidiu-se pela ampliação e promoção de um encontro presencial com os elos
missão de ser uma rede virtual de da rede brasileira.
informações, voltada para o fortale-
cimento das organizações da socie-
dade civil e dos movimentos sociais.
O encontro foi apoiado pelo WWF Brasil4 e pela Rede de Informações
para o Terceiro Setor (RITS) 5 e realizado nos dias 15 e 16 de setembro de
6 A Associação Roda Viva foi fun-
dada em 1988. Roda Viva é uma
organização sem fins lucrativos cria-
2002, na sede da Associação Roda Viva6, no Rio de Janeiro, e organizado
da por educadoras e educadores com
pela secretaria executiva da Rebea, sob responsabilidade do Bioconexão7,
a missão de promover o desenvolvi- com o apoio do Ecoar e Cecae/USP 8 , Rede Paulista de Educação Ambiental
mento da cidadania plena.
(Repea) 9 e entidades da facilitação nacional.
7 Bioconexão – Instituto Ecolo-
gista de Desenvolvimento é uma
das ONGs atuantes na articulação de
Nesse encontro foi possível identificar dificuldades semelhantes às re-
Redes de Educação Ambiental como des, especialmente aspectos relativos à: formalização; manutenção de fluxo
a Rede Mato-grossense de Educação
Ambiental (REMTEA), podendo ser regular de informação de qualidade; gestão horizontal; realização de parcerias
citado como um dos criadores da
mesma e atuante em diversos pro-
e ações conjuntas; necessidade de trabalho profissionalizado (remunerado).
jetos na área.

8 Cecae/USP é um órgão da Rei-


toria da Universidade de São
Paulo que atua como centro aglu-
Municípios Educadores Sustentáveis
tinador e articulador de atividades Toda pessoa precisa de água, comida, moradia digna,
que envolvem pesquisa, extensão
e ensino, e como uma estrutura de alimentos, luz, energia, saúde, educação, lazer,
interface facilitadora dos projetos de
cooperação da universidade com os trabalho, participação, liberdade.
diversos segmentos da sociedade,
Ministério do Meio Ambiente
gerando, assim, novas soluções e
projetos para a universidade e para
a sociedade. Essa premissa básica, que constitui o direito de todo ser humano, está
incorporada aos pressupostos da Educação Ambiental propostos no Progra-
9 A Repea é constituída pela ar-
ticulação e cooperação entre
pessoas, ONGs, instituições e edu-
ma Municípios Educadores Sustentáveis, promovido pela Diretoria de Educa-
cadores ambientais. A sua missão é ção Ambiental (DEA/MMA). O objetivo deste programa é promover em cada
comunidade, município, bacia hidrográfica e região administrativa oportu-
socializar informações, experiências
e ações voltadas à Educação Am-
biental, promovendo sua qualifica-
ção e fortalecimento no Estado de
nidades de educação ambiental por meio de ações concretas interligadas e
São Paulo. difundidas em todo o território abrangido.
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São esperados a participação e o diálogo entre os diversos setores organiza-


dos, constituindo um fórum ou colegiado, coordenado pelos governos locais, mas
com expressiva representatividade dos movimentos sociais da região.
Municípios educadores sustentáveis são municípios que se propõem à cons-
trução da sustentabilidade socioambiental por meio de ações educativas, propon-
do a formação de seus cidadãos para atuarem com competência e compromisso
na construção de processos e programas que sejam incorporados por todas as
pessoas de sua comunidade ou região.
É importante que a preocupação com o meio ambiente dialogue com as
diferenças e permeie todas as atividades públicas de planejamento e gestão, com
ampla participação da sociedade.
Municípios que se educam para a construção da sustentabilidade socioam-
biental buscam medidas para viabilizar a formação de suas cidadãs e de seus cida-
dãos para atuarem diariamente na construção de condições, espaços e processos
que caminhem nessa direção.
Dessa forma, promover o enraizamento da Educação Ambiental no Bra-
sil necessita do estabelecimento de diálogos entre os setores articulados que de-
senvolvem ações em Educação Ambiental. É importante ter como horizonte o
incentivo e a articulação das atividades, por intermédio de várias perspectivas
integradas de:
intercâmbio de informações, experiências e iniciativas;
estabelecimento de parcerias e articulações institucionais;
planejamento participativo do Programa Nacional de Educação Am-
biental;
fortalecimento ou criação das Comissões Interinstitucionais Estaduais de
Educação Ambiental;
criação ou consolidação das Redes de Educação Ambiental;
fomento à Política e ao Programa Estadual de Educação Ambiental;
divulgação do Compromisso de Goiânia;
disponibilização da sala virtual no SIBEA para cada unidade federativa.
(Disponível em: <www.mec.gov.br/se/educacaoambiental/pdf/progna-
cional.df>.).
Não seria exagero afirmar que a Educação Ambiental brasileira vive atual-
mente um grande momento em sua história. A promoção da articulação institucio-
nal entre todos os segmentos e setores que trabalham com a Educação Ambiental
e a consolidação da esfera pública para o seu devido planejamento e gestão da
política, em sintonia com o processo de redemocratização da sociedade brasileira,
são movimentos que dependem da participação de cada um dos educadores para
enraizar definitivamente a Educação Ambiental no país.
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Enraizamento da Educação Ambiental em diferentes contextos II

Carta Brasileira para Educação Ambiental (MEC, Rio-92)


(CARTA, 2006)
Como único evento oficial paralelo à Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente Desenvol-
vimento, o Ministério da Educação (MEC) realizou de 1 a 12 de julho de 1992, em Jacarepaguá,
Rio de Janeiro, o Workshop sobre Educação Ambiental. Os profissionais, reunidos nesse encontro,
aprovaram o presente documento.
Segundo a Constituição Brasileira, a Educação Ambiental (EA), em todos os níveis de en-
sino, é incumbência do Estado, bem como a promoção da conscientização pública em defesa do
meio ambiente. Porém, a maior contribuição social tem vindo através dos movimentos da própria
sociedade civil, das entidades não governamentais, dos veículos de comunicação, dos movimentos
políticos e culturais. Necessário se faz, portanto, para a efetivação do processo, que a incorpora-
ção da EA se concretize no ensino de todos os graus e modalidades.
No momento em que se discute o desenvolvimento sustentável como estratégia de sobre-
vivência do planeta e, consequentemente, da melhoria da qualidade de vida, fica definido ser a
Educação um dos aspectos mais importantes para a mudança pretendida. A lentidão da produção
de conhecimentos, a importação de tecnologias inadequadas, a formulação de políticas de desen-
volvimento cada vez mais descomprometidas com a soberania nacional, consolidam um modelo
educacional que não responde às necessidades do país.
Pelo exposto e considerando:
a) a importância da Conferência Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, reali-
zada no Rio de Janeiro, em 1992;
b) a premência de serem criadas as condições que permitam o cumprimento real e pleno dos
Estatutos que garantam o direito à vida;
c) a necessidade de mudanças de caráter ético no Estado e na sociedade civil;
d) que a EA é componente imprescindível do desenvolvimento sustentável;
e) a existência da base legal, pelo Inciso VI do Parágrafo 1.º do Artigo 225 da Constituição
Brasileira para implantação imediata da EA, em todos os níveis;
f) a importância da EA para o desenvolvimento de uma ciência voltada para a realidade
brasileira;
g) a importância do Brasil se tornar um centro formador de recursos humanos em EA da
América Latina;
h) a existência no país de reflexões críticas e produção de conhecimento em EA e áreas
afins;
i) a ocorrência de iniciativas bem-sucedidas em EA, realizadas no país, no campo da edu-
cação formal e não formal;
j) a importância da participação comunitária na construção da cidadania brasileira.

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Enraizamento da Educação Ambiental em diferentes contextos II

Recomenda-se que:
a) haja um compromisso real do Poder Público federal, estadual e municipal no cumpri-
mento e complementação da legislação e das políticas para EA;
b) haja uma articulação dos vários programas e iniciativas governamentais em EA, pelo
MEC;
c) o MEC estabeleça diretrizes complementares aos documentos existentes sobre a EA e
que orientem suas delegacias estaduais (DEMEC);
d) as políticas específicas, formuladas para a EA, expressem a vontade governamental em
defesa da escola pública, em todos os níveis de ensino;
e) o MEC estabeleça grupos e fórum permanentes de trabalho que definam procedimentos
para diagnóstico das especificidades existentes no país e mecanismos de atuação face
às questões ambientais;
f) o MEC, em conjunto com as instituições de ensino superior (IES), defina metas para a
inserção articulada da dimensão ambiental nos currículos, a fim de que seja estabelecido
o marco fundamental da implantação da EA no 3.º grau;
g) as discussões acerca da inserção da EA no ensino superior sejam aprofundadas devido
à sua importância no processo de transformação social;
h) sejam cumpridos os marcos referenciais internacionais acordados em relação à EA
como dimensão multi, inter e transdisciplinar em todos os níveis de ensino;
i) que o Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB) assuma o compro-
misso com a implantação da dimensão ambiental nos currículos dos diferentes cursos
das IES;
j) as IES e os órgãos governamentais apoiem os núcleos e centros interdisciplinares de
EA existentes e estimulem a criação de novos;
l) haja estímulo concreto à pesquisa, formação de recursos humanos, criação de bancos
de dados e divulgação destes, bem como aos projetos de extensão integrados à comu-
nidade;
m) sejam incentivados os convênios interinstitucionais nacionais e internacionais;
n) sejam viabilizados recursos para a EA, através de apoio efetivo à realização de progra-
mas, presenciais e a distância, de capacitação e fixação de recursos humanos de refor-
mulação e criação de novos currículos e programas de ensino, bem como elaboração
de material instrucional;
o) em todas as instâncias, o processo decisório acerca das políticas para a EA conte com a
participação da(s) comunidade(s) direta e/ou indiretamente envolvida(s) na problemá-
tica em questão.

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Enraizamento da Educação Ambiental em diferentes contextos II

Em grupo, faça um levantamento de quais são as pessoas que conhecemos com projetos, ativi-
dades, interesse ou potencial para atuarem como educadores ambientais e construa um painel reunin-
do essas informações em rede.

Uma obra de referência na área de redes em Educação Ambiental é, sem dúvida, o livro de
Cássio Martinho, chamado Redes: uma introdução às dinâmicas da conectividade e da auto-organi-
zação, cuja primeira edição é de 2003 e pode ser acessado gratuitamente na internet pelo endereço:
<www.wwf.org.br/publicacoes/download/livro_ea_redes/apresentacao.htm>.
Para entender melhor os princípios da Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis, leia
o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global elaborado
na Rio-92, disponível em: <www.mec.gov.br/se/educacaoambiental/tratad01.shtm>.
Acesse ainda:
REBEA – Rede Brasileira de Educação Ambiental: <www.rebea.org.br>.
RUPEA – Rede Universitária de Programas em Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis:
<www.uefs.br/rupea/>.
REPEA – Rede Paulista de Educação Ambiental: <www.repea.org.br>.
REJUMA – Rede de Juventude pelo Meio Ambiente: <www.rejuma.cjb.net>.
REASul – Rede Sul Brasileira de Educação Ambiental: <www.reasul.org.br>.
Universidade Luterana do Brasil – ULBRA Mestrado em Educação: <www.reasul.univali.br>.

