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Universidade Federal do Ceará

Campus Cariri
3o Encontro Universitário da UFC no Cariri
Juazeiro do Norte-CE, 26 a 28 de Outubro de 2011

Aspectos Fitopatológicos da Cultura da Mamoneira na


Região do Cariri.
Maria Lainara Lima dos Santos1, Joaquim Torres Filho2
1
Bolsista UFC/Petrobrás Universidade Federal do Ceará, Crato, Ceará, Brasil
2
Professor Adjunto II Tutor PET Agronomia Universidade Federal do Ceará, Crato,
Ceará, Brasil
lainara_lima17@yahoo.com.br, joaquim.torres@ufc.br

Resumo- Mesmo sendo uma planta rústica, com grande capacidade de adaptação a
todas as regiões do Brasil, a mamoneira, ao contrário do que se acredita, é bastante
afetada por vários microrganismos, tais como fungos, bactérias e vírus, que podem
causar prejuízos econômicos caso as condições climáticas sejam favoráveis ao seu
desenvolvimento. A mamoneira é suscetível a várias doenças, como o mofo-cinzento
(Botritis ricini), mancha-foliar-bacteriana (Xanthomonas axonopodis pv. ricini),
mancha-de-alternária (Alternaria ricini) e mancha-de-cercospora (Cercospora
ricinella). O objetivo do presente artigo foi realizar um levantamento preliminar das
doenças que incidem na cultura da mamoneira na região do Cariri, como parte
integrante do projeto Biodiesel.
Introdução
A mamona (Ricinus communis L.), pertence à família Euphorbiaceae, que engloba vasto
número de tipos de plantas nativas da região tropical. É uma planta de hábito arbustivo,
com diversas colorações de caule, folhas e racemos (cachos), podendo ou não possuir
cera no caule e pecíolo. Os frutos, em geral, possuem espinhos e, em alguns casos, são
inermes. As sementes apresentam-se com diferentes tamanhos, formatos e grande
variabilidade de coloração. O óleo de mamona ou de rícino, extraído pela prensagem
das sementes, contém 90% de ácido graxo ricinoléico, o qual confere ao óleo suas
características singulares, possibilitando ampla gama de utilização industrial, tornando a
cultura da mamoneira importante potencial econômico e estratégico ao País. A torta de
mamona é utilizada como adubo orgânico possuindo, também, efeito nematicida (SAVY
FILHO, 2005).
A cultura da mamoneira é de grande importância para a economia do semiárido do
Nordeste por ser uma planta rústica, resistente à seca e com alta capacidade de
adaptação às diferentes condições de clima e solo, ser fixadora de mão-de-obra bem
como geradora de emprego e de matéria prima, características estas que a possibilita ser
comercialmente cultivada em diferentes regiões do Brasil. Atualmente, devido à
conhecida versatilidade do óleo extraído de suas sementes e de programas de incentivos
à cultura como o "Biodiesel", tem-se ampliado as expectativas do aumento da demanda
do óleo de mamona no mercado mundial (MACIEL, 2006).
Apesar de suas excelentes características, a produtividade média da mamona em bagas
no Brasil na última década foi muito baixa, cerca de 440 kg/ha, segundo IBGE, 2006. A
baixa produtividade pode ser explicada devido ao baixo nível tecnológico empregado
pela maioria dos produtores de mamona, pela falta de cultivares selecionados para alta
produtividade de grãos e por ser bastante afetada por vários microrganismos como
fungos, bactérias e vírus que podem causar prejuízos de grande expressão econômica
em lavouras de produção de mamona em bagas (KIIHL,2006).
A expansão agrícola e o consequente adensamento de populações de plantas concorrem
para uma maior disseminação de agentes etiológicos das doenças, portanto, com base
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nisso tudo, conclui-se que o conhecimento sobre as doenças, a etiologia, a disseminação


