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Manejo Integrado da
Traça-do-Tomateiro (Tuta absoluta)
Autores
Geni Litvin Villas Bôas
Pesquisadora, DSc.,
Entomologia
Embrapa Hortaliças A traça-do-tomateiro Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae) está
Brasília-DF
geni@cnph.embrapa.br presente nos principais países produtores de tomate da América Latina (Ar-
Marina Castelo Branco
Pesquisadora, PhD.,
gentina, Uruguai e Brasil) e, nestes países, é considerada uma das mais
Entomologia
Embrapa Sede importantes pragas da cultura do tomate. T. absoluta foi constatada pela pri-
Brasília-DF
marina.castelo@embrapa.br meira vez no Brasil em 1979, em Morretes-PR (MUSZINSKI et al., 1982), ten-
Maria Alice de Medeiros do sido registrada oficialmente como praga a partir da coleta de exemplares
Pesquisadora, DSc.,
Entomologia em Jaboticabal-SP, em 1980 (MOREIRA et al., 1981). Sua disseminação no
Embrapa Sede
Brasília-DF
maria.alice@embrapa.br
país foi muito rápida e em 1981 já estava no Vale do Salitre, em Juazeiro-
BA (MORAES; NORMANHA FILHO, 1982). Em apenas três anos, após sua
identificação em São Paulo, a traça-do-tomateiro estava dispersa por todas
as regiões produtoras de tomate do país (SOUZA; REIS, 1992). É provável
que as características de comercialização do tomate para mesa, com intenso
intercâmbio regional entre centros produtores e consumidores, tenham favo-
recido a disseminação da praga.
2 Manejo Integrado da Traça-do-Tomateiro (Tuta absoluta) em Sistema de Produção Integrada de Tomate Indústria (PITI)
Foto:Estebam Saini
Atualmente, há uma demanda social crescente
para a comercialização de alimentos sem resíduos
de agrotóxicos e que apresentem reduzido impac-
to social e ambiental em sua produção. Para aten-
der a essa demanda, o Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA) tem procurado
viabilizar o Programa de Produção Integrada para
as diferentes culturas produzidas no território bra-
Fig. 1. Adulto da traça-do-tomateiro.
sileiro, incluindo o tomate indústria.
Os ovos são colocados individualmente nas folhas
Deste modo, em 2005 foi iniciado o Programa de (Figura 2), principalmente nas folhas do terço
Produção Integrada de Tomate Indústria (PITI) superior da planta, mas também podem ser en-
para o Estado de Goiás (VILLAS BÔAS et al., contrados nas hastes, flores e frutos. Apresentam
2007), onde a adoção do Manejo Integrado da formato elíptico e coloração amarelada, passando
traça-do-tomateiro é uma importante ferramenta a marrom-escuro quando próximos à eclosão, que
para o seu sucesso. Porém, para que o Manejo ocorre três a cinco dias após a postura. O número
Integrado seja viabilizado, é fundamental que médio de ovos por fêmea é de 55,2 (COELHO et
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al., 1984; COELHO; FRANÇA, 1987; HAJI et al., duração de sete a dez dias (HAJI, 1982; COE-
1988a, 1988b). LHO; FRANÇA, 1987; HAJI et al., 1988a). O ciclo
completo de T. absoluta dura de 26 a 30 dias. A
Foto: Estebam Saini
Ecologia
Controle cultural
dessa população, 100 larvas irão sobreviver e ge- população local da traça-do-tomateiro (CASTELO
rar adultos para infestar a lavoura. Evidentemente o BRANCO et al., 2001; DEBONI; CASTELO BRANCO,
potencial de dano é muito maior no último caso. 2007). Com isso, o produtor poderá adquirir apenas
os inseticidas de eficiência comprovada.