BRANDÃO, C. R. Aqui é Onde eu Moro, Aqui nós Vivemos: escritos para conhecer, pensar e pra-
ticar o município educador sustentável. Brasília: MMA, 2005.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Programa Município Educadores Sustentáveis. Brasília:
MMA, 2005.
MARTINHO, Cássio. Redes e Desenvolvimento Local. Disponível em: <www.rebea.org.br/vdocu-
mentos.php?cod=228>. Acesso em: jun. 2006.

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A formação de
educadores ambientais I
Maria de Lourdes Spazziani

Histórico da Educação Ambiental no Brasil

A
Educação Ambiental, como fenômeno social localizado na interseção entre sociedade, edu-
cação e natureza, iniciou sua trajetória de institucionalização, no Brasil, há cerca de 30 anos
(quadro abaixo).
Adquiriu forte dinâmica e visibilidade nos anos 1990, durante e após a Rio 92, no IV Fórum
de Educação Ambiental em Guarapari (ES) e na I Conferência Nacional de EA (Brasília), ambos em
1997.

(MEDINA, 2006)
Ano Acontecimentos no Brasil
1808 Criação do Jardim Botânico, na cidade do Rio de Janeiro.

Lei 601, de Dom Pedro II, proibindo a exploração florestal nas terras descobertas. A lei
1850
foi ignorada, continuando o desmatamento para implantação da monocultura de café.

André Rebouças sugere a criação de parques nacionais na Ilha de Bananal e em Sete


1876
Quedas.

1891 Decreto 8.843 cria reserva florestal no Acre, que não foi implantada ainda.

1896 Foi criado o primeiro parque estadual em São Paulo, o Parque da Cidade.

1920 O pau-brasil é considerado extinto.

1932 Realiza-se no Museu Nacional a primeira Conferência Brasileira de Proteção à Natureza.

1934 Decreto 23.793 transforma em Lei o Anteprojeto de Código Florestal.

1937 Cria-se o Parque Nacional de Itatiaia.

1939 Cria-se o Parque Nacional do Iguaçu.

Jânio Quadros declara o pau-brasil a árvore símbolo nacional, e o ipê a flor símbolo
1961
nacional.

Cria-se no Rio Grande do Sul a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural


1971
(Agapan).

195
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A formação de educadores ambientais I

Ano Acontecimentos no Brasil

A delegação brasileira na Conferência de Estocolmo declara que o país está “aberto à


poluição, porque o que se precisa são dólares, desenvolvimento e empregos”. Apesar
1972
disso, contraditoriamente, o Brasil lidera os países do Terceiro Mundo para não aceitar a
Teoria do Crescimento Zero, proposta pelo Clube de Roma.

A Universidade Federal de Pernambuco inicia uma campanha de reintrodução do pau-


1972
-brasil, considerado extinto em 1920.

Cria-se a Secretaria Especial do Meio Ambiente, Sema, no âmbito do Ministério do


1973
Interior, que, entre outras atividades, começa a fazer Educação Ambiental.

A Sema, Fundação Educacional do Distrito Federal e a Universidade de Brasília realizam


1976
o primeiro curso de extensão em Ecologia, para professores do ensino fundamental.

1977 Implantação do Projeto de Educação Ambiental em Ceilândia. (1977-1981).

A Sema constitui um grupo de trabalho para elaboração de um documento de Educação


1977
Ambiental para definir seu papel no contexto brasileiro.

Seminários, encontros e debates preparatórios à Conferência de Tbilisi são realizados


1977
pela Feema-RJ.

1977 A disciplina de ciências ambientais passa a ser obrigatória nos cursos de engenharia.

A Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul desenvolve o Projeto Natureza (1978-


1978
-1985).

Criação de cursos voltados para as questões ambientais em várias universidades


1978
brasileiras.

Nos cursos de Engenharia Sanitária inserem-se as disciplinas de saneamento básico e


1978
saneamento ambiental.

O MEC e a Cetesb/SP publicam o documento “Ecologia: uma proposta para o Ensino de


1979
1.º e 2.º Graus”.

A Lei 6.938, de 31 de agosto, dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente


1981
(presidente Figueiredo).

O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) apresenta uma resolução


1984
estabelecendo diretrizes para a Educação Ambiental, que não é tratada.

A Sema, junto com a Universidade Nacional de Brasília, organiza o primeiro Curso de


1986
Especialização em Educação Ambiental (1986-1988).

1986 I Seminário Nacional sobre Universidade e Meio Ambiente.

196
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A formação de educadores ambientais I

Ano Acontecimentos no Brasil


Seminário Internacional de Desenvolvimento Sustentado e Conservação de Regiões
1986
Estuarino-Lacunares (Manguezais), São Paulo.

O MEC aprova o Parecer 226/87, do conselheiro Arnaldo Niskier, em relação à


1987 necessidade de inclusão da Educação Ambiental nos currículos escolares de 1.º e 2.º
graus.

1987 Paulo Nogueira Neto representa o Brasil na Comissão Brundtland.

1987 II Seminário Universidade e Meio Ambiente, em Belém (PA).

A Constituição Brasileira, de 1988, em Art. 225, no Capítulo VI – Do Meio Ambiente,


Inciso VI, destaca a necessidade de “promover a Educação Ambiental em todos os
1988 níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”.
Para cumprimento dos preceitos constitucionais, leis federais, decretos, constituições
estaduais e leis municipais determinam a obrigatoriedade da Educação Ambiental.

A Fundação Getulio Vargas traduz e publica o Relatório Brundtland, “Nosso futuro


1988
comum”.

A Secretaria de Estado do Meio Ambiente de SP e a Cetesb publicam a edição piloto do


1988
livro Educação Ambiental: guia para professores de 1.º e 2.º Graus.

Criação do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente), pela fusão da Sema,


1989
Sudepe, Sudehvea e IBDF. Nele funciona a Divisão de Educação Ambiental.

Programa de Educação Ambiental em Universidade Aberta da Fundação Demócrito


1989
Rocha, por meio de encartes nos jornais de Recife e Fortaleza.

Primeiro Encontro Nacional sobre Educação Ambiental no Ensino Formal Ibama/


1989
UFRPE, em Recife (PE).

Cria-se o Fundo Nacional de Meio Ambiente (FNMA), no Ministério do Meio Ambiente


1989
(MMA).

1989 III Seminário Nacional sobre Universidade e Meio Ambiente, Cuiabá (MT).

I Curso Latino-Americano de Especialização em Educação Ambiental (Pnuma/Ibama/


1990
CNPq/Capes/UFMT), em Cuiabá (1990-1994).

1990 IV Seminário Nacional sobre Universidade e Meio Ambiente, em Florianópolis (SC).

MEC resolve que todos os currículos nos diversos níveis de ensino deverão contemplar
1991
conteúdos de Educação Ambiental (Portaria 678, de 14 de maio de 1991).

197
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A formação de educadores ambientais I

Ano Acontecimentos no Brasil


1991 Projeto de Informações sobre Educação Ambiental Ibama/MEC.

Grupo de trabalho para Educação Ambiental, coordenado pelo MEC, preparatório para a
1991
Conferência do Rio 92.

Encontro Nacional de Políticas e Metodologias para Educação Ambiental (MEC, Ibama,


1991 Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República, Unesco, Embaixada do
Canadá).

1992 Criação dos Núcleos Estaduais de Educação Ambiental do Ibama (NEAs).

Participação das ONGs do Brasil no Fórum de ONGs e na redação do Tratado de


1992 Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis. Destaca-se o papel da Educação
Ambiental na construção da cidadania ambiental.

O MEC promove no CIAC do Rio das Pedras, em Jacarepaguá (RJ), o Workshop sobre
1992 Educação Ambiental, cujo resultado encontra-se na Carta Brasileira de Educação
Ambiental, que destaca a necessidade de capacitação de recursos humanos para EA.

Uma Proposta Interdisciplinar de Educação Ambiental para Amazônia. Ibama,


universidades e Seducs da região participam da publicação de um documento
1993
metodológico e um de caráter temático, com dez temas ambientais da região (1992-
-1994).

Criação dos Centros de Educação Ambiental do MEC, com a finalidade de criar e


1993
difundir metodologias em Educação Ambiental.

Aprovação do Programa Nacional de Educação Ambiental, Pronea, com a participação


1994
do MMA, Ibama, MEC, MCT e MinC.

Publicação da Agenda 21, feita por crianças


1994
e jovens em português (Unicef).

1994 3.º Fórum de Educação Ambiental.

Todos os projetos ambientais e/ou de desenvolvimento sustentável devem incluir como


1995
componente atividades de Educação Ambiental.

1996 Criação da Câmara Técnica de Educação Ambiental, do Conama.

Novos parâmetros curriculares do MEC, os quais incluem a Educação Ambiental como


1996
tema transversal do currículo.

Cursos de capacitação em Educação Ambiental para os técnicos das Seducs e Demecs


1996 nos estados, para orientar a implantação dos parâmetros curriculares. Convênio Unesco-
-MEC.

1996 Criação da Comissão Interministerial de EA (MMA).

1997 Criação da Comissão de Educação Ambiental do MMA.

1997 I Conferência Nacional de Educação Ambiental (CNEA), em Brasília.

198
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A formação de educadores ambientais I

Ano Acontecimentos no Brasil

Cursos de Educação Ambiental organizados pelo MEC – Coordenação de Educação


1997 Ambiental, para as escolas técnicas e segunda etapa de capacitação das
Seducs e Demecs. Convênio Unesco-MEC.

IV Fórum de Educação Ambiental e I Encontro da Rede de Educadores Ambientais, em


1997
Vitória (ES).

1997 I Teleconferência Nacional de Educação Ambiental, em Brasília, promovida pelo MEC.

1998 Publicação dos materiais surgidos da primeira CNEA.

1999 Criação da Diretoria de Educação Ambiental do MMA, gabinete do ministro.

1999 Aprovação da Lei 9.597/99, que estabelece a Política Nacional de EA.

1999 Programa Nacional de Educação Ambiental.

1999 Criação do Movimento dos Protetores da Vida – Carta de Princípios, em Brasília (DF).

A Coordenação de EA (Coea) do MEC passa a fazer parte da Secretaria de Ensino


1999
Fundamental.

2000 Seminário de Educação Ambiental, organizado pela Coea/MEC, em Brasília (DF).

2000 Curso básico de Educação Ambiental a distância (DEA, MMA, UFSC, LED, LEA).

Dados históricos da Educação Ambiental no Brasil.

