Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Geralmente, é possível esperar que em áreas agrícolas com maior diversidade de ambientes
ou próximas de ecossistemas naturais, possuam maior diversidade na comunidade de insetos,
com populações de inimigos naturais mais altas resultando em maior supressão de pragas e
menor dano às plantas. No entanto também é possível que em condições específicas os
ambientes diversos tenham efeito inócuo ou negativo sobre o controle biológico. O artigo
avaliado busca estabelecer hipóteses e fornecer embasamento teórico para quais seriam essas
condições.
A primeira hipótese é de que as pragas não possuem inimigos naturais na região. Nesses casos
os ciclos, surtos e prevalência da praga não são função da atividade de inimigos naturais, mas
de outros fatores como condições abióticas, uso de variedades susceptíveis, tamanho da área
cultivada e práticas culturais. Essas pragas também podem ter hábitos migratórios de grande
escala reduzindo a relevância dos remanescentes naturais locais. Em algumas regiões as pragas
possuem inimigos naturais que são menos eficazes, quando atuam em uma fases menos
agressiva da espécie praga, ou quando são significativamente menos prolíficos que a praga
com número de parasitoides e a taxa de parasitação baixa.
Outro aspecto que pode reduzir a aptidão dos inimigos naturais é o fornecimento de
predadores com preferência pelo inimigo natural pelos remanescentes, de maneira que os
inimigos competem entre si com relação de predação entre eles, assim, um predador se
beneficia pela eliminação de um outro inimigo natural. Podem ser aranhas, pássaros, outros
insetos.
Os autores sugerem que esses efeitos indesejados da biodiversidade local podem ser
abordados pela manipulação e direcionamento da biodiversidade na área de cultivo. Isso pode
ser realizado com estratégias de consórcios de atração e repelência ou misturas com cultivares
resistentes que se mostram promissoras, que devem ser sempre ajustadas para não
comprometer a produtividade.
A hipótese prevalente é que habitats naturais abrigam uma grande quantidade de inimigos
naturais, outras espécies neutras e poucas espécies de pragas. Porém a segunda ideia do artigo
é que podem existir situações onde os inimigos naturais não dispersam para áreas cultivadas
com o mesmo sucesso que as pragas. Nesses casos as diferenças nas condições ambientais,
como temperatura, umidade, sombreamento podem reduzir a aptidão do inimigo e somente
as pragas que aproveitam diferencialmente os recursos dos cultivos são mais aptos a sua
colonização.
Para abordar os aspecto econômico não é possível levar em consideração apenas só o fluxo de
caixa. De maneira geral, a complexificação da paisagem contribui para a estabilidade e
resiliência dos cultivos, reduz o riscos da atividade econômica, os serviços de controle
biológico reduzem a necessidade do uso de pesticidas e trazem benefícios para saúde dos
funcionários, população e do meio ambiente. Essas externalidades são de difícil mensuração
porém se tornam evidentes ao longo prazo.
Esse artigo explora como a presença de habitats naturais pode não corresponder a expectativa
de melhoria do controle biológico. Esses eventos requerem o entendimento da dinâmica da
praga, do inimigo natural e como eles interagem entre si, com a cultura e com os
remanescentes. Existem várias formas de se manejar e ajustar o desenho de cultivo em escalas
de fazenda à regional para obtenção de melhor controle sustentável de pragas com o suporte
dessas áreas naturais.
Referências
LETOURNEAU, D.K., ARMBRECHT, I., RIVERA, B.S., LERMA, J.M., CARMONA, E.J., DAZA, M.C.
Does plant diversity benefit agroecosystems? A synthetic review. Ecol. Appl. 21, 9–21.
TSCHARNTKE T, KARP DS, CHAPLIN-KRAMER R (2016) When natural habitat fails to enhance
biological pest control–five hypotheses.Biol Conserv 204:449–458