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V. 8, n. 1, p. 01-06, jan - mar, 2012.

UFCG - Universidade Federal de Campina Grande. Centro de


Saúde e Tecnologia Rural – CSTR. Campus de Patos – PB.
www.cstr.ufcg.edu.br

AGROPECUÁRIA CIENTÍFICA NO SEMIÁRIDO – ISSN


Revista ACSA: 1808-6845
http://www.cstr.ufcg.edu.br/acsa/
Revisão Bibliográfica

Revista ACSA – OJS:


Interferência de Plantas Daninhas
http://150.165.111.246/ojs-patos/index.php/ACSA sobre Plantas Cultivadas
RESUMO
Esta revisão de literatura teve como objetivo abordar as
Maria da Conceição Costa de Vasconcelos 1* principais formas de interferência das plantas daninhas
sobre as culturas, dando ênfase a três pontos mais
Antonia Francilene Alves da Silva 2 importantes, sendo eles a competição, considerada a maior
Raelly da Silva Lima3 forma de interferência; a alelopatia e a hospedabilidade de
plantas daninhas a fitopatógenos, discutindo os principais
conceitos de interferência, citando as
principaiscaracterísticas das espécies mais problemáticas e
explanando sobre a consequência dessa interferência na
agricultura. Além desses pontos foi discutindo a
importância do banco de sementes na renovação do ciclo
dessas espécies, abordando as características das sementes
de plantas daninhas, classificação do banco de sementes e
formas de entrada e saída destas no sistema. Essas
informações podem ser utilizadas na predição do controle
de plantas daninhas, colaborando como uma fonte de
consulta para o desenvolvimento de pesquisas que visem o
controle de plantas daninhas.

Palavras-chave: banco de sementes; interferência e


plantas daninhas.

Interference on Weeds Cultiva Tedplants


ABSTRACT
A This literature reviewaimed toaddress themain forms
ofweed interferenceon crops,emphasizingthethreemost
important points, among them competition, consideredthe
highest form ofinterference,allelopathyandhospitabilityof
weeds toplant pathogensdiscussing theconceptsof
interference, citing the main characteristicsof the species
mostproblematic andexplainingabout the consequencesof
this interferencein agriculture. Beyond these
pointswasdiscussing the importanceof the seed bankin the
renewalcycleof these species, approaching the
characteristics ofweed seeds, seed bankclassificationand
_______________________ shapesof theseinput and outputsystem. This information
*Autor para correspondência canbe usedin the prediction ofweed control, working as
Recebido para publicação em 06/01/2012. Aprovado em 30/03/2012.
1
Mestranda Depto. de Ciências Ambientais e Tecnológicas, areference source forthe development of
Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, Mossoró- researchaimed atcontrolling weeds.
RN(084) 96327551, e-mail: ceicao_vasconcelos@yahoo.com
2
UFERSA –RN afran77@hotmail.com Keywords: seed bank, and weedinterference.
3
UFERSA, Mossoró-RN raellysilva@hotmail.com
Interferência de Plantas Daninhas sobre Plantas Cultivadas

