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Sintomas e controle das principais doenças da mandioca em Santa Catarina

Article · July 2013

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5 authors, including:

Luiz A.M. Peruch Addolorata Colariccio


Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina - Epagri Instituto Biológico
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Enilto de Oliveira Neubert Erica Frazão Pereira De Lorenzi


Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina - Epagri Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina - Epagri
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INFORMATIVO TÉCNICO

Sintomas e controle das principais doenças da mandioca em Santa Catarina


Luiz Augusto Martins Peruch1, Addolorata Colariccio2, Enilto de Oliveira Neubert3,
Alexsander Luis Moreto4 e Erica Frazão Pereira5
Resumo − A produtividade da mandioca pode ser afetada por vários fatores bióticos e abióticos. Entre os fatores bióticos as
doenças certamente têm papel importante, e graves perdas já foram relatadas devido à ocorrência de bactérias, fungos e vírus
fitopatogênicos. Por esse motivo torna-se importante diagnosticar corretamente as doenças e recomendar as medidas de
controle mais adequadas. Este artigo descreve as principais doenças da mandioca em Santa Catarina e sua forma de controle.

Termos para indexação: Manihot esculenta, Xanthomonas, Colletotrichum, CsCMV.

Symptoms and control of the main diseases of cassava in Santa Catarina


Abstract − The productivity of cassava can be affected by various biotic and abiotic factors. Among the biotic factors, diseases
are certainly very important, and serious losses have been reported due to the occurrence of bacteria, fungi and pathogen
viruses. For this reason, it is important to correctly diagnose the diseases and recommend the most appropriate control
measures. This article describes the major diseases of cassava in Santa Catarina and their forms of control.

Index terms: Manihot esculenta, Xanthomonas, Colletotrichum, CsCMV

Introdução as podridões radiculares e as manchas Bacteriose


foliares também incidem na cultura em
A cultura da mandioca tem grande Santa Catarina, mas seu impacto na pro- A bacteriose, causada por Xan-
importância social e econômica para o dução é considerado secundário. Ape- thomonas axonopodis pv. manihotis
Estado de Santa Catarina. Em 2010, a sar da importância das doenças na man- (Xanthomonas campestris pv. maniho-
mandiocultura ocupava 29.962ha com dioca, não existem dados precisos de tis), pode ser considerada a principal
uma produção de 541.476 toneladas sua intensidade nas diferentes regiões doença da cultura no Brasil (Miura &
em terras catarinenses (IBGE, 2011). produtoras. Além disso, os profissionais Monteiro, 1997).
Existem atualmente em Santa Catarina têm dificuldade em sua diagnose. A bac- Os sintomas da bacteriose podem
cerca de 400 agroindústrias de farinha, teriose e a antracnose geralmente são ser descritos como um complexo de
35 polvilheiras e seis fecularias. O consideradas as mais frequentes no Bra- lesões que envolvem manchas foliares,
produtor considera a mandioca como sil (Massola & Bedendo, 2005), mas a murcha, exsudação de látex, necrose
uma cultura estratégica, pois lhe per- variação de seus sintomas pode causar do sistema vascular e morte descen-
mite colheita em diferentes meses, po- confusão na sua diagnose. As viroses, dente dos ramos (Massola & Bedendo,
dendo até ser deixada para ser colhida por sua vez, apresentam sintomas que 2005). Os sintomas iniciais nas folhas
no ano seguinte. manifestam-se na forma de pequenas
podem ser confundidos com problemas
Entretanto, apesar de sua importân- lesões encharcadas e poligonais (Figura
nutricionais e danos por insetos. Muito
cia econômica e social, a mandiocultura 1, A). Essas lesões evoluem para man-
embora os relatos de problemas com vi-
sofreu recentemente uma redução da chas irregulares que podem cobrir gran-
roses na mandioca ainda sejam esporá-
área plantada por problemas de mer- des extensões da folha, provocando seu
cado, manejo inadequado dos solos e dicos, existe a tendência de esse proble- secamento (Figura 1, B). A bactéria, ao
sua fertilidade, cultivares pouco produ- ma se agravar em razão da propagação colonizar sistemicamente a planta, agra-
tivos e com baixos teores de amido nas vegetativa da espécie. va os sintomas pela exsudação de látex
raízes, incidência de doenças e pragas, Considerando que a diagnose cor- nas hastes infectadas, murcha e morte
entre outros. Em relação ao último pon- reta é o primeiro passo para o controle descendente (Figura 2). Os sintomas sis-
to, as doenças certamente merecem eficiente das doenças, formulou-se este têmicos também podem ser verificados
destaque, especialmente a bacterio- trabalho com a descrição dos sintomas por cortes transversais ou longitudinais
se, a antracnose e o mosaico comum e a forma de controle das principais do- das hastes, que revelam necrose dos
da mandioca. Além dessas doenças, enças da mandioca em Santa Catarina. feixes vasculares. Em casos mais graves,

Recebido em 15/8/2012. Aceito para publicação em 22/3/2013.