Formação em Educação Ambiental no Brasil


Apesar das primeiras iniciativas em Educação Ambiental datarem da dé-
cada de 1970, é somente em meados dos anos 1980 que surge o primeiro curso
focado especificamente nessa temática. A Secretaria Especial do Meio Ambiente
– Sema (criada no âmbito do Ministério do Interior em 1973) – junto com a Uni-
versidade Nacional de Brasília, organiza o primeiro Curso de Especialização em
Educação Ambiental, que se realiza entre 1986 e 1988.
A partir de então, eventos e cursos de extensão são promovidos com o obje-
tivo de capacitar pessoal qualificado a desenvolver e implementar ações e progra-
mas em Educação Ambiental nos espaços escolares e não escolares.
Seguindo essa mesma linha de formação, é organizado o 1.º Curso Latino-
Americano de Especialização em Educação Ambiental, uma parceria entre
Pnuma, Ibama, CNPq, Capes, UFMT, realizado em Cuiabá (MT), entre os anos
de 1990 e 1994. Este programa de formação é consequência das recomendações
que emergem dos encontros e conferências que se realizam no âmbito da
América Latina e Caribe. Nestes eventos há a constatação da necessidade de que

199
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A formação de educadores ambientais I

a formação de pessoal dos países latinos-americanos requerem uma orientação


própria e específica, em vista das problemáticas socioambientais que cercam suas
comunidades.

A institucionalização da
Educação Ambiental no Brasil
A criação do Programa Nacional de Educação Ambiental (Pronea), em
1994, fruto de discussões promovidas pelos Ministérios da Educação (MEC), Mi-
nistério do Meio Ambiente (MMA), Ministério da Cultura (MinC) e Ministério
da Ciência e Tecnologia (MCT), institucionaliza esse tipo de formação. Entre seus
principais objetivos está o de promover ações para “capacitar o sistema de educa-
ção formal e não formal, supletivo e profissionalizante, em seus diversos níveis e
modalidades” (BRASIL, 1994).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), elaborados a partir de 1997,
e os Parâmetros em Ação – Meio Ambiente na Escola, desenvolvidos pelo MEC,
constituem uma medida efetiva para a inclusão da Educação Ambiental em todos
os níveis de ensino.
A Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, que institui a Política Nacional de Edu-
cação Ambiental, a ser regulamentada no Conselho Nacional do Meio Ambiente
(Conama), também contribuiu para implementar e institucionalizar a formação de
educadores ambientais em todo o território nacional.
No âmbito da Coordenação de Educação Ambiental do MMA, foi lançado
o Sistema Brasileiro de Informação em Educação Ambiental e Práticas Sustentá-
veis (Sibea), uma parceria interinstitucional entre este e as instituições de ensino,
ONGs e as redes de Educação Ambiental.

Como e onde se forma o educador ambiental?


Os cursos de especialização em Educação Ambiental têm sido o formato de
capacitação mais difundido em todo o território brasileiro. Atualmente, há uma
demanda crescente por esse tipo de formação e os programas desses cursos têm
sido apresentados com perspectivas diferenciadas, como o curso de especializa-
ção “Formação de educadores ambientais para sociedades sustentáveis”, realizado
pela ESALQ/USP, nos anos de 2000 e 2001 (como vemos no Texto Complementar
a seguir).
Esse tipo de curso, apesar de apresentado com diferentes roupagens, é um
espaço importante para a consolidação desta área.
A formação ao nível de graduação está ocorrendo com a inclusão de dis-
ciplinas de Educação Ambiental em cursos de áreas afins, tais como: Biologia,
Geografia, Pedagogia, Química, Engenharias Ambientais. Tem ocorrido também
o oferecimento desse tipo de disciplina para outros tipos de cursos de graduação.
Além das disciplinas específicas, têm sido criados programas de extensão
que desenvolvem cursos de pequena duração para capacitar professores, profissio-
200
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A formação de educadores ambientais I

nais de instituições governamentais, do terceiro setor e da área de serviços e do


setor produtivo.
Outro espaço que tem promovido a formação de educadores ambientais são
os programas de pós-graduação stricto sensu – mestrado e doutorado. No ano de
2003 foram catalogados, no relatório do Grupo de Estudos em Educação Am-
biental, e apresentados à Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em
Educação (Anped), 21 programas que desenvolvem pesquisas em Educação Am-
biental, sendo que 16 possuem linhas de pesquisa em Educação Ambiental e um
desenvolve um programa voltado especificamente para esta área, desde 1995.
Nesse mesmo relatório, destaca-se a presença de 15 grupos de estudos e
pesquisas em Educação Ambiental, cadastrados na base do Conselho Nacional
de Pesquisa Cientifica. Há 63 professores doutores/pesquisadores atuando na pós-
-graduação lato e stricto sensu.

A atuação do educador ambiental


O educador ambiental deve atuar com intencionalidade na educação escolar:
educação básica, complementar, ensino superior, pesquisa e extensão universitá-
ria. E também na educação não escolar (ONGs, empresas, comunidades, órgãos
1 É um novo campo de
intervenção social, que
agrega princípios da educa-
da gestão pública, entidades filantrópicas, na educomunicação1 em rádios, jornais, ção e da comunicação para
desenvolver um nova forma
revistas, tevês), atuando sempre comprometidos com o caráter crítico e emancipa- de pensar e agir na sociedade
moderna.
tório da Educação Ambiental.

Proposta do curso de especialização “Formação de


educadores ambientais para sociedades sustentáveis”,
realizado pela ESALQ/USP, 2000/2001.
(SPAZZIANI, 2004)

Uma das questões norteadoras era de que a formação de educadores prescindia de um pro-
cesso em que as experiências de aprendizagem fossem consubstanciadas na teoria e na prática do
curso, portanto, este deveria apresentar um entrelaçamento entre os conteúdos da área (discipli-
nas), a vivência no processo educativo (metodologia) e a transferência para os espaços de atuação
(intervenção educacional).
Destacamos os seguintes propósitos apresentados no programa do curso para análise:
oferecer formação especializada para profissionais da Educação e/ou do Meio Ambiente,
que atuam em espaços institucionais educativos formais ou não formais, e que queiram
se qualificar para a realização de projetos de Educação Ambiental voltados para a trans-
formação sustentável da sociedade;

201
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A formação de educadores ambientais I

disponibilizar uma carga horária de 720 horas, sendo 360 presenciais e 360 a distância,
envolvendo disciplinas, ciclos de seminários e atividades de campo organizados em mó-
dulos que trabalham as dimensões educacionais e socioambientais em suas diferentes
interações;
priorizar o projeto de intervenção educacional como um ponto de convergência de todo
o processo pedagógico desenvolvido no curso; para tanto, espera-se como resultado, ao
final do curso, um projeto de caráter prático, útil para a comunidade local e que possa ser
incorporado em médio prazo;
propiciar o desenvolvimento de uma comunidade de aprendizagem, ou seja, propiciar
o compartilhamento com o grupo de alunos das ideias e conhecimentos que buscavam
encontrar;
disponibilizar informações através de um cardápio de disciplinas e cursos variados e que
atendam aos interesses do grupo de alunos. (ESALQ/USP, 2000, p. 4)
Estes pontos sugerem, em princípio, uma leitura bastante peculiar do que está sendo preten-
dido. Dá-se destaque para um curso de especialização para a formação de educadores ambientais,
explicitando preocupação com a formação educacional dos agentes que atuam ou querem atuar na
área do meio ambiente.

Enumere atividades e fatos marcantes em sua vida pessoal e profissional, relacionando-os com
datas desde o seu nascimento e que formam seu currículo pessoal como um educador ambiental
popular.

“Contribuir para o aprimoramento da Educação Ambiental no Brasil passa pela ampliação dos
debates e reflexões destinados a esclarecer quem somos, onde estamos e para onde queremos cami-
nhar com nossas ações, projetos e políticas públicas na área.” (Marcos Sorrentino, Diretor de Educa-
ção Ambiental do MMA).

No site da Rebea <www.rebea.org.br>, é possível consultar um histórico que traz as relações


socioambientais construídas no processo de formação de educadores ambientais no Brasil.

202
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A formação de educadores ambientais I

MEDINA, Naná M. Dados Históricos da Educação Ambiental no Brasil. Disponível em: <www.
ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./educacao/index.php3&conteudo=./educacao/hist_
br.html>. Acesso em: 25 maio 2006.
SPAZZIANI, Maria de L. Educação Ambiental para sociedades sustentáveis e o entendimento sobre
a natureza humana. Revista Resgate, Campinas, 2003.
_______. A formação de educadores ambientais: diálogo entre a psicologia de Vigotski e a Educação
Ambiental para sociedades sustentáveis. In: CONGRESSO MUNDIAL DEDUCAÇÃO AMBIEN-
TAL, 2., 2004, Rio de Janeiro. Anais..., p. 5.
_______. A formação de educadores ambientais para sociedades sustentáveis: memórias do processo
de elaboração do projeto piloto de um curso de especialização. Revista Brasileira de Educação Am-
biental, São Paulo, n. 1, 2004.

203
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204
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A formação de
educadores ambientais II
Maria de Lourdes Spazziani

E
ducadores ambientais de diferentes formações, que desenvolvem ações forma­tivas no campo
da Educação Ambiental, da educação popular, da formação de professores, da extensão rural,
da formação técnica sociambientalista, dentre os mais diferentes setores, podem constituir um
coletivo educador.
No Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa (2001, p. 760) a palavra “coletivo” designa,
em primeira definição, aquilo “que compreende ou abrange muitas pessoas ou coisas”, e o adjetivo
“educador” definido como “quem ou o que educa”.
Concebendo a vida atual com a complexidade que se apresenta, constituída por nexos e desco-
nexos, que se entrelaçam, se encontram em caminhos que se bifurcam ou se separam, é que podemos
pensar no significado ou ressignificado do verbete coletivo educador. Ou seja, pensá-lo como um
grupo de pessoas que, de forma deliberada e intencionalmente articuladas, propõe-se a tarefa de edu-
car outras pessoas, configurando-se com a ideia de uma rede que propõe a formação de outras redes
de pessoas, num processo em cadeia atingindo um determinado território ou grupo social, formando
uma teia de interação de humanos. “Nessa teia de relações encontram-se homens, subjetividades,
informações, conhecimentos e tecnologias que guardam singularidades, que impulsionam o indiví-
duo tribal na busca do coletivo global” (CANDAU, 2006, p. 36).

