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Foto: Jadir Borges Pinheiro
Técnica
Circular
Brasília, DF
Janeiro, 2011
Autor
Jadir Borges Pinheiro
Engº. Agr., DSc.
Embrapa Hortaliças
Brasília, DF
jadir@cnph.embrapa.br
Introdução
patógenos, como os fitonematoides, tem causado Heterodera schachtii que causa danos severos à
problemas onde esta quenopodiácea é cultivada. cultura, principalmente em áreas com cultivos de
beterraba açucareira. Sua erradicação de áreas
Pelo menos 29 espécies de nematoides pertencentes
infestadas é difícil, pois têm a capacidade de
a 16 gêneros do filo Nematoda são parasitas na permanecer viáveis no solo, na forma de cistos, por
cultura da beterraba açucareira e podem afetar a longos períodos. Além disso, possuem elevado poder
produção de beterraba para mesa. As perdas na de reprodução na presença de plantas hospedeiras.
produção atribuída aos nematoides podem chegar Outros nematoides de grande importância para
a 100%, dependendo do nível populacional da a cultura e que são ausentes no País são os
espécie presente, da suscetibilidade da cultivar e falsos nematoides-das-galhas, N. aberrans e N.
das condições ambientais do local, como umidade, dorsalis. Além disto, existem espécies dos gêneros
temperatura e tipo de solo. Trichodorus e Longidorus que transmitem vírus a
plantas de beterraba como Tobacco rattle virus
No Brasil, os danos maiores são provocados pelos
e Tomato black ring virus respectivamente. As
nematoide-das-galhas, Meloidogyne spp., em especial
espécies Trichodorus primitivus, T. viruliferus, T.
M. incognita e M. javanica, que são as espécies
cylindricus, Paratrichodorus anemones, P. teres e P.
com maior distribuição nas regiões produtoras. A
pachydermus, Longidorus attenuatus, L. elongatus,
alta incidência destas duas espécies é atribuída à
L. caespiticola, L. leptocephalus, Ditylenchus dipsaci
capacidade de reprodução em regiões com ampla
e Ditylenchus destructor ocorrem também na cultura.
variabilidade de temperatura do solo, de 18ºC a 32ºC.
Entretanto, existem poucas informações sobre danos
Por outro lado, Meloidogyne hapla e M. arenaria
causados em cultivos de beterraba pela infestação
ocorrem em áreas isoladas do País e causam maiores
desses fitonematoides.
problemas em regiões tropicais e subtropicais.
O objetivo desta circular é disponibilizar informações
A infecção em beterraba pelo nematoides do gênero
sobre os principais nematoides que ocorrem na
Meloidogyne spp. pode estar limitada a áreas
cultura, características inerentes aos seus ciclos
localizadas de um campo ou se estender por toda
de vida e as principais medidas gerais de controle.
área de cultivo.
Ainda, serão abordados outros nematoides não
Os danos causados por fitonematoides não estão relatados no Brasil e que ocorrem nas variedades de
associados somente à redução no peso das beterrabas açucareira e forrageira.
beterrabas, mas também às alterações fisico-
químicas devido à infecção, com interferência direta Nematoide-das-galhas: Meloidogyne
na qualidade comercial do produto. Além disso, sua spp.
importância se reflete na aplicação de nematicidas
de solo por ocasião do plantio, que resulta em
custos adicionais de produção e, principalmente, Das mais de 90 espécies descritas de Meloidogyne,
na contaminação ambiental e em riscos à saúde do algumas parasitam a beterraba e são de importância
aplicador e do consumidor. econômica para a produção da cultura. As mais
importantes que ocorrem no Brasil e podem causar
Os fitonematoides interagem com patógenos de grandes perdas são: M. arenaria, M. incognita, M.
solo de grande importância em áreas de cultivo de javanica e M. hapla. Estão presentes em qualquer
beterraba, como Rhizoctonia solani, pois o fungo tipo de solo, com predominância em regiões com
penetra nas raízes da planta por portas de entradas solos arenosos e com temperaturas acima de
produzidas pelos nematóides. Também, podem 25°C. M. hapla ocorre em menor intensidade, com
ocorrer simultaneamente com patógenos de parte predominância em clima temperado ou em regiões
aérea como a mancha foliar de cercospora e viroses com temperaturas entre 15°C e 25°C.
o que pode contribuir para intensificação dos danos
causados à cultura. Dentre estas espécies, M. incognita e M. javanica
causam as maiores perdas em beterraba açucareira
Existem outros nematoides com alto poder destrutivo nos Estados Unidos. M. hapla está amplamente
para cultivos de beterraba que ainda não foram distribuída nas áreas produtoras deste País, mas não
relatados no Brasil e, por isso, detêm o status de é fator importante à produção, porém causa danos
praga ausente. São eles o nematoide do cisto, em áreas produtoras de beterraba para mesa.
