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Silenciosos e sinistros (importância e controle dos nematoides do meloeiro no


Brasil) / CULTIVAR HF

Technical Report · April 2020


DOI: 10.13140/RG.2.2.26757.01765

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3 authors, including:

Mário M Inomoto Tiarla Graciane Souto


University of São Paulo University of São Paulo
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Melão Sementes Piraí

Silenciosos
e sinistros

Minúsculos e impossíveis de visualizar a olho nu, fitonematoides são inimigos antigos do


meloeiro. Seu controle é possível, embora não seja simples. O uso de nematicidas é o mais
popular entre os produtores, embora outros métodos possam ser associados para enfrentar esses
pequenos organismos, ocultos e perigosos

O
meloeiro e os fitonematoides são velhos conhe- ticular: os sintomas descritos foram observados em 106
cidos no Brasil. São de 1955 as primeiras ob- plantas dentre as três mil da área. Por vezes, uma planta
servações de perdas causadas por Meloidogyne estava sadia e outra severamente infestada na mesma cova
incognita na cultura do melão, em Campinas, São Paulo de semeadura.
(Normanha, 1958). Os sintomas foram visíveis 38 dias Atualmente, outro nematoide causador de galhas tam-
após a semeadura: retardamento do crescimento; redução bém representa ameaça à cultura do melão: M. javanica.
do tamanho e amarelecimento das folhas, sintoma esse Por apreciarem temperaturas elevadas, M. incognita e M.
que progrediu para secamento; formação de galhas tanto javanica ocorrem em todo o Brasil. Mesmo em estados do
na raiz principal como nas secundárias/terciárias. Essas Sul do País, ambas as espécies são muito comuns, ficam
plantas não produziram frutos. Verificou-se distribuição inativas nos meses frios, mas apresentam grande atividade
muito irregular de M. incognita nessa plantação em par- nos meses quentes. Em temperaturas favoráveis, seu ciclo

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Agristar

se completa em um mês. Outra carac-


terística de ambos os fitonematoides
é a capacidade de parasitar muitas
plantas de valor econômico. São
mais de duas mil plantas hospedeiras
conhecidas, entre culturas anuais e
perenes, além de plantas invasoras.
São os nematoides mais conhecidos
pelos agricultores, devido às tão ca-
racterísticas galhas radiculares, que Melão Gaúcho Redondo é resistente a
geralmente são muito conspícuas em Meloidogyne incognita, mas suscetível a
outros fitonematoides, como M. javanica
raízes de meloeiro.
Quando a densidade inicial do
nematoide não é muito elevada, os as raízes, conseguirá visualizar as
nematoides-das-galhas não causam massas de ovos, que são pequenas
redução das ramas e dos frutos ou estruturas arredondadas na superfície Raiz de meloeiro Asturia com massas
ausência de frutificação. Porém, por das raízes infestadas. Essas massas de ovos de Rotylenchulus reniformis
ocasião da frutificação, a densidade de ovos são bem visíveis 30 a 45 dias
poderá ter aumentado muito, resul- após a semeadura do melão em solos
tando em intenso amarelecimento e infestados. Embora seu registro na talmente que métodos de controle
secamento de folhas, expondo os fru- cultura do melão seja relativamente de P. brachyurus, como sucessão com
tos ao sol. Se esses frutos não forem recente, em 2001 (Moura et al, 2002), Crotalaria spectabilis, resultaram em
protegidos artificialmente, perderão o é possível que a relevância de R. re- meloeiros maiores e mais vigorosos
valor comercial devido a queimaduras niformis nessa cultura agora suplante que aquelas em sucessão com sorgo,
causadas pelo sol. a dos nematoides-das-galhas (Nunes que é suscetível ao nematoide.
Existe um terceiro fitonematoi- et al, 2011).
de, de importância tão grande ou Por fim, vale a pena citar uma O CONTROLE É DIFÍCIL,
talvez maior que os nematoides-das- quarta espécie de fitonematoide, a MAS POSSÍVEL
-galhas para a cultura do melão. É o menos conhecida pelos produtores Todos os agricultores que enfren-
nematoide-reniforme (Rotylenchulus de melão. Trata-se de P. brachyurus, tam os fitonematoides esperam por
reniformis), que também é capaz cau- a mesma que é tão temida pelos métodos de controle eficazes, de custo
sar grande redução no crescimento sojicultores brasileiros. Sua impor- baixo e que não interfiram na rotina
do meloeiro (Heald, 1975). Como tância ainda não foi mensurada, mas de produção. Métodos que possuam
não provoca a formação de galhas é potencialmente uma séria ameaça, as três qualidades ainda não existem
nas raízes, sua presença muitas vezes pois já há registros de ocorrência em para a cultura do melão, porém há
passa despercebida, apesar dos evi- pelo menos um município produtor alguns com uma ou duas delas.
dentes sintomas nas ramas. Porém, do Rio Grande do Norte (Torres et Em termos operacionais, o contro-
se o agricultor lavar cuidadosamente al, 2004), e verificou-se experimen- le por meio de nematicidas é o mais