O educador na estrutura coletiva:


nova percepção do mundo
A educação não pode se constituir em uma ilha, não pode estar isolada das necessidades
sociais e históricas que a engendram e permeiam. Os problemas na educação, assim como todas
as coisas na vida, acontecem de forma sistêmica, não existem isoladas da realidade sócio-política-
-histórica. A percepção dessa realidade é que precisa ser alterada para a compreensão dos proble-
mas que envolvem o processo de formação das pessoas. Portanto, a percepção da complexidade que
envolve a realidade e problemáticas educacionais é primordial para uma visão do conjunto.
A excessiva individualidade, característica marcante da educação das pessoas ao longo dos
séculos passados, é posta em cheque. Educar não é disponibilizar informações. Os mecanismos de
socialização dos conhecimentos estão em plena ascensão e, em alguns casos, já há um superacesso
a estes conhecimentos, dificultando inclusive a apropriação do que é relevante e significativo. Com
isso, queremos dizer que o nosso enfrentamento atual é como vivenciar o processo de formação de
pessoas onde o conteúdo já está de diversas formas disponível e as questões focais passam a ser: qual
o destino que queremos dar a tudo isso? Qual a essência das possibilidades de interação que permite
novas formas de partilhar conhecimento?

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A formação de educadores ambientais II

Para que se efetive esse esforço coletivo, o educador precisa almejar a su-
peração do individualismo pedagógico, no qual ele busca soluções isoladamente
para resolver as questões do processo ensino-aprendizagem.
O individualismo que caracteriza tão exacerbadamente a cultura ocidental [...] e, conse-
quentemente, o trabalho do professor, é uma grande limitação para as respostas que têm
sido dadas à necessidade mais característica do nosso tempo: a socialização das consciên-
cias. (WACHOWICZ, 1996, p. 134)
A constituição das consciências humanas ultrapassa as barreiras do indivi-
dualismo proposto como modelo pedagógico na cultura ocidental. Assim, temos
que o processo de nossa humanidade e de nossa culturação é coletivo, passa pelo
coletivo, forma-se no coletivo. 

Do individual ao coletivo:
um novo espaço para realizar a educação
As trocas intensas assumidas e possibilitadas no processo coletivo, sejam de
materiais ou de experiências, pode transformar o trabalho de formação das pesso-
as em uma prática mais rica, mais reflexiva e cheia de possibilidades.
As potencialidades de cada parceiro configuram-se como uma rede de conexões que
pode regular e autorregular reciprocamente. Os possíveis caminhos percorridos, de
modo cooperativo, poderão se configurar uma combinatória apoiada na operacionali-
dade descentrada das inteligências de cada sujeito que integra a coletividade. (FAGUN-
DES, 1997, p. 17)
As trocas são constantes entre a comunidade de aprendentes e a de ensinan-
tes que precisam se comunicar. Esses encontros podem fortalecer as relações afe-
tivas, melhorar o processo de pesquisa e de busca para a solução dos problemas,
isto é, por meio da rede, assumir novas tarefas, como, por exemplo, proporcionar
o desenvolvimento da inteligência coletiva.
Na construção de significados é que a verdadeira educação se efetiva e pas-
sa, essencialmente, pela transformação do modo de ver e de pensar o processo
educativo. Essa construção de novos significados está relacionada, também, ao re-
conhecimento de que somos todos aprendentes e ensinantes, onde é preciso apren-
der e ensinar a cada novo instante. Ver-se como aprendiz é fator preponderante
para a superação de uma postura fundamentalmente passiva ou ativa para a pro-
ativa. Ou seja, é a situação em que cada sujeito constrói e repassa em detrimento
de uma coletividade pensante.

Finalidade de coletivos educadores


“Conheça-te a ti mesmo”. Essa famosa frase foi e continua sendo o ponto de
partida e de chegada do processo educativo. Educamo-nos e socializamo-nos para
nos confrontar com nós mesmos à procura da nossa identidade, ou seja, daquilo
que nos torna únicos, daquilo que nos faz ser o que somos. Melhor dizendo,
somos aquilo que fazemos, parafraseando Jean Paul Sartre, filósofo francês do
pós-guerra.

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A formação de educadores ambientais II

Aquilo que uma pessoa se torna ao longo da vida depende fundamental-


mente de duas coisas: das oportunidades que teve e das escolhas que fez. De fato,
se pensarmos bem, cada um de nós é fruto das oportunidades e das escolhas que
fizemos ao longo da vida. E algumas escolhas são determinantes em nossa traje-
tória pessoal, como a escolha da pessoa com quem vamos compartilhar nossa vida
ou a escolha da profissão que vamos seguir.
Muitas vezes, porém, quando a gente se debruça sobre este tema e faz estas
indagações, temos a irreprimível tendência de ficar procurando os responsáveis
por aquilo que aconteceu ou deixou de acontecer em nossas vidas. É sempre mais
fácil a gente responsabilizar alguma pessoa ou circunstância e, assim, tirar a res-
ponsabilidade de cima de nossos ombros e colocá-la no de outras pessoas.

Composição do coletivo
Um coletivo educador constitui-se de pessoas que, de forma deliberada
e intencionalmente, propõem-se ao processo de se educar por meio de troca de
experiências e saberes, por acreditarem que este é um dos caminhos mais propícios
para a consolidação do processo do desenvolvimento humano ancorado em outros
modos de produzir a realidade. No horizonte imediato, há a intencionalidade da
expansão desse processo a outras pessoas ou grupo de pessoas.

Perspectivas para educadores ambientais


Uma série de ações realizadas tem como objetivo dar continuidade ao pro-
cesso de mobilização e participação dos Educadores Ambientais. Espera-se tam-
bém que subsidiem ainda reflexões acerca da gestão e planejamento de políticas e
programas de Educação Ambiental, sejam elas:
construção de um processo permanente de Educação Ambiental nas es-
colas e na comunidade;
necessidade de constar dos currículos de formação de professores, em
todos os níveis e em todas as disciplinas, sendo esta uma atribuição espe-
cífica das instituições de ensino superior;
inserção pela Secretaria de Ensino Superior do MEC de 400 horas de
prática, previstas para os cursos de formação de professores, direcio-
nadas para o desenvolvimento dos temas transversais, com enfoque na
Educação Ambiental;
ênfase no papel das universidades na formação de professores e profis-
sionais nas diversas áreas de conhecimento, assim como no desenvolvi-
mento da pesquisa e da extensão. Importante citar neste aspecto a consi-
derável produção científica em Educação Ambiental, em especial livros,
artigos, periódicos, monografias, livros didáticos, material instrucional,
jogos interativos, dissertações de mestrado (200 dissertações de 1984 a
2002) e teses de doutorado (50 teses de 1990 a 2002);

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A formação de educadores ambientais II

1 CIEAs são espaços co-


legiados instituídos pelo
articulação das universidades para a consolidação da Rede Universitária
Poder Público estadual que de Programas de Educação Ambiental (Rupea) e do Grupo de Estudos de
se configuram como a esfera
pública da Educação Am- Educação Ambiental da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-gradua-
biental no âmbito estadual, e
devem constituir-se como um ção em Educação (Anped);
amplo e democrático fórum
de interlocução e articula- integração das universidades às Comissões Interinstitucionais Estaduais
ção institucional. São com-
postas por representantes de de Educação Ambiental1 (CIEAs) nos estados para a construção dos pro-
instituições governamentais
e não governamentais, das gramas estaduais de educação Ambiental;
esferas federal, estaduais e
municipais, do setor ambien- o Fórum Nacional de Pró-reitores de Extensão definiu a área de meio
tal e educacional, do setor
empresarial e dos trabalha- ambiente como uma das áreas que vêm sendo trabalhadas em todas as
dores. Elas devem se pautar
pela Política e pelo Programa universidades brasileiras, daí a necessidade de maior articulação intra e
Nacional de Educação Am-
biental, para elaborar em seu
interinstitucional.
respectivo estado a Política e
o Programa Estadual de Edu-
cação Ambiental, de forma
democrática e participativa.

É necessário para esta atividade: o histórico de dois ou três projeto sociambientais realizados.
Em dois ou três grupos (de acordo com o número de projetos disponíveis), fazer uma análise
sobre a formação diversa dos atores envolvidos.

Navegar e contribuir nos diversos fóruns de debate disponibilizados pelo Sistema Brasileiro de
Informações sobre Educação Ambiental, o Sibea <www.mma.gov.br/educambiental>.

CANDAU, Vera Maria. Pluralismo cultural, cotidiano escolar e formação de professores. In: ______.
Magistério: construção cotidiana. Petrópolis: Vozes, 1997.
COLETIVO. In: HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2001.
FAGUNDES, Léa da Cruz. A inteligência coletiva: a inteligência distribuída. Revista Pátio, São Pau-
lo, n. 1, p. 14-17, maio/jul. 1997.
FERRARO JÚNIOR, Luiz A. (Coord.). Encontros e Caminhos: formação de educadoras(es) am-
bientais e coletivos educadores. Disponível em: <www.mma.gov.br/port/sdi/ea/og/pog/arqs/encontros.
pdf>. Acesso em: 26 maio 2006.
SPAZZIANI, Maria L.; BIASOLI, D. A. Coletivos educadores. In: PARK, M. B. Verbetes em Edu-
cação Formal e Não Formal. No prelo.
WACHOWICZ, Lilian Anna. Ensino: do conhecimento ao pensamento. E deste, para projetos. In:
Educação: caminhos e perspectivas. Vários Autores. Curitiba: Champagnat, 1996.

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Avaliação de projetos
em Educação Ambiental I
Maria de Lourdes Spazziani

A
Educação Ambiental brasileira tem sido amplamente difundida em todo o território, fruto das
políticas ambientais e educacionais que consolidam práticas e propostas que emergiram de
diferentes setores sociais.
Incluída como um dos temas transversais nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), a
Educação Ambiental propõe como centro do seu processo o trabalho pedagógico que objetiva “desen-
volvimento de atitudes e posturas éticas e domínio de procedimentos, mais do que a aprendizagem de
conceitos” (BRASIL, 1998, p. 201).
Tanto na educação escolar como na não escolar muitos educadores e educadoras têm se dedica-
do à formação de outras pessoas em relação às práticas e conhecimentos socioambientais. As inúme-
ras iniciativas nessa área são realizadas por organizações não governamentais, centros comunitários,
empresas, mídia, entre outros.
Tomazello e Ferreira (2001, p. 199-200) reconhecem as dificuldades que muitos autores têm
para
[...] avaliar e analisar as repercussões de atividades de Educação Ambiental Como avaliar
devido à abrangência dos temas e dos objetivos, pois educar ambientalmen- a adequação de ações
te é educar a partir da concepção de uma realidade complexa, isto é, em que
todos os elementos constituintes do ambiente estão em contínua interação.
e projetos em Educação
Como avaliar em que medida os alunos vão incorporando e consolidando Ambiental?
determinados valores, atitudes e hábitos ao longo de sua escolaridade?

