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MATRIZ DE ATIVIDADE INDIVIDUAL

Matriz de resposta

Disciplina: Direito Ambiental Módulo: 4

Estudante: Leandro Antonelli Correa Turma: 3

Tarefa: Diante da situação-problema apresentada, elabore um texto relacionando a aplicação do Código


Florestal a proprietários/as ou possuidores/as de imóveis rurais e as responsabilidades ambientais
aplicáveis em caso de descumprimento da lei.

Argumentação fundamentada, indicando se há restrições de uso da Fazenda Belíssima

O Código Florestal Brasileiro, instituído pela Lei Federal nº 12.651/2012 (BRASIL, 2012), estabelece
regras para a proteção e preservação das florestas e demais formas de vegetação nativa,
destacadamente em propriedades rurais. A aplicação do Código Florestal aos proprietários ou
possuidores de imóveis rurais é feita com base nas suas disposições legais.
As principais responsabilidades legais dos proprietários ou possuidores envolvem o cadastro ambiental
rural (CAR), com informações sobre a situação ambiental da propriedade, a manutenção de área definida
como reserva legal, destinada à preservação da vegetação nativa, e a não intervenção em áreas definidas
como de preservação permanente (APP) pela legislação, como margens de rios e topos de morros.

Cabe ainda aos proprietários ou possuidores a regularização ambiental da área que tenha passivos
ambientais, como desmatamento sem autorização, através da recuperação, recomposição, remediação
e/ou compensação ambiental pela degradação da área.

O descumprimento ao Código Florestal (BRASIL, 2012) sujeita a aplicação de sanções administrativas,


como multas e embargo de atividades, sendo que a responsabilidade ambiental é objetiva (BRASIL,
1981), ou seja, independe da comprovação de culpa, desde que haja a constatação de dano ambiental.

A fiscalização do cumprimento do Código Florestal e demais legislações ambientais é realizada pelos


órgãos ambientais competentes, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA) e as Secretarias Estaduais de Meio Ambiente. Em caso de descumprimento, as
sanções podem ser aplicadas conforme a legislação ambiental, buscando garantir a conservação e
preservação dos recursos naturais.
No caso da Fazenda Belíssima, considerando se tratar de uma propriedade rural, situada no sul de Minas
Gerais, região com predominância dos biomas Mata Atlântica e Cerrado, com cerca de 5% de área
caracterizada como topo de morro, a mais de 500 m de altitude, e possuindo ainda uma nascente, tem-
se que há diversas restrições legais para o uso das terras da fazenda.
As restrições legais para o uso de propriedades rurais podem relacionadas especificamente ao bioma
predominante na área, ou relacionadas às áreas de preservação permanente, visando a proteção e
preservação ambiental.
O Código Florestal (BRASIL, 2012) define as Áreas de Preservação Permanente (APP), que são áreas
que devem ser preservadas, como nascentes e topos de morros:

Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas


rurais ou urbanas, para os efeitos desta Lei:

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IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água
perenes, qualquer que seja sua situação topográfica, no raio
mínimo de 50 (cinquenta) metros;
IX - no topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura
mínima de 100 (cem) metros e inclinação média maior que 25º,
as áreas delimitadas a partir da curva de nível correspondente a
2/3 (dois terços) da altura mínima da elevação sempre em
relação à base, sendo esta definida pelo plano horizontal
determinado por planície ou espelho d’água adjacente ou, nos
relevos ondulados, pela cota do ponto de sela mais próximo da
elevação;

Fica também definido no Código Florestal (BRASIL, 2012) a necessidade de manutenção da vegetação
situada em APP e restrição de uso:
Art. 7º A vegetação situada em Área de Preservação Permanente
deverá ser mantida pelo proprietário da área, possuidor ou
ocupante a qualquer título, pessoa física ou jurídica, de direito
público ou privado.

