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PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO
EM PROJETOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
PLANEJAMENTO
E AVALIAÇÃO
EM PROJETOS
DE EDUCAÇÃO
AMBIENTAL
Planejamento e Avaliação em
Projetos de Educação Ambiental
Edição revisada
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
S726p
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-2978-5
ISO 9000...............................................................................................................................67
O que é uma Norma?................................................................................................................................67
A ISO 9000...............................................................................................................................................68
Agenda 21.............................................................................................................................85
Histórico...................................................................................................................................................85
Propostas...................................................................................................................................................85
Sistemas de integração ambiental.............................................................................................................86
Gerenciamento de riscos...........................................................................................................................90
Conclusão.................................................................................................................................................93
Áreas degradadas..................................................................................................................125
Áreas urbanas degradadas.........................................................................................................................125
Recuperação..............................................................................................................................................128
Passivo ambiental.....................................................................................................................................130
Conclusão.................................................................................................................................................132
Planejamento estratégico......................................................................................................141
Estratégia, tática e operação em Planejamento Ambiental.......................................................................141
Metodologia de planejamento estratégico em Educação Ambiental........................................................142
P
ara entendermos o que significa Impacto Ambiental (IA) podemos recorrer
a vários métodos: dicionário, literatura técnica e, até mesmo, ao senso
comum.
De acordo com o dicionário Aurélio (FERREIRA, 1986), impacto pode
significar “encontro de projétil com o alvo”, “colisão de dois ou vários corpos”,
“abalo moral” e, inclusive, “impressão muito forte”. Em qualquer dos significados,
o aspecto ambiental não é referido; quando muito, poderíamos imaginar que de-
terminado indivíduo (ou grupo de indivíduos) ficaria com uma “impressão muito
forte” ao ver alguma coisa diferente ocorrendo no ambiente.
Na literatura técnica, IA pode significar “mudança induzida pelo homem no
ambiente natural”. No entanto, ainda na literatura técnica, podemos encontrar al-
gumas pequenas diferenças. Por exemplo, Branco (1998) sugere que impactos am-
bientais podem ser causados pelo homem, mas também por fenômenos naturais.
Em relação ao senso comum, podemos imaginar que quando algo parece
não estar funcionando bem já pode ser considerado um IA, independente da ori-
gem e/ou causa.
Independente das definições acima, poderíamos inferir que, desde que algo
esteja em desacordo com uma aparente “harmonia ambiental”, já poderíamos cha-
mar de IA. Em nossa abordagem, utilizaremos a definição de IA como alguma
modificação danosa ao meio ambiente, no sentido de interromper um aparente
equilíbrio natural, independente de origem ou causa, por ser uma definição mais
abrangente.
Para uma adequada compreensão desse “equilíbrio natural”, devemos tentar
compreender como um ambiente natural funciona, ou seja, como funciona um
ecossistema. Utilizando a Teoria de Sistemas, utilizada por Odum (1988), temos
que um ecossistema pode ser definido como uma área qualquer (Sistema – S),
abastecida de matéria e/ou energia, a partir de um local (ou conjunto de locais)
denominado Ambiente de Entrada (AE); essa matéria e/ou energia é que irá sus-
tentar (manter vivos) todos os organismos presentes nesse sistema. Todos os orga- Doutor em Ciências, pela
Universidade de São Paulo
nismos presentes nesse S considerado utilizam a energia e/ou matéria, liberando (USP) – Ribeirão Preto.
energia (1.ª e 2.ª leis da Termodinâmica1) e/ou matéria.
A energia não é reaproveitada (1.ª e 2.ª leis da Termodinâmica), mas a 1 1.ª Lei da Termodinâ-
mica – num sistema
isolado a energia inter-
matéria pode ser (processos de reciclagem – na natureza são os ciclos bio- na permanece constante.
2.ª Lei da Termodinâmi-
geoquímicos). A matéria e/ou energia que deve sair desse S, por não poder ser ca – a entropia do Universo
aumenta numa transforma-
reaproveitada, irá para um local (ou conjunto de locais) denominado Ambiente ção espontânea e se mantém
constante numa situação de
de Saída (AS). equilíbrio.
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Impacto Ambiental I
Z Y
ZX YX
Modelo sistêmico geral, com entradas (Z) e saídas (Y). O estado do sistema e o seu comportamento
ao longo do tempo dependem da interação da entrada externa Z com a entrada ZX do circuito inter-
no de retroalimentação. Também ocorre dependência da saída externa Y com a saída interna YX.
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Impacto Ambiental I
Wikipédia.
Histórico
Desde o surgimento da Revolução Industrial, a humanidade experimenta
um contínuo crescimento de sua população. Em função desse crescimento, alia-se
uma crescente necessidade de bens de consumo, originada pelas facilidades pro-
venientes da Revolução Industrial. Os bens de consumo são originados a partir
do uso dos recursos naturais, como matérias-primas para qualquer processo de
fabricação.
Essa relação aumento da população uso de recursos naturais leva a uma
terceira componente, que é a “sobra” de resíduos, originada a partir dos processos
de fabricação e uso dos bens de consumo. Exemplificando: uma indústria gera
resíduos no processo de fabricação (refugo de material, esgoto etc.) e a população
produz resíduos a partir da utilização dos bens de consumo (aparelhos estraga-
dos, embalagens etc.). Esses resíduos não podem ficar dentro do sistema em que
vivem os seres humanos, sob pena de gerar problemas de saúde, contaminação
de água etc. A terceira componente pode, então, ser denominada de poluição, sob
os mais variados aspectos. As relações descritas acima compõem um triângulo,
como pode ser visto a seguir.
Deve-se notar que, em função da atividade humana, um
(BRAGA et al., 2002)
População
vértice do triângulo afeta o outro diretamente e ainda traz efeitos
sobre si próprio. Por exemplo, se a população usa demais os re-
cursos naturais, corre-se o risco de que os mesmos acabem e/ou
não tenham mais a mesma qualidade, de forma que a população
passe a sofrer a escassez de matéria-prima, deixando de usufruir
dos bens de consumo.
Recursos naturais Poluição
Essas relações não foram notadas durante muito tempo,
Relações entre população – recursos na- uma vez que se tinha a ideia errônea de que os recursos naturais
turais – poluição, onde um vértice afeta
diretamente o outro.
eram “infinitos”; evidentemente, com o crescimento populacional
essa ideia mudou.
O cerne da questão está em que o crescimento populacional não pode
ser infinito, qualquer que seja o sistema considerado. A questão de crescimento
populacional pode ser abordada usando-se o conceito de capacidade de supor-
te, emprestado da Ecologia que, resumidamente, diz: “uma população qual-
quer não pode crescer indefinidamente, sob pena de esgotamento dos recursos
naturais como abrigo, alimento, problemas de doenças, parasitismo, entre ou-
tros”.
Significa dizer que, na prática, todo e qualquer sistema tem um limite de
recursos, denominado capacidade de suporte, além do qual uma população passa
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Impacto Ambiental I
(ODUM, 1988)
Capacidade de suporte Ultrapassou
Máxima
K
K1
Faixa de variação
Ótima
Tamanho
Tempo
Áreas afetadas
A ação antrópica, como já discutido, é capaz de alterar as características de
um sistema, provocando seu desequilíbrio. Esse desequilíbrio pode ser constatado
na utilização dos recursos naturais, que passa a ser prejudicada, seja pela falta ou
pela alteração na qualidade desses recursos.
Vários exemplos podem ser tomados, sendo que os principais são a perda
de solo fértil por processos de erosão, decorrentes de ocupação irregular de uma
dada área, contaminação de lençol freático, deposição inadequada de resíduos
sólidos, queimadas etc.
Desenvolvimento sustentável
Como já mencionado anteriormente, a primeira tentativa de definição do
que seja desenvolvimento sustentável ocorreu em 1987, através da Comissão
Brundtland. Formalmente, a definição: “Desenvolvimento sustentável é o que
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Impacto Ambiental I
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Impacto Ambiental I
Processamento
Uso de recursos Modificação Transporte Consumo
Recursos
Recuperação
de recursos
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Impacto Ambiental I
BRAGA, Benedito et al. Introdução à Engenharia Ambiental. São Paulo: Prentice Hall, 2002.
BRANCO, Samuel M. O Meio Ambiente em Debate. São Paulo: Moderna, 1998.
DIAS, Genebaldo F. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 2001.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1986.
LOPES, Sônia G. B. C. Bio. São Paulo: Saraiva, 1997. v. 3.
MAURO, Claudio A. (Coord.). Laudos Periciais em Depredações Ambientais. São Paulo: IGCE-
UNESP, 1997.
ODUM, Eugene P. Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988.
UNESCO. Educação para um Futuro Sustentável: uma visão transdisciplinar para ações compar-
tilhadas. Brasília: IBAMA, 1999.
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Impacto Ambiental I
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Impacto Ambiental II
Pedro G. Fernandes da Silva
A
legislação brasileira, incluindo a Constituição de 1988, é considerada uma das mais avançadas
do planeta no que se refere à esfera ambiental. É significativo o fato de que essa legislação não
“brotou”, pura e simplesmente, a partir do conhecimento e reconhecimento dos problemas
ambientais, sobretudo após a Revolução Industrial, que introduziu um novo fator na utilização dos
recursos naturais: a velocidade de uso desses recursos.
Desde antes da época do Império, as preocupações ambientais eram motivo de algum tipo de
legislação, como pode ser exemplificado pela Carta Régia do Brasil, de 1542, que estabelece normas
disciplinares para o corte de madeira e determina punições para os abusos cometidos. Outro exemplo,
já no Império, é a Carta de Lei, de outubro de 1827, que delega poderes aos juízes de paz das provín-
cias para a fiscalização das florestas.
De lá para cá muitas modificações de usos e costumes ocorreram, levando à nossa legislação
atual. De forma resumida, em uma sequência histórica (com as devidas atualizações), apresentamos
as principais leis e decretos que, atualmente, são válidos para a área ambiental em nosso país.
O início de tudo é por volta de 1934, na promulgação do Decreto 24.643, que institui o Có-
digo das Águas, posteriormente regulamentado pela Lei 9.433, de 1997.
Em 1965 institui-se a Lei 4.771, que determina o Código Florestal. Posteriormente, essa lei
é alterada pela Lei 7.803/78, e regulamentada pelo Decreto 3.179/99.
Ocorre um grande hiato em termos de proteção e legislação ambiental até que, na prática,
em 1980, por meio da Lei 6.803, é instituída a legislação para Zonas Estritamente Industriais
(ZEIs), o zoneamento industrial em áreas críticas de poluição, criando a necessidade legal de
estudos de zoneamento – início da avaliação de impacto ambiental.
Em 1981 foi sancionada a Lei 6.938, que estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente
(PNMA), onde o estudo de impacto ambiental (EIA) passa a figurar como um instrumento
legal. A Lei 6.938/81 foi regulamentada pelo Decreto 3.179/99.
Em 1986, o Conama baixa a Resolução 001, que estabelece definições, responsabilidades,
critérios básicos e diretrizes gerais para a aplicação da AIA, através da elaboração de EIA/
RIMA (estudo de impacto ambiental/relatório de impacto ambiental).
Em 1989 é criado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renová-
veis (Ibama), através da Lei 7.735, constituindo-se em um dos órgãos de fiscalização federal
mais atuantes.
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Impacto Ambiental II
Em 1989 também são editadas as Leis 7.803 e 7.804, que alteram a Lei
4.771/65 e as leis referentes ao PNMA, Ibama, zoneamento e a criação
de Estações Ecológicas (EE) e Áreas de Preservação Ambiental (APAs),
respectivamente. Novas regras são criadas.
Em 1990, o Decreto 99.274 regulamenta a Lei 6.938/81 e estabelece o
Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), com função de geren-
ciar, fiscalizar e coordenar todas as ações na área ambiental.
A famosa Lei de Crime Ambiental (9.605) é sancionada em 1998, e regu-
lamentada pelo Decreto 3.179/99. Na prática, a Lei de Crime Ambiental
faz um grande cerco a toda e qualquer atividade que não esteja de acordo
com as resoluções do Conama e com as respectivas leis e decretos.
Em 2000 é editada a Lei 9.985, que institui o Sistema Nacional de Uni-
dades de Conservação (SNUC), regulamentada pelo Decreto 4.340/2002
e posteriormente alterada pela Lei 11.132/2005.
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Impacto Ambiental II
EIA/RIMA – elaboração
O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) foi introduzido no sistema normativo
brasileiro via Lei 6.803/80, no seu artigo 10, §3.º, que tornou obrigatória a apre-
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Impacto Ambiental II
É suficiente para o
RAP TR EIA/RIMA
licenciamento?
sim
LP LI LO
- Reversíveis ou irreversíveis
Em relação ao tempo de duração - Curto ou longo prazo
- Temporários ou contínuos
- Local
- Regional
Em relação à área de abrangência - Nacional
- Internacional
(regional ou global)
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Impacto Ambiental II
Desmatamento
- Redução da fauna silvestre
Perda de biodiversidade
- Aumento de pragas
- Turbidez da água
- Diminuição da fotossíntese
Aumento da erosão
- Redução da ictiofauna
- Perda de renda
Exemplos de impactos diretos e indiretos.
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Impacto Ambiental II
II. Ferrovias
IV. Aeroportos
Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como barragem para
quaisquer fins hidrelétricos acima de 10MW, obras de saneamento ou de irrigação,
VII.
abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação, retificação de cursos de
água, abertura de barras e embocaduras, transposição de bacias, diques
Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primária, com
XI.
potência instalada acima de 10MW
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Impacto Ambiental II
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Impacto Ambiental II
Leia o texto indicado abaixo (capítulo 17) e discuta os aspectos históricos e a aplicação da le-
gislação ambiental.
PEDRO, Antonio F. P.; FRANGETTO, Flávia W. Direito ambiental aplicado. In: PHILIPPI JÚ-
NIOR, Arlindo; ROMÉRO, Marcelo de A.; BRUNA, Gilda C. (Coord.). Curso de Gestão Ambiental.
São Paulo: Manole, 2004.
ABSY, Miriam L. et al. Avaliação de Impacto Ambiental: agentes sociais, procedimentos e ferra-
mentas. Brasília: MMA/IBAMA, 1995.
BRAGA, Benedito et al. Introdução à Engenharia Ambiental. São Paulo: Prentice Hall, 2002.
CUNHA, Sandra B.; GUERRA, Antonio J. T. Avaliação e Perícia Ambiental. Rio de Janeiro: Ber-
trand Brasil, 2002.
DIAS, Genebaldo F. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 1992.
MMA/IBAMA. Portal de Legislação Ambiental. Disponível em: <www.redegoverno.gov.br>.
Acesso em: 10 jan. 2006.
PHILIPPI JÚNIOR, Arlindo; ROMÉRO, Marcelo de A.; BRUNA, Gilda C. (Coord.). Curso de Ges-
tão Ambiental. São Paulo: Manole, 2004.
WEITZENFELD, H. Manual básico sobre evaluación del impacto en el ambiente y la salud de ac-
ciones proyectadas. In: PHILIPPI JÚNIOR, Arlindo; ROMÉRO, Marcelo de A.; BRUNA, Gilda C.
(Coord.). Curso de Gestão Ambiental. São Paulo: Manole, 2004.
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Impacto Ambiental II
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Manual de
Licenciamento Ambiental
Pedro G. Fernandes da Silva
O
Licenciamento Ambiental (LA) é o procedimento que o poder público, por meio de seus
órgãos ambientais (Conama, Ibama, SMA, entre outros), autoriza e acompanha a implan-
tação, funcionamento e ampliação de atividades que se utilizam dos recursos naturais e/
ou sejam capazes de, efetiva ou potencialmente, modificar severamente as condições ambientais e/ou
produzir fenômenos de poluição.
A exigência de LA passou a ser obrigatória a partir da Lei Federal 6.983/81, que exige a ela-
boração da AIA (Avaliação de Impacto Ambiental), por meio de seus múltiplos instrumentos (EIA/
RIMA, PCA, RCA, PRAD).
Atividades relacionadas
As principais atividades que necessitam de LA são listadas na Resolução Conama 237/97.
Podem haver atividades não relacionadas nessa resolução que, a critério do órgão ambiental compe-
tente, necessitem de licenciamento. As principais atividades estão apresentadas na relação abaixo.
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Manual de Licenciamento Ambiental
Indústria metalúrgica:
fabricação de aço e de produtos siderúrgicos;
produção de fundidos de ferro e aço/forjados/arames/relaminados
com ou sem tratamento de superfície, inclusive galvanoplastia;
metalurgia dos metais não ferrosos, em formas primárias e secundá-
rias, inclusive ouro;
produção de laminados/ligas/artefatos de metais não ferrosos com ou
sem tratamento de superfície, inclusive galvanoplastia;
relaminação de metais não ferrosos, inclusive ligas;
produção de soldas e anodos;
metalurgia de metais preciosos;
metalurgia do pó, inclusive peças moldadas;
fabricação de estruturas metálicas com ou sem tratamento de superfí-
cie, inclusive galvanoplastia;
fabricação de artefatos de ferro/aço e de metais não ferrosos com ou
sem tratamento de superfície, inclusive galvanoplastia;
têmpera e cementação de aço, recozimento de arames, tratamento de
superfície.
Indústria mecânica:
fabricação de máquinas, aparelhos, peças, utensílios e acessórios com
e sem tratamento térmico e/ou de superfície.
Indústria de material elétrico, eletrônico e comunicações:
fabricação de pilhas, baterias e outros acumuladores;
fabricação de material elétrico, eletrônico e equipamentos para tele-
comunicação e informática;
fabricação de aparelhos elétricos e eletrodomésticos.
Indústria de material de transporte:
fabricação e montagem de veículos rodoviários e ferroviários, peças
e acessórios;
fabricação e montagem de aeronaves;
fabricação e reparo de embarcações e estruturas flutuantes.
Indústria de madeira:
serraria e desdobramento de madeira;
preservação de madeira;
fabricação de chapas, placas de madeira aglomerada, prensada e com-
pensada;
fabricação de estruturas de madeira e de móveis.
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Manual de Licenciamento Ambiental
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Manual de Licenciamento Ambiental
Indústrias diversas:
usinas de produção de concreto;
usinas de asfalto;
serviços de galvanoplastia.
Obras civis:
rodovias, ferrovias, hidrovias, metropolitanos;
barragens e diques;
canais para drenagem;
retificação de curso de água;
abertura de barras, embocaduras e canais;
transposição de bacias hidrográficas;
outras obras de engenharia.
Serviços de utilidade:
produção de energia termelétrica;
transmissão de energia elétrica;
estações de tratamento de água;
interceptores, emissários, estação elevatória e tratamento de esgoto
sanitário;
tratamento e destinação de resíduos industriais (líquidos e sólidos);
tratamento/disposição de resíduos especiais, tais como de agroquími-
cos e suas embalagens usadas e de serviço de saúde, entre outros;
tratamento e destinação de resíduos sólidos urbanos, inclusive aque-
les provenientes de fossas;
dragagem e derrocamentos em corpos d’água;
recuperação de áreas contaminadas ou degradadas.
Transporte, terminais e depósitos:
transporte de cargas perigosas;
transporte de dutos;
marinas, portos e aeroportos;
terminais de minério, petróleo e derivados e produtos químicos;
depósitos de produtos químicos e produtos perigosos.
Turismo:
complexos turísticos e de lazer, inclusive parques temáticos e
autódromos.
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Manual de Licenciamento Ambiental
Atividades diversas:
parcelamento do solo;
distrito e polo industrial.
Atividades agropecuárias:
projeto agrícola;
criação de animais;
projetos de assentamentos e de colonização.
Uso de recursos naturais:
silvicultura;
exploração econômica da madeira ou lenha e subprodutos florestais;
atividade de manejo de fauna exótica e criadouro de fauna silvestre;
utilização do patrimônio genético natural;
manejo de espécies exóticas e/ou geneticamente modificadas;
uso da diversidade biológica pela biotecnologia.
Esferas de exigência
A pergunta é óbvia, mas necessária: “se tenho que obter um LA, a quem devo
me dirigir?” Em primeiro lugar, a Resolução Conama 237/97 determina que o licen-
ciamento seja efetuado em uma única instância, ou seja, deve ser feito o pedido em
uma das esferas do poder público: federal, estadual ou municipal. Para saber a qual
esfera do poder público se dirigir, o procedimento genérico é o que segue.
Municipal
Na maioria dos casos, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA)
deve ser consultada. Deve-se verificar a legislação do município, principalmente
no que se refere às leis de zoneamento municipal. Isso se deve ao fato de que, na
prática, com raríssimas exceções, todo e qualquer empreendimento pertence a
algum município.
Estadual
Empreendimentos cujos impactos ambientais não ultrapassem os limites do es-
tado. São os Órgãos Estaduais do Meio Ambiente (Oema) que regulam e licenciam
essas atividades. Exemplos de Oemas: Fundação Estadual de Engenharia do Meio
Ambiente (Feema), para o estado do Rio de Janeiro; Companhia Estadual de Tecnolo-
gia e Saneamento Ambiental (Cetesb), para o estado de São Paulo, entre outros.
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Manual de Licenciamento Ambiental
Federal
Empreendimentos cujos impactos ambientais ultrapassem os limites do Es-
tado. É o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renová-
veis (Ibama) que regula o licenciamento. Exemplo de atividade que ultrapassa a
fronteira de Estados: Usina Hidrelétrica (UHE), como a de Itaipu.
Como já foi assinalado anteriormente, qualquer Licenciamento Ambiental
exige a manifestação do município e, na prática, o pedido de licenciamento passa
primeiro por uma consulta ao município; em uma próxima fase pode ser cadas-
trado em outra instância.
Tipos de licença
De forma geral, uma LA é o documento, com prazo de validade definido,
em que um órgão ambiental estabelecerá regras, condições, restrições e outras
medidas de controle ambiental a serem seguidas por um empreendimento. Entre
as principais formas de controle ambiental estão o potencial de geração de efluen-
tes, resíduos sólidos, emissões atmosféricas, entre outros. Uma vez que o em-
preendimento seja licenciado, o empreendedor assume as responsabilidades e
compromissos com a manutenção da qualidade ambiental da área em que o em-
preendimento está instalado.
Durante o processo de licenciamento, várias fases são observadas e, para
cada uma delas, deve haver um tipo particular de licença. São três os tipos de
licenças a serem observadas.
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Manual de Licenciamento Ambiental
aeroportos;
oleodutos, gasodutos, emissários de esgoto;
linhas de transmissão elétrica acima de 230kW;
barragens com potência acima de 10MW;
aterros sanitários;
exploração econômica de madeira ou lenha, em áreas acima de 100 hec-
tares ou menos, quando atinge áreas significativas do ponto de vista am-
biental;
projetos urbanísticos, acima de 100 hectares ou em áreas de relevante
interesse ambiental, a critério dos órgãos competentes.
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Manual de Licenciamento Ambiental
Tipo de licença
Depende da situação do empreendimento, conforme mostrado a seguir:
Sim LP LI LO
Operação plena da
Planejamento e concepção da Início da implantação das
atividade.
localização da empresa. instalações do empreen-
dimento ou ampliação das
unidades da empresa.
Qual órgão?
Impactos que ultrapassam o estado – Ibama.
Impactos restritos ao estado – Fundação Estadual de Engenharia do Meio
Ambiente (Feema). É o que ocorre para a maioria dos casos no Brasil, e
não só para esse exemplo do estado do Rio de Janeiro.
“Burocracia”
Há uma série de documentos a serem preenchidos e encaminhados para
que o licenciamento ambiental possa ocorrer. Em linhas gerais, deve-se entrar em
contato (através dos escritórios ou pela internet) com o órgão ambiental corres-
pondente, fazendo-se a solicitação de requerimentos e cadastro da empresa.
Dados e documentos
Dependem do tamanho do empreendimento, tipo do empreendimento,
graus de risco da atividade a ser desenvolvida, entre outros. Também depende
de em qual fase do licenciamento o empreendimento se enquadra. Os principais
documentos são:
memorial descritivo da empresa;
formulário de requerimento;
CPF, RG, registro de conselho de classe etc., para representante legal,
profissionais responsáveis pelo projeto, entre outros; 1 SLAP – Sistema de
Licenciamento de Ati-
vidades Poluidoras, institu-
ído pelo Decreto Estadual
ata de eleição de diretoria ou contrato social registrado; 1.633/77.
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Manual de Licenciamento Ambiental
Abertura do processo/licença
Apresentação e conferência dos documentos, na Feema (caso do Rio de Ja-
neiro), ou no órgão ambiental correspondente. Já deve ter sido efetuado o paga-
mento da GR para que ocorra a abertura do processo.
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Manual de Licenciamento Ambiental
Procedimentos da Feema
Análise dos documentos
Nessa fase, técnicos da Feema analisam os documentos apresentados, como
os projetos, estudos ambientais realizados pelo empreendedor, entre outros.