Em segundo lugar, em muitos casos o controle da
traça-do-tomateiro é feito com mistura de inseti- Outra vantagem dos bioensaios de laboratório e/ou
cidas. É bastante provável que em alguns casos testes de campo na região de produção é que
seja utilizada uma mistura de um produto eficien- a identificação dos produtos eficientes permitirá
te com um produto ineficiente e, em campo, a eliminar a necessidade do uso de misturas, que
eficiência de controle seja devida principalmente normalmente são empregadas “para obter um
ao produto eficiente que é utilizado. Ocorre, po- controle mais eficiente”, o que não é verdade em
rém, que a mistura de produtos ineficientes com muitos casos. Vale ressaltar que, tecnicamente,
eficientes gera consequências indesejáveis. A a mistura de inseticidas para o controle de uma
primeira consequência é que o produtor, ao ad- praga é uma prática não recomendada.
quirir um produto ineficiente, emprega seu capital
na compra de produto que seria dispensável, ou A técnica mais correta para o uso de inseticidas
seja, realiza um gasto desnecessário. A segunda é o uso de um produto por vez e a realização da
consequência é que o inseticida ineficiente, ainda rotação de inseticidas considerados eficientes.
que não controle a traça, continua causando todos Essa rotação deve ser realizada com inseticidas
os impactos ambientais negativos que lhe são ine- de grupos químicos diferentes (por exemplo,
rentes. O inseticida pode, por exemplo, eliminar os Espinosinas, Biológico, Benzoiluréia, Organofosfo-
inimigos naturais da traça-do-tomateiro e de outras rados, Piretróides, Bis(tiocarbamato) ou outro qual-
pragas da lavoura; poluir a água subterrânea ou de quer indicado) e cada inseticida deve ser utilizado
superfície e afetar as populações locais de aves e por um período de 28 dias (quatro semanas) para
mamíferos. Esses impactos ambientais negativos cobrir aproximadamente uma geração da praga,
podem ser eliminados se o inseticida ineficiente ou seja, de ovo a adulto. Devem ser empregados,
não for empregado. no mínimo, três produtos diferentes a fim de que
uma geração do inseto não seja pulverizada com
Essas considerações indicam que a decisão sobre dois produtos de grupos diferentes, pois, no cam-
os inseticidas que serão empregados para o controle po, são encontrados diferentes estágios do inseto,
da traça-do-tomateiro deve ser tomada preferencial- ou seja, observa-se simultaneamente ovos, larvas,
mente após a realização de bioensaios de laboratório pupas e adultos. Quando inseticidas Piretróides
ou alguns ensaios de campo, que avaliem a efici- e Organofosforados forem utilizados, devem ser
ência dos inseticidas registrados para o controle da aplicados preferencialmente quando ocorrer a
Manejo Integrado da Traça-do-Tomateiro (Tuta absoluta) em Sistema de Produção Integrada de Tomate Indústria (PITI) 9
mesmo sistema de controle utilizado apresentou (incluindo as doenças). Em segundo lugar, a falta
igualmente resultados positivos no início da déca- de disponibilidade do parasitóide para o produtor.
da de 90 (FRANÇA et al., 1992). Atualmente, existem algumas empresas especiali-
zadas que criam e comercializam este parasitóide
Em 1995, a ocorrência de tospovírus (vira-cabeça no país, mas a produção precisará ser aumentada
do tomateiro) transmitido pelo tripes Frankliniella à medida que o número de usuários desta técnica
schultzei (Trybom) (Thysanoptera: Tripidae) e da se amplie.