INTRODUÇÃO como uma reserva de sementes viáveis presentes no solo


em várias profundidades, tendo a função de regeneração
A agricultura vem crescendo muito nos natural das espécies ao longo dos anos, garantindo assim a
últimos anos, resultados de altos investimentos perpetuação dessas espécies.
tecnológicos que possibilitaram a obtenção de elevados A identificação do banco de sementes é
índices de produtividade. Porém existem vários fatores importante no estudo da dinâmica das plantas daninhas ao
que podem interferir negativamente de maneira longo dos anos, gerando informações que serão utilizadas
significativa nessa produtividade, sendo que um das na escolha das estratégias de controle dessas plantas. De
grandes preocupações da agricultura atual está voltada acordo com Lacerda, Victoria Filho e Mendonça (2005),
para os prejuízos causados por plantas daninhas na essas informações, “[...] são importantes para a elaboração
lavoura. de estratégias de manejo integrado de plantas daninhas”.
As plantas daninhas necessitam para seu O objetivo dessa revisão é abordar as
desenvolvimento, dos mesmos fatores exigidos pela principais formas de interferência das plantas daninhas
cultura, ou seja, água, luz, nutriente e espaço, sobre as culturas, como também discutir a importância do
estabelecendo um processo competitivo quando cultura e banco de sementes na perpetuação dessas espécies e as
plantas daninhas se desenvolvem em um mesmo local. O suas consequências na produtividade das culturas
grau de interferência dessas plantas nas culturas agrícolas agrícolas.
depende da comunidade infestante, de fatores ligados a
cultura, do ambiente e do período de convivência REVISÃO DE LITERATURA
(PITELLI, 1985a apud DUARTE, SILVA E SOUSA,
2002). Além dessa competição, as plantas daninhas Dentre todos os fatores que trazem prejuízo
podem atuar como hospedeiras de pragas e doenças, à cultura, o mais importante é o manejo das plantas
exercer efeitos alelopáticos, serem tóxicas para animais e daninhas. Consideram-se plantas daninhas, aquelas que
para o homem, reduzir o valor da terra, reduzir a ocorrem em local não desejado, interferindo com os
biodiversidade, propagar incêndios, dificultar o manejo da objetivos do homem, e que quando presentes em
água no agroecossitema,e também a colheita da planta agroecossistemas interferem com as culturas econômicas,
cultivada, além dos efeitos prejudiciais causados pelos afetando a produtividade ou a qualidade do produto
métodos de controle necessários. colhido.Caracterizam-se por apresentarem capacidade
O manejo de plantas daninhas é um germinar, desenvolver-se e reproduzir-se em condições
componente importante em muitos agroecossistemas, e a adversas, como déficit hídrico, salinidade, solos ácidos ou
definição de plantas daninhas não é tão fácil. Várias são as alcalinos e temperaturas pouco propícias.
maneiras de se conceituar planta daninha e entre elas “A ocorrência de plantas daninhas em áreas
temos, por exemplo, conceitos que dizem que “planta agrícolas pode levar a redução da produtividade das
daninha é aquela que está fora de lugar” ou aquela que se culturas, resultando em prejuízos que podem que podem
desenvolve em local indesejado; essas plantas possuem chegar à perda total da lavoura” (FONTESET al, 2003a).
grande agressividade caracterizada por elevada capacidade De acordo com Muzik (1970 apud PITELLI, 1987) elas
de produção de sementes e propágulos de alta viabilidade causam maiores prejuízos à agricultura que as pragas e as
e longevidade, que permite as essas plantas germinarem doenças, e o próprio homem pode ser o grande
em qualquer tipo de ambiente e permanecerem dormentes responsável pela evolução dessas plantas.
no solo durante muitos anos, esperando as condições de Esses prejuízos ocorrem principalmente,
clima, temperatura e umidade ideais para a retomada do devido aos efeitos causados pela competição por água, luz
seu desenvolvimento. Porém existe uma classe de plantas e nutrientes. Existem ainda outros fatores relacionados às
daninhas que não se encaixam nesse perfil, consideradas plantas daninhas, que podem provocar grandes perdas de
plantas daninhas “comuns”, pois segundo Beltrão (2000), produção, como a capacidade de produzirem compostos
não possuem condições de crescer e se desenvolverem em alelopáticos e de atuarem como hospedeiras de pragas e
condições desfavoráveis sendo, na realidade, plantas úteis, doenças que afetam a cultura. Segundo Fontes et al
domesticadas, como a soja, por exemplo, que somente em (2003b), a intensidade dessa interferência depende das
determinadas ocasiões, tornam-se prejudiciais e não características das plantas daninhas e da cultura, como
desejáveis. velocidade de crescimento, porte, arquitetura da planta, do
“É importante e necessária a identificação estádio de crescimento, da duração do período de
das espécies de plantas daninhas, pois cada espécie convivência e do ambiente.
apresenta o seu potencial de estabelecer-se na área e sua Além dos prejuízos diretos, essas plantas
agressividade pode interferir de forma diferenciada entre reduzem a eficiência agrícola, aumenta os custos de
as culturas” (CRUZET al, 2009) produção e diminuem a qualidade do produto, reduzindo o
Para que se faça um manejo adequado de seu valor comercial e ainda dificulta ou até impede a
plantas daninhas é necessário o conhecimento do tamanho operação de colheita.
e da composição botânica do banco de sementes no solo. Bozsa e Oliver (1993 apud RIZZARDIET
O banco de sementes de um solo pode ser considerado al, 2001) ressaltam que para avaliar a melhor estratégia de

