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Profª Mª.

Patrícia Chaves
F I TO PATO LO G I A A P L I CA DA patricia.chaves@anhanguera.com
Unidade 2. FITOPATOLOGIA APLICADA ÀS CULTURAS ANUAIS
Seção 1. Doenças da soja e algodoeiro
Cultura do Algodão

O algodoeiro (Gossypium hirsutum) é uma das culturas anuais mais importantes


do Brasil devido ao seu valor econômico e social.

Apenas cinco países são responsáveis por cerca de 70% da produção mundial,
segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Por
ordem de volume de produção, Índia, China, Estados Unidos, Brasil e Paquistão são
os líderes globais dessa cultura.

A cultura é produzida principalmente nos cerrados, mais especificamente nos


estados de Mato Grosso e Bahia, nessas regiões predominam condições que
propiciam elevada qualidade e produtividade de fibra, mas que ao mesmo
tempo são favoráveis à ocorrência de doenças.
Cultura do Algodão
Já foram relatadas no Brasil cerca de 40 agentes causadores de doenças na cultura do
algodoeiro, dentre eles, os mais importantes, devido a agressividade, histórico de
ocorrência, distribuição e dificuldade de controle, são:

• mancha de Ramularia (Ramularia areola),


• nematoides (Meloidogyne incognita, Rotylenchulus reniformis, Pratylenchus
brachyurus),
• mosaico das nervuras (Cotton leafroll dwarf virus),
• murcha de Fusarium (Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum),
• mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum),
• ramulose (Glomerella gossypii) e
• mancha angular (Xanthomonas citri subsp. malvacearum).
MANCHA DE RAMULARIA

Sobre a doença:
Também conhecida como míldio, míldio areolado, falso míldio ou oídio. A doença é
causada pelo fungo Ramularia aréola.

Até o ano de 1990, era considerada doença secundária na cultura do algodoeiro no


Brasil. No entanto, devido a fatores ambientais favoráveis presentes nas regiões de
cultivo, alta capacidade de reprodução e disseminação do patógeno, atualmente é
considerada a principal doença do algodoeiro.
MANCHA DE RAMULARIA

Sintomas:
Os sintomas iniciais da doença podem ser
observados nas folhas mais velhas, geralmente
na face inferior, podendo também ocorrer na
face superior, sendo chamadas de “manchas
azuladas”. Com o avanço da doença, as
manchas tornam-se angulosas (1 a 4 mm), de
cor branca a amarelada e apresentam aspecto
pulverulento. Já em casos severos, as manchas
se distribuem por todo o limbo foliar,
provocando queda das folhas.
MANCHA DE RAMULARIA

Disseminação:
Os esporos de Ramularia areola são disseminados pela chuva, vento e circulação de
implementos agrícolas nas lavouras.

Sobrevivência:
A sobrevivência do fungo pode se dar em plantas de algodoeiro voluntárias no solo ou
em restos de cultura.

Ambiente Favorável:
As condições favoráveis à ocorrência da doença são alta umidade e sombreamento.
MANCHA DE RAMULARIA

Métodos de controle:
O método de controle mais recomendado para a mancha de ramularia é a utilização
de variedades resistentes.

Caso as variedades de algodão utilizadas apresentem algum nível de suscetibilidade,


é necessário utilizar também o controle químico (principalmente dos grupos dos
triazóis organoestânico e estrobilurinas) associado ao constante monitoramento da
doença no campo.

A utilização de práticas culturais também é importante, como diminuir a umidade e


sombreamento entre as plantas por meio da aplicação correta de reguladores de
crescimento.

Controle genético + controle químico + controle cultural


Triazol

Estrobilurina
MURCHA DE FUSARIUM OU FUSARIOSE

Sobre a doença:
Ocorre principalmente no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais.
A doença é causada pelo fungo Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum, o qual
pode afetar hospedeiros alternativos (secundários).
MURCHA DE FUSARIUM OU FUSARIOSE

Sintomas:
Os sintomas causados pelo fungo iniciam-se
com a perda de turgescência, amarelecimento,
crestamento do limbo e queda das folhas
basais. Ocorre também murcha das folhas
devido a obstrução dos vasos ocasionada pela
deposição de esporos, micélio, etc.