e os métodos de controle são de fundamental importância para o bom desenvolvimento
da ricinocultura.
Entre as principais doenças de ocorrência na cultura estão as fúngicas, que são o Mofo
Cinzento, doença constatada pela primeira vez no Brasil em 1932, no Estado de São
Paulo. À medida que se foi intensificando a exploração da mamoneira a doença foi
crescendo em importância passando a causar sérios prejuízos. Atualmente é
considerada, em algumas regiões, uma das principais doenças desta cultura,
ocasionando perdas significativas na produção (Fornazieri Junior, 1986). A doença é
causada pelo fungo Botryotinia ricini (Goldf.)Wet, pertencente à classe dos
Ascomycetes, ordem Helotiales e família Sclerotiniaceae, correspondendo em sua forma
imperfeita à Botritis ricini Godfrey. A mamoneira é considerada a única hospedeira
deste patógeno (Kimati, 1980).
Este fungo afeta a planta em qualquer estádio de seu desenvolvimento, causando, no
início, pequenas manchas de coloração azulada, sobre as quais surge uma exsudação
amarelada. Pode ocorrer abundante desenvolvimento de hifas do fungo sobre os tecidos
da planta, se as condições climáticas forem favoráveis, com posterior frutificação do
patógeno. À medida que o cacho afetado envelhece, a teia micelial do fungo torna-se
mais escura e as cápsulas ficam frouxas e pendentes. O fungo afeta o teor de óleo e a
qualidade das sementes, tornando-as chochas (Kimati, 1980).
As condições climáticas mais favoráveis para o desenvolvimento da doença são
temperatura em torno de 25 °C, e alta umidade relativa. Sua disseminação é realizada
predominantemente pelo vento, por insetos e pela semente (Kimati, 1980).
A mancha-de-cercospora é causada pelo fungo Cercospora ricinella, cujos sintomas na
planta de mamoneira são caracterizados por manchas foliares de formato arredondado,
com o centro claro e bordas de cor castanha. A doença é favorecida por condições de
alta umidade relativa. Sobre a área de tecido foliar necrosado, normalmente são
produzidos esporos do fungo, os quais são dispersos pela água da chuva, vento e
insetos. O fungo também pode ser disperso por meio de sementes (ARAÚJO et al
2006).
A mancha-de-alternária, causada pelo fungo Alternaria ricini, tem ocorrido de forma
generalizada nas regiões produtoras de mamona no Brasil. Os sintomas da mancha-de-
alternária nas folhas são lesões foliares de coloração parda, de formato irregular,
podendo formar anéis concêntricos que podem coalescer com a evolução da doença e,
em casos mais severos, causar a desfolha das plantas; os frutos afetados tornam-se
marrom-escuro e podem murchar, havendo necrose do pedicelo e má formação da
semente, podendo também causar tombamento de plântulas. A doença é mais severa em
condições de temperatura e umidade elevadas, em que ocorre intensa esporulação do
patógeno sobre os tecidos do hospedeiro. O agente causal da mancha-de-alternária pode
ser disperso no campo de cultivo por meio do vento, da chuva e de sementes
contaminadas (ARAÚJO et al 2006).
Já as doenças causadas por bactérias são menos incidentes, havendo destaque para
Mancha foliar bacteriana cujo agente etiológico desta doença é a bactéria Xanthomonas
campestris pv. ricini, cujos sintomas na planta de mamoneira são caracterizados por
pequenas manchas nas folhas. Inicialmente apresenta aspecto aquoso e coloração verde-
escura a castanha- escura; as lesões foliares podem coalescer, causando necrose em
extensas áreas da folha, resultando no desfolhamento prematuro da planta.
Temperaturas e umidade relativa elevadas são condições favoráveis ao desenvolvimento
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da doença. A dispersão do patógeno acontece principalmente pela água, vento e


