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Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária – FAV

Programa de Pós-graduação em Agronomia


Manejo Integrado de Pragas.
Professora: Dra Ana Maria Resende Junqueira.
Aluno: Guilherme Facundes Balduino
Data: 14/03/2022.
RESENHA

Flores seletivas para melhorar o controle biológico de pragas de repolho por parasitoides.

Géneau et al., 2012.

A agroecologia presa por estratégias para reduzir a dependência por agrotóxicos. O uso do
controle biológico com parasitas e parasitoides se torna uma das principais e mais estudadas
táticas de controlar populações de insetos praga. Um aspecto associado é o estudo do
ambiente de cultivo e entorno de forma a criar condições que atraiam, retenham e sustentem
populações desses inimigos naturais e dessa forma melhorar sua aptidão e eficiência no
combate a praga.

A relação entre o inimigo natural e a praga nem sempre é alimentar, isso é, o inimigo natural
precisa encontra fontes de alimento e abrigo na área do cultivo que independem da presença
da praga. Nesse sentido plantas comerciais dificilmente empreendem recursos na produção de
flores atraentes e ricas em néctar, por não ser um objetivo comum do melhoramento. Assim,
monocultivos podem não ser ambientes desejáveis para o inimigo natural. Esse cenário se
agrava ainda mais em culturas onde a aplicação de inseticidas é intensa podendo provocar a
redução de populações de espécies de artrópodes não alvos (VILAS-BOAS, 2004)

A introdução de recursos alimentares, de abrigo e reprodução pode ser uma boa estratégia
para atrair inimigos naturais e melhorar a diversidade biológica da área, porém é necessário
precaução quanto a possíveis benefícios para pragas.

A estratégia avaliada nesse trabalho é a de aumentar a diversidade de plantas no ambiente


para criar um habitat que beneficiem inimigos naturais sem criar um efeito indesejado na
praga alvo ou outras pragas associadas à cultura. Especialmente foi avaliado a disponibilidade
de alimento para inimigos naturais.

O trabalho também tenta avaliar o desempenho do tipo de planta introduzida quanto a fonte
de néctar. As que produzem néctar floral tem sua disponibilidade limitada ao período de
floração enquanto que o néctar extrafloral, que é produzido em nectários em folhas, pecíolos,
frutos é produzido em grandes quantidades e por períodos maiores.

O desenho experimental consistiu de tomar cinco espécies de plantas com potencial de servir
de suporte para os parasitoides Microplitis mediator e Diadegma fenestrale (vespas) e verificar
seu efeito na longevidade da praga de repolho Mamestra brassicae (traça). Para o primeiro
parasitoide capacidade de parasitação também foi avaliada expondo diariamente os insetos
em cada tratamento a lagartas da praga em 1º instar e posteriormente contanto as larvas
parasitadas.

A fim de certificar que as plantas não beneficiariam a praga, machos e fêmeas do inseto praga
também foram expostos a flores das plantas para verificara longevidade e a fecundidade, pela
contagem do número de ovos postos. Por fim estabelecido controles onde os três insetos não
eram expostos a nenhuma planta.

Os resultados mostram que para o parasitoide M. mediator a longevidade foi


significativamente superior quando exposto a plantas Fagopyrum esculentum, Vicia sativa,
Ammi majus, Centaurea cyanus, porém sem efeito significativo para Iberis amara. Não houve
diferença significativa entre plantas com néctar extrafloral somente e as que possuíam
também néctar floral. A taxa diária de parasitação não variou muito entre tratamentos porém
foi uma função da maior longevidade, especialmente das fêmeas, a quantidade de lagartas
parasitadas ao longo da vida foi muito superior para as expostas a plantas F. esculentum, C.
cyanus e V. sativa.

O parasitoide D. fenestrale também sobreviveu por muito mais tempo quando exposto a F.
esculentum, V. sativa e C. Cyanus.

Em relação ao inseto praga, foi verificado que as flores de nenhuma das plantas testadas
afetaram a longevidade. A taxa oviposição da praga também não foi afetada de forma
significativa entre os tratamentos, apesar de haver tendência de maior oviposição no 4 dia de
emergência quando na presença da espécie I. amara.

Esse estudo ressalta a complexidade dos sistemas biológicos e das teias tróficas envolvidas. As
relações entre os parasitoides e as plantas demonstram a capacidade de algumas plantas em
estender a vida do inseto. O mais provável é o benefício se dê pelo suprimento alimentar,
porém os autores refletem em como não só o suprimento de alimento deve ser adequado mas
a estrutura da planta, a localização do néctar, sua profundidade, bem como a estrutura do
aparelho sugador, tamanho e padrão de busca do inseto devem estar bem ajustados entre si
para que o inseto tome proveito das planta introduzidas.

Apesar disso as condições experimentais fornecem uma representação limitada das condições
de campo. Primeiramente porque os insetos praga tem movimentação limitada que pode se
refletir em economia de energia mascarando efeitos em campo onde o gasto energético é
maior e a busca por néctar mais intensa.

Em seguida vale pensar que a praga foi exposta somente ao néctar floral, enquanto que os
ensaios com os parasitoides aproveitaram o néctar floral e extrafloral. O grupo das vespas,
com peças bucais curtas, pode ser favorecido pelo néctar extrafloral que é mais acessível.
Inclusive algumas das espécies mais promissores C. Cyanus e V. sativa na longevidade de
parasitoides são produtoras de néctar extrafloral, portanto essa fonte alimentar também deve
ser avaliada em relação a praga.

Ainda que uma associação de flores consiga um efeito satisfatório em algumas praga, a
aplicação deve considerar o conjunto de pragas herbívoras, especialmente aquelas que se
alimentam de néctar ou pólem a fim de obter o efeito de controle integrado reduzindo de
maneira geral os danos sobre as pragas.

Referências:

GÉNEAU C.E., WÄCKERS F.L., LUKA H., DANIEL C., BALMER O. Selective flowers to enhance
biological control of cabbage pests by parasitoids. Basic Appl. Ecol. 2012;13:85–93. doi:
10.1016/j.baae.2011.10.005
VILLAS BÔAS, G. L. et al. Inseticidas para o controle da traça-das-crucíferas e impactos sobre a
população natural de parasitóides. Horticultura Brasileira [online]. 2004, v. 22, n. 4 , pp. 696-
699.
Villas Bôas, Geni L. et al. Inseticidas para o controle da traça-das-crucíferas e impactos sobre a
população natural de parasitóides. Horticultura Brasileira [online]. 2004, v. 22, n. 4
[Acessado 14 Março 2022] , pp. 696-699.

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