As plantas afetadas são menores e, ao cortar o


caule transversalmente, é possível observar um
escurecimento dos feixes vasculares.
MURCHA DE FUSARIUM OU FUSARIOSE

Disseminação:
A disseminação do patógeno ocorre por meio de sementes contaminadas, partículas
de solo, água e vento. O início da infecção se dá pelas raízes, sendo facilitada pela
ocorrência de nematoides, especialmente Meloidogyne incógnita.

Sobrevivência:
O fungo produz clamidósporos, que são estruturas de resistência, fazendo com que o
patógeno permaneça na área de cultivo por longo período.

Ambiente Favorável:
Ocorrência de nematoides, solos arenosos, de pH baixo e de fertilidade
desequilibrada e altas temperaturas e umidade.
MURCHA DE FUSARIUM OU FUSARIOSE

Métodos de controle:
As principais medidas de controle adotadas são utilização de variedades resistentes,
rotação de culturas com espécies não hospedeiras, utilização de sementes sadias e
assepsia de implementos agrícolas.

Controle genético + controle cultural = PREVENTIVO


MOFO BRANCO

Sobre a doença / Disseminação / Ambiente favorável:


Causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, o qual é disseminado principalmente
através das sementes. Este patógeno é favorecido por temperaturas mais baixas e
alta umidade relativa.

A incidência dessa doença é maior em áreas irrigadas, após plantio de soja ou


feijão. No entanto, pode ocorrer também em áreas de sequeiro, em regiões com
temperaturas mais amenas e alta umidade relativa. O mofo branco ocorre
principalmente nas áreas produtoras nos estados de Goiás e do Mato Grosso.
MOFO BRANCO

Sintomas:
O fungo pode infectar folhas, hastes e maçãs.
Os sintomas geralmente se concentram mais na
parte de baixo das plantas. Inicialmente são
observadas lesões aquosas, contendo micélio
fúngico. É possível observar uma coloração
branca, de aspecto “cotonoso” nas hastes,
tornando-as quebradiças. Os tecidos atacados
pelo fungo apodrecem e depois de secos,
produzem os escleródios, que são as estruturas
de sobrevivência do patógeno no solo.
MOFO BRANCO

Métodos de controle:
As principais medidas de controle adotadas para a doença são a utilização de
sementes sadias, utilização de variedades de algodão com arquitetura mais ereta
para não haver a formação de microclima úmido na parte baixeira das plantas,
rotação de culturas, aplicação de fungicidas (como procimidone, fluazinan) e o
controle biológico, principalmente utilizando espécies do gênero Trichoderma. Ainda
não há variedades de algodoeiro resistentes ao mofo branco.

Controle genético + controle químico + controle cultural + controle biológico


RAMULOSE

Sobre a doença:
Constatada em 1936 no município de Rancheira – SP e hoje em dia está
amplamente disseminada em todas as regiões produtoras de algodoeiro do Brasil.
O agente etiológico da doença é o fungo Colletotrichum gossypii var.
cephalosporioides, uma variedade fisiológica do agente causal da Antracnose
(Colletotrichum gossypi).
RAMULOSE

Disseminação e sobrevivência:
O fungo é disseminado principalmente através das sementes, as quais são a principal
forma de sobrevivência do patógeno, juntamente com o solo contaminado.

Ambiente Favorável:
Boa fertilidade do solo, altas temperaturas e alta pluviosidade são fatores favoráveis ao
desenvolvimento da doença.
RAMULOSE

Sintomas:
Os sintomas podem ser observados primeiramente
nas folhas novas, caracterizando-se por manchas
necróticas mais ou menos circulares quando
situadas no limbo entre as nervuras e alongadas
quando no sentido longitudinal. O tecido afetado
tende a cair, formando perfurações nas folhas. As
lesões são reconhecidas como “manchas
estreladas”. Também ocorrem lesões nas nervuras,
acarretando o desenvolvimento desigual dos
tecidos foliares, provocando o enrugamento do
limbo, fazendo com que as folhas fiquem
retorcidas.
RAMULOSE

Sintomas:
O fungo também afeta o meristema apical,
provocando necrose e desenvolvimento de
brotos laterais (superbrotamento) e os
internódios apresentam-se intumescidos,
fazendo com que as plantas apresentem
porte reduzido.
RAMULOSE

Métodos de controle:
A medida ideal de controle da Ramulose é a utilização de variedades resistentes.
Outras medidas complementares são a rotação de culturas, destruição de soqueiras
de algodoeiro e aplicações de fungicidas.