Nematoides na cultura da beterraba 3
A espécie M. chitwoodi, que possui maior afinidade ou atrofiadas, ou na semeadura pode afetar a
com a beterraba açucareira em relação a M. hapla, é emergência quando altos níveis populacionais do
encontrada em várias regiões produtoras dos Estados patógeno estão presentes no solo. Em temperaturas
Unidos. elevadas e solos arenosos ou em climas quentes
e secos, plantas severamente infectadas podem
murchar (Figura 3) e pode ocorrer perda total do
Sintomas cultivo.
integração de várias medidas durante toda a cadeia – Controle Químico: Segundo o Sistema de
produtiva da beterraba. Como medidas gerais de Agrotóxicos Fitossanitários (AGROFIT) do Ministério
controle pode-se citar: da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA),
no Brasil não existem nematicidas registrados para
– Prevenção: Evitar o plantio em áreas que já esta cultura (www.agrofit.agricultura.gov.br).
foram cultivadas com hortaliças. Para o correto
diagnóstico da (s) espécie (s) envolvida (s) na área
Historicamente, a disseminação deste nematoide Após a fecundação, o óvulo passa rapidamente por
coincidiu com a ampliação da área produtiva para sucessivas divisões celulares e diferenciação celular,
novas áreas geográficas. O nematoide foi observado em que um embrião é formado logo em seguida.
pela primeira vez nos Estados Unidos em 1895, Ainda dentro do ovo ocorre a primeira ecdise,
e em 1907 havia sido encontrado na Califórnia, com a formação do juvenil de 2º estádio (J2). O
Utah, Colorado e Idaho. Hoje, H. schachtii está J2 contido no ovo, no interior do cisto, eclode e
presente em 17 estados dos Estados Unidos e em movimenta-se no solo para realizar a aproximação
mais 40 países no mundo. Porém é uma espécie e penetração nos tecidos das raízes. Após a
quarentenária para o Brasil. penetração na raiz, o nematoide alimenta-se sugando
as células jovens através do seu estilete. Durante
Este nematoide foi a causa do declínio da beterraba,
o processo de alimentação, o nematoide segrega
que forçou o fechamento de pelo menos 24 fábricas
enzimas digestivas que são injetadas nas células do
de açúcar na Alemanha em 1876. Esta espécie
hospedeiro. Estas enzimas estimulam a formação
causa perdas de 25-50% ou mais, especialmente
de células especiais para sua alimentação (sincícios)
nos climas mais quentes ou quando ocorre o
nas quais os juvenis se alimentam. Seu crescimento
plantio tardio da beterraba. As perdas de açúcar na
e desenvolvimento dentro da raiz são marcados por
beterraba ocorrem devido à redução do peso das
mais três ecdises. Os machos saem do interior das
raízes, além disso, estes patógenos agravam os
raízes e movimentam-se livremente no solo, mas
prejuízos causados por outros agentes patogênicos,
não se alimentam. Após o quarto estádio, as fêmeas
tais como Cercospora spp., Rhizoctonia spp. e vírus.
amadurecem e permanecem imóveis, alimentando-
se no sincício. Seu corpo avoluma-se, e sua parte
posterior rompe-se para fora da raiz, sendo então
Sintomas fecundada pelo macho adulto que saiu das raízes,
iniciando a produção dos ovos.
Infestações de H. schachtii podem ocorrer em 100
% da área. Quando ocorre de forma localizada pode As fêmeas apresentam coloração branca e com
formar reboleiras com formato de circular a oval formato de limão, podendo ser vistas a olho nu ao
onde o crescimento das plantas é reduzido com longo das raízes fibrosas.
sintomas de clorose na parte aérea.
Até o trigésimo dia após a penetração dos J2 em
Sintomas de tombamento podem ocorrer em solo condições favoráveis, as fêmeas vão depositar um
altamente infestado e as plântulas podem morrer número variável de ovos em uma massa gelatinosa
antes mesmo de emergirem do solo, dependendo da secretada, que permanece ligada à fêmea pela parte
infestação, ou mesmo retardar o seu crescimento. posterior. Após a morte da fêmea, as paredes de
Mesmo com umidade adequada do solo, as folhas seu corpo (cutícula) endurecem e se transformam
das plantas infectadas geralmente murcham durante em um cisto de coloração marrom avermelhado,
o período quente do dia, com recuperação de sua podendo conter mais de 600 ovos. Estes cistos
turgescência durante a noite. As folhas das plantas caem no solo e permanecem na área de cultivo como
afetadas podem permanecer verdes ou apresentar forte estrutura de resistência, com possibilidade
pronunciado amarelecimento, dependendo da de permanecer no solo por anos até que encontre
gravidade do ataque. Apresentam geralmente raíz condições ideais como hospedeira suscetível,
pivotante subdesenvolvida e formação excessiva de umidade e temperatura, para que ocorra a eclosão
raízes fibrosas, que podem ter leve engrossamento dos ovos e inicie um novo ciclo.
com lesões localizadas em locais de penetração
do nematoide. No período de seis semanas após
o plantio, algumas fêmeas adultas podem ser Distribuição no solo
observadas presas às raízes da beterraba.