E, ainda, como avaliar ações empreendidas em contextos comunitários, locais de trabalho e até
mesmo iniciativas empresariais, seja na esfera pública, seja na esfera privada?
A avaliação de um projeto de Educação Ambiental envolve mais do que a expressão de concei-
tos sobre o meio ambiente. Ela deve envolver resultados de ações e mudanças dos sujeitos diretamente
envolvidos com o espaço de sua atuação ou inserção territorial. Ou seja, não têm uma relação direta
com uma atividade ou com um estudo sobre um tema, mas com os desdobramentos que ocorrem e a
intervenção dos sujeitos na complexidade do contexto socioambiental.
Segundo Tarin (apud TOMAZELLO; FERREIRA, 2001, p. 200), se adotarmos processos de
avaliação mais rígidos e quantitativos, correremos o risco de prescindir de elementos que melhor
caracterizam a Educação Ambiental. Temos utilizado processos avaliativos que advêm de uma con-
cepção tradicional de educação, que hoje não são adequados à visão de realidade ambiental, portanto
necessitamos não só de novas práticas educativas, como de um novo modelo de avaliação.
Tendo em vista que no decorrer de um século as ações relativas ao meio ambiente e aos proces-
sos educativos sofreram significativas transformações, há de se repensar o que se espera dos projetos
de Educação Ambiental.

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Avaliação de projetos em Educação Ambiental I

A seguir trazemos uma explicação de como esse processo se deu, segundo


Tomazello e Ferreira (2001, p. 201).

Evolução dos princípios de proteção ambiental


no século XX
No final do século XIX e início do século XX, tendo como princípio a
conservação da natureza, muitos países, inclusive o Brasil, passaram a prote-
ger amostras do ambiente natural por meio de parques nacionais. O objetivo
principal dessas áreas protegidas residia na preservação de paisagens naturais,
segundo seu valor estético e de acordo com a possibilidade de uso da geração
atual e das futuras, não permitindo a presença do ser humano.
Valor social: progresso/tecnologia.
Meio ambiente: parques e santuários.
Princípio: estético.
Nas décadas de 40 e 50, os ambientalistas produziram obras importantes
sob o enfoque da ruptura do equilíbrio natural causada por entes abstratos, o
“homem” e a “civilização”, sendo que, na década de 60, um grupo de cien-
tistas, reunidos no chamado Clube de Roma, fez um alerta para os riscos de
um crescimento contínuo baseado em recursos naturais esgotáveis. O relatório
“Limites do crescimento”, publicado em 1972, teve o mérito de conscientizar
a sociedade sobre os limites da exploração do planeta. Após a Conferência de
Estocolmo sobre Meio Ambiente, em 1972, as nações começaram a estrutu-
rar seus órgãos ambientais e estabelecer suas legislações, visando ao controle
da poluição ambiental; e, na década de 80, os resíduos perigosos passaram a
ocupar lugar de destaque nas discussões sobre contaminação ambiental com o
propósito de se garantir a qualidade de vida, o bem-estar da humanidade.
Valor social: qualidade de vida/consumo.
Meio ambiente: tratamento da contaminação.
Princípio: bem-estar.
Na década de 90, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente
e o Desenvolvimento, conhecida como Cúpula da Terra ou Rio-92, mostrou
que neste final de século a questão ambiental ultrapassa os limites das ações
isoladas e localizadas para se constituir em uma preocupação de toda a huma-
nidade. A Agenda 21, documento elaborado na Rio-92, configura-se como uma
estratégia de sobrevivência para o século XXI. Ela estabelece compromissos
e intenções para a preservação e melhoria da qualidade ambiental, visando à
sustentabilidade da vida na Terra. Nos seus 40 capítulos, trata das dimensões
econômicas e sociais; da conservação e manejo de recursos naturais; do forta-

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Avaliação de projetos em Educação Ambiental I

lecimento da comunidade; e de meios de implementação. Novas contribuições


tendem a reforçar, ao menos no âmbito teórico, a articulação entre as questões
ambientais e o processo de desenvolvimento a partir de princípios éticos.
Valor social: preservação.
Meio ambiente: desenvolvimento sustentável.
Princípio: ética.

A evolução ocorrida desde os princípios de uma preocupação na opera- O debate


cionalização de ações de proteção ambiental1, que se deu de forma simplista sobre avaliação
e sem envolver toda a complexidade de fatos e processos que estão imbrica-
dos, passa então de uma concepção naturalista e relacionada somente aos espaços
naturais a ser vista como decorrente dos aspectos sociopolíticos e econômicos,
com forte presença dos espaços construídos, o que nos mostra a transformação
nos modos de compreender o tema meio ambiente. O princípio predominantemen-
te individualista e formal passa a nortear ações coletivas e comprometidas com a
sustentabilidade e preservação da vida.
Essa mudança influencia o processo de realizar e, consequentemente, de
avaliar os projetos e processos educativos relacionados à Educação Ambiental.

Definição e implicações da avaliação


O processo avaliativo2 é indicativo para conhecimento do rumo que está
sendo seguido. Ele mostra se os objetivos foram alcançados e se os esforços estão
sendo aplicados de forma a produzir os efeitos programados pelas instituições ou
grupo de pessoas que estão propondo fazer acontecer o processo.
Avaliação consiste em uma tarefa complexa que não se resume à aplicação
de um simples instrumento ao final de um processo e tem se configurado como
um tema importante e com função de controle social.
O exercício avaliativo envolve a previsão de um tempo a mais para além da
1 Ações de proteção am-
biental podem ter o caráter
conservacionista ou preser-
vacionista, mas não neces-
produção, no mínimo um olhar a mais, para que se: sariamente são sustentáveis,
principalmente quando não
observam a interdependên-
pesquise se as ações estão sendo desenvolvidas de maneira consistente; cia de um elemento com os
demais.
destaque certos aspectos propostos nas ações e propostas realizadas;
reflita sobre aspectos qualitativos e quantitativos do trabalho proposto e 2 Para Luckesi, a avaliação
é uma apreciação quali-
tativa sobre os produtos de
realizado; um processo de intervenção
educativa, que visa a contri-
buir sobre os rumos do proje-
enfatize e selecione o que há de mais importante de ser retomado e me- to original, tanto em relação
aos aspectos quantitativos do
morizado para constituir e reforçar a identidade do projeto. produto, quanto nos métodos
e instrumentos utilizados na
sua realização.

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Avaliação de políticas públicas


A avaliação de políticas públicas trabalha menos com conhecimentos as-
sociados a determinações subsociais, sendo elaborada de forma predominante
como um saber construído acerca do que algum processo ou ação intencional
e explícita desencadeia sobre a realidade. Trata-se de um tipo de investigação
social aplicada, sistemática, planejada e dirigida, destinada a identificar, obter e
proporcionar de maneira válida e confiável dados de um programa ou conjunto
de atividades com o propósito de produzir resultados concretos, comprovando
a extensão e o grau em que se deram estas conquistas. Serve, assim, como refe-
rência para tomada de decisão entre cursos de ação, ou para solucionar proble-
mas e promover o conhecimento e a compreensão dos fatores associados ao êxi-
to ou fracasso de seus resultados (AGUILLAR; ANDER-EGG, 1994, p. 31-32;
BELLONI et al., 2000, p. 20-21).
Podemos ressaltar que a avaliação em Educação Ambiental trata-se de
um processo contínuo que objetiva auxiliar a melhoria contínua e a inovação do
processo educativo nesta área, e o estabelecimento de condições para análise do
processo, visando sua continuidade e permanência na formação de comunidades
sustentáveis e a melhoria da qualidade ambiental.

Metodologia de avaliação
A literatura apresenta uma variedade de metodologias de avaliação orienta-
das para o desenvolvimento de ações relativas à questão ambiental.
No caso específico da Educação Ambiental, destacam-se alguns procedi-
mentos necessários para dar conta do processo educativo que envolve mudanças
de valores, de conceitos e de práticas socioambientais.
O primeiro centra-se em avaliar mudança de valores, atitudes, hábitos e
crenças dos sujeitos envolvidos. Para tanto, várias técnicas podem ser emprega-
das, como sondagem de conceitos, com pré e pós-testes, acompanhados de diag-
nósticos da percepção ambiental por meio de representações gráficas, produção de
textos e conversas informais.
O segundo grupo de procedimentos propõe avaliar a estratégia educacional
do projeto do ponto de vista cognitivo, destacando a relevância do projeto no con-
texto local; a presença do enfoque multi/inter/transdisciplinar; o perfil da equipe
que desenvolve as ações do projeto; a proposta da intervenção socioeducativa e a
representatividade dos sujeitos envolvidos.
O terceiro descreve a estratégia educacional do projeto do ponto de vista
afetivo, isto é, descreve as interações entre os sujeitos envolvidos, a capacidade do
projeto de provocar o envolvimento e possibilitar pertencimento, empoderamen-
to no envolvimento e no pertencimento da comunidade e autoridades locais; e a
potencialidade do projeto em ter sustentabilidade social.

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Avaliação de projetos em Educação Ambiental I

Algumas questões podem orientar o método de avaliar a adequação de um


projeto de Educação Ambiental, sendo elas:
Os objetivos selecionados são relevantes em relação ao contexto socio-
ambiental dos sujeitos envolvidos?
O projeto prevê a promoção de ações dos indivíduos em favor do meio
em que vivem e atuam?
A estratégia permite estabelecer relações entre os problemas locais e os
problemas globais do planeta?
O projeto prevê inserção e aplicação no âmbito local/regional?
Observam-se mudanças de atitudes dos sujeitos em relação ao ambiente
em que estão inseridos?
Durante o processo observam-se mudanças, com aumento do grau de com-
plexidade, nos modelos explicativos sobre os problemas ambientais?
Ainda durante este processo, as estratégias de ação promovem a capaci-
dade de análise e de tomada de decisões por parte dos sujeitos?
Temos que avaliar o desenvolvimento do espírito crítico dos sujeitos que são
envolvidos no projeto, o desenvolvimento de suas capacidades, tais como respon-
sabilidades, iniciativa e autonomia, e o desenvolvimento de uma nova ética e valo-
res mais bem adaptados à gestão dos recursos e à responsabilidade ante gerações
futuras (valores de solidariedade, tolerância, cooperação).
No âmbito interno das ações do próprio projeto, deve-se verificar a conso-
lidação de uma proposta que esteja em sintonia com os preceitos da sustentabi-
lidade, em ações junto à comunidade próxima, assegurando o exercício pleno da
responsabilidade social, segundo sua competência institucional.
E na interface com a sociedade, deve-se avaliar se o projeto promove valores
e práticas dialógicas com o público-alvo, sensibilizando-o para novas oportunida-
des de inserção em um mundo exigente em qualidade, e assegura a potencializa-
ção dos impactos positivos dos resultados das pesquisas por adoção de tecnologias
apropriadas à gestão ambiental da sociedade.
A avaliação de projetos em Educação Ambiental tem por propósito contri-
buir para que a formação de educadores ambientais em todas as esferas da socie-
dade se realize por meio de um processo interativo na construção de propostas
de integração, de caráter intra e interinstitucional. Uma das estratégias é a cons-
cientização ambiental simultânea de pessoas representativas de todos os ramos da
atividade social e a sua habilitação para implementar programas e projetos que
favoreçam o seu engajamento em atividades de EA junto às comunidades, gover-
nos e organizações não governamentais locais, colaborando com as instituições
públicas de ensino fundamental na formação de seus docentes. Poderá, também,
influir e beneficiar na adequação das diferentes realidades no processo de transfe-

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rência de conhecimentos e tecnologias, de acordo com a missão institucional das


organizações em que atuam. Assim, a motivação e a capacitação para a prática
de EA visam a fortalecer o relacionamento entre as instituições e a sociedade em
geral.
A compreensão e interação adequada da sociedade com a natureza influi no
trabalho com os seus elementos – água, ar, solo, flora, fauna e ser humano.
É preciso construir e transmitir conhecimentos e sensibilizar a sociedade
sobre todos os elementos que constituem o ambiente e suas interdependências,
formando-se simultaneamente a consciência de que um elemento componente
jamais sobreviverá sem o outro.
A não inserção do ser humano como parte integrante do meio ambiente tam-
bém tem sido um entrave na comunicação entre educadores e público-alvo, sendo
necessário resgatá-lo por meio da sua valorização como pessoa e reconstrutor da
natureza.