Vistoria técnica
O empreendimento recebe a visita dos técnicos da Feema. Segundo os dados
colhidos durante essa visita técnica, podem ser feitas outras exigências e eventuais
ajustes de parâmetros. O empreendimento é notificado nesses casos.
A tabela abaixo mostra os principais documentos e procedimentos que são
solicitados pela Feema.
Existem empresas
Também conhecido Evita a sobrecarga especializadas, mas
como fossa séptica, do sistema de você mesmo poderá
é um compartimento esgotamento comprar tanques em
que trata os esgotos de sanitário, tratando lojas de materiais
Tanque séptico
origem sanitária. adequadamente o de construção.
É uma exigência legal esgoto antes de ser Este deverá ser
determinada pela lançado dimensionado para
NT-215.R2. na rede pública. o número de pessoas
servidas.
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Manual de Licenciamento Ambiental
Objetiva conhecer os
tipos e os destinos
É um sistema dados aos resíduos
A Feema
de controle e industriais, para a
orientará quanto
Inventário de resíduos cadastramento de elaboração em nível
aos procedimentos
resíduos industriais nacional de um plano
necessários.
perigosos. de gerenciamento de
resíduos industriais
perigosos.
Documento que
conterá uma série de
Identificados os
ações na operação
impactos causados Seguir a orientação
do projeto, com o
pela atividade, o da Feema que
objetivo de minimizar
Plano de controle PCA definirá as estabelecerá as
o impacto ambiental
ambiental – PCA medidas de controle diretrizes a serem
da atividade. Conterá
e minimização, utilizadas na
os projetos executivos
visando solucionar os elaboração do PCA.
de minimização dos
problemas detectados.
impactos ambientais
avaliados no RCA.
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Manual de Licenciamento Ambiental
Parecer técnico
Após a análise dos documentos e do resultado da vistoria técnica, a diretoria
do órgão ambiental correspondente (neste caso, a Feema), emite a aprovação (ou
não) do licenciamento ambiental.
Licença
Uma vez aprovado, ocorre a emissão do LA. Nessa fase, para a formalização
do processo, os representantes do empreendimento recebem uma comunicação e
são convocados a comparecer ao órgão público.
Publicação
Após a formalização, deve haver a divulgação em jornal de grande circula-
ção e no Diário Oficial do Estado, comunicando o recebimento do LA.
Recomendações
Uma vez devidamente licenciado, o empreendimento deve manter o LA e,
para isso, algumas recomendações são feitas.
Restrições da licença
Dependendo do tipo de atividade a ser desenvolvida pelo empreendimento, se
não houver observância das restrições poderá haver o cancelamento da licença.
Prazo
Toda licença tem prazo de validade. A renovação da licença deve ser feita
120 dias antes de expirar (Resolução Conama 237/97). Para os casos de LP e LI
não há renovação.
Observe os prazos de validade para os diversos tipos de licenciamento na
tabela a seguir.
(FEITOSA; LIMA; FAGUNDES, 2004)
LO 4 anos 10 anos
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Manual de Licenciamento Ambiental
Empreendedor
Vistoria técnica Órgão ambiental
Documentos
Há alguma outra solicitação?
Não Sim
Encaminhamento à Solicitação
2 atendida
eca – Comissão Estadu-
C 2
al de Controle Ambien-
Ceca para emissão da
tal/RJ. licença
A empresa recebe a
licença solicitada e
publica o recebimento
Funcionando
O empreendimento é objeto de constante fiscalização, para que as exigência
sejam cumpridas. O artigo 6.º da Lei 6.938/81 indica que o órgão ambiental com-
petente tem poderes para executar a fiscalização e/ou acompanhamento a qualquer
momento.
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Manual de Licenciamento Ambiental
Cancelamento
Pode ocorrer, a qualquer momento, desde que sejam constatadas irregulari-
dades. Exemplos de irregularidades do empreendimento: documentos falsos, alte-
ração do processo industrial sem comunicação ao órgão ambiental, graves riscos
ambientais ou à saúde, entre outros.
Custos
Durante todo o processo de LA, o empreendedor deverá arcar com todos os
gastos decorrentes desse processo, segundo a Resolução Conama 001/86. Entre os
principais custos para o LA de um empreendimento podemos citar, usando como
exemplo o estado do Rio de Janeiro:
guia de recolhimento (GR), para protocolo do pedido de LA;
coleta de dados e informações, referentes ao empreendimento, para pos-
terior encaminhamento ao órgão ambiental competente;
EIA/RIMA (se for o caso), ou seja, havendo necessidade de elaboração
de EIA/RIMA, o empreendedor deverá ser responsável pela contratação
da equipe multidisciplinar sem que, no entanto, tenha qualquer poder
de coação sobre essa equipe (“equipe não dependente direta ou indire-
tamente do proponente do projeto e que será responsável tecnicamente
pelos resultados apresentados”, segundo o artigo 7.º, Resolução Conama
001/86);
medidas preventivas e/ou corretivas de impacto ambiental (se for o caso).
Significa que, havendo a constatação de impactos negativos, originados a
partir da ação do empreendimento, o empreendedor deverá arcar com as
despesas referentes às medidas a serem adotadas para a mitigação e/ou
correção desses impactos negativos;
publicações das licenças, isto é, toda a divulgação das etapas de licencia-
mento (publicação em jornais), prescritas na legislação, deverão ocorrer
por conta do empreendedor.
Responsabilidades e penalidade
Em caso de ocorrência de algum tipo de impacto ambiental, além dos cus-
tos com os quais o empreendedor deverá arcar (como mencionado anteriormen-
te), poderá caber também algum tipo de penalidade, com as suas consequentes
sanções.
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Manual de Licenciamento Ambiental
Depende de existência
de culpa ou dolo. A
culpa é caracterizada por Em caso de acidente, a apuração de culpa
Subjetiva imperícia, imprudência será necessária para a responsabilização
ou negligência. E o na esfera criminal.
dolo se caracteriza pela
intenção.
Sanções
São dadas pelas Leis Federais 6.938/81 (Política Nacional de Meio Ambien-
te – PNMA) e 9.605/98 (Crimes Ambientais). As diferentes esferas de ação e as
sanções aplicáveis às pessoas físicas e jurídicas, em caso de danos ambientais, são
apresentadas a seguir: (FEITOSA; LIMA; FAGUNDES, 2004)
Sanções
(pessoas físicas) e à empresa
Advertência.
Multa simples entre R$50,00 a R$50.000.000,00.
Esfera Multa diária.
administrativa Suspensão de venda e fabricação do produto.
Embargo de atividade.
Suspensão parcial ou total da atividade.
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Manual de Licenciamento Ambiental
Acesse o site do órgão ambiental de seu estado (ou de sua cidade) e compare as etapas relativas
ao Licenciamento Ambiental com as apresentadas nesse capítulo.
CUNHA, Sandra B.; GUERRA, Antonio J. T. Avaliação e Perícia Ambiental. Rio de Janeiro: Ber-
trand Brasil, 2002.
FEITOSA, Isabelle R.; LIMA, Luciana S.; FAGUNDES, Roberta L. Manual de Licenciamento Am-
biental: guia de procedimentos passo a passo. Rio de Janeiro: Firjan/Sebrae, 2004.
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Manual de Licenciamento Ambiental
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Estudos de caso I
Pedro G. Fernandes da Silva
P
ara todo e qualquer processo de modificação ambiental, existe um efeito no próprio ambiente
que, de certa forma, pode ser perceptível ou não. A forma de percepção, bem como o grau de
percepção, pode ser um indicador de que a modificação ambiental é de baixa, média ou alta
amplitude. Mais ainda, pode ser um indicador de que um determinado ambiente possa ter sofrido
modificações tais que ou não haverá qualquer alteração significativa (baixa amplitude), ou absorverá
essas modificações depois de um breve período de distúrbio (média amplitude), ou ocorrerão altera-
ções irreversíveis, de forma a modificar permanentemente esse ambiente (alta amplitude).
Para um entendimento mínimo de como um ambiente pode ser alterado, e suas eventuais con-
sequências, deve-se analisar como um determinado ambiente funciona quando não há qualquer mo-
dificação, ou seja, quando esse ambiente “funciona” de forma “normal”. Para isso, podemos utilizar a
teoria dos sistemas, aplicada à Ecologia.
De acordo com a teoria de sistemas, temos que um sistema pode ser definido como conjunto de
unidades inter-relacionadas. Essas unidades inter-relacionadas produzem um efeito de propriedades
emergentes, onde o todo (sistema) é maior que a mera soma das partes. Exemplo: hidrogênio (gás) +
oxigênio (gás) = H2O (água), com propriedades totalmente diferentes em relação aos gases que deram
origem à água.
Além de um sistema ser composto por muitas partes e ter a propriedade de retroalimentação
(aqui considerada como a capacidade de reciclagem, ou seja, de reaproveitamento da matéria), ele é
também sujeito a reações não programadas e a comportamentos que refletem cautela e sobreaviso
diante de riscos potenciais. Isso simplesmente quer dizer que não podemos ter certeza absoluta sobre
o tipo de resultado advindo de uma determinada modificação no sistema considerado. Na natureza,
diversos sistemas interagem entre si, em conjuntos ainda maiores, formando um ambiente. Assim, um
ambiente representa um sistema de ordem mais elevada, no qual o sistema que está sendo examinado
é uma parte, e modificações nos elementos do primeiro acarretarão mudanças diretas nos valores dos
elementos contidos no sistema sob exame.
Uma comparação interessante é com um jogo de quebra-cabeça: olhando-se apenas uma peça,
não é possível entender o todo.
Abordagem sistêmica
A partir da teoria de sistemas, podemos abordar as variações e funcionamento de um sistema.
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Estudos de caso I
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Estudos de caso I
Morfogênese Relevo
Temperatura
Escoamento
superficial
Precipitação
Escoamento
subterrâneo
Rocha e
Litosfera
estrutura
Processos
geológicos
Lençol subterrâneo
Organização sistêmica.
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Estudos de caso I
Sistemas agrícolas
Os sistemas agrícolas são um bom exemplo para demonstração de altera-
ções ocorridas em locais onde antes existiam sistemas naturais, com maior ca-
pacidade de equilíbrio. A comparação é relativamente simples: sistemas naturais
possuem maior biodiversidade, contribuindo para seu equilíbrio e resistência a
mudanças provocadas pelo ambiente externo; sistemas agrícolas são, tipicamente,
constituídos por monoculturas onde, obviamente, existe uma menor biodiversi-
dade e, consequentemente, estão mais sujeitos às mudanças provocadas pelo am-
biente externo.
Alterando um sistema complexo (uma floresta, por exemplo), substituin-
do por campos cultivados (plantação de cana-de-açúcar, por exemplo), o homem
altera o equilíbrio e as características locais.
A tabela abaixo mostra as alterações provocadas, em termos de energia,
ciclo hídrico e a produção líquida da comunidade.
Ciclo hidrológico
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Estudos de caso I
O efeito da destruição
Com o desmatamento diminui a quantidade de vapor de
água gerada pela floresta e, por consequência, as chu-
vas. O clima se torna mais quente e seco.
O rompimento do equilíbrio
Estima-se que o ciclo das chuvas da região entrará em
colapso se a Amazônia perder entre 40% e 60% de sua
cobertura vegetal. O fim da floresta será irreversível.
Cada uma das atividades de pressão leva a uma situação de risco ambiental,
que são aspectos de potenciais modificações ambientais, decorrentes da atividade
humana.
Para serem aferidos os Riscos Ambientais (RA), considera-se a vulnera-
bilidade das áreas a serem atingidas, usando-se os critérios fitogeográficos e
zoogeográficos, levantados por especialistas. Obtém-se a seguinte classificação
(matriz de RA):
risco baixo – vulnerabilidade baixa e pressão baixa; vulnerabilidade bai-
xa e pressão média; vulnerabilidade média e pressão baixa;
risco médio – vulnerabilidade baixa e pressão alta; vulnerabilidade mé-
dia e pressão média; vulnerabilidade alta e pressão baixa;
risco alto – vulnerabilidade média e pressão alta; vulnerabilidade alta e
pressão média; vulnerabilidade alta e pressão alta.
De forma resumida, a classificação de RA pode ser como a apresentada nas
tabelas a seguir.
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Estudos de caso I
Vulnerabilidade Média X
Alta
Vulnerabilidade Média X
Alta X
Alta X X
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Estudos de caso I
Menor
Solo crostado Sem sombra Queimadas
evapotranspiração
Lixiviação e Restolho
Enchentes Menos chuvas
erosão perdido
Prejuízos
sociais e
econômicos
Menor crescimento
das plantas
Vegetação
retardada
Solo:
espessura ou profundidade;
textura;
estrutura;
retenção hídrica e percolação (infiltração de água);
erodibilidade;
drenalidade.
Clima e atmosfera:
circulação atmosférica;
umidade;
substâncias poluidoras (NOx, COx, CH4 etc.);
temperatura.
Águas:
patógenos;
material orgânico (nitratos e fósforo, principalmente);
substâncias químicas (defensivos, metais pesados etc.).
Fauna e flora:
diversidade;
cadeias e redes alimentares;
tamanho populacional.
Planos de monitoramento
Não é necessariamente um sinônimo de levantamento das condições ou ca-
racterísticas ambientais. Monitoramento pode ser resumido ao uso de protocolos
predeterminados, visando à detecção de alterações ambientais que possam causar
efeito deletério sobre recursos econômicos, processos ecológicos, ou à própria
saúde humana. Os objetivos de programas de monitoramento devem ser cuidado-
samente definidos, já que a mera coleta de dados pode não ter qualquer aplicabi-
lidade real ou potencial.
Em resumo, monitorar implica estudar ambientes com a finalidade expressa
de detectar alterações que possam ser atribuídas a fontes poluidoras e alertar as
pessoas envolvidas em caso de potencial RA.
Geralmente são identificados processos poluidores em potencial, bem como
potenciais áreas a serem afetadas; em sequência, ocorre a elaboração de planos de
contingência, bem como a formação e o treinamento de pessoal apto a interrom-
per e/ou minimizar o impacto produzido.
A seguir, são apresentadas algumas variáveis que devem ser levadas em
consideração e alguns questionamentos sobre os potenciais processos poluidores.
A partir dessas variáveis e questionamentos, dependendo da área em que ocorrem,
são feitos os planos de contingenciamento.
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Estudos de caso I
Questionamentos
Efeito de dano: consequências do impacto são específicas para o agen-
te causal?
Reversibilidade: qual a capacidade de retorno a um estado “origi-
nal”?
Amplitude taxonômica: o efeito do impacto é restrito a grupos taxo-
nômicos?
Tempo: resposta da variável (detecção) ao agente poluidor?
Confiabilidade: o efeito pode ser facilmente identificado?
A próxima figura procura mostrar como um processo de análise ambiental
relaciona as diversas componentes que podem ser alteradas por atividades an-
trópicas. Perceba que o processo começa com o estabelecimento de um aspecto
conceitual, que é a proposição que se pretende atingir, isto é, o objetivo a ser
atingido. É a maneira como se projetam, em uma determinada área, as poten-
cialidades, limitações e ações recomendadas para a adequada utilização dessa
área. Um exemplo dessa aplicação é o estabelecimento de um zoneamento am-
biental, indicando quais os usos adequados para a área em questão.
Repare que o “objetivo final” é a determinação da capacidade de suporte
da área, que é a determinação da sua capacidade de suportar alterações sem, no
entanto, perder a sua identidade (característica da região).
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Estudos de caso I
Biocenose:
Geoformas, pro- Propriedades físico- Parâmetros Fatores de
comunidades
Litoestruturas cessos morfoge- -químicas dos solos, termo-hídricos, organização do
vegetais e
néticos pedogênese regime hídrico espaço de uso
animais
Pressão
Estrutura geoambiental Ecodinâmica Vulnerabilidade antrópica
Sistemas
Qualidade ambiental
ambientais
Capacidade de suporte
Esquema de análise ambiental e suas múltiplas formas de interação dos processos que, potencialmente, podem
interferir em uma determinada área.
Faça uma pesquisa nos jornais e/ou revistas de sua localidade e de outras regiões do Brasil,
comparando condições climáticas ocorridas em áreas de agricultura extensiva, com as con-
dições climáticas de antes da ocorrência da agricultura extensiva nessas mesmas áreas. Se
houver dificuldade em encontrar os dados através de jornais e/ou revistas, acesse o site do
IBGE <www.ibge.gov.br>.
ABSY, Mirian Laila (Coord.). Demanda de Instrumentos de Gestão Ambiental: zoneamento am-
biental. Disponível em: <www.ibama.gov.br/ambtec/documentos/Zoneamento.pdf>. Acesso em: 15
maio 2006.
MÜLLER-PLANTENBERG, Clarita; AB’SABER, Aziz Nacib (Org.). Previsão de Impactos: o es-
tudo de impacto ambiental no leste, oeste e sul. São Paulo: EDUSP, 1998.
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Estudos de caso I
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Estudos de caso II
Pedro G. Fernandes da Silva
O
s problemas ambientais, atualmente, estão fortemente ligados ao modelo de desenvolvimen-
to econômico da sociedade ocidental, referente principalmente ao consumo e descarte de
produtos. Apesar de esse fenômeno estar relacionado em escala quase mundial, os proble-
mas manifestam-se localmente, representando situações que atingem diretamente uma determinada
população local.
Embora a solução dos problemas ambientais não seja de exclusiva responsabilidade dos muni-
cípios, normalmente é nessa esfera do Poder Público que ocorrem as cobranças, principalmente pela
população local afetada. O Poder Público municipal tem a responsabilidade de, em parceria ou não
com governos estaduais, federais ou iniciativa privada, implantar infraestrutura e mecanismos que
contemplem a adequada conservação ambiental, tais como a coleta, transporte, tratamento e dispo-
sição dos resíduos sólidos, a coleta e tratamento dos efluentes domiciliares e industriais e o abasteci-
mento de água.
Apesar de importantes, a maioria dos municípios brasileiros não possui uma infraestrutura
completa para essa adequação ambiental, uma vez que não têm a questão ambiental como uma de
suas prioridades de planejamento de governo.
Um dos principais problemas encontrados nos municípios é com relação à adequada disposição
dos resíduos sólidos; a “tradição” brasileira é a prática dos “lixões” (ou vazadouros a céu aberto), que
nada mais são que locais quaisquer, sem nenhum tipo de seleção ou preparação do terreno, onde são
depositados todo e qualquer tipo de resíduo sólido.
Essa disposição irregular é capaz de provocar uma série de impactos ambientais, sendo que os
principais são:
degradação de recursos hídricos;
poluição e contaminação do aquífero e lençol freático, podendo ocasionar transmissão de
organismos patogênicos, além de elementos contaminantes;
redução da fauna e flora do solo e das águas superficiais;
permanência de produtos não biodegradáveis no ambiente;
eutrofização (acúmulo de nutrientes) do solo e das águas;
aumento de animais nocivos e/ou vetores de doenças humanas;
poluição atmosférica;
comprometimento dos aspectos estéticos.
A seguir abordaremos um problema de impacto ambiental urbano, onde a disposição de resí-
duos sólidos industriais (RSI) afeta a água de abastecimento de uma cidade. Focaremos o problema
(local, origem e causa), a legislação pertinente e aplicável, e suas potenciais soluções, com o objetivo
de fornecer uma visão de como pode ocorrer um impacto ambiental, sua avaliação e possíveis formas
de solução.
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Estudos de caso II
Localização
O aterro Granja Rosada localiza-se cinco quilômetros ao norte do centro
urbano de Rio Claro, na área do distrito industrial do município, distante 300 me-
tros da estrada que liga Rio Claro a Ajapi, com altitudes entre 620 e 650 metros
(primeira figura).
Verifica-se a presença de duas nascentes localizadas, uma a oeste (Na, se-
gunda figura) e a outra na base do aterro (Nb, segunda figura), sendo que ambas
confluem para o córrego Mãe Preta, afluente do córrego Cachoeirinha, que desá-
gua no Ribeirão Claro, a montante (acima) da captação de água para uso domésti-
co pela população de Rio Claro (segunda figura).
– Ara
ras
lagoa
laro - A
ta
ãe Pre
eirinha
a Rio C
cór. M
Cacho
Estrad
Depósito de
fibras de vidro
lote
nto
ame
ame
Antiga
nto
EROSÃO
lote
cervejaria
Mãe Preta Águas Claras
(chácaras)
horta
s
pe
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sL
Cl
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b.
Ri
irro
Ba
p/
tr.
Es
Escala 1:25.000
cidade
Rib. Claro
ade
cid
60
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Estudos de caso II
Aterro E
Granja Rosada
Muro de arrimo
D
Na
B Nb C
1
4 5
3
Na e Nb Nascentes 6
Ponto de coleta
Cór. Cachoeirinha
Caracterização
No local considerado (Granja Rosada) existe uma voçoroca (erosão de gran-
de porte), desenvolvida em função da formação rochosa da região (Formação Rio
Claro – rochas inconsolidadas recentes e arenosas), além da presença de fortes e
médias declividades, associadas à presença de lençol freático de superfície.
A Formação Rio Claro possui grande parte de seus sedimentos com textura
arenosa e constitui um grande armazenador de água, sobretudo porque seu subs-
trato rochoso apresenta rochas impermeáveis, o que garante a retenção de água.
Grande parte da água que precipita nessa área, em forma de chuva, infiltra-se e
vai alimentar as nascentes e olhos d’água que, por sua vez, alimentam os canais
fluviais de superfície.
As nascentes situadas no fundo da voçoroca foram soterradas pelo lixo in-
dustrial, obrigando a água a verter no contato da formação superficial com os pró-
prios resíduos, uma vez que não foi adotado nenhum tipo de impermeabilização
prévia. A água que flui desse local, contaminada pelos resíduos, escoa na direção
do córrego Cachoeirinha que, por sua vez, alimenta o Ribeirão Claro, antes do
ponto de captação que abastece a área urbana de Rio Claro.
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Estudos de caso II
Histórico/problema
Segundo autoridades municipais e da empresa em questão, a voçoroca da
região nada mais era do que um grande “buraco”, que poderia ser entulhado para
recomposição da geomorfologia local. Esse processo iniciou-se por volta de 1990,
com nenhuma preocupação sobre os tipos de resíduos destinados ao local.
As nascentes situadas no fundo da voçoroca foram soterradas pelo resíduo
industrial. Isso implica que as águas, escoando através do contato com os resídu-
os, ficam contaminadas causando, potencialmente, problemas para a população
de Rio Claro, uma vez que a contaminação afeta a água a ser consumida pela
população.
As causas originárias da voçoroca não foram tratadas pela empresa, nem
pelo Poder Público; com o aterramento pelos resíduos industriais podem ser am-
pliados os processos erosivos, dificultando a recuperação da área.
Resíduos sólidos industriais (RSI) formados principalmente por fibras
de vidro, que contêm vários elementos tóxicos, incluindo o boro, foram des-
pejados nessa voçoroca. A presença de boro pode atacar o sistema digestivo,
cérebro e rins. Os próprios fragmentos de fibra de vidro também têm alto po-
der poluidor, atacando vias respiratórias e digestivas, se inalado ou ingerido,
respectivamente.
Segundo levantamentos feitos pela CETESB (1994), o teor de boro au-
mentou significativamente a partir do início da destinação dos RSI na voçoroca
Granja Rosada (gráfico abaixo). A aparente queda dos níveis de boro, nos meses
de agosto e setembro de 1993, pode estar relacionada com os baixos índices de
precipitação pluviométrica (chuvas) na região, o que diminuiria o índice de lixi-
viação do material do aterro, mascarando os índices de contaminação da água.
O gráfico abaixo representa a coleta realizada no ponto 2, ilustrado na imagem
anterior.
50
40 limite máximo
definido por lei
30
20
10
0,75
0 1 2 3 4 5 6 7 7 9 10 11 12 1 2 3 4 5 6 7 7 9
1992 1993 meses
Concentração de boro, no município de Rio Claro. A linha pontilhada indica a quantidade má-
xima de boro permitida por lei (Resolução Conama 020/86), e os números do eixo X indicam os
meses dos anos de 1992 e 1993 (em 1993 foram analisadas amostras até o mês de setembro).
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Estudos de caso II
Infrações cometidas
Desrespeito à preservação de nascentes, mata ciliar e declividade do ter-
reno, considerados como Áreas de Preservação Permanente (APP) às
Leis 4.771/65 e 7.803/89.
Poluição das águas, com reflexos na fauna e flora desses sistemas à Lei
221/67.
Inexistência de elaboração de EIA/RIMA, necessários para um local
de destinação de resíduos sólidos às Leis 6.803/80, 6.938/81, 7.804/89,
9.433/97, Decreto 99.274/90 e Resolução Conama 001/86.