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M. da C. C de Vasconcelos et al.

manejo das ervas daninhas deve-se conhecer os efeitos da Lorenzi nos fornece um conceito mais
interferência de cada componente individualmente. amplo a respeito disso:

Competição A competição apenas se estabelece quando


a capacidade de liberação de um ou mais
Para que as plantas possam se desenvolver e recursos pelo meio for suplantada pela
completarem o seu ciclo de vida, necessitam de água, gás demanda real por parte das distintas
carbônico, oxigênio, radiação solar, nutrientes minerais e populações que os tem como essenciais ao
espaço físico. À medida que ela cresce e se desenvolve, seu crescimento e desenvolvimento, ou
esses fatores podem ser insuficientes para atender as suas quando um dos competidores impede o
demandas, o que pode ser agravado pela presença de acesso do recurso ao outro competidor, de
outras plantas na mesma área, que também necessitam dos forma passiva, como é o caso do
mesmos fatores para sua sobrevivência, gerando assim crescimento predominante de uma planta
uma competição entre plantas vizinhas, sejam da mesma interceptando a radiação solar antes que
espécie ou de espécies diferentes. “A definição de atinja a folhagem da outra (LORENZI,
competição leva em consideração o grau em que as 2008b).
plantas afetam a abundância de um recurso e como outras As plantas daninhas se beneficiam no
plantas respondem à troca desta abundância”. processo de competição por apresentam alta rusticidade,
(RIZZARDIET al, 2001). resistência a pragas e doenças, habilidade de produzir
Na competição entre plantas daninhas e grande número de sementes viáveis, facilidade de
plantas cultivadas, ambas as partes são prejudicadas, disseminação das sementes, rápida passagem da faze
porém as daninhas sempre levam vantagem competitiva vegetativa para a reprodutiva, entre vários outros fatores
por apresentarem uma maior habilidade no inerentes a essas espécies. Estas características
aproveitamento dos elementos vitais disponíveis. Essas proporcionam a essas plantas vantagens na competição
plantas possuem a capacidade de acumular nutrientes em com as culturas agrícolas, o que resulta em perdas de
seus tecidos vegetais, em quantidades muito maiores do produtividade e consequentes prejuízos ao agricultor.
que as plantas cultivadas. “O conteúdo médio das plantas Enquanto a natureza agia nas plantas
daninhas é de aproximadamente duas vezes mais daninhas, imprimindo-lhes uma seleção para torná-las
nitrogênio, 1,6 vezes mais fósforo, 3,5 vezes mais cada vez mais eficiente, o homem atuava sobre as plantas
potássio, 7,6 vezes mais cálcio e 3,3 vezes mais magnésio cultivadas retirando-lhes a agressividade necessária para
que as plantas cultivadas.” (LORENZI, 2008a). Porém viverem sozinhas, num processo conhecido como
esses valores variam de espécie para espécie, de acordo domesticação.
com as exigências e capacidade dessas plantas em
absorvê-los. Alelopatia
Além da maior capacidade de extração de
nutrientes do solo, outras espécies são competidoras Determinadas espécies de plantas daninhas liberam
também na utilização desses recursos, como a Bidens compostos químicos no ambiente, capazes de causar
pilosa e Euphorbia heterofilaque apresentam maior sérios prejuízos no crescimento, desenvolvimento e
eficiência na utilização do N absorvido no solo, quando produtividade das plantas cultivadas. Esse processo é
comparadas com a soja e o feijão (PROCÓPIOET al., denominado de alelopatia e ocorre quando substâncias
2004). fitotóxicas são liberadas pela lixiviação, volatização,
Quanto mais semelhantes forem os exudação das raízes e decomposição de resíduos de algum
indivíduos concorrentes, maiores serão as perdas tipo de planta, afetando a germinação das sementes e o
decorrentes dessa competição, alcançando o estresse crescimento de plantas vizinhas. É diferente da
máximo quando essa competição ocorre entre daninhas e competição, porém de forma indireta acaba contribuindo
culturas da mesma família, pois esses indivíduos possuem para esse processo, pois se uma planta pode reduzir o
basicamente as mesmas exigências. “No caso das plantas crescimento de plantas vizinhas pela liberação de
daninhas, a extração de água e nutrientes reduz a compostos químicos no solo ou no ar, consequentemente
disponibilidade destes recursos para a cultura alvo, o que ela terá a maior chance de acesso à luz, à água e aos
causa estresse e, por fim, reduz o crescimento de ambas e nutrientes disponíveis, podendo obter vantagens no
também o rendimento da cultura” (Patterson,1995). Isso se processo competitivo. Diante disso Lorenzi nos esclarece
deve à melhor adaptação daquelas espécies ao ambiente, que:
já que normalmente são naturais da região onde se
encontram, ao contrário das últimas, procedentes de outras “Esses dois mecanismos são muitas vezes
regiões. confundidos, entretanto, cabe ressaltar que
A competição nada mais é, do que a disputa o efeito da alelopatia depende de compostos
entre plantas pelos mesmos recursos presentes em químicos que são adicionados ao meio,
quantidade limitada no ambiente. enquanto que a competição consiste na