Critérios para avaliação de


um projeto de Educação Ambiental
De todas as tarefas de um processo educativo, a avaliação é a etapa mais
difícil. Reconhecendo as limitações e a complexidade do processo de avaliação,
principalmente em se tratando de Educação Ambiental, pois objetiva a mudança
de atitudes e hábitos, respaldando-se em uma profunda transformação nos valores
em vigor.
Quais os critérios para conhecer e avaliar as repercussões causadas por uma
atividade e/ou projeto de Educação Ambiental? Como avaliar a necessidade de
melhoria ou retomada das atividades propostas? Como decidir que tipo de ins-
trumentos e/ou situações podem ser mais adequados para obtermos informações
relevantes sobre a pertinência de uma atividade?
Todas essas questões, e outras mais, certamente surgem ao longo do pro-
cesso do desenvolvimento das atividades de Educação Ambiental. Há uma unani-
midade entre os autores sobre o papel fundamental da avaliação dos projetos e/ou
atividades de Educação Ambiental e sobre a importância do desenvolvimento de
instrumentos adequados de avaliação.
No entanto, ainda perdura na prática dos projetos atuais
[...] a ausência de processos avaliativos. Isto é preocupante, pois desconhecendo a eficácia
ou eficiência de nossas ações a curto, médio ou longo prazos não podemos proceder a
eventuais correções ou ajustes do nosso processo de construção e difusão do conhecimento
gerado e da aquisição de novos hábitos por parte dos capacitandos. (TOMAZELLO;
FERREIRA, 2001, p. 202)

Alguns critérios passam a ser importantes na avaliação de projetos e ações


em Educação Ambiental, tais como:
definir com clareza os objetivos a serem alcançados;

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Por exemplo, a Educação Ambiental aspira, dentre outros objetivos mais


gerais, a ajudar os indivíduos a tomar consciência do entorno global, ou seja,
compreender que o entorno global abrange o conjunto de aspectos sociais e cul-
turais; compreender que esses aspectos são interdependentes e estão em cons-
tante interação, e dar-se conta de que eles mesmos são parte integrante desse
entorno. Se dentro desse assunto se elegem os aspectos sociais do meio escolar,
o projeto poderia ter como objetivos específicos capacitar os alunos a:
identificar os diferentes grupos sociais dentro do meio escolar;
exemplificar interações que esses grupos mantêm;
avaliar o impacto sobre o meio escolar em seu conjunto, de intera-
ções concretas entre os distintos grupos (TOMAZELLO; FERREIRA,
2001).

mudar os valores dos sujeitos envolvidos. Mais do que aquisição de no-


vos conhecimentos, é fundamental identificar os valores que necessitam
ser adquiridos;
Devemos planejar, no momento da elaboração de um projeto de Educação
Ambiental, atividades com características próprias, específicas, que as mudan-
ças de atitudes e comportamentos exigem. Entretanto, não são quaisquer valores,
ou os valores pré-estabelecidos pela sociedade. A escola deve avançar em suas
propostas na busca de valores que melhor se adaptem na luta pela sobrevivência
da espécie humana e melhorem a gestão dos recursos naturais (TOMAZELLO;
FERREIRA, 2001).
finalizando, acreditamos ser importante não só avaliar como também su-
perar a visão simplista de avaliação. Não se avalia com o único objetivo
de propor mudanças, pois nem sempre mudança significa melhoria. Os
resultados da avaliação de um projeto de Educação Ambiental devem
sinalizar, por meio da compreensão, da reflexão e do diálogo entre seus
atores – professores, alunos e comunidade – os elementos que consisti-
riam na autêntica melhoria do programa.
Assim, o processo de avaliação deve ser contínuo e presente em todo o
desenvolvimento de atividades de Educação Ambiental, e deve propor uma ava-
liação qualitativa da produção de conhecimentos para que se possa acompanhar
o processo. A avaliação precisa ser um processo contínuo e ocorrer em todas as
fases do desenvolvimento das atividades. Estando associada com todo o processo
educativo, não a concebemos só como uma atividade final, nem diagnóstica, se-
não como um processo estreitamente articulado com o fazer educativo.
A avaliação deve ser qualitativa e tem por objetivo melhorar os programas
através de sua compreensão, do conhecimento de sua natureza e resultados. Ela
deve ser democrática, deve ser posta a serviço dos usuários e da comunidade.
Deve ser processual, isto é, realizar-se durante todo o processo, assim pode modi-

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Avaliação de projetos em Educação Ambiental I

ficar e melhorar. É essencial que seja participativa, dê voz aos participantes para
que emitam suas opiniões. Deve realizar-se em equipe, pois assim haverá uma
pluralidade de enfoques e maior garantia de rigor. Pode ser feita pelos próprios
participantes e também contar com a colaboração externa, com uma perspectiva
complementar, o que dará maior veracidade às informações.
Vale ressaltar que o processo de avaliação não objetiva o julgamento do
programa ou dos seus responsáveis. Sua função é facilitar, por meio das informa-
ções recolhidas, de sua interpretação, a valoração que deve ser feita pelos próprios
participantes; eles sim devem emitir juízos para o aperfeiçoamento tanto do pro-
grama como dos profissionais envolvidos. A avaliação permitirá a compreensão e
a reflexão por meio dessas informações selecionadas, ampliando assim a produção
de conhecimentos sobre o programa.

Em dupla, escolha uma ou duas técnicas descritas no subtítulo “Metodologia de Avaliação” e


detalhe como fariam para avaliar ações educativas desenvolvidas em um projeto de Educação Am-
biental.

“Temos o prazo de uma geração para reintegrarmos a nossa espécie ao processo de sustentabi-
lidade evolutiva do universo. Devemos buscar, almejar, alcançar o equilíbrio dinâmico das condições
físicas, biológicas e culturais através do desenvolvimento de sociedades sustentáveis, que deixou de
ser utopia para se transformar em estratégia de sobrevivência, aquela capaz de desviar a nossa exis-
tência da rota de pobreza, miséria, injustiça e desastre ambiental” (ALMEIDA, 1995).

ALBA, Alicia; GAUDIANO, Edgar González. Evaluación de Programas de Educación Ambien-


tal: experiencias en América Latina y Caribe. México: Universidad Nacional Autónoma, 1997.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: ciências natu-
rais. Brasília: MEC/SEF, 1997.
DÍAZ, A. P. La Educación Ambiental como Proyecto. Barcelona: IC. E. Universitat Barcelona/
Editorial Horsori, 1995.
TOMAZELLO, Maria G. C.; FERREIRA, Tereza R. C. Educação ambiental: que critérios adotar
para avaliar a adequação pedagógica de seus projetos? Ciência e Educação, São Paulo, v. 7, n. 2,
p. 199-207, 2001.

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Avaliação de projetos em
Educação Ambiental II
Maria de Lourdes Spazziani

Desafios da avaliação
Nos projetos em Educação Ambiental há uma promessa explícita ou implícita de formação qua-
lificada dos sujeitos envolvidos para atuarem de forma ­consciente em relação aos temas e problemas
socioambientais. A promoção da qualidade de vida dos humanos e não humanos está alicerçada no
processo de participação ­social. Este aspecto apresenta significativa aproximação com o enfoque do
ecodesenvolvimento e passa a ser um dos principais desafios do processo de avaliação.
Pensando no cenário brasileiro ou dos nossos vizinhos latinos, a qualidade da participação tem
sido tema primeiro para atingir o tipo de amadurecimento político necessário. Ou seja, quanto mais
atuante for um grupo ou nação nos processos decisórios de sua comunidade ou país, maior é o nível
da discussão política.
Entende-se, aqui, por pobreza política a condição do pobre que sequer sabe e é coibido de
saber que é pobre. Vive em estado de ignorância, no sentido da falta de mínima consciência crítica
de seus direitos. É literalmente massa de manobra, manipulado de fora, sem condições de se fazer
sujeito de história própria. Não se coíbe apenas que sobreviva, coíbe-se sobretudo que se emanci-
pe. Evita-se de todas as maneiras que este pobre saiba pensar, para que possa aceitar, sem reação,
renda mínima de R$15,00 e, de quebra, agradeça e vote. O que mais constitui pobreza não é a fome,
mas o fato de não saber que a fome é inventada e imposta, e que é meio de vantagem para alguns.
O pobre não sabe fazer, sobretudo fazer-se oportunidade, tomando o destino em suas mãos. Sendo
massa de manobra, imagina que os outros, em particular seus algozes, trarão sua salvação. Acredita
no “Comunidade Solidária”, nas cestas básicas, na renda mínima, nas assistências da primeira-
-dama porque não consegue acreditar no poder que tem, sobretudo se consciente e politicamente
organizado (DEMO, 2000, p. 5).
Assim, a noção de pobreza política da nossa população, de acordo com Demo (2000, p. 5), nos
coloca o desafio da avaliação em três dimensões fundamentais:
a dificuldade de autopromoção – historicamente as dificuldades iniciam-se já na capacidade
de mobilização e organização comunitária, que contribui para a baixa promoção de consci-
ência crítica e autocrítica;
a fraca capacidade de reivindicação organizada e competente – problema de conquista dos
espaços próprios (autogestão), problemas de planejamento participativo (dificuldades de
autodiagnóstico, de montagem de estratégias comuns de ataque aos problemas, de associa-
tivismo efetivo);
o predomínio da visão assistencialista – promovendo o conformismo, passividade, defici-
ências na luta pelos instrumentos de produção (acesso à terra, a instrumentos e lugares de
trabalho produtivo, a locais de comercialização), deficiências na luta pela autogestão de
recursos, precariedade do interesse produtivo.
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Chances de Qual a capacidade de resolver problemas concretos de sobrevivência (renda,