Desrespeito à Resolução Conama 020/86, sobre classificação e qualidade
das águas, particularmente no que diz respeito aos tipos de substâncias
que podem chegar aos corpos hídricos.
Incorre na Lei de Crimes Ambientais (9.605/98).
Proposta de solução
Em um primeiro momento, deve-se atentar para a classificação dos resídu-
os sólidos (NBR 10.004 e Resolução Conama 005/93), particularmente no que diz
respeito aos resíduos de origem industrial. Dessa forma, temos:
Classificação de resíduos
Classe I (perigosos) – podem ser exemplificados por lodos de estações
de tratamento de esgotos (ETE), óleos, resinas e solventes, entre outros.
Na região são produzidos perto de 2,8 mil t/ano de resíduos classe I.
Classe II (não perigosos) – podem ser exemplificados por areias, escó-
rias de fundição, entre outros. Na região é estimada a produção de 125
mil t/ano de resíduos classe II.
Solução
Construção de aterros sanitários, como indicado pela Resolução Conama
001/86, para resíduos tóxicos e perigosos.
Metodologias
Para a criação de aterros sanitários, alguns aspectos devem ser respeitados.
Entre esses aspectos, podemos citar:
localização – levantamento de área adequada, compreendendo as se-
guintes etapas:
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Estudos de caso II
levantamentos preliminares;
levantamentos sobre o meio físico;
seleção de áreas prioritárias.
Para cada uma das etapas verifica-se:
otimização de atividades;
pesquisa legislativa;
efeitos ambientais;
uso e ocupação do solo;
tipos de solo, relevo etc.
Aspectos construtivos – são os aspectos relativos às construções civis,
para o abrigo de funcionários, controle e outras atividades relativas ao
funcionamento de um aterro:
drenagem e apedregulhamento dos acessos não pavimentados;
construção de escritório;
oficina de manutenção e almoxarifado;
obras para obtenção de utilidades básicas (água, luz, telefone etc.);
depósito de estocagem provisória (quando não é possível destinar de-
finitivamente os RSI), até a destinação final, em local adequado.
Valas – projetadas para destinação final, de acordo com o tipo de RSI:
Resíduos classe I – para resíduos dessa classe é sugerido, para esse
local de estudo, a criação de uma vala com as características apresen-
tadas abaixo.
Adaptado.)
(BRUNELLI apud MAURO, 1997, p. 116.
Resíduos classe II: para resíduos dessa classe é sugerido, para esse local
de estudo, a criação de uma vala com as características apresentadas na
próxima imagem.
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Estudos de caso II
Adaptado.)
(BRUNELLI apud MAURO, 1997, p. 116.
Célula típica para resíduos sólidos classe II.
As dimensões de uma vala para resíduos classe I são menores que as valas
para resíduos classe II em função da periculosidade inerente aos resíduos clas-
se I. Repare que na primeira imagem (vala para resíduos classe I) existem duas
camadas de impermeabilização, a fim de evitar percolação e lixiviação da água
que possa estar contaminada. Isso impede que os elementos lixiviados, a partir
dos resíduos sólidos classe I depositados, alcancem um corpo hídrico, podendo
disseminar elementos patogênicos e/ou contaminantes.
Na segunda imagem, repare que existem duas camadas de areia no fundo da
vala, o que permite a infiltração de água. A diferença entre esse método e o da pri-
meira imagem é que os resíduos classe II (de origem industrial, ao menos) podem
sofrer processo de decomposição, não se constituindo em elementos resultantes
capazes de contaminação de corpos hídricos.
Possíveis impactos
Para cada uma das etapas a seguir é elaborado um EIA/RIMA, prevendo os
possíveis impactos e suas respectivas medidas de mitigação (diminuir ou evitar
o prejuízo ambiental). Em resumo, são os principais aspectos que devem ser con-
templados para o estabelecimento de valas (aterro sanitário):
emissões acidentais do percolado (líquido que sai da vala, contaminado
pelos resíduos). Em aterros sanitários urbanos, denomina-se chorume.
Em um processo adequado, o chorume é enviado para uma lagoa de tra-
tamento;
emissões de efluentes por meio de tratamento do percolado. Nada mais é
que o tratamento do percolado para que a água possa ser devolvida, em
condições satisfatórias, aos corpos hídricos;
emissões acidentais de resíduos durante o transporte. Treino de pessoal
(motoristas) e utilização de equipamento para coleta dos resíduos e lim-
peza do local do acidente. Noções de Educação Ambiental para o pessoal
envolvido em todas as etapas, inclusive na etapa de geração dos resíduos
sólidos;
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Estudos de caso II
Procure obter informações junto à prefeitura de sua cidade sobre a existência ou não de local
apropriado para a disposição de resíduos sólidos. Discuta os resultados obtidos (mesmo que sejam
negativos) e compare com a legislação citada no texto.
Além disso, visite o site <www.cempre.org.br>, para informações sobre destinação e recicla-
gem de resíduos sólidos.
PHILIPPI JÚNIOR, Arlindo; ROMÉRO, Marcelo de A.; BRUNA, Gilda C. (Coord.). Capítulo 8. In:
. Curso de Gestão Ambiental. São Paulo: Manole, 2004.
MAURO, Cláudio A. (Coord.). Laudos Periciais em Depredações Ambientais. São Paulo: IGCE/
UNESP, 1997.
PHILIPPI JÚNIOR, Arlindo; ROMÉRO, Marcelo de A.; BRUNA, Gilda C. (Coord.) Curso de Ges-
tão Ambiental. São Paulo: Manole, 2004.
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ISO 9000
Pedro G. Fernandes da Silva
A
série de normas ISO 9000 é um conjunto de normas e diretrizes internacionais para Sistemas
de Gestão da Qualidade (SGQ). Desde sua primeira publicação, em 1987, ela tem obtido re-
putação mundial como a base para o estabelecimento desses sistemas (MELLO et al., 2002,
p. 15).
Sistema de gestão se refere a tudo que uma organização ou empreendimento faz para gerenciar
seus processos ou atividades. As normas de sistema de gestão fornecem à organização (ou empreen-
dimento) um modelo a seguir para preparar e operar seu sistema de gestão (MELLO et al., 2002, p.
15).
A série ISO 9000 pode ser aplicada em qualquer tipo de atividade, independente de sua nature-
za e qualificação. Ela objetiva um sistema de qualidade e eficiência.
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ISO 9000
A ISO 9000
Como a Norma ISO 9000 se refere ao SGQ, podemos começar tentando
entender o que seja “qualidade”. De maneira geral, podem existir várias defini-
ções para “qualidade”, apesar de todas terem um certo grau de subjetividade, isto
é, na realidade fica difícil saber estimar o que seja a “qualidade”, pois pode haver
noções diferentes para cada usuário e/ou empresa.
Qualidade baseada no produto: “O produto possui algo, que lhe acres-
centa valor, que os produtos similares não possuem” (ISRAELIAN et al.,
1996, p. 1). Ou seja, o produto apresenta, realmente, um diferencial de
qualidade em relação aos seus concorrentes. Seria algo como “tal produ-
to dura mais que o seu similar”.
Qualidade baseada na perfeição: “É fazer a coisa certa na primeira
vez” (ISRAELIAN et al., 1996, p. 1). Nesse caso, a vantagem da quali-
dade é percebida na empresa que fabrica o produto, uma vez que deixa de
gastar com novos testes e/ou adequações, até que o produto seja lançado
no mercado.
Qualidade baseada no valor: “O produto possui a maior relação custo-
-benefício” (ISRAELIAN et al., 1996, p. 1). Pelo que o produto oferece,
em relação ao que custa, existe uma relação positiva de custo-benefício.
Seria como você pagar um pouco mais caro por um determinado produ-
to, mas ele vai durar mais que um equivalente mais barato.
Qualidade baseada na manufatura: “É a conformidade às especifica-
ções e aos requisitos, além de não haver nenhum defeito” (ISRAELIAN et
al., 1996, p. 1). Essa definição também é mais sentida pela empresa, uma
vez que a empresa não recebe reclamações dos clientes, por exemplo.
Qualidade baseada no cliente: “É a adequação ao uso; é a conformida-
de às exigências do cliente” (ISRAELIAN et al., 1996, p. 1). O cliente
fica satisfeito, porque o produto atende exatamente ao que ele esperava
do mesmo.
Normalmente, são essas duas últimas formas de definição as mais utiliza-
das, uma vez que são baseadas nos clientes que, em última análise, fazem (ou não)
o sucesso de uma empresa.
As Normas ISO 9000 podem ser utilizadas por qualquer tipo de empresa,
seja ela grande ou pequena, de caráter industrial, prestadora de serviços ou mes-
mo uma entidade governamental.
Deve ser enfatizado, entretanto, que as Normas ISO série 9000 são normas
que dizem respeito apenas ao SGQ de uma empresa, e não às especificações dos
produtos fabricados pela empresa. Ou seja, o fato de um produto ser fabricado por
um processo certificado segundo as Normas ISO 9000 não significa que este terá
maior ou menor qualidade que outro similar. Significa apenas que todos os produ-
tos fabricados, segundo esse processo, apresentarão as mesmas características e o
mesmo padrão de qualidade.
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ISO 9000
As Normas ISO 9000 não conferem qualidade extra a um produto (ou servi-
ço), garantem apenas que o produto (ou serviço) apresentará sempre as mesmas
características.
Histórico
No modo de produção anterior à Revolução Industrial, o artesão se ocupava
de todas as tarefas: desde a escolha e aquisição da matéria-prima até a fase de
acabamento e entrega do produto. O controle da qualidade, portanto, era exercido
pelo próprio artesão. As características do modelo artesanal eram a baixa produ-
ção e o alto padrão de qualidade para a época.
Com o advento da industrialização, surgiu o processo de multidivisão das
tarefas na confecção de um produto (Taylor criou o processo de especialização
do operário; mais tarde, Henry Ford aplicou esse conceito na instalação das pri-
meiras linhas de montagem). O controle da qualidade passou às mãos do mestre
industrial, que exercia a supervisão desses grupos. Com o aumento das escalas de
produção e do número de trabalhadores, o sistema tornou-se inviável, pois não era
possível um só mestre supervisionar todo o processo.
Com a Segunda Guerra Mundial, houve uma grande evolução tecnológica,
acompanhada por uma complexidade técnica de materiais, processos de fabricação
e produtos. Essa situação ameaçava inviabilizar a inspeção total da produção.
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ISO 9000
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ISO 9000
O que a citação acima procura refletir é que uma empresa, mesmo certifica-
da, não implica em alto padrão de qualidade; apenas tem uma padronização efeti-
va em sua linha de montagem, por exemplo. Repare na comparação: uma carteira
de motorista é um certificado de que determinados indivíduos têm licença para
dirigir, ou seja, de que estão “certificados”. No entanto, sabemos que há “maus” e
“bons” motoristas, portanto a certificação (carteira de motorista, nesse exemplo)
não é uma designação absoluta sobre a qualidade da “direção” das pessoas.
Outro fator importante é o de que a certificação não é equivalente a um
“manual do usuário”. A certificação apenas atende à padronização do empreen-
dimento.
A certificação pela ISO 9000 é baseada em uma análise dos processos, pas-
sando pelo processo de implantação de um SGQ. Tudo começa na “necessidade”
do cliente ou mercado (o empreendimento procura captar essas “necessidades” e
lança um produto ou serviço novo, ou modifica um já existente). Internamente, o
empreendimento procura avaliar os recursos necessários, as formas de produção
etc., libera o produto (ou serviço) e avalia a satisfação (“qualidade”) do cliente,
usando essa análise como um feedback para os seus processos. A seguir veremos,
esquematicamente, a abordagem do processo de implementação da ISO 9000.
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ISO 9000
Clientes Responsabilidade
da direção Clientes
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ISO 9000
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ISO 9000
Realização do produto
(Seção 7 e demais subitens da Norma ISO 9000)
Essa seção oferece as estruturas necessárias para as operações da organi-
zação atingirem um resultado esperado, reforçando a abordagem do processo, in-
cluindo os requisitos que vão desde o entendimento das necessidades e expecta-
tivas dos clientes, passando pelo projeto e desenvolvimento do produto, aquisição
de matérias-primas e serviços, produção e fornecimento de serviço, até o controle
dos dispositivos de medição e monitoramento (MELLO et al., 2002, p. 109).
A seção 7 é a única que contém cláusulas que a organização pode considerar
não aplicáveis para o tipo de produto que realiza ou o serviço que presta (MELLO
et al., 2002, p. 109). Por exemplo, uma escola não aplica toda a Seção 6.4, no que
se refere a materiais perigosos no seu ambiente de trabalho.
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ISO 9000
ADAIR, Charlene B.; MURRAY, Bruce. Revolução Total dos Processos. São Paulo: Nobel, 1996.
ADAIR, Charlene B.; MURRAY, Bruce. Revolução Total dos Processos. São Paulo: Nobel, 1996.
CROSBY, Philip B. A utilidade da ISO 9000:2000 + 14000. In: MEIRA, Alexandre; CERON, Gian-
carlo. Guia Digital ISO 9000: abordagem completa, inovadora e didática. Curitiba: Domo, 2004.
ISRAELIAN, Eliane; et al. Normas ISO 9000: seminário. Disponível em: <http://allchemy.iq.usp.br/
pub/metabolizando/bd6c001z.doc>. Acesso em: 15 maio 2006.
JARDIM, Niza S. (Coord.). Lixo Municipal: manual de gerenciamento integrado. São Paulo: IPT/
CEMPRE, 2001.
MEIRA, Alexandre; CERON, Giancarlo. Guia Digital ISO 9000: abordagem completa, inovadora e
didática. Curitiba: Domo, 2004.
MELLO, Carlos H. P. de et al. ISO 9001:2000: sistema de gestão da qualidade para operações de
produção e serviços. São Paulo: Atlas, 2002.
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ISO 9000
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ISO 14000
Pedro G. Fernandes da Silva
A
ISO 14000 é uma forma abrangente e holística de administrar o meio ambiente que inclui
regulamentos, prevenção de poluição, conservação de recursos e proteção ambiental, como a
manutenção da camada de ozônio e o tratamento do aquecimento global (UPADHYAY apud
HARINGTON; KNIGHT, 2001, p. 21).
Desde a 1.ª Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, realizada em Estocol-
mo em 1972, o meio ambiente passou a ter um papel de preocupação mais destacado nas atividades
humanas, reconhecido pelos governos como indispensável o cuidado ambiental, sob pena de esgotar-
mos os recursos naturais.
Uma das formas encontradas para o adequado gerenciamento dos recursos naturais é a apli-
cação das Normas ISO 14000, que estabelecem um sistema de gerenciamento ambiental (SGA) para
todo e qualquer tipo de empreendimento.
A ISO 14000
É uma forma de administrar o meio ambiente, definindo elementos de um sistema de gestão
ambiental (SGA), auditoria de um SGA, avaliação de desempenho ambiental, rotulagem ambiental e
análise de ciclo de vida. Para exemplificar:
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ISO 14000
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ISO 14000
Final de projeto
14050 Vocabulário de Gestão Ambiental.
Norma Internacional
Histórico
Fundamentalmente, a preocupação ambiental teve início na década de 1960,
culminando com a Conferência da ONU, realizada em Estocolmo, em 1972; os
resultados da Conferência de Estocolmo foram publicados em 1987, no relatório
denominado “Nosso futuro comum”, também conhecido por “Relatório Brund-
tland”, em virtude de a primeira-ministra da Noruega (Gro Harlem Brundtland)
ter sido a presidente da comissão. Esse relatório consagrou a expressão desenvol-
vimento sustentável, estabelecendo o papel primordial que as empresas devem ter
na gestão ambiental.
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ISO 14000
Implementação
Para a implementação da Norma ISO 14000 deve haver uma política am-
biental do empreendimento. É uma declaração da empresa a respeito de suas di-
retrizes de gestão ambiental, e a Norma ISO 14001 exige que a política inclua o
compromisso com o cumprimento dos requisitos legais aplicáveis.
Deve ser transparente, pública e oficial, comprometendo a empresa (ou em-
preendimento) à realização de seus objetivos e metas.
A ISO 14001 é baseada no Ciclo de Melhoria Contínua, ou PDCA – sigla,
em inglês, para Plan (planejar), Do (executar), Check (verificar) e Act (agir corre-
tivamente), representados a seguir.
A P
4.3.1. Aspectos ambientais
4.3.2. Requisitos legais e outros
4.6. Análise crítica requisitos
4.3.3. Objetivos e metas
4.3.4. Programa(s) de gestão
ambiental
Política
ambiental
4.4. Implementação e operação
4.4.1. Estrutura e
4.5. Verificação e ação responsabilidade
corretiva 4.4.2. Treinamento,
C D
4.5.1. Monitoramento e medição conscientização
4.5.2. Não conformidade e ações e competência
corretivas e preventivas 4.4.3. Comunicação
4.5.3 Registros 4.4.4. Documentação
4.5.4 Auditoria do sistema 4.4.5. Controle de documentos
de gestão ambiental 4.4.6. Controle operacional
4.4.7. Preparação e atendimento
a emergências
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ISO 14000
Conclusão
A adoção e implementação da ISO 14000, mesmo sendo facultativa, é um
poderoso instrumento relacionado à conservação ambiental. É uma forma de
empreendimentos, dos mais variados tipos, utilizarem os recursos naturais de for-
ma racional, colaborando para o desenvolvimento sustentável e uma melhora da
qualidade ambiental, que se reflete na qualidade de vida de populações do planeta
inteiro. Ainda mais, pode agregar valor aos seus produtos, em um mercado consu-
midor cada vez mais preocupado com a questão ambiental.
ALMEIDA Josimar R.; MELLO, Claudia. S.; CAVALCANTI, Yara. Gestão Ambiental: planejamen-
to, avaliação, implantação, operação e verificação. Rio de Janeiro: Thex, 2000.
Histórico
A
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio
de Janeiro em 1992 (Eco 92 ou Rio 92), aprovou um documento, denominado Agenda 21, que
estabelecia um pacto pela mudança do padrão de desenvolvimento global para o século XXI.
A Agenda 21 consolidou a ideia de que o desenvolvimento e a conservação do meio ambiente
devem constituir um binômio indissolúvel, que promova a ruptura do antigo padrão de crescimen-
to econômico, tornando compatíveis duas grandes aspirações do final do século XX: o direito ao
desenvolvimento, sobretudo para os países que permanecem em patamares insatisfatórios de renda e
de riqueza, e o direito ao usufruto da vida em ambiente saudável pelas futuras gerações. Essa ruptura
é capaz de permitir a recondução da sociedade industrial rumo ao novo paradigma do desenvol-
vimento sustentável, que exige a reinterpretação do conceito de progresso, cuja avaliação deve ser
principalmente efetuada por indicadores de desenvolvimento humano e não apenas pelos índices que
constituem os atuais sistemas de contas nacionais, como, por exemplo, o produto interno bruto – PIB
(MMA, 2000).
A Agenda 21 é um amplo programa de ação, com a finalidade de dar efeito prático aos princí-
pios aprovados na Eco 92. Embora não tenha valor jurídico, como uma convenção, contém um roteiro
detalhado de ações concretas a serem adotadas até o século XXI pelos governos, instituições das
Nações Unidas, agências de desenvolvimento e setores independentes (BRAGA et al., 2002, p. 232).
Para exemplificar, entre vários outros aspectos, a Agenda 21 lançou um compromisso interna-
cional em que é definido o princípio de que os poluidores devem assumir os custos da degradação que
causam.
Propostas
Como a Agenda 21 lida com o conceito de desenvolvimento sustentável, algumas sugestões são
pertinentes a ela, principalmente no que se refere aos aspectos da agronomia brasileira, uma vez que
o Brasil é um dos países considerados, ainda, “em desenvolvimento” (ORTEGA, 2003, p. 1). Entre as
propostas da Agenda 21, com relação à agricultura brasileira, podemos destacar as seguintes:
discutir o desenvolvimento sustentável de forma sistêmica. Isso significa aplicar a Teoria
de Sistemas, voltada para a Ecologia, em atividades agrícolas, com o fim de disseminar a
percepção de recursos naturais finitos e a crescente necessidade de gerenciamento adequado
desses mesmos recursos;
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Agenda 21
Exemplos de formas de
Problema Características controle
Tratamento, reciclagem de
resíduos, mudanças para
1. Poluição urbana, industrial Contaminação contínua do ar,
tecnologias não poluentes,
e mineração. das águas e do solo.
restrição à implantação de
corredores de fauna etc.
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Agenda 21
Exemplos de formas de
Problema Características controle
Por exemplo, construção de
reservatórios que inundam
grandes áreas e/ou alteram Alterações tecnológicas e
2. Impactos ambientais as vazões líquidas e sólidas locacionais nos projetos,
de empreendimentos (sedimentos) dos cursos de recomposição da vegetação,
econômicos de grande água; desmatamentos, aterros e repovoamento de espécies,
porte. dragagens para implantação de implantação de corredores
rodovias, ferrovias e hidrovias; de fauna etc.
construção de polders para
controle de cheias.
Motivado, principalmente,
Controle da população e criação
7. Desmatamento. para a formação de pastagens
de áreas para desmatamento.
ou de áreas agrícolas.
Localização de
empreendimentos Controle e discriminação de
que afetam os hábitos da fauna, áreas de preservação, criação
8. Ameaças à fauna. muitas vezes desconhecidos, de corredores, proteção de áreas
além da predação por caça e de procriação, recomposição da
os problemas causados por flora.
desmatamentos.
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Agenda 21
Economia ambiental
Ambientalismo
Neoliberal. de mercado, Comunalismo.
radical.
tecnocentrismo “verde”.
Economias
ambientalista Economia
Economia
radical, de estado ambientalista
ambientalista, mercados
estacionário, extremamente
“verdes” orientados
regulada radical,
Economia anti- por instrumentos
por padrões fortemente Tipo de
ambientalista, livre econômicos (princípios
macroambientais regulamentada economia.
mercado. poluidor-pagador,
e suplementada para a
beneficiário-pagador,
pelos minimização do
leilão de permissões
instrumentos fluxo de matéria
etc.).
econômicos e energia.
anteriores.
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Agenda 21
Maximização do
desenvolvimento,
Maximização do Desenvolvimento
medido por Redução
desenvolvimento, econômico
contabilidade da escala Estratégias de
medido pelo produto e aumento
alternativa, onde o PNB econômica e da gerenciamento.
nacional bruto populacional
é ajustado para levar em população.
(PNB). zero.
conta fatores ambientais
e sociais.
Tradicional: Interesses da
Bioética:
centrada nos coletividade
direitos morais
direitos e interesses Valorização do ambiente têm preferência
conferidos a
da sociedade em termos da utilidade sobre os dos
todas espécies
contemporânea; para o homem, mas indivíduos; Ética.
não humanas,
valorização do considerando equidades reconhece o
mesmo abióticas;
ambiente em termos intra e intergeracional. valor primário do
valor intrínseco
da sua utilidade para ambiente como
do ambiente.
o homem. suporte à vida.
Gerenciamento de riscos
Introdução e classificação
As diversas intervenções ambientais, na maioria dos casos, carecem de entendimen-
to completo, uma vez que ainda não se tem uma visão de total compreensão das relações
existentes entre os atores e relações presentes nos diversos ecossistemas do planeta.
No entanto, muitas vezes por força de acidentes (vazamento de óleo de petroleiros
e refinarias, incêndios, entre outros) e/ou atividades humanas sem controle (urbaniza-
ção em áreas de mananciais e encostas, plantio inadequado, provocando erosões etc.),
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Agenda 21
podemos extrair algumas lições sobre como o meio ambiente se comporta frente a
essas perturbações. A sequência a essas perturbações e os processos decorrentes,
na perspectiva atual de preocupação com a gestão ambiental, é o aprendizado de
como quantificar, prevenir, remediar e/ou mitigar essas influências.
A definição de risco se refere à possibilidade de ocorrências indesejáveis e
causadoras de danos para a saúde, para os sistemas econômicos e para o meio am-
biente; o conceito de risco e a noção de incerteza estão intimamente relacionados
(AMARAL; SILVA, 2004, p. 792). Por exemplo, o risco de uma pessoa desen-
volver câncer ao longo de sua vida pode ser de 25%; se esse indivíduo realmente
desenvolve um câncer, não há mais sentido em se falar de risco, pois o evento já
é uma certeza. Assim, as estimativas de risco que são feitas, considerando-se a
incerteza, modificam-se à medida que o conhecimento a respeito do assunto é
aperfeiçoado (AMARAL; SILVA, 2004, p. 793).
Os riscos podem ser classificados de acordo com a natureza de seus agentes
(químicos, biológicos, físicos etc.), de sua fonte geradora (meios de transporte,
procedimentos médicos etc.) ou mesmo em relação ao sujeito do risco (riscos à
segurança, riscos ambientais, riscos financeiros, entre outros). Assim, o termo
risco denota a possibilidade de ocorrer um estado indesejável de realidade (efeitos
adversos), como resultado de eventos naturais ou de atividades humanas (AMA-
RAL; SILVA, 2004, p. 793).