Desta forma, para uso da área da propriedade Fazenda Belíssima, os proprietários devem consultar os
órgãos ambientais competentes, municipal, se houver, ou estadual, para avaliação de restrições
específicas dentro da área da fazenda, bem como avaliação das atividades produtivas pretendidas pelos
proprietários que sejam permitidas ou passíveis de licenciamento ambiental.

Argumentação fundamentada, indicando se os filhos Otto e Beni estarão obrigados a


recompor a vegetação suprimida irregularmente

A responsabilidade civil pelo dano ambiental no Brasil é regida por leis, jurisprudências e princípios que
incluem a objetividade, a solidariedade e a imprescritibilidade.

A responsabilidade civil ambiental é objetiva, o que significa que não é necessário provar a existência de
culpa ou dolo do agente causador do dano. Basta demonstrar a ocorrência do dano e a relação causal
entre a conduta e o dano para que a responsabilidade seja configurada. Esse princípio visa assegurar
uma maior proteção ao meio ambiente, evitando que a dificuldade em provar a culpa torne ineficaz a
responsabilização.
A imprescritibilidade visa garantir que a responsabilidade ambiental não seja prejudicada pelo decurso
do tempo, considerando a importância da preservação ambiental a longo prazo. Segundo MIRRA (2019),
a responsabilidade civil ambiental é imprescritível por se tratar de direito inerente à vida, fundamental e
essencial à formação dos povos. Se trata de bem jurídico indisponível, fundamental, antecedendo todos
os demais direitos, pois sem ele não há vida, nem saúde, nem trabalho, nem lazer, considera-se
imprescritível o direito à reparação. A reparação deve atender aos interesses não apenas dos humanos
e não apenas das gerações atuais porque todos têm o direito fundamental ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado.
A responsabilidade ambiental pode ser solidária, o que implica que diversos agentes, mesmo que tenham
contribuído de maneira diferente para o dano, podem ser chamados a responder conjuntamente. A
solidariedade visa garantir que, em casos de danos ambientais, a reparação seja efetiva,
independentemente da identificação específica da parcela de contribuição de cada agente. Assim,
qualquer um dos responsáveis pode ser acionado para arcar com a totalidade do dano, mesmo em caso

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de transferência de propriedade. Se o antigo proprietário foi responsabilizado por danos ambientais e a
responsabilidade é solidária, os herdeiros ou novos proprietários também podem ser responsabilizados,
principalmente quando esses herdeiros ou os novos proprietários adquiriram a propriedade ciente dos
passivos ambientais existentes (BUHRING, 2018).
No Código Florestal (BRASIL, 2012) e suas alterações, estão definidas as Áreas de Preservação
Permanente (APP), a necessidade de manutenção da vegetação situada em APP, a responsabilidade do
proprietário ou possuidor de recomposição da vegetação em casos de supressão sem autorização e a
transmissão de responsabilidade em caso de transferência de domínio ou posse da propriedade:
Art. 7º A vegetação situada em Área de Preservação Permanente
deverá ser mantida pelo proprietário da área, possuidor ou
ocupante a qualquer título, pessoa física ou jurídica, de direito
público ou privado.
§ 1º Tendo ocorrido supressão de vegetação situada em Área
de Preservação Permanente, o proprietário da área, possuidor
ou ocupante a qualquer título é obrigado a promover a
recomposição da vegetação, ressalvados os usos autorizados
previstos nesta Lei.
§ 2º A obrigação prevista no § 1º tem natureza real e é
transmitida ao sucessor no caso de transferência de domínio ou
posse do imóvel rural.

Desta forma, os filhos Otto e Beni estão sim obrigados a recompor a vegetação suprimida irregularmente,
mesmo no caso de culpa ou dolo do antigo proprietário ou possuidor da fazenda.