Controle genético + controle químico + controle cultural


DOENÇAS DO ALGODOEIRO

Outras doenças fúngicas importantes para a cultura do algodoeiro são:


• Murcha de Verticillium (Verticillium dahliae);
• “Damping-off” (Pellicularia filamentosa; Glomerella gossypii);
• Murcha de Myrothecium (Myrothecium roridum);
• Corynespora ou Mancha alvo do algodoeiro (Corynespora cassiicola);
• Mancha de Alternaria (Alternaria macrospora) e
• Ferrugem (Phakopsora gossypii)
DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS - ALGODÃO

Mosaico das Nervuras


Causado pelo vírus Cotton leafroll dwarf virus (CLRDV), também é
conhecido por “doença azul”.

O vírus é transmitido pelo pulgão do algodoeiro (Aphis gossypii).

Os sintomas provocados pelo vírus são o encurtamento dos


entrenós, ocasionando a redução do porte das plantas e nas
folhas são mosaico das nervuras, melhor visualizado pela
observação das folhas contra a luz, e o restante da folha aparenta
uma coloração verde azulada ou mesmo arroxeada, além de
curvatura dos bordos e rugosidade.

As principais medidas de controle recomendadas são o controle


do inseto-vetor e a utilização de variedades resistentes.
DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS - ALGODÃO

Vermelhão
Causado pelo vírus Cotton anthocyanosis vírus (CAV), foi a virose
mais importante do algodoeiro, ocorrendo em todas as regiões
produtoras.

No entanto, com a utilização de novas variedades resistentes


e/ou controle mais rigoroso do pulgão vetor (Aphis gossypii), a
doença passou a ter importância secundária, com incidência
reduzida.

A sua sobrevivência pode ocorrer em plantas hospedeiras


nativas, como quiabeiro (Abelmoschus esculentus), Kenaf
(Hibiscus cannabinus), Pavonia sp., Sida micranta e S. rhombifolia.
DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS - ALGODÃO

Vermelhão
Os sintomas do vermelhão somente são detectados quando as
plantas apresentam pelo menos 4 a 5 folhas definitivas, e
consistem em áreas avermelhadas ou arroxeadas, geralmente
delimitadas pelas nervuras, nas folhas baixeiras e região mediana
da planta. Porém, em estágios mais avançados, os sintomas
também podem ser observados em folhas superiores. Em
algumas folhas, o avermelhamento pode ocorrer por todo o
limbo, exceto ao longo das nervuras principais e em faixas
paralelas a estas.

As principais medidas de controle recomendadas são controle


do pulgão vetor, eliminação de plantas hospedeiras nativas e
utilização de variedades resistentes.
No Brasil, outras doenças causadas por vírus que podem
ocorrer no algodoeiro são:
• Mosaico comum (Abutilon mosaic virus – AbMV)
• Mosaico tardio (Tobacco streak virus – TSV)
DOENÇAS CAUSADAS POR NEMATOIDES - ALGODÃO

Os principais nematoides que causam doenças em algodoeiro são Meloidogyne incognita


(nematoide das galhas), considerado o mais agressivo e destrutivo para a cultura, Rotylenchulus
reniformis (nematoide reniforme), considerado o mais persistente, apresentando mecanismos
eficientes de sobrevivência no campo e Pratylenchus brachyurus (nematoide das lesões
radiculares), o qual é o mais amplamente distribuído, frequente em praticamente todas as
regiões de cultivo.

Os nematoides das galhas provocam principalmente ferimentos que servem de “porta de


entrada” para o Fusarium, predispondo a planta para a infecção desse fungo. Os nematoides
das galhas provocam o intumescimento do tecido vegetal, devido a ocorrência do aumento do
número e tamanho das células do tecido atacado. Esse intumescimento é chamado de “galhas”.

➔Demais sintomas: parte aérea. Como identificar??