Os seres humanos, portanto, podem realizar conexões causais entre ações
e seus efeitos, possibilitando que os efeitos indesejáveis possam ser evitados ou
mitigados se os eventos ou ações causais puderem ser previstos ou modificados
(AMARAL; SILVA, 2004, p. 794).
De uma forma geral, os riscos podem ser classificados em categorias (AMA-
RAL; SILVA, 2004, p. 795), conforme segue a seguir.
desprezível: nenhum dano ou danos não mensuráveis. Por exemplo, a
queda de um fio de alta tensão, em área rural: exceto pela falta de energia
elétrica decorrente no campo, esse acidente é desprezível, uma vez que
quedas de cabos e/ou torres não afetam casas nem população local;
marginal: danos irrelevantes ao meio biogeofísico e socioeconômico do
entorno. Por exemplo, um acidente com veículo transportando leite: o
derramamento causa modificações mínimas de caráter biológico e eco-
nômico;
crítico: possíveis danos ao meio em razão da liberação de substâncias
químicas tóxicas ou inflamáveis. Por exemplo, um acidente com cami-
nhão transportando produto químico (nafta, por exemplo) – o produto
possui valor alto e seu derrame afeta sensivelmente o ambiente; seus
efeitos podem perdurar por muitos anos no local, além de prejuízo sazo-
nal em processos de captação de água, por exemplo;
catastrófico: tal liberação causa morte ou lesões graves à população
exposta. Por exemplo, o acidente com o petroleiro Exxon Valdez, ocorri-
do no Alasca em 1989, que provocou a morte de 34 mil aves, 980 lontras
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Agenda 21
Avaliação de riscos
Os riscos são avaliados em função de perspectivas técnicas capazes de an-
tecipar futuros e possíveis danos à saúde humana ou aos ecossistemas, avaliar os
eventos causadores desses danos em função do tempo e espaço e usar frequências
relativas (observadas ou modeladas) como um meio de especificar probabilidades
(AMARAL; SILVA, 2004, p. 795).
Exemplo: para uma indústria química, o ciclo comercial de um produto é
composto, basicamente, pelos seguintes estágios:
industrialização;
armazenamento;
transporte;
uso;
destinação final dos resíduos desse uso.
Devemos perceber que não é o produto químico perigoso em si que deve ser
objeto de preocupação, mas sim o seu manuseio.
As atividades preventivas já podem ser iniciadas no planejamento e projeto
da industrialização, associadas ao tipo e complexo da instalação (fábrica); esse
processo já ocorre durante a fase de licenciamento ambiental. De uma forma ge-
ral, todos os instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA – Lei
6.938/81) deverão ser observados (Resoluções Conama, Conselhos Estaduais e
Municipais do Meio Ambiente etc.).
Entre as diversas atividades que visam ao gerenciamento de riscos, está o
plano de ação e emergência (PAE), que considera, entre outros, os seguintes as-
pectos (AMARAL; SILVA, 2004, p. 798):
descrição das instalações envolvidas;
cenários acidentais a serem considerados;
áreas de abrangência geofísica;
estrutura organizacional do sistema de atendimento às emergências;
fluxograma de acionamento;
ações de resposta a situações emergenciais;
recursos humanos e materiais envolvidos;
recursos institucionais;
sistema de comunicação entre as partes envolvidas.
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Agenda 21
Conclusão
A gestão ambiental envolve uma série de fatores, desde o próprio ambiente
em si, passando pelos aspectos socioeconômicos e até mesmo políticos e filosófi-
cos. É uma tarefa árdua conciliar desenvolvimento sustentável e desenvolvimento
econômico e social, uma vez que os diversos atores procuram defender seus inte-
resses muitas vezes até de sobrevivência, o que os torna legítimos.
No entanto, parecemos caminhar para um mínimo de consenso em termos
de administração dos recursos naturais, apesar de estarmos ainda no início do que
parece ser uma longa jornada. No estágio atual, pelo menos podemos dizer que os
primeiros passos já foram dados, o que não deixa de ser um bom sinal.
Não bastasse a preocupação ambiental em si, ainda é necessária uma efi-
ciente fiscalização e normalização sobre as atividades exercidas nos diversos ra-
mos buscando, se não evitar totalmente, ao menos mitigar eventuais acidentes
ambientais e suas consequências.
Os dois processos (gestão ambiental e gerenciamento de risco) devem ser
indissociáveis pela sua própria natureza, bem como para uma adequada compre-
ensão de nossas atividades humanas e seus efeitos no meio ambiente.
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Agenda 21
Discuta o texto “Indústria sustentável no Brasil – Agenda 21: cenários e perspectivas”. Disponível
em: <www.cni.org.br/f-ps-ma.htm>. Acesso em: 17 maio 2006.
AMARAL E SILVA, Carlos C. Gerenciamento de riscos ambientais. In: PHILIPPI JÚNIOR, Arlindo;
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Avaliação de
danos ambientais I
Pedro G. Fernandes da Silva
A
apropriação dos recursos naturais pelas diversas civilizações, feita de diferentes formas, trou-
xe resultados desiguais a essas mesmas civilizações. De forma geral, quando o uso dos re-
cursos ultrapassa a capacidade de renovação dos mesmos, uma dada civilização entra em
declínio. Além desse aspecto, existe a interação sanitária com os recursos ambientais, associada com
a qualidade e a quantidade de resíduos lançados. Por exemplo, uma modificação ambiental, para for-
necimento de energia, pode levar a um detrimento da saúde humana.
A saúde pública tem como uma de suas prováveis origens o processo de industrialização na
Inglaterra, uma vez que o meio insalubre de trabalho provocou o surgimento de problemas nessa área
(PHILIPPI JÚNIOR; SILVEIRA, 2004, p. 23). Além disso, a concentração de seres humanos nas
cidades também contribuiu para o surgimento de problemas nessa área. Um dos exemplos mais elo-
quentes foi a epidemia da peste negra (ou bubônica), ocorrida na Idade Média, na Europa, onde cerca
de um terço da população morreu em virtude da doença. Vale lembrar que a peste negra foi provocada
pelo bacilo de Yersin, parasita de pulgas que, por sua vez, parasitavam ratos; os ratos tornaram-se
abundantes nas cidades em função do acúmulo de lixo nas ruas e residências.
Com a “modernização” da civilização ocidental, outros problemas passaram a ser relacionados
com a saúde pública, como pode ser visto na tabela a seguir.
Exemplos de riscos na saúde ambiental por tipo de agente
Equipamento mal
Iluminação Ácidos Vírus Baixos salários
projetado
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Avaliação de danos ambientais I
Recursos naturais
De uma maneira relativamente simples, os recursos utilizados pelo ser hu-
mano podem ser classificados de duas formas: os recursos que são renováveis e
aqueles que não são renováveis, conforme indicado na figura a seguir.
Ciclos biogeoquímicos
Ciclo biogeoquímico pode ser entendido como o conjunto de processos bio-
lógicos, geológicos e químicos pelos quais passa a matéria, que tem a propriedade
de reciclagem. Dentre os recursos naturais renováveis, os principais estão indica-
dos a seguir:
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Avaliação de danos ambientais I
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Avaliação de danos ambientais I
Morte e
decomposição
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Avaliação de danos ambientais I
Ciclo do carbono
GÁS CARBÔNICO
na atmosfera
RESPIRAÇÃO
RESPIRAÇÃO
dos vegetais
dos animais
Alimentos para
herbívoros
Morte
de plantas
SOLO DECOMPOSIÇÃO
Morte
dos animais
COMBUSTÍVEIS
FÓSSEIS
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Avaliação de danos ambientais I
Usando como exemplo o fósforo, que ocorre na forma de fosfato, temos que
a sua importância é na participação de moléculas orgânicas (DNA e RNA, por
exemplo, formando os grupamentos fosfatos dos nucleotídeos), entre outras fun-
ções. O ciclo do fósforo ocorre a partir de processos erosivos, é absorvido a partir
dos produtores, participa dos outros organismos vivos, é usado na agricultura e
boa parte do fósforo acaba sendo perdida para os sedimentos marinhos, voltando
a estar disponível apenas depois de novas formações de rochas, o que leva milhões
de anos. Acompanhe as figuras a seguir para distinguir as diferentes etapas e or-
ganismos pelos quais o fósforo passa.
Sedimentos ma-
Perdas para sedimentos rinhos rasos
profundos
erosão
alimentação
Produtores Consumidores
formação de
uso inadequado (adubação) sedimentos rochas
oceânicos
Ciclo do fósforo (na forma de fosfato), indicando sua passagem pelos organismos vivos e suas vias de retorno.
100
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Avaliação de danos ambientais I
Usos da água
Para que a água possa ser utilizada de forma adequada, é necessário que
identifiquemos os seus diversos usos e suas respectivas qualidades. Um resumo
ilustrativo dos usos da água está representado na figura a seguir:
Ilustração dos diversos usos da água, tais como: abastecimento doméstico, uso industrial, recreação, irriga-
ção, geração de energia, navegação etc. Para cada um desses usos, a água deve ter características próprias
e adequadas.
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Avaliação de danos ambientais I
Tratamento de água
Para que a água seja utilizada em algumas atividades, é necessário que
apresente qualidade compatível como, por exemplo, para o abastecimento do-
méstico. Nesse tipo de uso a água deve estar isenta de organismos patogênicos,
livre de elementos contaminantes (sólidos em suspensão) e que adicionem chei-
ro, gosto etc.
Existem locais em que a água é captada em condições praticamente pron-
tas para uso doméstico, como é o caso de águas captadas de aquíferos (exemplo:
o Aquífero Guarani, na região da cidade de Ribeirão Preto/SP, onde a água
possui um alto grau de pureza). Entretanto, é sempre conveniente que a água
passe por um tratamento, seja porque ficará armazenada por algum período em
reservatórios (caixas d’água) ou porque não possui qualidade adequada, desde a
sua captação (exemplo: água usada na cidade de São Paulo, captada do sistema
Guarapiranga).
Nesses casos utiliza-se uma Estação de Tratamento de Água (ETA) para
o tratamento. Usualmente, emprega-se a adição de cloro para eliminação de
organismos patogênicos, e outras substâncias (como o flúor) para adequar a qua-
lidade e/ou evitar problemas na população (o caso do flúor é significativo: vários
municípios – Franca/SP, por exemplo – adicionam flúor à água para diminuir a
incidência de cáries na população). Uma ETA está, simplificadamente, apresen-
tada na figura abaixo.
Misturador rápido
Escritório Agitadores
Casa de química Dosadores mecânicos
Medidor de vazão
Laboratório
Remoção de lodo
Camada filtrante Floculadores
Canal de água tratada
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Avaliação de danos ambientais I
Tipos de poluição
A água é, tradicionalmente, a substância na qual todos os resíduos são dis-
solvidos. Em pequenas quantidades, ou não sendo elementos recalcitrantes (que
não são biodegradáveis), não são ocasionados problemas. Porém, com o constante
aumento da população humana, a quantidade de elementos, substâncias e outros
produtos que são levados para diluição aumenta consideravelmente. Nesses casos,
ocorre o fenômeno da poluição das águas. Para uma rápida definição sobre os
tipos de poluição das águas, temos:
poluição e contaminação:
poluição – alteração das características da água, produzindo impactos
estéticos, fisiológicos ou ecológicos. Exemplo: introdução de calor
excessivo. Não causa impacto na população humana, mas é capaz de
destruir as comunidades biológicas locais;
contaminação – transmissão de substâncias e/ou organismos nocivos
à saúde humana pela água (exemplo: presença de organismos patogê-
nicos). Nesse caso, as comunidades biológicas locais podem não ser
afetadas, mas afeta a população humana.
fontes – as fontes de poluição das águas podem ser classificadas como
pontuais e difusas. Pontual é a fonte que permanece em um único local, e
difusa é a poluição que ocorre por diversos locais, sendo, frequentemente,
impossível detectar o local exato de origem. Essa diferença é importante
para metodologias e procedimentos de diminuição e/ou impedimento de
que a poluição chegue a um corpo hídrico.
As formas de poluição, pontual e difusa, são indicadas na figura apresentada
a seguir.
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Avaliação de danos ambientais I
Tratamento de efluentes
A chegada de matéria orgânica, em excesso, aos corpos hídricos, provoca
um fenômeno denominado eutrofização, que é a forma de poluição mais comum
nos corpos hídricos. Contrariando o senso comum, a poluição dos corpos hídricos
(eutrofização) é causada, principalmente, pelo esgoto urbano (efluente) e não por
produtos químicos liberados inadequadamente pelas indústrias.
Um corpo hídrico (um rio, por exemplo) tem a capacidade de eliminar, por si
só, o excesso de matéria orgânica; esse processo é denominado autodepuração.
Eutrofização – poluição por excesso de nutrientes, principalmente fos-
fatos e nitratos.
Autodepuração – capacidade de um corpo hídrico eliminar processos
de poluição. A autodepuração está ligada, necessariamente, ao fluxo do
corpo hídrico, isto é, quanto maior o fluxo (volume de água) de um corpo
hídrico, mais rapidamente ele realizará a autodepuração.
O fenômeno de eutrofização e autodepuração, com suas características
(quantidade de oxigênio, necessidade de oxigênio, Demanda Bioquímica de Oxi-
gênio – DBO) é apresentado resumidamente a seguir.
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Avaliação de danos ambientais I
Controle ambiental do ar
Introdução
A composição da atmosfera é de, aproximadamente: nitrogênio (N2) =
78,11%, oxigênio (O2) = 20,95%, argônio (Ar) = 0,934%, gás carbônico (CO2) =
0,033%.
É dividida em camadas, como mostra a próxima figura, em função da tem-
peratura de cada uma dessas camadas. Para se ter uma ideia, a Estação Espacial
Orbital Internacional está situada a uma altitude de, aproximadamente, 380km.
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Avaliação de danos ambientais I
Poluentes
Na atmosfera (principalmente na troposfera), ocorrem os fenômenos de po-
luição do ar. Esses poluentes são de diversos tipos como gases, partículas e outras
substâncias.
A seguir, apresentamos a classificação, os tipos e as principais formas de
poluição atmosférica.
Classificação:
Primários – lançados diretamente na atmosfera. Exemplo: óxidos de ni-
trogênio (NOx).
Secundários – formam-se na atmosfera por meio de reações que ocor-
rem devido à presença de certas substâncias químicas e determinadas
condições físicas. Exemplo: SO3 reage com vapor d’água (H2O), for-
mando ácido sulfúrico (H2SO4), acarretando a chuva ácida.
Tipos – os principais poluentes atmosféricos são:
COx (óxidos de carbono)
Dióxido de carbono (CO2) – também chamado de gás carbônico. Ori-
ginado da queima completa de matéria orgânica (combustíveis fósseis,
queimadas, entre outros). É importante em baixas quantidades; em ex-
cesso provoca o efeito estufa, uma vez que tem a propriedade de isolante
térmico.
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Avaliação de danos ambientais I
MP = material particulado.
Formas de poluição:
efeito estufa – aquecimento global, por acúmulo de certos gases, prin-
cipalmente o CO2, provocado principalmente pela queima de combustí-
veis fósseis. Alteração de clima, com prováveis efeitos como: enchentes,
ciclones etc. A figura a seguir representa a forma de ocorrência do efeito
estufa;
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Avaliação de danos ambientais I
Camada de CO2
Luz
ão
a
aç
elh
i
ad
er m
R
Atmosfera
rav
Inf
Terra
Diminuição da poluição
Se não há possibilidade de ausência de elementos poluentes na atmosfera,
algumas tecnologias podem ser empregadas para diminuir a quantidade de po-
luentes que chegam à atmosfera. Os dois tipos de poluição (partículas e gases), e
suas principais formas de atenuação, são:
partículas:
precipitador eletrostático – placas carregadas de eletricidade, que atraem
as partículas pequenas. Exemplo: usinas sucroalcooleiras;
filtros de manga – grandes cones de tecido especial, funcionando como
filtros, barrando partículas de qualquer tamanho. Exemplo: indústrias de
cimento;
separador ciclônico – o ar flui em grande velocidade e as partículas são
separadas por força centrífuga; usado para partículas de grande porte.
Exemplo: indústria metalúrgica;
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Avaliação de danos ambientais I
Gases:
absorção – o gás é misturado a uma substância, produzindo ele-
mentos inofensivos e/ou reaproveitáveis. Exemplo: SOx (produzido
em indústrias de fertilizantes) misturados com água, resultando em
H2SO4, que pode ser reaproveitado em processos industriais, far-
macêuticos etc;
combustão – simples queima do gás. Exemplo: queima do metano
(CH4), produzido em indústrias de fertilizantes;
adsorção – o gás é “capturado” por material apropriado, normalmente
carvão ativado, ficando aderido à superfície desse material. Exemplo:
catalisadores em escapamentos de automóveis.
Esse caso é o princípio de um costume antigo: um pedacinho de carvão,
colocado dentro de geladeiras pela vovó ou titia, para retirar o cheiro dos objetos
colocados no interior da mesma. Atualmente, as geladeiras já vêm de fábrica com
carvão ativado colocado no interior da porta ou no fundo (repare que, na porta, ou
atrás do refrigerador, há uma série de furinhos na parede; atrás desses furinhos
está o carvão ativado, que retira o cheiro dos objetos colocados no interior da
geladeira).
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Avaliação de danos ambientais I
Conclusão
A utilização dos recursos naturais deve ser avaliada com cuidado, para que
se evitem processos de uso inadequado, levando à sua exaustão. O cuidado com
os ciclos dos recursos renováveis deve receber severa atenção sob pena de, mesmo
não se exaurindo o recurso, ele passar a ter características indesejáveis para o uso
humano. Nesses casos, o respeito à preservação ambiental está diretamente ligado
aos processos de reciclagem dos recursos renováveis.
Entre os recursos renováveis, a água merece especial atenção, uma vez que
é elemento indispensável para a existência e manutenção da vida. A atmosfera
merece os mesmos cuidados, principalmente em grandes centros urbanos, onde a
emissão de gases e partículas é em maior quantidade.
Quando não há possibilidade de evitar a produção de agentes poluidores, a
tecnologia pode ajudar a diminuir a quantidade de elementos poluentes lançados
no ambiente.
Discuta o papel do CO2 na manutenção da vida na Terra e o seu papel enquanto agente principal do
efeito estufa.
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Avaliação de
danos ambientais II
Pedro G. Fernandes da Silva
D
esde tempos remotos, a população humana vem crescendo constantemente, bem como vem
migrando das áreas rurais para as áreas urbanas. Associada a esse crescimento e migração,
existe também uma crescente utilização dos recursos naturais com consequente formação de
resíduos, formados tanto na fabricação de novos produtos como no descarte de resíduos que já cum-
priram sua função e/ou não possuem mais utilidade. O quadro atual pode ser resumido da seguinte
forma: áreas rurais são cada vez mais utilizadas para produção de alimentos (não confundir com
maior quantidade de indivíduos) e também há necessidade de áreas cada vez maiores para a dispo-
sição dos resíduos gerados pela população humana. Como pode ser percebido, o que denominamos
resíduo é o que comumente chamamos de lixo.
Para se ter uma ideia, a tabela a seguir mostra, grosso modo, como o aumento da população
humana aumenta a produção de resíduos sólidos.
Em linhas gerais, uma cadeia alimentar é fechada, ou seja, a matéria passa de um nível trófico
a outro, sem perdas, em ambientes naturais. Aparentemente, o homem seria o único ser vivo capaz
de gerar resíduos, causados pelos padrões de consumo da sociedade atual. Apesar de simplista, esse
raciocínio mostra que o crescimento da população humana, associado com a capacidade de o homem
transformar, em larga escala, diversos tipos de materiais, tornando estáveis substâncias e produtos,
causa enorme desequilíbrio ambiental. Isso ocorre porque diversas substâncias e produtos, colocados
no meio ambiente pelo homem, não são reconhecidos e não têm capacidade de absorção por esse
meio ambiente; o resultado é que tendem a ficar acumulados, mesmo por longo prazo (TENÓRIO;
ESPINOSA, 2004, p. 156).
Por exemplo, na tabela a seguir, segue uma breve relação de alguns produtos com seu tempo de
decomposição (média). O tempo de decomposição é indicado em oceano, porque é o ambiente onde a
decomposição se processa de forma mais rápida.
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Avaliação de danos ambientais II
Alguns resíduos produzidos pelo homem e seu tempo médio de decomposição, em água salgada.
Definição
Como apontado anteriormente, o que é denominado comumente como lixo,
tecnicamente é denominado de resíduo sólido. Para evitar qualquer tipo de confu-
são, a seguinte definição é adotada para o que seja resíduo sólido (NBR 10004):
Resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades da comunidade, de
origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição.
Consideram-se também resíduos sólidos os lodos provenientes de sistemas de tratamento
de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem
como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na
rede pública de esgotos ou corpo d’água, ou exijam para isso soluções técnicas e economi-
camente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível.
Classificação
A classificação dos resíduos sólidos, principalmente os industriais, requer
uma série de procedimentos e testes, descritos em normas específicas da Associa-
ção Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):
NBR 10004 – Resíduos sólidos: classificação.
NBR 10005 – Lixiviação de resíduos: procedimento.
NBR 10006 – Solubilização de resíduos: procedimento.
NBR 10007 – Amostragem de resíduos: procedimento.
De maneira relativamente simples, os resíduos sólidos podem ser classifica-
dos conforme origem e periculosidade, a seguir.
Origem
Doméstico – gerados pelas residências, incluindo resíduos de escritórios
e atividades de comércio. Exemplo: papéis, metais, plástico etc.
Hospitalares – também chamados de serviços de saúde, são os resíduos
originados em hospitais, ambulatórios, clínicas médicas e veterinárias,
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Avaliação de danos ambientais II
Hospitalar Gerador
Industrial Gerador
Público Prefeitura
Agrícola Gerador
Entulho Prefeitura1
De quem é a responsabilidade pelo gerenciamento de cada tipo de lixo.
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Avaliação de danos ambientais II
Periculosidade
De acordo com a NBR 10004, os resíduos sólidos, principalmente os indus-
triais, podem ser classificados como:
Classe I (perigosos) – podem apresentar risco à saúde pública e/ou ao
meio ambiente, por causa de suas características de inflamabilidade, cor-
rosividade, toxicidade e patogenicidade. Essas características podem ser
consideradas para o resíduo em si ou por mistura com outros. Exemplo:
resíduos oleosos, substâncias sépticas, solventes, metais pesados (cromo,
mercúrio, cádmio etc.), dioxinas, entre outros.
Classe II (não inertes) – nesta classe estão incluídos os resíduos que, se
submetidos ao teste de solubilidade (NBR 10006), apresentam alterações
na qualidade da água, bem como apresentam potencial de combustibili-
dade. De forma genérica, podemos dizer que são os resíduos que reagem,
ou seja, não são inertes.
Tecnicamente, também são considerados nesta classe os resíduos que não se
enquadram nem na Classe I ou na Classe III. Exemplo: alumínio, ferro, material orgâ-
nico, papéis em geral (papel, papelão etc.), alguns tipos de borracha, entre outros.
Classe III (inertes) – são os resíduos que, se submetidos ao teste de solu-
bilidade (NBR 10006), não apresentam alterações na qualidade da água
e não são combustíveis, ou seja, são inertes. Exemplo: vidro, alguns tipos
de plástico etc.
Destinação
Embora o acondicionamento seja de responsabilidade do gerador, a admi-
nistração municipal deve exercer as funções de regulamentação, educação e fis-
calização, inclusive no caso dos estabelecimentos de saúde, visando assegurar
condições sanitárias e operacionais adequadas (JARDIM, 2001, p. 40). Isto quer
dizer que, independente do tipo de resíduo gerado ou de quem seja a respon-
sabilidade de coleta, o gerador dos resíduos sólidos é responsável por colocá-lo
em recipientes adequados para acondicionamento e posterior encaminhamento.
Em residências, é a adequação de sacos plásticos (ou outros elementos) para o
recebimento dos resíduos.
Após o acondicionamento dos resíduos, os mesmos devem ser encaminhados
de maneira correta. Normalmente, só nos damos conta da necessidade de encami-
nhamento correto dos resíduos sólidos quando estes deixam de ser coletados.
O ideal é que uma certa separação dos resíduos já ocorra nos próprios locais
de origem e/ou incentivados pela municipalidade, através de locais denomina-
dos Postos de Entrega Voluntária (PEV), onde devem estar presentes recipientes
adequados para o acondicionamento e encaminhamento dos resíduos sólidos. A
disposição incorreta de resíduos pode gerar uma série de problemas, como a dis-
seminação de doenças por meio de animais vetores (moscas, ratos, baratas, entre
outros).