mosca-branca Bemisia tabaci biótipo B (Homopte-
ra: Aleyrodidae), vetor dos geminivírus, causaram Outro aspecto que deve ser considerado é o cará-
sérios danos à produção de tomate em Petrolina- ter preventivo do controle biológico. Recomenda-
PE. A consequência imediata foi a intensifica- se que a primeira liberação de parasitóides ocorra
ção das aplicações de produtos químicos para assim que se constatar a presença de adultos na
controlar a mosca-branca e o tripes, interferindo área, podendo esta constatação ser feita com o
negativamente no programa de controle bioló- uso de armadilhas de feromônio, como descrito
gico da traça-do-tomateiro. O controle biológico anteriormente. Além disso, o emprego contínuo
da traça-do-tomateiro foi interrompido (HAJI et de B. thuringiensis associado à liberação de pa-
al., 2002) e grande parte da produção de tomate rasitóides apresenta a possibilidade de seleção
para processamento foi deslocada para a região de populações resistentes ao produto. Por isso,
Centro-Oeste, onde atualmente é produzido com recomenda-se a rotação de B. thuringiensis de
o uso de controle químico tanto para a traça-do- subespécies diferentes (subespécie thuringiensis
tomateiro quanto para a mosca-branca. e subespécie aizawai) e o emprego de inseticidas
com alta seletividade com relação ao parasitóide,
Estudos mais recentes feitos em ambiente protegi- como os reguladores de crescimento Clorfluazu-
do demonstraram a viabilidade do controle bioló- rom, Diflubenzurom, Teflubenzurom, Tebufenozide
gico para a traça-do-tomateiro (MEDEIROS et al., e Triflumurom (Tabela 1).
2006; MEDEIROS et al., 2009). No entanto, ainda
que o controle biológico da traça-do-tomateiro Atualmente comercializam o para-
tenha se mostrado eficiente, essa técnica apre- sitóide Trichogramma spp. os laboratórios
senta dificuldades para ter o seu uso ampliado. Megabio e Bug (www.megabio.com.br e
A principal delas é devido ao pacote tecnológi- www. bugagentesbiologicos.com.br).
co de controle de pragas estabelecido entre a
indústria e os produtores, em que são definidos Outros laboratórios, como Gravena, comercializam
previamente os produtos a serem utilizados pelos o parasitóide e assessoram o produtor no manejo
produtores para as diversas pragas do tomateiro da cultura (www.gravena.com.br).
Manejo Integrado da Traça-do-Tomateiro (Tuta absoluta) em Sistema de Produção Integrada de Tomate Indústria (PITI) 11
Tabela 1. Produtos registrados para o controle da traça-do-tomateiro (Tuta absoluta) na cultura do tomateiro.
Diamida do ácido
Contato e ingestão Flubendiamida Belt (SC) 113 ml/ha III III 7
ftálico
Metilcarbamato de
De contato e ingestão Alanicarbe Onic 300 (EC) 175 ml/100 l. de água II III 5
oxima
Tabela 1. Continuação...
Corsair 500 EC
20 ml/100 l. de água I II 3
Galgoper (EC)
26 ml/100 l. de água I II 3
Piredan (EC)
Permetrina 20 ml/100 l. de água II I 3
Pounce 384 EC
16,25 ml/100 l. de água III II 3
Valon 384 EC
13 ml/100 l. de água II * 3
Supermetrina Agria
20 ml/100 l. de água I II 3
500 (EC)
Fury 200 EW 100 ml/100 l. de água III II 5
Zeta-cipermetrina Fury 180 EW 20 ml/100 l. de água II II 5
Mustang 350 EC 70 ml/100 l. de água II II 5
De contato e ingestão
Piretróide + Polytrin 400/40 EC 125 ml/100 l. de água III I 10
Rápido efeito inicial e ação Cipermetrina + Profenofós
Organofosforado Polytrin (EC) 125 ml/100 l. de água III I 10
residual
Referências
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Anais... Águas de Lindóia: EMBRAPA-CNPDA,
protegido. Horticultura Brasileira, Brasília, DF,
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absoluta (Povolny) (Lepidoptera: Gelechiidae) no
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submédio São Francisco. Anais da Sociedade
Horticultura Brasileira, Brasília, DF, v. 7, p. 80-
Entomológica do Brasil, Jaboticabal, SP, v. 24,
85, 2009.
n. 3, p. 587-591, 1995.
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