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Interferência de Plantas Daninhas sobre Plantas Cultivadas

remoção ou redução de alguns fatores do As principais plantas infestantes que atuam


meio que são disputados pela planta como hospedeira de nematóides nos ambientes agrícolas
daninha e pela cultura.” (LORENZI, do Brasil são Brachiariaplantaginea, Digitaria
2008c). adscendens, Eleusineindica,Bidens pilosa,
ageratumconyzoidesentre outras. Além dos nematóides as
A diferença entre alelopatia e competição invasoras podem causar doenças como o mosaico-dourado
está no fato de que a competição remove do ambiente, do feijoeiro, uma virose transmitida pela mosca-branca
fatores de crescimento necessário a ambas às plantas, (Bemisiaargentifolii) após ter se “alimentado” de espécies
como luz, água, nutrientes, etc., enquanto que a alelopatia do gênero Sida (Sida rhombifolia, Sida glaziovii, Sida
ocorre pela adição de um fator ao meio. Segundo micrantha, Sida santaremnensis, Sida cardifolia,
Fuerst&Putnan, (1983), é difícil distinguir se o efeito etc.)(SILVA E SILVA, 2007). Essa mosca, apresenta um
nocivo de uma planta sobre a outra cabe à alelopatia ou à grande número de plantas hospedeiras de interesse
competição. econômico, como hortaliças (tomate, pimentão, repolho,
Os compostos químicos liberados pelas melão, abóbora), feijão, algodão, soja e plantas
plantas daninhas no ambiente, que causam efeitos ornamentais, o que representa um grande perigo para o
negativos sobre as plantas cultivadas são conhecidos como produtor, pois se não houver um controle eficiente que
substancias alelopáticas, agentes aleloquímicos, produtos elimine essas invasoras da área de cultivo, não haverá
secundários, substâncias aleloquímicas, entre outros. De interrupção no ciclo de vida da praga e, em um próximo
acordo com Pitelli (1987), esses aleloquímicos podem ser cultivo, a pressão de mosca-branca sobre as plantas poderá
produzidos em qualquer parte da planta, como raízes, ser ainda maior que no cultivo anterior.
parte aérea, sementes em processo germinativo e até Outros exemplos de plantas daninhas
mesmo durante o processo de decomposição da palha. A hospedeira de fitopatógenos são o capim-colchão
produção dessas substâncias “[...] é influenciada por (Digitaria horizontalis), maria-pretinha
diversos fatores como temperatura, umidade, índice de (Solanumamericanum), ambas hospedeiras de nematóides,
precipitação, radiação e variação sazonal.” (VIECELLI E o capim-massambará (Sorghumhalapense),hospedeira do
CRUZ-SILVA, 2009). fungo responsável pela podridão vermelha da cana-de-
Os sintomas dos efeitos alelopáticos mais açúcar, etc.
citados na literatura, são a inibição da germinação, a falta Por ocuparem extensas áreas, essas
de vigor vegetativo, clorose das folhas, o atrofiamento ou invasoras tornam-se potenciais fontes de inóculo de