Nos PEVs, os recipientes devem ser de cores padronizadas, para indicar que
tipo de resíduo deve ser destinado em qual caçamba. Esse procedimento já facilita
a destinação final dos resíduos sólidos pela sua prévia separação. As cores básicas
são apresentadas na tabela abaixo, e alguns símbolos estão associados na figura.
Amarela Metal
Verde Vidro
Vermelha Plástico
Recipiente basculante.
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Avaliação de danos ambientais II
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Avaliação de danos ambientais II
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Avaliação de danos ambientais II
Incineração
É uma das tecnologias térmicas existentes para o tratamento dos resídu-
os. Ocorre a queima dos resíduos em alta temperatura (normalmente acima dos
820°C – não confundir incineração com queima de resíduos, como pequenas fo-
gueiras, onde se joga o lixo para ser queimado. Nesse último caso – fogueiras – os
resíduos não são totalmente eliminados devido às baixas temperaturas, e ocorre a
formação de gases tóxicos, prejudiciais à saúde de quem está por perto. Exemplo:
ao se queimar uma garrafa PET, ou outro tipo de plástico, é liberado gás cianeto,
altamente venenoso).
As principais etapas da incineração podem ser vistas na figura.
Incinerador de lixo.
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Avaliação de danos ambientais II
emissões;
necessita de abastecimento contínuo de resíduos sólidos.
Quanto a esse último item, ele se compõe de uma das partes mais críticas do
processo de incineração, uma vez que deve ser estabelecido um rigoroso controle
das emissões, seja de material particulado, seja de gases.
Deve-se ressaltar que a incineração é particularmente recomendada (quan-
do não for exigida), para a destruição de resíduos sólidos de origem hospitalar, a
fim de eliminar potenciais agentes biológicos com capacidade patogênica.
Compostagem
É um processo de reciclagem da parte orgânica do resíduo sólido urbano,
através de decomposição aeróbia, podendo resultar em compostos humificados
que servem de condicionadores de solos e/ou adubos.
Há uma série de controvérsias sobre a adequação ou não do processo de
compostagem; alguns autores são fortemente favoráveis, enquanto outros são ex-
tremamente contrários.
As principais etapas e metodologias de uma usina de compostagem estão
representados na figura:
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Avaliação de danos ambientais II
Aterro sanitário
Ainda é o processo mais utilizado no mundo, em função de sua simplicidade
e relativo baixo custo e segurança, desde que devidamente instalado. Além do
mais, é uma atividade necessária, uma vez que os outros processos de tratamento
de resíduos sólidos também geram outros resíduos que devem, então, ser encami-
nhados a um aterro.
Para a realização de um aterro sanitário, existe uma divisão entre os aterros
para resíduos sólidos urbanos e aterros para resíduos sólidos industriais, principal-
mente os que pertencem às Classes I e III. Dessa forma, a construção de aterros
sanitários é sujeita a uma série de regulamentações e normas; as principais são:
NBR 8418 – apresentação de projetos de aterros industriais de resíduos
industriais perigosos;
NBR 8419 – apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos
sólidos urbanos;
NBR 10157 – aterros de resíduos perigosos – critérios para projeto, cons-
trução e operação;
NBR 13896 – aterros de resíduos não perigosos – critérios para projeto,
construção e operação.
Basicamente, um aterro deve respeitar as seguintes características de
projeto:
vida útil maior que 10 anos;
distância menor que 10 quilômetros do centro a ser atendido;
áreas sem restrição de zoneamento ambiental;
vetor de crescimento mínimo para áreas urbanas;
densidade populacional baixa;
áreas de baixa valorização da terra;
distância maior que 200 metros de qualquer corpo hídrico.
As principais características de um aterro sanitário, incluindo as suas diver-
sas fases de funcionamento (preparação, execução e conclusão), estão representa-
das na figura:
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Avaliação de danos ambientais II
Reciclagem
É importante na medida em que se preservam os recursos minerais e ener-
géticos, fatores fundamentais para o desenvolvimento sustentável. A reciclagem
permite, também, o aumento da vida útil do aterro sanitário.
Entretanto, embora muitos não saibam, a reciclagem custa mais caro ao
município do que a simples disposição em aterros sanitários. Isso se deve à prática
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Avaliação de danos ambientais II
Modificações ambientais
A tecnologia humana, associada a sistemas socioeconômicos atualmente
vigentes (ao menos no Ocidente), que privilegiam o consumismo e, consequente-
mente, o uso abusivo dos recursos naturais, provoca modificações profundas no
ambiente.
A recomposição pura e simples do ambiente, em uma tentativa de “volta às
origens”, é algo fantasioso; seria como se voltássemos ao “tempo das cavernas”.
O que deve ser feito é uma constante e ininterrupta educação ambiental, para que
os recursos não sejam despejados no meio ambiente e que os resíduos gerados
tenham uma destinação correta. É um processo político que deveria ser orientado
no sentido de diminuir o “consumismo”, baseando-se, num primeiro momento, na
política dos três Rs: reduzir, reaproveitar e reciclar.
Conclusão
A utilização cada vez maior de produtos industrializados, associada com o
crescente aumento populacional, além de políticas de consumismo, contribuem
para uma produção cada vez maior de resíduos sólidos, que devem ser convenien-
temente alocados. No entanto, esse problema esbarra em outro, que é a crescente
falta de espaço para a destinação dos resíduos sólidos. Cabe a cada um de nós,
associados a uma política de Educação Ambiental, poder público e organizações
não governamentais (ONGs), trabalharmos para a redução, reciclagem e reutiliza-
ção dos resíduos, para que os recursos naturais, bem como os espaços, não sejam
exauridos pela crescente produção dos resíduos sólidos.
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Avaliação de danos ambientais II
Discuta o sistema de coleta de resíduos de sua localidade e a destinação desses mesmos resíduos.
BRAGA, Benedito et al. Introdução à Engenharia Ambiental. São Paulo: Prentice Hall, 2002.
IBGE. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico. Disponível em: <www.ibge.gov.br/home/estatisti-
ca/populacao/condicaodevida/pnsb/esgotamento_sanitario/defaultesgotamento.shtm>. Acesso em: 18
maio 2006.
JARDIM, Nilza S. (Coord.). Lixo Municipal: manual de gerenciamento integrado. São Paulo: IPT/
CEMPRE, 2001.
TENÓRIO, Jorge A. S.; ESPINOSA, Denise C. R. Controle ambiental de resíduos. In: PHILIPPI JÚ-
NIOR, Arlindo; ROMÉRO, Marcelo de A.; BRUNA, Gilda C. (Coord.). Curso de Gestão Ambiental.
São Paulo: Manole, 2004.
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Áreas degradadas
Pedro G. Fernandes da Silva
O
constante crescimento da população humana faz com que novos espaços sejam ocupados,
principalmente o espaço denominado cidade ou área urbana. Para exemplificar, 18% do
território da Alemanha é ocupado por cidades, povoados, indústrias e sistemas rodoviários
e ferroviários. No Brasil, no caso da Grande São Paulo, a área urbanizada cresce a uma razão apro-
ximada de 2 mil hectares por ano (CAVALHEIRO, 1995, p. 114). A urbanização é um problema para
técnicos, administradores, planejadores, entre outros, e essa concentração humana (associada às ativi-
dades humanas decorrentes) provoca uma alteração no funcionamento do ambiente natural. Diversas
correntes já aceitam que soluções tecnológicas para problemas urbanos são extremamente onerosas
e que o mais lógico parece ser primeiro utilizar o que a natureza pode oferecer em relação à autor-
regeneração do ambiente (exemplo: controle de erosão em encostas), para então estudar as tecnologias
mais apropriadas e compatíveis com os problemas (CAVALHEIRO, 1995, p. 115).
Essa ocupação da área urbana é associada a uma mudança no ambiente local, ou paisagem; de
certo modo, pode-se considerar a paisagem urbana como uma paisagem alterada, derivada da natural,
porém com características próprias, a ponto de poder ser considerada como um sistema. Segundo
Monteiro (apud CAVALHEIRO, 1995, p. 115), é nessa paisagem alterada que se deve buscar, estudar,
analisar e prognosticar as degradações e impactos ambientais.
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Áreas degradadas
Inverno 2% menor
Umidade relativa
Verão 8 a 10% menor
(MULLER apud
CAVALHEIRO, 1995, p. 119.
Adaptado.)
Causa mortis Habitantes (milhares)
(p/ 10 000 hab.) > 100 000 50 a 100 000 < 50 000 Zona rural
Pneumonia 47,90 39,22 35,75 31,55
Bronquite 61,56 53,82 48,77 36,94
Outras 11,19 9,71 10,60 9,66
Total 120,65 102,75 95,12 78,15
Recuperação
Em termos de legislação, a recuperação de áreas degradadas, rurais ou urba-
nas, é dada pelo Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD). O PRAD
é determinado pela NBR 13.030, que fixa as diretrizes para a elaboração e apre-
sentação de PRAD pelas atividades de mineração, segundo o artigo 1.º do Decreto
97.632/89, que regulamenta o artigo 2.º da Lei 6.938/81 e as Resoluções SMA
18/89 e 26/93.
Na verdade, o PRAD foi originalmente proposto para atividades de
“extração mineral”; no entanto, esse documento tem sido exigido por alguns
órgãos ambientais, uma vez constatados, pela fiscalização, efeitos negativos de
empreendimentos. Esse documento deve ser apresentado por ocasião do pedido
de licença prévia (LP), que contempla requisitos básicos a serem atendidos nas
fases de localização, instalação e operação de um empreendimento, observados
os planos municipais, estaduais ou federais de uso do solo.
Para cada tipo de agressão ambiental, pode existir alguma forma de miti-
gação, seja ela por meios “naturais” ou tecnológicos. Abordaremos brevemente
essas formas.
Clima – amenizar os impactos ambientais relativos ao clima envolve
metodologias “naturais” e tecnológicas. Entre as “naturais”, está um ade-
quado replantio de vegetação capaz de suportar as diferenças climáticas
inerentes ao meio urbano (calor, relativa falta de umidade, gases tóxicos
etc.), sem que haja prejuízo de construções e elementos urbanos (ca-
nalizações, fiação etc.). Preferencialmente, devem ser criados parques e
ruas arborizadas, permitindo a existência e o fluxo de diversos grupos de
animais, que podem usar essas áreas como corredores ecológicos.
Veículos e indústrias devem estar aparelhados com dispositivos capazes de
reduzir e/ou eliminar a emissão de poluentes atmosféricos.
A canalização de córregos e/ou rios deve ser evitada, bem como a grande
concentração de edifícios em uma única área, a fim de evitar e/ou diminuir o
impacto de ondas de calor sobre o ambiente urbano. Como a questão do tráfego
é sempre uma questão importante, e relacionada com a canalização de corpos
hídricos para um melhor escoamento desse tráfego, uma das melhores soluções
é o maciço investimento em transporte público de qualidade, sem gerar poluição
local, como trens e metrô.
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Áreas degradadas
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Áreas degradadas
Passivo ambiental
O passivo ambiental pode ser entendido como os danos causados ao meio
ambiente representando, assim, a obrigação e a responsabilidade social da empre-
sa, ou indivíduo, com os aspectos ambientais. Uma empresa (ou pessoa física) tem
passivo ambiental quando ela agride, por algum modo e/ou ação, o meio ambiente
e não dispõe de nenhum projeto para sua recuperação aprovado oficialmente ou
por sua própria decisão.
Normalmente, o surgimento dos passivos ambientais dá-se pelo uso de uma
área, lago, rio, mar ou uma série de espaços que compõem nosso meio ambiente,
inclusive o ar que respiramos, que de alguma forma está sendo prejudicada. Os
passivos ambientais ficaram amplamente conhecidos pela sua conotação mais ne-
gativa, ou seja, as empresas que o possuem agrediram significativamente o meio
ambiente e, dessa forma, são obrigados a pagar vultosas quantias a título de in-
denização de terceiros, de multas ao Estado e recuperação das áreas atingidas.
Como exemplo, podemos citar:
os gastos assumidos pela Exxon, no caso do acidente com o petroleiro
Valdez, no Alasca;
o caso da Petrobras na década de 1980, no qual a região de Cubatão, no
interior do estado de São Paulo, foi seriamente afetada pelo vazamento
de óleo, que culminou com a explosão de várias moradias;
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Áreas degradadas
Conclusão
As diversas atividades humanas exercem profunda alteração nas áreas ocupa-
das, podendo provocar deterioração dessas mesmas áreas, com reflexos na própria
população humana. As diversas formas de alteração do solo, do clima, supressão
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Áreas degradadas
Verifique junto à sua comunidade se as árvores plantadas são de espécies nativas ou não; veri-
fique também se existem árvores danificando as calçadas, encanamentos e fiações.
Além disso, você pode levantar dados junto à prefeitura sobre áreas de risco de desabamento,
enchentes ou outro tipo de perigo.
Discuta esses aspectos com os colegas e procure encontrar soluções.
VARGAS, Heliana C. Gestão de áreas urbanas deterioradas. In: PHILIPPI JÚNIOR, Arlindo; ROMÉ-
RO, Marcelo de A.; BRUNA, Gilda C. (Coord.). Curso de Gestão Ambiental. São Paulo: Manole,
2004.
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Áreas degradadas
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Planejamento de projetos
em Educação Ambiental
Maria de Lourdes Spazziani
Conceituando planejamento,
projeto e Educação Ambiental Doutora em Psicologia
P
da Educação pela Unicamp.
ara falar em planejamento de projetos em Educação Ambiental, é necessário Mestre em Educação pela
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Planejamento de projetos em Educação Ambiental
O projeto
O projeto deve ser concebido como o plano para a realização de um ato,
desígnio ou intenção, e precisa ter uma redação provisória contendo todas as
etapas necessárias para a execução de algo.
Projeto é também um documento produto do planejamento, porque nele são
registradas as decisões mais concretas de propostas futuristas. Trata-se de uma
tendência natural e intencional do ser humano. Como o próprio nome indica, pro-
jetar é lançar para frente, dando sempre a ideia de mudança, de movimento. Pro-
jeto representa o laço entre o presente e o futuro, sendo ele a marca da passagem
do presente para o futuro.
Na opinião de Gadotti (apud VEIGA, 2001, p. 18), todo projeto supõe ruptu-
ra com o presente e promessas para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um
estado confortável para arriscar-se, atravessar um período de instabilidade e bus-
car uma estabilidade em função de promessa que cada projeto contém de estado
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Planejamento de projetos em Educação Ambiental
melhor do que o presente. Um projeto educativo pode ser tomado como promessa
frente a determinadas rupturas. As promessas tornam visíveis os campos de ação
possível, comprometendo seus atores e autores.
A Educação Ambiental
A Educação Ambiental acontece enquanto prática emancipatória, na me-
dida em que promove outras consciências na relação homem-homem e homem-
-natureza a partir dos conflitos existentes e transforma práticas consolidadas nos
contextos microssociais com ressonância nas macroestruturas, por meio de pro-
cessos formativos em todos os níveis de atuação dos sujeitos sociais escolares e
não escolares em todas as escalas sociais, com uso de recursos tradicionais de
educação, educação a distância e educação difusa.
A Educação Ambiental tem, em seus modos de realização, diretrizes que
dão a essência da sua especificidade, na medida em que promove:
a participação ativa de todos os sujeitos sociais envolvidos;
a contextualização socioambiental da modernidade;
a interdisciplinaridade nos modos de lidar com as questões emergenciais
do contexto socioambiental;
o pré-diagnóstico do contexto socioambiental focalizado (visitas, fotos,
documentos, notícias da imprensa, conversas informais etc.);
a busca das identidades e percepções dos sujeitos envolvidos no contex-
to (conversas, mapeamentos dos sujeitos locais articulados, entrevistas,
questionários, entre outros);
a formulação de objetivos prévios em função do diagnóstico e do estudo
das percepções da comunidade;
a concretização da estrutura organizacional (organização, funcionamen-
to do processo e formas de articulação com a comunidade).
Promove
transformações
Melhoria
socioambiental
Princípios
Temos como de relevante consideração na caracterização de princípios gerais:
atingir objetivos máximos desejados;
estar na vanguarda do processo educativo;
envolver o maior número possível de pessoas, ações e instituições;
aprofundar as intervenções educacionais;
maximizar os recursos já disponíveis;
caracterizar o espaço territorial almejado.
E como princípios específicos no PPEA:
ser participativo;
ser coordenado;
ser integrado;
ser sustentável;
ser inclusivo.
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Planejamento de projetos em Educação Ambiental
“Nós não herdamos nossa terra de nossos antepassados. Nós apenas a tomamos emprestada aos
nossos filhos.” (Chefe de tribo indígena das Américas)
FERREIRA, Aurélio Buarque de H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Nova Fronteira: Rio
de Janeiro,1986.
GADOTTI, Moacir. Papel do Planejamento na Construção do Projeto Político-Pedagógico da
Escola. São Paulo: Instituto Paulo Freire, 1998.
GANDIN, Danilo. Posição do Planejamento Participativo entre as Ferramentas de Intervenção
na Realidade. Disponível em: <www.curriculosemfronteiras.org/vol1iss1articles/gandin.pdf>. Aces-
so em: 20 maio 2006.
OLIVEIRA, Djalma P. R. Planejamento Estratégico: conceitos, metodologia e práticas. São Paulo:
Atlas, 2002.
140
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Planejamento estratégico
Maria de Lourdes Spazziani
A
Educação Ambiental, discutida há poucas décadas no Brasil, vem assu-
mindo novas dimensões a cada ano, principalmente pela urgência de re-
versão do quadro de deterioração ambiental em que vivemos.
Ela tem se proposto a efetivar práticas de desenvolvimento sustentado e me-
lhor qualidade de vida para todos e aperfeiçoar sistemas de códigos que orientam
a nossa relação com o meio natural.
Trata-se de compreender e buscar novos padrões, construídos coletivamen-
te, de relação da sociedade com o meio natural.
Uma das formas de atuação tem sido envolver pessoas e instituições por
meio de ações planejadas e estrategicamente construídas, garantindo de forma
mais eficaz as mudanças necessárias para reverter a qualidade socioambiental do
mundo contemporâneo.
Fazer planejamento estratégico em educação e ges- Atuando estrategicamente
tão ambiental é olhar os conceitos de estratégia, de tática
de forma eficaz em
e de operação e aplicá-los no contexto do planejamento de
projetos em Educação Ambiental.
Educação Ambiental
Estratégia
Estratégia1 é o cálculo das relações de forças que se torna possível a partir
do momento em que um sujeito de querer e poder, num coletivo de pessoas ou
instituições, faz um recorte contextualizado de uma situação, buscando novas e
transformadoras ações.
A estratégia postula um lugar próprio, que se constitui na base de onde
podem surgir e gerir relações que se realizam em contextos exteriores aos seus
próprios contextos; estende-se além de seus atos e territórios; prevê ir além da
atuação no grupo ou no espaço físico; estabelece o lugar do poder e do querer, ou
seja, almeja potencializar as ações e forças do coletivo que representa. 1 O conceito de estratégia
remonta aos princípios
contidos em Arte da Guerra,
escrito aproximadamente no
Por meio da estratégia, é possível otimizar informações e conquistas do que século III a.C. e atribuído aos
ensinamentos de Sun Tzu.
potencialmente já existe, tanto em recursos materiais quanto humanos, incorpo- Considerado um general-filó-
sofo, ele lutou no período dos
rar no coletivo tudo o que for trazido ou produzido por indivíduos ou grupos no terríveis conflitos sociais e
culturais que abalou a China,
processo e ainda prever uma atuação que independe das variabilidades circuns- difundindo suas poderosas
tanciais. Ao agir com visão de futuro, permite expandir-se mesmo em situações mensagens de estratégia mi-
litar. Uma delas é que a meta
adversas. é a vitória sem luta.
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Planejamento estratégico
Tática
Na ação tática, empreende-se um processo desenvolvido na ausência de um
território próprio, um processo no campo do outro, ou seja, daquele que tem o
poder ou onde está o poder. Não possui meios/recursos próprios para se manter,
sendo dependente do território e dos recursos de outrem; atua em microespaços
ou territórios; não possui visão da totalidade das ações; movimenta-se em acordo
com as possibilidades ou oportunidades imprevistas e vive da criatividade e do
aproveitamento das oportunidades. É, portanto, uma ação que se adapta a mudan-
ças com facilidade.
Operação
A operação constitui-se nos procedimentos para executar uma ação e en-
volve a realização de metas e objetivos estrategicamente pensados, planejados e
projetados taticamente.
Pensar estrategicamente implica em organização (colocar ordem na desor-
dem), circunstância (desafiar com coragem o presente) e disposição (como força
para vencer os obstáculos). Esses são os três pilares básicos da estratégia, que não
se delega e se mantém no grupo gestor. Faz parte das grandes decisões assumidas
neste nível.
Tática e operação são decisões sobre o plano de ações para levar a cabo as
ideias (decisões estratégicas), que serão sempre ideias-objetivos.
Em síntese, o planejamento estratégico em projetos de Educação Ambiental
é decorrência do pensamento estratégico (estratégia), que contempla iniciativa
e determinação de um coletivo, com visão de futuro, para inferir no contexto
socioambiental por meio de ações táticas (tática) projetadas e minuciosamente
acompanhadas e avaliadas (operação).
Metodologia de planejamento
estratégico em Educação Ambiental
O início de um trabalho de planejamento estratégico compreende uma fase
de diagnóstico da compreensão dos conceitos que permeiam o grupo gestor co-
letivo. Além disso, deve ficar também evidente a importância da realização das
ações. Uma vez balizados os princípios e conceitos fundamentais das operações
pretendidas, é importante a fase de construção de cenários futuros e diagnósticos
estratégicos presentes no cenário atual.
O conceito atual é aplicado perante os cenários futuros, objetivando verifi-
car a necessidade de se promoverem ajustes nas competências que mantenham a
vantagem competitiva desejada.
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Planejamento estratégico
Diagnóstico ambiental
Diagnóstico estratégico ambiental
Constitui uma das etapas do planejamento ambiental, o qual permite apontar
um conjunto de dados, informações e características de um determinado local.
Também o resultado do levantamento e análise de elementos e variáveis
ambientais.
O diagnóstico estratégico ambiental pode possuir variáveis, conforme se
verifica a seguir.
Bacia
Recortes Área costeira Mangue Floresta Lagoa
hidrográfica
Análise da Análise
Instrumentos Análise de Trabalhos de
Bases cartográficas qualidade da do
metodológicos perfil de solo campo
água clima
Órgãos de
Usinas
Iniciativas Universidade FEHIDRO Poder público fomento à
hidrelétricas
pesquisa
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Planejamento estratégico
Estado ambiental
Indicadores
Mobilização social significa o estágio mais avançado de participação popu- nossas próprias vidas – qua-
lidade de vida –, de nossos
mundos sociais – cidadania
lar, sendo este contínuo, coletivo e permanente. Ela é permeada pela participação ativa – e do meio ambiente –
de grupo voluntário, ou seja, ninguém é obrigado a participar de um projeto se educação e gestão ambiental
–, a palavra sustentável se
não possuir um objetivo intrínseco. Contudo, este pode ser incentivado de forma tornou essencial, enquanto
construção da sua prática na
convocatória na medida em que empodera seus atores para a mobilização. vida na Terra.
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Planejamento estratégico
Cenários ambientais
Os cenários ambientais4, consubstanciados na organização de cenários te-
máticos, têm como premissa a busca pela valorização dos recursos ambientais,
espelhados em diretrizes de desenvolvimento ambiental sustentável.
Neste trabalho, o cenário ambiental é compreendido segundo três projeções
para o futuro, variando conforme a intensificação dos impactos ambientais:
estágio avançado – cenário de degradação ambiental: apresenta-se um
cenário futuro precário, considerando que os processos atuantes continu-
4 “Cenário ambiental é
[...] a projeção de uma
situação futura para o meio
arão de maneira avançada, isto é, sem qualquer tipo de intervenção para
ambiente, tendo em vista a reverter ou minimizar o quadro de degradação ambiental. A previsão des-
solução de um problema ou
a melhora de uma condição
ses problemas dá-se frente ao uso e ocupação atual do local ou região que
presente indesejável ou in- têm ultrapassado a capacidade de suporte para o desenvolvimento das
satisfatória. Como a melhora
de uma condição ambiental potencialidades ambientais;
é um conceito que envolve
aspectos socioculturais com- estágio estabilizado – cenário de permanência de impactos ambientais:
plexos e cuja mudança vai na-
turalmente implicar em con- O cenário de impactos ambientais não progride, pois são apenas realiza-
sequências que envolverão
toda uma comunidade, ela das ações mitigadoras. Essas ações têm o objetivo de conter a evolução
é antes de tudo uma decisão
política. Assim sendo, é im-
dos impactos;
portante que na formulação
de cenários ambientais haja a estágio de recuperação – cenário de preservação e conservação ambien-
participação dos vários agen-
tes sociais envolvidos num
tal: aponta-se uma perspectiva otimista de que a situação ambiental reverta
projeto. Logo, esse método
de planejamento só é possí-
em três níveis: recuperação, preservação e conservação ambiental. Esse
vel dentro de uma sociedade cenário serve, ao mesmo tempo, para demonstrar um conjunto de propos-
democrática”. (FRANCO,
2001, p. 168). tas reais para recuperação das qualidades ambiental e de vida da região.