Argumentação fundamentada, indicando se, considerando que a supressão da vegetação


nativa sem autorização permite a tríplice responsabilidade ambiental prevista na
Constituição Federal, os filhos Otto e Beni terão responsabilidade administrativa e penal

A tríplice responsabilidade ambiental refere-se à ideia de que a responsabilidade por danos ambientais
pode ser distribuída entre três esferas distintas: civil, penal e administrativa. Cada uma dessas esferas
tem suas próprias características e objetivos, mas todas visam assegurar a proteção do meio ambiente
(LEITE e MALTEZ, 2019).
A responsabilidade civil ambiental envolve as relações jurídicas entre particulares ou entre estes e o
Estado e busca a reparação dos danos causados ao meio ambiente, por meio de ações indenizatórias. A
responsabilidade penal ambiental envolve o Estado na persecução de crimes ambientais, buscando punir
penalmente aqueles que cometeram infrações ambientais, com penas de detenção, reclusão, multas,
entre outras. Já a responsabilidade administrativa ambiental envolve a atuação do Estado no âmbito
administrativo, por meio dos órgãos ambientais, com objetivo de impor sanções administrativas, como
multas e embargos, para garantir o cumprimento das normas ambientais (LEITE e MALTEZ, 2019).
A tríplice responsabilidade busca abordar os danos ambientais de maneira abrangente, considerando
diferentes aspectos legais e essas três esferas não são mutuamente exclusivas, e uma mesma conduta
pode gerar responsabilização em mais de uma delas. Isso reflete a abordagem integral necessária para
lidar com questões relacionadas ao meio ambiente e promover a sustentabilidade (LEITE e MALTEZ,
2019).
Entretanto, as esferas penal e administrativa, ao contrário da esfera civil, são de natureza subjetiva, não
possuem o princípio de solidariedade e estão sujeitas a prescrição.
A natureza subjetiva na esfera penal pressupões que, para a aplicação de sanções penais, é necessário
comprovar a existência de elementos subjetivos, como dolo ou culpa, por parte do agente responsável
pelo crime ambiental. Quando o agente atua com dolo, significa que ele age intencionalmente, com a
vontade consciente de praticar a conduta criminosa. Quando o agente atua de maneira negligente,
imprudente ou imperita, sem a intenção direta de causar dano, mas assumindo o risco de provocá-lo,
pode ser caracterizada a culpa (LEITE e MALTEZ, 2019).
A natureza subjetiva na esfera administrativa também envolve elementos de dolo ou culpa e as sanções
e medidas são impostas pelos órgãos ambientais competentes em conformidade com as normas e
regulamentações ambientais. A responsabilidade administrativa muitas vezes está relacionada ao
licenciamento ambiental e realizar atividades econômicas sem a devida licença ou descumprindo as
condições estabelecidas, mesmo que não haja dolo, pode resultar em sanções administrativas. O
processo administrativo para apurar responsabilidades envolve a notificação do infrator, a oportunidade
de apresentar defesa e a análise dos elementos que configuram a infração, sendo que, durante esse
processo, a presença de dolo ou culpa será considerada. A gravidade da infração, o grau de impacto
ambiental e a reincidência são fatores que podem influenciar a aplicação de sanções administrativas.
Infrações mais graves, envolvendo dolo, geralmente resultam em sanções mais severas (LEITE e
MALTEZ, 2019).

A responsabilidade civil objetiva ambiental está prevista no artigo 225, §3º da Constituição Federal
(BRASIL, 1988):
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade
o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio
ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a
sanções penais e administrativas, independentemente da
obrigação de reparar os danos causados.

As obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo admissível cobrá-las do proprietário ou
possuidor atual e/ou dos anteriores e está prevista no artigo 2º, § 2º do Código Florestal Brasileiro
(BRASIL, 2012):
Art. 2º As florestas existentes no território nacional e as demais
formas de vegetação nativa, reconhecidas de utilidade às terras
que revestem, são bens de interesse comum a todos os
habitantes do País, exercendo-se os direitos de propriedade com
as limitações que a legislação em geral e especialmente esta Lei
estabelecem.
§ 2º As obrigações previstas nesta Lei têm natureza real e são
transmitidas ao sucessor, de qualquer natureza, no caso de
transferência de domínio ou posse do imóvel rural.