deformação das raízes e até mesmo a morte de plântulas. fitopatógenos em cultivos comerciais, desempenhando
“Esta interferência sobre o desenvolvimento de outra papel fundamental na epidemiologia das doenças como
planta pode ser indireta, por meio da transformação destas hospedeiras secundárias (Chaveset al., 2003). Sendo assim
substâncias no solo pela atividade de microrganismos” torna-se difícil a erradicação ou mesmo o controle de
(BEDINET al, 2006). A intensidade dos danos causados doenças em áreas com grandes infestações de plantas
por essas substâncias depende da sua concentração e da daninhas.
quantidade de fitotoxina disponível para a absorção, pois As perdas na agricultura provocadas pelas
as plantas também exercem competição por essas pragas que utilizam plantas invasoras como hospedeira
substâncias. Os aleloquímicos atuam nos processos de são muito comuns, porém difíceis de serem quantificados.
assimilação de nutrientes, crescimento, fotossíntese,
respiração, síntese das proteínas, atividade enzimática e na Banco de Sementes de Plantas Daninhas
permeabilidade da membrana celular das plantas afetadas.
Para Baker (1989 apud LACERDA, 2007),
Hospedabilidade de plantas daninhas a fitopatógenos o banco de sementes é um agregado de sementes não
germinadas, potencialmente capazes de repor plantas
Além de reduzir a produção das lavouras e adultas anuais que morreram por morte natural ou não, e
aumentar seus custos de produção, as plantas infestantes plantas perenes, susceptíveis à morte por doença, distúrbio
também assumem grande importância quando atuam ou consumo por animais.
como hospedeiras alternativas de organismos nocivos a A principal função do banco de sementes é
espécies vegetais cultivadas como pragas, doenças e garantir a perpetuação das espécies, sendo este o
nematóides. “Apenas para Meloidogynejavanica, só no responsável pela substituição intensiva dessas plantas em
Brasil, já foram relatadas 57 espécies de plantas ambiente onde foram eliminadas por causas naturais ou
infestantes que atuam como hospedeiras alternativas”. não. Essa perpetuação se dá por meio de mecanismos
(CARMO E SANTOS, 2008). Nesse caso as plantas ligados a semente, como dormência, longevidade e
daninhas praticamente inviabilizam os programas de viabilidade, que permitem que as mesmas permaneçam
controle pela rotação com culturas não susceptíveis, pois por longos períodos no solo esperando o momento ideal
estas vão permanecer na área servindo com fonte de para germinarem e repovoarem o ambiente. A dormência
inóculo para as próximas culturas. é um dos mais importantes mecanismos indiretos de
dispersão e sobrevivência das plantas daninhas, por

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M. da C. C de Vasconcelos et al.

permitir às mesmas, sobreviverem em condições adversas.