sementes contaminadas (ARAÚJO, et al 2006).
O objetivo do presente artigo foi realizar um levantamento preliminar das doenças que
incidem na cultura da mamoneira na região do Cariri, como parte integrante do projeto
Biodiesel.
Materiais e métodos
O presente trabalho foi realizado através de visitas previamente agendadas com técnicos
do Instituto Agropolos em função das áreas plantadas através do programa Biodiesel
Petrobrás em parceria com o Governo do Estado em diversos municípios da região do
Cariri, entre eles estão: Barbalha, Missão Velha, Jardim, Campos Sales, Salitre, Araripe,
e Mauriti.
As visitas foram realizadas nas propriedades que cultivavam a mamoneira onde era
realizada uma inspeção na área, com levantamento prévio da ocorrência de sintomas de
doenças e seu respectivo grau de incidência e intensidade. Percorria-se a área cultivada
em zigue-zague avaliando-se a ocorrência ou não de fitomoléstias, que uma vez
identificadas fazia-se a coleta dos materiais vegetais infectados e em seguida o registro
do que havia sido encontrado através de fotografias.
Resultados e discussões
As visitas a campo nos municípios do Cariri mostraram que a principal doença da
cultura, mofo-cinzento ocorreu apenas em uma propriedade do município de Salitre,
porém a mesma já se encontrava controlada, levando em consideração que o produtor
havia efetuado os métodos de controle necessários, sob orientação do técnico do
Instituto Agropolos, para evitar a disseminação do patógeno, como o corte de cachos
contaminados, queima e enterrio.
No que diz respeito às doenças foliares ocasionadas por fungos, foram detectadas
aquelas provocadas por A. ricini e C. ricinella, as quais foram diagnosticadas em todas
as propriedades dos municípios visitados, porém com baixo grau de infecção e
severidade, de tal maneira que esses danos não foram suficientes para causar perdas
econômicas na produtividade da cultura.
Conclusões
Tendo por base o presente trabalho, conclui-se que as doenças diagnosticadas na
mamoneira na região do Cariri não apresentam intensidade e severidade que venha
ocasionar perdas significativas a cultura, isso devido às condições climáticas não
favoráveis ao desenvolvimento das doenças e também por a cultura ainda ser pouco
explorada na região, bem como a densidade de plantio, espaçamento e ao
distanciamento das diversas áreas de cultivo, fatores estes que contribuem para o bom
estado fitossanitário encontrado por ocasião das inspeções realizadas.
É importante que sejam fortalecidos os programas de pesquisa e desenvolvimento
científico, de ensino e assistência técnica, com maior interação pesquisa-ensino-
extensão, maior empenho governamental e da iniciativa privada no estímulo à
diversificação agrícola, viabilizando o sistema de produção.
Agradecimentos
Agradeço aos coordenadores regionais do Instituto Agropolos pelo auxilio e
acompanhamento nas visitas a campo e a Petrobras concedente da bolsa a mim
conferida.
Referências bibliográficas
Araújo E. A. et. al. Sistema de produção: cultivo da mamona 2a. edição PB.
EMBRAPA ALGODÃO Disponível em: <
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Juazeiro do Norte-CE, 26 a 28 de Outubro de 2011

http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Mamona/CultivodaMamona
_2ed/autores.html > Acesso em: agosto 2011
Filho S. A. Cultura da mamoneira. Instituto Agronômico – IAC 2005. Disponível
em:< http://www.iac.sp.gov.br/Tecnologias/Mamona/Mamona.htm > Acesso em: Agosto
2011
FORNAZIERI JUNIOR, A. Pragas e doenças: um problema pouco grave. In: Mamona:
uma rica fonte de óleo e de divisas. São Paulo: Ícone, 1986. p. 35-36.
FREIRE, R. M. M.; SOUSA, R. de L.; SALDANHA, L.; MILANI, M. Avaliação da
qualidade do óleo de mamona de diferentes genótipos. IN: II Congresso Brasileiro de
Mamona. Aracaju-SE. CD ROM, 2006.
KIMATI, H. Doenças da mamoneira. In: GALLI, F. Manual de Fitopatologia. 2ed.
São Paulo: Agronômica Ceres, 1980. p. 347-351. v. 2.
Maciel C. D. G. Manejo na cultura da mamona em Sistema de Semeadura Direta.
Escola Superior de Agronomia de Paraguaçu Paulista – SP 2005. Disponível em:
<http://www.funge.com.br/upload_trabalhos/10_Manejo_na_cultura_da_mamona_em_
Sistema_de_Semeadura_Direta.pdf> Acesso em: Agosto 2011

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