Na relação cultural homem-natureza, o “estar trabalhando” vale o que se faz, o que se cria e o
que se produz por meio de ações regidas por princípios de saber e por preceitos de exercícios de
trabalho.
Em pequenos grupos, refletir sobre a questão: quando é que eu estou participando?
146
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Planejamento estratégico
ALVES, Adriana Olivia. Diagnóstico dos Impactos Ambientais Provocados pelo Processo de Ur-
banização na Microbacia do Córrego da Colônia Mineira – Presidente Prudente/SP. 2004. 128 f.
Dissertação (Mestrado em Geografia) – Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual
Paulista, Presidente Prudente, 2004.
CERTEAU, Michel. A Invenção do Cotidiano: artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 1999.
DEMO, Pedro. Cidadania Pequena: fragilidades e desafios do associativismo no Brasil. Campinas:
Autores Associados, 2001.
FRANCO, Maria de Assunção Ribeiro. Planejamento Ambiental: para a cidade sustentável. São
Paulo: Annablume/FAPESP/EDIFURB, 2001.
LEVY, Alberto R. Estratégia em Ação. São Paulo: Atlas, 1986.
OLIVEIRA, Djalma P. R. Planejamento Estratégico: conceitos, metodologia e práticas. São Paulo:
Atlas, 2002.
TORO, José B.; WERNECK, Nísia Maria D. Mobilização Social: um modo de construir a democra-
cia e a participação. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
147
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Planejamento estratégico
148
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Planejamento
Participativo (PP)
Maria de Lourdes Spazziani
Participação
D
e acordo com a etimologia da palavra, participação origina-se do latim participatio (pars + in
+ actio), que significa ter parte na ação. Para ter parte na ação é necessário ter acesso ao agir
e às decisões que orientam o agir. “Executar uma ação significa ter parte, ou seja, responsabi-
lidade sobre a ação. E só será sujeito da ação quem puder decidir sobre ela.” (BENICÁ, 1995, p. 14).
Assim, o termo participação traz como característica fundamental a proposição de atuação consciente
dos membros de uma unidade social (de um grupo, de uma equipe, de um coletivo), quando estes
reconhecem e assumem seu poder de exercer influência na dinâmica cultural da unidade social, a
partir da competência e vontade de compreender, decidir e agir em conjunto.
Construção coletiva
O ser humano necessita viver em comunidade e, nesse sentido, desenvolve um trabalho que
desperta os diferentes grupos para os seus problemas e para o desejo de encontrar a melhor forma de
resolvê-los, usando para isso os recursos que advêm de nossa humanização, ou seja, nossas competên-
cias e habilidades construídas culturalmente, tais como a percepção, a memória mediada, a abstração,
o pensamento lógico, o raciocínio dedutivo, a imaginação, entre tantas outras funções psíquicas.
149
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Planejamento Participativo (PP)
tuações em conjunto, extrapolando a prática política local, nos remetemos? lixo. Mas não podemos per-
der de vista todos os “R” que
podemos praticar no dia a dia
o que nos remete a pensar em três níveis de participação: ordenadamente:
repensar nossos hábitos de
participação na base local – construção de capacidades e do poder das consumo;
recusar produtos que cau-
próprias populações no sentido de instituir direitos e autonomia para po- sem danos ao meio am-
biente ou à nossa saúde;
derem gerir seus próprios assuntos coletivamente; reduzir a geração de lixo;
reutilizar, sempre que
participação na base regional e nacional – lançamento de campanhas, possível;
reciclar, ou seja, transfor-
alianças e coligações sobre temas mais amplos, criação de redes de apoio mar em um novo produto.
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Planejamento Participativo (PP)
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Planejamento Participativo (PP)
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Planejamento Participativo (PP)
Diagnóstico participativo
Ao se fazer o diagnóstico participativo sobre uma comunidade, o que se
está buscando é a geração de informações e conhecimentos necessários para a
identificação dos problemas e necessidades enfrentadas pelo grupo comunitário.
Num momento inicial, “o diagnóstico participativo é um processo contínuo que
gera um conhecimento que se enriquece na medida em que a realidade se trans-
forma” (GUTIÉRREZ, 1993, p. 31). Em um segundo momento, o diagnóstico par-
ticipativo objetivará as prioridades, bem como identificará os recursos (humanos
e financeiros) para sua consecução, formulando quais os objetivos das ações. O
terceiro passo é quando envolvemos os beneficiários no processo de pesquisa, pro-
porcionando a objetivação de necessidades sentidas, bem como de necessidades
reais não sentidas. O próximo passo é determinar como cada um dos problemas
será abordado.
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Planejamento Participativo (PP)
Para agir sobre uma realidade é preciso conhecê-la e, para que isso ocorra,
é preciso que nós a estudemos ao mesmo tempo em que deve ser dado ao grupo
estudado a oportunidade de conhecer suas percepções, seus valores, suas cren-
ças, bem como seus temores e aspirações para o futuro. Desta maneira, a própria
comunidade, organizadamente, poderá levantar os dados necessários para conhe-
cer sua realidade. Quando envolvemos os beneficiários no processo de pesquisa,
estamos proporcionando a objetivação de necessidades sentidas, bem como de
necessidades reais não sentidas, o que podemos identificar claramente no relato da
experiência em Tacaratu-PE pelo Programa Universidade Solidária/Xingó e Uni-
versidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Foram utilizadas a metodolo-
gia do diagnóstico participativo e organização social pelo trabalho desenvolvido
por artesãos de Caraibeiras/Tacaratu-PE.
Os conteúdos da pesquisa-ação-participante podem incluir a comunidade de
uma forma global, a estrutura socioeconômica, os componentes da cultura vivida,
os grupos organizados e as associações, as relações formais e informais entre
membros da comunidade, seus problemas, entre outros aspectos importantes para
essa comunidade.
Não há uma forma única de fazer diagnóstico participativo. Os instrumen-
tos de observação ou coleta de dados podem ser os mais variados.
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Planejamento Participativo (PP)
a ocasião de confirmar nossa hipótese de que o poder municipal é a grande fonte de emprego da
população, onerando os gastos do município com a folha de pagamento, o que inviabiliza obras
na área social e, ainda, se expõe ao risco quanto à lei de responsabilidade fiscal. Este documento
também nos mostrou que havia destaque para indústria como fonte geradora de renda na zona
rural do município. Analisando a resposta, verificamos tratar-se de atividade de tecelagem e que
ficava situada no distrito de Caribeiras. Quando da viagem precursora ao município, pudemos ter
uma ideia da forma de trabalho, de produção e de sua organização comunitária.
Uma outra forma para obtenção de dados sobre a população foi a realização da viagem pre-
cursora ao município. Esta é uma metodologia comumente empregada pelo Unisol, na qual o
professor-coordenador viaja ao município em que a equipe vai atuar, a fim de conhecer a realidade
local. Antes de viajarmos, agendamos o período da viagem e marcamos reuniões com as autorida-
des locais. Solicitamos que fossem convidados todos os líderes e representantes da comunidade.
Durante a realização da viagem precursora é importante que procuremos captar o que, às vezes, as
autoridades procuram “guardar para si”. Assim é que, em Caraibeiras, o sistema de produção por
meio da terceirização e utilização da mão de obra doméstica. Também é um distrito de imensos
contrastes, onde há tecelões com teares manuais, na maioria velhos, para tecer as peças (redes,
bolsas, mantas, tapetes etc.). E há os empresários locais, proprietários de armazéns de linha e de
muitos teares elétricos (em média, 30 em cada armazém), os quais são suficientes para tecerem
grande número de forro das redes, bolsas, tapetes, mantas, cortinas, terceirizando o trabalho na
hora de fazer o “acabamento” das peças. Verificamos que o trabalho infantil, embora proibido
por lei, ainda era utilizado em uma pequena escala da população (“é melhor ele trabalhando em
casa do que na rua” – este é o pensamento mais comum). Tentamos contactar as lideranças dos
artesãos, mas havia um receio, pois o distrito já fora alvo de denúncias veiculadas, inclusive pela
imprensa nacional sobre o trabalho infantil. Quando do retorno à nossa universidade, continua-
mos mantendo contato com a comunidade, a fim de estabelecer a metodologia de trabalho a ser
implementada e discutir a programação das atividades. Estas foram traçadas em linhas gerais e
foram realinhadas, quando chegamos ao município, pois devemos consultar a comunidade sobre
qual sua disponibilidade para participar das atividades. Durante a execução do programa Unisol/
Xingó, tivemos a oportunidade de fazer uma pesquisa informal com os tecelões locais, e o resul-
tado é o que segue: quem realiza o trabalho de acabamento das peças são os moradores do distrito
de Caraibeiras, os quais trabalham em suas casas, usando toda a mão de obra familiar, às vezes
até a infantil, para dar conta da produção, porém recebendo uma remuneração muito baixa por
isto. O valor pago varia de acordo com a peça produzida: um punho de rede vale R$0,06 e uma
varanda de rede vale R$1,00 ou R$2,00, de acordo com a complexidade da peça, isto é, de acor-
do com o número de nós que são dados, sendo esta peça a que agrega maior valor monetário ao
produto. O cordão que prende a rede ao punho é confeccionado em longos caminhos (100 m), por
isto este é denominado de “caminho de furquia”. O metro deste cordão é comercializado a R$0,10.
A produção diária é de seis rolos de cordão. Para a confecção do “cadil” paga-se R$0,20. Alguns
tecelões comercializam as redes que eles confeccionam. Estas custam, aproximadamente, R$6,00.
Quando são de melhor qualidade, são comercializadas fora do distrito ou a turistas eventuais e
podem valer até R$15,00. Outras pessoas “amarram tapetes” e ganham R$0,15 por peça. No geral,
as condições de trabalho são extremamente prejudiciais à saúde, pois o barulho dos teares é ensur-
decedor e poucos funcionários usam equipamentos de proteção individual, ou porque “incomoda”
ou porque não os têm. O nível de conscientização e autoestima dessas pessoas é baixo. Segundo
estas pessoas, “é melhor engolir do que vomitar” – ou seja, é melhor ganhar pouco do que nada
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Planejamento Participativo (PP)
ganhar, pois quando não vendem na feira local, voltam “pra casa de mãos abanando sem ter o
que comer. Às vezes, eles nos pagam em linha. E quem come linha? E a venda não aceita linha
como dinheiro”. Diante do que verificamos, sentimos a imensa necessidade de desenvolver um
trabalho participativo com os tecelões, para acordá-los daquela situação de marasmo e fatalismo
(as coisas são assim porque Deus quer). Segundo Gutiérrez (1993, p. 30), a prática ensina que as
necessidades são de dois tipos: aquelas sentidas pelo grupo comunitário, que podem corresponder
a problemas reais e não reais, e aquelas necessidades não sentidas, mas reais”.
Em grupo, discuta qual o significado de trabalho coletivo, elaborando uma representação gráfi-
ca (tabela, desenho ou apresentação em texto).
Neste texto, a autora faz um convite à reflexão sobre uma nova prática de produzir conhecimento.
VIEZZER, Moema L. Pesquisa-ação-participante (PAP). In: FERRARO JÚNIOR, Luiz A.
(Org.). Encontros e Caminhos: formação de educadores ambientais e coletivos educadores. Disponí-
vel em: <www.ufmt.br/gpea/pub/encontros.pdf>. Acesso em: 22 maio 2006.
BENICÁ, Elli. As origens do planejamento participativo no Brasil. Revista Educação – AEC, Bra-
sília, n. 96, jul./set. 1995.
BEZERRA, Rozelia; SANTOS, Helder S.; SILVA, Neilza D. Utilização do Diagnóstico Participati-
vo e Organização Social dos Artesãos do Distrito de Caraibeiras/Tacaratu-PE: relato de experi-
ência do Programa Universidade Solidária/Xingó e UFRPE-2000. Disponível em: <www.itoi.ufrj.br/
sempe/t4-p37.htm>. Acesso em: 22 maio 2006.
BORDENAVE, Juan E. Díaz. O que É Participação. São Paulo: Brasiliense, 1985.
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Planejamento Participativo (PP)
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Planejamento de projetos de
intervenção socioambiental
Maria de Lourdes Spazziani
E
m nosso país, as demandas socioambientais locais, em coerência com o processo econômico-
-político e com o processo de ocupação dos espaços geográficos, apresentam-se com necessida-
des bastante específicas e diferenciadas, solicitando a intervenção por pessoal especializado e
preparado para lidar com os aspectos peculiares de cada região.
A situação socioambiental brasileira atual é resultado da história da degradação ambiental. Ao
“comemorarmos” os 500 anos de descoberta do país, devemos, na verdade, refletir qual o significado
desse período que, numa análise mais minuciosa, revela muito mais a dominação e a exploração da
nossa cultura, do nosso povo e de nossa natureza “natural” do que o encontro do Velho Mundo com
o Novo Mundo.
O que temos é um país jovem com todos os vícios e defeitos do Velho Mundo, com o agravante
de que grande parte da nossa população não usufrui dos avanços sociais conquistados, nesse período,
por grande parte da população dos países do Primeiro Mundo.
Desse modo, a Educação Ambiental tem sido considerada um espaço ou uma área que, ao le-
var em conta essas críticas aos modos de utilização do conhecimento, em especial o científico, para
exploração do ambiente natural e as suas consequências sobre a vida humana, deve ser reconhecida
como um dos instrumentos importantes para promover mudanças nos modos dominantes do pensa-
mento contemporâneo. Nesse sentido, deve incorporar as críticas dirigidas ao pensamento científico
moderno, tais como:
postular a posse de um conhecimento verdadeiro, real e objetivo com validade universal;
postular uma concepção mecanicista, formalista e analítica da natureza;
postular a especialização, a fragmentação do conhecimento para sua transmissão pelo ensino;
postular a supremacia da razão e do intelecto sobre todos os demais aspectos da experiência
e das capacidades humanas;
postular a hegemonia do método experimental e dedutivo.
O posicionamento crítico frente às características do Qual posicionamento adotado
pensamento da modernidade tem sido constituído como um pela Educação e Gestão Ambiental
fundamento adotado pela Educação Ambiental. se constitui num fundamento?
A Educação Ambiental, através de sua especificidade, ou seja, de sua preocupação com a situação geral (mundial)
e particular (regional, local), atende e retoma as finalidades amplas da educação. Devemos relembrar que integram
essa especificidade o atendimento de fatores que interferem nos problemas ambientais, sob aspectos econômicos,
sociais, políticos e ecológicos; a aquisição de conhecimento, de valores, de atitude, de compromisso e de habili-
dade necessários para a proteção e melhoria do meio ambiente; a criação de novos padrões de conduta orientados
para a conservação do meio ambiente e melhoria da qualidade de vida. (SPAZZIANI; CASTRO, 1998)
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Planejamento de projetos de intervenção socioambiental
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Planejamento de projetos de intervenção socioambiental
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Planejamento de projetos de intervenção socioambiental
As dimensões do projeto
de intervenção socioambiental
O projeto de intervenção socioambiental deve estar referenciado em quatro
dimensões: a educacional, a solução de problemas, a sustentabilidade e a produção
de conhecimentos e saberes.
A dimensão educacional, a partir de estudos na área do desenvolvimento
humano que apontam para a importância das relações sociais na forma-
ção da subjetividade, envolve uma nova perspectiva para o entendimento
do processo de aprendizado.
O ato de aprender ultrapassa as ações de memorização, a compreensão de
que ensinar é repassar conteúdos e conhecimentos técnicos, pois envolve uma
postura de que o conhecimento deve ser construído na inter-relação com o con-
texto concreto de aplicação.
Nesse sentido, o processo ensino-aprendizagem significa trabalhar os as-
pectos cognitivos, emocionais e sociais dos atores (educadores, educandos e co-
munidade) envolvidos. A formação dos sujeitos envolve um processo global e
complexo, que não é só prepará-lo para domínios de competências intelectuais,
mas também para atuar e intervir com desenvoltura no real. A participação em
um projeto prevê uma prática educativa integrada às práticas sociais, e o conhe-
cimento, ao ser construído na interface com a realidade, revigora os conceitos
teóricos, consagrando-os ou transformando-os. O mais importante é que o sujeito
do conhecimento deve ser conceituado como um participante ativo e interativo,
que vai contribuir com a sua história pessoal de vida, seus olhares, suas interpre-
tações para que o fenômeno ou os temas problematizados ganhem significações
no espaço social.
A dimensão da solução de problemas direciona para que no projeto haja
intencionalidade da resolução de uma situação real e significativa para a
comunidade diretamente interessada ou envolvida. A realização de diag-
nósticos prévios deve ser prevista na escolha ou direcionamento da ques-
tão a ser priorizada. Essa, portanto, é que vai determinar o conteúdo a ser
enfocado. Deve ter uma abordagem que considere os aspectos técnicos,
políticos e culturais da questão problematizada, devendo ser tratados de
modo abrangente e flexível e de acordo com o conhecimento prévio e a
experiência cultural dos envolvidos. É um espaço de geração de ideias,
criação, aproximação dos sujeitos com o meio, proporcionando o envol-
vimento e a participação dos diferentes setores da sociedade.
A dimensão de sustentabilidade caracteriza-se por imprimir ao projeto de
intervenção educacional na área ambiental certos aspectos que perpas-
sam desde a questão clássica da sustentabilidade econômica até as áreas
ambientais e sociais.
Na questão econômica, pode ser vislumbrada a perspectiva de que o proje-
to deve prover mecanismos, a curto ou médio prazo, para seu autofinanciamen-
to. No aspecto ambiental está contida a ideia de que o projeto atenda aos princí-
pios da conservação, recuperação e melhoria dos ambientes onde se desenvolve.
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Planejamento de projetos de intervenção socioambiental
Procedimentos e etapas
da construção do projeto socioambiental
Sendo o objetivo central nos projetos de intervenção socioambiental a po-
tência de ação e o aprendizado de pessoas e de grupos sociais, o diagnóstico e a
solução de problemas ultrapassam a simples intervenção técnica. Há a necessi-
dade de um trabalho que envolva a participação da comunidade com estratégias
que identifiquem o problema e visualizem o projeto como um elemento de plane-
jamento que, ao longo do processo, vai sendo incrementado, ou seja, o processo
de intervenção voltado à solução do problema vai modificando os conhecimentos
que temos do próprio problema e das alternativas de solução, que vai possibilitar
o replanejar fundamentado nas experiências e conhecimentos que os participantes
vão adquirindo.
1 A especificação do lugar
mapeado deve reunir
registros, memórias de reuni-
Mapeamento ões, encontros e percepções,
fotos, recortes de jornais,
Configura-se, geralmente, numa exploração ampla do espaço ou lugar que revistas, gravações, entre
outros documentos e percep-
se pretende desenvolver o projeto. Essa etapa contribui para a seleção e defini- ções do lugar.
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Planejamento de projetos de intervenção socioambiental
Intervenção
É a etapa em que se esboça a intervenção que se pretende utilizar e as for-
mas de sua realização. É importante destacar que, na elaboração da intervenção
propriamente dita, o educador e gestor ambiental deve prever inúmeros desafios
na implementação do projeto, tais como: tolerar ambiguidades; ser capaz de traba-
lhar sob sua própria responsabilidade; inspirar confiança no grupo; se preocupar
em ser aceito; ser autodisciplinado; buscar trabalhar em parcerias, fortalecendo as
redes sociais, estreitando laços e compromissos entre diferentes setores da socie-
dade, consolidando os necessários processos de transformação socioambiental.
Resultados esperados
Devem ser expressos os resultados esperados em acordo com os objetivos
propostos inicialmente no projeto. É uma projeção do que se pretende obter ao
realizar tal projeto, que não impede que no decorrer do trabalho de campo ocorra
uma revisão ou retomada do problema ou objetivo do projeto. Devem ser previstas
inclusive transformações que serão aceitas pelo educador.
Avaliação/Feedback
O entendimento de que o projeto é uma ação socioambiental intencional a
ser realizada em contexto tal como uma empresa, uma escola, uma comunidade,
fica implícito no decorrer do processo, e para tanto há a necessidade de frequentes
avaliações. Essas devem oferecer uma retroalimentação ao processo, inferindo
mudanças no seu desenvolvimento.
Em pequenos grupos, fazer um registro gráfico em uma grande folha de papel da área que está
sendo utilizada para a atividade presencial neste momento, para que possa ser feita uma discussão co-
letiva sobre sua melhor gestão – conservação e utilização, resultando em um registro final e coletivo
das questões comunitárias mais significativas a serem trabalhadas.
Registrar permanentemente as ações durante o processo é uma ação tão importante quanto as
demais, pois ajuda a manter a história viva do mesmo, fazendo com que todos enxerguem o processo
na sua extensão e a própria trajetória individual, alimentando todo o processo de intervenção.
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Planejamento de projetos de intervenção socioambiental
Neste livro, os autores mostram formas de buscar uma vivência intensa e prazerosa de cada
momento desenvolvido em atividades repletas de intencionalidade socioambiental.
DOURADO, Paulo; MILET, Maria Eugênia. Manual de Criatividades. Salvador: EGBA, 1998.
CERTEAU, Michel de. A Invenção do Cotidiano: artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 1999.
DOURADO, Paulo; MILET, Maria Eugênia. Manual de Criatividades. Salvador: EGBA, 1998.
ELLIOTT, John. Recolocando a pesquisa-ação em seu lugar original e próprio. In: GERALDI, Co-
rinta M. G.; FIORENTINI, Dario; PEREIRA, Elisabete M. de A. (Org.). Cartografias do Trabalho
Docente. Campinas: Mercado de Letras/Associação de Leitura do Brasil, 1998.
FERREIRA, Aurélio Buarque de H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1986.
JAPIASSÚ, Hilton. O Mito da Neutralidade Científica. Rio de Janeiro: Imago, 1975.
SACHS, I. Estratégias de Transição para o Século XXI: desenvolvimento e meio ambiente. São
Paulo: Stúdio Nobel Fundação para o desenvolvimento administrativo, 1993.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela Mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. São
Paulo: Cortez, 1995.
SORRENTINO, Marcos. Educação Ambiental e Universidade: um estudo de caso. São Paulo, 1995.
Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo.
SPAZZIANI, Maria L.; CASTRO, Ronaldo. Piaget e Vygotsky: uma contribuição para a educação
ambiental. In: NOAL, Fernando; REIGOTA, Marcos; BARCELOS, Valdo H. L. (Org.). Tendências
da Educação Ambiental no Brasil. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 1998.
TASSARA, Eda Terezinha O. Intervenção Social e Conhecimento Científico: questões de método
na pesquisa social contemporânea. In: SIMPÓSIO DE PESQUISA E INTERCÂMBIO CIENTÍFICO
DA ANPEPP, 6. 1996, Teresópolis.
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Planejamento de projetos de intervenção socioambiental
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Ambientalização institucional
Maria de Lourdes Spazziani
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Ambientalização institucional
Um conceito de ambientalização
O relacionamento da humanidade com a natureza, que teve início com um
mínimo de interferência nos ecossistemas, tem hoje culminado numa forte pres-
são exercida sobre os recursos naturais. Atualmente, são comuns a contaminação
dos cursos de água, a poluição atmosférica, a devastação das florestas, a caça in-
discriminada e a redução ou mesmo destruição dos habitats faunísticos1, além de
muitas outras formas de agressão ao ecossistema2 e ao meio ambiente.
Dentro deste contexto, é clara a necessidade de mudar o comportamento do
homem em relação à natureza, no sentido de promover não só desenvolvimento
sustentável, mas a construção de sociedades sustentáveis.
O desenvolvimento sustentável é um processo que assegura uma
O que é gestão responsável dos recursos do planeta de forma a preservar os
desenvolvimento interesses das gerações futuras e, ao mesmo tempo, atender às necessi-
sustentável? dades das gerações atuais.
Assim, “ambientalização” traz a ideia de que as ações humanas, em qual-
quer prática social desenvolvida por pessoas e instituições, devem considerar as
1 Cada espécie vive em
um espaço geográfico,
um lugar característico,
consequências ao ambiente natural e construído, ou seja, avaliar o impacto am-
com fatores que condicio- biental e minimizar os efeitos negativos que possam sofrer como consequência
nam um ecossistema, o seu
habitat, onde pode conviver dos empreendimentos econômicos, sociais, políticos, de entretenimento, entre
com outras espécies (http://
pt.wikipedia.org/wiki/Ha-
tantos outros.
bitat).