1
Engenheiro-agrônomo, Dr., Epagri / Estação Experimental de Urussanga, Rod. SC-446, Km 16, s/n, 88840-000 Urussanga, SC, fone: (48) 3465-1209, e-mail:
lamperuch@epagri.sc.gov.br.
2
Bióloga, Dra., Instituto Biológico, Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252, 04014-002 São Paulo, fone: (11) 5087-1701, e-mail: colariccio@biologico.sp.gov.br.
3
Engenheiro-agrônomo, M.Sc., Epagri / Estação Experimental de Urussanga, e-mail: enilto@epagri.sc.gov.br.
4
Engenheiro-agrônomo. Dr., Epagri / Estação Experimental de Urussanga, e-mail: alexsandermoreto@epagri.sc.gov.br.
5
Engenheira-agrônoma., Dra., Epagri / Estação Experimental de Urussanga, e-mail: ericapereira@epagri.sc.gov.br.

52 Revista Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.26, n.2, p.52-54, jul. 2013


as raízes são afetadas, exibindo desco- pela doença ocorrem quando os sinto- climáticas mais favoráveis para desen-
lorações dos feixes vasculares e apodre- mas se manifestam em plantas jovens volvimento da antracnose da mandioca
cimento. A disseminação da bactéria a (menos de 4 meses), o que pode gerar (Fukuda, 1986).
curtas distâncias ocorre por meio dos reduções de 30% da produção (Fukuda,
respingos da água da chuva. A longa 1986). Virose do mosaico comum
distância, ela ocorre por propagação de Os cancros são os sintomas mais da mandioca
material doente, principalmente pelo típicos da antracnose na mandioca (Fi-
intercâmbio de material entre produ- gura 3). São lesões de formato irregular, O mosaico comum da mandioca é
tores. Quanto às condições climáticas cor marrom clara a escura e, às vezes, a doença virótica mais comum da cul-
mais propícias para o desenvolvimento profundas. No centro da lesão se ob- tura no Brasil. Também se encontra em
da doença citam-se períodos maiores servam pontos de coloração rósea que outros países sul-americanos (Costa
que 12 horas de umidade relativa en- correspondem aos corpos de frutifica- & Kitajima, 1972). O agente causal é o
tre 90% e 100% e temperaturas de 22 a ção do fungo (Miura & Monteiro, 1997). vírus do mosaico comum da mandioca
26°C (Miura & Monteiro, 1997; Massola Em decorrência das lesões nas hastes, Cassava common mosaic virus (CsCMV).
& Bedendo, 2005). dá-se a desfolha e morte descendente Em Santa Catarina, a doença foi identi-
da planta (Fukuda, 1986). Também são ficada no Sul do Estado em 2008 (Cola-
Antracnose observadas manchas foliares aquosas, riccio et al., 2009), mas ocorre em culti-
embora não muito frequentemente. vos de todo o território catarinense. A
A antracnose, causada pelo fungo A disseminação do fungo é favoreci- doença, geralmente, não causa grandes
Colletotrichum gloeosporioides f.sp. da por períodos chuvosos, mas manivas prejuízos na cultura (Miura & Monteiro,
manihotis, também é considerada uma contaminadas também são importan- 1997), muito embora existam relatos de
doença grave da mandioca em Santa Ca- tes. Alta umidade relativa e tempera- perdas de até 60% (Schmidt & Pereira,
tarina. As maiores perdas ocasionadas turas entre 18 e 23°C são as condições 1968).

(A)

Figura 2. Planta de mandioca com sintomas avançados


da bacteriose causada por Xanthomonas axonopodis pv.
manihotis: desfolha, murcha e morte de parte das hastes

(B)

Figura 1. Lesões de bacteriose na folha da mandioca (frente e verso):


(A) as lesões inicialmente são aquosas, mas evoluem para (B) cor Figura 3. Rama de mandioca com sintomas de antracnose
marrom, formato anguloso a irregular e bordos indefinidos causada por Colletotrichum gloeosporioides f.sp. manihotis

Revista Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.26, n.2, p.52-54, jul. 2013 53