DOENÇAS CAUSADAS POR NEMATOIDES - ALGODÃO

➢ Meloidogyne incognita é favorecido por altas temperaturas e solos arenosos. Dentre as


quatro raças descritas para esta espécie, apenas as raças 3 e 4 são patogênicas ao
algodoeiro, sendo a raça 3 a mais comum no Brasil.

➢ Rotylenchulus reniformis é uma espécie semi-endoparasita, tem a capacidade de entrar em


anidrobiose na ausência do hospedeiro. Apesar de ser encontrado em diferentes tipos de
solo, são mais comumente encontrados em solos de textura fina e argilosos.

➢ Pratylenchus brachyurus é uma espécie partenogênica e apresenta hábito parasita migrador.


Esse nematoide tem preferência por solos arenosos. Apesar de P. brachyurus apresentar
menor importância para o algodoeiro quando comparado às outras duas espécies de
nematoides, é a espécie mais frequente na cultura.

estado de suspensão ou redução da atividade metabólica, decorrente


da ausência ou diminuição de água ambiente, e que pode ocorrer em
organismos diversos, como bactérias, fungos, plantas e animais.
DOENÇAS CAUSADAS POR NEMATOIDES - ALGODÃO

Com relação ao controle desses fitonematoides, o ideal é impedir a entrada deles em áreas
onde ainda não ocorrem. Para isso, é necessário restringir a circulação de implementos pela
lavoura ou fazer a assepsia deles.

O controle mais eficiente é pela utilização de variedades resistentes ou tolerantes. Como


medida de controle cultural pode se realizar a rotação de cultura, utilizando-se espécies não
hospedeiras dos nematoides.

O tratamento químico pode ser usado para o tratamento de sementes, sendo que os princípios
ativos principalmente empregados são: Abamectin ou Thiodicarb, ou aplicação de Carbofuran
ou Cadusafos no sulco de plantio.

O controle biológico para a contenção de fitonematoides vem ganhando espaço, e alguns


organismos que tem se destacado são: Pasteuria penetrans, Trichoderma sp, Pochonia
chlamydosporia, Bacillus sp., Paecilomyces lilacinus.
DOENÇAS CAUSADAS POR BACTÉRIAS - ALGODÃO

Mancha Angular
Ocorre de maneira generalizada em todas as regiões produtoras de
algodão, apresentando alto potencial destrutivo relatado no Brasil e em
outros países produtores.

A doença é causada pela bactéria Xanthomonas citri subsp. malvacearum.

A disseminação na bactéria dentro das lavouras ocorre por meio da chuva


associada a ventos.

O patógeno é favorecido por condições de alta umidade e temperaturas


mais baixas durante a noite (20 °C) e mais quentes durante o dia (36 °C).
O encharcamento e a presença de ferimentos no tecido da planta
hospedeira facilita a penetração da bactéria. X. citri subsp. Malvacearum,
sendo altamente resistente à dissecação permitindo sua sobrevivência por
vários anos nas sementes, folhas, capulhos e caule.
DOENÇAS CAUSADAS POR BACTÉRIAS - ALGODÃO

Mancha Angular
Nas folhas, é possível observar lesões angulosas, inicialmente de
cor verde e aspecto oleoso que posteriormente adquirem a cor
parda e aspecto necrosado.

Com o avanço da doença, as lesões coalescem e ocasionam a


rasgadura da folha. Pode haver também a ocorrência de brotos
apicais devido à morte da célula apical do ponteiro causada pela
bactéria.

Nas maçãs, inicialmente observa-se manchas arredondadas ou


irregulares de cor verde e aspecto oleoso que depois tornam-se
deprimidas no centro e de cor parda.

Nesta lesão pode ser encontrado o fungo Colletotrichum gossypii,


que juntamente com a bactéria, causa a podridão das maçãs.
DOENÇAS CAUSADAS POR BACTÉRIAS - ALGODÃO

Mancha Angular
O método ideal de controle da mancha angular é a utilização de variedades resistentes.

No entanto, outras medidas podem ser adotadas, como pulverização com fungicidas cúpricos
e/ou antibióticos, deslintamento de sementes com ácido sulfúrico e rotação de culturas.

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