autogestão trabalho, nutrição, habitação)? Qual a capacidade de resolver problemas políticos
na dimensão da qualidade: participar, autogerir, autoplanejar, reivindicar, contro-
lar o Estado? Capacidades estas tão bem analisadas por Demo (1991, p. 23).
Esses entraves presentes nos movimentos sociais, em países considerados
emergentes, refletem a capacidade e qualidade dos projetos desenvolvidos, espe-
cialmente quando o resultado a ser obtido é a valorização do potencial educativo
da população. Ou seja, são processos em que a qualidade de formação qualificada
não se desenvolve somente observando-a, mas vivenciando-a. Passa necessaria-
mente pela prática, pois sua lógica é a da sabedoria, mais do que a da ciência,
que se permite apenas analisar, estudar, observar (DEMO, 1991, p. 30). Assim, a
qualidade política que trata dos conteúdos da vida humana e sua perfeição é a arte
de viver (DEMO, 1991, p. 19).
A constatação tem solicitado novos parâmetros para a educação comunitá-
ria, tal como a proposta da Educação Ambiental. O que nos remete à análise da
questão de em que medida essa educação contribui para se pensar o modo como
temos impactado o meio ambiente. Assim:
posso pensar em que medida os modos como eu me desloco (dentro ou
fora de cidade) afeta, as roupas que eu compro afetam, o modo que eu
disponho meu lixo afeta, meu uso de energia (gás e eletricidade) afeta,
a comida que eu compro afeta, o uso do meu tempo livre afeta, o meu
trabalho afeta, o meu uso de água afeta, impacta o ambiente;
posso pensar como maior desafio para o mundo nos próximos anos o
avanço no respeito aos direitos humanos, redução no trabalho infantil,
controle no aumento da população, controle sobre as mudanças climá-
ticas, redução do desemprego, redução da poluição (ar, água, poluição
de terra), redução na diferença entre ricos e pobres e, ainda, melhora na
saúde de pessoas (DEMO, 2001, p. 35).
A participação efetiva das populações e comunidades locais nos processos
e projetos de Educação Ambiental constitui-se em um dos grandes desafios na
avaliação, pois ao pretender transformar valores é necessário incentivar padrões
de consumo mais sustentáveis e desencorajar aqueles que promovam impacto ne-
gativo no contexto socioambiental; especialmente os que contribuem para acen-
tuar as desigualdades sociais, já tão gritantes, e manutenção da pobreza a limites
inimagináveis.
São importantes proposições reflexivas sobre limites de consumo; desenvolvi-
mento de tecnologias e métodos que sejam ambientalmente sustentáveis e que aten-
dam à demanda de grande número de consumidores pobres; remoção de subsídios
perversos e reestruturação de impostos que danificam o ambiente; fortalecimento
da ação pública para a educação do consumidor e informação e proteção ambien-
tal; ênfase nos mecanismos internacionais para administrar os impactos globais de
consumo; construção de alianças mais fortes entre movimentos para proteção do
consumidor, proteção ambiental, erradicação de pobreza, igualdade de gênero e dos
direitos de crianças; pensar globalmente e agir localmente (e vice-versa).
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Critérios de representatividade, legitimidade


e participação no processo de avaliação
Sendo a Educação Ambiental uma complexa dimensão da educação de um
povo, ela recebe influências de uma grande diversidade de teorias e de práticas
que abordam, através de diferentes pontos de vista, a concepção de educação, de
meio ambiente, de desenvolvimento social e de educação.
No Brasil, a Lei 9.795/99, que dispõe sobre a Educação Ambiental, coloca
entre os seus objetivos centrais e, portanto, como marcos na avaliação de propos-
tas dessa natureza:
I – o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em
suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológi-
cos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos;
II – a garantia de democratização das informações ambientais;
III – o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a pro-
blemática ambiental e social;
IV – o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e respon-
sável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da
qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania;
V – o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do país, em níveis
micro e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambiental-
mente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade,
democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade;
VI – o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecno-
logia;
VII – o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solida-
riedade como fundamentos para o futuro da humanidade.
A avaliação de projetos que contemplem a Educação Como contemplar
Ambiental deve se referenciar para além do mero aspecto
a avaliação em Educação
formal de assimilação de conhecimentos, comum às abor-
dagens educacionais de tradição pedagógica tecnicista ou
Ambiental para além
bancária. Jean-Jacques Rousseau, filósofo do Iluminismo, do aspecto formal?
inaugura uma nova forma de ver a natureza humana, como parte do meio natu-
ral, e isso impacta a tarefa da educação para além das instrumentalidades das
abordagens conteudistas e formais advindas do desenvolvimento industrial e do
capitalismo. Avançando neste sentido, cabe a tarefa da educação desenvolvida nos
diferentes espaços sociais (escola, comunidade, empresa, ONGs, igrejas) de incre-
mentar a sensibilidade ou consciência ecológica para a construção da cidadania.
Ou seja, à Educação Ambiental tem sido reservado o papel de formar pessoas para
se envolverem na consecução de políticas públicas, que promovam a participação
dos vários segmentos envolvidos na sociedade civil e política. Para tanto, devem-
-se promover consensos negociados e práticas políticas espraiadas em todos os
setores da nossa sociedade.
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A questão emancipatória
Oportunidade1 significa dar espaços para a construção da competência
política, em que a competência técnica é vista como meio. A questão da educação
é promover processos que oportunizem a todas as pessoas capacidade de interven-
ção no contexto de sua vida, influindo na qualidade política de uma comunidade
ou nação.
A educação passa a ser a pedra fundamental de desenvolvimento humano,
seguido de longevidade e do poder de compra.
Sobretudo a partir do Relatório de 1997, ainda que sem usar o conceito explícito de pobre-
za política, a ONU passou a apostar mais na cidadania do que na economia. Em tese. Pois,
na prática, isto não muda a lógica da sociedade da mercadoria. Mas o discurso abraçou a
causa da cidadania. (DEMO, 2000)

Ainda nesse ponto, Demo (2000) aprofunda e amplia seus argumentos.


Chamou grande atenção também a proposta de Sen, agraciado com o Prêmio Nobel de
Economia de 1999, que define desenvolvimento como liberdade, insistindo obstinadamen-
te que a face material do crescimento é apenas meio, por mais que seja sempre. Tenta por
todas as vias mostrar as vantagens de regimes democráticos, sobretudo o valor da liber-
dade, que ainda define tendencialmente como individual, fazendo ecoar o pano de fundo
liberal. Atualmente, faz parte do evangelho do Banco Mundial pregar a importância da
participação comunitária na educação, por vezes acima de tudo, não porque acredite nisso
de verdade, mas porque, de fracasso em fracasso, é mister trocar de bode expiatório.

O processo de emancipação é complexo e relacionado diretamente à ca-


pacidade de participação de todos os setores de base comunitária. Está ligado
à promoção da democracia, ou seja, o controle democrático é sua essência, e a
dificuldade é encontrar grupos no poder (governos, líderes de instituições, autar-
quias) que aceitem (desejem!) ser controlados. Por isso, participação é conquista,
que promove a emancipação no sentido estreito da palavra.

Organização comunitária
O movimento proposto na Comuna de Paris2 parte das associações locais,
com grupos pequenos em que todos participam. As decisões são tomadas “olho
no olho” para depois se pensar em representação superior. O poder não está no
centro, mas nas bases.
Aqui aparece, em seu devido lugar, o controle democrático: a base precisa exercer con-
trole democrático sobre seus órgãos superiores, que nada têm de “superior”. Se houvesse
“órgão superior”, seria a comunidade de base. Neste sentido, a qualidade associativa está
1 Quando o PNUD define
desenvolvimento humano
como “oportunidade”, alude
vinculada a dois passos essenciais: organização de bases menores, onde os membros de
que o crescimento continua preferência se veem face a face; e controle sobre todas as formas posteriores de represen-
importante, indispensável tação das bases, sobretudo de órgãos centrais. Podemos, então, chamar de competência
como meio, mas o fim é a
sociedade, o bem comum, política a habilidade de produzir cidadania de baixo para cima, fazendo com que as as-
a cidadania. (PNUD, 1999; sociações se tornem o sujeito histórico decisor, mantendo outras instâncias, sobretudo o
DEMO, 1997).
estado, a seu serviço. Se houvesse tal competência política seria possível também algum
controle sobre o mercado, por exemplo, não aceitar que o salário mínimo nada tenha a ver
2 A Comuna de Paris visua-
liza um tipo de estratégia
para a competência política
com o mínimo de sobrevivência. (DEMO, 2000)
que está muito esquecido en-
tre nós: o da força dos grupos
pequenos bem organizados
como requisito anterior à or-
ganização maior posterior.

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As ONGs podem também fazer o papel de intelectual orgânico, desde que


imbuídas de consciência crítica e autocrítica, podendo contribuir com a constru-
ção da autonomia associativa popular. Assim, temos que a essência de toda ONG
é cumprir seu papel na organização técnica e política das bases populares, em
questões socioambientais e de desenvolvimento tecnológico e cultural compatí-
veis com as populações menos favorecidas. Possui papel supletivo, motivador, não
de condução.
A construção da emancipação passa necessariamente pela mobilização, pela
participação, pela formação de quadros e por programas e projetos que promovam
a sintonia entre as necessidades da maioria da população e os princípios de sobre-
vivência digna para todos os seres vivos ou não vivos da comunidade planetária.
Essas premissas, colocadas em projetos de Educação Ambiental, destacam a ideia
de que a comunidade não pode ficar de fora, como mero objeto de manipulação.
Os projetos de desenvolvimento local na perspectiva socioambiental devem,
em primeiro lugar, atender à comunidade. No entanto, quando são muito grandes
e onerosos, devem ser monitorados mais severamente para não servirem aos inte-
resses do sistema, principalmente do mercado; essa contradição é intrínseca aos
sistemas, mormente capitalista.
A capacidade de controle democrático das comunidades populares geral-
mente diminuta ou mesmo inexistente deve ser desafiada no desenvolvimento dos
projetos de Educação Ambiental. A promoção da competência política não pode
ser promovida de fora, nem pode prescindir de motivação de fora; essa “charada”
está pouco elucidada, porque o sistema usa a comunidade para a convalidação do
projeto, e a comunidade facilmente se entrega ao projeto.
Por outro lado, não se pode esperar que a pobreza política seja superada
para iniciar o projeto; antes, é mister usar o projeto como processo também apto
a facilitar a emancipação das comunidades; fácil de dizer, árduo de fazer, porque
tudo conspira contra a comunidade.
A capacidade educativa dos projetos parece primordial, ganhando ainda
mais força quando se trata de projetos ambientais; parece ideia preciosa a de cons-
tituir as comunidades como guardiãs de seu futuro, incluindo o cuidado com seu
meio ambiente. Embora essa perspectiva possa ficar restrita ao local, é começo
fundamental para o cuidado do meio ambiente como um todo, ou com o planeta.
As ideias em torno da ecopedagogia poderiam ser muito adequadas aqui.
Atividade importante em todos os sentidos nas comunidades será contribuir
para o associativismo democrático no sentido da Comuna, fomentando, de um
lado, iniciativas de organização popular e, de outro, evitando percalços históri-
cos recorrentes, como entidades pelegas, associações fantasma. A defesa do meio
ambiente tem sido feita muito melhor pela sociedade organizada do que pelo
Estado e, sobretudo, do que pelo mercado; neste campo existem ONGs realmente
qualitativas, militantes, dotadas de notável competência política.