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Ambientalização institucional
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Ambientalização institucional
Diagnóstico da ambientalização
Essa etapa envolve a caracterização da organização ou instituição, depen-
dendo da sua missão e dos objetivos a serem alcançados.
Estratégias genéricas, comuns a todas as organizações que fazem parte do
mesmo setor econômico, podem subsidiar a definição das estratégias específicas
(decisões de nível estratégico) e que, em seu conjunto, tornam cada instituição sin-
gular. As estratégias genéricas agregam-se às estratégias específicas, que formam
o processo decisório da organização. Essas estratégias específicas dependem do
estilo de gestão do principal líder ou grupo gestor da organização e das crenças,
valores e cultura vigentes no âmbito da organização.
O processo decisório compõe-se das decisões necessárias à operacionaliza-
ção das atividades empresariais (cadeia de agregação de valores/cadeia produtiva
da organização).
As decisões estratégicas estabelecem as regras de decisão para a camada
de decisões operacionais que, por sua vez, retroalimentam a camada decisória de
nível superior (estratégica) com dados dos eventos ocorridos em seu nível opera-
cional.
Assim, para implementar estratégias ambientais e sociais, é feita uma abor-
dagem global dos elementos do modelo de gestão proposto, tais como:
fazer diagnóstico geral da organização;
subsidiar o processo e planejamento estratégico;
criar métricas e indicadores para monitoramento das decisões estratégi-
cas e operacionais;
estabelecer um processo de medição de desempenho e avaliação das
ações propostas (objetivos fins);
auxiliar na formulação de planejamento dos recursos de tecnologias da
informação a serem implementados, a exemplo do plano diretor de infor-
mática;
criar referencial para implementação de um sistema de avaliação de de-
sempenho e de mérito, para fins de remuneração estratégica do pessoal
da organização.
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Ambientalização institucional
Como vimos, a antiga ideia de que existe uma barreira intransponível entre o chamado pro-
gresso econômico e o desenvolvimento socioambiental não mais se sustenta. Aliás, as evidentes
distorções de natureza socioambiental, principalmente as causadas pelas atividades produtivas
geradoras de poluição, têm exigido uma mudança de postura por parte de governos e empresários,
em nível mundial. Por isso, é cada vez mais inaceitável a concepção segundo a qual as medidas
voltadas para a conservação ambiental e para a inclusão social devam se subordinar às atividades
econômicas. Mas ainda são grandes as dificuldades para se adotar efetivamente os fundamentos
do desenvolvimento sustentável, mesmo com a crescente difusão do conhecimento sobre as van-
tagens que ele proporciona.
E a empresa, em face de sua importância nas relações mercadológicas, é também um ele-
mento fundamental nas políticas de preservação ambiental e de promoção social. Especialmente
no que se refere às organizações do setor industrial, que utilizam com mais intensidade recursos
naturais e energéticos, além de ocuparem um papel destacado na oferta de trabalho.
A noção de cidadania corporativa, como observamos, trata do conjunto de relações que deve
ser mantido, e incentivado, entre as empresas mercantis e a sociedade.
Em suma, uma corporação cidadã é aquela que procura assegurar sua existência no mercado
em que atua, com base no respeito ao direito das pessoas e das organizações a uma vida ecologica-
mente saudável e socialmente justa, o que certamente resulta em boa reputação para sua marca e seus
produtos. Tornar-se uma corporação cidadã, provavelmente, será a meta principal das organizações
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Ambientalização institucional
neste início do século XXI. E, como se analisou, é de suma importância a responsabilidade da em-
presa mercantil quanto ao aspecto socioambiental, uma vez que a organização empresarial continua a
ocupar um lugar privilegiado no sistema capitalista, mesmo em face das mudanças nele ocorridas.
O modelo de gestão socioambiental, idealizado por Takeshy Tachizawa e aqui sintetizado,
a exemplo de outros modelos de gestão ambiental e de responsabilidade social, é uma ferramenta
que visa possibilitar à empresa que o adota um desempenho condizente com a nova visão de estra-
tégia corporativa comprometida com a preservação da natureza e com a inclusão social. Nele es-
tão presentes ideias e recomendações práticas para que as organizações mercantis desenvolvam ou
aperfeiçoem estratégias que tenham como objetivo conseguir ou manter a condição de, ao mesmo
tempo, ser um empreendimento economicamente lucrativo, socialmente justo e ecologicamente
sustentável. Enfim, a implementação de um modelo de gestão ambiental pode ser um fator signifi-
cativo para que as empresas consigam vencer o desafio da sustentabilidade socioambiental.
Evidentemente, vale enfatizar, nenhum modelo de gestão traz em si soluções milagrosas para
os problemas empresariais. Contudo, a adoção de um modelo estratégico que busque contrabalançar,
equitativamente, as dimensões econômica, ambiental e social, pode ser considerada um passo decisi-
vo para que as empresas enfrentem, com sucesso, os desafios deste início de milênio. Compreender a
questão socioambiental e buscar estratégias para enfrentá-la parece-nos, portanto, improrrogável.
Cidadania corporativa
(PINHEIRO, 2003)
A cidadania corporativa, segundo Malcolm McIntosh e outros (2001), diz respeito ao re-
lacionamento entre empresas e sociedade, incluindo-se aí tanto a comunidade local, na qual a
empresa está inserida, quanto a comunidade mundial que abrange todas as empresas, por meio
de seus produtos, sua cadeia de suprimentos, sua rede de revendedores e sua publicidade. Esses
autores buscam adaptar o conceito histórico de cidadania, compreendendo os direitos e responsa-
bilidades individuais ao conceito de empresa, por considerar que esta, mesmo sendo constituída
de várias pessoas, age como indivíduo.
Malcolm McIntosh e outros assinalam que, histórica e culturalmente, as sociedades ociden-
tais tendem a identificar mais direitos corporativos do que responsabilidades. Mas acreditam que
esta situação está mudando, surgindo a figura da empresa cidadã.
Evidentemente, muitos aspectos deste novo modelo empresarial são complexos, a exemplo
dos dilemas referentes ao envolvimento corporativo em questões de direitos humanos, em alguns
países em desenvolvimento.
Independente dessa constatação, é evidente a preocupação sobre como as empresas obtêm
e sustentam seus lucros. Em outras palavras, a concepção da ideia de cidadania corporativa leva
em conta a dimensão ética, sem desconsiderar a dimensão prática com a qual se vinculam as ati-
vidades de negócios.
Um aspecto relevante da ideia de cidadania corporativa consiste na importância que é con-
ferida por seus defensores ao papel dos interessados (stakeholders), com os quais a empresa deve
manter estreitos relacionamentos, para alcançar melhoria no desempenho. Entendem que o enga-
jamento dos interessados em diálogos e consultas pode ser uma forma eficaz de encontrar cami-
nhos para a sobrevivência numa sociedade tradicionalmente fragmentada e injusta na distribuição
da riqueza.
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Ambientalização institucional
E, não custa sublinhar, que um dos dramáticos desafios que a maioria das corporações
mercantis enfrenta, neste início de terceiro milênio, é o de aumentar a produção para atender às
crescentes demandas do mercado globalizado e, simultaneamente, atender às determinações da
regulação e princípios da sustentabilidade socioambiental.
Portanto, conhecer e adotar novos modelos de gestão ecológica e ambiental pode ser muito
valioso para as corporações mercantis que desejam desenvolver estratégias competitivas que man-
tenham a harmonia entre os fatores econômico, social e ambiental.
Eu, você, tu, ele, nós... quem conhece um, dois, mais rios Xerém?
Em pequenos grupos, elejam uma situação do próprio cotidiano do grupo, que envolva a relação
homem, ambiente natural e ambiente construído como foi enfatizado no texto “O Martin-pescador do
Rio Xerém”, e apontem o posicionamento do grupo diante do fato.
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Enraizamento da
Educação Ambiental
em diferentes contextos I
Maria de Lourdes Spazziani
A
Educação Ambiental surge como fruto da negação sobre as relações e interdependências dos
seres com o meio, construídas pelo pensamento científico, religioso, filosófico e senso comum
do Ocidente. Essa negação é condição básica para o fortalecimento das ações e propostas que
emergem no desenvolvimento da modernidade.
A Educação Ambiental ganha conteúdo com a Primeira Conferência Intergovernamental so-
bre Educação Ambiental, realizada em Tbilisi, na antiga URSS, em 1977. Inicialmente foi compre-
endida como um ramo da Educação que dissemina conhecimentos sobre o ambiente para a preser-
vação e utilização sustentável dos seus recursos. No entanto, com base alicerçada nos parâmetros
de sobrevivência e continuidade da espécie humana, a Educação Ambiental circula e se alarga por
diferentes fontes do conhecimento humano (SPAZZIANI; SARDINHA, 2006).
Há um movimento constante e avassalador sobre o ambiente natural para estabelecimento dos
modos de vida que marcam a nossa cultura. Embora não uniforme e não linear, os diferentes modos
de ocupação política ou econômica são realizados pela dominação sobre outros seres humanos e sobre
as demais espécies e elementos da natureza.
No início da década de 1960, os problemas ambientais já mostravam a irracionalidade do mo-
delo econômico, mas ainda não se falava em Educação Ambiental. Somente em 1965, quando ocorre
a Conferência de Educação da Universidade de Keele, na Inglaterra, surge a expressão Educação
Ambiental. Na Carta de Belgrado (1975) à Educação Ambiental é destinada a missão de investigar
as raízes e decorrências das ações humanas nos ambientes naturais e construídos, a fim de promover
novas percepções, conhecimentos e habilidades para atuarem nas diferentes áreas disciplinares. Cabe
destacar que à Educação Ambiental foi proposta a necessidade de reconhecer o valor do saber prévio
dos sujeitos envolvidos.
Assim, temos que a área da Educação Ambiental vem se consolidando com a necessidade de
ampliar-se e enraizar-se nos diferentes contextos, institucionais ou não.
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Enraizamento da Educação Ambiental em diferentes contextos I
Programa Nacional
de Educação Ambiental (ProNEA)
O Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental elabora em
2003 o Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA).
Sintonizado com o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sus- 1 A Lei 9.795/99 estabelece
os princípios e os objeti-
tentáveis e Responsabilidade Global, esse documento apresenta um panorama vos da Educação Ambiental,
regulamenta e formaliza a
histórico da Educação Ambiental no país, as diretrizes ministeriais, os princípios sua inclusão em todos os ní-
veis de ensino, permeando
orientadores, os objetivos, os públicos e as linhas de ação do ProNEA. todas as disciplinas e em to-
dos os setores da sociedade.
Visando a proporcionar a oportunidade de participação dos educadores am-
bientais na formulação dos rumos do ProNEA, foi criada uma estratégia de plane- 2 Sistema integrador das
informações de Educação
Ambiental em todo o país,
jamento incremental, permitindo revisitá-lo com frequência. uma das ferramentas utiliza-
das pelo Órgão Gestor da Po-
Nesse sentido, a DEA/MMA e a COEA/MEC propuseram aos educadores lítica Nacional de Educação
Ambiental, desenvolvido em
ambientais participar do processo de discussão do ProNEA, visando ao seu apri- parceria entre governo e so-
ciedade, para estimular a am-
moramento coletivo por intermédio do documento Consulta Pública do ProNEA, pliação e o aprofundamento
realizada durante os meses de agosto e setembro de 2004 em todas as unidades da Educação Ambiental em
todos os municípios e setores
federativas do país. do país.
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Enraizamento da Educação Ambiental em diferentes contextos I
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Enraizamento da Educação Ambiental em diferentes contextos I
V – estimular e promover parcerias entre instituições públicas e privadas, com ou sem fins
lucrativos, objetivando o desenvolvimento de práticas educativas voltadas à sensibilização da cole-
tividade sobre questões ambientais;
VI – promover o levantamento de programas e projetos desenvolvidos na área de Educação
Ambiental e o intercâmbio de informações;
VII – indicar critérios e metodologias qualitativas e quantitativas para a avaliação de progra-
mas e projetos de Educação Ambiental;
VIII – estimular o desenvolvimento de instrumentos e metodologias visando ao acompanha-
mento e avaliação de projetos de Educação Ambiental;
IX – levantar, sistematizar e divulgar as fontes de financiamento disponíveis no país e no ex-
terior para a realização de programas e projetos de Educação Ambiental;
X – definir critérios considerando, inclusive, indicadores de sustentabilidade, para o apoio
institucional e alocação de recursos a projetos da área não formal;
XI – assegurar que sejam contemplados como objetivos do acompanhamento e avaliação das
iniciativas em Educação Ambiental:
a) a orientação e consolidação de projetos;
b) o incentivo e multiplicação dos projetos bem-sucedidos;
c) a compatibilização com os objetivos da Política Nacional de Educação Ambiental.
Artigo 4.º – Fica criado o Comitê Assessor com o objetivo de assessorar o Órgão Gestor, inte-
grado por um representante dos seguintes órgãos, entidades ou setores:
I – setor educacional-ambiental, indicado pelas Comissões Estaduais Interinstitucionais de
Educação Ambiental;
II – setor produtivo patronal, indicado pelas Confederações Nacionais da Indústria, do Comér-
cio e da Agricultura, garantida a alternância;
III – setor produtivo laboral, indicado pelas Centrais Sindicais, garantida a alternância;
IV – Organizações não governamentais que desenvolvam ações em Educação Ambiental, in-
dicado pela Associação Brasileira de Organizações não governamentais (Abong);
V – Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB);
VI – municípios, indicados pela Associação Nacional dos Municípios e Meio Ambiente (Anam-
ma);
VII – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC);
VIII – Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), indicado pela Câmara Técnica de
Educação Ambiental, excluindo-se os já representados neste Comitê;
IX – Conselho Nacional de Educação (CNE);
X – União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime);
XI – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama);
XII – da Associação Brasileira de Imprensa (ABI);
XIII – da Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Estado de Meio Ambiente
(Abema).
§1.º – A participação dos representantes no Comitê Assessor não enseja qualquer tipo de remu-
neração, sendo considerada serviço de relevante interesse público.
§2.º – O Órgão Gestor poderá solicitar assessoria de órgãos, instituições e pessoas de notório
saber, na área de sua competência, em assuntos que necessitem de conhecimento específico.
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Enraizamento da Educação Ambiental em diferentes contextos I
BRASIL. Decreto 4.281, de 25 de junho de 2002. Regulamenta a Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, que
institui a Política Nacional de Educação Ambiental, e dá outras providências. Disponível em: <www.
planetaverde.org/modules/legisla/index.php?id=106>. Acesso em: 12 jun. 2006.
MMA. A Consulta Pública do ProNEA. Disponível em: <www.mma.gov.br/port/sdi/ea/pronea_con-
sulta/index_data/palco.htm>. Acesso em: 12 jun. 2006.
PIZZATTO, Luciano. A Fábula de Ecologia e do Tracajá. Disponível em: <www.ambientebra-
sil.com.br/composer.php3?base=./educacao/index.php3&conteudo=./educacao/textos/fabula.html>.
Acesso em: 15 jun. 2006.
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Enraizamento da Educação Ambiental em diferentes contextos I
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Enraizamento da
Educação Ambiental em
diferentes contextos II
Maria de Lourdes Spazziani
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Enraizamento da Educação Ambiental em diferentes contextos II
Os movimentos sociais
Os diferentes movimentos que representam a sociedade civil atual têm se
envolvido e participado ativamente das propostas que tratam da Educação Am-
biental. Ou seja, a sociedade civil organizada tem se mobilizado nos diferentes
espaços de atuação da Educação Ambiental, seja escolar ou não escolar.
A elaboração do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentá-
veis e Responsabilidade Global pode ser considerada a expressão da participação
dos movimentos sociais representativos da sociedade planetária.
Esse documento tem se constituído na referência para o trabalho de Educa-
ção Ambiental nos programas e ações dos educadores nos diversos países. Esta-
belecido em 1992, no Fórum Global durante a realização da Rio-92, explicita o
compromisso da sociedade civil para a construção de um modelo mais humano
e harmônico de desenvolvimento, em que se reconhecem os direitos humanos da
terceira geração, a perspectiva de gênero, o direito e a importância das diferenças
e o direito à vida, baseados em uma ética biocêntrica e no amor.
Esse documento é objeto de discussão em todos os movimentos sociais que
atuam em Educação Ambiental, e a sua reformulação é prevista com vistas a
integrar os novos horizontes dos cenários atuais. Essa discussão ocorreu, no ano
de 2006, no V Congresso Ibero-americano de Educação Ambiental, na cidade de
Joinville, Santa Catarina.
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Enraizamento da Educação Ambiental em diferentes contextos II
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Enraizamento da Educação Ambiental em diferentes contextos II
Recomenda-se que:
a) haja um compromisso real do Poder Público federal, estadual e municipal no cumpri-
mento e complementação da legislação e das políticas para EA;
b) haja uma articulação dos vários programas e iniciativas governamentais em EA, pelo
MEC;
c) o MEC estabeleça diretrizes complementares aos documentos existentes sobre a EA e
que orientem suas delegacias estaduais (DEMEC);
d) as políticas específicas, formuladas para a EA, expressem a vontade governamental em
defesa da escola pública, em todos os níveis de ensino;
e) o MEC estabeleça grupos e fórum permanentes de trabalho que definam procedimentos
para diagnóstico das especificidades existentes no país e mecanismos de atuação face
às questões ambientais;
f) o MEC, em conjunto com as instituições de ensino superior (IES), defina metas para a
inserção articulada da dimensão ambiental nos currículos, a fim de que seja estabelecido
o marco fundamental da implantação da EA no 3.º grau;
g) as discussões acerca da inserção da EA no ensino superior sejam aprofundadas devido
à sua importância no processo de transformação social;
h) sejam cumpridos os marcos referenciais internacionais acordados em relação à EA
como dimensão multi, inter e transdisciplinar em todos os níveis de ensino;
i) que o Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB) assuma o compro-
misso com a implantação da dimensão ambiental nos currículos dos diferentes cursos
das IES;
j) as IES e os órgãos governamentais apoiem os núcleos e centros interdisciplinares de
EA existentes e estimulem a criação de novos;
l) haja estímulo concreto à pesquisa, formação de recursos humanos, criação de bancos
de dados e divulgação destes, bem como aos projetos de extensão integrados à comu-
nidade;
m) sejam incentivados os convênios interinstitucionais nacionais e internacionais;
n) sejam viabilizados recursos para a EA, através de apoio efetivo à realização de progra-
mas, presenciais e a distância, de capacitação e fixação de recursos humanos de refor-
mulação e criação de novos currículos e programas de ensino, bem como elaboração
de material instrucional;
o) em todas as instâncias, o processo decisório acerca das políticas para a EA conte com a
participação da(s) comunidade(s) direta e/ou indiretamente envolvida(s) na problemá-
tica em questão.
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Enraizamento da Educação Ambiental em diferentes contextos II
Em grupo, faça um levantamento de quais são as pessoas que conhecemos com projetos, ativi-
dades, interesse ou potencial para atuarem como educadores ambientais e construa um painel reunin-
do essas informações em rede.
Uma obra de referência na área de redes em Educação Ambiental é, sem dúvida, o livro de
Cássio Martinho, chamado Redes: uma introdução às dinâmicas da conectividade e da auto-organi-
zação, cuja primeira edição é de 2003 e pode ser acessado gratuitamente na internet pelo endereço:
<www.wwf.org.br/publicacoes/download/livro_ea_redes/apresentacao.htm>.
Para entender melhor os princípios da Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis, leia
o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global elaborado
na Rio-92, disponível em: <www.mec.gov.br/se/educacaoambiental/tratad01.shtm>.
Acesse ainda:
REBEA – Rede Brasileira de Educação Ambiental: <www.rebea.org.br>.
RUPEA – Rede Universitária de Programas em Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis:
<www.uefs.br/rupea/>.
REPEA – Rede Paulista de Educação Ambiental: <www.repea.org.br>.
REJUMA – Rede de Juventude pelo Meio Ambiente: <www.rejuma.cjb.net>.
REASul – Rede Sul Brasileira de Educação Ambiental: <www.reasul.org.br>.
Universidade Luterana do Brasil – ULBRA Mestrado em Educação: <www.reasul.univali.br>.
BRANDÃO, C. R. Aqui é Onde eu Moro, Aqui nós Vivemos: escritos para conhecer, pensar e pra-
ticar o município educador sustentável. Brasília: MMA, 2005.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Programa Município Educadores Sustentáveis. Brasília:
MMA, 2005.
MARTINHO, Cássio. Redes e Desenvolvimento Local. Disponível em: <www.rebea.org.br/vdocu-
mentos.php?cod=228>. Acesso em: jun. 2006.
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A formação de
educadores ambientais I
Maria de Lourdes Spazziani
A
Educação Ambiental, como fenômeno social localizado na interseção entre sociedade, edu-
cação e natureza, iniciou sua trajetória de institucionalização, no Brasil, há cerca de 30 anos
(quadro abaixo).
Adquiriu forte dinâmica e visibilidade nos anos 1990, durante e após a Rio 92, no IV Fórum
de Educação Ambiental em Guarapari (ES) e na I Conferência Nacional de EA (Brasília), ambos em
1997.
(MEDINA, 2006)
Ano Acontecimentos no Brasil
1808 Criação do Jardim Botânico, na cidade do Rio de Janeiro.
Lei 601, de Dom Pedro II, proibindo a exploração florestal nas terras descobertas. A lei
1850
foi ignorada, continuando o desmatamento para implantação da monocultura de café.
1891 Decreto 8.843 cria reserva florestal no Acre, que não foi implantada ainda.
1896 Foi criado o primeiro parque estadual em São Paulo, o Parque da Cidade.
Jânio Quadros declara o pau-brasil a árvore símbolo nacional, e o ipê a flor símbolo
1961
nacional.
195
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A formação de educadores ambientais I
1977 A disciplina de ciências ambientais passa a ser obrigatória nos cursos de engenharia.
196
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A formação de educadores ambientais I
1989 III Seminário Nacional sobre Universidade e Meio Ambiente, Cuiabá (MT).
MEC resolve que todos os currículos nos diversos níveis de ensino deverão contemplar
1991
conteúdos de Educação Ambiental (Portaria 678, de 14 de maio de 1991).
197
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A formação de educadores ambientais I
Grupo de trabalho para Educação Ambiental, coordenado pelo MEC, preparatório para a
1991
Conferência do Rio 92.
O MEC promove no CIAC do Rio das Pedras, em Jacarepaguá (RJ), o Workshop sobre
1992 Educação Ambiental, cujo resultado encontra-se na Carta Brasileira de Educação
Ambiental, que destaca a necessidade de capacitação de recursos humanos para EA.
198
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A formação de educadores ambientais I
1999 Criação do Movimento dos Protetores da Vida – Carta de Princípios, em Brasília (DF).
2000 Curso básico de Educação Ambiental a distância (DEA, MMA, UFSC, LED, LEA).
199
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A formação de educadores ambientais I
A institucionalização da
Educação Ambiental no Brasil
A criação do Programa Nacional de Educação Ambiental (Pronea), em
1994, fruto de discussões promovidas pelos Ministérios da Educação (MEC), Mi-
nistério do Meio Ambiente (MMA), Ministério da Cultura (MinC) e Ministério
da Ciência e Tecnologia (MCT), institucionaliza esse tipo de formação. Entre seus
principais objetivos está o de promover ações para “capacitar o sistema de educa-
ção formal e não formal, supletivo e profissionalizante, em seus diversos níveis e
modalidades” (BRASIL, 1994).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), elaborados a partir de 1997,
e os Parâmetros em Ação – Meio Ambiente na Escola, desenvolvidos pelo MEC,
constituem uma medida efetiva para a inclusão da Educação Ambiental em todos
os níveis de ensino.
A Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, que institui a Política Nacional de Edu-
cação Ambiental, a ser regulamentada no Conselho Nacional do Meio Ambiente
(Conama), também contribuiu para implementar e institucionalizar a formação de
educadores ambientais em todo o território nacional.
No âmbito da Coordenação de Educação Ambiental do MMA, foi lançado
o Sistema Brasileiro de Informação em Educação Ambiental e Práticas Sustentá-
veis (Sibea), uma parceria interinstitucional entre este e as instituições de ensino,
ONGs e as redes de Educação Ambiental.
Uma das questões norteadoras era de que a formação de educadores prescindia de um pro-
cesso em que as experiências de aprendizagem fossem consubstanciadas na teoria e na prática do
curso, portanto, este deveria apresentar um entrelaçamento entre os conteúdos da área (discipli-
nas), a vivência no processo educativo (metodologia) e a transferência para os espaços de atuação
(intervenção educacional).