Meloeiros Asturia após sorgo (esquerda) e Crotalaria juncea IAC-KR1 (direita) e após sorgo
(esquerda) e Crotalaria spectabilis (direita), todos em solo infestado por Pratylenchus brachyurus

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Ciclos e sintomas de ataque de nematoides em meloeiro

adequado. Podem ser sintéticos ou na dose de 1g do produto comercial de produção de milho verde para as
biológicos, e ser aplicados no solo ou por planta, eficaz no controle de M. festas juninas. O efeito do pousio
por meio de tratamento de sementes incognita e de R. reniformis (Souza, sobre os fitonematoides é muito vari-
(TS). Atualmente há somente dois 2018; Souto, 2020). ável, conforme a composição da vege-
nematicidas sintéticos registrados Em diversas culturas, além de ação tação espontânea e a fauna de fitone-
para a cultura do melão. Fenamifós e nematicida, os agentes de controle matoides local. Já o efeito do milho é
fluensulfona possuem registro para o biológico mostram efeitos secundários conhecido e altamente previsível para
controle de M. incognita e devem ser que beneficiam as plantas, já tendo M. incognita (aumenta a densidade
aplicados com a água de irrigação, na sido observado aumento no teor de populacional), R. reniformis (reduz)
semeadura do meloeiro ou três dias clorofila nas folhas jovens de meloeiro. e P. brachyurus (aumenta). Por outro
antes. O TS é um dos métodos de No caso específico dos fungos, podem lado, a resposta do milho para M.
controle de fitonematoides mais acei- colonizar epi e/ou endofiticamente as javanica é dependente do híbrido ou
tos pelos agricultores, pela facilidade raízes, beneficiando-as (Souza, 2018). da cultivar: embora a maioria seja
operacional, mas não há nematicidas Por fim, não se pode esquecer das suscetível, há alguns que são resisten-
registrados para essa finalidade em espécies do fungo Trichoderma, mui- tes. Portanto, milho contribui para o
meloeiro. Há resultados experimen- to utilizado na agricultura brasileira controle do nematoide-reniforme, e
tais que demonstraram a eficácia de como uma panaceia contra vários também M. javanica, se o híbrido ou
abamectina, na dose de 0,3mg do nematoides e fungos de solo. a cultivar for resistente a essa espécie
ingrediente ativo por semente de me- de nematoide-das-galhas.
loeiro Gaúcho Redondo, no controle SUCESSÃO DEVERIA Outras culturas para sucessão são
de M. javanica (Rodrigues, 2015). SER MAIS UTILIZADA os adubos verdes. Mucuna-preta,
Os nematicidas biológicos, prin- A sucessão de culturas é uma Crotalaria juncea e milheto são os
cipalmente aqueles cujos agentes são opção de controle ainda pouco ex- mais utilizados, pois são aqueles que
bactérias (Bacillus subtilis, B. licheni- plorada. Nas áreas produtoras do Rio conseguem competir com a vegetação
formis etc.), têm sido os preferidos pe- Grande do Norte e Ceará, os meses espontânea. Embora C. spectabilis
los produtores de melão. Experimen- mais secos (julho a janeiro) são os pre- seja mais eficaz que esses adubos
talmente, os fungos Purpureocillium feridos para a produção de melão. Nos verdes no controle de fitonematoi-
lilacinum e Pochonia chlamydosporia mais chuvosos (fevereiro a junho), des, principalmente M. incognita, M.
têm apresentado resultados positi- em contraste, muitas dessas áreas são javanica e P. brachyurus, não tem sido
vos. O mais promissor é um produto mantidas em pousio ou aproveitadas utilizado nas áreas produtoras de
comercial à base de P. chlamydosporia, para a cultura do milho, com objetivo melão do Nordeste brasileiro, devido