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Podemos refletir, a partir dos quatro textos complementares propostos, sobre a importância de
estratégias de gestão para o ecodesenvolvimento e qualidade de vida.

Estratégias de gestão para o ecodesenvolvimento


(FERREIRA, 2003)
Em se tratando de enfoque de Educação Ambiental baseado em estratégias de gestão para o
ecodesenvolvimento, destacam-se as experiências de diagnósticos socioambientais participativos
realizadas por Gadgil (et al., 1999). Os autores resgatam a importância do conhecimento ecológico
tradicional e da criação de novos contextos para uma prática continuada. Os primeiros resultados
são referentes a 52 documentos de vilas distribuídos em oito estados e territórios da Índia, prepa-
rados entre 1996 e 1998. Aponta-se que o conhecimento popular carece de um processo formal
de registro, sendo desenvolvido quase que exclusivamente no transcurso da prática. Isso tem feito
que esse patrimônio cultural ecológico venha se perdendo, principalmente em função do acesso
a novas tecnologias e também em decorrência da perda de controle sobre a base de recursos. A
metodologia do Peoples’s Biodiversity Programme (PBR) prevê o monitoramento das transforma-
ções socioambientais e gera uma base de informações necessárias à gestão de recursos comuns. O
roteiro para elaboração dos diagnósticos inclui:
o estado do meio ambiente geobiofísico e social – problemas socioambientais, represen-
tação espacial dos problemas, percepção e atitude da comunidade acerca das causas;
o levantamento dos recursos e usos dos recursos no passado (história ecológica) e no pre-
sente – uso do solo, águas, cobertura vegetal, fauna, pesca, biodiversidade; ganhadores e
perdedores; conflitos; instrumentos de gestão; potencial não utilizado ou desconhecido;
lacunas de conhecimento;
o planejamento e gestão de alternativas – identificação de reivindicações das comuni-
dades; elaboração de cenários; criação de estratégias de desenvolvimento; estudos de
viabilidade das estratégias (alimentação, energia, habitação, saneamento, processamento
industrial de recursos renováveis, educação, saúde, transportes etc.); criação de sistema
de gestão (cogestão); negociação (necessidade de mediador, um pedagogo, para criar
consciência do patrimônio comum);
a implementação do plano de desenvolvimento.

Avaliação da qualidade de vida


(FERREIRA, 2003)
No Brasil, há um esforço recente de consolidação de modelos de avaliação da qualidade de
vida para além dos referenciais economicistas, ainda predominantes, como o do Produto Interno
Bruto. Destaca-se, no conjunto das iniciativas, a implementação do Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH), elaborado desde 1990 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi-
mento. Este índice é composto pela média simples de três indicadores: longevidade (medido pela

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esperança de vida ao nascer); nível educacional (medido por uma combinação da alfabetização
adulta com a taxa de escolaridade combinada do primário, secundário e superior); e nível de vida
(medido pelo PIB real per capita).
Não existe, entretanto, consenso político em torno da pertinência em se adotar um ou vários
indicadores de bem-estar. Anderson (apud MERICO), por exemplo, escolheu um conjunto de
20 indicadores para 14 países diferentes, estabelecendo níveis de bem-estar e correlações entre
os mesmos, entre os quais relacionou: porcentagem de crianças em idade escolar matriculadas
na escola; analfabetismo; desemprego; média de consumo diário de calorias, em relação ao mí-
nimo necessário; acesso à água potável; distribuição de renda; número de telefones disponíveis
para cada mil pessoas; taxas de mortalidade infantil; taxas de perda de áreas florestadas; emis-
são de carbono para a atmosfera; crescimento populacional; reatores nucleares em operação;
intensidade energética do processo produtivo e produto nacional bruto (PNB) per capita. Vale
a pena mencionar ainda uma série de iniciativas de construção de indicadores socioambientais
da qualidade de vida no nível local. Tais iniciativas defendem uma gestão ambiental descen-
tralizada, marcada pela iniciativa e o empoderamento das comunidades, construída com base
na realidade em que se insere, não desconsiderando as referências e estratégias elaboradas pela
experiência internacional.
A perspectiva ecológica encontrada na biogeografia de Pierre Dansereau (1999) enseja im-
portantes contribuições, tais como as encontradas no “Bolo do Ambiente”, um tipo de matriz que
avalia o nível de satisfação das necessidades de habitantes e usuários de uma localidade. Os crité-
rios de necessidades e direitos do indivíduo foram assim categorizados:
necessidades fisiológicas – acesso à luz, ar, água, alimentos, abrigo, procriação ou proge-
nitura;
necessidades psicológicas – espaço, paz, sexo, relacionamentos;
necessidades sociais – vizinhança, assentamento doméstico, trabalho, associações pes-
soais e profissionais;
necessidades econômicas – renda mínima, poder de decisão, propriedade;
necessidades políticas – educação, informação, participação;
necessidades éticas – fé, congregação, convivência ética.
Como necessidades e direitos da sociedade são elencados a gestão, investimento, planifica-
ção, legislação e cultura. Já as necessidades e direitos da espécie são classificados em diversidade,
produtividade, ajuda e saúde.

Cuidados no uso da palavra participação


(DEMO, 2000)
Participação pode ser usada como fetiche ou slogan para um quadro histórico que ainda
não apresenta um mínimo de competência política. Tão importante quanto saber referenciar-se à
participação popular, é saber perceber até que ponto existe ou é fantasia. Em situação de extrema
pobreza material, e sobretudo política, não se pode supor que as populações possam participar
devidamente sem antes conquistar seu processo de autonomia, para o qual são imprescindíveis
“intelectuais orgânicos” adequados. Estes podem também provir do Estado, mas são mais con-

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fiáveis quando provêm de ONGs e sobretudo da própria comunidade ou de agentes diretamente


vinculados às comunidades. Se isto não ocorrer, é sempre possível fazer as comunidades dizerem
o que jamais disseram ou sequer saberiam dizer, manipular líderes para que façam a comunidade
dizer o que os interesses econômicos pretendem, inventar novos líderes à revelia das comunida-
des, sempre no sentido da convalidação.

Competência técnica e política = democracia


(DEMO, 2000)
Esta questão pode aparecer também nas políticas sociais. Por exemplo, a comunidade pode
pedir ao Secretário de Educação que nomeie alguém da comunidade como diretora da escola
pública, sem levar em conta que se trate de pessoa leiga, não é professora propriamente e jamais
dirigiu qualquer entidade. Por mais que este pedido esteja escudado na unanimidade da associa-
ção comunitária, não seria o caso atender. Este não atendimento, todavia, não pode ser feito pela
via do descaso ou prepotência, mas da negociação aberta e bem argumentada. Caricaturando
exemplo extremo: os passageiros de avião não poderiam, por amor à democracia, fazer assembleia
e escolher no voto quem vai ser o piloto. Com tal procedimento podemos ter voo mais democráti-
co, mas que certamente não vai dar certo. Pois, para ser piloto, há componentes técnicos que não
podem ser substituídos por procedimentos democráticos. É o mesmo caso do professor: não pode
ser eleito, porque é dotado de qualidades técnicas que não advêm de assembleias, aclamações ou
indicações políticas. Daí não segue que a qualidade política seja subserviente à técnica, mas ape-
nas que há espaços próprios.

Em pequenos grupos, realize uma breve avaliação, observando inicialmente se ocorreram e


quais foram as transformações socioambientais em sua relação com o meio natural ao longo da sua
vida.

“Por que é tão frequente não haver ninguém onde há parques e nenhum parque onde há gente?”
Jane Jacobs

DEMO, Pedro. Participação e Avaliação: projetos de intervenção e ação. Los Angeles: UCLA,
2000.

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Demo nos remete a um complexo e dinâmico processo de pensar nosso papel socioambiental
quando diz: “é sempre uma tentação imaginar que competência política cresça como grama em qual-
quer quintal”, e sinaliza também a importância dos processos emancipatórios, como a possibilidade
de convivência com o ambiente de maneira inteligente.

DANSEREAU, Pierre. As dimensões ecológicas do espaço urbano. In: VIEIRA, Paulo F.; RIBEIRO,
Maurício A. Ecologia Humana, Ética e Educação: a mensagem de Pierre Dansereau. Porto Alegre:
Palloti, 1999.
_______. O avesso e o lado direito: a necessidade, o desejo e a capacidade. In: VIEIRA, Paulo F.; RI-
BEIRO, Maurício A. Ecologia Humana, Ética e Educação: a mensagem de Pierre Dansereau. Porto
Alegre: Palloti, 1999.
DEMO, Pedro. Avaliação Qualitativa. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1991.
_______. Combate à Pobreza: desenvolvimento como oportunidade. Campinas: Autores Associados,
1997.
_______. Participação e Avaliação: projetos de intervenção e ação. Los Angeles: UCLA, 2000.
_______. Participação É Conquista. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
FERREIRA, Luiz Alberto. Formação Técnica para o Ecodesenvolvimento: uma avaliação do ensi-
no técnico agrícola em Santa Catarina no período 1992-2002. Florianópolis, 2003. 202 f. Tese (Douto-
rado interdisciplinar em Ciências Humanas) – Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade
Federal de Santa Catarina.
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. Human Development
Report. Organização das Nações Unidas. Nova Iorque, 1999. 1 CD-ROM.
TOMAZELLO, Maria G. C.; FERREIRA, Tereza R. C. Educação ambiental: que critérios adotar
para avaliar a adequação pedagógica de seus projetos? Ciência e Educação, São Paulo, v. 7, n. 2,
p. 199-207, 2001.
TRAJBER, Rachel; COSTA, Larissa B. Avaliando a Educação Ambiental no Brasil: materiais au-
diovisuais. São Paulo: Instituto Ecoar para Cidadania, 2001.
VIEIRA, Paulo. F.; RIBEIRO, Maurício A. Ecologia Humana, Ética e Educação: a mensagem de
Pierre Dansereau. Porto Alegre: Palloti, 1999.

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PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO EM PROJETOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
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EM PROJETOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
PLANEJAMENTO
E AVALIAÇÃO
EM PROJETOS
DE EDUCAÇÃO
AMBIENTAL

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ISBN 978-85-387-2978-5
Maria DE Lourdes Spazziani
Pedro G. Fernandes da Silva
9 788538 729785

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