Como a dormência não é igual para todas as sementes, há O conhecimento das plantas daninhas que
um escalonamento na germinação, permitindo a essas ocorrem em áreas agrícolas, assim como o tamanho e a
plantas sua distribuição ao longo do tempo. composição do banco de sementes e as suas formas de
O tamanho da população de sementes e sua interferência, são necessários para indicar o melhor tipo de
composição botânica em um dado momento é o resultado sistema de manejo do solo a ser utilizado, assim como
do balanço entre entrada de novas sementes e perdas por também definir qual o melhor método de controle
germinação, deterioração, parasitismo, predação e deplantas daninhas que deverão ser empregados nessas
transporte (LACERDA, 2007). As entradas ocorrem em áreas de produção.
grande parte por meio da chamada “chuva de sementes”, Essas informações poderão ser usadas para
provenientes das adições do ano anterior, sendo prevê a necessidade de controle ou não das daninhas no
complementadas por meio de introduções externas como campo, fazendo as adequações necessárias de manejos de
transporte por máquinas e implementos, ventos, trato solo, da cultura e proporcionando uma utilização mais
digestivos de animais, água de irrigação e pelo próprio racional dos herbicidas, com base em considerações de
homem. Esses agentes participam contribuindo tanto no custo/benefício na produção.
enriquecimento como também no empobrecimento do
banco de sementes. Porém assumem papel mais REFERENCIAS
importante quando se trata da introdução de novas
espécies no agroecossistema, ou de espécies altamente BEDIN, C. et al. Efeito alelopático de extrato de
prejudiciais e de difícil controle, como plantas parasitas ou eucalyptuscitriodorana germinação de sementes de
plantas de propagação vegetativa como a tiririca tomate (lycopersicumesculentumm.). Revista
(Cyperusrotundus) e a grama-seda (Cynodondactylon) Científica Eletônica De Agronomia.ano 5, n. 10,
(PITELLI &KUVA, 1998). dez. 2006 – Periódico Semestral.
Os bancos de sementes são classificados
quanto a seu tempo de permanência no solo, em BELTRÃO,N.E.M. Herbicidas, Competição e Combate as
transitórios e permanentes. Thompson (1992), Plantas Daninhas na Cultura do Algodão. Circular
caracterizou como “transitórios” os bancos de sementes Técnica 37. Campina Grande,p.1-9, ago. 2000.
cuja germinação ocorre no período de no máximo um ano
após a dispersão dessas sementes no solo e de CARMO, D.B. e SANTOS, M. A. Hospedabilidade de
“persistentes” aqueles cuja germinação excede este plantas infestantes aos
período. A função dos bancos transitórios é de promover a fitonematóidesmeloidogynejavanicae
manutenção de populações, após pouca produção de pratylenchusBrachyurus. XII SEMINARIO DE
sementes e o papel dos persistentes está na regeneração de INICIAÇÃO CIENTIFICA. Uberlândia, 2008.
populações, após a sua extinção de áreas em que estivesse
estabelecida a muitos anos. Há indicações de que a CARVALHO, P.C.F.; FAVORETTO, V. Impacto das
presença de bancos “persistentes” está associada à reservas de sementes no solo sobre a dinâmica
existência de sementes compactas, pequenas, lisas, que populacional das pastagens. Informativo Abrates,
possuem mecanismos preciosos de estimulação a v.5, n.1, p.87-108, 1995.
germinação (THOMPSON, 1987).
Ao contrário do banco “persistente”, as CHAVES, A. L. R. et al. Erigonbonariensis: hospedeira
espécies que fazem parte dos bancos transitórios não alternativa do lettucemosaic vírus no Brasil.
acumulam sementes no solo e são muito raras, não sendo Fitopatologia Brasileira, v. 28, n. 3, p. 307-311,
tão relevantes para a agricultura. 2003.
Segundo Carvalho & Favoretto (1995),
além do banco de sementes, o material vegetativo também CRUZ, D. L. S. Levantamento de plantas daninhas em
atua como reserva de manutenção de espécies, dentro de área rotacionada com as culturas da soja, milho e
uma comunidade, se constituindo em uma importante arroz irrigado no cerrado de Roraima. Nota
reserva de germoplasma. Porém as reservas mais Técnica. v. 3, n. 1, p. 58-63, 2009.
importantes são as de sementes, visto que a maioria das
estruturas vegetativas é destruída pelas práticas de cultivo. DUARTE, N. F.; SILVA, J. B.; SOUZA, I. F. Competição
Nestas situações, os bancos de sementes podem ser de plantas daninhas com a cultura do milho no
considerados a como a última instância de regeneração município de Ijaci, MG. Ciênc. agrotec., Lavras, n.
das comunidades vegetais, e a presença de sementes 5, p. 983-992, 2002.
viáveis no solo determina a direção da sucessão
(ROBERTS, 1981 apud FAVRETO E MEDEIROS, FAVRETO ,R.; MEDEIROS, R.B. Banco de sementes do
2006). solo em área agrícola sob diferentes sistemas de
manejo estabelecida sobre campo natural. Revista
CONSIDERAÇÕES FINAIS

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