Em infestações de longo período, este nematoide
pode ser encontrado em todo o perfil de solo da
superfície até profundidades superiores a 60 cm,
Ciclo de vida
entretanto as maiores densidades populacionais
O desenvolvimento de H. schachtii é típico em ocorrem geralmente cerca de 5-25 cm abaixo da
relação a outras espécies do gênero Heterodera. superfície do solo.
Nematoides na cultura da beterraba 7
alqueive, rotação de culturas com espécies não também em condições desfavoráveis ficando em
hospedeiras são também recomendadas. dormência no solo ou material vegetal por longos
períodos, de 3 a 5 anos, num fenômeno chamado
de ‘anidrobiose’. Embora todos os estádios de
Ditylenchus dipsaci desenvolvimento possam entrar nesse processo,
o juvenil de 4º estádio é o mais especializado. A
No Brasil não existe relatos da ocorrência e danos reprodução ocorre sexualmente (anfimixia) e o ciclo
causados por Ditylenchus dipsaci em beterraba. de vida varia de 19-23 dias a 15ºC, sendo que cada
Porém em cultivos de beterraba açucareira nos fêmea pode produzir de 200 a 500 ovos. Os machos
EUA e países da Europa como Alemanha e Suíça e as fêmeas vivem de 45 a 73 dias.
este nematoide tem causado danos expressivos.
No Brasil, é um nematoide de grande importância
para a cultura do alho e da cebola. Porém o grande Controle
número de raças biológicas de D. dipsaci torna este
parasita particularmente importante do ponto de O controle de D. dipsaci em beterraba pode ser
vista de regulamentação fitossanitária. Mais de 20 realizado pela rotação com culturas não hospedeiras,
raças já foram relatadas no mundo, sendo que no controle de plantas daninhas, e medidas de
Brasil predomina a raça alho, sem maiores problemas sanitização como a destruição de restos culturais.
identificados em cultivos de beterraba. Assim, a
contaminação de germoplasma vegetal importado
por esta espécie de nematoide é preocupante, pois Nematoides de menor importância
não existem relatos da ocorrência dessas raças de que podem ser encontrados na
D. dipsaci no Brasil, principalmente a que parasita a
cultura da beterraba
beterraba. Ataques às mudas na fase de cotilédones
causam inchaço do epicótilo, hipocótilo e nervuras
Outras espécies de nematoides podem atacar a
foliares. Plântulas severamente atacadas podem
cultura da beterraba, porém não são importantes
tornar-se atrofiadas com consequente morte e
para a cultura. Dentre eles destacam: Aphelenchus
também no final do ciclo da cultura pode ocorrer a
avenae, Belonolaimus gracilis; Helicotylenchus
podridão radicular devido à invasão por patógenos
microlobus, Helicotylenchus dihystera,
secundários.
Hemicycliophora similis; Neotylenchus abulbosus,
Paratylenchus projectus, Pratylenchus scribneri,
Hospedeiros Radopholus similis, Rotylenchulus reniformis,
Paratrichodorus minor e Tylenchorhynchus dubius.
Outros hospedeiros de D. dipsaci incluem cenoura,
ervilha, batata e morango. O nematoide possui um
complexo de raças que são diferenciadas por sua Amostragem para diagnóstico
habilidade em infectar determinados hospedeiros.
O correto diagnóstico da espécie de nematoide
envolvida é feito pela análise de amostras de terra,
Ciclo de vida raízes e tubérculos em laboratório especializado,
visando conhecer as densidades populacionais
É um endoparasito migrador e alimenta-se em destes organismos no solo, na fase de pré-plantio e
ramos, folhas, tubérculos e raízes de beterraba, em fases posteriores de desenvolvimento da cultura.
causando danos por toda planta. O nematoide causa Com isso, pode-se preventivamente reduzir os
grande destruição do parênquima cortical com a sua prejuízos, antes do plantio, bem como amenizar as
migração pelos tecidos. As células são puncionadas perdas em caso do nematoide já estar instalado na
e o conteúdo celular sugado. O nematoide libera lavoura.
uma secreção salivar nas células do hospedeiro,
que causa a dissolução da lamela média, separando Na coleta de amostras para análise, pequenas
as células na região invadida. Apresenta grande porções de solo, em torno de 200 g, e algumas
capacidade de sobrevivência em restos de culturas beterrabas (3 a 5) deverão compor cada amostra
e tubérculos de beterrabas armazenados. Sobrevive simples. Recomenda-se coletar em torno de 15-
10 Nematoides na cultura da beterraba
Ministério da
Agricultura, Pecuária
e Abasteceimento