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ao crescimento inicial lento. Porém, é uma opção válida a nenhum deles.
para meloeiro em estufas, tendo a vantagem adicional do
porte menor que C. juncea. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Experimentalmente, verificou-se efeito positivo de C. Destruição de restos culturais, enxertia sobre cucurbi-
juncea IAC-KR1 e milheto ADR-300 sobre o crescimento táceas resistentes, solarização, injeção de vapor, alqueive
de meloeiro Asturia, em solo infestado por P. brachyurus. tradicional, alqueive úmido, biofumigação, indução de
Apesar desses adubos verdes terem sido menos efetivos resistência são alguns dos métodos válidos ou promissores
que C. spectabilis no controle de P. brachyurus, não se para o controle dos fitonematoide do meloeiro. Sucessão e
verificou vantagem de C. spectabilis em comparação com cultivares resistentes apresentam limitações, mas poderiam
C. juncea e milheto sobre o desenvolvimento das ramas ser mais exploradas, pois listas de plantas para sucessão
de meloeiro. estão disponíves na literatura, e fontes de resistência a M.
Como já mencionado, um aspecto importante para a incognita ou M. javanica são conhecidas em meloeiro e ou-
escolha dos adubos verdes é a competição com a vege- tras espécies de Cucumis. Entretanto, por ora, a aplicação
tação espontânea. Outro é a resposta aos adubos verdes de nematicidas, com destaque para os biológicos à base de
aos nematoides presentes no local. Por exemplo, milheto Bacillus spp., é o método mais aceito pelos produtores de
ADR-300 tem se mostrado promissor no controle de P. melão no Brasil. C

brachyurus. Porém, em áreas com M. incognita não se


recomenda seu uso como adubo verde, pois essa cultivar
de milheto é suscetível ao nematoide. Mário Inomoto,
Victor Hugo Moura de Souza e
IMPORTÂNCIA DO Tiarla Graciane Souto,
MELHORAMENTO GENÉTICO Esalq/USP
Existem algumas cultivares de meloeiro resistentes a
M. incognita ou M. javanica, porém, as cultivares mais
aceitas pelo mercado nacional, como Iracema e Asturia,

Alyne Cristina de Azevedo Souza


são suscetíveis a ambos os nematoides. O meloeiro Gaú-
cho Redondo seria uma opção em áreas infestadas por M.
incognita, mas apenas para pequenos produtores locais,
pela baixa aceitação comercial. Além disso, é suscetível
a M. javanica. Porém, é uma cultivar potencialmente
valiosa como fonte de resistência (Candido, 2013) e
como porta-enxerto (Ito et al, 2014). Informações sobre
a resposta de meloeiros a R. reniformis e P. brachyurus são
escassas, e todas indicam que não há cultivares resistentes
Sementes Piraí

Crotalaria juncea é um dos poucos adubos verdes capazes


de competir com a vegetação espontânea durante os meses
chuvosos, em áreas de produção de melão do NE brasileiro Galhas causadas por Meloidogyne incognita em raízes de meloeiro

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