A responsabilidade penal ambiental geralmente não é de natureza propter rem, sendo que está associada
à figura do agente, ou seja, à pessoa física que comete a infração ou ao representante legal da pessoa
jurídica.
Na legislação brasileira, as infrações penais ambientais são regidas, principalmente, pela Lei de Crimes
Ambientais (BRASIL, 1998), que estabelece penalidades para condutas lesivas ao meio ambiente e seus

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ecossistemas, e a responsabilidade penal geralmente recai sobre aquele que comete a ação ou omissão
criminosa.
Desta forma, a responsabilidade penal não pode ser aplicada diretamente aos filhos Otto e
Beni, cabendo no caso ao Ministério Público a comprovação de elementos subjetivos, demonstrando
qual agente agiu conscientemente (dolo) ou com negligência, imprudência ou imperícia (culpa), para
que haja a responsabilização penal.

Com relação à responsabilidade administrativa ambiental, em alguns casos, pode ter natureza propter
rem, implicando que o responsável pelas infrações ambientais pode ser identificado com base na relação
com o objeto da infração.

No contexto da responsabilidade administrativa ambiental propter rem, a imputação de sanções


administrativas está relacionada ao detentor do domínio, proprietário, possuidor ou responsável pela
atividade ou empreendimento que gerou a infração ambiental. Mesmo que o responsável direto pela
ação não seja facilmente identificável, a vinculação da responsabilidade à coisa permite que as sanções
recaiam sobre aqueles que têm relação com o objeto da infração (LEITE e MALTEZ, 2019).

Desta forma, a responsabilidade administrativa pode ser aplicada aos filhos Otto e Beni,
visando assegurar que eles, como atuais proprietários da fazenda, estejam sujeitos a medidas
administrativas, como multas e outras sanções, por estarem usufruindo da área onde ocorreu a
supressão da vegetação nativa sem autorização.

Referências bibliográficas

BRASIL. LEI Nº 6.938, DE 31 DE AGOSTO DE 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Brasília, DF:
Diário Oficial da União, 1981. Disponível em: < https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm
>. Acesso em: 03 dez. 2023.

BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Brasília, DF: Diário Oficial
da União, 1988. Disponível em: <
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm >. Acesso em: 03 dez. 2023.

BRASIL. LEI Nº 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998. Dispõe sobre as sanções penais e


administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras
providências. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 2006. Disponível em: <
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm >. Acesso em: 03 dez. 2023.

BRASIL. LEI Nº 11.428, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2006. Dispõe sobre a utilização e proteção da


vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica, e dá outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial da
União, 2006. Disponível em: < https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
2006/2006/Lei/L11428.htm >. Acesso em: 03 dez. 2023.

BRASIL. LEI Nº 12.651, DE 25 DE MAIO DE 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa e dá
outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 2012. Disponível em: <
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm >. Acesso em: 03 dez.
2023.

BUHRING, M. A. Responsabilidade Civil Ambiental. Caxias do Sul, RS: Educs, 2018. Disponível em: <
https://www.ucs.br/educs/arquivo/ebook/responsabilidade-civil-ambiental/ >. Acesso em: 03 dez.
2023.
LEITE, F. P. A.; MALTEZ, R. T. O regime jurídico ambiental da tríplice responsabilidade civil,
administrativa e penal no âmbito do direito ambiental a partir de desastres tecnológicos na
modalidade rompimento de barragem. Revista da Faculdade de Direito da UFG. v.43, 2019.
Disponível em: < https://revistas.ufg.br/revfd/article/view/59995 >. Acesso em: 03 dez. 2023.

MIRRA, A. L. V. Responsabilidade civil ambiental e a jurisprudência do STJ. Cadernos Jurídicos, São


Paulo, 2019. Disponível em: <
https://www.tjsp.jus.br/download/EPM/Publicacoes/CadernosJuridicos/48.03%20valerymirra.pdf >.
Acesso em: 03 dez. 2023.

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