Destacamos os seguintes propósitos apresentados no programa do curso para análise:
oferecer formação especializada para profissionais da Educação e/ou do Meio Ambiente,
que atuam em espaços institucionais educativos formais ou não formais, e que queiram
se qualificar para a realização de projetos de Educação Ambiental voltados para a trans-
formação sustentável da sociedade;
201
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A formação de educadores ambientais I
disponibilizar uma carga horária de 720 horas, sendo 360 presenciais e 360 a distância,
envolvendo disciplinas, ciclos de seminários e atividades de campo organizados em mó-
dulos que trabalham as dimensões educacionais e socioambientais em suas diferentes
interações;
priorizar o projeto de intervenção educacional como um ponto de convergência de todo
o processo pedagógico desenvolvido no curso; para tanto, espera-se como resultado, ao
final do curso, um projeto de caráter prático, útil para a comunidade local e que possa ser
incorporado em médio prazo;
propiciar o desenvolvimento de uma comunidade de aprendizagem, ou seja, propiciar
o compartilhamento com o grupo de alunos das ideias e conhecimentos que buscavam
encontrar;
disponibilizar informações através de um cardápio de disciplinas e cursos variados e que
atendam aos interesses do grupo de alunos. (ESALQ/USP, 2000, p. 4)
Estes pontos sugerem, em princípio, uma leitura bastante peculiar do que está sendo preten-
dido. Dá-se destaque para um curso de especialização para a formação de educadores ambientais,
explicitando preocupação com a formação educacional dos agentes que atuam ou querem atuar na
área do meio ambiente.
Enumere atividades e fatos marcantes em sua vida pessoal e profissional, relacionando-os com
datas desde o seu nascimento e que formam seu currículo pessoal como um educador ambiental
popular.
“Contribuir para o aprimoramento da Educação Ambiental no Brasil passa pela ampliação dos
debates e reflexões destinados a esclarecer quem somos, onde estamos e para onde queremos cami-
nhar com nossas ações, projetos e políticas públicas na área.” (Marcos Sorrentino, Diretor de Educa-
ção Ambiental do MMA).
202
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A formação de educadores ambientais I
MEDINA, Naná M. Dados Históricos da Educação Ambiental no Brasil. Disponível em: <www.
ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./educacao/index.php3&conteudo=./educacao/hist_
br.html>. Acesso em: 25 maio 2006.
SPAZZIANI, Maria de L. Educação Ambiental para sociedades sustentáveis e o entendimento sobre
a natureza humana. Revista Resgate, Campinas, 2003.
_______. A formação de educadores ambientais: diálogo entre a psicologia de Vigotski e a Educação
Ambiental para sociedades sustentáveis. In: CONGRESSO MUNDIAL DEDUCAÇÃO AMBIEN-
TAL, 2., 2004, Rio de Janeiro. Anais..., p. 5.
_______. A formação de educadores ambientais para sociedades sustentáveis: memórias do processo
de elaboração do projeto piloto de um curso de especialização. Revista Brasileira de Educação Am-
biental, São Paulo, n. 1, 2004.
203
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A formação de educadores ambientais I
204
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A formação de
educadores ambientais II
Maria de Lourdes Spazziani
E
ducadores ambientais de diferentes formações, que desenvolvem ações formativas no campo
da Educação Ambiental, da educação popular, da formação de professores, da extensão rural,
da formação técnica sociambientalista, dentre os mais diferentes setores, podem constituir um
coletivo educador.
No Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa (2001, p. 760) a palavra “coletivo” designa,
em primeira definição, aquilo “que compreende ou abrange muitas pessoas ou coisas”, e o adjetivo
“educador” definido como “quem ou o que educa”.
Concebendo a vida atual com a complexidade que se apresenta, constituída por nexos e desco-
nexos, que se entrelaçam, se encontram em caminhos que se bifurcam ou se separam, é que podemos
pensar no significado ou ressignificado do verbete coletivo educador. Ou seja, pensá-lo como um
grupo de pessoas que, de forma deliberada e intencionalmente articuladas, propõe-se a tarefa de edu-
car outras pessoas, configurando-se com a ideia de uma rede que propõe a formação de outras redes
de pessoas, num processo em cadeia atingindo um determinado território ou grupo social, formando
uma teia de interação de humanos. “Nessa teia de relações encontram-se homens, subjetividades,
informações, conhecimentos e tecnologias que guardam singularidades, que impulsionam o indiví-
duo tribal na busca do coletivo global” (CANDAU, 2006, p. 36).
205
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A formação de educadores ambientais II
Para que se efetive esse esforço coletivo, o educador precisa almejar a su-
peração do individualismo pedagógico, no qual ele busca soluções isoladamente
para resolver as questões do processo ensino-aprendizagem.
O individualismo que caracteriza tão exacerbadamente a cultura ocidental [...] e, conse-
quentemente, o trabalho do professor, é uma grande limitação para as respostas que têm
sido dadas à necessidade mais característica do nosso tempo: a socialização das consciên-
cias. (WACHOWICZ, 1996, p. 134)
A constituição das consciências humanas ultrapassa as barreiras do indivi-
dualismo proposto como modelo pedagógico na cultura ocidental. Assim, temos
que o processo de nossa humanidade e de nossa culturação é coletivo, passa pelo
coletivo, forma-se no coletivo.
Do individual ao coletivo:
um novo espaço para realizar a educação
As trocas intensas assumidas e possibilitadas no processo coletivo, sejam de
materiais ou de experiências, pode transformar o trabalho de formação das pesso-
as em uma prática mais rica, mais reflexiva e cheia de possibilidades.
As potencialidades de cada parceiro configuram-se como uma rede de conexões que
pode regular e autorregular reciprocamente. Os possíveis caminhos percorridos, de
modo cooperativo, poderão se configurar uma combinatória apoiada na operacionali-
dade descentrada das inteligências de cada sujeito que integra a coletividade. (FAGUN-
DES, 1997, p. 17)
As trocas são constantes entre a comunidade de aprendentes e a de ensinan-
tes que precisam se comunicar. Esses encontros podem fortalecer as relações afe-
tivas, melhorar o processo de pesquisa e de busca para a solução dos problemas,
isto é, por meio da rede, assumir novas tarefas, como, por exemplo, proporcionar
o desenvolvimento da inteligência coletiva.
Na construção de significados é que a verdadeira educação se efetiva e pas-
sa, essencialmente, pela transformação do modo de ver e de pensar o processo
educativo. Essa construção de novos significados está relacionada, também, ao re-
conhecimento de que somos todos aprendentes e ensinantes, onde é preciso apren-
der e ensinar a cada novo instante. Ver-se como aprendiz é fator preponderante
para a superação de uma postura fundamentalmente passiva ou ativa para a pro-
ativa. Ou seja, é a situação em que cada sujeito constrói e repassa em detrimento
de uma coletividade pensante.
206
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A formação de educadores ambientais II
Composição do coletivo
Um coletivo educador constitui-se de pessoas que, de forma deliberada
e intencionalmente, propõem-se ao processo de se educar por meio de troca de
experiências e saberes, por acreditarem que este é um dos caminhos mais propícios
para a consolidação do processo do desenvolvimento humano ancorado em outros
modos de produzir a realidade. No horizonte imediato, há a intencionalidade da
expansão desse processo a outras pessoas ou grupo de pessoas.
207
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A formação de educadores ambientais II
É necessário para esta atividade: o histórico de dois ou três projeto sociambientais realizados.
Em dois ou três grupos (de acordo com o número de projetos disponíveis), fazer uma análise
sobre a formação diversa dos atores envolvidos.
Navegar e contribuir nos diversos fóruns de debate disponibilizados pelo Sistema Brasileiro de
Informações sobre Educação Ambiental, o Sibea <www.mma.gov.br/educambiental>.
CANDAU, Vera Maria. Pluralismo cultural, cotidiano escolar e formação de professores. In: ______.
Magistério: construção cotidiana. Petrópolis: Vozes, 1997.
COLETIVO. In: HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2001.
FAGUNDES, Léa da Cruz. A inteligência coletiva: a inteligência distribuída. Revista Pátio, São Pau-
lo, n. 1, p. 14-17, maio/jul. 1997.
FERRARO JÚNIOR, Luiz A. (Coord.). Encontros e Caminhos: formação de educadoras(es) am-
bientais e coletivos educadores. Disponível em: <www.mma.gov.br/port/sdi/ea/og/pog/arqs/encontros.
pdf>. Acesso em: 26 maio 2006.
SPAZZIANI, Maria L.; BIASOLI, D. A. Coletivos educadores. In: PARK, M. B. Verbetes em Edu-
cação Formal e Não Formal. No prelo.
WACHOWICZ, Lilian Anna. Ensino: do conhecimento ao pensamento. E deste, para projetos. In:
Educação: caminhos e perspectivas. Vários Autores. Curitiba: Champagnat, 1996.
208
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Avaliação de projetos
em Educação Ambiental I
Maria de Lourdes Spazziani
A
Educação Ambiental brasileira tem sido amplamente difundida em todo o território, fruto das
políticas ambientais e educacionais que consolidam práticas e propostas que emergiram de
diferentes setores sociais.
Incluída como um dos temas transversais nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), a
Educação Ambiental propõe como centro do seu processo o trabalho pedagógico que objetiva “desen-
volvimento de atitudes e posturas éticas e domínio de procedimentos, mais do que a aprendizagem de
conceitos” (BRASIL, 1998, p. 201).
Tanto na educação escolar como na não escolar muitos educadores e educadoras têm se dedica-
do à formação de outras pessoas em relação às práticas e conhecimentos socioambientais. As inúme-
ras iniciativas nessa área são realizadas por organizações não governamentais, centros comunitários,
empresas, mídia, entre outros.
Tomazello e Ferreira (2001, p. 199-200) reconhecem as dificuldades que muitos autores têm
para
[...] avaliar e analisar as repercussões de atividades de Educação Ambiental Como avaliar
devido à abrangência dos temas e dos objetivos, pois educar ambientalmen- a adequação de ações
te é educar a partir da concepção de uma realidade complexa, isto é, em que
todos os elementos constituintes do ambiente estão em contínua interação.
e projetos em Educação
Como avaliar em que medida os alunos vão incorporando e consolidando Ambiental?
determinados valores, atitudes e hábitos ao longo de sua escolaridade?
E, ainda, como avaliar ações empreendidas em contextos comunitários, locais de trabalho e até
mesmo iniciativas empresariais, seja na esfera pública, seja na esfera privada?
A avaliação de um projeto de Educação Ambiental envolve mais do que a expressão de concei-
tos sobre o meio ambiente. Ela deve envolver resultados de ações e mudanças dos sujeitos diretamente
envolvidos com o espaço de sua atuação ou inserção territorial. Ou seja, não têm uma relação direta
com uma atividade ou com um estudo sobre um tema, mas com os desdobramentos que ocorrem e a
intervenção dos sujeitos na complexidade do contexto socioambiental.
Segundo Tarin (apud TOMAZELLO; FERREIRA, 2001, p. 200), se adotarmos processos de
avaliação mais rígidos e quantitativos, correremos o risco de prescindir de elementos que melhor
caracterizam a Educação Ambiental. Temos utilizado processos avaliativos que advêm de uma con-
cepção tradicional de educação, que hoje não são adequados à visão de realidade ambiental, portanto
necessitamos não só de novas práticas educativas, como de um novo modelo de avaliação.
Tendo em vista que no decorrer de um século as ações relativas ao meio ambiente e aos proces-
sos educativos sofreram significativas transformações, há de se repensar o que se espera dos projetos
de Educação Ambiental.
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Avaliação de projetos em Educação Ambiental I
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Avaliação de projetos em Educação Ambiental I
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Avaliação de projetos em Educação Ambiental I
Metodologia de avaliação
A literatura apresenta uma variedade de metodologias de avaliação orienta-
das para o desenvolvimento de ações relativas à questão ambiental.
No caso específico da Educação Ambiental, destacam-se alguns procedi-
mentos necessários para dar conta do processo educativo que envolve mudanças
de valores, de conceitos e de práticas socioambientais.
O primeiro centra-se em avaliar mudança de valores, atitudes, hábitos e
crenças dos sujeitos envolvidos. Para tanto, várias técnicas podem ser emprega-
das, como sondagem de conceitos, com pré e pós-testes, acompanhados de diag-
nósticos da percepção ambiental por meio de representações gráficas, produção de
textos e conversas informais.
O segundo grupo de procedimentos propõe avaliar a estratégia educacional
do projeto do ponto de vista cognitivo, destacando a relevância do projeto no con-
texto local; a presença do enfoque multi/inter/transdisciplinar; o perfil da equipe
que desenvolve as ações do projeto; a proposta da intervenção socioeducativa e a
representatividade dos sujeitos envolvidos.
O terceiro descreve a estratégia educacional do projeto do ponto de vista
afetivo, isto é, descreve as interações entre os sujeitos envolvidos, a capacidade do
projeto de provocar o envolvimento e possibilitar pertencimento, empoderamen-
to no envolvimento e no pertencimento da comunidade e autoridades locais; e a
potencialidade do projeto em ter sustentabilidade social.
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Avaliação de projetos em Educação Ambiental I
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Avaliação de projetos em Educação Ambiental I
ficar e melhorar. É essencial que seja participativa, dê voz aos participantes para
que emitam suas opiniões. Deve realizar-se em equipe, pois assim haverá uma
pluralidade de enfoques e maior garantia de rigor. Pode ser feita pelos próprios
participantes e também contar com a colaboração externa, com uma perspectiva
complementar, o que dará maior veracidade às informações.
Vale ressaltar que o processo de avaliação não objetiva o julgamento do
programa ou dos seus responsáveis. Sua função é facilitar, por meio das informa-
ções recolhidas, de sua interpretação, a valoração que deve ser feita pelos próprios
participantes; eles sim devem emitir juízos para o aperfeiçoamento tanto do pro-
grama como dos profissionais envolvidos. A avaliação permitirá a compreensão e
a reflexão por meio dessas informações selecionadas, ampliando assim a produção
de conhecimentos sobre o programa.
“Temos o prazo de uma geração para reintegrarmos a nossa espécie ao processo de sustentabi-
lidade evolutiva do universo. Devemos buscar, almejar, alcançar o equilíbrio dinâmico das condições
físicas, biológicas e culturais através do desenvolvimento de sociedades sustentáveis, que deixou de
ser utopia para se transformar em estratégia de sobrevivência, aquela capaz de desviar a nossa exis-
tência da rota de pobreza, miséria, injustiça e desastre ambiental” (ALMEIDA, 1995).
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Avaliação de projetos em
Educação Ambiental II
Maria de Lourdes Spazziani
Desafios da avaliação
Nos projetos em Educação Ambiental há uma promessa explícita ou implícita de formação qua-
lificada dos sujeitos envolvidos para atuarem de forma consciente em relação aos temas e problemas
socioambientais. A promoção da qualidade de vida dos humanos e não humanos está alicerçada no
processo de participação social. Este aspecto apresenta significativa aproximação com o enfoque do
ecodesenvolvimento e passa a ser um dos principais desafios do processo de avaliação.
Pensando no cenário brasileiro ou dos nossos vizinhos latinos, a qualidade da participação tem
sido tema primeiro para atingir o tipo de amadurecimento político necessário. Ou seja, quanto mais
atuante for um grupo ou nação nos processos decisórios de sua comunidade ou país, maior é o nível
da discussão política.
Entende-se, aqui, por pobreza política a condição do pobre que sequer sabe e é coibido de
saber que é pobre. Vive em estado de ignorância, no sentido da falta de mínima consciência crítica
de seus direitos. É literalmente massa de manobra, manipulado de fora, sem condições de se fazer
sujeito de história própria. Não se coíbe apenas que sobreviva, coíbe-se sobretudo que se emanci-
pe. Evita-se de todas as maneiras que este pobre saiba pensar, para que possa aceitar, sem reação,
renda mínima de R$15,00 e, de quebra, agradeça e vote. O que mais constitui pobreza não é a fome,
mas o fato de não saber que a fome é inventada e imposta, e que é meio de vantagem para alguns.
O pobre não sabe fazer, sobretudo fazer-se oportunidade, tomando o destino em suas mãos. Sendo
massa de manobra, imagina que os outros, em particular seus algozes, trarão sua salvação. Acredita
no “Comunidade Solidária”, nas cestas básicas, na renda mínima, nas assistências da primeira-
-dama porque não consegue acreditar no poder que tem, sobretudo se consciente e politicamente
organizado (DEMO, 2000, p. 5).
Assim, a noção de pobreza política da nossa população, de acordo com Demo (2000, p. 5), nos
coloca o desafio da avaliação em três dimensões fundamentais:
a dificuldade de autopromoção – historicamente as dificuldades iniciam-se já na capacidade
de mobilização e organização comunitária, que contribui para a baixa promoção de consci-
ência crítica e autocrítica;
a fraca capacidade de reivindicação organizada e competente – problema de conquista dos
espaços próprios (autogestão), problemas de planejamento participativo (dificuldades de
autodiagnóstico, de montagem de estratégias comuns de ataque aos problemas, de associa-
tivismo efetivo);
o predomínio da visão assistencialista – promovendo o conformismo, passividade, defici-
ências na luta pelos instrumentos de produção (acesso à terra, a instrumentos e lugares de
trabalho produtivo, a locais de comercialização), deficiências na luta pela autogestão de
recursos, precariedade do interesse produtivo.
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Avaliação de projetos em Educação Ambiental II
A questão emancipatória
Oportunidade1 significa dar espaços para a construção da competência
política, em que a competência técnica é vista como meio. A questão da educação
é promover processos que oportunizem a todas as pessoas capacidade de interven-
ção no contexto de sua vida, influindo na qualidade política de uma comunidade
ou nação.
A educação passa a ser a pedra fundamental de desenvolvimento humano,
seguido de longevidade e do poder de compra.
Sobretudo a partir do Relatório de 1997, ainda que sem usar o conceito explícito de pobre-
za política, a ONU passou a apostar mais na cidadania do que na economia. Em tese. Pois,
na prática, isto não muda a lógica da sociedade da mercadoria. Mas o discurso abraçou a
causa da cidadania. (DEMO, 2000)
Organização comunitária
O movimento proposto na Comuna de Paris2 parte das associações locais,
com grupos pequenos em que todos participam. As decisões são tomadas “olho
no olho” para depois se pensar em representação superior. O poder não está no
centro, mas nas bases.
Aqui aparece, em seu devido lugar, o controle democrático: a base precisa exercer con-
trole democrático sobre seus órgãos superiores, que nada têm de “superior”. Se houvesse
“órgão superior”, seria a comunidade de base. Neste sentido, a qualidade associativa está
1 Quando o PNUD define
desenvolvimento humano
como “oportunidade”, alude
vinculada a dois passos essenciais: organização de bases menores, onde os membros de
que o crescimento continua preferência se veem face a face; e controle sobre todas as formas posteriores de represen-
importante, indispensável tação das bases, sobretudo de órgãos centrais. Podemos, então, chamar de competência
como meio, mas o fim é a
sociedade, o bem comum, política a habilidade de produzir cidadania de baixo para cima, fazendo com que as as-
a cidadania. (PNUD, 1999; sociações se tornem o sujeito histórico decisor, mantendo outras instâncias, sobretudo o
DEMO, 1997).
estado, a seu serviço. Se houvesse tal competência política seria possível também algum
controle sobre o mercado, por exemplo, não aceitar que o salário mínimo nada tenha a ver
2 A Comuna de Paris visua-
liza um tipo de estratégia
para a competência política
com o mínimo de sobrevivência. (DEMO, 2000)
que está muito esquecido en-
tre nós: o da força dos grupos
pequenos bem organizados
como requisito anterior à or-
ganização maior posterior.
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Avaliação de projetos em Educação Ambiental II
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Podemos refletir, a partir dos quatro textos complementares propostos, sobre a importância de
estratégias de gestão para o ecodesenvolvimento e qualidade de vida.
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Avaliação de projetos em Educação Ambiental II
esperança de vida ao nascer); nível educacional (medido por uma combinação da alfabetização
adulta com a taxa de escolaridade combinada do primário, secundário e superior); e nível de vida
(medido pelo PIB real per capita).
Não existe, entretanto, consenso político em torno da pertinência em se adotar um ou vários
indicadores de bem-estar. Anderson (apud MERICO), por exemplo, escolheu um conjunto de
20 indicadores para 14 países diferentes, estabelecendo níveis de bem-estar e correlações entre
os mesmos, entre os quais relacionou: porcentagem de crianças em idade escolar matriculadas
na escola; analfabetismo; desemprego; média de consumo diário de calorias, em relação ao mí-
nimo necessário; acesso à água potável; distribuição de renda; número de telefones disponíveis
para cada mil pessoas; taxas de mortalidade infantil; taxas de perda de áreas florestadas; emis-
são de carbono para a atmosfera; crescimento populacional; reatores nucleares em operação;
intensidade energética do processo produtivo e produto nacional bruto (PNB) per capita. Vale
a pena mencionar ainda uma série de iniciativas de construção de indicadores socioambientais
da qualidade de vida no nível local. Tais iniciativas defendem uma gestão ambiental descen-
tralizada, marcada pela iniciativa e o empoderamento das comunidades, construída com base
na realidade em que se insere, não desconsiderando as referências e estratégias elaboradas pela
experiência internacional.
A perspectiva ecológica encontrada na biogeografia de Pierre Dansereau (1999) enseja im-
portantes contribuições, tais como as encontradas no “Bolo do Ambiente”, um tipo de matriz que
avalia o nível de satisfação das necessidades de habitantes e usuários de uma localidade. Os crité-
rios de necessidades e direitos do indivíduo foram assim categorizados:
necessidades fisiológicas – acesso à luz, ar, água, alimentos, abrigo, procriação ou proge-
nitura;
necessidades psicológicas – espaço, paz, sexo, relacionamentos;
necessidades sociais – vizinhança, assentamento doméstico, trabalho, associações pes-
soais e profissionais;
necessidades econômicas – renda mínima, poder de decisão, propriedade;
necessidades políticas – educação, informação, participação;
necessidades éticas – fé, congregação, convivência ética.
Como necessidades e direitos da sociedade são elencados a gestão, investimento, planifica-
ção, legislação e cultura. Já as necessidades e direitos da espécie são classificados em diversidade,
produtividade, ajuda e saúde.
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Avaliação de projetos em Educação Ambiental II
“Por que é tão frequente não haver ninguém onde há parques e nenhum parque onde há gente?”
Jane Jacobs
DEMO, Pedro. Participação e Avaliação: projetos de intervenção e ação. Los Angeles: UCLA,
2000.
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Avaliação de projetos em Educação Ambiental II
Demo nos remete a um complexo e dinâmico processo de pensar nosso papel socioambiental
quando diz: “é sempre uma tentação imaginar que competência política cresça como grama em qual-
quer quintal”, e sinaliza também a importância dos processos emancipatórios, como a possibilidade
de convivência com o ambiente de maneira inteligente.
DANSEREAU, Pierre. As dimensões ecológicas do espaço urbano. In: VIEIRA, Paulo F.; RIBEIRO,
Maurício A. Ecologia Humana, Ética e Educação: a mensagem de Pierre Dansereau. Porto Alegre:
Palloti, 1999.
_______. O avesso e o lado direito: a necessidade, o desejo e a capacidade. In: VIEIRA, Paulo F.; RI-
BEIRO, Maurício A. Ecologia Humana, Ética e Educação: a mensagem de Pierre Dansereau. Porto
Alegre: Palloti, 1999.
DEMO, Pedro. Avaliação Qualitativa. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1991.
_______. Combate à Pobreza: desenvolvimento como oportunidade. Campinas: Autores Associados,
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_______. Participação e Avaliação: projetos de intervenção e ação. Los Angeles: UCLA, 2000.
_______. Participação É Conquista. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
FERREIRA, Luiz Alberto. Formação Técnica para o Ecodesenvolvimento: uma avaliação do ensi-
no técnico agrícola em Santa Catarina no período 1992-2002. Florianópolis, 2003. 202 f. Tese (Douto-
rado interdisciplinar em Ciências Humanas) – Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade
Federal de Santa Catarina.
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. Human Development
Report. Organização das Nações Unidas. Nova Iorque, 1999. 1 CD-ROM.
TOMAZELLO, Maria G. C.; FERREIRA, Tereza R. C. Educação ambiental: que critérios adotar
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TRAJBER, Rachel; COSTA, Larissa B. Avaliando a Educação Ambiental no Brasil: materiais au-
diovisuais. São Paulo: Instituto Ecoar para Cidadania, 2001.
VIEIRA, Paulo. F.; RIBEIRO, Maurício A. Ecologia Humana, Ética e Educação: a mensagem de
Pierre Dansereau. Porto Alegre: Palloti, 1999.
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PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO EM PROJETOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
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PLANEJAMENTO
E AVALIAÇÃO
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DE EDUCAÇÃO
AMBIENTAL