Os sintomas causados pela doença manivas para pró-
são mosaico nas folhas, bolhas e re- ximo cultivo, muito
dução da área foliar. O mosaico pode embora não existam
ser caracterizado como áreas de for- produtos registrados
ma verde-clara entremeada por áreas junto aos órgãos fis-
verde-escuras (Figura 4). Os sintomas calizadores no Brasil.
do mosaico comum são mais frequen- Fungicidas à base de
tes em brotações novas de plantas com cobre e benzimida-
crescimento vigoroso e períodos mais zóis são alguns dos
frios (Ciat, 1992). exemplos de produ-
A propagação da doença ocorre pelo tos recomendados
plantio de manivas doentes e por fer- no tratamento de
ramentas de corte contaminadas. Não manivas para con-
existe inseto-vetor que dissemine o ví- trole da antracnose
rus (Massola & Bedendo, 2005). e de outras doenças
(Fukuda, 2006).
Controle das doenças 4. Destruição de
plantas doentes: A Figura 4. Folhas de mandioca com sintomas de mosaico causado
O controle das doenças da mandioca eliminação de plan- pelo vírus do mosaico comum da mandioca
baseia-se principalmente no uso de cul- tas com sintomas avançados de bacte- MATTOS, P.L.P. et al. (Eds.). Aspectos
tivares resistentes (Massola & Bedendo, riose, antracnose e mosaico comum é Socioeconômicos e agronômicos da
2005; Fukuda, 2006), mas outras práti- uma medida importante para a redução mandioca. Cruz das Almas: Embra-
cas devem ser adotadas para reduzir as da fonte de inóculo nas áreas cultivadas pa-CNPMF, 2006. p.672-697.
perdas. As principais práticas recomen- (Massola & Bedendo, 2005). Segundo
dadas são as seguintes: Fukuda (1986), a destruição de focos da 6. FUKUDA, C.; OTSUBO, C. Cultivo da
1. Plantio de cultivares resistentes: doença só é viável em incidências abai- mandioca no centro sul do Brasil.
Existem diversos cultivares resistentes xo de 10%, pois acima desse valor a cul- Embrapa: Brasília, 2003 (Embrapa.
à bacteriose disponíveis aos agricul- tura pode ser considerada perdida. No Sistemas de produção, 7).
tores, mas poucas informações sobre caso da virose, a prática torna-se ainda 7. IBGE. Levantamento sistemático da
resistência à antracnose. Para mosaico mais importante em razão da dificulda- produção agrícola. IBGE: Brasília,
comum não existem recomendações de de de identificar focos da doença depois 2011.
cultivares resistentes. Como mandiocas da queda das folhas, o que ocasiona a
resistentes à bacteriose podem ser ci- propagação de plantas doentes. 8. MASSOLA, N.S.; BEDENDO, I.P.
tadas os cultivares SCS252 Jaguaruna, Doenças da mandioca. In: KIMATI,
Mandim Branca e SCS253 Sangão, en- Literatura citada H.; AMORIM, L.; REZENDE, J.A.M.
quanto os aipins resistentes são os cul- et al. (Eds.). Manual de fitopatolo-
tivares Mantiqueira, Pioneira e IAC 576 1. CIAT. Cassava program. Cali: Ciat, gia: doenças das plantas cultivadas.
(Fukuda & Otsubo, 2003). Para resistên- 1992. 292p. São Paulo: Agronômica Ceres, 2005.
cia à antracnose pode-se citar o cultivar p.449-456.
2. COLARICCIO, A.; PERUCH, L.A.M.;
de mandioca SCS253 Sangão e o aipim PEREIRA, L.S. et al. Primeiro relato 9. MEISNERR FILHO, P.E.; VELAME,
cultivar Crioulo de Videira. No caso da do mosaico comum da mandioca em K.V.C. Viroses. In: SOUZA, L.S.; FA-
virose, não existem dados de pesquisa Santa Catarina. In: CONGRESSO BRA- RIAS, A.R.N.; MATTOS, P.L.P. et al.
sobre resistência genética em Santa Ca- SILEIRO DE MANDIOCA, 13., 2009, (Eds.). Aspectos socioeconômicos
tarina. Botucatu, SP. Anais... Botucatu, SP: e agronômicos da mandioca. Cruz
2. Manivas sadias: A seleção de ma- Sociedade Brasileira de Mandioca, das Almas: Embrapa-CNPMF, 2006.
nivas sadias é uma prática importante 2008. CD-ROOM. p.698-707.
para evitar a propagação de doenças
para futuros plantios (Massola & Be- 3. COSTA, C.; KITAJIMA, E.W. Cassava 10. MIURA, L.; MONTEIRO, A.J.A. Man-
common mosaic virus. United King- dioca (Manihot esculenta): controle
dendo, 2005; Fukuda, 2006). Manivas
dom: Association of applied biolo- de doenças. In: VALE, F.X.R.; ZAM-
oriundas de plantas doentes devem ser
gists, 1972. 4p. (CMI/ABB. Descrip- BOLIM, L. Controle de doenças de
descartadas, pois certamente propaga-
tion of plant viruses, 90). plantas. Viçosa: UFV, 1997. p.791-
rão a doença no novo plantio. É inte-
820.
ressante o produtor selecionar áreas de 4. FUKUDA, C. Doenças da mandioca.
cultivo com plantas sadias para retirar In: CURSO INTENSIVO NACIONAL 11. SCHMIDT, N.C.; PEREIRA, A.S. Com-
material de propagação. DE MANDIOCA, 6., 1986, Cruz das portamento do cultivar Mantiqueira
3. Controle químico: Não se reco- Almas. Cruz das Almas: Embrapa- e de outros de mandioca em solos
menda controle químico em condições CNPMF, 1986. 27p. da série pinhão no vale do Paraíba
de campo para as doenças da mandio- no Estado de São Paulo. Bragantia,
ca e do aipim. A aplicação de fungicidas 5. FUKUDA, C. Doenças e seu contro- São Paulo, v.27, n.22, p.249-255,
somente é viável para tratamento das le. In: SOUZA, L.S.; FARIAS, A.R.N.; 1968.

54 Revista Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.26, n.2, p.52-54, jul. 2013


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